topicos especiais em ciencia animal iv - Ciências Veterinárias

Transcrição

topicos especiais em ciencia animal iv - Ciências Veterinárias
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Tópicos especiais em
Ciência Animal IV
Carla Braga Martins
Bruno Borges Deminicis
Gisele Rodrigues Moreira
Pedro Pierro Mendonça
2016
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
2
Carla Braga Martins
Bruno Borges Deminicis
Gisele Rodrigues Moreira
Pedro Pierro Mendonça
(ORGANIZADORES)
Tópicos especiais em Ciência Animal IV
1ª Edição – Volume 1
Alegre, ES
CAUFES
2016
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
3
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
T674
v. 1
Tópicos especiais em Ciência Animal IV [e-book], volume 1 / Bruno
Borges Deminicis ... [et al.]. – 1. ed. – Alegre, ES : CAUFES, 2016.
483 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN:
1. Espírito Santo (Estado). 2. Medicina Veterinária. 3. Zootecnia.
4. Simpósio. 5. Pós-graduação. 6. Ciência. I. Deminicis, Bruno Borges.
CDU: 619
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
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REITOR - UFES
REINALDO CENTODUCATTE
DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - UFES
JOSEVANE CARVALHO CASTRO
COORDENADOR - PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
MARCOS SANTOS ZANINI
ORGANIZADORES DESTA OBRA
CARLA BRAGA MARTINS
BRUNO BORGES DEMINICIS
GISELE RODRIGUES MOREIRA
PEDRO PIERRO MENDONÇA
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APRESENTAÇÃO
O presente livro, obra cuidadosamente produzida como fruto do tranbalho de diversos
autores, corresponde a uma compilação aprimorada do material por eles utilizado e
extensivamente testado em disciplinas de graduação e de Pós-graduação ministradas na
Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal do Sul da Bahia e Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo. O material aqui apresentado
tem como finalidade principal servir como texto fundamental de estudo sobre Ciência
Animal, nas linhas de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da
Universidade Federal do Espírito Santo: 1) Reprodução e Nutrição Animal e 2) Diagnóstico e
Terapêutica das Enfermidades Clínico-Cirúrgicas.
Seu público-alvo é, portanto, os alunos da Graduação e da Pós-Graduação das áreas de
Ciências Biológicas, Medicina Veterinária e Zootecnia. O arquivo da presente obra está num
formato aberto, o que permite um pleno uso dos textos e figuras, obviamente sempre
respeitando o direito dos autores a terem os devidos créditos. Como sinal concreto de
agradecimento, presenteamos a todos com esta obra.
OS ORGANIZADORES
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SUMÁRIO POR LINHA DE PESQUISA
Linha de Pesquisa: Diagnóstico e tratamento das enfermidades clínico-cirúrgicas
Capítulo 1- Alterações no trato digestório dos leitões após o desmame .......................... 8
Capítulo 2- Análise bioquímica da produção de metano e sua importância para a
manutenção do funcionamento do processo fermentativo no rúmen............................ 17
Capítulo 3- Atividade fasciolicida dos óleos essenciais ................................................ 38
Capítulo 4- Cicatrização de feridas através da utilização de plantas (Schinus.............. 51
Capítulo 6- Inibidores da acetilcolinesterase úteis à terapêutica humana e animal ...... 77
Capítulo 7- Intoxicação alimentar em animais de produção: ênfase em contaminação
por agrotóxicos .......................................................................................................... 96
Capítulo 8- Flebotomíneos transmissores de leishmanioses no brasil ......................... 115
Capítulo 9- Mastite bovina e a inter-relação com enfermidades metabólicas ............. 125
Capítulo 10- Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina ............................. 145
Capítulo 11- Preditores importantes para avaliação do condicionamento físico e da
saúde em cavalos atletas .......................................................................................... 160
Capítulo 12- Revisão e atualização da situação da fasciolose bovina no Espírito Santo
168
Capítulo 13- Sarcoma de aplicação em felinos – revisão de literatura ........................ 183
Linha de Pesquisa: Reprodução e Nutrição Animal
Capítulo 14- Metodologias aplicadas a estudos de comportamento animal ................ 201
Capítulo 15- Controle de parasitas em pequenos ruminantes com plantas da
biodiversidade brasileira: Schinus terebenthifolius Raddi - do empirismo à ciência ... 218
Capítulo 16- Controle de pragas em grãos armazenados com inseticidas naturais ..... 236
谑 HYPERLINK \l "_Toc444776534" Capítulo 17- Criopreservação de embriões
Capítulo 18- Critérios para a implantação de uma Central de Reprodução Equina ... 256
Capítulo 19- Kisspeptina na regulação da Reprodução Animal ................................. 276
Capítulo 20- Leptina na regulação da Reprodução Animal ....................................... 293
Capítulo 21- Melhoramento genético de Brachiaria ruziziensis: histórico e estratégias309
Capítulo 22- Oleos essenciais: encapsulamento e potenciais aplicações para o setor
agropecuário ........................................................................................................... 328
Capítulo 23 - Pastagens degradadas no Sul do Espírito Santo ................................... 341
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Capítulo 24- Potencial antioxidante de Catharanthus Roseus L. (G.) DON................. 353
Capítulo 25- Reprodução de peixes de interesse para piscicultura brasileira ............. 358
Capítulo 26- Transferência de embriões e produção in vitro de embriões em bovinos 371
Capítulo 27 - Cafeína: farmacocinética, farmacodinâmica, biossíntese e ações no
organismo”.............................................................................................................. 386
Capítulo 28 - Fisiologia do bem-estar aplicado à produção de suínos: hormônios e
neurotransmissores envolvidos ................................................................................ 402
Capítulo 29 - Mecanismos de ação da cafeína e seus efeitos em peixes” ..................... 418
Capítulo 30 - Efeito do comportamento ingestivo em pastagens sobre a produção de
ovinos ...................................................................................................................... 441
Capítulo 31 - Influência do Nível de Ingestão de Matéria Seca na Reprodução de
Ovelhas ................................................................................................................... 452
Capítulo 32 - Ambiência e suplementação energética para leitões em fase de
maternidade ............................................................................................................ 459
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Capítulo 1- Alterações no trato digestório dos leitões após o desmame
BONAPARTE, T. P.1; VARGAS JÚNIOR, J. G.1; SOARES, R. T. R. N.2; SILVA, B. M. F.1;
NUNES, T. S.1; VIEIRA, D. V. G.3
Introdução
Em busca de maximizar a produção na suinocultura a redução na idade de desmama de
leitões vem sendo adotada, objetivando melhoria no desempenho e incremento no número de
partos por matriz/ano. No entanto, os leitões desmamados com três semanas de idade não
possuem o sistema digestivo apto a digerir todos os nutrientes encontrados nos alimentos
fornecidos, comprometendo desta forma a digestibilidade dos mesmos.
A secreção limitada de enzimas endógenas, a capacidade de absorção intestinal ainda
insuficiente, juntamente com a escassa secreção de ácidos e reduzida ingestão de água são
alguns dos fatores responsáveis pelo crescimento limitado dos leitões (ARAÚJO et al., 2003).
A alteração da fonte e composição nutricional do alimento fornecido aos leitões desmamados
precocemente, desempenham papel relevante sobre o desempenho dos leitões nessa fase,
devendo a dieta apresentar alta digestibilidade, baixa antigenicidade e alta concentração de
nutrientes.
Através da ingestão de leite, o leitão recebe gorduras, lactose e caseína, de fácil
digestibilidade, permitindo rápido crescimento e desenvolvimento do animal (ROPPA, 1988).
Após esse período, a capacidade digestiva dos leitões e seu comportamento alimentar são
caracterizados pela síndrome de adaptação geral (SAG), devido a troca de ambiente e de
alimento, causando anorexia, alterações metabólicas e fisiológicas da mucosa intestinal,
distúrbios gastrintestinais e redução no crescimento (ROURA, 2004).
Nessa fase, o uso de ração balanceada, quando associada ao manejo inadequado dos
leitões, predispõe ao aumento de bactérias no trato digestivo e ao surgimento de desordens
intestinais (KIDDER et al., 1982). Assim, os problemas relacionados ao baixo desempenho
pós-desmame decorrem do consumo de ingredientes que não estão em proporção, quantitativa
e qualitativamente, com a produção de enzimas no trato gastrintestinal dos leitões (SILVA,
2002).
_____________________________________________________
1 Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias - UFES.
² Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias - UENF.
3 Universidade Federal do Tocantins - UFT
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Impacto do desmame na fisiologia dos leitões
O desmame mais utilizado na suinocultura é em torno de 21 dias, variando de 14 a 28
dias, sendo realizado cada vez mais cedo com objetivo de alcançar maior produtividade das
matrizes, com maior número de leitões por porca/ano (IAGFIGLIOLA, 2001).
No desmame são feitas mudanças drásticas de dieta e ambiente que juntamente com as
limitações fisiológicas do trato gastrointestinal do leitão serão responsáveis pelo estresse do
animal, assim como o reduzido crescimento e a ocorrência de diarreia pós-desmame. A
mudança da dieta baseada no leite da porca para uma dieta sólida de menor digestibilidade,
composta basicamente por grãos de cereais e proteínas vegetais, geralmente resulta em um
período crítico de 10 a 14 dias de baixo consumo de alimento, acompanhado de uma
depressão no status sanitário e no desempenho produtivo de leitões (LE DIVIDICH e
HERPIN, 1994).
Quanto mais tardio o desmame menor será sua influência sobre o organismo do leitão.
Mahan e Newton (1993) verificaram que leitões desmamados aos 30 dias de idade são mais
eficientes na utilização dos nutrientes. Em pesquisa com diferentes idades de desmame (21,
28 e 35 dias), Lima et al. (1990a, b e c) verificaram que os leitões com 35 dias foram mais
eficientes na utilização de proteína, lisina e energia da ração.
Esse fato pode ser explicado devido aos animais maiores, mais pesados, terem mais
apetite, além do sistema digestivo mais desenvolvido, se comparado aos leitões mais leves,
com a mesma idade, o que lhes permite melhor adaptação às rações secas, fazendo que
ganhem mais peso que os leitões menores, aumentando a diferença entre eles (ROPPA, 1998).
O momento mais crítico ocorre nos primeiros dias após o desmame, quando ocorre
redução do desempenho gerado pelo estresse da perda de contato com a mãe, adaptação à
dieta sólida, mudança de ambiente, maior desafio imunológico (MOLLY, 2001), adaptação
aos bebedouros, cochos, a temperatura da nova instalação, transtornos sociais, entre outros
(MORES et al., 1998).
A troca da dieta do leite materno com imunoglobulinas, sendo altamente digestível e
rico em lactose, caseína e gorduras, para um alimento sólido constituído de ingredientes de
origem vegetal (amido, óleos e proteína) traz consequências negativas uma vez que o leitão
ainda não possui sua imunidade ativa desenvolvida, tornando-se mais susceptível a
enfermidades (MELLOR, 2000; VIOLA e VIEIRA, 2003).
O consumo de alimento reduz visto que o sistema digestivo dos leitões tem de se
adaptar ao alimento sólido, adequando o pH às secreções enzimáticas e à motilidade
intestinal, além dos transtornos digestivos ocasionados pela proteína da soja, a qual contém
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fatores antinutricionais e antígenos, capazes de provocar aos leitões uma série de disfunções
intestinais (MAKKINK, 1994). Diante dessa dificuldade o consumo reduzido de ração na
primeira semana após o desmame leva a alta mobilização de gordura corporal e de reservas
acumuladas durante a amamentação (PÉREZ e GASA, 2002).
Aos 21 dias de idade o sistema digestório do leitão é imaturo (SMINK, 2003), sua
capacidade física de ingestão é pequena (estômago e intestino delgado), no entanto, mesmo
que a ingestão de alimento fosse satisfatória, sua secreção de enzimas digestivas, ácido
clorídrico, bicarbonato e de muco é insuficiente, dessa forma, a digestão e absorção de
nutrientes é prejudicada (MOLLY, 2001) que pode ocorrer devido à diminuição no tamanho
das vilosidades intestinais (BACH KNUDSEN e JORGENSEN, 2001).
A digestão de alimentos é feita por meio de enzimas no estômago e intestino delgado.
As enzimas digestivas que hidrolisam proteínas são chamadas proteases e sintetizadas como
zimogênios inativos no estômago e no pâncreas. A enzima pepsina digere proteínas no
ambiente ácido do estômago (MAKKINK et. al., 1994) e a quimotripsina e a tripsina, no
intestino delgado.
Nos suínos, a enzima alfa-amilase salivar, ou ptialina, atua sobre as ligações do tipo
alfa 1,4 do amido, a atividade é neutralizada pelo baixo pH do estômago. A alfa-amilase
pancreática também digere o amido no intestino para produzir glicose, maltose e maltotriose.
As gorduras são hidrolisadas a ácidos graxos, glicerol, monoacilgliceróis e diacilgliceróis, por
uma lípase pancreática específica a ligações ésteres (HARPER et al., 1994).
De acordo com Cantor (1995), a atividade da amilase no intestino delgado aumenta
durante os dez primeiros dias de idade. Leitões recém-desmamados e alimentados com dietas
contendo elevados níveis de amido, não possuem atividade enzimática suficiente para a
digestão desse substrato. A maltase, sacarase e protease são inicialmente pouco ativas,
enquanto a lactase apresenta grande atividade nos leitões recém-nascidos, decrescendo com a
idade. Os aumentos de carboidratos, proteínas e gordura na dieta são acompanhados de
incrementos em amilase, protease e lipase, respectivamente (CORRING, 1978). Com o
desmame, ocorre modificação do pH, da secreção enzimática, da motilidade e das absorções
intestinais, provocadas pelo novo regime alimentar (HANSEN et al., 1993).
No organismo animal os níveis de enzimas digestivas são influenciados pela idade e
pelo tipo de alimento que foi ingerido. Nos leitões, a função pancreática aumenta na terceira
semana de idade, enquanto a amilase e a protease, presentes em baixas quantidades no
nascimento, aumentam no período subsequente. Com a desmama, na quarta semana de vida
dos leitões há queda na produção de amilase e redução significativa na produção de protease
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(LINDEMANN et al., 1986; OWSLEY et al., 1986), consequentemente a função digestiva é
comprometida em virtude da menor produção de enzimas pancreáticas (PARTRIDGE, 1993).
A produção de proteases pancreáticas depende da fonte proteica e da quantidade de
alimento ingerido. A depressão nas enzimas pancreáticas, no mesmo período, variou de 30 a
75%, conforme o tipo de enzima, sendo que a maioria da atividade é recuperada duas semanas
após o desmame (LINDEMANN et al., 1986).
Com o consumo reduzido por parte dos leitões na primeira semana após o desmame,
há uma ausência de alimento no lúmen, que pode ocasionar inflamação da mucosa intestinal,
com perda elevada de eletrólitos e desequilíbrio da microflora. Nos dois primeiros dias após o
desmame o número de lactobacillus cai, e devido a isso há aumento de pH do estômago e
intestino delgado. Com a faixa de pH mais alcalina há proliferação de microrganismos como
Escherichia coli e anaeróbios facultativos (WILLIAMS et al., 2001).
A produção de enzimas endógenas de leitões recém-desmamados está condicionada à
idade e a exposição aos substratos específicos (LOVATTO, 2002). Mesmo com o avanço da
idade e a exposição dos substratos específicos, os suínos não possuem a capacidade
enzimática de digerir celulose, arabinoxilano, ß-glucanos, pectinas e polissacarídeos não
amiláceos, devido a sua baixa digestibilidade quando consumidos, aumentando a viscosidade
do quimo intestinal, interferindo no desempenho, reduzindo a velocidade de passagem dos
alimentos ao longo do trato gastrintestinal, dificultando a ação das enzimas endógenas e
interferindo na difusão ou transporte de nutrientes (PENZ Jr., 1998).
Com sua capacidade digestiva reduzida para nutrientes, devido a ingestão de alimentos
de origem vegetal logo após o desmame e com a menor reabsorção de líquido e minerais,
ocorre a diarreia osmótica (NABUUS et al., 2003). Nesta fase crítica do desmame, os leitões
requerem nutrientes em proporções adequadas, permitindo o bom funcionamento do trato
digestório, sem alterações nas taxas de crescimento, até que o trato digestório tenha sofrido
modificações fisiológicas e esteja preparado para a digestão de ingredientes de origem vegetal
(PASCOAL, 2009).
Impacto do desmame na morfologia do intestino delgado
O sistema digestório dos leitões, do nascimento ao desmame, é adaptado para secretar
enzimas digestivas que digerem o leite, mas não outros nutrientes, principalmente aqueles de
origem vegetal (MAXWELL e CARTER, 2001). Com a ingestão insuficiente de alimentos
ocorrem alterações na estrutura do epitélio intestinal. Tais modificações explicam grande
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parte da queda de desempenho dos leitões nos primeiros dias pós-desmame (VENTESPREEUWENBERG et al., 2004).
Prejuízos causados às vilosidades intestinais reduzem, em até 75%, a superfície de
absorção dos nutrientes durante este período. O nível de comprometimento destas estruturas
está correlacionado ao consumo de alimento que as rações pré-iniciais promovem, pois a
recuperação depende da disponibilidade de nutrientes para a multiplicação dos enterócitos,
que são as células intestinais que compõem as vilosidades. Nos leitões jovens, estas células
têm alta taxa de renovação, exigindo uma grande demanda de nutrientes.
O estômago, primeiro sítio da digestão proteica, deve apresentar pH de 2,0 a 3,5. A
acidez é responsável por formar uma barreira que irá proteger contra a entrada de
microrganismos patogênicos no intestino delgado, fornecendo ainda pH ideal para ação da
pepsina (AUMAITRE, 2000). No entanto, há redução da produção de ácido lático no
estômago em virtude do desmame, por o leitão não consumir mais lactose, que anteriormente
realizava a manutenção dos lactobacilos, associada à produção insuficiente de ácido
clorídrico, que leva a um quadro de pH elevado (VIOLA e VIEIRA, 2003).
Logo após o desmame (24 horas) há modificações no epitélio intestinal, com
encurtamento das vilosidades e aprofundamento das criptas em todo intestino delgado, devido
a maior descamação dos enterócitos (ROURA, 2004). A renovação celular das criptas é
rápida, fazendo com que os enterócitos imaturos estejam insuficientemente diferenciados,
para a máxima expressão da atividade enzimática (CERA et al., 1988).
As alterações no epitélio intestinal levam ao menor número de células de absorção e
maior de células secretoras, com redução no consumo de alimento, menor capacidade de
absorção de nutrientes e aumento de problemas entéricos (CERA et al., 1988; NABUURS,
1995)
Segundo Cera et al. (1988), as maiores mudanças na morfologia do trato intestinal
destes animais ocorrem de 3 a 7 dias após o desmame com redução na altura das vilosidades e
o aumento na profundidade das criptas de 27 a 50% e de 10 a 114%, respectivamente. Estas
alterações diminuem sensivelmente a capacidade digestiva e absortiva do intestino delgado
(MILLER et al., 1984 e NABUURS et al., 1994).
Mesmo com os prejuízos causados pela troca da dieta, será o próprio alimento que irá
fornecer os nutrientes necessários para que o organismo do animal se recupere. A simples
presença de alimento irá estimular as funções digestivas intestinais (secreção de hormônios,
enzimas e proliferação celular) até que se alcance a maturidade do sistema e o animal possa
suprir suas exigências nutricionais (KELLY e KING, 2001).
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A fisiologia do aparelho digestório de suínos desmamados precocemente é
extremamente complexa, tornando a sua alimentação um enorme desafio. O que justifica
estudos de ingredientes e novas tecnologias, que possam minimizar tais danos ao trato
digestório de leitões desmamados. De acordo com Pascoal (2009), existem ingredientes que
possuem efeitos fisiológicos ativos, que podem melhorar a saúde e o desempenho de leitões
ao desmame, indo além de apenas fornecer nutrientes biodisponíveis. Os principais
mecanismos de ação destes ingredientes são modular a microbiota e influenciar o sistema
imunológico. Dentre estes, os cereais alternativos e ingredientes fibrosos têm sido estudados
com intuito de promover saúde intestinal e consequentemente, melhorar os parâmetros de
desempenho produtivo (PETTIGREW, 2008).
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Capítulo 2- Análise bioquímica da produção de metano e sua importância para a
manutenção do funcionamento do processo fermentativo no rúmen
PROCESSI, E. F.1; FONTES, C. A. A.1; CABRAL, N. O.1; BENDIA, L. C. R.1;
BONAPARTE, T. P.2; VARGAS JÚNIOR, J. G.2
Introdução
A metanogênese ocorre em diversos ambientes anaeróbicos como aterros, esgotos,
sedimentos de água doce de rios e lagos, plantações de arroz, fontes hidrotermais, sedimentos
da costa marinha, trato intestinal e no rúmen. No rúmen o metano (CH4) é um subproduto do
metabolismo dos carboidratos.
Os carboidratos constituem de 50 a 80% da matéria seca das forragens e grãos, e
embora sejam mais pobres em energia do que proteínas (5,65 kcal/g) e lipídeos (9,40 kcal/g),
os carboidratos (4,15 kcal/g), devido à proporção que participam nas dietas são os que mais
contribuem com energia para os animais.
No processo anaeróbico da fermentação ruminal, os carboidratos são convertidos em
ácidos graxos de cadeia curta, principalmente os ácidos acético, propiônico e butírico, que são
os ácidos graxos voláteis. A formação dos ácidos acético e butírico é acompanhada pela
produção de H2 enquanto a produção de ácido propiônico envolve o consumo de H2. A
proporção relativa destes três ácidos determina a quantidade em excesso de H2 no rúmen,
passível de ser transformada em CH4 (WHITELAW et al., 1984).
O CH4 é produzido no rúmen pelas metanogênicas e protozoários ciliados, a partir de
hidrogênio (H2) e gás carbônico (CO2). As chamadas arquebactériabactérias metanogênicas
constituem, na verdade, um grupo distinto de microrganismos, classificadas no domínio
Archae. Os protozoários podem ser responsáveis por até 37% da metanogênese (WILLIAMS
e COLEMAN, 1997), pois mantêm simbiose com arquebactériabactérias metanogênicas, onde
o hidrogênio produzido pelos protozoários ciliados é utilizado pelas metanogênicas na
formação de metano. A produção do metano ruminal pode ser vista como um dreno, que
utiliza o H2 produzido pelos microrganismos ruminais, favorecendo a produção total de ATP
(FAHEY e BERGER, 1988).
_____________________________________________________
1 Universidade Estadual do Norte Fluminense, Centro de Ciências e Tecnologias Agropecuárias
2 Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
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A redução bioquímica do CO2 a CH4 e a transferência de H+ entre microrganismos
metanogênicos e outros microrganismos ruminais evita o acúmulo de nucleotídeos reduzidos
e a inibição da digestão alimentar. A mitigação da produção de metano em ruminantes, sem
causar impacto negativo na digestão dos carboidratos, tem sido o maior desafio para os
nutricionistas e microbiologistas (MCALLISTER et al., 1996).
Microrganismos Ruminais
A capacidade dos ruminantes utilizarem variedade de alimentos como fonte de
nutrientes é devido à relação simbiótica do hospedeiro com microrganismos ruminais que
possibilitam o uso da parede celular de vegetais e nitrogênio não proteico como fonte de
nutrientes, compostos complexos e não utilizáveis para a maioria dos outros animais.
O ecossistema do rúmen consiste principalmente de bactérias (1010-1011 células/mL),
protozoários (104-106/mL) e fungos anaeróbicos (103-105 zoospóro/mL) (KAMRA, 2005).
As bactérias são os microrganismos predominantes no rúmen e são classificadas de
acordo com o tipo de substrato que atacam (HUNGATE, 1966). Há as fermentadoras de
celulose como, Fibrobacter succinogenes, Bacterioides succinogenes, Ruminococcus
flavefaciens, Ruminococcus albus, Colstridium cellobioparum, Clostridium longisporum,
Clostridium lochheadii, Eubacterium cellulosolvens, e também as que fermentam
hemicelulose, Butyrivibrio fibrisolvens, Prevotelle ruminicola, Bacteroides ruminicola,
Eubacterium xylanophilum, Eubacterium uniformis, Butyrivibrio fibrisolves, Bacterioides
ruminicola. Existem ainda as que fermentam o amido, Clostridum lochheadii, Streptococcus
bovis, Bacteroides succinogenes, Bacteroides amylophilus, Bacteroides ruminicola,
Succinimonas amylolytica, Selenomonas ruminantium; as fermentadoras de açúcar/dextrina,
Bacteroides ruminicola, Succinivibrio amylolytica, Selenomonas ruminantium, Lactobacillus
acidophilus, L. fermentum; as proteolíticas como Ruminobacter amylophilus, Clostridium
bifermentans; as pectinolíticas, Treponema sccharophilum, Lachnospira multiparus;
ureolíticas como a Megasphaera elsdenii; bactérias que utilizam ácido, Vibrio succinogenes,
Veillonella alcalescens; e também as que produzem o metano, metanogênicas (HUNGATE,
1966).
As metanogênicas antes classsificadas como bactérias, hoje são inseridas no domínio
Archea. Os organismos vivos são classificados em três domínios: Bacteria (eubactéria),
Eucarya (eucariontes), e Archea (arqueobactéria), que divergiram em um passado distante de
um antecessor comum (WHITE, 2000).
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Os domínios Bacteria e Archea compreendem organismos procariontes (do grego pro,
anterior, antes, primeiro, primitivo – karyon, noz ou amêndoa – núcleo = núcleo primitivo),
são organismos unicelulares, desprovidos de núcleo delimitado por membrana, mitocôndria,
cloroplastos, complexo de golgi, no entanto sua estrutura celular está longe de ser simples. Já
os protozoários e fungos estão compreendidos no domínio Eucarya.
O domínio archea comumente manifesta um dos três fenótipos: metanogênica,
halofílica e termofílica. As arquebactérias metanogênicas (denominada Euryarchaeota) são
obrigatoriamente anaeróbicas, encontrados em diversos habitats, desde sedimentos marinhos e
aquáticos a digestores, rúmen e intestino grosso de herbívoros e outros mamíferos. Elas obtêm
energia pela redução de dióxido de carbono a metano ou pela conversão de acetato a dióxido
de carbono e metano (WHITE, 2000).
De acordo com McAllister et al.
(1996), as arquebactérias metanogênicas,
responsáveis pela produção de CH4, formam um grupo distinto de microrganismos, possuindo
coenzimas (coenzima M, F420, F430) e lipídeos únicos, estando presentes no rúmen em
grande quantidade que varia de 107 a 109 cel/ml de líquido ruminal (KAMRA, 2005).
A membrana celular de arquebactérias é formada por lipídeos (isoprenóide alcoóis) de
longas cadeias de hidrocarbonetos ramificadas ligadas ao glicerol por ligações éter, enquanto
os lipídeos da membrana de bactérias são ácidos graxos ligados ao glicerol por ligações éster
(WHITE, 2000). As arquebactérias não possuem peptidoglicano, um componente da parede
celular de bactérias, o qual consiste de cadeias de glicano ligadas por peptídeos, sendo o
glicano formado de resíduos de N-acetilglucosamina e ácido N-acetilmurâmico ligados por
ligações β-1,4. A parede celular de arquebactérias contem pseudopeptidoglicano.
O pseudopeptidoglicano é também chamado de pseudomureína e assemelha-se ao
peptidoglicano quanto as cadeias de glicano ligadas por peptídeos. Entretanto, em
pseudopeptidoglicano embora um dos açúcares seja o N-acetilgucosamina como no
peptidoglicano, o outro açúcar é o ácido N-acetiltalosaminurônico e os açúcares são ligados
por ligações β-1,3 glicosídicas e não β-1,4. Além disso, os aminoácidos dos peptídeos são Laminoácidos em vez de D-aminoácidos (WHITE, 2000). Arquebactérias contem histonas que
ligam o DNA arquebactérial em estruturas compactas semelhantes a nucleossomos. A RNA
polimerase de arquebactérias diferem da RNA polimerase de bactérias por haver de 8 a 10
subunidades, em vez de quatro subunidades; quanto ao genoma, que nas arquebactérias é
determinado pela presença de plasmídeos (DNA único, circular) nas bactérias é constituído
por DNA fragmentado em cromossomos múltiplos (RAISMAN e GONZALEZ, 2006).
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A ordem Methanobacteriales compreende a família Methanobacteriaceae, com os
gêneros Methanobacterium, Methanobrevibacter e Methanosphaera, contendo 18 espécies; e
a família Methanothermaceae, com o gênero Methanothermuse, duas espécies. A ordem
Methanococcales congrega as famílias Methanococcaceae, gênero Methanococcus, com 7
espécies; Methanomicrobiaceae, com os
Methanolacinia,
Methanomicrobium
e
gêneros
Methanoculleus, Methanogenium,
Methanospirillum,
com
13
espécies;
Methanocorpusculaceae, gênero Methanocorpusculum, com 5 espécies; Methanoplanaceae,
gênero Methanoplanus, com duas espécies; Methanosarcinaceae, com os gêneros
Methanococcoides, Methanohalobium, Methanohalophilus, Methanolobus, Methanopyrus,
Methanosaeta, Methanosarcina; e Methanothrix, com 19 espécies (SOWERS, 1995).
Segundo Kamra (2005) oito diferentes espécies representam os cinco gêneros de
metanogênicas que têm sido encontradas no rúmen: Methanobrevibacter ruminantium,
Methanobacterium bryanti, Methanobacterium vibacter smithii, Methanosarcina barkeri,
Methanoculleus olentangyi, Methanobacterium
formicicum, Methanosarcina
barkeri e
Methanomicrobium mobile. As espécies metanogênicas mais comumente isoladas do rúmen
são
linhagens
de
Methanobrevibacter,
Methanomicrobium,
Methanobacterium
e
Methanosarcina (JARVIS et al., 2000).
No rúmen, as arquebactérias são encontradas intimamente associadas com
protozoários ciliados e em justaposição com bactérias, não sendo essa, no entanto, uma
localização obrigatória (FINLAY et al., 1994). As metanogênicas podem ser encontradas
tanto aderidas na superfície celular dos protozoários, como na fase intracelular dos mesmos
(USHIDA e JOUANY, 1996). Considerando que os protozoários ciliados têm um grande
potencial de produção de hidrogênio no rúmen, a associação somática das metanogênicas com
estes ciliados indica uma relação simbiótica, em que as metanogênicas, por utilizarem o
hidrogênio produzido pelos ciliados, favorecem a manutenção de um ambiente ruminal
adequado ao desenvolvimento destes microrganismos (VAN SOEST, 1994).
A maior parte dos protozoários no rúmen são ciliados podendo também ser
encontrados poucos flagelados, em torno de 2 x 103 a 3 x 104 e por terem tamanho pequeno
não compõem uma fração muito grande da massa de protozoários do rúmen. As espécies de
protozoários flagelados mais encontradas no rúmen são os Monocercomonas ruminantium,
Trichomonas ruminantion, Pentatrichomonus hominis, Monocercomonas bovis (HUNGATE,
1966). Já os protozoários ciliados são divididos em dois grupos principais: Holotricos e
Entodinomorfos. Alternativamente, estes também podem ser classificados como protozoários
que utilizam açúcares solúveis, que degradam amido e hidrolisam lignina e celulose,
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desempenhando importante papel na fermentação dos carboidratos e obtendo como produtos
finais dióxido de carbono, hidrogênio e ácidos graxos voláteis (HUNGATE, 1966), além
disso, ingerem bactérias como fonte de aminoácidos e ácidos nucleicos.
As principais espécies de protozoários encontradas em ruminantes são as Isotricha
prostoma, I. intestinalis, Dasytricha ruminantium, Oligoisotricha bubali, pertencentes aos
Holotricos; e Entodinium bovis, E. bubalum, E. bursa, E. caudatum, E. bubalus,
Ostracodinium
trivesiculatum,
Polyplastron
multivesiculatum,
Metadinium
medium,
Epidinium caudatum, pertencentes ao grupo dos Entodinomorfos (KAMRA, 2005).
Os fungos anaeróbios obrigatórios, encontrados no rúmen têm um papel ativo e
positivo a desempenhar na degradação da fibra, evidenciado pela presença de diferentes
enzimas envolvidas na degradação da fibra. Devido à presença de enzimas como proteases e
esterases, além das celulases e hemicelulases, os fungos têm uma vantagem adicional de uma
melhor penetração em alimentos ricos em lignina e celulose sobre a degradação por bactérias.
As espécies mais encontradas em ruminantes são Neocallimastix frontalis, N. patriciarum, N.
hurleyensis, Sphaeromonas communis, Orpinomyces bovis, Anaeromyces mucronatus e
Ruminomyces elegans (KAMRA, 2005).
Reações de Oxidação-Redução
O hidrogênio existe em três estados, reduzido (NADH), gás hidrogênio (H2) e próton
livre (H+), nos quais são potencialmente inter-convertidos. Devido a ausência de oxigênio no
rúmen como um terminal aceptor de elétrons, o ATP gerado pelos microrganismos ruminais é
obtido por fosforilação e coenzimas funcionam como carreadores de elétrons para
conservação da energia gerada a nível de substrato (HEGARTY, 1998).
A transferência de elétrons em reações de oxidação-redução é um evento importante
no metabolismo dos organismos. Essas reações envolvem perdas de elétrons por uma
determinada espécie química, que sofre oxidação, e a captação de elétrons por outra espécie
química, que sofre redução. O fluxo de elétrons é responsável por todos os trabalhos
realizados pelos organismos vivos. Os elétrons de diferentes intermediários metabólicos são
transferidos para carreadores de elétrons especializados, por meio de reações catalisadas por
enzimas. Os carreadores por sua vez doam os elétrons a receptores com maior afinidade,
liberando energia (NELSON e COX, 2002). Os elétrons são transferidos de uma molécula
para outra por meio de uma das quatro reações: diretamente como elétrons, por combinação
direta com o oxigênio, como íon hidreto e como átomo de hidrogênio.
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O grande número de enzimas que catalisam as oxidações direciona os elétrons
removidos a alguns tipos de transportadores de elétrons e a redução desses nos processos
catabólicos é responsável pela conservação da energia liberada pela oxidação do substrato. Os
nucleotídeos NAD+, NADP+, FMN e FAD são coenzimas que sofrem oxidações e reduções
reversíveis em reações de transferência de elétrons.
A nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD+ em sua forma oxidada) e o seu análogo
nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP+) são formados por dois nucleotídeos
ligados por seu grupo fosfato por meio de uma ligação fosfoanidro. Essas coenzimas sofrem
redução reversível do anel nicotinamida quando uma molécula de substrato sofre oxidação,
liberando dois átomos de hidrogênio. A forma oxidada do nucleotídeo (NAD+ ou NADP+)
recebe um íon hidreto (:H-, o equivalente a um próton e dois elétrons), sendo transformada na
sua forma reduzida (NADH ou NADPH). O segundo próton removido do substrato é liberado
no solvente aquoso (NELSON e COX, 2002).
A razão NAD+/NADH é elevada, favorecendo assim a transferência do íon hidreto de
um substrato para o NAD+ formando NADH. Por outro lado, o NADPH geralmente se
encontra em quantidades superiores ao NADP+, favorecendo a transferência do íon hidreto do
NADPH para o substrato. Isso reflete a função de cada coenzima, o NAD+ atua nas oxidações,
enquanto o NADPH em reduções.
As flavoproteínas são enzimas que catalisam reações de oxidação-redução e utilizam a
flavina mononucleotídeo (FMN) e a flavina adenina dinucleotídeo (FAD) como coenzimas.
As formas reduzidas são FMNH2 e FADH2, mas quando é incorporado somente um elétron
(um átomo de hidrogênio) a forma semiquinona é produzida, FADH+ e FMNH+. Essas
coenzimas são fortemente ligadas às enzimas, diferente dos nucleotídeos ligados as
desidrogenases, e são denominadas por isso de grupo prostético. Elas não transferem elétrons
difundindo-se de uma enzima para outra, mas sim favorecem a retenção temporária dos
elétrons pelas flavoproteínas enquanto a transferência deles de um substrato reduzido para um
receptor de elétrons é catalisada (NELSON e COX, 2002).
Catabolismo dos Carboidratos em Ruminantes - Digestão dos Carboidratos
O rúmen tem uma abundância de alimento, mas inicialmente esse é composto por
polímeros, relativamente insolúveis e muitas vezes complexos. Esses polímeros devem ser
degradados a substâncias de peso molecular baixo (oligossacarídeos, açúcares, peptídeos,
aminoácidos, etc) pelas enzimas extracelulares produzidas pelos microrganismos antes de
serem utilizados (RUSSELL, 2002).
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Os microrganismos ruminais hidrolisam celulose, hemicelulose, pectina, frutosanas,
amido e outros polissacarídeos a monossacarídeos e dissacarídeos os quais são fermentados,
juntamente com outros açúcares simples encontrados nos vegetais. Os produtos finais da ação
microbiana, produzidos pelo consórcio bactéria, protozoário e fungo, são os ácidos graxos
voláteis, metano e dióxido de carbono. Os gases são eructados pelo animal e os ácidos são
absorvidos através da parede ruminal pela corrente sanguínea e finalmente convertidos em
açúcares e lipídeos requeridos pelo animal para energia e formação dos tecidos (WOLIN et
al., 1997).
Após a ingestão dos carboidratos presentes na dieta, sejam polissacarídeos da parede
celular das forragens ou de reserva como o amido dos grãos, a primeira etapa no processo de
utilização dos carboidratos é o reconhecimento do tipo de substrato e subsequente adesão e
colonização por microrganismos ruminais específicos: protozoários, fungos e principalmente
bactérias.
A maior parte da população de bactérias, aproximadamente 70% do total, é encontrada
em biofilmes na superfície de partículas do alimento. As bactérias aderidas ao alimento
podem ser subdivididas naquelas que são fracamente ligadas e as que são firmemente ligadas.
A superfície externa da bactéria, mais especificamente o glicocálix, tem um excesso de grupos
de carga negativa e as células da parede celular das plantas tem considerável “capacidade de
troca de cátions”. Essa propriedade poderia conduzir a uma repulsão, mas parece acontecer o
oposto. É pouco conhecido o mecanismo acerca das bactérias que são firmemente aderidas a
partícula do alimento, mas a adesão parece ser mediada por receptores específicos ou
associação com enzimas degradativas (RUSSELL, 2002).
Após a adesão e colonização microbiana inicia-se a hidrólise das moléculas de
celulose, hemicelulose, pectina, amido e outros açúcares até a unidade fundamental que as
constitui, a glicose ou intermediários da via glicolítica, por meio da ação de enzimas exógenas
que se localizam na membrana externa dos microrganismos ruminais e são classificadas de
acordo com o tipo de substrato que hidrolisam.
Os microrganismos que degradam a celulose, normalmente também degradam a
hemicelulose a partir de enzimas extracelulares específicas: celulases e hemicelulases,
respectivamente. No caso da celulose, os microrganismos secretam três enzimas básicas: β1,4 exo e endoglucanases, que atuam nas extremidades e no interior da cadeia de celulose,
respectivamente, quebrando-a em cadeias lineares menores - as cadeias de glicose anidra;
celobiohidrolase ou celodextrinase, que simplifica ainda mais as cadeias de celulose formando
cadeias menores denominadas de celobiose; e celobiase, que finalmente cliva as ligações β-
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1,4 entre duas moléculas de glicose e libera as unidades sequenciais da glicose ou glicose-1fosfato da celobiose (RUSSELL, 2002).
Embora a natureza das enzimas que hidrolisam a hemicelulose ainda não seja
completamente conhecida, tem sido sugerido que as endoxilanases clivam internamente as
cadeias de hemicelulose em regiões não ramificadas produzindo cadeias de hemicelulose
menores. Tal enzima microbiana catalisa a clivagem não específica da ligação β-1,4 xilosídica
da hemicelulose para produzir xilooligossacarídeos, xilobiose e xilose a partir da xilobiose. Já
os vínculos das ramificações de ácidos galacturônicos ou resíduos contendo esse ácido são
hidrolisados
pela
glicuronidase
e
as
ramificações
contendo
arabinoxilanas
por
arabinofuranosidase (CHESSON e FORSBERG, 1997).
A pectina é digerida no rúmen mediante ação hidrolítica da pectinesterase microbiana,
que catalisa a hidrólise das ligações ésteres existentes em sua molécula, dando origem a
etanol e ao ácido péctico, isto é, o ácido poligalacturônico. Em seguida a pectinase
poligalacturonidase
catalisa
a
hidrólise
das
ligações
1,4
glicosídicas
do
ácido
poligalacturônico produzindo ácido galacturônico, que por sua vez é convertido às unidades
que os constitui: xilose, galactose e outras pentoses (CHESSON e FORSBERG, 1997).
O amido é um polissacarídeo composto por polímeros de glicose ligados, amilose e
amilopectina. A amilose consiste de uma cadeia linear de resíduos de açúcares ligados por
ligações α-1,4, com estrutura helicoidal. A amilose é degradada por α-amilase a maltotriose e
maltose. A amilopectina é uma cadeia ramificada também composta por resíduos de glicose
ligados por ligações α-1,4 nas cadeias e α-1,6 nas ramificações, no entanto é uma cadeia mais
extensa que é degrada a isomaltose e dextrina por α-amilase. As α-dextrinases microbianas
clivam as α-dextrinas em glicose e maltose. A maltase prontamente hidrolisa a maltose e a
maltotriose em glicose. Adicionalmente, a maltase-1-fosfatase pode converter a maltose em
glicose-1-fosfato (NELSON e COX, 2002).
A parede celular das plantas é degradada pela combinação de bactéria, fungo e
protozoário, com contribuição de 80% das bactérias e fungos (DJKSTRA e TAMMINGA,
1995). Os fungos do rúmen geralmente degradam uma faixa mais ampla de substratos do que
as bactérias. Eles colonizam os tecidos das folhas e parede celular de caule com alta
lignificação. As principais espécies de protozoários ciliados dos gêneros Diplodinium e
Eudiplodinium são também hábeis a digerir fragmentos de celulose das plantas (CHESSON e
FORSBERG, 1997).
Após a hidrólise de moléculas complexas de carboidratos a monossacarídeos e
oligossacarídeos, esses são então transportados para o interior das células microbianas por
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transporte ativo impulsionado pela força próton motora ou pelo sistema fosfotransferase
dependente de fosfoenolpiruvato (PTS) (RUSSEL e WALLACE, 1997) sendo uma pequena
parte incorporada nas estruturas celulares e a maior parte prontamente metabolizada para
produzir a energia necessária ao próprio crescimento microbiano. Todavia, como resultado
dessa atividade metabólica os microrganismos ruminais produzem ácidos graxos voláteis,
metano, CO2 e células bacterianas.
Formação de Cofatores Reduzidos
Existem três rotas para o catabolismo dos carboidratos dentro das células dos
microrganismos ruminais: Embden-Meyerhof (glicólise), Pentoses Fosfato e EntnerDoudoroff. Essa última só ocorre em organismos procariontes, incluindo bactéria e
arquebactéria, no entanto é comum, principalmente às bactérias gram-negativas aeróbicas,
normalmente não é utilizada por bactérias anaeróbicas, talvez devido aos baixos rendimentos
de ATP. A rota mais comum e conhecida é a glicólise que foi inicialmente elucidada por
Gustav Embden e Otto Meyerhof.
A glicólise é a sequência metabólica composta por um conjunto de dez
reações catalisadas por enzimas livres no citoplasma, na qual a glicose é oxidada produzindo
duas moléculas de piruvato, dois ATP (adenosina trifosfato) e dois equivalentes reduzidos de
NADH+, tanto na presença quanto na ausência de oxigênio. Se os organismos estão
respirando, as moléculas de piruvato formadas na rota de catabolismo dos carboidratos são
oxidadas a acetil-CoA, o qual é subsequentemente oxidado a CO2 no ciclo de Krebs. Quando
os organismos estão promovendo a fermentação, como os microrganismos no ambiente
ruminal, as moléculas de piruvato são reduzidas a outros compostos sem possibilidade de
utilização pelas células (WHITE, 2000).
A glicólise ocorre em dois estágios: o primeiro estágio catalisa a conversão da
molécula de glicose em duas moléculas de gliceroldeido-3-fosfato, por meio de quatro reações
consecutivas. Nesta etapa são utilizados dois ATP e doadores do grupo fosforil que
transformam os fosfatos em gliceroldeido-3-fosfato. O segundo estágio catalisa a oxidação do
gliceroldeido-3-fosfato em piruvato por meio de cinco reações. Essa etapa gera quatro
moléculas de ATP, e o saldo energético é de duas moléculas de ATP e 2 NADH por molécula
de glicose metabolizada (NELSON e COX, 2002).
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A produção de cofatores reduzidos, na via glicolítica, ocorre na reação em que as duas
moléculas
de
gliceroldeido-3-fosfato
geradas
no
primeiro
estágio
são
oxidadas
(desidrogenadas) pelo NAD+ e fosforilada por um fosfato inorgânico catalisada pela enzima
triose fosfato desidrogenase, dando origem a duas moléculas de 1,3-difosfoglicerato, 2 NADH
e 2 H+. O NADH gerado no processo fermentativo é então reoxidado a NAD+ por aceptores
orgânicos que são gerados durante o catabolismo. Se o NADH não fosse reoxidado a NAD+
toda via que necessita de NAD+, inclusive a glicólise, cessaria (WHITE, 2000).
Outra importante via para o metabolismo de carboidratos é a das pentoses fosfato, a
qual produz pentoses fosfato que são precursores da ribose e desoxirribose nos ácidos
nucleicos, prove eritrose fosfato que é precursor de aminoácidos aromáticos, fenilalanina,
tirosina e triptofano, além disso, produz NADPH, H+ e CO2. Os NADPH produzidos na via
das pentoses-fosfato são a maior fonte de elétrons para biossíntese de vias que ocorrem
reduções. A via das pentoses apresenta três estágios, no entanto a formação de cofatores
ocorre somente no primeiro estágio. A primeira reação consiste de oxidação-descarboxilação,
onde a glicose-6-fosfato é oxidada pelo NADP+ formando NADPH, H+ e 6fosfogliconolactona. Ainda no primeiro estágio há mais uma reação que produz NADPH e H+,
essa consiste da oxidação da 6-fosfogliconato a 3-ceto-6-fosfogliconato que é descarboxilado
produzindo CO2 e ribulose-5-fosfato. Nos subsequentes estágios a ribulose-5-fosfato é
isomerizada a ribose-5-fosfato e xilose-5-fosfato e então ocorrem reações de rearranjo
mediadas pelas enzimas transcetolase e transaldolase, formando o produto final da via das
pentoses, o fosfogliceroldeido, que é um intermediário da via glicolítica (NELSON e COX,
2002).
Após a formação do produto final da oxidação da glicose, o piruvato quando oxidado a
acetil-CoA é descarboxilado pela ação do complexo enzimático piruvato desidrogenase e
também libera cofatores reduzidos no meio, NADH e H+, no entanto isso ocorre apenas em
aerobiose. Organismos anaeróbicos não possuem a piruvato desidrogenase, mas têm o
complexo enzimático piruvato-formato liase que produz acetil-CoA e formato do piruvato.
Alternativamente algumas bactérias como clostridia e selenomonads têm a piruvatoferredoxin oxiredutase que produz ferredoxin reduzida (FDH) e CO2 mais do que formato
(RUSSELL, 2002). Com a oxidação de FDH a FD há liberação de H2 que vai ser utilizado na
metanogênese.
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Reoxidação de Cofatores
Procariontes crescendo em ambiente anaeróbico reoxidam NADH, NADPH e outros
carregadores de elétrons reduzidos pela respiração anaeróbica ou fermentação para
continuidade da digestão no rúmen.
A fermentação é definida como a via pela qual o NADH, ou algum outro aceptor de
elétron que é gerado por reações de oxidação, é reoxidado por metabólitos produzidos pela
via. Consequentemente, fermentações são caracterizadas por excreção de grande quantidade
de compostos orgânicos reduzidos como alcoóis, ácidos orgânicos e solventes (WHITE,
2000).
Existem vários tipos de fermentações realizadas pelos microrganismos, entretanto a
fermentação dos carboidratos pode ser: lática, alcoólica, butírica, propiônica e acética.
Existe ainda uma via de reoxidação de NADH, por meio da enzima hidrogenase
presente em bactérias fermentadoras, porém esta é pouco utilizada. As hidrogenases utilizam
o NADH como doador de elétron. Entretanto, a oxidação de NADH com a produção de gás
hidrogênio (NADH + H+ → NAD+ + H2) geralmente acontece apenas quando a concentração
de gás hidrogênio é mantida baixa. Isso porque o equilíbrio favorece a redução de NAD+
(WHITE, 2000).
Fermentação Propiônica -Via do acrilato
O gênero Clostridium compreende um heterogênio grupo de bactérias gram-positivas,
anaeróbicas, que fermentam nutrientes orgânicos a produtos como alcoóis, ácidos orgânicos,
gás hidrogênio e CO2. A bactéria C. propionicum oxida lactato a propionato, acetato e ATP.
Após a formação do piruvato pela via glicolítica esse é reduzido a lactato pela enzima lactato
desidrogenase reoxidando o NADH a NAD+. O acetil-CoA é convertido a acetato na reação
que o lactato recebe o grupamento CoA do acetil-CoA e forma lactil-CoA e acetato. O lactilCoA é desidratado e reduzido pela flavoproteína e forma o acrilil-CoA. A redução do acrililCoA a propionil-CoA envolve uma cadeia de transporte de elétrons empregando ferrodoxina e
a flavoproteina na transferência de elétrons, mas a síntese de ATP ainda não foi demonstrada
(RUSSEL, 2002). O propionil-CoA por sua vez perde o grupamento CoA para o acetato e
forma o propionato. Portanto, a formação do propionato pela via do acrilato têm como
produto final a partir de uma molécula de glicose consumindo 4 hidrogênios, duas moléculas
de propionato e duas moléculas de água (WHITE, 2000).
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Via do succinato
Algumas bactérias produzem propionato pela via do acrilato, outras produzem pela via
do succinato, o qual produz mais ATP do que a via do acrilato por molécula de propionato
formada. Um dos microrganismos que utiliza essa via é o Propionibacterium, que é uma
bactéria gram-positiva anaeróbica que faz parte da flora ruminal dos herbívoros. O piruvato
formado na via glicolítica pode ser carboxilado e formar oxaloacetato pela enzima piruvato
carboxilase com gasto de um ATP, assim como o fosfoenolpiruvato, intermediário da via
glicolítica, também pode ser carboxilado e por meio da catálise da enzima fosfoenolpiruvato
carboxiquinase formar oxaloacetato. O oxaloacetato é então reduzido a malato pela
reoxidação do NADH pela enzima malato desidrogenase, que é desidratado formando
fumarato, que também sofre uma redução a succinato pela reoxidação do NADH com
formação de ATP. O succinato recebe então o grupamento CoA e com formação de ATP gera
o succinil-CoA, esse é isomerizado a metilmalonil-CoA e esse descarboxilado a propionilCoA liberando o grupamento CoA e formando como produto final propionato e ATP
(WHITE, 2000).
Fermentação Lática e Alcoólica
Bactérias fermentadoras de ácido lático é um grupo que fermenta glicose a lactato
como único produto ou maior produto da fermentação. Esse grupo inclui os gêneros
Lactobacillus, Sporolactobacillus e Bifidobacterium. Existem dois tipos de fermentações
láticas: homofermentativa e heterofermentativa.
A homofermentação é uma via que produz essencialmente o lactato. A bactéria usa a
via glicolítica para oxidar glicose a piruvato. Os NADH produzidos durante a oxidação são
usados para reduzir o piruvato a lactato. Já na heterofermentação produz lactato usando as
reações de descarboxilação e isomerização da via das pentoses fosfato. O gliceroldeído-3fosfato, produto final da via das pentoses-fosfato, é oxidado a piruvato pelas reações da via
glicolítica, produzindo ATP e três NADH, sendo que o piruvato é reduzido a lactato
utilizando um dos NADH. O segundo e o terceiro são utilizados quando o acetil-CoA é
reduzido a etanol. O acetil-CoA é reduzido a acetoaldeido incialmente com a reoxidação de
NADH a NAD+ e esse também é reduzido por meio da reoxidação de outro NADH formando
o etanol (WHITE, 2000).
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Fermentação Butírica
A descarboxilação do piruvato gera acetil-CoA, CO2 e H2. O acetil-CoA é condensado
com outra molécula de acetil-CoA para formar acetoacetil-CoA catalisada por uma tiolase, o
qual é reduzido a β-hidroxibutiril-CoA reoxidando o NADH catalisada pela β-cetoacil-CoA.
O β-hidroxibutiril-CoA perde uma molécula de água pela ação da β-hidroxiacil desidratase e
forma crotonil-CoA, esse é reduzido a butiril-CoA reoxidando o NADH com a atividade da
enoil redutase. A CoA é deslocada pelo fosfato inorgânico e transferida ao acetato do meio,
formando butiril-fosfato, o qual é desfosforilado formando ATP e butirato (WHITE, 2000).
O butirato pode também ser formado pela via do malonil. Inicialmente, o acetil-CoA é
carboxilado com o gasto de um ATP pela carboxilase acetil-CoA para formar malonil-CoA. O
malonil-CoA se condensa com uma nova molécula de acetil-CoA e forma acetoacetil-CoA
mediante a ação da β-cetoacil sintase. A partir daí as reações subsequentes são similares às
descritas no parágrafo acima até a formação final do butirato. O butirato utilizado por
bactérias ruminais para a síntese de ácidos graxos de cadeia longa e de cadeia ramificada
provavelmente seja obtido por esta via (WHITE, 2000).
Fermentação Acética
O acetato pode ser sintetizado pelo sistema clostridia, algumas bactérias utilizam o
CO2 como aceptor de elétrons e o reduz a acetato pela via do acetil-CoA. O piruvato é
oxidativamente descarboxilado a acetil-CoA produzindo elétrons pela redução do NAD+ e
CO2. O acetil-CoA é convertido a acetil-fosfato e formato pela fosfotranscetilase, utilizando a
ferrodoxina (FD+) como receptor de elétrons que é reduzida a FDH ou a flavoproteína (FAD+)
que é reduzida a FADH2. O acetil-fosfato é então convertido a acetato e ATP via acetoquinase
(WHITE, 2000).
Outro sistema de produção de acetato é chamado de sistema fosforoclástico ou
formato fosforoclástico. Primeiramente o piruvato é reduzido a formato pelo formato
desidrogenase reoxidando o NADPH e liberando Acetil-fosfato. O acetil-fosfato transfere sua
energia para o ATP e libera acetato, numa reação catalisada pela enzima acetoquinase.
O formato produzido no rúmen é rapidamento convertido a CO2 e H2 pelo sistema de
enzimas formato-hidrogênio liase. Esse sistema consiste de duas enzimas: formato
desidrogenase e hidrogenase. A formato desidrogenase oxida o formato a CO2 utilizando a
ferrodoxina (FD+) como aceptor de elétrons, que é reduzida a FDH2 ou flavoproteína (FAD+),
que é reduzida a FADH2 dependendo do tipo de microrganismo fermentador. Após essa
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reação de oxidação o FDH2 ou FADH2 é reoxidado a FD+ ou FAD+ e H2 pela hidrogenase, a
qual transfere os elétrons para dois prótons na forma de gás hidrogênio (WHITE, 2000).
Metanogênese
A metanogênese é capaz de reduzir CO2 através dos estágios formil, metenil, metileno
e metil a CH4. Hidrogênio e CO2 são os maiores precursores de CH4 no rúmen (HUNGATE,
1966). O acetato e H2/CO2 são os principais substratos para produzir CH4 e o formato pode ser
um importante substrato, mas é equivalente a redução de H2/CO2 a CH4. Embora metilaminas
e metanol possam ser importantes em ecossistemas especiais, eles são quantitativamente
insignificantes na metanogênese global. O metanol é um produto da fermentação de
polissacarídeos de plantas metilados, como a pectina, e as metilaminas são produtos de
decomposição da colina. Conversão de acetato em CH4 e CO2, e conversão de propionato e
butirato e outros AGV em acetato, H2 e CO2, com subsequente conversão em CH4, não ocorre
no rúmen. A produção de CH4 de AGV é um processo muito lento e o turnover do rúmen é
muito rápido para permitir conversão de qualquer dos AGV em CH4 (WOLIN et al., 1997).
Bactérias metanogênicas hidrogenotróficas obtêm energia e carbono de H2 e CO2 e
podem transforma-lós em CH4 pela via metanogênica, no entanto o formato é convertido em
H2 e CO2 pelas metanogênicas que usam formato como o primeiro substrato para a produção
de CH4 (WOLIN et al., 1997). O processo da metanogênese consiste em uma série de reações
de redução onde um C1 derivado de CO2 é ligado ao carreador de C1. A Figura 1 demonstra
o esquema da metanogênese contendo todas as etapas metabólicas até chegar à produção de
metano.
Formil-metanofurano é o primeiro produto da fixação do CO2 por meio da enzima
formilmetanofurano desidrogenase, onde o CO2 é ligado ao metanofurano (MF) e reduzido a
grupo formil com elétrons derivados do hidrogênio. Essa é uma redução endergônica de CO2
a formil-MF com H2 que é impulsionada por um gradiente de sódio. O grupo formil é
transferido a 5,6,7,8-tetrahidrometanopterin (H4MPT) pela formil-metanofurano: H4MPT
formiltransferase formando o 5-formil-H4MPT, que depois é convertido ao grupo metenil pela
enzima 5,10-metenil-H4MPT ciclohidrolase formando o composto 5, 10- metenil-H4MPT. A
coenzima F420 doa elétrons para redução da ligação dupla do grupo metenil formando o grupo
metileno. Essa reação é catalisada pela enzima metileno-H4MPT desidrogenase, formando o
5,10-metenil-H4MPT. O grupo metileno é reduzido para 5-metil-H4MPT pela enzima
metileno- H4MPT redutase que utiliza a F420 reduzida como doador de elétron. O grupo metil
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se liga a coenzima M (HS-CoM) formando metil-HS-CoM pela enzima metil- H4MPT
transferase (FERRY, 1992).
Os organismos metanogênicos contem altas concentrações de dois tipos de corinóides
que são envolvidos nas reações da metil transferase, fator III e pseudo vitamina B12. A
formação intermediária do fator III é detectada durante a formação de metil-S-CoM, parece
que o fator III contido na metil transferase que aceita o grupo metil do 5-metil-H4MPT. A
formação de metil-fator III, juntamente com a metilcobalamina:HS-CoM metil transferase
presente em espécies que reduzem CO2, indica que duas enzimas podem estar envolvidas na
transferência do grupo metil de 5-metil-H4MPT a HS-CoM. O metil- HS-CoM por fim sofre
uma demetilação redutora a metano pela enzima metil-coenzima M redutase, sendo uma
reação exergônica, com isso é a fonte de energia para a síntese de ATP (FERRY, 1992).
A redução do CO2 a CH4 é descrita como uma via circular para indicar que a primeira
e a última reações são ligadas pelo heterodisulfídeo CoM-S-S-HTP. Sugere-se que a CoM-SS-HTP ativa, ainda não se sabe como, é carreadora de elétron requerido para o fluxo de
elétron do H2 para a redução do CO2 a formil-MF (ROUVIÈRE e WOLFE, 1988).
Figura 1. Ciclo proposto para redução do CO2 a CH4 por Rovière e Wolfe (1988).
Para a ocorrência da fermentação normal no rúmen com produção de acetato,
propionato e butirato como nutrientes para o crescimento animal, a pressão de H2 no rúmen
precisa ser baixa (ULYATT e LASSEY, 2000). Com a concentração de H2 baixa a reação
ocorre no sentido da reoxidação do NADH a NAD+, assim dando continuidade ao processo
fermentativo. Caso a concentração de H2 esteja alta há inibição das desidrogenases que
catalisam as reações de reoxidação dos cofatores reduzidos, levando há um acúmulo desses no
rúmen e paralisação da fermentação. No entanto, no rúmen os microrganismos metanogênicos
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altamente eficazes na captura do H2 livre utilizam o mesmo para produzir metano (JOBLIN,
1999). No rúmen existem outros consumidores de hidrogênio como, por exemplo, as
conversões de NO3 em NH3 e de SO4 em H2S e a saturação de ácidos graxos insaturados.
Entretanto, estes outros consumidores de hidrogênio não apresentam grande importância
quantitativa (FAHEY e BERGER, 1988).
A reação de formação de metano é considerada consumidora de energia, drenando o
hidrogênio procedente de todas as reações químicas que ocorrem no rúmen, permitindo um
melhor rendimento total de ATP (FAHEY e BERGER, 1988). Esse maior rendimento
proporciona a formação de mais células microbianas, aumentando, desta forma, a proteína
disponível para o ruminante. Isso indica que a produção de metano traz benefício a estes
animais, já que promove uma fermentação mais eficaz e mantém baixa a concentração de
hidrogênio no rúmen.
Existe uma relação inversa entre as produções de propionato e CH4. Isto porque o CO2
e o CH4 são “subprodutos” da conversão de glicose em acetato e butirato, em contraste,
quando ambas as rotas do acrilato e do succinato são usadas para síntese de propionato todos
os átomos de carbono e hidrogênio presentes na glicose são incorporados nas duas moléculas
de propionato produzidas. Esta retenção de carbono e hidrogênio na forma de propionato,
evitando a liberação na forma de CH4, aumenta o aporte de energia para o animal.
Desse modo, Moss et al. (2000) estabeleceram que a produção de metano pode ser
estimada, a partir dos níveis de produção dos três ácidos no rúmen, segundo a equação: CH4 =
0,45 C2 – 0,275 C3 + 0,40 C4. Essa equação leva em consideração o peso da participação da
produção de ácido acético, butírico na liberação de hidrogênio no rumem, assim como a
utilização de hidrogênio para a produção do propionato.
Transferência de Hidrogênio entre Microrganismos
Estudos com culturas puras de bactérias ruminais indicaram que algumas espécies
produzem produtos não detectados no fluido ruminal. A ausência de alguns produtos pode ser
explicada pela incapacidade de culturas puras transferirem H2 para metanogênicas. Em outros
casos, o produto final de uma espécie é simplesmente o substrato para a outra (RUSSELL,
2002).
Uma variedade de bactérias ruminais, por exemplo, podem produzir lactato, mas a
concentração de lactato in vivo é geralmente muito baixa. Três fatores contribuem para essa
observação. Primeiro, porque o lactato é um mecanismo alternativo de eliminar equivalentes
reduzidos, a transferência de H2 entre espécies pode diminuir sua produção. Segundo, bactéria
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como S. bovis e S. ruminantium somente produzem lactato se suas taxas de fermentação
forem muito altas. E terceiro, o lactato pode ser usado por populações secundárias de
bactérias como M. elsdenii, Veillonella alcalescens e S. ruminatium (WOLIN et al., 1997).
Na transferência interespecífica de H+, as metanogênicas se associam com bactérias
celulolíticas, não celulolíticas, protozoários ciliados e fungos (MCALLISTER et al., 1996).
A transferência de gás hidrogênio e de outros produtos do metabolismo de uma
espécie para outra é conhecido como sinergismo nutricional encontrado entre populações
mistas de bactérias (RUSSEL, 2002).
No rúmen, o metano é o principal meio de eliminar equivalentes reduzidos, e a
transferência de hidrogênio interespecífica de bactérias que fermentam carboidratos para
metanogênicas aumenta a produção de acetato e de ATP. Essa transferência permite a retirada
de nucleotídeos reduzidos e a reoxidação desses para que haja continuidade do processo
fermentativo no rúmen (RUSSEL, 2002).
Ruminococus albus é uma bactéria ruminal que pode fermentar glicose a etanol,
acetato, H2 e CO2 usando a via glicolítica (FIGURA 2). O crescimento de bactérias em
populações mistas pode influenciar os produtos finais da fermentação. A glicose é
primeiramente oxidada a duas moléculas de piruvato, produzindo duas moléculas de NADH.
Depois cada molécula de piruvato é oxidada a acetil-CoA, CO2 e H2 usando a piruvatoferrodoxina oxidoredutase e hidrogenase. Uma das moléculas de acetil-CoA é convertida a
acetato permitindo um ATP ser formado. O segundo acetil-CoA é reduzido a etanol usando
dois NADH. A reação completa é a conversão de uma molécula de glicose a uma molécula de
etanol, uma molécula de acetato, duas moléculas de hidrogênio, e duas moléculas de CO2,
produzindo três ATP. Acontece diferente quando a bactéria está crescendo em co-cultura com
metanogênica. Crescimento com metanogênica modifica a fermentação na direção do acetato
com uma concomitante produção de mais ATP. Isso explica-se da seguinte maneira: R. albus
tem uma hidrogenase que transfere elétrons do NADH para H+ para produzir gás hidrogênio.
Quando o hidrogênio acumula no meio, a hidrogenase não oxida NADH, porque o equilíbrio
favorece a redução do NAD+. O NADH assim reduz acetil-CoA a etanol. Entretanto, a
metanogênica utiliza o gás hidrogênio para produção de metano e mantém os níveis de
hidrogênio baixo. Na presença de metanogênica, o NADH em R. albus reduz prótons do gás
hidrogênio em vez de reduzir o acetil-CoA. O resultado é que R. albus converte o acetil-CoA
a acetato. Isso é também vantajoso para a metanogênica, uma vez que metanogênicas podem
também usar acetato como fonte de carbono e energia (WHITE, 2000).
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Figura 2. Fermentação de glicose por R. albus em co-cultura com metanogênica. Retirado do
livro The physiology and biochemistry of prokaryotes do autor David White, 2000.
Metanogênicas X protozoários ciliados
Outro sinergismo que ocorre no rúmen é a associação entre protozoários ciliados e
metanogênicas. Tem sido reconhecido que protozoários holotricos e particularmente
entodinomorfos no rúmen ingerem bactéria e parece que isso acontece sem seletividade por
bactéria (COLEMAN, 1964). No entanto, bactérias continuam a viver dentro dos protozoários
como endossimbiontes metabolicamente ativos (WHITE, 2000). Embora nem todas as
bactérias sejam metanogênicas, algumas são, e considera-se que endossimbiose com
metanogênicas pode gerar 37% das emissões de metano ruminal (FINLAY et al., 1994), e as
populações de bactérias que aderem à superfície dos protozoários podem chegar a 10% do
total da população de bactérias.
Embora muitas das bactérias aderentes sejam fermentadoras de carboidratos,
significativas populações de metanogênicas podem também ser aderidas, particularmente a
protozoários entodiniomorfos (VOGELS et al., 1980, KRUMHOLZ et al., 1983). Stumm et
al. (1982) estimou que 10-20% das metanogênicas podem estar aderidas à superfície exterior
do protozoário, mas sabe-se agora que não é permanente.
A aderência das bactérias metanogênicas aos protozoários parece ser em função do
potencial de hidrogênio no rúmen (STUMM et al., 1982). Maior aderência parece ocorrer
quando o potencial de hidrogênio no rúmen é baixo e parece provável que as metanogênicas
atacariam para obter acesso continuo ao hidrogênio o qual é requerido para síntese de ATP
(DEMEYER e VAN NEVEL, 1979). Os protozoários contêm uma estrutura celular chamada
hidrogenossomo pelo qual os protozoários são capazes de regenerar NADH2 em NAD+ e H2
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(MULLER, 1980). A presença de metanogênicas em co-cultura com protozoário aumenta
significativamente a taxa aparente de digestão de carboidratos e reduz o acúmulo de
hidrogênio em populações de protozoários (USHIDA e JOUANY, 1996). Transferência de
hidrogênio entre fungos e metanogênicas no rúmen também é provável ocorrer desde que os
fungos também contenham hidrogenossomos (YARLETT et al., 1986).
Considerações Finais
A fermentação ruminal envolve processo de oxidação-redução gerador de cofatores
reduzidos (NADH, FADH e NADPH) e para que o processo fermentativo não seja paralisado
esses cofatores são reoxidados a NAD+, FAD+ e NADP+ liberando hidrogênio no ambiente
ruminal. A metanogênese é um processo aceptor de elétrons, ou seja, remove hidrogênio do
meio, o que funciona como um dreno, pois se houvesse o acúmulo de hidrogênio levaria à
inibição das desidrogenases, enzimas envolvidas na reoxidação dos cofatores, no rúmen e
consequentemente levaria a morte bacteriana e cessamento da fermentação ruminal.
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Capítulo 3- Atividade fasciolicida dos óleos essenciais
SOARES, L.F.S.1; PINHEIRO, P.F.2; COSTA, A.V. 2; NOVAES, M.T.3, QUEIROZ,
V.T.2
1. Introdução
A fasciolose é uma importante doença econômica dos ruminantes no mundo todo, por
causar problemas que podem ameaçar a produção de alimentos em muitas regiões do planeta
(MCKINSTRY et al., 2009). Essa doença é causada por duas espécies de trematódeos,
Fasciola gigantica e Fasciola hepatica, atingem o fígado e os ductos biliares de seus
hospedeiros definitivos, podendo levar lesões irreversíveis pela migração das formas jovens
para o fígado resultando na destruição do parênquima hepático e obstrução dos ductos biliares
pela presença de formas adultas, ocasionando em uma doença crônica com danos severos.
A fasciolose acomete uma gama de animais domésticos e silvestres, mas tem
predileção por ruminantes: bovinos, caprinos e ovinos. É uma doença de importância
veterinária, pois causa danos graves aos animais e perdas econômicas exacerbadas
(HAROUN e HITLYER, 1986; SERRA-FREIRE, 1999). Sendo também reconhecida como
uma doença humana de grande importância, ou seja, a fasciolose é uma zoonose (MASCOMA; VALERO; BARGUES, 2009).
No Brasil, a enfermidade tem como o agente etiológico a F. hepatica (SERRAFREIRE, 2008) e nas Américas, Europa e Oceania também, entretanto ambas as espécies, F.
gigantica e F. hepatica, são encontradas na África e na Ásia (MAS-COMA et al., 2009).
As vísceras e carcaças com alterações patológicas são condenadas, levando prejuízo
econômico direto para as indústrias frigoríficas (SOUZA et al., 2007; KALE et al., 2011). As
vísceras são consideradas subprodutos essenciais que estão diretamente relacionados com a
economia (CHINA, 2005; KALE et al., 2011). Os cortes cárneos são consumidos em grandes
porções pela população, entretanto as vísceras são consideradas por ser uma via alternativa de
consumo humano in natura ou aproveitadas como matéria-prima para a confecção de produtos
(TOLDRÁ et al., 2012). Esses subprodutos comparados a cortes nobre, são mais baratos para
o consumidor (FRUET et al., 2013).
1
Graduando em Medicina Veterinária – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. email:
[email protected] Bolsista de Iniciação Científica em Medicina Veterinária Preventiva – FAPES
2
Professor(a) Adjunto do Departamento de Química e Física – Universidade Federal do Espírito Santo,
3Mestranda em Ciências Veterinárias – Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
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39
No Brasil, particularmente no Sul do Espírito Santo, em 2009, foi contabilizado um
prejuízo de 132 mil dólares devido a condenação de fígados por fasciolose (BERNARDO et
al., 2011). Em Santa Maria, Rio Grande do Sul, foi contabilizado uma perda econômica de R$
36.361,63 entre outubro de 2010 a setembro de 2011, devido a infecção por F. hepática,
sendo essa enfermidade a principal responsável pelos descartes de fígado (FRUET et al,
2013).
Não foram desenvolvidas vacinas eficazes e comerciais disponíveis nos dias de hoje
contra a fasciolose (SAOWAKON et al., 2009). Entretanto, são usados drogas antihelmínticas sendo o principal método empregando no controle de infecções por tramatodas. O
triclabendazole (TCBZ) é a droga de melhor escolha e que tem a maior eficácia em controle
de trematodos tanto jovens quanto adultos. O TCBZ foi usado contra fascíolas desde de 1983
como droga veterinária chamada (Fasinex®) (KEISER; MORSON, 2008). Segundo Shi et al.
(1989) o uso de TCBZ não é recomendável em gado leiteiro, pela elevada absorção pelo
animal, apresentando resíduos tóxicos do fármaco no leite.
O uso incorreto e abusivo dos fármacos, somado com poucos fasciolicidas disponíveis
no mercado, gerou uma grande resistência destes parasitos aos medicamentos, explicando a
necessidade demeios alternativos para combater a fasciolose ou qualquer outra enfermidade
parasitária (ALVES; MARTINS, 2013).
Devido a esses fatos, existe uma necessidade de obtenção de novos métodos de
controle para a fasciolose. Dentre as possibilidades, encontram-se o estudo de produtos
naturais, extratos botânicos e óleos essenciais para esse fim.
2. Óleos Essenciais
Os óleos essenciais estão localizados em diversos órgãos de muitas espécies vegetais,
tais como: folhas, frutos ou até mesmo em raízes. Esses apresentam características oleosas e
voláteis, apresentando um aroma intenso e agradável e por isso são conhecidos como
essências ou são chamados também de óleos voláteis ou de óleos etéreos, pois são solúveis
em solventes apolares como éteres (PINHEIRO, 2003)
Em plantas, a produção de óleos essenciais é fundamental para sua proteção contra
diversos agentes: microrganismos, insetos e herbívoros. Ou até mesmo para fins reprodutivos,
como por exemplo, atração (pelo aroma) de insetos polinizadores que ajudarão a dispersar
pólens e sementes e até mesmo afastar insetos indesejáveis (OLIVEIRA et al., 2011).
A principal característica do óleo essencial é a volatilidade, distinguindo dos óleos
fixos, que são apenas misturas de lipídicas adquiridas geralmente de sementes, como, por
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40
exemplo o girassol, azeite de oliva, mamonas. Segundo a International Standard Organization
(ISO), os óleos essenciais ou voláteis são um conjunto complexo de substâncias voláteis,
lipofílicas, geralmente odoríferas e caráter líquido. O significo de óleo é por meio de sua
natureza físico-química, frequentemente aparência oleosa em temperatura ambiente
(SIMÕES; SPITZER, 2003).
De acordo com a Resolução – RDC nº 2, de 15 de janeiro de 2007, óleos essenciais
são de caráter volátil adquirida de partes de plantas e extraídas por processos físicos
(destilação por arraste com vapor de água, destilação a pressão ou outro método adequado)
(BRASIL, 2007).
Os óleos essenciais são misturas complexas de diversas classes (desde éteres, fenóis,
cetonas, aldeídos, ésteres, óxidos, lactonas, ácidos orgânicos, furanos, cumarinas,
álcooisterpênicos e até compostos contendo peróxidos e enxofre) que apresentam
componentes em diferentes concentrações, sendo que usualmente é encontrado um
constituinte de maior concentração, denominado majoritário, enquanto outros com menores
proporção de concentração são chamados de traços, devido ao baixo teor encontrado. A
grande maioria dos óleos essenciais é composta por derivados de terpenóides e/ou
fenilpropanóides (SIMÕES; SPITZER, 2003).
Óleos voláteis podem apresentar constituição química, características físico-químicas
e odores bem variados quando extraídos de diferentes partes de uma mesma planta. Fatores
externos, também chamados de abióticos podem afetar as características dos óleos, como, por
exemplo, a temperatura, luminosidade, pluviosidade, nutrição, horário de coleta e a época e
fatores
ambientais
como
as
interações
planta/planta,
planta/artrópodes,
planta/microrganismos. (MORAIS, 2009).
3. Metabólitos secundários
Os metabólitos secundários são produtos secundários ou produtos naturais que os
vegetais produzem, porém esses compostos orgânicos não estão envolvidos na função do
crescimento e no desenvolvimento da planta. Comumente, esses constituintes não apresentam
funções que estão relacionadas diretamente com o processo de fotossíntese, respiração,
osmose, síntese de proteínas, lipídeos, carboidratos e absorção de nutrientes (TAIZ e
ZEIGER, 2009). Os metabólitos secundários podem atuar na proteção da planta, ou seja, pode
ser um mecanismo de defesa contra patógenos, herbívoros, artrópodes, competição entre
planta, mutualismo entre microrganismos, indução de agentes polinizadores e dispersores de
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sementes e também contra as oscilações de temperaturas, níveis de luz e carência de minerais
(PERES, 2004).
3.1 Terpenos
Os terpenos são originados da união de unidades de 5 carbonos, chamados de
isoprenos (Figura 1).
Figura 1. Estrutura do isopreno (C5).
A classificação dos terpenos é feita com base no número de unidades C5 que possuem,
os que contêm 10 carbonos (duas unidades C5) são conhecidos como monoterpenos, os de 15
carbonos (três unidades C5) são os sesquiterpenos e os de 20 carbonos (quatro unidades C5)
diterpenos. Os terpenos de maiores cadeias são os triterpenos (30 carbonos), tetraterpenos (40
carbonos) e os politerpenos (acima de 8 unidades C5) (TAIZ; ZEIGER, 2009).
A maioria dos terpenos apresenta uma ou mais ligações duplas, esses compostos
podem também possuir funções oxigenadas, como alcoóis, éteres, aldeídos, cetonas, lactonas
etc (BARBOSA, 2004). Alguns exemplos de terpenos que constituem diversos óleos
essenciais são mostrados na Figura 2.
Figura 2. Estruturas de terpenos.
A síntese de terpenos pela rota do ácido mevalônico, ocorre com a união de três
moléculas de acetilCoA, ligadas em uma sequência de reações, que após as etapas de
pirofosforilação, descarboxilação e desitratação é produzido o isopentenil difosfato (IPP),
unidade C5 que origina os terpenos. A síntese do isômero do IPP ocorre pela rota do
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metileritritol fosfato (MEP), levando a formação do dimetilalil difosfato (DMAPP, C5). A
união de IPP e DMAPP propiciam a síntese do geranil difosfato (GPP) precursor dos
monoterpenos (C10). A junção de mais uma unidade de IPP ao GPP, leva a síntese do farnesil
difosfato (FPP, C15), que origina os sesquiterpenos e triterpenos. Ao unir mais uma molécula
de IPP ao FPP ocorre à formação do geranilgeranil difosfato (GGPP, C20), precursor dos
diterpenos e pela dimerização origina também os tetraterpenos (C40), podendo originar
também politerpenos, conforme mostrado na figura 3 (TAIZ e ZEIGER, 2009).
Rota do mevalonato
Rota do metileritritol fosfato
O
H
O
O
O
H
SCoA
OH
OH
Acetil CoA
CH2OP
Piruvato (C3)
Gliceraldeído 3-fosfato (C3)
O
OH
OH
H3 C
C
CH2CSCoA
CH2
CH2
COOH
O
3-hidroxi-3-metil-glutaril-CoA (HMG-CoA)
OH
1-deóxi-D-Xilulose-5-fosfato
OH
OH
H3 C
C
P
O
CH2
CH2CH2OH
CH2
OH
COOH
O
P
OH
Metileritriol fosfato (MEP)
Ácido mevalônico
CH2
O
CH2
P
P
O
P
P
Isopreno (C5)
Dimetilalil difosfato (DMAPP, C5)
Isopentenil difosfato (IPP, C5)
CH2 O
Monoterpenos (C10)
P
P
Geranil difosfato (GPP, C10)
Sesquiterpenos (C15)
CH2 O
P
P
x2
Triterpenos (C30)
Farnesil difosfato (FPP, C15)
Diterpenos (C20)
CH2 O
P
P
x2
Geranilgeranil difosfato (GGPP, C20)
Tetraterpenos (C40)
Politerpenóides
Figura 3. Biossíntese dos terpenos, formação dos precursores IPP e DMAPP que os originam (Fonte: TAIZ;
ZEIGER, 2009).
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3.2 Fenilpropanóides
Os fenilpropanóides são substâncias naturais amplamente distribuídas nos vegetais e
constituídas por um anel aromático unido a uma cadeia de três carbonos e derivadas
biossinteticamente do ácido chiquímico, metabólito precursor das unidades básicas dos ácidos
cinâmicos e p-cúmarico, conforme mostrado na figura 4. Em seguida, as duas unidades
básicas, por meio de reduções enzimáticas, produzem propenilbenzenos e/ou alilbenzenos;
por oxidações com degradação das cadeias laterais, formam aldeídos aromáticos, e por
ciclizações enzimáticas intramoleculares, produzem cumarinas (SIMÕES; SPITZER, 2003).
O
O
O P
O
O
OH
O
HO
O
HO
Fosfoenolpiruvato
O
O
P
Pi
Eritrose-4-fosfato
OH
Pi
O
HO
OH
O
HO
OH
OH
OH
5-dehidroquinato
P
COOH
COOH
OH
O
OH
Fosfoenolpirúvico
O
ATP
ADP
PO
OH
Ácido chiquímico
OH
Pi
Ácido fenilpirúvico
OH
O
NH2
CO2H
OH
Ácido cinâmico
O
OH
O
CO2H
Ácido corísmico
NH3
COOH
Fenilalanina
OH
OCH3
Eugenol
OH
Ácido p-cumárico
Figura 4. Biossítese de fenilpropanóides (Fonte: Lorenzo et al. 2002; Peres, 2004).
O ácido chiquímico é formado por dois metabólitos da glicose, o fosfoenolpiruvato e a
eritrose-4-fostato. Através da junção do ácido chiquímico e de uma molécula de
fosfoenolpiruvato ocorre a formação do ácido corísmico (PERES, 2004).
O ácido corísmico é responsável por gerar aminoácidos aromáticos, como a
fenilalanina, a tirosina e o triptofano, que são precursores de vários alcalóides. Esses
aminoácidos sofrem ação enzimática, dando origem ao ácido cinâmico ou ao ácido pcumárico, também chamado de p-hidroxicinâmico (LORENZO et al., 2002).
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A partir do ácido cinâmico ou do ácido p-cumárico são formados compostos fenólicos
simples denominados fenilpropanóides. Esses compostos costumam ser voláteis, sendo
considerados, juntamente com os monoterpenos, óleos essenciais (PERES, 2004).
4. Ciclo evolutivo da Fasciola hepatica
O ciclo evolutivo da Fasciola hepatica envolve quatro elementos: o hospedeiro
infectado, também chamado de hospedeiro definitivo, o agente etiológico, hospedeiro
intermediário que é o molusco do gênero Lymnaea e a água (SERRA-FREIRE, 2008).
Um adulto de F. hepatica pode ovipor até 3000 ovos por dia, nos ductos biliares de um
hospedeiro vertebrado (ACHA; SZYFRES, 2003). Os ovos serão transportados da bile até a
vesícula biliar, no processo de digestão a bile é liberada no intestino delgado partes dos ovos
mantidos na vesícula são excretados através das fezes, contaminando o ambiente (SERRAFREIRE, 2008).
No ambiente, os ovos precisam estar em condições favoráveis para seu
desenvolvimento embrionário: umidade, temperatura, oxigenação (SERRA-FREIRE, ACHA;
SZYFRES, 2003). A temperatura é o fator limitante do ciclo (MCCANN et al., 2010).
Segundo Acha e Szyfres (2003) a sobrevivência dos ovos nas fezes é de até dois meses
e superam temperaturas de 0°C a 37°C, entretanto apenas em temperaturas entre 10°C e 30°C
ocorre o desenvolvimento. Os ovos são arrastados pela chuva até riachos ou outras coleções
de água e ali são liberados o miracídios (MARTINS et al., 2007).
A morfologia do miracídio é descrita de um formato cônico, mede aproximadamente
150 e provido de cílios, fundamental em sua locomoção aquática (VIGNAU et al., 2005). Para
penetrar no molusco, a larva em sua extremidade apresenta um espinho ou rostro que auxilia
na penetração (HATSCHBACH, 1995).
O hospedeiro intermediário da F. hepatica é o molusco aquático do gênero Lymnae
(MARTINS et al., 2007). No Brasil as espécies que estão relacionadas com a propagação da
doença são: L. viatrix, L. cubensis e L. columela (SERRA-FREIRE, 2008).
Após a penetração do miracídio nas partes moles do molusco, formam a segunda fase
larvar: o esporocisto (MARTINS et al., 2007). Hatschbach (1995) descreve que o esporocisto
é desprovido de cílios, ou seja, imóvel e se localiza na câmera pulmonar do molusco. É
composto por 5 a 6 núcleos de células germinativas, que podem seguir dois caminhos:
transformar em outros esporocistos ou originar a próxima fase larvar: a rédia.
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u
O esporocisto é envolto por um saco esporocístico, que ao se romper libera as rédiasmães, também chamada de primeira geração, por sua vez formam a segunda geração,
chamada de rédias-filhas antes de originar a próxima fase larvar: a cercaria (HATSCHBACH,
1995).
A reprodução ocorre por pedogênese, devido ao número reduzido de ovos produzidos
pelos adultos, sendo uma característica da classe Trematoda (ACHA; SYZFRES, 2003). Ou
seja, uma infecção por um miracídio pode formar até 500 cercárias (SERRA-FREIRE, 2008).
e as mesmas saem ativamente pelas partes moles do molusco (MARTINS et al., 2007). A
cercária é móvel pela presença de cauda, aonde se fixa em talos submersos de capim e se
encistam formando o ultimo estagio larvar: a metacercária (URQUHART, 1996).
Segundo Martins et al (2007) ao pastorear os hospedeiros definitivos ingerem a
metacercária presente na vegetação, sendo que no tubo digestivo as cercarias se desenvolvem
em formas jovens que penetram na mucosa intestinal e caem na cavidade peritoneal
perfurando o peritônio visceral do fígado e neste órgão migram até quatro meses. Depois vão
aos ductos biliares onde já são adultos se alimentando de sangue e após oito semanas da
infecção já liberam os ovos. O período pré-patente (PPP) = 10 a 12 semanas.
5. Oléos essenciais com atividade fasciolicida
Allium sativum
A. sativum conhecido popularmente como alho apresenta ação antihelmíntica in
vitro contra Heterakisgallinae e Ascaridiagalli (NAGAICH, 2000) e Haemonchus contortus
(IQBAL et., 2001) e teste in vivo contra strongyloides em burros (SUTTON; HAINK, 1999).
Também foi provado a ação do óleo de alho contra Fasciola gigantica.
Segundo Sigh (2009) o óleo essencial do A. sativium é composto por Aliina (S-alil-Lcisteína (SAC)) e g-glutamil-S-alicisteina (G-SAC), sendo substâncias principais de ação
fasciolicidas. Essas nas concentrações de 1 a 3mg mL-1 promoveram redução na atividade
muscular espontânea do parasito e na concentração de 3mg mL-1 após 15 minutos,
ocasionaram paralisia total irreversível da Fasciola gigantica (teste in vitro).
Cymbopogan nardus
A espécie Cymbopogan nardus, vulgarmente chamada de citronela, pertence à família
Poaceae, sua origem é no continente asiático, especificamente na ilha de Java na Indonésia. O
óleo essencial é extraído principalmente de suas folhas. Quimicamente é composto, de modo
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geral, dosmonoterpenos: eugenol, geramiol, limoneno, cintronelal (SHANSANY et al., 2000).
Seu óleo é geralmente usado na medicina tradicional como um antisséptico, bactericida,
desodorantes, tônico, estimulantes e acaricidas (THORSELL et al., 2006)
Segundo Jeyathilakan et al. (2010) foi concluído que óleo de citronela em testes in
vitro na FasciolaGigantica mostrou um efeito trematocida, que foi comparado a um efeito
muito próximo ao farmácooxiclozanida.
Commiphora myrrha
Commiphora myrrha é conhecida popularmente como mirra, sendo uma árvore
espinhosa de origem africana, que apresenta umóleo essencial muito concentrado e é utilizado
na composição de perfumes e de outros cosméticos.
Segundo Massoud (2012) um dos principais componentes do óleo de mirra são os
sesquiterpenose furano-sesquiterpens com ação citotóxica. O óleo de mirraapresentou
eficiência contra a Fasciola gigantica, por promovido alterações morfológicas do parasito.
Estas alterações consistiram em: inchaço, formação de bolhas, conduzindo à erosão e
descamação do tegumento, resultando na lesão, exposição da lâmina basal e o desalojamento
das espinhas. Microscopicamente, os componentes do óleo volátil de mirra penetraramna
membrana plasmática levando uma permeabilidade anormal, atingiu as membranas externas e
internas da mitocôndria levando as células a apoptose, promovendo ação citotóxica no
tegumento do parasito.
6. Considerações finais
O potencial de controle da Fasciola por óleos essenciais deve ser estudado de forma
mais aprofundada, pois seria uma alternativa viável do ponto de vista econômico e seguro
para a saúde do animal e do meio ambiente.
A partir dos óleos essenciais poderiam ser descobertos compostos naturais que possam
apresentar a ação fascicilocida e assim estudos pormenores poderiam ser realizados ao ponto
de se encontrar um novo tratamento para a doença, contribuindo para minimizar os danos
sociais e econômicos causados pela doença.
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Capítulo 4- Cicatrização de feridas através da utilização de plantas (Schinus
terebenthifolius Raddi) da biodiversidade brasileira: uso em diabetes mellitus
GONÇALVES, E.P.M.1; ZANINI, S.F.2*; SOUSA, D.R.3; MENDITI, C.A.3; BERTONCELI,
R.M.3
Resumo
Diabetes mellitus (DM) é um problema de saúde pública com alto potencial de morbidade e
mortalidade, pois é uma doença metabólica que decorre da ausência de insulina e/ou
incapacidade da mesma em exercer adequadamente seus efeitos. A hiperglicemia crônica,
presente em quadros de diabetes, está associada com perda da função e falência de vários
órgãos, resultando em cardiopatias, acidente vascular cerebral e má circulação. Estas
disfunções podem ocasionar um processo de cicatrização deficiente das lesões e gangrena dos
pés e mãos. Frente a essa realidade, torna-se imprescindível a procura de novas alternativas
para o tratamento de feridas decorrentes de complicações do diabetes. Atualmente o
desenvolvimento de práticas de saúde que incluem a utilização de plantas medicinais tem
crescido em decorrência da biodiversidade da flora brasileira assim como em função de
fatores econômicos e sociais. Neste panorama podemos destacar a Schinus terebinthifolius
Raddi que, como potencial a ser utilizada no tratamento de inflamações uterinas e cicatrização
de feridas.
Palavras-chave: Plantas medicinais, aroeira vermelha, cicatrização.
1 Introdução
Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome de etiologia múltipla que decorre da ausência
de insulina e/ou incapacidade da mesma em exercer adequadamente sua função
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Relata-se que indivíduos diabéticos apresentam maior
propensão a distúrbios circulatórios, devido a uma desordem generalizada por causa de danos
aos vasos sanguíneos (BENDER e BENDER, 2003), e por isso tem sido associado
clinicamente e experimentalmente a um processo cicatricial mais demorado (ALMEIDA et
al., 2002).
Em quadros de diabetes a cicatrização ocorre de maneira diferenciada em função de
lesões vasculares (hipóxia) e de alterações nas células fagocitárias que favorecem o
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desenvolvimento de infecções. A neuropatia também prejudica a cicatrização, devido à
redução de estímulos (mediadores) da inflamação liberados por terminações nervosas
(BOGLIOLO, 2006).
Frente a essa realidade, torna-se imprescindível a procura de novas alternativas para o
tratamento
de
feridas
decorrentes
de
complicações
do
diabetes.
Atualmente
o
desenvolvimento de práticas de saúde que incluem a utilização de plantas medicinais tem
crescido em decorrência da biodiversidade do bioma brasileiro assim como em função de
fatores econômicos e sociais, como o baixo custo (GUIMARÃES, 2005).
O uso medicinal da aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) é descrito há muitos anos
e referido desde a primeira edição da Farmacopéia Brasileira em 1926, segundo Lucena et al.
(2006). Neste panorama podemos destacar a S. terebinthifolius Raddi que, como potencial a
ser utilizada no tratamento de inflamações uterinas e cicatrização de feridas.
Diante disso, objetivou-se realizar uma revisãoi de literatura sobre dificuldade de
cicatrização decorrente do diabetes, assim como a utilização de Schinus terebinthifolius no
tratamento.
2. Produção de insulina
Este hormônio é produzido pelas células das “Ilhotas de Langherans’’, a porção
endócrina do pâncreas. As ilhotas são agrupamentos de diferentes tipos celulares, dos quais a
maioria é de células beta (β), responsáveis pela síntese e secreção de insulina, estimuladas
pela concentração de glicose no sangue (NATTRAS e HALLES, 1988). Sua síntese ocorre a
partir da transcrição e tradução do gene da insulina, com a formação da pré e pró-insulina no
reticulo endoplasmático. Posteriormente pela remoção da sequência contendo 24 resíduos de
aminoácidos, formam a pré-insulina. No complexo de Golgi, esta é armazenada nos grânulos
de secreção, onde por clivagem forma o peptídeo C inativo e a insulina, sendo esta última a
forma com potencial biológico (ELIASSON et al., 2008).
A secreção de insulina é estimulada por substratos energéticos metabolizáveis pela
célula B pancreática, sendo a glicose o mais importante. A glicose é transportada para o
interior da célula pancreática por uma proteína de membrana, denominada GLUT-2. Após
entrar na célula a glicose é fosforilada à glicose-6-fosfato pela glicoquinase, esta enzima é
caracterizada como o sensor da glicose nas células secretoras de insulina. O piruvato formado
no citoplasma é transportado para a mitocôndria e convertido a acetilCoA pela piruvato
desidrogenage (PDH). Subsequentemente, a acetilCoA entra no ciclo de Krebs levando a um
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aumento de nicotinamida adenina dinucleotideo (NADH) e flavina adenina dinucleotideo
(FADH2), este metabolismo gera ATP e a relação ATP/ADP aumenta no citoplasma
(MATSCHINSKY, 1995). Com essa relação ATP/ADP aumentada resulta na inibição dos
canais KATP e na despolarização da célula, levando a abertura dos canais de cálcio, e
consequentemente aumento de Ca2+ intracelular desencadeando o processo de exocitose da
insulina pela célula β pancreática (PRENTKI e CORKEY, 1996).
A ação da insulina na célula inicia-se pela sua ligação ao receptor glicoproteíco de
membrana plasmática, composto por duas subunidades α voltadas para o meio extracelular e
ligadas por pontes dissulfetos a duas subunidades β transmembrânicas. Assim este receptor é
composto por dois dímeros α-β unidos entre si por outra ponte disulfídica. A ligação da
insulina com o seu receptor leva a ativação tirosina quinase, que reside na porção
citoplasmática da subunidade β, levando a autofosforilação do receptor em quatro substratos
do receptor de insulina homólogos e específicos (IRS). Cada uma destas IRS-fosfotirosinas
serve como local de ancoragem e ativação para outras proteínas quinases, desencadeando uma
cascata de eventos intracelulares que incluem ativação ou inibição de enzimas envolvidas no
metabolismo de glicose e translocação de proteínas transportadoras de glicose (GLUTs) para
a membrana plasmática (KOEPPEN e STANTON, 2004).
A carência de insulina não afeta a captação de glicose pelo cérebro, eritrócitos, rins,
ilhotas de Langerhans e células hepáticas. Assim, o fornecimento de glicose para o cérebro é
garantido mesmo quando há redução da glicemia para as ilhotas de Langerhans, que através
da entrada de glicose proporcional à glicemia, respondem com a liberação de insulina e
glucagon para as hemácias que obtém energia exclusivamente através da glicose. O fígado é
permeável à glicose sem a intervenção da insulina, mas depende desta para que a glicoquinase
seja sintetizada e esta, por sua vez, atua na glicogênese. Somente os GLUTs que atuam nos
músculos e adipócitos são sensíveis à insulina (MARZZOCO e TORRES, 1999).
3. Fisiopatologia da DM
Em condições fisiológicas, a manutenção da glicemia é garantida principalmente pela
secreção de insulina e glucagon sendo também hormônios hiperglicemiantes o hormônio de
crescimento, cortisol e catecolaminas. A insulina é um importante hormônio anabólico que
desempenha um papel significativo na regulação do metabolismo de carboidratos, no
armazenamento de glicogênio, na síntese de ácidos graxos, no transporte de aminoácidos e
síntese de DNA, RNA e proteínas (ANDERSON et al., 1974).
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Baseando-se na fisiopatologia da DM, em 1997, a American Diabetes Association
propôs uma classificação que foi posteriormente aceita pela OMS e pela Sociedade Brasileira
de Diabetes: DM tipo 1, DM tipo 2 e outros tipos específicos de diabetes, como DM
gestacional, DM decorrente pancreatite e DM induzida por fármacos, dentre outras
(AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2006; OLIVEIRA, 2004).
A DM tipo 1 acomete 5-10% dos pacientes e resulta de destruição auto-imune das
células β das ilhotas pancreáticas (AMERICAN DIABETES ASSOCIATION, 2006). Esse
tipo da doença é diagnosticado principalmente na infância e juventude e os pacientes têm
como características a necessidade diária de insulina, a grande oscilação na glicemia e a
tendência a desenvolver cetoacidose diabética. No momento do diagnóstico a maioria dos
pacientes já tem cerca de 85% das células β pancreáticas destruídas (OLIVEIRA, 2004).
O DM tipo 2 manifesta-se em 90-95 % dos pacientes e é caracterizada por resistência
à insulina e/ou deficiência relativa na sua secreção. Possui forte predisposição genética,
porém esse fator ainda não está bem definido devido à sua complexidade. Fatores de risco
como obesidade também estão envolvidos no desenvolvimento deste tipo de DM
(MAUVAIS-JARVIS et al., 2000; GABBAY et al., 2003).
A DM é caracterizada por hiperglicemia crônica, polidipsia, perda de peso, poliúria,
glicosúria. Em longo prazo podem gerar conseqüências irreversíveis ou falência em vários
órgãos, especificamente rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos. A hiperglicemia,
também tem sua origem na deficiência insulínica que acarreta maior produção hepática de
glicose por inibição da glicogênese (deficiência na regulação da glicoquinase e inibição da
glicogênio sintetase), ativação da glicogenólise (ativação da fosforilase) e ativação da
neoglicogênese (maior oferta de substratos e ativação de enzimas chaves como piruvato
carboxilase, fosfoenolpiruvato carboxiquinase (PEPCK), frutose 1,6-difosfatase, glicose 6
fosfatase); inibição da captação de glicose pelos tecidos insulina – dependentes (tecido
adiposo e muscular) (GUYTON e HALL, 2006).
Para Tepperman e Tepperman (1987) e Felig et al. (1995), a perda de peso ou falta de
crescimento corporal é explicada pela diminuição de insulina, e conseqüente aumento de
glucagon e hormônios antagonistas da insulina que causam ativação da lipase hormônio
sensível por fosforilação, a qual acarreta lipólise com perda de tecido adiposo; ativação da
proteólise muscular com perda de massa muscular; inibição da captação de aminoácidos pelo
tecido muscular assim como também queda na síntese protéica e com isso redução na massa
muscular; inibição na captação de glicose pelo tecido adiposo e inibição da síntese e
deslocamento da lipase lipoprotéica, o que inibe a captação de gordura.
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De acordo com Felig et al. (1995), a maior ingestão de alimentos dá-se em função do
centro da saciedade localizado no núcleo hipotalâmico ventro-medial necessitar de insulina
para a captação de glicose, e assim inibir o centro da fome. A insuficiência de insulina e a não
inibição do centro de saciedade induz a uma maior ingestão de alimentos. Na ausência de
insulina, a glicose não entra no hipotálamo ventro-medial, que por sua vez deixa de inibir o
hipotálamo ventro-lateral responsável pela sinalização da fome. A área ventro-lateral livre de
inibição, sinaliza falta de glicose e fome, com conseqüente estímulo para maior ingestão de
alimentos.
Quando a hiperglicemia atinge valores acima de 180mg/dL, que é o limiar de absorção
renal, a glicose excedente é eliminada do organismo pela urina, sendo este processo
denominado glicosúria (GUYTON e HALL, 2006). Soskolne e Klinger (2001), afirmam que a
perda de água (poliúria) que acompanha o quadro diabético levando o indivíduo à
desidratação, decorre em função da perda de glicose, uréia e corpos cetônicos, os quais são
eliminados do organismo pela urina. A desidratação propiciada pela poliúria e aumento da
osmolaridade do sangue promovido pela hiperglicemia faz passar água do meio intracelular
para o extracelular a fim de manter o equilíbrio osmótico. A desidratação intracelular é
percebida por osmorreceptores cerebrais, desencadeando sede intensa. Este mecanismo é
provavelmente o responsável pelo aumento da ingestão de água (polidipsia) presente no
estado diabético.
Indivíduos diabéticos apresentam maior propensão a distúrbios circulatórios devido a
uma desordem generalizada por causa de danos aos vasos sanguíneos de grande e médio
calibre ocorrido pelo acúmulo de ateromas na parede do lúmen dos mesmos (BENDER e
BENDER, 2003). As células especialmente afetadas pela hiperglicemia são as células
endoteliais dos capilares da retina, as células mesangiais do glomérulo renal, os neurônios e as
células de Schwann nos nervos periféricos. Isso se deve à incapacidade desses tipos celulares
regularem o transporte de glicose para o meio interno (BARBOSA et al., 2008).
O aumento da espessura da parede de pequenas artérias, veias e capilares é causada
pelo acúmulo de glicoproteínas anômalas como resultado do processo de glicação não
enzimático irreversível (advanced glycation endproducts – AGEs), que associado com
diminuição do catabolismo de colágeno, aparentemente reduzem a absorção de nutrientes e
oxigênio pelos tecidos e leva ao acúmulo de metabólitos (PONTE et al., 2001).
Para Barbosa et al. (2008), os AGEs são considerados importantes mediadores
patogênicos das complicações do diabetes a longo prazo, convencionalmente classificadas em
micro ou macroangiopatias. A microangiopatia diabética é termo geral utilizado para
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denominar as modificações funcionais dos leitos microvasculares, nos quais o endotélio e as
células associadas são progressivamente danificados pela hiperglicemia, resultando na
oclusão capilar, isquemia e falência de órgãos. Já o termo macroangiopatia diabética refere-se
às complicações cardiovasculares, que constituem a principal causa de morbidade e
mortalidade em pacientes com DM.
Os efeitos patológicos dos AGEs estão relacionados à capacidade destes compostos
em modificar as propriedades químicas e funcionais das mais diversas estruturas biológicas.
Por meio da geração de radicais livres, da formação de ligações cruzadas com proteínas ou de
interações com receptores celulares, os AGEs promovem, respectivamente, estresse oxidativo,
alterações morfofuncionais e aumento da expressão de mediadores inflamatórios (BARBOSA
et al., 2008).
Em adição, há prejuízo da resposta leucocitária, isso leva a uma diminuição da
habilidade microbicida de leucócitos polimorfonucleares e falência na entrega de
componentes do sistema imune humoral e celular, favorecendo as infecções oportunistas
(BENDER e BENDER, 2003).
4. Patogênese da cicatrização
Ferida é a separação dos tecidos do corpo ou qualquer lesão tecidual, seja epitelial, de
mucosas ou órgãos, com prejuízo de suas funções básicas (WENDT, 2005; BLANES, 2004).
Os cuidados com as feridas são conhecidos desde a antigüidade, como é relatado no papiro
cirúrgico de Edwin Smith, datado de 1.700 a.C., onde este documento descreve o tratamento
que cirurgiões egípcios aplicavam em feridas, que consistia na combinação de mel e unguento
aplicados diariamente na lesão com ataduras de pano fino (HADDAD et al., 1983).
Utyama (2003), relata que Hipócrates (460-377 a.C) criou a base da medicina
científica com ênfase na observação cuidadosa e preconizava a manutenção das feridas limpas
e secas. Para o tratamento das feridas, a civilização egípcia utilizava óleos vegetais (rícino,
oliva), erva medicinais, mel, acrescidos de leite, banhas, secreção de caramujo e vinho.
Recomendava água tépida, vinho para limpar a ferida e para assepsia o vinagre. Sugeria a
aplicação de emplastros ou cataplasmas em feridas com indício de inflamação para amaciar os
tecidos e permitir a drenagem de pus.
Na atualidade sabe-se que o processo de cicatrização consiste numa perfeita e
coordenada cascata de eventos celulares e moleculares, que atuando em conjunto, levam à
repavimentação e à reconstituição do tecido (IRION, 2005). Tal fenômeno é um processo
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dinâmico que envolve eventos bioquímicos e fisiológicos, a fim de garantir a restauração
tissular (MANDELBAUM et al., 2003; KUMAR et al., 2004).
Este complexo processo de resposta à lesão tecidual envolve hemostasia, migração de
células inflamatórias, síntese de tecido de granulação, deposição de colágeno, de
proteoglicanos e maturação da cicatriz, seguida da regeneração do tecido conjuntivo e da
remodelagem da ferida (JUNQUEIRA e CARNEIRO, 2008) e são realizados por grande
número e diferentes tipos de células, como queratinócitos, fibroblastos, células inflamatórias e
endoteliais. As interações entre células, matriz intersticial e fatores de crescimento são
eventos que atuam de maneira coordenada, de modo a reparar os tecidos danificados, qualquer
alteração em uma destas fases prejudica o processo cicatrização (TENIUS et al., 2007).
De acordo com Mandelbaum et al. (2003), o processo de cicatrização pode ser
dividido didaticamente nas fases de coagulação, inflamação, proliferação, contração da ferida
e remodelação. Após a ocorrência do ferimento, inicia-se o extravasamento sanguíneo que
preenche a área lesada com plasma e elementos celulares, principalmente plaquetas. A
agregação plaquetária e a coagulação sanguínea geram um tampão, rico em fibrina, que além
de restabelecer a hemostasia e formar uma barreira contra a invasão de microrganismos,
organiza matriz provisória necessária para a migração celular. Essa matriz servirá também
como reservatório de citocinas e fatores de crescimento que serão liberados durante as fases
seguintes do processo cicatricial (MENDONÇA e COUTINHO, 2009).
A plaqueta ativada aumenta a ação da protrombinase que transforma a protrombina em
trombina, aumentando a adesão plaquetária. Estas plaquetas liberam fatores de crescimento
como o TGF-β e o PDGF, que auxiliam na migração de células envolvidas na resposta
inflamatória, com a vasodilatação causando dor, calor e rubor (BALBINO e CURI, 2005;
MAEHATA et al., 2007).
Esta resposta vascular é concomitante à resposta celular e algumas células são
importantes nesta fase, como os neutrófilos, que são responsáveis pela digestão de bactérias e
tecidos desvitalizados e os monócitos, que se transformam em macrófagos e auxiliam na
fagocitose de bactérias e resquícios celulares (BLANES, 2004, BALBINO e CURI, 2005).
A proliferação é a fase responsável pelo fechamento da lesão propriamente dito.
Compreende: reepitelização que se iniciam horas após a lesão, com a movimentação das
células epiteliais oriundas tanto da margem como de apêndices epidérmicos localizados no
centro da lesão; fibroplasia e angiogênese, que compõem o chamado tecido de granulação
responsável pela ocupação do tecido lesionado cerca de quatro dias após a lesão. Os
fibroblastos produzem a nova matriz extracelular necessária ao crescimento celular enquanto
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os novos vasos sanguíneos carreiam oxigênio e nutrientes necessários ao metabolismo celular
local (BALBINO e CURI, 2005; MENDONÇA e COUTINHO, 2009).
A ativação de fibroblastos é intensificada com a liberação de mediadores químicos,
liberados por macrófagos. Os fibroblastos são os principais componentes do tecido de
granulação juntamente com as células endotelial fazendo a reparação do tecido conjuntivo
(BALBINO e CURI, 2005). Para Carvalho (2002), a fibroplasia tem início pela formação de
tecido de granulação no espaço da ferida, contendo uma matriz frouxa de colágeno,
fibronectina e ácido hialurônico, rico em macrófagos, fibroblastos e vasos neoformados.
A última fase da proliferação é a angiogênese, essencial para o suprimento de oxigênio
e nutrientes para a cicatrização. Inicialmente as células endoteliais migram para a área ferida,
a seguir ocorre proliferação das células endoteliais, acesso para as células responsáveis pelas
próximas fases (MANDELBAUM et al., 2003; KUMAR et al., 2004; BALBINO e CURI,
2005).
A próxima fase da cicatrização é a maturação ou remodelamento e ocorre após 14
dias. De acordo com Ozgen et al. (2006) esta é a fase final da cura de uma ulceração
corresponde a maturação e remodelagem da matriz extracelular. É durante esta fase que a
cicatriz adquire sua máxima resistência tênsil. Este processo envolve etapas sucessivas de
produção, digestão e orientação das fibras de colágeno. A ferida se torna menos celular e
muitos capilares são ocluídos e, eventualmente, desaparecem. O tecido de granulação tornase, gradualmente, uma cicatriz densa e relativamente avascular, consistindo de fibras de
colágeno organizadas junto às linhas de tensão com fibroblastos relativamente inativos
(CAMPOS et al., 2007).
A deposição de colágeno é feita de maneira aleatória e depende da natureza e direção
das tensões aplicadas ao tecido. Repetições sucessivas da lise, ressíntese, redirecionamento e
religação formam fibras maiores de colágeno e resultam numa configuração mais regular da
cicatriz. Isso aumenta a sua resistência devido à organização das fibras acompanharem as
forças mecânicas que o tecido está sujeito durante a atividade normal. Este processo ocorre
lentamente, levando meses ou anos, uma cicatriz madura tem 70% da resistência da pele
normal (BALBINO e CURI, 2005).
A cicatrização pode ser classificada como: primeira, segunda ou terceira intenção. A
de primeira intenção ocorre em ferimentos com perdas mínimas de tecidos e cujas bordas são
aproximadas (fechada com pontos de sutura) (AMORIN, 2005; DANTAS e JORGE, 2005).
Amorin (2005) descreve a cicatrização por segunda intenção quando as bordas da ferida não
estão aproximadas, ou seja, não estão apostas, como nas queimaduras ou em ferimentos
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profundos que são deixados abertos para formação de tecido de granulação. Neste caso, o
tecido de granulação preenche a ferida e esta se contrai e reepiteliza. A cicatrização de
terceira intenção ocorre quando a ferida aberta é fechada secundariamente dias após a lesão,
cicatrizando por primeira intenção tardia. Geralmente estas feridas são mantidas abertas para a
resolução de edema e infecção (DANTAS e JORGE, 2005).
4.1 Deficiencia de cicatrização na diabetes
A importância em estudar o reparo tecidual em pacientes portadores de diabetes cresce
a cada ano. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) não seria nenhum exagero
descrever o diabetes como a principal causa de mortalidade prematura em todo o mundo.
Sendo uma epidemia silenciosa, sem uma ação eficaz, conseguiu debilitar os serviços de
saúde em toda a parte e especialmente nos países pobres nos últimos anos (MEIRELES et al.,
2009). O DM tem sido associado clinicamente e experimentalmente a um processo cicatricial
mais demorado. Diversos estudos apoiam as evidências de disfunção dos leucócitos
polimorfonucleares, macrófagos e fibroblastos, com uma fase inflamatória prolongada,
decréscimo na biossíntese de colágeno e glicosaminoglicanas, resultando no retardo da
formação do tecido de granulação (ALMEIDA et al., 2002).
De acordo com Ladeira (2011), as proteases (MMPs) que degradam matriz
extracelular (MEC) estão sob controle fino de inibidores plasmáticos como a macroglobulina
ou inibidores teciduais de metaloproteinases, nas feridas crônicas de diabéticos e um há
aumento na concentração de MMP-2, MMP-8 e MMP-9, juntamente com diminuição de
TIMPs. Esse desbalanço leva à destruição de proteínas e fatores de crescimento necessários
para iniciar a fase proliferativa, contribuindo para estacionar a ferida na fase inflamatória da
cicatrização. A explicação para esse fenômeno evidenciado na literatura é que macrófagos de
diabéticos secretam exageradamente metaloproteinases e que as citocinas IL-1 (interleucina1), e TNF-α (fator de necrose tumoral-α) estão em níveis elevados nas feridas e estes
sinalizadores têm como uma de suas funções aumentarem secreção de proteases e diminuir os
inibidores delas.
A hiperglicemia prejudica a eficiência da resposta inflamatória por meio de alterações
nas funções de neutrófilos, macrófagos e linfócitos. Mais particularmente, macrófagos e
neutrófilos tem suas capacidades citotóxica e fagocítica deficientes. Acredita-se que estas
alterações nas atividades dessas células sejam devido à baixa pressão de oxigênio local, já que
os processos prejudicados consomem altas concentrações desse gás (GUYTON et al., 2001)
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Guyton et al. (2001), em sua pesquisa sugeriu que o aumento mais substancial no
número de microorganismos quando há tecido necrótico e adicionalmente, uma relação foi
estabelecida entre número de bactérias local e cicatrização deficiente: quando mais de 105
bactérias são encontradas por grama de tecido, há grande probabilidade de que o reparo
tecidual esteja deficiente, com este número caindo para 103 quando se tratam de
estreptococos β-hemolíticos.
Desta maneira para combater uma carga bacteriana aumentada seria esperado,
fisiologicamente, que houvesse aumento na razão entre linfócitos CD4 e CD8. Entretanto, em
uma análise das margens de feridas e úlceras de diabéticos verificou-se diminuição nesta
relação, com aumento no número de células CD8 e diminuição das CD4. Esses resultados
sugerem que células CD8 possam ter papel ativo na cicatrização deficiente do diabético, já
que evidências as levantam como atuantes na alteração prejudicial do reparo tissular
fisiológico (SIBBALD e WOO, 2008).
Graves et al. (2005), obeservaram um aumento da expressão de mediadores
inflamatórios mais prolongadaem animais diabéticos quando comparados a animais
normoglicêmicos, pela ação das quimiocinas, proteínas quimiotáticas de macrófagos (MCP-1)
e proteína inflamatória de macrófago (MIP-2) que atraem macrofagose células
polimorfnucleares, como também estimulam a liberação de fator de necrose tumora (TNF).
Verificou-se que nas úlceras diabéticas ocorre a diminuição de fatores de crescimento
e expressão de: PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas), FGF (fator de
crescimento dos fibroblastos), IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina-1), IL-8
(interleucina-8), IL-10 (interleucina-10), esteopontina e TGF-β1 (fator transformador do
crescimento- β1). Por outro lado, constatou-se supra-regulação de: IL-1, TNF-α e
angiopoietina-2, concentrações diminuídas de esteopontina e aumentadas de angiopoietina-2
condizem com o atraso na angiogênese, já que a primeira induz o processo e a segunda o inibe
(BLAKYTNY e JUDE, 2006).
Sabe-se que úlceras de diabéticos apresentam fenótipos diferentes dos de feridas de
pessoas saudáveis, os queratinócitos têm habilidades alteradas de migração, proliferação,
diferenciação e secreção de fatores de crescimento e fibroblastos alterações na morfologia,
senescência, diferenciação deficiente em miofibroblasto, baixas capacidades migratória e
proliferativa, e função secretora exarcebada (BREM e TOMIC-CANIC, 2007).
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4.2 Potencial de cicatrizaçao da Schinus terebinthifolius Raddi
O uso de extratos de plantas ou parte na cicatrização de feridas é relatado desde a préhistória. Com o avanço da tecnologia passou a ser substituído por soluções de iodo e cloro, no
século XIX, e por pomadas contendo enzimas ou princípios ativos, como a alantoína, que é
encontrada em diversas espécies vegetais e já pode ser obtida por síntese orgânica
(OLIVEIRA et al., 2001; BLANES, 2004).
Segundo Simões (2003), desde o início da humanidade o homem busca nas plantas
efeitos terapêuticos. Neste panorama podemos destacar a Schinus terebinthifolius Raddi que,
como medicamento, pode ser utilizada no tratamento de inflamações uterinas e cicatrização de
feridas, tendo sido comprovada cientificamente sua ação antimicrobiana contra Escherichia
coli, Shigella dysenteriae, Bacillus subtilis e Staphylococcus aureus (MARTINEZ et al.,
1996) e antiinflamatória (GAZZEANO et al., 2005), não sendo demonstrado nenhuma
toxicidade em animais e humanos (BARBOSA et al., 2007). Dentre as partes utilizadas que
apresentam propriedades medicinais estão incluídas as cascas, folhas e frutos. Devido à
composição de seu óleo essencial, é usada no tratamento de distúrbios respiratórios, em
tumores e doenças da córnea (BORNHAUSEN, 2002). Popularmente, também é empregada
no tratamento da diarreia e inflamações.
O uso medicinal da aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) é descrito há muitos anos
e referido desde a primeira edição da Farmacopéia Brasileira em 1926, segundo Lucena et al.
(2006). Inúmeras potencialidades medicinais e fitoquímicas estão atribuídas a compostos
secundários que são substâncias ausentes de função relacionada a processos bioquímicos
primários dos vegetais (GUERRA et al., 2000). A finalidade destes compostos é promover
proteção contra predadores, microrganismos patogênicos, também conferem odor e cor aos
vegetais, atuando como mensageiros químicos entre a planta e o ambiente, os principais
exemplos desses compostos são óleos essenciais, saponinas e taninos (TAIZ e ZIEGER,
2004).
Os óleos essenciais são substâncias lipofílicas, líquidas e voláteis obtidas dos mais
variados vegetais, em geral via extração ocorre a vapor ou por solventes. Seus compostos
mais importantes são incluídos em dois grupos: terpenóides (monoterpenos e sesquiterpenos)
e fenilpropanoides (ARAÚJO, 2010). De acordo com Barbosa et al. (2007), o óleo essencial
de aroeira-vermelha é constituído principalmente de monoterpenos (90,00%), com uma maior
concentração de α-3-careno (29,22%), α-pineno (12,94%), α-felandreno (13,04%) e ß-
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felandreno (18,08%), embora também tenha sido observada a ocorrência de sesquiterpenos,
como o D-germacreno (3,09%).
Estudos fitoquímicos identificaram flavonóides, esteróides, triterpenos, antraquinonas,
saponinas e fenóis incluindo taninos na espécie Schinus terebinthifolius (LIMA et al., 2006).
Os flavonoides podem previnir injurias oxidativas de diferentes formas como diminuindo a
formação de radicais livres, quelando íons metálicos e inibindo a atividade de diversas
enzimas: lipoxigenase, cicloxigenase, xantina oxidase, fosfolipase A2 e proteína quinase que
são importantes nas reações inflamatórias (RATTY e DAS, 1988).
Apresenta atividade anti-inflamatória (GAZZANEO et al., 2005) e antimicrobiana
contra bactérias gram-positivas e gram-negativas - Escherichia coli, Shigella dysenteriae,
Bacillus subtilis e Staphylococcus aureus (MARTINEZ et al., 1996; LIMA et al., 2006),
provavelmente atribuída à presença de substâncias fenólicas, contra uma série de
microorganismos.
Gonçalves at al. (2012) avaliou o uso tópico de óleo essencial do fruto de aroeiravermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) sobre o processo de cicatrização de lesões em ratos
submetidos a um modelo experimental de diabetes aloxânico tipo I. A análise macroscópica
mostrou irritação local no grupo com aroeira vermelha (AV), entretanto a análise
microscópica demonstrou um processo de cicatrização acelerado neste grupo em comparação
ao grupo controle e ao grupo com óleo comercial ao 7º dia de tratamento, não havendo
diferença no processo de cicatrização aos 14 º e 21 º dias de tratamento.
Os autores
concluíram que que após 7 dias de tratamento, o óleo essencial de aroeira vermelha mostrou
efeito benéfico na cicatrização de lesões em animais diabéticos.
5. Considerações
Considerando que dentre as principais consequências do diabetes encontra-se a dificuldade de
cicatrização e tendo em vista o potencial anti-inflamatório e cicatrizante da aroeira vermelha
(Schinus terebenthifolius Raddi) podendo ser uma ferramenta de auxílio no processo de
cicatrização.
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Capítulo 5- Diabetes Mellitus gestacional em cadelas – revisão de literatura
AGUIAR, M.C.F.1; APTEKMANN, K.P.2; OLIVEIRA, L.L.2; EGERT, L.1; REIS, A.C.1
Introdução
A preocupação com o bem-estar animal, e o interesse na criação de cães visando obter
lucro financeiro, tem crescido substancialmente. Assim, o acompanhamento pré-natal de
cadelas tornou-se uma ferramenta utilizada visando diagnosticar alterações que ofereçam
risco à gestante ou aos filhotes, reduzindo assim a taxa de mortalidade neonatal.
A avaliação hormonal permitiu a obtenção de conhecimento sobre os mecanismos
adaptativos decorrentes da gestação. As alterações que ocorrem fisiologicamente, visando a
manutenção do fluxo sanguíneo e da função metabólica adequada para os tecidos maternos e
fetais podem exacerbar ou desencadear distúrbios antes não observados.
O aprimoramento dos estudos das alterações referentes a alterações na glicemia e sua
regulação tem demonstrado que doenças metabólicas podem se desenvolver devido a
alterações hormonais que direta ou indiretamente prejudicam a interação insulínica com seus
receptores, gerando resistência à insulina e alterando a glicemia materna e neonatal. Distocias,
hipoglicemia fetal e macrossomia podem ser consequências da Diabetes Mellitus Gestacional
(DMG) resultante.
Caracterização e fisiopatogenia
Diabetes mellitus (DM) é uma síndrome que afeta o metabolismo de proteínas,
gorduras e carboidratos, por deficiência na secreção de insulina ou por redução da
sensibilidade dos tecidos à mesma (GUYTON; HALL, 2006).
A DM pode ser classificada mediante a dependência ou não do uso de insulina
exógena, ou mediante o mecanismo subjacente que causa a doença. Assim, a DM tipo 1
ocorre devido à aplasia, hipotrofia ou destruição das células-β pancreáticas, reduzindo a
produção hormonal de insulina, enquanto a DM tipo 2 se deve a associação entre a produção
insuficiente e a redução de sensibilidade dos tecidos periféricos a insulina, denominada de
resistência a insulina (RI) (CATCHPOLE et al., 2008).
1
2
Mestrando(a) do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias – CCA - UFES
Docente do Departamento de Medicina Veterinária – CCA - UFES
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68
A insulina atua sobre o metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas, mas tem seu
maior efeito sobre a regulação da homeostase glicêmica. Um dos tecidos mais afetados pela
ação insulínica é o fígado, seguido pelos músculos e gordura, onde o hormônio estimula a
absorção, armazenamento e uso da glicose (FELDMAN; NELSON, 2004).
O desenvolvimento da DM em cães possui diversos fatores envolvidos, como
características genéticas, predisposição racial, insuficiência pancreática de origem
inflamatória ou imunomediada, ação de glicocorticoides e hormônios, doenças crônicas
concomitantes e obesidade (MOLLER; FLIER, 1991, CATCHPOLE et al., 2008, e PÖPPL et
al., 2009).
Pode-se definir RI como a condição em que um volume normal de insulina produz
uma resposta biológica abaixo do esperado (FELDMAN; NELSON, 2004). Os principais
mecanismos envolvidos na ocorrência de RI podem ser originários da menor na quantidade
circulante de insulina metabolicamente ativa, devido à degradação acelerada desta, e presença
de anticorpos anti-insulina, que inativam a molécula. Também podem haver defeitos de
receptor, como o decréscimo na concentração de receptores de insulina na membrana
plasmática, ou menor afinidade de ligação hormônio-receptor, ambas levando a redução na
atividade sinalizadora do receptor. Os defeitos caracterizados como pós-receptor incluem
mutações nos transportadores de glicose, alterações tecido-específicas na produção e
translocação intracelular destes transportadores ou ainda defeitos nas vias de sinalização e
enzimas intracelulares (SALTIEL; KAHN, 2001).
A RI tem sido considerada como a causa basal do desenvolvimento de diabetes
mellitus gestacional (DMG), relacionada a ação de hormônios sexuais (FALL et al., 2007). A
gestação causa resistência à insulina, a qual suprime o transporte intracelular de glicose e
diminui a sua utilização, levando a uma deficiência de energia intracelular e aumento nas
concentrações séricas de glicose (JHONSON, 2008a). A progesterona, estradiol, hormônio de
crescimento, lactógeno placentário e citocinas placentárias estão envolvidos neste processo de
RI (BATISTA et al., 2005). Além disso, a gestação suprime mecanismos contrarregulatórios
que respondem a hipoglicemia. Durante a gestação a habilidade do glucagon e norepinefrina
em responder a hipoglicemia está prejudicada, podendo ocasionar uma deficiência de energia
intracelular. (CONNOLLY, 2004).
Em cadelas gestantes sadias, ocorre uma queda notável na sensibilidade à insulina,
principalmente devido à ação antagônica da progesterona frente à insulina, por meio da
redução da ligação insulínica e inibição do transporte de glicose para os tecidos-alvo (RAND
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et al., 2004). Mudanças de afinidade nos receptores teciduais de insulina também ocorrem em
cadelas em estro, diestro ou com hiperplasia endometrial cística (PÖPPL et al., 2009).
A progesterona é um hormônio esteroide produzido pelos ovários durante o ciclo
estral, e pelo corpo lúteo durante a gestação. Sua função compreende a manutenção da
gestação, favorecimento da nutrição fetal e preparar o organismo materno para a lactação
(GUYTON; HALL, 2006). A progesterona também aumenta a secreção do hormônio do
crescimento (GH) pela glândula mamária, o que, de forma indireta, acentua a RI por meio de
ação lipolítica e redução da concentração dos receptores teciduais a insulina, com consequente
diminuição da captação de glicose nos tecidos afetados (MOLLER; FLIER, 1991; GANONG,
2005).
Além da progesterona, os estrógenos também tem ação sobre a regulação glicêmica da
fêmea. Sua ação é predominantemente hepática, entretanto, sabe-se que a influência no
metabolismo da musculatura inclui a inibição dos transportadores de glicose dependentes da
insulina, denominados GLUT4 (BARROS et al., 2006).
A produção ativa de fatores pró-inflamatórios e anti-inflamatórios, tais como a
adiponectina (ApN), também desempenha um papel importante no desenvolvimento da RI
(FANTUZZI, 2005; SJÖHOLM; NYSTRÖM, 2006). A ApN é uma citocina produzida por
adipócitos (HALLEUX et al., 2001; ISHIOKA et al., 2006), com papel anti-inflamatório,
antiaterogênico e benéfico quanto a sensibilidade a insulina nos tecidos periféricos
(HALLEUX et al., 2001; RADIN et al., 2009). As concentrações séricas são inversamente
proporcionais ao Índice de Massa Corpóreo (IMC), ou seja, a estimulação insulínica sobre a
produção de ApN pode ser defeituosa ou insuficiente em certos indivíduos, predispondo à
menores níveis desta citocina (WEYER; et al., 2001).
A utilização de biomarcadores, como a ApN, para o diagnóstico precoce da DMG
pode prevenir os riscos à saúde da mãe e do feto (GEORGIOU et al., 2008). Estudos com
obesidade, DM tipo 2 e DMG sugerem que a deficiência de ApN inicia a progressão da RI e o
desenvolvimento de processo inflamatório de origem metabólica (SHEHZAD et al., 2012).
A fisiopatogenia da DMG tem sido proposta como sendo similar ao que ocorre no
diestro canino, período no qual pode ocorrer um DM transitório. No entanto, um estudo
demonstrou que a RI é mais grave em gestantes do que em não-gestantes 55 dias após o estro
(FALL et al., 2008).
Na maioria dos casos o quadro pode ser revertido após o parto, já que há grande
redução dos hormônios responsáveis pela RI. Porém, a DM pode ficar se tornar permanente,
sugerindo que a hiperglicemia prolongada possa causar danos irreversíveis para as células B,
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por meio da glicotoxicidade (FALL et al., 2008). Em cadelas, 10 entre 16 animais
diagnosticados durante a gestação, obtiveram resolução em um período de nove dias após o
parto. Os outros seis animais continuaram recebendo tratamento, sendo considerados
diabéticos mesmo após o período gestacional (ARMENISE et al., 2011; FALL et al., 2008;
NORMAN; WOLSKY; MACKAY, 2006).
Prevalência e predisposição
Na medicina veterinária, a diabetes mellitus gestacional (DMG) é menos
diagnosticada do que na medicina humana, onde o índice de ocorrência chega a 12% (HUNT;
SCHULLER, 2007). Fall, et al. (2008) relataram 13 casos em cadelas ao longo de 10 anos,
demonstrando a reduzida frequência de diagnóstico desta doença. Em outro estudo, duas
cadelas foram diagnosticadas em períodos próximos ao parto, e nenhum filhote sobreviveu
(NORMAN; WOLSKY; MACKAY, 2006). Foi relatada também a ocorrência de cetoacidose
associada a diabetes gestacional em uma cadela (ARMENISE et al., 2011). Já em um estudo
retrospectivo em cães da raça Elkhound, das 63 cadelas diabéticas, nenhuma era castrada, e
sete estavam gestantes. Dentre todo o grupo avaliado, os sinais clínicos se manifestaram cerca
de 30 dias após o último estro. Após o diagnóstico, 39 cadelas foram castradas e 18 delas se
recuperaram da DM após este procedimento (FALL et al., 2010).
Nos casos de DMG relatados, a idade média das cadelas foi de seis anos (2,1 a 8,2
anos), e a doença foi diagnosticada em média aos 50 dias (32 a 64 dias) após a última
cobertura. As raças relatadas na literatura que apresentaram DMG foram Yorkshire Terrier,
Labrador Retriever, Husky Siberiano, Elkhounds Sueco e Norueguês, Malamute do Alaska,
Dachsbracke Alpino e Border Collie (FALL, et al., 2008; NORMAN; WOLSKY; MACKAY,
2006; ARMENISE et al., 2011).
Sinais clínicos
Quando a glicemia excede a capacidade de reabsorção do túbulo renal (180220mg/dL), ocorre glicosúria e diurese osmótica. A poliúria e a polidipsia compensatórias são
as manifestações clínicas mais comumente encontradas. Polifagia e perda de peso são os
outros dois sintomas mais comuns, mas eles podem não ser reconhecidos em cadelas
gestantes, devido ao aumento do apetite esperado durante a gestação e porque a gestação
avançada pode mascarar a perda de peso (NORMAN; WOLSKY; MACKAY, 2006;
JOHNSON, 2008a). À avaliação clínica pode-se notar desidratação, taquicardia e taquipnéia
em casos de cetoacidose diabética (NELSON; REUSCH, 2014).
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Segundo a hipótese de Pedersen, a glicose materna se difunde através da placenta,
guiada pelo gradiente de concentração, levando a um aumento importante da concentração de
glicose sanguínea do feto (METZGER et al., 2007; HADAR; HOD, 2010). Dessa maneira, os
filhotes de cadelas com DMG podem crescer excessivamente (macrossomia) (LINDEFORSBERG, 2010). As consequências do crescimento excessivo do feto incluem trauma
durante o parto, partos distócicos, e um possível aumento dos riscos de intolerância à glicose
e obesidade ao longo da vida (METZGER et al., 2007).
Diagnóstico
Ao contrário do que ocorre nas mulheres, a doença é diagnosticada somente quando a
cadela apresenta alterações não compatíveis com a gestação (FALL et al., 2008). Em cadelas,
a associação entre os sinais clínicos, hiperglicemia e glicosúria persistentes são determinantes
para o diagnóstico da DMG (JHONSON, 2008b; NELSON; REUSCH, 2014).
Deve-se suspeitar de RI em animais que apresentem alta concentração sérica de
insulina, associada a glicemia normal ou aumentada (IHLE; NELSON; 1991).
Em cães e gatos, o teste de tolerância a glicose, oral ou endovenoso, com amostras
pareadas, o teste de tolerância a insulina e o teste de supressão de insulina, que se utilizam da
mensuração da velocidade do consumo de glicose e capacidade de resposta compensatória do
indivíduo, podem ser utilizados como meios diagnósticos da RI (GELONEZE;
TAMBASCIA, 2006; COUSTAN et al., 2010), porém são testes mais complexos em sua
metodologia.
A dosagem basal de insulina e glicose, associada ao cálculo do índice do Modelo de
Avaliação da Homeostase – Resistência a Insulina (HOMA/RI - Homeostasis Model
Assessment – Insulin Resistance) são os métodos mais simples e bem correlacionados a
outros testes utilizados para determinar sensibilidade a insulina. Também é possível avaliar a
função das células pancreáticas, calculando-se o índice do HOMA/Beta (Homeostasis Model
Assessment – B pancreatic cells) (APPLETON et al., 2005; VERKEST et al., 2010). O
HOMA é o produto da concentração basal de glicose e insulina, divididos por uma constante,
sendo maior quando há diminuição na sensibilidade a insulina. Em casos de RI crônica, pode
haver destruição das células B pancreáticas, portanto, a dosagem basal isolada da insulina não
seria um teste ideal para detecção da sensibilidade da insulina, sendo, nesses casos, o uso
preferencial do HOMA (APPLETON et al., 2005).
O Índice de Verificação Quantitativo de Insulina (Quantitative Insulin Sensitivity
Check Index – QUICKI) é calculado por meio da aplicação da fórmula: QUICKI = 1/[log(I0)
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+ log(G0)], onde I0 se refere ao valor de insulina em jejum, e G0 se refere ao valor de glicose
em jejum (KATZ et al, 2000). Este teste tem demonstrado ser uma importante ferramenta em
estudos epidemiológicos, por apresentar excelente correlação com o exame considerado
padrão ouro no diagnóstico de RI (RABASA-LHORET et al., 2003).
Como discutido anteriormente, a dosagem de ApN pode ser utilizada como um
biomarcador de RI na gestação, apresentando-se diminuída nesses casos (SHEHZAD et al.,
2012; LACROIX et al., 2013). Estudos estabelecem uma associação entre baixos níveis de
ApN com o aumento no risco de DMG (WILLIAMS et al., 2004; GEORGIOU et al., 2008),
contudo, ainda há controversas (PARADISI et al., 2010). Os níveis de ApN aumentaram após
o pico de LH em fêmeas não gestantes (TVARIJONAVICIUTE; CARRILLO-SANCHEZ;
CERON, 2013).
A mensuração da insulina endógena nos cães, antes de iniciar o tratamento com
insulina, pode ter valor prognóstico em relação à persistência do diabetes após o parto
(JOHNSON, 2008a).
Para cadelas com DMG, a viabilidade fetal deve ser avaliada por meio da
ultrassonografia e radiografia abdominal, para determinar o tamanho dos filhotes e se
determinarão um risco de distocia no parto, ou se já estão mortos (JOHNSON, 2008a).
Tratamento
O tratamento da cadela com DMG deve ser iniciado para prevenir danos permanentes
ao pâncreas (LINDE-FORSBERG, 2010). E com o tratamento apropriado, a prevalência de
morte fetal é similar a população obstétrica geral (JHONSON, 2008).
A correção da hiperglicemia é essencial para evitar que a glicotoxicidade destrua as
células β pancreáticas e sua capacidade de produzir insulina. Um rápido controle glicêmico
para preservar a função das células beta e proteger a saúde da cadela e dos fetos são os
objetivos do tratamento (JHONSON, 2008).
Semelhante a cadelas diabéticas não prenhes, a dose e a via de administração da
insulina variam de acordo com o tipo da insulina, e ajustada de acordo com a resposta ao
tratamento. Como a resistência à insulina é a causa da DMG, a dose poderá ser acima da dose
utilizada para cadelas diabéticas não prenhes. Sendo assim, inicia-se com a dose de 0,5 U/kg
de uma insulina de ação lenta ou intermediária, a cada 12 horas, por via subcutânea. Em cães
com cetoacidose diabética o tratamento deve ser intensivo, com utilização de insulina de
rápida ação (regular). Normalmente a RI vai diminuir dias após o parto, e a dose de insulina
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utilizada poderá provocar hipoglicemia. Algumas cadelas se tornam diabéticas após o parto,
devendo ser instituído o tratamento recomendado para cães com DM tipo 1 (FELDMAN;
NELSON, 2004).
Outra medida fundamental é o controle dietético, que visa a manutenção do peso
adequado e fornecimento de níveis apropriados de carboidratos e proteínas, além da exclusão
de lipídeos e controle da ingestão de calorias. Deve-se levar em conta que o uso de arginina
estimula a secreção de insulina. Sugere-se a distribuição igualitária das porções em duas
refeições diárias, de forma a favorecer a estabilidade glicêmica, evitando picos hiper ou
hipoglicêmicos (RUCINSKY et al., 2010).
Somando-se a insulinoterapia e o acompanhamento dietético, a fluidoterapia deve ser
realizada visando reidratação e correção eletrolítica em casos de cetoacidose metabólica. A
monitorização do paciente faz parte do protocolo de tratamento e deve considerar a forma
menos agressiva para o paciente e de maior facilidade para o proprietário (COOK, 2012).
A OSH também é recomendada, de modo a eliminar a influência dos hormônios
sexuais e evitar recorrência de DMG durante a gestação (LINDE-FORSBERG, 2010).
Considerações Finais
A instituição de protocolos de avaliação dos índices glicêmicos em cadelas gestantes,
por meio da mensuração dos níveis basais de insulina, glicose e marcadores biológicos, como
a adiponectina, bem como os cálculos de HOMA/RI, HOMA/B e QUICKI pode se tornar uma
ferramenta importantíssima na avaliação da saúde da mãe e dos filhotes, de modo a evitar a
ocorrência de distocias e macrossomia, e diagnosticar precocemente a DMG, dentre outras
alterações que aumentam as chances de óbito fetal e materno. O tratamento baseado em
fornecimento de insulina, terapia de suporte, manejo dietético e das alterações secundárias,
além da OSH, visa evitar lesões permanentes e garantir a qualidade de vida da cadela.
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Capítulo 6- Inibidores da acetilcolinesterase úteis à terapêutica humana e animal
VICENTINI, A.R.1; ALENCAR, T.1; RODRIGUES, W. D1; DUTRA, J.A.P.1; SEVERI, J.A.1
Introdução
A acetilcolina (ACh) é um neurotransmissor responsável pelo envio de sinais do
Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP) que está amplamente
envolvido com as funções cognitivas como modulação do sono, estado de vigília, aprendizado
e memória. Além disso, atua também controlando atividades primordiais dos mecanismos que
não estão sob consciência, como a circulação, a temperatura corporal, a digestão, a sudorese e
o metabolismo por exemplo. A ACh juntamente com toda sua via metabólica de síntese,
degradação e atuação está envolvida direta ou indiretamente em diversas doenças presentes
em animais e humanos. Consideramos aqui as principais nas quais ambos são acometidos,
como: Miastenia Grave, a Doença de Alzheimer, Parkinson, Botulismo e Paralisia do
carrapato e a Cinomose, além de outras.
As doenças citadas possuem algum tipo de tratamento, porém não a cura, sendo que
esse muitas vezes se restringe ao tratamento da sintomatologia e mesmo assim a terapêutica
farmacológica não é ampla, tornando as opções terapêuticas escassas.
Existe atualmente a necessidade de uma maior abordagem multidisciplinar entre as
áreas de botânica, etnobotânica, fitoquímica e biologia para que juntas a pesquisa e o
desenvolvimento de fármacos provindos de fontes naturais seja mais desenvolvida. A
diversidade química fornecida por estes produtos naturais é bastante significativa, tornando-os
uma fonte valiosa para a descoberta de novos agentes bioativos e consequentemente novos
fármacos.
1. Acetilcolina e sinalização colinérgica
A acetilcolina (ACh) é um mediador químico que se encontra em todo o cérebro e nas
junções neuromusculares (JNM) fazendo parte do sistema parassimpático, associada ao
controle motor, à cognição (fala, memória, gesticulação), na contração da musculatura lisa, na
dilatação dos vasos sanguíneos e ainda regulação dos batimentos cardíacos (JUNIOR et al,
2004).
1
Mestranda em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias: [email protected]
Graduanda em farmácia bacharelado- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. [email protected]
²
Graduanda em farmácia bacharelado- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. [email protected]
²
Graduando em farmácia bacharelado- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. [email protected]
³
Professora Adjunto do Departamento de Farmácia e Nutrição- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
²
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78
A ACh é sintetizada no citoplasma da célula pela enzima colina acetiltransferase
(ChTA) a partir dos substratos colina e acetilcoenzima A. Esta enzima catalisa a transferência
do grupo acetil provinda da acetil-CoA para a molécula de colina. A maior parte da ACh após
ser sintetizada é armazenada e transportada em vesículas sinápticas. Seu transporte dentro da
vesícula é mediado por uma ATPase, que bombeia prótons para dentro da vesícula. À medida
que ocorre a captação de ACh esses prótons são bombeados para fora através de um canal
contratransportador de ACh-H+. Para que ocorra liberação da ACh na fenda sináptica é
necessário que haja estímulo pré-sináptico, no qual implicará em um potencial de ação que faz
com que os canais de Ca2+ se abram aumentando seu influxo para o neurônio. Com as
concentrações de Ca2+ altas no neurônio as vesículas contendo ACh se fundem na membrana
plasmática, liberando a ACh na fenda sináptica (GOLAN et al, 2014).
Após sua liberação na fenda sináptica, a ACh se liga aos seus receptores pré e póssinápticos que são classificados como muscarínicos e nicotínicos. São cinco tipos de
receptores muscarinícos, M1, M2, M3, M4, M5, todos acoplados à proteína G. Os receptores
M1, M3 e M5 são responsáveis pela estimulação da enzima fosfolipase C, enquanto que os
receptores M2 e M4 são responsáveis pela inibição da adenilil ciclase e abertura de canais de
K+. Já os receptores nicotínicos são canais iônicos permeáveis a cátions, regulados por
ligantes. Os receptores M1, M3 e M5, juntamente com os receptores nicotínicos póssinápticos, são receptores excitatórios, que irão causar a despolarização celular. Os receptores
M2 e M4 são inibitórios, que causarão a hiperpolarização da célula. Os receptores présinápticos nicotínicos permitem a entrada de Ca2+ para o neurônio, fazendo com que a fusão
das vesículas contendo ACh aumente, consequentemente aumentando sua liberação na fenda
sináptica. Entretanto, os receptores M2 e M4 pré-sinápticos impedem a entrada de Ca2+ no
neurônio, diminuindo a fusão das vesículas na membrana e, consequentemente, diminuindo
sua liberação na fenda sináptica (GOLAN et al, 2014).
Posteriormente a sua interação com os receptores, a ACh é metabolizada em colina e
acetato, através da ação da enzima acetilcolinesterase (AChE) que está ancorada dentro da
fenda sináptica por um instrumento de ancoragem profundamente especializado (SILMAN e
SUSSMAN, 2005). A AChE possui como principal papel fisiológico a interrupção da
transmissão do impulso nervoso, através da hidrólise da ACh. Todo o processo de transmissão
sináptica da ACh já descrito ocorre dentro de milésimos de segundo exigindo da enzima
AChE uma interação precisa com o substrato, para que o impulso não se propague mais do
que o devido (ALDUNATE, 2004), sendo AChE uma das principais enzimas de regulação da
atividade e permanência da acetilcolina na fenda sináptica (VENTURA, 2009). O sítio ativo
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da AChE é composto por uma tríade catalítica constituída dos aminoácidos serina, histidina e
glutamato (Ser-200, His-440 e Glu-327, respectivamente) que hidrolisa a molécula de ACh
através de um ataque nucleofílico da serina da enzima ao carbono carbonílico da ACh,
formando um intermediário que é estabilizado por ligações de hidrogênio, produzindo assim a
colina livre e uma serina acetilada (Figura 1). A colina formada a partir da metabolização da
ACh é reabsorvida pela membrana pré-sináptica e reutilizada para a síntese de novas
moléculas de acetilcolina (JUNIOR, 2004). A AChE é a enzima alvo para atuação de
fármacos de uso humano e animal frente à doenças que estejam ligadas a distúrbios
colinérgicos.
Figura 1.Visão do sítio catalítico da AChE e os constituintes da tríade catalítica. (FONTE:
JUNIOR, 2004)
A liberação da ACh depende do seu armazenamento nas vesículas sinápticas que é
mediada pela transportador vesicular de acetilcolina, atuando no Sistema Nervoso Central
(SNC) e Periférico (SNP) (CASTRO, 2006). No SNC sua funcionalidade consiste em
modulação do sono, estado de vigília; aprendizado e memória; supressão da dor ao nível da
medula espinal; funções essenciais na plasticidade neural, desenvolvimento neural inicial,
imunossupressão e epilepsia. Dependendo da atividade do organismo os níveis de ACh
oscilam, por exemplo, aumentam durante o sono Rapid Eye Movement (REM) e no estado de
vigília, porém diminuem no sono não-REM/de ondas lentas (slow-wave sleep, SWS) e no
estado de inatenção. Quando se está no estado de vigília ou despertar, todas as projeções
colinérgicas do núcleo pedunculopontino, núcleo tegmental lateral e núcleo basal de Meynert
(NBM) estão operantes. O NBM encontra-se abrangido através do córtex e do hipotálamo,
tornando efetiva a liberação da ACh (Figura 2) onde, os neurônios colinérgicos (em azul)
abrangem todo o cérebro e são responsáveis pelo ciclo sono-vigília e pelo controle da
transmissão sensitiva. Para que os neurônios possam ter uma facilidade em processar
impulsos, supõe-se que a ACh tem um grande potencial de estimular outros impulsos nas
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células-alvo sem comprometer a atividade basal desses neurônios, que para o cérebro tem um
efeito de atenção em um nível acentuado (GOLAN, 2009).
Figura 2. Vias dopaminérgicas e colinérgicas. FONTE: GOLAN, 2009.
A atuação da ACh nas vias colinérgicas é essencial para a atividade do sistema
nervoso. A neurotransmissão interrompida pode ser fatal (CASTRO, 2006) e está
intimamente relacionada com a memória por apresentar altos níveis devido ao estado de
vigília. Quando este neurotransmissor chega a nível mínimo, a concretização de memórias
explícitas episódicas auxiliadas pelo hipocampo é favorecida no SWS. Se durante o SWS for
administrados inibidores de acetilcolinesterase (AChE) a quantidade de ACh ficará elevada,
com isso é possível impedir a fixação das aprendizagens e memórias episódicas e explícitas
recém-adquiridas.
Para a fisiopatologia e tratamento de doenças neurodegenerativas a ACh desempenha
um papel fundamental nas funções cognitivas. Indivíduos com essas doenças apresentam
déficit cognitivos podendo, dependendo do caso, serem tratados com medicamentos prócolinérgicos. A modulação da dor é dada pelo bloqueio da transmissão nociceptiva espinal
pela ACh. Supõe-se que ela quando liberada pelos neurônios colinérgicos interage com
receptores muscarínicos de ACh que estão em neurônios sensitivos secundários específicos
para a dor e culmina na anulação da liberação de potenciais de ação dessas células fazendo
com que fiquem anestesiadas. Quando injetado inibidores AChE no líquido cefalorraquidiano
é verificado clinicamente o poder de analgesia da ACh. Acredita-se que ela possa ter outras
propriedades sobre o SNC que vão além de seu papel como neurotransmissor, como foi
observado o impedimento do crescimento de neuritos, por exemplo. Também na gênese
neural é observado um elevado nível de AChE. Uma outra evidência do papel da ACh é como
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imunomodulador, pois muitas células do sistema imune liberam este neurotransmissor e
apresentam seus receptores específicos (GOLAN, 2009).
No SNP, são necessários apenas dois neurotransmissores para mediar a transmissão do
impulso (Acetilcolina e Norepinefrina). A ACh é o neurotransmissor de todas as fibras
neurais pré-ganglionares simpáticos e parassimpáticos e pelas fibras neurais pós-ganglionares
parassimpáticos, neurônios motores somáticos e neurônios pós-ganglionares simpáticos que
inervam as glândulas sudoríparas, a ACh estimula os receptores nicotínicos de ACh nos
neurônios pós-ganglionares simpáticos, parassimpáticos e na junção neuromuscular,
desempenhando distintas funções, são nesses locais que uma diversidade de fármacos agem
na via colinérgica (GOLAN, 2009).
O SNA efetua o controle de atividades substanciais de estruturas que não estão sob
consciência como a circulação, a temperatura corporal, a digestão, a sudorese e o
metabolismo, por exemplo. A ACh se destaca pelo seu potencial vasodilatador através da
liberação indireta do Óxido Nítrico, redução da frequência cardíaca, diminuição de condução
nervosa do nodo sinoatrial e atrioventricular. A regulação da contração muscular, secreções e
absorção dão-se pelos impulsos oriundos de fibras pré-ganglionares excitatórias que
estimulam neurônios motores excitatórios e inibidores de acordo com essas respostas dos
órgãos efetores aos estímulos do Sistema Nervoso Autônomo (SNA), com base em estudos
sobre os tônus autônomos intrínsecos é possível prever ações farmacológicas que diminuem
ou cessem o funcionamento desses nervos (GOODMAN e GILMAN, 2012).
3. Transmissão colinérgica e suas implicações terapêuticas na área da Saúde humana
3.1 Doença de Alzheimer
A Doença de Alzheimer (DA) é caracterizada patologicamente pela formação das
placas senis e aglomerados intracelulares de emaranhados neurofibrilares (Figura 3). As
placas senis são placas extracelulares de proteína beta amiloide que ocorrem devido ao
metabolismo anormal da proteína precursora da amiloide (APP), que acaba produzindo
agregados de beta amiloide. Os emaranhados neurofibrilaers formam-se a partir da
hiperfosforilação de tau proteína (LEUNG, 2015).
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Figura 3. Desenho esquemático da deposição e desenvolvimento de placas Aβ entre as
células neuronais e formação de emaranhados neurofibrilares intracelulares (FONTE:
BRAGA, F.)
A DA é uma doença progressiva neurodegenerativa na qual inicialmente ocorre
deterioração das estruturas límbicas (lobo temporal medial, hipocampo, giro parahipocampal) que são consideradas as estruturas relacionadas com a memória. Posteriormente,
ocorre deterioração dos córtex associativos, atingindo áreas responsáveis por outros processos
cognitivos, e em estados mais avançados há comprometimento das áreas sensitivo-motoras. A
nível celular, a DA está associada com a diminuição das concentrações de ACh nas fendas
sinápticas, este fato é devido à uma atrofia que ocorre no NBM. O NBM é uma estrutura do
cérebro que possui atividade relacionada a funções cognitivas como memória, percepção e
atenção e é responsável pela produção da ChAT, a enzima colina acetil transferase, que
catalisa a síntese de acetilcolina. Além do decrescimento de ACh ocasionada pela atrofia do
NBM, a ACh possui suas concentrações diminuídas devido a ação da AChE que irá clivá-la
na fenda sináptica, devido a isso, uma das estratégias adotadas para o tratamento da DA é o
uso de anticolinesterásicos, que irão inibir a atuação da AChE sobre a ACh, promovendo uma
elevação nas concentrações desse neurotransmissor na fenda sináptica aumentando também
seu estímulo motor sobre os neurônios (GRATWICKE et al., 2013).
3.2 Doença de Parkinson
A Doença de Parkinson (DP) quando foi descrita pela primeira vez, por James
Parkinson, era caracterizada apenas por ser uma desordem degenerativa motora da qual não
havia perda das funções cognitivas, tornando esses aspectos da doença negligenciados durante
anos. Entretanto, Charcot discordou de James Parkinson quanto a ausência de disfunção
cognitiva e provou sua existência, sendo ainda, o primeiro neurologista a sugerir um
tratamento para a DP, através do uso de hioscinamida, um precursor dos alcaloides da
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beladona, que possuem atividade anticolinesterásica. Sendo assim, já se sabe que há perda da
cognição na Doença de Parkinson (PD) concomitantemente com a perda das funções motoras
(CAIXETA e VIEIRA, 2008; MUNHOZ, et al 2015).
A DP possui como principais sintomas os tremores de repouso, principalmente nos
membros superiores, rigidez muscular, alterações na postura, alterações no equilíbrio e
bradicinesi, que é a lentidão ao realizar os movimentos. É caracterizada fisiopatologicamente, principalmente pela diminuição da coloração da substância negra do olho nu
(figura 4) que apresenta coloração esbranquiçada, não característica da substância negra
normal, causada devido a stress oxidativo. Outra característica patológica é a presença de
corpos de Lewy nos neurônios que são inclusões citoplasmáticas formadas por agregados
proteicos, sendo uma característica a nível celular, inclui também a diminuição da glicose e
perda de neurônios dopaminérgicos e colinérgicos. A perda de neurônios não ocorre apenas
na substância negra, abrange tanto os núcleos aminérgicos do tronco encefálico, quanto o
núcleo basal de Meynert e os núcleos hipotalâmicos e bulbo olfatório, não possuindo ainda
uma causa evidente para que isso aconteça (HOUGHTON e HOWES, 2009).
Figura 4. Ilustração esquemática da substância negra normal e com a doença de Parkinson.
(FONTE: CAMPELLONE, 2013)
Os sintomas motores clássicos, já citados, normalmente coexistem juntamente com os
sintomas de deficiência cognitiva que variam desde déficits sutis até para a demência mais
evidente. Na DP ambos os sistemas dopaminérgicos e colinérgicos sofrem degeneração,
ocasionando o déficit de dopamina e acetilcolina nas sinapses (CALABRESI, 2006). A
principal abordagem terapêutica para a DP tem sido elevar os níveis de dopamina através da
inibição da monoaminaoxidase (MAO) que é responsável por metabolizar a dopamina e ainda
através da administração de L-hidroxifenilalanina (LDOPA) que é o precursor da dopamina.
Formas distintas de comunicação sináptica necessitam de que haja uma plasticidade sináptica
distinta que ocorre com concomitante ativação dos receptores de acetilcolina e dopamina,
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logo se houver anomalias entre os neurotransmissores dopamina-acetilcolina pode haver
prejuízo da indução fisiológica e por conseguinte levar ao aparecimento de deficiências
cognitivas (HOUGHTON e HOWES, 2009).
A principal característica de déficits cognitivos na DP é representada por uma
deterioração nas funções executivas normativas, como déficits no planejamento. A memória
desses pacientes é prejudicada, principalmente as memórias de trabalho, a episódica, e
aprendizagem e atenção são comprometidos, sintomas que combinam com os da deficiência
no sistema colinérgico. Calabresi, et al (2006) realizou estudos que mostraram que a
deficiência de dopamina para DP está diretamente relacionada com a deficiência de
acetilcolina, que é a principal responsável pela cognição. Logo, medicamentos
anticolinesterásicos são utilizados para tratamento da demência presente na Doença de
Parkinson (MELO, 2006).
3.3 Miastenia Grave
A Miastenia Grave (MG) é uma doença auto-imune, na qual os pacientes que a
possuem desenvolvem anticorpos contra os canais iônicos ativados pela acetilcolina. É uma
doença considerada rara, acometendo homens e mulheres em picos de idades diferentes (para
homens entre 60-70 e para mulheres entre 20-30). É uma doença que provoca paralisia
muscular, pois as junções neuromusculares não conseguem transmitir os sinais dos neurônios
para as JNM (GUYTON e HALL, 2002).
A origem de como a MG é desencadeada ainda não é conhecida, existem hipóteses
que levam a acreditar que o timo tenha relação com a MG através da presença de um antígeno
que transforma linfócitos normais em imunocompetentes, pois pacientes que possuem MG
possuem no timo um número exacerbado de células B e linfócitos que liberam anticorpos
contra os receptores de ACh. Os anticorpos contra os receptores de ACh agem induzindo a
degradação dos receptores, devido a diminuição de receptores na junção neuromuscular
quando a ACh é liberada na fenda sináptica há mais chances de a molécula ser hidrolisada
pela AChE antes de encontrar com algum receptor, logo a ACh não será tão eficaz em
promover a contração muscular. (CARVALHO et al, 2005; GUYTON e HALL, 1997).
Além da inativação dos receptores ocorrem alterações anatômicas nas junções
neuromusculares normais que fazem com que haja diminuição das dobras sinápticas e
alargamento da fenda sináptica, tornando mais difícil o encontro da ACh com receptores
restantes.
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Os sintomas da MG grave são principalmente fraqueza muscular, em músculos
cranianos onde os pacientes apresentam diplopia transitória, fraqueza muscular devido à
deterioração do bulbo onde o paciente apresenta regurgitação nasal e engasgo. Ocorre
fraqueza nos músculos responsáveis pelo movimento, pela postura e pode haver
acometimento dos músculos do trato respiratório (CARVALHO et al, 2005 e GYUTON e
HALL, 1997).
O tratamento da MG é feito por meio de remoção do timo ou por meio de terapia com
algumas classes de fármacos, como corticosteroides, imunossupressores, inibidores da AChE,
dentre outros. Ainda existem dúvidas quanto a efetividade da remoção do timo em paciente
que possuem MG. Os imunossupressores inibem a proliferação celular, os anticolinesterásicos
(inibidores da AChE) são utilizados na tentativa de evitar a degradação da ACh para que ela
possa se ligar a receptores remanescentes, diminuindo assim os sintomas da MG. O uso de
corticosteroides é utilizado quando não há boa resposta ao uso de inibidores da AChE
(CARVALHO et al, 2005).
4. Transmissão colinérgica e suas implicações terapêuticas na área da saúde animal
O sistema nervoso (SN) dos animais, assim como no dos humanos, desempenha
principalmente três funções básicas: a sensorial, na qual são processadas as informações que
chegam ao SN, somática, que organiza as funções motoras e as funções corticais que
processão as tomadas de decisões. Este sistema complexo possui neurônios e interneurônios
que são responsáveis por interconectarem todo o sistema e transmitir as informações que são
responsáveis pelo desencadear dos processos mais avançados do SN. Neste contexto, um
importante neurotransmissor que é encontrado em todos os animais, é a acetilcolina, sendo o
principal encontrado nas junções neuromusculares de vertebrados (GUERRA, et al., 2010;
MOYES e SCHULTE, 2010).
Nos animais ocorre a interação do SN com o ambiente, essa interação permite que
estes consigam analisar o meio em que se encontram, produzir uma resposta para essa
condição ou até mesmo aprender e memorizar esse ambiente.
Essas informações são transmitidas pelo sistema nervoso central (SNC) na forma de
potenciais de ação ou os também chamados impulsos nervosos. A maioria dessa transmissão
de sinais é dada por mediadores químicos, como os neurotransmissores. Destes destaca-se a
acetilcolina, transmissor de ação aguda do SNC, esta por sua vez quando liberada pode
excitar, inibir ou apenas sensibilizar um neurônio pós-sináptico.
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Os animais necessitam analisar o ambiente em que se encontram constantemente, para
que dessa forma possam perceber alterações e responder a elas. Os nervos sensoriais são os
responsáveis por detectar essas alterações e os neurotransmissores responsáveis por levar a
informação ao SNC e permitir com que o animal a entenda. Porém, nem toda a informação
que é captada é processada, grande parte delas é filtrada para que não exceda o SNC,
facilitando assim o seu processamento. O sistema sensorial permite que o animal perceba
sentidos de dor, de tato, audição, olfato, que sejam capazes de detectar sinais químicos como
feromônios e percepção visual.
No contexto motor, de uma maneira geral, os animais podem se movimentar de três
formas: ameboide, ciliar ou muscular. Cada um dos músculos é inervado por um neurônio
dito motor que é derivado da medula espinhal. Sinapses colinérgicas formam nesses locais
junções neuromusculares que promovem a geração dos potenciais de ação com a liberação de
acetilcolina, a estimulação por esse neurotransmissor no musculo promove a contração
muscular. Ainda, a liberação de neurotransmissores no SNC interfere nas funções integrativas
dos animais. O aprendizado é conseguido quando o animal muda de comportamento baseado
em experiências vividas. O aprendizado nos animais depende da plasticidade e da formação
de novos neurônios. Estes possuem a capacidade de entender um estimulo que não é
importante e ignora-lo ou a responder de maneira gradual a um estimulo repetido. A memória
é também uma habilidade dos animais em resgatar informações, sendo extremamente
importante para o aprendizado. A memória está relacionada com mudanças no padrão de
atividade e conexão dos neurônios. A cognição é uma função neural superior e complexa nos
animais. Está relacionada a adaptação do animal em um ambiente, onde ele associa
percepções do meio e memoriza elementos deste, como comida, amigos e inimigos e etc. A
cognição envolve a memória sobre o espaço e a ocorrência de eventos nele (GUERRA, et al.,
2010).
Existem algumas doenças que afetam diretamente a via colinérgica nos animais,
causando sérias consequências, exemplos dessas patologias são: Miastenia Gravis, Botulismo,
Paralisia do carrapato e Cinomose.
4.1 Miastenia Gravis
A Miastenia Gravis (MG) é uma doença autoimune, sem causa bem definida, o que se
sabe é que nela ocorre redução do número de receptores funcionais de acetilcolina na junção
neuromuscular. (DEWEY, et al. 1997; BATMAZ, et al., 1998). Muitos dos receptores sofrem
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degeneração pela ativação da via do complemento ou mesmo por ficarem ligados aos
anticorpos (BREAZILE, 1996).
O principal sinal clínico da doença é a fraqueja muscular, que se agrava com o
exercício e melhora com o repouso. Podem haver ainda perda da musculatura facial,
dificuldade de deglutição e pneumonia por aspiração (MARTINS, 2013). Como o número de
receptores para acetilcolina é diminuído na MG a reação desse neurotransmissor com seus
ligantes musculares fica significativamente reduzida (KORNEGAY e LORENZ, 2006),
portanto o potencial de ação na placa motora não é forte o suficiente para estimular uma fibra
muscular, resultando, portanto, em fraqueza muscular grave (VLEET, 2002; KORNEGAY e
LORENZ, 2006). Estas alterações resultam em uma membrana pós-sináptica com uma
estrutura mais simples (figura 5).
Figura 5. Mecanismos de ação dos anticorpos Anti-AChR na Miastenia Gravis. AChAcetilcolina;
AChR-
Receptor
de
acetilcolina;
AutoAb-
auto-anticorpos;
IgG-
Imunoglobulina G; MAC- complexo de ataque a membrana; NMJ- Junção neuromuscular.
Autor: CONTI-FINE, et al., 2006.
A MG pode ser controlada com a administração de anticolinesterásicos. Esses
fármacos inibem a enzima de degradação de acetilcolina, acetilcolinesterase e permitem que
se acumule na fenda sináptica uma quantidade excessiva desse neurotransmissor (VLEET,
2002). De fato, os anticolinesterásicos não influenciam no curso do processo patológico da
MG, eles apenas melhoram os sintomas da doença promovendo o aumento da força muscular,
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mesmo assim são considerados como primeira linha no tratamento sintomático (JUEL e
MASSEY, 2005; SATHASIVAM, 2011).
4.2 Botulismo e Paralisia do carrapato
O botulismo é causado por uma toxina secretada pelo Clostridium botulinum,
geralmente os animais a adquirem por consumirem alimentos em degradação. O C. botulinum
é um bacilo gram-negativo anaeróbio obrigatório, forma endósporos e é vastamente
encontrado no solo ou na água (TORTORA, 2003).
A toxina botulínica é considerada uma neurotoxina, pois após ser absorvida no trato
gastrointestinal age diretamente sobre a JNM colinérgica e nas junções periféricas, sendo a
mais potente toxina biológica conhecida. Em todas as espécies, os sintomas da doença são os
mesmos, levando cerca de sete a quatorze dias para iniciarem. É comum o animal apresentar
pupilas dilatadas, mucosas secas, flacidez na língua e disfagia. Ainda pode haver falta de
coordenação ao se movimentar seguida por paralisia flácida e decúbito. Os sinais de paralisia
ou ainda falta de reflexos são causados pela diminuição da liberação de acetilcolina nas JNM
pelas alterações pré-sinápticas causadas (QUINN, et al., 2005; TAYLOR, 2010).
A neurotoxina botulínica age principalmente impedindo o impulso nervoso para o
músculo, ela se liga aos receptores de membrana pré-sinápticos e mediada por eles entra na
célula por endocitose onde essas vesículas de toxinas permanecem, esse processo interfere
diretamente sobre a liberação da acetilcolina na fenda sináptica, culminando na falha do
impulso nervoso (SARAIAVA, 1984; HIRSH e ZEE, 2003; CHRISMAN, et al., 2005).
Infelizmente, não existe um tratamento para o botulismo, o que é feito na prática é o
tratamento com medidas de suporte. Pode-se utilizar uma antitoxina especifica, porém para
exercer seu efeito protetor ela deve alcançar a toxina antes dela se ligar os receptores de
membrana (TAYLOR, 2010; TORTORA, 2003).
De maneira semelhante ao botulismo, na paralisia do carrapato também ocorre o
bloqueio da liberação de acetilcolina na JNM. Os carrapatos dos gêneros Ixodes e
Dermacentor liberam uma toxina durante sua alimentação com sangue que ao ser absorvida
causa prejuízos na transmissão do impulso neuromuscular ou na despolarização dos
neurônios. O principal sintoma é a paralisia flácida (CHRISMAN, 2005).
4.3 Cinomose
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A Cinomose é uma doença causada por um RNA-vírus da Família Paramyxoviridae,
gênero Morbilivírus e acomete principalmente os cães (Canis familiaris) (ETTINGER e
FELDMAN, 1997; GREENE e APPEL, 2006).
É uma doença de distribuição mundial, sendo descrita não apenas em cães mais
também em espécies de raposa, lobo, panda e etc. (BIRCHARD e SHERDING, 2003).
Após serem inaladas, as partículas virais são difundidas pelo trato respiratório e
multiplicam-se nos macrófagos levando a uma infecção inicial. A partir do segundo a quarto
dia da infecção o vírus se espalha para outros órgãos linfoides. A partir do quarto dia ocorre
multiplicação em outros órgãos e elevação da temperatura (ETTINGER e FELDMAN, 1997).
Quando as cepas de vírus alcançam o SNC estas promovem destruição neural e
posteriormente causam lesões culminando em desmielinização (APPEL; SUMMERS, 1999).
Vandevelde e Cachin (1992) observaram que em 50% dos casos, os animais
apresentavam sinais sistêmicos antes ou em conjunto com neurológicos. Além dos vários
sintomas clínicos existentes nesses casos, destacamos aqui a sintomatologia nervosa,
ocasionada pela infecção do SN.
Os sinais neurológicos podem variar desde uma rigidez cervical até convulsões,
paresias e mioclonias, de acordo com a área do SNC afetada (TAYLOR, 2003). Embora não
tenha seu mecanismo muito bem conhecido, as mioclonias são consideradas como um sinal
característico da cinomose canina, sendo caracterizadas por movimento de espasmos rítmicos
e repetitivos (CHRISMAN, 1985). As mioclonias podem ocorrer tanto na fase aguda como
crônica da doença sendo causada por uma hiperestimulação dos neurônios motores inferiores
(LORENZ e KORNEGAY, 2006).
O tratamento da cinomose é de suporte e sintomático, porém a mioclonia é geralmente
intratável e irreversível (SHERDING, 2003; TIPOLD, 1992; GREENE, 2006).
5. Perspectivas do uso de Produtos Naturais na descoberta de novos fármacos
Desde a antiguidade, o tratamento de doenças e enfermidades é realizado através de
produtos naturais. A utilização de metodologias clássicas de química não somente contribuiu
para uma extensa descoberta de metabólitos secundários bioativos de fontes terrestres e
marinhas, como possibilitou a intitulação desses produtos naturais como candidatos
promissores a novos fármacos (DIAS e COLABORADORES, 2012), tornando a natureza um
manancial inesgotável de produção de medicamentos obtidos por fontes vegetais. Porém, com
o surgimento da química combinatória no final da década de 1980 a descoberta de novas
drogas percorreu outro caminho, saindo da obtenção desses novos fármacos de fontes vegetais
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para o desenvolvimento em bancadas de laboratório (CRAGG e NEWMAN, 2013). A
valorização da obtenção de fármacos em bancada e o uso diminuído de produtos naturais nas
últimas duas décadas é explicada parcialmente por problemas técnicos de obtenção de ensaios
de alto rendimento contra alvos moleculares e dificuldade na rastreabilidade dos produtos
naturais (HARVEY e COLABORADORES, 2015).
Entretanto, a química combinatória e a otimização dos métodos estruturais é
responsável por aprimorar muitos dos compostos recentemente aprovados, mas apenas um
composto combinatório foi identificado no mercado como medicamento em um período de 25
anos (NEWMAN e CRAGG ,2007).
Sabe-se que 99% da composição química ativa de plantas endêmicas do Brasil não
possuem sua fitoquímica elucidada pela pesquisa científica, resultando em uma perda de
potenciais farmacológicos e econômicos (SANTOS, 2009). Os produtos naturais são fontes de
novos quimiotipos e farmacóforos com arranjos estruturais diversificados fornecendo uma
variabilidade de atividades biológicas interessantes, aspecto esse que lhes proporcionaram ser
agentes medicinais há milhares de anos assim como serem a origem de inúmeros
medicamentos modernos. Essas características juntamente com a existência de uma lacuna de
métodos alternativos para descoberta e desenvolvimento de medicamentos em áreas
patológicas importantes como a de imunossupressão, anti-infecciosa e metabólica fez com
que o interesse pela área de produtos naturais ressurgisse. Sendo esse interesse reforçado com
o crescimento diversificado da química de produtos naturais como uma área promissora para
desenvolvimento de pesquisas coordenadas na obtenção de novos medicamentos. Portanto,
nota-se que esses compostos exerceram e continuam exercendo uma função importante na
descoberta de novas drogas. Contudo, é necessário o fortalecimento e aprimoramento
contínuo das bases de pesquisa em produtos de fonte natural adequando-se sempre que
necessário e acompanhando as mudanças no curso da descoberta de fármacos, objetivando a
competitividade com outros métodos de descoberta de drogas (BRAHMACHARI,2012), além
disso fatores como agilidade no isolamento, elucidação da estrutura, processo de
fornecimento de compostos e seleção adequada dos alvos, possibilitam a rastreabilidade em
bibliotecas de produtos naturais e viabilizam a competitividade dessas drogas quando
comparadas as obtidas por outros métodos (BUTLER, 2004).
Enfatizando a necessidade de melhoria nas pesquisas relacionadas a produtos naturais,
deve-se começar a avaliar estratégias de exploração que utilizem os avanços tecnológicos
como ferramenta para reduzir essa barreira de inferioridade dos produtos naturais, pois os
ensaios funcionais e fenotípicos como as abordagens genômicas e metabolômicas possuem a
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capacidade de ampliar os métodos tradicionais de estudo desses produtos, assim como
contribuir ainda mais para o aumento do interesse em produtos naturais como fonte de
descoberta de medicamentos (HARVEY e COLABORADORES, 2015). Sendo que essa
associação de tecnologias metabolômicas para descoberta de novos fármacos provindos de
fonte natural será vantajosa em diversos aspectos, mais um dos pontos principais nesse
aspecto é a probabilidade de aumento do rendimento dos processos (DIAS e
COLABORADORES, 2012).
Considerando o decorrer da última metade do século os produtos naturais têm emitido
um valor significativo para as indústrias farmacêuticas, pois aproximadamente 40 novos
fármacos derivados de fonte natural foram injetados no mercado entre os anos de 2000 e
2010. Sendo que as áreas terapêuticas que mais se beneficiaram com a inserção desses
fármacos no mercado foram a oncológica e a anti-infecciosa (BRAHMACHARI, 2012).
Reforçando, portanto, a utilidade de produtos naturais como fontes de novas estruturas, não
somente como fármaco final, mas também como precursores de fármacos sintéticos.
Demonstrando que essa área ainda de mantem viva e próspera (NEWMAN e CRAGG, 2007).
Um dos problemas relacionados a pesquisa de novas drogas de produtos naturais é a
dificuldade em obter quantidade significativa e constante de novos compostos para
posteriores avaliações clínicas, pois no ano de 2003 somente quinze compostos derivados de
produtos naturais foram submetidos a etapa clínica de avaliação (BUTLER, 2004).
Porém, existe uma quantidade significativa de drogas originadas de produtos naturais
sendo desenvolvidas, mas o receio quanto a ocorrência de problemas futuros não é omitida,
pois somente cinco dos farmacóforos de drogas naturais descobertos no decorrer de 15 anos
foram avaliados clinicamente. E essa preocupação em relação a avaliação clínica deve ser
ponderada, pois as drogas derivadas de produtos naturais influenciam diretamente e
significantemente na rentabilidade de inúmeras empresas farmacêuticas e de biotecnologia
(BUTLER, 2014).
A abordagem multidisciplinar entre as áreas de botânica, etnobotânica, fitoquímica e
biológica contribuem para ampliação da descoberta de novos fármacos oriundos de fontes
natural de aplicabilidade contra uma variedade de alvos farmacológicos como câncer,
HIV/AIDS, malária e doença de Alzheimer (JACHAK, 2007).
Portanto, a diversidade química fornecida por esses produtos naturais e o número
significativo de compostos derivados de produtos naturais em diversas fases de
desenvolvimento clínico confirmam a importância e a viabilidade desses produtos na pesquisa
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de compostos como fontes valiosas de agentes bioativos e consequentemente novos fármacos
(BRAHMACHARI, 2012).
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96
Capítulo 7- Intoxicação alimentar em animais de produção: ênfase em contaminação
por agrotóxicos
1
RODRIGUES, J. A. ; PRAÇA, N. M. P 2; VIANNA, U. R.3
Introdução
Doenças transmitidas por alimentos (DTAs) são causadas a partir de agentes que
apresentam a capacidade de penetrar no organismo por meio da ingestão de água ou alimentos
contaminados. Tais agentes podem ser de natureza química como pesticidas e metais, tóxicas
ou biológicas como microrganismos patogênicos (AMSON; HARACEMIV; MASSON,
2006).
O uso de produtos fitossanitários na agricultura ocorre há séculos. Existem relatos que
mencionam a utilização de sulfurados no século XI e, aplicação de arsênio já em 1700. Mas,
somente a partir do século XX, com a introdução da molécula sintética do herbicida DDT
(diclorodifeniltricloroetano) por Muller em 1931, ocorre o reconhecimento da eficiência do
controle químico, sendo o marco inicial da era “química” na produção vegetal (NUNES;
RIBEIRO, 1999).
A partir da década de 1950, período pós-guerra, quando se iniciou a "revolução
verde", ocorreram profundas mudanças no processo tradicional de trabalho da agricultura,
bem como, seus impactos sobre o ambiente e a saúde humana. Novas tecnologias, muitas
delas baseadas no uso extensivo de agentes químicos, foram disponibilizadas para o controle
de doenças, aumento da produtividade e proteção contra insetos e outras pragas agrícolas
(MOREIRA et al., 2002).
Agrotóxicos podem ser definidos como produtos e agentes de processos físicos,
químicos ou biológicos, destinados ao uso na produção, armazenamento e beneficiamento de
produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas e outros ecossistemas, bem como
de ambientes urbanos, hídricos ou industriais, cuja função é de alterar a composição da flora
ou da fauna, a fim de preservá-las da ação de seres vivos indesejáveis. Consideram-se
também, nessa definição, as substâncias empregadas como desfolhantes, dessecantes,
estimuladores e inibidores de crescimento. Apesar de serem utilizados em diversos sistemas,
naturais ou não, os agrotóxicos são empregados em maior escala no setor agropecuário
(RODRIGUES, 2007).
De acordo com Santamarta (2001) as substâncias químicas, como pesticidas, atuam
como desreguladores endócrinos nos organismos vivos, podendo levar a distúrbios como a
disfunção da tireoide em aves e peixes; a diminuição da fertilidade em aves, peixes,
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crustáceos e mamíferos; a diminuição do sucesso da incubação em aves, peixes e tartarugas;
graves deformidades de nascimento em aves, peixes e tartarugas; anormalidades metabólicas
em aves, peixes e mamíferos; anormalidades de comportamento em aves; desmasculinização
e feminilização de peixes, aves e mamíferos machos; desfeminilização e masculinização de
peixes e aves fêmeas.
O Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, gastando
anualmente, cerca de 2,5 bilhões de dólares nessas compras. Infelizmente, pouco se faz para
controlar os impactos sobre a saúde dos que produzem e dos que consomem os alimentos
impregnados por essas substâncias.
As intoxicações por micotoxinas constitui uma das principais causas de mortes e por
consequência perdas econômicas quando relacionada à produção de animais monogástricos,
principalmente aves e suínos, a disseminação da micotoxina ocorre via alimentação, presentes
nos grãos e, consequentemente nas rações. A micotoxicologia teve início na década de 60
devido à morte por intoxicação de 100 mil perus na Inglaterra (BLOUNT, 1961; HARTLEY;
NESBITT; O'KELLY, 1963). Tal acontecimento foi atribuído à contaminação dos animais
por metabólitos do fungo Aspergillus flavus presentes em amendoim de origem brasileira. A
partir
disso,
novos
metabólitos
secundários
foram
identificados.
Atualmente,
aproximadamente 400 componentes são reconhecidos como micotoxinas. No entanto,
somente doze são relevantes para a alimentação humana e animal (BENNETT; KLICH,
2003).
Assim, tendo em vista o uso abusivo de inseticidas para o controle de pragas no meio
agrícola de uma forma geral, bem como, a busca por técnicas alternativas de controle dessas
mesmas pragas sem uma preocupação com os protocolos a serem abordados para a
verificação dos seus reais benefícios, torna-se importante estudar o assunto, a fim de
contribuir com maiores informações, para um problema existente e sua devida importância,
bem com as principais causas de intoxicação via alimentação que acomete animais de
produção no Brasil.
1. Pesticidas
O Brasil é um dos principais produtores agrícolas do mundo e de acordo com o Censo
Agropecuário, havia 5,17 milhões de empresas agropecuárias em 2006, o que representava
329,94 milhões de hectares. Isso se reflete na grande demanda e consumo de produtos ou
compostos químicos comumente denominados de agrotóxicos. O País tornou-se o maior
consumidor dessas substâncias no mundo desde 2008 e é responsável por 86% do consumo da
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América Latina. O termo “agrotóxico” passou a ser adotado no Brasil a partir da Lei Federal
nº 7.802/1989, regulamentada pelo Decreto nº 4.074/2002, e representa compostos de
substâncias químicas destinadas ao controle, destruição ou prevenção, direta ou
indiretamente, de agentes patogênicos para plantas e animais úteis e às pessoas (SANTANA,
2013).
Existem diferentes classes de pesticidas, baseado nos seus padrões de uso e no tipo de
praga a ser controlada ou destruída, onde as principais são: inseticidas, herbicidas, fungicidas
e raticidas. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection
Agency – EPA) também agrupa os praguicidas em diferentes categorias: químicos
(organoclorados,
organofosforados,
carbamatos,
piretróides
e
outros),
biológicos
(microbianos-bactérias, protetores incorporados nas plantas por engenharia genética,
bioquímicos-feromônios), e instrumentos/dispositivos para controle de pragas (YONAMINE,
2008).
Atualmente há no Brasil cerca de 300 ingredientes ativos e 2.000 formulações de
agrotóxicos. Embora a utilização dos agrotóxicos tenha proporcionado o aumento da
produtividade agrícola, possibilitando a produção de alimentos com qualidade a um custo
menor, é preciso citar que o uso indiscriminado desses produtos pode trazer prejuízos à saúde
humana e animal e ao meio ambiente (DOMINGUES et al., 2004).
1.1. Organofosforados e Carbamatos
Os organofosforados são pesticidas sintéticos orgânicos que contém carbono,
hidrogênio e fósforo (WALKER; STACHECKI, 1994), comercializados sob a forma de
emulsão, pó (talco) ou pós, solúveis em água, e formulados com solventes orgânicos ou
veículos oleosos (BLODGETT, 2006). Já os carbamatos tem estrutura similar a fisostigmina e
neostigmina, sendo comumente usados para o combate e controle de ratos ou mesmo para a
intoxicação intencional de cães e gatos.
Os agrotóxicos inibidores das colinesterases são representados por dois grupos de
inseticidas: organofosforados e carbamatos, ambos altamente tóxicos para o homem e os
animais. Os organofosforados, compostos químicos que têm um átomo de fósforo em sua
estrutura, são amplamente utilizados na agropecuária e têm causado intoxicações acidentais
em animais e em humanos, além de tentativas de suicídio (CAVALIERE et al., 1996; REY,
2003).
Os inseticidas inibidores das colinesterases, como os inseticidas organofosforados, são
absorvidos pela pele, por ingestão ou por inalação. A ação tóxica se dá pela inibição de
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enzimas colinesterases, especialmente acetilcolinesterase, causando o acúmulo de acetilcolina
nas sinapses nervosas e desencadeando uma série de efeitos parassimpaticomiméticos
(OPAS/OMS, 1996). Estes inseticidas são responsáveis pela maioria das mortes por
intoxicação no país (SILVA et al., 2001).
Cavalieri et al. (1996) objetivando testar o efeito dos inseticidas orgnofosforados no
organismo animal utilizou ratos albinos da linhagem Wistar, machos e fêmeas, e do
organofodforado Paraoxon®, o produto foi injetado via intraperitoneal, observou-se
diariamente os sinais de intoxicação e, ao final, concluiu-se que os principais sintomas
observados foram: salivação aumentada, lacrimejamento, exoftalmia, tremores, dispneia,
fasciculação muscular, ataxia, prostração e diarreia.
1.2. Hidrocarbonetos clorados - Organoclorados
O uso de compostos orgânicos que contém cloro em sua composição química está
proibido em vários países, entretanto ainda são usados como inseticidas, acaricidas,
nematicidas e fungicidas em alguns locais, estes se apresentam sob a forma de pós ou
suspensões, pois são pouco solúveis em água e solúveis em solventes orgânicos
(POPPENGA; BRASELTON Jr., 1990), persistem por longos períodos no meio ambiente,
acumulam-se na cadeia alimentar e foram identificadas até mesmo em tecidos de baleias
árticas (HATCH, 1992).
Fatores afetam a toxicidade dos organoclorados, idade (animais jovens são mais
susceptíveis), sexo (fêmea são mais sensíveis que machos), espécie, tipo de produto utilizado,
tamanho das partículas na emulsão, estresse, potencialização provocada por drogas ou
pesticidas concomitantemente aplicados, via e duração da exposição. Após serem absorvidos
pela via oral, cutânea ou respiratória, os pesticidas organoclorados atravessam facilmente as
membranas, sendo transportados para os diversos compartimentos através do sangue. O
metabolismo é hepático e a excreção renal, ocorrendo em diferentes taxas para os diversos
compostos presentes no grupo (HATCH, 1992).
As lesões mais definidas ocorrem com o aumento da duração da intoxicação,
geralmente a congestão de vários órgãos, em particular de pulmões, fígado e rins, e uma
aparência empalidecida de todos os órgãos, se a temperatura corporal estiver alta antes da
morte. O coração em geral está em sístole, e podem ser encontradas muitas hemorragias de
tamanhos variados no epicárdio. O volume do líquido cerebroespinhal é excessivo em muitos
casos, e o cérebro e a medula espinhal ficam frequentemente congestos e edematosos
(FRASER, 1996).
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Para o tratamento não existem antídotos específicos conhecidos. Quando a exposição
for por pulverização, banhos de imersão ou passagem de pós recomenda-se um banho
completo sem se escovar a pele, usando-se detergentes e grandes quantidades de água fria. Se
o material foi ingerido, lavagens gástricas e purgativas salinas são indicadas (FRASER,
1996).
1.3. Piretróides
Os piretróides são, atualmente, os inseticidas mais utilizados na agricultura (SANTOS;
AREAS; REYES, 2007). Estes compostos apresentam amplo espectro de atividade, ação
rápida, eficiência em baixa dose, baixo poder residual no ambiente e, adicionalmente, é
praticamente atóxico para mamíferos, quando comparados a outros inseticidas. No entanto,
apesar das vantagens apresentadas pelos piretróides em relação a outros inseticidas, os
mesmos cuidados devem ser tomados para sua utilização, já que podem exercer nos
vertebrados efeitos neurotóxicos e cardiotóxicos (SANTOS; AREAS; REYES, 2007).
O primeiro pesticida piretróide, aletrina, foi identificado em 1949 (BRADBERRY et
al., 2005). Os piretróides são inseticidas de origem vegetal, obtidos a partir da trituração das
flores de algumas plantas pertencentes ao gênero Chrysanthemum cineraiaefolium (SANTOS;
AREAS; REYES, 2007) e Chrysanthemum cocineum (TRAMUJAS et al., 2006).
Os piretróides agem nos insetos com rapidez causando paralisia imediata e
mortalidade, efeito de choque denominado knock down (SANTOS; AREAS; REYES, 2007).
São amplamente aceitos para o controle de insetos no mundo todo. Estes inseticidas são
comumente divididos em composto tipo I, o qual falta um substituinte alfa-ciano, e composto
tipo II, o qual contém o substituinte alfa-cianofenoxibenzil, o qual confere maior eficácia
inseticida (OSTI et al., 2007).
Ensaios laboratoriais demonstraram que os piretróides são muito tóxicos para peixes,
abelhas e alguns artrópodes aquáticos, tais como lagostas e camarões (OSTI et al., 2007;
SANTOS; AREAS; REYES, 2007) e benéfico a outros artrópodes aquáticos e comunidades
de zooplancton (URAL; SAGLAM, 2005).
Piretróides são altamente tóxicos para as brânquias, causando sérias alterações
epiteliais, o qual danifica as trocas gasosas (BORGES, 2007). Podem também causar
alterações profundas como: lesões estruturais e morte das células das brânquias. As lesões têm
sido detectadas histologicamente após exposições de peixes, tanto em laboratório quanto a
campo, a uma série de compostos, incluindo metais pesados, pesticidas, organoestânicos,
solventes orgânicos, xenobióticos orgânicos e surfactantes. Algumas lesões comuns no
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epitélio da brânquia foram levantadas como: necroses, hiperplasias, hipertrofias e rupturas
(BOLS et al., 2001). Estes compostos são tóxicos também para o fígado, rins, cérebro e
músculos dos peixes (BORGES, 2007).
Apenas técnicas de biomonitoramento, baseadas no uso de espécies sensíveis podem
ser utilizadas para medir integrativamente as respostas aos efeitos interativos de tais
substâncias. Cipermetrina (α-ciano-3-fenoxibenzil-2,2-dimetil-cis, trans-3 (2,2-diclorovinilciclopropanocaboxilato), C22H19Cl2NO3, de peso molecular 416.30, é um piretróide
sintético que vem ganhando popularidade desde 1970 (JAENSSON et al., 2007).
Moore e Waring (2001) relataram que a cipermetrina, mesmo em baixos níveis nos
ambientes aquáticos, causa efeitos crônicos significativos sobre populações de Atlantic
Salmon através do rompimento das funções reprodutivas.
Dörücü e Girgin (2001) relataram diferenças significativas nos níveis dos parâmetros
sanguíneos de peixes expostos à cipermetrina em comparação ao grupo que não foi exposto
ao piretróide.
Conforme Das e Mukherjee, (2003) a concentração, responsável pela morte de metade
da polulação estudada (CL50), da cipermetrina para espécies de carpa foi entre 0,9 e 1,1 μg/L;
para truta marrom 1,2 μg/L e para tilápia 2,2 μg/L.
2. Intoxicação por plantas
No Brasil, de uma população de 221.827.299 bovinos (IBGE, 2012) pelo menos 5%
(11.091.365) morre anualmente por diferentes causas. Considerando os dados dos laboratórios
de diagnóstico de diferentes regiões, entre 7,4% e 15,83% dessas mortes (entre 820.761 e
1.755.763 bovinos) são causadas por plantas tóxicas (ASSIS et al., 2010). A população de
equinos no Brasil é de 5.508.546 cabeças (IBGE, 2012), levando em consideração uma
mortalidade semelhante à de bovinos (5%), calcula-se que anualmente morrem 275.427
equinos. Considerando que 14% dos equinos morrem intoxicados por plantas (ASSIS et al.,
2010), estima-se que 38.559 equinos morrem anualmente por essa causa.
O rebanho de ovinos no Brasil é de 17.662.201 cabeças (IBGE, 2012). A expectativa
de mortalidade anual nesta espécie é de 18,27% (LÔBO, 2002), isso significa uma mortalidade anual de 3.226.884 ovinos. Considerado os dados de diagnóstico de diferentes Estados
(BORELLI et al., 2008) é possível considerar que anualmente morrem de intoxicação por
plantas entre 11,46% e 13,8% das mortes que ocorrem no rebanho ovino, ou seja de 399.800 a
445.309 animais. Para caprinos a taxa de mortalidade no Brasil é estimada em 8,77% (LÔBO,
2002) e como a população de caprinos no país é de 9.384.894 animais (IBGE, 2012), estima-
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se que 823.055 caprinos morrem anualmente. Considerando que 6,4% a 7,69 % destas mortes
são causadas por plantas tóxicas (ASSIS et al., 2010), pode-se estimar que o número de caprinos que morrem por esta causa é de 52.675 a 63.292.
Severas perdas econômicas são causadas pelas intoxicações por Brachiaria spp. em
bovinos e ovinos, principalmente nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Nos Estados de Rio de
Janeiro e Espírito Santo, a planta tóxica mais importante é Cestrum laevigatum (TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2002). Brachiaria humidicola e Crotalaria retusa são as
principais plantas tóxicas para equinos no Brasil sendo que C. retusa causa intoxicações
apenas no semiárido brasileiro. As plantas tóxicas mais importantes para caprinos são as que
contêm swainsonina: Ipomoea carnea no Nordeste e Ilha de Marajó; Turbina cordata no
Nordeste; e Sida carpinifolia no Sul e Sudeste.
Em bovinos Palicourea marcgravii é a mais importante, causando perdas econômicas
severas em todo o país, exceto nos estados da região Sul, no semiárido do Nordeste e no Mato
Grosso do Sul. Outras plantas importantes que causam morte súbita em bovinos são
Arrabidaea
bilabiata
e
Arrabidaea
japurensis
na
região
Norte
(TOKARNIA;
DÖBEREINER; PEIXOTO, 2002). Amorimia spp. são plantas tóxicas importantes nas
regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste.
Através de um estudo de caso realizado em sete propriedades rurais localizadas na Ilha
de Marajó, no período seco, Oliveira et al. (2009) observou quadros de intoxicação por
Ipomoea Carnea subespécie fistulosa em caprinos e concluiu que os casos de intoxicação
ocorriam principalmente nos períodos secos, mas podiam ser observados durante todo o ano,
os principais sintomas observados foram: ataxia, hipermetria, quedas em decúbito lateral ao
serem movimentados, permanecendo deitados com opistótono e espasticidade dos membros
por alguns segundos, além disso, através de necropsias observou-se vacuolização acentuada
do pericário de neurônios do sistema nervoso central, mais marcada nas células de Purkinje
do cerebelo, núcleos cerebelares e outros núcleos do tronco encefálico, neurônios do cerebelo
e dos núcleos cerebelares apresentavam núcleos picnóticos e marginalizados, citoplasma
espumoso e pálido sem bordas definidas e, em alguns casos desaparecimento dos neurônios
de Purkinje e proliferação da glia de Bergmann.
Através de estudos realizados por Souza et al. (2010) em 29 surtos espontâneos de
intoxicação por Brachiaria spp no Mato Grosso do Sul, em 24 surtos os principais sinais
clínicos observados foram de fotossensibilização hepatógena que se caracterizava por edema
de barbela em 15/24 casos (62,5%), dermatite com pele espessada e formação de crostras no
flanco e períneo em 11/24 casos (45%); retração cicatricial auricular em 8/24 casos (36%),
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icterícia em 7/24 casos (32%); crostas oculares e auriculares em 4/ 24 (18%) e ulcerações na
parte ventral da língua em 5/24 (21%). Foram observados, também, edema das orelhas,
corrimento ocular, salivação, inquietação, prurido e busca pela sombra. Em dois surtos foram
observados sinais nervosos incluindo incoordenação, paresia dos membros anteriores e
posteriores, andar cambaleante, opistótono e movimentos de pedalagem.
O mesmo autor observou hepatomegalia foi observada em 14/24 casos (58%); fígado
amarelado em 13/24 casos (54%); fígado com padrão lobular aumentado em 7/24 casos
(29%); ulcerações na parte ventral da língua em 5/24 casos (21%); rins acastanhados e urina
escurecida em 4/24 casos (17%) e fígado com áreas esbranquiçadas deprimidas em 3/24 casos
(12%).
Para Guaraná et al. (2011) que fez o resgate de informações sobre intoxicação de
bovinos por Solanum paniculatum (Solanaceae) em três cidades do Estado de Pernambuco,
sinais neurológicos se caracterizaram por crises periódicas, epileptiformes, com quedas, que
surgiam geralmente quando os animais eram assustados ou forçados a correr. Durante as
crises os animais apresentavam nistagmo, opistótono, extensão dos membros anteriores e
posteriores, tremores e quedas. Um dos animais precisou ser eutanasiado por estar em
decúbito permanente. Na necropsia observou-se que a maioria dos neurônios de Purkinje
apresentavam vacuolização fina do pericário, com marginalização do núcleo e em algumas
áreashavia perda de neurônios de Purkinje com proliferação de astrócitos de Bergmann.
Ausência de células de Purkinje foram descritas anteriormente nas intoxicações por S.
fastigiatum var. fastigiatum (RECH et al., 2006) e S. kwebense (VAN DER LUGT et al.,
2010).
De acordo com Oliveira et al. (2005) a intoxicação pela ingestão de sementes de
Aeschynomene
indica
(Leg.
Papilionoideae)
acometeu
apenas
suínos
jovens
de
aproximadamente 45 dias, os sinais clínicos apareceram aproximadamente 24h após a
ingestão do alimento contaminado e, os principais sintomas incluem andar incoordenado e
quedas que evoluíam para decúbito esternal, incapacidade de se levantar e, por fim decúbito
lateral, a morte ocorria, aproximadamente, 36h após a ingestão.
Segundo Santos et al. (2008) a insuficiência hepática, icterícia, edemas, hemorragias,
fotossensibilização e encefalopatia hepática são as principais patologias desencadeadas pela
ingestão de plantas tóxicas.
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3. Intoxicação por Ionóforos
Os antibióticos ionóforos são utilizados desde 1970 como coccidiostáticos,
antimicrobianos, promotores do crescimento para muitas espécies animais (DINIZ, 2007) e
como reguladores do pH ruminal (CHOW; RUSSEL, 1990). Essas drogas formam complexos
lipídeosolúveis com cátions mono e divalentes, que alteram a permeabilidade da membrana,
facilitam o fluxo de íons para o seu interior e compromete o equilíbrio osmótico e eletrolítico
dos microorganismos, o que leva a turgidez e degeneração dos mesmos (KAWAZOE, 2000).
Intoxicações podem ocorrer por ingestão excessiva de antibióticos ionóforos em
função de erro na mistura da droga à ração (GANTER; WENDT; KUCZA, 1989), engano no
cálculo das dosagens (ROLLINSON; TAYLOR; CHESNEY, 1987), utilização em espécies
mais susceptíveis (SALLES; BARROS; BARROS, 1994) ou uso em associação com drogas
que potencializam seus efeitos (GANTER et al., 1995). Uso inadequado de antibióticos
ionóforos tem, no entanto, causado intoxicações em várias espécies animais, como bovinos
(SCHWEITZER et al., 1984), equinos (ROLLINSON; TAYLOR; CHESNEY, 1987), ovinos
(BOURQUE; SMART; WOBESER, 1986), suínos (ARMIÉN et al., 1997), cães (KARSAI et
al., 1990), coelhos (SALLES; BARROS; BARROS, 1994) e aves (BECK; HARRIES, 1979).
De acordo com Rissi e Barros (2010) que fez a descrição de um surto de intoxicação
por ionóforos em Santa Maria-RS, os animais apresentaram fraqueza, incoordenação,
dispneia, secreção nasal, decúbito esternal e morte em poucas horas. Macroscopicamente os
animais apresentaram edema pulmonar, hidrotórax, ascite e palidez hepática e,
histologicamente, todos apresentavam degeneração de miofibras na musculatura esquelética
dos membros pélvicos e toráxicos, resultado idêntico ao encontrado por Perelman, Pirak e
Smith (1993).
4. Intoxicação por Micotoxinas
Micotoxinas são metabólitos secundários produzidos a partir de uma grande variedade
de fungos, especialmente por espécies dos gêneros Aspergillus, Fusarium e Penicillium. Estes
compostos são caracterizados em função da elevada toxicidade que apresentam. Devido às
suas propriedades tóxicas e estabilidade ao tratamento térmico, a presença de micotoxinas nos
alimentos pode ser prejudicial à saúde humana e animal (COULOMBE, 1991).
Presentes em todos os continentes, as micotoxinas são encontradas em grãos e em
rações direcionadas à produção animal. Climas variados favorecem o desenvolvimento de
inúmeras micotoxinas (FERREIRA, 2012), estas são responsáveis pela contaminação de
aproximadamente 25% dos grãos e cereais colhidos no mundo.
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Diversas micotoxinas podem acarretar problemas que acometem à saúde dos animais,
reduzindo a eficiência produtiva e tornando-os mais sujeitos às doenças de caráter infeccioso,
além de gerar prejuízos econômicos aos produtos agrícolas. O Brasil apresenta condições
ambientais que favorecem o crescimento de todos esses fungos mocotoxigênicos, mas
algumas regiões apresentam níveis superiores de contaminação por micotoxinas no milho
(FREIRE et al., 2007).
Por intermédio de um extensivo trabalho publicado em 1993, pelo International
Agency for Research on Cancer (IARC, 1993), cinco toxinas fúngicas foram consideradas de
maior risco à saúde humana e animal. Estas toxinas são: aflatoxinas (AFLA), ocratoxina A
(OTA), zearalenona (ZON), desoxinivalenol (DON) e fumonisinas (FUMO). Mas existem
toxinas, como Toxina T–2, patulina e outras que podem causar problemas esporadicamente,
contudo, atualmente, estas cinco toxinas têm sido implicadas na maioria dos problemas e
desafios das micotoxinas e micotoxicoses (IAMANAKA; OLIVEIRA; TANIWAKI, 2010).
4.1. Aflatoxinas
Tais micotoxinas são produzidas pelos fungos Aspergillus flavus, Aspergillus
parasiticus e Aspergillus nomius. Por conta da prevalência do fungo Aspergillus sp. é a
micotoxina mais disseminada no Brasil, o fungo Aspergillus flavus produz aflatoxina B e as
outras espécies produzem aflatoxina B e G (PRADO et al., 2008).
O grupo das aflatoxinas possui uma distribuição cosmopolita, produzidas por fungos
do gênero Aspergillus (principalmente A. flavus e A. parasiticus). Existem cerca de 18
compostos conhecidos dentro do grupo das aflatoxinas, sendo as de maior importância as
aflatoxinas: B1, B2; G1 e G2 (AFB1, AFB2, AFG1 e AFG2) contaminações naturais, ou seja,
sendo produzidas pelos fungos. A denominação B e G tem relação com a fluorescência gerada
através da iluminação com luz ultravioleta e também através do comportamento no exame
cromatográfico; as AFB1 e AFB2 apresentam coloração azul, recebendo a denominação “B”
por conta da palavra “blue” e as AFG1 e AFG2 apresentam uma coloração verde-amarelada
recebendo a nomeação “G” por conta da palavra “green”, ambas de origem inglesa
(GIMENO; MARTINS, 2011).
A absorção das aflatoxinas se dá no intestino delgado, na porção do duodeno. A
aflatoxina B1 está reversivelmente ligada à albumina e outras proteínas ligadas a circulação.
O efeito da aflatoxina B1 sobre células e organismos depende do balanço integrado entre as
múltiplas vias, tanto da ativação metabólica, quanto da detoxificação. Podem ser encontradas
na medula, fígado, ossos, rins e pulmões. Sua eliminação ocorre através da via biliar, urina,
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fezes, leite e ovos. Não são acumuladas nos tecidos e prontamente eliminadas depois de
removida a alimentação contaminada (WANG et al., 1991).
Os graus de aflatoxicoses são divididos em crônico, quando se tem a contaminação de
aflatoxinas em baixas dosagens, mas em longos períodos, e aguda ocorrendo à ingestão de
alimentos com altas concentrações de aflatoxinas (SOBRANE FILHO, 2014).
As aflatoxicoses tem por consequência a queda na produção e índices zootécnicos do
animal acarretando em perdas econômicas na produção, gerando quadros de apatia, anorexia
com baixa taxa de crescimento, piora na conversão alimentar, decréscimo no ganho de peso,
má qualidade da carcaça, diminuição na produção e peso dos ovos, aumento da
susceptibilidade aos desafios ambientas e microbiológicos, quadros hemorrágicos,
embriotoxicidade, efeitos teratogênicos e elevação nas taxas de mortalidade (GIMENO;
MARTINS, 2011).
Em frangos de corte as aflatoxinas podem causar danos ao fígado, como hiperplasia
biliar e aos rins, como espessamento da membrana basal dos capilares glomerular
(OLIVEIRA et al., 2015).
As aflatoxinas são consideradas carcinogênicas, mutagênicas, teratogênicas, podem
ser relacionadas ao aparecimento de câncer no fígado hepatite e alterações hematológicas
(FREIRE et al., 2007). Além disso, podem diminuir as atividades das enzimas digestivas,
diminuir a absorção de carotenoides e causar hemorragias (OLIVEIRA et al., 2015).
4.2. Ocratoxina A
A ocratoxina (OTA) foi descoberta em 1965, como sendo um metabólito de
Aspergillus ochraceus durante estudos que tinham por objetivo descobrir novas moléculas de
micotoxinas, porém nem todos os isolados de A. ochraceus são capazes de produzir
ocratoxina A. Ela apresenta estrutura química semelhante à das aflatoxinas (VAN DER
MERWE et al., 1965).
Além da espécie citada também Aspergillus alliaceus, Aspergillus auricomus,
Aspergillus carbonarius, Aspergillus glaucus, Aspergillus meleus e Aspergillus niger, além de
Penicillium nordicum e Penicillium verrucosum, são produtores de ocratoxina A. Em todos os
animais estudados, está associada à nefropatias (FREIRE et al., 2007).
Pode ser encontrada no milho, cevada, trigo, aveia, centeio, café bolorento, feijão,
amendoim, castanhas, feno, superfície de presuntos, pimentão vermelho e pimenta (LARSEN;
SVENDSEN; SMEDSGAARD, 2001).
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Sua absorção se dá por difusão passiva e é facilitada em pH baixo. Tem alta afinidade
de ligação às proteínas plasmáticas, sendo que 99% da ocratoxina A encontra-se ligada a
proteínas séricas, principalmente à albumina. A ocratoxina A tem rápida absorção e lenta
eliminação. É excretada pelos túbulos renais, podendo ser reabsorvida, o que atrasa sua
eliminação e aumenta o risco de acumulação nos tecidos (PETZINGER; ZIEGLER, 2000).
De acordo com Oliveira et al. (2015) seu efeito em aves em aves são engloba a
diminuição do desempenho, imunossupressão, anemia e aumento de peso dos órgãos,
diminuição da pigmentação da pele, gota, patologia renal e mortalidade. Sua importância está
relacionada às propriedades carcinogénicas, nefrotóxicas, teratogénicas, imunotóxicas e
neurotóxicas que apresenta (PFOHL-LESZKOWICZ; MANDERVILLE, 2007).
4.3. Zearalenona
A Zearalenona é uma lactona macrocíclica derivada do ácido resorcíclico, que quando
administrada aos animais é biotransformada em diferentes metabólitos (OLIVEIRA et al.,
2015). É um metabólito secundário produzido, principalmente, por Fusarium graminearum.
Outras espécies como Fusarium culmorum, Fusarium equisetii e Fusarium crookwellense
também produzem tal substância e outras análogas. A denominação de toxina para a
zearalenona é considerada inadequada uma vez que, embora biologicamente potente, ela é
raramente tóxica (FREIRE et al., 2007).
A zearalenona ocorre principalmente, no milho contaminado por F. graminearum e F.
culmorum (IAMANAKA; OLIVEIRA; TANIWAKI, 2010). Mas, segundo Prelusky (1994)
suínos intoxicados com Zearalenona apresentam inchaço e avermelhamento da vulva, super
desenvolvimento do útero e glândulas mamárias, prolapsos da vagina e reto e, em bovinos os
efeitos reprodutivos são menos pronunciados do que em porcos, mas afetam a fertilidade,
causa um desenvolvimento atípico secundário nas características sexuais de novilhos e
decréscimo na produção do leite.
De acordo com Malekinejad, Maas-Bakker e Fink-Gremmels (2006) os metabólitos
que apresentam maior atividade estrogênica e anabólica em animais são o α-Zearalenol (αZOL), β-Zearalenol (β-ZOL) e a Zearalenona. O α-ZOL é o mais tóxico dos metabólitos e tem
sido encontrado em altas proporções no organismo de suínos alimentados com dietas
contaminadas com zearalenona. Oliveira et al. (2015) afirma que os suínos constituem a
espécie animal doméstica mais sensível aos efeitos estrogênicos e anabólicos da zearalenona,
causando alterações fisiológicas no trato reprodutivo e nas glândulas mamárias de suínos.
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4.4. Desoxinivalenol
O Desoxinivalenol é uma micotoxina que pertence ao grupo B dos tricotecenos, sendo
produzida pelo Fusaruim graminearum (KUSHIRO, 2008). No grupo dos tricotecenos
encontra-se mais de 180 micotoxinas com relação estrutural, produzidas por Fusarium spp.,
que crescem em alimentos, no meio ambiente e em cereais (LUCIOLI, 2011).
Desoxinivalenol é comum em grãos como trigo, cevada, aveia, centeio, milho e sorgo
(IAMANAKA; OLIVEIRA; TANIWAKI, 2010)
O DON é uma das micotoxinas mais encontradas em grãos. Os níveis são geralmente
menores que 1 a 10 ppm, níveis de 15 a 40 ppm ocorrem ocasionalmente (OLIVEIRA et al.,
2015). Segundo Freire et al. (2007), quando ocorre ingestão em doses elevadas por animais,
ela causa náuseas, vômitos e diarreia. Quando ingerida por suínos e por outros animais, em
pequenas doses, pode provocar perda de peso e recusa alimentar. Por induzir esses sintomas o
desoxinivalenol é conhecido como vomitotoxina ou fator de recusa de alimento. Embora
menos tóxico que os outros tricotecenos, o DON é mais comum em sementes de cártamo,
cevada, centeio, trigo e em misturas de alimentos. Os efeitos do DON são encontrados no
gado, em suínos, aves, cães e gatos.
De acordo com Iamanaka (2010) as aves são mais tolerantes do que os suínos quanto à
presença de DON na dieta, embora a qualidade do ovo e o peso possam ser reduzidos. O gado
também é mais tolerante do que os suínos, possivelmente devido à degradação da toxina em
metabólitos secundários no rúmem. Os efeitos no gado incluem redução no consumo da ração
e taxa de concepção. Os grãos naturalmente contaminados com o DON podem afetar a
produção de leite.
4.5. Fumonisinas
Tais substâncias foram descobertas em 1988 e são produzidas por uma grande
variedade de espécies do gênero Fusarium, especialmente por Fusarium verticillioides,
Fusarium proliferatum e Fusarium nygamai, além da Alternaria alternata f. sp. lycopersici.
Outras espécies, tais como F. anthophilum, F. dlamini, F. napiforme, F. subglutinans, F.
polyphialidicum e Fusarium oxysporum também estão incluídas no grupo de produtores
dessas micotoxinas (GAUMY et al., 2001).
Segundo Oliveira et al. (2015) em suínos as fumonisinas causam edema pulmonar e
histologicamente, a principal alteração é a presença de líquido claro e linfáticos dilatados
acentuadamente em vasos do tecido conjuntivo. Em relação a alterações hepáticas, observase: vacuolização citoplasmática, apoptose, necrose dispersa e aumento da proliferação celular.
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Estudos mostram que a ingestão 16 mg/dia de Fumonisinas causa morte em suínos entre 3 a 6
dias após.
De acordo com Mallmann e Dilkin (2007) quando ocorre a toxicidade aguda por
fumonisinas em suínos os sinais clínicos começam a serem observados de três a cinco dias
após a ingestão da ração contaminada. O quadro clínico é caracterizado por edema pulmonar,
hepatotoxicidade, cardiotoxicidade e lesões no pâncreas. Além disso, os suínos apresentam
dispneia, fraqueza, anorexia, letargia, vômito, diarreia, icterícia e cianose mais evidente nas
orelhas, focinho, esclera e membranas mucosas.
Segundo o mesmo autor quando se trata de uma toxicidade crônica, que ocorre em
função do consumo de ração contendo baixas concentrações de toxinas, os sinais clínicos são
inespecíficos. Os principais sintomas apresentados pelos animais são: letargia, perda de
apetite, cianose na esclera e membranas, aumento das frequências cardíacas e respiratórias e
pelos eriçados (DILKIN et al., 2004).
A
intoxicação
por
fumonisinas
causa
leucoencefalomalácia
em
equinos,
nefrotoxicidade em ovinos, deficiência imunológica e lesões no fígado e nos rins de aves,
hepatoxicidade e nefrotoxicidade em bovinos e câncer hepático e nos rins de roedores (DEL
BIANCHI et al., 2005).
5. Considerações finais
É possível encontrar na literatura diversos trabalhos voltados para a obtenção de dados
a respeito das principais causas de intoxicação alimentar que acomete os animais de produção,
evidenciando as características dos agentes causadores de patologias e abordando os sintomas
inerentes as peculiaridades por estes apresentadas.
6. Referências
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Capítulo 8- Flebotomíneos transmissores de leishmanioses no brasil
FARIA, H.G.1; ZANINI, M.A.2; D’ALMEIDA, S.L.H.3; MAGNAGO, L.R.F.4
1-Introdução
Na atualidade, as leishmanioses encontram-se entre as seis endemias consideradas
prioritárias no mundo (BRASIL, 2014). A ameaça da doença atinge 350 milhões de pessoas
acometendo 88 países nos quais 72 desses apresentam-se em fase de desenvolvimento (WHO,
2011). Na America Latina, a doença já foi descrita em pelo menos 12 países, sendo que 90%
dos casos ocorrem no Brasil, especialmente na Região Nordeste (BRASIL, 2014).
De acordo com os autores Desjeux, (1992) e Bryceson (1996) as leishmanioses não são
uma doença única, mas um conjunto de síndromes complexas e multifacetadas causadas por
diversas espécies do gênero Leishmania transmitida por insetos vetores, que afetam tanto
seres humanos como animais domésticos e silvestres e que estão distribuídas por todos os
continentes, com exceção da Oceania e da Antártida. As leishmanioses são doenças
consideradas primariamente como zoonoses e quando o homem entra em contato com o ciclo
do parasita, pode vir a ser contaminado e adoecer.
O Brasil é um país que assume destaque mundial quando se trata de leishmanioses.
Dentre as 12 espécies de Leishmania neotropical universalmente reconhecidas, o Brasil abriga
sete, sendo cinco reconhecidamente aceitas como nativas de seu território. Da mesma maneira
nenhum país do mundo possui tamanha variedade de flebotomíneos, espécies e subespécies
Lutzomyia. Até o ano de 1994 mais de 229 espécies foram encontradas em suas terras do total
de aproximadamente 400 espécies e subespécies mundiais (KENDRICK, 2003).
A leishmaniose é a doença mais comum e importante transmitida pelos flebotomíneos,
destacando-se a espécie vetora Lutzomyia longipalpis na Leishmaniose Visceral Americana e
as espécies dos subgêneros Nyssomyia e Psychodopygus como vetores das Leishmanioses
dermotrópicas (SHERLOCK, 2003).
____________
1
Mestrando em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. [email protected]
Professor Associado III do Departamento de Medicina Veterinária- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
Mestrando em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
4
Graduanda em Medicina Veterinária- Universidade Federal do Espírito Santo.
2
3
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2-Flebotomíneos
Os flebotomíneos são insetos dípteros psicodídeos (BRAZIL; BRAZIL, 2003)
transmissores naturais das leishmanioses, outros triponossomatideos, arboviroses e de
bartoneloses (SHERLOCK, 2003).
Os flebotomíneos podem ser encontrados em quase todas as regiões do planeta, sua
fauna é diversa e apresenta-se em maior número na região neotropical (SHERLOCK, 2003).
Existem aproximadamente 800 espécies em todo o mundo, sendo 60% localizada na região
neotropical (AGUIAR; MEDEIROS, 2003). A necessidade de se avançar com os estudos
relacionados a fauna e biologia dos flebotomíneos é mais do que justificável, considerando o
impacto causado pelas doenças que podem ser transmitidas por eles tanto para os homens
como para os animais, assumindo o papel de vetores no ciclo das leishmanioses, além do
incômodo físico causados pelas picadas dolorosas que podem resultar em reações alérgicas.
Flebotomíneos são frequentemente encontrados em abrigos naturais, tais como troncos
de árvores, abrigos de animais, folhas caídas, buracos entre rochas e cavernas. (GALATI et
al.,2003). Seus hábitos são crepusculares e noturnos, os machos e as fêmeas procuram ficar
em locais dissociados dos criadouros naturais (BRAZIL; BRAZIL, 2003).
A diversidade da fauna de flebotomíneos no Brasil é imensa. As três primeiras
espécies foram descritas por Arthur Neiva e Adolph Lutz em 1912. Alguns autores atentaram
para a importância e utilidade do uso da espermateca e do cibário da fêmea na taxonomia
desse díptero (Adler; Theodor, 1926 e Theodor, 1932), a partir daí, entre 1930 e 1960 várias
novas espécies de flebotomíneos neotropicais foram descritas por Mangabeira Filho (1938,
1941a, 1941b, 1941c, 1942), Floch e Abonnenc (1952), Barreto (1947b), Costa Lima(1932),
ao mesmo tempo que as suas características de vetor foram sendo descobertas. (SHERLOCK,
2003).
O gênero Lutzomyia (Diptera: Psychodidae: Phlebotominae) é considerado o de maior
importância por conter espécies transmissoras de patógenos aos humanos, com ampla
distribuição no Brasil desde regiões do sul até o norte do país (REIS et al., 2013).
2.1-Aspectos biológicos
Com relação à biologia, existem poucas informações a respeito dos flebotomíneos,
sendo ainda poucas espécies estudadas. Os flebotomíneos são insetos dípteros psicodídeos,
medem de 1 a 3 mm e possuem o corpo muito piloso. São holometábolos realizando em seu
ciclo de vida uma fase de ovo, uma fase de larva com 4 estádios, uma fase de pupa e adulto.
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Figura 1: Ciclo de vida dos flebotomíneos
Seus criadouros naturais são de difícil localização, acredita-se ser pela mobilidade de
suas formas larvais que apresentam um comportamento muito ativo em busca de alimentação
(SHERLOCK, 2003), porém, muitos trabalhos a respeito dos criadouros Feliciangeli (2004),
incriminam a dificuldade de extração das formas imaturas nas amostras de solo e matéria
orgânica, como sendo a razão dos baixos índices de insetos coletados.
2.2-Fases do ciclo de vida.
- Ovo
As fêmeas dos flebotomíneos, em laboratório, realizam em média a postura de 40 ovos,
podendo variar de acordo com a espécie. Os ovos são ovoides ou elipsoides, apresentam-se na
coloração castanho escuro variam de 300 a 500 µm de comprimento por 70 a 150µm de
largura. A postura pode ser feita isolada ou em grupos, os ovos se aderem ao substrato devido
as substancias produzidas pelas glândulas acessórias (BRAZIL; BRAZIL 2003).
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Figura 2: Ovos de Lutzomyia longipalpis (Lutz e Neiva). Foto: Cristina Ferro. Instituto Nacional de Saúde,
Colômbia.
- Larva
As formas larvares dos flebotomíneos são de tamanho reduzido, aspecto vermiforme,
coloração branca apresentando 12 segmentos, sendo três torácicos e nove abdominais. A
cabeça é bem desenvolvida possuindo antenas dependendo do estádio larvar, ela é de
coloração mais escura quando comparadas com o resto do corpo, apresentando se coberta por
espinhos que variam em relação à espécie (BRAZIL; BRAZIL, 2003). O desenvolvimento
larval ocorre na terra úmida com pouca luminosidade e adequado incremento de matéria
orgânica, elas possuem as peças bucais do tipo triturador e se alimentam com muita
intensidade.
Figura 3: Larva de 4º estádio Lutzomyia longipalpis. Fonte: AMÓRA, 2007
O número de cerdas dispostas no segmento torácico é usado como um caráter
taxonômico importante para diferenciação entre espécies (BRAZIL; BRAZIL, 2003). O
abdome apresenta-se com nove segmentos iguais com exceção dos dois últimos, sendo o nono
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apresentando a função de fixação das larvas no período de muda (LEITE; WILLIAMS, 1997).
As larvas passam por quatro estádios onde as mesmas são muito parecidas, elas se
diferenciam pelo tamanho e pela presença de um par de filamentos caudais na primeira fase e
dois pares nas demais fases. As larvas possuem o corpo coberto por cerdas, sendo um total de
160 a 210 distribuídas ao longo de todo o corpo (BARRETO, 1941).
- Pupas
A fase de pupa dos flebotomíneos apresenta a duração média de 7 a 12 dias, variando de
acordo com a espécie. As pupas são brancas ou amarelas, sua coloração tende a se escurecer a
medida que o inseto se aproxima do evento da eclosão. Ela é formada por 13 segmentos
dividindo-se em cefalotórax e abdome. Como característica as pupas permanecem imóveis, ou
seja, ficam aderidas ao substrato através da exuvia larvar sem se locomover (BRAZIL;
BRAZIL, 2003).
Figura 4: Pupa de Lutzomyia shannoni. Foto: Jerry Butler, Universidade da Flórida.
-Adultos
Os flebotomíneos adultos possuem dimorfismo sexual não relacionado apenas aos
aspectos morfológicos. Seus hábitos costumam ser crepusculares e noturnos, seu
desenvolvimento ocorre em matéria orgânica em decomposição (BRAZIL; BRAZIL, 2003).
Informações sobre o local onde os flebotomíneos se criam são de grande valia para estudos
epidemiológicos (ALENCAR, 2007). Os criadouros naturais da maioria das espécies ainda
não foram descobertos necessitando de maiores estudos (BRAZIL; BRAZIL, 2003). Essa
característica resulta em dificuldade de estabelecer estratégias de controle baseadas nas
formas imaturas e consequentemente interrupção do ciclo de transmissão de Leishmania spp.,
e outros patógenos. Maiores informações sobre os criadouros são necessárias para se realizar
estratégias de controle na fonte de criação (FELICIANGELI, 2004).
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O tempo de duração do seu ciclo de vida ira variar de acordo com a espécie, as
condições climáticas e do tipo de alimentação (SHERLOCK, 2003). Criados em laboratórios
adultos tem um tempo médio de vida de 30 a 40 dias. Os machos e as fêmeas necessitam de
carboidratos como fonte de energia e apresentam-se como fitófagos, alimentam-se de seiva
vegetal e secreções açucaradas (BRAZIL; BRAZIL, 2003). As fêmeas além de fitófogas,
apresentam-se como hematófogas, excluindo raríssimas exceções de algumas espécies
autógenas, elas necessitam do sangue de vertebrados para maturação de seus ovários, sendo
essa característica de fundamental importância na transmissão de patógenos (SHERLOCK,
2003).
Algumas espécies de flebotomíneos apresentam seletividade em relação a sua
alimentação em uma determinada espécie de vertebrado, outras já possuem hábitos
mais ecléticos podendo picar indiferentemente várias espécies de mamíferos sendo
isso uma importante informação em relação ao seu potencial de vetoração de
patógenos para os animais e o homem. O estudo dos hábitos alimentares e do
conteúdo intestinal dos flebotomíneos permite a identificação dos hospedeiros,
indicando os potenciais reservatórios das Leishmania spp. (MISSAWA, 2008).
3- Transmissores de Leishmania spp. no Brasil
O Brasil é um país que assume destaque mundial quando se trata de Leishmanioses.
Dentre as doze espécies de Leishmanias neotropicais universalmente reconhecidas, o Brasil
abriga sete, sendo cinco reconhecidamente aceitas como nativas de seu território. Da mesma
maneira nenhum país do mundo possui a grande variedade de espécies de flebotomíneos do
que o Brasil, sendo mais de 229 espécies podendo ser encontrada em suas terras do total de
aproximadamente 400 espécies e subespécies mundiais (KENDRICK, 2003).
O ciclo das Leishmanias spp. nos insetos vetores é em torno de 72 horas. As fêmeas
dos flebotomíneos se infectam ao sugarem sangue de mamíferos infectados contendo
macrófagos parasitados com as formas amastigotas da Leishmania. As amastigotas no trato
digestivo anterior do vetor rompem os macrófagos e começam a se multiplicar por divisão
binária e se diferenciam em formas promastigotas flageladas mantendo a mesma forma de
divisão. As promastigotas então, se diferenciam em paramastigotas indo colonizar o esôfago e
a faringe do flebótomo mantendo se aderida ao epitélio através do seu flagelo terminando
então por se diferenciar nas formas infectantes promastigotas metacíclicas.
São descritas duas formas para a doença: Leishmaniose Tegumentar Americana e
Leishmaniose Visceral.
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3.1-Vetores da Leishmaniose Tegumentar Americana
A Leishmaniose Tegumentar Americana constitui um problema de saúde publica em 88
países, distribuídos em quatro continentes (Américas, Europa, África e Ásia), com registro
anual de1 a 1,5 milhões de casos. (BRASIL, 2007).
Dentre as espécies de flebotomíneos transmissoras de Leishmanioses Tegumentar
Americana no Brasil podemos destacar: Lutzomyia intermédia, Lutzomyia pessoai, Lutzomyia
wellcomei, Lutzomyia whitmani, Lutzomyia umbratilis, Lutzomyia anduzei, Lutzomyia
flaviscutellata, Lutzomyia ubiquitalis, Lutzomyia migonei, Lutzomyia fischeri, Lutzomyia
complexo, Lutzomyia ayrozai. Essas espécies foram descritas no Manual de Vigilância e
Controle da Leishmaniose Tegumentar (BRASIL, 2007) e Rangel e Lainson (2003).
3.2- Vetores da Leishmaniose Visceral
A transmissão da leishmaniose visceral se da através da picada dos vetores
flebotomíneos - Lutzomyia longipalpis ou L. cruzi – infectados pela Leishmania (L.) chagasi,
sendo o Lutzomyia longipalpis incriminado como o principal vetor e recentemente a espécie
L. cruzi foi responsabilizada pela transmissão no Brasil, no estado do Mato Grosso do Sul. A
distribuição geográfica do Lutzomyia longipalpis no Brasil possui uma grande área de
abrangência e parece estar em plena expansão podendo ser encontrado nas regiões: Norte,
Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste sendo conhecido popularmente como mosquito palha,
tatuquiras, birigui, entre outros (BRASIL, 2014).
Figura 5: Lutzomyia longipalpis. Fonte: Ray Wilson, Escola de Medicina Tropical de Liverpool.
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O Lutzomyia longipalpis nas regiões Norte e Nordeste, originalmente era encontrado
nas matas fazendo parte primariamente do ciclo silvestre da doença, com o avanço e
derrubada das matas eles foram se adaptando ao meio rural fechando o seu ciclo de vida
também em animais silvestres e sinantrópicos. No final da década de 80, na região Sudeste,
com os avanços urbanização, o L.longipalpis se adaptou aos ambientes periféricos das
grandes cidades geralmente peridomiciliar, locais como: galinheiros, chiqueiros, canis, paiol
entre outros locais e muitas vezes intradomiciliar (BRASIL, 2014).
4-Considerações Finais
As Leishmanioses são doenças que apresentam importância mundial sendo considerada
a sexta endemia prioritárias no mundo. Se enquadram atualmente como mais uma das várias
doenças negligenciadas no mundo, incluindo o Brasil. Possui grande diversidade de
apresentações clínicas, que muitas vezes se não tratadas podem evoluir para óbito do
paciente.A doença promove grande prejuízo a saúde dos pacientes. A gravidade das lesões
muitas vezes afasta os doentes do trabalho, configurando um quadro de doença ocupacional,
levando também a perdas econômicas.
Considerando a importância vetorial na epidemiologia de várias doenças, e com atenção
especial às leishmanioses, baseando se na imensidão de espécies e diversidade dos
flebotomíneos, não nos falta razões e justificativas para o aprofundamento dos estudos
relacionados à ecologia, fauna e epidemiologia dos flebotomíneos.
Devido à quantidade restrita de estudos convergimos para uma carência de informações
precisas a respeito do universo dos flebotomíneos, e a interação deles com o meio ambiente.
Muitos trabalhos necessitam serem realizados a níveis mais específicos, com o intuito de ser
testar hipóteses, avaliar a variabilidade das características das espécies, hábitos, potencial e
capacidade vetorial, estudos faunísticos, interação vetor hospedeiros, entre outros.
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Capítulo 9- Mastite bovina e a inter-relação com enfermidades metabólicas
SPADETTO, R. M.3; ALMEIDA, S. L. H.1; ALMEIDA, L. C.4; GUERSON, Y. B.5;
DONATELE, D. M.6; PORFÍRIO, L. C.4; BARIONI, G4.
Introdução
A pecuária tem fundamental importância no desenvolvimento da economia de um
país, suas funções nesse processo vão desde o fornecimento de alimentos a preços baixos para
a população à geração de emprego, renda e mercado consumidor para bens industrializados,
sendo a pecuária leiteira um dos setores mais importantes do agronegócio brasileiro (MAPA,
2014).
O Brasil é grande produtor de leite ocupando a quarta posição no ranking mundial com
produção de 33 bilhões de litros, atrás dos Estados Unidos com mais de 93 bilhões de litros,
seguidos pela Índia e China com 60 bilhões e 36 bilhões de litros, respectivamente (USDA,
2015). Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (2013) as
projeções futuras para a produção leiteira do Brasil devem atingir 41,3 bilhões de litros de
leite cru no final do período 2023.
A busca constante por maiores índices produtivos gerou o desenvolvimento da
pecuária nos últimos anos, por meio da intensificação dos sistemas de produção com o
objetivo de maior rentabilidade e menores custos, para isso, tem sido selecionado pelo
melhoramento genético, animais de alta produção, porém, essa seleção tem aumentado o risco
de doenças metabólicas (GARCIA, 2010), tais como a cetose e a hipocalcemia.
A cetose é uma enfermidade metabólica caracteriza pelo aumento dos níveis séricos
plasmáticos de corpos cetônicos, enquanto a hipocalcemia ocorre uma diminuição, porém nos
níveis de cálcio. Esses transtornos metabólicos que acometem os bovinos ocorrem por
desequilíbrio entre os nutrientes que ingressam ao organismo animal, o seu metabolismo e os
egressos, como as fezes, a urina, o leite e o feto. Deste modo, se este desequilíbrio for de curta
duração e leve, o metabolismo do animal pode compensar utilizando suas reservas corporais,
por outro lado, se for moderado ou severo e persistente, ocorre a doença (WITTWER, 2000).
3
Mestrando em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. [email protected]
Professor do curso de Medicina Veterinária da Escola Superior Francisco de Assis (ESFA)
5
Médico Veterinário autônomo, Mestre me Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Espírito Santo.
6 Professor do Departamento de Medicina Veterinária- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
4
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Para Lago et al. (2004) esse desequilíbrio conhecido como balanço energético
negativo (BEN) tem maior ocorrência nas primeiras seis semanas do pós parto, devido ao pico
de lactação acontecer entre a 4ª e 6ª semanas e o pico de consumo de matéria seca não ocorre
antes de oito a dez semanas pós parto. Além do mais, vacas de alta produção podem requerer
até 80% do suprimento total de glicose para produzirem leite, predispondo a transtornos
metabólicos energéticos, como a cetose, os quais afetam a saúde e a produtividade das vacas
leiteiras.
Nos casos de hipocalcemia, ocorre falha na manutenção das concentrações de cálcio
pelos mecanismos homeostáticos, além do mais a demanda de cálcio no pós parto é maior,
principalmente para a produção de colostro e subsequente produção de leite (BARRÊTO
JÚNIOR et al., 2011).
Nesse período de alterações metabólicas as vacas leiteiras passam por um período de
imunossupressão que combinados ao estresse da lactação geram maiores risco de adquirirem
outras enfermidades (NETO et al., 2011).
Dentre essas enfermidades está a mastite bovina. Segundo Cunha et al. (2006) a
mastite é a inflamação da glândula mamária que provoca alterações físicas, químicas e
bacteriológicas do leite, e do tecido glandular. Esta afecção constitui sério problema para a
produção leiteira, determinando relevantes perdas econômicas devido à redução na produção,
descarte do leite e gastos com tratamentos. Para Duffiel (2000) quadros de cetose podem
aumentar o risco de desenvolvimento da mastite em 40 vezes. Goff e Kimura (2002)
relataram que na hipocalcemia a probabilidade é 8,1 vezes maior.
O objetivo desta revisão é descrever sobre a mastite e as relações entre os quadros de
cetose e hipocalcemia com a ocorrência de mastite em vacas leiteiras.
2.1 Mastite bovina
A palavra mastite, derivada do grego mastos, ou mamite, do latim mammae (DIAS,
2007) é processo inflamatório da glândula mamária, de origem multifatorial, da qual envolve
a interação entre o animal, o patógeno e o meio ambiente (OLIVEIRA; MELO; AZEVEDO,
2009). Oliveira et al. (2010) citaram que a mastite pode ser causada por agentes químicos,
físicos, tóxicos, fisiológicos e infecciosos, principalmente de origem bacteriana. As
consequências dessa enfermidade são alterações nas propriedades físico-químicas do leite e
no parênquima glandular, que pode estar presente em qualquer glândula mamária funcional
(FONSECA; SANTOS, 2001).
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A mastite é a enfermidade mais prevalente na pecuária leiteira, determinando queda na
produção de leite, perdas pelo descarte e morte de animais, altos custos com tratamento
(SCHUCH et al., 2008), além de afetarem diretamente a composição e o tempo de vida de
prateleira do leite e derivados, causando enormes prejuízos para os laticínios. No entanto, o
prejuízo econômico gerado pela mastite não é o único problema associado à enfermidade, que
também causa transtornos à saúde pública, uma vez que podem gerar reações alérgicas e
efeitos tóxicos provenientes das alterações causadas pelo uso do antibiótico, caso o produtor
não respeite o período de carência dos medicamentos (CASSOL et al., 2010), bem como
problemas com transmissão de patógenos zoonóticos que geram doenças de origem alimentar
resultantes da ingestão de leite contaminado e/ou por contato direto com animais doentes ou
portadores (GUIMARÃES; LANGONI, 2009).
Segundo Cruz et al. (2011) ao acompanharem os registros de ordem sanitária de
rebanho leiteiro no sul do Brasil durante o período de 2000 a 2009, observaram uma
prevalência de 27,8% de mastite. Guerson (2015) relata ocorrência de 48,34% de mastite
subclínica e 2,17% de mastite clínica na região do Caparaó Capixaba.
Santos e Fonseca (2007) relacionam o envolvimento de diversos grupos de
microrganismos na etiologia das infecções intramamárias de bovinos, dentre estes agentes
encontram-se os vírus, algas, fungos, micoplasmas e, principalmente, as bactérias.
Os patógenos podem ser divididos em dois grupos de acordo com sua origem e modo
de transmissão: descritos como agentes contagiosos e ambientais. Os agentes contagiosos são
adaptados a sobreviverem no interior da glândula mamária, e são transmitidos de um animal
para outro, da qual se destaca o Staphylococcus aureus e Streptococcus agalactiae. Em
contrapartida os agentes ambientais são descritos como patógenos invasores oportunistas do
úbere, não sendo adaptado a sobreviver no seu interior, são encontrados normalmente no
ambiente, os principais são a Escherichia coli, o Streptococcus dysgalactiae e o Streptococcus
uberis (MARTINS et al., 2010). Embora cerca de 137 microrganismos diferentes possam
estar envolvidos na etiologia da mastite bovina (COSTA, 2008), o Staphylococcus aureus está
presente em mais de 50% das infecções da glândula mamária dos bovinos leiteiros, graças a
sua ampla distribuição geográfica (RIBEIRO JUNIOR; BELOTI, 2012).
Segundo Radostits et al. (2002) o desenvolvimento da mastite pode se dividir em três
fases descritas como a fase de invasão, quando o microrganismo penetra no canal do teto; a
fase de infecção, quando os microrganismos se multiplicam e colonizam o tecido secretor da
cisterna da glândula; e por fim, a fase de inflamação, que segue a infecção e representa o
inicio do episódio de mastite, com diferentes graus de alterações do úbere e do leite.
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Em resposta ao agente o organismo animal responde enviando leucócitos para local
afetado, consequentemente aumenta a contagem de células somáticas (CCS) e altera a
composição do leite (FONSECA; SANTOS, 2001). Na vaca saudável, as células somáticas
presentes são neutrófilos (<11%), macrófagos (66 a 88%), linfócitos (10 a 27%) e células
epiteliais (0 a 7%). Em caso de infecção da glândula mamária ocorre aumento no número de
leucócitos, neutrófilos migram da corrente sanguínea e representam mais de 90% das células
no leite mastítico (RADOSTITS et al., 2002).
Burton e Erskine (2003) citam que as células de defesa (neutrófilos) e os anticorpos
são as principais barreiras de defesa do úbere contra as infecções bacterianas, quando estes
sistemas de defesa falham ou são insuficientes, surgem às mastites clínicas.
Se a resposta inflamatória for rápida, os neutrófilos movem-se rapidamente do sangue
para o interior da glândula mamária e eliminam os estímulos, neste caso as bactérias. No
entanto, em situações em que as bactérias sobrevivem, a resposta inflamatória contínua, com
migração persistente de neutrófilos entre as células secretoras e o lúmen alveolar, a contagem
de células somáticas (CCS) permanece alta (AIRES, 2010).
Em relação a sua apresentação, a mastite pode ser classificada em forma clínica,
quando é possível observar ao exame físico alterações no leite e no animal, e em forma
subclinica, quando são necessários métodos indiretos para o diagnóstico. Estima que existam
35 casos subclínicos de mastite para cada caso clínico, isso ocorre, devido a dificuldade de
visualização do problema subclínico, o que favorece a sua disseminação (SANTOS;
PEDROSO; GUIRRO, 2010).
O diagnóstico da mastite na forma clínica é realizado pela avaliação das características
do leite, com a busca pela presença de grumos e pelas alterações do parênquima glandular,
como o aumento da temperatura, presença de dor, hipertemia local e enrijecimento da
glândula. O diagnóstico precoce é realizado pelo teste da caneca de fundo preto, se examina
os primeiros jatos de leite previamente a ordenha dos animais. Pesquisa a presença de pus,
grumos de fibrina e sangue. Este teste deve ser realizado diariamente em todas as vacas e em
todas as ordenhas, assim é possível realizar o seu tratamento com maiores chances de cura,
menores gastos com medicamentos e descarte de leite (SANTOS; FONSECA, 2007).
Quanto à forma subclínica, o diagnóstico é realizado pela contagem direta ou indireta
de células somáticas no leite. Assim durante o período de infecção, as células somáticas
aumentam de 100.000 células/ mL de leite em vacas saudáveis, para mais de 1.000.000
células/ mL em apenas algumas horas (RADOSTITIS et al., 2002). Segundo Coentrão et al.
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(2008) vários fatores podem influenciar na variação da CCS, tais como o período da lactação,
mês e estação do ano, porém a infecção intramamária é o principal fator.
O diagnóstico da mastite subclínica pode ser realizado pelo indicador indireto da
contagem de células somáticas do leite, o California Mastitis Test (CMT) (RIBEIRO et al.,
2003), empregado a campo no momento da ordenha, é prático, de baixo custo, de fácil
interpretação e fornece resultados imediatos (JORGE et al., 2005). O teste consiste na coleta
individual dos quartos mamários em bandeja apropriada, adicionando detergente aniônico
neutro, que atua rompendo a membrana das células e liberando o DNA, formando gel
(RIBEIRO et al., 2003). A interpretação do teste depende da intensidade da viscosidade,
sendo classificado em negativa; suspeita (traços); fracamente positiva (+); positiva (++) e
fortemente positiva (+++), segundo Schalm e Noorlander (1957). O teste de CMT deve ser
realizado mensalmente ou em intervalos menores caso o índice de mastite esteja muito
elevado no rebanho, para possibilitar a avaliação da eficiência das medidas de controle
preconizadas (COSTA, 2008).
Estudo realizado por Nader Filho (1985) comprovou a eficácia do CMT, constatou que
99% dos tetos reativos ao CMT, que não apresentavam sinal de mastite clínica, tiveram o
diagnóstico de mastite subclínica comprovado pelo isolamento do agente etiológico.
A detecção definitiva do agente é realizada por meio do isolamento dos patógenos em
cultura microbiológica, no entanto o exame apresenta limitação pelos custos e tempo
requerido para obter os resultados (DELLA LIBERA et al., 2011). Entretanto, Coentrão et al.
(2008) citam a importância do diagnóstico microbiológico, pois, informa o padrão da infecção
do rebanho e deste modo, auxilia no controle e erradicação de determinados patógenos.
De acordo com Radostits et al. (2002) o plano de tratamento depende do tipo de
mastite, se clínica ou subclínica, da identificação correta dos agentes envolvidos, da
severidade da resposta inflamatória, da duração da infecção, da quantidade de quartos
afetados, do estágio de lactação, da idade do animal e da presença ou não de prenhes.
O tratamento dos animais com mastite clínica consiste principalmente no uso de
antibioticoterapia (RIBEIRO JÚNIOR; BELOTI, 2012). O tratamento com antibióticos tem
por meta realizar a eliminação das infecções que estão estabelecidas no animal, portanto é
necessária que as concentrações de antibióticos no úbere atinjam níveis maiores ou pelo
menos iguais a concentração inibitória mínima para os principais patógenos da mastite
(BENEDETTE et al., 2008). De acordo com Benedette et al. (2008) o ideal para o tratamento
da enfermidade clínica na vaca lactante é fazer a cultura do leite e sensibilidade
antimicrobiana.
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Em casos agudos pode ser necessária à utilização da terapia de suporte com eletrólitos
e administração de anti-inflamatórios não esteroides (RADOSTITS et al., 2002). O
esvaziamento frequente da glândula mamária afetada também é recomendado no tratamento
de mastite uma vez que a ação do fluxo do leite ao longo da glândula age removendo os
microrganismos, as endotoxinas e os mediadores inflamatórios, bem como os neutrófilos e os
macrófagos, cujos produtos estimulam a inflamação (REBHUN, 2000).
Nas mastites crônicas ou subclínicas a terapia da vaca seca é recomendada, sendo o
momento da secagem o mais adequado para a eliminação das infecções subclínicas existentes,
pois o tratamento durante a lactação tem taxa de cura mais baixa e há a necessidade de
descartar o leite com resíduos de antibióticos. Sendo assim, a função do tratamento da vaca
seca é eliminar os casos de mastite subclínica existentes e prevenir a ocorrência de novas
infecções nas semanas seguintes à secagem (RODRIGUES, 2009).
A aplicação de antibiótico de longa ação deve ser realizada em todos os quartos
mamários no momento da secagem, podendo, em alguns casos, estar associada à terapia
sistêmica (ANDREWS et al., 2008). Alguns selantes internos podem ser utilizados como
coadjuvantes à terapia de vaca seca, tal como subnitrato de bismuto, que atua como uma
barreira física contra os agentes infecciosos na glândula mamária (COSER, 2012).
Como métodos de prevenção a implantação de boas práticas de higiene de ordenha se
faz fundamental e é um eficiente meio de se controlar as vias de transmissão da mastite
(RIBEIRO JUNIOR; BELOTI, 2012).
A metodologia de controle da doença vem evoluindo nos últimos anos, passando do
tratamento preventivo ou curativo do indivíduo para o plano do rebanho, com a adoção de
programas mais abrangentes, aplicados ao conjunto de rebanhos da região ou do país. Esses
programas têm como base a desinfecção de tetos antes e após a ordenha, o tratamento precoce
de casos clínicos, a higiene ambiental e da ordenha e a manutenção periódica do equipamento
de ordenha (COSTA, 2008), sendo também importante a utilização da terapia da vaca seca e o
descarte de vacas com infecções crônicas (BENEDETTE et al., 2008).
2.2. Perfil Metabólico
O perfil metabólico em ruminantes pode ser utilizado para monitorar a adaptação
metabólica e diagnosticar desequilíbrios metabólico-nutricionais (BRITO et al., 2006).
González (2000) destaca o perfil metabólico, inicialmente desenvolvido por Payne em
Compton (Inglaterra) em 1970, como método para estudar as causas da alta incidência das
chamadas doenças da produção, por meio de análises sanguíneas do rebanho, assim como o
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grau de adequação as principais vias metabólicas, bem como a funcionalidade de órgãos
vitais.
O perfil metabólico é indicador dos processos adaptativos do organismo, no
metabolismo energético, proteico e mineral, os metabolitos analisados definem o alcance da
interpretação do perfil. O metabolismo energético dos ruminantes avalia os níveis sanguíneos
de glicose, triglicerídeos, β-hidroxibutirato, colesterol e ácidos graxos livres; o proteico os
níveis de proteínas totais, albumina, globulinas e ureia e o mineral os níveis de cálcio, fósforo,
magnésio, ferro, cobre, zinco e cobalto (HAIDA et al., 1996).
Quando utilizado associado à história clínica, exame físico e outros testes
laboratoriais, como o hemograma e o exame químico da urina, o perfil metabólico se torna
importante mecanismo para estabelecer ou confirmar o diagnóstico, determinar o prognóstico
e monitorar tratamento (GONZÁLEZ, 2001).
2.2.1 Avaliação do metabolismo energético
2.2.1.1 Glicose
A glicose é considerada o principal combustível metabólico, sendo absolutamente
necessário para a função de órgãos vitais, crescimento fetal e produção de leite (DUFFIELD;
LEBLANC, 2009). Para Vendramin et al. (2006) a glicose é de fundamental importância para
as vacas leiteiras pela necessidade de sintetizar a lactose, tendo maior demanda do período
inicial até ultrapassar o pico de lactação. Possui níveis de normalidade entre 45 e 75 mg/dL
para a espécie bovina.
O fígado é o órgão responsável pela síntese de glicose a partir de moléculas
precursoras da via gliconeolítica, tais como, o ácido propiônico que é o principal precursor de
glicose, os aminoácidos, o ácido láctico e o glicerol (GONZÁLEZ; SCHEFFER, 2002).
Entretanto, a glicose não é o melhor indicador do metabolismo energético, pois possui
rigoroso controle hormonal (CAMPOS et al., 2007). Porém é essencial para as necessidades
energéticas do organismo, explicando assim a sua inserção no perfil metabólico
(GONZÁLEZ, 2000).
Marques e Rodemacher (1999) incluiram nesse sistema hormonal a insulina que
estimula a captação de glicose pelos tecidos, o glucagon e as catecolaminas que estimulam a
degradação do glicogênio e os corticoesteróides que são promotores da gliconeogênese.
González e Scheffer (2002) relataram que quando o fornecimento energético é
inadequado, o glucagon e as catecolaminas estimulam a degradação de glicogênio hepático e
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a síntese de nova glicose no fígado, e quando o balanço energético se torna negativo,
estimulam a mobilização de triglicerídeos para fornecer ácidos graxos como fonte de energia
e glicerol como precursor de glicose hepática.
2.2.1.2 Triglicerídeos
A principal forma de armazenamento de ácidos graxos no tecido adiposo é por meio
dos triglicerídeos, que são compostos por uma molécula de glicerol ligada a três moléculas de
ácidos graxos de cadeia longa. Embora muitas células podem sintetizar os triglicerídeos, estes
são produzidos particularmente no fígado, tecido adiposo, glândula mamária e intestino
delgado (BRUSS, 2008).
Kozloski (2009) cita que em bovinos, aproximadamente 90% da síntese de ácidos
graxos e triglicerídeos ocorre no tecido adiposo, tendo como principal precursor o acetato. Em
vacas lactantes e que não se apresentam prenhas, cerca de um terço do acetato absorvido é
armazenado em forma de triglicerídeo.
Os ruminantes apresentam baixa capacidade de síntese hepática de triglicerídeos, no
entanto, após a ingestão de dietas com alta densidade energética, ocorre aumento na produção
de ácidos graxos a partir das elevadas quantidades de acetato e propionato que chegam ao
fígado (BRUSS, 2008).
Para Campos et al. (2007) os triglicerídeos são fonte importante de ácidos graxos para
a síntese da gordura no leite, sendo que na lactação os níveis de triglicerídeos variam de
acordo com o balanço energético negativo (BEM), além do mais, sua determinação é uma
alternativa na avaliação rápida da lipidose hepática, enfermidade metabólica de grandes
perdas na produção leiteira.
2.2.1.3 Colesterol
O colesterol é armazenado nos tecidos na forma de ésteres de colesterol sendo o
precursor dos esteróides do organismo, os corticoesteróides, hormônios sexuais, ácidos
biliares e vitamina D. Sua síntese ocorre a partir da acetilcoenzima A (acetil-CoA), que por
sua vez, provém do ácido acético produzido no rúmen pela fermentação da fibra da dieta,
dependendo do estado nutricional. Origina-se principalmente no fígado e no intestino
(GRANDE; SANTOS, 2003).
O colesterol circula no plasma ligado às lipoproteínas de alta densidade (HDL),
lipoproteínas de baixa densidade (LDL) e lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL),
sendo que cerca de 2/3 dele está esterificado com ácidos graxos. Variações na concentração
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sérica ou plasmática de colesterol estão relacionadas à condição nutricional dos animais. A
determinação dos níveis sérico ou plasmáticos de colesterol é recomendada para avaliar o
balanço energético em vacas leiteiras, pois a diminuição indica quadro de déficit energético,
enquanto seu aumento ocorre em resposta a ingestão de níveis elevados de energia na forma
de lipídios (WITTWER, 2000).
2.2.1.4 β-hidroxibutirato (βHB)
Os níveis séricos ou plasmáticos de corpos cetônicos são relativamente constantes nos
ruminantes, dada sua origem a partir dos ácidos graxos voláteis (AGVs) produzidos na
fermentação de carboidratos no rúmen. Enquanto o propionato é o principal precursor para
gliconeogênese, o butirato é o principal precursor para a cetogênese, aproximadamente 50%
da quantidade de butirato absorvida no rúmen é convertida a corpos cetônicos (FERNANDES
et al., 2012).
O ácido butírico proveniente da dieta é transformado no epitélio dos pré-estômagos,
via acetoacetato, em βHB, sendo este o principal corpo cetônico do sangue dos ruminates. Por
outra parte, os ácidos graxos de cadeia longa, produzidos na mobilização de reservas de
gordura, são convertidos no fígado em acetoacetato e depois em βHB, o qual pode ser
utilizado como fonte de energia e na síntese de gordura no leite (WITTWER, 2000).
Os corpos cetônicos são compostos primários os quais são representados pelo βhidroxibutirato, o acetoacetato e a acetona (ORTOLANI, 2002). O βHB é o corpo cetônico
produzido em maior quantidade e o de escolha para a avaliação clínica, indicador do distúrbio
metabólico energético, devido a sua estabilidade no plasma ou no soro, e por não possuir
controle homeostático tão estreito como a glicose (CARVALHO, 2013). Os demais corpos
cetônicos como o acetoacetato apresenta elevada instabilidade reativa, que se decompõe em
acetona e dióxido de carbono, a acetona possui alta volatilidade o que a torna pouco útil na
rotina diagnóstica (DUFFIELD, 2000).
Níveis séricos ou plasmáticos de βHB indicam a magnitude do balanço energético
negativo de animais em situações de alta demanda por glicose, e a eficiência de utilização dos
ácidos graxos mobilizados no processo de lipólise, sendo assim, para avaliar a intensidade do
BEN recomenda-se que os níveis de glicose e o escore de condição corporal sejam avaliados
junto aos níveis de βHB (FERNANDES et al., 2012).
Segundo Grande e Santos (2003) a determinação de βHB em amostras de sangue tem
sido utilizada com sucesso nos perfis metabólicos, tendo essa técnica um nível de detecção de
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0,1 mmol/L, considerando-se como valor máximo aceitável de 0,5 mmol/L exceto em vacas
no início da lactação, nas quais se aceita até 0,8 mmol/L.
2.2.1.5 Ácidos graxos não esterificados (NEFA)
Os ácidos graxos não esterificados (NEFA) ou ácidos graxos livres, em ruminantes,
respondem rapidamente às mudanças do consumo do alimento. Estes ácidos graxos são
utilizados para a produção de energia pela via da β-oxidação no fígado, no tecido muscular
esquelético e no coração (BRUSS, 2008).
Segundo Fernandes et al. (2012) os níveis séricos ou plasmáticos de NEFA têm
relação direta com o processo de lipólise do tecido adiposo. Os NEFA são produto da
hidrólise dos triglicerídeos depositados nos adipócitos, sendo liberados na circulação e
transportados pela albumina. Assim, o seu transporte é dependente da molécula de albumina
não saturada, dessa forma sua carência ou sua saturação por NEFA leva a reesterificação ou
acumulo de ácidos graxos nos adipócitos. No período absortivo, esses ácidos graxos que
chegam ao fígado podem ser incorporados às lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL)
e liberados na circulação, assim estes podem ser direcionados por duas rotas metabólicas:
quando o animal tem sua demanda energética atendida, os ácidos graxos são armazenados na
forma de triglicerídeos no tecido adiposo, por outra ocasião, se a demanda não for suprida, os
ácidos graxos são oxidados para produzir energia e transportados aos tecidos periféricos.
O aumento da concentração de NEFA inicia-se duas a três semanas antes do parto e
continua durante o pós-parto inicial, associado ao acúmulo hepático de triglicerídeos e
aumento da produção de corpos cetônicos (GARCIA, 2010). Para Melendez e Risco (2005) as
concentrações são máximas ao parto (0,9 a 1,2 mEq/ L), com diminuição lenta depois do
terceiro dia pós-parto.
O NEFA é bastante sensivel a graus moderados de déficit energético, tendo,
entretando menos utilidade em situações prolongadas de balanço energético negativo, sendo o
βHB mais recomendado (GONZÁLEZ, 2000).
2.2.2 Avaliação dos níveis séricos de cálcio total
O cálcio é o mineral mais abundante do organismo bovino, sendo 99% encontrado nos
ossos e dentes, e o restante distribuído nos fluídos extracelulares e tecidos moles, exceto na
gordura (HADDAD; ALVES, 2006).
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No plasma, existem duas formas, a livre ionizada (cerca de 45%) e a orgânica,
associada a moléculas como proteínas, principalmente albumina (cerca de 45%) ou ácidos
orgânicos (cerca de 10%). O cálcio total, forma como é medido no sangue, as duas formas
encontram-se em equilíbrio e a distribuição final depende de fatores como pH, concentração
de albumina e da relação ácido-base. Em caso de acidose aumenta a forma ionizada de cálcio
e na hipoalbuminemia ocorre diminuição do valor de cálcio sanguíneo (GONZÁLEZ, 2000).
A homeostase do cálcio em mamíferos é mantida por meio de um complexo processo
envolvendo a interação do paratormônio (PTH), vitamina D3 e a calcitonina e sistemas
orgânicos, como as glândulas paratireoides, células-C tireoidianas, rins, ossos e intestino.
Quando ocorrem alterações na concentração de cálcio, as células sensíveis a essa mudança
reconhecem por intermédio do receptor de cálcio, resultando na ativação da resposta
homeostática, com a finalidade de normalizar o nível de cálcio (HADDAD; ALVES, 2006).
O PTH é o principal hormônio implicado na homeostasia do cálcio, exerce função
biológica de forma direta nas células-alvo dos ossos e dos rins, e de forma indireta no
intestino. Este hormônio e caracterizado pela mobilização de cálcio dos ossos, com um efeito
rápido, onde ativa os osteócitos e osteoclastos existentes (GUYTON; HALL, 2000). Além de
ativarem os receptores nas células renais e estimularem a síntese de Vitamina D3, o qual
resulta em maior absorção intestinal e reabsorção renal (SANTOS, 2011).
Outro hormônio importante, a calcitonina, é secretada pelas células C da tireoide, no
entanto esse age de forma antagônica ao PTH, reduzindo a concentração de cálcio nos fluidos
extracelulares, ou seja, fazendo a deposição de cálcio nos ossos (GUYTON; HALL, 2000,
SCHAFHÄUSER Jr, 2006).
2.3 Alterações metabólicas e sua correlação com a mastite
2.3.1 Hipocalcemia
A hipocalcemia, também conhecida como febre do leite, febre vitular ou paresia
puerperal é um distúrbio metabólico que acomete principalmente vacas de leite de alta
produção (CONEGLIAN; FLAIBAN; LISBÔA, 2014). Essa alteração metabólica ocorre pela
mudança na demanda de cálcio pelos compartimentos corporais, que se faz necessária para
suprir os gastos gerados pela produção do colostro, esforço da parição e o inicio da lactação
(ESNAOLA, 2011). Ortolani (1995) cita que a concentração de cálcio no colostro (2,2g/L) é
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duas vezes maior que no leite comum (1,1g/L), principalmente nas primeiras 24 horas após o
parto.
Existem vários motivos que comprometem o bom funcionamento do sistema regulador
do cálcio, o que gera quadros de hipocalcemia, pode destacar o desequilíbrio cátion-aniônico
durante o período de transição, ou seja, as três semanas antes do parto até três semanas pósparto. Isso acontece quando a proporção de cátions é maior no sangue e leva a alcalinização
do pH, diminuindo a capacidade de ligação entre o PTH aos seus receptores no tecido ósseo e
renal (NETO et al., 2011).
A hipocalcemia pode ser clínica, os animais apresentam disfunção neuromuscular com
paralisia flácida, colapso circulatório, depressão e até a morte caso não seja realizado o
tratamento ou subclínica, que em geral, apresenta uma diminuição na produtividade e redução
do consumo de matéria seca, sendo esta de menor gravidade (ESNAOLA, 2011). Para
Schmitt, Rabassa e Corrêa (2010) valores abaixo de 5 mg/dL indicam forma clínica e entre 5
e 8 mg/dL a forma subclínica. Valores normais de cálcio em vacas leiteiras varia de 8,5 a 10
mg/dL.
No Brasil a frequência de hipocalcemia foi estudada por Ortolani (1995) em rebanho
de vacas da raça Holandesa e Girolando, no estado de São Paulo, encontrou incidência de
4,25%, com taxas de mortalidade de 0,54%.
A relação entre a hipocalcemia e a mastite é grande, pois, a baixa concentração de
cálcio afeta a contração da musculatura do esfíncter do teto depois da ordenha, possibilitando
a entrada de patógenos para o interior da glândula mamária (STORCK, 2003). De acordo com
Goff e Kimura (2002) vacas com hipocalcemia são 8,1 vezes mais propensas a desenvolver
mastite, pois vacas com hipocalcemia tendem á permanecer mais tempo deitadas, isso pode
aumentar a exposição do teto aos patógenos ambientais oportunistas.
Vacas leiteiras no periparto reduzem o armazenamento intracelular de cálcio, o que
diminui a capacidade das células de defesa em responder a estímulos de ativação e
consequentemente a resposta imune da glândula mamária (GOFF; KIMURA, 2002;
STORCK, 2003).
Geralmente nas primeiras 72 horas após o parto, a maioria das vacas sofre algum grau de
hipocalcemia devido à grande mobilização de cálcio do sangue para a produção do colostro e
leite. Deste modo, quando os níveis sanguíneos de cálcio estão baixos, ocorre à liberação de
cortisol, hormônio com ação imunossupressora, favorecendo os processos infecciosos como a
mastite (SILVEIRA et al., 2009). Vacas em inicio de parto aumentam a concentração de
cortisol de três a quatro vezes, e vacas com hipocalcemia subclínica, o aumento pode ser de
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cinco a sete vezes e nas com hipocalcemia clínica a elevação chega a 10 a 15 vezes antes do
parto (Goff; Kimura, 2002).
2.3.2 Cetose
A cetose é um transtorno comum nos rebanhos leiteiros, definida como desordem do
metabolismo de carboidratos, das gorduras e caracterizada pelo incremento de corpos
cetônicos (acetona, acetoacetato, beta-hidroxibutirato) no sangue, associada ao BEN que
ocorre nas primeiras semanas pós-parto, principalmente em vacas de alta produção e elevado
escore corporal (CAMPOS et al., 2005).
Segundo Souza et al. (2012) vacas no período de transição tem aumento na demanda
energética, que associado com a redução da ingestão de matéria seca leva ao quadro de BEN,
assim, os NEFA são mobilizados e direcionados para o fígado para ser utilizados como fonte
energética. Quando a mobilização de NEFA é excessiva, as vias de oxidação e
armazenamento de triglicerídeos são saturadas, fazendo com que os ácidos graxos sejam
oxidados parcialmente e formem cetonas (corpos cetônicos). Estes são liberados na corrente
sanguínea dando origem aos quadros de cetose.
De acordo com Barbosa et al. (2009) a enfermidade pode ser classificada como clínica
ou subclínica, segundo a origem, sinais clínicos, prevalência e curso da doença, sendo a maior
ocorrência na forma subclinica, pode chegar até 34%, enquanto clínicos atingem 7%.
A cetose clínica é caracterizada pela diminuição da produção de leite, perda de peso,
prostração, odor de acetona no hálito e na urina, letargia, fezes secas, perda de apetite pode
evoluir para o óbito (REBHUN, 2000). Van Cleef (2009) classificou a cetose clínica em três
tipos: primária, secundária e alimentar. Na cetose primária, a vaca não recebe a quantidade
adequada de alimentos. Na secundária, a ingestão de alimentos é diminuída em consequência
de outra enfermidade e na alimentar, a ingestão é rica em precursores cetogênicos.
A cetose subclínica é o estágio inicial da enfermidade, não apresenta alterações
clínicas, mas tem elevação dos corpos cetônicos sanguíneos. As alterações mais observadas
são: hipoglicemia e cetonemia por aumento do βHB (ROSSATO, 2000).
O diagnóstico é realizado pelas manifestações dos sinais clínicos, histórico do pósparto, indigestão e sintomas nervosos, podendo também por exames laboratoriais por meio da
detecção dos corpos cetônicos na urina, leite ou plasma (NANTES; SANTOS, 2008).
Segundo Sousa (2013) a relação da cetose seja na forma clínica ou subclínica e o seu
efeito no desenvolvimento de mastites não é clara e por vezes é controversa. No entanto
Suriyasathaporn et al. (2000) associaram a deficiente atuação dos leucócitos, em vacas com
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hipercetonemia, ao desenvolvimento da mastite clínica. Duffield (2000) também relacionou
ambas enfermidades, o risco de desenvolver a mastite chega a ser 40 vezes maior em vacas
com cetose.
Kremer et al. (1993) induziram mastite experimental por Escherichia coli em vacas
com balanço energético negativo por restrição alimentar e observaram que a mastite foi de
moderada a grave em vacas sem cetose, em contrapartida todas as vacas com cetose
apresentaram grau grave.
Estudos feitos por Melendez et al. (2009) demonstraram que vaca com concentrações
de NEFA acima de 0,93 mEq/L, no dia do parto, tem 2,52 vezes mais probabilidade de
desenvolver mastite clínica durante a lactação.
Vacas cetogenicas apresentam menor capacidade de fagocitose por células
polimorfonucleares e macrófagos, além de ter menor produção de citocinas (interferons,
interleucinas e fator de necrose tumoral) pelos linfocitos, reduzindo dessa forma a migração
de leucocitos para a glandula mamária (LESLIE et al., 2000).
Conclusão
A avaliação do perfil metabólico com intuito de diagnósticar e prevenir alterações
metabólicas e nutricionais se faz muito importante. Enfermidades metabólicas, como a cetose
e a hipocalcemia, geram altos prejuízos a pecuária leiteira nacional, além de apresentarem alta
correlação com a ocorrência de mastite. No entanto, maiores estudos se faz necessário para
melhor compreensão dessa interrelação.
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Capítulo 10- Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina
ALMEIDA, S.L.H1; DENADAI, L.B.2; SPADETTO, R.M.1; DONATELE, D.M.3; ZANINI,
M. S.3; BARIONI, G.3
1. Introdução
Considerada uma das principais doenças que afetam rebanhos bovinos leiteiros, a
mastite bovina, clínica e subclinica acarreta em grandes perdas para o setor agropecuário, gera
impactos sobre o bem-estar animal, a saúde pública, a indústria e a economia (PEREIRA et
al., 2010; SANTOS; PEDROSO; GUIRRO, 2010). Promove a redução de até 50% da
produção, diminuição da qualidade do leite (OLIVEIRA et al, 2011) e por consequência
interfere na produção e industrialização de subprodutos (SAEKI et al., 2011). Acarreta em
perdas também devido aos custos do tratamento, honorários do médico veterinário, e é
considerada uma das principais causas de descarte prematuro de animais (SANTOS;
FONSECA, 2007; BENEDETTE et al., 2008, TOZZETTI et al., 2008; LANGONI, 2013).
De acordo com Demeu et al. (2015) o impacto econômico anual da mastite sobre os
rebanhos pode chegar a R$81.910,89, R$160.481,82 e R$238.218,38 em rebanhos com 50,
100 e 150 vacas em lactação, respectivamente.
A mastite, ou mamite, consiste na inflamação da glândula mamária, e pode ter origem
tóxica, alérgica, metabólica, traumática, e na maioria dos casos, infecciosa, causada pela
invasão de bactérias, fungos e vírus ao tecido mamário (CASSOL et al., 2010; MARTINS et
al., 2010). É importante destacar também as consequências da mastite para a saúde pública,
visto que os agentes causadores da enfermidade podem ameaçar a saúde dos consumidores de
leite e seus derivados. Exemplificando isso, tem-se o aspecto das intoxicações clássicas por
toxinas presentes no leite de vacas infectadas por Staphylococcus aureus, considerado o
principal patógeno causador da mastite (VASCONCELOS; ITO, 2011).
Práticas de controle que visem a redução na ocorrência da mastite se baseiam na
higiene adequada no momento da ordenha, redução da exposição a patógenos ambientais,
além do tratamento de vacas secas com antibioticoterapia. No entanto, novas abordagens e
formas de prevenção para o controle dessa enfermidade são necessários.
___________
1
Mestrando do programa de Ciências Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
Médico Veterinário, Bolsista apoio técnico da Fundação de Amparo a Pesquisa do Espírito Santo (FAPES)
3 Docente do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
2
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Para que a enfermidade não se instale, o organismo do animal, por meio do seu
sistema imunológico deve agir de maneira adequada, sendo capaz de responder rapidamente à
invasão do patógeno a fim de eliminá-lo. Alguns fatores podem predispor ao aparecimento da
mastite, como os que interferem nos mecanismos de defesa do organismo. O objetivo do
trabalho foi realizar uma abordagem sobre os mecanismos de defesa da glândula mamária.
2. Mecanismos de defesa da glândula mamária
Originada do ectoderma embrionário, a glândula mamária consiste em uma glândula
sudorípara modificada que tem como função produzir o leite que contém todos os nutrientes
necessários para a sobrevivência e o perfeito crescimento inicial dos filhotes (JUNQUEIRA;
CARNEIRO, 2013). Elas são compostas por um sistema de ductos que conectam os alvéolos,
unidades fundamentais de secreção de leite, ao mamilo ou teta. As vacas e cabras apresentam
ainda uma área denominada cisterna da glândula, estrutura especializada na retenção do leite,
a qual permite que esses animais sintetizem e armazenem maiores quantidades de leite do que
seria possível em outras espécies, o que contribui também para maior incidência de mastite
nesses animais (KLEIN, 2013).
A glândula mamária é protegida dos agentes patógenos por vários mecanismos de
defesa que podem ser divididos em duas categorias, a imunidade inata e a específica ou
adquirida (SORDILLO, 2005; TIZARD, 2014; RAINARD; RIOLLET, 2006). Ambas devem
agir de maneira conjunta e proporcionar uma defesa eficaz contra a infecção (ALNAKIP et
al., 2014).
A imunidade inata, ou imunidade inespecífica consiste na resposta inicial frente à
infecção e é caracterizada por ser rápida. Na glândula mamária é realizada pelas barreiras
físicas do teto, macrófagos, células natural killer (NK), neutrófilos e certos fatores solúveis.
Em contrapartida, a imunidade específica é capaz de reconhecer fatores patogênicos pela ação
de anticorpos, linfócitos e macrófagos e a partir daí estabelecer uma ‘memória’ frente a esse
patógeno e por meio da atuação dos linfócitos, elaborar uma resposta mais eficaz
(SORDILLO; SHAFER-WEAVER; ROSA, 1997).
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2.1. Imunidade inata
Os mecanismos da imunidade inata são a primeira linha de defesa contra agentes
patogênicos e constituem uma resposta imediata, predominante nas fases iniciais da infecção
(SORDILLO; SHAFER-WEAVER; ROSA, 1997). Esse tipo de resposta imunológica é vital
para garantir a saúde animal, e visa controlar o potencial da infecção (LINDE et al., 2008;
BRUNO, 2010).
O organismo animal dispõe de diversos sistemas de defesa. Desta forma, o patógeno
que superar a primeira barreira defensiva, será confrontado por um empecilho ainda maior e
mais forte e assim sucessivamente. O primeiro impedimento é físico (TIZARD, 2014).
2.1.1 Barreiras físicas
Os tecidos que constituem o canal do teto são a primeira linha de defesa contra a
infecção, posto que essa é a via pela qual os agentes patogênicos conseguem adentrar a
glândula mamária. O canal do teto é envolvido por musculatura lisa em forma de esfíncter,
que impede a saída do leite e mantém a abertura fechada durante o período seco e entre as
ordenhas. Lesões neste local frequentemente estão associadas a alta incidência de mastite
(HILLESHEIN et al., 2013).
Além disso, é revestido por epitélio estratificado, que pela contínua descamação das
células irá formar a queratina, também vai agir dificultando a entrada de bactérias por atuar
como tampão, impedindo a migração dos patógenos para a cisterna (SORDILLO, 2005;
TIZARD, 2014; CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009; ALNAKIP et al., 2014). A
queratina vai apresentar ainda em sua constituição substâncias que vão exercer ação
antimicrobiana auxiliando no combate a infecção (PAULRUD, 2005).
Esse epitélio é coberto ainda por manto constituído de ácidos graxos (ácido mirístico,
linoléico, palmítico e láurico), além de proteínas que agem retardando o crescimento e
desenvolvimento bacteriano (ALNAKIP et al., 2014). Essas substâncias são capazes de se
fixar aos microorganismos e promover sua lise e morte pelo aumento à susceptibilidade às
alterações osmóticas (PAULRUD, 2005, ANALKIP et al., 2014).
O fluxo de saída do leite é citado como barreira física, visto que a ejeção do mesmo,
limpa o canal, e assim ajuda a prevenir a invasão de microrganismos. Além disso, o leite, por
si só, também ajuda na prevenção, por apresentar em sua constituição substâncias inibidoras
bacterianas como é o caso das lacteninas, além de imunoglobulinas, pseudoglobulinas, ácidos
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graxos livres, esterificados e não esterificados e células fagocíticas (TIZARD, 2014;
GUERRERO et al., 2009).
Uma vez que os patógenos conseguem ultrapassar as barreiras formadas pelo canal do
teto, e alcançam a cisterna mamária, diversos sinais intracelulares vão estimular que outros
mecanismos da imunidade inata sejam ativados (BANNERMAN et al., 2005; CARNEIRO,
DOMINGUES e VAZ, 2009).
Essa resposta vai ocorrer por meio de dois mecanismos de defesa, que foram
identificados no leite, são os componentes solúveis não específicos, que contribuem para a
defesa humoral e os componentes celulares, constituído pelos leucócitos (RAINARD e
RIOLLET, 2006; STELWAGEN et al., 2014). Por meio desses mecanismos ocorrerá a
fagocitose dos patógenos mediada pelo complemento, além da produção de citocinas e
mediadores que recrutarão novas células e induzirão a resposta da glândula (RAINARD;
RIOLLET, 2006).
2.1.2. Componentes solúveis
Os componentes solúveis além de contribuir na defesa humoral, possuem atividade
microbicida. Entre esses componentes destacam-se três grupos funcionais: os peptídeos que se
ligam a elementos essenciais, as enzimas hidrolíticas concentradas em estruturas microbianas
e os fatores que lisam a membrana celular bacteriana (LINDE et al., 2008).
2.1.2.1. Peptídeos que se ligam a elementos essenciais
Entre os peptídeos que se ligam a elementos essenciais, o de maior destaque é a
lactoferrina, glicoproteína que apresenta dois sítios, que se ligam ao íon ferro e ao
bicarbonato. Como o ferro é cofator essencial no metabolismo da maioria das bactérias, a
lactoferrina atua tornando o ferro indisponível na glândula mamária, desempenhando papel
bactericida (CARNEIRO, DOMINGUES e VAZ, 2009).
Essa glicoproteína apresenta ainda a função anti-inflamatória, regula o crescimento, e
diferenciação de células do sistema imune, serve como fator de modulação de aderência e
migração de neutrófilos, estimula a produção de citocinas, promove a morte intracelular, e
previne danos teciduais causados por radicais livres (WARD; PAZ; CONNEELY, 2005).
Porém nem todos os agentes causadores são susceptíveis a ação da lactoferrina (RAINARD,
1986). Enquanto o Staphylococcus aureus e Escherichia coli são vulneráveis, o
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Staphylococcus uberis é resistente (CHANETON et al., 2008).
2.1.2.2. Enzimas hidrolíticas concentradas em estruturas microbianas
A lisozima, a lactoperoxidase, a N-acetil-ß-D-glucosaminidase (NAGase) e a xantina
oxidase são os principais exemplos de enzimas hidrolíticas que afetam estruturas microbianas.
A lisozima tem ação bactericida, promove lise celular em bactérias gram-positivas e gramnegativas, por ser capaz de hidrolizar os peptídieoglicanos presentes nas paredes celulares
desses microrganismos (CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009).
A concentração de lisozima no leite varia de espécie para espécie e de acordo com o
período de lactação, idade e condições de saúde do animal (PRIYADARSHINI; KANSAL,
2002). Mesmo se encontrando aumentada em quadros de mastite (NICKERSON, 1985), as
concentrações desta enzima no leite bovino são baixas, aproximadamente 15µg/ L, enquanto
que no leite humano essa concentração é de cerca de 10mg/100 ml (KORHONEN, 2009). Por
isso, a lisozima não é considerada relevante para a defesa da glândula mamária bovina
(RAINARD, RIOLLET, 2005).
A lactoperoxidase juntamente com a xantina oxidase é considerada a enzima
encontrada em maior concentração no leite, representa 0,5% do total de proteína do soro de
leite (KORHONEN, 2007). A lactoperoxidase cataliza a oxidação de certas moléculas,
utilizando o peróxido de hidrogênio e assim libera produtos reativos com grande capacidade
antimicrobiana (CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009). As bactérias vão apresentar
diferentes graus de resistência frente a essa enzima, dependente do grupo ao qual pertence.
Bactérias gram-positivas e catalase negativos são inibidas, porém a lactoperoxidase não é
capaz de matá-las, no entanto as bactérias gram-negativas e catalase positivos serão inibidas e
inativadas pela ação dessa enzima (KUSSENDRAGER; VANHOOIJDONK, 2000).
A NAGase enzima lisossomal detectada em concentrações mais elevadas durante as
fases inicial e final da lactação e no período seco (CHAGUNDA et al., 2006). É encontrada
tanto em úberes sadios ou enfermos, no entanto as maiores concentrações são reladas em
quadros de mastite (CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009).
2.1.2.3. Fatores que lisam a membrana celular bacteriana
O sistema complemento é um fator que lisa a membrana celular do agente patogênico.
É constituído por um conjunto de proteínas que tem papel importante tanto na resposta imune
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inata, quanto na reposta imune adquirida (RAINARD; RIOLLET, 2006).
O sistema complemento é ativado assim que o agente patogênico penetra no
organismo, a partir daí alguns componentes desse sistema se aderem e se depositam sobre a
superfície do patógeno, acarreta em sua destruição ou eliminação pelas células fagocíticas
(RAINARD; RIOLLET, 2006; CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009).
As proteínas que constituem esse sistema são produzidas em sua maioria pelos
hepatócitos, podendo também ser produzidas pelos monócitos e macrófagos, e além da função
bactericida, elas atuam recrutando neutrófilos para a glândula mamária (OVIEDO-BOYSO et
al., 2007; LINDE et al., 2008).
2.1.2.4. Citocinas
Além desses fatores, outro componente solúvel não específico de extrema importância
para a resposta da imunidade inata são as citocinas. Elas desempenham importante papel,
atuam como sinais de comunicação intercelular em momentos de estresse, desencadeiam a
inflamação, estimulam a resposta imune e a reparação tecidual, e atuam também no processo
de hematopoiese (ALLUIWAIMI, 2004). Além disso, destaca-se o papel de regular parte das
atividades de células que participam da imunidade inata e específica (TIZZARD, 2014).
As citocinas pró inflamatórias de maior destaque para a defesa da glândula mamária
são: o fator de necrose tumoral (TNF-α) e as interleucinas (IL-1, IL-6, IL-8, IL-12), que são
consideradas marcadores das defesas da glândula mamária (TIZARD, 2014; CARNEIRO;
DOMINGUES; VAZ, 2009).
Essas citocinas são responsáveis por desencadearem o processo inflamatório. Elas
ainda promovem a migração leucocitária, por estimularem as células endoteliais a
expressarem adesinas aos neutrófilos, o que os atrai, induzindo-os a se infiltrar na glândula
mamária (TIZARD, 2014).
O TNF-α participa nos neutrófilos da atividade quimiotática, induzindo a expressão de
moléculas de adesão pelas células endoteliais. Essa citocina é produzida por macrófagos,
neutrófilos e também por células epiteliais, e é a principal citocina encontrada durante a fase
inicial da infecção, além de ser responsável pelo choque séptico em quadros agudos de
mastite causados por E. coli (PAAPE et al., 2002; CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009).
A IL-1 é essencial para o processo inflamatório da glândula mamária causado por
coliformes e endotoxinas (WALLER et al., 2003). Na infecção por E. coli há aumento nas
concentrações desse tipo de interleucina, o que não ocorre na infecção por S. aureus
(RIOLLET; RAINARD; POUTREL, 2000).
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Entre as interleucinas, a IL- 6 é umas das principais reguladoras da síntese de
proteínas de fase aguda. Produzida pelos macrófagos, é a principal citocina envolvida no
choque séptico causado pelo S. aureus e coliformes (RIOLLET; RAINARD; POUTREL,
2000; ALLUWAIMI, 2004).
A IL-8 é uma quimiocina, e é produzida pelas células endoteliais e epiteliais, linfócitos
T, macrófagos e monócitos. É encontrada em baixas concentrações em quadros de mastite
desencadeados pelo S. aureus, enquando que nos quadros de mastite causados por E. coli, ela
é produzida ativamente (CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009). Atua atraindo neutrófilos
para a glândula mamária (BARBER; YANG, 1998)
E a IL-12 atua como mediador da imunidade inata e específica, atua principalmente na
diferenciação de linfócitos T (OVIEDO-BOYSO et al., 2007).
2.1.3. Componentes celulares
Como componentes celulares da resposta imune inata têm-se os leucócitos. Essa
barreira celular vai desempenhar papel essencial no inicio da infecção e estabelecer a
gravidade e duração da infecção da glândula mamária (SORDILLO, 2005). Os leucócitos
atuam como vigilantes conferindo proteção celular contra a invasão de patógenos e induzindo
uma resposta inflamatória rápida com o intuito de resolver o problema imediatamente
(ANALKIP et al., 2014).
Além disso, exercem função bactericida por meio da fagocitose, além de liberar
substâncias como citocinas, quimiocinas, espécies de oxigênio reativas (ROS), proteínas e
peptídeos antimicrobianos (lactoferrinas, defensinas e cateciclinas (SORDILLO; SHAFERWEAVER; ROSA, 1865).
A barreira celular é composta principalmente pelos neutrófilos, macrófagos, células
Natural Killer (NK) e pelas células epiteliais, consistindo nas chamadas células somáticas do
leite, que indicam o grau de infecção presente na glândula mamária (SORDILLO; SHAFERWEAVER; ROSA, 1865; OVIEDO-BOYSO et al., 2006).
Os macrófagos são células encontradas tanto na glândula mamária quanto em suas
secreções, e desempenham diversas funções que incluem a fagocitose do patógeno e sua
eliminação e a apresentação de antígenos para os linfócitos T (RAINARD; RIOLLET, 2006;
CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009; ALNAKIP et al., 2014). Eles representam a maior
parte das células encontradas no leite e no tecido mamário saudável de vacas lactantes
(SORDILLO, 2005) e são produzidos a partir de monócitos do sangue que se diferenciam na
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glândula mamária em macrófagos (ANALKIP et al., 2014).
Além de sua função bactericida participa na produção e secreção de diversas
substâncias importantes para a regulação da resposta imune, tais como alguns fatores do
sistema complemento, NAGase, citocinas e lactoferrinas (CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ,
2009). Atuam ainda na remoção de resídudos teciduais, e na fagocitose de neutrófilos
apoptóticos, minimizando o dano tecidual causado à glândula mamária pelo conteúdo
granular tóxico dos neutrófilos (BASTOS et al., 2012).
Os neutrófilos chegam a constituir 90% do total de leucócitos da glândula no início da
infecção (SORDILLO, 2005). Depois de ativados os neutrófilos migram para o local da
infecção, fagocitam e inativam os patógenos (PAAPE et al., 2003). A fagocitose do patógeno,
além de eliminá-lo, contribui para regulação da permeabilidade celular e liberação de
mediadores essenciais para os mecanismos de resposta da imunidade inata e adquirida
(PAAPE et al., 2002).
Na espécie bovina, é importante ressaltar que os neutrófilos não são atraídos
diretamente pela presença do patógeno, mas apenas pelos seus sinalizadores bioquímicos,
diferente de outras espécies (RAINARD; RIOLLET, 2006). Esses neutrófilos após exercerem
sua função sofrem apoptose e são então fagocitados e eliminados pelos macrófagos (PAAPE
et al., 2003)
As células NK possuem importante atividade citotóxica, sendo um linfócito
inespecífico, que exerce sua função independente da do complexo de histocompatibilidade
(MHC), e são fundamentais para a eliminação de patógenos intracelulares (SORDILLO,
2005). Além disso, essas células liberam substâncias tóxicas que vão desencadear a apoptose
de diferentes células (PAAPE et al., 2000). Contudo, as funções imunoreguladoras das células
NK nos bovinas ainda não é totalmente esclarecida (HOEK et al., 2009).
As células epiteliais por sua vez, se encontram presentes no leite devido ao processo
de descamação epitelial. Elas atuam como sentinelas, sinalizando quando há invasão de
agentes patogênicos causadores de mastite, e são capazes ainda de expressar citocinas após
estimulação por bactérias patogênicas (RAINARD; RIOLLET, 2006).
2.2. Imunidade adquirida
Quando a resposta inata é ineficaz em eliminar o insulto, o sistema imune adquirido ou
específico é ativado. Ela tem como característica principal a formação de resposta específica,
gerada pela memória das células de defesa do organismo em relação ao agente infeccioso
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(ABBAS; LICHTMAN; PILLAL, 2005).
Os bovinos apresentam algumas particularidades quando comparados à outras
espécies. Pela saturação de células fagocíticas pelas micelas de caseína e glóbulos de gordura,
a resposta celular é prejudicada. Além disso, a produção de linfócitos também fica reduzida,
sendo assim a maior parte das células imunes presentes na glândula mamária são de origem
sistêmica constituídas basicamente por neutrófilos (RAINARD; RIOLLET, 2006).
A resposta imunológia específica é constituída por dois mecanismos: a resposta
humoral, desencadeada pelos anticorpos e a resposta celular mediada pelos linfócitos T
(TIZARD, 2014).
2.2.1. Resposta humoral
A função da resposta humoral é liberar anticorpos, a fim de neutralizar e eliminar o
antígeno que estimulou a sua produção (CARNEIRO; DOMINGUES; VAZ, 2009). Os
anticorpos são competentes em evitar a aderência dos patógeno ao tecido mamário, inibir o
metabolismo bacteriano, aglutinar bactérias e facilitar sua eliminação e ainda aumentar a
opsonização e favorece a fagocitose de bactérias. São capazes de eliminar bactérias pela
ativação do sistema complemento e neutralizar toxinas e vírus (KORHONEN, 2009;
ANALKIP et al., 2014).
Também chamados de imunoglobulinas, nos bovinos, quatro isotipos de anticorpos
estão envolvidos na defesa da glândula mamária, são: IgM, IgG1, IgG2 e IgA (CARNEIRO;
DOMINGUES; VAZ, 2009).
A IgS, responsável por conferir imunidade passiva aos
bezerros, corresponde a 70 a 80% do teor total de proteínas presente no colostro, porém no
leite esse valor cai drasticamente para apenas 1 a 2% do teor de proteína total (KORHONEN;
MARNILA; GILL, 2000; KORHONEN; PIHLANTO, 2007).
A IgG1 constitui 50% da IgG sérica, e se destaca por ser a imunoglobulina encontrada
em maior concentração no leite das vacas ao invés da IgA, como ocorre em outras espécies.
Ela tem como funções o transporte seletivo de secreções mamárias, a opsonização de
bactérias e a estimulação de fagocitose do patógeno. A IgG2 tem como funções principais o
transporte de secreções durante a diapedese de neutrófilos, a opsonização de bactérias, e a
estimulação da fagocitose (TIZZARD, 2008). A diminuição nas concentrações do isotipo Ig2
pode ser relacionado ao aumento de incidência de mastite (MALLARD et al., 1998).
Ambos são encontrados no leite e efetivamente bloqueiam e neutralizam toxinas no
sangue e tecidos, impedem a adesão e por consequência a colonização da glândula mamária
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pelas bactérias. E mesmo sendo a IgG1 capaz de estimular a ação dos macrófagos e
neutrófilos, é a IgG2 que possui uma atividade opsonizadora mais forte e maior efeito nos
bovinos (RAINARD; RIOLLET, 2006; ALNAKIP et al., 2014).
Já a IgA encontrada em concentrações relativamente baixas e não tendo atividade
opsonizante, contribui para a prevenção da infeção por meio da capacidade de se associar com
a gordura, aglutinar bactérias e neutralizar toxinas. A IgM tem como funções biológicas a
fixação do complemento, a aglutinação de bactérias e além disso, opsoniza bactérias somente
para neutrófilos, e é mais eficaz na proteção contrachoques tóxicos do que na diminuição de
sinais da inflamação (ABBAS, LICHTIMAN e PILLAL, 2005; TIZARD, 2014).
2.2.2. Resposta celular mediada pelos linfócitos
A resposta imune mediada por células é representada basicamente pelos linfócitos que
podem ser divididos em linfócitos T e linfócitos B, sendo que os linfócitos T se subdividem
ainda em linfócitos T helper (CD4+) e linfócitos T supressores (CD8+). Os macrófagos
também desempenham um papel essencial na resposta imune específica, visto que são eles os
responsáveis por processarem e realizarem a apresentação de antígenos aos linfócitos
(TIZARD, 2014).
Os linfócitos apresentam como principal característica, a capacidade de reconhecer
uma variedade de estruturas antigênicas, por meio de receptores encontrados em sua
membrana, que definem as características de especificidade, diversidade e memória do
sistema imunológico adquirido (ABBAS; LICHTMAN; PILLAL, 2005; TIZARD, 2014).
Quando saudáveis, as glândulas mamárias possuem predominância de linfócitos T
CD8+. Esse quadro se inverte quando se instala o quadro de mastite, ocorre a predominância
de linfócitos T CD4+, ativados e atraídos em resposta ao reconhecimento do antígeno pelo
complexo MHC (SORDILLO et al., 2005).
Os linfócitos B possuem receptores de membrana capazes de reconhecer patógenos
específicos e assim produzir anticorpos contra esse micro-organismo invasor, e, além disso,
assim como os macrófagos e as células dendríticas, funciona como célula apresentadora de
antígeno (SORDILLO et al., 2005).
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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão dos mecanismos imunológicos da glândula mamária são de extrema
importância para adoção de medidas que visem o controle da mastite, para preservar a saúde
do animal e evitar perdas econômicas ao setor. Além disso, conhecer esses mecanismos pode
ajudar na criação e adoção de novas alternativas para controle e tratamento da enfermidade,
além de medidas preventivas.
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Capítulo 11- Preditores importantes para avaliação do condicionamento físico e da
saúde em cavalos atletas
1
MARTINS, C.B. ; MARANGONHA, G.G.1; BROMERSCHENKEL, I.1; FREITAS, E.V.V.2;
SAMPAIO, R.C.L.3; COELHO, C.S.4; LACERDA NETO, J.C.5
Introdução
A utilização do cavalo para a prática de esportes vem aumentando no Brasil e no
mundo. Nos últimos anos muitas pesquisas sobre fisiologia do exercício têm sido realizadas
em equinos, estudando a resposta desta espécie a diferentes estímulos, como o treinamento.
Cada vez mais os cavalos são vistos como atletas e submetidos a protocolos de treinamento
que visam a melhoria de seu desempenho. Para isso, a adequada preparação física é
fundamental e diminui os riscos de exaustão e comprometimento de sua saúde. Tornando-se
imprescindível condicionar os animais, sem causar-lhes transtornos físicos.
O emprego de testes para a avaliação do desempenho atlético realizados a campo,
associado às respostas fisiológicas obtidas pela ação do exercício e do treinamento, contribui
para maximização dos resultados obtidos nas competições (COUROUCÉ, 1998; LINDNER et
al., 2006).
Os protocolos de treinamento utilizados para equinos atletas devem ter como metas a
melhoraria da performance em pista, e isso é adquirido com o aumento da capacidade de
realização do exercício, retardando ao máximo o acúmulo do lactato e o início da fadiga
(SILVA, 2008).
Parâmetros fisiológicos
A avaliação dos parâmetros fisiológicos tem por objetivo entender os efeitos do
esforço físico no metabolismo e de que forma o equino reage a esses estímulos. Tais
informações podem ser utilizadas para o aperfeiçoamento do treinamento, buscando a
melhoraria da performance atlética (CARDOSO, 2010).
_____________
1
Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, CCA/UFES, Alegre-ES.
Supervisor do Grupo Guabi - Nutrição Animal, Brasil.
3
Veterinária responsável do Laboratório Paraense de Analises Clinicas Veterinarias (Labac-Pa).
4
Docente da Universidade Vila Velha, ES, Brasil.
5
Docente da Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal, SP, Brasil.
2
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161
Alterações nos parâmetros fisiológicos são indícios de tentativas orgânicas recorridas
no intuito de reverter as condições de estresse térmico e esgotamento físico às quais estão
submetidos durante o treinamento. Quanto à manifestação de sinais que indicam desconforto,
especialmente térmico, destaca-se o aumento das frequências respiratória e cardíaca, sudorese,
presença de vasos periféricos evidentes na superfície corpórea e elevação da temperatura retal.
Em equinos em repouso, são descritos os valores de referência para a temperatura retal: 37,2 a
38,2°C; frequência cardíaca (FC): 32 a 44 batimentos por minuto (bpm) e frequência
respiratória (FR): 8 a 16 movimentos por minuto (mpm) (CUNNINGHAM, 2004).
A avaliação clínica dos animais é de grande importância para a realização do
monitoramento da saúde dos equinos durante treinamentos e participações em competições
(EVANS, 2000). A mensuração da FC em cavalos atletas durante o treinamento auxilia na
avaliação da intensidade do exercício, favorecendo no monitoramento do condicionamento
físico do animal. A FC eleva-se de forma linear de acordo com o aumento da velocidade
durante a realização do exercício físico, podendo atingir 200 bpm (CARDOSO, 2010).
Um cavalo treinado deve apresentar a capacidade de atingir determinada velocidade a
uma FC menor a que era alcançada antes de iniciar o protocolo de treinamento e deve se
recuperar de forma mais eficiente pós-exercício (BELLO, 2012).
A sudação e ofegância são os principais mecanismos utilizados pelos equinos na
tentativa de dissipar o calor produzido durante o exercício. A dissipação de calor lproduzido
pelo corpo durante o treino ocorre por meio da evaporação do suor (ETCHICHURY, 2008).
A fadiga do atleta pode ocorrer em decorrência da elevação de temperatura corporal. A
habilidade do cavalo em tentar postergar a hipertermia e consequentemente a fadiga depende
da sua capacidade de liberar o calor por meio da sudorese. Sendo que a produção de calor está
diretamente relacionada com a velocidade e duração do exercício (BRANTES, 2013).
Durante os primeiros minutos de treinamento, a produção de calor ultrapassa a
dissipação, sendo que a temperatura corporal do animal aumenta de acordo com à intensidade
e duração do exercício. Deve-se ressaltar que a utilização da manta e sela podem colaborar
para o aumento da temperatura corporal, uma vez que estes acessórios reduzem a área de
dissipação de calor pela superfície corporal (PAIVA; OLIVEIRA, 2011).
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Lactato
O lactato, produto do metabolismo anaeróbio, é um parâmetro que possui importância
prática relevante para avaliação do desempenho, principalmente em exercícios de explosão e
curta duração (LINDNER, 2000).
O ácido lático produzido no grupo muscular ativo, ou o lactato e H+ gerados na sua
dissociação, atingem a circulação gerando alterações no equilíbrio ácido-base que se
manifestam pela diminuição da atividade de H+ (pH) e consequente acidose metabólica. Visto
que a musculatura esquelética representa cerca de 40 a 60% da massa corpórea de um equino
adulto, o equilíbrio ácido-base geral está diretamente relacionado à atividade muscular
(SILVA et al., 2013).
Segundo Evans (2000), a concentração de lactato sanguíneo basal em equinos é
aproximadamente 0,5 mmol/L, sendo que o exercício pode elevá-la para 20 a 30 mmol/L.
Testes para a avaliação do lactato sanguíneo são considerados fáceis de realizar,
mesmo em condições a campo (COUROUCÉ, 1998). A mensuração das concentrações de
lactato em equinos atletas permite avaliar a condição músculo esquelética e a eficiência do
treinamento que está sendo praticado (THOMASSIAN, 2005).
O aumento das concentrações plasmáticas de lactato é considerado normal após a
prática de exercícios, uma vez que todas as fontes de energia são utilizadas. Entretanto, o grau
de elevação do lactato depende, sobretudo da intensidade e da duração do exercício. O
acúmulo ocorre a partir do momento em que a produção supera a sua remoção (SANTOS,
2006).
A partir do acúmulo de lactato, o metabolismo celular entra em acidose, interferindo
nas funções orgânicas do cálcio, gerando distúrbios na contração muscular, que resultará na
fadiga muscular, evento prejudicial a performance do atleta. Todavia, durante a recuperação
do equino, o lactato é consumido principalmente pelo músculo esquelético, ocorrendo a
oxidação do lactato pelas fibras musculares. As alterações decorrentes dependerão da
velocidade em que ocorre o equilíbrio entre a produção e a metabolização do lactato
(MARTINS, 2009).
O Limiar anaeróbico ou V4, conhecido como a velocidade em que ocorre o equilíbrio
entre a produção e o gasto do lactato, geralmente é atingido a cerca de 600 a 800 m/min,
quando observa-se a FC de 160 a 200 bpm e lactato na concentração de 4mmol/L. Equinos
capazes de desenvolver velocidades maiores à sua V4 possuem o metabolismo energético
com predomínio anaeróbico, gerando acúmulo de lactato com consequente fadiga muscular.
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Ao atingir o limiar anaeróbico, ocorre comprometimento da glicólise, causando queda no
desempenho do animal devido a fadiga muscular, dificultando a prática do exercício pelo
atleta (MARTINS, 2009).
Algumas moléculas de lactato são carreadas para o fígado por meio da corrente
sanguínea, sendo oxidadas e retidas na forma de glicogênio. No momento da prática do
exercício ocorre mobilização do estoque de glicogênio no fígado ajudando a manter as
concentrações de glicose sanguínea (SECANI; LÉGA, 2009).
O condicionamento tem por finalidade melhorar a metabolização do lactato produzido
pelo músculo durante a prática do exercício, portanto os protocolos de treinamentos utilizados
para equinos atletas devem ter como metas a melhoraria da performance do animal (SILVA,
2008).
Os testes de performance quando aplicados em equinos atletas no campo são mais
específicos e direcionados para a realidade, principalmente por serem semelhantes às
condições de treino e competição de cada centro de treinamento (GOMIDE et al., 2006).
Recuperação após exercício
O treinamento de cavalos envolve uso de protocolos de acordo com a habilidade e o
desenvolvimento de cada atleta e direcionado para a modalidade esportiva. Em busca do
ótimo condicionamento físico desses animais são realizados exercícios de diferentes
intensidades e durações. O período de recuperação e a forma como é realizado está
diretamente relacionado a prevenção de injúrias e objetiva prolongar a carreira esportiva do
equino (BRANTES, 2013).
Para melhorar a recuperação pós-exercício pode-se realizar exercícios de baixa
intensidade. Desta forma, o tempo de recuperação estará relacionado com a exigência do
exercício, quanto mais intenso for o treino, maior o período de recuperação (MARTINS,
2009).
Se em 30 minutos após exercício esse animal apresentar temperatura retal superior à
41ºC, é de extrema importância que seja feito o resfriamento do mesmo, tendo como opção
rápida o banho (BRANTES, 2013).
O resfriamento artificial através do banho vem sendo descrito como importante via
termolítica para cavalos em exercício, por facilitar a troca de calor por condução
(ETCHICHURY, 2008).
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O método de resfriamento com água em temperatura ambiente é considerado fácil e
prático para a recuperação do animal após o exercício. Entretanto, há citação de
vasoconstrição periférica interferindo negativamente na remoção do lactato muscular pela
menor quantidade de sangue circulante (ETCHICHURY, 2008).
Já os equinos que realizam recuperação praticando exercícios de baixa intensidade
como a caminhada, conseguem dissipar o lactato em quantidade 50% maior do que animais
que permanecem em repouso após o término do exercício. A caminhada resultará em uma
vasodilatação periférica, permitindo a remoção dos metabólitos produzidos durante o
exercício principalmente o lactato (PÖSÖ et al., 2008).
O método de desaquecimento pode influenciar de forma significativa na recuperação
dos animais após o exercício, principalmente se realizado ao passo, pois o desaquecimento
obterá resultados favoráveis que vão melhorar a dissipação de calor, redução das frequências
cardíacas e respiratórias (BOFFI, 2007).
A partir do momento em que a concentração de lactato é determinada em cada animal,
a avaliação da habilidade de consumo e metabolização do lactato pós-exercício possui maior
importância do que a mensuração da concentração máxima atingida durante o treino
(MARTINS, 2009).
Com o aumento da intensidade do exercício há primeiramente elevação discreta das
concentrações sanguíneas ou plasmáticas de lactato, entretanto ao se atingir determinada
intensidade de esforço ocorre repentina elevação, formando um ponto de inflexão na curva
lactato-velocidade. Este ponto é referido como limiar anaeróbio ou início do acúmulo de
lactato no sangue, e geralmente ocorre quando a concentração de lactato alcança entre 2 e
4mmol/L (NIMMO e SNOW, 1982).
O lactato produzido pela via glicolítica e não aproveitado pela fosforilação oxidativa
mitocondrial possui dois destinos no organismo, acumula-se no próprio músculo ou se
difunde para o sangue. Difundido no sangue, o lactato é carreado para o fígado, coração e
outras fibras musculares, onde é metabolizado aerobiamente ou ressintetizado a novas
unidades de carboidratos (SPURWAY, 1992). O lactato que não é dissipado das fibras
acumula-se continuamente, excedendo a capacidade de tamponamento físico-químico e de
transporte de íons H+ das células. Sendo assim, o pH intracelular diminui, afetando tanto o
processo de contração como mecanismos que regulam a remoção de ADP nos sítios das
pontes cruzadas, localizadas entre a actina e a miosina. A falência da homeostase ATP/ADP é
o maior desafio para a continuidade da excitação, e a consequente contração muscular. O
mesmo autor ressalta que, não se sabe ao certo se a queda de pH dentro da fibra muscular é o
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único mecanismo da fadiga muscular, entretanto, sabe-se que esta queda contribui
decisivamente para a parada do exercício.
O limiar anaeróbio vem sendo utilizado para a determinação da intensidade do
exercício em programas de treinamento de cavalos atletas (EVANS et al., 1993; TRILK et al.,
2002). O limiar anaeróbio individual se baseia na cinética do lactato plasmático durante
exercício com cargas progressivas (STEGMANN et al., 1981).
O Ponto de Lactato Mínimo (Lacmin) consiste do momento em que a concentração de
lactato plasmática é mínima antes de um exercício com cargas progressivas e após indução de
acidose lática. Inicialmente, estimula-se acidose láctica colocando o animal para percorrer
4km em velocidade intensa. Quando a concentração de lactato estiver alta, a intensidade do
exercício é diminuída. O lactato vai sendo metabolizado e sua concentração começa a
diminuir. O animal é submetido a teste de velocidades progressivas, a velocidade na qual a
concentração de lactato (que está caindo após a acidose provocada) apresentar uma inflexão e
voltar a subir é considerado o limiar anaeróbio (TEGTBUR et al., 1993).
A metabolização acentuada de glicose, durante a glicólise; assim como a mobilização
acentuada de fibras do tipo IIX acaba produzindo quantidade excessiva de lactato superando a
capacidade de remoção. Cavalos de enduro apresentam elevações de apenas duas a três vezes
no lactato após uma competição de intensidade submáxima (ESSÉN-GUSTAVSSON et al.,
1984); enquanto aumentos de até 40 vezes foram registrados após exercício de máxima
intensidade (LINDHOLM e SALTIN, 1974).
Há alguns anos pensava-se que o aumento da intensidade do exercício levaria ao ponto
no qual uma quantidade insuficiente de oxigênio estaria disponível para a fosforilação
oxidativa e moléculas de NADH2 seriam reoxidadas através da transformação do piruvato em
lactato, gerando acúmulo deste último no músculo e posteriormente no sangue. Este modelo
apontava o déficit de oxigênio como principal fator para o acúmulo de lactato muscular e
sanguíneo (MYERS e ASHLEY, 1997). Apesar de alguns pesquisadores sustentarem tal
modelo (WASSERMAN et al., 1999), trabalhos recentes apontam não somente a falta de
oxigênio, mas o aumento do fluxo da glicose e o recrutamento de fibras musculares que
produzem energia pela via anaeróbia como mecanismos responsáveis pelo acúmulo de lactato
(ANTONUTTO e DI PRANPERO, 1995; BILLAT, 1996).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da intensa rotina de treinos e competições, equinos de alto desempenho
esportivo necessitam de uma medicina desportiva aprimorada e aplicável as condições reais
de treinamento para auxiliar no acompanhamento da performance de cavalos atletas.
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Capítulo 12- Revisão e atualização da situação da fasciolose bovina no Espírito Santo
GUEDES, R. A.¹; MARQUES, L. T.¹; NOVAES, M. T.¹; MARTINS, I. V. F.²
Introdução
O parasito Fasciola hepatica pertence ao filo Plathelminthes, classe Trematoda, subclasse Digenea, família Fasciolidae, gênero Fasciola (BOSTELMANN et al., 2000), sendo
Fasciola hepatica a única espécie de ocorrência comprovada no Brasil (QUEIROZ et al.,
2002).
Apresenta morfologia em sua forma jovem caracterizada por 1 a 2 mm de
comprimento e formato de lanceta. Nos ductos biliares, quando atinge a forma adulta, passa a
ser caracterizada pelo achatamento dorso-ventral com cerca de 3,5 cm de comprimento, dando
assim seu aspecto foliáceo com coloração marrom acinzentada (FAIRWEATHER et al.,
1999).
Os ovos da Fasciola hepatica são grandes, operculados, possuem coloração amarelocastanho, medindo cerca de 130 micra de comprimento por 75 micra de largura. Os ovos
necessitam de humidade, oxigenação e temperatura favoráveis para continuar o
desenvolvimento do embrião. Estes são eliminados no ambiente externo através das fezes
(ACHA; SZYFRES, 2003) e podem ser encontrados viáveis no material fecal por
aproximadamente um ano, onde os miracídios, frágeis, necessitam de um hospedeiro
apropriado em cerca de 8 horas (ACHA; SZYFRES, 2003).
Os hospedeiros definitivos da Fasciola hepatica são espécies de animais silvestres e
domésticos e com maior ocorrência em ruminantes. A fasciolose tornou-se uma importante
enfermidade de impacto na saúde pública por ser considerada uma zoonose e atualmente
caracterizada pelas organizações internacionais como uma doença negligenciada. Este aspecto
pode ser decorrente desta enfermidade normalmente ser diagnosticada na espécie humana
apenas como um achado clínico (ZAIDEN et al., 2008). Mas-Coma (2005) afirma que afeta
principalmente habitantes de áreas rurais endêmicas para fasciolose animal, devido o risco de
ingerir metacercárias por meio do consumo de água e/ou alimentos contaminados.
Animais parasitados por F. hepatica apresentam retardo no desenvolvimento, redução
da produção de leite, no ganho de peso, e problemas de reprodução (LUZ et al., 1996).
_____________________________________________________
1Mestranda em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. email:
[email protected]
²Professora Associada do Departamento de Medicina Veterinária- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de
Ciências Agrárias.
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Esses baixos desempenhos geram consideráveis perdas econômicas, porém as condenações de
fígados pela presença de formas imaturas e adultas do parasito, em matadouros, são as mais
visíveis (ECHEVARRIA, 2004).
A forma aguda é causada pela ingestão, a curto prazo, de um grande número de
metacercárias que invadem o fígado ao mesmo tempo. Os sinais clínicos são inapetência, dor
abdominal, perda de peso, anemia, ascite e depressão. A morte súbita ocorre em apenas
alguns dias. Uma forma crónica da doença é causada por um número moderado de
metacercárias ingeridas durante um período prolongado de tempo, os sinais clínicos incluem
diminuição no ganho de peso, diminuição da ingestão de alimentos, redução da produção de
leite, anemia, emaciação, edema submandibular e ascite (SARGISON, 2008).
No Brasil, três espécies de moluscos já foram reconhecidas como hospedeiro
intermediário de Fasciola hepatica: Lymnaea columella, L. viatrix e L. cubensis. De acordo
com os estudos, os moluscos continuam a se reproduzir permitindo o desenvolvimento
intramoluscar de F. hepatica, mesmo sob a influência de uma grande faixa de variação na
temperatura. Variações nas condições do ambiente influenciam na presença do hospedeiro
intermediário, estando isso relacionado com a variação regional e anual da prevalência e
incidência enzoótica da fasciolose (PILE et al., 1998).
A fasciolose hepatica é uma enfermidade que vem aumentando sua dispersão com o
passar dos anos devido ao transporte de animais parasitados de locais onde a doença é
enzoótica para localidades indenes e também devido a dispersão dos moluscos hospedeiros
intermediários pelas bacias hidrográficas. Assim, o objetivo deste trabalho foi realizar uma
revisão de fasciolose bovina e atualizar a situação da fasciolose no Espírito Santo, a partir de
estudos de campo e dados de condenação de fígados.
Epidemiologia da fasciolose
A ocorrência dessa parasitose também está fundamentalmente associada à presença do
molusco do gênero Lymnaea, que atua como hospedeiro intermediário do agente, eliminando
a fase infectante de cercaria (MAS-COMA, 2005). Adicionalmente, a temperatura entre 10 a
25ºC, a baixa altitude topográfica e a vasta hidrografia com presença de áreas alagadas e
banhados são fatores que contribuem para a manutenção do molusco e disseminação da
fasciolose. Estes fatores são importantes para o desenvolvimento de grandes quantidades de
metacercárias, necessárias para que ocorram altas taxas de infecção (ALEIXO et al., 2015).
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Os últimos relatos sobre a ocorrência indicam a crescente e gradativa disseminação do
hospedeiro intermediário, encontrado naturalmente infectado em várias localidades das
regiões no Brasil, como registrado em Minas Gerais (LIMA et al., 2009) e no próprio estado
do Espírito Santo (MEDEIROS et al., 2014) confirmando o surgimento de novas áreas de
transmissão da fasciolose, como citado por Bernardo et al. (2011).
Bowman (2010) enfatizou que mesmo após a estação de seca, alguns locais se mantêm
parcialmente úmidos, suportando o pastejo dos animais. Nestes locais, as metacercárias
guardam sua viabilidade, com sua consequente ingestão e desenvolvimento da doença.
Uma vez que o ciclo de vida de F. hepatica é um ciclo heteroxeno e com formas
livres, está muito dependente das condições ecológicas para o seu desenvolvimento. Assim,
há três fatores principais que influenciam a produção de grandes quantidades de metacercárias
necessárias aos surtos de fasciolose:
• Disponibilidade de habitats adequados aos moluscos - o desenvolvimento do caracol
requer temperaturas de 15 – 25ºC (primavera/verão) e necessita no mínimo 6 – 7 semanas
para que haja emissão de cercárias (fim de verão/outono). Esta é a infeção mais comum e é
denominada “infeção de verão”. Assim, o verão/outono é o período de máximo risco de
infeção dos hospedeiros definitivos, pois este período coincide com o esgotamento dos pastos
e o aproveitamento das zonas de regadio, onde há maior concentração de metacercárias.
Porém, moluscos infetados em outubro do ano anterior, nos quais o desenvolvimento cessou
durante o inverno, vão libertar as cercárias na primavera/verão. Esta infeção é denominada
“infeção de inverno” (URQUHART et al., 1998).
• Temperatura – Como já mencionado, as temperaturas ideais estão entre 15 – 25 ºC
(sendo a temperatura ótima 22ºC). Para que os caracóis se reproduzam e para que haja
desenvolvimento de F. hepatica no seu interior, é necessária uma temperatura diurna/noturna
média de 10ºC ou mais, sendo o ideal 15ºC. Toda a atividade cessa a menos de 5ºC ou a mais
de 30ºC. Sendo que, este é também o intervalo ideal para desenvolvimento e eclosão dos ovos
de F. hepatica.
• Níveis adequados de umidade e oxigenação, saturação do solo e pH – os moluscos
intermediários encontram-se preferencialmente em áreas de água pouco profundas, onde
libertam as cercárias que enquistam em plantas aquáticas.
No que diz respeito aos períodos de maior risco de infeção, este seria na primavera,
pois, apesar da eliminação de ovos ser ininterrupta ao longo do ano e de estes resistirem no
ambiente a temperaturas baixas, os mesmos acumulam-se nos pastos durante o inverno
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aguardando as condições termohidrográficas favoráveis ao seu desenvolvimento, > 15ºC e UR
100%, isto é, na primavera.
Outro fator a considerar é o sistema de pastagem utilizado. Pastagens partilhadas com
ovinos podem constituir uma fonte contínua de contaminação. Também os animais silvestres
podem atuar como reservatório e serem responsáveis pela manutenção e disseminação da
infeção na ausência de bovinos ou ovinos. E por fim, o sistema de transumância praticado
nalgumas regiões também pode contribuir para disseminar a infeção (MAURE et al., 1998).
A relação existente entre os fatores do ambiente e a epidemiologia da fasciolose tem
sido muito estudada. Os estudos têm demonstrado que, mesmo sob a influência de uma
grande faixa de variação na temperatura (mínima de 4,4ºC, máxima de 28,4ºC), os moluscos
continuam a se reproduzir permitindo o desenvolvimento intramoluscar de F. hepatica, e que,
no período de altas temperaturas (declínio da população de L. columella), o efeito negativo
destas é minimizado pelo aumento das chuvas, sem embargo de o aumento do número de dias
de chuva e o nível de água no solo serem também fatores limitantes para a população de
moluscos (MAURE et al., 1998). Isto significa que variações nas condições do ambiente
influenciam na presença do hospedeiro intermediário, estando assim relacionada com a
variação regional e anual da prevalência e incidência enzoótica da fasciolose.
No entanto, vale ressaltar que os limites de distribuição da doença não são estritamente
fixos e podem flutuar de acordo com clima e outros componentes do meio ambiente
(MALONE et al., 1998). Esta variação pode ser observada ao longo do tempo e do espaço
geográfico. Sendo assim, o Estado do Espírito Santo pode ser considerado um potencial
criadouro, pois o clima quente e úmido e a topografia local muito acidentada contribuem de
forma significativa para o desenvolvimento do parasito e do seu hospedeiro (Bernardo et al.,
2011).
Ferramentas como o sensoriamento remoto e o sistema de informação geográfica
(SIG) têm sido importantes para arquivar, manipular e analisar dados sobre a epidemiologia
de doenças e combinar estas informações com dados climáticos e ambientais obtidos por
satélite (MALONE et al., 1998).
Assim, a análise e a distribuição desta parasitose no espaço e no tempo por meio do
SIG (Sistema de Informação Geográfica) são, de acordo com Hino et al. (2006), de
fundamental importância para a epidemiologia da doença, uma vez que os estudos da variação
espacial produzem um diagnóstico comparativo que pode ser utilizado na indicação dos riscos
aos quais os animais podem estar expostos.
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Segundo Martins et al. (2012), o modelo espacial de distribuição do risco de fasciolose
no sul do Espírito Santo indica que 50% das áreas já estudadas estão classificadas como risco
alto ou muito alto para fasciolose.
As áreas de alto risco, quando apresentadas por essas ferramentas, devem ser evitadas
para o pastejo de animais, uma vez que estes locais são considerados áreas propensas ao
desenvolvimento da fasciolose. Mesmo que o controle biológico dos moluscos ou a restrição
dos animais seja realizado, as características ambientais podem favorecer o desenvolvimento
desta enfermidade (FREITAS et al., 2012).
Atual situação da fasciolose bovina no Espírito Santo
No Brasil, os primeiros relatos da fasciolose bovina ocorreram no estado do Rio de
Janeiro e desde então, a fasciolose tem sido registrada nas regiões Centro-Oeste, Nordeste,
Sul e Sudeste. Em especial nas regiões Sul e Sudeste são relatados altos índices de infecção
em bovinos (PILE et al., 2001; OLIVEIRA et al., 2007; OLIVEIRA e FILHA, 2009),
incluindo o ES (CARNEIRO et al., 2010; ALVES et al., 2011; BERNARDO et al., 2011;
MARTINS et al., 2012, MARTINS et al., 2014).
Segundo Baptista (2008), dados relacionados aos impactos econômicos ocasionados
pela fasciolose no Espírito Santo ainda são insuficientes, mas sabe-se que desde o primeiro
relato oficial da doença registrado em 2005 pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal
do Espírito Santo (IDAF), os pecuaristas vêm acumulando inúmeras perdas devido a
condenação de fígados em matadouros, diminuição do peso de carcaças, retardo no
desenvolvimento e queda na produção leiteira. Segundo Bernardo et al. (2011), as perdas
foram estimadas em mais de 380mil dólares entre os anos de 2006 e 2009.
Carneiro et al. (2013) relataram pela primeira vez no estado do Espírito Santo a
presença de F. hepatica em caprinos, ovinos e búfalos. Um total de 58 (13,68%) amostras de
ovinos, 76 (21,78%) amostras de caprinos e 10 (23,81%) amostras de bubalinos foram
positivas para ovos de F. hepatica na técnica de sedimentação. Foi registrada ainda a presença
do molusco do gênero Lymnaea em algumas das propriedades.
Em bovinos, Alves et al. (2011) estudando 10 municípios também localizados na
região Sul do estado, constataram que de 717 amostras de fezes coletadas, em diferentes
propriedades, 153 foram consideradas positivas para F. hepatica resultando em uma
frequência observada de 21,33% para fasciolose naquelas localidades.
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Uma atualização da distribuição geográfica e dos fatores associados à fasciolose
bovina no Sul do Estado do Espírito Santo foi realizada e a fasciolose foi diagnosticada em 18
(78%) dos 23 municípios. Das 1157 amostras fecais examinadas, 19,01% foram positivas para
ovos de F. hepatica. O estudo afirma evidências estatísticas de associação entre propriedades
positivas e casos anteriores de fasciolose e de pastoreio concomitante de bovinos com outros
hospedeiros definitivos (MARTINS et al., 2014).
Com relação aos dados de abatedouros, em um estudo realizado por Bernardo et al.
(2011) com dados provenientes de um matadouro no município de Atílio Vivácqua, no sul do
estado, 27.625 fígados foram condenados devido a fasciolose, o que representou uma
prevalência de 24,89% entre os anos de 2006 a 2009. Vieira et al. (2011), utilizando dados
também de inspeção estadual, registrou 27,04% de prevalência entre os anos de 2008 e 2010.
Com as planilhas cedidas pelo IDAF, órgão responsável pelo sistema de inspeção
estadual (SIE-ES), e pela superintendência de agricultura do ES, responsável pelo sistema de
inspeção federal (SIF-ES), os dados de abate entre os anos de 2006 e 2015 foram compilados.
Foram condenados 23.059 fígados por fasciolose em bovinos do Espirito Santo de acordo
com dados do SIF-ES, em 1.950.821 animais abatidos, o que representa uma prevalência de
1,18%. Entretanto, de acordo com os dados do IDAF, a prevalência de fígados bovinos
condenados por fasciolose, nos anos de 2010 a 2014, variaram entre 8,27 e 10,33%,
considerando os dados médios de todos os estabelecimentos registrados no estado.
Os abatedouros sob inspeção federal no Espírito Santo se localizam na grande Vitoria
ou ao norte do estado, locais onde a prevalência de fasciolose é mais baixa, por isso o valor
baixo comparado aos valores da inspeção estadual. A figura 1 mostra a distribuição da
condenação por fasciolose por estabelecimento registrado no SIE, sendo possível perceber a
prevalência mais alta nos estabelecimentos de número 80, 109, 122, 129 e 159, todos
localizados na região sul do estado.
Aliado a isso, diversos estudos epidemiológicos têm sido conduzidos no estado do
Espirito Santo, demonstrando que a região sul do estado pode ser considerada endêmica,
assim como tradicionalmente outras áreas no sul do país já o são (ALVES et al., 2011;
MARTINS et al., 2014).
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Figura 1. Valores percentuais de condenação de fígados bovinos por fasciolose, entre os anos de 2010 e 2014,
por estabelecimentos registrados pelo IDAF sob inspeção estadual no estado do Espírito Santo.
Analisando os dados do SIE-ES para o sul do estado, a prevalência de fígados bovinos
condenados por fasciolose chegou a 17,57% em 2011 e 13,49% no ano de 2014. Outra
informação relevante é que ao longo do ano a distribuição das condenações nos
estabelecimentos do sul do estado é uniforme, com um aumento pouco significativo no
outono, como demonstra a figura 2. Bernardo et al. (2011) relataram que a prevalência é
maior durante a estação seca quando comparada com a chuvosa, tendo em vista que nesse
período os animais têm acesso a vegetação em áreas que foram inundadas durante a estação
chuvosa.
Figura 2. Valores percentuais de condenação de fígados bovinos por fasciolose ao longo do ano, entre os anos
de 2011 e 2014, nos estabelecimentos registrados pelo IDAF sob inspeção estadual no estado do Espírito Santo.
Numa avaliação mais detalhada dos estabelecimentos que abatem animais no sul do
estado, a prevalência da fasciolose chegou ao índice de 28,93% em 2011, estando os dados de
condenação, por estabelecimento, registrados na Tabela 1. Como pode ser observado na
tabela, o estabelecimento de número 80, o maior do sul do estado, vem registrando
prevalências acima de 15% ao longo dos últimos anos, o que corrobora com os dados de
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Bernardo et al. (2011), que relataram 15.24% em 2006, 23.93% em 2007, 28.57% em 2008 e
28.24% em 2009.
Tabela 1. Valores percentuais de condenação de fígados bovinos por fasciolose nos estabelecimentos do sul do
estado do Espírito Santo entre os anos de 2010 e 2014.
Estabelecimento
2010
SIE 80
28,07
SIE 109
13,28
SIE 122
7,07
SIE 129
8,34
SIE 159
*
Média
14,19
* não existia abate no local
2011
28,93
14,05
10,55
8,84
25,50
17,57
2012
26,69
13,07
7,15
11,71
22,84
16,29
2013
22,20
9,76
7,21
7,47
17,61
12,85
2014
19,87
6,13
10,57
10,44
20,44
13,49
Diagnóstico e controle da fasciolose
Para o diagnóstico da fasciolose os ovos devem ser detectados nas fezes ou pela
presença do parasito no fígado e ductos biliares no exame post-mortem (MOLLOY et al.,
2005). Existem várias técnicas coproparasitológicas para a detecção de ovos de Fasciola
hepatica, porém, possuem baixa sensibilidade dificultando o diagnóstico da doença. A
presença de poucos adultos no fígado do indivíduo dificulta a detecção de ovos nas fezes
(BERNARDO et al., 2011). No entanto, exames coproparasitológicos podem ser aplicados
somente após o período de pré-patência, além de que, animais infectados podem não ser
detectados pelo teste, estabelecendo em fonte de infecção responsável pela manutenção da
doença nos rebanhos (SÁNCHEZ-ANDRADE et al., 2000). Flanagan et al. (2011) mostram
que os testes para detecção de coproantígenos diagnosticam a doença mais precocemente do
que os exames coproparasitológicos.
Segundo Reichel (2005) apenas após 70 dias da infecção é que os ovos do parasito
começam a ser eliminados nas fezes. Desta forma, ainda que a doença clínica possa ocorrer
três semanas pós-infecção, a confirmação do diagnóstico de fasciolose por meio do exame de
fezes somente poderá ocorrer aproximadamente dez semanas após ingestão de metacercárias
(LECLIPTEUX et al., 1998).
As técnicas que determinam a presença do parasito são importantes para determinar os
animais positivos e selecionar um padrão de infecção. São utilizadas para o diagnóstico da
fasciolose técnicas como a de quatro tamises metálicos, Flukefinder (FARIA et al., 2008) e a
técnica de sedimentação proposta por Foreyt (2005) e validada por Martins et al. (2008).
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A monitorização da fasciolose por imunodiagnóstico pode ser feita por meio de testes
ELISA, hemaglutinação e imunoflorescência indireta. Em estudo realizado por Bernardo et al.
(2012), os autores discutem que embora o kit ELISA comercial apresente sensibilidade maior
do que o exame coproparasitológico, os testes são semelhantes para os demais indicadores de
validade, apresentando reprodutibilidade boa e regular, respectivamente. Desta forma, não se
exclui o uso do exame de fezes, pois se deve levar em consideração a eficiência do exame
traduzida pelo baixo custo e fácil execução.
Ainda que testes ELISA detectarem infecções mais precocemente do que o exame de
fezes, anticorpos podem continuar circulantes mesmo após o sucesso do tratamento, não
indicando desta forma, necessariamente uma infecção ativa (FAIRWEATHER, 2011). Por
outro lado, no Brasil, ainda não há kits ELISA comerciais disponíveis no mercado nacional, o
que limita seu uso devido à necessidade de importação (PEREIRA, 2008).
O controle da fasciolose tem se tornado difícil devido à necessidade de se implantar
um programa de controle integrado, que atue desde o uso do controle químico no hospedeiro
definitivo, passando por medidas de manejo do rebanho, medidas de controle do molusco
transmissor e até mesmo adaptações de instalações em áreas de alto risco.
Quanto ao tratamento químico no hospedeiro definitivo, o triclabendazole é o
medicamento de escolha para animais infectados, principalmente porque agem nos três
estágios de desenvolvimento da Fasciola hepatica, o que não ocorre com a maioria dos
medicamentos encontrados no mercado (RADOSTISTS et al., 2002).
Para o controle efetivo da doença, deve-se reduzir o número de hospedeiros
intermediários, pelo emprego de métodos químicos, físicos e biológicos, como também
reduzir o número de animais infectados, o que pode ser realizado pela transferência do
rebanho a uma área de pastejo livre do parasito (FOREYT, 2005).
Perspectivas futuras no controle da fasciolose
O triclabendazole é o medicamento de escolha para o tratamento da fasciolose, mas
atualmente, casos de resistência a este princípio ativo já foram relatados na Austrália
(BOWMAN, 2010), Irlanda, Reino Unido, Holanda e Espanha (FAIRWEATHER, 2005) e
recentemente no Brasil, após um surto de F. hepatica em criação de ovinos e caprinos no
Paraná (OLIVEIRA et al., 2007).
Existe uma necessidade de se desenvolver anti-helmínticos a base de plantas, pois
seria uma alternativa para evitar a toxicidade que estes medicamentos podem trazer aos
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animais, além de ser uma estratégia contra o desenvolvimento da resistência (SINGH et al.,
2009).
Diante disso, testes in vitro estão sendo realizados com o objetivo de avaliar a
atividade anti-helmíntica de extratos de plantas e de óleo essencial sobre a F. hepatica.
Mercado et al. (2015) analisaram a atividade de quinze extratos de plantas usados na medicina
tradicional mexicana, dessas apenas cinco tiveram resultados satisfatórios contra a F. hepatica
que foram Lantana camara, Bocconia frutescens, Piper auritum, Artemisia mexicana e
Cajanus cajan, mas é necessário que sejam realizados estudos sobre a toxicidade desses
extratos nos ruminantes.
Jeyathilakan et al. (2010) avaliaram a atividade anti-helmíntica do óleo essencial de
Cymbopogan nardus (citronela) e Azadirachta indica (neem) e concluíram que o óleo
essencial de citronela 1% mostrou atividade sobre a F. gigantica, uma outra espécie de
Fasciola encontrada na África e Ásia, enquanto que o neem não mostrou efeito significante.
Também foi observado por Singh et al. (2009) que o óleo essencial do Allium sativum (alho) e
a Piper longum (pimenta indiana) tem a possibilidade de auxiliar no desenvolvimento de um
novo anti-helmíntico, visto que reduziram a atividade muscular da F. gigantica.
Montenegro et al. (2009) avaliaram em condições in vitro, a atividade de vinte extratos
de plantas sobre as metacercárias e observaram que o extrato de Tilia mexicana apresentou
uma eficácia nas concentrações de 500 e 50mg/mL, respectivamente de 100 e 100%;
Eriobotrya japonica 100 e 95%; Coffea arabica 100 e 100%; Crataegus mexicana 95 e 90%;
e Ternstroemia pringlei 100 e 100%, concluindo que devem ser realizadas avaliações novas e
mais detalhadas para entender a eficácia desses extratos.
Avaliando componentes ativos de plantas como citral, ácido ferúlico, umbeliferona,
azadiractina e alicina contra as rédias e cercárias da F. hepatica em condições in vitro, Sunita
et al. (2013) observaram que a combinação de azadiractina com alicina foi a que mostrou
atividade.
Além dos estudos realizados com o agente etiológico, muitos estudos são executados
visando o controle dos moluscos, devido a restrição do uso de moluscicidas, por motivos de
alto-custo destes moluscicidas sintéticos e a capacidade destes em causar toxicidade na
população não alvo, tem-se dado preferência a aqueles oriundos das plantas por serem
ecologicamente corretos (CHAUHAN; SINGH, 2011). Hassan et al. (2012) observaram que a
atividade dos compostos presentes no extrato etanólico das plantas Euphorbia aphylla e
Ziziphus spina-christi mostraram eficazes no controle dos hospedeiros intermediários de
Fasciola.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Espírito Santo é hoje considerado uma área endêmica para fasciolose,
principalmente por apresentar características climáticas e ambientais favoráveis ao
desenvolvimento do molusco e da doença. Os últimos estudos vêm apresentando um
considerável aumento nos rebanhos infectados, podendo ser observados pelo número de
fígados condenados nos abatedouros da região.
As técnicas de diagnóstico atuais apresentam baixa sensibilidade nos seus resultados,
mas novas técnicas já estão sendo apresentadas ao mercado e algumas com procedimentos
modernos e com resultados mais satisfatórios, visto que o diagnóstico hoje tem dificultado o
processo de controle da doença.
O estudo de novos agentes e produtos que podem ser utilizados com segurança e
eficácia para controlar essa enfermidade estão em evidência, e em especial os extratos
vegetais e óleos essenciais, produzidos com plantas da Mata Atlântica, tem apresentado boas
respostas nos estudos preliminares. Os produtos naturais podem trazer um bom custo
benefício para o uso dos produtores rurais, melhorando assim o controle da fasciolose nas
áreas de alto risco.
AGRADECIMENTOS
Ao IDAF ES por ceder planilhas dos dados nosográficos de abate dos anos de 2010 a
2014.
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Capítulo 13- Sarcoma de aplicação em felinos – revisão de literatura
CAMPOS, N. C.1; CAMPOS, D. R.2; APTEKMANM, K.P.3; OLIVEIRA, L. C.3
Introdução
Na década de 80, na Pensilvânia E.U.A, as vacinas de raiva e Leucemia viral felina
(FeLV) foram modificadas e passaram a ser produzidas com a adição de adjuvantes, como
hidróxido ou fosfato de alumínio. Foi decretado, posteriormente, a obrigatoriedade a
vacinação em todos os felinos contra a raiva. Após, houve um aumento de diagnósticos de
fibrossarcomas nos tecidos moles em felinos. Em 1991, 61% dos diagnósticos de
fibrossarcoma estavam localizados em regiões anatômicas de injeções tal como: entre as
escápulas; região cervical e pélvica. Não observando número expressivo de fibrossarcomas
em locais não convencionais de vacinação, tais como na parte da cabeça ou patas de felinos
(HENDRICK; GOLDSCHMIDT, 1991; HENDRICK et al., 1992; MACY; HENDRICK,
1996).
A patogenia é discutível, mas aparenta ser devido a múltiplos fatores. Entre esses, podese apontar a resposta inflamatória, relacionada a alguns agentes como; as vacinas com e sem
adjuvantes (DE MAN; DUCATELLE, 2007; WOODS et al., 2012), injeções de fármacos
como glicocorticóides, antibióticos (KASS et al., 2003) e o anti-inflamatório meloxicam
(MUNDAY et al., 2011). Implantação de microchips (CARMINATO et al., 2011) e fios de
sutura inabsorvíveis (BURACCO et al., 2002) também podem ser incriminados. Além disso,
acredita-se na existência de uma predisposição genética (HENDRICK et al., 1992;
McENTEE; PAGE, 2001; NELSON; COUTO, 2006; TIZARD, 2014).
Vale salientar que a vacinação é a única forma de prevenção de doenças letais em
felinos, além do controle de zoonoses como a raiva. Desta maneira, sua prática é de extrema
importância para a saúde de felinos e humanos (MORRISON et al., 2001).
Tendo em vista que indícios mostram que não só a vacina, mas outros tipos de
agentes, podem induzir o sarcoma. O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de
literatura a respeito do tema, abordando as principais causas do sarcoma em felinos.
__________
¹ Graduada em Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre-ES, Brasil. [email protected]
² Doutorando do programa de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica-RJ, Brasil
³ Professora Doutora do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre-ES, Brasil
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1. Etiologia
A etiologia exata do sarcoma é desconhecida, mas sabe-se que o tumor tem origem
mesenquimal, com maior incidência após inoculações. Não existe comprovação de que o
vírus do sarcoma felino, o vírus da imunodeficiência felino ou o da leucemia felina possam
causar esse tipo tumoral nos locais de aplicação (CHALITA; RECHE, 2003; DALECK et al.,
2009).
Os tipos mais comumente encontrados são o fibrossarcoma e o histiocitoma fibroso.
Pode derivar também de vários outros tipos celulares como: mixossarcoma, lipossarcoma,
rabdomiossarcoma, osteossarcoma, leiomiossarcoma e condrossarcoma. O sarcoma de
aplicação se assemelha a muitas outras neoplasias, porém o disgnóstico definitivo é
determinado pelo exame histopatológico (CHALITA; RECHE, 2003; DALECK et al., 2009).
Tem caráter maligno, infiltrativo e indolor, sendo de grande importância a descoberta
precoce para melhor prognóstico. As chances de metástases são de aproximadamente 11% a
27%, com predileção em área pulmonar, mas também pode desenvolver-se nos órgãos
hepático, esplênico, renal, pancreático e entérico (HENDRICK; BROOKS, 1994; KASS et
al., 2003; DALECK et al., 2009; NORSWORTHY et al., 2010; MARTANO et al., 2011).
2. Vacinas
Os adjuvantes são substâncias incorporadas em vacinas de raiva e FeLV que estimulam
a resposta imunológica, em análise de sarcomas vacinais, os exames histológicos revelaram
grânulos castanho-acizentados, material de aspecto brilhante intra-macrofágico, identificado
como alumínio e oxigênio, observando-se também pontos de inflamação, o que reforça a
suspeita de indução pela reação do adjuvante de alumínio. (HENDRICK et al.,1992;
DALECK et al., 2009).
Para Hendrick (2003), a teoria da patogênia do sarcoma vem da inflamação constante
e ou resposta sobre a cicatrização da ferida, adicionando aos componetes vacinais, leva ao
crescimento de fibloblastos e mielofibroblastos que por motivos não conhecidos, sofrem
alteração neoplásica e passam a proliferar. Essa consideração condiz com relatos de formação
de sarcoma ocular pela inflamação e uveíte (HENDRICK et al., 1992; MACY, 1999a).
Desta forma, vários estudos foram realizados com o objetivo de investigar outros
possíveis fatores como o calibre da agulha, a reutilização da seringa, a massagem pós-vacinal,
a manobra de agitar os frascos de doses múltiplas, misturar mais de uma vacina em uma
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seringa, injeções intramusculares, vacinas com vírus principalmente da FeLV e raiva (sem
adjuvantes), sexo, raça ou ser positivo para leucemia felina ou vírus da imunodeficiência
felina. Obteve-se a ausência de relação destas variáveis com o sarcoma vacinal. Entretanto,
observou-se que o desenvolvimento do sarcoma foi significativo quando administraram as
vacinas em temperaturas baixas. Segundo Norsworthy et al. (2010), aconselha a inoculação
quando as vacinas atingirem a temperatura ambiente (BURTON; MASON, 1997;
MORRISON et al., 2001; KASS et al., 2003).
Vacinas sem adjuvantes também são apontadas como indutoras de sarcoma, como no
relato de De Man e Ducatelle (2007), onde um felino de oito anos de idade, macho e FeLV
negativo, era anualmente submetido a vacinações para tríplice felina (panleucopenia felina,
herpesvírus e calicivírus) na região torácica esquerda, a seguir houve aparecimento de um
tumor. Após extirpação o felino foi submetido à mesma vacina na região direita, surgindo
uma nova neoplasia. Os exames histopatológicos das duas neoplasias, tiveram como
diagnóstico o sarcoma vacinal. Sugerindo uma pré-disposição genética da vacinação com a
induzução da oncogene.
Woods et al. (2012), evidenciaram a administração de vacina (herpesvírus, calicivírus,
panleucopenia e leucemia felina), de origem europeia, sem adjuvantes, administrada entre as
escápulas, com o desenvolvendo da neoplasia após 30 dias. O diagnóstico, por meio de
histopatologia, apontou características do sarcoma vacinal.
3. Genes
De acordo com Nieto et al. (2003) existe relação dos sarcomas nos locais de injeção
com anormalidade de expressão das proteínas que controlam o crescimento e a multiplicação
celular como por exemplo a p53, além do fator de crescimento derivador de plaquetas
(PDGF) e sinal transdutor e ativador da transcrição 3 (STAT3) (HENDRICK e BROOKS,
1994; PETTERINO et al., 2006).
A p53 é uma proteína que promove a moderação dos erros no núcleo celular durante
sua multiplicação e previne a proliferação de células cancerígenas. Pode ocorrer defeito no
gene, que não codifica a proteína ou a codifica de forma mutante. Evidências mostram que a
p53 mutada pode ter 60% de associação com os sarcomas de aplicação e essa proteína é a
mais relacionada com o sarcoma (HERSHEY et al., 2005). Fibrossarcomas que expressam o
STAT3 possuem grande indício de malignidade tumoral (PETTERINO et al., 2006).
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Estudos mostram que os linfócitos peritumorais do sarcoma vacinal tem a capacidade
de liberar o PDGF que age como um fator de multiplicação de fibroblastos, podendo
descontrolar esse crescimento e ajudar no desenvolvimento do sarcoma de aplicação em
felinos (HENDRICK; BROOKS, 1994; TIZARD et al., 2009).
4. Fármacos
Existe a possibilidade de medicamentos também induzirem essa neoplasia. Há
descrições sugestivas da aplicação de meloxicam, acetato de metilpredinisolona e penicilina.
Relatos mostram que o tempo médio para o desenvolvimento tumoral é de aproximadamente
24 meses após aplicações (KASS et al., 2003).
A administração do meloxicam na dose de 0,3 mg/kg por via subcutânea entre as
escápulas, feito em um felino macho com 12,5 anos, levou um aumento de volume na região
decorrido de 6 meses. Ao exame histopatológico diagnosticou-se sarcoma de aplicação,
relacionando o crescimento tumoral com um processo inflamatório local. Desta maneira, foi
sugerido no relato, que o referido medicamento poderia ter relação com o aparecimento da
neoplasia (MUNDAY et al., 2011).
De forma singular, o envolvimento da aplicação de insulina em gatos por via
subcutânea, administrada duas vezes ao dia como protocolo usual, não parece ter relação com
o desenvolvimento do sarcoma (NORSWORTHY et al., 2010).
5. Fios de sutura
Foi relatado um nódulo após o procedimento de laparotomia na linha média realizado
em uma fêmea felina de oito anos. Efetuou-se o exame histopatológico que apontou
semelhança histológica ao sarcoma vacinal, pressupondo o desenvolvimento decorrido de sete
anos pelo processo que o fio inabsorvível promoveu (BURACCO et al., 2002).
6. Microchip
Um tumor na região cervical após 2 meses da implantação de microchip foi descrito
em um gato macho, castrado, com nove anos. Em análises histológicas, observaram-se
características de sarcoma aplicação, apesar de seu histórico indicar vacinação apenas nos
membros pélvicos, o que mostra que pode ter sido desenvolvido por uma reação ao
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microchip, mesmo sendo formulado para não ocorrer reação alguma (CARMINATO et al.,
2011).
7. Epidemiologia
A epidemiologia considera por levantamento de dados, que entre 1 a 10 cada 10 mil
felinos, podem ser acometidos pelo tumor no local da inoculação da vacina da FeLV e do
vírus da raiva, sem predileção por marcas e produtos menos irritantes, deve-se considerar
qualquer aplicação possível indutora do sarcoma. Havendo possibilidade de o surgimento
variar de três meses a três anos. O sarcoma pode ocorrer qualquer raça ou sexo com a mesma
incidência (MORRISON et al., 2001; KASS et al., 2003; VACCINE-ASSOCIATED FELINE
SARCOMA TASK FORCE, 2005; TIZARD, 2014).
Acredita-se que a indução do sarcoma também se deve pelo número de inoculações no
mesmo local. De acordo com um estudo retrospectivo utilizando 345 gatos para vacinação,
houve 50% a mais de chances de desenvolver sarcoma de aplicação do que animais que não
receberam qualquer vacina no local. Quando sujeitado a duas vacinações o risco é de 127% e
para três 175% (KASS et al., 2003; TIZARD, 2014).
Os locais de maior desenvolvimento dos fibrossarcomas induzidos por vacinação é na
região interescapular com 28,84% e região paralombar tendo 25,96%. Também possui
aparecimento em outros lugares como área do pescoço (16,35%), região femoral (10,58%)
(DODDY et al., 1996).
Segundo estudo de Doddy et al. (1996), a idade média de gatos com fibrossarcoma no
local da injeção é de aproximadamente 8 anos, diferente dos sarcomas não vacinais com
aparição em animais com média de 11 anos de idade.
8. Diagnóstico
Com a preocupação e o desenvolvimento do sarcoma de aplicação foi criada a
associação denominada Vaccine-Associated Feline Sarcoma Task Force (VAFSTF) com
finalidade de promover o diagnóstico, investigação sobre o conteúdo, prognóstico, formas de
tratamento e sua prevenção. Para diagnóstico de sarcoma de aplicação, este deve apresentar
várias características relatadas pela VAFSTF, sendo que toda massa manifestada próximo ao
local da injeção, permanecendo por mais de 90 dias e tendo diâmetro acima de 2 cm ou estar
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crescendo após um mês de vacinação, deve-se considerar maligno, até que possa descartar
essa possibilidade com biósia ou exames histopatológicos (MORRISON et al., 2001).
Os aspectos que caracterizam o grau de malignidade da neoplasia estão relacionados
com a diferenciação das células, a quantidade de necrose e a presença de figuras mitóticas.
Quanto mais achados relatados presente no tumor, mais maligno é classificado, portanto de
prognóstico menos favorável, o contrário é verdadeiro. O exame de citologia com agulha fina
não é aconselhável, pois pode estimular o crescimento tumoral. O recomendável é a
realização da biópsia incisional com a retirada de vários fragmentos em locais alternados e
posteriomente realização da extirpação cirurgica (EHRHART, 2004; DALECK et al., 2009;
NORSWORTHY et al., 2010).
É importante uma boa anamnese, exames complementares, teste de Leucemia felina
(FeLV)/ Imunodeficiência felina (FIV), exame físico, com destaque para tempo de
preenchimento capilar, temperatura corporal, frequências respiratórias e cardíacas além de
palpação abdominal para determinar qualquer alteração decorrente do sarcoma. Geralmente,
esses exames estão normais, porém outros distúrbios neoplásicos podem alterar esses dados
(CHALITA; RECHE, 2003; DALECK et al., 2009; LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU,
2014; NORSWORTHY et al., 2010).
9. Achados histológicos
Em 1991, foram analisados vários tumores de fibrossarcomas vacinais nos quais 51%
tinham em sua periferia neutrófilos, macrófagos e linfócitos. (HENDRICK et al.,1992;
DALECK et al., 2009). Muitas vezes, nos achados microscópicos do sarcoma de aplicação
observam-se células fusiformes, células grandes, com muitos núcleos, de número e potencial
de mitose variável, recrutamento linfocitíco, neutrofílico, macrofágico. Áreas com centro
necrótico (micro ou macroscopicamente), aspecto cavitário, contendo líquido que podem ser
tumores ulcerados ou não (HENDRICK; BROOKS, 1994; COUTO et al., 2002; DALECK et
al., 2009).
10. Exames por imagem
A forma de um sarcoma induzido por injeção pode variar e por ser neoplasia infiltrativa
sua exata delimitação é difícil apenas com a palpação. Desta maneira, uma estratégia
importante é a realização da biópsia juntamente com os exames de imagem como radiografia,
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ressonância magnética e tomografia computadorizada, possibilitando contraste e delimitação
anatômica, auxiliando a melhor demarcação cirúrgica e estabelecendo o plano a ser
excisionado (McENTEE; PAGE, 2001).
A radiografia geralmente é usada inicialmente na busca de metástases, principalmente
na região pulmonar preconiza-se a realização de três radiografias, lateral direito, esquerdo e
ventro-dorsal, que é o local de maior ocorrência (NOVOSAD, 2003; DALECK et al., 2009).
Pesquisa desses nódulos malignos em região abdominal como no fígado e linfonodos
regionais, dentre outros, preconiza-se a utilização da ultrassonografia (SÉGUIN, 2002;
NOVOSAD, 2003; DALECK et al., 2009).
Já a ressonância magnética e a tomografia computadorizada são recomendadas devido a
melhor qualidade e detalhamento do tumor, promovendo assim maior conhecimento dos
planos anatômicos e do campo cirúrgico para a excisão do sarcoma vacinal, além de
detectarem metástases não diagnosticadas pela radiografia e ultrassonografia (McENTEE;
PAGE, 2001).
11. Expressão Clínica do Sarcoma de Aplicação
A variação dos sintomas expressados pelos felinos irá depender do tamanho do nódulo e
a região onde está localizado. Há relatos de sinais clínicos como letargia e anorexia
(DALECK et al., 2009).
Animais geralmente iniciam o cursar da neoplasia com uma tumefação de textura mole
a resistente, não demonstrando sinais clínicos. No decorrer do desenvolvimento, o sarcoma
torna-se mais aderido e infiltrativo, tomando proporções extensas, podendo dificultar a
fisiologia mecânica tanto dos membros torácicos, quanto dos pélvicos (dependendo da
localização tumoral), ou se encontrado entre as escápulas (DALECK et al., 2009).
Sinais de dificuldade de respiração, intolerância ao exercício e até problemas
neurológicos, podem estar ligados a possíveis metástases. Há também a possibilidade dessas
nodulações promoverem pressão mecânica na medula espinhal evidenciando tais sintomas
neurológicos (DALECK et al., 2009).
12. Tratamento
O sarcoma de aplicação é um tumor de tratamento dificultoso e é importante analisar a
resposta do paciente pelos protocolos terapêuticos usados. Para obter melhor êxito é
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aconselhável tratar independente do tamanho tumoral (NOVOSAD, 2003; NELSON;
COUTO, 2006; DALECK et al., 2009).
As formas de tratamento podem ser cirúrgicas, a radioterapia, essa é recomendada para
tumores que não podem ser excisados ou que não houve sua total retirada, podendo ser
adicionados ou não a quimioterapia e imunoterapia, como métodos auxiliares do tratamento.
Esses procedimentos nunca devem ser realizados isoladamente, portanto sempre associar as
terapêuticas, além de atentar para a resposta do animal ao protocolo usado (MORRISON et
al., 2001; NOVOSAD, 2003; NELSON; COUTO, 2006; DALECK et al., 2009).
13. Cirurgia
A técnica de remoção cirúrgica do tumor vai depender do caso de cada felino, como a
questão da localização, o tamanho do tumor e a profundidade em que se encontra, mas
preconiza-se a retirada total e em bloco. A incisão pode ter formato elipsóide para melhor
síntese e é promovida com o bisturi podendo ter margens de 3 cm ou realizar uma excisão
radical com 5 cm. Durante a remoção exercer a divulsão do tumor e suas margens (Figura 1).
Para aprofundamento cirúrgico recomendam-se retirada de camadas musculares e/ou ossos
que estão na área tumoral, como processos vertebrais espinhosos. Também pode ser feito a
escapulectomia parcial, hemipelvectomia, ou até amputação de membros para tirar totalmente
o tumor (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
Figura 1: Esquematização em três dimensões do tumor e a ampla margem cirúrgica de
3cm a 5 cm, tanto em plano de pele quanto em plano de profundidade. Fonte: ModificadoDERNELL et al.,1998.
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O processo cirúrgico onde não se retira amplamente as margens de tumor tem
recorrência mais rápida. Não é um evento raro que após a cirurgia ocorra reicidivas entre 2 a 3
meses
(DAVIDSON
et
al.,
1997;
LANGLEY-HOBBS;
DEMETRIOU,
2014;
NORSWORTHY et al., 2010). A excisão cirúrgica de amputação de membros pélvicos tem
um prognóstico superior comparado a retirada de tumores entre as escápulas (McENTEE;
PAGE, 2001).
É notável salientar que após a remoção do tumor deve-se encaminhar-lo para exames
histopatológicos, a fim de confirmar a retirada completa da neoplasia com margens limpas.
Quando é confirmado que não há células tumorais nas margens o prognóstico é favorável.
Deve-se também, antes da síntese da ferida cirúrgica, promover a lavagem do local, a troca de
luvas e instrumentais para diminuirem as chances de células tumorais ficarem na ferida
cirurgia. Durante a sutura, se houver muita tensão é recomendado fazer uma bandagem
envolta, posicioná-la em cima da síntese cirúrgica e suturar suas bordas laterais na pele ao
redor da ferida cirúrgica principal, permanecendo por uma a duas semanas. A sutura é feita
com fio inabsorvível ou grampos estéreis. (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
A retirada dos pontos ou grampos pode ser feitas de 7 a 21 dias. Se houver o uso da
radioterapia logo após a cirurgia, preconiza retirar os pontos após 28 dias, pois essa dificulta o
processo cicatricial possibilitando deiscência da sutura (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU,
2014).
14. Controle da dor
Davis et al. (2007), demonstram que com a utilização de cetamina, que possui caráter de
analgesia, quando administrada dentro da ferida cirúrgica, culmina na recuperação mais
rápida e em menor tempo de internação, os felinos voltaram a se alimentar precocemente
comparados aos que receberam medicação por via venosa. Se o procedimento for cruento
pode ser preciso promover a transfusão tanto sanguínea ou de outros elementos do sangue
(LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
O controle da dor pós-operatória pode ser realizado com adesivos de fentalina (2,5mg a
cada 72 horas) ou usar antiinflamatório não esteroidal como o piroxicam na dose de 0,3
mg/kg, por via oral a cada 48 horas (NORSWORTHY et al., 2010)
É importante que o acompanhamento do animal seja iniciado logo após a retirada do
tumor e a cada três meses, podendo-se extender a um ano dependendo da saúde e estado físico
que o felino se encontra, promovendo regularmente exames, como hemograma, e procurando
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possíveis recidivas tumorais, além de metástases (MACY; COUTO, 2001; MORRISON et al.,
2001).
15. Quimioterapia
A quimioterapia é um tratamento paliativo, podendo ser usado juntamente com a
cirúrgia e ou no pré-cirúrgico, que pode dimunuir o tamanho tumoral e facilitar a sua retirada.
A radioterapia auxilia na tentativa de controle do sarcoma, principalmente os que têm grau
maligno elevado, para que diminua as chances de recidivas e metástases. Existem alguns
quimioterápicos que os sarcomas são mais suscetível tais como doxorrubicina, carboplatina,
mitoxantrona e ciclofosfamida. Há muitos protocolos quimioterápicos, que são utilizados
nesta neoplasia (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014):
1) Doxorrubicina 25mg/m², intravenosa, a cada 21 dias com 4 ciclos (LANGLEYHOBBS; DEMETRIOU, 2014).
2) Doxorrubicina 25mg/m², intravenosa com Ciclofosfamida 200 a 300mg/m², via
oral, 10 dias após a administração da doxorrubicina, repetindo a cada 21 dias por 4 ciclos.
Porém se observar no animal mielossupressão grave ou anorexia, substitui a dose da
ciclofosfamida, passando a usar 100mg/m² nos dias 3º,4º,5º,6º após a administração da
doxorrubicina (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
3) Ciclofosfamida 200a300mg/m², via oral com Mitoxantrona 6 a 6,5 mg/m²,
intravenosa, usando a ciclofosfamida 10 dias após a mitoxantrona, repetindo a cada 21 dias
por 4 ciclos (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
4) Ciclofosfamida 200a300mg/m², via oral, a cada 21 dias adicionado da Vincristina
0,7mg/m², intravenoso, A cada 7 dias por 4 ciclos (CHALITA; RECHE JR, 2003;
LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
5) Mitoxantrona, 6 a 6,5 mg/m², intravenosa e Caborplatina, 250mg/m², intravenosa
repetir cada 21 a 30 dias, durante 4 ciclos. Usando a caborplatina na dose de 1,5mg/m²,
intratumoral, deve-se repetir semanalmente (LANGLEY-HOBBS; DEMETRIOU, 2014).
Os quimioterápicos podem promover efeitos colaterais nos felinos, como anorexia e
vômito, além de serem mielossupressores. Particularmente, a ciclofosfamida e a
doxorrubicina podem causar a perda dos bigodes no gato. Esse último medicamento, bem
como a carboplatina podem causar dano renal. Além disso, a ciclofosfamida pode gerar cisitte
hemorrágica estéril nesses animais (DALECK et al, 2009; LANGLEY-HOBBS;
DEMETRIOU, 2014).
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O uso do quimioterápico doxorrubicina permite uma menor expressão do STAT3 em
felinos, e pode ser combinado com ciclofosfamida, podendo promover uma redução tumoral
(PETTERINO et al., 2006; DALECK et al., 2009).
O estudo de Bray e Poltron (2014) testou em felinos a epirrubicina 25mg/m², que é
empregado no protocolo de sarcoma humano, pois se mostra com menores efeitos colaterais
comparados com a doxorrubicina. Foi notada uma redução tumoral em gatos com sarcoma.
Acreditando que possivelmente ocorreu à diminuição da vascularização, eliminando as células
neoplásicas e assim reduzindo a possibilidade de expansão do tumor (McENTEE; PAGE,
2001; DALECK et al., 2009).
Kobayashi et al. (2002), utilizaram quimioterapia e radioterapia para o tratamento de
felinos com sarcoma de aplicação, a carboplatina 150 a 250 mg/m² intravenoso, resultou em
maior tempo até a recorrência, quando comparado ao tratamento apenas com doxorrubicina 515 mg/m², intravenoso media de 2,6 doses em 3 semanas. A carboplatina associada a
radioterapia aumenta ainda mais esse tempo, prolongando a vida do animal.
Estudos com imatinibe 25mg/kg, utilizado em tratamento neoplásico, mostram que esse
é um medicamento que dificulta a expressão do PDGF, inviabilizando o crescimento tumoral
e a proliferação celular. Análises feitas em experimentos com ratos de laboratório mostraram
que a junção desse medicamento e a doxorrubicina têm tornando as células tumorais mais
susceptíveis a apoptose (KATAYAMA et al, 2004).
16. Imunoterapia
O tratamento usando esse tipo de fármaco tem pouca disponibilidade, porém segundo o
estudo de Jourdier et al. (2003), a utilização do imunomodulador sendo o poxvírus
recombinante que manifesta a interleucina IL-2 que, associado com a lumpectomia e a
radioterapia, foi notado a diminuição da recorrência significativa comparada com o grupo dos
felinos no controle.
Um estudo aplicou o interferon- ômega (IFN-ω) 1x106 U/kg, 4 injeções
por via
intratumoral e posteriormente administrava-se 7 injeções subcutâneas no local da exérese,
todas as aplicações eram espaçadas em uma semana. Os resultados mostraram uma
diminuição de reicidivas, além de esse imunomodulador promover alterações nas células
tumorais que as tornavam mais vulneráveis ao combate do sistema imune do felino
(HAMPEL et al., 2007).
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17. Prognóstico
O prognóstico varia de acordo com o grau histológico. Quando há células
indiferenciadas, com grande quantidade de figuras de mitose e áreas de necrose, o prognóstico
é desfavorável. O ponto de localização anatômica, a dimensão do tumor e o tratamento
também são fatores importantes. O tratamento cirúrgico sem margens apresenta recidivas em
torno de 60% a 80% dos casos em torno de 6 a 9 meses. Quando o tratamento cirúrgico é
anexado a radioterapia a recorrência é de 30% a 40% com sobrevida de até dois anos. A
doxorrubicina aumenta em 10% a sobrevida do felino quando associado ao tratamento
(KOBAYASHI et al., 2002; COUTO et al., 2002; MACY, 2004b; GIUDICE et al., 2010).
Tumores menores e sem indícios de metástases tratados com cirurgia e terapia
adjuvante possuem melhor prognóstico, porém não se podem descartar chances de
reincidivas. No caso de sarcomas de aplicação com dimensão ampla, em regiões de difícil
extirpação sem margem cirúrgica limpas, o prognóstico se torna mais hostil, principalmente
se não tratado com nenhum protocolo (McENTEE; PAGE, 2001; DALECK et al., 2009).
18. Prevenção do sarcoma aplicação
É importante salientar a prática de vacinação nos felinos, tanto para evitar doenças
quanto para diminuir chances de surtos, principalmente os de caráter zoonótico como a raiva.
A propósito, o veterinário deve realizar protocolos para cada animal, imunizar gatos em zonas
endêmicas e que estão em maior risco, como os semi-domiciliados (MORRISON et al., 2001;
DALECK et al., 2009).
A imunização anual contra o vírus da raiva é determinada por lei Federal no Brasil e em
alguns paises do mundo. As vacinas consideradas dispensáveis, como contra FeLV e outras
contra Chlamydia sp., só devem ser utilizadas, se o hábito do animal colocá-lo em grande
risco de adquirir a doença. Felinos com acesso livre a rua ou que residêm em zonas endêmicas
devem ser imunizados constantemente, sendo desnecessário em gatos que permanecem
privados em moradias (MORRISON et al., 2001; DALECK et al., 2009).
Discretas nodulações pós-vacinais são comuns e ausentam-se com o tempo, se não,
devem-se realizar exames para o diagnóstico desse tumoração. A realização de exame
histopatológico é de caráter esclarecedor para saber a natureza da tumoração para diferenciar
o sarcoma de nodulações com caráter inflamatório (MORRISON et al., 2001; CHALITA;
RECHE JR, 2003; DALECK et al., 2009).
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A VAFSTF criou um protocolo de vacinação sobre como vacinas tríplices e quádruplas
felinas devem ser inoculadas no membro direito do felino. Vacinas com vírus da raiva com ou
sem adjuvantes, administrar na pata traseira direita, mais distal possível. A administração da
vacina de leucemia felina deve ser aplicada no membro pélvico esquerdo. As áreas dorsal,
cervical e torácica não devem ser usadas para vacinações (Figura 2) (MORRISON et al.,
2001).
Figura 2: - Localização do protocolo de vacinação da VAFSTF. As vacinas devem ser
administradas na parte mais distal dos membros e não aplicar na área dorsal. A tríplice e
quadrupla felina devem ser administradas em membro torácico direito. No membro pélvico
esquerdo aplicar vacina de leucemia felina (FeLV) e no membro pélvico direito a antirrábica.
Fonte: Modificado-MORRISON; STARR, 2001.
O essencial é não vacinar em excesso, com isso exames que avaliam a imunidade as
vacinas aplicadas são de extrema importância, além de anotações das regiões de
administração e alternar sempre que possível esses locais. Preconizar a administração na parte
mais distal do membro, para qualquer desenvolvimento do sarcoma a amputação é o
recomendado. Ressaltando em não vacinar no mesmo local e não administrar intramuscular.
A utilização de outras vias de subministrar medicamentos, como pela via oral é aconselhável
(MORRISON et al., 2001; DALECK et al., 2009).
Acredita-se que, por cautela, não se deve vacinar ou administrar qualquer injeção, por
via sub-cutânea ou intra-muscular, em felinos que já foram diagnosticados com o sarcoma de
aplicação, pelas chances de reicidivas (VACCINE-ASSOCIATED FELINE SARCOMA
TASK FORCE, 2005).
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19. Vacinação na cauda
Uma inovação em relação a vacinação é a inoculação na cauda de felinos,
especificamente na parte mais distal. Testes mostraram que um alto nível de imunização foi
promovido pela aplicação das vacinas de raiva (inativadas) e a com vírus da rinotraqueíte calicivírus – panleucopenia. A importância dessa prática é que, o aparecimento do sarcoma
vacinal pode ser diagnosticado mais precocemente por estar nesta região. Além disso, caso
haja o desenvolvimento de uma neoplasia, a realização de uma caudectomia para a retirada do
tumor é uma prática simples e pode se obter uma boa margem cirúrgica. Mais estudos devem
ser feitos com o intuito de aprimorar essa idéia (HENDRICKS et al., 2013).
20. CONCLUSÃO
Como o sarcoma de aplicação ainda continua sendo um mistério para a comunidade é
importante que o profissional desenvolva protocolos de vacinação de acordo com hábito de
cada felino. Deve-se tentar esclarecer ao proprietário todo o problema do sarcoma de
aplicação, enfatizando os fatores de riscos, fisiopatologia e sua terapêutica. Orienta-lo ao
modo de palpação local, observação de qualquer alteração na região da inoculação, e que
recorrera o mais rápido possível a ajuda veterinária. Entretanto, sempre alertar a grande
importância que a vacinação tem, para a saúde dos animais e dos humanos, pois evita graves
doenças e a disseminação de importantes zoonoses.
O assunto relacionado ao sarcoma de aplicação nos felinos precisa ainda de muitos
estudos e dados adicionais para a coomprensão desse fenômeno enigmático na clínica médica
veterinária.
21. REFERÊNCIAS
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201
Capítulo 14- Metodologias aplicadas a estudos de comportamento animal
OLIVEIRA1, A.P.G.; VIEIRA1, B.C.R.; MENDONÇA2, P.P.
Resumo: O objetivo do trabalho foi fazer um levantamento bibliográfico sobre metodologias
utilizadas nas etapas do estudo do comportamento animal. Diversas são as etapas descritas,
tais como, a definição do objeto a ser estudado; estudo da biologia e ecologia do animal, a fim
de compreender os hábitos e comportamentos já descritos sobre a espécie; escolha entre
observação direta, com ou sem uso de equipamentos, ou indireta, através de filmagens;
definição do método de observação, como por exemplo, o registro em papel ou similares, em
gravador portátil e através de imagens-foto; marcação do animal que pode ser por marcas
naturais ou uso de anilhas, chips, numeração com tinta própria para animais, entre outras;
habituação do animal à presença do observador; observação, que consiste em anotar todos os
atos realizados pelo animal em um determinado tempo; construção do etograma que
compreende a descrição dos comportamentos e; análise dos dados. Conclui-se que apesar de
serem muitas as etapas componentes do estudo do comportamento animal, poucos são os
estudos relacionados às metodologias para estudar cada uma delas. Propõe-se o
desenvolvimento de outros estudos sobre metodologias utilizadas nas diversas etapas do
estudo do comportamento animal.
Palavras-chave: bem-estar; etograma; Etologia; método; observação.
Introdução
Os animais têm grande capacidade de comunicação entre si e possuem uma linguagem
eficiente na resolução de problemas imediatos como caçar para sobreviver e estabelecimento
de relações sociais (GONZÁLEZ, 2011). Todas as atividades realizadas por um animal são
definidas como comportamento animal (SCOTT, 2009).
O Comportamento animal é estudado pela Etologia, um ramo da Biologia que utiliza
métodos de investigação (ALCOCK, 2011) adequados a cada espécie, a fim de, obter dados
comportamentais de alta confiabilidade (SILVA et al., 2005). Para obtenção dos resultados
desejados, o estudo deve ser dividido em várias etapas, compreendendo, na maioria das vezes,
a definição do objeto a ser estudado, estudo da biologia e ecologia do animal, escolha do tipo
e do método de observação, marcação do animal, habituação do animal à presença do
observador, observação propriamente dita, construção do etograma e análise dos dados. Para
cada uma dessas etapas são propostas metodologias diferençadas (DEL-CLARO, 2004).
Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi fazer um levantamento bibliográfico sobre
metodologias utilizadas em cada etapa do estudo do comportamento animal.
_______________
1
Mestranda do programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias do CCA/UFES.
Dr. Prof. do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias do CCA/UFES. Chefe do Laboratório de Nutrição e
Produção de Espécies Ornamentais –LNPEO, do Ifes Campus de Alegre
2
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202
Definição do objeto de estudo
Toda pesquisa científica inicia-se com a escolha do objeto de estudo e somente a partir
dessa definição tem-se o início o processo de investigação (VENTURA, 2007).
O objeto de estudo da etologia, são os animais, independentemente da espécie, sendo,
portanto, uma área ampla para o desenvolvimento de estudos. Contudo, a escolha do animal
ideal que um pesquisador irá estudar exige uma série de técnicas (LORENZ, 1995).
A primeira sugestão à escolha do objeto de estudo, é que o pesquisador considere o
animal com o qual este possui maior afinidade, garantindo assim, o desenvolvimento de um
trabalho prazeroso, curioso e satisfatório, pois é impossível estudar o comportamento animal
sem ter satisfação no trabalho realizado (DEL-CLARO, 2004).
Outra técnica consiste na caminhada à mata seguida da observação de cada detalhe
com curiosidade e calma a fim de permitir que a natureza faça sua apresentação e dessa forma
esclareça ao pesquisador algumas dúvidas com relação à escolha do objeto de estudo (DELCLARO, 2004).
Estudo da ecologia e biologia do animal
A segunda etapa do estudo do comportamento animal é a compreensão das principais
abordagens biológicas e ecológicas descritas a respeito da espécie escolhida, a fim de,
compreender os hábitos e os principais comportamentos já descritos na literatura sobre o
objeto de estudo.
A metodologia mais indicada para conhecer determinado assunto consiste em fazer um
levantamento bibliográfico na literatura mundial através de bases de dados (NAHAS et al,
2005).
Entre as bases de dados conhecidas, aconselha-se o início da busca nas bases Medline
(Index Médico), Exerpta
Médica (origem européia), Current Contents, LILACS
(latinoamericana), nas quais estão disponíveis artigos em diversas áreas do conhecimento
(NAHAS et al, 2004).
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Definição do tipo de observação: direta ou indireta
Tendo compreendido a biologia e a ecologia da espécie escolhida para realização da
pesquisa, é necessário definir o tipo de observação mais adequada ao estudo. Neste contexto,
as observações são classificadas em direta e indireta (DEL-CLARO, 20014).
A observação direta é o tipo mais comum utilizado pelos pesquisadores e consiste em
observar o animal com ou sem o auxilio de instrumentos, tais como microscópio e lanterna
(DEL-CLARO, 2004), possibilitando registrar detalhes para classificar relações mais
complexas (BRITO, 2003).
Por outro lado, muitos pesquisadores realizam observações diretas a campo que
dispensam o uso desses equipamentos (MARQUES, 2010).
Com relação às observações indiretas, essas são realizadas através de câmaras
filmadoras e gravadores de voz. Esse é um tipo de observação mais laboriosa, pois exigirá do
observador escutar e transcrever os dados observados (DEL-CLARO, 2004; TRINDADE,
2011).
Escolha do método de observação
Após a escolha do tipo de observação é necessário escolher o recurso mais viável para
registrar os dados da pesquisa, levando em consideração as possibilidades de obtê-lo e a
qualidade dos dados gerados por ele. Desta forma, diversos são os recursos disponíveis ao
pesquisador, entre eles, registro em papel ou similares, registros em gravador portátil,
registros através de imagens-foto e filmagem e outros úteis à pesquisa (DEL-CLARO, 2004).
A forma de utilização de cada recurso é descrita sucintamente nos tópicos abaixo.
Registro em papel ou similares
Para utilização desta técnica, é necessário o uso de uma caderneta de campo, de
preferência de capa dura, ou prancheta de madeira com folhas plásticas e lápis HB nº 2, por
serem macios e possibilitarem um desenho de boa qualidade (DE-CLARO, 2004).
Essa técnica consiste em anotar em papel todos os comportamentos e outras
informações detectadas pelo pesquisador durante o experimento.
Para estudar espécies em ambientes sob a influência de água aconselha-se a utilização
de um tipo especial de caderno e caneta próprios para escrever embaixo d’água ou planilhas
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impressas em folhas de plástico poliéster com impressora laser-jet ou fotolitos nas quais
podem ser escrito com lápis comum apagável com borracha simples, possibilitando a
reutilização da folha (DE-CLARO, 2004).
Na falta desses equipamentos pode-se utilizar um pedaço de cano de PVC branco,
medindo 15 cm de diâmetro, no qual é feito um corte longitudinal. O cano deverá ser
submerso em água quente para facilitar a abertura até que este fique quase reto.
Posteriormente, o cano deve ser colocado entre tecidos e passado com ferro quente até se
tornar uma folha branca, de PVC, que não desmanchará na água. Para escrever nesse material,
indica-se o lápis HB nº2 (DE-CLARO, 2004).
Registros em gravador portátil
Essa é uma solução indicada para muitos casos, pois permite ao observador manter os
olhos no animal enquanto relata o comportamento observado, além de registrar os sons
emitidos por esses animais.
O registro do som faz-se necessário no estudo de algumas espécies, tais como, anfíbio,
ave ou grilo, devendo ser realizado por gravadores especiais, ligados a microfones direcionais.
Além disso, é uma técnica eficiente quando há necessidade de trabalhar com playbacks para
emitir sons, a fim de, atrair ou observar alterações produzidas no comportamento do animal
(DE-CLARO, 2004).
Uma pesquisa conduzida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul aponta o uso
do gravador como técnica eficiente na gravação de vocalizações de bovinos. Neste estudo os
pesquisadores equiparam novilhas com um bucal, acoplando um microfone de lapela modelo
Clone 11011 (Clone, Varginha, MG), protegido por uma cápsula de isopor. Para armazenar os
registros, foram utilizados gravadores digitais modelo ICD-P620 (Sony) com 512 mb de
memória (TRINDADE, 2011).
Contudo, a utilização dessa técnica pode ser arriscada e causar alguns inconvenientes à
pesquisa, tais como, 1) o possível esquecimento de levar pilhas novas para observação em
campo, 2) o trabalho de ter que gravar, escutar e transcrever a gravação, 3) possibilidade da
perda de registros, pois a fita pode se desmagnetizar, ser novamente usada por desatenção, a
gravação pode não ser clara e alguns termos mal expressos pelo observador pode não ser
compreendido e perdidos, 4) quando usado na chuva, exige a utilização de um plástico sobre
o gravador o que faz com que a gravação fique abafada, quase inaudível e 4) o animal tende a
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ouvir a voz do pesquisador, o que pode provocar ou inibir determinado comportamento (DECLARO, 2004).
Registros através de imagens-foto e filmagem
Desde o início das pesquisas realizadas com comportamento animal, o etólogo
Tinbergen, aponta a fotografia e o comportamento como sendo indissociáveis (TINBERGEN
1939).
Em etologia, a fotografia tem uso e aplicações diversas, possibilitando o registro da
espécie, local de estudo, além da análise de diversas etapas da pesquisa e do comportamento,
ilustração de publicações científicas e exibições públicas de apoio à difusão do conhecimento
à sociedade (LEHNER 1996, SABINO 1999).
Existem dois tipos de câmaras, as que usam filmes e as digitais, competindo ao
pesquisador definir a mais apropriada ao estudo.
As câmaras digitais são dividas em Digital Reflex (Digital Single Lens Reflex, D-SLR)
e Digital Compacta. O primeiro tipo envolve uma série de equipamentos e acessórios que
permitem um trabalho profissional de documentação de fauna (WESTON, 2005). A segunda
câmara pode ser utilizada no registro de certos animais, mas são mais limitadas que as D-SLR
(SABINO, 2009).
Os equipamentos de D-SLR têm evoluído para uso no campo, pois desenvolveram
sistema de blindagem contra poeira, umidade e ondas eletromagnéticas e selagem de partes
sensíveis. Dentre as alternativas disponíveis no mercado, as marcas Nikon e Canon são as
mais utilizadas por profissionais para fotografar a natureza, sendo que as séries Canon Mark e
Nikon D3 são as que apresentam imagem de melhor qualidade (SABINO, 2009).
As filmadoras são muito indicadas, pois por existirem animais que modificam seu
comportamento na presença do observador, o equipamento pode ser ficar ligado por horas,
permitindo que o pesquisador se ausente do local de estudo e assista a filmagem
posteriormente (DE-CLARO, 2004).
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Outros equipamentos úteis
Alguns equipamentos são utilizados como suporte para melhorar a qualidade da
pesquisa. Dentre esses, destaca-se o termômetro, cronometro e GPS (DEL-CLARO, 2004).
Para estudiosos de beija-flores, abelhas e morcegos polinizadores torna-se essencial o
uso de um aparelho que meça a concentração de açúcar no néctar. Para fazer essa medição, é
necessário uma microsseringa graduada para extrair o néctar e um refratômetro de bolso
(SANTANA e MACHADO, 2010).
Papéis cartões coloridos são utilizados em aquários para simular ou alterar a cor do
ambiente, a fim de verificar a influência das diversas colorações nos padrões comportamentais
de espécies aquáticas (FANTA, 1995; MERIGHE et al., 2004)
Para estudos que demandem a captura e marcação de animais é fundamental o uso de
redes de neblina e puçás para capturar aves e morcegos e insetos e peneiras para capturar
invertebrados aquáticos (DEL-CLARO, 2004; MEDEIROS e MARINI, 2007).
Marcação de animais
A marcação dos animais é realizada com o propósito de possibilitar a identificação
individual à distância de forma segura e inequívoca, criar um número de registro, evitar que
os dados de um mesmo animal sejam obtidos por mais de uma vez, possibilitar a identificação
em caso de captura, ou simplesmente individualizar os animais do estudo (CUBAS, 2006;
SMA-SP, 2008) para um melhor controle biológico e veterinário, como peso, reprodução,
doenças e vacinas (FOWLER, 1993).
Para marcar o animal, é indicado primeiramente encontrar marcas naturais no
espécime tais como cicatrizes, defeitos físicos, manchas, variações na coloração, sexo,
dimensões ou até mesmo alguma peculiaridade comportamental (SMA-SP, 2008).
Porém quando é necessário observar à distância animais que vivem em grupo, utilizase marcações temporárias, como pinturas, colares ou braçadeiras de contas coloridas, cortes
nos pelos, entre outros (SMA-SP, 2008).
A marcação não deve causar dor ou estresse nem alterar a sobrevivência e o
comportamento do animal (MANGINI E NÍCOLA, 2003). Desta forma, métodos
permanentes como tatuagens, marcação física através do calor ou frio e ou implantação
cirúrgica, geralmente, causam mais dor e estresse do que os métodos considerados
temporários e superficiais, como pintura e corte do pelo (BEAUSOLEIL et al., 2004).
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Aracnídeos
Ao estudar aranhas de teias em ambientes naturais pode ser feito a marcação pelo
tamanho ou numerando as teias na vegetação próxima para não perturbar os animais (DELCLARO, 2004).
Outra marcação considerada eficiente consiste na aplicação, por meio de seringa
descartável, de esmalte na região dorsal do animal. Essa marcação não dissolve em água e
resiste ao aumento do opistossoma, sendo, portanto, perdida somente na ecdise. Esta técnica é
aconselhável à marcação principalmente de machos que por serem menores que as fêmeas,
são mais difíceis de manusear (ZAMBONATO at al., 2010).
Outra técnica consiste na captura manual e posterior marcação no escudo dorsal com
tinta atóxica branca, seguida da numeração individual de cada animal com caneta nanquim
(ZAMPAULO, 2007).
Insetos
Para marcar baratas ou besouros utiliza-se pontos no élitro ou pronoto (Figura 1) e, se
possível, essas marcações devem ser feitas em diversas colorações (CORD, 1983).
Figura 1: Marcação de besouro ou barata através de pontos no élitro ou pronotro. Adaptada de
Del-claro (2004).
Para marcar abelhas, vespas e outros insetos com mais de 1 cm de comprimento,
utiliza-se cartelas de pequenas calotas plásticas (1 mm de diâmetro) numeradas que, deverão
ser inseridas no tórax da abelha com auxilio de cola especial. Para facilitar a implantação da
técnica, as abelhas devem ser colocadas dentro de um tubo tipo seringa e, com auxilio do
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êmbolo, empurradas de modo a ficarem com o tórax preso contra tela permitindo a colagem
da calota (DEL-CLARO, 2004).
Peixes
Na tentativa de realizar a marcação em peixes, diversas técnicas têm sido propostas
(ARNOLD, 1996; THOMAS, 1975). Entre essas, encontra-se marcação com material plástico
ou metálico de diversas cores e numerações, os quais são fixados à musculatura do animal
através de um aplicador apropriado (LEBOUTE, et al., 2002).
Os animais podem ser marcados com pérolas de cerâmica de quatro cores que ao
serem combinadas resultarão em um código genético. A marcação deve ser feita no terceiro
raio da nadadeira dorsal, na altura da metade da nadadeira dorsal ou nos últimos raios da
nadadeira dorsal (LEBOUTE, et al., 2002).
Para realizar o procedimento de marcação com pérolas, os animais devem estar em
jejum de 24 horas e serem anestesiados, sendo que o local a ser marcado deverá ser
desinfetado com tintura de iodo, sendo então transfixados com auxílio de uma agulha de
costura (LEBOUTE, et al., 2002).
Outra técnica de marcação para estudo de peixes em habitat natural consiste na
aplicação de ampolas plásticas contendo um pedaço de papel com a identificação do animal
no seu interior. Essas ampolas servem de etiquetas e devem ser presas à nadadeira dorsal do
animal com auxilio de uma agulha e linha de náilon (DEL-CLARO, 2004).
A manipulação demora em torno de um a dois minutos, sendo o animal devolvido ao
hábitat em boas condições. Essa técnica não pode ser empregada em animais pequenos, mas
é muito eficiente, pois na etiqueta o pesquisador pode colocar um número de telefone
intencionando ser avisado caso o animal seja capturado (DEL-CLARO, 2004).
Anfíbios
Para marcar os anfíbios alguns pesquisadores amputam a falange distal do terceiro
artelho do membro anterior dos animais, relatando que, minutos após as inserções os machos
voltam a cantar como se não estivessem sentindo dor (LÜDDECKE e AMÉZQUITA 1999,
PHILLOTT et al. 2007).
Uma técnica que causa menos sofrimento e risco aos anfíbios consiste em prender
entre os membros anteriores e posteriores uma fita de tecido macio, com as informações de
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identificação do anuro. As fitas devem ter coloração próxima da pele e não podem ficar
folgadas, pois podem prender em algum objeto, nem apertadas, pois podem estrangular o
animal levando-o a morte. Essas fitas devem ser traçadas sempre que o animal for capturado
(DEL-CLARO, 2004).
As fitas não podem ser de algodão, pois a durabilidade do material é pequena e não
deve ser de material sintético, pois pode ferir a pele causando infecções por fungos e
bactérias, o que também pode ser visualizado na marcação por linhas com miçangas. Dessa
forma, o mais indicado é evitar experimentos que exijam a marcação individual (DELCLARO, 2004).
Répteis
De acordo com o hábitat, os répteis podem ser marcados de forma similar aos peixes e
anfíbios, com utilização de microchip, brincos e marcas por cortes de falange ou escamas (SMASP, 2008).
Quando é necessária a identificação dos animais à distância e por determinado
período, é possível utilizar marcações temporárias, como pinturas, colares ou braçadeiras de
contas coloridas, cortes, entre outros. Estas técnicas são particularmente úteis quando se
pretende observar o comportamento individual de animais que vivem em grupos (SMA-SP,
2008).
Neste contexto, jacarés e crocodilos podem ser marcados com plaquetas ou etiquetas
costuradas nas escamas, as serpentes, devem ser marcadas visualmente a partir de manchas
naturais, tais como, variações na coloração e cicatrizes (SMA-SP, 2008). Os cágados e
tartarugas devem ser marcados por placas de identificação inseridas nas carapaças ou pintadas
conforme a metodologia utilizada para marcação de insetos (SMA-SP, 2008).
Aves
A técnica mais usual para marcação de aves é a inserção de anilhas plásticas ou
metálicas na região dos tarsos das aves e a inserção de microchip. As anilhas devem conter
numerações, códigos ou cores para serem identificadas à distância (PIRATELLI et al., 2005;
SMA -SP, 2008). Para facilitar a identificação dos animai, além de anilhas coloridas, podem
ser usadas bandeirolas, corantes como ácido pícrico e rádios transmissores (SERRANO,
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2008). Para estudo de aves marinhas podem ser aplicadas etiquetas nas orelhas, nadadeiras,
membranas interdigitais e nadadeiras dos animais (BEAUSOLEIL et al., 2004).
Mamíferos
Existem diferentes técnicas para a marcação de mamíferos, tais como marcas naturais,
pintura ou descoloração dos pelos, tatuagens e brincos. Contudo, a escolha da técnica depende
da espécie (DEL-CLARO, 2004).
Os brincos plásticos são de fácil aquisição e aplicação, compreendendo, portanto,
umas das alternativas mais viáveis na maioria das situações de campo, pois permanecem
presos ao pavilhão auditivo de mamíferos de porte médio e grande por longos períodos, sendo
muito apropriados para marcação de roedores e ungulados (MANGINI e NICOLA, 2003).
A contenção do animal para realização da marcação deve ser feita utilizando-se puçás
e luvas de couro, evitando o contato direto, principalmente com animais silvestres, pois estes
podem trazer riscos à saúde da equipe pesquisadora (DEL-CLARO, 2004).
Outra técnica bastante utilizada por etólogos para marcação de mamíferos é a
marcação eletrônica, com microchips e colares localizadores (SMA-SP, 2008).
Habituação do objeto de estudo à presença do observador
Umas das coisas mais difíceis no estudo comportamental é a habituação do animal à
presença do observador. Contudo esse momento é extremamente importante, tanto para
cativeiro como para campo, pois permite ao animal reagir de forma natural na presença do
observador (DEL-CLARO, 2004).
O tempo de habituação pode ser definido pelo observador de acordo com a
necessidade de cada espécie. Contudo cerca de 15 minutos é o suficiente para que alguns
animais como peixes se habituem à presença do observador (SHIBATA, 2006).
Além disso, pode ser necessário o uso de anteparos ou abrigos para evitar que o
animal, perceba a presença do observador, pois até mesmo formigas podem perceber e alterar
suas atividades em função da presença de um observador (DEL-CLARO, 2004).
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Observação
O tipo de observação mais comum é a animal focal (MARTIN e BATESON, 1986),
que consiste na observação de um animal por um determinado tempo e posterior troca deste
animal por outro, até que todos os animais, em um determinado espaço, sejam observados por
um tempo definido pelo observador.
Tanto para observação em campo como para cativeiro é aconselhável ao observador
agir com calma, sem movimentar-se de forma brusca causando barulhos indesejáveis, evitar o
uso de perfumes ou roupas sujas de suor e usar roupas com coloração semelhante ao ambiente
de estudo (DE-CLARO, 2004).
O pesquisador deve escolher um local estratégico para realizar as observações dos
comportamentos, da forma mais eficiente possível.
Entre os comportamentos a serem observados destacam-se os agonísticos ou
agressivos, tais como, montar e bicar e os comportamentos não agressivos, tais como, beber,
comer e ócio (SAVORY et al., 1999).
O tempo de observação varia conforme a finalidade do estudo. Como exemplo, em
um trabalho realizado com aves, o pesquisador observou por um tempo de cinco minutos em
cada gaiola, três vezes por semana do 28º dia ao 35º dia de idade das aves (MARQUES,
2010).
Elaboração de etograma
O registro de todas as variáveis que permeiam o comportamento animal, bem como de
todos os comportamentos realizados por um determinado individuo é denominado etograma.
A elaboração de etogramas é importante, pois possibilita o conhecimento de todas as
possibilidades de manifestação por um determinado animal, tais como suas principais
atividades, horário de pico, interações e como divide seu tempo ao longo do dia. Através deste
modo simples de observação de comportamento é que surgem muitas questões e hipóteses
interessantes para se testar experimentalmente (DEL-CLARO).
A construção do etograma pode ser dividida em três etapas, sendo a primeira,
destinada a observações preliminares com levantamento bibliográfico, principalmente com
textos relacionados ao bem-estar e enriquecimento ambiental. A segunda etapa é destinada à
qualificação dos comportamentos observados, utilizando do método de amostragem de todas
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as ocorrências. A terceira etapa é destinada a quantificação dos comportamentos observados
(DEL-CLARO, 2004).
Em um estudo foi elaborado um etograma para a identificação das ovelhas,
registrando-se: peso vivo, condição corporal, temperamento, integridade do úbere e tetos,
idade ao parto, atitude da ovelha em facilitar a mamada e todos os tipos de comportamentos
observados (RECH, 2008).
Para facilitar a pesquisa, existem modelos de etograma determinado para diversos
tipos
de espécies devendo
ser adaptado conforme a
necessidade
da
pesquisa
(ALBUQUERQUE e CODENOTTI, 2006).
Os comportamentos que compõem o etograma podem ser agrupados em categorias e
estas subdivididas em classes, conforme descrito na tabela 1.
Tabela 1: Categoria comportamental e as classes que as compõem. Elaborado a partir dos
resultados da pesquisa de Albuquerque e Codenotti (2006).
Categoria
Manutenção
Classes
Sentar, deitar, pendurar, limpar o corpo, limpar o ânus, limpar o
nariz, brincar, coçar, espreguiçar, chacoalhar ;
Locomoção
Andar, correr, ganhar impulso, saltar, deslizar;
Alimentação
Comer sentado, deitado, dependurado, esticado, beber, morder
galhos, defecar, urinar;
Alerta
Vigiar;
Comunicação acústica
Chorar, vocalizar, rugir;
Defesa
Fugir, mexer nos galhos, excretar em grupo;
Social
Brincar, encostar-se, deitar sobre outro individuo, catar pelo,
abraçar, agrupar, suplantar;
Agonística
Mostrar dentes, lutar, morder;
Reprodutiva
Inspecionar genitália, cheirar genitália, copular;
Cuidado parental
Amamentar, carregar no dorso.
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Análise e interpretação dos dados
Essa é a ultima etapa do estudo do comportamento animal e consiste na utilização da
estatística como ferramenta facilitadora da interpretação dos dados.
Primeiramente é necessária a organização dos dados obtidos em uma planilha
eletrônica no programa Excell. Contudo, para organizá-la, o pesquisador precisa, previamente,
definir o método estatístico que melhor se enquadra a pesquisa e aprender a utilizá-lo, bem
como, compreender as limitações do método. Por fim, e não menos importante, é
imprescindível que o pesquisador domine um programa gráfico e atente ao real significado
dos resultados obtidos (DEL-CLARO).
A literatura também pode servir como suporte ao pesquisador, pois através dela, tornase possível saber o que foi usado em um estudo similar e a possibilidade de reutilizá-lo no
trabalho realizado.
Alguns pesquisadores têm utilizadoo Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas –
SAEG (Universidade Federal de Viçosa - UFV, 2000), interpretando estatisticamente os
dados através de análise de variância e comparando as médias entre tratamentos por meio do
teste de Tukey a 5% de probabilidade (SILVA et al., 2006).
Outros estudiosos utilizam o teste Chi-quadrado para comparação de fragmentos,
empregando o pacote estatístico Statistix 8.0 (PIRATELLI et al, 2005).
Para gerar dados de incidência de animais durante a construção de um inventário,
avalia-se a eficiência da amostragem por meio de curvas de rarefação (GOTELLI;
COLWELL 2001).
Um programa muito utilizado para o estudo de mamíferos é o Statistical Analisis
System (SAS®), através do qual, pesquisadores realizam a análise estatística através do
procedimento mixed, com comparação de médias de acordo com o teste de Tukey (ABLAS et
al., 2007).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do comportamento animal é dividido em etapas distintas que requerem
individualmente metodologias diferenciadas, as quais compreendem o uso de uma série de
equipamentos, sendo a caderneta de campo a mais simples e acessível ao pesquisador.
Apesar de serem muitas as etapas componentes do estudo do comportamento animal,
poucos são os trabalhos que descrevem as metodologias destinadas ao estudo de cada uma
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delas. Neste contexto, o assunto abordado nesta revisão torna-se importante, pois servirá de
embasamento teórico para pesquisadores comportamentalistas.
Propõe-se o desenvolvimento de outros estudos sobre metodologias utilizadas nas
diversas etapas do estudo do comportamento animal.
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Capítulo 15- Controle de parasitas em pequenos ruminantes com plantas da
biodiversidade brasileira: Schinus terebenthifolius Raddi - do empirismo à ciência
SHALDERS, E.1; ZANINI, S.F.2*; SOUSA, D.R.1; MENDITI, C.A.1; BERTONCELI, R.M.1
Resumo
A pimenta rosa ou aroeira-vermelha (Schinus terebinthifolius Raddi) é uma espécie pioneira e
nativa do Brasil, que pertence à família Anacardiaceae. A aroeira-vermelha possui
importância comercial por se tratar de uma planta com propriedades medicinais, além de seus
frutos serem utilizados como condimento alimentar. Seu fruto também pode ser utilizado para
extração de óleo essencial, gerando subprodutos, a torta de pimenta rosa e o farelo de aroeiravermelha, que podem ser utilizados na alimentaçao animal com finalidade de promover
melhoria no desempenho e sanidade. Há relatos que os taninos podem interferir sobre os
aspectos produtivos e sanitários de pequenos ruminantes. Estes efeitos estão relacionados com
o tipo e a concentração de taninos no arraçoamento animal. A crescente demanda nacional e
internacional por produtos orgânicos, livres de agrotóxicos, tem influenciado o crescimento
do mercado de productos organicos.
Palavras-chave: aroeira vermelha, pimenta rosa, parasitos, plantas taniníferas.
1 Introdução
No Brasil, a criação de caprinos e ovinos teve início com a colonização e, até meados
dos anos 70, o rebanho nacional era constituído por animais sem raça definida com finalidade
de subsistência. A partir desta década, surgiram as primeiras importações de animais, de raças
leiteiras, e as associações de produtores de leite (FONSECA; BRUSCHI, 2009), assim a
caprinocultura e a ovinocultura deixou de ser atividade de subsistência para de agronegócio
altamente produtivo sob ponto de vista socioeconômico (VIEIRA et al., 1999). Segundo
Madibela et al. (2002), vale enfatizar que é uma das poucas atividades agropecuárias
sustentáveis e competitivas, no semi-árido nordestino, com base na mão-de-obra familiar.
_______________
1
Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Alegre, ES, Brasil.
Departamento de Medicina Veterinária, UFES, 29500-000, Alegre, ES, Brasil. *autor correspondente e-mail: [email protected].
2
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A caprinocultura nordestina se destaca e assume um papel relevante na economia do
país, porque os animais facilmente se adaptam as condições climáticas deste ecossistema
específico, além disso, o menor porte dos animais e a menor área demandada facilitam o
manejo. O aumento e melhora na renda familiar, devido à produção de alimentos de alto valor
biológico (carne e leite) tem estimulado o interesse dos produtores em ampliar os rebanhos
(CHAGAS et al., 2007; CORREIRA, 2007).
Por mais que o mercado esteja em expansão e que novos investimentos na produção de
pequenos ruminates, principalmente, no aproveitamento do leite de cabra, tenha mudado a
realidade do País no cenário mundial, existem alguns entraves para o crescimento, dentre eles
temos infecções gastrointestinais parasitárias, que são uns dos principais fatores que limitam
expansão deste setor no Brasil (COSTA; SIMOES; RIET-CORREA, 2009), e no mundo
(GITHIGIA et al., 2001), pois além de debilitar o animal, favorecem a instalação de outras
patologias que atrasam o crescimento, promovem perda de peso, redução no consumo de
alimentos, queda da produção de leite e de carne, diminuição da fertilidade e mortalidade, e
isso leva a grandes perdas econômicas (PAIVA; NEVES, 2009; GOMES et al., 2010;
COELHO, 2009).
Portanto, a flora brasileira, por sua biodiversidade, apresenta-se como fonte
inesgotável de substâncias naturais cujos princípios fitoterápicos ou fitossanitários podem ser
avaliados para prevenção, no tratamento de doenças visando o desenvolvimento de uma
agricultura ecológica e conseqüente obtenção de alimentos mais saudáveis.
A aroeira-vermelha possui importância comercial por se tratar de uma planta com
propriedades medicinais, além de seus frutos serem utilizados como condimento alimentar.
Seu fruto também pode ser utilizado para extração de óleo essencial, gerando subprodutos, a
torta de pimenta rosa e o farelo de aroeira-vermelha, que podem ser utilizados na alimentaçao
animal com finalidade de promover melhoria no desempenho e sanidade. Com isto, objetivouse relatar a utilização Schinus terebinthifolius na alimentação de ruminantes para controle de
endoparasitoses.
2. Principais helmintos em caprinos
As parasitoses estão entre as principais causas de perdas econômicas, especialmente
em rebanhos criados em regiões tropicais e subtropicais (MOLENTO et al., 2004; BORDIN,
2004; GITHIORI et al., 2004; HOSTE et al., 2005). As principais conseqüências das
infecções são redução no ganho de peso, quedas de produtividade (carne, lã ou leite), altas
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taxas de mortalidade, especialmente de animais jovens (KAWANO; YAMAMURA;
RIBEIRO, 2001; RIBAS et al., 2009), aumento de custos com tratamento profilático e
curativo (BIZIMENYERA et al., 2006; RODRIGUES et al., 2007).
Os parasitas se desenvolvem e sobrevivem durante todo o ano, nas regiões tropicais,
em decorrência das condições climáticas favoráveis (pluviosidade, umidade relativa e
temperatura) fazendo com que os animais estejam sujeitos à infecção e reinfecção
(CHARLES; RODRIGUES; SANTOS, 1995). Amarante (2004) acredita que praticamente
100% dos ruminantes domésticos são portadores de pelo menos uma espécie de endoparasita,
e essa alta freqüência pode estar associada ao hábito alimentar desses animais que, preferem
forrageiras arbustivas (COSTA JÚNIOR et al., 2005).
Acredita se que os caprinos sejam mais sensíveis as infestações parasitárias, que os
ovinos, principalmente quando pastejam juntos, por possuí uma menor habilidade em
desenvolver a resposta imune contra os nematódeos, outro aspecto responsável por essa maior
incidência dessa doença em caprinos, é que esta espécie é tratada com anti-helmínticos em
forma semelhante aos ovinos, quando o correto para a maioria dos antihelmínticos seria tratálos com doses maiores (TORRES-ACOSTA; HOSTE, 2008; COSTA; SIMÕES; RIETCORREA, 2009), isso porque os caprinos metabolizam rapidamente os benzimidazóis e as
lactonas macrocíclicas, o que diminui o tempo da droga na circulação sanguínea em níveis
tóxicos para os parasitos (CSIRO, 1994).
Entre os helmintos que acometem os caprinos estão àqueles pertencentes ao Filo
Nematoda, que na grande maioria, pertencem a super-família Trichostrongylidea que
compreende os gêneros Haemonchus spp., Trichostrongylus spp., Strongyloides spp.,
Cooperia spp., Oesophagostomum spp., Skrjabinema spp., Trichuris spp, além disso, temos
Moniezia spp. e Cysticercus spp. (UENO; GONCALVES, 1998) entre os protozoários a
Eimeira sp. (GHAGAS, et al., 2007; FALBO et al., 2008;).
O gênero Haemonchus spp. é o principal nematódeo gastrintestinal de caprinos
(COELHO; AMARANTE; BRESCIANI, 2012), responsável pela enfermidade denominada
de hemoncose, são hematófagos e, quando adultos fixam na parede abomasal, chegando a
sugar 0,05 ml de sangue ao dia. As fêmeas de Haemonchus spp. são prolíficas, podendo
eliminar mais de 5.000 ovos por postura e até 10.000 ovos por fêmea. O período pré-patente
varia entre os trichostrongylídeos, liberando ovos a partir do 12º dia para Haemonchus spp
(URQUHART et al., 1998).
Este parasita é responsável um quadro clínico severo de anemia, devido a sua ação
hematófaga, o que faz esse helminto seja o maior causador de perdas produtivas e aumento no
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custo nas criações. As perdas econômicas são decorrentes da baixa produtividade, geralmente
observada no período seco, e da alta mortalidade, que ocorre principalmente na estação
chuvosa (CHARLES, 1989; WALLER; FAEDO, 1996). Também é considerado o
representante de maior prevalência nos rebanhos com relatos de resistência anti-helmíntica
(MELO et al., 2003).
Segundo Costa, Simões e Riet-Correa (2009) a doença parasitária mais frequente em
caprinos e ovinos foi a helmitose gastrointestinal, principalmente a hemoncose, e caprinos
foram mais afetados. A maior freqüência da doença nos caprinos pode estar associada à maior
susceptibilidade destes ou devido a erros no tratamento, como a utilização da mesma dose
para as duas espécies, o que para a maioria dos antihelmínticos é insuficiente para caprinos.
Para Padilha et al. (2000) a resposta imunológica contra re-infecção por Haemonchus spp é
lenta e incompleta, expondo os caprinos a desenvolver formas clínicas e sub-clínicas dessa
parasitose.
O gênero Trichostrongylus spp. é nematódeo gastrintestinal de caprinos importante,
com destaque para T. colubriformis como principal espécie, responsável pela tricostrongilose.
Aloja-se no intestino delgado, e causa uma gastroenterite parasitária com secreção de muco
(URQUHART et al., 1998), são filiformes e menores que o gênero Haemonchus spp. (UENO;
GONÇALVES, 1998; MAHIEU et al., 2007).
Coccidiose ou eimeiriose é doença parasitária causada pelo protozoário Eimeria spp,
intracelulares obrigatórios (VIEIRA et al., 2004), de ocorrência mundial e amplamente
distribuída no Brasil (LIMA, 2004; MENEZES; HASSUM, 2005; BRITO et al., 2009), afeta
animais de todas as idades, porem é mais comum em animais jovens e recém-desmamados,
submetidos aos mais diferentes sistemas de manejo, embora seja mais grave e mais freqüente
em animais criados em sistemas intensivos, daí a sua importância em rebanhos leiteiros
(REBOUÇAS et al., 1992; SUAREZ, 1995; FOREYT, 1990).
As manifestações clínicas da coccidiose variam entre assintomática, com eliminação
de oocistos nas fezes, subclínica é a forma mais comum da doença e, uma vez que não pode
ser prontamente identificado, tem um impacto significativo na saúde do rebanho e clínica pelo
súbito surgimento de diarréia com sangue, coágulos e muco, anemia, debilidade, desidratação,
inapetência, hipoproteinemia e, às vezes, morte (MACIEL et al., 2006; LIMA, 2004).
As Eimeria spp infectam preferencialmente as células intestinais e provocam
destruição celular. Há um grande número de espécies, no entanto, poucas são consideradas
suficientemente patogênicas, e geralmente as infecções envolvem várias espécies, ou seja, em
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casos clínicos de coccidiose é comum a presenças de mais de uma espécie que interagem para
produzir as alterações patológicas (URQUHART et al., 1998; LIMA, 2004).
De acordo com Lima (2004), diferentes fases evolutivas podem produzir a ruptura das
microvilosidades, das células da superfície ou da cripta o que resulta em problemas no
consumo, absorção e digestão dos alimentos, traduzidos em perda no ganho de peso, na
eficiência alimentar e até na morte dos animais.
A eliminação de oocistos por animais que apresentam a forma crônica da doença é
uma importante fonte de contaminação, visto que o mecanismo de transmissão da coccidiose
é oral-fecal (JONES et. al., 2000). Assim, o manejo e o sistema de produção influenciam
bastante na contaminação ambiental, já que os eimeriídeos são parasitos que completam seu
ciclo evolutivo em um único hospedeiro (FAYER; REID, 1982).
Segundo Costa; Simões e Riet-Correa (2009) os caprinos com aptidão leiteira são
bastante susceptíveis a infecção por Eimeria spp., sendo os animais jovens os mais afetados
devido à falta de imunidade ao enteroparasita, já os são adultos mais resistentes, sendo
considerados portadores e disseminadores da doença no rebanho (LEVINE, 1985).
Estudos mostram que tanto a idade, quanto o tipo de sistema de criação influenciam no
aparecimento da doença. Freitas et al. (2005) observaram alto índice de animais positivos e a
elevada freqüência das espécies de Eimeria, em caprinos leiteiros jovens e adultos, criados em
sistema intensivo, todavia Ahid et al. (2009) obtiveram índices similares em caprinos jovem e
adulto em regime extensivo.
Silva et al. (2011) detectaram infecção por Eimeria em cordeiros, criados em sistema
extensivo a partir da Eimeira da terceira semana em alguns animais, mas na sexta semana
100% dos animais estavam infectados. O pico de eliminação de oocistos ocorreu na semana 6,
de acordo com o tempo o inicio da ingestão de pastagem (MANSON, 1977; SILVA, 2006).
Embora exista outras fontes de infecção importantes, como às tetas das mães, ingestão água
e/ou de solo (SILVA, 2006).
3. Controle parasitário
O controle das doenças parasitaria são realizados principalmente por administração de
fármacos aos animais (MILLER; HOROBOV, 2006). No entanto, é necessário fazer um
programa integrado, pois o uso indiscriminado destes medicamentos pode promover a seleção
de uma população de helmintos resistente (MOTA; CAMPOS; ARAÚJO, 2003; MAX et al.,
2009).
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Nos programas de controle parasitários, devem ser considerados, os fatores
epidemiológicos predominantes na região, os quais interferem diretamente na população
parasitária ambiental e, consequentemente, na infecção do rebanho, além de um esquema
racional de alternância de drogas anti-helmínticas, promovendo a seleção de indivíduos
resistentes, utilização de pastagem alternada e higienização (VIEIRA; CAVALCANTE;
XIMENES, 1997; MOTA; CAMPOS; ARAÚJO, 2003).
Foram relatados alguns controles parasitários alternativos que incluem o uso de
vacinas contra nematóides (MEEUSEN; PIEDRAFITA, 1996), controle biológico (LARSEN,
1999) e o uso de forragens taniníferas com propriedades anti-helmínticas (BUTTER et al.,
2000). Devido há crescente preocupação com os resíduos de drogas, na cadeia alimentar e
poluição ambiental (ATHANASIADOU; HOUDIJK; KYRIAZAKIS, 2008). Essa busca por
medidas alternativas de controle, por meio do uso de plantas, sementes ou extratos de vegetais
necessita de comprovação científica de seus benefícios (CABARET; BOUILHOL; MAGE,
2002).
3.1 Uso de plantas taniníferas como antihelmintíco
A segurança de alimentos é um tema cada vez mais relevante, devido à crescente
busca por uma melhor qualidade de vida e conscientização dos consumidores (SPISSO;
NÓBREGA; MARQUES, 2009).
Os fitoquímicos naturais presentes nos alimentos como flavonóides e seus derivados
são fontes de substâncias biologicamente ativas com ações antihelminticas, antioxidantes,
antimutagênicas, entre outras. A substituição de substâncias químicas por compostos naturais
pode ter efeito benéfico, no que tange às implicações à saúde humana (DURAN; PADIHA,
1993).
Os fitoterápicos têm se destacado como controle alternativo para alguns
medicamentos, em substituição das substâncias químicas por compostos naturais podem ter
efeito benéfico, no que tange às implicações à saúde humana (DURAN; PADIHA, 1993).
Bizimenyera et al. (2006) e Chagas, Athayde e Lôbo (2009) consideraram que a utilização de
fitoterápicos no tratamento de animais tem se mostrado como uma opção viável, capaz de
controlar efetivamente as parasitoses gastrintestinais com menor impacto ambiental possível e
baixos custos uma vez que, reduz o uso de anti-helmínticos convencionais, além de estender a
vida útil dos produtos químicos disponíveis (VIEIRA et al., 1999).
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Muitas plantas, tradicionalmente, conhecidas pelo senso popular por possuírem
atividade anti-helmíntica como erva-de-Santa-Maria (Chenopodium ambrosoides), Nim
Indiano (Azadirachta indica) e o hortelã (Mentha piperita), já foram estudas e comprovada,
Chagas et al. (2007) em estudos com extratos das folhas Azadirachta indica, descreveram
resultados positivos no controle de nematóides gastrintestinais de caprinos, assim como,
Almeida et al. (2007) utilizando Mentha piperita e Chenopodium ambrosoides.
A ação terapêutica dos extratos vegetais e óleos essenciais estão associados aos
metabólitos secundários, os quais têm papel ecológico na defesa a eventuais predadores
(CHAGAS, 2004), dentre eles temos os taninos.
A S. terebinthifolius Raddi ou aroeira-vermelha pertence à família da Anacardiaceae,
onde seu nome científico se deve à semelhança com as folhas pertencentes ao gênero
terebinthus. A palavra terebinthifolius é uma combinação de terebinthus e folia, que em latim
significa folha. É uma árvore de folhas perenes, porte médio que atinge a altura de 5 a 10
metros, com tronco curto, normalmente, escondido pelos galhos entrelaçados. Suas folhas são
verde-escuras, compostas, oblongas a elípticas e com nervuras proeminentes na parte de cima
do limbo. As flores brancas ou de cor amarelo-pálido de sexos separados, na mesma árvore,
são pequenas e agrupadas em inflorescências do tipo cacho. Os frutos são do tipo drupa
medindo de 4 a 5,5 mm de diâmetro, levemente achatada no comprimento, sendo que em cada
fruto pode existir uma ou várias sementes reniformes, de polpa oleosa (CARVALHO, 1994).
Seu fruto, pequeno de cor vermelha bem forte e brilhante é conhecido também por
pimenta-rosa e é muito procurado pelas aves. Este pequeno fruto destaca-se dentre as muitas
especiarias existentes que são utilizadas essencialmente para acrescentar sabor e refinamento
aos pratos da culinária universal. O sabor suave e levemente apimentado do fruto da aroeiravermelha permite seu emprego em diversas preparações, podendo ser utilizado na forma de
grãos inteiros ou moído. No entanto, o fruto da aroeira é especialmente apropriado para a
confecção de molhos que acompanham as carnes brancas, de aves e peixes, por não abafar o
seu gosto sutil (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2010). Também é utilizado para
extração de óleo essencial, essa obtenção ocorre somente a partir de frutos maduros e
íntegros. Assim, os frutos que não estejam dentro desta padronização não são utilizados para
tal finalidade havendo necessidade de buscar destinos alternativos para esta matéria-prima,
que pode ser utilizado deste modo (torta) na alimentação animal (ZANINI et al., 2009a;
ZANINI et al., 2009b).
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3.2 Ação dos taninos
Foram inicialmente identificados pelo seu sabor adstringente e pela sua capacidade de
precipitar proteínas solúveis. Eles são encontrados em raízes, flores, frutos, folhas, cascas e na
madeira, sendo usados para fins medicinais, na alimentação, na fabricação de bebidas e pela
sua capacidade de se combinar com proteínas da pele animal inibindo o processo de
putrefação, mais conhecido como processo de curtimento do couro (BARTOLOMÉ;
JIMÉNEZ-RAMSEY; BUTLER, 1995).
Os taninos podem ser classificados, de acordo com sua estrutura química, em dois
grupos: hidrolisáveis e condensados (MONTEIRO; ALBUQUERQUE; ARAUJO, 2005). Os
taninos condensados são mais comuns na dieta humana do que os taninos hidrolisáveis. Estão
presentes em concentrações relativamente importantes em alguns frutos (uvas, maçãs entre
outras), no cacau e no chocolate (SANTOS-BUELGA; SCALBERT, 2000; MELLO;
SANTOS, 2002).
Os taninos hidrolisáveis são compostos que após hidrólise produzem carboidratos e
ácidos fenólicos. São unidos por ligações éster-carboxila, sendo prontamente hidrolisáveis em
condições ácidas ou básicas (HAGERMAN; BUTLER, 1978).
A unidade básica estrutural desse tipo de tanino é normalmente a D-glicose, com seus
grupos hidroxilas esterificados pelo ácido gálico ou pelo ácido hexadiidroxifênico. Portanto
os taninos hidrolisáveis são divididos, de acordo com o produto de hidrólise, em galotaninos,
que produzem ácido gálico e em elagitaninos, que produzem ácido elágico (NASCIMENTO;
MORAIS, 1996; GALVEZ; RIEDL; CONNER, 1997).
Taninos condensados ou não hidrolisáveis são oligômeros e polímeros formados pela
ligação de dois ou mais monômeros de flavan-3-ol (catequina) ou flavan-3-4-diol. Essa classe
de taninos também é denominada proantocianidina devido à produção de pigmentos
avermelhados da classe das antocianidinas (ZUANAZZI, 2000).
Os taninos condensados podem ser classificados de acordo com a presença de OH na
posição C-3 do anel B em prodelfinidina ou na ausência desta OH em procianidina. Os
monômeros de procianidinas são a catequina e a epicatequina enquanto os monômeros de
prodelfinidina são a galocatequina e a epigalocatequina (BRUNET; HOSTE, 2006).
Uma das mais importantes propriedades químicas dessa classe de taninos é a
habilidade de formar complexos com macromoléculas tais como proteína e carboidratos,
sendo inclusive, o aspecto mais determinante dos efeitos antinutricionais e toxicológicos em
pequenos ruminantes (OTERO; HIDALGO, 2004).
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Os complexos formados entre taninos condensados e proteínas podem ser reversíveis
ou irreversíveis. Os complexos reversíveis são estabelecidos via pontes de hidrogênio e
interações hidrofóbicas, enquanto que os irreversíveis ocorrem em condições oxidativas via
ligações covalentes (ZUANAZZI, 2000).
A capacidade dos taninos de formar complexos com proteínas depende de: proteínas
com alto peso molecular associam-se mais fortemente aos taninos; proteínas com estruturas
mais abertas e flexíveis tem mais afinidade com taninos; por outro lado as proteínas
globulares por possuírem uma estrutura mais compacta têm uma menor afinidade com os
taninos; as proteínas ricas em prolina são lineares, uma vez que este aminoácido não se insere
em uma estrutura alfa-hélice aumentando assim, a superfície de contato do polipeptídeo, com
maior probabilidade de reação (ZUANAZZI, 2000).
Portanto, os prováveis mecanismos responsáveis pela atividade biológica dos taninos
estariam relacionados com a capacidade de formar complexos com outras moléculas incluindo
polissacarídeos e proteínas além de formar complexos com íons metálicos como o ferro,
manganês, cobre alumínio, e de exercer a atividade antioxidante e seqüestrador de radicais
livres (OKUDA, 2005).
Os taninos condensados são bastante conhecidos como fatores antinutricionais nas
dietas (KETZIS et al., 2006), no entanto, interferem de maneira distinta em animais
monogástricos e ruminantes. Em ruminantes, os taninos podem produzir efeitos positivos ao
reduzir a quantidade de proteína digerida no rúmen e, aumentar a quantidade de proteína
disponível no intestino delgado, eliminar parasitas e diminuir o timpanismo espumoso
(WAGHORN;
MCNABB,
2003;
MUELLER-HARVEY,
2010).
Para
os
animais
monogástricos, como suínos, aves e peixes, os taninos condensados afetam o valor nutricional
dos alimentos, com formação de complexos com as proteínas da dieta, carboidratos e outros
nutrientes, pela inibição da atividade de várias enzimas digestivas, pela diminuição da
absorção de outros nutrientes através da parede celular e pela erosão de células epiteliais do
intestino (WARREHAM et al., 1994).
Os efeitos dos Taninos condensados com ação anti-helmíntica têm sido relatados in
vitro, sobre os diferentes estágios dos nematóides, redução de eclodibilidade dos ovos,
desenvolvimento larvar, na motilidade e desembainhamento larvar e motilidade de adultos
(HOSTE et al., 2006; BRUNET et al., 2007; BRUNET et al., 2008; JOSHI et al., 2011;
MUPEYO et al., 2011). Esses testes apresentam vantagens o baixo custo, rapidez dos
resultados permitindo a triagem de uma grande quantidade de plantas e possibilidade de
avaliar substâncias isoladas sem interferência de outros compostos (GITHIORI;
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ATHANASIADOU; THAMSBORG, 2006). Embora somente avaliem o efeito do TC sobre
os nematóides, sem a interferência da fisiologia animal. Contudo, experimentos in vivo foram
realizados em ovinos e caprinos para avaliação da atividade anti-helmíntica de plantas ricas
em TC. (LANGE et al., 2006; SHAIK et al., 2006; TERRIL et al., 2007; AKKARI et al.,
2008; MINHO et al., 2008b; MAX et al., 2009; JOSHI et al., 2011).
Para esclarecer mecanismos de ação dos TC sobre nematóides gastrintestinais, foram
desenvolvidas duas hipóteses baseadas na sua capacidade de complexação com proteínas. A
primeira é o efeito direto sobre larvas e adultos, de acordo com essa hipótese, os TC se ligam
com a cutícula dos nematóides, que é rica em prolina e hidroxiprolina, e alteram suas
propriedades físicas e químicas (ATHANASIADOU et al., 2000; HOSTE et al., 2006). A
segunda hipótese é o efeito indireto do TC, que aumentar a resposta imune de pequenos
ruminantes contra parasitos, pois os TC protegem as proteínas da degradação ruminal,
aumentando sua disponibilidade no intestino delgado. Indivíduos em bom estado nutricional
são importantes, devido ao fator de equilíbrio na relação parasito-hospedeiro, assim como na
patogênese da infecção parasitária (VALDERRÁBANO et al., 2002).
Segundo Oliveira et al. (2011) a presença de taninos nas plantas pode influenciar
positivamente a sanidade de pequenos ruminantes, entretanto, seus efeitos dependem do tipo e
da concentração desses metabólitos. Dessa forma, não existe uma indicação precisa de como
utilizá-los no controle de nematóides gastrintestinais de pequenos ruminantes, por isso há
necessidade mais estudos.
Shalders et al. (2014) verificaram efeito quadrático de níveis de suplementação de
torta de pimenta rosa (TPR) sobre a contagem de ovos por grama de fezes (OPG) (P≤0,05),
com ponto de mínimo estimado em 1,0Log10 no nível de 35,8% TPR na dieta, representando o
limite de resposta do TPR. Além da redução no OPG, houve um decréscimo linear na
contagem de oocistos por grama de fezes (OOPG) com o incremento nos níveis de TPR da
dieta. Estes autores concluíram que a adição de 20-30% TPR possibilitou o controle de
parasitos gastrointestinais com máximo desempenho animal.
Shalders et al. (2013) observaram que os animais suplementados com torta de pimenta
rosa (TPR) tiveram os menores valores de consumo voluntário animal comparado com os
demais grupos (P<0,05), mas sem interferir negativamente sobre peso corporal. Os animais
alimentados com TPR tiveram um peso corporal superior ao controle negativo (P<0,05) e
similar aos tratados com a monensina sódica (P>0,05). A contagem de oocistos por grama de
fezes foi menor nos animais tratados com TPR diferindo significativamente do controle
negativo (P<0,05). Estes autores verificaram que o TPR foi eficaz no controle dos
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protozoários da família Eimeriidae, com potencial para serem utilizadas em programas
alternativos de controle da eimeriose caprina. Concomitantemente, também maximizou o
desempenho animal conferindo maior peso corporal mesmo com a redução de consumo
voluntário.
4. CONSIDERAÇÃO
Na literatura há relatos que os taninos podem interferir sobre os aspectos produtivos e
sanitários de pequenos ruminantes. Estes efeitos estão relacionados com o tipo e a
concentração de taninos no arraçoamento animal. A flora brasileira, por sua biodiversidade,
apresenta-se como fonte inesgotável de substâncias naturais cujos princípios fitoterápicos ou
fitossanitários podem ser avaliados para prevenção ou no tratamento de doenças visando o
desenvolvimento de uma agricultura ecológica e conseqüente obtenção de alimentos mais
saudáveis. A crescente demanda nacional e internacional por produtos orgânicos, livres de
agrotóxicos, tem influenciado o crescimento do mercado de productos orgánicos.
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236
Capítulo 16- Controle de pragas em grãos armazenados com inseticidas naturais
PRAÇA, N. M. P1; RODRIGUES, J. A.2; VIANNA, U. R.3; GAI, Z. T 4
Introdução
No Brasil, país sabidamente detentor da maior diversidade biológica do mundo,
apenas 8% das espécies vegetais foram estudadas até o momento em busca de compostos
bioativos e entre elas, apenas 1.100 foram avaliadas quanto às suas propriedades terapêuticas
(HEINZMANN; BARROS, 2007).
Na Índia, por volta de 2.000 a.C., já se fazia o uso de inseticidas naturais (provenientes
de plantas) no controle de pragas. No Egito durante a época dos Faraós e na China por volta
do ano de 1.200 a.C. inseticidas derivados de plantas já eram usados para controle de pragas
de grãos armazenados aplicados diretamente nos grãos ou por fumigação destes. Já no século
16 os europeus faziam uso de diversas plantas para efetuarem o controle de pragas. Porem,
após a 2a Guerra Mundial com a demanda dos inseticidas organo-sintéticos o uso de
inseticidas botânicos foi reduzido visivelmente (FLINT; VAN DEN BOSCH, 1981;
CASIDA; QUISTAD, 1998; THACKER, 2002).
Existe um número significante de plantas cujas atividades inseticidas têm sido
estudadas. As plantas das famílias Meliaceae, Rutaceae, Asteraceae, Annonaceae, Labiatae e
Canellaceae são consideradas as mais promissoras (JACOBSON, 1990). Os compostos com
propriedades inseticida derivadas de diversos órgãos das plantas são definidos como
inseticidas naturais ou mais especificamente botânicos.
Essa forma alternativa de combater pragas tem sido buscada e desenvolvida cada vez
mais com o passar dos anos, pois o uso frequente e indiscriminado de produtos químicos,
muitas vezes acarreta a presença de altos níveis de resíduos tóxicos nos alimentos,
desequilíbrio biológico, contaminações ambientais, intoxicações de seres humanos e outros
animais, ressurgência de pragas, surtos de pragas secundárias e linhagens de insetos
resistentes (SAXENA, 1989).
_________
1
Graduanda em Zootecnia - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. email: [email protected]
Mestranda em Ciências Veterinárias - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
Professor do Departamento de Produção Vegetal - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
4
Professora do Departamento de Zootecnia - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
2
3
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
237
As plantas com propriedades inseticida possuem extratos botânicos que promovem
metabólitos secundários, tendo alta capacidade para interferências tóxicas em processos
bioquímicos básicos, que atingem o desenvolvimento desses insetos, com consequências
fisiológicas e comportamentais nos mesmos (MICHAELRAJ; SHARMA, 2006).
Os estratos e óleos essenciais destas plantas e seus componentes com potencial
inseticida, causam repelência, interferem no crescimento, retardando o desenvolvimento,
impedindo a muda, e afetando a reprodução, resultando um índice alto de mortalidade de
pragas (KNAAK; FIUZA, 2010).
Desse modo, tem se buscado cada vez meios de controle de insetos praga, com
derivados de plantas que ofereçam maior segurança ao homem e a produção animal,
promovendo seletividade a inimigos naturais, biodegradabilidade, viabilidade econômica e
baixo impacto ambiental (DAYAN; CANTRELL; DUKE, 2009; OOTANI et al., 2011).
Assim, o óleo essencial e o extrato de plantas pode ser uma alternativa eficaz e confiável no
controle de pragas em grãos armazenados.
1. Controle de pragas com inseticidas naturais
Existem algumas formas de emprego dos inseticidas botânicos no controle de pragas,
que são desenvolvidos para a adequação de cada situação e momento no combate do mesmo.
Esta utilização pode ser na forma “in natura” em pó e extração aquosa ou alcoólica
(GUERRA, 1985; SANTOS et al., 1988); formulações concentradas comerciais e
semicomerciais (MORDUE; BLACKELL, 1993); purificação e isolamento de compostos
puros obtidos de extratos de plantas. Moléculas modelos para síntese de novos agroquímicos,
com características desejáveis, mais ativos, seletivos e com menores riscos ao homem e meio
ambiente (NAIR, 1994). Incorporados, via engenharia genética, em plantas cultivadas
reduzindo os danos ocasionados por insetos pragas, micro-organismos e plantas invasoras
(CUTLER, 1988).
A escolha de cada método deve se adequar as especificidades da praga, planta
escolhida, região, local de aplicação, disponibilidade de matéria prima e o produto que está
sendo atacado. Segundo Cloyd (2004) como todas as práticas, existem várias vantagens e
desvantagens advindas da utilização dos inseticidas botânicos.
1.1 Vantagens
a) Degradação rápida: São sensíveis a alta luminosidade, umidade e chuva. Ou seja,
esses produtos possuem menor persistência no ambiente reduzindo seu impacto a organismos
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benéficos, homem e ambiente.
b) Ação rápida: Matam o inseto, paralisam ou reduzem sua alimentação quase
imediatamente após sua aplicação.
c) Baixa toxicidade a mamíferos: Muitos inseticidas botânicos têm baixa toxicidade
a mamíferos (grande DL50) e alguns na dose recomendada não são tóxicos ao homem,
abelhas e outros mamíferos.
d) Baixa fitoxicidade: A maioria dos inseticidas botânicos não são fitotóxicos
(KATHRINA; ANTONIO, 2004; WIESBROOK, 2004).
1.2. Desvantagens
a) Rápida degradação: Por isto podem ser exigidas muitas aplicações para se obter o
controle satisfatório de ácaros e insetos–praga.
b) Toxicidade a organismos não-alvo: Alguns inseticidas botânicos como a nicotina
e a rotenona são muito tóxicos a mamíferos e peixes, respectivamente.
c) Disponibilidade e custo: Muitos inseticidas botânicos não estão disponíveis
comercialmente e podem ser mais caros que os inseticidas organo-sintéticos.
d) Falta de dados de pesquisa: A falta de resultados de pesquisa quanto a eficácia,
efeitos secundários e toxicidade crônica.
e) Os compostos bioativos podem variar conforme a espécie e variedade da planta,
elementos climáticos (como luz, temperatura, umidade relativa e chuvas) e a posição
geográfica do cultivo (latitude e altitude), horário de coleta, qualidade do solo, tratos
culturais, fenologia da planta, etc. (ANDRADE; CASALI, 1999; CARVALHO et al., 1999).
2. Plantas com propriedades ou potencial inseticida
Existe um acervo de inúmeras espécies de plantas que são utilizadas constantemente
como controle de pragas através do seu potencial inseticida.
2.1. Principais plantas com potencial inseticida:
2.1.1 Neem, Azadirachta indica – Nim
Possui um óleo que é extraído da semente. Pertence a família Meliaceae, que se
desenvolve em regiões tropicais e subtropicais. Apesar de ser originária do Continente
Asiático, hoje sua produção se alastra pelos continentes, sendo considerada a planta com
princípios inseticidas mais importantes do mundo. Esta planta apresenta um composto em
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específico chamado azadiractina, que tem uma grande toxidez em insetos, inibi a alimentação,
crescimento e tem o efeito repelente nos mesmos (BRUNHEROTTO; VENDRAMIM, 2001).
A azadiractina apresenta diversos efeitos endócrinos, o maior é a modificação dos
níveis de ecdisteróides na hemolinfa, onde o processo de ecdise é extremamente afetado. Ela
também afeta a síntese e liberação do hormônio juvenil (BECKAGE et al., 1988). Em relação
aos demais inseticidas botânicos comercializados atualmente o óleo de nim está entre os
menos tóxicos ao homem (COX, 2002). O extrato da semente de nim se encontra na forma do
produto comercializado como o Margosan-O e também em outros produtos utilizados no
controle de tripes, lagartas, besouros e moscas-brancas (MARTINEZ; EMDEN, 2001; COX,
2002).
2.1.2 Lonchocarpus spp, Derris spp – Falso Timbó, Rabo de Guariba
Lonchocarpus spp. é originária da América do Sul e a Derris spp., é encontrada na
Ásia, seu composto inseticida é a rotenona, que também é encontrada em algumas outras
leguminosas tropicais. Ele é extraído da raiz que resulta numa série de compostos conhecidos
como rotenóides.
A rotenona causa efeito tóxico inicialmente nos músculos e nervos cessando
rapidamente a alimentação dos insetos e causando sua morte algumas horas ou dias após a
exposição, também é um eficaz inibidor da respiração celular, impedindo que a cadeia de
transporte de elétrons nas mitocôndrias por ligar-se ao NADH:Q oxiredutase (Complexo I) e
impedindo a oxidação do NADH2 (TADA-OIKAWA et al., 2003). Apesar de ser um dos
inseticidas orgânicos mais tóxicos aos insetos, não apresentam toxidez alguma para os
humanos. Também possui largo espectro de ação sendo utilizada no controle de lagartas,
tripés, besouros, ácaros, percevejos, moscas-brancas e pulgões (COX, 2002).
2.1.3 Chrysanthemum cinerariaefolium e Chrysanthemum cineum (Asteraceae) –
Crisântemo
Estas plantas possuem um inseticida natural chamado piretros. Os piretros têm uma
baixa toxidade em mamíferos, quando ingerida pelos insetos, causa paralisia. Esse inseticida
faz parte do grupo dos piretróides que agem no controle de sódio e potássio, onde faz com que
os canais de sódio permaneçam abertos, resultando em um estado de hiperexcitabilidade e
interrompendo a transmissão de impulsos nervosos.
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Os mamíferos também são susceptíveis, porém possuem enzimas que transformam
rapidamente estes compostos em outros produtos inócuos (KLAASSEN; WATKINS III,
2003). O mesmo possui atividades inseticidas sobre um numero significativo de insetos, como
mosquitos, pulgões, tripes, moscas das frutas, lagartas, cochonilhas, percevejos, besouros,
pulgas, piolhos e ácaros (COX, 2002). No mercado atual, existem diversos produtos
registrados com esse inseticida, tornando-se um dos mais utilizados.
2.1.4 Ryania speciosa (Flacourtiaceae) – Mata – Cachorro
Planta originária da América do Sul, e seu extrato contêm uma série de rianóides
(WARE, 1892). Este composto causa a paralisia dos insetos imediatamente após a aplicação,
atacando os canais liberadores de cálcio no retículo sarcoplasmático alterando a
permeabilidade das vesículas ao cálcio. Em concentrações nanomolares ela ativa
irreversivelmente os canais liberadores de cálcio e em altas concentrações tende a bloqueá-los
(USHERWOOD, 1962). Age por contato ou ingestão possuindo baixa toxicidade a mamíferos
não sendo, normalmente, eficazes em insetos parasitoides e predadores, entretanto pode ser
muito tóxica a ácaros predadores. Possui o maior efeito residual dentre os inseticidas
botânicos muito comercializados atualmente, apresentando atividade após duas semanas
depois da aplicação (COX, 2002). Também possui largo espectro de ação sendo utilizada no
controle de lagartas, tripes, besouros, ácaros, percevejos, moscas-brancas e pulgões
(REIGART; ROBERTS, 1999).
2.1.5 Nicotiana spp. – Tabaco
Especialmente utilizada do fumo Nicotiana tabacum (Solanaceae). A nicotina é uma
toxina que age sobre o sistema nervoso e, com efeito, muito rápido. É uma competidora da
acetilcolina por ligar-se aos receptores de acetilcolina nas sinapses dos axônios (REIGART;
ROBERTS, 1999). A nicotina na sua forma pura é extremamente tóxica a mamíferos e
particularmente perigosa por penetrar na pele, olhos e mucosas, podendo levá-los à morte.
Normalmente é mais ativa quando aplicada nas horas mais quentes do dia, sendo totalmente
degradada em 24 horas, não deixando qualquer resíduo tóxico. É utilizada principalmente no
controle de artrópodes sugadores como pulgões, moscas-brancas, cigarrinhas, tripes e ácaros
principalmente em casas de vegetação e jardins possuindo efeito de contato e fumigação
(COX, 2002).
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Existem outras variedades de plantas inseticidas que são utilizadas, porém sem estudos
aprofundados ou mesmo são produzidas em menor escala, como, pimenta, alho, eucalipto,
óleo de soja, sabão de extratos vegetais, entre outros.
3. Pragas em produtos armazenados
O conhecimento do hábito alimentar de cada praga é uma informação importante para
definir o manejo a ser implementado nas sementes durante o período de armazenamento.
Segundo esse hábito, as pragas podem ser classificadas em primárias ou secundárias
(SANTOS et al., 1994).
3.1. Pragas primárias
Estas são identificadas por atacarem sementes e grãos inteiros e sadios, e, dependendo
da parte que atacam, podem ser denominadas pragas primárias internas ou externas. As
primárias internas perfuram as sementes e nestas penetram para completar seu
desenvolvimento, sendo menos perceptível, ou seja, podem passar despercebias aos olhos
humanos. Exemplos dessas pragas são as espécies Rhyzopertha dominica, Sitophilus oryzae e
S. zeamais. As pragas primárias externas destroem a parte exterior da semente (tegumento) e,
posteriormente, alimentam-se da parte interna sem, no entanto, se desenvolverem no interior
da mesma. Há destruição da semente apenas para fins de alimentação (LORINI, 2008).
3.2. Pragas secundárias
Este tipo de praga não consegue atacar sementes e grãos sadios e inteiros, pois
dependem que estes estejam danificados ou quebrados para deles se alimentarem. Essas
pragas ocorrem nas sementes quando estão trincadas, quebradas ou mesmo danificadas por
pragas primárias, elas ocorrem desde o período de recebimento ao de beneficiamento dos
lotes de sementes. Multiplicam-se rapidamente e causam grandes prejuízos. Como exemplo,
citam-se as espécies Cryptolestes ferrugineus, Oryzaephilus surinamensis e Tribolium
castaneum (LORINI, 2008).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há uma necessidade em aprimorar e desenvolver trabalhos relacionados com a
preservação das sementes (bancos de sementes) com a utilização de produtos inseticidas
naturais, pois estes viabilizam sementes orgânicas, preservando desde a sua origem. E através
da análise de diversos trabalhos foi possível constatar a importância da identificação da praga
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
242
para a utilização de inseticidas naturais, pois assim pode-se trabalhar com grande eficácia no
combate dos mesmos. Esta alternativa vem como uma estratégia dentro do Manejo de Pragas
e se mostra promissora, sendo muito viável economicamente. Os impactos resultantes da
adoção do método relacionam-se a redução do nível de toxidez, evitam perdas qualitativas e
quantitativas dos grãos, racionalizando o uso de inseticidas químicos, podendo aumentar o
período de tratamento, e reduzindo os riscos de acidentes, sendo assim mais muito eficiente e
benéfico à saúde humana, animal e, principalmente a ambiental. Para isso deve-se
desenvolver estratégias técnicas e metodológicas na busca de autonomia na produção de
sementes e consequentemente sua conservação.
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245
Capítulo 17- Criopreservação de embriões bovinos: avanços e entraves
OLIVEIRA, C.S.1; SENA, L.M2; SANTOS, J.D.2; OLIVEIRA, L.Z.3; MARTINS, C.B.2
Introdução
O Brasil utiliza intensamente e desenvolve biotecnologias da reprodução animal,
sendo o maior produtor de embriões bovinos produzidos in vitro (PIV), responsável por
70,8% da produção mundial (IETS, 2014). Através do uso da PIV, os ganhos genéticos e a
pressão de seleção sobre os rebanhos podem aumentar com velocidade consideravelmente
superior à obtida com métodos reprodutivos convencionais. Assim, a produção in vitro de
embriões consiste em uma ferramenta importante para a pecuária, por (i) aumentar a
eficiência reprodutiva de animais geneticamente superiores, (ii) encurtar o intervalo entre
gerações, favorecendo o uso de fêmeas na pré-puberdade, (iii) facilitar o uso do sêmen
sexado, priorizando a produção de bezerras fêmeas, benefício especialmente importante em
sistemas de produção leiteira e rebanhos geneticamente superiores, e (iv) por propiciar a
manutenção de grau de sangue definido em rebanhos cruzados. Estas características estão
todas relacionadas com impacto econômico positivo para a pecuária.
O conceito de criopreservação envolve o armazenamento de tecidos biológicos vivos a
baixas temperaturas para que esses continuem viáveis para utilização futura. A interrupção do
desenvolvimento embrionário no estágio de blastocisto permite a programação de diversas
etapas subsequentes, otimizando o destino destes embriões. Dois principais métodos de
criopreservação são descritos (GONÇALVES, FIGUEIREDO e FREITAS, 2008). O
congelamento lento que visa à manutenção do equilíbrio entre as várias fontes de danos,
utilizando baixas concentrações de crioprotetores para controlar a formação de cristais de
gelo, e o congelamento rápido que emprega concentrações maiores de crioprotetores, levando
os componentes celulares a um estágio vítreo promovendo a conservação (VAJTA e NAGY,
2006).
Dentre os aspectos de controle que tornam importante o processo a criopreservação, o
manejo de receptoras seria o mais evidente. Em qualquer programa de transferência de
embriões, frequentemente temos receptoras em excesso ou em número insuficiente, por ser
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EMBRAPA Gado de Leite, Campus Experimental Santa Mônica, Valença, RJ.
Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, CCA/UFES, Alegre-ES. Email: [email protected]
Departamento de Reprodução Animal e Obstetrícia, Faculdade de Medicina Veterinária, Centro Universitário de Rio Preto - UNIRP, São
José do Rio Preto, SP.
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improvável a estimativa precisa do número de blastocistos que será produzido dias antes do
momento da punção folicular (BUENO e BELTRAN 2008).
Outro ponto crítico seria o transporte e comercialização destes embriões. Congelados
em palhetas, podem ser trabalhados de forma semelhante a doses de sêmen, tornando assim, a
comercialização mais fácil e prática, com benefícios que se estenderiam desde a sanidade dos
rebanhos, por não haver a necessidade de introdução receptoras, até ganhos genéticos
extremos, pela completa substituição do genoma materno (GONÇALVES, FIGUEIREDO e
FREITAS, 2008). O terceiro aspecto interessante é a utilização da ferramenta para a produção
de bancos de germoplasma. Genomas e a combinação deles poderiam ser armazenados por
períodos indeterminados e se tornariam uma alternativa viável de retorno em programas de
melhoramento genético (MARIANTE, ALBUQUERQUE e RAMOS, 2011).
No entanto, apesar das inúmeras vantagens da biotécnica, a criopreservação de
embriões ainda não é uma prática comum em programas de produção de embriões in vitro,
devido aos inúmeros fatores que afetam a viabilidade embrionária. Esses resultados são
atribuídos a alterações de acúmulo lipídico, alterações genéticas, epigenéticas e danos as
organelas citoplasmáticas (FAIR et al., 2001; ENRIGHT et al., 2003).
Nesse contexto, o intuito desta revisão é discutir os principais pontos que tornaram o
armazenamento de embriões um gargalo na PIV, e algumas estratégias propostas para
minimizar os efeitos deletérios da biotécnica.
Princípios básicos da criopreservação de embriões
O conceito de criopreservação envolve o armazenamento de tecidos biológicos vivos a
baixas temperaturas e apesar de já ter sido tema de diversos filmes de ficção científica, a
criopreservação é um procedimento amplamente utilizado para conservação de linhagens
celulares diversas, espermatozóides (SHARMA, 2011) e fragmentos de tecidos (PARIS et al.,
2004). Durante os processos de congelamento e descongelamento, ocorrem danos na estrutura
celular que são provenientes de fatores como a formação intracelular de cristais de gelo e a
diminuição da temperatura antes do congelamento (SHARMA, 2011).
Os embriões em estádio de blastocisto possuem pelo menos duas linhagens
diferenciadas: o trofectoderma e a massa celular interna (ZERNICKA-GOETZ, 2011). Em
bovinos, estruturas coletadas no dia 7 de desenvolvimento apresentam aproximadamente 100
células (OLIVEIRA et al., 2011), organizadas tridimensionalmente de maneira única, e
envoltas por uma forte membrana denominada zona pelúcida. Portanto, o processo de
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criopreservação de embriões apresenta elevada complexidade quando comparado à
criopreservação de suspensões de células contendo milhares de exemplares, como ocorre em
células tronco embrionárias (CTE), por exemplo.
Os efeitos deletérios sobre percentuais da população na criopreservação de CTE,
mesmo que significativos, tem menor importância sobre o cultivo como um todo, uma vez
que há um grande número de células vivas que podem multiplicar-se e substituir as células
perdidas com o processo de criopreservação. No blastocisto, o percentual de células da massa
celular interna corresponde a aproximadamente 38% das células do blastocisto no dia 7 em
bovinos (OLIVEIRA et al., 2011). E a perda destas células durante o processo de
criopreservação pode ser irreparável. Por isso, o potencial de sobrevivência das células é um
aspecto essencial, característica denominada criotolerância.
A primeira técnica proposta para criopreservação de embriões com sucesso foi a
congelação lenta (WHITTINGHAM et al., 1971). O princípio da congelação lenta é promover
o congelamento dos compartimentos externos ao embrião, promovendo desidratação gradual
do blastocisto até que o mesmo atinja a temperatura de vitrificação da matriz intracelular
(SARAGUSTY e ARAV, 2011). Para tanto, os blastocistos são expostos a baixas
concentrações de crioprotetores, sendo a temperatura reduzida a -5 a -7ºC para equilíbrio. Em
seguida, as estruturas são submetidas ao início da congelação extracelular, a temperatura é
diminuída gradualmente através de uma curva de -0.3 a -0.5ºC por minuto, até atingir
temperaturas da ordem de -30 a -65º C, quando as palhetas são imersas em nitrogênio líquido
(WILLADSEN et al., 1976).
Apesar de funcionar muito bem para embriões produzidos in vivo, com taxas de
aproximadamente 41,5% de prenhez (VAN WAGTENDONK-DE LEEUW, DEN DAAS e
RALL, 1997), em embriões PIV os índices inicialmente foram insatisfatórios. Neste contexto,
a técnica de vitrificação reemergiu como uma alternativa interessante para a criopreservação
de embriões PIV. O congelamento rápido ou vitrificação promove a desidratação do embrião
pelo emprego de soluções osmóticas e indução da diminuição drástica da temperatura
embrionária, transpondo a etapa de cristalização (SARAGUSTY e ARAV, 2011). Para tanto,
são utilizadas concentrações maiores de crioprotetores, que em função de sua maior
velocidade de resfriamento e aquecimento proporcionam uma passagem rápida pela faixa
crítica de temperatura (NEDAMBALE et al., 2004). Três aspectos são muito importantes
neste último processo: a taxa de resfriamento, a viscosidade do meio de vitrificação, que deve
ser alta para aumentar a temperatura de transição, diminuindo as chances de cristalização; e o
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volume, que deve ser o menor possível para permitir melhor transferência de calor
(SARAGUSTY e ARAV, 2011).
Diversos protocolos foram desenvolvidos utilizando essa técnica e as diferenças
existentes nas taxas de sobrevivência após a vitrificação obtidas entre diferentes autores e
protocolos refletem possivelmente o estágio, origem, a composição de lipídeos intracelulares,
diferenças na estrutura microtubular e a razão volume/superfície dos embriões influenciando a
penetração de crioprotetores (VAJTA et al. 1998). O procedimento de vitrificação pela
técnica open pulled straw (OPS), proposto por Vajta (1998), permite que se alcance taxas
muito altas de resfriamento e aquecimento (até 20.000°C/min), e pequeno contato com os
aditivos crioprotetores concentrados (menos de 30seg. a 180°C negativos). A técnica evita a
injúria causada pela formação de cristais, toxicidade e danos osmóticos, culminando com
taxas de blastocistos semelhantes aos embriões controle, em embriões criopreservados desde
o dia 3 (D3) ao dia 7 (D7).
As técnicas de criopreservação são importantes ferramentas para o controle do destino
dos embriões, porém, afetam a viabilidade embrionária, principalmente nos embriões
produzidos in vitro. Estudos comparando a viabilidade de embriões submetidos à congelação
lenta e vitrificação apontam a segunda como mais adequada (MUCCI et al., 2006). Apesar da
maioria dos estudos apontar queda na viabilidade de embriões PIV criopreservados por
congelamento rápido, estudos demonstram que os índices de prenhez são semelhantes quando
comparados aos da inseminação artificial em rebanhos leiteiros, tornando a técnica
interessante para determinados fins (BLOCK et al., 2010).
Principais efeitos deletérios da criopreservação nos embriões PIV
Os efeitos dos crioprotetores sobre organelas celulares foram investigados em alguns
estudos. Goméz et al. (2009) observaram lesões principalmente na MCI de embriões após a
vitrificação, com redução do número de células. Ohboshi et al. (1998) notaram a diminuição
de microvilosidades em embriões criopreservados, além de alterações de membrana
plasmática, mitocondriais e edema do reticulo endoplasmático; no entanto, núcleo e regiões
juncionais resistiram à crioinjúria.
Fair et al. (2001) compararam os efeitos da criopreservação sobre embriões produzidos
in vitro (PIV) e in vivo. Os autores descreveram que os embriões PIV apresentaram
características morfológicas distintas dos produzidos in vivo, como espaço perivitelino mais
largo, menor abundância de microvilosidades (MV) e a presença de debris celulares no espaço
perivitelino. Ainda, a diminuição dos contatos juncionais entre células trofoblásticas também
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é evidente em embriões PIV. Após a criopreservação, os autores observaram maior número de
gotículas lipídicas, e redução pronunciada dos contatos juncionais. A comparação entre os
efeitos da criopreservação entre embriões produzidos in vivo e in vitro mostrou que a quebra
da zona pelúcida foi observada com maior frequencia nos embriões PIV, e que embriões
produzidos in vivo apresentam maior tolerancia à exposição ao crioprotetor e à
criopreservação.
Jin et al. (2011) demonstraram que a permeabilidade dos embriões bovinos em estágio
de mórula a crioprotetores é baixa, ocorre por canais de aquaporina 3 (difusão facilitada:
glicerol e etilenoglicol) e difusão simples (DMSO). Camargo et al. (2011) observaram que o
sistema de cultivo e a vitrificação afetam a expressão das aquaporinas, que estão diretamente
relacionadas com a habilidade de reidratação dos embriões criopreservados.
Além dos efeitos da criopreservação serem mais acentuados em embriões PIV que em
embriões produzidos in vivo, a composição racial também afeta a criotolerância. Ao comparar
embriões Bos taurus e Bos indicus, Visintin et al. (2002) observaram que antes da
criopreservação, maiores e mais numerosas gotículas lipídicas em embriões da raça
Holandesa, maior número de mitocôndrias em embriões Nelore, e maior número de vesículas
contendo material parcialmente digerido (vacúolos fagossômicos) ligados ou não a lisossomos
em embriões Nelore. Após a vitrificação, foi observado em ambos os tipos raciais um maior
espaço perivitelino, sugerindo expansão incompleta dos blastômeros no processo de
reidratação associada à remoção do crioprotetor. Apesar de macroscopicamente os embriões
parecerem normais, as células embrionárias, principalmente de embriões Nelore,
apresentaram alterações significativas, como sinais qualitativos e quantitativos de
degeneração: células edemaciadas, apresentando injúrias citoplasmáticas, vacuolização do
núcleo, lise celular, membranas plasmáticas descontínuas, e processos similares aos
observados na morte celular. A redução de microvilosidades na superfície de células
trofoblásticas, aumento de vacúolos endossômicos, vacuolização mitocondrial e intensa
expansão do compartimento de membrana também foram descritos. Os embriões da raça
Holandesa apresentaram melhores condições morfológicas após o processo de vitrificação,
sugerindo maior criotolerância.
Efeitos dos meios de cultivo in vitro na criotolerância dos embriões
Por mais adequado que seja o ambiente de cultivo in vitro, dificilmente se aproximará
do ambiente uterino e tubárico. O fornecimento de nutrientes não é dinâmico e não
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conhecemos todas as substâncias importantes ao desenvolvimento embrionário in vivo, para
suplementá-las adequadamente. Por isso, algumas moléculas podem ser fornecidas em
excesso e outras importantes podem ser negligenciadas. Além disso, o fato dos embriões não
se movimentarem, como ocorre no ambiente uterino e tubárico, e alterações de luminosidade,
mudança de temperatura e atmosfera gasosa durante o processo, podem ocasionar danos aos
embriões. Por isso, sabemos que os embriões produzidos in vitro apresentam alterações
morfológicas (FAIR et al., 2001), alterações gênicas (WRENZYCKI e NIEMANN, 2003), e
epigenéticas (ENRIGHT et al., 2003). Tais alterações culminam com a formação de
blastocistos de qualidade inferior quando comparados aos produzidos in vivo, o que será
refletido na menor sobrevivência ao stress celular causado pela criopreservação.
Já foi demonstrado em diversos estudos que o sistema de cultivo afeta a criotolerância
dos blastocistos nele produzidos (RIZOS et al., 2001). Este efeito é facilmente observado
quando se compara o cultivo in vivo com o in vitro. Enright et al. (2000) demonstraram que
zigotos produzidos in vitro e cultivados no oviduto de ovelhas (in vivo) apresentaram maior
criotolerância em comparação aos cultivados in vitro. Lonergan et al. (2003) delinearam um
estudo para avaliar em que estádio de desenvolvimento o cultivo in vivo seria mais crítico na
aquisição da criotolerância e demonstrou que os quatro últimos dias de cultivo (D4-D7) são
especialmente importantes. Outro estudo conduzido por Havlicek et al. (2010) descreve que
quanto maior o tempo em ambiente in vivo, maior a criotolerância dos embriões produzidos.
Dentre os principais componentes que parecem estar envolvidos na diminuição da
criotolerância de embriões PIV, pode-se apontar o acúmulo anormal de lipídeos
intracitoplasmáticos nos embriões, principalmente nos sistemas que utilizam soro fetal bovino
(SFB) (ABE et al., 2002). Neste contexto, diversos estudos demonstraram que a substituição
do SFB tem efeito positivo sobre a congelabilidade dos blastocistos produzidos (BARCELÓFIMBRES e SEIDEL, 2007; MUCCI, 2006; MOORE et al., 2007). Outros estudos
demonstraram que a adição de agentes delipidantes, que diminuem a acumulação lipídica em
embriões, tais como o ethosulfato de phenazina (BARCELÓ-FIMBRES e SEIDEL, 2007) e
compostos de ácido linoleico ao meio de cultivo com SFB, aumentaram a criotolerância dos
embriões produzidos (PEREIRA et al., 2008). Diez et al. (2001) promoveram a remoção de
gotículas lipídicas dos embriões e perceberam também um aumento na criotolerância,
deixando claro que há interferência destas estruturas na congelabilidade.
Além da suplementação do SFB, outros aspectos do cultivo in vitro parecem ter efeito
sobre a congelabilidade dos embriões. O co-cultivo com células do oviduto afeta
positivamente os embriões criopreservados (SHIRAZI et al., 2009), assim como a adição de
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alguns componentes, a exemplo da hialurona (BLOCK et al., 2009). O tipo de óleo utilizado
no cultivo de microgotas também afeta a criotolerância dos embriões por alterar a composição
lipídica das membranas embrionárias ou por causar danos pela peroxidação lipídica (VAN
SOOM et al., 2001).
Outra estratégia para o aumento dos índices de criopreservação é a otimização da
técnica. Algumas alterações nos protocolos tradicionais foram propostas, como a adição de
albumina rica em lipídeos ao meio de vitrificação em substituição ao SFB (LIM et al., 2008).
E até a aplicação de pressão hidrostática subletal logo antes do processo incrementam as taxas
de sobrevivência após descongelamento (SIQUEIRA FILHO et al., 2011). A otimização dos
aparatos para posicionamento dos embriões, de forma a facilitar a transferência de calor e
proteção dos embriões, também foi o foco de muitas iniciativas (Cryotop®, Kitazato,
Valencia, Spain).
Após o descongelamento, os embriões apresentam padrão de transcrição gênica
compatível com desenvolvimento embrionário subsequente a eclosão, demonstrando que eles
ainda se apresentam potencialmente competentes (KUZMANY et al., 2011). No entanto,
diversas alterações estão presentes nos embriões PIV após o descongelamento. Entre elas, o
diâmetro dos poros da ZP encontra-se alterado, o que possivelmente dificulta a troca de
líquido e nutrientes com o meio externo (MOREIRA DA SILVA e METELO, 2005). O perfil
de expressão gênica de embriões descongelados também é alterado em comparação ao de
embriões frescos (STINSHOFF et al., 2011). Tais alterações são ainda mais pronunciadas em
embriões criopreservados pela congelação lenta. Dentre os genes alterados, estão transcritos
relacionados à fragmentação de DNA (PARK et al., 2006).
Após o descongelamento, algumas técnicas permitem o aumento da competência dos
blastocistos. Pryor et al. (2011), demonstraram que a eclosão assistida por laser aumenta a
sobrevivência embrionária após a descongelação, conferindo maior número de células totais e
vivas aos blastocistos. Além disso, o cultivo dos embriões na presença de alguns agentes
culmina com o aumento da sobrevivência dos embriões. Hochi et al. (2010) testaram um
inibidor da “Rho assossiated coiled- coil kinase” e observaram aumento na taxa de
sobrevivência dos embriões vitrificados após descongelamento. A suplementação com
hormônio tireoidiano também melhorou a expansão e eclosão dos blastocistos após
descongelamento (ASHKAR et al., 2010). A adição de β-mercaptoetanol promoveu
diminuição na fragmentação de DNA observada após a vitrificação (HOSSEINI et al., 2009).
Ainda, a adição de IGF-I durante o descongelamento de embriões criopreservados melhora a
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organização da actina, aumenta o número de células e diminui as taxas de apoptose
(MAKAREVICH et al., 2012).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A criopreservação de embriões PIV é uma biotécnica ascendente, apesar de ainda não
ser prática rotineira em diversos laboratórios. Porém, estudos demonstram que é possível a
produção de embriões com maior potencial de sobrevivência à criopreservação. Diversos
suplementos e práticas, quando aplicados ao meio de cultivo e também ao meio de
descongelação, promovem incrementos significativos na sobrevivência embrionária. Portanto,
a associação destes conhecimentos recentes à rotina da PIV é promissora, e cria expectativa
para viabilização rotineira das técnicas de criopreservação.
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Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
256
Capítulo 18- Critérios para a implantação de uma Central de Reprodução Equina
GIACOMIN, D.1; OLIVEIRA, M.1; FREITAS, E.V.V.2; ALBERNAZ, R.M.3;
MARTINS, C.B.1
Introdução
O complexo do agronegócio equino no Brasil é um setor de grande importância tanto
social, quanto econômica (ZÚCCARI, 2011). Os investimentos realizados nas pesquisas,
ciência e tecnologia estão relacionados às perspectivas que o setor oferece ao país,
principalmente nas áreas de reprodução e melhoramento genético, já que, nas últimas décadas,
o agronegócio equino vem se destacando, especialmente no aspecto social, esportivo e lazer
(ALMEIDA; SILVA, 2010). Por essas razões, a equinocultura brasileira é considerada como
parte integrante da atividade pecuária pelo Ministério da Agricultura Pecuária e
Abastecimento (VIEIRA, 2011).
Os criadores de cavalos vêm exigindo animais com características específicas
melhoradas, mais resistentes, com maior desempenho e bom temperamento. (LOPES, 2012).
Essas melhorias tornam-se possíveis graças às técnicas reprodutivas. Diante da necessidade de
aperfeiçoar o manejo, serviços, mão de obra, qualidade de vida aos animais, minimizando o
estresse do transporte excessivo e associando esses fatores às biotécnicas, assim foram criadas
as centrais de reprodução, que são empresas com ampla infraestrutura, capazes de oferecer
biotecnologias ligadas à reprodução equina, reunindo os serviços em determinado local,
facilitando à logística, para melhor conforto do proprietário e animal (ALVARENGA;
CARMO; OLIVEIRA, 2011; FERNANDES, 2012).
No entanto, os resultados obtidos pelas centrais dependem de inúmeros fatores como
instalações adequadas, capacitação profissional, boa administração, manejo e conhecimento
das características inerentes à espécie equina. A qualidade das doadoras e receptoras
escolhidas, manejo empregado, viabilidade do sêmen dos garanhões, correta aplicação e
escolha das técnicas com base no conhecimento das particularidades da espécie equina, são
entraves a serem minimizados para melhor sucesso reprodutivo (ALONSO, 2008;
ALVARENGA; CARMO; OLIVEIRA, 2011).
_____________
1
Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Espírito Santo, CCA/UFES, Alegre-ES.
Técnica Linha Equinos do Ouro Fino Agronegócio, Brasil.
3Supervisor técnico de Equinos, Grupo Guabi, Nutrição Animal, Brasil.
2 Especialista
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257
Nesse sentido, a adoção de biotécnicas reprodutivas, como a inseminação artificial,
transferência de embriões, congelamento de sêmen e embriões permitem facilitar o manejo,
melhorando a eficiência reprodutiva e não privando os animais das competições
(FERNANDES, 2012).
Devido à carência de informações sobre como planejar, implantar e gerenciar uma
central de reprodução equina, o estudo objetivou criar uma literatura para contribuir no
preenchimento dessa lacuna, descrevendo os principais aspectos necessários para a
implantação, buscando apontar meios alternativos como materiais para construção que sejam
de fácil obtenção, de grande disponibilidade da região, além de métodos que ajudem na
organização e gerenciamento do local, a fim de tornar o estabelecimento economicamente
sustentável e rentável.
A Central de Reprodução Equina
De acordo com o IBGE (2011), o Brasil possui o quarto maior rebanho de equinos do
mundo, com cerca de 5.508 milhões de cabeças. Segundo Lima, Shirota e Barros (2006),
juntamente com a Confederação Nacional da Agricultura, a indústria equestre movimenta, em
torno de R$ 7,5 bilhões por ano gerando 640 mil empregos diretos e cerca de 2,6 milhões de
empregos indiretos.
Diante desse crescimento estabelecimentos foram criadas com objetivo de centralizar os
serviços oferecidos em um estabelecimento, onde o foco primordial fosse o cavalo e a
realização de biotécnicas reprodutivas, a fim de facilitar e instituir melhorias no manejo
(ALVARENGA; CARMO; OLIVEIRA, 2011), favorecendo o melhoramento genético e
perpetuação de linhagens famosas eternizadas no esporte. Neste local, normalmente os
animais possuem atendimento médico veterinário 24 horas, alimentação balanceada e um
programa criterioso de sanidade visando o conforto e bem-estar dos animais.
As centrais de reprodução equina inicialmente foram construídas com base nos padrões
europeus, onde os princípios consistem na alimentação, instalação, estrutura e organização
(CARVALHO; HADDAD, 1990).
2.1.1 Biotecnologias Reprodutivas
A utilização das biotécnicas visa melhorar e aumentar o desempenho reprodutivo do
animal (PIMENTEL; CARNEIRO, 2008), maximizando a eficiência reprodutiva e evitando a
transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. (PROUDRET, 2006) com o objetivo de
segregação da genética dos exemplares e suas crias (PIMENTEL; CARNEIRO, 2008).
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Na maioria das Centrais emprega-se o uso da Inseminação Artificial, Transferência de
Embrião (TE), Congelamento de Sêmen, assim como o Congelamento de Embrião, técnicas
assistidas envolvendo a Transferência Intrafalopiana de Gametas (GIFT) e em menor escala a
Clonagem (PIMENTEL; CARNEIRO, 2008).
A partir da década de 70, ocorreram grandes mudanças na reprodução equina,
principalmente envolvendo estudos avaliando a resposta reprodutiva de garanhões e éguas.
Estudos mais recentes apontam a aplicação de tecnologias moleculares como nova
biotecnologia da reprodução para equinos (SQUIRES, 2010). Exemplo disso é o emprego de
testes genéticos para aperfeiçoar os setores de melhoramento genético e evitar a disseminação
de alterações cromossômicas que podem ser comumente encontradas em alguns planteis
devido à utilização intensa de acasalamentos consanguíneos (COELHO; OLIVEIRA, 2008).
Segundo Pimentel e Carneiro (2008), a Inseminação Artificial é a biotécnica que mais
se mostrou viável economicamente e de fácil implementação para a espécie. Essa técnica
otimiza a utilização do sêmen, pois possibilita o fracionamento do mesmo, evitando o uso
intensivo do garanhão, além de não ser necessário a presença do garanhão, pois o sêmen pode
ser refrigerado ou congelado e transportado para longas distâncias; além de quintuplicar o
número de éguas inseminadas com o mesmo ejaculado em uma mesma estação de monta
(PROUDRET, 2006).
Outra biotecnologia em crescente uso nas centrais é a TE, que objetiva a obtenção de
maior quantidade de produtos oriundos de éguas de alto valor zootécnico e genético
(PIMENTEL; CARNEIRO, 2008). Stout (2006), relatou que o mercado equestre relutou em
adotar animais oriundos de TE, em partes pelas restrições da técnica e, em sua maioria,
temendo que o desempenho atlético dos potros de TE seriam influenciados pela origem da
égua mãe, com isso muitas associações restringiram ou limitaram o registro de potros
oriundos de TE por um potro por égua por ano.
2.1.2 Manejo do Animais
O manejo adequado é necessário para facilitar à logística, evitar acidentes e transtornos
entre os animais. Nesse sentido, os garanhões e éguas devem se encontrar somente no
momento da rufiação (método para detecção do cio) e no momento da cobertura
(CARVALHO; HADDAD, 1990).
De acordo com os autores citados acima, os piquetes devem ser divididos de acordo
com as categorias em piquetes maternidade, éguas com potro ao pé, potros para recria,
machos e fêmeas entre 6 a 12 meses, para os garanhões, onde cada reprodutor tem o seu
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separadamente. Cada piquete deve possuir uma unidade de serviço, a fim de facilitar o manejo
dos animais e diminuir o estresse pela mudança de ambiente.
Entre os piquetes deve-se encontrar a administração com a fábrica de ração e depósito
de feno. Localizados de forma estratégica, estes estabelecimentos proporcionam agilidade na
distribuição de alimento para os animais, além da proximidade com os demais setores
(CARVALHO; HADDAD, 1990).
Para seleção das éguas reprodutoras, deve-se considerar o histórico reprodutivo,
diretrizes do registro da raça, o potencial valor do potro, fertilidade e número de gestações
desejadas. Devem apresentar ainda, escore corporal bom, idade de 3 a 10 anos, boa índole e
bom desenvolvimento mamário, além de ciclos estrais normais e regulares (FLEURY et al.,
2007).
O manejo reprodutivo consiste em monitorar o ciclo estral da fêmea com auxílio da
palpação transretal, exames ultrassonográficos e complementares a fim de diagnosticar
anormalidades ovarianas ou uterina, assim como monitorar a atividade folicular e a ovulação
(BORTOT; ZAPPA, 2013).
Já os garanhões, devem ficar alojados em baias e/ou piquetes afastados das éguas e
potros como forma de se evitar estresse e transtornos (SANTOS, 2014). Para serem
considerados reprodutores satisfatórios, os garanhões devem ser livres de defeitos
hereditários; desordens comportamentais ou doenças sexualmente transmissíveis, não possuir
limitações físicas que interfiram na habilidade de cobrição e possuir sêmen de qualidade.
Além disso, devem ser submetidos a exames clínicos e andrológicos completos, avaliando o
comportamento sexual, a capacidade de realização a copula, qualidade seminal e inspeção
completa de sistema locomotor (PTASZYNSKA, 2009).
Para a coleta de sêmen o método mais difundido e utilizado é a vagina artificial. A
seleção do modelo mais adequado depende da aceitação do garanhão, do custo e da
disponibilidade do mercado (BOCHIO, 2010). A coleta é realizada com a monta sobre um
manequim, sendo a técnica mais correta, pois ao invés de montar sobre a égua, o garanhão
subirá no manequim, tornando o método mais seguro para o garanhão, égua e médico
veterinário (BORTOT; ZAPPA, 2013).
No entanto, para o sucesso reprodutivo é fundamental o gerenciamento sanitário dos
animais que irão minimizar o risco de propagação de infecção no plantel. De acordo com
Conlon et al. (2010), éguas prenhes devem ser mantidas em piquetes separados dos demais
animais além de não serem transportadas no período final de gestação, novos animais que
entrem na propriedade devem ser isolados como forma de quarentena, principalmente éguas
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que abortaram até que provem que a causa não foi infecciosa.
2.2 Instalações e Setores
Segundo Lopes (2012), há três constituintes básicos para a formação da central: a área
de coleta de sêmen do garanhão, um laboratório para análise e preparo de sêmen e embrião e
o local para a inseminação das éguas.
O mesmo autor relata que a área de coleta de sêmen deve possuir de 35 a 65m² (metros
quadrados), conter um manequim adequado para a espécie e ser coberta. O laboratório, que
pode ser utilizado como farmácia e também como armazenador de botijões com sêmen
congelado, não possui um tamanho ideal, podendo variar de 9 a 27m². A área destinada à
inseminação pode ser instalada em local de circulação, mas deverá conter troncos de
contenção para a realização de outros procedimentos.
As baias, destinadas ao abrigo dos animais, devem ser fechadas, ventiladas, com
dimensões proporcionais à raça e categoria, podendo variar de 12 a 16m². Deve possuir cocho
para alimentação, bebedouro com bóia e cama confortável, dependendo da disponibilidade do
mercado (LOPES, 2012).
Deve haver um local exclusivo para o nascimento de potros como piquetes,
denominados piquetes maternidade ou baias maternidades (BRINSKO et al., 2011).
Como exemplo de instalação tem-se o Centro de Criação da Coudelaria Souza Leão em
Passira, Pernambuco, construída na década de 80. O centro é dividido em duas áreas, no bloco
principal encontra-se o setor administrativo, reprodutivo, veterinário, o alojamento dos
reprodutores e de animais para comercialização. Enquanto a outra área, cuja construção é
mais modesta, é utilizada para as éguas sob regime de criação semi-intensivo. A área
destinada à reprodução é restrita há um único local. Conta com um laboratório de 27 m² e uma
sala para procedimentos com sêmen e embrião de 65 m² contendo três bretes e um aparelho de
ultrassonografia. Possui uma área descoberta para coleta de sêmen, além de outra sala de
13,50 m² para armazenamento exclusivo para botijões de sêmen, com capacidade para 14
cilindros. Conta ainda, com uma estrutura de baias, sendo cada uma possuindo uma área de
14,44 m², feitas de alvenaria e portões de aço galvanizado (LOPES, 2012).
O projeto das instalações deve seguir uma estratégia de bioclima, não privando o animal
de sol, vento, iluminação natural e sombreamento, satisfazendo as exigências mínimas de
confortos térmico dos animais e tratadores. Para isso deve apresentar paredes vazadas que
facilite a circulação de ar, beirais alongados para proteção contra o sol excessivo e pé direto
alto com lanternim (contendo abertura na parte superior do telhado) para permitir a saída do ar
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quente (LOPES, 2012).
2.3 Equipamentos e Materiais
Analisando as centrais encontradas no Brasil, muitas oferecem aos criadores de cavalos
as mais avançadas biotécnicas destinadas à reprodução como o envio e retirada de sêmen,
congelamento de sêmen e embrião, IA, TE, entre outros. Além disso, são credenciados ao
Ministério da Agricultura Brasileiro e é a única central brasileira credenciada na Comunidade
Européia.
Essas centrais possuem três tipos de salas. A sala de manipulação de sêmen e embriões
possui microscópio, centrífuga, lupa, placa aquecedora, geladeira e geladeira estabilizadora.
Na sala de lavagem e esterilização de materiais há deionizador, estufa de secagem e
autoclave, e na sala de preparo e lavagem de materiais para coleta de sêmen possui tanque e
armários para armazenamento de materiais de coleta de sêmen como vagina artificial,
mucosa, copo coletor com tampa, filtros, plásticos para a mamadeira, balde, diluente de
sêmen, ebulidor, caixa isopor com gelo reciclável, funil, papel alumínio, seringa e termômetro
(informação verbal7).
Outros materiais utilizados são botijão com nitrogênio líquido, luvas descartáveis de
procedimento e palpação, aplicadores, cortador de paleta, recipiente para descongelamento de
sêmen, sondas uterinas para coleta de embrião e manequim para coleta de sêmen.
3. Metodologia
O estudo foi realizado em duas etapas: a primeira, constituída de pesquisa bibliográfica
sobre reprodução equina, biotécnicas reprodutivas e equinocultura nacional, em publicações
de periódicos, dissertações, anais de congressos, capítulos de livros da língua portuguesa e
inglesa e sites especializados, nos últimos 20 anos, com objetivo de demonstrar vantagens e
desvantagens, cuidados, dicas e dificuldades encontradas para a implantação de uma central
de reprodução equina. Os trabalhos foram selecionados de acordo com a relevância dos dados
obtidos, buscando autores atuantes nessa linha de pesquisa.
A segunda etapa foi constituída de visitas a uma central de reprodução equina, situada
no município de Mimoso do Sul, Espírito Santo, para observação da infraestrutura e
acompanhamento das atividades realizadas na rotina, durante a estação reprodutiva de
2014/2015. Foram realizadas entrevistas com o proprietário e médico veterinário atuante na
7
Informação verbal: Prof. Dr. Marco Antonio Alvarenga, UNESP, Botucatu.
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central por meio de questionários elaborados previamente, planilhas de relação de custos e
lucros da propriedade, e, com base nas construções encontradas na central, foram feitas
rendelizações do 3D utilizando o software de arquitetura e design de interiores Promob Arch
na versão 5.37.3.4.
As visitas foram previamente agendadas de acordo com a disponibilidade dos
funcionários, visando não interferir e/ou prejudicar o manejo da propriedade.
Ao final do estudo, as informações obtidas foram comparadas e discutidas com a
literatura e dados de outras centrais.
Resultados e discussão
4.1 A Central
A central estudada está localizada na cidade de Mimoso do Sul, estado do Espírito
Santo e possui uma área de 30 a 35 alqueires destinados para a criação de equinos.
A propriedade possui de 80 animais, sendo 30 fêmeas doadoras, 33 fêmeas receptoras, 2
garanhões e 15 potros. Entretanto, recebe animais de outras propriedades, ultrapassando 150
animais, no período de monta que se estende de setembro a abril.
A central trabalha, principalmente, com a raça Mangalarga Marchador, mas, também,
vem dando assistência para criadores da raça Quarto de Milha.
A biotecnologia reprodutiva considerada como o ponto forte da central é a
Transferência de Embrião, chegando a totalizar 70 embriões transferidos por ano,
provenientes de monta natural e inseminação artificial.
4.2 Instalações
Na central visitada, observou-se uma área de manejo em comum, onde é possível a
contensão de mais de uma égua para a realização de inseminações concomitantes através de
baias lanchonetes, um local livre para realização de coleta de sêmen e, ao lado, um
laboratório. Entretanto Lopes (2012) relatou que uma central necessita de três constituintes
básicos para a sua formação, sendo estes, uma área para coleta de sêmen, um laboratório para
análise e preparo do sêmen e um local para a inseminação das éguas.
O local de coleta de sêmen não dispõe de manequim mecânico para a coleta de sêmen,
por considerar caro e desnecessário devido ao número grande de éguas alojadas na
propriedade, utilizando éguas no cio como manequim. No entanto Bortot e Zappa (2013)
consideram importante a utilização do manequim mecânico por facilitar o manejo, evitar a
ocorrência de acidentes, tanto com o garanhão e égua quanto para técnicos que estiverem
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manejando o animal, além da facilidade de condicionamento dos garanhões. O equipamento
custa, em média, R$1.500,00 a R$3.000,00, devendo o proprietário avaliar o custo benefício e
se o investimento é válido.
O estabelecimento conta com um galpão amplo, coberto e ventilado, contendo inúmeros
troncos para o manejo de éguas e potros, um laboratório individual, um escritório, um
banheiro. Possui uma sala para armazenamento de ração e equipamentos de montaria, uma
área para a picadeira ensiladeira que ainda estão em processo de finalização. Essas áreas são
consideradas atrativas para proliferação de roedores, pois apresentam condições favoráveis de
alimentação e abrigo para esses animais. Assim, torna-se necessário a adoção de medidas de
controle e prevenção nesses locais como manejo adequado do lixo produzido, remoção de
entulhos, reparos na estrutura da instalação, armazenamento correto da ração, que devem ser
dispostas com uma distância razoável do solo (MACHADO, 2008), além do controle sanitário
dos animais com a utilização de vacinas contra leptospirose, bactéria transmitida pela urina
dos roedores (FERRAZ, 2014). Recomenda-se armazená-las em local ventilado, protegido do
sol direto e chuva, devendo ser colocadas sobre extrados, na altura de 20 cm (centímetros) e
afastados, em média, de 20 cm das paredes.
O galpão (figura 1A), antes destinado a criação de gado leiteiro, fora adaptado para o
manejo das éguas. Possui aproximadamente 30 m (metros) de comprimento e 10 m de largura
e foram construídas baias lanchonetes individuais ao longo do comprimento do galpão com as
dimensões de 2,50 x 0,80 x 1,50 m (comprimento x largura x altura, respectivamente),
totalizando 36 baias cada lado do galpão, todas possuindo cocho para alimentação, o que
facilita a contenção dos animais para procedimentos como palpação transretal e
ultrassonografia, IA e/ou coleta de embrião de várias éguas simultaneamente.
Figura 1A: Rendelização do 3D da estrutura do galpão. Fonte: Acervo da autora, 2015.
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As baias lanchonetes (figura 2) são construídas com Eucalipto (Eucalyptus spp.) tratado,
material facilmente encontrado na região devido à existência de uma empresa produtora de
celulose localizada ao norte do estado e de várias empresas de imunização de madeiras, o que
viabiliza a construção e minimiza os custos. Sabe-se que o produto pode ser encontrado com
custo de R$ 60,00 a 100,00 a dúzia da tora imunizada, mostrando-se mais acessível que um
brete de contenção individual construído de tubos de ferro, com valor médio de R$ 2.000,00.
Além disso, o eucalipto é fácil de trabalhar, exigindo apenas equipamentos simples para
manuseio e se imunizados, apresenta alta durabilidade por prevenir ataques de invasores
xilófagos (OLIVEIRA, 1998). Mesmo existindo outros tipos de madeira, consideradas
madeiras de lei, provenientes de florestas que devem ser preservadas e que apresentam alto
custo, o eucalipto ainda é a melhor escolha, por ser um material sustentável, renovável e de
fácil obtenção, onde o estado é o grande produtor dessa madeira.
Figura 2: Rendelização do 3D da estrutura das baias lanchonetes no interior do galpão. Fonte:
Acervo da autora, 2015.
As áreas do laboratório, escritório e banheiro (figura 3) foram construídas ao lado do
galpão contendo as baias, visando facilitar o manejo e a realização dos procedimentos. O
escritório, assim como, as salas de armazenamento de ração, picadeira e equipamentos de
montaria, estão em processo de finalização. São salas de aproximadamente 16 a 20 m²,
elevados do solo e com circulação de ar, favorecendo o acondicionamento dos materiais e
equipamentos. O laboratório possui uma área de, aproximadamente 16 m², dentro dos limites
sugeridos por Lopes (2012), cuja dimensão indicada foi de 9 a 27m2.
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Figura 3: Rendelização do 3D mostrando a localização do escritório, banheiro e laboratório,
ao lado das baias. Fonte: Acervo da autora, 2015.
O laboratório da central possui atualmente: microscópio, estereoscópio binocular, placa
aquecedora, geladeira, botijão com nitrogênio líquido, estufa de secagem e ultrassom, mas
para que as biotécnicas sejam realizadas, há necessidade de mais materiais, como descrito
anteriormente. Sugere-se a instalação de armários pré-moldados para armazenamento de
materiais de coleta de sêmen, embrião e materiais descartáveis para facilitar a organização.
Uma área fundamental que pode se encontrar anexo ao laboratório ou área de rápido
acesso, é a farmácia. Nela deve conter medicamentos e materiais para primeiros socorros e
tratamento de feridas, usados sob orientação do médico veterinário (CALDEIRA; DIAS;
FASALO, 1994), sendo importante ficar atento a validade e necessidade de reposição. No
entanto, a central não apresentava esse setor.
Os piquetes são fundamentais para o local, pois serão onde os animais passaram a maior
parte do tempo. Na central estudada, os piquetes (figura 4c) são sombreados, possuem água a
vontade e destinados ao alojamento de éguas e potros. Segundo Lima (2012), é de suma
importância a presença de árvores nos pastos, pois proporcionam sombra e auxiliam na
manutenção adequando do microclima. Esses piquetes são divididos em 4 lotes: lote de
doadoras (figura 4a); lote de éguas paridas (figura 4b); lote de éguas prenhas, matrizes e
receptoras; e lote de receptoras vazias, que estão em constante acompanhamento. Além do
pasto, esses animais recebem reforço alimentar com capim Napier picado fresco e
concentrado no cocho duas vezes ao dia.
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Figura 4: Área destinada a piquetes. Legenda: a) Piquete de doadoras; b) Piquete de éguas
paridas e potros; c) Área sendo preparada para piquetes. Fonte: Acervo da autora, 2015.
Não há estudos específicos descrevendo o tamanho ideal de um piquete para os animais,
provavelmente porque depende de qual forrageira é utilizada, da qualidade do terreno e índice
pluviométrico da região.
Sabe-se que as gramíneas como o Tifton (Cynodon spp.), o Coast Cross (Cynodon
dactylon), o Capim-Agulha (Brachiaria humidicola) e o Mombaça (Panicum maximum) são
indicadas para a espécie equina, pois apresentam boa cobertura do solo, boa aceitabilidade e
bom rebrote. No entanto, o Tifton e o Coast Cross são gêneros que se multiplicam por muda e
quando comparados aos que se multiplicam por sementes, como o Mombaça ou até mesmo
a Brachiaria humidicola, que se multiplica por semente e muda, são por volta de 30 a 50%
mais caros para sua implantação (MARCELO; FACTORI, 2011). Para tanto, cabe ao criador
avaliar os custos e benefícios de cada tipo.
O Tifton é uma gramínea de porte mais alto, apresenta colmos maiores, possui folhas
mais largas e confere melhor qualidade, já o Coast Cross apresenta bom valor nutritivo, alta
produção e alto nível de digestibilidade, sendo ambos também indicados para fenação. O
Capim-agulha é uma das forrageiras mais consumidas por ter boa aceitação pelos animais,
além disso, é resistente ao pisoteio. Entretanto, o uso intensivo dessa pastagem pode causar
sérios distúrbios à saúde do animal (VICTOR; ASSEF; PAULINO, 2007), pois altera o
metabolismo do cálcio causando a enfermidade conhecida como Osteodistrofia Fibrosa,
popularmente chamada de "cara-inchada".
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O Mombaça apresenta elevada produção de massa seca, bom valor nutritivo e ampla
adaptabilidade (CARNEVALLI, 2003), sendo recomendado para o pastejo rotacionado. No
entanto há relatos de enfermidades agudas caracterizadas por cólica e timpanismo pelo
consumo exagerado deste capim, pois possui alta palatabilidade (OLIVEIRA JUNIOR; RIETCORREA, 2008).
Na central, os piquetes são constituídos de Capim-Angola (Brachiaria arrecta x
Brachiaria mutica), gramínea palatável com excelente aceitação pelos equinos, apresentando
valor nutritivo acima das demais gramíneas tropicais, com uso restrito a áreas úmidas baixas
(ANDRADE et al., 2009). Futuramente, haverá introdução de alguns piquetes de Mombaça
(Panicum maximum). Ainda possui uma capineira de Capim Napier (Pennisetum purpureum),
que é fornecido aos animais diariamente e principalmente épocas de escassez, e cortados
quando atingem a altura de 1,60 m, conforme recomendado por Cintra (2008).
Ainda em construção, têm-se as baias para alojamento de garanhões, animais de alto
valor zootécnico e atletas (figura 5). A instalação de alvenaria possuirá 10 baias de 16 m²
cada, com janelas e portões de madeira tratada, ventilação adequada, sendo estas,
características importantes apontadas por Lopes (2012). Além disso, será construída uma área
de 24 m² destinada ao banho e trato dos animais, dividindo igualmente 5 baias cada lado.
Figura 5: Rendelização do 3D da construção de alojamentos para os garanhões.
Fonte: Acervo da autora, 2015.
De acordo com Brandi, Tribucci e Fiorelli (2009a) as baias devem ter o tamanho
suficiente para que o animal se movimente, deite e role comodamente. Os autores estimam a
área em m², de acordo com a fórmula: (altura de cernelha em metros x 2)², logo um equino de
1,50 metros de cernelha, altura média dos equinos da raça Quarto de Milha, necessitará de
uma área de aproximadamente 9 m². No entanto, as medidas mais usadas descritas por Lopes
(2012) são de 12 a 16m2. Com relação à altura das paredes, Lewis (2000) sugere a altura
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mínima de 2,0 m, mas ressalta que a mais recomendada é 3,0 m; devendo ter uma janela que
proporcione o maior contato visual entre animais com dimensões mínimas de 50 por 37 cm e
1,20 m de altura; e uma porta que apresente a largura de 1,0 a 2,0 m. Caso seja adotada a
porta de dupla folha estilo holandesa, Brandi, Tribucci e Fiorelli (2009b) sugerem que o
portão inferior apresente altura de 1,20 m e a superior de 0,80 m. Os estilos de dupla folha
possibilitam visualização mais ampla e aumenta a ventilação.
Um item muito importante para dar maior conforto para o animal, nessas baias, é a
cama, devendo esta ser constituída por substrato de material absorvente, orgânico ou
inorgânico, para minimizar o mau cheiro. Deve ser macia, seca e de material que não
armazene poeira. Os materiais comumente usados são as palhas de diferentes origens,
serragem de madeira tipo maravalha, areia e placa de borracha (SILVA et al., 2011).
Os mesmos autores relataram que a palha é o material considerado mais tradicional,
barato e fácil de encontrar, porém possui a desvantagem de acumular muita poeira podendo
favorecer o aparecimento de problemas respiratórios. A maravalha é mais utilizada,
confortável e de fácil manejo, entretanto possui desvantagem no descarte, pois demora a se
decompor no ambiente. Como exemplos de camas inorgânicas têm-se a areia e a placa de
borracha, que mantêm o local mais limpo, seguro, confortável. As placas de borracha são
antiderrapantes, termo-isolantes e macias, além de possuírem durabilidade maior, no entanto é
um produto caro e necessita mais atenção em relação ao manejo, pois precisam ser lavados
todos os dias para evitar a impregnação de matéria orgânica. A areia é muito utilizada em
algumas regiões, confere bom amortecimento e boa absorção, mas para seu uso é necessário
um sistema de drenagem adequada, pois ficará úmida e fria, causando desconforto ao animal.
Nas baias em construção na central, serão usadas camas de maravalha, areia, palha de
café ou borracha. Independente do tipo de cama utilizada, a higienização é indispensável e
essencial para que o cavalo disponha de uma cama quente e limpa. Dessa forma, a limpeza
deve ser adequada de acordo com o tipo e realizada diariamente.
A instalação destinada para alojamento foi construída na orientação leste-oeste, contudo
é importante ressaltar que as instalações destinadas para equinos devem ser construídas na
orientação norte-sul e com beiral suficiente para impedir insolação dentro das baias. Para
melhorar o conforto dos animais é fundamental que haja o contato visual entre eles e, além
disso, uma boa circulação de ar, permitindo a passagem de parte do vento sul, propiciando a
saída do ar quente, umidade, poeira e gases. Outro ponto considerado importante para as baias
é a iluminação, principalmente se as éguas estiverem estabuladas, pois como são poliéstricas
estacionais, dependem da qualidade de iluminação para ciclar. Além disso, todos os equinos
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269
preferem um ambiente mais iluminado (BRANDI; TRIBUCCI; FIORELLI, 2009b).
4.2 Manejo Reprodutivo
Para que se obtenham resultados com bons índices reprodutivos, é necessário manter a
sanidade do rebanho. Na propriedade estudada, todos os animais são vermifugados a cada 4
meses, vacinados contra raiva e herpesvírus, além do controle de ectoparasitas que é realizado
regularmente. A entrada de animais no centro só é permitida mediante a apresentação de
exames negativos de Anemia Infecciosa Equina (AIE) e Mormo.
A literatura indica a vacinação contra raiva, tétano, encefalopatias virais, influenza,
herpesvirus, leptospirose e garrotilho, sendo a primovacinação recomendada entre 3 a 6 meses
de idade e o reforço semestral ou anual, conforme o tipo de vacina (FERRAZ, 2014).
Juntamente a vacinação, é necessária a vermifugação dos animais, a fim de evitar transtornos
digestivos. Todos os animais devem ser imunizados e vermifugados, dando ênfase a potros e
éguas gestantes.
E, para que todo esse manejo sanitário seja cumprido, é necessário o emprego de mãode-obra qualificada, sendo estes tratadores, treinadores e médicos veterinários, outro ponto
para o sucesso de uma central de reprodução.
As éguas destinadas à reprodução são mantidas com escore corporal variando de bom a
gordo, com peso em torno de 350 a 550 quilogramas, conforme indicado por Fleury e
colaboradores (2007); apresentando cios regulares de 21 dias, sendo este detectado por
palpação transretal. Além disso, são selecionadas para reprodução a partir da tonicidade, grau
de edema e ecogenicidade uterina e histórico reprodutivo.
Dentre as biotecnologias reprodutivas, utiliza-se a monta natural, IA e TE. Na monta
natural, a égua é utilizada em dias alternados até a fêmea sair do cio. Quando se utiliza a IA,
realiza-se de uma a duas inseminações ao final do cio, sendo este detectado via palpação
transretal e ultrassonografia. A coleta de embrião nas doadoras é realizada 8 a 9 dias após a
ovulação, quando as receptoras já se encontram sincronizadas e preparadas para receber a
transferência.
Segundo Alvarenga, Carmo e Oliveira (2011), as éguas doadoras são consideradas o
“coração” de qualquer programa de TE, entretanto se a égua que irá receber o embrião não
possuir escore corporal bom, tiver apresentado cios regulares assim como as doadoras,
receber um manejo alimentar e sanitário adequados, está não terá condições de manter a
gestação.
O garanhão presente na propriedade, é utilizado para a monta natural e coleta de sêmen,
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
270
possui temperamento calmo e dócil, não apresenta nenhum defeito de conformação ou
locomotor que prejudique a monta, conforme preconizado por Ptaszynska (2009).
4.3 Administração
E imprescindível a confecção de planilhas para registros reprodutivos que incluam datas
de cobertura, IA ou TE, partos e datas de vacinação, vermifugação e descarrapatização dos
animais, no qual a central utilizava apenas planilhas para controle de parições (tabela 1). Para
facilitar esse controle, o mercado disponibiliza softwares para gestão de centrais, haras,
hípicas e jóqueis. Possibilitando o controle de coberturas, medicações, vermifugações e
vacinações, atendimentos, gastos da propriedade, faturamentos, atendimentos, entre outras
utilidades. Um objeto importante e que contribui para a organização do serviço e não se
encontra na central, é a fixação de um quadro branco, no laboratório, para anotações e
lembretes.
Tabela 1. Exemplo de tabela para registro de parição adotada na central.
MATRIZ/DOADORA
REPRODUTOR
PARIÇÃO
NOME
OBSERVAÇÃO
1
2
3
4
5
6
7
A fim de garantir os deveres e direitos dos profissionais que pretendem assumir a
responsabilidade técnica e com isso o sucesso dos procedimentos realizados é necessária a
utilização de contratos de prestação de serviço. Assim tendo o controle de todos os
procedimentos realizados e uma garantia ou comprovante do serviço oferecido aos clientes.
4.4 Custos Gerais da Central
Durante a estação reprodutiva os custos são maiores devido ao aumento dos
procedimentos, serviços e animais na propriedade, mas é a época em que se obtêm mais
lucros. O proprietário da central relata que nos períodos de estação de monta chega a atender
mais de 150 animais.
Os valores médios gastos mensalmente no período de estação de monta (tabela 2) foram
descritos pelo proprietário. Não há disponível de nenhuma literatura que relate os valores
gastos em uma central de reprodução equina para possibilitar a comparação.
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Tabela 2. Custo mensal fixo e variável da Central referente ao período da estação reprodutiva
2014/2015.
DESPESAS
Manutenção de Doadoras (por animal)
Manutenção de Receptoras (por animal)
Funcionários
Ração e medicamentos
Energia e água
Materiais descartáveis (sondas, pipetas, seringas) (por estação)
Hormônios para reprodução (por estação)
R$/mês
R$ 650,00
R$ 150,00
R$ 2.000,00
R$ 1.200,00
R$ 1.000,00
R$ 350,00
R$ 250,00
A renda da central é obtida por meio dos serviços oferecidos (Tabela 3) e pela venda de
animais, principalmente de éguas receptoras, que podem ser vendidas após a confirmação do
embrião no valor de R$ 1.500,00. A comercialização permite aumentar os lucros e contribui
para a renovação do plantel.
Tabela 3. Valores dos serviços oferecidos pela Central.
SERVIÇOS
Prenhez confirmada com 60 dias
Embrião confirmado com 60 dias
Estadia doadora (mensal)
Estadia receptora (mensal)
Receptora da central vendida ao dono do embrião
VALORES
R$ 500,00
R$ 1.500,00
R$ 600,00
R$ 150,00
R$ 1.500,00
Há outros serviços oferecidos pelo proprietário e médico veterinário da central, sendo
alguns deles embutidos nos serviços de confirmação de prenhez, logo valores de coleta de
sêmen e diagnósticos de gestação estão inclusos no serviço de prenhez confirmada com 60
dias.
Considerando a média de animais relatados pelo proprietário, caso apareça 50 doadoras
e 100 receptoras, estima-se que a central estudada receba um valor mensal de R$ 45.000,00
durante o período de monta pelo serviço de estadia e o valor anual estimado de R$ 105.000,00
somente para o serviço de TE.
A tabela 4 mostra os valores médios cobrados pelos serviços por médicos veterinários
autônomos ou atuantes outras centrais de reprodução do Brasil, obtidos por orçamentos
realizados.
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Tabela 4. Valores médios cobrados pelos serviços de reprodução equino no Brasil.
SERVIÇOS
Transferência de Embrião com sêmen congelado
Manejo de éguas problemáticas
Confirmação de prenhes de éguas problemáticas
Diagnóstico de gestação
Coleta de sêmen
VALORES
R$ 1.700,00
R$ 900,00
R$ 500,00
R$ 80,00
R$ 200,00
Conforme observado na tabela 4, os valores cotados são próximos aos adotados pelo
proprietário da central.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visando a criação de um estabelecimento funcional e sustentável, antes de iniciar o
planejamento e construção, deve-se buscar no referencial teórico e em criatórios da espécie, o
embasamento necessário para o entendimento sobre a criação de equinos, biotécnicas
reprodutivas, áreas que serão construídas, serviços e mão de obra necessária, equipamentos e
materiais imprescindíveis, pesquisa de preços, disponibilidade de material na região e o custo
benefício.
Apesar de todos esses fatores, é necessário o gerenciamento adequado do
estabelecimento como forma de organizar toda a movimentação realizada na central, assim ter
o controle de gastos, lucros e manejos geral e reprodutivo de animais.
Outro ponto chave para o sucesso da central é a utilização de contratos de serviços com
firma reconhecida, a fim de evitar transtornos financeiros.
A mão-de-obra qualificada é um dos fatores cruciais para a obtenção de bons resultados.
E possível a implementação de uma central de reprodução equina funcional, sustentável
e eficiente utilizando materiais rústicos e que são encontrados facilmente na região ou adaptar
as instalações antigas à criação.
Espera-se que esse estudo possa servir de base para futuros projetos e contribuir para
futuras pesquisas acerca do tema.
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276
Capítulo 19- Kisspeptina na regulação da Reprodução Animal
OLIVEIRA, F.A. 1; LOPES, A.C.2; TORRES, C.A.A.3; FILHO, J.M.P.4; BOLZAN, R.P.5;
MOULIN, C.H.S.6; MORAES, R.M.7; FERRAZ, D.R.8
Introdução
Em 1996, Lee e colaboradores descobriram o gene supressor de câncer, Kiss1, em
Hershey (Pensilvânia), e assim o nomearam em homenagem ao famoso chocolate Hershey
Kisses.
O Kiss1 codifica uma proteína hidrofóbica de 145 aminoácidos (KOTANI et al,.
2001), a qual pode ser clivada em sequência de 54 aminoácidos, originalmente chamada de
metastina devido à sua habilidade em inibir a metástase das células de melanoma (OHTAKI
et al., 2001). Por conveniência, a metastina-54 e suas formas menores 14, 13 e 10, foram
nomeadas kisspeptina, visto que, derivam do mesmo gene Kiss1 (KOTANI et al., 2001).
Quanto menor a kisspeptina, menor a variação entre as espécies. A kisspeptina-10, com peso
molecular de 1,3 kDa, em roedores, ruminantes, equinos (Tyr-Asn-Trp-Asn-Ser-Phe-GlyLeu-Arg-Tyr-NH2) difere em apenas um aminoácido do decapeptídeo em humanos e primatas
(KOTANI et al., 2001, MUIR et al., 2001, OHTAKI et al., 2001, TENA-SEMPERE, 2010).
Em 2003, dois estudos demonstraram que mutações na proteína G, acoplada ao
receptor 54 (GPR54), resultam em hipogonadismo hipogonadotrófico, uma condição de
imaturidade reprodutiva secundária a baixa secreção de gonadotrofina (de ROUX et al., 2003;
SEMINARA et al., 2003). Estes estudos demonstraram que as kisspeptinas, ligantes
peptídicos endógenos do receptor acoplado a proteína G, GPR54, hoje mais usualmente
chamado de Kiss1r, desempenham um papel importante na regulação da secreção de LH no
inicio da puberdade (DUNGAN et al., 2006).
Esta descoberta estabeleceu um dos papéis-chave da kisspeptina no controle
reprodutivo. Desde então, diversos trabalhos, nas áreas molecular e farmacológica, mostram
que a kisspeptina bem como seu receptor Kiss1r foram considerados os principais reguladores
____________________
1
Médico Veterinário Dr. - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre. email: [email protected]
Profª. - Departamento de Engenheira Ambiental - Faculdade do Centro Leste – ES.
3
Prof. Dr. - Departamento de Zootecnia - Universidade Federal de Viçosa.
4
Médico Veterinário Dr. – Universidade Federal de Viçosa.
5
Zootecnista Ms. - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre.
6 Prof. Dr. Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre.
7 Mestrando em administração de empresas – FUCAPE Business School – Vitória – ES.
8 Técnico Agropecuário - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre.
2
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277
do eixo hipotalâmicohipofisário - gonadal (HHG), na medida em que foi descoberta a relação
dos neurônios que a produzem com os neurônios que produzem o hormônio liberador das
gonadotrofinas (GnRH), estes possuindo receptores Kiss1r, no sistema nervoso central. Esse
peptídeo é um dos mais poderosos estimuladores da secreção de GnRH/LH (TENASEMPERE, 2010), sendo considerado uma das mais importantes descobertas em
neuroendocrinologia reprodutiva desde o isolamento do GnRH, no início da década de 70
(ROA et al., 2008).
1) Reprodução X Nutrição
A deficiência nutricional causa efeitos negativos no eixo HHG, principalmente pela
inibição da liberação de GnRH e consequentemente de hormônio luteinizante (LH)
(ESTRADA et al., 2003). A restrição alimentar é associada com inibição da expressão do
gene de kisspeptina Kiss1 (CASTELLANO, 2005), sendo assim, a kisspeptina foi vista como
um possível mediador entre status metabólico e reprodução (SCHNEIDER, 2004; DUNGAN
et al., 2006). Desta forma, estudos revelam a participação da kisspeptina na sinalização da
puberdade (SEMINARA et al., 2003; MATSUI et al., 2004), no anestro lactacional
(OHKURA et al., 2008), na diferenciação sexual (MESSAGER et al., 2005) e até mesmo na
sazonalidade (CASTELLANO, 2005).
As células secretoras de kisspeptina no hipotálamo, respondem a sinais metabólicos e
podem transmitir informações importantes às células produtoras de GnRH. Isso porque por
meio de seu receptor Kiss1r, a kisspeptina tem ação direta nos neurônios que contém GnRH,
estimulando a liberação deste hormônio (CLARKSON et al., 2008). O envolvimento
potencial no controle metabólico e fertilidade foi inicialmente demonstrado em camundongos
pré-púberes que sob restrição alimentar tiveram diminuída a expressão hipotalâmica do gene
Kiss1 e aumentado o RNAm do Kiss1r, associado à uma diminuição da secreção de
gonadotrofina. Adicionalmente, kisspeptina não altera o consumo alimentar (CASTELLANO,
2005; LUQUE et al., 2007).
Embora o mecanismo de ação direta da kisspeptina em neurônios GnRH ter sido
demonstrado (DHILLO et al., 2005; KINOSHITA et al., 2005; MESSAGER et al., 2005;
NAVARRO et al., 2005; NOVAIRA et al., 2009; HERBISON et al., 2010), a possibilidade
de que haja um estimulo indireto da kisspeptina em relação aos neurônios aferentes de GnRH
não pode ser excluída. Na verdade, o Kiss1r é expresso em outras regiões do hipotálamo não
associado com o GnRH (LEE et al., 1999; HERBISON et al., 2010). Foi relatado em estudos
anteriores que a kisspeptina também estimula neurônios não-GnRH na área pré-óptica medial
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
278
(PIELECKA-FORTUNA et al., 2008). Estas descobertas indicam que os efeitos da
kisspeptina sobre GnRH são diretos e indiretos, portanto a kisspeptina pode regular o GnRH
indiretamente por um mecanismo ainda não identificado (PIELECKA-FORTUNA e
MOENTER, 2010).
Sabe-se que a kisspeptina é capaz de regular diretamente os neurônios NPY, sendo
assim sugere-se que os efeitos indiretos da kisspeptina no neurônio GnRH pode ocorrer pelo
menos em parte através da ativação de neurônios aferentes NPY, pois este possui potencial
para ativar os neurônios GnRH (KIM et al., 2010). Portanto, existem evidências de que
kisspeptina juntamente com o neuropeptídeo Y (NPY) possam mediar os efeitos da nutrição
no controle da reprodução.
O NPY possui um padrão elevado de expressão no hipotálamo e na hipófise anterior
de bovinos, sendo encontrado no corpo celular e em terminações nervosas de diversas áreas
do cérebro, principalmente naquelas relacionadas com a regulação do consumo alimentar e o
balanço energético (THOMAS et al., 1999). O NPY é um potente estimulador do consumo,
inibidor da termogênese e aumenta as concentrações de insulina e glicocorticóides no plasma
(DUDA´ s et al., 2000).
Sabe-se
também
que
o
NPY
tem
papel
importante
na
comunicação
metabolismo/reprodução. Sua função na reprodução possivelmente se dá através de uma
atuação direta na secreção de GnRH, pois os neurônios liberadores de NPY, no núcleo
arqueado do hipotálamo, projetam ramificações para os neurônios liberadores de GnRH
(DUDA´ s et al., 2000), e evidência morfológica indica co-localização de receptores de NPY
e os neurônios liberadores de GnRH. No entanto, até o momento, houve poucos estudos que
examinaram essa relação de excitabilidade neuronal do NPY com o GnRH (XU, 2009;
MACEDO, 2011).
O NPY é um potente regulador do eixo reprodutivo, tanto com a regulação positiva e
negativa dos neurônios liberadores GnRH em fêmeas adultas através dos receptores Y4 e Y1,
respectivamente (KHORRAM et al., 1987), o estímulo do NPY dependente das alterações no
ambiente, de esteroides, da fase de desenvolvimento, e da espécie (KHORRAM et al., 1987;
MCDONALD et al., 1989; CATZEFLIS et al., 1993; PIERROZ et al., 1995; GONZALES et
al., 2004).
A administração central de NPY em bovinos, inibe a liberação de GnRH e LH sem
alterar os níveis plasmáticos de FSH (GAZAL et al., 1998). Injeções de NPY em ovelhas
ovariectomizadas, com ou sem implante de E2, mostraram que em ambos os casos o NPY
diminui a frequência e amplitude dos pulsos de LH (MCSHANE et al., 1992, MORRISON et
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al., 2003), assim como em animais subnutridos (MCSHANE et al., 1993). Em vacas, também
é observada diminuição da pulsatilidade de GnRH/LH com administração de NPY (GAZAL
et al., 1998). Além disso, a administração central de altas concentrações de NPY em ovelhas
bloqueia completamente o pico pré-ovulatório de GnRH (ESTRADA et al., 2003).
A
presença de concentração elevada de NPY no hipotálamo causa distúrbios no ciclo estral e
atraso na maturidade sexual (PIERROZ et al., 1995; TOUFEXIS et al., 2002).
2)
Puberdade
Por definição, puberdade é a transição de imaturidade para maturidade sexual expressa
pela capacidade fértil de um animal, ou seja, em fêmeas é o período em que há a manifestação
do primeiro comportamento de estro, seguida de ovulação e desenvolvimento do corpo lúteo
(KINDER et al., 1995).
A puberdade é dependente da ativação do sistema de liberação do GnRH e este é
influenciado por sinais metabólicos. A restrição moderada de energia na dieta e o crescimento
restrito atrasam a puberdade, primariamente, através da inibição de elevadas frequências de
pulsos de LH, que ocorre, em parte, devido a inibição da liberação do GnRH (I’ANSON et
al., 2000).
Há um aumento significativo na frequência de pulsos de GnRH ao longo do
desenvolvimento até a puberdade em fêmeas de macacos rhesus (WATANABE et al., 1989),
roedores (OJEDA et al., 2006), ovinos (FOSTER et al., 2006), e primatas, incluindo os seres
humanos (PLANT et al., 2006), potencializando uma aceleração gradual na frequência dos
pulsos de LH para que possam entrar na puberdade (I’ANSON et al., 2000).
A idade à puberdade, dentro de certos limites, é afetada pela ingestão de energia e grau
de metabolismo, pois exercem efeitos importantes sobre o sistema neuro-hormonal, ambos
antes e depois da maturação sexual. A maturação sexual envolve a ativação do eixo HHG, um
processo que resulta na ovulação de oócito viável em fêmeas e na espermatogênese em
machos (KIM, et al., 2002). Esta transição ocorre em uma idade pré-determinada
geneticamente. Porém, outras variáveis como o fotoperíodo, peso corporal e adiposidade
podem afetar a idade com que a puberdade se inicia (KINDER et al., 1995).
Puberdade em ratos está mais relacionada com o peso corporal do que com a idade
(KENNEDY et al., 1963).
Em estudos recentes, foi verificado que há um aumento
concomitante nos níveis plasmáticos de leptina, frequência dos pulsos de LH, e também da
regulação da expressão do RNAm do Kiss1 hipotalâmica em ratos alimentados com dieta rica
em gorduras, acelerando a puberdade destes animais (LI et al., 2012).
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Nas últimas duas décadas, os princípios da secreção pulsátil do GnRH, assim como o
seu papel fundamental no início da puberdade foram bem estabelecidos. Em mamíferos, os
eventos neuroendócrinos que levam ao início da puberdade envolvem o aumento da liberação
pulsátil de GnRH e LH. Nos últimos anos, o peptídeo kisspeptina e seu receptor Kiss1r foram
fortemente implicados na regulação do início da puberdade (SEMINARA et al., 2003; ROUX
et al., 2003; NAVARRO et al., 2004),
A ação direta da kisspeptina na hipófise tem ação direta no desencadeamento da
puberdade em animais pré púberes, visto que, há aumento da expressão de Kiss1r em células
hipofisárias desses indivíduos cultivadas in vitro (GUTIÉRREZ-PASCUAL et al., 2007).
Em roedores, foi observado um aumento dos transcritos do Kiss1 e aumento no
número de neurônios GnRH despolarizados pela kisspeptina, durante a puberdade
(CLARKSON e HERBISON, 2009). Esse aumento no número de neurônios GnRH
despolarizados durante a puberdade, parece ser devido a uma maior sensibilidade do Kiss1r à
kisspeptina e na aposição de neurônios kisspeptina com neurônios GnRH, juntamente com o
aumento de transcritos Kiss1 no hipotálamo.
A kisspeptina age no hipotálamo estimulando neurônios GnRH (HAN et al., 2005)
estimulando a liberação de GnRH no sistema porta hipofisário (SMITH et al., 2003) e este ato
desencadeia o estimulo na secreção de gonadotrofinas, oogénese e ovulação nas fêmeas ou
espermatogénese nos machos. Estudos recentes usando antagonistas da kisspeptina
confirmaram que é necessário kisspeptina para sinalizar o início da puberdade em ratas
(PINEDA et al., 2010). Em ovelhas, o aumento da frequência de pulsos de LH está associado
com o aumento da expressão de Kiss1 (AMSTALDEN et al., 2010).
Em estudos recentes, foi verificado que, ratos na pré-puberdade, alimentados com
dieta rica em gorduras, tiveram aumento significativo da expressão do kiss1, acompanhado de
uma aceleração dramática na frequência dos níveis de LH, adiantando a entrada destes
animais na puberdade. No entanto, em contraste com os ratos alimentados com dieta rica em
gorduras, os ratos alimentados com dietas normais apresentaram aumento na expressão do
kiss1 e na frequência de pulsos de LH, de forma contínua com o tempo (LI et al., 2012). O
aumento concomitante da frequência de pulsos do LH, com a expressão dos níveis de RNAm
da Kiss1 no hipotálamo, com o aparecimento precoce da puberdade, foi detectado uma
semana após o começo da alimentação com dieta rica em gorduras.
A administração de kisspeptina-10 resulta num aumento dose dependente nos níveis
circulantes de LH em roedores e primatas pré-púberes, induzindo a ativação prematura do
eixo gonadotrófico, observado pelo aumento na secreção das gonadotrofinas hipofisárias
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(RAMASWAMY et al., 2008), e a administração de um antagonista da kisspeptina suprime a
frequência de pulso de LH (LI et al., 2012).
Em novilhas pré-púberes, a administração de Kisspeptina-10 induz a liberação de LH
e GH (KADOKAWA et al., 2008). No mesmo sentido, Redmond et al., (2011) observaram
que ovelhas pré-púberes são responsivas a injeções de Kisspeptina-10, resultando em aumento
da frequência e da amplitude dos pulsos de LH assim como sua concentração média. Como
consequência, quatro das seis ovelhas do tratamento Kisspeptina-10 apresentaram pico préovulatório de LH, com consequente ovulação, ao contrário de todos os animais do grupo
controle (solução salina). Estes dados indicam que a ativação dos neurônios contendo
kisspeptina estão envolvidos na maturação puberal do eixo HHG.
3)
Anestro Pós-Parto
O anestro pós-parto em bovinos é um período no qual as fêmeas não ovulam,
principalmente devido a uma inadequada liberação de gonadotrofinas. A regulação das
funções reprodutivas envolvendo o eixo hipotálamo/hipófise modulado pelos esteróides
gonadais é conhecida há bastante tempo. No entanto, especialmente durante o pós-parto, essa
regulação constitui-se em um mecanismo de alta complexidade, uma vez que recentemente
novos fatores, como a kisspeptina, foram descobertos e tiveram suas funções estabelecidas no
controle da função reprodutiva.
Além dos esteróides, a leptina parece também utilizar a rota da kisspeptina para
controlar o eixo gonadotrófico, conectando assim o sistema metabólico com o sistema
reprodutivo. Nos neurônios em que se observa transcrição de RNAm para Kiss1 também
ocorre expressão de receptores para leptina. Camundongos portadores de mutação inativadora
no gene da leptina apresentam diminuição na expressão de Kiss1 e, após o tratamento com
leptina, elevam os níveis de expressão (LUQUE et al., 2007). Esses resultados sugerem que a
kisspeptina pode ser responsável pelo menos por parte dos efeitos da leptina na reprodução.
A secreção do hormônio folículo estimulante (FSH) em vacas retorna aos padrões do
ciclo estral na primeira semana pós-parto (SCHAMS et al., 1978) e, assim, a emergência
periódica de ondas de crescimento folicular passa a ser observada (MURPHY et al., 1990).
No entanto, o diâmetro máximo atingido pelos folículos dominantes é reduzido no pós-parto
precoce e vai aumentando à medida que se aproxima a primeira ovulação. Esse fenômeno
fisiológico evidencia que a duração do período anovulatório é determinada por uma
frequência inadequada do LH para o crescimento final do folículo, ovulação e reinício da
ciclicidade.
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Recentemente, estudos de diferentes grupos têm demonstrado que há inibição da
expressão de kisspeptina no SNC, durante a lactação, sugerindo um provável mecanismo
responsável pela supressão do LH (TRUE et al., 2011). Ademais, sabe-se que a inibição da
expressão de kisspeptina durante a lactação não se deve aos baixos níveis circulantes de
insulina ou leptina (XU et al., 2009), estando o mecanismo responsável pela supressão da
kisspeptina ainda por ser revelado.
Em vacas no pós-parto, os níveis circulantes de PRL aumentam em resposta a diversos
fatores estimulatórios, tais como, o estímulo de sucção do mamilo durante a lactação, diversos
estímulos estressores e níveis circulantes de esteroides ovarianos (NEILL, 1972). Sabe-se que
a PRL em altos níveis é capaz de inibir a secreção de LH (MATSUZAKI et al., 2011), por
meio de um mecanismo que envolve a inibição da atividade dos neurônios GnRH
(GRATTAN et al., 2007). Foi descrito recentemente que os neurônios kisspeptinérgicos
expressam PRL-R, sugerindo um papel da PRL no controle da expressão deste neuropeptídeo
(NAVARRO et al., 2012). Durante a lactação, os dados sugerem que a ação inibitória
exercida pela PRL sobre o eixo gonadal envolve a inibição dos neurônios kisspeptinérgicos
reduzindo os níveis plasmáticos de LH (LOPES, 2012), entretanto, os resultados divergem
quanto ao momento em que ocorreria o efeito, se seria durante todo o período de lactação ou
apenas na segunda metade (YURA et al., 2000). Estes dados demonstram um novo
mecanismo de ação através do qual a PRL é capaz de modular a atividade do eixo HHG e,
consequentemente, a fertilidade (LOPES, 2012).
Durante a lactação, o bloqueio da secreção de PRL resultou apenas em um pequeno
aumento na expressão de kisspeptina e nos níveis plasmáticos de LH. Isso indica que durante
a lactação, a PRL exerce um efeito inibitório leve tanto sobre a expressão de kisspeptina,
quanto sobre a secreção de LH. Portanto, é provável que a inibição da fertilidade durante a
lactação deva-se principalmente a outros fatores, como por exemplo sinais neurais
deflagrados pelo estímulo de sucção (LOPES, 2012).
4)
Sazonalidade
Em animais que reproduzem sazonalmente a duração do ciclo de luz tem um efeito
potente sobre a função reprodutiva. Na ovelha, a evolução do ciclo de luz-escuro, tem sido
mostrado como capaz de modular a expressão do Kiss1 no ARC. Especificamente, o número
de células que expressam RNAm de Kiss1 é reduzido durante o anestro sazonal e este número
volta a aumentar no início da época de reprodução (SMITH et al., 2003). Administração de
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kisspeptina em ovelhas sazonalmente acíclicas podem induzir a ovulação (CARATY et al.,
2007).
Em hamster um animal sazonal de dias longos, a expressão de RNAm de kiss1 é
regulada pelo fotoperíodo (BJORBAEK et al., 2000). Outros pesquisadores demonstraram
que os níveis de RNAm de Kiss1 ficam significativamente reduzidos em condições de dias
curtos (ANSEL et al., 2011) e este efeito é mediado pela melatonina (SIMONNEAUX et al.,
2001). Além disso, a administração crônica de kisspeptina em hamsters expostos a dias
curtos, reverte o efeito inibitório da melatonina através da reativação do eixo HHG (ANSEL
et al., 2011), evidenciando que a kisspeptina é um fator central na regulação da reprodução
sazonal (SIMONNEAUX et al., 2001).
Outras Considerações
A secreção pulsátil do decapeptídeo hipotalâmico GnRH representa o primeiro passo
conhecido do processo de ativação sequencial do eixo HHG. Na glândula hipofisária, o GnRH
se liga ao seu receptor na superfície dos gonadotrofos, estimulando a síntese e secreção das
gonadotrofinas LH e FSH e, consequentemente, a secreção dos esteroides sexuais e a
produção de gametas maduros nas gônadas. Os princípios da secreção pulsátil do GnRH,
foram bem estabelecidos nas últimas duas décadas. A kisspeptina apresenta papel crucial na
regulação da secreção do GnRH e assim consequentemente das gonadotrofinas LH e FSH.
Vários estudos têm explorado os padrões de distribuição temporal e de expressão
kisspeptina. Neurônios que expressam a kisspeptina estão presentes em sua maioria no núcleo
arqueado (ARC), no núcleo periventricular (PEN), e no núcleo periventricular anteroventral
(AVPV; referente a POA de ruminantes e primatas) na maioria dos mamíferos. Existe uma
forma de expressão diferente da Kisspeptina nos núcleos hipotalâmicos distintos. A expressão
da kisspeptina no AVPV sofre influência do sexo, com expressão muito maior nas fêmeas. O
papel das células kisspeptina no POA não foi desvendado em ruminantes (SMITH, 2009). No
entanto, a expressão kisspeptina no ARC aumentou imediatamente antes do pico préovulatório de GnRH / LH em ovelhas (ESTRADA et al., 2003; SMITH, 2009).
Os neurônios kisspeptinérgicos do ARC e do AVPV do hipotálamo, expressam
receptores intracelulares para estrógeno (Er). Portanto, kisspeptina pode desempenhar um
papel no feedback dos esteroides atuando no controle da liberação de GnRH (PIELECKAFORTUNA e MOENTER, 2010). As células kisspeptina no ARC expressam receptores alfa
de estrogênio e receptores de progesterona (SMITH, 2009).
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Os esteróides sexuais desempenham um papel importante na expressão de kisspeptina.
A gonadectomia diminui a expressão de RNAm Kiss1 na AVPV e a reposição dos esteroides
sexuais restaura. Isto sugere que kisspeptina participa do feedback positivo que ocorre no
ciclo estral das fêmeas. Em contraste, a gonadectomia aumenta a expressão de RNAm Kiss1
no ARC e fornecimento exógeno de esteroides sexuais reduz a expressão de Kiss1 para níveis
encontrados em animais que não sofreram gonadectomia (SMITH et al., 2009), sugerindo a
regulação do feedback negativo. Estas observações sugerem que kisspeptina podem modular
tanto o feedback positivo como o negativo que os esteroides sexuais exercem sobre a secreção
de GnRH. O tratamento com antagonista de kisspeptina em diferentes fases do ciclo estral,
reduz a magnitude do aumento de LH, o que indica um papel importante da kisspeptina no
mecanismo de feedback positivo do estradiol (SMITH et al., 2010). Indiretamente, PieleckaFortuna e Pielecka-Fortuna e Moenter (2010) estabeleceram que a kisspeptina no geral
medeia o feedback positivo de E2 visto que, o aumento de E2 habilita o sistema kisspeptina –
GABA/glutamato – liberação de GnRH.
Alguns autores sugeriram que há receptores kiss1r nos gonadotrofos (GUTIÉRREZPASCUAL et al., 2007), outros sugerem que a kisspeptina-10 sozinha não consegue estimular
diretamente a secreção de LH a partir das células da pituitária anterior. No entanto, o
tratamento com estradiol e testostenona, mas não com progesterona aumenta a sensibilidade
dos gonadotropos em liberar LH frente ao estímulo com kisspeptina-10 (AHMED EZZAT et
al., 2010).
Experimentos demonstraram que a administração de kisspeptina por diferentes vias
(intracerebroventricular, subcutânea, intraperitoneal e intravenosa) exerce um potente efeito
estimulatório sobre a secreção de gonadotrofinas, em várias espécies de mamíferos, incluindo
roedores (THOMPSON et al., 2004, MESSAGER et al., 2005), ovinos (SMITH et al., 2007),
macacos (SHAHAB et al., 2005; PLANT et al., 2006), e mesmo seres humanos (DHILLO et
al., 2005).
Doses consideravelmente baixas de kisspeptina aumentam de forma marcante a
secreção de LH e FSH em roedores (GOTTSCH et al., 2004). Isto se dá por meio da ativação
dos neurônios GnRH, os quais expressam kiss1r (MESSAGER et al., 2005). Observações
similares foram feitas em ovelhas (Smith et al., 2009), macacos (SHAHAB et al., 2005) e
humanos (DHILLO et al., 2005). Também foi demonstrado que a kisspeptina exerce
importante papel estimulatório na gênese do pico pré-ovulatório de LH (KINOSHITA et al.,
2005; CLARKSON et al., 2008), responsável pela deflagração da ovulação nas fêmeas. Estes
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achados comprovam o importante papel desempenhado pela kisspeptina na regulação
fisiológica do eixo HHG em mamíferos.
Os efeitos da kisspeptina em LH pode ser completamente anulado por um antagonista
de GnRH, demonstrando que ela atua através do receptor de GnRH para estimular a liberação
de LH (GOTTSCH et al., 2004; SHAHAB et al., 2005). A administração de um antagonista
de kisspeptina em ratas durante a manhã do estro até a tarde do dia seguinte pro-estro impede
que haja o pico de LH pré-ovulatório (PINEDA et al., 2010).
Resultados de experimentos, mostraram que a há um aumento rápido dos níveis de LH
dose dependente (DHILLO et al., 2005), entretanto em alguns estudos, a administração de
doses mais elevadas de kisspeptina levou a uma menor resposta de LH, levantando a
possibilidade de que kisspeptina pode causar dessensibilização rápida do hipotálamo a nível
do seu próprio receptor (GEORGE et al., 2011).
Nas fêmeas na fase luteal e periovulatória, a administração de kisspeptina estimula
potentemente a liberação de LH, mas na fase folicular do ciclo, a resposta é muito mais suave
(CHAN et al., 2012).
Injeções de kisspeptina-10 induz um efeito liberador de LH rápido durante fase lútea
em cabras. Em experimentos com cabras, a dose maior do que 1 g/kg de kisspeptina-10
aumentou significativamente a liberação de LH em relação aos controles.
Hashizume e colaboradores (2010) aplicaram quantidades semelhantes de kisspeptina-10: 5g
(3,85 nmol) / kg e de GnRH: 5 g (4,23 nmol) / kg em cabras, no entanto, nos animais tratados
com GnRH, houve maior estímulo direto nos gonadotrofos da pituitária para produção e
liberação de gonadotrofinas.
Magee e colaboradores (2010), avaliaram o efeito da aplicação da kisspeptina em
éguas no diestro, quando foi administrado 1,0 mg de kisspeptina-10 de roedores, as
concentrações de LH apresentaram um aumento de duas vezes. No entanto, esta dose não foi
capaz de induzir a ovulação. Neste mesmo estudo foi demonstrado que a administração
repetida de kisspeptina-10 (0,5 mg iv a cada 4 horas) não é capaz de sustentar um aumento de
2 vezes de LH no soro das éguas em diestro. A administração de kisspeptina em éguas
cíclicas induz um aumento do LH durante a fase folicular (DECOURT et al., 2008). A
administração repetida de kisspeptina-10 não encurta o intervalo da ovulação na égua em
estro (MAGEE et al., 2010). Em ovelhas cíclicas, a administração constante kisspeptina é
capaz de sincronizar o pico de LH pré-ovulatório e induzir a ovulação (CARATY et al.,
2007).
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Doses de kisspeptina-10, que induzem a liberação de LH variam entre as espécies
(HASHIZUME et al., 2010). De acordo com os dados calculados a partir de vários artigos, o
máximo efeito da kisspeptina-10 na liberação de LH, ocorre após administração de 0,13 g/kg
pv (vacas ovarectomizadas), 0,54-0,65 g/kg pv (ovelhas ovarectomizadas; CARATY et al.,
2007), 3,90 g/kg pv (ratos machos; TOVAR et al., 2006), 4,76 g/kg pv (novilhas pré-púberes;
KADOKAWA et al., 2008), 14,79-36,98 g/kg pv (leitoas pré-púberes; LENTS et al., 2008) e
25,64-34,48 g/kg pv (macacos; SHAHAB et al., 2005).
CONCLUSÃO
Nos neurônios liberadores de GnRH não existem receptores para leptina, entretanto
nestes neurônios existem receptores para kisspeptina, e os neurônios kisspeptina apresentam
receptores para leptina. Sendo assim, evidenciou uma ligação entre a nutrição, a leptina, e a
secreção de GnRH, via kisspeptina.
A kisspeptina é agora reconhecida como um regulador crítico do tempo de maturação
sexual, da diferenciação sexual do cérebro, da regulação da secreção de gonadotrofina em
resposta a hormônios gonadais, e ao controle da fertilidade em relação ao metabolismo e
ambiente (por exemplo, fotoperíodo).
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293
Capítulo 20- Leptina na regulação da Reprodução Animal
OLIVEIRA, F.A. 1; LOPES, A.C.2; TORRES, C.A.A.3; FILHO, J.M.P.4; BOLZAN, R.P.5;
MOULIN, C.H.S.6; MORAES, R.M.7; FERRAZ, D.R.8
Introdução
A leptina é um hormônio peptídico composto por 167 aminoácidos, sendo codificada
pelo gene da obesidade (ob), secretada principalmente por adipócitos. A substância foi
descoberta através de uma clonagem posicional realizada por Zhang et al., (1994).
O hormônio leptina é um importante regulador do metabolismo energético e está
envolvido na regulação do peso corporal. Segundo Oprzadek et al., (2003) e Münzberg et al.,
(2005), a leptina pode ser considerada como um dos melhores marcadores biológicos,
refletindo as quantidades da gordura corporal em mamíferos. Além disso, exerce papel
sinalizador e modulador do estado nutricional do organismo para outros sistemas fisiológicos
(CEDDIA et al., 1998).
Em termos globais, a maior ou menor produção da leptina está diretamente
relacionada à massa de tecido adiposo, pois os seus níveis circulantes estão diretamente
relacionados à quantidade de seu RNAm neste tecido. Em estudo, Delavaud et al., (2002)
observaram, em vacas holandesas, que os níveis da leptina plasmática e o tamanho dos
adipócitos apresentaram uma relação curvilínea e que, 4 horas após a alimentação, a
concentração da leptina no plasma apresenta correlação positiva com o nível nutricional.
Primeiramente, pensava-se que fosse um hormônio antiobesidade, mas existem evidências de
que ela participa de vários processos metabólicos e endócrinos, incluindo-se a função
reprodutiva (MESSINIS et al., 1998). Chehab et al., (1996) relataram os primeiros indícios do
efeito da leptina na reprodução, aonde foi verificado que camundongos da cepa ob/ob eram
inférteis, porém a leptina exógena reverteu à disfunção sexual e os camundongos ob/ob foram
capazes de procriar quando cruzados com a cepa selvagem. Um efeito semelhante foi
verificado em cepas de camundongos selvagens uma vez que a leptina antecipou o início da
função reprodutiva nestes animais (CHEHAB et al., 1997).
___________________________________________________________________
1
Médico Veterinário Dr. - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre. email: [email protected]
Profª. - Departamento de Engenheira Ambiental - Faculdade do Centro Leste – ES.
3 Prof. Dr. - Departamento de Zootecnia - Universidade Federal de Viçosa.
4
Médico Veterinário Dr. – Universidade Federal de Viçosa.
5
Zootecnista Ms. - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre.
6
Prof. Dr. Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre.
7 Mestrando em administração de empresas – FUCAPE Business School – Vitória – ES.
8 Técnico Agropecuário - Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Alegre.
2
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
294
Barash et al., (1996), por sua vez, mostraram que o sistema reprodutivo de
camundongos ob/ob foi afetado pelo tratamento com leptina recombinante. As fêmeas
apresentaram aumento nas concentrações séricas de LH e nos pesos dos ovários e do útero,
enquanto os machos mostraram aumento nos níveis de FSH, no peso dos testículos e das
vesículas seminais, bem como no número de espermatozóides quando comparados com os
seus correspondentes não tratados com leptina. Ainda, a infertilidade de camundongos
machos provocada pela restrição alimentar foi revertida e comprovada pela normalização do
peso dos testículos e das características histológicas dos mesmos após o tratamento com
leptina exógena, no estudo de Mounzih et al., (1997).
Reprodução X Nutrição
A integração dos sinais metabólicos pela rede neuronal que controla a fertilidade é
essencial para determinar o momento apropriado da puberdade e reprodução em mamíferos
(CROWN A., 2007; ROA, 2010). As concentrações circulantes de leptina refletem a reserva
de gordura, funcionando como um indicador importante para a rede neuronal, atuando como
um regulador do momento da puberdade e da ciclicidade ovariana (CROWN, A., 2007).
Reduzidas concentrações de leptina são observadas em animais com as reservas de gordura
esgotadas, o que indica que um estado de balanço energético negativo está ocorrendo
(CHILLIARD et al., 2005). Em tais casos a utilização das calorias disponíveis é prioridade
em assegurar a sobrevivência em curto prazo e não funções reprodutoras, que são menos
importantes para o animal.
Quadros de subnutrição resultam em condições análogas àquelas observadas nos
camundongos da cepa ob/ob, com inibição da secreção da leptina e da função reprodutiva
(HOUSEKNECHT et al., 1998). Observações sobre animais subnutridos revelam um
decréscimo da secreção de gonadotrofinas (CAMERON et al., 1993) .
Em machos, a
subnutrição é acompanhada por hipogonadismo e infertilidade (BROWN, 1994). Uma
restrição de 80% na ingestão ad libitum causa uma diminuição de mais de 50% nos pesos
ovarianos e uterino, o que é completamente revertido com duas injeções diárias de leptina
(CHEUNG et al., 1997). Desta forma, a leptina parece ser o elo entre a condição nutricional e
a reprodução: ela age centralmente no eixo hipotálamo-hipófise através dos seus receptores e
do neuropeptídeo-Y (NPY), e perifericamente, tem efeito direto sobre as gônadas
(WILLIAMS et al., 2002).
Os neurônios liberadores de GnRH são responsáveis pelo controle da fertilidade em
todos os mamíferos, muitos pesquisadores estão atualmente tentando elucidar os mecanismos
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
295
e vias através das quais a leptina modula a atividade destas células. Evidências atuais indicam
que a leptina não age diretamente sobre os neurônios GnRH para regular a fertilidade, pois
nestas células não há receptores de leptina (DIVALL et al., 2010; LOUIS et al., 2011), por
isso acredita-se que sua ação seja indireta (MERCER et al., 1996). Trabalhos recentes
demonstraram que são outros neurônios que desempenham um papel importante na mediação
das ações da leptina nos neurônios GnRH (DONATO et al., 2011). Segundo Williams et al.,
(2002), os receptores da leptina têm sido encontrados no ARC e no núcleo ventromedial do
hipotálamo em todas as espécies que já foram estudadas, áreas estas envolvidas no
comportamento ingestivo, reprodução e crescimento. O mais aceito é que a leptina exerça
seus efeitos via rede neural através do neuropeptídeo hipotalâmico NPY (SALMAN et al.,
2007).
O receptor longo da leptina no núcleo arqueado é encontrado co-localizado com o
NPY (MERCER et al., 1996). A leptina é capaz de reduzir a síntese e secreção de NPY
(SAHU, 1998), no entanto, ela não é capaz de atenuar os efeitos sobre a liberação do LH,
quando esse neurotransmissor é injetado diretamente no SNC de vacas ovariectomizadas
(GARCIA et al., 2004), sugerindo que, em bovinos, a leptina controla apenas as ações présecretórias do NPY.
Além de uma regulação na síntese de GnRH, foi demonstrado em camundongos que a
leptina altera o potencial de resposta dos gonadotrofos frente ao estímulo do GnRH, através
de um aumento da expressão de canais de Ca++ (AVELINO-CRUZ et al., 2009). Esses novos
conceitos demonstram mecanismos bastante específicos, pelos quais a leptina é capaz de
influenciar a resposta do sistema nervoso central.
Puberdade
Por definição, puberdade é a transição de imaturidade para maturidade sexual expressa
pela capacidade fértil de um animal, ou seja, em fêmeas é o período em que há a manifestação
do primeiro comportamento de estro, seguida de ovulação e desenvolvimento do corpo lúteo
(KINDER et al., 1995).
A puberdade é dependente da ativação do sistema de liberação do GnRH e este é
influenciado por sinais metabólicos. A restrição moderada de energia na dieta e o crescimento
restrito atrasam a puberdade, primariamente, através da inibição de elevadas frequências de
pulsos de LH, que ocorre, em parte, devido a inibição da liberação do GnRH (I’ANSON et
al., 2000).
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Há um aumento significativo na frequência de pulsos de GnRH ao longo do
desenvolvimento até a puberdade em fêmeas de macacos rhesus (WATANABE et al., 1989),
roedores (OJEDA et al., 2006), ovinos (FOSTER et al., 2006), e primatas, incluindo os seres
humanos (PLANT et al., 2006), potencializando uma aceleração gradual na frequência dos
pulsos de LH para que possam entrar na puberdade (I’ANSON et al., 2000).
A idade à puberdade, dentro de certos limites, é afetada pela ingestão de energia e grau
de metabolismo, pois exercem efeitos importantes sobre o sistema neuro-hormonal, ambos
antes e depois da maturação sexual. A maturação sexual envolve a ativação do eixo HHG, um
processo que resulta na ovulação de oócito viável em fêmeas e na espermatogênese em
machos (KIM, et al., 2002). Esta transição ocorre em uma idade pré-determinada
geneticamente. Porém, outras variáveis como o fotoperíodo, peso corporal e adiposidade
podem afetar a idade com que a puberdade se inicia (KINDER et al., 1995).
Puberdade em ratos está mais relacionada com o peso corporal do que com a idade
(KENNEDY et al., 1963).
Em estudos recentes, foi verificado que há um aumento
concomitante nos níveis plasmáticos de leptina, frequência dos pulsos de LH, e também da
regulação da expressão do RNAm do Kiss1 hipotalâmica em ratos alimentados com dieta rica
em gorduras, acelerando a puberdade destes animais (LI et al., 2012).
Sinais de suficiência de energia são necessários para o início da puberdade e
manutenção da função reprodutiva. Estudos realizados por Navarro et al., (2004) indicam um
aumento concomitante nas concentrações de leptina e insulina na pré-puberdade em machos e
fêmeas.
Os primeiros estudos a respeito da ação da leptina sobre a maturação sexual foram
realizados em animais monogástricos. Chehab et al., (1996) induziram a puberdade precoce
em fêmeas normais de camundongos por meio de injeções de leptina recombinante, apesar
das mesmas terem se apresentado mais magras e de terem consumido menos alimentos em
relação às fêmeas não tratadas. Ainda neste estudo, os autores verificaram que as fêmeas
tratadas com leptina reproduziram e apresentaram maturação do sistema reprodutivo
(aumento de peso do útero, ovários e ovidutos) mais cedo que as fêmeas não tratadas.
Em estudo semelhante, Cheung et al., (1997) também verificaram que a leptina
induziu a puberdade em fêmeas normais de camundongos, bem como aumentou o peso do
útero e dos ovários. Quando estes animais sofreram restrição de cerca de 70% da ingestão ad
libitum, a leptina reverteu apenas parcialmente a falta de maturação sexual induzida pela
subnutrição, o que levou estes autores a concluírem que a leptina não é um fator primário na
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indução da puberdade, mas esta pode induzir a maturação do sistema reprodutivo quando as
fontes metabólicas são adequadas.
Um estudo demonstrou que a cepa transgênica de camundongos, que expressam
leptina exageradamente, tem a puberdade acelerada (YURA et al., 2000). Os autores notaram,
porém, o aparecimento de hipogonadismo hipogonadotrófico de início tardio nestes mesmos
animais. Tal estudo confirma a importância da leptina na reprodução, mas aponta para os
possíveis efeitos da hiperleptinemia em longo prazo sobre eixo HHG.
Estudos em rebanhos bovinos têm demonstrado que a expressão gênica e a
concentração da leptina circulante são afetadas pelo fluxo de nutrientes e associadas com
alterações nos níveis séricos de insulina, de IGF-1 e de LH em novilhas na fase de prépuberdade (AMSTALDEN et al., 2000). Além disso, a administração central de leptina
recombinante de ovino estimula significativamente a secreção de insulina pelo pâncreas e de
LH pela glândula pituitária de novilhas ovarioectomizadas e em jejum por 60 horas
(AMSTALDEN et al., 2002). Em ovinos, sob restrição alimentar, Nagatani et al., (2000)
verificaram que a secreção de GH e de LH é modulada pela leptina, indicando que este
hormônio converge informações sobre o estado nutricional para os mecanismos que
controlam a função reprodutiva em ruminantes por meio de fatores neuroendócrinos.
A relação da leptina com a puberdade de novilhas mestiças de raças leiteiras foi
verificada por Garcia et al., (2002) em um experimento onde tanto a leptina circulante quanto
a expressão do gene da leptina aumentaram significativamente com a aproximação da
puberdade, embora os valores observados para estas duas variáveis não terem sido
correlacionados. Ainda nesse estudo, aumentos no peso vivo corporal e na concentração de
IGF-1 no soro dessas fêmeas foram associados aos níveis de leptina no soro e com a
expressão gênica.
Curto período de jejum (2-3 dias) pode não ter efeito de redução na frequência de
pulsos de LH em vacas adultas previamente bem alimentadas em função da fermentação
ruminal que pode remanescer por longos períodos após a última alimentação e em função das
reservas de energia. Já em novilhas, curtos períodos de jejum causam reduções do RNAm da
leptina no tecido adiposo assim como os níveis de leptina circulante, IGF-1, insulina e reduz a
frequência dos pulsos de LH. Nesta categoria, o nível crítico de leptina circulante é atingido
mais facilmente (WILLIAMS et al., 2002).
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Anestro pós-parto
Sinais de suficiência de energia são necessários para o início da puberdade e
manutenção da função reprodutiva. No entanto, as vias de transporte de informação
metabólica para a rede neuronal que controla a fertilidade ainda não estão bem definidas.
A maior necessidade energética na vida das fêmeas bovinas adultas ocorre no pósparto, quando precisam dispor de energia para manutenção dos processos vitais e produção de
leite. Frente à subnutrição, a reprodução é a primeira a ser inibida. O sistema nervoso central
(SNC) interpreta informações periféricas, que o induzem a priorizar a demanda energética
para processos indispensáveis. Assim, a síntese e liberação do GnRH é reduzida
(KRIEGSFELD et al., 2006), afetando principalmente a ovulação.
Os sítios potenciais de reflexo da nutrição na função ovariana incluem (i) o
hipotálamo, via regulação da frequência de GnRH; (ii) a hipófise, regulando a síntese e
liberação das gonadotrofinas e hormônio do crescimento; e (iii) o ovário, regulando o
crescimento folicular, esteroidogênese e a atividade de fatores de crescimento e suas proteínas
de ligação (DISKIN et al., 2003). Nesse conceito de sinalizadores periféricos, a leptina parece
exercer funções centrais na comunicação entre nutrição e reprodução.
Nos ruminantes, a leptina ajuda a manter a lactação (BARTHA et al., 2005), no
entanto, a lactação em si, induz a um balanço negativo de energia, de tal modo que os níveis
plasmáticos de leptina são mais baixos em vacas de alta produção leiteira (SULLIVAN et al.,
2009). Concentrações plasmáticas reduzidas de leptina, nas vacas em balanço energético
negativo, contribuem para o atraso no reaparecimento da ovulação (SAMADIA et al., 2013).
Associações entre leptina e o primeiro cio têm sido observados em vacas leiteiras.
Diferenças no papel da leptina entre raças de corte e leite estão associadas com a retomada da
função ovariana no pós-parto, refletindo as diferenças nos graus de balanço energético
negativo entre estas raças (SULLIVAN et al., 2009). Vacas adultas que possuem
concentrações séricas de leptina elevadas no pós-parto apresentam o período de partoconcepção reduzido (STRAUCH et al., 2003). Nas vacas em jejum, doses menores de leptina
aumentam as concentrações basais de LH (ZIEBA et al., 2003).
Recentemente, pesquisadores relataram diferenças no peso vivo e condição corporal
em vacas de corte, uma semana após o parto até o primeiro serviço, em diferentes sistemas de
alimentação, estas diferenças correlacionaram positivamente com as concentrações circulantes
de insulina, glicose, IGF-1 e leptina. As vacas com peso mais alto e condição corporal melhor
tiveram o intervalo do parto á primeira ovulação reduzido (SAMADIA et al., 2013). Os
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resultados suportam a hipótese de relações positivas entre a nutrição, a homeostase
metabólica e restabelecimento da ovulação em vacas pós-parto.
Sazonalidade
O fotoperíodo também pode afetar a expressão de leptina em muitas espécies. Em
vacas leiteiras, a exposição a diferentes condições de fotoperíodo afeta significativamente a
expressão do gene da leptina e seus receptores no tecido adiposo. As vacas expostas a
condições de dias longos (18:06, horas de luz:escuro, respectivamente) apresentaram maior
expressão da leptina em comparação com vacas alojadas em dias neutros (12:12) ou curtos
(06:18). Além disso, foi verificado que a expressão da forma longa do receptor da leptina
(Ob-Rb) é regulada negativamente em dias curtos (BERNABUCCI et al., 2006). Bertolucci e
colaboradores (2005) demonstraram os ritmos circadianos de liberação da leptina a partir de
tecido adiposo em ovinos, com uma concentração mínima de hormônio que ocorre durante a
fase de luz e o pico de secreção foi observado durante a fase escura.
Os mecanismos envolvidos nas diferenças induzidas pelo fotoperíodo da expressão da
leptina no tecido adiposo permanecem desconhecidos. Os efeitos diretos do sistema nervoso
simpático e as interações entre a melatonina e PRL tem sido sugerido como importantes
reguladores neste processo.
Apesar de ter sido originalmente referido como um hormônio anti-obesidade, a leptina
e seus efeitos são neutralizados em alguns indivíduos por uma resistência natural associada
com hiperleptinemia, que está relacionada com a alteração da sensibilidade hipotalâmica à
leptina associada, por exemplo, com gestação, lactação, desnutrição ou obesidade. Nos
ovinos, foi observado que o hipotálamo é resistente a leptina em alguns períodos, e este
fenômeno está relacionado com a adaptação desses animais para mudanças anuais no
fornecimento e procura de energia. Durante a primavera e verão, época de dias longos, a
concentração de leptina no plasma sanguíneo aumenta em 180%, mas este aumento não está
associado com a ação anorética da leptina. Neste período, quando existe uma abundância de
alimento e este é facilmente acessível, as ovelhas têm seu apetite aumentado e parecem ser
insensíveis as concentrações elevadas de leptina (MARIE et al., 2001).
Esta resistência sazonal à leptina permite a sobrevivência destes animais, permitindo
que eles armazenem energia para que possam ser capazes de usar em períodos de
disponibilidade de alimentos reduzida. No outono e inverno as ovelhas apresentam
sensibilidade à exposição de leptina no nível fisiológico, e seus apetites são de acordo com os
estados nutricionais. A resistência à leptina, em ovelhas, ocorre de forma sazonal, mas a base
neuroendócrina deste fenômeno é desconhecida, entretanto, este fato, foi confirmado em
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estudos utilizando leptina exógena, onde a quantidade de alimento ingerido foi afetada apenas
durante o período de dias curtos, em dias longos essa relação não ocorreu (MILLER et al.,
1998).
Acredita-se que uma proteína intracelular induzida por ativação do receptor de leptina,
um supressor da sinalização de citocina-3 (SOCS-3), pode mediar a resistência à leptina, a
nível molecular, principalmente na região do núcleo arqueado, devido bloquear eficazmente a
sinalização da leptina (BJORBAEK et al., 2000). Uotani e colaboradores (1999) sugeriram a
dessensibilização dos receptores de leptina, como a causa da perda de sensibilidade, e ElHaschimi e Lehnert (2003) sugeriram que é devido a barreiras no transporte da leptina através
da barreira hematoencefálica. Contudo a resistência à leptina provavelmente é causada por
uma combinação dos fatores mencionados, sendo que ainda não está totalmente elucidado
esse mecanismo.
Se o maior controle nas mudanças sazonais em relação a sensibilidade da leptina é a
nível do hipotálamo, a questão é saber como esse controle é mediado. Apesar de vários
mecanismos possíveis terem sido propostos por alguns pesquisadores (MÜNZBERG et al.,
2005), o que recebe a maior atenção tem sido a inibição da sinalização da leptina intracelular
por SOCS-3.
A melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, funcionando como
indicador bioquímico de mudanças nas condições de luz. Ela exerce um padrão de secreção
noturna fornecendo informações sobre a duração do dia, mas nem os sítios-alvo de sua ação
no cérebro, nem os circuitos de neuropeptídeos envolvidos na resposta a melatonina estão
bem definidos (BJORBAEK et al., 2000). Sabe-se que ela pode afetar o tecido adiposo, por
inervação simpática, pois há presença de neurônios que se projetam diretamente no tecido
adiposo a partir de núcleos supraquiasmáticos (SCN), que são estruturas no cérebro que são
particularmente ricos em receptores de melatonina (BARTNESS et al., 2001).
Zieba et al. (2007) propuseram que a melatonina contribui para a sensibilidade
hipotalâmica à leptina, a insensibilidade relativa da leptina durante dias longos é necessária
para evitar que o aumento verificado nas concentrações de leptina, que poderia causar a
redução do apetite, prejudique o aumento de consumo e do peso corporal nessa época que
apresenta maior fartura de alimentos. Coletivamente, estas observações sugerem que há um
sistema distinto de regulação em que as respostas normais a déficits de leptina e energia são
substituídas pelo fotoperíodo (TUPS et al., 2004).
Há ainda relatos indicando que a leptina pode afetar a secreção de melatonina. Zieba et
al (2007) demonstrou que a leptina recombinante ovina é capaz de modular a liberação de
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melatonina em explantes da glândula pineal de ovinos in vitro, e este efeito é sazonal. Para
estes autores, o fornecimento exógeno de leptina inibe a secreção da melatonina a partir de
explantes da glândula pineal durante dias longos e estimula este processo durante dias curtos.
Estudos em hamster siberiano (TUPs et al., 2004) demonstraram que a atividade
reduzida da SOCS-3 durante o período de dia curto contribui para aumento da sensibilidade à
leptina, e por outro lado, o aumento da atividade de sinalização da SOCS-3 contribui para a
relativa insensibilidade da leptina observada em dias longos.
Outras considerações
O controle da reprodução requer que o hipotálamo receba informações a respeito do
status energético do animal. Para isso é necessário sensibilidade hipotalâmica a sinais
hormonais secretados na circulação em relação às reservas adiposas do corpo, neste sentido
atua a leptina.
Os dados de animais e humanos são concordantes com o conceito de que a leptina tem
um papel importante na puberdade e na manutenção da função reprodutiva. A leptina regula o
eixo HHG a nível central e o hipotálamo é um importante local de ação deste hormônio, onde
uma complexa rede de neuropeptídeos está envolvida nos efeitos exercidos pela leptina sobre
a liberação de GnRH.
A administração exógena de leptina, durante períodos de deficiência nutricional,
estimula o eixo HHG. Este efeito pode ser evidenciado em novilhas de corte submetidas a
jejum, nas quais esse hormônio foi capaz de prevenir a redução na frequência de pulsos de
LH, aumentar a responsividade da hipófise anterior ao GnRH (MACIEL et al., 2004) e
acelerar o crescimento folicular (LOPES, 2012). Já em vacas de corte adultas em jejum, a
leptina altera a secreção de GnRH e de LH (AMSTALDEN et al., 2002). Porém, esses efeitos
não são observados quando os animais têm suas necessidades nutricionais supridas (ZIEBA et
al., 2003; MACIEL et al., 2004). Ao contrário do LH, o padrão de secreção de FSH parece
não ser afetado pela subnutrição e pela consequente diminuição dos níveis de leptina,
possivelmente devido a uma menor influência do GnRH sobre a produção desse.
Alguns resultados oriundos de pesquisas com humanos e animais sugerem que a
leptina está envolvida na regulação de esteróides sexuais. Tratamentos com leptina aumentam
a secreção de gonadotrofinas (BARASH et al., 1996), a clivagem da cadeia lateral do ovário e
dos níveis de RNAm da 17α-hidroxilase (ZAMORANO et al., 1997).
Além de atuar no SNC, as ações diretas da leptina nos órgãos reprodutivos parecem
ser significativas. A expressão de receptores de leptina nos ovários foi demonstrada em
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humanos, camundongos, porcos, bovinos e bubalinos (SARKAR et al., 2010). A produção da
leptina é principalmente extragonadal, pois as variações no líquido folicular acompanham as
plasmáticas (GARCIA et al., 2004). Entretanto, as células da teca e granulosa bovina
apresentam receptores para essa proteína, sendo a leptina capaz de modular a esteroidogênese
(SARKAR et al., 2010).
No ovário bovino, a leptina antagoniza diretamente o efeito estimulatório da insulina
sobre a esteroidogênese das células da granulosa e da teca, causando redução de estradiol. Na
ausência da insulina, a leptina tem pouco ou nenhum efeito sobre a esteroidogênese das
células da granulosa. A leptina tem maior efeito inibidor da insulina nas células não
diferenciadas da granulosa. O número de receptores da leptina nas células da granulosa pode
decrescer à medida que os folículos crescem e se desenvolvem, resultando em folículos da
Graaf menos sensíveis aos efeitos negativos da leptina (SALMAN et al., 2007).
A administração de doses fisiológicas de leptina em ratas estimulou a produção de
progesterona e testosterona pelos ovários (CANNADY et al., 2000) e elevou a concentração
de StAR, proteína integrante do sistema enzimático do citocromo p450, indicando aumento da
capacidade esteroidogênica (CARVALHO, 2009).
A leptina exógena em meios de cultura para embriões fertilizados in vitro, é conhecida
não só por melhorar a montagem do fuso, mas também é capaz de acelerar a formação do prónúcleo no embrião. Craig (2005) relatou que a leptina desempenha um papel positivo no
desenvolvimento crescente de blastocisto suíno quando é adicionada ao meio de cultura do
embrião. Meio de cultura suplementado com a leptina para cultivo de embriões in vitro, em
concentrações de 100 ng / mL de leptina, promove uma melhor capacidade de
desenvolvimentos de embriões oriundos de injeção intracitoplasmática de espermatozoides,
tanto a taxa de clivagem como a taxa de desenvolvimento embrionário até blastocistos foram
melhores (XIAO et al., 2012).
O aumento do peso do útero em camundongas ob/ob tratadas com leptina parece
ocorrer como resultado de respostas proliferativas à crescente produção de estrogênio
ovariano. Similarmente, repostas tróficas em vesículas seminais são decorrência do aumento
da produção de testosterona (BARASH et al., 1996). A hipótese mais aceita é a de que a
indução da leptina sobre a estimulação da função reprodutiva ocorra secundariamente ao
aumento da secreção de gonadotrofina; porém, a possibilidade de efeitos diretos não pode ser
descartada.
Os resultados diferentes encontrados em vários estudos com a leptina podem ser
ligados com a influência das diferentes épocas do ano em que os estudos foram realizados.
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Alterações sazonais à resposta de leptina foram relatadas em algumas espécies. Em ovinos
castrados, alimentados adequadamente, as infusões de leptina na primavera causaram um
aumento significativo na secreção de LH em comparação com os resultados obtidos quando
as infusões foram realizadas no outono (MILLER et al., 1998).
Diversos estudos demonstraram a importância da dose na presença, ausência e tipo de
efeito biológico produzido pela leptina. Duggal et al., (2000) demonstraram que a
administração sistêmica de altas doses de leptina em ratas inibiu a ovulação, mesmo na
presença de FSH exógeno.
Zieba et al., (2003) observaram que vacas maduras em jejum agudo, mas com reservas
significativas de gordura corporal, apresentam resposta biológica inversamente proporcional à
dose de leptina exógena utilizada, sendo esta um fator crítico para o estímulo da secreção de
LH. A dose de leptina considerada ideal para estudos em novilhas seria aquela necessária para
elevar a leptina sérica dos animais tratados para 5 a 10 ng/ml por um período de 8 horas após
uma única injeção (MACIEL et al., 2004). O critério utilizado baseia-se na observação de que
vacas de corte maduras, ciclando normalmente, apresentam concentração sérica de leptina
entre 15 e 20 ng/ml e que a concentração de leptina sérica na semana de ocorrência da
puberdade de novilhas ganhando 1,1 kg PV/dia foi de 6,4 ± 0,4 ng/ml de modo que a
concentração alvo representa níveis fisiológicos de animais bem nutridos, ciclando
normalmente.
Carvalho (2009) observou que após cerca de 30 dias de tratamento, apesar dos
folículos das novilhas tratadas com leptina exógena continuarem crescendo, a velocidade do
crescimento foi reduzida, praticamente igualando-se com a apresentada pelo grupo não
tratado. Tais observações indicam uma perda do efeito estimulatório da leptina sobre o
sistema reprodutivo, com o tratamento de longo-prazo, falando em favor do possível
desenvolvimento de um estado de resistência à leptina.
CONCLUSÃO
O controle central da reprodução requer que o hipotálamo receba informações a
respeito do status energético do animal. É necessária sensibilidade hipotalâmica a sinais
hormonais secretados na circulação em relação às reservas adiposas do corpo; neste sentido
atua a leptina.
A leptina na reprodução possui como papel principal ser um modulador positivo da
expressão do kiss1 no hipotálamo e a kisspeptina no geral é o hormônio considerado como
maior regulador e estimulador da síntese e liberação de GnRH.
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309
Capítulo 21- Melhoramento genético de Brachiaria ruziziensis: histórico e estratégias
SOUSA SOBRINHO, F. S.1; BENITES, F. R. G.1; MOREIRA, G. R.2; LINHARES, L. L.3;
CUNHA, G, M.2
1- Introdução
O Brasil é o maior produtor mundial de leite e carne a pasto, com um rebanho de
aproximadamente 170 milhões de cabeças bovinas, explorando 180 milhões de hectares de
pastagens O cultivo de forrageiras apresenta papel primordial no cenário pecuário, há
estimativas de que no Brasil existem aproximadamente 170 milhões de hectares de pastagens,
sendo 100 milhões de pastagens cultivadas e 70 milhões de pastagens naturais (IBGE, 2012).
Embora o número de espécies forrageiras disponíveis no Brasil seja elevado, os
gêneros Brachiaria e Panicum apresentam maior importância, expressa pela maior área
cultivada e pelo grande valor agregado ao comércio de suas sementes. Estima-se que mais de
80% da área de pastagens cultivadas no Brasil utilizem cultivares destes dois gêneros
(Fernandes et al., 2000). Além disso, o número de cultivares disponíveis no mercado é
bastante restrito, fazendo com que um mesmo genótipo seja cultivado continuamente em
extensas áreas, o que resulta em grande risco para a pecuária brasileira (Souza Sobrinho et al,
2009; Valle et al., 2012). Pelo exposto, há necessidade de maior atenção à alimentação
animal, especialmente as espécies forrageiras utilizadas, com ênfase em produtividade de
matéria seca, qualidade da forragem e adaptação regional. Nesse sentido, o melhoramento
genético de forrageiras surge como boa alternativa, com grande potencial de incrementos na
pecuária brasileira e, consequente aumento de renda dos produtores (Souza Sobrinho, 2005;
Souza Sobrinho et al., 2009).
Dentro do gênero Brachiaria, as espécies mais cultivadas no Brasil são B. brizantha,
B. decumbens, B. humidicola e B. ruziziensis, sendo as duas primeiras aquelas de maior
importância econômica (Valle et al., 2012; Souza Sobrinho et al., 2009).
____________
1
Pesquisador na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – CNPGL, Juiz de Fora – MG, CEP – 36038-330. E-mails:
[email protected]; [email protected]
2Professor na Universidade Federal do Espírito Santo - Centro de Ciências Agrárias, Alegre – ES, CEP 29500 -000. E-mail:
[email protected]; [email protected]
3
Mestranda em Ciências Veterinárias, Universidade Federal do Espírito Santo - Centro de Ciências Agrárias, Alegre – ES,
CEP 29500 -000 Email: [email protected]
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
310
Em função disso, os esforços de melhoramento genético foram direcionados para essas
duas espécies, tanto no programa conduzido pelo CIAT (Centro Interamericano de
Agricultura Tropical), como naquele desenvolvido pela Embrapa Gado de Corte (Campo
Grande, MS).
Entretanto, em função da B. ruziziensis ser a única espécie cultivada no Brasil que se
apresenta diplóide e totalmente sexual, permitindo a geração e aproveitamento da
variabilidade genética por meio da seleção, a Embrapa Gado de Leite iniciou um programa de
melhoramento genético desta espécie (Souza Sobrinho et al, 2013). Além disso, é importante
mencionar que esta espécie também é utilizada nos programas de melhoramento de B.
brizantha e B. decumbens, que são apomíticas e necessitam de uma ponte para a geração de
variabilidade (Souza Sobrinho et al., 2009). A seguir serão comentados alguns aspectos
particulares do melhoramento de Brachiaria ruziziensis realizado na Embrapa Gado de Leite.
2 - Melhoramento de gramíneas tropicais
O melhoramento de espécies destinadas à alimentação animal, as forrageiras, não se
encontra no mesmo nível de conhecimento do melhoramento genético da maioria das outras
culturas, tais como cereais, madeiras e hortaliças. Enquanto para essas culturas os
incrementos proporcionados pelo melhoramento são inquestionáveis e reconhecidos por todos
como de suma importância para o aumento de produtividade e qualidade das lavouras,
sustentando o crescimento da população mundial, para as forrageiras a situação é diferente.
No Brasil, especialmente, os investimentos em melhoramento de forrageiras são escassos e
inversamente proporcionais a importância que essas espécies representam para o país. O
número de pessoas trabalhando nessa área é muito pequeno e, consequentemente, a
quantidade de conhecimentos é reduzida (Souza Sobrinho et al., 2013).
O melhoramento de plantas forrageiras constitui um desafio a um conjunto de
problemas diferentes daqueles encontrados para culturas anuais, sendo, provavelmente, uma
tarefa mais difícil. Neste tipo de melhoramento é necessário considerar a complexa relação
solo-planta-animal, de forma que o objetivo do programa não se resume em obter uma planta
mais produtiva, mas sim em conseguir maior eficiência na produção animal (Pereira et al.,
2001; Souza Sobrinho et al., 2013).
Dentre as forrageiras, o nível de conhecimento é muito maior para as espécies de
clima temperado (alfafa, azevem, trevo forrageiro, etc), principalmente aquelas utilizadas nos
países europeus e nos Estados Unidos. Talvez por isso, e também pelo menor tempo de
estudo, as espécies forrageiras tropicais apresentem pior qualidade, em média, quando
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
311
comparadas com as de clima temperado. Contudo, a produtividade e a rusticidade das
espécies tropicais normalmente são superiores (Souza Sobrinho et al, 2013).
A pecuária brasileira está baseada nos sistemas de produção a pasto, por isso o
melhoramento genético das espécies forrageiras assume papel decisivo no sucesso da
atividade (Souza Sobrinho, 2005).
3 - Importância do gênero Brachiaria
O gênero Brachiaria apresenta em torno de 100 espécies de origem essencialmente
africana, sendo que as de maior importância forrageira no Brasil são B. decumbens, B.
brizantha, B. ruziziensis e B. humidicola (Renvoize et al., 1996). A boa adaptabilidade a solos
de baixa fertilidade natural, plasticidade na adaptação a diferentes climas e latitudes,
agressividade na competição com invasoras e bom desempenho animal das variedades
introduzidas explicam a rápida expansão das Brachiarias nos trópicos (Bogdan, 1977; Wenzl
et al., 2001 e 2003; Rao et al., 2006). De 1960 em diante, principalmente durante as décadas
de 1970 e 1980, as áreas de pastagens nativas passaram a ser substituídas por pastagens
cultivadas, em especial por plantas do gênero Brachiaria (Martha Júnior e Corsi, 2001). De
um total de 180 milhões de hectares ocupados com pastagens no Brasil, estima-se que as
cultivadas respondam por 105 milhões de ha e destes 80% correspondem as gramíneas do
gênero Brachiaria (Pereira, 1998; Dusi, 2001; Pereira et al. 2005).
Estudos básicos do número cromossômico e modo de reprodução em Brachiaria
mostraram que predominam espécies apomíticas e poliplóides, sendo os números básicos de
cromossomos iguais a seis, sete ou nove (Valle et al., 1996; Risso-Pascotto et al., 2006). A
ocorrência de apomixia na maioria das espécies dificulta a recombinação dos materiais
genéticos, reduzindo a variabilidade e aumentando os riscos para os agricultores devido à
vulnerabilidade genética (Souza Sobrinho et al., 2009).
4 – Brachiaria ruziziensis
Das espécies cultivadas no Brasil, a única que é totalmente diplóide e sexual é a B.
ruziziensis, possibilitando a geração de variabilidade para atuação da seleção dos melhores
genótipos (Souza Sobrinhoet al., 2010). As demais espécies, embora apresentem alguns
acessos diploides e sexuais, são basicamente poliploides e apomíticas.
Embora não seja a espécie com maior área cultivada, a demanda por sementes de B.
ruziziensis vêm aumentando com o incremento da integração entre agricultura, pecuária e
floresta (ILPF). Esta espécie tem sido muito utilizada nos sistemas ILPF principalmente por
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apresentar uma melhor adaptação à sobressemeadura que as demais espécies do gênero e
demandar menos herbicida na dessecação para estabelecer a cultura seguinte. Outra vantagem
da B. ruziziensis é que a produção de sementes é uniforme, pois só floresce uma vez, tornando
o seu controle mais fácil. Entretanto, o pequeno número de cultivares disponíveis no mercado
e a ausência de informações mais detalhadas referentes ao seu potencial forrageiro dificultam
a expansão da área cultivada com a B. ruziziensis. Essa situação reforça a importância do
programa de melhoramento genético visando a obtenção de novas cultivares capazes de
atenderem a demanda da pecuária brasileira (Souza Sobrinho et al., 2009).
A B. ruziziensis apresenta como principais vantagens o rápido crescimento no início
do período chuvoso, a compatibilidade de consórcio com leguminosas, o elevado potencial de
produção de sementes, a fácil implantação e a boa qualidade da forragem. Contudo, apresenta
suscetibilidade às cigarrinhas-das-pastagens, principal praga da espécie, pequena adaptação a
solos pobres e mal drenados e baixa competição com plantas daninhas (Rao et al., 1996).
Em regiões de clima tropical as taxas de decomposição dos resíduos vegetais presentes
no solo são elevadas, dificultando a formação e manutenção de palhada (Mingotteet al.,
2012). Como a relação entre carbono e nitrogênio presente na forragem de B. ruiziziensis é
elevada, dificulta a decomposição dos restos vegetais, favorecendo o acúmulo de palhada no
solo (Kluthcouskiet al., 2007). Essas características associada as demais características
mencionadas anteriormente, fazem da B. ruziziensis uma das melhores alternativas para
produção de palhada nos sistemas de ILPF.
Embora na integração lavoura/pecuária seja utilizada principalmente como cobertura
de solo para o plantio direto, não são poucos os produtores que a cultivam especificamente
para alimentação animal. A obtenção de cultivares melhoradas de B. ruziziensis, quer seja
para produção de palhada ou de forragem, torna-se, portanto, exigência dos produtores
agrícolas brasileiros (Souza Sobrinho et al., 2009).
5 - Histórico do programa de melhoramento de B. ruziziensis
Em 2004 a Embrapa Gado de Leite iniciou um programa de melhoramento de B.
ruziziensis. Esta espécie é a única do gênero cultivada no Brasil que é totalmente diplóide e
sexual, possibilitando a geração e exploração da variabilidade genética, por meio da seleção.
Além disso, apresenta boa qualidade da forragem e palatabilidade, podendo se tornar boa
alternativa para a pecuária leiteira. Contudo, há que se conseguir cultivares com maior
produtividade de forragem, mais tolerantes a solos de baixa fertilidade e resistentes a
cigarrinhas (Souza Sobrinho, 2005).
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Até o momento foram realizados três ciclos de seleção recorrente intrapopulacional e
os resultados obtidos nas primeiras avaliações do programa de melhoramento evidenciaram a
existência de grande variabilidade genética para todas as características avaliadas, permitindo
a seleção e acenando com a possibilidade de obtenção de cultivares melhoradas desta
forrageira. Para a produtividade e qualidade da forragem, foram identificados materiais
superiores não só à cultivar de B. ruziziensis disponível no mercado (cultivar Kennedy ou
Comum), mas também às principais cultivares de braquiárias (B. brizantha, cv. Marandu e B.
decumbens, cv Basilisk) utilizadas no Brasil. Em todos os cortes houve materiais com
produtividade de matéria seca estatisticamente igual ou superior às melhores testemunhas.
Nos cortes realizados no verão, algumas progênies produziram quase o dobro em relação à
melhor testemunha (Souza Sobrinho et al., 2009).
Quanto à resistência às cigarrinhas, principal praga do gênero e maior responsável pela
restrição à expansão da área cultivada com esta espécie, foram detectadas diferenças entre os
materiais avaliados. Alguns clones apresentaram resultados similares as testemunhas,
incluindo a cultivar Marandu, padrão de resistência a estes insetos, com baixas sobrevivências
das ninfas de Deois schach e Mahanarva spectabilis (Souza Sobrinho et al., 2010). A
possibilidade de obtenção de cultivares de B. ruziziensis resistentes às cigarrinhas torna esta
espécie ainda mais atrativa para os produtores, em função de sua boa qualidade e
palatabilidade da forragem.
6 - Estratégias do melhoramento de B. ruziziensis
O programa de melhoramento genético de B. ruziziensis teve início com a coleta de
plantas em pastagens antigas. Estabeleceu-se como critério que a forrageira estivesse
implantada a pelo menos 10 anos nas áreas a serem coletadas. As plantas foram coletadas com
base na avaliação visual (fenotípica) realizada no final da estação seca do ano. Assim, no final
de setembro do ano de 2004 foram identificadas e coletadas cerca de 160 plantas, as quais
foram transplantadas para área isolada, onde permaneceram até o florescimento, que ocorreu
entre abril e junho do ano seguinte. Foram colhidas sementes de todas as plantas
individualmente, obtendo-se progênies de meio-irmãos. Novas coletas de plantas em
pastagens foram realizadas em diferentes anos visando incorporar variabilidade dentro do
germoplasma trabalhado.
Paralelamente foram obtidas sementes de 17 acessos do banco de germoplasma de
Brachiaria mantido na Embrapa Gado de Corte (Campo Grande, MS), e obtidas sementes da
cultivar Kennedy de diferentes empresas produtoras, sediadas em diferentes estados
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brasileiros, visando obter o máximo de variabilidade dentro da espécie. Embora a cultivar
Kennedy seja a mesma, a obtenção de sementes multiplicadas em diferentes condições
ambientais (estados brasileiros) objetivou captar possíveis efeitos da seleção natural que possa
ter atuado ao longo do tempo.
7 - Principais resultados do programa de melhoramento
Inicialmente, com o objetivo de conhecer o comportamento produtivo das diferentes
cultivares de Brachiaria disponíveis no mercado, foi realizado um experimento para avaliação
da produtividade e qualidade da forragem destes materiais. Foram avaliadas as cultivares
Xaraes, Marandu (B. brizantha), Trulli (B. humidicola), Basilisk (B. decumbens), Kennedy
(B. ruziziensis), Llanero (B. dictyoneura), Mulato (híbrido) e um acesso de Brachiaria spp..
Após dois anos de avaliações, com a realização de dez cortes, observou-se que as cultivares
Xaraés e Mulato, ao lado do acesso de Brachiaria spp., apresentaram as maiores
produtividades de forragem. As cultivares Basilisk e Marandu, que são aquelas que ocupam
as maiores áreas de pastagens no Brasil, apresentaram produtividades intermediárias de
forragem. A cultivar Kennedy (B. ruziziensis) foi classificada no grupo inferior, com
produtividade de forragem cerca de 30% inferior à média das cultivares Basilisk e Marandu
(Souza Sobrinho et al., 2009) (Figura 1).
Figura 1. Produtividade de forragem seca (t/ha/corte) de cultivares comerciais de Brachiaria.
Considerando-se as características relacionadas à qualidade da forragem a cultivar
Kennedy se destacou, tendo sido a única cultivar classificada no grupamento superior para
todas as características mensuradas, tanto para a planta inteira como para o fracionamento em
colmos e folhas (Tabela 1).
A partir da coleta das plantas e do seu intercruzamento foram obtidas 115 progênies de
meio-irmãos com sementes suficientes para implantação de experimento de campo. Após a
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coleta procedeu-se beneficiamento e à quebra de dormência das sementes, empregando-se
ácido sulfúrico PA por 15 min. Foram obtidas mudas das diferentes progênies em bandejas de
tubetes contendo substrato comercial à base de casca de Pinus em casa de vegetação. Essas
mudas foram empregadas para avaliações de produtividade e qualidade da forragem em
experimentos de campo, bem como para tolerância ao alumínio e resistência às cigarrinhas
das pastagens em casa de vegetação.
Tabela 1. Porcentagens médias de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e
ácido (FDA) e digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) da forragem da planta inteira,
folha e caule de cultivares comerciais de Brachiaria, com 57 dias de crescimento.
PB
FDN
FDA
DIVMS
Planta inteira
Mulato
B. decumbens (Basilisk)
B. brizantha (Marandu)
B. humidicola (Trulli)
B. dictyoneura
B. brizantha (Xaraes)
Brachiaria spp
B. ruziziensis
Média
Cultivares
6,30a
6,23a
6,92a
5,91b
5,58b
5,69b
6,77a
6,60a
6,25
78,75b
78,85b
77,69a
81,88d
80,17c
79,14b
77,73a
76,50a
78,03
44,94c
43,77c
41,51b
44,33c
44,55c
44,68c
42,89c
39,90a
43,12
53,89c
54,80c
56,57b
54,37c
54,20c
54,10c
55,49c
57,82a
55,15
Folha
Mulato
B. decumbens (Basilisk)
B. brizantha (Marandu)
B. humidicola (Trulli)
B. dictyoneura
B. brizantha (Xaraes)
Brachiaria spp
B. ruziziensis
Média
8,47a
8,94a
8,80a
8,84a
7,25b
7,68b
9,27a
9,47a
8,59
75,26c
73,22b
75,42c
74,97c
75,63c
74,89c
72,34b
69,91a
73,95
40,19d
36,72b
37,95c
38,17c
40,83d
39,88d
35,84b
32,65a
37,48
57,59d
60,29b
59,33c
59,16c
57,09d
57,83d
60,98b
63,46a
59,46
Caule
Mulato
B. decumbens (Basilisk)
B. brizantha (Marandu)
B. humidicola (Trulli)
B. dictyoneura
B. brizantha (Xaraes)
Brachiaria spp
B. ruziziensis
Média
4,22a
3,74a
4,37a
4,15a
3,87a
3,67a
4,38a
3,89a
4,04
82,50a
83,55a
80,39a
86,03b
83,33a
82,77a
82,43a
82,17a
82,89
50,43b
50,47b
46,47a
48,06a
48,35a
50,33b
49,70b
46,82a
48,83
49,62b
49,58b
52,70a
51,46a
51,23a
49,69b
50,18b
52,43a
50,86
*Médias seguidas por letras diferentes são estatisticamente distintas pelo teste de Scott Knott (p<0,05). Adaptado de Goulart,
2007.
Os resultados obtidos evidenciaram a existência de grande variabilidade genética para
a produtividade e qualidade da forragem, sendo identificados materiais superiores não só à
cultivar de B. ruziziensis disponível no mercado (cultivar Kennedy), mas também às
principais cultivares utilizadas no Brasil (Souza, 2007) (Figura 2). Na figura 2 são
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apresentadas as 10 melhores progênies, as duas piores e três cultivares, evidenciando a
variabilidade existente nas progênies avaliadas. Em todos os cortes (total de cinco) houve
progênies com produtividade de matéria seca estatisticamente igual ou superior às melhores
testemunhas.
Figura 2. Produtividade média de matéria seca de forragem (PMS) (5 cortes) de progênies de
meio-irmãos de B. ruziziensis obtida em Coronel Pacheco - MG.
Verificou-se que a as progênies de B. ruziziensis eram muito afetadas pelo período
seco do ano, onde, além da falta de água, as temperaturas médias eram mais baixas. Nesse
período, a produtividade média de forragem foi reduzida, comparativamente às cultivares de
B. brizantha e B. decumbens (Figura 3). Em função da importância de produção de forragem
nessa época, e como houve progênies que se destacaram, a seleção de materiais com boa
produtividade na seca foi priorizada pelo programa.
Até mesmo para as cigarrinhas das pastagens, principal praga que ataca a maioria das
espécies forrageiras tropicais e para a qual a B. ruziziensis é considerada como padrão de
suscetibilidade (Miles et al., 2006), também foi verificada variabilidade entre as progênies
avaliadas. Embora a maioria das progênies tenha se mostrado boas hospedeiras, algumas
apresentaram sobrevivência de ninfas e danos nas plantas intermediárias (Figura 4) (Souza
Sobrinho et al., 2010).
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Figura 3. Produtividade de massa seca de forragem de progênies de B. ruziziensis e das
cultivares comerciais Marandu, Basilisk e Kenneduy (B. brizantha, B. decumbens e B.
ruziziensis, respectivamente) na época das águas e da seca.
O primeiro ciclo de seleção recorrente foi finalizado com o intercruzamento das
melhores progênies e obtenção de uma população melhorada, que foi utilizada como base
para a continuidade do programa de melhoramento. A partir de sementes dessa população
foram obtidas cerca de 1000 plântulas que foram avaliadas em solução nutritiva em relação à
tolerância ao alumínio tóxico (30 g/L de Al). As melhores plantas, que apresentaram maior
desenvolvimento tanto de parte aérea como de raízes, foram selecionadas e clonadas para
obtenção de mudas para avaliações campo e também em casa de vegetação. Neste segundo
ciclo, o teste de progênies foi substituído pelo teste clonal. As características avaliadas foram
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semelhantes e os resultados confirmaram a existência de variabilidade genética dentro da
espécie.
Figura 4. Ilustração da variabilidade para resistência a ninfas de cigarrinhas das pastagens nas
progênies de meio irmãos.
Nas avaliações realizadas para as características bromatológicas da forragem também
ficou evidenciada a existência de variabilidade genética entre os clones de B. ruziziensis,
mostrando que a seleção também pode ser efetiva para a qualidade da forragem produzida
(Figura 5).
Figura 5. Estimativas médias dos cinco melhores clones de B. ruziziensis e dois piores, além
das cultivares Kennedy (ou Comum), Basilisk e Marandu (B. ruziziensis, B. decumbens e B.
brizantha, respectivamente) para a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) e
proteína bruta (PB).
Muitos clones de B. ruziziensis mostraram grau intermediário de resistência as
espécies Mahanarva spectabilis e Deois schach de cigarrinhas, com médias de sobrevivência
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de ninfas e porcentagem de danos às plantas causados pelos insetos semelhantes à cultivar
Marandu (B. brizantha), que é padrão de resistência a este inseto dentro do gênero. Os
melhores clones foram avaliados novamente e os resultados confirmaram pequena
sobrevivência, não sendo observada em muitos clones, o desenvolvimento das ninfas do
inseto praga (sobrevivência ninfal = 0) (Figuras 6 e 7).
Figura 6. Médias de sobrevivência de ninfas de Mahanarva spectabilis em clones de B.
ruziziensis e na cultivar Marandu (B. brizantha – padrão de resistência)
Figura 7. Médias de sobrevivência de ninfas de Deois schach em clones de B. ruziziensis e na
cultivar Marandu (B. brizantha – padrão de resistência).
Como nos sistemas produtivos de Integração lavoura, pecuária e floresta (ILPF)
normalmente as forrageiras são submetidas, em algum momento do seu desenvolvimento, a
restrições de luminosidade, é importante identificar materiais genéticos mais adaptados a
essas condições. Avaliando-se clones de B. ruziziensis em vasos (3 plantas/vaso), em casa-devegetação coberta com sombrite (restrição de luminosidade de 40%), foram detectadas
diferenças significativas para as produtividades de matéria verde e seca de forragem. A
amplitude de variação para o peso verde de forragem foi de 240 g/vaso, representando 181%
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da média de todos os clones avaliados. Dos 65 clones avaliados, 32 materiais apresentaram
médias semelhantes à melhor testemunha (cultivar Kennedy – B. ruziziensis). Esses materiais
(32 clones) mostraram superioridade média de 193% em relação às cultivares Basilisk (B.
decumbens) e Marandu (B. brizantha), que são os materiais de Brachiaria mais difundidos no
Brasil (Figura 9). Resultados semelhantes foram observados para o peso seco de forragem,
evidenciando-se, além da grande variabilidade existente dentro de B. ruziziensis para a
tolerância ao sombreamento, o potencial da espécie para a seleção de materiais adaptados ao
cultivo em ambientes com restrição de luz (Souza Sobrinho et al., 2009).
Figura 8. Média de peso verde (PV – grama/vaso) dos cinco melhores clones de B. ruziziensis,
das médias de todos os clones avaliados e das testemunhas (cultivares Kennedy, Basilisk e
Marandu de B. ruziziensis, B. decumbens e B. brizantha, respectivamente) avaliados sob
condições de sombreamento em casa-de-vegetação.
A seleção dos melhores clones para intercruzamento e obtenção de população
melhorada, finalizando o segundo ciclo de seleção recorrente, levou em consideração todas as
características avaliadas, com ênfase na resistência às cigarrinhas das pastagens e na
produtividade de forragem. A partir de sementes dessa população (C1) foram obtidas cerca de
1000 plântulas que foram cultivadas em condições de campo. Após a realização de um corte
de uniformização procedeu-se a seleção das 100 melhores plantas baseado na produção de
biomassa verde de forragem. Esta característica apresenta elevada correlação com a
produtividade de biomassa seca de forragem e, em função de sua maior facilidade e rapidez
de realização, à boa precisão e ao baixo custo, permitindo a avaliação de maior número de
genótipos, foi escolhida como base para a seleção de genótipos de B. ruzizizensis dentro do
programa de melhoramento (Santos et al., 2011). As plantas selecionadas foram clonadas para
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obtenção de mudas para avaliações a campo e também em casa de vegetação, à semelhança
dos ciclos anteriores.
As avaliações de produtividade e qualidade da forragem foram conduzidas em
experimentos implantados em dois locais, nos campos experimentais da Embrapa Gado de
Leite, nos municípios de Coronel Pacheco (MG) e de Valença (RJ). Os dados obtidos
evidenciaram a variabilidade genética entre os clones avaliados, confirmando os resultados
observados nos ciclos anteriores. As médias de produtividade de forragem dos melhores
clones foram superiores aquela observada para a cultivar Kennedy (B. ruziziensis) e também à
das cultivares Basilisk (B. decumbens) e Marandu (B. brizantha), reforçando o potencial
produtivo e as possibilidades de sucesso com a seleção dentro da espécie (Figura 10).
Figura 9. Produtividade média de biomassa de forragem verde (t/ha/corte) dos 7 melhores
clones, dos dois piores e das testemunhas (B. ruziziensis – cv. Kennedy, B. brizantha – cv.
Marandu e B. decumbens – cv. Basilisk). Dados de 6 cortes em cada experimento, conduzido
em dois locais (Coronel Pacheco/MG e Valença/RJ).
Ao final do terceiro ciclo de seleção recorrente, além da população melhorada (C2)
obtida pela identificação, seleção e intercruzamento dos melhores materiais genéticos, foram
obtidas populações com intensidades de seleção mais acentuadas, pelo intercruzamento de
dois a cinco clones. O objetivo dessas seleções foi a obtenção de populações mais
homogêneas que pudessem, caso confirmassem o potencial produtivo, atender às exigências
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para um eventual
lançamento como novas cultivares. No caso da B. ruziziensis são exigidas avaliações sob
corte e sob pastejo. Essas populações, então, estão sendo avaliadas em experimentos para
comprovação do valor de cultivo e uso (VCU). Inicialmente estão sendo conduzidos
experimentos sob corte e os resultados do primeiro ano de avaliações confirmam o potencial
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produtivo de algumas populações (Figura 11). As duas melhores populações estão sendo
multiplicadas para aumentar a quantidade de sementes e permitir a implantação de
experimentos para avaliações sob pastejo.
Figura 10. Produtividade média (sete cortes) de forragem (t/ha/corte) de populações
melhoradas de B. ruziziensis comparada com as cultivares Kennedy (B. ruziziensis) e
Marandu (B. brizantha). Coronel Pacheco, MG.
Os resultados obtidos nos experimentos de VCU evidenciam o sucesso obtido com a
seleção recorrente. A melhor população produziu, na média dos sete primeiros cortes, cerca
de 20% mais forragem verde que a cultivar Kennedy. Quando se considera apenas a produção
de forragem obtida nos cortes realizados na época seca do ano, quando além da baixa
disponibilidade de água as temperaturas também são mais amenas, a superioridade das
populações em relação à cultivar comercial de B. ruziziensis foi mais acentuada. As duas
melhores populações produziram 125% mais que a cultivar Kennedy, atingindo produção de
forragem semelhante a cultivar Marandu (Figura 12). Ressalta-se que a B. ruziziensis é muito
mais afetada pelas baixas temperaturas que as espécies B. brizantha e B. decumbens (Souza,
2007).
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Figura 11. Produtividade de forragem (t/ha/corte) de populações melhoradas de B. ruziziensis
comparada com as cultivares Kennedy (B. ruziziensis) e Marandu (B. brizantha). Avaliação
realizada na época da seca. Coronel Pacheco, MG.
A eficiência do programa de melhoramento pode ser evidenciada também para outras
características individualmente. No caso da resistência às cigarrinhas os ganhos observados
foram acentuados. Inicialmente mais de 80% das plantas avaliadas apresentaram
sobrevivência de ninfas superior à 50%. Após dois ciclos de seleção, cerca de 40% das
plantas avaliadas apresentaram sobrevivência de ninfas do inseto inferiores à 40%. Ou seja,
houve aumento da frequência de alelos favoráveis para a resistência ao inseto praga,
facilitando a identificação e seleção de genótipos favoráveis dentro da população melhorada
(Figura 12).
Figura 12. Distribuição de frequências de plantas de B. ruziziensis avaliadas para resistência
às cigarrinhas das pastagens. A – Plantas oriundas do primeiro ciclo de seleção recorrente; B
– Plantas oriundas do terceiro ciclo de seleção recorrente.
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8 - Citogenética no melhoramento de B. ruziziensis
A citogenética é uma ferramenta de grande importância dentro do programa de
melhoramento de B. ruziziensis conduzido pela Embrapa Gado de Leite. Como a estratégia
adotada baseou-se na coleta de plantas em pastagens é importante a confirmação de que as
plantas coletadas são realmente de B. ruziziensis. Além disso, a recombinação dos melhores
materiais ao final de cada ciclo de seleção recorrente ocorre em condições de campo. Como as
braquiárias estão amplamente difundidas em todo o Brasil é muito difícil conseguir área
isolada, e apesar de todos os cuidados tomados para evitar contaminações, eventuais
cruzamentos
com
materiais
não
desejados
podem
ocorrer.
Como
as
espécies
predominantemente plantadas são a B. brizantha e a B. decumbens, que são tetraploides, a
confirmação de que as plantas trabalhadas são de B. ruziziensis é realizada por meio da
contagem do número de cromossomos.
Os resultados da avaliação do número cromossômico dos materiais trabalhados sempre
são úteis na identificação dos materiais diploides e, portanto, de B. ruziziensis. Aquelas
plantas oriundas de coletas ou de recombinação que mostram número cromossômico superior
à 18 são descartadas do programa por não serem B. ruziziensis (Goulart, 2007).
Trabalhos de verificação da viabilidade do pólen dos materiais selecionados também são de
grande importância para a continuidade do programa de melhoramento, pois visam garantir
que não apresentem nenhum problema de infertilidade do pólen, prejudicando eventuais
recombinações e produções comerciais de sementes. De forma geral, os resultados obtidos na
maioria das avaliações evidenciaram alta viabilidade do pólen de plantas de B. ruziziensis
(Goulart, 2007), não tendo sido identificados problemas maiores que restringissem a seleção
ou a continuidade de qualquer planta para etapas posteriores do programa de melhoramento.
9 – Considerações finais
Os resultados obtidos no programa de melhoramento realizado pela Embrapa Gado de
Leite de B. ruziziensis até o momento são altamente promissores, permitindo vislumbrar, no
curto e médio prazo, a obtenção de materiais genéticos com maior potencial produtivo de
forragem em relação às cultivares de Brachiaria disponíveis no mercado, não só de B.
ruziziensis. Será possível, também, agregar características como tolerância ao alumínio e
resistência às cigarrinhas-das-pastagens, que prejudicam a expansão do cultivo desta espécie.
Assim sendo, o melhoramento genético de B. ruziziensis estará efetivamente contribuindo
com o aumento de produtividade animal brasileira (leite e carne), em função da
disponibilização de cultivares com maior produtividade de forragem de boa qualidade.
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As conclusões que têm sido obtidas com este programa de melhoramento são: existe
grande variabilidade genética dentro de Brachiaria ruziziensis para a maioria das
características de interesse; muitos clones se mostraram superiores às melhores testemunhas
para características de produção e qualidade de forragem, bem como para tolerância a
estresses bióticos e abióticos; e a seleção recorrente intraespecífica poderá ser eficiente no
melhoramento genético de B. ruziziensis, permitindo a obtenção de novas cultivares no médio
prazo.
10 - Referências Bibliográficas
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Capítulo 22- Óleos essenciais: encapsulamento e potenciais aplicações para o setor
agropecuário
NOVAES, M. T.¹; QUEIROZ, V. T.²; SOARES, L. F. S.3; PINHEIRO, P.F.²; COSTA, A.V².
1. Introdução
Dentre as diferentes classes de produtos naturais, os óleos essenciais (OEs) são
descritos como produtos com grande potencial terapêutico e farmacológico (EDRIS, 2007)
constituindo um dos principais grupos de matérias-primas para as indústrias farmacêutica,
alimentícia e de perfumaria (OLIVEIRA et al., 2012).
O Brasil possui destaque na produção dos OEs, ao lado da Índia, China e Indonésia
que são os grandes produtores mundiais. Este destaque deve-se aos OEs cítricos muito
utilizados na indústria de sucos (BIZZO et al., 2009). Os OEs são caracterizados como
misturas complexas de substâncias de baixo peso molecular podendo ser voláteis e capazes de
gerar sabor ou aroma. Estes podem ser obtidos das plantas por meio de técnicas como a
hidrodestilação, arraste a vapor, prensagem a frio, extração com solventes ou CO2
supercrítico. (BIZZO, 2009; PROBST, 2012).
Na agropecuária a avaliação dos OEs como alternativa a ser utilizada em programas de
manejo para minimizar o uso de agrotóxicos e produtos de uso veterinário tem sido realizada
em função de suas propriedades antifúngica (NGUEFACK et al., 2009), acaricida (SANTOS
et al., 2012), antiparasitária (BALDISSERA et al., 2013) e bactericida (QUEIROZ et al.,
2014). Considerando que existem substâncias presentes nos OEs que podem ser degradas
quando submetidas ao calor, a umidade e a luz, a estratégia de encapsulamento destes óleos
tem sido avaliada visando prolongar o efeito de seus princípios ativos e, consequentemente,
sua aplicabilidade para diferentes fins (TORO-SANCHÉZ et al., 2010; JUN-XIA et al., 2011,
OWOLABI et al., 2013).
Tendo em vista que as características físico-químicas dos OEs e outros fatores podem
reduzir a estabilidade de seus ingredientes ativos, o objetivo deste estudo foi abordar as
principais técnicas de encapsulamento de OEs bem como suas potenciais aplicações na
agropecuária.
_______________________
1
Mestranda em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. email:
[email protected]
²Professor do Departamento de Química e Física - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
³Graduando em Medicina Veterinária- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
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329
2. Óleos essenciais (OEs)
Os óleos essenciais são compostos naturais, voláteis oriundos do metabolismo
secundário de plantas aromáticas, que podem ser obtidos a partir das flores, sementes, cascas,
frutos e raízes, sendo caracterizados por um forte odor. Normalmente são extraídos de plantas
localizadas em países quentes, como as do mediterrâneo e dos trópicos (FEI et al., 2011;
MACHADO; JUNIOR, 2011).
Esta classe de metabólitos representa uma pequena fração da composição da planta,
sendo composta por monoterpenos e sesquiterpenos e seus derivados oxigenados como
álcoois, aldeídos, cetonas, fenóis, ácidos, ésteres e éteres (FORNARI et al., 2012).
Em função de apresentarem potencial antibacteriano, antifúngico, antiviral,
antiparasitário, antioxidante, antiinflamatório, estimulador do sistema nervoso central,
inseticida, herbicida, conservante de alimentos e na elaboração de cosméticos, os OEs têm
sido constantemente avaliados no controle de microorganismos e como adjuvantes em drogas
antiinflamatórias (CHANG; DOBASHI, 2003; FEI et al., 2011; FORNARI et al., 2012).
QUEIROZ et al. (2014) descreveram como resultados a atividade antibacteriana do
óleo essencial Lippia origanoides sobre Staphylococcus sp. isolados de alimentos de origem
animal, assim como PELISSARI et al (2010) observaram a sensibilidade do Staphylococcus
aureus e Bacillus subtilis in vitro utilizando o OE Melampodium divaricatum (Rich) DC.
NGUEFACK et al. (2009) relataram a atividade antifúngica do OE Ocimum
gratissimum promoveu uma redução significativa do crescimento de Aspergillus ochraceus,
Penicillium expansum e Piper verrucosum. MEDEIROS et al. (2011) constataram diferentes
espectros de inibição no crescimento do Aspergillus flavus e a inibição da aflatoxina B1
utilizando o OE de Pittosporum undulatum L.
BALDISSERA et al. (2013) demonstraram que os OEs de andiroba (Carapa
guaianensis) e aroeira (Schinus molle) exercem atividade antiparasitária, nas formas
convencionais e de nanoemulsão, sobre o Trypanosoma evansi.
MARANGONI et al., (2011) analisaram a atividade antioxidante do OE de coentro
(Coriandrum sativum L.) em diferentes formulações de salame italiano. Os autores
observaram que a amostra contendo o OE de coentro a 0,01% foi a que apresentou a melhor
redução da oxidação lipídica. O salame incorporado com OE de coentro e BHT (2,6-ditercbutil-p-cresol) a 0,01% não mostrou sinergismo entre os antioxidantes e que o salame
contendo BHT demonstrou a menor atividade antioxidante que o salame utilizando OE de
coentro.
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MORAES (2012) avaliando o constituinte limoneno obtido do Citrus aurantium como
adjuvante no tratamento da artrite reumatóide em ratos com úlceras gástricas, concluiu que o
limoneno pode ser empregado como adjuvante para as drogas antiinflamatórias não
esteroidais no tratamento de doenças inflamatórias. Neste caso, o limoneno auxiliou na
potencialização destas drogas e na inibição de seus efeitos lesivos sobre a mucosa gástrica.
3. Manejo sanitário
A saúde animal, a boa alimentação e o melhoramento genético são essenciais para uma
atividade pecuária evoluída e com boa rentabilidade, na falha de alguns destes três pilares a
produção e consequentemente o retorno econômico para o proprietário ficará prejudicado
(EMBRAPA, 2006).
O manejo sanitário é definido como um conjunto de ações veterinárias planejadas de
forma adequada com o objetivo de eliminar, reduzir e evitar a presença de doenças no
rebanho garantindo, assim, um aumento na produção e produtividade (EMBRAPA 2006;
VIEIRA; QUADROS 2010).
Para que isto aconteça é importante seguir as recomendações básicas no controle
sanitário, como, seguir o calendário anual de controle sanitário e as orientações dos
programas para prevenir enfermidades, verificar o aparecimento de resistência parasitária,
além de ter um programa de manejo sanitário supervisionado por um veterinário (CHILITTI,
2006).
Apesar do setor agropecuário brasileiro ter apresentado um avanço significativo em
vários indicadores sanitários, este ainda se encontra distante em alguns aspectos que garantam
a confiança dos consumidores e compradores de carne bovina. Este fato se dá devido ao uso
de medicamentos e/ou outros produtos de uso veterinário de forma inadequada que pode
colocar em risco a saúde pública. Deste modo, a legislação existente tem como objetivo
garantir o uso correto desses produtos reduzindo os problemas decorrentes de sua má
utilização, uma vez que são primordiais no manejo de pragas e agentes causadores de doenças
(PEREIRA, 2010).
Sendo assim, a utilização de OEs em programas de manejo sanitário para controlar
doenças em animais provocadas por hemoparasitos, ectoparasitos e helmintos gastrintestinais
e pulmonares representa uma alternativa a ser avaliada visando minimizar o uso não-racional
de produtos comerciais.
Neste sentido Jeyathilakan et al. (2010) descrevem o efeito in vitro dos OEs de
citronela (Cymbopogon nardus) e neem (Azadirachta indica) sobre Fasciola gigantica. Os
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331
autores observaram que o OE de citronela apresentou potencial atividade anti-helmíntica para
a F. gigantica enquanto que o OE de neem não mostrou efeito significativo.
Um estudo feito por Santos et al. (2012) utilizou OE de manjericão (Ocimum
basilicum L.) nas concentrações de 1; 5; 10; 25; 50 e 100% em água destilada sobre o
carrapato bovino Rhipicephalus (Boophilus) microplus em ensaios in vitro. Estes observaram
que o OE testado a 25% demostrou acima de 50% de eficiência, e nas concentrações de 50 e
100% apresentou total inibição da postura.
Com exceção da F. gigantica e carrapatose existem poucos estudos feitos com OEs
para outros tipos de doenças em animais, o que ainda dificulta a utilização destes óleos em
programas de manejo sanitário.
4. Encapsulamento de óleos essenciais (OEs)
O uso de formulações visando a liberação controlada de OEs traz vantagens uma vez
que na presença de luz, umidade e calor excessivo estes óleos podem evaporar rapidamente ou
as substâncias presentes em sua composição podem a ser degradadas (OWOLABI et al.,
2013).
MÜLLER (2011) analisando o OE da laranja observou que este apresentava uma alta
sensibilidade à temperatura, luz e oxigênio, e quando optou por utilizar a microencapsulação,
foi possível aumentar o tempo de vida dos compostos voláteis durante o seu processamento e
armazenagem. Fernandes (2008) observou que a microencapsulação pela técnica de spray
drying do OE da Lippia sidoides, utilizada como anti-séptico de uso tópico, preservou as
características físico-química do OE bem como sua atividade antifúngica.
4.1. Técnicas de encapsulamento
O encapsulamento é baseado no preparo de uma emulsão entre o composto a ser
encapsulado e o agente de encapsulação, seguido da secagem da emulsão. Para melhorar o
efeito do material utilizado, usa-se micropartículas compostas por um polímero como material
de parede e um material ativo chamado de núcleo. As micropartículas têm a capacidade de
alterar e aperfeiçoar a aparência e as propriedades de uma substância (SANTOS et al., 2003).
A microencapsulação consiste em utilizar uma tecnologia de empacotamento de
gotículas individuais ou partículas sólidas, gasosas ou líquidas em cápsulas com tamanho de
micrômetro a milímetros podendo liberar o conteúdo de forma controlada, transformando um
líquido em sólido com o objetivo de facilitar o seu manuseio e, consequentemente, aumentar a
estabilidade em diferentes condições (OKAK, 2012; TRINDADE et al., 2012).
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332
As cápsulas podem apresentar diferentes formas de acordo com o material e a técnica
utilizada para a sua obtenção. Em relação ao tamanho, as cápsulas são classificadas em
micropartículas - entre 1 e 1000 µm - que podem ser microcápsulas ou microesferas, e
nanopartículas - entre 10 e 1000 nm - que podem diferir quanto à coloração, à condutividade
elétrica e as propriedades termodinâmicas e apresentar-se como esferas, baculiformes e
lamelares (MÜLLER, 2011; ARAÚJO, 2014).
A escolha da técnica a ser utilizada dependerá da propriedade do material a ser
encapsulado, do encapsulante (MÜLLER, 2011). O método mais utilizado para produzir
microcápsulas é a coacervação complexa que se destaca dos outros métodos pela sua carga
útil elevada de até 99% e a possibilidade de liberação controlada (OKAC, 2012).
A coacervação complexa é usada para microencapsular substâncias hidrofóbicas
baseando-se na interação entre os diferentes polímeros com cargas opostas, esta interação
forma complexos insolúveis produzindo a separação das fases. O depósito deste complexo no
interior do núcleo hidrofóbico cria uma barreira permitindo assim a sua encapsulação
(ALVIN; GROSSO, 2010). Na microencapsulação por coacervação (ou separação de fases) o
agente ativo que será encapsulado é disperso em uma solução do polímero (1a).
Posteriormente ocorre a indução da coacervação formando as gotículas de coacervado (1b)
que irão se depositar em torno do núcleo contendo o princípio ativo (1c), estas gotículas se
aderem neste núcleo formando uma camada polimérica (1d) que por meio da difusão do
solvente ou modificação da temperatura, irá endurecer (1e) (SILVA et al, 2003).
Figura 1. Etapas do processo de microencapsulação por coacervação. (a) Dispersão do agente ativo que será
encapsulado; (b) Formação das gotículas do coacervado; (c) Deposição das gotículas em torno do núcleo; (d)
Formação da camada polimérica; (e) Endurecimento da camada polimérica. (Suave et al., 2006).
O tamanho das microcápsulas é importante no desempenho, controle e proteção da
substância encapsulada, quanto maior a área superficial das microcápsulas, mais rapidamente
a substância ativa será liberada. Durante o processo de coacervação, o tamanho das
microcápsulas pode ser controlada pela agitação mantida durante todo o processo, da
viscosidade e das características do material formador da parede polimérica das microcápsulas
(MÜLLER, 2011).
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333
Outro método utilizado é o spray-drying que significa secagem por pulverização, que
é considerado um dos melhores métodos para converter, em apenas uma etapa os materiais
considerados fluídos em partículas sólidas ou semi-sólidas. Possui vantagens de formular
grandes quantidades de materiais de modo contínuo. Além de baixo custo, apresenta
facilidade na industrialização, é compatível com muitos materiais de revestimento, possibilita
a evaporação de forma rápida e mantém baixa a temperatura das gotas não interferindo na
qualidade do produto. Entretanto, a utilização de alta temperatura durante o processo pode
danificar componentes termolábeis como vitaminas e enzimas (MURUGESAN; ORSAT,
2012; KARTHIK; ANANDHARAMAKRISHNAN, 2013).
O objetivo da etapa da atomização é criar uma superfície maior de transferência de
calor entre o ar quente e o líquido, envolvendo complexas interações durante esta etapa.
Quanto maior for a temperatura, menor será a dimensão das partículas e o contato das
partículas com o ar quente durante a atomização. Ao final do processo tem-se um produto de
qualidade, com peso reduzido e baixo teor de água, facilitando o seu armazenamento e
transporte. Deve-se salientar que as propriedades físico-químicas do produto final dependerão
do material utilizado na alimentação (solução, emulsão ou suspensão), do tamanho e
viscosidade da partícula, temperatura de pressão e do tipo de atomizador (MÜLLER, 2011;
MURUGESAN; ORSAT, 2012).
Segundo Brasileiro (2011), no processo de microencapsulação por spray-drying a
substância a ser encapsulada deve ser dispersa em uma solução aquosa ou dispersão contendo
o agente encapsulante (Figura 2). Na etapa 1 (Figura 2) ocorre a atomização e na etapa 2
ocorre a entrada de ar aquecido e, posteriormente, a evaporação do solvente, tendo ao final a
formação de gotículas sólidas. Nesta técnica ocorre o bombeamento da solução até o
atomizador onde é aspergida até à câmara de secagem. Na câmara de secagem ocorre a
evaporação do solvente pela secagem do ar quente em que as gotículas que eram líquidas
passam a ser partículas sólidas que serão recolhidas no ciclone.
No processo de freeze-drying (liofilização) são formadas estruturas porosas devido à
formação de cristais de gelo durante a fase de congelamento. Em seguida, na fase da
sublimação, ocorre a re-hidratação do produto em pó. Após a secagem, a parte que possuía
solvente é removida deixando uma parte oca no local, as partículas de polímeros resultantes
podem ter vários furos ou apenas um único furo grande, o que depende da cinética da
congelação (YIN; YATES, 2009; KARTHIK; ANANDHARAMAKRISHNAN, 2013).
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Figura 2. Etapas do processo de microencapsulação por spray-drying (Brasileiro, 2011).
Quando as partículas ocas são dispersas em água e expostas a um solvente
plastificante, ocorre o fechamento do furo resultando em microcápsula com núcleo-invólucro.
Também deve ser considerado que os aditivos solúveis em água podem ser encapsulados no
interior das microcápsulas (YIN; YATES, 2009).
Este método requer baixa temperatura, alto vácuo e longo tempo de permanência do
material no equipamento (liofilizador) trazendo altos custos operacionais. O passo de controle
da velocidade do liofilizador é dado pela difusão da água através do sólido reduzindo assim o
tamanho da partícula e aumentando a rapidez com que o processo é feito (KARTHIK;
ANANDHARAMAKRISHNAN, 2013).
4.2. Materiais encapsulantes
Na microencapsulação utilizando polímeros como quitosano, maltodextrina e amido a
proteção proporcionada pela parede polimérica evita a ocorrência de alterações químicas e
físicas do material encapsulado. Para escolher o agente encapsulante ideal, é necessário que o
agente não seja reativo com o ativo que será encapsulado, e que o processo que será usado
para formar a microcápsula e o mecanismo de liberação sejam ideais (MÜLLER, 2011).
O quitosano (Figura 3) é um polissacarídeo que ocorre naturalmente e é obtido através
da desacetilação alcalina da quitina, encontrada no exoesqueleto de crustáceos. Este possui
características biodegradáveis, biocompatíveis e propriedade de diminuição de calor que
permite alterar o espaço poroso entre os espaços das moléculas da membrana da parede de
quitosano possibilitando a obtenção do efeito de liberação controlada dentro das
microcápsulas (HSIEH, et al., 2006).
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Figura 3. Microfotografia das microcápsulas de quitosano (x80) preparadas em concentrações de 0,5% em peso
de quitosano e 1% em peso de NaOH com agitação a 800 rpm (HSIEH et al., 2006).
O quitosano é solúvel em soluções ácidas devido à sua estrutura cristalina rígida e à
desacetilação, entretanto, sua estrutura pode ser alterada para formar quitosano solúvel em
água. Devido as suas características de biocompatibilidade e baixa-toxicidade é ideal para o
desenvolvimento de microesferas em sistemas de liberação controlada. Suas partículas
protegem as substâncias da degradação e aumentam sua absorção e biodisponibilidade
(BEIJOCA, 2014).
As maltodextrinas são produzidas por hidrólise ácida, enzimática, ou pela associação
de ambos os processos sobre o amido. Estes possuem baixa higroscopicidade, não possuem
sabor adocicado e são utilizados para melhorar o corpo dos produtos alimentícios. A
possibilidade de utilizar a maltodextrina na substituição da goma arábica na formação de
emulsões para microencapsulação por meio de secagem por atomização tem sido estudada.
Entretanto, a sua desvantagem é a deficiência na capacidade de emulsificação e a baixa
retenção de compostos voláteis e a vantagem é que consegue proteger o encapsulado contra a
oxidação (COSTA, 2013).
O amido é a principal reserva energética vegetal, é utilizado na dieta humana,
apresenta baixo custo, facilidade de armazenamento e manipulação e é muito utilizado na
indústria devido a sua capacidade de retenção e proteção dos compostos voláteis. Este pode
ser utilizado como veículo para o encapsulamento de aroma e como estabilizantes de
emulsões. Modificações do amido tem sido uma alternativa para aumentar a funcionalidade
deste polímero nas indústrias (COSTA, 2013; TEIXEIRA et al., 2014).
As ciclodextrinas (CDs) são oligossacarídeos cíclicos, atóxicos derivados da
degradação enzimática do amido, composta comumente por 6 (α-ciclodextrina ou α-CD), 7
(β-ciclodextrina ou β-CD) ou 8 (γ-ciclodextrina ou γ-CD) unidades de glicosil, sendo estas
unidades referentes ao diâmetro da cavidade da CD. Na Figura 4 estão representadas as
estruturas moleculares de cada CDs. Trata-se de um potente encapsulante muito utilizado na
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indústria de alimentos que pode atuar como um reservatório daqueles componentes voláteis
presente no OEs permitindo sua posterior liberação controlada (KFOURY et al., 2015). Esta
liberação de forma controlada permite que o OE consiga atingir a concentração ideal na
matriz alvo, e, além disso, é possível modular a quantidade de substâncias retidas no
complexo de inclusão e de CD por meio da cinética da taxa de liberação. KFOURY
et
al.
(2015) também relataram que muitos trabalhos consideram o encapsulamento do OE como
uma mistura complexa em CD, porém poucos estudos investigam a capacidade de ligação do
CD com cada componente do OE em mistura complexa.
A β-ciclodextrina (β-CD) consiste em uma molécula cíclica, com uma cavidade
hidrofóbica, enquanto que a face exterior é hidrofílica, tornando assim o β-CD uma boa opção
para o encapsulamento de vários compostos orgânicos e inorgânicos. Este tipo de
encapsulamento é considerado uma formação de complexo molecular, onde os constituintes
ativos hidrófobos do OE poderiam interagir dentro da cavidade hidrofóbica de β-CD, para que
quando a cápsula for formada as moléculas da parte exterior possam adquirir um carácter
hidrófilo. Em estudos realizados utilizando a encapsulação de compostos voláteis microbianos
em β-CD, Tóro-Sanchez et al. (2010) demonstraram que este processo representa uma boa
opção para contornar o problema da volatilidade dos OEs originando um complexo molecular
com atividade antifúngica que pode ser utilizado no ambiente de interesse (TÓROSANCHEZ et al., 2010).
Figura 4. Estruturas moleculares das Ciclodextrinas. (A) α-Ciclodextrina; (B) β-Ciclodextrina; (C) γCiclodextrina. Fonte: Portal dos Fármacos UFRJ.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso não-racional de produtos veterinários para o controle de pragas e doenças pode
contribuir para o aumento da resistência de algumas pragas e trazer riscos tanto à saúde dos
animais quanto do homem. A fim de tentar minimizar estes problemas, extratos vegetais e
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óleos essenciais (OE) têm sido avaliados como alternativa a ser utilizada em Programas de
Manejo Sanitário para minimizar a utilização de produtos comerciais.
Entretanto, a incorporação de OEs em produtos formulados visando a utilização destes
em condições de campo está atrelada à capacidade de se minimizar sua volatização e
preservar a estabilidade de seus ingredientes ativos bem como aumentar sua solubilidade em
água. Neste contexto, a encapsulação de OEs possibilita contornar os problemas mencionados
anteriormente,
facilitando
a
sua
manipulação
e
conservando
suas
propriedades
farmacológicas.
Sendo assim, a encapsulação de OEs constitui uma alternativa a ser avaliada no setor
agropecuário uma vez que bons resultados têm sido obtidos pela utilização desta técnica pelas
indústrias farmacêutica e de alimentos no desenvolvimento de produtos.
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341
CUNHA8,
Capítulo 23 - Pastagens degradadas no Sul do Espírito Santo
G. M.; MOREIRA1, G. R.; TÁIRA9, A.; CUNHA10, A. M.; MELLO11, I. N. K.
1. Introdução
A pastagem é o principal componente da nutrição de ruminantes, e em muitos casos o
único no sistema de criação extensiva. A qualidade do pasto, portanto, guarda relação direta
com a produtividade do rebanho.
A base dos sistemas de produção vegetal, por sua vez, é dependente dos fatores abióticos
(solo, água, temperatura, etc.). Assim, para se alcançar a produtividade satisfatória, ou seja,
capaz de cobrir os custos de produção e ainda gerar renda, é necessário que os fatores de
produção atendam às necessidades das forrageiras em termos de disponibilidade de água,
nutrientes e temperatura, principalmente.
A otimização dos fatores envolvidos na produção de forrageiras, em parte decorrente da
extensão das áreas, parece implicar em custos que inviabilizam a lucratividade, ao menos nos
patamares de preços atuais do leite e da carne. Assim se pressupõe em virtude da inexpressiva
aplicação de tecnologia na produção de pasto no Estado do Espírito Santo.
Travestidas de tecnologia de produção, práticas de preparo do solo têm sido empregadas
na implantação de pastagens no Estado, expondo acentuadamente o desconhecimento das
limitações do ambiente local para o uso de tecnologias desenvolvidas para cultivo em áreas
planas, conduzindo a processos erosivos severos e até certo ponto incontroláveis.
O processo de degradação de pastagem tem como resultante a degeneração ou queda
relativa da produtividade das forrageiras (MACEDO, 2005). As causas da degradação das
pastagens em nível global têm sido atribuídas ao manejo inadequado, em particular na tomada
de decisão a cerca da taxa de lotação que excedam a capacidade do pasto em se recuperar
decorrente do pastejo e do pisoteio (DIAS-FILHO, 2014). No entanto, as causas primárias do
processo de degradação podem se estabelecer precocemente, ainda no momento da
implantação da pastagem, em razão de práticas inadequadas de preparo do solo. Objetiva-se
neste capítulo abordar o histórico e a situação atual das pastagens no Sul do Estado do
Espírito Santo.
8
Professor da Universidade Federal do Espírito Santo – Centro de Ciências Agrárias. emails: [email protected]
[email protected]
Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Centro de Ciências Agrárias. email: [email protected]
10
Engenheiro Agônomo, Dsc. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. email: [email protected]
11
Médica Veterinária, Cariacica – ES. E-mail: [email protected]
9
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
342
2. Histórico das pastagens no Sul do Estado do Espírito Santo
A substituição de florestas por pastagens no Espírito Santo teve seu início no limiar do
século XX e se intensificou a partir dos anos 30 e 40, com praticamente três espécies
adequadas a solos bem drenados: capim colonião (Panicum maximum), capim jaraguá
(Hyparrhenia rufa) e capim gordura (Melinis minutiflora) e duas espécies tolerantes a solos
mal drenados: capim angola (Brachiaria mutica) e capim tanner grass (Brachiaria arrecta).
Essas espécies são todas exóticas e provenientes da África. No entanto, ainda existia o gênero
Paspalum, conhecido como capim Pernambuco que figurava entre os chamados pastos
nativos.
Embora essas espécies de gramíneas citadas ocorressem no sul do Estado amplamente,
a distribuição geográfica compondo pastagens era regularmente distinta. O capim colonião e o
capim Jaraguá ocorriam regularmente em solos de melhor fertilidade e em climas mais
quentes nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Castelo, Jerônimo Monteiro, Bom Jesus
do Norte, Itapemirim, Apiacá e em Alegre, Muqui e Mimoso do Sul em menores altitudes.
O capim gordura ainda ocorre do Estado, mas menos expressivamente como no
passado, em extensas áreas em solos mais pobres e em maior altitude, portanto, regiões com
temperatura mais amena e maior precipitação pluviométrica, como nos municípios de Guaçuí,
Ibitirama, Iúna, Dores do Rio Preto, Divino de São Lourenço e nas partes altas de Alegre,
Muqui, Mimoso do Sul e São José do Calçado.
No que se refere às braquiárias tolerantes aos solos úmidos, estas ocorrem ainda
indistintamente nos municípios do Sul do ES nas várzeas úmidas ou brejosas.
As pastagens do Sul do ES estabelecidas nas décadas de meados do século XX eram
comumente implantadas colhendo-se sementes no campo, pois não havia ainda empresas
especializadas para produção e comercialização de sementes. De modo geral, em todo o Brasil
as sementes eram obtidas do mesmo modo (ROCHA, 1988). As sementes então eram
plantadas quase sempre associadas com cultivo de cereais (milho ou feijão) ou sobre as
pastagens nativas, por meio de plantios em covas após as queimadas, muito comuns na época.
Em alguns casos o solo era revolvido por aração com tração animal e em seguida as sementes
eram plantadas a lanço.
A partir da década de 70, com a introdução da Brachiaria decumbens em várias
regiões do Brasil houve um impulso na formação das pastagens plantadas (ROCHA, 1988;
MELO et al. 2005). No Sul do ES a inserção do gênero Brachiaria em solos bem drenados
teve maior estímulo na década de 80.
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As razões para as substituições das pastagens de colonião, jaraguá e gordura por
braquiária são decorrentes de razões múltiplas. Em pastagem de capim colonião os atributos
vegetativos gerais dessa forrageira incluem: baixo crescimento na seca, baixa reserva de
biomassa verde na seca, não adaptação a solos ácidos e de baixa fertilidade (CORREA, 2002),
sendo identificados pelos pecuaristas da região como um dos principais aspectos negativos
dessa forragem o ressecamento da pastagem na época da seca, tornando-a muito suscetível ao
fogo.
As pastagens exclusivas com capim Jaraguá não eram muito expressivas em área no
Sul do ES, ocorrendo quase sempre associadas às outras gramíneas com colonião e até mesmo
capim gordura. O capim Jaraguá apresenta, em geral, biomassa menor quando comparado às
outras gramíneas ocorrentes na região, tendo após o florescimentoa redução drástica da
disponibilidade de biomassa. A capacidade de suporte é considerada baixa, bem como de
baixo valor nutritivo, sendo bastante sensível ao déficit hídrico (AZEVEDO et al., 1992;
BOTREL et al. 1998).
O capim gordura é uma forrageira de boa palatabilidade e de baixa exigência
nutricional, mas apresenta baixa capacidade de suporte (BOTREL et al. 1998). Nos meses
mais frios e secos ocorre a floração da espécie e o ressecamento posterior da parte vegetativa
reduz muito a disponibilidade de forragem.
3. O ciclo da braquiária em pastagens do Sul do ES
Com as restrições apresentadas anteriormente das gramíneas que compunham as
pastagens no Sul do Espírito Santo, levando a um menor desempenho da pecuária na região,
tornando-as menos competitiva no cenário nacional, em meados dos anos de 1980 iniciou-se a
substituição maciça dessas gramíneas por braquiárias. Em um primeiro momento com a
introdução da Brachiaria decumbens e posteriormente da Brachiaria brizantha.
A B. decumbens apresenta muitos aspectos favoráveis à sua implantação, a começar pela
facilidade na aquisição da semente, tolerância a solos pobres, agressividade de crescimento e
cobertura do solo (BOTREL et al., 1998). Por outro lado, aspectos negativos e desfavoráveis à
sua implantação são a reconhecida suscetibilidade à cigarrinhas das pastagens aliado ao baixo
valor nutritivo e média palatabilidade (CORREA e SANTOS, 2003) que não garantem alta
produtividade do gado. Embora, de certa forma, não superior em termos de qualidade às
pastagens até então existentes, certamente sua maior tolerância à seca parece ter sido fator
decisivo para sua aceitação entre os pecuaristas.
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Introduzida posteriormente nas pastagens da região, a B. brizantha difundida pela
EMBRAPA a partir de 1984 destaca-se por vários aspectos em relação à B. decumbens.
Inicialmente pela sua resistência à cigarrinha da pastagem, elevada produção e alta qualidade
da forragem, além de boa resposta à adubação (CORREA e SANTOS, 2003). No entanto é
mais exigente em fertilidade do solo do que a B. decumbens. Tal como essa, a maior
tolerância à seca da B. brizantha foi fundamental para a renovação das pastagens no Sul do
ES.
Em geral, a B. decumbens substituiu as pastagens outrora ocupadas por capim gordura e
capim Pernambuco, enquanto a B. brizantha substituiu preferencialmente pastagens de capim
colonião e capim Jaraguá. Essas substituições levaram em contam basicamente a fertilidade
natural dos solos.
4. Situação atual das pastagens no Sul do ES (o ciclo da degradação)
Boa parte das pastagens implantadas no Sul do Espírito Santo a partir da metade da
década de 1980 tinha como objetivo substituir as então gramíneas consideradas de baixo
rendimento e de inadequada reserva de biomassa no período seco, as quais expunham o solo
em demasia e frequentemente apresentavam indícios de degradação. Em alguns casos, locais
de maior severidade de escassez de água, como no Vale do Itapemirim e região litorânea, o
uso do fogo para renovação da pastagem fazia parte do manejo tradicional, agravando ainda
mais a sustentabilidade da mesma em longo prazo.
As primeiras iniciativas de implantação de pastagens de braquiária no Sul do ES
ocorreram por volta de meados dos anos 80 e intensificaram-se a partir do início da década de
90. Como prática de implantação, em áreas planas o solo era preparado por meio de aração e
gradagem com tratores. Nas encostas, basicamente eram utilizados o plantio após aração com
tração animal ou a semeadura direta em pastagens com baixa cobertura.
No fim dos anos 80 e inicio dos anos 90, o procedimento para preparo do solo para
implantação do pasto mudou sensivelmente pela expansão para as áreas de encosta do preparo
mecanizado, à medida que tratores mais potentes e com tração 4x4 tornaram-se mais
acessíveis ao mercado local.
O uso da técnica de preparo solo no sentido da declividade do terreno, possibilitado por
tratores especiais passaram ser comum como prática de implantação de pastagem, mesmo
contrariando às práticas de manejo já banidas de cultivo a favor da declividade tão combatidas
pela assistência técnica e extensão rural governamentais na região para o cultivo do café. Tão
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pouco, foram considerados resultados de pesquisas de renomados autores quanto aos riscos do
preparo do solo no sentido da declividade do terreno.
Ao mesmo tempo em que a prática de cultivo do solo no sentido da declividade norteou o
processo de reforma e melhoria das pastagens no Sul do ES, as práticas envolvendo melhorias
na qualidade química do solo, como calagem e adubação, não foram incorporadas ao
processo. Raríssimas eram as iniciativas que ao menos incorporavam a calagem como parte
das melhorias para o ambiente de cultivo da nova gramínea implantada.
Em meados dos anos 90 foi conduzido um trabalho envolvendo sistemas de preparo do
solo em reforma de pastagem na região de Alegre. Foram avaliadas as forrageiras B.
decumbens e B. brizantha em quatro sistemas de preparo do solo e método de semeadura. O
sistema de preparo do solo com tração animal em nível e semeadura a lanço ou em covas
proporcionou maior cobertura do solo independente da espécie utilizada. O preparo do solo
por meio da aração com trator 4x4 no sentido da declividade proporcionou menor cobertura
do solo após um ano de avaliação. A produção de matéria seca da pastagem também foi
afetada pelo sistema de preparo do solo e tipo de forragem. A B. decumbens produziu maior
matéria seca ao final de um ano, bem como o método de preparo do solo em nível por tração
animal também proporcionou maior produção de matéria seca em ambas as gramíneas
plantadas (CUNHA et al., 1998).
Atribui-se a redução da cobertura do solo e redução da produção da forragem ao
método de preparo do solo a favor da declividade que favoreceu a perda de solo e
consequentemente das sementes plantadas em decorrência das chuvas de grande intensidade
que ocorrem na região no verão. A erosão em sulco foi evidenciada nas parcelas preparadas
por tração motomecanizada no sentido da declividade.
Em um enfoque sobre a utilização dos solos da Bacia do Rio Itapemirim e os riscos
ambientais envolvidos nesse processo, Cunha (1998) enfatizou prioritariamente o que na
época representava o maior risco ambiental do uso do solo para fins de produção, a reforma
de pastagens no Sul do ES. Nesse artigo já eram descritos os riscos envolvidos no preparo do
solo com tecnologia inapropriada para as condições de relevo da maior parte das áreas de
pastagem dessa região do Espírito Santo. Ainda que os problemas relacionados à erosão
fossem restritos àquela época, a adoção desse modelo de preparo do solo para reforma ou
implantação de novas pastagens para as áreas de encostas, comprometeria a sustentabilidade
da produção bovina a pasto, tanto pelas razões já abordadas quanto pela redução da recarga do
lençol freático, comprometendo a oferta de água futura.
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Diante da prática desenfreada de revolvimento do solo no sentido da declividade para
a formação de pastagem no ES, em especial na região Sul, o Governo do Estado instituiu a
Lei 6.607 de 06 de fevereiro de 2001, proibindo em todo território do Estado do Espírito
Santo a utilização de métodos de preparo do solo para fins agrícola, pecuário e florestal
que adotem a movimentação de equipamentos de tração mecânica ou animal, no sentido
da pendente topográfica, nas operações de limpeza, aradura, gradagem e similares, em
áreas cuja declividade média for superior a 44,5%. Embora o Estado tenha limitado a
atividade por força de lei, na prática, as ações comprometedoras no ambiente pela
implantação de pastagem ainda continua como prática comum de preparo do solo.
Com intuito de avaliar os efeitos ainda presentes da prática inadequada (e ilegal) de
preparo do solo no sentido da pendente topográfica para fins de implantação de pastagem no
Sul do ES são apresentadas uma sequência de imagens temporais (Google earth) buscando
identificar padrões de marcas na paisagem deixadas pela atividade de preparo do solo.
Na figura 1 são mostrados três locais onde se procedeu à reforma da pastagem,
substituindo o capim gordura por B. brizantha (Figura 1A, 1B, 1C e 1D) ou capim
pernambuco por B. brizantha (Figura 1E e 1F). Os procedimentos adotados foram similares
na substituição de capim gordura e pernambuco por braquiária, utilizando-se preparo do solo
por meio de aração com tração animal em nível e plantio a lanço da semente.
É possível notar, em destaque, os efeitos nocivos do processo de erosão após o preparo
do solo (Figura 1A e 1B), a resiliência (capacidade de recuperação) da área foi comprometida,
pois decorridos cerca de sete anos após a reforma da pastagem os efeitos ainda permanecem e
se agravando com o tempo.
Em alguns municípios do Sul do ES os efeitos do preparo do solo para reforma de
pastagem parecem ser mais danosos para o ambiente, e de certa forma, tem-se a impressão
equivocada de que são menores.
Em locais de solos mais férteis e temperaturas mais
elevadas, como encontrados nos municípios de Cachoeiro de Itapemirim, Castelo e Jerônimo
Monteiro, a forrageira tende a se desenvolver mais na época das águas (período chuvoso),
ambientes de alta resiliência, mascarando a superfície do solo. Mas quando ocorrem secas
prolongas e consecutivas, com nos dias atuais, a vegetação escassa expõem a verdadeira
realidade que se esconde abaixo dela, solos com erosões de alto grau, em sulcos profundos,
como resultantes do processo de preparo antes do plantio (Figura 2A e 2B).
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Figura 1 – Área antes da reforma de pastagem (A) e após reforma com preparo do solo no
sentido da pendente topográfica (B), município de Guaçuí. Elevação com pasto natural (C) e a
mesma elevação, após preparo do solo com tração animal em nível (D), município de Guaçuí.
GOOGLE. Google Earth. Version 2013. >. Acesso em 20 de outubro de 2015.
Figura 2 – Área de pastagem reformada utilizando preparo do solo no sentido da pendente
topográfica. Época chuvosa (A) e época seca prolongada (B), município de Cachoeiro de
Itapemirim. GOOGLE. Google Earth. Version 2013. >. Acesso em 20 de outubro de 2015.
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Os efeitos da erosão proporcionada por preparo no sentido da pendente topográfica são
duradouros e de difícil controle, além de expensivo, o que desencoraja os envolvidos na
atividade de pecuária. A perda da superfície mais rica do solo reduz profundamente sua
resiliência, que com o tempo, a não ser que medidas de reparos sejam tomadas, dificilmente
se recupera espontaneamente (Figura 3).
Figura 3 – Sequência de imagens temporais de uma pastagem implantada após preparo do
solo no sentido da pendente topográfica no município de Itapemirim. GOOGLE. Google
Earth. Version 2013. >. Acesso em 20 de outubro de 2015.
Em áreas levantadas no Sul do Estado, município de Itapemirim a situação da
cobertura vegetal de grande parte das pastagens de braquiaria apresenta deficiente cobertura
vegetal, expondo-se o solo aos agentes do clima, acelerando o processo de degradação (figura
5A). Nessa região amostrou-se a disponibilidade total de forrageira pelo método do quadrado,
Tabela 1. Observa-se que em áreas de pastagem degradadas a matéria seca disponível de
forragem é bem menor do que as encontradas nas pastagens bem manejadas. Em geral a
cobertura do solo é muito pobre nesses locais degradados (Figura 4B). Nos municípios de
Cachoeiro de Itapemirim e Jerônimo Monteiro o estado atual das pastagens também é crítico.
Em parte, decorrentes da seca de 2014/2015 e do ataque de pragas como a lagarta militar
(Spodoptera frugiperda), agravado pelo manejo de implantação e de manutenção, que
dificulta a rebrota natural do capim, levando a quase total perda da cobertura do solo (figura
4C). É possível notar que esse efeito e mais pronunciado nas encostas íngremes em que o solo
foi preparado com auxílio de máquinas trafegando no sentido da pendente topográfica (Figura
4D)
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Tabela 1 – Disponibilidade total de forragem em diversas pastagens no Sul do Espírito Santo
no fim da estação seca (outubro de 2015).
Coordenadas
20o59´43´´ S
Município
Altitude
(metros)
Espécie
Estado da
pastagem1
Matéria seca
total
(t ha-1)
Itapemirim
44
B. brizantha
Boa
1,78
Itapemirim
44
B. brizantha
Degradada
0,77 t ha-1
Cachoeiro
112
B. brizantha
Degradada
0,74 t ha-1
156
B.brizantha/capim
Boa
2,54 t ha-1
41o02´48´´ O
20o59´41´´ S
41o02´45´´ O
20o46´24´´ S
41o02´45´´ O
20o44´51´´ S
41o29´26´´ O
1Boa,
de
Itapemirim
Alegre
pernambuco
corresponde à pastagem sem sinais visíveis de erosão; Degradada, corresponde à pastagem com sinais visíveis de
erosão.
Figura 4 – Pastagens degradadas observadas no Sul do ES, entre setembro e outubro de 2015
no município de Itapemirim (A e B) e município de Cachoeiro de Itapemirim (C e D). (foto:
Gláucio M. Cunha).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo da reforma, recuperação ou renovação de pastagens sempre é proporcionar
melhor oferta de alimento para o gado. Embora os termos reforma, recuperação e renovação
pareçam semelhantes algumas diferenças sutis entre eles existem (RODRIGUES et al, 2000).
Essas ações podem se limitar apenas na substituição da espécie de gramínea ou ir mais além,
buscando melhoria das condições edáficas, isto é, empregando práticas de revolvimento do
solo, associada a aplicação de fertilizantes e corretivos e tornar a plantar a mesma espécie
(reforma de pastagem) ou outra mais adequada (renovação de pastagem) para as novas
condições edáficas.
Para melhorias das condições edáficas implica-se em arar e gradear o solo a fim de
quebrar a compactação provocada pelo pisoteio animal, aumentando com isso a porosidade do
solo e, por conseguinte, melhorando a infiltração de água. Por outro lado, também
melhorando as condições para o desenvolvimento radicular da forrageira. Do ponto de vista
da aplicação de fertilizantes e corretivos objetiva-se fornecer nutriente e ambiente químico
que favoreça a absorção pelas raízes das gramíneas implantadas.
Na prática, como já enfocado, no Sul do ES o que se teve e o que se tem na realidade
são reformas ou renovação de pastagens não acompanhadas de aplicação de fertilizantes e
corretivos de solo. A manutenção de pastagem por meio de aplicações posteriores de
fertilizantes que visem a recuperar a fertilidade do solo ao menos também não é prática
comum no manejo de pastagem.
De modo geral, a reforma ou renovação de pastagem mesmo na ausência de
fertilização proporciona melhor desenvolvimento inicial das gramíneas, provavelmente
decorrentes da mineralização da matéria orgânica e consequente aumento do teor de N no
solo, bem como pela redução da densidade do solo. Lima et al. (2007) demonstraram redução
linear da produtividade de milho com aumento da densidade do solo. A intensificação do
pastejo, decorrente do aumento da taxa de lotação e ou aumento da pressão de pastejo
condiciona aumento da densidade do solo e consequentemente aumento da resistência à
penetração, concorrendo para redução da massa de raízes, conforme Costa et al. (2012)
verificaram em estudo com capim colonião.
O aumento da oferta de forrageira proporcionado pela melhoria da pastagem acaba por
criar um ciclo que inevitavelmente leva com o tempo o próprio declínio da pastagem se
medidas de manejo não forem incorporadas ao processo de produção. Se o aumento de
biomassa da pastagem condiciona maior capacidade de lotação, por conseguinte esse aumento
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de lotação leva à pressão sobre o solo, conferindo ao longo do tempo maior densidade do
solo, reduzindo assim a capacidade de crescimento da pastagem levando a redução da oferta
de forragem. Em áreas de topografia mais plana, que permitem o tráfego de máquinas, a
reforma das pastagens pode incluir rotação com culturas anuais (integração lavoura x
pecuária) e a pastagem se beneficiar do efeito residual dos fertilizantes aplicados reduzindo o
custo de manejo da pastagem e implicando em menores riscos de degradação das mesmas.
Por outro lado, terrenos de topografia mais ondulada que não permitem o tráfego de máquinas
o desafio é manejar a pastagem de modo a retardar os efeitos do esgotamento da produção de
biomassa. Assim, a redução da lotação e da pressão de uso da pastagem são os fundamentos
básicos para sistemas de produção com limitações de manejo por maquinas.
O manejo de pastagens em áreas declivosas, com riscos de degradação por erosão,
requer basicamente a manutenção de grande disponibilidade de biomassa vegetal para que não
se exponha o solo aos agentes intempéries e a ciclagem de nutriente e de carbono
condicionem maior disponibilidade de nutrientes e matéria orgânica capazes de promoverem
melhor estrutura do solo, maior retenção de umidade, menor compactação, enfim, melhores
condições edáficas para o desenvolvimento de forrageiras.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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gramíneas tropicais. Embrapa Gado de Leite, 1998. (Embrapa Gado de Leite. Documentos,
66). 35p.
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DIAS-FILHO, M.B. Diagnóstico das pastagens no Brasil. Embrapa Amazônia Oriental,
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ROCHA, G.L. A evolução da pesquisa em forragicultura e pastagens no Brasil. Anais da
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RODRIGUES, L.R.A; DE QUADROS, D.G.; RAMOS, A.K.B. Recuperação de pastagens
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anais. 2000.
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Capítulo 24- Potencial antioxidante de Catharanthus Roseus L. (G.) DON
PENA JÚNIOR, C.E.1; ZANINI, S.F.2; SOUSA, D.R.3; MENDITI, C.A.3;
BERTONCELI, R.M.3
Resumo
A espécie Catharanthus roseus L. (G.) Don. da família Apocynaceae vem se destacando por
conter diversas biomoléculas de interesse terapêutico, como alcalóides e diversos compostos
fenólicos. Dentre os alcalóides indólicos destaca-se a vimblastina e vimcristina que são
utilizados no tratamento de neoplasias. Apesar da importância econômica, a produção destes
compostos, em escala industrial, ainda é limitada pelo fato de que as plantas são expostas aos
fatores ambientais os quais interferem na produção de substancias de interesse. Há também
um interesse crescente na busca por substâncias antioxidantes, que podem ser usadas tanto na
conservação de alimentos quanto na inativação de espécies reativas de oxigênio nocivas ao
homem. Entre os compostos fenólicos com potencial antioxidante que ocorrem na
atharanthus roseus destaca-se a quercetina. A partir do exposto, verifica-se que as plantas
medicinais são importantes por fornecerem fármacos de difícil síntese química, por seus
produtos serem utilizados na produção de fármacos e por possibilitarem a modificação dos
compostos tornando-os mais eficazes ou menos tóxicos.
Palavras-chave: Vinca, quimioterápico, plantas medicinais.
1 Introdução
As plantas medicinais vêm sendo utilizadas pelo homem há muito tempo, estando
presentes nas sagradas escrituras, como no papiro de Ebers, que enumera aproximadamente
100 doenças e descreve um grande número de drogas de natureza animal e vegetal (PINTO et
al., 2002).
Uma das plantas que vem despertando o interesse dos centros de pesquisa é a Vinca,
conhecida popularmente como “Boa-Noite” e “Maria-sem-vergonha”, cientificamente
denominada como Catharanthus roseus (L.) G. Don., da qual são obtidos mais de 130
alcalóides diferentes, com destaque para vimblastina e para vimcristina empregados em
tratamento quimioterápico (ROBBERS et al., 1997; SCHRIPSEMA et al., 2004; HISIGER e
JOLICOEUR, 2007).
_______________
1
Programa de Pós-graduação em Biotecnologia, UFES, Vitória, ES, Brasil.
Departamento de Medicina Veterinária, UFES, 29500-000, Alegre, ES, Brasil. *Autor correspondente, E-mail: [email protected]
3
Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, UFES, Alegre, ES, Brasil.
2
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Entretanto, existem alguns problemas que limitam o uso dessas plantas de forma mais
ampla pela indústria farmacêutica, como a dificuldade na identificação botânica, pois possui
diversos fenótipos e semelhanças com outras espécies como a Vinca minor, dificultando
assim a produção e a padronização da matéria prima (ROBBERS et al., 1997).
Apesar dos fármacos sintéticos dominarem o mercado, há uma tendência mundial a
favor da pesquisa por produtos naturais, além disso, em países desenvolvidos os fitoterápicos
são acessíveis a população e estes medicamentos auxiliam na promoção da saúde, com boa
aceitação cultural e poucos efeitos colaterais (JALLEL e PANNEERSELVAM et al., 2007).
Por isso, essa revisão tem como objetivo descrever o potencial citotóxico, genotóxico e
antioxidante de Catharanthus roseus.
2- Catharanthus roseus
A espécie é comumente conhecida nos países de língua inglesa como ‘’periwinkle’’
ou ‘’pervinca’’, existindo registro dos seguintes nomes científicos: Vinca rosea, Lochnera
rosea, Catharanthus roseus, razão pela qual em 1966, Stearn realizou uma investigação para
determinar o nome correto, e encontrou que, desde 1920 os botânicos decidiram adotar o
nome Catharanthus roseus L. (G.) Don. Em 1928, Ludwing Reichenbach foi o primeiro a
reconhecer que a Vinca rosea L. diferia em muitos caracteres da Vinca propriamente dita, e
que deveria pertencer a outro gênero, propondo o nome genérico de Lochnera; posteriormente
em 1948, Pichon descreveu 34 diferenças entre a Lochnera e a Vinca. Entretanto como em
1835, George Don havia denominado Catharanthus o gênero conhecido como Vinca rósea (.
Posteriormente, Stearn (1966) pleiteou que o nome correto deveria ser Catharanthus
roseus L. (G.) Don; da família Apocynaceae, Subfamilia Plumerioidea, e tribo Alstonieae, a
qual compreende cerca de 200 gêneros incluindo mais de 2000 espécies, tendo como origem
provável, Madagascar, mas hoje, encontra-se espalhada por toda a região tropical, onde é
utilizada como planta ornamental, apresentando parentesco com a Vinca minor Linné,
conhecida como pervinca comum.
É uma erva ou subarbusto anual, pubescente e sempre florescente com base lenhosa
que pode chegar a 80 cm de altura. As folhas são geralmente opostas, até opostas cruzadas e
verticiladas, brilhantes de cor verde escura, com estípulas rudimentares e inteiras, seus ramos
podem ser eretos ou decumbentes. Possuem flores relativamente grandes, axilares, solitárias,
pedúnculo curto, de cores diferenciadas, que vão do branco, branco com centro violeta, rosas
ou violetas e geralmente pentámeras. Seu fruto é constituído por um folículo, que contem
aproximadamente 20 sementes de cor preta. Está registrada e catalogada sob número 1109,
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coletada por COSTA et al. (2001), na coletânea Herbarium da Universidade Federal do
Espírito Santo.
2.1. Analise Fitoquímica da Catharanthus roseus
A Catharanthus roseus é uma planta medicinal de onde são extraídos metabólicos
secundários usados na quimioterapia para tratar diversos tipos de câncer. Os metabólicos mais
conhecidos e valorizados são a vimblastina e a vincristina, que são apenas 2 dos 130
alcalóides que podem ser encontrados na C. roseus. Deste total, onze compostos químicos são
freqüentemente analisados e apenas oito deles são comercializados.
Entre os alcalóides presentes em amostras de C. roseus, identificados por HPLC,
encontram-se a Ajmalicina, Serpentina, Vimblastina, Vincristina, Vindolina, Catharantina,
Tabersonina,
Lochnericina,
Secologanina,
Strictosidina,
Triptofano
e
Triptamina
(TIKOMIROFF e JOLICOEUR, 2002). Além destes alcalóides, Andrade et al. (2008)
identificaram em extratos hidroalcoólicos de C. roseus e numerosos compostos com atividade
antioxidante, como flavonóides e seus derivados.
2.2 Potencial antioxidante de Catharanthus roseus
As espécies reativas de oxigênio (ROS) representam uma classe inteira de compostos
de moléculas reativas derivadas do metabolismo do oxigênio. Os ROS podem causar extensos
danos às células e tecidos, durante infecções e várias desordens degenerativas, como doenças
cardiovasculares, envelhecimento, e doenças neuro-degenerativas como a doença de
Alzheimer, mutações e câncer (JALLEL e PANNEERSELVAM et al., 2007).
O sistema de defesa contra as injurias causadas pelo ROS são baseadas em
antioxidantes como o ácido ascórbico, α-tocoferol, ácido retinóico, bem como compostos
fenólicos além dos sistemas enzimáticos representados pela catalase (CAT), polifenoloxidase
(PPO), peroxidase (POX), ascorbato peroxidase (APX) e a superóxido dismutase (SOD).
O interesse na utilização de antioxidantes de origem natural em relação aos obtidos
sinteticamente é notório (MOLYNEUX, 2004). Sabe-se que as espécies reativas de oxigênio
podem ser eliminadas pelo uso de compostos antioxidantes naturais presentes em plantas
(JALLEL e PANNEERSELVAM et al., 2007)
Andrade et al. (2008) verificaram, através de uma triagem realizada em extratos
aquosos liofilizados de varias amostras de C. roseus, que tais extratos apresentaram um
comportamento dose-dependente para atividade antioxidante. As pétalas apresentaram o
efeito mais forte com IC50 em 197µg/mL, seguido pelas sementes e pelas folhas com IC50 de
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265 e 447µg/mL, respectivamente. Os caules apresentaram a menor atividade antioxidante
com IC50 em 476µg/mL. Foram identificados em extratos hidroalcoólicos de C. roseus
numerosos compostos com atividade antioxidante, como flavonóides e seus derivados. Todos
apresentando correspondência com agliconas desprotonadas dos ions kaempfero, quercetina
ou isorhamnetina como o ácido 3-O-Cafeoilquinico; kaempferol-3-O-(2,6-di-O-ramnosilgalactosideo)-7-O-hexosida; ácido 4-O-cafeoilquinico; ácido 5-O-cafeoilquinico; kaempferol3-O-(6-O-ramnosil-galactosideo)-7-O-galactosideo;
kaempferol-3-O-(6-O-ramnosil
galactosideo)-7-O-glicosideo; quercetina-3-O-(2,6-di-O-ramnosil-galactosideo) e quercetina3-O-(2,6-di-O-ramnosil-glicosideo).
A atividade antioxidante dos flavonóides depende de sua estrutura e pode ser
determinada por fatores como: reatividade como doador de hidrogênio e elétrons, estabilidade
do radical flavonil formado, reatividade frente a outros antioxidantes, capacidade de quelar
metais de transição e interação com membranas (BARREIROS; DAVID e DAVID, 2006).
A atividade de seqüestro de radicais está diretamente ligada ao potencial de oxidação
dos flavonóides e das espécies a serem seqüestradas. Quanto menor o potencial de oxidação
do flavonóide, maior é sua atividade como seqüestrador de espécies reativas (RICE-EVANS;
MILLER; PAGANDA, 1997).
Quanto maior o número de hidroxilas, maior a atividade como agente doador de
hidrogênio e elétrons. Flavonóides monohidroxilados apresentam atividade antioxidante
muito baixa (CAO; SOFIC; PRIOR, 1997).
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na literatura há relatos de que as plantas medicinais são importantes por fornecerem
fármacos de difícil síntese química, por seus produtos serem utilizados na produção de
fármacos e por possibilitarem a modificação dos compostos tornando-os mais eficazes ou
menos tóxicos.
REFERENCIAs
BARREIROS, A.L.B. S.; DAVID, J. M.; DAVID, J.P. Estresse oxidativo: relação entre
geração de espécies reativas e defesa do organismo. Química Nova, v.29, p. 113-123, 2006.
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status in differentparts of two varieties of Catharanthus roseus: an important folk herb.
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estimating antioxidant activity. Songklanakarin Journal of Science and Technology, v. 26,
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and the biosynthesis of terpenoid indole alkaloids in the medicinal plantCatharanthus
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Capítulo 25- Reprodução de peixes de interesse para piscicultura brasileira
GONÇALVES JUNIOR*¹, L.P.; CIPRIANO¹, F.S.; LUZ², R. K.; MENDONÇA³, P.P.
Introdução
Antes do estabelecimento dos protocolos atuais de produção de formas jovens, a
maturidade sexual precoce e reprodução natural eram características utilizadas na seleção de
espécies de peixe para o cultivo. Com a implantação dos programas de reprodução e
propagação de peixes (Woynarovich e Horváth, 1988; Sallum e Cantelmo, 1999), esse cenário
começou a ser mudado. A partir da década de 80, a criação dos pacotes tecnológicos,
possibilitou a reprodução de diferentes espécies, principalmente as reofílicas, que até em tão
eram poucas exploradas.
Atualmente, a participação das espécies reofílicas nativas é considerável na
piscicultura brasileira. Das 392,49 mil toneladas produzidas em 2013, aproximadamente,
metade desse total foram representadas pelas espécies que necessitam de indução hormonal
durante a reprodução, tais como o tambaqui (Colossoma macropomum), pacu (Piaractus
mesopotamicus), surubim (Pseudoplatystoma coruscans), cachara (Pseudoplatystoma
fasciatum), matrinxã (Brycon cephalus) e dos híbridos gerados a partir do cruzamento entre
algumas dessas espécies (IBGE, 2013).
Entre as espécies não reofílicas, as principais
participações foram representadas principalmente pela tilápia, carpa comum e a truta.
A preparação para reprodução de peixes envolve mudanças fisiológicas e hormonais,
principalmente a nível de hipotálamo, durante as quatro fases de desenvolvimento ovocitário:
repouso, maturação, maduro e regressão/pós-desova (Takahashi et al., 2008). O hipotálamo é
responsável por sincronizar o processo reprodutivo com as condições ambientais favoráveis
por meio da produção do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). A principal função
do GnRH é estimular a síntese e liberação de gonadotrofinas (GtH) pelas gônadas, exercendo,
dessa forma, importância na regulação do processo de gametogênese e maturação final
(Bombardelli e Sanches, 2006).
Em condição de cultivo, os peixes reofílicos (espécies que apresentam movimento
migratório) normalmente apresentam disfunções reprodutivas. Nessas condições, as fêmeas
desenvolvem a maturação do ovário até a vitelogênese, não atingindo a maturação final e
___________________
¹Doutorando em Zootecnia, Escola de Veterinária, UFMG, [email protected]*
²Prof. Laboratório de Aquacultura, Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária, UFMG
³Prof. Laboratório de Nutrição e Produção de Espécies Ornamentais – Ifes – Campus de Alegre
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ovulação, sendo que os ovócitos ficam retidos e são reabsorvidos nos ovários (Leonardo et al.,
2006). Já os machos, apresentam reduzido volume de sêmen e de baixa qualidade (Oliveira et
al., 2015). Essa incapacidade é atribuída à ausência de alguns estímulos presentes no habitat
natural, muitas vezes não encontrados nas condições de cultivo, tais como fatores
nutricionais, correnteza, variação na altura da colona de água, ausência de movimento
migratório associado ao estresse do confinamento entre outros. Estes fatores impossibilitam a
reprodução destas espécies naturalmente. Desta forma, o domínio das técnicas de reprodução
é de fundamental importância para a cadeia produtiva da piscicultura.
Para solucionar este problema dos animais em cativeiro, a indução hormonal na
maturação final tem sido utilizada com sucesso para a reprodução em diferentes espécies de
peixes reofílicos. Contudo, devido ao grande número de espécies produzidas e as variações
das repostas a indução hormonal e aos tipos de hormônios empregados, a elaboração de
protocolo único para todas as espécies ainda tem que ser avaliada. A primeira estratégia
utilizada foi à aplicação do extrato bruto de hipófise de carpa (EBHC). Alternativas têm sido
estudadas com resultados promissores, como o uso de gonadotrofina purificada, hormônio
liberador de gonadotrofina e os seus análogos.
Nesse capítulo serão abordados aspectos sobre os protocolos de reprodução de peixes
de interesse para piscicultura brasileira, endocrinologia da reprodução e aspectos
comportamentais na reprodução natural.
Mecanismos endócrinos que regulam a reprodução nos peixes
O hormônio liberador de gonadotrofinas GnRH é um decapeptídeo regulador das
funções reprodutivas nos peixes. A forma molecular desse hormônio varia entre as diferentes
espécies, sendo determinada pela sequencia dos dez aminoácidos encontrados na cadeia
primária. Até então, três isoformas do GnRH foram identificadas nos peixes: sGnRH (salmão
GnRH), cGnRH-II (aves GnRH-II) e sbGnRH (Sea bream Sparus sp. GnRH) (Shao et al.,
2015).
A única forma em comum dentro dos vertebrados, desde os peixes cartilaginosos até
os primatas, é o cGnRH-II (Bombardelli e Sanches, 2006). O aumento da atividade do gênese
responsável pela expressão do sbGnRH foi responsável pela manifestação da puberdade e
maturação gonadal final do linguado (Paralichthys orbignyanus), uma espécie marinha
(Campos et al., 2011). Esses autores detectaram a expressão do sbGnRH no cérebro e nos
tecidos periféricos de diferentes órgãos, sugerindo que este hormônio também está envolvido
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360
em outras funções ainda desconhecidas. Entretanto, o nível mais elevado do sbGnRH foi
detectado no hipotálamo dos animais adultos.
Evidências demonstraram que a kisspeptina é o neuropeptídio responsável por captar
os estímulos ambientais e sinalizar a ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gônada (MartinezChavez et al., 2008). Esses mesmos autores atribuíram a atividade do gênese KISS (expressão
da kisspeptina) e o GPR54 (expressão do receptor de kisspeptina no hipotálamo) estiveram
relacionados à produção de GnRH em tilápias. Em outro estudo, a expressão do gênese KISS
em machos e fêmeas de peixe-zebra (Danio rerio) permaneceu elevada durante as fases de
diferenciação das gônadas e gametogênese (Biran et al., 2008).
Uma vez que o mecanismo da kisspeptina com seu receptor GPR54 estão relacionados
à produção de GnRH nos vertebrados, a inibição é regulada pela dopamina. A dopamina
exerce potente ação na inibição na produção de GtH em resposta ao estímulo do GnRH (Ittzés
et al., 2014). As principais ações do efeito da dopamina ocorre na inibição do aumento da
mobilização do Ca+2 intracelular e a consequente inibição de geração do sistema adenil ciclase
e proteína quinase A, principais agentes envolvidos na liberação de GtH (Bombardelli e
Sanches, 2006).
Os estímulos captados pela kisspeptina são, então, por meio de terminações nervosas
transmitidos para o hipotálamo, que por sua vez libera o GnRH que agem na hipófise (Sallum
e Cantelmo, 1999). A hipófise é uma glândula endócrina presente nos vertebrados,
responsável pela síntese, armazenamento e liberação de vários hormônios peptídicos. Além
das gonadotrofinas (GtH), também são encontrados na hipófise o hormônio de crescimento
(GH), tirotrofina (TSH), pro-opiomelanocortina (POMC), prolactina (PRL) e somatolactina
(SL) (Ganeco, 2007). Segundo esse mesmo autor, os hormônios presentes na hipófise são
responsáveis pela regulação de diferentes funções tais como desenvolvimento, crescimento,
osmorregulação, metabolismo e reprodução.
Almeida (2013) descreveu recentemente a atuação dos diferentes hormônios durante a
maturação e ovulação. O GtHI é responsável por estimular a síntese de aromatase pelas
células da granulosa, que convertem a progesterona produzida pelas células da teca em
estradiol. O estradiol e a prostagladina estimulam a síntese hepática de vitelogenina,
responsável pela vitelogênese. Já o GtHII estimula as células foliculares a produzirem o
hormônio indutor da maturação final (HIM) (progestágeno,17α,20β-DP), que, portanto, ligase a seus receptores na superfície citoplasmática do ovócito formando o fator indutor da
maturação (FIM), culminado no rompimento da vesícula germinativa e ovulação. Conforme o
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apresentado por esse pesquisador, os esteroides e prostaglandina também são responsáveis
pela espermatogênese nos machos.
Aspectos comportamentais relacionados à reprodução natural de peixes
Algumas das espécies produzidas em território nacional se reproduzem em ambientes
lênticos. Podem ser incluídos nesse grupo os peixes não reofílicos, como a tilápia
(Oreochromis niloticus), traíra (Hoplias malabaricus), pirarucu (Arapaima gigas), entre
outros. Segundo Andrade e Yasui (2003) para essas espécies o fornecimento de um ambiente
favorável como, local para desova, densidade de estocagem, parâmetros de água e nutrição
adequados são suficientes para que a reprodução ocorra, não necessitando de indução
hormonal. De acordo com os mesmos autores citados anteriormente, traíras (H. malabaricus)
e trairões (H. lacerdae) procuram desovar em áreas rasas com presença de ninhos.
Com a carpa comum (Cyprinus carpio) a manipulação da temperatura da água e do
fotoperíoo funciona como estímulo para desova (Davies e Hanyu, 1985). A reprodução de
tilápias ocorre naturalmente nos tanques ou hapas quando a temperaturas atinge valores acima
de 26ºC (KUBITZA, 2011). Para reprodutores selvagens de pacamã (Lophiosilurus alexandri)
adaptados em condições de laboratório, trinta dias após o aumento da temperatura para 28 °C
(durante o inverno) a primeira desova ocorre naturalmente, mas apenas em tanques com areia
na parte inferior (Costa, et al., 2015). Segundo esses últimos autores, o fundo do tanque
preenchido com areia favorece a construção do ninho para desova, comportamento
característico dessa durante a reprodução.
Existe uma gama de diferentes comportamentos relacionados com o cuidado parental,
de acordo com Goodwin et al. (1998). Das 422 famílias de teleósteos 21% apresentam algum
cuidado com a prole, sendo que dessas, 49% é exercido apenas pelo macho, 7% é realizado
apenas pela fêmea, 13% o cuidado é realizado em família e 31% realiza mais de uma dessas
formas. Segundo os mesmos autores, esses comportamentos foram evoluindo de forma que a
utilização de substratos como ninhos e fendas para guardar os filhotes e o cuidado por ambos
os sexos são considerados comportamentos primitivos em relação aos comportamentos que
permitem aos peixes se deslocarem com a prole e o cuidado exercido apenas por um dos
progenitores.
Entre as espécies de interesse para a piscicultura nacional algumas apresentam
cuidados com os ovos e larvas. O pirarucu forma casal que em conjunto realizam a construção
de ninho no fundo e, posteriormente, exercem cuidado parental que se estende até três meses
após a desova (Lima e Batista 2012). Segundo Queiroz (2000) a proteção dos ovos e da prole
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é exercido principalmente pelo macho. Entretanto, segundo os mesmos autores, esse
comportamento na espécie não está bem elucidado.
Para a traíra, o casal escolhe ou constrói uma toca e os cuidados posteriores a
fertilização ficam a cargo do macho (Querol et al., 2003).
Para as tilápias do gênero
Oreochromis, a construção do ninho é realizada pelo macho e após a fecundação é a fêmea
quem realiza o cuidado dos ovos e larvas intrabucal, até a absorção completa do saco
vitelínico (Coward e Bromage 2000). Como a recria da tilápias é realizada utilizando peixes
masculinizados, para que esse processo seja eficiente é preconizado que desde a primeira
alimentação os peixes recebam ração contendo hormônio, por isso são coletados ovos ou
larvas ainda com vitelo (KUBITZA, 2011).
Reprodução induzida
Extrato bruto de hipófise – EBH
Os primeiros relatos do uso de gonadotrofinas foram verificados na década de 1930
oriundos da aplicação de hipófise fresca obtidas de peixes com gônadas em estado de
maturação final (Castangnoli e Cyryno, 1986). Posteriormente, a técnica foi aprimorada, por
meio da utilização de hipófise de carpa desidratada em acetona e conservada em ambiente
insento de umidade (Woynarovich e Horváth, 1988). Essa técnica foi utilizada para induzir a
reprodução de peixes, sendo conhecida como “hipofisação”.
Na hipofisação, o EBH é diluído em soro fisiológico e aplicado na base da nadadeira
peitoral (0,3 a 0,5 mL/Kg). Os GtH presentes no EBH agem de maneira sistêmica,
diretamente nas gônadas, estimulando a produção dos hormônios reprodutivos, responsáveis
pela maturação final e ovulação (Almeida, 2013).
A grande maioria dos estudos utilizados nessa revisão relatou a aplicação de duas
doses nas fêmeas e dose única nos machos, no momento da segunda aplicação nas fêmeas
(Tabela, 1). No entanto, o número de doses efetivas para a indução a ovulação é determinado,
principalmente, pelo estágio de desenvolvimento das gônadas das fêmeas selecionadas para
reprodução (Zaniboni Filho e Weingartner, 2007).
A utilização de dose preparatória, antes da dose definitiva pode ser utilizada como
estratégia para induzir a maturação final e ovulação em fêmeas que não estão completamente
preparadas (Zaniboni Filho e Weingartner, 2007). Para o curimatã-pacu (Prochilodus
argenteus) o número de fêmeas que responderam a indução foi semelhante entre os
protocolos com uma ou duas aplicações, onde foi recomendada a utilização de dose única,
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devido à possibilidade de economia dos materiais de consumo como água, energia elétrica
entre outros (Dos Santos et al., 2013).
Em outro estudo, fêmeas de pacu (Colossoma mitrei) responderam positivamente a
indução com a mesma dose do estudo anterior, porém com intervalo de 18 hs entre as
aplicações (Godinho e Godinho, 1986). As fêmeas ovularam cerca de 13 hs após a segunda
aplicação com a temperatura da água entre 22 e 24,5ºC. Também foi observado resposta a
indução a reprodução com EBH de carpa em fêmeas de matrinxã (Brycon cephalus)
(Romagosa, 2001), pirapitinga-do-sul (Brycon opalinus) (Narahara et al., 2002), pacu
(Piaractus mesopotamicus) (Streit Júnior et al., 2005), piabanha (Brycon insignis) (Shimoda
et al., 2007) e do surubim (Pseudoplatystoma sp.) (Crepaldi et al. 2007).
Para os machos, o principal benefício da hipofísação foi o aumento do volume de
sêmem produzido. Para o jundiá (R. quelen), a aplicação de EBH de carpa (0,5 mg/Kg de peso
vivo) aumentou o volume de 2,2 para 21,4 mL, porém, em função do aumento do volume, foi
verificado redução na concentração espermática sem efeito na taxa de fertilização (Carneiro e
Mikos, 2008).
Respostas positivas também foram verificadas em machos do surubim-do-paraíba
(Steindachneridion parahybae) (Honji et al., 2013; Caneppele et al., 2015). A indução
hormonal com EBH de carpa (3 mg/Kg de peso vivo) não causou alterações significativas
para os parâmetros motilidade, vigor espermático, tempo de vida e porcentagem de
espermatozóides normais no sêmen de piracanjuba (Brycon orbignyanus) e curimbatá
(Prochilodus lineatus) (Viveiros et al., 2015).
Diferentes espécies têm sido sugeridas como alternativas a carpa para obtenção de
hipófise. Para o curimbatá (Prochilodus affinis) duas doses de EBH de rãs, nas concentrações
de 0,5 e 0,7 mg/Kg com intervalo de 12 hs, permitiram a indução a reprodução (Navarro et
al., 2007). Também foi demonstrada a possibilidade da utilização de EBH de frango para o
pacu (P. mesopotamicus) (Streit Junior et al., 2003) e piavuçu (Leporinus macrocephalus)
(Streit Júnior et al., 2005). No entanto, segundo os autores, o EBH obtido do coelho foi
incapaz de estimular a reprodução dessas duas espécies. Esses mesmos autores atribuíram os
resultados encontrados com a aplicação de EBH de frango e rãs a compatibilidade dos
receptores dos GnRH, que por sua vez estimulou a produção de GtH similares às encontradas
no EBH de carpas, o que não foi observado com o EBH coletado em coelhos.
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Tabela 1. Protocolos utilizados na indução hormonal para as diferentes espécies de peixes.
Espécie
Jundiá
(Rhamdia quelen)
Jundiá
(R. quelen)
Jundiá
(Rhamdia quelen)
Jundiá
(Rhamdia quelen)
Cachara
(Pseudoplatystoma
fasciatum)
Surubim
(Pseudoplatystoma
coruscans)
Pacu
(P. mesopotamicus)
Tambaqui*
(Colossoma
macropomum)
Macho
0,5 mg de EBH/Kg
2 µg de mGnRH +
1 mg de
metoclopramida/Kg
200 UI
de HCG/ kg
Fêmea
1º dose 0,5 mg de
EBH /Kg
2º dose 5 mg de EBH
/kg
Intervalo 12 h
1º dose= 2 µg de
mGnRH + 1 mg de
meto/Kg;
2º dose= 20 µg de
mGnRH + 10 mg de
metoclopramida/Kg
Intervalo 12 h
1.000 UI de HCG/kg
2 mg de EBH/Kg
10 µg sGnRHa + 5 mg
de domperidone/Kg
1 mg de EBH/Kg
5 mg de EBH/Kg
2,3 mg
de EBH/Kg
3 mg de EBH/Kg
50-100 μg
LHRH/peixe
Matrinxã
(Brycon cephalus)
2,5 mg de EBH/Kg
Piabanha
(Brycon insignis)
0,5 mg de EBH/Kg
1º dose 0,8 mg de
EBH /Kg
2º dose 6,1 mg de
EBH /kg
Intervalo 13 h
1º dose 0,5 mg/Kg
2º dose 5 mg/kg
Intervalo 12 h
1º dose= 250 – 350 μg
LHRH/peixe
2º dose= 450 a 700 μg
LHRH/peixe
Intervalo de 12–13 h
1º dose 0,5 mg/Kg
2º dose 5 mg/kg
Intervalo 10 h
1º dose 0,5 mg/Kg
2º dose 5 mg/kg
Intervalo 12 h
Resultados
10/12 responderam
88% fertilização
Autores
Carneiro e Mikos,
2008
Não ocorreu ovulação
Carneiro e Mikos,
2008
2/8 responderam
78% de fertilização
7/8 responderam
82% de fertilização
2/4 responderam
10% de fertilização
Carneiro e Mikos,
2008
7/12 responderam
74% de fertilização
25/36 responderam
57 % de fertilização
5/5 responderam
% de fertilização não
informada
16/22 responderam
60-95 % de
fertilização
2/2 responderam
87 % de fertilização
Ittzés et al., 2014
Pérez et al., 2001
Sato et al., 1997
Streit Júnior et al.,
2005
Muniz et al., 2008
Romagosa, 2001
Shimoda et al., 2007
*A concentração de hormônio variou em função do peso e do estágio de maturação gonadal
dos peixes.
Utilização de hormônios sintéticos
A utilização dos hormônios sintéticos surgiu como alternativa ao EBH. As principais
vantagens dos hormônios sintéticos em relação ao EBH estão associadas à: ação específica
nas funções reprodutivas (Ganeco, 2007); os análogos de GnRH são decapeptídeos que atuam
na hipófise, induzindo a produção endógena de gonadotrofinas e não provocam resposta
imune pelo receptor (Passini et al. 2013); e as gonadotrofinas purificadas atuam diretamente
nas gônadas (Ferraz et al., 2011).
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Os principais análogos de GnRH utilizados na indução a reprodução em peixes são o
de salmão (sGnRH) e de mamíferos (mGnRH). De maneira geral, o sucesso da utilização do
análogo de GnRH é determinado pela escolha de adequado inibidor de dopamina.
Em
reprodutores de jundiá (R. quelen), a aplicação do mGnRH em dose única nos machos (2 µg
de mGnRH + 1 mg de metoclopramida/Kg) e duas doses nas fêmeas com intervalo de 12 h (1º
dose= 2 µg de mGnRH + 1 mg de metoclopramida/Kg; 2º dose= 20 µg de mGnRH + 10 mg
de metoclopramida/Kg) foi ineficiente tanto no aumento do volume de sêmen nos machos
quanto na maturação final e liberação dos óvulos (Carneiro e Mikos, 2008).
Em pesquisa posterior avaliando diferentes antagonistas da dopamina, a substituição
da metoclopramida pela domperidone possibilitou a ovulação de sete das oito fêmeas de
jundiá (R. quelen) induzidas com sGnRH (10 µg sGnRHa + 5 mg domperidone/Kg) e taxa de
fertilização de 82% (Ittzés et al., 2014). Resultados satisfatórios com os análogos do GnRH
também foram obtidos para curimbatá (P. lineatus) (Viveiros et al., 2013), piracanjuba (B.
orbignyanus) (Oliveira et al., 2015) e para o volume, motilidade, duração da motilidade e
porcentagem de espermatozoides normais do sêmen do bagre-da-amazônia (Leiarius
marmoratus) ( Ênio et al., 2014).
Outros protocolos de indução têm sido desenvolvidos. Estudos demonstraram a
possibilidade de utilização de diferentes GtH na reprodução de peixes brasileiros tais como o
análogo do hormônio liberador do hormônio luteinizante (LHRH) associado ou não a outros
hormônios (Ferraz et al., 2011), a gonadotrofina coriônica humana (HCG) (Carneiro e Mikos,
2008) e a gonadotrofina coriônica equina (HCE) (Pereira, 2006).
A utilização dos hormônios purificados em implante subcutâneo ou não tem produzido
resultados satisfatórios em espécies que não respondem aos protocolos convencionais. A
obtenção de reprodutores de robalo-flecha (Centropomus undecimalis) em estágio de
maturação gonadal avançada em cultivo, é um dos grandes desafios para a produção dessa
espécie marinha. O robalo-flecha apresenta disfunções durante a maturação final, resultando
em baixa eficiência reprodutiva (Ferraz e Cerqueira, 2007; Landuci, 2012). A tentativa de
maturação para robalo-flecha em condições de confinamento foi realizada com o uso de
implantes de 17α-metiltestosterona (17α-MT) associado ao LHRH nos machos e sucessivas
aplicações de HCG nas fêmeas (Ferraz et al., 2011). Os principais resultados verificados por
estes autores foram o aumento do volume de sêmen nos machos e o início da vitelogênese nas
fêmeas, sendo considerado um avanço nas pesquisas com esta espécie.
O uso de gonadotrofinas também foi estuda em outras espécies de interesse para
piscicultura brasileira. Para exemplares adultos de piabanha (B. insignis), de 3 a 5 anos de
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idade, mantidos em cativeiro, a aplicação de HCG em dose única (5 UI/g nas fêmeas e 3 UI/g
nos machos) foi mais eficiente que a aplicação de duas doses do EBH de carpa (AndradeTalmelli et al., 2002). Porém, para fêmeas de jundiá (R. quelen) a aplicação de dose única ou
duas doses de HCG em concentrações que variaram de 0,2 a 0,4 UI/g foram ineficientes para
estimular ovulação (Carneiro e Mikos, 2008).
De maneira geral, apesar dos avanços nas pesquisas, ainda não se encontram
estabelecidas às dosagens eficientes para os hormônios sintéticos entre as diferentes espécies
produzidas. A baixa disponibilidade dos hormônios sintéticos no mercado e a carência de mão
de obra qualificada, também são fatores que contribuem para a preferência por parte dos
produtores pelo uso do EBH, principal técnica que vem sendo empregada a nível de campo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As espécies não reofílicas apresentam diferentes padrões comportamentais de
estratégia reprodutivas assim como as particularidades de cuidado parental.
A utilização de indução hormonal para produção de formas jovens de peixes de
interesse comercial, ainda deve ser melhor elucidada devido aos diferentes resultados
encontrados na literatura sobre as vantagens e desvantagens do uso de EBH de carpa ou
hormônios sintéticos puros.
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371
Capítulo 26- Transferência de embriões e produção in vitro de embriões em bovinos
ALMEIDA, I. C.1; SENA, L. M.2; MARTINS, C. B.3; BARIONI, G.4
Introdução
A bovinocultura é uma atividade muito importante para o Brasil, que conta com o
maior rebanho comercial do mundo. Entretanto, os sistemas de criação predominantes são
caracterizados por baixos índices zootécnicos, em consequência da precária nutrição,
problemas sanitários, manejo ineficiente e baixo potencial genético dos animais.
Em bovinos, a eficiência reprodutiva é um dos principais fatores que influenciam a
produtividade do rebanho. Falhas reprodutivas e problemas na identificação do estro,
contribuem para o atraso no retorno à atividade ovariana pós-parto, maior período de serviço,
aumento do intervalo entre partos, redução no período de lactação e menor produção de
bezerros por ano durante a vida útil do animal. Consequentemente, os custos de produção são
elevados pela manutenção de animais com baixa produção no rebanho.
Desta forma, várias tecnologias reprodutivas foram desenvolvidas no intuito de
minimizarem estes problemas, dentre elas podemos destacar a transferência de embriões em
tempo fixo (TETF) e a Produção in vitro de embriões (PIV).
A TETF em bovinos é um dos métodos mais viáveis para aumentar as taxas
reprodutivas de fêmeas de alto valor zootécnico tanto em rebanhos destinados a produção de
leite ou carne. Sua importância para a reprodução animal se deve ao fato de uma fêmea poder
produzir um número de descendentes muito maior em relação a quantidade que poderia obter
fisiologicamente em toda sua vida reprodutiva. A TETF propõe a utilização de protocolos
hormonais simulando o ciclo estral da vaca possibilitando a inseminação artificial (IA), coleta
e transferência do embrião a outro animal receptor em período pré-determinado, sem
necessidade de observação de estro.
A produção in vitro de embriões permite a punção dos folículos presentes nos
ovários, sua consequente maturação, fertilização e cultivo em laboratório até ser inovulado
(transferido) ao animal receptor.
A PIV tem sido usada para acelerar a produção de animais geneticamente superiores,
permitindo diminuir o intervalo entre gerações.
1
Auxiliar de Veterinária e Zootecnia - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. email: [email protected]
Mestranda em Ciências Veterinárias - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
3
Professora Adjunto IV do Departamento de Medicina Veterinária - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
4
Professora Adjunto III do Departamento de Medicina Veterinária - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
2
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372
Esta biotecnologia surge como nova opção para a multiplicação animal, não apenas
por seu potencial genético, mas abre também a possibilidade de utilização de animais jovens.
Contudo, objetivou-se com o presente trabalho elaborar uma revisão de literatura
sobre os principais temas inerentes a transferência de embriões e a produção in vitro de
embriões na espécie bovina.
1. Transferência de Embriões
O termo transferência de embrião (TE), tomado literalmente, refere-se somente à
coleta de embrião de um animal doador com respectiva transferência para o útero de um
animal receptor. Entretanto, TE abrange toda a extensão das técnicas relacionadas a esse
assunto, incluindo superovulação da doadora, estocagem e manipulação in vitro dos embriões
(BARIONI et al., 2003).
A transferência de embriões é uma biotecnologia que acelera com maior precisão o
processo de seleção animal, podendo ser empregada na obtenção de descendentes de fêmeas
geneticamente superiores. Dessa forma, ela permite recolher embriões de uma fêmea doadora
e transferi-los para várias fêmeas receptoras, aptas a levarem a gestação a termo. Apesar dos
vários procedimentos necessários para sua implementação, a TE está mundialmente
difundida. Sua importância básica para a produção animal está na possibilidade de uma fêmea
produzir um número de descendentes muito superior ao que seria possível fisiologicamente,
durante sua vida reprodutiva (GONÇALVES et al., 2002).
A TE proporciona uma série de benefícios para melhor seleção zootécnica com
consequente reflexo sobre a produção animal, tais como: aumento do número de descendentes
de animais geneticamente superiores, redução do intervalo entre gerações e aumento da
velocidade de melhoramento genético (ANDRADE et al., 2002). Outro ponto positivo
decorrente da técnica de TE, é que esta pode ser empregada na obtenção de descendentes de
fêmeas geneticamente superiores que por algum problema adquirido são incapacitadas de
levar a prenhez a termo (NEVES et al., 2010). Pode-se citar também a conservação de
recursos genéticos, controle de doenças no comércio de material genético, importação e
exportação de material genético a menor custo e com menor risco sanitário (MARTINS,
2010).
Esta biotecnologia se caracteriza por apresentar diversas etapas:
Seleção das doadoras e receptoras
Para a seleção das doadoras deve ser considerado o seu histórico reprodutivo, a
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fertilidade, as diretrizes do registro da raça, o valor potencial dos neonatos resultantes e o
número de gestações desejadas (SQUIRES et al., 2003). O manejo consiste em monitorar o
comportamento reprodutivo, empregando o uso da palpação retal e da ultrassonografia para
monitorar a atividade folicular e ovulação, e ainda o uso de hormônios exógenos para
sincronizar o estro e a ovulação (PASSA, 2008).
Antes de iniciar o tratamento hormonal para induzir a ovulação/superovulação é
recomendável verificar a identificação correta da doadora e obter uma amostra de sangue para
tipificação, imprescindível para posterior comprovação da descendência. Nesse sentido é
necessário inseminar as doadoras somente com sêmen de touros tipificados (REICHENBACH
et al., 2002). Segundo Williams (2001), a inclusão de doadoras em programas de TE nunca
deve ser inferior a 60 dia pós-parto e, mesmo assim, deve ser precedida de rigorosa
observação quanto a regularidade de dois ciclos estrais consecutivos. Ressalta também que,
outro aspecto a ser considerado é o bem-estar das doadoras, pois em situações de estresse
estas não respondem bem ao tratamento superovulatório.
As receptoras constituem parte fundamental do programa de TE, pois necessitam
levar a gestação a termo. Apesar de não ser requerida avaliação de qualidade zootécnica, é
fundamental que alguns critérios de seleção sejam adotados, como: estarem livres de
anormalidades uterinas e ovarianas, apresentar atividade cíclica regular, terem correto manejo
sanitário, possuir porte compatível com a raça do embrião a ser transferido, bem como
apresentar boa habilidade materna e bom estado nutricional, garantindo assim, gestações e
partos normais, livres de auxílio obstétrico (ANDRADE et al., 2002; VALENTIM e
GOFERT, 2005). No entanto, a seleção final da fêmea receptora somente deve ocorrer no dia
da transferência do embrião, baseados nos sinais de estro evidenciados após a sincronização e
da avaliação do corpo lúteo funcional.
Outro importante fator a ser considerado é a razão entre o número de receptoras para
cada doadora. Segundo Beltrame et al. (2007), utilizando modelos matemáticos, o número
ideal de receptoras para cada doadora estaria entre 16 a 20 animais.
Sincronização do ciclo estral das doadoras e receptoras
Nos últimos anos foram desenvolvidos vários métodos farmacológicos para se iniciar
a onda de crescimento folicular em bovinos. Neste contexto, os hormônios sintéticos tem sido
amplamente empregados na reprodução animal, principalmente na sincronização do estro e no
controle da ovulação. Estes apresentam características químicas e atividade semelhante a de
hormônios naturais, interferindo no metabolismo animal de maneira a proporciona melhor
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374
desempenho reprodutivo. No entanto, a variabilidade da resposta ao tratamento
superovulatório ainda é uma importante limitação (BÓ et al., 2002).
Tratamentos convencionais de superovulação (SOV) consistem na detecção do cio
das doadoras, seja este natural ou induzido por Prostaglandina F2α (PGF2α), com o começo
da superestimulação entre os dias 8 e 12 do ciclo estral. Seguida de aplicação durante 4 dias
consecutivos de Hormônio Folículo Estimulante (FSH) em doses decrescentes (PASSA,
2008). No entanto, este método apresenta algumas dificuldades por ser necessário a detecção
do "cio base" para o início do tratamento superovulátorio (MAPLETOFT et al., 2002).
O protocolo de eleição para a SOV e inseminação artificial em tempo fixo (IATF)
está baseado na associação farmacológica de estradiol (E2), progesterona (P4), FSH, e
PGF2α, coforme ilustrado na figura 1. Onde no dia 0 (D0) faz-se a inserção intravaginal de
um dispositivo contendo P4 e aplicação intramuscular (IM) de BE; no D4 inicia-se o
tratamento superovulatório com duas aplicações diárias IM de FSH por 4 dias; no D6 as
doadoras são tratadas com PGF2α IM na parte da manhã e da tarde; no D7 faz-se a última
aplicação de FSH na parte da tarde, seguida da remoção do dispositivo de P4; no D8 pela
manhã é administrado IM o Hormônio Liberador de Gonadotrofinas (GnRH) e são
inseminados artificialmente (IA) 12 e 24 horas após a administração do GnRH, sem a
detecção do cio; no D15 é feita a colheita dos embriões.
Figura 1. Protocolo para superovulação com inseminação artificial em tempo fixo (adaptado de BÓ et al., 2004).
Resultados sobre o efeito do protocolo de superovulação em bovinos na quantidade
de estruturas recuperadas (coletadas) podem ser observados na tabela 1.
A PGF2α tem sido o tratamento mais comumente utilizado para a sincronização do
estro em bovinos. Geralmente os tratamentos usados para a sincronização de receptoras
consiste na administração de duas doses de PGF2α com intervalos de 11 a 14 dias
(BROADBENT et al., 1991). Se todas as receptoras estiverem ciclando, aproximadamente
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80% delas apresentarão sinais de estro cinco dias após o tratamento. Entretanto, o entrave
desse protocolo hormonal é a baixa acurácia na observação do estro, onde apenas 50% das
receptoras tratadas serão detectadas em cio, apresentarão corpo lúteo (CL) e receberão um
embrião sete dias após o estro (BÓ et al., 2002).
Tabela 1. Efeito da resposta de superovulação de acordo com as estruturas encontradas (adaptado de
ZANENGA et al., 2003).
Nº de Animais Superovulados
20
Parâmetros
Média
Total de Estruturas recuperadas
19,45
Embriões Fertilizados
15,75
Embriões Viáveis para TE
9,8
Outro protocolo conhecido para a sincronização de fêmeas bovinas visando a TE é o
chamado "Ovsynch" (PURSLEY et al., 1997), que consiste na administração de GnRH
seguido de PGF2α sete dias após o GnRH, e um segundo tratamento com GnRH 48 horas
após a PGF2α. Modificações nesse protocolo são propostas por diversos autores, dentre eles,
estudos realizado por Beal (1999), incrementam ao protocolo "Ovsynch" com uso de implante
de P4 por sete dias (impedindo uma possível ovulação precoce), conforme ilustrado na figura
2, permitindo assim a transferência do embrião em tempo fixo (TETF).
Figura 2. Protocolo "Ovsynch" ou "Ovsynch" associado a um dispositivo de progesterona para TETF em fêmeas
bovinas (BÓ et al., 2004).
Resultados dos protocolos hormonais para sincronização da ovulação e transferência
de embriões em tempo fixo podem ser observados na tabela 2.
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Tabela 2. Taxa de prenhez em receptoras inovuladas por transferência de embriões 6 a 8 dias após a detecção do
estro sincronizado com GnRH (dia 0) e PGF (dia 7) ou sete dias após a segunda aplicação de GnRH no protocolo
"Ovsynch" sem ou com (Ovsynch + P4) implante de progesterona sem a detecção do estro (adaptado de Beal,
1999).
Grupo
N
Prenhas/Inovuladas (%)
Prenhas/Tratadas (%)
GnRH+PGF / Detecção do estro
169
67/108 (62%)a
67/169 (40%)
Ovsynch
165
72/150 (48%)b
72/165 (44%)
Ovsynch + P4
165
82/152 (54%)b
82/165 (50%)
Proporções nas colunas com letras diferentes diferem estatisticamente (ab P ˂ 0,07).
Coleta, identificação e classificação dos embriões
Historicamente os embriões eram coletados de ovidutos ou úteros de doadoras por
cirurgia, no entanto, por essa técnica ser invasiva, poder levar à formação de aderências e
causar maior risco para a vida do animal, este procedimento não é mais utilizado. Atualmente
o método não cirúrgico de escolha é a recuperação transcervical. Esta técnica consiste em
introduzir, após anestesia local, um dilatador de cérvice para facilitar a passagem do mandril
acoplado ao cateter de três vias. O mandril então é retirado e dentro do corno uterino o balão
presente na extremidade do cateter é inflado com ar se fixando a parede do corno, impedindo
que haja refluxo do meio de cultivo durante o processo de colheita de embriões (HAFEZ e
HAFEZ, 2003).
Para colheita são utilizados cerca de 500 ml de solução salina tampão-fosfato (PBS),
fazendo várias lavagens por corno uterino, objetivando maior taxa de recuperação de
embriões. Este lavado passa pelo sistema de coleta e pelo filtro coletor, onde 50 ml de solução
ficarão armazenados juntamente com o embrião (PASSA, 2008).
Os embriões coletados são transferidos do filtro de colheita para placas de Petri de
diâmetro de 12 cm. Com auxílio de estereoscópio se faz a primeira busca na placa com
aumento de 50 a 80 vezes. Os embriões encontrados devem ser colocados em outra placa de
menor diâmetro (3,5 cm) com solução contendo albumina sérica bovina (BSA) ou soro fetal
bovino (SFB), que devem ser lavados novamente (GOODHAND, 1999).
De acordo com a Sociedade Internacional de Transferência de Embriões (IETS) , os
embriões bovinos produzidos in vivo são classificados quanto ao estágio de desenvolvimento
e qualidade (IETS, 1998). A classificação do estágio de desenvolvimento usa códigos
numéricos que vão de 1 (oócito não fecundado) até 9 (blastocisto eclodido e expandido). Na
tabela 3 estão listadas a classificação dos embriões bovinos mais visualizados na rotina.
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Tabela3. Classificação de embriões bovinos prodizidos in vivo de acordo com o estágio de desenvolvimento
folicular (adaptado de VIANA, 2009)
Mórula
Fase esperada: dias 5,5 a 6,0 do ciclo
Características: Blastômeros ainda evidentes, porém não é
mais possível determinar número exato. Massa de células
ocupa maior parte do espaço dentro da zona pelúcida (ZP).
Período caracterizado pelo fim da fase de celularização e da
transição materno zigótica e início do processo de
compactação.
Mórula Compacta
Fase esperada: dias 6,0 a 6,5 do ciclo
Características: Compactação torna a massa de células coesa,
dificultando individualização dos blastômeros, e causa retração
do embrião em relação à zona pelúcida, com aumento do
espaço perivitelínico. Formação de junções de adesão e de
oclusão entre as células, preparando o embrião para a formação
da blastocele.
Blastocisto Inicial
Fase esperada: dias 6,5 a 7,0 do ciclo
Características: Blastômeros criam gradiente osmótico que
atrai água para o espaço intercelular, iniciando a formação de
uma cavidade denominada blastocele. Perda da totipotência,
com a formação de duas populações celulares distintas: o
trofoblasto, que reveste a blastocele, e a massa celular interna
(MCI), lateral à blastocele.
Blastocisto
Fase esperada: dias 7,0 a 7,5 do ciclo
Características: Blastocele aumenta de tamanho, tornando-se
proporcionalmente maior que a massa celular interna e
ocupando gradualmente todo o espaço perivitelínico.
Trofoblasto sofre diferenciações morfológicas e funcionais
associadas à captação de nutrientes, enquanto as células da
MCI mantém potencialidade.
Blastocisto Expandido
Fase esperada: dias 7,5 a 8,0 do ciclo
Características: Expansão da blastocele causa aumento de
tamanho do embrião e progressiva redução na espessura da ZP.
Maior desenvolvimento do trofoblasto, a MCI é visível
dependendo da posição do embrião.
Blastocisto Eclodido
Fase esperada: dias 8,5 a 9,0 do ciclo
Características: Rompimento da ZP caracteriza a eclosão,
com o embrião entrando em contato direto com os tecidos
maternos.
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Já a classificação da qualidade dos embriões utiliza códigos que vão de 1 (embriões
de qualidade excelente ou boa) até 4 (embriões mortos ou degenerados), conforme tabela 4.
Tabela 4. Classificação de embriões bovinos de acordo com a qualidade morfológica
(adaptado de VIANA, 2009)
Embriões de qualidade excelente
Código IETS: 1
Embriões sem defeitos morfológicos ou extrusões celulares, e
estágio de desenvolvimento compatível com o período pós
ovulação. Máximo potencial de desenvolvimento a fresco ou
criopreservado.
Embriões de qualidade boa
Código IETS: 1
Embriões com uma ou pouca célula de extrusão ou discretas
alterações de coloração. Potencial de desenvolvimento
semelhante ao anterior, podendo também ser criopreservado.
Embriões de qualidade regular
Código IETS: 2
Embriões com maior número de alterações morfológicas ou
extrusões celulares, mas com pelo menos 50% da massa
celular íntegra e mostrando sinais de desenvolvimento.
Embriões de qualidade pobre
Código IETS: 3
Extrusões ou fragmentação comprometendo mais de 50% da
massa celular, dificultando a classificação das células viáveis.
Potencial de desenvolvimento significativamente reduzido.
Embriões degenerados
Código IETS: 4
Embriões com comprometimento definitivo da massa celular,
com blastômeros de tamanhos variados apresentando sinais de
degeneração celular, picnose, fragmentação e alteração de cor.
Oócito não fecundado
Oócito sem sinais de clivagem, apresentando graus variados
de retração, pulverização ou sedimentação do citoplasma. No
menor aumento podem ser confundidos com mórula compacta
ou blastocisto inicial.
Embriões considerados viáveis devem ser lavados dez vezes no meio de cultivo
visando impedir a transmissão de agentes infecciosos. Os embriões destinados a exportação
devem ser submetidos a tratamento com tripsina, pois esta possui atividade proteolítica sob os
agentes patogênicos que se alojam na zona pelúcida (ANDRADE et al., 2002).
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Transferência de embrião / Inovulação
Os embriões encontrados e considerados viáveis após avaliação podem ser
congelados ou inovulados em receptoras. Inovulação consiste em depositar o embrião no
terço médio/final do corno uterino ipsilateral ao corpo lúteo (DEMÉTRIO, 2003).
Para criopreservação de embriões, recomenda-se os de melhor qualidade (graus I e
II). Após a classificação, os embriões são transferidos para uma solução, geralmente de
etilenoglicol a 2%, e envasados em palhetas finas (0,25 mL). Posteriormente eles
permanecem nove minutos em temperatura ambiente e logo em seguida submetidos à curva
de congelação, -0,3 a -0,5 ºC por minuto até -32 ºC; e posteriormente imersão e conservação
em nitrogênio líquido -196 ºC (ONGARATO, 2009).
No dia da transferência é avaliado o corpo lúteo das receptoras, recebendo
classificação I, II, III (corpo lúteo grande, médio ou pequeno). Nas receptoras consideradas
aptas, realiza-se anestesia epidural seguida de lavagem da região perineal (PASSA, 2008). Em
condições assépticas, a palheta contento o embrião é encaixada no aplicador revestido por
uma bainha estéril, em seguida é introduzida via transcervical e guiada ao corno ipsilateral a
ovulação, onde o líquido contendo o embrião é depositado (HAFEZ e HAFEZ, 2003).
2. Produção in vitro de embriões
No atual contexto da pecuária nacional, várias biotecnologias ligadas a reprodução
animal vêm sendo desenvolvidas com a finalidade de aumentar a eficiência reprodutiva e
maximizar a produção de animais zootecnicamente superiores, obtendo assim, maior número
de descendentes em um curto período de tempo (RENESTO, 2004). Sendo considerada a
terceira geração de biotecnologias aplicada ao melhoramento genético, após a inseminação
artificial e a transferência de embriões, a produção in vitro de embriões (PIV) teve início na
década de 90, com a introdução da aspiração folicular guiada por ultrassonografia (Ovum Pick
Up) seguida pela Fertilização in vitro de embriões (OPU-FIV).
A PIV vem sendo utilizada como alternativa para acelerar a produção de animais
geneticamente superiores uma vez que impede o descarte precoce destes animais, que por
alguma razão possam ser portadores de infertilidade adquirida ou que não respondam
adequadamente a tratamentos hormonais de superovulação (GONÇALVES et al., 2002)
Embriões produzidos in vitro são obtidos pela manipulação dos gametas fora do
organismo materno em condições laboratoriais. Esta tecnologia consiste na combinação de
vários processos interdependentes, que vão desde a obtenção de ooócitos, maturação,
fecundação in vitro e cultivo in vitro dos embriões.
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Aspiração folicular
A primeira etapa da produção in vitro consiste na obtenção dos oócitos, a partir de
ovários de animais vivos (Ovum Pick Up) ou através de ovários de animais abatidos ou
ovariectomizados.
A aspiração folicular in vivo é realizada com o auxílio de aparelho de
ultrassonografia, com transdutor microconvexo ou linear, conectado a uma guia de biópsia
utilizando agulhas 18G acopladas a linha de aspiração e bomba a vácuo, em pressão de 72 a
78 mmHg (RENESTO, 2004).
Para evitar contaminações, é necessária a higienização da vulva da doadora com
água, sabão neutro e secagem com papel toalha. A fim de impedir movimentos peristálticos e
possíveis traumas durante a manipulação, é indicado anestesia epidural utilizando lidocaína
2% na articulação sacro caudal (LEIVAS, 2006).
O transdutor acoplado a guia de biópsia é inserido até o fundo vaginal e por
manipulação transretal os ovários são posicionados ao longo da linha de punção indicada no
monitor de ultrassonografia e então os folículos são aspirados (LEIVAS, 2006).
O meio de recebimento dos oócitos e o de lavagem da agulha mais frequentemente
utilizado é o PBS (Phosphate Buffered Saline), aquecido a aproximadamente 37 ºC, e
acrescido de Soro Fetal Bovino (SFB), heparina e antibiótico (ANTONIOLLI, 2005).
O conteúdo aspirado é então transferido para o filtro de colheita e lavado com a
mesma solução utilizada na aspiração. O material restante no filtro é observado em placas de
Petri com o auxílio de estereomicroscópio, onde é feita a busca, contagem e classificação dos
oócitos.
Os oócitos também podem ser obtidos de vacas de abatedouro, estes devem ser
transportados em solução salina Nacl 0,9% a 37 °C e aspirados com auxílio de seringa e
agulha descartáveis em até no máximo seia a oito horas após o abate. (GONÇALVES,
FIGUEIREDO e FREITAS, 2008). Os oócitos viáveis são classificados em graus I, II e III
(GONÇALVES, 2002), onde:
Grau I - o complexo cumulus oócitos (CCO), células que envolvem o oócito, estão
presentes e compactas, contendo mais de três camadas de células. Citoplasma de coloração
marrom, com granulações finas e homogêneas preenchendo o interior da zona pelúcida;
Grau II - CCO com menos de três camadas de células, citoplasma com granulações
heterogêneas, podendo estar mais concentrado no centro e mais claro na periferia mas,
preenchendo o interior da zona pelúcida;
Grau III - CCO presente mas expandido, citoplasma contraído e apresentando espaço
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entre a membrana celular e a zona pelúcida, degenerado, fragmentado ou vacuolizado.
Maturação in vitro
A maturação do oócito envolve transformações nucleares e citoplasmáticas, e está
ligada a diversas mudanças estruturais e bioquímicas que tornam o gameta feminino apto a ser
fecundado e se desenvolver (RENESTO, 2004). In vivo, esse processo se inicia
concomitantemente ao pico pré ovulatório do Hormônio Luteinizante (LH) durante o estro, e
in vitro à partir da retirada do oócito do folículo (GONÇALVES, 2002).
Em laboratório, os oócitos são lavados com meio de lavagem TCM 199 Hepes,
suplementado com SFB e amicacina. Em seguida são transferidos para placas de Petri, em
microgotas de meio de maturação TCM 199 Bicarbonato, acrescido de SFB, hCG, FSH,
estradiol, piruvato e amicacina. Onde permanecem incubados por 24 horas a 38,5 ºC em
atmosfera de 5% de CO2 e 95% de umidade (ANTONIOLLI, 2005).
Fertilização in vitro
Os oócitos maturos são lavados em meio de fertilização e transferidos para
microgotas desse mesmo meio. Os meios de fertilização podem ser compostos de BSA livre
de ácidos graxos, meio FIV, Piruvato, PHE (Penicilamina, Hipotaurina, Epinefrina), Heparina
e Amicacina (GOUVEIA, 2011). Após serem lavados, são adicionados aproximadamente 20
oócitos por microgota de meio de fertilização e incuba-se a 38,5 ºC em atmosfera de 5% de
CO2 e 100% de umidade relativa.
Para a fertilização dos oócitos maduros, os espermatozoides são separados pelo
método Swim up (ANTONIOLLI, 2005) ou pelo método Gradiente de Densidade de Percoll
(RENESTO, 2004). Em ambos os métodos, usa-se uma dose na concentração de 1x106
espermatozoide/mL junto a cada gota de 100µL contendo em média 25 oócitos
(ANTONIOLLI, 2005; RENESTO, 2004). Essa concentração é preparada de acordo com a
concentração e motilidade seminal antes do processamento e deve ser levada em conta a
quantidade de oócitos por gota, dessa forma, evitando a poliespermia ou a falta de
espermatozoides viáveis para a fecundação. Posteriormente a deposição dos espermatozoides,
o material é incubado em temperatura de 38,5 ºC por cerca de 18 a 22 horas, com atmosfera
de 5% de CO2 e umidade de 100%. Proporcionando um ambiente adequado para que ocorra a
capacitação espermática e a fecundação (GONÇALVES, FIGUEIREDO e FREITAS, 2008).
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Cultivo in vitro
Decorrido o tempo de fecundação, os prováveis zigotos são lavados em meio de
cultivo e transferidos para microgotas de mesmo meio, recobertas por óleo mineral,
permanecendo nestas por um período de seis a oito dias, até os zigotos atingirem os estágios
de Blastocisto Inicial (BI), Blastocisto (BL), Blastocisto Expandido (BX) ou Blastocisto
Eclodido (BE) (ANTONIOLLI, 2005).
Os meios de cultivo podem ser compostos de BSA livre de ácidos graxos, meio CR2,
meio SFB, Alanina, Glicina e Amicacina. O meio de cultivo é renovado (feeding) no quarto
dia e no 6º, 7º e 8º dia é observado o desenvolvimento embrionário, onde é realizado o envase
destas estruturas em palhetas de 0,25 mL para serem inovuladas ou criopreservados
(GOUVEIA, 2011).
3. TE x PIV
É incontestável que a TE e a PIV proporcionam melhor aproveitamento de matrizes
de elevado potencial genético, no entanto, os resultados de ambas biotecnologias são muito
variáveis. Os embriões produzidos in vivo apresentam melhor qualidade quando comparados
aos embriões produzidos in vitro. Isso acontece já que, por mais que desejamos tornar o
ambiente de cultivo in vitro o mais semelhante ao ambiente uterino e tubárico, sempre haverá
substâncias que serão oferecidas em excesso ou em escassez, fazendo assim, com que o
próprio sistema de cultivo seja deletério a qualidade embrionária. Dessa maneira, os embriões
produzidos in vitro vêm apresentando alterações morfológicas, genéticas e epigenéticas
(FAIR et al., 2001), sabe-se que aproximadamente 30% dos oócitos colocados para maturar se
desenvolvem até o estágio de blastocisto (MINGOTI, 2005), e que menos de 50% dos
embriões transferidos ocasionam prenhez, isto quando não foram anteriormente
criopreservados, pois nestes casos os índices são ainda menores (DODE et al., 2002).
Apesar dos avanços obtidos, a PIV apresenta algumas limitações, como: baixos
índices de blastocisto, dificuldade na criopreservação dos embriões e custo do embrião mais
alto quando comparado ao de TE. Além disso, período de gestação maior, bezerros com maior
peso ao nascer acarretando em maior incidência de partos distócicos, maior índice de abortos,
aumento na mortalidade perinatal e aumento de anormalidades congênitas, são alguns
entraves relatados em embriões provenientes de PIV (RUMPF, 2007).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os recentes avanços das biotecnologias reprodutivas, permitiu-se maior
participação da fêmea bovina no processo de melhoramento genético do rebanho. O
aprimoramento da transferência de embriões e da produção in vitro de embriões possibilita
aumento dos índices reprodutivos das fêmeas e o melhor aproveitamento destas, garantindo
maior número de descendentes por toda sua vida útil.
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1
2
VIEIRA , B. C. R.; MENDONÇA , P. P.; MOREIRA3, Y. R.; SOUZA4, M. H.; SOUZA5, T.
S.; MOULIN6, M. M.; DEMINICIS7, B. B.
1. INTRODUÇÃO
A cafeína é considerada uma substância pertencente à família química dos alcaloides,
sendo a mesma derivada das xantinas (FARAH et al., 2006) denominada 1,3,7 –
trimetilxantina (BERGER; ALFORD, 2009). É ainda uma purina derivada de aminoácidos
como glicina, L-glutamina e ácido-aspártico, tendo como precursor a teobromina
(CLIFFORD; WILSON, 1985).
Conforme a dosagem utilizada, pode-se notar efeitos adversos tanto em seres humanos
quanto em animais, como: taquicardia, insônia, agitação psicomotora, diarreia, tremores, entre
outros, sendo descrita a dose de 15mg/kg como de efeito tóxico ao organismo, desencadeando
sintomas graves, tais como: vômitos, hiperglicemia, convulsões, delírio e arritmias cardíacas
(RIBEIRO; SEBASTIÃO, 2010).
Segundo Soares e Fonseca (2004), a cafeína é considerada farmacologicamente menos
ativa que a paraxantina e a teofilina, e mais ativa que a teobromina. Conforme Fugh-Berman
(2000) os fármacos podem sofrer alterações por meio de suas interações com as plantas. Tais
alterações podem ser de dois grupos: as interações farmacocinéticas (produzem modificações
nos parâmetros que descrevem os processos de absorção e disposição do fármaco no
organismo) e as farmacodinâmicas (reduzem ou ampliam a ação do efeito esperado do
fármaco devido ao antagonismo ou sinergismo).
A interação planta-fármaco mais decorrente na literatura relata acerca da
metabolização do fármaco, devido a compostos de plantas que causam a indução ou inibição
das enzimas responsáveis pelo metabolismo oxidativo pertencente ao citocromo P450 (IZZO;
ERNST, 2001) o que pode resultar efeitos adversos não manifestados quando o fármaco é
administrado isoladamente, caracterizando uma interação metabólica (PATSALOS;
PERUCCA, 2003).
Neste capítulo serão descritas a farmacocinética e farmacodinâmica da cafeína, além
de suas interações como a adenosina, metabolização, biossíntese e possíveis ações no
organismo dos indivíduos.
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2. CARACTERÍSTICAS DA CAFEÍNA
A cafeína (3,7 dihidro-1,3,7 trimetil-1H-purina-2,6 diona) encontra-se entre as
metilxantinas, pertencente à família química dos alcaloides. Juntamente com a teofilina (3,7
dihidro-1,3 trimetil-1H-purina-2,6 diona) e a teobromina (3,7 dihidro-3,7 trimetil-1H-purina2,6 diona) são consideradas as mais importantes metilxantinas. São todas derivadas da purina
(2,6-dioxopurina) (SOARES; FONSECA, 2004).
Conforme o The Merck Index (2001), a cafeína apresenta sua fórmula molecular como
sendo C8H10N4O2 com peso molecular de 194,19. Seus constituintes são: 16,48% de
oxigênio, 28,85% de azoto, 5,19% de hidrogênio. E 49,48% de carbono. Uma grama (1g) de
cafeína é dissolvida em 46mL de água a 80 º C, 22mL de álcool a 60º C, 50 mL de acetona,
1,5mL de água em ebulição, 530mL de éter, 22mL de benzeno em ebulição e 5,5mL de
clorofórmio.
Segundo Soares e Fonseca (2004), o ponto de fusão da cafeína é de 238º C (460 F).
Apresenta hidrofobicidade suficiente para atravessar as membranas celulares e sublima sem
que se decomponha termicamente. Sua volatilidade é de 0,5%, densidade de 1,23, pH de 6,9
em solução à 1%. É um pó branco, de sabor amargo, sem cheiro, brilhante e cristalino. É
incompatível com ácido fortes, havendo perigo de explosão, além de incluir óxidos tóxicos de
carbono e azoto.
3. FARMACOCINÉTICA
3.1 Absorção
Aproximadamente 99% da cafeína é absorvida via gastro-intestinal pela forma não
dissociada da molécula na membrana gástrica, sendo também absorvida via subcutânea
(SOARES; FONSECA, 2004), não havendo alterações em suas funções quando conjugadas
com outros líquidos (LIMA, 2002). Eteng et al. (1997) descrevem que o volume aparente da
cafeína é semelhante ao das demais metilxantinas, encontrando-se entre 0,4 e 0,6 L/kg. Seu
pico plasmático é atingido entre 30-45 minutos, onde concentrações plasmáticas de 5 e 25
mcg/mL são decorrentes de uma ingestão de 250mg de cafeína (LIMA, 2002).
A cafeína é capaz de atingir a barreira placentária devido ao fato de ser distribuída por
todo o corpo penetrando por todas as células, além de apresentar grande solubilidade lipídica
e baixa ligação com proteínas plasmáticas (JULIANO et al., 2009).
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Em adultos, o tempo de semi-vida da cafeína é entre 2-4 horas, podendo aumentar para
9 horas em caso de overdose (MANDEL, 2002). Além desse fator, outras situações podem
interferir na semi-vida da substância, como: gravidez, onde a cafeína pode passar rapidamente
pela saliva e atinge o leite de mulheres lactantes, concentrando-se de 1,4 a 7,2 μg/ml, o que
pode provocar irritabilidade e interferir no sono da criança (SOARES; FONSECA, 2004) e
disfunção hepática (ALDRIDGE et al., 1979).
As diferenças observadas quanto à concentração plasmática da cafeína deve-se a
dosagem e as variações metabólicas. Tais variações dependem de quatro fatores:
individualidades (gênero e peso), polimorfismos genéticos, enfermidades hepáticas e inibição
metabólica do citocromo P450 (DONOVAN; DEVANE, 2001).
3.2 Metabolização e Eliminação
De acordo com Soares e Fonseca (2004), a familiarização com os processos
metabólicos da cafeína é importante para entender seus efeitos. Tal substância é metabolizada
no fígado por meio de desmetilação, envolvendo o citocromo P450 (ETENG et al., 1997)
Sua metabolização em ratos, desencadeia uma maior formação de teobromina (51%),
enquanto em humanos, observa-se 70% de paraxantina. Ocorre uma desmetilação a 3-metilxantina e a 7-metil-xantina, oxidados aos correspondentes ácidoS úricos (ácido 7-metil-urico
e ácido 3-metil-úrico). A teobromina pode ainda ser oxidada ao ácido 3,7-dimetil-úrico que
irá sofrer uma biotransformação. O anel imidazol do ácido 3,7-dimetil-úrico é quebrado na
presença de glutationa, sendo o mesmo aberto e reduzido a 6-amino-5-(N-formil metilamino)1-metil uracilo. Já a teofilina, é quebrada em ácido 1-metil-úrico e em ácido 1,3-dimetil-úrico.
Por meio de oxidação, uma fração da cafeína pode ser convertida em ácido 1,3,7-trimetilúrico. A cafeína inalterada é excretada na urina (SOARES; FONSECA, 2004).
Quando a cafeína sofre desmetilação aos níveis de N-1, N-2 e N-3, formam-se a
teobromina, paraxantina e teofilina, respectivamente, sempre havendo a saída de uma
molécula de formaldeído (HCHO) (GOULDING, 1987).
Dessa forma, a cafeína é metabolizada em três dimetilxantinas: a teofilina (relaxa o
músculo liso dos brônquios), a teobromina (promove a vasoconstrição e aumenta o débito
urinário) e a paraxantina (aumenta a lipólise) (HIGDON; FREI, 2006), sendo os produtos
dessas xantinas excretados na urina (COUTO, 2013).
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3.3 Cafeína e CYP’s
As CYP’s (isoformas do Citocromo P450) existem em distintas isoformas (SOARES;
FONSECA, 2004). Em humanos, a CYP1A2 é conhecida por catalisar a N-hidroxilação das
arilaminas (CHUNG et al., 1998).
Já se é conhecido o envolvimento da CYP1A2 na catalização da conjugação da
paraxantina para se formar 5-acetylamino-6-formilamino-3-metiluracil (AFMU) e na
formação da paraxantina e da N- acetiltransferase (NAT2). Pesquisas usando inibidores da
mesma, descrevem que tal promove o bloqueio da oxidação microssomal da cafeína,
prevendo-se que existem outras oxidases além dela envolvidas na produção dos metabólitos
da cafeína. Dessa forma, a expressão humana da CYP2E1 foi considerada como a catalizadora
da formação de teobromina e teofilina. O anticorpo anti CYP3A foi capaz de abolir a C-8
hidroxilação, sugerindo que o mesmo seja responsável pela formação do trimetilurato
(SOARES; FONSECA, 2004).
4. FARMACODINÂMICA
A cafeína pode produzir efeitos analgésicos aditivos quando é administrada com
outros analgésicos. Ainda se necessita de estudos que elucidem os efeitos deletérios da
cafeína em relação ao álcool. Os resultados são contraditórios em alguns estudos se a mesma
pode causar alterações toxicológicas do álcool (DONOVAN; DEVANE, 2001). Em
combinações com outras substâncias, a cafeína pode provocar a síndrome serotoninérgica
(SHIODA et al., 2004), potencializar os efeitos da nicotina (HUGHES; OLIVETO, 1993).
Devido as grandes diferenças individuais, uma mesma dosagem de cafeína pode
provocar reações adversas em uma pessoa e apresentar boa tolerância em outra. Os efeitos
mais adversos frequentemente observados são tremores, nervosismo, insônia e taquicardias
(UNDERM, 2006). Dosagens elevadas podem provocar de acordo com Broderick e Benjamin
(2004) crises de angústia, medo e ansiedade. Os autores descrevem que já existem casos
descritos de psicose aguda induzida pela cafeína em pessoas que sofrem de psicopatologia e
esquizofrenia. Pode ainda, provocar analifaxia (INFANTE et al., 2003) e alergias
(FERNÁNDEZ-NIETO et al., 2002).
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5. MECANISMOS DE AÇÃO DA CAFEÍNA
5.1. Sistema Nervoso Central
Seu efeito como droga psicoativa é decorrente de suas propriedades estimulates, as
quais dependem da sua habilidade de diminuir a transmissão de adenosina no cérebro
(FISONE et al., 2004). A célula nervosa “enxerga” a cafeína como se fosse a adenosina
(figura 1).
Figura 1. Adenosina. Fonte: Soares e Fonseca (2004).
Devido sua semelhança, a cafeína se liga aos receptores da adenosina. Contudo, não
diminui a atividade celular como faz a adenosina. Assim, a célula não identifica a adenosina
porque a cfeína está ocupando seu lugar ao receptor, promovendo um aumento da atividade
celular, exercendo um efeito antagônico nos receptores centrais da adenosina (FISONE et al.,
2004).
A cafeína é um antagonista competitivo e seus efeitos são psicoestimulantes
contrapõem os efeitos da adenosina endógena (FERRE, 2010). Sua ação ocorre
principalmente por meio do bloqueio dos receptores A1 e A2. Tais receptores apresentam um
papel neuromodulador da transmissão e da plasticidade sináptica. Os receptores A2
promovem a libertação de neurotransmissores e despolarização pós-sinaptica, enquanto os A1
suprem a atividade neural por meio de ação pós-sináptica (STONE et al., 2009).
Tal substância pode promover os mesmos efeitos farmacológicos de psicoestimulantes
como anfetaminas e cocaína (COUTO, 2013). Como benefício, citam-se o aumento do estado
de alerta mental, energia, sensação subjetiva de bem-estar, força anímica, dentre outros
(FERRE, 2008). Além disso, pode atuar no comportamento e na memória dos indivíduos
(NEHLIG, 2010). Tais papéis provêm da capacidade da adenosina de modular a função de
múltiplos sistemas neurotransmissores ascendentes centrais (FERRE, 2010).
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Uma vez bloqueados os receptores A1 percebe-se uma melhora no que diz respeito aos
aspectos de desempenho cognitivo, uma vez, que sobre-expressão dos A2A desencadeia
défices de memória (FERRE, 2008). Já os receptores A2A são excitatórios e têm efeitos
exacerbados em situações de comprometimento da homeostasia cerebral (COUTO, 2013).
Stone et al. (2009) descrevem que a afinidade dos receptores e as alterações em sua
expressão estão relacionados ao desenvolvimento dos níveis de tolerância, os quais, também
dependem do consumo individual de cafeína. Conforme ingestão habitual da substância pode
ocorrer uma expressão diferenciada dos receptores A1 e A2A, e consequentemente, efeitos
diferentes no cérebro dos indivíduos.
A cafeína além de atuar como neuroestimulante também age como vasoconstritor,
dependendo conforme Couto (2013) da proporção dos receptores A1 e A2 em cada região
cerebral. A cafeína também apresenta efeitos secundários além de seu antagonismo, agindo
ainda sobre classes de neurotransmissores como a acetilcolina, dopamina e noradrenalina
(RIBEIRO; SEBASTIÃO, 2010).
Essa
substância
está
ainda
envolvida
na
estimulação
do
cognitivo
(KOPPELSTAETTER et al.2010). O córtex pré-frontal encontra-se envolvido nos processos
congnitivos recebendo aferências ascendentes dos sistemas neuromodulares, mais
precisamente o dopaminérgico. Quando há distúrbios no mesmo, ocorrem déficits cognitivos
profundos. A cafeína é capaz de estimular a liberação de dopamina no corpo estriado
(FERRE, 2010), o qual é rico em recepetores A2 da adenosina, que são antagonizados pela
cafeína. Tal interação implica no controle dos movimentos voluntários, comportamento
motor, emocional e cognitivo (CARVALHO et al., 2010).
Segundo Carvalho et al. (2010), têm-se desenvolvidos estudos eletrofisiológicos onde
a cafeína demonstrou efeitos ergogênicos positivos, via interferência com a neurotransmissão
GABAérgica. Ao antagonizar os receptores A2A, a cafeína inibe a libertação do GABA,
provendo a diminuição da transmissão inibitória GABAérgica no córtex motor. Além disso,
Wostyn et al. (2011) relatam que a cafeína apresenta um papel facilitador da renovação e
produção do líquido cefalorraquidiano. Couto (2013) dissertam que a substância tem potencial
terapêutico para modular os processos neuroinflamatórios característicos das doenças
neurodegenerativas.
Soares e Fonseca (2004) dissertam que a cafeína promove a constrição dos vasos
sanguíneos da cabeça, uma vez, que bloqueia a ação dilatadora da adenosina, com isso, esta é
utilizada em medicamentos para dor de cabeça, pois promove a constrição dos vasos
sanguíneos havendo um alívio da dor. Outro modo de ação da mesma, é o bloqueio da enzima
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fosfodiesterase, responsável pelo metabolismo intracelular da adenosina-monofosfato-cíclico
(AMPc) (figura 2), desencadeando um aumento do mesmo (MANDEL, 2002), gerando
efeitos que imitam os mediaodores que estimulam a adenilciclase (RANG et al., 2002).
Figura 2. AMPc. Fonte: Soares e Fonseca (2004).
Dosagens muito elevadas de cafeína podem provocar a libertação de íons de cálcio
intracelular, desencadeando tremores involuntários, aumento da frequência cardíaca e da
pressão arterial (HOLMGREN et al., 2004). Soares e Fonseca (2004) relatam que a cafeína
amenta a concentração de dopamina no sangue por diminuir a receptação da mesma no
sistema nervoso central. A dopamina está relacionada às sensações de bem-estar e de prazer,
onde tais efeitos são responsáveis pelo vício da substância. Os autores também descrevem que
a cafeína pode dificultar o sono devido sua capacidade de potencializar a liberação de
adrenalina.
5.2.Sistema cardiovascular
Estudos acerca dos efeitos da cafeína sobre o sistema cardiovascular descrevem que a
mesma é capaz de aumentar pressão arterial, bem como, o risco de arritmias e taquicardias
(ALMEIDA et al., 2013). Tal substância age como antagonista da vitamina B-6, havendo um
aumento na concentração plasmática de homocisteína via redução de seu metabolismo. O
aumento desse aminoácido (naturalmente presente na corrente sanguínea) facilita o
aparecimento de doenças cardiovasculares (VERHOEF et al., 2002).
Tratando-se do âmbito cardiovascular, o aumento da concentração de cálcio
intracelular pode ser apontado como fator precursor do vasoespasmo coroniano (BERGER;
ALFORD, 2009). Em relação à eletrofisiologia cardíaca, a cafeína atua como arritmogênico
quando em altas concentrações, além do desenvolvimento de taquicardias e focos ectópicos de
despolarização (PELCHOVITZ; GOLDBERGER, 2011).
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5.3 Sistema respiratório
As metilxantinas são estimulantes do centro respiratório e são bronquiodilatadoras. A
cafeína melhora a função respiratória por aumentar a contração do diafragma (BARA;
BARLEY, 2000), além de provocar alterações do calibre brônquico. A ação antagônica da
cafeína nos receptores da adenosina, também localizados nos centros respiratórios superiores,
desencadeia um aumento na sensibilidade à concentração de gás carbônico, promovendo um
discreto aumento na frequência e intensidade respiratória (TAVARES; SAKATA, 2012). Os
autores ainda dissertam que quando a mesma age na periferia (receptores A2 de adenosina)
apresenta efeito inibitório sobre a respiração. A broncodilatação via cafeína pode ser
explicada por sua ação no sistema nervoso central, pois a mesma estimula a liberação de
catecolaminas que irão atuar nos receptores β2 localizados na mucosa brônquica.
5.4 Efeitos em outros sistemas
Por antagonizar os receptores A1 e A2 localizados nos túbulos renais, a cafeína pode
produzir um moderado efeito diurético e natriurético (TAVARES; SAKATA, 2012). Porém, o
consumo regular da substância, pode conforme Lima (2002), causae tolerância à esses efeitos,
de forma que o uso crônico não mais os exibe.
As contrações da vesícula biliar são estimuladas por meio da cafeína, além do
relaxamento da musculatura lisa das vias biliares, diminuição dos níveis de colesterol
(TIANYING et al., 2005) e estimulação da secreção gástrica (UNDERM, 2006).
6. BIOSSÍNTESE DA CAFEÍNA NAS PLANTAS
A biossíntese da cafeína é realizada por meio da ação da xantosina, um intermediário
nas vias catabólicas das purinas. Há três genes que codificam para N-metiltransferase, sendo
estes: teobromina sintase (TS), a cafeína sintase (CS) e a 7-metilxantosina sintase (MS)
(figura 3A). O primeiro, o terceiro e o quarto passo da via biossintética da cafeína são
responsáveis pela metilação dos substratos (OGITA et al., 2005).
Segundo Tavares (2010), a principal via de degradação da cafeína (figura 3B) foi
descrita como: cafeina → 1,3-dimetilxantina (teofilina) → 3-metilxantina → xantina → ácido
úrico → alantoína → ácido alantoico → ureia → CO2+NH4. Ashihara e Suzuki (2004)
descrevem que a cafeína pode ser produzida por duas vias (Figura 4), onde a principal
envolve a 7- metilxantina → teobromina → cafeína.
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Figura 3A. Via biossintética da cafeína mostrando as diferentes N-metiltranferases
envolvidas. Fonte: adaptado de Uefuji et al. (2003). 3B. Principal via de degradação da
cafeína. Tavares (2010) modificado de Ashihara et al., 2008.
Figura 4. Produção biossintética da cafeína. Fonte: Ishida et al. (2009).
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A principal via de formação é apoiada em pesquisas utilizando N-metiltransferases
(NMTs) naturais e possivelmente recombinantes (UEFUJI et al. 2003). Nas plantas, a via
principal parece ser universal nos alcalóides púricos (YONEYAMA et al. 2006). A segunda
via metabólica envolve a xantosina → 7-metilxantosina → 7-metilxantina → paraxantina →
cafeina, sendo esta mais elucidada no café (KATO et al., 1996).
Primeiramente, a taxa de biossíntese de cafeína é regulada pela atividade da Nmetiltransferase, onde tal atividade catalisam o primeiro, o segundo e o quarto passo da
principal via, por meio da S-adenosil-L-metionina (SAM), que atua como doadora de metil
(KATO et al., 1996).
A biossíntese da teofilina, teobromina e da cafeína, de forma conjunta, inicia-se por
meio do ácido inosínico, (figura 5), o qual é oxidado pela ação da enzima 5-fosfato
desidrogenase, que originará o ácido xantílico. Posteriormente, a metil-transferase promove
uma metilação no azoto 3, necessitando-se sempre como co-factor a 5-adenosil metionina,
originando a 3-metil-xantina (SOARES; FONSECA, 2004).
Figura 7 – Biossíntese da cafeína, teobromina e teofilina, de forma conjunta. Fonte: Eteng et
al. (1997).
A partir da 3-metil-xantina poderão ocorrer as formações de três diferentes metilxantinas: se a 3 metil-xantina sofrer metilação via metil-transferase e respectivo co-factor já
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referido, mas agora no azoto 7, será formada a 3,7 dimetil-xantina (teobromina). Se a 3 metilxantina sofrer metilação no azoto 1, pela a ação da mesma enzima e co-factor, então será
originada a 1,3 dimetil-xantina (teofilina). Assim, a cafeína sendo a única trimetil-xantina,
pode-se formar ou a partir da teofilina se sofrer um metilação no azoto 7 e da teobromina se
sofrer metilação no azoto 1(SOARES; FONSECA, 2004).
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Capítulo 28 - Fisiologia do bem-estar aplicado à produção de suínos: hormônios e
neurotransmissores envolvidos
CARDOSO, A.S.12; LIMA, M.R.13; Braga, L.G.T.14
Introdução
Diversos estudos sobre o bem-estar animal tiveram início na década de 70 com o
objetivo de compreender e estabelecer o bom relacionamento entre os animais e o homem.
Essas pesquisas foram estimuladas pelos interesses governamentais em conhecer a maneira
que os animais eram criados e tratados (FRASER, 2000). Em seguida, muitos pesquisadores
começaram a conceituar e definir o bem-estar animal (BROOM e MOLENTO, 2004),
relacionados à aptidão do animal em se adaptar ao ambiente (BROOM, 1991), a condição em
que os animais se encontram (GALHARDO e OLIVEIRA, 2006) e as condições de vida
destes (FRAJBLAT et al. 2008).
Dentre os tipos e formas de criação no mundo, a suinocultura pode ser considerada
uma das formas mais intensivas, pois o sistema de confinamento adotado na sua maioria é o
intensivo com o objetivo de intensificar e melhorar o desempenho produtivo e
econômico.Várias são as práticas empregadas no sentido de maximizar essa produtividade
animal, embora nem sempre sejam apropriadas para propiciar o bem-estar para esses animais.
Em decorrência da inexistência de práticas adequadas para o aumento da produção animal, a
União Européia (UE) vem se destacando na adoção de medidas relacionadas ao bem-estar
animal, tendo aprovado leis rigorosas em diversas áreas (MOLENTO, 2005), em especial, no
sistema de produção de suínos. Neste sistema faz-se cada vez mais necessário quesejam
respeitados os requisitos previstos nos direitos dos animais, como a liberdade psicológica, a
liberdade comportamental, a liberdade fisiológica, a liberdade sanitária e a liberdade
ambiental (NÄÄS, 2008).
No Brasil, devido ao grande interesse econômico em expandir seu mercado para países
mais exigentes como China, Estados Unidos e a União Européia, a questão do bem-estar
animal vem ganhando espaço.A procura da sociedade e do mercado externo por produtos de
qualidade tem exigido cada vez mais o crescimento da produção animal, o que torna
necessário determinar critérios que estimem o bem-estar dos suínos em seus sistemas de
criação.
12
Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ciência Animal, UESC, Ilhéus, Bahia. E-mail: [email protected]
Professor Adjunto II da Universidade Federal do Sul da Bahia, Teixeira de Freitas, Bahia. E-mail: [email protected]
14
Professor da Universidade Estadual Santa Cruz, UESC, Ilhéus, Bahia. E-mail: [email protected]
13
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403
Diante do exposto, o objetivo desta revisão é abordar a fisiologia do bem-estar em
suínos, buscando maior conhecimento em relação aos hormônios e neurotransmissores
envolvidos no processo fisiológico.
Bem-Estar Animal
Dentre os principais parâmetros para se avaliar o bem-estar animal está o estresse,
sendo este definido por (BROOM, 1991) como sendo o “conjunto de reações do organismo a
agressões de qualquer característica podendo ser física, psíquica, infecciosa e outras, sendo
capazes de perturbar a homeostase do organismo”.
A homeostase é a estabilidade do meio interno do organismo, para que o mesmo
mantenha o equilíbrio dos mecanismos fisiológicos bem como das reações comportamentais
(CANNON, 1929; MACARI et al. 1994)
Os autores em sua maioria, com destaque para Grandin (1998), descreve que, em
situação de estresse, os animais aumentam seus mecanismos de respostas, no momento em
que sua homeostase está ameaçada, requerendo do animal ajustes fisiológicos ou
comportamentais para ajustar-se aos aspectos adversos do ambiente ou manejo. Existem ao
menos dois sistemas para determinar o estresse, sendo um através do comportamento e outro
mediante a avaliação dos parâmetros biológicos (respostas endócrinas e enzimáticas) nos
fluídos ou músculos dos animais. Segundo Shaw e Tume (1992), em animais destinados ao
abate, as informações do estresse ante-mortem, podem ser avaliadas na carcaça.
Existe atualmente uma definição de bem-estar determinada pela FAWC (Farm Animal
Welfare Council) citado por Chevillon (2000), a qual foi criada após o reconhecimento das
cinco liberdades inexistentes aos animais: ser livres de fome e sede, ser livres de desconforto
termal e físico, ser livres de medo e estresse, ser livres de dor e doenças e ter liberdade para
expressar seus comportamentos naturais. Dessa forma, a adoção de medidas voltadas para o
bem-estar animal deve ser fundamentada em conhecimentos científicos incluindo sempre
planejamento e capacitação das pessoas envolvidas.
Medidas de Bem-Estar
Diversas são as maneiras para avaliar e atingir o bem-estar animal. Algumas ressaltam
características físicas (crescimento e saúde) e outras mentais (prazer ou sofrimento), mas
todos os princípios estão baseados em demonstrar alguma manifestação de mudança
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(BARNETT e HEMSWORTH, 1990), tendo assim os principais indicadores fisiológicos e
comportamentais.
Os indicadores fisiológicos associados ao estresse têm indicado que se o estresse
aumenta, o bem-estar diminui. Já os indicadores comportamentais são fundamentados
principalmente no surgimento de comportamentos anormais, como agressividade excessiva,
atividades reduzidas (descanso, alimentação, etc.), surgimento de doenças comportamentais
como o canibalismo, automutilação e a vocalização, este último sendo um dos parâmetros
principais para avaliar o bem-estar em suínos.
Suínos transmitem sons em várias situações, e essa manifestação vocal é tida como
padrão de reconhecimento de condição de bem-estar, frustração ou sofrimento
(MARTRENCHAR et al. 2000; SAMPAIO et al. 2007). Grunhidos longos ou curtos é a
principal maneira que os suínos utilizam para se expressar e isto está relacionado ao
enfrentamento de determinada situação que gere atenção ou ainda exprima desconforto
(MARCHANT et al. 2001). Portanto a vocalização é o principal meio de medir as condições
que o suíno possa estar exposto (MOURA et al. 2008).
Vocalizações mais intensas são geralmente observadas em leitões com até 28 dias de
idade, principalmente quando são confinados e separados de suas respectivas ninhadas,
demonstrando assim, sinais comportamentais de angustia. As variações destes sinais
vocacionais variam de acordo a idade, os leitões mais jovens exprimem mais sons em alta
frequência, quando confrontados a leitões com maior idade (WEARY et al. 1999).
A vocalização na avaliação comportamental dos suínos pode ajudar nos estudos
relacionados a intensidade da dor,estresse e desconforto aos quais os animais possam estar
submetidos (PUPPE et al. 2005).As vocalizações propagadas em condição de estresse podem
servir, inclusive, como um índice de qualidade de diferentes estímulos estressantes e como
análise momentânea do estado interno do animal (DUPJAN et al. 2008).Pesquisas conduzidas
mostraram que os animais respondem as situações estressantes como, por exemplo, desmame,
fome e dor expressando vocalizações de alta frequência (FRASER, 1974; MARCHANTFORDE et al. 2003).
Uma característica comportamental observada nos suínos é a capacidade de alterar seu
comportamento para se adaptar ao ambiente em que vivem. Em situações de altas
temperaturas ambientais os suínos alteram seu comportamento alimentar, reduzindo o número
de idas ao comedouro e o tempo total de ingestão diária de alimento (QUINIOU et al. 2000).
Em situações de restrição de área física e em que ocorre competição por alimento, os suínos
tendem a demonstrar um comportamento alimentar também modificado o que pode ser
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determinante para as respostas de desempenho, influenciando negativamente o ganho de peso
e a conversão alimentar dos animais (HYUN et al. 1998).
A resposta produtiva dos suínos também está relacionada ao bem-estar, pois animais
geneticamente melhorados colocados em ambientes modificados para alta produtividade
podem experimentar grande sofrimento e ainda apresentar comportamentos inalteráveis e
anormais, demonstrando a ocorrência de sofrimento psicológico, além de sérios problemas
físicos (contusões nas juntas, problemas respiratórios, úlceras gástricas) levando os animais
ao descarte cada vez mais jovens.
O transporte durante longos períodos, a mistura com animais desconhecidos,
temperaturas fora do conforto térmico dos animais (excesso de frio ou calor) podem resultar
em estresse e sofrimento animal, além de influenciar de forma direta na qualidade da carcaça:
lesões nos músculos e hematomas. O manejo incorreto dos suínos durante o carregamento,
descarregamento e, posteriormente, na área de abate, provoca modificações do
comportamento e das respostas fisiológicas, induzindo assim o animal ao estresse psicológico
e físico.
Outras maneiras de medidas são através das respostas patológicas dos suínos,
constantes observações quanto ao surgimento de doenças (ossatura enfraquecida, lesões
articulares e de cascos), ferimentos, anormalidades de crescimento e de reprodução, além de
problemas respiratórios. Dessa forma, para compreensão dos indicadores fisiológicos, deve-se
entender os mecanismos fisiológicos do estresse.
Estresse
O estresse tem sido o mecanismo primordial de medida ou de análise do bem-estar
animal. É tido como a resposta do organismo após a ação de um causador de qualquer
natureza, onde o mesmo responde com uma sucessão de reações não específicas de
“adaptação”, entre as quais está em primeiro plano um aumento excessivo do córtex adrenal
com consequente aumento da secreção de hormônios catecolaminas (adrenalina,
noradrenalina e dopamina mais abundantes).Esta “adaptação” envolve outra série de respostas
neuroendócrinas, fisiológicas e comportamentais que trabalham para tentar preservar a
homeostase e consequentemente o equilíbrio de suas funções (BARNETT e HEMSWORTH,
1990;VON BORELL, 1995).
Segundo Kaufman et al. (2000) o sistema nervoso parece responder ao estresse de
maneira complexa e organizada. As respostas fisiológicas do animal frente ao estresse são:
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aumento e extensão de batimentos cardíacos; oxigênio mais rapidamente bombeado;
respiração profunda; aumento da capacidade da visão pela dilatação das pupilas; contração do
baço para liberar estoque de células sanguíneas mais rapidamente para transportar o oxigênio;
liberação de glicose a partir do fígado que será usada pelos músculos; redistribuição de
sangue para músculos e sistema nervoso e aumento de linfócitos para reparar danos que
podem ocorrer aos tecidos (GRAY, 1988). Estas reaçõessão necessárias para que o organismo
venha a se adaptar as mudanças impostas a ele. Quando excessivas em relação ao tempo de
duração e intensidade, podem levar a um desequilíbrio interno no animal (BALLONE, 2005).
Inicialmente ocorre o estímulo do ambiente onde o animal capta através de seu sistema
sensorial. Esses estímulos seguem até o sistema nervoso central, onde serão transformados em
percepções, ou seja, terá respostas diferenciadas de acordo a interpretação do organismo.
Estas mudanças que interferirão nas funções biológicas do animal possivelmente o levarão a
um estado pré-patológico, influenciando de forma direta em todo seu potencial produtivo e
reprodutivo.
Estudos com animais realizados por Selye (1956) revelaram que a exposição a fatores
estressantes era seguida de um aumento na liberação de corticosteróides, com surgimento de
úlceras pépticas no estômago e duodeno, regressão de órgãos imunes como o timo e o baço e
hipertrofia do córtex das glândulas adrenais. Segundo Gray (1988) os glicocorticóides acabam
por inibir a resistência a infecção.Os glicocorticóides são hormônios esteróides que agem no
metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas ativando a gliconeogênese, elevando a
produção de glicogênio e a sensibilidade dos tecidos à insulina, estimulam a lipólise
ocorrendo à redistribuição de gordura. Agem no sistema imune sendo utilizados como
antiinflamatórios, bloqueiam ou retardam etapas de processos inflamatórios, inibem a
produção de citocinas, diminuem a produção de eicosanóides, assim como a produção de IgG
e diminuem a expansão das células T e B. O seu excesso leva a uma perda de colágeno e
tecido conjuntivo e inibe a formação de ossos, diminuindo a proliferação de células do
colágeno e das proteínas.
Zulkifli e Siegel (1995) afirmam que a liberação de cortisol estimulada pela liberação
de ACTH (Hormônio adrenocorticotrófico) atua sobre o metabolismo orgânico aumentando o
catabolismo protéico e a gliconeogênese no fígado, inibe a absorção e a oxidação da glicose,
além de estimular o catabolismo de triglicerídeos no tecido adiposo. A importância disso está
no fato de que os estressores crônicos mobilizam energia constantemente, desviando-a da
produção. Isso faz com que o animal entre numa deficiência energética comprometendo seu
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desempenho, pois mobilizará a energia fornecida nas dietas destinadas à mantença e produção
de forma incorreta, provocando um desbalanço energético devido a ausência do bem-estar.
O estresse no momento da parição tende a prolongar o trabalho de parto através da
diminuição na contratilidade do útero induzida pela liberação de epinefrina (ANDERSON,
1993), corroborando com os estudos realizados por Lawrence et al. (1992), no qual indicam
que elevado nível de estresse no momento do parto inibe a liberação de ocitocina. Além disso,
os leitões sofrem em decorrência da ausência de um ambiente favorável a fêmea, pois leitões
que nascem em locais inadequados passam por maior grau de estresse, visto que apresentam
maiores níveis plasmáticos de norepinefrina, epinefrina e lactatoque os que nascem em
situações menos estressoras (HERPIN et al. 1996).
Segundo Ash (1986), a fêmea suína estará mais estressada na fase de expulsão dos
primeiros leitões, sendo que este grau de agitação da fêmea pode variar consideravelmente. O
estresse do trabalho de parto (dor das contrações, dilatação e nascimento) é o que torna a
fêmea agressiva com seus filhotes (HULSEN e SCHEEPENS, 2006) e essas atitudes são
normalmente observadas em porcas primíparas.
A inexistência do bem-estar animal também gera uma produção de carne de má
qualidade, pois suínos abatidos em um sistema de manejo pré-abate inadequado terão
possivelmente níveis de estresse mais alto, bem como níveis mais elevados de lactato e
creatina quinaseno sangue quando comparados a suínos abatidos em sistemas adequados de
produção (WARRISS et al. 1994). Além disso, o estresse pré-abate aumenta a liberação de
hormônios adrenérgicos e corticotróficos, que interferem nas reservas de glicogênio muscular,
antecipando a glicólise post mortem. A depender da proporção da incidência desse
mecanismo, podem resultar valores de pH desfavoráveis, que atrelado com as temperaturas
elevadas das carcaças suínas provocam a diminuição da capacidade de retenção de água e
alteração na cor da carne, ocorrendo maior desnaturação das proteínas e consequentemente
aumentando a ocorrência de carne PSE – Pale, Soft, Exsudative – (Pálida, flácida e
exsudativa) e DFD - Dry, Firm, Dark - (Seca, firme e escura).
Resposta ao Estresse
A resposta ao estresse é formada por uma redecomplexa de sistemas biológicos, que
incluem componentes neurovegetativos, endócrinos e comportamentais (CHROUSOS e
GOLD, 1992; CHARMANDARI et al. 2005). Estes se dão através de estímulos no
sistemanervoso simpático, medulaadrenal, sistema nervoso parassimpáticoecórtexadrenal, que
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ao serem estimulados, proporcionam aumento imediato da frequência cardíaca ou da pressão
arterial através da liberação de adrenalina e noradrenalina.
É essencial salientar que a parte medular da adrenal libera catecolaminas (adrenalina e
noradrenalina) em decorrência da ativação simpática do sistema neurovegetativo. A
noradrenalina age de forma antagônica à adrenalina, ambos nãosão tão úteis quantoos
corticosteróidescomo
indicadores
de
estresse,
porque
eles
têm
umameia-vida
curtaemcirculação (LISTER et al. 1982).
O hipotálamo é o responsável pela regulação da produção de corticosteróides, que
induzem a libertação de CRH (Corticotropicreleasinghormone). Altos níveis de
corticosteróides têm um efeito inibitório, formando um circuito de feedback negativo. A
respostade
corticosteróidestem
sido
particularmenteútilem
compararo
efeito
de
diferentestensõesnos animais (NEVILLE, 1998).
Além do hipotálamo aumentar a produção de dopamina, norepinefrina e do fator
liberador da corticotrofina no estresse, a hipófise aumenta também a produção de outros
hormônios, tais como a vasopressina, a prolactina, o hormônio somatotrófico (do crescimento
ou GH) e o hormônio estimulador da tireóide (TSH). Em decorrência disso, o hipotálamo é
considerado o principal sítio cerebral responsável pelas respostas orgânicas aos agentes
estressores. A hipófise, contudo, tem como uma das principais ações estimular as glândulas
supra-renais. Com o início da produção do fator liberador da corticotrofina, o hipotálamo
estimula a hipófise para aumentar a produção da própria corticotrofina, chamada também de
hormônio adreno-córticotrófico (ACTH), o qual, por sua vez, agirá em outra glândula bem
distante do sistema nervoso central, as suprarrenais, (BALLONE, 2005).
O alvo fisiológico da ACTH é a glândula suprarrenal (ou adrenal) que ao ser
estimulada promove a liberação de um glicocorticóide denominado cortisol, este ativa
mecanismos catabólicos para lançar na corrente sanguínea uma grande quantidade de glicose
necessária para a resposta ao estresse (ELIAS e CASTRO, 2005). Outros glicocorticóides são:
cortisol
ou
hidrocortisona,
corticosterona,
cortisona,
11
–
desoxicortisol,
18 –
hidroxicorticosterona (naturais) e prednisona, prednisolona e dexametasona (sintéticos), no
entanto se destacam pelas suas concentrações e biofunções.
Em conjunto, as ações das catecolaminas e dos glicocorticóides induzem alterações em
mecanismos vegetativos, como a função cardiovascular, que dão o suporte necessário para o
organismo restabelecer o equilíbrio. Também há mobilização da produção e distribuição de
substratos energéticos durante a resposta ao estresse (KOPIN, 1995). Essas ações asseguram a
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manutenção do organismo durante situações adversas, principalmente por disponibilizar
substratos.
Os glicocorticóides também são responsáveis pelo controle das catecolaminas e a
síntese das catecolaminas precisa de glicose. Os glicocorticóides são corticosteróides capazes
de estimular a síntese de RNA, formadora de proteína e de glicogênio e suprime a síntese de
DNA, elevando a taxa de glicose no sangue para que haja energia disponível durante o
período de estresse. Caso o estresse mantenha-se por um período extenso, os glicocorticóides
são destrutivos para os tecidos, inibindo o crescimento somático e ósseo.
Na fase crítica do estresse pode ocorrer um aumento no volume da supra-renal,
juntamente com uma degeneração do baço e das estruturas linfáticas, além de um aumento
dos glóbulos brancos do sangue (leucocitose). Dessa forma, a ação da hipófise ao ativar todo
o sistema endócrino ocorre porque o organismo necessita de uma maior quantidade de energia
para se defender.
Assim, a resposta de emergência ocorre devido à ação integrada do sistema nervoso
simpático, do hipotálamo e do sistema límbico que controla as emoções. Hormônios e
neurotransmissores atuam em conjunto para modificar as funções viscerais e fornecer ao
organismo a reação adequada para o retorno ao equilíbrio perdido (FRANCI, 2005).
Avaliação do nível de cortisol como medida para estimar bem-estar
O cortisol é um hormônio altamente relacionado com a resposta ao estresse, sendo
utilizado como parâmetro importante nas pesquisas que visam inferir sobre o bem-estardos
animais. Para que não ocorra equívocos em pesquisas cientificas é muito importante saber que
o cortisol deve ser pesquisadoem peixes e na maioria dos mamíferose a corticosteronaque é
secretada, primariamente, em anfíbios, repteis e aves. Segundo Stocche et al. (2001) e
Goymann et al. (2003), a avaliação do cortisol é importante na compreensão do nível de
estresse nossuínos, pois alta concentração plasmática de cortisol demonstra que houve
situação de estresse ou ausência de bem-estar. A resposta ao estresse compreende manter o
equilíbrio homeostático do organismo animal lesado, conservar o aporte de oxigênio para
tecidos nobres, estimula substrato calórico (glicose), diminuir os efeitos dolorosos e estabiliza
a temperatura corpórea.
O cortisol é um glicocorticóide do eixo Hipotálamo-Pituitária-Adrenocortical (HPA).
Participa da regulação da absorção de cálcio, preservação da pressão sanguínea, na
gliconeogenese, na secreção de pepsina e ácidos gástricos e tem função antiinflamatória e
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imunológica. O desequilíbrio de sua produção ocorre nas reações aos agentes estressores e aos
desafios ambientais (DALLA COSTA et al. 2008; KOEPPEN e STANTON, 2009).
No caso de suínos, estudos foram realizados quantificando os níveis de cortisol no
sangue (FAGUNDES et al. 2008), na urina (HAY e MORMÈDE, 1998), nas fezes (PALME
et al. 1996), no músculo post mortem e salivar (DALLA COSTA et al. 2006). Dessa forma, o
fator que deve ser considerado para que não haja aumento na produção de cortisol, são os
procedimentos de coleta de material biológico. Portanto, o procedimento de coleta de saliva
para a análise de cortisol é um método conveniente de avaliação do estresse em estudos de
bem-estar animal, não é invasivo e não provoca resposta e estresse ao animal, sendo confiável
e de baixo nível de dificuldade durante a coleta. Estudos realizados por Cook et al. (2000)
mostraram que o cortisol salivar possui grande significado biológico, pois representa a forma
livre. Esta forma pode ser considerada a medida mais apropriada para a avaliação clínica da
função adrenocortical do cortisol sérico. Vinning et al. (1983) verificaram que o aumento no
cortisol sérico reflete no cortisol salivar em menos de cinco minutos.
O cortisol salivar é um bom indicador biológico da quantidade de cortisol ativo no
plasma, pois se apresenta na forma livre (Cook et al. 2000). A concentração de cortisol na
saliva corresponde a um valor entre 5 a 10% da concentração plasmática livre. Para suínos são
encontrados entre 5 e 10 ng/ml, podendo estes valores variar dependendo da idade, peso e
sexo (RUIS et al. 1997). Esse aumento no cortisol sérico é refletido no cortisol salivar em
menos de cinco minutos.
Merlot et al. (2011) compararam a eficiência de vários indicadores biológicos no
sangue (cortisol, glicose, lactose e ACTH) e na saliva (cortisol) para detecção da reação ao
estresse em matrizes suínas. Os autores observaram que o cortisol salivar é um método eficaz
para mensurar a resposta do eixo hipotálamo-hipofise-adrenal ao estresse, embora seja menos
sensível que o cortisol plasmático, mais apresenta uma série de vantagens.
Guzik, et al. (2006) pesquisaram os niveis de cortisol plasmático e salivar em suínos
suplementados com triptofano em suas dietas, observou-se diminuição da concentração de
cortisol a medida que se aumentava os níveis de triptofanona alimentação dos animais após
um estresse agudo, indicando que o triptofano pode reduzir respostas ao estresse.
De acordo com Hemsworth et al. (1981), o estresse interfere de forma direta na
resposta produtiva dos suínosocasionando retardo ou diminuição no ganho de peso, atraso no
início da reprodução. O estresse também pode comprometer a qualidade da carne. Beattie et
al. (2000) observaram que as taxas de crescimento e a espessura de toucinho foram maiores
nos suínos criados em ambientes enriquecidos, quando comparado com animais em ambientes
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
411
estéreis, assim como a qualidade da carne destes animais, onde observou-se maiores perdas
no cozimento da carne de suínos criados em ambientes estéreis.
Segundo Einarsson et al. (2008) e Tavares et al. (2000a) altos prejuízos podem ser
observados quanto a reprodução, pois no período em que o animal sofre situações de estresse
agudo, acontece a ativação do eixo HPA, que resulta, principalmente, na secreção do
hormônio liberador de corticotrofina (CRH) pelo hipotálamo diminuindo a produção do
hormônio luteinizante (LH), que é o responsável pela manutenção dos corpos lúteos e
consequentemente produção de progesterona.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O bem-estar é um conceito multidimensional e diversas são as maneiras para avaliar e
atingir o bem-estar animal. Por esta razão, a busca por maior conhecimento em relação aos
hormônios e neurotransmissores envolvidos no processo fisiológico é fundamental como
indicador de bem-estar n
a suinocultura. Diante disso, a compreensão dos componentes de
bem-estar e de como podemos avaliá-lo em suínos, leva a compreensão do funcionamento
biológico, comportamento natural, respostas e apresenta como mensurar e avaliar
adequadamente o bem-estar animal.
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Capítulo 29 - Mecanismos de ação da cafeína e seus efeitos em peixes”
B. C. R.; MENDONÇA2, P. P.; MOREIRA3, Y. R.; SOUZA4, M. H.; PIEDADE5,
VIEIRA1,
A. E.; MÁXIMO NETO6, Q. S.; CAVATTI NETO7, A.; VALÉRIO JÚNIOR9, J. F.;
DEMINICIS10, B. B.
1. INTRODUÇÃO
A cafeína foi isolada e purificada pela primeira vez pelo alemão Ferdinand Rouge no
ano de 1980 (SANTANA, 2009), sendo caracterizada como uma substância bioativa (LIMA
et al., 2010), lipossolúvel (HELOU et al., 2013), inodora, altamente resistente ao calor
(MONTEIRO; TRUGO, 2005) e estimulante dos sistemas nervosos central (AGUIAR et al.,
2012; HELOU et al., 2013) e periférico (GRAHAM, 2001).
Sua estrutura química é pertence ao grupo das purinas, provenientes dos metilados da
2,6-dioxi-purina (xantina) (LIMA et al., 1989), sendo a mesma identificada como 1,3,7trimetilxantina (CAZARIM; UETA, 2014).
Seus diversos efeitos em seres humanos conforme a dosagem ingerida tem despertado
o interesse de pesquisadores, fazendo com que estes desenvolvam estudos com diversos
animais, bem como organismos aquáticos, com o objetivo de verificar se os efeitos
metabólicos, fisiológicos, comportamentais, dentre outros, em seres humanos também podem
ocorrer em animais.
Neste capítulo, são descritos estudos que utilizaram a cafeína em organismos aquáticos
em seus variados objetivos. Serão apresentados também, efeitos constatados dessa substância
em seres humanos, os quais serviram de estímulos às pesquisas com animais e como a cafeína
pode agir no organismo dos indivíduos.
2. Efeitos da cafeína em seres humanos
No organismo humano, mais de 99% da cafeína consumida via oral é absorvida pelo
trato gastrointestinal (HECKMAN et al., 2010), onde em média de 60 minutos (BONITA et
al., 2007), com variações de 50 - 75 minutos (PENILDON, 2010) ou de 30 - 120 minutos
(GOLDSTEIN et al., 2010) a mesma já atingiu a corrente sanguínea e está propícia a exercer
suas funções fisiológicas, sendo conforme Sinclair e Geiger (2000), posteriormente degrada e
excretada pela urina.
Em seres humanos, dosagens de 3-9mg de cafeína/kg estimulam a lipólise, acima
9mg/kg já não mais produzem tal efeito e doses de 10-15mg/kg proporcionam efeitos tóxicos
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ao organismo (GRAHAM et al., 2001). A dosagem letal de cafeína para um adulto com peso
aproximado de 70kg seria cerca de 10g, o que equivale a 100 xícaras de café, 200 latas de
refrigerante ou 50 kg de chocolate (OTTEWILL, 1999). Prada (2010) descreve que a dose
ideal para o consumo de cafeína é de 300-600 mg/dia, aproximadamente duas xícaras de café,
sendo suficiente para a substância agir de forma favorável ao organismo.
Na tabela 1, observa-se efeitos da cafeína no organismo humano quando ingerida em
altas dosagens.
Tabela 1 - Efeitos da cafeína no organismo humano quando ingerida em altas dosagens.
Inflamação
EFEITOS
REFERÊNCIA
Hipertensão arterial sistêmica
Lima et al. (2010)
endotelial,
infarto
agudo
do
miocárdio,
neurotoxicidade
dopaminérgica protegida, doença arterial coronariana, arritmias cardíacas,
injúria hepática, carcinoma, cirrose, doença de Parkinson, osteoporose, acidente
Higdon e Frei (2006)
vascular cerebral, dislipidemias.
Vasoconstrição, diminuição da oxigenação placentária e morte dos fetos.
Ansiedade.
Tremores involuntários, dores de cabeça, letargia e irritabilidade.
Diminui a qualidade do sono e as funções diuréticas, promove excitação,
euforia e aumento da atividade motora.
Distúrbios comportamentais.
Crisci et al. (2013)
Smith (2002)
Cole et al. (1996)
Valenzuela (2004)
Santos e Sant’Ana (2014)
Aumenta a sensibilidade à insulina e reduzir a tolerância à glicólise.
Conde et al. (2012)
Diminuindo o fluxo sanguíneo para a placenta
Clarke et al. (2007)
Redução de peso dos fetos.
Diminuição do crescimento dos fetos.
Prejudica o desenvolvimento normal dos órgãos do feto.
Abortos espontâneos.
Diminuição da absorção de ferro .
Provoca adaptações celulares
alterações digestivas
Rubor facial, arritmia cardíaca, contrações musculares, insônia, e sensação de
infatigabilidade
Dependência psicológica e física.
Souza e Sichieri (2005)
Tan et al. (2012)
Monika et al. (2010)
Stefanidou et al. (2011)
Ricci (2008)
Arnaud (1987)
Kalthoff et al. (2010)
Fredholm (2011)
Budney et al. (1993)
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Na tabela 2 encontram-se efeitos da cafeína em seres humanos quando inerida em
dosagens adequadas.
Tabela 2. Efeitos da cafeína em seres humanos.
EFEITOS
REFERÊNCIA
Atividade antioxidante das células, estimulante do músculo
cardíaco e do sistema nervoso central.
Lima et al. (2010)
Aumentar o estado de vigilância e diminuição da sonolência
Pereira et al. (2010)
Melhorar a memória, o aprendizado.
Spaeth et al. (2014)
Ação termogênica.
Ação anticonceptiva.
Greenberg et al. (2006)
Godoy et al. (2012)
Aumento da concentração plasmática de ß – endorfinas.
Goldstein et al. (2010
Aumento do tempo de potência em atividades físicas.
Machado et al. (2010)
Auxilia tratamento para crise de enxaqueca.
Promove a dilatação dos brônquios.
Aumento da excreção urinária.
Ações anti-inflamatórias.
Contribui para a perda de peso e melhoria do perfil lipídico.
Apresentar formulações anti-celulite.
Efeitos anticancerígenos
Santana (2009)
Cole et al. (1996)
Meyer e Quenzer (2005)
Perez-Gil e Weaver (2010)
Saigg e Silva (2009)
Bertin et al. (2001)
He et al. (2003)
Apresenta ainda, possíveis efeitos anticancerígenos (HE et al., 2003) em diferentes
órgãos, como o fígado (GELATTI et al., 2005), esôfago, faringe (TAVANI et al., 2003),
mama (MICHELS et al., 2002), além de efeitos citotóxicos (KANG et al., 2002).
3. Uso da cafeína em estudos com peixes
Tratando-se de estudos voltados à alimentação animal, bem como, seus variados
objetivos como desempenho animal, digestibilidade, bromatologia, dentre outros, a cafeína
vem sendo inserida como adição ou substituição alimentar nas rações.
Como forma de inserção dessa substância, faz-se o uso de resíduos alimentares que
contenham a mesma, uma vez, que a utilização desses resíduos tem recebido atenção especial
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no mercado (CHAVES et al., 2014; ALMEIDA et al., 2014) por suas condições de
armazenamento e baixo custo (ALMEIDA et al., 2014), além de contribuir para a redução de
danos ambientais (LIMA et al., 2014) e incentivar ações sustentáveis (ARAGÃO et al., 2012).
Estudos envolvendo a cafeína em pó nas rações são escassos na literatura.
As primeiras tentativas de usar a cafeína em rações para peixes foram por meio da
polpa do café (BAYNE et al. 1976), tendo sido observadas diferentes respostas.
Na tabela 3 são apresentados estudos com organismos aquáticos alimentados com
rações contendo cafeína e seus respectivos resultados.
Tabela 3. Estudos com organismos aquáticos alimentados com rações contendo cafeína.
ESPÉCIE
RESÍDUO
Oreochromis
aureus
Polpa de café
(30%)
Clarias
mossambicus
Cyprinus carpio L.
e Oreochromis
niloticus
Oreochromis
niloticus
Polpa de café
(30%)
RESULTADO
Sobrevivência foi elevada e não houve
diferença significativa em ganho de
peso médio.
Comprometimento do crescimento e da
conversão alimentar.
Polpa de café
(20%)
Comprometimento do crescimento e da
conversão alimentar.
Polpa de café (6;
12; 18 e 24%)
Oreochromis
niloticus
Polpa de café
(30%)
Sparus aurata
Cafeína em pó
(0,1; 1,0; 2,0 e
5,0g.kg-1
Não houve o comprometimento do
crescimento e da sobrevivência.
Bom percentual de proteína bruta, alto
coeficiente de digestibilidade e melhor
desempenho.
Não houve influência para o consumo
de ração, o crescimento foi prejudicado
e
obteve-se
melhor
conversão
alimentar.
Danio rerio
0,015; 0,061;
0,12; 0,24; 0,61;
5,44 e 10,89 mg/g
de cafeína
Não houve comprometimento do
comprimento, ganho de peso e
mineralização óssea.
REFERÊNCIA
Bayne et al. (1976)
Christenses (1981)
Moreau et al. (2003)
Ulloa et al. (2002)
Pimenta et al. (2011)
Chatzifotis
(2008)
et
al.
Kindred (2009)
A inclusão de cafeína também tem ocorrido para estudar outras respostas da substância
além de objetivos alimentares. Dentre as espécies de peixe, estudos de neurociência tem
utilizado o peixe-zebra (Danio rerio) como modelo devido suas respostas positivas à fármacos
e atividades comportamentais, além de sua semelhança genômica com seres humanos,
chegando a 71% (HOWE et al., 2013), o que permite traças um paralelo com os demais seres
vertebrados (BUSKE; GERLAI, 2011).
O peixe-zebra já foi estudado quanto à capacidade da cafeína em proteger suas
funções cerebrais quando submetido ao estresse (KHOR et al., 2013), alterações na mudança
morfológica, expressão gênica e sensibilidade (CAPIOTTI et al., 2011), distúrbios de
movimento e mudança neuromuscular de embriões (CHEN et al., 2008) e comprometimento
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dos batimentos cardíacos e danos celulares (ABDELKADER et al., 2013). Há registro de
estudos com Tilápia do Nilo, onde estudou-se a expressão e caracterização dos parâmetros
cinéticos (GÓMEZ-MARTÍNEZ, 2011).
Contudo, ainda são bastante restritas as informações acerca ação da ação da cafeína
não só em organismos aquáticos como nos demais seres vivos, necessitando-se de estudos que
atendam essa carência de informações.
2. Mecanismos de ação da cafeína
A metabolização da cafeína em humanos (figura 1) é iniciada no fígado (SALDANHA,
2012), por meio da remoção dos grupos metila 1 e 7, sendo o citocromo P450 1A2
responsável pela catabolização dos mesmos (KALOW; TANG, 1993). Tal substância
apresenta segundo McLean e Graham (1998) uma meia-vida de 4 a 6 horas.
Figura 1 - Metabolismo da cafeína em humanos. Os números dentro dos parênteses são os
percentuais do composto metabolizado: CYP 1A2 – citocromo P450; NAT2 – Nacetiltransferase; XO – xantina oxidase; AFMU – 5 – acetillamina-6-formilamina-3metilcuracil. Fonte: Mello et al. (2007).
A metabolização da cafeína possibilita a formação de três diferentes grupos
metilxantinas (KALOW; TANG, 1993), sendo estas a paraxantina (figura 2) (HECKMAN et
al., 2010) em um valor de 84% (NABHOLZ, 2007), a teobromina (figura 3) (HECKMAN et
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al., 2010) contabilizando 12% (NABHOLZ, 2007) e a teofilina (figura 4) (HELOU et al.,
2013) com valor de 4% (NABHOLZ, 2007), podendo a mesma atuar em vários tecidos
(TAVARES; SAKATA, 2012).
Figura 2 - Estrutura química da paraxantina (1,7-dimetilxantina).
a suplementação concentr
Figura 3 - Estrutura química da teobromina (3,7-dimetilxantina).
Fonte: Saldanha (2012).
Figura 4 - Estrutura química da teofilina (1,3-dimetilxantina).
Fonte: Saldanha (2012).
Outros constituintes do corpo como os rins, o cérebro e outros tecidos desempenham
importante papel na produção do citocromo P450 1A2 (SINCLAIR; GEIGER, 2000). O
produto final é conhecido, segundo Crews et al. (2001) como 5-acetilamino-6-amino-3metiluracil.
A cafeína pode ser facilmente detectada por meio da urina, sendo que, apenas uma
pequena quantidade é excretada sem alteração na estrutura química (0,5-3%), não havendo
efeito acumulativo no organismo, pois a concentração plasmática é reduzida pela metade em
um período de 3-6 horas (BRENELLI, 2003).
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Seu efeito ergogênico (melhoria nas performances esportiva ou educacional)
(PEREIRA et al., 2010) apresenta pelo menos três teorias que tentam explicá-lo (SPRIET,
1995).
A primeira tenta explicar o efeito ergogênico da cafeína durante o exercício físico
anaeróbio, onde a cafeína teria um efeito direto em alguma porção do sistema nervoso central,
podendo afetar a propagação dos sinais neurais entre a junção neuromuscular e o cérebro e/ou
a percepção subjetiva do esforço (SPRIET, 1995). Mcardle et al. (2001) descrevem que a
cafeína e seus metabólitos são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica devido suas
propriedades lipofílicas afetando a percepção subjetiva do esforço, produzindo efeitos
analgésicos sobre o sistema nervoso central, reduzindo potencialmente a percepção do esforço
durante o exercício físico.
Descreve-se também, que a ação da cafeína sobre o sistema nervoso central estimula o
sistema nervoso simpático promovendo um aumento das catecolaminas (RACHIMA-MAOZ
et al., 1998), principalmente a epinefrina (YAMADA et al., 2989), agindo de forma
estimuladora sobre a atividade da bomba de sódio e potássio (CLAUSEN, 1986), ocasionando
uma hipocalemia tanto em movimento (WILLIANS, 1985) quanto em repouso (BROWN,
1983), contribuindo para o retardamento da fadiga por reduzir o potencial da membrana do
sarcolema (SJOGAARD, 1990). Entretanto, Altimari et al. (2006) dissertam que tal hipótese é
ainda especulativa dedo limitações quanto ao desenvolvimento desse tipo de investigação.
Já a segunda infere as possibilidades do efeito direto da cafeína sobre os co-produtos
do músculo esquelético (SHEARER; GRAHAM, 2014), havendo alterações iônicas (potássio
e sódio) sobre a regulação metabólica de enzimas semelhantes às fosforilazes e o aumento na
mobilização de cálcio por meio do retículo sarcoplasmático, o qual contribui para a
potencialização da contração muscular (CAPUTO et al., 2012), por meio do aumento dos
níveis intracelulares de cálcio nos músculos, facilitando a estimulação-contração do músculo
esquelético, potencializando a eficiência da contração muscular (SINCLAIR; GEIGER,
2000).
De maneira mais detalhada, a cafeína atua na alteração de íons do músculo
esquelético, inibindo a ação de enzimas fosfodiesterase (PDE), a qual induz a degradação de
adenosina-monofosfato-cíclico (AMPc) transformando-a em 5’ AMP inativo. Com isso,
possibilita-se um aumento na concentração de AMPc por meio da regulação metabólica de
enzimas semelhantes às fosforilases, onde a disponibilidade de AMPc ativa a proteinoquinase
A, bem como, a lipase hormônio sensível (LHS) (MURRAY et al., 1998), aumentando a
lipólise (BRAGA; ALVES, 2000).
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Tais possibilidades que relatam a segunda teoria são provenientes de investigações in
vitro, onde altas concentrações de cafeína (10 a 80 mM), conforme Yamada et al. (1989) são
empregadas na tentativa de demonstrar seus efeitos. Contudo, Spriet (1995) descreve que
necessita-se de dosagens superiores às testadas para desencadear as reações metabólicas da
substância.
A cafeína influencia na regulação das concentrações de potássio e sódio nos meios
intra e extracelulares, mantendo as concentrações de potássio altas no meio intracelular e
baixas no extracelular, contribuindo para o retardamento da fadiga, uma vez, que baixas
concentrações de potássio no plasma ajudam a excitabilidade das membranas celulares, bem
como, nos músculos contráteis (LINDINGER et al., 2000).
Tratando-se da ação da cafeína no retículo sarcoplasmático, a hipótese atualmente
aceita estabelece que a substância age sobre o mesmo aumentando sua permeabilidade ao
cálcio, fazendo com que este mineral esteja disponível para o processo de contração muscular,
influenciando também na sensibilidade das miofibrilas (actina e miosina) ao cálcio (PINTO,
TARNOPOLSKY, 1997), além de reduzir o limiar de excitabilidade e prolongar a duração do
período de contração muscular (ALTIMARI et al., 2006). Induzido pela cafeína, o cálcio age
de forma diferenciada nas fibras musculares dos tipos I e II, visto que as fibras do tipo I
(contração lenta) são mais sensíveis à cafeína do que as do tipo II (contração rápida)
(PAGALA; TAYLOR, 1998).
A cafeína é capaz de inibir a ação da enzima fosfodiesterase, a qual é responsável pela
degradação do mediador químico intracelular (adenosina monofosfato cíclico (AMPc),
ocasionando assim, um aumento nas concentrações do mesmo.
A terceira descreve a respeito da ação lipolítica da cafeína, onde tal substância age
sobre a enzima lipase (ALTIMARI et al., 2006) promovendo um aumento na mobilização dos
estoques intramusculares e/ou ácido graxos livres dos tecidos, desencadeando uma maior
oxidação da gordura muscular e menor oxidação dos carboidratos (CHO) (MELLO et al.,
2007), utilizando a gordura como fonte energética no lugar do glicogênio muscular
(ALTIMARI et al., 2006). A melhoria no rendimento físico pode estar relacionada ao
aumento da disponibilidade de CHO, uma vez, que sua depleção tem sido considerada como
fator limitante no que diz respeito ao desempenho físico (GRAHAM et al., 1994).
Tal efeito lipolítico ocorreria de maneira indireta via estimulação da liberação de
adrenalina pela medula supra-renal. A adrenalina é antagonista dos receptores de adenosina,
responsáveis pela inibição da lipólise. Assim, o aumento da mobilização dos ácidos graxos
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livres acelera a oxidação de gorduras e conservam o glicogênio muscular (MCARDLLE et al.,
2008).
A cafeína também promove o aumento da síntese de catecolaminas, as quais são
neurotransmissores e hormônios circulantes que estimulam a lipólise celular (SALDANHA,
2012), além de serem indicadores de mudanças fisiológicas, principalmente o estresse
(SANCHEZ et al., 2002). Tratando-se de teorias, seu potencial ergogênico ainda não está
completamente elucidado (LONGO et al., 2010) principalmente no que diz respeito a este
efeito em idosos (WALLMAN et al., 2010).
Outras ações por parte dessa substância no organismo humano também são
ressaltadas. A adenosina é um neurotransmissor natural (STRAIN; GRIFFTHS, 2000) que
produz sedação por meio da inibição da liberação de neurotransmissores como a acetilcolina,
dopamina, noradrenalina e GABA (BRAGA; ALVES, 2000), a qual, quando ligada a seus
receptores dilata os vasos sanguíneo e diminui a atividade neural (STRAIN; GRIFFTHS,
2000). Devido sua semelhança com a adenosina, a cafeína se liga aos receptores da mesma
impedindo a ação desta sobre o sistema nervoso central, havendo a estimulação da atividade
neural e constrição dos vasos sanguíneos por meio do bloqueio da adenosina via cafeína
(GOLDSTEIN et al., 2010), provocando também, o relaxamento da musculara lisa
(BARBOSA et al., 2008) e aumento da liberação de adrenalina (PEREIRA et al., 2010).
Efeitos secundários devido ao bloqueio dos receptores para adenosina também podem
ocorrer, como: a síntese de glutamato, acetilcolina, noradrenalina e serotonina, as quais
interferem em muitas funções fisiológicas (FREDHOLM et al., 1999). O fato dos receptores
de adenosina estarem espalhados por diversos tecidos do organismo (GOLDSTEIN et al.,
2010) dificulta os autores a descreverem de forma exata o mecanismo ativado pela cafeína em
seus estudos (DOHERTY; SMITH, 2005).
Embora a cafeína apresente variados mecanismos de ação, quando relacionado ao
sistema nervoso central essa substância interfere nos receptores metabotrópicos para
adenosina (MEYER; QUENZER, 2005). Quatro diferentes subtipos deste receptor já foram
identificados, sendo eles: A1, A2A, A2B e A3. Potencialmente, a cafeína é capaz de bloquear
os subtipos A1 e A2A (ACQUAS et al., 2002), os quais encontram-se amplamente
distribuídos no cérebro (DIXON et al., 1996). O subtipo A1 encontra-se localizado no
estriado dorsal, no hipocampo e nas camadas corticais, enquanto que o A2A está colocalizado com receptores dopaminérgicos no estriado ventral (DIXON et al., 1996).
De acordo com Braga e Alves (2006), a adenosina ao interagir com seus respectivos
receptores inibe a enzima adenilciclase. Tal inibição desencadeia uma redução do 3’, 5’ –
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monofosfato de adenosina cíclico ou AMPc, que é um segundo mensageiro intracelular. A
cafeína é considerada uma antagonista dos receptores A1. Assim, ao impedir sua interação
com a adenosina, promove o aumento das concentrações de AMPc, provocando o aumento da
pressão arterial, da diurese e das secreções gástricas, a liberação de catecolaminas (adrenalina
e dopamina) e a ativação do sistema nervoso central. Altimari et al. (2006) descrevem que o
bloqueio do receptor A2 via cafeína estimula os neurônios inibitórios gabaérgicos.
Esses dois subtipos (A1 e A2) mediam a grande maioria dos efeitos comportamentais
da cafeína (ROGER et al., 1994). Além disso, os efeitos psicoestimulantes causados pela
cafeína (MAHONEY et al., 2011), dentre outras formas de ação, são decorrentes do bloqueio
de um outro subtipo de neurotransmissor inibitório, o subtipo denominado de ácido gamaamino-butírico GABAA (MEYER; QUENZER, 2005).
A cafeína também atua indiretamente no aumento da atividade dopaminérgica por
meio do bloqueio de receptores de adenosina co-localizados com receptores de dopamina
(GARETT; GRIFFITHS, 1997). A interação funcional de ambos os receptores faz com que a
cafeína bloqueie os auto-receptores para o neurotransmissor da dopamina (XIE et al., 2007),
desencadeando comportamentos diferenciados conforme a espécie testada, como aumento da
locomoção em primatas e roedores (FERRÉ, 2008) e sensação de bem-estar e prazer em
outros animais e seres humanos (SANTANA, 2009).
Sinclair e Geiger (2000) descrevem que alguns fatores, como: peso corporal,
hidratação, exercício físico, consumo habitual da substância, dieta, sexo, uso de drogas e
genética podem afetar o metabolismo da cafeína e consequentemente influenciar na
quantidade urinária total excretada.
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Capítulo 30 - Efeito do comportamento ingestivo em pastagens sobre a produção de
ovinos
1
2
MOREIRA, Y. R. ; ZANETTI, L. M. ; VIEIRA, B. C. R.3; HADDADE, I. R.4; DEMINICIS,
R. G. S.5; CHAMBELA NETO, C.4; DEMINICIS, B. B.6
Introdução
A ovinocultura no Brasil é uma atividade que vem sendo impulsionada com o passar
dos anos, principalmente para a produção de carne, devido ao aumento da procura por parte
do consumidor (VIEIRA et al., 2010).
Entretanto, apesar do aumento da demanda, FAO (2014) relatam que o consumo da
carne ovina ainda está aquém do consumo de outros produtos de origem animal, como a carne
bovina, por exemplo. Do Prado Paim et al. (2011) destacou que o baixo consumo é atribuído,
principalmente, à qualidade da carne ovina.
Apesar do aumento na produção de ovinos de corte, estimulados pelo crescimento da
demanda, Mcmanus et al. (2010) relataram a produtividade da ovinocultura no Brasil aquém
do potencial da atividade. Para eles, a baixa produtividade está relacionada a fatores
produtivos e reprodutivos do rebanho, que são influenciados, na maioria das vezes, pelo tipo
de solo e clima de cada região. Desta forma, são necessárias medidas estratégicas de manejo
que minimizem os efeitos ambientais negativos sobre a produção de ovinos, tendo em vista a
importância social e econômica desta atividade no País.
Segundo Ziguer et al. (2011), o sistema de criação mais utilizado no Brasil, quando se
trata de ovinos, ainda é o extensivo, no qual os animais são alimentados exclusivamente por
pastagem. O baixo custo e, muitas vezes, o baixo investimento tecnológico empregado podem
justificar a predominância deste modo de criação. Para este tipo de sistema, é necessário o
monitoramento tanto das respostas produtivas do animal quanto da pastagem, visando o
melhor desempenho produtivo do rebanho.
Para tanto, a avaliação do comportamento ingestivo dos animais na pastagem se
apresenta como uma verdadeira aliada na ovinocultura (FIGUEIREDO et al., 2013), uma vez
que os componentes presentes na dieta é que serão responsáveis pelo desenvolvimento
corporal dos animais (SEJIAN et al., 2010).
1
Mestranda em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias. [email protected]
Graduanda em Engenharia Agronômica- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
Mestranda em Ciências Veterinárias- Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias.
4
Professor titular do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa.
5
Zootecnista, Mestre em Ciências Veterinárias – UFES.
6
Professor titular da Universidade Federal Sul da Bahia
2
3
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442
De uma maneira geral, a avaliação do comportamento ingestivo se justifica pela
necessidade de se identificar a relação entre os mecanismos que os ruminantes adquiriram ao
longo dos anos, os quais atuam ajustando o uso do tempo na busca por alimento na pastagem
e o consumo de alimentos por estes animais ( CARVALHO et al., 1999; ALVES et al., 2010).
Além
disso,
o
tempo
dispendido
com
algumas
características
comportamentais
desempenhadas pelos ovinos em alimentação, como o tempo de ruminação, por exemplo,
pode auxiliar na determinação da qualidade da dieta ofertada a estes animais.
Tendo em vista a importância da ovinocultura no cenário da pecuária nacional, da
necessidade da adequada condução desta atividade para geração de emprego e renda,
objetivou-se com essa revisão de literatura discutir os aspectos relacionados ao
comportamento ingestivo em ovinos mantidos em pastagens e como eles podem influenciar
na ovinocultura.
1. Cenário da ovinocultura no Brasil
O mercado de ovinos tem se apresentado de maneira promissora no cenário da
pecuária brasileira, servindo como fonte de renda para pequenos, médios e grandes
proprietários. Dentre estes, a grande maioria se concentra na produção de carne, buscando
atender a crescente de demanda por parte dos consumidores (VIEIRA et al., 2010).
Esta demanda, segundo Canesin et al. (2007), tende a crescer à medida que cresce a
população.Para estes autores, o cenário nacional, atualmente, representa um indicativo de
crescimento constante na pecuária de corte, ressaltando a importância da condução da
atividade de maneira eficaz (CANESIN et al., 2007).
Segundo dados da FAO, o mundo possui o efetivo de mais de um milhão de ovinos,
dos quais a maioria, cerca de 70%, encontra-se localizada em países da África e Ásia (FAO,
2012). No Brasil, este efetivo, analisado no ano de 2011 pelo Institutito Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), foi de 17,662 milhões de cabeças. Dentre as regiões
brasileiras, os dados divulgados pelo IBGE (2014) mostram que cidades do Sul e do Nordeste
do país representam as maiores possuidoras de cabeças de ovinos.
Ao longo dos anos, de acordo com Reis et al. (2009), observa-se a tendência mundial
de um novo rumo para a produção animal, a qual vem se apresentando como uma atividade
empresarial propriamente dita. Neste modelo empresarial, o objetivo está na produção de
animais de qualidade, os quais terão características produtivas satisfatórias para o mercado
consumidor, resultando no retorno financeiro adequado (REIS et al., 2009).
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Entretanto, apesar do aumento da demanda e da referida tendência de um formato
empresarial, FAO (2007) relatam que o consumo da carne ovina ainda está aquém do
consumo de outros produtos de origem animal, como a carne bovina, suína e de aves. Garcia
et al. (2000) destacou que o baixo consumo é atribuído principalmente à qualidade da carne
ovina.
O Brasil é um país que possui um elevado potencia para a produção de carne ovina, e
carne de boa qualidade. Contudo, dados do ano de 2005 revelam que o mesmo não acontece
(EMBRAPA, 2005). Segundo EMBRAPA Caprinos e Ovinos (2005), apesar do baixo
consumo, aproximadamente 50% de toda carne ovina consumida nas regiões do Nordeste e do
Centro Oeste foram importadas de outros países (EMBRAPA, 2005).
Este trabalho publicado pela EMBRAPA Caprinos e Ovinos e outros trabalhos
divulgados na literatura (COSTA, 2003) evidenciam o quão a produtividade da ovinocultura
no Brasil se contrapõe com o consumo atual da carne. Neste sentido, o que se observa é um
grande potencial da ovinocultura de corte no país, evidenciando a necessidade de maiores
investimentos no setor.
2. Produção de ovinos à pasto
O modo de criação de ovinos se apresenta de forma variável com relação ao sistema
de criação utilizado, que diferem entre si em tecnologia empregada, intensificação do manejo
nutricional e oferta de pastagem (SILVA et al., 2010). Neste contexto, o sistema extensivo de
criação é predominante no Brasil, no qual os animais são alimentados somente por pastagem
(ZIGUER et al., 2011).
Esta predominância ocorre por alguns motivos, com destaque para o fator financeiro,
uma vez que este tipo de alimentação favorece para o baixo custo na produção animal.
Segundo Junior et al. (2014), a maioria as propriedades criadoras de animais para
produção de carne no Brasil possuem forragens de origem tropical disponível para a
alimentação do rebanho, e é neste cenário que os ovinos, assim como os demais ruminantes,
foram inseridos ao longo dos anos, e, por conseguinte, foram se adaptando.
As forrageiras tropicais se caracterizam, dentre outros aspectos, por terem sua
disponibilidade, tanto em quantidade quanto em qualidade, variadas ao longo do ano
(EMERENCIANO NETO et. al., 2013). Com essa oscilação, os teores nutricionais da dieta,
quando não corrigida, podem influenciar no metabolismo fisiológico dos animais, os quais
demonstram tal ocorrência através de comportamentos estereotipados.
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O modo de sistema extensivo se caracteriza ainda por uma certa complexidade ao
considerar que os ovinos são animais seletivos, apresentando preferências manifestas em
função das restrições de acesso e oferta de forragem existentes (Da Silva 2006).
Sendo assim, o conhecimento dessas preferencias, através da observação visual destes
animais a campo, podem ser uma importante estratégia de manejo, possibilitando ao produtor
a precocidade na tomada de decisoes que serão cruciais para uma boa produtividade (CIRNE
et al., 2014). E este conhecimento se dá através da avaliação do comportamento ingestivo dos
animais manejados em pastagem.
3. Características comportamentais realizadas em pastejo
O estudo do comportamento ingestivo permite obter informações sobre as relações que
controlam as respostas tanto dos animais quanto das pastagens (COSTA et al., 2015). Para
Carvalho et al. (2001), os componentes presentes na pastagem influenciam diretamente no
comportamento ingestivo dos animais em pastejo. Isto porque os animais tendem a se
comportar de acordo com o ambiente, neste caso, eles terão respostas diferentes de
comportamento de acordo com os componetes da dieta ( LIN et al., 2011).
Ao longo da evolução, os ovinos, assim como os demais herbívoros, foram se
adaptando à biodiversidade, e por consequência, adquiriram habilidades relacionadas ao modo
de se alimentarem (ALVES et al., 2010). Estas habilidades possibilitam ao animal uma certa
seletividade por alimentos de melhor qualidade, dentre o volume total oferecido, visando a
adaptação ao ambiente que lhes é oferecido ( SEJIAN et al., 2012).
Dessa forma, os animais, munidos dessas habilidades, apresentam alterações no seu
comportamento através de alterações no deslocamento em busca do alimento, tempo
despendido a apreensão e tempo em que estes animais ficam sem se alimentarem. 7
Segundo a literatura (LIN et al., 2011), estas atividades relacionadas ao
comportamento ingestivo são denominadas ócio, pastejo (ou alimentação) e ruminação, e a
quantidade e a qualidade da forragem tendem a influenciar sobre estes aspectos.
3.1 Pastejo
De acordo com a literatura pesquisada (VAN SOEST, 1994; CARVALHO et al.,
2001), o consumo de alimentos por parte dos ovinos, assim como dos demais ruminantes, é
influenciado por diversos fatores, os quais quando não conhecidos e, estrategicamente,
manejados, podem influenciar no desempenho do rebanho. Em situações de baixa oferta de
Tópicos especiais em Ciência Animal IV – ISBN 978-85-61890-78-0
445
alimento, por exemplo, os ovinos tendem a compensar se alimentando de pastagem por um
longo tempo (GERON et al., 2014).
Segundo Carvalho et al. (2001), este e outros comportamentos relacionados a ingestão
são influenciados, principalmente, pela estrutura da planta forrageira, caracterizada pelo
arranjo do dossel forrageiro e da massa foliar.
Macedo et al. (2015), estudando comportamento ingestivo e consumo de cabras sob
pastejo em capim Marandú, observaram que aos 50 e 60 centímetros (cm) de altura do dossel
as fêmeas pastejaram mais e estiveram menos tempo em ócio, quando comparadas as cabras
submetidas à pastejo com 30 e 40 cm.
Já Rodrigues et al. (2012) não encontraram diferença significativa entre o grupo de
animais mantidos em pastejo com capim massai e o grupo que foram mantidos no mesmo tipo
de pastagem, porém, consorciados com antilosantes cv. Este resultado, segundo os
pesquisadores, foram obtidos por os dois tratamentos apresentarem o mesmo arranjo de massa
foliar.
Para Oliveira et al. (2011), além da influência da oferta de alimentos sobre o consumo,
fatores relacionados à qualidade ou à natureza do alimento (JOCHIMS et al., 2010) também
atuam sobre as alteraçõs comportamentais realizadas pelos animais em pastejo. Animais
alimentados, por exemplo, somente por pastagem, e/ou pastagem de má qualidade, tendem a
compensar pastejando por mais tempo tempo. Sileveira et al. (2015) encontraram resultados
que nos sugerem que esta afirmação seja verdadeira.
Em trabalho realizado pelos autores, animais que receberam adicional de nutrientes
através de suplementação apresentaram menor tempo de pastejo do que animais que se
alimentaram exclusivamente de pastegem. Para eles, este resultado pode ser atribuído ao fato
de que os animais não suplementados precisaram de mais tempo para suprir suas exigencias
nutricionais. Além disso, segundo os mesmos autores, a seletividade dos ovinos fazem com
que esses animais gastem mais tempo na busca e captura do alimento.
O teor nutricional da dieta também parece influenciar no comportamento ingestivo de
ovinos. É o que relata Figueiredo et al. (2013), os quais encontraram tempo destinado à
alimentação superior em ovinos alimentados com Tifton 85 (6,04 h/dia), quando comparados
à três diferentes tratamentos (T1- silagem de cana mais concentrado; T2- silagem de cana +
concentrado + 15% de caroço de algodão; T3- silagem de cana). Segundo os pesquisadores
responsáveis pelo trabalho, os dados apresentados podem ser atribuídos ao teor de FDN
presente na dieta dos carneiros em estudo, uma vez que o Tifton 85 apresenta maior teor do
que a silagem de cana.
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3.2 Ruminação
Ao se alimentarem, os animais precisam realizar mecanismos fisiológicos que atuem
sobre as particulas dos alimentos, visando sua redução para melhor digestão. Em ruminantes,
este processo é realizado no rúmen, através da ruminação (ALVES et al., 2010), a qual auxilia
no melhor aproveitamento de alimentos de qualidade reduzida. Neste caso, o animal poderá
compensar a baixa qualidade do alimento na quantidade consumida, diminuindo a influencia
negativa da dieta sobre os aspectos produtivos (WELCH, 1982).
Quando considerados animais em pastejo, para Van Soest (1994), o ato de ruminar é
influenciado pela estrutura celular das forragens. De uma maneira geral o autor garante que as
propriedades constituídas no alimentos ofertados aos animais tem o poder de influenciar no
tempo de ruminação. E este tempo pode estar relacionado com a qualidade do alimento,
Ao substituírem silagem de sorgo por casca de soja na dieta de cordeiros confinados,
Carvalho et al., (2014) encontraram uma redução linear (p< 0,01) no tempo de ruminação
como resultado do efeito da substituição. Os autores concluíram que tal fato pode estar
relacionado com o tamanho da partícula da casca de soja, que é menor que as particulas
presentes na silagem de sorgo.
Estes resultados corrobam com os encontrados por Mendes et al. (2010), onde houve
um menor tempo dispendido para ruminação em animais submetidos a dieta a base de casca
de soja como fonte adicional de fibrar ( 56,7 % de partículas maiores que 1,18 centímetros),
quando comparados a animais que receberam como fonte adicionhal de fibra bagaço de ca-deaçucar in natura ( 63,5 % de partículas maiores de 1,18 centímetros). Ainda sobre a influência
do teor da dieta sobre as características comportamentais em alimentação realizada pelos
ovinos, outros trabalhos reforçam ainda mais o referido fato.
Jochims et al. (2010), por exemplo, justificaram a não discrepância no tempo de
ruminação em três estratégias alimentares diferentes ( uma com os animais alimentados
exclusivamente por pastagem de milheto, a segunda estratégia com os animais recebendo
suplementação no cocho a base de farinha de mandioca a 1 % do peso vivo, além da
pastagem, e a terceira com os animais recebendo suplementação no cocho a base de glúten de
milho também a 1 % do PV e também mantidos em pastagem de milheto) devido a
semelhança no teor de FDN entre elas.
Além do teor nutricional da dieta, alguns pesquisadores tem estudado a influência da
frequência da alimentação sobre o comportamento ingestivo. Ribeiro et al. (2011), estudaram
o efeito da frequência da alimentação de cordeiros sobre algumas características de produção,
dentre elas, o tempo gasto para realização da ruminação.
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Estes autores não encontraram alterações significativas no tempo de ruminação nos
três diferentes tratamentos observados, os quais se caracterizava em períodos de tratamento no
cocho distribuídos (mesma quantidade) 1, 2 ou 3 vezes ao dia.
Resultados diferentes foram encontrados por Beserra et al. (2007) em experimento
realizado com caprinos, no qual os autores encontratam maior tempo de ruminação em
animais tratados uma vez ao dia, quando comparados aos alimentados duas vezes ao dia.
3.3 Ócio
Intercalando os períodos destinados pelos animais para a alimentação e a ruminação
surge o período de ócio, que, assim como os demais, tendem a variar devido à influência de
vários fatores externos e internos ao animal (CARVALHO et al., 2014).
De uma maneira geral, a manifestação comportamental denominada ócio tende a se
alterar de acordo com os demais comportamentos realizados pelos animais em atividades
relacionadas à alimentação, como o pastejo, a ingestão de suplementos e a ruminação. Sendo
assim, os fatores que influenciam o tempo de alimentação e de ruminação são, basicamente,
os mesmos que atuam sobre o tempo em que os animais permanecem em ócio (SEJIAN et al,
2012), entretanto, de maneira inversamente proporcional (RIBEIRO et al., 2011).
Teoricamente, quanto maior for o tempo em que o animal se ocupa se alimentando,
bebendo água ou ruminando, menor será o período em ócio. Esta teoria tem sido comprovada
por estudos feitos com ovinos realizados por diversos pesquisadores (ALVES et al., 2010;
RIBEIRO et al., 2011; MAGALHÃES et al., 2012; CARVALHO et al., 2014).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os ovinos tendem a se adaptarem à qualidade e à quantidade de alimentos que lhes é
oferecido, visando à saciedade de suas necessidades nutricionais. Para tanto, diferentes
manifestações de comportamento ingestivo, como tempo de pastejo, tempo de ruminação e de
ócio, são alteradas ao longo do dia, de acordo com os fatores influentes.
Estas manifestações de comportamento podem influenciar no desempenho produtivo
do animal. Dessa forma, justifica-se a importância do conhecimento destes comportamentos
realizados pelos animais, bem como dos fatores que os influenciam para o aumento do poder
de tomada de decisões relacionadas ao manejo do rebanho.
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