ABOMI ANO 29 - No 1e2 - jan-dez
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ABOMI ANO 29 - No 1e2 - jan-dez
EDITORIAL EXPEDIENTE Esta revista é indexada pela CAPES com QUALIS B5 PRESIDENTE DA ABOMI Coronel Dentista Aer Evandro Robin de Lima 1º VICE-PRESIDENTE Coronel Dentista Aer José Alexandre Credmann Brottrel 2º VICE-PRESIDENTE Capitão de Mar e Guerra Dentista Luiz Antonio Lopes Schettini 3º VICE-PRESIDENTE Major BM Dentista Alexandre Barboza de Lemos DIRETOR CIENTÍFICO Coronel Dentista Ex José Henrique Cavalcanti Lima DIRETOR DE PUBLICAÇÕES Prof. Dr. William Nívio dos Santos CONSELHO EDITORIAL Cel Ex Hélio Pereira Lopes (Endodontia); Prof. Dr. José Francisco de Souza Filho (Endodontia); Cel Ex José Henrique Cavalcanti Lima (Implantodontia); Ten Cel Ex Pantaleo Scelza (Odontogeriatria); Prof. Dr. Marcos Barceleiro (Materiais Dentários); Prof. Spyro Nicolau Spyrides (Odontologia Legal); Prof. Adalberto Bastos Vasconcellos (Dentística); Prof. William Nívio dos Santos (Radiologia); Capitão-de-Mar-e-Guerra (CD) Rubens Murilo de Lucas (Estomatologia); Professora Dra Irani Cabral Ribeiro (Patologia Bucal); Ten Cel Aer Pylyp Nakonechnyj Neto (Cirurgia Buco Maxilo Facial); Ten Cel Aer Jose Alexandre Credmann Brottrel (Ortodontia); Ten Cel Ex Joel Alves da Silva Júnior (Periodontia) PRODUÇÃO EDITORIAL Cel Dent Ex Wantuil Rodrigues Araujo Filho DIAGRAMAÇÃO DA CAPA: Nako COORDENAÇÃO EDITORIAL: Editora SER – Stevenson Gusmão DIREÇÃO DE ARTE: Aline Figueiredo Periodicidade: Semestral Tiragem: 3500 exemplares Distribuição: gratuita Endereço para correspondência: ACADEMIA BRASILEIRA DE ODONTOLOGIA MILITAR, R. Alcindo Guanabara, 17/21 sl.1001 a 1005 CEP 20040-003 – Rio de Janeiro/RJ Tel./Fax (21) 2220-6798 E-mail: [email protected] Produzir conhecimento é fazer dele uma ferramenta efetiva de contribuição de ações cujos objetivos só são alcançados na medida em que veículos de fácil acesso sejam utilizados e capazes de proporcionar visibilidade à comunidade científica. Manter um periódico de alta qualidade, não é tarefa fácil, desde a recepção e avaliação do conteúdo dos artigos até a sua diagramação, formatação e expedição. Os efeitos benéficos dessa árdua tarefa, realizada com prazer e equilíbrio por uma equipe de trabalho altamente profissional e qualificada, tem sido amplamente percebidos, gerando um interesse cada vez maior por parte da comunidade Científica em produzir idéias para veiculação em nossa revista. O que nos enche de orgulho e otimismo é o grau que a RBOM alcançou no contexto das publicações de Odontologia desde suas primeiras edições. O caminho percorrido até aqui nos garante que com nosso árduo trabalho encontraremos a melhor maneira de atingir nossas metas. Atualmente estamos amadurecendo nosso projeto que é a inclusão digital, com o desejo de ampliar a exposição do conteúdo de nossa Revista aproximando-nos dos melhores e mais organizados periódicos da área. Importa salientar, entretanto que a inserção da revista nesse formato só ocorre após a completa adequação para impressão, ou seja, é a excelência do periódico impresso que viabiliza a versão digital. Este é o momento de levar a responsabilidade da manutenção desse veículo de divulgação da Pesquisa Odontológico Nacional a todos aqueles que reconhecem sua importância. Assim sendo, convidamos a todos a participarem desse trabalho, mobilizando e envolvendo o seu grupo para que todos entendam a RBOM, não só como veículo de divulgação de Artigos Científicos, mas também como importante representante da Pesquisa Odontológica Brasileira e veículo oficial de divulgação da ABOMI. Acesse o nosso site e conheça um pouco mais a nossa ABOMI. Saudações acadêmicas. EVANDRO ROBIN DE LIMA Cel Dent Aer – R1 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B O SUMÁRIO M I ARTIGO ORIGINAL Perda de suporte ósseo na região anterior da maxila em usuários de prótese total no arco superior e de acordo com o gênero .........................................................................................................3 Anísio Lima da Silva, Rosely Louise Aquino Figueiredo, Lima Soares Cristófaro, Valdir Ferreira Gonçalves, Danilo Mathias Zanello Guerisoli A identificação humana no direito militar: a contribuição da odontologia legal para a garantia do direito humano à identidade ............................................................................................................6 Carlos Antonio Marzari Avaliação clínica da relação entre distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão gengival ............................. 14 Eudivar Correia de Farias Neto, Gustavo Augusto Seabra Barbosa, Eduardo Gomes Seabra, Lidiane Thomaz Coelho de Farias Capacitação de intensivistas para ações de cuidados bucais em unidades de terapia intensiva ....................... 19 Rodolfo José Gomes de Araújo, Cássia Neila Macedo Castro, Thiago Rebelo Miranda, Aline Silva Magalhães Melo Perfil das lesões maxilofaciais por arma de fogo após a pacificação ................................................................ 24 Vanessa de Paiva Reis, Paulo Gomes Rangel Júnior, Ricardo Nogueira de Sá, Adriana Raymundo Bezerra, Adriane Batista Pires Maia, Danielle Castex Conde REVISÃO DE LITERATURA Análise de cárie e edentulismo da população carcerária do hospital de custódia e tratamento psiquiátrico do estado do Pará ............................................................................................................................ 29 Rodolfo José Gomes de Araújo, Augusto Cesar Alcântara dos Reis, Annie Patrícia Gaia de Almeida O uso de fitoterápicos em endodontia ................................................................................................................ 36 Wantuil Rodrigues Araujo Filho, Hanascha de Lourdes Moura Romeiro, Marcelo Sendra Cabreira Contaminação, desinfecção e acondiconamento de escovas dentais ................................................................ 44 Rodolfo José Gomes de Araújo, Arthur Almeida Azevedo, Isabel Maria Catarina de Castro, Josimeire Pantoja da Trindade Uma abordagem à literatura acerca do uso dos bisfosfonatos e sua repercussão na endodontia ..................... 55 Felipe Lara Francischetti, Celso Neiva Campos Considerações sobre o diagnóstico, manifestações clínicas e tratamento da hanseníase de interesse para o cirurgião-dentista ................................................................................................................. 61 Stela Mara Pratinha Delbone, Denise de Moura Senise, Diurianne Caroline Campos França, Igor Lira Gomes, Tatyana de Souza Pereira Avaliação da resistência das conexões: interna (hexagonal e cone morse) e externa ...................................... 67 Lisandra de Almeida Giannotti, Anísio Lima da Silva Novo código de ética odontológica brasileiro (análise crítica sobre as principais mudanças apresentadas) ............................................................................. 71 Sandro Fernandes da Silva, Rodolfo José Gomes de Araújo, Magna Rogéria Silva Costa, Natália Carvalho Araújo, Roberto de Souza Pires, Giane Bestene de Oliveira, Leila Maués Oliveira Hanna RELATO DE CASO Restabelecimento do plano oclusal e DVO prévia a reabilitação completa ....................................................... 83 Alessandra C. da Silva Nascimento, Anisio Lima da Silva Correção do sorriso gengival .............................................................................................................................. 88 Roberta da S. Muniz Santos, Ricardo Duarte Gonçalves, Gabriela Alessandra da Cruz Galhardo Camargo NORMAS DE PUBLICAÇÃO ....................................................................................................................................... 87 2 R Jan / Dez 2012 E ARTIGO ORIGINAL B O M I Perda de suporte ósseo na região anterior da maxila em usuários de prótese total no arco superior e de acordo com o gênero Loss of supporting bone in the anterior maxilla in denture wearers in the upper and according to gender Anísio Lima da Silva¹ Rosely Louise Aquino Figueiredo2 Lima Soares Cristófaro² Valdir Ferreira Gonçalves³ Danilo Mathias Zanello Guerisoli4 1. Professor Associado da disciplina de Prótese Total e Parcial Removível da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pósgraduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS; Membro titular da ABOMI. 2. Aluna de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS. 3. Mestre em Implantodontia; Especialista em Periodontia. 4. Professor Adjunto da disciplina de Endodontia da UFMS; Mestre e Doutor em Odontologia; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Saúde e Desenvolvimento da região Centro-Oeste da UFMS; Professor Orientador do Programa de Pós-graduação em Odontologia da UFMS. Endereço para correspondência: Rua 15 de novembro, 2701 – Jardim dos Estados CEP 79020-300 – Campo Grande – MS E-amil: [email protected] Recebido para publicação em 22 de junho de 2012 e aceito em 21 de dezembro de 2012. Resumo A reabsorção é um processo que se acelera com a eliminação dos dentes, sendo a perda óssea na região anterior da maxila frequentemente observada como um dos sinais característicos em usuários de prótese total maxilar, especialmente quando combinada com prótese parcial removível de extremo livre bilateral no arco inferior, situação denominada síndrome da combinação. O trabalho apresenta resultado de pesquisa elaborada na UFMS, em que 53 pacientes, sendo 37 mulheres e 16 homens, todos desdentados e usuários de prótese total no arco superior a mais de cinco anos, foram avaliados quanto à ocorrência de perda de suporte ósseo na região anterior da maxila. Os resultados mostraram que a maioria apresentava acentuada reabsorção óssea na região anterior da maxila, sendo que, de acordo com o gênero, 57% (n=21) das mulheres e 69% (n=11) dos homens eram positivos para esse sinal, porém a análise estatística pelo teste exato de Fisher, não mostrou diferença significante entre os dois grupos. Palavras-chave: Síndrome da combinação, prótese total, reabsorção óssea. Abstract The reabsorption is a process which accelerates with the elimination of the theet, being the loss bone in the anterior maxilla often observed as a signal characteristic in users of maxillary complete denture combined with a partial denture of bilateral free end in the mandibular arch, situation denominated of combination syndrome. The work result of research carried out in UFMS, in which 53 patients, being 37 women and 16 men, all toothless and users of total prosthesis in the superior arch to more five years, they were valued as for the incident of loss of bone support in the previous region of the jawbone. The results showed that the majority was presenting accented bone reabsorption in the anterior maxilla, being that, in accordance with the type, 57% (n=21) of the women and 69% (n=11) of the men they were positive for this sign, however the statistical analysis by the right test of Fischer, did not show significant difference between two types. Keywords: Combination syndrome, total prosthesis, bone reabsorption. 3 R E B O M I 4 ANO 29 • Nº 1 e 2 Introdução A acentuada perda de suporte ósseo na região anterior da maxila foi relatada por Kelly, em 1972, como sendo uma das várias características que acometem usuários de Prótese Total no arco superior associada com Prótese Parcial Removível no arco inferior Classe I de Kennedy, quadro que passou a ser conhecido como Síndrome da Combinação. Para Albuquerque, JF et al (2006), essas características nem sempre ocorrem ao mesmo tempo, pois dependem da regulação de fatores predisponentes. A flacidez da mucosa tecidual na região anterior da maxila também se manifesta na Síndrome da Combinação (MADAN e DATTA, 2006). Segundo Cabral, Guedes, Zanetti, (2002), embora o fenômeno da síndrome da combinação seja descrito na literatura em desdentados totais superiores, em algumas situações observa-se as mesmas características em pacientes parcialmente dentados superiores, com ampla área desdentada anterior e extremidades livres inferiores. Os autores relatam uma série de eventos modificadores dos tecidos de suporte ósseo e fibromucoso, pelo uso de Prótese Total ou Prótese Parcial Removível superior com espaço protético anterior amplo, contra um arco inferior com extremidade livre posterior, caracterizado por notável reabsorção óssea da região anterior do arco superior. O trabalho de Nogueira, Miraglia, Soares, 2002, conclui que fatores como sexo, idade, uso de medicamentos e doenças sistêmicas podem estar relacionados com a presença dos sinais. Mas infelizmente, sobre estes fatores a Odontologia não tem controle, cabendo ao cirurgião dentista apenas suspeitar de uma alteração sistêmica por meio de uma anamnese detalhada e cuidadosa. A complexidade do processo de reabsorção fisiológica progressiva dos rebordos alveolares após a perda dos dentes está diretamente ligada a fatores como gênero, alterações hormonais, metabólicas e nutritivas, presença de parafunções, forças excêntricas e deficiência de adaptação de próteses removíveis, de acordo com Faot et al, em 2006. Ainda segundo tais autores, a susceptibilidade de adaptação varia de indivíduo para indivíduo. O processo de reabsorção óssea é inevitável após a perda dos dentes, sendo acentuado com o uso de próteses inadequadas (LEITE, RAGAZINI, CUNHA JÚNIOR, 2006). Segundo Telles (2009), uma grande reabsorção numa região específica pode ser creditada a tensões mecânicas exageradas, como acontece na Síndrome da Combinação. O autor afirma ainda que as mulheres têm tendência a apresentar maiores perdas na maxila, em virtude da diminuição de estrogênio na menopausa, o que afeta o osso trabecular. Silva et al (2011) em pesquisa com usuários e não usuários de próteses, concluíram que a perda de suporte ósseo na região anterior da maxila é a segunda maior incidência dos sinais da Síndrome da Combinação, apenas menor que a perda óssea na região posterior da mandíbula. Metodologia Foram examinados cinquenta e três pacientes da clínica de prótese Total e Parcial Removível da UFMS, sendo trinta e sete do sexo feminino e dezesseis do sexo masculino. Todos eram usuários a mais de cinco anos, de prótese total no arco superior, apresentando algum sinal característico da síndrome da combinação. O trabalho é parte de pesquisa de curso de pós-graduação, submetido à avaliação e aprovação do comitê de ética em pesquisa de seres humanos da UFMS, sob o protocolo n° 2203 CAE 0309.0.049.000-11. O termo de consentimento livre e esclarecido foi devidamente assinado pelos pacientes após terem sido informados de que participariam da pesquisa, e anexado ao prontuário, juntamente com as radiografias. Os pacientes foram examinados clinicamente e por meio de radiografias panorâmicas por um único avaliador quanto à ocorrência da perda de suporte ósseo na região anterior da maxila. Aqueles que apresentavam perda acentuada do suporte ósseo eram catalogados como sinal positivo. Os que não apresentavam tal característica foram catalogados como sinal negativo. Os dados foram anotados em ficha própria, tabulados e submetidos à análise estatística através do teste exato de Fisher, com índice de significância de 0,05 (5%). R Jan / Dez 2012 Resultados A pesquisa mostrou que, dos cinquenta e três pacientes avaliados, sessenta por cento (n=32) mostravam perda de suporte ósseo na região anterior da maxila. Os demais quarenta por cento (n=21) eram sinal negativo. Segundo o gênero, 21 mulheres eram sinal positivo, o que representa cinquenta e sete por cento e 16 eram sinal negativo (quarenta e três por cento). Quanto ao gênero masculino, enquanto 11 eram sinal positivo, representando sessenta e nove por cento, os outros 5 (trinta e um por cento) eram sinal negativo. A análise estatística mostrou o valor de p=0,5445, ou seja, p>5. Esse valor indica não haver diferença estatisticamente significante entre os grupos, no que diz respeito à reabsorção óssea na região anterior da maxila. Os dados são mostrados no gráfico 1. Gráfico 1: Número de pacientes sinal positivo e sinal negativo, de acordo com o gênero. rém a análise pelo teste exato de Fisher não mostrou diferença estatìsticamente significante. Esse resultado difere da literatura consultada que relata fatores hormonais predisponentes característicos do gênero feminino, como aceleradores do processo de reabsorção óssea (FAOT et al em 2006, e TELLES, 2009). E B O M I Conclusões A perda óssea na região anterior da maxila, em usuários de prótese total a mais de cinco anos, estava presente em sessenta por cento dos indivíduos pesquisados, sendo que tal condição ocorreu em cinquenta e sete por cento das mulheres e em sessenta e nove por cento dos homens, porém sem diferença estatisticamente significante entre os dois grupos. Referências ALBUQUERQUE, J.F.; SAMPAIO, A.A.; GONÇALVES, M.P.R.; GONÇALVES, A.R. Síndrome da combinação – relato de um caso clínico. Anais da 8ª Jornada Acadêmica de Odontologia da Universidade Federal do Piauí. 2006. CABRAL, L.M.; GUEDES, C.G.; ZANETTI, A.L. Síndrome da combinação: relato de um caso clínico. J Bras Clin Odontol Int. Curitiba. 2002, 6(31):45-48. FAOT, F.; SERRANO, P.O.; ROSA, R.S.; DEL BEL CURY, A.A.; GARCIA, R.C.M.R. Síndrome da combinação – revisão da literatura. Revista Íbero-americana de Prótese Clínica e Laboratorial. 2006, 8(41):275-283. KELLY, E. Changes caused by a mandibular removable partial denture opposing a maxilary complete denture. J Prosthet Dent. 1972; 27(2):140-150. LEITE, B.L.; RAGAZINI, J.C.; CUNHA JÚNIOR, A.P. Síndrome da combinação – Kelly: revisões de interesse para o cirurgião dentista. Anais do X Encontro Latino Discussão A pesquisa mostrou que, independente do gênero, a maioria dos usuários de prótese total no arco superior apresentou reabsorção na região anterior da maxila, o que confirma os trabalhos de vários autores como Kelly (1972), Cabral, Guedes e Zanetti, (2002), Leite e Ragazini; Cunha Júnior (2006); Silva et al (2011). A porcentagem de ocorrência no gênero masculino (69%) foi maior do que no gênero feminino (57%), po- Americano de iniciação científica e VI Encontro Latino Americano de PósGraduação – Universidade do Vale do Paraíba. 2006. MADAN, N.; DATTA, K. Combynation syndrome. The Journal of Indian Prosthodontic Society. 2006. 6. NOGUEIRA, R.; MIRAGLIA, S.S.; SOARES, F.A.V. Considerações sobre síndrome da combinação (Kelly) na clínica odontológica reabilitadora. Prótese Clínica e Laboratorial. Curitiba. 2002, 4(19): 218-222. SILVA, A.L.; CRISTÓFARO, R.L.A.F.eL.S.; MENDES, J.O.; AKAMINE, R.L. Ocorrência dos sinais da síndrome da combinação em pacientes da faculdade de odontologia da UFMS. Revista Brasileira de Odontologia Militar. 1e2 (28); jan-dez 2011. TELLES, D. Prótese Total Convencional e sobre Implantes. São Paulo: Ed. Santos; 2009. 492 p. 5 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B O ARTIGO ORIGINAL M I A identificação humana no direito militar: a contribuição da odontologia legal para a garantia do direito humano à identidade Identifying human in military duty: the odontologia of legal assistance for guarantee of human right to identity Carlos Antonio Marzari 1 Resumo 1. Tenente Coronel do Exército Brasileiro. Bacharel em Direito. Especialista em ortodontia e ortopedia facial de maxilares/ Endodontia/Prótese/Direito Militar/ Direito em Administração Pública. A Odontologia Legal e suas vinculações com o judiciário, civil e/ou militar se reveste de sobremaneira importância nos esclarecimentos técnicos prestados à Justiça nas mais diferentes áreas do Direito. Por vezes os autores de delitos penais, bem como suas vítimas deixam ou transportam em si, marcas vestígios ou indícios decorrentes do fato delituoso. Nesses casos a contribuição indiscutível desta ciência através do odontolegista, torna-se imprescindível na difícil tarefa da determinação de identificação humana. Os estudos odontolegais, quando criteriosamente realizados, são de inquestionável valor legal, podendo atribuir a culpabilidade da agressão a um determinado suspeito bem como sua exclusão. O odontolegista deverá obedecer a uma metodologia específica, visando demonstrar e provar suas evidências, podendo auxiliar à Justiça Militar bem como os demais profissionais que se deparam nas diferentes áreas do direito e que se validam da atividade odontológica. Endereço para correspondência: Recebido para publicação em 18 de setembro de 2012 e aceito em 6 de janeiro de 2013 Palavras-chave: investigação criminal, odontolegista, perícia, achados dentais, identificação dentária. Abstract The Legal Deontology and its entailing with judiciary, civil and/or the military one if excessively coat with importance in the given clarifications technician to Justice in the most different areas of the Right. For times the authors of criminal offenses, as well as its victims leave or carry in itself, marks vestiges or decurrently indications of the dialectal fact. In these cases the unquestionable contribution of this science through the deontologist, becomes essential in the difficult task of the identification determination human being. The deontology studies, when criterions carried through, are of unquestioned legal value, being able to attribute the culpability of the suspected determined aggression to one as well as its exclusion. The deontologist will have to obey a specific methodology, aiming at to demonstrate and to prove its evidences, being able to assist to Justice Military as well as the excessively professional ones that if come across in the different areas of the right and that they are become valid of the deontological activity. Keywords: criminal, deontologist inquiry, dental skill, findings, dental identification. 6 R Jan / Dez 2012 E B O Introdução Ao desenvolver esta pesquisa, teve-se como pretensão estudar a importância da Odontologia Legal no auxílio pericial, nas diferentes áreas de competência da Odontologia Legal e sua vinculação com o Direito Militar e Civil. A escolha do tema foi um processo mais complexo e demorado. Muitos foram os motivos pelos quais se escolheu esse tema, entre eles o grande interesse em oferecer uma breve colaboração acadêmica para quem estuda esta área e, por minha graduação ser em odontologia. Diariamente nos envolvemos com fatos do cotidiano e suas consequências jurídicas. A violência moderna tem tomado proporções maiores dia após dia e crimes contra a vida têm ocorrido com maior frequência. Com o decorrer dos anos, a Odontologia Legal tem contribuído sobremaneira aos esclarecimentos técnicos à Justiça nas mais diferentes áreas do Direito. Estudos tem sido promovidos no intuito de desenvolver técnicas cada dia mais apuradas e precisas para a obtenção da identificação humana. Neste relacionamento se insere a pertinência do presente trabalho. O estudo foi direcionado aos fatos históricos evolutivos da Odontologia Legal, aos aspectos éticos e legais referentes ao tema e também se abordou a incidência da Odontologia Legal na identificação criminal. Desenvolvimento Para obter a identificação de um individuo através da odontologia legal, não resta dúvida de que o mais importante é poder fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo a poder captar o maior número de informações que permitam a sua caracterização. A técnica de Luntz permite fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo a captar o maior número de informações que permitam a sua caracterização. É ainda Campos, 2002 (p.34), quem leciona: Para obter os arcos ósseos limpos: a) ferver os arcos assim retirados em água, contendo detergente e, em querendo alguns cristais de soda cáustica; M I b) realizar, então, a limpeza manual, com rugina (legra) e pinça, dos restos das partes moles; c) proceder, por fim, ao branqueamento dos ossos com água oxigenada (30 volumes), onde podem ser deixados 24 horas; d) secar as peças. Na obtenção de arcos dentários limpos de impurezas, eles devem ser fervidos em água e detergente. Após é realizada a limpeza manual dos arcos, com rugina e pinça e, por fim o branqueamento dos arcos com água oxigenada (30 volumes). Os arcos são secos e assim preparados para obter informações de interesse odontolegal. De acordo com esta autora, no caso específico dos cadáveres carbonizados, tanto os dentes sadios como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos restauradores resistem bastante à ação do calor, quando permanecem in situ, a boca com os lábios fechados (o que é raro), formando uma câmara úmida protetora. Dos materiais protéticos, a amálgama é o mais frágil ao calor. Já as porcelanas, os compósitos (resinas mais minerais), os cementos e o ouro são resistentes ao calor (fundemse entre 800 e 1400º C). Os fotopolímeros, cuja cor se assemelha a dos dentes, podem ser facilmente reconhecidos com o auxílio da luz ultravioleta, coma qual apresentam fluorescência entre branco-azulada e brancoesverdeada. Nas peças dentárias submetidas em forma isolada, diretamente à ação do fogo, podem produzir-se fissuras já a 150º C. Com temperaturas de 270ºC as raízes tornam-se de cor negra; com 400ºC ocorre a queda espontânea da coroa, quando o dente está sadio, ou, então, a coroa se pulveriza quando existem cáries ou infiltrações. A 800ºC, carboniza-se o esmalte, que se torna azul, sendo a dentina mais resistente ao fogo. As raízes, os dentes calcinados mostram-se curvadas, podendo facilitar a confusão com as dos animais. Aduz Campos, apud Bonett, 2002, p. 43: No Brasil, um dos casos mais momentosos em que a contribuição da odontologia legal foi decisiva deu-se em 1985, e foi a identificação dos restos mortais do médico alemão Josef Mengele, cognominado o “Anjo da Morte”, 7 R E B O M I 8 ANO 29 • Nº 1 e 2 responsável pela morte de milhares de pessoas, confinadas no campo de concentração de Auschwitz, durante a II Guerra Mundial. Em catástrofes aéreas como as acontecidas com o grupo musical (Mamonas Assassinas), em 02.03.1996, ou entre os 99 passageiros do avião da TAM que caiu em São Paulo em 31.10. 1996, a identificação em grau de certeza, somente foi possível com base nos dados oferecidos pelo exame odontológico em 75 dos casos, e só nos casos restantes a identificação foi possível pelo exame de DNA ou outros procedimentos. Na contribuição da Odontologia Legal no “caso Mengele”, o exame antropológico foi também acompanhado por peritos estrangeiros, na condição de observadores. O laudo nº 4016/05, exame odontolegal, continuação da fl. número oito descreve: ... (informações constante do dossiê recebido do governo norteamericano), essa somatória de coincidências, dizíamos, é realçada pela constatação, de suma importância, da existência do diastema entre os incisivos centrais da maxila (o que veio a individualizar o diagnóstico), o que nos permite deduzir da existência de uma grande probabilidade de que os arcos dentários, maxila e mandíbula pertençam ao indivíduo cuja identidade esta se pretendendo estabelecer. Muitas dúvidas relacionadas aos resultados foram levantadas por diversos setores, não obstante a convicção dos membros da equipe a cerca de suas conclusões. Posteriormente, o exame do DNA realizado na Inglaterra esclareceu que a ossada realmente era de Josef Mengele, e o acerto das conclusões dos peritos oficiais brasileiros, naquela que tem sido considerada como a perícia do século. Para obter a identificação de um individuo através da odontologia legal, não resta dúvida de que o mais importante é poder fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo a poder captar o maior número de informações que permitam a sua caracterização. A técnica de Luntz descrita acima permite fazer um estudo minucioso da dentadura questionada, de modo a captar o maior número de informações que permitam a sua caracterização. Na obtenção de arcos dentários limpos de impurezas, eles devem ser fervidos em água e detergente. Após é realizada a limpeza manual dos arcos, com rugina e pinça e, por fim o branqueamento dos arcos com água oxigenada (30 volumes). Os arcos são secos e assim preparados para obter informações de interesse odontolegal. De acordo com esta autora, no caso específico dos cadáveres carbonizados, tanto os dentes sadios como aqueles que tenham sido alvo de tratamentos restauradores resistem bastante à ação do calor, quando permanecem in situ, a boca com os lábios fechados (o que é raro), formando uma câmara úmida protetora. Dos materiais protéticos, a amálgama é o mais frágil ao calor. Já as porcelanas, os compósitos (resinas mais minerais), os cementos e o ouro são resistentes ao calor (fundemse entre 800 e 1400º C). Os fotopolímeros, cuja cor se assemelha a dos dentes, podem ser facilmente reconhecidos com o auxílio da luz ultravioleta, coma qual apresentam fluorescência entre branco-azulada e brancoesverdeada. Nas peças dentárias submetidas em forma isolada, diretamente à ação do fogo, podem produzir-se fissuras já a 150º C. Com temperaturas de 270ºC as raízes tornam-se de cor negra; com 400ºC ocorre a queda espontânea da coroa, quando o dente está sadio, ou, então, a coroa se pulveriza quando existem cáries ou infiltrações. A 800ºC, carboniza-se o esmalte, que se torna azul, sendo a dentina mais resistente ao fogo. As raízes, os dentes calcinados mostram-se curvadas, podendo facilitar a confusão com as dos animais. Campos regressa a seu enfoque inicial: Como acontece com os pontos característicos nas impressões digitais, também nas comparações entre os dentes do material questionado e o das fichas odontológicas é exigido um número suficiente de coincidências para poder fazer um diagnóstico identificatório de certeza. Contrariamente, a ocorrência de um ou mais pontos discordantes, realmente incompatíveis entre si, podem permitir a exclusão durante o procedimento de identificação pro confronto. Todavia, é necessário enfatizar que os pontos que não sejam incompatíveis não permitirão citadas afirmações de certeza. (CAMPOS, 2002, p.56) De acordo com essa transcrição, a retirada, eliminação, ou desaparecimento de pontos característicos não impossibilita nem invalida a identificação. Já a in- R Jan / Dez 2012 congruência entre trabalhos realizados ou extrações efetuadas, com o achado dessas peças intactas e presentes na dentadura a ser cotejada, exclui a identificação ou torna a identificação negativa. Os pontos característicos que podem ser utilizados para individualizar as pessoas não se restringem, como poderia parecer, a extrações ou obturações. O cirurgião-dentista, odontolegista ou não, poderá ser solicitado à aplicação dos conhecimentos da ciência odontológica a serviço da Justiça, segundo Vanrell, 2002, p. 78, em casos de: IMPUTABILIDADE: (art. 26 e seguintes do Código Penal). A determinação da idade é fator fundamental para verificar a imputabilidade do agente no cometimento de um crime e no seu apenamento. A maioridade penal, tem de ser cabalmente demonstrada como pressuposto processual. Via de regra, a caracterização etária se dá em função da certidão de nascimento e/ou dos documentos que dela se originam ou nela se embasam, como a Cédula de Identidade policia. As definições do autor são perfeitamente aplicáveis à atividade pericial odontológica relacionadas com o direito penal. Com a estimativa da idade, verifica-se a imputabilidade do agente causador do crime, bem como sua apenação. Nas lesões corporais da cavidade bucal, têmporo-mandibular e o pescoço, a pessoa mais bem informada para fazer o exame na ausência de um odontolegista, seria o cirurgião-dentista. No estelionato o cirurgião-dentista, funcionando como perito, pode avaliar o tipo de trabalho, bem como os materiais utilizados. O cirurgião-dentista no crime de falsidade ideológica pode constatar a veracidade dos fatos odontológicos constantes no documento, com a queixa clínica exibida pelo paciente. Na falsidade de documento público / privado, o cirurgião-dentista na função de perito, quando chamado, terá que esclarecer a autoridade requisitante à falsidade técnica do conteúdo documental, ligado à odontologia e suas especialidades. Nos casos de atestado médico falso, o cirurgião-dentista verificará quando requisitado, se o paciente que recebeu o atestado é portador da patologia referida no mesmo, bem como se no seu prontuário odontológico está arquivada a cópia ou segunda via do atestado. Com esta constatação, gozando de fé pública, se constitui na prova da materialidade do falsum. A vinculação da Odontologia Legal com Direito Civil. Na ausência da certidão de nascimento ou cédula de identidade policial a forma de caracterizar a idade para a verificação da Capacidade pode ser feito analisando o processo de ossificação metafisária ou dos ossos do carpo, por meio dos raios X, e das fases de mineralização e de erupção dentária. A identificação individual, quer através do estudo dos arcos dentários, quer dos trabalhos de dentística e de prótese feito nos dentes, servem para realizar a identificação precisa de uma pessoa viva ou de restos mortais. O Código Civil Brasileiro contém normas a respeito das relações entre os autônomos. Assim atesta Vanrell, 2002, p. 152: Dentre essas normas, algumas são de caráter específico, como, por exemplo, o art.1545, que dispõe que os médicos, cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e dentistas são obrigados a satisfazer o dano, sempre que, da imprudência, da negligência ou da imperícia em atos profissionais, resultar morte, inabilitação de servir, ou ferimento. É certo que tais normas penais, embora originariamente não fossem criadas, especificamente em relação aos cirurgiões-dentistas, muitas vezes poderão ser aplicadas a estes em caso de erro odontológico ou em situações tais que a atuação do profissional, a medicação ministrada ou os procedimentos utilizados possam enquadrar-se em alguma das tipificações do Estatuto Penal vigente. É interessante assinalar que, no caso de condenação criminal por homicídio culposo ou lesão corporal grave, por exemplo, a obrigação de indenizar a vítima ou seus herdeiros torna-se automática. A eventual discussão posterior, no Juízo Cível, será apenas quanto ao valor da indenização (quantum debeatur), e não se a mesma é ou não devida (an debeatur), porquanto é devida automaticamente. O Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8078, de 11 de setembro de 1990, no seu art. 14, dispõe sobre a responsabilidade pelos danos causados aos consumidores, por serviços prestados de maneira defeituosa. Esse artigo consagra a responsabilidade objetiva dos E B O M I 9 R E B O M I 10 ANO 29 • Nº 1 e 2 fornecedores ou prestadores de serviço, isto é, não se exige prova de culpa do responsável pelo serviço para que ele seja obrigado a reparar o dano. Segundo o Código de Defesa do Consumidor, em relação aos profissionais liberais, entre os quais se incluem os cirurgiões-dentistas, o § 4º do art. 14 da lei supracitada, mantém, como pressuposto da responsabilidade, a verificação da culpa. Vale dizer que, relativamente aos cirurgiões-dentistas, por serem contratados com base na confiança que inspiram aos seus clientes e respectivos familiares, não se aplica a teoria da responsabilidade objetiva esposada pelo Código do Consumidor. Neste sentido, Denari, 2000, afirma: “Assim, estes profissionais somente serão responsabilizados por danos quando ficar provada a ocorrência de culpa subjetiva, em quaisquer de suas modalidades: negligência, imprudência ou imperícia”. Para o legislador, entretanto, os profissionais liberais, enquanto prestadores pessoais de serviços, diretamente, aos seus clientes e / ou pacientes, a responsabilidade pelos danos eventualmente causados dependerá de comprovação de suas culpas subjetivas, o mesmo não ocorre relativamente aos serviços profissionais prestados pelas pessoas jurídicas, seja sociedade civil, seja associação profissional. “De acordo com a doutrina dominante, a responsabilidade do profissional somente será admitida depois de apurada e provada sua culpa; já a responsabilidade do Hospital ou Clínica será apurada objetivamente”. As radiografias dentárias são de fundamental importância para a odontologia Forense, pois oferecem evidências objetivas da anatomia das estruturas orais, das restaurações existentes, dos materiais utilizados, das patologias preexistentes, dos tratamentos endodônticos, os procedimentos cirúrgicos prévios, as fraturas prévias, próteses fixas e móveis, ou outros aparelhos ortodônticos e / ou ortopédicos, em uso. Por tudo isso as radiografias ante-mortem quando comparadas as radiografias dentais post-mortem prestam-se à identificação positiva e incontestável das vítimas. Preleciona ainda Vanrell, 2002, p. 153: Findos os exames radiográficos dentais, procede-se ao odontograma, realizado por três profissionais sucessi- vos. Os desenhos devem ser feitos sempre com caneta, e não com lápis. Os achados a serem registrados durante o exame post-mortem incluem: restaurações dentais, dentes perdidos, próteses, patologias atuais, anatomia singular (torus, por exemplo), estimativa de idade e referência para eventual reconhecimento de sexo ou de grupo étnico. Sempre é recomendável obter, junto aos dentistas das vítimas, prontuários (fichas odontológicas), radiografias e/ou modelos em gesso. Do exposto acima, pretender utilizar esses programas no Brasil é mera utopia, porquanto não se dispõe de bancos de dados, embora, em fichas, se mantenham informações, as quais tampouco estão centralizadas. Quiçá, no futuro, no âmbito militar, esses procedimentos possam ser usados com êxito; já no âmbito civil, nem com o passar do tempo há esperanças de que se chegue a tal grau de sofisticação identificatória, quando no país há carências bem maiores, como, por exemplo, de registrar os recém-nascidos para que passem a existir juridicamente, ou que os adultos consigam algo tão simples e elementar como a Carteira de Identidade. A primeira grande diferença entre militar e civil reside no fato de que o homem fardado nunca esta só. Ele encarna toda a instituição que representa. Ninguém olha um homem fardado sem pretender ver nele um modelo. E por esta razão os seus desvios de conduta aparecem sempre gizados pela opinião pública. Segue afirmando Fagundes “A JUSTIÇA MILITAR tem sido muitas vezes taxada de justiça de exceção. Mas, na verdade, é uma justiça especial como o é a Justiça Eleitoral, a Justiça Trabalhista, etc.” Ela é justiça especial porque se fundamenta em casos especiais que não teria cabimento em outros setores do judiciário. O sono da sentinela, a insubordinação, a deserção, os delitos contra a disciplina, são crimes que não se podem atribuir ao “paisano de uniforme”. Mas são típicos ao militar afeito e formado em princípios dos quais carece a maioria das almas. A Justiça Militar brasileira é militar mas nunca foi militarista. Nela, como na gramática o substantivo JUSTIÇA foi sempre mais importante que o adjetivo MILITAR. E, no complexo âmbito hierárquico-disciplinar das instituições militares, há circunstâncias detentoras, não ape- Jan / Dez 2012 nas de sistemática própria, tendo em vista deveres e serviços prescritos estatuária e regimentalmente, mas também prevêm-se situações somente concretizáveis no âmbito castrense. Estabelece-se não obstante um eixo conectivo entre a questão transcendental dos direitos humanos e os crimes no âmbito militar em tempos de paz e de guerra que são inerentes a esta condição. Sucede-se toda uma gama de eventos em que o autor e / ou vítima pertencem a condição de militar ou a eles são assemelhados. Do rol de condutas antevistas pelos direitos humanos, um amplo leque diz respeito às atividades contra autoridade ou disciplina militar, e entre elas, os motins, as revoltas, as conspirações, as invasões, as fugas, os amotinamentos, os genocídios, o ingresso clandestino, a violência arbitrária provocam repercussões, as mais das vezes, na Odontologia Legal, área do conhecimento que oferece à justiça através de suas especialidades, subsídios para identificar corpos (carbonizados), seu sexo, sua altura, sua idade, como também efetuar perícias nos vivos, nos mortos, nas ossadas (esqueletos) e em fragmentos de tipos variados. O perito odontólogo possui competência para atuar também em necropsias, onde fenômenos físicos, químicos e biológicos precisam ser esclarecidos. Quanto ocorre em estabelecimento militar (quartel, base área, navio) motim, revolta, conspiração, invasão, amotinamento ou qualquer outro evento que produza morte, com desfiguramento de indivíduo, recorre-se ao perito odontólogo para proceder à identificação. Igualmente em acontecimentos ocorridos como acidentes em manobras militares, incêndio em unidade militar, ocorrência de morte em missão de paz em território estrangeiro, desastres naturais, explosão de paiol, vazamento de gases, irradiação em que pairem dúvidas sobre a real identidade do morto, urge determinar quem é quem para a família do falecido e a instituição castrense. Antes de uma exigência processual, há uma necessidade humana de esclarecer uma identidade posta em dúvida. Num mundo de grandes transformações um princípio mantém-se atuante, que é o de respeitar a dignidade da pessoa humana. É ele garantido como fundamental para a existência da ética militar. No contexto doutrinário estrutural das forças armadas ocorrem situações peculiares, em que são pertinentes exames, perícias, e esclarecimentos técnicos de profissionais da área de saúde para dirimir aspectos controversos de fatos e ou condutas, levantando dados que conduzam à conclusão sobre a autoria ou a exclusão do suspeito (s). Pelo exposto, torna-se imperativo a identificação da pessoa humana. Do caso envolvendo a identificação de JOSEF MENGELE, podemos nos referenciar a Juan Ubaldo Carrea,1940, p.2-4, da Argentina, que dizia quando interpelado a respeito da importância da odontologia legal na identificação:”Dadme um diente; yo fijoé la persona”. Esta é uma das funções precípuas e universalmente aceitas da odontologia legal, muito antes mesmo que recebesse tal nome, dada sua a sua possibilidade quer através do estudo dos arcos dentários, quer dos trabalhos de dentística e de prótese realizados nos dentes, até realizar a identificação precisa de uma pessoa viva ou de restos mortais. A verdadeira constituição do Direito Internacional dos Direitos Humanos surgiu em meados do século XX, em decorrência da Segunda Guerra Mundial. Assim, aduz Buergenthal, 2005, p. 129: O moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno da pós-guerra. Seu desenvolvimento pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença de que parte dessas violações poderiam ser prevenidas de um efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse O movimento de internacionalização dos direitos humanos constitui um movimento extremamente recente na história, surgindo a partir do pós-guerra, como respostas às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. Apresentando o Estado como o grande violador de direitos humanos a era Hitler foi marcada pela lógica da destruição e da descredibilidade da pessoa humana, que resultou no extermínio de 11 milhões de pessoas. O legado do nazismo foi condicionou a titularidade de direitos, ou seja, a condição de sujeito de direitos, à pertinência a determinada raça, a raça pura ariana. O século XX foi, desta forma, marcado R E B O M I 11 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 por duas guerras mundiais e pelo horror dentro do genocídio concebido como projeto político e industrial. Dos fatos supra citados verifica-se que a barbárie do totalitarismo significou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, através da negação do valor da pessoa humana como valor fonte de direito. E, diante desta ruptura, emergiu a necessidade de reconstrução dos direitos humanos, como referencial e paradigma ético que aproxime o direito da moral ou seja: o ser humano ter o direito a ser sujeito de direitos. Complementando o estudo monográfico, e obedecendo a sequência cronológica, no próximo capítulo arrematar-se-ão os fios que nortearam o eixo da argumentação desenvolvida nesta pesquisa. Conclusão O papel do cirurgião-dentista na sociedade representa trabalho de extrema responsabilidade, e este se estende no que diz respeito à determinar a identidade postmortem de pacientes, quando a identificação dactiloscópica é impossível, o que muitas vezes o cirurgião-dentista não se apercebe. É exatamente em razão de tal responsabilidade, que deve o profissional observar toda série de normas legais no campo do Direito, e normas éticas no âmbito administrativo do Conselho Profissional a que pertence, e que deverão sempre norteá-lo, cotidianamente, em sua atividade laboral. A identificação por meio dos arcos dentários é relevante, principalmente em se tratando de corpos carbonizados, putrefeitos e esqueletizados, visto que os dentes apresentam aspectos de suma importância para a identificação humana, pela sua durabilidade, já que estes iniciam sua formação no 5º mês de vida intrauterina e muitos deles permanecem além da morte implantados nos respectivos alvéolos. Devido também, a individualidade das características dentárias jamais serem as mesmas entre duas pessoas e quanto à sua indestrutibilidade, visto que os dentes são mais resistentes que o próprio alvéolo onde se encontram e resistem à altas temperaturas (600 – 650º C). Há uma evidência objetiva de confiança fornecida por radiografias dentais na identificação humana que 12 depende da observação e comparação das estruturas anatômicas e artificiais registradas nas radiografias dentais, ante-mortem e pós-mortem. Elas podem fornecer a mais segura fonte de informação por comparação e às vezes a única possível. A rugosidade palatina e o sistema dactiloscópico de Vucetich são métodos de identificação que possuem características baseadas nos mesmos fundamentos científicos. O primeiro deles, é útil em casos de ausências de falanges, o que acontece em cadáveres em avançado estado de putrefação, carbonizados, amputados ou esqueletos. Por outro lado, a dactiloscopia estuda a reprodução dos desenhos formados pelas cristas papilares digitais que, obtidas, observadas e classificadas, fornecerão meios para se chegar à identificação correta. Os elos que as unem contribuem sobremaneira para a ciência da identificação judiciária, pois tem se tornado mutuamente indispensáveis em diversos momentos. A dactiloscopia em uma simples comparação da legalidade ou originalidade de uma impressão digital de uma cédula de identidade, ou em casos de acidente em que é imprescindível a utilização de técnicas de identificação mais apurada e detalhada, tal como a rugosidade palatina. De fundamental importância para a identificação humana postmortem é a elaboração do prontuário clínico odontológico do paciente, que deve ser observado com rigor formal. Torna-se imprescindível a conscientização do profissional cirurgião-dentista em realizar o registro detalhado de todos os eventos odontológicos encontrados na boca de um paciente antes, durante e depois do tratamento. Deve se ressaltar que para a identificação é imperativo que o cirurgião-dentista respeite o Código de Ética Odontológico nos seguintes pontos: efetuar uma ficha odontológica completa e adequada, onde consta a qualificação do paciente e a descrição de todos os eventos odontológicos; efetuar radiografias periapicais, panorâmica e modelos de estudo; guardar toda a documentação do seu paciente adequadamente, fornecendo à Justiça quando solicitado. O Código de Ética Odontológica dispõe como dever fundamental do cirurgião-dentista (art. 4º, VI), “elaborar as fichas clínicas dos pacientes, conservando-as Jan / Dez 2012 em arquivo próprio”. Desse modo, trata-se de direito do paciente ter os registros de seus arcos dentários arquivados pelo profissional que o atende. O cirurgião-dentista presta relevante auxílio à Justiça e tem grande responsabilidade quanto à identificação de seu paciente, pois é o único profissional que disponibiliza à perícia, o prontuário clínico odontológico que, quando hábil, é a peça fundamental para a comparação com os registros dentários específicos da vítima a ser identificada. A contribuição da Odontologia Legal Militar para a Garantia do Direito Humano à Identidade mostrou-se de suma importância ao “caso de Mengele”, cognominado o Anjo da Morte, responsável pela morte de milhares de pessoas, confinadas no campo de concentração de Auschwits. A identificação dos seus restos humanos permitiu aos seus familiares sobreviventes resolver as situações que resultam diretamente do óbito, assim como continuar com a vida de cada um. A documentação formal da morte requer uma identificação positiva e incontroversa, que é essencial à conclusão do término legal da existência, com as complicações que acarreta, notadamente na área civil. A falta de uma declaração de óbito, na maioria dos países, resulta em graves problemas legais para os familiares, persiste, que podem perder anos até obtê-la. E, no caso “Mengele” também houve a contribuição da Odontologia Legal, frente ao Direito Militar, na identificação como um Direito Humanitário, pois, as atrocidades decorrentes dos fatos delituosos cometidos pelo médico militar alemão deixaram a humanidade perplexa. Clamando justiça para os seus atos e, com sua identificação pós-morte, contatou-se o término legal da existência. Acontecimento que firmou e mostrou a importância da Odontologia Legal como auxiliar incontestável da justiça. Um fato lamentável, que infelizmente vem ao encontro da importância da Odontologia Legal em seu périplo para garantir o direito humano e humanitário à identidade, ocorreu quando do acidente do Airbus da TAM que vitimou 199 pessoas cujos cadáveres em sua maioria houve demora na identificação, pois os restos mortais foram carbonizados. O dia 17 de julho de 2007 no Aeroporto de Congonhas, São Paulo, redundou no clamor dos parentes, dos amigos, que junto às autoridades clamavam pelo direito de acolher suas vítimas em seu retorno ao útero-mãe, a terra, no ritual de sepultamento, em que a dor, a saudade e a despedida tiveram lugar cativo junto às recordações compartilhadas. Assim como o nascimento dá origem à identidade, a morte, nas exéquias fúnebres encerra este processo. Cabe às famílias a exigência ao Estado de cumprir sua função de tutor da cidadania, garantido a um e a todos, a identidade humana e humanitária que pertence em sua integridade, aos seres humanos, únicos em sua singularidade e subjetividade. Há entre nós um conhecido adágio que diz que, se “o médico legista é o único que pode afirmar de que morreu um indivíduo, o dentista é o único que pode dizer quem era o indivíduo”. A identificação odontológica traz a vantagem de examinar polimorfismos sobre as estruturas mais resistentes do corpo e que, por isso, são as mais óbvias e viáveis, que possibilita resgatar a identidade e a história individual quando nenhum outro ramo da ciência tem condições de fazê-lo. R E B O M I Referências BONNET, E. F. P. Medicina legal. 2º ed. Buenos Aires: Lopez, 1980. in: VANRELL, J. P. Odontologia & antropologia forense: Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. BUERGENTHAL, T. Internacional humano rights. In: PIOVESAN, F. Direito Constitucional Internacional. 4ed. São Paulo: Saraiva, 2005. CAMPOS, M. L. B. A perícia em odontologia legal. IN: VANRELL, J. P. Odontologia & antropologia forense: Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002. CARREA, J.V. La identificación de las rugosidades palatinas. Ortodoncia: Buenos Aires, 1940. DENARI, Z . Código de defesa do consumidor comentado. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. VANRELL, J. P. Odontologia legal & antropologia forense. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 13 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B O ARTIGO ORIGINAL M I Avaliação clínica da relação entre distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão gengival Clinical evaluation of the relationship between occlusal disorders and gingival recession Eudivar Correia de Farias Neto1 Gustavo Augusto Seabra Barbosa2 Eduardo Gomes Seabra3 Lidiane Thomaz Coelho de Farias4 1. 1º Ten QOCON Dent – Adjunto da Seção de Periodontia da Odontoclínica de Aeronáutica Santos-Dumond, Mestre em Periodontia e Prótese Dentária (UFRN), Especialista em Periodontia. 2. Doutor em Odontologia (Reabilitação Oral) , Mestre em Odontologia (Reabilitação Oral), Professor Adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Coordenador da disciplina de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, Coordenador do Curso de Especialização em Prótese Dentária da UFRN. 3. Doutor em Odontologia (Periodontia), Mestre em Odontologia (Periodontia), Especialista em Periodontia, Professor Aposentado da Disciplina de Periodontia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 4. 1º Ten (Ciurgião-Dentista) da Marinha do Brasil, Instrutora Orientadora do Curso de Especialização em Prótese Dentária da Odontoclínica Central da Marinha, Mestre em Periodontia e Prótese Dentária (UFRN), Especialista em Programa Saúde da Família (FACISA). Endereço para correspondência: R. Professor Álvaro Rodrigues, 255, AP. 402, Botafogo, Rio de Janeiro RJ. CEP.: 22 280 – 040. E-mail: [email protected] Aceito para publicação em 27 de fevereiro de 2012 e aceito em 1 de abril de 2012 14 Resumo Este trabalho avaliou clinicamente a relação entre distúrbios oclusais (contatos prematuros e interferências oclusais) e recessões gengivais. As avaliações foram realizadas utilizando-se questionários e exames clínicos. Foram examinados 558 dentes, sendo que 24,1%, isto é, 135 apresentavam recessão gengival maior ou igual a 1mm. Por meio do teste “t” de Studant, para um nível de significância de 5%, observou-se associação estatisticamente significante entre os distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão (p = 0,002). Apesar deste resultado, os distúrbios oclusais não apareceram associados ao tamanho da recessão quando medida em milímetros (p = 0,620). Conclui-se que embora os distúrbios oclusais não estejam associados ao tamanho das recessões, estão associados à sua ocorrência. Palavras-chave: recessão gengival, distúrbios oclusais, trauma oclusal. Abstract This study clinically evaluated the relationship of gingival recessions with the occlusal disorders. The evaluations were performed by using questionnaires and clinical examinations. 558 teeth were examined, with 24.1%, 135 had gingival recession greater than or equal to 1mm. Using “t” Studant test (p d” 0,05%) to evaluate the average of the recession and its relationship with the variables studied, we observed statistically significant association with recession to occlusal disorders (p = 0,002). Although this results, occlusal disorders haven’t been associated to degree of recession in millimeters (p = 0,620). We can conclude that however occlusal disorders aren’t associated to degree of recession, it’s related to its occurrence. Keywords: gingival recession, occlusal disorders, occlusal trauma. Jan / Dez 2012 Introdução As recessões gengivais são facilmente encontradas na população e são alvo de grande preocupação por parte da mesma. Elas se caracterizam pelo posicionamento apical da margem gengival em relação à junção cemento-esmalte com a exposição da superfície radicular devido a fatores variados, tais como: anatomia óssea, posicionamento dentário, movimentação ortodôntica, trauma mecânico, fatores locais de retenção de placa, doença periodontal e fumo (LÖST, 1984). Uma consequência muito comum é a hiperestesia dentinária cervical, estabelecida pela exposição da superfície radicular ao ambiente bucal, frequentemente relatada pelos pacientes como a queixa primária em relação às suas recessões (ADDY, MOSTAFA e NEWCOMBE, 1987). O mecanismo exato pelo qual a recessão do tecido marginal se estabelece ainda não está totalmente esclarecido. A presença de placa bacteriana é um dos fatores fundamentais para a inflamação gengival que, dependendo das características teciduais, pode estabelecer uma recessão no periodonto marginal (O’LEARY et al., 1968). Quando a oclusão traumatogênica atua associada a outros fatores etiológicos ocorre, segundo Passanezi e Janson (1998), aumento da mobilidade dental por alargamento do espaço do ligamento periodontal, mudança de posição do dente no arco, alterações da margem gengival, caracterizando a formação de recessão gengival. Acredita-se que as forças oclusais excessivas possam debilitar o suporte periodontal, inclusive a crista óssea, tornando o tecido marginal susceptível a agentes irritantes. Glickman e Smulow (1962), investigando os efeitos de forças funcionais excessivas sobre os tecidos periodontais de macacos relatam que forças oclusais excessivas alteram a patogenicidade da inflamação gengival nos tecidos periodontais e afetam o modo de destruição óssea na doença periodontal. Em 2003, Marini, avaliando a prevalência e os possíveis fatores etiológicos da presença de recessões gengivais em 380 indivíduos, verificou que cerca de 8% dos dentes que apresentavam recessões gengivais também apresentavam interferência no movimento R E B excursivo anterior da mandíbula e que cerca de 5% dos dentes com recessões apresentavam interferência nos movimentos de lateralidade direita ou esquerda. Além disso, verificou que 64% dos indivíduos avaliados na faixa dos 20 aos 29 anos apresentaram recessões gengivais, chegando a 98,75% a prevalência nos indivíduos com idade acima de 50 anos. Dessa forma, este trabalho teve por objetivo avaliar o possível relacionamento entre dentes que apresentam recessões gengivais e distúrbios oclusais (contato prematuro e interferências oclusais). O M I Metodologia Foram avaliados 558 dentes dos quais 135 apresentavam recessão gengival. Foram examinados 20 indivíduos adultos, sendo 13 do gênero feminino e 07 do gênero masculino, com idade média de 24,1 anos (19-33). Estes indivíduos eram estudantes ou cirurgiões-dentistas, alunos da graduação ou de um dos cursos de Pós-Graduação realizados no Departamento de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O projeto de pesquisa desenvolvido foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (CEP-UFRN), aprovado sob o parecer número 077/2008, sendo os participantes informados a respeito da avaliação a que seriam submetidos, assinando o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, firmando sua anuência em participar do estudo. As recessões gengivais foram avaliadas desde a junção cemento--esmalte (JCE) até o ponto mais coronal da margem gengival, tendo sido registradas somente nos sítios onde 1 mm ou mais de raiz estivesse clinicamente visível e, portanto, exposta ao ambiente bucal. Nos sítios onde a JCE estava coberta por cálculo, mascarada por uma restauração ou perdida devido a desgaste dentário ou cárie, a altura desta junção era estipulada baseando-se nos dentes adjacentes. Os contatos dentários foram avaliados durante os movimentos excursivos mandibulares: movimentos de lateralidade nos lados de trabalho e não trabalho, protrusão e nas posições de máxima intercuspidação 15 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 habitual (MIH) e relação cêntrica (RC). Na análise oclusal, com o paciente na cadeira odontológica em posição padronizada (supina) foram registrados, com a superfície dentária seca por meio de jatos de ar, os movimentos mandibulares de protrusão e de lateralidade, durante os quais, por meio da fita marcadora (Accufilm 11 - Parkell -Farmingdale - USA) registravam-se os contatos nos lados de trabalho e não-trabalho. Em seguida os contatos foram registrados em protrusão e MIH. Logo após, o “Leaf-gauge” foi utilizado pelos pacientes durante cinco minutos, com o objetivo de desprogramar a memória proprioceptiva do Sistema Nervoso e do ligamento periodontal, possibilitando relaxamento dos músculos do Aparelho Estomatognático, para facilitar a manipulação da mandíbula para a posição de RC, pela técnica frontal (RAMFJORD e ASH, 1984). O registro dos contatos prematuros em RC também foi realizado por meio da fita marcadora. Os distúrbios oclusais foram marcados quando da presença de contato oclusal prematuro ou deflectivo e interferência oclusal (FERNANDES NETO, 2006). O contato oclusal prematuro foi registrado sempre que havia contato oclusal prematuro entre cúspide e fossa ou entre cúspide e crista marginal (embrasura) de dentes antagonistas. Na protrusão foram registrados os contatos quando ocorria interferência entre a estrutura oclusal mesial (aresta longitudinal, vertente triturante ou crista marginal) do dente inferior e a estrutura oclusal distal do dente superior; No movimento mandibular excursivo de trabalho a interferência foi identificada quando ocorria o contato oclusal entre a vertente lisa de uma cúspide funcional (palatina superior e vestibular inferior) e a vertente triturante de uma cúspide não funcional (vestibular superior e lingual inferior); E no movimento mandibular excursivo de balanceio foi registrada quando ocorria contato oclusal entre as vertentes triturantes de duas cúspides funcionais (palatina superior e vestibular inferior) (FERNANDES NETO, 2006). Resultados Dos 558 dentes avaliados 24,1%, isto é, 135 dentes apresentavam recessão gengival maior ou igual a 1mm. A posição dos dentes que apresentaram recessão 16 revelou que 19,8% eram dentes anteriores e 80,2% posteriores. A distribuição da recessão gengival segundo o arco dentário foi de 52,6% para mandíbula e 47,4% para maxila. Para o grupo de dentes com recessão gengival a distribuição revelou predominância dos primeiros pré-molares com 30,4%, seguido dos primeiros molares com 23,7%, dos segundos pré-molares com 19,3%, dos caninos com 8,9% e segundos molares com 6,7%. Os incisivos centrais e incisivos laterais foram os que apresentaram menos recessão com 5,9 e 5,2% respectivamente (Figura 1). Figura 1: Distribuição da recessão gengival segundo o grupo de dentes. Observando o número de contatos parafuncionais distribuídos nos dentes com recessão, pudemos observar que a maioria dos casos não possuía contato parafuncional, 89 elementos (65,9%). Apresentando 1 contato, 24 casos foram registrados (17,8%); com 2 contatos, 16 casos (11,9%); 3 contatos, 5 casos (3,7%) e com 4 contatos, apenas 1 caso (0,7%). Quando avaliamos o tamanho das recessões dos dentes que possuíam distúrbios oclusais (1,78mm em média) comparando com o tamanho das recessões dos dentes que não apresentaram distúrbios oclusais (1,72mm em média), não pudemos observar uma diferença estatisticamente significante (Tabela 1). Tabela 1: Diferença da média das recessões associada à presença ou não de distúrbio oclusal. Distúrbio Oclusal Sim Não N Média D.P. Valor de p* Recessão “t” (mm) 46 1,78 0.593 -0,497 0,620 89 1,72 0,754 *Teste “T” de Student (p<0,05) No entanto, ao avaliarmos a média do número de distúrbios oclusais dos dentes que possuíam recessão gengival (0,52 distúrbios) comparando com a média do Jan / Dez 2012 número de distúrbios oclusais dos dentes que não possuíam recessão gengival (0,27 distúrbios), observamos uma diferença estatisticamente significante (p=0,002) (Tabela 2). Tabela 2: Diferença da média dos distúrbios oclusais associado à presença ou não de recessão. Recessão Sim Não N Média D.P. Valor de p* Distúrbios “t” Oclusais 135 0,52 0,860 -3,203 0,002 423 0,27 0,602 *Teste “T” de Student (p<0,05) Discussão A recessão gengival apresenta etiologia multifatorial, com a combinação de diversas variáveis. Entre as variáveis destacam-se o biofilme bacteriano dentário, características anatômicas, que podem estar associadas ao posicionamento dentário e que são constituídas pelas dimensões ósseas e mucogengivais locais, sendo a espessura da gengiva marginal de extrema importância, além da oclusão traumatogênica. Existem controvérsias entre os autores em relação a que fatores estão mais fortemente associados às recessões (YARED, ZENOBIO e PACHECO, 2006). Dos 558 dentes avaliados, 24,1% apresentaram recessão gengival igual ou superior a 1mm, número sensivelmente superior ao encontrado por Valle (2007), que examinou uma população semelhante em termos de características biológicas e sociais, onde dos 660 dentes examinados, 14,2% mostraram recessão gengival. Também no estudo de Valle (2007), 71,3% das recessões encontravam-se em dentes posteriores e 28,7% em dentes anteriores, dados bem semelhantes aos achados desta pesquisa, que encontrou 80,2% das recessões nos elementos dentários posteriores e 19,8% nos dentes anteriores. Quando observamos a distribuição da recessão gengival nos grupos de dentes foi revelada uma predominância dos primeiros pré-molares com 30,4%. Essa informação corresponde à mesma encontrada em diversos artigos analisados (GORMAN, 1965; SOLNIT e STAMBAUGH, 1983; LÖE, ANERUD e BOYSEN, 1992; LOPES, 2005; VALLE, 2007). Löe (1992) ao investigar, 565 universitários noruegueses constatou que 63% dos indivíduos na faixa dos 20 anos já apresentavam recessões gengivais, estando confinadas quase inteiramente na face vestibular dos pré-molares e molares superiores e inferiores. Nos exames realizados por Solnit e Stambaugh (1983) foi revelada uma a maior frequência de interferências no lado de trabalho nos dentes superiores com recessão. Este fato aconteceu mais frequentemente nos primeiros pré-molares e primeiros molares, os quais apresentavam posicionamento no arco dentário que Ihes permitiam apenas movimentos em direção vestibular, além de na maxila o osso palatino ser mais denso e inflexível do que o osso vestibular. Segundo estes mesmos autores as características anatômicas dentárias também são capazes de justificar a maior ocorrência de recessão nos primeiros pré-molares superiores comparado aos segundos prémolares, uma vez que naqueles a cúspide vestibular é mais longa, favorecendo a ocorrência de interferência oclusal. Ainda evidenciando uma maior frequência de acometimento dos pré-molares com recessão gengival, Valle (2007) observou que os primeiros pré-molares mostraram maior incidência 25,5%, assim como na pesquisa de Lopes (2005), que encontrou valores ainda maiores, chegando a 49,74%, desse grupo de dentes acometido por recessão gengival. Quando foi avaliado o número de contatos parafuncionais, pode-se perceber que a maioria dos dentes (65,9%) não apresentava esse tipo de interferência. Trott e Love (1966) no estudo que conduziram demonstraram que apenas 11,6% dos incisivos centrais inferiores com recessão apresentavam trauma nos movimentos excursivos. Da mesma forma, Marini (2003) avaliando 380 indivíduos verificou que cerca de 8% dos dentes que apresentavam recessões gengivais também apresentavam interferência no movimento excursivo anterior da mandíbula e que cerca de 5% dos dentes com recessões apresentavam interferência nos movimentos de lateralidade direita ou esquerda. Gorman (1965) e Yared, Zenobio e Pacheco (2006) em concordância com as informações anteriores concluíram que os fatores etiológicos mais frequentemente associados às recessões gengivais foram o mal- R E B O M I 17 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 posicionamento dentário e o trauma por escovação, sendo o trauma oclusal de pouca importância. Resultado semelhante foi encontrado por Bernimoulin e Curilovic (1977) que em seus resultados evidenciaram que os dentes acometidos por recessão gengival não estavam sob trauma. No entanto, apesar de o resultado não ter apresentado uma diferença estatisticamente significante (p=0,620), quando analisamos a média dos dentes que possuíam recessão e estavam sofrendo algum tipo de distúrbio oclusal, esse valor se mostrou maior (1,78mm) do que aqueles dentes que mesmo com recessão não possuíam nenhum contato anormal (1,72mm). Tal fato também pode ser observado por Solnit e Stambaugh (1983), quando observações clínicas levantaram a suspeita de que dentes com recessões gengivais de maiores amplitudes estavam associados à oclusão traumatogênica, o que veio a ser confirmado por exames oclusais. Apresentando resultados semelhante, Harrel e Nunn (2004) concluíram em seu artigo afirmando que mesmo a média da perda de tecido gengival sendo maior nos dentes que apresentavam discrepâncias oclusais (0,101mm/ano) do que aqueles que não possuíam (0,055mm/ano), não representaram diferenças que fossem significativas estatisticamente. Ao avaliarmos todo o conjunto dos dentes examinados e não apenas aqueles que possuíam recessão gengival, dados relevantes e estatisticamente significantes (p=0,002) puderam ser observados com relação aos distúrbios oclusais (contato prematuro e interferência oclusal). Os elementos com recessão apresentaram uma média de tais distúrbios maior que a dos elementos sem recessão (0,52 contra 0,27). Estes resultados são confirmados por diferentes trabalhos publicados na literatura (PARFITT e MJÖR, 1964; GOUTOUDI, KOIDIS e KONSTANTINIDIS, 1997; VALLE, 2007) e mostram a associação existente entre distúrbios oclusais e a ocorrência de recessão gengival. balho foi desenvolvido na tentativa de verificar a participação do fator oclusal na sua ocorrência. De acordo com a metodologia aplicada, foi possível identificar que os distúrbios oclusais estiveram associados aos casos de recessão gengival, entretanto tal associação não pôde ser feita com a média de tamanhos das recessões. Referências ADDY, M.; MOSTAFA, P.; NEWCOMBE, R.G. Dentine hypersensitivity: the distribution of recession, sensitivity and plaque. J Dent. 1987, 25(6):242-248 BERNIMOULIN, J.P.; CURILOVIC, Z. Gingival recession and tooth mobility. J Clin Periodontol. 1977, 4(2):107-14 FERNANDES NETO, A.J. 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R Dental Press Ortodon Ortop Facial. 2006, 6(11):45-51 Jan / Dez 2012 R E ARTIGO ORIGINAL B O M I Capacitação de intensivistas para ações de cuidados bucais em unidades de terapia intensiva Training for intensivists actions for oral health in intensive care units Rodolfo José Gomes de Araújo1 Cássia Neila Macedo Castro2 Thiago Rebelo Miranda3 Aline Silva Magalhães Melo4 1. 2º Ten ODT – Hospital Geral de Belém (HGeBe), Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Federal do Pará (UFPA) 2. Cirurgiã Dentista – Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ) 3. Cirurgiã Dentista – Hospital Adventista de Belém 4. Dentista Intensivista – Hospital Porto Dias Endereço para correspondência: Rodolfo José Gomes de Araújo Av. Bras de Aguiar 681 / 902 – Nazaré – Belém – Pará – Brasil CEP: 66035-415 E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 13 de abril de 2013 e aceito em 15 de abril de 2013 Resumo Visando à obtenção de um perfil e da realização dos cuidados bucais pelo corpo clínico em UTI, fez-se uma pesquisa com abordagem estatística de análise de dados através de um questionário, envolvendo como população de referência profissional intensivistas que atuavam em unidades de tratamento intensivo do hospital adventista de Belém. Foram obtidos os seguintes resultados: os intensivistas sugeriram a necessidade dos dentistas em equipes interdisciplinares, sabem da inter-relação da infecção bucal e saúde sistêmica e acha importante a higienização bucal durante a internação hospitalar e observou-se que o conhecimento sobre os cuidados de saúde bucal são insatisfatórios, logo se necessita de mudanças. Os autores concluíram que o corpo clínico responsável pelos cuidados bucais dos pacientes internados em unidades de terapia intensiva não recebeu instruções adequadas, logo a presença do dentista é sugerida como tentativa de solucionar as dificuldades apresentadas, participando da elaboração do plano de tratamento e, inclusive, após a alta hospitalar logo é de extrema importância que o corpo clínico seja orientado e capacitado para realizar os cuidados de higiene oral de maneira correta, visando à qualidade de vida e melhor atendimento ao paciente. Palavras-chave: odontologia hospitalar, unidades de terapia intensiva e higiene bucal. 19 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 Abstract Trying to obtain a profile and completion of oral care by the medical staff in ICU, the authors performed a research approach with statistical data analysis through a questionnaire, involving a reference population of critical care professionals who work in intensive care units of Adventist hospital of Belem (Brazil). We obtained the following results: intensivists suggested the need for the dentist in interdisciplinary teams, know the interrelationship of oral infection and systemic health and oral hygiene important finds during hospitalization and found that knowledge about health care mouth are underperforming, and then need to change. The authors concluded that the clinical staff responsible for the oral care of patients admitted to intensive care units did not receive proper instructions, so the presence of the dentist is suggested as an attempt to solve the difficulties presented by participating in the plan of treatment and even soon after discharge is of utmost importance that the clinical staff are instructed and trained to perform the oral hygiene care properly, seeking the quality of life and better patient care. Keywords: hospital dentistry, intensive care unit, oral hygiene. Introdução Pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) devem receber cuidados especiais e intensivos, não só para tratar o problema que o levou à internação, mas também para cuidar dos demais órgãos e sistemas que podem sofrer alguma deterioração prejudicial para sua recuperação e prognóstico, logo necessitam de cuidados de excelência. Diante disso, deveriam fazer parte dos cuidados preventivos com a cavidade oral em ambiente hospitalar o exame clínico periódico para inspecionar possíveis alterações destes tecidos e em caso de achados como sintomatologia dolorosa ou lesões estes já receberiam assistência curativa especializada, além da necessidade de escovação dental apropriada, uso de fio dental e substâncias antisépticas que previnam as infecções das mucosas. Patógenos comumente responsáveis pela pneumonia nosocomial são encontrados colonizando o biofilme dental e mucosa bucal destes pacientes, contudo, boas técnicas de higiene bucal são capazes de prevenir o avanço da infecção da cavidade bucal para o trato respiratório. Frequentemente, em UTI o paciente necessita de ventilação mecânica. A literatura demonstra que as pneumonias associadas a este tipo de recurso acometem grande percentagem destes pacientes, com taxas alarmantes de mortalidade. Araújo (2009), em seu trabalho, realizado na cidade de Belém, afirma que o corpo de enfermagem pou20 co conhece a respeito dos métodos de controle de placa responsável pelas principais patologias bucais e dos diversos produtos que podem ser utilizados na higiene dos pacientes internados em UTI. Afirma que estas equipes de enfermagem que realizam os cuidados de higiene bucal, de forma geral, não receberam formação adequada para realizá-los. A atual prática de cuidados nas principais UTIs é mal definida e inconsistente, por não incluir um componente de cuidado bucal definido e focar somente o conforto do paciente, não a remoção de microorganismos (SILVA e MORAES, 2007). O objetivo deste estudo é mostrar ao corpo clínico da unidade de terapia intensiva a maneira correta e eficaz de realizar os cuidados bucais nos pacientes através da realização de uma revisão de literatura e ministrando palestras sobre o assunto. Metodologia Visando à obtenção de um perfil e da realização dos cuidados bucais de intensivistas, fez-se uma pesquisa com abordagem estatística de análise de dados através de um questionário, envolvendo como população de referência profissionais intensivistas (sendo três enfermeiros,seis técnicos de enfermagem e um fisioterapeuta) que atuavam em unidades de tratamento intensivo do hospital adventista de Belém durante o período de 30 de maio a 3 de abril de 2012. Jan / Dez 2012 Após investigação sobre a quantidade de unidades de terapia intensiva do hospital encontrou-se duas unidades de terapia intensiva dentro dos critérios estabelecidos e verificou-se a existência de 8 leitos em cada. Após submissão e registro da aprovação do comitê de ética em pesquisa em seres humanos do centro de ciências da saúde da Universidade Federal do Pará, a pesquisa foi então desenvolvida por meio da capacitação em forma de palestras e posterior aplicação de questionário. Foi realizado a capacitação aos intensivistas em dois ambientes sendo uma sala de estudo e auditório. A capacitação durou uma hora sendo realizado em dois horários. Ao termino da capacitação, foi aplicado um questionário contendo quatorze questões. Primeira parte (questões 01 a 03 sobre o perfil do Profissional: categoria profissional a que pertence, faixa etária e gênero; segunda parte (questões 04 a 11) sobre os conhecimentos e cuidados que são realizados e/ou orientados aos pacientes levando em consideração:equipe multi/interdisciplinar,quanto a importância da presença de CD em UTIs, quanto a inter-relação sobre infecções na boca e saúde geral e sobre a importância da higienização no hospital. Resultados Quanto ao resultado obtido verificou-se que em relação ao perfil do profissional a idade média foi de 30 anos e predominância do sexo feminino (100%). Com relação a atuação profissional 100% atuam em equipe interdisciplinar e 100% sugerem a necessidade do CD em equipes interdisciplinares. Quanto a importância da saúde bucal 90% sabe da inter-relação da infecção bucal e saúde sistêmica e 100% acha importante a higienização bucal durante a internação hospitalar. Em relação aos procedimentos realizados/orientados, 100% realizam higienização com gaze no bastão embebida em anti-séptico, 100% não recomendam o uso de próteses em pacientes inconscientes. Em relação a treinamentos sobre higiene bucal, 40% receberam algum tipo de treinamento, 10% consideraram insatisfatório e 100% gostariam de ampliar conhecimentos sobre o assunto. Discussão De acordo com a literatura, escovas dentais são as ferramentas de escolha para cuidados orais selecionadas por enfermeiras (KITE e PEARSON, 1995). Além disso, existem intensas evidências que associam o uso de escovas dentais para controle efetivo de placa e suas complicações. As escovas dentais são os utensílios de escolha para cuidados bucais. Escovação dental, associada com dentifrícios compostos com flúor, é recomendada a quase todos os pacientes (JENKINS, 1989; HAYES e JONES, 1995). Apenas uma minoria de pacientes intubados, com severas ulcerações ou hemorragias na mucosa bucal, não deveria ter seus dentes escovados. Pacientes edêntulos intubados deveriam ser submetidos à escovação de língua para ajudar a manter a mucosa saudável. As próteses devem estar devidamente higienizadas e prontas para o uso logo após desintubação (ERICKSON, 1997). Para facilitar o uso em pacientes intubados, escovas de cabeças pequenas podem ser eficientes (HAYES e JONES, 1995). Autoclaves especiais para escovas dentais e escovas elétricas são outros equipamentos que se encontram disponíveis, todavia ainda não foram testados em pacientes intubados (ABIDIA, 2007). Clorexidina também demonstra grande afinidade com a mucosa bucal, superfícies dentais e glicoproteínas de saliva e tem ação bacteriostática com duração de aproximadamente doze horas (SCANNAPIECO, 1998). Recentemente, soluções de clorexidina 0,12% sem álcool em sua composição têm sido desenvolvidas e consideradas tão efetivas quanto às compostas de clorexidina 0,2%, com o álcool sendo um de seus outros componentes e, portanto, indicados para o uso (VAN STRYDONCK et al., 2005). Bastões com espuma embebida por soluções antimicrobianas são mais eficazes para enxaguadura e hidratação da cavidade bucal quando aplicados em períodos entre escovações (JENKINS, 1989; BARNASON, 1998). Também foi afirmado que soluções salinas a 0,9% ou água são tão eficientes quanto enxaguatórios orais (JENKINS, 1989; LIWU, 1990). Swabs de algodão descartáveis são frequentemente R E B O M I 21 R E B O M I 22 ANO 29 • Nº 1 e 2 usados para limpeza e hidratação de mucosa e dentes de pacientes em UTIs. Exemplos destes utensílios são swabs de limão e glicerina que estimulam a produção de saliva inicialmente, mas são ácidos, causando irritação e descalcificação dos dentes, portanto a escolha de produtos menos erosivos é de suma importância (ADAMS, 1996; MEURMAN, 1996). Um protocolo para cuidados orais em UTIs se faz necessário (FITCH et al., 1999). Hayes e Jones (1995) formataram um protocolo chamado de “Modelo de Exame” com informações sobre sinais e sintomas que deveriam ser notados na cavidade bucal do paciente pela equipe de enfermagem no momento. Sangramento gengival, vermelhidão, ulcerações, halitose, entre outros, foram sinais sugeridos a serem investigados pelo profissional responsável com o uso do protocolo. A higiene bucal em UTIs é considerada um procedimento rotineiro de enfermagem cujo objetivo é manter saudável a cavidade bucal do pacientes (KITE e PEARSON, 1995). Geralmente, a equipe de enfermagem não está adequadamente habilitada para o tratamento da cavidade bucal do paciente de UTI, e protocolos que servem como guia de informações não estão disponíveis no local de trabalho (FITCH et al. 1999; BERRY, 2006). Tem sido recomendado que profissionais da odontologia estejam integrados a programas de formação em enfermagem com o objetivo de melhorar o conhecimento e habilidades práticas de equipe promovendo melhor qualidade de tratamento. Fitch et al. (1999), recomendaram a implementação de um protocolo de cuidados orais direcionados a equipes de enfermagem sobre técnicas de exame e higiene bucal. Algumas soluções e equipamentos usados por enfermeiros para tratamento bucal não são adequados (KITE e PEARSON, 1995). Peróxido de hidrogênio e bicarbonato de sódio removem placas, porém se não forem manipulados com cautela, podem provocar queimaduras superficiais. Em um estudo usando peróxido de hidrogênio, alterações significativas ocorridas na mucosa foram relatadas. Swabs, comumente usados na higiene bucal de pacientes dependentes, são efici- entes para estimulação dos tecidos da mucosa, porém ineficazes para remoção de placa. A frequência dos cuidados orais para pacientes intubados é uma área de controvérsia, Jenkins (1989) sugeriu que a frequência de higiene bucal deveria variar, dependendo da classificação que os pacientes recebessem quanto ao risco de obter patologias orais, enquanto Roth e Creason (1986) recomendaram intervalos de duas a quatro horas, dependendo das condições do paciente. O protocolo de higiene sugerido por Barnason (1998) estabelecia que escovações fossem realizadas a cada doze horas e hidratação bucal, no mínimo, a cada duas horas, enquanto o paciente permanecesse intubado. O autor afirma que pesquisas mais profundas sobre o assunto ainda são necessárias. Este estudo contribui para perceber que a odontologia tem um papel relevante na manutenção e recuperação da saúde bucal dos indivíduos internados em unidades de tratamento intensivo e, por decorrência, da saúde geral do ser humano. É importante que outros profissionais da área da saúde tenham conhecimentos adequados sobre odontologia e conheçam também as alterações bucais fisiológicas e patológicas mais prevalentes em indivíduos hospitalizados. Sabe-se que os problemas odontológicos que acometem a cavidade bucal são mais prevalentes em pessoas acamadas, sobretudo por mudanças estruturais na mucosa, diminuição do fluxo salivar, redução de fatores imunológicos entre outros. Nesse sentido, concordando com Abdida (2007), o paciente hospitalizado requer maiores cuidados por parte das enfermeiras no que tange à higiene com a cavidade bucal, tendo em vista sempre o restabelecimento da saúde geral, o mais brevemente possível. Neste estudo, comprovou-se a teoria que define a equipe de enfermagem como um time de profissionais que deve estar preparado para assumir estas novas funções (POTTER e PERRY, 1999; REZENDE, 2005; BRUNETTI; MONTENEGRO, 2003). Virginia Henderson, em 1966, já descrevia como função essencial do enfermeiro: (...) auxiliar o indivíduo, doente ou sadio, na execução daquelas atividades que contribuem para sua saúde ou sua recuperação (ou sua mor- Jan / Dez 2012 te em paz), que ele executaria sozinho se tivesse a força, a vontade ou o conhecimento necessários. E fazer isso de tal modo que o ajudasse a obter a independência o mais rapidamente possível. Por se tratar de uma disciplina orientada pela prática, os conceitos de enfermagem vêm evoluindo com o decorrer do tempo (GERMANO, 1993) e, hoje, as atividades desenvolvidas por esses profissionais têm sido estabelecidas em códigos de enfermagem, incluindo novos campos de atuação, sempre refletindo uma visão do homem como um ser biopsicossocial completo. No que se refere às últimas décadas, as entrevistas demonstraram que a participação desses profissionais tem elevado significativamente tanto em números absolutos quanto em relação ao número de profissionais por habitantes (DU GAS, 1984; PUPULIM e SAWADA, 2002). Ocorre, assim, um crescimento da demanda por empregos de serviços de enfermagem de nível administrativo e percebemos, também, a importância da qualificação dos auxiliares de enfermagem que já atuam na área (Ministério da Saúde, 2001). Conclusão Sabendo-se que os cuidados de higiene oral em pacientes de UTIs são precários e inconsistentes, é de extrema importância que o corpo clínico seja orientado e capacitado para realizá-los de maneira correta. Nos cuidados dispensados aos pacientes de UTI, deve ser incluída a higiene bucal adequada às necessidades especiais deste paciente, dada a interrelação entre doenças bucais e sistêmicas comprovadas em estudos recentes que demonstram pouco conhecimento das equipes de enfermagem para realizar a higiene bucal de pacientes internos nas UTIs. O uso de soluções e técnicas inadequadas predispõe os pacientes a desenvolver a pneumonia nosocomial que constitui mais uma complicação no estado de saúde de um organismo já debilitado. Esta complicação não somente expõe o paciente a mais um risco de vida como também prolonga a permanência nas UTIs e aumenta os custos da internação. Diante de tais evidências há uma enorme necessidade que o corpo clínico da UTI seja capacitado para promover a saúde oral dos pacientes, buscando minimizar os índices de infecções respiratórias associadas ao biofilme dental, manter estável as condições bucais dos pacientes internados e remover o biofilme dental além do conhecimento de novos produtos e aprendam um pouco mais de higiene bucal e sua importância para melhor atender aos pacientes. R E B O M I Referências ABIDIA, R. F.; AL-FARAN, K. Oral care in the intensive and intermediate care units in Rivadh and Oateef. Pak Oral Dental. 2007;24(1):87-94. ADAMS, R. Qualified nurses adequate knowledge related to oral health, resulting in inadequate oral care of patients on medical wards. J. Adv. Nurs. 1996;24(1):552-60. ARAÚJO, R.J.G. Análise de percepções e ações sobre cuidados bucais realizados Por equipes de enfermagem em unidades de tratamento Intensivo na cidade de Belém, 2008. 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Coronel PM RR Dentista (PMERJ), Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pelo HUPE-UERJ, Professor da Disciplina de Cirurgia Bucal da Faculdade de Odontologia da UVA. 3. Ten Cel PM Dentista (PMERJ), Chefe do Serviço de Odontologia do HCPM, Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial, Mestre em Radiologia. 4. Maj PM Dentista (PMERJ), Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pelo HUPE-UERJ, Mestre em Radiologia pela UFRJ, Professora da Disciplina de Cirurgia Bucal da Faculdade de Odontologia da UVA. 5. Maj PM Dentista (PMERJ), Especialista em Cirurgia Bucomaxilofacial pelo Hospital dos Servidores do Estado 6. Maj PM Dentista (PMERJ), Mestre e Doutora em Patologia Oral pela UFF, Professora das Disciplinas de Patologia Oral e Cirurgia Bucal da Faculdade de Odontologia da UVA. Endereço para correspondência: Rua Estácio de Sá, 20 – CEP 20211-270, Rio de Janeiro/RJ – Hospital Central da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro – Setor de Cirurgia Bucomaxilofacial. E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 22 de junho de 2012 e aceito em 10 de dezembro de 2012 24 Resumo Este artigo teve como objetivo analisar o impacto da política de pacificação implementada no Estado do Rio de Janeiro na incidência e gravidade de lesões por projétil de arma de fogo (PAF) na face de policiais militares atendidos pelo Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Central da Polícia Militar. Foram revisados os prontuários dos policiais militares vítimas de lesão por PAF atendidos no período de janeiro de 2008 a dezembro de 2011. Foram avaliados a incidência e o grau de complexidade das lesões maxilofaciais por período correlacionando-os com a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). O processo de pacificação, inicialmente, gerou um aumento da incidência e gravidade das lesões por PAF na face. Atualmente, há uma tendência de redução do número de casos e severidade das lesões que, se confirmada, demostrará que a pacificação, embora originalmente uma iniciativa de segurança pública, apresenta reflexos positivos na redução dos gastos com o sistema de saúde da corporação. Palavras-chave: pacificação, arma de fogo, PAF, lesão maxilofacial, UPP. Abstract The aim of this study was to evaluate the impact of the Rio de Janeiro Government Pacification Policy on the incidence and severity of facial gunshot lesions sustained by the policemen. We retrospectively analysed the records of the Rio de Janeiro State Police Hospital – Oral and Maxillofacial Surgery Department. All of the gunshot lesions treated from January 2008 to December 2011 were included in the study. This data was compared to the implementation of the pacification units around the city. Although the pacification process initially generated an increase in the number and severity of the lesions, its late effect seems to be of a decrease of those parameters, showing a clear relationship between crime reduction and health costs control in our Instituition. Keywords: pacification policy, gunshot lesions, pacification units. Jan / Dez 2012 Introdução No Brasil, a violência constitui um dos principais problemas de saúde pública e os traumatismos por projétil de arma de fogo (PAF) tornaram-se rotina nos atendimentos de hospitais de emergência nos últimos anos (JORGE, 2002). Os policiais militares, em virtude de sua atividade, são altamente susceptíveis a estas lesões, especialmente em cidades como o Rio de Janeiro (MINAYO, SOUZA e CONSTANTINO, 2007). Na Cirurgia Bucomaxilofacial, as lesões por PAF constituem as mais devastadoras e de maior dificuldade de tratamento. Este geralmente é longo e multidisciplinar, envolvendo vários procedimentos cirúrgicos para a reconstrução, acompanhamento fisioterápico, reabilitação protética e suporte psicológico. As lesões faciais por arma de fogo também estão associadas a um elevado índice de sequelas permanente, que podem afetar a capacidade funcional da vítima, principalmente quando há comprometimento neurológico ou oftalmológico associados. Estas sequelas podem acarretar necessidade de assistência médicohospitalar prolongada e/ou inaptidão permanente ao trabalho policial militar, elevando os custos do sistema de saúde e previdenciário da Corporação. Com a finalidade de conter o crescimento da violência no Estado do Rio de Janeiro, a Secretaria Estadual de Segurança Pública instituiu a criação de unidades de polícias em comunidades carentes como forma de desarticular grupos criminosos que controlavam estes territórios. Este projeto foi denominado Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), tendo início em 19 de dezembro de 2008 com a pacificação do Morro Santa Marta. Foram inauguradas até abril de 2012 19 UPP em comunidades da cidade Rio de Janeiro. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública (2011), houve uma diminuição da violência nas comunidades contempladas pelas UPP. No entanto não foi publicado nenhum estudo com o objetivo de avaliar o impacto da pacificação nos gastos com a saúde. O objetivo deste trabalho é analisar a incidência e gravidade das lesões por arma de fogo no Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Central da Polícia Militar no período de 2008 a 2011. Metodologia Foi realizado um estudo descritivo retrospectivo dos prontuários de policiais militares vítimas de lesões por arma de fogo na face, atendidos no Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Central da Polícia Militar no período de Janeiro de 2008 a Dezembro de 2011. Não foram incluídos pacientes baleados em data prévia, mas que ainda estavam em acompanhamento pelo Serviço. Foram excluídos os prontuários de civis, dependentes ou pensionistas de policiais militares. Os dados coletados foram tabulados no programa Microsoft Excel (Microsoft Office®, 2007) de acordo com a data do acidente e a complexidade da lesão por PAF. A complexidade da lesão foi definida com base nos tecidos predominantemente acometidos pelo projétil, grau de deslocamento das fraturas e perda de segmento ósseo. Com base nestes critérios, quatro graus de complexidade foram observados na amostra examinada: • Complexidade grau 1 - lesões que comprometeram predominantemente tecidos moles; • Complexidade grau 2 - lesões com comprometimento de tecidos duros (ossos e dentes) e moles, com presença de fraturas ósseas sem deslocamento ou deslocamento mínimo; • Complexidade grau 3 - lesões com comprometimento de tecidos duros (ossos e dentes) e moles, com presença de fraturas ósseas com deslocamento e sem perda de segmento; • Complexidade grau 4 - lesões com comprometimento de tecidos duros (ossos e dentes) e moles, com presença de fraturas ósseas com deslocamento perda de segmento (Quadro 1). R E B O M I Quadro 1: Classificação das lesões por arma de fogo segundo a complexidade. Complexidade Descrição Grau 1 Lesões predominantemente de tecidos moles Grau 2 Lesões com comprometimento de tecidos duros e moles. Presença de fraturas ósseas sem deslocamento ou deslocamento mínimo Grau 3 Lesões com comprometimento de tecidos duros e moles. Presença de fraturas ósseas com deslocamento. Sem perda de segmento Grau 4 Lesões com comprometimento de tecidos duros e moles. Presença de fraturas ósseas com deslocamento. Perda de segmento. 25 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 Resultados Discussão A incidência de policiais militares atendidos pelo Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial vítimas de lesões maxilofaciais por PAF no período entre janeiro de 2008 a dezembro de 2011 foi de 34 casos. Do total de atendimentos, quatro foram realizados no ano de 2008, nove no ano de 2009, 14 no ano de 2010 e sete no ano de 2011 (Gráfico 1). A violência e particularmente as lesões por PAF têm crescido de forma exponencial no país, acarretando elevado custo econômico e social (PERES e SANTOS, 2005; GAWRYSEWSKI, KAHN e MELLO JORGE, 2005; CERQUEIRA, 2007). Segundo o Ministério da Saúde (2005), as consequências da violência se evidenciam no aumento com gastos de emergência, assistência e reabilitação, muito mais custosos que a maioria dos procedimentos médicos convencionais. Além do prejuízo financeiro, as lesões por PAF causam incalculáveis danos mentais e emocionais nas vítimas e em suas famílias (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005). Várias medidas têm sido desenvolvidas pelo Estado para a contenção da violência, dentre elas a campanha de desarmamento (BRASIL, 2007) e a implementação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Este processo de pacificação teve início em dezembro de 2008 com a ocupação e inauguração da 1ª UPP no Morro de Santa Marta. Houve continuidade nos anos subsequentes, com a inauguração de quatro UPP em 2009, oito em 2010, cinco em 2011 e uma até abril de 2012. Muito tem sido noticiado a respeito dos benefícios do processo de pacificação nas comunidades contempladas com UPP, incluindo diminuição dos índices de violência (SAPORI, 2011), desenvolvimento de projetos sociais nas comunidades e melhora da imagem da Polícia Militar. Entretanto, não foi avaliado o impacto que o processo de pacificação trouxe para o sistema de saúde da corporação. Este estudo visou avaliar a incidência de policiais militares vítimas de trauma maxilofacial por PAF na Clínica de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Central da Polícia Militar atendidos imediatamente antes (2008) e após o período de ocupação das comunidades e inauguração das UPP (2009 a 2011). Devido ao crescente aumento da vitimização de policiais militares no estado, optou-se por incluir apenas o ano de 2008 como referência de comparação previamente a pacificação, de forma a evitar vieses estatísticos na comparação das médias de vitimização antes e após a inauguração das UPP. Foram avaliados somente militares porque estes, devido a sua atividade profissional, estão mais sujeitos Gráfico 1: Incidência de policiais militares baleados na face no período de 2008 a 2011. Com relação ao perfil de complexidade das lesões, no ano de 2008 foram atendidos dois pacientes com lesão grau 1 e dois pacientes com lesão grau 3. Em 2009, havia dois pacientes com lesão grau 1, dois pacientes com lesão grau 2, dois pacientes com lesão grau 3 e três pacientes com lesão grau 4. Já em 2010, foram atendidos três pacientes com lesão grau 1, quatro pacientes com lesão grau 2, três pacientes com lesão grau 3 e quatro pacientes com lesão grau 4. Por fim, em 2011, três pacientes apresentavam lesão grau 1, dois pacientes lesão grau 2, um paciente lesão grau 3 e um paciente lesão grau 4 (Gráfico 2). Gráfico 2: Complexidade das lesões nos anos de 2008 a 2011. 26 Jan / Dez 2012 a riscos que o restante da população (SOUZA e MINAYO, 2005). Não foi obrigatório o enquadramento como ato de serviço para a inclusão neste trabalho, pois os policiais militares, mesmo fora de serviço, apresentam maior risco de lesão por arma de fogo por habitualmente reagirem a assaltos ou serem identificados (MINAYO, SOUZA e CONSTANTINO, 2007). Durante o período de acompanhamento de quatro anos, foram contabilizados 34 casos de policiais militares vítimas de lesão por PAF atendidos pelo Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do HCPM. Acredita-se que este número não reflita a real incidência de policiais militares vitimados na face, pois muitos destes pacientes podem ser atendidos em outras unidades hospitalares fora da Corporação, principalmente quando estes são alvejados fora de serviço ou no interior do estado. Foi notado um aumento da incidência e complexidade de lesões no período de instalação das UPP (Gráficos 3 e 4). Embora nenhum dos pacientes avaliados tenha sido alvejado durante o processo de ocupação das comunidades, acredita-se que o aumento observado foi uma reação dos criminosos às ações implementadas pelo Estado no combate à violência e ao tráfico. É interessante notar que muitos destes militares foram vitimados em áreas ainda não pacificadas. Gráfico 3: Incidência de policiais militares baleados em face atendidos por ano e número de UPP inauguradas Gráfico 4: Incidência pacientes com lesões de maior complexidade por ano e número de UPP inauguradas R E B O M I Caso confirmada a redução, a pacificação representará um marco para o sistema de saúde que acompanhou períodos de grande vitimização em virtude de políticas de segurança pública que estimulavam o confrontamento, principalmente nos anos de 1995 a 1997, quando foram definidas as normas para Premiação em Pecúnia por Mérito Especial ou por atos de bravura (MUSUMECI, 2000). Muniz e Musumeci (1998) observaram que ao longo destes três anos, a taxa média de vitimização de policiais militares em serviço no estado sofreu uma abrupta elevação de 656%. O modelo adotado atualmente pela Secretaria de Segurança Pública segue um caminho promissor não somente quanto ao controle da criminalidade, mas também na redução do número de feridos e mortos por PAF, que na população civil foi estimada em quase 50% (SECRETARIA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2011). Espera-se que com a continuidade do projeto, possa ser observada uma semelhante redução da vitimização de policiais militares por PAF. Conclusão Entretanto, no ano de 2011 foi registrada uma diminuição da incidência de pacientes e de lesões de maior complexidade comparada com o ano anterior. Estes dados podem ser interpretados como resposta mediata à diminuição da violência causada pela pacificação, embora sejam necessários outros estudos com maior período de acompanhamento para confirmar esta tendência. De acordo com os dados apurados e analisados neste estudo, conclui-se que o processo de pacificação foi associado primeiramente a um aumento da incidência e gravidade das lesões por arma de fogo na face. A partir de 2011, houve uma redução, embora esta ainda não tenha atingido os mesmos índices observados no período pré-pacificação. É possível que os benefícios da pacificação para a Corporação ainda não possam ser totalmente vislumbrados, porém os resultados preliminares são promissores. Esta tendência de redução, se confirmada, de27 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 monstrará que a pacificação, embora originalmente uma iniciativa de segurança pública, apresenta reflexos positivos na redução dos gastos com sistema de saúde. Referências BRASIL, Ministério da Saúde. Impacto da violência na saúde dos brasileiros. Brasília; 2005. BRASIL, Ministério da Saúde. Redução dos homicídios no Brasil. Brasília; 2007. CARVALHO, A. et al. Custos das mortes por causas externas no Brasil. 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Jan / Dez 2012 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Análise de cárie e edentulismo da população carcerária do hospital de custódia e tratamento psiquiátrico do estado do Pará Analysis of carie and edentulism of prison population in the hospital for psychiatric treatment and custody of the State of Para Rodolfo José Gomes de Araújo1 Augusto Cesar Alcântara dos Reis2 Annie Patrícia Gaia de Almeida3 1. 2º Tenente ODT – Hospital Geral de Belém, Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Federal do Pará, Especialista em Periodontia – Associação Brasileira de Odontologia, Professor do Curso de Odontologia – Escola Superior da Amazônia 2. 1º Tenente ODT – 2º Batalhão de Infantaria de Selva Especialista em Dentística – Universidade Federal do Pará 3. Cirurgiã Dentista – Escola Superior da Amazônia Endereço para correspondência: Rodolfo José Gomes de Araújo AV. Bras de Aguiar 681/902 NazaréBelém-Pará-Brasil CEP: 66035-415 Email: [email protected] Recebido para publicação em 7 de janeiro de 2013 e aceito em 15 de abril de 2013 Resumo A população carcerária deve ser privada de liberdade e não dos direitos humanos inerentes à sua cidadania. Por isso, é preciso reforçar a premissa de que as pessoas presas, qualquer que seja a natureza de sua transgressão, mantêm todos os direitos de gozar de todos os padrões de saúde física e mental. Para tanto, é necessário que se faça um levantamento dos principais problemas bucais prevalentes na população carcerária a fim de se elaborar um programa de saúde bucal adequado às necessidades desses internos do sistema penal durante o período de ressocialização. O presente estudo teve como objetivo contribuir para literatura científico-odontológica traçando um perfil epidemiológico bucal dos internos do Hospital de Custódia de Americano, localizado no município de Santa Isabel, estado do Pará. Dentre as principais conclusões destacam-se que amaioria da população estudada possue alto risco de carie dentária. Observou-se também que, com o passar do tempo, o detento apresenta maiores índices de dentes cariados e extraídos. Palavras-chave: perfil de saúde, saúde bucal, saúde pública. Abstract Prisoners should be deprived of liberty and not human rights inherent to citizenship. Therefore it is necessary to reinforce the premise that prisoners, whatever the nature of their transgression, retain all rights to enjoy all standards of physical and mental. It is also necessary to make a survey of the main oral problems prevalent in the prison population in order to develop a suitable program of oral health needs of this internal penal system during the period of rehabilitation. The present study aimed to contribute to scientific literature and dental charting an epidemiological profile of oral internal Custody of American Hospital, located in the municipality of Santa Isabel, State of Pará. Among the main conclusions stand out that the majority of the population possesses a high risk of dental caries. It was also observed that with the passage of time, the prisoner has higher rates of decayed teeth and extracted. Keywords: health profile, oral health, public health. 29 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B O M I 30 Introdução A população carcerária deve ser privada de liberdade e não dos direitos humanos inerentes à sua cidadania. Por isso, é preciso reforçar a premissa de que as pessoas presas, qualquer que seja a natureza de sua transgressão, mantêm todos os direitos de gozar de todos os padrões de saúde física e mental. Para tanto, é necessário que se faça um levantamento dos principais problemas bucais prevalentes na população carcerária a fim de se elaborar um programa de saúde bucal adequado às necessidades desses internos do sistema penal durante o período de ressocialização. Segundo a portaria ministerial nº 628, de 02 de abril de 2002, a população compreendida pelo Sistema Penitenciário Nacional tem a necessidade de ações de promoção de saúde e de prevenção de doenças nos presídios, ressaltando também a importância da realização de estudos de abrangência nacional que revelem o perfil epidemiológico da população presidiária brasileira. De acordo com a Lei de Execução Penal n. 7.210, a assistência à saúde do preso e do internado tem caráter preventivo e curativo compreendendo áreas médicas, farmacêuticas e odontológicas. Dentro deste contexto, a “Odontologia Carcerária” é considerada um dos segmentos mais difíceis de serem realizados. Grande parte dos cirurgiões dentistas só tem real noção do universo carcerário a partir do momento em atuam profissionalmente com esta população. Não são encontrados estudos científicos consistentes sobre as atuais condições de saúde bucal de uma população carcerária no Brasil. Os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico destinam-se a abrigar e tratar os inimputáveis e semi-imputáveis, de acordo com o Código Penal Brasileiro e com a Lei 10.216 de 2001, conhecida como “Lei de Saúde Mental”. Ao abraçar a interdisciplinaridade, buscando interligar a promoção da saúde bucal com a Ciência Odontológica como forma de ultrapassar a visão monolítica da Odontologia. O presente trabalho justifica-se, ainda, pela constatação da pouca sistematização e estudo na área, em especial no que concerne à população carcerária que é discriminada de forma violenta pela sociedade. O presente estudo teve como objetivo contribuir para literatura científico-odontológica traçando um perfil epidemiológico bucal dos internos do Hospital de Custódia de Americano, localizado no município de Santa Isabel, estado do Pará. Este projeto emerge do desejo de dar prosseguimento à pesquisa e ao aprimoramento de temática enfrentada por ocasião do trabalho de campo na disciplina promoção da saúde bucal, focalizando agora, com base em levantamentos estatísticos e aprofundando os questionamentos com uma pesquisa teórica que considere a possibilidade de cruzamento dessas duas realidades. Não deixa de ser desafiador o nexo etiológico que vier a ser construído, no sentido de ser um contributo para futuras pesquisas nesta área. A pesquisa teve um viés epidemiológico com delineamento transversal, realizado com pacientes detentos. A pesquisa teve um viés epidemiológico com delineamento transversal, realizado com pacientes detentos. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências, regulamentou em seu art. 2º, que “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. Revisão de Literatura Santos et al (2006) descreveram as atitudes da equipe de enfermagem com o psicótico-infrator e identificaram as conseqüências advindas delas no cuidado a essa clientela. Neste estudo qualitativo-descritivo participaram 20 profissionais da equipe de enfermagem do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico no Município de Niterói, RJ. Os resultados apresentaram-se em três categorias: medo, limites nas definições sobre a loucura e crime e controle institucional. No que a reformulação do sistema judiciário em relação ao psicótico-infrator precisa ser revista para que se redirecione um novo olhar da psiquiatria e da justiça Jan / Dez 2012 sobre essa clientela, capacitando a equipe de enfermagem em direção à função próxima do cuidado humano. Machado, Abreu e Vargas, 2010, relacionaram a saúde bucal de adolescentes de unidades socio educativas do estado de Minas Gerais com os dados sócio demográficos desse grupo. Participaram 183 adolescentes de três unidades de internação pertencentes a Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo de Minas Gerais na cidade de Belo Horizonte. O exame bucal foi realizado pela pesquisadora principal nos próprios locais de internação. Os códigos utilizados para classificação da saúde bucal foram os mesmos utilizados pela Secretaria Municipal de Belo Horizonte. Os resultados mostraram que os adolescentes em situação de privação de liberdade apresentaram-se em sua maioria livres das doenças cárie e periodontal (61,0%). Dados sócios demográficos apresentaram pouca relação com a presença das doenças em questão. Pedreira et al, 1999, avaliaram as condições de saúde bucal de 38 pacientes masculinos drogaditos em recuperação, na faixa etária de 18 a 54 anos na cidade de Bauru, São Paulo, que foram divididos em 4 grupos de acordo com o tipo de droga utilizada. Após os exames, o ICPO-D encontrado foi, respectivamente: 27,83; 27,80; 25,71 e 27,20. Tais valores variam de 6,28 a 14, 69 para o componente cariado, de 14,64 a 34,52 para o componente perdido, de 3,45 a 18,14 para o componente obturado e de 0,0 a 2,86 para o componente extração indicada. Uma pesquisa foi realizada por Mixson et al, 1990, para traçar o perfil de saúde bucal de uma população carcerária federal de 191 detentos, com idades de 21 a 75 anos, da Penitenciaria de Leavenworth, Kansas, Estados Unidos, na faixa de 21 a 75 anos, relacionando o impacto da idade, números de anos encarcerado e número de visitas do dentista na prisão às condições de saúde apresentadas por esta população. A amostra de estudo foi randomicamente selecionada representando 16, 4% do total da população carcerária daquela instituição. Dois pesquisadores coletaram dados sobre presença de cáries e perdas de elementos utilizando o índice ICPOD. Verificou-se que a população de edêntules nas duas arcadas era de 5,2% na faixa etária de 35 a 44 anos, de 17,3% de 45 a 54 anos e de 45,5% para faixa etária de 55 a 75 anos. Osborn, Butler e Bernard, 2003, associaram as condições de saúde bucal com os fatores de risco presentes em uma população 789 presidiários (657 homens e 132 mulheres) em 27 centros de detenção em New South Wales, Austrália. Entrevistas presenciais eram feitas com o objetivo de coletar informações sobre saúde oral e comportamento de risco. Exames clínicos foram realizados e um banco de dados foi formatado com as informações obtidas. Verificou-se que 391 detentos (50%) tinham recebidos a visita do cirurgião dentista na prisão nos últimos doze meses. Destas consultas, 62% foram apenas examinados; 38% tiveram dentes restaurados e 28% foram submetidos a exodontias. As entrevistas apontaram que 42% dos selecionados percebem que precisam realizar um tratamento dentário. Este estudo demonstrou que o padrão de saúde oral na instituição examinada é baixo. Há necessidade de maior atenção para promoção de saúde oral. R E B O M I Metodologia A pesquisa foi realizada em 114 detentos que cumprem pena no Hospital de Custódia de Americano, localizado no município de Santa Isabel, no estado do Pará. Os participantes da pesquisa foram selecionados aleatoriamente através de fichas cadastrais de acolhimento, as quais que são preenchidas quando o mesmo é acautelado no local. Tais documentos ficam arquivados na unidade até mesmo após seu desligamento ou ainda acompanha o detento caso este seja encaminhado à outra unidade do sistema. Dados sóciodemográficos foram extraídos destes prontuários. Em seguida os detentos selecionados, 89 do sexo masculino e 25 do sexo feminino, foram devidamente esclarecidos a respeito dos objetivos da pesquisa e por se tratar de pesquisa envolvendo o exame bucal de seres humanos, tal procedimento pressupõe a utilização do consentimento livre e esclarecido, conforme explicitado no capítulo IV da Resolução CNS 196/96, sendo solicitado aos mesmos à assinatura do referido documento. Previamente, foram agendados dia e o horário para realização dos exames bucais realizados por um aluno/ 31 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 examinador treinado previamente, utilizando-se os códigos e critérios preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Antes da realização dos exames propriamente ditos, os detentos receberam um kit com escova, creme e fio dental e orientações sobre a correta higienização dentária. Os exames foram realizados no próprio consultório odontológico instalado nas dependências do HCTP, sob boas condições de iluminação, utilizandose espátulas de madeira para melhor visualização das estruturas bucais e respeitando os princípios de biossegurança. Para melhor identificação das estruturas dentais, Os dados foram registrados por um anotador, também calibrado previamente e registrados em fichas odontológicas. Em seguida foi realizada análise bivariada por meio dos testes de Tendência e Teste de Contingente C, considerando-se 95% de significância. Índice de condição dentária Para determinar o ICPO-D de cada paciente foi levado em consideração pelos pesquisadores, somente avaliar condição da coroa de cada espaço dentário. Os espaços dentários foram analisados um por um começando pelo incisivo central superior (11) até terceiro molar (18), seguindo para incisivo central superior esquerdo (21) até terceiro molar esquerdo (28),seguindo para hemiarcada inferior direita (31 ao 38) e, concluindo com direito (41 ao 48). Os códigos e os critérios utilizados foram os preconizados em OMS e são os seguintes: 0- Coroa hígida Onde não há prevalência de cárie. Levando em consideração alguns sinais como: - Manchas esbranquiçadas; - Áreas escuras, brilhantes, duras ou fissuradas no esmalte de um dente com fluorose moderada ou severa; - Lesões que com base na sua distribuição ou história, ou exame táctil/visual, resultem de abrasão. 1- Coroa cariada Sulco, fissuras ou superfície lisa apresenta cavidade evidente, ou tecido amolecido na base ou descoloração do esmalte ou da parede ou há uma restauração 32 temporária (exceto ionômero de vidro). Observando que quando coroa esta completamente destruída pela cárie, restando apenas raiz, a OMS recomenda que o código “1” seja registrado apenas na casela correspondente á coroa. 2- Coroa restaurada mas cariada Onde uma ou mais restaurações ou área estão cariados. Sem distinção entre caries primarias ou secundarias, ou seja, se as lesões estão ou não em associação física com a restaurações. 3- Coroa restaurada e sem cárie Uma ou mais restaurações definitivas e sem presença de cárie primaria ou recorrente. 4- Dente perdido devido à cárie Um dente permanente foi extraído devido a cárie e não por outras razões. Essa condição é registrada na cassela correspondente à coroa. 5- Dente perdido por outra razão Ausência se deve a razões ortodônticas, periodontais, traumáticas ou congênitas. 6- Selante Há um selante ou fissura oclusal foi alargada para receber um compósito. Se o dente possui selante e esta cariado, prevalece o código 1 (cárie). 7- Apoio de ponte ou coroa Indica um dente que é parte de uma prótese fixa. Onde dentes extraídos e substituídos por elemento de ponte fixa são codificados na casela da condição da coroa, como 4 ou 5. 8- Coroa não erupcionada Quando dente permanente ainda não foi erupcionado, atendendo a cronologia da erupção. Não inclui dentes perdidos por problemas congênitos, trauma e etc. T- Trauma (Fratura) Parte da superfície coronária foi perdida em consequência de trauma e não há evidencia de carie. 9- Dente excluído Aplicando a qualquer dente que não possa ser examinado (bandas ortodônticas, hipoplasias severas etc.) Jan / Dez 2012 Resultados Os resultados da análise descritiva obtidos através do tratamento estatístico da amostra foi que em relação à faixa etária, a maior parte (52,5%) dos detentos possui idade acima de 32 anos e apresenta etnia parda (57,4%). A grande maioria da amostra é do gênero masculino (88,7%) e casado (99,3%). Quando se ressalta o tempo de detenção se tem o resultado que a maioria dos pacientes assistidos nessa pesquisa (71,6%) têm um tempo de detenção de até 03 anos. É que 10,6% possuíam acima de 09 anos. Foi realizada analise quantitativa sobre a necessidade de tratamento odontológico nestes pacientes. Para esta análise, para cada participante, levaram-se em consideração os seguintes quesitos: número de dentes cariados; número de traumas dentários e número de dentes extraídos. Os resultados são apresentados como: 92,9% Possuem dentes cariados. Notando se sua totalidade. Que 27,7% de pacientes assistidos tinham 11 dentes cariados. O percentual de numero de traumas dentários sofridos verificados nos pacientes foi de 81,6% tinha sofrido de 0 a 2 traumas. Quando se fala dentes extraídos se tem o percentual de 36%, ou seja, mais de 08 dentes já foram extraídos. Sendo resultado significativo. Ao ser analisada a questão da necessidade de prótese dentaria nos pacientes assistidos tem-se o resultado de 11,3% necessitam de prótese superior e inferior total. É que 73% não necessitavam de nenhum tipo de prótese. Tabela 1: Perfil dos pacientes assistidos nos quesitos: idade; gênero; estado civil e cor da pele. Fx Etária (em anos) Sexo Estado Civil Cor da pele R E Variáveis 21 a 24 25 a 28 29 a 32 > 32 Masculino Feminino Solteiro Casado Branca Negra Parda Frequência 14 20 33 74 125 16 140 1 30 30 81 % 9,9% 14,2% 23,4% 52,5% 88,7% 11,3% 99,3% 0,7% 21,3% 21,3% 57,4% Análises Descritivas Quanto ao tempo de detenção, foi verificado que a maior parte dos pacientes assistidos nessa pesquisa (71,6%) têm um tempo de detenção de até 3 anos. B O M I Gráfico 1: Percentual do tempo de detenção (em anos) dos pacientes assistidos. Foi realizada analise quantitativa sobre a necessidade de tratamento odontológico nestes pacientes. Para esta análise, para cada participante, levaram-se em consideração os seguintes quesitos: número de dentes cariados; número de traumas dentários e número de dentes extraídos. Os resultados são apresentados nos gráficos abaixo relacionados: Gráfico 2: Percentual dos pacientes examinados que possuem dentes cariados. Nota-se que quase a totalidade dos pacientes possui dentes cariados. Gráfico 3: Percentual do número de dentes cariados verificados nos pacientes selecionados Nota-se que maior parte dos pacientes assistidos nessa pesquisa (27,7%) possuem mais de 11 dentes cariados. 33 R E B O M ANO 29 • Nº 1 e 2 Gráfico 4: Percentual do número de traumas dentários sofridos verificados nos pacientes assistidos I Análise Estatística Foram realizados testes de tendência para averiguar se existem associações entre algumas variáveis em estudo. Tabela 2: Número de pacientes que possuem dentes cariádos e não-cariados de acordo com o tempo de detenção (em anos). Possui dentes cariados Sim Não Quanto aos traumas dentários evidenciados pelos pesquisadores, verificou-se que grande parte dos pacientes assistidos nessa pesquisa (81,6%) sofreram no máximo 2 traumas dentários. Gráfico 5: Percentual do número de dentes extraídos pelos pacientes assistidos. Tempo de detenção (em anos) 1 a 3 4 a 6 7 a 9 acima de 9 92 17 7 15 9 1 0 0 Em relação a tabela acima, o teste é significativo (p=0,0104), indicando tendência crescente pelo valor positivo de A (4.4610), com isso rejeita-se a hipótese nula e aceita-se a alternativa,ou seja, a tendência é aumentar o número de indivíduos com dentes cariados à medida que aumenta o tempo de detenção dos indivíduos. Tabela 3: Número de traumas dentários de acordo com o tempo de detenção (em anos). A maior parte dos pacientes assistidos nessa pesquisa (36%) extraíram mais de oito dentes. Também foi analisado e necessidade do uso de próteses por estes pacientes. Fez-se uma descrição no tipo de prótese que seriam necessárias para complementar o tratamento odontológico destes pacientes. Gráfico 6: Percentual do tipo de prótese dentária que o paciente precisa usar. Tempo de detenção Nº de traumas dentários (em anos) 0 a 2 3 a 5 6 a 8 acima de 8 1a3 85 8 4 4 4a6 15 3 0 0 7a9 6 1 0 0 acima de 9 9 3 1 2 O teste é significativo ao nível de 5%, pois apresentou um p < 0,05 (0,0432) e, como o Coef. C é diferente de zero (0,2441), rejeita-se a hipótese nula e aceitase a alternativa, ou seja, há uma forte associação entre o tempo de detenção dos indivíduos e número de traumas dentários sofridos por eles. Tabela 4: Número de dentes extraídos de acordo com o tempo de detenção (em anos) Tempo de detenção Nº de dentes hígidos (em anos) 0 a 2 3 a 5 6 a 8 acima de 8 1a3 11 5 12 73 4a6 6 4 3 5 7a9 1 0 3 3 acima de 9 6 2 3 4 Notou-se que, dentre os pacientes que precisam usar algum tipo de prótese dentária, a maior parte (11,3%) necessita de prótese superior e inferior total. 34 Análise: As maiores frequências de pacientes assistidos nessa pesquisa (11, 5, 12 e 73) têm até 3 anos de detenção e entre eles a maior frequência (73 pacientes) que está entre o percentual de 60,3% de dentes hígidos. Jan / Dez 2012 Discussão Com o objetivo de estudar a população internada em um hospital de custodia no Rio de Janeiro quanto a aspectos demográficos, diagnósticos e criminais, todos os internos que cumpriam medida de segurança detentiva no Hospital de Custodia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho, 177 detentos foram avaliados pelo censo sociodemográfico aplicado por psiquiatras da instituição e tiveram seus prontuários analisados quanto a diagnostico, tratamento psiquiátrico prévio e tipo de crime. Foi avaliada a relação entre vítima e perpetrador nos homicídios. Dentre os resultados, verificou-se que a população era preferencialmente masculina (80%), solteira (72%), com 30 a 39 anos de idade (34%), com baixa escolaridade (69%) e inativa (56%). Os diagnósticos mais prevalentes foram transtornos psicóticos (67%), seguidos por retardo mental (15,2%), transtornos em virtude de uso de substâncias psicoativas (7,3%), de personalidade (4,5%) e outros (6,2%). A maioria (71%) já havia recebido tratamento psiquiátrico prévio. O homicídio foi o crime mais comum (44%), seguido por crimes contra o patrimônio (26%), crimes sexuais (11%), crimes relacionados a entorpecentes (11%) e outros. O homicídio intrafamiliar predominou entre os psicóticos e os portadores de retardo mental. Os últimos cometeram proporcionalmente mais crimes sexuais do que os primeiros. Concluiu-se que o perfil da população foi compatível com o descrito para outras populações (GARBAYO; ARGOLO, 2008). Com objetivo de elaborar um programa de saúde bucal e mostrar a realidade da população carcerária foi realizada um levantamento epidemiológico de 141 detentos, onde a preocupação foi quantificar as condições dos elementos dentais presentes, traumas dentários e a necessidade de prótese obtendo os seguintes resultados: Necessidade de prótese: Em relação uso de prótese observou se no gráfico 6.6 o percentual do tipo prótese dentaria que o paciente precisava usar. Sendo de 0,7% prótese parcialmente removível arcada superior. 5,7% Arcada Superior total e arcada inferior parcial de 11,3%. Arcada superior e arcada inferior total de 0,0% arcada inferior total e 2,1% arcada superior total de 3,5% arcada superior e inferior parcial 0,7% arcada inferior parcial 2,8% arcada superior e parcial. Sendo em sua maioria 73,0% não necessitavam de nenhum tipo de prótese. R E B O M I Conclusões Ao ser realizada a análise e a discussão dos resultados obtidos tem se como resultados: • Em sua maioria estudada notou se que possuem alto risco de carie dentária; • Observou-se também que, com o passar do tempo, o detento apresenta índices de dentes cariados e extraídos maiores; • Grande parte dos pacientes assistidos neste estudo sofreram no mínimo dois traumas dentários; • Grande parte da população carcerária precisa de algum tipo de prótese dentaria tanto arcada superior como inferior. Referências ADORNO. S. Sistema penitenciário no Brasil: problemas e desafios. Revista da USP, São Paulo, 1991;9:65-78. ALMEIDA, F.N., ROUQUAYROL, M.Z. Epidemiologia & saúde. 4ª ed. Rio de Janeiro:Medsi, 2004. BRASIL. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Projeto SB Brasil: condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003:resultados principais. Brasília: Coordenação de Saúde Bucal do Ministério da Saúde. GARBAYO J., ARGOLO M.J.R. Crime e doença psiquiátrica: perfil da população de um hospital de custódia no Rio de Janeiro. J Bras Psiquiatr. 2008;57(4):247-52. MACHADO, D.M.; ABREU, M.H.N.G.; VARGAS, A. M. D. Situação de saúde bucal de adolescentes internados em unidades socioeducativas de Belo Horizonte. Arquivos em Odontologia, 2010;46(3). MACRI,F.C., SALAZAR,J.N.A. Um estudo sobre a gestão organizacional em centros de Com relação a cárie dentária: Expresso no gráfico 6.2, 92,9% possuíam dentes cariados o que demostrar um valor superior aos encontrados Bulcão, 2003 (5,85%). Vale ressaltar que Bulcão (2003) incluiu em sua amostra a diferença entre sexo. Demostrando que 5,81 para homens e 6,12 para as mulheres o ICPO-D. ressocialização do estado de São Paulo. Cadernos da FACECA, 2005;14:51-65. MIXSON,J.M.et al. Oral health status of a federal population. J Public Health Dent, 1990;50(4):257-261. OSBORN, M.; BUTLER, T.; BERNARD, P. D. Oral health status of prison inmates – New South Wales, Australia. Australian Dental Journal. 2003;48(1):34-38. PEDREIRA, R.H.S. et al. Condições de saúde bucal de drogatidos em recuperação. Rev Odontol São Paulo. 1999;13(4):395-399. SANTOS, M.L.S.C.; SOUZA,F.S.; SANTOS,C.V. S. C. As marcas da dupla exclusão: experiências da Enfermagem com o psicótico Infrator. Texto Contexto Enferm. 2006;15:79-87, 2006. 35 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B O REVISÃO DE LITERATURA M I O uso de fitoterápicos em endodontia The use of phytotherapics in endodontics Wantuil Rodrigues Araujo Filho1 Hanascha de Lourdes Moura Romeiro2 Marcelo Sendra Cabreira3 1. Professor Adjunto da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense, Polo Universitário de Nova Friburgo; Professor do Curso de Especialização em Endodontia da Odontoclínica Central do Exército, RJ; Coronel R-1 do Exército; Membro titular da Academia Brasileira de Odontologia Militar. 2. Especialista em Endodontia pela Odontoclínica Central do Exército. 3. Coronel Dent R-1 do Exército; Mestre em Endodontia pela UNITAU; coordenador do Curso de Especialização em Endodontia da Odontoclínica Central do Exército. Especialista em ortodontia e ortopedia facial de maxilares/ Endodontia/Prótese/Direito Militar/ Direito em Administração Pública. Endereço para correspondência: Rua Monte Alverne, 381 – Parque D João VI – Nova Friburgo CEP 28616-135 – RJ. Recebido para publicação em 22 de abril de 2013 e aceito em 30 de maio de 2013. 36 Resumo O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma revisão de literatura e analisar as recentes publicações sobre o uso de fitoterápicos e produtos naturais empregados atualmente na odontologia, especialmente em endodontia e sua ação antimicrobiana. Considerando a importância de se estudar novas substâncias que agreguem resultados positivos à terapia endodôntica, o trabalho foi realizado através de um levantamento bibliográfico em bancos de dados, periódicos e publicações. O estudo foi baseado em uma revisão de literatura e na análise desses dados, apresentando alternativas para a otimização do tratamento odontológico. O uso de fitoterápicos vêm ganhando espaço na odontologia, na literatura existem vários trabalhos que pesquisam o emprego dessas plantas e a aceitação pela população. Podemos citar, como substâncias muito utilizadas em odontologia a aroeira, a própolis e a romã, devido às suas propriedades terapêuticas e pelo fato de possuírem uso bastante difundido dentro da medicina popular no tratamento de diversas afecções bucais. Os fitoterápicos possuem um amplo espectro de ações farmacológicas, das quais podemos destacar a antiinflamatória, a antimocrobiana e a ansiolítica. O uso em endodontia, se destaca pela ação antimicrobiana e antiinflamatória. A fitoterapia aplicada a Odontologia ainda tem um longo caminho a percorrer, por constituir uma prática ainda pouco difundida entre cirurgiões dentistas. Há necessidade da realização de estudos clínicos, para e confirmar ou não, as propriedades farmacológicas de um grande número de espécies. de uso popular, ainda não estudadas. Além disso, também há a necessidade de aperfeiçoar e incentivar as pesquisas em andamento, criando assim, perspectivas para pesquisas futuras. Palavras-chave: odontologia, fitoterápicos, endodontia Jan / Dez 2012 R E Abstract B This work aims to present a literature review and analyze recent publications on the use of herbal and natural products currently used in dentistry, especially in endodontics, and its antimicrobial action. Considering the importance of studying new substances that add to the positive results of endodontic therapy, the work was accomplished through a bibliographic search in databases, journals and publications. The study was based on a literature review and analyze the data, presenting alternatives to the optimization of dental treatment.Alpha The use of herbal medicines are gaining space in dentistry, there are several papers in the literature researching the use of these plants and the acceptance by the population. We can apoint as substances widely used in dentistry ”aroeira”, “própolis” and “romã”, because of its therapeutic properties and the fact that they have widespread use in folk medicine in the treatment of oral diseases. The herbal drugs have a broad spectrum of pharmacological actions, which we can highlight the anti-inflammatory, anxiolytic to antimocrobiana. Its use in endodontics, stands out for antimicrobial and antiinflammatory properties. The herbal medicine applied to dentistry has a long way to go, because it constitutes a practice still widespread among some dentists. There is need for clinical studies, and to confirm or not, the pharmacological properties of a large number of species popular usage, not yet studied. In addition, there is a need to improve and encourage ongoing research, thus creating perspectives for future research. O M I Keywords: dentistry, herbal medicine, endodontics Introdução A endodontia tem por finalidade, durante o preparo químico mecânico dos canais radiculares, eliminar o máximo possível de microrganismos. A instrumentação e a irrigação com substâncias auxiliares são responsáveis pela considerável redução de células bacterianas da luz do canal principal. Porém em alguns casos estas não conseguem atingir pontos como istmos, reentrâncias, ramificações laterais e apicais e túbulos dentinários, os quais podem abrigar biofilmes bacterianos, colocando o resultado final do tratamento endodontico em risco (LOPES, 2010) O uso de substâncias intracanal assumem um papel importante e têm como objetivos principais eliminar os nichos de colonização bacterianas, impedir a proliferação de microrganismos, atuar como barreira físico-quimica contra infecções ou reinfecções, reduzir a inflamação e conseqüentemente a sintomatologia, neutralizar produtos tóxicos. A odontologia realça a busca por substâncias biocompativeis, especialmente, dentre aquelas que entrarão em contato direto com os tecidos, entre eles o tecido pular e perirradicular. Neste contexto, a fitoterapia tem evoluído notadamente nos últimos anos e tem estimulado a avaliação de diferentes produtos vegetais com propriedades terapêuticas na odontologia. Como alternativa ao combate de microrganismos, a terapia complementar com plantas medicinais apresenta-se como aliada, mostrando bons resultados. Como exemplo do emprego de fitoterápicos e produtos naturais, podemos citar a própolis (Apis melífera), conhecida na medicina popular por não ser tóxica e pelas ações antimicrobiana, antiinflamatória, anestésica e propriedades citostáticas. O alho (Allium sativum), também demonstrou atividade contra bactérias orais. Em recentes trabalhos, a romã (P. granatum) demonstrou que tem ação bactericida e bacteriostática sobre bactérias grampositivas e gram-negativas (FRANCISCO,2010) Considerando a importância da busca de novos medicamentos para terapia endodontica, com ação antimicrobiana e a vasta diversidade de plantas medicinais existentes no Brasil, o objetivo deste estudo é descrever por meio de uma revisão de literatura as substâncias fitoterápicas empregadas em odontologia e sua viabilidade de uso especialmente em endodontia. 37 R E B ANO 29 • Nº 1 e 2 Revisão de Literatura O M I Histórico O homem sempre buscou no reino vegetal recursos para sua sobrevivência, seja para sua alimentação, levando-o ao aprendizado de certas práticas agrícolas, seja também para a cura de suas doenças, através do uso de plantas medicinais. Os escritos mais antigos sobre plantas medicinais são provenientes das civilizações da Mesopotâmia e do Egito. Na Mesopotâmia, esses escritos são constituídos por “tábuas” de argila entalhadas com estilete em escrita cuneiforme, o que permitiu a sobrevivência desses documentos ate a atualidade.. Um dos primeiros relatos sobre o uso de plantas medicinais pelo homem teve origem na Mesopotâmia e data de aproximadamente 2600 a.C. Entre os preparados mencionados, estão o óleo de Cedrus sp. (cedro), Glycyrrhiza glabra (alcaçuz) e Papaver somniferum (papoula), sendo todos amplamente usados nos dias atuais para o tratamento de doenças como resfriado, infecção parasitária e inflamação (LEITE, 2009). Fitoterapia A fitoterapia é definida como o método de tratamento de enfermidades que emprega vegetais frescos, drogas vegetais, ou ainda, extratos vegetais preparados com esse tipo de matéria-prima. Não é considerada ainda como uma especialidade médica como a homeopatia, mas um método alternativo de tratamento (OLIVEIRA e ASIKUE, 2001). Segundo a Portaria n.º 6 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, de 31/jan./95, o artigo 4.º da Resolução da Diretoria Colegiada n.º 17, de24/fev./00 – Agência Nacional de Vigilância Sanitária/ Ministério da Saúde. O artigo 1.º da referida resolução aprovou o regulamento técnico, visando a normatizar o registro de medicamentos fitoterápicos no Sistema de Vigilância Sanitária. Tal regulamento define o fitoterápico como uma substância adjuvante adicionada ao medicamento com a finalidade de prevenir alterações e corrigir e/ou melhorar as características organolépticas, biofarmacotécnicas e tecnológicas desse medicamento. 38 No Brasil estão localizadas cerca de 20% das 250 mil espécies medicinais catalogadas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), facilitando o aproveitamento do potencial curativo dos vegetais para o tratamento das doenças, inclusive na área da Odontologia (NUNES et al., 1999). Por ser classificado como medicamento pelo Ministério da Saúde, só pode ser vendido sob prescrição profissional, sendo as exigências para seu registro e apresentação semelhantes às dos medicamentos de síntese. Portanto, os profissionais prescritores têm à sua disposição um novo arsenal terapêutico, que passa pelo controle de qualidade da indústria e pelo controle das autoridades sanitárias do país (FERRARI, 2002). Por incentivo do Governo Federal, no ano de 2006, algumas práticas integrativas e complementares (PIC) foram incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), através da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), na qual se inclui a Fitoterapia, surgindo como opção preventiva e terapêutica aos seus usuários. Alguns dos objetivos desta inclusão visam contribuir para o aumento da resolubilidade do sistema de saúde e a ampliação do acesso da população às PIC, garantindo qualidade, eficácia, eficiência e segurança no uso (BARROS, 2006) Fitoterapia na Odontologia As pesquisas com plantas medicinais geralmente originam medicamentos em menos tempo, com custos muitas vezes inferiores e, conseqüentemente, mais acessíveis, que possam ser utilizados como parte do atendimento às necessidades primárias de saúde da população que, em geral, encontra-se sem condições financeiras de arcar com os preços elevados dos medicamentos convencionais. Pretende-se, assim, estimular os profissionais da área de saúde bucal a adotar plantas medicinais em seu esquema terapêutico, bem como a orientar a própria população a um uso adequado de tais substâncias, conhecendo os seus efeitos reais, as suas contra-indicações e os seus riscos. O emprego de fitoterápicos só tem a contribuir para a saúde de quem o pratica, quando feito com critérios. Estes, por sua vez, referem-se à identificação do quadro clí- Jan / Dez 2012 nico (doença ou sintoma), à escolha correta da planta a ser utilizada e à sua adequada preparação (LIMA JR e DIMESTEIN, 2006) O óleo de copaíba vem sendo indicado, há mais de quatro séculos, para diversos fins farmacológicos. Este óleo é exudato do tronco da copaibeira. Os estudos de atividade antibacteriana mostraram atividade bactericida e bacteriostática do óleo frente ao Streptococcus mutans (DRUMOND et al., 2004). A malva é uma planta herbácea, dispersa no continente europeu, africano e americano. Para fins farmacológicos utilizam-se suas folhas, flores, raízes. É utilizada para inflamações da pele, boca, garganta (laringite, faringite), tratamento de problemas respiratórios e irritações gastrintestinais (MARTINS, 2000; DRUMOND et al, 2004; SILVA, 2001). O efeito antimicrobiano do extrato hidroalcoólico da Punica granatum Linn. foi avaliado sobre três linhagens bacterianas predominantes na formação do biofilme supragengival (Streptococcus mitis, S.mutans e S. sanguis), dos quais todos foram sensíveis ao extrato da romã, mostrando a importância e a necessidade de se avaliar meios alternativos e economicamente viáveis para o controle do biofilme, sugerindo a utilização da fitoterapia, dentro de programas preventivos e curativos importantes à população (ALBUQUERQUE et al., 2008). Outro produto amplamente utilizado, na cultura popular, é o alho (Allium sativum), que demonstrou atividade contra bactérias orais, sendo que os resultados de alguns estudos mostraram que há uma diminuição do número de bactérias quando os pacientes são submetidos ao uso de enxaguatórios contendo este, esse produto (SALGADO et.al., 2006). Um novo extrato vegetal, o extrato de araçá (Psidium albidum), tem sido utilizado para o controle do biofilme dental, e foi demonstrada a atividade antibacteriana quando em solução aquosa e hidroalcoólica, além de inibir a adesão de microrganismos bucais, modificar o proteoma de Streptococcus mutans e a microdureza do esmalte dental (PEREIRA, 2004). Extratos de plantas como sálvia, menta e camomila têm sido incorporados a fórmulas de dentifrícios com o objetivo de reduzir a halitose e combater a gengivite. Os princípios ativos desses produtos atuam sobre a formação do biofilme dental. Além destes agentes fitoterápicos incorporados aos dentifrícios a babosa (Aloe Vera) merece destaque por suas ações anti-inflamatória e antisséptica, e pela disponibilização de diversos elementos nutricionais que atuam sinergicamente nos tecidos epiteliais e no sistema imunológico onde, por sua ação anti-inflamatória e antimicrobiana, induz o crescimento celular, favorecendo a recuperação do tecido agredido (FRANCISCO, 2010). O Quadro 1 apresenta, em ordem cronológica, a relação de estudos envolvendo plantas medicinais apresentadas nas reuniões da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica (Pesq Odontol Brás 13-17,nos anos de 2000 a 2004). R E B O M I Fitoterapia na Endodontia Dentro dos princípios básicos que norteiam a terapia endodôntica encontram-se como requisitos fundamentais a limpeza e desinfecção do sistema de canais radiculares para se obter a sanificação desejada e propiciar condições para que os tecidos envolvidos retornem ao seu estado normal. Entretanto, algumas vezes, embora tendo seguido um protocolo adequado para o tratamento endodôntico nos deparamos com sinais e sintomas que não condizem com o esperado sucesso (DOTTO et al., 2006). Plantas medicinais constituem uma fonte promissora de medicamentos fitoterápicos e novas moléculas. O número de estudos sobre este sistema de alternativa terapêutica aumentou nas últimas décadas, bem como sua utilização para fins diversos (SILVA, ALMEIDA E SOUSA, 2004). A Odontologia moderna realça a busca por substâncias biocompatíveis, especialmente, dentre aquelas que entrarão em contato direto com os tecidos, entre eles o tecido pulpar e o periapical. Neste contexto,a fitoterapia tem evoluído notadamente nos últimos anos e tem estimulado a avaliação de diferentes produtos vegetais com propriedades terapêuticas na Odontologia (COSTA et.al.,2008) Weckwerth et. al.(2008), realizaram um estudo em que comparou a atividade antimicrobiana de extratos alcoólicos e aquoso da Casearia sylvestris Sw 39 R E B ANO 29 • Nº 1 e 2 Quadro 1: Estudos envolvendo plantas medicinais. O M I Nome científico Nome popular Autor e ano Objetivo/atividade Mikania laevigata Guaco Yatsuda R et al .2000 Antimicrobiana Melaleuca alternifólia Melaleuca Oppermann RV et al.2000 Antimicrobiana Mikania SP Guaco Yatsuda R et al. 2001 Antimicrobiana Cymbopogom citratus Capim-santo Campelo RS et al. 2001 Antifúngica Arctium lappa L Bardana Perin FM et al. 2001 Antimicrobiana Solidago microglossa DC Arnica brasileira Zelante PM et al. 2002 Antimicrobiana Aloe vera Babosa Schwartz Filho HO et al. 2002 Antimicrobiana Várias plantas ———— Lima Júnior JF et al. 2002 Padrão de uso Mikania glomerata pela população Curcuma zedoaria Roscoe Açafrão Nicoletti MA et al. 2002 Antimicrobiana Camomila recutita Camomila Porto POB et al. 2002 Antiinflamatória Punica granatun L. Casca da romã Pereira JV et al. 2002 Antimicrobiana Schinus terebinthifolius Raddi Aroeira Sartoretto J et al. 2003 Antiinflamatória Anacardium occidentale L. Cajueiro e Véras Neto L et al. 2003 Antimicrobiana Copaifera SP Copaíba Schinus terebinthifolius Raddi Aroeira Rabêlo CCP et al. 2003 Antimicrobiana Stryphnodendron barbatimam Barbatimão Oliveira DA et al. 2003 Antimicrobiana Passiflora alata Maracujá Palma F et al. 2003 Sedativa Melissa officinalis L. Erva cidreira Cavazzola AS et al. 2003 Antimicrobiana Matricaria chamomilla L. Camomila eErva doce Copaifera SP Copaíba Pereira AC et al. 2003 Antiinflamatória Mikania glomerata Guaco Yatsuda R et al. 2003 Antimicrobiana Anacardia occidentale L Cajueiro Carvalho AAT et al. 2003 Antimicrobiana Várias plantas contidas ———— Drumond MRS et al. 2003 Antimicrobiana Zingiber officinale Gengibre Pereira ACP 2003 Antiinflamatória Arnica Montana Arnica Sawada TY et al. 2004 Antiinflamatória Mikania glomerata Guaco Silva F et al .2004 Antimicrobiana Stryphnodendron adstrigens Barbatimão Oliveira RR et al. 2004 Antimicrobiana Casearia sylvestris Guaçatonga Melaleuca alternatifolia Melaleuca Domingos FTC et al. 2004 Antimicrobiana Anacardium occidentale L. Cajueiro Pereira JV et al. 2004 Antimicrobiana Valeriana officinalis L. Valeriana Pinheiro MLP et al. 2004 Ansiolítica Passiflora alata Maracujá Tames DR et al. 2004 Ansiolítica Psidium guajava L. Goiabeira Alves DM et al. 2004 Antimicrobiana Schinus terebinthifolius Raddi Aroeira Sousa MH et al. 2004 Antiinflamatória Copaifera SP Copaíba Garrido ADB et al. 2004 Antimicrobiana Arctium lappa L. Bardana Pereira JV et al. 2004 Antimicrobiana Aloe vera Babosa Gala-Garcia A et al. 2004 Antimicrobiana em produtos comerciais 40 Jan / Dez 2012 (Guaçatonga) com a atividade antimicrobiana da amoxicilina, azitromicina, vancomicina, penicilina, clindamicina, cloranfenicol e da clorexidina frente a 50 linhagens de E. faecalis isolados da cavidade oral de pacientes da Clínica de Endodontia da USC. Os testes foram realizados pelo método de difusão das drogas a partir de discos impregnados com as substâncias sobre a superfície de placas de ágar Mueller-Hinton. A droga de melhor eficiência foi amoxicilina com 100% das linhagens sensíveis, estatisticamente significativo (p<0,05) quando comparadas às outras drogas. A droga de menor eficiência foi a clindamicina com 94% de linhagens resistentes. Dos extratos obtidos da planta, o extrato propilenoglicólico mostrou melhor eficiência, inibindo 34 (68%) das estirpes (média de 4,31mm de halo de inibição). A clorexidina inibiu 100% das estirpes (média de 17,09mm de halo de inibição). A Punica granatum Linn. (“Romãzeira”) é uma planta medicinal da família Punicaseae e tem demonstrado ação bactericida e bacteriostática sobre um amplo número de microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos além de possuir atividade antisséptica, antiviral e adstringente. Um estudo foi realizado com o objetivo de avaliar in vitro a atividade do extrato hidroalcoólico da Punica granatum Linn. frente a três cepas diferentes de E. faecalis isoladas clinicamente. O método de diluição em caldo foi utilizado para determinar a Concentração Inibitória Mínima (CIM) e Concentração Bactericida Mínima (CBM) do extrato hidroalcoólico da casca da romã contra Enterococcus faecalis. O extrato apresentou atividade antibacteriana contra as três cepas estudadas, com CIM variando de 57,57 ìg/ml a 100 ìg/ml, e MBC variando de 72,5 ìg/ml a 200 ìg/ml. A sensibilidade antimicrobiana foi avaliada pela técnica da difusão em ágar (método de difusão por discos) com três antibióticos diferentes (amoxicilina 10 ìg, ampicilina ìg e cefalexina 30 ìg). Todas as culturas apresentaram resistência a cefalexina, e sensibilidade a amoxicilina e ampicilina com halos de inibição de 29 mm para o primeiro e variando entre 26 e 30 mm para o segundo. Pode-se concluir que o extrato da Punica granatum Linn. Apresentou atividade antibacteriana in vitro, em concentrações que podem ser indicadas na prática odontológica (BARBOSA, 2010). Discussão Vários autores, entre eles Albuquerque, et.al. (2008); Francisco (2010); Leite (2009); Lima Junior e Dimenstein, (2006); Martins (2000); Schulz, Hansel e Tyler (2002); concordam, que apesar do seu uso ser antigo pela medicina popular, a fitoterapia está em grande evolução e tem um grande potencial tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento, devido a busca por novos produtos com maior atividade terapêutica, com menor toxicidade e melhor biocompatibilidade. Nesse sentido, o Brasil é um país privilegiado em relação ao emprego da fitoterapia, pois possui 25% da flora mundial e um patrimônio genético enorme para o desenvolvimento de novos medicamentos, o que corresponde a mais de cem mil espécies, das quais menos de 1% tiveram suas propriedades avaliadas cientificamente para determinar uma possível ação medicinal. Os fitoterápicos possuem um amplo espectro de ações farmacológicas, das quais podemos destacar a antiinflamatória, a antimicrobiana e a ansiolítica, que podem ser de grande interesse para a Odontologia. O óleo de copaíba é pesquisado por sua atividade bactericida e bacteriostática (DRUMOND, 2004; FRANCISCO, 2010); assim como o alho, que tem sido usado em enxaguatórios bucais contra bactérias orais (SALGADO et al., 2006). A malva, pela sua ação antiinflamatória na região orofaríngea (MARTINS, 2000; DRUMOND 2004) e a romã, pela sua ação contra o biofilme dentário (ALBUQUERQUE et al., 2008). Existem vários outros estudos para comprovar a eficiência de plantas e produtos naturais. O uso da fitoterapia ainda é discriminada por grande parte dos profissionais de saúde. Tal fato pode ser atribuído ao pequeno incentivo dado à pesquisa nesta área, tanto pelo setor público, quanto pelo privado, além do preconceito e falta de conhecimento, dentre outros fatores. Com a implantação da PNPIC no SUS, surge a esperança de um maior investimento em pesquisas envolvendo a biodiversidade de plantas brasileiras, valorizando o conhecimento popular e motivando a industrialização de produtos naturais. Estes fatores ressaltam a importância do estudo da fitoterapia nos cursos de graduação e na formação dos profissi- R E B O M I 41 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 onais da saúde (BARROS, 2006, LIMA JÚNIOR e DIMESNTEIN, 2006; FRANCISCO, 2010). Vários estudos têm sido efetuados e demonstrados a possibilidade do uso de produtos naturais no combate do E. faecalis. Extratos alcoólicos e aquoso da Casearia sylvestris Sw (Guaçatonga) foi comparada com a amoxicilina, azitromicina, vancomicina, penicilina, clindamicina, cloranfenicol e da clorexidina, em relação a sua atividade antimicrobiana (WECKWERTH et al.,2008). Dentre os fitoterápicos, a própolis é uma substância que vem se destacando na área da saúde devido às diversas propriedades terapêuticas, como antiinflamatória, antimicrobiana, anestésica, antitóxica, antioxidante, imuno-estimula-tória, antitumoral e cicatrizante. Suas propriedades antimicrobianas têm sido associadas, principalmente, a presença de flavonóides e ésteres em sua composição. (MAIA FILHO et al., 2008), em seu estudo pesquisou o extrato de própolis comparado a outros três irrigantes, no combate ao E. faecalis. O extrato de própolis apresentou uma boa atividade antimicrobiana, sendo maior que hipoclorito de sódio a 5%, entretanto,o gel de clorexidina foi o mais efetivo contra E. faecalis. Já (INACIO e TELES, 2010), em seu trabalho de conclusão de curso, avaliou a atividade antimicrobiana da suspenção de própolis 5 e 10%, “in vitro” contra o E. faecalis e concluiu que a suspenção não apresentou halos de inibição contra o microorganismo. (BARBOSA, 2010), tembém avaliou a ação antimicrobiana da Punica granatum Linn. (“Romãzeira”) em relação ao E. faecalis e concluiu que tem atividade antibacteriana in vitro, em concentrações que podem ser indicadas na prática odontológica. gas de síntese; e o leque de recursos terapêuticos disponível. 2. O meio odontológico vem buscando novos produtos, os quais tenham maior atividade terapêutica, com menor toxicidade e maior biocompatibilidade. 3. A fitoterapia aplicada à Odontologia ainda tem um longo caminho a percorrer, por constituir uma prática ainda pouco difundida entre os cirurgiões-dentistas. Há necessidade da realização de um maior número de estudos clínicos, para verificação das propriedades farmacológicas de um grande número de espécies fitoterápicas ainda não estudadas, criando assim, perspectivas para pesquisas futuras. Pode-se concluir também que o aumento do conhecimento dos medicamentos à base de plantas medicinais possibilita à odontologia, especialmente à endodontia, uma nova alternativa na busca de uma terapêutica mais natural e menos agressiva e que possa oferecer ao tratamento maior índice de sucesso. Conclusão DRUMOND,M.R.S. et al., Estudo comparativo in vitro da atividade ntibacteriana de Referências AGUIAR, A.P.S. et al., Avaliação in vitro da ação do extrato glicólico de gengibre sobre Candida albicans. Revista de Odontologia da Universidade Cidade de São Paulo. v.21,n.2, 144-149, maio, ago/2009 ALBUQUERQUE, A.C.L., et.al., Efeito antimicrobiano do extrato da lippia sidoides Cham. sobre microrganismos cariogênicos .Arquivos em Odontologia. v. 44, n. 04, 5-10, Out/Dez 2008 BRASIL, Ministério da Saúde. Agencia Nacional de Vigilância Sanitária; Resolução _ RDC n° 17, de 24 de fevereiro de 2000, Brasília: Ministério da Saúde , 2000. BARBOSA, M.A. Avaliação da atividade antimicrobiana “in vitro” da Punica granatum Linn. frente à Enterococcus faecalis isolados clinicamente. João Pessoa. 2010. 73fls. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Paraíba. BARROS, N.F. Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS: uma ação de inclusão. Ciênc saúde coletiva.v.11,n.3,850, 2006. DOTTO, S.R. et. al., Avaliação da ação antimicrobiana de diferentes medicações usadas em endodontia. Revista Odonto Ciência – Fac. Odonto/PUCRS, v. 21, n. 53, 266-269, jul./set. 2006. Após esta revisão pode-se concluir: 1. O mercado de fitoterápicos tem experimentado um acentuado crescimento, tanto no Brasil quanto em todo o mundo, provavelmente como expressão da busca por maior segurança oferecida pelos fitoterápicos devido aos menores efeitos colaterais apresentados; pelos menores preços, podendo assim abranger uma maior parcela da população; a dificuldades atuais para se desenvolver novas dro42 produtos fitoterápicos sobre bactérias cariogênicas. Pesq Bras Odontoped Clin Integr, João Pessoa, v. 4, n. 1, 33-38, jan./abr. 2004 FERRARI, B.T. Fitoterápicos: uma tendência natural. Rev Bras Med. v.59, n.9, 637644, 2002 FRANCISCO, K.S.F., et al. Fitoterapia: uma opção para o tratamento odontológico.Revista Saúde. v. 4, n.1, 19-24, 2010 INÁCIO,F.C.R.;TELLES, L.H.. Avaliação in vitro do efeito antimicrobiano de uma suspenção de própolis frente ao enterococcus faecalis. Porto Alegre. 2010. 14fls. Trabalho de Conclusão de Curso. Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. LEITE, J.P.V., Fitoterapia: bases científicas e tecnológicas. São Paulo: Atheneu, 2009. LIMA JUNIOR, J.F.; DIMENSTEIN, M. A Fitoterapia na Saúde Pública em Natal/RN: visão do odontólogo. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 8, n.19, 37-44, 2006 Jan / Dez 2012 LIMA JUNIOR, J.F. et al., O Uso de Fitoterápicos e a Saúde Bucal, SAÚDE REV., Piracicaba, 7(16): 11-17, 2005 LOPES, H.P.; SIQUEIRA JR., J. F.. Endodontia: biologia e técnica. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010 MAIA FILHO,E.M. Efeito antimicrobiano in vitro de diferentes medicações endodônticas e própolis sobre Enterococcus faecalis. RGO, Porto Alegre, v. 56, n.1, 21-25, jan./mar. 2008 MARTINS, E.R. Buscando a saúde por meio das plantas medicinais. Plantas medicinais. Viçosa: UFV; 2000 OLIVEIRA F., ASIKUE G. Fundamentos de Farmacobotânica. Bragança Paulista: Atheneu 2001;118p granatum Linn. sobre microrganismos formadores de placa bacteriana. Pesq Bras em Odontoped Clin Integ. v.4,n.3,265, 2004. B O SALGADO et.al. Antiplaque and antigingivitis effects of a gel containing punica M granatum linn extract.a double-blind clinical study in humans. J Appl Oral Sci. I v.14, n.3, 162-166, 2006 SCHULZ, V.; HANSEL, R.; TYLER, V. E. Fitoterapia racional: um guia de fitoterapia para as ciências da saúde. 4ed, Barueri: Manole, 2002. SILVA ,F.B.; ALMEIDA, J.M.; SOUSA, S.M.G. Natural medicaments in endodontics – a comparative study of the anti-inflammatory action. Braz Oral Res ,v.18,n.2,174179. 2004. SILVA, R.C. Plantas Medicinais na Saúde Bucal. Vitória: 2001, 136 p PINHEIRO, M.L.P., ANDRADE, E.D.. Fitoterápicos como alternativa ao uso de WECKWERTH, P.H. et al. Comparação da atividade antimicrobiana in vitro de diferentes medicamentos convencionais em odontologia. Rev. ABO Nac. v.16, n.2, 107- antibióticos e extratos hidroalcoólicos e infusão de Casearia sylvestris Swart 110, abril/maio 2008. (Guaçatonga)frente a linhagens de Enterococcus faecalis isolados da cavidade PEREIRA, J. V. Atividade antimicrobiana do extrato hidroalcoólico da Punica R E oral. Salusvita, Bauru, v. 27, n. 2, 259-274, 2008. 43 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B O REVISÃO DE LITERATURA M I Contaminação, desinfecção e acondiconamento de escovas dentais Contamination, desinfection and storage of toothbrushes Rodolfo José Gomes de Araújo1 Arthur Almeida Azevedo2 Isabel Maria Catarina de Castro2 Josimeire Pantoja da Trindade2 1. 2º Ten ODT – Hospital Geral de Belém; Mestre em Clínica Odontológica – UFPA; Professor do Curso de Odontologia – Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ) 2. Cirurgião-Dentista – Escola Superior da Amazônia Endereço para correspondência: Rodolfo José Gomes de Araújo – Av. Bras de Aguiar, 681/902 – Belém – Pará – Brasil CEP: 66035-415. E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 7 de janeiro de 2013 e aceito em 15 de abril de 2013 Resumo A escova dental é o principal instrumento eficaz e comprovado para a desorganização da microbiota bacteriana promovendo prevenção da doença bucal. Contudo, através de estudos ficou comprovado que a maioria das pessoas não tem o entendimento do risco que suas escovas dentais, após uma única escovação, podem trazer para sua saúde, pois não sabem como acondicionálas nem tão pouco descontaminá-las, tornando-as um objeto com alto grau de potencial patogênico. O proposto trabalho vem discorrer sobre a contaminação, desinfecção e acondicionamento de escovas dentais, os quais são de suma importância, pois podem se tornar um disseminador de microorganismos patogênicos. Por meio de artigos científicos obtidos em bases de dados como Medline, Lilacs e Scielo, pretende-se apontar os meios corretos de desinfecção e acondicionamento de escovas dentais. Palavras-chave: escova dental, desinfecção, contaminação e acondicionamento. Abstract Toothbrush is the main instrument that proved to be an effective tool for disorganization of bacterial material, making prevention of oral diseases. However, it’s been proved through studies that most people don’t understand the risks that their toothbrushes may bring the their health even after a single use, because they usually don’t know to store and neither disinfect them, making them a high level of pathogenic potential. This work proposes a discussion about contamination, disinfection, and storage of toothbrushes, which are very important, because a toothbrush may become a multiplier of pathogenic microorganism. Among many authors studied it wasn’t possible to verify an orientation protocol of maintenances for toothbrushes where storage and desinfection were cited together, only separately. Using information collected from scientific articles published in some databases like: Medline, Lilacs and Scielo. This work is expected to describe right ways to for storage and desinfection of toothbrushes. Keywords: toothbrush, disinfection, contamination and storage. 44 Jan / Dez 2012 R E B O Introdução Não é de hoje que povos civilizados tem preocupação com cuidados corporais, dentre eles a higiene oral. Desde a antiguidade já havia relatos de higiene oral pelos sumerianos a 3000 a.C; na antiga Índia; pelos Maometanos; Romanos; Babilônicos; Europeus; Árabes e Chineses por volta de 1600 a.c. (BARROS, PERNAMBUCO e TOMITA, 2001; BAHT, HEGDE e GEORGE, 2003; GRIGOLETTO et al., 2006; PASSOS et al., 2006). Na cavidade bucal podem ser localizadas varias espécies de bactérias capazes de se proliferar e se manter viáveis por cerca de 24 horas a 7 dias. Dentre estas encontra-se o Streptococcus mutans1, principal agente causador da carie, doença infecto contagiosa de importância na saúde pública, que acomete a população brasileira (BRASIL, 2004). Diversos autores salientam que também há na cavidade oral presença de fungos, vírus e parasitas intestinais provenientes da mesma ou do meio externo (DONNA P., 2001; GARBIN et al., 2012; GONÇALO; MIALHE, 2009; GUIMARÃES, 2005; MIALHE; SILVA, 2007; NELSON FILHO, 2006; PASSOS, 2006; SOARES et al., 2007; ZÃO; SILVA; ALVES, 2012). No entanto, o meio mais eficaz e comprovado para a higienização oral, desorganização da microbiota bacteriana e prevenção de doenças bucais é o meio mecânico, onde estão inclusos o uso do fio dental e escova dental. (COUTINHO et al., 2007; DIAS et al., 2010; GEBRAN; GEBERT, 2002; GRIGOLETTO et al., 2006; MIALHE; SILVA, 2007; MOREIRA; CAVALCANTE, 2008; SANCHES; PERES; PERES, 2001; ZÃO; SILVA; ALVES, 2012). De acordo com Zão, Silva e Alves (2012) apesar da escova dental ser considerada o principal instrumento que auxilia na higienização dentária, ela pode vir a ser um disseminador de microorganismos patogênicos na cavidade oral. Tornando-se assim uma porta de infecção para lesões traumáticas, ou lesões já existentes na boca. (CAUDRY et al.,1995). 1 É uma espécie de bactérias Gram-positivas com morfologia de coco, pertencentes ao gênero Streptococcus, do grupo A de Lancefield. M Segundo a American Dental Association - ADA (2006) e Garbin (2012) existem vários métodos de prevenção propostos para evitar a contaminação e transmissão cruzada de agentes patogênicos encontrados na escova dental, como por exemplo, seu correto acondicionamento, a substituição periódica, a descontaminação através de agentes químicos e o não uso de escovas compartilhadas. Estudos atuais mostram que a odontologia está mais preocupada em desenvolver novas técnicas e materiais do que focar-se em métodos básicos de descontaminação e armazenamento de escovais dentais (NELSON FILHO, 1999). Com isso, apesar de serem produzidas milhares de escovas todos os anos, poucas pessoas tem consciência da contaminação das escovas dentais e de como fazer sua descontaminação, pois não sendo feitas podem se tornar um agente com alto grau de potencial patogênico, capaz de se inocular em microscópicas partículas de alimentos e resíduos de dentifrícios, onde ficarão presas pelas cerdas após a escovação dental. (CAUDRY et al.,1995). Vários produtos químicos com a finalidade de desinfecção e descontaminação da escova dental são encontrados no mercado, tendo como objetivo o extermínio ou redução da taxa microbiana sobreviventes após a escovação e controle da proliferação de microorganismos neste instrumento. (CHAVES et al.,2007). Contudo, são poucos os estudos disponíveis na literatura que avaliam os cuidados referentes à contaminação, desinfecção e acondicionamento de escovas dentais, apesar de milhares delas sejam utilizadas todos os dias, apenas uma parte da população tem conhecimento de que esses instrumentos possam vir a ser um disseminador de microorganismos patogênicos na cavidade oral, partindo desse ponto, o proposto trabalho pretende avaliar e mostrar a importância dos conhecimentos sobre esses métodos. Os objetivos deste estudo consistem em: apontar meios corretos de desinfecção e acondicionamento de escovas dentais; mostrar a importância e os cuidados que se deve ter com as escovas dentais em relação ao seu acondicionamento e desinfecção; descrever as causas e I 45 R E B O M ANO 29 • Nº 1 e 2 os riscos de contaminação ao organismo e indicar meios de descontaminação das escovas dentais. I Revisão de Literatura Contaminação das Escovas Estudos mostram que após uma única sessão de escovação, as escovas podem tornar-se contaminadas por estreptococos do grupo mutans. (ISPER, 2002). A partir desta informação há uma grande probabilidade das escovas dentais tornarem-se reservatórios de microorganismos, vindo a transmiti-los de um indivíduo para outro, inoculando ou transferindo-os de locais infectados para não infectados, levando a proliferação de algumas doenças. Alguns microorganismos que são encontrados nas escovas dentais, tais como do gênero Streptococcus, Lactobacillus2 e Cândida Albicans3, estão relacionados a várias infecções recorrentes na boca, havendo com isso transmissões locais e/ou sistêmicas de um grau de risco significativo, especialmente em indivíduos com comprometimento imunológico. (NEAL; RIPPIN 2003). De acordo com Nelson Filho et al. (2006), um fator que pode estar relacionado à proliferação de microorganismo no interior da cavidade oral são as escovas contaminadas, as quais conseguem permanecer com microorganismos inoculados nas cerdas por cerca de 24 horas a 7 dias viáveis para contaminação. Através da pesquisa realizada por Pinto et al., (1997) foram selecionados 20 pacientes com periodontite para avaliar o uso das escovas durante quatro semanas. Na primeira semana imediatamente após a escovação as escovas foram inoculadas e incubadas. Porém nas semanas seguintes, após a escovação, as mesmas foram colocadas em tubos de ensaio, no qual permaneceram à temperatura ambiente por 24, 48 horas e 7 dias respectivamente, para então serem inoculas e incubadas. Confirmou-se então crescimento microbiano em quase 100% das amostras nos diferentes tempos de exposição das escovas às condições ambientes. Os microorganismos se mantiveram viáveis mesmo após 7 dias de permanência destas no meio ambiente. Por- tanto sugere-se que microorganismos periodonto patogênicos podem ser transmitido indiretamente pelas escovas dentais contaminadas. Outro item relacionado às escovas dentais são as cerdas que por sua vez são fatores importantes para a proliferação de microorganismos, devido ser uma região onde se localizam o acúmulo de restos alimentares. (WETZEL et al., 2005). A contaminação das escovas dentais pode ocorrer logo em sua fabricação, pois não há obrigatoriedade que se faça um processo de esterilização e embalagens em comum. (CHAVES et al., 2007). A ação de tentar limpar as cerdas da escova de dente com os dedos no momento do enxágue, pode favorecer a contaminação por vários microorganismos, dentre eles do tipo Staphylococcus4, podendo ser encontrados na água e/ou ambiente contaminado com aerossol infectado após o acionamento de descarga. No estudo realizado por Taji e Rigers (1998) foram encontrados coliformes fecais em algumas escovas utilizadas por alunos. Neste estudo os autores avaliaram que após 3 semanas de uso, as escovas foram coletadas e colocadas em sacos de papel estéril e após 18 horas tiveram suas cerdas removidas e transferidas para um tubo contendo 10 ml de salina tamponada com fosfato, em seguida foram submetidas a vortex5 vigoroso por 60 segundos, ultra-som por 30 segundos, e posteriormente espalhados em placas com meio de cultura contendo microorganismos para comprovação da presença de patogênica. As placas foram incubada anaerobicamente a 37°C em uma atmosfera de CO26/ H27/N28 para um mínimo de 72 horas, enquanto as placas restantes foram incubadas aerobicamente durante 48-72 horas, foi concluído que em todas as escovas havia a presença de microorganismo, porém 30% das escovas apresentavam coliformes fecais devido terem sido acondicionadas no ambiente aberto do banheiro. Através de uma pesquisa realizada com dez pacientes no Departamento de Periodontia, foram utiliza4 5 2 3 46 Gênero de bactérias gram-positivas e anaeróbias facultativa; Espécie de fungo diplóide que causa, oportunamente, alguns tipos de infecção oral e vaginal nos seres humanos; 6 7 8 Bactérias Gram-positivas, com forma de cocos que podem causar doenças no ser humano; São movimentos espirais ao redor de um centro de rotação. Dióxido de Carbono; Hidrogênio; Oxigênio. Jan / Dez 2012 das 4 (quatro) escovas de dentes distintas, sendo elas: 2 (duas) escovas a serem utilizadas com dentifrícios (antimicrobiano) e 2 (duas) apenas como escovas de dentes regulares. Após a escovação as mesmas foram enxaguadas e armazenadas à temperatura ambiente e em ambiente seco, com o tempo de 4 a 24 horas. Foram cortados tufos das cerdas das escovas e processados por técnica de meio de cultura, com isso, observou-se que as escovas abrigavam um numero significativo de microorganismo, porém sem diferença estatística entres as escovas (regular e microbiana), após a análise ressaltaram que a redução dos microorganismo aconteceu entre as primeiras 4 horas. Os autores concluíram que a Placa bacteriana, frequência de escovação, tempo de escovação, forma de enxaguar e o ambiente/condições de armazenamento das escovas, são fatores que de forma geral podem influenciar na quantidade e qualidade da microbiota localizada nas escovas dentais. (EFSTRATIOU et al., 2007). Dentre outras doenças que podem ser transmitidas devido ao acondicionamento incorreto das escovas dentais estão a Sífilis; Difteria; Tuberculose; Doenças Sexualmente transmissíveis e AIDS que pode ser visto pela pesquisa de Zhang et. al. (2007), onde um estudo transversal foi realizado em mineiros de estanho de trabalho em cinco regiões de mineração, de março a junho de 2006 em Gejiu City, província de Yunnan - China. Um total de 1.796 mineiros foram incluídos no estudo, e um questionário padronizado sondava os fatores sócio-demográficos, conhecimento de HIV / DST e comportamento sexual. Foram coletados 7 ml de sangue venoso e 15 ml de urina para teste de HIV / DST. De acordo com os resultados 12(doze) participantes foram identificados HIV positivo. Enquanto, as proporções positivos para sífilis, herpes simples tipo 2 (HSV-2), Neisseria gonorrhoea9 e tracoma Chlamydia10 foram de 1,8%, 9,6%, 0,8%, 4,8%, respectivamente. Os fatores associados à infecção pelo HIV foram o uso de drogas ilegais, a frequências de visitas as trabalhadoras do sexo feminino nos últimos Bactéria Diplococo gram-negativo, não flagelado, não formador de esporos, não hemolítico, aeróbio ou facultativamente anaeróbio. 10 Bactéria que produz uma característica de rugosidade da superfície interna das pálpebras. doze meses, tatuagens, experiências de intervenção cirúrgica e compartilhamento de escovas dental, e apenas 4,1% dos entrevistados estavam cientes das vias corretas de transmissão do HIV. Segundo Brook, Gober (1998) e Fischer (1999) a Faringite também foi analisada através de um estudo para investigar a persistência de estreptococos do grupo A beta-hemolítico em escovas de dente e aparelhos ortodônticos removíveis em crianças que sofrem de faringoamigdalite11 aguda, com isso foi obtido escovas de dentes de 104 crianças com faringoamigdalite antes e após dez dias de tratamento com penicilina e 21 aparelhos ortodônticos removíveis, desse grupo de estreptococos beta-hemolíticos foram isolados 11 escovas de dentes de 18 pacientes após a conclusão do tratamento com penicilina assim as Escovas de dente de 5 das 18 crianças que abrigavam faringoamigdalite, foram colonizadas com o microrganismo do grupo de estreptococos beta-hemolítico, também foram isolados 4 dos 21 aparelhos ortodônticos removíveis após a terapia. Concluiu-se que as escovas de dente e aparelhos ortodônticos removíveis das crianças com faringoamigdalites aguda podem contribuir para a persistência da doença na orofaringe e pode ser responsável pelo fracasso da terapia com penicilina. Akhtar et al., (2002) em um estudo transversal durante abril a junho de 1999 selecionou 341 crianças com talassemia12 em Karachi, no Paquistao. Dentre essas, 86 crianças eram soropositivas ao vírus da Hepatite C (HCV). Após essa análise foi levado em consideração critérios como a troca de escovas entre familiares, e através da logística constatou-se que os contatos HCV - soropositivos eram mais propensos que os contatos HCV - soronegativos a terem feito o compartilhamento das escovas dentais. A escovação é conhecida por causar bacteremias13 quando feita de maneira em que se use maior força, teoricamente poderia potencializar o desenvolvimento de endocardite infecciosa. Contudo, não há dados definitivos sobre os riscos relativos de usar escovas manuais ou elétricas em pacientes predispostos a essa R E B O M I 9 Infecção ou a uma simples inflamação da faringe. É uma doença hereditária autossômica recessiva que afeta o sangue. 13 Presença de bactérias no sangue. 11 12 47 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 doença. Sendo prudente aconselhar o uso adjuvante de clorexidina na limpeza, reduzindo a magnitude de qualquer bacteremia causada pela escovação que venha interferir na desorganização da microbiota bacterianas, potencialmente causadoras da endocardite infecciosa. (MARTIN, 2003). Reduções da Contaminação nas Escovas Dentais Com base em diagnóstico de dados estatísticos da pesquisa científica de Nelson Filho et al. (2004) dentre as recomendações feitas pelos dentistas estão à lavagem, secagem, acondicionamento em lugar limpo e a proteção da cabeça da escova, tendo como grande importância a não troca e nem empréstimo das escovas com familiares e/ou amigos. Segundo a American Dental Association (ADA) (2006) as escovas devem ser guardadas numa posição vertical, em local arejado. Quando houver mais de uma escova, as mesmas devem ser estocadas separadamente para que não sejam transferidos microorganismos de uma escova para outra. Dentre outras orientações feitas pela a ADA, são destacadas o não recobrimento e/ou estocamento das mesmas em recipientes fechados rotineiramente, pois ambientes úmidos ajudam o crescimento de vários microorganismos. O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO (2000) indica que após o uso, as escovas devem ser acondicionadas em locais limpos e lavadas em água corrente. Descontaminação das escovas dentais Partindo da informação de que as escovas dentais contaminam-se, é de suma importância sua descontaminação, para prevenir a formação de microorganismos e de biofilme bacteriano, onde as quais serão substituídas posteriormente por novas escovas. Então, percebe-se que nesse ponto, alguns estudos indicam que as escovas devem ser trocadas ao menos uma vez por mês (COUTINHO et al.,2007). Porém outros autores relatam que em média as escovas devem ser substituídas a cada 03 ou 04 meses, não sendo substituídas apenas por seu desgaste, mas também pela contaminação que as mesmas adquirem com o decorrer de uso e tempo (NELSON FILHO et al., 2006 apud GONÇALO; MIALHE, 2009). 48 Métodos de descontaminação química Segundo Vinholis (1997) e Nelson Filho et al. (2000) a clorexidina é uma substância potencialmente eficaz que apresenta alta substantividade e estabilidade, possuindo uma ação contra as bactérias gram-negativas, gram-positivas, fungos e leveduras. Contudo, de acordo com Ferreira et al., (1996) e Werner (1990) a medicina fitoterápica vem evoluindo muito através de plantas medicinais, sendo várias delas da espécie vegetal, as quais merecem mais estudos. A shinus terebinthitolius 14 é utilizada como antisséptico para tratamento de estomatites, doenças venéreas, inflamações do útero, feridas de pele, diarreia, ulceras gastrointestinais, e infecções do aparelho urinário, possuindo em comum a ação anti-inflamatória e antimicrobiana. (Soares et al., 2007) Com o objetivo de comparar e avaliar a eficácia da aroeira na descontaminação das escovas dentais, Soares et al. (2007) fez a imersão de escovas em meio de cultura por 1 minuto. Para realizar sua descontaminação foram usadas as soluções de tintura de aroeira e clorexidina 0,12% em forma de spray, onde a clorexidina manteve-se límpida por 24 horas, no entanto quando realizado a semeadura para a contagem das UFC/ml15 a aroeira obteve resultado satisfatório, concluindo que a tintura de aroeira a 20% apresentou uma atividade e controle bacteriano contra microorganismos do grupo S.mutans sobre as escovas contaminadas. Segundo Alves (2005) o extrato hidroalcóolico da aroeira tem ação bacteriostática e bactericida sobre o S. mutans, S. mitis, S. sobrinus, S.sanguis e L.casei e ação antifúngica sobre o C. albicans, C. tropicalis e C.Krusei. Segundo o autor a ação da aroeira é semelhante à da clorexidina a 0,12% pois inibe a síntese do glucano pela glicosiltransferase16. O extrato etanólico a 30% da aroeira tem ação bactericida sobre as cepas de Escherichia coli 17, Pseudomonas aeruginosa18, Staphylococcus aureus 19 e Bacillus subtilis 20 É o nome popular de várias espécies de árvores da família Anacardiaceae. Unidade formadora de colônias por mililitro. 16 É uma Enzima que catalisa a ciclização de uma Molécula. 17 Microbiota normal dos intestinos de seres humanos e animais. 18 É uma bactéria gram-negativa, aeróbia, baciliforme. 19 É uma espécie de estafilococo coagulase-positivos. 20 É uma espécie de bactéria gram-positiva que é uma saprófita comum do solo e da água. 14 15 Jan / Dez 2012 (MARTINEZ et al., 1996) e o extrato da planta a 80% sobre a Cândida albicans (GUERRA et al.,2000). Muitos estudos científicos demonstram que o meio de descontaminação e/ou sanificação das escovas dentais são através de agentes químicos, pois é considerado um método eficiente e de baixo custo, que por sua vez favorece o controle de infecções (CHEUNG et al.,2006). Cheung et al. (2006) realizou uma pesquisa com o intuito de descobrir uma maneira menos custosa e de fácil manipulação para desinfecção das escovas dentais, utilizando-se de água oxigenada (peróxido de hidrogênio) e água quente. A cada participante foram estregues 3 escovas, onde cada uma deveria ser usada em determinado período (manha, tarde e ao deitar) por uma semana. Após isso utilizando-se de placas petri21 as escovas sofreram processos de esfregaços, em seguida colocadas em incubadora a 37,5° C durante 24 horas. Posteriormente algumas placas foram imersas durante 1 hora em água oxigenada e outras em água quente, chegando a conclusão que a água quente matou 71% das bactérias e a água oxigenada, cerca de 93%. A aplicação de soluções para desinfecção das escovas dentais em forma de spray tem maior facilidade, rapidez e controle, visto que sua imersão torna a solução contaminada rapidamente sendo necessária sua reposição. (NEAL; RIPPIN, 2003). Foram selecionados aleatoriamente 30 pré-escolares na idade entre 6-7 anos de uma escola municipal de Franca – SP, onde os quais receberam uma escova de dente para serem utilizadas após a merenda escolar, durante um período de cinco dias, após esse processo as mesmas foram enxaguadas com água da torneira e borrifadas com (1) água deionizada, (2) hipoclorito de sódio a 1% e (3) ácido acético22, sendo uma vez por semana, ao final da pesquisa cada estudante recebia outra escova e as utilizadas eram recolhidas, introduzidas em tubos de ensaio contendo meio de cultura e encaminhadas ao laboratório, com isso observou-se que houve um crescimento bacteriano de 21 22 É um recipiente cilíndrico, achatado, de vidro, metal ou plástico que os biólogos utilizam para a cultura de micróbios. Vinagre branco diluído a 50% em água deionizada. 96,42%; 10,34% e 84,61% respectivamente da coleta de amostra, contudo quando analisado após o uso das soluções (1), (2) e (3), as mesmas apresentaram 85,71%; 10,34% e 76,72% respectivamente. Assim na utilização do hipoclorito de sódio a 1% borrifado houve uma redução significante no crescimento bacteriano, contudo o acido acético a 0,05% e a água deionizada esterilizada não apresentaram resultados satisfatórios. (CHAVES et al., 2007). Araújo et al. (2006) através de um estudos realizados em 50 escovas em uso superior a 30 dias, com objetivo de identificar o tempo de imersão necessário em solução diluída de água sanitária, para a eliminação de microorganismos patogênicos localizados nas cerdas das escovas dentais, obteve-se um resultado de que o tempo mínimo necessário seria de 8 horas para a descontaminação das cerdas, caracterizando uma ação antimicrobiana de uso doméstico Apesar de ser eficaz como um descontaminador caseiro de escovas dentais, a solução de agua sanitária pode se tornar irritante para a mucosa bucal e provocar problemas estomacais se não ocorrer um abundante enxágue (NELSON FILHO et al., 2004) Uma boa opção seria o álcool 77% V/V23, pois através de estudo foram convidados 52 alunos da graduação do curso de Odontologia da faculdade de Bauru, onde os mesmo foram divididos em 3 grupos. Grupo I: Cetilperidinio24; Grupo II: Álcool 77% V/V; Grupo III: Controle, os alunos foram orientados após a escovação e enxague fazer o armazenamento das escovas em suas respectivas soluções. Utilizaram-se vários meios de cultura para a identificação de microorganismo, em seguida foram colocadas em placas de petri e incubadas em estufas bacteriostáticas a 37°C por 48 horas. Observou-se que o grupo I apresentou 95% de estreptococos bucais, 0% de estreptococos mutans, 10% de lactobacilus; 75% de enterobacterias G-, 85% de estafilococos aureus e, 90% de leveduras. O grupo II apresentou 41% de estreptococos bucais, 6% de estreptococos mutans, 6% de lactobacilus; 12% de enterobactérias, 53% de estafilococos aureus e, 36% de le23 24 R E B O M I Percentagem em volume ou percentagem volúmica Antisséptico que mata bactéria e outros microorganismos 49 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 veduras, tornando o álcool uma solução antisséptica com resultados consideráveis relacionados a descontaminação das escovas dentais e o grupo III (controle) tiveram os seguintes crescimentos: 100% de estreptococos; 0% de estreptococos mutans; 0% de lactobacilos; 50% de enterobacterias G-; 100% de estafilococos aureus e, 100% de leveduras (SANCHES; PERES; PERES, 2001). Substâncias que visam à descontaminação das escovas dentais e marcas comerciais de enxaguatórios bucais foram testadas quando imersas ou borrifadas nas cerdas. O Gluconato de Clorexidina 0,2% foi avaliado na pesquisa feita com 21 crianças, entre 5 a 12 anos de idade, onde foi dado uma escova dental a cada aluno e com isso feita uma escovação supervisionada, uma vez ao dia, durante cinco dias consecutivos, ao fim das escovações as escovas foram recolidas e mantidas em tubos de ensaios, assim com isso as mesmas foram mergulhadas em meio de cultura cerca de 4 a 5 horas para serem incubadas durante 48 horas, diagnosticando colônia de microorganismo, por fim as escovas foram imersas em Gluconaco de clorexidina a 0,2%, então concluindo que a redução de microorganismo resultou em 100% (BAHT et al., 2003; DENARDI et al., 2005); Listerine, Periogard, Plax, Cepacol e Scope foram testados em vinte escovas utilizadas por indivíduos saudáveis, na qual foram rastreadas a presença de microorganismos. Os micróbios foram desalojados das escovas por agitação em vórtex25 onde foram recuperadas a partir do fluido de suspensão. As Cerdas das escovas foram removidas e testadas nas soluções enxaguatórias por meio de imersão para testar os seus efeitos bactericidas sobre microrganismos sedimentados a partir do líquido de suspensão, e em espécies de ensaio diferentes, incluindo Cândida albicans, Mycobacterium smegmatis26, M. bovis27, com isso concluísse que imergindo a cabeça da escova (cerdas) nas soluções descritas durante 20 minutos após a escovação, foi su25 26 27 50 Movimentos espirais ao redor de um centro de rotação. Bactéria álcool-ácido resistente do gênero Mycobacterium. Bactéria responsável pela transmissão da tuberculose entre bovinos. ficiente para eliminar a contaminação bacteriana. (CAUDRY et al.,1995). Depois de testado, o acido acético não demonstrou um resultado satisfatório quando disponibilizado em uma concentração de 0,05%. (CHAVES et al., 2007). Algumas marcas de vinagres existentes no mercado foram diagnosticadas e usadas em baixa concentração (3 – 6%) apresentando efetividade em relação às cepas de Cândida albicans. (Azuma et al., 2006). Komiyana (2007) relata que o acido acético e solução de dentifrícios (Diluição de 5g de dentifrício em 20 ml de água deionizada esterilizadas) obtiveram resultado satisfatório referente à desinfecção de escovas e auxilio preventivo de doenças orais. Contudo em relação à ação do hipoclorito de sódio a 1% em forma de spray, obteve-se uma maior eficácia em relação ao acido acético a 0,05% e água deionizada esterilizada no que se diz respeito à descontaminação. A união de componentes antimicrobianos aos dentifrícios favorece a diminuição de bactérias nas cerdas das escovas dentais tais como o triclosan28. Sendo eficaz também contra fungos. Com base nisso, vários fabricantes resolveram testar a eficiência de outros componentes incorporados aos dentifrícios como microbran29, nas cerdas das escovas dentais, porém não houve distinção de contaminação entre as composições que havia ou não nos produtos incorporados. (EFSTRATIOR et al., 2007; GOLDSMITH et al., 2004). Métodos de descontaminação caseira Vários métodos caseiros são citados na literatura como alternativos para a descontaminação de escovas dentais. Chibebe Jr e Pallos (2001) realizaram estudos no Laboratório de Microbiologia do Departamento de Biologia da Universidade de Taubaté, onde foram utilizadas 128 escovas de dente da marca Condor, divididas em quatro grupos de 32 escovas. Quatro microrganismos foram selecionados para a pesquisa: Streptococcus mutans, Candida albicans, Escherichia coli e Bacillus subtilis. Cada grupo de 32 escovas foi contaminado com um destes microrganismos, por in28 29 Agente anti-séptico efetivo contra bactérias gram-negativas, bem como gram positivas. Princípio antibacteriano que impedi o crescimento das bactérias. Jan / Dez 2012 serção de suas cerdas durante 30 segundos em um meio de cultura ricamente contaminado. Em sequência, cada escova foi condicionada em um tubo de ensaio estéril. Esse mesmo grupo foi então subdividido em quatro, resultando em quatro subgrupos de oito escovas. Foram analisados quatro diferentes tempos de exposição das escovas no forno micro-ondas, a saber, zero (grupo controle),cinco, sete e dez minutos, de tal modo que cada subgrupo de oito escovas foi exposto durante um tempo diferente. Todos os tubos foram fechados com chumaços de algodão e colocados estaticamente (sem rotação em qualquer direção) no forno de micro-ondas, e este, ativado nos diferentes tempos. As escovas, após expostas no forno de micro-ondas, foram introduzidas, com auxílio de pinças, em tubos com caldo nutriente estéril por 30 segundos. Os tubos foram incubados em estufa a 37o C. Após 24 horas, foi feita a primeira leitura, e a segunda, de confirmação, após uma semana. O resultado foi avaliado segundo a transparência do meio de cultura. Quando turvo, indicava crescimento dos microrganismos; quando límpido, indicava esterilidade. Os dados demonstraram que todos os microrganismos incorporados nas cerdas das escovas dentais do grupo controle cresceram. No tempo de exposição de cinco minutos, apenas dois dos microrganismos cresceram: Streptococcus mutans e o Bacillus subtilis; com os tempos de sete e dez minutos, houve a eliminação total dos microrgamismos testados. A água fervente segundo Cheng et al. (2006) é um métodos caseiro que apesar de promover uma descontaminação das escovas dentais, acabam causando a deformidade das cerdas. Embora existam vários métodos de descontaminação caseira já comprovadas com o intuito de promover a desinfecção das escovas dentais, deve-se avaliar e estudar cada método com o objetivo de promover ações de saúde em espaços coletivos para que o processo possa alcançar a população mais carente, através de meios que possam ser de fácil execução e armazenamento. (CHAVES et al., 2007). Armazenamento das escovas dentais Após uma descontaminação rigorosa com substâncias químicas e ou caseiras, as escovas devem ser acondicionadas em lugares apropriados, pois se forem armazenadas em locais inadequadas podem favorecer o acúmulo e crescimento bacteriano, podendo ocorrer uma contaminação cruzada se acondicionadas em lugares próximos de outras escovas, ambientes úmidos e quentes. (AMERICAN DENTAL ASSOCIATION 2008). Coutinho (2007) realizou um estudo científico no qual verificou o modo de acondicionamento e as condições de escovas dentais de 992 pré-escolares (45 turmas de 13 centros municipais de educação infantil de Ponta Grossa–PR). Os resultados mostraram que 28,9% dos recipientes eram de plástico, 24,4% de tecido recoberto com plástico, 13,3% de papelão e 8,9% somente de tecido. Quanto ao acondicionamento, verificou-se que, 73,3% das escovas eram armazenadas em conjunto e úmidas, 31,1% não apresentavam identificação e as 32,3% que possuíam estavam ilegíveis. Além disto, 87,2% dessas escovas apresentavam-se com resíduos, concluindo-se que os acondicionamentos incorretos das escovas dentais podem favorecer o aparecimento de doenças e microorganismo. Porém uma grande parte das famílias brasileiras continua utilizando locais inadequados sobre a pia onde pode facilitar o crescimento bacteriano devido ao aerossol contaminado, umidade e a contaminação cruzada. Assim se não for feito um armazenamento adequado da escova dental este pode se tornar um veiculo de transmissão por vias orofecais, devido aerossóis contaminados resultantes de vasos sanitários. A partir de garrafas descartáveis de refrigerante (PET) de dois litros, foram confeccionados porta-escovas, cortadas na altura de 17 cm de um lado e 10 cm do outro, a partir da base em secção diagonal. Os mesmos foram distribuídos juntamente com escovas dentais a um grupo de 54 pessoas (grupo A) e a outro grupo, também de 54 pessoas, distribuíram-se somente escovas dentais (grupo B). Após 60 dias, as escovas dentais foram submetidas a exame microbiológico para a pesquisa de coliformes e exame parasitológico para pesquisa de parasitas intestinais. No grupo A encontraram-se 29,62 % de escovas contaminadas por coliformes e no grupo B 44,44 % escovas contamina- R E B O M I 51 R E B O M ANO 29 • Nº 1 e 2 das por coliformes. Dentre estas, 5,55 % continham parasitas intestinais, (SILVEIRA et al., 2002). I Discussão Atualmente o homem moderno vem se preocupando muito mais com a sua saúde, de forma a cuidar da saúde corporal, psicológica e bucal; por meio de pesquisas e estudos ao longo do tempo se descobriu que essa preocupação com a higiene bucal vem sendo percebida num período A.C., com o uso de instrumentos para estagnar a putrefação dos dentes, contudo esse objetivo foi atingido após o surgimento das primeiras escovas dentais entre 1400 e 1500 d.C. (FERREIRA, 1996) A etiologia de doenças bucais como a cárie e doenças periodontais estão relacionadas à ausência da higiene bucal e consumo de sacarose (ALVES, 1997). Partindo desse ponto a forma encontrada para que isso não ocorra é a remoção e desorganização da microbiota por meio de escova dental (SILVEIRA et al., 2002). Contudo, pesquisadores afirmam que esse instrumento pode ser contaminado através do primeiro contato intraoral (NELSON-FILHO et al., 2004) e que se não higienizado e/ou armazenado de forma correta podem ser contaminadas através de microrganismos patogênicos presentes na cavidade oral, podendo ocorrer também a contaminação cruzada por microrganismos patogênicos relacionados às infecções respiratórias, intestinais e outras enfermidades. (KOZAI et al., 1989). Neal e Rippin (2003) constataram em sua pesquisa que soluções em forma de spray são mais eficazes, devido a maior facilidade no controle relacionado à manipulação e rapidez, pois as soluções de imersão são menos favoráveis devido à contaminação acelerada logo após a primeira imersão no produto sendo necessária sua substituição. Vários pesquisadores testaram métodos e forma de agentes para descontaminação das escovas dentais como soluções de enxaguantes bucais, Porém pesquisadores afirmaram que as soluções contendo Gluconato de Clorexidina 0,12% foram testadas e comprovadas que após 20 minutos imersos nas mesmas logo após a escovação, tiveram resultados de 100% de redução microbiana, tornado o mais eficaz descrito pelo autor. (DENARDI et al., 2005). 52 Levando em consideração que os antissépticos bucais tem o preço muito elevado, pesquisadores testaram substâncias químicas mais acessíveis como hipoclorito de sódio a 1% e acido acético (CHAVES et al., 2007), água oxigenada (CHEUNG et al., 2006), Álcool 77%V/V (SANCHES; PERES; PERES, 2001) água sanitária (ARAUJO et al., 2006), dentre outra e concluísse que as mesma tem um alto poder de descontaminação para as escovas dentais. Métodos caseiros, como o forno de micro-ondas (CHIBEBE JR. e PALLOS, 2001) e água ferventes (CHEUNG et al., 2006) também foram pesquisados e alcançaram resultados bastantes satisfatórios, contudo apresentaram um aspecto negativo de grau significativo, que foi a deformidade das cerdas das escovas dentais. (GONÇALO; MIALHE 2009) Segundo a ADA as escovas dentais devem ser trocadas não apenas pelo seu grau físico, mas também pelo seu grau de contaminação o que se recomenda de um período de 03 a 04 meses. Coutinho (2007) em sua pesquisa afirma que as escovas dentais devem ser substituídas ao menos uma vez por mês, porém na literatura não há um consenso relacionado a este objetivo. As substâncias descontaminantes são de suma importância, porém perdem seu propósito se as escovas dentais não forem acondicionadas em ambiente limpo e seco, para que não haja uma contaminação com aerossol resultante do vaso sanitário como coliformes fecalis30 (EFSTRATIOU et al., 2007) ou uma contaminação cruzada quando acondicionadas umas próximas das outras.(KOZAI et al., 1989) Silveira et al., (2002) realizou uma pesquisa que teve como objetivo avaliar a eficiência de um porta escova confeccionado com garrafas descartáveis de refrigerantes, na tentativa de controlar a contaminação das escovas dentais por microorganismos patogênicos do meio externo (parasitas intestinais e coliformes fecais), e concluiu que houve uma redução no índice de contaminação das escovas testadas, oferecendo uma alternativa para indivíduos que não possuem um local apropriado para guardá-las. 30 São bactérias que estão presentes em grandes quantidades no intestino dos animais de sangue quente, mas comumente encontrados nas fezes. Jan / Dez 2012 Porém assim como os agentes descontaminantes, não há uma regra para esse tipo de controle, pois autores indicam que as escovas devem ser acondicionadas em locais seco, limpo e que suas cabeças sejam recobertas para que não haja o contato com aerossóis contaminados e outras escovas (Garbin, 2012). No entanto a ADA (2006) indica que as escovas devem ser guardadas numa posição vertical, em local arejado, e quando armazenadas em conjunto, que sejam estocadas separadamente para que não sejam transferidos microorganismos de uma para outra. As mesmas não devem ser recobertas, pois a umidade e o abafamento ajudam o crescimento bacteriano. Portanto o presente trabalho indicou métodos para desinfecção e acondicionamento das escovas dentais: • Antes da escovação Lavar a escova com água corrente, sem esfrega-la com os dedos. • Após a escovação A escova deve ser limpa e lavada em água corrente, retirando seu excesso de água por meio de leves batidas na borda da pia. (INMETRO, 2000) • Desinfecção Borrifar soluções químicas acondicionadas em um frasco spray, nas escovas dentais, sempre após a sua utilização, como: Gluconato de Clorexidina a 0,12% (CHAVES et al., 2007), ou água oxigenada (CHEUNG et al., 2006), ou Álcool 77%V/V (SANCHES; PERES; PERES, 2001), tanto na escova como em sua capa protetora. estas devem ser substituídas de 3 em 3 meses • Acondicionamento As escovas devem ser guardadas em um ambiente seco e limpo, numa posição vertical, que sejam estocadas separadamente e que não seja feito rotineiramente o recobrimento das cerdas, apenas se estas estiverem em contanto com meio externo. (AMERICAN DENTAL ASSOCIATION, 2006). suas escovas dentais após uma única escovação podem trazer para sua saúde, pois não sabem como acondicioná-las nem tão pouco descontaminá-las, tornando-as um objeto disseminador com auto grau de potencial patogênico. R E B O M I Referências AKHTAR S. et al. 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Endereço para correspondência: Estrada de Jacarepaguá, 7140 - bl2, ap107 – CEP: 22755-158 – Freguesia – Rio de Janeiro – RJ – Brasil E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 29 de março de 2013 e aceito em 15 de abril de 2013 Resumo Os bisfosfonatos têm sido indicados para o tratamento de doenças do metabolismo ósseo. Eles apresentam afinidade específica para o osso, onde ocorre seu depósito, o que resulta na diminuição da remodelação óssea. Atualmente, essa medicação tem sido amplamente empregada e um dos efeitos adversos que é a indução da osteonecrose dos maxilares tem sido relatado, principalmente após procedimento odontológico de exodontia. Uma alternativa para exodontia poderia ser o tratamento endodôntico. Essa revisão da literatura tem como objetivo abordar sobre os bisfosfonatos e sua repercussão na endodontia. A necessidade de pesquisa para apoiar ou refutar o atual pensamento é urgente. Palavras-chave: bisfosfonato, osteonecrose, endodontia. Abstract Bisphosphonates have been indicated for treating diseases of bone metabolism. They exhibit specific affinity for bone, where it is deposited, which results in decreased bone turnover. Currently, this drug has been widely used and one of the side effects is that the induction of osteonecrosis of the jaw has been reported, especially after dental extraction procedure. An alternative could be to dental extraction is endodontic treatment. This literature review aims to address about bisphosphonates and their impact on endodontics. The need for research to support or refute the current thinking is urgent. Keywords: bisphosphonate, osteonecrosis, endodontics. 55 R E B O M I 56 ANO 29 • Nº 1 e 2 Introdução Os bisfosfonatos são um grupo de medicamentos que se tornaram cada vez mais amplamente utilizado no tratamento de doenças ósseas, chegando a 21 milhões de prescrições no ano de 2004 nos EUA (CHENG, et. al., 2005; KATZ, 2005). Tal como para osteoporose, muito comum, particularmente com envelhecimento da população; além de metástases ósseas, principalmente na mama, próstata, pulmão, fígado e rim e nos casos de Doença de Paget ou displasia fibrosa que são menos comuns, mas debilitantes. Em todas estas condições, os bisfosfonatos têm sido inestimáveis para o controle da dor e prevenção de fratura (CHENG, et al., 2005; DE LUCAS; DE LUCAS, 2008.) Historicamente, os bisfosfonatos foram utilizados nas indústrias de fertilizantes, têxteis, fósforo e bélica (SAVORY, 1874; STOCKMAN, 1899; HUGHES, et al., 1962; CHENG, et al., 2005). Na área da saúde, os bisfosfonatos são compostos sintéticos com estrutura química semelhante ao pirofosfato inorgânico, um regulador endógeno da mineralização óssea. Atualmente existem dois tipos dessa medicação, os nitrogenados e os não-nitrogenados, ambos são utilizados para a inibição da reabsorção óssea no tratamento de doenças ósseas (CHENG, et al., 2005). O osso é um tecido dinâmico que remodela constantemente. A manutenção do tecido ósseo saudável depende de um equilíbrio entre a reabsorção e a formação da matriz óssea, mediado pelos osteoclastos e osteoblastos, respectivamente. O equilíbrio entre essas atividades determina se há formação ou reabsorção óssea (CHENG, et al., 2005). O mecanismo de ação dos bisfosfonatos no tecido ósseo é complexo. Eles apresentam afinidade específica para o osso, onde depositam tanto no tecido ósseo recém-formado quanto próximo aos osteoclastos. A meia-vida dos bisfosfonatos na circulação é muito curta, em torno de 30 minutos, mas quando já incorporado ao tecido ósseo pode permanecer por até 10 anos (CHENG, et al., 2005; KATZ, 2005). No entanto, vários efeitos adversos foram relatados, inclusive um com implicações odontológicas (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008). Casos de osteonecrose nos maxilares associa- do ao uso dos bisfosfonatos foram descritos (KATZ, 2005; KYRGIDIS, et. al., 2010; GALLEGO et. al., 2011), sendo que essa associação tem sido reportada após procedimentos odontológicos, principalmente de exodontia, onde observava-se que o defeito ósseo pósoperatório era maior do que o defeito pré-operatório. Ressalta-se que o tratamento para osteonecrose é a ressecção cirúrgica da área afetada, causando uma mutilação e afetando a qualidade de vida do paciente (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008; KATZ, 2005; MIKSAD, et al., 2011). A relação de osteonecrose nos maxilares em pacientes usuários de bisfosfonatos com procedimento odontológico de exodontia está claramente evidenciada, havendo ainda pouca informação sobre as implicações da intervenção ou reintervenção endondôntica, alternativa para a exodontia, para o risco de osteonecrose nos maxilares. Uma revisão à literatura será abordada na tentativa de esclarecer sua repercussão da endodontia (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008; MCLEOD; DAVIES; BRENNAN, 2007; CARMONA, et al., 2012; JACOBSEN, et al., 2012). Revisão da Literatura Os bisfosfonatos são fármacos amplamente prescritos em nível mundial, pela sua comprovada eficácia na inibição da atividade osteoclástica, constituindo um pilar fundamental no tratamento das doenças ósseas. Tamanha a quantidade de prescrições - 2,3 milhões no ano de 2003 - foi equiparada ao número de prescrições de amoxicilina no mesmo ano (CHENG, et al., 2005). São análogos dos pirofosfatos inorgânicos, que são reguladores fisiológicos da calcificação e reabsorção óssea, naturalmente presente no soro e na urina, que apresentam a função de inibir as calcificações ectópicas nas artérias, pele e outros órgãos. Apresentam alta afinidade para os cristais de hidroxiapatita, incorporandose no esqueleto ósseo de forma extremamente persistente, sem sofrerem degradação. Os bisfosfonatos podem ser separados em duas categorias: os que não contem nitrogênio, representados pelo Etidronato (Didronel ®), Clodronato (Bonefos ® e Loren ®) e Jan / Dez 2012 Tilodronato (Skelid®) e os bisfosfonatos que contem nitrogênio, representados pelo: Pamidronato (Aredia®), Risedronato (Actonel®), Zolendronato (Zometa®), Alendronato (Fosamax®) e Ibandronato (Bondronat®), esses, mais potentes, ficam retidos no osso por mais tempo (HEWITT; FARAH, 2007; MCLEOD; DAVIES; BRENNAN, 2007.). As indicações são para pacientes portadores de doenças como mieloma múltiplo, doença de Paget, osteoporose, e algumas doenças relacionadas à metástase óssea, como câncer de mama e de próstata. Enquanto mediadores dos inibidores da reabsorção óssea, eles atuam principalmente nos osteoclastos, de forma que, estimulam a apoptose e consequentemente a diminuição da atividade osteoclática, reduz a reabsorção óssea, a hipercalcemia em algumas malignidades e a osteólise na metástase óssea. Essa medicação tem a capacidade de se ligar a íons bivalentes como o Ca2+ e, portanto, são rapidamente removidos da circulação e depositados em superfícies minerais ósseas ativas que estejam num processo de reabsorção osteoclástica, e, em seguida, é absorvido pelos osteoclastos, o que explica a sua ação seletiva sobre estas células. O osso é um tecido dinâmico que remodela constantemente. A manutenção do tecido ósseo saudável depende de um equilíbrio entre a reabsorção e a formação da matriz óssea. De uma forma geral, o osso velho ou não funcional é reabsorvido por osteoclastos e osso novo é formado pelos osteoblastos. O equilíbrio entre essas atividades determina se há formação ou reabsorção óssea (CHENG, et al., 2005). O mecanismo de ação dos bisfosfonatos no metabolismo ósseo é complexo. Eles atuam quase que exclusivamente no osso, devido à afinidade específica, onde utilizam como depósito o tecido ósseo recém-formado e em proximidade dos osteoclastos. A meia-vida dos bisfosfonatos na circulação é bastante curta, variando de trinta minutos a duas horas. Uma vez incorporado no tecido ósseo, podem persistir por até dez anos (CHENG, et al., 2005; KATZ, 2005). Os bisfosfonatos atuam no osso através de vários mecanismos, simultaneamente. Eles podem atuar tanto na atividade dos osteoclastos em relação à quanti- dade, quanto na qualidade. Ambos os mecanismos levam à redução da reabsorção óssea e à uma diminuição do turnover, além de exercer efeito antitumoral e reduzir a angiogênese (CHENG, et al., 2005; KATZ, 2005). Dentre os efeitos adversos devido ao uso dos bisfosfonatos, tem sido relatada a ocorrência de osteonecrose nos maxilares. Independentemente da causa, a osteonecrose nos maxilares consiste na presença de osso maxilar inviável (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008). O osso necrosado caracteriza-se por trabéculas ósseas com lacunas vazias e bordos irregulares e pela eventual presença de células inflamatórias, abcessos ou microrganismos. As causas etiológicas da osteonecrose nos maxilares podem ser medicação sistémica, radiação (osteorradionecrose), infecção, traumatismo químico e mecânico, idiopática, dentre outras (RIPAMONTI, et al., 2009). A osteonecrose maxilar associada aos bisfosfonatos é similar a “phossy jaw” relatada durante o século XIX em trabalhadores das indústrias de fósforo, devido ao alto grau de exposição aos vapores de fósforo. O fósforo branco ou elementar é obtido industrialmente em fornos que queimam o fósforo contido nas rochas e é liberado na forma de vapor na qual serão utilizadas nas mais diversas áreas: na indústria metalúrgica, ligas metálicas, aditivos de óleos industriais; na agricultura como fertilizantes; na indústria bélica como munição (CHENG, et al., 2005). No início da revolução industrial, os operários viviam em péssimas condições de trabalho, além de cumprirem jornada de trabalho que chagavam à 80 horas semanais. O ambiente das fábricas era insalubre, assim como os cortiços onde muitos trabalhadores viviam. A Era Vitoriana, época em que o Reino Unido passou por um longo período de prosperidade e paz, bem como o auge e consolidação da Revolução Industrial e o surgimento de novas invenções, permitiu que uma grande classe média se desenvolvesse, embora viesse acompanhado de várias doenças do trabalho, dentre elas a “phossy jaw” que foi descrita como a mais terrível das doenças profissionais, chegando a causar 20% de mortalidade (HUGHES, et al., 1962; CHENG, et al., 2005). Uma vez observada a relação entre proce- R E B O M I 57 R E B O M I 58 ANO 29 • Nº 1 e 2 dimentos odontológicos, principalmente a exodontia, com a osteonecrose nos maxilares naqueles profissionais que trabalhavam em fábricas na qual eram expostos a vapor de fósforo, implantou-se uma melhora na estrutura das fábricas, como maior ventilação e programas de prevenção, como exames de saúde prévios a contratação dos trabalhadores, além de exames periódicos. Isso foi chamado de “higiene industrial”, pois proporcionou melhores condições de trabalho e diminuição do número de casos de osteonecrose (HUGHES et al., 1962). Atualmente, uma das causas de osteonecrose nos maxilares é devida ao uso dos bisfosfonatos e é caracterizada pela exposição transmucosa de osso necrótico (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008; FEDELE, et al., 2009) por mais de oito semanas (KYRGIDIS, et al., 2010), observado como sinal clínico presente em 76% dos casos,(CARMONA et al., 2012) e, muitas vezes, seguido por infecção e dor. Embora ainda não haja um definitivo consenso sobre os critérios de diagnóstico, define-se a osteonecrose como sendo uma área de osso exposto na região maxilofacial, que não cicatriza dentro de seis a oito semanas após a identificação, em paciente que está em tratamento com bisfosfonatos e que não foi submetido à radioterapia de cabeça e pescoço (FEDELE et al., 2009). Quanto mais potente for a medicação, no caso os bisfosfonatos que contém nitrogênio e aqueles que são administrados por via endovenosa, além do tempo de terapia, associado ainda à dosagem, o risco de desenvolver osteonecrose é maior (FEDELE et al., 2009). Além dos riscos próprios da medicação, existem os riscos associados, que seriam tratamentos concomitantes, como uso de corticóides, quimioterapia e procedimentos odontológicos (FEDELE, et al., 2009). Uma vez que a osteonecrose, como causa do uso dos bisfosfonatos, acomete exclusivamente a região onde o cirurgião-dentista atua e por ser uma complicação emergente (CHENG, et al., 2005), houve crescente preocupação na clínica diária, no que diz respeito às decisões de tratamento para esses casos, além de ser uma complicação que altera significativamente a qualidade de vida do paciente (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008; MCLEOD; DAVIES; BRENNAN, 2007; MIKSAD, et al., 2011). A população em risco para osteonecrose nos maxilares é grande e em expansão e as implicações para a saúde pública podem ser substanciais (MIKSAD, et al., 2011). Essa medicação é amplamente utilizada para pacientes com osteoporose, que é caracterizada pela diminuição da densidade óssea que predispõe ao aumento do risco de fratura óssea. Sua prevalência aumenta com a idade e constitui um grave problema de saúde pública. É estimado que 50% das mulheres e 20% dos homens, maiores de 50 anos, venham a ter uma fratura osteoporótica ao longo da vida (CARMONA, et al., 2012). A estimativa da incidência de osteonecrose nos maxilares associada ao uso via oral de bisfosfonatos para tratamento da osteoporose está entre 1/10.000 e 1/100.000 casos por ano; já nos casos em que o bisfosfonato é administrado por via endovenosa para tratamento de câncer, essa incidência sobre para 1 a 10%. Embora sua utilização exclusivamente para o tratamento da osteoporose não conferir um risco significativo de osteonecrose nos maxilares para o paciente (CARMONA, et al., 2012), há relatos de incidência que variam de 0,4% a 18%, independente da dosagem e da via administrada (AKINTOYE; HERSH, 2011), e também de incidência de 0,1% nos casos de administração via oral, chegando a 10% quando por via endovenosa (MCLEOD; DAVIES; BRENNAN, 2007). A presença de osteonecrose associada aos bisfosfonatos foi entre 33% e 86% quando procedimentos odontológicos haviam sido realizados e sua localização coincidia com a região na qual havia realizado o tratamento odontológico, sendo que acometia numa razão de 2:1 entre mandíbula e maxila (MCLEOD; DAVIES; BRENNAN, 2007.). Segundo Jacobsen, et al., 2012, 75% dos pacientes que apresentaram osteonecrose nos maxilares tratavam de doença maligna, enquanto 25% tratavam de osteoporose. A maioria dos casos acomete as mulheres e o fator de risco principal para osteonecrose quando do tratamento com bisfosfonatos, seja para doença maligna ou osteoporose, é a exodontia com 53,3% e 45,4%, respectivamente (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008; HEWITT; FARAH, 2007; FEDELE et al., 2009; KYRGIDIS; ANDREADIS, 2009; CARMONA, et al., 2012; JACOBSEN, et al., 2012). O procedimento Jan / Dez 2012 endodôntico englobado em “outros procedimentos” obteve 17,4% e 12,1% dos casos, respectivamente (JACOBSEN, et al., 2012). É fato que há um risco considerável para osteonecrose nos maxilares associado aos bisfosfonatos quando uma exodontia prévia foi realizada (DE LUCAS; DE LUCAS, 2008; HEWITT; FARAH, 2007; FEDELE, et al., 2009; KYRGIDIS; ANDREADIS, 2009; CARMONA, et al., 2012). Segundo Fedele, et al., 2009, nos casos em que a administração de bisfosfoantos será iniciada, as recomendações são voltadas para a prevenção, como tratamentos endodônticos e restauradores, e caso seja necessário cirurgias de exodontia ou periodontal, deve ser realizado com um prazo de quatro a oito semanas antes de iniciar a terapia com bisfosfonato, para que ocorra a cicatrização completa da ferida. Katz, 2005, considerou que o tratamento endodôntico ou a reintervenção endodôntica pode ser uma alternativa à cirurgia de exodontia ou à cirurgia perirradicular. Até mesmo para dentes que não são possíveis serem restaurados, uma opção para os pacientes usuários de bisfosfonatos, segundo a American Association of Oral and Maxillofacial Surgeons (AAOMS), seria a remoção da coroa e o tratamento endodôntico dos condutos radiculares (KYRGIDIS, et al., 2010). Kyrgidis, et al., 2010 relataram que foram incapazes de confirmar uma associação positiva entre a história do tratamento endodôntico e risco de desenvolvimento de osteonecrose nos maxilares associado aos bisfosfonatos, no entanto, este estudo foi realizado com uma amostra diminuta, sendo assim não foi possível excluir tal associação. O mais recente estudo longitudinal de coorte com 1621 pacientes, também não foi capaz de relacionar qualquer associação entre a terapia endodôntica e o risco para o desenvolvimento da osteonecrose nos maxilares associado aos bisfosfonatos, apesar de não ter sido incluída no estudo a avaliação da qualidade do tratamento endodôntico e sim, se o mesmo foi ou não realizado (KYRGIDIS, et al., 2010). Segundo Kyrgidis, et al., 2010, o tratamento endodôntico é um tratamento clínico seguro. Apesar disso, há relato de caso em que o paciente em trata- mento com bisfosfonato por via endovenosa, foi submetido ao tratamento endodôntico do dente 37 sob isolamento absoluto e, após cinco meses, o tecido mole circundante ao dente tratado estava eritematoso e edemaciado, apresentando ulceração com exposição óssea na região lingual. A osteonecrose nos maxilares associada aos bisfosfonatos foi diagnosticada e foi iniciado tratamento para a mesma. Após dois meses, houve a exodontia com debridamento da área necrosada e, passado sete meses, houve a remissão total da doença (GALLEGO, et al., 2011). Segundo Kyrgidis, Arora e Antoniades, 2011, o uso do isolamento absoluto pode causar, devido ao grampo, um trauma na mucosa gengival, podendo ser o responsável pelo desenvolvimento da osteonecrose. Isso pode ser possível, pois segundo Hewitt e Farah, 2007, os bisfosfonatos podem agir tanto em nível celular, tecidual, quanto molecular, podendo, então, iniciar a partir de um trauma na mucosa gengival e não apenas à exposição óssea oriunda de uma exodontia, como foi observado nos primeiros relatos nos trabalhadores das indústrias de fósforo (SAVORY, 1874; STOCKMAN, 1899; HUGHES, et al., 1962). Kyrgidis, Arora e Antoniades, 2011, relataram que não é comum o uso do isolamento absoluto na Grécia, justificando assim a consideração de que o tratamento endodôntico não consiste em risco para osteonecrose nos maxilares e sugerem como uma alternativa para o uso do isolamento absoluto, a utilização de uma aspiração cirúrgica potente ou, ainda, isolar de uma maneira que não use o grampo ou, se não possível, administrar antibioticoterapia. Estudos epidemiológicos são muito importantes, não só para avaliar o real impacto da doença, mas também para elucidar as diferenças de susceptibilidade entre as várias populações (KYRGIDIS; ANDREADIS, 2009). A incidência de osteonecrose nos maxilares foi relatada ser diferente entre os pacientes que receberam bisfosfonatos, tanto para a doença em questão a ser tratada quanto à dosagem, tempo e via de administração, além dos procedimentos odontológicos, hábitos nocivos dos pacientes, como álcool e tabaco (KYRGIDIS; ANDREADIS, 2009; RIPAMONTI, et al., 2009). R E B O M I 59 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 Conclusão O manejo do paciente, inclusive dos usuários de bisfosfonatos, na clínica diária deve ser realizado de forma atenciosa, disposto de uma minuciosa anamnese. O tratamento endodôntico em pacientes usuários de bisfosfonatos representa uma contra-indicação relativa, deve-se pesar os riscos e benefícios do tratamento proposto, juntamente com o paciente e o médico que o trata. O tratamento endodôntico deve ser realizado dentro das normas técnicas e de biossegurança, utilizando sempre o isolamento absoluto, mesmo que para isso sejam necessários meios alternativos, menos invasivos, para obter a estabilização do mesmo, ou, até mesmo, associar uma aspiração potente e antibioticoterapia. Mais estudos clínicos são necessários para que se possa indicar/contra-indicar o tratamento endodôntico de forma segura para esses pacientes. DE LUCAS, R.M; DE LUCAS R.A. Osteonecrose Maxilo-Facial. Rev. bras. odontol.mil.. 2008, 25(1): 73-76 FEDELE, S. et al. Dental management of patients at risk of osteochemonecrosis of the jaws: a critical review. Oral Dis. 2009, 15(8): 527-537. GALLEGO, L. et al. Rubber dam clamp trauma during endodontic treatment: a risk factor of bisphosphonate-related osteonecrosis of the jaw? J Oral Maxillofac Surg. 2011, 69(6): 93-95 HEWITT, C.; FARAH C.S. Bisphosphonate-related osteonecrosis of the jaws: a comprehensive review. J Oral Pathol Med. 2007, 36(6): 319-28 HUGHES, J. P.W. et al. Phosphorus necrosis of the jaw: a present-day study. Br J Ind Med. 1962, 19: 83-99 JACOBSEN, C. et al. Osteopathology of the jaw associated with bone resorption inhibitors: what have we learned in the last 8 years? Swiss Med Wkly. 2012, 142: 136. KATZ, H. Endodontic implications of bisphosphonate-associated osteonecrosis of the jaws: a report of three cases. J Endod. 2005, 31(11): 831-834 KYRGIDIS, A.; ANDREADIS, C. Epidemiologic studies are needed to clarify whether dental modalities could be predictors of bisphosphonate osteonecrosis of the jaw in breast cancer patients. Oncologist. 2009, 14(1) KYRGIDIS, A.; ARORA, A.; ANTONIADES, K. Rubber dam clamp trauma, root canal therapy, and osteonecrosis of the jaw. J Oral Maxillofac Surg. 2011, 69(7): 1854-5 KYRGIDIS, A. et al. Root canal therapy for the prevention of osteonecrosis of the jaws: an evidence-based clinical update. Aust Endod J. 2010, 36(3): 130-3 MCLEOD, N. M.; DAVIES, B.J.B; BRENNAN, P.A. Bisphosphonate osteonecrosis of the jaws; an increasing problem for the dental practitioner. Br Dent J. 2007, 203(11): 641-4 MIKSAD, R.A. et. al. Quality of life implications of bisphosphonate-associated Referências AKINTOYE, S. O. E; HERSH, E.V. Risks for jaw osteonecrosis drastically increases implementation of dental preventive measures in solid tumour patients with bone after 2 years of bisphosphonate therapy. J Evid Based Dent Pract. 2011, 12(2): metastases treated with bisphosphonates. The experience of the National Cancer 116-118. CARMONA, E.C. et al. Systematic literature review of biphosphonates and osteonecrosis of the jaw in patients with osteoporosis. Reumatol Clin, Jul 9. 2012. CHENG, A. et. al. The dental implications of bisphosphonates and bone disease. Aust Dent J, v.50, n.4 Suppl 2, Dec, p.S4-13. 2005. 60 osteonecrosis of the jaw. Oncologist. 2011, 16(1): 121-32 RIPAMONTI, C. I. et. al. Decreased occurrence of osteonecrosis of the jaw after Institute of Milan. Ann Oncol. 2009, 20(1): 137-45 SAVORY, W. S. A Case of Necrosis of the Jaw, and other Bones, from the Fumes of Phosphorus. Med Chir Trans. 1874, 57: 187-91 STOCKMAN, R. On the Cause of So-Called Phosphorus Necrosis of the Jaw in MatchWorkers. BR MED J. 1899, 1(1984): 9-10 Jan / Dez 2012 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Considerações sobre o diagnóstico, manifestações clínicas e tratamento da hanseníase de interesse para o cirurgião-dentista Considerations on the diagnosis, clinical manifestations and treatment of Leprosy of interest to the dentist Stela Mara Pratinha Delbone¹ Denise de Moura Senise1 Diurianne Caroline Campos França2 Igor Lira Gomes3 Tatyana de Souza Pereira4 1. Acadêmicas do Curso de graduação em Odontologia do Centro Universitário de Várzea Grande-UNIVAG; 2. Doutoranda em Odontopediatria – UNESP/Araçatuba; Professora das Disciplinas de Diagnóstico em Odontologia e Radiologia do Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG; 3. Especialista em Periodontia UFRN; Especialista em Radiologia e Imaginologia Odontológica - ABO-PB; Primeiro-Tenente (CD); 4. Doutora em Odontopediatria UNESP/Araçatuba. Endereço para correspondência: Rua Amaro Mesquita, 1688 – Bairro Morro Branco – Natal – RN CEP 59056-270 E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 14 de abril de 2013 e aceito em 15 de abril de 2013 Resumo A hanseníase é uma doença infecciosa crônica curável, de evolução lenta, causada pelo Mycobacterium leprae e que afeta o sistema nervoso periférico e a pele, bem como a mucosa bucal, provocando danos severos de incapacidades e deformidades. São máculas ou placas na pele apresentando hipopigmentação ou hiperpigmentação com alteração de sensibilidade local e nódulos. O presente trabalho tem por objetivo despertar o cirurgião-dentista para essa grave doença, alertando-o para as manifestações clínicas que muitas vezes não são observadas em seus pacientes, de modo a fornecer subsídios para que possam auxiliá-lo no diagnóstico e conduta a ser adotada frente às mesmas. Palavras-chave: hanseníase, odontologia, diagnóstico, sinais e sintomas. Abstract Leprosy is a curable chronic infectious disease, a slowly progressing disease caused by Mycobacterium leprae and affects the peripheral nervous system and skin and oral mucosa, causing severe damage to disability and deformity. Are macules or plaques on the skin hypopigmentation or hyperpigmentation presenting with abnormal tenderness and nodules. This paper aims to nurture the dentist for this serious disease, warning him of the symptoms that often are not observed in their patients, to provide subsidies so that they can assist you in diagnosis and management to be front of them adopted. Keywords: leprosy, dentistry, diagnosis, signs and symptoms. 61 R E B O M I 62 ANO 29 • Nº 1 e 2 Introdução Esta revisão da literatura visa à realização de uma fundamentação teórica por meio de levantamento e análise de informações já existentes entre os pesquisadores, permitindo a ampliação de conhecimentos. A hanseníase é uma doença infecciosa, cujas lesões são causadas pela proliferação do bacilo Mycobaterium lepra, tornado-se endêmica devido a associações de fatores como as más condições de higiene, alimentação, moradia, diagnóstico tardio e a falta de conhecimento em relação ao tratamento. (CUNHA, 2002). É uma doença que permanece como problema de saúde pública no Brasil, destacando-se algumas regiões de maior prevalência, como Norte, Centro-Oeste e Nordeste. (CORTELA e IGNOTTI, 2008). Uma das características dos portadores de hanseníase é a possibilidade de reações hansênicas, ou seja, são ações do sistema imunológico no qual invariavelmente ocorre piora das lesões neurológicas, conseqüentemente aumento das incapacidades. (URA, 2007). Os casos de hanseníase são classificados em: paucibacilar e multibacilar, possuindo características distintas uma da outra. Os sinais clínicos são essenciais para se obter melhor acurácia do diagnóstico clínico e conseqüentemente o tipo de tratamento ideal, evitando o aumento da morbidade e da persistência bacilar. (FERREIRA et al., 2010). O diagnóstico de hanseníase é, essencialmente, clínico e epidemiológico, complementado, sempre que possível, com exame baciloscópico e histopatológico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). O modo de transmissão da hanseníase é principalmente pelo convívio entre os doentes, no qual ainda não foram diagnosticados e tratados, sendo a principal via as mucosas aéreas superiores. (SANTOS et al., 2008). Dentre os tratamentos, destaca-se a poliquimioterapia, sendo considerado um dos mais importantes métodos de eliminação da hanseníase. (MARTELLI et al., 2002). O presente trabalho tem por objetivo, através de uma revisão de literatura, despertar o cirurgião-dentista para essa grave doença, alertando-o para as manifestações clínicas que muitas vezes são inobservadas em seus pacientes, de modo a fornecer subsídios para que possam auxiliá-lo no diagnóstico e conduta a ser adotada frente às mesmas. Revisão da Literatura Definição de Hanseníase A hanseníase é definida como uma doença infecciosa, crônica, cujo agente etiológico é o Mycobaterium leprae (M. leprae) e afeta o sistema nervoso periférico, a pele e alguns outros tecidos. (QUEIROZ, 2009). Um caso de hanseníase é definido como “uma pessoa que apresenta uma ou mais de uma das seguintes características e requer quimioterapia”. (MINISTÉRIO DA SAÚDES, 2002, p 17): - lesão(ões) de pele com alteração da sensibilidade; - acometimento de nervo(s) com espessamento neural; - baciloscopia positiva. Aspectos Históricos A hanseníase é um problema de saúde pública em vários lugares do mundo sendo observados principalmente: no Brasil, Índia, Indonésia e Nigéria. (NEVILLE et al., 2009) No Brasil os primeiros casos de hanseníase foram notificados no Rio de Janeiro no ano de 1600. A maior incidência ocorria nos portos onde os escravos eram desembarcados e conseqüentemente entravam no país; e os distritos da África de onde eles eram trazidos apresentavam- se endemicidade elevada. (QUEIROZ, 2009). Antigamente, esta enfermidade era considera como “castigo divino para purgar os pecados” e “sentença de mal incurável e deformante”, sendo uma crença, atravessada por séculos e séculos até a descoberta do bacilo e a cura que pudesse modificar estes pensamentos. Hanseníase no Brasil A hanseníase apresenta tendência de estabilização dos coeficientes de detecção no Brasil, mas ainda em patamares muito altos nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Essa informação fortalece o esforço pelo alcance da meta do PAC (Mais Saúde/MS), que propõe reduzir a doença em menores de 15 anos, mas se contrapõe à existência de regiões com aglomeração de casos e indícios de transmissão ativa. Essas con- Jan / Dez 2012 centram 53,5% dos casos detectados em apenas 17,5% da população brasileira, residentes em extensas áreas geográficas, sede de muitas tensões, o que adiciona maior complexidade a intervenções efetivas. A intensificação da vigilância epidemiológica nas áreas mais endêmicas e manutenção de ações efetivas naquelas com estabilização da endemia, depende de grande mobilização social, incluindo a vontade política de todos os gestores, compromisso e motivação dos técnicos e controle social (MS, 2008). Em todo o mundo, de 2004 a 2009, foram registrados 16.063 casos de recidiva por hanseníase. O Brasil apresentou 1.483 recidivas em 2009, o que equivale a 3,9% dos casos novos diagnosticados no ano. (FERREIRA et al., 2011) O alcance das metas propostas para 2011 depende da melhoria dos resultados de indicadores pactuados nas instâncias gestoras do SUS, quais sejam, a cura de todos os casos diagnosticados precocemente, a vigilância de contatos, especialmente nos casos menores de 15 anos, avaliação e monitoramento das incapacidades físicas apresentadas pelos casos já diagnosticados tardiamente, entre outros. Isso somente será possível com a expansão do acesso às oportunidades de diagnóstico, tratamento e vigilância (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). A tendência da detecção de casos novos de hanseníase é decrescente no país, mas nota-se, ainda, alta detecção nos estados das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, quando comparados aos estados das regiões Sul e Sudeste. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o risco estimado de recidiva após a implementação da Poliquimioterapia (PQT) é de 1,1% para os casos paucibacilares (PB) e de 0,8% para os multibacilares (MB) em nove anos após tratamento. Observam-se taxas de recidiva entre 3% e 17% com intervalo de tempo entre 2 e 15 anos para a ocorrência de recidiva. (SHETTY et al., 2005). As taxas de prevalência têm declinado ano a ano, resultado da consolidação do tratamento poliquimioterápico. Entretanto, as taxas de detecção de casos novos têm se mantido elevadas (ARAÚJO, 2003). Hanseníase em Mato Grosso Cerca de 93% da população do estado reside em municípios com prevalência superior a 5 casos/10.000 habitantes. Nos últimos sete anos o estado registrou uma média de 3.415 casos novos e uma média anual de 242 (7%) casos em menores de 15 anos, com coeficiente médio de detecção de 3,5 casos/10.000 habitantes, indicando transmissão recente e ativa da doença. (CORTELA e IGNOTTI, 2009). Certas regiões ainda mantêm um padrão hiperendêmico, onde 11 municípios foram definidos como prioritários pelo Ministério da Saúde, entre eles destaca-se o município de Cáceres. Esses dados evidenciam um grande atraso no diagnóstico, principalmente porque em sua maioria, são crianças que convivem com alguém que já tenha a doença. R E B O M I Reações hansênicas São reações do sistema imunológico em portadores de hanseníase. É durante esses episódios que invariavelmente ocorre piora das lesões neurológicas, conseqüentemente aumento das incapacidades. Há basicamente dois tipos de reações: uma que ocorre em pacientes com predomínio da preservação da imunidade celular específica contra o M. leprae, denominada de reação tipo 1, são casos de paucibacilar, e outra que ocorre em pacientes com esta imunidade pouco preservada ou ausente, denominada de reação tipo 2, ou Eritema Nodoso Hansênico, são casos de multibacilar. (URA, 2007) Classificação da hanseníase Atualmente a hanseníase é classificada em duas categorias distintas: paucibacilar e multibacilar, com a distinção entre elas influenciando a forma de tratamento recomendada. Hanseníase paucibacilar corresponde mais ao padrão tuberculoide de lepra e tem um pequeno número de lesões cutâneas bem delimitadas e hipopigmentadas. O envolvimento de nervos geralmente causa anestesia da pele afetada, muitas vezes acompanhada pela perda de sudorese. As lesões orais são raras na multibacilar. Multibacilares (MB): casos com mais de cinco lesões de pele (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007) 63 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 Segundo Prabhu e Daftary, após avaliação de 700 pacientes com hanseníase, a prevalência de envolvimento da pele da face foi de 28% e lesões orais foram observadas em 11,5%. As lesões tenderam a ser mais freqüentes durante os cinco primeiros anos da doença (NEVILLE et al., 2009). Hanseníase multibacilar é o padrão de lepra lepromatosa e tem início com numerosas máculas ou pápulas, hipopigmentadas, mal delimitadas na pele, tornando-se espessa com o passar do tempo. Paucibacilares (PB): casos com até cinco lesões de pele. (MS, 2002) A face é uma região de envolvimento comum, e os aumentos da pele podem levar à aparência de distorção facial (fácies leonina). O cabelo incluindo as sobrancelhas e cílios é freqüentemente perdido. (NEVILLE et al., 2009). Diagnóstico e prognóstico O diagnóstico da hanseníase é realizado através do exame clínico, quando se busca sinais e sintomas. Segundo Cortela e Ignotti (2008) deve-se suspeitar de um caso de hanseníase quando uma pessoa apresenta lesões ou áreas na pele (hipopigmentadas ou hiperpigmentadas), com alteração de sensibilidade, dormência ou formigamento das mãos e/ou pés, infiltração na face ou lóbulos da orelha. Sabe-se hoje que o bacilo, uma vez desenvolvida a doença, provoca lesões fundamentais como manchas e nódulos, principalmente no rosto, ulcerações na planta dos pés e nas mãos, perda de pelos, inclusive os da sobrancelha e dos cílios, insensibilidade das extremidades, entre outros sinais e sintomas (CUNHA, 2002). A história clínica dos pacientes é de extrema importância, pois ninguém melhor do que eles para conhecerem o próprio corpo. Examinar a pele, mãos, pés, e em casos de lesões, realizar o teste de sensibilidade, ou seja, toca-se levemente nas lesões cutâneas com um algodão, ponta de caneta ou um objeto similar, e, além disso, também examinar os nervos, e em presença de nervos espessados, podem ser um sinal de hanseníase (ILEP, 2000). Dessa forma, o exame clínico em relação à Odontologia, deve se estender além da cavidade bucal, contribuindo não só com o reconhecimento de sinais e sin- 64 tomas oriundos de alterações, como também buscando informações a respeito da saúde geral do paciente. Segundo RIBEIRO et al., (2008), há similaridades das manifestações clínicas e laboratoriais entre hanseníase e as doenças do tecido conjuntivo. Há descrições de pacientes com hanseníase que foram diagnosticados e tratados inicialmente como lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, dermatopolimiosite e vasculites sistêmicas dentre outras. O diagnóstico de hanseníase é, essencialmente, clínico e epidemiológico, complementado, sempre que possível, com exame baciloscópico e histopatológico. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008). No prognóstico, ocorre cura clínica em 100% dos casos incipientes iniciais, podendo ocorrer recidiva. Já em casos avançados têm perspectiva de cura em 60% dos indivíduos nesta situação (BORAKS, 2001). Manifestações clínicas de interesse para o cirurgião-dentista As lesões hansênicas, quando ocorrem na cavidade bucal, evoluem de forma insidiosa e assintomática, formando nódulos eritematosos ou amarelados, geralmente múltiplos, principalmente no palato duro. Os dois terços anteriores da língua podem demonstrar atrofia por regressão papilar e áreas nodulares infiltradas. Complicações locais como úlceras e perfurações nasopalatinas eventualmente se estabelecem em decorrência das reações hansênicas. (COSTA, 2008). Segundo Magliari (2005), as alterações que a hanseníase pode apresentar na cavidade bucal, depende da forma da doença e de seu tempo de evolução. No tipo tuberculóide, em fase aguda, encontra- se lesões labiais como descamação, descoloração, tumefação e fácil sangramento gengival. Na forma virchowiana, encontra-se além das alterações específicas nas mucosas, descalcificação e destruição da parte orgânica do osso, principalmente no osso alveolar, espinha nasal anterior e região de palato. Modo de transmissão A doença é transmitida principalmente por meio do convívio com os doentes do tipo virchowiano ou dimorfo que ainda não foram diagnosticados e não iniciaram Jan / Dez 2012 tratamento. Esses indivíduos possuem carga bacilar suficiente para favorecer a transmissão e são caracterizados pela infiltração progressiva e difusa da pele, face incluindo os pavilhões auriculares, mucosas das vias aéreas superiores, olhos, testículos, nervos, até mesmo linfonodos, fígado, baço, podendo levar ainda, a madarose, ou seja, a queda de pelos. (ARAÚJO, 2003). As principais fontes de bactérias são provavelmente as mucosas das vias aéreas superiores e as características intrínsecas da bactéria dependem, sobretudo, de sua relação com o hospedeiro e do grau de endemicidade do meio. (SANTOS et al., 2008). Tratamento Muitas foram às tentativas de cura da doença através das plantas medicinais, banhos com águas termais, banhos de lama, sangrias, choques elétricos, alimentação específica e até picadas de cobras. As cobras exerceram papel importante na tentativa de cura da doença, realizando tratamentos feitos com a carne e o veneno delas. (CUNHA, 2002). A poliquimioterapia é considerada o instrumento mais importante na eliminação da hanseníase e foi introduzida no Brasil a partir de 1986. Esses esquemas incorporam combinação de drogas bactericidas e bacteriostáticas, Rifampicina, Dapsona, acrescidas de Clofazimina em pacientes, sendo considerados efetivos seguros e de duração máxima dois anos. (MARTELLI et al., 2002). O tratamento é longo e os medicamentos utilizados na poliquimioterapia podem provocar efeitos colaterais tais como: gastriste, metahemoglobinemia, hepatite, síndrome do intestino delgado, síndrome pseudo-gripal. Sendo assim, tais questões podem contribuir efetivamente para o abandono do tratamento, portanto, tornase necessário conhecer esses efeitos, para que se possa prevenir e diagnosticar a ocorrência de tais efeitos. (GOULART et al., 2002) Segundo o MINISTÉRIO DA SAÚDE (2007) é de grande importância o uso da vacina BCG (bacilo de Calmette-Guërin), como medida de prevenção. A aplicação da vacina BCG depende da historia vacinal, seguindo as seguintes recomendações: sem cicatriz – prescrever uma dose, com uma cicatriz de BCG – pres- crever uma dose e com duas cicatrizes de BCG – não prescrever dose. Geralmente, a BCG é administrada entre os 10 e os 14 anos de idade, apresentando uma taxa de eficácia de 70-80%, com cobertura de aproximadamente 15 anos. R E B O M I Conclusão A hanseníase provoca grande sofrimento, tanto físico quanto social e psicológico. A capacitação dos profissionais da saúde no reconhecimento de doenças infecciosas, bem como a hanseníase dentre outras; e a realização de encaminhamentos médicos é essencial. Além de buscar a conscientização da população, a uma prática regular de auto cuidado, para que possam ser tomadas medidas de prevenção e tratamento de incapacidades e de deformidades. Frente ao exposto, e diante do fato da hanseníase ser uma doença de caráter problemático na saúde pública no Brasil, o cirurgião-dentista, enquanto elemento essencial nos serviços de saúde deve conhecer as manifestações clínicas da mesma, a fim de realizar o diagnóstico precoce e por efeito, melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A hanseníase ainda é uma doença de significativa prevalência, sendo necessária uma revisão das atuais políticas públicas de saúde para melhor controle desta doença, uma vez que a presença de incapacidades físicas decorrentes dessa doença pode ser evitada ou minimizada, através de um diagnóstico e tratamento corretos. Referências ARAÚJO, M.G. Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 36(3): 373-382 mai-jun, 2003. BORAKS, S. DIAGNÓSTICO BUCAL. 3ª ed. Artes Médicas, 2001. 426 p. CORTELA, D.C.B.; IGNOTTI, E. Lesões visíveis na hanseníase: o papel do cirurgiãodentista na suspeita de casos novos. Rev. Bras. Epidemiol. 2008; 11(4): 619-32. CORTELA, D.C.B.; IGNOTTI, E. Conhecimento e experiências do cirurgião-dentista sobre hanseníase em Cáceres, MT, Brasil. Rev. odonto ciênc. 2008; 23 (3): 243-250. CORTELA, D.C.B.; IGNOTTI, E. A hanseníase e o cirurgião-dentista: integralidade na atenção ao portador da doença. Cáceres-MT: Editora Unemat, 2009. COSTA, M.R.S.N. 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Cadernos de prevenção e reabilitação em hanseníase; n.2, Brasília-DF, 2008. 66 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cadernos de atenção básica. Vigilância em saúde. 2ª diagnóstico diferencial com outras doenças reumáticas. Rev. Bras Reumatol, 2009; 49(5): 623-9. SANTOS, A.S. et al. Fatores de risco para trasmissão da Hanseníase. Res. Bras Enferm, Brasília 2008; 61(esp): 738-43. SHETTY et al. Clinical, histopathological and bacteriological study of 52 referral MB cases relapsing after MDT. Lepr Rev. 2005;76(3):241-52. URA, S. Tratamento e controle das reações hansênicas. Hansen Int. 2007; 32(1): 67-70. Jan / Dez 2012 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Avaliação da resistência das conexões: interna (hexagonal e cone morse) e externa Evaluation of strength of connections: internal (hexagonal and cone morse) and external. Lisandra de Almeida Giannotti¹ Anísio Lima da Silva² 1.2°Ten Dentista da Força Aérea Brasileira; Especialista em Prótese Dentária-CETAO; Pós graduanda em Dentística-ABCD e Mestranda em Clínicas Odontológicas-UFMS 2.Doutor de Ciências da Saúde; Professor Associado da Faculdade de Odontologia da UFMS; Membro titular da ABOMI. Endereço para correspondência: Rua 15 de novembro, 2701 – Jardim dos Estados – CEP 79020300 – Campo Grande – MS E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 04 de abril de 2013 e aceito em 30 de abril de 2013 Resumo Os implantes dentários atuais possuem conexões internas e externas, além do cone Morse, um tipo especial de conexão interna. A maioria dos trabalhos pesquisados relata uma superioridade quanto à resistência, dos implantes tipo hexágono interno (conexões internas), em especial o cone Morse, frente aos implantes com conexões externas (hexágono externo), no entanto essa percepção não é unânime entre os autores consultados. Palavras-chave: implantes dentários, hexágono interno, hexágono externo, cone morse. Abstract Dental implants have current internal and external connections, in addition to the Morse taper, a special type of internal connection. Most of the studies reviewed reported a superiority for resistance, internal hexagon implant type (internal connections), in particular the Morse taper, compared to implants with external connections (external hexagon), but this perception is not unanimous among the authors consulted. Keywords: dental implants, internal hexagon, external hexagon, morse taper. 67 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 Introdução Os implantes odontológicos são utilizados com sucesso para pacientes totalmente edêntulos, desde 1965. Esse sucesso está na dependência da osseointegração, uma conexão direta, estrutural e funcional entre o osso vital organizado e a superfície de um implante de titânio capaz de receber carga funcional. Atualmente, os implantes possuem três tipos de conexão: externa, interna e o cone Morse, que é um tipo diferente de conexão interna. Um dos maiores problemas encontrados na conexão externa, idealizada por Branemark, especialmente para restaurações unitárias, era o afrouxamento da conexão. Para minimizar e eliminar estes problemas da conexão externa, foi idealizada a conexão interna (KRAISAT et al., 2002), com o intuito de diminuir o afrouxamento entre as partes. Com o aprimoramento dos sistemas de conexão, o grupo ITI (Straumann) criou uma conexão interna, o cone Morse, visando proporcionar uma melhor distribuição de cargas, devido à fricção entre as partes do implante-abutment, bem como melhorar a resistência do implante. O presente trabalho revisa a literatura sobre os três tipos de conexão dos implantes osseointegráveis, quanto à resistência do implante e a resistência ao afrouxamento do sistema implante-abutment. Revisão de Literatura Balfou e O’Brian, em 1995 analisaram um estudo comparativo de abutments antirotacionais para elementos unitários, identificando as limitações funcionais e mecânicas. Três formatos de conexões diferentes foram avaliados, com correspondente abutment unitário: octógono interno, hexágono interno e hexágono externo. Foram realizado testes de torque, cargas compressivas e testes de fadiga com cargas cíclicas. Para os testes de torque, as amostras foram fixadas rigidamente e foi aplicada força lateral até que houvesse a falha de um dos componentes. Para os testes de cargas compressivas, as amostras foram fixadas a uma máquina de ensaios com angulação de 30 graus sob condição clínica de um elemento isolado. Para os ensaios de fadiga, as amostras foram submetidas a cargas 68 cíclicas de 14 hertz. Os resultados mostraram que o implante tipo octógono interno, nos testes de resistência ao torque tiveram comportamento inferior aos outros desenhos, sendo os valores de 37,3N. para o octógono interno, 98,3N para o hexágono externo e 192,1N.cm para o hexágono interno. Nos testes de cargas compressivas, os resultados mostraram maior resistência para o hexágono interno, sendo necessária a força de 814N para provocar a falha. Para os testes de resistência à fadiga, os melhores resultados em ordem decrescente foram de: octógono interno-400N, hexágono interno-367 N e hexágono externo- 242N. Norton, em 1997 realizou em sua avaliação in vitro a resistência da interface cônica comparada com a junta de topo da interface do formato do implante Branemark. Os resultados mostraram que implantes tipo conexão interna com interface abutment/implantes tipo cônica acentuam a resistência a forças de flexão em um grau significativo. Em 1998, Mcglumphy et al. realizaram uma explicação do funcionamento do parafuso e descreveram a causa do afrouxamento. A resistência da união é mais afetada pela força de aperto (torque) que pela resistência a tensão dos parafusos. A pré-carga, para os autores, é determinada por: torque aplicado; liga do parafuso; desenho da cabeça do parafuso; liga do pilar; superfície do pilar e lubrificante. Os fatores que limitam a quantidade de torque aplicado são o limite da resistência mecânica do parafuso e o modo como o torque é aplicado. Khrasait et al. (2002) avaliaram, em seu estudo in vitro, o efeito do formato da conexão em relação à resistência a fadiga e falhas de 2 sistemas de implantes para elementos unitários: Branemark (hexagonal) e ITI (cônica). Concluíram que, em relação à resistência à fadiga e falha nos implantes, o sistema de implantes ITI é melhor do que o sistema Branemark. Ueda, em 2003 realizou uma avaliação in vitro do torque e contra-torque, na inserção e remoção de parafusos de pilares intermediários em implantes de hexágono externo e interno. Concluiu-se que a perda de torque foi em média, de 34% para os parafusos de implantes de hexágono externo e de 39,63% para o parafuso de hexágono interno. Jan / Dez 2012 Weigl, em 2004, em sua revisão de literatura, descreveu a característica mecânica do implante da conexão cone Morse comparado com outros sistemas de conexão. Os resultados foram excelentes para coroas com elementos unitários, na região de elementos laterais, sendo que ocorreu afrouxamento em apenas 1,3% de 233 implantes. Maeda et al., em 2006 avaliaram com um estudo in vitro, a distribuição do padrão de estresse entre sistemas de hexágono externo e interno. Conclui-se que os parafusos com hexágono interno mostraram amplamente a distribuição de forças na região da ponta do parafuso, comparada como hexágono externo. Soares et al., em 2006, apresentaram características e resultados de ensaios realizados em implantes, utilizando o método de elementos finitos como método de ferramenta para validação do projeto, junto com ensaios experimentais. Concluíram que os implantes tipo cone Morse (conexão interna) apresenta ótima adaptação quanto aos componentes protéticos e resistência aos esforços transversais e axiais; possuem características externas que melhoram a resistência do implante e suportam sem problemas, torque de 150N. Em 2008, Nunes. em sua revisão de literatura, avaliou as conexões externas e internas e concluiu que os implantes de hexágono externo apresentam mais problemas em relação à resistência, mas devido ao fato de estarem sendo empregados há muito tempo, conhecemos bem esses problemas e limitações. Em 2009, Dantas. A. avaliou a resistência à flexão do conjunto implante/pilar em função da geometria e tipo de superfície do parafuso do pilar. Concluiu que parafusos de pilar de titânio com roscas em toda a sua extensão proporcionam aumento significativo na resistência à flexão do conjunto pilar/implante/parafuso quando comparados com parafusos com roscas somente na extremidade e parafusos de titânio com roscas na extremidade e revestidos por lubrificantes sólidos proporcionam aumento da resistência à flexão ao conjunto implante/pilar/parafuso de pilar em relação a parafusos apenas fresados. Segundo Dias et al., em 2009, realizaram uma revisão bibliográfica um estudo comparativo entre a co- nexão interna e externas disponíveis. Concluiu-se que deve haver uma avaliação criteriosa em relação a cada marca comercial. Quanto menor a tolerância durante a fabricação dos componentes, mais precisa e estável será a interface implante-abutment um sistema mais resistente muitas vezes não é o melhor sistema, pois devemos sempre levar em conta a tolerância biológica. A tolerância ao estresse deve ser menor no complexo implante-prótese, preferencialmente no parafuso, do que no tecido ósseo adjacente. Segundo Soares et al. e, em 2009, avaliaram implantes cônicos com conexão hexágono interno. Foram analisados protótipos de implantes e enviados ao Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM) para ensaios mecânicos de compressão visando quantificar a resistência do conjunto implante/abutment ao carregamento oblíquo, simulando as cargas exercidas pelas forças mastigatórias. Os ensaios mostraram que os implantes cônicos suportam cargas máximas de 1.265 N. Para os ensaios mecânicos de torção, os resultados destes ensaios mostraram que os implantes cônicos com conexão hexágono interno suportam torque de escoamento em média de 293Ncm. Os parafusos de titânio foram submetidos a ensaios de torque visando quantificar a sua resistência. Os resultados mostraram que os parafusos suportam torque máximo da ordem de 60 Ncm. Em 2011, Soares. e Takamori . avaliaram implantes dentais com conexão do tipo hexágono interno quanto à resistência à fadiga. No processo mastigatório, os carregamentos cíclicos promovem falhas nos implantes. Cargas de intensidade variada ou impacto aplicados por longos períodos podem provocar fraturas. Foram realizados ensaios padronizados por normas da International Organization for Standardization – ISSO.Os padrões para a resistência à fadiga da norma “ISO 14801:2007 Dentistry – Implants – Dynamic fatigue test endosseus dental implants”. Implantes com diâmetro de 3,8 mm e comprimento de 13 mm com conexão hexágono interno (SIN – Sistema de Implante, São Paulo, SP, Brasil) foram utilizados como corpos de prova para ensaios mecânicos de compressão e fadiga.Foram utilizados, acima dos implantes, abutments R E B O M I 69 R E B O M I 70 ANO 29 • Nº 1 e 2 cimentados com diâmetro de 3,8 mm e altura de cinta de 2 mm. Nos ensaios de compressão (847 N) e fadiga (167,4 N), os valores obtidos para os implantes foram compatíveis com os valores apresentados na literatura. Para Soares. e Takamori., em 2011, em sua avaliação de implantes de hexágono interno quanto à resistência à fadiga e compressão, os valores foram compatíveis com os valores da literatura. Discussão Conclusão Segundo alguns autores (Norton, 1997; Khrasait, 2002 e Weigh em 2004), a conexão interna tipo cone Morse possui uma melhor resistência em relação às outras conexões. Nunes em 2008 concluiu, em estudo de revisão de literatura, que os implantes de hexágono externo apresentam maior problema em relação à resistência. Esses resultados são discordantes de Balfour e O’Brian (1995), para quem a conexão hexágono externo tem uma melhor resistência ao torque. O estudo de Ueda (2003), demonstrou em estudo de torque e contra-torque, que o afrouxamento dos parafusos ocorre mais (39,63%) nas conexões internas do que nas conexões externas (34%). O tipo de geometria da superfície do parafuso do pilar em relação à resistência à flexão foi avaliado por Dantas., em 2009, que concluiu que parafusos de pilar de titânio com roscas em toda a sua superfície possuem uma maior resistência à flexão do conjunto pilar/ implante/parafuso, enquanto Maeda et al. em 2006 concluíram em seu estudo in vitro que a conexão tipo hexágono interno tem melhor distribuição de forças na região da ponta do parafuso, quando comparada com o hexágono externo. Porém, para Mcglumphy et al. (1998), a resistência de união é mais influenciada pela força de aperto (pré-carga) de torque do que pela resistência à tensão dos parafusos. Para Dias et al. (2009), a região de tecido ósseo adjacente deve ser mais tolerante ao estresse do que o complexo implante-prótese. A resistência ao torque é maior nos implantes com conexões internas, especialmente o tipo cone Morse, do que nos implantes com conexões externas, sendo influenciada pelo parafuso de fixação. Referências BALFUOR A. E O’BRIAN GR. Comparative study of antirotational single tooth abutments. J.Prosthet Dent 1995; 73: 36-43. DANTAS A. K. Resistência à flexão do conjunto implante/pilar em função da geometria e tipo de superfície do parafuso pilar. 2009. Dissertação(Mestrado)Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2009.área de concentração: reabilitação oral. DIAS R. P. et al, 2009. Conexões Implante-Abutment. Salusvita, Bauru, 2009, 28(3):277. 288, 2009 KHRASAIT et al. Fatigue resistance of two implant/abutment joint designs. J Prosthet Dent 2002; 88: 604-10 . MAEDA et. al. In vitro differences of stress concentrations for internal and external hex implant-abutment connections: a short communication. Journal of oral Reabilitation. 2006; 33:75-78. MCGLUMPHY et al. Implant screw mechanics. Dent Clinics North Am. 1998; 42: 71-89. NORTON,M.R. An in vitro evaluation of the strength of an internal conical interface compared to a butt joint interface in implant design. Clin Oral Impl Res.1997; 8: 290-298. NUNES J.L. Revisão dos principais tipos de implantes e suas conexões.2008. Monografia(Especialização)-ABCD, Camboriú, 2008. SOARES M.A. D. Implante Cone Morse ultra rosqueante de torque interno – Parte I: desenvolvimento do produto. Innovations implant journal. 2006; 01 - número 01. SOARES M.A. D. et AL. Aperfeiçoamento de sistema de implantes cônicos com conexão hexágono interno. Innov Implant J, Biomater Esthet. 2009; 4( 2): 83-89. SOARES M. A. D. e TAKAMORI E.R. Avaliação de implantes dentais com conexão do tipo hexágono interno quanto à resistência à fadiga. Innov Implant J, Biomater Esthet. 2011; 6( 2): 41-46. WEIGL, P.New Prosthetic Restorative Features of the Ankylos Implant System. JournalOral Implants. 2004; 30( 3): 178-188. UEDA C. Avaliação in vitro do torque e contra-torque, na inserção e na remoção de parafusos de pilares intermediários em implantes de hexágono externo e interno. 2003. Dissertação (Mestrado)-USP, São Paulo, 2003. Jan / Dez 2012 R E REVISÃO DE LITERATURA B O M I Novo código de ética odontológica brasileiro (análise crítica sobre as principais mudanças apresentadas) New brazilian new code of dental ethics (critical analysis on major changes verified) Sandro Fernandes da Silva1 Rodolfo José Gomes de Araújo2 Magna Rogéria Silva Costa3 Natália Carvalho Araújo3 Roberto de Souza Pires4 Giane Bestene de Oliveira5 Leila Maués Oliveira Hanna6 1.Ten Cel Dent – Chefe da Odontoclínica do Hospital Geral de Belém (HGeBe) 2.2º Ten ODT – Hospital Geral de Belém, Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Federal do Pará (UFPA) 3.Cirurgiãs Dentistas – Escola Superior da Amazônia (ESAMAZ) 4.Presidente do Conselho Regional de Odontologia do Pará (CROPA) 5.Presidente da Comissão de Ética do Conselho Regional de Odontologia do Pará 6.2º Ten Dentista – Força Aérea Brasileira, Mestre em Clínica Odontológica – Universidade Federal do Pará (UFPA) Endereço para correspondência: Av. Bras de Aguiar 681 / 902 – Nazaré – Belém – Pará – Brasil CEP: 66035-415 E-mail: [email protected] Recebido para publicação em 04 de abril de 2013 e aceito em 20 de abril de 2013 Resumo Há algum tempo, os profissionais da odontologia reivindicavam que o código de ética odontológica (CEO) da Odontologia brasileira seja atualizado. Desde a sua aprovação na última Conferência Nacional de Ética Odontológica (CONEO), a sociedade, a atividade profissional e as formas de se fazer publicidade sofreram muitas mudanças. Para aprovar sua reformulação, o Conselho Federal de Odontologia realizou, em parceria com os Conselhos Regionais, a 4ª CONEO, no período de 07 a 10 de novembro de 2011. Este estudo teve como objetivo Esclarecer e justificar as principais mudanças realizadas com o surgimento do novo código de ética brasileiro fazendo um estudo comparativo do CEO 2006 e CEO 2012. Palavras-chave: ética, ética odontológica, assistência ao paciente. Abstract Some time ago, dental professionals claimed that the code of ethics dental officer (CEO) of the Brazilian Dentistry was upgraded. Since its approval in the last National Conference of Dental Ethics (CONEO), society, professional activity and ways of doing advertising, have undergone many changes. To approve a recast, the Federal Council of Dentistry held in partnership with the Regional Councils, the 4th CONEO, from 07 to 10 November 2011. This study aimed to clarify and justify major changes made with the emergence of the new code of ethics Brazilian doing a comparative study of CEO in 2006 and CEO in 2012. Keywords: ethics, dental ethics, patient care. 71 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 Introdução Com a criação do Conselho Federal (CFO) e dos Conselhos Regionais de Odontologia (CRO) em 1964, através da Lei n° 4.324 (DOU, 1964), a fiscalização do exercício da Odontologia passou para a competência desses órgãos, que apresentam como principal missão a supervisão da ética profissional em toda a República, zelando e trabalhando pelo seu perfeito desempenho no campo odontológico (SILVA et al, 1997). O Código de Ética Odontológica teve a sua instituição pelo Conselho Federal de Odontologia em 1976 (RAMOS, 1997), tem como função regular os direitos e deveres do cirurgião-dentista, profissionais técnicos e auxiliares, e pessoas jurídicas que exerçam atividades na área da Odontologia, em âmbito público e/ou privado, com a obrigação de inscrição nos Conselhos de Odontologia, segundo suas atribuições específicas (CEO 2012). Este estudo teve como objetivo Esclarecer e justificar as principais mudanças realizadas com o surgimento do novo código de ética brasileiro fazendo um estudo comparativo do CEO 2006 e CEO 2012. Revisão de Literatura O Código de Ética Odontológica teve a sua instituição pelo Conselho Federal de Odontologia em 1976 (RAMOS, 1997). Ao longo do tempo, este Código de Ética passou por algumas modificações e hoje se encontra em sua quarta edição, que entrou em vigor a partir de 20 de maio de 2003, aprovado pela Resolução CFO-42/2003 (DOU, 2003). Recentemente, apenas o capítulo que trata da comunicação em Odontologia sofreu uma leve modificação referente à publicidade e propaganda odontológica. A nova redação alterando o texto do capítulo XIV foi aprovada pela Resolução CFO-71, (DOU, 2006) de 6 de junho de 2006 (SILVA et al, 1997). É uma construção da categoria profissional odontológica que busca orientar a conduta dos cirurgiões-dentistas no que diz respeito aos aspectos éticos de sua prática profissional. Os primeiros códigos foram elaborados por comissões constituídas para este fim. Posteriormente, sua elaboração passou a ser fruto de conferências constituídas por diversas entidades representativas, tornando-se mais próximo da realidade vivida 72 pelos profissionais da área. Desta forma, por meio da linguagem usada e da maneira como são abordadas as diferentes questões e descritas suas atividades, o código manifesta o tipo de reflexão ética a ser observado pelos cirurgiões-dentistas. (PYRRHO et al, 2009) O Conselho Federal de Odontologia promoveu nos dias 14 e 15 de julho de 2011 em Brasília, a CCXLIV Assembleia Conjunta entre todo o plenário federal e os presidentes dos Conselhos Regionais de Odontologia. Entre os temas abordados, o encontro foi palco de diretrizes para a concretização da 4ª CONEO, que tem como base discursiva a reforma do código de ética da categoria odontológica. Entre inclusões, exclusões e modificações de artigos, incisos e parágrafos, no total foram 511 propostas advindas das Pré-Conferências de Ética de Odontologia, realizada pelos Conselhos Regionais de Odontologia por todo o país. A 4ª CONEO foi realizada no estado de Goiás, entre 7 e 10 de novembro de 2011, e teve como objetivo promover ampla revisão do atual Código de Ética, de forma que o comportamento ético-profissional da Odontologia brasileira se mantenha coeso, como sempre foi, com as necessidades da sociedade brasileira. Ao longo desses anos, ocorreram muitas transformações, tanto no que diz respeito à maior difusão de informações entre os próprios profissionais e os usuários de seus serviços, quanto com relação ao aprimoramento das tecnologias empregadas nos tratamentos odontológicos. Assim, essa nova realidade demanda da categoria odontológica um debate constante de atualização e instrumentalização da profissão em torno de suas práticas, suas técnicas e sua ética. 1.1. Princípios da Ética Odontológica Os motivos que levam uma pessoa a escolher determinada profissão, na maior parte dos casos, são influenciados e estão relacionados a questões e valores individuais e sociais. No entanto, na relação profissional, cabe ressaltar que a conduta dos envolvidos deve estar sempre pautada nos ditames éticos, seja na relação com os clientes ou na relação com seus pares. Jan / Dez 2012 Nesse viés, destaca-se que a ética surgiu na Grécia. Segundo os filósofos, pode-se explicá-la como uma “análise do comportamento humano ou como ciência normativa, trabalhando no estudo do ser humano e na origem do universo”. E foi Hipócrates o pai da ideia de que a ética “nasceu como princípio universal da conduta humana para a prática em saúde”. (MORANO, 2003) Nas palavras de Evaristo (2008), a ética pode ser entendida como a “ciência que estuda os valores e virtudes do homem, estabelecendo um conjunto de regras de conduta e de postura a serem observadas para que o convívio em sociedade se dê de forma ordenada e justa”. A ética, com base em valores intrínsecos e fundamentais, “representa um atributo de consciência ou elemento formador do caráter, particularmente, moral, que oferece ao indivíduo a polaridade pelo bem ou pelo mal, pelo certo ou pelo errado, pelo falso ou verdadeiro [...]” (GOMES, 1996 apud MORANO, 2003). Quanto aos profissionais da saúde, a ética deve imprimir no profissional a necessidade de formar uma consciência de relação, desenvolvendo na personalidade o respeito incondicional aos direitos fundamentais. Portanto, o objetivo imediato da educação ética para o profissional da saúde vem a ser: “recomendar e propor valores, moldar o caráter, promover os princípios essenciais e alcançar como resultado a modelagem das virtudes, mínima e consistente, para uma conduta profissional adequada” (ESPOSITO, 1979 apud MORANO, 2003). De acordo com Morin (2002), alcançar esta ética implica analisar a complexa concepção do gênero humano que, por sua vez, comporta a tríade indivíduo/ sociedade/espécie. A ética, com base em valores intrínsecos e fundamentais, “representa um atributo de consciência ou elemento formador do caráter, particularmente, moral, que oferece ao indivíduo a polaridade pelo bem ou pelo mal, pelo certo ou pelo errado, pelo falso ou verdadeiro [...]” (GOMES, 1996 apud MORANO, 2003). O Código de Ética profissional, por sua vez, estabelece padrões esperados na prática específica de cada categoria, buscando evidenciar a natureza ética do tra- balho e assegurar valores relevantes para a sociedade e para as práticas desenvolvidas, dentro de um padrão de conduta reconhecido. No campo da odontologia, a ética também representa importante motivo de respeito e preocupação, especialmente em virtude do crescente número de profissionais formados na área e, consequentemente, da elevação da concorrência no mercado de trabalho (Garcia, S.J.; Caetano, J.C. 2008) Segundo Amorim e Souza (2008), a competição dentro do mercado de trabalho odontológico é acirrada porque a “população de dentistas cresce cerca de 5,7% ao ano, enquanto o crescimento anual da população é de 1,6%”. Por conseguinte, denota-se que a ausência de adequada formação ético-profissional e o aumento da competitividade acaba levando o cirurgião-dentista a desconsiderar a dimensão ética da prática profissional e, com isso, desrespeitar os ditames normativos contidos no Código de Ética Odontológica (Brasil. Constituição, 1988). Aos profissionais infratores o Código de Ética Odontológica prevê as seguintes penas: advertência confidencial, em aviso reservado; censura confidencial, em aviso reservado; censura pública, em publicação oficial; suspensão do exercício profissional por até 30 dias e cassação do exercício profissional ad referendum do Conselho Federal (TRAVAGLINI, 2005). Para apurar as denúncias de possíveis ofensas aos dispositivos do Código de Ética Odontológica, bem como aplicar as devidas penalidades, é que existe o chamado Processo Ético, regulado pela Resolução CFO-59/2004, que institui o Código de Processo Ético Odontológico. (GARCIA e CAETANO, 2008) O processo ético, no que tange à sua natureza, constitui um processo administrativo disciplinar que, nas palavras de Léo da Silva Alves (1999), “[...] é o instrumento utilizado na regra como próprio para viabilizar a aplicação de sanções disciplinares no âmbito da Administração Pública direta, autárquica, ou no seio das fundações públicas”. No entanto, ressalta-se que, embora o processo ético apresente como característica a simplicidade, há R E B O M I 73 R E B O M I 74 ANO 29 • Nº 1 e 2 um condicionamento legal ao Código de Processo Ético Odontológico regulamentado pelo Conselho Federal, bem como às demais regras processuais previstas no ordenamento jurídico brasileiro como indispensáveis, especialmente no que se refere à Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Desta maneira, o processo ético encontra-se pautado nos princípios da legalidade, moralidade e inviolabilidade do direito das partes. Em toda a sua tramitação, mesmo ocorrendo em ambiente administrativo, são mantidos consagrados os direitos da ampla defesa e do contraditório e o livre acesso das partes aos autos do processo, com o fim de garantir total transparência e credibilidade a todos os atos praticados no processo-ético disciplinar movido pelos Conselhos de Odontologia (GARCIA e CAETANO, 2008). É importante salientar que, por princípio, o Código de Ética Odontológica deve ser rotulado como um instrumento orientador, longe de vislumbrar um objetivo punitivo ao cirurgião-dentista, bem como perseguir a consecução do bem comum dos pacientes, dos profissionais e da sociedade em que ambos se inserem Entretanto, é importante reconhecer que os problemas éticos surgem no relacionamento pessoal ou nas relações de trabalho, provavelmente porque os valores morais dos profissionais não estão suficientemente interiorizados para que possam agir sempre da forma considerada eticamente correta (SALES et al. 2004). Nessa perspectiva, a Lei nº 4.324, de 14 de abril de 1964 (DOU, 1964), cuidou de armar o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Odontologia com judiciosos éticos, de forma a lhes possibilitar a execução de processos éticos, como julgadores técnicos, aceitando-se a forma contestatória e demais normas consagradas e admitidas no Direito (SAMICO, 1990). Infelizmente, nos últimos anos, têm-se observado um substancial aumento no número de denúncias que chegam aos Conselhos Regionais de Odontologia, referente a infrações éticas cometidas por cirurgiõesdentistas. Estes problemas éticos tendem a crescer cada vez mais com o desenvolvimento tecnológico, com o avanço da ciência e com a democratização da informação em níveis globais, tanto para o profissional como para o paciente. (OLIVEIRA et al., 2008) Metodologia • Leitura exploratória de artigos correlacionados ao tema; • 3 visitas as Conselho Regional de Odontologia Pará; • Leitura de Atas de Reuniões e Conferências; • Leitura e comparação entre os Códigos de Ética Odontológica; Notícias retiradas do site do Conselho Federal de Odontologia. Discussão Após analisar o Novo Código de Ética (CEO 2012), comparando ao Código de 2006, observou-se diversas mudanças, que tiveram origem a partir da necessidade dos profissionais. Mudanças essas que incentivaram a realização deste trabalho, que serão comparadas neste capítulo. A discussão será feita através da comparação direta das mudanças ocorridas nos dois códigos de ética odontológica. Comparação entre CEO 2006 e CEO 2012 As mudanças foram realizadas desde o art. 1°, em que no CEO 2006 rezava: “O Código de Ética Odontológica regula os direitos e deveres dos profissionais, das entidades e das operadoras de planos de saúde, com inscrição nos Conselhos de Odontologia, segundo suas atribuições específicas.” Já no CEO 2012, lê-se: “O Código de Ética Odontológica regula os direitos e deveres do cirurgião-dentista, profissionais técnicos e auxiliares, e pessoas jurídicas que exerçam atividades na área da Odontologia, em âmbito público e/ou privado, com a obrigação de inscrição nos Conselhos de Odontologia, segundo suas atribuições específicas.” No art. 1° do CEO 2006, a palavra profissionais foi substituída por cirurgião-dentista, profissionais técnicos e auxiliares, e pessoas jurídicas que exerçam atividades na área da Odontologia, a fim de especificar cada um de acordo com sua categoria dentro da classe profissional Odontológica. Jan / Dez 2012 Ainda no art. 1° “das entidades e das operadoras de planos de saúde, com inscrição nos Conselhos de Odontologia” foi modificado para “em âmbito público e/ou privado, com a obrigação de inscrição nos Conselhos de Odontologia”, para o novo Código foi substituído “das entidades e das operadoras de planos de saúde”, por “em âmbito público e/ ou privado”, na intenção de esclarecer ambos os setores o qual os profissionais possam exercer suas atividades, acrescentou-se “obrigação de” fortalecendo o dever de todos estarem inscritos no Conselho de Odontologia, sugestões dadas pela Pré-CONEO do Estado do Rio Grande do Sul. No CEO 2012, no seu art. 2° foi acrescentado a expressão “e do meio ambiente”, sendo proposto por Tocantins. No mesmo capítulo acrescentou-se: “Art. 3º. O objetivo de toda a atenção odontológica é a saúde do ser humano. Caberá aos profissionais da Odontologia, como integrantes da equipe de saúde, dirigir ações que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos serviços de saúde, integralidade da assistência à saúde, preservação da autonomia dos indivíduos, participação da comunidade, hierarqui-zação e descentralização político administrativa dos serviços de saúde. Art. 4º. A natureza personalíssima da relação paciente/profissional na atividade odontológica visa demonstrar e reafirmar, através do cumprimento dos pressupostos estabelecidos por este Código de Ética, a peculiaridade que reveste a prestação de tais serviços, diversos, portanto, das demais prestações, bem como de atividade mercantil.” O Art. 3° foi acrescentado para que possa ser cobrado com clareza, e não haja distorção de ambas as partes Profissionais/Orgãos/População; sugestão acolhida do Estado de Goiás. Já o Art. 4°, incluso pelo pró- prio CFO, deixa explícito que a relação paciente/profissional deve ser realizada com clareza em todos os aspectos da prestação de tais serviços, cumprindo suas atividades legais propostas em seu plano de tratamento. No capítulo II do CEO 2006, o artigo 3° preleciona no inciso II “resguardar o segredo profissional”, já no CEO 2012 este sendo já o artigo 5°, prevê como direito fundamental do profissional “guardar sigilo a respeito das informações adquiridas no desempenho de suas funções”, proposto pelo Paraná. No inciso III rezava “contratar serviços profissionais de acordo com os preceitos deste Código” no CEO 2012 reza “contratar serviços de outros profissionais da Odontologia, por escrito, de acordo com os preceitos deste Código e demais legislações em vigor”, alteração sugerida por Pernambuco, por ter em cumprimento jurídico outras legislações a favor de ambos profissionais e pacientes. Já no inciso V do CEO 2012 foi acrescentado o termo “por escrito”, sugestões do Estado de Pernambuco e Sergipe. No inciso VI foi modificada a expressão final de “salvo quando em benefício ou à livre escolha do paciente” para “bem como recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência legal”, modificação proposta pelo Paraná, com base da existência legal das especialidades odontológicas, o cirurgião dentista tem a autonomia de recusar a prática do procedimento, quando o mesmo legalmente não possui a especialidade, tendo a liberdade de encaminhar o paciente para o profissional específico de acordo com sua necessidade de tratamento. Ainda no mesmo capítulo foi acrescentado: VII - decidir, em qualquer circunstância, levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao paciente ou periciado, evitando que o acúmulo de encargos, consultas, perícias ou outras avaliações venham prejudicar o exercício pleno da Odontologia. Art. 6º. Constitui direito fundamental das categorias técnicas e auxiliares recusarem-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, ética e legal, ainda que sob supervisão do cirurgião dentista. (Proposta de Paraíba) R E B O M I 75 R E B O M I 76 ANO 29 • Nº 1 e 2 Art. 7º. Constituem direitos fundamentais dos técnicos em saúde bucal e auxiliares em saúde bucal: I - executar, sob a supervisão do cirurgião-dentista, os procedimentos constantes na Lei nº 11.889/ 2008 e nas Resoluções do Conselho Federal; II - resguardar o segredo profissional; e, III - recusar-se a exercer a profissão em âmbito público ou privado onde as condições de trabalho não sejam dignas, seguras e salubres. O inciso VII foi acrescentado para que se possa estabelecer tempo de atendimento dedicado aos pacientes, sem prejuízos ao profissional quanto aos procedimentos odontológicos. O artigo 6° ainda dos direitos fundamentais, foi criado com a base nas atribuições dos técnicos e auxiliares, segundo normatizações dos serviços oferecidos pelos mesmos de acordo com a legislação, para que não haja o exercício ilegal dos respectivos profissionais na prática Odontológica, mesmo que estes estejam sob supervisão do cirurgião dentista. O artigo 7° vem por sua vez distribuído em incisos I, II e III, proposta com origem do Estado do Amapá, com base na lei n° 11.889/2008 e nas Resoluções do Conselho Federal, tornando esclarecido que os mesmos devem cumprir suas atribuições, caso isso seja violado ou distorcido, cabe ao Conselho regional cobrar de forma Legal estabelecida pelo CFO, e por sua vez tomar suas providências. No CEO 2006 reza: “Art. 4º. A fim de garantir o acatamento e cabal execução deste Código, cabe ao cirurgiãodentista e demais inscritos comunicar ao CRO, com discrição e fundamento, fatos de que tenha conhecimento e caracterizem possível infringência do presente Código e das normas que regulam o exercício da Odontologia.” Qual foi substituído por: “Art. 8º. A fim de garantir a fiel aplicação deste Código, o cirurgião dentista, os profissionais técnicos e auxiliares, e as pessoas jurídicas, que exerçam atividades no âmbito da Odontologia, devem cumprir e fazer cumprir os preceitos éticos e legais da profissão, e com dis- crição e fundamento, comunicar ao Conselho Regional fatos de que tenham conhecimento e caracterizem possível infringência do presente Código e das normas que regulam o exercício da Odontologia.” O artigo comparado a cima, não teve o sentido modificado, porém esclareceu a classe odontológica por categorias, como: profissionais técnicos e auxiliares, e pessoas jurídicas, uma vez que cada categoria tem sua legislação reconhecida no Conselho. Proposta feita pelo Estado do Paraná. No CEO 2012 artigo 9° (CEO 2006 art. 5°), foram incluídos os incisos sugeridos pelo Paraná: I - manter regularizadas suas obrigações financeiras junto ao Conselho Regional; II - manter seus dados cadastrais atualizados junto ao Conselho Regional; Nestes incisos se torna característico a punição perante os profissionais que estiverem em pendência financeira e cadastrais junto ao CRO. Mudança recomendada pelo Estado de Sergipe para o mesmo artigo, no inciso VI do CEO 2006 que diz “guardar segredo profissional” para inciso VIII CEO 2012 “resguardar o sigilo profissional”, a mudança é apenas de forma e não altera o fundo, trocando sinônimos. No art. 5° do CEO 2006 o inciso VIII defini “elaborar e manter atualizados os prontuários de pacientes, conservando-os em arquivo próprio”, o mesmo foi substituído no CEO 2012 pelo artigo 9° inciso X “elaborar e manter atualizados os prontuários na forma das normas em vigor, incluindo os prontuários digitais”. Devido ao avanço tecnológico, houve a necessidade de levar em consideração os prontuários digitais substituindo os arquivos próprios. No mesmo artigo no inciso XII do atual “assumir responsabilidade pelos atos praticados” foi acrescentado “ainda que estes tenham sido solicitados ou consentidos pelo paciente ou seu responsável”, sendo assim o profissional deve ter consciência de qualquer consequência do tratamento realizado; alteração indicada pelo Estado de Sergipe. O inciso XVI do COE 2006 “garantir ao paciente ou seu responsável legal, acesso a seu prontuário, sempre Jan / Dez 2012 que for expressamente solicitado, podendo conceder cópia do documento, mediante recibo de entrega” foi substituído no CEO 2012 pelo “XVIII - encaminhar o material ao laboratório de prótese dentária devidamente acompanhado de ficha específica assinada”, esclarecendo que qualquer material mandado ao laboratório de prótese deverá ser devidamente identificado e assinado, para que não seja violado; proposta do Estado do Amapá. No CEO 2006 o inciso IV do art. 6° dispunha de infração ética “prestar serviços de auditoria a empresas não inscritas no CRO da jurisdição em que estiver exercendo suas atividades” que foi substituído no CEO 2006 já no art. 10° por “IV - prestar serviços de auditoria a pessoas físicas ou jurídicas que tenham obrigação de inscrição nos Conselhos e que não estejam regularmente inscritas no Conselho de sua jurisdição.” No CEO 2006 citava apenas as empresas não inscritas no CRO como infração ética na prestação de serviço para as mesmas, já no CEO 2012 constitui infração ética prestar serviço tanto para pessoas físicas como jurídicas. No CEO 2012 artigo 10° (CEO 2006 art. 6°) foi acrescentado: V - negar, na qualidade de profissional assistente, informações odontológicas consideradas necessárias ao pleito da concessão de benefícios previdenciários ou outras concessões facultadas na forma da Lei, sobre seu paciente, seja por meio de atestados, declarações, relatórios, exames, pareceres ou quaisquer outros documentos probatórios, desde que autorizado pelo paciente ou responsável legal interessado; VI - receber remuneração, gratificação ou qualquer outro beneficio por valores vinculados à glosa ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou auditor; VII - realizar ou exigir procedimentos prejudiciais aos pacientes e ao profissional, contrários às normas de Vigilância Sanitária, exclusivamente para fins de auditoria ou perícia; e, VIII - exercer a função de perito, quando: a) for parte interessada; b) tenha tido participação como mandatário da parte, ou sido designado como assistente técnico de ór- gão do Ministério Público, ou tenha prestado depoimento como testemunha; c) for cônjuge ou a parte for parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o segundo grau; e, d) a parte for paciente, ex-paciente ou qualquer pessoa que tenha ou teve relações sociais, afetivas, comerciais ou administrativas, capazes de comprometer o caráter de imparcialidade do ato pericial ou da auditagem. O inciso V diz que, qualquer documento probatório do paciente só deverá ser liberado com a autorização do paciente/responsável, sendo proposta a mudança pelo Distrito Federal, assim como também os incisos seguintes no mesmo capítulo. No inciso VI acrescentado, relata a importância do trabalho realizado pelo perito ou auditor não se deixar corromper por valores vinculados à glosa ou sucesso da causa. Capítulo V, seção I, do CEO 2006, houve modificação no inciso VI onde lia-se abandonar paciente, salvo por motivo justificável, circunstância em que serão conciliados os honorários e indicado substituto, no CEO 2012 lerá: “abandonar paciente, salvo por motivo justificável, circunstância em que serão conciliados os honorários e que deverá ser informado ao paciente ou ao seu responsável legal de necessidade da continuidade do tratamento;” Proposta feita pelo Estado do Paraná foi acrescentado que é de responsabilidade do profissional informar o paciente, que mesmo com o abandono do tratamento, este deverá ser continuado. Na mesma seção do CEO 2006 os incisos VIII e XI foram excluídos, e são acrescentados mais quatro incisos: XI - delegar a profissionais técnicos ou auxiliares atos ou atribuições exclusivas da profissão de cirurgião dentista; XII - opor-se a prestar esclarecimentos e/ou fornecer relatórios sobre diagnósticos e terapêuticas, realizados no paciente, quando solicitados pelo mesmo, por seu representante legal ou nas formas previstas em lei; R E B O M I 77 R E B O M I 78 ANO 29 • Nº 1 e 2 XIII - executar procedimentos como técnico em prótese dentária, técnico em saúde bucal, auxiliar em saúde bucal e auxiliar em prótese dentária, além daqueles discriminados na Lei que regulamenta a profissão e nas resoluções do Conselho Federal; e, XIV - propor ou executar tratamento fora do âmbito da Odontologia.(Proposta do Estado do Pará) No inciso XI, proposto pelo Estado do Amapá, frisa que os profissionais técnicos e auxiliares devem cumprir somente o que rege sua legislação. Os incisos XII e XIII foram propostos pelo Distrito Federal, no primeiro o profissional não pode negar informações sobre o tratamento quando solicitada pelo paciente ou responsável, já os incisos seguintes estão bem esclarecidos sem necessidade de justificativa. No CEO 2006, artigo 9°, inciso I, onde se ler: desviar paciente de colega, no CEO 2012, já sendo o artigo 13, inciso I, constituirá como infração ética agenciar, aliciar ou desviar paciente de colega, de instituição pública ou privada. Proposta feita pelos Estados do Rio Grande do Sul,Roraima e Sergipe, onde além de desviar, o profissional não pode também agenciar e aliciar o paciente do colega, sendo este de instituição pública ou privada, ou seja, o profissional não pode conquistar ou negociar o paciente do colega. No mesmo artigo, no CEO 2006, foi proposto pelo Estado do Rio Grande do Sul a mudança do inciso IX: utilizar-se de serviços prestados por profissionais não habilitados legalmente ou por profissionais da área odontológica, não regularmente inscritos no Conselho Regional de sua jurisdição, foi substituído no CEO 2012, por: delegar funções e competências a profissionais não habilitados e/ou utilizar-se de serviços prestados por profissionais e/ou empresas não habilitados legalmente ou não regularmente inscritos no Conselho Regional de sua jurisdição. Tanto o profissional como a empresa deve estar legalmente habilitados e inscritos no Conselho Regional de sua jurisdição. No CEO 2006, o inciso III, do art. 10 preleciona como infração: fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos odontológicos em programas de rádio, televisão ou cinema, e em artigos, entrevistas ou reportagens em jornais, revistas ou outras publicações legais, salvo se autorizado pelo paciente ou responsável Havendo modificações nos termos usados, definindo então como infração ética, no CEO 2012, já no artigo 14: fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir paciente, sua imagem ou qualquer outro elemento que o identifique, em qualquer meio de comunicação ou sob qualquer pretexto, salvo se o cirurgiãodentista estiver no exercício da docência ou em publicações científicas, nos quais, a autorização do paciente ou seu responsável legal, lhe permite a exibição da imagem ou prontuários com finalidade didático-acadêmicas. O § 1° do CEO 2006, capítulo VI, do sigilo profissional, passou a ser Parágrafo Único no CEO 2012. O § 2 ° do CEO 2006, foi modificado para artigo 15, e sendo acrescentado ainda o artigo 16, que dispunha de Não constitui, também, quebra do sigilo profissional a comunicação ao Conselho Regional e às autoridades sanitárias as condições de trabalho indignas, inseguras e insalubres. Para o CEO 2012 houve a necessidade de ser acrescentado mais um capítulo, ficando este como o capítulo VII, referente aos documentos odontológicos: Art. 17. É obrigatória a elaboração e a manutenção de forma legível e atualizada de prontuário e a sua conservação em arquivo próprio seja de forma física ou digital. Parágrafo Único. Os profissionais da Odontologia deverão manter no prontuário os dados clínicos necessários para a boa condução do caso, sendo preenchido, em cada avaliação, em ordem cronológica com data, hora, nome, assinatura e número de registro do cirurgião-dentista no Conselho Regional de Odontologia. Art. 18. Constitui infração ética: I - negar, ao paciente ou periciado, acesso a seu prontuário, deixar de lhe fornecer cópia quando solicitada, bem como deixar de lhe dar explicações necessárias à sua compreensão, salvo quando ocasionem riscos ao próprio paciente ou a terceiros; Jan / Dez 2012 II - deixar de atestar atos executados no exercício profissional, quando solicitado pelo paciente ou por seu representante legal; III - expedir documentos odontológicos: atestados, declarações, relatórios, pareceres técnicos, laudos periciais, auditorias ou de verificação odontolegal, sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou que não corresponda à verdade; IV - comercializar atestados odontológicos, recibos, notas fiscais, ou prescrições de especialidades farmacêuticas; V - usar formulários de instituições públicas para prescrever, encaminhar ou atestar fatos verificados na clínica privada; VI - deixar de emitir laudo dos exames por imagens realizados em clínicas de radiologia; e, VII - receitar, atestar, declarar ou emitir laudos, relatórios e pareceres técnicos de forma secreta ou ilegível, sem a devida identificação, inclusive com o número de registro no Conselho Regional de Odontologia na sua jurisdição, bem como assinar em branco, folhas de receituários, atestados, laudos ou quaisquer outros documentos odontológicos. No CEO 2012, capítulo VIII, honorários profissionais, artigo 19, foi acrescentado: X - a liberdade para arbitrar seus honorários, sendo vedado o aviltamento profissional. Parágrafo Único. O profissional deve arbitrar o valor da consulta e dos procedimentos odontológicos, respeitando as disposições deste Código e comunicando previamente ao paciente os custos dos honorários profissionais. Já no artigo 20, do mesmo capítulo foi acrescentado: VIII - permitir o oferecimento, ainda que de forma indireta, de seus serviços, através de outros meios como forma de brinde, premiação ou descontos; IX - divulgar ou oferecer consultas e diagnósticos gratuitos ou sem compromisso; e, X - a participação de cirurgião-dentista e entidades prestadoras de serviços odontológicos em cartão de descontos, caderno de descontos, “gift card” ou “vale presente” e demais atividades mercantilistas. O Art. 28 do CEO-2012 acrescentou: I- fazer qualquer intervenção fora do âmbito legal da Odontologia; e, II- afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem deixar outro cirurgiãodentista encarregado do atendimento de seus pacientes internados ou em estado grave. No capítulo X, foi feita alteração no art. 30 do CEO 2012, cita que os profissionais inscritos, quando proprietários, ou o responsável técnico responderão solidariamente com o infrator pelas infrações éticas cometidas, modificado neste serviço responderão, nos limites de sua atribuição, solidariamente, pela infração ética praticada, ainda que não desenvolva a função de sócio ou responsável técnico pela entidade. Ainda neste mesmo artigo houve modificação no inciso III, sendo substituído o dizia no CEO 2006 definidas pelo Conselho Federal de Odontologia, as quais garantem o seu desempenho pelo e seguro, exceto em condições de emergência ou iminente perigo de vida, por que garantam o seu desempenho pelo e seguro. Art. 31 foi acrescentado como infração ética a não observância pela entidade da obrigação de, proposta do CRO São Paulo: VII- atender as determinações e notificações expedidas pela fiscalização do Conselho Regional, suspendendo a prática irregular e procedendo as devidas adequações. Art. 24 , do CEO-2006, passou a ser, art. 32 do CEO-2012, fazendo as seguintes modificações, substituído o inciso: III - anunciar especialidades sem constar no corpo clínico os respectivos especialistas, com as devidas inscrições no Conselho Regional de sua juridição; Acrescentado: XI-usar indiscriminadamente Raios X com finalidade, exclusivamente, administrativa em substituição à perícia/auditoria e aos serviços odontológicos; XII-deixar de proceder a atualização contratual, cadastral e de responsabilidade técnica, bem como R E B O M I 79 R E B O M I 80 ANO 29 • Nº 1 e 2 de manter-se regularizado com suas obrigações legais junto ao Conselho Regional de sua jurisdição; e XIII-constitui infração ética a participação de cirurgiões-dentistas como proprietários, sócios, dirigentes ou consultores dos chamados cartões de descontos, assim como a comprovada associação ou referenciamento de cirurgiões-dentistas a qualquer empresa que faça publicidade de descontos sobre honorários odontológicos, planos de financiamento ou consórcio. No Capítulo XII do CEO 2012, do responsável técnico e dos proprietários inscritos, foi acrescentado: § 2º. É dever do responsável técnico, informar ao Conselho Regional, imediatamente, por escrito, quando da constatação do cometimento de infração ética, acontecida na empresa em que exerça sua responsabilidade. No capítulo XII, do magistério, CEO 2006, foi excluído o inciso V, e acrescentado os incisos: V- permitir a propaganda abusiva ou enganosa, de cursos de especialização, aperfeiçoamento e atualização; VI-aproveitar-se do aluno para obter vantagem física, emocional ou financeira; VII-aliciar pacientes ou alunos, oferecendo vantagens, benefícios ou gratuidades, para cursos de aperfeiçoamento, atualização ou especialização; VIII-utilizar-se de formulário de instituições de ensino para atestar ou prescrever fatos verificados em consultórios particulares; e, IX-permitir a prática clínica em pacientes por acadêmicos de Odontologia fora das diretrizes e planos pedagógicos da instituição de ensino superior, ou de regular programa de estágio e extensão, respondendo pela violação deste inciso o professor e o coordenador da respectiva atividade. Acrescentou-se o capítulo XIV, da doação, do transplante e do banco de órgãos, tecidos e biomateriais: Art. 36. Todos os registros do banco de ossos e dentes e outros tecidos devem ser de caráter confidencial, respeitando o sigilo da identidade do doador e do receptor. Art. 37. Constitui infração ética: I-descumprir a legislação referente ao banco de tecidos e dentes ou colaborar direta ou indiretamente com outros profissionais nesse descumprimento; II-utilizar-se do nome de outro profissional para fins de retirada dos tecidos e dentes dos bancos relacionados; III-deixar de esclarecer ao doador, ao receptor ou seus representantes legais sobre os riscos decorrentes de exames, intervenções cirúrgicas e outros procedimentos nos casos de transplantes de órgãos e tecidos; e, IV-participar direta ou indiretamente da comercialização de órgãos e tecidos humanos. No capítulo XIV do CEO 2006, do anúncio, da propaganda e da publicidade, foi modificado: § 1º. É vedado aos técnicos em prótese dentária, técnicos em saúde bucal, auxiliares de prótese dentária, bem como aos laboratórios de prótese dentária fazerem anúncios, propagandas ou publicidade dirigida ao público em geral. § 2º. Aos profissionais citados no § 1º, com exceção do auxiliar em saúde bucal, serão permitidas propagandas em revistas, jornais ou folhetos especializados, desde que dirigidas aos cirurgiões-dentistas, e acompanhadas do nome do profissional ou do laboratório, do seu responsável técnico e do número de inscrição no Conselho Regional de Odontologia. Acrescentado para o CEO-2012: § 3º. Nos laboratórios de prótese dentária deverá ser afixado, em local visível ao público em geral, informação fornecida pelo Conselho Regional de Odontologia da jurisdição sobre a restrição do atendimento direto ao paciente. IV-endereço, telefone, fax, endereço eletrônico, horário de trabalho, convênios, credenciamentos, atendimento domiciliar e hospitalar; (acrescentou a palavra hospitalar) No art. 34 do CEO 2006, foi acrescentado como infração ética: I- fazer publicidade e propaganda enganosa, abusiva, inclusive com expressões ou imagens de Jan / Dez 2012 antes e depois, com preços, serviços gratuitos, modalidades de pagamento, ou outras formas que impliquem comercialização da Odontologia ou contrarie o disposto neste Código; VII-aliciar pacientes, praticando ou permitindo a oferta de serviços através de informação ou anúncio falso, irregular, ilícito ou imoral, com o intuito de atrair clientela, ou outros atos que caracterizem concorrência desleal ou aviltamento da profissão, especialmente a utilização da expressão “popular”; XIII-participar de programas de comercialização coletiva oferecendo serviços nos veículos de comunicação; e, XIV-realizar a divulgação e oferecer serviços odontológicos com finalidade mercantil e de aliciamento de pacientes, através de cartão de descontos, caderno de descontos, mala direta via internet, sites promocionais ou de compras coletivas, telemarketing ativo à população em geral, stands promocionais, caixas de som portáteis ou em veículos automotores, plaqueteiros entre outros meios que caracterizem concorrência desleal e desvalorização da profissão. No COE 2006 a art 35 foi alterado para o art. 45 do CEO 2012: Pela publicidade e propaganda em desacordo com as normas estabelecidas neste Código respondem solidariamente os proprietários, responsável técnico e demais profissionais que tenham concorrido na infração, na medida de sua culpabilidade. No CEO 2012 a seção II do CEO 2006, passa a ser seção I, devido ao agrupamento da seção I/CEO2006 com o próprio capítulo, assim sofrendo modificações, como no art. 37 do CEO 2006 acrescentou sendo vedado anunciar neste ato o seu endereço profissional, endereço eletrônico e telefone, sendo que no CEO 2012 este é o art. 47, assim também sendo acrescentado: Art. 48. É vedado ao profissional inscrito: I- realizar palestras em escolas, empresas ou quaisquer entidades que tenham como objetivo a divulgação de serviços profissionais e interesses particulares, diversos da orientação e educação social quanto aos assuntos odontológicos; II- distribuir material publicitário e oferecer brindes, prêmios, benefícios ou vantagens ao público leigo, em palestras realizadas em escolas, empresas ou quaisquer entidades, com finalidade de angariar clientela ou aliciamento; III- realizar diagnóstico ou procedimentos odontológicos em escolas, empresas ou outras entidades, em decorrência da prática descrita nos termos desta seção; e, IV- aliciar pacientes, aproveitando-se do acesso às escolas, empresas e demais entidades. No art. 38 do CEO 2006 foi alterado, passando a ser o art. 49 do CEO 2012, II- apresentar como seu, no todo ou em parte, material didático ou obra científica de outrem, ainda que não publicada. No capítulo da pesquisa científica, em que no CEO 2006 está como capítulo XV, no CEO 2012 passou para capítulo XVII, foi acrescentado o inciso IX, que diz: sobrepor o interesse da ciência ao da pessoa humana. No penúltimo capítulo do CEO, CEO 2006, foi acrescentado: VII-veiculação de propaganda ilegal; VIII-praticar infração ao Código de Ética no exercício da função de dirigente de entidade de classe odontológica; IX-exercer ato privativo de profissional da Odontologia, sem estar para isso legalmente habilitado; X-praticar ou ensejar atividade que não resguarde o decoro profissional; XI-ofertar serviços odontológicos de forma abusiva, enganosa, imoral ou ilegal; e, XII-ofertar serviços odontológicos em sites de compras coletivas ou similares. Art. 55. São circunstâncias que podem agravar a pena: I-a reincidência; II-a prática com dolo; III-a inobservância das notificações expedidas pela fiscalização, o não comparecimento às solicitações ou intimações do Conselho Regional para esclarecimentos ou na instrução da ação ética disciplinar; IV-qualquer forma de obstrução de processo; V-o falso testemunho ou perjúrio; R E B O M I 81 R E B O M I ANO 29 • Nº 1 e 2 VI-aproveitar-se da fragilidade do paciente; e, VII- cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo ou função. Art. 56. São circunstâncias que podem atenuar a pena: III- culpa concorrente da vítima. Considerações Finais A classe odontológica considerou essa atualização essencial, visto que o antigo Código estava em vigência há quase uma década. Desde a instituição do Conselho Federal de Odontologia (1976), esta é a quinta versão do Código, sendo que essas atualizações datam, respectivamente, de 1984, 1991, 2003 e a atual de 2012. As mudanças foram extremamente positivas e necessárias. Com sua ampliação, dos 48 artigos do Código de 2003, a atual passa a ter um total de 60, didaticamente e muito bem distribuídos em 19 capítulos. A formulação do novo Código ressalta e reforça a necessidade e importância das práticas dos relacionamentos éticos e das atitudes comportamentais que não só o cirurgião-dentista, como pessoa, mas também os profissionais auxiliares, as operadoras dos planos de saúde e clínicas odontológicas (pessoas jurídicas) deverão ter, de modo a praticar ações e atenções abrangentes voltadas, sobretudo, para a saúde coletiva da sociedade e individual de seu paciente-consumidor. O Código reza, em seu terceiro artigo, que “o objetivo de toda a atenção odontológica é a saúde do ser humano”. Outro importante destaque se refere à participação e atuação do cirurgião-dentista como membro atuante de uma equipe de saúde pública, em consonância com as normas constitucionais estabelecidas no Sistema Único de Saúde. Reforça ainda o novo Código o direito de o cirurgião-dentista resguardar o sigilo profissional “quando do desempenho de suas funções”, direito esse que foi estendido às suas auxiliares habilitadas. Relembra ainda dos cuidados preliminares que 82 o cirurgião-dentista deverá ter com seus pacientes, sobretudo com os menores de idade, providenciando o consentimento prévio do paciente ou seu responsável legal, salvo em consultas emergenciais ou de caráter de urgência. Devido a ampla discussão da classe ocorrida previamente à redação final do Código e à clareza de sua redação, não acreditamos que possam ocorrer contestações meritórias. Por outro lado, considerando que os colegas ainda terão um prazo de quatro meses para conhecerem os detalhamentos e normas do nosso novo Código de Ética, acreditamos que não haverá nenhuma dificuldade para os cirurgiões-dentistas se inteirarem dessas novas normas e, consequentemente, passarem a atuar e agir em acordo com os preceitos assim como com os direitos e deveres ditados nesse presente Código. Referências BRASIL. Lei n° 4.324 de 14 de abril de 1964. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 1964. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO-42/2003 de 20 de maio de 2003. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2003. Conselho Federal de Odontologia. Resolução CFO-71/2006 de 06 de junho de 2006. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 2006. GARCIA, Sidnei José. CAETANO, João Carlos. O código de ética odontológica e suas infrações: um estudo sobre os processos ético, profissionais dos cirurgiões dentistas do estado de Santa Catarina. Odontologia Clín.-Científ. Recife. 2008, 7(4): 307-313 . Disponível em: www.cro-pe.org.br OLIVEIRA, Fernando Toledo de et al. Ética odontológica: conhecimento de acadêmicos e cirurgiões-dentistas sobre os aspectos éticos da profissão. Revista de Odontologia da UNESP. São Paulo. 2008, 37(1): 33-39. PYRRHO, Monique et al. Análise bioética do Código de ética Odontológica brasileira. Ciência & Saúde Coletiva. 2009, 14(5): 1911-1918. V RAMOS, D. L. P. Alguns comentários sobre ética profissional odontológica In: SILVA, M. Compêndio de Odontologia Legal. São Paulo: Medsi, 1997. p. 51-58. SALES PERES, A; SALES PERES, S.H.C.; SILVA, R.H.A.; RAMIRES, I. O Novo Código de Ética odontológica e a atuação clínica do cirurgião-dentista: uma reflexão crítica das alterações promovidas. Revista Odontológica de Araçatuba. 2004 25(2): 09-13. SILVA, M. Ética odontológica: conhecimento de acadêmicos e cirurgiões-dentistas sobre os aspectos éticos da profissão. Compêndio de Odontologia Legal. São Paulo: Medsi, 1997. p. 51-58. REUNIÃO entre CFO e CROs tem saldo positivo. Disponível em: http://cfo.org.br/ todas-as-noticias/reuniao-entre-cfo-e-cros-tem-saldo-positivo/ FIQUE atento: vem aí a 4a CONEO! Disponível em: http://cfo.org.br/todas-as-noticias/ fique-atento-vem-ai-a-4a-coneo/ 4ª Conferência Nacional de Ética Odontológica. Disponível em: http://cfo.org.br/ todas-as-noticias/4%C2%AA-conferencia-nacional-de-etica-odontologica/ Jan / Dez 2012 R E RELATO DE CASO CLÍNICO B O M I Restabelecimento do plano oclusal e DVO prévia a reabilitação completa Restoration of the occlusal plane and DVO prior to complete rehabilitation Alessandra C. da Silva Nascimento1 Anisio Lima da Silva2 1 Especialista e Mestre em Odontologia na área de Prótese Dentária pela SLMANDICCampinas/SP. Professora Estagiária da Faculdade de Odontologia da UFMS. 2 Professor Associado da Faculdade de Odontologia da UFMS. Doutor em Ciências da Saúde. Membro da ABOMI. Endereço para correspondência: Rua 15 de novembro, 2701Bairro: Jardim dos Estados – CEP 79002-300 - Campo Grande MS E-mail:[email protected] Aceito para publicação em 10 de outubro de 2012 e aceito em 5 de fevereiro de 2013. Resumo O objetivo deste trabalho foi relatar uma reabilitação em paciente com ausência de vários elementos dentais e com os dentes remanescentes apresentando grandes destruições, induzindo uma alteração na dimensão vertical de oclusão (DVO), com um quadro severo de bruxismo, associado à Desordem Craniomandibular (DCM). Estabeleceu-se um plano de tratamento voltado iniciando-se com a desprogramação neuromuscular, com recuperação da DVO através de aparelhos de desoclusão, reconstrução dos elementos dentários remanescentes com o uso de próteses parciais removíveis (PPR) provisórias, overlay e instalação de placa interoclusal. Após o tratamento e a conscientização da paciente, constatou-se remissão dos sinais e sintomas da DCM e controle do bruxismo. Palavras-chave: bruxismo, prótese parcial removível overlay, dimensão vertical de oclusão (DVO). Abstract The objective of this study was to report a patient with rehabilitation in the absence of several dental elements and the remaining teeth showing great destruction, inducing alteration of the vertical dimension of occlusion (DVO) and showing severe bruxism associates with craniomandibular disorder (CMD). Established a treatment plan aimed starting treatment with neuromuscular deprogramming and a double plane splint was installed to recover the lost vertical relation and centric occlusion, reconstruction of the remaining teeth with the use of removable partial dentures (RPD) temporary, overlay removable partial denture (RPD) and installation of interoclusal plate. After treatment and awareness of the patient, it was found remission signals and symptoms of DCM and control of bruxism. Keywords: bruxism, overlay removable partial denture, vertical dimension of occlusion (DVO). 83 R E B O M I 84 ANO 29 • Nº 1 e 2 Introdução Já em 1984, Ramfjord e Ash relataram que prevalência de pacientes com alteração de Dimensão Vertical de Oclusão (DVO) atendidos em consultórios, clínicas ou em serviços públicos odontológicos tem aumentado nos últimos anos. Em alguns casos os profissionais executam a reabilitação através de reposição aleatória dos dentes ausentes, não se preocupando com a condição altamente comprometida dos músculos, ligamentos, elementos dentários, periodonto e articulações temporomandibulares geralmente presentes. Com o passar do tempo ocorrem desarranjos sensíveis do sistema estomatognático, resultando em anomalias de difícil resolução ou até mesmo irreversíveis. Estes estágios avançados transformam-se em verdadeiros desafios para o cirurgião dentista, onde os procedimentos reabilitadores propostos envolvem muito critério, desde a fase de planejamento até a preservação, especialmente quando se tratarem de pacientes bruxômanos. No restabelecimento do plano oclusal prévio a reabilitação certamente é de extrema importância que o paciente esteja neuromuscularmente relaxado antes da montagem dos modelos no ASA (articulador semi ajustável) no momento do restabelecimento dos planos vertical (DVO) e horizontal (RC). Um correto posicionamento do plano oclusal e um adequado estabelecimento da dimensão vertical oclusão favorecerá a função normal dos componentes do sistema estomatognático, permitindo uma maior estabilidade das futuras próteses (SWENSON, 1955). A reabilitação de pacientes parcialmente desdentados com necessidade de alteração da dimensão vertical e/ou realinhamento do plano oclusal, pode envolver tratamentos mais complexos, demorados e de alto cus-to. A Prótese Parcial Removível Overlay representa o restabelecimento do plano oclusal prévio a reabilitação permitindo uma maior estabilidade das futuras próteses. A literatura apresenta a Prótese Parcial Removível Overlay, como alternativa de tratamento. A overlay (também denominada de PPR overlay, PPR de recobrimento oclusal, PPR onlay, overlay, macroapoio ou apoio onlay) consiste em uma prótese modificada que recobre a face oclusal de um ou mais dentes, podendo até mesmo recobrir as faces oclusais de todos os dentes posteriores e as incisais dos dentes anteriores para apoio ou sustentação. Sua principal indicação é a reabilitação de pacientes desdentados parciais com redução na dimensão vertical de oclusão ou alterações do plano oclusal de acordo com Souza et al, 2009. Segundo Bonachela et al, 1998; Hotta et al, 2000; Kliemann et al, 2000; Matsumoto et al, 2000 a overlay é indicada também para o restabelecimento do plano oclusal, quando aplicadas sobre pré-molares e molares; no tratamento prévio à cirurgia ortognática, com finalidade de estabilização oclusal e condicionamento muscular, no restabelecimento da dimensão vertical de oclusão (DVO), como guia para a reabilitação oral subsequente e nos casos em que existe necessidade de uma solução relativamente mais simples, rápida e econômica ela é também indicada. Convém ressaltar a importância da utilização da prótese overlay como um recurso auxiliar na elaboração do diagnóstico, prognóstico e no planejamento do tratamento reabilitador oral definitivo em pacientes com dentição severamente desgastada e DVO reduzida, permitindo a avaliação da estética, da função e da aceitação do paciente, anteriormente à execução de mudanças permanentes na dentição natural (JAHANGIRI et al., 2002; TURNER E MISSIRLIAN, 1984; SATO et al., 2000). A Overlay segundo os autores Fernades e Barboza, em 2005, trata-se de um aparelho protético removível interino, confeccionado em resina acrílica sobre uma ou ambas as arcadas, indicada para pacientes com alteração da dimensão vertical de oclusão (DVO), que geralmente se encontra “diminuída” e da oclusão em relação cêntrica (ORC), que geralmente se encontra em máxima intercuspidação habitual (MIH), funcionando também como um importante meio auxiliar no diagnóstico e prognóstico de tratamentos que envolvem o crítico restabelecimento da DVO e ORC, sendo possível uma análise prévia das respostas do sistema neuromuscular antes que o tratamento proposto seja iniciado. O objetivo do trabalho foi apresentar um caso clínico com o restabelecimento de DVO e RC prévia ao tratamento reabilitador completo, mostrando a im- Jan / Dez 2012 portância do correto diagnóstico, prognóstico e planejamento do tratamento em pacientes com dentição severamente desgastada e DVO reduzida. Figura 2: Aspecto intra-oral superior R E B O M I Relato de caso Paciente do sexo feminino, com 64 anos de idade, melanoderma, foi encaminhada à Clínica de Mestrado em Prótese da Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic (Campinas-SP) necessitando de tratamento reabilitador. Durante a anamnese, apresentou-se como queixa principal: dor de cabeça frequente, dor na face, dor ou desconforto na mastigação, músculos doloridos ao acordar, dor nos ombros, tensão ou rigidez no pescoço, dor de ouvido, dor nos olhos. No exame intra e extra-oral (figura 1, 2 e 3) constatou-se desgaste generalizado dos dentes superiores e inferiores com boa implantação óssea e condição periodontal favorável. A paciente relatava ser usuária de placa interoclusal há muitos anos. Figura 3: Aspecto intra-oral inferior Figura 1: Aspecto extra-oral Figura 4: Radiografia panorâmica inicial. Além do exame clínico, foram obtidos modelos de estudo, montados no articulador e exame radiográfico periapical e panorâmico (figura 4). O exame físico associado aos dados da anamnese permitiu estabelecer um diagnóstico de bruxismo excêntrico, onde a paciente apresentava sinais e sintomas clássicos de Disfunção Cerebral Mínima - DCM e um acentuado envolvimento psicoemocional. Em decorrência do desgaste severo de vários elementos dentais, a paciente apresentava uma perda de DVO de cinco milímetros. Após a montagem do arco facial e do modelo superior no articulador, o primeiro passo foi determinar a DVO correta, através do registro em cera7 obtido e confirmado através do compasso de ponta seca e do método métrico pelo compasso de Willis. (Figura 5). 85 R E B ANO 29 • Nº 1 e 2 Figura 5: Registro da D.V.O. O M I Uma vez determinado o plano de tratamento, procedeu-se à execução da terapia proposta: provisórios termo polimerizáveis do 16 ao 26 unidos (figura 6), confecção de núcleos metálicos fundidos, overlay removível no inferior do 37 ao 47 unidos (figura 7). A seguir confeccionou-se uma placa miorrelaxante (figura 8) com a função de promover um relaxamento neuro-muscular e depois planejou-se a reabilitação bucal. Discussão Figura 6: Provisórios termo polimerizáveis Figura 7: Overlay removível inferior Figura 8: Provisórios superiores com placa miorelaxante instalada conjugada com a overlay inferior. 86 A decisão pelo tratamento por meio da overlay no caso clínico apresentado considerou as seguintes vantagens: eficiência no restabelecimento das relações maxilo-mandibulares, da estabilidade oclusal, da condição muscular, da posição condilar e da extensão dos movimentos mandibulares. O quadro clínico apresentado associando perdas de elementos dentais, bruxismo e desordem cranio mandibular possuem prevalência relativamente alta, especialmente no sexo feminino (GLAROS E RAOS, 1977). O bruxismo parece apresentar-se intimamente ligado aos fatores emocionais, como os que foram observados por outros autores (RAMFJORD E ASH, 1984; OLIVEIRA et al., 1988). Suas consequências apresentaram-se refletidas na dentição, músculos mastigatórios, articulação têmporo-mandibular e comportamento (GLAROS E RAOS, 1977). A prótese parcial removível (PPR) de recobrimento oclusal, também conhecida como PPR overlay, caracteriza-se por recobrir a face oclusal de um ou mais dentes, podendo até mesmo recobrir as oclusais e incisais de todos os dentes para apoio ou sustentação. Apresenta como vantagens principais a maior simplicidade do tratamento, reversibilidade e custo relativamente baixo (SOUZA et al., 2009) Segundo Fernandes e Barboza (2005) a overlay é um aparelho protético que cumpre com todos os objetivos da reabilitação oral: restabelecimento da DVO, da ORC, da estabilidade oclusal, da guia anterior, da mastigação, da fonética e da estética. É um tratamento provisório de fácil execução clínica e laboratorial, baixo custo e reversível, tendo em vista que não há necessidade de qualquer desgaste das estruturas dentárias remanescentes. Jan / Dez 2012 Para vários autores a overlay é indicada com finalidade de estabilização oclusal e condicionamento muscular; no restabelecimento da dimensão vertical de oclusão (DVO); como guia para a reabilitação oral subsequente; recurso auxiliar na elaboração do diagnóstico, prognóstico e no planejamento do tratamento reabilitador oral definitivo em pacientes com dentição severamente desgastada e DVO reduzida, permitindo a avaliação da estética, da função e da aceitação do paciente, anteriormente à execução de mudanças permanentes na dentição natural (SWENSON, 1955, BONACHELA et al., 1998; HOTTA et al., 2000; KLIEMANN et al., 2000; MATSUMOTO et al., 2000; JAHANGIRI et al., 2002; TURNER E MISSIRLIAN, 1984; SATO et al., 2000). A instalação de PPR bem planejada e confeccionada adequadamente, restabelecendo a DVO e o equilíbrio neuromuscular, constitui-se numa opção reabilitadora para casos em que a reposição aleatória dos dentes ausentes poderia ocasionar comprometimento dos músculos, ligamentos, periodonto e articulação temporomandibular. A Prótese Parcial Removível Overlay quando associada ao uso de aparelho de desoclusão, à conscientização e controle psicoemocional do paciente pode prevenir desarranjos sensíveis do sistema estomatognático. Conclusão O trabalho ressalta que a PPR overlay é uma alternativa de tratamento reabilitador para arcadas parcialmente desdentadas de pacientes que necessitam de correção da dimensão vertical e / ou realinhamento do plano oclusal. R E B O M I Referências BONACHELA W.C., COSTA S.C., SILVA A.M. Overlay. Uma conduta terapêutica em P.P.R. Rev. Odonto Pope 1998; 2(1):308-15. FERNANDES NETO, A.J.; BARBOSA, G.A.S. Placas oclusais. Roteiros de oclusão. Univ. Fed. 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Profª Adjunta de Periodontia, Univ. Federal Fluminense, Nova Friburgo – UFF/NF Endereço para correspondência: Dra. Gabriela Alessandra da Cruz Galhardo Camargo – R. Dr Sylvio Hernrique Braune, 22 – Centro – CEP 28625-650 – Nova Friburgo – Rio de Janeiro, – Brasil. Tel: (55-22) 2528-7168. E-mail: [email protected] Resumo Atualmente, a Odontologia associa a busca pela excelência biológica, funcional e estética, que deve ser o pré-requisito para os procedimentos odontológicos. A estética dental ocorre por meio do equilíbrio na composição facial, dentofacial, dental e gengival. O sorriso gengival é caracterizado pela exposição de grande faixa de gengiva e está associado, principalmente, à erupção passiva incompleta, à presença de lábio superior curto e ao excesso maxilar anterior. Foi avaliado paciente com queixa de dentes curtos, fato comum na prática clínica. Após exame clínico observou-se excesso gengival devido à erupção passiva. Foi proposto planejamento cirúrgico para a correção da altura do sorriso, através da técnica de aumento de coroa clínica. A técnica cirúrgica empregada para correção do sorriso gengival foi eficiente, proporcionando resultado estético satisfatório e melhora da autoestima. O objetivo do presente estudo é relatar um caso clínico sobre a correção de sorriso gengival. Palavras-chave: sorriso gengival, aumento coroa clínica, cirurgia estética. Recebido para publicação em 7 de outubro de 2012 e aceito em 22 de março de 2013 Abstract Currently, the dental association the pursuit of excellence biological, functional and aesthetic, to be prerequisite for dental procedures. The esthetic dental occurs through the balance of facial makeup, dentofacial, dental and gum. The gummy smile is characterized by exposure to wide range of gum and is associated mainly to incomplete passive eruption, the presence of short upper lip and anterior maxillary excess. Was assessed a patient complaining of short teeth, which is common in clinical practice. After clinical examination is due to excessive gingival eruption due to passive. It was proposed surgical plan to correct the height of the smile, through the technique of increased clinical crown. The surgical technique for correction of gummy smile was efficient, providing satisfactory esthetic results and improved self-esteem. The aim of this study is to report a case of correcting gummy smile. Keywords: gingival smile, crown lengthening, cosmetic surgery. 88 Jan / Dez 2012 R E B O Introdução Atualmente, a Odontologia associa a busca pela excelência biológica, funcional e estética, que deve ser pré-requisito para os procedimentos odontológicos. Assim, o desenvolvimento de técnicas inovadoras e materiais odontológicos possibilitam, em muitos casos, a associação da funcionalidade com a estética. (FOSQUIERA et al., 2009). A estética dental ocorre por meio do equilíbrio na composição facial, dentofacial, dental e gengival. O sorriso ideal deve considerar lábios, gengiva, mucosa alveolar e alinhamento dentário, privilegiando o paralelismo na curvatura entre as linhas incisal, a que passa pela área de contato dos dentes, e a labial inferior, as quais geram forças coesivas para a composição dentofacial (SUZUKI et al., 2008). Para muitos pacientes a estética é prioridade no tratamento odontológico, portanto, há uma grande demanda nos consultórios odontológicos por procedimentos estéticos que possam melhorar a estética do sorriso (MACHADO et al., 2002, ARAUJO et al., 2007; SUZUKI et al., 2008). Alterações estéticas no sorriso revelam efeitos surpreendentes na autoestima dos pacientes (FOSQUIERA et al., 2009). O sorriso gengival é caracterizado pela exposição de grande faixa de gengiva quando o indivíduo sorri e está associado, principalmente, à erupção passiva incompleta, à presença de lábio superior curto e ao excesso maxilar anterior (BORCHETTI; MONNET-CORTI, 2000). As principais causas do sorriso gengival são: crescimento vertical excessivo da face; projeção horizontal da maxila, maior atividade dos músculos elevadores do lábio superior, erupção passiva pela falta de contato interoclusal, ou excesso de gengiva inserida. Tem-se como regra de diagnóstico que quando o espaço interlabial em repouso é normal (1-3 mm) em paciente com sorriso gengival a sua causa é muscular (tecido mole), podendo ser corrigida com recursos da medicina estética, e quando há um aumento do espaço interlabial em repouso a causa é no tecido duro (osso, dente, ou processo alveolar), exigindo correção ortodôntico-cirúrgica (PASQUOTTO; MOREIRA, 2005). M I O objetivo do presente estudo é relatar um caso clínico sobre a correção de um sorriso gengival por meio da técnica de aumento de coroa clínica. Metodologia Relato de caso clínico Paciente J.C com 23 anos de idade, sexo feminino, procurou atendimento odontológico na Universidade Federal Fluminense FOUFF/NF, com queixa principal de dentes curtos. Ao exame clínico, foi avaliado o histórico médico-odontológico pregresso e atual da paciente por meio da anamnese, não apresentando alteração em sua saúde geral. No exame periodontal observou-se médias de índice de placa (IP=2%), índice de sangramento (SS= 5%), profundidade de sondagem (PS= 3 mm), retração gengival (RT= 0) e nível clinico de inserção (NCI= 3 mm), durante a avaliação do sorriso foi observado alteração da altura da margem gengival que posicionavase abaixo da junção cemento-esmalte, o qual resultava em insatisfação estética (figura 1). Figura 1: Aspecto inicial, avaliação do sorriso. A seguir foi realizado planejamento com o auxilio de um modelo de gesso, para a análise da altura ideal do sorriso, visando a confecção de um guia cirúrgico (Figura 2). O exame radiográfico foi realizado pela técnica periapical com uso do cone longo, utilizou-se filme 89 R E B O M ANO 29 • Nº 1 e 2 Figura2: Modelo de gesso realizado para planejamento cirúrgico e estético I mente a cirurgia foi administrado protocolo medicamentoso pré-operatório, receitando o uso do paracetamol 750 mg (Eurofarma, São Paulo, SP, Brasil) na posologia de um comprimido, uma hora antes do procedimento, objetivando controle da dor e betametasona 2mg, dois comprimidos uma hora antes do procedimento para controle do edema. Com base nos altura de dentes desejada foi realizado guia cirúrgica (Figuras de 6 ). Figura 4: Avaliação inicial. Insight (Eastman Kodak Company, Rochester, New York - USA) com tempo de exposição de 0,4 segundos em aparelho Spectro II (Spectro II, Dabi Atlante do Brasil) com 70KVp e 10mA (Figura 3). Figura 3: Exame radiográfico periapical de todos os dentes superiores para avaliação da altura da crista óssea. Figura 5: Avaliação do modelo de gesso. Figura 6: Guia cirúrgico realizado a partir do planejamento cirúrgico. Após a realização dos exames, foi realizado o planejamento cirúrgico por meio de analise da altura e largura dos dentes e faixa de exposição gengival. A determinação da altura adequada da margem gengival deve ser obtida levando em consideração a altura média dos dentes, com a proporção comprimento/ largura de 10:8 mmm e a relação do zênite gengival com o vermelho do lábio, devendo as margens gengivais dos incisivos centrais e caninos superiores tocarem a borda do lábio superior. A seguir o procedimento cirúrgico foi planejado, para o restabelecimento da distância biológica. Previa90 A seguir foi realizada uma anti-sepsia extra oral com clorexidina a 4% e intra-oral com clorexidina a 0,12% (Colgate-palmolive Ind Com. Ltda, São Paulo, SP, Brasil). A anestesia foi infiltrativa na região de fundo de vestíbulo com a utilização do anestésico lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000 (DFL Ind e Com. Ltda, Rio de Janeiro, RJ Brasil). A técnica de aumento de coroa clinica foi realizada. Inicialmente foi realizada incisão intrasulcular com a utilização da lâmina de bisturi 15C, com extensão da Jan / Dez 2012 distal do pré-molar à distal do pré-molar oposto (Figura 7). O retalho realizado foi mucoperiosteal de espessura total (Figura 8). Após o rebatimento do retalho, foi verificada a distância entre a crista-óssea alveolar e a junção cemento-esmalte, por meio da utilização de sonda periodontal milimetrada de Williams (HuFriedy, Chicago, IL,USA). Figura 10: Reposicionamento do retalho e sutura tipo colchoeiro interno realizada na região interproximal. R E B O M I Figura 7: Incisão intrasulcular com lamina de bisturi 15c. Figura 8: Vista frontal, elevação do retalho de espessura total, para avaliação da crista óssea alveolar. Para o protocolo medicamentoso pós-operatório, foi prescrito o uso via oral, paracetamol 750mg (Eurofarma, São Paulo, SP, Brasil) a cada 6 horas por 48 horas e uso tópico clorexidina 0,12% (Colgatepalmolive Ind Com. Ltda, São Paulo, SP, Brasil), uso diário, a cada 12 horas, bochecho da solução por 1 minuto durante 30 dias. A paciente foi orientada para retornar após 15 dias para remoção da sutura e foi incluída em programa de controle de placa supervisionado a cada 2 semanas até completar 3 meses. Resultados Figura 11: Sorriso inicial A seguir foi realizada uma osteotomia com brocas multilaminadas e a adaptação da guia cirúrgica até se obter a distância de 3 mm entre a guia cirúrgica e a crista óssea (Figura 9). Figura 9: Avaliação da distancia da crista óssea alveolar a guia cirúrgica logo após a orteotomia. Manutenção de 3 mm de distancia para estabelecimento do espaço biológico. Figura 12: Sorriso após o tratamento Discussão Após a osteotomia foram realizadas suturas do tipo colchoeiro interno (Figura 10). O tratamento do sorriso gengival tem sido executado com sucesso pela cirurgia plástica periodontal. Contudo, as indicações terapêuticas são bastante precisas e 91 R E B O M I 92 ANO 29 • Nº 1 e 2 podem passar por simples procedimentos cirúrgicos, como a cirurgia para aumento da coroa clínica, ou por procedimentos mais complexos como a cirurgia ortognática, etc (CLAVIJO et al., 2008). Neste estudo, foi avaliado aumento de coroa clínica em paciente jovem que se queixava de dentes curtos após o tratamento ortodôntico. Borchetti e Monnet-Corti (2000) afirmaram que as causas do sorriso gengival decorrem, principalmente, a erupção passiva incompleta, presença de lábio superior curto e excesso maxilar anterior. Pasquotto e Moreira (2005) complementam relatando como as principais causas do sorriso gengival são: de crescimento vertical excessivo da face, projeção horizontal da maxila, maior atividade dos músculos elevadores do lábio superior, erupção passiva pela falta de contato interoclusal ou excesso de gengiva inserida. No caso aqui relatado o sorriso gengival tem como causa erupção passiva incompleta. Como sugerido pela literatura científica, para esse relato de caso foram realizados todos os exames necessários para o diagnóstico e avaliação do aumento gengival. O exame radiográfico é importante para avaliar a distância biológica entre a crista alveolar e a junção cemento-esmalte (FESTUGATTO et al., 2000). A técnica de aumento de coroa clínica foi indicada porque é o procedimento mais utilizado na clínica odontológica em pacientes que apresentam sorriso gengival ou coroa clínica pequena em áreas estéticas. Tal procedimento envolve a remoção cirúrgica de tecidos periodontais moles e duros a fim de obter ganho no tamanho da coroa acima da crista alveolar. Os procedimentos mais descritos na literatura são gengivectomia ou o deslocamento apical do retalho de espessura total ou parcial, associados ou não a osteotomia (CLAVIJO et al.,2008, PASCOTTO, MOREIRA, 2005; GUSMÃO et al.,2006; CLAVIJO et al., 2008). Neste caso, realizamos a cirurgia de aumento de coroa clinica utilizando uma incisão intrasulcular e osteoplastia seguindo uma guia cirúrgica que estava de acordo com o planejamento estético. A correção do sorriso gengival deve contar com um tratamento multidisciplinar visando à estética e funcionalidade periodontal, com o correto planejamento clínico e laboratorial (CLAVIJO et al., 2008; REDDY, 2003; SUZUKI et al., 2008; FOSQUIERA et al.,2008; PARK, 2010). No presente estudo foi empregada a técnica de aumento de coroa clínica associado ao planejamento de proporção áurea que analisa o tamanho das coroas dentais. A cirurgia para aumento de coroa clínica é uma técnica amplamente utilizada na clínica odontológica. Este procedimento envolve a remoção cirúrgica de tecidos periodontais moles e duros a fim de obter ganho no tamanho da coroa acima da crista alveolar do espaço biológico. O ato cirúrgico deve ser precedido de avaliação detalhada do estado de saúde do paciente, da relação interdentária e do estado dos tecidos periodontais (MACHADO et al., 2005; PARK, 2010). No que se refere à cicatrização periodontal e a regeneração dos tecidos a literatura mostra que estas são influenciadas por múltiplos fatores, como tipo de células, ruptura da camada de células e da concentração sérica (LACKLER et al., 2000). A literatura indica também que os fibroblastos gengivais têm uma capacidade muito maior de cicatrização que as células de proliferação de ligamento periodontal (LACKLER et al., 2000). Neste estudo, foi avaliado apenas clinicamente a cicatrização dos tecidos periodontais e esse se apresentou de acordo com os padrões de normalidade, pois não foi relatada nenhuma alteração pelo paciente. Como conclusão do relato de caso clínico apresentado e da revisão de literatura, é possível afirmar que a correção do sorriso gengival trouxe benefícios estéticos, funcionais e psicológicos para a paciente assim como os achados relatados por (MACHADO et al., 2002; PARK, 2010). Conclusão A técnica cirúrgica empregada para correção do sorriso gengival se mostrou eficiente, proporcionando um melhor resultado estético e sorriso natural e proporcionou a melhora da autoestima pelo paciente. Referências ARAÚJO, M; KINA, S; BRUGERA, A. Manejo do sorriso gengivoso. Revista Dental Press Periodontia Implantol., Maringá. 2007, 1(1):68-75 BORGHETTI, A; MONNET-CORTI, V. Fisiopatologia e exame do complexo mucogengival. In: Cirurgia plástica periodontal. Porto Alegre: Editora Artmed, cap. 2, 57-97p., 2002 Jan / Dez 2012 CLAVIJO, VGR; PELEGRINE, AA; COSTA, CES; HENRIQUES, PSG; OLIVEIRA JR, OB; ANDRADE, MF. Correção da estética gengival e dental – interação perioprótese. Revista Dental Press Estét. 2008, 10(10):21-36 DIBART, S; CAPRI, D; KACHOUH, I; DYKE, TV; NUNN, ME. Crown lengthening in mandibular molars: a 5-year retrospective radiographic analysis. J Periodontol. 2003, 74:815-821. FOSQUIERA, EC; BREMM, LL; MIURA, CS. Correção do sorriso gengival associado ao clareamento dental – relato de caso clínico. XVIII Encontro do GBPD – Grupo Brasileiro de Professores de Dentística. Foz do Iguaçu – PR, 14 a 17 de janeiro de 2009. Disponível em <www.uepg.br/encontrogbpd>, acesso em abril, 2010. Development of an in vitro wound healing model for periodontal cells. J Periodontol. 2000, 71: 226-237 MACHADO, TP; SILVA JR, JA; MACHADO, WAS. Correção cirúrgica do sorriso clínica. RGO. 2005, 53(2): 85-164 with Simultaneous Tooth-Preparation. Eur J Dent. 2010, 4(2): 197-201 PASCOTTO, RC; MOREIRA, M. Integração da odontologia com a medicina estética: correção do sorriso gengival. RGO. 2005, 53(3): 171-5 Sorriso gengival: cirurgia ressectiva coadjuvante à estética dental. Odonto. Periodontol. 2000, 71:96-103. para correção de sorriso. Odontologia Clin-Cientif. 2006, 5(4):345-48 JORGENSEN, MG; NOWZARI, H. Aesthetic crown lengthening. Periodontology. 2001, 27:45-58 LACKLER, KP; COCHRAN, DL; HOANG, AM; TAKACS, V; OATES, TW. I PARK, J.B. Restoration of the Severely Decayed Tooth Using Crown Lengthening comparação de técnicas de diagnóstico de invasão do espaço biológico do GUSMÃO, ES; COELHO, RS; CEDRO, IR; SANTOS, RL. Cirurgia plástica periodontal M MACHADO, WAS; MACHADO JR, DZ; SILVA JR, JA; KAHN, S. Aumento de coroa PEDRON, IG; UTUMI, ER; TANCREDI, ARC; PERRELLA, A; PEREZ, FEG. GARNICK, JJ; SILVERSTEIN, L. Periodontal probing: probe tip diameter. J B O gengival. Revista Científica OCEx. 2002, 6: 36-7. FUSTEGATTO, FE; DAUDT, FARL; ROSING, CK. Aumento de coroa clínica: periodonto. Revista Periodontia, 1-19p., 2000. R E 2009, 18(35): 87-95 REDDY, MS. Achieving gingival esthetics. J Am Dent Assoc. 2003, 134: 295-304 SILBERT, J; LINDHE, J. Estética no tratamento periodontal. In: Tratado de Periodontia Clínica e Implantologia Oral. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, cap. 21, p. 463-91, 1999. SUZUKI, PH; VASCONCELOS, AML; SEGUNDO, AS; OLIVEIRA, ACG; NEVES, ANP; RASLAN, SA. Valorizando o sorriso gengival: relato de caso. Revista Inpeo de Odontologia. 2008, 2(2): 41-56 93 R ANO 29 • Nº 1 e 2 E B NORMAS DE PUBLICAÇÃO O M I 1. MISSÃO: A Revista científica é um órgão de divulgação da Academia Brasileira de Odontologia Militar (ABOMI). Tendo sua publicação anual, com trabalhos de pesquisa, casos clínicos e revisão de Literatura destinada aos Oficiais Dentistas das Forças Armadas e Auxiliares,alunos e professores dos cursos de pós-graduação conveniados com a ABOMI membros titulares e aspirantes da ABOMI e dentistas e professores da área civil. Tem o objetivo principal de divulgação de técnicas, conhecimentos clínicos e científicos empregados nas Unidades de Saúde das Forças Armadas e Auxiliares e em outros órgãos militares e civis; além de atualizações informais diversas. 2. NORMAS GERAIS: 2.1. A Revista Científica da ABOMI receberá para publicação trabalhos redigidos em português. A redação deve ser clara e precisa, evitando-se trechos obscuros, incoerentes e ambigüidades. 2.2. A Revista Científica da ABOMI reserva-se o direito de submeter todos os trabalhos originais à apreciação do Conselho Editorial da Revista. Os conceitos emitidos nos trabalhos publicados serão de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião daquela Comissão Científica ou da ABOMI. 2.3 A Revista Científica da ABOMI, ao receber os originais, não assume o compromisso de publicá-los, o que só ocorrerá após observância das normas e da decisão do Conselho Editorial. 2.4 As datas de recebimento, reformulação (se houver) e de aceitação do trabalho constarão, obrigatoriamente, no final do mesmo, quando da sua publicação. 2.5 Os direitos autorais passarão a ser de propriedade da Revista Científica da ABOMI, sendo vedada tanto sua reprodução, mesmo parcial, em outros periódicos, como sua tradução para publicação em outros idiomas, sem prévia autorização desta. 2.6 Os trabalhos aceitos para publicação poderão ser modificados para se adequarem ao estilo gráfico da revista sem que, entretanto, nada de seu conteúdo técnico científico seja alterado. No caso de o trabalho incluir tabelas e ilustrações previamente publicadas por outros autores, é dever do autor fornecer a fonte de origem da informação. 2.7 Serão aceitos no máximo (6) autores por artigo científico. 3. FORMA DE APRESENTAÇÃO DE ORIGINAIS: 3.1 Os originais submetidos à publicação devem obrigatoriamente ser acompanhados de figura(s) que faça(m) referência direta – figura(s) técnica(s) sobre metodologia ou sobre os resultados. Serão considerados para publicação os seguintes tipos de manuscritos: 3.2 Trabalho de Pesquisa: Apresentam novas idéias, nos quais são informados os resultados obtidos, os métodos descritos, técnicas e processos utilizados. 3.3 Relato de casos clínicos: É a descrição detalhada e análise crítica de um caso típico ou atípico. O autor deve apresentar 94 um problema em seus múltiplos aspectos, sua relevância e revisão bibliográfica sobre o tema. 3.4 Revisão de literatura: Uma revisão de literatura sobre um assunto específico, geralmente contendo análise crítica e síntese da literatura que irá dar ao leitor uma cobertura geral de um assunto com o qual ele pode ou não estar familiarizado. 3.5 Resumo: Resumo de dissertações de Mestrado, teses de Doutorado ou Livre Docência, apresentadas em instituições brasileiras ou estrangeiras. Seu objetivo é a transmissão, de maneira rápida e fácil sobre a natureza do trabalho, suas características básicas de realização e alcance científico afirmado. 3.6 Editorial: Opinião comentada do editor, corpo editorial ou autor convidado, em que se discutem o conteúdo da revista e possíveis alterações na missão e ou forma da publicação. 3.7 Conversando com o Paciente (Entrevista): Pergunta questões pertinentes sobre um determinado assunto da área odontológica, formulada de maneira sucinta Resposta: restrita a questão formulada, com nome(s) do (s) entrevistado(s) e titulação. 4. APRESENTAÇÃO DE MANUSCRITOS 4.1 Os originais deverão ser redigidos de acordo com o Estilo Vancourver. O original deverá ser enviado em 3 (três) cópias impressas, digitadas em processador de texto Microsoft Word na fonte Times New Roman, tamanho 12, folhas de papel tamanho A4, espaço duplo e margem de 2 cm de cada um dos lados, tinta preta, páginas numeradas no canto superior direito. Deverão ser enviadas três cópias impressas e uma cópia digital (disquete ou CD). O artigo deverá ser composto por 12 a 15 laudas. 4.2 Na primeira folha de apresentação do trabalho deve constar: A) Título e subtítulo (português e inglês): conciso contendo somente as informações necessárias para a identificação do conteúdo. B) Especificação: se o trabalho é resumo ou parte de dissertação ou tese, monografia de especialização ou outros. C) Nome (s) do (s) autor (es) por extenso na ordem a ser publicada com sua qualificação curricular e títulos acadêmicos. D) Endereço principal para correspondência e e-mail do autor responsável pelo trabalho. 4.3 Demais páginas devem ser estruturadas seguindo a seqüência: Resumo (máximo de 150 palavras) e palavras chave, abstract e key words, texto, agradecimentos, referências, tabelas (cada uma em uma página) e legendas. 4.4 Citações: é a menção no texto de uma informação extraída de um documento ou de um canal de informação. A autoria da citação deverá ser inserida utilizando o Sistema autor-data, com a data entre parênteses ou entre vírgulas, quando no início da frase ou parágrafo. Exemplos: Um autor: Porto Neto, 1998, investigando as reações... ou Porto Neto (1998). Até 3 autores: Braga e Alvarenga (1996) pesquisaram... ou Braga e Alvarenga, 1996, Mais de três autores: Araújo Filho et al., 2000, avaliaram ... Quando a chamada Jan / Dez 2012 estiver no final da frase ou parágrafo ela é inserida entre parênteses em letra maiúscula. Exemplo: ... e concluíram que esta modalidade terapêutica é mais indicada (PORTO NETO, 1998; ARAÚJO FILHO, 2000). 4.5 Referências: as referências devem ser relacionadas em ordem alfabética, seguindo as seguintes normas: 4.5.1 Artigo de periódico: Sobrenome (s) do (s) autor (es), letras iniciais de seus nomes (separados por pontos), em letra maiúscula, ponto. Título do trabalho, ponto. Título da revista em negrito, ponto. Ano de publicação seguido de ponto e vírgula, Número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem ser citados todos os autores até três autores. Quando mais de três, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: PIMENTA, C.A.M.; KOIZUME M.S. Analgesia em câncer: crença e atualização. Rev Esc Enfermagem USP. 1993; 27:309-314. 4.5.2 Livro: Sobrenome (s) do (s) autor (es), letras iniciais de seus nomes (separados por pontos) ponto. Título do livro. Edição (a partir da 2ª ed) ponto. Cidade: Editora. Ano. Total de páginas. Se for utilizado o nome do tradutor, esse deverá vir logo após a edição ou título do livro (caso seja 1ª edição). Exemplo: MATHEWSON, R.J, PRIMOSCH, R.E. Fundamentals of pediatric dentistry. 3ª ed. Chicago: Quintessence Books; 1995. 250 p 4.5.3 Capítulo de livro: Sobrenome e letras iniciais do(s) nome (s) do(s) autor (es) do capítulo, ponto. Título do capítulo, ponto. Edição (a partir da 2ª ed.), ponto. In: autor, ponto. Título (se tiver mais de um volume, coloque antes da Ed ou cidade). Cidade: editora. Ano. Cap, p. Exemplo: WEREBE, D.M. Depressão no câncer. In: FRÁGUAS JÚNIOR, R., FIGUEIRÓ, J.A.B. Depressões em medicina interna e em outras condições médicas: depressões secundárias. São Paulo: Atheneu. 2000. Cap. 18, p.159-164 Obs.: até 3 (três) autores de livro, todos devem ser citados. Quando mais de 3 (três), colocar a abreviação latina “et al.”. 4.5.4 Suporte eletrônico: NERALLAH LJ. Correção de fístulas pela técnica de bipartição vesical. Rev Bras Odontol. 1993; 27:309314. Disponível em: <http://www.epm.br/ postsurg.htm>. Acesso em: 24 mar. 2004. 4.6 A) As ilustrações (gráficos, desenhos, etc.) devem ser construídas preferencialmente em programa apropriado (Word, Excel, Corel e outros). Devem se apresentadas em folhas separadas e numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. B) As fotografias deverão ser fornecidas digitalizadas com resolução em 300 dpi. C) As legendas de tabelas e quadros devem ser colocadas na parte superior dos mesmos. D) As legendas de figuras e gráficos devem ser colocadas na parte inferior dos mesmos. E) Todas as tabelas, gráficos, quadros e figuras, sem exceção, devem ser citados no texto. 5. COMITÊ DE ÉTICA: 5.1 Qualquer trabalho que envolva estudo com seres humanos, incluindo-se órgãos e/ou tecidos isoladamente, bem como prontuários clínicos ou resultados de exames clínicos, deverá estar de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e seus complementos, e ser acompanhado do parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da unidade em que o trabalho foi realizado. 5.2 Não devem ser utilizados no material ilustrativo nomes ou iniciais do nome do paciente. 5.3 Os experimentos com seres humanos devem indicar se os procedimentos utilizados estão de acordo com os padrões éticos do Comitê de Pesquisa em Seres Humanos (seja institucional ou regional). 5.4 Nos experimentos com animais devem ser seguidos os guias da Instituição dos Conselhos Nacionais de Pesquisa sobre o uso e cuidado dos animais de laboratório. R E B O M I 6. ETAPAS DE AVALIAÇÃO: 6.1 Os originais que deixarem de cumprir qualquer uma das normas aqui publicadas relativas a forma de apresentação, por incompletude ou inadequação, serão sumariamente devolvidos antes mesmo de serem submetidos a avaliação quanto ao mérito do trabalho e a conveniência de sua publicação. 6.2 Os trabalhos que, a critério do Conselho Editorial, não forem considerados convenientes para a publicação serão devolvidos aos autores em caráter definitivo. 6.3 O artigo deverá estar acompanhado de uma declaração do(s) autor (es), conforme modelo abaixo declaração do(s) autor (es), conforme modelo abaixo: Declaração Título do Artigo________________________________ O(s) autor(es) abaixo assinado(s) submetem o trabalho intitulado a apreciação da Revista Científica da ABOMI para ser publicado. Declaro(amos) estar de acordo que os direitos autorais referentes ao citado trabalho, tornem-se propriedade exclusiva da Revista Científica da ABOMI desde a data de sua publicação, sendo vedada qualquer reprodução total ou parcial, em qualquer outra parte ou meio de divulgação de qualquer natureza, sem a prévia e necessária autorização obtida à Rev Cient ABOMI. Declaramos, ainda, que é um trabalho original, sendo que seu conteúdo não foi ou está sendo considerado para publicação em outra revista, quer no formato impresso ou eletrônico. Concordamos com as normas acima descritas, com total responsabilidade quanto as informações contidas no artigo, assim como em relação as questões éticas. Data___________________ Nome dos Autores ____________________ Assinatura 7. ENCAMINHAMENTO DO ARTIGO: Toda a correspondência deve ser enviada para o : Editor da Revista Científica da ABOMI, Rua Alcindo Guanabara 17/21 salas 1001/1005 Telefone/Fax 021-22206798 CEP:200031-200 Rio de Janeiro-RJ Email: [email protected]>, [email protected] 95 R E B O M I 96 ANO 29 • Nº 1 e 2