Edição Nº1 - WordPress.com
Transcrição
Edição Nº1 - WordPress.com
Diretor: Filipe Resende | Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, Filipa Marques Henriques e João Tavares Nº 1 - Edição de outubro de 2012 – Jornal Mensal “Tiveram um professor poeta mas não deram conta disso” Entrevista a Jorge Fazenda Lourenço - Entrevista a Jorge Fazenda Lourenço // PÁGS. 9 – 11 As praxes e os novos alunos da FCH As eleições na AEFCH e o desafio de José Diogo Vinagre Tudo está bem no jardim à beira-mar plantado com Miguel Relvas e Assunção Cristas // PÁGS. 6 – 7 // PÁG. 8 // PÁG. 15 Editorial | 2 “O jornalista do Público tem como preocupação central do seu trabalho jornalístico o rigor e a qualidade, procurando casá-los de forma harmoniosa e inventiva com a criatividade que é indispensável a um trabalho que recusa o cinzentismo e a rotina” Livro de Estilo do Público qualidade do jornalismo é um aspeto fundamental na imprensa escrita. Os objetivos do jornal O Académico passam por essas linhas orientadoras da qualidade jornalística. Somos um jornal dos alunos e definimos para este ano letivo a inovação e a pluralidade. O nosso lema não passa apenas pelo novo formato, mas pela qualidade dos artigos, pela alteração da equipa de redação e acima de tudo pela abertura da opinião aos alunos. Não queremos ser um mero jornal que passa despercebido ao olhar dos estudantes. Queremos sim ser um suporte sério e rigoroso que suscite debate. Também não queremos ser um tabloide controverso que aposta no sensacionalismo através das suas manchetes. Queremos ser um órgão interno que faça enriquecer a comunidade académica desta faculdade. A Não queremos ser um mero jornal que passa despercebido ao olhar dos estudantes. Queremos sim ser um suporte sério e rigoroso que suscite debate Não seremos um instrumento de propaganda e publicidade da Associação de Estudantes e por isso mesmo pretendemos apostar numa visão crítica e coletiva dos alunos da Faculdade de Ciências Humanas. A nossa equipa, relativamente à do ano passado, sofreu uma transformação radical. A partir deste momento todos os alunos podem ter a oportunidade de fazer parte deste jornal. Acreditamos que podemos ser um grupo forte e unido que esteja ao nível da excelência e da qualidade da imprensa universitária. Por acreditarmos nessa mesma Imprensa aceitámos o convite da Associação de Estudantes a redigir este médium. Relativamente ao suporte, este jornal apostará no meio digital. Consideramos que não faz sentido nos dias de hoje um meio de comunicação social ser um suporte em papel. Além disso respeitamos o ambientalismo e também a difícil conjuntura económica. Convidamos assim toda a comunidade académica a escrever artigos para o nosso jornal. Queremos também deixar claro que não somos um órgão de destruição ou uma arma política dentro do espaço académico. Somos sim um “um projeto de informação em sintonia com o processo de mudanças tecnológicas e de civilização no espaço público contemporâneo [e académico] ”. (Livro de Estilo do Público). Enquanto críticos do nosso próprio trabalho estamos abertos a opiniões e a sugestões. Por isso esperamos por ti! Jornal O Académico – Edição de outubro Diretor: Filipe Resende | Diretores Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, Filipa Marques Henriques e João Tavares Redação: Dário Alexandre, Eva Santos, Manuel Segurado, Mariana Santos, Salomé Marques, Ricardo Raposo Lopes e Rafael Reis | Correção: Raquel Ubach Trindade Opinião: Maria Inês Pinheiro e José Paiva Este jornal cumpre as regras do novo acordo ortográfico Edição de outubro 3 3 | Opinião Maria Inês Pinheiro ________________________ Quando a revolução digital passa à revolução sexual Gostaria de um dia, quem sabe, ver o Professor Rogério Santos a falar sobre o surgimento dos e-books e dos e-readers e o papel que os mesmos tiveram, e continuam a ter, no âmbito da revolução digital das indústrias de publicação (e da nova vaga de emancipação sexual). Segundo o jornal britânico “The Sun”, a venda de ficção erótica aumentou cerca de 30% devido ao aparecimento dos e-readers, como o Kindle da Amazon, que permitem a compra e a leitura anónimas de livros como “As Cinquenta Sombras de Grey”. Os e-books possibilitaram a quebra da barreira do constrangimento graças à revolução digital do universo sexual. Os livros continuam a ser julgados (de forma errada) pelas suas capas, e apesar de estarmos no século XXI, o erotismo continua a ser tabu. O anonimato das compras online evita a vergonha, mas não faz com que a mesma desapareça. O estigma social permanece. Ainda há quem tenha vergonha de ler (ou ser visto a ler) livros de carácter sexual explícito. Os livros continuam a ser julgados (de forma errada) pelas suas capas, e apesar de estarmos no século XXI, o erotismo continua a ser tabu. Se as indústrias de publicação começarem a produzir capas e títulos que não sejam - à falta de melhor palavra – pornográficos, a barreira da vergonha será quebrada e os leitores mais inibidos não sentirão a necessidade de esconder os seus guilty pleasures. O sucesso de “As Cinquenta Sombras de Grey” deve-se, talvez, ao facto de parecer um livro não-erótico, e como tal tornou-se socialmente aceite. A partir do momento em que um livro é comercializado com uma capa que faz com que os potenciais compradores sintam vergonha da aquisição ou da leitura do mesmo, a percepção da literatura erótica não irá mudar. Pode ser que o sucesso de “As Cinquenta Sombras de Grey” faça com que a pornografia se mude de vez para a página impressa, mas de forma inteligente e direccionada ao público em geral. Afonso Sousa ________________________ As gordinhas Não, desculpem. Este texto em nada se assemelha com o belíssimo ensaio sobre a parvoíce que a “escritora” mais publicada – ou será frustrada? – em Portugal produziu aí há uns tempos . Tentemos, no entanto, dele tirar uma lição para além do fato de que muito se ganha em ficar calado. Soube-se por aí que os portugueses andam descontentes com a democracia. O caso é mais grave quando os números da insatisfação ascendem aos 87%. Número estranho e de difícil compreensão. A justificação poderá vir do motivo que, na fase que atravessamos, responder ao que quer que seja de forma animadora, deixar-nos-á nervosos. Mais do que qualquer coisa, a democracia funcionou. De jovens a reformados, do Marcelo ao senhor António do café, todos fomos e somos, o tal povo unido, que como muitas vezes se cantou, jamais será vencido. Qualquer um dos inquiridos será mais um avô preocupado com o futuro do neto ou um jovem licenciado que não sabe como aguentar mais uma hora a fazer Big Mac’s. Para qualquer um dos casos, o mundo parecerá tudo menos democrático. A novela política pós anúncio de mais austeridade resultou, tenhamo-nos ou não apercebido disso, no mais belo uso da democracia. O recuo na nova TSU apenas foi possível quando quem manda, percebeu que não vive num mundo isolado. E fê-lo quando a voz de quem interessa se fez ouvir. Opinião, liberdade, direitos, ideias, soluções: tudo isso se fez ouvir. Mais do que qualquer coisa, a democracia funcionou. De jovens a reformados, do Marcelo ao senhor António do café, todos fomos e somos, o tal povo unido, que como muitas vezes se cantou, jamais será vencido. Não falhámos em provar que ainda sabemos lutar, que somos mais calmos nas manifestações do que no trânsito, mas que, acima de tudo, gostamos muito da nossa democracia. Tal como n’As gordinhas, não cometamos o erro de olhar apenas as aparências. A democracia não é uma questão de aparência. É aquilo que nos deixa ser quem somos. Maria Inês Pinheiro escreve de acordo com a antiga ortografia Jornal O Académico Opinião | 4 José Paiva A beleza de algo tão comum Milhares e milhares de pessoas se levantam todos os dias, e partem para os seus trabalhos, para as suas famílias, conscientes que a rotina veio para ficar, e de que o fim de semana está bem longe de chegar. Mas de que alguma maneira, no meio dos túneis há muito construídos, aqueles cinco a dez minutos que entram nas três ou quatro carreiras (dependendo da hora) servem muitas vezes como momento de solidão. Isolados por uma música qualquer que os absorve na sua própria esfera. Fitando os desconhecidos que trocam gargalhadas e ideias com os seus companheiros, ou então simplesmente nos ajudam a chegar onde queremos. Nem sempre é assim, e felizmente. No metro podemos ser tudo: isolados, observadores, fortes, fracos. No fundo o que importa é o aspeto, e aqueles cinco a dez minutos de que vos falei, não servem para conhecermos uma pessoa da cabeça aos pés. O preço vai subindo, e a verdade é que a estética e todo o design das estações não é propriamente convidativo a uma espécie de “chá das cinco”, mas involuntariamente todos acabamos por lá ir parar. A paisagem? Acaba por ser um figurante num palco onde as personagens principais são as pessoas, e o próprio público. Engraçada, diria eu, esta última frase, porque sem sabermos o metro ajuda-nos a continuar ligados à humanidade. É verdade, existem agora uns “robôs” (passo a expressão), mentalizados nas suas maquinetas e traquitanas que os destabilizam deste processo de socialização, pelo qual passamos quando andamos de metro. Graças ao metro, estamos conectados a todos os sítios, da longínqua Amadora, até à viajada Santa Apolónia, do moventadíssimo Oriente ao controverso Intendente. Para todos os gostos, para todas as idades, o metro não se queixa, deixa-nos andar livremente, de vez em quando lembram-se de o adormecer durante umas horas, e aí o caos acontece. Porquê? Graças ao metro estamos conectados a todos os sítios, da longínqua Amadora, até à viajada Santa Apolónia, do moventadíssimo Oriente ao controverso Intendente. Porque a vida é feita de pequenas coisas que nos vão ligando uns aos outros, por mais afastados que estejamos. Precisamos de hábitos, precisamos de repetições, precisamos uns dos outros para continuarmos a viver algo que nem nós sabemos bem o que é. E enquanto vivemos, com mais ou menos problemas, podemos sempre apanhar o metro, e ver o que acontece. Eu vou, e vocês? ______________________________________________________________________________________________ PUBLICIDADE ´ Cada vez somos mais! Segue “O académico” no Facebook através de www.facebook.com/oacademico Edição de outubro 5 5 | Opinião Feliz “ano novo” ais um ano começou. Para uns, um começo, para outros uma continuação, mas para todos mais um ano começou. Dos que chegam tímidos, assustados até, com o peso que de repente lhes cai em cima, aos “da casa”, que dos seus cantos sabem todos os segredos. Mais um risco na parede se começa a raspar. O ar cheira a novidade, reencontro, mas a incerteza e medo também. O mundo corre atrasado para o seu fim e a vida torna-se mais difícil ao mesmo ritmo. Quando as vacas tornam-se magras e o cerco aperta é a nós que a noite chega primeiro. Portas fecham-se antes sequer de carregarmos na campainha, escravatura surge cada vez mais formalmente chamada de “estágio” e nós vemonos cada vez mais encurralados. Como já não basta sermos forçados a escolher com 18 anos os próximos 50, agora nem sabemos se 50 anos decentes irão sequer existir. Nunca imaginámos que as coisas pudessem estar onde estão, com a seriedade com que estão. Mas ainda existe uma escapatória. A luz no fundo do túnel ainda se faz sentir. M Ainda podemos desarmar a bomba relógio que se tornou esta segunda década do século XX. Nós somos essa solução. Eu e tu, e todos nós. Jovens, selvagens e livres. Vamos aproveitar isso. Vamos dar o que de nós tivermos melhor para que a situação calamitosa amaine. Vamos participar, aprender e ensinar quem nos desvaloriza tantas e tantas vezes. Nós somos o limiar da inocência. O ponto vital entre o conformismo da vida adulta e a vitalidade e rebeldia da juventude. Vamos participar, aprender e ensinar quem nos desvaloriza tantas e tantas vezes Esbanjemos menos isso em gargalos de garrafas e conquistas efémeras e a nossa voz será ouvida. Por nós e pelo nosso futuro. Não, isto não são falsos moralismos nem manias de grandeza. São volts de energia que muitos de nós precisamos para ver o que poderá vir e o que podemos fazer para alterar isso. Não esperem pelo arrependimento e levantem-se. E para novos e velhos. Caloiros e Veteranos. Deixo estes meus dois cêntimos de opinião, para que este não seja só mais um ano, mas que possa ser o princípio de algo novo e melhor. Feliz “ano novo”! PUBLICIDADE Jornal O Académico Opinião 6 Secção Comissão de Praxe | 5 “Dura praxis, sed praxis” Texto: Rafael Reis Fotos: João Tavares etembro assinalou o começo de mais um ciclo. Inicia-se o ano letivo, voltam-se a ver as caras conhecidas, reencontram-se os amigos e entram os novos alunos. Instala-se um clima de boa disposição e sem grandes preocupações, pois os primeiros dias são dedicados às praxes. Com esta frase torna-se clara qual a minha opinião perante esta tradição académica. Do ponto de vista dos caloiros, considero que a praxe é boa e propícia à interação com os futuros colegas. Não defendo que seja obrigatória. Isso depende de cada um. Uns afirmam que é uma forma de quebrar barreiras, esquecer preconceitos, conhecer pessoas novas, entrar no espírito académico. Outros dirão que se trata de uma estupidez, uma forma de vanglória e superioridade para com os novos alunos. Manifesto-me a favor da praxe. Ansiava por este ritual antes de entrar na faculdade. Vindo de S isto é verdade. Mas então porque é que os novos alunos continuam (na sua maioria) a ir às praxes?! É o espírito académico! Nas praxes não existe um passado, não existem imagens pré-definidas, classes sociais, estereótipos. Não há nenhum aluno que seja superior a outro. São todos iguais e esse é o objetivo de todo o aparato. Ao colocar os alunos todos no mesmo nível, todos eles com uma imagem "retocada", não existem diferenças. São todos caloiros e uma coisa já têm em comum: "odeiam" os trajados. E quando começam a entrar no espírito, deixa de haver a noção do ridículo: cantam, dançam e, acima de tudo, interagem. Todavia isto não significa que, ao sujeitar-se às praxes, um aluno será mais social, com mais amigos e cujo nome é sabido por todos. O objetivo aqui é que os mais novos não se fechem no seu mundo e que estejam a fim de conhecer novas caras. Os novos alunos chegaram e, de livre vontade, entraram no espírito das praxes. Alguns desistiram da ideia, mas muitos ficaram e foi com os "resistentes" que se fez a festa. fora de Lisboa e não conhecendo ninguém da cidade, achei uma boa forma de pôr fim àquele sentimento de solidão experienciado nos primeiros dias. Algumas das brincadeiras (sim, o objetivo é mesmo esse) foram divertidas, outras nem tanto, mas encarei tudo de forma positiva. Permitiu-me conhecer pessoas, possibilitando um "olá" e um sorriso no dia seguinte. E é fruto desta acanhada interação inicial que se vão fazendo amigos. Do ponto de vista anti praxe, torna-se um ritual ridículo. Um grupo de jovens mais velhos, com uma aparente autoridade, tratam de subjugar os novos alunos a ovos, farinha, vinagre no cabelo, pinturas na cara, flexões, abdominais... Trata-se de uma tentativa de intimidar, ao invés de receber os novos colegas. Não seria mais proveitoso reunir os novos alunos, levá-los para um café, beber umas cervejas, apresentarem-se uns aos outros, trocar histórias e curiosidades, como forma de quebrar aquela timidez inicial? E quem não vai às praxes, não faz amigos? Não havendo turmas fixas e existindo numerosos trabalhos de grupo, é impossível não interagir com outros alunos! Tudo Edição de outubro Este ano não foi exceção. Os novos alunos chegaram e, de livre vontade, entraram no espírito das praxes. Alguns desistiram da ideia, mas muitos ficaram, e foi com os "resistentes" que se fez a festa. Sobressaem sempre os mais desinibidos, mas eventualmente emergem os mais reservados. Após um começo mais intenso os pastranos, veteranos e o Rex, ao contrário da ideia generalizada que muitos têm acerca das praxes, importam-se com a inserção dos novos alunos: jogos em que todos se apresentam, partilham informação, descobrem coisas em comum. Jogos em equipas, os quais obrigavam a um abandono da zona de conforto e, consequentemente, à perda da timidez, o que se torna fundamental para um bom começo na faculdade. No geral, o espírito foi bom, havendo participação por parte dos caloiros, alguns com pouco à-vontade típico dos primeiros dias, e boa disposição por parte dos mais velhos. OpiniãoComissão de Praxe 7 67| |Secção No que diz respeito ao já habitual rallytascas, foi bom ver caloiros, que dois dias antes não se conheciam, a formarem grupos, bem-dispostos, e com vontade de se divertirem. É bom ver que as praxes servem para criar amizades. contrariedades em chegar ao local onde se encontram os restantes caloiros, todos eles prestes a fazer flexões, colocou-se no meio deles, e com visível dificuldade, fazia também flexões, elevandose na sua cadeira, ao mesmo ritmo dos seus colegas. Apesar de tecer elogios à vasta maioria dos caloiros, há uma pequena parte que merece um reparo. Falo daqueles cuja postura nas praxes não condiz com a decisão que tomaram ao participar nelas. Não sou contra os alunos que não vão às praxes, aliás, respeito a decisão deles, mas sou contra aqueles que vão e agem como se ali estivessem por obrigação. As praxes não são uma imposição, pelo que quem não se está a divertir não necessita de continuar a participar. Recordo-me de observar os caloiros da Faculdade de Medicina de Lisboa e ter ficado plenamente impressionado com o comportamento de um caloiro. Tratava-se de um jovem de cadeira de rodas, que após algumas Apesar de enfrentar uma enorme adversidade, o jovem em questão aguentou até ao fim, recusando-se a desistir, demonstrando ser um enorme exemplo de espírito académico. Dito isto, agradeço a todos os caloiros que participaram nas atividades, os quais, sem eles, nada disto seria possível. É bom ver que o espírito da praxe continua presente. Felicito a Comissão de Praxes pelo empenho e resultados que teve, assim como todos os trajados e o magnânimo Rex pela presença nas praxes 2012/2013. Resta-me apenas desejar um bom ano letivo, com muito estudo e dedicação, mas com um lugar reservado às atividades académicas. O testemunho de uma caloira Alto, e por fim, a encerrar a semana do caloiro, o batismo. Eis que surgem as praxes, quando os caloiros menos esperavam! Foi dia dezassete de setembro, no início da segunda semana de aulas, que começou a surpreendente e gloriosa semana de praxes. Digo surpreendente porque, embora conhecida por muitos aspetos, a nossa querida FCH/UCP em matéria de praxes é pouco falada, contudo, este ano a comissão de praxes esteve à altura dos acontecimentos. Os caloiros tiveram tudo a que tinham direito: sujidade, mau cheiro, diversão e bebida à descrição! Tudo por esta ordem! Na segunda-feira, o que não faltou foi o vinagre, a farinha, e o mais que podia fazer de nós verdadeiras “bestas”. Já na terça-feira fomos presenteados, entre muitas outras surpresas, com o fenomenal “Quem quer ser praxado?”. Na quartafeira deu-se o tão aguardado rally tascas, pelo Bairro Os caloiros tiveram tudo a que tinham direito, sujidade, mau cheiro, diversão e bebida à descrição! O porquê de glorioso, penso que não será já preciso explicar, os objetivos foram cumpridos. Veteranos, Pastranos e Caloiros estão agora apresentados, os cantos da casa estão conhecidos e a comissão de praxes de parabéns. Eva Santos, aluna do primeiro ano de Comunicação Social e Cultural Jornal O Académico Secção de AEFCH Secção Comissão Praxe| 7| 8 Manuel Segurado Estaremos nós perante uma nova era na Faculdade de Ciências Humanas? em, é o que todos esperamos e ambicionamos. Não havendo qualquer concorrente à Lista A, liderada por José Diogo Vinagre, é de óbvia constatação que esta saiu vencedora. E que novos desafios, são colocados a este novo projeto? O que poderão as pessoas que a integram fazer em prol da comunidade académica da nossa faculdade? À partida, os elementos desta “nova” lista, são muitos deles precedentes, isto é, já pertenciam à associação de estudantes, chefiada na altura, por Marco Marques. B “um dos principais desafios desta nova lista que agora se apresenta é, desde logo, marcar a sua posição, uma posição inovadora, de enorme abertura” A meu ver, um dos principais desafios desta nova lista que agora se apresenta é, desde logo, marcar a sua posição. Uma posição inovadora, de Caros colegas, É com um grande prazer que, durante este ano letivo, representar-vos-ei como alunos da Faculdade de Ciências Humanas. Antes de presidente, serei sempre um estudante. É com esta mentalidade que trabalharei para vocês. Este mandato será marcado pela mudança. Desde a equipa até aos objetivos delineados, mudança de rumo será a palavra-chave. Como presidente, terei a responsabilidade de vos representar da melhor maneira e farei todos os possíveis para tornar a AEFCH numa melhor associação. Não será fácil, mas nada é impossível se contar com o apoio e colaboração dos meus colegas: vocês. Aquando da formação de equipa e planificação de objetivos e estratégias, tivemos a preocupação de dar uma grande importância a problemas que no passado não conseguiram ser solucionados. Comunicação entre professores e alunos, sistemas de horários e época de frequências, serão tidos como prioridades. Outro grande objetivo desta AE é a dinamização do jornal da faculdade que anteriormente, além de enorme abertura, deve principalmente propagar, no seio estudantil uma Associação de Estudantes feita, não por um grupo restrito de alunos, mas sim por um todo. Esse todo somos nós, que representamos a FCH. Este ponto é crucial, e só com uma faculdade unida é que é possível o desenvolvimento, tendo em vista o interesse dos alunos. Claro está, a lista que agora é eleita, não se deverá colar às ideias já propostas pela anterior, deve sim ter as suas próprias ideias, a sua própria linha de ação. Não deve, portanto, ser a continuidade de um trabalho já feito. Este é o momento. Há medidas que se impõem, que são do interesse geral e que merecem a sua discussão imediata! Na verdade, muita é a vontade, muita é a disponibilidade e o empenho, esperemos que esta disposição se mantenha e que não seja simples “fogo de vista”, alienado à ansia de poder e protagonismo. Em suma, apenas diria, que os jovens, quando procuram esta instituição, procuram um ensino de excelência. Demos-lhes então os mecanismos para uma rápida integração, para que, assim, possam usufruir de toda a partilha de experiências e de saber a que todos nos propusemos quando entrámos para a Universidade Católica. Esta é a obrigação de uma Associação de Estudantes, é esta a nova era que todos esperamos! Coluna AEFCH significar um grande encargo financeiro para a associação, era também muito pouco conhecido e lido. A cargo do aluno Filipe Resende, a associação de estudantes garante a dinamização e simplicidade do novo jornal. Convido também todos os alunos da faculdade interessados em escrever para o jornal. O jornal é nosso e para nós. Apelo, assim, a todos para participarem. Concluindo, gostaria de transmitir a todos os alunos que a AEFCH foi criada para vos ajudar, nós estamos aqui para vos dar todo o tipo de apoio, para trabalharmos com vocês e também para aprendermos com vocês. Peço a todos que me ajudem durante este mandato, tenho muito a aprender e ninguém melhor que os meus colegas para caminharem comigo nesta grande aventura. Conto assim com todos vocês durante este ano, conto com uma participação ativa de toda a faculdade. Despeço-me com um desejo enorme de nos ver todos juntos a trabalhar para o mesmo. A AEFCH precisa de vocês. José Diogo Vinagre, Presidente AEFCH Edição de outubro 98| | Secção AEFCH Entrevista “Tiveram um professor poeta mas não deram conta disso” Afonso Sousa e Diogo Lopes ______________________________ m metro e setenta e cinco. Uma cabeça. Duas pernas. Dois braços. Dois olhos. Uma boca. É tão simples quanto isto? Não, é o professor Fazenda que ainda não. conhecem. U Nesta primeira edição d’O Académico, fomos até à ilha deserta do Robinson e acabámos no jardim de Cândido. Pelo meio, descobrimos o homem por detrás do professor Fazenda. Fiquem a conhecer uma estrela digna de um quadro de Warhol. Pergunta (P): O professor nasceu na Covilhã. Como muitos alunos também teve de sair de casa dos pais para vir estudar? Resposta (R): Realmente eu nasci na Covilhã mas só estudei na Covilhã durante a escola primária porque fui para um colégio interno em Abrantes, o que quer dizer que acabo por ter duas cidades a que estou ligado afetivamente. Depois vim estudar para Lisboa, vivi num quarto na rua da Beneficência, ali no bairro de Santos e portanto, respondendo à vossa pergunta, fiquei desde cedo habituado à solidão. P: Apesar de não ter vivido lá muito tempo, a sua proximidade à Serra da Estrela e todo aquele ar bucólico, acha que poderá vir daí alguma da inclinação para a poesia? Se não, onde é que acha que nasceu toda essa veia poética? R: (risos) Eu acho que é sempre difícil uma pessoa perceber porque escreve poesia e acho que não tem só a ver com um aspeto da nossa vida. Não sei. Não ligo muito à questão da Serra da Estrela embora talvez, em alguns textos meus, a serra possa estar presente: o frio e o granito das casas mas também o rio Tejo, essa parte do cenário pode ser interessante porque está presente nalguns poemas mas acho que é um bocado difícil explicar. Em grande parte, todos somos poetas por esse lado de uma certa solidão, de um certo ensimesmamento porque isso é convidativo à introspeção para meditar. A pessoa fica sozinha consigo própria e também se predispõe à literatura e às artes. P: Hoje em dia falamos muito em emigrar. O professor também viveu a sua aventura no estrangeiro. Foi para si muito importante estar lá fora? Como sente que isso alterou a sua personalidade? R: Foi, foi muito importante. Eu acho que é essencial as pessoas passarem uma temporada das suas vidas fora de Portugal. Estar fora ajuda imenso a ter uma imagem mais completa de Portugal até no sentido das coisas boas que o nosso país tem, na medida em que o dia a dia nos desgasta muito e temos tendência de ver só as coisas negativas. Após o 25 de Abril, algumas das ex-colónias precisavam de professores para preencherem vagas nas escolas e eu e a minha mulher fomos dar aulas para São Tomé e Príncipe. Essa foi uma primeira saída importante. A saída para os Estados Unidos é diferente e foi mais prolongada, cerca de cinco anos. Mas acho que é muito importante sairmos para contatarmos com Jornal O Académico Licenciaturas | 10 Entrevista |9 outras maneiras de viver, de ser e de trabalhar e isso enriquece-nos bastante e depois acaba por contribuir no contacto dos outros quando regressamos temos algum papel na modificação das coisas. P: Sabemos que a literatura e os livros lhe ocupam muito tempo mas que outras coisas é o professor gosta de fazer? R: Gosto de fazer aquelas coisas normais, como comer com outras pessoas. Não gosto de comer sozinho, acho que é uma atividade que devemos partilhar. Gosto de estar com o meu neto. Ele agora já tem quase nove anos e portanto já não é só as brincadeiras de jogar à bola. Já temos brincadeiras mais intelectuais como ensiná-lo a jogar xadrez ou a montarmos o Lego que é uma coisa que adoramos os dois fazer, eu também já adorava fazer quando era miúdo. Também tenho uma segunda casa muito modesta em Colares. Que tem um jardim e também gosto imenso de jardinar. Nós que damos Voltaire, falámos que é preciso cultivar o nosso jardim (risos). Mas o cultivar o jardim tem tudo que ver com atividades poéticas. Não no sentido bucólico da palavra mas é uma atividade que é muito boa em termos de recentramento da própria pessoa. Eu costumo fazer essa diferença da idade cronológica e a idade mental das pessoas, que nem sempre condiz uma com a outra, mas o que é fato é que a idade cronológica pede qualquer coisa de espírito para ocuparmos a nossa cabeça. Há uma coisa que eu gosto imenso de fazer que é ir à beira-mar, seja de verão ou de inverno. Isso é mesmo uma coisa de que eu sinto necessidade física. P: O professor é considerado um dos professores “mais fixes” da faculdade. Para si é importante saber que tem este feedback tão positivo até de alunos de primeiro ano? Edição de outubro Gosto de estar com o meu neto. Ele agora já tem quase nove anos e portanto já não é só as brincadeiras de jogar à bola. R: Sim, claro que é muito importante. É importante para todos os professores. Embora também haja quem diga que eu sou aquele tipo de professor que ou se ama ou se odeia (risos). Também já ouvi dizer, “detesto aquele professor!”. Para mim, dar aulas é uma atividade que eu sempre fiz com grande prazer. E talvez isso seja uma coisa importante na relação que eu depois estabeleço com as pessoas na sala de aula porque eu levo esse prazer para a sala de aula. Também tem um lado muito exigente porque é o lado de construirmos qualquer coisa em conjunto, é uma atividade que eu encaro sempre como algo em que vou sempre aprender com as pessoas e não só transmitir um conhecimento ou despejar a matéria, que era muito o modelo de professor que eu encontrei na faculdade no meu tempo, antes do 25 de Abril. E portanto gosto muito de estabelecer que isso faz parte da alegria de dar aulas que é estabelecer, não direi confusão mas de estabelecer polémicas e lançar ideias fortes para ver como as pessoas reagem. É difícil estar a falar por vocês, claro que fico muito orgulhoso de ser considerado como vocês disseram. P: Na última aula que tivemos consigo, o professor falou com alguns alunos elogiando-os e desejando-lhes boa sorte para o futuro. Isso é uma atitude que louvamos e que não vemos muitas vezes acontecer. Porque é que o professor sente que deve ter este tipo de atitude? R:Por um lado é intuitivo da minha parte fazer isso na medida em que faz parte desse entusiasmo que cabe ao professor 11 AEFCH 11| |Secção Entrevista transmitir ao aluno. E eu vou buscar aqui a palavra entusiasmo naquele sentido grego antigo que tem a ver com a inspiração. Há um lado de saber inspirar os outros e isto tem a ver com poesia. Vocês tiveram um professor poeta mas não deram conta disso (risos). A minha preocupação é sempre essa de estimular as pessoas a quererem sempre ser melhores e a saber mais. ___________________________________ eu gosto muito de dar aulas, não estou muito angustiado com a ideia de nunca mais me reformar __________________________________ P: Bem, agora temos a “pergunta bombástica”… E as outras não foram? (risos) P: E parar de estudar? Alguma vez equacionou? Quando pensa “pendurar as botas”? R: Bem, eu gosto muito de dar aulas, não estou muito angustiado com a ideia de nunca mais me reformar (risos). Se tiver energia e força gostaria de continuar a dar aulas até ser possível. Gostaria de continuar a ler e a escrever se possível também. P: Dentro da atualidade o que mais o preocupa? P: Bem, partindo de alguns rumores que ouvimos sobre uma afirmação polémica do professor durante uma aula, gostávamos de saber se o professor gosta de ler todo nu. R: No verão, no verão (risos)! No inverno gosto de ler vestido! Sim, gosto de ler nu. Mas a minha ideia quando falei sobre isso tinha que ver com uma certa conceção da leitura que é o ler despido…num sentido metafórico, de ler com abertura, disponibilidade, sem estar “vestido” de preconceitos, sem ter uma roupa mental que às vezes é a mais difícil de despir. Portanto, quando eu falo disso em aulas, de que gosto de ler despido, por um lado é ler nu (que é bem melhor que vestido), quando está muito calor. Não preciso que outros vejam! Mas por outro lado tem que ver com essa nudez, com esse desnudamento de preconceitos que ajuda sempre a entendermos melhor o que lemos. R: Preocupa-me justamente a perda da dignidade humana das pessoas por causa das questões do desemprego e do empobrecimento. Falamos do ataque à classe média com os impostos mas no fundo, são sempre os pobres que acabam por ficar ainda mais pobres e isso é para mim muito importante porque, precisamente, a minha juventude foi passada a sonhar com uma sociedade muito mais igualitária do que aquela em que vivemos hoje. Não percam o resto da entrevista em oacademicogeral.wordpress.com/ Jornal O Académico Licenciaturas | 12 Comunicação Social e Cultural por Salomé Marques Suportes da comunicação Podia falar sobre muitas vertentes da comunicação social mas decidi abordar uma em especial – o suporte das notícias escritas. Aquele que nos leva a conhecer o que nos rodeia e que hoje podemos dizer que aos poucos se vai transformando: os jornais impressos. Antigamente, ao passarmos na rua, eram muitos os quiosques a vender todo o tipo de jornais. Hoje a internet ganhou muita importância para nós por razões variadas, entre elas as económicas, as notícias passaram a ser lidas em suporte digital. Graças a isso, a importância do jornal impresso diminuiu e alguns jornais despareceram. Quem não se lembra de “O século”, do “ Tal & Qual”, do “Diário de Lisboa” e, mais recentemente, do “ 24 horas”? Atualmente faz sentido falar-se em mais suportes de conteúdos jornalísticos, para além do tradicional jornalismo de imprensa. O papel e o mundo digital caminham lado a lado. Os cidadãos querem informação ao minuto e o jornalismo digital permite essa atualização constante da informação, com vantagem de se poder acrescentar vídeo, som ou links para outros sites para complementar a notícia. Em 2004 assistimos, em Portugal ao aparecimento de um outro tipo de suporte, com um formato de distribuição inovador – o jornal gratuito. Os primeiros jornais deste tipo foram o “Destak” e o “Metro”, sendo agora o “Metro” um dos maiores jornais do mundo. Estes vieram trazer uma recente ideia de um jornal reutilizável pois, sendo gratuito, qualquer pessoa que já o tenha lido em vez de o levar para casa deixa-o no banco para que outra pessoa possa também lê-lo. Hoje a internet ganhou muita importância para as pessoas e por razões variadas, entre elas as económicas, as notícias passaram a ser lidas em suporte digital Assistimos, atualmente, a uma grande diversidade, em relação aos tipos de suporte, que faz com que a informação chegue mais longe e a diferentes tipos de pessoas, independentemente do seu estatuto, poder económico ou local onde se encontram. Interação social e a vida quotidiana Quando se estuda Serviço Social ou Sociologia é essencial definir o que significa e qual a finalidade do seu desenvolvimento. Tendo sempre em conta que a sociologia é a parte das ciências humanas que estuda as unidades que formam a sociedade. Relativamente à interação social e à vida quotidiana, defende-se e critica-se o modo como cada pessoa interage com os outros, ao nível da fala, da comunicação não-verbal, e dos gestos e expressões corporais. Assim, a vida é comparada a uma peça de teatro e as pessoas aos atores. Então, se a vida é uma peça de teatro, é com naturalidade que se deve observar todas as representações de egoísmo, falsidade, simpatia, ódio e amor. Aquilo que cada pessoa transmite aos outros pode ser fruto da sua imaginação, e da criação de expectativas, não só criadas por Edição de outubro Serviço Social por Mariana Santos cada personagem, mas também pela sociedade em si. Por exemplo, para a sociedade em geral é natural quando se vai a uma festa se gosta-se das pessoas que a frequentam. De algum modo numa primeira análise, esse facto até pode ser verificado. No entanto, e de forma mais aprofundada, quando se observa cada uma das pessoas dessa mesma festa na sua interação com os outros, é fácil de perceber as expressões que negam as falas, ou as expressões corporais de incómodo perante os outros. Apesar disso, na vida quotidiana, todas as interações sociais são apenas criações da imaginação de cada pessoa, ela olha e pensa a vida à sua maneira, o que faz de si própria uma personagem ou um fantoche do trama que está à sua volta. 13 | Secção AEFCH Licenciaturas | 13 Ainda assim é fácil apontar o dedo às formas de vida. É inevitável ser-se diferente ou agir contra os padrões sociais, pois além de ser uma utopia, na globalização atual não existe lugar para se viver sem ser a representar. À exceção das regiões de retaguarda onde cada um é o que quer e age conforme quer. Relativamente à Interação Social e a Vida Quotidiana, defende-se e critica-se o modo como cada pessoa interage com os outros, ao nível da fala, da comunicação não – verbal, e dos gestos e expressões corporais. Em conclusão, verifica-se que a interação social é uma área fundamental do Serviço Social, e que esclarece muitos aspetos da vida social. Línguas Estrangeiras Aplicadas por Ricardo Raposo Lopes Um ou vinte e sete? A União Europeia, invenção política em permanente construção desde há cerca de sessenta anos, tem sido alvo de desafios e pressões constantes. São vinte e três línguas, ideais e projetos postos à prova e à discussão por parte dos líderes do Velho Mundo, não havendo cimeira onde o seu futuro não seja discutido. Qual é afinal o problema da Europa? Para melhor entendermos o que se passa, convém percebermos a natureza da União Europeia. Existem dois tipos de organizações, as de cooperação e as de integração. Organizações como a NATO, uma aliança militar entre países independentes, têm como principal característica a conservação da soberania. A ideia da União Europeia, por sua vez, representa uma organização de integração, o que significa que cada membro abdica de uma parte do seu poder em favor de instituições comunitárias. Por exemplo, o facto de Portugal pertencer à UE e de ter aderido à moeda única, implica que o nosso governo não pode adotar algumas políticas, como a de desvalorizar a moeda, uma vez que, ao fazê-lo, os outros países da zona euro eram afetados. A Europa atravessa uma “crise identitária”, pois já existem políticas económicas e fiscais que são coordenadas pelas instituições europeias, neste caso, o Banco Central Europeu, mas, em termos políticos, ainda é cada um por si. O que está aqui em causa é que estamos entre uma “Europa dos Estados” e uma “Federação Europeia”, uma vez que já transferimos uma parte da nossa soberania para a Europa, já não decidimos tudo, mas a outra parte que não transferimos, a política, é que está a dar “dores de cabeça”. A maior prova de que não temos uma união política (última fase do processo de integração) é a presente crise: alguns países precisam de ajuda, outros criticam outros, não existe uma só voz que diga “este é o caminho”. Também, perante conflitos internacionais, cada país age individualmente, não existe uma política europeia comum. O que está aqui em causa é que estamos entre uma “Europa dos Estados” e uma “Federação Europeia”, uma vez que já transferimos uma parte da nossa soberania para a Europa Cabe-nos a nós decidir se queremos uma Europa a uma só voz ou se queremos regredir sessenta anos, onde era cada um por si. Jornal O Académico 14 | Edição Limitada Não. Une-os sim, o facto de subirem a palco em dias consecutivos. Se dia 26, Portugal terá a preciosa oportunidade de rever Justin Vernon – que já veio dizer querer afastar-se dos palcos por período indeterminado –, dia 27, caberá aos Ornatos Violeta repetir o irrepetível. Falamos, obviamente, do memorável regresso em Paredes de Coura. Já vem sendo tradição. E ainda bem. Para quem, por estas alturas, já lembra com saudade aqueles dias de desbunda, de curtição mas também de pura liberdade festivaleira, outubro é um mês crucial. De há uns anos para cá a agenda cultural nacional tem feito germinar as mais produtivas colheitas. Os próximos dias não vão ser exceção. Souberam as divindades alinhar no calendário duas estrelas maiores que se têm feito iluminar como poucos. Resultado? Um festival de inverno. Pouco ou nada terão em comum Bon Iver e Ornatos Violeta. Podia ser a sonoridade, a nacionalidade, a língua ou até o seu passado. Quando em 2007, Bon Iver lançou For Emma, Forever Ago, dificilmente estaria sequer perto de prever o brutal alcance de temas como Flume ou Skinny Love. A verdade é que o mundo acabou mesmo por ouvir as dolorosas preces do canadiano. Ao segundo álbum de originais, a folk aprimorada de Bon Iver acabaria mesmo por confirmar Justin Vernon como um lugar sem paralelo no panorama musical atual. O Campo Pequeno prová-lo-á. Para os Ornatos Violeta apenas foi preciso “aparecer”. Depois de terem feito dos anos 90, um lugar melhor, preparam-se agora para se tornar num fenómeno único na história da música portuguesa. Acreditem, Chaga e Capitão Romance nunca soaram tão bem. O Coliseu dos Recreios acolherá o segundo dia deste festival. À escola falta-se. A isto não. Correio FCH Preço alto versus baixa qualidade Quem disse que um preço alto corresponde a alta qualidade, desengane-se. A prova disso mesmo, é o que se passa na cantina do antigo edifício. Os alunos pagam um preço demasiado alto pelas suas refeições (4,70 € a 5,00 €), comparativamente aos preços praticados noutras faculdades (2,50 € a 3,00€) e cuja qualidade deixa muito a desejar. Face a esta situação, um largo número de alunos passou a trazer o almoço de casa e outros procuram lá fora a qualidade e o preço que não lhes é proporcionado na faculdade. As queixas têm vindo a aumentar entre os próprios alunos, mas na prática nada foi feito. Por isso, já é tempo que as mesmas passem a fazer eco, e que haja alguém na direção da faculdade para modificar a atual situação, visto que, só está a contribuir para desprestigiar o bom nome da Instituição. João Nolasco, aluno do 3ºano de Comunicação Social e Cultural Envia também a tua carta (sobre o que quiseres) para [email protected] e vê-a publicada Edição de outubro 15 | Secção AEFCH João Tavares __________________________________ Tudo está bem no jardim à beira-mar plantado Durante todo o mês que antecedeu a publicação deste jornal, houve tumultos e protestos diversos no nosso Portugalito, sendo que ultimamente, até tem estado tudo menos agitado, talvez por as pessoas estarem notoriamente muito contentes. E com razão, pois mais dificuldades se avizinham e com elas, mais distúrbios, o que significa naturalmente mais forrobodó! Mas atenção, que o festival não se fica apenas pelos centros urbanos: no passado dia 1 de outubro, em Serpa, um conjunto de manifestantes protestava em defesa dos produtos portugueses, acusando a ministra da Agricultura, Assunção Cristas de não os proteger devidamente. Devidamente adornada estava a Sr.ª ministra num dos cartazes, no qual figurava com um cacho de bananas sobre a cabeça. Seria caso para passar a chamar-lhe Chiquita Cristas, em alusão à conhecida marca de bananas, mas a distribuidora que as comercializa é americana e não portuguesa, pelo que ficaria mal empregar tal trocadilho num cartaz de uma manifestação a favor da produção nacional. A Luta é Boa Para o Crime? Falando ainda da onda de “contentamento” que paira sobre a nação, também a greve da CP de dia 1 foi sintomática disso mesmo. Ainda por cima, com a linha de Sintra parada, a criminalidade nesse dia desceu certamente, embora ainda não haja dados estatísticos Parte para rasgar | 15 disponíveis sobre o assunto. Relativamente à manifestação dos Estaleiros de Viana do Castelo, não se poderá dizer que a taxa de crime tenha descido, pois durante o protesto a Esquadra local da PSP marcou presença.. O Mundo é Das Crianças O menino Passos Coelho e o menino Paulo Portas andaram a jogar às escondidas ao não revelarem que já tinham enviado a já conhecida (e pesadíssima) alternativa ao fim da TSU, para o Camarada Abel (a.k.a. “O Cherne”, ou simplesmente Zé Manel) em Bruxelas. Isto aborreceu os meninos Louçã e Jerónimo que já não querem brincar mais com o Passinhos, tendo apresentado cada um uma moção de censura ao seu governo. O Tozé Seguro é que, coitadinho, foi apanhado desprevenido e foi um dó de alma vê-lo afirmar em frente das câmaras que não sabia de nada, com um arzito que parecia que os outros meninos lhe tinham roubado o ursinho de peluche. Deixemos então as crianças brincar, que não é preciso darmos-lhes um bom par de tabefes nem nada… Alegrai-vos, que o Relvas “Tá Safo”! Alegrai-vos, estudantes da FCH e restante comunidade académica, pois o Ministério Público cancelou as investigações do “caso Miguel Relvas” sem sequer abrir inquérito, porque, segundo consta, não foram encontrados ilícitos criminais. É, portanto, ocasião para rejubilar, dado que estamos na presença de um marco revolucionário na história do ensino superior! A épica vitória de Relvas contra a Justiça abre portas para que, de agora, em diante, para adquirir uma licenciatura seja apenas necessário completar equivalências, o que torna o modelo de educação superior muito mais justo e acessível para todos! Não mais cadeirões chatos, nem exames, para que é que isso serve? Morte ao velho modelo! Viva Relvas, viva! Jornal O Académico 16 | Parte para rasgar Nós Por Cá… Nós Por Cá… Também aqui pela nossa faculdade a situação vai de vento em popa! O bar ficou fechado durante a primeira semana de aulas (algo que muito satisfez a toda a gente) para que se gastasse o erário da faculdade em obras indispensáveis, como a mudança no pavimento para amarelo, o que em termos estéticos foi tão bem conseguido, que o contacto visual com o chão consegue aleijar a vista. E há ainda quem fale do elevador da torre Oeste, que está para ser arranjado há tantos ou mais anos quantos o Dux, Pedro Marques, está na Católica. Com franqueza, nunca ninguém sentiu a falta daquele elevador, muito menos as pessoas com deficiências motoras que frequentam a faculdade (sim, eles existem)! Dário Alexandre - Dário, queres fazer as cadeiras todas?- E eu respondi: - Não, não sou carpinteiro. Ficou triste e questionou-me: - Dário, ontem visteme? - Respondi: - Esferovite. Não entendeu e continuámos a jantar. De referir que, para isto não ficar tudo pegado, carreguei no espaço, serei astronauta? Saí da mesa e fui ver o Sporting, mas empatou (como sempre), talvez a equipa deva ir comprar roupa à Desigual. Inundei-me de pensamentos, desta vez sobre filmes de terror. Não entendia o porquê de, quando alguém estar com medo, gritar: -“Hello. Is there anybody in there?”. Assim o mau da fita já sabe a localização da vítima, mas continua a ser um filme, claro. Existem também aqueles em que queremos entrar na televisão para salvar o protagonista, o problema é quando batemos com a cabeça no ecrã. Atual (idade) Antes de voltar ao Benfica, Carlos Martins foi para o Granada, disseram-lhe que era o melhor clube para um jogador explodir. Nesse dia a música da Fanny ainda não tinha sido lançada, tinha ocorrido um erro no nome do vídeo enviado para o Youtube, o Canuco não se chamava Zumbi mas sim Zumbido. Depois de ouvir tal êxito, fui ao cabeleireiro com a minha avó, só que como ela não sai de casa e está sempre no computador, desistimos e pintei-lhe o cabelo no Paint. Estive a tarde toda a pensar e decidi usar menos roupa, isto porque não tenho frio, estou tapado por faltas. Depois de uma sesta fui jantar e a minha avó perguntou-me: José Paiva Nota da Palma de Cima Eu não costumo ser uma pessoa muito queixosa. Costumo até dizer bem das coisas, tirando quando me poem manteiga numa sandes, ou me obrigam a cheirar o “chulé” de alguém. Mas descobri algo que me irrita: a minha universidade. Estando numa universidade católica, com missas e padres e freiras (ficando a faltar o vinho e as hóstias) e pagando um ordenado, peço desculpa, uma propina de arrepiar a espinha de um gorila, era de esperar melhores condições. Não. Nada disso. Todos os dias tenho de almoçar aqui, recuso-me a trazer lancheira, e a parecer-me com o Nobita (mais do que sou), e fiquei felicíssimo quando descobri um menu barato e saudável ainda por cima! (convém manter os alunos magros não vá Edição de outubro a Margarida Rebelo Pinto ficar eriçada connosco). Enganei-me. De facto paguei menos de três euros, mas no dia seguinte paguei mais de cinco euros por ter pedido um prato quente. Para além de ser chupado financeiramente, enganaram-me com truques de magia alimentar. Mas tenho mais...de vez em quando tenho de tirar fotocópias ou imprimir alguma coisa e vou à reprografia, aliás à loja de conveniência onde os empregados trabalham a carvão (digo-o pelo barulho obscuro e pela lentidão de execução) e acabo sempre por largar dez ou quinze euros numa resma de papel impressa à balda. Parece feio estar para aqui a dizer mal da minha faculdade que me acolheu, e que mais tarde me irá dar emprego, pelo menos é isso que o meu tio me diz, mas ele também não é muito dado à inteligência, e teima em pôr-me manteiga na sandes. A Católica ainda não fez isso, mas falta pouco. Parte para rasgar | 17 17 | Secção AEFCH Petardos Visuais As conversas (im)prováveis destas praxes As redes sociais do 5 de Outubro Correio Sentimental Há coisas que gostarias de ver mudadas no país? Tens queixas sobre a faculdade? Achaste alguma coisa do que viste neste jornal ofensiva, escandalosa ou despropositada? Querias arranjar maneira de difamar para sempre a lambisgoia ou o marmanjo que te roubou a pessoa amada? Então este espaço ainda não é, mas será para ti na próxima edição d’O Académico! Envia para [email protected] todas as queixas, dúvidas, opiniões e até ideias inovadoras que tenhas para partilhar com a nossa redação, que nós responderemos aos teus anseios… Desde que assines com um nome por baixo. Podes contar connosco! Jornal O Académico