Entrevista do Mestre Guilherme Borba à Revista Equitação
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Entrevista do Mestre Guilherme Borba à Revista Equitação
ffi rrt o .s U} íl\ È C}} a \_ rt_ fTí r1 E':T IJ ooos aqueres que co- ';ã nhecem o Dr. Guilherme Borba sabem e sentem sffi de um dos grandes Mestres da equi- rì tação do nosso Ìempo. Só a sua modéstia e gentileza naturais impedem r(\LJ que estão na presenÇa que o Mundo conheça um cavaleiro de tão raras qualidades. Mudou a forma como se pratica a equitaÇão e se criam cavalos em Portugal, rrt f'ì.i "e O Puro-sangue Lusitano, um dos maiores tesouros do nosso país (na minha 7-1- lrl opinião só igualável à nossa literatura e poesia), encontrou em Guilherme Borba o seu maìor alìado e guardião. Tal como urn artista que passa L. toda a sua existência melhorando a sua Obra de Arte, o multifacetado veterinário, criador, equitador, cava- leiro, Juiz Internacional de Ensino (etc.) Guilherme Borba, desenvolveu, meìhorou e sonhou, durante tr{ -n rr< mais de meio século, com um Cava- lo Lusitano perfeito. Exemplares como Galopin de la font ou Oxalis da Meia-lua, que têm vindo a alcançar assinaláveis sucessos nas principais compeÌições mundiais, encontram a sua origem na selecção de Guilherme Borba, o mesmo acontecendo com o Lusitano Alter Real, O que até aqui foi dito garantiria na História da Equìtação, estou cer- LU v.ì tr< z Guilherme Borba com Hostil Um Gigante da Eq to, um lugar cimeiro a Guilherme Borba mas, na verdade, trata-se apenas de uma parte diminuta dos seus feitos. Na realidade, estamos perante o criador da Real Escola Andaluza de Arte Equestre de Jerez, conjuntamenÌe com Alvaro Domecq Díaz e o seu Íilho (Alvarito), e o criador da Es- cola Portuguesa de ArÌe EquestÍe (EPAE), embora, nesta, o termo correcto se aproxime mais ao de "re- creador" pois, na verdade, assisli- mos ao ressurgimento da Picaria Real, criada durante o século XVlll, por D, João V O Magnânimo, A concluir esta introdução, um tanto ao quanto mais alongada do que é usual, embora pense que a ocasião assim o justifique, salientaria Fffi4'í&SËfrstFn :'f r':" i: \l ' o Kevrsta Lqurtaçao jr 1í..s{iflü4!..9 que proximamente, em Paris, entre 23 a 25 de Novembro, nessas noites perante a Homenagem a este grande Cavaleiro e ao seu sonho, de que cadeiro em galope concentrado, alÌernando-o com piruetas, segurando na mão esquerda os dois pares de rédeas (Freio-Bridão), surgiu-me a que seÍão seguramenle inesqueci veis, quando as quatro escolas, Escola Espanhola de Viena (que sempre Íoi o modelo do entrevistado), o Cadre Noir de Saumur, a Real Escola Andaluza de Arte Equestre de Jerez e a Escola Portuguesa de Arte Equestre (ambas formadas por Gui- Portugal recuperasse não só o seu lhermc Rnrhnì sc vv /' nnreggp{6p91-1-1 sY'v\ montar o seu garanhão Hostil, de for- ção Clássica". pela primeira vez em conjunto, para além do Íeito histórico que encerra, estaremos também, como se a His- ma simplesmente Brilhante e Inspira- os mais complexos exercícios de porìância e cúntribuição únicas para a tória fizesse justiça por moto próprio, Grande Prémio e, quando saiu do pi- equÌbção em Portugal, na criação e t -h riìL'iÌr: _f legado como, o seu verdadeiro lugar, no panorama Equestre Mundial, Não me querendo alongar, gosta- máxima de Alois Podhajsky quando, ria apenas de parÌilhar uma recorda- no seu livro O Ensino Completo de Cavalo e Cavaleiro afirma: "Segurar ção pessoal, Muito recentemente, numa única mão os dois pares de ré- numa inesquecível tarde de Verão, presencÍei o Dr Guilherme Borba deas, utilizando apenas o freio, é a da, executando de forma superior, perfeição máxima da Arte de Equita- O Dr, Guilherme Borba, pela sua im- .Éi{'ï ü;\ E t, tJlTileí:O afamada Escola de Viena. Na verdade, a recriação da EPAE, em termos equestres, foi um dos grandes Íeitos das últimas décadas do século oassado. Durante esses dias vi como Guilherme Borba, imperturbável, Íirme, mas calma- mente, organizava a sua Escola. Havia algo de estóico e de extrema dedicação no seu trabalho. 0s cavaleiros estavam claramente inspirad0s pelo seu treinador e mentor e era claro que sem ele ao leme, a escola teria desaparecid0. Anos mais tarde, voltaria a Inglaterra, agora para avaliar cavalos Lusitanos. Ficou em minha casa, em Suffolk, onde montou os Sylvia Loch meus cavalos, e durante esse Íim-de-se- Treinadora, autora de livros, DVD's (etc.), sobre EquìtaÇão Clássica e Dressage. Destacada promotora e defensora do cavalo lbérico, em especial, do Puro-sangue Lusitano. mana, explicou-me vários aspectos da técnica de equitação que, nunca antes Fundadora da Lusitano Breed Socìety of Great Britaín e do Classical Riding Club. homem Grande, a forma como pôs ninguém me tinha explicado de Íorma tão clara. Nunca esquecerei como, sendo um o meu cavalo a dançar. Apesar de me ter encontrado algu- Que grande artista e que grande proÍessor, sempre preparad0 para dar sem mas vezes com o Dr. Borba em Poftu- receber nada em troca. É a generosidade qal, aquando das pesquisas para 0 meu em pessOa, ensina livro, The Royal Horse oÍ Europe, foi só conhecimento, sem medo que lhe façam sombra. Oue raríssima qualidade! Atra- e transmite todo o seu em 1986, com a vinda da Escola Portuguesa de Arte Equesire (EPAE), pela vés dele a Arte da Equitação perdurará. primeira vez, ao Reino Unido, que a Não consigo pensar em ninguém que te- nossa amizade cresceu. A ocasião era a nha feito mais, pelo cavalo e a cultura das mais solenes, a celebração do equestre, em Portugal. A sua contribui- Tratado de Windsor, na presença ção - única - permanecerá para sempre! da família real. Na altura, como Presidente da Sociedade Ingle- sa do Cavalo Lusiiano sugeri, como Íorma de promover a raça lusitana, que se organizasse também, uma série de E demonsÍações da EPAE, du- ê rante o Campeonato Nacional de Dressage. 0 público afluía € e Ë era notória a alegria na Íace de iodos aqueles que aplaudiam entusiasticamente. A I E= im- prensa britânica falava da uitação dos lusitanos E I g a Michel Henriquet, Cavaleiro e treinador de Ensíno de origem francesa. Aluno de Nuno Olìveira cuios os ensinamentos tem ajudado a d ívu lg ar i nte r nacional mente. Autor de diversas obra sobre Equitação Clássica.3. apuramento do Cavalo Lusitano e pela criação da Fscola Portuguesa de Arte EquesÌre (FPAÊ) é uma das figuras cimeiras da nossa histórìa equestre. Mesmo assim e sabendo que a hìstória dâ sua vida se confunde com os cavalos, pensando nos leitores mais novos, como surgiu a paixão pelos cavalos? Antes de tudo mais, porque mon- a e do lindíssimo espectácu- lo. A revista Horse and Um grande cavaleiro e um amigo muito querido Hound, mais associada à caça e às cqnidas publicou Íotogra- Quando a uma paixão comum se jun- fias e a Biitish Horse Society pu- tam a amizade e esÌima, cria-se um laço tei desde criança. O meu pai era blicou como capa da sua revista de fraternidade que iguala aos de sangue. uma ïotograÍia de dois dos cavaleiros criador de cavalos e cavaleiro, assim da escola. Oue triunÍo! Era agora claro como eu e os meus irmãos. Moráva- que estávamos perante uma escola, mos perto da Praça do Campo Pequeno e via o brilhantismo com que dia ombrear com a tã0 (e por direito) Com Guilherme. esse sentimento recíproco de afeição e simpatia foi imediato. Foi durante a primeira visita a 0divelas, no picadeiro de Mestre Nuno 0liveira, oue o conheci. Vinha com 0 seu cavalo profissionalmente organizada e que po- Revisra Equitafo 7 . .. '- -' : , :'--., eram apresentados os cavalos do João Núncio. E daí começou uma arte apaìxonante! Depois há a amizade com o Diogo (de Bragança) para a lição diária. Se a emoqão de ter en- c0ntrado um Mestre como Oliveira foi enoÍme, Íui também, imediaÌamente, conquistado pelo talento do aluno, de po- sição tã0 natural em sela, tão discret0 nas ajudas. 0 seu trabalho sobre um jo- que também goslava. Eu ia a Torre Bela montar e ele vinha cál Naturalmenle que trnhamos que aprender. Falei com o meu pai, que me arranjou alguém para me ensinar. Tinha visto um rapaz (Mestre Nuno Olivel- vem cavalo, ensinado pelo mestre, aproximava-se já de uma obra de arte. Desse dia e durante trinta anos, o seu exempl0, c0nselhos e críticas, sempre expressas de Íorma tão amigável, marcaram a mi- ra) em Vila Franca de Xira num concurso de cavalo de sela a montar os nha equitaçã0. É um admirável demonstrador dos princípios e da ÍilosoÍia oliveirista. 0 conhecimento que revela dos autores clássicos e a sua cultura experimental têm feitO dele um interlocutor de eleiçã0, que passa Íacilmente da reflexão à demonstraçã0. Se Anky van Grunsven Cavaleira e multi-campea Mundial e Olimpica na dìsciplina de Ensino/Dressage. res cavalOs, da sua coudeìaria ou de amÍgos, nunca negligenciou caval0s complicados e diÍíceis que rapidamente transÍ0r ma perante 0s nossos olhos. As suas qualidades equestres são tão elevadas como Até conhecer Guilherme Borba. Não sabia quem ele era. Montei dois cavalos em sua casa e um deles (Hostil) combinava comìgo. Era muito agradá- 0s seus valores humanos. Dotado de uma vel e bom de montar. 0s cavalos eram não só adequados como, bem treina- sensibilidade extrema, apenas encoberta por uma certa Íleuma da qual raramente dos. Foi uma tarde tão agradável. . . Pena que, só mais tarde, me apercebi como se afasta. Parece - aparentemente - calmo, pois pode, temivelmente, de um mo- era Íamoso. mento para 0 0utr0, sair desse estado, seja o provocador cavalo ou homem. Mas, logo que a situação se acalme, surge cavalos de Henri de ChaÌlanaz. Ele aceitou-nos como alunos. Comecei um dia mais tarde que o Diogo, te- estava a desbastar caísse com o ca- nho menos uma liçãol te disparalada. A verdade é que se enveredou pela lógica, pela razâo, pela normalidade. Penso que ainda Naturalmente quando falamos de cavalos, falamos do Lusitano! é certo que pode escolher entre 0s melho- o seu Íabuloso humor. Claro que siml Como dizia o Du- agora devia ser a EPAL a supervìsionar o desbaste dos cavalos em Alter. - da equitação, a uma arÌe para tornar também origem a um espectáculo. A razáo pela qual não tenho tanta simpatia por warmbloods tem a ver com fundo e a relação que desenvolveu mos, logo com cavalos que Ìenham projectos a que se propõe. A sua equita- a ver connosco, com a mesma tradi- ção e ensino são os de um grande mes- ção e educação. Quem o conhece sabe o cuidado e a quase inovação que foi em Portu- respeitad0r dos princípìos funda- gem. Um cavalo que se destina ao Ensino ou Alta Escola, é um cavaìo muito especial, fino, de raras qualidades, que sobressaem logo a um olhar mais experiente. ao Íim, e de Íorma brilhante, todos os tre, Assim nem se chegavam a criar cer- Ìos problemas que por vezes suÍ- os cavalos uÌilìzáveis. O que come.Õr I vvl nôr qêr rmâ neeeceirjglg lgg Yvu riamente a0 que alguns pensam, Ieva aÌé conde uma determinação que, e contra- nastro com uma rapidez no chão.,, (risos). Era uma coisa compleÌamen- que de Newcastle, "O maìs nobre e belo do Mundo, digno de um de rei em dia de lriunÍol' -. O Lusitano é oriundo da península ibérica, onde desde a pré-hlstoria, pela primÌtiva gineta, se deu origem a uma ciéncia o facto de não serem portugueses. Se nos dedicarmos a algo é bom que seja algo com que simpatiza- A sua personalidade de gentleman es- Guílherme Borba e Nuno OIÌveíra Terá sido esse conhecimento pro- toda uma vida que fez nascer a ideialsonho da criação ou recriação da Antiga Picaria Real? Mas, e antes de enveredarmos pela EPAE, há un episódio, de enorme importância histórica e que é conhecido de poucos, o Dr. Guilherme Borba esteve na ori- gem da Real Escola Andaluza de estilo pessoal baseado no aproÍunda- gal, a forma mais sensíveì e cons- Arte Equestrel Fui eu que lhes dei a ideia. Estava a contar ao Alvaro (Domecq Y Díez) mento de c0nstantes investigações. cienciosa como começou a desbastar e ensinar cavalos, Ìalvez por pen- e ao Álvarito (Aìvaro Domecq Romero) o meu objectivo de recriar a Pica sar no Íuturo de cada cavalo ria Real e de como o governo ern Portugal nào dava qualquer importancia. Prontamente o pai Domecq Ài^^^ ,i^"^^ l^ ^i, razemos ca ilus aluuareS utsse il^^se ^^^ mentais da equitaçã0, desenvolveu um A sua epopeia espanhola, considerada desmesurada na época, a de fazer ressurgir uma academia real digna do século XVlll, Íoi um feito. Penso que a escola de Jerez nunca teria se desenvolvido sem os princípios e fundamentos criados por D. Diogo de Bragança Vlll Marquês de Marialva Equitador e autor de obras de referência como Arte Equestre e A LquitaÇào em Dictonário Pícatesco .. . Na época Íoi revolucionário pois até entâo era uma brutalidade, uma estupidez! Só fazia com que quem Guilherme. PosÌeriormente a criação da Escola Portuguesa de Arte Equestre, em condi- Guilherme Borba é o maior cavaleiro de escola, português, desde que come- ções materialmente precárias, mas numa progressão constante, conÍirmam a sua çou a segunda metade do século autoridade e talento, amplamente recom- aluno do Mestre Nuno 0liveira e com a pensadas pelo interesse que tem desper curiosidade daquele que sabe que não tado nos mais variados públicos. Proximamente, em Paris, nos espectáculos das quatro escolas, em Novem- sabe tudo continuou a estudar, Íazendo bro, não nos esqueceremos que Guilher- la, frequentou os cursos que a F.E.l pro- me está na origem de duas delas e, nelas, movia para ter 0 atestado de Juiz das através dele, a fllosoÍia de 0liveira. As competências de Guilherme, o seu talento e vontade marcaram o mundo XX. Não se contentando com 0 ser o melhor estágios na Escola de Viena, sobretudo 0 ensino do Ares Altos e Saltos de Esco- provas de Ensino mais complicadas. Junta os seus conhecimentos sobre os equìdeos aos de Fernando Sommer equestre, multo para lá da fronteira portuguesa. Desejo, a P0rtugal e aos seus cavaleiros, que surjam muitos equitado- d'Andrade, de José Athayde, João Fiìipe res da envergadura de Borba. idades, para 0s inscreverem no livro que Graciosa, para juntos classificarem éguas, potros, garanhões de diÍerentes Diogo de BraganÇa, Jaíme CelestÌno da Costa, Guilherme Borba l -.";"t. l, r- ,-,' ., ''-- ì i ' 1..' ' l .l ..: vìria a preservar o estalão da nossa raça o a Grupos de ïrabalho. "Livro do Puro Sangue Lusiiano". A estadia longa em Alter trouxe-lhe um 0utr0 ensinamento, a necessÍdade Assim o médico-veterinário Dr. Guilherme Borba tendo obitdo tanto conhecimen- de uma selecção dos cavalos de Alter. t0 sobre o armentio cavalar vai enrique- Regressado à capital Guilherme Bor- cendo 0utro dos dons natuÍais que possui: ba distingue-se pela sua capacidade de o de Íormar novos cavaleiros seguinoo as re- pedagogo e, o Íamoso coudeleiro, esquecer que, o primeiro local do mundo onde se montou a cavalo Íoi no sudoeste da península lbérica, onde é hoje Portugal, Na verdade só não conservamos os ares altos, mas para isso teve juntando esta Íaculdade à de organizador Íunda a convite de D. Alvaro Domecq e gras que tinha criado. Diez em 1975 a Escola Andaluza de Arte Domecq, Guilherme Borba Íez rra- Viena (fscola Espanhola de Equitação) um papel importantíssimo e nós inspirámo- Equestre e em 1979 a Escola Portuguesa de Afte Equestre. Esta tem uma mui triste balho notável: preparou um grupo de cavaleiros jovens para a escola que na- nos em Viena, Asslm que se reÌomaram revelaram-se como se história de altos e baìxos mas, tem sido quela terÍa estava a ser criada. um grande exemplo da tenacidade A experiência de Jerez foi um estímulo para criaqão em Lisboa de uma esco- quem de Íundou, dos que com ele colaboraram desde a primeira hora e dos que Íeliza mente actualmente a prolongam. Na lin- guagem Írancesa do século XlX, aos homens desta estirpe e qualidade chamavam um a um pois nunca Íoram muitos: "hom- Em Jerez, por solicitação da Íamília la de afte equesÌre. Essa um estivessem adormecidos. Íoi uma das ori- gens da "Escola Poftuguesa de Arte Equesïre" de que Guilherme Borba Íoi Íundador e artÍfice. bém com muÌta Íirmeza as regras homenagem mandar dois abraços ao Guilherme: um do velho amigo Diogo e outro do mais "novo" Marquês de Marialva. va-se em presença de uma equitação de de Guilherme Borba foram seguidas. Esta- grupo duma escola à maneira de GuiIherme Borba. ^l^^ çrçJ gJlgldt ^^+^i^- | Anky van Grunsven com Hostil no Festival do Puro Sangue Lusitana. Ìsso". ao que eu retorqui quero, não importanles, a ratâo porque não os conservámos foi porque os ares altos não são úteis a quem pratica uma equitação de combate e, como Portugal conservou a equitação através síssimo estar a incitar o touro com um a Picaria Real, mas fez-se a escola e vez de arrancar, tapando o corpo No seu próprio picadeiro continua a foi um sucesso. Normalmente passava lá quinze dias, e é preciso ver que o ar e era apanhado pelo touro, $ ensinar cavalos no seu estilo próprio: o a maioria dos cavalos eram lusitanos fundo oferecia-se. e seu cavalo Hostil tem um ensino com- que Íoram sendo comprados por cá, pleto e notável como há pouco tempo, Anky van Grunsven (a grande cavaleira ao José Athayde, a mim. No Íundo esta foi formada logo com a ìntenção compTaram todos os cavalos ensina- de fornecer cavalos para a Picaria olimpica) nos dem0nstrou Íazendo, com dos que encontraram, O melhor cavalo de capriolas que lá tiveram era o Jardineiro, um cavalo meu e que eu ensinei, Íilho de um lipizzano do Real.... (onde Guilherme Borba quis Íìcar apenas como o cheÍe da escola e não como um s ,9 € s s s a executante) que foi feito do grande cavaleiro de Dressage? Não desapareceu. Ì um dia de ensaio, uma apresentação pú- € blica como se Íosse ela a ensinar o ca- o valo. s € o Íundador : o - Um esplendor da que nos lembrou Escola Portuguesa de Afie Equestre indubitavelmente um no- Jaime Celestino da Costa tável cavaleiro de escola. Quem me alimentou o desejo foi o Dr. Ruy d'Andrade, o único que em Portugal sabia Tive o privilégio de seguir, de 1962 até c0m0 cavaleiro de escola. Posso assim ter uma ideia das particularidades da sua evoluçã0. Discipulo dilecto da escola de Nuno 0liveira, I0g0 nesse temp0 de juventude, se maniÍestava a sua tendência para dar aos seus cavalos um ensino completo. Deste foi exemplo o do seu cavalo Benjamim. mais pessoal. Veterinário na Coudelaria de Assim pouco a pouco transformou os principios da escola onde Íora educado por uma série de regras que não eram destinadas a cavaleiros isolados mas sim com a espádua, dava um salto para Voltando à no Coudelarìa de Alter, Sim, por D. João V (O Magnânimo), não só com o ouro do Brasil, mas Ìambém, com bom gosÌo. Não nos podemos esquecer que a rainha, D. Maria Ana de Áustria, o influenciou no sentido de aqui criar uma escola como a de Viena e uma coudelaría para criar os cavalos para a escola, à semelhança de Piber e recriação da Picaria. Segundo ele go mas logo de início com D. João V No fundo, o Dr. Borba ao ir à Ësco- Qual a designação que considera mais correcta: recriação ou criação? No fundo é recriação pois Portugal Ia Espanhola a Viena, estava como que a refazer o processo inicial çonr D. João V? Foi Ìambém essa mêntê a ideia, naÌural- ro a ovnolÂnnir,-,- a n Carlos Lopes Equitação. l\lanteve a coudelaria em - -orÍecçao ^r da Escola de Viena, a par com a sua tradição única é uma referêncía. Há quem diga que a nossa escola usa Seleccìonador Nacional de Ensino, Membro da Comissâo Técnica de Ensino da FederaÇào Equestre Portuguesa. Alter, na tapa do Arneiro; manteve os dois pilÕes para lmitar a de Viena, trajes, através dos cavaleiros tauro- drade, Luz da Liberal e Nobre Arte da Cavalaria e temos o Pícadeiro mas no tratado do Manoel Carlos de Andrade há gravuras com dois pilões, além de outras, com um. Andrade menciona também algo muito imporÌante, segundo ele, a primeira Real em Belem (hoje Museu dos Coches). Além disso, não nos podemos pessoa a os utilizar, os pilÕes, foi o rei D. Duarte, e não o Pluvinel. los através dum ensino tipicamente indivi- dual, de aluno para launo, baseado nos AlÌer, longe do mestre, Guilerme Borba teve de criar os seus hábitos de trabalho. cavalo que. íazendo conÍusào, em era eu que tinha a motivação certa e obrigação de recriar a Picaria Real. séculos de interregno, tudo aquilo \ do combale com o Louro, era perigo- de Lipíca. Nesse sentido a inÍ uência (de Viena) até foi dupla e repetiu-se, não só na recriação da escola comi- conservou, ao longo de mais de dois Nuno oliveira formava os seus discipu- sua actuação começou a ter uma aspecto e tinha verdadeira cuìtura. Foi ele que me Íalou pela primeira vez, pouco antes de morrer, na hoje, a carreira de Dr. Guilherme Borba principios a que tinha chegado. Essa Íoi a Íormação de Guilerme Borba. Mas cedo a Mestre Nuno OìÌveira, Pluto Bela. Como lhe surgiu a ideia de recriar a Picaria Real? Professor de lvledicina, Cavaleiro Amador í' Sabendo que há seguramente pessoas que pela sua vida e convivência com o Dr. Guilherme Borba que terão muito mais a dizer sobre o Português que se assumiu desde sempre como o | presentes no livro de Manoel Carlos de Andrade e segundo autores muito garanto o sucesso, mas com muito gosto!". Claro que Espanha não tem a tradição equestre de Portugal com E no meio deste trabalho exaustivo Revista Equitação E'-h^v^ Com tenacidade e paciência e Ìam- me de cheval". Só resta para celebrar esta I0 Mas os Ares Altos estão incluídos no traÌado de Manoel Carlos de Andrade? que Íazia parte da Picaria Real e da Academia da Corte Portuguesa de máquicos e que são iguais às gravuras do livro de Manuel Carlos de An- ,r!'.i.-: L :).a-:- -) Embaixador do n0ss0 cavalo e da nossa dìÍícil exprimlr toda a personalidade e a sua equitação, não quero de qualquer modo importância como Homem e Senhor que deixar passar esta oportunidade ele representa n0 nosso mundo equestre, para enaltecer o seu imenso legado e simul- pois eu não sou um "Homem de caneta" taneamente como que lhe agradecer o mas vou-me valer do meu sentimento exemplo que tem sido para mim a sua paixão equestre, para que, em poucas pala- acqão de décadas. vras consiga descrever tão grande MesÌre da Equitação que é o Dr. Guilherme Borba. permltindo que através da sua selecção Homem simples, recatado, perÍeccìonista, pensador, paciente, disciplinado e principalmente super apaixonado pelo de Ensino, se aÍirmasse de novo e ao Íim A sua relação com a Escola Espanhola de Viena é muito antiga, inçlusìve foi condecorado pelo Presi- dente Austríaco, o mesmo tendo acontecido posteriormente com a Rainha lsabel ll do Reino Unidol F vercl:clc nrrc vuv fru'ri ennclecorado. vv' ' 'v outros factores de selecção sejam muito mais importantes, como o carácter, a Íuncionalidade, os andamentos... Exactol O Lusitano Alter Real é o cavalo mais bonilo que há e, desde nre exisle a FPAF como elemento Pela Rainha lsabel ll Íui condecora- de selecção e ensino do cavalo do como Membro do lmpério Britânico. depois de a monarca ter assistido a um espectáculo da EPAE, quanto à Auslria e a Escola Espa nhola Viena, talvez por ser tão amì- tendo o mesmo sucedido em Espanha com a Íundação da Real Esco- ''; nn ân qu cruuro...v uo aonnla Viena pratica aì im^^/lôniô rê il il|\,Ur rar rrs a s ljus ^t a melhoÍ equìtaÇào que vi até hoje. Conheci a escola e o seu míÌico director Coronel Podhajsky, cá, em 1952, num espectáculo que íizeram no Campo Pequeno. Lembro-me ìnclusive que tiveram um acidente de Font'Alva para ILìSUUa i^À^^ ^^i^ ^h^^^"^"UtìUe Urìegarailì a morrer pessoas. A beleza do Alter Real é tal que há quem diga que um cavalo se valoriza só por ter o mesmo padrão de cor, embìora - naluralmente - ln c1o loraz lêm .liôâm n nrro diq- serem, melhorado imenso, Os cavaleÍros Lem melhorado e latem melhorar os cavalos. Em Portugaì monta-se melhor a cavalo agora do que nunca, no eslrangeiro nâo conheço bem mas, na verdade, quando a Anky van Grunsven cá esteve (existe inclusive um vídeo!) e montou o meu cavalo Hostil, parecia que toda a vìda o tinha montado! Dr, Guilherme Borba é tudo num só, criador, cavaleiro/equitador, veterìnárìo, zootécnico. Seguramente de 60 anos na competição internacional. Mundo da Arte Equestre. Tudo ìsto soube De Íacto, 0s cavalos que tem vÌndo a re- transmitir velar-se como representantes nesta dis- aprendeu, das coisas simpÌes da equitação ciplina são Íruto de melhoramentos por até às mais compostas, para nã0 ele introduzidos. Mais, quando a FEP e a complicadas, no ensino do cavalo. a quem com ele conviveu e dizer APD me pediram para escolher um treÌ- Tudo isto me leva a dizer um grande obri- nador que ajudasse a desenvolver o Ensi- gado, por mim e, pelos cavalos, que com no em Portugal só me ocorreu um; Kyra ele tive o prazer de ensinar e, princìpalmente, Kyrklund, porquê? Não pelo seu invejável pelas excelentes lições de conecção que re- curriculum mas sim pelo seu método cebi e que jamais esquecerei! que, de entre todos, é aquele que mais se encaixa em todas as llções que tive e que Bem-haja por muitos an0s para que todos os jovens cavaleiros possam usuÍruir assisti com 0 Dr. Guilherme Borba duran- dos seus nobres conhecimentos, te a minha passagem pela EPAE e peìo Casal. Na verdade só o Dr. Guilherme Borba, pela sua intuição e rara sensibilidade, ali- cerçadas num enoÍme saber técnico compreendeu como desenvolver o Cava- lo Lusitano no sentido de usar o Ensino como meio de selecção e controlador de qualidade. E assim aproximáìo (mantendo e enaltecendo as suas qualidades inatas) dos requisitos Internacionais. Não será assim estranho que uma ca- valeira com0 Kyra Kyrklund pratique uma Equitação tão próxima à de Borba e, simultaneamente, na linha de um Rehbein, Theodorescu eic. A terminar um pensamento, havendo tantos que se intitulam e auto intitulam Daniel Pinto Cavaleiro Olímpico na DÌsciplina de Mestres. Que designação dar a um dâ Fnaìnn/nêecanâ dos poucos que indiscutivelmente o é? Antigo Cavaleìro da EPAE 0 Dr. Guilherme Borba é o Grande Mestre que temos em Portugal! A forma tranquila e humilde com que o vi abordar tem uma visão privilegiada, além a equiÌagão e o ensino do cavalo, enquan- das "ferramentas" para ir melhorando a sua obra de arte, neste caso os seus cavalosl certamente que t0 fui seu aluno na tanto conhecimento tem muita in- nico da Equitaçã0, das possibilidades e lì- fluência no desenvolvimento do cavalo lusiÌano? Também acho que tem inïluên- mites de cada cavalo, d0 cavaleÌro, mas também dele próprio, de auto-análìse, çâo que tem vindo a realìzar ao longo destes anos com tanÌo sucesso, ainda recentemente com o Rico, no XIX Festival lnternacional do Cavalo Lusitano, consagrando-se na caÌegoria de Campeão Macho? Andamentos e carácter. Sabe , quc tìus Ljavarus ^^,,^l^^ +^^^^ colsas ruuals as são hereditárias, não só as quaìida- EPAE, Íoi para mim uma verdadeira revoluçã0. Percebia-se que tinha um enorme conhecimento téc- auto-crÍtica e enorme modéstia tão c0ntrastantes com o saber tão rigoroso que sempre tem demonstrado. Talvez, só as- cial (rlsos) O que tem procurado na selec- Guilherme Borba e Sylvìa Loch. e E sem duvida o melhor zootécnico, de animais, que Portugal, pela disciplina Guìlherme Borba com Hostíl J'[ir.l,í.'' sim, lhe Íoi possível chegar ao patamar de excelência e realização únicas. Da criação Luís Valença da Escola de Jerez e da EPAE, à competi- Antigo Mestre Picador da EPAE. Proprietário do Centro Equestre da Lezíria Grande. Organizador, incentivador e partícípante do famoso espectáculo i nternacìonal Apassionata ção internacional enquanto Cavaleiro de nível Grande Prémio e de Juiz de Ensino de NÍvel Internacional. Sendo um cavaleiro de Equitação Clássica foi aquele que em Ponugal, atra- Foi-me pedido para escrever sobre o vés do ensino completo dos seus pró- Dr. Guilherme Borba... Na realÌdade é-me prios cavalos, se apercebeu da c0mplexi- Ke\'rsra Equrraçâo I 1 bém aí um percursor. 0 ensino de compe- como director da EPAE, na qual todos lhe des mas, e principalmente, os deÍeitos que são majs transmlssíveis. Este ano foì o Rico, mas há alguns tiçã0, tal como ele é posto em prática pela temos a maior Amizade, Respeito e Ad- anos aÌrás o Soberano. Também na Federação Equestre Inïernacional, através miração. um dos legados importantíssimos do seu Coudelaria de Alter, ôom a criação da EPAE ìniciou-se um longo processo de recuperação do AlÌer Real pois até ao surgimento da escola não havia um objectivo, Até aí tinha sido só tentar manter uma coisa antiga, sem quaisquer preocupaçÕes morÍológicas, de andamentos e de aptidão para o ensino. Não havia selecção apenas cruzamentos Já que a sua resposta anterior nos levou directamente e mais uma vez para o Alier Real, não posso deixar de lhe colocar a questão so- Ensino é o de, através da sua forma de ser, dos seus sonhos e realizações, ter submisso.. dade e maìs se aproximou do desporto de alta competição Mundial, sendo tam- até ao ano 2000. Tenho orgulho em lhe ter sucedÌdo da Escala de Treino ou do Conceito do Atleta Feliz, que hoje está tanto em voga, eram já defendidos e postos em prática há mais de vinte anos por Guilherme Borba, de um conhecimento baseado num estudo profundo e técnico, de enorme seriedade e sem os "truques" que por através cá se praticavam. C0m0 lal, deu uma indiscutível credibilidade à Equitação Portuguesa e ao cavalo Lusitano. A concluir, embora não seja mais I ou menOs importante d0 que anteriormente disse, não posso deixar de salientar que, verdadeiramente democratizado a arte da equitaçã0, t0rnando-a possível a todos aqueles que tinham verdadeira paixão e dedicação, sem nunca ter procurado pro- bre o seu carácter difícil, menos António Borba Monteiro lvlesÌre PÌcador da EPAE Coordenador da Associação Equestre Santo Andre Lusitanos tagonismo. 0 Dr. Guilherme Borba alem de ser meu tio materno, mestre e padrinho, é meu amigo. Não há duvida que os cavalos mexem connosco, e com ele por perto, nos últi- mos 4B anos, sinto-me com asas livre que nem um pássaro. à sabedoria. É essa a paixã0, que vai surgindo e que nas suas subtilezas se transfOrma numa Afte. Fonte de inspiração pela maneira como conduz o seu cavalo. Calmo, ligei- ro, invisÍvel. Gosta de me ver montar Dr. João Filipe Figueiredo (Graciosa) Director da EPAE e percebemos que de certa maneira lhe apanhei o jeito. Esta sensação para mim é óptima, ter 0 seu reconhecimento e o seu exemplo. As duvidas posso sempre tira-las com uma boa conversa e um bom 0 Dr. Guilherme Borba alia a uma cultu- ra equestre invulgar, uma serenidade, um almoço e é assim que têm passado os anos por aqui no Casal. cho ou esse burro e não um cavalo, cavaleiros toscos, os cavalos finos safam-se e os toscos não, (risos) Ao longo da nossa entrevista tenho reparado que evocou por diversas vezes a preocupação de se praticar uma equitação e desenvolver uma relação de grande sensìbiIidade e respeito pelo cavalo... daí a Írase de Baucher e a tal sensibilidade necessária. Os cavalos ásperos são sempre Lembra-se daquela Írase de contenter de peu; récompenser beaucoup.. As pessoas nao presÌam atenÇão que as palmadas que se dão no pescoço do cavalo são na verdade uma recompensa e são indispensáveisl E certo que os cavalos não têm a percepção tão nítida como os cães, que são os animais mais inteligentes que existem. Além dìsso, o cavalo nâo tem por nós a amizade que o cão tem. SenÌe é se o montam bem ou mal. Os cavalos "Íinos" têm que ser lidados com finura. Os melhores, no inrcio, rigor e uma maneira lógica e explÍcita de leccionar que impossibilita qualquer tipo de contestaçã0. A sua generosidade e saber tornam-no um "Marco" na história do Cavalo Lusitano e da Equitação de Tradição Portuguesa. Comprou o FIRME que aconselhou e empresÌou, desinteressadamente, às Coudelarias Veiga, Vinhas, Casquinha, etc., ten- do dado resultados que t0d0s conhecemos. Comprou também o ALTIV0 e o /úQUIRO que emprestou graciosamente à Coudelaria de Alter. Trabalhei com ele proÍissionalmente na Comissão de Inscrição do Livro de Reprodutores da Raça Lusitana, raça que a ambos apaixona. ïive a honra de fundar com Ele a Escola Portuguesa de Afte Equestre e de nela ter trabalhado sob a sua direcção 12 Revista Equitação parecem ser os ptores, assopram, não se deixam chegar. Se vai um tipo que os trata como um macho ou um burro acaba por ter esse ma- Porque é um cavalo Íino e,,. com Baucher: "Demander souvent; se Assim, desde cedo lhe Íui seguindo os passos. Fazer bem pelo bem, pesquìsar e experimentar, leva-nos . Anky van Grunsven com Guilherme Borba finos? Há de tudo, mas logo de início no processo de desbasle e ensino nos apercebemos que tipo de cavalo estamos a lidar, é uma coisa que pode parecer elementar mas os cavalos, quando são bons para montar, nota-se logo. Muitos cavaleiros e eniusiasias estrangeiros tem a ideia de que Portugal é uma espécie de Meca da equitação, onde se monta bem em todo o lado. Esquecendo-se, a meu ver, a conjuntura única que Íoi o saber, a arte e paixão de Ruy de Andrade, Nuno Oliveira, João Núncio, Guilherme Borba, Diogo de Bragança, entre outros. Sem os senhores ter-se-ia perdido esta tradiÇão equestre única? É verdade que Portugal tem Íama de ser país de bons Guilherme Borba com Hostil cavaleiros, mesmo na opinião de pessoas sabedoras como o Dr. Fuy d'Andrade, a reconstituiÇão da Picaria Real era também como forma de Portugal estar novamente a altura da sua tra- dição equestre. Vou à Golegã desde os meus l4 anos e sempre vi cavaleiros a fazer passage e piaffer e mosÌrar o que o cavalo consegue Íazer. O que eu quero dizer com isto é que há algo inato em nós. Somos o país com a maior ligação entre homem e cavalo. Fomos o primeiro país onde se montou a cavalo, lemos o primeiro tratado equestre depois de XenoÍonte, Livro da Ensinança de Bem Cavalgar de 1434, da autoria do Rei D. Duarte, W Aquele que por muitos é considerado o prÌmeiro tratado equestre e iniciador do renascimento da Equilação, da auloÍia de Grisone. é poste- L l rior quase um sécujo. Quanto ao tratado de Manoel Carlos de Andrade, Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavallaria, publicado em I790 e do qual já falámos, faço mìnhas as palavras de D. Diogo de Bragança quando diz que é a bíblÍa. Ter-se mantido a tradÌção de montar o cavalo Íoi fantástico! Por falar em tratados, gosta de os ler? Com alguma ligeirezal'. Não os aprofundei como o Mestre Nuno. MesÌre Nuno de Oliveira, seu e amigo de toda uma professor vida! Do Circo para a Arte, Um cavaleiro óptimo e que sabia muito bem transmitir esse conhecimento que tinha. Era um baucheris- da Arte paÍa a Gompetição consistente e ta, explicou-me de Íorma interessantÍssima esle mélodo. Ele sim e que precisa, participava até nas poucas provas de dressage que na época aconteciam. 0s cavalos que trabalhava, e que tive o privilégio de desfrutar, t0rnavam-se A concluir há umas quantas perguntas que não lhe posso deixar de colocar, como o futuro da EPAE, do qual se tem falado tanto recente- obteve aí a a Escola de Viena, inspiração e ânìmo para Ter sido dos primeiros alunos de Guilherme Borba, para além de receber as construir as escolas de arte equestre que meìhores lições, da mais correcta equita- Assim, com a absoluta discrição que çã0, e aprender que é preciso sempre 0 caÍacteriza, Guilherme Borba torna-se aprender, possibilitou ainda conviver com no maÌs impoftante mestre da nossa c0nnecem0s. um grupo de intelectuais desta ane, portu- época, responsável pela veftical subida gueses e estrangeiros, tais como: JaÌme de nÍvel técnico, da equitação em Espa- Celestino da CosÌa, René Bacharach, Fer- nha nando d'Andrade, Michel Henriquet, Dio- positivos, permitiu a bem sucedida alta go de Lafões, Josó Athayde e claro competição de dressage, já que todos os e Poftugal, que entre outros efeitos e alguns espanhóis, grande beleza e brilhantismo, mantendo assim o que já lá existe. E em relação à nova Fundação de Alter? A Coudelaria de Alter tem naturalmente que ter uma relaçào próxima com a EPAE e, relembrando alguns dos temas que abordámos ao longo da entrevista, tais como o desbaste, selecção e sensibilidade dos cavalos, penso que o desbaste, feito em Alter, só tinha a ganhar se Íosse Íeito por cavaleiros da EPAE sob a supervisão de um mestre picador, sendo Alter também Escola. Alter poderia inclusive receber alunos exteriores e estrangeiros para estágios, naturalmente pagos, e assim criar um verdadeiro pólo de interesse na coudelaria, aliás como se passava no tempo em que o José de Athayde ar re- mentos faziam parte de um todo. To- das as outras soluçÕes têm que se POIVUV incondicionalmente como sempre se tem ÍeiÌo, com ^ ó a Belém, o que será óptimo pel0s espectacularmente centista de Manuel Carlos de Andrade e rln ela FPAF Residindo em Belém podia-se ir na mesma a Queluz, fazer espectáculos no pÍcadeiro exterior ou nos jardìns instalação das cavalariças e picadeiros nas antigas OÍicinas Gerais de Material de Engenharia, onde originalmente eram as cavalariças reais. Nào eslou de acordo, não só pelo simbolismo histórìco mas por aspectos práticos, as antigas cavalariças reais, estão mesmo em Írente ao picadeiro de Belém, era só curvações, pelas bem saltadas piruetas e "piaffers" e transições. Muito mais que "baucherista" admirava o modelo sete- êsnêe lá.r mas, mente? Fale-se dn rcnressn an PicadeirO regulares ^^ ^^ ailelos ^"^ us +r^i^^ trales, os e um sidia. No fundo penso que o futuro depende da possibilidade de criar receilas, atraves da colocação da Fcnnla om RalÁm a dn ror -- ,-Jresso ao modelo joanino, em que coudelaria, escola, picadeiro e restantes ele- de emocional, pela rectitude e Íáceis en- exemplares proÍessores, pela estabilida- está lia tudo, de um dia para o outro. L;UL;| ^^^h^^res, iÁ rrdv gUE '^ Jd ^Ã^ qvçoòor ou ^+r^\,^^ô^. ^ ruo, ",,^ o ^^ "^^li-^"Á JV tVdr/ótó À òEil ^^-^lh^^^^ e tvil tdt tvd ud ^^ sujeitar aos interesses deste todo, só assim é que é possível sobreviver. Como explicaria a toda uma geração mais recente, criados já na ideia de que a equitação é um desporto, que esta pode ser também uma Arte? Que o D. João V com o ouro do Brasil não tinha interesse por meda- Escola Espanhola, no HoÍburg, em Viena. A possibilidade de um dia se lhas (Risos!), O marquês de Marialva, aquele que no fundo está na origem poder reunir na Praça Afonso de Albuquerque todos os elementos relativos à antiga picaria, surpreende- vallaria, sendo um dos maiores fidalgos portugueses e o melhor cavaleiro da Luz da Liberal e Nobre Arte de Ca- Nuno Oliveira cuja inÍluência no grupo era portugueses bem superior à do próprio Baucher. agora brilham nas pistas internacionaìs, ía qualquer pessoa por ser um da sua época, conferiu à equitação o de alguma maneira estão relacionados conjunto único no mundo, Um visitante, numa cuÍta visita e, num local onde há sempre imensos turistas (o Museu dos Coches é o mais visitado em Portugal), poderia ver todos esses elementos de um patrimonio equestre único, os tratados de D. Duarte e de Manoel Carlos de Andrade, os cavalos, o picadeiro, os título de Arte (ArÌe de Marialva). Tanto Um banho de cultura, assistir, ao traba- lho dos cavalos e às interessantíssimas discussões desta tertúlia, que vive para a eterna pesquisa da equitação ideal. que com o seu mestrado. Guilherme Borba conseguiu os mais signlficativos avanços para 0 nosso Estas personalidades são parte da his- Mundo Equestre, a0 possibilitar um fu- tória da equitação do sec XX, pois fizeram tur0 para as próximas gerações de cava- a transÌqã0, da Íorçada exibição do circo, Ieiros, sobre lusitanos de nível mundial, para a emoção da arte equesÌre, quer sendo executantes brilhantes, ou Ìambém autores de 0bras inteligenÌemente acompanhados de uma melhor técnica apresentadas. de, acrescentando somente a intensi- equesÌre, que evoluiu da arte para a competiçã0, sem perda de sensibìlidadade. interessado na quantidade de habilidades Sempre um aluno, a executar, praiicava uma equitação mais Francisco Cancella de Abreu r.5r1rr_,:.;i i 14 Revista Equitação :l!,i: :i Íi aquela que é considerada a príncipal caractersLica da nossa h1e Equeslre, a ligeireza. .:r::'i.,;!, damente o cavalo, os lins é que sào diferentes. Na competição é competir, na arte, é brilhar. A competição é igual para ^ôr^+^^^^ ^^-+^:^!^, ruuos, a arLe, e a ue caoa uml Quando impressìona e sensibilíza, a Arte acrescenta à correcção (da comnoÌinân\ ' Châma-se atenÇão a um leitor menos atento que a r5posta é no fundo um jogo de palavras em que Guilherme Borba, responde com Guilherme Borba destacava-se no grupo por ser o menos "baucherista", menos para a Arte como para o desporto a técnica é a mesma, conhecer proÍun- e halazq Mesmo a concluir o que é que lhe tem ensinado esse extraordinário e único animal que é o Cavalo? A vÌolência não leva a nada , iì