Arte sensu nº10
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Arte sensu nº10
www.adufepe.com.br/artesensu..htm ADUFEPE 35 tempo passa... OO tempo passa... Elase serenova... renova... Ela Número 10 - janeiro - 2014 De Deum umarbusto, arbusto, Nasceu uma flor. Nasceu uma flor. NãoNão é orquídia, é orquídia, Não éNão rosa, é rosa, É uma É flor especial. uma flor especial. Anima osAnima docentes, os docentes, Aurora no Campus Jarbas Souza 2 Alegra os ambientes, Alegra os ambientes, Na terceira Margem Fátima Barros 3 do Mar Com seu Com vigor,seu vigor, momentos da repressão Sua fibra sem igual. Lurildo Saraiva 4 Dois em Recife Sua fibra sem igual. e a Onça Ela seEla chama ADUFEPE, se chama ADUFEPE, 5 O Cearense Jaime Mendonça Passado e presente UmaUma musa, musa, Lêda Sellaro Uma menina, Uma menina, 6 Mefistófeles no HC Flávio Brayner Um Umsonho, sonho, Um dia você aprende Jarbas Souza 7 Umideal! ideal! Um Da Irmandade de Santa Cecília Adalbert Fehlaber 8 à Ordem dos Músicos do Brasil José Amaro Santos da Silva 10 ADUFEPE 35 anos: construindo o futuro do movimento docente José Luís Simões 11 O cheiro da casa Fátima Barros 12 13 14 Qual o papel dos sindicatos Jarbas Souza de classe? Brasil - Crônicas dos 500 anos Hulda Vale Modernidade em Lêda Sellaro colapso A Montanha Cláudio de Castro Importância da arte na saúde Jarbas Souza 15 16 Maratona de Chicago: I will Roberta Uchôa A arte de dois artistas Guilherme Varela AURORA NO CAMPUS Jarbas Souza Bem-te-vi “anum-ciar” aurora no campus Pássaros a cantar Homens andaluzes Cooper na pista a caminhar. Bem-te-vi “anum-ciar” Caga-sebite e outros mais Lavadeiras a beira do lago Pardais nos beirais. Bem-te-vi “anum-ciar” Nuvens tingidas em tons gris Salpicos de cristais Sobre a relva jogar. Bem-te-vi “anum-ciar” Mudanças na paisagem Frescor no ar Da estiagem no caminhar. Bem-te-vi “anum-ciar” O vai e vem De quem deseja sadio ficar Também pelo andar Respirando o puro aroma do campus E em cada canto A paisagem apreciar Caminhando nesta vereda Chegando a pensar Em bosques nunca dantes caminhados Bem-te-vi “anum-ciar”. 2 editorial A revista Arte Sensu mais uma vez retoma sua publicação onde é expressa a sensibilidade artístico cultural de seus associados. São por demais prazerosos os textos escritos pelos colaboradores que, espontaneamente, revelam suas outras atividades acadêmicas, relatando as diversidades de interesses da comunidade acadêmica. Vale ressaltar a importância do apoio a essas atividades, pois, elas mostram as múltiplas manifestações de cada associado da ADUFEPE no campo cultural e artístico. Nesse número, contamos com a colaboração dos colegas Jaime Mendonça, Jarbas Souza, Lurildo Saraiva, Roberta Uchôa, Leda Sellaro, Hulda Vale de Arruda, Fátima Barros, Jose Amaro e Guilherme Varela. O sucesso da Arte Sensu é resultado da participação efetiva de seus associados e da comunidade, e já estamos recebendo o material para a próxima edição. A Diretoria Expediente: Informativo Político-Cultural da Associação dos Docentes da UFPE josé luís simões presidente juliana albuquerque 1ª vice-presidente valéria viana ascom - adufepe: 2ª vice-presidente joaquim sergio suara macedo 1º tesoureiro guilherme varela jornalista 2º tesoureiro igor cabral rosa maria cortês assessor de comunicação julianna albuquerque 1ª secretária 2º secretário wilton pontes designer/ilustraçao amanda medeiro natália barros Suplentes: estagiária 2ª vice-presidente ADUFEPE marcelo antônio nero Av. dos economistas s/n Campus UFPE - Cidade Universitária - Recife / PE 2º secretário Fones: (81) 3271.1363 - 3271.1856 - 2371.0349 - 3036.2250 - 3036.2257 gilberto cunha filho 2º tesoureiro arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Fátima Barros Professora do Colégio de Aplicação “Onde o mar arrebenta em mim / O lamento de tantos ais...” Dormira escutando “A Paz” em um velho gravador, há tempo esquecido na estante da sala. Ele era capitão de um navio ancorado em alto-mar. E ela deveria fazer uma viagem exaustiva para encontrá-lo. Sairia de casa bem cedo, ainda o dia amanhecendo, para tomar o ônibus. O percurso era longo e a viagem desconfortável. Os bancos não reclinavam, parte da estrada era de barro e havia muita poeira. Pareciam estar cruzando uma região seca e árida. Árvores de cor cinza, sem folhas, surgiam à beira da estrada. O destino - uma cidade litorânea, um pequeno balneário quase deserto, onde se viam uns poucos turistas. Apenas uma igreja, uma praça, um comércio de especiarias, casas simples, uma pousada. No terminal, indagou onde deveria pegar uma balsa para a ilha a meio-caminho do mar. O cais ficava a três quadras e o sol estava ameno. Pessoas aguardavam a travessia à beira da maré. Pescadores tostados de sol conversavam, traziam cestos cheios de peixe e facões na cintura. Moradores, que tinham ido à cidade comprar mantimentos, comentavam sobre a demora da embarcação. Era um braço largo de rio, as margens cobertas de vegetação, casebres espalhados entre o verde da paisagem, barcos pequenos ancorados junto ao cais, outros balançando no meio do rio com o movimento das águas. Ela esperava inquieta enquanto a balsa se aproximava lentamente do ancoradouro. Foi breve esse trecho da viagem. Recorda-se de olhar as águas revoltas, debruçada na grade ao longo da balsa. Até onde a vista alcançava era apenas o azul translúcido das águas e o verde arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Na Terceira Margem do Mar rotas de tempo em calmaria ancoradas. em tua pele, o discurso cálido das águas. das encostas. A embarcação se deslocava suave sobre o rio. A ilha era ainda mais calma que a cidadezinha de onde chegavam. Não havia ruas pavimentadas, apenas ruelas estreitas entre casas humildes, quase todas cobertas de palha. Era preciso atravessar a ilha para pegar um barco e finalmente chegar ao navio. Como levava uma sacola com roupa e alguns livros, sentia-se cansada, porque a areia era fofa e o sol já estava alto. Tinha sede, mas não queria parar, com receio de perder o barco. Após uma longa caminhada, chegara ao outro lado da ilha. O barqueiro a esperava na praia. Falaram rapidamente sobre a travessia. Agora era o mar em sua frente. Não mais a calma do rio - ondas e ondas não muito altas, mas que lhe despertavam medo e angústia. Temia que o barco virasse e lembrava-se de que não sabia nadar. Olhou em volta e não viu qualquer salva-vidas entre ela e o barqueiro. Ele usava uma camisa puída, e seus ombros se moviam ao ritmo compassado dos remos. Como o céu estava claro, procurou esquecer as águas inquietas sob o barco e olhar as nuvens que passavam alheias a qualquer perigo. Pareceu-lhe esse percurso mais longo que o anterior, cruzando o rio. O olhar vago do barqueiro lhe fazia crer que aquela travessia era sempre assim. Nada conversaram durante toda a viagem. Aos poucos, o mar antes revolto, se acalmou, as ondas desapareceram, o barco deixou de balançar tanto. Já não precisava agarrar-se em suas bordas. Recostou-se sobre as mãos. Jogou a cabeça para trás. Uma brisa leve soprava espalhando seus cabelos cacheados sobre o rosto. Afastou uma mecha dos olhos e viu o contorno branco do navio no horizonte. Ainda restava um bom caminho sobre as águas, mas agora a viagem era agradável e livre de sobressaltos. Era um navio de bandeira portuguesa. Um alívio percorria seus músculos, deixando-a levemente sonolenta. Aportaram e ele estava debruçado no convés, usava uma camisa-pólo branca. Havia uma escada lateral que parecia segura. O barqueiro aproximou o barco e ela subiu devagar. Do alto da escada, ele a olhava tranqüilo, como se soubesse que viria, apesar das dificuldades da viagem. Disse-lhe apenas: “-Que bom que você veio!” Ela sorriu. Caminharam pelo navio e ele lhe mostrou a cabina. Ela entrou. Jogou a bolsa na cama. Estava exausta, mas alegre. Demorou-se no banho morno, enxugou-se sem pressa. Pôs um vestido lilás, abriu a porta e o viu ao longe. Ele a esperava em um banco, no fim do convés. Caminhou devagar, sorvendo a felicidade de estar ali. Sentou-se a seu lado e não disseram qualquer palavra. O céu era azul e sereno. Não havia uma nuvem sequer. Ela recostou a cabeça em seu ombro. O mar estava tranqüilo, com vários tons de verde. Um cheiro de maresia e sal envolvia a paisagem. Ela o abraçou suave. As horas passavam lentas. A luz do sol se arrastava em direção ao continente. Juntos olhavam a natureza em volta. A tarde permanecia imóvel como um quadro. O navio não se movia, ancorado no tempo. Ficaram quietos, em paz, na terceira margem do mar. 3 Lurildo R. Saraiva Professoror do Departamento de Medicina Clínica da UFPE 4 Dois momentos da repressão em Recife No início de 1969, sob os desmandos do AI-5, Dom Helder Câmara foi avisado que um total de trinta pessoas, incluídos lideranças estudantis e religiosos – o próprio Dom – seriam vítimas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). A famosa lista, que eu nunca vi, estava em mãos do Arcebispo, segundo consta, sendo encabeçada por Cândido Pinto de Melo, seguindo-se os colegas Marcos Burle de Aguiar e Humberto Câmara Neto, da Medicina, e do Padre Henrique Pereira Neto, entre outros. De fato, em abril, teve início a escalada de terror do CCC – do qual eram admiradores conhecidos estudantes da velha direita pernambucana, hoje políticos atuantes – e Cândido, presidente do DCE da Federal, sofreu tocaia na ponte da Torre: ao correr, foi baleado gravemente na coluna dorsal, com secção de medula irreversível e conseqüente hemiplegia. Com certeza, o Major Antônio Ferreira foi o autor do tiro, outro crime imputado a ele, que, mesmo assim, se encontra livre até hoje. Irmão de médica, Clarisse Melo, Cândido foi internado no hospital Pedro II, cercado constantemente por dois agentes da Secretaria de Segurança Pública, que era uma das centrais da repressão, numa atitude humilhante, desrespeitosa a um ambiente hospitalar e violenta. Os estudantes de Medicina mais antigos fomos escalados para dar plantões com o Cândido, e eu fui um deles, cursando então, o quinto ano médico. Lembro-me com nitidez do seu semblante, da sua enorme angústia em não sentir os membros inferiores, a perguntar porquês que me eram difíceis responder. E, para a nossa maior ansiedade, tratava-se de um moço de corpo atlético, no pleno vigor da sua mocidade, cheio da esperança típica da juventude: tudo aquilo era uma enorme ignomínia! Os agentes do DOPS a todo o momento se imiscuíam, anotavam nomes, querendo saber até os pormenores da medicação, era a “ditabranda”, de alguns jornalistas de direita tendenciosos, de hoje. O Cândido, sob os cuidados da Clínica Neurológica, foi posteriormente transferido para São Paulo, e muitos anos depois, era o responsável na equipe do Professor Zerbini pela feitura de aparelhos e válvulas artificiais para o coração humano. Homem de enorme valentia e imensa capacidade em enfrentar tão grande adversidade. Em outro momento, agora em 1970, já no internato de Medicina, fui admitido como estudante plantonista concursado no hospital do Pronto Socorro do Recife, hoje Restauração, que outrora funcionava no prédio da atual FUSAM. Em janeiro, fui conhecer o Serviço onde iria trabalhar – a minha prática médica de urgência era muito pouca, naturalmente andava tenso. Nesse mesmo dia, de tarde, plantão do Euler Mesquita, com quem trabalhava no antigo Instituto de Cardiologia da UFPE, eu aluno, ele staff, ao chegar à sala dos médicos, fui avisado por ele próprio que uma “minha companheira” levara uma grande surra da polícia e se encontrava internada na urgência. Fui vê-la, mesmo sem roupa apropriada, e ao chegar ao leito, logo fui interrogado por dois alcaguetes do DOPS, que constantemente a vigiavam. Acerquei-me com muito cuidado, não a reconheci de modo algum. Disse aos agentes que iria examiná-la por orientação da Chefia do plantão, e encostei-lhe o rosto, em verdade aproximei-me o mais que pude, medindo-lhe a pressão arterial, e lhe disse: “diga, confie em mim, sou estudante”: ela falava com enorme dificuldade, além do corpo recoberto de equimoses, tinha lesões bucais, como se lhe faltassem dentes, e a língua estava ferida - só lhe foi possível dizer: “Peixe”. Com certa surpresa dos agentes, eu falei baixinho, “peixe, está certo”: se ouviram, os dois pensaram, talvez, que deveria ser a comida que desejava ou podia comer... Eu entendi: Peixe, na realidade, era estudante de Arquitetura, naquele momento, presidente do Diretório Acadêmico. Saí do PS, seguido por um dos agentes da ditadura, que com dificuldade, consegui despistar, dirigindo-me ao meu apartamento na rua Dom Bosco, nas cercanias. Após alguns minutos, retornei, e fui à Faculdade de Arquitetura, naquele tempo situada na Avenida Conde da Boa Vista, em frente de atual hospital psiquiátrico. Consegui vê-lo, relatei a ocorrência, ele, ‘porra, é fulana que caiu, tenho que avisar aos outros companheiros”, e saiu às pressas. Não sei de quem se tratava, qual o seu destino, a que organização de esquerda pertencia, sequer o seu nome. Aqueles eram momentos de terror do período Médici. arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Jaime Mendonça Professor do Departamento de Engenharia Cartográfica da UFPE O Cearense e a Onça O Ceará é conhecido por ser uma terra de muitas histórias. Embora eu Passado & Presente Leda Sellaro* tenha saído do Ceará há muito tempo, ainda sou cearense. Como dizem, gato que nasce no forno não é biscoito, é gato. Conta-se que um cearense vivia com sua família no interior. Num fim de tarde ele saiu, como de costume, com seu canivete para fazer seu cigarro de palha. Fumava tranquilamente quando percebeu que estava sendo atocaiado por uma onça pintada, que o olhava de cima de uma árvore como se já estivesse pronta para estraçalhá-lo. Tentou mudar o percurso, mas percebeu que não havia jeito. Ficou, o assustado cearense acercado pela Na modernização conservadora do excludente “progresso social” emerge a consciência inquiridora face ao expropriado e ao marginal. Quem somos nós, enquanto sociedade? Como se explicam as nossas relações? Onde nos encontramos, na verdade? Quais são nossas reais aspirações? onça. Vendo que não podia escapar ficou Nosso passado: a grande propriedade: pronto esperando o ataque. Em mãos só basilar elemento do poder, tinha o canivete. Com ele, riscou uma cruz na árvore ao lado, invocando o seu “Padim Pade Cirço”. da construção da nossa identidade, do nosso imaginário, nosso ser? O relacionamento feudatário que corta a fala dos despossuídos, roubando-lhes o espaço identitário e condenando ao silêncio os vencidos? - Salve meu padinho! Se você estiver do meu lado, a primeira furada que eu der vai ser no coração da pintada e eu mato ela. Se você tiver do lado da pintada a primeira tapa que ela me der me arranca a cabeça. Mas se você não estiver nem de um lado nem do outro “cê” sai do “mei” que a briga vai ser feia. Dos poderosos, a mundividência, que entre outras dimensões da exclusão, obscurece a humana consciência e favorece a desintegração? Do privado poder, a exorbitância na persistência patrimonialista que encontra, no presente, ressonância com o ranço aristocrático e elitista? Questionando-se os modos mais fundantes de tudo que compõe nosso estatuto vê-se em meio aos conflitos circundantes que o novo paga ao velho o seu tributo. *Lêda Rejane Accioly Sellaro é Mestre em Educação e Doutora em História. Professora aposentada da UFPE, atualmente é escritora de livros infantis. www.ledasellaro.com O poema acima abre capítulo do seu livro Educação e Modernidade em Pernambuco – inovações no ensino público (1920/1937), publicado pela Editora Universitária da UFPE, vencedor do Premio Amaro Quintas, da Academia Pernambucana de Letras, em 2010. arte sensu nº 10 - janeiro 2014 5 Mefistófeles no HC Flávio Brayner Professor Titular da UFPE Em 2008 fui acometido de um câncer de estômago que, descoberto precocemente, não me trouxe maiores consequências. O bom desta experiência é que, após ter realizado uma gastrectomia total, eu “não tenho mais estômago para certas coisas”, no próprio e no figurado! Fui acolhido por profissionais de medicina, homens e mulheres (Marconi Meira, Ângelo Rizzo, Ângela Duarte, Iran Costa, Fernando Raposo) a quem reputo sensibilidades humanas que vão muito além do simples atendimento ao doente, e são possuidores de uma qualidade humanística em extinção. Infelizmente, são figuras reservadas, no futuro, à penumbra da “Galeriados-médicos-que-fizeram-de-suas-vidas-uma-obra-de-arte-no-cuidadocom-o-outro”! Estes profissionais, acima nomeados, exercem funções de alta responsabilidade pública na área da saúde. Reservados a uma obscura galeria porque provavelmente não resistirão a um avassalador processo de privatização da vida, em que a existência não será mais um valor, mas sim um preço. Não tenho nenhum problema com “privatizações”, mas fico muito inquieto quando confundimos o valor da vida com o preço dela. “Quanto custa sua dignidade, leitor?” A pergunta pode parecer grosseira (menos para nossos políticos que têm uma relação fáustica com a própria alma!), mas é exatamente desta forma que teremos de enfrentar o conjunto de nossas relações morais: somos os únicos na natureza a possuir uma consciência moral, uma capacidade de fazer escolhas, de projetarmos o que queremos ser e de nos definirmos como um fim em si mesmo (um respeito e uma dignidade), que é o que nos atribui um valor: algo pelo qual valeria a pena viver e até morrer! Quando vejo o Hospital das Clínicas da UFPE -uma instituição que tem 6 não apenas a função de atender a uma população carente mas, sobretudo, de formar profissionais da medicina- ser ameaçada de se submeter a um modelo de gestão imposto pelo Governo Federal como forma de redução de custos, eu apenas entrevejo o nefasto futuro do humanismo em medicina. Privatizar telefone, estradas, portos, aeroportos é uma coisa que pode trazer benefícios para os usuários; privatizar a formação humana (educação) ou a vida (saúde, segurança, liberdade) é completamente diferente! No momento em que a vida (e seu valor) for medida pelo metro do custo-benefício, do resultado estatístico, da gestão eficiente mas eticamente esvaziada –e estamos caminhando rapidamente para isso- é porque Fausto, finalmente, assinou o contrato com Mefistófeles! Meus colegas diretores de Centro da UFPE, sobretudo aqueles que condenaram os professores grevistas como “sindicalistas radicais e irresponsáveis”, e que não perdem uma oportunidade para defender meritocracias e ‘ranqueamentos’ sem lavrarem uma única linha sobre o papel social da universidade em um mundo performático (este mesmo que condenará meus médicos àquela galeria!) estão curiosamente assustados com a Lei Federal 12.772/2012 que estabelece o novo sistema de admissão e progressão da carreira do magistério superior (com vistas à redução de custos, mais uma vez!): choramingam como maridos traídos. Eis o preço da demissão moral: mais cedo ou mais tarde Mefistófeles apresenta a conta. Não tenho mais estômago –que médicos que sabem a diferença entre valor e preço, me fizeram o favor de retirar!- mas ainda me resta um pouquinho de juízo para saber que uma Universidade que vende sua alma deixa de ser digna da causa a que serve. arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Jarbas Souza Professor aposentado do Departamento de Expressão Gráfica da UFPE Um Dia Você Aprende Depois de algum tempo você aprende, a sutil diferença, entre Aposentado e aposentáveis. E você aprende que o trabalho dignifica o homem, e que a aposentadoria significa segurança na terceira idade. E começa a aprender que princípios e valores não são contratos e presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão. Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo. E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam… E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que se levam anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você é na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos. Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que você mesmo pode ser. Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto. Aprende que não importa aonde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados. Aprende que os aposentados são pessoas que fizeram o arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Está poesia adaptação de uma poesia de um grande escritor William Shakespeare que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências de suas determinações para colocar as universidades publicas no pódio da vida e que são delas que saem as melhores e maiores pesquisas de relevância social. Aprende que paciência requer muita prática. Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se. Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não lhe dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo. Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte. Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás. Portanto,plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende que realmente pode suportar… que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais. E que realmente a vida tem valor e que você embora aposentado tenha valor diante da vida e da sociedade! Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar se não fosse o medo de tentar. Agente descobre que como aposentados, fazemos parte da historia das IFES, ainda que muitos não entendam ou reconheçam essa verdade. Aprende que desta dimensão não levamos absolutamente nada, mas, lutar por princípios procurando ser justo e ético, nos credencia para uma vida melhor com harmonia e paz, sobretudo com consciência e a certeza de que assim o fazendo, estaremos contribuindo para a construção de um mundo melhor sem ódio, sem medo ou segregações, onde todos têm os mesmos direitos exercidos nos princípios do amor cristão e das liberdades democráticas com mais justiça social. 7 José Amaro Santos da Silva Professor aposentado do Dep. de Música da UFPE e exPresidente do CRM-PE da Ordem dos Músicos do Brasil - OMB. A história das corporações sóciomusicais origina-se na associação de classe que, regularmente estatuída, se fundou, sob a égide protetora de Santa Cecília, foi em Paris, no ano de 1576. Após esta, outras se organizaram no mundo católico. A Irmandade de Santa Cecília, de Lisboa, data, segundo todas as probabilidades, no século XVI, embora o seu primeiro Estatuto só em 1603, no século XVII, portanto, tivesse sido oficialmente regularizado. Em 1784, fundava-se no Rio de Janeiro, à semelhança de Lisboa a Irmandade de Santa Cecília que congregava músicos profissionais e tinha como fundador o músico e não ainda padre, José Maurício Nunes Garcia (1767-1830) Em 1787, segundo o musicólogo Pe. Jaime Cavalcanti Diniz (19241989), estudioso da vida e da obra de Louis Álvares Pinto (1719-1789), primeiro grande nome da música erudita no Brasil, para a honra e glória do povo recifense onde nasceu essa proeminente figura de músico, fundou a Irmandade de Santa Cecília, que foi incorporada em 1788 e funcionou na Igreja de São Pedro dos Clérigos. Da Irmandade de Santa Cecília à Segundo o musicólogo Luiz Heitor Correia de Azevedo, in 150 Anos de Música no Brasil, “em Olinda e na Bahia os músicos se haviam reunido em corporações, constituindo Irmandades de Santa Cecília, com o privilégio de só os seus membros poderem exercer o ofício, sob pena de prisão aplicada aos contraventores”. A Irmandade de Santa Cecília era um organismo reconhecido pelo poder real, que o auxiliava na fiscalização profissional dos que exercia atividades assalariadas de músico, tanto em Portugal como no Brasil. O músico para ser reconhecido como profissional era submetido a rigorosos exames, perante bancas examinadoras, com membros nomeados por Sua Alteza Real e que, após lograr entrar para a Irmandade, o novo músico recebia a autorização para “tanger” instrumentos musicais, assim como, para “descer compassos”, para usar uma linguagem da época, onde tanger era tocar ou executar um instrumento musical, e no caso, descer compasso era a função de quem dirigia agrupamentos musicais, os chamados, então, corifeus, que são os regentes de coros e de orquestras, na atualidade. Mesmo existindo no Rio de janeiro desde 1784, a Irmandade de Santa Cecília parecia não satisfazer os interesses da classe musical, pois, após a saída de Dom João VI do Brasil, este que destinara uma pensão ao Padre José Maurício Nunes Garcia, para a manutenção da sua escola de música e do seu sustento, foi a mesma cortada pelo Imperador Pedro I, mesmo tendo sido aluno do Padre-Mestre. Isto sói acontecer desde então, quando o Brasil passava ou passa por problemas econômicos, quem primeiro tem seus recursos cortados são a Educação e a Cultura. Tendo o padre mestre passado por grandes difilcudades. Surge, então, o nome mais expressivo que cuidou da vida social do músico, no Rio de janeiro e que vai refletir em todo o território brasileiro, o compositor Francisco Manuel da Silva (1795-1865). Francisco Manuel da Silva que foi interessado na proteção e bemestar dos obreiros da música, era compositor, pedagogo, fundador do Conservatório Imperial de Música, tendo passado à posteridade com a Marcha Triunfal ,composta em 1831 para ressaltar a abdicação do trono de Dom Pedro em favor do filho Pedro II, que vem a ser, com o advento da República, o Hino Nacional Brasileiro, adotado como símbolo da pátria por decreto de 02 de janeiro de 1890, do Marechal Deodoro da Fonseca. Foi o músico mais notável do seu tempo, tendo sido um dos mais Pintura: Santa Cecília - Jacques Blanchard (1600 - 1638) 8 arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Ordem dos Músicos do Brasil. brilhantes alunos da escolinha de música do Pe. Mestre, José Maurício Nunes Garcia, revelando-se, Francisco Manuel, incansável, nos propósitos de divulgação da boa música, da verdadeira música dos cultos na igreja, da educação musical e do amparo ao músico. Construiu um ambiente musical de valor, escudado no seu prestígio junto ao Imperador Pedro II. Francisco Manuel foi compositor da Imperial Câmara a partir de 1841; mestre da Capela imperial a partir de 1842, Cavaleiro da Ordem da Rosa, em 1846 e Oficial da mesma Ordem em 1857. A partir de suas honrarias e reconhecimentos públicos de seus valores, além de sua respeitabilidade, passou a promover o engrandecimento da vida musical brasileira. Em 07 de abril de 1831 compôs uma Marcha Triunfal, para piano, que, segundo os historiadores, seria para comemorar a abdicação de Dom Pedro I em benefício de seu filho Pedro II. Em 1833 fundara a Sociedade Beneficente Musical com o objetivo em “promover a cultura da arte e exercer a beneficência recíproca entre os artistas associados, e por morte destes, às suas famílias”. Esta instituição a que esteve ligado até o fim de sua vida, chegou a ter grande desenvolvimento, tendo sido a instituição que deu suporte ao repassamento de recursos que o Imperador Pedro II destinou à criação do Conservatório Imperial de Música. A Sociedade foi dissolvida em 1890, com patrimônio avaliado em 90 contos de réis, tendo distribuído centenas de contos em befícios de seus associados. No século XX já não se tinha notícias da Irmandade de Santa Cecília, mas a necessidade da organização da atividade profissional dos músicos perdurava, o que levou o maestro e compositor paraibano José de Lima Siqueira, após experiências em fundação de sociedades de beneficiência a músicos, a exemplo da União dos Músicos do Brasil, elabora um projeto de lei que foi encampado pelo então presidente Juscelino Kubtschek de Oliveira, em 1960, cujo projeto foi encaminhado ao Congresso Nacional, tornando-se a Lei Nº 3.857, de 20 de dezembro de 1960, que criou a Ordem dos Músicos do Brasil-OMB existindo em todo território nacional, gerenciando e auxiliando o governo no que se refere às atividades profissonais do músico, através de seus CRM- Conselhos Regionais. Na atualidade, alguns dos chamados sociocidas, aproveitando-se da ignorância histórica da maioria dos jovens músicos, e não respeitando o labor constante de alguns abnegados que sempre cuidaram da vida social do músico, vem incentivando as novas gerações a abandonarem e a fecharem a Ordem dos Músicos do Brasil, com alegações estapafúrdias de que fazer música não precisa de legislação para controlar atividades musicais. Ocorre que, o fazer musical é livre a qualquer cidadão brasileiro, mas, para exercer a atividade musical como profissional, remunerado financeiramente, há de ter seu registro no órgão competente, no caso, a Ordem dos Músicos, que é o forum competente para salvaguardar os direitos profissionais do músico. Texto escrito especialmente para a Revista ARTE SENSU, da Associação dos Docentes da UFPE. Hulda Vale de Araújo arte sensu nº 10 - janeiro 2014 9 José Luís Simões Presidente da ADUFEPE Fundada em 1979, neste ano a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco está completando 35 anos de existência. Sua história é marcada por lutas que moldaram os caminhos do Movimento Docente e a política: a origem da entidade durante a ditadura militar, a defesa veemente da carreira e da universidade pública, as grandes greves e a atuação na redemocratização do país. A ADUFEPE sempre foi protagonista na história da UFPE e do movimento docente, e essa história forte e marcante será celebrada ao longo de 2014. Atualmente, nosso trabalho tem sido na direção de fortalecer e ampliar as conquistas e ações históricas do nosso sindicato. Ao completar seus 35 10 ADUFEPE 35 anos: construindo o futuro do Movimento Docente anos, a ADUFEPE encontra-se em seu momento de maior força e representatividade. Atualmente, são mais de 2.200 associados. Somente no ano de 2013, quase 100 novos docentes se filiaram à ADUFEPE. Avançamos em diferentes direções. Hoje, a ADUFEPE atua com ações acadêmicas, oferecendo espaços de debates, discussões e de cuidados aos seus associados, a exemplo das atividades nas comemorações do aniversário do sindicato, na 65ª Reunião da SBPC e na Semana do Professor. Participamos ativamente das principais questões políticas da categoria. Em nível nacional, em todas as atividades do ANDES e, localmente, junto ao Conselho Universitário, na Comissão Estatuinte e nos fóruns de discussão em defesa da Universidade Pública, na campanha por melhores condições de trabalho na UFPE e pela resistência à implantação da EBSERH. Permanecemos atentos ao cumprimento dos acordos salariais e demais questões da carreira, resultados da maior, mais longa e mais forte greve já realizada por nossa categoria (2012). Atuamos para garantir e ampliar os direitos dos docentes com as ações jurídicas constantes e com intervenções diretas junto a Administração Central da UFPE. Somos uma ADUFEPE de lutas, sem abrir mão das conquistas e levando em conta a preocupação com o bem estar dos professores. Somos a ADUFEPE que honra seus 35 anos de história, ciente de sua responsabilidade no Movimento Sindical, na Universidade e na vida de cada docente. Somos a ADUFEPE forte, democrática, plural, atuante, histórica e contemporânea. Somos a ADUFEPE dos 35 anos e do futuro. Que venham as próximas lutas e vitórias, estaremos preparados, porque, juntos, somos a ADUFEPE. arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Fátima Barros Professora do Colégio de Aplicação O cheiro da casa “Houses and rooms are full of perfumes, the shelves are crowded with perfumes, I breathe the fragrance myself and know it and like it...” Walt Whitman in “Song of Myself” Nos últimos dias, vinha sonhado com ele quase todas as noites. Quase sempre eram sonhos sem diálogo, como o de ontem em que ela apenas o via de longe, jogando bola, de calção azul. Sentada na cama, com frio, Clara se lembra de tê-lo encontrado tantas vezes assim em casa: sem camisa, descalço, de calção, com um sorriso vasto e um brilho de rebeldia nos olhos. Outras vezes, nesses sonhos mais recentes, os dois são namorados, ora se abraçam na praia, ora se beijam com paixão, ora se encontram na esquina da escola. Acordada, depara-se com a nitidez do seu rosto, o timbre da sua voz em seus ouvidos, o calor de suas mãos... Teria falado algo enquanto dormia? Levantouse mais cedo do que de costume para não correr mais riscos... Pôs o roupão, os chinelos. Saiu do quarto com cuidado, sem ruídos. Mais um dia frio. Depois de tanto se perguntar e esconder a razão desses sonhos (Afinal, já fazia quase dez anos...), hoje, sem qualquer motivo plausível, diante do espelho, Clara pôde perceber talvez uma ligação entre os sonhos e algo externo, inconsciente, desapercebido – um cheiro. Agora que o notou, ele a sufoca e entorpece, é um cheiro de longe, do passado. É o cheiro que havia na casa de Dona Alda, um cheiro úmido, de roupa guardada, de abafado, de calor, de maresia. Um cheiro que ela sempre sentia cada vez que ia lá, mas de que nunca lhe havia falado. Era um cheiro que se espalhava por todos os cômodos, pelos quartos onde à tarde faziam sexo. Um cheiro que estava nas poltronas da sala, onde ele se deitava, punha a cabeça no seu colo e Clara acariciava seus cabelos... Quase não consegue respirar... Passavam horas assim... ela tentando desmanchar as mechas de seu cabelo que teimavam em voltar para o mesmo lugar tão logo as soltasse... Uma carícia única, mágica... Ainda podia sentir o movimento leve dos fios entre meus dedos, arte sensu nº 10 - janeiro 2014 o cheiro de seu corpo... E esse cheiro que se entranhava pela casa... Outras vezes ele se deitava, com a cabeça em uma almofada no seu colo, no chão da sala... Havia esse mesmo cheiro nos travesseiros, nas camas, nas colchas, nos lençóis, nas toalhas... Como pôde encontrá-lo tão distante, tantos anos depois em outra casa! Como esse cheiro foi capaz de lhe trazer recordações tão nítidas, trancadas na memória, escondidas de si mesma? Gestos, palavras com suas raízes espalhadas por todo o seu corpo, sua pele, seu cérebro, seu coração, seu sexo? Quanto tempo guardou lembranças tão fortes e tão vivas, capazes de acordar com um cheiro e trazer aquela infinita felicidade, cujo gosto jamais poderia esquecer? Lembra-se de ter lido, anos atrás, em Proust sobre lembranças esquecidas no sabor da madeleine. Por causa de um cheiro, sente o passado fluir no presente como um rio... Um cheiro que penetra no corpo e devora as vísceras lentamente como um poderoso veneno de que não se pode fugir, porque não se pode deixar de respirar... Um cheiro de vida, de suor... Clara abre a janela, olha a rua, precisa de ar... Um cheiro capaz de a levar a um tempo em que a vida era outra, eles eram jovens, e o amor parecia possível. Quantas cenas, sonhos, desejos podem ficar guardados anos a fio em um cheiro que se espalha pela casa! Um cheiro carregado de memória, capaz de fazê-la sentir, ao mesmo tempo, o desatino da felicidade extrema e a dor intensa, escondida no álbum de retratos ... Ah! Um cheiro para fazê-la de novo sentir-se viva, com falta de ar, com o peito apertado... Um cheiro que torna o corpo febril, causa uma leve tontura, deixa a boca morna ... Um cheiro que se espalhava em outra casa, mas que se entranha pelos poros, exato, idêntico, após tantos anos trancado em silêncio, nos armários do tempo... 11 Jarbas Souza Professor aposentado do Departamento de Expressão Gráfica da UFPE As lutas sociais, desde a divisão da sociedade em duas classes, vêm mudando as relações entre patrões e empregados, viabilizando maior participação nos lucros das empresas com vistas a assegurar uma melhor qualidade de vida digna aos trabalhadores, agentes da produção. O papel do Sindicato Classista é sem dúvida o de defender intransigentemente a classe que representa, sem abdicar do bom senso e da diplomacia nas negociações. Para Karl Marx, “se os sindicatos são indispensáveis para a guerra de guerrilhas cotidianas entre o capital e trabalho, são também importantes como meio organizado para a abolição do sistema de trabalho assalariado”. Ao longo da historia, o trabalhador vem conquistando através de suas organizações classistas, avanços que permitiram aos empregados pequenas participações nos lucros das empresas. Embora a classe docente não seja uma classe de trabalhadores cuja principal força de produção é braçal, - máquinas humanas cumprindo apenas ordens – há de se compreender, que o trabalho intelectual exige um esforço muito maior, sem menosprezo das demais classes produtoras. A considerar que vivemos em uma democracia na forma constitucional, - governo do povo pelo povo e para o povo - na prática o que percebemos e sentimos na pele, é um sistema capitalista selvagem a exemplo do feudalismo antes da divisão social. Assim, não obstante as lideranças sindicalistas, muitas vezes inflamadas em discursos, defenderem as classes produtoras dos bens de consumo temos que entender serem elas de falhas e tentações, se deixando encantar muitas vezes pelo “canto das sereias”. Entendemos que com a queda do feudalismo, os homens poderiam alcançar o paraíso terrestre que Karl 12 Qual o papel do Sindicato de classe? Marx almejou. No entanto, a falta de conscientização do homem enquanto homem frustrou em muito Marx. Todavia, a classe professoral, dentre as demais, principal e única formadora de opinião e esclarecedoras das verdades e dos direitos de cidadania, ainda não se deu conta que cabe a ela a tarefa de levar a sociedade ao paraíso marxista, procurando colocar esse ideal sem confrontos, agressões ou violência com práticas medievais. Tenho defendido sempre que é preciso usar nossa principal e única arma forjada nas academias universitárias – a informação e o conhecimento – para fazer valer o principal direito dos homens livres: o direito a cidadania com qualidade de vida honrosa e ética. Não se pode remover um obstáculo de gerações sem formar uma consciência transparente do que deve ser em um sistema democrático, onde a pluralidade faz parte do equilíbrio harmonioso de sustentação da democracia. A história da humanidade tem registrado inúmeros fatos que nos faz reavaliar conceitos, atitudes e ações que não deram certo. Aquelas que tiveram sucesso estavam calcadas no ordenamento lógico do respeito humano, sem tentativa de escravidão ou exploração. Assim, pois, a conquista do “paraíso terrestre”, se concretizará na medida em que nos libertemos de nossas forças primitivas, ainda não domadas pela informação e pelo conhecimento, nos deixando a mercê dos sofistas da politicagem barata e usurpadora dos bens comuns. Portanto o papel dos sindicatos classistas é, através do diálogo, usando como arma a informação e o conhecimento, trazer a luz dos responsáveis por uma cidadania para que o trabalho digno torne o homem enquanto homem cônscio de seus deveres e direitos democráticos, para sua plenitude. É importante levar ao conhe-cimento do povo que em uma democracia, o Estado está a serviço do povo e não o povo a serviço do Estado. Gestores devem ser pessoas ilibadas, outorgadas pela sociedade, com conhecimento e informação suficiente e adequada para fazer valer os desejos do povo. Se não chegarmos ao paraíso apregoado pelas religiões ao menos um Shangrilá onde o ser humano possa viver dignamente em paz consigo e com seu semelhante, respeitando suas diferenças. Assim a sociedade irá escolher os gestores à luz de uma consciência de razão lógica do dever ser, com a certeza de que eles cumprirão seus mandatos, voltados para quem os outorgou sem se locupletarem do poder. Nunca é tarde para iniciarmos esse processo de conscientização através da informação e do conhecimento. Por um sindicato verdadei-ramente docente na busca da qualidade de vida ideal para todos!... arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Hulda Vale de Araújo Professora Adjunta Centro de Ciências da Saúde Departamento de Enfermagem da UFPE BRASIL CRÔNICAS DOS 500 ANOS Brasil – 500 anos de Descobrimento. A Inconfidência Mineira de Itamar Franco. De como o Fundo Monetário Internacional vai Escalpelar o Topete Republicano. Não sabemos ao certo, mas a história do Brasil, apresenta-se ainda ao que parece, conforme os autos da versão Inglesa ou seja, os escarnecedores e assassinos foram os Portugueses e, quanto as riquezas dos cofres aristocráticos Ingleses, ... não se têm nada a declarar. No entanto, as idéias liberais do iluminismo Europeu, (século XVII e XVIII), contrastavam com o poder absolutista monárquico, assim diz a nossa história. Enquanto Portugal exigia mais e mais impostos, a sociedade mineira resolveu reagir. Um grupo de poetas, militares e padres, produziu um texto com propósitos e objetivos, que se seguidos à época, em nossos dias, não teria sido necessário Itamar desencadear uma segunda ... “inconfidência mineira”. Falava-se em desenvolver indústrias no país e estimular a agricultura, entre outras medidas. Traidores e ideais à parte, o alferes Joaquim da Silva Xavier, coincidentemente ... (será?). Apresentava-se, conta a nossa história, como o menos provido de proventos reais e sem apoio dos políticos, sendo assim, foi “exemplarmente” tratado. A aristocracia européia :: Portuguesa e Inglesa, como se sentiram? Após todos esses anos e ainda com os anglo – saxões “em nosso calcanhares” (leia-se FMI), os mineiros dão provas de suas inconfidências. Quando governador Itamar Franco, atua de forma a contrariar e manda dizer a D. Maria I, leia-se hoje, Presidente Fernando Henrique Cardoso, agora não mais através das cartas levadas pelas caravelas mas através de canais televisivos (C.N.T) no dia 11/01/1999, logo por ocasião do café da manhã dos brasileiros (assim foi transmitido), que: “Minas só pagaria ao Governo Federal após quitar suas dívidas junto aos servidores públicos e alimentar seus encarcerados”. Como o Fundo Internacional não tem mais os alferes desprovidos de reais e de padrinhos poarte sensu nº 10 - janeiro 2014 líticos, nem indígenas e escravos para exterminar, ... deve, ao que parece, contentar-se em mandar o português / brasileiro, não mais D. Maria I, mas outro “Dom Fernando”, cortar o expressivo topete da cabeleira do governador Itamar Franco, distribuindo pelas esplanadas dos Ministérios, um pouco dos seus cabelos, e VIVA a REPÚBLICA!!! Sem os inconfidentes, com certeza. 13 Modernidade em colapso Jarbas Souza Professor aposentado do Departamento de Expressão Gráfica da UFPE Lêda Sellaro Visionárias mentes não previram, nem a literatura antecipou toda a ciência e tecnologia que o século passado acumulou! Mas permanece um imenso descompasso entre o progresso e o avanço social... e com sucessos convive o fracasso de um mundo extremamente desigual! Há multidões de marginalizados sob um discurso de base humanista... seja na luta livre do mercado ou no planejamento socialista. E num mundo “menor”, globalizado, tragédias que parecem fictícias... males que se supunham superados, são manchetes de hoje, são notícias! Lêda Rejane Accioly Sellaro é Mestre em Educação e Doutora em História. Professora aposentada da UFPE, atualmente é escritora de livros infantis. www.ledasellaro.com A Montanha Cláudio de Castro “Na próxima vez que subí-la Subirei sozinho. Comigo levarei apenas Meu rebenque e minhas lembranças. Lá no alto, no lugar mais adequado Instalarei meu piano imaginário. Emocionado e em grande estilo Tocarei a cavalgada das Valquírias. O universo inteiro aplaudirá. Depois Coloco minhas asas imaginárias E do ponto mais elevado Lanço-me no espaço vazio Iniciando meu vôo solitário E tranquilo Em direção ao infinito.” Cláudio de Castro é professor do Depto. de Engenharia de Minas 14 Todo passado da história da humanidade e em particular das ciências médicas foi documentado pelos artistas através de desenhos. Desenhos esses que procuravam mostrar não só a beleza de cada forma anatômica, como os aspectos epidemiológicos no decorrer da história. Hoje mais do que nunca o desenho presta sua colaboração à saúde pública ora comunicando e interagindo nas transformações e na prevenção, ora como interface nas áreas da saúde. Na linguagem gráfica, dois pontos são indispensáveis para a realização de um trabalho: harmonia e contraste que têm estreita relação entre si. O organismo humano parece buscar freqüentemente a harmonia e o sossego, mas o contraste é a contraforça; desequilibra, ativa, estimula, atrai a atenção; o contraste de valor é tão importante como a presença da luz para o processo da visão. O gênio Leonardo da Vinci além de elaborar um minucioso tratado de anatomia humana para o qual dissecou trinta corpos (1452-1519), foi um anatomista muito adiantado para a época, mas os seus extraordinários desenhos e notas referentes aos seus estudos só foram encontrados dois séculos depois. Também o anatomista André Vesálio considerado pai da anatomia humana, em sua obra De humani corporis fabrica, publicada em 1543, utilizou-se do Desenho para apresentar o primeiro tratado sistemático de anatomia humana. Não se pode negar a importância da Importância da arte na saúde Arte, do Desenho, para as ciências da saúde, pois sem o uso das representações gráficas certamente teria havido um compasso de espera no desenvolvimento das questões vitais do homem enquanto homem. O artista em sua época sempre se deixou inspirar pela beleza da anatomia, em especial feminina Foi assim desde os primórdios da civilização até nossos dias, que a Arte contribuiu e vem contribuindo com as ciências da saúde, documentando e representando diferentes formas de conhecimento, quer como arte, ciência ou crítica humorística, como se vê no desenho3, onde mostra como os populares poderiam ficar após a vacina contra varíola. Registros de grandes obras trabalhadas por artistas, comprovam não só a importância da arte no contexto sócio/cultura e político, mas, especificamente no campo das ciências da saúde. Foi assim na antiguidade, na idade média e contemporaneamente, mais do que nunca o Desenho vem prestando relevantes contribuições no campo da saúde pública. Na Gruta de Gargas, nos Altos Pireneus, na Espanha; encontramse impressa na parede: uma mão no interior da mesma com os dedos amputados de forma tão precisa que não poderiam ter sido cortados num acidente, daí acreditar-se se tratar de prováveis cirurgias pioneiras da história das ciências da saúde. Estudar o Desenho a Arte em suas diferentes formas de manifestação, é compreender sua importância, interagindo no contexto das demais áreas do conhecimento e do saber. 1 Desenho de Leonardo da Vinci - (1452) 2 Ilustração de Humani corporis fabrica (1519) 3 A sociedade inglesa em 1802 publicou este desenho, que explorava os receios que os populares tinham da vacinação. Vêem-se alguns dos que foram inoculados a transformarem-se em vacas, enquanto da cabeça e do corpo de outros irrompem bovinos. arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Roberta Uchôa Assistente Social e Professora da UFPE ([email protected]) Para os mais de 26 mil participantes, a 117ª edição da mais antiga e tradicional maratona internacional não vai ser lembrada pela perfeita organização ou vibração dos espectadores, nem pelas belas paisagens da estrada que liga Hopkinton, na zona rural do estado de New England, à Boston. Os vencedores, o etíope Lelisa Desisa e a queniana Rita Jeptoo, bem como o êxtase dos corredores amadores ao concluir os 42K da prova, também não vão ser lembrados. A primeira maratona internacional a incluir oficialmente mulheres e cadeirantes entre os participantes e a pagar prêmios do mesmo valor ao vencedor e vencedora da elite, fez mais uma vez história, mas, infelizmente, desta vez para ser lembrada como a primeira a ser alvo de um ataque terrorista. Exatamente, às 14h50, da 2ª feira, 15 de abril de 2013, na Boylston Street, há poucos metros da linha de chegada, quando a maioria dos corredores amadores está concluindo a prova, em torno de quatro horas de corrida, a primeira bomba explodiu. Doze segundos depois, na mesma rua, explodiu a segunda bomba. As imagens das explosões foram capturadas de diversos ângulos por cinegrafistas profissionais e amadores, foram transmitidas ao vivo e permanecem na mídia e na nossa memória. Martin Richard, Krystle Campbell e Lingzi Lu foram vítimas fatais desse ato terrorista e mais de 200 pessoas saíram feridas, muitas com amputações dos membros inferiores. A todos, meus sentimentos. Apesar dessa tragédia, que me faz chorar quando escrevo estas linhas, a Maratona de Boston também será lembrada por alguns momentos especiais, como no traslado para Hopkinton, quando conheci Kim Sammons, uma jovem norte-americana, professora de uma escola pública em Portland, costa oeste dos Estados Unidos. Na concentração, no frio de cerca de 10º C, arte sensu nº 10 - janeiro 2014 Maratona de Boston: “we will finish this race” nossa conversa diminuiu a ansiedade nas mais de três horas de espera para o início da prova. Ainda na concentração, foi respeitado pelos milhares de corredores um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do massacre de Newtown, Connecticut, em dezembro do ano passado. Foi comovente. E no meio daquela multidão, Carlos Rutter, um brasileiro residente em Londres, que me conheceu na Meia Maratona da Cidade do Rio de Janeiro, em julho de 2010, me reconheceu e também me fez companhia. Que memória! Da largada, passando pelas cidades de Ashland, Framinghan, Natick, Wellesley e Newton até Boston, impressionava a estrada completamente tomada pelos corredores. O colorido deles contrastava com a paisagem ainda cinza do final de mais um inverno. “The long and widing road” até Boston, com inúmeras subidas e descidas, estava repleta de espectadores e os mais efusivos eram as estudantes que estavam em frente ao Wellesley College com cartazes suplicando para serem beijadas pelos corredores. Já em Boston, por volta do 36ºK, as sirenes dos bombeiros, ambulâncias e polícia começaram a soar freneticamente. Os carros seguiam na direção à chegada, na pista oposta a dos corredores. Um pouco assustada, ainda sem saber o que havia acontecido, continuei correndo até por volta do 38ºK, quando uma ambulância passou do meu lado em alta velocidade. Imediatamente, perguntei a um policial o que havia acontecido. Fui então informada sobre as explosões na Boylston Street e fui orientada a continuar minha corrida. Segui o curso da prova, mas sem mais conseguir correr, tomada pela tristeza. Beth Brennan (uma amiga norte-americana, que me aguardava na chegada da prova), Kim e Carlos não saiam da minha cabeça. Nessa hora, a notícia já devia estar correndo o mundo e receei que minha mãe em Recife já tivesse tomado conhecimento da tragédia e sofresse por não saber que eu estava bem. No 40ºK, às 15h30, na Beacon Street, a prova foi interrompida e os corredores começaram a se aglomerar no meio da rua. Os voluntários e policiais ainda não sabiam o que fazer, mas pediam a todos para manter a calma. Logo em seguida, todos foram levados a uma sinagoga, Temple Ohabei Shalom, onde trabalhavam Becca e Leslie Wilkinson, mãe e filha. Elas disponibilizaram telefones, internet, banheiros, agasalhos, bebidas quentes e alimentos. A elas, minha gratidão. No início da noite, a organização da maratona começou a disponibilizar transporte para os corredores e somente por volta das 20h00, exaurida, consegui chegar ao hotel, onde estava hospedada. Mesmo assim, a minha odisseia ainda não havia acabado. Somente depois de dar notícias aos familiares e amigos no Brasil e de saber que os amigos estavam bem, pude descansar. Por fim, no dia em que se celebrava “Patriots’ Day”, a Maratona de Boston foi interrompida por um ato de covardia de supostos soldados de uma causa desconhecida. Certamente, conseguiram chamar atenção, mas não a sua causa, e não atingiram o objetivo de intimidar os corredores, pois como afirmou o presidente Barak Obama, na cerimônia ecumênica em homenagem às vítimas, “we will finish this race”. Nós vamos terminar essa prova e, certamente, eu vou continuar correndo pelo mundo. 15 Jane Higino e Jarbas Souza A Continuação da obra de dois Artistas O Professor Jarbas Souza é um artista de extraordinário talento. Detentor de uma formação acadêmica em artes plásticas, Jarbas teve oportunidade de conviver e estudar com artistas de renome internacional como Manuel Bandeira, Murilo La Greca, Vicente do Rego Monteiro, Lula Cardoso Aires, Abelardo Barreto, Edson Rodrigues, e outros grandes nomes cujas contribuições artísticas foram de inestimável valor para a cultura pernambucana e brasileira. Foi também com o Professor Laert Baldini que Jarbas aprendeu e se especializou nas técnicas de gravuras, xilogravuras e Litografia ou calcogravuras. A união de uma formação acadêmica impecável com o talento natural do artista garantiu a Jarbas Souza uma trajetória artística sólida e eclética. Suas obras produzidas ao longo da sua trajetória artística ganharam reconhecimento e o respeito da comunidade nacional e internacional. Jarbas Souza domina com maestria as técnicas de expressão artística da escultura à pintura, mas é na gravura que este artista mais se destaca, com obras em exposição permanente em museus da Europa. Suas obras se destacam não apenas pela harmonia e equilíbrio da composição e das cores, mas principalmente pelos sentimentos e emoções desse artista, exuberantemente retratadas em suas obras. Essa exposição apresenta algumas de suas obras, com destaque para as técnicas de pastel. As obras selecionadas para esta exposição expressam os sentimentos desse artista em relação a cenas do cotidiano e de detalhes de obras arquitetônicas que fazem parte do povo e da cultura. O conjunto dessas obras demonstra a versatilidade desse artista e narra a sua capacidade de expressar os seus sentimentos de forma majestosa através das suas obras. A Professora Jane Higino com formação acadêmica nas áreas de Farmácia e Química é uma artista ainda novata, e de muito talento. Com grande interesse pelas artes Jane é uma autodidata em sua formação artística. Começou a pintar por impulso para expressar os seus sentimentos e as suas relações de afetividade com os objetos. Essa artista vem se aperfeiçoando e evoluindo suas técnicas de pintura a óleo sobre tela através da observação acurada das pinturas de grandes artistas e da busca por orientações disponíveis no mundo digital sobre técnicas de pintura a óleo sobre tela. Este interesse pela pintura não apenas impulsionaram o seu desenvolvimento técnico, mas permitiram aflorar todo o seu potencial artístico. Jane Higino nos últimos anos tem dedicado parte do seu tempo livre à pintura, explorando de forma primitiva e distinta sua capacidade artística de expressar sentimentos, através de suas obras. Suas obras de pintura a óleo sobre tela expressam o sentimento dessa artista, explorando objetos do cotidiano, com um carinho especial pelas flores com as quais se identifica e com as paisagens naturais. Em suas telas as emoções e os sentimentos dessa artista são exuberantemente retratados. Desta forma, sentimo-nos honrados em apresentar ao público as obras de dois artistas “expressão da emoção” que assim dão uma expressiva contribuição para o fortalecimento da Arte e da Cultura Pernambucana. Guilherme Varela, Jarbas Souza e Jane Higino Prof. Guilherme Varela - Curador 16 arte sensu nº 10 - janeiro 2014