mercado com lupa no

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mercado com lupa no
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Nº 1047 - MARÇO/2015 | CIRCULAÇÃO NACIONAL | R$ 9,90
MERCADO COM LUPA NO
PETROLÃO
Romulo F. Federici disseca a crise da Petrobras no ensaio “O GOVERNO
SANGRA, MAS O MERCADO AMPARA E OPOSIÇÃO VACILA”. Escreve ele:
“Vivemos um momento absolutamente atípico, pois não se trata, apenas,
de uma crise gerada por denúncias de corrupção. Com isso já estaríamos
acostumados. Afinal, desde sempre, se cochicham histórias “cabeludas”
sobre os fornecimentos e fornecedores da Petrobras”.
CRISE POLÍTICA
Congresso sente cheiro
de queimado: CPI da
Petrobras, votações para
derrubar vetos de Dilma,
orçamento impositivo
aprovado; PT fora da mesa
da Câmara e da Comissão
da Reforma Política; bases
governista, insatisfeitas,
traições...
CUNHA
Impõe nova rotina política à
Câmara e ao Congresso, e
muda forma de Dilma governar,
forçando o governo a negociar
mais. E ainda indica líder do
PMDB, presidentes da CPI
da Petrobras e presidente da
Reforma Política.
DILMA
Nunca um presidente
esteve diante de um
entrecruzar de tantas
pressões políticas, judiciais
e econômicas. Junte-se
isso tudo o dilema da
Petrobras diante da
Operação Lava Jato.
CAÇAS GRIPEN
PÁGINAS A ZUIS
MARCOS GARZ
ON
Escritor revela
seus livros evcomo em
iu todas
as mudançapr
s cl
e sobretudo aimfaáticas,
água que assola lta
o país,
fundamentado
estudos e obse em seus
os fenômenos rvações sobre
que ocorrem
no planeta, co
o enchente
secas, nevascm
as e degelos.s,
.
Aquisição dos caças suecos pela FAB pode abrir ao Brasil as portas de um novo domínio
industrial, a propriedade intelectual, que jamais foi ineria no conjunto de nossas prioridades
estratégicas para o domínio da alta tecnologia militar.
EDITORIAL
OS CINQUENTA
TONS DE
CINZA DO
SILÊNCIO
Q
uando no Brasil uma destas 50 entidades, instituições, organizações, poderes, grupos, indivíduos, blocos e aliados externos caem em silêncio, é hora de estar alerta! Não é o estado natural deles. Estão em
transição. São os cinquenta tons de cinza do silêncio.
SILÊNCIO TÁTICO - Mercado
SILÊNCIO PRUDENTE -Militares
SILÊNCIO OBSEQUIOSO - Igreja
SILÊNCIO BUROCRÁTICO - Itamaraty
SILÊNCIO COMPLEXADO - Petrobras
SILÊNCIO NOS AUTOS - STF
SILÊNCIO CAVERNOSO - Cunha
SILÊNCIO COMPANHEIRO - Lula
SILÊNCIO ATÁVICO - Renan
SILÊNCIO PROFISSIONAL - Temer
SILÊNCIO OBLÍQUO - Economistas
SILÊNCIO ACADÊMICO - FHC
SILÊNCIO CONSPIRATÓRIO - Base governista
SILÊNCIO LAMENTÁVEL - OAB
SILÊNCIO MARQUETEIRO - Dilma
SILÊNCIO ESTRATÉGICO - Aécio
SILÊNCIO REVANCHISTA - Centrais sindicais
SILÊNCIO OPORTUNISTA - Obama
SILÊNCIO INSIDIOSO - Cristina Kirschner
SILÊNCIO REGULAMENTADO - Mídia
SILÊNCIO RUIDOSO - Ruas
SILÊNCIO PENSADO - Moro
SILÊNCIO CRAVADO - Elites
SILÊNCIO ADIPOSO - Banco do Brasil
SILÊNCIO CAPCIOSO -Industriais
SILÊNCIO IMEMORIAL - Bancos
SILÊNCIO BOVINO - Agronegócio
SILÊNCIO CONSENTIDO - Governadores
SILÊNCIO FALIDO - Prefeitos
SILÊNCIO MAGOADO - Sarney
SILÊNCIO REVOLTADO - PT
SILÊNCIO AMADURECIDO - Maduro
SILÊNCIO MATREIRO - Marina
SILÊNCIO PIDÃO - PMDB
SILÊNCIO CONFORMADO - Levy
SILÊNCIO IRÔNICO - Delfim
SILÊNCIO GENEROSO - BNDES
SILÊNCIO VINGATIVO - Barbosa (Joaquim)
SILÊNCIO ADERENTE -Barbosa (Nelson)
SILÊNCIO TRABALHADO - Janot
SILÊNCIO DISTANTE - BRICS
SILÊNCIO DÚBIO - Evo
SILÊNCIO TRAVADO - PSB
SILÊNCIO SISTÊMICO - PDT
SILÊNCIO SÓCIO - PP
SILÊNCIO INQUIETIO - Movimentos sociais
SILÊNCIO AGRADECIDO - Advogados
SILÊNCIO AGENDADO - Cardozo
SILÉNCIO ANGUSTIADO - Empreiteiras
NESTA EDIÇÃO
4
10
18
20
6
12
OS 10 MAIS DE
DEZEMBRO NA
POLÍTICA E NO PODER
POLÍTICA
ENCRUZILHADA
DE DILMA
COLUNA
LEONARDO
MOTA NETO
MEMÓRIA
EPOPÉIA DE
TRANCEDO
8
14
CONGRESSO
CHEIRO DE
QUEIMADO
SWING
POLÍTICO
24
ARTIGO
DEFESA CAÇAS
GRIPEN
CAPA
ENSAIO POLÍTICO
PETOBRAS, MERCADO,
GOVERNO, OPOSIÇÃO
SONAR
ALBERTO
CAEIRO
34
FÓRUM DAS
MULHERES
36
POLIS
CONFIDENCIAL
38
MAIS SONAR
RICARDO REIS
52
ÚLTIMO SONAR
ÁLVARO CAMPOS
40
GARNERO
BASIL E CHINA
46
PÁGINAS AZUIS
MACOS GARZON
55
OPINIÃO
ELLEN BARBOSA
EXPEDIENTE
CARTA POLIS revista mensal de bastidores do poder em Brasília.
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BILHETE DO EDITORra-
POLIS é regist
Mais um avanço de CARTA
ferência do nosso
do neste número. Por pre
publicitário, diricolaborador, o jornalista,
gente sindical e editor-web
Fernando Vasconcelos, o
nosso anúncio institucional da quarta capa desta
edição está veiculado pelo
respeitável e tradicional
ANUÁRIO DO PRÊMIO
COLUNISTAS BRASILIA DE
2014 que anualmente registra o estado da arte da publicidade da Capital da República e circula por todo o
mercado e agências do país.
10
OS
POLÍTICA
MAIS DE
FEVEREIRO
NA POLÍTICA E NO PODER
Destaque do Mês
Michel Temer
C
onserva-se com sua postura serena e colaborativa com
a presidente Dilma Rousseff na Vice-Presidência da República, embora diante da sucessão de ebulições na área
política.
Como presidente nacional do PMDB licenciado, tem credenciais para agir frontalmente nas articulações, mas prefere
uma atitude reservada para não ofuscar a presidente nem comprometer o equilíbrio de relações com o PT, partido com que
partilha o poder.
O comportamento leal e ético do vice, torna-se ainda mais
relevante no momento em que o PMDB ocupa a presidência do
Senado e da Câmara dos Deputados, o que dá margem a projetos de hegemonia do partido. No entanto, Michel Temer não se
deixa envolver pelas questões internas nas duas casas do Congresso, reservando-se a ter opinião própria na reforma política.
Como dirigente partidário, não se nega também a emitir a opinião de que o PMDB deverá ter candidato próprio a presidente
da República em 2018.
4
POLÍTICA
ARMANDO M. NETO
JOAQUIM BARBOSA
Está fazendo dentro do governo
um contraponto às medidas de
ajuste que visam retirar subsídios
ao setor industrial para compensar a carga fiscal e à concorrência
desleal de produtos estrangeiros
que chegam mais baratos ao país.
Embora aposentado do Supremo
Tribunal Federal, continua exercendo influência sobre segmentos de opinião do país através
das redes sociais como o Twitter,
em postagens em que critica com
contundência o comportamento
do ministro da Justiça.
RODRIGO JANOT
MARIO GARNERO
ALEXANDRE ABREU
TEORI ZAVACKI
ALDEMIR BENDINE
MIRO TEIXEIRA
RODRIGO MAIA
JOAQUIM LEVY
Tomou a iniciativa de procurar autoridades dos Estados Unidos para
aperfeiçoamento do Ministério
Público Federal no rastreamento
dos recursos públicos desviados
pela corrupção, e foi centro das
atenções nacionais com a lista de
políticos.
Na Petrobras, como seu presidente, procura espaço de governança
em que possa oferecer à sociedade
respostas rápidas da recuperação
financeira da empresa, segundo
em seu primeiro teste de exposição pública, a entrevista ao Jornal
Nacional.
Presidente do Banco do Brasil
mostra ter o discurso da continuidade administrativa ao lançar-se
logo após a posse a iniciativas
para manter o desempenho da
instituição no mercado nacional,
no qual concorre com os grandes
agentes privados.
Atua no eixo internacional junto
às correntes mundiais de comércio
com o Brasil, e agora tenta despertar a consciência do empresariado
e do governo para a necessidade de
darmos prioridade máxima ao nosso relacionamento com a China.
Como deputado mais velho e o
que mais mandatos exerceu na
Câmara, abriu os trabalhos da
nova legislatura, fez um ousado
pronunciamento de exortação pela
reforma política, na qual defende o
fim do financiamento privado das
campanhas.
Depois de longo período coincidindo com o esvaziamento do DEM,
volta ao topo da política nacional
brilhantemente como presidente
da Comissão Especial de Reforma
Política da Câmara, por articulação de Eduardo Cunha.
Tem tido ultimamente relevância
com relator das denúncias criminais da Operação Lava Jato feitas
pela Procuradoria-Geral da República de políticos protegidos por
foro privilegiado. Avesso a mídia,
conserva-se fora do perímetro de
culto à personalidade.
Volta a constar dessa galeria, depois de sua viagem aos Estados
Unidos numa primeira aparição
pública após a posse no Ministério da Fazenda, pontuando com
uma exposição em Nova York, em
que a transparência e clareza sobre os dados foram sua marca.
(*) Esses nomes estão sendo apresentados por ordem alfabética. O critério da
escolha foi uma consulta ao Conselho Editorial da CARTA POLIS.
5
A PRESIDENTE
ENCRUZILHADA:
NUNCA TANTAS
ADVERSIDADES JUNTAS
A
presidente Dilma Rousseff está diante de uma encruzilhada. Não é novidade. Diversos presidentes na história
se depararam com o mesmo sentimento de falta de chão.
Provavelmente, Dilma reúna as mais desgastantes condições entre todos. Tudo conspira no momento contra ela: política, economia, mercados externos, justiça, aprovação interna,
vida partidária. Os tempos – passado e presente – a desafiam,
projetando uma sombra negra para o seu futuro.
Não está somente nela a geratriz desse processo. Está no
seu temperamento inquieto, no seu gênio áspero, na sua solidão consentida. O problema vem da própria concepção de um
presidente frente ao sistema político-eleitoral de hoje, feito de
trocas intensivas em um mercado de câmbio clandestino.
Para poder governar, ela terá que intercambiar com a base
governista no Congresso mais posições ainda de seu governo.
Terá que entregar o segundo escalão aos partidos; retalhar as
diretorias do Banco Brasil. O BNDES ela preservou de vir para
o retalho, mantendo Luciano Coutinho. Será obrigada a comprometer a eficiência do governo (se é que tem eficiência) para
atender ao jogo da sustentação do poder.
Com essa invariável na vida dos presidentes brasileiros,
Dilma tem que impor um mínimo de governabilidade. Aquilo
que chamam governança, terá que arrancar de um ministério
com titulares de nomes desconhecidos e procedências estranhas. Terá que confiar em Joaquim Levy, desconfiando, porque
o PT estará unido aos movimentos sociais para clamar a revisão
de tudo o que o ministro da Fazenda está providenciando nas
contas públicas em nome do ajuste fiscal.
São muitos os campos de batalha de Dilma. E ainda existe a
batalha da comunicação que vem sendo perdida. Resistirá? Tem
que resistir. É da natureza do processo resistir-se. O que precisa é
de uma certa inteligência que harmonize, e não disperse.
6
A PRESIDENTE
CUNHA
IMPÕE MUDANÇA NA FORMA
DE GOVERNAR
A
revisão ou flexibilização os direitos trabalhistas adquiridos
desde 1932 na era Vargas, não será fácil para o governo Dilma, nem mesmo sob a égide do ajuste de contas públicas.
O ministro Miguel Rossetto, após a conversa de Dilma
com o presidente da CUT, disse que Dilma defendeu “com
muita ênfase” as medidas de ajuste “para reintroduzir o país no
caminho do crescimento econômico”. Quem concordará com
esse apelo ou com a “ênfase”? O Congresso, tomado por uma
onda de independência, após anos de submissão à vontade do
Executivo, não será.
A revisão dos direitos trabalhistas não será aprovada na
íntegra, e nem mesmo o PT admite que não passará pelo crivo dos parlamentares. O problema é que o governo Dilma não
fez ainda a parte mais grave no corte de despesas públicas, por
exemplo, reduzir o número de ministérios, principal bandeira
das ruas de junho de 2013 - e ainda espera que o Congresso assuma o ônus de aprovar um ajuste trabalhista impopular. Também espera que as centrais sindicais o apoiem no flexibilizar os
direitos sociais como o seguro-desemprego.
Portanto, espera que suas decisões sejam plebiscitárias –
que todos aceitem sem contestação – no entendimento de que,
após numa reeleição com 59 milhões de votos – Dilma empalma legitimidade para propor reformas estruturais com o apoio
governista. A questão, porém, é que não existe mais força impositiva que dobre o Congresso. Existe sim, orçamento impositivo na nova era Cunha. A base governista se pulverizou em
594 vontades pessoais (513 deputados federais e 81 senadores).
Ninguém é mais dono de ninguém.
7
CONGRESSO
CHEIRO DE QUEIMADO:
CONGRESSO
IMOLA DILMA?
D
– se não tiver o político resolvido de nada adianta tranquilizar
os mercados. Resolver o político é buscar o equilíbrio, o que
Dilma não tem. Não adiantou obter 59 milhões de votos e não
ter como compartilhá-los com uma base estável e segura.
Não se trata de ministros qualificados ou não qualificados
para a articulação política. Trata-se de ministros políticos que
obtenham o respeito dos parlamentares e credibilidade ao assumirem compromissos selados pela presidente.
Quando vão ao Congresso, os ministros parecem falar por
si mesmos, medrosos, sem avançar um milímetro além do dever de casa. Expõem temor de errar ou pisar em falso para não
serem desautorizados pelo Palácio do Planalto. Têm absoluto
pavor de falarem com os jornalistas. Ninguém assegura que
os acertos políticos que eles conduzem serão cumpridos. Enquanto isso, os verdadeiros profissionais do Congresso – como
o deputado Eduardo Cunha – ocupam o cenário numa relação
oposta à promovida pelo governo: tudo às claras, jogando franco, olhando no olho de cada parlamentar.
ilma foi buscar conselhos com Lula em São Paulo e 39
ministros aguardaram as novas diretrizes. Onde está o
centro do poder real? É uma questão que vive no cerne
da autoridade presidencial, mas que não encontra resposta em
nenhuma agente do poder.
O Congresso sente o cheiro de queimado. O Congresso é altamente sensível para sentir o cheiro de queimado.
Quando o sente, se autopolicia. Não acrescenta brasas às labaredas que crepitam. É uma autodefesa comum aos políticos: não se autoimolam como os budas ditosos. Nem querem
imolar os outros, pelo menos, antes que esses, por fraqueza,
cuidem de se imolar.
Do outro lado da praça, o governo Dilma dá aparência de
estar se estiolando sem rumo e sem norte. A biruta dos ventos
rodopia intensamente e não se fixa numa só direção. O grande problema do governo hoje é o político. Pelo político perde
o restante. Não é o da comunicação – se não tiver o político
resolvido, de nada adianta ter boa imagem. Não é o econômico
8
POLÍTICA
Sr. Gestor,
não deixe o mosquito da Dengue
se instalar na sua cidade.
O mosquito da Dengue está mais perigoso. Agora ele transmite também a Chikungunya. Uma doença que, assim como a
Dengue, provoca febre, dor de cabeça e dores muito mais fortes nas articulações, principalmente nos pulsos e tornozelos.
Mais um motivo para você deixá-lo bem longe da sua cidade. Por isso:
•
•
•
•
Reorganize a assistência à saúde nos diversos níveis de atenção;
Reforce a vigilância em saúde (controle de vetores e monitoramento de casos);
Promova a capacitação e a educação permanentes;
Planeje ações de comunicação e mobilização para eliminar os criadouros do mosquito.
Faça a sua parte.
DENGUE E CHIKUNGUNYA
O perigo aumentou. E a responsabilidade de todos também.
9
POLÍTICA
COLUNA
Leonardo Mota Neto
GILES VOLTOU
Para novamente abrigar Giles Azevedo em seu gabinete, Dilma Rousseff restaurou na estrutura palaciana um antigo cargo
que há muito não era preenchido, o de secretário particular da presidente. O último presidente a nomear um foi José Sarney,
através de seu genro, Jorge Murad. Entre as tarefas de Giles, uma é cuidar da agenda de Dilma com o empresariado.
SARNEY MAGOADO
TELEFONE TOCA?
Sem mandato, mas morando em Brasília, José Sarney está mais
do que amuado: o grau é magoadíssimo. Literato, com vários
livros escritos, até hoje diz não entender da ingratidão humana.
Queixa-se mais de Lula que de Dilma. A íntimos diz ter viabilizado Lula. E o que recebeu em troca?
Até a reunião que mantiveram em São
Paulo, os telefonemas de Lula à Dilma,
e vice-versa, haviam escasseado. Esse é
um termômetro que mantém a República estável. Quem sabe agora com o país
entrando na normalidade em março, o
telefone toque mais.
ERENICE REAPARECE
Logo na sua primeira semana de trabalho em seu gabinete no
Ministério de Minas e Energia, o ministro Eduardo Braga recebeu a visita ilustre de uma ex-ministra da Casa Civil. Erenice
Guerra chegou pelo elevador privativo, assomou à porta do gabinete, entrou e demorou-se duas horas com Braga. A agenda
do ministro teve que ser empurrada para frente. A área de energia é da preferência de Erenice.
NÚCLEO DESCONTENTE
Ninguém na cúpula do governo está contente com
o desempenho do núcleo duro da presidente. Eles
são 6, e no total são 6 que “batem cabeça” sem saber
exatamente o que fazerem. Tudo porque a presidente
mantém um trato distanciado e é a única que sabe de
tudo, enquanto os demais não sabem nada.
10
POLÍTICA
THOMAS VOLTOU
O ministro da Comunicação, Thomas Traumann, depois de um período meio afastado, voltou a ser requisitado a todo instante pela presidente. Na gangorra do poder, sua cotação subiu muito. Nem mais se menciona a
hipótese de a área de publicidade da Secom passar ao Ministério das Comunicações.
TEMER DISCRETO
EDUARDO PAGA
Uma postura e uma agenda discretíssimas agora ainda mais
que antes, caracterizam o vice-presidente Michel Temer. Sua
rotina diária no anexo do Palácio do Planalto tem sido magra
em contatos externos. Mantém-se afastado da dupla Renan
Calheiros e Eduardo Cunha.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não sabe que espaço a mais usar na casa para abrigar tantas comissões técnicas como paga de compromissos assumidos em sua campanha. São, até o momento, 22 comissões contra 12 do Senado,
onde Renan Calheiros só tem 39 eleitores para cativar como
paga de favores de campanha.
CACIFE ALTO
A boca pequena nos corredores do Senado
sussurra que Renan Calheiros escalou uma
mesa diretora com senadores de pouca
experiência para poder exercer total influência sobre os rumos da casa, e assim ter
controle absoluto da pauta de votações.
Em contrapartida, aumentou consideravelmente seu cacife na negociação direta com
o Palácio do Planalto.
CARTA ESCONDIDA
O momento em que as tensões entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha se normalizarão será sinalizado por um
gesto da presidente: manobrar para que o dirigente da Câmara ocupe a presidência da República numa viagem
dela ao exterior. Para tanto, isso precisaria fazer Michel Temer viajar também. É um custo alto, mas só depende
dela. Será um trunfo na manga de Dilma no momento em que a tensão chegar ao próximo. Cunha, vaidoso, gostaria de enriquecer a biografia com uma passagem pela presidência, nem que por dois dias.
11
MEMÓRIA
TANCREDO
OITO PAÍSES ANTES DA
POSSE QUE NÃO ACONTECEU
Leonardo Mota Neto
Editor-geral da CARTA POLIS, acompanhou a viagem do presidente eleito Tancredo Neves pelo “Correio Brraziliense”.
H
á 30 anos, março de 1985. A viagem começou tensa uma curta descida para reabastecimento do avião em
Lima, no Peru, com destino à Itália, primeira escala da
viagem.
Dr. Tancredo (vou chamá-lo aqui sempre de Dr. Tancredo,
como nós, jornalistas, o chamávamos) desembarcou em plena
madrugada, de sobretudo para ter um rápido “rendez-vous”
na sala VIP com o presidente peruano. Ao descer as escadas,
voltou-se para um pequeno grupo onde eu estava, e brincando
nos disse:
- “Ih, estou com morrendo de medo dos tupamaros...”
Era o movimento insurrecional peruano,
aquele mesmo que décadas mais tarde seria esmagado por Albero Fujimoru, no trucidamento coletivo na Embaixada do Japão.
Subimos de novo além-Andes e na Itália estava previsto uma ida ao Palácio Quirinal para conversar com o primeiro-ministro,
Giulio Andreotti. O que interessava mesmo
ao católico de São João del Rey, era a visita ao
Vaticano no dia seguinte para receber a bênção
de João Paulo II para levar o Brasil ao seu prometido destino. Foi um dia engalanado para o
casal Tancredo – Risoleta, e para sua comitiva
em que pontuava o jovem secretario presidencial, Aécio Neves, que tratávamos de Aecinho.
A França não estava no roteiro. Havia gerado protestos do Palácio do Eliseu ocupado
por François Mitterand. Logo ele, um socialista que desejava conhecer o presidente que vencera o candidato do regime militar no colégio
eleitoral.
A diplomacia francesa - que desde Talleyrand não é para
brincadeira - tanto fez que Dr. Tancredo, hospedado no vetusto Hotel Excelsior, na Via Veneto, afinal concordou em dar um
pulo na França, de apenas algumas horas. Soubemos depois por
Mauro Salles - que fazia as vezes de porta-voz - que a curta viagem foi terminantemente proibida pelos médicos. Mas, França
é França e tem os seus mistérios.
O jato militar da Força Aérea Francesa foi buscar o presidente eleito e sua reduzida comitiva em Roma para conduzi-los
à cidadezinha do sul francês, onde o casal François-Danielle
mantinha sua casa de campo. Foi uma visita encantadora em
charme e atenções especiais dos anfitriões - relatou-nos Mauro
mais tarde. Bem mais tarde mesmo, pois era mais de meia noite
que Dr. Tacredo chegou ao hotel da encantadora aventura, sem
demonstrar o mínimo de fadiga.
Mauro Salles se permitiu nos revelar uma passagem da conversa dos
dois presidentes (nenhum jornalista o
acompanhou).
Quando Danielle Mitterand perguntou-lhe como eram as praias brasileiras, se eram de água
fria ou quente e que cor tinham, revelando enorme curiosidade
para conhecê-las um dia, Dr. Tancredo com seu jeito sedutor,
respondeu à primeira-dama:
-”Nossas praias têm a cor de seus olhos.”
Lisboa, próxima parada. O primeiro-ministro, Mario Soares, amigo de tantos amigos
no Brasil, fez da visita acontecimento sem par.
Para coroar esse espírito festivo, Dr.Tancredo
foi de trem à Coimbra receber homenagem
reservada a hóspedes lusitanos de cepa rara: o
título de Doutor Honoris Causa.
Mais uma vez os médicos tiveram que intervir: não é que a Espanha, enciumada com a
presença em Portugal de tão ilustre presidente
eleito, reclamara através da diplomacia do rei
Juan Carlos II uma rápida ida a Madri?
A despeito dos médicos, Dr.Tancredo embarcou no jato da Força Aérea Espanhola, que
foi buscá-lo especialmente para ir jantar no Palácio Zarzuela com o casal real, Juan Carlos II
e Sofia. Desta vez, ao contrário do que ocorrera na Itália em relação à França - conseguimos
uma vaga no avião - apenas uma - para que um
de nós fosse à Madrid e relatasse aos demais a
conversa real.
Reunimo-nos - éramos mais de 60, contando com os correspondentes na Europa - na sala de imprensa do Hotel Ritz,
onde a comitiva se albergara - e votamos democraticamente
(foi secreto) no Mauro Santayana, que havia sido diretor da
Casa do Brasil na Espanha.
Dr. Tancredo voltou a Lisboa às duas da manhã, alimentado e feliz.
12
MEMÓRIA
Washington. D.C Abaixo de zero, exigindo dos acompanhantes e médicos cuidados especiais com o presidente eleito,
mas não sabíamos então de nada mais profundo sobre a saúde
dele. Instalados no hotel, o embaixador brasileiro, Sérgio Corrêa da Costa, foi apanhar de limusine Dr. Tancredo e Dona Risoleta para um jantar reservado na embaixada naquele sábado.
Era o “briefing” para a recepção na Casa Branca - ponto mais
alto de todo o “tour” presidencial - na segunda-feira próxima.
Fazia muito menos de zero grau quando o carro encostou
na portaria. Os que permaneceram de plantão no hotel para
documentar a saída e a volta, sentiram naquela noite a primeira
sensação de que havia algo estranho com a saúde. Desde a chegada de Lisboa, passara o dia encerrado na suíte presidencial.
Mauro Salles desceu e veio nos dizer que o presidente eleito estava apenas com uma forte gripe, mas que confirmara o
jantar na embaixada. Foi assim que ele, Dona Risoleta e uma
risonha comitiva desceram do elevador para tomar a Limusine.
Encasacado e com um “écharpe” enrolada no pescoço que lhe
cobria quase todo o rosto, não deixou de nos cumprimentar e se
dirigiu especialmente e com carinho ao repórter político Paulo
Branco da “Tribuna da Imprensa do Rio, e cobrar-lhe:
- “Meu filho, você não está com frio? Está sem cachecol,
sem suéter, só com paletó”.
- “Obrigado presidente, mas eu não vou ir do hotel e aqui
está com uma ótima calefação” - respondeu Paulo.
- “Não senhor. Vá jantar num bom restaurante com seus
colegas, não me espere que vou demorar muito...”
Voltando-se para sua mulher:
- “Risoleta, faça o favor de subir à nossa suíte. Na minha
mala há um suéter reserva bem quentinha. Traga aqui para o
Paulo Branco.”
Decorreram uns dez minutos. O embaixador, impaciente,
pensando certamente na mesa posta e com os demais convidados, todos da “intelligentzia” diplomática em Washington.
Por fim, Dona Risoleta desceu com um suéter quentinho. Paulo
o vestiu e só aí Dr. Tancredo e sua comitiva foram cumprir a
agenda. Voltou sorridente e afável às duas da madrugada. Não
fomos jantar fora.
Com as duas faces rosadas, jeitão de “cowboy”, o presidente Ronald Reagan recebeu Tancredo Neves na Casa Branca com simpatia acima do tom habitual para países abaixo do
Rio Grande. Senão a diplomacia, pelo menos os jornalistas lograram uma vitória: uma introdutora do cerimonial veio nos
prevenir que estava limitado a 10 o número de jornalistas brasileiros que poderiam entrar no Salão Oval para documentar o
encontro e fazer perguntas a ambos - a quantidade delas seria
ditada pela boa vontade - como é a praxe. Que tirássemos os
nomes em sorteio.
Fomos falar com Mauro Salles. Éramos 60. Cito entre eles,
homenageando os demais, Ana Amélia Lemos, que representava a “Zero Hora”. Não poderíamos voltar para o Brasil sem
provar o “crème de la crème “. Mauro nada nos disse em resposta. Com passos lépidos, procurou o secretário de Imprensa
de Reagan. Argumentou que era a redemocratização brasileira
que chegava a Washing-
2
1
João
Fotos de Tancredo com: 1 - Papa
Paulo II; 2 - Felipe Gonzalez
ton 60 testemunhas enviadas pelas principais organizações da
mídia. O secretário cedeu. Rompeu um tabu secular e assim
todos entraram. Três dos nossos, fizeram perguntado a Reagan
enquanto três colegas americanos, a Dr.Tancredo. A boa vontade imperou.
Chegamos ao México, penúltima etapa. Dr. Tancredo
concedeu sua primeira e última entrevista coletiva em toda a
viagem. Não abordou a preocupação geral com sua saúde, mas
observei que ele não retirava a mão do abdômen.
Quando lhe fiz minha pergunta, por sorte me tratou pelo
nome, o que era raro, pois chamava todos de “simpatia”. Matreiramente, usava um termo carinhoso para todos, temendo
esquecer o nome de alguém.
Chegamos, por fim, a Buenos Aires, última escala. A saúde
do presidente eleito continuava estacionária, e aparentemente
estava recuperado da gripe rumo à posse dali à dias.
Sabíamos que dali por diante, ao chegar de volta ao Rio,
iria rarear nosso contato com aquele político carinhoso e acessível que costumava morder a ponta da gravata para simbolizar
que estava contrariado com alguma coisa.
Organizamos uma despedida para o presidente eleito e
Dona Risoleta. Fizemos um rateio para comprar bolo e champanhe. A festa era nossa. Combinamos com Mauro Salles trazer o homenageado quando tivéssemos feito um semicírculo.
Mauro nos impôs a condição que fosse rápida - e me disse que o
presidente estava rouco. (Sabia ele de mais alguma coisa a respeito da saúde dele?)
Mais uma vez votamos democraticamente para escolher
um porta-voz do grupo, e recaiu num jornalista eloquente, o
baiano Carlos Henrique de Almeida Santos, que cobria a viagem pelo SBT. Filho de um deputado federal, Almeida Santos,
que havia sido colega na Câmara de Dr.Tancredo. Este, emocionado, respondeu com seu discurso de esperança antes de una
posse que nunca aconteceu.
- Ronald Reagan;
Mitterrand; 5 - Raul Alfosin; 6 Neves.
Aécio
3 - Belaunde Terry; 4 - Francois
Neto
o
Com
8
nha;
Espa
da
7 - Dona Risoleta e os Reis
- Rio de Janeiro.
rica com apoio de Léo Ladeira
(*) Pesquisa de imagens e histó
13
SWING POLÍTICO
MACIEL EVITOU TOMAR GOLE DE CACHAÇA PARA
TIRAR O MEDO NA HORA DE MAIOR PERIGO
O jornalista José Augusto Freitas
era assessor do então deputado Marco
Maciel, quando foi candidato a senador em Pernambuco.
A campanha estava acirrada. Maciel tinha adversários renhidos. Mas, o
ético e honrado parlamentar jamais deixou de lado seu estilo: fez inteira, como
se tivesse saindo do banho, empertigado e com roupa imaculada. Houve um
episódio, porém, em que Marco Maciel
quase fez uma concessão à vulgaridade
tomando um gole de cachaça. Aconteceu quando o pequeno bimotor em que
viajavam de Brasília para Recife num
fim de semana, embandeirou um dos
motores perto de chegar ao aeroporto
de Guararapes. A bordo, um aflito Maciel, sentindo os arrancos do avião com
um só motor e perdendo atitude, começou a rezar fervorosamente.
Augusto, irreverente, disse-lhe:
- “Deputado, um dos doadores da
campanha é a Cachaça Pitu. Trouxe comigo uma garrafa de emergência para
tirar o medo.”
O jornalista, também amedrontado, serviu-se de uma lapada. Ainda
juntou outro argumento:
- “Pode ficar tranquilo que essa
cachaça é especial e não deixa bafo.
Ninguém no aeroporto vai perceber
que o senhor bebeu.”
Maciel, lívido, resistiu ao apelo da
Pitu. Somente rezou. O bimotor finalmente aterrissou como uma pato manco. No toalete, lavando o rosto para encarar seus eleitores, Maciel desabafou:
- Não poderei dizer a meu patrocinador que nem num momento de
perigo de vida experimentei o seu produto...
SENADOR QUE SALVOU CONGRESSO DE INTERVENÇÃO
MILITAR DAVA UM REINO POR UM PAR DE SAPATOS ITALIANOS
No quesito de adoração de políticos por sapatos italianos, um outro foi
Petrônio Portella, o senador piauiense, ministro da Justiça de Figueiredo
que negociou a lei da anistia.
Antes, no governo Geisel, como
presidente do Congresso Nacional,
contribuiu com seu prestígio pessoal
para evitar uma crise político-militar
de proporções incalculáveis àquela
época dura ao atravessar a Praça dos
Três Poderes para acalmar os chefes
militares que pregavam a cassação de
dois parlamentares - o senador Leite
Chaves e o deputado Marcelo Gatto
- que haviam feito discursos considerados ofensivos ao Exército. Petrônio
salvou os dois. Mas, Petrônio gostava
mesmo era de sapatos italianos.
No Natal de 1981, seu último
em vida, recebeu em sua mansão na
Península dos Ministros, um grupo
pequeno de familiares e amigos, en-
tre esses, o único parlamentar, o
deputado Paes Landim, seu conterrâneo.
Com um pacote finamente
embalado debaixo do braço, Landim adentrou a sala e Petrônio ficou ansioso por saber o que era o
presente.
Chama Landim:
- “Vamos ali no meu quatro,
pois já estou até adivinhando o
que é.”
Claro, era o esperado par de
sapatos italianos Mais um para
sua imensa coleção. Petrônio, feito criança, tirou o par de sapatos
que estava usando e experimentou
o novo. Calçou como uma luva.
Sorridente, feliz mesmo, voltou à
sala e mostrou seus novos sapatos
a todos, agradecendo Landim:
- “Foi meu melhor presente
de Natal, seu doutor!” .
14
SWING POLÍTICO
GRANDE POLÍTICO EVITA SEGUIR PARA BRASÍLIA E
PREFERE COMPRAR SAPATOS EM SÃO PAULO
O professor João Di Gênio, dono
do Colégio Objetivo e que marcou
época em Brasília com sua mansão
no Park Way (chamada Mansão das
Palmeiras) – onde recebia o mais alto
círculo do poder – era a companhia
constante do senador Antônio Carlos
Magalhães. Detalhe: Di Gênio, além
de riquíssimo, era (e é) absolutamente discreto, uma razão a mais do grande político baiano confiar-lhe seus
segredos.
ACM o deferia e ainda mais por
que o professor colocava à disposição
seu jatinho de última fornada do fabricante. Di Gênio ia buscá-lo em Salvador todas as segundas e lavava de volta
às sextas. Detalhe: os dois adoravam
colecionar sapatos, o que, aliás, não é
um fetiche incomum a políticos.
Numa dessas viagens a bordo do
jatinho, ACM conversava alegremente
com professor sobre esse culto a uma
das mais finos produtos da Itália. Foi
quando o senador concebeu uma ideia
repentina, daquelas que só se pode externar a um amigo milionário:
-” Que tal se em vez de Brasília,
fossemos agora a São Paulo comprar
sapatos na Daslu?”
Di Gênio foi consultar o piloto
sobre a possibilidade de mudança do
plano de voo. Podia. E assim foram
os dois ver a última coleção de
sapatos italianos na famosa butique da Madame
Tranchesi.
ERRAR UMA VEZ EM POLÍTICA É FALHA GRAVE, DUAS É
SUICÍDIO, ENSINAVA MAGALHÃES
O livro do senador Cristóvam Buarque - “O
Erro do Sucesso” - tendo na capa a palavra ERRO
grafada com seus dois “RR” ao contrário - lembra
uma história do então candidato a senador por Minas em 1970, José de Magalhães Pinto. Concorria
pela Arena. Seu adversário era um médico, Roberto
Rezende, que havia sido derrotado por Israel Pinheiro nas eleições para governador de 1965.
Rezende espalhou em toda Belo Horizonte um
cartaz de rua reproduzindo sua jovem e sorridente
estampa com suas iniciais, RR. Não deu outra. Magalhães, com seu iluminado instinto para a oportunidade, mandou espalhar um contra-torpedo em
toda Belo Horizonte:
- “Não votem em Roberto Rezende. Não ERRE
duas vezes...”
15
SWING POLÍTICO
EDUARDO CUNHA IMITA ACM E PRENDE DEPUTADOS MAIS
UM DIA EM BRASILIA CONTRA MÁ VONTADE GERAL
Eduardo Cunha chegou à Presidência da Câmara com tudo
após uma estonteante vitória para cumprir todas as promessas
de campanha. Uma delas é com a responsabilidade do mandato
parlamentar. Chega de deputado ser um turista com mandato e
regalias, permanecer em Brasília apenas dois dias, assinar a presença (agora com o dedo no sistema eletrônico), votar nas noites
de quarta e ir embora para seu estado. O deputado tornou-se
um transeunte de aeroporto.
Solução inicial adotada por Cunha: marcar sessões nas
manhãs de quinta-feira, para que o parlamentar passe mais um
dia em Brasília, cumprindo sua obrigação com o eleitor. Lembra
Antônio Carlos Magalhães, que foi ainda mais radical ao presidir
o Senado: marcou sessões para as manhãs de sexta-feira.
Os senadores compareciam, graças à enorme autoridade
de ACM, além de sua força física que aterrorizava a todos. Eduardo Cunha não ameaça ninguém com força marcial. Apenas
impõe sua agenda de campanha mesmo que signifique ao deputado federal gastar mais um dia em Brasília.
APARECIDO MANDOU RECUPERAR ÁREA VERDE DO LAGO
PARA CONSTRUIR CICLOVIA, MAS SUA BICICLETA NÃO ANDOU
com uma liminar aqui, outra ali, minaram a invasão do Estado
em áreas nobres.
A ciclovia foi interrompida, o mato voltou a fechar as pistas
e voltou tudo ao que era antes: um festival de privilégios de uns
poucos na área verde de todos.
Os invasores de áreas públicas em Brasília não se limitam
aos terrenos da periferia. O elegante Lago Sul, onde a elite se
concentra, conta inúmeros casos de áreas verdes que margeiam
o lago invadidas pelas elegantes mansões. A lei pétrea da urbanização da capital assegura acesso a toda a população.
O governador Aparecido, epígono apaixonado das escalas
urbanas de Lúcio Costa, não se conformava com as invasões de luxo. Um dia, mandou os órgãos competentes de fiscalização de seu governo agirem com rigor, a
despeito de conselhos para não mexer nesse vespeiro,
por causa dos VIPs. A ordem foi peremptória, bem ao
estilo do Zé: derrubar cercas vivas, cercados de arame,
árvores e até os cais para barcos que haviam sido instalados nas áreas verdes. E construir uma ciclovia ao
longo de toda a orla do lago para que os brasilienses
pudessem pedalar por aquelas magníficas paragens.
Bem. Tudo foi feito conforme a ordem do governador.
Tratores juntarem-se numa clareira junto à Ponte Costa
e Silva para dar a largada à grande derrubada.
Foi feita a vontade de Aparecido, que interpretava
a vontade da comunidade. Uma pista de ciclovia abriu-se nos quintais da elite, que eram os quintais do povo,
na verdade. Havia sido cumprida a profecia de Oscar
Niemeyer de uma Brasília socialista? Qual? Os VIPs começaram a procurar os desembargadores de plantão e
16
SWING POLÍTICO
HERÁCLITO CRIOU O PIANTELINHA
NO SENADO PARA ALMOÇOS NO GABINETE
E AGORA NA CÂMARA PENSA INOVAR
Heráclito Fortes, uma das línguas mais viperinas do Congresso
Nacional, um dos mais ilustres políticos brasileiros dos últimos 30
anos, voltou à Câmara dos Deputados e nos primeiros dias já disse a
que veio: para o novo mandato parlamentar pelo PSB do Piauí.
Supersticioso, cumpriu o mesmo ritual do começo dos
seus mandatos: entra sozinho no novo gabinete, sem a companhia de qualquer assessor. Desta vez, entrou sozinho no gabinete 823 do Anexo IV. Senta-se na poltrona do gabinete, faz
uma longa meditação sobre os rumos de sua atuação e somente
depois começa a chamar os assessores.
Quando senador, agiu exatamente assim. Inovou, seu gabinete na Ala Afonso Arinos era espaçoso mas, assim mesmo
fez chegar à presidência do Senado um pedido especial para
aumentá-lo. Queria uma mesa ampla para refeições. Assim foi
feita sua vontade. Por se tratar de uma pequena obra de engenharia. Oscar Niemeyer foi consultado para dar permissão ao
“puxadinho” de Heráclito e desenhá-lo.
Batizado de Piantelinha, o “restaurante” de Heráclito ficou
era famoso por estar sempre lotado de comensais para degustar os acepipes encomendados dos melhores restaurantes de
Brasília, para começar, o Piantela. Pagos pelo próprio bolso do
senador, é claro. Ao terminar o mandato de senador, o gabinete passou ao senador pernambucano Armando Monteiro Neto,
que não continuou a tradição. Fez da sala de refeições uma biblioteca. Seu suplente, Douglas Cintra, efetivado, também não
é do time do Piantelinha.
Foi o fim de uma época. Mas, Heráclito certamente iniciará outra era na Câmara de Eduardo Cunha.
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ARTIGO/DEFESA
CAÇAS SUECOS
FORTALECEM PROPRIEDADE INTELECTUAL
Benny Spiewak
Advogado, sócio responsável pelas áreas de Defesa, Propriedade Intelectual, Life Sciences e Tecnologia do escritório ZCBS – Zancaner Costa, Bastos e Spiewak Advogados,
A
escolha pelos caças suecos F-X2 ratificam a importância da propriedade intelectual para o Brasil e a
relevância dos direitos intangíveis na tomada de
decisões altamente estratégicas no segmento de tecnologia nas áreas de Defesa. A aquisição de 36 aeronaves de
combate, ao custo estimado de US$ 4,5 bilhões, objetiva
substituir as atuais aeronaves francesas Mirage 2000C.
Com a aquisição anunciada no último dia18 de dezembro pelo Ministro Celso Amorim e amplamente co-
memorada pela Força Aérea Brasileira, o Brasil antecipa
adquirir tecnologia e conhecimentos únicos, os quais,
uma vez bem incorporados, permitirão com que o país
potencialize sua capacidade intelectual e de reprodução
de tecnologia. Mais do que modernizar a frota nacional
de aeronaves de defesa, a decisão destaca a maturidade
governamental relacionada à transferência de tecnologia.
A partir da negociação, a qual poderá se estender
por mais um ano, estará garantido transferência absoluta
18
ARTIGO/DEFESA
de todos os sistemas de operação da aeronave, incluindo
sistemas computacionais de comando de armamentos,
os quais poderão ser incorporados a outros itens defesa
atualmente já em processamento e produção nacional,
como mísseis de defesa e componentes de artilharia.
Mais do que uma aquisição de aeronaves, o Brasil,
com o anúncio, adquire a capacidade de galgar incontáveis níveis na escala de detentores de conhecimentos
tão estratégicos. Sem a aquisição, o processo de aprendizado e de maturação levaria dezenas de anos, com
chances relativas de sucesso. O ganho para o Brasil e,
especialmente, para o parque industrial e tecnológico
nacional é incalculável. A medida, então, celebra a importância da propriedade intelectual, que está intimamente relacionada aos itens que serão objeto da interação Brasil-Suécia.
Com o aprendizado, itens de elevado valor tecnológico serão desenvolvidos pelo país. Tais elementos, na
medida em que agreguem inovação real, serão protegidos
pelo Sistema da Propriedade Intelectual, seja através do
emprego de patente, designs ou, ainda, através do mecanismo de proteção aos segredos industriais. Essa proteção
resultará na habilidade de o Brasil licenciar ou comercializar esse conhecimento, o que permitirá a recuperação dos
investimentos na aquisição inicial dessa tecnologia.
O Sistema da Propriedade Intelectual, bem como o
entendimento do país sobre o tema, sai fortalecido desse
processo, na medida em que valoriza sobremaneira o in-
vestimento sueco em pesquisa e desenvolvimento, bem
como a estratégica importância dos ativos intangíveis.
Sobretudo, tal aquisição, amadurecida ao longo de quase uma década, demonstra que operações estratégicas
internacionais considerarão o Sistema da Propriedade
Intelectual como fator decisivo.
YANAR, PRIMEIRA
COMANDANTE
Pela primeira vez em sua história, o
Exército nomeou uma mulher comandante
de uma Organização Militar Operacional. A
pioneira é a major Yamar Eiras Baptista, que
assumiu o comando do Hospital de Campanha “Hospital Oswaldo Cruz”, no Rio de
Janeiro. A Base de Apoio Logístico do Exército realizou, em 5 de
fevereiro último, a solenidade de
passagem de Comando.
19
S
NAR>>>>>
Alberto Caeiro
MANDATO CARO
O custo de uma eleição para deputado federal nas últimas eleições foi em média R$ 10 milhões.
Em 2010, a média havia sido de R$ 5 milhões. Prevê-se que em 2018 só quem gaste R$ 15 milhões
tenha condições de ser eleito para a Câmara. Para governador o gasto médio foi maior: só quem gastou
R$ 200 milhões se elegeu. Um ou outro governador, devido a sua popularidade, elegeu-se com menos.
SONHO MEU
O custo da eleição para deputado federal, a depender do rumo da reforma política que será apreciada pela
Comissão Especial da Câmara, poderá ser enormemente barateado caso seja aprovado este mix: 1) financiamento apenas público de campanhas; 2) voto distrital misto e 3) final do regime de coligações proporcionais.
É o sonho de todo democrata e de todo candidato sem posses. Portanto, irrealizável.
TODO PRESTÍGIO
Se há um visitante do Palácio do Planalto off-go
verno que é recebido na
hora que chega pela presidente Dilma, este é
o advogado Sigmaringa
Seixas. Atribuído de missões informais que e são
passadas diretamente por
ela, “Sig” é uma ponte mais do que segura entre o gover
no e a alta magistratura.
A assessora na escolha do futuro ministro do STF.
DIRCEU PRÁTICO
A razão pela qual José Dirceu deixou o escritório de advocacia do advogado
José Gerardo Grossi para ir se instalar na banca do advogado Hélio Madalena é essencialmente prática: no primeiro, era um mero empregado quer
precisava de um lugar para trabalhar no regime semiaberto. No segundo, é
dono, pois Madalena é seu antigo sócio.
20
ADVERSÁRIOS RELATIVOS
São dois os políticos maranhenses queixosos do tratamento recebido da presidente Dilma,
embora sintam-se credores de muitos favores que lhe foram prestados em votações estratégicas
no Senado. José Sarney e Edison Lobão associaram-se ao clube dos magoados com Dilma,
embora não sejam de romper, em absoluto.
PELO TELEFONE
Foi peremptória a ordem dada por Dilma ao ministro José
Eduardo Cardozo, durante uma rápida ligação telefônica:
“Acabe com istio”. Referia-se à Via Crucis dos empreiteiros
presos em Curitiba por despachos do juiz Sergio Moro, com
base na delações premiadas que estendem indefinidamente o
suplício desses doadores de campanhas eleitorais na prisão.
CORRUPÇÃO EXPLICADA
Existe uma nova ideia formada no governo de que os atrasos nas grandes obras implicando superfaturamento, deve-se menos à corrupção do que à ineficiência dos órgãos
governamentais de executarem projetos competentes.
Quando a construtora denota o erro do projeto, a obra já
está avançada. Nesse ponto o projeto é revisto, mas o atraso e um novo orçamento são inevitáveis.
REDES HOSTIS
Nas redes sociais, os petistas são os que mais bradam pelo
impeachment da presidenta Dilma ao defenderem posições
extremadas ora das centras sindicais revoltadas com o ajuste
fiscal ora de companheiros dos presos do mensalão ora de
companheiros ameaçados do petrolão ora das posições de
Lula como candidato a presidente em 2018.
PELA MADRUGADA
Nunca foi tão fácil uma conspiração aberta entre os presidentes do Senado e da Câmara para enfraquecer a presidente da República e eles próprios passarem a dar as cartas.
A distância entre as suas residências oficiais é de 50 metros.
Renan Calheiros e Eduardo Cunha podem vencer a distância numa andada a pé. De madrugada.
VALE PERDE
portos
A Vale, amargando perdas inéditas em seu balanço por causa do fechamento dos
nar a
determi
ao
Agneli
chineses, está pagando o erro estratégico da gestão de Gianni
minério
de
nal
excepcio
construção de um supercargueiro para levar uma quantidade
máde ferro para a China, capaz de operar nos portos de Itaqui e Rotterdam, de calados
aquela
seguir
a
logo
que
ximos. Porém, não houve inteligência prospectiva para prever
não
commodity teria seu cotação internacional derretida. Hoje, a tonelada do minério
.
chineses
paga o do frete de um simples navio-cargueiro para os portos
21
FRASES DO MÊS
prensa) estão repetindo
“Eles (a oposição e a im
em 2005, quando
ou
eç
m
co
e
qu
l
ua
rit
o
m
o mes
s que eles chamaram de
ia
nc
nú
de
as
am
ar
eç
m
co
“mensalão”.
em Belo Horizonte,
(Do ex-presidente Lula em
ção dos 35 anos do PT,
seu discurso da comemora
o).
segundo a Folha de S.Paul
ra a
“Não há nenhum fato cont
presidente”.
“Ele (Aldemir Bendine) nã
o
tem conhecimento de um
setor
extremamente complexo
e não
possui estofo para levar
a Petrobras
a um patamar de credibilid
ade que
ela necessita neste mome
nto. Não
podemos dizer que é um
currículo que o
recomende para assumir
uma empresa
da grandeza da Petrobras
. Es
esperava a demissão e foi se senhor
presenteado
com a presidência da Pe
trobras. O
governo ri na cara da socie
dade”.
,
do Cardozo, da Justiça
(Do ministro José Eduar
).
em entrevista a O Globo
“Não podemos brigar co
m
nossas bases, estamos em
conflito com a CUT”
(Do senador Lindbergh Far
(Do líder do PPS, deputa
do Rubens Bueno (PR),
que criticou a escolha
e lembrou que Aldemir
Bendine é investigado
pelo Ministério Público,
segundo a Veja On Lin
e).
ias, do PT, ao defender no
Senado a revogação das
medidas de ajuste fiscal
do
ministro Joaquim Levy, seg
undo O Globo)
artindo do
p
tá
s
e
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que precisará
pressuposto de ertamente já
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ter uma maioria ituação difícil
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antevendo uma Ética. Está
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grande erro.
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a Lima, do PSDB
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(Do senado
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O Globo).
eleição para os
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ex
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ra
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B
e o PS
22
a)
“Não estamos lá (na Câmar
para agradar”
o governo
Cunha, ao pontuar que
(Do deputado Eduardo a reclamar da atuação da Casa nos
par
bo)
Dilma não tem razão
sidência, segundo O Glo
primeiros dias de sua pre
FEVEREIRO
“Não se chega ou não se chegava a diretor da Petrobras sem apoio
político. Nenhum partido dá apoio político só pelos belos olhos
daquela pessoa ou pela capacidade técnica. Sempre tem que ter
alguma coisa em troca”.
ao juiz Sergio Moro, segundo
(Do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em seu depoimento
“As empresas estão ganhando
dinheiro. Ninguém precisa
corromper ninguém. Funcionou
assim: “Você está ganhando
dinheiro? Estou. Você pode dar um
pouquinho do seu lucro para o PT?
Posso, não posso. É o que espero
que ele tenha feito”.
vista à TV
(Do ministro Joaquim Levy, em entre
al UOL)
Port
o
ndo
em Davos, segu
Bloomberg,
o G1).
“Se em 1996 ou 19
97
tivessem investigad
oe
tivessem, naquele m
omento,
punido, nós não terí
amos o
caso desse funcioná
rio da
Petrobras que ficou
durante
quase 20 anos [atua
ndo em
esquema] de corrup
ção”
(Da presidente Dilm
a, após cerimônia
no palácio do
Planalto onde rece
beu embaixadores,
durante entrevista
coletiva divulgada
por todos os meios
).
“Vou pegar de noven
ta a
180 anos de prisão”
(Segundo a VEJA
, o empreiteiro Rica
rdo Pessoa,
presidente da UTC,
vem dizendo a qu
em o visita na
prisão em Curitiba
, segundo VEJA)
vez
ria ter mais cuidado e, em
ve
de
ca
bli
pú
Re
da
e
a
nt
nh
ide
“A excelentíssima pres onsabilidades jogando-as em mim, que nada te osofoi
tentar encobrir suas resp exame de consciência e assumir que pelo men com
ver com o caso, fazer um
de Pasadena e aguardarverno
ia
ar
fin
re
da
a
pr
m
co
a
r
sa
descuidada ao não recu apurem as acusações que pesam sobre o seu go
maior serenidade que se
e de seu antecessor”
rensa).
divulgado por toda a imp
rdoso, em comunicado
Ca
e
qu
nri
He
do
nan
Fer
(Do ex-presidente
23
ENSAIO POLÍTICO
O GOVERNO SANGRA,
MAS MERCADO AMPARA E OPOSIÇÃO VACILA.
Qualquer profissional experiente em segurança de negócios de grandes
empresas, já estaria diagnosticando, há muito tempo, um festival de mortes
anunciadas por equívocos básicos nas estratégias das empresas agora envolvida
em escândalos da PETROBRAS
V
ivemos um momento absolutamente
atípico pois não se
trata, apenas, de
uma crise gerada por denúncias de corrupção. Com isso
já estaríamos acostumados.
Afinal, desde sempre, se cochicham histórias cabeludas
sobre os fornecimentos e fornecedores da Petrobras.
Quem não se lembra do
Romulo F. Federici
Consultor Empresarial,
que correu pelos bastidores na
Político e Institucional
época da ditadura envolvendo
Direito Político e
SHIGEAKI UEKI, Ministro de
Administrativo
Minas e Energia do Governo
[email protected]
ERNESTO GEISEL e Presidente da Petrobras na gestão
www.facebook.com/
JOÃO FIGUEIREDO?
romulo.federici
Recentemente, um dos
envolvidos nas recentes denúncias de corrupção na PETROBRÁS ratifica que, ele mesmo, sabe de negócios
escuros nos governos COLLOR, ITAMAR FRANCO,
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO e LULA. A sorte
deles é que em suas épocas as instituições não funciona-
vam tão bem. A POLÍCIA FEDERAL era desestruturada
e o Ministério Público não tinha tanto prestígio. Chegou
ao ponto de no governo FHC ser dirigido pelo famigerado “ENGAVETADOR GERAL DA REPÚBLICA”, Geraldo
Brindeiro, que dava sumiço em todas as denuncia sérias
contra o governo.
Na verdade a crise veio e foi potencializada num
momento de “tempestade perfeita” em que, além de uma
crise político-financeira, se articulava, em setores mais
conservadores, um movimento visando o impeachment
da Presidenta Dilma Rousseff, “consertando” aquilo que
não foi conseguido pela via constitucional do voto.
Esqueceram que, no caso de um impeachment, o
poder total seria herdado pelo PMDB, na pessoa de MICHEL TEMER como Presidente da República, RENAN
CALHEIROS, com o Presidente do Senado e do Congresso Nacional e EDUARDO CUNHA, Presidente da Câmara dos Deputados. Nada indica que as coisas seriam
melhores. Ademais, o impeachment seria uma tarefa
dramática com consequências ciclópicas imprevisíveis,
envolvendo, inclusive, a estabilidade política e social, e,
portanto, grande demais para ser decidida simplesmente no campo político.
Seria indispensável não só o sinal verde como o
apoio e a tutela do MERCADO, essa entidade etérea que,
afinal, tem um poder quase supremo no mundo real.
CULPAD
OS?
24
ENSAIO POLÍTICO
RAÍZES DO MERCADO:
COMO SUGIRAM
PRIMEIROS BANCOS
V
amos começar do começo. O Livro “Casa
da Moeda do Brasil: 290 anos de História,
1694/1984”, nos ensina que as primeiras moedas, tal como conhecemos hoje, peças representando valores, geralmente em metal, surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII A. C. As características
que se desejava ressaltar eram transportadas para as peças através da pancada de um objeto pesado (martelo),
em primitivos cunhos.
A necessidade de guardar as moedas em segurança
deu surgimento aos bancos. Os negociantes de ouro e
prata, por terem cofres e guardas a seu serviço, passaram
a aceitar a responsabilidade de cuidar do dinheiro de
seus clientes e a dar recibos escritos das quantias guardadas. Esses recibos (então conhecidos como “goldsmith´s
notes”) passaram, com o tempo, a servir como meio de
pagamento por seus possuidores, por serem mais seguros de portar do que o dinheiro vivo. Assim, surgiram as
primeiras cédulas de “papel moeda”, ou cédulas de banco, ao mesmo tempo em que a guarda dos valores em
espécie dava origem a instituições bancárias.
Os primeiros bancos reconhecidos oficialmente surgiram, respectivamente, na Suécia, em 1656; na Inglaterra,
em 1694; na França, em 1700 e no Brasil, em 1808 e a palavra “bank” veio da italiana “banco”, peça de madeira que os
comerciantes de valores oriundos da Itália e estabelecidos
em Londres usavam para operar seus negócios no mercado
público londrino. Muito bem, com o passar do tempo, em
função da crescente circulação das GOLDSMITH´S NOTES os bancos foram crescendo, estruturando-se e formatando seus processos de funcionamento.
Em determinado momento o indivíduo concorda
em trocar um poder de consumo presente e certo por
um poder de consumo futuro e incerto, se houver expectativa de que este será maior que o primeiro. (Andrea F.
Andreazo e Iran S. Lima – FGV br).
Surge a questão de como aplicar os recursos em excesso que, juntamente com outros fatores, criam o chamado
MERCADO FINANCEIRO. Este consiste no conjunto de
instituições e instrumentos destinados a oferecer alternativas de aplicação e captação de recursos financeiros.
Os bancos e demais entidades do mercado financeiros, daqui por diante tratados simplesmente como
BANCA detém o condão de captar recursos a taxas extremamente módicas e aplica-los a taxas extremamente
significativas, retendo para si o robusto diferencial entre
um valor e outro. Isto trouxe à BANCA duas coisas que
perduram até hoje, sem muitas diferenças: RIQUEZA e
PODER, inclusive PODER POLÍTICO.
O MERCADO passou a ser o Ghost Writer do governo.
25
ENSAIO POLÍTICO
H
A BANCA, VELHA
ALIADA DOS POLÍTICOS
CONSERVADORES
á mais de dez anos, as forças mais “conservadoras”, nucleadas no PSDB, vêm tentando afastar
do poder as forças mais “progressistas”, nucleadas no PT.
Nesse projeto, vêm contanto com o apoio ostensivo da classe média e média alta e a simpatia cautelosa da BANCA simplesmente porque têm um interesse
comum simples e objetivo: Os políticos conservadores
e a BANCA, não gostam de ser coadjuvantes. Mas, a reconquista do poder vinha sendo difícil porque os conservadores não conseguiram afinar um discurso e um
elenco de propostas que levasse o povão a apoiá-los. E,
é o povão que elege. A coisa começou a mudar com a
subida de DILMA ROUSSEFF ao poder.
Em que pese ser uma figura sem máculas morais
até agora, era uma tecnocrata centralizadora, figura
antipática, focada na gestão do dia a dia, sem talento
político ou geopolítico a suceder LULA, um presidente
simpaticíssimo, que delegava quase tudo, detestava o
dia a dia burocrático e era devotado à política popular,
um ídolo nacional e até mundial (tinha sensibilidade
geopolítica). Era uma diferença enorme porque a grande massa necessita de afagos, discursos na sua língua e,
principalmente, da percepção de que suas necessidades
são prioridade. Parecido com o que se passa com a elite.
Ademais, DILMA enfrentou um tsunami apocalíptico, que engolfou todo o mundo. A QUEBRA DE
WALL STREET, virtualmente quebrou a economia de
todo o mundo, com raríssimas exceções, como os países nórdicos.
Os ESTADOS UNIDOS entraram em depressão
por anos e só agora recuperam um modesto crescimento positivo patinando em 2 % e a Europa, fora da área
nórdica, naufragou, com a raríssima e eventualmente
temporária exceção da HOLANDA.
A economia mundial entrou em recessão que atingiu até a CHINA, cujo PIB caiu vários pontos obrigando
os chineses a saírem pelo mundo afora com a pasta de
vendedor debaixo do braço num movimento mais frenético que o habitual.
ALEMANHA, a potência europeia, só este ano prevê
sair da paralisação econômica para alcançar um crescimento minguado ao redor de 1%. Os negócios do mundo
congelaram. Pouca gente comprava e pouca gente conseguia vender. E, sem negócios, tudo para!
Diante desse quadro assustador, DILMA tinha duas
opções: optar por uma política ortodoxa, no estilo alemão, ou contemporizar com uma política anticíclica que
suavizaria a transição para melhores dias mas, obviamente, deixaria uma conta pendente: Não existe almoço
grátis, diz a BANCA.
Ademais DILMA, tal como FHC, queria garantir a
reeleição. Ele manipulou a taxa de câmbio, com a cumplicidade de GUSTAVO FRANCO, que quase destruiu o
PLANO REAL e deixou efeitos negativos por todo seu
segundo mandato. Ela optou por tentar manter a economia funcionando com estímulos ao consumo e créditos para os empresários, notadamente industriais, uma
política econômica anticíclica. Ocorre que os estímulos
ao consumo funcionaram fazendo o povo comprar mais.
No entanto os empresários, notadamente os industriais,
preferiram não embarcar nessa proposta. Muitos deles
guardaram no cofre os créditos recebidos e não investiram na produção. Resultado: Com mais consumo sem
aumento de produção aparece lépida e fagueira a INFLAÇÃO e a estagnação, sem aumento do PIB.
26
ENSAIO POLÍTICO
MERCADO
GHOST WRITTER
DO GOVERNO
O
resultado da política anticíclica não funcionou
tão bem quanto o esperado mas, pelo menos,
não nos arruinou como, entre outros países
europeus, como a Grécia, abatida, de joelhos e à beira
de uma convulsão social fruto da aplicação da política
ortodoxa alemã. Que aliás, começa a ser revista. Mas, a
nossa conta que ficou pendente, mesmo não sendo tão
dramática, não é nada barata e o início do seu resgate,
com doses de ortodoxia, começa a corroer o conceito de
DILMA junto à sua base eleitoral.
Juros mais caros, controle nos gastos em geral,
inclusive nos benefícios sociais, menos crédito disponível, ameaça aos níveis de emprego, menos inves-
timentos e menos custeio da máquina pública. Isso
vem fazendo em meses o que os conservadores, nucleados no PSDB, vêm tentando há mais de 12 anos
sem conseguir: Corroer os índices de aprovação de
DILMA ROUSSEFF. Mas, o grande aliado do PSDB, o
MERCADO, mais prudente, não acha as perspectivas
tão ruins, aliás as fórmulas que estão sendo aplicadas
nasceram por lá.
Como eles dizem, “nas dificuldades é que surgem
as oportunidades”. E surgiram: Estão dando as cartas na
área econômica e pautando grande parte das ações de
governo. O MERCADO passou a ser o Ghost Writer do
governo. A morte anunciada.
27
ENSAIO POLÍTICO
PETROBRAS: VELHA
SENHORA MAL FALADA
C
omo já vimos, as histórias de malfeitos na PETROBRAS sempre pulularam nos cochichos de
bastidores desde sempre. Dúzias de famílias enriqueceram e dúzias de empresas prosperaram às custas
negócios frequentemente corruptos. Nasceram verdadeiros impérios empresariais, muitos dos quais cresceram e se solidificaram não tanto pelo talento de seus
gestores mas pelos generosos sobre preços, que faziam
jorrar liquidez.
Mas, este festival de malfeitos, de lucros abundantes, de luxo e riqueza para fornecedores, encontrou uma
muralha nunca antes percebida e se esborrachou contra
ela. De fato, pouco a pouco, a partir do fim do ENGAVE-
TADOR GERAL DA REPÚBLICA as instituições foram
se fortalecendo e passaram a ser dotadas de extraordinária eficiência, sem a interferência do governo como em
outras épocas.
A JUSTIÇA FEDERAL, o MINISTÉRIO PÚBLICO
FEDERAL, a POLÍCIA FEDERAL, RECEITA FEDERAL
e mesmo, em certa medida, a CONTROLADORIA GERAL DE UNIÃO vêm construindo estruturas muito
sólidas, com tecnologia de ponta, gente preparada,
cargos de estado, e consciência mais apurada dos seus
objetivos, além de autonomia para atuar, sem ingerência política.
Era visível para qualquer observador mais atento,
principalmente para qualquer profissional da área institucional, que estava em marcha uma evolução visível
no ambiente institucional, com estreitamente das possibilidades de “mal feitos”, como sempre comentamos
em nossos trabalhos. Sou consultor de duas importantes
empresas estrangeiras, uma americana e outra francesa,
dedicadas à avaliação da viabilidade, segurança e estabilidade de projetos empresariais no exterior.
Em conversa com colegas percebemos, desde há
muito, que haviam reiterados avisos de que o ambiente
institucional estava mudando nos últimos 15 anos, muito veloz e consistentemente, ameaçando os imprudentes. Portanto, era hora de uma calibragem estratégica
nos padrões dos negócios para evitar caminhos que conduziriam ao precipício. Mas, a chuva de GOLDSMITH´S
NOTES era deslumbrante e vários empresários ficaram
deslumbrados e cegos, por falta de uma visão holística
do quadro vigente.
É incrível como grandes corporações, onde não faltavam recursos para investir em tudo, negligenciaram
e negligenciam a construção de estruturas para INTELIGÊNCIA INSTITUCIONAL competentes, capazes de
fazer diagnósticos e alertas em tempo hábil. Ao contrário, criaram estruturas megalômanas mas negligentes, focadas somente nas forças de venda e tecnologia,
chamadas as áreas do “SIM”, negligenciando as áreas do
“NÃO, ATENÇÃO”, como os núcleos institucionais, jurídico, controladoria, contabilidade e auditoria interna.
Enquanto os primeiros eram festejados como GERADORES DE FATURAMENTO, os demais eram espicaçados
como meros CENTROS DE CUSTO.
Resultado: Deu no que deu, o mundo caiu! Sucumbiram como um castelo de cartas diante de um perigo
óbvio, crescente e visível à distância.
28
ENSAIO POLÍTICO
MORTES
ANUNCIADAS:
FILME ANTIGO ASSISTIDO
MUITAS VEZES
P
rofissionais na consultoria de SEGURANÇA EM
NEGÓCIOS de grandes empresas, inclusive transnacionais, principalmente na esfera pública, eu
e meus colegas, poucas vezes assistimos às mortes tão
anunciadas. Poucas vezes se assistiram a tanta alienação
na condução de negócios de porte; poucas vezes se assistiu a tanta ingenuidade na costura de negociações complexas; poucas vezes se assistiu a soluções tão primárias;
poucas vezes se assistiu a tantos mergulhos em negócios
suicidas.
As explicações são várias e uma das principais, como
é comum, é a prevalência exacerbadamente forte das
CABEÇAS MERAMENTE CARTESIANAS, sem contraponto. Sim, elas que são tão eficientes na condução dos
negócios no que tange, principalmente, à venda de serviços, podem ser um desastre nos negócios menos convencionais, mais delicados, influenciados por múltiplos
vetores diversos e incomuns mas com efeitos colaterais.
Tudo fica mais difícil se a cabeça cartesiana é aguçada com um ambiente de sucesso empresarial fácil,
quase histérico, continuado e de grandes lucros. Com
excesso de “objetividade” e pressa nos resultados, os
gestores ficam inebriados e isto leva à inconsequência e
ao desastre. Tudo, em grande parte, por falta de VISÃO
PERIFÉRICA. Essa sucessão incrível de grandes erros,
acenderam o estopim de uma imensa bomba, policial,
empresarial e política.
Explode a bomba atômica: A PETROBRAS!
Uma simplória operação da POLÍCIA FEDERAL vai
rastreando os odores de corrupção a partir de um prosaico posto de gasolina e percebe que está diante de indícios de um imenso escândalo de corrupção. A operação
adota o nome de LAVA JATO e, deflagrada em março de
2014, já conta com sete fases, investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos.
A denúncia inicial partiu do empresário Hermes
Magnus, em 2008, quando foi pressionado a lavar dinheiro ilícito por ora acusados, utilizando sua empresa
DUNEL INDÚSTRIA E COMÉRCIO. A partir daí as investigações geraram mais de uma centena de mandados
de busca e apreensão, prisões temporária, preventivas
e conduções coercitivas, e outras medidas legais, tendo
como objetivo apurar um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar bilhões de reais.
Mas, quando ficou constatada a conexão com a PETROBRAS, o tema ganhou repercussão incontrolável
por envolver, além dos crimes e criminosos propriamente ditos, o aspecto político, o interesse de segmentos
da sociedade, do empresariado e da grande imprensa,
majoritariamente avessa ao governo DILMA e interessada em desidratá-la, para fins de impeachment ou para
derrotá-la em 2018.
HERMES MAGNUS, DETONADOR
DO “PETROLÃO” EM 2008
29
ENSAIO POLÍTICO
UMA LUPA OBSERVA
CONSEQUÊNCIA DO
PETROLÃO
M
as, ao lado e talvez acima de tudo
isso, estão os interesses mais estratégicos do MERCADO que observa
com lupa, o desfile de gente graúda presa, o
trincar assustador de grandes impérios empresariais, os passos da oposição, sempre
mais táticos e imediatistas e o perigo que isso
tudo pode significar para os grandes interesses financeiros, envolvendo montanhas de
GOLDSMITH´S NOTES, ou seja, grana. Tudo
isso é mais que nitroglicerina pura, é fissão
atômica que, afinal, provocou uma explosão
de muitos megatons.
Estamos diante de um dos eventos com
maior repercussão política dos últimos tempos, porque oposicionistas poucas vezes tiveram à disposição tantos fatos graves, passíveis
de serem potencializados e baralhados para
complicar de forma ainda mais grave o governo. Mais do
que isso. Foi criado um verdadeiro parque de diversões
para a grande imprensa que, com conexões inimagináveis, fez um estoque de malfeitos que são gotejados diariamente e a toda hora do dia e da noite, para ir corroendo a credibilidade do governo.
Nesse grupo existem aqueles mais equilibrados que
exercem o direito legítimo de oposição, denunciando,
cobrando punições e, com isso, preparando terreno para
vencerem as próximas eleições.
Existem os incendiários que buscam um impeachment da Presidenta recentemente reeleita, sem ter
o cuidado de avaliar as suas consequências. O país bi
polarizado, e muito por causa disso, poderia, segundo
alguns, virar um país conflagrado com perigo de um
conflito de classes sociais. A classe média e média alta,
principalmente, colocou para fora seus sentimentos até
então reprimidos e partiu para cima num clima ainda
mais descontrolado, posto nem sempre bem informado.
O clima beira o raivoso, o que dificulta qualquer conversa, ponderação ou diálogo. Os governistas estão acuados
e, só agora, aparecem os primeiros sinais de uma reação
pouco produtiva.
No entanto, as camadas pensantes do país estão
ponderando, com cuidado, cada desdobramento. Sabem que virão listas recheadas de nomes importantes
no âmbito empresarial, social, político e partidário,
multipartidário e governamental a serem indiciados ou
denunciados sem contemplações. Percebem que as coisas podem ir mais longe do que o imaginado alcançando, inclusive, pessoas até então não mencionadas e até
agora “cultuadas”.
Sabem que isso poderá ser o suficiente, dentro
dos trâmites legais e constitucionais para, com muitas dores, recolocar o país no prumo com as disputas
políticas normais e desejáveis. Mesmo porque nos
aguardam o baralhamento de vários fatos e a expansão da área afetada pelo grande tsunami, envolvendo
até as oposições que podem passar de pedra a vidraça, também.
De fato, começam a brotar informações aqui e
acolá, convidando outros parceiros, que estavam na
plateia, a entrarem na dança. A informação divulgada
de que o esquema do PETROLÃO foi gestado, planejado, montado e posto em marcha nos idos de 1990, em
pleno Governo FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
foi uma bomba que só não tremeu o chão porque a
grande imprensa, principalmente no Rio de Janeiro,
foi muito indulgente.
Mas, O ESTADÃO repercutiu com mais espaço.
“Pedro Barusco afirmou que houve pagamento de
propina desde o primeiro contrato de navios-plataforma
da estatal com a SBM Offshore, durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
30
ENSAIO POLÍTICO
TALIBÃS TUPINIQUINS,
JANOT E A CRISE
POLÍTICA
JANOT
O
X
jornalista e editor da revista de maior circulação na Argentina, JOSÉ FRANCISCO CABALLERO, em entrevista à CRISTINA TARDÁGUA
(13/2/2015) conta o seguinte:
“A gente não pode mais se expressar livremente na
Argentina. Na política, há os ultra kirchneristas e os ultra-anti-kirchneristas. Os que estão no meio não podem
falar. Já ouvi de muitas pessoas cultas, inteligentes, que
ninguém pode mais ser cinza na Argentina hoje em dia.
Ou se é branco ou se é preto. Todos os fundamentalismos são perigosos. O político também”.
BRINDEIRO
Quando não existe uma zona cinzenta, um “buffer”
que amorteça os ímpetos, os polos políticos colidem
diretamente sem moderação com danos muito mais
importantes para os dois lados. Esse quadro destrói elementos essenciais na vida política e, principalmente,
na discussão que se faz necessária, como o bom senso,
o equilíbrio, o saber ouvir, o saber se expressar, o raciocinar sobre os temas, e o elaborar de teses e propostas
livres do ranço ideológico, o avaliar sem a influência dos
lugares comuns e, principalmente o raciocinar, o avaliar
e o compreender sem explosões insanas.
Em consequência: Fica aberto o espaço para os tresloucados. Não se vê mais equilíbrio. Os políticos, sempre
oportunistas, estão em permanente estado de excitação,
manifestando-se sempre com os olhos esbugalhados. As
TVs usam sempre as mesmas figuras carimbadas para
recitar o mesmo roteiro, as rádios difundem a previsão
do apocalipse, os jornais parecem éditos medievais, a
elencar quem é “gente fina” e quem é bandido.
Vivemos, politicamente, no pior dos mundos: uma
bipolaridade onde os núcleos de viés mais “conservador”, mais próxima do capital, colidem com os núcleos
(http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/jose-francisco-caballero-cantor-jornalista-musica-me-salvou-do-opus-dei-15323815#ixzz3RdTdqrTo)
Estamos vivendo o mesmo momento patético aqui
no Brasil.
Se você ousa dar uma opinião mais refletida, mais
equilibrada fora dos limites dos lugares comuns, corre
o risco de ser chamado de PETRALHA pela madame
enfurecida ou de PELEGO pelo líder sindical. Ambos os
polos atuam na mesma frequência e no mesmo nível de
insanidade.
31
de viés mais “progressistas”, mais próximas do trabalho.
As aspas são necessárias. Isto, por si só, talvez não ameace o governo DILMA, como nunca ameaçaram os governos anteriores desde COLLOR, mas degradam a vida
política, postergam debates necessários e prejudicam
decisões necessárias.
Rodrigo Janot, o atual Procurador Geral da República, ganha grande relevância nesse contexto porque
representa a mais recente etapa da evolução da PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA, que se reergueu
com dignidade depois da fase patética liderada por GERALDO BRINDEIRO, que teria sido encarregado pelo
governo FHC de barrar todas as denúncias incômodas
para o governo, como se noticiou e continua sendo noticiado na imprensa.
No momento, o trabalho de JANOT com base nas
investigações em curso, poderá significar, a reorganização e pacificação político institucional do país ou o
caos. Ele terá de cobrar a investigações e indiciamento de todos os envolvidos nos escândalos, por todos os
tipos de crimes, em todas as épocas alcançadas pelos
efeitos das leis, independentemente dos governos e
partidos envolvidos. Não poderá exacerbar por visagem
nem transigir um milímetro sob pena de incendiar o
ambiente ao invés de equilibrá-lo. Isto porque, paralelamente, o mundo político institucional está virtualmente paralisado (apesar de se mover nos bastidores)
pois aguarda essas denúncias para funcionar com um
mínimo de normalidade porque, até agora, não se sabe
quem poderá ser alvejado e a gravidade do ferimento.
Tendências, ou o que vem por aí. Existem nomes
rondando os núcleos de poder, muitos possíveis candidatos a todos os cargos imagináveis.
O PSDB tentando se firmar como protagonista sólido depois de expressiva votação nas últimas eleições
presidenciais e depois de questionar a viabilidade de AÉCIO NEVES e reavaliar, entre outros JOSÉ SERRA, que
está na pista aguardando o tiro de partida.
Teve o grande mérito de cooptar o encanto de amplos setores de melhor nível social e da grande imprensa,
majoritariamente conservadora. Conseguiu, ainda, vender uma imagem de correção, esquivando-se dos seus
envolvimentos na criação do mensalão e dos seus envolvimentos na história do PETROLÃO, do que dificilmente se livrará incólume.
O PT tonto com tudo isso, está a demonstrar suas
fragilidades e a inconsequência de lutas internas entre
facções. Algo até compreensível em um partido neófito mas, nunca, num partido que detém a Presidência da
República.
Depois dos trancos de MENSALÃO e do PETROLÃO o PT está nas cordas porque, mesmo tentando espernear, não conseguiu convencer que foi uma “vitima”
da máquina corrupta que vinha operando historicamente, passando por todos os Governos. Sim, pode ser vítima
dessa circunstância mas não pode explicar como falhou
em cumprir as promessas de eficiência no combate à
corrupção que era uma de suas bandeiras.
O PMDB, ardiloso, covil de raposas peludas, está
rondando a carniça e trocando cochichos entre seus
núcleos de Poder. Os cariocas ganharam relevância
e tricotam entre si. Eduardo Cunha mantém a DILMA e o PT nas cordas enquanto o Governador Pezão
confabula com o Prefeito do Rio, Eduardo Paes, o
lançamento de seu nome à ... nada mais nada menos
que a Presidência da República, pegando carona na
projeção de seu nome após as OLIMPÍADAS se tudo
der certo.
PAES, tem talento e traquejo político, tem feito boa
administração no Rio de Janeiro e está encaminhando
bem o projeto OLIMPÍADAS, com toda a infraestrutura
prevista. Tem ainda o que nem o PT nem o PSDB pode
oferecer: Juventude e o maior e mais experiente partido
o país, o PMDB ... para o bem e para o mal. Só não se sabe
se tudo isso é suficiente para dirigir os destinos do país.
Em suma podemos estar perdendo a oportunidade histórica de renovar a política brasileira, através do
PSDB e PT, que tantas ideias trouxeram mas não souberam formar um núcleo de força coordenado, que seria
possível.
Podemos estar retornando à histórica e ampla dominância do PMDB, não o de ULYSSES GUIMARÃES e
da turma do “poire” mas o de JOSÉ SARNEY da praia do
Calhau. Simples assim.
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POLÍTICA
FÓRUM DAS
MULHERES
DILMA,
FÃ DE BIRDMAN
ipal, que ganhou
Birdman - com Michael Keaton no papel princ
mendado pela
enco
sido
tinha
já
o Oscar como melhor filme do ano,
arte, em DVD,
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sétim
da
las
péro
de
r
presidente Dilma a seu fornecedo
super-herói
um
de
-se
Trata
rada.
para assistir na sua solidão no Alvo
mexicano
do
ro
rotei
e
ão
direç
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que se tornou um ícone cultural,
uetas.
estat
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quat
ndo
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ou
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Alejandro González Iñárritu, que
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r-her
supe
co
icôni
um
u
Trata de um ator que já interpreto
isso
Tudo
a.
glóri
de
dias
seus
erar
uma peça da Broadway para recup
sua família, carreira
se passa em três dias nos quais ele deve lidar com
Será esta a predileuo.
ingên
filme
e sanidade. A crítica o chamou de
ria?
solitá
alma
uma
ção de Dilma? Filmes ingênuos para
DIANA,
A NOVA EMBAIXADORA
São 15 as embaixadoras que já servem em Brasília, que possui hoje no mundo o Corpo Diplomático com o maior número
de mulheres à frente de suas representações diplomáticas. Agoira são 17, porque duas novas embaixadoras vieram a se somar ao
total, ao entregarem credenciais à presidente Dilma neste fevereiro. Dos quatro que apresentaram suas cartas, duas mulheres:
Maria Lourdes Urbaneja Durant, da Venezuela e Diana Marcela
Vanegas Hernández, de El Salvador, que aparece na foto.
34
POLÍTICA
KATIA
BRIGA
PELO
CARAJAS
A ministra Katia Abreu engajou-se de corpo e alma na
briga dos separatistas do Pará para criar o Estado do Carajás. A nova unidade federativa do Brasil, que seria fruto do
desmembramento do Pará, abrangeria uma população de
aproximadamente 1,7 milhão de habitantes e 289.799 km²
de área. Seria o nono maior estado em termos territoriais,
com 39 municípios e 18% dos eleitores do estado do Pará.
Maior que Portugal, Uruguai e Equador. Somente 11,04%
de sua população são paraenses, o restante da população
migrou de todo o Brasil, sendo que os maranhenses,
goianos, tocantinenses e mineiros juntos representam quase 69% da população total da região. A
capital do novo estado seria Marabá, (233.462
habitantes em 2010. A região proposta é marcada por graves conflitos agrários que geram
muitos entraves sociais para o desenvolvimento local. Carajás teria um PIB que corresponde a aproximadamente 28% do PIB do Pará.
Em 11 de dezembro de 2011, foi realizado um
plebiscito sobre a divisão do estado do Pará em dois no-
vos estados: o Carajás e Tapajós. Esse plebiscito realizado
com os eleitores do Pará, teve como resultado a rejeição
da criação de ambos os estados. Contudo, mesmo após a
derrota, o movimento separatista continua em atividade
pleiteando separação do Pará. Conta com o apoio de Kátia Abreu, o que vale muito. Vale uma entrada com Dilma
Rousseff, sua madrinha de casamento.
35
POLIS Confidencial
LULA LEU O QUE
O PODER LÊ
O slogan da CARTA POLIS é exatamente este: “Você vai ler o que o poder lê”. O ex-presidente Lula demonstrou
na prática o que a revista quis simbolizar com isso, ao ler o mesmo documento histórico que estampamos de
nossa última edição: o artigo do juiz Sergio Moro sobre a Operação Mane Pulite, na Itália, a qual culminou
com o assassinato do juiz Sergio Falcone. Segundo a foto acimada da edição da reviste VEJA de 18 de fevereiro,
(edição 2413), na festa de aniversário do PT ele leu o artigo de Moro, que foi buscar na Itália inspirações para o
que põe na prática hoje em Curitiba com a Operação Lava Jato.
KHALIL, O
MÉDICO DO
PODER
O famoso cardiologista-chefe do Hospital Sirio-Libanês de São Paulo, Roberto Khalil
está a mil em Brasília para tornar a Capital da República um centro nacional de referência em sua especialidade. Para tanto, adquiriu em sociedade particular com Edson
Bueno o controle de um importante hospital local, bem situado num bairro nobre.
Como parte do projeto de ser o médico do poder, atuando junto às autoridades aqui
mesmo, o doutor Khalil ministrou um treinamento Palácio da Alvorada para aos funcionários precaverem-se do mal cardiológico. O que não é coisa muito fácil.
36
DR.REY,
SÉTIMO MAIS
RICO DO MUNDO
O brasileiro Robert Rey, conhecido como Dr. Rey,
não juntou US$ 15 milhões fazendo cirurgias. Conhecido por aparecer em programas de TV (e até comentando sobre corpos das mulheres no carnaval), o cirurgião
plástico já conseguiu participar de filmes e até aumentar
sua renda vendendo produtor com seu nome. Na relação
dos sete médicos mais ricos do muno, ele é o último da
relação. Mas, faz parte desse clube seleto, e isto basta.
(Após informação publicada por O Globo)
THOMIE,
REFERÊNCIA
EM BRASÍLIA
Foto: Ana Ruckschloss
Thomie Ohtake, a maior artista plástica
brasileira da atualidade, se foi aos 1O1 anos.
Deixou conhecidas obras criadas por sua imaginação livre e de signos leves como a cerejeira japonesa. Em Brasília, Thomie pontuou
com trabalhos de invulgar beleza, acentuadas
por sua simplicidade. Esculturas nos jardins
do Hotel Roytal Tulip, projeto do arquiteto
Ruy Otkake, seu filho, e uma rosa de concreto em frente ao Edifício Number One, estão
duas obras. Ambas, a convite do empreendedor Paulo Octavio.
37
mais
S
NAR>>>>>
Ricardo Reis
BAGGIO REFORÇA
A presidente Dilma reforçou seu Gabinete Pessoal com o ex-petista, Álvaro Henrique Baggio, egresso da Casa Civil. Veio a ser chefe
de Gabinete do ex-chefe do Gabinete Pessoal Giles Azevedo, que
esteve afastado, mas voltou recentemente com todo o poder de
antes, mas não para o mesmo cargo. Baggio é da cota pessoal de
Dilma, tal como Giles. Ambos vieram com ela do Rio Grande do
Sul, desde a época em que era secretária de Minas e Metalurgia no
governo Olívio Dutra.
“BOB” WHO?
José Dirceu foi brindado com o apelido de “Bob”, mas na verdade o Bob era outro, assim, mesmo, sem aspas.
Era Roberto Marques, mais conhecidos nas rodas do “lobby” como Bob Marques. Júlio Camargo, consultor
da Toyo Setal referiu-se a Dirceu em sua delação premiada como se fosse ele próprio o “Bob”. Mas, o Bob
Marques, o verdadeiro, é petulante e atrevido nos tempos de “vacas gordas”, ao contrário do ex-ministro da
Casa Civil, que é visto como um lorde.
CAMISA 11
Romário ganhou o melhor gabinete da Ala Afonso
Arinos do Senado, o gabinete 11. Só que o gabinete 11 não existia antes. Eram
numerados de 2 a 10. O
senador carioca, entretanto, ganhou a regalia de Rena
n Calheiros e mudou
a ordem: o gabinete 11 passou a ser o segundo do
corredor, logo após o 2.
Razões de Romário: 1) o gabinete é o único daquela
ala que tem uma porta
de saída nos fundos, que dá para o jardim, e assim pode
escapar de visitantes
incômodos; 2) era o número de sua camisa na seleçã
o brasileiras e nos times
porque passou.
PT NECAS
Desde Carlos Lacerda, há 60 anos, o Rio de Janeiro não batia São Paulo como principal fonte geradora da
grande política nacional. Agora Eduardo Cunha, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Paes, todos do PMDB,
são peças destacadas no tabuleiro de xadrez na política nacional tanto para as eleições nas capitais em 2016
como para as gerais de 2018. Ainda há Romário, do PSB - que todos consideram como virtual prefeito do
Rio em 2016.Necas de PT.
38
CIDADÃO “PÓLIS”
O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa está com a verve solta em postagens na sua conta do Twitter. É
uma metralhadora giratória a contra o PT. Em um desses posts, Barbosa conceituou o que era ele é ser
um “Cidadão livre”: “livre das amarras do cargo público. Cidadão na plenitude dos seus direitos, pronto
para opinar sobre as questões da “Pólis”. A cidade grega, bem entendido.
NERVOSO DEMAIS
MAGOADO DEMAIS
Um amigo do ex-presidente José Sarney se surpreendeu ao visitá-lo outro dia em sua casa em
Brasília quando o recebeu na porta trajando calça de terno, camisa social e gravata, sem o terno
completo. Raras vezes Sarney é visto em público
nesses trajes informais. Quando é visto assim, os
íntimos garantem, é por nervosismo.
De todos os ex-ministros de Dilma que deixaram
o governo para se candidatar, o mais magoado
é sem dúvida Agnaldo Ribeiro, PP, ex-ministro
das Cidades e na sua época muito ligado à
presidente. Saiu para se candidatar à reeleição a
deputado federal pela Paraíba. Dilma disse-lhe na
época: “Vá, se reeleja e volte, que seu cargo está
garantido”. Agnaldo se reelegeu mas Dilma não
lhe chamou de volta.
LOBÃO “IMEXÍVEL”
Quando o ministro Eduardo Braga chegou à pasta de Minas e
Energia deparou-se com uma situação ímpar: todos os cargos
do gabinete estavam preenchidos. É a antiga estrutura do
ex-ministro Edison Lobão. O novo ministro recebeu ordens
expressas: o pessoal do Lobão é irremovível.
MALHAÇÃO JAPONESA
Dos ex-comandantes militares que passaram seus comandos, o
brigadeiro Juniti Saito é o que mais deixará saudade em Brasília entre seus amigos que faziam compras para casa nos sábados
pela manhã no Supermercado Pão de Açúcar do Conjunto Gilberto Salomão, no Lago Sul. Depois de escolher pessoalmente os
artigos e colocar no carrinho, Saito se entregava a um papo solto
e informal com uma roda de amigos, civis e leais às compras de
sábado. E tome malhação.
MUY AMIGO
Todos os conselhos que Lula deu a Dilma em sua última e longa reunião são politicamente suicidas. Como o de sair pelo país
para defender as medidas de ajuste fiscal, argumentando que têm prazo marcado. Avalie-se Dilma ir de estado em estado
defendendo o contingenciamento do seguro-desemprego. No mínimo arrancará vaias, no máximo, engrossará as assinaturas
pró-impeachment.
39
ARTIGO/INTERNACIONAL
BRASIL E CHINA
O
“A China e os EUA
são parceiros
econômicos globais,
mas os EUA são
o guia do mundo.
Eles já têm o sistema
principal e suas regras;
a China está disposta
a se juntar a esse
sistema e a
respeitar essas
regras e espera
atuar de formar
construtiva”.
político e escritor francês
Alain Peyrefitte, com grande
antevisão, publicou em 1973
o ensaio “Quando a China Acordar o
Mundo Tremerá” (título traduzido livremente).
Suas previsões, pautadas por
visitas sistemáticas ao país, deixam
claro que tão logo houvesse uma liberalização política e uma descentralização do sistema econômico,
com uma preponderância do indivíduo e da propriedade privada, o
grande salto para o futuro previsto
por Mao Tse-tung tomaria uma estrada sem retorno. O impulso veio
com Deng Xiaoping, em 1979.
Em 1981, liderei uma delegação de empresários e jornalistas a
Pequim, Xangai e Cantão. Pequim tinha apenas um
hotel que servia de albergue e, ao mesmo tempo, de
escritórios para as primeiras firmas empresariais que
para lá se dirigiam. A cidade era uma sucessão de tapumes cobrindo áreas decaídas que haviam sido arrasadas. As ruas eram tomadas por milhares de homens
e mulheres, que, vestidos de azul, perambulavam sem
empregos pela cidade.
A mesma cena se repetiu em
Xangai e Cantão. Para comprar
uma bicicleta, um chinês teria de
adquirir um vale e esperar até que a
produção estatal lhe permitisse recebê-la. A China era a 7ª economia
do mundo à época; o Brasil, a 16ª.
Em Pequim, fui encarregado
pelo ministro de Comércio de entregar ao governo brasileiro uma
mensagem -o reconhecimento do
Brasil como nação mais favorecida
para o intercâmbio comercial e financeiro entre os dois países. Com
esse sinal, fiz o primeiro escritório
de uma empresa brasileira em Pequim. Esse longo prólogo serve
para que possamos fazer um paralelo com o Brasil e as trajetórias não
convergentes que as duas nações percorreram até hoje.
A China ultrapassou, pelo critério de paridade do poder de compra, os EUA e será, em breve, a primeira economia do mundo. O Brasil, agora a sétima economia do
mundo, será ultrapassado pela Índia e pode voltar a ser
a 9ª ou 10ª em curto prazo. A China cresceu, em média,
10% ao ano nos últimos 24 anos e sua economia é agora 25
vezes maior que em 1990. A do Brasil é cinco vezes maior.
40
ARTIGO/INTERNACIONAL
SE DESCOLAM
Mario Garnero
Presidente do grupo Brasilinvest e presidente do Fórum das Américas e
da Associação das Nações Unidas Brasil (Anubra). Artigo publicado do
originalmente na seção Opinião, da Folha de S.Paulo.
bais, mas os EUA são o guia do
mundo. Eles já têm o sistema
principal e suas regras; a China está disposta a se juntar a
esse sistema e a respeitar essas regras e espera atuar de
formar construtiva”.
A lição que fica é a de que somos um país lento, com
grandes centros de excelência na agricultura, na ciência e
na indústria, com poder de inovar, como no uso do etanol.
No entanto, ao mudarmos com os ventos a biruta do nosso projeto nacional, desperdiçamos meios e nos transformamos em um país com produtividade negativa.
Perdemos velocidade no crescimento e no bem-estar. Os números, que não admitem contestação, indicam
que temos novamente que nos integrar à cadeia mundial de progresso material e, por consequência, social. E
o caminho para essa integração passa por medidas que
aumentem a produtividade, promovam maior abertura
econômica, criem novas infraestruturas e gerem um novo
padrão de qualidade na educação profissional.
A pergunta que surge é a seguinte: por que existem tais diferenças na velocidade de crescimento e de
substância dessas economias, além de perdas relativas
de poder político e de influência internacional, sejam
elas políticas ou financeiras? Uma simples análise mostra a China caminhando para ser o centro econômico,
político e financeiro da Ásia, suplantando o Japão, ampliando seu poder na África, comprando as empresas
de ponta na Europa e dominando o cenário dos chamados Brics, no comércio e na área financeira, com US$ 4
trilhões de reservas.
Qual o segredo, além dos possíveis questionamentos sobre seu sistema político? Sem dúvida, essa resposta
passa pela continuidade da política econômica, mantida e
aperfeiçoada por meio dos sete planos quinquenais, com
uma enorme flexibilidade, pragmatismo e visão estratégica dos objetivos nacionais definidos e perseguidos.
Há pouco, a imprensa chinesa noticiou um discurso do vice-premiê Wang Yang no qual ele disse
que “a China e os EUA são parceiros econômicos glo41
BRASÍLIA
OS BRASILIENSES:
OS DESTAQUES DE UMA DAS NOVE METRÓPOLES
MAIS BEM PLANEJADAS DO MUNDO
ARTES
PLÁSTCAS
Darlan
Rosa
RESTAURANTE
JUSTIÇA
CALÍGRAFO
Hélio
Guilherme Dias
Álvaro
Ciarlini
Greg
Gomes
ADVOCACIA
PIONEIRISMO
José
Gerardo Grossi
Ronaldo
de Alcântara
Veloso
Lúcia
Garófalo
UNIVERSIDADE
Gastronomia
POLÍTICA
Ivan
Camargo
Inacia
Poulet Rõti
ATRIZ
Carmen
Moretzsohn
LITERATURA
42
Fernando
La Roque
RÁDIO
Erika
Kokai
BRASÍLIA
Z
ACADÊMICA
COMIDA
SAUDÁVEL
RELAÇÕES
PÚBLICAS
Maria Alice
Guimarães
Rogerio
Mazer
Aluizio
Torrecillas
ESPORTE
EMPRESÁRIO
TV
Viviane
Costa
Álvaro
Silveira Júnior
Giuliana
Morrone
UNIVERSIDADE
ARQUITETURA
E URBANISMO
CONSTRUÇÃO
CIVIL
José Roberto
Bassul
Luiz Carlos
Botelho
Ferreira
MERCADO
IMOBILIÁIO
CIÊNCIA
POLÍTICA
Gilbeto
Garcia
ECUMENISMO
Paiva
Netto
Paulo
Muniz
PROFESSOR
JORNALISMO
SEMANAL
Washington
Dourado
Liana
Sabo
43
Flávio
Testa
MÚSICA ERUDITA
Claudio
Cohen
INTERNACIONAL
LAGO NA AMAZÔNIA
SALVARIA O BRASIL?
N
a atual crise hídrica do país, associada às mudanças do clima, a Amazônia recebne dos cientistas
o tratamento diferenciado de começo e fim de
nossa possibilidade de sobrevivência.Alguns cientistas
visionários vão mais longe: trata-se da própria salvação
do continente e do mundo.
O velho bordão de “Amazonas, pulmão do mundo”
volta com mais força do que nunca e tolhe de pessimismo a locomotiva do Brasil, São Paulo, imerso na escassez
de água.
Não é de hoje que esses futurólogos dimensionam a
importância de termos a Amazônia em nosso território.
Como uma garantia de nossa salvação em um mundo
futuro - e não futuro assim - de devastação causada pela
devastação da natureza, que influi na clima, nas chuvas
e na água disponível no Brasil e na planeta.
Um desses futurólogos foi um norte-americano
Herman Kahn,um gordinho simpático, que lembrava
muito a figura de Alfred Hitchkok.
Ficou famosa nos anos 60 a proposta desse físico visionário, do Instituto Hudson, de que se construíssem
sete barragens para criar cinco lagos gigantescos na Bacia Amazônica.
Queria estimular o intercâmbio econômico entre os
países da América do Sul e o investimento estrangeiro
em pesca, mineração e petróleo na região.
Aos ouvidos do governo militar brasileiro da época a proposta soou como a internacionalização da
Amazônia.As reações contrárias foram muito fortes.
Nunca um estrangeiro foi tão odiado pelo país, nem
mesmo Mr. Link, o norte-americano que afiançou que
o Brasil não tinha um só gota de petróleo em se sub-solo.
Herman Kahn, porém,teve razão, não não nos seus
lagos, mas na importância estratégica, geopolítica e ambiental da Amazônia.
44
ARTIGO/INTERNACIONAL
HERMAN KAHN
UMA RELEITURA CONTEMPORÂNEA
Rodolfo Stonner
Engenheiro, professor e escritor.
O
s gerentes de projeto utilizam análise de risco e diversas outras ferramentas ao longo de seu processo
decisório. No fundo, buscamos inferências para identificar cenários futuros.
Aqui, fazemos uma releitura contemporânea de um futurólogo famoso, admirado por alguns, execrado por muitos.
Nascido em 15/fevereiro/1922, de família judaica, em
New Jersey, EUA, Herman Kahn foi um físico, matemático, escritor e estrategista militar. Trabalhou na RAND Corporation,
durante o desenvolvimento da bomba H. Gordo, com mais de
150 quilos, é descrito como tendo QI em torno de 200.
Fez diversas análises sobre as consequências de uma
guerra termonuclear, e era um estrategista muito respeitado nos Estados Unidos.
Exemplo disto é o fato de que manteve
contatos técnicos com todos os presidentes
americanos, de Truman a Reagan, portanto
colaborando indistintamente com democratas e republicanos.
Em 1967, juntamente com Robert Panero, sugeriu o projeto Grandes Lagos, passo inicial de uma internacionalização da
Amazônia. Este projeto conseguiu à época
o raro feito de unir a esquerda e o Governo
Militar na oposição ao projeto.
Herman Kahn morreu de infarto em
1983, no estado de New York. Autor do projeto Grandes Lagos.O futurólogo que uniu o
Brasil contra si.
O projeto Grandes Lagos despertou tal ojeriza popular, entre populares,
políticos e o meio acadêmico, que hoje
em dia é até difícil encontrar relatos e
descrições sobre o projeto na Internet.
Um dos poucos artigos encontrados foi “O INSTITUTO
INTERNACIONAL DA HILEIA AMAZÔNICA: MOINHO
COMBATIDO POR UM QUIXOTESCO BRASIL”, escrito por
Paulo Henrique Faria Nunes (http://goo.gl/xZ5f4W), na revista Estudos Jurídicos Ano II Número 1, 2009.
Em seu excelente artigo, Paulo Henrique já nos mostra
como a Amazônia sempre foi cobiçada internacionalmente.
No século XIX havia uma proposta de deportação de negros norte-americanos para
ocupar a Amazônia.
No que se refere ao projeto Grandes Lagos, Paulo Henrique nos lembra:
“O projeto, considerado neocolonialista e lesivo aos interesses nacionais pelo
Estado-maior das Forças Armadas, idealizava a construção de uma grande barragem no
rio Amazonas e um sistema supranacional
de barragens na América do Sul. A finalidade desse grande sistema hidrográfico era
criar uma imensa plataforma logística para
o desenvolvimento, favorecendo a navegabilidade, a produção de energia elétrica e a
irrigação de áreas destinadas à agricultura.”
Felizmente, o projeto não foi à frente.
PREVISÕES DE HERMAN KAHN
Em 1967, Herman Kahn publicou o livro: “O ano 2000: especulações para os próximos 33 anos”, livro que continha ao final
uma lista de 100 inovações tecnológicas muito prováveis, dentre as quais listamos algumas:
•
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•
Novos materiais estruturais de resistência extremamente elevada.
Novos tecidos de alto desempenho.
Previsões meteorológicas mais confiáveis de maior prazo.
Intensa expansão da agricultura tropical.
Novas fontes de energia para veículos terrestres.
Novas técnicas para controle de natalidade, baratas e confiáveis.
Capacidade de definir / alterar o sexo de crianças e adultos.
Sistema bancário automatizado, e em tempo real.
Uso intensivo de computadores pessoais.
Telefones celulares (usou o nome “personnal pagers”)
Computadores domésticos organizando o lar.
Extração comercial do óleo de xisto.
Trabalhou na criação da Bomba-H
45
PÁGINAS AZUIS
Marcos Garzon
“Um alerta para a crise da
água e do clima está aqui:
é despertar as instituições,
empresas e pessoas. Se nós
não transformamos, nós não
vamos sobreviver”.
Marcos Garzon é um misto de empreendedor de sucesso
no mercado imobiliário de Brasília. Advogado imobiliário, organizador de eventos (já realizou mais de mil para
o governo) publicitário, dono de revista, visionário e escritor de livros que se aprofundou nos segredos das mutações da natureza, com um toque místico e religioso. Já
escreveu 101 livros. Tem mais na cabeça.
A cidade-satélite de Samambaia não tinha nada, só casa
e prédios pequenos quando ele chegou lá, com faro de futuro. Previu ali um “boom” da grande cidade que é hoje.
Lançou o “Show de Morar” com seu talento para o marketing (ele também foi dono de agência de propaganda).”Você é
maluco, vai para Samambaia, sair do eixo Taguatinga-Ceilândia, nossas duas principais cidades?” - recriminavam-lhe.
Garzon foi, viu e venceu.
Vendeu o projeto para a Brooksfield, que a parceira de sua organização a MGarzon. Depois foram para o Gama. Aí o
sucesso foi ainda maior. Rendeu um troféu de lançamentos imobiliários para o “Show de Morar”. É hoje a única empresa
nacional imobiliária que tem o Prêmio Master (aliás, bicampeã em 2010 e 2011, juntamente com o lançamento DF Centrurs Plaza na cidade-satélite de Águas Claras, que também é da Brooksfield.
Vendedor exímio, já comercializou com sua equipe de corretores mais de 400 empreendimentos em Brasília. Mira agora
a inexplorada fronteira de enorme potencial que se descortina na Saída Norte de Brasília, uma espécie de patinho feio
da indústria imobiliária e de grandes empreendedores. Mais uma vez com visão de futuro lançou em Formosa, cidade
goiana a pouco mais de 100 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, lançou e construiu o resort Tal Mahal, sob a
motivação ambiental de estar situado dentro do “Berço das Águas”.
É sobre esse temática - água, mudança climática, mutações da natureza - que Marcos Garzon falou à PÁGINAS AZUIS.
46
PÁGINAS AZUIS
CARTA POLIS - Quando o Sr. começou a escrever seus livros?
MG - Na época em que comecei a escrever eu faturava mais
no Grupo Visão do que a Veja faturava em Brasília. Só que o
Maksoud (Henry Maksoud, proprietário da famosa revista dos
anos 70 e 80, com sede no Rio) perdeu tudo pela vaidade dele.
Eu dirigia 4 escritórios e 23 empresas. Era muita coisa e muita
gente envolvida.
uma frustração coletiva. Eles só ficam dizendo que precisam
até 2030 diminuir a emissão de gás carbônico.
CARA POLIS - E a partir daí, não parou mais de escrever sobre
esse tema?
MG - Você precisa ver, quando eu mergulho nos estudos eu
tenho que parar, porque eu começo a me sentir mal, fico com
uma ansiedade da impotência, eu escrevi o livro “Marketing da
Transformação para Sobrevivência”, em 2010.
CARTA POLIS - E aqui para o Sul do Hemisfério, os efeitos
também serão catastróficos?
MG - Sim. O degelo do Ártico joga mais água doce nos oceanos. Você tem a Corrente do Ártico que desce fria e vai para
baixo e se encontra com a Corrente do Golfo que sobe quente. Esse encontro forma um redemoinho que forma uma circulação de água no ar e que por sua vez que emana o calor
para cima. Coisa perfeita da natureza, mas esse círculo está
se quebrando. Outro círculo que está se quebrando é a Corrente do Pacifico. O grande cientista britânico Sir Gilbert
Walker, que estudou o fenômeno nos anos 20 e os demais
cientistas dizem que está perdendo força, Já perdeu mais de
15%. Então, você tem os lamaçais de tufas nas cidades, a Corrente de Golfo, a Corrente do Walker do Pacifico. Você tem
toda a interferência planetária e efeitos potencializados na
natureza em nível planetário.
CARTA POLIS - Essa inação mundial deixou o Sr. mobilizado
para escrever seus livros?
MG - Existe um “problemaço” no planeta, que não está tendo
nenhuma conversa. Sabe o que é a pior coisa que está acontecendo? São os lamaçais de turfa na Sibéria. Sabe o que é o laCARTA POLIS - O Sr. recebeu algum o sinal para dedicar-se maçal de turfas? Houve uma repentina era glacial no planeta,
ao estudos?
cobrindo florestas com neve e com vegetação de todos os tiMG - Uma certa vez, em 2008, fui ao mépos. Na Sibéria, os cientistas fizeram um
dico. Tive um surto e fiquei 18 dias dentro
levantamento em que o degelo fez aparede um quarto. Estudei demais tentando
cer a floresta e a vegetação. Só que, como
Existe um
exprimir minhas visões falando com as
ficou muito tempo soterrada virou lama.
“problemaço” no
pessoas mas sem conseguir. Meu médico
Daí os lamaçais das turfas da Sibéria.
me disse para que procurasse o AA. Perplaneta, que não
guntei o que era. Ele disse “Ambientalistas
CARTA POLIS - Traduza esse fenômeno,
está tendo nenhuma
Anônimos”, porque eu mergulhei muito,
em números.
conversa. Sabe o que
fiquei apreensivo, ai veio a angústia a afliMG - Os cientistas fizeram um levantação e essas coisas todas. Deus sabe o que
mento e calcularam que apenas em uma
é a pior coisa que está
fiz. Aí escrevi o “Tarde Demais?”.
parte na Sibéria existem emanações de
acontecendo? São os
“O que você faz aqui, a árvore que você
70 bilhões de toneladas de gás metano.
corta aqui, vai influenciar na Austrália,
O gás metano é 24 vezes mais potente do
lamaçais de turfa na
que é o continente que já está sofrendo em
que o dióxido de carbono. O que resulta
Sibéria. Sabe o que é
níveis extremos”
em 1 trilhão e 500 bilhões de toneladas
de dióxido de carbono indo para atmoso lamaçal de turfas?
CARTA POLIS - O Sr. teve estímulos para
fera. Trágico para o planeta. Trágico para
Houve uma repentina
escrever a respeito de tema tão pré-cono efeito estufa. O que acontece é você tem
ceituado no Brasil?
desmatamento com o aquecimento, mais
era glacial no planeta,
MG - Veja. Estava numa palestra num insdegelo, mais dessalinização das águas
cobrindo florestas com
tituto de engenharia sobre a questão amdos oceanos. Vai acontecendo um efeito
biental. Só havia PhD, professor da USP
em cascata, um induzindo o outro. Você
neve e com vegetação
só bambam. Perguntavam-me: “o Sr. é advê os cientistas chegaram à conclusão
de todos os tipos.
vogado que entende de meio ambiente?”.
que a Corrente do Golfo perdeu uma forPercebi que estavam me gozando. Tamça imensa, quase 50 por cento de perda.
bém percebi naquele tempo que o brasiQual a responsabilidade da Corrente do
leiro não acredita em brasileiro. Se fosse um alemão que viesse Golfo? Ela leva para Europa 1 bilhão de watts de energia. Logiaqui, todos acreditariam nele. Lá no instituto eles não conse- camente, a Corrente de Golfo aquecia a Europa porque leva o
guiam entender como que um cara tinha tanta informação!
calor de que precisam lá.
CARTA POLIS - Essa sua dedicação ao ambiente, começou
quando?
MG - Desde de Estocolmo, na Suécia, em 1972, quando houve
a primeira reunião de cúpula do meio ambiente, e depois disso,
nas 300 reuniões e seminários internacionais, todos os índices
ambientais pioraram. Não houve um só que tenha melhorado
nos vetores de influências econômicas e financeiras. Os presidentes não resolvem nada. Esta última cúpula ambiental que
houve no Peru agora, não resolveu absolutamente nada. Foi
47
PÁGINAS AZUIS
CARTA POLIS - Essa sua afirmação sobre os
efeitos potencializados resume toda a sua filosofia, não?
MG - Sim, acertou. O que são efeitos potencializados? O que você faz aqui, a árvore que
você corta aqui, vai influenciar na Austrália,
que é o continente que já está sofrendo em
níveis extremos. A chuva que antes caía na
Austrália pelas forças dos ventos estão caindo depois no mar.
“O que está acontecendo claramente é o que o sistema climático
da Amazônia. Ele interfere no resto do Brasil, na América do
Sul e no mundo”.
água e assim se tinha os reservatórios cheios. Mas, daí foram cortando as árvores. Menos água para cima, para a copa das árvores
altas. O vento agora recolhe menos água. Bate na Cordilheira dos
Andes e não tem forças pra vir para cá.
CARTA POLIS - Então chove mais na Amazônia e não mais
tanto no Sudeste?
MG - Não chove mais na Amazônia porque a carga de chuva
que vem pra cá é muito reduzida. Não vem mais e cai forte lá.
Causa enchentes há vários anos, que vai inundando o Acre,
Rondônia e aqueles rios da Amazônia. O que está acontecendo
no Sudeste é dramático; O Rio Paraopeba, que abastece Belo
Horizonte perdeu a sua principal nascente. O Rio São Francisco perdeu uma das grandes nascentes dele lá em Minas Gerais.
Agora é o Rio Paraíba do Sul que seca. Estão querendo fazer a
transposição do rio para jogá-lo em São Paulo. Não é solução.
O rio já está em uma região altamente necessitada e as indústrias já estão colocando dejetos químicos direto nos rios, matando os seus sistema circulatório e respiratório.
CARTA POLIS -Vamos descer para o Brasil. Quais são os efeitos
potencializados aqui?
MG - Veja o seguinte. No Brasil é só analisar: Só mentes infantis repassam a baboseira de que São Pedro não está abrindo as
torneiras do céus, por isso não está chovendo. Cabe aos homens
não a São Pedro! O que está acontecendo claramente é o que o
maior cientista brasileiro Antônio Nobre avaliava sobre o sistema climático da Amazônia. Ele interfere no resto do Brasil, na
América do Sul e no mundo! É o chamado pulmão do mundo.
Não interfere somente aqui. Antônio Nobre é claríssimo. Embora cientista importantíssimo não é bem avaliado pelos políticos, sabe por que? Porque é brasileiro.
CARTA POLIS - O Sr. considera-se um desses brasileiros injustiçados?
MG - Antes que todo mundo falasse, eu já estava falando
nisso, mas por ser brasileiro não dão valor. Não é por vaidade nem por dinheiro que escrevo e falo. É por preocupação.
Quero morrer pelo menos consciente de que eu lutei. Se não
consegui, tentei mudar a grave situação do Brasil.
CATA POLIS - E agora, o que o Sr. prega?
MG - A natureza está enfraquecida, daí perguntarmos: o que
está havendo? Você não está vendo que está nevando tanto nos
Estados Unidos? Tudo que está acontecendo no mundo está
nesse livro de 2008 (refere-se a seu livro “Tarde Demais?”).
Qual é a solução? A solução para a crise da água e do clima está
aqui: é despertar as instituições, empresas e pessoas. Se nós
não transformamos , nós não vamos sobreviver. Isso se chama:
conscientização.
CARTA POLIS - De prático a situação climática do Brasil influindo na falta de água e de energia, vai piorar?
MG - O que acontece em São Paulo, Rio e Minas e no Sudeste
vai se estender pelo país. O que acontece é o desmatamento da
Amazônia. Uma árvore daquelas antigas e grandonas tem o efeito
evapotranspiração com 1.000 litros de água por dia. Essa água é
acumulada em cima das grandes árvores. Vêm os ventos do Atlântico, recolhem as águas e vão para o Pacifico. Chegam à Cordilheira
dos Andes, batem nela e voltam. Com a força dos ventos, a quantidade de água era muito grande. Vinha a São Paulo que tinha a sua
conhecida garoa, miúda e persistente. Era muita água em cima de
São Paulo enchendo os mananciais. Os ventos batiam a traziam
CARTA POLIS - O Sr. não está sendo muito pessimista?
MG – Não. Juro que queria escrever o livro “Tarde Demais?”
sem ponto de interrogação. Sabe porque coloquei a interrogação? Para não tirar a esperança. Por força dessa esperança
me tornei profundamente religioso. Já tinha uma base religiosa, e depois eu disse: só Deus para ajudar. Tenho hoje
uma chácara em Brasília que é só para oração. E não vou parar por aí. Um último desabafo nessa entrevista: precisamos
de estadistas!
48
ECONOMIA
QUEM TEM MEDO
DE JOAQUIM LEVY?
Q
uem, no governo, poderá ser contra um ministro que luta para estabilizar as contas públicas
e pavimentar o caminho para uma nova era de
crescimento? No entanto, há muitos no governo que não
toleram o jeitão frio (no sentido de profissional), impassível e apolítico do ministro Joaquim Levy. O que ele fez
em Nova York foi restaurar a dignidade de um ministro
da Fazenda do Brasil. Superou o estilo de “ministro da
Fazenda companheiro”, meio prócer, meio equilibrista
no manuseio dos gastos públicos.
Por isso é tão rejeitado por uma parte o governo
Dilma engajado na mística de “governo gastador” o que
para eles, é sinônimo e “governo progressista”, ou “go-
verno desenvolvimentista”. Para eles, ainda, o oposto é
“governo neoliberal”, “governo privatizador”, “governo
antissocial”.
Levy procura tão-somente equilibrar as contas, restaurar a confiança do mercado e voltar a atrair investimentos privados produtivos para o país. Nada mais. Sua linguagem não é a de um comício permanente nem está engajado
numa disputa ideológica travada entre “nós” e “eles”.
Quer – se deixarem – arrumar as contas, aplicar corretamente o orçamento, não fazer criatividade contábil.
E sobretudo ser absolutamente transparente – aliás, a
principal marca que deixou em Nova York, entre os investidores.
49
ECONOMIA
PANE ELÉTRICA:
NENHUMA USINA DESDE 2002
N
ão há sequer uma obra de grande porte no setor
de energia iniciada e terminada nos governos
Lula e Dilma. A constatação é de um estudo do
especialista Alamir Longo, concluindo que o setor elétrico está em pane.
Aponta: das 23 maiores hidrelétricas em operação no
país, 20 foram obras dos governos militares, sendo que Itaipu é a segunda maior usina do mundo e Tucuruí a quinta,
ambas construídas naquele período. Das 23, a mais recente
das grandes em operação – a Hidrelétrica de Machadinho,
com 1 140 MW – foi construída de 1997 a 2002, no governo
FHC. Depois dela, nenhuma outra foi inaugurada.
A constatação de que o Brasil está entrando em colapso energético vem dos dados seguintes sobre as maiores hidrelétricas em funcionamento n o país que produzem mais de 1.000 megawatts:
Hidrelétrica de Itaipu, 14.000 MW – construída na década de 80.
Hidrelétrica de Tucuruí, 8.370 MW – construída na década de 80.
Hidrelétrica de Ilha Solteira, 3.444 MW, construída na década de 70.
Hidrelétrica do Xingó, 3.162 MW, iniciada em 82 e concluída em 1994.
Hidrelétrica de Paulo Afonso IV, 2.462 MW, concluída em 1979.
Hidrelétrica de Itumbiara, 2.082 MW, concluída em 1981.
Hidrelétrica de São Simão, 1.710 MW, concluída em 1978.
Hidrelétrica de Foz da Areia, 1.676 MW, concluída em 1979.
Hidrelétrica de Jupiá, 1.551 MW, concluída em 1974.
Hidrelétrica de Itaparica, 1.500 MW, início da obra em 79 e operação em 1988.
Hidrelétrica de Itá, 1.450 MW, início da obra em 96, término em 2000.
Hidrelétrica de Marimbondo, 1.440 MW, construída de 1971 a 77.
Hidrelétrica de Porto Primavera, 1.430 MW, construída entre 1980 e 88.
Hidrelétrica de Salto Santiago, 1.420 MW, entrada em operação, 1980.
Hidrelétrica de Água Vermelha, 1.392 MW, entrada em funcionamento 1979.
Hidrelétrica de Segredo, 1.260 MW, construída entre 1987 e 91.
Hidrelétrica de Salto Caxias, 1.240 MW, construída entre 1995 e 99.
Hidrelétrica de Furnas, 1.216 MW, inaugurada em 1963.
Hidrelétrica de Emborcação, 1.192 MW, início de operação em 1986.
Hidrelétrica de Machadinho,1 140 MW, construída de 1997 a 2002.
Hidrelétrica de Salto Osório, 1.078 MW, entrou em funcionamento em 1975.
Hidrelétrica Luiz Carlos Barreto, 1.050 MW, início de operação em 1969.
Hidrelétrica de Sobradinho, 1.050 MW, construída entre 1973 e 79.
Os leitores tirem suas conclusões.
50
ECONOMIA
MARANHÃO PERDE
REFINARIA, MAS
DINO FAZ LIMONADA
O
governador Flávio Dino, procura revolucionar a gestão
do governo do Maranhão e resolveu inovar. Criou a Secretaria de Minas e Energia com um espectro bastante
largo para um estado que tem reservas de gás, para as quais o
velho Maranhão jamais ligou.
Inseriu na secretaria nome um respeitado nacionalmente,
o ex-ministro dos Transportes José Reinaldo Tavares (governo Sarney), ex-presidente do DNOS (Departamento Nacional
e Obras e Saneamento, extinto), superintendente da Sudene,
governador do Maranhão e ex-secretário de Obras do Distrito
Federal. Um currículo extremamente ada e também político:
foi deputado federal em deputado federal de 1990 a 1994.
O Maranhão guarda riquezas no subsolo de suas plataformas terrestre e marítimas tais como petróleo, gás, ouro, titânio,
bauxita, rochas e areias especiais. Tudo isso jaz inexplorado.
Claro, não dava voto. E também dava trabalho, pois qualquer
política pública destinada ao incremento do setor mineral defronta-se com sério obstáculo: a ausência de estudos e diagnósticos que a orientem. Governos empíricos que dão preferência a
obras de fachada não cuidam disso.
O ministro Edison Lobão até que tentou. Determinou
que se iniciasse o levantamento, avaliação e diagnóstico das
principais cadeias produtivas da base mineral do Estado do
Maranhão, considerando as suas variáveis geológicas, eco-
nômicas e ambientais, bem como a definição de critérios de
sustentabilidade para o desenvolvimento dos empreendimentos minerais no Estado.
Em outra frente autorizou a ampliação dos estudos e prospecções da ocorrência de gás e petróleo em toda a costa maranhense, enquanto pavimentava o caminho para a viabilização
da construção, no Estado, da maior refinaria de petróleo do
Brasil. Só que a tal refinaria gorou. O então presidente Lula foi
com toda a pompa ao Maranhão lançar a pedra fundamental
do empreendimento da Petrobras. Lá estavam a governadora
Roseana Sarney e o senador Edison Lobão na foto. E o senador
José Sarney, claro.
Não foi para a frente. A Petrobras de Graça Foster cancelou a refinaria, como cancelou a do Ceará, no governo Dilma.
Chegou o governo Flavio Dino, que deseja empreender. Criou
a secretaria de Minas e Energia e lá instalou o ex-ministro José
Reinaldo, que tem portas abertas em Brasília. Técnicos de seu
tempo nos Transportes e DNOS ocupam hoje cargos estratégicos do governo no Secretaria de Portos.
Do limão, Dino quer fazer uma limonada. Não importa que a
Petrobras tenha cancelado a refinaria. Pode haver mil pequenos e
médios empreendimentos minerais a partir dessa planta inicial de
uma refinaria no Estado. Para tal, José Reinaldo foi chamado. Para
dar o ouro negro ao Maranhão que o clã Sarney não deu.
51
ÚLTIMO
S
NAR>>>>>
Álvaro Campos
NADA ACONTECEU
Uma entrevista de José Sergio Gabrielli à Folha de
S.Paulo, foi um primor de escapismo, perfeitamente adequada ao sistema legal brasil
eiro, leniente com a corrupção: 1)
a apuração dos malfeitos deve ser feita pela políc
ia, e não pela empresa; 2) todos os
denunciantes das delações premiadas estão exage
rando, sem provas ou estão encobrem seus interesses; 3) não há problema com indic
ações políticas para a diretoria da
estatal; 4) Os R$ 2OO milhões que Pedro Barusco
disse terem sido desviados para o
PT coincidem exatamente com o que o partido apuro
u com doações legais, mas uma
coisa nada tem a ver com a outra; 5) as refinarias
no Nordeste e mais a de Pasadena
se justificaram pelo aumento da demanda de comb
ustíveis na época; 6) ninguém foi
culpado pela aprovação da compra de Pasadena no
Conselho de Administração. Enfim,
nada aconteceu na Petrobras, é tudo invenção.
MINISTRO FALHA
O ministro Joaquim Levy não deveria ter baixado uma nota oficial para desmentir um boato (que o governo
sequestraria a poupança). Boato não se desmente. Aliás, não se desmente nada - professava o velho e sábio
general Golbery. O que Levy poderia ter feito é ir à próxima agência da Caixa e aberto uma conta de poupança
em seu nome. Só isso. Mataria o boato a pau.
ISTA
erá demolir seus
EDUARDO FRASCun
a frase bombástica por dia pod
um
de
na
roti
sua
ar
tinu
con
ha
o estamos lá
Se o deputado Eduardo
sso. Uma das recentes foi: “Nã
sar a reinar absoluto no Congre
pas
e
sma
are
atuação da Casa
Qu
da
es
ant
rios
adversá
não tem razão para reclamar da
ma
Dil
o
ern
gov
o
que
r
tua
pon
(na Câmara) para agradar” ao
nos últimos dias.
ALIADOS TENSOS
As conversas entre Lula e Dilma deveriam fluir através
de um ritmo de maior naturalidade, já que toda vez que
se encontram é sempre em ambiente de máxima tensão
e denotando crise aguda. Os dois falham nesse aspecto, ao demostrarem o vício do utilitarismo, pois um só
procura o outro na extrema necessidade. Poderiam ser
amigos e aliados, e basta.
CAIXA NERVOSA
O funcionalismo da Caixa Econômica Federal aguarda a posse da
nova presidente Miriam Belchior para confirmar se ela vai anunciar um pseudo-plano de abrir o capital. Caso confirme, seria
detonado um movimento nacional de protesto. Por enquanto,
a intenção não passa de intenções sinalizadas pelo Palácio do
Planalto.
52
PMDB DELIRA
Numa incursão entre cérebros do PMDB e torna-se visível constatar-se que o partido constrói um projeto de
poder de forma profissional, com extrema sagacidade. Projeto aliás em marcha. Já estão querendo saber as
medidas da faixa presidencial. Sem golpe, evidente.
A
PALAVRA EMPENHAD
não haja um negociador que repregidas à base governista pela Câmara caso
Muitas novas derrotas serão infli
empenhada em compromissos
a garantir aos paramentares a palavra
poss
que
e
alto
Plan
do
cio
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o
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sent
ro da Articulação José Múcio
assim são do governo Lula: os ex-minist
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vam neles. Depois, em ninm, acontecia. Os parlamentares acredita
etia
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ilha
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and
Alex
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teiro
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guém mais.
DILMA WHO?
Em pelo menos duas intervenções
na sua primeira entrevista - dada ao
Jornal Nacional - Aldemir Bendine
fez um esforço para desvincular da
presidente Dilma sua indicação para
presidir a Petrobras. Nas duas vezes
atribuiu sua nomeação ao Conselho
de Administração da empresa. Não
citou Dilma uma vez só.
SEM ESTRILO
O governador Flavio Dino não
vai pagar o precatório de R$ 100
milhões em favor da empreitei
Constam, ré escalonados pela
ra.
ex-governadora Roseana Sarney
em acordo, para serem pagos em
24 prestações. Foi iniciado um
processo criminal e já houve um
a liminar suspendendo o acordo
Não adianta a empreiteira estr
.
ilar.
53
ECONOMIA
RENAN E EDUARDO
DÃO CARTAS AOS
INDUSTRIAIS
O
Congresso Nacional começou março com as rédeas
do poder no país nas mãos. Imprime a velocidade
que quer à carruagem do Poder Legislativo e o Palácio do Planalto tem que obedecer.
Manda quem pode, obedece quem tem juízo – é o velho adágio da política brasileira de todos os tempos, válido
para civis ou militares. Civis e paulistas. Petistas e tucanos. Gregos e goianos. E quem pode hoje é a dupla Renan
Calheiros-Eduardo Cunha (ou não seria Eduardo Cunha-Renan Calheiros?) Eles formulam, combinam e executam.
Este é o PMDB no poder, acostumem-se. Nada a ver com
PT e ou PSDB. PMDB não perde tempo com firulas. Vão na
jugular o sistema do poder.
No último 27 de fevereiro, a dupla do poder tinha agendado um encontro na Confederação Nacional da Indústria
com industriais de todo o país para discutir uma agenda parlamentar de mútuo interesse com o empresariado. E como há
agenda a discutir! Código de Mineração para ser votado, leis
trabalhistas, tabela do Imposto de Renda, ajuste fiscal. Os industriais se interessam também pela reforma política uma vez
que incorpora o tipo de financiamento de campanhas políticas que terão pela frente, como doadores dos partidos.
Esse vinha sendo o papel da presidente Dilma: ouvir o
empresariado e tomar a iniciativa de propor a mudança da
legislação que garanta a maior produtividade industrial do
país e crie um ambiente de confiança.
Acaba sendo, todavia, Renan-Cunha o canal de diálogo com as classes produtoras, por exclusão do governo, por
fragilidades conjunturais do Palácio do Planalto, imerso em
suas crises entrecruzadas.
54
OPINIÃO
A PROPÓSITO DO DIA
DAS MULHERES, ESTAMOS
MELHORANDO O PADRÃO!
M
uitas palavras já se escreveram sobre o recém-comemorado Dia Internacional da Mulher e
me atrevo a colocar algumas mais.
Leio muitas estatísticas sobre a chamada discriminação da mulher no trabalho. Outro dia divulgou-se uma,
sobre a restrição ao acesso aos postos de direção das empresas, cargos públicos, partidos políticos e tudo o mais
que decide e manda.
Perdoem-me, leitoras. Vejo por outro ângulo. Vocês
repararam que temos duas ministras do Supremo Tribunal Federal, entre os 11 juízes? São ministras na Corte Suprema que fazem a diferença nos julgamentos, Carmen
Lucia e Rosa Weber. Integram 18% da Corte Suprema.
Queríamos o quê? Não corramos. Não apressemos o
caudaloso rio da igualdade.
Chega de afirmar: concorramos mais com os homens! Não! Preparemo-nos mais e melhor. Estudemos.
Especializemo-nos. Repararam quantas advogadas militam hoje em dia nos tribunais, fóruns e escritórios?
Quantas defensoras públicas por esse vasto interior
brasileiro dão guarida aos que não têm como pagar advogados?
Cito a nossa para: quantas jornalistas militam na mídia brasileira, reflexo de um fenômeno da imprensa mundial? Incontáveis profissionais.
Recorre-se sempre ao Congresso Nacional como pior
exemplo da chamada discriminação das mulheres. Não
vejo assim. A resposta
está na cultura política e
eleitoral retrógrada não
somente para as mulheres, mas também para
os homens.
Tem havido a cada
eleição um movimento
gradual de evolução das
cadeiras de mulheres
no Congresso. Elas se
Ellen Barbosa é diretora da
impõem pela diferença
POLIS.COM e da CARTA POLIS
e qualidade. Estão aí as
senadoras Ana Amélia, Gleisi Hoffmann, Lidice da Matta, simbolizando as
demais. Está aí a deputada Luíza Erundina. Todas, melhorando a representação feminina. Padrão constante de
melhoria representativa.
Aliás, parta mim não existe bancada feminina. Existe, sim, bancada de parlamentares brasileiros iguais e
compromissados para a melhoria do nível da política, que
anda deveras nivelado por baixo.
Sou contrária à departamentalização da ala feminina
dos partidos em “PMDB Mulher”, “PSDB Mulher” e assim por diante. Não seria ridículo se houvesse um “PMDB
Homem”?
Então retirem o ridículo de cima do gênero!
55
Política.
O que a mídia
não cobre,
a gente
descobre.
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