INDÚSTRIA moldes - Moulds and Plastics

Transcrição

INDÚSTRIA moldes - Moulds and Plastics
Plano Capa:Apresentação 1
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HISTÓRIA
da
InaNDÚSTRIA
região de Leiria
Esta revista faz parte integrante da edição 1549 do Jornal de Leiria, de 20.03.2014
moldes
EDIÇÃO
Jornal
DE LEIRIA
PATROCÍNIOS
Câmara Municipal da Marinha Grande
www.cm-mgrande.pt
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Este fascículo dedicado ao sector dos moldes, que integra o projecto História da Indústria
na Região de Leiria, tem
o PATROCÍNIO
e o APOIO
O projecto História da Indústria na Região de Leiria, que engloba sete fascículos,
não teria sido possível sem o APOIO
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ÍNDICE
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UMA HISTÓRIA
ESCRITA CONTRA
VENTOS E MARÉS
Esta história é escrita
por homens que têm em
comum a capacidade de ver
mais além e são um exemplo
de coragem, espírito de
sacrifício, determinação e
vontade de vencer
A história de homens que souberam esperar pela sua oportunidade.
A história de homens que se uniram e
provaram que a vida não se resumia a uma
peça de aço.
A história de homens que lutaram por
melhores condições para nunca ficarem
para trás.
A história de um homem que ousou ir
A história de homens que traçaram ca-
por um caminho diferente, ao acreditar que
minhos sem saber qual o melhor rumo a se-
o futuro passava pelos produtos em plásti-
guir.
cos quando o centro de gravidade era o vidro.
A história de homens que cresceram,
caíram e se levantaram, sem nunca cruzarem
A história de homens que lhe seguiram
as pisadas, apesar de terem sido obrigados
a desfazerem-se dos seus bens.
A história de homens que enfrentaram
dificuldades tremendas e que, nem assim,
desistiram de seguir em frente.
os braços.
A história de homens que partiram à
descoberta de novos territórios, quando o
Oriente invadiu o mundo.
A história de homens que construíram
o mundo à nossa volta.
A história de homens com a escola da
Esta é também a história dos homens
vida, que sempre perseguiram o conheci-
que estão entre os melhores do mundo no
mento.
que fazem. Alexandra Barata
FICHA TÉCNICA
Edição: Jorlis - Edições e Publicações, Lda.
Director: João Nazário
Coordenação: João Nazário
Redacção: Alexandra Barata
Serviços Comerciais: Sandra Nicolau
Design Gráfico: 386design
Paginação: Isilda Trindade, Rita Carlos
Fotografia: Ricardo Graça
Impressão: Ondagrafe, Lda
Tiragem: 16.000
N.º de Registo: 109980
Depósito Legal n.º: 5628/84
Distribuição: Jornal de Leiria, edição n.º 1549 ,
de 20 de Março de 2014
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Os pais
da
indústria
de moldes
Os irmãos Aires Roque e Aníbal H. Abrantes
introduziram o fabrico de moldes para vidro
e para plástico na Marinha Grande e
contribuíram para o desenvolvimento da
economia local e nacional
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Torneamento (década de 60),
na Aníbal H. Abrantes, a
primeira fábrica de moldes
para plástico da Marinha
Grande
A indústria do vidro foi determinante
para o desenvolvimento da indústria de
moldes. Primeiro em madeira e, depois, em
ferro. “A Marinha Grande não tinha tradição
técnica nem tecnológica. A origem da indústria de vidros (1741) dá-se com a mudança da fábrica de vidros da Coina, em Lisboa, para a Marinha Grande, por causa do pinhal, que garantia madeira para os fornos.”
A explicação é avançada por Vítor
Hugo Beltrão, 78 anos, ex-director comercial da Aníbal H. Abrantes que integra um
grupo de trabalho que está a escrever a história da indústria de moldes da Marinha
Grande para a Cefamol – Associação Nacional da Indústria de Moldes. Até ao início dos anos 1920, os moldes utilizados na
indústria do vidro da Marinha Grande
eram produzidos em Lisboa, na Figueira da
Foz e no estrangeiro.
Em 1922, Aires Roque muda-se de Lisboa para a Marinha Grande, para trabalhar
na Nacional Fábrica de Vidros, como serralheiro.
Em entrevista ao Jornal da Marinha
Grande, Acácio Calazans Duarte, administrador da Nacional Fábrica de Vidros ao longo de quase quatro décadas, conta que, em
1924, Aires Roque, então responsável pelos
serviços de serralharia, lhe perguntou por
que é que os moldes que utilizavam na empresa vinham do estrangeiro. “Por que não
os fazemos cá?”
“Estudámos a questão e a principal dificuldade encontrada foi a da qualidade do
ferro”, explica Acácio Calazans Duarte, na
mesma entrevista, concedida em Agosto de
1969. “Os moldes deviam suportar temperaturas elevadas e o ferro vulgarmente
empregado nas nossas fundições só poderia dar moldes de duração muito limitada
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livro História da Indústria da Marinha Grande – Introdução e Perspectivas, da autoria de
José M. Amado Mendes, editado em 1993
pela Câmara Municipal da Marinha Grande.
A indústria de moldes para vidroacabou, assim, por ser introduzida na Marinha
Grande por Aires Roque e por Aníbal
Abrantes, que deixou Lisboa para ir trabalhar na oficina do meio irmão, em 1929.
Nesse ano, nascia a Aires Roque & Irmão,
que fabricava moldes para vidros.
“Muita gente julgava que eu vim para a
Marinha Grande por causa do futebol, mas
vim com o meu irmão, Aires Roque, para
trabalhar em moldes para vidro”, esclarece Aníbal Abrantes numa entrevista concedida ao Jornal da Marinha Grande, em
1983. O empresário foi jogador do Atlético
Clube Marinhense durante 20 anos.
Mas se Aires Roque teve um papel
Alguns funcionários da Aníbal H. Abrantes.
Fila de cima, da esq. para a dir.: José Maria
Rios (1º), Fernando Vareda (3º), Leonel
Policarpo (4º), Joaquim Roque (5º), Carlos
Alexandre (6º). Fila de baixo, da esq. para a
dir.: Frederico, Lenine Alexandre e Júlio Paour
fundamental no início da indústria de moldes para vidros, Aníbal Abrantes ocupou um
lugar ainda de maior destaque, por ter impulsionado o crescimento deste sector.
“Depois dos moldes para vidro, que se começaram a fabricar já com uma certa capacidade, uma certa perfeição, apareceu a
firma Nobre & Silva, em Leiria, a primeira
e peças mais imperfeitas do que as produ-
fábrica de plásticos, que veio ter comigo, em
zidas pelos moldes estrangeiros.”
1935, para eu lhe fazer alguns moldes”, afir-
Os dois primeiros modelos testados fo-
ma o empresário na mesma entrevista.
ram um açucareiro e uma manteigueira. “Fa-
“Convencido que o novo material seria
bricaram-se milhares de peças, que se ven-
o futuro, e receoso de que o vidro pudesse
deram apesar dos seus defeitos, e a duração
ser ultrapassado pelo plástico, iniciou uma
dos moldes foi prolongada por pequenas re-
luta com o irmão para mudar a estratégia
parações pouco dispendiosas”, refere Cala-
da empresa”, refere Henrique Neto, 78
zans Duarte.
anos, numa das suas crónicas sobre a in-
“Até que, um dia, o Senhor Aires Roque
me procura para me dizer que vários fabri-
dústria de moldes, publicada em Dezembro
de 2012 no Jornal da Marinha Grande.
cantes de vidro desejavam moldes e que ele
Ainda na entrevista ao referido jornal,
estava na disposição de montar uma oficina
Aníbal Abrantes confirma as divergências. “Em
a fim de os satisfazer”, diz o administrador
1937, o meu irmão, um apaixonado por vidros,
da Nacional Fábrica de Vidros, na mesma en-
não aceitava muito bem que eu fizesse mol-
trevista. Aires Roque abriu, então, uma ofi-
des para plásticos e pusesse um pouco de lado
cina em Lisboa, onde descobriu uma nova
os moldes de vidro. Mais tarde, ele foi para Oli-
liga, mais resistente do que a que usavam.
veira de Azeméis, onde montou uma oficina e
“Inteligente e engenhoso, tinha o Sr.
deixou-me estar aqui.” Aires Roque deslocou-
Aires Roque a ambição legítima – na Mari-
se para o distrito de Aveiro, onde existiam fá-
nha Grande, quase todos a têm – de melho-
bricas de vidro, e chegou a produzir pratos, jar-
rar a sua situação económica e de se elevar
ras e outros artigos em plástico a imitar vidro
na escala social”, observa Calazans Duarte no
decorado pela técnica da lapidação.
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Com o início da II Guerra Mundial
começaram a aparecer outros em Espinho,
(1939-1945), Aníbal Abrantes deixou de fa-
em Guimarães e eu comecei a trabalhar
bricar moldes para plásticos, porque não
para essas fábricas. As que me deram um
havia matéria-prima, e retomou a produção
grande balanço foram as de Espinho”,
de moldes para vidros. “Quando a guerra
conta Aníbal Abrantes.
acabou, comprei a quota do meu irmão e fi-
Em 1953, ano em que foi inaugurada a
quei sozinho. Então, em 1946, pus comple-
Aníbal H. Abrantes, começou uma nova era.
tamente de parte os moldes para vidro e co-
“O jovem Aníbal Abrantes não foi apenas
mecei a fabricar só moldes para plásticos”,
o fundador da indústria de moldes, foi tam-
recorda. “Durante sete anos, fui o único no
bém e durante muitos anos o principal di-
País a fazer moldes para plásticos.”
namizador da introdução em Portugal da
“A aprendizagem dos processos de fabrico
maioria dos produtos feitos de plástico na
era feita de forma informal e os conhecimen-
Europa: pentes, tampas para garrafas, em-
tos para o fabrico dos moldes para plásticos fo-
balagens, brinquedos, artigos domésticos”,
ram sendo construídos por tentativas”, consta-
escreve Henrique Neto na sua crónica no
ta o estudo “Mercados e negócios: dinâmicas e
Jornal da Marinha Grande. “Produtos que
estratégias – Dos moldes à engenharia do pro-
mostrava aos novos empresários do sector
duto, a trajectória de um cluster”, da autoria de
transformador, para que estes lhe enco-
Eduardo Beira, Cristina Crespo, Nuno Gomes
mendassem os moldes.”
e Joaquim Menezes, publicado em Dezembro de
As viagens frequentes de Aníbal Abran-
2003. “O rigor era ainda incipiente. A qualida-
tes pela Europa foram determinantes para
de da peça plástica dependia da sensibilidade
conhecer as novidades em plástico que sur-
técnica e das habilidade do acabamento.”
“O meu único cliente na altura era o
Nobre & Silva. Logo que a guerra acabou,
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Secção de fresagem
da fábrica
Aníbal H. Abrantes.
Tirada na década de 1970
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giam nos grandes armazéns de Paris e Lon-
A Aníbal H. Abrantes
tinha 370 trabalhadores
em 1977
dres, acrescenta Henrique Neto. “É necessário compreender que se vivia uma verda-
do qual conseguiu escapar, refere Nuno Go-
deira corrida ao ouro na nova indústria dos
mes, autor da tese de mestrado A indústria
plásticos, em Portugal como na Europa e nos
portuguesa de moldes para plásticos.
Estados Unidos. Os transformadores preci-
Após o conflito, a maioria dos judeus
savam de moldes como de pão para a boca
emigrou para os EUA e investiu na indústria
e apenas os moldes constituíam um factor li-
transformadora dos plásticos. Jongenelen fi-
mitativo ao crescimento das empresas.”
cou na Europa, mas mantinha contacto com
É por esta altura que Aníbal Abrantes
os amigos, que se queixavam do preço eleva-
conhece Tony Jongenelen, um judeu ho-
do dos moldes e da dificuldade de os obter.
landês agente da resistência, durante a II
Aníbal Abrantes confirma a influência
Guerra Mundial, que trabalhava para uma
de Tony Jongenelen no futuro da empresa.
empresa suíça produtora de mecanismos
“Estabeleci contacto com um holandês,
para caixas de música.
muito esperto, que nomeei agente para o es-
Jongenelen usava os grupos musicais
trangeiro, e ele começou então a adquirir
como forma de se infiltrar em território ocu-
encomendas e eu comecei, a pouco e pou-
pado. Chegou a ser capturado pelos alemães
co, a abandonar o fabrico nacional e a de-
e enviado para um campo de concentração,
dicar-me só à exportação”, explica na en-
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trevista ao Jornal da Marinha Grande.
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tindo uma política de recursos humanos
O primeiro molde que Aníbal Abrantes
muito centrada na valorização das pessoas”,
fez para exportação foi o de uma boneca e
lê-se no estudo Mercados e negócios: dinâ-
teve como destino Inglaterra. “Dei-a à mi-
micas e estratégias – Dos moldes à engenha-
nha primeira neta quando ela fez um ano”,
ria do produto, a trajectória de um cluster.
recorda. “Aconteceu ser esta [peça] a pri-
“(...) As fábricas de vidro, que era o que
meira, mas, de um modo geral, começámos
havia cá [Marinha Grande] não tinham bal-
a fazer logo mais peças técnicas.”
neário nem nada disso e como mandei fa-
Ao constatar que os preços praticados
zer os lavatórios em aço inoxidável foi
em Portugal eram muito mais baixos do que
considerado um grande luxo”, confirma
os praticados noutros países e que a qua-
Aníbal Abrantes na entrevista ao Jornal da
lidade não era inferior, o judeu propôs ven-
Marinha Grande, em 1983. A sua fábrica foi
der moldes da Aníbal H. Abrantes no exterior, em regime de exclusividade, refere
Nuno Gomes na sua tese de mestrado. Assinou um contrato com Aníbal Abrantes em
que recebia 25 escudos por cada dólar exportado, quando um dólar correspondia a
27 escudos.
O preço estabelecido para os moldes
era muito atractivo, pelo que as exportações
cresceram rapidamente. “Pela mão de Tony
O primeiro molde
que Aníbal
Abrantes fez
para Inglaterra
foi uma boneca,
que deu à
primeira neta
quando fez
um ano
Jongenelen e com a visão empresarial de
Aníbal Abrantes nasceu em Portugal um
novo sector dedicado à exportação, que não
parou de crescer”, afirma Henrique Neto.
O contrato acabaria, no entanto, por terminar por volta de 1959. “Ele [Jonegenelen]
enganava-me um pouco, porque ele é que
conhecia o mercado estrangeiro, ele é que
fazia as encomendas e os preços eram demasiado baixos para o que devia ser”, justificou na época Aníbal Abrantes, citado na
mesma tese de mestrado.
“A partir desse momento, Aníbal Abrantes opta por enviar um funcionário seu,
Henrique Neto, directamente aos mercados
externos, nomeadamente aos Estados
Unidos”, acrescenta Nuno Gomes. “A
primeira viagem comercial aos EUA
parece ter corrido da melhor forma.
Surgia assim mais uma profissão ligada aos moldes, o comercial.”
colaboradores. Em 1953, data em que
a Aníbal H. Abrantes foi constituída, duplicou o número de trabalhadores e
mudou para novas instalações. “O novo
edifício foi considerado ao tempo arrojado e de luxo no meio industrial, incluindo refeitório e balneários, e reflec-
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Em 1946, Aníbal Abrantes tinha 50
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a primeira a ter um “pequenino” refeitório,
como lhe chamou, em oposição às fábricas
de vidro, onde os operários “comiam no
chamado casqueiro” [pedaço de tronco].
“Os lavabos, sanitários e instalações sanitárias são dum requinte extraordinário,
A Anibal H. Abrantes foi
a primeira a ter um
“pequenino” refeitório,em
oposição às fábricas de vidro,
onde os operários “comiam
no chamado casqueiro”
o que demonstra o zelo e consideração que
o seu gerente nutre pelo seu pessoal ope-
Da sua experiência profissional na Aní-
rário”, lê-se na tese de mestrado de Nuno
bal H. Abrantes, Henrique Neto recorda um
Gomes, que cita um artigo publicado em A
episódio em especial, que revela a sua aber-
Voz da Marinha Grande, sobre a nova fá-
tura de espírito. “Pedi-lhe 40 ou 50 jogos de
brica do empresário.
micrómetros, um equipamento alemão ca-
Henrique Neto conhecia bem Aníbal
ríssimo. Não se tinham vendido mais de dois
Abrantes, pois foi director da sua fábrica.
em Portugal. Disse que eu era doido, porque
“Dotado de enorme curiosidade, assumia
uma máquina produzia e o micrómetro não.”
os maiores riscos sem pestanejar, possuía
“Respondi-lhe que ou se compravam
uma elevada noção do progresso tecno-
todos ou não fazia sentido. Havia clientes
lógico e demonstrou, ao longo do tempo,
que reclamavam que os moldes não tinham
uma confiança quase ilimitada nos seus
as medidas correctas. Acabou por aceitar e
colaboradores, em quem delegava a ge-
compraram-se os micrómetros”, conta Hen-
neralidade das tarefas do dia a dia da em-
rique Neto. O maior problema foi conven-
presa.”
cer os colaboradores a utilizarem aquele
Grupo Iberomoldes
EXCESSO DE
COLABORADORES
Desde 1972 que 75% do capital da Aníbal
H. Abrantes era detido pela empresa Explosivos da Trafaria, que a tinha transformado
numa sociedade anónima.“Deixei a gerência em
Vítor Hugo Beltrão diz que “Aníbal Abran-
Março de 1977, porque tive uma enfermidade
tes era um homem pouco comum na época.
muito grave que me obrigou a ficar dois meses
Teve o mérito de saber escolher os seus cola-
no hospital e a ter três meses de convalescen-
boradores. Era um homem de muita visão”.
ça”, conta Aníbal Abrantes.“Entendi, então, que
Além disso, refere que incentivava e apoiava
era chegada a hora de me retirar. Se a empre-
a criação de outras oficinas.“Muitos não se de-
sa tinha passado cinco meses sem mim também
ram bem e voltaram à empresa.”
passava mais.” Tinha na época 69 anos.
Em 1977, a Aníbal H. Abrantes tinha 370
O reconhecimento da importância de Aní-
trabalhadores. “As indústrias de moldes para
bal Abrantes no desenvolvimento da indústria
plásticos não devem ser muito grandes. É uma
de moldes da Marinha Grande valeu-lhe di-
indústria muito complicada, muito difícil e
versas distinções. José M. Amado Mendes, au-
muito cara”, refere Aníbal Abrantes, em entre-
tor de “História da Indústria da Marinha
vista ao Jornal da Marinha Grande. “Não con-
Grande – Introdução e Perspectivas”, editado
cordo com fábricas desta dimensão, daí ter pa-
em 1993, refere o prémio internacional Mer-
trocinado a saída de rapazes lá da fábrica para
cúrio de Ouro em 1978 e a Medalha de Méri-
montarem novas oficinas”, justifica. “Tenho
to Industrial, atribuída em 1983. Aníbal Abran-
viajado bastante e nunca encontrei nenhuma fá-
tes faleceu a 27 de Abril de 1995, um dia an-
brica com mais de 100 ou 150 empregados.”
tes de completar 87 anos.
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equipamento de alta precisão. “Era um
choque entre a cultura artística e a cultura da mecânica fria, que era a da precisão
e do rigor.”
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Operário a fresar
com o modelo à vista
na empresa
Aníbal H. Abrantes
Na tentativa de os persuadir, o então diretor da Aníbal H. Abrantes aumentou os
salários de dois colaboradores, após os
convencer a utilizarem os micrómetros,
para que todos seguissem o seu exemplo.
“A Aníbal H. Abrantes foi muito importante na formação de serralheiros, porque era uma empresa de modernidade”,
confirma Joaquim Menezes, 67 anos, presidente do Conselho de Administração do
grupo Iberomoldes. “Já Aníbal Abrantes
passava um bocadinho à margem dos protagonismos. Fazia a vida com calma. Sempre se soube rodear de pessoas que levavam a empresa para a frente, pois tinha noção do que conseguia e não conseguia fazer. Tornou-se um backup, mais do que um
líder na empresa.”
Homem discreto, Aníbal Abrantes foi
homenageado em 1983, durante a primeira Semana da Indústria de Moldes. “Não me
surpreendeu inteiramente porque tinha a
consciência de que tinha realizado algo nesta terra, mas não pensava que pudesse ter
a amplitude que teve”, confessa em entrevista ao Jornal da Marinha Grande. “Sou
muito modesto na minha maneira de ser, sei
que não fiz nada de excepcional. Cumpri o
meu dever.”
A Aníbal H. Abrantes constituiu, assim,
um marco na história da indústria dos moldes. “A maior parte de nós trabalhámos
juntos lá. Fazia parte do DNA do desenvol-
Grupo Iberomoldes
vimento da indústria. As pessoas conhecem-se desde a escola. A Aníbal H. Abrantes foi
a universidade dos moldes”, afirma Joaquim Menezes. Um título reconhecido por
quem tem ligações ao sector, não só por ter
sido a primeira fábrica de moldes para plásticos do País como por ter formado muitos
técnicos e ter dado origem à criação de diversas pequenas empresas do ramo.
Em 1985, o grupo Iberomoldes viria a adquirir 20% do capital da Aníbl H. Abrantes e
a protagonizar, um ano mais tarde, a primeira
OPV em Portugal, ao adquirir o controlo da
empresa à Sociedade Financeira.
“Aníbal Abrantes
passava um bocadinho à
margem dos protagonismos.
Fazia a vida com calma.
Sempre se soube rodear de
pessoas que levavam a
empresa para a frente, pois
tinha noção do que conseguia e
não conseguia fazer. Tornou-se
um backup, mais do que um
líder na empresa”
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CMMG/Museu do Vidro.
O início de actividade
de algumas das mais
importantes empresas de
moldes do País obrigou a
muitos sacrifícios. Meses
a fio sem receber
vencimento, visitas aos
clientes de motoreta,
pagamento a um
empreiteiro com o carro
pessoal ou 16 horas de
trabalho diárias fazem
parte da sua história
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ATRIBULAÇÕES
INICIAIS
João Faustino (na foto) diz que
na TJ Moldes era normal os
horários de trabalho serem de 16
horas por dia, incluindo muitas
vezes o fim-de-semana
Aos 85 anos, Leonel Marques Policarpo
continua a deslocar-se quase diariamente à
Somema – Sociedade Metalúrgica Marinhense, empresa que criou em 1958, na Marinha Grande, com mais quatro operários
com quem trabalhava na Aníbal H. Abrantes: Fernando Vicente, José Gregório, José Joaquim Feliciano e Alberto Franco. “Ainda
hoje gosto desta indústria, porque gosto de
acompanhar a transformação.”
“Constituímos a empresa porque estávamos descontentes com os salários”, justifica Leonel Marques Policarpo. “Os clientes
também nos apoiaram, pois tinham interesse que houvesse concorrência para terem
depois, Arnaldo Matos, hoje com 75 anos,
mais campo de exploração. Os armazenistas
também viveu algumas peripécias com o ir-
incentivaram a criação de empresas para
mão, Joaquim, quando constituíram a Mol-
venderem mais máquinas e ferramentas.”
de Matos, na Marinha Grande.
Para conseguirem comprar máquinas em
“Vendemos os automóveis que tínhamos
“boas condições” recorreram a familiares,
ao empreiteiro que nos fez o barracão, por-
pois o apoio da banca foi residual. “Dizíamos,
que morávamos perto. Dois Cortina”, recor-
na altura, que a banca só nos emprestava di-
da Arnaldo Matos. “Um ano depois, com-
nheiro quando não precisássemos”, recorda
prámos um carro para os dois. Usávamo-lo
Leonel Marques Policarpo. “Chegámos a
alternadamente aos fins-de-semana.”
pagar salários aos operários e não tínhamos
Apesar de ter ficado sem carro, Arnal-
dinheiro para nós. Estivemos meses e meses
do Matos desvaloriza a importância da si-
sem receber nada.”
tuação. O que o deixou mesmo indignado, na
época, foi a oposição que encontrou à aber-
“Um ano depois,
comprámos um carro
para os dois. Usávamos
aos fins-de-semana
alternados”
tura de novas unidades industriais. “Em
1967, houve empresários na Marinha Grande que foram pedir ao Regime o condicionamento industrial. Não queriam que abrissem mais empresas, porque queriam ficar
com um monopólio.”
O que valeu aos cinco sócios foi o “pé de
Ultrapassado esse obstáculo, Arnaldo
meia” que foram amealhando ao longo dos
Matos diz que não sentiu muitas dificulda-
anos. “Foi uma época de muito sacrifício. Des-
des quando constituiu a empresa com o ir-
locávamo-nos aos clientes numa motoreta”,
mão, Joaquim. O ritmo de trabalho intenso e
conta Leonel Marques Policarpo. Dez anos
o facto de terem qualificações para operar
TJ Moldes
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Somema
com todas as máquinas, conhecimentos que
adquiriram na Edilásio Carreira da Silva,
propriedade de um tio, foram determinantes. Aliás, foram os dois irmãos que deram
A Somema foi a primeira
empresa de moldes da Marinha
Grande constituída por operários:
Fernando Vicente, Alberto Franco,
José Gregório, José Feliciano e
Leonel Marques Policarpo
formação aos colaboradores.
No mesmo ano, António Febra, actual-
Apesar de o apoio da banca ter sido de-
mente com 72 anos, constituiu a António
terminante, António Febra foi cauteloso.
Francisco Febra, Sociedade Irregular (Geco),
Numa fase inicial, a empresa esteve a fun-
na Maceira, depois de ter trabalhado na Emí-
cionar na cave de sua casa. “Quis ver se era
dio Maria da Silva e na Aníbal H. Abrantes.
capaz de ser empresário”, justifica. Pouco
Consciente da importância de dominar a lín-
tempo depois, alugou uma fábrica durante
gua inglesa, foi estudar para o Instituto
um ano, com operários incluídos, para “ver
Britânico à noite. “Colava papéis com a ma-
se se conseguia desenrascar”.
téria na máquina que operava [durante o dia]
“Andei anos e anos a vender moldes, em
para treinar”, conta. Mais tarde, pediu licença
diversos países, trouxe muitas encomendas
sem vencimento e esteve um ano em Ingla-
e ganhei muito dinheiro”, revela o empre-
terra para aperfeiçoar o Inglês e trabalhou
sário. Em 1971, a António Francisco Febra
a polir moldes numa empresa de um alemão,
passou a designar-se apenas por Geco e foi
que lhe disse que tinha perfil para empre-
transformada numa sociedade limitada. Cin-
sário. “Foi então que percebi que queria criar
co anos mais tarde, comprou um barracão
a minha própria empresa.”
novo, próximo das actuais instalações, e
António Febra foi ao Banco Espírito
contornou as burocracias para agilizar o pro-
Santo (BES), na Marinha Grande, pedir di-
cesso. “Não havia estrada nem luz. Nada. Eu
nheiro para adquirir equipamentos. “Abri
é que fiz a estrada com máquinas. Ia pagando
uma conta com 500 escudos e emprestaram-
aos proprietários dos terrenos, à medida que
-me 3000 contos. Era uma fortuna!” O aces-
as máquinas avançavam.”
so ao crédito bancário foi facilitado por um ex-
1968 foi também o ano de arranque da
colega da Força Aérea, que trabalhava no BES.
Tecmolde, na Marinha Grande. Antes de
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constituir a empresa a que preside, António
Tecmolde. Conhecedor do mercado, compe-
Santos, agora com 70 anos, adquiriu expe-
tia a António Santos acompanhar as áreas téc-
riência na Calazans Duarte e na Irmãos Ste-
nica e comercial. “Durante 25 anos nunca ti-
phens. Quando trabalhava nesta última em-
vemos um empréstimo de um banco. O prin-
presa, em 1967, um cliente inglês pediu-lhe
cípio era: o dinheiro chegava do cliente e era
para acompanhar um projecto de moldes, por
para pagar aos fabricantes”, assegura. “Tí-
saber que dominava a língua, o que não era
nhamos margens de lucro elevadas.”
comum na época. “Não havia fax nem tele-
Em Setembro de 1975, por iniciativa de
fax. Era tudo por carta. Quando o cliente li-
Henrique Neto e Joaquim Menezes, surge no
gava a saber se estava tudo bem, ainda nem
mercado a Iberomoldes, num pequeno apar-
sequer se tinha começado a fazer o molde”,
tamento, na Av. Marquês de Pombal, em Lei-
recorda.
ria. Embora com um perfil diferente da
Tecmolde, também iniciou o seu percurso
“Durante 25 anos nunca
tivemos um empréstimo
de um banco. O princípio
era: o dinheiro chegava
do cliente e era para pagar
aos fabricantes”
como empresa de comercialização de moldes.
“Introduzimos uma lógica de organização da
comercialização diferente. Passámos do técnico que se aproveitava dos próprios conhecimentos para vender os moldes para
uma lógica mais estruturada de comercialização e marketing”, conta Joaquim Menezes,
No ano seguinte, o seu trabalho foi reco-
presidente do Conselho de Administração.
mendado a um austríaco, com quem criou a
“No início dos anos 80, a concorrência foi
LÍDER DA PRIMEIRA
Somema
SOCIEDADE OPERÁRIA
Fernando Vicente (primeiro à direita na
fila de cima) acabou por ser o líder natural da
Somema, constituída em 1958 por cinco operários. “Era um homem impulsivo. Mas, mais
tarde, tornou-se mais ponderado e mais maduro. Sabia exactamente o que queria. Era
competente, rigoroso e exigente.” A caracterização é feita pelo filho, Fernando Vicente, 61
anos, que herdou do pai o nome e é hoje director comercial e de marketing da empresa.
“Tal como os sócios, era uma pessoa simples,
competente e conhecedora. Tinha uma forte capacidade de liderança e era muito dedicado ao
trabalho. Isso é muito importante para levar
um negócio para a frente.”
“Havia empresas em que os sócios que-
Grande, em Fevereiro de 2013, Henrique
riam mandar rotativamente, mas isso não fun-
Neto confirma que “existiram sociedades que
ciona”, assegura um dos sócios fundadores,
fracassaram, seja porque as lideranças não
Leonel Marques Policarpo, de 85 anos. Numa
eram claras seja devido à existência de mais
das crónicas publicadas no Jornal da Marinha
do que um líder”.
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Arquivo JL
dades, entre outras, pelas elevadas taxas de
juro. Leonel Costa começou por se estabelecer em nome individual em 1980, antes de
criar a empresa, em 1988. “Nessa altura, a
banca não estava tão próxima dos empresários, muito menos de jovens empreendedores como o Leonel”, afirma Natália Valinha,
viúva de Leonel Costa e presidente do Conselho de Administração da LN Moldes. O investimento inicial foi feito com capitais próprios. “Arriscava-se o tudo ou nada.”
Taxas de juro na ordem dos 33% atrasaram e dificultaram o crescimento do negócio numa área onde existe necessidade de investimento permanente em novas tecnologias. “Era uma empresa nova, exposta a um
risco de crédito muito elevado dos seus
clientes e aos prazos médios de recebimento praticados nesta indústria”, explica Natália Valinha. “Tivemos mesmo de ultrapassar
alguns casos de incumprimento com uma
enorme dedicação ao negócio, uma evolução
na ineficiência das cobranças e um aperfeiçoamento da nossa capacidade negocial.”
Apesar de as taxas de juro serem muito elevadas, João Faustino, 52 anos, presidente
do Conselho de Administração da TJ Moldes,
na Marinha Grande, teve de recorrer à ban-
Os irmãos Arnaldo (na foto) e Joaquim
Matos venderam os seus carros para pagar
o barracão onde instalaram inicialmente a
Molde Matos
ca quando constituiu a empresa em 1985.
“Havia que rentabilizar ao máximo os investimentos. Não existindo máquinas CNC
que pudessem trabalhar durante a noite sem
a presença do operador, era normal os ho-
espevitada pelo nosso nascimento”, afirma
rários de trabalho serem de 16 horas por dia,
Joaquim Menezes. E dá como exemplo a Mol-
incluindo muitas vezes o próprio fim-de-
dexport, que resulta de uma parceria entre
semana.”
a Somema, a Molde Matos, a Somoplaste e a
Planimolde, que se terá inspirado no modelo de negócio da Iberomoldes.
Mas, pouco tempo depois, a Iberomoldes
alterou a sua trajetória e passou também a
“O crédito
era muito caro.
A taxa de juro
era próxima dos 30%”
produzir moldes, tornou-se num projecto
com uma vertente industrial mais forte do que
“Na altura, o objectivo era aproveitar as
a vertente comercial. “Estávamos muito aten-
oportunidades de mercado, rentabilizar os
tos ao mercado. Percebemos que tínhamos de
equipamentos e reduzir ao máximo as dí-
dar o salto para a indústria”, explica Joaquim
vidas para diminuir o valor dos juros a pa-
Menezes. “Comprámos a Calazans Duarte e
gar”, acrescenta João Faustino. “Os tempos
criámos várias empresas. Salvámos da falên-
iniciais foram muito difíceis”, confirma Car-
cia várias empresas de moldes, que se deba-
los Oliveira, que se aventurou sozinho a abrir
tiam com problemas gravíssimos.”
a Moliporex, na Marinha Grande, em 1986,
Os anos 80 foram marcados por dificul-
a primeira empresa do grupo Vangest.
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Só que, ao contrário de João Faustino, pôs
de parte a ideia de pedir mais um empréstimo. A solução que encontrou foi utilizar o
dinheiro que tinha pedido ao banco para a
construção da sua casa e que não tinha gasto. “Paguei a hipoteca com dinheiro emprestado por um tio e fiz uma hipoteca de um
valor superior para ter margem.”
Luís Febra, presidente do Conselho de
Administração da Socem, na Martingança, e
irmão de António Febra, também constituiu
a empresa em 1986 sem recorrer à banca. “O
Os dois maiores fabricantes de
brinquedos do mundo, as empresas
norte-americanas Mattel e
Hasbro, compravam a maioria dos
seus moldes em Portugal, tendo,
por isso, a Mattel criado mesmo
uma empresa nas Caldas da
Rainha para o fabrico de bonecas e
de audiocassetes.
crédito era muito caro. A taxa de juro era próxima dos 30%”, justifica.
Constituída por cinco sócios com competências complementares, a Socem iniciou o seu percurso de vida de uma forma
muito cautelosa. Não foram contratados colaboradores e não houve investimento inicial.
“Alugámos tudo, a fábrica e os equipamentos, e assim diminuímos as despesas. Assumimos o menor risco possível.”
“As principais dificuldades que sentimos
foi ao nível da gestão. Como era o mais jovem,
acabei por ser eu a orientar-me para essa
área. Primeiro fiz formação e depois tirei a
licenciatura”, explica Luís Febra. “O negócio
não podia centrar-se só no produto, mas no
cliente. Depois, era preciso olhar para a indústria como um negócio. À época era considerado uma arte.”
“Alugámos tudo, a fábrica
e os equipamentos, e assim
diminuímos as despesas.
Assumimos o menor risco
possível”
Eduardo Pedro, 66 anos, ex-empresário
que integra o grupo que está a escrever a história da indústria de moldes da Marinha
Grande, diz que “o mal das empresas foi terem sido criadas só por técnicos, e não economistas ou gestores”.
Nesta época, a liderança, por norma, era
assumida por um desenhador. “Perdia-se um
bom desenhador para ser um mau gestor”,
afirma Eduardo Pedro. Refere ainda que só
nos anos 80 é que começaram a surgir cursos nessas áreas, o que conduziu a uma mudança na filosofia de gestão das empresas.
A Ivima era associada da Vista
Alegre, que enviou de Lisboa para
a Marinha Grande um casal de
profissionais, António e Beatriz
Seabra, que trouxeram com eles os
conhecimentos e uma importante
biblioteca sobre gestão e
organização empresarial.
Os serões em sua casa,
acompanhados do chá e dos bolos
de Beatriz Seabra, passaram a ser
um acontecimento local, uma
verdadeira escola de gestão.
Em 1987 ou 1988, António Santos
foi à Bulgária. No mesmo avião, ia
Álvaro Cunhal com o ajudante.
Foram os três na área VIP.
“Quando chegámos, recebi muitos
abraços, porque pensaram que eu
fazia parte da comitiva do Álvaro
Cunhal, e insistiram que eu tinha
de ir de carro. Fui muito protegido
durante essa viagem. Conseguia
telefonar para Portugal com
facilidade, o que não era habitual”.
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Geco
DIFICULDADES
António Febra (ao centro)
investiu sempre em tecnologia
para ultrapassar as crises
MARCAM PERCURSO
DE SUCESSO
Apesar de a maioria das empresas de mol-
António Santos, presidente da Tecmolde,
des da Região ter actualmente uma situação fi-
também recorda alguns episódios que lhe ti-
nanceira confortável, todas enfrentaram obs-
raram o sono, como, por exemplo, clientes nor-
táculos ao longo do seu percurso. Nuns casos,
te-americanos e canadianos que desistiram dos
mais fáceis de ultrapassar. Noutros, ditaram
projectos depois de os moldes estarem con-
mesmo o seu encerramento.
cluídos. “A margem de risco era grande.”
Luís Abreu e Sousa, 65 anos, começou a
“A grande crise no sector dos moldes foi
trabalhar no sector aos 14 anos e reformou-
quando o dólar caiu em 2004 ou 2005 e a in-
-se em Agosto do ano passado. Durante o pe-
dústria automóvel deixou de comprar”, recor-
ríodo de 50 anos de trabalho, passou pela pior
da António Santos.
situação da sua vida profissional: a falência da
Recuando aos anos 80, António Febra, pre-
Favimolde, empresa da Marinha Grande de que
sidente do Conselho de Administração da
era sócio.
Geco, diz que existiu uma “crise idêntica a esta”.
“Um cliente canadiano não pagou a en-
A forma que encontrou para fazer face a esta
comenda, num valor superior a 700 mil dóla-
situação foi investir em tecnologia, para pro-
res, e a empresa fechou”, recorda Abreu e Sou-
duzir os moldes mais rapidamente e de uma
sa. “Trabalhei 25 anos das 8 à meia-noite para
forma mais perfeita.
deixar lá tudo”, lamenta.
“Fui a uma feira e comprei as CNC [má-
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quinas de controlo numérico] todas. A feira
O empresário da Marinha Grande também
abriu às 8 horas e às 9h20 já eram todas mi-
se viu obrigado a procurar novos mercados, a
nhas”, diz o empresário da Maceira, com um
valorizar o capital humano e a investir em no-
sorriso nos lábios. Nessa altura, os colabora-
vas tecnologias para conseguir concorrer nos
dores já estavam a receber formação na área
mercados mais exigentes a nível mundial.
dos dígitos.
“Ter uma fábrica com equipamentos obsoletos
é um passo para o insucesso.”
“Há uma tendência natural
para os empresários
desanimarem, quando se vêem
em apuros. Eu ganho mais
ânimo”
“A competitividade e a produtividade são
uma fatalidade para a indústria de moldes. A
tecnologia é uma razão do desenvolvimento da
competitividade e da produtividade. É um investimento anual de muitos milhões”, confirma Joaquim Menezes, presidente do Conselho
Depois disso, António Febra refere que, nos
de Administração do grupo Iberomoldes. “Te-
anos de 2007, 2008 e 2009, a concorrência tor-
mos de estar muito atentos à evolução tecno-
nou-se mais forte. Mais uma vez, a solução que
lógica, aumentar a capacidade produtiva e dar
encontrou foi investir em novas tecnologias, au-
formação permanente aos colaboradores. A
mentar a rapidez de fabrico e procurar novos
tecnologia tem esse senão.”
clientes.
Natália Valinha, presidente do Conselho de
“Nunca virei as costas às dificuldades”, su-
Administração da LN Moldes, considera que o
blinha o presidente do Conselho de Adminis-
investimento em tecnologia, além de ser cru-
tração da Geco. “Há uma tendência natural para
cial para a continuidade do sector, é um factor
os empresários desanimarem, quando se vêem
de diferenciação. “A LN Moldes compete con-
em apuros. Eu ganho mais ânimo.”
tra as melhores empresas mundiais, sediadas
João Faustino, presidente do Conselho de
em países como a Alemanha, Suíça ou Fran-
Administração da TJ Moldes, confirma que,
ça. Se não estivermos sempre na vanguarda da
tal como a maioria das empresas, a TJ Mol-
tecnologia, rapidamente deixamos de ser com-
des teve períodos bons e menos bons. “In-
petitivos.”
certeza de encomendas, colaboradores sem
Fernando Vicente, director comercial e
trabalho e encomendas a mais fazem parte
de marketing da Somema, acrescenta que o to-
da nossa história. A flexibilidade tem sido a
atitude certa tomada para superar estas dificuldades.”
Grupo Iberomoldes
Henrique Neto e
Joaquim Menezes
constituíram
a Iberomoldes em 1975
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dos os anos fazem upgrades do software in-
para outros mercados , como a costa Oeste
formático e, depois, vão adaptando o hardwa-
dos EUA e a Escandinávia. “Tive a percep-
re. “De dois em dois anos temos de adequar o
ção de que o mercado precisava de uma ló-
equipamento.”
gica mais abrangente.”
Se, na década de 80, a indústria de moldes fabricava 80% dos seus produtos para os
Estados Unidos, desde 2012, este mercado representa apenas 2%. “A indústria teve a ca-
“Adormeci numa situação
económica estável
e acordei falido”
pacidade de alterar totalmente os mercados
de actuação, quer em termos geográficos
“A Moliporex [primeira empresa do grupo
quer em termos sectoriais”, destaca João
Vangest] vendia mais de 70% para a Finlândia,
Faustino. “Conseguiu ainda moderadamen-
que entrou numa violenta crise económica, em
te ultrapassar todas as crises com que foi
1991, marcada pela desvalorização da moeda
confrontada.”
de 30% de um dia para o outro”, conta Carlos
A partir dos anos 80, a indústria de moldes da região já exportava para mais de 50
Oliveira. “Adormeci numa situação económica
estável e acordei falido.”
países, pelo que os EUA foram perdendo
Quando tudo parecia estar perdido, o ad-
cada vez mais importância. Em 2012, os cin-
ministrador do grupo Vangest viveu um “mo-
co principais destinos de exportação dos
mento notável, pela ligação de nobreza que foi
moldes portugueses eram a Alemanha, Es-
dada pelos finlandeses”. “Fui para a Finlândia,
panha, França, Brasil e República Checa, re-
falei com os clientes e todos se solidarizaram
vela um estudo da Cefamol.
na partilha do sacrifício”, recorda.
Carlos Oliveira, administrador do grupo
Nesse ano, a Moliporex teve prejuízo, de-
Vangest, na Marinha Grande, optou por ir
vido à quebra de 15% no volume de negócios.
“Nessa altura, já estava em curso a abertura de
mais duas empresas. Mantivemo-nos vivos e
isso permitiu consolidar relações com os fin-
“O Leonel [Costa], ao longo da sua
vida, construiu grandes amizades e
muitas junto dos seus clientes. Um dia, o
Mr. Harold ofereceu-lhe uma t-shirt que
dizia “No problem, Mr. Harold”, uma frase
muito típica do Leonel quando alguém
solicitava a sua colaboração. Ainda hoje
tenho uma fotografia de ambos e o Leonel
com a t-shirt vestida.” Natália Valinha
landeses”, afirma Carlos Oliveira.
Luís Febra, presidente do Conselho de Administração da Socem, também passou por um
momento difícil, a 11 de Setembro de 2001, dia
em que houve o ataque terrorista às Torres Gémeas, nos EUA.
“Alguns projectos americanos pararam,
como, por exemplo, um carro eléctrico que
estávamos a fazer para a Ford”, revela o empresário da Martingança. “Acabámos por
receber tudo, mas basta um projecto parar
três meses para criar um fosso considerável
na produção.”
Os problemas na Socem já se faziam
sentir desde 2003 e prolongaram-se até
2008, ano em que se dá a crise do subprime.
A facturação desceu 40% em termos globais
e obrigou a uma reestruturação da empresa. “Mas não deixámos de fazer investimentos. Em 2006, adquirimos a Maxiplás”,
revela Luís Febra. A estratégia revelou-se
acertada, já que, a partir de 2008 voltaram a
aumentar a facturação em 20% ao ano, devido
a um “esforço comercial muito elevado”.
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]
Somema
CHINA DITA REGRAS
NO MERCADO
Ao utilizar como principal
trunfo o preço, a China
contribuiu para o encerramento
de muitas empresas na
Alemanha, França e Espanha
De regresso a 1958, Leonel Marques
comenda. “O investimento em fundo de ma-
Policarpo, um dos cinco operários que es-
neio das novas empresas ficava por esse via
teve na origem da Somema, revela a filosofia
muito aliviado, já que era suportado pelos
de trabalho da época. Enquanto hoje, a exis-
clientes”, explica Henrique Neto, numa
tência de muitas empresas de moldes di-
crónica publicada no Jornal da Marinha
minuiu o seu poder negocial junto dos
Grande.
clientes, na época, a escassez de fábricas co-
“Foram as condições de pagamento do-
locava-as numa posição mais vantajosa.
minantes à época na indústria mundial de
“Nós é que estávamos a resolver os pro-
moldes – um terço com a encomenda, um ter-
blemas. Davam-nos uma amostra e um
ço com o ensaio do molde e um terço com a
bloco de aço. A partir daí, nós é que fazía-
entrega ao cliente – que permitiram superar
mos o trabalho todo.”
a insuficiência financeira das empresas”,
Essa situação contribuiu para que os
acrescenta Henrique Neto.
primeiros empresários pudessem iniciar o
O presidente do Conselho de Adminis-
fabrico dos moldes sem correr tantos riscos
tração da TJ Moldes, João Faustino, conta uma
como hoje, uma vez que um terço do valor
história curiosa desse período. Um cliente in-
final acordado era pago no momento da en-
glês encomendou um molde de grandes di-
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]
Somema
tas de respeito e o resultado foi colocar o
cliente na rua.”
Conclusão: A TJ Moldes perdeu a encomenda e não recebeu o cheque. Na altura, o
pagamento dos moldes era dividido em três
terços. “Hoje, é 30% + 30% + 30% + 10%”, explica Fernando Vicente, director comercial e
de marketing da Somema. Os 10% são liquidados após o molde ter sido testado pelo
cliente. “Temos poucos casos em que o cliente paga antes de se expedir o molde. Perdemos poder negocial”, constata o empresário.
“A negociação começou há uns dez anos
com a indústria automóvel”, sustenta António Santos, presidente da Tecmolde. “Noventa
por cento dos clientes enviam o produto que
querem para diversos fornecedores e ficam
à espera do preço. Depois há uma negociação sobre a qualidade do aço e questões técnicas.
“A crise está instalada no preço dos
moldes”, confirma António Febra, presidente do Conselho de Administração da Geco. “As
empresas estão a descer os preços para
conseguirem trabalho. Algumas estão a ter
prejuízo, porque vendem moldes por 20 a
30% do seu valor”, lamenta.
Esta situação foi gerada pela entrada da
China no mercado dos moldes. E se, ao iní-
A Somema trabalha pontualmente com
duas empresas chinesas. Para garantir a
qualidade dos moldes, depois de estarem
concluídos, são revistos na empresa da
Marinha Grande
cio, fabricavam moldes a preços muito baixos, mas sem qualidade, hoje, há casos em
que os preços continuam a ser mais competitivos e a qualidade é tão boa como a dos
moldes portugueses.
“Na China compram-se moldes por um
mensões e os desenhos foram-lhe enviados
terço do valor ou por menos 50% do que ven-
para aprovação. “Enviámos inúmeros tele-
demos em Portugal”, assegura Fernando Vi-
xes para nos confirmar se poderíamos en-
cente. “Uma das estratégias que seguimos foi:
comendar aços, mas nunca obtivemos res-
se não conseguimos vencê-los, juntamo-
posta.”
-nos a eles.”
Até que um dia, o cliente foi visitar a em-
A Somema trabalha pontualmente com
presa. “Ficámos contentes porque pensámos
duas empresas chinesas “bem equipadas, que
que viria dar instruções para podermos en-
fazem um produto interessante, com um pre-
comendar os aços para o molde e deixar o
ço muito baixo”. Para garantir a qualidade
cheque no valor de um terço”, recorda João
dos moldes, depois de estarem concluídos são
Faustino.
revistos na empresa da Marinha Grande.
Mas, na realidade, o cliente pretendia saber em que fase estava o molde. “Razão puxa
“Mexemos sempre nos moldes”, garante
Fernando Vicente.
razão e o cliente indignado começou aos ber-
O director comercial e de marketing da
ros e a chamar-nos 'bambinos' (na altura tí-
Somema diz que foram pressionados pelos
nhamos 20 e poucos anos). Mais algumas fal-
clientes a baixar os preços e a procurar ou-
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]
tras soluções, que lhes permitissem “fazer
ta especialização, tiveram receio de ir para
mais rápido, bem feito e por um melhor pre-
o Oriente.” Outros estão a regressar, a pou-
ço”. Além da parceria com as duas fábricas
co e pouco.
chinesas, para competir ao nível dos prazos
“Apesar disso, o Oriente está em todo o
de entrega, aumentaram o número de turnos
lado”, afirma Joaquim Menezes. “O grande
na fábrica. “Estas exigências também con-
desenvolvimento do mercado fez-se na Chi-
tribuíram para nós não adormecermos.”
na. Há claramente um impacto muito gran-
Joaquim Menezes, presidente do Con-
de a nível do negócio da China ao Extremo
selho de Administração do grupo Ibero-
Oriente.” Embora reconheça que há “muito
moldes, não esconde que a empresa perdeu
boas empresas” na China, estranha que
muitas encomendas na sequência da entra-
exista uma “imensidão de pequenas em-
da da China no mercado dos moldes. Além
presas que têm uma qualidade baixíssima e
de terem procurado outros mercados para
que fazem um preço que quase não paga a
exportar, abriram um escritório naquele
matéria-prima”.
país, a partir do qual trabalham com seis empresas asiáticas.
“Fazemos algumas coisas lá numa lógica de perceber como é que o mercado se de-
“Não quero vender
moldes feitos na China
com a nossa marca”
senvolve. É importante perceber o que se
passa lá”, explica Joaquim Menezes. Esta op-
Arnaldo Matos, fundador da Molde Ma-
ção tem, por isso, um peso marginal na fac-
tos, denuncia o facto de os grandes grupos
turação da Iberomoldes. “Queremos fazer o
terem deslocalizado as suas fábricas para a
negócio suficiente para pagar esta opção. Não
China, onde exploram os trabalhadores, aos
quero vender moldes feitos na China com a
quais pagam 70 euros por mês. “Os fabri-
nossa marca”, sublinha.
cantes de moldes foram a correr para a Chi-
O empresário esclarece, contudo, que
na para comprarem mais barato. A China é
nem todos os clientes transferiram o fabri-
um concorrente forte nos moldes não téc-
co dos seus moldes para a China. “Sempre ti-
nicos. Ainda está a fazer muita mossa.”
vemos clientes que, pela exigência que ti-
Embora reconheça que o preço dos
nham em relação à tecnologia e a uma cer-
moldes tem mais importância hoje do que ti-
CARGA FISCAL
ca Portugal numa situação de desvantagem em
PESADA
relação aos concorrentes internacionais. “O
Estado tem de ter em atenção que as pequenas
e médias empresas são um tecido industrial dinâmico importante para o País e não devem ser
Luís Febra considera fundamental o Governo diminuir os impostos sobre as empresas
uma arma política, como tem sucedido nos últimos anos.”
e sobre os trabalhadores, atrair investimento e
António Santos defende mesmo que deviam
apoiar todas as empresas. “A Administração
ser criados mecanismos que dificultassem a en-
Central está sempre a dizer que as empresas têm
trada de produtos chineses no mercado portu-
de ser competitivas e esquece-se que tem de criar
guês. “Se Portugal tivesse uma proteção à in-
modelos sustentáveis”, argumenta.
dústria na importação de moldes da China e de
Fernando Vicente também entende que a
outros países low cost de 15 a 20% resolvia-se
carga fiscal devia ser desagravada, sobretudo o
o problema”, acredita.“Esta situação prejudica
IRC, assim como o preço da energia, que colo-
a indústria portuguesa.”
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Tecmolde
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António Santos (à esquerda)
com Pedro Colaço, à data
colaborador da Tecmolde,
com os representantes da
empresa da Marinha Grande
na China.
marking com os melhores: os alemães e os japoneses.”
António Santos alerta ainda para o facto de haver fábricas na China a dizer aos
clientes que os moldes foram fabricados em
Portugal. “Canibalizam os moldes portugueses. Não há lei nenhuma que proteja isso.
São 40 ou 50% mais baratos do que cá.”
Além do preço, António Santos refere
que as mais de três mil fábricas de moldes
chinesas empregam milhares de pessoas, o
que lhe permite ter um prazo de resposta
muito curto. “Os chineses têm equipamentos
iguais, a engenharia tem progredido muito e
formam oito milhões de engenheiros por
ano.”
nha quando constituiu a empresa (1968), Ar-
“Na China, as peças são
polidas por mulheres.
Mil mulheres ficam mais
baratas do que um robot”
naldo Matos defende que não é tudo. “As empresas boas, se fizerem preços baixos não
Henrique Neto, ex-administrador da
chegam a lado nenhum.” E dá o exemplo dos
Iberomoldes, empresa que fundou em 1975
moldes técnicos, que têm de ser mais caros,
com Joaquim Menezes, considera que a Chi-
pois exigem melhores equipamentos para
na provocou a desindustrialização da Euro-
assegurar o máximo rigor.
pa e dos EUA, ao apresentar como principal
Mesmo depois de ter perdido clientes
trunfo o preço. “Na China, as peças são po-
dos Estados Unidos para a China, o presi-
lidas por mulheres. Mil mulheres ficam
dente do Conselho de Administração da
mais baratas do que um robot.”
Geco não baixou os preços. “Vendemos mais
E dá o exemplo da marca Volkswagen, o
caro porque os nossos moldes são bons”, jus-
maior produtor de automóveis na China. “Vai
tifica António Febra. “Faço mais de mil or-
começar a trazer componentes da China, mas
çamentos por ano.”.
ainda vai levar uns anos até fazer carros
Luís Febra, presidente do Conselho de
Administração do grupo Socem e irmão de
completos lá, porque a União Europeia vai
criar restrições”, prevê Henrique Neto.
António Febra, também não desceu os pre-
“O preço é sempre melhor na China em
ços dos moldes, apesar de ter sentido o im-
relação à Alemanha, França e Espanha.
pacto negativo da concorrência da China. “Os
Nestes dois últimos países têm fechado
nossos clientes mais fortes encaram a Chi-
empresas de moldes”, revela. O ex-admi-
na como mais uma opção, mas agora com
nistrador da Iberomoldes, que se reformou
menos interesse. Se calhar, hoje, em vez de
em 2009, acredita, contudo, que Portugal
canalizarem 60% da produção de moldes
acabou por beneficiar da desindustrializa-
para a China, é o contrário.”
ção europeia.
“O nosso País já é atractivo em termos de
“Nós, portugueses, somos considerados
mão-de-obra. Somos um País barato”, justi-
os melhores fabricantes de moldes do mun-
fica o empresário da Martingança. “Cabe-nos
do, afirma António Febra. “Somos reconhe-
andar à frente tecnologicamente e sermos
cidos a nível mundial, mas o preço é funda-
competitivos comercialmente”, defende.
mental. Os bancos devem ajudar no inves-
“Este sector é dos mais competitivos do
timento, porque é uma indústria que digni-
País, porque fomos obrigados a fazer bench-
fica Portugal.”
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]
Ricardo Graça
CONGRESSO
DA INDÚSTRIA
DE MOLDES
Arminda Pereira, Luís Abreu
e Sousa, Vítor Hugo Beltrão
e Eduardo Pedro estiveram
envolvidos na organização
do primeiro congresso e estão a
escrever a história da indústria de
moldes da Marinha Grande
REVOLUCIONA
SECTOR
O primeiro Congresso da Indústria de Mol-
tras, desenhos, etc, e criar um posto avançado
des, promovido pela Cefamol em 1983, cons-
da alfândega na região da Marinha Grande foi
titui um marco na história do sector, ao reunir
uma das acções propostas no congresso, a que
industriais e colaboradores da indústria de mol-
assistiu o director da Alfândega.
des para matérias plásticas e fundição injectada
“Os produtos chegavam a estar semanas
de todo o País e membros do governo que tu-
parados na Alfândega”, afirma Vítor Hugo
telavam esta área. Durante três dias debateram-
Beltrão, elemento de um grupo de trabalho da
se os problemas do sector e foram propostas
Cefamol que está a escrever a história de in-
medidas para permitir o crescimento das em-
dústria de moldes da Marinha Grande. “A
presas.
partir do congresso, isso mudou.”
Eliminar as barreiras e burocracias alfan-
Eduardo Pedro, ex-empresário que integra
degárias na importação de acessórios, amos-
o mesmo grupo de trabalho, conta que, até en-
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tão, a “forma de contornar a alfândega para
vimento da própria indústria”, acrescenta Joa-
agilizar” a resolução dos problemas passava
quim Menezes, presidente do Conselho de Ad-
por um circuito clandestino. “Fazia-se con-
ministração do grupo Iberomoldes. “Foi um
trabando de cera para injectar no molde para
marco importantíssimo para a organização do
o testar.”
sector, fundamentada na cooperação entre as
Outra das medidas reivindicadas no con-
diversas empresas.”
gresso consistia na eliminação do pagamento
“Houve um reconhecimento oficial de
de impostos sobre os equipamentos vitais ao
muita coisa”, observa Luís Abreu e Sousa.
apetrechamento tecnológico e proporcionar
Uma delas foi a importância do sector dos mol-
meios de comunicação eficazes e rápidos.
des. “Antes pensavam que moldes eram peda-
“Após 1974, quando queríamos falar para
ços de aço”, conta com um sorriso nos lábios.
o estrangeiro tínhamos de ligar primeiro para
a Marconi. Podia demorar uma hora ou ser no
dia seguinte”, recorda Eduardo Pedro.
Luís Abreu e Sousa, elemento do mesmo
grupo, diz que preferia ir ao cliente à Nazaré
buscar os desenhos dos moldes do que esta-
“Quando queríamos falar
para o estrangeiro tínhamos
de ligar primeiro para a
Marconi. Podia demorar
uma hora ou ser no dia seguinte”
belecer contacto telefónico, porque não se conseguia ligação para lá. “
Desse Congresso da Indústria de Moldes
“O congresso foi uma marca na indústria
saiu ainda a recomendação de “criar as condi-
dos moldes. Foi a partir daí que determinadas
ções necessárias à utilização da Base Aérea de
mudanças se deram na indústria”, garante Ma-
Monte Real pela aviação civil, proporcionan-
ria Arminda Pereira, elemento do mesmo gru-
do à indústria da Marinha Grande e de Leiria
po de trabalho da Cefamol, associação onde tra-
melhor ligação com os mercados externos.”. Me-
balhou 32 anos. “Existe hoje uma zona indus-
dida que nunca foi adoptada.
trial na Marinha Grande devido a uma petição
a recomendar a sua criação.”
Aliás, nas conclusões do segundo Congresso da Indústria de Moldes, que decorreu em
Além dessa e de muitas outras propos-
1985, é referido que “muitas das conclusões do
tas apresentadas no primeiro Congresso da
primeiro congresso, que são da exclusiva com-
Indústria de Moldes, destaca-se a defesa da
petência da Administração Pública, se en-
criação de um curso politécnico de plásticos
contram ainda hoje sem a solução esperada”.
e moldes. Mais tarde, “fomos apresentar a
A maior parte das propostas teria respos-
proposta ao ministro da Educação João de
ta nos anos seguintes. É o caso da constituição
Deus Pinheiro”, conta Vítor Hugo Beltrão.
de centros de formação profissional nas áreas
“Levámos tudo preparado.”
da Marinha Grande e Oliveira de Azeméis, da
Do congresso saiu ainda o pedido de for-
instalação do Instituto Politécnico de Leiria e
mar trabalhadores e quadros que colaborassem
da criação da licenciatura em Engenharia Me-
no desenvolvimento da indústria de moldes,
cânica (ramo moldes).
através da reorganização e reactivação do
No segundo congresso foi estabelecida ain-
curso de fresadores e da criação de áreas vo-
da como meta a indústria de moldes portuguesa
cacionais nas escolas secundárias da Marinha
conquistar um lugar de liderança no mercado
Grande e de Oliveira de Azeméis, os dois pó-
mundial até 1995, tendo em conta a dinâmica,
los mais importantes do sector.
os resultados e a capacidade técnica e compe-
“A Cefamol contribuiu muito para que se
titiva demonstrados.
criasse o Instituto Politécnico de Leiria, a Es-
Para atingir esse objectivo, foram reco-
cola Profissional e Artística da Marinha Gran-
mendadas dez medidas, entre as quais au-
de (EPAMG), o Cenfim – Centro de Formação
mentar a qualidade, reduzir os prazos de en-
Profissional da Indústria Metalúrgica e o cur-
trega, adequar a organização das empresas às
so de fresador”, assegura Arminda Pereira.
exigências das novas tecnologias, aumentar o
“O primeiro congresso da indústria de moldes teve um papel fundamental no desenvol-
período diário de produção e fomentar a formação profissional.
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Ricardo Graça
TECNOLOGIA COLOCA
PORTUGAL ENTRE OS
O investimento permanente em
tecnologia foi determinante para
as empresas de moldes terem um
lugar de destaque a nível mundial
MELHORES DO MUNDO
Oitenta e cinco anos depois do jovem Ai-
mámos sempre contra a maré”, observa
res Roque ter aberto a primeira oficina de
Maria Arminda Pereira, um dos elementos de
moldes para vidro na Marinha Grande, o sec-
um grupo que está a preparar a história da
tor está radicalmente diferente. Os dados
indústria de moldes para a Cefamol, onde
mais recentes, disponibilizados pela Cefamol
trabalhou 32 anos.
– Associação Nacional da Indústria de Mol-
Desafiados a indicar os momentos mais
des, relativos a 2011, revelam que existem
marcantes da história da indústria de mol-
113 empresas de moldes na Marinha Gran-
des na Marinha Grande, Eduardo Pedro, Luís
de e 83 em Leiria, que dão emprego a 2.153
Abreu e Sousa e Vítor Hugo Beltrão, que es-
e 1.083 pessoas, respectivamente.
tão a elaborar o trabalho para a Cefamol com
O crescimento exponencial desta in-
Maria Arminda Pereira, destacam a home-
dústria só foi possível devido à visão dos em-
nagem a Aníbal Abrantes, em 1981, organi-
presários, sempre atentos ao mercado, e
zada por um grupo de colaboradores e téc-
conscientes da necessidade de investir em
nicos, que reuniu “toda a gente dos plásticos
tecnologia. “O País tinha um atraso de 50
e dos moldes”.
anos, mas a indústria de moldes não. Re-
A iniciativa foi importante não só por ter
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Ricardo Graça
TECNOLOGIA COLOCA
PORTUGAL ENTRE OS
O investimento permanente em
tecnologia foi determinante para
as empresas de moldes terem um
lugar de destaque a nível mundial
MELHORES DO MUNDO
Oitenta e cinco anos depois do jovem Ai-
mámos sempre contra a maré”, observa
res Roque ter aberto a primeira oficina de
Maria Arminda Pereira, um dos elementos de
moldes para vidro na Marinha Grande, o sec-
um grupo que está a preparar a história da
tor está radicalmente diferente. Os dados
indústria de moldes para a Cefamol, onde
mais recentes, disponibilizados pela Cefamol
trabalhou 32 anos.
– Associação Nacional da Indústria de Mol-
Desafiados a indicar os momentos mais
des, relativos a 2011, revelam que existem
marcantes da história da indústria de mol-
113 empresas de moldes na Marinha Gran-
des na Marinha Grande, Eduardo Pedro, Luís
de e 83 em Leiria, que dão emprego a 2.153
Abreu e Sousa e Vítor Hugo Beltrão, que es-
e 1.083 pessoas, respectivamente.
tão a elaborar o trabalho para a Cefamol com
O crescimento exponencial desta in-
Maria Arminda Pereira, destacam a home-
dústria só foi possível devido à visão dos em-
nagem a Aníbal Abrantes, em 1981, organi-
presários, sempre atentos ao mercado, e
zada por um grupo de colaboradores e téc-
conscientes da necessidade de investir em
nicos, que reuniu “toda a gente dos plásticos
tecnologia. “O País tinha um atraso de 50
e dos moldes”.
anos, mas a indústria de moldes não. Re-
A iniciativa foi importante não só por ter
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Arquivo JL
presas portuguesas. “Começámos a afirmarnos e a promover de uma forma mais estruturada a nossa indústria.”
Os quatro elementos que estão a escrever a história da indústria de moldes da Marinha Grande destacam ainda a criação do
curso profissional de fresadores na Escola
Secundária Calazans Duarte, vocacionado
para a indústria de moldes, bem como a constituição do Centimfe.
“Houve necessidade de criar um pólo de
investigação para a indústria. A Cefamol solicitou ao ministro da Indústria e ao ministro da Educação que fosse criado o Centimfe, que foi inaugurado por Mira Amaral”, recorda Maria Arminda Pereira. “A indústria
deve-lhe muito. Nunca se recusou a vir cá
[Marinha Grande].”
Outro dos passos determinantes para a
indústria de moldes foi a abertura da Escola
Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria e
a criação do curso de Engenharia Mecânica
Rui Tocha é director-geral do Centimfe
e lidera a Poll-Net, associação que coordena
o pólo de competitividade e tecnologia,
engineering & tooling from Portugal
(ramo moldes) no ano lectivo de 1989/1990,
bem como o surgimento da revista O Molde,
que publicou recentemente o nº 1000. Mais
uma vez, por iniciativa da Cefamol.
A constante evolução tecnológica explica por que é que a indústria de moldes por-
sido prestada uma justa homenagem a Aní-
tuguesa é reconhecida como uma das me-
bal Abrantes, que constituiu a primeira in-
lhores do mundo. Para que tal fosse possível,
dústria de moldes para plásticos na Marinha
os quatro especialistas em moldes referem
Grande, como por ter proporcionado a tro-
a importância da atribuição de uma no-
ca de ideias entre empresários dos dois sec-
menclatura aos moldes e de avanços tecno-
tores. Foram ainda organizados colóquios so-
lógicos, como a erosão, laser, CAD/CAM
bre a qualidade industrial e a integração na
(manufactura auxiliada por computa-
Comunidade Económica Europeia (CEE), em
dor/desenho assistido por computador),
que participaram ministros, o governador ci-
controle de qualidade, informática, CNC
vil e o presidente da Câmara Municipal da
(Controle Numérico Computorizado) e cen-
Marinha Grande.
tro de maquinação.
Dois anos depois, era promovido o primeiro Congresso da Indústria de Moldes e, em
1984, as primeiras jornadas de trabalho
com técnicos e académicos. É ainda de referir
a importância da Semana dos Moldes, que
teve início em 1998 e decorre de dois em dois
anos.
Rui Tocha, director-geral do Centimfe, 46
anos, acrescenta que o objectivo do Centimfe
A abertura da Escola
Superior de Tecnologia e
Gestão de Leiria e a criação
do curso de Engenharia
Mecânica no ano lectivo
de 1989/1990 foram
determinantes para
a indústria de moldes
– Centro Tecnológico da Indústria de Moldes,
Ferramentas Especiais e Plásticos e da Ce-
Rui Tocha acrescenta a elaboração de
famol é mostrar as competências das em-
um Manual de Procedimentos, uma espécie de
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guia de boas práticas na indústria de moldes,
curtar os prazos de concepção, desenvol-
que conduziu à certificação de mais de 300 em-
vimento e produção dos produtos (time to
presas, no final dos anos 90. “A certificação de
market)”, afirma Rui Tocha. “O tempo de pôr
qualidade foi uma das ferramentas de que as
o produto no mercado começou a ser mais
empresas se muniram para poder responder
curto.”
aos desafios das indústrias internacionais.”
Joaquim Menezes, presidente do Con-
“Os clientes da indústria automóvel
selho de Administração do grupo Iberomol-
escolhiam para seus fornecedores empre-
des, destaca o facto de a empresa que lide-
sas certificadas. Isso obrigou as empresas
ra ter sido a primeira da Europa a ter esse
a disciplinar a organização e a pensar
sistema. “Foi a partir daí que se deu o ver-
como se posicionavam no mercado”, asse-
dadeiro impulso para a indústria”, garante.
gura Rui Tocha. “Melhorou a credibilidade
“A Iberomoldes foi pioneira nesta área.
junto dos clientes. O reconhecimento da
Fez um investimento muito grande e arris-
qualidade é muito importante para a pro-
cado. O sector começou a seguir à Ibero-
moção da indústria, do ponto de vista do
moldes”, confirma Rui Tocha. “Quando o
marketing.”
Centimfe nasceu, em 1991, essas questões
A rastreabilidade é outro avanço tecno-
do CAD/CAM eram debatidas nos con-
lógico importante para o director-geral do
gressos. Era uma das áreas principais do ne-
Centimfe pelos reflexos que teve na melho-
gócio do Centimfe. A dado momento, dei-
ria da gestão do negócio, ao registar as inte-
xámos de fazer desenvolvimento de pro-
racções com os clientes e ao permitir rever
jectos em CAD/CAM para as empresas,
o que falhou. “Responsabiliza as empresas
que se tornaram autónomas e passámos
para responderem às alterações sucessivas,
para a engenharia.”
fruto de um desenvolvimento cada vez mais
O director-geral do Centimfe recorda
rápido.”
“A indústria automóvel começou a enRicardo Graça
Este equipamento da Socem
permite ao molde injectar
peças para testes
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transferir esse conhecimento e ao participar
em muitos projectos de investigação.
A maquinação de alta velocidade também
gerou uma grande mudança no sector, no final
dos anos 90, ao possibilitar que um trabalho que
antes era desenvolvido numa semana passasse a ser feito num dia. Após uma missão ao Japão, o Centimfe adquiriu um equipamento
para uso da produção industrial. Nessa altura,
o Cenfim já tinha um para ensinar os alunos.
“Teve um papel muito importante na formação de técnicos para a indústria. As empresas chegaram a vender todas as máquinas
para comprar destas”, sustenta Rui Tocha.
“Houve mudanças estruturais na própria indústria e provocou uma revolução interna na
área comercial, porque era preciso procurar mais
Joaquim Menezes, presidente
do Centimfe, liderou a ISTMA (International
Special Tooling & Machining
Association) Europe e World
trabalho.”
Esta inovação tecnológica obrigou as empresas a investir em instrumentos mais robustos, pois os equipamentos eram tão velozes que
as ferramentas rebentavam na fresa. “Foram os
ainda as dificuldades que as empresas sen-
anos de ouro da reengenharia da indústria de
tiam para comunicarem com os clientes, pois
moldes. Em dez anos, houve um período de me-
não havia RDIS nem a internet tinha a ve-
lhoria muito acentuada. Começou a haver mui-
locidade que tem hoje. “O Centimfe desen-
to mais empresas a fornecer a indústria auto-
volveu o projecto round the clock com a Ibe-
móvel”, revela o director-geral do Centimfe.
romoldes, que permitia o desenvolvimento
de um produto à volta do globo em 24 horas.”
Entretanto, a RDIS permitiu aumentar a velocidade e obter maior rapidez na transferência de ficheiros. A utilização da videoconferência e a integração de Leiria e da Marinha
Grande no projecto Cidade digital também fo-
“Os mestrados foram
desenhados com empresas de
moldes. As teses
de mestrado eram feitas
para resolver problemas
das indústrias”
ram muito importantes, pois permitiram o envio de dados confidenciais.
Entre 2000 e 2005 surgiram as primeiras
“Entre 1997 e 2000 as tecnologias de co-
máquinas de automação a cinco eixos (antes
municação desenvolveram-se. Portugal foi
eram apenas de três eixos), em que a fresa es-
pioneiro na criação de uma rede de prototi-
culpia o molde. “Ao permitir reduzir os erros de
pagem rápida a nível mundial, que ligou cen-
precisão, começámos a entrar nas indústrias
tros tecnológicos a empresas”, recorda Rui To-
mais exigentes, como a microelectrónica”, explica
cha. “As empresas podiam oferecer aos seus
Rui Tocha.
clientes os primeiros protótipos, o que per-
A necessidade de produzir mais conheci-
mitia discutir o desenho, mas também a for-
mento conduziu à criação, entre 1996 e 2000, de
ma de fazer os produtos. Foi um salto muito
mestrados em Engenharia de Polímeros e En-
grande”, sublinha.
genharia e Produção de Moldes na Universidade
Na mesma altura, passou-se do 2D para
do Minho. “Os mestrados foram desenhados com
o 3D. “O desenho de CAD/CAM passou a ser
empresas de moldes. As teses de mestrado eram
feito em 3D. Para os desenhadores de mol-
feitas para resolver problemas das indústrias.”
des foi um salto brutal”, afirma. O Centim-
“Criámos nas empresas o embrião da ino-
fe teve aí um papel muito importante ao
vação. Começaram a preocupar-se com questões
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mais científicas. Hoje, o nosso sector é o que tem
2008, 2009. Joaquim Menezes [presidente do
mais empresas com certificação da inovação“,
Centimfe] e Leonel Costa [então presidente da
garante o director-geral do Centimfe. Além
Cefamol] promoveram a criação de um plano a
disso, a Agência de Inovação criou núcleos de
dez anos, que culminou com a ligação do pólo
inovação nas empresas, que financiavam a
de inovação e competitividade engineering & too-
elaboração de planos. “Criámos grupos de tra-
ling”, confirma Rui Tocha.
balho e pusemos mais empresas a participar em
projectos nacionais e europeus.”
Engineering & tooling é uma marca colectiva, que envolve design, engenharia, prototi-
Eduardo Pedro, Luís Abreu e Sousa, Maria
pagem, moldes e produtos. “A nossa indústria em
Arminda Pereira e Vítor Hugo Beltrão destacam
Portugal consegue fazer qualquer produto à es-
ainda o facto da presidência da ISTMA (Inter-
cala global”, assegura o director-geral do Cen-
national Special Tooling & Machining Association)
timfe.
Europe e World ter sido ocupada pelo português
“A indústria automóvel concentrou-se em
Joaquim Menezes, presidente do Centimfe e do
grupos com várias marcas e começou a querer
grupo Iberomoldes, assim como a campanha de
comprar produtos, em vez de moldes, o que obri-
imagem do sector e a criação do logótipo Mol-
gou as empresas a dar soluções integradas (mol-
des Portugal (Engineering & tooling from Por-
des, design e engenharia)”, explica Rui Tocha. “As
tugal), uma “forma organizada e sistemática para
empresas começam a oferecer aos clientes
promover a indústria de moldes lá fora”.
chave na mão.”
A criação de um pólo de competitividade e
engenharia com sede na Marinha Grande
(2009) e o Plano Estratégico da Indústria de Moldes, concebido pela Cefamol e pelo Centimfe em
2008, constituem outros dois momentos marcantes para os quatro especialistas em moldes
“Em 2007, os empresários percepcionaram
a crise da indústria automóvel, que surgiu em
COMUNIDADE
CIENTÍFICA
NACIONAL
“Criámos nas empresas
o embrião da inovação.
Começaram a preocupar-se
com questões mais científicas.
Hoje, o nosso sector é o que
tem mais empresas com
certificação da inovação“
ternacionalização. Quando são abordados
em feiras, encaminham as pessoas para a informação disponível no portal, onde encontram
uma lista de 55 empresas especializadas em
diferentes áreas. Para serem promovidas, as
empresas têm apenas de pagar uma quota. Em
Constituída em 1998, a Poll-Net é a as-
contrapartida, é feita publicidade em todas as
sociação que coordena o pólo de competitivi-
revistas técnicas a nível internacional, todos
dade e tecnologia, engineering & tooling from
os meses.
Portugal, que integra o Centimfe, a Cefamol,
“Estamos a coordenar o European Tooling
o Cenfim, empresas, universidades, politécni-
Platform, rede de centros de investigação e de
cos e centros de investigação. “É uma comu-
empresas de tooling, a nível europeu”, afirma
nidade científica nacional. Promovemos a in-
o director-geral do Centimfe.
dústria a nível internacional e gerimos a
“Somos consultores da União Europeia
marca. Competimos com gigantes multina-
(UE) para poder abrir apoio nessas áreas.
cionais.”
Com o novo Quadro Comunitário de Apoio, de-
Rui Tocha, director-geral da Poll-Net,
finimos as áreas de apostas em tooling até
explica que o Centimfe faz o interface com a
2020. Estamos a levar a UE a abrir programas
inovação do sector e a Cefamol promove a in-
para apoiar o desenvolvimento dessas áreas”.
[ 33 ]
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Reféns da
indústria
automóvel
A maioria das empresas de moldes
acredita que a indústria automóvel vai
continuar a ser o cliente mais importante no
futuro. Algumas procuraram diminuir a
dependência deste sector, ao apostar noutros
ramos de actividade, mas o peso na
facturação é ainda marginal
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[
ESTG-Leiria
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]
Tendo em conta a
importância deste sector, a
actividade das empresas de
moldes está condicionada ao
lançamento de novos modelos
no mercado ou do restyling de
modelos já comercializados.
Quem não acompanha a actividade das
empresas de moldes da região talvez desconheça que fabricam os moldes da maioria das peças utilizadas na construção de automóveis. Em 2010, a indústria automóvel
absorvia 72% da produção, enquanto em
1991 a sua importância no negócio das
empresas de moldes era de apenas 14%.
“Tornámo-nos reféns da indústria automóvel. Tentámos diversificar, mas não é
fácil. Nas indústrias farmacêutica, médica
e aeronáutica o mercado é mais restrito”,
justifica Fernando Vicente, director comercial e de marketing da Somema.
Tendo em conta a importância deste
sector, a actividade das empresas de moldes
está condicionada ao lançamento de novos
modelos no mercado ou do restyling de modelos já comercializados.
“Agora não dominamos as variáveis do
mercado, porque dependem das solicitações
de produtos. Nunca podemos dizer que temos encomendas garantidas para os próximos dois anos”, explica Fernando Vicente. “Temos picos: muito em cima e muito em
baixo.”
“Quem trabalha só com a indústria automóvel vai ter tempos muito difíceis. Além
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[ 36 ]
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Página 36
]
Vangest
da crise na Europa, se há uma diminuição
na venda de automóveis não se vão fazer
modelos novos”, alerta António Santos,
presidente da Tecmolde.
“A indústria automóvel
alavanca a indústria médica,
os hospitais, a segurança, a
electrónica, as estradas, os
parques de estacionamento.
Alavanca tudo!”
O empresário da Marinha Grande considera que a dependência das empresas de
“Queria chegar, no máximo, aos 50%, porque
moldes da indústria automóvel pode ser pe-
pagam mal”, esclarece.
rigosa. “A grande quantidade de moldes que
“Queria diversificar para indústrias que
se fazia para a indústria automóvel vai
já foram fortes clientes da indústria portu-
baixar. O futuro vai obrigar à diversificação
guesa e que estão em dificuldades, porque
de mercados e de produtos.”
os preços na China estão a subir muito: elec-
António Febra, presidente do Conselho
de Administração da Geco, quer diminuir a
trónica e electrodomésticos”, revela o empresário da Maceira.
importância do sector automóvel na sua em-
Em 2010, a indústria de electrodomés-
presa, que representa 80% da facturação.
ticos correspondia a 6% dos clientes das em-
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[
“As áreas da saúde e
electrónica, poderão vir a ter
outra preponderância na
indústria de moldes, pela
exigência e regras que
também obrigam a cumprir”
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]
[ 37 ]
aeronáutica têm “margem de sustentabilidade”.
“A indústria automóvel alavanca a indústria médica, os hospitais, a segurança, a
electrónica, as estradas, os parques de estacionamento. Alavanca tudo!”, sublinha
Carlos Oliveira, administrador do grupo
Vangest. Reconhece, no entanto, que, apesar de ser um mercado “extraordinariamente exigente” e obrigar a uma “inovação
permanente”, “quer pagar cada vez menos
e cada vez mais tarde”.
António Santos diz que “o que está a
acontecer agora é a indústria automóvel
presas de moldes portuguesas, enquanto a
querer comprar o molde (e não os produ-
electrónica/telecomunicações absorvia 3%
tos plásticos) para poder levá-lo de um sí-
da sua produção. Embalagens e utilidades
tio para o outro, para ganhar dinheiro e ter
domésticas representavam 5% dos clientes
flexibilidade”.
e o sector da saúde 1%, revela o estudo da
“A Tupperware chega a fabricar um
Cefamol A indústria portuguesa de moldes.
molde na Marinha Grande que viaja por 16
A LN Moldes diversificou a sua activi-
países diferentes”, exemplifica António
dade, em 2009, para os sectores do plástico
Santos. “Esta prática tem mais de 20 anos.
e da engenharia, com o objectivo de dimi-
Está a voltar-se ao princípio de standardi-
nuir os riscos de concentração na área dos
zar o mesmo molde, feito da mesma ma-
moldes. O ramo automóvel continua a ser a
neira, para diversos países.”
“principal fonte de negócio”, embora também fabrique moldes para os sectores eléctrico e de embalagem.
Natália Valinha, presidente do Conselho de Administração do grupo LN Moldes,
acredita no “crescimento consolidado do
sector automóvel pela sua complexidade e
requisitos obrigatórios a que sujeitam os
seus fornecedores”. Quanto às áreas da
Principais indústrias clientes em 2010.
O sector automóvel destaca-se das
restantes áreas de actividade, ao
corresponder a 72% da produção
das empresas de moldes
saúde e electrónica, “poderão vir a ter outra preponderância na indústria de moldes,
pela exigência e regras que também obrigam a cumprir”.
Utilidades
domésticas
5%
Já Luís Febra, presidente do Conselho
de Administração do grupo Socem, recusa
a ideia de procurar clientes noutras áreas
Saúde Outros
1%
8%
Electrónica/
Telecomunicações
3%
de negócio. “Não existe outra indústria com
peso no mercado que nos permita alimen-
Embalagem
5%
tar a nossa estratégia.”
O presidente do Conselho de Adminis-
Electrodomésticos
6%
tração do grupo Iberomoldes, Joaquim Menezes, também não tem dúvidas de que “o
Automóvel
sector automóvel vai continuar a liderar”,
72%
embora reconheça que esta “dependência é
perigosa quando há crises”. Acredita, ainda,
que os sectores dos dispositivos médicos e
Fonte Cefamol
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[ 38 ]
[
M O L D E S
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]
EM BUSCA
PERMANENTE DE
NOVOS DESTINOS
DE EXPORTAÇÃO
O mercado europeu
representou, nos últimos
anos, cerca de 75% do total
de exportações
2%
Alemanha
R. Unido
21%
4%
França
17%
EUA
2%
Rússia
4%
4%
Polónia
R. Checa
Espanha
20%
México
2%
Brasil
Outros
4%
20%
Fonte Cefamol
A entrada da China no mercado global
Em 2012, os cinco principais destinos das
teve um forte impacto no sector dos moldes.
exportações portuguesas de moldes foram a
Os clientes norte-americanos transferiram-
Alemanha (21%), Espanha (20%), França
se para o Oriente e as empresas portugue-
(17%), Brasil (4%) e República Checa (4%),
sas foram obrigadas a procurar novos mer-
com o mercado europeu a representar nos
cados.
últimos anos cerca de 75%.
A Europa passou a ser o principal des-
Entre 2004 e 2009, os Estados Unidos
tino de exportação na última década e os paí-
encontravam-se na lista dos melhores clien-
ses de Leste a assumir um papel cada vez
tes portugueses, o que deixou de suceder daí
mais importante.
em diante. “Esta diminuição é explicada es-
A procura de mercados alternativos faz
sencialmente pela deslocalização de em-
parte do código genético das empresas de
presas para países com baixos custos de
moldes portuguesas, que, em 2012, manti-
mão-de-obra e pela forte depreciação do
veram relações comerciais com 83 países, o
dólar americano face ao euro”, justifica o es-
que demonstra a sua dimensão internacio-
tudo.
nal e global. Nesse ano, o valor total das ex-
Alguns empresários asseguram, no en-
portações atingiu 512 milhões de euros, re-
tanto, que os clientes dos Estados Unidos
vela o estudo da Cefamol sobre A indústria
estão a voltar a procurar as empresas por-
portuguesa de moldes.
tuguesas, pois constataram que a política de
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[
M O L D E S
]
preços baixos praticada na China não lhes
te mais de 90% da produção total”, refere o
garante qualidade.
estudo da Cefamol..
“Os clientes estão a abandonar o mer-
“Em 2012, a exportação atingiu um va-
cado chinês, porque a qualidade é baixa. Há
lor de cerca de 512 milhões de euros, sendo
algumas empresas com boa qualidade, só que
que valor total de produção foi cerca de 569
deixaram de ser competitivas. Depois há a di-
milhões de euros”, lê-se no documento.
ficuldade da língua e do pagamento”, expli-
Para tal, contribuiu o facto de ser um sector
ca António Ventura, sócio-gerente da Enge-
inovador e de alta intensidade tecnológica.
neering & Tooling, na Marinha Grande.
“O saldo da balança comercial registou uma
“Tudo isso tem feito com que os clientes
tendência de crescimento, tendo passado de
americanos e europeus estejam a regressar.”
264.33 milhões de euros em 2002 para
“Alguns dos clientes que perdemos, a
[ 39 ]
406,64 milhões de euros em 2012.”
pouco e pouco, têm vindo a regressar”, confirma Joaquim Menezes, presidente do Conselho de Administração do grupo Iberomoldes. Já os mais exigentes em relação à tecnologia tiveram receio de ir para o Oriente
e continuaram a trabalhar com a empresa da
Marinha Grande.
Luís Febra, presidente do Conselho de
Administração da Socem, afirma que os
“Os clientes estão a
abandonar o mercado
chinês, porque a qualidade é
baixa. Há algumas empresas
com boa qualidade, só que
deixaram de ser competitivas.
Depois há a dificuldade da
língua e do pagamento”
clientes mais fortes da empresa, hoje, encaram a China como mais uma opção, mas com
A notoriedade da indústria de moldes
menos interesse. “Se calhar, hoje, em vez de
portuguesa no mercado internacional é
canalizarem 60% para a China, é o contrário.”
explicada quer por ter uma relação com-
A forte relação da indústria de moldes
petitiva entre qualidade, preço e prazos de
portuguesa com o mercado automóvel foi de-
entrega quer pela procura externa. Em
terminante para que a produção fosse ca-
2012, o sector possuía cerca de 450 peque-
nalizada maioritariamente para o mercado
nas e médias empresas, dedicadas à con-
externo. “Portugal encontra-se entre os prin-
cepção, desenvolvimento e fabrico de mol-
cipais fabricantes mundiais de moldes, no-
des e ferramentas especiais, e empregava
meadamente, na área dos moldes para in-
cerca de 7.640 trabalhadores, nas regiões da
jecção de plásticos, exportando actualmen-
Marinha Grande e Oliveira de Azeméis.
Análise da evolução da balança
comercial, ao longo dos últimos anos,
demonstra a forte vocação exportadora
473,01
do sector
602
Exportação
345,07
343,10
335,90
328,49 326,57 325,99
321,99
298,60
297,50
275,68
264,33
Saldo
Importação
Crescimento das exportações do
sector tem acompanhado o aumento
da produção
284,41
278,90
246,20
278,74 264,27
251,60
375,28
364,34
Produção
512
Exportação
317,80
287,24
268,78
246,26
379
369
359
359
345 350
328 327
326
297
405
398
424
343
336
299
404
403
367 349
364
317
97,73
77,10
64,36 57,72 71,54
52,81 62,24 57,21 60,66 51,30 57,00 47,00
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Fonte Cefamol
2001
Fonte Cefamol
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
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[
M O L D E S
]
Ricardo Graça
O sector automóvel
continua nos horizontes
dos empresários da
indústria de moldes,
embora muitos estejam
conscientes que é um
imperativo procurar
outras áreas. A
diferenciação é
considerada
imprescindível para
vencer no mercado,
assim como a constante
evolução tecnológica.
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[
M O L D E S
]
DIFERENCIAÇÃO
E DIVERSIFICAÇÃO
SÃO OS CAMINHOS
PARA O FUTURO
O ditado “o segredo é a alma do negócio” é
pressa”, afirma o director-geral do Centimfe.
levado muito a sério pelos empresários da in-
Investigador e ex-director do Centro de De-
dústria de moldes, que preferem não revelar em
senvolvimento Rápido e Sustentado do Produto
concreto o que pretendem fazer no futuro. Fa-
do Instituto Politécnico de Leiria, Paulo Bárto-
lam na necessidade de diferenciar produtos e
lo considera o sector dos moldes exemplar.
de diversificar a actividade e manifestam um
optimismo entusiasta a moderado.
“Temos tecnologia, mas quem tira partido
disso são os que desenvolvem produto. Devía-
Talvez não seja por isso de estranhar que
mos começar a pensar mais numa estratégia de
Rui Tocha, director-geral do Centimfe, seja o úni-
engenharia de produto. O sector têxtil já o fez”,
co a partilhar as suas expectativas. “A área tec-
alerta o investigador, cujo centro que liderou até
nológica que se vislumbra como aposta de fu-
dia 1 de Fevereiro ocupa 50% da sua activida-
turo é a microfabricação. O empreendedorismo
de a desenvolver projectos na área dos moldes.
do futuro é a criação de empresas nestes do-
“A Alemanha tira partido daquilo que nós fa-
mínios”, acredita. “Estamos a falar de empre-
zemos e cria valor. Ficamos atrasados em rela-
sas-laboratório, que nascem da ligação da aca-
ção a eles.”
demia à indústria. Vamos descer ao átomo.”
Paulo Bártolo assegura que os custos do trabalho em Portugal estão abaixo de Espanha e
“Os custos do trabalho em
Portugal estão abaixo de
Espanha e Itália e o I&D está
acima. Era expectável que, em
termos de produtividade,
estivessemos à frente desses
países, mas estamos abaixo”
Itália e a investigação e desenvolvimento (I&D)
está acima. “Era expectável que, em termos de
produtividade, estivessemos à frente desses países, mas estamos abaixo. Falta-nos capacidade
de criar valor. É uma questão cultural e medo
de arriscar.”
O Grupo Vangest é apontado pelo investigador como um bom exemplo, por ter uma
Rui Tocha sublinha que só entra na área da
visão estratégica. Carlos Oliveira, presiden-
microfabricação quem for reconhecido pela sua
te do Conselho de Administração deste gru-
qualificação, pois este mercado funciona como
po, criou um departamento de I&D liderado
um clube fechado. “Destina-se a mercados so-
por um doutorado, por estar consciente da ne-
fisticados de todo o mundo: saúde, electrónica,
cessidade de melhorar quer através do au-
embalagem, automóvel, aeronáutica. A nossa in-
mento da competitividade e factores de di-
dústria está a ir em bloco para esses mercados.
ferenciação quer pela diversidade, através da
Por isso, é que as indústrias de moldes têm de
agregação de tecnologia.
reforçar as suas competências.”
“De 1986 a 1991 fomos percebendo que o
“Há uma nova era de utilização dos mate-
engeneering and tooling era o caminho. Em 1997
riais e incorporação de novas tecnologias que
estávamos com a estratégia posta em prática.
são o desafio do futuro. Estamos numa fase de
Hoje, está consolidada”, garante o presidente do
reciclar tudo. Há muita coisa a evoluir muito de-
Conselho de Administração do grupo Vangest.
[ 41 ]
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[
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28-03-2014
16:26
Página 42
]
Ricardo Graça
“Ou Portugal abre a pestana e se especializa
no que é bom e capaz ou temos um futuro
muito negro pela frente”, diz Carlos Oliveira.
muitas alterações no mercado automóvel, devido a questões ambientais. “É essencial ter capacidade de adaptação à mudança e perceber
por antecipação o que vai acontecer”, aconse-
“A nossa estratégia é a especialização, integra-
lha, tendo sempre presente que quem dita as
ção e tecnologia. A especialização dá origem ao
regras na Europa é a Alemanha. “É o país mais
design, engineering e tooling”, explica.
industrializado e mais bem posicionado aos ní-
Atento à evolução do mercado, Carlos Oli-
veis económico, tecnológico e da inovação.
veira afirma que “lá na frente, a indústria de
Optimista em relação ao futuro, Natália Va-
moldes vai ter cada vez mais dificuldade em
linha, presidente do Conselho de Administra-
competir no mercado europeu, porque os cen-
ção do grupo LN Moldes, diz que a região tem
tros de consumo e a construção automóvel es-
muita experiência e conhecimento e é reco-
tão a deslocar-se para Leste. ”
nhecida internacionalmente. “A indústria dos
“É lá que o mercado está a crescer, a logís-
moldes tem muito futuro, não só pela dinâmi-
tica é mais económica e os custos da mão-de-
ca dos empresários, mas também pela sua cria-
obra são mais baratos do que em Portugal”, aler-
tividade na concepção e na produção, elevado
ta o empresário da Marinha Grande. “Ou Por-
nível tecnológico e forte capacidade comercial
tugal abre a pestana e se especializa no que é
exportadora.”
bom e capaz ou temos um futuro muito negro
Os grandes avanços no cumprimento dos
pela frente. Só temos uma forma de evoluir: a
prazos, no controlo de qualidade e na formação
diferenciação.”
dos recursos humanos são, para Natália Valinha,
Fernando Vicente, director comercial e de
factores-chave para assegurar a continuidade
marketing da Somema, defende que a indústria
da indústria. “A tendência deverá ser diversifi-
de moldes sempre teve grande capacidade de
car, mas sem perder a competitividade.”
adaptação. “Cada vez mais caminhamos para
João Faustino, presidente da Direcção da
produtos mais complexos e com mais adapta-
Cefamol e presidente do Conselho de Admi-
ção tecnológica. A diversificação é o ideal. Po-
nistração da TJ Moldes, está optimista em re-
demos acrescentar mais valor aos produtos para
lação ao futuro. “O cluster engineering and too-
serem vendáveis.”
ling from Portugal" criou um logótipo que pre-
“Quem já faz desenvolvimento de produ-
tende ser a imagem dinamizadora das capa-
to, projectos, construção de moldes e fabrica-
cidades de todo o sector”, sublinha. “Pretende-
ção de peças plásticas proporciona uma ofer-
se promover as valências das empresas, que
ta integrada”, acredita Fernando Vicente. “Quem
passam pela concepção do produto, pela
incorporar tecnologia tem possibilidade de se
prototipagem, pelo fabrico do molde, pela in-
adaptar aos novos tempos.”
jecção das peças e pela montagem do produto,
O empresário da Marinha Grande prevê
congregando-se assim numa oferta comple-
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[
M O L D E S
]
ta associada aos respectivos ganhos de pro-
turo passe ainda por outros sectores, como
dutividade.”
os dispositivos médicos e a aeronáutica. “Sou
optimista em relação ao futuro do sector se
“O futuro representa uma
oportunidade clara para
Portugal. Se trabalharmos
de forma racional e organizada
somos dos melhores povos
do mundo”
os empresários continuarem a ter visão e
continuarem a desenvolver-se”, sublinha. “O
próprio mercado incentiva a indústria portuguesa a ir para a frente, porque lhe reconhece qualidade e competência.”
“O futuro representa uma oportunidade clara para Portugal. Se trabalharmos de
No plano que a indústria de moldes de-
forma racional e organizada somos dos
finiu para um prazo de dez anos, os sectores
melhores povos do mundo”, acredita Luís
considerados prioritários são a saúde, em-
Febra, presidente do Conselho de Admi-
balagem, indústria electrónica, indústria
nistração da Socem. Apesar disso, não es-
automóvel, indústria aeronáutica e energia
conde que as condições de mercado se es-
e ambiente.
tão a degradar, porque os clientes cada vez
O empresário da Marinha Grande considera que a indústria automóvel é a que tem
são mais e têm mais poder e devido ao aumento da competitividade internacional.
mais possibilidades de crescimento. Alerta, no
Ao contrário da maioria dos empresários,
entanto, para o facto de questões geopolíticas
António Santos, presidente da Tecmolde,
e económicas internacionais poderem resultar
diz que “quem trabalha só com a indústria au-
em ameaças, nomeadamente nas encomendas
tomóvel vai ter tempos muito difíceis”, devi-
e na dilatação dos prazos de pagamento.
do à crise na Europa. “O futuro vai obrigar à
Joaquim Menezes, presidente do Con-
diversificação de mercados e de produtos. O
selho de Administração do grupo Ibero-
caminho é pela inovação. Sem dispensar
moldes, também considera que o sector au-
aqueles mercados pequenos que ainda não
tomóvel vai continuar a liderar, embora o fu-
estão familiarizados com Portugal”.
DESAFIO AO ENSINO
não só em Portugal como também na Alema-
SUPERIOR
As universidades e os institutos politéc-
nha ou na França, que tem vindo a Portugal
recrutar alguns dos nossos melhores profissionais”, denuncia.
nicos deviam substituir alguns dos cursos sem
Carlos Oliveira, administrador do grupo
saída no mercado por formações mais dire-
Vangest, confirma que começa a haver falta
cionadas para as empresas nacionais, no-
de operários especializados nas áreas onde a
meadamente na indústria de moldes, defende
formação é mais longa, precisamente porque
Natália Valinha, presidente do Conselho de Ad-
as empresas concorrentes os tem vindo bus-
ministração da LN Moldes. “Tem de haver al-
car a Portugal, fenómeno associado à “emi-
guma inovação na formação. Temas como
gração generalizada”, devido à incerteza que
Lean, Kaizen, Coaching, Motivação de equipas,
as pessoas sentem em relação ao futuro.
Marketing relacional deveriam fazer parte do
ensino superior.”
“Algo tem de ser feito rapidamente ao nível da formação de modo a estimular os
Natália Valinha lamenta a dificuldade
nossos jovens a enveredarem por cursos
em encontrar recursos humanos com compe-
profissionais relacionados com o sector, sa-
tências técnicas para trabalharem no sector.
bendo que poderão ter um emprego à sua es-
“A mão-de-obra qualificada é cada vez menor,
pera”, acrescenta Natália Valinha.
[ 43 ]
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[
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17-03-2014
13:34
Página 44
]
PRODUTO
DEVE SUBSTITUIR
O MOLDE
Henrique Neto, ex-administrador do
“Se em vez de se fazer o molde
para um pára-choques, se
produzir o pára-choques, as
vendas aumentam dez vezes
mais. Em vez de 300 mil euros,
factura-se três milhões de euros.”
grupo Iberomoldes, também não partilha do
optimismo da maioria dos empresários em
relação ao futuro da indústria de moldes. A
não ser que mudem de estratégia e vendam
produtos, em vez de apenas moldes.
Num horizonte temporal de dez a 15
anos, prevê que a Europa, com excepção da
Alemanha, perca influência em relação à
China e aos Estados Unidos.“Se a economia
europeia perder 30%, o sector automóvel e o
sector de bens e equipamentos também
perdem 30%. A economia europeia não se
aguenta”, afirma Henrique Neto. A solução
passa por produtos para nichos de mercado.
“A maneira de resistir à China vai ser essa.”
A possibilidade de poder comprar um
fato com os detalhes escolhidos pelos clientes em 3D é um dos exemplos apontados. O
Henrique Neto. “Se em vez de se fazer o mol-
empresário conta ainda que, quando foi ao
de para um pára-choques, se produzir o
Japão, quis comprar dois relógios iguais,
pára-choques, as vendas aumentam dez
para oferecer à mulher e à filha, mas só ha-
vezes mais. Em vez de 300 mil euros, factu-
via um, para evitar stocks. No dia seguinte,
ra-se três milhões de euros.”
arranjaram-lhe outro. Este é o caminho que
entende se deve seguir.
E se há cada vez mais empresas a vender produtos na indústria de moldes, o em-
O ex-administrador da Iberomoldes de-
presário lamenta que outras continuem
fende que “a indústria de moldes vai perder im-
apenas a fazer moldes. “Na Marinha Gran-
portância em todo o mundo ocidental e, daqui
de é possível fazer o desenho, o protótipo, o
a 30 anos, também na China, porque as tec-
molde e o produto. Os marinhenses estão ob-
nologias vão evoluindo e os mercados também.”
cecados pelo molde. O molde já foi. Já con-
Lamenta ainda que a indústria de moldes em
quistámos o mundo com os moldes.”
Portugal não tenha mercado interno, como sucede nos outros países europeus.
“A Marinha Grande tem de passar a ser
vista não como a indústria de moldes e plás-
“Se se falar em engeneering & tooling toda
ticos, mas como uma terra inovadora, com
a gente pensa em Portugal, mas isso só nos
capacidade de fazer produtos”, afirma Hen-
vai
manter nesta indústria mais algum
rique Neto. “O futuro da Marinha Grande e
tempo. Não somos vistos como criadores de
da economia portuguesa não cresce por
produtos. É por aí que devemos ir “, sublinha
estas razões.”
Ricardo Graça
História da Indústria_Moldes_forum:Layout 1
17-03-2014
13:23
Página 45
[
M O L D E S
]
OPINIÃO
COMO VÊ O FUTURO DA
INDÚSTRIA DE MOLDES?
Optimismo é a nota dominante entre os
protagonistas do sector dos moldes. O
regresso dos clientes norte-americanos
ao mercado português, depois de terem
constatado que os moldes fabricados na
China não tinham a qualidade desejável,
e a emergência de novos mercado
apontam para o aumento da produção
das empresas do sector. Mas, para que o
futuro seja risonho, entendem ser
fundamental ter trabalhadores com
bons conhecimentos técnicos e
continuar a investir na inovação
tecnológica.
O Cenfim vê o futuro da indústria de moldes com optimismo e com a certeza
de estarmos perante um sector que está (e continuará a estar) na vanguarda da
tecnologia, e um parceiro preponderante na formação e qualificação dos trabalhadores do sector. O futuro desta indústria passará, certamente, pela flexibilização de processos, introdução de novos materiais, aumento da capacidade de investimento e no desenvolvimento da tecnologia – cada vez mais complexa e atualizada por ciclos mais curtos. No entanto, constatamos também com alguma preocupação, mas simultaneamente como um desafio, a habilidade que o sector terá de ter na captação,
recrutamento e motivação de novos profissionais. Principalmente tornando-se um sector apetecível
para os jovens. E este é um trabalho que tem de ser realizado em articulação e com o empenho de todos!
É neste sentido, de dotar os trabalhadores dos conhecimentos técnicos necessários para uma adequada inserção nas empresas, que o Cenfim – e concretamente o Núcleo da Marinha Grande – foca
a sua atividade, recursos e capacidades, desde 1985. E assim o vai continuar a fazer.
Carlos Silva, Cenfim, Marinha Grande
Se há um factor que distingue a indústria de moldes é a sua grande flexibilidade e adaptabilidade à mudança e inovação, seja tecnológica seja na resposta
aos mercados. Sempre que surge uma crise num mercado, logo outro mercado substitui aquele, que temporariamente se deixa, sem nunca se largar por completo.
O sector nasceu para exportar e talvez por isso o seu crescimento tenha vindo a
ser constante. Acresce ainda que, com a emergência dos novos mercados, mais moldes vão ser necessários fabricar no futuro. Nestas circunstâncias, e porque o sector continua em constante renovação e cada vez mais a impor-se como sector de referência a nível
mundial e porque considero haver ainda uma grande margem de crescimento da exportação, vejo com
algum optimismo o futuro. Para tal, será necessária uma cada vez maior ligação dos centros de saber
ao sector na formação dos seus recursos humanos, assim como a disponibilização de programas específicos de apoio, nomeadamente do Estado, das instituições de crédito e garantia mútua, tendo em
atenção a especificidade do modelo de negócio.
Telmo Ferraz, Planimolde, Marinha Grande
[ 45 ]
História da Indústria_Moldes_forum:Layout 1
[ 46 ]
[
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17-03-2014
13:25
Página 46
]
Sou optimista rela-
Vejo os próximos
tivamente ao futuro,
quatro ou cinco anos
pautando-me por valo-
de uma forma muito
res como o empenho e a
risonha. Os clientes es-
dedicação. O caminho
tão a abandonar o mer-
passa pela inovação tec-
cado chinês, porque a
nológica e por uma en-
qualidade é baixa. Há
volvência total no processo, desde a fase
algumas empresas com boa qualidade, só que
embrionária. Desta forma, estaremos em
deixaram de ser competitivas. Depois há a di-
condições de oferecer um produto completo.
ficuldade da língua e do pagamento. Tudo isso
A Erofio tem como filosofia a fidelização do
tem feito com que os clientes americanos e
cliente, assegurando-se que o mesmo é par-
europeus estejam a regressar. Por outro lado,
te integrante da empresa. As escolas deverão
as empresas portuguesas estão dotadas dos
formar bons técnicos, para que possamos ob-
melhores meios técnicos, foram-se actuali-
ter um processo de integração linear e sem
zando e formaram bons quadros ao longo dos
percalços. É importante que o futuro técnico
anos. A gestão de recursos humanos é fun-
tenha noção da tecnologia envolvida e do ca-
damental. Ter um grupo homogéneo, coeso,
minho a percorrer até à obtenção de futuras
que vista a camisola e seja remunerado para
moldações. Acredito que a indústria de mol-
tal. 2014 está a ser o nosso melhor ano de
des portuguesa se manterá bem cotada in-
sempre, mas encaramos o futuro com um op-
ternacionalmente.
timismo moderado.
Manuel Novo, Erofio, Leiria
António Ventura, E&T, Marinha Grande
Os próximos anos
Com a sucessão
vão ser bons para a nos-
planeada em curso, o
sa indústria. Mas o fu-
futuro da PMM conti-
turo dos moldes está nas
nua a passar pela me-
mãos de todos nós. O
lhoria da tecnologia e
caminho está aberto.
pela satisfação dos
Cabe a cada um segui-
clientes, sem tirar o
-lo. É preciso ir à luta e é preciso ir além fron-
olho da China. Logo nas primeiras viagens
teiras. Temos de usar as nossas mais-valias
à China, em 2000, deu para entender que a
e vender produtos de qualidade. O futuro é
PMM não tinha motivos de preocupação. Ul-
promissor. Sente-se uma retoma forte do
timamente, as coisas estão a mudar, no en-
mercado dos Estados Unidos.
tanto, iremos continuar por mais tempo à
Rui Pinho, Moldes RP, Marinha Grande
sua frente a nível de know-how. Temos um
conhecimento adquirido de muitos anos e
fazemos mais perfeito. As empresas na
China são muito grandes, logo, boas a produzir em quantidade, não em qualidade. O
facto de trabalharmos durante tantos anos
para diversificados mercados, deu-nos a experiência como mais-valia. A língua também
nos coloca em vantagem. Aprendemos mais
rápido e bem quase todas as outras línguas,
ao invés dos chineses.
Virgílio Barbeiro, PMM, Maceira
Plano Capa:Apresentação 1
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Plano Capa:Apresentação 1
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