Carta Mensal nº 85 - Colégio Brasileiro de Genealogia

Transcrição

Carta Mensal nº 85 - Colégio Brasileiro de Genealogia
CARTA MENSAL
Colégio Brasileiro de Genealogia
Ano XX - Nº 85 - Junho 2007 - Edição Especial
Posse de Titulares e Prêmio CBG 2004
No dia 28 de maio, aconteceu a cerimônia de posse de quatro novos Sócios Titulares e a entrega do Prêmio Colégio Brasileiro de
Genealogia 2004. O evento realizou-se na Sala Pedro Calmon, 12º andar da Av. Augusto Severo 8, Rio de Janeiro, endereço que o CBG
partilha com o IHGB - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Eleitos em Assembléias Gerais diversas, assumiram as novas Cadeiras: Jorge Douglas Alves Fazolatto, Laís Ottoni Barbosa Ferreira,
Eliana Quintella de Linhares e Regina Lúcia Cascão Viana que, na presença de diretores, sócios, familiares e amigos, foram saudados
por Carlos Eduardo Barata.
Após a alocução dos empossados, ocorreu a entrega do Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004 a Eliana Quintella de Linhares. Na
cerimônia, a mesa foi composta pelo Presidente Carlos Eduardo de Almeida Barata, pela Sra. Gilda de Azevedo Becker von Sothen,
fundadora do Colégio, e Giancarlo Marques Zeni, presidente da Sociedade Genealógica Italiana do Brasil.
Como registro do evento, temos a satisfação de apresentar aos associados esta Carta Mensal, em edição extra, com a transcrição dos
discursos proferidos naquela solenidade.
A Diretoria
Lais Ottoni, Jorge Fazolatto, Eliana Quintella e Regina Cascão
Gilda Becker, Carlos Barata e Giancarlo Zeni
Saudação do Presidente Carlos Eduardo de Almeida Barata
Não posso deixar de dizer que, embora considere uma tarefa difícil apresentar um amigo quando do seu ingresso a uma instituição de
cultura, seja ela qual for, fica para sempre, na memória e no meu coração, a honra que me foi deferida. Assim, no campo da
genealogia, que é o caso de hoje, trago, no sangue, a história de meus antepassados; porém, no coração, um universo de histórias
que não me pertencem pelo sangue, mas, sim, aos amigos que me confiaram suas memórias familiares.
Hoje, no entanto, deparo-me com uma situação bastante diferente das que estou acostumado a enfrentar, e mais honrosa ainda do
que as de costume, além de mais difícil, pois cabe-me apresentar quatro amigos simultaneamente. Multiplica-se por quatro a honra,
porém, também, por quatro se amplia a minha responsabilidade em traçar a trajetória dos quatro titulares.
Numa primeira olhada, percebo que parte do Brasil se descortina à nossa frente, e cerca de 475 anos de história estão presentes,
hoje, neste salão, ascendendo ao patamar de Titulares do Colégio Brasileiro de Genealogia. Teremos hoje, um grandioso encontro
entre o passado e o presente, e uma inesquecível aula sobre a história dos genealogistas brasileiros, após o discurso de posse dos
quatro titulares, saudando seus patronos, ou seja: Douglas x Brotero; Eliana x Menezes Drummond; D. Lais x Borges da Fonseca; e
Regina x Orlando Cavalcanti.
São quatro “monstros sagrados” da genealogia brasileira, nas mãos de quatro titulares... Dois de Minas Gerais o que de imediato,
por seus ancestrais mineiros, passando pelo Sêrro, Juiz de Fora e Barbacena, nos remete ao final do século XVII, levando em
consideração a construção dos primeiros templos que culminaram com a criação da Vila de Nossa Senhora da Conceição do Ribeirão
do Carmo, aproximadamente em 1704, hoje Cidade de Mariana, a primeira capital das Minas. Uma carioca de raiz - que nos conduz ao
ano de 1565, quando a esta cidade do Rio de Janeiro chegou o valoroso Capitão Estácio de Sá, munido de uma carta régia, que lhe
dava a função de fundar uma cidade há 442 anos, portanto. E outra carioca, mas de raiz pernambucana - que nos remete ao ano de
1535, quando Duarte Coelho fundou uma vila a que deu o nome de Olinda, pela bela vista que lhe apresentou.
Acrescenta-se que, no decorrer dos quatro costados, dos quatro titulares, chegamos àqueles 475 anos de história, que mencionei há
pouco, com a fundação de São Vicente, no longínquo ano de 1532.
Continua...
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São representantes diretos de uma boa parte da história do
povoamento do Brasil. Seus antepassados, juntos, se misturam
em milhares de galhos genealógicos que, das sedes das antigas
capitanias, espalharam-se pelo interior, formando, com seus
áureos ramos, uma vetusta copa, por onde correm as histórias
de São Vicente, Rio de Janeiro, Olinda, Recife, Gameleira, Vila
do Príncipe, Teófilo Ottoni, Bicas, Juiz de Fora, Barbacena e
Murici. Em seguida, novamente convergem a vigoroso tronco
que, fincado em solo pátrio, os conduz a raízes centenárias,
recheadas de histórias, acontecimentos, fatos, “causos” e
intrigas; raízes estas cujas extremidades são quase que
infinitas e perdidas no tempo.
Douglas Fazolatto, Lais Ottoni, Eliana Quintella e Regina
Cascão nos conduzirão hoje, cada um ao seu modo, a esta longa
e bela viagem pelas raízes que ajudaram a formar a história da
família brasileira.
JORGE DOUGLAS ALVES FAZOLATTO,
Uma g ra nde a m i z a de
formada há pouco mais de
vinte anos. O interesse pelos
estudos genealógicos nos
aproximou e, desde então,
trocamos informações em
um universo que ultrapassa
a história de nossas
famílias.
F a z o l a t t o é da q u e l e s
genealogistas completos, um apaixonado que não se contenta
com os estudos dos Fazolattos, dos Tostes, dos Nunes de
Campos, dos Barbosa de Matos, entre outros, todos seus
antepassados. Seus levantamentos ultrapassam as fronteiras da
cidade de Juiz de Fora, avançando por grande parte da Zona da
Mata, com incursões para as bandas da velha Borda do
Campolide, onde, numa chapada, no alto e em meio de um
campo livre de pensão e foro, vizinho da fazenda da Caveira,
ergueu-se a Igreja Matriz, em 1726, dando origem à, hoje,
cidade de Barbacena e, finalmente, chegando no Rio de Janeiro
quinhentista.
Meticuloso e rigoroso na busca das fontes; suave na pena, ao
escrever o resultado dos seus levantamentos — certamente
uma experiência adquirida na profissão de jornalista —,
reconhecido entre os seus pares, pelo mesmo rigor
incondicional na busca das suas fontes e pela produção eclética
de seus artigos. Não me espanta o fato de escrever para mais de
dois jornais simultaneamente (conheço a sua competência),
porém me impressiona o fato de ser titular de uma coluna
diária, de assuntos diversos. Ora, eu sei o quanto me foi difícil
escrever este discurso de saudação aos meus confrades, já o
disse, e fico imaginando o que será escrever todos os dias para
milhares de leitores ávidos por notícias.
Conheço bem esta sua produção; comprovei-a, algumas vezes,
quando estive em Juiz de Fora ou nas conversas que
trocávamos, num lanche no Parque Halfeld, ou em sua
residência, quando me deparava com dezenas de livros e
centenas de papéis, alguns seculares, sobre a mesa da sala,
testemunhos da busca incessante e incansável do ilustre
historiador.
Sim, historiador, além de jornalista e genealogista. Autor do
livro “Juiz de Fora: Imagens do Passado”, impresso em 2001,
com 108 páginas dedicadas à história e ao levantamento
iconográfico da sua cidade natal. Tenho o meu exemplar, e até o
trouxe, com bela dedicatória feita no mesmo ano de 2001.
Mas, para não ficarmos no plano do pessoal, onde os
desavisados poderão considerar que tais palavras são fruto do
carinho, amizade e admiração que este orador tem por Douglas
Fazolatto, deixo que o próprio reconhecimento do Poder
Público diga, por si só, o seu valor, e registro que Fazolatto é
um dos 30 integrantes do Conselho de Amigos do renomado
Museu Mariano Procópio; que a União Brasileira de Escritores o
agraciou, no ano de 2001, com o título de Personalidade
Cultural; que o Governo de Minas Gerais lhe concedeu a Medalha
Santos Dumont no grau prata; e, finalmente, que a Prefeitura
Municipal de Juiz de Fora, merecidamente, o distinguiu com a
Medalha Pedro Nava.
Douglas, seja mais do que bem-vindo!
LAIS OTTONI BARBOSA FERREIRA,
Ou D. Lais Ottoni, como me
acostumei a chamá-la nos
últimos dez anos. Uma
amiga que aprendi a
respeitar, não só pela obra,
mas também pela firmeza do
olhar, pela personalidade
nas suas argumentações, e
pelas intervenções
democráticas nas inúmeras
reuniões de que juntos
participamos. Decidida.
Assim como sua obra,
decidida a solucionar todas
as pendências que possam
existir na história de seus antepassados, não deixando margem
que possa gerar dúvidas, no quem é quem entre os Ottoni.
No gosto dos velhos tratados históricos, principalmente os do
século XVIII, como os do genealogista Dom Antonio Caetano de
Souza, em sua obra “História Genealógica da Casa Real
Portuguesa”, de 1735, D. Lais Ottoni, após a introdução do seu
livro, Os Ottoni, seguida das origens históricas, tanto na Itália,
quanto Portugal e Brasil, e das cadeias genealógicas, passa a
relacionar a documentação pesquisada, referente a um dos seus
antepassados, com a íntegra dos seus registros de batismos,
matrimônios e óbitos e, por vezes, com trechos tirados dos seus
inventários.
Foi o que D. Antonio Caetano de Souza, naquela sua
monumental obra, já citada, de 26 volumes, denominou de
PROVAS DA HISTÓRIA GENEALÓGICA, a fim de atestar tudo que
foi dito na primeira parte de seus estudos, não deixando
margem para os mal intencionados críticos.
Pelo volume de transcrições, pela exigência da autora no apuro
das fontes primárias, não se pode negar que por trás da obra Os
Ottoni Descendentes e Colaterais, lançada no ano 2000, há uma
investigação árdua, profunda, exigente e meticulosa. Eu
chegaria mesmo a dizer peço permissão à amiga D. Lais Ottoni
que a pesquisa não teve começo alguns anos antes de 2000,
mas, sim, foi traçada, passo a passo, desde 1708, quando seu
patriarca Manuel Ottoni se casou com Maria Thereza Bisi, em
Gênova... É como se a autora fosse testemunha, in loco, de
todos os acontecimentos ocorridos com seus antepassados,
desde 1708, não permitindo que uma agulha se perca no
palheiro. Presa à linha do tempo, conseguiu costurar todos os
panos de boca do teatro de uma existência, revelando-nos uma
peça mais do que encenada, e totalmente real: a história de
uma vida familiar.
Tenho meu exemplar, e também o trouxe comigo...
Continua...
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A formação profissional - Assistente Social e Psicóloga,
especializada em Reabilitação Profissional, certamente a
ajudou a desvendar os mistérios escondidos ou escamoteados
pelas histórias de famílias, que, por vezes, tentam nos conduzir
para caminhos diversos, até alcançarmos um fim de linha, que
se perpetua na espera da sua agulha. Já o disse, e repito: D. Lais
Ottoni tem esta agulha, e, no estudo do perfil de cada
integrante de sua família, não descansaria enquanto não
colocasse um a um sentado no divã da História, a fim de
subtrair deles a verdadeira história familiar dos Ottoni, não
deixando chance para o surgimento dos tão desesperados fins
de linhas.
Em função do acordo cultural Brasil-Espanha, foi enviada a
Madri, e, certamente, lá realizou pesquisas, porém não
abandonou seus estudos profissionais. Sua tese sobre
legislação previdenciária comparada foi publicada na Revista
da Organização Ibero-Americana de Seguro Social (OISS) em
1971, recebendo, também na Espanha, uma bolsa “ad
honorem”.
Já casada, viveu cinco anos em Barcelona e dez anos em
Londres, onde começou a se interessar pela genealogia. A
escola inglesa está entre as mais antigas, ao lado da francesa e
da alemã, tanto nos estudos genealógicos, quanto heráldicos.
Não poderia ter tido melhor influência. Retornando ao Brasil,
inscreveu-se no Colégio Brasileiro de Genealogia, onde sempre
esteve presente em nossas reuniões, assembléias, e nos
encontros genealógicos que tínhamos em Copacabana, no
Hotel Luxor e, depois, já há alguns anos, no Colégio Rio de
Janeiro, na Gávea, onde ainda acontecem.
Viajando por Minas Gerais, dedicou-se à investigação das suas
raízes mineiras, na antiga Vila do Príncipe, berço dos ramos
Ottoni, após curta passagem pelo Rio de Janeiro. Os primeiros
povoadores da Vila do Príncipe datam de 1703 e a instituição
episcopal da freguesia data de 1724. Pouco mais de vinte anos
depois, nascia nesta mesma Vila, a matriarca dos Ottoni, Ana
Felizarda do Prado Leme, oriunda das tradicionais famílias de
São Paulo, e ali casada com Manuel Vieira Ottoni. Enfim, D. Lais
Ottoni estuda a história de uma família, que se confunde com a
própria história das cidades por onde passaram seus
integrantes, a ponto de, até mesmo, batizarem uma delas,
como é o caso do Município de Teófilo Ottoni.
Em 2004, foi eleita Sócia Titular do Colégio Brasileiro de
Genealogia. No mesmo ano, completou o trabalho Povoadores
do Vale do Mucuri, que estuda os primeiros tempos do
povoamento. Finalmente, em 2005, lançou seu novo livro
Raízes Mineiras, que trata de um estudo genealógico das
famílias Costa Pinto e Ferreira da Cunha. Tais trabalhos deixam
claro que D. Lais Ottoni também se vem distanciando dos
estudos restritos aos seus antepassados Ottoni e, tornando-se
uma genealogista eclética, avança por caminhos mais
distantes em terras mineiras.
E não pára por aí... Recentemente, há poucos meses, recebeu
das mãos do Governador de Minas Gerais, Aécio Neves da
Cunha, na festa da Inconfidência Mineira, a Medalha de Honra
da Inconfidência, como escritora, e, como representante da
família, agraciada com a Grande Medalha da Inconfidência, em
memória do Senador Teófilo Ottoni, pelos 200 anos do seu
nascimento.
O Colégio Brasileiro de Genealogia fica honrado com o seu nome
em seu quadro de titulares.
ELIANA QUINTELLA DE LINHARES,
Outra amiga, mais recente, e
carioca como eu. Traz em seu
sangue, e faz questão de frisar,
e eu também o faria, a
importância da história de sua
família na formação da cidade
do Rio de Janeiro. Suas
pesquisas ultrapassam a velha
metodologia de se apresentar
um estudo genealógico,
apenas como uma cadeia de
sucessões de nomes,
perpassando séculos,
desprovidos de suas roupagens
culturais.
Far-me-ei explicar.
Por muitos anos, na busca de maiores informações sobre nossos
antepassados, acabamo-nos defrontando com os grandes
clássicos da literatura genealógica, principalmente em
Portugal, tais como as obras de Alão de Morais, no século XVII;
Manso de Lima, no século XVIII; e Felgueiras Gayo, no século
XIX, entre outras. No entanto, uns em menor grau e outros na
quase totalidade de suas obras não apresentam informações
histórico-biográficas, assim como datas, em seus estudos
genealógicos.
Há capítulos, onde somos obrigados a recuar quase que dez
gerações, para encontrar uma data de referência à cadeia
genealógica apresentada. É difícil, sei; extremamente difícil,
repito.
Com o passar dos anos, muitas das antigas paróquias, tanto em
Portugal, como no Brasil, perderam seus livros de registros, pela
voracidade dos incêndios, tão comuns naqueles tempos, nas
primitivas capelas de taipa-de-pilão, algumas cobertas pelas
grandes folhas de urupema; e outras, já telhadas, com suas
grandiosas tesouras de sustentação, de madeira, portas à mercê
dos devoradores cupins ou das centenas de velas que
iluminavam os templos, numa época não muito distante, onde a
eletricidade certamente era uma idéia inconcebível. Também
não posso deixar de registrar, me desculpem, o próprio descuido
dos Párocos que, em suas pregações religiosas, afastavam seus
fiéis do estigma de pagãos, mostrando-lhes a salvação pelo
sacramento do batismo e, em contrapartida, descuidavam-se da
guarda dos livros de registros paroquiais, ora jogados às traças,
ora jogados nas fogueiras por tornarem-se inúteis.
No entanto, nem só de livros paroquiais, embora fundamentais,
se traça a história de uma família. A história de uma região,
seus desbravadores, seus povoadores, suas instalações,
primeiros armazéns, primeiras boticas, primeiros logradouros,
tudo nos ajuda na elaboração de uma obra genealógica.
E assim é Eliana Quintella. Não esmorece na falta dos registros
paroquiais: sua obra nasceu premiada. Não nasceu genealógica,
mas sim de raízes históricas.
Seu primeiro livro, que também trago em minhas mãos “O
Comendador Guilherme Telles Ribeiro” escrito em parceria com
seu primo, o Ministro Paulo Fernando Telles Ribeiro, foi
premiado pelo Colégio Brasileiro de Genealogia, como livro mais
representativo do triênio de 2001-2003. Ele é históricogenealógico. É o resgate da história de uma cidade, inserido no
contexto genealógico.
Eliana diz que, desde 1992, se dedica aos estudos genealógicos,
Continua...
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principalmente depois dos filhos criados. Mas suas pesquisas,
permitam-me avançar sobre a sua humildade, não datam de
1992... Nasceram com ela, no seio de uma família que tinha
consciência da sua história, cujos registros da sua trajetória
não dependem apenas dos assentos paroquiais, mas de um
emaranhado novelo de fontes diversas, daqueles que dá prazer
desfiar, nem que leve uma vida inteira, pois, certamente, trará
um belo resultado.
A passagem da infância de Eliana é testemunha da sua frondosa
árvore genealógica, pois residiu, por alguns anos, na Rua Álvaro
Ramos, logradouro aberto outrora na chácara número 18 da rua
da Passagem, em Botafogo, que pertenceu a seus
antepassados. Loteada a partir de 1859, deu origem à Rua D.
Marciana, uma homenagem à bisavó paterna de Eliana, que não
teve oportunidade de alcançar esta homenagem, pois, no ano
de 1921, a Prefeitura alterou a sua denominação para Rua
Álvaro Ramos, nome que ainda perdura.
Recentemente, nos brindou com outro livro, dedicado à história
da família Norton Murat, ramo de seu pai: - “Descendência de
Luis Queriol Murat e de Maria José Tavares de Rezende Norton”.
Finalmente, como era de se esperar daqueles que se dedicam, de
forma séria e, sobretudo, apaixonada às investigações
genealógicas, Eliana Quintella, felizmente para nós, perdoemme o egoísmo, foi atingida pelo vírus da genealogia e,
ultrapassando os limites do seu âmbito familiar, também se
tornou uma genealogista eclética.
Recentemente, ainda na semana passada, ela nos brindou com
um volumoso catálogo sobre os obituários do Rio de Janeiro,
parte de uma pesquisa que sabemos ser bem maior.
Não tem volta.., o Colégio Brasileiro de Genealogia só tem a
ganhar. Muitíssimo obrigado por estar ao nosso lado.
REGINA LÚCIA CASCÃO VIANA
Mais uma grande amiga, de
cinco anos. No entanto, a
única que não conheci por via
dos estudos genealógicos,
matéria a que tanto nos
dedicamos.
No ano de 1998, com um
grupo de amigos
portugueses, fundamos um
clube literário, na Barra da
Tijuca, para discutirmos as
publicações dos grandes
clássicos da literatura
portuguesa e brasileira, e
apresentarmos nossas
próprias produções: poemas, prosa e contos. Passados alguns
anos, por volta de 2002, quando cheguei a mais uma das nossas
reuniões semanais, percebi que havia uma nova convidada, que
me foi apresentada pelo nome de Regina Cascão. Em poucos
segundos, esquecendo da minha condição de portador de um
sobrenome que não escapa às gozações, fui logo, com um
sorriso no canto dos lábios, gozando a nova amiga: Cascão? E
passei a dedicar-lhe um discurso sobre o que é ser Cascão.
Em poucos minutos, eu me recolhia à minha pequenina
insignificância, e veio da nova associada uma baita resposta,
repleta de humor, com inteligência, que realmente me colocou
na condição de barata. Nascia daí uma grande amizade, a
despeito de, no decorrer de um ano, nunca me ter sido revelada
a sua paixão pela Genealogia.
Certo dia, em uma das reuniões do ano de 2003, surgindo uma
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discussão sobre a origem de um sobrenome, nosso amigo Chico
Amaral foi à estante e trouxe o Dicionário das Famílias
Brasileiras para resolver aquela peleja antroponímica. Mal
chegou à mesa, Regina foi logo dizendo: ihhhh, neste
Dicionário não tem Cascão. Eu, de imediato, não acreditei que
pudesse ser possível, até mesmo pelo fato de conhecer bem o
sobrenome Cascão, pois, na minha infância, uma das gozações
preferidas dos meus algozes, permitam-me repeti-la, era
chamar-me de “barata cascuda”. Fui logo pegando o Dicionário
e, no Tomo I, na Letra C, arrastando o polegar da mão direita à
margem da página, li: Cascaes, Cascalho, e Cascudo. Estou, até
hoje, em dívida com a grande amiga carioca e pernambucana.
Carioca, não só pelo nascimento, mas pelo conhecimento
adiantado que tem da história da cidade do Rio de Janeiro,
paixão que a levou a se formar em Guia de Turismo Regional.
Aprofundamos, mais ainda, nossas paixões comuns que, da
poesia à genealogia, passavam pela história do Rio de Janeiro.
No entanto, já havia percebido, nas reuniões literárias, que
algo a deixava bem à frente, e me fazia dependente dos seus
conhecimentos: a sua formação profissional. Formou-se
Professora de Curso Primário pelo Instituto de Educação.
Trabalhou no magistério oficial do Município, onde foi regente
de turma, Secretária de Escola, Subdiretora / Diretora-Adjunta,
Auxiliar de Chefia de Distrito Educacional e funcionária do
Gabinete Diretor do Instituto de Nutrição Annes Dias. É
formada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro e em Teologia pela Universidade Santa Úrsula.
Diante de tal currículo, por pouco não fiquei receoso de parecer
um interessado... Mas nossa amizade, sincera, leal e duradoura,
me libertava de tal receio, pois passei a perturbar a grande
amiga, com telefonemas constantes, para rever algumas frases
de textos que considerava mais expressivas. Hoje, neste
discurso, sendo ela uma das titulares a ser saudada, tive que
seguir sozinho nesta empreitada...
A Genealogia tornou-se um dos seus temas prediletos, e o seu
avanço neste campo, tal qual os demais titulares hoje aqui
louvados, também ultrapassou o seu âmbito familiar. Não
bastando a dedicação aos estudos de seus antepassados,
produzindo dois importantes livros genealógicos, tornou-se
responsável pela página GenealBR, fundada em 17 de Junho de
2002, dedicada aos estudos da história da família brasileira, de
qualquer parte do Brasil, estando à frente, no comando de 244
genealogistas, na discussão não só do resgate de suas famílias,
como na condução do futuro da genealogia brasileira.
Tais atributos levaram-na a ser membro da Associação dos
Pesquisadores de História e Genealogia (ASBRAP); do Instituto
Genealógico da Bahia; do Instituto Arqueológico, Histórico e
Geográfico de Pernambuco e do Colégio Brasileiro de
Genealogia onde, mesmo antes de alçar à condição de Titular,
fez parte de duas Diretorias, exercendo, hoje, a função de
Diretora 1.ª Secretária para o biênio de 2006-2007.
Por fim, não podia deixar de trazer também os meus exemplares
das suas obras: “Genealogia da Família Cascão” (2002), e
“Pereira Lima, uma família pernambucana” (2006), onde a
autora acumula todos os seus conhecimentos, e faz, deste seu
último trabalho, um estudo da família pernambucana, um
estudo da história pernambucana e um guia dos importantes
bens do patrimônio histórico de Pernambuco, repleto de
imagens das antigas e seculares Igrejas pernambucanas por
onde passaram seus ilustres antepassados.
Regina, amiga e irmã, a minha felicidade em tê-la no Colégio
foi o que me levou a aceitar a Presidência. Obrigado, obrigado e
obrigado, por estar entre nós.
O Colégio Brasileiro de Genealogia só tem a ganhar e crescer
com a investidura de vocês no Quadro de Sócios Titulares.
Muito Obrigado!
Jorge Douglas Alves Fazolatto
Cadeira nº 03
Patrono:
Ocupantes anteriores:
Frederico de Barros Brotero
Carlos Grandmasson Rheingantz,
Edgardo Pires Ferreira e
Luiz Carlos Sampaio de Mendonça
São Paulo, anos antes do meu nascimento. Filho do
desembargador Frederico Dabney de Avelar Brotero e neto
paterno do Conselheiro José Maria de Avelar Brotero, que
exerceu o cargo de secretário e lente da Faculdade de Direito de
São Paulo, onde estudaram diversos parentes meus. Advogado
por formação, foi promotor público, deputado estadual e
conselheiro da Caixa Econômica Federal. Mas,
profissionalmente, dedicou-se mesmo ao comércio do café.
Além de sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo,
foi sócio correspondente do Colégio Brasileiro de Genealogia.
São suas obras, dentre outras, que nos servem de referências
seguras, eis que foram redigidas e impressas com impecável
correção metodológica e elegantes descrições biográficas:
1234-
Hoje, quando sou recebido como Sócio Titular do Colégio
Brasileiro de Genealogia - a Casa de Carlos Rheingantz - me vem
à memória a grata recordação de uma etapa importante da
jornada de minha vida, quando, ainda na infância, tive o
privilégio de ser um dos ouvintes dos costumeiros serões de
minha família materna, que eram conduzidos por minha bisavó,
dona Rita Tostes Dutra de Paula.
Nascida na Fazenda Barra Mansa, na antiga Santa Bárbara do
Rio Novo, atual distrito de Carlos Alves, no município de São
João Nepomuceno, Rita Tostes Dutra de Paula foi uma das
guardiãs das memórias e tradições de seus parentes e das
famílias com elas entrelaçadas. Vejo hoje que ela está,
naturalmente por direito e verdade, incluída na extensa galeria
das matriarcas e antigas senhoras mineiras, que foram, em
grande parte, as responsáveis pela preservação da história oral
do elemento povoador da velha capitania das Minas Gerais.
Porque foi a partir destes relatos de fatos, conversas,
confidências, causos, lembrados e contados ao longo de
infindáveis noites, nas mesas das salas-de-jantar dos grandes
casarões, ou mesmo em volta do calor dos fogões das antigas
fazendas da província mineira, que chegaram até hoje as
histórias e memórias recolhidas e publicadas pelo Visconde
Nogueira da Gama, subsidiando obras como as memórias de
Francisco de Paula Ferreira de Rezende e as do meu conterrâneo
Pedro Nava, considerado o maior memorialista brasileiro.
"A Família Monteiro de Barros".
"A Família Jordão e seus afins".
"A Família Junqueira"
"Tribunal de Relação e Tribunal de Justiça de São
Paulo - Sob o ponto de vista genealógico"
O nome de Brotero como patrono desta cadeira, foi uma escolha
do primeiro ocupante dela, o fundador desta casa, o
genealogista e engenheiro Carlos Grandmasson Rheingantz, o
que nos traz uma certeza do enorme reconhecimento do valor da
obra, da capacidade e da correção do homenageado, por um dos
mais exigentes e crítico dos genealogistas brasileiros.
Carlos Rheingantz nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, no
seio de uma rica família de empresários do ramo têxtil gaúcho e
da iluminação residencial carioca. Formou-se em engenharia,
carreira que abandonou para se dedicar ao ramo de seguros. Era
meticuloso pesquisador e tomou a si notáveis empreitadas,
como as que resultaram na formação do fichário do Colégio
Brasileiro de Genealogia, onde estão preservados os informes
dos assentos paroquiais da cidade do Rio de Janeiro. Dotado de
notável memória e saber, teve lugar proeminente nos estudos
genealógicos brasileiros e europeus, tendo, por isso, figurado
como bolsista da Fundação Gulbenkian, em Portugal, onde
completou os levantamentos iniciados no Rio de Janeiro. Foi
delegado brasileiro em congressos internacionais de
genealogia. Sua contribuição está preservada, em parte, nas
suas obras publicadas, destacando-se entre elas as Primeiras
Famílias do Rio de Janeiro, -“Uma Família de Marinheiros descendência da Família de Lamare, A família Faro - Ascendência
e Descendência e Achegas Genealógicas à Ascendência
Brasileira de Luiz Alves de Lima e Silva - Duque de Caxias - em
colaboração com Carlos Sayão Dantas.
Além de fundador desta Casa e duas vezes seu presidente,
posteriormente, foi aclamado presidente vitalício. Teve, ainda
em vida, o reconhecimento de ser indicado patrono da cadeira
número 20, ocasião em que estava presente, e tentou recusar a
homenagem. Mas como essa escolha é, por praxe acadêmica,
uma prerrogativa do primeiro ocupante de uma cadeira, mesmo
contrariado, Rheingantz viu a assembléia ratificar a rara
escolha, feita por nosso confrade Roberto Menezes de Moraes,
de indicar um patrono acadêmico vivo. Pouco tempo depois
desse fato, faleceu em Petrópolis, onde morou nos últimos anos
de sua vida, dedicado às pesquisas dos colonos daquela cidade.
Era em muitos desses relatos dos velhos serões familiares, que
apareciam os nomes e os vultos dos nossos antepassados,
integrantes, em grande parte, de uma das bases da formação do
povo mineiro, em cuja gênese vamos encontrar a epopéia dos
bandeirantes e demais paulistas, que, entrando pelas
montanhas de minha província natal em busca da riqueza do
ouro farto e das pedras preciosas, ali fincaram fecundas raízes e
formaram, ao longo dos tempos, suas extensas famílias, como
registraram Pedro Taques e Luiz Gonzaga da Silva Leme, autores
consagrados da genealogia brasileira, e que tiveram seus
escritos e obras estudadas, e parcialmente ampliadas e
atualizadas na extensa bibliografia de Frederico de Barros
Brotero, o patrono desta cadeira, que fui honrosamente
chamado a ocupar pelos meus pares.
Foi, então, muito justamente sucedido por Edgardo Pires
Ferreira, sociólogo que nasceu no Rio de Janeiro, e
presentemente vive na cidade de São Paulo, e que é o autor da
premiada obra: A Mística do Parentesco.
Frederico de Barros Brotero era natural de Itu. Ele faleceu em
Genealogia é o encadeamento de gerações, é o estudo da
Continua...
CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 05
continuidade dos laços familiares, dos laços de sangue, dos
laços das afinidades, e assim também como das ligações
afetivas, onde os sentimentos são recuperados, registrados e
preservados. Desta forma, foi natural em nossa instituição que,
quando Carlos Rheingantz faleceu, o então confrade Luiz Carlos
Sampaio de Mendonça, depois de Pires Ferreira eleito, tenha
solicitado, por motivos sentimentais, e obtido o aceite da
Direção do Colégio - por amável cortesia de Edgardo - para a
mudança da cadeira onde estava para esta, cujo patrono é
Frederico de Barros Brotero, por ter sido este, seu mestre, seu
parente, seu amigo e seu padrinho de casamento.
Luiz Carlos Sampaio de Mendonça nasceu em Santos...
Interessado pela genealogia desde criança, era também um
sabedor apaixonado dos velhos e tradicionais troncos paulistas.
Ligado por laços de sangue e afeto aos Almeida Prado, de Jaú, e
aos Arrudas Botelho, de São Carlos de Pinhal, famílias que
tiveram distinção aristocrática durante o século XIX, nada mais
natural que Sampaio de Mendonça fosse ardoroso monarquista,
tendo sido um dos esteios da causa na cidade de Santos, onde
presidiu com dedicação o Circulo Monárquico.
Foram suas publicações: A Família materna do Monsenhor
Pizarro, Os Andradas - Ascendentes e Colaterais e Troncos
Povoadores do Rio de Janeiro - A Família Hayden.
Faleceu em 2001, deixando ainda muitas pesquisas inéditas.
Cheguei ao Colégio Brasileiro de Genealogia, conduzido pelas
mãos amigas e acolhedoras dos confrades Carlos Eduardo
Barata e Roberto Menezes de Moraes. Pelos demais titulares, fui
eleito para esta cadeira de antecessores ilustres na genealogia
brasileira. É uma grande honra, à qual acrescento à obrigação e
sentida expectativa de quem espera estar sempre à altura de
corresponder o chamado, a confiança e o reconhecimento.
Muito obrigado.
******
Laís Ottoni Barbosa Ferreira
Cadeira nº7
Patrono:
Antônio José Vitoriano Borges da Fonseca
Ocupante Anterior: Paulo Carneiro da Cunha
ligam à história do Pernambuco na época colonial, e é um
indicador expressivo do notável fôlego genealógico do autor.
O Dr. Paulo Carneiro da Cunha, último ocupante da Cadeira nº 7,
pertencia a uma das mais tradicionais famílias de Pernambuco,
e nasceu em 15 de abril de 1921 no Rio de Janeiro, onde
também faleceu em 25 de janeiro de 2004, quando exercia a
Presidência do Colégio Brasileiro de Genealogia. Formado pela
Escola de Engenharia, associou-se ao CBG em 1952, e foi eleito
seu vice-presidente em 1989, depois presidente em 1990,
sendo reconduzido à função mais três vezes.
Foi autor de diversos trabalhos, entre eles a Galeria dos
Presidentes da Republica, XIV
José Linhares, Brasil
Genealógico IV, No.1, em colaboração com Carlos Rheingantz.
Exmo. Sr. Presidente do Colégio Brasileiro de Genealogia,
Prezados Colegas,
Senhoras e Senhores
Em primeiro lugar, meus agradecimentos ao Colégio Brasileiro
de Genealogia, pela honra que me foi concedida de ocupar,
como membro titular, a Cadeira nº 7, cujo patrono é o grande
genealogista Antonio Vitorino Borges da Fonseca, e o último
ocupante, o Dr. Paulo Carneiro da Cunha de saudosa memória.
Estamos certamente cientes da elevada responsabilidade que
assumimos, em função do grande legado deixado por ambos.
Antonio Vitorino Borges da Fonseca, nasceu em 25 de fevereiro
de 1718, no Recife Pernambuco, faleceu em Olinda no dia 9 de
abril de 1786, e está sepultado no Mosteiro de São Bento em
Olinda.
Foi autor de diversas obras importantes, sendo a mais
conhecida a famosa Nobiliarquia Pernambucana, publicada em
1883, abrangendo numerosas famílias portuguesas, que se
06 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial
Alem da profunda pesquisa sobre os Carneiro da Cunha, deixou
também importantes trabalhos de pesquisa genealógica,
meticulosamente registrados à mão, com sua firme e clara letra,
e, post-mortem, foi publicada sua obra referente a genealogia
dos Prefeitos do Rio de Janeiro, em conjunto com Carlos
Rheingantz.
Tivemos a honra de conviver com ele durante muitos anos,
apreciando de perto sua principal característica, a
generosidade, sempre pronto a partilhar seus elevados
conhecimentos com aqueles que deles necessitavam.
Sobretudo, não é somente a excepcional qualidade de seus
trabalhos genealógicos que desejamos ressaltar, mas também
sua gentileza e modéstia, que infundiam em todos nós um
sentimento de respeito e admiração. Sua morte foi uma perda
irreparável, mas sua memória é um legado precioso que
permanece entre nós. “Porque os mortos já não comandam, mas
iluminam os caminhos”
Muito obrigada.
Eliana Quintella de Linhares
Cadeira nº 10
Patrono:
Antonio Augusto de Meneses Drummond
Ocupantes anteriores: José Tavares Drummond e
José Francisco de Assunção Santos
Ilustríssimo Senhor, presidente do Colégio Brasileiro de
Genealogia Sr. Carlos Eduardo de Almeida Barata.
Ilustríssimos senhores da Diretoria.
Ilustríssimos senhores sócios titulares, sócios adjuntos e
colaboradores.
Senhoras e senhores.
Quando fui convidada para disputar a Cadeira número 10 deste
Colégio Brasileiro de Genealogia, fiquei muitíssimo honrada por
me julgarem capaz de ocupá-la, mas também temerosa pela
enorme responsabilidade que seria suceder dois ilustres
senhores como os doutores José Francisco de Assumpção Santos
e José Tavares Drummond. Ambos engenheiros e com uma
coleção de obras bastante significativa.
Dr. José Francisco de Assumpção Santos, membro de inúmeras
instituições culturais, que nos legou uma extensa obra. Para
citar apenas duas delas: Uma linhagem sul-riograndense: os
Antunes Maciel, editada em 1958 e Genealogia recente do
presidente da República Dr. João Belchior Marques Goulart,
editada em 1977.
Dr. José Tavares Drummond, um apaixonado pela genealogia,
membro atuante aqui no Colégio Brasileiro de Genealogia, onde
exerceu diversas funções, publicou “A Família Drummond no
Brasil - ramo mineiro”, números 1, 2 e 3 - 1970: obras de grande
importância para a bibliografia genealógica e histórica do Brasil.
Ainda o fato de vir a ocupar justamente esta Cadeira nº 10, cujo
patrono é o Dr. Antonio Augusto de Meneses Drummond,
advogado, um dos fundadores do Instituto de Estudos
Genealógicos e membro de diversos outros Institutos Históricos
e Genealógicos, tem, para mim, um significado especial.
Sendo um Drummond, muito provavelmente, compartilhamos os
mesmos ancestrais. Os Drummond estão nas raízes da genealogia
de minha mãe e se unem, por casamento, com membros da
família de meu pai.
Coincidências, como esta, são uma das mais interessantes
características da genealogia. Além de uma ciência, é uma
viagem de descobrimentos. Dá-nos a oportunidade de conhecer
nossos ancestrais, como viveram, que lutas travaram, seus
sucessos e até seus fracassos.
Citando Loren Corey Eiseley, antropólogo e poeta americano que
viveu no século XX, diríamos que: “entramos no mundo sem saber
direito o que aconteceu no passado, quais as conseqüências que
isso nos trouxe e o que pode nos reservar o futuro.
Procuraremos viajar o mais longe que pudermos. Mas, olhando a
paisagem à nossa volta, sabemos que não será possível conhecer
e aprender tudo. Então, nos resta lembrar tudo sobre a nossa
viagem, para que possamos contar histórias. Valorizar o fato de
estarmos aqui e tudo o que conseguimos e deixar para nossos
filhos e netos relatos das maravilhas que vimos e,
principalmente, notícias daqueles que foram as sementes de
nossa árvore para que possam, mais tarde, transmitir para seus
descendentes.”
Não tenho a pretensão de querer me igualar aos meus
antecessores.
Pretendo, se possível, dentro de minhas possibilidades de
insaciável pesquisadora, contribuir para o enriquecimento da
pesquisa genealógica,
primeiramente através do
aprofundamento e ampliação das genealogias dos diversos ramos
de minha família e também de alguns outros trabalhos que
possam ser úteis aos pesquisadores.
Agradeço, pois, aos ilustres diretores e sócios titulares, que
escolheram meu nome. Farei o possível para corresponder
integralmente à expectativa que depuseram em mim e, de
nenhum modo, decepcioná-los.
******
Regina Lúcia Cascão Viana
Cadeira nº 28
Patrono:
Ocupante anterior:
Orlando Cavalcânti
Olavo de Medeiros Filho
Obs: Regina declarou ter tido dificuldades para fazer um discurso para a
posse. O dia se aproximava e ela, nervosa, nada tinha escrito ainda. Uns três
dias antes da cerimônia, ao acordar, encontrou algumas folhas de papel
sobre a cama: era uma “carta” de seu bisavô. E foi esta “carta” que leu.
Minha cara bisneta
Desde que você começou a cascavilhar sua história familiar, você
chama aos que já se foram de defuntinhos. Você criou uma tal
familiaridade com todos e cada um que, certamente não se
espantará se um deles estiver neste momento dirigindo-lhe
algumas palavras... Portanto, receba com o mesmo carinho que
lhe mando, esta carta de seu bisavô.
Sei que você está preocupada e ansiosa por causa da cerimônia
de posse no próximo dia 28 e então eu tratei de fazer alguma
coisa para ajudar você.
Quando você era uma criança, o sobrenome Cascão a fazia infeliz,
porque você era alvo, na escola, de muitas brincadeiras. Em
Continua...
CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 07
Portugal, onde nasceu o primeiro Cascão de nosso ramo, ser
“cascão” significa ser teimoso, turrão, um “casca grossa”
impávido e decidido.
Mas não no Brasil. Ou achavam você pouco asseada ou lhe
perguntavam pela goiabada, não é? E você se encolhia e quis
muitas vezes ter nascido no seio de outra família, de nome mais
comum que pudesse passar despercebido. Isso me deixava meio
triste, porque afinal meu avô e seus dois irmãos foram os
primeiros deste apelido a chegarem ao Brasil, pelos primeiros
anos do século 19. Vieram antes mesmo dos representantes de
outros ramos que sei que você identificou e acompanha, de
longe. Você achou mais sete ramos Cascão em terras brasileiras,
mas fui eu o primeiro Cascão a nascer no Brasil, este “pódio”
ninguém me tira!
Você cresceu e os coleguinhas se acostumaram com seu
sobrenome, e você também... até que percebeu que ele poderia
ser a sua marca. Porque seu prenome pode não ser lembrado, mas
o Cascão ninguém esquece... Foi assim que a jovem que você se
tornou passou a enfrentar as brincadeiras de outra maneira. Se
perguntavam se tomava banho, você respondia que sim, mas só
aos sábados. E quando as pessoas sorriam, você depressa sempre
acrescentava: “mas só os de Aleluia!”
Você passou a ser para todos a Regina Cascão, e fiquei eu bem
contente e satisfeito. Segui acompanhando você, e comemorei
com farinha e mel de engenho quando você casou e nem tirou o
apelido! Era meu Pernambuco ainda vivo na sua assinatura, ad
aeternum, imutável, sólido, sagrado. Mas a alegria maior mesmo
se deu quando você se aposentou e, libertada dos compromissos
rotineiros, escutou o que soprei no seu ouvido e passou a querer
buscar suas origens.
Há uma coisa que você fala muito a toda gente: o tal modo
mexicano de dizer da morte. “No México existe a crença de que
cada pessoa morre três vezes. A primeira é no momento em que
suas funções vitais cessam. A segunda é quando o seu corpo é
colocado na tumba. A terceira acontece em algum momento no
futuro, no qual o nome do falecido é pronunciado pela última
vez. Aí então a pessoa realmente morre”.
Quando você deixou para trás compromissos de vida, o desejo de
preencher um tempo subitamente livre levou você a encontrar
uma tarefa a mais no seu caminho: evitar a nossa terceira morte.
E, no meio dos Cascões do lado de cá, felicidade e gratidão
floresceram porque você se decidiu a não permitir que fôssemos
esquecidos.
Essa sua teimosia tão “cascão” a fez perseguir incansavelmente
seus objetivos. Com uma tenacidade que chegava muitas vezes a
me espantar, você fez exatamente como foi escrito na “orelha”
do seu primeiro livro: buscou suas origens, apaixonou-se por
Pernambuco e remontou a Portugal. Descobriu ancestrais e
contemporâneos, e assim tem sido feliz - e nos feito felizes
também.
Um belo dia, você visitou o Colégio Brasileiro de Genealogia que
fica na Lapa, mas que dizem ser na Glória... o Attila Augusto diria
que a região se afidalgou... Foram você e sua amiga também
Regina Lúcia, e foi memorável a confusão do porteiro para anotar
as carteiras de identidade: ele anotou uma e na vez da outra,
pensou que era mesma... Já nesse dia da visita, vocês foram
informadas da palestra que ia haver no play-ground da casa de
um dos diretores do Colégio, o Nelson Pamplona.
Um parênteses: se você tiver chance, diga a ele que os Wernecks
estão ansiosos pelo livro que ele está montando. Diga também
que o Klörs e o Belisário não têm o mínimo ciúme, que esses
sentimentos são deixados por aí. Já os Roubaud que a sua xará
busca estão meio desolados, mas garanta a ela que mesmo assim
eles entendem a roda-vida em que ela anda. Tudo tem seu tempo,
tudo tem seu tempo...
Pois bem, foi nesse dia da palestra que as duas Reginas se
filiaram ao Colégio e aí você não parou mais. Com os
pesquisadores que conheceu, você aprendeu o caminho das
pedras e foi cascavilhando, cascavilhando e tornando-se mais
um desses ratos de arquivo, de cartório e de igreja que os amigos
aprenderam a entender, para quem os conhecidos franzem o
sobrolho e por quem os do lado de cá torcemos tanto..
Veio seu primeiro livro. Nós, os Cascões, registrados no papel!
Confesso a você, agora, que muitas vezes fomos ao Colégio
acariciar a estante que acolheu o seu livro, na segurança de que
nossa terceira e definitiva morte estava descartada. Depois,
livro editado, você pôde candidatar-se a Sócia Adjunta. Pouco
tempo mais, torna-se Diretora 1ª Secretária em 2004 e retorna
em 2006 na mesma função.
Veio o livro Pereira Lima, com o ramo de mamãe. Cascões,
Pereiras Lima, Moura Mattos e Gonçalves Ferreira fizeram festa
aqui, como se ainda estivéssemos na Rua da Aurora, na
quermesse da Boa Vista ou no baile ao Imperador no Recife de
1859. Pensamos até em lhe fazer chegar explicações sobre o
sobrenome ter sido composto assim. Não foi para adular meu
padrinho, o poderoso Marquês - mas preferimos deixar de lado,
mistério sempre encantou os leitores...
Agora, você toma posse na Cadeira 28, que tem por Patrono e
primeiro ocupante dois nordestinos. Nem lhe conto de nossa
animação: no dia 28, depois da sua fala, vai haver forró de
comemoração, e certamente surgirá no ar o doce olor do melaço
de cana.
Para ajudar você, fui eu ter com Olavo Medeiros, o primeiro
Titular desta sua Cadeira. Tive que interromper uma conversa
comprida que ele mantinha com a conterrânea Nísia Floresta.
Posso garantir que ela não se incomodou, porque desde a sua
eleição ela está de olho em você também — você sabe como se
unem os nordestinos.
Dele eu soube algumas coisas para dar suporte ao que você tem
que falar no nobre dia. Pois conte que o nome completo de Olavo
é OLAVO DE MEDEIROS FILHO. Neto materno de Julieta Amélia de
Medeiros e Joel Adonias Dantas, os dois nascidos em Caicó, RN,
onde ele foi Prefeito. Neto paterno de Francisco Leandro de
Medeiros e Maria Marieta da Silva, ela pernambucana, criada na
Paraíba. Uma bela salada nordestina...
Os pais de Olavo são Severina Dantas de Medeiros e Olavo Silva de
Medeiros, casados em maio de 33. Olavo pai exerceu a Medicina
primeiro em Caicó, e depois em Natal, para onde se mudou com a
família em 1940.
Do casamento houve 5 filhos, dos quais o nosso Olavo foi o
primogênito. Suas três irmãs, nascidas entre ele e o caçula
Márcio, fazem a alegria dos poetas com seus nomes: Maria
Marieta, Silvia Julieta e Dione Violeta.
Olavo não me disse muito mais sobre ele, porque sempre foi
modesto. Na verdade eu não sei bem se ele tem consciência de
sua importância no registro da história de sua terra, em especial
da região do Seridó. Fui obrigado a buscar informações entre os
parentes, e então, querida bisneta, conte a todos que Olavo de
Medeiros Filho nasceu na mesma Caicó de seus avós em 13 de
fevereiro de 1934, tendo ido morar na capital do estado aos seis
anos de idade. Foi, como você, funcionário do Banco do Brasil,
onde ingressou em 1952 e aposentou-se trinta anos depois.
Não havia instituição cultural do Nordeste que não quisesse
Olavo de Medeiros Filho entre seus pares, tal seu conceito como
historiador, pesquisador e genealogista.
Além do Colégio Brasileiro de Genealogia, pertenceu à Academia
Norte-riograndense de Letras; ao Instituto Histórico e
Continua...
08 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial
Geográfico do Rio Grande do Norte, onde foi Diretor; à Sociedade
Brasileira de Estudos do Século XVIII, de Brasília; à Academia de
História do Amazonas; à Associação de Pesquisadores de História
e Genealogia, de São Paulo foi sócio-correspondente do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; dos Institutos
Históricos do Ceará, de Pernambuco, do Espírito Santo, de
Sorocaba, de Campina Grande, além de academias de letras e
diversas sociedades e institutos culturais.
Foi um custo conseguir que Olavo confirmasse tudo isto, ele não
gosta muito de falar de si, ele se empolga mesmo é quando fala
de sua terra e sua gente, que ele tão bem retratou, registrou e
louvou nos inúmeros artigos, livros e trabalhos, além de
seminários e conferências.
Pela gráfica do Senado Federal, em Brasília, ele lançou 4 obras
entre 1981 e 1988: Velhos Inventários do Seridó, Indios do Açu e
do Seridó: Caicó Cem Anos Atrás e o clássico Velhas Famílias do
Seridó;
É autor também, entre outros, de Naufrágios do Litoral Potiguar;
No Rastro dos Flamengos; Terra Natalense; O Engenho Cunhaú à
Luz de um Inventário; Aconteceu na Capitania do Rio Grande do
Norte; Os Holandeses na Capitania do Rio Grande do Norte;
Gênese Natalense; Cronologia Seridoense. Seu último trabalho é
de 2005: Os Barões do Ceará-Mirim e Mipibu.
Olavo sempre foi um apaixonado pelo Nordeste e pela sua região
natal, o Seridó. Foi colaborador assíduo dos jornais de Natal e do
interior. Seus livros são leitura imprescindível ao estudo da
formação histórica e social da região.
Casou-se a 29 de setembro de 1952, assim que passou no
concurso para o Banco do Brasil, com Maria Iria Nóbrega,
também caicoense, e foram pais de cinco filhos: Olavo de
Medeiros Neto e Ângela, George, Jader e Suzana - Nóbrega de
Medeiros.
Faleceu de infarto em 2 de julho de 2005, deixando vazia a
Cadeira 28 de Titular no Colégio. Foi seu primeiro ocupante. E
mais não consegui arrancar dele, que me despachou para meu
afazer seguinte, que era ir à busca de Orlando, Patrono dele e
agora seu.
E foi isto que eu fiz, minha bisneta. Foi mais fácil encontrar
Orlando, afinal nós, os pernambucanos, sempre tão ufanos de
nossa terra, nunca estamos sós. Seja à volta de Gilberto Freyre,
seja escutando Nabuco ou recordando os Vassourinhas com
Nelson, Capiba e Gonzagão. Pois logo, logo, dei com Orlando e
ele já sabia o que eu pretendia... desde que você se animou a
concorrer à Titularidade por conta dele, que está todo contente e
orgulhoso. Está numa felicidade só também porque acompanhou
de perto a digitalização de seus papéis, feita pelos Mórmons lá
no Instituto Pernambucano em outubro. Agora sabe que seus
arquivos vão atingir um maior número de interessados.
Orlando não se fez de rogado. Ele se chama ORLANDO MARQUES
CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, nasceu no Recife em 15 de
outubro de 1919 e faleceu em Olinda, berço de seus
antepassados Cavalcanti de Albuquerque, em 12 de outubro der
1984. Filho de Alfredo Marques Cavalcanti, misto de fazendeiro,
senhor de engenho e alto comerciante, e de Noeme Carneiro da
Cunha Carneiro Leão.
Bacharel em Direito, advogado, promotor, juiz. Foi professor
universitário e pesquisador do Instituto Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais. Casou-se com Risalva Tenório de Albuquerque,
com geração. Como Juiz de Direito, o exercício da função levou-o
a várias comarcas do estado, e então ele pôde investigar a
documentação de cada região por onde passou, Diz ele que tudo
começou em 1939, com o objetivo de compor uma “Genealogia
Pernambucana” que ampliasse a obra de Borges da Fonseca.
Mas em livro mesmo, deixou apenas “Retrospecto”, de 1975, no
qual trata a família Carneiro Leão, seu lado materno. Deixou
inédito trabalho pronto sobre a genealogia de Bento Leite de
Oliveira e Ascensa da Silva Cavalcanti, casal tronco do qual
descende. E mais não disse, porque estava mesmo ansioso para
voltar às suas conversas com outros pernambucanos. Então sabe
quem eu procurei para saber mais sobre Orlando? O José Antonio
Gonsalves de Mello e a Zilda Fonseca, que chamei à parte e com
quem conversei por bastante tempo.Eles tinham muito a contar,
eu só anotando.
Você sabe que Reinaldo Carneiro Leão, sócio do Colégio e atual
Secretário do Instituto Pernambucano, a quem você tanto admira
e que, com Teresa, lhe ofereceu maravilhoso jantar em outubro
passado, no Recife, é primo de Orlando, não sabe? Pois Gonsalves
de Mello e Zilda sugeriram que você pergunte a ele sobre o primo,
e ele lhe dirá que Orlando, além de grande historiador, como não
é preciso repetir, era um aristocrata: nas atitudes, nos gestos
comedidos, e na maneira de falar, num Português escorreito. Era
um grande contador de casos, e as histórias que trazia de seus
muitos anos vivendo no interior eram relatadas em
extraordinárias verve e graça.
Apurei muita coisa sobre Orlando que a simplicidade dele não
deixou transparecer. Fiquei sabendo e é bom que você conte no
dia da posse, quão importantes foram as dezenas de artigos
publicados no Diário de Pernambuco, aos domingos, sob o título
“Genealogia e História”. Estes artigos, depois que ele partiu,
foram editados pela Universidade Federal de nossa terra em 3
volumes, chamados Gente de Pernambuco, título sugerido por
nosso conterrâneo Leonardo Dantas. E mais: Orlando escreveu 35
artigos no Anuário Genealógico Brasileiro, 11 no Anuário
Genealógico Latino, 2 na Revista Genealógica Brasileira e 7 na
Revista Genealógica Latina.
Foi um dos mais profícuos genealogistas brasileiros do século XX,
talvez o maior. Por mais de 40 anos dedicou-se com afinco à
pesquisa em Cartórios, arquivos eclesiásticos e públicos,
deixando uma das mais extensas obras genealógicas do Nordeste,
espalhada em numerosos cadernos, cadernetas e pastas. Depois
de sua morte, Gonsalves de Mello, que dirigia o Instituto
Arqueológico, ofereceu uma sala para abrigar seu arquivo e a
biblioteca. Amigos e admiradores possibilitaram a aquisição dos
livros, e a mulher e as filhas de Orlando, graças a Deus, em gesto
de grande desprendimento, doaram os arquivos, que hoje lá estão
à disposição de estudiosos credenciados. Foi nesses arquivos que
você também pesquisou nossa família, não foi?
Disse Zilda que se você perguntar ao Yony Sampaio, no Recife, ele
vai lhe dizer que o cerne do trabalho de Orlando é a busca
incessante da genealogia dos seus ancestrais. Na trilha de suas
origens, Orlando esquadrinhou os arquivos do Agreste
pernambucano em busca dos Brito Cavalcanti. Passou a Penedo e
a arquivos de Sergipe atrás dos Leite de Oliveira. Foi à Vila de
Cachoeira e aos arquivos baianos para descobrir os Marques de
Souza. E vasculhou o sertão atrás dos ascendentes de sua trisavó
Gomes de Sá.
Com isso, Orlando Cavalcanti mapeou uma imensa área que vai do
Agreste Meridional ao Sertão do São Francisco, a zona de Penedo
e Cachoeira, no recôncavo baiano. Em Olinda e Recife examinou
as relações de irmãos das confrarias dos terceiros do Carmo e de
São Francisco, e dos membros da Santa Casa de Misericórdia, das
quais extraiu preciosos índices de livros de registros de patentes
do século XVIII e do início do século XIX, nos livros de sesmarias.
São milhares as anotações nos cadernos e cadernetas... Mas a
precisão dos escritos de Orlando Cavalcanti vem da busca
incessante de comprovação. Nada escrevia sem ter um
documento em mãos.
Gonsalves de Mello ainda ressaltou que Yony divide a pesquisa de
Continua...
CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 09
Orlando em três estudos distintos. O primeiro, a genealogia de
sua ascendência e colaterais, do qual publicou os artigos de
jornal. O segundo, a genealogia das famílias das áreas em que
pesquisou - uma pequena parte divulgada em artigos e outra
parte maior esboçada em suas cadernetas e pastas. O terceiro, a
genealogia de titulares do Império e outras personalidades
nordestinas, quase toda publicada nos Anuários e Revistas
genealógicas Brasileira e Latina, do grande Salvador de Moya..
Foram quase cinqüenta anos de sua vida consagrados ao estudo
da genealogia pernambucana, conseqüentemente nordestina.
Reinaldo Carneiro Leão ainda pode lhe dizer que Orlando
Cavalcanti tinha verdadeira argúcia em descobrir os melhores e
mais importantes processos, inventários, testamentos,
habilitações matrimoniais — enfim, valiosos documentos
existentes nos cartórios e igrejas da capital e do interior de
Pernambuco. Os colecionadores, na sua compulsão, juntam
selos, prataria, mobiliário, louças... Orlando Cavalcanti divertiase em colecionar velhos papéis, o que foi importantíssimo para a
história, salvando-os das térmitas, do mofo e mesmo do desprezo
dos homens.
Todos aqueles com quem conversei sobre Orlando Cavalcanti ou
que sobre ele escreveram, o descrevem, além de genealogista e
pesquisador incansável, como um grande homem. O mesmo ouvi
a respeito de Olavo de Medeiros Filho. Por isso, compreendo sua
preocupação com a responsabilidade que assumiu ao se
candidatar a essa Cadeira 28, até então tão nordestina. O que
apenas eu gostaria de lembrar-lhe é que, em razão do sangue que
levei até você, podemos considerar que o Nordeste volta a
ocupá-la.
E se o nordestino é, antes de tudo um forte, a origem que lhe dei
não a fará esmorecer na missão de honrar seu Patrono e bem
suceder quem a precedeu, na busca da preservação da história da
Família Brasileira.
Daqui, nós, pernambucanos, olhamos por você: Joaquim
Nabuco, Gilberto Freyre, Frei Caneca, Capiba, Carlos Paes
Barreto, Arthur de Siqueira Cavalcanti Jr., Dantas Barreto,
Nelson Ferreira, Antonio Maria, Francisco Julião, Pereira da
Costa, Henrique Dias, Mestre Vitalino, Paulo Freire, Olegário
Mariano, Mauro Motta, e muitos outros, além de mim e seu avô
Henrique.
Receba todo o carinho de Orlando Cavalcanti, Olavo de Medeiros
e de seu bisavô
Pedro Gonçalves Pereira Cascão.
******
Jorge Douglas Alves Fazolatto
Laís Ottoni Barbosa Ferreira
Eliana Quintella de Linhares
Regina Lúcia Cascão Viana
10 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial
Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004
Depois da investidura dos novos Sócios Titulares, o Presidente
Carlos Barata anunciou a entrega do diploma e da medalha
“Prêmio Colégio Brasileiro de Genealogia 2004”.
O prêmio foi instituído em 2004, a ser concedido a cada três
anos, para registrar a obra genealógica de destaque no período.
O prêmio entregue na cerimônia de posse referia-se ao livro
considerado mais representativo do período 2001 a 2003.
Participaram do certame os livros e seus respectivos autores: “O
Começo do Protestantismo no Brasil”, autor: Armindo Laudário
Miller - Nova Friburgo, RJ; “Comendador Guilherme Telles
Ribeiro, Ascendência e Descendência”, autores: Paulo Fernando
Telles Ribeiro e Eliana Quintella de Linhares - Rio de Janeiro, RJ;
“Família Santos Lessa”, autor: Francisco de Andrade Barroso Fortaleza, CE; “História da Família Bordignon”, autor: Euclides
Bordignon - Passo Fundo, RS; “Genealogia da Família Luz”,
autor: Francisco Teotônio da Luz Neto - Brasília, DF; “Pedro José
Muniz: História, Genealogia e Memória”, autora: Eneiva Gláucia
de Souza Franco - Campestre, MG.
Depois de examinados por uma Comissão instituída
exclusivamente para o pleito, foi considerada vencedora a obra
COMENDADOR GUILHERME TELLES RIBEIRO - ASCENDÊNCIA E
DESCENDÊNCIA.
Assim, no evento de posse dos novos Sócios Titulares CBG, a
Sócia Titular e Fundadora Sra. Gilda de Azevedo Becker Von
Sothen entregou medalha e diploma à nova Titular Eliana
Linhares, co-autora da obra premiada, que pronunciou as
seguintes palavras:
Eliana Quintella de Linhares
“Em meu nome e em nome de meu primo, o Ministro Paulo
Fernando Telles Ribeiro, ausente do país a serviço do governo
brasileiro, agradeço muitíssimo aos senhores Attila Augusto da
Cruz Machado, Carlos Eduardo de Almeida Barata, Gustavo
Almeida Magalhães Lemos, Roberto Menezes de Moraes e
Victorino Coutinho Chermont de Miranda a distinção de terem
escolhido nosso trabalho como vencedor do prêmio Colégio
Brasileiro de Genealogia 2004.
Foram dez anos de pesquisas e muito trabalho que, para nossa
felicidade, vemos coroados com este prêmio. Sentimo-nos muito
honrados com isso.
Queremos agradecer, especialmente, ao Sr. Roberto Menezes de
Moraes, primeiro por sua orientação, quando comecei a
engatinhar no mundo da genealogia e, mais tarde, por sua ajuda
nos cedendo livros e fotos que muito nos ajudaram a produzir
este livro. Nossa obra é também fruto da colaboração de muitos,
que tanto contribuíram para seu coroamento com o magnífico
prêmio que ora nos é concedido.
Muito obrigada”.
Quando fechávamos a edição desta Carta Mensal, chegou-nos
correspondência do Embaixador Telles Ribeiro, co-autor do livro
premiado. Assim, o CBG achou por bem publicá-la, para
conhecimento de todos, uma vez que representa o
pronunciamento que o autor poderia ter feito se estivesse
presente à solenidade de posse.
Paulo Fernando Telles Ribeiro
Brookline, MA, USA
Em 5 de junho de 2007
“Prezado Doutor Barata
Há poucos dias tive o prazer de receber de minha prima, Eliana
Quintella de Linhares, a notícia de sua posse, em 28 de maio
passado, como sócia titular do Colégio Brasileiro de Genealogia.
Na ocasião, foi-lhe entregue o prêmio, outorgado por esse
egrégio Colégio à nossa obra “Comendador Guilherme TelIes
Ribeiro, Ascendência e Descendência, Açores-Brasil”,
considerado o livro mais representativo do triênio de 2001-2003.
Dada a impossibilidade de meu comparecimento à cerimônia,
pedi a Eliana que lhe transmitisse, e aos demais membros da
comissão julgadora, meus agradecimentos pessoais pela honraria
com que fomos agraciados.
Ademais das palavras de Eliana, gostaria de assinalar-lhe a
especial satisfação que tive ao receber este prêmio. Faz bem à
alma ver o reconhecimento de nosso trabalho, sobretudo porque
feito com critério, destemor, desprendimento e voltado para o
ideal de revelar aos amigos, e público em geral, informações de
interesse para quantos se dedicam à pesquisa genealógica.
Lamento que a carreira diplomática, que me é gratificante sob
tantos aspectos, me mantenha no exterior por longo tempo e,
conseqüentemente, me afaste do convívio, no Brasil, com amigos
e companheiros, com quem comparto o pleno interesse pela
genealogia. Vivesse eu na minha cidade natal, o Rio de Janeiro,
certamente não me furtaria a uma presença constante nas
reuniões do Colégio Brasileiro de Genealogia, e ao rico
intercâmbio de conhecimentos e dados que propicia.
Pedir-lhe-ia assim, Doutor Barata, aceitar meus renovados
agradecimentos pelo prêmio com que esse Colégio honrou o livro
de co-autoria minha e de Eliana Quintella de Linhares,
agradecimentos que me alegra poder estender aos demais
membros da comissão julgadora, os Senhores Attila Augusto da
Cruz Machado, Gustavo Almeida Magalhães de Lemos, Roberto
Menezes de Moraes e Victorino Coutinho Chermont de Miranda.
Na expectativa de poder cumprimentá-lo pessoalmente numa
próxima oportunidade,
Atenciosamente saudações,
Com o abraço cordial do
Paulo Fernando Telles Ribeiro ”
CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial • 11
Armas do Colégio
Como grande parte das instituições, o CBG também tem suas armas:
escudo primitivo, campo de goles, flanqueado em arco de arminho nos
dois lados, carregado de uma abelha de ouro no centro do campo.
Envolvendo o escudo, dois ramos de carvalho floridos, com uma faixa à
base, com o dístico “Aeterna non caducat”, em letras de ouro, sobre faixa
branca debruada em negro.
O projeto, aprovado em Assembléia Geral Extraordinária em 07.10.1952, é
de autoria de Orlando Guerreiro de Castro, e a divisa foi sugerida pelo
Monsenhor Francisco da Gama e Costa MacDowell.
Os elementos constantes do brasão foram assim definidos por Ruy Vieira
da Cunha, em artigo publicado na revista Brasil Genealógico nº 2:
EXPEDIENTE
Boletim Informativo
COLÉGIO BRASILEIRO DE GENEALOGIA
www.cbg.org.br
Av. Augusto Severo, 8 - 12º andar - Glória
20021-040 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2224-9856
Dias e horários de funcionamento:
2ª e 4ª feira de 13 às 17 horas
- o escudo, em forma primitiva, para significar a antiguidade da própria
genealogia;
- o campo de goles, que é o interior do escudo em vermelho, para
significar o sangue comum de todos os homens, “vermelhamente plebeu”,
para o qual se volta a pesquisa genealógica;
- os arminhos que ladeiam o campo de goles representam os títulos e
dignidades às vezes recebidos;
- a abelha é símbolo do trabalho e da inteligência, significa a atividade de
estudo e investigação;
- os ramos floridos mostram a vitalidade do carvalho, árvore sabidamente
forte e longeva;
Diretoria: Presidente
Vice-Presidente
1º Secretário
2º Secretário
1º Tesoureiro
2º Tesoureiro
Publicações e Eventos
Informática
Carlos Eduardo de Almeida Barata
Attila Augusto Cruz Machado
Regina L. Cascão Viana
Eliane Brandão de Carvalho
Carlos Alberto de Paiva
Hugo Forain Jr.
Leila Ossola
João Simões Lopes Filho
Conselho Fiscal:
Fernando Antonio Ielpo Jannuzzi Jr.
Roni Fontoura de Vasconcelos Santos
Victorino C. Chermont de Miranda
- o dístico “O eterno não envelhece” lembra a perenidade da genealogia.
O brasão do CBG fala por si só da proposta do Colégio: o estudo da
genealogia não como investigação de foros nobiliárquicos, reais ou
presumidos, mas da sucessão da geração no tempo; da continuidade de
cada família ao longo da história, sejam quais forem suas origens, raça ou
cor.
Adaptado de texto publicado na Carta Mensal nº 2 de setembro de 1988.
12 • CBG - Carta Mensal 85 - Junho 2007 - Especial
Página www.cbg.org.br
Email [email protected]
Diagramação:
ESCALE INFORMÁTICA
www.escale.com.br
Impressão:
Fábrica de Livros- SENAI RJ

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