Aula 01 - O Mist?rio do G?nesis

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Aula 01 - O Mist?rio do G?nesis
CURSO NOVA HUMANIDADE
Huberto Rohden
Aula 1
O mistério do Gênesis
(29/03/1977)
Teilhard de Chardin, este grande cientista francês disse que a humanidade traça o seu
itinerário, através de quatro estágios: hilosfera, biosfera, noosfera e logosfera. Ele gosta de falar
grego, mas, nós vamos falar português:
Hilosfera – esfera da matéria
Biosfera - esfera da vida
Noosfera – esfera da inteligência
Logosfera - esfera da razão (a razão espiritual).
Então a antiga humanidade é da hilosfera, biosfera e noosfera. Cá estamos nós agora.Nós
não ultrapassamos ainda o 3o estágio da noosfera. A esfera do noos, palavra grega para a
inteligência. Chegamos até aqui. Temos que subir ao estágio que Teilhard de Chardin chama a
logosfera.
O Cristo estava na logosfera e alguns grandes iniciados chegaram perto da logosfera. Se
chegarem para dentro, não sabemos. Mas, nós estamos muito abaixo da logosfera. Então, em vez de
falarmos da nova humanidade (logosfera) vamos falar primeiro da velha humanidade que somos
nós.
A velha humanidade é do presente e do passado.Vamos esperar que a nova humanidade não
muito cedo, mas algum dia, chegue até a logosfera.Tanto assim que o maior dos iniciados disse:
“Vós fareis as mesmas obras que eu fiz, fareis obras, até maiores do que eu”. Isto seria uma
logosfera.
Nós não sabemos se já existiu uma humanidade anterior à nossa. Isto é hipótese, mas que
não podemos provar. É possível que tenha existido uma outra humanidade talvez mais avançada do
que a nossa atual. Mas a nossa é essa que conhecemos. Deve ter alguns milhões de anos, não
sabemos.É bastante antiga. Não pensem que seja nova. Mas é ainda a velha humanidade da
hilosfera, da biosfera e da noosfera. Isto eu chamo a velha humanidade.
Agora nos perguntam: como é que nós sabemos algo da humanidade do passado? Não temos
documento.Quem é que escreveu a história da humanidade de milhões de anos atrás. Ninguém
escreveu, e se alguém escreveu, nós não temos livros daquele tempo. Os livros mais antigos que
temos remontam há mais de 7000 anos, mais ou menos. O que aconteceu há 7000 anos atrás temos
alguma notícia, mas, o que aconteceu milhões de anos atrás, não sabemos. E agora como é que
vamos falar da humanidade do passado, do princípio da humanidade.
Vamos mencionar dois livros antiquíssimos que falam da origem e da evolução da
humanidade primitiva. Um desses livros tem mais ou menos 7000 anos. Outro tem mais ou menos
3500 anos (metade do primeiro). O primeiro livro que trata da evolução da humanidade, mas não
propriamente da sua origem, nasceu na Ásia - na Índia, no oriente longínquo, e chama-se “A
Sublime Canção”. Em sânscrito “Bhagavad Gita”.Muitos conhecem hoje em dia a Bhagavad Gita,
este livro de 5000 anos AC. Tempo dos Vedas. Contando de lá para cá são 7000.
A Bhagavad Gita fala de dois tipos de homens: do homem ego e do homem eu como
diríamos em linguagem moderna. Abri os primeiros capítulos da Bhagavad Gita e encontrareis o
homem ego que lá se chama Arjuna e o homem Eu – que se chama Krishna.São dois heróis que vão
através dos 18 capítulos. Arjuna se encontra com Krishna no campo de batalha de Kurukshetra.
Arjuna representa o homem muito atrasado, muito primitivo. O homem ego como nós
diríamos.O homem da hilosfera, biosfera e noosfera. Todos devem ter nas mãos a Bhagavad Gita
porque é um livro muito importante. Krishna representa a logosfera, o homem plenamente
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realizado.Até parecido com Cristo, o nome. É o homem plenamente realizado. O verdadeiro Eu,
como nós diríamos, o redentor, plenamente remido e realizado, libertado de todas as misérias.
Arjuna representa o homem muito primitivo, redimível, mas ainda não redimido. Realizável,
mas ainda não realizado. A Bhagavad Gita como dizia remonta a 7000 anos, não em forma de livro,
mas em forma de tradição oral que ia de geração em geração, lá na Índia antiga. Porque a cultura
oriental tem mais ou menos 7000 anos de existência. A cultura ocidental não passa de 2 500 anos. A
cultura européia tem mais ou menos 2 500 anos. Começa com a filosofia grega que é de 500 AC. E
da fundação do império romano que também é de 500 AC. Isto dá a contar daqui 2500 anos, que é
a cultura ocidental européia. Agora, para cá do Atlântico, nós recebemos parte da cultura européia.
Nós temos 500 anos. Que são 500 anos de cultura? É um princípio. É a infância. Nós estamos mais
ou menos na infância da cultura ocidental. A Europa está mais ou menos na adolescência e a Ásia,
na maturidade porque com 7000 anos é uma cultura muito antiga.
Os grandes países da Ásia, sobretudo Índia, China e Japão têm uma cultura muito mais
antiga do que nós temos aqui no ocidente. E a Bhagavad Gita nasceu na Ásia, no oriente longínquo,
na Índia - não tem autor. Krishna não é autor da Bhagavad Gita. Ele é um dos atores principais. Um
dos heróis, mas não é o autor. Quem é o autor da Bhagavad Gita. Ninguém sabe. A Bhagavad Gita
é o único livro que não tem autor. Nasceu da consciência espiritual da Ásia. A consciência espiritual
da Ásia se cristalizou nas páginas da Bhagavad Gita. Quase 2/3 da humanidade se dirigem pela
Bhagavad Gita. Atualmente (1977) a humanidade tem mais ou menos três bilhões de habitantes
aqui na terra. Mais ou menos dois bilhões se dirigem pela Bhagavad Gita.
Toda a Ásia, a parte mais povoada do globo (1/3 é do Ocidente e 2/3 do Oriente), se dirigem
pela Bhagavad Gita.. Mais ou menos 1/3 se dirige pelos livros da Bíblia, pelo Antigo Testamento e
pelo Novo Testamento. 2/3 da humanidade não são cristãos, apenas 1/3 é cristão. Nominalmente,
pelo menos. Não vamos dizer praticamente, mais nominalmente eles dizem que são cristãos. O
oriente é o que nós chamamos pagãos. Mas pagão não quer dizer ateu, por favor. Muitos pagãos são
profundamente religiosos e místicos. Alguns mais do que os próprios cristãos. Quer dizer, a
Bhagavad Gita já trata da evolução do homem ego para o homem Eu, que é um tema muito atual.
Hoje em dia todo mundo fala em autoconhecimento e autorrealização que parece ser uma coisa
nova. Aqui no ocidente é coisa nova, mas, no oriente é coisa antiqüíssima.
A Bhagavad Gita não trata de outra coisa. O homem deve conhecer-se a si mesmo para se
poder realizar plenamente. Sem autoconhecimento não há auto-realização. Se eu não sei o que eu
sou, não posso viver como eu devo viver como homem integral, como homem perfeito. Isto é da
Bhagavad Gita. Quer dizer, o primeiro livro que trata da evolução do humanidade nasceu na Índia,
7000 anos antes da nossa era.
Agora vamos passar ao 2o livro que é mais conhecido nosso: O Gênesis. O Gênesis parece
ser do Ocidente porque é o primeiro livro da Bíblia, mas não nos esqueçamos que toda a bíblia é
oriental. Nós a usamos como se fosse ocidental, mas a Bíblia nasceu na Ásia. O Gênesis foi escrito
na Arábia. A Arábia é oriente médio, mas faz parte da Ásia. Quem escreveu este livro que trata da
origem do mundo e da origem da humanidade? E depois também trata da evolução da humanidade.
Quem escreveu o Gênesis – mais ou menos 3500 anos antes, 1500 AC... é um homem misterioso de
que nada sabemos.
Não sabemos quem era seu pai, não sabemos quem era sua mãe. Não sabemos nada deste
homem misterioso que escreveu o Gênesis, chamado Moisés. Todo mundo usa este nome, mas não
sabe. Pela Bíblia sabemos que ele nasceu no Egito, mas ele não era egípcio, ele era hebreu. Porque
os hebreus viviam escravizados sob o domínio dos faraós. Não se sabe quem era o pai dele e nem se
sabe quem foi a mãe de Moisés. Tudo é duvidoso. A Bíblia diz que uma princesa egípcia da corte do
faraó encontrou este menino nas águas do Nilo, mas que era filho de hebreus. E ela o recolheu e o
adotou como se fosse filho dela. Isto consta pelos textos da Bíblia e ela o educou durante 40 longos
anos na corte do faraó do Egito,.e o instruiu em toda a sabedoria dos egípcios.
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Vocês sabem que a sabedoria do Egito é muito grande. Era um povo avançadíssimo em
certas coisas. Até mais avançados do que hoje em dia nós somos. Conheciam coisas que hoje não
conhecemos. Em magia mental os Egípcios eram acima de tudo. Eles sabiam de segredos da
natureza que nós até hoje não descobrimos. Como se construíram as pirâmides até hoje é um grande
problema. Nossos aparelhos mais modernos, nossos guindastes mais poderosos não são capazes de
levantar aqueles enormes blocos de pedras que formam as pirâmides. E por que as construíram?
Para que serviam as pirâmides? Dizem que eram túmulos dos faraós, mas, isto já está em dúvida há
muito tempo. Eram antes templos de iniciação, templos misteriosos de iniciação, porque os
Egípcios conheciam muito de iniciação misteriosa. Quer dizer, eles já eram um povo avançadíssimo
em muitas coisas. Até conheciam eletricidade e em grande parte energia atômica.
Consta em muitos textos da bíblia que eles já tinham conhecimento disto. E muitos pensam
que eles são descendentes dos Atlantis, daquele continente misterioso dos Atlantis que não existe
mais, que foi a pique. Não se sabe porque. E que restam algumas vidas no Oceano Atlântico.
Pensam muitos que alguns deles se salvaram e formaram a povoação do Egito mais tarde e
trouxeram conhecimentos de uma outra humanidade que não existe mais.
Moisés na corte do faraó foi educado e instruído em toda a sabedoria dos egípcios durante
40 longos anos. Aos 40 anos ele teve que fugir. Ele cometeu um homicídio: um egípcio que
maltratava um hebreu. Ele chegou a saber que ele não era egípcio, era hebreu. Defendeu os hebreus
contra os egípcios que o maltratavam e matou. A polícia egípcia o perseguiu, e Moisés teve que
fugir. Fugiu da África porque o Egito é da África. É engraçado. Moisés africano.
Quando nós dizemos africano, nós entendemos sempre gente de cor, mas, havia muitos
africanos que não eram negros, não eram camitas mas eram de outras raças. Os fenícios não eram
negros. Os egípcios não eram negros embora muito morenos. Moisés pela geografia era africano
mas não na raça camita que é outro tipo de africano. Então, ele nasceu no Egito, mas emigrou para a
Ásia quando ele fugiu da polícia do faraó - ele foi para a Arábia, oriente médio. Ele tinha 40 anos,
diz o texto. Lá ele chegou como um pobre peregrino à casa de um sheik.árabe. Os caciques árabes
se chamavam sheiks, e ele se tornou pastor de rebanhos. Na casa de seu futuro sogro Ietro - mais
tarde ele se casou com a filha mais velha do sheik árabe, Zéfora.
Viveu mais de 40 anos na Arábia - 40 anos no Egito e 40 anos com o sogro, guardando
rebanhos. Eu estou certo que nesse tempo ele escreveu o Gênesis. Estou citando isto porque quando
ele fugiu do Egito ele não tinha escrito o Gênesis. Ele escreveu o Gênesis nos 40 anos que ele foi
pastor na Arábia. Era um tempo muito propício para ter inspirações e revelações de outro mundo.
Os pastores, geralmente são muito videntes, muitos são clarividentes. O pastor dorme de dia e vigia
de noite, porque de noite é um perigo para o rebanho. Os chacais,as hienas e os lobos invadem o
rebanho de noite. São animais noturnos. Então o pastor tem que vigiar de noite e dormir de dia. De
dia não há muito perigo.
Moisés certamente vigiava noites inteiras, sentado numa pedra nas estepes da Arábia, no
meio do rebanho, vigiando. Agora imaginem um pastor que passa noites inteiras sentado numa
pedra sob a luz das estrelas! Tem tempo para muita meditação. Quando os rebanhos estão
tranquilos, não há perigo de invasão das feras. Ele pode abismar-se em meditação do infinito e
certamente Moisés se tornou um grande clarividente e até um cosmovidente durante os 40 anos em
que ele foi pastor na Arábia.
E neste tempo ele escreveu o Gênesis. Trata do princípio do mundo e do princípio da
humanidade. Os primeiros capítulos pelo menos. Vamos tratar só dos primeiros capítulos. O
princípio do Universo e do princípio da humanidade. Pergunta-se como é que Moisés podia saber
do princípio do Universo e do princípio da humanidade? Ele assistiu a isso. E vocês vão dizer. Não
assistiu o princípio do Universo porque o Universo não começou há 3500 anos. Começou há
bilhões e bilhões de anos antes de nossa era, como é que ele assistiu ao princípio do Universo? A
creação dos mundos e mesmo a creação da humanidade, que também tem milhões de anos?
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Eu afirmo que ele assistiu a tudo isto. Vocês ficam espantados por eu dizer tal coisa mas eu
afirmo que Moisés assistiu ao princípio do cosmo e do homem. Como assim? Nós vamos entrar
nesta coisa misteriosa.
Tempo e espaço é pura ilusão. Não existe nenhum passado e nenhum existe futuro. Tudo é
presente. Eu disse isto diversas vezes nas minhas aulas de tv. E Dona Xênia fica espantada quando
eu digo que passado e futuro não existem. Ela diz: “Então, nada é passado, nada é futuro, tudo é
presente?” Tudo é presente. Sucessividade é uma ilusão. Simultaneidade é a verdade. Tudo é aqui e
agora. Nada foi e nada será. E como é que nós falamos no passado. E como é que nós queremos
falar no futuro. Quer dizer que os profetas e videntes conhecem o futuro.
Não é verdade, eles vivem no presente e por isso é que eles são profetas, são videntes.
Quando nós dependemos dos nossos 5 sentidos, nós acreditamos em passado e futuro, porque os
sentidos nos dão a ilusão que uma coisa passou e que outra coisa ainda não chegou. Pelos nossos
sentidos nós falamos em passado e futuro. Se nós pudéssemos conhecer alguma coisa
independentemente dos nossos sentidos, pelo puro espírito que não tem sentidos, que é o nosso eu
.Se não dependesse dos sentidos, do nosso querido ego. Imagine! É difícil pensar nisto. Nós
dependemos inteiramente dos nossos sentidos.
Como é que eu posso conhecer alguma coisa sem ver, sem ouvir, sem tanger, que são coisas
dos sentidos. Os nossos sentidos são do ego físico. O nosso Eu é puro espírito. Está num invólucro
de matéria e este invólucro material obriga o nosso espírito a acreditar nos sentidos, porque
geralmente o nosso espírito não pode conhecer diretamente as coisas a não ser através dos sentidos.
Nós dependemos inteiramente dos nossos sentidos.
Mas, há certos homens que em momentos estranhos se emancipam da escravidão dos
sentidos. Há homens assim. São poucos, mas de vez em quando aparece. Há pessoas que conhecem
diretamente sem os olhos, sem os ouvidos e sem o tato. Conhecem a realidade independentemente
dos sentidos. Nós chamamos estes, os clarividentes. Os cosmovidentes ou que outro nome tenham.
Sempre existiam e ainda existem hoje, alguns.
Moisés deve ter sido um grande clarividente. Quando ele estava sentado 40 longos anos no
meio dos seus rebanhos, das estepes da Arábia sob a luz das estrelas da meia noite, ele deve ter
intensificado a sua visão cósmica a tal ponto que ele se emancipou dos sentidos. Ele não precisava
ver, ele não precisava ouvir, ele não precisava tanger. Ele não precisava nem pensar. Ele entrou na
intuição espiritual, porque o pensamento depende dos nossos sentidos.
“Nada há no intelecto que antes não tenha estado nos sentidos” - diz o velho adágio
filosófico. Isto é verdade. Nós não temos nada na inteligência que não seja derivado dos sentidos. O
clarividente não precisa dos sentidos. E não precisa da inteligência. Ele entra numa nova zona que
nós chamamos intuição espiritual. Na intuição nós recebemos diretamente do cosmos, diretamente
da alma do universo.
A Alma do Universo nos invade quando nós estamos em estado de intuição espiritual. Isto é
o estado mais avançado da humanidade, para além dos sentidos, e para além da inteligência, o
homem pode ter conhecimento direto. Isto se chama intuição, revelação e também inspiração. Pode
usar qualquer uma destas três palavras: inspiração, intuição, revelação.
Quando alguém está nesse estado estranho de intuição, ele nada sabe do passado. Nada
passou, tudo é presente. Também ele não sabe nada do futuro. O futuro é presente para ele e o
passado é presente para ele. Aniquilaram-se as ilusões do passado e aniquilaram-se as ilusões do
futuro e entrou na grande verdade do presente. O presente é a eternidade.
2a parte
Presente é a eternidade, eternidade não é tempo. Eu sei que muitos homens pensam que a
soma total do tempo é a eternidade. Pura bobagem! Eu tive que aprender até no catecismo. A minha
professora de catecismo fazia comparações muito engenhosas para mostrar que a soma total do
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tempo é a eternidade e como criança a gente tem que acreditar nisto. Mas quando a gente começa a
pensar independentemente descobre que a eternidade nada tem que ver com o tempo. A eternidade é
aquilo onde não existe tempo. Tempo é passado e futuro. Presente não é tempo. Presente é
eternidade.
Então Moisés deve ter vivido na eternidade do presente. E na eternidade do presente ele não
viu a creação do mundo como um fato passado. Ele estava vendo no momento a creação do
Universo. Ele escreve: “No princípio crearam os Elohim o céu e a terra” (ele nunca fala em
Deus).Os Elohin (plural) - as potências cósmicas.
No princípio crearam as potências cósmicas, o céu e a terra. Crearam é passado para nós. Ele
escreveu para os seus leitores comuns. Se tivesse escrito para si mesmo, ele não teria escrito que é
passado; teria dito: neste momento os Elohim estão creando o céu e a terra. Mas como ele tinha que
escrever para os outros que não estavam na clarividência então ele escreveu: “No princípio crearam
as potências cósmicas, o céu e a terra”. Quer dizer, ele assistiu a creação do universo porque ele
não estava no passado nem no futuro, mas ele estava no presente.
No presente tudo é simultâneo.Nada é sucessivo. É muito difícil a gente compreender
quando está acordado como nós. Se nós estivéssemos em samadi, em êxtase que é o estado de
clarividência pura, estado de interiorização pura que os hindus chamam samadi e que os gregos e
romanos chamavam êxtase. Os zen-budistas chamam satori...bem tudo isto é a mesma coisa. Isto é a
visão da realidade independentemente de futuro e passado. Para nós é difícil.
Eu me lembro sempre quando Kennedy foi assassinado, em Dallas, 2 semanas antes, uma
clarividente norte-americana,que morava na Califórnia chamada Dean Dickison. Ela sabia que
Kennedy ia ser assassinado. Ela foi a Washington e pediu que cancelasse sua viagem para o sul dos
Estados Unidos. Foi à Casa Branca para falar com a secretária de Kennedy que lhe permitisse falar
com o presidente e a secretária perguntou:
-Mas, a senhora o que quer dizer ao presidente?Eu preciso dizer porque a Senhora quer falar
com ele, porque não é fácil falar com o presidente.
-Eu preciso falar para que ele não vá a Dallas porque voltará cadáver.
-Mas, eu não posso falar ao presidente para que ele cancele uma viagem planejada, porque a
senhora tem estas visões. Eu sou uma pessoa sensata. Eu não posso desmoralizar-me perante o
presidente acreditando nas coisas que a senhora está falando. E não apresentou a Dean Dikson ao
presidente. Ela foi para casa triste porque sabia que ele ia ser assassinado. Foi assassinado em
Dallas.
E quando chegou a notícia pelo rádio que o presidente tinha sido baleado e estava
gravemente, perto da morte, ela leu a notícia nos jornais e disse: Ela não só foi baleado, ele morreu.
Porque para a notícia naturalmente levou algum tempo até ser publicado, mas naquele momento, ele
já estava morto. Ela disse: “Ele não está gravemente ferido, ele está morto”, e ainda nenhum jornal
tinha dado a notícia da morte dele.
Como é que ela viu o futuro? Ela não viu o futuro, ela viu o presente. Porque para os
clarividentes não há tal coisa como futuro que é pura ilusão dos nossos sentidos. Não há passado e
nem há futuro. Ela viu no presente porque no presente tudo é simultâneo. Para os nossos sentidos
tudo é sucessivo.
Moisés deve ter vivido terrivelmente no eterno presente quando ele escreveu o Gênesis.
Uma vez numa aula eu quis concretizar esta idéia de que não há passado e futuro e usei o meu
pequeno canivete que tem 8cm de comprimento. Suponhamos o seguinte: neste pequeno canivete de
mais ou menos 8 cm de comprimento tem aqui, um micróbio ultramicroscópico de manhã cedo
(numa ponta), e vai fazer esta viagem. Começa aqui de manhã e vai chegar aqui (na outra ponta),
de noite. O micróbio está aqui. Eu não posso ver porque ele é muito pequeno.
Ao meio dia ele está aqui no meio. Aí ele descansa um pouco e diz: isto é passado (atrás).
Isto é futuro para ele (frente). Porque ele tem uma visão muito míope. Naturalmente ele tem que
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dizer que aquilo que eu já percorri é passado, e aquilo que ainda vou percorrer é futuro. Isto é a
visão de um micróbio.
Eu tomo este canivete diante dos olhos, não movo os olhos e vejo todo o canivete de uma
vez só. Eu não preciso correr da esquerda para a direita. Não, eu vejo perfeitamente o canivete
desde aqui até aqui. Para mim todo o canivete é presente. Para o micróbio, uma parte do canivete é
passado e outra parte, é futuro. É o modo como alguém conhece que ele chama passado. Nada mais.
Passado é o modo de conhecer sensorial.
Independente do conhecimento sensorial não existe nenhum passado e não existe nenhum
futuro. Digo isto para que vocês possam mais ou menos ter uma idéia do que Moisés escreveu: “No
princípio os Elohim crearam o céu e a terra”. O que ele chama “no princípio?” Antes do tempo, não
existe princípio. Onde não há tempo não há princípio. Na eternidade não existe princípio nem fim.
No tempo há princípio e há fim. Quer dizer, princípio e fim são ilusões dos nossos sentidos.
Quando os Elohin (as potências cósmicas), começaram a creação, então começou o princípio
e algum dia vai ter fim. Então ele diz que “No princípio os Elohim crearam os céus e a terra”. Que
são os Elohim? O Gênesis nunca fala em Deus. Nós é que traduzimos Deus. O texto grego traduz
Deus e o texto latino traduz Deus. Mas, no texto em que Moisés escreveu não há uma palavra de
Deus. Sempre os Elohim. É plural. Elohim são poderes ou potências cósmicas como prefiro dizer.
Então Moisés diz que o Universo foi creado pelas potências. Que potências? Naturalmente não
potências humanas, potências cósmicas.
O que Moisés entendeu por Elohim. Sempre no plural. Os Elohim crearam o universo. Os
Elohim crearam o homem. Não é plural de pluralidade. É plural de majestade. Nós não dizemos:
Vossa Majestade (uma pessoa só) Vossa Santidade, Vossa Excelência, Vossa Senhoria, Vossa
Mercê. Falamos de uma pessoa só, não de muitas pessoas.
No mundo inteiro se fala assim. Quando se quer exprimir senso de superioridade, majestade,
então a gente usa o plural. E Moisés também em hebraico usa sempre o plural quando fala do
creador. E sempre os creadores, as potências creadoras.Em hebraico os Elohim. Então Moisés não
entendeu por Deus uma pessoa, um indivíduo como as nossas pobres teologias inventaram depois.
Que Deus é uma pessoa, até três pessoas. Ou pelo menos um indivíduo, uma entidade individual.
Moisés não sabia nada disso.
Ele fala das potências que crearam o Universo, das potências, isto é, o que Spinoza, o grande
monista do século XVII chamaria, “A Alma do Universo”. Spinoza, aquele grande pensador lusoholandês. Os pais eram portugueses. Aliás, ele não se chamava Spinoza. Lá em Portugal era De
Espinhosa. Mas como os pais emigraram para a Holanda, onde não se falava português, os
holandeses latinizaram o nome. Em vez De Espinhosa, Spinoza. Ele nasceu em Amsterdã, na
Holanda e se tornou o grande pensador do século XVII. Monista, não panteísta.
Spinoza diz: “Deus é a alma do Universo e o Universo é o corpo de Deus”. Grande verdade.
.A Alma do Universo, a parte invisível do Universo que Moisés chama os Elohim, isto é que
Spinoza que também era judeu chama Alma do Universo. “A Alma do Universo creou o Universo”.
Spinoza diz que Universo é a manifestação material do espírito universal. Exatamente a idéia de
Moisés. Os Elohim crearam os céus e a terra. Céus no plural. Os céus ele entende como a parte
invisível deste universo material. O que é que chamamos isto: a luz cósmica.
Isto foi dito por Moisés 3 500 anos antes do nosso tempo. Que no princípio os Elohim
crearam a luz cósmica. E quando a luz se condensou, então apareceu a matéria, porque a matéria
não é outra coisa senão luz condensada ou energia congelada como diz Einstein.
Einstein que é do século XX - faleceu em 55 (eu estive com ele mais de um ano em
Princeton). Ele diz que a base de todos os 92 elementos da química é a luz cósmica. Isto foi dito no
século XX, mas 3500 anos antes, isto foi dito por Moisés. Einstein repetiu em forma científica o que
Moisés tinha dito em forma intuitiva.
Moisés diz que os Elohim crearam o universo em 6 períodos. Cuidado com as traduções.
Nós dizemos em 6 dias. Mas lá não tem nada de dias, no Gênesis. Lá está Yom, quer dizer período.
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O período da creação pode ter levado milhões de anos de anos, cada um. No primeiro Yom, os
Elohim crearam a luz, porque os Elohim disseram: ”Haja luz” e apareceu a luz. Que luz? Não a luz
do sol, porque segundo Moisés o sol e as estrelas apareceram no 4o período. Nos 3 primeiros
períodos não havia nem sol nem estrelas, nem lua, nem nada disto.
Que luz era esta nos 3 primeiros períodos que podem ter tido milhões e bilhões de anos cada
período?
No primeiro período os Elohim disseram “Haja luz” e houve luz. Quer dizer: Moisés supõe
que toda a matéria veio da luz. Que a base de toda de todas as coisas materiais é a luz cósmica. Não
a luz solar, porque a luz do sol apareceu no 4o período. É estranho que o homem que viveu 3500
anos antes de nós sabia das mesmas coisas que Einstein formulou em nossos dias cientificamente.
Que a base de todas as coisas materiais é luz. Não luz solar.
Luz solar é luz focalizada. A luz universal, a luz que não tem foco, a luz difundida por todo
o Universo. Para nós a luz cósmica é completamente invisível. Ninguém pode ver luz cosmica. Nós
só podemos ver a luz quando ela está focalizada, quando está condensada, ou no sol ou nas estrelas,
ou na lua., ou em nossa luz elétrica. Mas quando a luz não está condensada, nós não podemos ver a
luz
Então, no primeiro yom diz Moisés, os Elohim crearam os céus que é a luz. Os céus no
plural, a luz cósmica, e da luz cósmica veio a terra. Imagine que intuição. Ele não tinha estudado
como nós... Intelectualmente, analiticamente, mas o homem de intuição cósmica recebe mensagens,
perfeitamente exatas. Ele não explica nada. O que se analisa, se explica; mas o que se intui não se
explica. A gente recebe mensagem e pronto. Não pode explicar a ninguém como ele recebeu a
mensagem. E assim podemos dizer que Moisés assistiu a creação do Universo. Não no passado, mas
no presente. Porque ele estava no presente, na intuição. E depois ele assistiu a origem do Homem,
também no presente. Não no passado. Para nós que dependemos dos sentidos, isto é passado. Mas,
quem se emancipou da escravidão dos sentidos, não existe tal coisa como passado. Nem existe
futuro. Só existe o eterno presente. O presente é a realidade, o passado e o futuro são ilusões dos
nossos sentidos.
Estou dizendo isto previamente para que depois possamos compreender um pouco o que ele
escreve sobre a origem da humanidade. Ele assistiu no eterno presente. A isto ele conta como sendo
no passado. Ele escreve para outros que não são intuitivos. Ele escreve para os leitores analíticos,
que dependem dos sentidos. Ele não escreveu para si, que não dependia dos sentidos.
Depois vem a história da origem do homem, um perfeito paralelo à Bhagavad Gita. O
homem aparece num campo de batalha. Vejam na Bhagavad Gita. Arjuna estava no campo de
Kurukshetra, na Índia e encontrou-se com os seus inimigos, os Kurus. Ele era dos Devas. Os Devas
são os bons espíritos. Os Kurus são os maus espíritos. Kurus com K, e não Gurus com G.
Kurus são os espíritos inferiores. Os Devas (a nossa palavra Divino tem o mesmo radical de
Devas). São os espíritos superiores. Então Arjuna encontrou-se com o exército inimigo dos kurus.
Ficou desanimado. “Eu vou derrotar este poderoso exército dos Kurus? Não posso. Eles são muito
poderosos”. E Arjuna deixou cair o arco e a flecha, e disse: “eu não vou combater, eles roubaram
meu trono e o meu reino, paciência, eu fico sem trono, sem reino, mas eu não vou derrotar os meus
inimigos. Que eles tomem conta de tudo. Que me escravizem como quiserem. Eu não vou
lutar”.Está na Bhagavad Gita. Ele estava tão desanimado no campo de batalha.
Aparece então Krishna, o homem plenamente realizado, o Eu superior e diz: “Que é isso
Arjuna? Desanimado assim por causa da prepotência dos seus inimigos? Apanhe o arco e a flecha.
Derrote os seus inimigos!” E Arjuna diz: “Mas eles são todos meus parentes, são os meus
antepassados, são meus pais, são meus irmãos, são meus amigos e meus mestres (está lá). Eu vou
derrotar todos eles que são meus mestres e meus parentes?”. E diz Krishna: “Derrota-os, é preciso
recuperar o seu trono e reino. Você foi espoliado. Você tem obrigação de recuperar o seu reino”.
Mahatma Gandhi e Rabindranat Tagore são os dois grandes intérpretes da Bhagavad Gita.
Rabindranat Tagore, o grande poeta místico da Índia e Mahatma Gandhi, o grande iniciado de nosso
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século dizem: “Isto é simbólico. Krishna não manda matar fisicamente os inimigos. Aqueles
inimigos são as coisas do ego e Arjuna tem medo de derrotar as coisas do ego, por isto Krishna
diz:’ os Devas estão contigo. O Eu divino está contigo e te ajuda na luta. Derrota o teu ego, dá
triunfo ao teu eu, porque o ego usurpou o trono e o reino do teu eu divino. Tu tens obrigação de
conquistar o reino, o trono do seu eu divino, seja quem for o usurpador”. Isto diz Rabindranat
Tagore. Isto diz Gandhi. É um símbolo. Não se trata de uma matança física.
Não temos a mesma coisa no Gênesis? A mesma coisa, Moisés põe o homem no campo de
batalha: a tentação. Lá há 2 poderes. Exatamente como na Bhagavad Gita. O poder superior divino
e o poder inferior humano. O poder superior no Gênesis se chama o sopro de Deus. E o poder
inferior se chama o sibilo da serpente. A serpente representa o ego. E o sopro de Deus representa o
eu. Agora Adão, o primeiro homem foi colocado no campo de batalha entre o ego inferior e o eu
superior. Exatamente com Arjuna no campo de batalha de Kurukshetra, na Índia.
Seja Bhagavad Gita, seja o Gênesis, o homem começa no campo de batalha, na luta entre 2
poderes. E o homem tem que decidir o que ele vai fazer. Ou ele se deixa derrotar por seus inimigos,
ou ele derrota os seus inimigos. Isto diz Krishna na Bhagavad Gita, isto diz Moisés no Gênesis.
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