aceitação da surdez no sujeito surdo
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ACEITAÇÃO DA SURDEZ NO SUJEITO SURDO Márcia Gabriela Lemos1 Clarisse Ismério2 RESUMO: Na infância, o individuo adquire uma forma de se comunicar proveniente do ambiente em que vive e da língua que é utilizada. Para o surdo a oralização utilizada nesse meio não o auxilia no desenvolvimento psicossocial necessário para formação de sua identidade surda. Neste sentido é importante a intervenção escolar em verificar os aspectos subjetivos dos surdos, analisar sua identidade e variações, visando contribuir com profissionais que trabalham com essa temática em orientar tanto a família quanto o sujeito surdo. A metodologia é um estudo exploratóriodescritivo de abordagem qualitativa e quantitativa onde foram entrevistados oito estudantes surdos do município de Bagé. Percebe-se pelos dados obtidos que a maioria dos surdos entrevistados sentem-se bem na cidade de Bagé, assim como em seu ambiente escolar por abarcar as necessidades dos surdos como ter intérpretes e profissionais que constantemente atendem suas necessidades. No ambiente familiar, mesmo havendo pouco uso dos sinais a pesquisa aponta para a presença de apoio e estímulo familiar. Em relação à identidade surda percebe-se níveis variados de aceitação da surdez e ainda casos de fantasia em ouvir, geradas pelos modelos ouvitistas presentes no contexto social e sobre aspectos da cultura surda, como a escrita em sinais, há um desconhecimento geral. Com isso verifica-se o grau de satisfação dos surdos, com a inclusão que está sendo realizada em Bagé, com profissionais envolvidos, e com a estrutura familiar, possibilitando o desenvolvimento do sujeito surdo. Palavras chaves: Identidade Surda, Surdo, Inclusão, Self ABSTRACT: In infancy, the individual acquires a form of if communicating proceeding from the environment where it lives and of the language that is used. For the deaf person the oralização used in this way does not assist it in the necessary psicossocial development for formation of its deaf identity. In this direction the pertaining to school intervention in verifying the subjective aspects of the deaf people is important, to analyze its identity and variations, being aimed at to contribute with professionals who work with this thematic one in guiding the family in such a way how much the deaf citizen. The methodology is a study exploratório-description of qualitative and quantitative boarding where eight deaf students of the city of Bagé had been interviewed. One perceives for the gotten data that the majority of the interviewed deaf people are felt well in the city of Bagé, as well as in its pertaining to school environment for accumulating of stocks the necessities of the deaf people as to have interpreters and professionals who constantly take care of its necessities. In the familiar environment, exactly having little use of the signals the research points 1 2 Psicóloga e Especialista em Educação Inclusiva Doutora em História with respect to the presence of support and familiar stimulaton. In relation to the deaf identity one still perceives varied levels of acceptance of the deafness and cases of fancy in hearing, generated for the ouvitistas models gifts in the social context and on aspects of the deaf culture, as the writing in signals, has a general unfamiliarity. With this the degree of satisfaction of the deaf people is verified, with the inclusion that is being carried through in Bagé, with involved professionals, and the familiar structure, making possible the development of the deaf citizen. Words keys: Deaf identity, Deaf, Inclusion, self 1 INTRODUÇÃO Na infância, o individuo adquire uma forma de se comunicar proveniente do ambiente em que vive e da língua que é utilizada. Para o surdo a oralização utilizada nesse meio não o auxilia no desenvolvimento psicossocial necessário para formação de sua identidade surda. Inúmeras crianças surdas são encaminhadas a avaliações neurológicas, muitas vezes perseguindo a oralização. Esta situação gera um conflito para os surdos porque não desenvolvem a língua falada, nem usam a língua brasileira de sinais. Neste sentido é importante a intervenção escolar para verificar os aspectos subjetivos dos surdos, analisar sua identidade e variações, visando contribuir com profissionais que trabalham com essa temática. O objetivo geral é analisar a aceitação da surdez no aluno surdo e as barreiras que enfrentam para apropriar-se de seu verdadeiro self, tendo como objetivo específico: Identificar a aceitação da surdez; Analisar as dificuldades encontradas no processo de construção da identidade surda; Construir um estudo que revela a subjetividade do surdo. O estudo apresenta o histórico dos surdos, relatando seu desenvolvimento social e as diversas barreiras enfrentadas até os dias atuais. Mostra também a temática do self o qual é enfoque deste trabalho, levando em consideração seu desenvolvimento psicológico e colocações de Vygotsky sobre a inclusão. A posteriori decorrem as questões sobre linguagem do surdo, os tipos de identidade surda para que possamos entender o funcionamento do surdo e suas reais necessidades. A metodologia utilizada foi um estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa e quantitativa onde foram entrevistados oito estudantes surdos do município de Bagé. O primeiro capítulo abrange a parte inicial e o referencial teórico, onde autores como Perlin e Skliar são citados mostrando as características do surdo, sua identidade e subjetividade, constando também a história da cultura surda, seu desenvolvimento escolar, até a oficialização da língua de sinais como sua língua materna. No segundo capitulo está a metodologia utilizada e a discussão dos resultados a cerca da pesquisa com os alunos surdos do município de Bagé. Em seguida aparecem a conclusão, o referencial teórico e a entrevista utilizada. 2 O SUJEITO SURDO E SUA HISTÓRIA A Inquisição, ocorrida na Idade Média, praticava apedrejamentos e mortes em fogueiras de indivíduos com alguma necessidade especial, pois os considerava possuídos por demônios (GIL, 2003). Ao verificar o desenvolvimento educacional do surdo, constataremos que suas dificuldades iniciais não são tão afastadas da realidade atual. Na Grécia e posteriormente em Roma, existia uma verdadeira contemplação da beleza e da oralidade, a qual o surdo ficou submetido a todo tipo de preconceitos, pois não possuía a fala oral (LARA, 1997). A educação das pessoas com surdez nos séculos XVII e XVIII era privilégio de nobres, que pagavam professores para ensiná-los a ler, escrever e falar, para a justiça considerá-los instruídos (LARA,1997). O primeiro professor de surdos de quem se tem notícia foi Pedro Ponce de Léon (1520-1584), monge beneditino que instruía os filhos de nobres, ensinando-os a ler, escrever, fazer cálculos e expressarse oralmente, tendo alguns de seus alunos avançado em campos como a filosofia, astrologia e história. Entretanto não se tem relação do método utilizado para a instrução formal desses surdos (VALENTINI, apud LARA, 1997, p. 99-100). Em 1755, o abade Charles M. de L'Eppé recolheu da rua surdos pobres de Paris e aprendeu os sinais que usavam entre si, com isso aprimorou a linguagem dos sinais, com a qual também ensinou a cultura e a língua francesa, tornando geral a língua de sinais. L'Eppé fundou no século XVIII a primeira escola pública para surdos em Paris (VALENTINI, 1995 apud LARA, 1997). Para Marchesi (1987), L'Eppé foi a figura mais importante para este século. Já Vargas (1996) argumenta que o método do Ábade foi criticado por Heinicke, na Alemanha, que defendia um enfoque didático para os surdos, voltado totalmente para a oralidade. Começou então, a rivalidade entre a língua dos sinais e a língua falada (LARA, 1997). O nazismo do séc. XIX e início do séc. XX esterilizava as pessoas com necessidades especiais para evitar a procriação desses indivíduos considerados imperfeitos e "impuros". Foram utilizados outros métodos de aniquilamento de deficientes, como seu isolamento em asilos, comportamentos de rejeição, preconceito e tortura, etc. (GIL, 2003). Segundo GIL (2003), a educação para as pessoas com necessidades especiais surgiu somente após a 2ª Guerra Mundial, quando valorizou-se os direitos humanos com questões como igualdade de oportunidades e direito a diferença, tendo como consequência a reorganização filosófica, jurídica e social em entidades como a ONU, OMS, UNESCO entre outras. Considerando então os portadores cidadãos com direitos e deveres como qualquer outro cidadão, tendo então direito à educação, trabalho e participação social, ou seja, sua integração social. Conforme a autora citada anteriormente, somente com a Revolução Francesa é que as pessoas com necessidades especiais receberam algum tipo de assistência por entidades religiosas e locais de caridade, mas a educação não lhes foi assegurada pela visão fraterna da Revolução. Durante todo o percurso da educação dos surdos na sociedade industrial, sempre houveram desacordos de opiniões entre os defensores do oralismo e os que defendem a comunicação dos sinais como língua própria do surdo. "E o que se viu durante praticamente todo nosso século? Contraditoriamente, foi a imposição de um método que visava uma "pretensa integração", através de sistemas segregados de ensino, consubstanciados pela manutenção de escolas e, mais tarde, classes especiais. Isto é, pregava-se a socialização do surdo através do acesso à língua majoritária, ao mesmo tempo em que se mantinha a maior parte deles em regime segregado, o que permitiu o surgimento de comunidade de indivíduos surdos e o advento de uma língua própria, a língua dos sinais (BUENO, 2001, p. 4). Assim, mesmo com as práticas oralistas defendidas e exigidas por estudiosos e educadores, ocorreu, consequentemente, a formação de comunidades surdas, decorrentes da segregação que lhes foi imposta (BUENO, 2001). Para GIL, a UNESCO divide a história do tratamento dado as pessoas com necessidades especiais em cinco fases, sendo que essas concepções também são evidenciadas atualmente: Filantrópica; Assistência Pública; Direitos fundamentais; Igualdade de oportunidade; Direito a integração. No Congresso Internacional de Surdos de 1880 em Milão, o oralismo foi definido como método para a educação, sendo que a língua de sinais nas escolas foi proibida. Em 1889, no Congresso Internacional dos Surdos, estes acusaram os ouvintes de pensarem somente em seus benefícios, pois escolheram e decidiram uma língua e uma educação que servisse a si próprios, o oralismo. (LARA, 1997). LARA aponta outro enfoque para a educação do surdo, o bilinguísmo. O bilinguísmo defende a idéia de que tanto a língua dos sinais como a oral (portuguesa) sejam ensinadas juntas, sem que uma prejudique a outra. Em 1978, publicou-se um relatório britânico, Warnock Report, realizada pela comissão dirigida por Mary Warnock, a qual foi incumbida de formular propostas para uma melhor educação aos deficientes. Warnock Report, que introduz pela primeira vez, o conceito de "aluno portador de necessidades educativas especiais (GIL, 2003). Afirma que a utilização do ensino separado para surdos no Brasil, se deu basicamente por volta da década de 60, como na maioria dos países. Já nos anos 80, seguindo a tendência mundial, o Brasil passou a adotar em seu sistema educacional, uma didática integradora, que foi fortalecida com a Constituição Brasileira de 1988 no artigo 208, inciso III: "o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino"; também em 1989, na Convenção sobre os direitos da criança e na Declaração de Salamanca, entre outros. Entre 7 e 10 de junho de 1984, os delegados da Conferência Mundial de Educação Especial, representaram 88 governos e 25 organizações internacionais em Salamanca, Espanha. Onde garantiu-se o compromisso da Educação para Todos, reconhecendo a necessidade e urgência de educação para crianças, jovens e adultos com necessidade educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino. Assim, reestruturou-se as ações em Educação Especial, fazendo com que governos e organizações sigam o modelo de Educação para Todos (Declaração de Salamanca, 1994). "Declaração de Salamanca - 1994: As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, 0independentemente das suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiência ou superdotadas, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades, crianças de minorias lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais”. Através da Lei n° 10.436 de 24 de abril de 2002 e a Lei n° 10.098 de 19 de dezembro de 2000, a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS, foi reconhecida como a língua oficial da pessoa surda, graças à luta do movimento surdo e das pessoas engajadas ao direito dos surdos. 3 LÍNGUA E IDENTIDADE SURDA Segundo ROSA (2004), quando falamos do verdadeiro self pensamos imediatamente que se caracteriza pelo que tem de mais autêntico em cada sujeito. Winnicott nos aponta que o verdadeiro self é a nossa parte própria e a mais próxima do pulsional. Enquanto isso o falso self é aquela parte nossa desenvolvida pelo contato com a sociedade e educação. Para WINNICOTT (apud ROSA, 2004) a mãe suficientemente boa consegue suprir as necessidades do lactente e assim atendendo ao seu verdadeiro self que começa a brotar. Quando há falhas por parte do cuidador, ou seja, ele não atende as necessidades do lactente, tendo em vista a não realização empática, o falso self no bebê começa a se desenvolver, a partir da submissão do lactente ao cuidador. Quando a mãe é suficientemente boa, ou seja, atende as necessidades da criança, a criança consegue renunciar a sua onipotência, acreditando mais no ambiente externo e assim conhecendo o ilusório, o imaginário e o brincar. No segundo caso, quando a mãe não é suficientemente boa, o lactente não realiza o processo ilusório e imaginário, esperando-se a morte física do mesmo, pois não ocorreu a adaptação materna nessa fase inicial da maternagem. Aparece na criança irritabilidade, distúrbios de alimentação, entre outros. A criança vive, mas falsamente, aceitando as exigências do meio e assim construindo relações a posteriori falsas, tendo a convicção, por meio de introjeções, de ser real, podendo a tornar-se como a mãe ou com quem quer que domine. Contestar com respeito, afirmar-se sem se impor, saber receber e dar, negociar e trocar são outras tantas formas de manifestação do verdadeiro self suficientemente adaptado por um certo condimento de contenção a que poderíamos chamar “falsidade” (Rosa, 2004, p. 52). Neste contexto, nos traz o significado do jogo, que seria o espaço transicional, onde há negociação, flexibilidade, sem espaço para rigidez. Esse espaço esta entre o que é falso e verdadeiro é o que nos faz sobreviver e conviver, onde procuramos ser verdadeiros, mas aceitando o falso que existe em toda verdade. “A vida humana parece, pois, só pode ser autenticamente vivida nesse espaço de jogo, recheado de humor e de ironia em que o “verdadeiro” e o “falso” coexistem” (ROSA, 2004, p. 52). Notamos que WINNICOTT (apud FILHO, 2003) não condena o falso self, mas sim o não saber de seu verdadeiro self, tornando assim uma identidade mascarada. O falso self nos faz conviver em sociedade, ou seja, comportamentos como mentir, esconder determinadas informações, isso tudo nos faz ser aceitos em sociedade, mas só estaremos integrados com nós mesmos quando soubermos que esse não é o nosso real e sim nossa máscara. E no momento, por exemplo, em que um aluno surdo não se identifica com questões próprias da sua cultura e identidade surda, isso nos aponta a fatores importantes de ruptura com seu verdadeiro self. O grito do nascimento, a 1.ª mostra de poder que afirma sua existência, só não é ouvido pelo surdo, sendo que não o registrará na memória, segundo FONSECA (2001). Para a autora, é incerto afirma que o recém-nascido com deficiência auditiva congênita, sente falta do que ele nunca teve e nem experimentou. Podemos apenas dizer que ele não passará pela experiência que a maioria das pessoas passa, o registro de seu grito de nascimento. "Como será a escuridão quente do útero sem sons?...Quando finalmente essa casa começa a expulsar o feto..., no ápice da saída está a luz, o ar entrando pela árvore respiratória e...um grande silêncio" (FONSECA, 2001). Segundo estudiosos como BEEBE (apud FONSECA, 2001), ouvir e reconhecer o seu próprio choro é um de uma série de experiências para apoderar-se cognitivamente de sua existência. A voz de sua mãe também não é ouvida, assim não estará envolvido por um colchão sonoro, o que tem importância no desenvolvimento. DIDIER ANZIEU (apud FONSECA, 2001), coloca que o envelope sonoro do self, está relacionado com a “delimitação somato-psíquica do indivíduo”. A autora ainda salienta que mesmo não sentindo a falta do que nunca teve, a ausência da audição, leva ao uso de outros mecanismos compensadores que exercem a função dos que agiriam no desenvolvimento normal. A mesma autora comenta que a fala da mãe está envolvida em sons que acompanham suas ações, os cuidados dessa são envolvidos de sons. Essa comunicação primitiva vai sendo prejudicada, pois não há recepção da mensagem transmitida pela mãe por parte do bebê e pela mãe não ter o retorno (feed-back) de sua mensagem. Dessa comunicação o bebê surdo, só captará a parte não-verbal da mensagem. A autora apresenta uma situação onde a mãe de um surdo percebeu a diferença entre seus filhos. Seu primeiro filho, no momento em que ela caminhava com a mamadeira, em direção a ele, esse ouvia seus passos e já parava de chorar, e o segundo não. Outra situação é a de um bebê de quatro meses no seu berço, chorando sozinho, a mãe está na cozinha e começa a falar alto e ao mesmo tempo o bebê para de chorar, arregalando os olhos com expectativa. Escutar a mãe falar faz com que seja desnecessária sua presença física e imediata, ou seja é uma substituição temporária de sua presença. Dispensar a presença física do objeto a ser representado é uma condição necessária para a atividade simbólica. Será que a necessidade de contar com presença física do objeto materno, já que a distancia e fora do campo visual ele não pode ser registrado, também não está envolvida na dificuldade simbólica que alguns estudos sugerem estar presente nas crianças surdas? Esta é uma questão que só poderia ser respondida por meio de pesquisas extremamente complexas (FONSECA, 2001, p.44). Constatamos que para VYGOTSKY (apud TONINI & COSTAS, 2008) reduzir o sujeito a sua própria deficiência é levá-lo ao fracasso, e limitar quaisquer possibilidade e vontade de se desenvolver e buscar a autonomia pessoal. A compensação só será desenvolvida se houver ambiente favorável e acolhedor, o qual valorize as condições do próprio sujeito, fazendo com que os métodos a serem utilizados possam auxiliar a compensação oriunda da própria surdez, como um processo psicológico de superar as áreas afetadas desenvolvendo outras. Outro fator importante do autor é a importância e influência do social para a educação e desenvolvimento psicológico do sujeito, pois acredita que a apropriação do conhecimento se da de fora para dentro, inicialmente interpessoal e a posteriori intrapessoal. O fracasso desse sujeito se da pelo desenvolvimento social incompleto, onde ele foi isolado da sociedade, tendo recebido uma ação pedagógica tardia. As relações sócio-afetivas existentes no ambiente onde a criança nasce influenciam o seu desenvolvimento, afirmando que a cegueira é um estado normal e não patológico, pois o patológico é percebido indiretamente na sua experiência com o social. Então a ação do defeito é secundária, pois a criança não a sente diretamente, percebendo-a somente indiretamente através da experiência social. “ A identidade do surdo é um tema que vem sendo debatido de nova forma, em termos, principalmente, de sua inserção no campo dos estudos culturais, ao qual melhor se adapta sob perspectiva da representação da diferença (...) No caso dos surdos, vale dizer que a identidade é construída numa forma de representação naturalmente edificada na comunidade ou nas comunidades surdas. (...)” (PERLIN, apud PINTO, 2000, p.3). PERLIN (2001), afirma que as identidades surdas ocorrem nos grupos onde os surdos se inserem e praticam e utilizam as práticas visuais. Essa comunicação leva o surdo ao seu centro, ao reconhecimento e desenvolvimento das aptidões visuais características. A mesma autora coloca que o adulto surdo ao estar em contato com outros surdos, ou movimentos de surdos começa a encaminhar-se para a construção de sua identidade centrada diretamente no ser “surdo”. “Praticamente essa identidade surda recria a cultura visual, reclamando à história a alteridade surda (PERLIN, 2001)”. 4 CAMINHANDO PARA A INCLUSÃO A educação de crianças e jovens com necessidades especiais, as quais são caracterizadas segundo suas deficiências físicas, sensoriais e mentais, teve início com a integração, na finalidade apenas de inserir as pessoas com necessidades especiais (GIL, 2003). Primeiro a exclusão social, após veio o atendimento especializado e em seguida a integração, sendo que agora luta-se pela inclusão social. A inclusão social é o processo em que a sociedade e a pessoa com alguma necessidade especial busca a equiparação de oportunidades, adaptando-se mutualmente uns aos outros, cada um com suas características respeitadas e aceitas o que nos levará a uma sociedade para todos. A inclusão em qualquer esfera social (na escola, no trabalho, no lazer, nos serviços de saúde e etc.) é essencial e necessária para que os sujeitos possam desenvolver todas suas potencialidades e todos os aspectos relacionados a sua vida e ao seu modo de agir nela (SASSAKI, 1997). Em 1981, a ONU - Organização das Nações Unidas, designou como o Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência (PPD), e contribuiu para a mudança em relação aos portadores no mundo, na sua luta por seus direitos. Enfocou-se além da integração, conceitos como autonomia, independência e equiparação de oportunidades, os quais se enquadram no que conhecemos como "inclusão social". Consequentemente, por movimentos relacionados aos direitos de todos, chegou-se ao conceito de inclusão, numa procura pela garantia de equiparação de oportunidades, a remoção de barreiras que impedem a participação dos portadores na sociedade, e de direitos, buscando a qualidade de vida (GIL, 2003). Para ter-se um sociedade inclusiva, necessita-se de oportunidade de construção das relações sociais, entre a comunidade surda e a dos ouvintes, numa busca de rompimento de atitudes discriminatórias, ou seja, de aceitação das diferenças, de ver o outro como ele é. Possibilitando então, uma sociedade acolhedora e consciente, fazendo com que sejam estimuladas as diferenças e não o enquadramento das pessoas, o que leva a separação e a conseqüente exclusão (BUENO, 2001). ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Figura 1. Dados do questionamento feito aos surdos, referente a aceitação e estimulo recebido dos pais e do ambiente escolar. Em relação ao ambiente familiar, apoio e estímulo as respostas são positivas, bem como no ambiente escolar onde a maioria das respostas demonstram sinais de compreensão e coleguismo entre ouvintes e surdos. Deve ser considerado, também, a situação da comunidade surda, ainda em construção, em busca de sua identidade, fortalecendo-a com seus encontros na escola e em atividades esportivas. Figura 2. Dados do questionamento feito aos surdos sobre a aceitação da sua surdez Pela fig 2., pode-se observar que a maioria dos surdos, 62% dos entrevistados manifestaram vontade de ouvir. Isto demonstra que o sinal e o significado da identidade surda não é reconhecida pela maioria dos surdos. Os dados indicam a fantasia que os surdos tem em querer ouvir, mesmo que não seja uma vontade constante, ela encontra-se latente. Podemos entender esse resultado como proveniente da dominação ouvitista, onde os surdos estão inseridos. A escola é um espaço que deve fortalecer a cultura e identidade surda proporcionando um ambiente adequado ao aluno surdo. A identidade de transição ocorre na passagem do mundo ouvinte para o mundo surdo, essa é a passagem geralmente feita por todos os surdos. São surdos de pais ouvintes que inicialmente foram mantidos nas experiências ouvintes tradicionais e em seguida direcionam-se para a comunidade surda, o que geralmente acontece. Nesse contato com a comunidade surda, estes desouvitizam sua representação de identidade, mas carregam ainda seqüelas dessas representações que ainda estarão reconstruindo no decorrer de sua vida (PERLIN, 2001). Evidencia-se momentos da história dos surdos que buscavam-se "tratamentos", práticas voltadas fortemente para que eles falassem, numa "monopolização" da oralidade, enfocando esta como principal fator na sua educação. Houve a proibição da língua de sinais, o isolamento do aluno surdo, a manipulação de seus sentimentos e ações e também a exploração de sua condição de surdo pela ciência em experiências biônicas de implantes cocleares. Figura 3. Respostas dos surdos quando questionados sobre eventos promovidos pela associação de surdos, com a finalidade de estimular a cultura surda e sobre o conhecimento a escrita em sinais. Os dados da Fig 3., demonstram um número expressivo de surdos participando de eventos sociais, fator considerado positivo pelos entrevistados. No entanto, verifica-se pouco incentivo a eventos culturais. A relação do surdo com o meio ouvinte ocorre naturalmente desde a nascença, em muitos casos, criando uma linguagem característica do lugar e da família. Este fator muitas vezes dificulta o acesso do surdo a outros meios sociais. O reconhecimento da escrita em sinais “signwriting” não é reconhecida pela maioria dos entrevistados. Justifica-se, o pouco conhecimento dessa escrita, a não apresentação dessa na maioria das escolas. PERLIN (2001), afirma que as identidades surdas ocorrem nos grupos onde os surdos se inserem e praticam e utilizam as práticas visuais. Essa comunicação leva o surdo ao seu centro, ao reconhecimento e desenvolvimento das aptidões visuais características. CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebe-se pelos dados obtidos que existe uma diferença significativa de opiniões entre os entrevistados surdos do sexo feminino e os do sexo masculino. As mulheres surdas sentem-se mais a vontade na sociedade dividindose, quanto ao relacionamento, com surdos e ouvintes enquanto que os homens surdos preferem se comunicar com os amigos também surdos. O ambiente escolar está se moldando as necessidades dos surdos com intérpretes e profissionais que estão se qualificando para atender as suas necessidades. No ambiente familiar, mesmo havendo pouco uso dos sinais a pesquisa aponta para a presença de apoio e estímulo familiar. Em relação à identidade surda percebe-se níveis variados de aceitação da surdez e ainda casos de fantasia em ouvir, geradas pelos modelos ouvitistas presentes no contexto social. Quanto a aspectos culturais, os surdos não estão sendo assistidos com eventos, principalmente, pela associação dos surdos que deve ser articuladora entre o surdo e a sociedade, fortalecendo uma educação previa com acesso a informações de todos os tipos. A associação dos surdos deve ser uma articuladora entre o sujeito surdo e a sociedade, fortalecendo uma educação previa com acesso a informações de todos os tipos. É preciso, entretanto, reconhecer que muito ainda há por ser feito, uma vez que se não houver a união de forças entre família, escola e sociedade, será muito difícil a garantia de oportunidades iguais para todos. REFERÊNCIAS ARANHA, M. S. F. Plano municipal de educação. F. S. M. 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