roteiro - Cap Magellan
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roteiro - Cap Magellan
186 www.capmagellan.org ISSN 1274-3569 - Prix : 2 euros Février 2010 n° ROTEIRO INTERVIEW DA SILVA ANA BACALHAU en concert à l’Olympia LA VOIX DE DEOLINDA S O M M A I R E 06 08 A C T U A L I T É S Debate sobre ensino do português no estrangeiro édito Hermano Sanches Ruivo E C O N O M I E Portugal, segundo país do mundo com maior peso das eólicas 10 D O S S I E R O Acordo Ortográfico : Discórdias 27 S P O R T Le Sporting remporte le Tournoi Parisien 34 V O Y A G E S Torres Vedras, a cidade do Carnaval [email protected] Je vous aime… Tanto trabalho e só 28 dias… Il existe toujours tellement de priorités, fardeaux plus que bouées, qu’au final, a contrario probablement des enseignements dispensés par les écoles savantes, je préconise que l’on s’en tienne à deux. Pas plus. Donc au programme de ce mois : aimer et (ré)apprendre la langue portugaise. Apprendre la langue ou la redécouvrir, la rafraîchir parce que c’est le mois où plein de décisions se prennent : à l’école pour le choix des langues vivantes que nos petites têtes pleines devront apprendre à la rentrée prochaine ; à la maison parce que nous avons trop facilement accepté que nos origines pouvaient être suffisantes pour parler et passer le témoin ; au boulot, enfin, parce que la mobilité est de rigueur et que l’on sous-estime l’étendue de l’espace lusophone. En plus d’Expolangues, je vous conseille une lecture des nouvelles données sur la force des langues en géopolitique. N’hésitez pas non plus à questionner les Ambassades lusophones en France – Brésil et Portugal en tête – mais aussi l’excellente ADEPBA (www.adepba.org), l’association française des professeurs de portugais. Connaître une langue aussi pour en savourer toutes les nuances et pour parler avec beaucoup plus de monde aussi et ainsi… aimer. Transition pour ce mois des amoureux, pendant lequel, en un mot comme en cent, il faut rappeler que c’est une posture tellement plus essentielle à la vie de tous les jours que beaucoup des gadgets, artifices ou chimères que nos yeux, fatigués pourtant de tant de publicité, continuent d’habiller nos plus nobles sentiments. Aimer donc, un peu brut et un peu simple, mais tellement plus directement. Et pourquoi pas au son d’une guitare, d’une voix passionnée, de quelques mots chavirants. Deux choses importantes pour un mois plus court, durant lequel, affairés, nous préparons la bonne nouvelle de mars prochain avec le lancement d’un portail dédié à toute l’activité portugaise – lusophone aussi – en France. Nous le ferons avec l’estimable SAPO.pt en nous inscrivant dans ce travail titanesque de découverte de ce formidable monde lusophone. Feliz dia dos Namorados ! PS : côté chiffre des inscriptions sur les listes électorales, ça patine léger. Alors faîtes un effort, vous serez chous (avec un S). ROTEIRO 15 C I N E M A Pedro Costa 22 M U S I Q U E 23 Da Silva L I T T É R A T U R E 24 Chefs-d'oeuvre du Musée national de l'Azulejo à Lisbonne 19 E X P O S 25 "L'interprétation des rêves" A S S O C I A T I O N Rencontre Régionale des Femmes Actives lusophones Année européenne 2010 : G A S T R O N O M I E A Alheira de Mirandela V O U S E T V O S P A R E N T S Mario Jamin o português que conquistou a IDF1 Photographies de Jorge Molder 20 E U R O P E halte à la pauvreté ! en concert à l'Olympia 18 Jogos Olímpicos de Inverno com apenas um português homenageado em Paris 16 S P O R T 26 M E D I A SIC Internacional Factor K MAIS ENCORE 04 Tribune : Dia dos Namorados 05 Lecteurs : réagissez 09 Barómetro 28 Interview : Ana Bacalhau, 30 Movijovem : “Pousada de Juventude Penhas da Saúde” 32 Nuits Lusophones : Dan Inger convida Mísia, com lotação esgotada 36 Stages et emplois 37 Vie des Entreprises : 28ème Salon Expolangues 38 Club Cap la voix de Deolinda D O S S I E R O Acordo da discórdia Com certeza, já terá ouvido falar do Acordo Ortográfico ou pelo menos da controvérsia que o rodeia... Por um lado há quem defenda que é preciso travar a aplicação do Acordo Ortográfico, por outro, há quem diga que quanto mais depressa o aplicarmos, melhor será para afirmar a língua portuguesa no mundo. E há os que dizem sim ao Acordo, mas defendem que a sua aplicação se faça sem precipitações. países signatários do Acordo Ortográfico. Para alem da assinatura do Acordo por todos os países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), foram ainda necessários dois Protocolos Modificativos até que o Acordo entrasse em vigor. A origem do Acordo Comecemos por recuar no tempo para melhor perceber o que está hoje em jogo. Os primeiros registos escritos em língua portuguesa datam do final do século XII, língua que, até ao século XVI, não teve uma ortografia consolidada. No início do século XVIII surgem as primeiras tentativas de alterar a ortografia, mas é preciso esperar até ao advento da 1ª República para ver aprovada a primeira ortografia oficial, em1911. Foi então que “pharmacia” passou a escrever-se “farmácia” e “grammatica” tornouse “gramática”. Como sublinhado por Paulo Feytor Pinto no “Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa” publicado em 2009 : “Em 1911, as Prós e contras Antes de irmos mais alem na discussão, convém sublinhar que o Acordo vem apenas modificar a ortografia e não a morfologia ou a sintaxe das palavras. Por isso, tranquilizem-se: não vamos todos passar a falar brasileiro ! O novo Acordo Ortográfico entrou em vigor em Portugal em Janeiro de 2010. Contudo, até 2016 vamos viver um período de transição, durante o qual ainda se pode utilizar a grafia actual. O Acordo já está, portanto, em vigor, mas não se sabe quando nem como vai ser aplicado. Não se sabe ainda, por exemplo, quando é que os documentos oficiais vão passar a seguir as regras do Acordo. Tal passo só será possível com a adopção do AO pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, que por sua vez depende de uma decisão da Presidência do Conselho de Ministros. Neste momento ninguém sabe aplicar o acordo, dizem os detractores. A crítica mais comum é o facto de não haver um vocabulário comum. Contudo, a Porto Editora publicou recentemente o Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa (abreviado VOLP) e colocou-o online a 29 de Janeiro (encontra-se disponível gratuitamente no site www.infopedia.pt). pação quanto à falta de formação para os professores, de Português mas também de outras disciplinas. O que diz a comunicação social “O Diário de Notícias reconhece a importância da entrada em vigor do Acordo Ortográfico, não o vai, contudo, adoptar desde já, não por qualquer oposição, mas porque a sua integração vai requerer tempo de adaptação.”, pôde ler-se num artigo consagrado ao Acordo datado de 31-12-09. Também o jornal Público decidiu não avançar para já com o novo acordo ortográfico. No editorial de 30-12-09, a directora explica o porquê: “Excluindo a polémica sobre a “tradição” do português e o papel das consoantes mudas e as suas variações nos oito países da CPLP, há ainda uma ultima e fatal fragilidade neste acordo – as regras definidas são facultativas. Para que serve então um acordo global se, afinal, é indiferente escrevermos António ou Antônio?” A agência Lusa começou a aplicar o Acordo Ortográfico a 30 de Janeiro de 2010. Os jornais Sol, Expresso e Diário Económico vão adoptar nos próximos meses as normas do Acordo Ortográfico, anunciaram os directores destes títulos em finais de Janeiro. O director do semanário Expresso, Henrique Monteiro, afirmou “O país não pode fechar-se em si mesmo. Não faz sentido vivermos de costas para o que é hoje o centro da Lusofonia, que é o Brasil”. Considerou ainda ser necessária “formação para preparar os jornalistas para as novas regras” , Convém sublinhar que o Acordo vem apenas modificar a ortografia e não a morfologia ou a sintaxe das palavras. autoridades portuguesas resolveram um problema interno com cerca de 200 anos e criaram um problema internacional com quase 100 anos”, já que o acordo de 1911 foi elaborado sem qualquer consulta ou colaboração de brasileiros. Ao longo de século XX, a reunificação ortográfica da língua foi tentada sete vezes: em 1931, 1943, 1945, 1971-73, 1975, 1986 e 1990. Em 1990, a proposta de Acordo Ortográfico foi aprovada e assinada pelos responsáveis governamentais de Angola, Brasil, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, Portugal e S.Tomé e Príncipe. Em 2004, Timor-Leste juntou-se aos 10 O que diz o Ministério da Educação A ministra da Educação, Isabel Alçada, pede mais tempo para a introdução do Acordo no sistema de ensino. Já é sabido que o Acordo não será aplicado nas escolas no próximo ano lectivo. A Associação dos Professores de Português (APP) critica a posição do Ministério da Educação: “Choca-nos que os alunos do 1º ano estejam a aprender na ortografia do século passado”, disse o presidente em declarações ao jornal Público a 17-12-09. Deixou ainda a preocu- bem como um “trabalho de adaptação, para que o leitor se adapte à nova grafia”. O que dizem os editores A maioria dos editores portugueses irá dar liberdade aos seus autores. Quanto à integração da nova grafia na edição escolar, todos estão à espera da decisão do Ministério da Educação, que ainda não definiu calendário. Enquanto a discussão sobre a aplicação do Acordo se vai arrastando em Portugal, Brasil e Cabo-Verde já o aplicam. Os restantes países da CPLP ainda estão à espera da implementação. Acordo Ortográfico: como funciona ? Segundo o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, da autoria de Paulo Feytor Pinto, o Acordo Ortográfico “introduz novidades em apenas três áreas fundamentais : a utilização do C e do P em certas sequencias de consoantes; a utilização do hífen ; e a (não) colocação do acento em algumas palavras acentuadas na penúltima sílaba. Há ainda duas alterações com menor impacto : a utilização de minúsculas nas designações de dias da semana, meses, pontos cardeais e estações do ano, e a introdução das letras K,W, e Y no alfabeto mantendo-se, porém, as regras de utilização anteriormente em vigor”. FERRAMENTA INFORMÁTICA ASSEGURA NA CONVERSÃO PARA A NOVA GRAFIA O Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC) está a ultimar uma aplicação informática para fazer a conversão dos documentos, segundo as regras do Acordo Ortográfico. Esta ferramenta, que inclui um conversor de documentos, um revisor de texto e um vocabulário ortográfico com 200 mil palavras, deveria estar disponível, gratuitamente, já em Fevereiro. Poderão ser descarregadas para o computador no Portal da Língua Portuguesa (www.portaldalinguaportuguesa.org). O Portal da Língua Portuguesa terá também disponível online a listagem de todas as regras de escrita que são alteradas, com descrição ‘amigável’, complementada com exemplos práticos. Para que os nossos leitores não estejam perdidos, preparamos uma cábula. Para guardar, usar e abusar! O que muda? Minúsculas - Dias da semana, nomes do meses e pontos cardeais passam a escrever-se com minúscula: segunda-feira, janeiro, primavera, sul, , nor-noroeste, etc. - No que toca a nomes de monumentos, de disciplinas e obras literárias, passamos a poder escolher usar a maiúscula ou a minúscula : Matemática ou matemática; Amor de Perdição ou amor de perdição; Mosteiro do Jerónimos ou mosteiro dos jerónimos. Supressão das consoantes mudas ou não articuladas - É a regra de “o que não se pronuncia, não se escreve”. Passamos a escrever: adotar, atual, afeto, batismo, coleção, elétrico, fator, infeção, receção, em vez de adoptar, actual, afecto, baptismo, colecção, eléctrico, factor, infecção, recepção. Acentuação - Os verbos de 2ª conjugação (-er), na 3ªpessoa do plural, do presente do indicativo ou do conjuntivo, perdem o chapéu no primeiro ‘e’ passando a escrever-se como segue: creem, leem, deem, veem... - Também as palavras graves com ditongo ‘oi’ perdem o acento no ‘o’: asteroide, heroico, jiboia... - Queda do acento grave em palavras homógrafas: para (verbo parar) e para (preposição); pela (verbo pelar) e pela (preposição)... Supressão de hífen - Se a palavra terminar com uma vogal e a palavra seguinte iniciar com ‘r’ ou ‘s’, dobra-se a consoante, escrevendo-se: antirreligioso, autossuficiente, contrarrelógio, microssistema, minissaia, ultrassecreto... em vez de antireligioso, auto-suficiente, contra-relógio, etc. SUGESTÕES DE LEITURA Para compreender Ortográfico - Prefixo terminado por vogal e a palavra seguinte começada por vogal diferente: autoestrada, agroindustrial, antiaéreo, coautor, extraescolar, codirecção... - Em expressões como : fim de semana, cão de guarda, cor de vinho... - Ligação da preposição de com formas monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de.... O que não muda? - Nos casos em que a consoante se articula, esta será conservada, como por exemplo : adepto, apto, convicção, corrupção, eucalipto, interrupção, opção, olfacto, perfeccionismo… - Os verbos da 1ª conjugação (-ar), mantêm o acento na 1ªpessoa do plural do pretérito perfeito, para se distinguir do presente do indicativo : parámos (pr.perf.) e paramos (pres.) - O hífen mantém-se nas palavras que denominam espécies das áreas botânica e zoológica: abóbora-menina, couve-flor, feijãofrade, ervilha-de-cheiro... - O hífen também se mantém quando o prefixo termina por uma vogal e a palavra seguinte começa pela mesma vogal: microondas, anti-ibérico, semi-interno... Liliana Azevedo [email protected] o Acordo Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa Autor: Paulo Feytor Pinto Edição: 2009 Editor: I.N.- C.M. ISBN: 9789722718233 Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa Edição: 2009 Editor: Porto Editora ISBN: 978-972-031943-2 Atual - O Novo Acordo Ortográfico Autor: Pedro Dinis Correia Edição: 2008 Editor : Texto Editores ISBN: 9789724737645 O texto integral do Acordo Ortográfico encontra-se disponível online no seguinte link : www.priberam.pt/docs/AcOrtog90.pdf 11 D O S S I E R Acordo ortográfico : sim ? não ? talvez? Interrogámos seis pessoas que usam a língua portuguesa no âmbito profissional. Quisemos saber o que pensam sobre o Acordo ortográfico e se vão aderir. FRANCISCO SEIXAS DA COSTA, Embaixador de Portugal em França www.embaixada-portugal-fr.org ALICE MACHADO, escritora www.alicemachado.com Não me parece uma óptima ideia. Respeito-a mais não tenho a intenção de aderir. À força de simplificar, o que nos resta da língua portuguesa? É verdade que a língua evolui com a história, estou de acordo com o linguista alemão Humbolt, mas aqui não é só questão de História e evolução, é simplificar demais. DANIEL RODRIGUES, Presidente de Voix Lusophones, associação de estudantes http://voixlusophones.canalblog.com/ Pela minha experiência como diplomata, penso que era indispensável um novo acordo ortográfico entre os países lusófonos, por forma a atenuar as diferenças entre as normas da língua escrita actualmente existentes e que fragilizam a afirmação do Português à escala global. Se este é o acordo ideal ou não - isso não sei, não sou linguista. Como utilizador, acho ele cumpre bem a sua função de evitar que a divergência da nossa escrita se aprofunde. Só por isso, é um passo positivo. A Embaixada de Portugal em Paris já está a escrever à luz do novo acordo. Um acordo ortográfico é um tratado internacional que obriga, como lei que é, os países que o subscrevem. Podem discutir-se as modalidades e os prazos para a sua entrada em funcionamento, mas, mais cedo ou mais tarde, ele será a regra comum. Daqui a tempos, as crianças aprenderão na escola por essa norma, os jornais e revistas converter-se-ão. Foi sempre assim no passado: os acordos são feitos para as gerações seguintes. Na minha estante, tenho um livro intitulado "Escriptos de hontem". Alguém escreve ainda assim? 12 O acordo ortográfico é para mim uma medida corajosa, mas não acredito que terá efeito imediato. É muito difícil imaginar que nós escreveremos de maneira diferente. Haverá um período de flutuação. Entretanto, ela permite uma unificação da política de ensino do português dos países lusófonos no estrangeiro. É uma oportunidade ímpar para juntarmos as nossas forças. Com o tempo, os jovens escreverão segundo a nova norma; a prática do ensino será o teste mais importante do acordo. Mas que ninguém venha publicar Almeida Garrett ou Machado de Assis, segundo este! Temos que respeitar a história da língua. Enquanto professor de português, é claro que ensinarei a nova norma. Será difícil perder os meus automatismos, mas farei todo o esforço necessário para que a minha escrita respeite o acordo. Um texto mais oficial, lê-lo-ei com atenção redobrada, a mensagem entre amigos será segundo a norma antiga! CARLA GUERREIRO, tradutora www.franceportugal-traductions.com Para mim, faz-se "muito barulho por nada" em relação ao acordo ortográfico, pois muita gente pensa que vamos acabar por falar o português do Brasil, o que é mentira. A identidade de uma língua ou variante linguística não se resume à ortografia, pois a norma de Portugal e a do Brasil possuem um vocabulário completamente diferente, quer na vida quotidiana, quer em termos de vocabulário específico. No entanto, não gostei que o acordo tivesse sido discutido apenas entre Portugal e o Brasil, pois, a meu ver, deveria ter sido discutido pelos países de língua portuguesa antes de ser assinado. Qualquer tradutor tem a obrigação de estar actualizado relativamente às modificações da sua própria língua materna, caso contrário, não estará a fazer um trabalho correcto. Porquê? Porque um tradutor é um "embaixador" da sua própria língua, pois a sua função consiste em estabelecer "pontes" culturais, científicas, artísticas e económicas entre diferentes línguas. A nível pessoal, confesso que não será fácil perder os velhos hábitos de escrita e as normas ortográficas que me foram ensinadas. No entanto, como tradutora, tenho o dever de me formar devidamente e de estar a par das evoluções da minha língua materna. ANTÓNIO OLIVEIRA,, NUNO MIGUEL GUEDES, Secretário geral da ADEPBA, associação de professores www.adepba.fr jornaliste, collaborador da Visão O Acordo Ortográfico tem criado muita polémica, muita contestação, muitas reacções vivas para não dizer histéricas por parte dos que são contra mas quando analisamos os argumentos destes opositores, apercebemo-nos que na maioria dos casos é por puro conservadorismo, ou pior por puro nacionalismo, que se vai perder a identidade. Recentemente ouviu-se dizer que o Acordo Ortográfico é um « acto colonial » do Brasil sobre Portugal. Isto é «besteira» como se diz no Brasil e eu que sou português. Fazse uma confusão total entre língua, sintaxe, ortografia. A ortografia é um simples código arbitrário, uma convenção a uma dada altura que pode ser modificado sem alterar a evolução da língua. No Brasil continuar-se-á a falar de uma certa maneira e em Portugal de outra. Não é porque se suprime uma consoante muda ou um acento que os diferentes países lusófonos vão perder a sua independência ou a sua identidade ou que a língua se vai empobrecer. Não é que esta reforma não tenha algumas incongruências como qualquer reforma, por exemplo, não se compreende porque razão se continuará em Portugal a escrever cor-de-rosa com hífen e cor de laranja sem mas se esta reforma permitir limitar as divergências entre os diferentes países lusófonos evitando que aumentem no futuro é já um bom passo em frente. Portanto eu adiro plenamente a esta reforma por uma questão de unidade linguística. Penso que já é extremamente positivo que os diferentes países lusófonos se tenham unido para reflectir juntos e tenham chegado a um acordo. Após o fim do Império, o que ficou foi a língua. Se quisermos que o português seja uma língua que se afirme no mundo como língua internacional é indispensável que haja unidade e que os actuais 250 milhões de lusófonos se orgulhem de ter em comum esta bela língua que é o português. DANIEL RIBEIRO, journalista, corespondente do Expresso em Paris D’Acordo! O título é uma pequena provocação. Este francesismo, muito utilizado no dia-a-dia pelos portugueses de França, não me choca, antes pelo contrário, e ainda não faz parte do novo dicionário da língua portuguesa. No entanto, ao recorrer a ele quero dizer que estou de acordo… com o Acordo Ortográfico. Aliás, vou adoptá-lo na medida do possível, mas sem grandes pressas porque ainda não domino perfeitamente o assunto. Mas vou adoptá-lo. A língua portuguesa tem de evoluir e na realidade já há muito que evoluiu com a contribuição de todos os lusofalantes espalhados pelo Mundo. O Acordo Ortográfico não faz mais do que registar essa evolução e, até, essa necessária clarificação da nossa língua. Antigamente escrevia-se farmácia com PH e filosofia também (esta última com dois PH!) – e um Acordo mudou o modo como estas e outras palavras se escreviam. Sem alteração, aliás, da fonética. As línguas evoluem, como tudo. E este Acordo até vai contribuir para que todos nós, lusofalantes, nos entendamos melhor. D’Acordo, portanto. O que pensa do Acordo Ortográfico ? Considero-o aberrante por várias razões, e que têm a ver com o conteúdo, o conceito, os motivos e a forma como foi aplicado.porque não posso ser exaustivo, terei de aflorar o assunto pela rama. A diversidade da língua - e dos falantes - é a garantia da riqueza dessa lingua e da sua evolução. Há uma vida própria, natural, que uma homogeneidade por decreto assassina. O Português fala-se e escreve-se de várias formas - nenhuma provou ser impedimento à comunicação. No que respeita ao português falado em Portugal, a alteração de grafias como p.ex.a que leva à perda da consoante muda é grave. Essas grafias são peugadas da nossa história que ficaram gravadas na língua, e portanto parte directa da identidade colectiva. A forma matreira como o Acordo foi ratificado por Portugal - sem referendo e com a cumplicidade de todos os partidos na AR - é vergonhosa. Nos critérios da mudança venceram os maius fortes Brasil, sobretudo - e por razões que se prendem claramente com oportunidades de mercado. E naturalmente acho perigosa e totalitária toda a intenção de alguém querer «normalizar» seja o que for . Vai aderir ao Acordo Ortográfico ? Porquê? Não, pelo contrário. Vou continuar a escrever com a grafia actual. E enquanto o acordo não entrar em vigor (ainda falta ser ratificado por alguns países) vou continuar a lutar, envolvido em todos os movimentos de cidadania que existam. Este Acordo é vergonhoso e nefasto tanto para a Educação como para a Cultura. 13