IDÉIAS PRÉVIAS - UM PONTO DE PARTIDA NO ENSINO DO

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IDÉIAS PRÉVIAS - UM PONTO DE PARTIDA NO ENSINO DO
IDÉIASPRÉVIAS- UM PONTODE PARTIDANO ENSINO
EM AULASDE CIÊNCIAS
DO CICLOHIDROLOGICO
Nancy N. G. Sugahara
Orientadores: Maurício Compiani e Vívian Newerla
Este trabalho é fruto das atividadesdo projeto
"Geociências e a formação continuada de
proÍessoresem exercício do ensino Íundamental"'
desenvolvido pelo Departamento de Geociências
Aplicadasao Ensino do IG/UNICAMP.O trabalho
duranteo projetoe o própriotexto Íoram Íeitoscom a
orientaçãode dois coordenadoressupra citados. O
texto está escritona primeirapessoado singularpara
realçarmelhor a proÍessorade ciências relatandoe
discutindo sua experiênciadidática e de reÍlexão
sobrea prática.
A experiência de sala de aula
Neste trabalho,limito a explanação,ao objetivo
que é mostrar o LlP, como ponto de partida que
reorientou,possibilitoureÍormulações,redirecionouo
aprendizadoÍazendo-otomar rumos não planejados,
mas permitindoa retomadadiariamentedo preparo
de atividades.lsso tornou as aulas e a reÍlexão
sobre a ação muito interessantese ricas em
detalhes.
A atividadeaoui relatadaÍoi realizadacom alunos
de uma Sasériedo oeríododa tarde no ano de 1998.
A classe era composta de 37 alunos que
O tema tratado
Íreqüentavamas aulas regularmente.
nestaapresentaçãoé o ciclohidrológico.
Para melhor interaçãoentre mim e os alunos,os
alunos e o conteúdoa ser aprendido,a distribuição
espacialdas carteirasem sala de aula mudoue elas
foramdispostasem U.
O trabalho a ser apresentado,já vinha sendo
desenvolvidonas escolas'onde lecioneinos últimos
anos. Na época, com os conhecimentos que
dispunha, a aplicação da atividade O PREPARODOS
a conheceros tiposde águas OBJETIVOSE DAS
resumia-se
atravésda leiturados rótulosdas garraÍas ETAPASJÁ TRAZ EM
oe aouasmrnerars.
MIM O INICIO DE
Em 1996,quandocomeceia participarI UUeVISÃODE
"Projeto Geociênciase a Íormação
do
I'pnOp'ESSOnn'
continuadade proÍessoresem exercício I COI4O
no ensino Íundamental",recebi textos de | .eTSeUISADORA'.
construtivistas,
aooiosobreos referenciais
como Driver,Vygotskyentreoutros e, ao estudartais
pressupostosmetodológicos,
senti a necessidadede
por
realizada.
mim
reÍormulara atividade
Inicialmentecomecei aplicando na prática os
ensinamentos propostos por Driver ao lazer o
levantamentodas idéias prévias (LlP) nas aulas,
estudando as idéias dos alunos, elaborando os
esquemas de conceito (EC), reÍormulando e
preparando os materiais necessários para melhor
condução do aprendizado,Paralelamenteaprimorei
os meus conhecimentos especíÍicos com o
coordenadordo projeto.
"Estudo das
A atividade inicial chamada de
Águas Minerais"Íoi planejadapara ser desenvolvida
"O estudo das Aguas". A partirdo LIP e
na unidade
dando conta dele, o ensino-aprendizagemÍoram
direcionadospara o estudo mais aprofundadodo
ciclo hidrológicoe o estudodas águas subterrâneas
retornandodepoisao tópicoáguas minerais.
r
Proieto Íìnanciadopela FINEP: 63.96.0785.00,pelo
524360/96-0e pela FAPESP:9612566-4.
ÇNPq:
'
A atividade "Análise dos rótulos de garrafas de água
mineral Íoi desenvolvidano ano de 1.996 na escola
E.E.P.S.G."Escolada Vila João XXlll", em Vinhedoe no
"FranciscoGlicério",em
de 1.997 na escola E.E P.G.
Campinas.
O tema escolhidoteve a princípioos
seguintesobjetivos:i) levantarhipótesesa
respeito dos processos e fenômenos
associadosà água mineral;ii) estudara
do cicloda águacom os sistemas
interação
de águas subterrâneas.Tais objetivos
paramimapósa
maisevidentes
tornaram-se
reflexãosobre a ação quandoeu analisei
todosos materiaisaplicadose prepareio
trabalho para apresentaçãono COLE
(Sugaharae Compiani,1999).
As etapasempregadasÍoram sendo utilizadasno
transcorrerdas aulas e só Íoram possíveisde serem
das
apósa sistematização
elencadase consolidadas,
atividadesdurantea reÍlexãosobre a ação, quando
"olhar" mais
retorneia atividadeaplicada com um
atento e detalhadocom o intuitode teorizarminhas
atividadesaplicadas,para a elaboraçãodo relatórioa
ser entreguee submetidoà apreciaçãopor parte dos
Íinanciadores: FINEP e FAPESP. As atividades
abrangeramas seguintesetapas:
1. Levantamento
das idéiasprévias(LlP);
2. Elaboraçãoe estudo de esquemas de conceitos
(EC)a partirdas idéiasprévias;
3. Preparaçãodo tema (ciclo hidrológicoe águas
calcadono LIP;
subterrâneas)
4. Execução de experimentose adoção de aulas
dialogadas;
5. Aplicação de atividadesindividuaise em grupo
para melhorcompreensãoe Íixaçãodo conteÚdoem
desenvolvimento.
O preparodos objetivose das etapasiâ lraz em
"proÍessora"
mim o iníciode uma visãode
"pesquisadora"
e que vai sendo incorporadaà
como
medida que estabeleço um distanciamento das
atividadesaplicadase assim a minha atuaçãovai se
concretizando
a ponto de se tornarpúblicaminha
exoeriência
em salade aula.
Sistematizare categorizaras idéias prévias
que
conceitual
Íacilitaa elaboração
da hierarquização
auxiliae norteiao trabalhodo professorno preparo
dos materiaisa serem utilizadosposteriormente
LIP- norteandoo trabalhodo professor
duranteas aulaseÍetivas.Há um casamentoentre
planejar- reÍletire atuar - ensinar.E importante
Neste tópico, eu intercalo o relato dos
do
e tentarcompreender
o desencadear
distanciar-se
acontecimentos
e os conteúdos
tratadosem salade
na ação
trabalhoem sala de aula,seja repensando
aulacomas minhasreflexões.
ou sobrea ação.Os doismodossempreenriquecem
Pensandono textode Oliva(1996)e relevando
em salade aula.
as experiências
as considerações
de Driversobre o conhecimento
Neste caso, reÍlexãona ação, levou-mea:
das criançasque diz: " a criança é perspicazao
das aulas, orientaro
repensaro desenvolvimento
obseruaro meio em que vive, por isso além das
preparo das aulas posteriores,tornar o aluno
obseruações,muitas informaçõesjá estão contidas
partícipede sua aprendizagem
e ao mesmotempo
em suas mentes",é que decidiiniciaro planode
inÍormado
sobreos próximospassosdas atividades
e
estudos,Íazendoo LIP (14etapada metodologia)
o alunoa ser um sujeitomais
encorajando
escolares,
opteipor registrarem papelas idéiasprévias.Para
ativo e, sobretudo,perceberos acertose erros e
isso formulei03 questõessobreas águasminerais
que Íoram:a) De onde vem a água mineral? b)
melhor,possibilitarque eu tivesse condiçõesde
propor
em outra aplicação outras formas de
Comoé originadaa água mineral?c) Quaissão os
processos
quedãoorigèmàs águasminerais?3
aplicação,de reorganizaçãoda seqüênciadas
etapas.
NestetrabalhoseráenÍocada
apenasa descrição
com o
O proÍessor,quando é comprometido
dasatividades
da 1aquestãoaplicadaparao LlP.
sempreestáa pensarno
de sua profissão,
exercício
Em relaçãoa 1s questão(De ondevem a água
que acontecena salade aula.Muitasvezes,somos
mineral?),
identifiquei
nas respostas
dos alunosduas
com os saberes que nossos
paraa origemda água mineral:
surpreendidos
categorias
alunos trazem Dara a sala de aula e
a) supeíicial:29 alunos acharamque a H A U M
Em
compartilham
comos colegase o proÍessor.
água mineralprovémdas minasd' água, CASAMENTO
ENTRE
por
ao
angústias
outras, somos tomados
riose cachoeiras
02
e, b) origemprofunda:
PLANEJAR
planejada
que
Íoi
não
que
poços
uma
atividade
sabermos
alunosacham
a águavem dos
REFLETIR
E
por
No
momento
nossos
alunos.
compreendida
Íoi
início
artesianos,
lençolfreático.Este o
ATUARque envolvea tomada
solitário
do planejamento
da 2" etapada metodologia.
de decisões,preparo de uma unidade de
O desenvolvimento
da atividadeiniciou- ENSINAR.
e atividades
dosconteúdos
ensino,organização
se com os meus comentáriossobre as
que a aplicaçãosigaà
esperamos
complementares,
respostas
dadasao LIP e estudadasposteriormente
pelaprofessora.
risca a nossa seqüênciade tópicose atividades
planejadase acabamossurpreendidos
linearmente
Na aula que seguiuao LlP, os alunosficaram
préviamuitasvezesnão se
porquea programação
muitointeressados
em saberquemhaviaacertadoas
prática.
questões.
que
na
lsso
ocorre porque não se
concretiza
o mais
Deixei,no entanto,claroa eles
considera
os saberesdos alunos,nãose relevasuas
importante
naquelemomentoera conheceras idéias
do
que eles detinhamsobre o assunto.As respostas
não se dá atençãoa participação
contribuições,
além dos
outro no processoensinoaprendizagem,
independentemente
seriamdiscutidas
e trabalhadas
da escola. Todosestesaspectos
Íatoresestruturais
de seremconsideradas
certasou erradasTambém
nos levama reÍletire a tomardecisões.A leiturade
foi colocadona lousa o esquemade conceitos
análise de experiênciasparecidascomo a de
apontando
as idéiasgue os alunosdetinhamsobreo
que entreo
Fontana(1996),nosconÍodaao enÍatizar
assunto. (Finalização EC - da 2a etapa da
que
planejar
deve ser
e o atuar há uma distância
metodologia). Foi elaborado uma simples
e
alunos
interações
entre
e é das
considerada,
hierarquização
conceitual
das idéiaspréviasque Íoi
proÍessores
que
a
ser
começam
os
caminhos
expressada
comona Íigura1.
apontadose só são percebidosno decorrer das
A hierarquização
das idéiasÍeitae mostradaaos
aulas. No caso desta experiênciaem particular,
alunosobjetivava
estabelecer
um diálogocom eles,
as idéiaspréviasdos alunos,levou-mea
considerar
atribuindoimportânciaà participaçãodeles neste
processo,e uma vez que proÍessorae alunossão
tomar a decisão de dar início às atividades
parceiros,
trabalhando
com os conceitosda origemdas águas
no ensinoaprendizagem
co-participantes
e superficiais.
subterrâneas
de qualquer
tema.
Lendo a pesquisa da professora Fontana,
com estetrabalho.A autora
veriÍiquei
similaridades
'
A questão03 Í'oi tratadapelos alunos no LIP numa associaçãcr
nos diz que: "a forma de conduziro trabalho,o que
do processode retiradada água pelo homem na naturezae isto
se propôs, e se fez, foi partir de atividades que
iìcou evidenciado nos desenhosrealizadospelos alunos onde
permitissema expressão da própria experiência da
o enfoque fìcava por conta do tratamento da água. Também
criança, trazendoelementosdo seu cotidiano e/ou
fbi maior o número de representaçõesespaciais feitas pelos
suas formas de elaboraçãoconceitualespontâneas
alunos na 3 questãose comparadoa I questão.
para a sala de aula.."e ... " ( ..) os conceitos,cujos
processos de elaboração foram estudados, não
a priori" (199ô, p.35 ). Assim
foram estabelecidos
umasériede
na minhaexperiência,
comoFontana,
conceitos que Íoram trabalhadosnão estavam
previstos.
Decididaa começarpelo ciclo da água, Íiz a
diretasdos alunos
entreas observações
associação
(cicloda água)e os conceitosda origemda água.
que podiamde certa
Lanceimãode algunsrecursos
(diálogo),
ilustrar
esclarecer
maneira
na lousa) e realizar
(transparências/esquemas
quevinculassem
a teoriaà práticae que
experiências
dosalunos.
noaprendizado
significado
tivessem
Como Driver diz: "as idéias prévias adquiridas
influem no aprendizado a partir de novas
experiências.As experiênciasincluemdesdeleituras
de textos,obseruaçãode fatos e experimentações"
e....( ) "asidéiassão pessoaise por issoas pessoas
interiorizam suas experiências de forma muito
propria,porqueconstroemseu própriosignificado.As
mentes das crianças são influenciadaspor suas
idéias e expectativas, quando observam e
interpretamum tato".GriÍomeu,com o objetivode
é que
salientarque Íoi atravésdestasobservações
descritosa
os recursosmetodológicos
diversiÍiquei
seguir.
prepareiuma aula
as atividades,
Prosseguindo
na
utilizando:transparências, qual Íoi possível
trabalharas duas categoriasdas idéias prévias
(profundo/subterrâneo
surgidasno LlP.
e superficial)
O objetivo era estabelecerrelação entre o
cientíÍicoe o as observaçõesdos
conhecimento
Paraestabelecer
alunos(3qetapada metodologia).
duas transparências
Íorammostradas
as diÍerenças
evidenciando a formaçãodo lençol de água
lagose rios
e a Íormação
dasnascentes,
subterrânea
(blocos-diagrama
do ciclo hidrológicoretiradodo
AtlasVisualda Terra(1996)das páginas40 e 45, ou
no
site
consultado
ser
oode
html
rdg/index.
ige.unicamp.brllaboratorios/l
http://www.
de
e Íig. 2 - Elementos
Fig.1 - O ciclohidrológico
umsistemade águassubterrâneas).
O objetivo da aula expositivaÍoi iniciar a
dos conceitosque dizem respeitoa um
explicação
sistema de águas subterrâneasa partir das
(Íig.1 e 2).
transparências
Para auxiliara construçãodos conceitosde
um
eu estabeleci
e subterrâneas
águassuperÍiciais
paralelocom o experimento
sobreas mudançasde
estadoÍísicoÍeitoem classe,em umaaulapassada,
usando um tripé, tela de amianto,becker,água
álcoole umatampade panela.Divididos
lamparina,
os alunosem sete grupos,a água do beckerÍoi
aquecidae assimque começouevaporar,eu trouxe
as tampas previamentecongeladasque Íoram
colocadassobre o vapor. Pedi aos alunos que
observassem o que estava ocorrendo. Por
com
foi comparada
a lamparina
associação/indução
a Íontede energia
o álcoolao Sol, identiÍicando-se
A água no estadolíquidoaos rios,
dos processos.
lagos e mares, que ao serem aquecidosproduzem
vapor. Ao ascender para as regiões com baixa
temperatura da atmosfera, o vapor resfria e em
contato com partículas sólidas (aerossóis), as
moléculasde água se condensamÍormandonuvens
que quando saturadasprecipitam.No experimento,
ao encontrar a superfície Íria da tampa, a água
condensae quando atinge um volume suÍicienteela
pinga. Os alunos identificaram o processo de
condensaçãoe precipitaçãoem outras atividades
cotidianassimilares,como por exemplo no preparo
do arroz para a refeição.
Na aula seguinte,para melhor Íixar os conceitos
aprendidos realizei um experimentodemonstrativo
para toda a classe com o objetivode mostrarcomo
do solo. Percebendoque a
se dava o encharcamento
para
não tinha Íuncionado
o
coletivo
demonstração
como o esoerado.combineicom os alunosde refazêlo. Destavez, o experimentorealizadofoi em grupo e
simultaneamentepor todos eles segundoinstruções
precisasque eu lhes Íornecia.Cada grupo recebeu
dois beckers.Um com água e o outro supostamente
"vazio".Um aluno de cada grupo colocoua areia no
becker. Enfatizeide antemãoque o mais importante
era observar o que iria acontecer,quando a água
Íosse adicionadaao vidro com areia. Autorizadaa
continuação do experimento Íoi grande a
manifestaçãodas observações,quando cada aluno
ressaltavao que aconteciade mais interessante.No
decorrer do experimentoeu Íui dialogandocom o
objetivo de articular os conceitos trabalhados no
experimentoe o processode inÍiltraçãoda água e a
formaçãoda água subterrâneana natureza.
Algumas Ìrases entre mim e os alunoso
evidenciam como a aula dialogada Íacilitou a
construçãode importantesconceitosabaixodescritos
(quarta etapa da metodologia- parte da aula
dialogada):
Diálogo 1
"A água demora para chegar no
Alunos fundo do bécker":
"Por que a água demora
Professora para chegar ao fundo do bécker?";
Aluno - "Ah! E porque você pôsa água
bem devagar";
t
da
Os diálogos não sãotranscriçõesde Íìta, mas anotaçÕes
professora. Depois de cada aula eram anotadas as
informaçõescontidasna lousa,criadasem decorrênciade
novos rumos tomados na aula, comentáriose discussões
mais significativas dos alunos ou qualquer Íato
As aulas também Íbram
consideradomais interessante.
acompanhadaspor aluna bolsista que observava as
relaçõesentre a professorae alunos e o desenvolvimento
das atividades.A aluna usavao método da triangulação,
ou seja, após as aulas eram discutidas as observações
com a professorae o profèssororientadordo projeto.
Diálogo2
Professora- "Ese a água fosseposta
maisrápida?";
pela águae a
entreos porose a sua substituição
(águae
construção
do conceitode impenetrabilidade
ar nãoocupamo mesmoespaço).
Aluno- "A forçafariachegarmais
rápido".
Diálogo4
Aluno- "Ah!Os grãosmenores
descerampara o fundodo béckere os
maioresficaramem cima";
-"Porque seráque isso
Professora
ocorreu?"
Aluno- "Porquea água os movimentae
entranos espaçosentreos grãos".
O primeiroe segundodiálogopermitiram
que eu
estabelecesse
a relaçãoentreos termos"espaços"e
"poros",reforçando
a idéia;queentreos grãoshavia
realmenteestesespaços/poros
que beneÍiciavam
a
infiltração
da água.
Diálogo3 Aluno- 'Ah! tá saindobolhas";
- "Porque seráqueas
Professora
Bolhassaíramapósa adiçãoda água
na areia?"
Aluno- "Eporquetinhaar..."
-"Mas ondeo ar estava?"
ProÍessora
Aluno- "Ah!Ele estavaentreos
grãos..."
ProÍessora"Querdizerque entreos
grãoshavia "espaço"com ar?"
- "Maspor quesaíramas
Professora
bolhas?"
Aluno- "Porquea águaentrouem seu
lugar."
- "Querdizerqueo ar e a
ProÍessora
águanão ocupamo mesmolugarentre
os grãos?"
Aluno- "Sim"
O terceirodiálogoevidencia,à medidaque os
alunos respondiamao meu questionamento,
a
construçãoda idéia de ar preenchendo
o espaço
ProÍessora- "Porque será que a água
não infiltroumais?"
Aluno- "Porque tem águademaise
ela encontrouum obstáculoque não
permitiuque ela se infiltrasse
mais..."
Aluno- 'Ah! Eu pus muitaáguapor isso
ela estáboiando".
O quarto diálogo evidenciaa aquisiçãodo
conceitode obstáculoque impedeo processode
inÍiltração
e dá inícioao processo
de armazenamento
de água,de formaçãoda água subterrânea,
assim
comoo conceitode zonasaturada,
havendoáguaem
excessonos poros,a águaexcedente
nãoconsegue
infiltrar.
As atividadesanteriorespretendiamque os
alunosconstruíssem
os seguintes
conceitos:
1. lnfiltração
da águano solodandoorigemàs águas
superficiais
e proÍundas;
2. tamanhode granulação
e porosidade
dossolos;
3. diÍerenciaras zonas de aeração,das zonas
temporariamente
saturadae da zona permanente
saturada;
por
4. barreiraimpermeável
impedindoa infiltração
açãoda gravidade.
Depoisde eu ter utilizadodiferentes
estratégias
(uso de transparência,
experimentos,
exercícios
em
lousa)e confiantede que os conceitostrabalhados
em salaestavambemconsolidados,
surgiuo conflito
entreos alunossobrea relaçãoentreporosidade
e
granulometria
do solo. O alunoJiumarexpressou
suaidéia:
Jiumar: _"A água infiltramais rapidamenteno caso
da areia fina que no casoda areiagrossa."
Diegoe Vâniadiscordam:
Diego: _"Não, a infiltraçãoé mais lenta no caso da
areiafina."
Vânia: -"E sim, na areia fina ou coadaa água desce
mais devagarpois seus espaçossão menores.No
cascalhoe naspedrasa água descemaisrápidopois
os espaçosentreos grãossão maiores."
Jiumar: _"não! na areia fina há mais buraquinhos
entreos grãos por issoé maisrápido."
Nesteconfronto
de idéiasobserveio que Bakhtin
apud Compiani (1996) designa como formas
interativasmaisgeraisno debatee diz que " em toda
enunciaçãoefetiva,seja qual for sua forma,contém
sempre, com maior ou menor nitidez, a indicaçãode
um acordoou desacordocom algumacoisa."(p.107).
Esse desacordoentre esses alunos envolveu
toda a classe na discussão e após muitas
argumentaçõesde ambas as partes, eu reÍiz
novamenteo experimento
com o becker,para que
os alunosveriÍicassem
na
a diÍerençade infiltração
areia grossae fina e pudessemcompreender
os
tamanhode granulação
conceitos
e porosidade
dos
solos.
ReÍletindosobre a ação, e em especialsobre
eu constateimeu erro ao realizar
este experimento
paraexplicaro conceitode
inadequado
experimento
infiltração.
O experimento
realizado
é mais indicado
para se visualizara saturaçãodo solo. Refletindo
sobrea execuçãodo experimento,
com o orientador
do projeto,descobrique o experimento
não servia
para demonstrara inÍiltração.Para veriÍicar a
infiltração
eu deveriater realizado
o experimento
com
verificara velocidade
umavidrariatal oue oermitisse
retidana areia
da passagemda águae quantidade
grossae areiaÍina com um poucode argila.Mas,
mesmocom problemas,
o experimento
serviupara
demonstrar
as diÍerenças
de inÍiltração
em materiais
finose grossos.
possibilitaram
As divergências
a retomadade
conceitosduranteo debateque se instaurouentre
todos e a elaboraçãode uma nova síntese e
constatou-seque os conceitosforam de Íato
poisas observações
foram registradas
consolidados,
feitospelosalunos.
em relatórios
Tanto Moreira(1988) quanto Schôn (1992)
comentamo papeldo erro.Suascontribuições
são
muitopertinentes
e noscapacita
cadavez maisa ser
um professorreÍlexivoe vislumbrara melhoriada
de nossasaulas.
oualidade
Moreira(1988)diz que: " a pesquisa científicaé
conduzida por pessoas normais, que têm suas
angústias, suas alegrias. Pessoas que erram,
aceriam.Enfim,pessoasquesentem".(p.116)
Schon,diz que "(...)sentir-me-eirecompensado
por saber que estou a aprendera partir de um erro.
Ser capazde reconheceré muitointeressante.Posso
realmenteaprendercom meus próprios erros. Esse
posicionamentoalgo paradoxal é necessáriose o
professor quiser funcionar como um profissional
reflexivo. Caso contrário,sentir-se-áassustadoao
ver-se confrontadocom um erro que cometeu e
tentarácontrolara situaçãopara evitarque o seu erro
venhaa ser descoberto"(1992,p. 87).
Recomeçar
a partirdo erropodeenriquecer
ainda
maiso aprendizado.
Encorajar
os alunosa dizeremo
que sabem e o que não compreenderam
é um
processode conquistada confiançaque também
pode e deve ser construídanas relaçõesinterpessoais,principalmente
quandose tratada relação
na quala parceria vai sendo
ensinoaprendizagem
na afetividade,
no respeito,
no ouvire na
construída
importância
dadaa Íaladosalunos.
SegundoSchôn, "um professorreflexivotem a
tarefa de encorajare reconhecer,e mesmo de dar
valor, a confusão de seus alunos". Relevar a
"confusão"
do alunoÍoi bomoaraesclarecer
e revisar
os conceitostrabalhadose reÍorçá-lospara que
Íossemmelhoraoreendidos
e consolidados.
ReÍlexão na e sobre a ação
Segundo Schon (1992, p.83), 'é possível olhar
retrospectivamente sobre a reflexão-na-acção. Após
a aula, o professor pode pensar no que aconteceu,
no que obseruou, no significado que lhe deu e na
eventual adopção de outros sentidos." A reÍlexão na
ação realizadapor mim começouavaliandoo tempo
necessário à aplicaçãodas atividadesque tiveram
início no dia 28104com o levantamentodas idéias
prévias e encerramento no dia 20108 com a
elaboraçãodos desenhos referentesao experimento
que tratava da inÍiltraçãoda água no solo. Os tipos
de aulas Íoram os mais diversos incluindo aula
debate, exploração de recursos visuais como as
transparências, experimentos, elaboração de
relatóriose avaliaçãoconstanteda participaçãodos
alunos no processo além da avaliaçãoformal dos
conhecimentos para cumprimento de normas
burocráticasestabelecidaspela escola.
Experimenteina prática e partilhocom Fontana
(1996) que 'ã suposta linearidade entre o planejado e
o efetivamente realizado cai por lerra". Processo
veriÍicado por
mim
enquanto proÍessora
pesquisadoraquandofiz do LIP o meu norte,quando
se releva as idéias dos alunos e atribui a elas a
importância merecida, observei que os rumos
tomados são diÍerentes dos planejados. Numa
abordagemconstrutivista
é importantevaloraro outro
como parceiro,considerara sua Íala e reconduzir
suas aulas de modo que possa retomar conceitos
que ainda não Íoram consolidadospelos alunos.E o
ouvir,éocompartilhar,éoprepararde
que taz com que os conceitossejam
aulas/atividades
de fato compreendidos.
Driver diz que: "Cabe ao professor interrogar as
crianças antes de trabalhar qualquer conteúdo,
programado ou não. Este questionamento e posterior
resposta, dá ao docente meios de como abordar este
conteúdo. As respostas são importantes mesmo que
estejam erradas, pois elas são indicadores de quais
conceitos merecem mais atenÇão ao serem
trabalhados. E fundamentalpara o professor, pois the
dá condições de pensar e estudar uma estratégia
que seja mais eficaz para abordar e esclarecer
aquelas idéias incorretas, dentro do conteúdo a ser
estudado" Extraído de Sugahara, 1997, Relatório
Anual-FAPESPpá96e7).
Por fim, eu gostariade enÍatizarque o trabalho
apresentado não deve ser considerado receita,
porque cada experiênciaé única, própria de cada
ambrente escolar, mas é possível descrever
experiênciasvividas.
ReÍerências citadas
COMPIANI, M. - As Geociências no Ensino
Fundamental: Um estudo de caso sobre o tema: A
Formação do Universo. Tese de doutorado.
FE/UNICAMP,
Campinas,1996.216p.
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9 ,9 9 ,1 5 p .
A L B / F E , l E L - U N I C A M1P
Nancy N. G. Sugahara é proÍèssora na Escola Estadual
Prof. Moacyr Santosde Campos.
Maurício Compiani e Vivian Newerla são do DGAE do
Institutode Geociências
da UNICAMP
Superficial
(29 alunos)
Profundoou
subterrâneo (:02
Alunos)
figura1

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