Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca e prevalência de

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Backes LTH, et al • Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca...
artículo original/artigo original
Isolamento de fungos anemófilos em biblioteca
e prevalência de alergias respiratórias
Isolation of library in airborne fungi and prevalence
of respiratory allergy
Luana Taís Hartmann Backes1
Vanessa Libreloto Dalepiane Naumann2
Luciane Noal Calil3
Biomédica, Especialista em Análises Clínicas e
Toxicológicas pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, Citologista do Laboratório Medicina Diagnóstica LTDA
– Erechim, RS, Brasil.
2
Professora da Universidade de Cruz Alta – UNICRUZ, Mestre em Diagnóstico Genético e Molecular pela Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, Cruz Alta, RS, Brasil.
3
Professora Doutora Adjunta da Faculdade de
Farmácia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil.
1
Trabalho realizado na Universidade de Cruz
Alta – UNICRUZ, RS, Brasil.
Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25.
Conflicto de intereses: ninguno
Recibido en 4/5/2011.
Aceptado para publicación en 2/6/2011.
Resumo
Os fungos anemófilos circulam pelo nosso organismo sem
causar danos, manifestando-se quando o sistema imunológico
está comprometido. Alergias respiratórias, como asmas, rinites
e sinusites estão relacionadas à microbiota fúngica do ar. Objetivo: Obter o isolamento de fungos anemófilos e prevalência
de alergias respiratórias em funcionários e frequentadores da
Biblioteca da Universidade de Cruz Alta, e Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias em Cruz Alta - RS, comparando as
variações sazonais. Materiais e métodos: Foram expostas 100
placas, distribuídas em dois períodos, em ambas as bibliotecas. A identificação dos fungos foi realizada de acordo com a
metodologia clássica de micologia. Resultados: Foram isolados
17 gêneros fúngicos anemófilos. Na Biblioteca do Instituto
Estadual Annes Dias os mais frequentes foram Aspergillus sp
(33,7%), Acremonium sp (33,0%), Cladosporium sp (29,4%),
na Biblioteca da Universidade de Cruz Alta foram Aspergillus sp
(45,9%), Cladosporium sp (32,2%), Acremonium sp (29,2%),
indicando coincidência nos gêneros fúngicos encontrados.
Na análise da quantidade de colônias em relação ao clima,
observou-se diferença significativa, com maior frequência de
fungos no período chuvoso. Conclusão: As bibliotecas analisadas
representam locais favoráveis à proliferação de fungos, podendo
acentuar os quadros de alergias respiratórias nos frequentadores
e funcionários destes locais.
Palavras-chave: Microbiota anemófila, ambientes fechados,
alergia respiratória.
Abstract
Airborne fungus moved by the human body without causing
damage, manifesting it when immune system is compromised.
Respiratory allergies (asthmas, colds and sinusitis) are related
to microbial fungal air. Objective: The purpose of this study
was to obtain the isolation of airborne fungi and prevalence of
respiratory allergies in employees and visitors of University of
Cruz Alta collection halls and also of State Institute Annes Dias
in Cruz Alta-RS libraries comparing seasonal variations. Material
19
Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25.
and methods: 100 cards were exposed, divided into
two periods, in both libraries. The identification of
fungi was made according to traditional methods of
mycology. Results: 17 genera were isolated airborne
fungus. At State Institute Annes Days library were the
most frequent Aspergillus sp (33.7%), Acremonium
sp (33.0%), Cladosporium sp (29.4%). At Library
of the University of Cruz Alta were Aspergillus sp
(45.9%), Cladosporium sp. (32.2%), Acremonium
sp (29.2%), indicating coincidence we found fungal
genera. In the analysis of colonies quantity in relation
to climate, we observed a significant difference, with
higher frequency of fungi in the rainy season. Conclusions: The libraries analyzed, may be favorable to
the proliferation of local fungi, which can exacerbate
the tables of respiratory allergies in visitors and staff
of these places.
Key words: Airborne microorganisms, indoors,
respiratory allergy.
Introdução
Os fungos são organismos eucariontes, heterotróficos, apresentando ampla distribuição em vários
ambientes; dispersam-se na natureza através do ar
atmosférico ou por outras vias como água, insetos,
homem, animais e até mesmo por alimentos. As suas
espécies sofrem variações de incidência conforme a
localidade, estação do ano, grau higroscópico do ar,
entre outros fatores.(1-5)
A microbiota fúngica anemófila é extremamente
variável de uma região para outra. Os elementos
fúngicos encontrados no ar são os esporos, e estes
aeroalérgenos, por oportunismo, quando inalados se
tornam responsáveis pelas patologias decorrentes de
manifestações respiratórias alérgicas, como asma
e rinite e dependendo do grau de infestação e da
exposição do sistema imunológico, chegam a causar
doenças mais graves, tais como micoses alérgicas
broncopulmonares e pneumonias hipersensitivas.(3,6-8)
Os fungos dispersos através do ar atmosférico
são denominados fungos anemófilos, constituindo os
principais contaminantes do ar, especialmente em ambientes fechados. Existem trabalhos que provam que a
poeira doméstica é hoje o principal desencadeador de
alergias, por armazenar grande quantidade de fungos
anemófilos, que são veiculados pelo ar, podendo promover a sensibilização de indivíduos desencadeando
processos de alergia respiratória, pela exposição aos
seus propágulos. Em relação à poeira de livros, existem trabalhos que fazem a identificação dos fungos
que estão presentes nos livros que podem também
desencadear uma crise alérgica.(6,9-12)
Os fungos estão associados a um número relativamente alto de alergias em humanos, especialmente do
20
trato respiratório. A prevalência de alergias respiratórias causadas por fungos anemófilos está estimada em
torno de 20% a 30% em indivíduos imunodeprimidos
e em torno de 6% na população geral.(8,10,13,14)
Além da predisposição genética ou condições metabólicas do indivíduo para o desenvolvimento de doenças alérgicas, há a necessidade da presença de fatores
importantes, como temperatura e umidade relativa do
ar, horários do dia, velocidade e direção dos ventos; no
entanto, quando se trata de ambientes fechados, o tipo
de climatização exerce papel influente, em relação à
exposição do indivíduo aos fungos anemófilos que, de
forma oportunista, podem infectar preferencialmente
indivíduos imunodeprimidos.(11,15-17)
As espécies que melhor representam a contaminação microbiológica de biblioteca, arquivos e museus
incluem Aspergillus, Penicillium, Alternaria, Cladosporium, Acremonium, Mucor, Rhizopus, Curvularia,
Fusarium. Sendo estes reconhecidos como um fator
etiológico para doenças alérgicas, representando um
perigo biológico para a saúde de pessoas que trabalham
ou frequentam bibliotecas.(7,10,18)
A necessidade de expansão no conhecimento de
fungos transportados pelo ar, o crescente interesse por
micro-organismos alergênicos e a procura de novos
indicadores ambientais vêm despertando interesse no
estudo de fungos anemófilos no Brasil, já que a sua
frequência e a diversidade podem estar associadas à
poluição ambiental.(19,20)
Em meio ao ambiente de bibliotecas, as principais
fontes de inalantes fúngicos podem ser encontradas
nos próprios artefatos como estantes de madeira e
armários, em meio aos livros velhos, principalmente
com capas de couro. Arquivos de armazenamento,
os quais geralmente ocupam locais mal arejados,
por serem ambientes internos, onde o aumento dos
níveis de umidade pode estimular o crescimento do
mofo e consequente aumento da microbiota de fungos
pode mudar o perfil das populações, que geralmente
manifestam-se patogênicas. Devido a isso, o ideal seria
que o perfil fúngico de bibliotecas se assemelhasse a
locais externos, para evitar a disseminação de aeroalérgenos contaminantes.(21-24)
Em relação à poeira de livros, existem trabalhos
que fazem a identificação dos fungos presentes nos
mesmos, através dos quais podem desencadear uma
crise alérgica.(11,25)
Assim, a presença de fungos anemófilos como
agentes poluidores do ambiente, principalmente nas
bibliotecas, e devido a sua importância na etiologia
de doenças respiratórias de natureza alérgica, bem
como em doenças oportunistas responsáveis por
diferentes quadros clínicos de micoses, a pesquisa
destes agentes é de suma importância. Tendo em
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vista o impacto que este fato pode gerar sobre os
alunos frequentadores do local e nas pessoas que
trabalham na biblioteca, este trabalho teve como
objetivo analisar a microbiota fúngica anemófila da
Biblioteca da Universidade de Cruz Alta e do Instituto
Estadual Annes Dias.
Materiais e métodos
Característica da área estudada
As áreas estudadas foram as salas do acervo da
Biblioteca da Universidade de Cruz Alta, e também
da Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias em
Cruz Alta - RS, por serem ambientes aéreos estáticos,
úmidos e quentes que favorecem a proliferação dos
fungos anemófilos. Nestes locais, encontram-se numerosas estantes de livros organizados em local fechado.
Durante a coleta, as janelas e portas foram mantidas
fechadas. Em ambos os locais de coleta, os ambientes
não são climatizados.
O projeto deste estudo foi submetido à avaliação
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de
Cruz Alta, sob protocolo número 039/08. O qual foi
aprovado em 27 de agosto de 2008.
Locais de coleta amostral
No total, foram coletadas e analisadas 100 amostras, 50 amostras da sala de acervo da Biblioteca da
Universidade de Cruz Alta e 50 amostras da Biblioteca
do Instituto Estadual Annes Dias de Cruz Alta. A fim
de verificar a influência climática sobre a microbiota
local, as coletas foram realizadas em dois períodos
distintos. As placas de Petri foram situadas entre o
espaço dos livros na superfície das estantes e sobre superfícies paralelas ao chão como escrivaninhas, mesas
dos funcionários, balcões, gavetas, baús, armários de
ferro e de madeira, cadeiras estofadas e prateleiras. Os
locais escolhidos para a exposição foram devidamente
padronizados para que cada placa fosse exposta em
vários ângulos.
Exposição
As placas foram expostas em dois períodos, observando índices meteorológicos de temperatura e umidade, portanto uma coleta foi realizada no dia 25 de
setembro de 2008, em período chuvoso apresentando
maior umidade, e a outra coleta no dia 30 de outubro,
representando período seco, do decorrente ano. Para
a coleta de fungos anemófilos foi utilizado o Método
de Exposição por Tempo Limitado de placas com meio
de cultura Sabouraud com cloranfenicol. Este método
baseia-se na sedimentação de esporos dos fungos
anemófilos, sobre a placa em questão, colocada em
posição horizontal.(26)
As exposições foram feitas no período da ma-
nhã, e as placas foram abertas dentro das salas
por aproximadamente 15 minutos a uma altura
de 1 m e 20 cm de altura, conforme preconizado
por Gambale et al. (26) Após este período foram
transportadas ao laboratório de Microbiologia da
Universidade de Cruz Alta, e incubadas em estufa
a 25ºC por 4-7 dias.
Isolamento e identificação dos fungos
Para o isolamento dos fungos foi utilizado o meio
ágar Sabouraud com cloranfenicol, distribuídos em
placas de Petri 90X15mm lisas e estéreis.
Após a exposição, as placas foram mantidas por
4 a 7 dias em estufa a 25ºC, até a formação de unidades formadoras de colônias, sendo então iniciada
a classificação genérica dos fungos a partir deste
dia. A identificação foi feita observando os aspectos macroscópicos das colônias, além do aspecto
microscópico entre lâmina e lamínula coradas pelo
azul de metileno.
Dados epidemiológicos
Algumas informações pertinentes e relevantes
a este estudo foram coletadas através da aplicação
de um questionário junto aos frequentadores dos
estabelecimentos pesquisados. Sendo assim, todos
os frequentadores e funcionários foram convidados
a responder o questionário, após serem esclarecidos
sobre o objetivo da pesquisa e expressaram por escrito
seu consentimento através da assinatura de um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que lhes
foi fornecido.
Para tanto, foi aplicado um questionário padronizado composto de perguntas estruturadas referente a
dados pessoais, como idade, sexo e sobre possíveis
quadros alérgicos respiratórios, e se estes quadros
são agravados ao frequentar ou ao permanecer por
determinado período no ambiente da biblioteca.
Análise estatística
Os dados foram tabulados em um software estatístico. Utilizou-se para descrever e inspecionar os
dados de medidas de tendência central e variabilidade
(média, desvio padrão, frequência e percentual). Para
verificar a associação entre as variáveis nominais foi
utilizado o Teste de Qui-quadrado. Para verificar a relação entre variáveis contínuas e nominais foi utilizado
o Teste “t” de Student.
Resultados
A partir das 100 placas expostas, foram isoladas
1.605 colônias e identificados 17 gêneros fúngicos,
cujas frequências encontram-se nas tabelas 1 e 2.
Na Biblioteca do Instituto Estadual Annes Dias de
21
Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25.
Tabela 1. Frequência de fungos anemófilos isolados em
50 placas expostas em período chuvoso e seco na Biblioteca do Instituto Annes Dias
Biblioteca do Instituto Annes Dias Período chuvoso
Tipos de fungos
P (n)
F (%)
Mycelia sterilia
18
13,8
Aspergillus sp
25
18,6
Gliocladium sp
4
2,8
Cladosporium sp
16
11,2
Alternaria sp
9
6,3
Acremonium sp
19
14,0
Penicillium sp
7
4,6
Curvularia sp
12
8,4
Fusarium sp
2
1,4
Sepedonium sp
8
5,6
Nigrospora sp
3
2,1
Scopulariopsis sp
2
1,4
Mucor sp
9
6,3
Epicoccum sp
1
0,7
Rizophus sp
2
1,4
Paecilomyces sp
2
1,4
Total
139
100
Período seco
P (n)
F (%)
15
11,9
19
15,1
2
1,6
23
18,2
9
7,2
24
19,0
12
9,7
5
3,9
7
5,5
8
6,3
0
0
1
0,8
0
0
1
0,8
0
0
0
0
126
100
P (n) Corresponde ao número de vezes que determinado gênero de fungo foi isolado
em um dado período; F (%) percentual correspondente.
Tabela 2. Frequência de isolamento de fungos anemófilos encontrados em 50 placas expostas em período chuvoso e seco na Biblioteca da Universidade de Cruz Alta
Biblioteca da Unicruz
Tipos de fungos
Mycelia sterilia
Aspergillus sp
Gliocladium sp
Cladosporium sp
Alternaria sp
Acremonium sp
Penicillium sp
Curvularia sp
Fusarium sp
Sepedonium sp
Nigrospora sp
Scopulariopsis sp
Mucor sp
Epicoccum sp
Rizophus sp
Paecilomyces sp
Total
Período chuvoso
P (n)
F (%)
12
12,6
24
25,3
0
0
13
13,7
4
4,2
13
13,7
3
3,2
17
17,9
2
2,1
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
7
7,3
95
100
Período seco
P (n)
F (%)
13
13,4
20
20,6
0
0
18
18,5
6
6,2
15
15,5
10
10,3
2
2,1
4
4,1
7
7,2
0
0
1
1,0
0
0
1
1,1
0
0
0
0
97
100
P (n) corresponde ao número de vezes que determinado gênero de fungo foi isolado
em um dado período; F (%) percentual correspondente.
Cruz Alta, os fungos mais frequentes foram Aspergillus
sp (33,7%), Acremonium sp (33,0%), Cladosporium
sp (29,4%), Micelia sterilia (25,7%). Os fungos de
menor frequência foram Rizophus sp (1,4%) e Paecilomyces sp (1,4%).
Os fungos mais frequentes na sala de periódicos
da Biblioteca da Universidade de Cruz Alta foram
Aspergillus sp (45,9%), Cladosporium sp (32,2%),
Acremonium sp (29,2%). Os fungos Mucor sp, Gliocladium sp, Nigrospora sp, Rizophus sp, não foram
detectados.
22
Comparando os resultados de fungos isolados na
Biblioteca da Universidade de Cruz Alta (nº 715), com
os fungos obtidos na Biblioteca do Instituto Estadual
Annes Dias de Cruz Alta (nº 920), observou-se que
apesar da maior quantidade de colônias isoladas no
acervo da Biblioteca Annes Dias, teste de comparação
de médias (teste t independente), constatou-se que
esta não é significativa (p=0,587).
Em relação aos gêneros fúngicos encontrados, também não houve uma associação entre gênero fúngico
e biblioteca, que foi constatada através de um teste
de associação (Fischer=1,973; p=1.000), indicando
uma coincidência nos gêneros fúngicos em ambas as
bibliotecas.
Os gêneros fúngicos mais frequentes no período
chuvoso, encontrados nas duas bibliotecas foram
Aspergillus sp (21,95%), Mycelia sterilia (13,2%),
Acremonium sp (13,85%), Curvularia sp (13,15%),
conforme figura 1.
A figura 2 apresenta os gêneros fúngicos mais
frequentes no período seco, encontrados nas duas
bibliotecas em estudo, que foram Cladosporium sp
(18,35%), Aspergilus sp (17,85%), Acremonium sp
(17,25%), Micellia sterilia (12,65%).
No tocante às condições climáticas prevalentes nas
duas coletas de nosso estudo, tanto na primeira em
dia chuvoso quanto na segunda coleta em dia seco,
Figura 1.
Figura 2.
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Tabela 3. Número total de colônias que se desenvolveram durante o período seco e o período chuvoso
Período
Chuvoso
Seco
Total
N° total de colônias
990
615
1605
Média ± sd de colônias / placa
19.8 ± 14,5
12.9 ± 6.9
Tabela 4. Distribuição de frequência das queixas
respiratórias
Queixas respiratórias
Sim
Não
Total
Frequência (n)
18
32
50
Percentual (%)
36,0
64,0
100,0
Tabela 5. Frequência de sintomas de alergias respiratórias em funcionários e frequentadores de ambas as
bibliotecas
Sintomas
Rinite
Sinusite
Asma
Bronquite
Rinite e Sinusite
Não possui
Total
Frequência (n)
6
5
1
2
13
23
50
Percentual (%)
12,0
10,0
2,0
4,0
26,0
46,0
100,0
apresentaram respectivamente temperatura máxima de
20°C e 32°C; temperatura mínima de 14°C e 19°C;
umidade relativa do ar de 85% e 35% e precipitação
atmosférica de 2 mm e 1 mm.
A tabela 3 refere-se à distribuição do número total
de colônias isoladas em ambas as bibliotecas, com a
média e desvio-padrão de colônias isoladas por placa.
Para analisar possíveis variações de quantidade
de colônias isoladas nas bibliotecas em relação ao
clima chuvoso ou seco aplicou-se o Teste t Pareado
Não-paramétrico. Observou-se uma diferença significativa, com uma frequência maior de colônias fúngicas no período chuvoso (p<0,001). Já em relação à
associação entre o clima e tipo de fungo isolado não
foram encontradas associações entre estas variáveis
(Fischer=1,972; p=1.000).
A partir dos questionários respondidos pelos funcionários e frequentadores das bibliotecas, constituído
de 5 funcionários e 45 frequentadores de ambos os
sexos (Feminino: n=31 e Masculino: n=19), com faixa
etária entre 15 e 51 anos de idade, obteve-se as seguintes frequências e percentuais de doenças alérgicas
respiratórias (tabelas 4 e 5).
Ao analisar a tabela 4 pode-se observar que foram
reportadas 36% de queixas de alergias respiratórias
pelos frequentadores de ambas as bibliotecas, estas
queixas estão distribuídas da seguinte forma, conforme a tabela 5. Pode-se observar que a maioria dos
frequentadores não possui sintomas alérgicos (n=23;
46%), sendo que dos que possuem sintomas alérgicos
respiratórios, a maior parte apresenta rinite e sinusite
(n=13; 26%).
Análise descritiva foi realizada para demonstrar
a frequência de entrevistados que observaram um
aumento em sua sintomatologia ao frequentar a
biblioteca e com as variações de clima chuvoso e
seco. Em relação ao clima, apenas 26,3% dos entrevistados relataram perceber alguma mudança na
sintomatologia, enquanto o restante não respondeu
a esta pergunta.
Em relação ao aumento nos sintomas ao frequentar
a biblioteca, (n= 21; 27,6%) responderam de forma
afirmativa.
Discussão
Fungos anemófilos representam os principais
propágulos suspensos na atmosfera, vindo a causar
problemas alérgicos respiratórios ao homem, proporcionando um risco à saúde. Estes organismos crescem e
se reproduzem na poeira presente em locais de trabalho, ou em locais em que possam encontrar condições
ideais para este fim, como em fibras de papel, couro
e madeira.(7,16,27)
Os gêneros fúngicos encontrados neste trabalho
tornam-se preocupantes, pois muitos desses podem
ser patogênicos. Alguns gêneros como Aspergillus sp,
Fusarium sp e Penicillium sp, além de serem alérgenos, podem causar doença respiratória infecciosa,
dependendo da quantidade inalada e do estado imunológico do hospedeiro.
Gambale et al.,(26) em trabalho semelhante, pesquisando a microbiota fúngica de 28 bibliotecas da
Universidade de São Paulo, verificaram que os fungos
mais frequentes nesses locais pertenciam aos gêneros
Cladosporium sp, Aspergillus sp, Fusarium sp, Acremonium sp, Epicoccum sp, Rhizopus sp, Curvularia
sp, Alternaria sp, Penicillium sp e Mycelia sterilia. Em
relação a este estudo, observou-se que as duas bibliotecas analisadas de Cruz Alta também apresentaram
esta diversidade de gêneros fúngicos, coincidindo com
as descrições da literatura.
Constatou-se que o gênero Aspergillus sp foi o mais
isolado no presente estudo, o que também é relatado em pesquisas nacionais semelhantes, como a de
Pantoja et al.,(28) onde analisaram a distribuição dos
fungos da Biblioteca Central da UECE do Ceará, encontrando os gêneros semelhantes, como o Aspergillus
sp, Acremonium sp, Fusarium sp, Mycelia sterilia,
Mucor sp, Penicillium sp e Rhizopus sp. Bem como
em pesquisas internacionais realizadas por Vermani
et al.(29) na cidade de Delhi, na Índia, onde o gênero
Aspergillus sp foi o mais encontrado e inclusive, tendo
maior relação com as alergias respiratórias.
23
Rev Panam Infectol 2011;13(3):19-25.
As condições climáticas prevalentes nas coletas
realizadas neste estudo, tanto em dia chuvoso quanto
em dia seco, apresentaram respectivamente temperatura máxima de 20°C e 32°C, temperatura mínima
de 14°C e 19°C, umidade relativa do ar de 85% e
35% e precipitação atmosférica de 2 mm e 1 mm,
sendo possível constatar uma significativa relação
entre os períodos climáticos analisados e a quantidade de fungos encontrada. Este fato pode ser devido
em função das bibliotecas analisadas localizarem-se
em uma região onde a umidade, temperatura e as
condições de clima favorecem o desenvolvimento de
fungos.(5,6,30)
Estudo realizado por Dassonvile et al. (1) comprova que independentemente da época do ano, os
gêneros fúngicos são encontrados em maior quantidade nos ambientes internos, devido à presença
de poeira domiciliar e mofo. Devido à alta umidade
no ar ser responsável por provocar o surgimento do
mofo, ocorre uma consequente proliferação fúngica,
e a exposição a isto acentua os sinais dos sintomas
alérgicos, principalmente em períodos chuvosos,
fatores estes que também foram evidenciados em
nosso estudo.(17,18,23)
As principais fontes microbiológicas em bibliotecas
são os próprios artefatos armazenados nas instalações,
a poeira acumulada no ambiente, a situação de higiene
do local, além das condições climáticas de umidade
e temperatura. A grande quantidade de livros presentes nestes locais representa um ambiente propício
para a colonização de fungos microscópicos, pois são
estruturas compostas por carboidratos e proteínas,
sendo um bom meio para o crescimento destes microorganismos.(7,12,24)
A literatura internacional e nacional relata a
importância de quatro espécies de fungos anemófilos, caracterizadas como desencadeadores de
alergias respiratórias: Aspergillus sp, Penicillium
sp, Alternaria sp e Cladosporium sp. Espécies estas
que também foram encontradas nas instalações das
bibliotecas de Cruz Alta. Este fato pode ser comprovado pelos sintomas que são desencadeados em
pessoas que têm predisposição à alergia e frequentam as referidas salas.(11,15)
Ao comparar os resultados do isolamento de
fungos realizado na biblioteca da Universidade de
Cruz Alta, com os obtidos na biblioteca do Instituto
Estadual Annes Dias de Cruz Alta pode-se concluir
que houve coincidência nos gêneros fúngicos encontrados, porém em uma biblioteca observou-se
um número maior destes micro-organismos, o que,
estatisticamente, não representou diferença significativa. Em relação aos períodos distintos da realização
das coletas, concluiu-se que houve maior frequência
24
fúngica no período chuvoso, devido aos níveis mais
altos de umidade relativa do ar, sendo um dos principais fatores contribuintes para a proliferação de
fungos. A baixa frequência de queixas respiratórias
por parte dos entrevistados minimizou a possibilidade
de relatos de ocorrências de casos mais graves. Desta
forma, os danos à saúde ficaram limitados às manifestações alérgicas que se acentuam em períodos de
maior umidade com variações de temperatura, vindo
a desencadear principalmente as crises de rinite e
sinusite nas pessoas que frequentam e trabalham nas
bibliotecas analisadas de Cruz Alta.
Referências
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Correspondência:
Luana Taís Hartmann Backes
R. Liberato Salzano, 99 - apto 302 - CEP 98970-000
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