Sábado-importar - Dinheiro

Transcrição

Sábado-importar - Dinheiro
Família
1
JAPÃO
Mari é uma criança solitária
2
EUA
Hattie faz ioga desde os seis meses
COMPORTAMENTO. DOCUMENTÁRIO MOSTRA O PRIMEIRO ANO DE QUATRO CRIANÇAS EM VÁRIAS CULTURAS
É TÃO DIFERENTE SER BEBÉ NA MONGÓLIA
O americano é o centro do mundo, o japonês passa os dias sozinho. Na Namíbia, Panijao não tem um só brinquedo, mas tem dezenas de amigos. Por Sofia da Palma Rodrigues
T
homas Balmès esteve quase a desistir. Durante seis meses, os actores do seu novo documentário passaram o tempo todo a dormir. Não
é de estranhar. Os quatro protagonistas de Babies, que estreou na passada
quinta-feira, 23 de Setembro, em Portugal,
são bebés com menos de 1 ano. Nascidos
em quatro países radicalmente diferentes –
Namíbia, Japão, Mongólia e Estados Unidos –, Panijao, Mari, Bayar e Hattie tornaram-se famosos a gatinhar, mamar e ouvir
música. O objectivo do realizador francês,
que acompanhou o primeiro ano de vida
das quatro crianças, foi mostrar como a cultura de cada uma torna a sua infância tão diferente das outras. O resultado é um documentário de 79 minutos, que compara o ex-
cesso de estímulos que as crianças recebem
nos países ocidentalizados e a liberdade que
experimentam em sociedades subdesenvolvidas. “Enchemos a vida das nossas crianças com aulas de piano, ballet e ténis e
talvez não seja necessário nada disso.
Quem não tem vive de forma mais livre e
não sofre”, disse Balmès ao jornal The New
York Times.
O realizador aprendeu que também a noção de perigo é muito diferente nestes países. Por isso, não se assuste quando vir Panijao, o menino da Namíbia, com a mão dentro da boca de um cão e Bayar, o bebé da
Mongólia, a brincar com vacas e cabras. A SÁBADO apresenta-lhe os quatro protagonistas. Saiba como vivem, com o que brincam
e que relação mantêm com a família.
1. MARI
2. HATTIE
3. BAYARJARGAL
4. PANIJAO
TÓQUIO, JAPÃO
n Vive rodeada de brinquedos que enchem o pequeno apartamento. Mari está,
desde muito pequena, acostumada à confusão e ao barulho. É filha única e vive uma
vida urbana e contemporânea. Não tem
grandes possibilidades de interagir com
outros bebés e fica frustrada porque os bonecos não interagem com ela. O avô deixa
Mari entreter-se sozinha, enquanto assiste,
distraidamente, a diferentes programas de
televisão. Outras vezes, é o pai que lhe dá
um telemóvel para brincar, para ela ficar entretida e ele poder escrever ao computador
sem ser incomodado. “Todos, na família,
tentam fazer aquilo que ela quer”, avalia
Balmès.
SÃO FRANCISCO, ESTADOS UNIDOS
n É filha de pais ecológicos. Desde que
nasceu, está em contacto com a natureza
e frequenta aulas de ioga desde os 6 meses. Os pais educam-na seguindo regras
de alguns livros, entre eles Não Se Deve Bater em Ninguém. Durante o primeiro ano, a
criança absorve todo o tempo deles. Dãolhe todas as refeições e levam-na ao parque
para brincar. A bebé não tem espaço para
estar só, o seu tempo é completamente
preenchido por diferentes actividades. Os
pais de Hattie respeitam as suas decisões
como se de um adulto se tratasse, nunca a
julgam nem reprimem. É uma criança rodeada de pessoas mas – suspostamente –
educada para decidir por si própria.
BAYANCHANDMANI, MONGÓLIA
n Vive na modesta quinta da família,
com os pais e o irmão mais velho, numa
zona remota. Passa os primeiros meses
de vida sozinho num tapete, dentro de
uma tenda, a mãe visita-o com intervalos
de horas. É calado e introvertido. “Os bebés da Mongólia não são muito sociais
porque também não vêem muita gente”,
justifica Thomas Balmès. A partir dos cinco meses vive rodeado de cabras e vacas,
com as quais fica sozinho sem a supervisão de um adulto. A mãe dá-lhe banho
num alguidar sob o olhar ciumento do irmão. Apesar da pobreza, pela tenda de
Bayarjargal há alguns brinquedos, como
peças de Lego.
OPUWO, NAMÍBIA
n Pertence à tribo himba. Tem oito irmãos e vive numa cabana de palha. “Não vi
um só objecto materialista, nem um bocado de plástico”, diz o realizador. A família usa
um pano de serapilheira a tapar o sexo e um
colar de cornos de búfalo. A principal actividade é a moldagem da pedra. Todos comem de um só recipiente. Panijao passa os
dias a gatinhar no chão sujo. A mãe lava-o
com saliva. “Nunca a vi maldisposta, está
sempre a rir”, diz Balmès. O bebé não tem
brinquedos mas não lhe faltam amigos: os
bebés da tribo. l
3
MONGÓLIA
FOTOS D.R.
Bayarjargal brinca com as cabras
4
NAMÍBIA
Panijao é lavado com a saliva da mãe
www.sabado.pt
Multimédia
Veja o trailer do documentário no site