17.DEZ.2010 - Instituto Superior Técnico

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17.DEZ.2010 - Instituto Superior Técnico
III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
17.DEZ.2010
Sé Patriarcal de Lisboa - 21h00
OS QUATRO ELEMENTOS
“A música alimento da alma,
como os quatro elementos essência da vida.”
Cantar Lontano
Alessandro Carmignani, contratenor
Andrea Arrivabene, contratenor
Cristiano Contadin, viola da gamba
Simone Vallerotonda, tiorba e guitarra barroca
Marco Mencoboni, cravo
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
A TERRA
Johann Jakob Froberger (1616 – 1667)
Toccata avanti il concerto
Giovanni Felice Sances (cc. 1600 – 1679)
Dos “Mottetti a una, due, tre e quattro voci”, Bolonha 1638
Stabat Mater, a uma voz solo e baixo contínuo
O AR
Giovanni Girolamo Kapsberger (cc. 1580 – 1651)
Do “ Libro primo di chitarone”, Roma 1604
Toccata arpeggiata
Ignazio Donati (cc. 1570 – 1638)
Dos “Sacri Concentus”, 1612
Hodie Christus natus est, a duas vozes iguais
Primeira audição mundial depois de 400 anos
Giovanni Girolamo Kapsberger
Do “Libro IV di chitarone”, Roma 1640
Capona
Tarquinio Merula (1595 – 1666)
Do “Libro secondo dei concerti spirituali”, 1628
Omnes gentes plaudite minibus, a duas vozes iguais
Giovanni Girolamo Kapsberger
Do “Libro IV di chitarone”, Roma 1640
Passacaglia
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
O FOGO
Francesco Corbetta (1615 – 1681)
Dos “Varii scherzi di sonate per la chitarra spagnuola”, Bruxelas 1648
Folias – chitarra sola
Arcangelo Corelli (1653 – 1713)
Transcrição anónima francesa para
viola da gamba e baixo contínuo da primeira metade do século XVIII
Sonata para viola da gamba e b.c sobre “la Follia” n°XII op. V
A ÁGUA
Luigi Battiferri (1610 – 1682)
Do “Primo libro dei Mottetti a voce sola”, Bolonha 1669
Vola de Libano, a voz solo
Francesco Virgiliano
Do “Del Dolcimelo Libro secondo”, cc. 1600
Ricercare para viola solo
Luigi Battiferri
Do “Messa et Salmi concertati”, Veneza 1642
Salve Regina, a duas vozes iguais
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
Foi dedicada a Marco Mencoboni esta semana, num pequeno festival que inclui dois recitais de cravo,
um pelo próprio Mencoboni e outro por um co-discípulo de Leonhardt, residente em Portugal: Cristiano Holtz. Seguiu-se uma conferência sobre as “Vésperas da Beata Virgem” de Claudio Monteverdi e,
finalmente, hoje, temos um concerto de câmara com música do século XVII na Sé Patriarcal de Lisboa.
Alguma da mais bela música de todos os tempos foi abordada por este intérprete ao longo desta semana
que precede o fim do ano de 2010 e o Natal.
Esperamos que, nestes tempos de crise, esta semana tenha sido um lenitivo espiritual para nos afastar da
mediocridade dos tempos comuns e nos faça pensar no belo e no sublime que orientou a arte e o mais
profundo que o ser humano tem dentro de si ao longo dos séculos.
Boas Festas e um bom ano de 2011
HSO
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
Marco Mencoboni sobre o programa de hoje
Decidi fazer este concerto como uma espécie de viagem espiritual aos quatro elementos e com música
de compositores menos famosos, quase como uma segunda linha por detrás dos nomes mais conhecidos,
como Monteverdi, estão os homens que escreveram a música deste concerto.
No entanto a sua música não é de segunda linha, a originalidade de Kapsberger, a intensa emoção de
Sances, a profundidade de Donati (autor do texto que nos descreve a técnica do cantar lontano), a beleza etérea de Merula, o virtuosismo fantasista de Froberger ou a versão para viola da gamba das célebres
folias de Corelli além das surpresas de Francesco Virgiliano ou de Battiferri [ao qual Marco Mencoboni
dedicou um disco na sua editora] são faces de um desenvolvimento extraordinário da arte no final do renascimento e princípio do barroco. Um tempo que o grande público ainda não apreendeu na totalidade.
Esperamos que com este concerto se contribua para estimular o conhecimento de obras e autores menos
conhecidos mas cuja qualidade é extraordinária.
O programa foi também pensado para mostrar as qualidades musicais de todos os elementos do agrupamento, destacando-se em cada momento a tiorba, a gamba ou as vozes...
Deixo ao público a decifração da da escolha que fiz sobre cada um dos elementos, a primeira pista é
deixada no inicio: O Stabat Mater representa a morte, a descida dos ares à terra, a sepultura. Mas também no Stabat Mater outros elementos estão presentes, o fogo que consome, o paraíso que se espera.
Muitas leituras são possíveis, será importante que cada ouvinte faça a sua própria viagem e estabeleça o
seu percurso.
Não deixei de pensar no Natal, assim incuí a obra de Donati “Hodie Christus natus est”, uma primeira
audição mundial moderna de um compositor que me é particularmente caro, foi Donati que nos transmitiu por escrito a técnica do “cantar lontano” à qual dei o nome de um festival e do meu agrupamento
e à qual dediquei tanto estudo e prática.
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
Cantar Lontano
Cantar Lontano é um grupo de músicos que se encontram regularmente sob convite de Marco Mencoboni
com o objectivo de realizar projectos de relevo internacional que geralmente terminam com a gravação
de projectos discográficos ou com concertos. Na base do trabalho deste grupo está a “espacialização” da
música, seguindo as indicações da técnica do “Cantar Lontano” (Declaração do Cantar Lontano, Ignazio
Donati, 1612). Desde 1993 trabalhar com o espaço é uma das prioridades do trabalho de Marco Mencoboni e do seu grupo, que espalhando músicos e cantores pelas as igrejas as recheia de música, obtendo
sempre um efeito de grande espanto para o público, efeito que é apenas a reprodução de hoje do que se
podia escutar nos séculos XVI e XVII em Itália.
O grupo é residente no Festival Cantar Lontano, que se realiza todos os anos em Ancona e do qual Marco
Mencoboni é o director. De especial relevo, são os projecto dedicados à revelar em tempos modernos a
música vocal de Diego Ortiz, não escutada por mais de trezentos e cinquenta anos, que trouxe o grupo
aos grandes ecrãs (selecção na Mostra de Cinema de Veneza com o filme de Lorenzo Franzi), participando
na divulgação ao grande público e ao público especializado da beleza da música antiga.
Para além dos grandes projectos de música sacra, o grupo realiza concertos dedicados ao repertório de
câmara com pequenos ensembles de formação variável, quer no sacro quer no profano. Hoje poderemos
escutar no grupo dois excelentes contratenores Alessandro Carmignani e Andrea Arrivabene, Cristiano
Contadin na viola da gamba, Simone Vallerotonda na tiorba e guitarra barroca e o próprio Marco Mencoboni no cravo e direcção.
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
Marco Mencoboni
Cravista e organista, nasceu em 1961 em Macerata. Estudou com Umberto Pineschi, Ton Koopman, Jesper Christensen e Gustav Leonhardt e dedicou muitos anos à redescoberta e interpretação de reportório
de música antiga do Norte de Itália.
Graças à sua incessante dedicação, muitas jóias de uma técnica musical esquecida foram recuperadas.
Hoje, como solista e maestro do “Cantar Lontano” (Cantar Distante), o seu trabalho tem sido requisitado
por uma série de festivais importantes a nível internacional. Devido ao seu incessante esforço na realização e divulgação da antiga técnica do “Cantar Lontano”, em que os cantores são espalhados pelo espaço
de uma grande nave (como o de uma catedral ou igreja antiga), reproduzindo a poli-coralidade (típica
técnica da música antiga de Veneza), é hoje em dia conhecida em todo o mundo.
Notável é a sua redescoberta de obras há muito perdidas e o seu trabalho musicológico. Ao contrário de
muitos músicos práticos, Marco Mencoboni alia profundos conhecimentos das obras e das fontes originais
com uma técnica interpretativa verdadeiramente extraordinária, tendo revelado e gravado as Vésperas
de Ortis e, recentemente, tendo devolvido às Vésperas de Monteverdi a sua verdadeira pujança artística,
reinterpretando as fontes originais e explorando com vigor e uma grande sensibilidade a musicalidade e
a força rectórica da obra.
A sua técnica como cravista é estonteante, o que alia a um profundo sentido musical e crítico.
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
“Surround” do século XVII na Sé de Lisboa
Artigo publicado no suplemento Ipsilon do jornal “O Público” sobre a última apresentação na Sé de
Lisboa de Marco Mencoboni em 2008
12.12.2008
Por: Cristina Fernandes
Marco Mencoboni e o seu grupo Cantar Lontano interpretam na Sé de Lisboa, 5ª feira, as “Vésperas” de
Monteverdi.
Em 1991, enquanto fazia pesquisa sobre a música de Monteverdi e dos seus contemporâneos na Biblioteca Musical de Bolonha, Marco Mencoboni teve uma revelação que mudou a sua vida. Numa preciosa
edição dos “Sacri Concentus”, do compositor Ignazio Donati (c.1575-1638), encontrou uma explicação
detalhada da técnica do “cantar lontano” (que significa cantar à distância), usada na música sacra italiana
dos finais do século XVI e inícios do século XVII.
A prática da policoralidade, jogando com a espacialização sonora decorrente da disposição de coros em
diferentes pontos da igreja, era conhecida, mas o uso de solistas, que cantavam por vezes a mais de 25
metros de distância e envolviam a assistência com sons vindos de vários pontos numa espécie de “surround” seiscentista, era uma novidade.
Cravista, organista e maestro, o italiano Marco Mencoboni passou a direccionar a sua carreira para a exploração desta técnica. Antigo aluno de Leonhardt e Koopmann, criou os agrupamentos Sacro e Profano
e Cantar Lontano, uma etiqueta discográfica (E Lucevan le Stell”) e o festival Cantar Lontano em Ancona,
na região das Marcas (Marche), em Itália. Mais recentemente, a experiência onírica de uma ouvinte inspirou o perfume “Cantar Lontano” e o realizador Alberto Momo fez o documentário “Un canto lontano”,
apresentado no último Festival de Veneza.
Mencoboni participou em 1989 como organista no memorável concerto no Mosteiro dos Jerónimos dirigido por Jordi Savall, e inserido nos saudosos Concertos Em Órbita, com as “Vésperas da Beata Virgem”,
de Monteverdi. Depois disso, nunca mais actuou em Portugal embora tenha regressado várias vezes a
Lisboa, numa das últimas para gravar com Luís Miguel Cintra o relato poético que escreveu sobre a viagem para Nápoles do compositor espanhol Diego Ortiz, protagonista de um dos seus mais extraordinários
trabalhos discográficos: “Ad Vesperas”.
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
Mas no próximo dia 18 será finalmente possível ouvir Mencoboni e o seu grupo Cantar Lontano, em
Lisboa. A sua versão das Vésperas, de Monteverdi, será apresentada na Sé Patriarcal, tirando partido dos
efeitos espaciais da policoralidade e recorrendo sempre que seja pertinente à técnica do “cantar lontano”.
O concerto insere-se na mini-temporada musical do Instituto Superior Técnico. Em formação alargada, o
agrupamento conta com a participação de cantores tão importantes como Lia Serafini, Francesca Lombardi, Andrea Arrivabene, Gian Paolo Fagotto, Marco Scavazza ou Matteo Bellotto, entre outros.
“Nas duas principais igrejas em que Monteverdi trabalhou - as Basílicas de Santa Bárbara em Mântua e de
São Marcos em Veneza - usava-se a técnica dos coros à distância”, explica Marco Mencoboni ao Ípsilon.
“Há poucos meses fui ver novamente a Igreja de Santa Bárbara e percebi imediatamente a concepção de
Monteverdi a partir da arquitectura do templo, que foi claramente concebida a pensar na música. Tem
uma sonoridade incrível, um órgão belíssimo e várias tribunas para os coros. Conhecendo a estrutura das
Vésperas, pode imaginar-se que o ‘Nisi Dominus’, o ‘Laudate pueri’ e as restantes secções se faziam com
os cantores dispostos de determinada maneira.”
O grupo Cantar Lontano ainda não teve a oportunidade de actuar na igreja de Mântua [entretanto já realizaram as Vésperas nesta Basílica Palatina], mas já apresentou as Vésperas no Festival de Ancona. “Tendo
uma arquitectura diferente, a Sé de Lisboa permite fazer coisas que em Ancona não foram possíveis”,
referiu Mencoboni, que esteve há pouco tempo em Lisboa para analisar o local. “O ideal era ter as duas
igrejas em conjunto para poder reconstituir exactamente a concepção inicial de Monteverdi. Por exemplo, quando ele diz que o ‘Laudate pueri’ é para oito vozes solistas ‘nell’organo’, depreende-se que os
cantores ficavam na tribuna do órgão.” Mas em Lisboa o órgão ficará no pavimento e não serão colocados
muitos cantores nas galerias altas por razões de segurança. “Em contrapartida, temos um coro alto por
cima da porta principal que é idêntico ao de Mântua. Trabalharemos mais em coro duplo, com um grupo
de cantores no coro alto e outro em baixo, junto ao Altar Mor, ficando o público no meio.”
Mas esta não é a única novidade. “Baseei-me nos manuscritos originais e na edição de 1610 pelo que
haverá aspectos que soarão diferentes a quem conhece a obra feita da maneira mais usual. Nas primeiras
transcrições algumas proporções de tempo foram anotadas de maneira incorrecta. Há, por exemplo, passagens que têm um ritmo ternário lento e que são habitualmente feitas num andamento muito rápido.” O
resultado foi “uma partitura mais teatral do que sacra, bastante influenciada pela ópera Orfeu”, mas essa
não é a concepção de Mencoboni. “Acredito que esta composição deve manter toda a sua força religiosa
e profundidade mística.”
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
Uma chuva de música
A prática da policoralidade e o “cantar lontano” continuam a ser fontes de descobertas constantes para
Mencoboni, tanto em termos práticos como teóricos. O Festival de Ancona é frequentemente visitado
por musicólogos que apresentam novos contributos. As relações entre a música e o espaço são também
exploradas em sítios fora do comum, como os concertos em grutas das últimas edições, conforme se pode
constatar nos vídeos disponíveis no site do grupo (www.cantarlontano.com).
Também os ouvintes relatam experiências de forte impacto emocional devido à imersão neste universo
sonoro. Uma das histórias mais curiosas foi descrita numa carta que uma melómana entregou a Mencoboni no final de um concerto. “Contava a experiência que tinha tido quando fizemos as Vésperas de
Ignazio Donati. Dizia que tinha saído da igreja muito emocionada e que nessa noite teve um sonho: a
nossa música tinha saído da catedral de Ancona como uma nuvem colorida que pairava sobre a cidade.
Depois começou a escurecer e a senhora sentiu gotas de chuva na fronte. Ela sabia que a nuvem continha música, portanto aquela era chuva de música, era música que se tinha tornado líquida! Recolheu-a
num recipiente e recorda-se que era perfumada.” Foi esta a inspiração para a criação do perfume Cantar
Lontano, que Andrea Galeazzi fez a partir de plantas da região das Marcas.
Esta foi mais uma forma de promover o festival e a região. Mencoboni gosta de associar a música a outras
linguagens e sempre que pode tira partido disso. Há muito que queria fazer um documentário sobre o
grupo e por isso convidou o realizador Alberto Momo, que também virá a Lisboa filmar a experiência na
Sé, a seguir a preparação de um concerto em França. “Filmou 13 horas mas depois de ver as imagens teve
a consciência de que o resultado podia ser mais do que um documentário e criou um filme poético. Foi
com surpresa que soubemos que ia ser apresentado em Veneza, em Março será projectado em Paris na
feira Musicora e foi disponibilizado à REMA [Réseau Européen de Musique Ancienne]. Espero que também possa vir a ser visto em Portugal.”
Mencoboni salienta que “é um filme que dá a conhecer a música antiga através de uma linguagem moderna.” Intitulado “Un canto lontano” faz referência ao projecto em torno das Vésperas de Diego Ortiz,
objecto de um CD na etiqueta Alpha. Para esta gravação Mencoboni trocou a sua etiqueta E lucevan le
stelle pela casa discográfica francesa, com maior distribuição e mais meios técnicos, e associou-se à revista
de arte FMR (“Franco Maria Ricci”), onde se reproduz na íntegra o quadro de onde foi tirado o pormenor
que ilustra a capa do CD (“A Assumpção da Virgem”, de Ippolito Borghese). Além de vários artigos sobre
Ortiz, foi publicado também um relato ficcionado de Mencoboni sobre a viagem de Espanha para Nápoles de Ortiz. Este belíssimo texto foi depois traduzido em várias línguas e pode ouvir-se no site na leitura
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III TEMPORADA DE MÚSICA DO INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO
de Toni Servillo, Frank Proveddi, Olivia Williams, Max van Egmod e Luís Miguel Cintra.
“Já tinha visto Cintra em filmes de Manuel de Oliveira antes de o encontrar em Lisboa”, contou Mencoboni. “Mostrou-se muito disponível para o nosso projecto, muito generoso. Se um dia se fizer uma versão
portuguesa de “Un canto lontano”, espero que ele lhe possa dar voz.” Entretanto, este músico italiano de
espírito inquieto prepara quatro novos discos (com música de Ortiz, Monteverdi, Ingegnieri, e Dufay) e
o concerto da Sé de Lisboa, onde os sons do “cantar lontano” talvez se transformem numa nuvem feita
de música.
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