Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca e prevalência de
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Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca e prevalência de
Backes LTH, et al • Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca... artículo original/artigo original Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca e prevalência de alergias respiratórias Isolation of library in airborne fungi and prevalence of respiratory allergy Luana Taís Hartmann Backes1 Vanessa Libreloto Dalepiane Naumann2 Luciane Noal Calil3 Biomédica, Especialista em Análises Clínicas e Toxicológicas pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Citologista do Laboratório Medicina Diagnóstica LTDA – Erechim, RS, Brasil. 2 Professora da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, Mestre em Diagnóstico Genético e Molecular pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Cruz Alta, RS, Brasil. 3 Professora Doutora Adjunta da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. 1 Trabalho realizado na Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, RS, Brasil. Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25. Conflicto de intereses: ninguno Recibido en 4/5/2011. Aceptado para publicación en 2/6/2011. Resumo Os fungos anemófilos circulam pelo nosso organismo sem causar danos, manifestando-se quando o sistema imunológico está comprometido. Alergias respiratórias, como asmas, rinites e sinusites estão relacionadas à microbiota fúngica do ar. Objetivo: Obter o isolamento de fungos anemófilos e prevalência de alergias respiratórias em funcionários e frequentadores da Biblioteca da Universidade de Cruz Alta, e Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias em Cruz Alta - RS, comparando as variações sazonais. Materiais e métodos: Foram expostas 100 placas, distribuídas em dois períodos, em ambas as bibliotecas. A identificação dos fungos foi realizada de acordo com a metodologia clássica de micologia. Resultados: Foram isolados 17 gêneros fúngicos anemófilos. Na Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias os mais frequentes foram Aspergillus sp (33,7%), Acremonium sp (33,0%), Cladosporium sp (29,4%), na Biblioteca da Universidade de Cruz Alta foram Aspergillus sp (45,9%), Cladosporium sp (32,2%), Acremonium sp (29,2%), indicando coincidência nos gêneros fúngicos encontrados. Na análise da quantidade de colônias em relação ao clima, observou-se diferença significativa, com maior frequência de fungos no período chuvoso. Conclusão: As bibliotecas analisadas representam locais favoráveis à proliferação de fungos, podendo acentuar os quadros de alergias respiratórias nos frequentadores e funcionários destes locais. Palavras-chave: Microbiota anemófila, ambientes fechados, alergia respiratória. Abstract Airborne fungus moved by the human body without causing damage, manifesting it when immune system is compromised. Respiratory allergies (asthmas, colds and sinusitis) are related to microbial fungal air. Objective: The purpose of this study was to obtain the isolation of airborne fungi and prevalence of respiratory allergies in employees and visitors of University of Cruz Alta collection halls and also of State Institute Annes Dias in Cruz Alta-RS libraries comparing seasonal variations. Material 19 Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25. and methods: 100 cards were exposed, divided into two periods, in both libraries. The identification of fungi was made according to traditional methods of mycology. Results: 17 genera were isolated airborne fungus. At State Institute Annes Days library were the most frequent Aspergillus sp (33.7%), Acremonium sp (33.0%), Cladosporium sp (29.4%). At Library of the University of Cruz Alta were Aspergillus sp (45.9%), Cladosporium sp. (32.2%), Acremonium sp (29.2%), indicating coincidence we found fungal genera. In the analysis of colonies quantity in relation to climate, we observed a significant difference, with higher frequency of fungi in the rainy season. Conclusions: The libraries analyzed, may be favorable to the proliferation of local fungi, which can exacerbate the tables of respiratory allergies in visitors and staff of these places. Key words: Airborne microorganisms, indoors, respiratory allergy. Introdução Os fungos são organismos eucariontes, heterotróficos, apresentando ampla distribuição em vários ambientes; dispersam-se na natureza através do ar atmosférico ou por outras vias como água, insetos, homem, animais e até mesmo por alimentos. As suas espécies sofrem variações de incidência conforme a localidade, estação do ano, grau higroscópico do ar, entre outros fatores.(1-5) A microbiota fúngica anemófila é extremamente variável de uma região para outra. Os elementos fúngicos encontrados no ar são os esporos, e estes aeroalérgenos, por oportunismo, quando inalados se tornam responsáveis pelas patologias decorrentes de manifestações respiratórias alérgicas, como asma e rinite e dependendo do grau de infestação e da exposição do sistema imunológico, chegam a causar doenças mais graves, tais como micoses alérgicas broncopulmonares e pneumonias hipersensitivas.(3,6-8) Os fungos dispersos através do ar atmosférico são denominados fungos anemófilos, constituindo os principais contaminantes do ar, especialmente em ambientes fechados. Existem trabalhos que provam que a poeira doméstica é hoje o principal desencadeador de alergias, por armazenar grande quantidade de fungos anemófilos, que são veiculados pelo ar, podendo promover a sensibilização de indivíduos desencadeando processos de alergia respiratória, pela exposição aos seus propágulos. Em relação à poeira de livros, existem trabalhos que fazem a identificação dos fungos que estão presentes nos livros que podem também desencadear uma crise alérgica.(6,9-12) Os fungos estão associados a um número relativamente alto de alergias em humanos, especialmente do 20 trato respiratório. A prevalência de alergias respiratórias causadas por fungos anemófilos está estimada em torno de 20% a 30% em indivíduos imunodeprimidos e em torno de 6% na população geral.(8,10,13,14) Além da predisposição genética ou condições metabólicas do indivíduo para o desenvolvimento de doenças alérgicas, há a necessidade da presença de fatores importantes, como temperatura e umidade relativa do ar, horários do dia, velocidade e direção dos ventos; no entanto, quando se trata de ambientes fechados, o tipo de climatização exerce papel influente, em relação à exposição do indivíduo aos fungos anemófilos que, de forma oportunista, podem infectar preferencialmente indivíduos imunodeprimidos.(11,15-17) As espécies que melhor representam a contaminação microbiológica de biblioteca, arquivos e museus incluem Aspergillus, Penicillium, Alternaria, Cladosporium, Acremonium, Mucor, Rhizopus, Curvularia, Fusarium. Sendo estes reconhecidos como um fator etiológico para doenças alérgicas, representando um perigo biológico para a saúde de pessoas que trabalham ou frequentam bibliotecas.(7,10,18) A necessidade de expansão no conhecimento de fungos transportados pelo ar, o crescente interesse por micro-organismos alergênicos e a procura de novos indicadores ambientais vêm despertando interesse no estudo de fungos anemófilos no Brasil, já que a sua frequência e a diversidade podem estar associadas à poluição ambiental.(19,20) Em meio ao ambiente de bibliotecas, as principais fontes de inalantes fúngicos podem ser encontradas nos próprios artefatos como estantes de madeira e armários, em meio aos livros velhos, principalmente com capas de couro. Arquivos de armazenamento, os quais geralmente ocupam locais mal arejados, por serem ambientes internos, onde o aumento dos níveis de umidade pode estimular o crescimento do mofo e consequente aumento da microbiota de fungos pode mudar o perfil das populações, que geralmente manifestam-se patogênicas. Devido a isso, o ideal seria que o perfil fúngico de bibliotecas se assemelhasse a locais externos, para evitar a disseminação de aeroalérgenos contaminantes.(21-24) Em relação à poeira de livros, existem trabalhos que fazem a identificação dos fungos presentes nos mesmos, através dos quais podem desencadear uma crise alérgica.(11,25) Assim, a presença de fungos anemófilos como agentes poluidores do ambiente, principalmente nas bibliotecas, e devido a sua importância na etiologia de doenças respiratórias de natureza alérgica, bem como em doenças oportunistas responsáveis por diferentes quadros clínicos de micoses, a pesquisa destes agentes é de suma importância. Tendo em Backes LTH, et al • Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca... vista o impacto que este fato pode gerar sobre os alunos frequentadores do local e nas pessoas que trabalham na biblioteca, este trabalho teve como objetivo analisar a microbiota fúngica anemófila da Biblioteca da Universidade de Cruz Alta e do Instituto Estadual Annes Dias. Materiais e métodos Característica da área estudada As áreas estudadas foram as salas do acervo da Biblioteca da Universidade de Cruz Alta, e também da Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias em Cruz Alta - RS, por serem ambientes aéreos estáticos, úmidos e quentes que favorecem a proliferação dos fungos anemófilos. Nestes locais, encontram-se numerosas estantes de livros organizados em local fechado. Durante a coleta, as janelas e portas foram mantidas fechadas. Em ambos os locais de coleta, os ambientes não são climatizados. O projeto deste estudo foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Cruz Alta, sob protocolo número 039/08. O qual foi aprovado em 27 de agosto de 2008. Locais de coleta amostral No total, foram coletadas e analisadas 100 amostras, 50 amostras da sala de acervo da Biblioteca da Universidade de Cruz Alta e 50 amostras da Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias de Cruz Alta. A fim de verificar a influência climática sobre a microbiota local, as coletas foram realizadas em dois períodos distintos. As placas de Petri foram situadas entre o espaço dos livros na superfície das estantes e sobre superfícies paralelas ao chão como escrivaninhas, mesas dos funcionários, balcões, gavetas, baús, armários de ferro e de madeira, cadeiras estofadas e prateleiras. Os locais escolhidos para a exposição foram devidamente padronizados para que cada placa fosse exposta em vários ângulos. Exposição As placas foram expostas em dois períodos, observando índices meteorológicos de temperatura e umidade, portanto uma coleta foi realizada no dia 25 de setembro de 2008, em período chuvoso apresentando maior umidade, e a outra coleta no dia 30 de outubro, representando período seco, do decorrente ano. Para a coleta de fungos anemófilos foi utilizado o Método de Exposição por Tempo Limitado de placas com meio de cultura Sabouraud com cloranfenicol. Este método baseia-se na sedimentação de esporos dos fungos anemófilos, sobre a placa em questão, colocada em posição horizontal.(26) As exposições foram feitas no período da ma- nhã, e as placas foram abertas dentro das salas por aproximadamente 15 minutos a uma altura de 1 m e 20 cm de altura, conforme preconizado por Gambale et al. (26) Após este período foram transportadas ao laboratório de Microbiologia da Universidade de Cruz Alta, e incubadas em estufa a 25ºC por 4-7 dias. Isolamento e identificação dos fungos Para o isolamento dos fungos foi utilizado o meio ágar Sabouraud com cloranfenicol, distribuídos em placas de Petri 90X15mm lisas e estéreis. Após a exposição, as placas foram mantidas por 4 a 7 dias em estufa a 25ºC, até a formação de unidades formadoras de colônias, sendo então iniciada a classificação genérica dos fungos a partir deste dia. A identificação foi feita observando os aspectos macroscópicos das colônias, além do aspecto microscópico entre lâmina e lamínula coradas pelo azul de metileno. Dados epidemiológicos Algumas informações pertinentes e relevantes a este estudo foram coletadas através da aplicação de um questionário junto aos frequentadores dos estabelecimentos pesquisados. Sendo assim, todos os frequentadores e funcionários foram convidados a responder o questionário, após serem esclarecidos sobre o objetivo da pesquisa e expressaram por escrito seu consentimento através da assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que lhes foi fornecido. Para tanto, foi aplicado um questionário padronizado composto de perguntas estruturadas referente a dados pessoais, como idade, sexo e sobre possíveis quadros alérgicos respiratórios, e se estes quadros são agravados ao frequentar ou ao permanecer por determinado período no ambiente da biblioteca. Análise estatística Os dados foram tabulados em um software estatístico. Utilizou-se para descrever e inspecionar os dados de medidas de tendência central e variabilidade (média, desvio padrão, frequência e percentual). Para verificar a associação entre as variáveis nominais foi utilizado o Teste de Qui-quadrado. Para verificar a relação entre variáveis contínuas e nominais foi utilizado o Teste “t” de Student. Resultados A partir das 100 placas expostas, foram isoladas 1.605 colônias e identificados 17 gêneros fúngicos, cujas frequências encontram-se nas tabelas 1 e 2. Na Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias de 21 Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25. Tabela 1. Frequência de fungos anemófilos isolados em 50 placas expostas em período chuvoso e seco na Biblioteca do Instituto Annes Dias Biblioteca do Instituto Annes Dias Período chuvoso Tipos de fungos P (n) F (%) Mycelia sterilia 18 13,8 Aspergillus sp 25 18,6 Gliocladium sp 4 2,8 Cladosporium sp 16 11,2 Alternaria sp 9 6,3 Acremonium sp 19 14,0 Penicillium sp 7 4,6 Curvularia sp 12 8,4 Fusarium sp 2 1,4 Sepedonium sp 8 5,6 Nigrospora sp 3 2,1 Scopulariopsis sp 2 1,4 Mucor sp 9 6,3 Epicoccum sp 1 0,7 Rizophus sp 2 1,4 Paecilomyces sp 2 1,4 Total 139 100 Período seco P (n) F (%) 15 11,9 19 15,1 2 1,6 23 18,2 9 7,2 24 19,0 12 9,7 5 3,9 7 5,5 8 6,3 0 0 1 0,8 0 0 1 0,8 0 0 0 0 126 100 P (n) Corresponde ao número de vezes que determinado gênero de fungo foi isolado em um dado período; F (%) percentual correspondente. Tabela 2. Frequência de isolamento de fungos anemófilos encontrados em 50 placas expostas em período chuvoso e seco na Biblioteca da Universidade de Cruz Alta Biblioteca da Unicruz Tipos de fungos Mycelia sterilia Aspergillus sp Gliocladium sp Cladosporium sp Alternaria sp Acremonium sp Penicillium sp Curvularia sp Fusarium sp Sepedonium sp Nigrospora sp Scopulariopsis sp Mucor sp Epicoccum sp Rizophus sp Paecilomyces sp Total Período chuvoso P (n) F (%) 12 12,6 24 25,3 0 0 13 13,7 4 4,2 13 13,7 3 3,2 17 17,9 2 2,1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 7,3 95 100 Período seco P (n) F (%) 13 13,4 20 20,6 0 0 18 18,5 6 6,2 15 15,5 10 10,3 2 2,1 4 4,1 7 7,2 0 0 1 1,0 0 0 1 1,1 0 0 0 0 97 100 P (n) corresponde ao número de vezes que determinado gênero de fungo foi isolado em um dado período; F (%) percentual correspondente. Cruz Alta, os fungos mais frequentes foram Aspergillus sp (33,7%), Acremonium sp (33,0%), Cladosporium sp (29,4%), Micelia sterilia (25,7%). Os fungos de menor frequência foram Rizophus sp (1,4%) e Paecilomyces sp (1,4%). Os fungos mais frequentes na sala de periódicos da Biblioteca da Universidade de Cruz Alta foram Aspergillus sp (45,9%), Cladosporium sp (32,2%), Acremonium sp (29,2%). Os fungos Mucor sp, Gliocladium sp, Nigrospora sp, Rizophus sp, não foram detectados. 22 Comparando os resultados de fungos isolados na Biblioteca da Universidade de Cruz Alta (nº 715), com os fungos obtidos na Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias de Cruz Alta (nº 920), observou-se que apesar da maior quantidade de colônias isoladas no acervo da Biblioteca Annes Dias, teste de comparação de médias (teste t independente), constatou-se que esta não é significativa (p=0,587). Em relação aos gêneros fúngicos encontrados, também não houve uma associação entre gênero fúngico e biblioteca, que foi constatada através de um teste de associação (Fischer=1,973; p=1.000), indicando uma coincidência nos gêneros fúngicos em ambas as bibliotecas. Os gêneros fúngicos mais frequentes no período chuvoso, encontrados nas duas bibliotecas foram Aspergillus sp (21,95%), Mycelia sterilia (13,2%), Acremonium sp (13,85%), Curvularia sp (13,15%), conforme figura 1. A figura 2 apresenta os gêneros fúngicos mais frequentes no período seco, encontrados nas duas bibliotecas em estudo, que foram Cladosporium sp (18,35%), Aspergilus sp (17,85%), Acremonium sp (17,25%), Micellia sterilia (12,65%). No tocante às condições climáticas prevalentes nas duas coletas de nosso estudo, tanto na primeira em dia chuvoso quanto na segunda coleta em dia seco, Figura 1. Figura 2. Backes LTH, et al • Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca... Tabela 3. Número total de colônias que se desenvolveram durante o período seco e o período chuvoso Período Chuvoso Seco Total N° total de colônias 990 615 1605 Média ± sd de colônias / placa 19.8 ± 14,5 12.9 ± 6.9 Tabela 4. Distribuição de frequência das queixas respiratórias Queixas respiratórias Sim Não Total Frequência (n) 18 32 50 Percentual (%) 36,0 64,0 100,0 Tabela 5. Frequência de sintomas de alergias respiratórias em funcionários e frequentadores de ambas as bibliotecas Sintomas Rinite Sinusite Asma Bronquite Rinite e Sinusite Não possui Total Frequência (n) 6 5 1 2 13 23 50 Percentual (%) 12,0 10,0 2,0 4,0 26,0 46,0 100,0 apresentaram respectivamente temperatura máxima de 20°C e 32°C; temperatura mínima de 14°C e 19°C; umidade relativa do ar de 85% e 35% e precipitação atmosférica de 2 mm e 1 mm. A tabela 3 refere-se à distribuição do número total de colônias isoladas em ambas as bibliotecas, com a média e desvio-padrão de colônias isoladas por placa. Para analisar possíveis variações de quantidade de colônias isoladas nas bibliotecas em relação ao clima chuvoso ou seco aplicou-se o Teste t Pareado Não-paramétrico. Observou-se uma diferença significativa, com uma frequência maior de colônias fúngicas no período chuvoso (p<0,001). Já em relação à associação entre o clima e tipo de fungo isolado não foram encontradas associações entre estas variáveis (Fischer=1,972; p=1.000). A partir dos questionários respondidos pelos funcionários e frequentadores das bibliotecas, constituído de 5 funcionários e 45 frequentadores de ambos os sexos (Feminino: n=31 e Masculino: n=19), com faixa etária entre 15 e 51 anos de idade, obteve-se as seguintes frequências e percentuais de doenças alérgicas respiratórias (tabelas 4 e 5). Ao analisar a tabela 4 pode-se observar que foram reportadas 36% de queixas de alergias respiratórias pelos frequentadores de ambas as bibliotecas, estas queixas estão distribuídas da seguinte forma, conforme a tabela 5. Pode-se observar que a maioria dos frequentadores não possui sintomas alérgicos (n=23; 46%), sendo que dos que possuem sintomas alérgicos respiratórios, a maior parte apresenta rinite e sinusite (n=13; 26%). Análise descritiva foi realizada para demonstrar a frequência de entrevistados que observaram um aumento em sua sintomatologia ao frequentar a biblioteca e com as variações de clima chuvoso e seco. Em relação ao clima, apenas 26,3% dos entrevistados relataram perceber alguma mudança na sintomatologia, enquanto o restante não respondeu a esta pergunta. Em relação ao aumento nos sintomas ao frequentar a biblioteca, (n= 21; 27,6%) responderam de forma afirmativa. Discussão Fungos anemófilos representam os principais propágulos suspensos na atmosfera, vindo a causar problemas alérgicos respiratórios ao homem, proporcionando um risco à saúde. Estes organismos crescem e se reproduzem na poeira presente em locais de trabalho, ou em locais em que possam encontrar condições ideais para este fim, como em fibras de papel, couro e madeira.(7,16,27) Os gêneros fúngicos encontrados neste trabalho tornam-se preocupantes, pois muitos desses podem ser patogênicos. Alguns gêneros como Aspergillus sp, Fusarium sp e Penicillium sp, além de serem alérgenos, podem causar doença respiratória infecciosa, dependendo da quantidade inalada e do estado imunológico do hospedeiro. Gambale et al.,(26) em trabalho semelhante, pesquisando a microbiota fúngica de 28 bibliotecas da Universidade de São Paulo, verificaram que os fungos mais frequentes nesses locais pertenciam aos gêneros Cladosporium sp, Aspergillus sp, Fusarium sp, Acremonium sp, Epicoccum sp, Rhizopus sp, Curvularia sp, Alternaria sp, Penicillium sp e Mycelia sterilia. Em relação a este estudo, observou-se que as duas bibliotecas analisadas de Cruz Alta também apresentaram esta diversidade de gêneros fúngicos, coincidindo com as descrições da literatura. Constatou-se que o gênero Aspergillus sp foi o mais isolado no presente estudo, o que também é relatado em pesquisas nacionais semelhantes, como a de Pantoja et al.,(28) onde analisaram a distribuição dos fungos da Biblioteca Central da UECE do Ceará, encontrando os gêneros semelhantes, como o Aspergillus sp, Acremonium sp, Fusarium sp, Mycelia sterilia, Mucor sp, Penicillium sp e Rhizopus sp. Bem como em pesquisas internacionais realizadas por Vermani et al.(29) na cidade de Delhi, na Índia, onde o gênero Aspergillus sp foi o mais encontrado e inclusive, tendo maior relação com as alergias respiratórias. 23 Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25. As condições climáticas prevalentes nas coletas realizadas neste estudo, tanto em dia chuvoso quanto em dia seco, apresentaram respectivamente temperatura máxima de 20°C e 32°C, temperatura mínima de 14°C e 19°C, umidade relativa do ar de 85% e 35% e precipitação atmosférica de 2 mm e 1 mm, sendo possível constatar uma significativa relação entre os períodos climáticos analisados e a quantidade de fungos encontrada. Este fato pode ser devido em função das bibliotecas analisadas localizarem-se em uma região onde a umidade, temperatura e as condições de clima favorecem o desenvolvimento de fungos.(5,6,30) Estudo realizado por Dassonvile et al. (1) comprova que independentemente da época do ano, os gêneros fúngicos são encontrados em maior quantidade nos ambientes internos, devido à presença de poeira domiciliar e mofo. Devido à alta umidade no ar ser responsável por provocar o surgimento do mofo, ocorre uma consequente proliferação fúngica, e a exposição a isto acentua os sinais dos sintomas alérgicos, principalmente em períodos chuvosos, fatores estes que também foram evidenciados em nosso estudo.(17,18,23) As principais fontes microbiológicas em bibliotecas são os próprios artefatos armazenados nas instalações, a poeira acumulada no ambiente, a situação de higiene do local, além das condições climáticas de umidade e temperatura. A grande quantidade de livros presentes nestes locais representa um ambiente propício para a colonização de fungos microscópicos, pois são estruturas compostas por carboidratos e proteínas, sendo um bom meio para o crescimento destes microorganismos.(7,12,24) A literatura internacional e nacional relata a importância de quatro espécies de fungos anemófilos, caracterizadas como desencadeadores de alergias respiratórias: Aspergillus sp, Penicillium sp, Alternaria sp e Cladosporium sp. Espécies estas que também foram encontradas nas instalações das bibliotecas de Cruz Alta. Este fato pode ser comprovado pelos sintomas que são desencadeados em pessoas que têm predisposição à alergia e frequentam as referidas salas.(11,15) Ao comparar os resultados do isolamento de fungos realizado na biblioteca da Universidade de Cruz Alta, com os obtidos na biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias de Cruz Alta pode-se concluir que houve coincidência nos gêneros fúngicos encontrados, porém em uma biblioteca observou-se um número maior destes micro-organismos, o que, estatisticamente, não representou diferença significativa. Em relação aos períodos distintos da realização das coletas, concluiu-se que houve maior frequência 24 fúngica no período chuvoso, devido aos níveis mais altos de umidade relativa do ar, sendo um dos principais fatores contribuintes para a proliferação de fungos. A baixa frequência de queixas respiratórias por parte dos entrevistados minimizou a possibilidade de relatos de ocorrências de casos mais graves. Desta forma, os danos à saúde ficaram limitados às manifestações alérgicas que se acentuam em períodos de maior umidade com variações de temperatura, vindo a desencadear principalmente as crises de rinite e sinusite nas pessoas que frequentam e trabalham nas bibliotecas analisadas de Cruz Alta. Referências 1. Dassonville C, Demattei C, Laurent AM, Le Moullec Y, Seta N, Momas I. Assessment and predictors determination of indoor airborne fungal concentrations in Paris newborn babies’ homes. Environm. Research 2008;108:80-85. 2. Griffin DW, Kubilay N, Koc-ak M, Gray MA, Borden TC, Shinn EA. Airborne desert dust and aeromicrobiology over the Turkish Mediterranean coastline. Atmosp. Environm 2007;41:4050-4062. 3. Mezzari A, Perin C, Santos Junior SA, Bernd LAG, Di Gesu G. Os fungos anemófilos e sensibilização em indivíduos atópicos em Porto Alegre, RS. Rev Assoc Med Bras 2003;49:270-3. 4. Trabulsi LR, Altathum F, Gompertz OF, Candeias JAN. Microbiologia. 3 ed. 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