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ISSN 1659-2697
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ANO 7 | 2011 | Nº 15
C
M
J
CM
MJ
CJ
CMJ
N
ANO 7 | 2011 | N°15
setor água:
Preocupação com o impacto da nova turbulência financeira
ANO 7 | 2011 | N. 15
CONSELHO EDITORIAL
Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial da Água
(WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (USP), Brasil.
Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP)
Costa Rica e membro do Comitê Diretivo da GWP América Central.
Claudio Osório | Consultor Internacional de Água e Saneamento.
Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008.
DIRETORA GERAL | Yazmín Trejos
Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil
DIRETORA DE REDAÇÃO | Luciana de Paula
Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil
COLABORADORES
Andrei S. Jouravlev, Oficial para Assuntos Econômicos da Divisão de Recursos
Naturais e Infraestrutura da Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (CEPAL).
Colin Herrón, Assessor para Projetos Estratégicos (CONAGUA).
Estrellita Fuentes, Gerente de Planejamento Hídrico (CONAGUA).
Griselda Medina, Subgerente de Gestão e Avaliação de Projetos com Crédito
Externo (CONAGUA).
Gustavo Rocha de Castro e Pedro de Magalhães Padilha, Instituto de
Biociências de Botucatu – UNESP – Brasil.
Dr. Jesús Román Martinez, Secretário-Geral do Instituto de Pesquisa sobre
Água e Saúde.
Jonathan G. Pressmann, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
Mark Tercek, Presidente e Diretor Geral The Nature Conservancy (TNC).
Paulo Varella, Diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), do Brasil.
Dr. Victor Villalobos Arambula, Diretor Geral do Instituto Interamericano para
as Ciências Agrícolas.
Walter Ferrufino, Coordenador da Junta de Água Municipal, El Paraíso,
Honduras.
ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Luis Alonso Ramírez e Juliana Gebrin
TRADUÇÃO E EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Pampa Tradução e Interpretação
FALE CONOSCO | [email protected]
Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem
Foto: Carmen Abdo
PRODUÇÃO EDITORIAL:
Satori Editorial | www.satorieditorial.com
EDITOR CHEFE | Boris Ramírez
EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo
DESIGN GRÁFICO | Gerson Tung
CORREÇÃO DE ESTILO | María del Mar Gómez
CAPA | Carmen Abdo
“A prática
da compaixão não
é um sintoma de
idealismo irrealista,
mas a maneira mais
eficaz de buscar os
interesses dos outros
e também os nossos.
Quanto mais dependemos
dos outros - como nação,
como grupo ou como
pessoas - mais é do nosso
próprio interesse assegurar
o seu bem-estar.”
DALAI LAMA
CONTEÚDO
20
06
14
23
23
27
41
CAPA
O SETOR DE ÁGUA FLUI EM TEMPO DE CRISE
O principal temor que os especialistas consultados pela Revista Aqua Vitae concordam é o custo
crescente e cumulativo que os impactos destrutivos de eventos hidrometereológicos extremos
tem ocasionado sobre a infraestrutura de água e saneamento.
eConomiA
InvESTIMEnTO EM InFRAESTRUTURA vERDE
Ao investir em infraestrutura verde, como as florestas ou rios, as companhias e empresas gestoras
da água poupam dinheiro na construção da infraestrutura cinza. Fundo de Água é uma forma
inovadora de pagamento dos serviços prestados pela natureza e reinvestimento desse dinheiro
na preservação.
AmBienTe
FLORESTAS E ÁGUA: COnEXÃO vITAL E InDISPEnSÁvEL
No último relatório da FAO, de 2011, sobre a situação das florestas, o território mencionado
apresenta uma avaliação tanto com aspectos luminosos quanto sombrios.
A Aqua Vitae consultou autoridades latino-americanas de três setores vinculados ao manejo de
bacias para informar o que é feito na região.
oPiniÃo
vISÃO RURAL E LIÇÕES APREnDIDAS
É necessário desenvolver tecnologias para o setor de águas e saneamento junto com as
comunidades que as usarão, pois assim receberão o mesmo “código genético”. Por INÉS
RESTREPO TARQUINO, Diretora Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em Abastecimento de
Água, Saneamento Ambiental e Conservação dos Recursos Hídricos (CINARA), Colômbia.
inTeRnACionAL
LOnDRES LIMPA SUA CARA
Um dos maiores e mais ambiciosos projetos da infraestrutura hidráulica mundial coloca
novamente a Grã Bretanha na linha de frente, dando respostas modernas ao aumento da
capacidade exigida pelos sistemas de esgoto.
PeRSPeCTiVA 05
CASoS 18
LeGiSLAçÃo 20
ALTo PeRFiL 28
inFoGRÁFiCo 32
BReVeS Do mUnDo 33
TeCnoLoGiA 34
SAúDe 38
CULTURA 45
SiTeS De inTeReSSe 48
14
PERSPECTIVA
D
ecidimos fazer uma averiguação para determinar se o
impacto da crise econômica de 2008 afetou significativamente os projetos de água e saneamento na América
latina. Consultamos personalidades relevantes como o Diretor
da Agência Nacional de Águas do Brasil (ANA), Paulo Varella,
o especialista da Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe (CEPAL), Andrei Jouravlev e uma equipe de primeira
linha da Comissão Nacional de Águas do México, entre outros
líderes regionais.
Com eles chegamos à conclusão de que não houve maior
impacto, tal como demonstrado pelos dados do BID e pelas
próprias declarações das autoridades, que sustentam que os
grandes projetos continuam em andamento. Mas há temores
decorrentes das novas turbulências financeiras que começaram
em 2011 nos Estados Unidos e na Europa. Também preocupa
o aumento do custo por danos à infraestrutura hídrica, experimentado pela região em função de eventos climáticos extremos: a CEPAL registrou o custo de US$49,188 bilhões neste
item, em 2010.
É necessário lembrar que a tecnologia tem o código genético da
sociedade que a desenvolveu, e que é necessário desenvolver tecnologias com as próprias comunidades para evitar novos custos
por falta de compatibilidade. Essa observação de Inés Restrepo,
a nova Diretora do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em
Abastecimento de Água, Saneamento Ambiental e Conservação
dos Recursos Hídricos (CINARA) da Colômbia, se mostrou muito
relevante à luz da atual situação econômica mundial.
Na seção de Economia, incluímos a Aliança Latino-Americana de
Fundos da Água (ALFA), um mecanismo inovador cujo objetivo é
proteger os recursos hídricos mais ameaçados na nossa região.
Desejamos-lhe uma boa leitura!
Yazmín Trejos
Diretora - aqua Vitae
AquA VitAe 5
Setor Água:
Foto: Carmen Abdo
Preocupação com o impacto
da nova turbulência financeira
6 AquA VitAe
A AméricA LAtinA e os seus projetos do setor de águA e sAneAmento
conseguirAm se esquivAr dos efeitos dA crise econômicA, que desde
2008 AfetA o mundo. mAs, é necessário continuAr A dAr prioridAde
Ao temA do investimento e A considerAr o custo gerAdo peLos
eventos hidrometeoroLógicos extremos.
Foto: Carmen Abdo
Foto: Carmen Abdo
Por BorIS raMÍreZ
Por BorIS raMÍreZ
AquA VitAe 7
A
t é o momento, a América Latina e os seus grandes
projetos de água e saneamento conseguiram se esquivar dos efeitos da crise econômica que afeta o mundo
desde 2008.
“No final de 2010, o prognóstico de crescimento da América Latina e do Caribe é maior que o das economias desenvolvidas; as
instituições financeiras, monetárias e fiscais são muito mais sólidas
do que duas décadas atrás; os recursos naturais demandados pelo
mundo são abundantes na nossa região; e a política social vem
dando conta de avanços importantes por meio do uso de ferramentas cada vez mais eficazes”, afirmou Luis Alberto Moreno, diretor
do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ao divulgar o
último relatório no qual foram analisados os efeitos da crise econômica na região.
Segundo o relatório, este panorama favorável é sustentado pelo
fato da economia política da região ser regida por governos democráticos com características distintas, que adotaram um enfoque
bastante pragmático de políticas macroeconômicas eficazes, que
garantirão êxito à região.
O saldo também é positivo quando estas decisões são projetadas
no setor de água e saneamento. “Os dados do Departamento de
Pesquisa do BID relativos a um amplo conjunto de países da América do Sul, integrado por Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela, que representam 93% do PIB da América
Latina, indicam que os níveis de investimento não foram afetados
pela crise econômica de 2008”, afirma Paulo Varella, Diretor da
Agência Nacional de Águas, acrescentando que importantes projetos do setor de água e saneamento não foram afetados.
O Banco Mundial e representantes da Comissão Nacional de Águas
do México (CONAGUA) sustentam essa mesma posição, afirmando
que não houve efeitos negativos no setor água: “Nos últimos 20
anos (desde a década de 1980), a América Latina vem experimentando uma revolução econômica silenciosa que a permitiu absorver
os choques externos da economia, tal como visto na crise anterior,
de 2008, e essa firmeza ainda se mantém”, é o parecer de Augusto
de la Torre, economista chefe do Banco Mundial.
8 AquA VitAe
Essa firmeza foi transmitida ao setor de água e saneamento,
onde as obras continuam. Um grupo de especialistas mexicanos
reconhece inclusive que a estratégia foi promover este tipo de investimento. Colin Herrón, Assessor para Projetos Estratégicos da
CONAGUA, explicou: “Os principais projetos hidráulicos atualmente em construção no México são: Túnel Emissor Oriente (TEO),
Planta de Tratamento de Água Residual de Atotonilco e as Represas
para o Armazenamento de Água Potável El Realito e El Zapotillo.
Entre as obras realizadas, há 260 novas plantas de tratamento e a
recuperação e ampliação de outras 51. As construções não foram
afetadas de forma significativa pela crise econômica”.
Brasil precisa de obras no valor de US$62 bilhões, Peru US$2,687
bilhões, Equador US$1,8 bilhões, Chile US$860 milhões, Costa
Rica US$745 milhões, Nicarágua US$350 milhões, e o México
precisa de “US$4,5 bilhões nos próximos 10 anos”, segundo o
Diretor da CONAGUA, José Luis Luege.
O fato das maiores obras da região não terem sido afetadas não
significa que haja despreocupação frente aos novos choques da
turbulência financeira iniciada em 2011, que vem afetando os
Estados Unidos e a Europa, e que poderia vir a ter impacto em
economias emergentes como as da China, Brasil, Rússia e Índia, retardando as linhas de financiamento para novas obras hidrológicas.
Em 2010 houve, na América Latina, 98 desastres naturais relacionados ao clima, que deixaram 225.000 mortos e afetaram 13,8
milhões de pessoas. O relatório “Desastres e Desenvolvimento: o
impacto econômico em 2010”, da CEPAL, estima que o impacto
econômico foi de US$ 49,188 bilhões. (Ver quadro)
“É inegável que alguns projetos, quer sejam de infraestrutura viária ou hídrica, podem ser afetados, mas, isso se deve ao pouco
interesse que despertam nos investidores, o que não deve ser necessariamente grave”, sustentou Georgina Kessel, Diretora Geral
do Banco Nacional de Obras e Serviços do México.
Dados concretos sobre as obras necessárias são publicados desde
2008 e emanam de um estudo da Organização Pan-americana
da Saúde, BID, Banco Mundial e da Associação de Engenharia
Sanitária Ambiental, intitulado “Saneamento para o desenvolvimento: Como estamos em 21 países da América latina e do
Caribe?”, que determina o que é necessário para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em água e saneamento. O
O principal temor sobre o qual concordam os especialistas consultados por Aqua Vitae é o reconhecimento do custo crescente
e acumulativo ocasionado pelo impacto destrutivo dos eventos
hidrometeorológicos externos sobre a infraestrutura de água e
saneamento.
Dada a importância do tema e a pertinência dos investimentos
que devem continuar a ser feitos, é crucial que o setor hídrico
regional esteja preparado para enfrentar uma nova recessão
econômica, principalmente porque, de acordo com a ONU, serão
necessários investimentos de US$150 bilhões nos próximos anos.
“O panorama econômico mundial continua sombrio e o cenário
da região não é uniforme: há alguns países mais e outros menos
preparados para a contingência. Pensando nos pior situados, a
experiência ensina, através da analise da economia política dos
cortes orçamentários em tempos de crise, os investimentos são
diferidos e os gastos de manutenção da infraestrutura existentes são cortados”, afirmam os consultores Gustavo Ferro e Emilio
Lentini, da CEPAL.
AquA VitAe 9
ViSÕeS eM PeRSPeCtiVA
Para elucidar este panorama, obtivemos uma exclusiva com importantes atores do setor, que expressaram suas respectivas posições. Foram entrevistados especialistas da CEPAL e das duas principais agências regionais de água no Brasil e no México.
MANTER LINHAS DE CRÉDITO
Paulo Varella
Diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), do Brasil.
Na América Latina, quais projetos importantes do setor de
água e saneamento foram afetados pela crise econômica que
é enfrentada desde 2008?
Os dados do Departamento de Pesquisas do Banco Interamericano
de Desenvolvimento – BID (Latin American and Caribbean Macro
Watch Database), relativos a um amplo conjunto de países (composto por Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Peru e Venezuela, os quais representam 93% do PIB da América Latina), indicam que os níveis de investimento não foram afetados pela crise
econômica de 2008. Os dados agregados relativos aos anos de
2009 e 2010 indicam que os níveis de investimento nesses países
permaneceram em um patamar de 20% do PIB, em níveis próximos
ao de 2008 (22,6%) e ligeiramente superior àqueles registrados
no período de 1990 a 2007. No Brasil, não há sinais de que a crise
de 2008 tenha afetado diretamente o setor de saneamento. Ao
contrário, o que se tem observado há algum tempo, principalmente
a partir de 2007, é uma ampliação significativa dos investimentos
públicos e privados no setor. Entre os grandes projetos atualmente
em desenvolvimento, pode-se destacar o Projeto de Integração do
Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF) de iniciativa do Ministério da Integração, o qual tem
por objetivo assegurar a oferta de água para cerca de 12 milhões de
pessoas em 4 estados brasileiros.
Quais são os principais desafíos de investimentos neste setor
em tempos de crise como os que viemos enfrentando?
A manutenção de linhas de crédito para investimentos em ampliação e modernização da infra-estrutura sanitária é fundamental.
Entretanto, é importante que, ao mesmo tempo, haja garantias
de boa aplicação dos recursos públicos ofertados aos operadores
públicos e privados.
Que mecanismos ou instrumentos financeiros devem ser fortalecidos para se evitar que uma cise afete o setor?
No Brasil, além do rol de produtos financeiros tradicionais, tem
se buscado diferentes estratégias para indução positiva dos agentes econômicos diretamente responsáveis pelos investimentos em
água e saneamento. Pode-se citar, entre as formas inovadoras de
financiamento do setor, a constituição de fundos garantidores para
parcerias público-privadas; a locação de ativos de agentes privados
(construtores, financiadores e locadores) para operadores públicos
(locatários); bem como a utilização de mecanismos de mercado,
com criação de fundo de investimento público para compra de participações e títulos de dívida, objetivado-se a capitalização de empresas do setor saneamento. Pode-se citar também a experiência
bem sucedida de “pagamento por resultados”, voltada à indução
de investimentos em tratamento de esgotos. Esse mecanismo de
indução financeira, em execução pela Agência Nacional de Águas
há uma década, é uma forma positiva de garantir a sustentabilidade
operacional de estações de tratamento de esgotos, muitas delas
construídas com financiamento público
CuStO DeViDO AO CLiMA
Estes são alguns dos custos que vêm sendo incrementados na região em decorrência do impacto dos eventos
hidrometeorológicos no setor hídrico:
•
4mil pessoas afetadas pela cólera no Haiti, devido a condições insalubres e contaminação da água após o
terremoto de janeiro de 2010.
•
US$49bilhõesem danos e perdas materiais decorrentes de desastres na América Latina, em 2010.
•
US$8bilhões necessários para reconstrução no Chile (incluindo obras de água potável e esgoto) após o
terremoto de 8,3 graus, em fevereiro de 2010.
•
1milhãode pessoas sem água, após a tormenta que destruiu o sistema de esgoto da Cidade do Panamá,
em janeiro de 2011.
10 AquA VitAe
OS PROJETOS NÃO FORAM INTERROMPIDOS
Colin Herrón
Assessor para Projetos Estratégicos. Estrellita Fuentes, Gerente de
Planejamento Hídrico. Griselda Medina, Subgerente de Gestão e
Avaliação de Projetos com Crédito Externo. Comissão Nacional de
Águas do México (CONAGUA).
Na América Latina, que projetos importantes do setor de
água e saneamento foram afetados pela crise econômica
enfrentada deste 2008?
No caso dos projetos do subsetor de água e saneamento – e de
infraestrutura em geral, no México – a estratégia do Governo Federal tem sido a promoção deste tipo de investimento como uma
medida contracíclica, razão pela qual estes projetos não foram interrompidos, a pesar da crise atual.
Os principais projetos hidráulicos atualmente em construção no
México são: Túnel Emissor Oriente (TEO), Planta de Tratamento de
Água Residual de Atotonilco e Represas para o Armazenamento de
Água Potável El Realito e El Zapotillo.
Entre as obras realizadas encontram-se 260 novas plantas de tratamento e a restauração e ampliação de outras 51. As construções
não foram afetadas de maneira significativa pela crise econômica.
Quais são os principais desafios de investimento neste setor, em tempos de crise como os que temos enfrentado?
No caso específico do México, há um desequilíbrio entre a disponi-
bilidade e a demanda do recurso água. A projeção para os próximos 20 anos indica que essa situação se agravará. São necessários
investimentos de mais de 50 bilhões de pesos ao ano, até 2030.
Pelo anteriormente exposto fica claro que, apesar dos tempos de
crise, o investimento em medidas estruturais e não estruturais,
relacionadas aos recursos hídricos, representa um uso eficiente
dos recursos econômicos.
De que maneira os países devem enfrentar os desafios para
garantir água e saneamento integral nas épocas de crise
econômica?
Dando prioridade às medidas com menor custo marginal de implementação, tais como o reparo de vazamentos domésticos, industriais, comerciais e municipais, o que representaria um maior
benefício monetário em relação aos investimentos requeridos. Por
outro lado, é conveniente compartilhar algumas reflexões sobre a
experiência no México, que certamente se aplicam à maioria dos
países da região.
•
•
•
•
•
O atuação eficiente dos órgãos operadores é fundamental.
A corresponsabilidade dos três poderes governamentais é
imprescindível.
O valor econômico da água deve ser aceito pela sociedade.
O setor deve pagar-se por conta própria. A prestação do
serviço é autofinanciável.
O tema da água deve ser despolitizado. As tarifas devem ser
estabelecidas pelo Congresso e não pelo município.
O marco regulatório precisa ser fornecido.
MOtOR FiNANCeiRO
O Banco Mundial é considerado o principal financiador externo de programas de fornecimento e saneamento, irrigação e drenagem,
gestão de bacias fluviais e águas transfronteiriças, e outras áreas relacionadas. De acordo com informações fornecidas por essa entidade:
•
Entre2003e2010ofinanciamentoanualdoBanconestesetoraumentoudeUS$1,8bilhõesparaUS$5,7bilhões.
•
Osprojetosdeabastecimentodeáguaesaneamentoforamosmaisfavorecidos(US$4,2bilhõesdurante2010).
•
OBMdesenvolveráprojetosquedeemomaiordestaquepossívelaotemadaágua,comoobjetivodefinanciarospaísesemprocesso de adaptação e atenuação dos efeitos da mudança climática.
•
Aumentaráosocorroàgestãohídricaagrícola,paraoestímulodousoeficientedorecursopelosagricultores,comoobjetivode
atender à crescente demanda mundial por alimentos.
•
Hálinhasdecréditoparaofinanciamentodeprojetosdeabastecimento,saneamento,irrigaçãoedrenagem,hidroeletricidadee
proteção contra inundações.
AquA VitAe 11
UMOBJETIVODEPRIORIDADEMÁXIMA
Andrei S. Jouravlev
Oficial para Assuntos Econômicos da Divisão de Recursos Naturais
e Infraestrutura da Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe (CEPAL).
Quais são as consequências da afetação, paralisação ou
adiamento de projetos de água e saneamento por falta de
financiamento?
A preocupação com estes projetos tem origem no reconhecimento
de que a cobertura insuficiente e a qualidade ruim dos serviços
de água potável e saneamento, além de prejudicar a saúde da
população e contribuir para a intensificação da pobreza, afetam
o meio ambiente, o desenvolvimento socioeconômico, a inserção
dos países em uma economia globalizada, a estabilidade política, a
coesão social e a disponibilidade de água para diversos usos, tanto
relacionados ao desenvolvimento produtivo, quanto aos interesses
sociais e ambientais. A pobreza agravada pela falta de serviços de
água potável e saneamento se converte em uma situação difícil
de ser vencida, porque se associa à fome e às doenças, impede
o emprego estável e afeta de forma negativa a presença na escola. Por essas razões, o fornecimento de serviços de água potável
e saneamento, seguros e de boa qualidade, a toda a população,
deveria representar – mesmo em tempo de crise – um objetivo de
máxima prioridade para os governos dos países da América Latina
e do Caribe.
Quais são os principais desafios de investimento neste setor, em tempos de crise como os que temos enfrentado? De
12 AquA VitAe
que maneira devem ser enfrentados, pelos países, o desafio
para garantir água e saneamento integral em época de crise
econômica?
O ciclo macroeconômico reflete diretamente no financiamento do
setor de água e saneamento. A situação de déficit fiscal, por exemplo, incide na disponibilidade de fundos para investimento que, via
de regra, são destinados a despesas correntes. Observa-se uma
relação inversa nas épocas de maior crescimento, que costuma ser
acompanhada da ampliação do orçamento para o setor. Vale notar
que os grandes investimentos em infraestrutura são medidas anticíclicas, bem-vindas em épocas de recessão, mas podem ser uma
fonte de inflação em períodos de auge, especialmente em países
com economias pequenas.
A capacidade de cobrir o custo de operação e manutenção (e
inclusive de investimento em água e saneamento), onerando os
usuários, melhorou em vários países da região, nas últimas décadas. No entanto, ainda há países nos quais nem mesmo os prestadores a cargo das grandes cidades alcançam a sustentabilidade
financeira, por manter a cobrança tarifária muito abaixo do custo
real do fornecimento, o que beneficia não apenas as famílias com
baixa renda, mas também todos os usuários residenciais. É importante assinalar que o autofinanciamento a partir da tarifação dos
usuários reduz a pressão sobre o orçamento público, permitindo
a destinação de fundos a outras áreas de ajuda social, além de
possibilitar que o serviço se financie de forma permanente e constante, o que restringe a vulnerabilidade às oscilações econômicas
que, de fato, é experimentada quando o orçamento depende do
erário público.
GRANDeS e NeCeSSÁRiOS
Estes são alguns dos projetos de abastecimento de água potável e saneamento, desenvolvidos na América Latina,
alguns de grande dimensão e outros para obter melhor cobertura.
MÉXICo
•
•
CoLÔMBIa
•
•
•
•
Túnel Emissor Oriente. Beneficiará 20 milhões de
pessoas da Região Metropolitana do México.
PlantadeTratamentodeÁguaResidualde
Atotonilco. Tratará 60% da água do Vale do
México. Maior obra deste tipo no mundo.
RepresasparaoArmazenamentodeÁgua
Potável de El Realito. Farão o abastecimento de
água da região metropolitana de San Luis Potosí.
Todos pelo Pacífico. Melhoria da
cobertura de água e saneamento
em Choco, Nariño e Cauca.
Fundo Nacional de Participação.
Recursos para projetos em Bolívar,
Sucre, Magdalena, Risaralda,
Quindío, Vaupés e Nariño.
Saneamento do Rio Medelin.
Recuperação desta fonte da
segunda cidade mais povoada (3,4
milhões.)
eQuaDor
•
BancodoEstado. Construir redes
de esgoto para a descontaminação
do rio Burgay, o que beneficiará os
municípios de Cuenca e Azogues.
A segunda etapa é um projeto de
saneamento e a terceira uma planta
de tratamento.
BraSIL
•
•
argeNtINa
•
•
•
PlantapurificadoraDoBicentenario.
Beneficiará 4 milhões de pessoas na Grande
Buenos Aires, com um investimento de
US$500 milhões.
Plantapotabilizadoradeosmoseinversa.
Para tratar a água de 400 mil habitantes na
região de La Matanza.
SaneamentodaBaciaMatanza-Riachuelo.
Recuperação da principal fonte superficial da
cidade de Buenos Aires.
•
Projeto de Integração
do Rio São Francisco.
Garantirá água a 12 milhões
de pessoas nos estados de
Pernambuco, Ceará, Paraíba
e Rio Grande do Norte.
Sabesp. Desenvolve mais
de 80 projetos no Estado de
São Paulo.
Programa de Aceleração
do Crescimento. A empresa
Sanepar tem projetos da
ordem de US$500 milhões
no Paraná, para água potável
e tratamento de água.
Fontes: CONAGUA, ANA Brasil, SABESP, SANEPAR, Água e Saneamento da Argentina, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco do Estado do
Equador, Vice-ministério de Água e Saneamento da Colômbia e Ministério da Habitação, Construção e Saneamento do Peru.
AquA VitAe 13
Foto: Carmen Abdo
ECONOMIA
A Aliança Latino-Americana de
Fundos da Água (ALFA) surge
como um mecanismo inovador,
cujo objetivo é proteger os
recursos hídricos mais ameaçados
da nossa região.
14 AquA VitAe
Foto: Carmen Abdo
INVESTIMENTO EM
“INFRAESTRUTURA VERDE”
MARK TERCEK
Presidente e Diretor Geral The Nature Conservancy (TNC)
O
s páramos, florestas nubladas, florestas tropicais e até
os desertos e as florestas secas nos proveem a água
necessária à nossa vida. Esses ecossistemas captam,
retêm, filtram e fornecem uma vasta quantidade de
água doce. Além de fornecerem água limpa às pessoas, esses locais
são o habitat de uma rica diversidade biológica em todo o planeta.
Essas bacias enfrentam graves ameaças ocasionadas pela poluição,
pelo desenvolvimento e pelas mudanças climáticas em todo o
mundo. Quando esses recursos naturais se degradam ou desaparecem, milhões de pessoas ficam expostas ao risco de doenças e fome
devido à falta de água limpa.
Mas, as economias também se veem ameaçadas quando setores
como, por exemplo, o da cana-de-açúcar ou o manufatureiro, não
podem produzir os seus bens por não contar com uma oferta
suficiente de água limpa.
Para enfrentar essa situação, líderes empresariais globais, financeiros, de desenvolvimento e preservação, anunciaram a criação da
Aliança Latino-Americana de Fundos da Água, por meio da qual
tenta-se proteger quase 3 milhões de hectares de bacias hídricas
no Equador, Colômbia, Peru, Brasil, México e em outros países,
como um mecanismo financeiro inovador, que ajude a fomentar
um triplo benefício: o das empresas, o das comunidades e o da
natureza.
Ao investir em infraestrutura verde, como as florestas ou rios, as
companhias e empresas gestoras da água poupam dinheiro na
construção da infraestrutura cinza, por exemplo: os sistemas de filtragem. As comunidades se beneficiam com a geração de uma receita sustentável e com a oferta de água limpa, sem contar que os
sistemas naturais são protegidos e mantidos como habitat da vida
silvestre, ao mesmo tempo em que nos proporcionam água limpa.
Um Fundo de Água é uma forma inovadora de pagamento dos
serviços prestados pela natureza e reinvestimento desse dinheiro
na preservação. Como uma bacia sadia reduz o custo do tratamento da água, os Fundos atraem contribuições voluntárias de
grandes usuários de água bacia abaixo, como os aquedutos, as
hidroelétricas e as indústrias. O ganho destes investimentos é
destinado a processos de preservação das terras essenciais bacia
acima, com a filtragem e regulação da oferta de água por meio
de atividades como o reflorestamento, o ecoturismo e o monitoramento dos fluxos de água. Os Fundos de Água também ajudam
a criar incentivos para a geração de oportunidades econômicas
verdes, com impacto positivo nas comunidades locais, como por
exemplo, a pecuária sustentável.
As empresas privadas e gestoras de água estão investindo nos
Fundos porque depois de fazer as contas, tomaram consciência de
que os mecanismos são eficazes no tocante ao custo destinado a
garantir maior qualidade e quantidade de água para os produtos
e serviços que oferecem aos seus usuários.
Os sócios da Aliança esperam que à medida que mais atores reconheçam os benefícios do Fundo, eles se comprometerão a trabalhar em prol da água e das bacias da América latina, em favor
da natureza e das pessoas. A expectativa é de que este modelo de
conservação de bacias possa ser adaptado e desenvolvido em outras
regiões do mundo, como uma ferramenta para enfrentar desafios
globais, que se traduzem em maior escassez de água, como nas
mudanças climáticas. Já há esforços dessa natureza em andamento
nos Estados Unidos, nas ilhas do Caribe e na África.
AquA VitAe 15
Assim funcionAm os fundos de ÁguA
A ALIANÇA É…
...um mecanismo de apoio financeiro para os Fundos de Água. Provê suporte a atores locais, e ao mesmo tempo determina
a viabilidade da instalação deles em uma bacia. Estabelece a estrutura de gestão para cada fundo, fornecendo recomendações aos encarregados.
PARTICIPAM
A Aliança tem um conselho de investidores públicos e privados. Espera-se que haja mais
sócios no futuro.
• TheNatureConservancy.
• GlobalEnvironmentFacilityatravésdoBancoInteramericanodeDesenvolvimento.
• FundaçãoFEMSA.
DADOS
•
32 Fundos de Água serão criados em 5 anos na
América Latina.
•
US$ 27 MILHÕES serão investidos na criação,
implementação e capitalização destes fundos.
•
3 MILHÕES de hectares de florestas da região
serão protegidos com este capital.
•
50 MILHÕES de latino-americanos serão
beneficiados por estes projetos.
ENFOQUE REGIONAL
• Trabalha-secomfundosnoEquador,Colômbia,PerueBrasil.
• Disponibilizar mais fundos no Equador, Colômbia, Peru, Brasil,
México e em outros países da América Latina.
QUEREMOS
1. Fomentar as economias verdes.
2. Reduzir os riscos ambientais.
3. Criar novos esquemas econômicos.
COMO FUNCIONAM
Investimentos voluntários dos
setores público e privado são
reunidos em um fundo central e
investidos.
16 AquA VitAe
É criado um conselho para supervisionar cada Fundo. O conselho é formado por representantes dos investidores, da comunidade local, do setor
público e do operador de água.
Os juros e o lucro gerados pelo
Fundo são distribuídos aos projetos de conservação.
o PRimeiRo sucesso
A experiência do The Nature Conservancy (TNC) no trabalho sobre os Fundos de Água foi fundamental para a
Aliança, pois reúne evidências científicas de que os modelos derivados dele são altamente eficazes.
Noano2000,oTNCreuniuesforçoscomsóciosdossetores
público e privado para a criação do primeiro Fundo para a
Proteção da Água, em Quito, no Equador. O projeto iniciou
com um investimento de US$21.000 dólares, que se converteramemUS$10milhõesemapenasumadécada.
Atualmente, cerca de US$1 milhão de dólares do Fundo
de Água de Quito são investidos a cada ano na proteção
de florestas, prados e páramos, das bacias que abastecem
de água potável dois milhões de habitantes de Quito. O
TNCtambémcriouFundosdeÁguaemcidadescomoBogotá,naColômbia,SãoPaulo,noBrasileLima,noPeru.
Conversamos sobre essa iniciativa com Pablo Lloret que
estávinculadoaoFundoNacionaldeÁguadoEquador.
‘‘
“Nos anos 1980, houve um problema com o abastecimento de água para a cidade de Quito e seu entorno. Em
meadosdadécadade1990,oproblemaseagravoumuito, havendo inclusive escassez e má distribuição. Isso se
converteu em uma problemática complexa porque Quito,
situada a 2.800 metros acima do nível do mar, precisa
de água por gravidade ou de lençóis freáticos, e naquela
épocajáoshaviaesgotado.Emjaneirode2000foicriado o FONAG, que é patrimonial e opera como um fundofiduciário.Suaprincipalcaracterísticaéqueocapital
aportado pelos sócios não pode ser revertido, apenas os
rendimentosfinanceirosdofideicomisso.Como99%dos
recursos são próprios dos usuários da água, essa é uma
forma “sui generis” de gestão da água, que agora está
sendoreplicadaemoutroslocais.Temosumavidaútilde
80 anos. Isso significa um longo prazo, então 80% dos
investimentos são destinados a programas de proteção e
conhecimentodaágua,e20%aprojetosprodutivosque
geram renda para as comunidades”.
A Aliança Latino-Americana de Fundos da Água considera a
próxima reunião mundial de cúpula Rio +20, que será realizada
daqui menos de um ano, uma oportunidade para o incremento
da escala deste mecanismo inovador.
‘‘
AquA VitAe 17
casos
Fotos:
Associação
Águamunicipal
Municipal
Paraíso,
Honduras
Fotos:
asociação Junta
Junta de
de Água
doEL
Paraíso,
Honduras.
SÓCIOS GERADORES
DE BEM-ESTAR
Este grupo conseguiu colocar em
acordo 42 órgãos administradores de
água e saneamento na região de El
Paraíso, em Honduras, que contrataram
especialistas e assistentes sociais para
ensiná-los a transitar pela vereda do
trabalho conjunto e abastecer de água
os habitantes locais.
Por BORIS RAMÍREZ
18 AquA VitAe
CaraCterístiCas da Comunidade
o departamento oriental de Honduras faz limite com a nicarágua e
sua capital é Yuscarán. Com uma extensão de 7.218 km², é formado
por 19 cidades, com 383.565 habitantes, segundo estimativas de
2005. o território montanhoso e muito acidentado é banhado pelo
rio Guayambre, que deságua no atlântico; e pelo rio Choluteca que
desemboca no Pacífico, em cujas margens são realizadas atividades
domésticas e agrícolas. a economia do departamento está baseada
na agricultura (cultura de café, cana-de-açúcar e frutas tropicais), na
pecuária e na exploração de minas de ouro e prata de Água Fria e
Yuscarán. sua rede de comunicação é deficiente.
situação iniCial
estas comunidades, situadas em regiões rurais, com baixos índices
de infraestrutura de serviços públicos, enfrentam enormes desafios
no acesso à água potável e ao saneamento. segundo informações
do Programa aguasan 2004-2008, a região se encontrava em situação comparável com a dos dados nacionais para as áreas rurais:
•
•
•
•
19% da população sem acesso à água potável e 46% sem
acesso a saneamento.
doenças provocadas pela má qualidade da água ou por falta
de saneamento e higiene.
apenas 44% da população têm conexões de água clorada.
90% dos sistemas de abastecimento de água são intermitentes, ou seja, não oferecem o serviço de forma permanente.
•
a falta de água e de saneamento tem reflexos na dignidade
das pessoas e as exclui da participação na sociedade em
que vivem.
Como a situação Foi soluCionada?
os 42 Órgãos administradores de água potável e saneamento dos
municípios de alauca e el Paraíso (instituídos a partir de 2000)
obtiveram ajuda do programa aguasan Honduras para conseguir
atender à demanda de suas comunidades. Fizeram uma aliança
com a Prefeitura municipal para que essa os ajudasse a gerir os
recursos da Cooperação suíça, com os quais fortaleceriam a organização, os órgãos, e realizariam obras para acesso à água e saneamento. Foi selecionada uma entidade que ajudará a executar
o projeto. a Catholic relief services (Crs), por exemplo, forneceu
assessoria e assistência em todos os processos realizados.
a prefeitura liberou verbas, maquinário e designou pessoal de
apoio. a comunidade fornecia mão de obra, manutenção e fazia
bom uso das obras. o processo contou com o apoio de técnicos
em água e saneamento, além de promotores sociais contratados.
um êxito obtido pelos órgãos foi a promoção do enfoque de gênero, que incentivou o trabalho ativo das mulheres.
resultados
entre os anos 2005, quando foi negociada a ajuda da Cooperação
suíça, e 2008, quando foi aprovado o Projeto el Paraíso com Água e
saneamento, até os dias de hoje, foram obtidos benefícios tais como:
•
•
•
•
•
•
•
investimento de us$ 832.523 em 5 projetos: Fortalecimento da
associação. doação de material. el Paraíso com água e saneamento. melhora de sistemas de água potável.
Construção de 175 latrinas com fechamento hidráulico e de
235 aterros sanitários.
Construção de 4 aquedutos em 5 comunidades, beneficiando
148 famílias. recuperação de 3 aquedutos em 4 comunidades,
para o beneficio de 246 famílias.
realização de projetos de acesso à água potável e saneamento
nas comunidades de Barrancas abajo, san Carlos, Quebrada
negra e Crique de oro, e melhora da qualidade da água das
cidades de las Vegas de Cuyalí, Conchagua abajo, Palo Verde,
las selvas, Buena Vista e Cedrales.
realização de 676 obras de saneamento em 14 cidades da região. Construção de 646 latrinas.
Construção e colocação em operação de 12 módulos sanitários
em escolas.
ações de fortalecimento e capacitação dos órgãos administradores e beneficiários de organização comunitária, gestão de
projetos, capacitação financeira, higiene e saneamento, manejo
de microbacias, operação e manutenção de obras e gênero.
AquA VitAe 19
LEGISLAÇÃO
AS LIÇÕES
Foto: SXC
DO REFERENDO
20 AQUA VITAE
A Colômbia conseguiu mobilizar mais de dois milhões de pessoas para impulsionar
um referendo pela água. Esse grande movimento, que foi refreado na Câmara
dos Representantes, voltou a ganhar força graças a uma resolução da Corte
Constitucional. O tempo passa, mas os temas relacionados à água perduram.
Por BORIS RAMÍREZ
O
s temas impulsionados por mais de dois milhões
de colombianos em 2008, no início do processo de
convocação de um referendo nacional sobre o problema da água, não naufragaram totalmente diante
da negativa da Câmara de Representantes. Voltaram a ganhar
força em abril de 2010, graças a uma resolução da Corte Constitucional que definiu as limitações do Congresso para a atuação
em relação a uma iniciativa legislativa de origem cidadã (como a
que apoiou a solicitação do referendo sobre a água).
Porém, apesar do tempo e das circunstâncias não terem viabilizado a realização da consulta popular, mantiveram-se vivos vários
aspectos relacionados aos recursos hídricos, que precisam ser
solucionados na Colômbia.
•
1 ano – 5 rios Durante 12 meses foram percorridos os principais rios para obter as assinaturas. Foram encontrados: perda
de umidade no rio Cauca devido ao cultivo extensivo da cana,
contaminação no rio Magdalena, insuficiência de aquedutos,
lixo e esgoto vertidos nos rios e em fontes hídricas.
•
2.039.000 Assinaturas foram apresentadas em outubro de
2008 no Registro Nacional da Colômbia, mais do que os dois
milhões necessários para a convocação de um referendo
sobre a água. A Câmara de Representantes o freou em 2009.
AS MUDANÇAS
Quatro foram as metas específicas deste referendo, assinalando
aspectos que deviam ser mudados na Constituição Política.
A enorme discussão e polarização em torno do tema levaram os
impulsionadores do referendo a recorrer ao órgão constitucional
de mais alta ordem, para que ele revisasse as negativas à convocação do referendo, emanadas das Primeira e Quinta Comissões
da Câmara dos Representantes.
O pronunciamento da Corte Constitucional determinou as limitações do Congresso para atuar em relação a uma iniciativa legislativa de origem cidadã, dando razão aos impulsionadores do
referendo. Mesmo assim, não foi possível convocá-lo.
“Sabemos que as nossas propostas sobre o manejo e o acesso à
água são polêmicas por serem audaciosas. No entanto, compete
ao povo colombiano decidir a favor ou contra elas e não o Congresso. A Corte deixou isso claro e nos deu razão ao resgatar um
mecanismo de participação”, sustenta Rafael Colmenares, principal porta-voz do Comitê Nacional de Defesa da Água e da Vida.
Mas, para entender este procedimento, é necessário compreender três etapas: o movimento do referendo, as mudanças legais
e os temas que não foram resolvidos.
- Definição da água potável como um direito fundamental.
- Fornecimento de um mínimo vital de água gratuito.
(A Organização Mundial da Saúde estabelece 7,5 litros por dia).
- Proteção especial e uso prioritário dos ecossistemas
essenciais ao ciclo hídrico.
O MOVIMENTO
- Gestão pública, estatal e comunitária dos serviços de água
•
e esgoto.
1200 Organizações sociais se unem para promover o referendo e coletam 1,5 milhões de assinaturas em março de
2006.
AQUA VITAE 21
‘‘
A Colômbia ocupa o 24o lugar, entre
203 países, em disponibilidade
de água. Isso a converte em uma
potência hídrica mundial.
O QUE ESTÁ PENDENTE
Setores vinculados ao setor de água, no nível ambiental, público
e privado, consideravam que diante da negativa de obter mais
assinaturas - pretendia-se passar dos 5% atuais, para 10% do
censo nacional - os trâmites do referendo pela via cidadã não
seriam viáveis. Passaram a estimular a conveniência de realizar
três importantes reformas legais que estão sendo discutidas em
instâncias governamentais (Planos Departamentais de Água e
Aquedutos Comunitários) e em setores sociais (Declaração da
água como um direito humano), mas, a resolução final ainda
está pendente.
PLANOS DEPARTAMENTAIS DE ÁGUA
Estabelecimento de um mecanismo para planificar e harmonizar
os recursos e a prestação de serviços no nível departamental.
Através de tal mecanismo os departamentos teriam autonomia
de gestão, dentro dos limites da Constituição e da lei, para governar-se como autoridades próprias, exercer atribuições, adminis-
‘‘
Sistema de Informações Ambientais da Colômbia
trar recursos, estabelecer cobranças e participar da renda nacional.
O projeto suscitou críticas e dúvidas que precisam ser esclarecidas.
AQUEDUTOS COMUNITÁRIOS
25% da população da Colômbia é servida por aquedutos comunitários. Isso obriga a regulação das condições de capacidade técnica
dos operadores autorizados pelo artigo 365 da Constituição Política, que enfrentam desafios em itens como melhor desempenho,
tarifas, margem de rentabilidade e perda de autonomia local. É
necessário um marco legal para que continuem a se desenvolver e
não serem absorvidos pelos PDA.
DECLARAR A ÁGUA UM DIREITO HUMANO
O movimento gerado pelo referendo considera que este propósito
é irrenunciável e que é necessário buscar novas ações políticas que
consigam definir na Constituição Política da Colômbia a água como
um direito humano fundamental e um bem público para as gerações atuais e futuras.
APOIO MULTISETORIAL
Durante anos, muitos lutam para que a força do movimento pela água se traduza em ações concretas:
• “Não há dúvidas de que a frustração do Referendo provocou o recuo do movimento que começava a se delinear.
Isso não quer dizer que a luta pela água terminou. O Referendo, suas propostas, são hoje um programa que
deve continuar a ser impulsionado, que não pertencem mais a nós que o promovemos - são hoje patrimônio do
movimento social colombiano”. Rafael Colmenares, ambientalista e porta-voz do Referendo da Água.
• “O setor de água potável não cresceu no mesmo ritmo que a população, e há regiões do país nas quais há
problemas de disponibilidade, continuidade, qualidade e quantidade do serviço.” Walter Cote, Diretor da Cruz
Vermelha Colombiana.
• “Não é possível reconhecer o direito à água como um direito humano fundamental, porque o Estado não tem
como fazê-lo valer”. Alejandro Ordóñez, Procurador Geral da Colômbia.
• “Desde o início fomos a favor da iniciativa de declarar a água um direito humano, que permita garantir que as
pessoas tenham acesso a ela. Essa é uma condição necessária para melhorar a vida, e todos precisamos entender
isso”. Héctor Buitrago, vocalista de Aterciopelados.
22 AQUA VITAE
AMBIENTE
FLORESTAS E ÁGUA
CONEXÃO VITAL
E INDISPENSÁVEL
Por BORIS RAMIREZ
AquA
VitAe 23
Fotos:
Carmen
Abdo
As florestas são essenciais para a conservação do caudal hídrico porque
agem como esponjas, graças à sua enorme capacidade de captar e
armazenar líquido. Os solos das florestas conseguem absorver quatro vezes
mais água da chuva do que os solos cobertos por pastos, e 18 vezes mais
do que o solo descoberto.
A
América Latina possui “cerca de 22% das florestas do
mundo. Na América do Sul se encontra a maior floresta
tropical, na bacia amazônica, a mesma que compreende
uma enorme diversidade de espécies, habitats e ecossistemas”, afirma a Engenheira Florestal Doris Cordero, em seu livro
intitulado “Los bosques de América Latina”, publicado em 2011.
- Acadêmico. “Trabalhando no manejo integral de bacias percebemos que é necessário incorporar a floresta porque temos
enormes problemas de filtragem e concentração de água
subterrânea devido à falta da capa florestal”. Engenheiro Gerardo Orechia, Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária
(INTA) da Argentina.
Os especialistas clamam pela manutenção do equilíbrio florestal,
em decorrência da exploração excessiva de madeira e do desmatamento para abrir terrenos para a agricultura e para a pecuária. A
FAO indica que em 2010 cerca de 14% do total da área de florestas
da região foi destinada principalmente para fins produtivos, frente
a uma média de 30% na esfera mundial. Em números totais, essa
área de florestas aumentou de 78,3 milhões de hectares em 2000
para 83,3 milhões de hectares em 2010, sendo que nessa década,
em média, 57% das extrações foram para uso da madeira como
lenha em processos produtivos e domésticos.
- Sociedade. “Honduras é um país com problemas decorrentes
da derrubada excessiva de árvores. O nosso trabalho comunitário pela água nos obrigou a entender que para garantir quantidade e qualidade, também é necessário ter zonas
protegidas, nas quais as árvores sejam um elemento básico.
Por isso, parte importante do nosso trabalho é um projeto de
viveiro e de reflorestamento”. Zumilda Duarte, Associação de
Agências Administradoras de Água do Setor Sul do Parque
Pico Bonito, em Honduras.
No último relatório da FAO, de 2011, sobre a situação das florestas,
o território mencionado apresenta uma avaliação tanto com aspectos luminosos quanto sombrios. “A região que mais decepciona
é a América Latina, porque é evidente que o desmatamento está
ligado ao subdesenvolvimento e ao crescimento demográfico. Mas
quando as sociedades começam a emergir economicamente, o desmatamento costuma inverter-se”, afirmou Eduardo Rojas, Subdiretor do Departamento Florestal da FAO, ao apresentar este relatório.
A Aqua Vitae consultou autoridades latino-americanas de três setores vinculados ao manejo de bacias para informar o que é feito
na região nos aspectos:
24 AquA VitAe
- Governo. “O manejo integral do setor de água nos levou a promover ações de poupança, reutilização e limpeza de bacias,
somadas a esforços para reflorestar as bacias e não lançar
lixo nos rios”. Sonia González, Direção Geral de Mudanças
Climáticas, Desertificação e Recursos Hídricos, Ministério do
Meio Ambiente, do Peru.
RELAÇÃO FUNDAMENTAL
A conclusão é evidente e categórica. O uso, a preservação e o
manejo das florestas são indispensáveis para a preservação dos
recursos hídricos. As florestas e fontes hídricas constituem um
ecossistema no qual um não pode ser entendido sem o outro
porque mantêm uma relação natural, da qual dependem o equilíbrio e o desequilíbrio no contínuo ciclo hidrológico.
Devido à importância das florestas, 2011 foi declarado o Ano Internacional das Florestas, com o objetivo de analisar os componentes essenciais do entorno delas. “As fl orestas proporcionam
muitos recursos naturais: madeira, combustível, borracha, papel
e plantas medicinais. Também ajudam a manter a qualidade e a
disponibilidade do fornecimento de água doce. No mundo, mais
de três quartos da água doce acessível provêm das bacias florestais.
A qualidade da água declina com a depauperação das condições
da floresta e da cobertura e, por isso, riscos naturais como chuvas
intensas, desmoronamentos e erosão da terra têm impacto maior”,
afirmou Achim Steiner, Diretor Executivo do PNUMA, na época do
evento citado, na Índia, em junho de 2011.
Para entender essa relação estreita, é necessário reconhecer os seguintes serviços ambientais que as fl orestas prestam à água, de
acordo com a União Internacional de Conservação da Natureza:
•
•
Mitigar as inundações. O solo das florestas altas acumula a
água da chuva e regula o caudal conduzindo-o às terras baixas
e ao mar.
Controle da erosão e dos deslizamentos de terras. As florestas maduras evitam os efeitos das chuvas fortes por meio da
evapotranspiração e de sua capacidade de armazenar a água
pluvial e fi ltrá-la para os aquíferos, desse modo, mitigam os
possíveis efeitos negativos das torrentes.
•
Recarga da água subterrânea. A cobertura florestal ajuda na
transferência lenta do excesso de líquido para os aquíferos
subterrâneos, que continuam a fornecer água nos períodos
de seca.
•
Depuração da água. As florestas desempenham um papel
essencial não só no armazenamento da água, mas também
na manutenção da função de fi ltro e na produção de água
subterrânea de alta qualidade.
•
Caudal. As florestas e os pântanos ajudam a estabelecer as
condições dos caudais, que garantem a vida nos ecossistemas
aquáticos e nos relacionados à água.
•
Biodiversidade. As florestas bem conservadas melhoram as
condições ambientais dos cursos fluviais, que são fundamentais para a criação de nutrientes e condições para a existência
de diversas espécies de seres vivos.
ReLAÇÃO FRutÍFeRA
As árvores prestam uma série de serviços
ambientais necessários à existência e
preservação dos recursos hídricos
1.
As florestas são os ecossistemas que mais
produzem água. Quando escorre pelo solo,
a água forma rios, arroios, lagos e lagoas.
Quando é filtrada no subsolo, forma aquíferos.
2.
À medida que perdemos as florestas, diminui-se a capacidade de captação da água.
3.
As raízes são capazes de extrair água de
zonas profundas. Esta reserva é liberada gradualmente e ajuda a evitar inundações e secas
sazonais.
4.
Quanto mais vegetação, maior a presença
de chuva. Nas zonas desmatadas, as nuvens se
formam a grande altitude, sendo presa fácil dos
ventos, o que reduz a quantidade de chuva.
5.
A água circula em todos os níveis da floresta e qualquer coisa que a contamine também
contamina a floresta.
6. Em certas bacias, o desmatamento provoca
o arrasto de material sólido, causa a salinização
do solo e favorece o acúmulo de material que
impede circulação das correntes de água; também diminui a quantidade desse líquido e promove a perda de solos férteis.
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais,
México.
AquA VitAe 25
BeM e MAL
O relatório “Situação das florestas do mundo 2011”, publicado pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO), dá notas boas e ruins à América Latina
POSITIVO
NEGATIVO
• Hospeda 891 milhões de hectares de florestas (22%
de todo o mundo).
• A América do Sul sofreu uma diminuição de mais de
meio milhão de hectares por ano, entre 1990 e 2010.
• O Brasil é um dos 5 maiores países em riqueza florestal no mundo.
• A metade do desmatamento líquido de todo o planeta
ocorre no Brasil (2,6 milhões de hectares).
• Costa Rica, Chile e Uruguai são países que aumentaram a própria cobertura florestal.
• A extração de madeira na região registrou crescimento
contínuo nas duas últimas décadas. A lenha representava
57% da extração.
• Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Peru registraram o
maior aumento em área de florestas plantadas, entre
2000 e 2010.
• A Argentina tem problemas enormes com o desmatamento.
queStÃO De eSFORÇO
Dois casos exemplificam os muitos esforços realizados na região para dimensionar o trabalho feito com
as florestas, como aliadas naturais da produção e preservação da água.
SELO CANCÚN. A Conferência das Partes da Conferência das Nações Unidas contra as Mudanças Climáticas adotou a decisão de criar o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação
(REDD+). Esse é um programa ambicioso que visa a redução das emissões derivadas do desmatamento
e da degradação florestal, a ordenação sustentável das florestas, a conservação das reservas florestais
e a melhoria das reservas florestais de carbono. Neste fórum realizado em Cancún, no México, em novembro de 2010, não houve referência à modalidade de financiamento. A REDD+ obteve compromissos
financeiros de máximo nível e muitos presidentes e primeiros ministros e seus representantes prometeram impulsionar a implementação de tal mecanismo. Austrália, Estados Unidos, França, Japão, Noruega
e Reino Unido concordaram em proporcionar US$3,5 bilhões “como financiamento público inicial para
diminuir, deter e, em última instância, reverter o desmatamento nos países em desenvolvimento”, comentou Christiana Figueres, Secretária do Convênio Marco e impulsionadora do projeto. Em outras reuniões recentes, como a Conferência de Oslo sobre o Clima e as Florestas, realizada em maio de 2011,
os chefes de estado fizeram declarações similares.
SELO MAIA. Em San Vicente Buenabaj, em uma comunidade maia formada por 14 casarios, com 15 mil
habitantes, no departamento de Totonicapán, na Guatemala, foi estabelecido um comitê para a proteção
dos recursos hídricos. O modelo escolhido foi o de intensificar o que é conhecido como parcialidade uma forma de propriedade coletiva da floresta, oriunda da época pré-histórica, que foi um mecanismo
de controle social durante o período colonial. Com esse mecanismo, as famílias protegem a floresta,
extraem cargas de lenha como remuneração pelo trabalho realizado e têm a responsabilidade primordial
de reflorestar as áreas nas quais fazem a extração.
“Se não houver um bom manejo florestal, não haverá disponibilidade de água. Sem florestas não há
água. As tarefas realizadas são do tipo comunitário, sendo necessário incentivar a comunidade para que
participe de cada uma das tarefas planejadas: a distribuição de lenha e madeira, fruto do plano de aproveitamento, e a distribuição de incentivos florestais são práticas que fomentam a participação ativa das
comunidades”, comentou Selyn Pérez, líder indígena que relatou essa experiência durante o II Encontro
Latino-Americano de Gestores Comunitários de Água e Saneamento, realizado em setembro de 2010,
na cidade de Cusco. Este esquema permitiu a conservação de 164 hectares e o reflorestamento de 170.
26 AquA VitAe
opinião
INÉS RESTREPO TARQUINO
Diretora do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento em Abastecimento de Água,
Saneamento Ambiental e Conservação dos Recursos Hídricos (CINARA), Colômbia.
ViSÃO RuRAL e LiÇÕeS APReNDiDAS
É necessário desenvolver tecnologias para o setor de águas e saneamento
junto com as comunidades que as usarão, pois assim receberão o
mesmo “código genético” de tais comunidades e não gerarão o
retrocesso causado por tecnologias provenientes de contextos distintos.
Quanto dinheiro e esforços foram desperdiçados na busca do que chamam de “progresso” em nossos países? O desenvolvimento deve ser entendido de acordo com seu contexto histórico. Entretanto, o conceito de
desenvolvimento que uma determinada sociedade deseja alcançar deve
ser conquistado através de processos integrados. Por isso, todas as intervenções devem ser direcionadas para essa integração. A setorização
institucional no tratamento das águas é uma das principais limitações para
“somar-se” sempre a esse desenvolvimento. Infelizmente, a dinâmica da
mudança que visa ao desenvolvimento humano sustentável em nossos
países tem total dependência de entidades internacionais, não é uma
mudança que ocorra dentro de nossas próprias sociedades.
Por isso, a prática sem um marco conceitual que a apoie é um perigo
real em relação aos “efeitos perversos das boas intenções”. E um marco
conceitual sem fundamento na prática é inútil. Uma expressão desse fundamento na realidade dos marcos conceituais são as metodologias e tecnologias das intervenções, pelos quais as avaliações não deveriam medir
simplesmente os produtos, senão as metodologias das intervenções. As
metodologias devem ser participativas (principalmente através de decisões), de modo que as tecnologias sejam fruto dessa participação, partindo do conhecimento local.
Entre a teoria da formação superior e a prática de sobrevivência das comunidades rurais há uma distância considerável. Os profissionais não têm
formação para entender a totalidade dos problemas das famílias e dos
assentamentos rurais, já que as soluções propostas causam mais problemas do que os já enfrentados pela comunidade.
É possível resolver boa parte da problemática da água nas zonas rurais
– pelo menos, nos problemas que podem ser geridos localmente – com
metodologias e tecnologias inovadoras, que partam do conhecimento da
população. Um apoio fundamental nos processos participativos vem dos
grupos focais tradicionalmente não reconhecidos (mulheres e crianças) e
da supervisão desses processos por parte dos cidadãos. No entanto, os
problemas gerados pelo contexto em que se encontra o nível local podem
afetar as possibilidades de solução real dos problemas. Deve-se, então,
participar com afinco da solução dos problemas locais. Assim, é necessário ajudar as comunidades rurais em seu papel de interlocução política
devido à capacidade de influenciar as decisões sobre a gestão das águas
em bacias, municípios, regiões e no país.
Em relação ao desenvolvimento tecnológico, deve-se recordar que as tecnologias têm o código genético da sociedade que as desenvolveu, em
seus componentes físicos e operacionais. Por isso, é necessário desenvolver tecnologias junto com as comunidades que as usarão, pois assim
receberão o mesmo “código genético” de tais comunidades e não gerarão o retrocesso causado por tecnologias provenientes de contextos
distintos. A investigação aplicada e participativa e a inovação devem ser
fomentadas na educação e em projetos de todos os níveis.
Toda a vida da comunidade rural depende do seu acesso à água, tanto
para suas atividades domésticas quanto para as produtivas. De nada vale
a terra sem água, fato do qual as comunidades rurais são conscientes.
Além disso, é mítica a ideia de que as comunidades rurais descuidam da
água e de sua preservação. A prática demonstra que são vários os fatores
externos que influenciam o cuidado e a proteção da água, e tais fatores
independem das comunidades.
Uma vez que é a vida da comunidade que depende da água, e não a vida
dos funcionários públicos que desenvolvem os projetos, a priorização de
uso tem diferentes vertentes. Além disso, é possível perceber nas comunidades uma visão de “água para a vida” muito distinta da “visão dos
setores”,dos elaboradores de projetos e das organizações. A mudança de
visão setorial levará muitos anos e depende de mudanças nesse sentido nas
políticas internacionais e na formação conferida aos profissionais da área.
A Revista Aqua Vitae não emite nenhuma opinião sobre os critérios expressados nesta
seção, entretanto, somos uma tribuna aberta a diferentes perspectivas em relação ao
tratamento dos recursos hídricos.
AquA VitAe 27
ALTO PERFIL
TRANSFORMAR ÁGUA
EM ALIMENTOS
Por BORIS RAMÍREZ
D
r. Víctor Villalobos Arámbula, Diretor Geral do Instituto Interamericano
de Cooperação para a Agricultura
(IICA), está bastante ciente de sua
responsabilidade. Por isso, aposta que produtores, governos e instituições técnicas promovam mais atividades de capacitação, investimento, transferência de tecnologia e inovação.
“Há água suficiente no planeta. O problema é
que temos de trabalhar para usá-la melhor. Se
a agricultura continuar usando 70% ou 75%
da água doce, a água disponível não será suficiente para atender à demanda de alimentos”.
O Dr. Víctor tem a responsabilidade continental
de fomentar uma produção agropecuária sustentável, ajudando a garantir o equilíbrio entre
a produção de alimentos e o uso de recursos
naturais fundamentais para a vida humana:
terra e água.
Não se pode mais
continuar medindo a
produção de alimentos
em toneladas por
hectare, o verdadeiro
custo de uma tonelada
de milho ou feijão deve
ser calculado em função
do consumo de água.
28 AQUA VITAE
O setor agrícola é o principal consumidor
de água no mundo. Como é possível fazer
com que este setor tenha menos impacto
sobre os recursos hídricos?
Efetivamente, de 70% a 75% da água doce é
destinada à agricultura, um número que não
preocupa apenas os produtores, mas também
os consumidores. Por tradição, a água é distribuída de forma gratuita e, por isso, recebe pouca
atenção. Sabendo da necessidade de melhorar o
uso da água na agricultura, foram desenvolvidos
sistemas modernos de irrigação, como a lavoura
de conservação, para melhor reter a água de
acordo com o tipo de solo e uso.
O uso da água deve ser visto de forma holística.
Não se trata apenas da irrigação ou seu uso,
mas, sim, de sua origem, de como integrá-la,
Fotos : IICA
como captá-la e como dar a ela o melhor
uso e destinação.
Que inovações e tecnologias estão
sendo implementadas na América Latina para que seja alcançado o equilíbrio entre a produção e o uso eficiente
da água?
Com a necessidade de uma produção
maior e tendo em vista a diminuição da
disponibilidade de água, novas ferramentas
tecnológicas vêm sendo criadas. Uma delas
é a semeadura direta, praticada em plantações extensivas no Brasil e na Argentina,
onde a água é retida pela matéria orgânica
produzida pelos resíduos da colheita. Há
outros sistemas eficientes, como a irrigação
por gotejamento, a irrigação pressurizada,
o uso de estufas ou o cultivo protegido. Em
cultivos a céu aberto, usa-se muito o plástico para controle de ervas daninhas e da
evaporação da água. Há muitas tecnologias
na América Latina, mas todas requerem investimentos, dos quais alguns são especialmente elevados, como é o caso do cultivo
protegido por estufas.
Por que os agricultores preferem adotar a irrigação extensiva ao invés de
usar sistemas mais eficientes? Que programas devem ser fomentados para
conscientizá-los sobre o uso da água?
Precisamos de programas de extensão, educação e capacitação no uso da água para
que os produtores passem a vê-la como um
recurso que está se esgotando e que, por
‘‘
é necesária uma nova mentalidade
dos profissionais da agricultura para
que desenvolvam seus cultivos com
uma visão diferente
isso, deve ser usado de forma eficiente. É
necessário implementar boas práticas agrícolas, não apenas associadas à água, mas
com a finalidade de promover uma agricultura mais sustentável, onde a água e o
solo tenham um papel importante. Alguns
países não cobram pela água, mas cobram
pela energia elétrica usada para bombear
a água do subsolo. Trata-se, então, de um
mecanismo pelo qual o agricultor começa
a tomar consciência por ainda ter de pagar
pela eletricidade – subsidiar a água e a eletricidade não ajuda a criar uma consciência
sobre o uso da água.
Quais são os mecanismos que devem
ser reforçados para garantir a disponibilidade de água para outros setores
produtivos que estão pressionados
pelo grande uso dos recursos hídricos
na produção agrícola?
Temos de começar a trabalhar em políticas
públicas sobre o subsídio para a automação
da irrigação. É importante esclarecer que
os agricultores serão capazes de gerenciar
melhor a água através de políticas governamentais. É possível criar programas que
subsidiem sistemas de irrigação pressurizada, o uso de bombas ou de sistemas que
‘‘
evitem o desperdício de água. É necessário
fomentar essas políticas públicas visando o
subsídio em tecnologia da água.
Por que não conseguimos levar à frente
grandes projetos de coleta de água
de chuva com a alta pluviosidade de
nossa região? O que está sendo feito
em áreas áridas e semiáridas que vêm
crescendo em nossa região?
Devemos levar em consideração que obras
de infraestrutura hídrica são muito caras.
Represas e reservatórios são obras que exigem muito investimento, e a maioria dos
países só fez obras deste tipo no final das
décadas de 1950 e 1960. Agora, o mais importante é o trabalho integrado ao sistema
de bacias hidrográficas. Um esquema moderno que veja a água como um componente, em que haja um sistema de captação de água nas florestas, com o benefício
de água própria para o consumo humano e
para o uso na aquicultura, pecuária e, por
fim, que use adequadamente águas residuais de forma integrada.
O uso intensivo da terra e a erosão causada
pela remoção da cobertura vegetal do solo
dão início a um processo de desertificação
AquA VitAe 29
permanente e de rápido avanço, o qual
obriga a tomada de decisões para a recuperação de solos mediante programas
de reflorestamento. No curto prazo, a demanda é de reflorestamento e recuperação da vegetação natural; enquanto que
no longo prazo, é necessário melhorar a
estrutura física do solo.
Quais são as medidas de adaptação
e mitigação que estão sendo ou que
devem ser tomadas pelos agricultores
frente aos impactos de secas e inundações decorrentes dos efeitos das
mudanças climáticas?
Na realidade, o que está acontecendo na
agricultura não pode ser resolvido com
base nos regimes históricos de chuva,
porque já têm ocorrido mudanças. O que
se deve fazer é tomar medidas preventivas e começar a adaptar a agricultura a
essas mudanças. Uma das medidas de
adaptação é começar a produzir variedades que tenham maior resistência ao
estresse hídrico. Embora não haja bons
rendimentos, há, pelo menos, algum
mecanismo pelo qual seja possível obter
colheitas adequadas apesar do clima. Há
uma grande orientação da agricultura e
da pesquisa científica no que diz respeito
ao aperfeiçoamento genético de plantas
AquA
VitAe VitAe
30 AquA
30
e animais. Devemos sair de uma pecuária extensiva, com pastagens de grande
porte, para uma mais intensiva, programada de acordo com a carga dos animais,
por unidade de superfície.
Devemos também usar fontes alternativas
de energia, não necessariamente petróleo
ou usinas hidrelétricas, mas outras que
sejam ambientalmente corretas, como a
energia eólica e a solar. Não podemos esquecer que é ainda muito importante reduzir o uso de máquinas agrícolas em pequenas propriedades, é possível trabalhar muito
usando pacotes tecnológicos modernos.
Quais investimentos são urgentes
para tornar o setor agrícola latino-americano mais eficiente?
Devemos fazer investimentos pesados no
desenvolvimento de capital humano e na
capacitação dos produtores, além de fomentar mecanismos de transferência de
tecnologia, seja em âmbito de instituições
internacionais, regionais ou nacionais. É
necessário haver uma nova mentalidade
dos profissionais agrícolas para que o cultivo seja feito sob uma visão diferente. É
preciso, também, que haja muita conscientização dos produtores: existem, insisto,
ferramentas tecnológicas que nos permi-
tem atenuar ou reduzir o impacto negativo
sobre o uso da água, mas muitas delas não
estão disponíveis aos produtores. Neste
sentido, são válidos todos os esforços que
façam países e governos repensarem os
programas acadêmicos dos profissionais de
agronomia com essa nova visão. No curto
prazo, é importante dispor de mecanismos
fortes de capacitação para agricultores e
fortalecer programas de extensão.
O que é está sendo feito para que haja
uma mudança cultural do setor agrícola e capacitação dos agricultores em
questões como sustentabilidade, eficiência e inovação?
Os agricultores, com suas experiências, são
pessoas conscientes: adotam inovações na
medida em que percebem seus benefícios,
sobretudo se houver benefícios econômicos, aumento da produção e facilitação
do trabalho. Está nas mãos dos governos
ou de instituições que prestam assistência
técnica ensinar quais são essas tecnologias, como elas estão disponíveis e como
devem ser usadas. Não são processos de
longo prazo: de forma consciente, o agricultor adota uma tecnologia inovadora ao
fazer comparações e perceber os benefícios na propriedade vizinha ou no modelo
de algum instituto; ou se perceber que não
Este ano, a população mundial chegou
a sete bilhões de habitantes. Somos
capazes de atender a essa enorme demanda hídrica? O que deve ser feito
para garanti-la, hoje e no futuro?
Essa é uma realidade, e se prevê que chegaremos a nove bilhões em 2050. Esse
crescimento populacional gerará muita
pressão sobre a produção de alimentos
e exploração dos recursos naturais. A
grande questão é saber se seremos capazes de alimentar, com recursos limitados,
‘‘
essa população que não para de crescer.
Há água suficiente no planeta. O problema
é que temos de trabalhar para usá-la melhor. Por isso, nós, do IICA, temos debatido a necessidade de se mudar a visão da
água como um recurso gratuito, às vezes,
usado de forma pouco sustentável. A produção agrícola deve se conscientizar sobre
o uso da água na produção de alimentos.
Em outras palavras, não podemos continuar medindo a produtividade em toneladas por hectare, mas, sim, em toneladas
por metro cúbico de água. Temos, aí, uma
mensagem: estamos abrindo mão de um
recurso absolutamente necessário e cada
vez mais limitado. Minha opinião é de que
a água não apenas não será suficiente,
como também será imprevisível sua disponibilidade devido às mudanças climáticas. Em alguns casos, haverá excesso; em
outros, faltará tanto para a produção de
alimentos por meio da agricultura ou da
pecuária. Por isso, é necessário que nos
adaptemos. Para mim, essa adaptação
tem a ver com inovação. Felizmente, avanços tecnológicos na genética, no melhoramento de plantas e animais funcionam
como possíveis soluções alternativas. No
fim das contas, o direito à água é um direito universal que gerará conflitos quando
esta se esgotar, como consequência do
modo em que a estamos usando.
‘‘
há muitas complicações ou métodos caros
para a aplicação de tal tecnologia.
A verdade é que se a agricultura continuar usando
70% a 75% da água doce, a água disponível não vai ser
suficiente para satisfazer a demanda de alimentos
Histórico ProfissionAl
Dr. Víctor Villalobos Arámbula nasceu no México e é um profissional de renome, especializado nas áreas de
agricultura, recursos naturais e genéticos. Ostenta um currículo variado como professor, pesquisador, diretor de
pesquisa, funcionário de organização internacional, funcionário público, administrador, negociador e líder de grupos
multidisciplinares de análise. Atua como Diretor Geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura
(IICA) desde 2010 até 2014.
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Engenheiro Agrônomo, formado pela Escola Nacional de Agricultura, em Chapingo, México. Mestre em Genética
Vegetal, no Colégio de Pós-Graduação de Chapingo. PhD em Morfogênese Vegetal na Universidade de Calgary,
no Canadá.
Publicou dois livros: “Contribución del Cultivo de Tejidos al Mejoramiento y Conservación de las Plantas”, em 1982,
e “Los Transgénicos: Oportunidades y Amenazas”, em 2007.
Atuou como professor dos níveis de licenciatura, mestrado e doutorado na Universidade de Chapingo (UACH),
no Colégio de Pós-Graduação (COLPOS) e no Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico
Nacional do México. Catedrático do Centro Agronômico Tropical de Pesquisa e Ensino (CATIE) e de cursos de
especialização na Argentina, Áustria, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, Jordânia, Irã, Venezuela, entre outros.
Foi Subsecretário de Recursos Naturais e Subsecretário de Agricultura no México.
É membro da Real Academia Sueca de Agricultura e Silvicultura desde 2004.
Obteve o grau de Doutor Honorário do CATIE em 2004; integrou o Grupo Assessor de Alto Nível do Centro
Consultivo de Pesquisa Agrícola Internacional (CGIAR); foi membro da Comissão de Ciência e Tecnologia do
Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CONACYT) e da Universidade da Califórnia UC - Mexus.
Em 1995, foi homenageado pelo Presidente do México por seu trabalho em biotecnologia aplicada à agricultura
em organizações internacionais.
AquA VitAe 31
GOTAS DE VIDA
PRECIPITAÇÕES
ATMOSFERA
Principal recurso hídrico
Atmosfera
Destino consultivo
natural da água
APROVEITAMENTO
Dois terços das precipitações sobre os continentes são
armazenados em forma de umidade de solo. O terço
restante é constituido por água em estado líquido.
65% ÁGUA VERDE
Umidade do solo
TRANSPIRAÇÃO
florestas
campos
zonas úmidas
plantações
10% fluxo de retorno
35% ÁGUA AZUL
Água em estado líquido
cidade
indústria
ecossistemas aquáticos
ecossistemas costeiros
A América Latina tem 50% a mais de precipitações de chuva do que a média mundial. A região concentra
30% do total de águas continentais do Planeta e possui uma corrente anual de 370 mil metros cúbicos
por segundo. Isto graças a quantidade de chuvas que caem nas zonas tropicais e enormes florestas como
a Amazônica. Por isso, cada vez mais, é preciso entender como utilizar este enorme potencial de água,
para usos domésticos, agrícolas e industriais. A água que cai do céu é aproveitável.
Fonte: Acervo Documental Mercosul/União Européia.
32 AQUA VITAE
BReVeS DO MuNDO
A água no universo
Duas equipes de astrônomos do Instituto de Tecnologia da
Califórnia (Caltech) acabam de descobrir a maior e mais distante reserva de água encontrada até hoje, em todo o Universo. Ela se encontra a 48 bilhões de quilômetros da Terra.
A enorme reserva está em um grande anel de vapor ao redor
de um longínquo quasar (um dos objetos mais brilhantes e violentos
do céu), denominado APM 08279+5255. O total da massa de água ali
acumulada equivale a, pelo menos, 140 trilhões de vezes a soma de
todos os oceanos terrestres, sendo umas 100 mil vezes superior à do
próprio Sol. A pesquisa completa será divulgada nos próximos meses,
na conceituada publicação Astrophysical Journal Letters.
O quasar anfitrião de toda essa quantidade de vapor d’água
está tão distante de nós, que sua luz demora 12 bilhões de anos para
chegar a Terra. “Esta é outra prova de que a água é persistente em
todo o Universo, inclusive em sua etapa mais jovem”, comentou Matt
Bradford, pesquisador do Caltech e Diretor de um dos grupos de pesquisa.
Desde que foram encontrados vestígios de vapor d’água na Via Láctea, os astrônomos esperavam encontrá-la no Universo jovem.
O que não esperavam era achar de uma só vez uma quantidade tão volumosa do líquido.
A equipe de Bradford começou as observações em 2008, usando um instrumento chamado Z-Spec, no Observatório Submilimétrico da Caltech (CSO), um telescópio de dez metros de circunferência, situado no cume do Mauna Kea, no Havaí. O Z-Spec é um
espectrômetro extremamente sensível, que mede a luz em uma região de frequências do espectro eletromagnético, situada entre os
comprimentos de onda do infravermelho e das micro-ondas.
Fonte: Instituto de Tecnologia da Califórnia
Celebridades solidárias
Cidade água
A Fundação Water.org (www.water.org) conseguiu que
uma série de personalidades se somassem aos esforços da entidade para levar água potável a comunidades desfavorecidas. Foi
assim que o ator e roteirista norte-americano Matt Damon e a
cantora de blues e pop, Rihanna, nascida em Barbados, chegaram
a ter uma garrafa própria e exclusiva, assinada e personalizada.
Essas garrafas são usadas para que o público as comprem
e as colecionem e os fundos arrecadados serão dedicados a levar
saúde e bem-estar, por meio de projetos de abastecimento de
água. O sucesso foi tão grande que o ator também fez um vídeo
com o tema, para incentivar mais celebridades a se comprometerem e conseguir mais doadores.
Os dois astros têm promovido as garrafas exclusivas com
suas assinaturas durante o ano de 2011. Elas integram uma coleção
de outras celebridades que, como Robin Williams, Taylor Switt,
Selena Gómez, Adrian Grenier e Dwight Howard já contam com
modelos próprios de garrafas.
Co-fundada por Matt Damon e Gary White, a Water.org é
uma organização sem fins lucrativos que transformou centenas de
comunidades na África, no sul da Ásia e na América Central por
meio do acesso à água potável e ao saneamento.
A cidade de Ourense parece ter encontrado na água a
sua tábua de salvação. Ocorre que os recursos termais dessa
cidade da Galicia a tornaram a segunda cidade da Europa com
maior reserva de água termal. Os galegos, espanhóis e europeus
sabem disso e converteram a cidade em um grande balneário.
Isso conferiu à cidade vários benefícios: primeiro, se converteu em um centro de saúde graças à capacidade das águas
termais de curar doenças de pele, problemas reumáticos e ter
efeito relaxante; segundo, recebeu grandes benefícios econômicos por ser um centro de atração de turistas que vêm passar
temporadas tanto no verão quanto no inverno.
Nos últimos oito anos, o governo local organizou uma
imensa campanha para incrementar o turismo termal, e converteu
as instalações públicas em um autêntico paraíso para os sentidos.
A vantagem de Ourense é que o conceito de balneário
não é dirigido apenas a idosos, mas também atrai jovens e crianças. A cidade divulga informações sobre os benefícios da água
para os habitantes e para os turistas, promovendo uma cultura
em prol dos recursos hídricos.
Fonte: Water.org
Fonte: Jornal El Mundo, Espanha
33 AquA VitAe
TECNOLOGIA
A nAturezA é AliAdA
reCurSOS
HÍdriCOS
Três tecnologias inovadoras usam elementos orgânicos
para garantir água limpa. No Brasil, usam cascas de
banana, nos Estados Unidos, matéria orgânica e, na
Argentina, carvão.
34 AquA VitAe
Por GUSTAVO ROCHA DE CASTRO e PEDRO DE MAGALHAES PADILHA
Instituto de Biociências de Botucatu – UNESP – São Paulo – Brasil
[email protected]
N
o início pode até parecer estranho, mas a suspeita
de que um material tão singular poderia funcionar na purificação de águas surgiu observando o
comportamento de materiais sintéticos muito mais
complexos. muitos cientistas de diversas regiões do mundo
têm trabalho no desenvolvimento de materiais voltados para
a remoção de substâncias tóxicas de águas naturais, solos e da
atmosfera e, dentre essas substâncias, as espécies metálicas que
podem manifestar toxicidade em elevada concentração, como
cádmio, chumbo, cobre, arsênio, níquel, entre outros, são as
mais estudadas.
o trabalho envolvendo casca de banana consistiu primeiramente na secagem da casca em uma estufa simples a aproximadamente 70 °c por 72 horas. Neste procedimento as cascas
de banana foram colocadas em sacos de papel. Após a secagem a biomassa seca foi triturada em moinho de bolas e em
seguida o material foi fracionado em peneiras até a obtenção
de partículas com diâmetro entre 35 e 45 µm. A escolha do
tamanho das partículas é importante, pois a medida que o tamanho da partícula diminuí a área superficial aumenta, e com
isso aumenta a área de contato da partícula com a solução a ser
filtrada ou tratada. Além disso, o processo de trituração disponibiliza os grupos orgânicos presentes no interior da casca que
irão interagir com as espécies metálicas existentes na água ou
no efluente a ser tratado.
depois de selecionado o tamanho das partículas, uma determinada massa foi utilizada no preparo de um pequeno filtro, por
onde foi percolado um volume fixo de uma solução de cobre e
chumbo de concentração conhecida e a capacidade de extração
do material foi determinada levando-se em consideração a concentração da solução contendo os metais antes e depois da
filtração e a massa utilizada da biomassa utilizada como filtro.
AquA VitAe 35
AplicAções práticAs dA biomAssA
Filtro construído
com 20 mg de
cascas de
banana
triturada
basicamente, o material pode ser aplicado como filtro para remoção de espécies metálicas tóxicas em efluentes industriais,
como por exemplo, curtumes, indústrias metalúrgicas e de galvanização. Nestes casos o material poderia ser aplicado como uma
etapa adicional, uma vez que os métodos convencionais de precipitação não possuem 100% de eficiência.
No entanto, para que o sistema funcione adequadamente, vários parâmetros devem ser, previamente, otimizados, como por
exemplo, o pH do efluente, a vazão de percolação através do
filtro, a presença de material particulado, entre outros. dentre
esses parâmetros o pH do efluente é o mais crítico, pois a melhor
eficiência será alcançada quando o valor estiver entre 4 e 7, pois
em valores menores os sítios de extração estarão protonados por
espécies H+.
em relação a aplicação doméstica ou em tratamento de água para
consumo humano do filtro com cascas de banana, não acreditamos que seja uma opção interessante, pelo menos até o momento. Atualmente, na maioria dos países, a captação de água
para abastecimento público é feita em rios, açudes, ou através da
perfuração de poços, onde a concentração de espécies metálicas
tóxicas se encontra dentro da permitida na legislação.
Filtro com
cascas de banana
com o crescimento acelerado da população mundial e a crescente
necessidade por bens industrializados, o descarte de efluente contendo substâncias tóxicas e persistentes no ambiente podem aumentar e tornar necessário algum tipo de tratamento prévio, até
mesmo em águas para abastecimento público.
MAtÉRiA ORGÂNiCA NAtuRAL
JONATHAN G. PRESSMANN
Agência de proteção Ambiental dos estados Unidos
A matéria orgânica natural está presente em todos os reservatórios de água de superfície e subterrâneos, sendo formada, principalmente, pela decomposição da vegetação. esta matéria é crucial no projeto de processos de purificação de água, sendo um
fator-chave na formação de subprodutos de desinfecção. tem também um papel importante em outras áreas de pesquisa, como
seus efeitos relativos às mudanças climáticas: as mudanças do clima afetam os ecossistemas e, consequentemente, afetam a
composição química da matéria orgânica natural, o que é refletido na pesquisa feita, tendo como meta a longo prazo a consideração da diversidade de tal matéria orgânica, que varia conforme o lugar. Além disso, com a mudança das estações, essa enorme
diversidade de composição dificulta as comparações entre as tecnologias de tratamento.
mÉtodo
A pesquisa para a padronização de amostras de prova resume-se a três passos:
Concentração: para isolar quantidades significativas de matéria orgânica natural, é necessário fazer a extração desde sua fonte
de origem.
Liofilização (congelamento a seco): a preservação da matéria produz umas amostras de prova estáveis, secas, de baixo volume
36 AquA VitAe
CARVÃO PuRiFiCADOR
outra técnica em estudo há dois anos na Argentina usa resíduos florestais, principalmente o carvão
ativado, como elemento para eliminar contaminantes de fontes de água. A seguir, estão alguns trechos
dessa pesquisa:
CARVÃO ATIVADO. Vários produtos elaborados à base de carbono, apresentados em forma de pó ou
grãos muito pequenos, caracterizando-se principalmente pela presença de inúmeros microporos em cada
partícula. coloca-se este material nas fontes de água para que ocorra a absorção de contaminantes.
COMO AGEM? esses materiais porosos agem como esponjas capazes de absorver diferentes tipos de
compostos químicos em fontes de água. para fabricar esses materiais porosos, deve-se “ativar” algum
produto carbônico, já que é o processo de ativação que forma os poros no material. para obter a carbonização, é necessário levar a matéria-prima a altas temperaturas.
MATERIAIS UTILIZADOS. Foram testadas várias fontes de carbono, como casca de coco ou noz, madeira ou carvão mineral. o material que mais se utiliza na pesquisa é o pau-de-espinho, uma espécie
de árvore espinhosa que apresenta grande resistência à seca e cresce em solos arenosos e áridos, em
regiões da bolívia, do paraguai e da Argentina.
RESPONSÁVEIS. este projeto conta com o financiamento da Agência Nacional de promoção científica
e técnica da Argentina, do conselho Nacional de pesquisas científicas e técnicas e da Universidade de
buenos Aires (UbA).
mais informações constam no site www.exactas.uba.ar, da Faculdade de ciências exatas da Universidade de buenos Aires.
e duradouras, tornando-as ideal para o processo de elaboração das informações.
Reconstituição: esse procedimento permite reconstituir aspectos importantes como o pH, o tempo de mistura e outros
fatores de concentração que ainda não existem nos estudos realizados sobre esta matéria.
impActo
muitos dos obstáculos atuais na pesquisa sobre purificação de água se devem ao transporte e à distribuição de grandes volumes de água provenientes de vários locais do país, junto com a baixa durabilidade das amostras de água. Nossa proposta
é sanar essas dificuldades com a pesquisa realizada de forma preventiva na Agência de proteção Ambiental.
Uma vez isolada a matéria orgânica natural, congela-se em um pó seco com prazo de validade estável para que seja reconstituída à sua forma inicial aquosa, destinada a experimentos repetíveis. Uma biblioteca com diferentes amostras de água
permitirá que os pesquisadores comprovem processos de purificação de águas de diferentes origens, incluindo processos que
visem à redução de subprodutos de desinfecção, ao tratamento com carvão ativado granulado e à deterioração de membranas, com a vantagem de aplicação aos estudos sobre os efeitos do clima.
A organização mundial da saúde (oms) reconhece a necessidade de pesquisas sobre novas tecnologias físico-químicas de
baixo custo para eliminar a turbidez da água. esse estudo tem o objetivo de descobrir uma nova e inovadora tecnologia
que possa ser implementada para reduzir a turbidez e eliminar o arsênico em zonas de contaminação onde os cidadãos não
podem investir em métodos caros. mais informações: [email protected]
AquA VitAe 37
SAÚDE
HIDRATAÇÃO:
38 AquA VitAe
Por DR. JESÚS ROMÁN MARTÍNEZ
Secretário-Geral do Instituto de Pesquisa sobre Água e Saúde
www.institutoaguaysalud.es
É
importante entender que o conceito total de água que se deve ingerir inclui: a
água para beber, a contida em outros tipos de bebidas e a que está presente
nos alimentos.
A água ingerida diariamente deve totalizar 2,2 e 3 litros para homens e mulheres
entre 19 e 30 anos, o que representa 81% do total – a água contida nos alimentos
seria os 19% restantes do total de água total necessário. Para uma pessoa saudável,
o consumo diário abaixo dos níveis de ingestão adequados não configura um risco
imediato, dada a ampla margem de ingestão compatível com um estado normal de
hidratação.
É possível que quantidades maiores de água total sejam necessárias para pessoas
que pratiquem atividades físicas e/ou que estejam expostas a um ambiente quente.
Deve-se recordar que, em poucas horas, é possível produzir uma deficiência severa
de água no organismo por pouca ingestão de água ou pelo aumento das perdas
hídricas decorrente de atividade física ou exposição ao meio ambiente (por exemplo,
temperaturas muito elevadas).
Nesse caso, convém lembrar que, dentre outras coisas, para adultos saudáveis,
uma desidratação de 2,8% do peso corporal por exposição ao calor ou
após um exercício pesado causa uma diminuição da concentração, do
rendimento físico e da memória recente, além de aumentar o
cansaço, causar dores de cabeça e reduzir o tempo de
resposta a estímulos.
UM ASSUNTO ESSENCIAL
A ingestão adequada de água previne transtornos funcionais e metabólicos nas pessoas.
AquA VitAe 39
A desidratação está relacionada a uma diminuição da capacidade psicomotriz, assim como da capacidade de atenção e da memória. O
efeito destrutivo da desidratação aguda sobre a capacidade física durante exercícios e sobre o rendimento está perfeitamente comprovado,
sobretudo quando a desidratação vai de 1% a 2% do peso corporal
total de uma pessoa. Sabemos que a desidratação crônica aumenta o
risco de câncer de bexiga e litíase renal (doença causada pela presença
de cálculos ou pedras no interior dos rins ou das vias urinárias).
A desidratação também prejudica a função cognitiva e o controle
motor. É evidente que deficiências de água de 2% ou mais do peso
corporal são acompanhadas por uma capacidade intelectual diminuída.
SINAL DE ATENÇÃO
É necessário levar em consideração que a desidratação não só aumenta a temperatura corporal, mas também reduz alguma das vantagens térmicas relacionadas ao exercício físico aeróbico e à nossa
capacidade de adaptação ao calor. Desta forma, a sudação localizada
e o fluxo de sangue na pele permanecem reduzidos quando uma pessoa está desidratada. A principal consequência é que a desidratação
reduz a temperatura corporal suportável por uma pessoa.
Um choque térmico grave pode ocorrer com mais facilidade em
pessoas desidratadas do que naquelas que estão bem hidratadas. A
desidratação aumenta as pulsações cardíacas, independentemente
da pessoa estar deitada, em pé ou em um ambiente com temperatura amena.
A desidratação dificulta a manutenção da pressão arterial, podendo
aumentar a taxa cardíaca proporcionalmente à magnitude da deficiência de água. A desidratação aumenta o esforço cardiovascular.
Sugere-se, ainda, que a desidratação possa contribuir para o aumento da mortalidade entre pacientes hospitalizados. Isto se daria
sempre com perdas hídricas superiores a 10% do peso corporal, salvo
quando esta desidratação for produzida junto com outros processos
patológicos agravantes.
O certo é que quando a desidratação ultrapassa 10% do peso corporal total, é imprescindível receber assistência médica adequada para
permitir a recuperação. Nesse aspecto é necessário levar em consideração que a combinação de dietas severas e exercícios pesados
realizados em ambientes quentes podem gerar graves problemas,
inclusive morte por parada cardiorrespiratória.
40 AquA VitAe
INGESTÃO DE ÁGUA
Durante a lactação:
• Durante o primeiro trimestre de gravidez, é necessário ingerir
de 2 a 2,5 litros por dia;
• Durante o segundo e o terceiro trimestre de gravidez, é necessário beber 3 litros por dia;
• Durante a lactação, é necessário beber 3 litros por dia.
Na infância:
• Nos primeiros seis meses de vida, a ingestão média de leite
humano pelo bebê é de 0,78 litros por dia. Como cerca de 87%
do leite humano é composto por água, a ingestão é adequada;
• As refeições das crianças devem ser acompanhadas por água;
• Estudos epidemiológicos demonstram que um maior consumo de água está associado a uma menor densidade energética dos alimentos;
• Deve-se incentivar o consumo de água na escola para o controle da obesidade infantil;
• Um maior consumo de água tem uma resposta fisiológica
renal adequada a essas idades.
Na terceira idade:
• Quanto mais avançada a idade, maior é a quantidade de água
que se necessita ingerir, já que os idosos têm menor sensação
de sede e se saciam com uma ingestão líquida menor.
Temperatura ambiente: quanto mais alta a temperatura,
mais água deve-se beber.
Função renal: a disfunção renal exige mais ingestão de líquidos, a fim de possibilitar a eliminação dos produtos residuais.
Função digestiva: à medida que esta diminui ou fica mais
lenta, aumenta-se a necessidade de água.
Consumo de remédios: há remédios que modificam e aumentam as necessidades de água como diuréticos, a teofilina,
broncodilatadores e laxantes.
eFeitOS COMPROVADOS
Diversos estudos e pesquisas tratam dos benefícios
comprovados pela ingestão de água mineral.
ANEMIA
• Água rica em
ferro ajuda
a controlar a
anemia em
mulheres
grávidas.
HIPERTENSÃO
• O efeito do bicarbonato
sódico (contido na água
mineral) sobre a pressão
arterial é muito menor do que
o de quantidades equivalentes
de cloreto de sódio.
APARELHO DIGESTIVO
• Melhora dos sintomas da dispepsia:
dor, náuseas, inflamação
abdominal, flatulência, arrotos.
• Aumenta a secreção biliar.
• Ajuda em caso de prisão de ventre,
irritação do cólon e patologias
biliares.
• Previne a arteriosclerose, assim
como patologias ginecológicas:
síndrome pré-menstrual, climatério,
osteoporose.
OSSOS
• O cálcio contido na
água mineral melhora
e mantém a densidade
mineral óssea do corpo.
EFEITO ANTIOXIDANTE
• Água rica em selênio tem efeito anti-inflamatório.
• Efeito sobre a redução dos processos de oxidação dos lipídeos e proteínas.
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Foto: COP16
INTERNACIONAL
LONDRES DE caRa Limpa
Um dos maiores e mais ambiciosos projetos da infraestrutura hidráulica mundial coloca novamente a Grã Bretanha
na linha de frente, dando respostas modernas ao aumento da capacidade exigida pelos sistemas de esgoto.
Por BORIS RAMÍREZ
O
rio Tâmisa corta a cidade de Londres e é um de seus
principais motores de atividade. Abastece água para a
população, funciona como meio de transporte, é um
ponto turístico e de lazer e ainda gera energia.
Entretanto, ao longo de sua história, o Tâmisa também foi a
causa de doenças e inundações devido a níveis de contaminação
e despejo de águas residuais em suas fontes. Para evitar esses inconvenientes, um ambicioso projeto de infraestrutura hidráulica,
conhecido como Thames Tideway Plan, vira realidade na cidade
olímpica de 2012.
O problema a ser resolvido não é insignificante: por ano, são despejadas no rio um total de 32 milhões de toneladas de águas residuais sem tratamento. Para solucionar esse problema, o projeto
tem como objetivo melhorar a capacidade do sistema de esgoto
de Londres.
Para isso, deve-se controlar e prevenir transbordamentos de águas
residuais pela passagem do rio Tâmisa no Tideway (parte do rio
que está sujeito às marés) em seu curso por Londres. Segundo a
41 AquA VitAe
empresa Thames Water Utilities, essa enorme obra de engenharia
hidráulica vai atender ao cronograma de trabalho.
MÃOS À OBRA
A solução adotada contempla a construção de um túnel ou coletor
de todas as águas residuais, que emanam das 34 eclusas do rio
Tâmisa, assim como a construção de um segundo túnel, junto ao
rio Lee.
De acordo com Phil Stride, chefe do projeto, “o trajeto que o túnel
deve percorrer está sendo muito bem estudado, a fim de recolher
de uma forma mais eficiente as águas residuais e pluviais ao longo
de toda a cidade”.
Hoje, o problema enfrentado por alguns setores da cidade de
Londres é que o sistema de esgoto recolhe tanto águas residuais
como pluviais e, em alguns casos, a quantidade de líquido ultrapassa a capacidade do sistema, gerando inundações. Pretende-se solucionar isso com um sistema de eclusas conectadas em
diferentes pontos, para recolher apenas as águas residuais, transportando-as às estações de tratamento. As águas pluviais serão
Foto: COP16
recolhidas por coletores, que ajudarão a canalizá-las, evitando
assim que se misturem.
A proposta consiste em construir um túnel de armazenamento
e transferência (dos dois tipos de água em separado) na maior
extensão abaixo do leito do rio Tâmisa, entre a comunidade
de Hammersmith, na parte oeste, e a de Beckton, na parte
leste (ver mapa).
Essa obra, proposta desde o início da década de 1990, conta
com a participação de instituições públicas e privadas, chefiadas pela empresa prestadora dos serviços de água e saneamento Thames Water Utilities Ltd, pela Agência de Meio
Ambiente, pelo Departamento de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais e pela Prefeitura de Londres.
Os estudos realizados até hoje demonstram que as obras
melhorarão a qualidade das águas do rio, sendo possível
atender aos parâmetros estabelecidos pela Agência Européia do Meio Ambiente.
Esse ambicioso projeto está na mira de muitos setores por ser
uma resposta moderna ao tratamento de águas residuais em
cidades com grande concentração demográfica que, assim
como Londres, são cortadas por um rio.
AquA VitAe 42
a
THAMES TUNNEL
•
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•
O QUE DEVE SER FEITO
O projeto tem três fases estabelecidas e programadas.
•
Ampliação das 5 principais estações de
tratamento de água de Londres. Obras
serão concluídas entre 2012 e 2014.
•
Contrução de um túnel junto ao rio Lee.
Iniciada em setembro de 2010, sendo
conlcuída em 2014.
•
Construção do túnel do rio Tâmisa
que cortará Londres da parte oeste
à leste. Início previsto para 2013 e
conclusão em 2020.
43 AQUA VITAE
£3,6 bilhões (US$5,4 bilhões) é o custo da obra;
22 km de comprimento terá o túnel, seguindo o curso do rio;
7,2 metros de diâmetro tem o túnel construído a 75 metros de profundidade;
1% da água é própria para o consumo humano;
32 milhões de toneladas de águas residuais são despejadas no rio a cada ano;
57 eclusas recebem as águas residuais.
CULTURA
PATRIMÔNIO CULTURAL
AZUL
O Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS) designou o ano de
2011 para dar um lugar de destaque à água como cultura material da humanidade.
Por BORIS RAMÍREZ
AquA VitAe 45
“A
água é um dos recursos fundamentais que
tornam a vida possível. Permitiu o desenvolvimento e a criação de uma importante cultura
material em forma de objetos, tecnologia e
lugares. A forma de obtê-la, armazená-la, aproveitar sua energia
e conservá-la motivou os esforços humanos de várias maneiras.
Foi também o catalisador para o desenvolvimento de importantes
práticas culturais que geraram expressões de patrimônio cultural.
Serviu de inspiração para a poesia, literatura, pintura, dança e escultura; deu origem a filosofias e práticas religiosas que deram
forma a nossas crenças e costumes”.
Com essas palavras certeiras, a Dra. Susan McIntyre-Tamwoy, membro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS)
da Austrália e pesquisadora da Universidade James Cook, explica
porque essa organização mundial decidiu dedicar o ano de 2011
para destacar a água como um patrimônio cultural da humanidade.
Os especialistas afirmam que uma maior exploração do patrimônio
da água deve ir além da mera apreciação técnica desenvolvida ao
longo da história para usá-la, consumi-la e gerenciá-la. Há valores
imateriais, como a espiritualidade e a estética, inspirados na água
e que dão significado a diversas práticas, estruturas e objetos culturais que vinculam a relação da humanidade com a água e, que
por sua vez, estão presentes em nosso patrimônio cultural. Do total
de monumentos, lugares e valores imateriais relacionados ao elemento hídrico declarados patrimônio cultural, a América Latina se
orgulha dos seguintes:
DEUS CHAAC
Deus maia regente das chuvas. Representa a energia criadora e,
na simbologia maia, faz uma analogia de que se a água é o símbolo da vida para o planeta, dentro de cada um, ela é a energia
que nos trouxe à existência.
É considerado um dos principais deuses maias, venerado na
península de Yucatán, no México, e considerado o deus das
chuvas, dos raios, dos relâmpagos e da água. Os espanhóis o
consideraram o deus dos milharais, devido à sua importância no
cultivo desse produto básico e vital para os indígenas.
DEUS TLALOC
Deus asteca das chuvas e dos relâmpagos. Tlaloc era conhecido como provedor, pois tinha o poder de produzir a chuva que fazia o milho crescer. Na
concepção de mundo asteca, era o senhor dos fenômenos atmosféricos e dos
espíritos das montanhas.
Os astecas viveram no México durante os séculos XV e XVI e representaram Tlaloc como um homem que usava uma rede de nuvens, uma coroa de penas, sandálias de espuma e que carregava cascavéis, com as quais produzia os trovões.
Aqua
Vitae
4646
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Vitae
SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO INCA
Os incas foram os habitantes do maior império americano pré-colombiano. Ao final
do século XIV, começaram uma expansão que os levou a estender sua população
da região de Cuzco, no Peru, até as zonas montanhosas da Cordilheira dos Andes,
na América do Sul. Chamaram seu território de Tawantinsuyu que, em quéchua, o
idioma inca, significa As Quatro Partes, já que havia regiões e climas muito variados.
Por essa condição geográfica e pela população que deviam atender, os incas desenvolveram um sistema de irrigação para vencer as dificuldades ambientais que enfrentavam. Construíram terraços ao longo das montanhas e, para irrigar suas plantações,
alteraram o curso dos rios para canalizar as águas até os terraços. Com essa obra
de engenharia hidráulica, os incas cultivavam seus produtos nos terraços e, no lugar
do arado – que desconheciam –, usavam uma enxada que empurravam com os pés.
Incorporaram conhecimentos hidráulicos, tais como canais e boqueirões, que possibilitavam a irrigação, especialmente do milho.
CHINAMPAS DE XOCHIMILCO
As chinampas foram plantações desenvolvidas pela cultura pré-hispânica mexicana nos séculos XV e XVII. Esses hortos (primeiros cultivos hidropônicos registrados) flutuavam na superfície
dos lagos. A tecnologia das chinampas baseou-se na construção
de uma espécie de balsa, feita com troncos amarrados com cordas de ixtle (fibra têxtil). Essas estruturas tramadas com galhos,
varas e troncos mais finos eram cobertas com camadas de cascalho e terra fértil, que aproveitavam a umidade da água e dos
nutrientes para produzir feijão, milho, flores e outros vegetais.
Os astecas desenvolveram técnicas de ancoragem para as chinampas, como a plantação de um determinado tipo de árvore
conhecido como ahuejotes, nos quais se fixavam os hortos. Hoje
em dia, Xochimilco, na Cidade do México, é o único lugar onde
se pode apreciar esta engenhosa estrutura, que virou um ponto
turístico famoso por sua produção de flores.
Parque Nacional IGUAÇU Brasil-Argentina
Os territórios do Brasil e da Argentina abrigam uma área protegida
de mais de 2000 km². O rio Iguaçu, que em guarani significa “água
grande”, nasce na Serra do Mar a uma altitude de 1.300 metros e,
de fato, trata-se de um enorme sistema fluvial. Corre para o oeste
ao longo de mais de 500 quilômetros, desembocando no Paraná, a
apenas 90 metros acima do nível do mar. Antes de formar as famosas
Cataratas do Iguaçu, forma vários saltos em seu curso superior, alternados com amplos e profundos trechos de águas calmas em que a
impetuosa corrente parece contida. O Parque é um dos ecossistemas
mais ricos do mundo pela biodiversidade que abriga: mais de 2000
espécies de plantas, 400 de aves e importante fauna em perigo de
extinção. Hoje, o Parque Nacional do Iguaçu é um destino turístico de
categoria mundial.
Aqua
Vitae
4747
Aqua
Vitae
SITES DE INTERESSE
www.assemae.org.br
www.laredvida.org
www.portalcuencas.net
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS SERVIÇOS
VIGILÂNCIA INTERAMERICANA DE
GESTÃO INTEGRADA
MUNICIPAIS DE SANEAMENTO DO BRASIL
DEFESA E DIREITOS À ÁGUA
DE BACIAS HIDROGRÁFICAS
Trata-se de uma sociedade civil, sem fins
A Rede VIDA foi criada em agosto de 2003,
O Portal Regional de Gestão Integrada de
lucrativos, fundada em 1984. Reúne mais de
quando 54 organizações de 16 países da
Bacias Hidrográficas é uma iniciativa que
dois mil municípios brasileiros que adminis-
América Latina se reuniram em San Salva-
visa agilizar e melhorar o intercâmbio de
tram de forma direta e pública serviços de
dor com o objetivo de lançar uma campa-
informações e experiências entre as dife-
abastecimento de água, esgoto sanitário,
nha hemisférica para defender a água como
rentes organizações, projetos e pessoas
drenagem pluvial, resíduos sólidos e con-
um bem público e um direito humano fun-
interessadas neste tema na América Latina.
trole de contaminantes. É organizada por
damental. Associações de consumidores,
Através desse portal, as organizações lo-
administrações regionais, e seu trabalho
organizações de mulheres, ambientalistas,
cais, projetos, ONGs, agências do governo,
consiste em facilitar o acesso a serviços de
sindicatos de trabalhadores, ativistas dos
universidades, centros de pesquisa e pes-
água e saneamento às populações urba-
direitos humanos, religiosos, indígenas e or-
soas interessadas na gestão de bacias hi-
nas e rurais, fortalecendo as capacidades
ganizações sociais fazem parte dessa rede,
drográficas em geral, têm um lugar de fácil
técnicas, administrativas e financeiras des-
que trabalha na estruturação de processos
acesso em que podem compartilhar suas
ses serviços.
de comunicação destinados à reivindicar a
experiências.
gestão e o controle público e comunitário
da água.
www.wearewater.org
www.endwaterpoverty.org
www.wasa-gn.net
FUNDAÇÃO SOMOS AGUA
END WATER POVERTY
WATER ASSESSMENT AND ADVISORY
Essa organização tem dois objetivos: o
Organização fundada em 2007 por 185
GLOBAL NETWORK
primeiro é sensibilizar e levar à reflexão a
membros, de 55 países, cujo trabalho se
Organização internacional sem fins lucrati-
opinião pública e as instituições sobre a ne-
concentra no fomento de ações frente à
vos ou vínculos políticos cuja finalidade é a
cessidade de se criar uma nova cultura da
crise da água e do saneamento entre líde-
criação de sinergias globais que favoreçam
água que permita o desenvolvimento justo
res, meios de comunicação e organizações
a gestão racional dos recursos hídricos do
e uma gestão sustentável dos recursos hídri-
envolvidas em seus projetos. Tem como
planeta. Para conquistar esse objetivo, a
cos no mundo. O segundo é realizar ações
objetivos fazer com que esses temas sejam
WASA-GN criou uma rede mundial de ins-
destinadas a atenuar os efeitos negativos
parte das prioridades dos governos, esta-
tituições e especialistas em assuntos rela-
da falta de recursos hídricos localizados nas
belecer alianças entre comunidades e or-
cionados à água provenientes de diversas
zonas mais necessitadas do planeta. O tra-
ganizações e desenvolver campanhas para
disciplinas interconectadas, e propõe o es-
balho é feito através da captação de recur-
melhorar as condições de acesso à água a
tudo das causas da crise mundial da água
sos para o financiamento de projetos.
fim de gerar soluções de saúde, educação
que vivemos hoje para que sejam formu-
e nutrição.
lados modelos de gestão hídrica de maior
racionalidade e efetividade.
48 AquA VitAe
ANO 7 | 2011 | N. 15
CONSELHO EDITORIAL
Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial da Água
(WWC). Professor Titular da Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo (USP), Brasil.
Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP)
Costa Rica e membro do Comitê Diretivo da GWP América Central.
Claudio Osório | Consultor Internacional de Água e Saneamento.
Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008.
DIRETORA GERAL | Yazmín Trejos
Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil
DIRETORA DE REDAÇÃO | Luciana de Paula
Comunicação Corporativa, Mexichem Brasil
COLABORADORES
Andrei S. Jouravlev, Oficial para Assuntos Econômicos da Divisão de Recursos
Naturais e Infraestrutura da Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (CEPAL).
Colin Herrón, Assessor para Projetos Estratégicos (CONAGUA).
Estrellita Fuentes, Gerente de Planejamento Hídrico (CONAGUA).
Griselda Medina, Subgerente de Gestão e Avaliação de Projetos com Crédito
Externo (CONAGUA).
Gustavo Rocha de Castro e Pedro de Magalhães Padilha, Instituto de
Biociências de Botucatu – UNESP – Brasil.
Dr. Jesús Román Martinez, Secretário-Geral do Instituto de Pesquisa sobre
Água e Saúde.
Jonathan G. Pressmann, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
Mark Tercek, Presidente e Diretor Geral The Nature Conservancy (TNC).
Paulo Varella, Diretor da Agência Nacional de Águas (ANA), do Brasil.
Dr. Victor Villalobos Arambula, Diretor Geral do Instituto Interamericano para
as Ciências Agrícolas.
Walter Ferrufino, Coordenador da Junta de Água Municipal, El Paraíso,
Honduras.
ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO
Luis Alonso Ramírez e Juliana Gebrin
TRADUÇÃO E EDIÇÃO EM PORTUGUÊS
Pampa Tradução e Interpretação
FALE CONOSCO | [email protected]
Uma publicação promovida pelo Grupo Mexichem
Foto: Carmen Abdo
PRODUÇÃO EDITORIAL:
Satori Editorial | www.satorieditorial.com
EDITOR CHEFE | Boris Ramírez
EDITORA DE ARTE | Carmen Abdo
DESIGN GRÁFICO | Gerson Tung
CORREÇÃO DE ESTILO | María del Mar Gómez
CAPA | Carmen Abdo
“A prática
da compaixão não
é um sintoma de
idealismo irrealista,
mas a maneira mais
eficaz de buscar os
interesses dos outros
e também os nossos.
Quanto mais dependemos
dos outros - como nação,
como grupo ou como
pessoas - mais é do nosso
próprio interesse assegurar
o seu bem-estar.”
DALAI LAMA
1/09/11
18:05:42
ISSN 1659-2697
annonce_finale_port_bresil.pdf
ANO 7 | 2011 | Nº 15
C
M
J
CM
MJ
CJ
CMJ
N
ANO 7 | 2011 | N°15
setor água:
Preocupação com o impacto da nova turbulência financeira

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