Como o turismo está matando leões africanos

Transcrição

Como o turismo está matando leões africanos
Diversão
cruel
Como o turismo está matando leões africanos
Introdução
A morte do leão Cecil, que durou 40 horas nas mãos de
um turista caçador que pagou 50 mil dólares para tal
atividade, causou uma revolta global sem precedentes1,2.
Tirado de forma ilegal do Parque Nacional Hwange,
no Zimbábue, Cecil foi brutalmente morto com arco,
flecha e rifle, decapitado e esfolado. Sua morte mostrou
a vulnerabilidade da vida silvestre africana à crueldade
proporcionada pelo turismo3.
Mas Cecil foi apenas um entre muitos. Centenas de outros
leões estão ameaçados pelas práticas de turismo antiéticas
por toda a África. Leões africanos não são apenas
caçados como Cecil - eles também são criados com
fins comerciais, sendo utilizados em parques de leões e
servindo à indústria do entretenimento como atração para
fotos4 e passeios com turistas. Muitos turistas simplesmente
não sabem como a sua visita a um parque como estes
pode ameaçar a existência e o bem-estar desses
carismáticos animais silvestres4.
Esse relatório expõe o sofrimento inaceitável dessa
prática, utilizando como exemplo o turismo na África
do Sul. Nossa evidência é clara. Leões precisam ser
mantidos na natureza e protegidos do turismo antiético
agora, antes que seja tarde demais para salvá-los.
Atrações
fatais
Na África do Sul existem cerca de 150 cativeiros –
criações de leões apenas para fins comerciais5 –
que mantêm aproximadamente 5.800 leões em
cativeiro em todo o país. A estimativa é que o número
de leões em cativeiro na África do Sul tenha dobrado
desde 2005. Hoje, nesse país, existem mais leões
em cativeiro do que em liberdade. Apenas 32% da
população dos leões vivem livres, em reservas naturais.
Muitos dos cativeiros também atuam como parques de
leões ou fornecem filhotes para os mesmos. Os parques
de leões são atrações de popularidade crescente,
onde turistas podem viver uma experiência única,
aproximando-se de leões selvagens criados em cativeiro4.
Essas experiências geralmente envolvem filhotes sendo
utilizados como atração para “selfies” de turistas
e jovens leões sendo utilizados para caminhadas.
Essas atividades têm um impacto negativo e severo
no bem-estar e na conservação desses animais6.
Crueldade
comercial
Embora nascidos em cativeiro, filhotes e jovens leões
utilizados em atrações em parques turísticos são animais
silvestres que ainda possuem instintos e comportamentos
naturais4. E não há treinamento ou domesticação que
possa mudar isso.
Filhotes são separados prematuramente de suas mães
aproximadamente um mês depois do nascimento,
enquanto na natureza os filhotes não são desmamados
antes de, aproximadamente, oito meses de vida12. Com
apenas algumas semanas, os filhotes são apresentados
aos visitantes nos parques – há inclusive testemunhos de um
filhote que foi exposto com apenas uma semana de vida4.
Isso resulta em uma manipulação e observação constante,
por centenas de pessoas todos os dias4 e, como
turistas não são especialistas em animais, os animais
ficam sujeitos a um stress desnecessário e até mesmo
lesões. Investigadores também presenciaram turistas
sendo orientados a bater nos filhotes, quando os
mesmos demonstravam comportamentos agressivos
ou indesejados.
Muitas vezes os parques de leões também mantêm jaulas
inadequadas ou uma dieta antinatural que não supre nem
mesmo as necessidades básicas dos animais4. Com essas
condições e as constantes interações com os turistas, é
possível provocar um stress crônico, que deixa os animais
mais vulneráveis a doenças1,4.
Preocupações
conservacionistas
Há também uma preocupação com o destino de leões
adultos que não são mais utilizados nesses parques,
quando tornam-se muito grandes ou perigosos para o
contato direto com turistas. Ao contrário dos programas de
criação em cativeiro com fins de conservação, parques de
leões com viés comercial não colaboram com o aumento
da população de leões, uma vez que esses animais não
podem ser soltos na natureza de forma segura4.
Na contramão da conservação, leões adultos são
eutanasiados, mantidos em cativeiro de forma inadequada
ou vendidos para zoológicos, “fazendas de leões” ou até
mesmo para colecionadores4.
Os donos dos parques de leões insistem em afirmar que,
ao contrário das “fazendas de leões”, suas operações
comerciais não alimentam criações de animais com fins de
caça. Nelas, os animais são caçados em área fechada, de
onde não conseguem escapar.
Contudo, os donos de parque contaram a nossos
investigadores que eles possuem muito pouco controle
sobre o que acontece com os leões depois que são
vendidos4. Consequentemente, é perfeitamente possível que
os filhotes de leão com quem o turista tirou uma ’selfie‘ nas
férias sejam os mesmos animais mortos por caçadores4.
Turismo
ético
Quando conduzido de forma ética, o turismo pode
trazer lucros vitais para comunidades e para a economia
nacional, podendo inclusive ajudar a proteger animais
como os leões7. A África do Sul conta com uma rede de
400 parques nacionais e outras áreas protegidas. Muitos
possuem leões que turistas podem observar em seu habitat
natural8. Em vez de visitar parques de leões e ampliar
o sofrimento dos animais, turistas interessados na vida
silvestre deveriam pagar para ver leões nesse tipo de
área protegida.
Para qualquer um que ame leões, a nossa mensagem
é simples. Não visite uma atração turística que permita
que os visitantes tenham contato direto com filhotes ou
jovens leões, ou mesmo com quaisquer animais criados
com fins comerciais. Se você ama os leões, observe-os
na vida silvestre.
Mobilize o mundo
pela vida silvestre
Juntos podemos transformar a indústria turística dos
leões. A revolta pública com a morte de Cecil mostra
como as pessoas ao redor do mundo desejam
proteger os animais silvestres. Isso reforça uma pesquisa
independente que revela que 48% das pessoas do
mundo visitam atrações com animais silvestres porque
amam animais9. Eles não sabem do sofrimento e a
crueldade nos bastidores e certamente prefeririam ver
esses animais na natureza.
Revelamos aqui os abusos por trás da morte brutal do
leão Cecil, pedindo que as pessoas se unam ao nosso
movimento de transformação do turismo de leões e o
fim do sofrimento animal em prol do entretenimento.
Queremos que os operadores de turismo sejam
plenamente responsáveis pelos locais onde enviam
seus clientes. Mais de 20 operadoras, incluindo TUI
Nederland, Intrepid Travel, Apollo, Albatros Travel
e World Expeditions concordaram em não oferecer
mais passeios em elefantes ou shows em seus pacotes.
Pedimos a outras operadoras que colaborem na
transformação da indústria do turismo como parte
da solução para a manutenção dos animais na
vida silvestre.
Tome uma atitude agora
Essas mudanças precisam ser feitas
rapidamente para proteger as
populações de leões da África.
Juntamente com os nossos apaixonados
e comprometidos apoiadores em todo
o mundo, devemos persuadir a indústria
do turismo e os governos a agirem com
urgência pela proteção da vida silvestre.
Junte-se ao movimento e ajude a
colocar um fim à propagação de
atrações com animais silvestres em todo
o mundo. Mostre seu apoio para manter
os leões e todos os animais silvestres na
natureza, lugar a que eles pertencem.
Trabalharemos junto à União Africana para
providenciar orientações aos países sobre proteção
animal. Inicialmente, isso acontecerá por meio do
desenvolvimento de uma estratégia Panafricana de
Bem-Estar Animal, com base nos acordos feitos na
Agenda para o Desenvolvimento Sustentável até 2030.
worldanimalprotection.org.br/silvestres-nao-entretenimento
Sobre os leões africanos
Estima-se que
menos de
Eles são considerados vulneráveis
à extinção, uma vez que estas
populações diminuíram cerca de
leões selvagens em todos os
ao longo dos últimos
20.000
26
países da África10
Os leões são os felinos de grande porte
mais sociáveis. Eles caçam juntos,
defendem territórios em conjunto
e criam seus filhotes em grupos11,12.
42%
21
anos10
Apesar de viverem em grandes grupos de
até 40 indivíduos, as leoas reconhecem
seus próprios filhotes. São muito protetoras
e conhecidas por lutar até a morte para
garantir sua sobrevivência13.
References
worldanimalprotection.org.br/silvestres-nao-entretenimento
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INT0076/0815
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