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www.cartapolis.com.br Nº 1047 - MARÇO/2015 | CIRCULAÇÃO NACIONAL | R$ 9,90 MERCADO COM LUPA NO PETROLÃO Romulo F. Federici disseca a crise da Petrobras no ensaio “O GOVERNO SANGRA, MAS O MERCADO AMPARA E OPOSIÇÃO VACILA”. Escreve ele: “Vivemos um momento absolutamente atípico, pois não se trata, apenas, de uma crise gerada por denúncias de corrupção. Com isso já estaríamos acostumados. Afinal, desde sempre, se cochicham histórias “cabeludas” sobre os fornecimentos e fornecedores da Petrobras”. CRISE POLÍTICA Congresso sente cheiro de queimado: CPI da Petrobras, votações para derrubar vetos de Dilma, orçamento impositivo aprovado; PT fora da mesa da Câmara e da Comissão da Reforma Política; bases governista, insatisfeitas, traições... CUNHA Impõe nova rotina política à Câmara e ao Congresso, e muda forma de Dilma governar, forçando o governo a negociar mais. E ainda indica líder do PMDB, presidentes da CPI da Petrobras e presidente da Reforma Política. DILMA Nunca um presidente esteve diante de um entrecruzar de tantas pressões políticas, judiciais e econômicas. Junte-se isso tudo o dilema da Petrobras diante da Operação Lava Jato. CAÇAS GRIPEN PÁGINAS A ZUIS MARCOS GARZ ON Escritor revela seus livros evcomo em iu todas as mudançapr s cl e sobretudo aimfaáticas, água que assola lta o país, fundamentado estudos e obse em seus os fenômenos rvações sobre que ocorrem no planeta, co o enchente secas, nevascm as e degelos.s, . Aquisição dos caças suecos pela FAB pode abrir ao Brasil as portas de um novo domínio industrial, a propriedade intelectual, que jamais foi ineria no conjunto de nossas prioridades estratégicas para o domínio da alta tecnologia militar. EDITORIAL OS CINQUENTA TONS DE CINZA DO SILÊNCIO Q uando no Brasil uma destas 50 entidades, instituições, organizações, poderes, grupos, indivíduos, blocos e aliados externos caem em silêncio, é hora de estar alerta! Não é o estado natural deles. Estão em transição. São os cinquenta tons de cinza do silêncio. SILÊNCIO TÁTICO - Mercado SILÊNCIO PRUDENTE -Militares SILÊNCIO OBSEQUIOSO - Igreja SILÊNCIO BUROCRÁTICO - Itamaraty SILÊNCIO COMPLEXADO - Petrobras SILÊNCIO NOS AUTOS - STF SILÊNCIO CAVERNOSO - Cunha SILÊNCIO COMPANHEIRO - Lula SILÊNCIO ATÁVICO - Renan SILÊNCIO PROFISSIONAL - Temer SILÊNCIO OBLÍQUO - Economistas SILÊNCIO ACADÊMICO - FHC SILÊNCIO CONSPIRATÓRIO - Base governista SILÊNCIO LAMENTÁVEL - OAB SILÊNCIO MARQUETEIRO - Dilma SILÊNCIO ESTRATÉGICO - Aécio SILÊNCIO REVANCHISTA - Centrais sindicais SILÊNCIO OPORTUNISTA - Obama SILÊNCIO INSIDIOSO - Cristina Kirschner SILÊNCIO REGULAMENTADO - Mídia SILÊNCIO RUIDOSO - Ruas SILÊNCIO PENSADO - Moro SILÊNCIO CRAVADO - Elites SILÊNCIO ADIPOSO - Banco do Brasil SILÊNCIO CAPCIOSO -Industriais SILÊNCIO IMEMORIAL - Bancos SILÊNCIO BOVINO - Agronegócio SILÊNCIO CONSENTIDO - Governadores SILÊNCIO FALIDO - Prefeitos SILÊNCIO MAGOADO - Sarney SILÊNCIO REVOLTADO - PT SILÊNCIO AMADURECIDO - Maduro SILÊNCIO MATREIRO - Marina SILÊNCIO PIDÃO - PMDB SILÊNCIO CONFORMADO - Levy SILÊNCIO IRÔNICO - Delfim SILÊNCIO GENEROSO - BNDES SILÊNCIO VINGATIVO - Barbosa (Joaquim) SILÊNCIO ADERENTE -Barbosa (Nelson) SILÊNCIO TRABALHADO - Janot SILÊNCIO DISTANTE - BRICS SILÊNCIO DÚBIO - Evo SILÊNCIO TRAVADO - PSB SILÊNCIO SISTÊMICO - PDT SILÊNCIO SÓCIO - PP SILÊNCIO INQUIETIO - Movimentos sociais SILÊNCIO AGRADECIDO - Advogados SILÊNCIO AGENDADO - Cardozo SILÉNCIO ANGUSTIADO - Empreiteiras NESTA EDIÇÃO 4 10 18 20 6 12 OS 10 MAIS DE DEZEMBRO NA POLÍTICA E NO PODER POLÍTICA ENCRUZILHADA DE DILMA COLUNA LEONARDO MOTA NETO MEMÓRIA EPOPÉIA DE TRANCEDO 8 14 CONGRESSO CHEIRO DE QUEIMADO SWING POLÍTICO 24 ARTIGO DEFESA CAÇAS GRIPEN CAPA ENSAIO POLÍTICO PETOBRAS, MERCADO, GOVERNO, OPOSIÇÃO SONAR ALBERTO CAEIRO 34 FÓRUM DAS MULHERES 36 POLIS CONFIDENCIAL 38 MAIS SONAR RICARDO REIS 52 ÚLTIMO SONAR ÁLVARO CAMPOS 40 GARNERO BASIL E CHINA 46 PÁGINAS AZUIS MACOS GARZON 55 OPINIÃO ELLEN BARBOSA EXPEDIENTE CARTA POLIS revista mensal de bastidores do poder em Brasília. Editor-responsável: Leonardo Mota Neto ([email protected]) Diretora: Ellen Rôse Aguiar Barbosa ([email protected]) Editora de Arte: Ana Ingrid Ruckschloss ([email protected]) Fotos: Divulgação e Internet Gerente Comercial: Ulysses C.B. Cava ([email protected]) 61-9975-6660 | 8103-4210 Diagramação e projeto gráfico: Gn1 Comunicação (www.gn1comunicacao.com.br) - 61 - 3542-7461. Redação, Comercial e Administração: SCN, Qd 1, Lote 50, Bl. E, Sala 512, Ed. Central Park, CEP: 70.711.903. Tel: 61 3201 1224 - CARTA POLIS é uma publicação da POLIS.COM; Todos os direitos reservados. *Os artigos assinados nesta edição são de responsabilidade de seus autores. CARTA POLIS não se responsabiliza pelos conceitos neles emitidos. BILHETE DO EDITORra- POLIS é regist Mais um avanço de CARTA ferência do nosso do neste número. Por pre publicitário, diricolaborador, o jornalista, gente sindical e editor-web Fernando Vasconcelos, o nosso anúncio institucional da quarta capa desta edição está veiculado pelo respeitável e tradicional ANUÁRIO DO PRÊMIO COLUNISTAS BRASILIA DE 2014 que anualmente registra o estado da arte da publicidade da Capital da República e circula por todo o mercado e agências do país. 10 OS POLÍTICA MAIS DE FEVEREIRO NA POLÍTICA E NO PODER Destaque do Mês Michel Temer C onserva-se com sua postura serena e colaborativa com a presidente Dilma Rousseff na Vice-Presidência da República, embora diante da sucessão de ebulições na área política. Como presidente nacional do PMDB licenciado, tem credenciais para agir frontalmente nas articulações, mas prefere uma atitude reservada para não ofuscar a presidente nem comprometer o equilíbrio de relações com o PT, partido com que partilha o poder. O comportamento leal e ético do vice, torna-se ainda mais relevante no momento em que o PMDB ocupa a presidência do Senado e da Câmara dos Deputados, o que dá margem a projetos de hegemonia do partido. No entanto, Michel Temer não se deixa envolver pelas questões internas nas duas casas do Congresso, reservando-se a ter opinião própria na reforma política. Como dirigente partidário, não se nega também a emitir a opinião de que o PMDB deverá ter candidato próprio a presidente da República em 2018. 4 POLÍTICA ARMANDO M. NETO JOAQUIM BARBOSA Está fazendo dentro do governo um contraponto às medidas de ajuste que visam retirar subsídios ao setor industrial para compensar a carga fiscal e à concorrência desleal de produtos estrangeiros que chegam mais baratos ao país. Embora aposentado do Supremo Tribunal Federal, continua exercendo influência sobre segmentos de opinião do país através das redes sociais como o Twitter, em postagens em que critica com contundência o comportamento do ministro da Justiça. RODRIGO JANOT MARIO GARNERO ALEXANDRE ABREU TEORI ZAVACKI ALDEMIR BENDINE MIRO TEIXEIRA RODRIGO MAIA JOAQUIM LEVY Tomou a iniciativa de procurar autoridades dos Estados Unidos para aperfeiçoamento do Ministério Público Federal no rastreamento dos recursos públicos desviados pela corrupção, e foi centro das atenções nacionais com a lista de políticos. Na Petrobras, como seu presidente, procura espaço de governança em que possa oferecer à sociedade respostas rápidas da recuperação financeira da empresa, segundo em seu primeiro teste de exposição pública, a entrevista ao Jornal Nacional. Presidente do Banco do Brasil mostra ter o discurso da continuidade administrativa ao lançar-se logo após a posse a iniciativas para manter o desempenho da instituição no mercado nacional, no qual concorre com os grandes agentes privados. Atua no eixo internacional junto às correntes mundiais de comércio com o Brasil, e agora tenta despertar a consciência do empresariado e do governo para a necessidade de darmos prioridade máxima ao nosso relacionamento com a China. Como deputado mais velho e o que mais mandatos exerceu na Câmara, abriu os trabalhos da nova legislatura, fez um ousado pronunciamento de exortação pela reforma política, na qual defende o fim do financiamento privado das campanhas. Depois de longo período coincidindo com o esvaziamento do DEM, volta ao topo da política nacional brilhantemente como presidente da Comissão Especial de Reforma Política da Câmara, por articulação de Eduardo Cunha. Tem tido ultimamente relevância com relator das denúncias criminais da Operação Lava Jato feitas pela Procuradoria-Geral da República de políticos protegidos por foro privilegiado. Avesso a mídia, conserva-se fora do perímetro de culto à personalidade. Volta a constar dessa galeria, depois de sua viagem aos Estados Unidos numa primeira aparição pública após a posse no Ministério da Fazenda, pontuando com uma exposição em Nova York, em que a transparência e clareza sobre os dados foram sua marca. (*) Esses nomes estão sendo apresentados por ordem alfabética. O critério da escolha foi uma consulta ao Conselho Editorial da CARTA POLIS. 5 A PRESIDENTE ENCRUZILHADA: NUNCA TANTAS ADVERSIDADES JUNTAS A presidente Dilma Rousseff está diante de uma encruzilhada. Não é novidade. Diversos presidentes na história se depararam com o mesmo sentimento de falta de chão. Provavelmente, Dilma reúna as mais desgastantes condições entre todos. Tudo conspira no momento contra ela: política, economia, mercados externos, justiça, aprovação interna, vida partidária. Os tempos – passado e presente – a desafiam, projetando uma sombra negra para o seu futuro. Não está somente nela a geratriz desse processo. Está no seu temperamento inquieto, no seu gênio áspero, na sua solidão consentida. O problema vem da própria concepção de um presidente frente ao sistema político-eleitoral de hoje, feito de trocas intensivas em um mercado de câmbio clandestino. Para poder governar, ela terá que intercambiar com a base governista no Congresso mais posições ainda de seu governo. Terá que entregar o segundo escalão aos partidos; retalhar as diretorias do Banco Brasil. O BNDES ela preservou de vir para o retalho, mantendo Luciano Coutinho. Será obrigada a comprometer a eficiência do governo (se é que tem eficiência) para atender ao jogo da sustentação do poder. Com essa invariável na vida dos presidentes brasileiros, Dilma tem que impor um mínimo de governabilidade. Aquilo que chamam governança, terá que arrancar de um ministério com titulares de nomes desconhecidos e procedências estranhas. Terá que confiar em Joaquim Levy, desconfiando, porque o PT estará unido aos movimentos sociais para clamar a revisão de tudo o que o ministro da Fazenda está providenciando nas contas públicas em nome do ajuste fiscal. São muitos os campos de batalha de Dilma. E ainda existe a batalha da comunicação que vem sendo perdida. Resistirá? Tem que resistir. É da natureza do processo resistir-se. O que precisa é de uma certa inteligência que harmonize, e não disperse. 6 A PRESIDENTE CUNHA IMPÕE MUDANÇA NA FORMA DE GOVERNAR A revisão ou flexibilização os direitos trabalhistas adquiridos desde 1932 na era Vargas, não será fácil para o governo Dilma, nem mesmo sob a égide do ajuste de contas públicas. O ministro Miguel Rossetto, após a conversa de Dilma com o presidente da CUT, disse que Dilma defendeu “com muita ênfase” as medidas de ajuste “para reintroduzir o país no caminho do crescimento econômico”. Quem concordará com esse apelo ou com a “ênfase”? O Congresso, tomado por uma onda de independência, após anos de submissão à vontade do Executivo, não será. A revisão dos direitos trabalhistas não será aprovada na íntegra, e nem mesmo o PT admite que não passará pelo crivo dos parlamentares. O problema é que o governo Dilma não fez ainda a parte mais grave no corte de despesas públicas, por exemplo, reduzir o número de ministérios, principal bandeira das ruas de junho de 2013 - e ainda espera que o Congresso assuma o ônus de aprovar um ajuste trabalhista impopular. Também espera que as centrais sindicais o apoiem no flexibilizar os direitos sociais como o seguro-desemprego. Portanto, espera que suas decisões sejam plebiscitárias – que todos aceitem sem contestação – no entendimento de que, após numa reeleição com 59 milhões de votos – Dilma empalma legitimidade para propor reformas estruturais com o apoio governista. A questão, porém, é que não existe mais força impositiva que dobre o Congresso. Existe sim, orçamento impositivo na nova era Cunha. A base governista se pulverizou em 594 vontades pessoais (513 deputados federais e 81 senadores). Ninguém é mais dono de ninguém. 7 CONGRESSO CHEIRO DE QUEIMADO: CONGRESSO IMOLA DILMA? D – se não tiver o político resolvido de nada adianta tranquilizar os mercados. Resolver o político é buscar o equilíbrio, o que Dilma não tem. Não adiantou obter 59 milhões de votos e não ter como compartilhá-los com uma base estável e segura. Não se trata de ministros qualificados ou não qualificados para a articulação política. Trata-se de ministros políticos que obtenham o respeito dos parlamentares e credibilidade ao assumirem compromissos selados pela presidente. Quando vão ao Congresso, os ministros parecem falar por si mesmos, medrosos, sem avançar um milímetro além do dever de casa. Expõem temor de errar ou pisar em falso para não serem desautorizados pelo Palácio do Planalto. Têm absoluto pavor de falarem com os jornalistas. Ninguém assegura que os acertos políticos que eles conduzem serão cumpridos. Enquanto isso, os verdadeiros profissionais do Congresso – como o deputado Eduardo Cunha – ocupam o cenário numa relação oposta à promovida pelo governo: tudo às claras, jogando franco, olhando no olho de cada parlamentar. ilma foi buscar conselhos com Lula em São Paulo e 39 ministros aguardaram as novas diretrizes. Onde está o centro do poder real? É uma questão que vive no cerne da autoridade presidencial, mas que não encontra resposta em nenhuma agente do poder. O Congresso sente o cheiro de queimado. O Congresso é altamente sensível para sentir o cheiro de queimado. Quando o sente, se autopolicia. Não acrescenta brasas às labaredas que crepitam. É uma autodefesa comum aos políticos: não se autoimolam como os budas ditosos. Nem querem imolar os outros, pelo menos, antes que esses, por fraqueza, cuidem de se imolar. Do outro lado da praça, o governo Dilma dá aparência de estar se estiolando sem rumo e sem norte. A biruta dos ventos rodopia intensamente e não se fixa numa só direção. O grande problema do governo hoje é o político. Pelo político perde o restante. Não é o da comunicação – se não tiver o político resolvido, de nada adianta ter boa imagem. Não é o econômico 8 POLÍTICA Sr. Gestor, não deixe o mosquito da Dengue se instalar na sua cidade. O mosquito da Dengue está mais perigoso. Agora ele transmite também a Chikungunya. Uma doença que, assim como a Dengue, provoca febre, dor de cabeça e dores muito mais fortes nas articulações, principalmente nos pulsos e tornozelos. Mais um motivo para você deixá-lo bem longe da sua cidade. Por isso: • • • • Reorganize a assistência à saúde nos diversos níveis de atenção; Reforce a vigilância em saúde (controle de vetores e monitoramento de casos); Promova a capacitação e a educação permanentes; Planeje ações de comunicação e mobilização para eliminar os criadouros do mosquito. Faça a sua parte. DENGUE E CHIKUNGUNYA O perigo aumentou. E a responsabilidade de todos também. 9 POLÍTICA COLUNA Leonardo Mota Neto GILES VOLTOU Para novamente abrigar Giles Azevedo em seu gabinete, Dilma Rousseff restaurou na estrutura palaciana um antigo cargo que há muito não era preenchido, o de secretário particular da presidente. O último presidente a nomear um foi José Sarney, através de seu genro, Jorge Murad. Entre as tarefas de Giles, uma é cuidar da agenda de Dilma com o empresariado. SARNEY MAGOADO TELEFONE TOCA? Sem mandato, mas morando em Brasília, José Sarney está mais do que amuado: o grau é magoadíssimo. Literato, com vários livros escritos, até hoje diz não entender da ingratidão humana. Queixa-se mais de Lula que de Dilma. A íntimos diz ter viabilizado Lula. E o que recebeu em troca? Até a reunião que mantiveram em São Paulo, os telefonemas de Lula à Dilma, e vice-versa, haviam escasseado. Esse é um termômetro que mantém a República estável. Quem sabe agora com o país entrando na normalidade em março, o telefone toque mais. ERENICE REAPARECE Logo na sua primeira semana de trabalho em seu gabinete no Ministério de Minas e Energia, o ministro Eduardo Braga recebeu a visita ilustre de uma ex-ministra da Casa Civil. Erenice Guerra chegou pelo elevador privativo, assomou à porta do gabinete, entrou e demorou-se duas horas com Braga. A agenda do ministro teve que ser empurrada para frente. A área de energia é da preferência de Erenice. NÚCLEO DESCONTENTE Ninguém na cúpula do governo está contente com o desempenho do núcleo duro da presidente. Eles são 6, e no total são 6 que “batem cabeça” sem saber exatamente o que fazerem. Tudo porque a presidente mantém um trato distanciado e é a única que sabe de tudo, enquanto os demais não sabem nada. 10 POLÍTICA THOMAS VOLTOU O ministro da Comunicação, Thomas Traumann, depois de um período meio afastado, voltou a ser requisitado a todo instante pela presidente. Na gangorra do poder, sua cotação subiu muito. Nem mais se menciona a hipótese de a área de publicidade da Secom passar ao Ministério das Comunicações. TEMER DISCRETO EDUARDO PAGA Uma postura e uma agenda discretíssimas agora ainda mais que antes, caracterizam o vice-presidente Michel Temer. Sua rotina diária no anexo do Palácio do Planalto tem sido magra em contatos externos. Mantém-se afastado da dupla Renan Calheiros e Eduardo Cunha. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não sabe que espaço a mais usar na casa para abrigar tantas comissões técnicas como paga de compromissos assumidos em sua campanha. São, até o momento, 22 comissões contra 12 do Senado, onde Renan Calheiros só tem 39 eleitores para cativar como paga de favores de campanha. CACIFE ALTO A boca pequena nos corredores do Senado sussurra que Renan Calheiros escalou uma mesa diretora com senadores de pouca experiência para poder exercer total influência sobre os rumos da casa, e assim ter controle absoluto da pauta de votações. Em contrapartida, aumentou consideravelmente seu cacife na negociação direta com o Palácio do Planalto. CARTA ESCONDIDA O momento em que as tensões entre Dilma Rousseff e Eduardo Cunha se normalizarão será sinalizado por um gesto da presidente: manobrar para que o dirigente da Câmara ocupe a presidência da República numa viagem dela ao exterior. Para tanto, isso precisaria fazer Michel Temer viajar também. É um custo alto, mas só depende dela. Será um trunfo na manga de Dilma no momento em que a tensão chegar ao próximo. Cunha, vaidoso, gostaria de enriquecer a biografia com uma passagem pela presidência, nem que por dois dias. 11 MEMÓRIA TANCREDO OITO PAÍSES ANTES DA POSSE QUE NÃO ACONTECEU Leonardo Mota Neto Editor-geral da CARTA POLIS, acompanhou a viagem do presidente eleito Tancredo Neves pelo “Correio Brraziliense”. H á 30 anos, março de 1985. A viagem começou tensa uma curta descida para reabastecimento do avião em Lima, no Peru, com destino à Itália, primeira escala da viagem. Dr. Tancredo (vou chamá-lo aqui sempre de Dr. Tancredo, como nós, jornalistas, o chamávamos) desembarcou em plena madrugada, de sobretudo para ter um rápido “rendez-vous” na sala VIP com o presidente peruano. Ao descer as escadas, voltou-se para um pequeno grupo onde eu estava, e brincando nos disse: - “Ih, estou com morrendo de medo dos tupamaros...” Era o movimento insurrecional peruano, aquele mesmo que décadas mais tarde seria esmagado por Albero Fujimoru, no trucidamento coletivo na Embaixada do Japão. Subimos de novo além-Andes e na Itália estava previsto uma ida ao Palácio Quirinal para conversar com o primeiro-ministro, Giulio Andreotti. O que interessava mesmo ao católico de São João del Rey, era a visita ao Vaticano no dia seguinte para receber a bênção de João Paulo II para levar o Brasil ao seu prometido destino. Foi um dia engalanado para o casal Tancredo – Risoleta, e para sua comitiva em que pontuava o jovem secretario presidencial, Aécio Neves, que tratávamos de Aecinho. A França não estava no roteiro. Havia gerado protestos do Palácio do Eliseu ocupado por François Mitterand. Logo ele, um socialista que desejava conhecer o presidente que vencera o candidato do regime militar no colégio eleitoral. A diplomacia francesa - que desde Talleyrand não é para brincadeira - tanto fez que Dr. Tancredo, hospedado no vetusto Hotel Excelsior, na Via Veneto, afinal concordou em dar um pulo na França, de apenas algumas horas. Soubemos depois por Mauro Salles - que fazia as vezes de porta-voz - que a curta viagem foi terminantemente proibida pelos médicos. Mas, França é França e tem os seus mistérios. O jato militar da Força Aérea Francesa foi buscar o presidente eleito e sua reduzida comitiva em Roma para conduzi-los à cidadezinha do sul francês, onde o casal François-Danielle mantinha sua casa de campo. Foi uma visita encantadora em charme e atenções especiais dos anfitriões - relatou-nos Mauro mais tarde. Bem mais tarde mesmo, pois era mais de meia noite que Dr. Tacredo chegou ao hotel da encantadora aventura, sem demonstrar o mínimo de fadiga. Mauro Salles se permitiu nos revelar uma passagem da conversa dos dois presidentes (nenhum jornalista o acompanhou). Quando Danielle Mitterand perguntou-lhe como eram as praias brasileiras, se eram de água fria ou quente e que cor tinham, revelando enorme curiosidade para conhecê-las um dia, Dr. Tancredo com seu jeito sedutor, respondeu à primeira-dama: -”Nossas praias têm a cor de seus olhos.” Lisboa, próxima parada. O primeiro-ministro, Mario Soares, amigo de tantos amigos no Brasil, fez da visita acontecimento sem par. Para coroar esse espírito festivo, Dr.Tancredo foi de trem à Coimbra receber homenagem reservada a hóspedes lusitanos de cepa rara: o título de Doutor Honoris Causa. Mais uma vez os médicos tiveram que intervir: não é que a Espanha, enciumada com a presença em Portugal de tão ilustre presidente eleito, reclamara através da diplomacia do rei Juan Carlos II uma rápida ida a Madri? A despeito dos médicos, Dr.Tancredo embarcou no jato da Força Aérea Espanhola, que foi buscá-lo especialmente para ir jantar no Palácio Zarzuela com o casal real, Juan Carlos II e Sofia. Desta vez, ao contrário do que ocorrera na Itália em relação à França - conseguimos uma vaga no avião - apenas uma - para que um de nós fosse à Madrid e relatasse aos demais a conversa real. Reunimo-nos - éramos mais de 60, contando com os correspondentes na Europa - na sala de imprensa do Hotel Ritz, onde a comitiva se albergara - e votamos democraticamente (foi secreto) no Mauro Santayana, que havia sido diretor da Casa do Brasil na Espanha. Dr. Tancredo voltou a Lisboa às duas da manhã, alimentado e feliz. 12 MEMÓRIA Washington. D.C Abaixo de zero, exigindo dos acompanhantes e médicos cuidados especiais com o presidente eleito, mas não sabíamos então de nada mais profundo sobre a saúde dele. Instalados no hotel, o embaixador brasileiro, Sérgio Corrêa da Costa, foi apanhar de limusine Dr. Tancredo e Dona Risoleta para um jantar reservado na embaixada naquele sábado. Era o “briefing” para a recepção na Casa Branca - ponto mais alto de todo o “tour” presidencial - na segunda-feira próxima. Fazia muito menos de zero grau quando o carro encostou na portaria. Os que permaneceram de plantão no hotel para documentar a saída e a volta, sentiram naquela noite a primeira sensação de que havia algo estranho com a saúde. Desde a chegada de Lisboa, passara o dia encerrado na suíte presidencial. Mauro Salles desceu e veio nos dizer que o presidente eleito estava apenas com uma forte gripe, mas que confirmara o jantar na embaixada. Foi assim que ele, Dona Risoleta e uma risonha comitiva desceram do elevador para tomar a Limusine. Encasacado e com um “écharpe” enrolada no pescoço que lhe cobria quase todo o rosto, não deixou de nos cumprimentar e se dirigiu especialmente e com carinho ao repórter político Paulo Branco da “Tribuna da Imprensa do Rio, e cobrar-lhe: - “Meu filho, você não está com frio? Está sem cachecol, sem suéter, só com paletó”. - “Obrigado presidente, mas eu não vou ir do hotel e aqui está com uma ótima calefação” - respondeu Paulo. - “Não senhor. Vá jantar num bom restaurante com seus colegas, não me espere que vou demorar muito...” Voltando-se para sua mulher: - “Risoleta, faça o favor de subir à nossa suíte. Na minha mala há um suéter reserva bem quentinha. Traga aqui para o Paulo Branco.” Decorreram uns dez minutos. O embaixador, impaciente, pensando certamente na mesa posta e com os demais convidados, todos da “intelligentzia” diplomática em Washington. Por fim, Dona Risoleta desceu com um suéter quentinho. Paulo o vestiu e só aí Dr. Tancredo e sua comitiva foram cumprir a agenda. Voltou sorridente e afável às duas da madrugada. Não fomos jantar fora. Com as duas faces rosadas, jeitão de “cowboy”, o presidente Ronald Reagan recebeu Tancredo Neves na Casa Branca com simpatia acima do tom habitual para países abaixo do Rio Grande. Senão a diplomacia, pelo menos os jornalistas lograram uma vitória: uma introdutora do cerimonial veio nos prevenir que estava limitado a 10 o número de jornalistas brasileiros que poderiam entrar no Salão Oval para documentar o encontro e fazer perguntas a ambos - a quantidade delas seria ditada pela boa vontade - como é a praxe. Que tirássemos os nomes em sorteio. Fomos falar com Mauro Salles. Éramos 60. Cito entre eles, homenageando os demais, Ana Amélia Lemos, que representava a “Zero Hora”. Não poderíamos voltar para o Brasil sem provar o “crème de la crème “. Mauro nada nos disse em resposta. Com passos lépidos, procurou o secretário de Imprensa de Reagan. Argumentou que era a redemocratização brasileira que chegava a Washing- 2 1 João Fotos de Tancredo com: 1 - Papa Paulo II; 2 - Felipe Gonzalez ton 60 testemunhas enviadas pelas principais organizações da mídia. O secretário cedeu. Rompeu um tabu secular e assim todos entraram. Três dos nossos, fizeram perguntado a Reagan enquanto três colegas americanos, a Dr.Tancredo. A boa vontade imperou. Chegamos ao México, penúltima etapa. Dr. Tancredo concedeu sua primeira e última entrevista coletiva em toda a viagem. Não abordou a preocupação geral com sua saúde, mas observei que ele não retirava a mão do abdômen. Quando lhe fiz minha pergunta, por sorte me tratou pelo nome, o que era raro, pois chamava todos de “simpatia”. Matreiramente, usava um termo carinhoso para todos, temendo esquecer o nome de alguém. Chegamos, por fim, a Buenos Aires, última escala. A saúde do presidente eleito continuava estacionária, e aparentemente estava recuperado da gripe rumo à posse dali à dias. Sabíamos que dali por diante, ao chegar de volta ao Rio, iria rarear nosso contato com aquele político carinhoso e acessível que costumava morder a ponta da gravata para simbolizar que estava contrariado com alguma coisa. Organizamos uma despedida para o presidente eleito e Dona Risoleta. Fizemos um rateio para comprar bolo e champanhe. A festa era nossa. Combinamos com Mauro Salles trazer o homenageado quando tivéssemos feito um semicírculo. Mauro nos impôs a condição que fosse rápida - e me disse que o presidente estava rouco. (Sabia ele de mais alguma coisa a respeito da saúde dele?) Mais uma vez votamos democraticamente para escolher um porta-voz do grupo, e recaiu num jornalista eloquente, o baiano Carlos Henrique de Almeida Santos, que cobria a viagem pelo SBT. Filho de um deputado federal, Almeida Santos, que havia sido colega na Câmara de Dr.Tancredo. Este, emocionado, respondeu com seu discurso de esperança antes de una posse que nunca aconteceu. - Ronald Reagan; Mitterrand; 5 - Raul Alfosin; 6 Neves. Aécio 3 - Belaunde Terry; 4 - Francois Neto o Com 8 nha; Espa da 7 - Dona Risoleta e os Reis - Rio de Janeiro. rica com apoio de Léo Ladeira (*) Pesquisa de imagens e histó 13 SWING POLÍTICO MACIEL EVITOU TOMAR GOLE DE CACHAÇA PARA TIRAR O MEDO NA HORA DE MAIOR PERIGO O jornalista José Augusto Freitas era assessor do então deputado Marco Maciel, quando foi candidato a senador em Pernambuco. A campanha estava acirrada. Maciel tinha adversários renhidos. Mas, o ético e honrado parlamentar jamais deixou de lado seu estilo: fez inteira, como se tivesse saindo do banho, empertigado e com roupa imaculada. Houve um episódio, porém, em que Marco Maciel quase fez uma concessão à vulgaridade tomando um gole de cachaça. Aconteceu quando o pequeno bimotor em que viajavam de Brasília para Recife num fim de semana, embandeirou um dos motores perto de chegar ao aeroporto de Guararapes. A bordo, um aflito Maciel, sentindo os arrancos do avião com um só motor e perdendo atitude, começou a rezar fervorosamente. Augusto, irreverente, disse-lhe: - “Deputado, um dos doadores da campanha é a Cachaça Pitu. Trouxe comigo uma garrafa de emergência para tirar o medo.” O jornalista, também amedrontado, serviu-se de uma lapada. Ainda juntou outro argumento: - “Pode ficar tranquilo que essa cachaça é especial e não deixa bafo. Ninguém no aeroporto vai perceber que o senhor bebeu.” Maciel, lívido, resistiu ao apelo da Pitu. Somente rezou. O bimotor finalmente aterrissou como uma pato manco. No toalete, lavando o rosto para encarar seus eleitores, Maciel desabafou: - Não poderei dizer a meu patrocinador que nem num momento de perigo de vida experimentei o seu produto... SENADOR QUE SALVOU CONGRESSO DE INTERVENÇÃO MILITAR DAVA UM REINO POR UM PAR DE SAPATOS ITALIANOS No quesito de adoração de políticos por sapatos italianos, um outro foi Petrônio Portella, o senador piauiense, ministro da Justiça de Figueiredo que negociou a lei da anistia. Antes, no governo Geisel, como presidente do Congresso Nacional, contribuiu com seu prestígio pessoal para evitar uma crise político-militar de proporções incalculáveis àquela época dura ao atravessar a Praça dos Três Poderes para acalmar os chefes militares que pregavam a cassação de dois parlamentares - o senador Leite Chaves e o deputado Marcelo Gatto - que haviam feito discursos considerados ofensivos ao Exército. Petrônio salvou os dois. Mas, Petrônio gostava mesmo era de sapatos italianos. No Natal de 1981, seu último em vida, recebeu em sua mansão na Península dos Ministros, um grupo pequeno de familiares e amigos, en- tre esses, o único parlamentar, o deputado Paes Landim, seu conterrâneo. Com um pacote finamente embalado debaixo do braço, Landim adentrou a sala e Petrônio ficou ansioso por saber o que era o presente. Chama Landim: - “Vamos ali no meu quatro, pois já estou até adivinhando o que é.” Claro, era o esperado par de sapatos italianos Mais um para sua imensa coleção. Petrônio, feito criança, tirou o par de sapatos que estava usando e experimentou o novo. Calçou como uma luva. Sorridente, feliz mesmo, voltou à sala e mostrou seus novos sapatos a todos, agradecendo Landim: - “Foi meu melhor presente de Natal, seu doutor!” . 14 SWING POLÍTICO GRANDE POLÍTICO EVITA SEGUIR PARA BRASÍLIA E PREFERE COMPRAR SAPATOS EM SÃO PAULO O professor João Di Gênio, dono do Colégio Objetivo e que marcou época em Brasília com sua mansão no Park Way (chamada Mansão das Palmeiras) – onde recebia o mais alto círculo do poder – era a companhia constante do senador Antônio Carlos Magalhães. Detalhe: Di Gênio, além de riquíssimo, era (e é) absolutamente discreto, uma razão a mais do grande político baiano confiar-lhe seus segredos. ACM o deferia e ainda mais por que o professor colocava à disposição seu jatinho de última fornada do fabricante. Di Gênio ia buscá-lo em Salvador todas as segundas e lavava de volta às sextas. Detalhe: os dois adoravam colecionar sapatos, o que, aliás, não é um fetiche incomum a políticos. Numa dessas viagens a bordo do jatinho, ACM conversava alegremente com professor sobre esse culto a uma das mais finos produtos da Itália. Foi quando o senador concebeu uma ideia repentina, daquelas que só se pode externar a um amigo milionário: -” Que tal se em vez de Brasília, fossemos agora a São Paulo comprar sapatos na Daslu?” Di Gênio foi consultar o piloto sobre a possibilidade de mudança do plano de voo. Podia. E assim foram os dois ver a última coleção de sapatos italianos na famosa butique da Madame Tranchesi. ERRAR UMA VEZ EM POLÍTICA É FALHA GRAVE, DUAS É SUICÍDIO, ENSINAVA MAGALHÃES O livro do senador Cristóvam Buarque - “O Erro do Sucesso” - tendo na capa a palavra ERRO grafada com seus dois “RR” ao contrário - lembra uma história do então candidato a senador por Minas em 1970, José de Magalhães Pinto. Concorria pela Arena. Seu adversário era um médico, Roberto Rezende, que havia sido derrotado por Israel Pinheiro nas eleições para governador de 1965. Rezende espalhou em toda Belo Horizonte um cartaz de rua reproduzindo sua jovem e sorridente estampa com suas iniciais, RR. Não deu outra. Magalhães, com seu iluminado instinto para a oportunidade, mandou espalhar um contra-torpedo em toda Belo Horizonte: - “Não votem em Roberto Rezende. Não ERRE duas vezes...” 15 SWING POLÍTICO EDUARDO CUNHA IMITA ACM E PRENDE DEPUTADOS MAIS UM DIA EM BRASILIA CONTRA MÁ VONTADE GERAL Eduardo Cunha chegou à Presidência da Câmara com tudo após uma estonteante vitória para cumprir todas as promessas de campanha. Uma delas é com a responsabilidade do mandato parlamentar. Chega de deputado ser um turista com mandato e regalias, permanecer em Brasília apenas dois dias, assinar a presença (agora com o dedo no sistema eletrônico), votar nas noites de quarta e ir embora para seu estado. O deputado tornou-se um transeunte de aeroporto. Solução inicial adotada por Cunha: marcar sessões nas manhãs de quinta-feira, para que o parlamentar passe mais um dia em Brasília, cumprindo sua obrigação com o eleitor. Lembra Antônio Carlos Magalhães, que foi ainda mais radical ao presidir o Senado: marcou sessões para as manhãs de sexta-feira. Os senadores compareciam, graças à enorme autoridade de ACM, além de sua força física que aterrorizava a todos. Eduardo Cunha não ameaça ninguém com força marcial. Apenas impõe sua agenda de campanha mesmo que signifique ao deputado federal gastar mais um dia em Brasília. APARECIDO MANDOU RECUPERAR ÁREA VERDE DO LAGO PARA CONSTRUIR CICLOVIA, MAS SUA BICICLETA NÃO ANDOU com uma liminar aqui, outra ali, minaram a invasão do Estado em áreas nobres. A ciclovia foi interrompida, o mato voltou a fechar as pistas e voltou tudo ao que era antes: um festival de privilégios de uns poucos na área verde de todos. Os invasores de áreas públicas em Brasília não se limitam aos terrenos da periferia. O elegante Lago Sul, onde a elite se concentra, conta inúmeros casos de áreas verdes que margeiam o lago invadidas pelas elegantes mansões. A lei pétrea da urbanização da capital assegura acesso a toda a população. O governador Aparecido, epígono apaixonado das escalas urbanas de Lúcio Costa, não se conformava com as invasões de luxo. Um dia, mandou os órgãos competentes de fiscalização de seu governo agirem com rigor, a despeito de conselhos para não mexer nesse vespeiro, por causa dos VIPs. A ordem foi peremptória, bem ao estilo do Zé: derrubar cercas vivas, cercados de arame, árvores e até os cais para barcos que haviam sido instalados nas áreas verdes. E construir uma ciclovia ao longo de toda a orla do lago para que os brasilienses pudessem pedalar por aquelas magníficas paragens. Bem. Tudo foi feito conforme a ordem do governador. Tratores juntarem-se numa clareira junto à Ponte Costa e Silva para dar a largada à grande derrubada. Foi feita a vontade de Aparecido, que interpretava a vontade da comunidade. Uma pista de ciclovia abriu-se nos quintais da elite, que eram os quintais do povo, na verdade. Havia sido cumprida a profecia de Oscar Niemeyer de uma Brasília socialista? Qual? Os VIPs começaram a procurar os desembargadores de plantão e 16 SWING POLÍTICO HERÁCLITO CRIOU O PIANTELINHA NO SENADO PARA ALMOÇOS NO GABINETE E AGORA NA CÂMARA PENSA INOVAR Heráclito Fortes, uma das línguas mais viperinas do Congresso Nacional, um dos mais ilustres políticos brasileiros dos últimos 30 anos, voltou à Câmara dos Deputados e nos primeiros dias já disse a que veio: para o novo mandato parlamentar pelo PSB do Piauí. Supersticioso, cumpriu o mesmo ritual do começo dos seus mandatos: entra sozinho no novo gabinete, sem a companhia de qualquer assessor. Desta vez, entrou sozinho no gabinete 823 do Anexo IV. Senta-se na poltrona do gabinete, faz uma longa meditação sobre os rumos de sua atuação e somente depois começa a chamar os assessores. Quando senador, agiu exatamente assim. Inovou, seu gabinete na Ala Afonso Arinos era espaçoso mas, assim mesmo fez chegar à presidência do Senado um pedido especial para aumentá-lo. Queria uma mesa ampla para refeições. Assim foi feita sua vontade. Por se tratar de uma pequena obra de engenharia. Oscar Niemeyer foi consultado para dar permissão ao “puxadinho” de Heráclito e desenhá-lo. Batizado de Piantelinha, o “restaurante” de Heráclito ficou era famoso por estar sempre lotado de comensais para degustar os acepipes encomendados dos melhores restaurantes de Brasília, para começar, o Piantela. Pagos pelo próprio bolso do senador, é claro. Ao terminar o mandato de senador, o gabinete passou ao senador pernambucano Armando Monteiro Neto, que não continuou a tradição. Fez da sala de refeições uma biblioteca. Seu suplente, Douglas Cintra, efetivado, também não é do time do Piantelinha. Foi o fim de uma época. Mas, Heráclito certamente iniciará outra era na Câmara de Eduardo Cunha. 17 ARTIGO/DEFESA CAÇAS SUECOS FORTALECEM PROPRIEDADE INTELECTUAL Benny Spiewak Advogado, sócio responsável pelas áreas de Defesa, Propriedade Intelectual, Life Sciences e Tecnologia do escritório ZCBS – Zancaner Costa, Bastos e Spiewak Advogados, A escolha pelos caças suecos F-X2 ratificam a importância da propriedade intelectual para o Brasil e a relevância dos direitos intangíveis na tomada de decisões altamente estratégicas no segmento de tecnologia nas áreas de Defesa. A aquisição de 36 aeronaves de combate, ao custo estimado de US$ 4,5 bilhões, objetiva substituir as atuais aeronaves francesas Mirage 2000C. Com a aquisição anunciada no último dia18 de dezembro pelo Ministro Celso Amorim e amplamente co- memorada pela Força Aérea Brasileira, o Brasil antecipa adquirir tecnologia e conhecimentos únicos, os quais, uma vez bem incorporados, permitirão com que o país potencialize sua capacidade intelectual e de reprodução de tecnologia. Mais do que modernizar a frota nacional de aeronaves de defesa, a decisão destaca a maturidade governamental relacionada à transferência de tecnologia. A partir da negociação, a qual poderá se estender por mais um ano, estará garantido transferência absoluta 18 ARTIGO/DEFESA de todos os sistemas de operação da aeronave, incluindo sistemas computacionais de comando de armamentos, os quais poderão ser incorporados a outros itens defesa atualmente já em processamento e produção nacional, como mísseis de defesa e componentes de artilharia. Mais do que uma aquisição de aeronaves, o Brasil, com o anúncio, adquire a capacidade de galgar incontáveis níveis na escala de detentores de conhecimentos tão estratégicos. Sem a aquisição, o processo de aprendizado e de maturação levaria dezenas de anos, com chances relativas de sucesso. O ganho para o Brasil e, especialmente, para o parque industrial e tecnológico nacional é incalculável. A medida, então, celebra a importância da propriedade intelectual, que está intimamente relacionada aos itens que serão objeto da interação Brasil-Suécia. Com o aprendizado, itens de elevado valor tecnológico serão desenvolvidos pelo país. Tais elementos, na medida em que agreguem inovação real, serão protegidos pelo Sistema da Propriedade Intelectual, seja através do emprego de patente, designs ou, ainda, através do mecanismo de proteção aos segredos industriais. Essa proteção resultará na habilidade de o Brasil licenciar ou comercializar esse conhecimento, o que permitirá a recuperação dos investimentos na aquisição inicial dessa tecnologia. O Sistema da Propriedade Intelectual, bem como o entendimento do país sobre o tema, sai fortalecido desse processo, na medida em que valoriza sobremaneira o in- vestimento sueco em pesquisa e desenvolvimento, bem como a estratégica importância dos ativos intangíveis. Sobretudo, tal aquisição, amadurecida ao longo de quase uma década, demonstra que operações estratégicas internacionais considerarão o Sistema da Propriedade Intelectual como fator decisivo. YANAR, PRIMEIRA COMANDANTE Pela primeira vez em sua história, o Exército nomeou uma mulher comandante de uma Organização Militar Operacional. A pioneira é a major Yamar Eiras Baptista, que assumiu o comando do Hospital de Campanha “Hospital Oswaldo Cruz”, no Rio de Janeiro. A Base de Apoio Logístico do Exército realizou, em 5 de fevereiro último, a solenidade de passagem de Comando. 19 S NAR>>>>> Alberto Caeiro MANDATO CARO O custo de uma eleição para deputado federal nas últimas eleições foi em média R$ 10 milhões. Em 2010, a média havia sido de R$ 5 milhões. Prevê-se que em 2018 só quem gaste R$ 15 milhões tenha condições de ser eleito para a Câmara. Para governador o gasto médio foi maior: só quem gastou R$ 200 milhões se elegeu. Um ou outro governador, devido a sua popularidade, elegeu-se com menos. SONHO MEU O custo da eleição para deputado federal, a depender do rumo da reforma política que será apreciada pela Comissão Especial da Câmara, poderá ser enormemente barateado caso seja aprovado este mix: 1) financiamento apenas público de campanhas; 2) voto distrital misto e 3) final do regime de coligações proporcionais. É o sonho de todo democrata e de todo candidato sem posses. Portanto, irrealizável. TODO PRESTÍGIO Se há um visitante do Palácio do Planalto off-go verno que é recebido na hora que chega pela presidente Dilma, este é o advogado Sigmaringa Seixas. Atribuído de missões informais que e são passadas diretamente por ela, “Sig” é uma ponte mais do que segura entre o gover no e a alta magistratura. A assessora na escolha do futuro ministro do STF. DIRCEU PRÁTICO A razão pela qual José Dirceu deixou o escritório de advocacia do advogado José Gerardo Grossi para ir se instalar na banca do advogado Hélio Madalena é essencialmente prática: no primeiro, era um mero empregado quer precisava de um lugar para trabalhar no regime semiaberto. No segundo, é dono, pois Madalena é seu antigo sócio. 20 ADVERSÁRIOS RELATIVOS São dois os políticos maranhenses queixosos do tratamento recebido da presidente Dilma, embora sintam-se credores de muitos favores que lhe foram prestados em votações estratégicas no Senado. José Sarney e Edison Lobão associaram-se ao clube dos magoados com Dilma, embora não sejam de romper, em absoluto. PELO TELEFONE Foi peremptória a ordem dada por Dilma ao ministro José Eduardo Cardozo, durante uma rápida ligação telefônica: “Acabe com istio”. Referia-se à Via Crucis dos empreiteiros presos em Curitiba por despachos do juiz Sergio Moro, com base na delações premiadas que estendem indefinidamente o suplício desses doadores de campanhas eleitorais na prisão. CORRUPÇÃO EXPLICADA Existe uma nova ideia formada no governo de que os atrasos nas grandes obras implicando superfaturamento, deve-se menos à corrupção do que à ineficiência dos órgãos governamentais de executarem projetos competentes. Quando a construtora denota o erro do projeto, a obra já está avançada. Nesse ponto o projeto é revisto, mas o atraso e um novo orçamento são inevitáveis. REDES HOSTIS Nas redes sociais, os petistas são os que mais bradam pelo impeachment da presidenta Dilma ao defenderem posições extremadas ora das centras sindicais revoltadas com o ajuste fiscal ora de companheiros dos presos do mensalão ora de companheiros ameaçados do petrolão ora das posições de Lula como candidato a presidente em 2018. PELA MADRUGADA Nunca foi tão fácil uma conspiração aberta entre os presidentes do Senado e da Câmara para enfraquecer a presidente da República e eles próprios passarem a dar as cartas. A distância entre as suas residências oficiais é de 50 metros. Renan Calheiros e Eduardo Cunha podem vencer a distância numa andada a pé. De madrugada. VALE PERDE portos A Vale, amargando perdas inéditas em seu balanço por causa do fechamento dos nar a determi ao Agneli chineses, está pagando o erro estratégico da gestão de Gianni minério de nal excepcio construção de um supercargueiro para levar uma quantidade máde ferro para a China, capaz de operar nos portos de Itaqui e Rotterdam, de calados aquela seguir a logo que ximos. Porém, não houve inteligência prospectiva para prever não commodity teria seu cotação internacional derretida. Hoje, a tonelada do minério . chineses paga o do frete de um simples navio-cargueiro para os portos 21 FRASES DO MÊS prensa) estão repetindo “Eles (a oposição e a im em 2005, quando ou eç m co e qu l ua rit o m o mes s que eles chamaram de ia nc nú de as am ar eç m co “mensalão”. em Belo Horizonte, (Do ex-presidente Lula em ção dos 35 anos do PT, seu discurso da comemora o). segundo a Folha de S.Paul ra a “Não há nenhum fato cont presidente”. “Ele (Aldemir Bendine) nã o tem conhecimento de um setor extremamente complexo e não possui estofo para levar a Petrobras a um patamar de credibilid ade que ela necessita neste mome nto. Não podemos dizer que é um currículo que o recomende para assumir uma empresa da grandeza da Petrobras . Es esperava a demissão e foi se senhor presenteado com a presidência da Pe trobras. O governo ri na cara da socie dade”. , do Cardozo, da Justiça (Do ministro José Eduar ). em entrevista a O Globo “Não podemos brigar co m nossas bases, estamos em conflito com a CUT” (Do senador Lindbergh Far (Do líder do PPS, deputa do Rubens Bueno (PR), que criticou a escolha e lembrou que Aldemir Bendine é investigado pelo Ministério Público, segundo a Veja On Lin e). ias, do PT, ao defender no Senado a revogação das medidas de ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy, seg undo O Globo) artindo do p tá s e n a n e R “O que precisará pressuposto de ertamente já ,c ter uma maioria ituação difícil s antevendo uma Ética. Está e no Conselho d grande erro. m u o d n te e m o c ara ganhar p o d tu u te e m Pro dos estão to ra o g a e o ã a eleiç ra” cobrando a fatu ra , sobre a primei a Lima, do PSDB nh na Cu a io ad ss gr Cá fla r (Do senado vo Senado, de gislatura do no do o PSDB crise da nova le a da casa, quan es m da s te an gr te in O Globo). eleição para os uídos, segundo cl ex m ra fo B e o PS 22 a) “Não estamos lá (na Câmar para agradar” o governo Cunha, ao pontuar que (Do deputado Eduardo a reclamar da atuação da Casa nos par bo) Dilma não tem razão sidência, segundo O Glo primeiros dias de sua pre FEVEREIRO “Não se chega ou não se chegava a diretor da Petrobras sem apoio político. Nenhum partido dá apoio político só pelos belos olhos daquela pessoa ou pela capacidade técnica. Sempre tem que ter alguma coisa em troca”. ao juiz Sergio Moro, segundo (Do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, em seu depoimento “As empresas estão ganhando dinheiro. Ninguém precisa corromper ninguém. Funcionou assim: “Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso. É o que espero que ele tenha feito”. vista à TV (Do ministro Joaquim Levy, em entre al UOL) Port o ndo em Davos, segu Bloomberg, o G1). “Se em 1996 ou 19 97 tivessem investigad oe tivessem, naquele m omento, punido, nós não terí amos o caso desse funcioná rio da Petrobras que ficou durante quase 20 anos [atua ndo em esquema] de corrup ção” (Da presidente Dilm a, após cerimônia no palácio do Planalto onde rece beu embaixadores, durante entrevista coletiva divulgada por todos os meios ). “Vou pegar de noven ta a 180 anos de prisão” (Segundo a VEJA , o empreiteiro Rica rdo Pessoa, presidente da UTC, vem dizendo a qu em o visita na prisão em Curitiba , segundo VEJA) vez ria ter mais cuidado e, em ve de ca bli pú Re da e a nt nh ide “A excelentíssima pres onsabilidades jogando-as em mim, que nada te osofoi tentar encobrir suas resp exame de consciência e assumir que pelo men com ver com o caso, fazer um de Pasadena e aguardarverno ia ar fin re da a pr m co a r sa descuidada ao não recu apurem as acusações que pesam sobre o seu go maior serenidade que se e de seu antecessor” rensa). divulgado por toda a imp rdoso, em comunicado Ca e qu nri He do nan Fer (Do ex-presidente 23 ENSAIO POLÍTICO O GOVERNO SANGRA, MAS MERCADO AMPARA E OPOSIÇÃO VACILA. Qualquer profissional experiente em segurança de negócios de grandes empresas, já estaria diagnosticando, há muito tempo, um festival de mortes anunciadas por equívocos básicos nas estratégias das empresas agora envolvida em escândalos da PETROBRAS V ivemos um momento absolutamente atípico pois não se trata, apenas, de uma crise gerada por denúncias de corrupção. Com isso já estaríamos acostumados. Afinal, desde sempre, se cochicham histórias cabeludas sobre os fornecimentos e fornecedores da Petrobras. Quem não se lembra do Romulo F. Federici Consultor Empresarial, que correu pelos bastidores na Político e Institucional época da ditadura envolvendo Direito Político e SHIGEAKI UEKI, Ministro de Administrativo Minas e Energia do Governo [email protected] ERNESTO GEISEL e Presidente da Petrobras na gestão www.facebook.com/ JOÃO FIGUEIREDO? romulo.federici Recentemente, um dos envolvidos nas recentes denúncias de corrupção na PETROBRÁS ratifica que, ele mesmo, sabe de negócios escuros nos governos COLLOR, ITAMAR FRANCO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO e LULA. A sorte deles é que em suas épocas as instituições não funciona- vam tão bem. A POLÍCIA FEDERAL era desestruturada e o Ministério Público não tinha tanto prestígio. Chegou ao ponto de no governo FHC ser dirigido pelo famigerado “ENGAVETADOR GERAL DA REPÚBLICA”, Geraldo Brindeiro, que dava sumiço em todas as denuncia sérias contra o governo. Na verdade a crise veio e foi potencializada num momento de “tempestade perfeita” em que, além de uma crise político-financeira, se articulava, em setores mais conservadores, um movimento visando o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, “consertando” aquilo que não foi conseguido pela via constitucional do voto. Esqueceram que, no caso de um impeachment, o poder total seria herdado pelo PMDB, na pessoa de MICHEL TEMER como Presidente da República, RENAN CALHEIROS, com o Presidente do Senado e do Congresso Nacional e EDUARDO CUNHA, Presidente da Câmara dos Deputados. Nada indica que as coisas seriam melhores. Ademais, o impeachment seria uma tarefa dramática com consequências ciclópicas imprevisíveis, envolvendo, inclusive, a estabilidade política e social, e, portanto, grande demais para ser decidida simplesmente no campo político. Seria indispensável não só o sinal verde como o apoio e a tutela do MERCADO, essa entidade etérea que, afinal, tem um poder quase supremo no mundo real. CULPAD OS? 24 ENSAIO POLÍTICO RAÍZES DO MERCADO: COMO SUGIRAM PRIMEIROS BANCOS V amos começar do começo. O Livro “Casa da Moeda do Brasil: 290 anos de História, 1694/1984”, nos ensina que as primeiras moedas, tal como conhecemos hoje, peças representando valores, geralmente em metal, surgiram na Lídia (atual Turquia), no século VII A. C. As características que se desejava ressaltar eram transportadas para as peças através da pancada de um objeto pesado (martelo), em primitivos cunhos. A necessidade de guardar as moedas em segurança deu surgimento aos bancos. Os negociantes de ouro e prata, por terem cofres e guardas a seu serviço, passaram a aceitar a responsabilidade de cuidar do dinheiro de seus clientes e a dar recibos escritos das quantias guardadas. Esses recibos (então conhecidos como “goldsmith´s notes”) passaram, com o tempo, a servir como meio de pagamento por seus possuidores, por serem mais seguros de portar do que o dinheiro vivo. Assim, surgiram as primeiras cédulas de “papel moeda”, ou cédulas de banco, ao mesmo tempo em que a guarda dos valores em espécie dava origem a instituições bancárias. Os primeiros bancos reconhecidos oficialmente surgiram, respectivamente, na Suécia, em 1656; na Inglaterra, em 1694; na França, em 1700 e no Brasil, em 1808 e a palavra “bank” veio da italiana “banco”, peça de madeira que os comerciantes de valores oriundos da Itália e estabelecidos em Londres usavam para operar seus negócios no mercado público londrino. Muito bem, com o passar do tempo, em função da crescente circulação das GOLDSMITH´S NOTES os bancos foram crescendo, estruturando-se e formatando seus processos de funcionamento. Em determinado momento o indivíduo concorda em trocar um poder de consumo presente e certo por um poder de consumo futuro e incerto, se houver expectativa de que este será maior que o primeiro. (Andrea F. Andreazo e Iran S. Lima – FGV br). Surge a questão de como aplicar os recursos em excesso que, juntamente com outros fatores, criam o chamado MERCADO FINANCEIRO. Este consiste no conjunto de instituições e instrumentos destinados a oferecer alternativas de aplicação e captação de recursos financeiros. Os bancos e demais entidades do mercado financeiros, daqui por diante tratados simplesmente como BANCA detém o condão de captar recursos a taxas extremamente módicas e aplica-los a taxas extremamente significativas, retendo para si o robusto diferencial entre um valor e outro. Isto trouxe à BANCA duas coisas que perduram até hoje, sem muitas diferenças: RIQUEZA e PODER, inclusive PODER POLÍTICO. O MERCADO passou a ser o Ghost Writer do governo. 25 ENSAIO POLÍTICO H A BANCA, VELHA ALIADA DOS POLÍTICOS CONSERVADORES á mais de dez anos, as forças mais “conservadoras”, nucleadas no PSDB, vêm tentando afastar do poder as forças mais “progressistas”, nucleadas no PT. Nesse projeto, vêm contanto com o apoio ostensivo da classe média e média alta e a simpatia cautelosa da BANCA simplesmente porque têm um interesse comum simples e objetivo: Os políticos conservadores e a BANCA, não gostam de ser coadjuvantes. Mas, a reconquista do poder vinha sendo difícil porque os conservadores não conseguiram afinar um discurso e um elenco de propostas que levasse o povão a apoiá-los. E, é o povão que elege. A coisa começou a mudar com a subida de DILMA ROUSSEFF ao poder. Em que pese ser uma figura sem máculas morais até agora, era uma tecnocrata centralizadora, figura antipática, focada na gestão do dia a dia, sem talento político ou geopolítico a suceder LULA, um presidente simpaticíssimo, que delegava quase tudo, detestava o dia a dia burocrático e era devotado à política popular, um ídolo nacional e até mundial (tinha sensibilidade geopolítica). Era uma diferença enorme porque a grande massa necessita de afagos, discursos na sua língua e, principalmente, da percepção de que suas necessidades são prioridade. Parecido com o que se passa com a elite. Ademais, DILMA enfrentou um tsunami apocalíptico, que engolfou todo o mundo. A QUEBRA DE WALL STREET, virtualmente quebrou a economia de todo o mundo, com raríssimas exceções, como os países nórdicos. Os ESTADOS UNIDOS entraram em depressão por anos e só agora recuperam um modesto crescimento positivo patinando em 2 % e a Europa, fora da área nórdica, naufragou, com a raríssima e eventualmente temporária exceção da HOLANDA. A economia mundial entrou em recessão que atingiu até a CHINA, cujo PIB caiu vários pontos obrigando os chineses a saírem pelo mundo afora com a pasta de vendedor debaixo do braço num movimento mais frenético que o habitual. ALEMANHA, a potência europeia, só este ano prevê sair da paralisação econômica para alcançar um crescimento minguado ao redor de 1%. Os negócios do mundo congelaram. Pouca gente comprava e pouca gente conseguia vender. E, sem negócios, tudo para! Diante desse quadro assustador, DILMA tinha duas opções: optar por uma política ortodoxa, no estilo alemão, ou contemporizar com uma política anticíclica que suavizaria a transição para melhores dias mas, obviamente, deixaria uma conta pendente: Não existe almoço grátis, diz a BANCA. Ademais DILMA, tal como FHC, queria garantir a reeleição. Ele manipulou a taxa de câmbio, com a cumplicidade de GUSTAVO FRANCO, que quase destruiu o PLANO REAL e deixou efeitos negativos por todo seu segundo mandato. Ela optou por tentar manter a economia funcionando com estímulos ao consumo e créditos para os empresários, notadamente industriais, uma política econômica anticíclica. Ocorre que os estímulos ao consumo funcionaram fazendo o povo comprar mais. No entanto os empresários, notadamente os industriais, preferiram não embarcar nessa proposta. Muitos deles guardaram no cofre os créditos recebidos e não investiram na produção. Resultado: Com mais consumo sem aumento de produção aparece lépida e fagueira a INFLAÇÃO e a estagnação, sem aumento do PIB. 26 ENSAIO POLÍTICO MERCADO GHOST WRITTER DO GOVERNO O resultado da política anticíclica não funcionou tão bem quanto o esperado mas, pelo menos, não nos arruinou como, entre outros países europeus, como a Grécia, abatida, de joelhos e à beira de uma convulsão social fruto da aplicação da política ortodoxa alemã. Que aliás, começa a ser revista. Mas, a nossa conta que ficou pendente, mesmo não sendo tão dramática, não é nada barata e o início do seu resgate, com doses de ortodoxia, começa a corroer o conceito de DILMA junto à sua base eleitoral. Juros mais caros, controle nos gastos em geral, inclusive nos benefícios sociais, menos crédito disponível, ameaça aos níveis de emprego, menos inves- timentos e menos custeio da máquina pública. Isso vem fazendo em meses o que os conservadores, nucleados no PSDB, vêm tentando há mais de 12 anos sem conseguir: Corroer os índices de aprovação de DILMA ROUSSEFF. Mas, o grande aliado do PSDB, o MERCADO, mais prudente, não acha as perspectivas tão ruins, aliás as fórmulas que estão sendo aplicadas nasceram por lá. Como eles dizem, “nas dificuldades é que surgem as oportunidades”. E surgiram: Estão dando as cartas na área econômica e pautando grande parte das ações de governo. O MERCADO passou a ser o Ghost Writer do governo. A morte anunciada. 27 ENSAIO POLÍTICO PETROBRAS: VELHA SENHORA MAL FALADA C omo já vimos, as histórias de malfeitos na PETROBRAS sempre pulularam nos cochichos de bastidores desde sempre. Dúzias de famílias enriqueceram e dúzias de empresas prosperaram às custas negócios frequentemente corruptos. Nasceram verdadeiros impérios empresariais, muitos dos quais cresceram e se solidificaram não tanto pelo talento de seus gestores mas pelos generosos sobre preços, que faziam jorrar liquidez. Mas, este festival de malfeitos, de lucros abundantes, de luxo e riqueza para fornecedores, encontrou uma muralha nunca antes percebida e se esborrachou contra ela. De fato, pouco a pouco, a partir do fim do ENGAVE- TADOR GERAL DA REPÚBLICA as instituições foram se fortalecendo e passaram a ser dotadas de extraordinária eficiência, sem a interferência do governo como em outras épocas. A JUSTIÇA FEDERAL, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, a POLÍCIA FEDERAL, RECEITA FEDERAL e mesmo, em certa medida, a CONTROLADORIA GERAL DE UNIÃO vêm construindo estruturas muito sólidas, com tecnologia de ponta, gente preparada, cargos de estado, e consciência mais apurada dos seus objetivos, além de autonomia para atuar, sem ingerência política. Era visível para qualquer observador mais atento, principalmente para qualquer profissional da área institucional, que estava em marcha uma evolução visível no ambiente institucional, com estreitamente das possibilidades de “mal feitos”, como sempre comentamos em nossos trabalhos. Sou consultor de duas importantes empresas estrangeiras, uma americana e outra francesa, dedicadas à avaliação da viabilidade, segurança e estabilidade de projetos empresariais no exterior. Em conversa com colegas percebemos, desde há muito, que haviam reiterados avisos de que o ambiente institucional estava mudando nos últimos 15 anos, muito veloz e consistentemente, ameaçando os imprudentes. Portanto, era hora de uma calibragem estratégica nos padrões dos negócios para evitar caminhos que conduziriam ao precipício. Mas, a chuva de GOLDSMITH´S NOTES era deslumbrante e vários empresários ficaram deslumbrados e cegos, por falta de uma visão holística do quadro vigente. É incrível como grandes corporações, onde não faltavam recursos para investir em tudo, negligenciaram e negligenciam a construção de estruturas para INTELIGÊNCIA INSTITUCIONAL competentes, capazes de fazer diagnósticos e alertas em tempo hábil. Ao contrário, criaram estruturas megalômanas mas negligentes, focadas somente nas forças de venda e tecnologia, chamadas as áreas do “SIM”, negligenciando as áreas do “NÃO, ATENÇÃO”, como os núcleos institucionais, jurídico, controladoria, contabilidade e auditoria interna. Enquanto os primeiros eram festejados como GERADORES DE FATURAMENTO, os demais eram espicaçados como meros CENTROS DE CUSTO. Resultado: Deu no que deu, o mundo caiu! Sucumbiram como um castelo de cartas diante de um perigo óbvio, crescente e visível à distância. 28 ENSAIO POLÍTICO MORTES ANUNCIADAS: FILME ANTIGO ASSISTIDO MUITAS VEZES P rofissionais na consultoria de SEGURANÇA EM NEGÓCIOS de grandes empresas, inclusive transnacionais, principalmente na esfera pública, eu e meus colegas, poucas vezes assistimos às mortes tão anunciadas. Poucas vezes se assistiram a tanta alienação na condução de negócios de porte; poucas vezes se assistiu a tanta ingenuidade na costura de negociações complexas; poucas vezes se assistiu a soluções tão primárias; poucas vezes se assistiu a tantos mergulhos em negócios suicidas. As explicações são várias e uma das principais, como é comum, é a prevalência exacerbadamente forte das CABEÇAS MERAMENTE CARTESIANAS, sem contraponto. Sim, elas que são tão eficientes na condução dos negócios no que tange, principalmente, à venda de serviços, podem ser um desastre nos negócios menos convencionais, mais delicados, influenciados por múltiplos vetores diversos e incomuns mas com efeitos colaterais. Tudo fica mais difícil se a cabeça cartesiana é aguçada com um ambiente de sucesso empresarial fácil, quase histérico, continuado e de grandes lucros. Com excesso de “objetividade” e pressa nos resultados, os gestores ficam inebriados e isto leva à inconsequência e ao desastre. Tudo, em grande parte, por falta de VISÃO PERIFÉRICA. Essa sucessão incrível de grandes erros, acenderam o estopim de uma imensa bomba, policial, empresarial e política. Explode a bomba atômica: A PETROBRAS! Uma simplória operação da POLÍCIA FEDERAL vai rastreando os odores de corrupção a partir de um prosaico posto de gasolina e percebe que está diante de indícios de um imenso escândalo de corrupção. A operação adota o nome de LAVA JATO e, deflagrada em março de 2014, já conta com sete fases, investiga um grande esquema de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo a Petrobras, grandes empreiteiras do país e políticos. A denúncia inicial partiu do empresário Hermes Magnus, em 2008, quando foi pressionado a lavar dinheiro ilícito por ora acusados, utilizando sua empresa DUNEL INDÚSTRIA E COMÉRCIO. A partir daí as investigações geraram mais de uma centena de mandados de busca e apreensão, prisões temporária, preventivas e conduções coercitivas, e outras medidas legais, tendo como objetivo apurar um esquema de lavagem de dinheiro suspeito de movimentar bilhões de reais. Mas, quando ficou constatada a conexão com a PETROBRAS, o tema ganhou repercussão incontrolável por envolver, além dos crimes e criminosos propriamente ditos, o aspecto político, o interesse de segmentos da sociedade, do empresariado e da grande imprensa, majoritariamente avessa ao governo DILMA e interessada em desidratá-la, para fins de impeachment ou para derrotá-la em 2018. HERMES MAGNUS, DETONADOR DO “PETROLÃO” EM 2008 29 ENSAIO POLÍTICO UMA LUPA OBSERVA CONSEQUÊNCIA DO PETROLÃO M as, ao lado e talvez acima de tudo isso, estão os interesses mais estratégicos do MERCADO que observa com lupa, o desfile de gente graúda presa, o trincar assustador de grandes impérios empresariais, os passos da oposição, sempre mais táticos e imediatistas e o perigo que isso tudo pode significar para os grandes interesses financeiros, envolvendo montanhas de GOLDSMITH´S NOTES, ou seja, grana. Tudo isso é mais que nitroglicerina pura, é fissão atômica que, afinal, provocou uma explosão de muitos megatons. Estamos diante de um dos eventos com maior repercussão política dos últimos tempos, porque oposicionistas poucas vezes tiveram à disposição tantos fatos graves, passíveis de serem potencializados e baralhados para complicar de forma ainda mais grave o governo. Mais do que isso. Foi criado um verdadeiro parque de diversões para a grande imprensa que, com conexões inimagináveis, fez um estoque de malfeitos que são gotejados diariamente e a toda hora do dia e da noite, para ir corroendo a credibilidade do governo. Nesse grupo existem aqueles mais equilibrados que exercem o direito legítimo de oposição, denunciando, cobrando punições e, com isso, preparando terreno para vencerem as próximas eleições. Existem os incendiários que buscam um impeachment da Presidenta recentemente reeleita, sem ter o cuidado de avaliar as suas consequências. O país bi polarizado, e muito por causa disso, poderia, segundo alguns, virar um país conflagrado com perigo de um conflito de classes sociais. A classe média e média alta, principalmente, colocou para fora seus sentimentos até então reprimidos e partiu para cima num clima ainda mais descontrolado, posto nem sempre bem informado. O clima beira o raivoso, o que dificulta qualquer conversa, ponderação ou diálogo. Os governistas estão acuados e, só agora, aparecem os primeiros sinais de uma reação pouco produtiva. No entanto, as camadas pensantes do país estão ponderando, com cuidado, cada desdobramento. Sabem que virão listas recheadas de nomes importantes no âmbito empresarial, social, político e partidário, multipartidário e governamental a serem indiciados ou denunciados sem contemplações. Percebem que as coisas podem ir mais longe do que o imaginado alcançando, inclusive, pessoas até então não mencionadas e até agora “cultuadas”. Sabem que isso poderá ser o suficiente, dentro dos trâmites legais e constitucionais para, com muitas dores, recolocar o país no prumo com as disputas políticas normais e desejáveis. Mesmo porque nos aguardam o baralhamento de vários fatos e a expansão da área afetada pelo grande tsunami, envolvendo até as oposições que podem passar de pedra a vidraça, também. De fato, começam a brotar informações aqui e acolá, convidando outros parceiros, que estavam na plateia, a entrarem na dança. A informação divulgada de que o esquema do PETROLÃO foi gestado, planejado, montado e posto em marcha nos idos de 1990, em pleno Governo FERNANDO HENRIQUE CARDOSO foi uma bomba que só não tremeu o chão porque a grande imprensa, principalmente no Rio de Janeiro, foi muito indulgente. Mas, O ESTADÃO repercutiu com mais espaço. “Pedro Barusco afirmou que houve pagamento de propina desde o primeiro contrato de navios-plataforma da estatal com a SBM Offshore, durante a gestão Fernando Henrique Cardoso (PSDB). 30 ENSAIO POLÍTICO TALIBÃS TUPINIQUINS, JANOT E A CRISE POLÍTICA JANOT O X jornalista e editor da revista de maior circulação na Argentina, JOSÉ FRANCISCO CABALLERO, em entrevista à CRISTINA TARDÁGUA (13/2/2015) conta o seguinte: “A gente não pode mais se expressar livremente na Argentina. Na política, há os ultra kirchneristas e os ultra-anti-kirchneristas. Os que estão no meio não podem falar. Já ouvi de muitas pessoas cultas, inteligentes, que ninguém pode mais ser cinza na Argentina hoje em dia. Ou se é branco ou se é preto. Todos os fundamentalismos são perigosos. O político também”. BRINDEIRO Quando não existe uma zona cinzenta, um “buffer” que amorteça os ímpetos, os polos políticos colidem diretamente sem moderação com danos muito mais importantes para os dois lados. Esse quadro destrói elementos essenciais na vida política e, principalmente, na discussão que se faz necessária, como o bom senso, o equilíbrio, o saber ouvir, o saber se expressar, o raciocinar sobre os temas, e o elaborar de teses e propostas livres do ranço ideológico, o avaliar sem a influência dos lugares comuns e, principalmente o raciocinar, o avaliar e o compreender sem explosões insanas. Em consequência: Fica aberto o espaço para os tresloucados. Não se vê mais equilíbrio. Os políticos, sempre oportunistas, estão em permanente estado de excitação, manifestando-se sempre com os olhos esbugalhados. As TVs usam sempre as mesmas figuras carimbadas para recitar o mesmo roteiro, as rádios difundem a previsão do apocalipse, os jornais parecem éditos medievais, a elencar quem é “gente fina” e quem é bandido. Vivemos, politicamente, no pior dos mundos: uma bipolaridade onde os núcleos de viés mais “conservador”, mais próxima do capital, colidem com os núcleos (http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei/jose-francisco-caballero-cantor-jornalista-musica-me-salvou-do-opus-dei-15323815#ixzz3RdTdqrTo) Estamos vivendo o mesmo momento patético aqui no Brasil. Se você ousa dar uma opinião mais refletida, mais equilibrada fora dos limites dos lugares comuns, corre o risco de ser chamado de PETRALHA pela madame enfurecida ou de PELEGO pelo líder sindical. Ambos os polos atuam na mesma frequência e no mesmo nível de insanidade. 31 de viés mais “progressistas”, mais próximas do trabalho. As aspas são necessárias. Isto, por si só, talvez não ameace o governo DILMA, como nunca ameaçaram os governos anteriores desde COLLOR, mas degradam a vida política, postergam debates necessários e prejudicam decisões necessárias. Rodrigo Janot, o atual Procurador Geral da República, ganha grande relevância nesse contexto porque representa a mais recente etapa da evolução da PROCURADORIA GERAL DA REPÚBLICA, que se reergueu com dignidade depois da fase patética liderada por GERALDO BRINDEIRO, que teria sido encarregado pelo governo FHC de barrar todas as denúncias incômodas para o governo, como se noticiou e continua sendo noticiado na imprensa. No momento, o trabalho de JANOT com base nas investigações em curso, poderá significar, a reorganização e pacificação político institucional do país ou o caos. Ele terá de cobrar a investigações e indiciamento de todos os envolvidos nos escândalos, por todos os tipos de crimes, em todas as épocas alcançadas pelos efeitos das leis, independentemente dos governos e partidos envolvidos. Não poderá exacerbar por visagem nem transigir um milímetro sob pena de incendiar o ambiente ao invés de equilibrá-lo. Isto porque, paralelamente, o mundo político institucional está virtualmente paralisado (apesar de se mover nos bastidores) pois aguarda essas denúncias para funcionar com um mínimo de normalidade porque, até agora, não se sabe quem poderá ser alvejado e a gravidade do ferimento. Tendências, ou o que vem por aí. Existem nomes rondando os núcleos de poder, muitos possíveis candidatos a todos os cargos imagináveis. O PSDB tentando se firmar como protagonista sólido depois de expressiva votação nas últimas eleições presidenciais e depois de questionar a viabilidade de AÉCIO NEVES e reavaliar, entre outros JOSÉ SERRA, que está na pista aguardando o tiro de partida. Teve o grande mérito de cooptar o encanto de amplos setores de melhor nível social e da grande imprensa, majoritariamente conservadora. Conseguiu, ainda, vender uma imagem de correção, esquivando-se dos seus envolvimentos na criação do mensalão e dos seus envolvimentos na história do PETROLÃO, do que dificilmente se livrará incólume. O PT tonto com tudo isso, está a demonstrar suas fragilidades e a inconsequência de lutas internas entre facções. Algo até compreensível em um partido neófito mas, nunca, num partido que detém a Presidência da República. Depois dos trancos de MENSALÃO e do PETROLÃO o PT está nas cordas porque, mesmo tentando espernear, não conseguiu convencer que foi uma “vitima” da máquina corrupta que vinha operando historicamente, passando por todos os Governos. Sim, pode ser vítima dessa circunstância mas não pode explicar como falhou em cumprir as promessas de eficiência no combate à corrupção que era uma de suas bandeiras. O PMDB, ardiloso, covil de raposas peludas, está rondando a carniça e trocando cochichos entre seus núcleos de Poder. Os cariocas ganharam relevância e tricotam entre si. Eduardo Cunha mantém a DILMA e o PT nas cordas enquanto o Governador Pezão confabula com o Prefeito do Rio, Eduardo Paes, o lançamento de seu nome à ... nada mais nada menos que a Presidência da República, pegando carona na projeção de seu nome após as OLIMPÍADAS se tudo der certo. PAES, tem talento e traquejo político, tem feito boa administração no Rio de Janeiro e está encaminhando bem o projeto OLIMPÍADAS, com toda a infraestrutura prevista. Tem ainda o que nem o PT nem o PSDB pode oferecer: Juventude e o maior e mais experiente partido o país, o PMDB ... para o bem e para o mal. Só não se sabe se tudo isso é suficiente para dirigir os destinos do país. Em suma podemos estar perdendo a oportunidade histórica de renovar a política brasileira, através do PSDB e PT, que tantas ideias trouxeram mas não souberam formar um núcleo de força coordenado, que seria possível. Podemos estar retornando à histórica e ampla dominância do PMDB, não o de ULYSSES GUIMARÃES e da turma do “poire” mas o de JOSÉ SARNEY da praia do Calhau. Simples assim. 32 Preservar, também é o nosso papel É com responsabilidade socioambiental que a melhor máquina do Centro-Oeste trabalha. 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A crítica o chamou de ria? solitá alma uma ção de Dilma? Filmes ingênuos para DIANA, A NOVA EMBAIXADORA São 15 as embaixadoras que já servem em Brasília, que possui hoje no mundo o Corpo Diplomático com o maior número de mulheres à frente de suas representações diplomáticas. Agoira são 17, porque duas novas embaixadoras vieram a se somar ao total, ao entregarem credenciais à presidente Dilma neste fevereiro. Dos quatro que apresentaram suas cartas, duas mulheres: Maria Lourdes Urbaneja Durant, da Venezuela e Diana Marcela Vanegas Hernández, de El Salvador, que aparece na foto. 34 POLÍTICA KATIA BRIGA PELO CARAJAS A ministra Katia Abreu engajou-se de corpo e alma na briga dos separatistas do Pará para criar o Estado do Carajás. A nova unidade federativa do Brasil, que seria fruto do desmembramento do Pará, abrangeria uma população de aproximadamente 1,7 milhão de habitantes e 289.799 km² de área. Seria o nono maior estado em termos territoriais, com 39 municípios e 18% dos eleitores do estado do Pará. Maior que Portugal, Uruguai e Equador. Somente 11,04% de sua população são paraenses, o restante da população migrou de todo o Brasil, sendo que os maranhenses, goianos, tocantinenses e mineiros juntos representam quase 69% da população total da região. A capital do novo estado seria Marabá, (233.462 habitantes em 2010. A região proposta é marcada por graves conflitos agrários que geram muitos entraves sociais para o desenvolvimento local. Carajás teria um PIB que corresponde a aproximadamente 28% do PIB do Pará. Em 11 de dezembro de 2011, foi realizado um plebiscito sobre a divisão do estado do Pará em dois no- vos estados: o Carajás e Tapajós. Esse plebiscito realizado com os eleitores do Pará, teve como resultado a rejeição da criação de ambos os estados. Contudo, mesmo após a derrota, o movimento separatista continua em atividade pleiteando separação do Pará. Conta com o apoio de Kátia Abreu, o que vale muito. Vale uma entrada com Dilma Rousseff, sua madrinha de casamento. 35 POLIS Confidencial LULA LEU O QUE O PODER LÊ O slogan da CARTA POLIS é exatamente este: “Você vai ler o que o poder lê”. O ex-presidente Lula demonstrou na prática o que a revista quis simbolizar com isso, ao ler o mesmo documento histórico que estampamos de nossa última edição: o artigo do juiz Sergio Moro sobre a Operação Mane Pulite, na Itália, a qual culminou com o assassinato do juiz Sergio Falcone. Segundo a foto acimada da edição da reviste VEJA de 18 de fevereiro, (edição 2413), na festa de aniversário do PT ele leu o artigo de Moro, que foi buscar na Itália inspirações para o que põe na prática hoje em Curitiba com a Operação Lava Jato. KHALIL, O MÉDICO DO PODER O famoso cardiologista-chefe do Hospital Sirio-Libanês de São Paulo, Roberto Khalil está a mil em Brasília para tornar a Capital da República um centro nacional de referência em sua especialidade. Para tanto, adquiriu em sociedade particular com Edson Bueno o controle de um importante hospital local, bem situado num bairro nobre. Como parte do projeto de ser o médico do poder, atuando junto às autoridades aqui mesmo, o doutor Khalil ministrou um treinamento Palácio da Alvorada para aos funcionários precaverem-se do mal cardiológico. O que não é coisa muito fácil. 36 DR.REY, SÉTIMO MAIS RICO DO MUNDO O brasileiro Robert Rey, conhecido como Dr. Rey, não juntou US$ 15 milhões fazendo cirurgias. Conhecido por aparecer em programas de TV (e até comentando sobre corpos das mulheres no carnaval), o cirurgião plástico já conseguiu participar de filmes e até aumentar sua renda vendendo produtor com seu nome. Na relação dos sete médicos mais ricos do muno, ele é o último da relação. Mas, faz parte desse clube seleto, e isto basta. (Após informação publicada por O Globo) THOMIE, REFERÊNCIA EM BRASÍLIA Foto: Ana Ruckschloss Thomie Ohtake, a maior artista plástica brasileira da atualidade, se foi aos 1O1 anos. Deixou conhecidas obras criadas por sua imaginação livre e de signos leves como a cerejeira japonesa. Em Brasília, Thomie pontuou com trabalhos de invulgar beleza, acentuadas por sua simplicidade. Esculturas nos jardins do Hotel Roytal Tulip, projeto do arquiteto Ruy Otkake, seu filho, e uma rosa de concreto em frente ao Edifício Number One, estão duas obras. Ambas, a convite do empreendedor Paulo Octavio. 37 mais S NAR>>>>> Ricardo Reis BAGGIO REFORÇA A presidente Dilma reforçou seu Gabinete Pessoal com o ex-petista, Álvaro Henrique Baggio, egresso da Casa Civil. Veio a ser chefe de Gabinete do ex-chefe do Gabinete Pessoal Giles Azevedo, que esteve afastado, mas voltou recentemente com todo o poder de antes, mas não para o mesmo cargo. Baggio é da cota pessoal de Dilma, tal como Giles. Ambos vieram com ela do Rio Grande do Sul, desde a época em que era secretária de Minas e Metalurgia no governo Olívio Dutra. “BOB” WHO? José Dirceu foi brindado com o apelido de “Bob”, mas na verdade o Bob era outro, assim, mesmo, sem aspas. Era Roberto Marques, mais conhecidos nas rodas do “lobby” como Bob Marques. Júlio Camargo, consultor da Toyo Setal referiu-se a Dirceu em sua delação premiada como se fosse ele próprio o “Bob”. Mas, o Bob Marques, o verdadeiro, é petulante e atrevido nos tempos de “vacas gordas”, ao contrário do ex-ministro da Casa Civil, que é visto como um lorde. CAMISA 11 Romário ganhou o melhor gabinete da Ala Afonso Arinos do Senado, o gabinete 11. Só que o gabinete 11 não existia antes. Eram numerados de 2 a 10. O senador carioca, entretanto, ganhou a regalia de Rena n Calheiros e mudou a ordem: o gabinete 11 passou a ser o segundo do corredor, logo após o 2. Razões de Romário: 1) o gabinete é o único daquela ala que tem uma porta de saída nos fundos, que dá para o jardim, e assim pode escapar de visitantes incômodos; 2) era o número de sua camisa na seleçã o brasileiras e nos times porque passou. PT NECAS Desde Carlos Lacerda, há 60 anos, o Rio de Janeiro não batia São Paulo como principal fonte geradora da grande política nacional. Agora Eduardo Cunha, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Paes, todos do PMDB, são peças destacadas no tabuleiro de xadrez na política nacional tanto para as eleições nas capitais em 2016 como para as gerais de 2018. Ainda há Romário, do PSB - que todos consideram como virtual prefeito do Rio em 2016.Necas de PT. 38 CIDADÃO “PÓLIS” O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa está com a verve solta em postagens na sua conta do Twitter. É uma metralhadora giratória a contra o PT. Em um desses posts, Barbosa conceituou o que era ele é ser um “Cidadão livre”: “livre das amarras do cargo público. Cidadão na plenitude dos seus direitos, pronto para opinar sobre as questões da “Pólis”. A cidade grega, bem entendido. NERVOSO DEMAIS MAGOADO DEMAIS Um amigo do ex-presidente José Sarney se surpreendeu ao visitá-lo outro dia em sua casa em Brasília quando o recebeu na porta trajando calça de terno, camisa social e gravata, sem o terno completo. Raras vezes Sarney é visto em público nesses trajes informais. Quando é visto assim, os íntimos garantem, é por nervosismo. De todos os ex-ministros de Dilma que deixaram o governo para se candidatar, o mais magoado é sem dúvida Agnaldo Ribeiro, PP, ex-ministro das Cidades e na sua época muito ligado à presidente. Saiu para se candidatar à reeleição a deputado federal pela Paraíba. Dilma disse-lhe na época: “Vá, se reeleja e volte, que seu cargo está garantido”. Agnaldo se reelegeu mas Dilma não lhe chamou de volta. LOBÃO “IMEXÍVEL” Quando o ministro Eduardo Braga chegou à pasta de Minas e Energia deparou-se com uma situação ímpar: todos os cargos do gabinete estavam preenchidos. É a antiga estrutura do ex-ministro Edison Lobão. O novo ministro recebeu ordens expressas: o pessoal do Lobão é irremovível. MALHAÇÃO JAPONESA Dos ex-comandantes militares que passaram seus comandos, o brigadeiro Juniti Saito é o que mais deixará saudade em Brasília entre seus amigos que faziam compras para casa nos sábados pela manhã no Supermercado Pão de Açúcar do Conjunto Gilberto Salomão, no Lago Sul. Depois de escolher pessoalmente os artigos e colocar no carrinho, Saito se entregava a um papo solto e informal com uma roda de amigos, civis e leais às compras de sábado. E tome malhação. MUY AMIGO Todos os conselhos que Lula deu a Dilma em sua última e longa reunião são politicamente suicidas. Como o de sair pelo país para defender as medidas de ajuste fiscal, argumentando que têm prazo marcado. Avalie-se Dilma ir de estado em estado defendendo o contingenciamento do seguro-desemprego. No mínimo arrancará vaias, no máximo, engrossará as assinaturas pró-impeachment. 39 ARTIGO/INTERNACIONAL BRASIL E CHINA O “A China e os EUA são parceiros econômicos globais, mas os EUA são o guia do mundo. Eles já têm o sistema principal e suas regras; a China está disposta a se juntar a esse sistema e a respeitar essas regras e espera atuar de formar construtiva”. político e escritor francês Alain Peyrefitte, com grande antevisão, publicou em 1973 o ensaio “Quando a China Acordar o Mundo Tremerá” (título traduzido livremente). Suas previsões, pautadas por visitas sistemáticas ao país, deixam claro que tão logo houvesse uma liberalização política e uma descentralização do sistema econômico, com uma preponderância do indivíduo e da propriedade privada, o grande salto para o futuro previsto por Mao Tse-tung tomaria uma estrada sem retorno. O impulso veio com Deng Xiaoping, em 1979. Em 1981, liderei uma delegação de empresários e jornalistas a Pequim, Xangai e Cantão. Pequim tinha apenas um hotel que servia de albergue e, ao mesmo tempo, de escritórios para as primeiras firmas empresariais que para lá se dirigiam. A cidade era uma sucessão de tapumes cobrindo áreas decaídas que haviam sido arrasadas. As ruas eram tomadas por milhares de homens e mulheres, que, vestidos de azul, perambulavam sem empregos pela cidade. A mesma cena se repetiu em Xangai e Cantão. Para comprar uma bicicleta, um chinês teria de adquirir um vale e esperar até que a produção estatal lhe permitisse recebê-la. A China era a 7ª economia do mundo à época; o Brasil, a 16ª. Em Pequim, fui encarregado pelo ministro de Comércio de entregar ao governo brasileiro uma mensagem -o reconhecimento do Brasil como nação mais favorecida para o intercâmbio comercial e financeiro entre os dois países. Com esse sinal, fiz o primeiro escritório de uma empresa brasileira em Pequim. Esse longo prólogo serve para que possamos fazer um paralelo com o Brasil e as trajetórias não convergentes que as duas nações percorreram até hoje. A China ultrapassou, pelo critério de paridade do poder de compra, os EUA e será, em breve, a primeira economia do mundo. O Brasil, agora a sétima economia do mundo, será ultrapassado pela Índia e pode voltar a ser a 9ª ou 10ª em curto prazo. A China cresceu, em média, 10% ao ano nos últimos 24 anos e sua economia é agora 25 vezes maior que em 1990. A do Brasil é cinco vezes maior. 40 ARTIGO/INTERNACIONAL SE DESCOLAM Mario Garnero Presidente do grupo Brasilinvest e presidente do Fórum das Américas e da Associação das Nações Unidas Brasil (Anubra). Artigo publicado do originalmente na seção Opinião, da Folha de S.Paulo. bais, mas os EUA são o guia do mundo. Eles já têm o sistema principal e suas regras; a China está disposta a se juntar a esse sistema e a respeitar essas regras e espera atuar de formar construtiva”. A lição que fica é a de que somos um país lento, com grandes centros de excelência na agricultura, na ciência e na indústria, com poder de inovar, como no uso do etanol. No entanto, ao mudarmos com os ventos a biruta do nosso projeto nacional, desperdiçamos meios e nos transformamos em um país com produtividade negativa. Perdemos velocidade no crescimento e no bem-estar. Os números, que não admitem contestação, indicam que temos novamente que nos integrar à cadeia mundial de progresso material e, por consequência, social. E o caminho para essa integração passa por medidas que aumentem a produtividade, promovam maior abertura econômica, criem novas infraestruturas e gerem um novo padrão de qualidade na educação profissional. A pergunta que surge é a seguinte: por que existem tais diferenças na velocidade de crescimento e de substância dessas economias, além de perdas relativas de poder político e de influência internacional, sejam elas políticas ou financeiras? Uma simples análise mostra a China caminhando para ser o centro econômico, político e financeiro da Ásia, suplantando o Japão, ampliando seu poder na África, comprando as empresas de ponta na Europa e dominando o cenário dos chamados Brics, no comércio e na área financeira, com US$ 4 trilhões de reservas. Qual o segredo, além dos possíveis questionamentos sobre seu sistema político? Sem dúvida, essa resposta passa pela continuidade da política econômica, mantida e aperfeiçoada por meio dos sete planos quinquenais, com uma enorme flexibilidade, pragmatismo e visão estratégica dos objetivos nacionais definidos e perseguidos. Há pouco, a imprensa chinesa noticiou um discurso do vice-premiê Wang Yang no qual ele disse que “a China e os EUA são parceiros econômicos glo41 BRASÍLIA OS BRASILIENSES: OS DESTAQUES DE UMA DAS NOVE METRÓPOLES MAIS BEM PLANEJADAS DO MUNDO ARTES PLÁSTCAS Darlan Rosa RESTAURANTE JUSTIÇA CALÍGRAFO Hélio Guilherme Dias Álvaro Ciarlini Greg Gomes ADVOCACIA PIONEIRISMO José Gerardo Grossi Ronaldo de Alcântara Veloso Lúcia Garófalo UNIVERSIDADE Gastronomia POLÍTICA Ivan Camargo Inacia Poulet Rõti ATRIZ Carmen Moretzsohn LITERATURA 42 Fernando La Roque RÁDIO Erika Kokai BRASÍLIA Z ACADÊMICA COMIDA SAUDÁVEL RELAÇÕES PÚBLICAS Maria Alice Guimarães Rogerio Mazer Aluizio Torrecillas ESPORTE EMPRESÁRIO TV Viviane Costa Álvaro Silveira Júnior Giuliana Morrone UNIVERSIDADE ARQUITETURA E URBANISMO CONSTRUÇÃO CIVIL José Roberto Bassul Luiz Carlos Botelho Ferreira MERCADO IMOBILIÁIO CIÊNCIA POLÍTICA Gilbeto Garcia ECUMENISMO Paiva Netto Paulo Muniz PROFESSOR JORNALISMO SEMANAL Washington Dourado Liana Sabo 43 Flávio Testa MÚSICA ERUDITA Claudio Cohen INTERNACIONAL LAGO NA AMAZÔNIA SALVARIA O BRASIL? N a atual crise hídrica do país, associada às mudanças do clima, a Amazônia recebne dos cientistas o tratamento diferenciado de começo e fim de nossa possibilidade de sobrevivência.Alguns cientistas visionários vão mais longe: trata-se da própria salvação do continente e do mundo. O velho bordão de “Amazonas, pulmão do mundo” volta com mais força do que nunca e tolhe de pessimismo a locomotiva do Brasil, São Paulo, imerso na escassez de água. Não é de hoje que esses futurólogos dimensionam a importância de termos a Amazônia em nosso território. Como uma garantia de nossa salvação em um mundo futuro - e não futuro assim - de devastação causada pela devastação da natureza, que influi na clima, nas chuvas e na água disponível no Brasil e na planeta. Um desses futurólogos foi um norte-americano Herman Kahn,um gordinho simpático, que lembrava muito a figura de Alfred Hitchkok. Ficou famosa nos anos 60 a proposta desse físico visionário, do Instituto Hudson, de que se construíssem sete barragens para criar cinco lagos gigantescos na Bacia Amazônica. Queria estimular o intercâmbio econômico entre os países da América do Sul e o investimento estrangeiro em pesca, mineração e petróleo na região. Aos ouvidos do governo militar brasileiro da época a proposta soou como a internacionalização da Amazônia.As reações contrárias foram muito fortes. Nunca um estrangeiro foi tão odiado pelo país, nem mesmo Mr. Link, o norte-americano que afiançou que o Brasil não tinha um só gota de petróleo em se sub-solo. Herman Kahn, porém,teve razão, não não nos seus lagos, mas na importância estratégica, geopolítica e ambiental da Amazônia. 44 ARTIGO/INTERNACIONAL HERMAN KAHN UMA RELEITURA CONTEMPORÂNEA Rodolfo Stonner Engenheiro, professor e escritor. O s gerentes de projeto utilizam análise de risco e diversas outras ferramentas ao longo de seu processo decisório. No fundo, buscamos inferências para identificar cenários futuros. Aqui, fazemos uma releitura contemporânea de um futurólogo famoso, admirado por alguns, execrado por muitos. Nascido em 15/fevereiro/1922, de família judaica, em New Jersey, EUA, Herman Kahn foi um físico, matemático, escritor e estrategista militar. Trabalhou na RAND Corporation, durante o desenvolvimento da bomba H. Gordo, com mais de 150 quilos, é descrito como tendo QI em torno de 200. Fez diversas análises sobre as consequências de uma guerra termonuclear, e era um estrategista muito respeitado nos Estados Unidos. Exemplo disto é o fato de que manteve contatos técnicos com todos os presidentes americanos, de Truman a Reagan, portanto colaborando indistintamente com democratas e republicanos. Em 1967, juntamente com Robert Panero, sugeriu o projeto Grandes Lagos, passo inicial de uma internacionalização da Amazônia. Este projeto conseguiu à época o raro feito de unir a esquerda e o Governo Militar na oposição ao projeto. Herman Kahn morreu de infarto em 1983, no estado de New York. Autor do projeto Grandes Lagos.O futurólogo que uniu o Brasil contra si. O projeto Grandes Lagos despertou tal ojeriza popular, entre populares, políticos e o meio acadêmico, que hoje em dia é até difícil encontrar relatos e descrições sobre o projeto na Internet. Um dos poucos artigos encontrados foi “O INSTITUTO INTERNACIONAL DA HILEIA AMAZÔNICA: MOINHO COMBATIDO POR UM QUIXOTESCO BRASIL”, escrito por Paulo Henrique Faria Nunes (http://goo.gl/xZ5f4W), na revista Estudos Jurídicos Ano II Número 1, 2009. Em seu excelente artigo, Paulo Henrique já nos mostra como a Amazônia sempre foi cobiçada internacionalmente. No século XIX havia uma proposta de deportação de negros norte-americanos para ocupar a Amazônia. No que se refere ao projeto Grandes Lagos, Paulo Henrique nos lembra: “O projeto, considerado neocolonialista e lesivo aos interesses nacionais pelo Estado-maior das Forças Armadas, idealizava a construção de uma grande barragem no rio Amazonas e um sistema supranacional de barragens na América do Sul. A finalidade desse grande sistema hidrográfico era criar uma imensa plataforma logística para o desenvolvimento, favorecendo a navegabilidade, a produção de energia elétrica e a irrigação de áreas destinadas à agricultura.” Felizmente, o projeto não foi à frente. PREVISÕES DE HERMAN KAHN Em 1967, Herman Kahn publicou o livro: “O ano 2000: especulações para os próximos 33 anos”, livro que continha ao final uma lista de 100 inovações tecnológicas muito prováveis, dentre as quais listamos algumas: • • • • • • • • • • • • • Novos materiais estruturais de resistência extremamente elevada. Novos tecidos de alto desempenho. Previsões meteorológicas mais confiáveis de maior prazo. Intensa expansão da agricultura tropical. Novas fontes de energia para veículos terrestres. Novas técnicas para controle de natalidade, baratas e confiáveis. Capacidade de definir / alterar o sexo de crianças e adultos. Sistema bancário automatizado, e em tempo real. Uso intensivo de computadores pessoais. Telefones celulares (usou o nome “personnal pagers”) Computadores domésticos organizando o lar. Extração comercial do óleo de xisto. Trabalhou na criação da Bomba-H 45 PÁGINAS AZUIS Marcos Garzon “Um alerta para a crise da água e do clima está aqui: é despertar as instituições, empresas e pessoas. Se nós não transformamos, nós não vamos sobreviver”. Marcos Garzon é um misto de empreendedor de sucesso no mercado imobiliário de Brasília. Advogado imobiliário, organizador de eventos (já realizou mais de mil para o governo) publicitário, dono de revista, visionário e escritor de livros que se aprofundou nos segredos das mutações da natureza, com um toque místico e religioso. Já escreveu 101 livros. Tem mais na cabeça. A cidade-satélite de Samambaia não tinha nada, só casa e prédios pequenos quando ele chegou lá, com faro de futuro. Previu ali um “boom” da grande cidade que é hoje. Lançou o “Show de Morar” com seu talento para o marketing (ele também foi dono de agência de propaganda).”Você é maluco, vai para Samambaia, sair do eixo Taguatinga-Ceilândia, nossas duas principais cidades?” - recriminavam-lhe. Garzon foi, viu e venceu. Vendeu o projeto para a Brooksfield, que a parceira de sua organização a MGarzon. Depois foram para o Gama. Aí o sucesso foi ainda maior. Rendeu um troféu de lançamentos imobiliários para o “Show de Morar”. É hoje a única empresa nacional imobiliária que tem o Prêmio Master (aliás, bicampeã em 2010 e 2011, juntamente com o lançamento DF Centrurs Plaza na cidade-satélite de Águas Claras, que também é da Brooksfield. Vendedor exímio, já comercializou com sua equipe de corretores mais de 400 empreendimentos em Brasília. Mira agora a inexplorada fronteira de enorme potencial que se descortina na Saída Norte de Brasília, uma espécie de patinho feio da indústria imobiliária e de grandes empreendedores. Mais uma vez com visão de futuro lançou em Formosa, cidade goiana a pouco mais de 100 quilômetros da Esplanada dos Ministérios, lançou e construiu o resort Tal Mahal, sob a motivação ambiental de estar situado dentro do “Berço das Águas”. É sobre esse temática - água, mudança climática, mutações da natureza - que Marcos Garzon falou à PÁGINAS AZUIS. 46 PÁGINAS AZUIS CARTA POLIS - Quando o Sr. começou a escrever seus livros? MG - Na época em que comecei a escrever eu faturava mais no Grupo Visão do que a Veja faturava em Brasília. Só que o Maksoud (Henry Maksoud, proprietário da famosa revista dos anos 70 e 80, com sede no Rio) perdeu tudo pela vaidade dele. Eu dirigia 4 escritórios e 23 empresas. Era muita coisa e muita gente envolvida. uma frustração coletiva. Eles só ficam dizendo que precisam até 2030 diminuir a emissão de gás carbônico. CARA POLIS - E a partir daí, não parou mais de escrever sobre esse tema? MG - Você precisa ver, quando eu mergulho nos estudos eu tenho que parar, porque eu começo a me sentir mal, fico com uma ansiedade da impotência, eu escrevi o livro “Marketing da Transformação para Sobrevivência”, em 2010. CARTA POLIS - E aqui para o Sul do Hemisfério, os efeitos também serão catastróficos? MG - Sim. O degelo do Ártico joga mais água doce nos oceanos. Você tem a Corrente do Ártico que desce fria e vai para baixo e se encontra com a Corrente do Golfo que sobe quente. Esse encontro forma um redemoinho que forma uma circulação de água no ar e que por sua vez que emana o calor para cima. Coisa perfeita da natureza, mas esse círculo está se quebrando. Outro círculo que está se quebrando é a Corrente do Pacifico. O grande cientista britânico Sir Gilbert Walker, que estudou o fenômeno nos anos 20 e os demais cientistas dizem que está perdendo força, Já perdeu mais de 15%. Então, você tem os lamaçais de tufas nas cidades, a Corrente de Golfo, a Corrente do Walker do Pacifico. Você tem toda a interferência planetária e efeitos potencializados na natureza em nível planetário. CARTA POLIS - Essa inação mundial deixou o Sr. mobilizado para escrever seus livros? MG - Existe um “problemaço” no planeta, que não está tendo nenhuma conversa. Sabe o que é a pior coisa que está acontecendo? São os lamaçais de turfa na Sibéria. Sabe o que é o laCARTA POLIS - O Sr. recebeu algum o sinal para dedicar-se maçal de turfas? Houve uma repentina era glacial no planeta, ao estudos? cobrindo florestas com neve e com vegetação de todos os tiMG - Uma certa vez, em 2008, fui ao mépos. Na Sibéria, os cientistas fizeram um dico. Tive um surto e fiquei 18 dias dentro levantamento em que o degelo fez aparede um quarto. Estudei demais tentando cer a floresta e a vegetação. Só que, como Existe um exprimir minhas visões falando com as ficou muito tempo soterrada virou lama. “problemaço” no pessoas mas sem conseguir. Meu médico Daí os lamaçais das turfas da Sibéria. me disse para que procurasse o AA. Perplaneta, que não guntei o que era. Ele disse “Ambientalistas CARTA POLIS - Traduza esse fenômeno, está tendo nenhuma Anônimos”, porque eu mergulhei muito, em números. conversa. Sabe o que fiquei apreensivo, ai veio a angústia a afliMG - Os cientistas fizeram um levantação e essas coisas todas. Deus sabe o que mento e calcularam que apenas em uma é a pior coisa que está fiz. Aí escrevi o “Tarde Demais?”. parte na Sibéria existem emanações de acontecendo? São os “O que você faz aqui, a árvore que você 70 bilhões de toneladas de gás metano. corta aqui, vai influenciar na Austrália, O gás metano é 24 vezes mais potente do lamaçais de turfa na que é o continente que já está sofrendo em que o dióxido de carbono. O que resulta Sibéria. Sabe o que é níveis extremos” em 1 trilhão e 500 bilhões de toneladas de dióxido de carbono indo para atmoso lamaçal de turfas? CARTA POLIS - O Sr. teve estímulos para fera. Trágico para o planeta. Trágico para Houve uma repentina escrever a respeito de tema tão pré-cono efeito estufa. O que acontece é você tem ceituado no Brasil? desmatamento com o aquecimento, mais era glacial no planeta, MG - Veja. Estava numa palestra num insdegelo, mais dessalinização das águas cobrindo florestas com tituto de engenharia sobre a questão amdos oceanos. Vai acontecendo um efeito biental. Só havia PhD, professor da USP em cascata, um induzindo o outro. Você neve e com vegetação só bambam. Perguntavam-me: “o Sr. é advê os cientistas chegaram à conclusão de todos os tipos. vogado que entende de meio ambiente?”. que a Corrente do Golfo perdeu uma forPercebi que estavam me gozando. Tamça imensa, quase 50 por cento de perda. bém percebi naquele tempo que o brasiQual a responsabilidade da Corrente do leiro não acredita em brasileiro. Se fosse um alemão que viesse Golfo? Ela leva para Europa 1 bilhão de watts de energia. Logiaqui, todos acreditariam nele. Lá no instituto eles não conse- camente, a Corrente de Golfo aquecia a Europa porque leva o guiam entender como que um cara tinha tanta informação! calor de que precisam lá. CARTA POLIS - Essa sua dedicação ao ambiente, começou quando? MG - Desde de Estocolmo, na Suécia, em 1972, quando houve a primeira reunião de cúpula do meio ambiente, e depois disso, nas 300 reuniões e seminários internacionais, todos os índices ambientais pioraram. Não houve um só que tenha melhorado nos vetores de influências econômicas e financeiras. Os presidentes não resolvem nada. Esta última cúpula ambiental que houve no Peru agora, não resolveu absolutamente nada. Foi 47 PÁGINAS AZUIS CARTA POLIS - Essa sua afirmação sobre os efeitos potencializados resume toda a sua filosofia, não? MG - Sim, acertou. O que são efeitos potencializados? O que você faz aqui, a árvore que você corta aqui, vai influenciar na Austrália, que é o continente que já está sofrendo em níveis extremos. A chuva que antes caía na Austrália pelas forças dos ventos estão caindo depois no mar. “O que está acontecendo claramente é o que o sistema climático da Amazônia. Ele interfere no resto do Brasil, na América do Sul e no mundo”. água e assim se tinha os reservatórios cheios. Mas, daí foram cortando as árvores. Menos água para cima, para a copa das árvores altas. O vento agora recolhe menos água. Bate na Cordilheira dos Andes e não tem forças pra vir para cá. CARTA POLIS - Então chove mais na Amazônia e não mais tanto no Sudeste? MG - Não chove mais na Amazônia porque a carga de chuva que vem pra cá é muito reduzida. Não vem mais e cai forte lá. Causa enchentes há vários anos, que vai inundando o Acre, Rondônia e aqueles rios da Amazônia. O que está acontecendo no Sudeste é dramático; O Rio Paraopeba, que abastece Belo Horizonte perdeu a sua principal nascente. O Rio São Francisco perdeu uma das grandes nascentes dele lá em Minas Gerais. Agora é o Rio Paraíba do Sul que seca. Estão querendo fazer a transposição do rio para jogá-lo em São Paulo. Não é solução. O rio já está em uma região altamente necessitada e as indústrias já estão colocando dejetos químicos direto nos rios, matando os seus sistema circulatório e respiratório. CARTA POLIS -Vamos descer para o Brasil. Quais são os efeitos potencializados aqui? MG - Veja o seguinte. No Brasil é só analisar: Só mentes infantis repassam a baboseira de que São Pedro não está abrindo as torneiras do céus, por isso não está chovendo. Cabe aos homens não a São Pedro! O que está acontecendo claramente é o que o maior cientista brasileiro Antônio Nobre avaliava sobre o sistema climático da Amazônia. Ele interfere no resto do Brasil, na América do Sul e no mundo! É o chamado pulmão do mundo. Não interfere somente aqui. Antônio Nobre é claríssimo. Embora cientista importantíssimo não é bem avaliado pelos políticos, sabe por que? Porque é brasileiro. CARTA POLIS - O Sr. considera-se um desses brasileiros injustiçados? MG - Antes que todo mundo falasse, eu já estava falando nisso, mas por ser brasileiro não dão valor. Não é por vaidade nem por dinheiro que escrevo e falo. É por preocupação. Quero morrer pelo menos consciente de que eu lutei. Se não consegui, tentei mudar a grave situação do Brasil. CATA POLIS - E agora, o que o Sr. prega? MG - A natureza está enfraquecida, daí perguntarmos: o que está havendo? Você não está vendo que está nevando tanto nos Estados Unidos? Tudo que está acontecendo no mundo está nesse livro de 2008 (refere-se a seu livro “Tarde Demais?”). Qual é a solução? A solução para a crise da água e do clima está aqui: é despertar as instituições, empresas e pessoas. Se nós não transformamos , nós não vamos sobreviver. Isso se chama: conscientização. CARTA POLIS - De prático a situação climática do Brasil influindo na falta de água e de energia, vai piorar? MG - O que acontece em São Paulo, Rio e Minas e no Sudeste vai se estender pelo país. O que acontece é o desmatamento da Amazônia. Uma árvore daquelas antigas e grandonas tem o efeito evapotranspiração com 1.000 litros de água por dia. Essa água é acumulada em cima das grandes árvores. Vêm os ventos do Atlântico, recolhem as águas e vão para o Pacifico. Chegam à Cordilheira dos Andes, batem nela e voltam. Com a força dos ventos, a quantidade de água era muito grande. Vinha a São Paulo que tinha a sua conhecida garoa, miúda e persistente. Era muita água em cima de São Paulo enchendo os mananciais. Os ventos batiam a traziam CARTA POLIS - O Sr. não está sendo muito pessimista? MG – Não. Juro que queria escrever o livro “Tarde Demais?” sem ponto de interrogação. Sabe porque coloquei a interrogação? Para não tirar a esperança. Por força dessa esperança me tornei profundamente religioso. Já tinha uma base religiosa, e depois eu disse: só Deus para ajudar. Tenho hoje uma chácara em Brasília que é só para oração. E não vou parar por aí. Um último desabafo nessa entrevista: precisamos de estadistas! 48 ECONOMIA QUEM TEM MEDO DE JOAQUIM LEVY? Q uem, no governo, poderá ser contra um ministro que luta para estabilizar as contas públicas e pavimentar o caminho para uma nova era de crescimento? No entanto, há muitos no governo que não toleram o jeitão frio (no sentido de profissional), impassível e apolítico do ministro Joaquim Levy. O que ele fez em Nova York foi restaurar a dignidade de um ministro da Fazenda do Brasil. Superou o estilo de “ministro da Fazenda companheiro”, meio prócer, meio equilibrista no manuseio dos gastos públicos. Por isso é tão rejeitado por uma parte o governo Dilma engajado na mística de “governo gastador” o que para eles, é sinônimo e “governo progressista”, ou “go- verno desenvolvimentista”. Para eles, ainda, o oposto é “governo neoliberal”, “governo privatizador”, “governo antissocial”. Levy procura tão-somente equilibrar as contas, restaurar a confiança do mercado e voltar a atrair investimentos privados produtivos para o país. Nada mais. Sua linguagem não é a de um comício permanente nem está engajado numa disputa ideológica travada entre “nós” e “eles”. Quer – se deixarem – arrumar as contas, aplicar corretamente o orçamento, não fazer criatividade contábil. E sobretudo ser absolutamente transparente – aliás, a principal marca que deixou em Nova York, entre os investidores. 49 ECONOMIA PANE ELÉTRICA: NENHUMA USINA DESDE 2002 N ão há sequer uma obra de grande porte no setor de energia iniciada e terminada nos governos Lula e Dilma. A constatação é de um estudo do especialista Alamir Longo, concluindo que o setor elétrico está em pane. Aponta: das 23 maiores hidrelétricas em operação no país, 20 foram obras dos governos militares, sendo que Itaipu é a segunda maior usina do mundo e Tucuruí a quinta, ambas construídas naquele período. Das 23, a mais recente das grandes em operação – a Hidrelétrica de Machadinho, com 1 140 MW – foi construída de 1997 a 2002, no governo FHC. Depois dela, nenhuma outra foi inaugurada. A constatação de que o Brasil está entrando em colapso energético vem dos dados seguintes sobre as maiores hidrelétricas em funcionamento n o país que produzem mais de 1.000 megawatts: Hidrelétrica de Itaipu, 14.000 MW – construída na década de 80. Hidrelétrica de Tucuruí, 8.370 MW – construída na década de 80. Hidrelétrica de Ilha Solteira, 3.444 MW, construída na década de 70. Hidrelétrica do Xingó, 3.162 MW, iniciada em 82 e concluída em 1994. Hidrelétrica de Paulo Afonso IV, 2.462 MW, concluída em 1979. Hidrelétrica de Itumbiara, 2.082 MW, concluída em 1981. Hidrelétrica de São Simão, 1.710 MW, concluída em 1978. Hidrelétrica de Foz da Areia, 1.676 MW, concluída em 1979. Hidrelétrica de Jupiá, 1.551 MW, concluída em 1974. Hidrelétrica de Itaparica, 1.500 MW, início da obra em 79 e operação em 1988. Hidrelétrica de Itá, 1.450 MW, início da obra em 96, término em 2000. Hidrelétrica de Marimbondo, 1.440 MW, construída de 1971 a 77. Hidrelétrica de Porto Primavera, 1.430 MW, construída entre 1980 e 88. Hidrelétrica de Salto Santiago, 1.420 MW, entrada em operação, 1980. Hidrelétrica de Água Vermelha, 1.392 MW, entrada em funcionamento 1979. Hidrelétrica de Segredo, 1.260 MW, construída entre 1987 e 91. Hidrelétrica de Salto Caxias, 1.240 MW, construída entre 1995 e 99. Hidrelétrica de Furnas, 1.216 MW, inaugurada em 1963. Hidrelétrica de Emborcação, 1.192 MW, início de operação em 1986. Hidrelétrica de Machadinho,1 140 MW, construída de 1997 a 2002. Hidrelétrica de Salto Osório, 1.078 MW, entrou em funcionamento em 1975. Hidrelétrica Luiz Carlos Barreto, 1.050 MW, início de operação em 1969. Hidrelétrica de Sobradinho, 1.050 MW, construída entre 1973 e 79. Os leitores tirem suas conclusões. 50 ECONOMIA MARANHÃO PERDE REFINARIA, MAS DINO FAZ LIMONADA O governador Flávio Dino, procura revolucionar a gestão do governo do Maranhão e resolveu inovar. Criou a Secretaria de Minas e Energia com um espectro bastante largo para um estado que tem reservas de gás, para as quais o velho Maranhão jamais ligou. Inseriu na secretaria nome um respeitado nacionalmente, o ex-ministro dos Transportes José Reinaldo Tavares (governo Sarney), ex-presidente do DNOS (Departamento Nacional e Obras e Saneamento, extinto), superintendente da Sudene, governador do Maranhão e ex-secretário de Obras do Distrito Federal. Um currículo extremamente ada e também político: foi deputado federal em deputado federal de 1990 a 1994. O Maranhão guarda riquezas no subsolo de suas plataformas terrestre e marítimas tais como petróleo, gás, ouro, titânio, bauxita, rochas e areias especiais. Tudo isso jaz inexplorado. Claro, não dava voto. E também dava trabalho, pois qualquer política pública destinada ao incremento do setor mineral defronta-se com sério obstáculo: a ausência de estudos e diagnósticos que a orientem. Governos empíricos que dão preferência a obras de fachada não cuidam disso. O ministro Edison Lobão até que tentou. Determinou que se iniciasse o levantamento, avaliação e diagnóstico das principais cadeias produtivas da base mineral do Estado do Maranhão, considerando as suas variáveis geológicas, eco- nômicas e ambientais, bem como a definição de critérios de sustentabilidade para o desenvolvimento dos empreendimentos minerais no Estado. Em outra frente autorizou a ampliação dos estudos e prospecções da ocorrência de gás e petróleo em toda a costa maranhense, enquanto pavimentava o caminho para a viabilização da construção, no Estado, da maior refinaria de petróleo do Brasil. Só que a tal refinaria gorou. O então presidente Lula foi com toda a pompa ao Maranhão lançar a pedra fundamental do empreendimento da Petrobras. Lá estavam a governadora Roseana Sarney e o senador Edison Lobão na foto. E o senador José Sarney, claro. Não foi para a frente. A Petrobras de Graça Foster cancelou a refinaria, como cancelou a do Ceará, no governo Dilma. Chegou o governo Flavio Dino, que deseja empreender. Criou a secretaria de Minas e Energia e lá instalou o ex-ministro José Reinaldo, que tem portas abertas em Brasília. Técnicos de seu tempo nos Transportes e DNOS ocupam hoje cargos estratégicos do governo no Secretaria de Portos. Do limão, Dino quer fazer uma limonada. Não importa que a Petrobras tenha cancelado a refinaria. Pode haver mil pequenos e médios empreendimentos minerais a partir dessa planta inicial de uma refinaria no Estado. Para tal, José Reinaldo foi chamado. Para dar o ouro negro ao Maranhão que o clã Sarney não deu. 51 ÚLTIMO S NAR>>>>> Álvaro Campos NADA ACONTECEU Uma entrevista de José Sergio Gabrielli à Folha de S.Paulo, foi um primor de escapismo, perfeitamente adequada ao sistema legal brasil eiro, leniente com a corrupção: 1) a apuração dos malfeitos deve ser feita pela políc ia, e não pela empresa; 2) todos os denunciantes das delações premiadas estão exage rando, sem provas ou estão encobrem seus interesses; 3) não há problema com indic ações políticas para a diretoria da estatal; 4) Os R$ 2OO milhões que Pedro Barusco disse terem sido desviados para o PT coincidem exatamente com o que o partido apuro u com doações legais, mas uma coisa nada tem a ver com a outra; 5) as refinarias no Nordeste e mais a de Pasadena se justificaram pelo aumento da demanda de comb ustíveis na época; 6) ninguém foi culpado pela aprovação da compra de Pasadena no Conselho de Administração. Enfim, nada aconteceu na Petrobras, é tudo invenção. MINISTRO FALHA O ministro Joaquim Levy não deveria ter baixado uma nota oficial para desmentir um boato (que o governo sequestraria a poupança). Boato não se desmente. Aliás, não se desmente nada - professava o velho e sábio general Golbery. O que Levy poderia ter feito é ir à próxima agência da Caixa e aberto uma conta de poupança em seu nome. Só isso. Mataria o boato a pau. ISTA erá demolir seus EDUARDO FRASCun a frase bombástica por dia pod um de na roti sua ar tinu con ha o estamos lá Se o deputado Eduardo sso. Uma das recentes foi: “Nã sar a reinar absoluto no Congre pas e sma are atuação da Casa Qu da es ant rios adversá não tem razão para reclamar da ma Dil o ern gov o que r tua pon (na Câmara) para agradar” ao nos últimos dias. ALIADOS TENSOS As conversas entre Lula e Dilma deveriam fluir através de um ritmo de maior naturalidade, já que toda vez que se encontram é sempre em ambiente de máxima tensão e denotando crise aguda. Os dois falham nesse aspecto, ao demostrarem o vício do utilitarismo, pois um só procura o outro na extrema necessidade. Poderiam ser amigos e aliados, e basta. CAIXA NERVOSA O funcionalismo da Caixa Econômica Federal aguarda a posse da nova presidente Miriam Belchior para confirmar se ela vai anunciar um pseudo-plano de abrir o capital. Caso confirme, seria detonado um movimento nacional de protesto. Por enquanto, a intenção não passa de intenções sinalizadas pelo Palácio do Planalto. 52 PMDB DELIRA Numa incursão entre cérebros do PMDB e torna-se visível constatar-se que o partido constrói um projeto de poder de forma profissional, com extrema sagacidade. Projeto aliás em marcha. Já estão querendo saber as medidas da faixa presidencial. Sem golpe, evidente. A PALAVRA EMPENHAD não haja um negociador que repregidas à base governista pela Câmara caso Muitas novas derrotas serão infli empenhada em compromissos a garantir aos paramentares a palavra poss que e alto Plan do cio Palá o e sent ro da Articulação José Múcio assim são do governo Lula: os ex-minist agir a os últim Os os. mid assu s tico polí vam neles. Depois, em ninm, acontecia. Os parlamentares acredita etia Prom . ilha Pad re and Alex e teiro Mon guém mais. DILMA WHO? Em pelo menos duas intervenções na sua primeira entrevista - dada ao Jornal Nacional - Aldemir Bendine fez um esforço para desvincular da presidente Dilma sua indicação para presidir a Petrobras. Nas duas vezes atribuiu sua nomeação ao Conselho de Administração da empresa. Não citou Dilma uma vez só. SEM ESTRILO O governador Flavio Dino não vai pagar o precatório de R$ 100 milhões em favor da empreitei Constam, ré escalonados pela ra. ex-governadora Roseana Sarney em acordo, para serem pagos em 24 prestações. Foi iniciado um processo criminal e já houve um a liminar suspendendo o acordo Não adianta a empreiteira estr . ilar. 53 ECONOMIA RENAN E EDUARDO DÃO CARTAS AOS INDUSTRIAIS O Congresso Nacional começou março com as rédeas do poder no país nas mãos. Imprime a velocidade que quer à carruagem do Poder Legislativo e o Palácio do Planalto tem que obedecer. Manda quem pode, obedece quem tem juízo – é o velho adágio da política brasileira de todos os tempos, válido para civis ou militares. Civis e paulistas. Petistas e tucanos. Gregos e goianos. E quem pode hoje é a dupla Renan Calheiros-Eduardo Cunha (ou não seria Eduardo Cunha-Renan Calheiros?) Eles formulam, combinam e executam. Este é o PMDB no poder, acostumem-se. Nada a ver com PT e ou PSDB. PMDB não perde tempo com firulas. Vão na jugular o sistema do poder. No último 27 de fevereiro, a dupla do poder tinha agendado um encontro na Confederação Nacional da Indústria com industriais de todo o país para discutir uma agenda parlamentar de mútuo interesse com o empresariado. E como há agenda a discutir! Código de Mineração para ser votado, leis trabalhistas, tabela do Imposto de Renda, ajuste fiscal. Os industriais se interessam também pela reforma política uma vez que incorpora o tipo de financiamento de campanhas políticas que terão pela frente, como doadores dos partidos. Esse vinha sendo o papel da presidente Dilma: ouvir o empresariado e tomar a iniciativa de propor a mudança da legislação que garanta a maior produtividade industrial do país e crie um ambiente de confiança. Acaba sendo, todavia, Renan-Cunha o canal de diálogo com as classes produtoras, por exclusão do governo, por fragilidades conjunturais do Palácio do Planalto, imerso em suas crises entrecruzadas. 54 OPINIÃO A PROPÓSITO DO DIA DAS MULHERES, ESTAMOS MELHORANDO O PADRÃO! M uitas palavras já se escreveram sobre o recém-comemorado Dia Internacional da Mulher e me atrevo a colocar algumas mais. Leio muitas estatísticas sobre a chamada discriminação da mulher no trabalho. Outro dia divulgou-se uma, sobre a restrição ao acesso aos postos de direção das empresas, cargos públicos, partidos políticos e tudo o mais que decide e manda. Perdoem-me, leitoras. Vejo por outro ângulo. Vocês repararam que temos duas ministras do Supremo Tribunal Federal, entre os 11 juízes? São ministras na Corte Suprema que fazem a diferença nos julgamentos, Carmen Lucia e Rosa Weber. Integram 18% da Corte Suprema. Queríamos o quê? Não corramos. Não apressemos o caudaloso rio da igualdade. Chega de afirmar: concorramos mais com os homens! Não! Preparemo-nos mais e melhor. Estudemos. Especializemo-nos. Repararam quantas advogadas militam hoje em dia nos tribunais, fóruns e escritórios? Quantas defensoras públicas por esse vasto interior brasileiro dão guarida aos que não têm como pagar advogados? Cito a nossa para: quantas jornalistas militam na mídia brasileira, reflexo de um fenômeno da imprensa mundial? Incontáveis profissionais. Recorre-se sempre ao Congresso Nacional como pior exemplo da chamada discriminação das mulheres. Não vejo assim. A resposta está na cultura política e eleitoral retrógrada não somente para as mulheres, mas também para os homens. Tem havido a cada eleição um movimento gradual de evolução das cadeiras de mulheres no Congresso. Elas se Ellen Barbosa é diretora da impõem pela diferença POLIS.COM e da CARTA POLIS e qualidade. Estão aí as senadoras Ana Amélia, Gleisi Hoffmann, Lidice da Matta, simbolizando as demais. Está aí a deputada Luíza Erundina. Todas, melhorando a representação feminina. Padrão constante de melhoria representativa. Aliás, parta mim não existe bancada feminina. Existe, sim, bancada de parlamentares brasileiros iguais e compromissados para a melhoria do nível da política, que anda deveras nivelado por baixo. Sou contrária à departamentalização da ala feminina dos partidos em “PMDB Mulher”, “PSDB Mulher” e assim por diante. Não seria ridículo se houvesse um “PMDB Homem”? Então retirem o ridículo de cima do gênero! 55 Política. O que a mídia não cobre, a gente descobre. Carta Polis. Mais de 28 anos nos bastidores da política e do que move o país. Notícias, opiniões, temas polêmicos, antecipação de tendências. Acompanhe os principais fatos da política e negócios com um olhar crítico e atual. cartapolis.com.br SCN Quadra 1 Bloco E Sala 512 Edifício Central Park – Brasília DF (61) 3201-1224 [email protected]