de entropia social para ecologia social
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DE ENTROPIA SOCIAL PARA ECOLOGIA SOCIAL: A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES Hermanus Meijerink Jos Schoenmaker Material produzido por DA ENTROPIA SOCIAL PARA ECOLOGIA SOCIAL A Responsabilidade Social das Organizações “Todos os homens estão presos em uma rede inevitável de mutualidade, atados em um único tecido de destino. Qualquer coisa que afete um indivíduo diretamente, afetará todos os demais indiretamente. Eu nunca poderia ser o que eu deveria ser, até que você seja o que você deveria ser. E você nunca poderá ser o que você deveria ser, até que eu seja o que eu deveria ser.” Martin Luther King Vida social e as leis de seu desenvolvimento Esta citação do Martin Luther King é muito significativa, para aquilo que chamamos agora Globalização: a humanidade como um todo está tendo um único destino, tecido por linhas de interdependência, de tal modo que, “qualquer um afetado diretamente, afeta todos os demais indiretamente”. Podemos dizer que através da Globalização o mundo está se tornando “uma aldeia global”, como McLuhan citou nos anos 60. Poderíamos também dizer que através da Globalização, a raça humana de fato se tornou um “organismo social global”, no qual todos os indivíduos e organizações estão interligados, como as células e órgãos do nosso corpo humano. Pela observação da realidade social do Brasil, como parte da realidade social do mundo, fica claro que este organismo social global está fortemente ferido, que o modo como estamos lidando com nossa interdependência estaria nos levando a “entropia social”. A sensação é que, todos os esforços para reverter esta situação seriam insuficientes, a menos que, alcançássemos as raízes disto, e fizéssemos “mudanças radicais” possíveis, objetivando uma Ecologia Social. Então, é nossa tarefa compreender mais profundamente o que seria realmente Vida Social, conseguir uma percepção mais apurada em relação ao funcionamento dos Organismos Sociais e as condições que os fazem funcionar saudável ou insalubremente; em outras palavras, as condições que levam à Entropia Social ou Ecologia Social. As linhas do tecido social e as esferas da Vida Social Sobre o que estamos falando quando usamos a palavra “Social”? Estamos nos referindo ao campo das relações entre seres humanos e suas instituições, em suas formas múltiplas. Neste sentido, uma conversa não é apenas um acontecimento social, assim como todos os tipos de organizações – sejam empresas, escolas, instituições governamentais ou ONGs, ou até este seminário - são somente formas diferentes de “relações estruturadas entre seres humanos”, como o são as relações entre organizações e instituições em nível Material produzido por: 2 local ou global. Assim, o “tecido social” é formado por todas estas relações entre seres humanos e suas instituições. Mas podemos usar a palavra “social” também num contexto qualitativo, referindo-se a “qualidade social” destas relações: na medida em que elas afetam o bem-estar da totalidade dos envolvidos nessas relações. Nesse sentido podemos falar de relações “socialmente saudáveis” e “socialmente insalubres”, de um organismo social “saudável” ou “insalubre”. Vamos olhar agora de quais tipos de relações o tecido social é feito. Assim, temos que observar os diferentes modos em que o ser humano se relaciona com seu ambiente social. Podemos observar que os seres humanos se relacionam socialmente: Para ter suas necessidades satisfeitas (todos são “necessitados”, no nível físico, social e cultural / espiritual - fundamentos para a Motivation Ladder [Escala de Motivação] de A. Maslow); Mobilizando suas capacidades / habilidades / conhecimentos, etc. em cooperação com outros (todos são, pelo menos, potencialmente hábeis); Através de acordos (todo adulto emancipado é loquaz, no sentido que é capaz de se expressar e defender seus próprios interesses). Assim, podemos dizer que o tecido social é essencialmente tecido com três linhas: Capacidades humanas que são mobilizadas por cooperação com outros; Necessidades humanas que são satisfeitas por bens e serviços resultantes dessa cooperação; Relações humanas com outros que são estruturadas / organizadas por acordos. Podemos dizer que a Vida Social é, em essência, relacionada com a estruturação de relações, através das quais, capacidades / habilidades são mobilizadas para satisfazer necessidades uns dos outros. Mobilizando capacidades (+) Estruturando as relações (acordos) (-) Satisfação das necessidades Material produzido por: 3 Nesta imagem fica claro que podemos olhar a “Vida Social” como uma invisível, porém real, energia social (como eletricidade) em que habilidades (pólo positivo) movem-se por acordos (neutros, +/-) e se juntam para satisfazer necessidades de outros (pólo negativo). A imagem acima mostra uma inversão: do ponto de vista social, habilidades de uma pessoa (ou grupo) são mobilizadas para satisfazer as necessidades de outros. Quando as habilidades são movidas pela satisfação própria, socialmente falando, temos um “curto-circuito”, provocando muitos danos. Todo progresso social é devido ao fato, de que cada um de nós trabalha para o outro, para satisfazer as necessidades do próximo, e que nossas próprias necessidades são satisfeitas, não através do próprio trabalho, mas através do trabalho de outros. Podemos facilmente imaginar em que fase social primitiva, ainda, estaríamos vivendo, se cada um de nós tivesse que se sustentar sozinho - produzindo a própria comida, tecendo as próprias roupas, etc. Apenas alguns de nós sobreviveria! Este é um fundamento da Ecologia. Na imagem do corpo humano, todas as células e órgãos mobilizam sua contribuição para o organismo como um todo, e não são mantidos por si só, mas pelo organismo inteiro. Quando células ou órgãos trabalham e crescem por eles mesmos, cria-se um câncer, e o organismo fica doente. O mesmo princípio encontra-se na Natureza - a base para Ecologia Natural. Nessa imagem também podemos reconhecer que a “Vida Social” é composta por 3 esferas distintas, cada uma com um caráter ou tarefa específica: Vida cultural - onde capacidades/habilidades humanas são mobilizadas; Vida dos Direitos – onde relações entre seres humanos e instituições são estruturadas (por acordos, leis, políticas, expectativas mútuas explícitas ou implícitas, etc); Vida econômica – onde seres humanos satisfazem suas necessidades materiais (“consumo” de bens ou serviços). Quando passamos a olhar a “Vida Social” no sentido qualitativo, isto é a promoção do bem-estar da totalidade dos seres envolvidos, podemos dizer que este bem-estar aumentará proporcionalmente na medida em que: As necessidades de todos são adequadamente satisfeitas; As habilidades e capacidades de todos são mobilizadas e otimizadas; Os acordos feitos são realizados e respeitados. Se pudermos concordar sobre isso, é possível seguir adiante perguntando a nós mesmos quais condições sociais principais permitiriam que: a) as necessidades dos outros sejam mais adequadamente satisfeitas; b) as habilidades e capacidades dos outros sejam mobilizadas / potencializadas; Material produzido por: 4 c) os acordos com outras pessoas, organizações e nações sejam realizados e mantidos? A principal base para estas condições sociais a fim de promover-se o bem-estar de todos os cidadãos, pode ser encontrada nos ideais da Revolução Francesa, vista como condições básicas a serem alcançadas em uma Nova Ordem Social, ainda que não se consiga realizar isso concretamente. Estes ideais permanecem: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Levando estes ideais para as três esferas da Vida Social, veremos que a Liberdade é a condição social básica para o desenvolvimento saudável da Vida Cultural, a igualdade é a condição social básica para o desenvolvimento saudável da Vida dos Direitos e a Fraternidade para o desenvolvimento saudável da Vida Econômica. Assim podemos reconhecer as seguintes “leis sociais”: a) As necessidades dos outros (necessidades sociais) serão satisfeitas mais adequadamente à medida que nossas relações econômicas estiverem orientadas a perceber e satisfazer essas necessidades (Fraternidade), e serão menos atendidas, na medida em que nossas relações sociais estiverem focadas em maximizar nossos próprios lucros e em nosso próprio beneficio; b) Habilidades, capacidades e potenciais (Vida Cultural) estarão mais mobilizados na medida em que promovermos na nossa cooperação e relações culturais, a liberdade dos outros, e quanto mais cooperação e relações culturais forem condicionadas ou externamente determinadas, menos mobilizados estaremos; c) Os acordos (leis, contratos, políticas, etc.) serão mais fortemente e melhor realizados quando eles forem estabelecidos em igualdade entre as partes, e serão enfraquecidos quanto menos estáveis e menos atendidas, pelo maior poder exercido por um deles. Exemplos: a) Vida econômica Um professor que ativamente procura atender as necessidades de cada um de seus alunos em seu processo de aprendizagem terá mais trabalho e melhor resultado do que o professor que está dando lições normais, que são mais confortáveis para ele mesmo. As necessidades dos meus fornecedores, colegas de trabalho, clientes reais ou potenciais, serão menos adequadamente satisfeitas, quanto mais eu, como produtor, estiver orientado a maximizar meu próprio interesse/benefício, pagando o menos possível para fornecedores e colegas de trabalho, e vendendo meu produto pelo preço mais alto possível; Material produzido por: 5 Quando eu, enquanto consumidor, comprar no supermercado produtos fabricados por outros, enfocando apenas a maior qualidade e o preço mais baixo, minha consciência estará mais orientada para a maximização do meu próprio lucro, e menos orientada para as condições de trabalho das pessoas que tornam a produção possível (remuneração justa, trabalho de crianças, etc). Deste modo eu sou co-responsável pela manutenção destas condições; Enquanto minha consciência, como acionista ou investidor, estiver mais orientada para o maior retorno possível de meu investimento, do que na aplicação responsável no processo econômico, estarei tomando parte ativa na falência das companhias, que estão enfrentando dificuldades e não são mais financeiramente interessantes. Podemos facilmente reconhecer nestes exemplos as regras reais do “jogo econômico”, e também seus resultados ao nível da satisfação das necessidades de todos. b) Vida cultural Um colega de trabalho que recebe ordens sobre o que tem a fazer e como fazer, etc., mobilizará menos suas capacidades do que um outro que assume responsabilidades, e recebe mais espaço para sua própria iniciativa, e ainda, possivelmente, aprenderá mais através de experiências e erros; Idéias e soluções mais criativas surgem quando os participantes de uma reunião ou organização têm a oportunidade (espaço livre) de se expressarem e quando são garantidos mais espaço para compromisso e iniciativa pessoal; O desenvolvimento cultural e tecnológico será mais estimulado quando existir um fluxo livre de informações e conhecimentos, do que quando este fluxo for contido ou condicionado. c) Vida dos Direitos Princípios de tomada de decisão: Autocrática: um indivíduo ou grupo decide, os outros têm que obedecer; Democrática: a decisão pela maioria deve ser respeitada pela minoria; Sociocrática: a melhor decisão é aquela onde não há objeção alguma por quaisquer dos participantes. Material produzido por: 6 Princípio de gerenciamento participativo – quanto mais os participantes de uma organização ficam envolvidos e podem participar em base de igualdade no estabelecimento das políticas que regem a cooperação entre eles, mais ficarão compromissados e engajados em alcançá-las. Até esse ponto encontramos as três linhas, cujo conjunto do tecido social é feito, relacionado às três esferas da Vida Social: A satisfação de necessidades - Vida Econômica; A mobilização de habilidades e capacidades - Vida Cultural; A estruturação de relações - Vida dos Direitos. Identificamos as três qualidades sociais básicas que são determinantes para o desenvolvimento saudável de cada uma destas esferas, tornando possível sua contribuição saudável para o todo da Vida Social, e respectivas qualidades opostas: Vida Econômica: Fraternidade x Maximização de interesses/benefícios próprios; Vida Cultural: Liberdade x Determinação Externa; Vida dos Direitos: Igualdade x Poder. Nenhuma instituição social (seja da Vida Econômica, Vida dos Direitos, Vida Cultural) pode existir sem o funcionamento, pelo menos parcial, de acordo com estas qualidades, e assim, promover o bem-estar social. Por outro lado, o fato é que elas estão em funcionamento de acordo com as contra-qualidades mencionadas, dessa forma, provocando sofrimento humano em algum lugar, e, conseqüentemente, promovendo entropia social. Nosso desafio consiste em criar condições que tornem possível o desenvolvimento de nossas organizações na direção da Ecologia Social. Olharemos mais de perto para este assunto mais adiante. Como primeira conclusão, podemos dizer que as condições principais para o desenvolvimento da Ecologia Social são: Que cada esfera da vida social possa preencher seu papel e desenvolver-se de acordo com suas qualidades sociais inerentes; Que cada esfera mantenha-se dentro dos limites do seu próprio campo, não invadindo ou subjugando o campo das outras esferas e respeitando sua autonomia. (Neste aspecto a esfera de Vida dos Direitos tem que preencher um papel central). Também podemos reconhecer as razões principais que estão nos levando agora para a entropia social, no nível da Sociedade Global: a qualidade inerente a uma esfera da “Vida Social” é transferida para outra, ou seja: Liberdade em Vida Econômica (Liberalismo); Igualdade em Vida Cultural (Fundamentalismo); Material produzido por: 7 Fraternidade em Vida dos Direitos (Protecionismo). A essência da “Vida Econômica” e sua influência na Vida Social. Até esse ponto desenvolvemos uma visão sobre a ordem social como um tecido feito com três linhas e distinguindo três esferas de realidade social: Vida Econômica, Vida dos Direitos e Vida Cultural, cada uma com características específicas e qualidades inerentes. Agora, examinaremos mais de perto a Esfera Econômica. Cremos que a compreensão da essência da Vida Econômica seja uma condição necessária, a fim de abrir caminhos inovadores para mudanças na esfera econômica, que podem contribuir para uma ordem social saudável. Muito se fala de Responsabilidade Social das organizações, mas sabemos que não podemos atingir a responsabilidade social real se só trabalharmos na superfície – dando doações aos pobres, sustentando iniciativas sociais, etc., e se não formos mais a fundo e começarmos a mudar as causas subjacentes dessa desordem social. E isso tem a ver em grande parte com o conceito de economia, o que a regulamenta e sua relação com outras esferas dessa ordem social. Onde começa a “Vida Econômica”? Se olharmos para a Natureza, poderemos ver processos de transformação. A pedra é transformada em areia e barro pela ação dos elementos naturais como vento, água, pressão, temperatura, etc. Plantas fazem as raízes penetrarem na terra à procura de nutrientes e as folhas procuram oxigênio – que elas tomam da natureza, para depois morrer e transformar a terra. Os animais têm uma ação semelhante, com a diferença que eles podem se locomover e causar uma transformação regional. Quando falamos do homem, as coisas são diferentes. Ele é capaz de transformar a natureza conscientemente em bens que ele precisa para sobreviver e viver. Ele cultiva a terra, cria gado e outros animais, corta árvores, extrai, processa e transporta minerais, constrói abrigos, etc. Porém, o ato de transformar a natureza a fim de encontrar o que precisa ainda não é uma atividade econômica; não constitui a Vida Econômica. A Vida Econômica começa no instante que a transformação da natureza resulta em bens que ele não precisa para ele mesmo, quando o resultado de seu trabalho é dirigido para as necessidades de outras pessoas. Os bens são produzidos e levados para as pessoas, para que assim, pelo consumo, elas possam satisfazer suas necessidades. Assim, podemos agora descrever a essência da Vida Econômica, como as três seguintes atividades: Material produzido por: 8 1. Produção: O homem trabalhando e transformando a natureza em bens e, desse modo, criando valor; 2. Distribuição: O homem fornecendo bens para as pessoas que precisam deles e estão dispostas a dar algo em troca; 3. Consumo: As pessoas usando bens para suas necessidades e, desse modo, “destruindo” os mesmos, “destruindo” valor. Os preços são formados como uma expressão do grau em que uma pessoa pode dar fim a bens que outra pessoa precisa. Em outras palavras, alguns bens são menos importantes para uma pessoa e mais importantes para outra. Em uma transação, ambas as partes estão tendo lucro. O que é recebido em troca não é mais valioso do que é dado. É uma relação de “ganha-ganha”! Existe ainda outro aspecto a ser mencionado sobre criação de valor. Até aqui vimos como trabalho físico aplicado a Natureza cria valor. Quanto mais o homem trabalha, mais valor é criado. Por exemplo: plantar trigo ou fabricar cadeiras. O homem também está dotado de capacidades mentais e espirituais (conhecimento, experiência, criatividade, etc) que ele pode aplicar na própria atividade de trabalho. Por sua capacidade física ele pode transformar a natureza, mas, através de suas capacidades espirituais, ele pode transformar o trabalho propriamente dito! Podemos distinguir duas formas de transformar o trabalho: 1. Inventando e criando ferramentas, máquinas, equipamentos, etc.; 2. Organizando o trabalho: divisão de trabalho, especialização, conhecimento aplicado, gerenciamento científico, etc. Estas duas formas de se aplicar capacidades espirituais transformam o trabalho humano e, assim, é possível criar muito mais valor do que um indivíduo necessita. Pode-se dizer que uma parte do valor criado pelo homem é devido a suas capacidades físicas e uma outra parte, muito maior, deve-se às suas capacidades espirituais. O homem produz bens e cria valor. Estes bens são distribuídos para serem consumidos. Suas capacidades, especialmente suas capacidades espirituais, o permitem criar muito mais valor do que ele precisa. Exemplo: o trabalho na fazenda do meu avô (2,5 hectares – ferramentas simples, produção manual intensiva, poucos funcionários) e uma fazenda moderna (1.000 hectares – máquinas modernas, aplicação intensiva de capital, alta taxa de produtividade dos empregados). Deste modo um excedente surge que toma a forma de capital. O lucro ou capital que foi gerado agora deixa a Esfera Econômica e migra para a Esfera Cultural. Migra para a Esfera dos Direitos onde se reconhece o direito capitalista à sua parte do lucro (dividendos ou valorização de ações) e de lá Material produzido por: 9 retorna à Vida Econômica na forma de Capitalização ou Empréstimos, para financiar investimentos. Migra para a Esfera Cultural quando reconhecemos que o lucro ou excesso, tem sua origem na Esfera Cultural, já que esta esfera é a responsável e possibilita o desenvolvimento das capacidades (espirituais). Neste sentido pode-se dizer que a Esfera Cultural é a fonte primária para a geração de capital, permitindo o desenvolvimento livre das capacidades do homem. O capital deveria fluir para a Esfera Cultural por doação. Na história vemos muitos destes exemplos: o desenvolvimento da arte, ciência, pesquisa, descobertas, religião, etc. Uma forma é a doação imposta oficialmente pelo pagamento de tributos. O capital doado para a Esfera Cultural é “destruído” ou “consumido”, mas ele retorna a Esfera Econômica na forma de aplicação de capacidades desenvolvidas pelo homem no processo econômico. Deste modo vemos que os fatores clássicos de economia (terra, trabalho e capital) de fato são: NATUREZA (recursos que são transformados pelo homem), HOMEM (como o ator que por seu trabalho transforma a natureza em bens para atender as necessidades de outras pessoas) e CAPITAL (como o excesso criado pela fonte espiritual do homem). Estes três, Natureza, Homem e Capital não pertencem a ninguém – não são objeto da Esfera Econômica como tal e, portanto, não podem ser usados como commodities. Assim que eles nisso se tornam, imediatamente vemos as conseqüências no nível social. Aqui tocamos numa das causas da desordem social: os fatores econômicos que se tornaram objeto de comércio, se tornaram commodities. Recursos naturais como commodity: A natureza propriamente não tem nenhum valor econômico; o valor econômico surge assim que homem transforma a natureza em bens para as necessidades de outras pessoas. Terras, propriedades, tornaram-se objeto de comércio desde que a lei romana instituiu o direito de propriedade privada. No Brasil existe uma firma chamada “Propriedades Comerciais”. Os índios americanos não podiam entender que as pessoas brancas queriam comprar suas terras ! “Como você pode vender sua mãe?”, eles exclamavam. A atribuição de preço para propriedade e a especulação criam inflação porque dinheiro é pago sem ter produção em contrapartida. Hoje em dia a propriedade de terras e recursos naturais é a base para o poder e privilégios econômicos. No Brasil vemos um movimento de milhares de camponeses “sem terras” que se organizaram para ocupar glebas de terra cultivável não-produtiva. Achamos outros exemplos quando consideramos os recursos naturais: óleo, gás, metais que são possuídos por países ou particulares, privilegiando um pequeno Material produzido por: 10 grupo de pessoas. Logo água potável se tornará uma commodity altamente valorizada no mundo! Muitos países desenvolvidos e organizações internas reivindicam direitos sobre a floresta da Amazônia, a fim de assegurar que esta continue a prover oxigênio para o mundo poluído. Companhias farmacêuticas internacionais reivindicam direitos exclusivos (patentes) sobre substâncias que são tiradas das plantas Amazônicas. Existe um exemplo de alternativa para a posse privada da terra: na Holanda as novas terras reclamadas, os Ijsselmeer polders, não são possuídas por particulares. O estado possui a terra e concede o uso a fazendeiros com capacidade comprovada, e quando eles se aposentam, as terras retornam ao Estado. Homem/Trabalho como commodity: O resultado do trabalho do homem pode ser vendido e consumido, mas o trabalho não é propriamente uma commodity. Mesmo assim falamos do “mercado de trabalho” onde existe “oferta e procura” que determina seu preço: salários mais altos para empregados mais demandados e salários mais baixos para trabalhadores em excesso (às vezes, apenas um dólar por dia). Como resultado, vemos um número crescente de pessoas sem as mínimas condições de sobrevivência. Neste sentido, escravidão ainda existe! Em grande parte a escravidão foi abolida por razões econômicas: é mais barato pagar US$ 1.00 (um dólar) por dia do que alimentar e abrigar uma pessoa e sua família. Outros exemplos são: as crianças obrigadas a fazer trabalhos pesados a fim de ajudar a família a sobreviver. No Brasil, mulheres recebem aproximadamente 30% menos do que homens em trabalhos idênticos. Em princípio, os salários são pagos baseados no resultado da venda de bens ou serviços para as pessoas que precisam deles. Em um sistema de produção e distribuição interdependente e crescente, o valor total produzido em uma Sociedade devia ser capaz de assegurar, a todas as pessoas, a possibilidade para viver com dignidade. O enorme progresso tecnológico não deveria só dar às pessoas a chance de acessarem produtos mais baratos, mas também financiar as necessidades para o desenvolvimento físico, social e espiritual da sociedade inteira. E em uma economia globalizada, a sociedade é o mundo inteiro. Segundo um relatório da ONU apenas 0,6% do PIB mundial é suficiente para garantir as necessidades básicas para a população que atualmente não tem acesso à alimentação, educação, saúde, e planejamento familiar. Uma conseqüência adicional do trabalho como commodity são os salários baixos e a transferência de renda, do setor agrícola para a indústria, e do “terceiro Material produzido por: 11 mundo”, leia-se, paises em desenvolvimento, até o “primeiro mundo” -países desenvolvidos - quando o salário baixo em outras partes do mundo se transforma em uma vantagem competitiva (exemplo: produção de tênis Nike nos países mais pobres e a Holanda que envia calças jeans para serem costuradas na Polônia). O crescimento enorme em tecnologia tornou possível produzir com cada vez menos empregados todos os produtos demandados (atualmente, menos que 16% da população produzem o que é consumido pelo restante). Este fato faz com que seja possível cada vez mais trabalhar na esfera cultural. Capital/Capacidades como commodity: O capital é em última instância o resultado das capacidades desenvolvidas do homem para criar mais do que é preciso para consumo imediato. Então existe uma relação direta entre capital e capacidades: na forma de invenção e investimento de capital produtivo; na forma de conhecimentos e capacidades. Ambas as capacidades e capital são criados pelas forças de Vida Cultural. Ainda assim vemos aquelas quantias enormes de capital se movendo constantemente em torno do mundo, seguindo a lei do maior e mais rápido retorno nas bolsas de valores. Só em torno de 2,5% do total de transferências de dinheiro internacional são relacionadas a transações de bens. Os juros pagos pelos países em desenvolvimento por causa de suas dívidas externas totalizam seis vezes o principal. A maior preocupação do CEO (Chief Executive Officer), normalmente o presidente da empresa, é em como aumentar o valor das ações da sua companhia. Existe o caso da empresa Scott Paper Co. onde o seu diretor, em um período de 2 anos, reduziu o número de empregados em 11.000, cortou os custos em 50%, interrompeu as doações e privou seus executivos de atividades sociais. Neste período, fez crescer o valor das ações em 225% e, sua própria remuneração, atingir US$ 100 milhões. A fusão e venda de companhias estão levando cada vez mais à maior concentração de poder econômico. As capacidades também se tornaram commodities: As patentes protegem a propriedade intelectual e artística. O Canadá recentemente lançou um programa de imigração oferecendo condições especiais para pessoas do Brasil, mas limitado a profissionais altamente qualificados, em uma certa faixa etária. Depois da Segunda Guerra Mundial os EUA e a Rússia disputaram os cientistas nucleares alemães. As informações também se tornaram commodity altamente valorizada. As conseqüências são claras: concentração de progresso e poder econômico e uma Material produzido por: 12 maior dependência de produtos e serviços, agora vistos como necessidades primordiais. A razão para tal atitude resume-se ao fato de que a Vida Cultural foi trazida para dentro da esfera da Vida Econômica, e a enorme quantia de dinheiro gasto em pesquisas é o investimento da companhia para assegurar sua vantagem competitiva, quando estas pesquisas resultam em novos produtos ou serviços. Todas as companhias são reféns desta situação, e assim nos distanciamos de uma condição em que recursos financeiros fluem para uma esfera cultural livre ou independente, de forma que seu resultado possa beneficiar toda uma sociedade. Estas são as indicações das conseqüências quando Natureza, Homem e Capital são considerados como commodities. Um outro problema aparece quando as três esferas não mantêm sua autonomia e começam a influenciar ou governar as outras esferas: Influência Econômica na Esfera Cultural: Isto acontece quando institutos educacionais, hospitais, centros de pesquisa etc. são gerenciadas como negócios comerciais ou quando a Vida Econômica determina as atividades educacionais-culturais. Também quando a Vida Econômica cria valores culturais e sociais através de propaganda, manipulam-se as necessidades reais do homem. Influência Econômica na Esfera dos Direitos: Alguns exemplos: A corrupção e lobby que influenciam leis e regulamentos para favorecer o interesse econômico. Subsídio e mecanismos protetores para favorecer a agricultura nos EUA e a Europa. A nova lei de Segurança Agrícola e Desenvolvimento Rural nos EUA garantirá subsídios de US$ 25 bilhões por ano até 2008, enquanto importação de tabaco, açúcar e suco de laranja são taxados em 355%, 161% e 60% respectivamente. De fato, subsídio é doação para a Esfera Econômica, enquanto doação devia ser dirigida para a Esfera Cultural. Desse modo podemos mostrar três formas em que os problemas sociais surgem: 1. As qualidades das esferas (igualdade, liberdade e fraternidade) agindo em outras esferas; 2. Os fatores econômicos (Natureza, Homem Capital) como commodities; 3. A esfera econômica – subjugando as outras esferas. Uma coisa é ter consciência do que está acontecendo, alcançar uma percepção da essência da Vida Econômica e ver as conseqüências quando esta passa do limite. Contudo, muitas dessas conseqüências são sentidas em nível macro e, como indivíduo ou organização, nos sentimos impotentes e, mesmo assim, Material produzido por: 13 somos compelidos a levar o jogo adiante, caso contrário não sobreviveremos e desapareceremos da cena econômica. Nosso desafio é achar o caminho para uma nova ordem social e econômica sem perder contato com a realidade em que vivemos. A Responsabilidade Social de Organizações “ESTA É A MINHA TESE: Cuidar das pessoas, as mais capazes e as menos capazes a serviço uma das outras, é a pedra em que uma boa sociedade é construída. Até recentemente, cuidar era de pessoa para pessoa e agora a maior parte desse processo é intermediada por instituições – freqüentemente grandes, complexas, poderosas, impessoais; nem sempre competentes; às vezes corruptas. Se uma sociedade melhor precisa ser construída, para que seja mais justa, fraterna e gere maiores oportunidades para as pessoas, o caminho mais direto seria aumentar a capacidade e o próprio desempenho de cada indivíduo como um servidor de instituições, através de forças regenerativas novas, operando dentro delas.” ‘THE INSTITUTION AS SERVANT’ [A INSTITUIÇÃO COMO SERVIDOR] by Robert Greenleaf. Robert Greenleaf era gerente de Desenvolvimento de Recursos Humanos em várias grandes companhias nos EUA como IBM. Baseado nessa experiência, ele fundou uma instituição para Liderança de Servidores. A Liderança de Servidores tem na sua visão a forma de liderança exigida por nossos tempos: é tarefa do líder criar condições pelas quais, aqueles que ele está liderando possam assumir responsabilidades para suas tarefas e desenvolver as habilidades necessárias para lidar com elas. Da mesma maneira, a razão principal para a existência de todas as instituições é o serviço direcionado às necessidades de outros fora da instituição. Portanto, não só os líderes, mas também as instituições, devem desenvolver-se como servidores, e então – como expresso em sua tese - devem aumentar tanto suas capacidades para servir, quanto seu próprio desempenho como servidor. Ele chegou a esta tese não por um caminho teórico, mas por um modo pragmático, fora de sua experiência como gerente em várias companhias e instituições. Podemos reconhecer nesta tese os princípios que mencionamos anteriormente sobre a dinâmica básica de Vida Social, das quais podemos identificar as “forças regenerativas”. Mobilizando capacidades (+) Estruturando as relações (acordos) (-) Satisfação das necessidades Material produzido por: 14 Esta imagem expressa que a Vida Social, em todas as suas formas, tem essencialmente uma ligação com a estruturação de relações, pelas quais, capacidades são mobilizadas para atender as necessidades de outros. Vimos que a mobilização de capacidades é a tarefa que chamamos de esfera de Vida Cultural; a satisfação das necessidades é a tarefa da esfera de Vida Econômica, e a estruturação de relações é a tarefa da esfera de Vida dos Direitos. Também falamos sobre a qualidade social básica exigida para cada uma destas esferas, de forma que, elas possam cumprir esta tarefa de modo adequado, contribuindo para uma Ecologia Social, e as qualidades opostas, pelas quais esta tarefa seja cumprida de forma anti-social, resultando em Entropia Social: Vida Econômica: A Fraternidade x Maximizando interesse/benefício; Vida Cultural: Liberdade x Determinação Externa; Vida dos Direitos: A Igualdade x Poder. Nessas qualidades sociais básicas podemos reconhecer as “forças regenerativas” mencionadas na tese de Robert Greenleaf, que “aumentarão a capacidade para servir e o próprio desempenho como servidor das instituições existentes”, contribuindo para construir uma sociedade melhor, que consiste em: “mais amor, mais justiça e ainda geração de mais oportunidades criativas para as pessoas”. Quanto mais tornarmos possível que as pessoas dentro de nossas instituições possam mobilizar suas capacidades por livre arbítrio, mais estaremos aumentando a “capacidade para servir” destas instituições e mais oportunidades criativas estaremos oferecendo. Quanto mais tornarmos possível que as ações de nossas instituições sejam ativamente orientadas para atender de modo mais adequado as necessidades reais dos outros, com os quais nos relacionamos (clientes de trabalho, colegas de trabalho, etc), mais estaremos aumentando “o desempenho do ato de servir” em nossas instituições, e mais “fraternidade” existirá em nossa Sociedade. Quanto mais tornarmos possível que acordos, contratos, políticas, tratados, etc., que estruturam as relações entre pessoas e instituições sejam estabelecidos de um modo igualitário, nossas relações, instituições e Sociedade tornar-se-ão mais justas. A primeira dimensão da Responsabilidade Social das organizações está relacionada com promoção dessas condições dentro de cada organização, e dentro de suas relações com outras organizações com as quais cooperam. Como estas condições podem ser promovidas? A responsabilidade social primária de toda organização está relacionada com a satisfação mais adequada das necessidades dos clientes, reais e potenciais, para quem está trabalhando, produzindo e entregando produtos e serviços. Material produzido por: 15 Para tornar possível esta satisfação adequada, uma condição básica precisa ser vista. Assim sendo todas as organizações deveriam perguntar-se regularmente: “o que estamos realmente fazendo para perceber o que nossos clientes estão realmente precisando; o que podemos fazer para nos tornamos mais cientes disto?” Para muitas companhias os clientes são consumidores anônimos dos seus produtos e serviços. Através de publicidade eles tentam torná-los visíveis para consumidores potenciais, apresentando seus produtos e serviços de um modo que eles tornam-se desejáveis, em muitos casos ou até na maioria deles, apontando qualidades que não lhes são inerentes. Por exemplo, carros e roupas, especialmente os mais caros, não são necessariamente produtos essenciais, mas quem os compra quer se fazer visível com certo status. Procurando maximizar os lucros e benefícios, a pergunta principal feita pela maioria das companhias não é “o que nossos clientes, reais e potenciais, estão realmente precisando?”, mas “como podemos tornar nossos produtos e serviços desejáveis para aqueles que podem pagar mais ?” O lançamento de um produto ou serviço é possível pela cooperação de muitas pessoas e instituições (colegas, fornecedores, comerciantes, acionistas, etc.), e os resultados também deveriam ser compartilhados por eles, de modo que atendessem às suas necessidades da forma mais adequada. Quando um dos grupos que detêm a maior parte do poder (por exemplo, acionistas, comerciantes) procura maximizar seu próprio lucro e benefício, o resultado é que, as necessidades dos outros serão atendidas menos adequadamente. Por exemplo, os preços baixos de supermercados no Brasil, em muitos casos, são feitos através da exploração de colegas de trabalho e fornecedores, de tal modo que eles não recebem pelo seu trabalho o que eles realmente precisam para executar seu trabalho com dignidade. Portanto, uma condição fundamental para o desenvolvimento saudável de uma Vida Econômica é que as relações de interdependência sejam estruturadas de modo associativo, estabelecendo acordos sobre sua cooperação e compartilhando os resultados. O modo com que as relações entre pessoas e instituições são estruturadas, tornando possível tomar decisões, pertence à esfera da Vida dos Direitos, onde a qualidade social básica a ser atingida é a igualdade dos parceiros em definir os acordos, políticas, etc., que controlarão sua cooperação. A pergunta central aqui é: “o que estamos fazendo para criar uma participação, baseada em igualdade real quanto às decisões sobre políticas, etc., entre aqueles que estão cooperando e tomando co-responsabilidade?” No nível da esfera da “Vida Cultural” das organizações, uma preocupação central em todas as organizações é dar um sentido para a existência de seu departamento de Recursos Humanos, relacionado com a mobilização das capacidades humanas e potenciais dessas entidades. Material produzido por: 16 Vimos que capacidades são mais mobilizadas quando as pessoas podem fazer uso do livre arbítrio, isto é, por motivação. Uma primeira condição para isso é que os colaboradores possam entender o significado de seu trabalho, para orientar suas atividades para a missão da organização e balizar suas ações pelos princípios éticos em vigor, de tal modo que eles possam realmente se identificar com isso. Apenas uma declaração de Missão e Princípios, não é suficiente para que haja uma real identificação. Esses referenciais institucionais precisam ser sustentados e vivenciados, através de um processo contínuo de aprofundamento e conscientização, envolvendo todos os integrantes da organização. Uma segunda condição é o incentivo para assumir responsabilidades, tomar iniciativas e melhorar os resultados do seu trabalho, conforme os objetivos da organização. Assim fica claro que o que realmente motiva as pessoas não é o atender a rotina de sua função, mas contribuir para o desenvolvimento e a melhoria da organização na busca por melhores resultados em seus serviços para clientes. Até agora falamos da Responsabilidade Social de organizações relacionadas com seu funcionamento e o desenvolvimento interno de cada esfera da organização, de acordo com uma adequada qualidade social. Agora queremos falar sobre a Responsabilidade Social de organizações em relação à sociedade como um todo. No passado, Responsabilidade Social era praticada principalmente por filantropia e suporte para atividades sociais e culturais, como caridades ou eventos organizacionais, a chamada “boa vontade”. A expressão “Responsabilidade Social” já deixa claro que agir de modo responsável socialmente é de fato um dever: a organização é ligada de um modo interdependente com a sociedade como um todo e não pode subsistir como um organismo social isolado. Para se garantir a subsistência da organização a longo prazo, também se deve cuidar com muita responsabilidade dos ambientes naturais e sociais, em que a organização se encontra inserida. O conceito de Responsabilidade Social está evoluindo de Filantropia para o que está sendo chamado de Cidadania Organizacional, definida como o agir de organizações em base ética em todas as suas relações internas e externas. Podemos compreender melhor essa Cidadania quando falarmos disso na perspectiva da cidadania individual. Como cidadão, cada indivíduo é parte da Sociedade, nas esferas Econômica, Política e Cultural. Todos participam como consumidores da Vida Econômica, e como tal, somos co-responsáveis pelo que é produzido, o modo que é produzido e suas conseqüências. Através do consumo e pagando para ter acesso a ele, tornamos possível o processo econômico. Podemos dizer que o consumidor é o “gigante adormecido da economia”. Em nosso comportamento de consumidores, quando estamos realmente quietos, mais orientados a satisfazer nossas próprias Material produzido por: 17 necessidades do modo mais lucrativo, e principalmente, no nível de coresponsabilidade para o processo econômico, produção e distribuição são possíveis. Quando a consciência do consumidor muda, como já é o caso no campo de produtos Ecológicos, este tem uma influência geral no processo econômico. Dentro do campo de comércio justo já podemos ver o despertar de uma consciência no nível de produtos com responsabilidade social. Como adultos também participamos da vida política, embora ela seja bastante restringida a eleições de tempos em tempos, principalmente lendo ou assistindo o que os jornais ou TV transmitem. Na esfera política são definidas as políticas, leis, etc., que decidem nossas relações dentro da Sociedade como um todo. Como cidadãos, devemos cumpri-las (por exemplo, não ultrapassar o limite de velocidade, nem avançar os sinais vermelhos, pagar impostos, etc) e fazemos isto, talvez mais para evitar as multas, do que por respeito. Responsabilidade social ao nível da vida política significa participação ativa, exercendo nossa influência nos assuntos sociais que estão sendo discutidos e regulados. Também participamos da Vida Cultural, mas principalmente como consumidores de “bens culturais” (cinema, livros, teatro, religião, etc.) e menos como “co-produtores culturais”. Nossa responsabilidade social nesta esfera significa um interesse ativo nas questões sociais e éticas dos nossos tempos, procurando aprofundar nosso conhecimento e participar da sua discussão dentro da sociedade. Por exemplo, Globalização e Biotecnologia são assuntos sociais do nosso tempo, mas somos co-responsáveis pelos aspectos éticos relacionados a eles. Da mesma perspectiva podemos olhar agora para a Responsabilidade Social de organizações sob a ótica da Cidadania Organizacional, relacionado ao modo que as organizações lidam com suas responsabilidades sociais ao nível das esferas econômica, política e cultural da sociedade como um todo. Da mesma forma que cada cidadão, como consumidor, é co-responsável pela qualidade do processo econômico inteiro, a Cidadania Organizacional exige que cada organização tome responsabilidades, não só da sua parte no processo econômico, mas também no que acontece antes e a posteriori. Várias tendências já mostram uma evolução nesta direção: as certificações de qualidade e também a rastreabilidade de produtos, pelo qual todo processo de produção é registrado e pode ser verificado. Também o emergir do conceito “responsabilidade em cadeia”, pelas quais organizações diferentes se entrelaçam dentro do processo econômico e definem juntas seus princípios de qualidade e medidas. Existe uma consciência crescente de que uma companhia não deva apenas levar em consideração sua responsabilidade para com seus acionistas, mas de que, a Responsabilidade Social tem de fazer com que seja assumida a responsabilidade Material produzido por: 18 para com os stakeholders, isto é, todos aqueles que são relacionados e têm interesse na existência da companhia (colegas de trabalho, clientes, fornecedores, instituições de comunidade, etc.). Todos estes exemplos mostram uma evolução positiva na direção de uma Economia mais Associativa, a qual, é uma condição básica para o desenvolvimento saudável da Vida Econômica. Percebemos anteriormente várias indicações sobre a Responsabilidade Social das organizações dentro da Vida Econômica e sobre os modos como elas estão lidando com os fatores econômicos (Natureza, Homens e Capital / Conhecimento) que não devem ser vistos como commodities. Em um modo semelhante, Responsabilidade Social das organizações mostra-se essencialmente relacionada aos 3 “P”s, que são: Planeta, Pessoas e Lucro. (em inglês, Profit). A responsabilidade para com o Planeta é inerente ao processo econômico que começa com a natureza (extração de matéria-prima, uso de recursos naturais) e afeta a natureza durante a produção, distribuição e consumo/uso (poluição do ar, água e terra, fontes de energia, etc., por exemplo, despejo final dos produtos e sua reintegração no ciclo natural ou dentro do ciclo econômico por reciclagem). Tratar de modo responsável o Planeta é nossa Responsabilidade Social principal para as próximas gerações. Para entender a responsabilidade social para com as Pessoas, temos que fazer as seguintes perguntas: Como podemos atender adequadamente as necessidades reais da comunidade e da população do mundo? Como ter lucro é, realmente, a meta das empresas (e até uma condição para sua sobrevivência e um princípio que rege toda economia), o resultado social é que uma minoria decrescente pode ter necessidades cada vez mais sofisticadas e satisfeitas, enquanto a maioria crescente da população do mundo não pode ter acesso à satisfação de boa parte das suas necessidades mais básicas. Pelo menos 1/3 da população mundial está passando fome no meio da maior abundância vista na história - muito mais é produzido, mas o mais pobre não tem nenhum acesso a isto. Sendo governado pelo princípio de maximizar os lucros, a economia não pode desempenhar seu papel social relacionado à satisfação das necessidades reais da comunidade como um todo. Como podemos tratar de modo mais responsável os stakeholders da companhia? Como podemos estruturar estas relações de modo mais associativo, estabelecendo acordos sobre o compartilhamento de responsabilidades e resultados da co-operação? A Responsabilidade Social para lucro, referindo-se ao modo como é gerado e seu destino final, pode ser visto como o assunto mais crucial a ser tratado, dentro de uma economia com Responsabilidade Social. Material produzido por: 19 Sobre o modo como o lucro é gerado, podemos dizer que surge o valor econômico, excedendo o que é exigido para satisfazer de modo adequado às necessidades daqueles envolvidos no processo econômico. Lucro, de forma saudável, é o resultado do conhecimento aplicado ao processo econômico, resultando em produção da mais alta qualidade e quantidade, com os mais baixos custos. Mesmo assim, muito lucro ainda é gerado por exploração irracional de recursos naturais, transferindo os custos para as gerações futuras, e ainda, por exploração do trabalho das pessoas (trabalho de crianças, salários baixos, etc). Muito lucro também está sendo gerado de modo inadequado, como como mencionado anteriormente, onde direitos (por exemplo acesso a recursos naturais, propriedades) e bens culturais (conhecimentos, informações, etc.) são transformados em commodities (por aquisições, patentes, etc.). Esses direitos e bens culturais são essenciais para viabilizar o processo de produção, que é o valor econômico efetivo do processo. Se estes fatores são transformados em commodities, não estamos mais no reino da economia real, mas no reino da economia especulativa, que afeta a economia de modo insalubre, como fica visível no mercado de valores com suas oscilações, refletindo a forma como a Economia está sendo governada atualmente. Resultados de lucro gerados pelo conhecimento são aplicados no processo econômico e, desse modo, à Vida Econômica é nutrida pela Vida Cultural. Da mesma maneira, a Vida Cultural é nutrida pela Vida Econômica, pois seu lucro torna o desenvolvimento possível. Assim, um ciclo contínuo é gerado e mantido: conhecimento e capacidades desenvolvidos na esfera cultural fluem para a esfera econômica, gerando um excedente de valores (lucro). Lucro que é destinado para Vida Cultural, torna possível o desenvolvimento de conhecimentos e capacidades. Por isso, lucro não deveria permanecer na esfera econômica, mas fluir de volta para Vida Cultural e nutrir desenvolvimento adicional. Quando isso não é feito, a fonte de inovação seca e o desenvolvimento se estagna. As companhias reconhecem isto na prática, investindo muito em pesquisa e processos de inovação e, assim, ficando mais fortes. Por outro lado, a vida Cultural está se tornando cada vez mais delimitada pela Vida Econômica, tornando-se cada vez menos livre. O que está sendo pesquisado e sustentado está diretamente ligado ao fato de atender aos próprios interesses das companhias, o que significa, por exemplo, uma restrição ao desenvolvimento de possíveis alternativas que, do ponto de vista da Sociedade como um todo, poderiam ser mais valiosas. Os resultados das pesquisas também são economicamente limitados, usados para aumentar o próprio lucro – patentes e royalties não são apenas um meio para assegurar um retorno de investimentos feitos em pesquisa, mas também para aproveitar-se deles mesmos. Material produzido por: 20 Podemos dizer que desenvolvimento social é promovido, na medida em que, o lucro gerado na esfera econômica flui para outras esferas da Vida Social. Parcialmente isto acontece por tributação e também por doações (doações pessoais e organizacionais, para propósitos sócio-culturais, patrocinadores, fundações, etc.). O nível de bem-estar da população do primeiro mundo, no que se refere ao acesso ao seguro social, educação, saúde etc., são garantidos deste modo. Mas, em geral, e especialmente nos países do 3° mundo, lucro é principalmente reinvestido na Vida Econômica propriamente, com a meta não de atender às necessidades reais da comunidade como um todo, mas de gerar mais lucro exclusivamente. As conseqüências ficam visíveis na (falta de) qualidade de vida da maior parte da população mundial, crescendo o número de pessoas totalmente excluídas do desenvolvimento. Por outro lado, resulta em uma Vida Econômica orientada para produzir cada vez mais, em menos tempo, por menos pessoas, pondo uma pressão constante enorme no ritmo de todos e no (ab)uso de recursos naturais. Desse modo, a Vida Econômica predomina entre as outras esferas sociais (esfera cultural e dos direitos), submetendo-as cada vez mais a seus próprios interesses. A isto podemos chamar de um processo canceroso, que pode ser letal para o organismo social. Um câncer acontece quando as células de um órgão começam a se multiplicar para defender sua própria causa, e não para cumprir sua tarefa dentro do organismo como um todo. Isto é o que está acontecendo atualmente dentro da Vida Econômica em sua relação com o organismo social. Esta realidade só pode ser mudada pelo fortalecimento de uma esfera dos direitos autônoma, com participação igual de todos em prol de acordos, tratados, limites, etc., que regulem o funcionamento permanente de cada esfera social e a interação entre elas, no nível da sociedade como um todo. O fortalecimento e democratização das instituições locais, nacionais e internacionais (como ONU e WTO) e a criação de outras instituições, para desempenhar este papel, pode ser vista desta perspectiva como um requisito básico. Material produzido por: 21 CONCLUSÃO Era nossa intenção com estas reflexões trazer uma contribuição para aprofundar o conhecimento dos participantes sobre as condições básicas para o desenvolvimento saudável da Vida Social, no sentido da Ecologia Social e, assim, contribuir para que as causas da Entropia Social sejam mais bem conhecidas e tratadas. Além dessa compreensão tentamos apontar direções nas quais as organizações podem se desenvolver de modo saudável, como organismos sociais e contribuir para o desenvolvimento saudável da Sociedade como um todo. Isto exige que cada um assuma sua responsabilidade como cidadão e cada organização assumam sua responsabilidade no nível de Cidadania Organizacional, em relação à Vida Econômica, Cultural e dos Direitos. Seguramente muitas perguntas continuam sem respostas. Mas esperamos que este breve entendimento e suas indicações possam estimular indivíduos e organizações a se tornarem cada vez mais socialmente responsáveis. Material produzido por: 22 BIBLIOGRAFIA ASSENZA, Gaudenz - Beyond the Market - Economics for the 21st Century- New Economy Publications – 1992 - ISBN 0 948229 15 2 BOS, Alexander - Uma Revisão da Economia - Indicadores para uma Renovação Social no in ##??? Chão e Gente – 1997 BUDD, Christopher - Prelude in Economics - New Economy Publications GLASL, Fritz - Enterprise of the Future - Hawthorn Press 1997 STEINER, Rudolf - Towards Social Renewal - Basic Issues of the Social Question Rudolf Steiner Press, London, 1977 ______________ – Economics - The World as One Economy - New Economy Publications 1993 ______________ - The Social Future - Anthroposophic Press INC - New York 1972 Material produzido por: 23