La Vie En Rose? - Cássia Navas, na Rede
Transcrição
La Vie En Rose? - Cássia Navas, na Rede
All reserved rights. Proibida a cópia ou qualquer outra forma de reprodução, parcial ou integral, sem a prévia autorização da autora. Dança Contemporânea/SESC TV: La Vie En Rose? – Companhia de Danças de Diadema Texto de pesquisa-base para roteiro do programa "Série 2/Dança Contemporânea" - SESC TV/SP, produção Pipoca Cine Vídeo, exibido em 09 de dezembro de 2009 A Companhia de Danças de Diadema dança La vie en rose ???, de Denise Namura e Michael Bugdahn. Um mix de canções e de música é pano e dramaturgia de fundo para os movimentos. A dança de todos opondo-se à dança de cada um traz a muitas das cenas da obra uma tensão permanente, gerando indagações, para além dos três pontos de interrogação que encerram o nome do espetáculo. Para os criadores, a brasileira Denise Namura e o alemão Michael Bugdahn, a vida não é um mar de rosas e a pergunta do título subjaz como base do espetáculo. Em cena, sucedem-se ações e movimentos que apontam para a dureza do cotidiano, do ridículo e grotesco de muitas das situações que vivemos a cada dia. Aponta-se para a solidão acompanhada e para a solidão real e extrema fruto de desencontros, descaminhos, corações partidos. Aponta-se para os embates entre o coletivo e o individual da sociedade contemporânea. Os coreógrafos trabalham estes temas através do que lhes é marca primordial: o burilamento da gestualidade de cada intérprete, que, decupada, vai se tornando uma dança concentradamente quase individual, para depois ser dançada, em série, por todo o elenco. Estas dinâmicas remetem-se às origens profissionais dos dois: a mímica, a dança e os jogos de palhaço (clown), resultando em ações onde o corpo é trabalhado, de maneira polirítmica em suas partes, os bailarinos desconjuntando-se em movimentos “sacudidos” de “bonecos vivos”. Ou ainda, deslocando-se em “slow motion” (câmara lenta), estabelecendo outra forma de decupação de ações. Na utilização das duas estratégias básicas, a dupla tinge as interpretações dos bailarinos de lirismo sofisticado, também presente na escolha da trilha sonora, que comporta muitas valsas - conhecidas ou de simples realejos populares-, caras aos trabalhos com clowns ou do teatro de variedades. Tudo isto situa o trabalho de Namura e Bugdahn no seio de uma dança contemporânea em que se mesclam estruturas de várias artes do espetáculo – 2 dança, mímica, palhaço (clown), pantomima, dança-teatro-, para se tratar com ironia e graça das vicissitudes de muitos, sobretudo daqueles que partem e voltam, movendo-se sem cessar no entre-culturas, em seu caso específico, o ponto de partida sendo sua experiência de artistas estrangeiros residentes na França. O que contar de tal experiência pelo corpo? O que falar sobre isto em palavras? O que cantar, a partir das canções escolhidas, sobre o assunto? O espetáculo mescla fragmentos de voz, fragmentos de canções e fragmentos de músicas para construir uma dança que se justapõe em imagens não fragmentadas, como na cena onde três quadrados de luz desenham o chão do palco. Por sobre eles, uma intérprete avança lentamente enquanto outro intérprete corre incessantemente mas sem quase sair do lugar. Quem chegará primeiro a linha de chegada, ou a uma explicação, ou a um lugar cor-de-rosa, ou a uma meta muito almejada? Na corrida deste espetáculo da Companhia de Danças de Diadema todos chegam a seu destino, cada um a seu tempo. Em forma de arte, apresenta-se-nos um apontamento dos artistas: desta maneira, talvez a vida pudesse ser rosa, delineando-se a utopia dos criadores e de uma renovada companhia pública da cidade de Diadema. Cássia Navas São Paulo, agosto de 2009.