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6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO ALGUMAS NOTAS SOBRE CESARE BRANDI E(M) PORTUGAL José Aguiar Professor Associado da FAUTL - Presidente do ICOMOS-PORTUGAL Projecto Europeu, Exposições, Seminários Internacionais: Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in Europa nel XX secolo. Inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos FAUTL. COMUNIDADE EUROPEIA - José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa IGESPAR - ICOMOS-PORTUGAL 1 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E DE ESPAÇO: TEORIA E TEORIA PRAXIS NOERESTAURO FAUTL, 2007 BRANDI EOOCONCEITO CONCEITO DE ESPAÇO: PRAXIS ARQUITECTÓNICO, NO RESTAUROLISBOA, ARQUITECTÓNICO Um Projecto Europeu, um Ciclo de Exposições e de Seminários Internacionais: «Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in Europa nel XX secolo» Iniciativa: Associazione Amici di Cesare Brandi (Italia), Associazione Giovanni Secco Suardo (Italia), Ministero per i Beni e le Attività Culturali - Dipartimento per i Beni Culturali e Paesaggistici (Italia), Istituto Centrale per il Restauro (Italia), Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa (Portugal), Academy of Fine Arts Warsaw - Faculty of Conservation and Restoration of Works of Art (Poland), Hochschule fur angewandte Wissenschaft und Kunst Hildeshiem/Holzminden/Gottingen (Germany), Institut Nationale du Patrimoine (France), Universidad Politecnica de Valencia - Departamento de Conservaciòn y Restauraciòn de Bienes Culturales (Spain), Universitè Libre de Bruxelles - Facultè de Philosophie et Lettres, Section d'Histoire de l'Art (Belgium). Lisboa: Brandi e o Conceito de Espaço. Teoria e Praxis no Restauro Arquitectónico Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Comissão Científica e de Organização: José Aguiar, Delgado Rodrigues, Nuno Proença, Ana Seruya, com apoio de Paolo Orizio. Oradores: Paolo Fancelli, José Aguiar, Delgado Rodrigues, Ana Isabel Seruya, Paulo Pereira, Joaquim Caetano, Nuno Proença, Luís Marreiros, Fernando Salvador, Elena Charola. Moderação de Jorge Bastos Apoios: COMUNIDADE EUROPEIA, Ministério da Cultura – IGESPAR, ICOMOS-Portugal. Projecto inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos da FAUTL. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 2 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E DE ESPAÇO: TEORIA E TEORIA PRAXIS NOERESTAURO FAUTL, 2007 BRANDI EOOCONCEITO CONCEITO DE ESPAÇO: PRAXIS ARQUITECTÓNICO, NO RESTAUROLISBOA, ARQUITECTÓNICO I SESSION – Muenchen III SESSION – Valencia (26 April 2007, 10.00-16.30) (7 May 2007, 9.30-21.30) Cesare Brandis "Teoria del Cesare Brandi, repercusión de su restauro" und die Restaurierung in Teoría en la realidad española Deutschland heute. Paraninfo de la Universidad politécnica Lehrstuhl für Restaurierung, de Valencia Kunsttechnologie und D. Manuel Muñoz Ibañez Konservierungswissenschaft der Pilar Roig Picazo TU München, Seminarraum des Gianluigi Colalucci Lehrstuhls, Oettingenstraße 15, Ignacio Bosch Reig 80538 München. José A. Madrid García Ursula Schädler-Saub Vicente Guerola Blay Paolo D’Angelo Salvador Muñoz Viñas Francesca Capanna Pablo González Tornel Dörthe Jakobs Vittorio Brandi Rubiu Erwin Emmerling Massimo Carboni Kathrin Janis Moderatores: Pilar Roig Picazo, Abschlussdiskussion Salvador Garcia Fortes, Victor Medina Moderation: Matthias Exner Florez II SESSION – Hildesheim IV SESSION – Lisboa (7 May 2007, 10.00-17.00) (28 May 2007, 9.30-18.30) Cesare Brandis „Teoria del Brandi e o Conceito de Espaço. Teoria restauro“ und die Restaurierung in e Praxis no Restauro Arquitectónico Deutschland heute. Faculdade de Arquitectura da Fachbereich Konservierung und Universidade Técnica de Lisboa, Restaurierung der HAWK espaço “O Cubo”, Rua Sá Nogueira Hildesheim / Holzminden / Pólo Universitário - Alto da Ajuda Göttingen, Hornemann Instituts, 1349-055 Lisboa voraussichtlich Seminarraum Paolo Fancelli Bismarckplatz 19/11, 31135 José Aguiar Hildesheim. Delgado Rodrigues Ursula Schädler-Saub Ana Isabel Seruya Dörthe Jakobs Paulo Pereira Ivo Hammer Joaquim Caetano Thomas Danzl Nuno Proença Wanja Wedekinde Luís Marreiros Francesca Valentini Fernando Salvador Abschlussdiskussion Elena Charola Moderation: Angela Weyer Moderador: Jorge Bastos V SESSION – London (10 July 2007) Cesare Brandi and the conservation of our Cultural Heritage With the collaboration of The Hamilton Kerr Institute (University of Cambrige), Courtauld Institute. Courtauld Institute, Kenneth Clark Lecture Theatre Giuseppe Basile Licia Borrelli-Vlad Ian McClure Jonathan Ashley-Smith Phoebe Dent Weil Dorothy Bell VI SESSION – Warzaw (5 October 2007, 9.00-19.00) Cesare Brandi: Art of conservation restoration in Poland Inter-Academy Institute of ConservationRestoration of Works of Art: Academy of Fine Arts in Warsaw - faculty of Conservation and Restoration of Works of Art, Academy of Fine Arts in Krakow faculty of Conservation and Restoration of Works of Art, Nicolas Copernicus University in Torun - Institute for the Study, Conservation and Restoration of Cultural Heritage. Museum Palace at Wilanow. Giuseppe Basile Wojciech Kurpik Dusan C. Stulik Wladyslaw Zalewski Janusz Krawczyk Andrzej Tomaszewski Iwona Szmelter Bogumila Rouba Monika Jadzinska VII SESSION – Bruxelles (25 October 2007) Cesare Brandi. sa pensée et l’evolution des pratiques de restauration Université Libre de Bruxelles Salle Dupréel, Institut de Sociologie, 44 avenue Jeanne – 1050 Bruxelles Jean-Pierre Devroey Giuseppe Basile Chateline Perier D'Ieteren Francoise Rosier Hélèn Dubois Dominique Driesmans Modérateur de les Table-ronde: Marie Berducou VIII SESSION – Paris (26 October 2007, 9.30-18.-00) Cesare Brandi et la France Institut national du patrimoine – Auditorium Colbert 2 rue Vivienne, 75002 Paris Geneviève Gallot Giuseppe Basile Après-midi sous la direction de JeanPierre Mohen: Ségolène Bergeon-Langle Nathalie Volle Georges Brunel Christine Mouterde Matinée sous la présidence de Christiane Naffah: Elisabeth Mognetti Jacques Hourrière Table ronde animée par Michel Laclotte. Anthony Pontabry, Monique Pomey, Isabelle Pallot-Frossart, Patricia Vergez José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 3 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 como nasce uma cultura de “conservação”? RESTAURO VERSUS CONSERVAÇÃO A procura de aproximações teóricas ao início dos sobressaltos da necessidade de salvaguarda, conduzirá à gradual definição de uma nova disciplina a que os continentais (sobretudo os Italianos e os Franceses) chamarão Restauro e os Ingleses de Conservação. Diferença e disputa conceptual que ultrapassará em muito o século e a vida dos seus protagonistas: John Ruskin e Viollet-le-Duc. John Ruskin Violet-le-Duc José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 4 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 como nasce uma cultura de “conservação”? O RESTAURO ESTILÍSTICO E O MÉTODO ANALÓGICO No início do segundo quartel do século XIX, em França, restaurar um monumento significa proceder à sua reconstrução integral, ou à reintegração de partes em falta, tendo por referência a hipótese de um (seu?) estilo original. Ludovic Vitet e Prosper Mérimée defendem o completamento “em estilo”, através da produção de cópias de motivos ou partes análogas às existentes no próprio edifício ou em construções similares da mesma região, época e estilo. Surge assim o MÈTODO ANALÓGICO ainda defendido por alguns …mesmo no século XXI. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 5 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 como nasce uma cultura de “conservação”? A CONSERVAÇÃO ESTRITA «Restoration, so called, is the worst manner of Destruction.[...] Do not let us deceive ourselves in this important matter; it is impossible, as impossible as to raise the dead, to restore anything that has ever been great or beautiful in architecture». «Take proper care of your monuments, and you will not need to restore them». (...) «But, it is said, there may come a necessity for restoration! Granted. Look the necessity full in the face, and understand ít on its own terms. lt is a necessity for destruction. (...) The principle of modern times (...) is to neglect buildings first, and restore them afterwards». J. Ruskin, The seven lamps of architecture. Kent: George Allen, 1880. Consulte-se, em particular, o capítulo designado “The Lamp of Memory”. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 6 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO EM PORTUGAL 1933 ESTADO NOVO: “Deus, Pátria, Família” .....Autoridade! Um paralelo entre a recuperação de valores histórico-ideológicos e nacionalistas e os critérios de intervenção no património ...”na medida em que os monumentos são o espelho vivo desses valores, influenciando a filosofia do restauro a utilizar”. Fonte: Maria João Neto, p.143. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 7 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO EM PORTUGAL 1933 ESTADO NOVO: “Deus, Pátria, Família” .....Autoridade! Restauração: a primeira palavra de ordem do regime! . José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 8 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL Fotos: O Castelo de São Jorge, antes e depois do restauro. Fonte: Boletim DGEMN 25-26. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 9 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL Fotos: Guimarães, Paço do Duques de Guimarães entes e depois do restauro, Boletim DGEMN 20 Fonte: Boletim DGEMN 20. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 10 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL Fotos: Lagos, muralhas e Forte da Bandeira, antes e depois do restauro Fonte: Boletim DGEMN 104. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 11 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL Sé do Porto, antes e depois do restauro da DGEMN José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 12 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O RESTAURO EM PORTUGAL Intervenções de Restauro Estilístico: São Tiago,Coimbra Edição: José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 13 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 MODERNO: da sua aversão à cidade histórica Le Corbusier, legenda: como lidar com o “problema” dos centros históricos! Em: Maneiras de Pensar o Urbanismo. Lisboa: Europa-América, 1977 José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 14 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 Da aversão do MODERNO à cidade histórica Plan Voisan José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 15 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 A RENOVAÇÃO DEPOIS DA II GRANDE GUERRA A necessidade de recuperar rapidamente as cidades europeias, para realojar milhões de pessoas e permitir o relançamento da sua economia, obrigou a actuações de extrema urgência e à aplicação de métodos expeditos de reconstrução de monumentos (Montecassino), ou de cidades históricas destruídas pela guerra (Varsóvia, Génova, Colónia, Bruxelas, Nápoles, etc.). Daqui resulta, na prática, o abandono dos métodos de restauro anteriores à guerra e a primazia da RENOVAÇÃO URBANA. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 16 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O WelfareState e Baby Bum! José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 17 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos Redevelopment project in Riquet, Paris BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O Admirável Mundo Novo José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 18 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 Elgin Estate, Westminster, London, 1968 Royston Estate, 1969 A construção do Admirável Mundo Moderno José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 19 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 da NOSSA AVERSÃO ainda recente à cidade histórica PORTUGAL: PORTO Planos de renovação urbana dos anos 50 e 60 propondo a DEMOLIÇÃO da Ribeira-Barredo, hoje inscrita na Lista do Património Mundial da Unesco. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 20 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 O PÓS GUERRA E A REINVENÇÃO DE VARSÓVIA A reconstrução de Varsóvia foi uma necessidade política e psicológica, reinstituindo a cidade histórica como o monumento referencial de uma nação cuja cultura foi intencionalmente atingida. Manteve-se a morfologia urbana anterior, mas a correspondência das novas construções para com as antigas é apenas exterior, os interiores foram significativamente modernizados. O modelo nova-cidade-cópia-da-antiga-cidade levantava interrogações incómodas tanto no campo da conservação urbana, como para a nova disciplina do urbanismo. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 21 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE CESARE BRANDI Contestação aos projectos cópia (repristinação) e à renovação urbana moderna, demolidora e substitutiva, pelo grupo italiano (Carlo Argan, Renato Bonelli, Roberto Pane e Cesare Brandi), torna-o protagonista de uma nova escola de pensamento da qual resultou (quase directamente) uma nova carta internacional de restauro, ainda hoje válida - a Carta de Veneza de 1964 - e uma nova carta italiana, a Carta del Restauro de 1972. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 22 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 Cesare Brandi, Teoria del Restauro. Turim: Piccola Biblioteca Einaudi, 1963: «A qualidade do restauro depende directamente do juízo crítico da artisticidade do objecto sobre o qual incide.» Para Brandi - e este princípio é aplicável à arquitectura ou a qualquer outra arte -, quando deparamos com uma obra de arte, o seu lado funcional não representa mais do que um lado concomitante ou secundário, face a outros aspectos tomados como primordiais, respeitantes a essa obra enquanto obra de arte. Assim, o restauro, estará sempre estreitamente ligado à avaliação crítica da própria artisticidade do objecto sobre o qual incide. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 23 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO, CESARE BRANDI «o restauro deve permitir o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, sem produzir um falso histórico ou um falso artístico e sem anular os traços da passagem da obra de arte pelo tempo» José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 24 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 Paço de Sousa, antes e depois do restauro. Fonte: Boletim DGEMN 17. A TEORIA DO RESTAURO DE CESARE BRANDI «...a conservação dos acrescentos deve considerar-se regular e EXCEPCIONAL a [sua] remoção» Um acrescento constitui sempre um novo testemunho do fazer humano, portanto da própria história. A remoção de um acrescento (o que constitui também um acto histórico), resultará sempre na «...destruição de um documento e não se documenta a si mesma», pelo que pode conduzir à obliteração de uma importante etapa histórica. A distinção entre acrescento e reconstrução esclarece-se ao considerar-se que o objectivo da reconstrução, ao contrário do acrescento - que se documenta sempre a si próprio -, é abolir um lapso de tempo. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 25 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 São Pedro de Rates (Norte), antes e depois dos restauros, Boletim DGEMN 23. Pousado do Bouro. BRANDI E A TEORIA DO RESTAURO O processo de abolição do tempo, através das reconstruções (ou repristinações), pode ocorrer, segundo Brandi, de acordo com os seguintes modelos: (i) simular o processo criativo original, refundindo o velho e o novo de uma forma tal que não permite sequer distinguir os dois momentos, que resultam num falso histórico, eticamente inadmissível; (ii) ou absorver a obra pré-existente, usando-a para criar uma nova entidade, no que será sempre um testemunho do presente em que ocorre. Deste processo resultará algo que, no futuro, poderá até constituir-se como monumento (um PROJECTO NOVO que constrói com o já construído), mas que, como prática, não pertence sequer ao campo do RESTAURO, ou da CONSERVAÇÃO do património. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 26 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 BRANDI E A TEORIA COMO NOVO PARADIGMA DA CONSERVAÇÃO “Só se restaura a matéria da obra de arte” , insiste Brandi e o restauro termina onde a hipótese começa (como sempre insistia Philipot) e as intervenções de restauro não devem impossilitar, antes facilitar, eventuais intervenções futuras. “Il restauro costituisce il momento metodologico del riconoscimento dell’opera d’arte, nella sua consistenza fisica e nella sua duplice polarità estetica e storica, in vista della sua trasmissione al futuro”. “o restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade estética e histórica, com vista à sua transmissão para o futuro”. Assim, como muitos entre nós ainda o consideram, o RESTAURO não pode ser coisa de “práticos”, antes é um processo-projecto que se fundamenta em sólidas capacidades de analise crítica, no campo da Arte, e conhecimentos no campo da Ciência, definindo uma nova disciplina do conhecimento humano (a Conservação) cujo domínio exige a capacitação novos agentes (já não só os “Arquitectos” os “Engenheiros” e os “Historiadores”): os Conservadores-Restauradores (com maiúscula)! José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 27 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 A TEORIA (PRÁTICA) DE CESARE BRANDI COMO NOVO PARADIGMA A originalidade de Brandi: uma Filosofia da Arte aplicada ao Restauro fundamentando-se na sua verificação Prática! Uma hermenêutica prática! Uma Teoria (fundamentada na História e na Crítica da Arte) confrontada com uma Praxis (comprovada pela ciência com o experimentalismo do ICR-Roma) depois traduzida numa “ESCOLA”, uma “escola de restauradores”, depois amplificada internacionalmente (ICCROM). E por aqui que se deu o primeiro contacto de muitos de nós, presentes nesta sala, com os NOVOS ensinamentos de uma notável (e generosa) geração: Brandi; Philippot; Laura e Paolo Mora, Torraca, Massari, Tabasso, etc. etc. etc. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 28 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 Coimbra, antes e depois das intervenções do Estado Novo a partir do início dos anos 40. OS IMPACTOS DA TEORIA DO RESTAURO DE BRANDI, EM PORTUGAL A “Teoria” esclarece o fim de um paradigma - impensável para a conservação -, que marcou (que ainda marca?) mais de meio século da actividade de RESTAURO ARQUITECTÓNICO em Portugal: o pressuposto de que O TEMPO É REVERSÍVEL e de que É POSSÍVEL ABOLIR A HISTÓRIA! José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 29 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO CESARE BRANDI: INFLUÊNCIA EM PORTUGAL ANOS 80 E 90 MUDANÇAS DE PARADIGMA: A GRADUAL PASSAGEM DO RESTAURO ESTILISTICO E ANALÓGICO PARA UMA CONSERVAÇÃO (MAIS) ESTRITA Foi sobretudo na década de 80, e ainda mais na década de 90 do século XX, que algumas novas gerações de cientistas, de arquitectos e engenheiros e a primeira geração do “Restauradores - Conservadores” portugueses travaram contacto com o célebre Instituto Centrale del Restauro de Roma (ICR) que Brandi fundou e dirigiu, e, depois, com os cursos de restauro que o ICCROM concretizava em Roma e por toda a Europa. Refiro-me aos célebres cursos “Conservation de Pinture Mural” (depois, com a avassaladora primazia anglo-saxónica, designados de Mural Painting Conservation), refiro-me aos estruturais cursos “on Architectural Conservation” e aos mais específicos cursos “Architectural Surfaces Conservation (também a outros, orientados para a conservação de materiais específicos como a Pedra, a Madeira, ou para os cientistas, como os cursos de análise não destrutiva dos materiais das obras de arte, etc.). José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 30 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO CESARE BRANDI, INFLUÊNCIA EM PORTUGAL ANOS 80 E 90 MUDANÇAS DE PARADIGMA: A GRADUAL PASSAGEM DO RESTAURO ESTILíSTICO E ANALÓGICO PARA UMA CONSERVAÇÃO (MAIS) ESTRITA Formações avançadas frequentadas por muitos dos actuais protagonistas portugueses do mundo do restauro e da conservação, da investigação da praxis à embrionária investigação científica (de memória, por exemplo): T. Cabral, J. Cordovil, J. Caetano, I. Frazão, M. Portela, F. Peralta, F. Henriques, M. Fernandes, F. Marques, F. Pinto, J. Cornélio, J. Aguiar, S. Salema, J. Antunes, A. Barreiros, P. Santa Bárbara, E. Murta, T. Gonçalves, E. Paupério, M. Goreti, etc. etc.ETC.). Cursos de conservação baseados no aprender fazendo e na experimentação das mais contemporâneas teorias do restauro. Rescrevendo as praxis ao mesmo tempo que se permitia a algumas das nossas gerações os primeiros contactos com os centros de excelência, com as intensas discussões pluridisciplinares que desde os anos 70 ferviam pela Europa. Acedemos assim pela primeira vez aos conhecimentos mais avançados e ao inexcedível convívio directo com as mais distintas estrelas deste novo universo da nova disciplina da conservação patrimonial (como o saudoso casal Mora, G. Torraca, H. e G. Massari, M. Koller, E. De Witte, J. Jokilehto, e tantos outros). Cursos onde hoje, como feliz indicador do nosso crescimento científico, onde já não encontramos apenas alunos mas também Professores e Investigadores portugueses, como o Investigador do LNEC Delgado Rodrigues. Como muitos dos que citei, hoje aqui presente. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 31 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO OBRAS PIONEIRAS COM INFLUÊNCIA DA TEORIA DE BRANDI J. Cordovil (ICCROM) Restauro da fachada da antiga delegação de D.G.Turismo de Évora José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 32 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO OBRAS CHAVE QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI: Palácio Nacional de Sintra (assessoria ao Restauro de Fernando Henriques ASC-ICCROM) José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 33 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI Joaquim Caetano (ICCROM) Intervenções da Mural da História, St. Leocádia José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 34 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI: Irene Frazão (ICCROM) e Arlinda Silva Restauro de frescos, “Cuba” em Monsaraz José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 35 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI: Nuno Proença (ICR) José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 36 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO TRADUÇÃO DA TEORIA DO RESTAURO PARA PORTUGUÊS no centenário do nascimento de Brandi Os estudiosos e os profissionais portugueses tiveram primeiramente acesso à TEORIA DO RESTAURO na sua versão italiana (1963), mais tarde na versão francesa, ou em traduções informais em castelhano. Em 2006 Delgado Rodrigues, Nuno Proença, José Aguiar e Cristina Prats, traduziram a Teoria, por entenderem que se tratava de um documento fundamental para o ensino da conservação e do restauro, uma nova disciplina do conhecimento humano que deu passos fundamentais em Portugal, no decorrer da última década. Fizeram-no por imperativo pessoal, como testemunho pela admiração que têm por este grande pensador e homem de cultura, e como tributo na ocasião do centenário do seu nascimento. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 37 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO Seminário Internacional “Theory and Practice in Conservation: a tribute to Cesare Brandi”, LISBOA, 2006 no centenário do nascimento de Brandi José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 38 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO Lisboa, Congresso Internacional do Restauro de Obras de Arte, recepção dos congressistas no Museu Nacional de Arte Antiga. Na foto Brandi (Director do ICR) e João Couto (Director do Museu de Arte Antiga) e o Director do Instituto Italiano da Cultura em Portugal. A única foto que conhecemos de Cesare Brandi entre nós. Cesare Brandi e Portugal Cesare Brandi esteve várias vezes em Portugal e escreveu sobre assuntos portugueses. O primeiro desses textos e que traduzimos em 2006 é um interessante ensaio sobre Álvaro Pires de Évora, editado em 1940 pela Reale Accademia d´Italia, incluído na colectânea Relazioni Storiche fra l´Italia e il Portogallo, iniciativa surgida no quadro das particulares relações estabelecidas entre o Fascismo italiano e o Estado Novo Português. O segundo texto é o capítulo, mais conhecido, sobre o Manuelino, incluído no seu livro Struttura e Architettura, de 1967. O último texto sobre assuntos portugueses é o capítulo Portogallo, do seu livro A passo d´uomo, editado em 1970, livro onde Brandi descreve - poética e magnificamente - a sua passagem pelos nossos monumentos e lugares, no clima cultural do Portugal da década de 60, que vivia um tempo fora do tempo, em plena guerra colonial, já expectante do fim da ditadura. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 39 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO EXTRACTOS DE: O MANUELINO in Struttura e Architettura, 1967. «Sobre o Manuelino viria a tentação de falar em termos de botânica mais de que em termos de arquitectura e de escultura: uma hibridação que se sucede em vagas sobre o velho cepo gótico que resiste e se compõe com os insertos. Os quais, ao contrário, na natureza aniquilam o franco, e obrigam-no a nova fileira que não deixará passar nada das primitivas características, mas só o suco vital, a seiva. [No Manuelino] (…) acontece uma contínua osmose entre as formas vegetais e as molduras arquitectónicas: as nervuras transformam-se em ramos, as colunas em troncos e como troncos envolvem raízes, e como troncos têm casca e ramos aparados. Tudo isto não num modo alusivo, mas grave, contínuo, verosímil até ao grotesco. Surge-nos a pergunta se e até que ponto o Manuelino antecipa uma posição mental que será típica do Maneirismo». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 40 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO O MANUELINO «(…) O Manuelino baseia-se assim, pelo menos numa das suas fases, sobre a semantização em vez da figuração. Transmite apenas por significar. Por outro lado, esta significação não tem objectivo, porque é portadora de uma mensagem inoperante: e não só, intencionalmente falsa. (…) nestas duas obras supremas, o Claustro de Belém e o Claustro da Batalha, o Manuelino renuncia a si próprio como semantização intensiva da arquitectura: a semantização revela-se mesmo após a extraordinária aparição, com a qual estas obras se manifestam, se esfumam na atenção o suficiente para permitir a análise e por isso a recuperação gradual dos elementos semânticos com os quais foram investidas as estruturas». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 41 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO LISBOA CITAÇÕES DE CESARE BRANDI A PASSO D´UOMO. Milão: Col. Bompani, 1970 (Cap. Portogallo, pp. 83 – 10). Talvez por este facto dominante, do qual ninguém fala mas no qual todos pensam [a guerra de Angola], Portugal é tão melancólico: verde, afável e melancólico. (...) Desce-se a Avenida da Liberdade, grande como os Champs Élisées, com tão belos plátanos e canteiros floridos. Passam os carros, as pessoas passeiam. Mas há esta melancolia que não se dissipa. Não basta que tenhamos fugido do bosque maravilhoso e encantado onde os estudantes se transformam em árvores e os pássaros perdem o canto [no Jardim Botânico]. Aquele bosque, aquele silêncio, aquele halo de encantamento, está na base de tudo, em Portugal, encontra-se como o inconfundível sabor que qualquer comida de um país guarda, no fundo do fundo, e aproxima todos, quase como se fosse uma divindade carente que se tivesse refugiado, expulsa de todos os lugares, na garganta. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 42 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO SINTRA «Tanto tinha ouvido falar de Sintra e nunca da extraordinária cozinha. Claro, quando um lugar fez as delícias de Byron e por Strauss foi considerado como o verdadeiro jardim de Klingsor (quase que Ravello seria de deitar fora) parecerá muito prosaico dedicar-se a uma cozinha; (...) Mas por Sintra, imaginem que de longe, apenas se começa a ver subir no horizonte as colinas sobre as quais se encontra a delicada cidadezinha, uma coisa nos atinge que não se sabe logo como interpretar: são dois grandes garrafões de pedra e cal, grandes como cúpulas e em forma de fuso que, em vez de acabar em pequena cúpula, exibem o pescoço estreito dum cantil. À volta é um sobe e desce de telhados, de varandas, de janelas manuelinas bordadas como uma toalha de igreja; eles, os dois cantis inchados, pavoneiam-se como galinhas chocas no ninho». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 43 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO SINTRA ...E ALCOBAÇA «Dir-se-á que em Alcobaça há muito mais a ver: a esplêndida igreja que tem, pelo menos, o dobro do comprimento de Casamari e de Fossanova, as suas irmãs italianas. Estão ali os dois soberbos sepulcros de Inês de Castro e do Rei D. Pedro I: certamente as duas mais belas esculturas medievais de Portugal e as mais intrigantes, por assim dizer, porque portuguesas não são de certeza e soam humores franceses por toda a parte. Por fim, o claustro solene e vastíssimo com a esplêndida fonte. De tudo isto se poderia falar longamente e com outro tom. A cozinha é uma coisa bem mais modesta: mas, como em Sintra, depois de vista, ofusca o resto». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 44 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO ALCOBAÇA E BATALHA «Quando se chega a Alcobaça, a grande abadia aparece pousada como uma grande maqueta de madeira entre casitas de liliputianos. A surpresa repete-se na Batalha, onde para falsamente aumentar o isolamento e sugerir o vasto campo de batalha, abatem os lindíssimos plátanos seculares que circundavam este que é o mais heterogéneo, não resolvido e germinante monumento de Portugal. O que é que importa, a quem, a que pessoas ingénuas, fazer o vácuo em torno dum monumento para reproduzir um campo de batalha? Não é preciso muita fantasia, não é preciso pôr-se à secretária: um plano é um plano. (…) Entretanto a actualidade do monumento está ali, dura e categórica. Ora, estes dois monumentos de Alcobaça e da Batalha sofrem realmente duma falta de ligação ao solo: parecem, já o disse, enormes maquetas pousadas ali e poderiam estar num outro lugar qualquer. Tirem os plátanos à Batalha e a estranheza do grande e caótico edifício explodirá. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 45 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO ÓBIDOS «Não estava prevista uma paragem em Óbidos: nem sequer sabia que existia, visto que não tem nada de fundamental para a arte portuguesa. Mas feliz ignorância e feliz descoberta. (...) esta aldeiazinha branca, entre paredes com ameias, quase oferecida como que numa bandeja, é qualquer coisa que está fora do tempo, como uma cidade morta, e dentro do tempo, como uma coisa viva. (...) Pensa-se mesmo em Assis, e mais ainda em Córdova: Óbidos é uma outra coisa. É esta civilização em conserva, que foi produzida por todas as especiarias do oriente e do ocidente e, assim mumificada, em vez de se conjugar no passado, sobrevive, digna, melancólica, cheia de luz e de sombras delicadas». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 46 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO ÓBIDOS «(...) Agora poder-se-á argumentar: e é preciso ir a Portugal para uma imersão assim tão barata no passado? Talvez não exista em Itália... e como eu o desejaria. Porque em Itália já não há lugar nenhum que esteja conservado como Óbidos, e como, à parte as características únicas e modestas de Óbidos, é em Portugal a norma constante. Mas as cidades estão intactas: e mesmo que os monumentos às vezes estejam restaurados de mais, como Alcobaça, nunca me aconteceu ver um campanário gótico em competição com um arranha-céus. Este país, que nunca pretendeu ser, tanto quanto sei, o país da arte, tem mais respeito pela arte do que o bendito berço dos Museus, que seria a Itália. (...) Não quero acreditar, não poderei nunca acreditar que este milagre de educação, de respeito, numa palavra, de civilidade, seja pelo contrário o produto de um regime de força, de um estado de coacção no qual um povo, que ditou leis em quase um terço do mundo, se encontra agora a morder o freio, tendo a ilusão de que basta chamar províncias àquelas que são colónias atrasadas, absolutamente medievais». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 47 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO MAFRA 1 «Mafra encontra-se num daqueles sítios que parecem em baixo mas, ao contrário, são um falso plano: do lado do mar prolonga-se o horizonte. Não se prolonga como na Toscânia ou na Umbria com tantas filas de colinas que se cavalgam e se rebaixam, prolonga-se como se se estendesse e onde toca com os pés é o céu». (…) Mafra foi, portanto, um fruto atrasado, uma espécie de cruzamento entre o convento espanhol e Versailles. Mas Juvarra, nos seus belíssimos esquiços, tinhao pensado doutro modo totalmente diferente: seria uma praça grandiosa, com o castelo ao fundo, recintos indefinidos, a Igreja num dos lados. O problema é saber se o obtuso arquitecto alemão, Ludwig, se serviu de qualquer dos esquiços de Juvarra, não só para maior parte do edifício como para a Igreja que, nos seus elementos, mais italiana do que isto não podia ser». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 48 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO MAFRA 2 «Mafra está toda no convento – não é, em suma, planificada como Caserta: as casas burguesas, à volta do largo, param temerosas como diante dum reticulado. Enfim, o largo não faz praça, e da escadaria da Igreja o olhar tem livre alcance sobre os campos que continuam para lá dos telhados; (felizmente baixos, mas ainda por quanto tempo?). No imenso bosque por trás do Palácio Real (que se estendia à sua volta, por trás do Convento e da Igreja) parece que ainda há veados: os últimos descendentes dos que, com enormes chifres, povoam o andar nobre, conforme me disseram, sob a forma de grandes troféus e de pernas de cadeiras. Gostaria de os ter visto, estes móveis cornudos, mas era tarde e não se podia visitar o palácio.» José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 49 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO NAZARÉ «(...) sente-se, sem o saber, como Portugal é antigo, como nem as viagens, nem as contínuas chegadas de civilizações diversas, mudaram um fundo duro e magro: estes rostos como portas fechadas, este falar nasal e gutural, quase sem vogais, onde os aspirados árabes e as guturais visigóticas fazem ao latim original o que os arquitectos manuelinos fizeram ao Renascimento.» José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 50 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO COIMBRA 1 «Quando se chega a Coimbra dá-se o agradável caso de a Universidade ser a acrópole da cidade, está onde era o palácio real, coroando, com o seu saber, o aglomerado. Foi posta mesmo no antigo palácio real e a aula magna ainda é uma espécie de grande salão do trono, com aquele ar um pouco campónio que têm os interiores em Portugal, até do rei, dado que não existia nem uma grande tradição pictórica, nem uma plástica a apoiar um artesanato de fundo quase rural. A Universidade, no seu antigo bloco central, está cercada agora por edifícios novos, entre os quais a nova Biblioteca. Mas não tenham medo: a antiga que tanto agrada a Emilio Cecchi, está lá, brilhante, intacta, intangível: mais adequada ao Parnaso que a uma Universidade». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 51 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO COIMBRA 2 «O fascínio de Coimbra, mais ainda que a fama da sua vetusta Universidade (e dos sobreviventes focos de liberdade que ainda alimenta) devia-se para mim a uma descrição da Biblioteca que me tinha feito Emilio Cecchi. Uma espécie de santuário silencioso com minúsculas capelas, onde estudiosos privilegiados se isolam como numa cabina espacial». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 52 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO COIMBRA 3 «A biblioteca está em cima de três arcadas, tantas quantas eram as faculdades, quando foi feita. Três arcadas a que dão acesso arcos espaçosos e no intradorso alojam-se os pequenos pórticos para subir ao patamar. Este corre dum lado ao outro e, para permitir chegar aos camarotes mais altos, contém escadas lindíssimas com degraus escondidos entre cada prateleira. Mas para que sejam de fácil utilização e não se vejam e para que, com o seu utilitarismo, não perturbem a ordem desinteressada, são essas também lacadas e douradas, de modo a que, quando voltam a ordenar-se no seu alvéolo, não se distingam do resto. Um ferro batido e também ele lacado sai do ponto justo para apoiar a escada e servir todo o sector: mas se não fosse a escada, de baixo não se via nada. Os livros são para os anjos, que têm asas. José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 53 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO COIMBRA 3 «(…) Mas é lá, no lado [da Biblioteca] virado para o Mondego, que estão as minúsculas celas, com a janela que dá para o rio, uma exígua secretária, a portinha que, quando está fechada, dá continuidade às estantes como se nada existisse. Como se não existisse, lá dentro - dentro desta espécie de gaveta secreta - o estudioso que trabalha e sonha, que trabalha esquecido, destilando palavras. Emilio Cecchi, ao abrir uma daquelas pequenas portas, quase pensei que o via». José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 54 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007 CESARE BRANDI E PORTUGAL PORTUGAL “Aquele bosque [onde os estudantes se transformam em árvores e os pássaros perdem o canto], aquele silêncio, aquele halo de encantamento, está na base de tudo, em Portugal, encontra-se como o inconfundível sabor que qualquer comida de um país guarda, no fundo do fundo, e aproxima todos, quase como se fosse uma divindade carente que se tivesse refugiado, expulsa de todos os lugares, na garganta. (...) Dir-me-ão que [HOJE PORTUGAL] é bem diferente: mas mais tarde sucede que as imagens enfraquecem, as recordações toldam-se, e de repente, com uma garfada, com um gole, sentireis um abalo surdo e acontecer-vos-á dentro de uma igreja, numa praça, num campo. Tereis encontrado aquele país e na voragem do tempo abriu-se como que uma brecha, gerou-se uma paragem. Assim será Portugal para mim, quando me encontrar numa sombra profunda e silenciosa ferida de raios de sol denso como o ouro, de um sol que atravessou as trevas.” Cesare, Brandi, A passo d´uomo. Milão: Col. Bompani, 1970 (Capitulo Portogallo, pp. 83 – 10, traduzido por Delgado Rodrigues, José Aguiar, Nuno Proença, Cristina Prats em 2006). José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa 55