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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE UNIDADE ACADÊMICA DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO PRODUZINDO CRÔNICAS: UM ESTUDO A PARTIR DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA Nathalie Lia Fook Meira Braga Campina Grande, fevereiro de 2012. Nathalie Lia Fook Meira Braga PRODUZINDO CRÔNICAS: UM ESTUDO A PARTIR DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina Grande, para obtenção do título de mestre. Orientadora: Profa. Dra. Maria Augusta G. de Macedo Reinaldo Coorientadora: Profa. Elizabeth Marcuschi 2012 Dra. FOLHA DE APROVAÇÃO ________________________________________________________ Profa. Dra. Maria Augusta Gonçalves de Macedo Reinaldo (Orientadora - UFCG) _______________________________________________________ Profa. Dra. Maria Bernadete Fernandes de Oliveira (Examinadora - UFRN) ______________________________________________________ Prof. Dr. José Hélder Pinheiro Alves (Examinador - UFCG) Campina Grande, 28 de fevereiro de 2012. A Epaminondas e Sayonara, meus grandes incentivadores; a Lozinha Braga, pelo legado de gostar das letras; e a Gustavo, meu sorriso constante. AGRADECIMENTOS A Deus e a Nossa Senhora, pelas bênçãos sempre concedidas. À minha orientadora, Maria Augusta Reinaldo, pelas inúmeras oportunidades de fazer-me pesquisadora e professora, pela dedicação quase materna, pelos conselhos para a vida, pela paciência, por deixar-me fazer de sua biblioteca a extensão da minha, por tudo que aprendi e cresci durante seis anos de convivência universitária. À minha coorientadora, Beth Marcuschi, por ter me recebido com carinho na minha curta passagem em terras pernambucanas e pelas contribuições nesta pesquisa. Aos professores Hélder Pinheiro e Edmilson Rafael, pelas contribuições na qualificação. Aos meus pais, por terem dedicado a mim os melhores sentimentos. A Gustavo, meu amigo, noivo e interlocutor favorito, por fazer tudo com tanto amor, por entender as minhas ausências e por fazer-se sempre presente. Ao meu irmão, Thiago, pelo companheirismo. À minha irmã, quase filha, Marina, pelas ajudas sempre prestadas, por ser minha grande amiga e maior companheira. Ao meu avô paterno, José, pelo exemplo. À minha avó paterna, Lozinha, que estaria feliz por ver-me seguindo os seus passos. À minha avó materna, Sônia, por torcer pela minha felicidade. À minha tia, mãe e madrinha, Mércia, a quem me faltam palavras para agradecer. Aos tios Roberto, Yamina, Vinícius e Ana por sempre acreditarem em mim. A Geruza, Menta e Guia, minhas mães por escolha, por demonstrarem tanto amor. A Alyere e Andréia, amigas e ouvidos de sempre. Aos amigos da vida universitária: Aline, Andrezinho, Bruno, Carol do Céu, Carol Nicácia, Felipe Reis, Luciana Moura, Paloma Sabata e Priscila Raposo. A Mônica Celino e Leonardo, grandes companheiros de estrada. À professora Maria Bernadete de Oliveira, por aceitar estar presente nesta banca. Aos professores Normando, Aluísio e Simone Dália, pelas ajudas sempre prestadas. Aos demais professores e funcionários da Posle. À professora Adriana Sá, por ter cedido a mim uma turma de alunos para que eu pudesse gerar coletar os meus dados. A Roberta Meneses, por acompanhar-me durante todo o processo de coleta de dados. Ao Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad) e ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), pelo financiamento desta pesquisa. “Alguns fazem-no de maneira simples e direta, sem caprichar demais no estilo, mas enfeitando-o aqui e ali desses pequenos achados que são a sua marca registrada e constituem um tópico infalível nas conversas do alheio naquela noite. Outros, de modo lento e elaborado, que o leitor deixa para mais tarde como um convite ao sono: a estes se lê como quem mastiga com prazer grandes bolas de chicletes. Outros, ainda, e constituem a maioria, "tacam peito" na máquina e cumprem o dever cotidiano da crônica com uma espécie de desespero, numa atitude ou-vai-ou-racha. Há os eufóricos, cuja prosa procura sempre infundir vida e alegria em seus leitores e há os tristes, que escrevem com o fito exclusivo de desanimar o gentio não só quanto à vida, como quanto à condição humana e às razões de viver. Há também os modestos, que ocultam cuidadosamente a própria personalidade atrás do que dizem e, em contrapartida, os vaidosos, que castigam no pronome na primeira pessoa e colocam-se geralmente como a personagem principal de todas as situações. Como se diz que é preciso um pouco de tudo para fazer um mundo, todos estes "marginais da imprensa", por assim dizer, têm o seu papel a cumprir. Uns afagam vaidades, outros, as espicaçam; este é lido por puro deleite, aquele por puro vício. Mas uma coisa é certa: o público não dispensa a crônica, e o cronista afirma-se cada vez mais como o cafezinho quente seguido de um bom cigarro, que tanto prazer dão depois que se come.” (Excerto de “O exercício da crônica”, de Vinícius de Moraes) RESUMO Os Parâmetros Curriculares de Ensino Fundamental (PCN, 1998) apresentam a discussão acerca do fracasso do ensino escolar em relação aos eixos de leitura e de escrita, devido ao desempenho insuficiente de parte dos alunos que chegam ao final do ensino fundamental, assinalando a necessidade da reorientação no ensino desses eixos no Brasil. A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro tem se constituído uma iniciativa oficial que ilustra a preocupação com alternativas para minimizar esse fracasso. Nesse contexto, duas questões se apresentam relevantes para a pesquisa sobre ensino e aprendizagem de língua: a primeira, situada no âmbito das atividades docentes, diz respeito à relação entre o que é proposto/prescrito como objeto de ensino e o que de fato é ensinado/realizado; a segunda, localizada no campo da relação professor-aluno, refere-se ao contraponto entre o que é ensinado e o que é efetivamente aprendido. Alinhando-se a essa discussão, este estudo tematiza o ensino e a aprendizagem do gênero textual crônica junto a alunos de nono ano da rede pública de ensino, nos moldes prescritos pela edição de 2010 da Olimpíada. Elege como objetivos específicos: (a) analisar a relação entre trabalho prescrito e trabalho realizado com o gênero textual crônica, considerando as implicações da diversidade de contextos de ensino; e (b) verificar os resultados de aprendizagem do gênero textual em estudo, obtidos com o trabalho efetivado em sala de aula, considerando as dimensões eleitas como objeto de ensino-aprendizagem por parte dos alunos. Os referenciais teóricos que fundamentam a análise estão representados pelas contribuições dos estudos literários, com foco nas noções do gênero textual crônica (CÂNDIDO, 1987a; SÁ, 2008), e dos estudos linguísticos, com base nas contribuições advindas do Interacionismo sociodiscursivo, representadas, principalmente, por conceitos advindos da ergonomia, relacionados ao trabalho prescrito, trabalho planificado e trabalho realizado (AMIGUES, 2004; SOUZA-E-SILVA, 2004; SOUZA, 2009). O procedimento de geração de dados, que ocorreu entre os meses de abril e novembro de 2010, consistiu na aplicação de uma sequência didática pela professora pesquisadora em uma turma de nono ano de uma escola municipal do ensino fundamental, situada na cidade de Campina Grande (PB). Os resultados relacionados com o primeiro objetivo da pesquisa mostram, por um lado, fatores que contribuíram para o andamento das atividades em sala de aula; e, por outro, fatores que dificultaram o cumprimento das tarefas prescritas/planejadas. No tocante ao segundo objetivo, os resultados mostram que os alunos demonstraram interesse na escrita das crônicas e apresentaram como dificuldades mais salientes a escolha do cenário e a focalização do tema proposto. Palavras-chave: Leitura. Escrita. Crônica. ABSTRACT The National Guidelines for Junior High School Education in Brazil (PCN, 1998) present the discussion about the failure of the school education in relation to the reading and writing instruction, due to the weak performance on part of the students who reach the conclusion of Junior High School, indicating the need for reorientation in the teaching of these two skills in Brazil. The Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (The Portuguese Language Competition “Writing The Future”) has been an official initiative that illustrates the concern about alternatives to minimize this failure. In this context, two issues are relevant to research on language teaching and learning: the first, in the context of teaching activities, concerns the relationship between what is proposed/prescribed as educational object and what is actually taught/accomplished; the second, in the field of teacher-student relationships, refers to the contrast between what is taught and what is actually learned. In keeping with that discussion, this study discusses the teaching and learning of the textual genre chronicle among students of the ninth year in the public school system, in harmony with what is prescribed by the 2010 edition of the Competition. It elects as specific objectives: (a) to analyze the relationship between prescribed task and performed task with the textual genre chronicle, considering the implications of diverse educational contexts; and (b) to assess the learning outcomes of the focused textual genre, through the work held in the classroom, identifying the dimensions related to the students’ learning difficulties. The theoretical references that fundament the analysis are represented by the contributions from the literary studies, with a focus on notions of the textual genre chronicle (CÂNDIDO, 1987a; SÁ, 2008), and by the linguistic studies, based on the contributions from the Socio-discursive Interactionism, represented, mainly, by the concepts brought from ergonomics, related to prescribed, planned and performed tasks (AMIGUES, 2004; SOUZA-E-SILVA, 2004; SOUZA, 2009).The data collection procedure, which was held between April and November 2010, consisted in the application of a didactic sequence by the researcher-teacher in a class of the ninth year of a municipal elementary school, situated in the city of Campina Grande (PB).The results related to the first research objective show, on the one hand, factors that contributed to the progress of the classroom activities; and, on the other, factors that hampered the fulfillment of the prescribed/planned tasks. Regarding the second objective, the results demonstrate that the students showed interest in writing chronicles and presented as the most prominent difficulties the choosing of the scenario and the focusing on the proposed theme. Key-words: Reading. Writing. Chronicle. LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Elementos constitutivos da crônica....................................................... 33 Figura 2 – Componentes do modelo didático de gênero........................................ 39 Figura 3 – Esquema adaptado da sequência didática........................................... 42 Figura 4 – As operações envolvidas na produção textual...................................... 44 Figura 5 – Capa do Caderno do Professor: a ocasião faz o escritor...................... 53 Figura 6 – Sumário do Caderno do Professor: a ocasião faz o escritor................. 53 Figura 7 – O tempo das oficinas............................................................................. 54 Figura 8 – O título da oficina 1............................................................................... 59 Figura 9 – Objetivo da oficina 3 ............................................................................. 60 Figura 10 – O material das oficinas ....................................................................... 60 Figura 11 – Etapas da oficina 8 ............................................................................. 61 Figura 12 – Biografia de Armando Nogueira ......................................................... 62 Figura 13 – Quadro de análise de uma crônica..................................................... 63 Figura 14 – Quadro de sugestão da oficina 2 ....................................................... 64 Figura 15 – Análise da primeira escrita ................................................................. 65 Figura 16 – O trabalho com “Peladas”................................................................... 66 Figura 17 – Análise sobre “Peladas”...................................................................... 67 Figura 18 – Atividade sobre “Um caso de burro” ................................................... 68 Figura 19 – Análise de “Cobrança”......................................................................... 69 Figura 20 – Tipos de discurso ............................................................................... 70 Figura 21 – Quadro com as diferentes maneiras de dizer da crônica.................... 71 Figura 22 – Atividade sobre foco narrativo............................................................. 72 Figura 23 – Roteiro para a revisão da crônica....................................................... 74 Figura 24 – Biografia de Fernando Sabino ............................................................ 79 Figura 25 – Orientações para o professor sobre as figuras de linguagem ............ 81 Figura 26 – As figuras de linguagem ..................................................................... 82 Figura 27 – Palavras do universo do futebol.......................................................... 83 Figura 28 – Atividade da notícia à crônica............................................................. 85 Figura 29 – Atividade de planejamento para a escrita da crônica.......................... 86 Figura 30 – Estação Velha..................................................................................... 88 Figura 31 – Parque do povo................................................................................... 88 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Oficinas e produção das crônicas................................................... 23 Quadro 2 – Oficinas prescritas pelo Caderno do professor............................... 56 Quadro 3 – O trabalho planificado e efetivamente realizado............................. 76 SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................... 12 CAPÍTULO 1 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA.............................. 17 1.1 A natureza da pesquisa....................................................................................... 17 1.2 Descrição do evento Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro.... 19 1.3 O contexto de geração dos dados....................................................................... 21 1.4 Dados de análise................................................................................................. 23 CAPÍTULO 2 O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA: APORTES TEÓRICOS.............................................................................................................. 25 2.1 O gênero crônica: teoria e ensino....................................................................... 25 2.2 Um modelo para o ensino-aprendizagem do gênero crônica............................. 37 2.2.1 A sequência didática como unidade de ensino............................................ 40 2.2.2 Operações envolvidas na produção escrita de um gênero textual............... 43 CAPÍTULO 3 O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA: O TRABALHO PRESCRITO.............................................................................................................. 47 3.1 Trabalho docente................................................................................................. 47 3.2 O trabalho prescrito: as oficinas do caderno do professor................................. 50 3.2.1 As oficinas: aspectos prescritos..................................................................... 55 3.2.2 As oficinas: distribuição.................................................................................. 62 CAPÍTULO 4 O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA: O TRABALHO REAL........................................................................................................................ 75 4.1 O trabalho real: as condutas da professora pesquisadora................................. 75 4.1.1 Planificação e realização efetiva das oficinas.............................................. 76 4.2 O trabalho realizado pelos alunos na escrita de crônicas.................................. 90 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 104 REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 107 APÊNDICE................................................................................................................. 111 APÊNDICE A – Oficinas subsidiárias de coesão nominal, coesão verbal e pontuação......... 112 ANEXO...................................................................................................................... 117 ANEXO A – Textos dos alunos participantes............................................................. 118 PRODUZINDO CRÔNICAS: UM ESTUDO A PARTIR DA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA INTRODUÇÃO A relação entre leitura e escrita tem sido objeto de discussões na esfera acadêmica. Charles Bazerman (2006, p.35), por exemplo, tematiza a importância dessa relação no ensino, acentuando que a falta de atenção a essa relação resulta, em parte, dos diversos divórcios disciplinares nos estudos da linguagem durante a última metade do século XX, como o fato de a linguística chamar para si todo o comportamento linguístico hábil, mas se concentrar principalmente na linguagem oral. Para o autor, esta e diversas outras separações fazem com que seja difícil para aqueles que têm interesse pela escrita concebê-la em termos amplos para realizar conexões essenciais: há um contentamento em focar o escritor individualmente e deixar de lado os diversos contextos em que ocorre a escrita. Conforme Bazerman, o estudo acadêmico acerca da escrita investigou as teorias da estrutura, do uso e do desenvolvimento linguístico, coletou evidências precisas sobre as realidades do uso e da aprendizagem linguísticos, mapeou e examinou a escrita e outras atividades linguísticas na sociedade e mostrou como as práticas e situações do passado continuam a influenciar as práticas correntes. No entanto, é por meio do ensino que os educadores põem os conhecimentos a serviço da sociedade, no intuito de contribuir para o crescimento e o desenvolvimento dos seus membros. Daí a necessidade de que as práticas escolares, para se tornarem mais produtivas, sejam orientadas pelas contribuições desses estudos sobre as realidades do uso e da aprendizagem linguísticos. No contexto de ensino brasileiro, os Parâmetros Curriculares de Ensino Fundamental (PCN, 1998) apresentam a discussão acerca do fracasso do ensino em relação aos eixos de leitura e de escrita, fato que aponta para a necessidade da reestruturação do ensino de Língua Portuguesa, com o objetivo de encontrar formas de garantir a aprendizagem desses dois eixos que se complementam: a possibilidade de produzir bons textos tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências modelizadoras. A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro (OLPEF)1 tem ilustrado essa preocupação ao propor, no Caderno do professor, o ensino centrado no gênero no âmbito de uma sequência didática (SD) constituída de oficinas de leitura e, principalmente, de escrita, conforme previstas nos currículos escolares. Nesse contexto, duas questões gerais se apresentam relevantes para a pesquisa sobre ensino e aprendizagem de língua. A primeira, situada no âmbito das atividades docentes, diz respeito à relação entre o que é proposto/prescrito como objeto de ensino e o que de fato é ensinado/realizado na sala de aula. Essa relação é bastante pertinente no contexto de Olimpíada de Língua Portuguesa, evento de âmbito nacional proposto para ser desenvolvido nos mais diversos contextos de ensino, marcados por variados fatores condicionantes de sua realização. No caso das escolas públicas, esses fatores estão representados, sobretudo, pelas condições infraestruturais das escolas, que englobam a presença/ausência de ferramentas necessárias para a aplicação das oficinas previstas no Caderno do professor. Dentre essas ferramentas, destaca-se a reprodução impressa dos textos e atividades sugeridas na sequência didática. Outro elemento condicionante é a alta incidência de cancelamento de aulas previstas dentro do calendário letivo, o que dificulta a aplicação do que é previsto para o conjunto de oficinas da SD proposta no Caderno do professor. A segunda questão geral, localizada no campo da relação professor-aluno, refere-se ao contraponto entre o que é ensinado e o que é efetivamente aprendido. Diversos são os fatores que dificultam essa relação: a falta de assiduidade dos alunos; a falta de compromisso dos alunos com as atividades aplicadas. Acrescente-se, no caso da 1 Trataremos mais especificamente da OLPEF no capítulo 1, item 1.2. experiência aqui estudada, a resistência a uma professora jovem, não pertencente ao quadro efetivo da escola, o que remete à baixa atenção às aulas ministradas. Alinhando-se a essa discussão, este estudo tematiza o ensino e a aprendizagem do gênero textual2 crônica junto a alunos do nono ano da rede pública de ensino, nos moldes prescritos pela edição de 2010 da Olimpíada. Como desmembramentos das questões gerais acima referidas, elegemos duas questões específicas para orientar a presente pesquisa: a) Que fatores favoreceram/impediram a aplicação da SD junto a alunos de 9° ano de uma escola pública, tal como proposta pelo Caderno do professor? b) Quais os resultados gerados com a aplicação de oficinas prescritas, considerando as dimensões elegidas pelo Caderno do professor? Orientada por essas questões, a pesquisa elege como objetivo geral contribuir para uma reflexão mais aprofundada sobre a relação entre referências modelizadoras e a aprendizagem de leitura e de escrita. Como objetivos específicos, interessam à pesquisa: (a) analisar a relação entre trabalho prescrito e trabalho realizado com o gênero textual crônica, considerando as implicações da diversidade de contextos de ensino; (b) verificar os resultados de aprendizagem do gênero textual em estudo, obtidos com o trabalho efetivado em sala de aula, considerando as dimensões que se apresentaram como objeto de ensino. A escolha do gênero textual crônica, dentre os quatro propostos pela Olimpíada (poesia, memória literária, crônica e artigo de opinião) para o trabalho com a leitura e a escrita, deve-se ao fato de termos sido convidados, pela professora titular da turma em 2 Apesar de considerarmos a crônica como um gênero literário, utilizaremos a nomenclatura gênero textual, devido à vertente linguística em que este estudo está inserido. referência, para auxiliarmos na aplicação das oficinas. Acrescentamos ainda que a crônica se aproxima da realidade dos alunos, possivelmente por ser uma narrativa curta, com linguagem de fácil entendimento e instigante, levando o leitor a desenvolver várias interpretações e a manifestar diferentes sentimentos. A relevância da pesquisa aqui proposta está na contribuição para a discussão sobre a relação entre os saberes de referência científica sobre noções como leitura, escrita, gênero textual, entre outras, na construção de metodologias de ensino de Língua Portuguesa no ensino fundamental. Além da introdução e das considerações finais, este estudo está organizada em quatro capítulos. No primeiro, apresentamos, em quatro tópicos, os aspectos metodológicos que nortearam a pesquisa. No primeiro tópico, expomos a natureza da pesquisa; no segundo descrevemos o evento da Olimpíada de Língua Portuguesa; no terceiro apresentamos o contexto de geração dos dados; e, por fim, orientamos sobre quais dados se constituem como objeto de análise. No capítulo 2, há uma interface entre os estudos literários e linguísticos, uma vez que apresentamos, em dois tópicos e dois subtópicos, os pressupostos teóricos que envolvem noções teóricas e para o ensino do gênero textual crônica (tópico 2.1), aliado ao modelo didático para o ensino-aprendizagem do gênero textual em foco (tópico 2.2). Os subtópicos são provenientes do segundo tópico e tratam de SD como unidade de ensino, das operações de textualização envolvidas na produção do gênero escrito. No capítulo 3, que é de natureza teórico-descritivo, procuramos mostrar os fios condutores do trabalho da professora pesquisadora. Dessa forma, o capítulo é dividido dois tópicos e dois subtópicos. No tópico 3.1, discorremos sobre o trabalho docente de maneira geral, explicitando as prescrições, os coletivos, as regras do ofício e as ferramentas de trabalho do professor. O tópico 3.2 é norteado pelas noções de trabalho prescrito. Os subtópicos, que fazem parte do segundo tópico, apresentam os aspectos prescritos pelas oficinas (tópico 3.2.1) e a descrição de como as oficinas estão distribuídas (tópico 3.2.1.1). Por fim, no capítulo 4, apresentamos o trabalho planificado pela professora pesquisadora e pela bolsista PET/ UFCG, com base no trabalho prescrito, e analisamos o processo de construção dos textos dos alunos, tendo como categorias de análise as dimensões consideradas ensináveis para o gênero em foco pelo Caderno do professor: título, personagens, cenário, tom e foco narrativo. CAPÍTULO 1 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA O presente capítulo apresenta os fundamentos teórico-metodológicos desta pesquisa. Quatro tópicos orientam a sua organização: a natureza da pesquisa; a descrição da Olimpíada de Língua Portuguesa; do contexto de geração dos dados; e dos dados de análise. 1.1 A natureza da pesquisa Esta dissertação está inserida no âmbito da Linguística Aplicada (LA), mais especificamente, na leitura e na escrita do gênero crônica em sala de aula e reúne conhecimentos na interface com estudos educacionais, com foco em conceitos do interacionismo sociodiscursivo (ISD), e com estudos literários, focalizando o gênero textual crônica. No que concerne aos fundamentos metodológicos, este estudo insere-se no paradigma etnográfico, que se caracteriza por haver um contato direto, prolongado e intenso do pesquisador com a situação pesquisada e pela busca da formulação de hipóteses, conceitos, abstrações e teorias, por meio da utilização de um plano de trabalho aberto e flexível (ANDRÉ, 2002). Esse tipo de pesquisa permite que se entre na escola e vivencie a realidade, fato que conduz o pesquisador a desenvolver uma nova ótica com relação à dinâmica das relações e interações que constituem o seu dia a dia. Para essa autora, para que se possa apreender o dinamismo próprio da vida escolar, é preciso estudá-la com base em pelo menos três dimensões, que não podem ser consideradas isoladamente: a institucional ou organizacional, que envolve aspectos referentes ao contexto da prática escolar em seu cotidiano; a instrucional ou pedagógica, que abrange as situações de ensino em que se dá o encontro professor-aluno- conhecimento; e a sociopolítica ou cultural, que leva em conta os determinantes macroestruturais da prática educativa (p. 42-44). Esse estudo também se caracteriza como qualitativo, modelo que consiste em um conjunto de práticas descritivas e interpretativas que dão visibilidade ao mundo (DENZIN e LINCOLN, 2006). Nesse tipo de investigação, pretende-se compreender e descrever uma dada situação, revelando seus múltiplos significados, o que impõe ao pesquisador uma abordagem hermenêutica, ou seja, interpretativa (GONSALVES, 2001). Inserido na esfera da pesquisa qualitativa, o estudo aqui proposto é de natureza heurística, procedimento que pode ser entendido como um método de aproximação das soluções dos problemas que não segue um percurso evidente, mas se baseia na intuição e nas circunstâncias com o intuito de produzir um conhecimento novo, ou seja, pretendese favorecer o acesso a novos desenvolvimentos teóricos ou descobertas empíricas. Quanto à origem dos dados investigados, esta pesquisa toma como base dois tipos de dados: o primeiro, de natureza documental, está representado pelo Caderno do professor, documento oficial, prescrito, adotado pela Olímpiada de Língua Portuguesa; o segundo conjunto está constituído de dados gerados durante a ação interventiva para aplicação da sequência didática (SD) prescrita no Caderno. Esse último conjunto integra uma pesquisa-ação, tipo de pesquisa que tem caráter de intervenção sistemática, controlada e desenvolvida pelo próprio pesquisador, envolvendo um plano de ação fundamentado em objetivos delimitados, em um processo de acompanhamento e controle da ação planejada, e, por fim, no relato desse processo (ANDRÉ, 1995). Trata-se de um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Na pesquisa-ação, os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo, no acompanhamento e na avaliação das ações desencadeadas em função do problema (THIOLLENT, 2009, p.16). Dessa maneira, é possível identificar, no presente estudo, algumas características da pesquisa-ação, nos termos de Moreira e Caleffe (2008, p. 90): 1. situacional, pois está preocupada com o diagnóstico do problema em um contexto específico de ensino de leitura e de escrita para tentar resolvê-lo nesse contexto; 2. participativa, uma vez que os participantes da equipe tomam parte direta (a professorapesquisadora e a bolsista PET3/UFCG, Roberta Meneses) ou indiretamente (os alunos de uma escola pública) na implementação da pesquisa; e 3. auto-avaliativa, na medida em que modificações foram inseridas durante o processo avaliativo, tendo em vista o alcance do objetivo central de melhorar o desempenho dos alunos na prática de leitura e escrita de crônicas. 1.2 Descrição do evento Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro A OLPEF foi fundamentada na metodologia, nas estratégias de atuação, gerados com a experiência de três edições do Programa Escrevendo o Futuro (PEF) que, de 2002 a 2007, desenvolveu ações de formação de professores da rede pública de ensino, com o intuito de contribuir para a ampliação do conhecimento e aprimoramento do ensino da escrita para alunos da rede pública. Criado em 2002 pela Fundação Itaú Social (FIS), o PEF visou, desde sempre, contribuir para o aperfeiçoamento da leitura e da escrita dos alunos, bem como da formação de educadores de Língua Portuguesa. Inicialmente trabalhando com turmas da quarta e quinta séries do Ensino Fundamental (5º e 6º anos) das escolas públicas, em 3 O Programa de Educação Tutorial (PET) foi criado para apoiar, estimular e promover atividades acadêmicas que integram ensino, pesquisa e extensão. Formado por grupos tutoriais de aprendizagem, o PET propicia aos alunos participantes, sob a orientação de um tutor, a realização de atividades extracurriculares que complementem a formação acadêmica do estudante e atendam às necessidades do próprio curso de graduação (http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12223&Itemid=480). 2008, ano da primeira edição da OLPEF, a atuação do PEF foi ampliada, passando a trabalhar com alunos e professores das sétimas e oitavas séries (8° e 9° anos) do Ensino Fundamental II e com os 2° e 3° anos do Ensino Médio. A segunda edição da OLPEF, que ocorreu em 2010, contou a participação de alunos do 5º ao 9° ano/ 4ª a 8ª série do Ensino Fundamental e dos três anos do Ensino Médio. A OLPEF tem caráter bienal e contínuo, ocorrendo da seguinte forma: nos anos ímpares, atende aos técnicos de secretarias de educação que atuam como formadores, diretores e professores; em anos pares, promove o concurso de produção textual para alunos. De acordo com o site4 da Olimpíada, muito mais do que um concurso de textos, a Olimpíada de Língua Portuguesa é uma oportunidade para o aperfeiçoamento de professores e uma ocasião especial para os alunos desenvolverem práticas de leitura e de escrita, contribuindo, portanto, para três públicos: para o aluno, com o exercício de sua cidadania; para o professor, com o desenvolvimento de práticas pedagógicas de melhor qualidade; e para a comunidade, aproximando as escolas da população local e possibilitando o reconhecimento de seus saberes. Atualmente, a OLPEF é um projeto do Ministério da Educação, em parceria com a FIS e com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). Nesse sentido, tem-se constituído uma iniciativa oficial que ilustra a preocupação com a educação básica brasileira, proporcionando alternativas para minimizar o fracasso do ensino: uma SD proposta no Caderno do Professor sugere atividades para o desenvolvimento de leitura e de escrita, conforme previstas nos currículos escolares, e orienta o professor a desenvolver novas e diferenciadas atividades em sala de aula, considerando um modelo de gênero a ser ensinado e aprendido. Ao final da aplicação das oficinas, os alunos devem desenvolver um texto dentro do tema “O lugar onde vivo”, nas seguintes categorias: 5º e 6º anos – gênero textual 4 https://ww2.itau.com.br/itausocial/olimpiadas2010/web/site/ poesia; 7° e 8º anos – gênero textual memórias literárias; 9° ano do Ensino Fundamental II e 1° ano do Ensino Médio – gênero textual crônica; e 2º e 3º anos do Ensino Médio – gênero textual artigo de opinião. Conforme apresentação do regulamento disponível no site5 do Itaú Social, para escrever os textos na temática adotada, o aluno retoma histórias, estreita vínculos com a comunidade e aprofunda o conhecimento sobre a realidade, o que contribui para o desenvolvimento de sua cidadania. A participação no concurso da Olimpíada é livre, desde que os professores lecionem em instituições de ensino mantidas pela União, Distrito Federal, Poder Público estadual ou municipal, para as seguintes séries: 5º, 6º, 7°, 8º e 9º anos /4ª, 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e nas classes de aceleração equivalentes ao 5º, 6º, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, assim entendidas aquelas que atendam alunos com defasagem de idade-série, previstas na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) dentro da modalidade de ensino regular; e 1°, 2º e 3º anos do Ensino Médio. Todos os professores participantes recebem o Caderno do professor dentro da modalidade em que irão trabalhar. Acompanham o Caderno uma coletânea impressa dos textos a serem distribuídos com os alunos e um Cd-rom, que traz alguns desses textos em modalidade sonora e gráfica, para a projeção em sala de aula. Dentre os quatro gêneros textuais propostos pela Olimpíada, a crônica se constitui o objeto de estudo da presente pesquisa. 1.3 O contexto de geração dos dados A pesquisa foi realizada em uma turma de alunos de nono ano, durante a preparação para a 2ª edição da OLPEF, no ano de 2010. 5 https://ww2.itau.com.br/itausocial/olimpiadas2010/web/site/imgs/regumelamento/regulamento.pdf O procedimento de geração dos dados consistiu na aplicação do conjunto de atividades relacionadas com a leitura e a escrita do gênero textual crônica, proposta na SD do Caderno do professor: a ocasião faz o escritor, ao final da qual os alunos produziram uma crônica sobre o tema “o lugar onde vivo”. A experiência se desenvolveu na Escola Municipal Padre Antonino, situada na cidade de Campina Grande, Paraíba, e compreendeu duas etapas: a primeira, entre abril e agosto de 2010, consistiu na planificação e aplicação das atividades prescritas na SD do Caderno; a segunda etapa, em novembro do mesmo ano, envolveu a aplicação de cinco oficinas subsidiárias de leitura, análise linguística e escrita, denominadas de A, B, C, D e E (APÊNDICE A), com o objetivo de atenuar as dificuldades reveladas pelos alunos na textualização das dimensões da crônica considerada ensináveis pelo Caderno. Foram realizados 17 encontros com a seguinte distribuição por hora/aula: inicialmente, ocorriam nas quartas-feiras duas aulas com duração de 45 minutos; posteriormente, devido ao curto tempo para realização do restante das oficinas, as aulas passaram a ser ministradas nas segundas, quartas (duas aulas com 35 minutos de duração cada) e quintas (uma aula). As observações acerca desses encontros foram registradas em um diário pessoal de pesquisa, desenvolvido pela professora pesquisadora. Participaram da pesquisa 10 alunos (identificados, nesta pesquisa, como A, seguidos de uma numeração) com faixa etária entre 13 e 17 anos, selecionados pelo fato de terem participado das duas versões de escrita da crônica. Essa amostra, construída no conjunto de 23 alunos que compunham a classe, é reveladora da pouca assiduidade dos alunos às aulas. 1.4 Dados de análise Seguindo as orientações de estudos desenvolvidos pelo Interacionismo sociodiscursivo (AMIGUES, 2004; GUIMARÃES, 2007; MACHADO, 2009), doravante ISD, para cada atividade aplicada foram selecionados dois tipos de dados: 1) dados do trabalho prescrito, representado pelos textos produzidos pela instância promotora do evento, para descrever e/ou orientar as tarefas a serem realizadas em sala de aula. Nesta pesquisa, este tipo de dado está representado pelo conjunto de onze oficinas prescritas no Caderno do professor, objeto de análise do capítulo 3. 2) dados do trabalho real, resultantes das condutas assumidas pela professora pesquisadora e pela bolsista PET em situações reais de sala de aula, representadas, neste estudo, pela realização de atividades de ensino-aprendizagem de leitura e de escrita de crônicas. Neste âmbito, distinguem-se dados relativos ao trabalho planificado, englobando o que foi planejado, com base na SD original e nas necessidades surgidas durante sua aplicação; e dados relativos ao trabalho realizado, envolvendo a aplicação efetiva em sala de aula do trabalho planificado (capítulo 4), a produção inicial (obtida na oficina prescrita 3) e a produção final dos alunos (obtida na oficina subsidiária E). Esse conjunto de dados está sintetizado da seguinte forma: a) produção inicial (PI), proposta na oficina 3 do Caderno, com o intuito de avaliar a capacidade de escrita do alunado e, a partir desse levantamento, ajustar as atividades e os exercícios previstos na SD às dificuldades reais da turma; b) produção final (PF), sugerida para a oficina subsidiária E. OFICINAS Prescrita PRODUÇÃO DAS CRÔNICAS Subsidiária 3 E Quadro 1 - Oficinas e produção das crônicas Produção Inicial (PI) Produção Final (PF) O corpus relativo às produções dos alunos está representado por 20 textos, dos quais seis (Anexo A) serão efetivamente analisados, observando a construção das seguintes dimensões do gênero textual em foco: título, cenário, foco narrativo, tom e personagens. A análise de tais dimensões se encontra no capítulo 4 (item 4.2), ilustradas em sequências extraídas da PI e da PF. CAPÍTULO 2 O ENSINO DO TÊNERO TEXTUAL CRÔNICA: APORTES TEÓRICOS Neste capítulo buscaremos tratar de noções sobre teoria e ensino do gênero textual crônica; em particular, das noções de modelo didático para ensino-aprendizagem de gênero, da SD genebrina como unidade de ensino e, por fim, das operações envolvidas na produção de um gênero textual. 2.1 O gênero crônica: teoria e ensino De acordo com a mitologia clássica, Cronos, deus que destronou os pais, Urano (o Céu) e Gaia (a Terra), e casou-se com a própria irmã, Réia, devorava todos os filhos que nasciam, uma vez que se preocupava com a profecia de seus progenitores, que afirmaram que um dos filhos gerados por ele iria destroná-lo. Na tentativa de salvar um de seus descendentes, Réia deu a Cronos uma pedra no lugar da criança recém-nascida: Zeus conseguiu sobreviver e deu ao pai uma droga que o fez vomitar todos os filhos, os quais, em exército, derrotaram o pai (BRUNEL, 1997). Cronos é a personificação do tempo. Na perspectiva mitológica, Bender e Laurito (1993,p. 10) asseguram ser esta lenda uma alegoria: a de que o tempo, em sua passagem fatal, engole tudo o que é criado e tudo o que é criatura. Do grego chronos, o termo crônica tem relação com o tempo e consiste no registro de fatos do cotidiano em linguagem literária6. Originalmente, este gênero restringia-se a relatos, em que alguns cronistas passaram a revelar a vida social, os costumes da sociedade, ou mesmo a política em jornais, revistas e em livros, com motivos retirados do cotidiano imediato. 6 O texto literário veicula uma forma específica de comunicação que evidencia um uso especial do discurso colocado a serviço da criação artística reveladora – considerada como a configuração mimética do real (PROENÇA FILHO, 2007, p. 30). A palavra crônica, segundo o Pequeno Dicionário de Literatura Brasileira (1967), em língua portuguesa, tem duas acepções principais: tanto pode significar relato, em ordem cronológica, de acontecimentos de interesse histórico, quanto pequeno comentário publicado em jornal ou revista, acerca de fatos reais ou imaginários. Apesar de originária da imprensa inglesa (SÁ, 2008), a crônica adaptou-se à nossa imprensa de modo bastante singular. A crônica contemporânea brasileira, também voltada para o registro jornalístico do cotidiano, surgiu em meados do século XIX, sendo utilizada por escritores para registrar, literária ou jornalisticamente, os fatos corriqueiros do tempo, conferindo leveza aos textos e divertindo os leitores, mas também fazendo-os refletir, como se pode observar, por exemplo, nas crônicas de Machado de Assis (Um caso de burro, Revista de Teatros – crônicas publicadas sobre o teatro –, Os fanqueiros literários). A relação entre a crônica e o jornalismo impresso se estreitou a partir do Romantismo. Neste período literário, nasce, no Brasil, o jornal. Com o advento do Romantismo no Brasil, em 1836, houve uma variação conceitual do termo crônica, a partir da relação que este gênero textual mantém com um espaço determinado para sua veiculação nos jornais, obedecendo a um critério único para a publicação: a periodicidade (PEREIRA, 2004, p.33). Segundo este autor, o exercício da crônica evoluiu no tempo e no espaço. Não esteve preso à normatização estética de um período literário, tendo herdado do Romantismo a capacidade de ir além da formalização dos gêneros para transitar, de maneira livre, entre a prosa e a poesia. Este movimento entre os gêneros foi concebido como modelo narrativo de uma nova sociedade, na qual o principal legado foi a divisão social do trabalho, e, consequentemente, a fragmentação das relações sociais refletida em um gênero posterior ao folhetim: o romance. A crônica não é um gênero jornalístico a mais. Para Pereira (2004, p. 43), mesmo no jornalismo iniciado no século XIX, sob a estética dos românticos, os cronistas vão instaurar um hiato no universo jornalístico da época: a crônica escapa da necessidade premente de doutrinar o leitor para se constituir num espaço de exercício estético, abrigando várias nuanças literárias. Isto transforma o cronista num “artista” no espaço jornalístico, porque ele busca construir um outro universo de significados para interpretar os fatos sociais, ao contrário de emprestar seu talento meramente à capacidade de informar ou doutrinar. Sobre a crônica no Brasil, Jorge de Sá (2008, p.5) discorre que a carta de Pero Vaz de Caminha, narrando o descobrimento do Brasil, pode não inaugurar o nosso processo literário, mas “assinala o momento em que, pela primeira vez, a paisagem brasileira desperta o entusiasmo de um cronista, oferecendo-lhe a matéria para o texto que seria considerado a nossa certidão de nascimento”. Além disso, o texto enviado ao rei D. Manuel é criação, no melhor sentido literário do termo, de um cronista, uma vez que ele recria com engenho e arte tudo o que registra no contato direto com os índios e seus costumes, naquele instante de confronto entre a cultura europeia e a cultura primitiva, estabelecendo o princípio básico da crônica: o registro do circunstancial. De forma mais detalhada, Sá (2008) alega que a crônica passou a ser popular no Brasil quando a imprensa da Corte, até então ocupada com as questões de ordem político-doutrinária, descobriu na vida mundana da cidade, matérias de interesse jornalístico. Teve início, portanto, nos folhetins, a crônica maliciosa dos últimos acontecimentos políticos e sociais, alternando-se com o tradicional romance em série. Como exemplo de crônicas de tal espécie, esse estudioso aponta folhetins publicados por José de Alencar, em 1854, no Correio Mercantil, com o título de “Ao Correr da Pena”, no qual comentava fatos e figuras do Rio de Janeiro elegantes da época. As festas, a moda, os espetáculos teatrais, as intrigas políticas e até mesmo as negociatas serviram de temas para os seus escritos. Nos seus romances urbanos – Diva, Senhora e Lucíola – estão coligidas algumas crônicas que haviam sido publicadas no folhetim (SÁ, 2008). Outro escritor considerado mestre do gênero no século XIX, foi Machado de Assis, que escreveu vários volumes de crônicas, nas quais, com a sua peculiar finura, comentou sobre os acontecimentos de sua época. Para ele, a arte do folhetista era a combinação do útil e do fútil. Esse autor discorre sobre o nascimento da crônica de uma maneira singular: há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica (MACHADO DE ASSIS, 1994, p.13). Até esse período, a crônica, segundo Sá (2008), era apenas uma seção livre quase informativa, um rodapé, em que eram publicados pequenos contos, pequenos artigos, ensaios breves, poemas em prosa, tudo, enfim, que pudesse informar os leitores sobre os acontecimentos – políticos, artísticos, sociais, literários – daquele dia ou daquela semana, recebendo o nome de folhetim. Aos poucos o folhetim foi encurtando, ganhando certa gratuidade, um ar despojado, com tom ligeiro; até alcançar o que é hoje. Durante este percurso, a crônica foi deixando de lado o intuito de jornalístico de apenas informar e comentar, passando a exercer, também, o papel de divertir e de fazer o leitor refletir. De acordo com Soares (1989), a partir da última década do século XIX, a crônica já apresenta um trabalho literário que a aproxima do conto e do poema, impondo-se, porém, como uma forma especial, uma vez que não se permite classificar como aqueles. Nesta época, registra-se a renovação da crônica brasileira, promovida pelo jornalista João Paulo Barreto, que, com o pseudônimo de João do Rio, transforma a crônica em reportagem viva e movimentada. Algumas delas conservam-se atuais pelo interesse documental e pelo brilho do estilo, como as que estão reunidas em As Religiões do Rio (1906). Esse cronista saía do gabinete com destino aos locais dos fatos para dar mais vida ao texto: era a crônica saindo de encontro ao público, nas ruas (SÁ, 2008). No entender desse crítico, João do Rio construiu uma nova sintaxe e, mudando o enfoque, mudaria também a linguagem e a própria estrutura folhetinesca. Conforme Sá (op. cit.), a crônica é um gênero jornalístico que assume a transitoriedade do jornal, e sua elaboração também se prende a essa urgência: o cronista tem que ser ágil por dispor de um pequeno tempo para preparar o seu texto. Os acontecimentos são rápidos, sendo necessário empregar um andamento ágil para poder acompanhá-los, por isso sua estrutura é solta, mais próxima da conversa entre dois amigos do que propriamente do texto escrito. Dessa forma, há uma proximidade maior entre as normas da língua escrita e da oralidade, sem que o narrador caia no equívoco de compor frases frouxas, pois ele não perde de vista o fato de que o real não é meramente copiado, mas recriado. O coloquialismo, portanto, deixa de ser a transcrição exata de uma frase ouvida na rua, para ser a elaboração de um diálogo entre o cronista e o leitor, a partir do qual a aparência corriqueira ganha sua dimensão literária. Em outras palavras, Candido (1987a, p. 5) afirma que por intermédio dos assuntos, da composição aparentemente solta, do ar de coisa sem necessidade que costuma assumir, a crônica se ajusta à sensibilidade de todo o dia, principalmente por elaborar uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural. Por isso, o autor dá “Graças a Deus” por a crônica ser um gênero menor, o que a deixa próxima a nós, leitores. Trata-se, portanto, de um gênero atrativo que ocupa o espaço do entretenimento, da reflexão crítica, a partir de fatos cotidianos, por meio de uma linguagem simples e, por vezes, humorística, sendo capaz de levar o leitor a enxergar a grandiosidade de pequenos detalhes que costumam não ser observados. Em outras palavras, é um gênero textual que se caracteriza pela extensão limitada e focaliza, via de regra, um tema restrito, em prosa amena, quase coloquial, na qual podem aparecer registros de humor ou sentimentalismo, estabelecendo-se uma atmosfera de intimidade entre cronista e o leitor. Filha do jornal e da era da máquina, a crônica não tem pretensão de durar. Ela não foi feita originalmente para o livro, mas para ser parte desta publicação efêmera que se compra em um dia e no outro já vira embrulho para sapato ou forro de pintura. E é por abrigar-se neste veículo de comunicação que Candido (1987a) assevera que não é intuito dos cronistas que ela permaneça na lembrança e na admiração da posteridade, nem tampouco que tenha a perspectiva daqueles que escrevem do alto da montanha, mas do simples “rés-do-chão” e, portanto, bem próximo a nós, sendo capaz de transformar, quase sem querer, a literatura em algo íntimo com relação à vida de cada um. Atualmente, a crônica ganhou espaços abrangentes, passando a ser veiculada também em blogs7 (Crônicas e outras milongas8,de Antônio Prata, o Arriscos9, de Thiago Lia Fook, além de outros); e também em twitter10, no qual são publicadas microcrônicas (@microcronicas, por exemplo). A crônica está sempre ajudando a (re)estabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. De acordo com Candido (1987a, p. 5-6), em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e vê nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitada. Ela é amiga da poesia e da verdade nas suas formas mais diretas e fantásticas, sobretudo por utilizar quase sempre o humor. Nessa perspectiva, é característica da crônica o vínculo com o dia a dia, sendo, portanto, o cronista um “prosador do cotidiano” (SILVA, 2007, p. 45). Assim, até mesmo a falta de um assunto específico pode ser discursivizada, basta que o cronista assim deseje e tenha talento para fazê-lo. Como é o caso de Vinícius de Moraes (2006), que em “O 7 Página da internet que pode ser criada por qualquer pessoa, com conteúdo livre e que pode ter a participação dos visitantes leitores. 8 http://antonioprata.folha.blog.uol.com.br/ 9 http://thiagoliafook.blogspot.com 10 Tipo de rede social para microblogging que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de outros contatos, escritas com até 140 caracteres (conhecidos como tweets). exercício da crônica” discorre sobre o processo de escolha de um assunto para uma crônica: Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado. A busca de inspiração de Fernando Sabino (1978, p. 254) descerra “A última crônica”, até que o autor encontra, em um botequim, o assunto para escrever: A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica. De acordo com Bender e Laurito (1993, p.44), Fernando Sabino afirmou ser crônica tudo aquilo que se quer chamar de crônica. Nessa perspectiva, as autoras asseguram que, ao escrever, o cronista nada mais faz do que “levar um papo-cabeça”, sem censura, livre. E é a liberdade uma das maiores características da crônica. Não há restrição para ela, talvez para compensar o pouco espaço: ela pode falar da vida como ela é ou não é, das aventuras e desventuras cotidianas, das notícias de hoje, de ontem, de antigamente ou até daqueles assuntos que nunca viraram notícia. A crônica é verdadeiramente livre, inclusive no tocante à estrutura: algumas crônicas têm diálogo (“Voluntário”, de Carlos Drummond de Andrade); umas são escritas em forma poética (“O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos); outras registram um momento do cotidiano em forma de descrição (“A última crônica”, de Fernando Sabino) ou de narração (“Homem no mar”, de Rubem Braga). Portanto, faz-se difícil a conceituação que dê conta da complexidade da crônica. Apesar da estrutura diversa, é certo: todo cronista tem o seu estilo peculiar. Stanislaw Ponte Preta, Luis Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar tendem ao humor; Paulo Mendes Campos se aproxima da poesia em prosa ou prosa poética; Fernando Sabino se interessa pelas histórias e pelo humor leve; Armando Nogueira é adepto dos temas esportivos. E assim por diante. Desse modo, comprovamos como é difícil e arriscado conceituar a crônica, uma vez que geralmente tangencia um outro gênero textual, com o qual chega a confundir-se. Apesar do exposto, existem classificações desse gênero textual, como apresenta Coutinho (1967, p. 97-98): 1. a crônica narrativa, que tem como eixo uma história, aproximando-se, assim, do conto; 2. a crônica metafísica, que é constituída de reflexão relativamente filosóficas; 3. a crônica-poema em prosa, que tem o conteúdo lírico, mero extravasamento da alma do artista ante a vida; e 4. a crônica-comentário, que acumula coisas distintas ou díspares. Essa classificação não implica o reconhecimento de uma separação estanque entre os vários tipos, que se encontram, na realidade, fundindo traços de uns e outros. Na edição 2010 da Olimpíada de Língua Portuguesa, Torquato (2010) afirma que nas crônicas, narramos com leveza, despretensiosamente, o que nossos olhos argutos perceberam sobre algum fato, e nós observamos. Diante da diversidade de modos de apreender o cotidiano em textos, a crônica é o gênero mais próximo do dia a dia. A razão dessa proximidade está relacionada com o veículo original de sua circulação, como bem acentua Torquato (op.cit., p. 20): o vínculo da crônica com o cotidiano deve-se, em grande parte, à relação que a crônica estabelece com seu veículo de origem – o jornal. Distinta das notícias jornalísticas por ter um caráter literário, a crônica caracteriza-se como um gênero híbrido e complexo, que dialoga com os temas e os fatos tratados nas notícias. A crônica faz uma releitura subjetiva e pessoal dos fatos que as notícias pretendem informar de modo objetivo e impessoal. Essa releitura é nos apresentada em linguagem coloquial, solta, natural, com regionalistas e, muitas vezes, líricas. tonalidades A OLPEF adota essa perspectiva para o trabalho com a crônica. No entanto, o Caderno do professor é esquemático, uma vez que elege categorias consideradas próprias do gênero textual crônica, como podemos comprovar na figura abaixo: Figura 1 – Elementos constitutivos da crônica (oficina 3, p. 43) Observamos na figura 1 que são considerados elementos constitutivos da crônica: título, cenário, foco narrativo, personagens, enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho. Entretanto, nem todos os elementos são encontrados em todas as crônicas, nem podemos considerá-los conforme esquematiza o Caderno. Afinal, o que poderíamos considerar como título sugestivo e como cenário curioso? Algo que simplesmente desperte a atenção do leitor ou que tenha verdadeira relação com o texto? E quanto aos personagens, seriam eles apenas pessoas? A linguagem seria coloquial por simplesmente ser uma conversa solta com o leitor? Conforme depreendemos com a leitura de Sá (2008) e Candido (1987a) no decorrer deste tópico, o gênero textual crônica nem sempre irá apresentar as características esquematizadas pelo Caderno. Diferentemente do quadro acima, consideramos que do mesmo modo que uma crônica pode apresentar todos os elementos indicados, pode apresentar apenas alguns deles ou nenhum, o que não deixaria de caracterizá-lo como crônica. O título é a porta de entrada de um texto. Concordamos com Marcuschi (2009), ao afirmar que é a partir do título que o leitor levanta hipóteses e expectativas sobre o texto que vai ser lido, podendo tanto orientar o leitor quanto “desorientá-lo”, a partir das falsas expectativas levantadas pela primeira leitura. Entretanto, como considerá-los sugestivos? Fernando Sabino (1978, p. 39), por exemplo, intitula uma crônica de “Menino”. Poderíamos, então, afirmar que o título escolhido para a crônica que enreda sobre os cuidados extremos de uma mãe com o seu menino não é sugestivo? Na verdade, o título se mistura ao enredo. É a partir do desenrolar da narrativa que o leitor poderá considerar o título sugestivo ou não. Portanto, não é porque um leitor X avalia que um título é sugestivo que o leitor Y irá assim considerá-lo. Quanto ao enredo, Mesquita (1987) afirma que podem se desenvolver em um romance, em um conto, ou seja, em uma obra em prosa, bem como pode até ser encontrado em um poema, em uma peça de teatro, em uma novela. No entanto, a autora considera a relação enredo/narrativa indissolúvel, uma vez que supõe o distanciamento entre o sujeito que narra e o mundo. Portanto, por contar uma história, a crônica tem um enredo. Todavia, não é necessário que o enredo desperte uma ideia no leitor ou até mesmo provoque uma emoção, como define o Caderno do professor. Por outro lado, algumas crônicas não apresentam necessariamente um enredo no sentido tradicional. Por exemplo, a crônica “O pavão”, de Rubem Braga (1978, p. 237), que a partir da descrição do animal, reflete sobre o amor: Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas dágua em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. [...] Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! Minha amada. No tocante aos personagens, Proença Filho (2007) assegura que são eles os responsáveis pela condição de existência do enredo e “vivem” nele como participantes da história. Desse modo, os personagens podem ser de tipologias que os consideram: a) por sua natureza, que podem ser seres humanos, coisas, animais e elementos da natureza; b) pela variedade, que podem ser individuais, típicos e caricaturais; c) pela função que desempenham, que podem ser protagonistas e antagonistas. Como no Caderno não há especificações sobre quais tipologias deverão ser consideradas para o estudo da crônica, nos consideramos livres para análise posterior, no capítulo 4, para a que melhor nos aprouver. No tocante ao cenário, consideramos a definição do Caderno bastante subjetiva. Partimos, neste tópico, do pressuposto de que a crônica se caracteriza por partir de um fato corriqueiro, simples. Nessa perspectiva, como considerar o banal como eminentemente curioso? Tendo em vista a pouca abrangência desta definição, propomos o entendimento de cenário apenas como o espaço da narrativa, sem atribuir a ele qualquer característica subjetiva a priori. O foco narrativo é considerado, pelo Caderno, mediante apenas dois pontos de vista: narrador-personagem e narrador-observador. Consideramos esta definição é bastante genérica, visto que há subclassificações que poderiam acrescentar ao professor embasamentos maiores sobre quem narra, como narra e de que ângulo narra (LEITE, 2000). Conforme a autora, Norman Friedman estabelece uma tipologia sobre o foco narrativo, considerando pontos de vista além dos indicados pelo Caderno: autor onisciente intruso, em que o narrador tem a liberdade de narrar à vontade. É um eu que tudo segue, sabe e comenta, sempre analisando e criticando sem nenhuma neutralidade; narrador onisciente neutro, que não tece comentários gerais ou mesmo sobre o comportamento dos personagens, embora a sua presença, interpondo-se entre leitor e história, seja sempre muito clara; narrador-testemunha, que narra em primeira pessoa, vivendo os acontecimentos como personagem secundária, que pode observar, desde dentro, os acontecimentos; narrador protagonista, que não tem acesso ao estado mental dos demais personagens; onisciência seletiva múltipla, em que não há propriamente a existência de um narrador, vindo a história contada através da mente dos personagens, das impressões que fatos e pessoas deixam nelas; onisciência seletiva, que assemelhasse à categoria anterior, todavia tratando de um só personagem; modo dramático, que se restringe ao que os personagem falam ou fazem, ficando o leitor com a responsabilidade de deduzir as significações a partir dos movimentos e palavras das personagens; e, por fim, a câmera, que serve às narrativas que tentam transmitir flashes da realidade como se apanhados por uma câmera, arbitrária e mecanicamente. Quanto ao tom, o manual elege apenas como pertencente à crônica o humorístico, o reflexivo, o irônico e o poético. Ao elencar estas classificações, o Caderno restringe a compreensão sobre o tom que pode ser alcançado no gênero textual em estudo, bem como compartimentaliza uma característica que é fluída na literatura, uma vez que uma só crônica pode ter vários tons, inclusive além dos que foram citados. “A última crônica”, já citada neste tópico, é um exemplo desta fluidez, já que pode ser considerada como: crítica, reflexiva, poética e irônica. Por mais que a linguagem da crônica seja considerada solta e natural, não podemos sempre caracterizá-la como eminentemente coloquial e, por conseguinte, restringi-la, à conversa. Há crônicas em que a linguagem é bastante rebuscada, culta, não se constituindo tão natural e solta. Acrescentamos que a linguagem não é dirigida, essencialmente, ao leitor. No que concerne ao desfecho, o Caderno do professor (2010) afirma que, embora o desfecho tenha caráter conclusivo, nem sempre representa a resolução do conflito, o que faz com que a imaginação do leitor seja estimulada a tirar suas próprias conclusões. Desse modo, o desfecho pode ser aberto ou fechado. É discutível a utilização de um desfecho como característica da crônica, uma vez que se trata de um dos elementos que compõem o enredo. Segundo Gancho (2004, p. 8), desfecho é “a solução dos conflitos, boa ou má, vale dizer configurando-se num final feliz ou não. Há muitos tipos de desfecho: surpreendente, feliz, trágico, cômico etc.”. A caracterização de desfecho, portanto, não parece tão adequada ao gênero crônica. Sendo assim, a nomenclatura utilizada pelo Caderno nos inquieta, uma vez que quando se fala em desfecho, entendemos como o fechamento, a conclusão de algo. E é comum o final aberto de uma crônica, a partir do qual o leitor faz a sua própria interpretação. Dessa maneira, das oito categorias elegidas pelo Caderno como constitutivas da crônica, consideraremos, para análise das produções dos alunos, as seguintes: título, cenário, foco narrativo, tom e personagens. Entendemos que por ser um manual, o Caderno do professor tenta esquematizar as ideias principais para a construção de uma crônica. Todavia, ele não dá conta das especificidades do gênero textual para além das suas características estruturais. 2.2 Um modelo para o ensino-aprendizagem do gênero crônica Nosso estudo se enquadra na linha de reflexão do ISD, que tem como foco os processos de ensino-aprendizagem de gênero textual, através da sua didatização, entendida como as transformações que um conjunto de conhecimentos necessariamente sofre, quando se tem o objetivo de ensinar esse gênero. Pode-se considerar três patamares básicos nessas transformações: o conhecimento científico, o conhecimento a ser ensinado e o conhecimento efetivamente ensinado (MACHADO E CRISTOVÃO, 2009). Nessa perspectiva, para que os objetivos de ensino-aprendizagem de gêneros possam ser atingidos, os estudiosos do ISD defendem que as práticas escolares de produção textual devem ser norteadas pelo modelo didático do gênero a ser ensinado. Esse objeto descritivo e operacional é construído para apreender o fenômeno complexo da aprendizagem do gênero textual selecionado. A construção desse modelo permite a visualização das dimensões constitutivas do gênero e a seleção das que podem ser ensinadas, bem como das que são necessárias para um determinado nível de ensino (DOLZ, NOVERRAZ E SCHENEUWLY, 2004; MACHADO E CRISTOVÃO, 2006). Para a construção desse modelo, deve-se conhecer as capacidades e as dificuldades dos alunos ao trabalharem com textos pertencentes ao gênero que se seleciona. Trata-se de uma construção em engenharia didática11 que explicita vários elementos envolvidos na aprendizagem: os saberes de referência a serem mobilizados para se trabalhar os gêneros; a descrição dos diferentes componentes textuais específicos; e as capacidades de linguagem do aluno. O modelo didático de gênero é construído de modo interativo em função de experimentações sucessivas nas aulas, mas sempre de acordo com alguns critérios, quais sejam: a legitimidade, que implica recursos e saberes válidos; a pertinência, que mede a adequação dos recursos e saberes escolhidos em função das finalidades e dos objetivos escolares; e a solidarização, que assegura a coerência do conjunto dos recursos convocados. 11 São os instrumentos de que utilizamos para o ensino dos gêneros textuais (GONÇALVES, 2009). Ainda, de acordo com os estudiosos dessa linha de reflexão, a construção do modelo didático implica na análise de um conjunto de textos pertencentes ao gênero textual em foco, nos quais devem ser observados os elementos do modelo analítico. Desta maneira, para atingir os objetivos de ensino-aprendizagem de gênero, as práticas escolares de produção textual devem ser norteadas pelo chamado objeto descritivo e operacional, construído para apreender o fenômeno complexo da aprendizagem de um gênero, conforme esquematizado na figura 2: Situação de comunicação Conteúdos temáticos Paginação de texto GÊNERO “crônica” Textualização: unidades linguísticas Organização: plano textual Figura 2 – Componentes do modelo didático de gênero Fonte: Dolz et ali (2010, p.49) Neste modelo didático, estão dispostos os seguintes elementos: as características da situação de comunicação (quem é o emissor; em que papel social se encontra; a quem se deve dirigir etc.); os conteúdos temáticos do gênero; as diferentes formas de mobilizar esses conteúdos; a construção composicional característica do gênero; a textualização, representada pelos mecanismos de coesão nominal e verbal; as características dos mecanismos de conexão; a estrutura do texto; entre outros (BRONCKART, 1999; 2008; MACHADO E CRISTOVÃO, 2009; DOLZ et ali, 2010). Segundo esses autores, o modelo didático de gênero deve apresentar o conjunto dos recursos que poderão ser transformados em conteúdos potenciais de ensino a serem mobilizados nas atividades escolares, possibilitando diversas realizações. Isso permite considerar a noção de modelo didático como uma base de dados de um procedimento gerativo para a construção de um conjunto de SD, noção que será desenvolvida no tópico a seguir. 2.2.1 A sequência didática como unidade de ensino Orientado pelos princípios do ISD, o evento Olimpíadas de Língua Portuguesa adota um modelo de ensino de língua centrado no gênero, incorporando como ferramenta de ensino a noção de SD, nos moldes prescritos por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004). Inspirando-se no modelo didático descrito no item anterior, o Caderno do Professor (2010, p.14) enumera cinco conselhos relevantes: fazer os alunos escreverem um primeiro texto e avaliar suas capacidades iniciais; escolher e adaptar as atividades; trabalhar com outros textos do mesmo gênero; trabalhar sistematicamente as dimensões verbais e as formas de expressão em língua portuguesa; e estimular progressivamente a autonomia e a escrita coletiva dos alunos. Nessa perspectiva, a SD tem por finalidade propiciar a renovação da forma como o professor de Língua Materna tem tradicionalmente planejado e organizado a sua prática, bem como auxiliar o aluno a dominar um gênero de texto, permitindo-lhe escrever ou falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação. Trata-se, pois, de um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual (oral ou escrito), que tem o intuito de facilitar a progressão na aprendizagem de leitura e de escrita (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004). Por meio da ação desse instrumento é possível refletir sobre o saber fazer do professor: o saber agir, as habilidades que demonstra ter sobre atividades de elaboração, planejamento e execução. Do ponto de vista epistemológico, o modelo genebrino representa uma ruptura com o modelo tradicional de ensino, que tinha os objetivos e a natureza do trabalho norteador por regras estruturalistas. Assim, pode-se conceber uma lógica do saber fazer baseada na relação sujeito/objeto, em que o conhecimento é construído pelo sujeito na sua relação com a realidade vivida. Nesse sentido, o agir dos professores assume uma importante função como articulador desse processo de produção de saberes (RIBEIRO, 2008). De acordo com essa autora, pode-se constatar que esse modelo de sequência didática não se traduz somente como artefato ideológico e epistemológico, mas como um modelo institucionalizado, visto que a escola tenta incorporá-lo como estratégia didática de ensino, embora seja importante ressaltar que ainda não representa uma prática comum entre os professores. Desse modo, na utilização do modelo de SD proposto pelos genebrinos, a OLPEF usa a nomenclatura de oficinas, em lugar dos módulos. Na experiência desenvolvida, procedemos a algumas adaptações no modelo de SD, em função das necessidades do coletivo de alunos e dos outros fatores condicionantes, como o tempo destinado à aplicação da SD, das dificuldades decorrentes da falta de assiduidade dos alunos, entre outras. Para isso, as planificações realizadas durante a sequência incluiu as oficinas subsidiárias após duas reescritas, conforme visualização a seguir: Apresentação da situação Reescrita 1 (Oficina 10) Oficina 01 Oficina 02 Reescrita 2 (Oficina 11) Produção inicial (Oficina 3) Oficinas subsidiárias A, B, C e D Oficina n Produção final (Oficina E) Figura 3 - Esquema adaptado da sequência didática A observação do esquema adaptado pela pesquisadora permite depreender que a sequência se inicia com a apresentação da situação comunicativa, em que é descrita de maneira detalhada a tarefa de expressão escrita que os alunos deverão realizar: estes elaboram um texto/produção inicial, que corresponde ao gênero em foco e que permite ao professor avaliar as capacidades já adquiridas pelos alunos, bem como ajustar as atividades e os exercícios previstos na sequência às possibilidades e dificuldades da turma. Inclui, ainda, duas etapas de reescrita propostas pelo Caderno (oficinas 10 e 11), sendo a segunda considerada como produção final para o documento prescrito. Considerando que a reescritura do gênero requer muito além das correções gramaticais e ortográficas (são reformulados ideias e pensamentos, tendo em vista a adequação do texto ao tema proposto), há no esquema da figura 3 a inclusão das oficinas subsidiárias pela pesquisadora, desenvolvidas com o intuito de auxiliar os alunos na textualização, em particular, das dimensões, cenário, enredo e desfecho. No esquema genebrino, a produção final está desvinculada dos módulos. Portanto, apesar de a nova versão da PF ter sido solicitada na oficina subsidiária E, a apresentamos desvinculada das oficinas de leitura e identificação de marcas linguísticas da coesão nominal, coesão verbal e pontuação. 2.2.2 Operações envolvidas na produção escrita de um gênero textual A aprendizagem efetiva da escrita de textos constitui um dos maiores intuitos para o ensino de língua. Esse processo, abrangendo todas as dimensões, desenvolve-se, progressivamente, em todos os níveis da escola básica, sendo, portanto, um constituinte do êxito escolar e da socialização do indivíduo na sociedade . No contexto escolar, o saber escrever não está restrito às aulas de português, mas envolve todas as disciplinas, devido ao seu “caráter transversal” (DOLZ et al., 2010). De acordo com a perspectiva do ISD, a escrita possibilita diferentes trocas entre os indivíduos, o que leva à necessidade de conduzir os aprendizes da língua a apropriarse do processo de produção de textos, nos mais diversos gêneros textuais que circulam nas diversas esferas sociais, para que se tornem escritores proficientes, com acesso sobretudo aos gêneros de prestígio. Para o professor, os gêneros textuais constituem um recurso fundamental para as atividades de ensino, englobando desde o planejamento dessas atividades, as suas realizações em sala de aula e a avaliação, tanto da ação pedagógica quanto da aprendizagem do aluno. Nessa perspectiva, Dolz et ali (2010, p. 14) defendem que as práticas de produção escrita atuam como alavancas para as múltiplas atividades escolares, sendo referências de base para a integração dos diversos componentes da escrita e para o estabelecimento dos objetivos essenciais e do currículo. Orientados por essa visão, esses autores descrevem o processo de escrita de um gênero textual, considerando cinco operações centrais, que se encontram representadas na figura 4, a seguir. Contextualização: adaptar-se às situações de comunicação Releitura, revisão, reescrita do texto Textualização: utilizar os recursos da língua PRODUÇÃO DE UM TEXTO EM FUNÇÃO DE UMA SITUAÇÃO DE COMUNICAÇÃO Elaboração e tratamento dos conteúdos temáticos Planificação: organizar o texto em partes Figura 4 - As operações envolvidas na produção textual Fonte: Dolz et al. (2010, p. 25) De acordo com a figura 4, as operações envolvidas para a produção de texto se organizam da seguinte forma: 1. contextualização, que consiste em interpretar a situação de comunicação de forma a produzir um texto coerente, considerado assim em função de sua adaptação à situação comunicativa, do efeito que suscita, da orientação argumentativa e da presença de um fio condutor que lhe dá coesão e unidade; 2. elaboração e tratamento dos conteúdos temáticos, que compreende o manuseio desses conteúdos tendo em vista a adaptação aos diferentes elementos da situação comunicativa; 3. planificação, em que os textos devem ser organizados em partes separadas e articuladas; 4. textualização, que é o processo de aplicação e de linearização do conjunto de marcas linguísticas que constituirão o texto. Os mecanismos de textualização são utilizados para assegurar a coerência temática. São marcas linguísticas que fazem parte desta operação: os sinais de pontuação, os parágrafos e os organizadores textuais, que servem para marcar a segmentação e a conexão entre as partes; a coesão nominal, assegurada pelos mecanismos de retomadas anafóricas, que tem a referenciação como introdutora das unidades de uma nova informação e asseguradora das retomadas por intermédio de séries de unidades; e a coesão verbal, obtida pela correlação dos tempos verbais, garantindo a textualidade como um todo (DOLZ et al., 2010, p. 26-27). Com relação à conexão, esta constitui um conjunto de meios linguísticos responsáveis pelo estabelecimento das relações entre as frases, garantindo, principalmente, a progressão textual. É utilizada, dentre outros fins, para organizar as retomadas ao longo do texto, introduzindo argumentos e mantendo a estabilidade e a continuidade textual. 5. releitura, revisão e reescrita do texto, que implica o retorno do produtor a seu texto e/ou a formas pontuais de intervenção para melhorá-lo (DOLZ et al., 2010, p. 24-27). A quinta operação, releitura, revisão e reescrita, marca a aprendizagem da escrita como prática social; e como um processo de retomadas, reformulações e apagamentos. No contexto escolar, é comum a participação de outro leitor, representado pela figura do professor, que sugere modificações com o objetivo de que o aluno monitore as dificuldades encontradas na sua aprendizagem. Dessa forma, trata-se de um conjunto de práticas que remete a um processo, distante de um momento único, do qual resultaria um texto pronto e finalizado. A ideia de que a escrita é um dom que pertence a poucos ainda é muito recorrente na nossa sociedade. Na perspectiva desta concepção, haveria um momento certo para escrever, reservado para poucos “iluminados”. Portanto, essa operação pode ser associada à reflexão do escritor Graciliano Ramos (1984), lembrada por Cavalcanti (2010, p. 85-86): Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer. Na passagem acima, que compara o ato de escrever ao ofício das lavadeiras, o processo de escrita é visto distante de dom e inspiração, mas próximo a um trabalho repleto de idas e vindas: de leituras, recortes, modificações e ajustes. Esse trabalho em torno da escrita, na concepção de Graciliano, está constituído de uma série de etapas, representadas pelas metáforas esfregar, torcer, enxaguar, que seriam atividades necessárias a quem se dispõe a escrever. Nessa perspectiva, a reescrita, como parte do processo de produção textual, é uma atividade que não é dissociada da leitura e da reflexão sobre o próprio texto, com vistas a sua reelaboração. Está atrelada, principalmente, à releitura e revisão individual, incidindo sobre as reais necessidades de aprendizagem do aluno, tanto nos níveis das unidades linguísticas, quanto nos desvios cometidos por eles na primeira produção. Portanto, a prática da reescrita dá ao aluno a oportunidade de explicitar os seus conhecimentos e dúvidas, além de procurar soluções, raciocínios sobre o funcionamento da língua e, por conseguinte, desenvolver a aprendizagem de questões linguísticas, textuais e discursivas mais complexas referentes à modalidade escrita (GARCEZ, 1998). Como visto, este capítulo foi norteado por concepções teóricas advindas da teoria literária sobre o gênero textual crônica e pela concepção interacionista sociodiscursiva do ensino de gênero textual que teceu o material da Olimpíada de Língua Portuguesa, traduzida nos aspectos de modelo didático de gênero, SD como unidade de ensino e operações envolvidas na produção de um gênero textual. No capítulo a seguir, mostraremos os dados relativos à ordem do trabalho prescrito. CAPÍTULO 3 O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA: O TRABALHO PRESCRITO Neste capítulo teórico-descritivo, trataremos de noções fundamentais, advindas do ISD, que têm procurado explicar as questões envolvidas nas atividades prescritas ao professor. Para isso, o capítulo aborda, no primeiro tópico, as noções de trabalho docente, e, no segundo tópico, conhecimentos sobre o trabalho prescrito, com abordagem das onze oficinas prescritas pelo Caderno do professor. 3.1 Trabalho docente Estudiosos do trabalho do professor têm se concentrado na análise ergonômica, que incorpora teorias e conhecimentos de ciências diversas para entender esse tipo de ofício em todos os seus aspectos. A ergonomia tem como objeto de estudo a atividade do trabalho e dela nos interessa a reflexão sobre o trabalho docente como atividade situada e compartilhada, incluindo os distintos discursos inseridos na esfera da atividade educacional, particularmente nas condições de realização do trabalho no contexto escolar. Enquanto realidade construída diante de uma heterogeneidade de saberes, crenças e valores, o trabalho docente pode ser entendido como um processo de organização do meio social em que se dará o aprendizado dos alunos. As ações do professor são realizadas pela mediação de um conjunto complexo e contraditório de formas sociais de natureza simbólica que configuram seus limites e geram novas necessidades (AMIGUES, 2004). Para esse autor, a atividade de ensino pode ser considerada o ponto de encontro de várias histórias (instituição, ofício, indivíduo), ponto a partir do qual o professor vai estabelecer relações com as prescrições, com as ferramentas, com a tarefa a ser realizada, com os outros (colegas, administração, alunos), com os valores e consigo mesmo (p.45). Dessa forma, essa atividade é voltada para os alunos, para a instituição que o emprega, para os pais dos alunos e para os outros profissionais. Aparício (2010, p.885), seguindo Amigues (op.cit.), assinala que os professores “tecem” e são entretecidos no ambiente de trabalho e, sendo assim, há os fios que os ligam aos programas e instruções oficiais, às ferramentas/instrumentos pedagógicos, às políticas educacionais, às características dos estabelecimentos de ensino e dos alunos, às regras formais, ao controle exercido pela hierarquia; assim como os fios que os ligam a sua própria história a seu corpo que aprende e envelhece, a uma imensa quantidade de experiências de trabalho e de vida, a vários grupos sociais que lhes oferecem saberes, valores, regras às quais se ajustam dia após dia. Assim, o professor, ao agir, deve estabelecer e coordenar relações na forma de compromisso, entre vários objetos constitutivos de sua atividade. Com o intuito de descrever e compreender a atividade docente, destacamos exemplos de objetos que são fios condutores para o professor, nos termos acima assinalados: as prescrições, os coletivos, as regras do ofício e as ferramentas de trabalho. As prescrições desempenham um papel fundamental do ponto de vista da atividade, sendo desencadeadoras e constitutivas dessa ação. A realização de uma prescrição manifesta-se pela reorganização do meio de trabalho, tanto do professor, quanto dos alunos. As dimensões coletivas da atividade do professor dificilmente são consideradas, mas o trabalho de concepção consegue com que os professores organizem o ambiente de trabalho e se mobilizem para construírem uma resposta comum às prescrições. Isso pode ser observado, por exemplo, na concepção de fichas pedagógicas e fichas de avaliação, na organização dos grupos de alunos, na constituição de classes, entre outras realizações. É coletivamente que os docentes retomam e redefinem as tarefas em suas classes, e esses coletivos assumem formas diversas, mas cada professor, apesar de pertencer a vários coletivos – o dos professores da disciplina, o dos professores da classe –, pertencem ao coletivo da profissão. No contexto da presente pesquisa, por exemplo, as dificuldades relacionadas ao cumprimento das tarefas prescritas se deveram, sobretudo, à realização de reuniões do coletivo de professores da escola, com finalidades diversas; paralisações da categoria em busca de um melhor salário; reforma da escola, responsável pela redução de 10 minutos de cada aula, restando apenas 35 minutos para a execução das tarefas. Essas particularidades prejudicaram o coletivo do trabalho do professor, envolvendo a aplicação das oficinas prescritas. Conforme Amigues (2004), o que liga os profissionais entre si são as regras do ofício, que são, ao mesmo tempo, uma memória comum e uma caixa de ferramentas, cujo uso especificado pode, com o tempo, gerar uma renovação nos modos de fazer. Essas regras reúnem gestos genéricos relativos ao conjunto dos professores e gestos específicos relativos à disciplina objeto de ensino. As ferramentas utilizadas pelo professor são, em alguns casos, concebidas por outros, e por isso fazem parte do trabalho prescrito, pois esse agente de ensino recorre a manuais, fichas pedagógicas, livros didáticos, exercícios anteriormente construídos. Para adequar as atividades à realidade da sala de aula, essas ferramentas são planificadas, e, portanto, transformadas pelos professores, com o objetivo de serem mais eficazes. Ser responsável por uma classe e organizar o trabalho do coletivo pode representar, para o professor, não apenas uma forma de ultrapassar uma dificuldade, mas também ser uma fonte de prazer e de satisfação profissional. Nesse sentido, o professor é, ao mesmo tempo, um profissional que prescreve tarefas para os alunos e para si. Nessa perspectiva, o trabalho de um professor de Língua Materna é utilizar meios para atingir um fim, e esses meios são os programas, os métodos pedagógicos ou didáticos que levam os alunos a desenvolverem atividades de leitura e de escrita, de acordo com aquilo que é previsto nos currículos escolares. Isso significa que a ação do professor é considerada do ponto de vista prescritivo ou normativo da instituição em que está inserido. Quando práticas de leitura e escrita são colocadas como objetos de ensinoaprendizagem, as atividades educacionais têm por finalidade transformar as estruturas psicológicas dos sujeitos e suas possibilidades de participação na vida social. O trabalho do professor, portanto, é feito através de uma mobilização de possibilidades e de necessidades não realizadas e implica alteração da condição existencial e social dos alunos. Nesse contexto mais amplo do trabalho docente, para descrever e compreender, no tópico a seguir, o trabalho de aplicação da SD proposta no Caderno do professor, procuramos focalizar os fios condutores da tarefa da professora pesquisadora, com base na noção de trabalho prescrito. 3.2 O trabalho prescrito: as oficinas do caderno do professor Os estudos sobre trabalho do professor têm enfatizado o caráter hierárquico dessa atividade, uma vez que ela é prescrita por documentos parametrizadores em várias instâncias oficiais, desde os de âmbito nacional (Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Parâmetros Curriculares Nacionais, Orientações Curriculares para o Ensino Médio), passando pelos estaduais e municipais (propostas curriculares das Secretarias Estaduais e Municipais), chegando até o âmbito de cada instituição (Projetos Políticos Pedagógicos, por exemplo). Dessa maneira, consideram-se como trabalho docente não só o trabalho em sala de aula, mas também que é prescrito pelas várias instâncias responsáveis pelo ensino, o que é planificado coletiva ou individualmente, até o que é realizado em classe, incluindo desde as condutas do professor até as atividades realizadas pelos alunos (AMIGUES, 2004). Clot e Faïta (2000, p. 18) propõem olhar a atividade real como uma atividade que se realiza entre duas memórias: a pessoal – o ofício do próprio professor – e a impessoal – o ofício dos outros. Além das prescrições, o ofício tem para cada trabalhador uma dupla vida: a atividade seria o teatro permanente de um movimento em direções opostas – estilização dos gêneros e variação de si. Nessa perspectiva, as atividades do professor se realizam em um espaço já organizado, não definido por ele próprio, mas imposto por uma organização que pode ser oficial – o projeto da própria escola, por exemplo –, ou oficiosa – como os conselhos de classe, as reuniões de área. Essas prescrições, muitas vezes, são coercitivas; outras vezes, vagas ou contraditórias, mas não podem ser desprezadas, já que indicam o que é possível fazer, o que é autorizado, tolerado ou proibido (SOUZA-E-SILVA, 2004). O trabalho prescrito12 é considerado pelos teóricos como homogeneizado pela instituição escolar, envolvendo diversos elementos, como: a distribuição das tarefas, do tempo disponível, a organização das salas de aula, entre outros aspectos. Segundo Souza (2009, p.93), esse tipo de trabalho relaciona-se ao conjunto de normas sociais amplas (nacionais, locais, científicas e didáticas) que devem ser reinterpretadas e apropriadas pelo sujeito ao participar de determinada esfera de atividade. Embora prescrito, para o professor, seja influenciado pelas condições sociais da própria esfera da atividade, ele é permeado das variações, em razão da subjetividade. As prescrições oficiais tendem a apresentar um caráter vago, no sentido de que elas dizem o que é preciso ser feito, mas não como deve ser feito, requerendo, portanto, traduções e reelaborações (planificações) pelo professor. Os estudiosos dessa teoria procuram, também, estabelecer relações entre as prescrições, a aprendizagem dos alunos e as atividades do professor: entre as prescrições e os alunos existe um trabalho de reorganização das tarefas e dos meios coletivos de trabalho, os quais geram regras de funcionamento e constituem uma resposta comum às prescrições (SOUZA-E-SILVA, op. cit.). 12 Embora os estudos aqui referenciados salientem o caráter fechado/impositivo do termo prescrito, em relação às tarefas a serem cumpridas pela figura do professor, entendemos o conjunto de oficinas prescritas como indicadoras da intenção de auxiliar/orientar a prática docente.. Nessa visão, as prescrições impessoais, às quais estão sujeitos os professores, são personalizadas por eles e transmitidas aos alunos. O modo como elas são apresentadas aos alunos e o modo como eles as interpretam interferem nas interações em sala de aula. Assim, o diálogo que acontece entre os professores e os alunos referese ao sentido do trabalho que tem que ser realizado, marcando uma transição entre o que os alunos fizeram precedentemente e o que farão posteriormente. A prescrição da tarefa pelos professores origina uma atividade coletiva professor/alunos que tem como objeto a regulação do processo de realização. Desse modo, do ponto de vista ergonômico, realizar uma tarefa não consiste apenas em atingir os objetivos propostos, mas implica a realização de um projeto ou de uma intenção em partilhar com os alunos, pois o meio, o grupo e o desenvolvimento da atividade são indissociáveis. A questão consiste em saber como um professor faz para gerenciar as interações sociais em sala de aula e como ele organiza/planifica um meio de trabalho que mobiliza um grupo/classe de modo a realizar coletivamente uma tarefa. Portanto, definir o trabalho do professor significa estabelecer o contorno do exercício da profissão e suas dificuldades. Portanto, a mistura de prescrições/realizações participa plenamente da constituição do ofício do professor e de sua evolução, na medida em que a ação do professor consiste em operacionalizar as prescrições, colocá-las à prova e delas servir-se para a sua experiência pessoal. No caso do material prescrito, objeto do presente estudo, por tratar-se de uma SD proposta por uma instância superior, há prefiguração sobre o modo como pode ser aplicada e o que pode ser feito ao longo das onze oficinas que a compõem. A seguir, procuramos descrever o trabalho prescrito nesse conjunto de oficinas. O Caderno do Professor: a ocasião faz o escritor (figura 5), foi elaborado para o trabalho com alunos do 9°ano do Ensino Fundamental e do 1°ano do Ensino Médio, com a autoria creditada a Cida Laginestra e Maria Imaculada Pereira, sob a coordenação técnica do Cenpec. Figura 5 – Capa do Caderno do Professor: a ocasião faz o escritor O Caderno constitui-se de 128 páginas, entre apresentação da coleção, introdução, critérios de avaliação para o gênero crônica, referências e 11 oficinas, conforme figura 6: Figura 6- Sumário do Caderno do Professor: a ocasião faz o escritor Na “apresentação”, há uma pequena biografia de Joaquim Dolz, professor da Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação da Universidade de Genebra, seguida de um prefácio, por ele escrito, em que estão expostos comentários sobre o evento da Olimpíada, englobando desde a história dos antigos jogos olímpicos até a visão de SD como eixo de ensino para a escrita. No item “introdução ao gênero”, é apresentada “Sobre a crônica”, de Ivan Ângelo, seguido de tópicos norteadores para os professores sobre o gênero textual crônica: história das crônicas, um olhar atento sobre o cotidiano, os muitos tons da crônica no Brasil, de gênero jornalístico a gênero textual e o tempo das oficinas. Esse último tópico traz ao professor uma visão das oficinas, com enfoque na necessidade de trabalhá-las no tempo certo para que os alunos realizem as atividades propostas, conforme atesta a figura 7. Figura 7 – O tempo das oficinas (p.23) O Caderno é composto por uma SD, constituída de onze oficinas que orientam o professor a desenvolver atividades de leitura/análise e produção escrita de crônicas em sala de aula. Esse conjunto de oficinas visa estimular a vivência de uma metodologia de ensino-aprendizagem de língua com o gênero crônica. Para dar continuidade a abordagem do trabalho prescrito, no tópico seguir apresentaremos uma descrição geral do Caderno do professor Caderno do professor para o trabalho com o gênero textual crônica. 3.2.1 As oficinas: aspectos prescritos A seguir, será apresentada, a partir do quadro 2, a descrição das oficinas prescritas em termos de objetivos, etapas, atividades, conteúdos e componentes de ensino: OFICINAS OBJETIVOS 1 É hora de combinar - Falar sobre a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro e a forma de participar dela. - Estabelecer contato com o gênero crônica. - Ler uma crônica de Fernando Sabino. 2 Tempo, tempo, tempo... 3 Primeiras linhas ETAPAS ATIVIDADES CONTEÚDOS 1ª – Uma classe motivada Leitura/análise e audição de uma crônica; discussão coletiva sobre a crônica. “A última crônica”, de Fernando Sabino. Leitura/análise de crônicas, atentando para: título e autor, época em que foi escrita, palavras da época, tema ou assunto, personagem(ns) e tom. “A rua do ouvidor” (1978), de Joaquim Manuel de Macedo; “Falemos das flores” (1855), de José de Alencar; “Ser brotinho” (1960), de Paulo Mendes Campos; “Conformados e realistas” (2008), de Tostão; “Quem tem medo de mortadela” (1995), de Mário Prata; “Do rock” (2009), de Carlos Heitor Cony; e “A arte de ser avó” (2005), de Rachel de Queiroz. Crônicas levadas pelos alunos para a sala de aula. 2ª – A descoberta de uma crônica 3ª – A arte da crônica com Fernando Sabino 1ª – O processo para identificar assunto, personagens, ideias e emoções provocadas. - Aproximar os alunos do gênero crônica. - Possibilitar-lhes que identifiquem a diversidade de estilo e linguagem entre autores de épocas diferentes. - Distinguir o tom de lirismo, ironia, humor ou reflexão em diferentes crônicas. - Ler crônicas escritas nos séculos XIX, XX e XXI. - Produzir a primeira escrita de uma crônica. - Encorajar os alunos a continuar aprendendo a escrever crônicas. - Explorar os elementos constitutivos de uma crônica e os recursos literários utilizados pelo autor. 1ª – Elementos que as crônicas têm em comum. 2ª – A escolha de um assunto, de uma situação, e o tom da narrativa. 3ª – O valor da primeira escrita. 4ª – Análise da primeira escrita. 1ª – Os recursos do cronista. 2ª – O mundo do futebol Leitura de crônicas; análise dos elementos presentes nas crônicas lidas (título, cenário, foco narrativo, personagem(ns), enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho); escrita da primeira versão da crônica. Estudo sobre as figuras de linguagem; análise de termos futebolísticos; leitura/análise de “Peladas”, de Armando Nogueira; e “O amor acaba”, de Paulo COMPONENTES DE ENSINO Apresentação da situação de comunicação e leitura/análise Leitura/análise Leitura/análise; produção: orientação e escrita; e análise da produção inicial: orientação para o professor Exposição sobre figuras de linguagem; leitura/análise da 4 Histórias do cotidiano 5 Uma prosa bem afiada - Empregar as figuras de linguagem. - Conhecer expressões próprias do mundo do futebol e também as diferentes formas de se tratar o tema “amor”, tendo como cenário a cidade. - Ler uma crônica de Armando Nogueira e outra de Paulo Mendes Campos. - Conhecer mais a vida e a obra de Machado de Assis. - Ouvir, ler e analisar uma crônica de Machado de Assis, identificando personagens, cenário, tempo, tom e recursos literários. 3ª – Um cronista que tem futebol nas veias - Refletir sobre a diferença entre notícia e crônica. - Identificar os recursos de estilo e linguagem numa crônica de Moacyr Scliar. 1ª – Da notícia à crônica 2ª – Conversando sobre crônica 3ª – Recursos discursivos e linguísticos 4ª – Faça um desafio à turma - Retomar as crônicas trabalhadas até o momento e analisar tema, situação escolhida, tom do texto e foco narrativo. - Escolher fatos, situações ou notícias que serão foco da crônica e obter informações sobre eles. - Escrever uma crônica como exercício preparatório à realização do produto final. 1ª – Os mestres da crônica 2ª – O material da crônica 3ª – O começo da produção individual 6 Trocando em miúdos 7 Merece uma crônica 4ª – “Conversando” com Armando Nogueira. 5ª – O mundo amoroso 1ª – Machado de Assis, o cronista 2ª – O confronto títulotexto 3ª – O que Machado queria mesmo dizer? duas crônicas, com distribuição de uma análise proposta pelo Caderno de ambas. Mendes Campos. crônica, observando os elementos constitutivos. Apresentação sobre Machado de Assis; leitura/análise e audição de uma crônica, com foco inicial no título; responder a questões sobre a crônica; distribuição e leitura oral de uma análise proposta pelo Caderno do professor sobre a crônica. Trabalhar uma manchete de jornal; apresentação do título de uma crônica, fazendo um jogo livre de associação do título ao que os alunos pensam; leitura/análise de uma crônica, ressaltando os recursos linguísticos utilizados pelo autor; distribuição e leitura oral da análise proposta pelo Caderno do professor; realização de uma atividade escrita sobre superação de limites; trabalho com os diversos tipos de discurso (direto, indireto; e indireto livre ou misto). Apresentação de uma síntese dos temas das crônicas já trabalhadas; trabalho com assuntos que estão em voga na cidade, conforme citados pelos alunos; escolha de um tema para escrita de uma nova crônica; planejamento individual da produção escrita; escrita de uma nova crônica atentando para os elementos que a compõe; compartilhamento das crônicas entre os colegas. “Um caso de burro”, de Machado de Assis. Leitura/análise. “Cobrança”, de Moacyr Scliar. Exposição de manchete jornalística; leitura/análise; e produção: orientação sobre os elementos constitutivos da crônica e exposição sobre tipos de discurso. Quadro de síntese das crônicas. Leitura/análise: comparação de crônicas já estudadas; e produção: planejamento e escrita. 8 Olhos atentos no dia a dia 9 Muitos olhares, muitas ideias 10 Ofício de cronista 11 Assim fica melhor - Apurar o olhar para o lugar onde se vive. - Esclarecer dúvidas a respeito do foco narrativo e de como iniciar uma crônica. - Apreender as semelhanças entre o ato de escolher um assunto para uma foto e a ação de escolher um tema para ser retratado em uma crônica. - Produzir coletivamente uma crônica, escolhendo uma situação do cotidiano da cidade. - Confrontar a produção coletiva com os elementos do gênero crônica. - Reescrever, ainda coletivamente, o texto da crônica para aperfeiçoá-lo. - Retomar os elementos constitutivos da crônica com base nas ideias de Ivan Ângelo. - Escrever, individualmente, a primeira versão de uma crônica. - Fazer o aprimoramento e a reescrita do texto 1ª – Habilidades para iniciar uma crônica 2ª – Habilidades para definir o foco narrativo de uma crônica 3ª – Entre fatos e fotos 4ª – Alunos fotografam o dia a dia 5ª – Planejamento e escrita da crônica inspirada na foto 6ª – Lendo imagens Reescritura coletiva do primeiro parágrafo de uma crônica ou escrita de um desfecho; ajudar os alunos a definir o foco narrativo de suas crônicas; análise de fotos de lugares da cidade, observando cenário, objeto, cores, luminosidade; delinear uma crônica a partir de uma notícia; instigar os alunos a saírem fotografando fatos do dia a dia; esboço de uma crônica com base em uma foto tirada por eles. Crônicas: “O cajueiro”, de Rubem Braga; “A bola”, de Luís Fernando Veríssimo; “São Paulo: as pessoas de tantos lugares”, de Milton Hatoum. Notícia: “Toque-me, sou teu”. 1ª – Preparação para a escrita coletiva 2ª – Escolha e exploração do tema e da situação 3ª – A escrita coletiva 4ª – O aperfeiçoamento do texto e a criação do título 1ª – Inspirando-se com Ivan Ângelo 2ª – Escrevendo a crônica Exposição das crônicas trabalhadas na oficina 7; transformação, com os alunos, de uma notícia em crônica; escrever uma crônica coletivamente; ajudar a melhorar a crônica a partir de questionamentos. Leitura/análise de uma crônica; escrever individualmente a primeira versão da crônica. Crônicas trabalhadas na oficina 7. “Sobre a crônica”, de Ivan Ângelo. Leitura/análise; e produção: produção final 1ª – Aprimoramento coletivo 2ª – Reescrita individual 3ª – Exposição ao público Aprimoramento e reescrita coletiva e individual das crônicas, a partir da leitura prévia do professor. Crônicas escritas individualmente pelos alunos. Produção: aprimoramento coletivo da escrita individual; produção: reescrita individual; divulgação das crônicas Quadro 2 – Oficinas prescritas pelo Caderno do professor Produção: escrita de um parágrafo de abertura ou desfecho Leitura/análise sobre foco narrativo Leitura/análise e produção Produção: planejamento de coleta de dados motivadores para a escrita Produção: planejamento e escrita Leitura/análise de imagens fotografadas Produção: planejamento da escrita coletiva; produção: escrita e reescrita coletivas Essas oficinas constituem-se de práticas de leitura/análise e produção de textos, em que os alunos deverão realizar um conjunto de tarefas que contribuirão para a compreensão, bem como para o reconhecimento e uso dos elementos constitutivos da textualização do gênero em foco13. Os títulos dados às oficinas são instituídos pelo próprio Caderno e estão dispostos na página inicial de cada oficina, conforme exemplifica a figura 8: Figura 8 – O título da oficina 1 (p.24) Após a página oficial de cada oficina, estão dispostos os objetivos a serem alcançados no decorrer de cada uma delas, bem como o item “Prepare-se”, no qual são dadas indicações aos professores do que deverão fazer nas oficinas. A figura 9 abaixo atesta a nossa afirmação: 13 De acordo com o site do Cenpec (http://escrevendo.cenpec.org.br/), as oficinas do Caderno 13 do professor enfocam os seis tópicos seguintes : observação de situações cotidianas do local onde os alunos vivem (oficinas 3, 4, 7, 8, 9 e 10); uso adequado de marcadores de tempo e espaço para caracterização da situação tratada (oficinas 3, 7, 8, 9, 10 e 11); uso adequado de articuladores textuais (oficinas 3, 7, 8, 9, 10 e 11); emprego de recursos de linguagem em função do tom da crônica escolhido pelo autor (oficinas 3, 7, 8, 9, 10 e 11); e leitura de crônicas e reconhecimento de cronistas brasileiros consagrados (oficinas 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 10). Figura 9 – Objetivo da oficina 3 (p. 49) Todas as oficinas incluem, ainda, os materiais necessários para a sua realização, conforme ilustra a figura 10: Figura 10 – O material das oficinas (Oficina 8, p. 94) Destacamos, também, que cada oficina é composta por etapas, nas quais são expostas orientações para os professores alcançarem os objetivos prescritos. Essas etapas incluem, também, atividades para serem desenvolvidas com os alunos, conforme mostra a figura 11: Figura 11 – Etapas da oficina 8 (p. 94 e 97) Por fim, acrescentamos que em algumas oficinas de leitura/análise (oficinas 1, 4, 5, 6 e 10), antes de serem apresentadas as crônicas, há uma biografia dos autores. Figura 12 – Biografia de Armando Nogueira (Oficina 4, p.54) Tudo exposto, para melhor compreendermos o trabalho prescrito, descreveremos agora as onze oficinas pertencentes ao Caderno do professor: a ocasião faz o escritor, conforme quadro 2. 3.2.2 As oficinas: distribuição A oficina 1, intitulada “É hora de combinar”, que era norteada pelos componentes de ensino de apresentação da situação de comunicação e leitura/análise, tinha o intuito de explicar aos alunos a importância do projeto de que eles iriam participar e permitir que os novos cronistas passassem a ter contato com o gênero que seria trabalhado a partir de então. A primeira atividade de leitura e audição foi “A última crônica”, de Fernando Sabino, em torno da qual foram sugeridos questionamentos sobre o título e o assunto. A oficina 2, denominada “Tempo, tempo, tempo...”, era de leitura/análise. Nela, os alunos deveriam aprofundar o contato com as crônicas, a partir de leituras de crônicas de diferentes épocas: “A rua do ouvidor” (1978), de Joaquim Manuel de Macedo; “Falemos das flores” (1855), de José de Alencar; “Ser brotinho” (1960), de Paulo Mendes Campos; “Conformados e realistas” (2008), de Tostão; “Quem tem medo de mortadela” (1995), de Mário Prata; “Do rock” (2009), de Carlos Heitor Cony; e “A arte de ser avó” (2005), de Rachel de Queiroz. A sugestão era de que os alunos debatessem sobre as emoções retratadas nas crônicas lidas, bem como iniciassem o contato com os elementos constitutivos da crônica (título, cenário, foco narrativo, personagens, enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho), conforme considera o material. Para isso, questionamentos sobre a linguagem, os personagens e o foco narrativo foram propostos. Ainda, como era objetivo conhecer crônicas de épocas distintas, o Caderno sugeriu um quadro de análise para que fossem observados os seguintes componentes em cada crônica lida: título e autor, épocas e palavras daquele tempo, tema ou assunto, personagem(ns) e tom. Figura 13– Quadro de análise de uma crônica (p.38) Há, ainda, no final da oficina, um quadro de sugestões para auxiliar o trabalho do professor, conforme apresentado na figura 14: Figura 14 – Quadro de sugestão da oficina 2 (p. 39) O quadro tinha a função de orientar o professor a como melhor compreender um texto, alertando que é necessário saber em que situação de comunicação foi produzido. Sugeriu-se também a criação de um espaço convidativo, deixando à disposição jornais, revistas e livros para que os alunos tenham contato com crônicas sempre que necessitarem, e de um mural atualizado com indicações de leitura, fotos, resenhas de livros. A oficina 3, denominada “Primeiras linhas”, foi norteada pelos seguintes componentes de ensino: leitura/análise; produção: orientação e escrita; e análise da produção inicial: orientação para o professor. No tocante ao primeiro componente, os alunos deveriam ler as crônicas levadas por eles e a partir da leitura, o professor deveria avisar que por mais diferentes que fossem as crônicas, havia elementos comuns a todas elas: título, cenário, foco narrativo, personagem (ns), enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho (cf. quadro X, capítulo 2, item 2.1). Para iniciar a produção, foi proposto que o professor auxiliasse os alunos na escolha do tema, do assunto sobre o qual iriam escrever e do tom que iriam utilizar. Referente ao segundo componente de ensino, essa primeira produção, que tinha o intuito de avaliar o que os alunos já sabiam e o que precisavam aprender para escrever a crônica, daria pistas para que o docente pudesse intervir nas demais oficinas, adaptando-as às necessidades dos discentes. No terceiro componente que orientou a oficina, análise da produção inicial: orientação para o professor, o Caderno sugeriu tópicos de análise para a produção inicial dos alunos, com base no tema, no tipo textual e no tom da narrativa. Figura 15 – Análise da primeira escrita (p.46) Na oficina 4, intitulada “Histórias do cotidiano”, os alunos deveriam aprofundar-se no conhecimento de figuras de linguagem, familiarizar-se com termos do domínio do futebol e entender o “amor”. Para isso, dois componentes nortearam a oficina: exposição sobre figuras de linguagem; e leitura/análise da crônica, observando os elementos constitutivos. A oficina deveria ter início com o trabalho sobre as figuras de linguagem. Sugeriu-se a montagem de um quadro com as figuras propostas pelo Caderno (metáfora, metonímia, catacrese, ironia, entre outros), com definição e exemplos para cada uma. A intenção era fazer com que os alunos enriquecessem as crônicas de maneira a deixá-las com mais expressividade e emoção. Para o alcance do componente de leitura/análise, com observação dos elementos constitutivos, foi proposta a leitura/análise de duas crônicas: “Peladas”, de Armando Nogueira, e “O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos. Para o trabalho com a primeira crônica, propôs-se a imersão dos alunos no mundo do futebol, a partir, primeiramente, do trabalho como termos futebolísticos (véu de noiva, cartola, chocolate, bicicleta, caneta, pelada etc.) e, em seguida, a audição da crônica. Antes de proceder à leitura, o título da crônica deveria ser tratado como elemento norteador, seguido de inferências, pelos alunos, acerca do personagem central, do conflito e do possível desfecho a partir do título, conforme ilustrado na figura 16 abaixo. Figura 16 – O trabalho com “Peladas” (p. 54) Posteriormente, os alunos deveriam ler “Peladas” e responder a perguntas sobre o cenário, os recursos estilísticos utilizados pelo autor e o desfecho. Para finalizar, o Caderno forneceu uma análise da crônica para ser entregue aos alunos, de acordo com a figura 17 a seguir: Figura 17 – Análise sobre “Peladas” (p. 57-58) A última etapa sugerida era de leitura/análise da crônica “O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos, com entrega aos alunos de uma análise fornecida pelo Caderno. A oficina 5, intitulada “Uma prosa bem afiada”, era de leitura/análise de “Um caso de burro”, de Machado de Assis. Para iniciar o trabalho com a crônica, a oficina propunha que fosse feita uma abordagem acerca do título, tendo em vista auxiliar os alunos a intitular criativamente as suas crônicas, bem como motivá-los para a leitura. Finalizada esta etapa, os alunos deveriam fazer a audição da crônica e, em seguida, lê-la em grupos, para que respondessem a questionamentos acerca das expectativas levantadas pelo título, sobre foco narrativo, as ideias e emoções despertadas pela leitura, bem como acerca da intenção de Machado de Assis ao utilizar figuras de linguagem. Figura 18 – Atividade sobre “Um caso de burro” (p. 71) Por fim, a oficina sugeria que fosse entregue uma possível análise da crônica, feita pelos autores do Caderno. Três componentes de ensino nortearam “Trocando em miúdos”, oficina 6 da Olimpíada: exposição de manchete jornalística; leitura/análise; e produção: orientação sobre os elementos constitutivos da crônica e exposição sobre tipos de discurso. Para iniciar o trabalho com o primeiro componente de ensino, o Caderno sugeria a leitura de uma manchete retirada da Folha de São Paulo (Cobrador usa intimidação como estratégia. Empresas de cobrança usam técnicas abusivas, como tornar pública a dívida), para que os alunos dessem ideias de como transformar a notícia em crônica. Procedendo à etapa de leitura/análise, a partir do título “Cobrança”, crônica de Moacyr Scliar, o professor deveria fazer um “jogo livre” com os alunos, de modo que os mesmos fossem fazendo associações rápidas à palavra. Foi proposto, ainda, que o texto fosse projetado, com destaque para os elementos do gênero textual em estudo e os recursos linguísticos utilizados pelo autor, de acordo com modelo concedido pelo Caderno. Figura 19 – Análise de “Cobrança” (p. 78) Complementando a etapa de leitura/análise, o professor deveria propiciar aos alunos a análise dos recursos discursivos e linguísticos utilizados pelo cronista, bem como determinar o tom predominante a partir de questionamentos. Com o intuito de enriquecer o entendimento sobre a crônica, a oficina sugeriu uma análise para ser entregue à turma. A parte final seria um desafio à turma. Os alunos deveriam imaginar uma situação, ocorrida com outra pessoa, em que a cobrança superou os limites, e escrever sobre ela, sendo incitados pelo lembrete de que toda crônica apresenta elementos esperados, tais quais: acontecimento a ser narrado, narrador, personagens, desenrolar da narração (enredo), o conflito e uma finalização. Para enriquecer o texto, a oficina propôs a explicação das diversas formas de discurso: discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre ou misto. Figura 20 – Tipos de discurso (p.83) A oficina 7, designada “Merece uma crônica”, era norteada pelos componentes de ensino de leitura/análise: comparação de crônicas já estudadas e de produção: planejamento e escrita. O intuito da oficina era fazer o alunado repensar o que dizer e como dizer sobre o lugar onde vivem. Para isso, a oficina propunha que o professor apresentasse em um quadro uma síntese das crônicas lidas até então (título e autor, temas, assuntos e cenário situações retratadas, tom e foco narrativo), com as “diferentes maneiras de dizer”: Figura 21 – Quadro com as diferentes maneiras de dizer da crônica (p.87) Como última etapa da oficina, os alunos deveriam preparar-se para uma produção individual, a partir do planejamento da escrita, atentando para o foco narrativo, os personagens, o enredo, o tom, os elementos surpresas e o desfecho. Na oficina 8, designada de “Olhos atentos no dia a dia”, os componentes de ensino eram de produção: escrita de um parágrafo de abertura ou desfecho; leitura/análise sobre foco narrativo; leitura/análise e produção; produção: planejamento de coleta de dados motivadores para a escrita; produção: planejamento e escrita; e leitura/análise de imagens fotografadas. Para cumprimento do primeiro componente, duas atividades foram propostas: na primeira, o professor deveria sugerir aos alunos uma escrita coletiva do primeiro parágrafo de uma crônica, com base em uma notícia. As sugestões dos alunos sobre o encaminhamento do parágrafo deveriam ser anotadas na lousa para que chegassem a um consenso; na segunda, os alunos deveriam dar continuidade às crônicas propostas pelo Caderno (“O Cajueiro”, de Rubem Braga, “A bola”, de Luís Fernando Veríssimo, “São Paulo: as pessoas de tantos lugares”, de Milton Hatoum). A segunda etapa propunha uma atividade para auxiliar os alunos na escolha do foco narrativo, conforme ilustrado na figura 22: Figura 22 – Atividade sobre foco narrativo (p. 98) Em seguida, o Caderno sugeriu que o professor levasse fotos de lugares da cidade para estimular os alunos a escolher o assunto da crônica. As fotos deveriam ser distribuídas para a sala e, a partir delas, os alunos deveriam observar os mais variados elementos nela presentes: cenário, objeto, cores, luminosidade, entre outras. Ainda, era sugestão da oficina que os alunos planejassem uma crônica com base na notícia “Toque-me, sou teu”. Por fim, o professor deveria estimular os alunos a saírem pela cidade fotografando fatos do dia a dia, situações pitorescas, imagens interessantes. Esse olhar seria o ponto de partida para a escrita da crônica, que deveria ser planejada com base nos elementos constitutivos prescritos pelo Caderno (toco narrativo, personagens, tom da narrativa, enredo, espaço, tempo e desfecho). A oficina 9, identificada como “Muitos olhares, muitas ideias”, tinha dois componentes de ensino: produção: planejamento da escrita coletiva; e produção: escrita e reescrita coletivas. Nesta oficina, a escrita coletiva é entendida como o fazer junto, possibilitando aos alunos uma experiência modelar, que irá ajudá-los na elaboração da escrita individual. O professor, enquanto mediador, deveria expor as situações retratadas na oficina 7 (“Merece uma crônica”) para que os alunos selecionassem uma crônica para dar início a escrita coletiva, escolhendo o cenário, o tom e o foco narrativo em que a crônica deveria ser escrita. Na etapa de escrita coletiva, feita parágrafo a parágrafo, o professor deveria ouvir as propostas de todos os alunos e instigá-los durante o processo de escrita, tendo o cuidado devido para não fugir dos aspectos próprios do gênero textual. Ao final da escrita, o professor deveria rever o texto e levar os alunos a refletir sobre o que foi escrito, incentivando-os a propor aperfeiçoamentos. O título deveria ser escolhido em conjunto. A oficina 10, denominada “Ofício de cronista”, era de leitura/ análise e produção da escrita final. Para iniciar a aula, foi sugerida a leitura e audição de “Sobre a crônica”, de Ivan Ângelo, crônica em que o autor apresenta uma reflexão acerca da constituição desse gênero textual. Em seguida, o professor deveria planejar, com a turma, a versão final da crônica e incentivá-los a escrever. E mãos à obra... A oficina 11, intitulada “Assim fica melhor”, propôs-se fazer a produção: aprimoramento coletivo da escrita individual, a reescrita individual e a divulgação das crônicas. Para dar início ao trabalho, a oficina sugeria que fosse feito um aprimoramento coletivo de uma crônica escrita individualmente por um aluno. Questionamentos foram sugeridos para nortear a reescritura. Na segunda etapa, os alunos deveriam focar-se no próprio texto para reescrever individualmente seus textos. Esta oficina forneceu os critérios para a avaliação da crônica final, além de um roteiro para a revisão das crônicas, conforme figura a seguir: Figura 23 – Roteiro para a revisão da crônica Na composição desse roteiro de revisão, podem ser observados itens relativos a diversos aspectos, como: dimensões constitutivas do gênero crônica nos moldes prescritos pela Olimpíada (título, cenário, foco narrativo, personagens, tom, linguagem coloquial, enredo e desfecho); aspectos da textualização (coerência e pontuação); convenções da escrita (ortografia); registro da linguagem (linguagem simples, espontânea, quase uma conversa informal com o texto), entre outros. Neste capítulo, mostramos o fio da orientação oficial que conduziu o trabalho da professora pesquisadora, representado pelo Caderno do professor. Para dar continuidade, no capítulo a seguir apresentaremos os planejamentos da professora pesquisadora com base no trabalho prescrito, bem como o trabalho realizado, representado pelos seis textos dos três alunos selecionados. CAPÍTULO 4 O ENSINO DO GÊNERO TEXTUAL CRÔNICA: O TRABALHO REAL Neste capítulo teórico-analítico, em que buscamos responder às duas questões de pesquisa – que fatores favoreceram/impediram a aplicação da SD junto a alunos de 9° ano de uma escola pública, tal como proposta pelo Caderno do professor?; e quais os resultados gerados com a aplicação de oficinas prescritas, considerando as dimensões elegidas pelo Caderno do professor? – abordaremos, aliado à teoria, dados pertencentes ao trabalho real: na primeira parte, mostraremos as planificações da professora pesquisadora nas oficinas prescritas; e na segunda parte, apresentaremos a análise relativa à duas versões da crônica dos alunos: uma referente à oficina 3 (PI), prescrita pelo Caderno do Professor, e outra alusiva à PF, planificada e realizada na oficina subsidiária E. 4.1 O trabalho real: as condutas da professora pesquisadora Inspirando-se nos estudos franceses sobre ergonomia, Souza (2009, p.93) defende que o trabalho real é variável a cada situação de ensino, pois se caracteriza pela transformação permanente das prescrições, realizada pelo próprio professor, diante das necessidades específicas e reais com as quais se defronta. Nessa perspectiva, faz parte do trabalho real o conjunto de condutas (ações verbais e não verbais) exercidas pelo professor em situações reais de sala de aula, desde o planificado ao realizado. Na presente pesquisa, o trabalho real envolve: a) o trabalho planificado, que engloba o que a professora planejou, com base nas prescrições do Caderno do professor – conjunto de tarefas, objetivos, condições materiais, tendo em vista alcançar os objetivos do professor; e b) o trabalho realizado, representado pelo resultado da aplicação efetiva, na sala de aula, do trabalho planificado, considerando inclusive o que foi prescrito. Trata-se de um conjunto de condutas, efetivamente observáveis na situação, que é variável, em função dos objetivos na ação cotidiana. Essas condutas podem ser responsáveis por certo distanciamento em relação ao que foi prescrito, devido aos ajustes feitos pelo professor à situação real de sala de aula, a partir da qual foram planificadas novas ações. Orientando-nos por esse quadro conceitual, descrevemos as ações realizadas nos âmbitos do trabalho planificado e realizado. 4.1.1 Planificação e realização efetiva das oficinas Apesar de as oficinas prescritas pelo Caderno fornecerem atividades diversas de leitura e escrita para alcançar o objetivo final da Olimpíada (cf. capítulo 2, item 3.2.1.1), foi necessário proceder à planificação de novas ações em algumas oficinas, de modo a atender à realidade da sala de aula em que foram aplicadas. As planificações encontram-se descritas no quadro 3. OFICINAS 1 É hora de combinar ATIVIDADES PLANIFICADAS E REALIZADAS Leitura/análise de uma crônica. 2 Tempo, tempo, tempo... Leitura/análise de crônicas, atentando para: título e autor, época em que foi escrita, palavras da época, tema ou assunto, personagem(ns) e tom. 3 Primeiras linhas Leitura de crônicas; análise dos elementos presentes nas crônicas lidas (título, cenário, foco narrativo, personagem(ns), enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho); escrita da primeira versão da crônica. Estudo sobre as figuras de linguagem; análise de termos futebolísticos; discussão sobre a 4 Histórias do CONTEÚDOS “A última crônica”, Fernando Sabino. de “A rua do ouvidor” (1978), de Joaquim Manuel de Macedo; “Falemos das flores” (1855), de José de Alencar; “Ser brotinho” (1960), de Paulo Mendes Campos; “Conformados e realistas” (2008), de Tostão; “Quem tem medo de mortadela” (1995), de Mário Prata; “Do rock” (2009), de Carlos Heitor Cony; e “A arte de ser avó” (2005), de Rachel de Queiroz. “Pela TPM nas salas de aula”, “O que você vai ser quando crescer”, “Felicidade sem ilha deserta” e “A gaveta”, todas de Antônio Prata. “Waving Flag”¸ de K’naan; “Peladas”, de Armando Nogueira; “O amor acaba”, COMPONENTES DE ENSINO Apresentação da situação de comunicação e leitura/análise Leitura/análise Leitura/análise e produção: orientação e escrita Leitura/análise cotidiano 8 Olhos atentos no dia a dia Copa do Mundo 2010; leitura/análise de duas crônicas. Leitura/análise de uma crônica; responder a questões sobre a crônica. Leitura/análise de uma crônica, atentando para elementos presentes nelas; representação do diálogo presente na crônica; abordagem sobre os diversos tipos de discurso (direto, indireto; e indireto livre ou misto). Apresentação de uma síntese dos temas das crônicas já trabalhadas; leitura de uma crônica; abordagem acerca dos elementos presentes nas crônicas. Discussão das produções iniciais dos alunos. Escrita do desfecho de crônicas; audição das crônicas na íntegra; atividade sobre foco narrativo; planejamento da escrita. 9 Muitos olhares, muitas ideias 10 Ofício de cronista 11 Assim fica melhor Debate e distribuição de fotos da cidade de Campina Grande; escrita coletiva de uma crônica; escrita individual do desfecho da crônica coletiva. Leitura de uma crônica; reescrita individual da primeira versão da crônica. Reescrita individual, a partir das observações orais feitas pela professora. 5 Uma prosa bem afiada 6 Trocando em miúdos 7 Merece uma crônica 7A de Paulo Mendes Campos. “Um caso de burro”, de Machado de Assis. Leitura/análise “Cobrança”, Scliar. Moacyr Leitura/análise “O estripador de laranjeiras”, de Carlos Eduardo Novaes. Leitura/análise Produções iniciais das crônicas “O cajueiro”, de Rubem Braga; “A bola”, de Luís Fernando Veríssimo; “São Paulo: as pessoas de tantos lugares”, de Milton Hatoum. Fotos de Campina Grande Análise de “Sobre crônica”, Ângelo. de Ivan Textos dos próprios alunos. Leitura/análise Produção: planejamento. e Produção: planejamento e escrita coletiva e individual Produção: reescrita. Produção: reescrita. Quadro 3 – O trabalho planificado e efetivamente realizado De modo geral, em todas as aulas, a turma tinha à disposição dicionários, emprestados pela biblioteca da escola, para serem utilizados em caso de dúvidas. Os materiais ilustrativos integrantes do material destinado à sala de aula (cartazes com síntese das crônicas lidas, englobando título, autor, tema, assunto, cenário, situação do cotidiano retratada, tom e foco narrativo, bem como cartazes com as figuras de linguagem trabalhadas pela professora pesquisadora) não puderam ser fixados nas paredes, o que justificou a mudança de algumas tarefas prescritas. A oficina 1 foi de apresentação da situação de comunicação e de leitura/análise de uma crônica. Procedendo à primeira etapa, a professora pesquisadora e a bolsista PET entregaram a definição de “crônica”, retirada do dicionário Aulete digital, para ser colada no caderno que os alunos haviam separado para as atividades da Olimpíada, conforme solicitado pela professora titular. Depois, foram feitos aos alunos questionamentos referentes ao conhecimento deles acerca do gênero textual tratado, de acordo com o prescrito. Era sugerido que a sala ficasse dividida para que fossem distribuídos livros, jornais ou revistas que contivessem crônicas, para que os alunos tivessem o primeiro contato com o gênero textual. A tarefa seria folhear o material e escolher uma crônica para ser lida. Para isso, foram entregues exemplares da revista VEJA e foi solicitada a tarefa descrita. A inexperiência docente da professora pesquisadora fez com que levasse para a sala de aula apenas a revista VEJA por já tê-la em casa. As crônicas veiculadas na VEJA eram difíceis de entender, principalmente por haver termos desconhecidos dos alunos e estarem inseridas em temáticas distantes das conhecidas por eles (críticas à política e a saúde brasileira). Para uma atividade mais interessante, a professora pesquisadora poderia ter levado para a sala de aula revistas literárias impressas (Serrote e Teresa, por exemplo), crônicas retiradas de revistas literárias virtuais (como Blecaute e Sibila) ou livros de crônicas (Coleção Para Gostar de Ler, por exemplo). Antes de dar início à atividade de leitura/análise, procedeu-se à leitura, conforme o Caderno propunha, de uma biografia de Fernando Sabino, já que os alunos iriam ler uma crônica do referido autor. Figura 24 – Biografia de Fernando Sabino (p. 30) Entendemos, hoje, que a abordagem do autor pela própria crônica enriqueceria mais o conhecimento do alunado, uma vez que ele passaria a observar, a partir de leituras, o estilo de Fernando Sabino. Debruçada nessa crítica, acrescentamos que para a atividade tornar-se mais rica, a professora pesquisadora e a bolsista PET poderiam ter selecionado novas crônicas de Fernando Sabino, já que para a atividade de leitura/análise, os alunos tiveram contato apenas com “A última crônica”. A abordagem com a crônica foi iniciada com atenção para o título, seguida da leitura e audição. A oficina 2 foi de leitura/análise. Para dar início, a turma foi dividida em sete pequenos grupos e, para cada um, foi entregue uma das crônicas propostas pelo Caderno (“A rua do ouvidor” (1978), de Joaquim Manuel de Macedo; “Falemos das flores” (1855), de José de Alencar; “Ser brotinho” (1960), de Paulo Mendes Campos; “Conformados e realistas” (2008), de Tostão; “Quem tem medo de mortadela” (1995), de Mário Prata; “Do rock” (2009), de Carlos Heitor Cony; e “A arte de ser avó” (2005), de Rachel de Queiroz). O intuito de leitura dessas crônicas era de que os alunos conhecessem crônicas de diversas épocas. Foi solicitado que os alunos realizassem a leitura das crônicas e, em seguida, discutissem acerca dos sentimentos despertados por eles e dos seguintes elementos: linguagem utilizada pelo autor (antiga ou atual), assunto tratado, personagem(ns) que compunha(m) o enredo e foco narrativo. Como cada grupo leu apenas uma crônica, o assunto tratado nelas foi compartilhado com a turma, a partir da exposição de um integrante do grupo sobre a crônica que haviam lido. A oficina propunha um quadro ilustrativo, para ser fixado na parede da sala, das crônicas lidas na aula (cf. capítulo 3, figura 13). Ao invés de montar um cartaz, a professora pesquisadora e a bolsista PET entregaram aos alunos o quadro impresso para colarem em seus cadernos e para que anotassem as informações com base nos textos que tinham em mãos. A oficina 3 foi de leitura/análise e produção: orientação e escrita. Para a primeira etapa, a professora-pesquisadora e a bolsista selecionaram quatro crônicas de Antônio Prata (“Pela TPM nas salas de aula”, “O que você vai ser quando crescer”, “Felicidade sem ilha deserta” e “A gaveta”). Com a sala dividida em quatro grupos, foi distribuído um dos textos para cada, para leitura e observação das situações de produções em que haviam sido produzidos. Como primeira orientação para a produção escrita, foram elencados os elementos constitutivos da crônica no quadro (título, cenário, foco narrativo, personagem (ns), enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho), conforme proposto pelo Caderno, para que a professora-pesquisadora, a bolsista PET e os alunos os identificassem nos textos lidos. A partir da oficina 3, iniciou-se o trabalho com a ideia de elementos constitutivos da crônica (conferir quadro X, capítulo 2). Faltou a elas uma leitura mais abrangente sobre o gênero textual em estudo, uma vez que a perspectiva trazida é esquemática. Como última atividade da oficina, procedeu-se à escrita da produção inicial. Por mais interessante que tenha sido a atividade, avaliamos que ela foi solicitada muito cedo, apesar de o Caderno ter proposto o contato com diversas crônicas. O ideal era que os alunos tivessem lido mais crônicas de diversos autores antes de procederem à produção inicial, o que faria com que eles conhecessem diversos estilos do gênero textual em estudo. A oficina 4 foi de leitura/análise. A primeira atividade proposta na oficina foi a abordagem das figuras de linguagem (comparação, metáfora, antítese, catacrese, entre outras), a partir da orientação presente na figura 25: Figura 25 – Orientações para o professor sobre as figuras de linguagem (p. 50) Para embasar a orientação, o Caderno apresenta um quadro com definição e exemplo do conjunto de figuras a ser ensinado, como atesta a figura 26: Figura 26 – As figuras de linguagem (p. 51) Do ponto de vista do ensino literário, não se deve dar início à explicação pela teoria. Ficaria mais interessante, a nosso ver, que os alunos percebessem, a partir da leitura de crônicas, a veiculação de uma linguagem diferente. Permanece no material a velha fórmula proveniente da retórica antiga: decorar o conceito para tentar aprendêlo. Para dar início à atividade de leitura/análise, a professora pesquisadora e a bolsista PET distribuíram entre os alunos cartões (confeccionados de cartolina) com palavras próprias do futebol, para que eles, com a ajuda de dicionários e do conhecimento que tinham, dissessem o significado de cada um dos termos. Figura 27 – Palavras do universo do futebol (p. 53) Aproveitando a temática e a aproximação da Copa do Mundo 2010, a professora pesquisadora e a bolsista PET levaram para a sala de aula cópias da música Waving flag, hino da Copa na África, tanto em inglês quanto em português, com tradução retirada do Terra, para que os alunos acompanhassem a audição em CD. A professora e a bolsista fizeram uma abordagem acerca da música e do autor, bem como da Jabulani, a famosa bola, e do mascote Zakumi, esses dois últimos, a partir de fotos. A primeira crônica lida foi “Peladas”, de Armando Nogueira. Com o objetivo de trabalhar com a perspectiva do “título sugestivo”, o Caderno propôs uma abordagem inicial a partir do título da crônica. Apesar de não considerarmos que todo título deve ser sugestivo, ressaltamos que a atividade é interessante para os alunos despertarem curiosidade sobre a crônica que vai ser lida. A análise de “Peladas” foi realizada nas dimensões do tom, da personagem principal, do foco narrativo e das emoções levantadas a partir da leitura. Foi distribuída uma atividade para ser respondida e, por fim, a análise proposta pelo Caderno, para a qual os alunos demonstraram desinteresse, talvez pela extensão da análise, talvez por trazer informações já abordadas pelos próprios alunos, em conjunto pela professora pesquisadora e pela bolsista PET. Acrescentamos que a análise pronta pode tentar engessar o conhecimento dos alunos, bem como desconstruir as descobertas deles, reveladas a partir das leituras. A segunda crônica lida na oficina foi “O amor acaba”, de Paulo Mendes Campos. A atividade de análise, que não seguiu nenhum parâmetro solicitado pelo Caderno, consistiu na observação da construção da crônica no todo. A análise sugerida pela oficina, foi lida oralmente pela professora, na tentativa de fazer com que os alunos despertassem mais interesse. No entanto, apesar de os alunos terem recebido a crônica para acompanhamento da leitura, ficaram dispersos. A oficina 5 foi de leitura/análise. A professora pesquisadora e a bolsista PET iniciaram a oficina questionando sobre o que os alunos sabiam de Machado de Assis. Com a turma em silêncio acerca da questão levantada, foi realizada uma abordagem do título “Um caso de burro”, crônica lida na oficina. Sem receber cópias da crônica, os alunos fizeram a audição dela, seguida de um debate coletivo acerca do que haviam entendido. Pela ausência do acompanhamento da crônica impressa, os alunos não conseguiram entender o enredo de “Um caso de burro”, devido à complexidade da crônica. A ideia do Caderno em trabalhar a crônica primeiro pela audição e depois pela leitura, pode não ter surtido efeito pela falta de atividades de escuta em sala de aula. Sem explicarem nada sobre a crônica, a professora pesquisadora e a bolsista PET solicitaram uma leitura silenciosa e, após, foi feita uma leitura oral pela professora pesquisadora com explanação de cada parágrafo. Após a leitura, os alunos receberam uma atividade, proposta pelo Caderno, que explanava principalmente o foco narrativo e a intenção do autor em utilizar a metáfora e a prosopopeia. A aula teve fim com a entrega da análise da crônica para que os alunos a lessem e comparassem com aquilo que havia sido debatido. A oficina 6, também de leitura/ análise, teve início a partir de uma manchete de jornal proposta pelo Caderno. Figura 28 – Atividade da notícia à crônica (p. 76) Com a manchete anotada no quadro, os alunos foram questionados sobre como a transformariam em uma crônica. Sem participação na atividade, devido ao grau de dificuldade encontrado por eles, a professora pesquisadora e a bolsista PET resolveram instigá-los a pensar sobre situações de cobrança. Para dinamizar a aula, deu-se início ao jogo de livre associação: a partir do título “Cobrança”, crônica de Moacyr Scliar, os alunos deveriam rapidamente contar uma história. Inibidos e sem saber o que falar, o jogo recomeçou por três vezes e terminou com uma história totalmente sem nexo. A melhor parte da atividade foi ver os alunos animados com a escrita. Foi distribuída a crônica “Cobrança” para a leitura individual e, em seguida, foi realizada uma explanação sobre as dimensões do texto (foco narrativo, presença de elementos surpresa, aspectos narrados e desfecho). Terminada esta etapa, os alunos encenaram a crônica e receberam a análise fornecida pelo Caderno, que deveria ser lida individualmente e colada no caderno. Como última parte da oficina, foi explicado aos alunos sobre as formas de discurso que poderiam utilizar nos textos: discurso direto, discurso indireto e discurso indireto livre ou misto. Realizou-se uma abordagem no quadro branco a partir de exemplos elaborados pela professora pesquisadora e pela bolsista PET e, por fim, foi entregue aos alunos uma folha com a explicação para cada tipo de discurso. Destacamos, nesta atividade, que as professoras deveriam ter trabalhado os tipos de discurso a partir da leitura de crônicas e não com exemplos soltos, visto que enriqueceria muito mais o conhecimento dos alunos. A oficina 7, que foi de leitura/análise, teve início com a apresentação do quadro proposto pelo Caderno, que retomava algumas crônicas trabalhadas até então. Embora não sugerido pelo Caderno, os alunos realizaram a leitura da crônica “O estripador de laranjeiras”, de Carlos Eduardo Novaes. Como o Caderno propunha o planejamento da escrita individual, a professora pesquisadora e a bolsista PET utilizaram os questionamentos sugeridos para atividade para analisar a crônica, conforme ilustra a figura abaixo: Figura 29 – Atividade de planejamento para a escrita da crônica (p. 90) A modificação da oficina foi mediante a necessidade identificada na leitura da primeira produção individual (oficina 3). Antes da execução da oficina 8, a professora pesquisadora e a bolsista PET realizaram a oficina 7A para a discussão das produções iniciais dos alunos. Para isso, os alunos receberam as produções, todas com bilhetes escritos pela professora pesquisadora e pela bolsista PET e, em seguida, ambas passaram em cada mesa mostrando em que eles deveriam melhorar. Para não perder o foco da Olimpíada, realizou-se uma explanação oral, anotando no quadro os elementos que o Caderno elegeu como constitutivos. Nessa aula, também, começaram a planejar a nova produção. A oficina 8, permeada pelos componentes de leitura/análise e produção: planejamento, realizou a escrita do desfecho de três crônicas: “O cajueiro”, de Rubem Braga, “A bola”, de Luís Fernando Veríssimo, e “São Paulo: as pessoas de tantos lugares”. Nesse momento, os alunos foram lembrados de que o fim da crônica não precisa necessariamente ser conclusivo, podendo ficar “aberto” para que o leitor imagine o fim da crônica. Ressaltamos, aqui, a falta de olhar crítico da professora pesquisadora e da bolsista PET no elemento “desfecho”. Conforme colocado no capítulo 2, o final de uma crônica nem sempre é um desfecho, visto que pode apresentar abertura para que o leitor faça a leitura que julgar correta. Terminada a atividade, foi realizada a audição das três crônicas na íntegra. Na segunda parte da oficina, os alunos responderam a uma atividade sobre foco narrativo, conforme proposta pelo Caderno, que tinha como objetivo ajudar a encontrar o foco narrativo apropriado para a crônica que eles iriam escrever na oficina 10. Para finalizar, foi requerido que os alunos realizassem o planejamento individual da crônica que seria escrita na oficina 10. Na oficina 9, de leitura/análise e produção: planejamento, ocorreu a escrita coletiva. Para auxiliar na escolha do cenário da crônica coletiva, os alunos e as professoras levaram para a sala de aula fotos de pontos da cidade de Campina Grande que mereciam uma crônica. Como a escola não tinha projetor, foram distribuídas pela sala fotos do parque do povo, açude velho, açude de Bodocongó, Estação Velha, entre outras, e, de cada uma delas, foram tecidos comentários pela pesquisadora sobre a história. Figura 30 – Estação Velha Figura 31 – Parque do povo A atividade de abordagem de fotos de pontos turísticos de Campina Grande pretendeu contribuir para que os alunos repensassem sobre os seus cenários, uma vez que, na produção inicial (PI), as escolhas se restringiam a espaços pontuais, como o bairro dos alunos e até mesmo à casa deles. No entanto, poucos escolheram como cenário os locais mostrados nas fotos. A professora pesquisadora e a bolsista utilizaram o quadro branco para escolher o enredo da crônica coletiva. Os alunos, depois de muita discussão, chegaram ao tom (humorístico), ao foco narrativo (autor-personagem) e ao enredo (O estádio de futebol). Norteada pelas professoras, o início da produção coletiva ficou assim: Naquela manhã de sol, no Estádio do Amigão ocorria o último jogo do Campeonato Paraibano entre os clássicos Treze e Campinense. A cidade estava eufórica, fervia de ansiedade. Meu amigo Paulo era um raposeiro doente. Já eu era um fanático trezeano. Aos 43 minutos do 1° tempo saiu o primeiro gol: Nonato cruzou para Cléo que chuta direto no travessão. Pio pega o rebote e... GOLLLLLLLLL!!!! A torcida explodia de alegria. Não aguentei e fui tirar onda com a cara de Paulo. Como não havia mais tempo, foi solicitado que os alunos construíssem o desfecho em casa, sem esquecerem de dar um título para aquela produção escrita. A oficina 10 foi produção: reescrita. Realizou-se a leitura oral do texto “Sobre a crônica”, de Ivan Ângelo, e, depois, foram entregues aos alunos a produção inicial, o planejamento realizado na oficina 9 e a folha de produção, para que dessem início à atividade de escrita. Na oficina 11, os alunos fizeram uma nova reescrita com base nas orientações orais dadas. Os alunos foram informados sobre a crônica havia sido escolhida para participar do processo de seleção da Olimpíada. Por fim, ocorreu uma premiação simbólica, pela professora pesquisadora e pela bolsista PET, para os três melhores textos. Portanto, para atender às necessidades da turma, foram feitos acréscimos/ modificações /adaptações significantes ao material prescrito: - inclusão de outras crônicas para leitura (oficinas 3 e 7); - abordagem de elementos da Copa 2010 (oficina 4); - leitura de uma nova crônica no lugar de uma escrita individual (oficina 7); - leitura de fotos da cidade apenas na oficina 9, e não na 8; - escrita coletiva da primeira parte da crônica e individual do desfecho da crônica (oficina 9). A maioria das modificações foi feita, sobretudo, nas últimas oficinas, uma vez que não havia mais tempo para a aplicação. Inquieta com os problemas apresentados nos textos dos alunos, a professorapesquisadora, sem o auxílio da bolsista PET, resolveu voltar à sala de aula, mesmo tendo concluído o compromisso com a Olimpíada, para a aplicação de oficinas subsidiárias (APÊNDICE A), elaboradas com base nos problemas de textualização mais recorrentes (coesão nominal, coesão verbal e pontuação), tendo em vista uma produção final da crônica. Ao final da aplicação das oficinas, foi aberto o blog Escrevendo com jovens cronistas, pela professora pesquisadora, para a divulgação de algumas crônicas escritas durante o processo: http://escrevendocomjovenscronistas.blogspot.com/. No tópico a seguir, mostraremos dados do trabalho realizado pelos alunos, demonstrados na produção inicial e na produção final de três alunos. 4.2 O trabalho realizado pelos alunos na escrita de crônicas A sistematização para análise das crônicas dos alunos está orientada pela observação das dimensões constitutivas do gênero textual crônica, conforme prescritas pelo Caderno do professor (título, cenário, foco narrativo, tom e personagens). Dentro dessas dimensões, será analisada a evolução de três alunos que apresentaram níveis diferenciados de desempenho na PI e na PF: A7 manifestou comprometimento nas atividades de leitura e escrita prescritas, não conseguindo, no entanto, captar os elementos/dimensões indicados pelo Caderno para o gênero textual crônica e, portanto, não obteve avanços satisfatórios no refinamento das produções; A6 revelou melhora na composição dos elementos/dimensões constitutivos do gênero textual em estudo, não sinalizados na PI; e A3 demonstrou empenho no acabamento/refinamento dos elementos/dimensões indicados do gênero crônica, que já haviam sido sinalizadas na PI. Na análise dessas produções, consideraremos desde as contribuições ensinadas nas oficinas prescritas de leitura e escrita até as operações de textualização ensinadas nas oficinas subsidiárias. O título Embora o enredo não esteja, neste estudo, correlacionado diretamente ao título, não podemos desvinculá-los, uma vez que há a necessidade de explicar a escolha dos títulos a partir da história enredada. Apesar de o Caderno sugerir títulos criativos, de modo a chamar a atenção do leitor e o estimular a ler o texto, o levantamento dos dados permitiu verificar que os títulos construídos pelos alunos não estão, no geral, muito distantes do texto que a eles sucedem. Sequência 1 – A7 PI: O terrível lugar onde vivo PF: Uma noite de terror O título utilizado na PI retoma o tema proposto pela Olimpíada e retrata o sentimento negativo (“terrível”) de A7, em relação ao lugar em que vive, devido à insegurança e aos vizinhos fofoqueiros. Após a PI, a professora pesquisadora e a bolsista PET destacaram em sala de aula que os alunos procurassem ver as belezas do lugar onde viviam e não apenas tragédias, como retratado na maioria das PI. Desse modo, verificamos na PF de A7, que o aluno tenta restaurar o tempo e a natureza da história ali contada. Com a leitura do texto, observamos que A7 recuperou a vertente da PI, pontuando o que ocorre em uma noite no bairro em que mora. Na sequência 2, A6 denomina a casa em que mora de lar, na PI e, embora intitule a PF de forma abrangente (A felicidade), consegue retomar no enredo o motivo do título escolhido. Sequência 2 – A6 PI: Minha casa meu la PF: A felicidade Mesmo sem sabermos de que trata a PI de A6, o título nos faz refletir sobre a felicidade do aluno de morar na sua casa, que não é apenas o lugar de habitação, mas o lar, observado aqui como o local de aconchego da família. Desse modo, confirmamos nossa reflexão no desenrolar do enredo, que conta a história do próprio aluno e de sua família, que se inscreveram em um programa não especificado e ganharam a casa onde hoje moram. O título escolhido por A6 na PF está vinculado à história de um pescador, de nome Jurubeba, que se emociona ao conseguir pescar um peixe. Ressaltamos, ainda, que a presença do artigo “a” delimita esta felicidade, que não é sentida por uma coisa qualquer, mas por um fato importante na vida do pescador. Observamos, portanto, que ambas as produções têm o título interessante, com destaque para a PI. Na sequência 3, verificamos que A3 elege na PI um título mais abrangente, delimitando, na PF, o título à personagem central da sua história (a criança sem laço de fita). Sequência 3 – A3 PI: Quem vive sem sucego; PF: A menina sem laço de fita. Observamos que as crônicas de A3 seguem por uma mesma linha: há uma criança sentada em uma calçada e algo ocorre em torno dela. Na PI a menina apanha de dois moleques, enquanto na PF a menina está cansada, triste e com fome. Dessa forma, o “sucego” de que trata o título da PI se refere à violência na cidade em que mora o aluno autor. O título deveria vir seguido de um ponto de interrogação, devido ao seu caráter questionador. Ao intitular a PF de “A menina sem laço de fita”, A3 nos remete ao título do livro de Ana Maria Machado Menina bonita do laço de fita, embora não saibamos se o aluno teve contato com a obra. A protagonista da crônica e a forma como ela é caraterizada (“Me deparei com uma criança sentada na calçada, cachinhos enrolados por uma tirinha de sacola plástica”) se revela no título. Acrescentamos que a utilização do artigo definido “a” determina “a menina”, aquela que está sentada na calçada e triste, e a menção à ausência do laço de fita caracteriza a situação econômica e social da criança, que, no desenrolar da história, está sozinha e com fome. Observamos, de modo geral, que os alunos de refinaram a escolha dos títulos, de acordo com o sugerido pelo Caderno. Ressaltamos, ainda, que na maioria das crônicas, o título eleito não está muito distante do texto que a ele sucede. Os personagens Há uma relação intrínseca entre o enredo e os personagens, uma vez que o enredo existe através dos personagens e estes vivem do enredo: enredo e personagem exprimem a visão da vida que decorre dele, os significados e valores que o animam (CANDIDO, 1987b). As produções a seguir, que não possuem personagens evidentes, enredam sobre o bairro em que mora o A7. Sequência 4 – A7 PI: “No local exato onde eu moro é terrível, odeio todos os meus vizinhos, porque eles falam muito de mim e do meu jeito, eles nem me conhece para falar tanto de mim assim [...] Lá no Pedregal tem muitas mortes e assaltos. lá o pessoal reclama quando alguém fala que lá não tem nada de bom, mas infelizmente é a realidade.” PF: “Exatamente as 8:00 aconteceu um inesperado tiroteio, eu só via as pessoas correndo de um lado pro outro, muitos tiros rolavam no meu bairro, passou uns minutos, sai e fiquei em frente da minha casa, e foram chegando muitos carros e motos de policiais muito mesmo!!! Quando achei que não podia ficar pior, chega uma mulher dizendo que um garotinho de 3 anos foi baleado, fiquei imaginando como a mãe daquela criança estava se sentindo. Passando mais alguns minutos, uma fumaça toma conta do local, os familiares do garoto muito revoltado tocaram fogo na casa do bandidos depois de muito tempo chega os bombeiros e fazeram seu trabalho como tem que ser feito. Quando o tiroteio acabou as pessoas muitos tristes e assustados saíram de suas casas, as crianças trazendo os moveis para um outro lugar qualquer.” Na PI, A7 desabafa/depõe sobre as desvantagens de morar no Pedregal. Na PF, A7 relata sobre uma noite de tiroteio no Pedregal. Em ambas as produções, não há personagens evidentes, todavia o aluno é narrador-observador. A PI de A6 não se configura como uma crônica, mas como um depoimento. Contudo, nas demais produções o aluno parece captar as dimensões/elementos próprios do gênero, principalmente no flagra de um momento do cotidiano e na construção do personagem, como pode ser observado na sequência 5. Sequência 5 – A6 PI: “Eu móro em um apartamento onde há 2 condomínio o residencial, Santa tereza e o João Paulo. O Santa tereza é onde eu moro, lá tem um espaço que cabe 10 blócos do A ao J, e uma quadra de futebol. Antes de fazer as 2 residenciais exgistia 2 campos de futebol, e cada campo foi construído cada residência [...] quando minha mãe viu os condomínios fico apaixonada por eles. Então ela horó, sonho, desejo e queria por que queria um apartamento daquele. E então foi fazer a inscrição, para ver se conseguia um” PF: “Estava com meu primo a caminha da casa da minha avó. Passando pelo riacho do açúde de Bodocongó. Lá estava um senhor pescando no riacho, com uma calça rasgada, camisa cheia de buraco, parece até que veio da segunda guerra mundial. Nunca tinha visto ele. – Primo conhece ele? – Conheço sim é Jurubeba [...] – Bora lá conversar com ele? – Bora. [...] - Opa meu rapaz, eu te conheço? Nossa que arrogante ¬¬ - Jurubeba tás pegando muita piaba ao? Fala meu primo. - To, to e com força visse Abri a vasilha de “manteira Primor”, e só havia 3 peixes. Ele pega o peixe, tira os expinhos com seu próprio dedo e está tratado o peixe.E então Jurubeba feliz da vida com seu peixe pega um longo caminho deixando o riacho de Bodocongó” Na PI, tem-se a presença mais saliente da configuração de uma crônica sobre dois fatos: a construção de dois condomínios e o desejo da mãe do narrador em conseguir, por intermédio de um programa social, um apartamento em um deles. O “Residencial Santa Tereza” é o personagem da crônica, estando o aluno, o irmão e, sobretudo a mãe, com desejo de conseguir morar nele. Já a PF versa sobre dois meninos (o narrador-personagem e o primo) que vão à casa da avó e no caminho, mais precisamente no açude de Bodocongó, deparam-se com um pescador, que é o protagonista da crônica. Eles aproximam-se do pescador e passam a observar o seu trabalho e conversar sobre os peixes pescados. Interessante observar a constituição do personagem: um senhor vestido em uma calça rasgada e em uma camisa cheia de buracos. Na sequência 6, consideramos que A3 elegeu nas duas produções uma menina como protagonista e, por conseguinte, em torno dela se destrincha o enredo. Sequência 6 – A3 PI: “Observei uma criança que estava sentada na calçada de casa: vinheram dois moleques, bateu na menina, coitada da criança, se pois a chorar.[...]Mas teve um dia, que essa criança cresceu e aqueles moleques, há encontrou novamente, apareceram dois caras do nada, bateram muito neles.” PF: “Todo dia era sempre igual: acordar, tomar café, mochila nas costas, caminho à escola [...]Me deparei com uma criança sentada na calçada, cachinhos enrolados por uma tirinha de sacola plástica. Seus olhos profundos e vivos carregavam uma tristeza imensa. [...]Ao me aproximar percebi que ela estava com muito medo. Apesar da pouca idade reparei em alguns poucos segundos que ela era uma criança muito esperta. Quando tentava me aproximar ela se levantava rapidamente; quando me afastava ela voltava [...]Desisti do joguinho, mas não desisti dela. Comprei um lanchinho na venda, deixei no cantinho da calçada e me afastei” A protagonista da PI é uma menina que estava sentada na calçada de casa. Nessa primeira produção, A3 consegue flagrar um fato do cotidiano e, a partir desse flagrante, desenvolve a sua história, que versa sobre uma menina (criança) que é agredida por “dois moleques” e, como “retribuição” da vida, os meninos sofrem agressões anos depois, com a garota testemunhando o incidente. Na PF, já não há sinais de que a menina é órfã e ela está aparentemente com fome. Interessante vermos que a personagem tem uma caracterização: cabelos enrolados a uma fita de sacola plástica, o que retrata a idade e a situação social dela, e de olhos “vivos”. Essa vivacidade é explicada com beleza no enredo, no qual a menina foge com medo do narrador-personagem. Certo de que a garota estava com fome, o narrador comprou-lhe um lanche, deixou no canto da calçada e foi embora, fato que modificou aquele dia comum da personagem. Destacamos, de modo geral, o crescimento na construção da constituição dos protagonistas nas produções do A3 e A6. Todavia, A7 não consegue evidenciar os personagens de suas crônicas. O cenário Considerado como o espaço onde se passa a história contada, seja ela real ou virtual, o cenário é descrito na literatura como composto por elementos que definem o espaço cênico, como as cores, os personagens, os estilos, entre outros. De acordo com Dimas (1987, p. 20), não se deve confundir espaço com ambientação. De maneira geral, o espaço é denotado, patente e explícito, que contém dados da realidade que, numa instância posterior, pode alcançar uma dimensão simbólica. Já a ambientação é conotada, subjacente e implícita. Considerando ser o tema da Olimpíada “o lugar onde vivo”, os cenários escolhidos pelos alunos tenderam a restringir-se, na PI, ao bairro onde moram, com uma tentativa, pela maioria, de ampliar o espaço onde ocorre o enredo na PF. A sequência do A7 não apresenta ampliação nas preferências do cenário, ficando sempre limitado ao bairro onde mora o aluno. Sequência 7 – A7 PI: “Esse lugar terrível é onde vivo. Um lugar com a imagem suja, pessoas que não mora lá só conhece como o lugar onde mataram alguém [...] lá no pedregal tem muitas mortes e assaltos. lá o pessoal reclama quando alguém fala que lá não tem nada de bom, mas infelizmente é a verdade”. PF: “Um dia qualquer a rua cheia de pessoas passando de lá, pra cá. Mas quando chega a noite parece tudo normal, que pena que só parecia. Exatamente as 8:00 aconteceu um inesperado tiroteio, eu só via as pessoas correndo de um lado pro outro, muitos tiros rolavam no meu bairro, passou uns minutos, sai e fiquei em frente da minha casa. Passando mais alguns minutos, uma fumaça toma conta do local.” Nos excertos acima, observamos que A7 não se distancia muito do bairro onde vive e das tragédias ocorridas lá: a PI elege como espaço o próprio bairro; a PF restringe o cenário apenas à rua onde mora. Já na sequência 8, A6 escolhe como cenário, na PI, a casa onde mora, ampliando, na PF, o espaço da sua crônica para o açude de Bodocongó. Essa ampliação se deveu às intervenções feitas em sala de aula. Por se apresentarem, inicialmente, restritos ao bairro, a professora pesquisadora e a bolsista PET sugeriram que os alunos deveriam prestar atenção nos pontos turísticos da cidade e naqueles locais em que eles passavam diariamente, tentando imaginar um momento, que não precisaria necessariamente ser real. Sequência 8 – A6 PI: “Eu moro em um condomínio o residencial, Santa Tereza e o João Paulo. O Santa Tereza é onde eu moro, lá tem um espaço que cabe 10 blócos do A ao J, e uma quadra de futebol [...]” PF: “Estava com meu primo a caminho da casa da minha avó. Passando pelo riacho do açúde de Bodocongó. Lá estava um senhor pescando no riacho, com uma calça rasgada, camisa cheia de buraco [...]” Vemos na PI que A6 situa a sua história no lugar onde mora (no Residencial Santa Tereza). Dessa maneira, destacamos a ampliação do cenário na PF para o açude de Bodocongó, que está localizado no mesmo bairro da escola, local por onde provavelmente o aluno passa todos os dias e, possivelmente, bairro em que mora A6. A sequência das produções de A3 não restringe o lugar onde vive ao bairro, mas àquele lugar em que passa diariamente: uma calçada no caminho para a escola. Sequência 9 – A3 PI: “Observei uma criança que estava sentada na calçada de casa: vinheram dois moleques, bateu na menina, coitada da criança, se pois a chorar.” PF: “Todo dia era sempre igual: acordar, tomar café, mochila nas costas, caminho à escola. As coisas que vejo no caminho se somam, elas são a face descoberta do lugar onde vivo. Mas hoje, no caminho de sempre, me aconteceu algo inesquecível. Me deparei com uma criança sentada na calçada [...]” Na PI, o cenário construído é restrito e extenso ao mesmo tempo: a história ocorre em uma calçada de uma rua qualquer da cidade. O “situar” do texto é interessante para o leitor vivenciar aquela situação retratada. Já na PF, o espaço se limita a uma calçada no caminho para a escola, local por onde provavelmente passa todos os dias (mas hoje, no caminho de sempre, me aconteceu algo inesquecível). De modo geral, os alunos autores abordaram, em sua maioria, assuntos cotidianos adequados ao gênero textual em estudo: um acontecimento na praça, na rua, no açude de Bodocongó, no caminho a escola, entre outros. Outros tenderam a restringir-se ao bairro onde vivem, devido ao tema proposto pela Olimpíada. Na amostra aqui apresentada, destacamos que A7 optou por abordar as mazelas do bairro onde vive, construindo um cenário meramente descritivo associado à crítica; já A6 refinou o seu cenário a partir da PF, conseguindo construí-lo no caminho para a casa da avó, mais especificamente no açude de Bodocongó; A3 conseguiu ampliar a escolha do espaço, não ficando restrito ao bairro onde vive, mas alcançando um momento no caminho para a escola. O tom O tom é a forma de falar, o estilo utilizado pelo autor para contar a sua história. Como visto no capítulo 2, item 2.1, foram quatro os tons eleitos pelo Caderno como pertencentes à crônica (poético, reflexivo, humorístico ou irônico). Por outro lado, pode-se falar também em tom afetivo, ligado a experiências e sentimentos do narrador ou das personagens. Por exemplo, a crônica de Rubem Braga “O cajueiro”, em que a carta da irmã do narrador contando sobre a queda do velho cajueiro que protegia a família, desperta lembranças afetivas da infância. Desse modo, foi significativo na experiência em estudo ver que os alunos, em sua maioria, optaram pelo tom reflexivo, principalmente nas primeiras produções. Relacionamos este dado com o fato de os alunos terem procurado registrar em seus textos a realidade do bairro em que vivem, falando, principalmente, sobre a violência. Na sequência de A7 conseguimos depreender na PI a presença de um tom crítico e trágico/dramático, e, na PF, a veiculação, além dos tons apresentados na produção anterior, de tom reflexivo. Sequência 10 – A7 PI: “Esse lugar terrível é onde eu vivo, um lugar com a imagem suja, pessoas que não mora lá só conhece como o lugar onde mataram alguém, sujo também de outra forma, logo ali na linha do trem não é um lixão, mas as pessoas tão lhe transformando em um. Lá no Pedregal tem muitas mortes e assaltos. lá o pessoal reclama quando alguém fala que lá não tem nada de bom, mas infelizmente é a realidade.” PF: “Exatamente as 8:00 aconteceu um inesperado tiroteio, eu só via as pessoas correndo de um lado pro outro, muitos tiros rolavam no meu bairro, passou uns minutos, sai e fiquei em frente da minha casa, e foram chegando muitos carros e motos de policiais muito mesmo!!! Quando achei que não podia ficar pior, chega uma mulher dizendo que um garotinho de 3 anos foi baleado, fiquei imaginando como a mãe daquela criança estava se sentindo[...]Eu fiquei muito triste, por saber que não poder fazer nada, acho que foi a pior noite daquele bairro” Como dito, destacamos nas duas produções acima a presença de um tom crítico e trágico/dramático, uma vez que o aluno autor tece julgamentos ao lugar onde vive, ao falar da insegurança, da sujeira, das fofocas e de um bárbaro incidente ocorrido no bairro. Observamos na PF que o aluno tenta refletir sobre a criança inocente de apenas três anos, baleada naquela noite de terror, uma vez que imagina o sofrimento da mãe. Ainda, há na mesma produção uma reflexão sem muito impacto acerca da impotência do aluno em não poder ajudar em nada (/.../Eu fiquei muito triste, por saber que não poder fazer nada, acho que foi a pior noite daquele bairro). Na sequência 11, o aluno apresenta na PI um tom afetivo, elegendo, na PF, além do afetivo, o tom reflexivo. Sequência 11 – A6 PI: Eu móro em um apartamento onde há 2 condomínio o residencial, Santa tereza e o João Paulo. O Santa tereza é onde eu moro, lá tem um espaço que cabe 10 blócos do A ao J, e uma quadra de futebol. Antes de fazer as 2 residenciais exgistia 2 campos de futebol, e cada campo foi construído cada residência [...] quando minha mãe viu os condomínios fico apaixonada por eles. Então ela horó, sonho, desejo e queria por que queria um apartamento daquele. E então foi fazer a inscrição, para ver se conseguia um” PF: “Nunca tinha visto ele. – Primo conhece ele? – Conheço sim é Jurubeba – kkkkk... Jurubeba...KKKKK! A risada foi tão boa que quase me migei. – Bora lá conversar com ele? – Bora. [...] - Opa meu rapaz, eu te conheço? Nossa que arrogante ¬¬ - Jurubeba tás pegando muita piaba ao? Fala meu primo. - To, to e com força visse Abri a vasilha de “manteiga Primor”, e só havia 3 peixes. Mas não era esse momento de tristeza la estava tentando mais uma vez com sua última isca... vuup – Ae, huhuhu. Consegui pegar o danado. Ele pega o peixe, tira os expinhos com seu próprio dedo e está tratado o peixe .E então Jurubeba feliz da vida com seu peixe pega um longo caminho deixando o riacho de Bodocongó” O tom afetivo na PI é marcado pelo desejo da família do narrador pelo Residencial Santa Tereza, além do anseio da mãe, que orou, sonhou e desejou, para obtenção de um lar para ela e seus filhos. Entendemos que na PF há um tom afetuoso no encontro do narrador com o pescador e na observação do comportamento do pescador. Ainda, existe uma reflexão implícita sobre a infelicidade daqueles que tem tudo e reclamam muito: apesar de conseguir içar apenas um peixe, ele continua feliz e deixa o açude de Bodocongó, talvez com a sensação de dever cumprido naquele dia. Na sequência abaixo, A3 opta pelo tom reflexivo e afetivo nas duas produções. Sequência 12 – A3 PI: “Andava observando o quanto há violência, na minha cidade, parei, pensei, porque tanta violência no mundo; isso quem diz é o destino de quem convive no meio deles. Observei uma criança que estava sentada na calçada de casa: vinheram dois moleques, bateu na menina, coitada da criança, se pois a chorar [...] A menina logo viu que eram os mesmos garotos que haviam batido quando era pequena. Assim eles também viu que era aquela menina pequena que tinha batido. Um deles pensou, pois que fez com essa menina estou pagando na mesma moeda. Os caras foram embora, essa garota ficou se perguntando: porque será que aqueles caras fortes bateu neles [...] Essa é uma lição de vida.” PF: “Todo dia era sempre igual: acordar, tomar café, mochila nas costas, caminho à escola. As coisas que vejo no caminho se somam, elas são a face descoberta do lugar onde vivo. Mas hoje, no caminho de sempre, me aconteceu algo inesquecível. Me deparei com uma criança sentada na calçada, cachinhos enrolados por uma tirinha de sacola plástica. Seus olhos profundos e vivos carregavam uma tristeza imensa [...] mas a danada foi tão esperta que rapidamente se levantou e escapuliu tão rápido correu com suas perninhas finas que mais parecia um peru doido fugindo do seu dono [...] Neste dia o lugar onde eu vivo foi mais feliz” A PI narra sobre uma menina que havia apanhado de dois moleques, os quais apanharam, alguns anos depois, de dois caras, sob testemunha da menina. A lição de vida de que trata a crônica está vinculada ao “aqui se faz, aqui se paga” ou, como fala o A3, os moleques tiveram a certeza de que estavam “pagando na mesma moeda”. Portanto, “essa é uma lição de vida” é a principal marca do tom reflexivo da PI. Já o tom afetivo é marcado pela observação afetuosa da menina. Na PF, o tom reflexivo está marcado pelo sentimento de fazer o bem a qualquer pessoa. Notamos que o caminho percorrido pelo narrador foi modificado pela presença daquela menina, por quem o narrador despertou carinho, marca, portanto, do tom afetivo na produção. Dessa maneira, mesmo sem saber nada sobre a menina, o narrador comprou-lhe um lanche, deixou-o no canto da calçada e foi embora, tendo a certeza de que havia feito o bem. Fazendo uma análise geral, afirmamos que os alunos recorreram a variados tons para escreverem as crônicas (humorístico, lírico, crítico, afetivo). Todavia, na amostra aqui analisada, observamos a tendência para o tom reflexivo, afetivo e crítico. O foco narrativo Visto como um dos elementos estruturais da narrativa, o foco narrativo é a posição (ou ponto de vista) do narrador que conta a história. Apesar de o Caderno eleger apenas dois tipos de focos (o narrador-observador, aquele que conta a história sem participar dela, não se confundindo, portanto, com os personagens; e o narradorpersonagem, que participa da história), faremos intervenções necessárias na análise deste item, atribuindo demais pontos de vista às crônicas. Os alunos pesquisados tenderam a utilizar o narrador-personagem, visto que todos participaram, em quase todas as produções, como personagens. Nas duas produções a seguir, A7 utiliza o narrador-personagem. Sequência 13 – A7 PI: “Esse lugar terrível é onde eu vivo [...] No local exato onde eu moro é terrível, odeio todos os meus vizinhos, porque eles falam muito de mim e do meu jeito, eles nem me conhece para falar tanto de mim assim” PF: “Exatamente as 8:00 aconteceu um inesperado tiroteio, eu só via as pessoas correndo de um lado pro outro, muitos tiros rolavam no meu bairro, passou uns minutos, sai e fiquei em frente da minha casa” Na sequência de A7 verificamos o uso do “eu” em todas as produções, marcando, portanto, o narrador-personagem. Na PI o aluno fala sobre o lugar onde vive e as desvantagens em morar lá (esse lugar terrível é onde eu vivo/.../ No local exato onde eu moro é terrível). O mesmo acontece com a PF, em que o aluno retoma um momento ocorrido em seu bairro (eu só via as pessoas correndo de um lado pro outro/.../ saí e fiquei em frente da minha casa). Nas crônicas de A6, embora o narrador não seja o protagonista, é personagem das produções, demarcando a sua presença a partir do uso do “eu”. Sequência 14 – A6 PI: “Eu moro em um apartamento onde há 2 condomínios o residencial, Santa Tereza e o João Paulo. O Santa Tereza é onde eu moro, lá tem um espaço que cabe 10 blócos [...]” PF: “Estáva com meu primo a caminho da casa da minha avó [...] Abri a vasilha de “manteiga primor”, e so havia 3 peixes”. Na PI, o foco narrativo é marcado pelo “eu” (“eu moro em um apartamento”; “O Santa Tereza é onde eu moro”, na PI, e “Eu e meu primo estávamos indo”, nas R1 e R2). Já na PF a presença do narrador-personagem é caracterizada pelo sujeito oculto “eu” na frase “Estáva com meu primo a caminho da casa da minha avó”. Nas versões da crônica de A3, verificamos que o personagem central é uma criança, sendo o narrador personagem das duas produções. Sequência 15– A3 PI: “Andava observando o quanto há violência, na minha cidade, parei, pensei, porque tanta violência no mundo.” PF: “Mas hoje, no caminho de sempre, me aconteceu algo inesquecível.” Na PI, A3 participa da história como observador dos atos de violência ocorridos em sua cidade. A inclusão do narrador como personagem se dá pelo uso dos verbos “parar” e “pensar” na primeira pessoa do singular do pretérito perfeito e, por conseguinte, entendemos que o verbo “andar” também se refere ao “eu”. Na PF, a presença do narrador-personagem está marcada pelo uso do pronome pessoal da primeira pessoa do singular do caso oblíquo “me” (aconteceu a mim uma coisa inesquecível; bateu em mim uma angústia; aconteceu a mim algo inesquecível). Destacamos que o foco narrativo predominante nas produções dos alunos foi narrador-personagem, uma vez que participaram ativamente dos textos narrados. Neste capítulo, mostramos o desempenho de três alunos que apresentaram níveis diferenciados de progresso e que representam as tendências do grupo pesquisado, durante a construção das crônicas, em particular dos elementos eleitos pelo Caderno como constitutivos do gênero em estudo. Finalizada a nossa análise, a seguir, refletiremos sobre a experiência, tentando responder as duas perguntas que nortearam a pesquisa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em relação à primeira pergunta de pesquisa – que fatores favoreceram/impediram a aplicação da SD junto a alunos de 9° ano de uma escola pública, tal como proposta pelo Caderno do professor? –, os dados gerados na experiência permitem-nos afirmar que a escola, o coletivo de professores e, sobretudo, a professora titular favoreceram a realização das atividades em sala de aula. Nesse sentido, a professora pesquisadora e a bolsista PET tiveram liberdade para utilizar material da biblioteca (dicionários), conseguiram horários de outros professores para dar continuidade às atividades e puderam adaptar a SD sem nenhuma intervenção contrária. No entanto, alguns fatores relacionados ao funcionamento da instituição escolar dificultaram o cumprimento das tarefas prescritas/planificadas, a saber: a realização de reuniões do coletivo de professores da escola, tanto com a direção da escola quanto com os pais dos alunos; paralisações da categoria em busca de reajuste salarial; reforma da escola, que diminuiu o tempo para a execução das tarefas e adiou, por mais ou menos quatro semanas, o reinício das aulas, após as férias do meio do ano; divulgação antecipada das notas finais no último dia de aula, o que justificou a falta de empenho do alunado na PF. Outro fator impeditivo que deve ser levado em consideração foi a falta de condições estruturais da escola, que garantissem a presença de materiais didáticos a serem utilizados em sala de aula. No caso específico da Olimpíada, as impressões das crônicas, das atividades escritas, do material para ser colado no caderno e das folhas de produção textual ficavam a cargo da professora titular da disciplina, e por extensão, da professora pesquisadora. Esse quadro aponta para as reais dificuldades de a escola incorporar práticas de ensino da escrita que rompem com as limitações da ausência de planejamento. Ao pesquisador resta a sensação de um vácuo entre as ações desenvolvidas durante a aplicação da SD, dado o caráter episódico do evento Olimpíada de Língua Portuguesa, e as rotinas de ensino da escrita que se lhe seguem, marcadas sobretudo pela pouca prática efetiva de escrita por parte do alunado. No que concerne ao material prescrito pela Olimpíada, este pode ser considerado esquemático, principalmente no que diz respeito aos elementos constitutivos da crônica. Nem todos os elementos elegidos no material (título, cenário, foco narrativo, personagens, enredo, tom, linguagem coloquial e desfecho) podem ser encontrados em todas as crônicas. Além disso, o manual sugere algumas atividades que não auxiliam no trabalho com a crônica, como: a leitura da biografia dos autores das crônicas, antes das leituras das crônicas; o trabalho com as figuras de linguagem e dos tipos de discurso sem ser a partir da aplicação nas crônicas; a falta de outras crônicas de um mesmo autor para leitura; além de outras. No que se refere às condutas exercidas pela professora pesquisadora e pela bolsista PET, consideramos que ambas seguiram as diretrizes do Caderno do professor para o ensino do gênero textual crônica, embora algumas planificações tenham sido realizadas para as oficinas se adequarem às necessidades da sala de aula. Faltou às professoras, principalmente, leituras mais abrangentes sobre o gênero textual em estudo. Ressaltamos que as docentes tinham pouca experiência em sala de aula, o que pode justificar o apego excessivo ao material prescrito. No tocante à segunda questão – quais os resultados gerados com a aplicação de oficinas prescritas, considerando as dimensões elegidas pelo Caderno do professor? –, afirmamos que, de modo geral, analisamos o progresso dos alunos selecionados na PI e na PF, dentro dos parâmetros considerados pelo Caderno do professor, segundo o qual o processo de escritura textual não se detém apenas a correções ortográficas e gramaticais, mas analisa a presença de novas ideias e informações no texto que está sendo escrito. Nesse sentido, a análise dos dados permite-nos afirmar que os alunos demonstraram maiores dificuldades na focalização do tema; e na escolha do cenário, ficando os alunos autores, na PI, restritos ao bairro onde moravam. No entanto, ganharam maiores dimensões, em boa parte dos textos, na PF, como: açude, rua, parque, dentro de casa. Com essa constatação, observamos que as escolhas pelos espaços revela que se escreve melhor a partir do que se conhece com mais profundidade. Apesar dessas dificuldades, os alunos conseguiram escrever boas crônicas, tendo em vista a falta de prática de atividades de escrita e de leitura. Acrescentamos, ainda, que o esquema para o ensino da crônica pode ter gerado essas dificuldade, uma vez que os alunos tentaram, em todas as produções, alcançar os elementos eleitos pelo Caderno. Constatamos, em relação às atividades prescritas, que os alunos se empenharam progressivamente na leitura de textos de autores proficientes e, por conseguinte, na escrita de crônicas. Desse modo, pudemos perceber uma melhora no desempenho de boa parte do alunado em relação às dimensões ensináveis da crônica, observadas na PI e na PF. Apesar de as oficinas subsidiárias não terem feito parte da nossa análise, afirmamos que elas contribuíram para a escrita na PF. No entanto, as melhoras registradas no desempenho dos alunos nessa produção não podem ser atribuídas exclusivamente ao material subsidiário elaborado, mas ao conjunto de toda a experiência aplicada: 11 oficinas do Caderno, acrescidas de cinco oficinas subsidiárias. Nessa perspectiva, esse dado parece indicar que as oficinas subsidiárias devem ser aplicadas no decorrer das oficinas do Caderno, e não apenas ao final destas, o que poderá levar os alunos a atribuírem mais sentido às suas dificuldades em relação à textualização. Verificamos, também, que há necessidade de inclusão de mais atividades de textualização no trabalho prescrito no Caderno, bem como de atividades planificadas pelo professor, em função das necessidades de cada classe. REFERÊNCIAS AMIGUES, René. Trabalho do professor e trabalho de ensino. In: MACHADO, Anna Rachel. O ensino como trabalho: uma abordagem discursiva. Londrina: Eduel, 2004. p. 35-53. ANDRÉ, M. A. de. Etnografia da prática escolar. 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Aluno (a):____________________________________ Ano: 9° ano. Data: ____/11/10 Atividades 1. Um dos elementos necessários para dar sentido a um texto é a coerência, que é a relação lógica e harmônica estabelecida entre as partes do texto. Nesse sentido, observe o texto abaixo: Circuito Fechado (Ricardo Ramos) Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo; pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maços de cigarros, caixa de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, blocos de notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bandeja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales, cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros, cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, externo, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata. Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos. Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água. Chinelos. Coberta, cama, travesseiro. - Com a leitura do texto acima, pudemos perceber que embora não haja conectivos para encadear o texto, há coerência, fato que nos permite entendêlo a partir da sequência lógica de substantivos utilizada pelo eu-lírico. Com isso, descreva, de forma breve, o que você entendeu do texto acima. 2. Leia o excerto abaixo retirado de “A última crônica”, de Fernando Sabino, e observe que o autor faz menção a “três seres” (em destaque) por meio de escolhas lexicais diferenciadas. Identifique-as. “(...)Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome. Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, largao no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente (...).” (Excerto de A última crônica – Fernando Sabino) 3. No texto abaixo há trechos lacunados. Reescreva-o trocando os números pelas sugestões apresentadas. Para isso, observe o seguinte: - nem todas as sugestões se encaixam; - alguns espaços podem ser preenchidos com mais de uma sugestão; - as sugestões podem ser usadas mais de uma vez. a velhinha vovozinha você ela a vovó moto lhe o fiscal motoneta lambreta a senhora velhinha senhora à velhinha “Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia (1)_______ passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da (2)________. O pessoal da Alfândega - tudo malandro velho - começou a desconfiar da (3)__________. Um dia, quando (4)_________ vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou (5) ________ parar. A (6)__________parou e então o fiscal perguntou assim pra ela: - Escuta aqui, (7)__________, a (8)___________passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco? A (9)__________ sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais outros, que (10)_________adquirira no odontólogo, e respondeu: - É areia! Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou (11) ____________ saltar da lambreta para examinar o saco. (12)____________ saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou (13)_________que fosse em frente. (14)_________montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.” (Excerto de A velhinha contrabandista - Stanislaw Ponte Preta) 4. O trecho abaixo possui repetições que afetam a progressão do sentido. Reescreva-o substituindo os termos em destaque por outras palavras, sem modificar o sentido do texto. As pessoas que moram no Pedregal há mais tempo costumam falar que o bairro só tinha mato e as casas eram muito distantes umas das outras. As casas eram de barro e taipa. Com o passar dos tempos, as coisas foram mudando: novas pessoas chegaram ao bairro e novas casas foram construídas. Embora seja um bairro agradável, é um bairro perigoso. Escola Municipal Padre Antonino Disciplina: Língua Portuguesa. Professora titular: Adriana Sá Professoras auxiliares: Nathalie Braga e Roberta Meneses. Aluno (a):___________________________________________. Ano: 9˚ ano. Data:___/11/10. ATIVIDADE II 1. Empregue nas lacunas abaixo uma das formas verbais indicadas nos parênteses. No caso de mais de uma possibilidade, utilize-as: a) “O pessoal da alfândega _____________ a desconfiar da velhinha” (começaram – começou) b) “Diante do animal ____________algum capim espalhado e uma lata com água”. (havia – haviam). c) “Dois meninos, parados, _____________o cadáver”. (contemplava – contemplavam) d) O pessoal _______________ eufórico com o show. (ficou – ficaram) e) Com medo de ______________, Maria me pediu ajuda. (cair – caírem). f) Não _____________ mantimentos para os desabrigados. (faltou – faltaram) g) As pessoas _____________ com medo do fogo. (correu - correram) 2. Assinale com um (x) os exemplos que, de acordo com a norma padrão, contêm erros de concordância verbal. Em seguida, reescreva-os no espaço ao lado, observando as regras dessa norma. ( ( ( ( ( ( ( ) Luísa e eu tínhamos medo do escuro. __________________________________________ ) Enquanto durar as críticas, Manoel não perdoará Sofia. ____________________________ ) Já ocorreu mais de dez pedidos desse livro. _____________________________________ ) As crianças agradeceram os presentes._________________________________________ ) Clara e Lia viajaram para fazer compras. ________________________________________ ) Tu vai almoçar comigo amanhã? ______________________________________________ ) Com a explosão, o pessoal começaram a sair da festa. ____________________________ 3. Os trechos abaixo, extraídos de textos produzidos por alunos, apresentam erros de concordância verbal. Reescreva-os, observando o uso da concordância de acordo com a norma padrão. Em 07 de setembro, Dia da Independência do Brasil, meus amigos e eu resolveu ir ao Açude Velho, local onde acontece os desfiles comemorativos. ___________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Deparei-me com uma criança sentada na calçada, com cabelos enrolados a uma fita de sacola plástica. Seus olhos profundos e cansados carregava uma tristeza imensa. ___________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 4. O mau emprego dos sinais de pontuação pode criar situações incômodas. Dessa forma, observe os exemplos abaixo e, em seguida, explique o significado de cada um. I. Não, podem gritar. Não podem gritar! _____________________________________________________________ ___________________________________________________ II. Você não sairá hoje? _____________________________________________________________ _________________________________________ Você não sairá hoje. ______________________ 5. Assinale a única alternativa pontuada de acordo com a norma escrita padrão. ( ) Ela era bonita inteligente e tagarela. ( ) Embora fosse muito bonita não era simpática. ( ) Comprou dois presentes: uma carteira e uma bolsa. ( ) Aos amigos tudo aos inimigos a lei. 6. Os trechos abaixo, extraídos de textos de alunos, não estão pontuados corretamente. Reescreva-os fazendo as correções de acordo com a norma padrão. I. Domingo de manhã fui passear com a minha avó pelas ruas de Campina de ônibus saímos de São José da Mata às 6h30 passamos pelo açude de Bodocongó ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ II. Lá na rua onde eu moro existe uma casa abandonada lá, eu estava com meus amigos quando nós começamos a conversar sobre quem já havia morado lá como era casa coisas assim mas principalmente queríamos saber sobre os rumores de que aquela casa era mal assombrada ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ III. No lugar onde vivo, tem algo que surpreende; crianças, adultos, jovens até quem é cego gostaria de ver, enfim é um belo açude que faz encher os olhos de lágrimas ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ IV. O lugar onde eu vivo pode não ser uma maravilha. Mas tem muita gente legal, na ramada 2 nem toda pessoa gostaria de morar por causa de vários fatores como (a falta de saneamento) ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ 7. Para finalizar, vamos fazer diferente! Você consegue imaginar um texto enorme sem nenhum sinal de pontuação nem divisão de parágrafos? Rubem Machado em Porque é domingo conseguiu imaginar. Observe o excerto abaixo: “Levantou tarde com vagar e simulacro de sorriso e examinou os dentes no espelho do banheiro e tirando o carro para frente da casa lavou-o tendo para isto vestido o short e tomou um chuveiro e fez barba e pôs sapato sem meia camisa esporte fora das calças e bebeu caipirinha discutindo futebol no bar da esquina e comprou um garrafa de vinha três guaranás e comeu demais no almoço e folheou o grosso jornal pensando é muita desgraça no mundo” (FONTE: MARCUSCHI, Luís. Processos de produção textual. IN:______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão) - Nas linhas abaixo, reescreva o texto colocando a pontuação adequada e, quando for necessário, faça divisão de parágrafos. ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________ __________________________ ANEXO ANEXO A – Textos dos alunos participantes Sequência de A3 PI Quem vive sem sucego Andava observando o quanto há violência, na minha cidade, parei, pensei, porque tanta violência no mundo; isso quem diz é o destino de quem convive no meio deles. Observei uma criança que estava sentada na calçada de casa: vinheram dois moleques, bateu na menina, coitada da criança, se pois a chorar. Os pais chegaram mas nem adiantou nada, já haviam batido na garota. Aquela sena foi muito triste. Mas teve um dia, que essa criança cresceu e aqueles moleques, há encontrou novamente, apareceram dois caras do nada, bateram muito neles. A menina logo viu que eram os mesmos garotos que haviam batido quando era pequena. Assim eles também viu que era aquela menina pequena que tinha batido. Um deles pensou, pois que fez com essa menina estou pagando na mesma moeda. Os caras foram embora, essa garota ficou se perguntando: porque será que aqueles caras fortes bateu neles, mas serviu de lição para eles, nunca mais fazer isso. Essa é uma lição de vida. PF A menina sem laço de fita Todo dia era sempre igual: acordar, tomar café, mochila nas costas, caminho à escola. As coisas que vejo no caminho se somam,elas são a face descoberta do lugar onde vivo. Mas hoje,no caminho de sempre, me aconteceu algo inesquecível. Me deparei com uma criança sentada na calçada,cachinhos enrolados por uma tirinha de sacola plástica. Seus olhos profundos e vivos carregavam uma tristeza imensa. Ao observar aquela criança me bateu uma angústia desesperada: eu queria ajudála! Ao me aproximar percebi que ela estava com muito medo. Apesar da pouca idade reparei em alguns poucos segundos que ela era uma criança muito esperta. Quando tentava me aproximar ela se levantava rapidamente; quando me afastava ela voltava. Ficamos nesse jogo de gato e rato até que tentei ser mais esperta do que ela e dei um passo rápido, mas a danada foi tão esperta que rapidamente se levantou e escapuliu tão rápido correu com suas perninhas finas que mais parecia um peru doido fugindo do seu dono. Desisti do joguinho, mas não desisti dela. Comprei um lanchinho na venda, deixei no cantinho da calçada e me afastei. Fui para a escola com uma estranha e furtiva sensação bem no meio do coração. “Neste dia o lugar onde eu vivo foi mais feliz”. Sequência de A6 PI Minha casa meu la Eu móro em um apartamento onde há 2 condomínio o residencial, Santa Tereza e o João Paulo. O Santa Tereza é onde eu moro, lá tem um espaço que cabe 10 blócos do A ao J, e uma quadra de futbol. Antes de fazer os 2 residenciais exgistia 2 campos de futbol, e cada campo foi construído cada residência... em apenas 1 ano foi construído os apartamentos, quando minha mãe viu os condomínios ficou apaixonada por eles. Então ela horó, sonhó, desejó e queria por que queria um apartamento daquele. E então ela foi fazer a inscrição, para ver se conseguia um. Depois de alguns meses minha mãe recebeu uma boa notícia, que meu irmão tinha passado na prova para estudar no “CEFET”, mas realmente eu pensei que a boa notícia era dos apartamentos. Depois de algumas semanas, veio mais esperado, minha mãe conseguio o que mais esperávamos, o nosso verdadeiro lar. E assim está minha mãe e meus irmãos e eu no apartamento tão esperado e trabalhoso. PF A felicidade (chico Júnior) Estava com meu primo a caminho da casa da minha avó. Passando pelo o riacho de bodocongó. Lá estava um senhor pescando no riacho, com uma calça rasgada, camisa cheia de buraco, parece até que veio da segunda guerra mundial. Nunca tinha visto ele. – Primo conhece ele? – Conheço sim é Jurubeba pow! – kkk... Jurubeba kkk... A risada foi tão boa que quase me migei. - Bora lá convessar com ele? - Bora - I ae Jurubeba - Opa meu rapaz; eu te conheço? Nossa que arrogante. - Jurubeba tás pegando muita piranha aí? Fala primo. - To, to e com força visse Abri a vasilha de “manteiga Primor”, e so havia 3 peixes. Jurubeba estava preste a pegar o próximo peixe, era um momento de calma, foram bastantes segundos e ... vurupi... Suspira dizendo. - Que droga o peixe so fez comer a minhoca; desgraçado. Mas não era um momento de tristeza La estava tentando mais uma vez com sua última isca... vurupi. – Ae UHUHU. Consegui pegar o dando. Ele pega o peixe, tira os expinhos com seu próprio dedo e está tratado o peixe. E então Jurubeba feliz da vida com seu peixe, pega um longo caminho deixando o riacho de bodocongó. Sequência de A7 PI O terrível lugar onde vivo Um lugar não muito bonito, quer dizer nada bonito. Esse lugar terrível é onde eu vivo, um lugar com a imagem suja, pessoas que não mora lá só conhece como o lugar onde mataram alguém, sujo também de outra forma, logo ali na linha do trem não é um lixão, mas as pessoas tão lhe transformando em um. Lá no Pedregal tem muitas mortes e assaltos. lá o pessoal reclama quando alguém fala que lá não tem nada de bom, mas infelizmente é a realidade. No local exato onde eu moro é terrível, odeio todos os meus vizinhos, porque eles falam muito de mim e do meu jeito, eles nem me conhece para falar tanto de mim assim, só de mim não, de todos alguns vizinhos desoculpados ficam na calçada esperando alguém passar para começar a fofocar essa é a crônica do terrível lugar onde vivo. PF Um noite de terror Um dia qualquer a rua cheia de pessoas passando de lá, pra cá. Mas quando chega a noite parece tudo muito normal, que pena que só parecia. Exatamente as 8:00 aconteceu um inesperado tiroteio, eu só via as pessoas correndo de um lado pro outro, muitos tiros rolavam no meu bairro, passou uns minutos, sai e fiquei em frente da minha casa, e foram chegando muitos carros e motos de policiais muito mesmo!!! Quando achei que não podia ficar pior, chega uma mulher dizendo que um garotinho de 3 anos foi baleado, fiquei imaginando como a mãe daquela criança estava se sentindo. Passando mais alguns minutos, uma fumaça toma conta do local, os familiares do garoto muito revoltado tocaram fogo na casa do bandidos depois de muito tempo chega os bombeiros e fizeram seu trabalho como tem que ser feito. Quando o tiroteio acabou as pessoas muitos tristes e assustados saíram de suas casas, as crianças trazendo os moveis para um outro lugar qualquer. Eu fiquei muito triste, por saber que não poder fazer nada, acho que foi a pior noite daquele bairro.