Acupuntura em cães: Suporte ao paciente geriátrico

Transcrição

Acupuntura em cães: Suporte ao paciente geriátrico
INSTITUTO JACQUELINE PEKER
ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINARIA
E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
Acupuntura em cães:
Suporte ao paciente geriátrico
CARINE MATIAS DINIZ
BELO HORIZONTE
2013
INSTITUTO JACQUELINE PEKER
ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA VETERINARIA
E MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
CARINE MATIAS DINIZ
Acupuntura em cães:
Suporte ao paciente geriátrico
Trabalho
apresentado
de
ao
Conclusão
Instituto
do
Curso
Homeopático
Jacqueline Pecker, como requisito parcial
para obtenção de título de especialização
em Acupuntura Veterinária e Medicina
Tradicional Chinesa
BELO HORIZONTE
2013
2
“A essência do conhecimento consiste em aplicá-lo,
uma vez possuído.”
Confúcio
3
DEDICATORIA
Dedico a meus pais Maira e Edmar,
E ao querido Ricardo.
.
4
DINIZ, CARINE MATIAS. Acupuntura em cães – Suporte ao paciente geriátrico. Belo
Horizonte, 2013, 30 páginas. Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em
Acupuntura Veterinária – Instituto Homeopático Jacqueline Peker. Belo HorizonteMG.
RESUMO
O aumento da sobrevida dos animais domésticos traz consigo patologias associadas ao
envelhecimento, dentre elas algumas incuráveis ou com baixa taxa de sucesso no
tratamento pela medicina convencional, o que faz com que proprietários busquem
auxilio na medicina completar, sendo a acupuntura a mais procurada. Na Medicina
Tradicional Chinesa a principal causa do envelhecimento fisiológico é a deficiência do
“Rim”. O emprego da acupuntura em pacientes geriátricos com ou sem patologias
associadas ao envelhecimento contribui de forma positiva para o bem estar e a
qualidade de vida dos animais. Um envelhecimento digno e com qualidade de vida pode
ser oferecido com o emprego da acupuntura. Acupuntura tem a somar à medicina
ocidental ou até mesmo substituí-la.
Palavras-Chave: acupuntura, geriatra, envelhecimento, longevidade
5
Lista de Figura
Figura 1- SimboloYin-Yang
14
Figura 2- Cinco movimentos
16
Figura 3- Inter-relação dos cinco movimentos
16
Figura 4- Topografia dos pontos indicados ao paciente geriatra (vista
23
cranial)
Figura 5- Topografia dos pontos indicados ao paciente geriatra (vista
24
caudo-lateral)
Figura 6- Radigrafia em projeção latero-lateral de coluna lombar.
Figura 7- Radigrafia em projeção latero-lateral de coluna cervical e
25
25
torácica.
Figura 8- Nick (Akita, 12,6 anos), cão geriátrico submetido a
28
acupuntura para suporte a senilidade.
6
Abreviações
B – Bexiga
BP – Baço Pâncreas
C – Coração
E – Estômago
F – Fígado
IG – Intestino grosso
MTC - Medicina Tradicional Chinesa
R – Rim
VG – Vaso Governador
Qi - Energia
XUE- Sangue
7
Sumário
1. Introdução
09
2. Justificativa
10
3. Objetivo
10
4. Revisão de Literatura
11
4.1.Envelhecimento segundo a Medicina Ocidental
11
4.2. Envelhecimento segundo a Medicina Tradicional Chinesa
13
4.2.1. Bases da MTC - Acupuntura
13
4.2.2. O envelhecimento
17
5. Relato de caso
24
6. Conclusão
28
7. Referências
29
8
1. INTRODUÇÃO
Na última década a medicina veterinária apresentou importantes avanços no
conhecimento, na tecnologia de diagnóstico e em opções terapêuticas. Essse avanços
contribuiram para aumentar a expectativa de vida de animais de companhia
(FORTHEY, 2005).
O principal fator que impulsinou tais avanços foi a intima relação homem-animal. O
animal doméstico assume posição de destaque, sendo reconhecido hoje em dia como um
membro da família. Esta mudança de comprotamento gerou aumento do investimento
fincanceiro e a busca por cuidados que priorizam a qualidade de vida e um
envelhecimento digno para os animais (FORTHEY, 2005).
Estudos demosntram que o aumento da expectativa de vida canina acompanhou, mesmo
que não proprocionalmente, ao aumento da expectativa de vida humana. Nos EUA cerca
de 40% da população canina e 50% da população felina encontra-se na faixa da
senialidade (LAFLAMME, 2012).
Outro estudo ressalta ainda que as doenças comuns aos animais de estimação mais
velhos são freqüentemente as mesmas doenças comuns dos proprietários destes animais.
Além disso, os donos de animais idosos têm comportamentos comuns aos cães e gatos
senis, incluindo consultas médicas mais frequentes, administração de medicação a longo
prazo, especialmente para doença articular degenerativa e doença cardíaca. Além da
busca incessante para a maior expectativa de vida (LANDSBERG, 2005; KOPAEF,
2010).
Dentre as técnicas da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) a acupuntura ocupa posição
de destaque, sendo procurada pelos proprietários com intuito de proporcionar qualidade
de vida e bem estar aos seus animais. É também utilizada em pacientes sadios, a fim de
manter a saúde e prevenir a deterioração dos sistemas orgânicos. Além disso, esta terapia
seria coadjuvante ao tratamento convencional, principalmente em patologias nas quais a
taxa de sucesso com a medicina ocidental é insatisfatória (BARAD,2008; KIDD, 2012).
9
2. JUSTIFICATIVA
O aumento da sobrevida dos animais domésticos traz consigo patologias associadas ao
envelhecimento, dentre elas algumas incuráveis ou com baixa taxa de sucesso pela
medicina convencional. O emprego da acupuntura em pacientes geriátricos, com ou
sem patologias associadas ao envelhecimento, contribui de forma positiva para o seu
bem estar e sua qualidade de vida.
O suporte fornecido pela acupuntura ao paciente geriátrico visa reestabelecer o
equilíbrio do organismo, promover saúde e longevidade.
3. OBJETIVO
O presente trabalho tem como objetivo demonstrar os benefícios da acupuntura ao
paciente geriátrico, sendo ela utilizada de forma isolada ou associada à medicina
convencional.
10
4. REVISÃO DE LITERATURA
4. 1. Envelhecimento segundo a Medicina Ocidental
O envelhecimento consiste em um processo biológico complexo caracterizado por
modificações progressivas nos tecidos e células do organismo, levando a uma perda
gradual da capacidade adaptativa (KOPAEF, 2010).
O processo de envelhecimento é variável em medicina veterinária tendo em vista as
diferentes raças dentro de uma mesma espécie. Os gatos idosos podem ser classificados
de acordo com seu metabolismo em maduros e senis. Maduros ou de meia-idade são os
gatos com idades entre sete a 11 anos, enquanto que dos 12 anos para acima estes
podem ser considerados senis ou geriátricos. (LAFLAMME, 2012.)
Os cães são considerados idosos a partir dos oito anos de idade, baseando-se em
evidências na redução da função cerebrovascular a partir desta idade. Porém, se
levarmos em conta o porte e a raça, esta definição pode variar. Cães de raça grandes e
gigantes são considerados idosos aos cinco anos de idade, já os cães de raças pequenas e
médias a partir dos sete anos de idade (METZGER, 2005).
Como regra geral, os cães e gatos com sete anos de idade ou mais, podem ser
considerados pacientes geriátricos, necessitando de cuidados. Segundo estudos, é nesta
faixa etária em que os animais estão mais propensos a apresentarem afecções
correlacionadas ao envelhecimento (LAFLAMME,2012).
Com o envelhecimento, diversas alterações podem ocorrer, como: redução gradual de
todas as funções fisiológicas (metabolismo, secreção de hormônios, nível de atividade),
redução na capacidade de aprendizado e memória, diminuição da competência
imunológica (com consequente aumento da predisposição para doenças infecciosas e
neoplásicas), alterações degenerativas em vários sistemas (cardiovascular, músculoesquelético, visual, auditivo, renal) e alterações comportamentais (FORTHEY, 2005
LANDSBERG, 2005; KIDD, 2012).
11
O envelhecimento provoca uma diminuição na taxa metabólica basal. Animais mais
velhos tendem a ter diminuído os níveis de atividade física , resultando em um aumento
da porcentagem de gordura corporal acumulada. Isto é especialmente importante,
porque o aumento do peso corporal resulta em um aumento da incidência de doenças
como a diabetes, patologias cardiovasculares, doenças respiratórias e ortopédicas.
Principalmente as afecções ortopédiacas são agravadas em função da sobrecarga nas
articulações. Além disso, animais geriátricos possuem o sistema inumológico
debilitado, devido a diminuição da função fagocitária e dos neutrófilos, o que resulta na
diminuição da capacidade imunológica normal do indivíduo (METZGER, 2005,
LAFLAMME,2012).
Os principais efeitos nos sistemas orgânicos com o envelhecimento são:
(METZGER, 2005; KIDD, 2012).
Efeitos metabólicos:
• Diminuição do metabolismo basal associado à falta de atividade, reduzindo as
necessidades calóricas em 30 a 40%.
• Competência Imunológica diminui, apesar do número normal de linfócitos.
• Redução da fagocitose e quimiotaxia; com menor capacidade de combater as
infecções.
• Desenvolvimento de auto-anticorpos e doenças imunomediadas.
Efeitos físicos:
• Maior percentual de gordura corporal.
• Hiperpigmentação, espessamento e perda da elasticidade da pele.
• Alopecia generalizada, com pelos fracos e quebradiços
• Hiperqueratose dos coxins plantares e unhas quebradiças.
12
• Perda de massa muscular e massa óssea.
• Doença articular degenerativa, culminando em redução da amplitude de movimento e
dor.
• Tártaro dentário, com perda de dentes e hiperplasia gengival.
• Periodontite, retração e atrofia gengival.
• Fibrose e atrofia da mucosa gástrica.
• Redução no número de hepatócitos e desenvolvimento de fibrose hepática.
• Diminuição de secreção de enzimas pancreáticas.
• Perda de elasticidade pulmonar, ocorrendo fibrose pulmonar e aumento da viscosidade
da secreção das glândulas.
• Diminuição do reflexo da tosse e da capacidade respiratória.
• Perda de peso dos rins, diminuição da filtração glomerular e atrofia tubular renal.
• Crescimento da próstata, atrofia testicular e o prepúcio torna-se mais pendular.
• Ovários aumentam e glândulas mamárias tornam-se fibrocísticas ou neoplásicas.
• Diminuição do débito cardíaco, desenvolvimento de fibrose valvular e arteriosclerose
coronária intramural.
• Medula óssea torna-se gordurosa e hipoplásica; desenvolve-se anemia não
regenerativa.
• Redução no número de células nervosas.
• Redução da capacidade cognitiva de aprendizado e memória.
4. 2. Envelhecimento segundo a Medicina Tradicional Chinesa
4.2.1. Base da Medicina Tradicional Chinesa - Acupuntura
13
A acupuntura é uma técnica da MTC reconhecida pela Organização Mundial de Saúde
como uma medicina complementar, e não mais alternativa. É baseada em
conhecimentos teóricos e empíricos. A palavra acupuntura é derivada dos radicais
latinos acus e pungere, que significam agulha e puncionar (LOBO JUNIOR, 2012).
No Oriente, a acupuntura vem sendo usada com finalidades preventiva e terapêutica há
vários milênios. Relata-se o uso de “agulhas de pedra” e de espinha de peixe, na China,
durante a Idade da Pedra (3000 anos AC). A acupuntura veterinária é, provavelmente,
tão antiga quanto a história da acupuntura humana. Estima-se em 3000 anos a idade de
um tratado descoberto no Sri Lanka sobre o uso de acupuntura em elefantes indianos
(LOBO JUNIOR, 2012).
No Brasil, ainda não há dados percentuais em medicina veterinária quanto ao emprego
da acupuntura na população de animais domésticos. De acordo com o Centro Nacional
de Medicina Alternativa e Complementar, nos Estados Unidos, 38% da população
adulta humana se beneficia com tal tratamento. Estima-se que existem vários milhões de
praticantes de acupuntura na mundo e que, destes, mais de 100 mil são médicos
veterinários. Dados revelam ainda que está é uma terapia em plena expansão (KIDD,
2012).
A acupuntura, na Medicina Veterinária, pode ser utilizada como um complemento ao
tratamento convencional, podendo inclusive substituir ou reduzir doses dos
medicamentos alopáticos, principalmente nos animais em que os efeitos colaterais de
algumas drogas são menos tolerados. A acupuntura é ainda uma opção de tratamento em
patologias onde a medicina ocidental não consegue sucesso em seu tratamento
(BARAD , 2008; GOMES, 2013).
A MTC emprega a teoria do Yin e Yang para explicar as funções fisiológicas do
organismo, as mudanças patológicas e as relações internas dos órgãos, assim como para
explicar as leis gerais do diagnóstico e do tratamento das doenças. Tudo é regido pelo
equilíbrio entre Yin e Yang, onde todas as estruturas e funções orgânicas, assim com
todos os sinais e sintomas que apontam para disfunções orgânicas, podem ser analisados
e interpretados pelos dois princípios (LOBO JUNIOR, 2012).
14
Figura 1- SimboloYin-Yang
Outra base teórica da MTC é dos cinco elementos ou cinco movimentos. Está teoria se
caracteriza pelo ciclo de geração e de controle. No ciclo de geração, os elementos
sucedem de forma cíclica, cada um tendo origem no que lhe antecede e dando origem ao
que lhe sucede. Assim, o Fogo dá origem à Terra (as cinzas); a Terra dá origem ao
Metal (porque o contém); o Metal dá origem à Água (porque se liquefaz); a Água dá
origem à Madeira (porque nutre o vegetal), e a Madeira dá origem ao Fogo (porque é
combustível). Já no ciclo de controle, cada elemento inibe aquele que sucede o elemento
gerado, ou seja, o elemento neto. Assim, o Fogo funde o Metal, o Metal corta a
Madeira, a Madeira segura a Terra, a Terra absorve a Água e a Água extingue o Fogo
(XIE, 2011).
15
Figura 2- Cinco moviemtos
Cada um dos cinco elementos associa-se um orgão (Zang), uma víscera (Fu) e um par
de meridianos (Jing) ou vasos (Jing-mo). Os meridianos e vasos conectam-se entre si,
fazendo parte de uma rede de meridianos (Jing-luo) através dos quais as “substâncias
vitais” fluem sem cessar. As funções do órgão e da víscera, e de seus respectivos canais,
devem coexistir em equilíbrio dinâmico (XIE, 2011).
Figura 3- Inter-relação dos cinco movimentos
16
4.2.2. O Envelhecimento
O envelhecimento na MTC não é uma doença, e sim um processo natural que resulta do
declínio fisiológico da Essência do “Rim". Mas, o processo de envelhecimento pode
trazer desarmonias dos sistemas, tornando o organismo mais suscetível às patologias
(MACIOCIA, 1996).
Na medicina chinesa, a principal causa do envelhecimento fisiológico é a deficiência do
“Rim”. Este é um importante órgão que não apresenta quadro de excesso. A deficiência
do “Rim” no envelhecimento acomete Yin e Yang do “Rim”. O “Rim” é a "raiz da
vida" sendo ele que armazena a essência (MACIOCIA, 1996).
O “Rim” assim como os demais órgãos possuem o Yin e o Yang. O Yang do “Rim”,
também chamado de Yang primordial ou Yang verdadeiro, é o fundamento do Yang Qi
de todo o corpo, ele aquece e promove as funções dos órgãos e tecidos. O Yin do “Rim”
provê energia para as funções fisiológicas enquanto o Yang do “Rim” provê
armazenamento para o Yin do “Rim” (MACIOCIA, 1996).
O Yin e Yang do “Rim” são mutuamente dependentes promovendo e restringindo um
ao outro, conduzindo a uma harmonia interna do Yin e Yang e do funcionamento
saudável dos órgãos. É a interação dinâmica entre os dois que mantém a atividade
normal da vida. Quando o Yin está estabilizado e o Yang está bem conservado, o
espírito estará em harmonia; a separação do Yin e Yang causará exaustão da essência e
do Qi. A deficiência de “Rim” pode levar a deficiência de todo o corpo e mente (XIE,
2011).
Outro fator importante, é que segundo a MTC o envelhecimento resulta de hábitos
acumulados durante a vida. Pode-se alcançar uma longevidade por meio de uma
alimentação saudável, dormindo e descansando de forma regular e trabalhando sem
excessos; isto mantém o corpo unificado ao espírito (GOMES, 2013).
Em humanos, o processo de envelhecimento segue a sequência dos “números
celestiais”. Estes determinam a duração das diferentes fases evolutivas da transformação
17
corporal. Em mulheres correspondem a cada sete anos da transformação corporal e nos
homens a cada oito anos. Não foram, encontrados dados na literatura determinando os
“números celestiais” em animais e seus processos de envelhecimento (GOMES, 2013).
De forma geral, além da deficiência do “Rim” o envelhecimento é explicado como um
declínio fisiológico da essência ao longo da vida, em decorrência da falta de equilíbrio
energético do sangue, da defesa do organismo, da nutrição adequada e também pela
desarmonia entre seu estado físico, espiritual e emocional (MACIOCIA, 1996).
Em um quadro de deficiência de “Rim”, muitas vezes se observa ossos e articulações
debilitadas, deficiência mental, e surdez. A deficiência mental pode ser justificada uma
vez que o “Rim” que controla a medula e a essência de Qi no cérebro; e a surdez, se
justifica pois o “Rim” se abre nos ouvidos (MACIOCIA, 1996).
O declínio fisiológico do organismo e a debilidade orgânica são os traços característicos
do envelhecimento. Quando as funções fisiológicas são mantidas de forma satisfatórias
o individuo é considerado saudável, mesmo assim, ocorre o declínio funcional dos
órgãos e sistemas, e o equilíbrio do Yin e Yang é mantido num nível mais baixo,
significando uma redução de homeostase e da diminuição da capacidade para adaptação
ao meio externo (MACIOCIA, 1996).
Com o envelhecimento a essência do “Rim” diminui, danificando o “Fígado” causando
sinais tais como: diminuição dos fluidos corporais, fragilidade das estruturas do corpo,
rugas na pele e queda dos dentes (LOBO JUNIOR, 2012).
O “Fígado” na MTC exerce muitas funções importantes, dentre as quais as de:
armazenar o sangue, garantir o movimento uniforme do Qi por todo o corpo, controlar
os tendões; se manifesta nas unhas, se abre nos olhos e abriga a Alma Etérea. O
“Fígado” contribui na digestão, ajuda os movimentos de subida e descida do Qi do
“Baço” e do “Estômago” e paralelamente na formação da Bile a partir do Qi excedente
do “Fígado” (XIE, 2011).
O “Fígado” armazena o sangue em “dois aspectos”, um regulando o volume de sangue
conforme a atividade física, fazendo sua autocorreção eregula a menstruação. A função
18
também reguladora do volume de sangue por todo corpo constitui um fator muito
importante no nível de energia (LOBO JUNIOR, 2012)
Ainda, umedece os olhos e regula os tendões. Na deficiência de “Fígado”, a visão ficará
turva, apareceram câimbras e contrações dos músculos e tendões, tremores, convulsão,
contrações involuntárias e mioclonias. A deficiência de Yin do “Fígado” pode produzir
o vento interno (XIE, 2011).
Contudo, apesar do “Rim” e “Fígado” estarem associados diretamente ao processo de
envelhecimento, nos tempos modernos outras patologias acometem o paciente e
respondem por até 90% da mortalidade, como o câncer, doenças cardíacas e acidente
vascular cerebral. Sendo na maioria das vezes síndromes de excesso, causando fleuma,
estagnação do sangue e do vento interno. Estagnação do sangue é geralmente presente
em algum grau em todos os casos de distúrbios geriátricos. A raiz da senilidade é
constituída pela estagnação de sangue (LOBO JUNIOR, 2012, MACIOCIA, 1996).
1) Fleuma
2) Estagnação do sangue (Xue)
3) Vento interno
Alguns sintomas destas patologias em MTC:
• A perda auditiva : Fleuma / sangue estase - deficiência de Qi do “Rim”
• Catarata: Fleuma local - deficiência “Rim” e “Fígado”.
• Neoplasias: Fleuma
• Osteofitos: Fleuma
• A degeneração macular (vascular, falta de alimento no sangue): estase de sangue
• Os olhos secos: - deficiência de Qi do “Rim”
• Tremores: vento interno - deficiência de “Fígado”
• Distúrbios cognitivos e perda de memória e aprendizagem: - devido a fleuma e
estagnação de sangue no sistema nervoso.
• Insuficiência cardíaca e renal: Estase de “Sangue” e Fleuma
• Hiperpigmentação: a estagnação do sangue na pele.
19
• Pele seca: em idosos pode ser devido a estase sanguínea
O envelhecimento é uma “síndrome” que pode se manifestar em vários sistemas
orgânicos. O tratamento pela acupuntura em cães geriátricos é possível e oferece
benefícios que não são oferecidos pela medicina convencional (GOMES, 2013).
A acupuntura é uma técnica complementar ao tratamento convencional, e muitas vezes,
pode ser indicada a fim de substituir os medicamentos alopáticos. Neste aspecto, tornase ainda mais importante o cuidado ao lidarmos com paciente geriátrico, pois devido as
suas múltiplas afecções recebem diversas drogas, e dentre elas algumas de longa
duração ou ainda de uso constante (BARAD, 2008, GOMES, 2013).
Animais idosos que fazem uso de medicação merecem notória atenção, pois o
envelhecimento afeta a absorção, a distribuição, a biotransformaçã e a eliminação da
maioria das drogas, conseqüentemente, estes pacientes merecem especial atenção
farmacológica quanto à escolha dos fármacos e suas dosagens (METZGER,2005).
Alguns agentes farmacológicos com os quais devemos nos preocupar quando usados em
pacientes geriátricos incluem antibióticos, anti-inflamatórios não esteroidais (AINES),
esteróides, barbitúricos, sedativos, analgésicos, diuréticos, enzima conversora de
angiotensina (IECAs), derivados digitálicos, quimioterápicos, drogas hormonais,
anestésicos e muitos outros (METZGER, 2005).
O objetivo do tratamento geriátrico em geral é diminuir ou prevenir as alterações
metabólicas decorrentes do envelhecimento, minimizar os sinais clínicos do
envelhecimento, melhorar a qualidade de vida e aumentar a expectativa de vida
(JOAQUIM, 2012).
É importante ressaltar que a escolha dos pontos de acupuntura e o número destes, deve
ser realizada de forma individual de acordo com o diagnóstico do paciente. Os pontos
podem variar de uma sessão para outra e/ou em decorrência da resposta clínica
apresentada pelo animal (LOBO JUNIOR, 2012).
20
Alguns pontos de acupuntura indicados ao paciente geriátrico
(DRAEHMAPAEHLe ZOHMANN, 1997; LOBO JUNIOR, 2012):
F3 (Tai Chong) – Ponto fonte do “Fígado”; melhora a função do “Fígado” e a
circulação do sangue; retira calor do “Fígado”.
Localização – Medial na extremidade superior do osso metatársico II, visto que o 1°
dedo não é desenvolvido em cães.
R3 (Ta Xi) – Ponto fonte e terra do canal do “Rim”; tonifica o jing, yin e yang do
“Rim”, regula as vias das águas.
Localização – Medial, entre o maléolo medial e a tuberosidade calcânea.
B10 (Tian Zhu) – Ponto de confluência do “Rim” e “Bexiga”, ponto de penetração da
água no encéfalo atuando na energia geral; acalma e fortalece a mente, dispersa vento, a
mucosidade e o frio, faz a limpeza do calor perverso, relaxa e fortalece músculos e
tendões.
Localização – Dorsocranial na asa do atlas, na extremidade medial do músculo
esternocleidomastoideo, na altura do VG15.
B11 (Da Zhu) – Ponto de reunião dos ossos, ponto de dispersão da energia yang do
corpo; harmoniza Qi dos vasos sanguíneos, tendões e articulações. Harmoniza o Qi do
tórax, fortalece o Qi dos ossos, favorece a circulação, dispersa vento e frio.
Localização – Situa-se a um e meio tsun lateral ao processo espinhoso da 1º vértebra
dorsal, onde se localiza o VG-13, no ângulo cranial da escápula.
B23 (Shen Shu) – Ponto de assentimento do “Rim”; usado para tonificar fonte do
“Rim”; melhora a função do “Rim” e a circulação do sangue; retira calor do “Fígado”.
Localização – Situa-se a um e meio tsun, lateral à extremidade inferior do processo
espinhoso da 2° vértebra lombar.
B52 (Zhi Shi) – ponto jing do “Rim”, tonifica o Qi do “Rim”, harmoniza a via das
águas, aumenta a energia vital.
Localização – Na segunda linha do canal da “Bexiga” a um tsun do B23.
B60 (Kun Lun) – Ponto fogo na água fortalece o Qi do “Rim”, harmoniza o Qi e o
sangue, relaxa os tendões e os músculos, desobstrui os canais de energia, dispersa vento
calor.
Localização – No meio, entre a tuberosidade calcânea e o maléolo lateral.
C7 (Shen Men) – Ponto terra no fogo (seda), ponto fonte; harmoniza o Qi do coração,
acalma a mente, retira a mucosidade, o calor e o vento do coração.
21
Localização – Entre o processo estiloide lateral e o osso cárpico acessório, pouco antes
da base do músculo flexor carpo ulnar. Exatamente na dobra do pulso, quando
dobramos a articulação do carpo.
E36 (Zu San Li) – Ponto “mar” do meridiano do “Estomago”, ponto mestre do
abdômen inferior, ponto mais importante de tonificação geral do organismo; regulariza,
fortalece e harmoniza o Qi do “Baço” e “Estomago”, tonifica o Qi nutritivo e Xue.
Localização – Em um aprofundamento lateral à tuberosidade tibial, na base do músculo
tibial cranial.
E40 (Feng Long) – Ponto mestre da fleuma. Ponto de conexão com o meridiano do
“Baço”- harmoniza o “Estômago” e o “Baço”, acalma a mente retirando mucosidade,
retira calor perverso, drena a umidade e a fleuma.
Localização – Situa-se a oito tsun distal à interlinha do joelho e a um tsun lateral ao do
E38. Este ponto situa-se a meia distância entre a interlinha do tornozelo e do joelho
BP6 (San Yin Jiao) – Ponto mestre do abdômen superior, encontro dos três meridianos
yin da perna; harmoniza, tonifica e fortalece o Qi do “Baço”; tonifica o Qi do “Rim” e a
essência, harmoniza o Qi do “Fígado” a circulação do Qi e do Xue, tonifica o Qi e o
Xué, harmoniza a via da águas.
Localização – Exatamente atrás da extremidade medial da tíbia, na altura de uma linha
vertical da tuberosidade calcânea, a três tsun acima do maléolo interno.
VB20 (Fengchi) – Ponto de interseção com o meridiano da “Bexiga”, recebe energia de
todos os canais secundários; mantém, regula e harmoniza o Yang Qi do corpo, acalma o
espírito e clareia a mente, reamina a inconsciência, dispersa vento, harmoniza o Qi do
“Fígado”, relaxa tendões e ligamentos.
Localização – Na extremidade inferior do osso occiptal, em um aprofundamento
imediatamente lateral à base do músculo esternocleidomastoideo, lateral à VG16.
VB34 (Yang Ling Quan) – Ponto de influencia das articulações, ponto mestre dos
tendões e ligamentos, ponto mar e terra no meridiano; regula e tonifica o “Fígado” (Qi,
Yang e Xue), alivia condições do exterior.
Localização – Em um aprofundamento ventrocaudal da cabeça fibular.
22
IG11 (Qu chi) – ponto mar e terra do “Intestino grosso”; ponto imunomodulador e
indicado para retirar calor do organismo.
Localização – Com cotovelo levemente fletido, no meio, entre o final da dobra do
cotovelo e o epicôndilo lateral do úmero, na inserção do músculo extensor carporradial
e profundamente, na inserção do tendão do músculo braquial.
Figura 4 - Topografia dos pontos indicados ao paciente geriatra (vista cranial)
23
Figura 5 - Topografia dos pontos indicados ao paciente geriatra (vista caudo-medial)
5. RELATO DE CASO
Em janeiro de 2013, foi atendido um animal de 12,6 anos, da raça Akita com histórico
de insônia, não reconhecia os proprietários, quadros alternados de agressividade,
vocalização e tosse noturna, sinais compatíveis com disfunção cognitiva do cão idoso.
Além disso, apresentava dor intensa na região torácica e toraco-lombar e artrose
generalizada. Animal iniciou processo de epilepsia, alternando entre convulsões parciais
e generalizadas. Há 6 anos diagnosticado com espondilose anquilosante na região
torácica, toraco-lombar e lombrar; diminuição de espaço e calcificação do disco
intervertebral. Há quatro anos recebe tratamento fisioterápico semanalmente, o que
manteve o animal sem sinal clinico até o momento.
24
Figura 6- Radigrafia em projeção latero-lateral de coluna lombar.
.
Figura 7- Radigrafia em projeção latero-lateral de coluna cervical e torácica.
Recebera desde a constatação do quadro locomotor doses diárias de Sulfato de
Condroitina. Em momentos de crises de dor, por vezes foi medicado com
Dexametasona, Buscopan Composto, Cloridrato de Tramadol, Citoneurin 5000®. Após
a constatação de alteração circulatória, foi medicado com Geriox® e Revimax®.
25
Apesar de todas as alterações, a acupuntura foi primeiramente solicitada para controle
de dor. Durante a avaliação clínica observou-se o animal em cifose, deambulação
difícil, poupava os membros posteriores e alternava o centro de gravidade, articulações
crepitantes e com redução da amplitude de movimento, hipertatia principalmente na
região torácica, sem alteração às reações posturais e ao teste de sensibilidade.
Apresentava ainda, alopecia generalizada, com hiperemia da pele. Estava sendo
medicado com Sulfato de Condroitina, Buscopan Composto, Cloridrato Tramadol,
Citoneurin 5000®, Geriox®, Revimax®, Omeoprazol, Previcox® e Fenobarbital.
Exames laboratoriais revelaram discreta anemia, função renal, hepático e dosagem
hormonal dentro da normalidade. Exame de imagem ultrassonografica, ECC e ecoDoppler normais. Além disso, a pressão arterial sem alteração.
Diante do quadro iniciou-se o tratamento pela acupuntura. Foi estabelecido como
protocolo inicial 2 sessões por semana até o controle da dor (sendo está a queixa
principal do proprietário).
Os pontos iniciais escolhidos foram: E36, B60, R3, B23, VB34, F3. O Animal
apresentou melhora clínica. Notou-se na quarta sessão ausência de cifose, ausência do
quadro doloroso, e a vocalização noturna cessara. Uma vez que o animal não mais
apresentava dor, foram suspensos o Cloridrato Tramadol, Previcox® e Omeoprazol.
Na sexta sessão foram selecionados novos pontos de acupuntura, sendo eles: B60, R3,
BP6, VG20, B23, C7. Foi suspenso também o Buscopan Composto e o Revimax®.
Na décima sessão, a proprietária relatou uma melhora acentuada visto que o animal
voltou a ter comportamento semelhante ao de antes das afecções. Passou a interagir com
a família e observada ausência de agressividade. Cessou-se também o quadro de
insônia. Foi suspenso o Citoneurin®. Devido a evolução do quadro preconizou-se uma
sessão por semana.
A partir da décima primeira sessão os pontos escolhidos foram: B60, R3, B10, B23,
B52.
26
Desde o início do tratamento com acupuntura, o animal apresentou redução de quadro
convulsivo em frequência e gravidade. Foi reduzida a dose do fenobarbital em 30 %.
Por solicitação e insegurança da proprietária em espaçar as sessões, resultando em
possível piora clínica do animal, este permanece fazendo acupuntura uma vez por
semana.
A acupuntura promoveu redução dos sinais clínicos em 90%, trazendo conforto e bem
estar ao paciente. A proprietária encontra-se externamente satisfeita com o resultado
obtido e segundo a mesma, o animal voltou ter hábitos que há muito tempo não
apresentava, como demonstrar desejo em brincar e querer passear. Outra observação
feita pela proprietária foi que após o início da acupuntura o animal voltou a elevar a pata
para urinar (padrão normal para cães machos).
Os pontos de acupuntura ainda são alternados de acordo com a necessidade em cada
sessão.
Neste caso, a acupuntura contribuiu de forma satisfatória em todos os aspectos
observados.
Em relação à administração medicamentosa, das oito medicações que o animal recebia
antes da acupuntura, agora faz uso somente de Sulfato de Condroitina, Geriox®. Além
disso, foi possível reduzir em 30% a dosagem do Fenobarbital, sem qualquer prejuízo
ao controle das convulsões. Possivelmente estas medicações continuarão em uso
contínuo.
Em relação à qualidade de vida e bem estar, houve melhora visível do paciente,
tornando o animal mais ativo, proporcionando uma maior interação com o seu meio
ambiente.
27
Figura 8- Nick (Akita, 12,6 anos), cão geriátrico submetido a acupuntura para suporte a
senilidade.
“O envelhecimento bem sucedido não é um privilégio, mas um objetivo a ser
alcançado...” (PAPALEO NETTO, 1994).
6. CONCLUSÃO
Os cuidados com o paciente geriátrico é um desafio aos médicos veterinários.
A
geriatria representa uma importante área em expansão na especialidade veterinária e sua
importância cresce continuamente, uma vez que a expectativa de vida está aumentado
na população canina.
É dever do médico veterinário oferecer um envelhecimento digno e com qualidade de
vida aos animais. A acupuntura é uma técnica milenar da MTC capaz de promover
saúde, reestabelecer o equilíbrio e minimizar a deterioração dos sistemas orgânicos,
proporcionando mais saúde a estes pacientes.
28
Além disso, a acupuntura pode ser empregada concomitante ao tratamento
convencional, podendo inclusive substituir ou reduzir medicamentos alopáticos. Ainda
é uma opção de tratamento em patologias onde a medicina ocidental não consegue bons
resultados.
O suporte aos cães geriátricos pela acupuntura é possível e oferece benefícios que não
são oferecidos pela medicina convencional.
7. REFERÊNCIAS
BARAD, A., MAIMON, Y., MILLER, E. et al. Acupuncture Treatment in Geriatric
Rehabilitation: A Retrospective Study. J Acupunct Stud, v.1, n.1. p. 54-57, 2008.
DRAEHMAPAEHL, D.; ZOHMANN, A. Acupuntura no cão e no gato: princípios
básicos e prática científica. São Paulo: Roca, 1997.
FORTHEY, D. W. Geriatrics. Vet Clin Small Anim, v.35 n.1, p.1-2, 2005.
GOMES, J. C., FAELLI, P, JIN PAI, H. Acupuntura na geriatria. CEIMEC - Centro de
Estudos
Integrados
de
Medicina
Chinesa.
Disponível
em:<
http://www.ceimec.com.br/geriatria.htm> Acessado em 08 de maio de 2013.
JOAQUIM, J. G. F. Geriatria em Medicina Veterinária Complementar. Instituto
Bioethicus. p.4. 2012.
LAFLAMME, D. P. Nutritional Care for Aging Cats and Dogs. Vet Clin Small Anim,
v.42 n.1, p.769-791, 2012.
LANDSBERG, G., ARAUJO, A. J. Behavior Problems in Geriatric Pets. Vet Clin Small
Anim, v.35 n.1, p.675-698, 2005.
LOBO JUNIOR, J. E. S. Acupuntura na Pratica Clínica Veterinária. São Paulo, ed
Interbook, 2012. p.407Veterinária. Porto Alegre.
29
KIDD, J. R. Alternative Medicine for the Geriatric Veterinary Patient. Vet Clin Small
Anim, v.42 n.1, p.809-822, 2012.
KOPAEF, A. L. Introdução a Clínica geriátrica do cão. 2010, 106f., Trabalho de
conclusão de curso - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Faculdade de
Veterinária. 2010.
MACIOCIA, G. Os fundamentos da medicina chinesa: um texto abrangente para
acupunturistas e fisioterapeutas. São Paulo: Roca, 1996. p. 649.
METZGER, F. L. Senior and Geriatric Care Programs for Veterinarians. Vet Clin Small
Anim, v.35 n.1, p.743-753, 2005.
XIE, H; PREAST, V. Acupuntura Veterinária Xie. São Paulo: MedVet, 2011.
30