Artigo - Rede de Estudos do Trabalho

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Artigo - Rede de Estudos do Trabalho
SEGURANÇA NO TRABALHO: USO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO
INDIVIDUAL PELA EQUIPE DE ENFERMAGEM 1
Elisabeth Alves Silva
Martha Maria Macedo Bezerra
Rachel de Sá Barreto Luna Callou Cruz
Resumo
O homem expõe-se constantemente aos riscos presentes no ambiente laboral, os quais podem
interferir diretamente em sua condição de saúde. Os profissionais da área da saúde,
principalmente a equipe de enfermagem, estão constantemente expostos aos variados riscos,
tais como os causados por agentes químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos.
Entretanto, a adesão a equipamentos de proteção pode proporcioná-los prevenção,
minimização ou eliminação destes riscos. Nessa ótica, optou-se por realizar uma pesquisa
com o objetivo de compreender o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) pelos
profissionais da enfermagem. Esta se deu de forma bibliográfica, através da abordagem de
autores que tratam do tema em discussão. Constatou-se que a enfermagem é a categoria
profissional mais exposta aos diversos riscos, sendo também o grupo detentor do maior
percentual de acidentes com material biológico. No entanto, foi verificado que os
profissionais de enfermagem têm adesão insatisfatória aos EPI, o que coloca em risco a sua
saúde, bem como a dos pacientes aos quais assistem.
Palavras-chave: equipamentos de proteção individual; riscos; profissionais de enfermagem.
INTRUDUÇÃO
O homem tem o trabalho como uma atividade social, a qual cumpre um papel
fundamental nas suas condições de vida. Este determina um efeito positivo quando é capaz de
satisfazer suas necessidades básicas de subsistência, de criação e de colaboração. Por outro
lado, ao realizá-lo, o homem expõe-se constantemente aos riscos presentes no ambiente
laboral, os quais podem interferir diretamente em sua condição de saúde (MELO et al, 2006).
Visando-se prevenir riscos no local de trabalho, deve-se conhecer esses riscos, de que
forma eles ocorrem, quem está exposto a eles e que medidas podem ser adotadas a fim de
preveni-los ou minimizá-los. Para o trabalhador a aderir às medidas sabidamente eficazes para
a sua proteção, é necessário que ele tenha a percepção do risco de acidente (SOUZA et al,
2008).
Os profissionais da área da saúde estão constantemente expostos aos variados riscos,
tais como os causados por agentes químicos, físicos, biológicos, psicossociais e ergonômicos
1 Universidade Estadual do Ceará – UECE – Email [email protected]
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(CANINI et al, 2002). Em conseguinte, o grupo de maior percentual de acidentes com
material biológico são os profissionais da enfermagem, o que decorre do fato de
permanecerem mais tempo e em contato direto com os pacientes durante a assistência, em
virtude da rotina profissional (GIR et al., 2008).
Mesmo existido medidas de prevenção de acidentes e redução de riscos, a
implementação destas pela enfermagem ainda representa um desafio. Dentre os motivos que
interferem na adesão a estas medidas para os profissionais estão os aspectos da subjetividade
como crenças, valores, percepções e atitudes (MELO et al, 2006).
Nesse sentido, percebendo-se a relevância das medidas de proteção de risco no
desempenho das atividades de enfermagem, realizou-se uma pesquisa que teve como objetivo
compreender o uso dos equipamentos de proteção individual pelos profissionais da
enfermagem. Esta se deu de forma bibliográfica, através da abordagem de autores que tratam
do tema em discussão.
METODOLOGIA
Para a elaboração deste trabalho utilizou-se pesquisa bibliográfica, com estudo
descritivo que analisou teses, dissertações e artigos científicos sobre o tema.
Considerando o objeto do estudo, inicialmente os artigos, referentes á temática
abordada, foram pesquisados no banco de dados das bibliotecas eletrônicas Scielo, LILACS e
Medline, no período de setembro de 2011 a Janeiro de 2012. Para tanto, utilizou-se com os
seguintes descritores: equipamentos de proteção individual, riscos, profissionais de
enfermagem.
Os critérios de inclusão foram: artigos cujo tema central era utilização dos
Equipamentos de Proteção Individual. Foram identificadas 54 publicações que foram
incluídas de acordo com os critérios adotados neste estudo. Após a leitura dos resultados,
verificou-se que somente 24 artigos eram de interesse ao objeto de estudo proposto.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a leitura e análise do material, optou-se por discutir os aspectos mais relevantes
relacionados ao objeto de estudo de interesse ao trabalho da enfermagem: Biossegurança e
Precauções Padrão e Enfermagem e o uso de Equipamentos de Proteção
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Biossegurança e Precauções Padrão
Biossegurança é definida como um conjunto de práticas voltadas para a prevenção,
minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino,
desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, os quais apresentam a possibilidade de
causar danos ao meio ambiente, aos animais ou comprometer a saúde do homem em geral,
bem como a dos trabalhadores executores de tais atividades (TEIXEIRA; VALLE, 1996).
De acordo com Garner (1996), a situação crítica de novos patógenos e microrganismos
multidrogaresistentes somada à situação de epidemia e endemia relacionadas à infecção
nosocomial, na década de 80, culminaram com a criação de precauções para a proteção contra
patógenos veiculados pelo sangue durante a exposição ocupacional.
No entanto apesar da existência de medidas de precauções para a contenção das
infecções, a fim de controlar outras enfermidades, a AIDS foi a precursora da atenção e
preocupação dos trabalhadores com sua proteção pessoal, diante dos riscos existentes
(RAPPARINI; CARDO, 2004).
Na década de 80, com o crescimento do número de casos da AIDS e as intervenções
pouco eficazes para seu controle, houve o surgimento de questionamentos dos modelos
epidemiológicos vigentes e dos modelos de prevenção, sendo determinantes para que se
pudesse repensar o conceito de risco e avançar nas questões da vulnerabilidade (NICHIATA
et al., 2008).
Considerando a exposição dos profissionais da área da saúde a sangue e outros fluídos
biológicos durante a realização de suas atividades, os Centers for Disease Control and
Prevention (CDC) preconizou, no ano de 1985, a adoção de medidas de proteção conhecidas
como Precauções Universais (PU), as quais apontaram a universalidade do risco e a
necessidade de utilização de medidas preventivas no atendimento a todo e qualquer paciente.
No entanto, as PU só incluíam o uso de barreiras (avental, luvas, óculos) para a proteção do
profissional, com grande ênfase na lavagem de mãos e cuidado com material perfurocortante
(GARNER, 1996).
Estas medidas passaram por reformulação no ano de 1996, sendo então classificadas
como Precauções Padrão (PP), as quais incluíam as Precauções Universais (PU)
acrescentando-se as precauções ao manuseio dos fluidos orgânicos, não apenas para o sangue,
mas também para todas as secreções orgânicas com exceção de lágrimas e suor (GARNER,
1996).
Além disso, Garner (1996) ressalta que somente as PP não são suficientes para
assegurar a proteção dos profissionais, sendo importante considerar práticas adicionais
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específicas, baseadas no mecanismo de transmissão das doenças, que incluíram as precauções
respiratórias para gotículas, precauções respiratórias para aerossóis e precauções de contato.
Os CDC, no ano de 2007, reformularam seu guia, publicando novo manual sobre
Precauções de Isolamento para prevenção da transmissão de agentes infecciosos em
estabelecimentos de saúde, no qual foram adicionadas novas recomendações, bem como
reforçadas as anteriormente preconizadas (CDC, 2007).
Segundo esse documento divulgado pelo CDC (2007), as Precauções Padrão baseiamse principalmente em: lavagem das mãos (antes e após contato com paciente e realização
procedimentos, depois de retirar luvas e tocar equipamentos); uso de luvas (risco de contato
com sangue ou fluidos corpóreos, mucosas, pele não intacta e outros materiais potencialmente
contaminados); uso de avental (possibilidade de contato com sangue, fluidos corpóreos e
materiais potencialmente infectantes); uso de máscara, óculos e protetor facial (se houver
possibilidade de respingo e/ou aerossóis de sangue ou fluidos corpóreos).
As Precauções Padrão configuram-se em um apanhado de ações planejadas, que visam
à proteção dos pacientes e dos profissionais de saúde. Nesse sentido, a adesão a estas se
constitui em prevenção primária da exposição a material biológico, sendo considerada uma
maneira segura e necessária para reduzir a exposição ocupacional a sangue, outros fluidos
corpóreos e materiais possivelmente infectantes (MELO et al., 2006)
Dentre as precauções encontra-se a utilização de Equipamentos de Proteção Individual
(EPI), visando à proteção coletiva e em especial, a do profissional da saúde. Conforme Siegel
et al. (2007), estes equipamentos referem-se a barreiras utilizadas para promover a proteção
das mucosas, vias aéreas, pele e vestuário dos profissionais da área da saúde, sempre que
houver possibilidade de exposição a material biológico ou contato com agentes infecciosos. O
mesmo ressalta ainda que a seleção desses equipamentos precisa ocorrer mediante avaliação
do tipo de atividade a realizar, considerando a interação com o paciente e provável modo de
transmissão da patologia apresentada.
Segundo Bulhões (1998), o alcance efetivo desses princípios preconizados, com vistas
à redução de riscos entre profissionais da saúde, necessita-se que as medidas de prevenção
observem a adoção de comportamento de segurança mediante a formação, educação
continuada, supervisão qualificada, organização do trabalho, provisão de recursos materiais,
inclusive com a utilização de equipamentos de proteção individual (EPI). Além disto, convém
cumprir rigorosamente os procedimentos indicados quando no exercício das atividades que
apresentem risco.
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Enfermagem e o uso de Equipamentos de Proteção
Os trabalhadores da área da saúde, de acordo com Sêcco et al (2002), encontram-se
em ambientes complexos quanto à diversidade de riscos ocupacionais ou cargas de trabalho,
no que tange a saúde do trabalhador. Para o autor, tanto os trabalhadores da área de
atendimento aos pacientes como de todas as de apoio destes serviços de atenção à saúde, estão
suscetíveis à ocorrência de acidentes de variadas naturezas.
Sêcco et al (2002) ressalta ainda que tais ocorrências derivam de complexas interrelações e não devem ser analisadas de forma isolada, como evento particular, mas através do
estudo do contexto dos processos de trabalho e produção, das formas como o trabalho é
organizado e realizado, das condições de vida dos profissionais expostos e das cargas de
trabalho presentes no dia-a-dia dos trabalhadores.
Os indivíduos que são profissionais da área da saúde estão constantemente expostos
aos variados riscos, tais como os causados por agentes químicos, físicos, biológicos,
psicossociais e ergonômicos (CANINI, 2002). No entanto, dentre a variedade de riscos
presentes no cotidiano de trabalho destes, o risco biológico representa 81% do total dos riscos
a que os profissionais da área da saúde estão expostos no ambiente de trabalho (GIMENO et
al., 2005).
Dentre os riscos apresentados, os biológicos são os principais causadores de
periculosidade e insalubridade, uma vez que tais profissionais têm contato direto com sangue
e outros fluidos corpóreos, além de manipulação rotineira de materiais perfurocortantes e
infectantes (CANINI, 2002).
Acerca do risco biológico enfrentado pelos profissionais da área da saúde, as infecções
mais graves e preocupantes são aquelas advindas dos vírus HIV, o causador da AIDS, e dos
vírus da hepatite B e da hepatite C. Esses vírus apresentam como principal via de transmissão
ocupacional a contaminação por meio da exposição a sangue via acidente percutâneo
(BREVIDELLI; CIANCIARULO, 2006).
Nesse sentido, o Ministério da Saúde destaca que os riscos de exposição ao HIV, vírus
da hepatite B e da hepatite C são proporcionais ao manuseio de materiais perfurocortantes e
fluidos orgânicos. Relatando ainda que o risco médio de infecção pelo vírus da hepatite C
após acidente ocupacional percutâneo é de 1,8%, podendo variar de 0 a 7%. Quanto ao vírus
da hepatite B, caso o paciente fonte seja HbeAg positivo o risco está estimado entre 6 a 30%,
podendo atingir até 60% se nenhuma medida profilática for adotada. Nos casos que o paciente
fonte é positivo para o vírus HIV, o risco é de aproximadamente 0,3 em exposição percutânea
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e de 0,09% após exposição de membrana mucosa. E nas exposições com pele íntegra esse
risco ainda não foi quantificado, embora exista e seja muito baixo (BRASIL, 2006).
No que se refere aos profissionais da área da saúde, o grupo de maior percentual de
acidentes com material biológico são os profissionais da enfermagem, o que decorre do fato
de permanecerem mais tempo e em contato direto com os pacientes durante a assistência, em
virtude da rotina profissional (GIR et al., 2008). Tal situação relaciona-se também ao cuidado
direto e indireto que a equipe de enfermagem presta aos pacientes, aos tipos e a frequência
dos procedimentos que realiza, o que os expõe a microrganismos presentes no sangue e
fluidos orgânicos e consequente risco de infecção (BALSAMO; FELLI, 2006).
O que também é corroborado por Melo et al. (2006), quando constataram que de
acordo com as frequentes exposições percutâneas e o contato da pele com sangue ou outros
materiais contendo líquidos corpóreos, a enfermagem foi a categoria profissional mais
exposta ao risco biológico. Porém, ao investigar a respeito da auto-proteção a categoria
revelou os menores índices.
Os profissionais da enfermagem expõem-se, além do risco biológico, a esforço físico,
levantamento e transporte manual de peso, materiais de trabalho inadequados ou defeituosos,
postura inadequada, trabalho noturno, elevada carga horária semanal, iluminação deficiente e
situações causadoras de estresse psíquico (ALMEIDA et al, 2005).
Em decorrência dos riscos descritos acima, Almeida et al (2005) afirma que as
atividades decorrentes do trabalho em enfermagem, por vezes, apresentam a capacidade de
serem responsáveis por danos físicos, os quais ocorrem em virtude da falta de conhecimento
sobre medidas preventivas e do uso incorreto de equipamentos de proteção pelos executores
das atividades. Este relata ainda que, uma forma de evitar acidentes relacionados ao trabalho
dar-se com o uso de equipamentos de proteção individual (EPI), pois eles constituem-se em
uma barreira protetora para o trabalhador, minimizando efetivamente os riscos e as
consequências apesar de não eliminá-los.
Quanto à definição dos EPI, o Ministério do Trabalho e Emprego expressa na Norma
Regulamentadora – NR 6 que, “considera-se Equipamento de Proteção Individual (EPI) todo
dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de
riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no trabalho” (BRASIL, 2004, p. 13).
Cabe ressaltar que esse equipamento deve ser aprovado por órgão competente e é de
fornecimento gratuito e obrigatório aos empregados que dele necessitarem. Isto pode é
determinado pela NR-6, quando diz que “a empresa é obrigada a fornecer aos empregados,
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gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento”
(BRASIL, 2004, p. 14).
O empregador e o empregado têm obrigações com relação ao EPI, tendo o primeiro
que oferecê-los em qualidade e quantidade adequada conforme ao risco e exposição, não
podendo cobrar por isto. E no que cabe ao empregado, este deve utilizá-lo apenas para a
finalidade a que se destina, responsabilizando-se pela guarda e conservação, comunicar ao
empregador qualquer alteração que o torne impróprio para o uso, bem como cumprir as
determinações quanto ao uso conforme determinado pelo empregador e medidas de prevenção
(BRASIL, 2004).
Outro ponto a ser compreendido diz respeito à adesão ao uso dos EPI pelos
profissionais da área da saúde como forma de prevenção. Segundo Almeida et al (2005), a
adesão ao uso do EPI está diretamente relacionada à percepção que os profissionais possuem
acerca dos riscos aos quais se encontram expostos, considerando ainda o grau de
suscetibilidade a estes riscos. No entanto, o mesmo autor refere ser comum o fato dos
profissionais apresentarem uma tendência a banalizar os riscos ocupacionais, o que advém
como resposta a dificuldade em identificar as consequências decorrentes da inobservância do
uso de medidas de prevenção necessárias.
As razões para a não utilização dos EPI pelos profissionais da área da saúde são
variadas perpassando por problemas relacionados à sua disponibilização, a conscientização e
a educação dos trabalhadores. Pede-se constatar isto no que afirma Tipple et al (2004),
quando relata como razões para o não uso dos EPI a ausência deles ou o seu tamanho
inadequado, dificuldade de acesso a eles, falta de recursos financeiros, problemas com a
estrutura organizacional, pressa em executar ações, crença de que não vai contrair a doença,
resistência, inconveniência do seu uso, interferência no trabalho, desconhecimento do seu
papel preventivo e inabilidade para seu emprego.
Os benefícios da utilização dos EPI refletem-se tanto na saúde do trabalhador como
em vantagens aos empregadores, uma vez que possibilitará melhoria na produtividade,
diminuição do número de ausências por questões de saúde e redução dos gastos hospitalares
com atendimentos, equipamentos e materiais. Para que isto ocorra de forma benéfica às
partes, o uso dos EPI precisa ser adequado às necessidades do procedimento, avaliando o
conforto, o tamanho do equipamento e o tipo de risco envolvido, desta forma não
comprometerão a execução do procedimento e não resultarão em despesas desnecessárias para
a instituição (BALSAMO; FELLI, 2006).
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Vale destacar também que a não adesão aos equipamentos de proteção, quando
necessários, pode resultar em prejuízos capazes de comprometer as relações psicossociais,
familiares e de trabalho, além dos agravos relacionados à saúde do profissional (TAVARES;
SALES, 2007).
Para os profissionais da enfermagem, os mais expostos aos riscos dentre os
profissionais da saúde conforme já comentado, os EPI são utilizados como forma de prevenir
o usuário de adquirir doenças em virtude do contato profissional/paciente, assim como contra
riscos de acidentes de trabalho, visando à conservação da sua própria saúde.
Dentre os EPI que fazem parte da prática profissional da enfermagem pode-se citar
como mais relevantes as máscaras para proteção respiratória; os óculos para amparar os olhos
contra impactos, radiações e substâncias; as luvas para proteger contra riscos biológicos e
físicos; avental ou capote descartável e gorro para evitar aspersão de partículas dos cabelos e
do couro cabeludo no campo de atendimento (SOUZA, 2008).
Quando os EPI são ignorados e as medidas preventivas são inobservadas, aumenta-se
a possibilidade da ocorrência de acidentes. Estes quando envolvem os profissionais da
enfermagem, apresentam como circunstâncias mais frequentes o descarte de perfurocortante,
administração de medicamentos, reencape de agulhas, coleta de sangue, punção venosa,
aspiração orotraqueal e a desinfecção ou esterilização de material (PAULINO et al 2008).
As medidas de Precaução Padrão recomendam que os profissionais da área da saúde
utilizem o EPI para qualquer contato com sangue ou fluidos corpóreos, independente do
diagnóstico do paciente. No entanto, Keller et al. (2005) identificaram que o equipamento de
proteção era utilizado pelos profissionais da enfermagem de maneira diferenciada, sendo seu
uso baseado no nível de risco durante o trabalho e de acordo com a interação com o paciente.
Segundo pesquisa realizada por Ganczack e Szych (2007) identificou-se que apesar do
risco associado com o contato com sangue, a adesão dos profissionais da enfermagem ao EPI
foi insatisfatória, sendo que o uso de luvas foi em 83%, óculos de proteção 9% e em relação
ao avental apenas um terço informaram usarem regularmente.
Situação parecida foi descrita por Nishide et al (2004) ao identificarem os acidentes de
trabalho ocorridos com os trabalhadores de enfermagem da Unidade de Terapia Intensiva de
um hospital universitário, constataram que 50% dos acidentes de maior incidência deram-se
por contato de pele e mucosas com sangue e fluidos corpóreos. Verificou-se também que 60%
dos trabalhadores não estavam utilizando os EPI no momento do acidente.
A adesão ao uso de EPI está intimamente relacionada à percepção que os profissionais
têm acerca dos riscos a que estão expostos e da susceptibilidade a estes riscos. De acordo com
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Canini et al. (2008), os profissionais da área da enfermagem que auto-avaliam o risco de
sofrerem acidentes percutâneos como baixo ou médio, em seu setor de trabalho, têm maior
chance de se acidentar, quando comparados com aqueles que avaliam o risco como alto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os profissionais da área da saúde estão constante mente expostos a sangue e outros
fluídos biológicos durante a realização de suas atividades. Devido a isto, preconiza-se a
adoção de medidas de proteção, as quais considerem a universalidade do risco e a necessidade
de utilização de medidas preventivas no atendimento a todo e qualquer paciente.
Pode-se perceber a necessidade da adesão a tais medidas como forma de prevenção
primária da exposição aos riscos no ambiente de trabalho. Principalmente quando se trata da
exposição ocupacional a sangue, outros fluidos corpóreos e materiais possivelmente
infectantes. A utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), objetivando a
proteção coletiva e em especial, a do profissional da saúde, está elencada dentre essas
medidas.
Dentre os profissionais de saúde, a enfermagem foi relatada como a categoria
profissional mais exposta aos diversos riscos, sendo também o grupo no qual ocorre o maior
percentual de acidentes com material biológico. No entanto, foi verificado que os
profissionais de enfermagem têm adesão insatisfatória aos EPI, deixando de utilizar os
equipamentos que poderiam servir como barreira, minimizando o risco de acidentes.
A percepção dos riscos pela equipe de enfermagem e a idéia de que são passíveis de
prevenção devem ocupar a devida relevância. Desta forma a enfermagem poderá desenvolver
mecanismos de controle e proteção adequados, objetivando a promoção da própria saúde, dos
demais profissionais da área da saúde e dos pacientes recebedores dos cuidados.
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