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Trigo: controle de plantas daninhas Maçã: a sarna da macieira Milho: novo inseticida de alta tecnologia Índice 2 Milho Novo inseticida de alta tecnologia 6 Milho Resistência de Spodoptera frugiperda a inseticidas 10 Imidacloprid 10 anos de aplicação no Brasil 14 Trigo Controle de plantas daninhas 16 Maçã A sarna da macieira 20 Soja Tratamento de sementes 24 Projeto Águas Deixamos de publicar a bibliografia da maioria das matérias desta edição, que permanece à disposição dos interessados. O tratamento de sementes é hoje a melhor opção para o controle das pragas iniciais da cultura do milho, em especial contra insetos como o percevejo-barriga-verde, que tem causado sérios prejuízos aos produtores Para instalar uma lavoura de milho com alta produtividade e correspondente rentabilidade, é necessário tomar uma série de decisões no planejamento da lavoura. A primeira e mais importante é a seleção do híbrido, quando se deve eleger dentre uma série de diferentes características as que trarão melhor resultado, levando em consideração se o objetivo da lavoura é a colheita de grãos ou a produção de silagem. Essa definição deve então ser combinada com as condições locais como solo, clima e sistema de produção adotado. A tecnologia disponível para a produção é um fator muito importante na seleção do híbrido a ser plantado. Para obtenção de uma alta produtividade no milho, é fundamental ter conhecimento sobre a cultura, respeitar as exigências de clima e solo e saber implementar estratégias racionais de manejo, que são básicas para que o híbrido escolhido possa expressar todo seu potencial produtivo e assim propiciar a rentabilidade esperada. Correio Agrícola - Publicação Semestral (Janeiro/Junho 2004) Órgão informativo técnico, dirigido a engenheiros agrônomos, agricultores, técnicos agrícolas, faculdades de agronomia e bibliotecas. Editado pela Bayer CropScience Ltda. Rua Verbo Divino, 1207, Bloco B São Paulo - SP / Fone (0xx11) 2165-7600 www.bayercropscience.com.br Produção: Assessoria de Propaganda da Bayer S.A. Coordenação geral: Adriana Porto Coordenação técnica: Engenheiros Agrônomos Paulo Renato Calegaro, Jedir Fiorelli e Gilmar Franco. Jornalista responsável: Allen A. Dupré, MTb 9057. 2 CORREIO 1/04 No Brasil, apesar de a área plantada ter se mantido praticamente constante nos últimos sete anos, pode-se verificar um aumento na produtividade da cultura. Esse incremento se explica pela necessidade que o produtor tem de aumentar seus rendimentos e sua competitividade. Com a manutenção da área de plantio ao longo dos últimos anos, o aumento de produtividade só foi possível graças ao aumento da tecnologia aplicada. Em algumas regiões em que a cultura do milho é a principal opção de plantio, as produtividades são muito mais altas que a média brasileira, a exemplo da região de Guarapuava -PR, onde a produtividade média tem alcançado valores de 9 toneladas de grãos por hectare. No gráfico 1 pode-se verificar que, mesmo nessas regiões, a produtividade apresentou um incremento nos últimos anos, o que demonstra que é possível produzir mais milho e ser competitivo com os maiores produtores mundiais. Principais pragas que atacam o milho na fase inicial Nome comum ATENÇÃO: ience em Bayer CropSc reço novo ende Produtividade em alta Nome científico Controle Grupo Químico Percevejo-barriga-verde . . . . . . . . .Dichelops furcatus . . . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Percevejo-barriga-verde . . . . . . . . .Dichelops melacanthus . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Tripes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Frankliniella williamsi . . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Coró . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Phyllophaga cuyabana . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Cigarrinha-do-milho . . . . . . . . . . . .Dalbulus maidis . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Cigarrinha-das-pastagens . . . . . . .Deois flavopicta . . . . . . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Pulgão-do-milho . . . . . . . . . . . . . . .Rhopalosiphum maidis . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Larva alfinete . . . . . . . . . . . . . . . . .Diabrotica speciosa . . . . . . . . . . . . . . . . .Neonicotinóides Lagarta-do-cartucho . . . . . . . . . . . .Spodoptera frugiperda . . . . . . . . . . . . . .Carbamatos Lagarta-elasmo . . . . . . . . . . . . . . .Elasmopalpus lignosellus . . . . . . . . . . . .Carbamatos Controle das pragas iniciais Nas lavouras de milho bem planejadas, para proporcionar alta produção, é necessário ter em mente a manutenção permanente da população de plantas. As pragas de importância na cultura do milho ocorrem desde o plantio, na fase de germinação, o que causa grandes reduções na população de plantas sadias e produtivas. Por isso, o controle das pragas iniciais tem sido fator fundamental para se obterem incrementos na produtividade. O tratamento de sementes adequado tem sido um forte aliado para evitar os prejuízos causados por essas pragas de difícil controle. A grande vantagem desse tipo de tratamento é o seu caráter preventivo, visto que as pragas atacam as plantas já a partir da germinação, causando-lhes deformações e retardando o desenvolvimento da lavoura. Ataques mais fortes causam a morte das plantas. Os prejuízos normalmente são grandes e irreparáveis, uma vez que o replantio é inviável. A perda de plantas pelo ataque destes insetos, além dos danos diretos, com a redução do estande final de plantas por área e a perda de uniformidade da lavoura, provoca danos indiretos, com o desenvolvimento indesejado de plantas invasoras nos espaços abertos nas linhas. O agricultor que tem por objetivo aumentar a produtividade deve utilizar sementes tratadas, acompanhar o desenvolvimento da lavoura por meio do levantamento das pragas e, em situações de alta pressão, complementar o controle dos insetos com pulverizações foliares. 1/04 CORREIO 3 Gráfico 1 - Manutenção da área de plantio e aumento da produtividade média do Brasil 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 1996/97 1997/98 1998/99 1999/2000 Área de plantio (milhões de hectares) 2000/01 2001/02 2002/03 Produtividade média (toneladas por hectare) Produção (milhões de toneladas) Gráfico 2 - Incremento da produtividade em áreas de alta tecnologia kg/hectare 10000 9500 9000 8500 8000 7500 7000 6500 6000 5500 5000 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Fonte: Cooperativa Agrária Mista de Entre Rios, Guarapuava - PR Gráfico 3 - Resultados de ensaios no controle de Dichelops melancanthus % Controle 95% 90% 85% 80% % Ataque testemunha: 18 DAP = 40%: 28 DAP = 60% 75% 18 DAP* 70% 28 DAP 65% Gaucho 600 FS 4 Poncho Outro Neonicotinoide CORREIO 1/04 * DAP = Dias após o plantio Fonte: Desenvolvimento Bayer CropScience Percevejo-barriga-verde, foco das atenções Dentre as pragas mencionadas, o percevejobarriga-verde tem sido a praga recente que mais se alastrou nas regiões produtoras nos últimos anos, causando muitos prejuízos, por provocar a perda total das plantas atacadas. Estes insetos vivem próximos ao solo, escondem-se na palhada e atacam as plântulas de milho perfurando o caule, que, no início, ainda se encontra tenro. Ao se alimentarem, injetam saliva, que contém toxinas. A planta atacada, em razão dos danos mecânicos e da presença dessas toxinas, passa a desenvolver-se mais lentamente. Nos locais perfurados pelo inseto, as folhas ao se expandirem apresentam furos, ficando totalmente deformadas, podendo levar as plantas à morte. Muitas plantas que sobrevivem com o sistema foliar totalmente danificado passam a gerar perfilhos e praticamente podem ser consideradas como improdutivas. A presença e o alastramento desse percevejo tem justificado o emprego de inseticidas do grupo dos neocotinóides via tratamento de sementes. Em 1995, a Bayer lançou no mercado o inseticida Gaucho, que contém em sua formulação o ingrediente ativo inovador Imidacloprid, altamente eficaz no controle do complexo das importantes pragas iniciais do milho. A introdução de Gaucho revolucionou o conceito de controle dessas pragas, antes somente possível com as pulverizações. Dessa forma, com o tratamento de sementes com esse inseticida inovador, os agricultores das regiões em que o percevejo-barriga-verde surgiu primeiramente (oeste do Paraná, sudoeste de São Paulo e sul de Mato Grosso do Sul) passaram a ter à disposição uma nova ferramenta para o controle desse inseto. PONCHO, o protetor da alta tecnologia A Bayer CropScience, líder mundial de mercado e desenvolvimento dos inseticidas da classe dos neonicotinóides, está lançando mundialmente uma nova molécula desta classe química, o inseticida Poncho para tratamento de sementes de milho. Poncho é formulado à base de um novo ingrediente ativo, o Clothianidin, que demonstrou, ao longo de anos de ensaios nas condições brasileiras, uma atividade excepcional no controle de pragas iniciais do milho, confirmando os resultados obtidos nos Estados Unidos e na Europa, o que lhe atribui a condição de inseticida que nasceu para defender o milho durante a germinação e a fase inicial da lavoura. PONCHO já está registrado no Brasil para o controle dos seguintes insetos na cultura do milho: Inseto Dose por 100 kg de sementes Cigarrinha-do-milho. . . . . . . . . . 400 ml Dalbulus maidis No gráfico 3, PONCHO mostra nos ensaios uma atividade bastante superior à dos produtos que atualmente se encontram no mercado. Associando tecnologias PONCHO, após demonstrar na cultura do milho o seu melhor desempenho, sobressaindo-se no controle do complexo de pragas em relação aos demais neonicotinóides, passou a ser posicionado mundialmente como a melhor opção de controle via tratamento de sementes para a cultura do milho. Nesse sentido, PONCHO virá ao mercado aplicado sobre as sementes de milho híbrido de alto valor cultural e de alta produtividade, já prontas para o plantio. As vantagens que o agricultor de alta tecnologia terá com as sementes já tratadas com PONCHO, além da alta produtividade do híbrido e do elevado grau de proteção contra o ataque do complexo de pragas, incluem ainda a qualidade do tratamento em si, a economia de tempo e mãode-obra e praticidade. Na associação de tecnologias de ponta como essa, o produtor que visa a melhorar a sua rentabilidade na cultura do milho terá a melhor opção. Percevejo-barriga-verde Tripes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 350 ml Frankliniella williamsi Danos causados pelo percevejo-barriga-verde Percevejo-barriga-verde . . . . . . 350 ml Dichelops furcatus Dichelops melacanthus Pulgão-do-milho . . . . . . . . . . . . 400 ml Rhopalosiphum maidis Autores: Jedir Fiorelli (CREA 5060493900/D SP) Gerente de Desenvolvimento de Inseticidas da Bayer CropScience e Johann Wilhelm Reichenbach (CREA 110.004/D SP) - Gerente de Portfolio Tratamento de Sementes da Bayer CropScience 1/04 CORREIO 5 Resistência de Spodoptera frugiperda a inseticidas Tem-se observado o aumento de problemas com Spodoptera frugiperda devido aos plantios sucessivos das culturas de milho e de algodão em determinadas regiões 6 CORREIO 1/04 A lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda (J. E. Smith), é considerada a principal praga da cultura do milho no Brasil. Atualmente, os cuidados no controle dessa praga são tomados praticamente durante todo o período de desenvolvimento das plantas, pois os danos provocados pelas lagartas às plantas de milho estendem-se desde o desfolhamento em diferentes graus de severidade (fase vegetativa) até a incidência de perfurações nas espigas (fase reprodutiva). No entanto, o modelo de cultivo e exploração do milho e outras culturas (principalmente a do algodão) pode estar contribuindo para a consolidação de S. frugiperda como praga-chave. Os levantamentos de produção têm reiterado que o milho vem sendo cultivado de modo intensivo e em diferentes épocas do ano no Brasil. Assim, a produção de milho tem sido contabilizada em duas grandes safras cultivadas durante o ano agrícola (1a safra e 2a safra), além do cultivo no inverno em regiões com infra-estrutura de irrigação. A área total cultivada com milho na safra 2002/2003 atingiu pouco mais de 13 milhões de hectares, gerando uma produção de aproximadamente 47 milhões de toneladas. Por sua vez, a chamada 2a safra ("safrinha") apresentou uma participação bastante significativa nesses números totais. Aproximadamente 26% da área cultivada e do total produzido em 2002/2003 devem ser atribuídos aos plantios de 2a safra de milho. Esses valores mostram a ocorrência de uma expansão significativa nos plantios de milho fora de sua época tradicional de cultivo (Gráfico 1). A conseqüência prática destes crescentes plantios tem sido a presença da cultura do milho em diferentes estádios de desenvolvimento fenológico durante grande parte do ano agrícola. Deste modo, os insetos pragas como S. frugiperda podem encontrar facilmente as plantas de milho para serem exploradas, uma vez que existe a formação de uma verdadeira ponte biológica criada pelos plantios sucessivos da cultura. Além disso, S. frugiperda é uma espécie polífaga, a qual tem ocorrido como praga também na cultura do algodão. Portanto, existe a suspeita e alguns indicativos de que os plantios de algodão também têm contribuído para o agravamento das infestações de S. frugiperda na cultura do milho. Uso irracional de inseticidas Apesar dos esforços existentes para a integração de diferentes táticas para a composição de programas de manejo da lagarta- do-cartucho, a utilização de inseticidas, muitas vezes de largo espectro de ação, tem sido o método de escolha da maioria dos agricultores para o controle dessa praga. Não obstaste, em função da ocorrência das intensas infestações que têm comprometido seriamente a produtividade da cultura do milho, a aplicação de inseticidas para controle de S. frugiperda tem sido muitas vezes realizada de modo abusivo e incorreto mediante aplicações de produtos em altas doses ou em misturas de tanque. A aplicação excessiva e inadequada de inseticidas contrapõe-se à teoria do MIP (Manejo Integrado de Pragas), por afetar negativamente a manutenção e a eficiência dos inimigos naturais das pragas. No entanto, em alguns casos o controle químico da lagarta-do-cartucho não tem sido suficiente para atingir um nível satisfatório de redução da população da praga na cultura do milho. A suspeita da evolução da resistência da praga a determinados inseticidas foi levantada com as constantes reclamações dos produtores rurais sobre a ocorrência de falhas no controle de S. frugiperda. Cabe ressaltar que a ocorrência de falhas no controle de uma determinada praga não significa necessariamente que se trata de um caso de resistência de insetos a inseticidas. Tais falhas após a aplicação de um inseticida podem estar associadas, por exemplo, ao emprego de doses inadequadas ou a deficiências na técnica de aplicação do produto químico. A partir do momento em que as variáveis que compõem o sucesso da aplicação de um inseticida estão otimizadas e sob controle, e mesmo assim as falhas no controle de uma praga continuam a ser observadas, poderia levantar-se a hipótese de que se trata de um caso de resistência de insetos a alguns inseticidas. A resistência A resistência caracteriza-se por ser pré-adaptativa, genética e, portanto, hereditária. O fato de a resistência ser pré-adaptativa significa dizer que os indivíduos resistentes encontram-se no campo mesmo antes da aplicação do produto químico. Por sua vez, o uso constante de um determinado inseticida ou ainda de produtos químicos com o mesmo mecanismo de ação levará à evolução da resistência. Deste modo, a seleção de indivíduos resistentes deve ser entendida como um processo esperado numa população de insetos que é controlada com inseticidas. Isso porque o inseticida funciona como a pressão seletiva que impõe a sobrevivência dos indivíduos resistentes, os quais já se encontravam na população de insetos. Porém, no início do processo de seleção, a freqüência dos indivíduos resistentes é baixa, e portanto não são percebidas falhas no controle da praga após o uso do inseticida. Entretanto, os indivíduos resistentes que restam na área depois da aplicação do produto, ao se acasalarem, irão transmitir a característica da resistência para os insetos da geração seguinte. Desse modo, com o passar do tempo e das gerações da praga e com a continuidade da aplicação de um determinado inseticida, existe uma grande possibilidade de os indivíduos resistentes aumentarem sua freqüência na área, atingindo-se assim o momento em que as falhas no controle da praga são percebidas pelo agricultor. Assim, denomina-se como freqüência crítica de resistência a freqüência de indivíduos resistentes presentes no campo a partir da qual são percebidas as falhas no controle da praga. Entretanto, por se tratar de um processo evolutivo, é necessário algum tempo para que a freqüência crítica de resistência da praga a um determinado inseticida seja atingida no campo e os produtores observem falhas no controle da praga. Assim, a taxa com que ocorre a evolução da resistência na população de insetos é afetada por uma série de fatores genéticos e bioecológicos da praga alvo de controle, além de fatores operacionais vinculados à característica toxicológica Adulto de Spodoptera frugiperda Lagarta de Spodoptera frugiperda 1/04 CORREIO 7 do inseticida e de seu modo de aplicação. O efeito imediato da evolução da resistência é a perda do inseticida como opção no controle da praga. Neste sentido, há necessidade de considerar os aspectos relacionados à pesquisa e desenvolvimento de novos inseticidas. É de conhecimento de todos que as oportunidades para descoberta de novas moléculas com efeito inseticida estão cada vez mais restritas, com o custo para desenvolvimento de novos produtos atingindo valores muito elevados. Outras conseqüências Técnicas de bioensaio (aplicação tópica e ingestão) para monitoramento da resistência Entretanto, além da perda do produto químico, a evolução da resistência de insetos a inseticidas apresenta outras conseqüências negativas para o meio ambiente e que entram em conflito com o MIP. Por exemplo, os agricultores diante de falhas sucessivas no controle das pragas, passam a utilizar doses mais elevadas dos inseticidas, ou ainda adotam produtos químicos de maior toxicidade, além de aumentar o número de aplicações com inseticidas. De modo geral, além de encarecer o tratamento fitossanitário, tem-se como conseqüências da instauração da resistência no campo maior agressão ao meio ambiente, maior destruição de inimigos naturais das pragas, elevação do risco de contaminações por parte dos trabalhadores rurais e, como dito anteriormente, clara contraposição aos princípios do MIP. Portanto, deve-se compreender que a resistência a inseticidas torna-se um problema não apenas para o agricultor, mas para toda a sociedade que acaba sendo atingida de forma direta e indireta, por exemplo, pela maior freqüência nas aplicações de inseticidas. Assim, torna-se necessária a elaboração de programas de manejo da resistência de insetos a inseticidas com os objetivos principais de evitar, retardar, ou mesmo, reverter a evolução da resistência. Em outras palavras, pode-se dizer que as práticas de manejo da resistência têm como principal objetivo garantir a presença da suscetibilidade existente em uma determinada população de insetos. As estratégias para o manejo da resistência têm por objetivo minimizar as diferenças existentes entre os indivíduos suscetíveis e os resistentes na resposta ao tratamento químico. Desse modo, é possível preservar ou até prolongar a vida útil de inseticidas que possuem características desejáveis no MIP. Monitoramento da resistência O monitoramento para a verificação de alterações na suscetibilidade dos insetos é uma das partes mais importantes do manejo da resistência a inseticidas. Por meio desse tipo de monitoramento, é possível avaliar a eficácia das estratégias de manejo em retardar a evolução da resistência. O passo inicial para os trabalhos de monitoramento é o estabelecimento da resposta natural de populações geograficamente distintas da praga aos inseticidas que são utilizados pelos agricultores para manejo de S. frugiperda. Desse modo, são estabelecidas as linhas básicas de suscetibilidade a inseticidas em diferentes populações da praga mediante realização de bioensaios toxicológicos (Tabela 1), para posterior acompanhamento sistemático da suscetibilidade dos insetos nestas regiões. Gráfico 1 - Distribuição da área plantada nas diferentes épocas de cultivo de milho e evolução da produção no período de 1990/91 a 2002/03 Área plantada com milho (em mil hectares) Produção de milho (em mil toneladas) 50000 140000 12000 40000 10000 30000 8000 6000 20000 4000 10000 2000 0 Safras 0 1990/91 8 1991/92 1992/93 CORREIO Área 1/04 na primeira safra 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 Área na segunda safra 1998/99 1999/2000 2000/01 Produção de milho 2001/02 2002/03 O Laboratório de Resistência de Artrópodes a Pesticidas da ESALQ/USP tem conduzido trabalhos de monitoramento da suscetibilidade a inseticidas em populações de S. frugiperda coletadas na cultura do milho em diferentes regiões do Brasil desde 1995. Nos dois últimos anos, o trabalho de monitoramento tem envolvido populações da praga coletadas também na cultura do algodão em uma mesma região de cultivo de milho. Com isso, tem-se por objetivo coletar informações sobre o impacto do manejo da praga nas culturas de milho e algodão em uma mesma região agrícola sobre a suscetibilidade de S. frugiperda aos principais inseticidas utilizados para o seu controle na cultura do milho. Esses trabalhos de monitoramento da resistência têm sido financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Comitê Brasileiro de Ação a Resistência a Inseticidas (IRAC-BR). Os dados obtidos por meio do monitoramento podem ser utilizados em conjunto com informações tais como o mecanismo de ação dos diferentes produtos químicos e o risco potencial para evolução da resistência em uma determinada região para que seja estabelecido um programa de rotação de inseticidas. Importância da rotação de inseticidas no MIP A rotação de inseticidas tem sido uma das estratégias para o manejo da resistência e vem sendo utilizada com o objetivo de reduzir a pressão de seleção com um determinado produto. Para o sucesso da rotação de inseticidas, uma das condições básicas é a ausência de resistência cruzada entre os componentes da rotação. Para tanto, é importante compor o programa de rotação com produtos que possuem mecanismos de ação distintos (Tabela 1). Sem dúvida, o manejo da resistência a inseticidas deve ser encarado como parte integrante do MIP e vice-versa. Em outras palavras, medidas como a adoção de níveis de controle para a praga na cultura, a integração de diferentes táticas de controle (controle cultural, controle biológico, controle por comportamento, variedades resistentes, etc.) e o uso de inseticidas seletivos a inimigos naturais devem ser implementadas para o sucesso do manejo da resistência de S. frugiperda a inseticidas. Com a possibilidade de introdução de plantas geneticamente modificadas que são resistentes a algumas pragas no Brasil, essa nova tecnologia também poderá ser incorporada nos programas de MIP da cultura do milho, na tentativa de reduzir a pressão seletiva com os inseticidas convencionais. No entanto, como em qualquer outra tática de controle, devem ser realizados estudos relacionados à evolução da resistência de pragas para as plantas geneticamente modificadas, bem como a avaliação do seu possível impacto sobre os organismos não-alvos, os microorganismos do solo, etc. Autores: Samuel Martinelli - Doutorando em Entomologia e Prof. Dr. Celso Omoto (CREA nº 146.601/D) Engº Agrº - Depto. Entomologia, Fitopatologia e Zoologia Agrícola/ESALQ-USP Tabela 1. Ingredientes ativos registrados para controle de S. frugiperda na cultura do milho (Fonte: IRAC-BR) Grupo químico Mecanismo de ação primário Ingrediente ativo Piretróides Moduladores dos canais de sódio Alfametrina, Betacyflutrina, Cipermetrina, Cyfluthrina, Deltametrina, Esfenvalerate, Fenvalerate, Fenpropatrina, Permetrina, Lambdacialothrina, Zetacipermetrina Organofosforados Inibidores da enzima acetilcolinesterase Clorpirifós, Fenitrotion, Piridafention, Paration metílico, Triclorfon, Triazofós Carbamatos Inibidores da enzima acetilcolinesterase Carbaril, Metomil, Tiodicarb Naturalyte Moduladores de receptores de acetilcolina Spinosad Diacilhidrazinas Agonistas de ecdisteróides Metoxyfenozide, Tebufenozide Derivados de Uréia Inibidores da biossíntese da quitina Clorfluazuron, Diflubenzuron, Lufenuron, Novaluron, Teflubenzuron, Triflumuron 1/04 CORREIO 9 Imidacloprid é a primeira molécula pertencente à classe química dos inseticidas neonicotinóides descoberta e desenvolvida pela Bayer CropScience. Suas principais características são: baixa toxicidade a animais de sangue quente; excelentes propriedades sistêmicas; e prolongado período de controle de sugadores, coleópteros, cupins e outros insetos 10 CORREIO 1/04 Em fevereiro de 1985, químicos da Nihon Bayer Agrochem KK, filial da Bayer CropScience sediada no Japão, sintetizaram pela primeira vez o Imidacloprid como nova molécula de um novo grupo químico - uma verdadeira inovação para o controle de pragas, um composto químico estável com propriedades biológicas muito interessantes. Os primeiros registros oficiais foram aprovados na Europa e na Ásia (Espanha e Japão) em 1992. No Brasil e nos EUA, os primeiros registros ocorreram em 1994. Atualmente o produto é comercializado em mais de 120 países, sendo indicado para mais de 140 cultivos nas mais diferentes formas de aplicação, conforme as necessidades dos mercados, sendo as mais comuns no setor agrícola o tratamento de sementes e as aplicações foliares, via solo e via tronco. Além das aplicações agrícolas, Imidacloprid é largamente utilizado no mercado de jardinagem profissional, com marcas específicas (Merit) e no mercado veterinário para controle de pulgas em gatos e cães (Advantage). A Bayer CropScience foi a pioneira no desenvolvimento desse grupo de produtos, do qual tem o maior número de moléculas (três). Além disso, é responsável por todas as informações publicadas sobre todos os aspectos inerentes ao uso e à segurança do produto para o homem e o meio ambiente, tendo desenvolvido todos os processos e estudos biológicos e químicos, os métodos de análise e as avaliações de toxicologia, metabolismo e resíduos. Proteção das plantas No Brasil No Brasil, os primeiros ensaios foram iniciados em 1989, com foco em controle de pragas sugadoras por meio de tratamentos foliares e de sementes. Após quatro anos de pesquisa, foram definidos os perfis biológicos da molécula para as condições brasileiras. A partir daí, o desenvolvimento foi direcionado para o registro de produtos para mercados de alto valor agregado, com novas tecnologias de aplicação até então inexistentes como esguicho em mudas de fumo e hortaliças, além de um novo conceito de controle de sugadores via tratamento de sementes em algodão, feijão, milho, trigo e cevada. Desse modo, mais uma vez por meio do desenvolvimento de novos conceitos, a Bayer CropScience passou a oferecer ao mercado uma grande inovação tecnológica para enfrentar os sugadores vetores de viroses que causavam grandes perdas de produtividade e exigiam grande número de tratamentos para o seu controle . Após todo o trabalho de pesquisa e desenvolvimento da molécula, no final de 1994 a Bayer CropScience obteve o registro das marcas comerciais Confidor e Premier, respectivamente para tratamentos foliares e de sementes. Paralelamente ao seu lançamento, Confidor foi desenvolvido no campo por uma equipe de agrônomos especialistas em tabaco em toda a região fumageira do sul do Brasil. Mais de 500 campos demonstrativos foram instalados e, por meio de dias de campo organizados em conjunto com o setor fumageiro, demonstrou-se aos plantadores de fumo uma verdadeira revolução na tecnologia de controle de pragas da cultura. Onde anteriormente era necessário efetuar mais de quatro pulverizações, com o uso de equipamentos de dificil manuseio, passouse a fazer uma só aplicação de Confidor, substituindo alguns produtos indesejáveis ao setor. Como resultado da interação da Bayer CropScience com especialistas do setor fumageiro, Imidacloprid trouxe um grande ganho de produtividade para toda a cadeia produtiva do fumo e um produto final com melhor qualidade para o consumidor. Em outra frente de trabalho, a empresa não economizou esforços para desenvolver um novo tratamento de sementes com novo foco – a proteção das plantas. Os problemas com sugadores, como mosca branca no feijão e pulgões no algodão, estavam aumentando e os produtos existentes no mercado já apresentavam limitações de controle devido à alta pressão das pragas. Imidacloprid, por meio de suas marcas comerciais, não só trouxe um ganho no controle das pragas, mas também efeitos indiretos nas plantas, como melhor enraizamento e desenvolvimento vegetativo, proporcionando-lhes melhor arranque inicial e tolerância a dificuldades climáticas. Enquanto a Bayer CropScience revolucionava os mercados mencionados, surgiam outros problemas fitossanitários como a CVC (clorose variegada dos citros), causada por uma bactéria transmitida por sugadores como Oncometopia fascialis, Dilobopterus costalimai e Acrogonias sp, entre outras. Mais uma vez, técnicos da empresa, conhecendo o potencial do Imidacloprid, desenvolveram outra inovação: o tratamento via tronco com o produto Winner, largamente utilizado até hoje, proporcionando um prolongado período de proteção contra esses sugadores de difícil controle, substituindo o grande número de pulverizações que era feito antes com produtos com curtos períodos de controle. 1/04 CORREIO 11 Tratamento de sementes O tratamento de sementes com o produto Gaucho 600FS, melhorado e aprimorado dia a dia, é uma realidade nos grandes cultivos como algodão, milho, feijão, cereais de inverno e soja. Em cereais de inverno, em razão de sua alta eficácia sobre vetores transmissores de viroses (pulgões), Gaucho 600FS mostrou ao mercado os grandes benefícios da nova tecnologia, sobretudo a possibilidade de maiores produtividades, ao mesmo tempo em que impede a transmissão do VNAC (vírus do nanismo amarelo da cevada). Sem o pioneirismo da Bayer CropScience no desenvolvimento do Imidacloprid, a transmissão do VNAC estaria ocorrendo até hoje, causando grandes perdas de produtividade e prejuízos à agricultura. No cultivo do milho, o percevejo-barrigaverde (Diclelops sp) causa grandes prejuízos para o setor. Neste caso, da mesma forma que no segmento de cereais de inverno, a Bayer CropScience foi novamente a primeira empresa a oferecer, com Gaucho 600FS, um tratamento de sementes muito eficaz no controle de sugadores, com excelente relação custo/benefício para o controle dessa e de outras importantes pragas. Gaucho também é um importante aliado dos produtores no tratamento de sementes dos grandes cultivos de dicotiledôneas como algodão, feijão e soja, não só controlando as pragas iniciais dessas culturas, mas igualmente diminuindo os efeitos das adversidades climáticas, aumentando a produtividade das lavouras e a qualidade do produto final. Além das inovações no controle das pragas, a Bayer CropScience também vem melhorando seus produtos por meio de novas tecnologias em formulações. No caso do Gaucho, são grandes os benefícios proporcionados pela formulação líquida, que permite melhor dosificação. Adicionalmente, o mercado conta com uma melhor distribuição comercial e uma forte assistência técnica prestada por uma equipe especializada no tratamento de sementes . Para o controle de pragas via foliar por meio 12 CORREIO 1/04 de pulverizações, foi lançado no mercado em 2002 o produto Provado, cujas principais características são: excelente controle das pragas sugadoras, ótima ação sistêmica, prolongado período de proteção, baixa toxicidade ao homem e baixo impacto ambiental . Linha em expansão As inovações não param por aí. Com mais de 15 anos de desenvolvimento em campo e aplicações comerciais, Imidacloprid está presente nos diversos cultivos, com várias formas de aplicação e diferentes marcas comerciais, incluídas em várias famílias de produtos conforme as necessidades de cada segmento. Hoje, os produtos comerciais que compõem a linha contendo o ingrediente ativo Imidacloprid são: Gaucho – uso exclusivo para tratamento de sementes Confidor – uso em drench e tratamento de bandejas de mudas Provado - uso em tratamentos foliares Premier – uso via solo Winner – uso via tratamento de tronco Em breve, um novo produto - Connect – será adicionado à linha, trazendo um novo conceito de controle do complexo de pragas dos principais cultivos. Todas as formulações comerciais apresentam excelente fitocompatibilidade, assim como compatibilidade com outros produtos. Flexibilidade de uso Imidacloprid tem como importante característica a alta ação sistêmica, principalmente via raiz, um pré-requisito fundamental para uso em aplicações via tratamentos de sulco, via água de irrigação ou drench, em forma de granulados de solo, assim como via tratamento de sementes . Seu excelente efeito de contato somado à sua boa aderência e penetrabilidade via folha e tronco possibilitam que Imidacloprid tenha formulações específicas para tratamentos foliares e via tronco . Devido às suas características, Imidacloprid pode ser oferecido em diversas formulações, específicas para culturas e diferentes pragas, com doses relativamente baixas, inclusive em combinações com outros produtos. Dentro do seu amplo espectro de ação, Imidacloprid apresenta excelente atividade contra pragas de difícil controle e/ou resistentes aos produtos convencionais, entre as quais destacam-se as pragas sugadoras como pulgões, cigarrinhas, tripes, mosca branca e percevejos, assim como várias espécies de coleópteros, minadores de folhas e algumas moscas. Cigarrinha Manejo de resistência Desde 1995 Imidacloprid é considerado um dos mais importantes produtos do mercado de inseticidas, justificando a liderança que detém no setor. Ao mesmo tempo, a Bayer CropScience, por meio de sua atuação responsável, e a comunidade acadêmica vêm desenvolvendo formas de utilização desse ingrediente ativo para o manejo eficaz de pragas de difícil controle. Estudos de desempenho, suscetibilidade e resistência cruzada são constantemente realizados para monitorar o uso dos inseticidas nas diversas culturas e manter a sua eficácia, possibilitandolhes longevidade no mercado . Visando à máxima eficácia do Imidacloprid e dos seus demais inseticidas, a Bayer CropScience, juntamente com os novos conhecimentos gerados pelos entomologistas, renova anualmente suas recomendações específicas para cada cultura, apresentando aos agricultores, por meio de suas estratégias de tratamento, as mais eficientes combinações, levando sempre em consideração a segurança do aplicador, a preservação do meio ambiente e o manejo de resistência de suas moléculas ou produtos . Autores: Gilson Oliveira, Gerente de Projetos – Marketing Estratégico; e Jedir Fiorelli, Gerente de Desenvolvimento – Bayer CropScience. Pulgão Tripes Mosca Branca Percevejo Vaquinha 1/04 CORREIO 13 Controle de plantas daninhas TRIGO O correto controle das plantas daninhas, no início desenvolvimento da cultura, previne perdas de produtividade do trigo O trigo é uma das poucas e mais lucrativas opções de cultivo nas lavouras do sul do Brasil. A área de cultivo com o cereal vem aumentando em razão dos melhores preços e do lançamento de cultivares de alta capacidade de produção levando a uma maior tecnificação dos produtores, que, para obterem melhores produtividades, também utilizam maiores quantidades de insumos. Os cultivares de trigo atualmente disponíveis apresentam elevado potencial de rendimento, mas esse potencial não é obtido a campo, em função do clima e das técnicas de manejo empregadas na cultura. 14 CORREIO 1/04 A instalação da cultura tem papel preponderante na determinação da produtividade, enquanto o controle adequado das pragas, doenças e plantas daninhas evita perdas de produtividade. Em relação às plantas daninhas, estas devem ser controladas no início do desenvolvimento da cultura, devendo o controle ser eficiente e realizado na época correta, visto que quanto maior for a produtividade maiores são a perdas causadas pela matocompetição. A espécie e a população das plantas daninhas, a época em que a dessecação foi realizada, o clima, a época de semeadura, a cobertura do solo e as condições sanitárias e de desenvolvimento da cultura são fatores que determinam a época de início de controle das plantas daninhas. As infestantes de folhas largas (fabáceas) são as que ocorrem mais freqüentemente nas lavouras de trigo. No entanto, a aveia e o azevém são considerados plantas daninhas de importância, visto que emergem junto com a cultura do trigo, apresentam alta capacidade de matocompetição e são de difícil controle, uma vez que têm características muito semelhantes às do trigo. O crescente uso do plantio direto, da rotação de culturas e da integração lavoura-pecuária tem propiciado um aumento substancial do uso dessas espécies nas áreas tritícolas. A utilização de herbicidas para o controle de plantas daninhas em pós-emergência no trigo tem aumentado substancialmente. Em geral, quando da ocorrência de espécies de folhas largas e estreitas no mesmo local é necessária a aplicação de mais de um herbicida para o controle das plantas de ambas as espécies. Controle de azevém e aveia No controle de aveia e azevém com o uso do produto Hussar, deve-se levar em consideração que o azevém é mais sensível ao produto, sendo controlado com doses entre 70 e 100 g/ha, variável com o estádio das plantas na época da aplicação. Para o controle de aveia, menos sensível ao produto, a aplicação deve ser realizada preferencialmente em pós-inicial. A dose de Hussar a ser utilizada deve ser maior do que a para azevém, sendo que, para a aplicação em pós-inicial, a dose indicada varia de 100 a 130 g/ha, de acordo com o estádio e a população da aveia. Não é recomendável a aplicação em plantas mais desenvolvidas (pós-média), visto que Resultados de controle de plantas daninhas com iodosulfuron methyl-sodium aos 45 dias após a aplicação Tratamento Dose Azevém 1. Hussar1 2. Hussar 3. Hussar1* 4. Hussar* 5. Hussar* 6. Hussar2* 70 g 70 g 100 g 100 g 130 g 70/70 g 90,0 c 90,0 c 98,0 a 92,5 bc 95,7 ab 98,5 a Planta daninha Aveia* Picão-preto 68,8 d 73,8 cd 91,5 ab 65,0 d 81,3 bc 93,3 a 93,3 b 99,5 a 99,0 a 100,0 a 99,0 a 100,0 a Nabo 98,0 ab 98,0 ab 97,7 b 99,5 ab 99,5 ab 100,0 a nessa situação a dose deve ser maior do que 130 g/ha. No entanto, a aplicação seqüencial é a mais adequada, por garantir um melhor controle e deixando a cultura livre da presença das plantas daninhas por um maior período. Nessa modalidade de aplicação, pode-se utilizar de 60 a 70 g/ha de Hussar em cada aplicação. Controle de espécies de folhas largas Hussar promove controle eficiente de inúmeras espécies de folhas largas, mesmo em doses baixas. No caso de Raphanus raphanistrum (nabo) e Bidens pilosa (picãopreto), de ocorrência freqüente nas lavouras de trigo, Hussar mostra-se eficiente na dose de 70 g/ha. Esses resultados mostram que Hussar controla a maioria das espécies que incidem durante a cultura do trigo, sendo o controle das mesmas condicionado à dose e à época em que o produto é aplicado. Autor: Jeferson Zagonel – Engº Agrº, Dr., Prof. Associado (CREA nº 8756-D/PR), Departamento de Fitotecnia e Fitossanidade – UEPG 1 Aplicação em pós-inicial; 2Aplicação seqüencial; * em fase de inclusão no registro do produto 1/04 CORREIO 15 A sarna é uma das duas principais doenças da macieira no sul do Brasil, causando perdas de produtividade que se prolongam pelos anos seguintes. Por isso, exige um cuidadoso controle Os sintomas e sinais da doença se manifestam em folhas, flores, pecíolos, pedúnculos, frutos e ramos novos. O sintoma inicial nas folhas é observado sob forma de manchas mais claras que a cor verde característica, perceptíveis contra a luz do sol. Estas manchas mudam rapidamente para a cor verde oliva típica da sarna e, com o envelhecimento da lesão, para a cor acinzentada. Em condições ambientes favoráveis, as lesões podem se espalhar por toda a superfície foliar. Quando predominam períodos chuvosos na primavera, a infecção nos frutos pode ultrapassar 80%. Infecções nos pecíolos e pedúnculos, caracterizadas pelas lesões pretas, resultam na queda prematura de folhas e frutos. Os ramos novos, quando infectados, podem apresentar lesões e cancros de cor pardo-escura. A infecção nos frutos pequenos provoca deformação, rachadura e queda prematura. Os frutos em fase de maturação também podem ser infectados. Neste caso, as lesões são circulares com, no máximo, 2 a 3 mm de diâmetro e coloração escura. Nos frutos 16 CORREIO 1/04 de película verde, estas lesões são inicialmente avermelhadas, as quais vão escurecendo à medida que se desenvolvem, inclusive durante a armazenagem na câmara frigorífica. Epidemiologia O ciclo de vida do fungo Venturia inaequalis é constituído de duas fases distintas: a) fase saprofítica ou sexuada, que ocorre nas folhas caídas sobre o solo durante o período de repouso da macieira; b) fase parasítica ou assexuada, que se manifesta durante o período vegetativo da macieira. No outono, após a queda natural das folhas e a morte das suas células, o micélio penetra profundamente no tecido e inicia a formação do pseudotécio A temperatura ideal para a fase sexuada é de 4º C, não havendo formação do pseudotécio a 15º C ou mais. A umidade também é um fator limitante na formação dos pseudotécios, não ocorrendo em folhas muito secas. A sarna da macieira A produção e a maturação dos ascósporos ocorrem durante o final do inverno e o início da primavera, em temperaturas de 16º C a 18º C, não ocorrendo em temperaturas superiores a 24º C devido ao abortamento das ascas. Os pseudotécios e ascósporos amadurecem de modo intermitente, ou seja, a liberação de ascósporos se inicia geralmente em agosto, um pouco antes da brotação da macieira, atinge o pico durante a floração, nos meses de setembro e outubro, e encerrase no final de novembro. A liberação dos ascósporos ocorre na presença de chuva, sendo a maioria (96% a 97%) liberada durante o dia e somente 3% a 4% durante a noite. Na presença de luz, máxima liberação é observada entre 3 e 6 horas após o início da chuva. O umedecimento da folha provoca o alongamento do asco maduro, o que resulta na projeção dos ascósporos através da abertura natural (ostíolo) presente nas ascas, e a corrente de ar se responsabiliza pela sua disseminação. Se houver continuidade do molhamento, os ascósporos iniciam a germinação. Porém, para que haja infecção, é necessária a permanência do molhamento por um determinado período (PM) de acordo com a temperatura ambiente. Por exemplo, para que ocorra infecção nas folhas a 16º C, o PM mínimo é de 9 horas, enquanto que a 6º C são necessárias 21 horas. Já nos frutos, o período de molhamento necessário para a infecção depende do seu estádio fenológico. Cerca de 9 a 17 dias após, surge grande quantidade de conídios que pressionam as células, provocando, então, o rompimento da cutícula e o aparecimento das lesões verde olivas, típicas da doença. Os conídios, produzidos em número de até 100 mil por lesão, são os responsáveis pela infecção secundária. A água é, novamente, o principal fator na disseminação do patógeno, pois provoca o inchamento dos conidióforos e a imediata liberação dos conídios. Estes são carregados pelos respingos de água e pela corrente de ar para outras partes das plantas. Havendo água livre, os conídios começam a germinar de modo similar aos ascósporos. Enquanto a germinação e a penetração dos esporos são altamente dependentes da umidade relativa e do período de molhamento, posterior patogênese depende fundamentalmente da temperatura ambiente. Máxima expansão das lesões ocorre em torno de 19º C, sendo mínima abaixo de 0º C ou acima de 26º C. Além disso, a produção de conídios é baixa em umidade relativa do ar inferior a 60%. Controle No sul do Brasil, o período crítico para a ocorrência da sarna inicia-se com a brotação da macieira, em setembro, e prolongase até o final de novembro, quando cessa a liberação de ascósporos. Nesse período, ocorre rápida expansão foliar e desenvolvimento dos ramos terminais. Atualmente, o controle químico é a principal medida de controle da sarna, visto que os principais cultivares comerciais, Gala e Fuji, são muito suscetíveis a esta doença. Com o uso de fungicidas mais eficientes, informações da epidemiologia da sarna, e com base nos avisos fitossanitários, pode-se controlar racionalmente a sarna, com redução das pulverizações. Para o controle da sarna, os fungicidas podem ser aplicados (a) sistematicamente, com base na fenologia da macieira ou (b) seguindo, além da fenologia da macieira, a liberação de ascosporos e os períodos de infecção da doença, de acordo com a Tabela de Mills. Para a utilização eficiente dos fungicidas, é fundamental que se conheça a atividade destes sobre o desenvolvimento da sarna. • Atividade pré-infecção ou protetora - Os fungicidas que apresentam esta característica devem ser aplicados antes ou durante a ocorrência de um período de infecção, no mais tardar até 24 horas após o início da chuva. Os fungicidas de segunda geração, que atuam inibindo a germinação dos esporos ou o alongamento do tubo germinativo, e os do grupo das estrobilurinas se enquadram neste grupo. • Atividade pós-infecção ou curativa - Os fungicidas possuem a capacidade de penetrar no tecido hospedeiro e inibir o desenvolvimento do fungo quando aplicados até 96 horas após o início da chuva. Vários fungicidas, notadamente os inibidores da biossíntese de ergosterol (IBEs) e as anilinopirimidinas (ANPs) apresentam esta característica. A fase saprofítica do fungo Venturia inaequalis ocorre nas folhas caídas da macieira Sintoma de sarna em folha Pequenos frutos atacados pela sarna 18 CORREIO 1/04 Por outro lado, estes fungicidas (IBEs e ANPs) não inibem a germinação dos esporos e, além disso, apresentam ação bastante específica, portanto com potencial para o desenvolvimento de resistência. Como medida para retardar o aparecimento de resistência, recomenda-se que os fungicidas curativos sejam usados, no máximo, quatro vezes por ciclo e, preferencialmente, em mistura com os fungicidas de contato. Tem-se observado que o uso de misturas de fungicidas, além da possibilidade de retardar o processo de resistência, proporciona controle mais eficiente da sarna. • Atividade pré-sintoma - Neste caso também os fungicidas são aplicados após o início do período infeccioso, porém, dois a três dias antes do aparecimento dos sintomas. Com isso, não se inibe o aparecimento das lesões, porém as que se formam são atípicas, cloróticas ou necróticas. Além disso, a produção de conídios é mínima e estes, quase sempre inviáveis. Os fungicidas IBEs e o dodine, apesar de atuarem de maneira diferente sobre o fungo, apresentam este tipo de atividade. • Atividade pós-sintoma ou erradicante O fungicida, uma vez aplicado sobre a lesão, evita a formação de novos conídios e os poucos que se formam não germinam. Esta característica é muito importante para reduzir o progresso da doença. O fungicida dodine, as estrobilurinas e, em menor intensidade, o chlorothalonil apresentam este tipo de atividade. Os fungicidas protetores, como captan e ditiocarbamatos, quando aplicados nas lesões, também reduzem a produção de conídios, entretanto, as lesões continuam a esporular quando cessa o efeito residual do produto. Neste caso, é comum se observar produção de esporos nos bordos das lesões. No sistema de calendário, as aplicações de fungicidas são realizadas sistematicamente, a partir da brotação da macieira, mais precisamente a partir do estádio fenológico de pontas verdes (estádio C), o que ocorre comumente no final de agosto ao início de setembro. Posteriormente, as pulverizações, normalmente com misturas de tanque de fungicidas protetores e curativos, são repetidas semanalmente, antecipando-se aos períodos chuvosos. No sistema de controle com base na previsão da sarna, a pulverização é iniciada, também, com o início da brotação da macieira, porém as aplicações sucessivas são efetuadas de acordo com a ocorrência dos períodos de infecção da sarna. O monitoramento dos períodos críticos é realizado por meio de equipamentos que registram a temperatura, a umidade relativa do ar e o período de molhamento foliar, além da precipitação. Mesmo neste sistema, recomenda-se, sempre que possível, realizar tratamentos preventivos com fungicidas protetores, os quais devem ser aplicados até 24 horas após o início da chuva. As aplicações em pós-infecção com os fungicidas curativos devem ser realizadas somente quando necessário. Neste caso, é recomendável que estes sejam misturados com fungicidas protetores, pois além da possibilidade de retardar o aparecimento da resistência, aumenta a eficácia do tratamento. Os tratamentos subseqüentes são realizados de acordo com a ocorrência dos novos períodos de infecção, respeitando-se um intervalo mínimo de sete dias. As pulverizações, no Brasil, são realizadas com equipamentos do tipo turbo-atomizador, a alto volume, com um volume de calda que varia de mil a 2 mil litros/ha, ou a baixo volume, com 500 litros/ha de calda ou menos. Práticas culturais, como o uso de espaçamento adequado de plantio e quebra-ventos, poda e condução das plantas visando a maior arejamento das plantas e melhor penetração e deposição dos fungicidas, aumentam a eficácia dos tratamentos fitossanitários. Yoshinori Katsurayama, Engº Agrº, M.Sc. Fitopatologista, CREA-SP 54.463-D José Itamar da Silva Boneti, Engº Agrº, M.Sc. Fitopatologista, CREA-SC 3.527-D, Um fungicida inovador para a cultura da macieira Flint 500 WG chegou ao Brasil para ser um novo padrão no controle da sarna-damacieira. O novo fungicida já está sendo utilizado com muito sucesso em importantes países produtores de maçã que apresentam alta incidência dessa doença. Em numerosos ensaios comparativos de campo, realizados também por pesquisadores de entidades oficiais brasileiras, Flint mostrou claramente essa posição de destaque. Flint contém Trifloxystrobin, ingrediente ativo que apresenta ação mesostêmica, o que significa alta afinidade com a superfície vegetal e com as camadas de cera, fazendo com que se armazene de forma duradoura logo abaixo da superfície, criando um depósito de substância ativa resistente à lavagem pela chuva. Nesse local, protegido da influência de fatores climáticos, Trifloxystrobin pode exercer sua excelente eficiência e seu prolongado período de proteção. Mediante mecanismos de redistribuição, o ingrediente ativo alcança inclusive pontos próximos dos órgãos vegetais que não foram perfeitamente cobertos pela aplicação. Devido à sua atividade translaminar, certa quantidade do ingrediente ativo aplicado penetra no tecido foliar. Além disso, outra parte passa à fase de vapor e por meio dela o ingrediente ativo se redistribui nas folhas e na planta tratada. Desse modo, a partir da ação mesostêmica, o manto protetor fungicida que envolve a planta e a protege eficazmente de infecções provocadas por fungos ativa-se, de tempos em tempos, a partir do depósito de ingrediente ativo. Flint inibe as fases iniciais do ciclo evolutivo da maioria dos fungos, ou seja, atua especialmente na germinação dos esporos e no crescimento do tubo germinativo. Por isso, normalmente, sua aplicação deve ser realizada cedo e de forma preventiva. A sarna-damacieira constitui-se em um caso especial, já que Flint também controla estádios mais avançados do fungo, como o crescimento do estroma subcuticular. Nos programas de pulverizações para controlar a doença, tal fato representa um benefício adicional em termos de flexibilidade na época de aplicação. No entanto, para aproveitar ao máximo o potencial de desempenho de Flint contra a sarna, o produto deve ser aplicado preventivamente, nas doses de 7,5 a 10 g /100 litros, com base em um volume de 1000 litros de calda/ha. Especialmente quando se utiliza Flint durante o período principal de infecção ou em pomares com alto vigor vegetativo, os intervalos entre os tratamentos não devem superar 7 a 10 dias. Manejo da resistência Relativamente ao desenvolvimento de resistência de fungos fitopatogênicos, trata-se de um fenômeno que não é raro entre os fungicidas modernos, inclusive para a classe das estrobilurinas. Até o momento, em nível mundial, os casos pontuais de cepas de Venturia inaequalis resistentes às estrobilurinas limitam-se a poucas regiões com cultivo intensivo de macieira e a campos experimentais, nos quais foram desobedecidos todos os princípios do manejo preventivo de resistências. Para manter a utilização a longo prazo dos ingredientes ativos dessa classe, que se mostram com alta eficiência no controle de doenças da macieira, sempre se deve levar em conta as seguintes recomendações: • os fungicidas à base de estrobilurinas nunca podem ser aplicados mais de 3 a 4 vezes por safra; • o manejo preventivo de resistência em sarna-da-macieira necessariamente inclui seguir a recomendação das doses, das épocas de aplicação e dos intervalos entre as aplicações; • evitar mais de 2 aplicações seguidas com estrobilurinas; • deve-se aplicar Flint e outras estrobilurinas em alternância/combinação com fungicidas de mecanismos de ação diferentes. Considerando-se esse último aspecto, a Bayer CropScience dispõe de excelentes fungicidas para o controle da sarna e que apresentam mecanismos de ação distintos das estrobilurinas. Do grupo químico das anilinopirimidinas, destaca-se o Mythos (Pyrimethanil); da linha de triazóis, Palisade (Fluquinconazole) e Folicur PM (Tebuconazole) são os mais eficientes para a sarna; ainda, como fungicida de amplo espectro, há o Antracol (Propineb), que pertence à classe dos ditiocarbamatos. Flint® - Novo Fungicida no Programa Bayer CropScience de Proteção à Macieira Sarna Mancha-foliar-da-gala Mariposa-oriental Traça-das-frutas Ácaro-vermelho-europeu Pulgão-lanígero/piolho-de-são-josé Mosca-das-frutas Plantas daninhas Agosto/Setembro Brotação Outubro/Novembro Floração Dezembro/Fevereiro Frutificação Antracol® Mythos® Flint®/Folicur ®/Palisade® Lebaycid® Sevin 480® Envidor ® Caligur® Decis® Ethion® Finale® 1/04 CORREIO 19 Desenvolvimento de Produtos - Bayer Cropscience Os sojicultores exigem, cada vez mais, sementes de alta qualidade, que proporcionem lavouras saudáveis e produtivas. Isso requer o tratamento das sementes não só com fungicidas, mas também com inseticidas e micronutrientes 20 CORREIO 1/04 Na cultura da soja, a obtenção de uma lavoura com população adequada de plantas depende da correta utilização de diversas práticas. Destas, são essenciais o bom preparo do solo, a semeadura em época adequada e em solo com boa disponibilidade hídrica, a utilização correta de herbicidas e a boa regulagem da semeadora (densidade e profundidade). Porém, o sucesso dessas práticas está condicionado à utilização de sementes de boa qualidade (França Neto & Henning, 1984). Em situações em que as velocidades de germinação e emergência de plântulas venham a ser prejudicadas, o tratamento das sementes com fungicidas específicos propiciará uma proteção extra às sementes. O tratamento químico de sementes, visando ao controle de doenças transmitidas por sementes, é uma prática antiga. Seu relato mais remoto, segundo Machado (2000), data de 1637, envolvendo o tratamento de sementes de trigo com água salina, objetivando o controle de Tilletia caries ou T. foetida. Segundo relatos históricos, sementes de trigo coletadas em um barco que havia naufragado em águas britânicas, ao serem semeadas, deram origem a plantas sadias, livres desses patógenos, fato esse que não ocorria em sementes produzidas na própria região e não submetidas ao tratamento salino. Mais tarde, em 1755, Matthieu de Tillet, botânico francês, recomendou o uso de calcário e cal para o tratamento químico de sementes de trigo (Copeland & McDonald, 1995). Cinqüenta anos mais tarde, Prevost, botânico suíço, introduziu o uso de sulfato de cobre para o tratamento de sementes. Entretanto, um novo conceito de tratamento químico de sementes foi lançado na década de 1920, com a utilização de fungicidas mercuriais orgânicos, os quais, algumas décadas depois, tiveram sua utilização proibida, devido aos problemas ambientais que podem ser causados pelos compostos à base de mercúrio. Esse fato demandou o desenvolvimento de outros fungicidas mais eficazes e que não apresentassem as implicações ecológicas dos mercuriais. Recomendações No Brasil, especificamente para a semente de soja, a primeira recomendação oficial do tratamento com fungicidas foi feita pela Embrapa Soja, em 1981 (Henning et al., 1981). Naquela ocasião, o tratamento de sementes passou a ser recomendado apenas para situações em que a semeadura fosse efetuada em solos com baixa disponibilidade hídrica. Essa recomendação visava à proteção da semente contra fungos habitantes do solo, como Aspergillus spp., Fusarium spp. e Rhizoctonia solani. Um fato curioso: nessa primeira recomendação, o tratamento de sementes de soja era indicado para ser realizado imediatamente antes da semeadura, não sendo aconselhada a sua realização antes ou durante o período de armazenagem. Essa recomendação restrita baseou-se em resultados de pesquisa que não mostravam vantagens em se tratar a semente antes ou durante o armazenamento. Devido a um sistema de controle de qualidade não muito eficaz, temiase que possíveis prejuízos pudessem ocorrer aos produtores de sementes, os quais, ao tratarem eventualmente um lote com qualidade duvidosa, poderiam ter, por ocasião da semeadura, um lote com germinação abaixo do padrão mínimo de 80%. Assim, a não comercialização de lotes tratados representaria grandes prejuízos ao produtor, pois essas sementes não poderiam ser comercializadas como grãos para consumo humano ou animal. O tratamento de sementes de soja com fungicidas, que, na safra 1991/92, não atingia 1/04 CORREIO 21 5% da área semeada, é hoje uma prática amplamente utilizada pelos sojicultores, com estimativas de até 93% de adoção, desde a safra 2001/02 no Brasil (Henning, 2003). Essa prática tem um custo bastante reduzido, representando apenas 0,5% do custo de instalação da lavoura (Henning et al., 1997). Razões da utilização Vários fatores contribuíram para que o tratamento de sementes de soja viesse a ser tão amplamente utilizado: a conscientização dos sojicultores da importância do controle e da prevenção da disseminação de diversas doenças fúngicas, que podem ser transmitidas pela semente; as vantagens advindas da proteção à semente pelo seu tratamento, que resulta em maior segurança quanto ao estabelecimento de uma população adequada de plantas; o lançamento no mercado de novas formulações líquidas de fungicidas mais eficazes para o tratamento da semente; e o lançamento de diversos modelos de máquinas que, na lavoura, realizam a tarefa de tratar a semente com precisão, rapidez e menores riscos de intoxicação dos seus operadores. As recomendações atuais de tratamento de sementes de soja envolvem sempre o emprego de dois princípios ativos de fungicidas, sendo um produto de atuação sistêmica, que visa ao controle de fitopatógenos transmitidos pela semente, e outro de contato, que tem a função de proteção das sementes, principalmente contra fungos habitantes do solo. Atualmente, tem sido corriqueira a prática do tratamento de sementes de soja com fungicidas associados com micronutrientes, especialmente cobalto e molibdênio, essenciais à cultura. Respostas significativas sobre o rendimento de grãos têm sido observadas em função do tratamento de sementes com esses micronutrientes (Henning et al., 1997). Além de fungicidas e micronutrientes, tem sido comum a demanda pelo tratamento de sementes de soja com inseticidas, visando ao controle de pragas que afetam o desenvolvimento inicial das plântulas no campo. Não se pode deixar de mencionar, também, o crescente uso de corantes e polímeros nessa operação, objetivando, além de dar melhor aspecto à semente, propiciar melhor adesão dos produtos aplicados. Portanto, a semente de soja tem sido utilizada como "meio de transporte" de diversos produtos na semeadura, como fungicidas de contato e sistêmicos, inoculantes, inseticidas, corantes e/ou polímeros e micronutrientes, principalmente Co e Mo. O tratamento de sementes com vários produtos requer atenção especial quanto à possibilidade da ocorrência de fitotoxicidade 22 CORREIO 1/04 dos mesmos às plântulas e, também, possíveis incompatibilidades entre os produtos usados e entre esses e a viabilidade do Bradyrhizobium. Daí a importância de se utilizarem apenas os produtos recomendados pela pesquisa, quer sejam fungicidas, inseticidas, micronutrientes ou corantes/polímeros. Mudanças no mercado Entretanto, apesar dos resultados positivos obtidos pelo tratamento de sementes de soja, o mercado está sinalizando para algumas mudanças. Hoje, a demanda pela aquisição de sementes de soja já tratadas com fungicidas, micronutrientes (Co e Mo) e, eventualmente, com inseticidas tem aumentado consideravelmente. Esse fato tem levado diversos produtores de sementes a se equiparem para fornecer sementes já tratadas com esses produtos. Alguns fatores explicam o porquê dessa crescente demanda pela aquisição de sementes já tratadas: a) qualidade e precisão da aplicação, que é realizada com produtos de eficiência comprovada, utilizando equipamentos de alta precisão, propiciando tratamento uniforme em todas as sementes do lote; b) inexistência de risco de intoxicação ao produtor, por não ter de realizar o tratamento com produtos potencialmente tóxicos; c) maior comodidade e facilidade ao produtor, que economizará mão-de-obra e tempo; d) custo menor ou, na pior das hipóteses, igual ao do tratamento realizado na propriedade. Ao adquirir sementes já tratadas, o sojicultor necessitará apenas aplicar o inoculante, operação relativamente mais simples, pois não requer a precisão do tratamento com micronutrientes, fungicidas e inseticidas. E hoje, com a recomendação pela pesquisa da aplicação de inoculante líquido diretamente no sulco, durante a semeadura, o sojicultor não terá necessidade de realizar nenhum tratamento adicional à semente. Requisitos Entretanto, para que o produtor de sementes de soja venha a adotar a prática da comercialização de sementes já tratadas, deverá atender a algumas exigências: a) dispor de um bom sistema de controle de qualidade, para a correta seleção dos lotes a serem tratados, uma vez que os mesmos deverão manter a sua qualidade até o momento da comercialização e da semeadura; o laboratório tem também a função de pesquisa, visando à comprovação da eficácia dos produtos utilizados no tratamento, além da detecção de possíveis efeitos fitotóxicos às plântulas; b) dispor também de um bom setor comercial, que deverá dimensionar o volume de sementes a ser tratado, para que seja totalmente disponibilizado ao comércio, evitando, assim, possíveis prejuízos, decorrentes da não venda de lotes tratados; e c) ter boas logística e infra-estrutura para o tratamento de sementes, com máquinas de última geração, que realizem essa operação com precisão, eficácia e bom rendimento. Obviamente, somente produtores de semente dispostos a investir nessa tecnologia e que detenham um excelente sistema de controle de qualidade e um bom planejamento comercial terão condições de colocar no mercado sementes de soja de elevada qualidade, previamente tratadas com fungicidas, micronutrientes e inseticidas. É importante frisar que, uma vez tratada, a semente só poderá ser comercializada em embalagens de papel multifolhado, nas quais devem constar as seguintes informações: princípio ativo, dose, antídoto e símbolo de periculosidade. A prática de adquirir sementes de soja previamente tratadas pode trazer, sem dúvidas, muitas vantagens técnicas e financeiras ao sojicultor. Os fatos aqui descritos justificam plenamente o interesse crescente por sua adoção. Autores: José de Barros França Neto, Engº Agrº (CREA 48073-DPR), Ph.D., e Ademir Assis Henning, Engº Agrº (CREA 4302-DPR), Ph.D., pesquisadores da Embrapa Soja, Londrina, PR - Literatura consultada COPELAND, L.O.; MCDONALD, M.B. Seed science and technology. 3a. edição. Chapman & Hall, Nova York. 409p. 1995. FRANÇA NETO, J.B.; HENNING, A.A. Qualidades fisiológica e sanitária de sementes de soja. Embrapa CNPSo, Londrina. 39p. 1984. (Circular Técnica, 09). HENNING, A.A. Patologia de sementes. In: Encontro Técnico 6, NOVAS TECNOLOGIAS EM SEMENTES. COODETEC, Cascavel. p.90110. 2003. HENNING, A.A.; CAMPO, R.J.; SFREDO, G.J. Tratamento com fungicidas, aplicação de micronutrientes e inoculação de sementes de soja. Embrapa Soja, Londrina. 6p. 1997. (Comunicado Técnico, 58). HENNING, A.A.; FRANÇA NETO, J.B.; COSTA, N.P. Recomendação do tratamento químico de sementes de soja Glycine max (L.) Merrill. Embrapa CNPSo, Londrina. 9p. 1981. (Comunicado Técnico, 12.) MACHADO, J.C. Tratamento de sementes no controle de doenças. LAPS/UFLA/FAEPE, Lavras. 138p. 2000. 1/04 CORREIO 23 24 CORREIO 1/04 Iniciativa do Programa Agrovida da Bayer CropScience, o Projeto Águas atua em benefício da sustentabilidade da agricultura brasileira Desde 1995, quando foi criado o Programa Agrovida, buscou-se lançar projetos que, além de agregar orientações técnicas e novas tecnologias para os agricultores e seus familiares, fossem inovadores e abrangessem aspectos pouco utilizados em projetos anteriores. Nesse sentido, foram implementadas diversas ações relacionadas ao uso correto e seguro dos produtos fitossanitários, visando a levar informações sobre segurança aos agricultores, bem como sobre preservação do meio ambiente. Recentemente lançou-se mais um projeto Agrovida, totalmente pioneiro, dentro do conceito de agricultura sustentável, no qual, além de se buscar produzir alimentos em quantidade e com qualidade, preservando-se o ambiente, procura-se assegurar que as bases naturais da vida se conservem para as futuras gerações. Trata-se do "Projeto Águas", cujo objetivo é disponibilizar ao agricultor informações sobre proteção dos corpos d’água, recuperação de áreas degradadas, revegetação dessas áreas com espécies nativas e frutíferas, além de conservação das áreas de preservação permanente. O primeiro projeto-piloto foi implantado no Estado de São Paulo como resultado de uma parceria com o Departamento de Ciências Biológicas – Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal, da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (ESALQ/ USP), de Piracicaba, SP. Uma propriedade agrícola foi escolhida e nela iniciou-se o projeto de adequação ambiental, que visa neste caso à recuperação de uma fonte de água, já em fase de desaparecimento. 1/04 CORREIO 25 Na primeira etapa dessa adequação ambiental, assim como deve ocorrer em todos projetos dessa natureza, realizou-se o levantamento florestal, ou seja, foi feita a identificação das espécies de plantas presentes no entorno, foram determinadas as distâncias mínimas entre as margens da lagoa e o início do cultivo e definiu-se a solução mais adequada para a recuperação da área em questão. O planejamento adequado permite que ocorra a perpetuação da floresta, isto é, que após o manejo inicial, ela seja auto-suficiente no seu desenvolvimento, processo no 26 CORREIO 1/04 qual algumas plantas mais velhas vão morrendo e outras novas vão nascendo, numa substituição natural ao longo do tempo. Foram retiradas algumas plantas cítricas, que se encontravam em local inadequado e em desacordo com o Código Florestal, que exige que se respeitem determinadas distâncias mínimas ao redor de qualquer fonte d’água, seja natural ou artificial. Depois disso, foram plantadas 4 mil mudas de espécies nativas e frutíferas, sendo estas reproduzidas em viveiros, que serviram para reconstituir o local, atraindo também a fauna nativa. Rio Pardinho - RS O que a legislação prevê De acordo com a Lei Federal 4.771, de 15 de setembro 1965, que instituiu o Código Florestal, alterada pela Lei 7.803 de 1989, são consideradas áreas de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água. Dependendo da largura e do tipo desse corpo d’água, existe uma determinada faixa em metros a ser preservada. O projeto piloto foi implantado no Estado de São Paulo Local em recuperação - SP Os corpos d’água que usualmente existem numa propriedade rural são nascentes, córregos, rios, lagos, represas e açudes. Para preservar esses mananciais, é necessária a adoção de práticas adequadas de conservação do solo e manejo da área cultivada e, não menos importante, de conservação da vegetação do entorno desses mananciais. Geralmente, essa vegetação é uma floresta que está distribuída na forma de pestanas ao longo de um curso d’água, sendo comumente conhecida como "floresta ciliar" ou, nas áreas de cerrado, como "floresta de galeria". No entanto, no lugar das árvores que compõem uma floresta, muitas vezes pode-se encontrar um campo úmido, que é uma vegetação nativa composta por ervas e arbustos. A vegetação nativa presente no entorno dos corpos d’água funciona como reguladora do fluxo de água, dos sedimentos e nutrientes entre os terrenos mais altos da bacia hidrográfica e o ecossistema aquático, desempenhando o papel de filtro entre as partes utilizadas pelo homem para a agricultura e a rede de drenagem. Nas áreas florestais, as copas das árvores interceptam e absorvem a radiação solar, contribuindo para a estabilidade térmica dos cursos d’água. Devido à sua importância na manutenção dos cursos d’água, e o seu papel como hábitat para a fauna silvestre, é necessária e obrigatória por lei a conservação ou a revegetação de campos e florestas nas margens dos cursos d’água e a sua efetiva proteção contra incêndios e agentes poluidores. Fase inicial - SP Novos projetos Recentemente, a Bayer CropScience iniciou projeto similar no Rio Grande do Sul, em parceria com a UNISC – Universidade de Santa Cruz do Sul, a AFUBRA – Associação dos Fumicultores do Brasil e o SINDIFUMO – Sindicato da Indústria do Fumo. Nesse projeto busca-se a recuperação via reflorestamento da mata ciliar nas margens e encostas do rio Pardinho, em propriedade agrícola localizada no município de Santa Cruz do Sul. Após o levantamento florestal visando à identificação das espécies de plantas presentes no entorno, foi realizada uma limpeza em decorrência do acúmulo de entulhos depositados na encosta do rio Pardinho e o plantio no início deste ano de mais de 1.200 mudas de espécies nativas. É muito importante o acompanhamento na fase pós-plantio, pois adubações, controle de formigas, capinas e aguações se fazem necessárias. A implantação desse projeto irá proporcionar um maior nível de proteção nessa faixa da encosta do rio Pardinho e espera-se com isso que os demais produtores da região possam sentir-se motivados a adotálo e assim ajudar na recuperação da bacia hidrográfica desse rio. Crianças de escolas ligadas às secretarias estadual e municipais da região serão convidadas a visitá-lo bem como a desenvolver trabalhos escolares a respeito, ajudando na sua divulgação. Plantas em desenvolvimento - SP Mais iniciativas Neste mesmo ano, é intenção da empresa lançar também um outro Projeto Águas em Goiás, onde já se iniciaram os entendimentos preliminares. Visando a contribuir na orientação aos agricultores quanto à proteção dos corpos d’água, foi elaborado um manual com informações úteis, juntamente com um encarte sobre a produção de espécies nativas nas propriedades agrícolas. A Bayer CropScience, ao lançar tais projetos e disponibilizar materiais educativos*, tem por objetivo colaborar na orientação aos agricultores e incentivá-los a desenvolver em suas propriedades projetos similares, visando à proteção dos corpos d’água, oferecendo assim meios para que possam manter um relacionamento harmonioso com o ambiente e contribuir para a tão desejada sustentabilidade da agricultura. * o Manual de Orientação (com encarte) e o vídeo do Projeto Águas estão disponíveis no site da empresa: www.bayercropscience.com.br Autoria: Departamento Pesquisa & Desenvolvimento Área Stewardship - Bayer CropScience 1/04 CORREIO 27 A joaninha vermelha é um pequeno besouro útil muito freqüente nas condições brasileiras. Esse predador destaca-se por promover o controle biológico, alimentando-se de espécies de pulgões e cochonilhas, que são pragas importantes e prejudiciais à agricultura. www.bayercropscience.com.br