MULHER ARQUITECTA NA ÁFRICA COLONIAL PORTUGUESA

Transcrição

MULHER ARQUITECTA NA ÁFRICA COLONIAL PORTUGUESA
COLÓQUIO INTERNACIONAL CONHECIMENTO E CIÊNCIA COLONIAL
Lisboa, 26-29 de novembro de 2013
MULHER ARQUITECTA NA ÁFRICA COLONIAL PORTUGUESA: MARIA CARLOTA QUINTANILHA E MARIA
EMÍLIA CARIA
Ana Vaz Milheiro
ISCTE-IUL, DINÂMIA'CET
[email protected]
Filipa Fiúza
DINÂMIA'CET
[email protected]
Rita Portela
MIA ISCTE-IUL
[email protected]
Resumo
Desde a década de 1990, que a historiografia que se ocupa do final do período colonial português se
tem dedicado, de forma mais sistemática, ao estudo da arquitectura praticada nos territórios africanos.
Os arquitectos que trabalham na África portuguesa do pós Segunda Guerra Mundial são geralmente do
sexo masculino e formados nas duas escolas superiores de Belas Artes, então existentes em Portugal.
Dividem-se em dois grupos profissionais: os que projectam a partir da metrópole e os que emigram para
África, acabando por se fixar nas províncias ultramarinas que constituem o Império colonial português. A
presença de mulheres nas escolas metropolitanas de arquitectura é então muito reduzida. Das que
conseguem diplomar-se arquitectas, a partir da década de 1950, são poucas as que exercem a profissão.
A maioria é absorvida pelos papéis habitualmente femininos, muito valorizados pelo regime
conservador de António Oliveira Salazar. Destaca-se o papel decorrente do casamento e o ideal de
família promovido pelo Estado Novo. Para as que arriscam exercer uma actividade remunerada fora da
família, privilegia-se a opção por profissões associadas ao universo feminino, como o ensino. Entre as
que se emancipam deste padrão, a maioria exerce arquitectura enquadrada em parcerias familiares,
encaradas como uma extensão do casamento. Acrescente-se que o estudo das poucas mulheres
arquitectas que passaram pela África portuguesa é um campo ainda inédito no domínio dos estudos de
género. Arquitectas que acompanham os maridos na sua imigração africana acabam muitas vezes por
ter oportunidades de exercício profissional em parte devido à inexistência de técnicos qualificados e à
elevada demanda de projectos.
Este paper procura traçar um primeiro olhar sobre estas mulheres a partir de dois casos de estudo que
cobrem as tipologias de exercício profissional mais comuns no período colonial: a profissão liberal ou o
enquadramento nos organismos oficiais. Maria Carlota Quintanilha, diplomada no Porto em 1953,
pertence à primeira categoria, fixando-se em Angola e depois em Moçambique. Irá dedicar-se ao ensino
em paralelo com a profissão liberal, destacando-se pela sua adesão aos princípios de uma arquitectura
tropical inspirada no Movimento Moderno. Mais tarde irá renunciar à sua obra arquitectónica,
desligando-se deste modo da parceria mantida em Maputo com o seu marido, também arquitecto.
Maria Emília Caria trabalha de Lisboa para os territórios, integrando os quadros do Ministério do
Ultramar, nos anos sessenta, num ambiente marcadamente masculino. A sua visão urbanística acabará
por contribuir para actualizar as práticas urbanas então promovidas neste organismo central.
Palavras-chave: Maria Emília Caria, Maria Carlota Quintanilha, arquitectura colonial, Estado Novo,
estudos de género
Filipa Fiúza (Cacém, 1988) completou o Mestrado Integrado em Arquitectura (2010) no ISCTE_Instituto
Universitário de Lisboa, com a dissertação Um Projecto Inglês: a influência da arquitectura AngloSaxónica nas Torres de Alfragide, da qual publicou um resumo na secção de call for papers do Jornal
Arquitectos. Co-organizou a exposição, conferência e catálogo Habitar em Colectivo: arquitectura
portuguesa antes do S.A.A.L. (ISCTE-IUL, 2009), dedicada à produção de habitação colectiva em Portugal
entre os anos 1948 e 1974. Colaborou em vários projectos de investigação, entre os quais destaca o
projecto Os Gabinetes Coloniais de Urbanização: cultura e prática arquitectónica. Integra actualmente,
como bolseira de investigação, o projecto Habitações para o maior número: Lisboa, Luanda e Macau,
coordenado pela investigadora Ana Vaz Milheiro, e prepara a tese de doutoramento com o título
provisório África Brutalista: influências da arquitectura Novo Brutalista na arquitectura Luso-africana
Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa
Centro de História do Instituto de Investigação Científica Tropical