Edição 55 - Superpedido Tecmedd

Transcrição

Edição 55 - Superpedido Tecmedd
ACELERANDO
COM AYRTON
Livro “100 Senna” conduz o leitor a uma
viagem inédita ao universo particular
do tricampeão mundial
Editorial
Editorial
Editorial
Casamentos duradouros
Como já vem se tornando tradição em nossas edições
de férias, trazemos neste número alguns dos principais
filmes baseados em livros que chegarão aos cinemas na
temporada seguinte. Se em 2015 tivemos como grande
destaque nas telonas o blockbuster Cinquenta Tons de
Cinza, a safra de 2016 tem vários candidatos a repetir o
sucesso de Mr. Gray – em especial, Robert Langdon, na
versão cinematográfica de Inferno, de Dan Brown.
E assim como o cinema, que há décadas busca inspiração
nos sucessos do mercado editorial, também o mercado
editorial, nestes últimos anos, tem bebido com grande
regularidade em uma fonte profícua de sucessos: a
internet. Para alívio de seus departamentos financeiros,
as editoras vêm conseguindo repetir em livro o
enorme êxito popular de blogueiros, videologgers,
instagrammers e outros tipos de personalidades que o
mundo virtual criou (ou irá criar).
Livreiros sabem muito bem o potencial de vendas de,
entre outros, Kéfera Buchmann, Christian Figueiredo
de Caldas, Isabela Freitas e Rafael Mantesso, o dono do
cachorro Jimmy, entrevistado nesta edição – Rafael, não
Jimmy, evidentemente. Mirando os milhares e milhares
de fãs que esses nomes conquistaram no mundo virtual,
as editoras capricham na produção e apostam alto
nessas obras – e, em sua maioria, recebem um retorno
proporcional, muitas vezes até além do esperado.
É um casamento que, a exemplo da união entre a sétima
arte e a literatura, tem tudo para durar por muitos e
muitos anos.
Aproveitamos para desejar a todos um 2016 de sucesso,
paz e realizações. São os votos da equipe da Superpedido.
Boas festas!
Celso de Campos Jr.
Editor
Ligue para a
Superpedido Tecmedd
São Paulo
11 3505-9788
pág. 4
Cartas
Surpreendente encontrar o Michel Teló na capa da revista Superpedido (edição 54), mas após a leitura da
entrevista, entendi o que ele estava fazendo ali. Parabenizo o cantor pela iniciativa de registrar em livro as
histórias da música sertaneja.
Mario C. Malta
Rio de Janeiro-RJ
Simplesmente excelente o artigo de Lucas Alves sobre
a história da ficção científica. Didático e esclarecedor.
Continuem publicando textos do gênero!
João Paulo Alves Zenoni
São Paulo-SP
A equipe da revista quer ouvi-lo, leitor-livreiro!
Sugestões, críticas e idéias podem ser enviadas ao
e-mail [email protected], ou
remetidas para o endereço da redação. Mãos à obra!
Índice
4
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24
26
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36
40
42
43
Editorial e Cartas
Mercado
Comportamento
Internacional
Capa
História
Papo de editor
Papo de escritor
Ficções livrescas
Artigo
Fotografia
Entretenimento
Bem estar
Top 100 Editoras
Top 20 Livros
Revista Superpedido
Tecmedd
Edição de Nov./Dez. de 2015
Ano VIII - Nº55
Essa revista é uma publicação da
Superpedido Comercial S/A
Rodovia Presidente Castelo Branco,
11.510 - Km 32,5 - Área B - Setor K3 Jardim
Belval - Barueri - SP
cep. 06421-400 tel. 11-3505-9788
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e-mail. : [email protected]
Impressão Van Moorsel
Distribuição gratuita. Venda proibida.
É proibida a cópia e a reprodução
total sem prévia autorização.
Não nos responsabilizamos pelo preço de capa dos
livros desta revista. São sugeridos pela
editora e podem ser alterados sem prévio aviso.
Superpedido Comercial S/A.
Todos os direitos reservados.
Edição Celso de Campos Jr.
Produção e projeto gráfico Nathália Furlan e Daiane Gonçalves
Nesta edição colaboraram Aldo Bocchini Neto, José Luiz Tahan, Liliane Prata,
Louise Sottomaior, Reinaldo Polito, Rodrigo Simonsen e Rubens Filinto.
Foto da capa Leo Feltran
Ilustrações Estúdio Canarinho
pág. 5
pág. 7
Mercado
Mercado
Mercado
tão revolucionária. Fiquei impressionado. Está
aprovado o livro e a coordenação da série”.
Como será a série?
Rachel – Vamos buscar os mais importantes
estudiosos em história, língua portuguesa,
filosofia, finanças, carreira, liderança, artes,
vendas e negociação que se sintam em condições
de ensinar a essência da sua matéria em apenas
29 minutos. O objetivo é proporcionar ao leitor
condições de aprender o que existe de mais
relevante naquele assunto em menos de meia hora.
Já temos os nomes, só precisamos conversar com
eles para ver se aceitam o desafio e conseguem
levar a cabo dessa empreitada. Esperamos o nosso
livro ficar pronto para que saibam exatamente
como funciona. Provavelmente não conseguiriam
entender bem o projeto se fôssemos apenas contar
como deve ser. Com o livro na mão fica mais claro.
Temos consciência de que nem todos conseguirão.
É preciso ter muita capacidade de síntese.
Nova casa, novo livro, nova coleção
Em parceria com a filha Rachel, Reinaldo Polito lança “29 minutos para
falar bem em público e conversar com desenvoltura”, sua obra de estreia na Sextante
– a primeira de uma série de livros a ser coordenada por ele
O mais importante autor brasileiro de livros sobre
a arte de falar em público está de casa nova. O
best-seller Reinaldo Polito desembarca na Editora
Sextante trazendo na mala não apenas um livro
novinho em folha – mas o projeto de uma coleção
inteira. A primeira obra da série está chegando
agora às livrarias: “29 minutos para falar bem em
público e conversar com desenvoltura”, escrita
com a filha, Rachel Polito, também especialista
em expressão verbal. Em breve, as prateleiras
receberão títulos em que especialistas de diversas
áreas ensinarão lições fundamentais de suas áreas
nos cronometrados 29 minutos que servem de
fio condutor da coleção. Não custa lembrar que a
série Superdicas, coordenada por Polito na Editora
Saraiva, vendeu mais de um milhão de exemplares.
Ou seja: preparem seus estoques, leitores-livreiros,
estamos diante de mais um sucesso do mestre da
oratória – e das vendas. Para falar um pouco mais
sobre o projeto, uma entrevista exclusiva em dose
dupla, com Reinaldo e Rachel Polito.
Como nasceu essa ideia de escrever um livro a quatro mãos?
Rachel – Atuo com o Polito ministrando aulas
de Expressão Verbal há mais de 20 anos. Tive a
oportunidade de participar com sugestões em
várias de suas obras, como, por exemplo, “Recursos
audiovisuais nas apresentações de sucesso”, que é
um dos temas da minha especialidade. Este livro
que lançamos pela Sextante é fruto da experiência
da sala de aula. Tudo o que ensinamos aos alunos
para que possam falar em público com segurança e
conversar com desembaraço foi colocado nessa obra.
Quem ler o livro vai ter a impressão de que estamos
pegando o aluno pelas mãos e orientando passo a
passo como agir para desenvolver sua comunicação.
Polito, como foi sua ida para a Editora Sextante?
Polito – Com ajuda do meu amigo Luis Colombini,
que ficou um tempão nas listas dos mais vendidos
com o extraordinário livro “Guga”, marquei um
encontro em São Paulo com o Marcos Pereira, um
dos donos da Sextante. Ele imaginou que receberia
apenas um projeto de livro, mas eu e a Rachel
havíamos nos antecipado e levei o livro pronto.
Propus a publicação do livro e de uma série para
coordenarmos. Ele pediu um dia para pensar e
voltou para o Rio. Leu o livro ainda no avião e pouco
depois deu a resposta: “Polito, eu estava disposto a
recusar qualquer livro que me oferecesse. Você já
tem 25 livros e imaginei que falaria apenas mais
do mesmo. Não supunha, entretanto, uma obra
Polito, como é trabalhar com a filha?
Polito – É um prazer que se renova a cada dia.
Sempre que podemos ficamos juntos na mesma
sala de aula. Conversamos o tempo todo sobre o
curso, sobre o livro, sobre comunicação. A Rachel
é arejada, estudiosa, competente e muito parceira.
Gosta de inovar e pesquisa todos os avanços
tecnológicos que podem ser aplicados no ensino da
arte de falar em público. Com frequência participa
dos mais importantes cursos de comunicação
no exterior, especialmente nos Estados Unidos.
Publicou o livro “Superdicas para um TCC nota
10” que faz muito sucesso no Brasil, na Itália e na
Suíça. Tenho o maior orgulho de suas realizações.
“
Escrevemos o livro pensando
principalmente em quem não
tem muito tempo para se dedicar
ao estudo e ao aprendizado das
técnicas para falar em público
e conversar com desenvoltura.
O leitor vai ler apenas o que
precisar para resolver seu
problema em pouco tempo.
”
Rachel, pode falar um pouco mais sobre o livro?
Rachel – Escrevemos o livro pensando
principalmente em quem não tem muito tempo
para se dedicar ao estudo e ao aprendizado das
técnicas para falar em público e conversar com
desenvoltura. O leitor vai ler apenas o que precisar
para resolver seu problema em pouco tempo. Por
exemplo, não vai usar recursos audiovisuais? Então
pule este capítulo agora e se dedique a ele depois,
com mais tempo. Não vai precisar conversar nas
próximas horas? Deixe de lado esse capítulo, passe
para o próximo. Está muito apressado? Não se
preocupe em ler as considerações iniciais, vá direto
ao último parágrafo e leia a essência da matéria.
Está mais apurado ainda com o tempo? Leia apenas
o resumo no final deste capítulo em menos de um
minuto. E o melhor de tudo é que funciona. Todos
os conceitos já foram exaustivamente testados na
prática. Já passaram pelo controle de qualidade.
“
Nunca estive tão entusiasmado com
um livro como o ‘29 minutos’. Mais
do que o sucesso nas vendas é a
certeza de que seus ensinamentos
poderão fazer a diferença
na vida de muitas pessoas.
”
Polito, como você imagina que o mercado vai receber
esse novo livro?
Polito – Depois de ter publicado 25 livros nos
mais diferentes países, vendido mais de 1,4 mil
exemplares, participado com sete obras das listas
dos mais vendidos, coordenado a Série Superdicas,
que vendeu mais de um milhão de unidades, com
seis livros da série participando simultaneamente
na lista da Veja acho que já aprendi um pouco
sobre o mercado de livros. Nunca estive tão
entusiasmado com um livro como o “29 minutos”.
Mais do que o sucesso nas vendas é a certeza de
que seus ensinamentos poderão fazer a diferença
na vida de muitas pessoas.
Por último, não poderia deixar de perguntar: por que
29 minutos?
Polito – Essa é uma brincadeira que sempre fizemos
na nossa escola: 7 minutos de café e voltaremos.
6 minutos e meio de intervalo e voltamos para
assistir ao teipe. Quando
pensamos em escrever um
livro que poderia ensinar
a falar em pouquíssimo
tempo, aproveitamos a
brincadeira que sempre
deu certo e pusemos um
número quebrado – 29
minutos. Foi ótimo, bateu
direitinho com a nossa
intenção – ensinar a falar
bem em público e conversar
com desenvoltura em
menos de meia hora.
Comportamento
Comportamento
Comportamento
CONTO DE FADAS CANINO
A incrível história de Jimmy Choo, cachorro brasileiro que virou
queridinho da moda internacional
A história é quase de conto de fadas – com a diferença que o protagonista é um bull terrier branco
de orelhas avermelhadas. Jimmy Choo, o herói em
questão, é o cachorro do mineiro Rafael Mantesso e
tornou-se o único companheiro de apartamento do
publicitário após um divórcio. Com a ajuda de Jimmy, Rafael espantou a melancolia e redescobriu o
prazer de desenhar, usando seu traço para transformar seu parceiro inseparável em modelo para fotos
bem-humoradas.
traumático, porém, curto. A influência que o
Jimmy tem na minha vida é bem mais profunda
do que o fim de um casamento. Ele me mostra
todos os dias que sou uma pessoa incrível, a melhor pessoa do mundo. Ele me faz sentir pleno,
forte, feliz e me faz refletir o tempo todo sobre
minhas relações pessoais e profissionais. Para ele
é simples o ato de gostar de alguém. Isso para
mim é um problema, já que sou um misantropo
pré-disposto a não gostar de ninguém.
As imagens foram parar no Instagram e conquistaram milhares de fãs no mundo inteiro. Em pouco
tempo, Rafael Mantesso e Jimmy Choo despertaram
a atenção de veículos estrangeiros como The Huffington Post, USA Today e Daily Mail e até inspiraran uma linha de produtos criados pela grife de
acessórios Jimmy Choo – marca internacional que
havia sido a inspiração para o batismo do cãozinho.
O que você aprendeu com Jimmy e o que Jimmy
aprendeu com você?
Com ele aprendi que amor incondicional existe. É
uma forma de amar tão superior que nós, humanos,
nunca vamos experimentar. Isso só pertence a eles.
Comigo ele aprendeu que existe hora e lugar para
fazer xixi, para comer e para dormir.
A incrível jornada da dupla chega agora às livrarias,
com o lançamento de “Um cão chamado Jimmy”, da
Intrínseca. Nesta entrevista, Rafael Mantesso conta
um pouco mais dessa história.
Seria possível dizer que Jimmy ajudou você a superar o fim de seu casamento? De certa forma, ele
mudou sua vida?
Bem mais do que isso. O divórcio foi um período
Como é seu dia a dia com Jimmy?
Meu dia é bem corrido e sem rotina, mas com ele é
sempre igual e com rotina. Jimmy me acorda às 6h30
para levá-lo para passear. Levo, ele faz as coisas dele na
rua, a gente volta para casa, brincamos, ele come e eu
saio. Quando eu volto ele me recebe como se eu fosse
um Beatle. Depois, tenho que levá-lo de novo para passear, ele faz as coisas dele, e ficamos em casa até a hora
de dormir. Se tenho fotos para fazer, as faço, se tenho
que trabalhar, ele fica do meu lado.
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Logo no primeiro clique, Jimmy foi um sucesso
instantâneo. Quais foram, retrospectivamente, os
grandes marcos de sua trajetória até o momento em
que ele se firmou como fenômeno da internet e como
o cão mais badalado do mundo da moda?
Acho que posso separar o Jimmy de hoje para trás
em dois marcos importantes. Primeiro, o dia em que
eu postei a foto dele atrás da lixeira desenhada e
descobri que seria do caralho desenhar ao lado dele.
Segundo, o dia que a internet descobriu o Jimmy.
Com ela vieram o convite para estrelar a campanha
da Jimmy Choo, o convite para o livro… daqui para
frente não dá para prever mais nada.
Fotografar o Jimmy é difícil? Como você consegue
mantê-lo na pose para as fotos mais complicadas?
De que forma ele contribui com o resultado final?
Não, é muito fácil. O mérito é todo dele, sou só o
cara com a câmera – poderia ser qualquer pessoa.
Ele fica na posição que preciso pelo tempo que eu
precisar porque ele é especial, ele sabe que preciso
da ajuda dele e ele fica. É simples assim.
Jimmy já se recusou a fazer alguma foto? Você
se lembra de alguma que tenha sido particularmente desafiadora?
Nunca. A foto mais difícil de fazer foi a que ele está com
o capacete de moto. Senti que o capacete estava incomodando muito o Jimmy, mas precisava do click. A agonia
dele entre me obedecer, ficar quietinho e querer desaparecer com o capacete durou 30 segundos. E prometi a
mim mesmo que nunca mais faria isso com ele de novo.
Como é o seu processo de composição? Quais
são suas principais referências para as montagens com Jimmy?
O dia a dia: os livros que leio, as exposições que visito, as conversas que tenho, os filmes a que assisto.
Tudo me influencia porque só faço programas que
me inspirem de alguma forma, se não for para
agregar nada, fico em casa.
Você poderia falar um pouco sobre os bastidores da
produção do livro – das fotografias e definição do
conceito à escolha das imagens que seriam usadas?
Quando fui convidado a criar o livro, não imaginava
que ficaria tão “livre” para fazer o que quisesse. Tão
livre que não consegui nem pensar em uma cronologia para as fotos. Nisso a Livia e a Rosana, minhas editoras da Intrínseca, foram incríveis. Elas me
ajudaram a pensar numa linha a ser seguida. Depois
que o caminho ficou claro, voltei a Belo Horizonte
(estava morando em São Paulo na época), comprei
os equipamentos, aprendi a mexer neles via internet,
improvisei um estúdio e fotografei todas as noites
durante três meses. Foi cansativo e estressante.
Mentalmente eu podia estar destruído, mas não queria que o Jimmy passasse pelo mesmo. Então para
ele foram três meses
normais. Pensei em
desistir e jogar tudo
para o alto, mas, desde o início, sabia que
teria que fazer o melhor que pudesse, que
tinha a obrigação de
terminar e de fazer
meu cachorro brilhar.
Acho que consegui.
Internacional
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é seguir sempre adiante na história. Na não ficção,
você não pode nunca falsificar – mas pode e deve
omitir e simplificar para criar ritmo e suspense.
O que nunca deve se fazer no jornalismo literário?
Minha tendência é dizer que nunca se deve
ficcionalizar. Mas daí me lembro dos meus
maiores heróis literários, George Orwell e Ryszard
Kapuściński, que inventavam coisas de vez em
quando e nem por isso foram diminuídos. De todo
modo, não é para mim.
Acho que escritores de não ficção jamais deveriam
se apresentar como oniscientes, jamais deveriam
simular uma compreensão imparcial e completa,
deveriam sempre reconhecer sua própria
parcialidade e o fato de que nossa vida é como um
espectro de tons de cinza. Acho que por isso nunca
consegui admirar sinceramente aquele para muitas
pessoas é um dos maiores livros de não ficção da
história – A sangue frio, de Truman Capote.
Da escuridão à luz
Em termos práticos, como se organizar para escrever
um livro desse tipo?
A organização física do material é muito chata,
consome muito tempo e parece supertrivial:
furar documentos, reforçar os furos com adesivos
redondos, colocar os documentos furados e
reforçados em fichários coloridos, etiquetar os
fichários etc.. Mas, em projetos grandes, se você
não começa a se organizar desde cedo, tudo trava
de repente. Então, sim, usar pastas e fichários
físicos, anotações numeradas, datadas e indexadas
em documentos do Word. Além de backups de
todos os dados, em diferentes locais, de poucas em
poucas horas.
O que mais o motivou a se tornar jornalista?
Quando eu estava na faculdade, achei que seria
diretor de teatro e cheguei a montar algumas peças
universitárias. Mas o teatro depende demais do
capricho e da excentricidade dos outros. É como
cuidar de uma ninhada de gatos. O que me atrai
no jornalismo, ou pelo menos na escrita, é o fato
de termos de trabalhar sozinhos na maior parte do
tempo, ou em equipes pequenas. Correspondentes
estrangeiros são pagos para fazer duas das coisas
que mais me interessam: escrever e viajar.
Rogério Bettoni é filósofo, educador e tradutor, responsável pela
tradução de Devoradores de Sombras. Também é fundador e
editor da revista eletrônica Umbigo das Coisas.
Uma entrevista com Richard Lloyd Parry, autor de “Devoradores de sombras”,
clássico instantâneo do jornalismo literário
Nos idos de 2000, a inglesa Lucie Blackman, que
havia se mudado para Tóquio para trabalhar
como hostess, desapareceu na capital japonesa.
O dramático caso de desaparecimento que
ganhou as manchetes mundiais teve um desfecho
trágico quando a investigação policial levou à
descoberta de um crime abominável e à prisão
de um dublê de milionário e predador sexual. Em
“Devoradores de sombras”, lançado no Brasil pela
Publifolha, o jornalista Richard Lloyd Parry faz
uma reconstituição impactante da vida na capital
japonesa, do crime e do julgamento.
desdobrando em várias direções, percebi que seria
impossível explicá-la no espaço restrito de uma
única matéria. Daí veio a necessidade de escrever
um livro – não dava para fazer justiça ao caso em
menos de 400 páginas.
O livro foi rapidamente considerado pela crítica
como um dos melhores livros de não-ficção dos
últimos tempos – uma peça exemplar de jornalismo
literário comparável a clássicos como “A sangue
frio”, de Truman Capote, e “A canção do carrasco”, de
Norman Mailer. A seguir, Rogerio Bettoni, tradutor
da edição brasileira, conversa sobre o livro e sobre
o encontro de jornalismo e literatura com o autor
Richard Lloyd Parry; ao final, a junção de ambos os
ofícios em um trecho de “Devoradores de sombras”.
Me atraiu muito o fato de haver diversas histórias
dentro de um único caso. Tudo começou com
um mistério: O que aconteceu com Lucie? Para
responder essa pergunta, precisei pesquisar o que
ela estava fazendo no Japão, o chamado “comércio
das águas” do qual as hostesses participavam,
além da vida noturna. O caso então se tornou
a história de uma família que procurava a filha
num lugar estranho e desconhecido, e um drama
policial sobre uma investigação complexa. Quando
o criminoso foi a julgamento, a história virou
outro drama, dessa vez jurídico – a biografia de
um criminoso enigmático e uma história sobre o
curioso sistema de justiça penal no Japão. Para
mim, nunca foi apenas um “grande crime”, mas um
crime que jogava luzes em diferentes aspectos da
cultura japonesa moderna.
Qual sua motivação para escrever a história do caso de
Lucie Blackman?
De início, fiz a cobertura do caso porque fazia parte
do meu trabalho como correspondente de um
jornal britânico. Mas à medida que a história foi se
Como escrever um livro sem se deixar levar pelo timing
ficcional?
Acho que os escritores tendem a tomar decisões
desse tipo instantaneamente, sem seguir regras ou
fórmulas de maneira consciente. O mais importante
Chefe, encontramos Lucie
O inverno no Japão é luminoso e hostil, mas o frio afasta
as serpentes. Foi pensando nisso que o superintendente
Udo resolveu tentar pela última vez encontrar Lucie
nos lugares que a polícia sabia terem sido visitados por
Joji Obara. “É uma área grande”, disse ele, “e há muitos
lugares em que um corpo poderia estar enterrado.
Montei uma equipe e disse para voltarem só depois de
encontrar Lucie. Em dezembro e janeiro, eles cavaram
em muitos lugares”. Uma manhã, no início de fevereiro
de 2001, 22 policiais sem uniforme se hospedaram
numa pousada à beira-mar no vilarejo de Moroiso,
algumas centenas de metros depois do prédio Blue Sea
Aburatsubo. Os quartos foram reservados para o mês
inteiro. Toda manhã eles saíam com pás e picaretas rumo
a diferentes lugares ao longo da costa. O povo imaginou
que eles fossem empregados de algum projeto municipal
ou algo do tipo - com exceção de uma mulher: segundo
ela, “eles não tinham olhos de construtores civis”. [...]
Numa curva da praia, a cerca de 185 metros do prédio
e fora da vista das habitações, havia um declive numa
parte do desfiladeiro que formava uma torre de pedra
cravada na praia. Escondida atrás dela havia uma gruta.
Era o tipo de esconderijo utilizado para jogar lixo
clandestino e onde adolescentes iam fumar e namorar
escondido. Num país menos comportado e disciplinado
que o Japão, o lugar estaria coberto de latas de cerveja
e preservativos usados. E nem se tratava tanto de uma
gruta - parecia mais uma fenda aberta na rocha suja,
com 2,5 metros de largura e 3 metros de altura em seu
ponto mais alto; as paredes e o teto iam se estreitando e
baixando até não haver saída. Quatro canos de plástico
já desgastados saíam do teto irregular e pingavam água
no chão, uma tentativa antiga de canalizar a água da
chuva que escorria dos rochedos. Havia uma banheira
velha parcialmente enterrada na areia.
Às nove da manhã, quatro policiais a retiraram dali,
arrastaram-na para fora e começaram a cavar. Em poucos
instantes, o som das pás bateu em algum obstáculo:
havia um saco de lixo semitransparente com três coisas
volumosas, identificadas imediatamente como um braço
humano separado do ombro e dois pés. O punho do
braço estava envolto em plantas
e algas. A pele era branca e com
sinais de decomposição, mas os
dedos e as unhas continuavam
preservados - os policiais que
cavavam perceberam como eram
limpas e bem cuidadas, com
vestígios de esmalte. O policial
responsável pela investigação
telefonou imediatamente para
Udo. “Ele falou comigo em
prantos”, revelou Udo. “Ele disse:
‘Chefe, encontramos Lucie’.”
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Capa
Capa
Capa
AYRTON ETERNO
Em “100 Senna”, lançamento da editora Arte Ensaio, histórias inéditas e
objetos pessoais compõem um retrato único do piloto brasileiro – e mostram
que o ídolo segue mais presente do que nunca no coração e na mente dos fãs
São muitas as memórias deixadas por Ayrton Senna,
seja para quem acompanhou e torceu pelo maior piloto
de Fórmula 1 que o Brasil já teve, seja para entusiastas
do automobilismo que só conheceram a trajetória do
esportista postumamente. As maiores referências estão em seus feitos nas pistas. No entanto, um acervo de
lembranças concretas também guarda muitas histórias
de Ayrton entre capacetes, macacões, livros e troféus.
aproximação de Alain Prost – maior adversário nas pistas e inimigo pessoal por longos anos.
Sob os cuidados da família e do Instituto Ayrton Senna,
esses “tesouros” do piloto – até então pouco conhecidos
ou mesmo inéditos – agora estarão ao alcance de todos
os seus admiradores. E não falamos apenas do capacete
amarelo ou do tradicional macacão vermelho.
Há ainda memórias que revelam aspectos muito pessoais como, por exemplo, a fé inabalável do piloto, que o
fez dedicar algumas de suas vitórias à intervenção divina. Celso conta, a partir da conversa com dona Neyde,
que na noite anterior à corrida em Imola, onde ocorreria
o acidente fatal, Ayrton ligou para a mãe para que ela o
ajudasse a entender o significado do Salmo 81, que havia aberto na Bíblia que carregava sempre consigo. Juntos, leram a passagem e discutiram a interpretação, em
uma conversa que poderia se estender por toda a noite,
não fosse a corrida na manhã seguinte.
Em “100 Senna”, livro lançado pela editora Arte Ensaio
em parceria com o Instituto e organizado pelo escritor
Celso de Campos Jr., 100 objetos relativos à vida pessoal e profissional do piloto são retratados em mais de
300 páginas, acompanhados por fotografias da vida e da
carreira de Ayrton Senna.
“Muitas das imagens, bem como as histórias dessas peças, são trazidas a público pela primeira vez”, explica o
autor, que se baseou em entrevistas exclusivas com dona
Neyde, mãe do piloto, para escrever os textos que acompanham as imagens. “São objetos que fizeram parte da
vida do ídolo e que ajudam a explicar todos os capítulos
de sua trajetória, da infância à maturidade, da incerteza ao estrelato.”
Fotos: Leo Feltran
Informações inéditas e fotos raras de momentos significativos dentro e fora das
pistas fazem parte desta viagem sem precedentes ao universo particular de Senna.
Em suas entrevistas, dona Neyde abordou a origem do apelido “Beco”, o começo
no kart depois de muito atazanar o pai, a
escolha do capacete amarelo, a mudança
para a Inglaterra aos 20 anos e a trégua e
Cada uma das conquistas mais relevantes e os momentos-chave da carreira estão relatados –até a triste e precoce corrida final, trecho ilustrado pelo relógio guardado pela mãe que Senna usava no dia do trágico acidente
que abreviou sua história.
“Essa obra é especial, pois conta aspectos relevantes da
vida do Ayrton que jamais haviam sido revelados. São
momentos marcantes que mostram a dedicação intensa
que ele tinha e tudo que enfrentou para se tornar um
grande herói nacional. Além disso, o livro ajuda a perpetuar o legado do nosso tricampeão. Foi a partir de um
sonho dele de oferecer uma vida melhor ao povo brasileiro que surgiu o Instituto Ayrton Senna,
que hoje beneficia anualmente cerca de 2
milhões de crianças e jovens com educação
pública de qualidade”, diz Bianca Senna,
sobrinha do piloto e diretora do Instituto.
O livro tem duas opções de capa: uma com
o primeiro capacete de Senna, dos anos
de kart, e outra com a sapatilha vermelha
usada nos tempos de McLaren, na Fórmula 1. Nas páginas a seguir, confira algumas
imagens, acompanhadas por trechos exclusivos do livro.
pág. 16
Luvas da primeira vitória na F-1, em 1986
No domingo, 21 de abril de 1985, um dilúvio caiu sobre
Portugal. Encharcou os 4.350 metros da pista do circuito
de Estoril. E lavou a alma dos brasileiros. Em mais uma
extraordinária demonstração de perícia e velocidade
na chuva, Ayrton Senna alcançou sua tão esperada
primeira vitória na Fórmula 1. O piloto conduziu a
Lotus à linha de chegada sem qualquer sobressalto,
dando voltas e mais voltas na pobre concorrência
que lutava para segurar seus carros sacolejantes no
autódromo lusitano. Quando recebeu a bandeirada
final, Senna desafivelou os cintos para celebrar com os
punhos cerrados; o cockpit havia ficado pequeno demais para tanta
alegria. Do topo do pódio, orgulhoso, Ayrton fez questão de levantar
o distinto troféu recebido da organização da prova. Uma condecoração
com singelas miniaturas de carrinhos de vidro era pouco usual em
uma competição entre pilotos profissionais de automobilismo – mas
totalmente apropriada para quem realizava um sonho de criança.
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Tranquilidade depois do bicampeonato, em 1990
A conquista do bicampeonato tirou um peso
gigantesco das costas de Ayrton Senna – e
lhe permitiu aproveitar como nunca seus
passatempos preferidos. Na fazenda da
família, em Tatuí, interior do Estado de São
Paulo, o piloto montara um quartel-general
completo para o aeromodelismo, hobby no
qual era capaz de se debruçar por horas e horas.
Em uma edícola com vista para o lago, Ayrton
tinha ferramentas, peças de reposição, combustíveis
e tudo mais que precisasse para colocar os aviões no ar.
Carrinhos de controle remoto, alguns reproduzindo as
famosas pinturas de seus Fórmulas 1, também tinham vez. Sua
outra paixão eram os esportes náuticos – pilotava jet skis tanto em Tatuí quanto
em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, onde possuía uma casa de veraneio.
Mas mesmo nas horas de folga não descuidava da preparação física: fazia corridas diárias,
sempre monitorando os batimentos cardíacos com um frequencímetro último modelo.
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História
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História
História
sos grupos, desviando a nossa atenção das áreas que
devíamos proteger. Nós analisamos as suas táticas e
desenvolvemos as nossas. De início, começamos escalonando ainda mais os nossos grupos em diferentes
níveis de altitude e destacando para “grupos de engajamento” (contra tais ases inimigos) os nossos pilotos
mais experientes.
Eu já tivera oportunidade de me encontrar com ases
inimigos, perto de Belgorod, e até abati um desses caçadores de Hitler, quase colidindo em voo.
Mas o primeiro encontro sobre o Dnieper foi sem sucesso. Aconteceu assim.
NOVA PERSPECTIVA
Edição em português traz a visão da Segunda Guerra Mundial a partir do olhar soviético –
em relato assinado pelo piloto Ivan Kozhedub, recordista de vitórias em combates no conflito
Neste 2015, celebramos sete décadas do final da Segunda Guerra Mundial – um dos temas que mais rendeu livros em todos os tempos. Há uma miríade de
obras em português sobre o assunto, sejam obras de
referência, sejam traduções de relatos de combatentes
ingleses, franceses, japoneses, alemães e norte-americanos. Entretanto, apesar da importância da União
Soviética no desfecho do conflito, ainda não havia no
Brasil um livro que contasse o combate pelos olhos de
um piloto de caça soviético.
Assim, “Tudo Pela Pátria – Em Busca do Combate!”,
um lançamento da C&R Editorial, vem para preencher
esta lacuna. O autor, Ivan Kozhedub, o mais vitorioso
de toda a aviação aliada, com 62 vitórias em apenas
dois anos de combates, entre março de 1943 e maio
de 1945, narra suas aventuras e combates durante a
guerra, que o levaram a ser o mais condecorado piloto
soviético de toda a história. O livro ainda vai além dos
combates, revelando como o comunismo foi chegando
às regiões mais remotas da União Soviética e como a
gente simples foi se entusiasmando com os arautos da
nova realidade e fazendo deles seus heróis.
A tradução direta do russo revela o cuidado da C&R
com o tema – a editora é responsável por outros livros
de história militar e aviação, como O Grande Circo,
de Pierre Clostermann, piloto de caças das Forças da
França Livre. A seguir, um trecho da obra de Ivan Kozhedub.
DUELOS DE ASES
Em nossa seção do fronte, ao mesmo tempo em que
o inimigo começou a operar com grandes grupos de
bombardeiros, apareceram também alguns dos grandes ases de Hermann Göering, dos grupos Richthofen e Mölders73. Esses ases voavam nos arredores do
campo de batalha, em patrulhas, buscando destruir
nossos líderes e também pegar aviões solitários que
tinham se perdido de seus grupos, abatendo aparelhos
já danificados. Seu objetivo era desorganizar os nos-
Expirado o nosso tempo previsto de cobertura, virei
e, junto com o grupo, tomei o curso de casa. De repente, porém, vi vindo direto contra nós dois caças
inimigos. Tinham uma ligeira vantagem de altitude,
do lado leste. Claro, eram eles, os “experten”! Decidi
aceitar o ataque frontal. E sem nem mesmo ter tempo
para transmitir algo pelo rádio, mirei um deles. Mas
enquanto completava a rotação e me preparava para
abrir fogo, algo estalou, balançando o avião. O inimigo se antecipara! Seu projétil deve ter passado uns
2cm acima da minha cabeça. O rádio parou de funcionar. E os controles do leme foram avariados.
E os alemães, passando perto de nós, se afastaram
sem qualquer retaliação.
Cheguei com sucesso ao aeródromo, acompanhado
pelo grupo. Mas estava muito aborrecido comigo mesmo. Tirara uma conclusão importante: a de que, num
ataque em rota de colisão, não podia perder um único
segundo, tinha de ser o mais rápido possível para travar a mira no inimigo e, então, abrir fogo.
No dia seguinte, o meu grupo, num curto combate,
destruiu um grupo de Ju-87 na região de Borodaevka.
Perseguindo um dos Junkers, eu acabei o abatendo a
baixa altitude, sobre território ocupado pelo inimigo.
E ao voltar, sobre o campo de batalha, vi diversos aviões em rodopios entre si – caças soviéticos e os Messerschmitt. Um combate em pleno andamento. Noto
que uma dupla de Messerschmitt se aproxima pela
cauda de um Yak-7 e, pelas marcações nos aviões alemães, é de ases.
Eu não conhecia o codinome de rádio dos Yakovlev,
então falo aberto pelo rádio:
– Yak, Yak! “Messer” atrás!
O Yak-7 faz um rolamento e as rajadas se perdem no
ar. Mas o caçador, é claro, já o considerava como sua
presa e não ia recuar.
O nosso piloto estava numa posição difícil.
– Aguente, meu amigo! – transmito.
Tiro tudo o que posso do meu caça e, vindo por baixo
e por trás, dou uma longa rajada, “costurando” um dos
Messerschmitt, que despenca para terra. Isso foi por
ontem! O segundo caça se afasta com rapidez.
O Yakovlev se alinha comigo. Balança as asas e o piloto agradece:
– Obrigado, amigo! Me salvou!
Juntos, cruzamos a linha de
frente. Ele agradece uma vez
mais e toma o seu rumo de
casa. Assim, no ar, ajudávamos uns aos outros. E, como
em outras vezes, nos separamos sem saber nossos nomes, pilotos com quem, asa a
asa, defendemos a travessia
do Dnieper.
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Papo de editor
Papo
editor
Papode
de editor
ferramentas que auxiliam o trabalho como oferecendo
um canal de vendas sem intermediários. Seguindo esse
raciocínio, poderia ser extinta a figura do editor como
mediador entre autor e leitor? A resposta é sim, embora
não signifique que isso seja bom.
Por quê? Falando só de Brasil: nosso povo lê pouco, as
bibliotecas são obsoletas e insuficientes, existem poucas
livrarias por habitante e a internet é hoje um chamariz
muito maior que o livro, seja ele digital ou impresso.
Não há em nosso país políticas públicas para incentivar
e fortalecer o hábito da leitura. Ainda assim, muitas editoras foram criadas e se transformaram em empresas
de sucesso, apesar da crise que nos assola desde 2008.
Como isso foi possível? Com três palavrinhas: “seleção
de conteúdo”. Ou o que muitos, modernamente, chamariam de curadoria.
O FIM DE UMA ERA?
Por SORAIA BINI CURY
No início de outubro de 2015, o escritor Paulo Tedesco
publicou um artigo interessantíssimo no portal Publishnews, que oferece notícias e debates sobre o mercado
editorial. No texto, Tedesco dizia que a relação entre autor e editor não só estava obsoleta como era totalmente
dispensável nos dias de hoje. Para ele, a autopublicação
na era digital é o caminho para aqueles que desejam ver
suas ideias difundidas e comercializadas.
Poucos dias depois, em um dos maiores portais da área
editorial, o Publishing Perspectives, John Pettigrew, ex-editor e criador da ferramenta Futureproofs (espécie
de empresa de revisão online), publicou um texto com
argumentos diametralmente opostos aos de Tedesco.
Pettigrew afirma que decretar o fim dos editores é um
grande erro, pois a esses profissionais cabe encontrar
boas obras e transformá-las em produtos de sucesso.
Afinal, quem está certo nesse debate? Como profissional
do mercado há quase 15 anos, devo dizer que sou muito
mais simpática à visão de Pettigrew. Vejamos por quê.
Embora o mercado de livros digitais tenha crescido exponencialmente nos últimos anos, sobretudo nos Estados Unidos e na Europa, ele dá sinais de que chegou
ao auge e daí não passa. Aliás, a receita com a venda de
livros eletrônicos vem caindo. No Brasil, as vendas são
tão baixas que as editoras simplesmente não divulgam
números, a não ser em casos especiais em que o livro
digital acompanha o sucesso do impresso. Ainda assim,
trata-se de uma realidade à qual não se pode dar as costas. Muita gente prefere ler no tablet, no e-reader ou no
celular. O preço dos e-books, cerca de 30% mais baixo
que o dos exemplares físicos, também é um atrativo,
além da possibilidade de baixar o conteúdo em qualquer
lugar do mundo com poucos cliques – e não ocupar espaço nem gastar papel.
Aliado a isso, empresas como Amazon, Google e Kobo
têm incentivado a autopublicação, tanto por meio de
Sem editores aptos a descobrir, transformar e melhorar
a produção dos autores, a qualidade das obras seria infinitamente menor, o que se refletiria em vendas baixíssimas. Pense comigo, caro leitor: se hoje está difícil
vender livros extremamente bem editados, que dirá
comercializar títulos sem o filtro de especialistas acostumados a separar o joio do trigo e, ainda por cima, tornar esse trigo uma espécie de supercereal. Mais: como
se sentiria o escritor vendo a obra da sua vida se juntar
a milhões de outras sem o devido destaque, sem uma
sacada editorial que a ponha na linha de frente?
É como diz John Pettigrow: um editor competente
transforma uma obra medíocre em bom livro, e um bom
livro numa obra espetacular (não cabe aqui discutir se
altas vendas significam boa qualidade).
“
Sem editores aptos a
descobrir, transformar e
melhorar a produção dos
autores, a qualidade das
obras seria infinitamente
menor, o que se refletiria
em vendas baixíssimas.
conhecimentos e tentar atingir um público não especializado, das duas uma: vai escrever um livro incompreensível para o leitor médio ou chover no molhado com
seus pares. Apenas o editor bem formado e experiente
pode sugerir uma estrutura coerente, apontar temas de
fato relevantes para o leigo, eliminar ou traduzir trechos
muito técnicos, solicitar a criação de tabelas e infográficos, priorizar explicações claras e diretas e incentivar
o uso de uma linguagem acessível – ou até apresentá-la ao autor. Mais tarde, ao informar o departamento
comercial sobre as características da obra, o editor poderá de sugerir canais de divulgação, apontar as áreas
em que ela se enquadra, indicar seus chamarizes e assim
por diante. Seu trabalho não termina quando o livro vai
para a gráfica ou o e-book “sobe” para as livrarias digitais ou distribuidoras de conteúdo.
“
Se hoje está difícil vender
livros extremamente
bem editados, que dirá
comercializar títulos sem
o filtro de especialistas
acostumados a separar o
joio do trigo
”
Na área da literatura, a curadoria do editor é também
fundamental. Descobrir novos talentos, sugerir mudanças que possam melhorar a qualidade da obra e ressaltar
os pontos fortes do texto é tão fundamental quanto saber valorizar os bons escritores que, embora não vendam tanto, têm importância cultural e social inegável.
Quantos milhões não foram investidos com autores
principiantes antes que sua genialidade fosse reconhecida? Quantas reuniões entre editor e diretor foram necessárias para que o primeiro vendesse uma boa ideia ao
chefe? Seria muita ingenuidade acreditar que tudo isso
aconteceria de forma espontânea sem a figura do editor.
”
Vamos a um exemplo. Imagine que um médico deseje
produzir um livro para leigos sobre sua especialidade.
Ele tem pleno domínio do assunto, mas utiliza jargões
específicos e está acostumado com publicações científicas de alta complexidade. Ao colocar no papel seus
Diz Tedesco que chegamos ao fim de uma era. Concordo
com a ideia de que faz parte do passado a figura do editor como intelectual onipotente que se compraz em acabar com os sonhos de principiantes. No entanto, acredito que o profissionalismo do editor continuará sendo
fundamental para transformar um livro com potencial
numa obra relevante, sobretudo num mercado abarrotado e cada vez mais competitivo.
Soraia Bini Cury é jornalista e editora executiva do Grupo Editorial Summus
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Papo de escritor
Papo de
escritor
Papo
de escritor
roteiro, textos de humor, de psicologia, sobre alimentação, terapia de casal, relacionamento familiar, e até
capitão de uma seleção brasileira de escritores que jogou futebol no Brasil em 2014 contra a Alemanha e não
perdeu de 7 a 1 (empatamos em 0 a 0). Como dá para
perceber, a lista não fica devendo muito para professores, mágicos e contorcionistas de circo.
Passei a adotar a estratégia de respostas variadas, conforme o interlocutor, a situação, o momento: cartunista, escritor, redator, desenhista, humorista.
O quarto, e talvez mais importante, é que, sendo um
caçador de ideias, você precisa respeitar seu objeto de
caça. Você, como caçador, está proibido de matar sua
presa. Está proibido de depená-la, cortar suas asas,
alimentá-la com dietas equivocadas, colocá-las em
um ambiente, frasco ou espaço para o qual ela não foi
preparada ou nasceu para estar. Você tem que deixá-la
respirar, correr, voar, dançar no céu ou mesmo vê-la se
espatifar no paredão das frustrações. Mas precisa observar, estudar, entender sua ideia sob todos os ângulos possíveis. Pode até apontar para onde ela deve ir,
indicar o caminho mais seguro ou possível, entender os
riscos e os perigos, mas sempre respeitando a natureza
e a essência da sua ideia.
Tive que esperar chegar até quase os 50 anos para
finalmente ter uma definição que me contentasse a
respeito disto.
Porque a ideia, pura, como uma coisa isolada do mundo, não é algo que a gente pega e coloca facilmente em
um recipiente ou plataforma.
O que eu sou afinal?
Quando Michelangelo tinha uma ideia para uma escultura, estava, antes de mais nada pensando em uma
escultura. Ou em uma ideia que funcionasse em uma
escultura. Picasso tinha muitas ideias, mas estava pensando em desenho ou pintura. Ok, Picasso também
pensava em mulheres, mas, veja lá, quase todas também acabaram virando... desenhos ou pinturas.
O estranho é que, em alguns períodos, passei, sem perceber, semanas sem fazer um único desenho. O que faz
me sentir realmente um enganador respondendo “desenhista” quando na verdade muitas vezes estava fazendo
tudo, menos desenhar. Tentei “autor”, mas em seguida
quase sempre perguntavam “ator de tv ou teatro”?
Caçadores de ideias:
um manual de sobrevivência
Por CUSTÓDIO
Qual sua profissão?
O que você faz?
um desenho pendurado na sua ideia. Por isso, alguns
cartunistas muito famosos podem até ser confundidos
com “maus” desenhistas.
Algumas das perguntas mais comuns que se ouve ao
longo da vida.
Pouca gente sabe o que é um cartunista, e menos pessoas
ainda acham que isso lá pode ser considerado profissão.
É relativamente simples responder quando você tem
uma atividade dita “normal”, como um professor, ou
até mesmo inusitada, como mágico ou contorcionista
de circo.
Então o que responder quando vinha a pergunta: qual
a sua profissão?
Desde que tinha seis ou sete anos, desenhando com
caneta Bic em um papel de embrulho, em um balcão,
ao lado do meu pai, sabia o que queria ser: desenhista. Esse era o plano caso não conseguisse uma vaga no
meio de campo do Palmeiras.
Virei então um cartunista.
Cartunista não é exatamente um desenhista. O desenhista desenha, o cartunista não. Ele precisa quase
sempre de uma ideia pendurada no seu desenho. Ou
Para simplificar, costumava responder simplesmente
“sou desenhista”.
A formação de um cartunista é quase sempre autodidata
e muito aberta. Por isso, embora o desenho seja a parte
mais visível do meu trabalho, não foi apenas desenhando que tentei ganhar a vida nos últimos 26 anos.
Projetos, convites, oportunidades, parcerias e necessidades me fizeram caminhar pelo cartum, pelos quadrinhos, desenhos animados, tiras de jornal, charge,
caricatura, ilustrações, haicais, oficinas de desenho,
pesquisas históricas, biografias, publicidade, stand up,
toque trombone ou faça um canelone com espinafre e
requeijão. Portanto, respeitar o talento alheio é quase
uma obrigação.
Um caçador de ideias.
Me apresente uma ideia, ou me dê a chance de pensar
em alguma que eu considere sedutora ou possível, e lá
vou eu feito um montanhista que nunca viu o pico do
Everest mas pensa em um jeito de chegar lá.
Para ser um caçador de ideias é necessário que se tenha
alguns cuidados.
O primeiro, é claro, que isso não vai te trazer muita
consistência profissional nem uma carreira sólida em
uma coisa específica. Ser o primeiro bailarino do Bolshoi precisa dedicação exclusiva e foco. Não dá para
conciliar com ser meio de campo do Palmeiras. Escolha
uma delas.
O segundo, é que você vai precisar saber fazer bem algumas coisas, não só as que você gosta mais. Se gosta
de desenhar, talvez tenha que saber escrever bem, e se
gosta do desafio de fazer os outros rirem, talvez tenha
que saber falar em público.
O terceiro, você sempre será um aprendiz. Porque um
mestre em sua arte ou atividade, qualquer que seja,
sempre terá muitas horas a mais de prática que você.
Sempre encontrará alguém que desenhe melhor, pinte,
Se você estiver preparado, e se souber tratar bem sua
ideia, colocá-la em seu formato correto, é bem provável que ela dê frutos. Se multiplique. Te traga muitos
prazeres. Vai te dar trabalho também, mas o resultado
final é sempre compensador.
Quem sabe, aos poucos, nós, os caçadores de ideias,
possamos ir aumentando nossa presença na sociedade. Quem sabe comecemos a ser mais reconhecidos
e compreendidos pelas pessoas. Podemos começar
a fazer parte das estatísticas, e na próxima vez que
um pesquisador do IBGE nos perguntar a profissão, a
gente possa responder:
– Caçador de ideias.
– Poxa... Já é o quinto esta semana.
Como vimos acima, Custódio é caçador de ideias – para falar com ele,
escreva para [email protected]. As ilustrações destas duas páginas e as tirinhas das duas páginas seguintes são assinadas por ele.
Papo de escritor
Papo de
escritor
Papo
de escritor
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pág. 31
Ficções Livrescas
FicçõesFicções
Livrescas
Livrescas
CINCO
MINUTOS
formações. Simpáticas, sugeriram que ele se sentasse.
Antes de responder às suas indagações perguntaram o
que ele fazia.
Roberto contou que era editor de uma importante editora no Brasil, especializada em revistas e livros especiais. Revelou ainda que possuíam negócios em Portugal, mas estavam tentando uma parceria com algumas
editoras francesas. Gostariam de iniciar publicando as
obras de Rogerio Santos, que fazia sucesso no Brasil e
na Espanha.
Por REINALDO POLITO
Roberto chegou ofegante ao balcão de check-in da
Air France, no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Estava atrasado e não poderia perder o voo de
jeito nenhum.
– Que interessante – disse Josefine, a mais loira das
duas – que tipo de livros escreve esse escritor brasileiro, Monsieur Santos, e que atrativo poderia ter para o
mercado editorial francês?
– Pardon, monsieur. Nous avons terminé il y a cinq minutes.
– Ele escreve sobre comunicação – respondeu Roberto – e esse é um tema universal. Tenho certeza de que
teremos muito sucesso com seus livros aqui na França.
– Vous avez de livraison de bagages?
– Sobre a pergunta que nos fez – disse Margot – a outra
francesa, que tinha os cabelos mais escuros, e falava
com voz arrastada, sensual, mas quase incompreensível – a duas quadras à direita, logo depois do teatro,
você vai encontrar um sebo pequeno, mas que possui
obras antigas de excelente qualidade. Acho que vai encontrar os livros que está procurando.
– Tenho só duas malas pequenas.
– Excusez-moi, monsieur. Nous n’avons plus de conditions d’expédier des bagages. Le prochain vol à votre
destination part ce soir.
Ia dizer que duas maletas poderiam ser despachadas
sem problemas e que não poderia esperar até a noite
para embarcar. Sem saber se xingava ou ficava calado,
Roberto resolveu agradecer e remarcar a passagem
para o voo das 19 horas.
Pegou um taxi e foi até ao Café de la Paix, na Place de
l’Opéra. Era um lugar bem central e, sem gastar muito, ficaria naquela esquina famosa, tomando café e observando as francesas, que passavam apressadas indo
e vindo do trabalho, e as turistas, carregando sacolas
com as compras feitas na Galeries Lafayette. Se enjoasse daria uma caminhada até o teatro, que ficava quase
em frente. Sempre com cuidado para pegar o taxi de
Roberto conhecia livros antigos e sabia fazer uma avaliação correta. Assim que entrou na livraria um sino
tocou, indicando ao livreiro que recebera visita. O proprietário vestia terno escuro, camisa branca, gravata bordô, com lenço do mesmo tecido no bolsinho do
paletó e usava sapatos muito bem engraxados. Com ar
simpático, olhava por cima dos óculos, como se quisesse tirar uma radiografia do visitante.
– Posso ajudá-lo em alguma coisa?
– Não, muito obrigado. Só vou dar uma olhada.
– Como encerraram há cinco minutos? O avião ainda
está com as portas abertas, nem se mexeu do lugar.
Como não queria ficar o dia todo perambulando pelo
aeroporto, tinha duas alternativas: ou se hospedava no
Sheraton, dentro do próprio aeroporto, ou colocava as
malas no locker e aproveitava para dar umas voltas e
curtir o belíssimo dia na capital francesa. Optou pela
segunda. Talvez pudesse também visitar um sebo e
comprar um bom livro antigo, pois colecionar livros
raros era uma de suas maiores alegrias.
tos de conversa. Esse é o tempo suficiente para saber
qual a atividade do futuro comparador, se ele conhece
livros antigos e, se sabe identificar diferenças entre as
primeiras edições valiosas e as comuns.
Roberto agradeceu, pagou a conta e foi na direção que
a francesa havia indicado. Ao cruzar a rua olhou para
trás, na esperança de que uma delas o estivesse observando. Frustração. Conversavam animadamente e,
pelo jeito, nem se lembravam mais da sua existência.
volta até às 15h, pois não queria correr o risco de perder o voo novamente.
Enquanto bebericava mais um cafezinho, viu duas
francesas elegantes, que passavam sem pressa na calçada oposta. Pela maneira como estavam vestidas e os
passos vagarosos que davam, com certeza, não eram
mulheres dadas ao trabalho. Pelo menos não esse trabalho de chegar e sair no horário, com chefe e compromissos com clientes e fornecedores.
Para sua surpresa, elas também entraram no Café e se
sentaram à mesa ao lado. Roberto não esperou um segundo e se aproximou das duas pedindo algumas in-
Teve de andar três quadras, e não duas como a moça
informara. Era uma travessa sossegada, numa rua quase deserta. A livraria era bem pequena por fora, mas
dava para ver pela porta de vidro que o corredor que
levava às instalações internas era bem longo. Na frente
havia uma inscrição tomando toda a fachada – Livres
Anciens. Decidiu ali garimpar alguma preciosidade.
Sabia que galinha morta não iria encontrar, já que esses livreiros são experientes e sabem determinar com
boa margem de segurança o valor de um livro, pela data
de publicação, nível de conservação, raridade e origem.
Ah, e, lógico, pelo jeitão do comprador. Passar o preço
de um livro de 50 para 500 Euros bastam cinco minu-
– Fique à vontade. Se precisar de ajuda, estou aqui.
Depois de retirar alguns livros da prateleira e consultá-los com cuidado, encontrou uma obra que lhe chamou
a atenção – uma edição de 1862 de “Os miseráveis”, de
Victor Hugo. Com 702 páginas, foi editada por Jules
Rouff Et Cie, em francês. Tinha boa encadernação e
apenas uma página restaurada. Excelente livro.
– Quanto está pedindo por este livro?
– 1.500 Euros.
Roberto não reagiu. Tinha certeza de que o livreiro estava multiplicando o valor do livro.
– É uma boa edição. Está em excelente estado. A capa
é original. Possui uma rasura insignificante. Foi produzido em papel que resistiu muito bem ao tempo. É um
livro que gostaria muito de ter na minha biblioteca. Só
que este preço, entretanto, está acima das minhas posses. E, por mais interessante que seja o livro, mesmo
sendo uma edição de 1862, não é tão raro assim, já o vi
ofertado por outras livrarias pela internet. Há condições de negociar ou o preço é definitivo?
– 1200 Euros é o último preço.
– Sinto muito. Só tenho 250 Euros. Não gostaria de
ofendê-lo com uma oferta tão baixa. Muito obrigado
pela atenção. Au revoir.
– Han, han, han. Bem, estou precisando substituir al-
Filantropia
Filantropia
FicçõesFicções
Livrescas
Livrescas
guns livros para atender os clientes mais antigos. Talvez eu possa fazer por 500 Euros.
– Desculpe, Senhor. Só posso chegar a 300.
– Très bien. É seu por 300 Euros.
– Muito obrigado. Só uma pergunta, por que pediu um
valor tão elevado?
gar 800 Euros. Dependendo do interesse, quem sabe
até os 1.500 pretendidos pelo livreiro francês. Eram só
elucubrações para se divertir. Sabia que jamais venderia aquele livro. Gostava de comprar, jamais de vender.
Estava na hora de voltar. Já havia tomado café, visto
umas francesas bonitas, respirado um pouco mais do
ar parisiense e comprado uma jóia raríssima, que ocuparia um lugar especial em cima da sua escrivaninha.
Poucos livros haviam lhe proporcionado tanta alegria.
assunto e pensando em cursar medicina. Um dia
ela perguntou qual era o estágio mais difícil no
tratamento dos pacientes, e, sem pensar duas
vezes, respondi que era a recuperação.
– Há muitos casos em que o tratamento supera
todas as expectativas, mas o paciente tem uma
recuperação lenta e difícil – explicou o Dr. Blum. –
Juntos, tentamos pensar em um modo de ajudar na
recuperação, e Maya disse: “Precisamos encontrar
um jeito de lhes dar uma energia de recuperação
que fique com eles por muito tempo.” Ela sugeriu
que “carregássemos” os ursos de pelúcia com
energia positiva e os déssemos aos pacientes.
– É quanto vale o livro, Senhor?
– Roberto.
– Oui. Roberto. É quanto vale o livro – e não conseguindo acreditar nas próprias palavras, consertou –
Vejo que o senhor entende bem de livros raros.
– Obrigado pelo elogio. Na verdade, não entendo tanto, mas o suficiente para saber que esse livro poderia
ter um preço mais acessível.
Roberto sabia que havia feito um excelente negócio.
No Brasil, um bom colecionador não hesitaria em pa-
pág. 33
Filantropia
Ficções Livrescas
No aeroporto, depois de pegar as malas e fazer o check
in, agora com antecedência, Roberto se sentou em um
banco em frente ao portão de embarque e começou a
ler seu novo livro. Modo de dizer, pois “aquele senhor”
que estava em suas mãos já beirava os 150 anos.
Enquanto folheava a obra colocou a ponta dos dedos
polegar e indicador no queixo e pensou: - como seria
bom se pudesse sempre me atrasar cinco minutos, desde que o resultado fosse assim tão positivo. E brincou
consigo mesmo – Bem, vamos ver se o Jean Valjean
dessa época era diferente daquele que conheci na Broadway. E riu da sua piadinha infame.
O PODER
DA ENERGIA
POSITIVA
Um trecho de “Ative sua bondade”, de Shari Arison,
lançamento da editora Valentina que mostra
como a prática sistemática do bem pode melhorar
a produtividade, os relacionamentos e a saúde
Esta história veio do consultório do Dr. Blum,
quando ele era o chefe do Departamento de
Neurologia de um dos maiores hospitais de Israel.
Na verdade, o consultório dele mais se parecia
com um quarto de criança. Dúzias de ursos de
pelúcia coloridos se espalhavam por todas as
mesas, poltronas e prateleiras – até mesmo na
maca de exames.
– Aqui no departamento sou chamado de Dr. Urso
de Pelúcia – contou, com um sorriso. O Dr. Blum ri e
sorri muito. – Rir é muito saudável – observou. – Em
geral, o nosso estado de espírito, a nossa situação
emocional e o nível de nossa energia espiritual
têm um enorme efeito sobre a nossa recuperação.
Foi o que aprendi quando decidi estudar medicina
complementar, além da medicina convencional.
Mas os ursos de pelúcia, admite, foram ideia de sua
filha mais nova, Maya, de dezesseis anos.
– Conversamos muito sobre o meu trabalho
no hospital, porque ela está interessada no
Foi assim que nasceu o projeto dos “ursos de
recuperação”. – Maya tinha uma bela coleção de
ursos de pelúcia, que decidiu doar para o projeto –
relembra o Dr. Blum.
– Sentamos e meditamos juntos, transferindo
uma boa energia de recuperação para os ursos. Em
seguida, nós os distribuímos no hospital.
O Dr. Blum diz que a resposta foi assombrosa.
Pacientes que receberam os ursos reportaram
diminuição nos níveis de ansiedade, sono mais
profundo e tranquilo e recuperação mais rápida.
– Outras pessoas ouviram falar nos “ursos de
recuperação” e quiseram ajudar. Elas começaram
a doar ursos, e hoje podemos oferecer um “urso
de recuperação” totalmente carregado de energia
positiva a cada paciente do hospital – disse o
homem que se orgulha de ser conhecido como Dr.
Urso de Pelúcia.
Quando você pensa no experimento, vê que foi
bastante simples, mas deu certo! Uma família, o
Dr. Blum e sua filha, provaram que a boa vontade
e a energia positiva podem transformar os que são
tocados pela bondade. Quando você trilhar o seu
próprio caminho de bondade, também começará a
se conscientizar plenamente do seu potencial.
E estará muito mais apto a
apoiar os que ama, enquanto
eles trilharem a sua própria
jornada rumo à plena
realização do seu potencial.
Em pouco tempo você
descobrirá que fazer o bem
permeia cada aspecto da sua
vida, enriquecendo a você e
aos seus amados, e trazendo
aos membros da sua família
maior vitalidade e alegria.
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Fotografia
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Fotografia
Fotografia
Serginho em momento de descontração
Ensaio dos Mutantes na Cantareira
PSICODELIA REVELADA
Liminha passeia em Saquarema
Quatro décadas depois, fotos inéditas da fase áurea dos Mutantes
chegam ao mercado com o lançamento do livro “A hora e a vez”
Durante o período mais criativo dos Mutantes, entre 1969 e 1974, Leila
Lisboa foi uma espécie de integrante honorária do conjunto. Namorada
do então baixista Liminha, a jovem fotógrafa teve acesso privilegiado aos
ensaios, aos shows e à intimidade de pura psicodelia de uma das maiores
bandas brasileiras. Parece inacreditável, mas seus registros ficaram ocultos
dos fãs – até agora. O livro “A hora e a vez”, lançamento da Realejo, traz
130 imagens inéditas de Rita Lee, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, Liminha
e Dinho, bem como fotografias surpreendentes do incrível universo do
grupo. Confira nestas páginas algumas dessas imagens que fazem dessa
obra um documento precioso para a história do rock nacional.
A inigualável Rita Lee
Arnaldo Baptista, gênio dos Mutantes
pág. 39
Entretenimento
Entretenimento
Entretenimento
Estrelas
do papel
Como vem acontecendo desde... sempre, a indústria cinematográfica recorre aos livros para alimentar com qualidade sua produção. Para 2016,
não será diferente: diversos best-sellers chegarão
às telonas protagonizados por alguns dos maiores
atores de Hollywood. Confira a seguir alguns dos
astros que encarnarão os fantásticos heróis da literatura no ano que vem.
Eddie Redmayne: Animais Fantásticos e Onde Habitam, de
Newt Scamander (Rocco)
Jennifer Lawrence: O Projeto Rosie, de Graeme Simsion
(Editora Record)
Hailee Steinfeld: A Probabilidade Estatística do Amor à
Primeira Vista, de Jennifer E. Smith (Galera Record)
Lupita Nyong’o: Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
(Companhia das Letras)
Tom Hanks: Inferno, de Dan Brown (Sextante)
Chloë Grace Moretz: A 5ª Onda, de Rick Yancey (Fundamento)
Lily James: Orgulho e Preconceito e Zumbis, de Seth
Grahame-Smith (Intrínseca)
Emma Watson: O Círculo, de Dave Eggers (Companhia
das Letras)
Eva Green: O Orfanato da Senhora Peregrine para Crianças
Peculiares, de Ransom Riggs (Leya)
pág. 40
Bem
estar
pág. 41
Bem
Bemestar
estar
O que é essencial
O essencial é treinar para se sentar em silêncio e com a
consciência plena. Quanto mais vou treinar, mais profundo será o seu entendimento do que está pensando ou
sentindo. Talvez você pense: “Estou entediado!” “Isso é
ridículo.” “ Eu preciso fazer alguma coisa agora mesmo.”
É possível que velhos hábitos e histórias de vida estejam criando tais pensamentos e sensações. O que está
impedindo que você seja capaz de apreciar o momento
presente? Continue respirando. Continue sentado. Essa
é a prática.
Sucesso mundial, as dicas do mestre zen-budista vietnamita Thich Nhat Hanh
ensinam a arte de viver agora também para os brasileiros
O nome é complicado, mas as dicas não poderiam ser
mais simples. Thich Nhat Hanh, conhecido como um
dos mestres do zen-budismo mais respeitados do mundo, apresenta ao leitor brasileiro, pela editora Agir, a
Coleção Mindfulness Essentials. Composta por três livros de bolso (“A arte de sentar”, “A arte de amar” e “A
arte de comer”), a coleção compartilha os ensinamentos
do monge vietnamita por meio de instruções simples e
de fácil compreensão para aqueles que desejam explorar
a meditação mindfulness.
De acordo com Thich Nhat Hanh, a arte de viver consciente cada momento, em vez de se apegar ao passado ou
ao futuro, é a chave para desenvolver a paz em si e no
mundo. “A paz é possível. A felicidade é possível. E essas
práticas são simples o suficiente para todos seguirem”,
diz. As obras fazem parte do conjunto de 85 títulos
publicados internacionalmente pelo escritor, poeta e
ativista da paz e dos direitos humanos. Nas páginas a
seguir, trazemos algumas destas dicas. Inspire-se!
Apreciar a sua respiração
Ao se sentar, a primeira coisa a fazer é estar atento à sua respiração. Estar atento à sua respiração é o
primeiro passo para cuidar
de si mesmo. Estando atento
à sua inspiração e à sua expiração, você poderá enxergar como a respiração passeia
pelo interior de seu corpo.
Você começará a cuidar de seu
corpo e sua mente, começará a
sentir alegria pelo mero ato de
respirar. Toda inspiração pode
lhe trazer alegria. Toda expiração pode lhe trazer calma
e relaxamento. Este é um bom
motivo para sentar- se. Não precisamos nos sentar com
uma determinada intenção, como a de ficarmos mais
inteligentes ou alcançarmos a iluminação. Podemos nos
sentar apenas para apreciarmos o ato de estar sentados
e respirar.
Uma flor entre duas pedras
Quando você se senta sozinho em silêncio, é algo lindo,
mesmo que ninguém o veja. Quando uma pequena flor
surge em uma fenda entre duas pedras, está também é
uma bela visão. Talvez ninguém a veja, mas não importa.
Comer de maneira consciente
Amar alguém não significa dizer “sim” a tudo o que outro quer. A base do amor é conhecer a si mesmo e as suas
necessidades. É importante saber que amar o outro não
é mais importante do que escutar a si mesmo e conhecer nossas necessidades.
Para cultivar a atenção plena (ou mindfulness), podemos fazer o mesmo de sempre (caminhar, sentar, trabalhar, comer...) com percepção consciente do que estamos
fazendo. Ao comer, sabemos que estamos comendo. Ao
abrir uma porta, sabemos que estamos abrindo uma
porta. Nossa mente está conectada às nossas ações.
Quando comemos uma fruta, tudo o que precisamos é
atenção plena para nos darmos conta disto: “Estou com
uma maçã na boca.” Nossa mente não precisa estar em
nenhum outro lugar. Se você
está pensando no trabalho enquanto mastiga, não estará comendo com atenção plena. Ao
prestar atenção na maçã, estará sendo consciente. Então,
você pode ir mais fundo e, em
pouquíssimo tempo, você verá
as sementes da maçã, o lindo
pomar, o céu, o fazendeiro,
o responsável pela colheita e
assim por diante. Quanto trabalho em uma única maçã!
Meditação do amor
Arrumar a mesa
Esta meditação do amor, chamada meditação Metta, foi adaptada de Visuddhimagga (“O caminho da
purificação”), de Buddhaghosa, uma sistematização
dos ensinamentos de Buda feita no século quinto da
Era Comum.
Fazer uma refeição com consciência plena é uma prática
importante. Desliguemos a televisão, deixemos o jornal
de lado e trabalhemos em equipe durante cinco ou dez
minutos, arrumando a mesa e terminando o que for
preciso. Nesses poucos minutos, podemos ser muito felizes. Quando a comida estiver na mesa, e todos estiverem sentados, pratique a respiração: “Inspirando, acalmo meu corpo. Expirando, eu sorrio.” Repita três vezes.
É possível recuperar-se por completo após respirarmos
três vezes dessa forma.
Os quatro elementos do amor
A admirável simplicidade da vida
mim mesmo.
Que eu saiba como nutrir as sementes da alegria em
mim mesmo, todos os dias.
Que eu seja capaz de viver renovado, sólido e livre.
Que eu esteja livre do apego e da aversão, sem me tornar indiferente.
O amor verdadeiro é feito de quatro elementos: bondade, compaixão, alegria e equanimidade. Em sânscrito, são chamados de: maitri, karuna, mudita e upeksha.
Se o seu amor contém tais elementos, ele será curativo
e transformador, e abarcará também o elemento da
santidade. O amor verdadeiro tem o poder de curar e
transformar qualquer situação, além de trazer um significado profundo às nossas vidas.
Dizer “não”
Que eu esteja em paz, feliz e leve em corpo e espírito.
Que eu esteja seguro e livre de danos.
Que eu esteja livre da raiva, das
aflições, do medo e da ansiedade.
Que eu aprenda a me enxergar
com os olhos da compreensão
e do amor.
Que eu seja capaz de reconhecer e tocar as sementes da
alegria e da felicidade em
mim mesmo.
Que eu aprenda a identificar
e enxergar as fontes de raiva,
do desejo e da desilusão em
Meditar na hora do lanche
Qual o propósito de se comer uma tangerina? Comer a
tangerina. Enquanto comemos uma tangerina, comer
essa tangerina é a coisa mais importante das nossas vidas.
Contemplar nossa comida
Contemplar nossa comida por alguns momentos, ainda
antes de comer, pode nos trazer muita felicidade.
TOP 100 EDITORAS DISTRIBUÍDAS
pág. 42
Nesta página, listamos, por ordem alfabética, as 100 editoras que registraram, nos meses de setembro e outubro de
2015, o maior volume de vendas e negócios com a Superpedido Tecmedd. Agradecemos a parceria de todos.
ALEPH
ALMENARA
ALTO ASTRAL
ARQUEIRO
ARTMED
ATICA
AUTENTICA
BELAS LETRAS
BICHO ESPERTO
BLACKBOOK
BRINQUE BOOK
BV FILMS
CASA DOS LIVROS
COMPANHIA DAS LETRAS
CONRAD
CONTEXTO
COSAC & NAIFY
CRIATIVO
DARKSIDE
DCL
DISCOVERY
DSOP
EBX
EDIOURO
EDIPRO
ELSEVIER
EMPIREO
EUROPA
FEB
FUNDAMENTO
GALERIA DAS LETRAS
GEEK
GEEK
GEN
GENTE
GERACAO
GIRASSOL
GIZ
GLOBAL
GLOBO
GMT SEXTANTE
GRYPHUS
HEDRA
HQM
HSM
INTRINSECA
ITATIAIA
JAGUATIRICA
JEFTE
JORGE ZAHAR
L&PM
LEYA
LUME
MANOLE
MARTIN CLARET
MELHORAMENTOS
MODERNA
MUNDO CRISTAO
NACIONAL
NOBEL
NOSSA CULTURA
NOVA FRONTEIRA
NOVO CONCEITO
NOVO SECULO
ORIGINAL
OXFORD
PANDORGA
PANINI
PAPALEGUAS
PAPALEGUAS
PAPIRUS
PAULINAS
PERSPECTIVA
PETIT
PETRA
PLANETA DO BRASIL
POSITIVO
PUBLIFOLHA
REALEJO
RECORD
REVAN
RIDEEL
ROCCO
SAIDA DE EMERGENCIA
SARAIVA
SENAC
SIMON SEN
TEXTONOVO
THOMAS NELSON
TODOLIVRO
TOPBOOKS
UNIVERSO DOS LIVROS
VALE DAS LETRAS
VALENTINA
VENETA
VERGARA & RIBA
VIDA E CONSCIENCIA
VOZES
WMF
TOP 20 LIVROS MAIS VENDIDOS
Confira na lista a seguir os livros mais vendidos na Superpedido Tecmedd nos meses de setembro e outubro de
2015. Para não perder oportunidades, mantenha o estoque de sua livraria sempre abastecido com estas obras.
1
MUITO MAIS QUE
CINCO MINUTOS
ISBN: 9788584390113
R$ 24,90
6
2
3
DIARIO DE UM BANANA
BONS TEMPOS VOL. 10
ISBN: 9788576839422
R$ 36,90
7
ALMANAQUE DOS SUPER
HEROIS E VILOES
ISBN: 9788584171064
R$ 59,90
11
DOIS MUNDOS,
UM HEROI
ISBN: 9788581053127
R$ 24,90
8
12
FLASH GORDON NO
PLANETA MONGO
ISBN: 9788555460111
R$ 89,90
10
14
NAO SE APEGA, NAO
ISBN: 9788580575330
R$ 29,90
18
PHILIA ISBN: 9788525060044
R$ 19,90
15
OS SEGREDOS DA
MENTE MILIONARIA
ISBN: 8575422391
R$ 24,90
19
ESTRELA DA MANHA
ISBN: 9788578552626
R$ 39,90
ANSIEDADE
ISBN: 9788502218482
R$ 14,90
MARIA
ISBN: 9788525061515
R$ 29,90
GESTAO DA EMOCAO ISBN: 9788582402603
R$ 21,90
FELIZES PARA SEMPRE
ISBN: 9788565765619
R$ 29,90
DIARIO DE UM ZUMBI
DO MINECRAFT
ISBN: 9788543102641
R$ 24,90
5
9
13
17
EU FICO LOKO VOL. 2
ISBN: 9788581637822
R$ 29,90
4
GREY
ISBN: 9788580577730
R$ 39,90
DIARIO DE UM
BANANA VOL. 1
ISBN: 9788576831303
R$ 36,90
16
Para conhecer a lista completa de editoras distribuídas,
ligue para a central de vendas ou acesse o portal.
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DIARIO DE UM
BANANA VOL. 9
ISBN: 9788576838234
R$ 36,90
20
RUAH
ISBN: 9788525061805
R$ 19,90
ESPADA DO VERAO
ISBN: 9788580577952
R$ 44,90

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