IDÉIAS PRÉVIAS - UM PONTO DE PARTIDA NO ENSINO DO
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IDÉIAS PRÉVIAS - UM PONTO DE PARTIDA NO ENSINO DO
IDÉIASPRÉVIAS- UM PONTODE PARTIDANO ENSINO EM AULASDE CIÊNCIAS DO CICLOHIDROLOGICO Nancy N. G. Sugahara Orientadores: Maurício Compiani e Vívian Newerla Este trabalho é fruto das atividadesdo projeto "Geociências e a formação continuada de proÍessoresem exercício do ensino Íundamental"' desenvolvido pelo Departamento de Geociências Aplicadasao Ensino do IG/UNICAMP.O trabalho duranteo projetoe o própriotexto Íoram Íeitoscom a orientaçãode dois coordenadoressupra citados. O texto está escritona primeirapessoado singularpara realçarmelhor a proÍessorade ciências relatandoe discutindo sua experiênciadidática e de reÍlexão sobrea prática. A experiência de sala de aula Neste trabalho,limito a explanação,ao objetivo que é mostrar o LlP, como ponto de partida que reorientou,possibilitoureÍormulações,redirecionouo aprendizadoÍazendo-otomar rumos não planejados, mas permitindoa retomadadiariamentedo preparo de atividades.lsso tornou as aulas e a reÍlexão sobre a ação muito interessantese ricas em detalhes. A atividadeaoui relatadaÍoi realizadacom alunos de uma Sasériedo oeríododa tarde no ano de 1998. A classe era composta de 37 alunos que O tema tratado Íreqüentavamas aulas regularmente. nestaapresentaçãoé o ciclohidrológico. Para melhor interaçãoentre mim e os alunos,os alunos e o conteúdoa ser aprendido,a distribuição espacialdas carteirasem sala de aula mudoue elas foramdispostasem U. O trabalho a ser apresentado,já vinha sendo desenvolvidonas escolas'onde lecioneinos últimos anos. Na época, com os conhecimentos que dispunha, a aplicação da atividade O PREPARODOS a conheceros tiposde águas OBJETIVOSE DAS resumia-se atravésda leiturados rótulosdas garraÍas ETAPASJÁ TRAZ EM oe aouasmrnerars. MIM O INICIO DE Em 1996,quandocomeceia participarI UUeVISÃODE "Projeto Geociênciase a Íormação do I'pnOp'ESSOnn' continuadade proÍessoresem exercício I COI4O no ensino Íundamental",recebi textos de | .eTSeUISADORA'. construtivistas, aooiosobreos referenciais como Driver,Vygotskyentreoutros e, ao estudartais pressupostosmetodológicos, senti a necessidadede por realizada. mim reÍormulara atividade Inicialmentecomecei aplicando na prática os ensinamentos propostos por Driver ao lazer o levantamentodas idéias prévias (LlP) nas aulas, estudando as idéias dos alunos, elaborando os esquemas de conceito (EC), reÍormulando e preparando os materiais necessários para melhor condução do aprendizado,Paralelamenteaprimorei os meus conhecimentos especíÍicos com o coordenadordo projeto. "Estudo das A atividade inicial chamada de Águas Minerais"Íoi planejadapara ser desenvolvida "O estudo das Aguas". A partirdo LIP e na unidade dando conta dele, o ensino-aprendizagemÍoram direcionadospara o estudo mais aprofundadodo ciclo hidrológicoe o estudodas águas subterrâneas retornandodepoisao tópicoáguas minerais. r Proieto Íìnanciadopela FINEP: 63.96.0785.00,pelo 524360/96-0e pela FAPESP:9612566-4. ÇNPq: ' A atividade "Análise dos rótulos de garrafas de água mineral Íoi desenvolvidano ano de 1.996 na escola E.E.P.S.G."Escolada Vila João XXlll", em Vinhedoe no "FranciscoGlicério",em de 1.997 na escola E.E P.G. Campinas. O tema escolhidoteve a princípioos seguintesobjetivos:i) levantarhipótesesa respeito dos processos e fenômenos associadosà água mineral;ii) estudara do cicloda águacom os sistemas interação de águas subterrâneas.Tais objetivos paramimapósa maisevidentes tornaram-se reflexãosobre a ação quandoeu analisei todosos materiaisaplicadose prepareio trabalho para apresentaçãono COLE (Sugaharae Compiani,1999). As etapasempregadasÍoram sendo utilizadasno transcorrerdas aulas e só Íoram possíveisde serem das apósa sistematização elencadase consolidadas, atividadesdurantea reÍlexãosobre a ação, quando "olhar" mais retorneia atividadeaplicada com um atento e detalhadocom o intuitode teorizarminhas atividadesaplicadas,para a elaboraçãodo relatórioa ser entreguee submetidoà apreciaçãopor parte dos Íinanciadores: FINEP e FAPESP. As atividades abrangeramas seguintesetapas: 1. Levantamento das idéiasprévias(LlP); 2. Elaboraçãoe estudo de esquemas de conceitos (EC)a partirdas idéiasprévias; 3. Preparaçãodo tema (ciclo hidrológicoe águas calcadono LIP; subterrâneas) 4. Execução de experimentose adoção de aulas dialogadas; 5. Aplicação de atividadesindividuaise em grupo para melhorcompreensãoe Íixaçãodo conteÚdoem desenvolvimento. O preparodos objetivose das etapasiâ lraz em "proÍessora" mim o iníciode uma visãode "pesquisadora" e que vai sendo incorporadaà como medida que estabeleço um distanciamento das atividadesaplicadase assim a minha atuaçãovai se concretizando a ponto de se tornarpúblicaminha exoeriência em salade aula. Sistematizare categorizaras idéias prévias que conceitual Íacilitaa elaboração da hierarquização auxiliae norteiao trabalhodo professorno preparo dos materiaisa serem utilizadosposteriormente LIP- norteandoo trabalhodo professor duranteas aulaseÍetivas.Há um casamentoentre planejar- reÍletire atuar - ensinar.E importante Neste tópico, eu intercalo o relato dos do e tentarcompreender o desencadear distanciar-se acontecimentos e os conteúdos tratadosem salade na ação trabalhoem sala de aula,seja repensando aulacomas minhasreflexões. ou sobrea ação.Os doismodossempreenriquecem Pensandono textode Oliva(1996)e relevando em salade aula. as experiências as considerações de Driversobre o conhecimento Neste caso, reÍlexãona ação, levou-mea: das criançasque diz: " a criança é perspicazao das aulas, orientaro repensaro desenvolvimento obseruaro meio em que vive, por isso além das preparo das aulas posteriores,tornar o aluno obseruações,muitas informaçõesjá estão contidas partícipede sua aprendizagem e ao mesmotempo em suas mentes",é que decidiiniciaro planode inÍormado sobreos próximospassosdas atividades e estudos,Íazendoo LIP (14etapada metodologia) o alunoa ser um sujeitomais encorajando escolares, opteipor registrarem papelas idéiasprévias.Para ativo e, sobretudo,perceberos acertose erros e isso formulei03 questõessobreas águasminerais que Íoram:a) De onde vem a água mineral? b) melhor,possibilitarque eu tivesse condiçõesde propor em outra aplicação outras formas de Comoé originadaa água mineral?c) Quaissão os processos quedãoorigèmàs águasminerais?3 aplicação,de reorganizaçãoda seqüênciadas etapas. NestetrabalhoseráenÍocada apenasa descrição com o O proÍessor,quando é comprometido dasatividades da 1aquestãoaplicadaparao LlP. sempreestáa pensarno de sua profissão, exercício Em relaçãoa 1s questão(De ondevem a água que acontecena salade aula.Muitasvezes,somos mineral?), identifiquei nas respostas dos alunosduas com os saberes que nossos paraa origemda água mineral: surpreendidos categorias alunos trazem Dara a sala de aula e a) supeíicial:29 alunos acharamque a H A U M Em compartilham comos colegase o proÍessor. água mineralprovémdas minasd' água, CASAMENTO ENTRE por ao angústias outras, somos tomados riose cachoeiras 02 e, b) origemprofunda: PLANEJAR planejada que Íoi não que poços uma atividade sabermos alunosacham a águavem dos REFLETIR E por No momento nossos alunos. compreendida Íoi início artesianos, lençolfreático.Este o ATUARque envolvea tomada solitário do planejamento da 2" etapada metodologia. de decisões,preparo de uma unidade de O desenvolvimento da atividadeiniciou- ENSINAR. e atividades dosconteúdos ensino,organização se com os meus comentáriossobre as que a aplicaçãosigaà esperamos complementares, respostas dadasao LIP e estudadasposteriormente pelaprofessora. risca a nossa seqüênciade tópicose atividades planejadase acabamossurpreendidos linearmente Na aula que seguiuao LlP, os alunosficaram préviamuitasvezesnão se porquea programação muitointeressados em saberquemhaviaacertadoas prática. questões. que na lsso ocorre porque não se concretiza o mais Deixei,no entanto,claroa eles considera os saberesdos alunos,nãose relevasuas importante naquelemomentoera conheceras idéias do que eles detinhamsobre o assunto.As respostas não se dá atençãoa participação contribuições, além dos outro no processoensinoaprendizagem, independentemente seriamdiscutidas e trabalhadas da escola. Todosestesaspectos Íatoresestruturais de seremconsideradas certasou erradasTambém nos levama reÍletire a tomardecisões.A leiturade foi colocadona lousa o esquemade conceitos análise de experiênciasparecidascomo a de apontando as idéiasgue os alunosdetinhamsobreo que entreo Fontana(1996),nosconÍodaao enÍatizar assunto. (Finalização EC - da 2a etapa da que planejar deve ser e o atuar há uma distância metodologia). Foi elaborado uma simples e alunos interações entre e é das considerada, hierarquização conceitual das idéiaspréviasque Íoi proÍessores que a ser começam os caminhos expressada comona Íigura1. apontadose só são percebidosno decorrer das A hierarquização das idéiasÍeitae mostradaaos aulas. No caso desta experiênciaem particular, alunosobjetivava estabelecer um diálogocom eles, as idéiaspréviasdos alunos,levou-mea considerar atribuindoimportânciaà participaçãodeles neste processo,e uma vez que proÍessorae alunossão tomar a decisão de dar início às atividades parceiros, trabalhando com os conceitosda origemdas águas no ensinoaprendizagem co-participantes e superficiais. subterrâneas de qualquer tema. Lendo a pesquisa da professora Fontana, com estetrabalho.A autora veriÍiquei similaridades ' A questão03 Í'oi tratadapelos alunos no LIP numa associaçãcr nos diz que: "a forma de conduziro trabalho,o que do processode retiradada água pelo homem na naturezae isto se propôs, e se fez, foi partir de atividades que iìcou evidenciado nos desenhosrealizadospelos alunos onde permitissema expressão da própria experiência da o enfoque fìcava por conta do tratamento da água. Também criança, trazendoelementosdo seu cotidiano e/ou fbi maior o número de representaçõesespaciais feitas pelos suas formas de elaboraçãoconceitualespontâneas alunos na 3 questãose comparadoa I questão. para a sala de aula.."e ... " ( ..) os conceitos,cujos processos de elaboração foram estudados, não a priori" (199ô, p.35 ). Assim foram estabelecidos umasériede na minhaexperiência, comoFontana, conceitos que Íoram trabalhadosnão estavam previstos. Decididaa começarpelo ciclo da água, Íiz a diretasdos alunos entreas observações associação (cicloda água)e os conceitosda origemda água. que podiamde certa Lanceimãode algunsrecursos (diálogo), ilustrar esclarecer maneira na lousa) e realizar (transparências/esquemas quevinculassem a teoriaà práticae que experiências dosalunos. noaprendizado significado tivessem Como Driver diz: "as idéias prévias adquiridas influem no aprendizado a partir de novas experiências.As experiênciasincluemdesdeleituras de textos,obseruaçãode fatos e experimentações" e....( ) "asidéiassão pessoaise por issoas pessoas interiorizam suas experiências de forma muito propria,porqueconstroemseu própriosignificado.As mentes das crianças são influenciadaspor suas idéias e expectativas, quando observam e interpretamum tato".GriÍomeu,com o objetivode é que salientarque Íoi atravésdestasobservações descritosa os recursosmetodológicos diversiÍiquei seguir. prepareiuma aula as atividades, Prosseguindo na utilizando:transparências, qual Íoi possível trabalharas duas categoriasdas idéias prévias (profundo/subterrâneo surgidasno LlP. e superficial) O objetivo era estabelecerrelação entre o cientíÍicoe o as observaçõesdos conhecimento Paraestabelecer alunos(3qetapada metodologia). duas transparências Íorammostradas as diÍerenças evidenciando a formaçãodo lençol de água lagose rios e a Íormação dasnascentes, subterrânea (blocos-diagrama do ciclo hidrológicoretiradodo AtlasVisualda Terra(1996)das páginas40 e 45, ou no site consultado ser oode html rdg/index. ige.unicamp.brllaboratorios/l http://www. de e Íig. 2 - Elementos Fig.1 - O ciclohidrológico umsistemade águassubterrâneas). O objetivo da aula expositivaÍoi iniciar a dos conceitosque dizem respeitoa um explicação sistema de águas subterrâneasa partir das (Íig.1 e 2). transparências Para auxiliara construçãodos conceitosde um eu estabeleci e subterrâneas águassuperÍiciais paralelocom o experimento sobreas mudançasde estadoÍísicoÍeitoem classe,em umaaulapassada, usando um tripé, tela de amianto,becker,água álcoole umatampade panela.Divididos lamparina, os alunosem sete grupos,a água do beckerÍoi aquecidae assimque começouevaporar,eu trouxe as tampas previamentecongeladasque Íoram colocadassobre o vapor. Pedi aos alunos que observassem o que estava ocorrendo. Por com foi comparada a lamparina associação/indução a Íontede energia o álcoolao Sol, identiÍicando-se A água no estadolíquidoaos rios, dos processos. lagos e mares, que ao serem aquecidosproduzem vapor. Ao ascender para as regiões com baixa temperatura da atmosfera, o vapor resfria e em contato com partículas sólidas (aerossóis), as moléculasde água se condensamÍormandonuvens que quando saturadasprecipitam.No experimento, ao encontrar a superfície Íria da tampa, a água condensae quando atinge um volume suÍicienteela pinga. Os alunos identificaram o processo de condensaçãoe precipitaçãoem outras atividades cotidianassimilares,como por exemplo no preparo do arroz para a refeição. Na aula seguinte,para melhor Íixar os conceitos aprendidos realizei um experimentodemonstrativo para toda a classe com o objetivode mostrarcomo do solo. Percebendoque a se dava o encharcamento para não tinha Íuncionado o coletivo demonstração como o esoerado.combineicom os alunosde refazêlo. Destavez, o experimentorealizadofoi em grupo e simultaneamentepor todos eles segundoinstruções precisasque eu lhes Íornecia.Cada grupo recebeu dois beckers.Um com água e o outro supostamente "vazio".Um aluno de cada grupo colocoua areia no becker. Enfatizeide antemãoque o mais importante era observar o que iria acontecer,quando a água Íosse adicionadaao vidro com areia. Autorizadaa continuação do experimento Íoi grande a manifestaçãodas observações,quando cada aluno ressaltavao que aconteciade mais interessante.No decorrer do experimentoeu Íui dialogandocom o objetivo de articular os conceitos trabalhados no experimentoe o processode inÍiltraçãoda água e a formaçãoda água subterrâneana natureza. Algumas Ìrases entre mim e os alunoso evidenciam como a aula dialogada Íacilitou a construçãode importantesconceitosabaixodescritos (quarta etapa da metodologia- parte da aula dialogada): Diálogo 1 "A água demora para chegar no Alunos fundo do bécker": "Por que a água demora Professora para chegar ao fundo do bécker?"; Aluno - "Ah! E porque você pôsa água bem devagar"; t da Os diálogos não sãotranscriçõesde Íìta, mas anotaçÕes professora. Depois de cada aula eram anotadas as informaçõescontidasna lousa,criadasem decorrênciade novos rumos tomados na aula, comentáriose discussões mais significativas dos alunos ou qualquer Íato As aulas também Íbram consideradomais interessante. acompanhadaspor aluna bolsista que observava as relaçõesentre a professorae alunos e o desenvolvimento das atividades.A aluna usavao método da triangulação, ou seja, após as aulas eram discutidas as observações com a professorae o profèssororientadordo projeto. Diálogo2 Professora- "Ese a água fosseposta maisrápida?"; pela águae a entreos porose a sua substituição (águae construção do conceitode impenetrabilidade ar nãoocupamo mesmoespaço). Aluno- "A forçafariachegarmais rápido". Diálogo4 Aluno- "Ah!Os grãosmenores descerampara o fundodo béckere os maioresficaramem cima"; -"Porque seráque isso Professora ocorreu?" Aluno- "Porquea água os movimentae entranos espaçosentreos grãos". O primeiroe segundodiálogopermitiram que eu estabelecesse a relaçãoentreos termos"espaços"e "poros",reforçando a idéia;queentreos grãoshavia realmenteestesespaços/poros que beneÍiciavam a infiltração da água. Diálogo3 Aluno- 'Ah! tá saindobolhas"; - "Porque seráqueas Professora Bolhassaíramapósa adiçãoda água na areia?" Aluno- "Eporquetinhaar..." -"Mas ondeo ar estava?" ProÍessora Aluno- "Ah!Ele estavaentreos grãos..." ProÍessora"Querdizerque entreos grãoshavia "espaço"com ar?" - "Maspor quesaíramas Professora bolhas?" Aluno- "Porquea águaentrouem seu lugar." - "Querdizerqueo ar e a ProÍessora águanão ocupamo mesmolugarentre os grãos?" Aluno- "Sim" O terceirodiálogoevidencia,à medidaque os alunos respondiamao meu questionamento, a construçãoda idéia de ar preenchendo o espaço ProÍessora- "Porque será que a água não infiltroumais?" Aluno- "Porque tem águademaise ela encontrouum obstáculoque não permitiuque ela se infiltrasse mais..." Aluno- 'Ah! Eu pus muitaáguapor isso ela estáboiando". O quarto diálogo evidenciaa aquisiçãodo conceitode obstáculoque impedeo processode inÍiltração e dá inícioao processo de armazenamento de água,de formaçãoda água subterrânea, assim comoo conceitode zonasaturada, havendoáguaem excessonos poros,a águaexcedente nãoconsegue infiltrar. As atividadesanteriorespretendiamque os alunosconstruíssem os seguintes conceitos: 1. lnfiltração da águano solodandoorigemàs águas superficiais e proÍundas; 2. tamanhode granulação e porosidade dossolos; 3. diÍerenciaras zonas de aeração,das zonas temporariamente saturadae da zona permanente saturada; por 4. barreiraimpermeável impedindoa infiltração açãoda gravidade. Depoisde eu ter utilizadodiferentes estratégias (uso de transparência, experimentos, exercícios em lousa)e confiantede que os conceitostrabalhados em salaestavambemconsolidados, surgiuo conflito entreos alunossobrea relaçãoentreporosidade e granulometria do solo. O alunoJiumarexpressou suaidéia: Jiumar: _"A água infiltramais rapidamenteno caso da areia fina que no casoda areiagrossa." Diegoe Vâniadiscordam: Diego: _"Não, a infiltraçãoé mais lenta no caso da areiafina." Vânia: -"E sim, na areia fina ou coadaa água desce mais devagarpois seus espaçossão menores.No cascalhoe naspedrasa água descemaisrápidopois os espaçosentreos grãossão maiores." Jiumar: _"não! na areia fina há mais buraquinhos entreos grãos por issoé maisrápido." Nesteconfronto de idéiasobserveio que Bakhtin apud Compiani (1996) designa como formas interativasmaisgeraisno debatee diz que " em toda enunciaçãoefetiva,seja qual for sua forma,contém sempre, com maior ou menor nitidez, a indicaçãode um acordoou desacordocom algumacoisa."(p.107). Esse desacordoentre esses alunos envolveu toda a classe na discussão e após muitas argumentaçõesde ambas as partes, eu reÍiz novamenteo experimento com o becker,para que os alunosveriÍicassem na a diÍerençade infiltração areia grossae fina e pudessemcompreender os tamanhode granulação conceitos e porosidade dos solos. ReÍletindosobre a ação, e em especialsobre eu constateimeu erro ao realizar este experimento paraexplicaro conceitode inadequado experimento infiltração. O experimento realizado é mais indicado para se visualizara saturaçãodo solo. Refletindo sobrea execuçãodo experimento, com o orientador do projeto,descobrique o experimento não servia para demonstrara inÍiltração.Para veriÍicar a infiltração eu deveriater realizado o experimento com verificara velocidade umavidrariatal oue oermitisse retidana areia da passagemda águae quantidade grossae areiaÍina com um poucode argila.Mas, mesmocom problemas, o experimento serviupara demonstrar as diÍerenças de inÍiltração em materiais finose grossos. possibilitaram As divergências a retomadade conceitosduranteo debateque se instaurouentre todos e a elaboraçãode uma nova síntese e constatou-seque os conceitosforam de Íato poisas observações foram registradas consolidados, feitospelosalunos. em relatórios Tanto Moreira(1988) quanto Schôn (1992) comentamo papeldo erro.Suascontribuições são muitopertinentes e noscapacita cadavez maisa ser um professorreÍlexivoe vislumbrara melhoriada de nossasaulas. oualidade Moreira(1988)diz que: " a pesquisa científicaé conduzida por pessoas normais, que têm suas angústias, suas alegrias. Pessoas que erram, aceriam.Enfim,pessoasquesentem".(p.116) Schon,diz que "(...)sentir-me-eirecompensado por saber que estou a aprendera partir de um erro. Ser capazde reconheceré muitointeressante.Posso realmenteaprendercom meus próprios erros. Esse posicionamentoalgo paradoxal é necessáriose o professor quiser funcionar como um profissional reflexivo. Caso contrário,sentir-se-áassustadoao ver-se confrontadocom um erro que cometeu e tentarácontrolara situaçãopara evitarque o seu erro venhaa ser descoberto"(1992,p. 87). Recomeçar a partirdo erropodeenriquecer ainda maiso aprendizado. Encorajar os alunosa dizeremo que sabem e o que não compreenderam é um processode conquistada confiançaque também pode e deve ser construídanas relaçõesinterpessoais,principalmente quandose tratada relação na quala parceria vai sendo ensinoaprendizagem na afetividade, no respeito, no ouvire na construída importância dadaa Íaladosalunos. SegundoSchôn, "um professorreflexivotem a tarefa de encorajare reconhecer,e mesmo de dar valor, a confusão de seus alunos". Relevar a "confusão" do alunoÍoi bomoaraesclarecer e revisar os conceitostrabalhadose reÍorçá-lospara que Íossemmelhoraoreendidos e consolidados. ReÍlexão na e sobre a ação Segundo Schon (1992, p.83), 'é possível olhar retrospectivamente sobre a reflexão-na-acção. Após a aula, o professor pode pensar no que aconteceu, no que obseruou, no significado que lhe deu e na eventual adopção de outros sentidos." A reÍlexão na ação realizadapor mim começouavaliandoo tempo necessário à aplicaçãodas atividadesque tiveram início no dia 28104com o levantamentodas idéias prévias e encerramento no dia 20108 com a elaboraçãodos desenhos referentesao experimento que tratava da inÍiltraçãoda água no solo. Os tipos de aulas Íoram os mais diversos incluindo aula debate, exploração de recursos visuais como as transparências, experimentos, elaboração de relatóriose avaliaçãoconstanteda participaçãodos alunos no processo além da avaliaçãoformal dos conhecimentos para cumprimento de normas burocráticasestabelecidaspela escola. Experimenteina prática e partilhocom Fontana (1996) que 'ã suposta linearidade entre o planejado e o efetivamente realizado cai por lerra". Processo veriÍicado por mim enquanto proÍessora pesquisadoraquandofiz do LIP o meu norte,quando se releva as idéias dos alunos e atribui a elas a importância merecida, observei que os rumos tomados são diÍerentes dos planejados. Numa abordagemconstrutivista é importantevaloraro outro como parceiro,considerara sua Íala e reconduzir suas aulas de modo que possa retomar conceitos que ainda não Íoram consolidadospelos alunos.E o ouvir,éocompartilhar,éoprepararde que taz com que os conceitossejam aulas/atividades de fato compreendidos. Driver diz que: "Cabe ao professor interrogar as crianças antes de trabalhar qualquer conteúdo, programado ou não. Este questionamento e posterior resposta, dá ao docente meios de como abordar este conteúdo. As respostas são importantes mesmo que estejam erradas, pois elas são indicadores de quais conceitos merecem mais atenÇão ao serem trabalhados. E fundamentalpara o professor, pois the dá condições de pensar e estudar uma estratégia que seja mais eficaz para abordar e esclarecer aquelas idéias incorretas, dentro do conteúdo a ser estudado" Extraído de Sugahara, 1997, Relatório Anual-FAPESPpá96e7). Por fim, eu gostariade enÍatizarque o trabalho apresentado não deve ser considerado receita, porque cada experiênciaé única, própria de cada ambrente escolar, mas é possível descrever experiênciasvividas. ReÍerências citadas COMPIANI, M. - As Geociências no Ensino Fundamental: Um estudo de caso sobre o tema: A Formação do Universo. Tese de doutorado. FE/UNICAMP, Campinas,1996.216p. 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Explicações, representaçõesvisuais sobre o ensino da água mineral nas salas de aula de ciências.In: Encontro sobre Linguagens,Leiturase Ensinodas Ciências,3, Campinas, 1999. Anais em CD-ROM, Campinas: 9 ,9 9 ,1 5 p . A L B / F E , l E L - U N I C A M1P Nancy N. G. Sugahara é proÍèssora na Escola Estadual Prof. Moacyr Santosde Campos. Maurício Compiani e Vivian Newerla são do DGAE do Institutode Geociências da UNICAMP Superficial (29 alunos) Profundoou subterrâneo (:02 Alunos) figura1