A DESCOBERTA DA PAIXÃO

Transcrição

A DESCOBERTA DA PAIXÃO
A DESCOBERTA DA PAIXÃO
FATHER FOUND
LAURIE PAIGE
Série Mavericks 09
Moriah Gilmore foi embora de Whitehorn e jamais pensou em voltar, Mas depois de Kane Hunter lhe contar sobre o desaparecimento de seu pai, ela retorna a seu antigo lar, Uma vez unidos na busca pelo desaparecido, Kane e Moriah sentem a magia do passado envolvendo­os cada vez mais... e a paixão ardente que um dia viveram ressurge, Embora a busca pelo velho Homer Gilmore se torne cada vez mais difícil, Kane está a um passo de descobrir um antigo segredo de Moriah...
Digitalização: Ana Cris
Revisão: Crysty
Laurie Paige
A Descoberta da Paixão
Tradução Maurício Araripe
HARLEQUIN BOOKS 2008
PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l.
Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte, por quaisquer meios.
Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.
Copyright © 1995 by Harlequin Books S.A.
Originalmente publicado em 1995 por Harlequin Books S.A.
Título original: FATHER FOUND
Arte­final de Capa: Isabelle Paiva
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A Descoberta da Paixão
Querida leitora,
Moriah Gilmore deixou Whitehorn para nunca mais voltar... ou assim pensava. Ela se vê obrigada a retornar ao saber que seu pai está desaparecido. Assim, ela e sua filha, Melanie, se juntam à busca pelo velho Homer Gilmore, e, para isso, contam com a ajuda de Kane Hunter. Médico respeitado e o solteiro mais cobiçado da cidade, ele não fica totalmente surpreso ao descobrir que a paixão entre ele e Moriah na verdade jamais se extinguiu. No entanto, ele ainda não está pronto para perdoá­la por ter sido abandonado, e suspeita que ela ainda guarda importantes segredos. Agora, conforme as buscas e investigações prosseguem, a verdade sobre o passado está cada vez mais próxima...
Equipe Editorial Harlequin Books
Sobre a autora:
Laurie Paige cresceu no interior do Kentucky, a mais nova de sete irmãos. Quando sua família saiu da fazenda e se mudou para a cidade, ela superou a saudade na biblioteca, o lugar mais maravilhoso do mundo, com milhares de livros!
Ela conheceu seu marido aos 16 anos. Bob tinha 20 e servia na Marinha. Quando ela terminou o colégio, eles se casaram e se mudaram para a Flórida. Lá, os dois trabalharam, fizeram faculdade, aprenderam a surfar, conheceram os sete primeiros astronautas, entraram para a NASA, tiveram uma filha e adotaram um cachorro e dois gatos. Hoje, após muitas mudanças, eles vivem na Califórnia.
Viajar e estudar mapas é uma das maneiras de conseguir idéias pra seus romances. Ela adora vilas e cidades fantasma, vales escondidos entre montanhas imponentes e nomes curiosos como Dead Horse Creek (riacho do Cavalo Morto), vizinho de um lugar chamado Dead Man's Bluff (Blefe do Falecido).
Laurie passeia por cemitérios e estuda nomes de família, pensando sobre as ligações entre elas ou as inventando a sua própria maneira. Sua família costuma avisar aos amigos que qualquer coisa que disserem para Laurie pode e será usada em seus livros.
O e­mail de Laurie é [email protected]. Ela adora receber mensagens, idéias e receitas!
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MAVERICS
OS INDOMÁVEIS
Bem­vindo a Whitehorn, Montana. Lar de homens indomáveis e mulheres ousadas, onde grandes paixões e aventuras se revelam sob o vasto céu azul. Parece que esse lugar charmoso possui alguns grandes segredos. E todos estão muito curiosos a respeito de...
Moriah Gilmore: Evitando o lugar que lhe despertava tantas lembranças, Moriah esforçou­se para prosseguir com sua vida. Ao voltar para sua cidade natal, Whitehorn, ela enfim encararia o pai que ainda não perdoara... E o homem a quem amara, e que jamais esquecera...
Kane Hunter: Ele insistiu para que Moriah retornasse. Pediu sua ajuda, negando, secretamente, a vontade de revê­la. Mas que segredos Moriah esconderia? E teriam algo a ver com a filha?...
Melanie Gilmore: Quem seria seu pai? A mãe jamais lhe dissera. Agora, ela tentaria descobrir por conta própria, e pretendia conseguir algumas pistas com seu peculiar avô...
Homer Gilmore: Todos estavam acostumados com as divagações sem sentido e os sumiços inesperados do velhote. Mas, desta vez, Homer parecia ter desaparecido de fato, e a única pessoa que tinha alguma idéia de onde ele estava era...
Mary Jo Kincaid: Mary Jo sempre acreditou que o trabalho de uma mulher não terminava nunca. Ela estava trabalhando dia e noite em seus planos secretos — e pobre do infeliz que se pusesse em seu caminho...
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Capítulo 1
Moriah Gilmore adentrou o apartamento, sendo recebida pelo silêncio. Franzindo a testa, seguiu para a cozinha, onde pousou sobre a bancada a pesada sacola de compras. Suspirando, leu o bilhete preso à geladeira:
"Mamãe, estou na casa de Jessy. Estamos estudando para a prova. A mãe dela me convidou para o jantar. Tudo bem? Com amor, Melanie."
Moriah sorriu. Claro que estava tudo bem. Jessy e Melanie eram ambas alunas de primeira, daquelas acostumadas a tirar apenas dez. As duas também trabalhavam no jornal da escola, o que em si já era uma honra, visto que, anualmente, apenas dois alunos do primeiro ano eram selecionados para a função. Ao chegarem no último ano, as duas estariam editando o jornal juntas. Moriah sentia muito orgulho das duas meninas.
Após se espreguiçar, ela guardou as compras e, mesmo sentindo falta da companhia de Melanie, acabou preparando um queijo quente.
Sentando­se à bancada da copa, ela olhou através da janela na direção do sul.
Pôde avistar nuvens escuras e ameaçadoras no horizonte distante. Provavelmente, devia estar chovendo por lá. Ali em Great Falls ainda estava parcialmente nublado, e o ar parecia ficar cada vez mais úmido e frio. Moriah sentiu­se feliz por não ter de sair mais para nenhuma aula.
Depois do verão, ela decidira só recomeçar após o Natal. Seria um alívio não ter de se preocupar com notas, provas e matérias por algum tempo.
Ao terminar a escola noturna e conseguir o diploma, Moriah seria uma assistente legal. E faltava apenas um ano!
Com a experiência que estava adquirindo como recepcionista e datilografa na firma de advocacia local, ela decerto seria capaz de arrumar um bom emprego no ano que vem. Talvez até na mesma empresa. Há quase cinco anos que trabalhava lá...
Seus pensamentos foram interrompidos pelo telefone.
Devia ser Melanie. Moriah atendeu com um gracejo:
– Qual foi a coisa essencial que você esqueceu desta vez?
Sua resposta foi o silêncio. Moriah percebeu que pegara de surpresa alguém do outro lado da Projeto Revisoras
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linha... e não era a filha.
– Desculpe, pensei que fosse outra pessoa – ela disse, com simpatia. – Você ligou para a residência dos Gilmore. Em que posso ajudar?
– Moriah?
Seu coração parou. Há quase 17 anos não escutava essa voz masculina especial, esse timbre único que a lembrava do ronronar de um puma, ao mesmo tempo suave e áspero. Era uma voz diferente de todas as outras. Moriah a reconheceu de imediato.
Tomada de ardor, ela sentiu­se desnorteada, como se houvesse sido catapultada de volta no tempo, para um passado distante no qual a mesma voz lhe sussurrara as mais adoráveis palavras de amor ao pé do ouvido, enquanto, deitados lado a lado, seus corações batiam no mesmo ritmo.
Ela passou a mão trêmula pelo cabelo, e na mesma hora recordou­se de outras mãos fazendo o mesmo. Kane sempre adorara seus cabelos, adorava acariciar­lhe os cachos sedosos. Gostava de lhe fazer cócegas no pescoço e ao redor dos seios, usando uma mecha de seu cabelo como se fosse o pincel de um artista, sempre com o mesmo toque preciso, porém gentil, muito gentil.
– É como segurar o fogo – ele murmurara, beijando­lhe as têmporas, mordiscando­lhe as orelhas. Ele descera a mão até tocar os cabelos ruivos na junção das pernas de Moriah. – Aqui também tem fogo – disse, fazendo­a se sentir linda e cobiçada, o que era mais do que apenas desejada, mas ela também se sentira assim.
Bom Deus, era tão jovem. Dezessete anos...
Ela fechou os olhos e inspirou profundamente, procurando alguma calmaria no centro do furacão de emoções que a voz dele provocara. Como se estivesse sem ar, levou a mão à garganta.
– Moriah? – repetiu Kane Hunter.
Tinha de responder, mas apenas um pensamento, um pensamento ilógico e persistente, lhe vinha à cabeça.
Kane. Seu primeiro amor. Seu amante. Seu sedutor.
– Sim?
Ela forçou a palavra a emergir de sua garganta seca. Talvez não fosse Kane. Talvez fosse apenas um vendedor. Um vendedor que a chamava pelo primeiro nome, exibindo certo grau de intimidade no tom de voz? Não, o homem no outro lado da linha não era um desconhecido.
Com o coração em disparada, ela olhou ao redor, como se estivesse procurando uma rota de fuga, um modo de escapar das lembranças despertadas por aquela voz.
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– Aqui é Kane Hunter. – Ele deixou bem claro. – Estou falando com Moriah Gilmore, não estou?
– Está.
A sensação de sufocamento começou a ficar pior. Outrora, pensara que morreria de êxtase em seus braços, de tanto prazer que Kane dava. Ele adorava ver o prazer que seu toque lhe proporcionava. E ele lhe proporcionara tanto prazer. No entanto, mais tarde, ele lhe trouxera tanta dor...
Ela engoliu em seco diante das emoções que se acumulavam em seu peito e se forçou a responder como uma pessoa normal, e não como a adolescente apaixonada e crédula de outrora.
– Kane! Que surpresa.
– Aposto que é – ele retrucou, em tom sardônico. – Estou ligando para falar a respeito de seu pai – prosseguiu, sem dar chance a Moriah de falar novamente. –A polícia está à procura dele...
– Que polícia? – Ela interrompeu.
Era muita coisa para assimilar ao mesmo tempo. Kane estava ligando para ela, como um fantasma saído do passado, e queria lhe falar sobre seu pai, que, anos atrás, abandonara tanto ela quanto a mãe.
– A polícia de Whitehorn – Kane respondeu, caustica­mente. – A cidade na qual você morava, lembra?
Ele estava falando com ela como se Moriah fosse lerda. E naquele momento era exatamente como ela estava se sentindo. Ignorando o comentário, tentou recuperar o autocontrole.
– Por que a polícia está à procura do meu pai?
– É isso que eu estou tentando explicar.
Moriah podia imaginá­lo falando do outro lado da linha, forte e másculo. A imagem dela acariciando­lhe o corpo esbelto, sentindo a pele macia e os poderosos músculos retesados sob seu toque lhe veio à cabeça. Os anos passados trabalhando em um rancho haviam deixado Kane extremamente forte, seu corpo todo rijo.
Ela sacudiu com força a cabeça, dissipando a imagem.
– Pois então, explique – solicitou.
– Fui até o chalé dele...
– Meu pai tem um chalé? – Ao longo dos anos, ela se perguntara que fim teria levado o pai. Durante algum tempo, chegara até a lhe mandar cartões de Natal para o antigo endereço. O pai jamais respondera. – Ele não tem mais a casa?
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– Não.
Moriah podia perceber a paciência forçada na voz de Kane. Outrora, ele havia sido infinitamente paciente com ela. E carinhoso. O mais atencioso dos amantes.
Todo esse carinho havia desaparecido. Assim como a casa onde tinham compartilhado o seu amor, durante as tardes nevosas daquele final de ano, onde ela e Kane haviam sussurrado, um para o outro, todas as suas esperanças, todos os seus sonhos para o futuro.
Sentiu nos olhos a ardência de lágrimas tolas, ridículas. Percebeu que, em algum lugar no seu íntimo, ainda lamentava a perda daquela inocência, aquela sublime fé na vida que apenas os tolos e as crianças têm.
Sentindo uma dor que há muito pensara morta e enterrada, ela segurou com força o telefone. Houve uma época em que confiara em Kane. Ele lhe dera tantas coisas maravilhosas.
– Então, ele está morando em um chalé? – ela disse, interrompendo o insuportável silêncio prolongado.
– Está. De qualquer modo, estive lá cerca de duas semanas atrás. Havíamos combinado ir pescar. Seu pai não apareceu. Foi então que Rafe Rawlings me falou dele...
– Rafe Rawlings?
– Um policial de Whitehorn. Se me deixar terminar...
Ela tratou de silenciar todas as suas dúvidas.
– Seu pai está desaparecido – Kane disse, bruscamente. – Até onde sabemos, há pelo menos duas semanas. Rafe e eu procuramos em tudo quanto é lugar, mas não achamos nem sinal de Homer. Ele já deixou de comparecer a dois compromissos.
– E isso é incomum?
– É. Homer é meio... excêntrico, mas, normalmente, dá para se contar com ele. Este tipo de comportamento não é típico dele.
O comentário mostrava o quanto, de fato, Kane não conhecia o seu pai. Homer não estava presente quando ela precisou dele. Quando estava grávida, desesperada e apavorada.
Apenas a mãe permaneceu ao lado dela. Os homens escapam pela porta dos fundos quando os problemas entram pela porta da frente, a mãe costumava afirmar.
Moriah sentira isso na própria pele. Homens também costumavam seguir seus próprios sonhos, independente da vontade de outros, e depois culpavam as mulheres quando as coisas não davam certo. Projeto Revisoras
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Ela sabia muito bem o quanto podia contar com os homens.
– Deixe­me ver se entendi direito. Meu pai está morando em um chalé em Whitehorn. Está desaparecido há cerca de duas semanas. Você e um policial local o procuraram, mas não conseguiram achá­lo. Correto?
– Na verdade, o velho Homer mora em uma cabana na antiga propriedade dos Baxter. Os Kincaid são os donos agora, mas há cerca de 15 anos que o deixam usá­la.
– Eu me lembro dela.
– Não é a mesma que usamos daquela vez – Kane informou, com um tom de voz gelado.
Moriah corou à menção da cabana onde outrora haviam buscado refugio sob uma violenta nevasca. Haviam feito amor diante do fogão a lenha, enquanto os ventos fortes jogavam a neve selvagemente de encontro à lateral da pequena choupana.
Seu corpo reagiu com outra onda de ardor, tornando­se macio e úmido, pronto para recebê­lo... Ela se agarrou com força à borda da bancada.
­Não quis dizer... Não estava falando sobre... – Moriah inspirou profundamente. – Meu pai costumava me levar com ele quando prospectava. Costumávamos ficar em uma cabana no coração do antigo território minerador. Ficava perto do rancho dos Baxter.
– Deve ser a mesma. – Ela não conseguiu detectar nenhuma emoção em seu tom de voz. – Você precisa dar queixa do desaparecimento dele. Rafe e eu estamos preocupados que algo possa ter lhe acontecido.
– Acha que ele se perdeu nas montanhas?
– Não sei. Não há nada que indique que algo criminoso tenha ocorrido, mas tenho a sensação de que algo não está bem. Homer precisa de ajuda. Você tem de voltar para casa.
Ela ficou boquiaberta diante do comando imperioso. Kane esperava que ela fosse voltar correndo para Whitehorn para encontrar o pai desaparecido.
– Eu não posso. Por que haveria de fazê­lo?
– Porque ele é seu pai, e estou cansado de me responsabilizar por ele. Se não fizer alguma coisa, ele provavelmente vai morrer, quem sabe soterrado em algum lugar.
– Não adianta querer me fazer sentir culpada – ela retrucou, irritada. – Não vai colar. Meu pai me abandonou anos atrás...
– Isso é mentira!
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Ela se interrompeu, atordoada com a veemência de Kane.
– É verdade – insistiu. – Eu e minha mãe tivemos de partir e nos virar sozinhas no mundo.
– Guarde a história triste para alguém que a engula.
– Devia saber que não podia contar com a sua compreensão.
Ela desligou violentamente o telefone e tentou recobrar a calma.
Pegando o prato, jogou fora o sanduíche, no qual dera apenas uma mordida. Não sabia o que estava acontecendo, mas não iria se deixar envolver. Se Kane estava esperando que ela fosse jogar tudo para o alto – sua vida, seu emprego – para sair por aí em uma busca inútil, estava muito enganado.
Voltar para Whitehorn?
Nunca.
O dr. Kane Hunter observava o parto em progresso com interesse profissional e pessoal. Profissional porque a enfermeira Lori Bains, que também era parteira, havia lhe pedido para ficar de prontidão no caso de ser necessária uma cesariana, pessoal porque os pais eram índios da reserva de Laughing Horse e seus conhecidos. Ele também crescera na reserva,
Kane sentiu os próprios músculos se retesarem ao ver a mãe se esforçando para trazer uma nova vida ao mundo. Ele já fizera o parto de centenas de bebês, tanto na reserva quanto na pequena cidade de Whitehorn, mas o momento mágico sempre mexia com ele.
Ele observou o pai, de pé ao lado da esposa, segurando­lhe a mão.
O jovem ansioso e em silêncio tinha 18 anos.
A mesma idade que ele quando conhecera seu primeiro amor...
A lembrança surgiu em sua mente com a insistência escaldante de um ferro em brasa. Ele franziu a testa, zangado, mas nada surpreso.
Desde que falara com Moriah sobre o pai dela, na segunda­feira, pedaços de seu passado haviam se insinuado em sua mente nos momentos mais inoportunos. Por um instante, cansado devido ao excesso de trabalho e à escassez de sono, ele cedeu à vontade de sua memória.
Quando ele e Moriah Gilmore eram amantes, Kane chegara a se sentir como se fosse o dono do mundo. Havia ganhado uma bolsa universitária que cobriria todo seu curso de medicina, e a garantira baseado na sua capacidade intelectual, e não nas habilidades esportivas. E então, no primeiro dia de seu primeiro Natal em casa após o início das aulas, ele a conhecera.
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É claro que já a tinha visto antes. Ele estudara um ano à frente dela na escola, mas não haviam se falado mais do que uma dúzia de vezes durante todo o tempo em que estudaram na escola de Whitehorn. Decerto, jamais lhe ocorrera convidá­la para sair. As moças da cidade não costumavam sair com os rapazes da reserva.
Os dois acabaram se encontrando por acidente. Ele esbarrara nela ao sair da lanchonete. Embrulhos de Natal haviam caído sobre a neve fofa.
– Desculpe – ele disse, reconhecendo­a de imediato. – Deixe­me ajudá­la.
Sorrindo, ela o fitou com os enormes olhos castanho­dourados.
– Tudo bem. Eu não estava prestando atenção para onde ia. Estava olhando para o chão.
Ela vinha em sentido oposto ao vento forte. Seu cabelo – de um ruivo escuro, tão vivo que parecia ser feito de fogo – estava salpicado de flocos de neve. Kane se apaixonara por ela naquele mesmo instante.
– Está indo para o seu carro? – ele perguntou, polidamente. – Eu posso carregar isso para você.
Ele apanhou os embrulhos, buscando uma desculpa para ficar mais um pouco na companhia dela. Mesmo naquele momento, ele sabia que era loucura, que nada de bom viria daquilo, mas...
Ela o fitou por um instante, depois, com um sorriso maroto, assentiu e permitiu que ele carregasse suas coisas... dois quarteirões rua abaixo, até a casa dela.
Lá, ela o convidara a entrar, pedindo que ele depositasse os embrulhos sobre sua cama.
Estar no quarto de Moriah o deixou apreensivo, como se o pai dela pudesse aparecer do nada e acusá­lo de algo desprezível. Talvez a culpa também contribuísse para o seu nervosismo. Desde que olhara para aquela cama coberta de bonecas, todos os pensamentos eróticos que já tivera lhe vieram à cabeça.
– Quer um chocolate quente? – ela ofereceu, tirando o casaco e as luvas.
Ele passara o restante da tarde na companhia dela, só indo embora quando os pais de Moriah chegaram do trabalho. A sra. Gilmore não ficara muito satisfeita com a presença dele na casa, mas Homer não parecera se importar...
– Tudo bem, mais uma vez – Lori instruiu a paciente. Com certeza não precisava de uma cesárea, mas Kane achou melhor ficar para ver se estava tudo bem com o bebê.
Segundos depois, a jovem esposa fez um último esforço, dando à luz o seu bebê.
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Lori levantou o bebê para que os pais pudessem vê­lo. A mãe chorava. O pai esfregou a testa, escondendo o rosto por um instante. A criança berrava diante da indignidade de ser posta à mostra.
– Ele é lindo – Lori disse, com sinceridade.
Os olhos de Kane começaram a arder. Ele piscou algumas vezes para dissipar a intensa emoção. Quando ergueu a cabeça, viu que Lori sorria para ele. Ela costumava provocá­lo, chamando­o de "coração mole".
– Até mais tarde – ele murmurou, sentindo­se à vontade para ir embora, agora que sabia que a mãe e o bebê passavam bem.
Ao sair, notou que o sol estava nascendo no horizonte.
Bebês sempre faziam o próprio horário, pensou ao caminhar na direção de sua caminhonete. Durante os próximos meses, os pais estariam à disposição da criança, ansiosamente atendendo cada chamado dela. Eles se juntariam ao rol de pessoas que menos dormiam no mundo, especialmente a mãe. Mas ela era jovem. Mal fizera 18 anos de idade. Decerto, tiraria de letra.
De repente, Kane se sentiu absurdamente velho. Completara 35 anos de idade há poucos meses. Não era tão velho assim, mas também não mais tão jovem. Deu­se conta de que, se pretendia formar uma família, já estava na hora de começar.
Sem ser solicitada, a lembrança de antes retornou. Naquele Natal nevoso, quase 17 anos atrás, pensara que seu mundo estivesse completo. Ele e Moriah se casariam, teriam filhos e envelheceriam juntos ali em Whitehorn. O sonho de um tolo.
Sentiu­se tomado de raiva. Não conseguia entender. Por que estava se deixando abalar por um passado há muito esquecido? Não fazia sentido.
Por outro lado, nada a respeito de seu breve romance com Moriah jamais fizera muito sentido. O primeiro encontro havia sido acidental. Assim como o primeiro beijo. Ele a ajudara a recolher brinquedos para a igreja, cujos membros os consertariam e os doariam junto com caixas de comida e roupas.
Pegando um atalho através de um beco, ele escorregara e caíra no chão. Moriah se curvara sobre ele ansiosamente.
– Kane, você está bem? – perguntou. – Machucou a cabeça? Diga algo! – exigiu, quando ele permaneceu em silêncio, curtindo a preocupação que despertara nela. Ele passou uma das mãos ao redor da nuca de Moriah e a puxou para baixo, cobrindo­lhe a boca com a sua. Em vez de esbofeteá­lo e ir embora furiosa – que era mais ou menos o que ele estava Projeto Revisoras
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esperando –, Moriah inclinou­se mais para perto, colocando as mãos sob a cabeça dele, levantando­a do chão gelado. Fora sublime.
Ela retribuíra o beijo com intensidade redobrada. Aceitara as carícias dele, cada uma mais ousada que a outra, superando a timidez e os próprios receios, até que, entre os dois, não houvesse vestígios de timidez nem de receios. Ele lhe oferecera tudo que tinha a dar – seu amor, seus sonhos, seu futuro.
Kane sacudiu ligeiramente a cabeça, tentando dissipar a lembrança. Seu primeiro embate com o amor havia sido uma verdadeira lição, uma lição dolorosa, do tipo que não deve ser esquecida. Apesar de já terem se passado 17 anos, ele se recordava da dor como se houvesse sido no dia anterior.
Moriah. Na época pensara que ela era o amor de sua vida. Quando, na primavera seguinte, ela deixou a cidade sem lhe dizer uma palavra sequer, Kane sentiu­se confuso, magoado e, por fim, zangado. Suas cartas foram devolvidas pelo correio. "Destinatário Não Encontrado" dizia o carimbo. Ele jamais soube que fim ela levara.
Sentindo um calafrio percorrer­lhe a espinha, Kane subiu na caminhonete e seguiu para casa para mudar de roupa.
Era quarta­feira. Tinha o dia de folga e pretendia aproveitá­lo. Seguiria para a casa que estava construindo e trabalharia nela. Serrar toras de madeira e martelar pregos costumavam tranqüilizar­lhe a alma.
Contudo, uma hora mais tarde, estava diante do chalé onde deveria ter encontrado Homer Gilmore para a pescaria. Sua consciência o fez mais uma vez ir à procura do velho. Ele desceu da caminhonete e caminhou até a porta.
Ninguém respondeu quando bateu à porta.
– Homer? – gritou, seguindo pára os fundos da casa.
O velho não estava lá.
Retornando à porta da frente, Kane decidiu entrar. O lugar estava igual a duas semanas atrás. Ele franziu a testa ao olhar ao redor.
O chalé estava uma bagunça. Jornais espalhados pelo chão. Havia algumas canetas e um bloco de papel jogados sobre uma das cadeiras ao redor da mesa. Uma grossa camada de poeira cobria os poucos móveis. Parecia que o velho rabugento havia abandonado o lugar.
A preocupação consumia Kane. Embora normalmente Homer fosse obcecado com limpeza, sabia que o velho não se cuidava direito.
Homer estava entrando na casa dos 60, mas parecia muito mais velho. Sobrevivia com o que Projeto Revisoras
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ganhava da Previdência Social e da ajuda fornecida por Kane e Rafe Rawlings, um policial local. Há anos os dois vinham se alternando em tomar conta do eremita excêntrico.
Kane sentiu uma conhecida pontada de raiva. Homer era o pai de Moriah. Em 16 anos, ela não voltara uma única vez para ver como estava o velho. Mesmo que jamais quisesse vê­lo novamente, podia ao menos ter se preocupado com o pai.
Ah, Deus, por que estava desenterrando o passado? O que passou, passou. Praguejando, Kane curvou­se e, recolheu os papéis espalhados. Ele ajeitou o chalé e usou um pano velho para tirar um pouco do pó.
Ele voltou a ler a carta da agência de detetives que estava sobre a mesa. Nela estava escrito o endereço de Moriah. Foi assim que soube como achá­la em Great Falls. Homer contratara alguém para localizar a filha. Kane não pôde deixar de se perguntar por que, afinal, se Moriah obviamente não dava a mínima para o pai.
Com um sorriso cínico, Kane acabou de ajeitar os papéis sobre a mesa e foi buscar na caminhonete os suprimentos que trouxera, para o caso de Homer voltar.
Ele sentou na varanda para comer algumas bolachas e uma banana, e pensou um pouco nas duas últimas semanas. O velho prospector sabia que Kane estava vindo para a pescaria, duas semanas atrás.
Mas, semana passada, Homer havia marcado de se encontrar com um pessoal do Serviço de Parques para mapear o local, que estava cheio de minas abandonadas e poços de ventilação, que representavam perigo tanto para os homens quanto para os animais. Ele também faltara sem avisar a este compromisso. Mais meia semana se passara sem sinal do velho.
Com os pensamentos se voltando do pai para a filha, Kane fitou as montanhas. Moriah adorava as montanhas. Nas suas constantes caminhadas pelos bosques que cercavam Whitehorn, ela brincava de esconde­esconde entre as árvores. Rindo, permitia que ele a pegasse, e que recebesse sua recompensa – um beijo seguido de outro...
Kane sentiu um intenso ardor em seu íntimo. O mero ato de olhar para ela já era bastante para fazer seu coração queimar no peito. Quando faziam amor, o fogo dela o incendiava. A cada ato, ele se sentia renascido, como uma Fênix se erguendo das cinzas.
A saudade tomou conta dele. Kane a amara, mas não fora capaz de segurá­la.
Sentindo o conflito interno de emoções, ele ficou de pé. Não estava ali para pensar em Moriah e no passado dos dois. Homer era o verdadeiro problema.
Não havia nenhum sinal de atividade criminosa, mas algo na cabana não lhe cheirava bem.
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Capítulo 2
– Oi, mãe!
A porta bateu atrás da adolescente, quando ela adentrou a casa com seu habitual furor.
Moriah ergueu os olhos da mesa, onde, como costumava fazer todas as sextas­feiras, estava preenchendo cheques para pagar as contas. Tomada de orgulho, ela sorriu para a filha.
– Oi, Melanie. Como está tudo?
– Sinistro mesmo.
Moriah sorriu diante da nova gíria da juventude. "Sinistro" significava muito bom. Era difícil saber o significado atual das coisas nos dias de hoje.
Ela observou a filha de cabelos escuros correr para o seu quarto. Dois minutos depois, Melanie voltou usando um jeans e uma camiseta, abriu a porta da geladeira e começou a vasculhá­la como alguém que acabara de passar um mês no deserto sem comida.
– Quer que eu lhe prepare um sanduíche? – Melanie perguntou, voltando­se para a mãe.
– Não, obrigada. E não vá estragar o seu apetite. Hoje de noite teremos presunto com abacaxi.
– Ah, o meu favorito – Melanie afirmou, com os olhos negros brilhando. – Mas tenho um encontro hoje.
Moriah sentiu o coração bater forte.
– Com quem? – Diante do sorriso maroto de Melanie, ela levou a mão ao peito, em um gesto teatral. – Não... Não com o bonitão?
Melanie saltitou pela cozinha.
– É. É. É!
Moriah riu diante da cena. Às vezes se perguntava como era possível essa criança, esse ser adorável, ter vindo dela.
A personalidade de Melanie brilhara como a mais preciosa das pedras desde o início. A filha tinha bom gênio e ria com freqüência. Moriah já vira pessoas pararem e sorrirem ao escutar a menina rir.
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Melanie gostava de todo mundo e todo mundo gostava dela.
Enquanto Moriah era reservada, a filha era exuberante. Moriah sempre teve de estudar muito para conseguir boas notas. Já para Melanie, a escola era moleza. Ela era brilhante e uma aluna respeitosa. E nenhuma mãe podia querer uma filha mais amorosa. Melanie dera sentido à vida de Moriah, quando ela não via nenhum.
Quando Melanie voltou correndo para o quarto para se arrumar, Moriah voltou sua atenção para as contas, aliviada por as duas terem uma situação financeira estável. Mais uma vez, seus pensamentos retornaram ao passado, como vinha ocorrendo todas as noites desde que Kane Hunter ligara exigindo que ela voltasse para casa e tomasse uma providência quanto ao desaparecimento do pai.
O que Kane esperava que ela fizesse – jogasse tudo para o alto e acampasse nas montanhas até que o pai houvesse sido encontrado?
Ela sacudiu a cabeça, zangada. Tinha uma vida boa. A mãe, Joleen, morava perto o bastante para que a visitassem, mas não perto demais. Moriah enfim arrumara um emprego que lhe permitia pagar facilmente as contas. O futuro parecia promissor, sem nenhuma nuvem negra no horizonte. Até o telefonema de Kane.
Após o nascimento de Melanie, Moriah terminara de cursar a escola. Trabalhara como garçonete, de modo que Joleen pudesse tomar conta do bebê quando não estava trabalhando na loja de departamentos.
Mais tarde, Moriah trabalhara para a mãe na loja de roupas que ela abriu em um centro comercial da região.
Percebendo que a mãe estava assumindo total controle sobre sua vida e a de Melanie – e com a filha se rebelando sempre que podia –, Moriah mudara­se com ela para este apartamento, cinco anos atrás. Joleen ficara furiosa, mas Moriah sabia ter tomado a decisão acertada. Ela e Melanie haviam superado os "anos difíceis" da menina sem muito atrito.
Moriah sentiu a raiva voltar ao se lembrar da expectativa de Kane de que ela fosse abandonar tudo e voltar correndo para Whitehorn, só porque ele pedira. Jamais.
Contudo, movida pela culpa que ele a fizera sentir, ligara para falar com Rafe Rawlings na delegacia de polícia. Ele confirmara tudo o que Kane dissera.
Ela mordeu o lábio inferior, perguntando­se o que deveria fazer.
Homer não era sua responsabilidade.
Mas ele era o seu pai.
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Ele a abandonara e à mãe para ir prospectar, como costumava fazer todas as primaveras... no momento em que ela mais precisava dele...
– O que acha, mamãe? – perguntou Melanie, voltando à cozinha. – Muito exagerado?
Moriah forçou­se a olhar para a roupa da filha. Ela usava um conjunto leve verde­limão com uma... correção, com a sua blusa de seda rosa. Os olhos e cabelos de Melanie vinham do pai, mas o tom rosado de sua pele puxara de Moriah. Mas a filha não ficava sardenta. Bronzeava­se com facilidade, com um ligeiro rubor rosado nas faces.
Uma voz do passado de Moriah apareceu em sua cabeça: Você parece uma daquelas rosas clarinhas que Winona Cobbs costuma cultivar.
Kane lhe dissera isso certa vez, quando estava deitado ao seu lado na cama, em uma tarde nevosa.
– Mamãe? – insistiu Melanie, esperando uma resposta.
Moriah voltou ao presente.
– Está perfeita, linda o suficiente para um jantar na mansão da família.
– E é exatamente onde eu vou. Um jantar oficial, com direito a tudo. E não se preocupe. Vou me lembrar de mastigar de boca fechada. – Ela brincou. – Ah, espero que não se importe quanto à blusa. Eu não tinha nada para...
– Na verdade, eu insisto que a use. Melanie deu­lhe um abraço.
– Ah, você é a melhor mãe do mundo! A campainha tocou. O sorriso de Melanie desapareceu, os olhos se arregalaram.
– Ele chegou – ela sussurrou, dando a impressão de estar prestes a fugir correndo.
– Convide­o para entrar, para que possamos logo dar um fim ao interrogatório – Moriah sugeriu secamente.
Ela sempre fazia questão de conhecer os amigos de Melanie. Às vezes, isso havia sido causa de dificuldades entre as duas, mas uma vez que Moriah havia deixado claro que a regra era essa, as coisas ficaram mais tranqüilas.
Melanie franziu o nariz.
– Por favor, não use o porrete – ela implorou, dramaticamente.
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A jovem foi correndo atender a porta, quando a campainha tocou novamente.
Mas que jovem impaciente, pensou Moriah, franzindo a testa em sinal de desaprovação. Se o jovem estava se achando um presente de Deus às mulheres, ela não perderia tempo em pô­lo no seu devido lugar.
– Mãe? É melhor vir até aqui. É um sujeito... hã, um homem, que diz conhecê­la.
Intrigada, Moriah caminhou até a porta.
– Olá, Moriah – disse Kane Hunter.
Mãe. A palavra explodiu na cabeça de Kane como uma granada. Moriah tinha uma filha. Será que também havia um marido?
Ele se deu conta de que jamais havia considerado tal possibilidade. Ela usara o nome de solteira ao atender o telefone, não usara? Usara. Mas, nos dias de hoje, as mulheres nem sempre adotavam os sobrenomes dos maridos.
Os olhos dela – os mesmos olhos grandes e dourados que lembravam uma corça assustada – se arregalaram de surpresa ao se dar conta de quem era na porta, depois, uma estranha expressão tomou conta de suas feições. Choque? Não. Estava mais para pânico.
Também notou que Moriah continuava linda, e que ele estava reagindo a ela da mesma maneira que fizera quando se esbarraram pela primeira vez. O ardor começou a se espalhar pelo corpo de Kane.
– Entre, Kane – ela disse.
Ela ainda falava suavemente, baixinho, por isso era preciso prestar atenção para escutar as palavras. Estava sorrindo agora, bancando a anfitriã cortês, de modo que ele devia estar enganado quanto à emoção que notara.
Por que ela haveria de esboçar qualquer reação ao vê­lo? Anos atrás, após terem feito amor de modo tão maravilhoso, ela simplesmente fora embora sem sequer olhar para trás. Ela fugira levando consigo a alma e o coração de Kane.
Kane ignorou seus pensamentos. Não estava ali para discutir o passado. Estava preocupado com o pai dela. Sentia uma obrigação profissional para com ele. Homer sempre o procurara quando precisava de um médico.
Se Moriah tivesse um mínimo de compaixão, faria algo para ajudar o velho. Homer precisava de ajuda.
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– O que está fazendo aqui? – ela indagou.
Kane notou­lhe o ligeiro tremor das mãos. Pelo menos, ela não estava indiferente à sua presença. Ele próprio estava sentindo palpitações só de vê­la. Esforçando­se para se recompor, ele tentou lembrar­
se do discurso que ensaiara durante todo o trajeto do aeroporto até ali.
– Mamãe – escutou­se uma voz jovem dizer, buscando atenção.
Kane fitou a moça que o recebeu na porta. Ela parecia ter 16 anos de idade, talvez 17.
Não, ela não podia ser tão velha. Fazia 16 anos que Moriah e a mãe haviam deixado Whitehorn, durante a primavera, sem dizer nada a ninguém.
Ele não pôde deixar de se recordar da ironia da situação. Poupara cada centavo que conseguira a fim de voltar para casa para rever o grande amor de sua vida. Sequer, tivera chance de falar com Moriah. A mãe dela interceptara todos os seus telefonemas e o avisara para manter distância ou sofreria as conseqüências.
Desta vez, Moriah era a mãe, mas o tom de voz era o mesmo, deixando bem claro que ele não era bem­vindo. Olhando para a jovem, ele reconheceu que estava curioso quanto a ela... e quanto ao homem que assumira o seu lugar na cama da mãe dela.
Seu cabelo era de um castanho muito escuro, mas não chegava a ser preto. Ele descia até a metade das costas e estava preso atrás das orelhas por duas presilhas. Os olhos da menina eram tão escuros quanto seu cabelo. Como a mãe, ela possuía um tom de pele rosado, só que mais bronzeado.
Ele voltou o olhar para Moriah. Ela ainda tinha aquele mesmo ar de timidez e vulnerabilidade. Sem maquiagem e usando um moletom azul­claro, parecia ser tão jovem e ingênua quanto a filha.
Com exceção dos olhos. Eles irradiavam uma desconfiança que a fazia parecer uma jovem corça, com medo de se aproximar demais.
Fora essa mesma vulnerabilidade que o atraíra tanto, anos atrás. Moriah o fizera sentir vontade de protegê­la. Kane ficou surpreso ao ver que o passar dos anos não mudara a maneira como ela o afetava.
Moriah, por fim, decidiu romper o silêncio prolongado. Kane percebeu que ela não queria que ele conhecesse sua família.
– Kane, esta é minha filha, Melanie...
A campainha tocou novamente. Melanie a abriu. Um jovem de terno e gravata estava postado diante dela.
Melanie assumiu as funções sociais, apresentando o rapaz à mãe, e depois, com um sorriso Projeto Revisoras
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maroto, disse:
– Este é o namorado da minha mãe. Acha que devemos permanecer aqui para ficar de olho neles?
O jovem parecia desnorteado.
– Melanie – protestou a mãe, corando. – A que horas pretende trazer Melanie para casa? – Tratou de perguntar ao rapaz.
Kane escutou com relutante admiração Moriah tornar o jovem responsável não só pela segurança da filha, como também pelo sucesso da noite como um todo. Ele disfarçou o sorriso quando Melanie olhou para ele e revirou os olhos, indicando que esse era um ritual corriqueiro.
Quando eles deixaram a casa, Moriah ficou observando­os até chegarem ao carro do rapaz estacionado junto ao meio­fio. Ela estava com uma expressão curiosa no rosto – como se estivesse fitando um futuro desanimador. Parecia solitária.
Ah, diabos. Se continuasse assim, acabaria tendo visões do futuro, como Winona Cobbs, a vidente de Whitehorn, costumava fazer.
– Você lidou muito bem com a situação – Kane disse, com sinceridade, escolhendo um assunto menos volátil para dar início à conversa. Assim que ela fechou a porta e ficaram sozinhos, todo e qualquer traço de simpatia desapareceu.
– O que está fazendo aqui? – perguntou.
– Acho que precisamos tomar algumas decisões quanto a seu pai – ele disse no tom de voz mais profissional que conseguiu.
Ela passou a mão pelos cabelos, que conservavam a mesma tonalidade de ruivo. Ainda pareciam quentes e convidativos. Ele ainda queria passar as mãos por eles e... Ah, meu Deus!
– Você o encontrou?
Kane surpreendeu­se diante da ansiedade na pergunta. Ora, ora, talvez ela se importasse. Um pouquinho que fosse. Não o suficiente para ir até Whitehorn.
– Não. Não acho que esteja morto – ele acrescentou, quando ela levou a mão à garganta, aflita.
– Por quê?
– Um pressentimento. – Kane não acreditava em intuição, mas também não a descartava. – Acho que, eventualmente, acabará dando as caras. Ele levou sua mochila consigo, de modo que planejava passar alguns dias fora de casa. Talvez tenha encontrado alguém e decidido ficar com essa pessoa.
Moriah parecia ter suas dúvidas.
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– Será que podemos sentar? Tive uma cirurgia de emergência, hoje de manhã. O dia foi bem movimentado.
Ela mostrou o caminho até a sala de estar e apontou para o sofá. Ele sentou. Moriah empoleirou­
se em uma cadeira como um pardal diante de um falcão. Kane se viu irritado.
– Relaxe – ele aconselhou. – Não vou atacá­la. Ainda não, ele acrescentou em silêncio. Sentia uma vontade quase irresistível de fazer algo drástico para vê­la perder o autocontrole, um autocontrole que não combinava com a tensão que sentia vindo dela.
Um daqueles beijos ardentes que costumavam compartilhar se encarregaria disso... Ele interrompeu abruptamente o pensamento. O que diabos havia de errado com ele? Estava ali em uma missão puramente profissional.
Ela ergueu o queixo e usou um tom defensivo ao responder:
– Jamais pensei que fosse.
– Sei que não gosta que eu esteja aqui – ele disse, resolvendo deixar claro o que se passava em sua cabeça. – Azar o seu. Seu pai precisa de ajuda. Estou falando como médico dele.
Ela pensou um pouco e, obviamente, decidiu lhe dar ouvidos.
– Muito bem. O que há de errado com ele?
– Acho que é esquizofrenia. Não é um caso muito grave, mas ele apresenta os sinais. Escuta vozes e acredita possuir uma conexão com o mundo espiritual. Acha que já salvou o mundo de alienígenas...
Moriah soluçou ligeiramente, mas nada disse.
– Ele precisa se submeter a um exame médico completo, físico e mental. Existem medicamentos para lidar com esta condição. Se quiser, posso lhe recomendar uma clínica local.
Ela ficou de pé e caminhou até a janela antes de se virar para ele.
– Se está me pedindo para assinar alguns papéis para que ele seja internado, pode esquecer. Acho isso errado. Se ele não está fazendo mal a ninguém, por que não podem deixá­lo em paz?
Kane ficou de pé.
– Você não dá a mínima para ele, não é? – Ele seguiu para a porta. – Vejo que a viagem foi um desperdício de tempo.
– Eu poderia ter lhe dito isso quando ligou.
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Ela o acompanhou até o pequeno hall de entrada.
Ele passou lentamente os olhos por ela, pelas generosas curvas dos seios, pela cintura fina, pelos quadris. Notou que Moriah estava de meias, o que só a deixava mais atraente. Kane tratou de endurecer seu coração. Com a mão na maçaneta da porta, murmurou:
– Outrora, havia uma mulher compassiva neste corpo maravilhoso. O que aconteceu com ela?
Ele saiu e fechou a porta, sentindo necessidade de se afastar dela antes que sua fúria explodisse, antes que resquícios de sentimentos de anos atrás o forçassem a dizer ou fazer coisas das quais se arrependeria mais tarde.
Aporta se abriu atrás dele.
– Ela aprendeu a não deixar sua compaixão transparecer – Moriah gritou. –Apenas os tolos fazem isso.
E bateu a porta.
– Mamãe?
Moriah tirou a toalha molhada de cima dos olhos.
– O que foi, querida?
– A cabeça ainda está doendo?
– Bastante.
Moriah esboçou um leve sorriso. Melanie sentou na beirada da cama.
– Deixe eu lhe fazer uma massagem nas têmporas – ofereceu a adolescente, levando as mãos à cabeça da mãe.
Infelizmente, nada parecia fazer a enxaqueca ir embora.
– Quem era o homem da noite passada? Kane alguma coisa. Você acabou não nos apresentando direito.
De propósito, Moriah admitiu para si mesma. Ficara imensamente aliviada com a chegada do amigo de Melanie. Isso lhe proporcionara alguns minutos para se recompor. E também impedira que Melanie desse vazão à sua costumeira curiosidade. Mas, aparentemente, sua sorte havia acabado.
– Ele foi alguém que conheci muito tempo atrás. No colégio – ela acrescentou, torcendo para que a filha se contentasse com isso.
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– Então, ele foi seu namorado – afirmou, do nada, Melanie.
Moriah pensou no que ia falar. Jamais mentira para a filha. Infelizmente, não podia dizer o mesmo da própria mãe. Procurou ser o mais sincera possível.
– Por um mês – disse, sem amargura.
Um mês. Pensara ser Kane a recompensa por seus anos de solidão, esperando que o casamento dos pais acabasse de ir por água abaixo.
– Ele conheceu meu pai?
Por um instante, Moriah sentiu dificuldade para respirar. Seu corpo simplesmente parou de funcionar. Há anos que Melanie não a questionava sobre o pai, e ela não estava preparada para a pergunta.
Tentando encobrir o erro de Moriah por confiar em Kane, Joleen dissera para Melanie, quando ela ainda era muito mais nova, que seu pai havia falecido em um acidente. Mas Moriah sentara­se com a filha e lhe contara a verdade.
Ele não nos queria. Eu liguei para ele, mas ele jamais retornou minhas ligações. De modo que nós nos mudamos, vovó e eu, e demos início a uma nova vida. Fiquei muito feliz quando você veio.
Ela esforçou­se para responder com a verdade, mas as palavras não lhe vinham à cabeça.
– Conheceu – disse por fim.
– Ele vai voltar?
Ah, meu Deus, eu espero que não.
– Não sei. Acho que não.
– Gostaria que voltasse. Eu queria lhe perguntar... Será que se importaria se eu lhe perguntasse sobre o meu pai?
Na penumbra do aposento, Moriah arregalou os olhos.
Sim, eu me importaria. Não quero que o conheça. Poderia acabar escolhendo­o, em vez de mim.
Ficou horrorizada ao se dar conta do que estava pensando. Naquele instante, foi forçada a confrontar a verdade: tinha medo de que Melanie conhecesse Kane.
Kane Hunter era bonito. Carismático. Charmoso. Inteligente.
– Kane não sabe quem é o seu pai. Não foi algo que eu tornei público.
Fechando os olhos, ela apertou a toalha molhada de encontro a eles, para tentar aliviar a Projeto Revisoras
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queimação que sentia por trás das pálpebras.
– De onde é Kane?
– Melanie, por favor, agora não. Mais tarde. Conversaremos mais tarde. Quando minha cabeça parar de doer.
– Claro, mamãe. Desculpe. Eu só estava... curiosa.
– Eu sei. Falaremos sobre isso amanhã. Com sorte, amanhã a filha já teria esquecido.
Kane tirou a roupa e seguiu para o chuveiro. Havia sido um dia movimentado ali no consultório da cidade. Amanhã, na clínica da reserva, não seria muito diferente.
Não conseguia se lembrar da última vez em que se sentira tão cansado. Conseguia, sim. Na faculdade, quando durante algum tempo trabalhou dois turnos seguidos para juntar dinheiro para vir passar a Páscoa com Moriah.
Praguejando, terminou de fazer a barba, vestiu um moletom confortável e desceu para a cozinha. Mais tarde, após o parco jantar, ligou a TV, mais interessado no barulho em si do que na programação. Dando­se conta disso, desligou­a e pôs­se a escutar o silêncio no interior da casa que ele comprara e remodelara para servir de residência e consultório.
Era o som de sua vida. Um som solitário. Um som vazio. Ele fez uma careta. Após se formar, dedicara­se à medicina. Convencera­se de que seria suficiente. Mas há muito isso já não era verdade.
Inquieto, pegou o telefone e discou o número de Lori. A secretária eletrônica atendeu. Ele deixou um recado, dizendo que estava em casa, e depois, levantou e começou a andar de um lado para o outro.
Uma família. Era disso que precisava. Alguém para quem voltar para casa ao final de um longo dia, alguém com quem compartilhar as alegrias e as tristezas.
Lori? Seria ela esta pessoa?
Quem melhor do que uma enfermeira conhecia os rigores da profissão médica? Com ela para compartilhar a vida, as coisas seriam diferentes. Ele e Lori eram compatíveis em temperamento e rotinas de trabalho. Afinal, há mais de um ano vinham trabalhando juntos, em vários partos, e, sem compromisso, estavam saindo há cerca de três meses.
É, era chegada a hora de se estabelecer. Kane a pediria em casamento. E logo. Seria uma ocasião especial. Jantar à luz de velas. Vinho. Uma aliança e o tradicional pedido de joelhos.
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Pensando nisso, trancou a casa e foi para a cama, esperando que, agora que tinha resolvido o seu futuro, seu sono seria profundo e tranqüilo. Mas foi tão inquieto quanto na noite anterior, e na noite antes dela...
Os pacientes já estavam fazendo fila, quando Kane chegou à reserva, às 7 da manhã.
Lori não lhe retornara a ligação. Devia ter trabalhado até tarde. Bebês sempre escolhiam as piores horas para chegarem.
O segundo paciente que recebeu foi Maggie Hawk. Seu marido, Jackson, era o advogado da tribo, e seu líder de fato, desde que o velho chefe sofrerá uma série de enfartes ao longo dos dois últimos anos.
– Maggie, como está se sentindo? – perguntou. Com o tempo, passara a gostar tanto da esposa de Jackson quanto gostava do primo e amigo.
– Enorme – ela retrucou.
Ele fitou­lhe o abdome abaulado, devido ao bebê que ela carregava dentro de si. Kane sentiu uma ligeira pontada de inveja. Ele queria o que Jackson tinha – uma esposa, um lar, e, agora, um filho.
Sorrindo, Kane se pôs a trabalhar. Parecia que todo mundo estava esperando um bebê, hoje em dia.
Ele inclinou­se e procurou escutar os batimentos do bebê. As batidas eram fortes e regulares. O milagre da vida. Será que algum dia ele seria tão abençoado? Definitivamente estava precisando formar a própria família.
Seus pais haviam caído no ciclo de álcool e desespero que afligia a tantos. Haviam morrido congelados, certa noite de inverno, ao atolarem com o carro na neve, retornando para casa do bar. Desde os 7 anos de idade, Kane havia sido criado pela avó.
– E então? – Maggie perguntou, quando ele se endireitou.
– Parece estar tudo bem.
Kane sabia que a criança era um menino, mas o casal não queria saber, de modo que ele evitava usar pronomes em suas respostas.
– Ótimo. – Com esforço, ela se levantou da mesa de exames. – Em momentos como este, me sinto como uma baleia encalhada.
– Todas as mulheres grávidas costumam se sentir assim. – Ele procurou tranqüilizá­la, sorrindo Projeto Revisoras
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com sinceridade. – Você está linda.
– Você e Jackson sabem muito bem como fazer uma mulher se sentir especial – Maggie murmurou. Ela fitou Kane enquanto ele fazia anotações no seu prontuário. Pensativamente, disse: – Agora, só precisamos lhe achar a mulher certa...
Kane olhou para ela.
– Acho que posso me encarregar disso.
– Está tentando me dizer alguma coisa? Você e Lori tomaram uma decisão?
Ele sacudiu a cabeça.
– Ainda não.
Ele percebeu que a resposta deixava sua intenção implícita.
Em vez de um largo sorriso, viu Maggie franzir a testa.
– Não vá se precipitar – ela sugeriu.
Uma imagem lhe veio à cabeça – a de uma pele rosada contrastando com a sua, de um tom mais escuro.
– Você é como uma flor – ele dissera para Moriah. Ela o fitara com os enormes olhos castanhos.
– E você é como a terra. Dá para fincar raízes nesse solo.
Moriah passou as mãos sobre ele, seu olhar amoroso e crédulo dando­lhe vontade de mover montanhas por ela.
Só por ela.
Sobressaltou­se ao perceber que jamais se sentira da mesma maneira por nenhuma outra mulher que conhecera desde Moriah...
Despediu­se de Maggie e seguiu para o próximo paciente, colocando de lado sua vida pessoal e concentrando­se completamente no trabalho. A dedicação à medicina era outra característica sua que costumava atrapalhar seus relacionamentos.
Mas Lori seria capaz de entender esse lado dele. Ela era igualzinha. Na verdade, ainda não retornara seu telefonema. Quando fazia isso com uma mulher, ela costumava ficar furiosa. Mas Kane podia entender. Lori estava com seis mulheres em vias de dar à luz em um intervalo de dois dias.
Talvez estivesse precisando de férias, pensou ao deixar a clínica, mais tarde no mesmo dia. A avó Projeto Revisoras
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provavelmente diria que ele estava precisando se restabelecer. Quem sabe não teria razão. Talvez estivesse, de fato, com a alma doente.
Ou, então, doente da cabeça, onde os pensamentos sobre Moriah insistiam em permanecer, como os vestígios de um perfume sedutor que ele não conseguia identificar.
Cansado, após 12 horas ininterruptas de trabalho, subiu na caminhonete, ligou o veículo e seguiu para a cidade.
Ele notou o veículo da polícia na sua frente e reconheceu Rafe Rawlings ao volante. Além da epidemia de bebês nos últimos dois anos, aparentemente também tinha havido uma de casamentos, especialmente no que dizia respeito ao pessoal ligado ao departamento de justiça, pensou Kane.
Primeiro, o chefe dos detetives casara. Depois, o xerife havia desposado novamente a primeira mulher. Rafe casara com a defensora pública. Até mesmo a juíza local, Kate Randall, casara recentemente.
Talvez ele devesse perguntar à avó sobre esses sinais. Parecia ser a hora perfeita para o casamento, e tudo o que o acompanhava. Sentiu­se ainda mais decidido.
Ao chegar em casa, ligou novamente para Lori. Desta vez, ela lhe deixara um recado gravado na secretária eletrônica:
"Kane, estou acampada na clínica. Os bebês estão chegando mais rápido do que conseguimos trocar os lençóis. Depois eu ligo."
Cansado demais para sequer pensar, ele jantou, trocou de roupa, e se largou na poltrona enquanto verificava a correspondência. Nada de interessante.
Pensou na carta da agência de detetives com o endereço de Moriah e tentou imaginar há quanto tempo ela estaria morando em Great Falls. Após o romance dos dois, ela não esperara muito para casar e constituir família. Devia ter conhecido alguém assim que se formou na escola, para ter uma filha adolescente. Melanie era o nome da garota. Parecia ser uma menina legal. Onde será que estava o marido?
Não notara nenhuma aliança no dedo de Moriah e ela ainda usava Gilmore, o nome de solteira. Será que havia se divorciado? Kane se deu conta de que sabia muito pouco a respeito da vida de Moriah depois que ela deixara Whitehorn.
Sacudindo a cabeça, achou melhor concentrar sua atenção no presente. Uma coisa era Moriah não querer entrar em contato com ele, mas será que não possuía um pingo de decência em relação ao pai?
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Levantando­se, seguiu para a janela. Podia ver que estava chovendo nas montanhas. Por algum motivo, a visão o encheu de nostalgia e saudade, e outras emoções complicadas demais para discernir. Uma outra lembrança apareceu sem ser solicitada em sua cabeça.
Ele e Moriah haviam ido caminhar pela neve, colhendo visco dos carvalhos da reserva, quando foram pegos de surpresa por uma tempestade. Tinham se abrigado em uma cabana. Por algum tempo, o mundo havia sido deles. Ao voltarem para a cidade na caminhonete emprestada de um amigo, Kane vendera o visco e conseguira dinheiro suficiente para comprar um presente de Natal para Moriah.
Ele lhe dera um colar de ouro de 14 quilates. Diferente do colar, o amor de Moriah não havia sido sólido o bastante. Possuíra apenas um brilho superficial que logo se desgastara.
Capítulo 3
Moriah tirou o pé do acelerador diante da placa indicando o limite da cidade.
– Whitehorn. – Melanie leu a placa em voz alta.
Moriah procurou ignorar a empolgação da filha diante do retorno à cidade que ela esperara jamais ter de rever. Sua própria atitude era mais resignada. Por mais que não quisesse, estava indo de encontro a um destino que era incapaz de evitar.
Independente do que pudesse acontecer, precisava ter vindo. Sua consciência não a deixaria em paz até que soubesse como estava o pai.
Durante a última semana, se vira assombrada por lembranças de sua infância. Quando menina, adorava o pai. Era sempre ele quem a confortava quando ela chorava. A mãe sempre fora a pragmática, que cuidava para que o dever e as tarefas de casa fossem feitos, que se preocupava com a saúde dela e coisas do gênero. Mas sempre fora o pai quem a colocara nos ombros e lhe ensinara os segredos da natureza e as alegrias da vida.
A medida que ia entrando na cidade, outras lembranças voltavam. Conforme foi ficando mais velha, o pai passara cada vez mais tempo fora de casa, vagando pelo bosque.
"Esquizofrênico", dissera Kane.
Informando­se sobre a doença, Moriah descobrira que ela podia ser controlada por medicamentos, como o lítio. Tinha de fazer o que podia para ajudar o pai, o homem que, outrora, lhe mostrara o lugar maravilhoso que o mundo podia ser.
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Percebeu que sentira saudades do pai. Lamentava que Melanie jamais tivesse tido a chance de conhecê­lo e amá­lo. Moriah duvidava que ele sequer soubesse que tinha uma neta.
– Onde vamos ficar? – Melanie perguntou. – Não estou vendo nenhum motel.
– Costumava haver pensões no centro da cidade. Uma delas era uma enorme mansão vitoriana. – Ela virou na Center Avenue e cruzou o centro da cidade, que se estendia por cerca de dois quarteirões. – Ali está – disse, encostando o carro. – Ah – ela murmurou, surpresa, ao ler a placa na porta.
A mansão vitoriana era agora o consultório médico do dr. Kane Hunter.
– Olhe, mamãe. A placa diz Kane Hunter. Será que é o seu amigo Kane, o que veio nos visitar em Great Falls?
– É – Moriah retrucou, baixinho.
– Sabia que ele era médico?
– Sabia.
– Maneiro!
Moriah estremeceu ao notar a idolatria evidente na voz da filha. Pela centésima vez, desde que dera início à viagem, perguntou­se se não estaria perdendo a razão.
Com um ligeiro suspiro, teve de admitir que o destino conspirara contra ela. Quando comentou sobre o pai com o seu patrão, ele lhe dera o resto da semana de folga e lhe dissera para tirar quantos dias fossem necessários para resolver o problema. A sobrinha dele estava procurando um trabalho temporário e poderia substituí­la.
Isso a preocupava. Moriah não queria perder o emprego. Era o melhor que já havia encontrado.
– Acho que eu ia gostar de ser enfermeira – comentou Melanie.
– E por que não uma médica? Dessa forma você seria a chefe.
– Faculdades de medicina não são baratas.
– Você com certeza vai arrumar uma bolsa de estudos, e sabe que sua avó e eu ajudaremos como pudermos.
– Pensei que bolsas de estudos fossem apenas para pessoas pobres.
Moriah ficou comovida diante da suposição de Melanie de que pertenciam à classe média. A menina jamais parecia notar que tinha menos do que sua amiga Jessy.
– Kane cursou a faculdade com uma bolsa – disse Moriah, e logo desejou não ter dito nada.
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Não precisava dar mais motivos para a filha achá­lo maravilhoso.
– É mesmo? Com aqueles ombros, deve ter sido uma bolsa de esportes, provavelmente futebol...
– Kane é muito inteligente. Suas notas lhe renderam a bolsa.
Ela se viu irritada. Sentira­se da mesma forma, anos atrás, quando a mãe fizera a mesma suposição a respeito de Kane. A maioria das pessoas parecia achar que os ameríndios só podiam se destacar fisicamente, e não intelectualmente.
– Puxa! Inteligente e bonitão. Ele é casado? Moriah sentiu seu coração ir ao pé e voltar.
– Não sei.
– Deve ser. Nenhuma mulher em seu juízo perfeito deixaria um homem daqueles escapar. Onde está a pensão de que falou? Estou faminta.
– Era aqui. Suponho que podemos dar uma volta pela cidade e ver se encontramos outro lugar.
– É, acho que podemos dispor de cinco minutos – brincou Melanie. – Ô cidadezinha mais caipira.
Moriah sorriu.
– Não venha bancar a superior. Esta era a minha cidade natal. Suas raízes vêm daqui...
– Olhe, mamãe. É o Kane... Dr. Hunter! – exclamou Melanie. – Ele nos viu.
A menina acenou para ele.
Kane estava vindo pela calçada. Ele parou ao lado do carro. Moriah abaixou o vidro.
– Olá, Moriah. – Ele inclinou­se e olhou para dentro do veículo. – Melanie, não é?
– E – respondeu com naturalidade a jovem. – Não sabia que era médico. Moriah desviou os olhos diante do olhar de Kane.
– Sua mãe não deve ter tido a chance de lhe contar. Vocês vão passar o dia na cidade?
– Vamos passar o resto da semana, talvez até mais – explicou Melanie. – Estamos procurando um lugar para nos hospedarmos. Alguma sugestão?
– A Amity Boardinghouse, na Cascade. Você se lembra dela? – ele perguntou para Moriah.
– Acho que sim. – Ela, por fim, reuniu coragem para fitá­lo. – Bem, é melhor irmos. Quero falar com a polícia sobre o meu pai.
– Falei com Rafe ontem. Ele avisou todos os rancheiros para ficarem atentos a qualquer sinal de Projeto Revisoras
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Homer. Escute, eu estou indo almoçar. Se quiserem me acompanhar, posso deixá­las a par dos detalhes.
Moriah tentou achar um motivo para recusar. Mas quando achou, percebeu que já era tarde demais. O silêncio já havia se tornado constrangedor.
– Tudo... bem.
– Ótimo. Pode deixar o carro aqui. A lanchonete não fica longe.
Quando Kane abriu a porta, Moriah não teve escolha senão desligar o motor e, pegando a bolsa, descer do carro. Melanie a acompanhou.
– Vamos?
Kane estendeu o braço para Melanie, que, rindo, passou a mão por dentro dele. Ele virou­se para Moriah e repetiu o gesto.
Ela recusou.
– A calçada não é larga o suficiente para nós três lado a lado. Vão na frente. Eu sigo atrás.
Eles começaram caminhando dessa maneira, mas logo Melanie soltou o braço de Kane e foi espiar algumas vitrines adiante. Kane esperou que Moriah o alcançasse.
– Ela é uma menina adorável – disse. Moriah sentiu um aperto no coração.
– É mesmo.
– Notei que não usa aliança.
Ele pegou­lhe a mão e a ergueu para estudar os dedos desprovidos de anéis.
– Não sou casada – ela retrucou, soltando a mão. – No momento – completou.
Pronto. Isso não era de todo mentira. Kane poderia ser levado a entender que ela já fora casada no passado, mas Moriah não era responsável pela maneira como ele interpretava suas palavras.
– Entendo. O pai de Melanie mora em Great Falls?
– Não. – Diante do olhar inquisitivo de Kane, ela completou: – Não sei onde ele está.
A mentira escapou de seus lábios com facilidade.
– Você o conheceu por lá?
Kane observava Melanie mais à frente, admirando as vitrines. Seus olhos estavam estreitados... Para se proteger do brilho do sol ou em sinal de desconfiança? Será que suspeitava que ela era dele?
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– Não, nós... Nós moramos em outro lugar antes de nos assentarmos em Great Falls.
Isso, pelo menos, não deixava de ser verdade.
Moriah sentiu um medo semelhante ao que experimentara quando Melanie havia lhe perguntado sobre o passado, após conhecer Kane – o medo de que a filha escolhesse o pai, em vez dela.
Se Kane soubesse da verdade, o que ele faria? Obviamente era bem­sucedido e rico, agora. Se quisesse disputar a guarda da filha, teria recursos para fazê­lo.
– Quantos anos tem Melanie?
A pergunta veio do nada, mas Moriah estava preparada.
– Quinze. Ela completou 15 no mês passado.
Ela se retesou, esperando o relâmpago que desceria dos céus para fulminá­la por sua mentira.
– Quinze – Kane repetiu, pensativamente.
Moriah podia quase escutar as contas que ele estava fazendo mentalmente, calculando os anos desde que ela morara ali e os dois haviam sido amantes. Mas, ao olhar de esguelha para Kane, não teve uma pista sequer do que se passava em sua cabeça.
Melanie se virou para eles quando a alcançaram.
– Esse vestido vermelho não é o máximo? Seria perfeito para o baile do Natal. Será que podemos passar aqui para dar uma olhada nele após o almoço?
Ela deu um olhar suplicante para a mãe. Moriah não queria discutir na frente de Kane suas limitações financeiras.
– Vamos ver. Primeiro precisamos arrumar um quarto. Subitamente, Moriah se viu sem fôlego ao avistar o reflexo dos três na vitrine da loja. Bom Deus, como pudera não perceber? Kane e Melanie, com os mesmos cabelos escuros, olhos negros e pele bronzeada. As similaridades dos dois eram mais evidentes em contraste com a própria palidez ruiva.
– É melhor irmos andando – disse, com a voz trêmula. Com um olhar intrigado, Kane seguiu ao seu lado, e Melanie veio logo atrás.
Moriah procurou se convencer de que estava se portando como uma tola. Ninguém sabia de nada a respeito de sua filha. Ninguém teria motivos para suspeitar de Kane. Com exceção de sua mãe, ninguém mais sabia que os dois haviam namorado.
– Aqui está – anunciou Kane, abrindo a porta para que as duas entrassem na pequena lanchonete.
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O local estava cheio, mas os três seguiram para uma mesa vazia que haviam localizado nos fundos.
– Oi, Kane – cumprimentou uma mulher de cabelos vermelhos quando passaram por ela. – Lori está sabendo do seu harém? – Ela brincou, demonstrando evidente curiosidade sobre as duas mulheres que o acompanhavam.
Moriah notou um brilho passageiro de impaciência no olhar de Kane.
– Olá, Lily Mae. Esta é Moriah Gilmore, e esta é a filha dela, Melanie...
– Gilmore – interrompeu a mulher. Subitamente, seus olhos se acenderam. – A filha de Homer Gilmore?
– E, Homer é meu pai – confirmou Moriah.
– Ele já apareceu? Soube que estava desaparecido.
– E está.
Moriah recordava­se vagamente de Lily Mae... a fofoqueira da cidade. Joleen tinha verdadeiro pavor de que Lily Mae descobrisse a respeito do bebê que estava por vir e anunciasse para todo o condado.
– É bom saber que voltou para casa para ver como ele está – disse Lily Mae, em tom de aprovação. – E por onde anda sua mãe?
Moriah contou sobre a loja.
– Bem, acho que ela enfim encontrou seu lugar no mundo. Joleen jamais gostou daqui. Parecia nos considerar um bando de caipiras.
Melanie começou a rir, depois tentou disfarçar, e acabou tendo um acesso de tosse. Sorrindo, Moriah deu uns tapinhas nas costas da filha. Aparentemente, Lily Mae conhecera Joleen Gilmore muito bem, pois sempre fora exatamente essa a sua opinião sobre Whitehorn e seus habitantes. Ela lhe dissera isso quando Moriah a avisou da viagem que ela e Melanie planejavam fazer.
Despedindo­se de Lily Mae, seguiram para a mesa.
– Lily Mae Wheeler – Kane disse baixinho ao se sentarem. – Já se casou e divorciou duas vezes desde que o marido faleceu, há alguns anos, no entanto ainda se apresenta como viúva.
– Acho que soa melhor do que dizer que é divorciada – opinou Melanie. – Minha avó detesta ser lembrada de que é divorciada. Ela acha que isso é algo típico de classe média.
Ele olhou para Moriah, que pôde ver a pergunta nos olhos dele em relação às circunstâncias dela. Projeto Revisoras
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Moriah abriu o cardápio, dizendo:
– É melhor pedirmos logo, ainda temos de nos registrar na pousada.
– Caso a pousada esteja lotada, tem um bocado de espaço na minha casa – Kane informou.
Um sorriso apareceu no rosto de Melanie. Moriah se pronunciou antes que a adolescente pudesse aceitar a oferta de Kane:
– Não, obrigada. Estou certa de que conseguiremos arrumar algo.
Ela fez o seu pedido assim que a garçonete apareceu. Enquanto Melanie perguntava sobre um item no cardápio, Moriah pensou na conversa com Lily Mae.
A viúva mencionara alguém chamada Lori. Quem seria? A esposa de Kane? Namorada? Ela olhou para as mãos dele, segurando o cardápio. Nenhuma aliança. Não que isso significasse alguma coisa.
Quando a garçonete foi embora, ela perguntou, com um ar casual:
– Lori é sua esposa?
– Não. – Seu sorriso se tornou mais suave. – Lori é uma enfermeira­parteira. Nós trabalhamos juntos no hospital local.
– Está namorando ela? – indagou Melanie. Moriah teve vontade de dizer para a filha não ser tão curiosa, mas tinha receio de que a menina já houvesse escolhido Kane para ela. A jovem adorava bancar o cupido, especialmente para a mãe.
Moriah olhou séria para a filha, que simplesmente a fitou com inocência.
Kane notou a troca de olhares.
– Somos apenas amigos – disse. – Você deve se lembrar dela, Moriah. Lori Parker era o seu nome de solteira. Ela casou com Travis Bains assim que se formou na escola. Acho que eles estudaram alguns anos atrás de você.
– Ah, sim, Lori Parker. Recordo­me vagamente dela.
– Ela é casada? – perguntou Melanie.
– No momento, não – ele retrucou, devolvendo a Moriah a sua resposta de antes.
Foi então que ela soube que ele estava saindo com Lori, namorando­a. Subitamente, sentiu um abismo de dor abrir­se em seu íntimo. Todas as noites apavorantes e solitárias que passara desde que ele a deixara para voltar para a faculdade, anos atrás, voltaram para assombrá­la.
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O medo, a humilhação, a auto­recriminação que sentira quando se dera conta de que ele jamais fora sincero com ela retornaram, fazendo­a se sentir vulnerável, desesperada e incrivelmente ingênua.
– Com licença – murmurou, levantando­se e deixando a mesa.
No banheiro, molhou uma toalha de papel, trancou­se em um dos reservados e colocou a toalha sobre a garganta, resinando o sangue que lhe era bombeado para a cabeça. A última coisa de que precisava era outra enxaqueca. Inspirou profundamente, até recuperar o autocontrole. Rever Kane fora mais desconcertante do que jamais poderia imaginar. Ele continuava incrivelmente atraente. Ficava apavorada só de pensar que ele poderia descobrir que Melanie era sua filha. Sabia que iria ficar furioso.
Kane sempre desejara uma família grande. E ela também. Ser filha única era muito solitário.
Esqueça o passado, ordenou­se. Esqueça o que houve entre eles... Como Kane fizera. Ele retornara para a faculdade sem sequer pensar nela, sem sequer se preocupar se ela poderia estar grávida. Provavelmente, se viesse a descobrir a respeito de Melanie, não daria a mínima.
Mas, se desse... Se ele quisesse a filha... Não! Ele tinha outra pessoa. Poderia casar e ter filhos com ela. Melanie era a filha dela, tudo o que Moriah provavelmente jamais teria.
Porque a vida tinha de ser tão dura? Será que ela já não pagara por seus pecados? Escutar falar da namorada parteira de Kane lembrava claramente Moriah de todas as suas deficiências. Ela era tão comum.
Quando Kane voltara para a faculdade, ela se permitira sonhar em conseguir uma bolsa de estudos e se tornar enfermeira. Imaginara os dois trabalhando juntos, ajudando a tribo dele. Bom Deus, quantos sonhos!
Foi então que engravidou e seus sonhos mudaram. Imaginou­se morando com Kane no campus da universidade.
Com o tempo, foi capaz de encarar a realidade. Quando Kane voltou para casa para o feriado da Páscoa e não lhe telefonou, o sonho enfim morrera.
Sabendo que tinha de voltar para a mesa, ela deixou o reservado, retocou a maquiagem e ajeitou os cabelos. Antes que terminasse, Melanie entrou no banheiro.
– Mamãe, estávamos ficando preocupados. Você está bem? A dor de cabeça voltou?
– Não, eu estou bem. Já estava indo.
– Kane não é o máximo? – Melanie piscou para ela. – Aposto que você é mais bonita que uma parteira velha.
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– Melanie, se vai insistir em bancar o cupido, peço que se recorde como foram mal sucedidas suas tentativas anteriores.
– Ora, vamos mamãe, como eu ia saber que meu professor do primário já era casado? Quanto ao banqueiro, sou apenas uma menina. Não tinha como saber que ele estava dando desfalques.
– Isso mesmo. Então trate de manter o nariz longe da vida dos adultos.
– Ah, como se você tivesse uma vida – resmungou Melanie.
As duas voltaram juntas para a mesa. Moriah não pôde deixar de notar que o olhar de Kane a acompanhou durante todo o trajeto. Torcia para que ele não tivesse mais perguntas. Ela não conseguiria inventar mais mentiras, pelo menos não na frente de Melanie.
– Você está bem? – ele perguntou, quando elas sentaram. – Melanie me disse que teve enxaqueca durante o final de semana.
– Eu estou bem – ela retrucou bruscamente.
– Acho que minha mãe tem medo de homens – anunciou Melanie, com um sorriso maroto. – Como médico, você tem algum conselho a dar?
Moriah sentiu vontade de esganar a filha linguaruda. Jamais deveria ter voltado ali. Não era responsável pelo pai. Ele era um adulto capaz de tomar as próprias decisões, e ela não lhe devia nada.
Também não devia nada a Kane Hunter. Dezesseis anos atrás, ele perdera qualquer direito de saber algo a seu respeito.
Kane podia sentir Moriah com cada nervo de seu corpo. Aos 34 anos de idade, ela era incrivelmente linda.
– Mamãe disse que você conseguiu uma bolsa para cursar a faculdade. Estou pensando em fazer medicina – disse a filha de Moriah. – É difícil arrumar uma bolsa de estudos?
Ele estudou a menina enquanto conversavam. O pai dela devia ter olhos e cabelos escuros. Tanto Homer quanto a sra. Gilmore possuíam olhos e cabelos claros. Os de Melanie eram de um castanho muito escuro.
– Bem, a que eu consegui foi oferecida a um membro da minha tribo – respondeu. – Estavam precisando de um médico na reserva. Isso facilitou bastante as coisas.
– Mas seu consultório fica na cidade – comentou a adolescente.
– É preciso dinheiro para administrar uma clínica. Vocês brancos têm mais do que nós índios, de Projeto Revisoras
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modo que...
Ele deu de ombros.
– Bem pensado – disse Melanie, rindo.
Naquele instante, Rafe Rawlings entrou. Kane convidou o policial a se juntar a eles.
– Descobriu mais alguma coisa a respeito do meu pai? – perguntou Moriah.
– Infelizmente, não tenho nada de novo para relatar – respondeu Rafe. – Avisei os rancheiros para ficarem de olhos abertos e Kane alertou a polícia tribal.
– O fato de ele estar desaparecido há tanto tempo é preocupante. Contudo, ele pode estar por aí prospectando, seguindo a dica de algum livro antigo – disse Kane. – Ele costuma ler relatórios sobre a região durante o inverno, para planejar suas expedições durante a primavera.
– É verdade – confirmou Rafe. – Provavelmente se esqueceu dos geólogos que havia ficado de guiar.
– Mas que tipo de homem esqueceria uma pescaria? – indagou Moriah.
Kane foi pego de surpresa pela preocupação em sua voz. Quem sabe ela não era tão insensível quanto ele pensara?
– Homer está ficando velho – disse Rafe. – Talvez esteja ficando... hã, esquecido.
– E quem não está? – ela disse, rindo da expressão constrangida do policial por ter mencionado o declínio do pai dela.
O som musical percorreu o sistema nervoso de Kane, despertando emoções que ele preferia que permanecessem adormecidas. Certa vez, ela rira em seus braços e lhe dissera que, até então, jamais soubera o que era realmente ser feliz. Seus olhos haviam brilhado como dois sóis incandescentes.
Deus, como fora idiota por acreditar em suas doces mentiras. Nunca mais. Não era mais um menino, disposto a acreditar em qualquer coisa que seu coração quisesse acreditar.
– Quando tiver um tempo, devia dar um pulo na delegacia para prestar a queixa oficial. As autoridades estaduais e municipais não quiseram se mexer muito baseado apenas na minha palavra – aconselhou Rafe. – Talvez um pedido oficial de um parente faça com que elas concordem em dar início a uma busca de verdade. Embora, sem alguma prova concreta de que algo está errado, isso seja pouco provável – acrescentou.
– Pensei em procurar por conta própria – disse Moriah.
– O quê? – exclamou Kane, pego de surpresa. Projeto Revisoras
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Ignorando­o, ela continuou a se dirigir ao policial.
– Costumava explorar as montanhas com meu pai. Acho que me lembro...
– Após 16 anos? – interrompeu Kane.
Ele lançou­lhe um olhar sério, basicamente lhe dizendo para não fazer nenhuma besteira. Se ele e Rafe não haviam sido capazes de encontrar o homem, era pouco provável que ela fosse bem­sucedida.
Por um instante, ela parecia uma gata furiosa, mas, depois, toda a emoção deixou o seu rosto. Kane jamais tivera oportunidade de ver o gênio de Moriah em ação.
Durante o mês de selvagem paixão que compartilharam, ela se mostrara uma mulher doce e compreensível, retribuindo a paixão dele com sua própria.
Ele sacudiu ligeiramente a cabeça, forçando­se a se concentrar na conversa. Quando a comida chegou, comeu automaticamente e não permitiu que sua mente vagasse para o passado.
– Aqui é legal – disse Melanie aprovando a pousada, que era outra casa em estilo vitoriano, rosa e branca, construída no século XIX.
Moriah assentiu.
– Vamos ver se eles têm vaga.
Ao entrarem, uma mulher de meia­idade as cumprimentou detrás de uma delicada escrivaninha.
– Na verdade, temos algumas pequenas suítes com duas camas – disse a mulher em resposta à pergunta de Moriah. – Se quiserem, podem dar uma olhada em uma delas.
Ela pegou a chave e a entregou a Moriah, dizendo que o quarto ficava no segundo andar, de frente para a rua.
– Eu adoraria morar em uma casa dessas – disse Melanie, subindo a escada em direção ao segundo andar. – Não é linda? Será que a de Kane é parecida?
Moriah ignorou a pergunta. Abrindo a porta que levava à suíte, entrou em um quarto acolhedor e bem­iluminado.
– Olhe, dá para ver as montanhas – comentou Melanie, caminhando até os janelões que chegavam quase até o teto.
Moriah também aprovou o quarto. Havia dois nichos, cada um com a própria cama, mesinha­de­
cabeceira e abajur. Ótimo, pensou. Assim ambas teriam um pouco de privacidade, à noite. Uma porta lateral levava a um banheiro privativo, o que, pelo preço que estava sendo cobrado, surpreendeu Moriah.
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– Acho que serve – disse. Melanie assentiu.
Elas desceram até a recepção, pagaram por quatro noites e foram buscar as malas. Uma hora mais tarde, já estavam instaladas.
– E agora? – quis saber Melanie.
– Acho que vou me deitar um pouco – disse Moriah. – Quero dar uma descansada antes do jantar.
– Nós vamos comer na pousada? – Acho que sim.
– Posso dar uma volta?
– Pode, mas não vá muito longe. Melanie riu.
– Nesta cidade? Não há como ir muito longe.
Depois que ela saiu, Moriah se viu inquieta demais para dormir.
O dia fora incrivelmente difícil. Durante o almoço, estava com os nervos à flor da pele, com medo de que Melanie tocasse no assunto do pai com Kane.
Em sinal de desespero, passou as mãos pelo cabelo. Tinha de manter aqueles dois longe um do outro. Melanie já estava impressionada demais com Kane.
Mas como culpá­la? Aos 35 anos de idade, ele era autoconfiante e bem­sucedido, e alcançara todos os seus objetivos.
Moriah sentiu um arrepio ao se recordar das mãos de Kane durante o almoço. Seus dedos eram longos e elegantes. Elas pareciam ser ágeis, habilidosas. Firmes. Diferente das dela, que haviam insistido em tremer quando ela se esforçara para aparentar calma, e para fingir estar pouco interessada nas respostas que ele dava a Melanie.
As mãos de Kane, que outrora a haviam tocado com tanto carinho. Ele lhe explorara o corpo e lhe descobrira a paixão escondida em seu íntimo.
Fechando os olhos, ela gemeu baixinho. Só de lembrar o passado e de vê­lo conversando com a filha, Moriah já pressentia o perigo de estar perto dele. Para sua total infelicidade, Moriah deu­se conta de como ele era atraente – ainda mais do que quando rapaz – e de que ainda o queria.
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Capítulo 4
– Recebemos a queixa sobre o desaparecimento de Homer – Judd Hensley, o xerife do condado, disse para Moriah no dia seguinte. – Rafe Rawlings vem nos perturbando sobre ele durante quase todo o mês. O problema é que não temos nenhum indício de que haja algo errado. Há anos que seu pai é um eremita. Que ele tenha saído para prospectar não é nenhuma novidade.
– Eu sei.
Moriah gostou do xerife. Ele parecia ser gentil.
– É claro que investigaremos se você achar algum indício de atividade criminosa. Caso contrário, receio não dispormos dos recursos para agir, baseado apenas no palpite de Kane de que algo está errado.
– Ah, ele lhe disse isso?
– É, ele também tem sido... uma pedra no sapato.
Moriah sorriu diante das palavras do xerife. Os habitantes de cidades pequenas podiam ser enxeridos, mas se preocupavam um com o outro. Sentira falta disso em Great Falls.
– Sua queixa torna o caso oficial – prosseguiu o xerife. – Ela está no banco de dados estadual, de modo que a patrulha rodoviária vai estar de olhos abertos para ver se ele aparece.
– Ótimo. – Ela levantou. – Obrigada pela ajuda.
– Gostaria de poder ter lhe dado melhores notícias. O xerife a acompanhou até a porta da delegacia.
Lá fora, Moriah ficou parada nos degraus que levavam à delegacia, admirando a paisagem ao seu redor. Do outro lado da rua, várias crianças brincavam em um parquinho, enquanto as mães conversavam umas com as outras, sentadas em bancos do parque. Ela gostava da tranqüilidade da cidade. Era um bom lugar para se crescer. Apesar de na época não ter dado o devido valor, ela gostara de morar lá. A cidade grande era solitária.
Ela cruzou a rua na direção da loja de roupas, onde Melanie a aguardava, experimentando o vestido de seda vermelho. A adolescente parecia tão adulta e sofisticada nele que Moriah chegou a sentir um aperto de medo no coração.
Ainda é cedo demais, gritou em seu íntimo. Ela ainda não estava pronta para isso. Queria sua menininha sorridente. Melanie não estava preparada para as decepções de ser uma mulher, de se Projeto Revisoras
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apaixonar e aprender que a vida não era perfeita...
– Não é lindo, mamãe? – Melanie girou na ponta dos pés, interrompendo os pensamentos perturbadores. – Não é perfeito?
– Hã, é. Quanto custa?
Com uma expressão apreensiva, Melanie franziu o nariz e estendeu a etiqueta do preço. – Ah, Melanie... – exclamou Moriah.
– Eu sei. É caro demais. – Ela suspirou e, depois, sorriu. – Talvez eu possa arrumar um emprego após o trabalho. Dessa maneira, eu poderia lhe pagar.
– E quanto ao seu trabalho no jornal?
– Não preciso ser a editora­chefe. – Ela voltou para o provador. – Mas sei que quer que eu seja.
– Pensei que era isso que você quisesse. Você e Jessy iam ser repórteres famosas, investigando corrupção e criminosos nos altos escalões...
– Pois talvez eu queira ser algo diferente. Talvez médica.
Moriah sabia muito bem o que – ou melhor, quem –provocara essa mudança de opinião. Kane Hunter já estava tendo uma profunda influência sobre a filha dela. E isso a preocupava. Moriah teve um pressentimento de que deveria pegar Melanie e voltar o mais rápido possível para Great Falls.
– Pensei em fazermos um piquenique para o almoço – sugeriu Moriah tentando animar a filha ao deixarem a loja. – Tem um parque logo no final do quarteirão.
– Tudo bem.
Moriah mentalmente repassou as finanças enquanto compravam frutas, pães e queijo em uma mercearia. Não havia como arrumar dinheiro para o vestido.
Ela foi tomada de ressentimento. Gostaria que, ao menos uma vez, fosse capaz de dar à filha algo que não fosse feito em casa, ou sobras da loja de Joleen. Melanie pedia tão poucas coisas. Mas o vestido era muito caro.
Após pegarem bebidas e pagarem tudo, seguiram para o parque do outro lado da delegacia de polícia. Encontraram uma mesa à sombra de um velho carvalho.
– Conte­me como foi crescer aqui – pediu Melanie. – Você costumava brincar no parque? – De vez em quando. Tinha muitas tarefas para fazer, de modo que ia direto para casa após a escola.
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– Porque vovó tinha de trabalhar?
– É. Eu cuidava da casa e deixava tudo pronto para o jantar. – E o que o vovô fazia?
– Ele trabalhava na serraria, quando ela ainda funcionava. Todas as primaveras, ele ficava inquieto e saía por aí explorando. Quando podia, eu costumava acompanhá­lo.
– A vovó deixava?
– Bem, ela não gostava muito, mas, durante o recesso escolar da primavera e as férias de verão, isso significava que eu não ficava no pé dela. Meu pai era um sujeito divertido...
A voz de Moriah falhou quando ela se deu conta de que isso era verdade. Seu pai sempre fora muito paciente com ela, ensinando­a sobre a floresta e a acampar.
– Mas isso foi há muito tempo – Moriah concluiu.
– Ali está o dr. Hunter – Melanie disse, subitamente. – Oi, dr. Hunter!
Moriah estremeceu, e depois forçou­se a relaxar.
– Pode me chamar de Kane – ele disse ao chegar à mesa. – Hum, um piquenique tradicional. Parece ótimo. Eu não tive tempo de almoçar.
– Sente­se – convidou Melanie. – Tem o suficiente para nós três.
Ela chegou para o lado, e Kane sentou. Moriah foi mais uma vez forçada a notar como os dois eram parecidos. O cabelo, os olhos... Ainda bem que as feições da menina vinham do seu lado da família.
– Você não se importa, não é? – ele perguntou quando já estava sentado.
– Não, é claro que não.
– Quer algo para beber? Eu posso ir buscar – ofereceu­se Melanie.
Ele pegou alguns trocados no bolso e os entregou à menina.
– Um chá gelado. – Certo.
Ela saiu em disparada da mesa.
– Ela é adorável – disse Kane. – As notas dela são boas?
– São. É uma das primeiras da turma.
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– Hum, é uma pena que ela não seja pelo menos um quarto ameríndia. Tem uma bolsa escolar tribal para medicina que, caso estivesse interessada, Melanie teria boas chances de conseguir.
Com a cabeça a mil, Moriah mordiscou um pedaço de queijo. Ela se perguntava se seria possível conseguir uma bolsa escolar sem revelar a identidade do pai de Melanie.
– O pai dela não seria ameríndio, seria? – Kane insistiu. Moriah umedeceu nervosamente os lábios.
– Talvez... em parte.
– Você não sabe?
Ela se sentiu como uma pessoa de pé em uma ponte que subitamente começara a ruir. Não sabia se seguia em frente ou voltava por onde viera.
– Acho que, em certa ocasião, ele mencionou algo a esse respeito. Eu... não prestei muita atenção. Na hora, não me pareceu importante.
– Pois podia lhe perguntar. Eu teria o maior prazer em escrever uma carta de recomendação ao conselho tribal em favor dela.
Ele sabia... Kane devia saber. Por que outro motivo... Não, não, ele não podia saber.
– E por... por que faria isso? – perguntou, receosa de que ele percebesse o medo em sua voz.
– Ela é inteligente, extrovertida e parece ser muito madura para a idade. – Kane sorriu. – Gosto dela, Ela é educada. Você fez um excelente trabalho...
– Obrigada.
Ele soltou um longo suspiro.
– Se você quiser, posso ir embora. Pode dizer para a sua filha que tive uma emergência médica para atender.
Moriah o fitou, sem entender o que ele queria dizer.
– Sempre que chego perto de você e de sua filha, olha para mim como se eu fosse Jack, o Estripador. O que diabos acha que vou fazer? Dizer para Melanie que, anos atrás, a mãe teve um caso com um índio?
Moriah ficou horrorizada diante da acusação.
– Não... Eu não acho isso. E só que... – Ela não podia dizer a verdade. – Encarar o passado está sendo mais difícil do que pensei.
– Tem vergonha do que houve entre nós? – ele perguntou após uma longa pausa.
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Moriah ficou ruborizada, mas em seguida empalideceu.
– Não quando aconteceu – sussurrou, com dificuldade. – Mas...
Ela não podia lhe dizer como se sentira tola quando a mãe lhe revelara como as coisas realmente eram.
– Mas mais tarde teve – ele concluiu.
– É, mais tarde, quando você não retornou meu telefonema.
Kane ergueu bruscamente a cabeça.
– Durante o recesso de primavera? Ela assentiu, trêmula.
– Mas eu liguei!
Ela odiava mentiras. Ficara em casa todos os dias, aguardando...
– Sua mãe disse que você não queria me ver.
Ela sacudiu a cabeça, recusando­se a acreditar em suas palavras. A mãe sabia como ela precisava desesperadamente ver Kane. Joleen ficara furiosa, porém surpreendentemente solidária, quando Moriah confessara sua gravidez.
– Ela jamais teria dito algo assim. Ele a fitou furiosamente.
– Ela me disse que mandaria me prender se eu não a deixasse em paz. – Ele soltou uma breve risada amarga. – Mas eu precisava ver para crer. No dia seguinte, fui até sua casa, determinado a fazê­la dizer na minha cara que não queria me ver novamente. Você já havia ido embora.
Moriah estava sentindo dificuldades para respirar. Não acreditava nele. Não podia acreditar.
– Minha mãe não mentiria para mim. Ela sabia... o que eu sentia.
– E o que você sentia? Faça­me entender como você pôde simplesmente dar as costas a tudo que aconteceu entre nós.
Ela se lembrou de como a mãe estava ansiosa para deixar a cidade antes que alguém descobrisse a gravidez. Joleen afirmara que Kane perderia a bolsa de estudos se fosse forçado a casar com ela, e que acabaria odiando Moriah e o bebê.
No final, fora por isso que partira. Não podia suportar a idéia de Kane de odiá­la e rejeitar o bebê.
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– Você jamais telefonou antes disso – ela acusou, defensivamente. – Após as férias natalinas, você nunca mais entrou em contato comigo.
– Eu escrevi, mas você nunca me respondeu. Depois, passei a trabalhar em dois turnos a fim de juntar dinheiro para voltar para casa durante o recesso da primavera. Para podermos ficar juntos – acrescentou.
– Eu não recebi carta nenhuma. Na Páscoa, vi o seu primo. Ele me contou que você havia chegado no dia anterior. Por que não me ligou?
– Já estava tarde. Na manhã seguinte, devido à bolsa, tive de me apresentar diante do conselho tribal, para relatar meu progresso. Era onde eu estava quando você ligou. Retornei o telefonema assim que fiquei livre.
– Foi então que minha mãe o ameaçou? – Foi.
– Entendo.
Ela o fitou nos olhos, tentando descobrir a verdade. Não podia crer que a mãe mentira para ela, no entanto, Kane a fitava sem nenhuma hesitação. Moriah começou a se sentir tonta. Percebeu que queria acreditar nele tanto que chegava a ser doloroso.
Kane praguejou baixinho.
– Você não acredita em mim, não é? Também não teria acreditado em mim na época. Acho que isso mostra o quanto eu realmente importei para você.
– O que quer dizer?
– Se realmente ama alguém, o certo seria acreditar nesta pessoa acima de tudo e todos.
Diante do olhar acusador de Kane, Moriah desviou o olhar. Confusa e insegura, tentou organizar na cabeça os fatos.
– Eu lhe escrevi. Mais tarde. Depois que nos mudamos para Great Falls – disse.
– Eu jamais recebi carta alguma. Eu também lhe escrevi, para o seu antigo endereço, aqui na cidade. Duas vezes. Minhas cartas retornaram. Vocês não haviam deixado o novo endereço.
Moriah parecia hipnotizada com a intensidade que via em Kane. Não entendia o que estava acontecendo. Queria acreditar nele, mas não podia.
A mãe jamais mentira para ela. Ela lhe dissera a verdade e a fizera enxergar que Kane a usara.
Diante do prolongado silêncio de Moriah, Kane deu de ombros.
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– Supus que não estava mais interessada. Por isso segui com a minha vida. Do mesmo modo que você obviamente fez. – Ele apontou com a cabeça para algo atrás dela. – Sua filha é adorável.
Moriah olhou para trás e viu Melanie chegando.
– Aqui está o seu chá – disse a adolescente, sentando­se novamente ao lado dele. Ela olhou de Kane para a mãe. – Vocês dois brigaram enquanto eu estava fora?
Melanie era perceptiva demais. E não tinha papas na língua. Moriah forçou um sorriso.
– É claro que não. – Ela apontou para a rua. – Eu estava notando as mudanças na cidade. Tem uma nova mercearia ali na esquina. Não me recordo o que havia ali antes.
– Um estábulo abandonado – informou Kane. – Ah, é.
– Considerando­se o tamanho da cidade, devia ser um estábulo pequeno – disse Melanie, virando­se para Kane.
Os dois passaram a conversar como dois amigos que há muito não se viam. Moriah não pôde deixar de achar isso perturbador. Mais perturbador ainda era o modo como se sentia ao olhar Kane do outro lado da mesa, conversando com a filha. Estava encantada.
Seu olhar focalizou­se na boca de Kane. Quando ele sorria, os dentes brancos contrastavam com a pele bronzeada. Ele parecia trabalhar ao ar livre e não em um consultório.
Quando Kane notou que ela o estava fitando, interrompeu brevemente a anedota que estava contando para Melanie. Seus olhares se encontraram, e Moriah sentiu o calor se acumular em seu abdome, naquele lugar secreto onde a vida se iniciava...
Ela abaixou os olhos, chocada com o rumo de seus pensamentos. Sem se alterar, ele prosseguiu com a história.
Ela ficou de pé abruptamente. Estava na hora de dar um basta naquele piquenique. Moriah precisava se afastar para... reerguer suas defesas.
– Se quiser mesmo aquele vestido vermelho, podemos abrir um crediário...
– Mamãe! – exclamou Melanie. – Está falando sério?
– Terá de me ajudar a pagar.
– Arrumarei um emprego. Eu prometo. Até farei uns bicos de babá.
Moriah se viu forçada a sorrir. A filha havia desenvolvido uma grande aversão pelo serviço de babá, depois de ter tomado conta dos filhos de um pastor durante um verão. Os meninos haviam se Projeto Revisoras
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mostrado verdadeiras pestes.
– É uma pena você não morar por aqui – comentou Kane. – Você poderia ser útil no meu consultório. Minha secretária casou e deixou inesperadamente a cidade. Eu e a enfermeira ainda não colocamos outra no lugar.
– Mamãe é uma excelente secretária – disse Melanie. – Deveria contratá­la.
– Já tenho emprego. – Moriah apressou­se em informar. – Meu patrão foi muito gentil em me deixar tirar alguns dias, mas tenho de estar de volta na segunda.
– É verdade – Melanie confirmou, mas, por trás do sorriso inocente, Moriah podia ver as engrenagens girando em sua cabeça.
Precisava ter uma conversa muito séria com a filha. Ela tinha de parar com essa história ridícula de bancar o cupido.
– Quais são seus planos enquanto está aqui? – perguntou Kane.
– Amanhã, pensei em dar um pulo no chalé.
Ele assentiu, pensativamente.
– Vai haver uma dança na reserva amanhã à noite, para levantar dinheiro para o fundo de educação da tribo. Vocês querem ir?
– Acho que não.
– Mas, mamãe, eu nunca fui a um baile indígena – protestou Melanie, com um olhar suplicante.
Kane fitou desafiadoramente Moriah.
– Haverá muitas coisas interessantes para fazer... Algumas até educativas.
Melanie suspirou.
– Parece que vai ser divertido – ele continuou. Moriah sabia que estava sendo manipulada, mas não conseguiu pensar numa saída com dignidade.
– Suponho que possamos ir.
– Eu as pegarei às 18h – disse Kane, tomando um último gole do chá e levantando.
­Tenho o meu próprio carro – Moriah gritou para ele. – Não precisa se dar ao trabalho de nos pegar.
– Não é trabalho algum.
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Kane jogou a lata de chá no lixo e seguiu rua abaixo, na direção do consultório.
– Uau – disse Melanie. – Ele é tão legal.
Moriah olhou séria para a filha e começou o sermão sobre ela querer bancar o cupido, que há muito já deveria ter feito.
– Sinto­me como a prisioneira branca em um filme – Melanie sussurrou para Kane e Moriah quando eles se aproximaram do círculo de dançarinos.
– Tem um bocado de brancos aqui – observou Kane.
– Pensei que índios... hã, ameríndios, não gostassem de gente de fora vendo suas danças cerimoniais.
Kane sorriu.
– Bem, nós, índios, descobrimos que vocês, brancos, pagam um bocado de dinheiro para nos ver dançando com nossas penas coloridas. A dança não passa de um espetáculo. Não é uma cerimônia de verdade.
– Provavelmente a dança serve apenas para lançar uma praga sobre a cabeça de nós, brancos. Para nos dar ver­rugas ou urticária.
– Hum, sabe que vou dar essa idéia na próxima reunião do conselho tribal?
Moriah ficou impressionada com a facilidade com que os dois provocavam um ao outro. Kane e Melanie estavam se dando muito bem. Pareciam ter o mesmo tipo de senso de humor. Ela suspirou e torceu para que a noite terminasse logo. Essa viagem fora um erro desde o começo.
– Ali estão o xerife e a esposa – disse Kane. Moriah reconheceu Judd Hensley. A mulher agarrada ao seu braço devia ser a esposa. Sua gravidez já estava em um estágio bem avançado, e ela se movia muito lentamente. Seu cabelo também era ruivo, mas mais claro que o de Moriah. A pele era clara e exibia uma tendência a sardas. Moriah simpatizou com ela na mesma hora.
Kane encarregou­se das apresentações e, depois, dirigiu­se à futura mãe.
– Tracy, como está se sentindo?
– Enorme, impaciente, prestes a estourar. Pode escolher – ela disse, com um sorriso triste.
– Maggie Hawk diz mais ou menos a mesma coisa – disse Kane. – Jackson diz que está impossível conviver com ela.
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– É mesmo? Eu não o vi na rua procurando sorvete de marshmallow domingo passado, às 2h da madrugada? – contou o xerife. – Garanto que, no tocante a desejos impossíveis, Maggie não chega nem perto de Tracy. E você não colabora nem um pouco.
– Minhas pacientes devem ter seus desejos satisfeitos – afirmou Kane, solenemente. – O sorvete pode ter algum ingrediente de que ela precisa.
– Pois sim!
Diante do modo como Judd zombava da afirmação do de Kane, Moriah se viu rindo com Tracy Hensley. Mais tarde, quando os homens estavam conversando sobre outra coisa, Tracy confessou que perdera um bebê no ano anterior e que, desta vez, seu marido e o médico estavam pisando em ovos com ela.
– Ali estão Maggie e Jackson Hawk. E Winona. Vocês já conhecem Winona Cobbs? – perguntou Tracy. – Ela é a vidente local.
O casal e a mulher mais velha se aproximaram. Kane apresentou Moriah e Melanie ao primo e à esposa grávida, depois à vidente, uma mulher baixa e rechonchuda de cabelos grisalhos.
– Você é a filha de Homer, não é? – perguntou a j/i­dente.
Moriah confirmou.
– E esta...
Winona se interrompeu. Subitamente, ela parecia confusa. Olhou para Melanie, depois para Kane, então de novo para a menina. Levou a mão à garganta, como se estivesse sentindo uma emoção forte demais para ser ignorada.
Trêmula, Moriah começou a sentir o coração batendo forte.
– Winona? – A esposa do xerife segurou o braço da mulher idosa.
– Estou bem. É só... Por um segundo, pensei... Não importa.
Moriah teve o estranho pressentimento de que a mulher sabia exatamente quem Melanie era. Ela se viu consumida pelo medo. Cada dia que passava em Whitehorn aumentavam as chances de a verdade vir à tona. No entanto, não podia simplesmente voltar para casa e esquecer o pai. Sentia­se prisioneira de um destino que não podia ignorar.
– Você viu algo a respeito do pai de Moriah? – indagou Tracy.
– Não. –Winona estudou Moriah e, depois, perguntou a ela: – Por que não almoçamos juntas amanhã? Gostaria de conversar com você.
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– Melanie e eu vamos procurar o meu pai amanhã – ela respondeu, recusando o convite. – Temos de voltar para Great Falls no domingo. Tenho o meu trabalho e ela tem escola.
– Pensei que o tinha ido procurar hoje de manhã – disse Kane.
– E fomos. – Melanie desviou o olhar dos dançarinos que estava admirando. – Exploramos toda a área ao redor do chalé, mas não encontramos nem sinal do meu avô.
– Minha tia está preparando pão frito na sua barraquinha – informou Jackson, mudando de assunto. – É por minha conta.
– Pão frito! – exclamou Tracy. – Tenho sonhado com isso.
– Pois é melhor aproveitar agora – aconselhou o xerife. – Porque eu é que não vou sair por aí às 2h da madrugada em busca de pão frito.
Rindo, os dois casais acompanhados de Winona, Kane, Moriah e Melanie pegaram alguns pratos de pão frito coberto com mel e seguiram para uma mesa.
– Isso é delicioso – afirmou Melanie.
Moriah admirou Kane quando ele enrolou habilmente a sua fatia e a comeu sem deixar o mel pingar. Ela tratou de imitá­lo.
Seu olhar encontrou o da vidente. A expressão da mulher era de solidariedade. Era como se ela soubesse o que havia acontecido no passado e a agonia que Moriah sentira, de como se sentira traída ao se dar conta de que Kane não viria em seu socorro.
Melanie agarrou o seu braço.
– Olhe, mamãe, ele está vindo para cá.
Moriah seguiu o olhar da filha e avistou um jovem usando jeans, botas de caubói e uma camisa xadrez. Tinha olhos azuis e cabelos escuros, parcialmente ocultos pelo chapéu de aba larga. Devia ter seus 20 anos de idade. Velho demais para Melanie. Ele se deteve diante da menina.
– Quer dançar? – perguntou, sorrindo.
Melanie olhou para Moriah. O brilho no olhar da menina dizia que ela queria, mas Moriah hesitou.
– Este é Keith Colson – apresentou Judd. – E eu posso lhe garantir que ele é boa gente. Trabalha em um dos ranchos da região, e na primavera vai para a faculdade.
Moriah ficou surpresa. O rapaz parecia ser bem mais velho do que um formando de escola Projeto Revisoras
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secundária.
– Muito bem – ela murmurou.
Melanie levantou­se com um pulo, deu a mão ao caubói e os dois se juntaram à dança.
– Se quiser, também podemos tentar – ofereceu Kane.
Ele levantou e estendeu­lhe a mão.
Moriah também levantou e pousou a mão na dele. Um leve choque percorreu seu corpo.
O ritmo da música foi ficando mais acelerado. Os casais davam voltas cada vez mais rápidas, e as saias das mulheres agitavam­se quando elas eram giradas pelos parceiros. Moriah teve facilidade em seguir os passos de dança. Ao erguer o olhar, encontrou Kane estudando­a com um sorriso no canto da boca. Ela retribuiu sem pensar.
A batida dos tambores invadia seu corpo. Inclinando a cabeça, escutou a música, sentindo as vibrações através do solo sob seus pés, e, lentamente, começou a se sentir viva.
Kane a fitava, mudo, raramente piscando, os olhos escuros fixos nela. De repente ele a levantou, as mãos fortes segurando­lhe a cintura, puxando­a para perto, de modo que as coxas de Moriah repousassem sobre seu peito, enquanto ele a mantinha no alto. Devagar, com o corpo dela colado no seu, ele a pousou no chão, ao mesmo tempo que a música terminava abruptamente em um rufar de tambores.
Seus seios subiam e desciam de encontro ao peito dele. Kane também estava ligeiramente ofegante – como um grande puma após uma ligeira perseguição. Com o cabelo em desalinho, ele parecia mais jovem, como o rapaz por quem ela, há muito tempo, se apaixonara.
Não, de novo, não. Ela se recusava a ceder ao feitiço dele uma segunda vez.
Moriah afastou­se de Kane e ajeitou os cabelos. Ele a acompanhou até uma das barraquinhas, onde pediu uma cerveja para si mesmo, depois a fitou.
– Um refrigerante – ela disse, não precisando de nada que pudesse deixá­la tonta.
– Você ainda gosta de dançar – ele disse baixinho.
– Gosto.
Com esforço, ela desviou o olhar. Haviam dançado inúmeras vezes, nus no quarto dela, perdidos na música do amor, no compasso de seus corações...
Kane fora o único homem com quem ela havia sido sincera, livre e feliz. Já tentara se portar do mesmo modo com outro homem, após ela e Melanie terem se mudado, mas a relação não dera certo. Jamais seria capaz de confiar do mesmo modo.
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– Por que você jamais voltou? – ele indagou.
– Não podia.
Ele assentiu, como se compreendesse, embora ela soubesse que não era esse o caso. O que ele teria feito se soubesse a respeito de Melanie? Será que, como a mãe previra, teria acabado odiando­a por privá­lo de seus sonhos? Ou será que eles teriam conseguido sobreviver?
Capítulo 5
Moriah não teve como deixar de notar a mão de Kane em suas costas quando retornaram à mesa e se juntaram aos outros casais. Ela se esforçou para não perceber como Maggie e Tracy estavam felizes.
Ela procurou Melanie e a avistou a alguns metros de distância, conversando com o jovem caubói. Sentiu um aperto no coração diante da ternura no olhar dos dois. Ela conhecia bem aquele olhar. Sentiu­
se consumida pelo medo. Sua menininha estava crescendo e se apaixonando.
Censurou­se por estar sendo tão precipitada. Melanie tinha apenas 16 anos de idade. Ainda estava longe de se apegar seriamente a alguém. Logo estariam de volta a Great Falls e tudo ficaria bem.
– Ah, lá vem Lori – disse Winona.
Moriah olhou ao redor e seu coração foi ao pé e voltou. É, de fato se recordava de Lori Parker. Lori havia sido líder de torcida quando Moriah estava no último ano da escola. Ela era o protótipo da garota americana – loura, de olhos azuis, magra, mas com um corpo maravilhoso.
Inteligente, também. Parteira era quase o mesmo que médica.
Ela engoliu em seco quando Kane levantou e caminhou na direção de Lori, que estendeu a mão para ele. Kane a puxou para si, e eles se beijaram. Nada muito ousado ou constrangedor, mas, devido a sua naturalidade, bastante revelador.
Se ela já não soubesse antes, agora não teria mais dúvida. Os dois eram muito bons amigos.
– Todos os bebês chegaram sem problemas? – perguntou Maggie.
– Graças a Deus – disse Lori. – Agora, a corrida é entre você e Tracy.
Ela sorriu para as duas mulheres grávidas.
– Eu quero ser a próxima – declarou Tracy. Projeto Revisoras
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Maggie assentiu.
– Eu também.
– Bebês fazem o próprio horário – alertou Kane.
– Pensei que você ia estar no hospital – disse Lori. Ela sorriu para os outros. – Kane adora bebês. Mal consigo me livrar dele quando tenho um parto. Ele dedica interesse pessoal a cada bebê do condado.
Ele riu, mas não a desmentiu. Depois, fez um gesto na direção de Moriah.
– Lori, você se lembra de Moriah Gilmore? Ela já morou em Whitehorn e cursou a escola aqui. Estava uns dois anos à sua frente.
– Na verdade, três. – Moriah corrigiu, forçando um sorriso.
Lori estudou Moriah e depois sorriu.
– É claro. Você costumava trabalhar na secretaria da escola quando a secretária saía para o almoço. Era a única aluna na qual confiavam para fazer isso. Sempre a invejei por isso.
– Você me invejou? Você foi a única caloura que chegou de cara à equipe de líderes de torcida. Todos os meninos babavam por você e as meninas morriam de inveja.
– Aquela ali conversando com Keith é a filha de Moriah, Melanie. – Kane mostrou.
Ele ofereceu a cadeira para Lori sentar entre ele e Winona.
– Ela é linda – Lori disse com sinceridade.
– Obrigada – agradeceu Moriah.
Depois disso, a conversa se voltou para amenidades. Moriah não prestou muita atenção. Quando Kane levantou para dançar uma música lenta com Lori, os outros casais os acompanharam. Moriah notou que Melanie e Keith estavam dançando novamente.
– Sua filha é realmente linda – comentou Winona. – Posso ver que vocês se amam muito. É bom ver uma mãe e filha que se dão tão bem.
Moriah sorriu.
– Às vezes, acho que ela me foi dada por engano.
– Como seria esse mundo se todos nós considerássemos nossos filhos verdadeiras dádivas? – filosofou a vidente.
– Cheio de adultos mimados, eu suponho – retrucou Moriah. – Você tem filhos?
– Não. Jamais tive o privilégio. – Ela ficou em silêncio por um instante, observando os casais Projeto Revisoras
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dançando. – Kane sabe?
Por um instante, Moriah ficou paralisada.
– Sabe o quê?
– Sobre a filha dele.
Levando as mãos ao peito, Moriah fitou em desespero a mulher idosa.
– Como você soube? – sussurrou. – Acha que... será que mais alguém sabe?
– Não, não. – Winona tranqüilizou­a. – Só eu. Às vezes eu capto essas... acho que poderia chamá­las de vibrações.
Quando olhei para Kane e sua filha, pude ver o vínculo entre os dois, como se compartilhassem a mesma aura.
– Éramos tão jovens – explicou Moriah. – Eu ainda estava na escola secundária. Kane estava no primeiro ano da faculdade.
– E a sua mãe resolveu levá­la para longe – concluiu Winona.
– É. Decidimos ser melhor assim. Winona sacudiu a cabeça.
– Deveria ter deixado Kane participar de tal decisão. Ele vai ficar furioso quando souber que...
– Ele não vai descobrir. Em breve partiremos, e jamais trarei Melanie de volta.
A mulher idosa fechou os olhos.
– Não – disse. – Seu pai precisa de você. Deve ficar aqui.
Moriah ficou toda arrepiada diante das palavras de Winona, que abriu os olhos e pousou a mão em seu braço.
– Seu futuro reside aqui. Você já se recusou a enfrentá­lo uma vez. Agora deve fazê­lo.
– O que... quer dizer?
– Não sei – confessou a vidente. – É apenas um pressentimento. Por mais que doa, precisa ficar. – Ela afastou a mão. – Precisa.
Dividida entre o seu dever para com o pai e para com a filha, Moriah levou a mão à testa. Não sabia o que fazer.
Quando Kane e Lori voltaram para a mesa, estavam rindo.
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– Que tal algo para beber? – ele sugeriu, olhando para os outros que estavam se sentando.
– Uma limonada gelada seria ótima – pediu Tracy. Moriah olhou ao redor, procurando Melanie e o caubói.
– Relaxe – aconselhou Kane. – Eles estão na barraquinha de sucos.
– Deixe­me ajudá­lo a trazer tudo – Moriah se ofereceu.
– Eu vou – disse Lori. – Você é visita.
O comentário inocente fez Moriah se sentir uma intrusa. Censurou­se por sua estupidez por ter vindo com Kane, e não com o próprio carro. Agora estava presa. A não ser que usasse a mais velha das desculpas para sair de uma situação constrangedora.
Quando Kane e Lori voltaram com as bebidas, e ele a convidou novamente para dançar, Moriah sacudiu a cabeça.
– Gostaria de ir para casa. Minha cabeça está doendo.
A expressão do rosto de Kane ficou séria, mas ele assentiu.
– Assim que essa música terminar, vou chamar sua filha – ele prometeu.
Por fim, a música terminou e a banda fez um intervalo. Kane fez sinal para Keith, que na mesma hora trouxe Melanie de volta.
– Temos de ir – ele disse para o casal. – A mãe de Melanie está com dor de cabeça.
– Eu teria o maior prazer em levar Melanie para casa após a dança – ofereceu Keith. – Deve acabar à meia­noite. Eu a deixarei em casa à meia­noite e meia.
Melanie lançou um olhar de suplica para a mãe, e depois abaixou a cabeça.
O silêncio tomou conta do grupo. Todos esperavam a decisão de Moriah.
– Keith é bom motorista – disse Kane.
– Muito bem. – Moriah aceitou, derrotada pela própria vontade de ir embora e pela compreensão da vontade dos jovens de ficarem.
– Obrigada, mamãe – disse Melanie, beijando­lhe o rosto. – Lamento pela sua dor de cabeça. Não se preocupe, eu voltarei na hora combinada.
Kane tocou no ombro de Lori.
– Até mais tarde.
Ela assentiu e sorriu para Moriah.
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– Seja bem­vinda de volta a Whitehorn.
Moriah agradeceu e despediu­se do grupo. Sabia que todos os olhares estavam voltados para ela, quando seguiram para o estacionamento.
– Você costuma ter enxaquecas? – Kane perguntou quando já estavam pegando a estrada.
– Não. Às vezes tenho crises. Tenho várias em seqüência, e depois fico um tempo sem ter nada.
– Hum, parecem ser motivadas por estresse, embora também possam estar sendo provocadas por hormônios.
Moriah não gostava quando ele bancava o médico com ela. Não era paciente de Kane e não queria nem os conselhos nem a preocupação dele.
– Na verdade, não estou com dor de cabeça, só queria ir embora – admitiu.
– Entendo.
Ele parecia surpreso com a franqueza dela.
– Não é nada agradável segurar vela em funções sociais.
– A chegada de Lori – ele murmurou. – Você se sentiu sobrando.
A compreensão de Kane a surpreendeu.
– Não sabia que ela viria.
– Isso só piora as coisas. Parece que estávamos fazendo algo escondido dela.
– Lori jamais pensaria assim. Ela me conhece.
Ou seja, Lori confiava nele, ao passo que Moriah não tinha confiado. Kane só as convidara porque achara que Melanie iria se divertir. Endireitando­se, Moriah fitou a estrada escura através da janela. Precisava ter cuidado com o que dizia para Kane, caso contrário poderia deixar a verdade escapar em um momento de fúria – que sua confiança nele fora destruída quando ele a abandonara, sozinha e grávida, muitos anos atrás.
E, sabendo disso, ele provavelmente descobriria toda a verdade. E o que faria então? Tiraria Melanie dela, foi a resposta que lhe veio à cabeça.
– Precisa ficar atenta à sua atitude ao lidar com Melanie – ele disse, ao entrarem na cidade.
– O que quer dizer?
– Você parece possessiva, como se não quisesse que ela se relacionasse conosco, os habitantes da cidade. Sua mãe era assim com você.
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Indignada, ela se empertigou. Ele nada sabia a respeito de sua vida, no entanto, obviamente, se sentia no direito de lhe dar conselhos.
– Não sei do que está falando – disse friamente.
– Nunca se perguntou o motivo de Joleen mantê­la sempre tão ocupada? Suas tarefas lhe deixavam muito pouco tempo para fazer amizades ou participar de atividades escolares. Ela a mantinha em rédea curta.
– Talvez outrora isso tenha sido verdade, mas não é mais o caso. – Quando Melanie crescera o suficiente para responder à avó, Moriah percebeu quanto Joleen gostava de mandar nelas e controlar suas vidas. Foi então que saíra de casa com a filha. – De qualquer modo, Melanie é decidida demais, e está acostumada a fazer as coisas do próprio jeito. Com freqüência maior do que deveria, de acordo com minha mãe.
– Aposto que sim – ele retrucou, com secura. – Ficarei de olho nos jovens na festa e lembrarei Keith de levar sua filha direto para a pousada, está bem?
– Obrigada.
Quando ele parou diante da pousada, ela desceu antes que Kane tivesse a chance de abrir a própria porta. As desculpas dele a detiveram.
– Lamento pelo ocorrido dessa noite. Não pensei como você poderia se sentir caso Lori aparecesse.
– Não importa – ela retrucou, após um instante de hesitação. – Lori foi muito gentil.
– Ela é. – Foi a resposta dele.
Ela o agradeceu pela carona e entrou na casa. O relógio marcava 9h20. Três horas até o término da festa.
Da janela do quarto, pôde ver que a caminhonete de Kane ainda estava estacionada diante da pousada. Ela podia ver­lhe a silhueta sob a luz de um poste. Ele estava inclinado sobre o volante, fitando a casa. Mesmo sem lhe ver o rosto, imaginou a expressão séria dele. Kane devia estar tentando entendê­
la.
Moriah sacudiu lentamente a cabeça, jurando que ele jamais saberia quanto ela o amara, jamais descobriria do quanto de seus sonhos ela abrira mão em favor dos dele.
Tivera receio de que ele não seria capaz de estudar e cuidar de uma família, de que ele não se formaria...
Kane adora bebês.
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O comentário de Lori ainda ecoava em seus ouvidos. Moriah foi forçada a se perguntar se não havia tomado a decisão errada, anos atrás.
Melanie deu a volta no chalé.
– Nem sinal do vovô – anunciou. Enfiando as mãos nos bolsos, inspirou profundamente. – Adoro o cheiro da mata.
Distraída, Moriah assentiu.
– Eu gosto mesmo daqui, mamãe. E se ficássemos aqui?
Quando Melanie cismava com algo, não largava o osso.
– Não podemos ficar aqui. Você tem...
– Escola – ela completou. – E você tem o seu trabalho. – A menina chutou uma pedra. – Você podia trabalhar para Kane. Ele precisa de alguém.
Por um instante, Moriah se deixou sonhar. Trabalhar com Kane, e depois compartilhar com ele o restante do dia, morando juntos, fazendo amor...
– Melanie, por favor – disse, zangada.
– Tudo bem. Mas ia ser ótimo. Da mesma forma que vou à escola em Great Falls, poderia ir em Whitehorn. Gosto mais daqui.
– Por ora. Enquanto tem uma queda por Keith Colson. E se ele conseguir um emprego melhor em algum outro lugar?
– Ele quer cursar a faculdade e estudar administração, mas para isso precisa melhorar as notas. Um dia, ele vai trabalhar para o serviço de agricultura estadual e orientar rancheiros a cuidar melhor de seu gado.
– Entendo. – Moriah caminhou até a borda de um despenhadeiro e admirou o vale abaixo. – Onde estará meu pai? – perguntou.
A pergunta fora dirigida ao céu, à terra, à mata. Mas não obteve resposta. Moriah sentou em uma pedra.
– Não sei o que fazer.
– Fique – disse Melanie. – Ligue para o seu chefe. Tenho certeza de que a sobrinha dele não se importará de ficar mais algum tempo.
– É disso que tenho medo! – Moriah suspirou.
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– Ligue para o escritório – insistiu Melanie. – Você ainda tem férias a tirar. Sabe que não vai descansar até encontrar o vovô, de modo que é melhor dispor de tempo para procurá­lo.
– Talvez. Vamos ver. – Tratou de acrescentar ao ver o sorriso de alegria de Melanie.
Passaram o restante do dia vasculhando a região. Moriah lembrava­se claramente dos antigos pontos de referência, como se tivesse um mapa em sua cabeça. Sentia­se conectada àquela terra de um modo que não podia explicar, nem entender. Aquele era o seu lugar.
– Ligarei para o meu chefe quando voltarmos à pousada – disse para a filha.
– Maravilha! – disse Melanie, sorrindo.
– Você vai ter de ficar com a sua avó e freqüentar a escola.
Isso cuidou de apagar­lhe o sorriso. Pelo menos por um instante.
– O Natal não está longe – disse a menina. – E posso vir nos finais de semana. Vai dar certo. Sei que vai.
– Serão apenas duas semanas – afirmou Moriah.
Ao pousar as malas no chão, Moriah desejou se sentir tão confiante quanto a filha no tocante ao futuro.
No domingo à tarde, dirigira até Great Falls. Melanie ficara com Joleen – após prometer obedecer fielmente à avó durante a sua estada – e Moriah pegara mais roupas para levar a Whitehorn.
Seu patrão não se importou de lhe dar férias para que ela pudesse procurar o pai desaparecido. No fundo, ela não pôde deixar de pensar se realmente voltaria para Great Falls.
Cada vez mais sua consciência a importunava sobre – esconder a verdade. Sabia que, quando Kane descobrisse a verdade, iria querer a filha perto dele, e Melanie também ia querer conhecer o pai.
Era algo para o qual teria de se preparar. Se tivesse um emprego na cidade, poderia ficar perto da menina.
Ela suspirou e olhou ao redor. Para economizar, havia decidido ficar no chalé do pai.
Pegando o saco de dormir, ela o abriu e empurrou as malas para baixo da cama. Depois, fez uma faxina no chalé, varrendo, tirando o pó e lavando as janelas.
O pai sempre fora uma pessoa cuidadosa e organizada. Ela se lembrou de como ele costumava cuidar bem do jardim na antiga casa deles. Homer sempre gostara de trabalhar ao ar livre.
Talvez devesse ter sido caubói. Não, a mãe teria detestado isso. Joleen só iria se interessar pela Projeto Revisoras
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terra se pudessem ter tido o próprio rancho.
Durante a adolescência Moriah sempre se indagara o porquê de os pais terem casado. Aos 16 anos de idade, se dera conta da resposta. Seu aniversário era sete meses após o aniversário de casamento deles.
Pegando uma banana e uma barra de cereal dos mantimentos que comprara, ela seguiu para a varanda, onde sentou no chão.
Não era justo que as pessoas se sentissem atraídas pelas pessoas erradas, pensou enquanto comia.
Suspirando, frustrada, ela terminou o lanche e decidiu dar uma volta. Uma hora mais tarde chegou a uma encosta alta, maior do que aquela perto da cabana.
A vastidão diante de si a fez se sentir solitária. Estava sozinha ali. Jamais tivera a facilidade de Melanie para fazer amigos.
Tal pai, tal filha?
É, Kane também tinha a capacidade, a autoconfiança de se sentir à vontade, independente de onde estivesse.
Até mesmo a mãe gostava de ter gente por perto. Adorava conversar com os clientes da loja. E eles também gostavam dela.
Por que ela, aos 34 anos de idade, não podia lidar mais facilmente com as pessoas? Só com Kane, ela...
Moriah ignorou o resto do pensamento. Com Kane ela fora tola e ingênua. Ele libertava algo de selvagem e imprevisível nela que precisava ser contido.
Um trovejar baixinho a surpreendeu. Por sobre o ombro, avistou nuvens de tempestade sobre as montanhas, atrás dela. Era melhor voltar para o chalé.
Ela se apressou, mas a tempestade foi mais rápida. A chuva torrencial logo a deixou encharcada.
Ao chegar ao final da trilha que levava ao chalé, em vez de correr para se abrigar ela parou, virou o rosto para o céu e estendeu os braços para os lados, como se a chuva fosse o seu amante.
Por um instante, esqueceu­se de tudo, esqueceu­se de quem era, esqueceu­se dos problemas que a afligiam. Queria apenas se lembrar daquele momento e de sua beleza, quando a chuva desceu sobre o vale como um véu de seda. Teve vontade de voar, voar bem alto até atingir o firmamento, tornando­se parte da criação...
Já se sentira assim antes. Durante um mês, o mundo fora dela... Dos dois.
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O tempo parou, e Moriah não soube dizer quanto tempo ficara ali, sentindo­se parte da terra e do ar, do céu e da chuva. Enfim, se deu conta de que estava tremendo.
Com um último olhar para o céu, abaixou a cabeça e correu para dentro da casa, fugindo da menina que outrora amara Kane Hunter com todas as forças.
Capítulo 6
Kane tinha um dia tranqüilo programado para aquela terça na clínica. A uma da tarde, deixou a sala de exames e foi almoçar com o primo, depois verificou o estado de quatro pacientes pós­operatórios e seguiu para a cidade.
Depois de trocar de roupa, lembrou­se de que Moriah havia retornado, e estava no chalé de Homer, procurando por ele. Resolveu ligar para o rancho dos Kincaid.
Instantes depois, pôs­se a caminho. Quando chegou ao rancho, Dugin Kincaid já havia atrelado um reboque com dois cavalos a uma caminhonete com motorista e estava apenas aguardando­o.
– Obrigado, Dugin – disse Kane, apertando­lhe a mão.
– Agradeço a ajuda.
– Não tem de quê.
Usando um par de sandálias de salto alto e uma roupa cheia de babados, pouco práticos para um rancho, Mary Jo, a esposa de Dugin, cruzou o pátio e se juntou a eles.
– Olá, Mary Jo – Kane cumprimentou.
– Kane, é bom revê­lo.
Ela estendeu a mão de tal modo que o médico não sabia se deveria apertá­la ou beijá­la. Optou por apenas apertá­la brevemente.
– É bom revê­la – disse, dando­se conta de como suas palavras eram insinceras.
Mulheres frívolas lhe davam nos nervos. Lori e Moriah – o segundo nome apareceu em sua cabeça sem ser solicitado – eram mulheres inteligentes, práticas e não tinham medo do trabalho. A maquiagem perfeita ou os cabelos impecáveis não eram a primeira prioridade delas...
– Não se preocupe em devolver os cavalos. Mandarei alguém pegá­los amanhã de manhã – disse Projeto Revisoras
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Dugin.
– Obrigado.
Kane voltou a subir na própria caminhonete. Pegou a estrada, seguido de perto pelo motorista do veículo com reboque. Minutos depois, chegaram à clareira diante do chalé.
O lugar estava em silêncio. Ele ajudou o motorista a descarregar os animais, que já estavam selados.
Depois que o vaqueiro foi embora, Kane seguiu para o chalé e bateu à porta, embora tivesse quase certeza de que Moriah não estava lá. Provavelmente estava por aí, procurando Homer a pé.
Ele agachou­se e estudou as pegadas diante do chalé. Quando teve certeza da trilha que Moriah havia tomado, montou em um dos cavalos, prendeu a rédea do outro em sua sela e se pôs a caminho. Uma hora mais tarde a encontrou, retornando à trilha principal, vinda de uma secundária.
Ela se deteve ao avistá­lo.
– O que está fazendo aqui? – exclamou. Parecia cansada e irritada.
– Procurando Homer – ele retrucou, esforçando­se para manter um tom neutro. – Parece que uma folga lhe cairia bem.
Kane desceu do cavalo e lhe estendeu o cantil que trouxera consigo.
Moriah hesitou. Ele chegou a pensar que ela ia recusar, mas o bom senso sobrepujou o orgulho. Ela aceitou o cantil e tomou um demorado gole.
Da bolsa na cintura, ele retirou um sanduíche de lingüiça.
– Lamento – disse. – Mas, na pressa, foi o melhor que eu consegui.
– Está ótimo. – Ela sentou em um toco de árvore e desembrulhou o sanduíche. –Almocei na metade da manhã. Há horas que estou com fome. – Antes de morder, olhou para ele. – Trouxe mesmo a comida para mim ou estou roubando o seu almoço?
– Almocei há mais de uma hora. Mas achei que, no meio de toda essa confusão, você poderia acabar esquecendo, de modo que passei na loja de conveniências.
– Obrigada. Foi... muita consideração de sua parte. Ele notou que Moriah quase engasgou com as palavras.
Mas preferiu deixar para lá. Viera até ali procurar Homer, e não discutir.
– Quais foram as trilhas que você vasculhou? – perguntou.
Discutiram as possibilidades e, depois, decidiram seguir para oeste. Com os cavalos, poderiam Projeto Revisoras
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verificar toda a área e voltar para o chalé antes de escurecer.
Após montarem os cavalos, Moriah deixou Kane ir na frente, levando em consideração o fato de ele ser melhor em seguir pistas do que ela e, claro, conhecer o lugar. Moriah chegou até a relaxar um pouco, e a aproveitar o passeio. Seu objetivo podia ser sério, mas isso não a impedia de apreciar a vista ao redor.
Ela inspirou profundamente o ar puro, saboreando o suave cheiro de pinho misturado com menta. Sentiu vontade de jamais ter de ir embora. Desejou que os dois não passassem de um homem e uma mulher se conhecendo pela primeira vez, e se apaixonando. Desejou...
Fechando os olhos, esforçou­se para afastar da mente os sonhos tolos. Há muito que eles tinham perdido sua chance. Haviam se conhecido jovens demais.
Aos 17 e 18 anos, não tinham o controle das próprias vidas. Isso não os impedira de se apaixonar, mas, sem dúvida, havia interferido no que acontecera depois. Tantas coisas interferiram. A faculdade de Kane. A mãe dela.
– Está se sentindo bem? Ela abriu os olhos.
– Estou.
– Vamos parar um pouco e deixar os cavalos descansarem no topo da colina.
Ela assentiu.
Sem encontrar sequer uma pista do pai de Moriah, os dois desmontaram e Kane puxou os cavalos até uma nascente d'água.
– Olhe – ele murmurou suavemente, logo atrás dela. Ele apontou para a mata. Um cervo e uma corça estavam parados ali, observando­os.
Moriah ficou imóvel. O silêncio os cercava. Sentiu o ombro de Kane roçar no dela. Olhou para ele e sorriu. Seus olhares se encontraram. Ela se sentiu invadida pela ternura nos olhos dele.
O sorriso de Kane desapareceu. Ela viu o olhar descer de seus olhos até a boca. Seus lábios pareceram se incendiar. O ar lhe pareceu mais pesado. Ela precisou entreabrir a boca para poder respirar.
Com uma das mãos, Kane acariciou­lhe a face. Moriah estremeceu, então mordeu o lábio inferior em uma tentativa de lhe conter o tremor. Ele passou o dedo sobre o lábio aprisionado. Moriah fechou os olhos.
Ele ticou­lhe aborda dos dentes. Um calor se espalhou pelo corpo de Moriah. Ela escutou a Projeto Revisoras
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própria respiração, e depois a dele, sua pulsação... a dele...
– Moriah – ele disse, com um som gutural de desejo. Com esforço, ela abriu os olhos, desejando que o momento jamais terminasse, mas também querendo que ele progredisse. Queria saciar o desejo dele...
Kane virou­se, praguejando baixinho. Sem olhar para ela, amarrou os dois cavalos a uma árvore, depois retirou o cantil da sela. Ele a deixou beber primeiro.
Ela deu alguns goles e o devolveu. Ficou observando a garganta de Kane, enquanto ele bebia. Foi tomada de vontade de beijá­lo, naquele exato ponto. Era uma reação insana, totalmente idiota, más quase irresistível. Queria continuar de onde haviam parado. Notando o desprezo nos olhos dele – por si mesmo, mais do que por ela –, percebeu que isso não ia acontecer.
Suspirando, Moriah admitiu que ele era o homem mais atraente que ela já conhecera. Não sabia por quê. Já vira homens com beleza mais clássica. Mas Kane sempre fora o seu ideal.
Ela pigarreou.
– Quero agradecer por ter trazido os cavalos e me ajudado a procurar meu pai.
Ele a fitou com os olhos escuros.
– Foi por insistência da minha consciência.
– Sua consciência?
– É. Se não sabia, eu tenho uma. Ela não reagiu à tentativa de humor.
– Por que sua consciência o estaria incomodando? Pelo que sei, há anos que você e Rafe Rawlings vêm cuidando do meu pai.
– É verdade, só que fui eu que insisti para você vir para cá. Queria passar a responsabilidade para outra pessoa. Você era a melhor candidata. Não pensei em como isso iria afetar a sua vida.
– Meu pai é minha responsabilidade.
– Achei que pensaria assim – ele murmurou, surpreendendo­a. – Estava contando com isso quando lhe telefonei. Sempre sentiu responsabilidade pelos outros.
Exceto por aquele mês, quase 17 anos atrás. Por um mês esquecera o significado de responsabilidade e cautela. E olhe só no que dera.
Sua consciência a forçava a admitir a verdade. Aquele mês com Kane englobava suas melhores Projeto Revisoras
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lembranças, com exceção das que envolviam a filha. Mas Kane não era mais dela. Ele tinha outra pessoa em sua vida.
– Eu amava o meu pai – ela prosseguiu, após um instante. – Ele foi um pai maravilhoso, quando eu estava crescendo. Antes de ele ficar... distante.
Ela não conseguiu se fazer dizer "louco".
– Que amor estranho – murmurou Kane. – Em todos esses anos você jamais o procurou.
– Mas eu procurei – ela protestou. – Ele jamais respondeu nenhuma das minhas cartas. Parecia não dar a mínima.
– Ah, mas ele dava. Homer se importava. E quando voltarmos para o chalé, eu lhe provarei isso.
Quando chegaram ao chalé, a noite já estava caindo. Ela convidou Kane para jantar. Ele lançou­
lhe um olhar intrigado.
– Ora, é o mínimo que eu posso fazer – ela explicou, casualmente, enquanto o coração batia feito louco. – Por sua ajuda.
Ele assentiu.
– Vou cuidar dos cavalos.
Kane notou­lhe o balançar dos quadris quando Moriah se afastou. Por um instante, recordou­se da maciez de sua pele. Ela não era magra como Lori. Suas curvas eram mais macias, seus seios maiores. Ela lhe dissera certa vez que não via a hora de amamentar os filhos. Também dissera querer uma família grande. Bem, ou mudara de idéia quanto a isso, ou ela e o marido haviam se divorciado antes de terem mais filhos.
Kane se opunha veementemente a divórcios quando havia filhos em jogo. Família era importante para as crianças, a coisa mais importante de suas vidas.
De repente, percebeu que jamais conversara com Lori sobre filhos. Será que ela os quereria? Em caso afirmativo, quantos? Ele mesmo queria ter dois, e depois, talvez, adotar um casal... ou uma dúzia.
Quando estavam juntos, ele e Moriah haviam conversado sobre tudo que se podia imaginar. Kane se deu conta de que ainda queria lhe contar as coisas, compartilhar seus sentimentos com ela. Era estranho.
Praguejou violentamente ao se lembrar daquele momento no topo da colina. Por mais que tentasse resistir, teve de tocar nela, acariciar­lhe a boca rosada e sedutora. Teve vontade de deitá­la na Projeto Revisoras
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grama e fazer amor com ela.
Enquanto dava de comer para os cavalos, olhou na direção do chalé e a avistou através da janela, na cozinha, preparando­lhes uma refeição, como se houvesse passado a vida inteira fazendo isso. Mesmo aos 17 anos de idade, ela sempre fora prendada. Kane foi tomado de uma estranha ternura.
Ele franziu a testa, imaginando se Moriah alguma vez tivera tempo para ser criança. Ambos os pais sempre exigiram tanto dela. Ela havia sido uma jovem calada e séria. Tornara­se o mesmo tipo de mulher.
Ao pensar em seguir para o chalé, sentiu o coração batendo fortemente no peito. Se um paciente houvesse lhe descrito a sensação, ele a teria diagnosticado como o início de uma crise de ansiedade.
Diabos, passara a tarde inteira sozinho com ela na floresta. O que era um rápido jantar no chalé?
Exceto pelo fato de estar escuro e não haver viva alma em um raio de quilômetros.
Não havia mistério. Ele simplesmente a queria.
Por quê? Tinha tudo o que um homem poderia desejar – dinheiro no banco, um excelente consultório, uma casa sendo construída próxima à reserva. Conhecia uma mulher especial que se encaixava perfeitamente em sua vida. Não precisava de Moriah Gilmore estragando seus planos, despertando lembranças e atiçando­lhe a libido.
Jantaria e, depois, daria o fora dali.
Moriah terminou de pôr a mesa, caminhou até o fogão e o desligou ao ver que o feijão estava no ponto. O jantar estava pronto.
Quando Kane entrou, ela sentiu o ar frio vindo das montanhas.
– Vou servir o jantar – disse.
Ele lavou as mãos e se sentou. Após colocar a comida no centro da mesa, ela sentou diante dele.
– Quando será que o chalé ganhou energia elétrica? – perguntou. – Papai e eu costumávamos usar lampiões quando ficávamos aqui.
– Rafe e eu puxamos a fiação há cerca de cinco anos.
– Legal da parte de vocês.
Eles comeram em silêncio. Quando a refeição enfim terminou, Moriah sentiu­se aliviada. Agora ele poderia ir embora. Já haviam cumprido o papel de bons vizinhos. Projeto Revisoras
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– Obrigado por sua ajuda, hoje – disse formalmente, levantando­se da mesa, assim que ele abaixou o garfo.
– Eu prometi lhe mostrar algo – disse Kane.
Ele caminhou até a estante, pegou uma carta e a entregou a Moriah.
Ela fitou o próprio nome e endereço, e se deu conta de que o pai havia contratado um detetive particular para encontrá­la.
– Eu não entendo – disse, confusa. – Ainda acha que ele não se importava? – Sem aguardar resposta, Kane abriu um pequeno baú. – Veja isso.
Ela caminhou lentamente, quase com medo do que poderia encontrar. Deixou escapar uma exclamação de surpresa ao ver o que havia lá dentro. Com a mão trêmula, pegou um envelope. Na superfície, em letras vermelhas, estava carimbado: "Destinatário Não Encontrado".
Todos os envelopes estavam endereçados a ela. Moriah percebeu que as cartas ainda estavam no interior deles. Verificando as datas, notou que o pai havia lhe escrito várias vezes durante o primeiro ano após ela e a mãe terem deixado Whitehorn, e cada vez menos depois. Mas sempre no seu aniversário e no Natal.
Revendo o passado, Moriah se lembrou de que ele e a mãe se mudaram para Billings primeiro, e para Great Falls após a chegada do bebê.
Lentamente, abriu uma das cartas e leu o seu conteúdo. Uma única página escrita por seu pai, descrevendo a mudança de cor das árvores no outono e a rotina dos esquilos se preparando para o inverno.
Devolveu a carta ao baú e encontrou vários dos bichinhos que o pai costumava esculpir de pedaços de madeira: esquilos, coelhos, corvos, gaviões... Contou quantos itens havia.
Trinta e dois. Um para cada aniversário e Natal desde sua partida.
Joleen mentira para ela. O pai não se esquecera dela. Ele a amava. Ele a amara durante todos esses anos.
Pegando as cartas, olhou as datas. Em uma delas, reconheceu a letra da mãe. "Destinatário Mudou­se."
Mentira. Uma mentira descarada. O pai também devia ter notado.
Lágrimas encheram­lhe os olhos. Tomada de tristeza, ela devolveu as figuras ao baú. Se ao Projeto Revisoras
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menos tivesse sabido. Poderiam ter escrito um para o outro.
Kane a observava em silêncio, imóvel como uma estátua. Ela não podia deixar que ele a visse chorando. Levando as costas da mão à boca, fitou o chão e lutou para se recompor.
Um violento tremor percorreu seu corpo. Kane aproximou­se. Ele a fitou no rosto e soltou um palavrão.
Sem saber o que fazer, ela se afastou. Não o queria ali. Ele não deveria vê­la daquele jeito, chorando como uma boba.
– Você não sabia.
Enfim, ele acreditava nela.
Incapaz de falar, Moriah sacudiu a cabeça.
– Realmente acreditava que ele não se importava. Ela assentiu.
– Eu nunca soube. Nunca mais tive notícias dele, depois que partimos. Eu escrevi, mas ele não respondeu. Pensei que não havia respondido...
– Não, não chore – Kane pediu, estendendo a mão na direção do rosto dela, mas abaixando­a antes de tocá­lo.
­Não... posso... evitar.
– Ah, meu Deus – ele sussurrou, e a tomou nos braços.
Ele sentiu a dor dela como se fosse sua, e percebeu que era algo que ela reprimira por 16 anos.
Isso o destroçou, destruindo qualquer instinto de auto­preservação que tivera antes de entrar no chalé. A necessidade de consolo de Moriah era tudo o que lhe importava naquele momento. A necessidade que tinha dele.
Pressionando o rosto de encontro ao cabelo de Moriah, ele inalou seu perfume por alguns instantes, enquanto lutava contra a própria tristeza. Após 16 anos, enfim compreendia os sentimentos de Moriah para com o pai.
Ela não era indiferente nem insensível. Amava o velho excêntrico. Mesmo acreditando que o pai a abandonara, viera procurá­lo.
Aos poucos, as lágrimas foram diminuindo de intensidade. Kane ofereceu o lenço a Moriah.
Ela enxugou os olhos e assoprou o nariz. Ele pegou de volta o lenço, abraçando­a novamente.
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Inclinando a cabeça para trás, ela o fitou solenemente.
– Desculpe – disse, com a voz rouca.
Ele olhou no fundo dos lindos olhos dourados dela.
– Moriah – disse.
Os lábios dela tremiam. Um suspiro trêmulo fez seu peito subir e descer. Kane não podia mais agüentar. Prisioneiro de uma grande ternura para com Moriah, inclinou a cabeça em busca de seus lábios.
A boca era macia. Kane podia sentir o gosto salgado das lágrimas nos lábios dela. Ele gemeu em sinal de protesto.
Mas não foi capaz de se conter.
Beijou­lhe os olhos, as faces, as têmporas. Emaranhando os dedos no cabelo ruivo, ele lhe acariciou a nuca. Com a mão livre, a puxava cada vez mais para perto.
Podia lhe sentir o calor sob as roupas. De encontro ao peito, pôde identificar o volume dos seios e os mamilos rijos.
Moriah.
Ela havia sido o seu primeiro amor, sua primeira mulher. Jamais fora capaz de superar a voracidade que Moriah despertara nele. E que superava qualquer alerta de perigo que poderia tê­lo avisado do rumo que aquilo estava tomando.
Não podia parar. Não agora.
Com desejo latejante, invadiu­lhe a boca, provando do sabor doce, acariciando­lhe a língua com a sua própria, até que ela lhe retribuísse a paixão.
Trêmula, Moriah lhe envolveu a cintura com os braços. Kane adorou a sensação do corpo dela de encontro ao seu.
Quando, ao dar um passo para trás, a borda da cama de armar convidativamente acertou a perna de Kane, ele girou Moriah, e deslizou com ela para cima do colchão.
Moriah abriu as pernas. Kane colocou a coxa entre elas e moveu­se lentamente, acariciando­lhe a intimidade, como há muito o fizera.
– Kane – ela sussurrou, com os olhos fechados e a testa franzida.
Como no passado, as mãos de Moriah exploravam o corpo de Kane, como se ela fosse cega e precisasse tocá­lo para conhecê­lo.
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Ela abriu­lhe a camisa e tocou­lhe a pele sob o tecido. O toque era tão quente que chegava a queimar.
Ele se inclinou e a beijou novamente. E de novo. E mais uma vez.
– Você me faz latejar de desejo – ela disse. – Chega a ser quase doloroso.
– Você faz o mesmo comigo.
Pelo modo como ele estava ofegante, Moriah podia ver que excitava Kane tanto quanto ele a excitava. Estar em seus braços era ao mesmo tempo estranho e natural.
Os dedos ágeis e compridos de Kane tatearam sob sua blusa até encontrarem a pele macia. Ele acariciou­lhe as costas, da nuca até a cintura. Como em um passe de mágica, o sutiã se abriu. Era o mais puro e sublime prazer.
– Costumava sonhar com isso – ele sussurrou, ofegante. – Por meses após a sua partida, acordava rijo e latejante, querendo você.
– Eu sei – ela murmurou, movendo as mãos sobre ele, como se estivesse tentando aliviar a dor dos anos passados.
– Sabe?
Ele ergueu a cabeça e a fitou. No começo ela retribuiu o olhar. Depois, enxergando os anos de dor e solidão, fechou os olhos e plantou vários beijos no peito dele, saboreando­lhe o gosto.
– Não, Kane – implorou. – Por favor.
Ele segurou o queixo de Moriah e ergueu­lhe o rosto.
– Fale novamente.
A mão dele deslizou para baixo da blusa e lhe tocou o seio. O corpo dela se contorceu.
– Falar o quê? – murmurou, desnorteada.
– Meu nome. Diga­o como costumava fazer, como se sua própria vida dependesse de mim, como se sua alma fosse morrer se não pudéssemos estar juntos assim.
A tristeza foi momentaneamente mais forte que o desejo.
– Kane – disse, tentando agradá­lo. No entanto, os receios falaram mais alto. – Paixão é fácil demais.
– Fácil? Com você, nada é fácil.
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Ele abriu por completo a blusa de Moriah e tirou de vez o sutiã do caminho. Os olhos escuros dele a percorreram, e ela se sentiu indescritivelmente linda.
Ele inclinou a cabeça, e roçou­lhe os seios com os lábios, depois a fitou nos olhos. Ela não teve mais salvação. Havia apenas Kane. E ela.
E o latejar em seu íntimo.
Inspirando fundo, ela roçou nele involuntariamente. Os mamilos se enrijeceram tão rápido que chegou a ser doloroso. Um gemido rompeu o silêncio do chalé.
Ele riu.
– Você me deseja. Basta eu tocá­la aqui – ele soprou gentilmente o seio –, e você se derrete em minha mão.
– Não. Não.
– Ah, sim. O mesmo acontece comigo. – Ele a fitou nos olhos. – Só com você.
A confissão a deixou toda arrepiada. Estava se afogando naquela tempestade de paixão, mas não estava nem aí. Não estava nem aí!
Ele a tocou novamente, deslizando a mão por suas costelas, até contornar os seios com o polegar e o indicador. Observando­lhe o rosto, ele aproximou os dedos um do outro, até prender com ternura os mamilos.
Descargas elétricas percorreram o corpo de Moriah. Esperança, medo e êxtase se misturavam em seu íntimo.
– Você está tremendo – ele disse. – Eu... eu sei.
– Também tremeu da primeira vez que fizemos amor, lembra?
Como ela poderia esquecer?
– Lembro.
– Eu também tremi. Estou tremendo agora. Kane estendeu a mão.
Ela olhou para a mão e viu o leve tremor que ele não conseguia disfarçar, depois, incapaz de resistir, fitou­lhe os olhos. Segurou­lhe o rosto entre as mãos e puxou­o para si. Ela o beijou, prendendo­
lhe o lábio inferior entre os dentes e acariciando­o com a língua.
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Kane estremeceu, então a envolveu com os braços e a puxou para si. O beijo foi interminável. Foi atormenta­dor. Deixou­a sem fôlego.
– Eu me lembro de sua paixão – ele sussurrou, desenhando com a língua pequenas trilhas no pescoço dela. – Adorava vê­la ficando excitada. Você ficava toda ruborizada.
– E eu queria ver você – ela sussurrou, ofegante. – Queria vê­lo crescer e enrijecer...
– Mas eu já estava desse jeito só de tirar a roupa. Bastava pensar em você e... – Kane riu. – Estou desse jeito agora.
– Deixe­me ver... – Ela levou as mãos ao cinto dele e então se deteve.
– Vá em frente.
Após tirar­lhe as botas e as meias, ela puxou­lhe a calça. Kane também terminou de despi­la, depois abriu o saco de dormir sobre a cama e a deitou no seu interior.
Por um instante, ficou de pé na beira da cama, fitando­a enquanto tirava a camisa. Seu membro estava ereto, emergindo dos pêlos negros como um antigo símbolo da vida esculpido em marfim.
Ele pegou um pacote de sua carteira. Moriah estendeu a mão e Kane lhe entregou o envelope. Ela o abriu com cuidado e, tirando o preservativo, vestiu­lhe cuidadosamente. O membro latejava em suas mãos quando ela ajeitou a proteção no devido lugar.
Quando Moriah o soltou, Kane se juntou a ela no saco de dormir.
Ao tocá­la desta vez, deixou a mão deslizar mais para baixo, até chegar à penugem ruiva que lhe encimava as pernas. Ele a alisou um pouco, e depois desceu mais.
Ela prendeu a respiração quando ele lhe acariciou a intimidade, demorando­se, como se estivesse inspecionando uma a uma as pétalas de uma flor.
Com o corpo todo tremendo, ansiando pelo seu toque completo, ela se contorcia.
– Como é possível algo ser tão doce? – Kane murmurou.
Quando se aprofundou mais, o grito dela o pegou de surpresa. Ele se deteve, mas Moriah se esfregava impacientemente nele.
– Preciso de você – sussurrou. – Estou queimando... Ah, por favor...
Kane se deu conta de que ela estava completamente dominada pela paixão induzida por ele. Uma mistura de orgulho e voracidade o deixou tonto. O mundo estava girando fora dos eixos.
Posicionando­se sobre ela, Kane afastou­lhe as pernas. Moriah se abriu toda para ele.
Ele fechou os olhos e deu início à jornada para o interior dela. Era como se estivesse voltando Projeto Revisoras
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para casa, uma recepção calorosa que expurgou qualquer pensamento sobre o passado ou sobre o futuro.
Ela soltou um ligeiro gemido de desconforto.
Kane se deu conta de que a machucara. Ele se conteve, tentando entender como isso podia ser possível. Ela estava pronta para ele.
– O que foi? – perguntou. – Está doendo? Ela sacudiu a cabeça.
– Não, na verdade, não. É só que faz... Ela mordeu o lábio inferior.
– Muito tempo? – ele completou. – Faz muito tempo?
– É.
– Quanto tempo? – Anos.
A confissão o pegou de surpresa. Era quase como se estivessem repetindo a primeira vez. Kane foi tomado de ternura. Jamais sentira isso por outra pessoa. Tentou conter a insistência do próprio corpo de mergulhar naquelas profundezas quentes.
– Está tudo bem. – Ela fechou os olhos e beijou­lhe lenta e repetidamente o pescoço. – Eu quero você, por favor.
A voz dela derrubou todas as barreiras de seu comedimento. Ele a beijou com paixão. Acariciou o botão de sua feminilidade até Moriah implorar por mais.
Depois, se permitiu mover, no começo lentamente, enquanto ela se acostumava com o corpo dele, depois, com mais velocidade, quando ela começou a ir ao encontro de cada arremetida. Era o céu e o inferno... e tudo que residia entre os dois.
Envolvendo a cintura dele com as pernas, ela o levou o mais fundo possível. Enterrando o rosto no ombro de Kane, Moriah fincou os dentes no local, em busca de algum tipo de apoio.
Ela enrijeceu. Um lamento escapou de seus lábios quando Moriah começou a convulsionar­se sob ele. Permitindo ao seu corpo a recompensa do prazer, Kane atingiu o apogeu. O alívio chegou a ser doloroso de tão intenso.
Não importava. A única coisa que importava era o momento sublime do clímax.
Mais tarde – ele não saberia dizer quanto tempo mais tarde – Kane a sentiu se mover ao seu lado. Ele inspirou profundamente. Era chegada a hora de conversar.
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– Moriah – disse, com a voz rouca. Lentamente, ela abriu os olhos e o fitou.
– Precisamos conversar.
– Agora não. – Ela aconchegou a cabeça no peito dele. – Estou sonolenta – disse, com um suspiro.
Kane começou a se dar conta de que, após terem saciado o desejo ardente, Moriah estava voltando a buscar refugio atrás das barreiras que ele pressentira desde que ligara para ela falando de seu pai. Começou a sentir uma conhecida fúria. Haviam feito amor como jamais experimentara com ninguém e, agora, ela lhe dava as costas.
– Precisamos conversar – ele repetiu, escutando a severa determinação na própria voz.
– Mais tarde. Amanhã – ela prometeu.
– Agora – insistiu. – Temos de pensar no futuro. E em Melanie...
Kane a sentiu estremecer. Antes que pudesse reagir, ela se afastou dele e desceu da cama. De costas para ele, como se estivesse envergonhada do ocorrido, vestiu o pijama. Com um aperto no coração, Kane se deu conta de que o ato não representara tanto para ela quanto para ele.
Ele se forçou a encarar a realidade da rejeição. Descendo da cama, começou a se vestir.
Quando estava pronto para ir embora, virou­se para ela. Moriah havia guardado o saco de dormir e estava sentada de pernas cruzadas sobre a cama. aguardando que ele se fosse.
Ele se sentiu aprisionado por emoções que não sabia definir. Esta era a mulher que lhe destruíra os sonhos, que lhe partira o coração. Deixar­se levar novamente pelo seu encanto era estupidez.
– Como pode aparentar tanta inocência? – resmungou.
Ela não respondeu. Sua frieza o enfureceu. – Fica aí sentada, com a pele ainda quente de ter feito amor. No entanto foi embora como se nada houvesse acontecido entre nós. Nem uma palavra sequer durante todos esses anos, depois volta e...
Ele fez um gesto na direção da cama, incapaz de encontrar as palavras certas.
– Acho que nós dois éramos inocentes – ela sugeriu. Ele a fitou confuso.
– Minha mãe mentiu a respeito do meu pai. Disse que ele não nos queria, que não se importava. No começo não acreditei nela, mas ele jamais nos procurou. Eu lhe mandei cartões de Natal, que nunca Projeto Revisoras
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respondeu. – Ela olhou para o baú e, depois, de volta para Kane. – Agora, sei que ela devolveu as cartas dele sem o meu conhecimento.
– Então, decidiu acreditar em mim, em vez de nela?
– É. Acho que, de fato, me ligou... Como disse que fez. E se diz que me escreveu, vou acreditar nisso também.
– E como ficamos nisso tudo? Ela desviou o olhar.
– Não ficamos.
Kane foi forçado a encarar a realidade. Moriah não o queria em sua vida. Ele queria tanto derrubá­la daquele pedestal de calma.
– É. É tarde demais para recomeçarmos. – Ele caminhou na direção da porta, depois virou­se e a fitou. – Tenho o meu futuro planejado... E você não está incluída nele.
– Eu sei – Moriah disse, baixinho.
Após um instante de hesitação, Kane deixou o chalé, sabendo que aquela aceitação resignada não era o que ele queria dela. O futuro do qual se vangloriara parecia infinitamente mais remoto e solitário.
Capítulo 7
– Você está tão quieto – disse Lori.
Kane desviou o olhar das árvores que eram visíveis da varanda da casa e sorriu para a companheira.
– Deveria ter lhe dito para não vir, quando ligou. Receio que hoje não vou ser boa companhia.
– Algo que queira compartilhar comigo?
Diante da preocupação nos olhos dela, Kane sentiu dobrar o peso da culpa que carregava nos ombros desde terça­feira.
Não sabia o que dizer. Magoá­la era a última coisa que queria fazer. Mas havia Moriah e o que acontecera entre eles. Ainda não podia acreditar que se deixara levar pela paixão. Era um homem, e não um menino regido pelos hormônios. Deveria ter sido capaz de se controlar...
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– Kane? – Lori lhe tocou a mão.
Tinha de dizer algo. Lori merecia a sua sinceridade. Levando a mão dela à boca, ele a beijou e depois a soltou.
– É Moriah, não é?
Kane virou bruscamente a cabeça. Percebeu que já magoara Lori. De algum modo ela já sabia que algo acontecera.
– Está... Está apaixonado por ela?
Não podia amar Moriah. Ela o descartara como uma camisa usada.
– Não.
Mas não conseguia esquecer a noite passada.
Também não podia fingir que ela não houvera. Não contaria a Lori o que acontecera – isso a magoaria demais –, mas tinha de reconhecer a encruzilhada em que se encontrava.
– Lori... – murmurou, buscando as palavras.
– Vocês eram namorados quando ela morou aqui? Conte­me a verdade, Kane. Jamais mentimos um para o outro. Eu lhe contei o que houve entre Travis e mim. Não acha que mereço a mesma consideração?
– Acho – ele disse. Mas como explicar uma loucura que ele mesmo não entendia? – Nós já tivemos algo. No primeiro Natal que passei em casa, após ter entrado para a faculdade, nós... nos conhecemos.
– E agora? Desde que ela voltou? Vocês são amantes?
A pergunta pairou no ar. Por mais que detestasse ter de fazê­lo, Kane precisava dizer a verdade.
– Existe uma atração – ele admitiu, esforçando­se para abrandar as palavras.
Os lábios de Lori tremeram ligeiramente, mas ela assentiu, como se houvesse entendido.
– Então, o que acontece conosco agora? – ela perguntou, olhando fixamente para a frente.
– Quem dera eu soubesse. Não quero magoá­la.
– Essa não é a questão aqui. Mas seus sentimentos por ela parecem ser mais fortes do que quer admitir.
– Não sei. Eu não quero sentir nada por ela. Talvez seja apenas porque as coisas entre nós jamais terminaram. A mãe a levou embora, quando descobriu que Moriah e eu estávamos... envolvidos um com Projeto Revisoras
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o outro.
Lori lhe deu um sorriso ao mesmo tempo triste e compreensivo.
– Então... talvez seja melhor tentarem novamente para ver o que acontece.
– Não acredito que esteja me dando esse conselho. A maioria das mulheres já estaria pulando no meu pescoço.
– Bem, não me sinto tão calma e racional quanto estou tentando aparentar, mas há muito descobri que é melhor encarar a verdade do que viver em um vácuo de mentiras.
A admiração que Kane sentia por Lori só fez aumentar.
– Não sei o que dizer. Exceto que você é uma em um milhão... E que merece muito mais do que está recebendo de mim.
– Ah, Kane, nós não controlamos o coração. Será que ainda não descobriu isso? Sente­se atraído pela mulher que desconfio ter sido o seu primeiro amor. Vá até ela e veja se o amor ainda existe. Namorem. Vão ao cinema. Beijem­se. Descubra o que você realmente quer. Se descobrir que sou eu, venha me contar. Eu escutarei. Começaremos dali e veremos onde vamos parar, está bem?
Os dois caminharam até o carro de Lori. Kane hesitou e, depois, a beijou. Parecia um beijo de adeus, o que, para ele, foi doloroso.
– Eu o vejo no hospital – Lori disse, e então riu. – Sem dúvida nenhuma, na sala de parto.
– Sem dúvida.
– Pense no que eu lhe disse – ela aconselhou, quando já estava no carro. – Ligue para Moriah. Ela tem telefone no chalé de Homer?
– Não. Como sabe que ela está lá?
– Lily Mae, quem mais? Ela também desconfiou que vocês dois já tinham tido algo.
– Ela vai se esbaldar quando souber que nós não estamos mais juntos. Vai haver muita fofoca.
Kane estava preocupado com os sentimentos de Lori.
Ela deu de ombros.
– Houve fofocas quando deixei Travis. Houve fofocas quando voltei para a cidade. Já sou uma menina crescida, Kane. Eu agüento.
Ele fechou a porta quando ela ligou o motor. A sensação de perda era grande. Não havia mais volta. E Kane se deu conta de mais uma coisa. Lori era uma mulher muito corajosa.
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Moriah estava postada diante do telefone público do Hip Hop Café. Pensou em ligar para a mãe e confrontá­la sobre as cartas que encontrara no chalé. Não. Essa era uma discussão que seria melhor ter cara a cara. Sua raiva inicial já havia passado.
Após passar na delegacia para verificar se havia alguma novidade, estava indecisa sobre o que fazer com todo o seu tempo livre. Decidiu entrar na lanchonete, comer uma fatia de torta e voltar para o chalé.
Assim que adentrou a lanchonete, escutou uma voz feminina chamando­a. Era Lily Mae, convidando­a para sentar em sua mesa. Será que a mulher nunca ia para casa?
Moriah engoliu a irritação, forçou um sorriso e seguiu para a mesa. Não havia mais ninguém no café, no momento. Como ela, Lily Mae devia estar se sentindo sozinha.
As duas conversaram um pouco sobre o que a polícia estava fazendo para encontrar o seu pai.
– Quase nada – ela admitiu. – Dizem apenas que estão de olhos abertos.
Lily Mae tentou consolá­la.
– Não fique desanimada. Ele vai aparecer em breve. Já pensou em consultar Winona Cobbs?
– Não.
Moriah preferia evitar a vidente, Ela enxergava coisas demais.
– Leve algo de Homer para ela. Talvez consiga ver onde ele está. Ela ajudou o xerife e a esposa a acharem o filhinho quando ele se perdeu na floresta. Infelizmente já era tarde demais. O menino havia levado um tiro. Todo mundo supôs ter sido um caçador.
– Ele estava muito machucado?
– Estava morto – disse com tristeza a viúva. – Arruinou o casamento deles.
– Ah. – Moriah lutou contra as lágrimas que começaram a se formar em seus olhos. – Mas ele e Tracy estão esperando... Ah, ela deve ser a segunda mulher dele.
– Não, não. Eles voltaram ano passado.
Lily Mae contou a conturbada história da volta de Tracy Hensley à cidade para solucionar um assassinato. Ela e Judd haviam se apaixonado novamente e se casado mais uma vez.
– Que maravilha – disse Moriah, com sinceridade.
– Mas a parte mais interessante foram os ossos – disse Lily baixando drasticamente o tom de voz.
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– Ossos?
– Do homem assassinado – Lily Mae sussurrou. – Os ossos eram de Charles Avery. A filha dele, Melissa, é a dona da lanchonete. Ela contratou um detetive para encontrar o assassino do pai.
A partir daí, a história ficou muito mais complicada.
Moriah se perdeu no labirinto de suspeitos do assassinato e de casamentos entre os envolvidos na história.
– A menina dos Baxter é que foi a causadora de tudo. Era uma tremenda oportunista.
– Hum... – disse Moriah, não se dando ao trabalho de perguntar como a menina dos Baxter se encaixava em toda aquela carnificina.
– Alguns dizem que Ethan Walker, que foi preso pelo assassinato, e Charlie haviam se desentendido por causa de Lexine, e que Ethan o havia matado. Mas o rapaz foi libertado por falta de provas. Não acho mesmo que tenha sido ele, ou então foi um acidente. Charlie provavelmente caiu e quebrou o pescoço.
Moriah sentiu pena de Melissa. Ela sabia o que era achar que o pai não se importava com você.
Comeu mecanicamente quando sua comida chegou. Mal deu ouvidos ao falar incessante de Lily.
A porta se abriu. Kane entrou e olhou ao redor.
O sangue correu com tanta velocidade para a cabeça de Moriah que, por um instante, ela pensou que fosse desmaiar.
– Junte­se a nós – convidou Lily Mae. Por favor, diga não.
Ele aproximou­se da mesa.
– Olá, Lily Mae, Moriah – disse casualmente.
Ela se surpreendeu com a tranqüilidade dele. Mas por que haveria de estar alterado? Homens estavam acostumados a buscar seu prazer independente de onde e quando acontecesse. Para eles, não significava nada.
– Como estão as coisas no hospital? – perguntou Lily Mae.
– Excepcionalmente tranqüilas.
– Lori já conseguiu fazer todos os partos?
Moriah surpreendeu­se com a momentânea expressão de dor nos olhos de Kane.
– Já – ele respondeu. – Na última remessa foram quatro meninos e duas meninas, todos Projeto Revisoras
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saudáveis.
Ele sorria, agora, mas estava visivelmente tenso. Pediu uma xícara de café.
– Preciso falar com você – sussurrou com urgência para Moriah.
A falsa calma de Moriah desapareceu.
– Tenho de voltar para o chalé. Vou explorar algumas minas velhas e...
– Melanie ligou.
O coração de Moriah quase parou.
– Melanie? Ligou para você?
– É. Quando tiver terminado aqui, podemos ir até o meu consultório.
Lily Mae observava a conversa com evidente curiosidade.
– Ela está bem?
– É claro que está. Se fosse algo sério, eu lhe diria. Melanie quer que ligue para ela. Algo a respeito de um projeto que está fazendo para a escola.
– Ah.
A preocupação transformou­se em raiva. Poderia estrangular Melanie por ter ligado para Kane. Ela tratou de terminar logo a torta, enquanto Kane tomava o seu café e conversava com Lily Mae.
– Pronta? – ele perguntou quando ela colocou a última garfada na boca e cruzou os talheres.
Moriah assentiu.
Kane ficou de pé e colocou uma nota de dez dólares sobre a mesa.
– Isso deve cobrir tudo. Vamos.
Foi só quando estavam lá fora que Moriah percebeu que ele estava com muito mais pressa do que deixara transparecer.
– Melanie está bem, não está? – indagou, ansiosamente.
– Está. Ela teve uma briga com a sua mãe, mas acho que não foi muito sério.
– Por que ela ligou para você?
– E para quem mais ela iria ligar? Tirando Keith, ela não conhece mais ninguém na cidade.
Ao entrarem no consultório, Kane acendeu a luz. Ela pôde ver o corredor central, para o qual várias portas se abriam. A casa era grande e parecia ser bem­feita e bem­cuidada.
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Isso poderia ter sido meu.
Ela não saberia dizer de onde viera o pensamento traiçoeiro. Acompanhou Kane até a confortável sala de estar. Ele apontou para telefone, em seguida retirou­se. Moriah pegou o aparelho e discou o número da mãe.
Foi Melanie quem atendeu.
– Alô?
– Melanie, sou eu. Kane me deu o seu recado.
– Ah, mamãe, tenho más notícias para você – disse a adolescente em um tom que não condizia com suas palavras.
Moriah achou que a filha parecia estar bem animada.
– Para mim? Pensei que você e sua avó houvessem se desentendido.
– É, como de costume, nos desentendemos. Ela não quer que eu saia com a turma da escola na sexta à noite. Nem quis saber que era para eu fazer algumas entrevistas para a minha história para o jornal. Diz que eu saio muito.
Moriah estava confusa.
– Qual é a má notícia?
– Seu chefe ligou, querendo falar com você. Eu lhe expliquei que, onde você estava, não havia telefone.
– O que ele queria?
– Bem... A sobrinha está querendo ficar e a esposa dele está insistindo para que a contrate de vez. Ele disse que você parecia meio indecisa quanto ao seu retorno e precisa de uma definição. Se ele a demitir, pagará o seu salário até o fim do mês, e depois poderá obter o salário­desemprego.
Moriah pensou no aluguel, na comida, nas contas, no vestido de Melanie, que custava uma semana inteira de salário. Subitamente, sentiu­se tão apavorada quanto quando saíra da casa da mãe para morar sozinha.
No entanto, sentia­se estranhamente aliviada. Não teria de retornar para a firma de advocacia nem deixar Whitehorn. Ficou surpresa ao se dar conta de que não queria fazer nenhum dos dois.
– Agora, pode ir trabalhar com Kane – continuou Melanie, inocentemente, ignorando os problemas que a mãe enfrentava.
Para ela, a mãe arrumaria um novo emprego e ela poderia ficar perto do novo namorado.
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– Ah, Melanie. – murmurou Moriah, novamente tomada de incerteza. – Desculpe, mamãe. Sei que deve estar triste, mas será que não vê? Agora, podemos nos mudar para Whitehorn. Não há motivo para ficar aqui. A propósito, Kane se ofereceu para voar até aqui, este final de semana, e me buscar. Ele tem licença para pilotar e pode pegar um avião emprestado do clube de vôo. Você podia vir com ele. Não vai ser divertido?
– Divertido – repetiu Moriah.
A palavra lhe parecia desconhecida. Há muito tempo sabia que a vida não era divertida para ela.
– Você não está zangada por eu ter ligado para Kane, está?
– Estou.
– Mas eu não tinha outra maneira de falar com você.
– Poderia ter ligado para o escritório do xerife e ter pedido que me dessem o recado.
– Kane disse que não tinha problema eu ter ligado para ele.
Moriah fechou os olhos e pediu paciência. Rezou por uma saída para o destino que a estava encurralando.
– E foi ele quem se ofereceu para vir me buscar. Eu não pedi nada. Eu nem sabia que ele tinha breve.
– Eu também não.
– Então posso ir para aí no sábado? Ele disse que precisa mesmo apanhar alguns suprimentos para a clínica, de modo que não seria uma viagem perdida.
Moriah apertou com força o aparelho e esfregou as têmporas. O que poderia dizer sem deixar transparecer a verdade? Nada.
– Tudo bem. Eu a vejo no sábado. Tente não brigar com sua avó.
– Pode deixar. Serei tão boazinha que vou enlouquecê­la.
Moriah esboçou um sorriso cansado.
– Aposto que vai mesmo.
– Ah, mamãe! – exclamou Melanie, rindo. – Sabe o que eu quero dizer.
Elas se despediram e desligaram o telefone. Moriah permaneceu ali, pensativa.
Escutou passos aproximando­se pelo corredor e se preparou para encarar Kane. Para agradecê­lo pela ajuda. Para, de algum modo, manter o controle até ter deixado a casa dele. Ela olhou para os brincos Projeto Revisoras
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sobre a mesa, e para o aposento agradável, e pensou como era linda aquela casa... A casa que ele compartilhava com outra mulher.
Capítulo 8
– Eu preparei um pouco de café – Kane avisou ao aparecer no vão da porta. Sua expressão severa havia se transformado em preocupação. – Você está bem?
Ela quase perdeu o controle. Quase se atirou nos braços dele e chorou como uma criança, lamentando­se por tudo o que parecia errado em sua vida.
Mas, em vez disso, ficou de pé.
– Claro que estou. – Ela pegou a bolsa. – Obrigada por me deixar usar o telefone, e por ser tão gentil com Melanie.
– Posso pegá­la no sábado?
Moriah sentiu­se tomada pelo ressentimento. Tudo era sempre tão fácil para ele – os estudos, amigos, voar. Era capaz de fazer tudo o que lhe vinha à cabeça. E, agora, estava se apossando da única coisa na vida que lhe dera alegria.
Não. Admitiu que não estava sendo justa. Estava apenas cansada após passar tantas horas vasculhando as montanhas atrás do pai.
– Pode. Melaine pode pegar o ônibus de volta no domingo...
– Eu a levo de volta na terça à tarde, de avião. – A escola...
– Ficará fechada por dois dias. Melanie disse que estão tendo problemas com cupins e vão dedetizar o prédio.
– Ah. – Aparentemente, ele e Melanie já tinham tudo planejado. – Bem, é melhor eu ir. Está ficando tarde.
– Nós vamos conversar – ele disse, com firmeza. Moriah levou a mão à têmpora. Estava desnorteada demais para falar com ele. Seu futuro estava na balança, e ela não tinha certeza para que lado penderia.
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– Sua cabeça está doendo? – Não.
Estava, mas confessar isso seria um sinal de fraqueza.
– Vou lhe dar algo para a dor.
Antes que Moriah pudesse protestar, Kane deixou a sala. Ela o seguiu pelo corredor até o consultório. Ele destrancou um armário e examinou alguns frascos.
– Eu posso lhe aplicar uma injeção. É um medicamento novo que tem dado resultado com algumas pessoas.
– Tudo bem. Um comprimido dá menos trabalho. Eu tenho alguns no chalé que posso tomar.
– Precisamos planejar o final de semana... entre outras coisas. – Ele pegou algumas cartelas. – Experimente isso.
– Isso não vai me apagar, vai? Ainda tenho de voltar dirigindo para o chalé.
– Não creio.
Ele a conduziu de volta para a área residencial, para a cozinha, onde apontou para a mesa, convidando­a para sentar.
Moriah suspirou e sentou. Kane estava determinado a conversar.
– Presumo que você e Melanie já tenham combinado tudo um com o outro – ela disse friamente, quando ele retornou com duas canecas de café e um prato de bolinhos de canela.
Os olhos de Kane a examinaram de alto a baixo.
– Você está emagrecendo.
Ela não queria que ele notasse nada nela. Não queria que Kane fosse gentil.
– Tenho caminhado um bocado, verificando todas as minas que meu pai e eu costumávamos explorar.
Kane soltou um palavrão.
– E se você ficar presa em um desmoronamento, ou cair e quebrar o tornozelo? Pode acabar morrendo naquela maldita mata sem que ninguém saiba.
– Não vou. Tenho sido bastante cuidadosa.
– Você é igualzinha ao seu pai. Faz as coisas do seu jeito e para o inferno com o resto do mundo! Pobre coitado de quem se preocupa com vocês. Como a sua filha. Se não sabe, ela morre de Projeto Revisoras
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preocupação.
Moriah abriu a boca, depois a fechou, e simplesmente o fitou. Por que diabos ele estava tão zangado? Sem dúvida por ter de lidar com ela e seus problemas.
– A que horas você quer sair no sábado? Eu disse a Melanie que estaríamos lá antes do meio­dia.
Moriah se ressentia da irritação e da falta de paciência dele com ela.
– Por que me pergunta quando já tem tudo programado?
– Estou tentando demonstrar consideração.
Diante de tal declaração, Moriah se deu conta do ridículo da situação. Sem poder se conter, começou a rir. O riso acabou se transformando em uma gargalhada. Ela perdeu totalmente o controle.
Kane apenas a fitava com incredulidade.
Cobrindo o rosto com as mãos, ela se curvou e riu até ser assolada por soluços.
Sentiu mãos fortes massageando­lhe os ombros.
– Está tudo bem – disse Kane.
Em vez de ficar zangado, ele estava tentando acalmá­la.
Com muito esforço, foi recuperando o controle.
Ele continuou a massagear­lhe os ombros, depois enfiou os dedos nos cabelos dela e começou a fazer deliciosos movimentos circulares em seu couro cabeludo.
Ela enfim conseguiu se acalmar, sentindo­se esgotada, como se houvesse acabado de ter uma crise de choro, e não de riso frenético.
– Desculpe – disse, inspirando fundo. – Não se preocupe, não estou ficando histérica. Pode parar.
Ele não parou.
– Shhh... – Foi tudo o que disse.
As mãos lhe alisavam os cabelos e, depois, a massagearam atrás das orelhas. Ela sentiu ligeiros arrepios ao longo da coluna.
Suspirou de decepção quando ele retirou as mãos do meio de seus cabelos. Kane tocou­lhe as têmporas, massageando gentilmente a pele até ela relaxar de novo. Moriah fechou os olhos quando ele começou a pressionar a região acima deles.
– Acho que perdi meu emprego – disse.
– Melanie me contou.
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Moriah sentiu uma lufada de ar quente na testa e percebeu que ele se inclinara para a frente – poucos instantes depois Kane encostou os lábios no topo de sua cabeça. Ela os sentiu se movendo, enquanto ele falava:
– A oferta de emprego ainda está valendo. Minha enfermeira está ameaçando pedir as contas se eu não arrumar alguém logo.
Seu coração oscilou, até ela se lembrar dos brincos sobre a mesa.
– Não... não posso.
Era difícil falar. Sua língua parecia um corpo estranho na própria boca.
– Shhh... – Ele voltou a lhe massagear as têmporas. – Claro que pode – disse, baixinho.
Ela tentou se recordar de todos os motivos para evitar Kane. Melanie. A selvageria irresistível de fazer amor com ele. A insanidade de se envolver com ele. Os dois não tinham um futuro juntos. Ele mesmo já dissera isso.
– Ah, Kane – sussurrou. – É inútil.
– Só se permitirmos que seja.
O toque tranqüilizador dissipou seus medos e, diante de si, Moriah viu apenas a escuridão, a doce escuridão. Sentiu­se sendo tragada por ela. Sequer tentou resistir.
Kane afastou a xícara de café quando a cabeça de Moriah caiu para a frente. Ela havia adormecido. Ótimo. Ele a tomou nos braços e seguiu para a escada.
Estava ligeiramente ofegante ao chegar ao quarto. Ela havia emagrecido, mas ainda não era nenhuma peso­pena.
Deitando­a na cama, começou a metodicamente despi­la. Enquanto tirava­lhe a roupa, perguntou­
se o que a estaria angustiando tanto. Desde que chegara à cidade para procurar o pai, estava com os nervos à flor da pele. A possibilidade de perder o emprego fora a gota d'água.
O comprimido que lhe dera deveria ajudá­la a descansar e se livrar da dor de cabeça. Depois, quem sabe não poderiam ter uma conversa sensata sobre o futuro dela e da filha? E sobre eles dois.
Falava sério no tocante ao trabalho. Estava ficando desesperado para achar alguém qualificado, e sentia­se preocupado em relação a Melanie. A menina estava numa idade que precisaria da influência de uma figura paterna em sua vida. Cercada apenas de mulheres, sem ter um exemplo masculino com quem comparar os jovens, ela acabaria cometendo algum erro:
Do jeito que Moriah fizera com o homem em quem confiara o suficiente para ser o pai de Projeto Revisoras
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Melanie...
O pensamento o deixou furioso. Não a queria com outros homens. Ela fora o seu amor.
De nada adiantava revirar águas passadas. De qualquer modo, trabalhando no consultório, ela seria forçada a passar um tempo na companhia dele. Kane se deu conta de que decidira aceitar o conselho de Lori. Ele e Moriah precisavam ver onde aquela paixão os levaria. Tinha de saber se era mais do que apenas paixão.
Vestiu nela a camisa de um pijama que jamais usara, depois a colocou debaixo das cobertas. Olhou para o relógio. Sete horas. Ela provavelmente dormiria umas 12 horas. Ele teria de dormir no quarto de hóspedes.
Kane desceu até seu gabinete e acomodou­se em uma poltrona. A vida dava muitas voltas. Jamais pensara em vê­la novamente, e, agora, ali estava ela – na casa dele, na sua cama...
Ah, Lori, o que você foi fazer?, pensou, fechando os olhos. Será que foi uma boa idéia dispensar um homem e mandá­lo cortejar sua antiga paixão? Eu queria amá­la, queria uma vida tranqüila com...
Não era um bom motivo para casar com uma mulher. Certamente não era bom o bastante para uma mulher como Lori.
Então, o que o futuro lhe reservava?
Moriah.
Isso seria um erro. Já confiara nela antes e ela o abandonara sem pestanejar.
Então, ela telefonara... uma vez. E talvez houvesse escrito uma ou outra carta. Ele também. Talvez nenhum dos dois tivesse se esforçado de verdade. Afinal, ele estava trabalhando e fazendo faculdade.
Alcançara seus objetivos.
Então, por que diabos se sentia tão sozinho? Por que se sentia como se houvesse perdido as coisas mais importantes da vida? Por que a queria?
Desta vez seria diferente. Avaliaria a situação de maneira lógica e sensata, depois saberia se o que tinham valeria a pena ser salvo. É, era o que precisava ser feito.
Kane acordou ouvindo sons de choro. Ele sentou, tentando determinar onde estava.
Ah, no gabinete. Devia ter adormecido. Então, quem estava cho... Moriah!
Ele levantou e subiu correndo a escada, até chegar ao seu quarto. Moriah se debatia na cama, Projeto Revisoras
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gemendo, como se estivesse sentindo uma dor absurda.
– Moriah? O que foi? Onde está doendo? – perguntou, sentando na beirada da cama e segurando­
lhe as mãos.
– Melanie – ela sussurrou. – Eu a perdi. Não consigo encontrá­la em lugar algum. Ajude­me. Por favor, ajude­me.
– Shhh... – ele murmurou, aliviado. – É apenas um pesadelo. Está tudo bem. Melanie está bem.
Ela abriu os lindos olhos que lhe lembravam o olhar de uma corça. Havia dor neles.
– Ah, Kane – ela choramingou. – Pensei que você a houvesse tirado de mim...
Ela se interrompeu bruscamente e o fitou, horrorizada.
– Está tudo bem – ele murmurou. – Você estava tendo um sonho.
Por que ela o consideraria tal monstro? Ele lhe oferecera um emprego, cuidara de seu pai por vários anos, ia voar para buscar sua filha. O que mais poderia fazer para provar que não era um selvagem?
Ela desviou o rosto e assentiu.
– Um sonho, é claro – disse.
Kane escutou o alívio na voz dela e pôde ver seus ombros relaxando, no entanto, ainda pressentia medo em Moriah.
– Como está a dor de cabeça? Melhorou? Erguendo uma das mãos, ela tocou a têmpora.
– Melhorou. – Ela sorriu. – Não sinto mais nada.
– Ótimo.
– O comprimido que tomei...
– Na verdade, era um relaxante muscular. Há dias que você está com os nervos à flor da pele. Incomoda­a tanto assim estar aqui em Whitehorn?
A tensão voltou na mesma hora. Ele notou o modo como seus ombros se retesaram e como Moriah evitava fitá­lo. Havia algum mistério aqui. Algo que ela não revelara.
– Não, claro que não – Moriah negou. – Só estou preocupada com meu pai. E com Melanie. E com a perda do meu emprego. Não acha que isso é o bastante para deixar uma pessoa... tensa?
– Talvez.
Ele ficou em silêncio por um minuto. Subitamente, se deu conta de que estavam sozinhos no Projeto Revisoras
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quarto dele. Tudo em conseguia pensar é que ela estava na sua cama.
Ele tocou­lhe o ombro e sentiu o calor da pele sob o pijama. Seu corpo seria doce e receptivo. Isso era algo entre os dois que ela jamais poderia negar ou tornar trivial.
– Kane, não – ela disse.
O protesto, rouco e baixinho, o sobressaltou no silêncio do quarto. Seu sangue atravessava o corpo com violência, até pulsar nas suas partes íntimas, onde estava rijo e pronto para ela.
– Por que não? Você não disse não na outra noite. – Aquilo foi... foi...
Ele aguardou, estranhamente ansioso para escutar sua descrição da noite de amor no chalé.
– Foi imprudente – ela concluiu.
– Mas bom. – Ele se aproximou, inalando­lhe o perfume. – Muito bom.
Quando ele tentou beijá­la, ela desviou o rosto. Seu beijo foi parar perto da orelha, e Kane aproveitou a oportunidade para mordiscar­lhe o lóbulo.
Ela plantou a mão no peito dele.
– Não. Eu não vou fazer amor com você de novo. Ele sentiu que poderia seduzi­la a mudar de idéia.
– Mas sabe que quer fazê­lo.
– Não quero, não.
– Não minta para mim.
Ela o fitou nos olhos. Por um instante, ele se perdeu na beleza de Moriah. Ela parecia uma fada delicada, uma criatura de sonhos e fantasias. Suspirando, Kane voltou à realidade.
– Melanie quer morar aqui. Acho que ela quer distância de sua mãe. A oferta de emprego ainda está valendo. Por que não a aceita?
– Não... não posso.
A raiva voltou a se manifestar. Kane ficou de pé e começou a andar de um lado para o outro no aposento.
– Por quê? O que é tão importante que não pode deixar um lugar onde sua filha é infeliz e se mudar para cá? Tem algum namorado?
Ela soltou uma exclamação de surpresa.
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– Não, não tem – ele disse, respondendo à própria pergunta.
Durante o ato de paixão, ela revelara que há muito tempo não fazia amor. Só de lembrar daquela noite, sentiu que ficava rijo.
– Melanie não é infeliz.
– Ela também não é feliz. Ela precisa...
Ele se interrompeu, franzindo a testa ao considerar se deveria concluir o pensamento.
– Precisa do quê?
– Ela precisa de um homem em sua vida... quase tanto quanto você.
Ela se retraiu visivelmente.
– Olhe para você, uma mulher jovem e voluptuosa, mas que tem medo de se partilhar com quem quer que seja. E não pode pôr a culpa disso no nosso relacionamento adolescente. Aquilo acabou quase antes de começar.
– Não para mim – ela disse, baixinho. Kane voltou a sentar na cama.
Moriah fechou os olhos e sacudiu lentamente a cabeça. Tinha de pensar em Melanie. Kane faria bem para a menina. Seria uma presença masculina forte na vida dela. Alguém com quem comparar os jovens que conheceria. E muito poucos estariam à altura. Também precisava ser racional. Tinha pouquíssimo dinheiro. Precisava muito do emprego. Além do mais, não podia ir embora antes de encontrar o pai. E antes de decidir o que faria a respeito de Kane e Melanie. – Talvez eu aceite o emprego – disse. Ele pareceu ter sido pego de surpresa.
– Só até eu encontrar o meu pai. Isso lhe dará tempo para encontrar outra pessoa.
– Também terei de treinar essa pessoa.
– Ficarei mais uma semana após ter encontrado alguém. Não é preciso ser um gênio para administrar um consultório.
Ambos baixaram o olhar, se dando conta de que estavam separados apenas por um fino lençol! Moriah sentiu­se tomada de receio. Como e quando fora parar na cama? E, mais importante, por quê?
– Não me recordo de tirar as roupas – disse. – Na verdade, não me recordo de nada.
– Quando adormeceu na cadeira, eu a trouxe para a cama...
– Esse é o seu quarto?
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– É...
– Por que eu não acordei? Como pude dormir... – Ela se deu conta das implicações. – O comprimido. Ele me fez apagar.
Ele assentiu. – Deveria apenas tê­la ajudado a relaxar, mas, obviamente, você tem se excedido. Está exausta e desgastada. Não foi minha intenção pô­la para dormir.
– Entendo – ela disse, lentamente. – Mas precisava ter me despido?
– Achei melhor. Você estava tão cansada que achei que fosse dormir umas 12 horas. – Ele ergueu uma das sobrancelhas. – Talvez, em vez de remédios, esteja precisando ir à igreja. Dizem que a confissão é boa para a alma. Se o pesadelo é um sinal do estado de seus sonhos, deve ter um bocado para pôr para fora.
Ela não conseguiu fitá­lo nos olhos. Inspirando fundo, afastou a coberta e desceu da cama.
– Onde estão minhas roupas? Preciso voltar para o chalé.
– Diabos! – ele exclamou. – Fique. Se minha presença na casa a incomoda tanto, posso sair.
Por um instante, ela não sabia o que falar.
– E aonde você iria?
– O que lhe importa, contanto que eu fique longe da sua vida? Parece se ressentir de tudo o que digo ou faço, ainda mais quando se refere à sua família.
Ele seguiu para a porta.
– Kane, espere – ela disse, voltando para debaixo das cobertas.
Ele se deteve.
– Se eu ficar, onde é que você vai dormir?
– No quarto de hóspedes. Só a trouxe aqui porque a cama lá não estava arrumada quando você adormeceu.
– Então, se não se importa, eu gostaria de ficar. Já está tarde...
– Já passa da meia­noite.
– É – ela disse.
Seus olhares se encontraram, e nenhum dos dois parecia ser capaz de desviar. Moriah sentiu­se estremecer. Seria necessário tão pouco para voltar a se apaixonar por ele.
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Praguejando baixinho, Kane deixou o quarto e fechou a porta. Moriah respirou aliviada. Os dois estavam na beira do precipício, e ela não fazia a mínima idéia de onde eles aterrissariam se decidissem pular.
Kane já estava trabalhando quando ela acordou no dia seguinte. Depois de lavar o rosto e se vestir, desceu até a cozinha, onde encontrou um bilhete que dizia para ela se servir do que quisesse para o café­da­manhã.
Após tomar uma xícara de café, ela pegou a bolsa e seguiu para seu carro. Ao chegar ao chalé, sem ser vista por ninguém conhecido, sentiu­se vitoriosa. Fofocas sobre ter passado a noite na casa de Kane eram a última coisa que precisava para completar sua visita a Whitehorn.
Depois de trocar de roupa, vestindo uma blusa e uma saia, ela voltou para a cidade, estacionou atrás da casa e seguiu para o consultório.
O caos era completo.
Pacientes reclamavam, esperando a sua vez, e duas mães estavam com os filhos em prantos no colo. A enfermeira estava tentando descobrir quanto cobrar de um paciente. O telefone tocava sem parar.
Moriah colocou a bolsa sobre a mesa e atendeu o telefone.
– Consultório do dr. Hunter. A enfermeira a fitou surpresa.
Ela tapou o bocal com uma das mãos.
– Sou a nova secretária – anunciou.
– Graças a Deus. – A enfermeira colocou a conta sobre a mesa e deixou a recepção. – Sra. Rivers – chamou.
Moriah não teve mais um minuto sequer para pensar durante o resto do dia. Às 18h, o último paciente deixou o consultório. A enfermeira trancou a porta e virou­se para Moriah.
– Você deve ser Moriah Gilmore. Sou Sandy Mason. – Algo a ver com a Joalheria Mason?
– Sou casada com o filho. Clark está à frente de tudo, agora. O pai dele aparece todos os dias para se certificar de que ele não está fazendo besteira. – Ela sorriu. – Permita­me parabenizá­la. Jamais havia visto alguém assumir um consultório como você fez hoje e ter tudo sob controle em tão pouco tempo.
– É gentileza sua, mas receio que esteja longe de ter tudo sob controle. Só está empilhado Projeto Revisoras
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direitinho para que as pessoas achem que há um sistema.
Elas riram.
Kane apareceu na porta.
– Alguém quer jantar? Estou pagando.
– Obrigada, mas tenho de ir para casa – respondeu Sandy.
Moriah hesitou, depois assentiu. Precisavam conversar sobre a viagem até Great Falls no dia seguinte e sobre o emprego – horário, salário, etc...
– Só me dê um minuto para eu me trocar. Instantes depois, Kane apareceu, amedrontadoramente lindo, usando jeans, botas pretas e uma camisa de flanela vermelha, aberta sobre uma camiseta branca.
– Vamos?
– Vamos – Moriah murmurou.
– Quer passar no chalé antes para se trocar? – Ele ofereceu ao deixarem a casa.
– Aonde vamos?
– Sugiro um restaurante na saída da auto­estrada 191, que tem o melhor camarão frito do estado.
– Fica muito longe? Ainda preciso arrumar algumas coisas para a viagem de amanhã...
– Não vai precisar de nada. A viagem de avião leva no máximo uma hora.
– Sim, mas pensei em ir de carro e ficar... Ele se colocou diante dela.
– Pensei que ia aceitar o trabalho e se mudar para cá.
– Bem, tenho de fazer alguma coisa com meus móveis e fechar o apartamento. Pensei em cuidar disso enquanto Melanie estivesse no recesso escolar.
– Conheço algumas pessoas. Posso cuidar de tudo em um dia.
– Um dia?
– Claro! – Ele sorriu. – Tudo é possível quando se conhece a pessoa certa. Prefere comer no Hip­
Hop? É mais perto do que o outro lugar.
– Seria ótimo.
Sem ter certeza de com o que concordara, Moriah seguiu com ele rua abaixo.
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Na lanchonete, ele contou para Lily Mae que Moriah estava se mudando de volta para a cidade e que ela era sua nova secretária.
Moriah pôde ver a especulação nos olhos da viúva.
– É apenas temporário – ela disse, rapidamente. – Só até eu encontrar o meu pai.
Ela fitou Kane desafiadoramente. Recusava­se a ser forçada a cometer outro erro por causa dele.
Contudo, quando voltaram para o consultório, ela ligou para o chefe e avisou que não retornaria. Sua mão tremia um pouco ao desligar. Não tinha a menor idéia de qual seria seu futuro.
Capítulo 9
Melanie estava no aeroporto quando Moriah e Kane chegaram.
– A mãe de Jessy me deixou aqui – ela explicou. – Não se importa que eu tenha vindo encontrá­
los, não é?
Moriah notou que a pergunta fora dirigida a Kane e não a ela, mas tratou de responder antes que ele fizesse:
– Não, tudo bem.
– Você falou com a vovó? – Melanie perguntou. – Ainda não. Mas pretendo ir vê­la antes de partirmos. Desentendera­se com a mãe na primeira vez em que saiu de casa com Melanie. Provavelmente, o mesmo aconteceria desta vez.
Logo, alugaram um carro e se puseram a caminho. No apartamento, Kane ligou para a empresa de mudanças. Ele providenciou para que os móveis dela fossem guardados em um depósito. Moriah ligou para o síndico, que concordou em deixar os homens da mudança entrarem na segunda­feira e em cuidar de tudo. Por volta do meio­dia, tudo já estava providenciado. Moriah pediu que Kane a deixasse na loja da mãe, enquanto ele e Melanie almoçavam. Mais tarde, ela pegaria um táxi e os encontraria no aeroporto.
***
– Quer que eu a acompanhe? – ele perguntou, baixinho.
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Ela sacudiu a cabeça.
– Posso enfrentar minhas próprias batalhas. Moriah se despediu e seguiu para a loja, onde adentrou o escritório da mãe sem sequer bater. A mãe franziu a testa diante da intromissão, mas, ao reconhecer a filha, mostrou­se surpresa... e inquieta.
– Tenho algumas perguntas a lhe fazer – disse Moriah, fechando a porta depois de entrar.
Moriah estava estranhamente calma no interior do táxi, durante o trajeto até o aeroporto. A conversa com a mãe não fora demorada, mas provara ser muito esclarecedora.
Quando a confrontara a respeito da verdade sobre os telefonemas e as cartas, Joleen não negara sua interferência, mas insistira que tinha agido no melhor interesse de todos os envolvidos. Ficou furiosa com a filha por questionar seus motivos.
– E quanto às cartas do meu pai? – Moriah perguntara. – Como foi do meu melhor interesse pensar que meu pai me abandonara? Ou do de Melanie jamais conhecer o avô?
Joleen pelo menos teve a dignidade de aparentar vergonha por um instante. Depois, começou a vociferar contra Homer e Whitehorn, alegando que eles a haviam impedido de ser tudo o que ela podia ser, visto que ninguém jamais acreditara que ela seria capaz de tocar o próprio negócio. Durante anos planejara mostrar a todos o seu verdadeiro potencial. E o fizera.
Moriah olhou ao redor, e se deu conta de que o escritório representava o mundo da mãe. A loja era a coisa mais importante de sua vida. Também percebeu outras coisas.
A mãe era possessiva, mas não amorosa. Usara Moriah como uma desculpa para fazer o que quisera fazer durante anos – deixar Whitehorn. Também usara Moriah como mão­de­obra barata, quando a loja estava começando, mas jamais lhe oferecera sociedade.
Sabendo que a mãe jamais admitiria que seus atos haviam sido por outro motivo que não o melhor para a família, Moriah ficara de pé e deixara o escritório. Uma tristeza infinita tomara conta dela. A mãe não precisava de ninguém, Tinha o que sempre quisera.
Olhando através da janela do táxi, foi capaz de enxergar o passado através de uma ótica totalmente nova, porém dolorosa.
Acreditando­se abandonada pelos homens de sua vida, Moriah sentira­se grata pela ajuda e pelos conselhos da mãe. Acreditara em Joleen, nas suas mentiras sobre Kane e o pai, mas, no final das contas, fora Joleen quem a usara, e não Kane.
Era difícil aceitar. Considerando o seu amor pela filha, Moriah jamais questionara os motivos da Projeto Revisoras
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mãe.
– Por que casou com meu pai? – perguntara antes de ir embora.
– Nasci em uma fazendinha nas montanhas. Deveria tentar isso, para ver o que é trabalhar de verdade. Seu pai apareceu. Ele era divertido, simpático e cheio de promessas, que, é claro, não cumpriu depois que eu casei com ele.
Moriah jamais soubera a extensão da raiva e amargura da mãe em relação a Homer.
– Ele não realizou as suas ambições – disse. – Tinha os próprios sonhos.
– Ele era um tolo. Olhe para a vida dele, depois olhe para a minha, e me diga quem falhou e quem foi bem­sucedido.
Moriah olhou para a mãe. Suas roupas eram caras e ela parecia importante. Era tudo o que Joleen queria na vida.
– Espero que aproveite o seu sucesso – disse ao abrir a porta. – Melanie e eu estamos voltando para Whitehorn. Não creio que voltaremos.
– Está cometendo um erro – alertou­a Joleen.
– Talvez. Mas ele vai ser cometido sem mentiras e subterfúgios.
Exceto por mentir para Kane e Melanie sobre o relacionamento deles. Ela não sabia como consertar isso.
– Não venha correndo para mim quando se meter em encrenca novamente.
Moriah sentiu o sangue lhe subir à cabeça, mas conseguiu manter a dignidade.
– Pode deixar. – Percebeu que não havia mais nada a ser dito. – Adeus, mamãe – murmurou ao sair.
Kane estava carregando os suprimentos no avião quando Moriah chegou. Melanie o estava ajudando. Ele deixou a adolescente continuar com a tarefa, e foi ao encontro de Moriah.
– Você está bem?
– Estou. – Moriah o fitou, sentindo­se atordoada e anestesiada. – Cometi tantos erros.
– Conversaremos sobre isso mais tarde. – Meu pai...
Ela foi incapaz de prosseguir.
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– Nós o encontraremos. Vamos, entre.
Ele a conduziu até o avião e a ajudou a embarcar. Moriah se sentiu como uma inválida.
Logo decolaram. As dúvidas de Moriah quanto à sua decisão ficavam maiores a cada quilômetro que passava. Agora, era tão difícil saber se fizera a coisa certa.
Melanie parecia não ter dúvidas.
– Não vejo a hora de ir embora daqui. Onde vamos ficar? – ela perguntou, virando­se para trás no banco da frente, onde a mãe insistira para que ela sentasse.
Moriah engoliu em seco. Se ficassem em Whitehorn, se alguém notasse que os olhos castanhos de Melanie tinham as bordas da íris esverdeadas como os de Kane, o que ela iria dizer?
– No chalé – respondeu. Melanie pareceu não gostar.
– Mas fica tão longe da cidade. O rancho onde Keith trabalha fica na direção oposta.
Moriah mal registrou a reclamação em seu consciente. Se ficassem, ela teria de contar a Kane sobre a filha, antes que alguém como Lily Mae descobrisse e espalhasse pela cidade.
Mas não agora. Já tivera sua cota de confrontações pelo futuro próximo. Mais tarde, quando se sentisse mais confiante. Quando a vida não parecesse tão difícil e seu caminho estivesse claro.
– Sua primeira preocupação não é rever Keith, é? – Kane perguntou a Melanie. –A prioridade é encontrar seu avô, não é?
– Ah, é. Claro que é. – Melanie suspirou e sorriu para Kane. – Eu me portei como uma menininha mimada e egoísta, não foi?
– Só um pouquinho – ele admitiu, retribuindo o sorriso.
Melanie virou­se novamente para trás.
– Desculpe, mamãe. Sei que está preocupada com o vovô, com a mudança e com tudo mais.
– Tudo bem.
– Nós vamos encontrá­lo – afirmou Melanie.
Moriah torcia para que sim. Pressentia que algo terrível estava para acontecer. Só não sabia o quê.
Melanie passou os olhos pelo chalé.
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– Vamos ficar aqui, nós duas em um quarto só? – indagou com incredulidade.
– Isso mesmo – confirmou Moriah.
Melanie colocou suas coisas sobre uma das camas de armar e, em silêncio, acompanhou a mãe lá fora para trazerem as compras para dentro.
Moriah não pôde deixar de se sentir culpada por submeter Melanie àquele ambiente parco. Embora a menina houvesse insistido para vir.
Talvez devesse ter explicado antes onde ficariam até alugar um apartamento.
Ela e Kane não haviam discutido o seu salário e, agora, se sentia constrangida de perguntar. Pegando duas sacolas de enlatados, seguiu para a cozinha. Logo estaria na hora da janta, e, depois, na de ir para a cama.
– Mas como vamos receber ligações? O chalé não tem telefone – Melanie lembrou à mãe.
– Eu sei – respondeu Moriah, inspirando fundo. Moriah podia notar o ar de decepção e desespero da filha. Ao notar que a mãe a observava, Melanie sorriu, como se fosse a pessoa mais feliz do mundo.
Bom Deus, pensou Moriah, deixe­me encontrar meu pai antes que comece a nevar, e, depois, permita que eu encontre outro emprego, e que possa sair daqui antes que Melanie descubra a verdade...
Moriah não queria nem pensar no que aconteceria nesse caso. E quanto a Kane? O que ele faria? Ambos acabariam por odiá­la...
– Que tal dar uma caminhada antes de começarmos a preparar o jantar? – sugeriu com um ânimo que estava longe de sentir.
– Claro – concordou a filha. – Quando vamos à cidade? Preciso ligar para Keith para avisá­lo de que estou aqui.
– Que tal quando voltarmos da caminhada? Podemos até comer na lanchonete. Tem um telefone público bem em frente. Pode usá­lo para ligar para Keith.
Uma hora depois de terem voltado da cidade para o chalé, Keith Colson chegou. Ele e Melanie ficaram conversando na caminhonete dele até às dez, enquanto Moriah tentava ler um livro no interior do chalé.
Na segunda­feira, Moriah matriculou Melanie na escola e depois foi trabalhar. Ao chegar pouco depois das 9h, encontrou o consultório cheio.
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– Graças a Deus está aqui – disse Sandy Mason. Ela entregou uma pilha de fichas para Moriah. – Isso tudo precisa ser preenchido. Abrimos um pouco mais cedo hoje. Está havendo uma epidemia de gripe.
E como estava.
Por volta de meio­dia, estavam com as consultas todas atrasadas, devido à chegada de cada vez mais pacientes em busca de algo para a febre e as dores. Não deu nem para parar para almoçar. Moriah teve de ligar para o Hip­Hop Café e pedir comida para os três.
Melanie chegou após a escola. Moriah deu uma parada de 15 minutos para falar com a filha.
Kane passou pela recepção.
– Olá, Melanie, como foi o seu primeiro dia?
– Ótimo. Estou na aula de cálculo e já arrumei uma vaga no jornal da escola.
– Você vai ser médica, jornalista ou uma famosa matemática? – ele indagou, em tom de brincadeira.
Ela sorriu e franziu o nariz.
– É difícil escolher. Há tantas opções.
– É, todos nós precisamos fazer escolhas.
Seu olhar penetrante se voltou para Moriah, fazendo com que ela sentisse o impacto de cada escolha que fizera nos últimos 16 anos.
– Bem, tenho dever de casa para fazer. A propósito, preciso de um emprego para depois da escola, para ajudar a pagar o meu vestido de Natal. Será que não está precisando de mais alguém para ajudar por aqui?
– Claro. O consultório está na maior desordem. Eu lhe pagarei para colocar tudo no devido lugar. Sob a supervisão de sua mãe, é claro. É ela quem administra o lugar, e a palavra final é dela.
Kane e Melanie se viraram para Moriah. Desconcertada, ela assentiu e murmurou:
– Sim, é claro. Há muito a fazer.
– Isso mesmo – concordou Kane. Está contratada – disse para Melanie, e estabeleceu uma quantia generosa por hora de trabalho.
– Puxa! – exclamou Melanie. Ela sorriu para a mãe. – Keith me convidou para ir com ele no baile do final do semestre.
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Moriah teve de sorrir quando a filha jogou os braços ao redor de seu pescoço e a abraçou bem apertado.
Quando a filha a soltou, ela teve a impressão de, por um breve instante, ter notado algo de estranho na expressão do rosto de Kane. Saudade? Solidão?
Ele sorriu, e apontou para a papelada empilhada sobre a mesa.
– Está se virando muito bem – disse, a título de elogio. – Vários pacientes já elogiaram sua segurança, eficiência e simpatia.
– Eu lhe disse que mamãe era ótima – disse Melanie.
– E disse mesmo – ele concordou, fitando intensamente Moriah.
– É melhor voltarmos ao trabalho – ela sugeriu, nervosa diante do olhar de Kane.
– Só mais uma coisa. Pedi que entregassem um celular aqui, hoje. É para você, visto que não tem telefone no chalé.
Moriah fez menção de protestar.
– Como parte da minha equipe, preciso ser capaz de contatá­la em caso de emergência. – Ele se virou para Melanie. – Pode usar o meu escritório para o seu dever de casa. A escola vem em primeiro lugar. Se suas notas caírem, está despedida.
– Sim, senhor – disse Melanie. Ele sorriu.
– Se sentir fome quando chegar da escola, tem sempre algo para beber e beliscar na geladeira. Sirva­se à vontade. O mesmo vale para você – ele disse para Moriah.
Moriah assentiu, atordoada com a facilidade com que Kane as aceitava em sua vida. Melanie pegou os livros e seguiu para a ala residencial da casa.
Kane a fitou.
– Você ainda não me disse como foi com sua mãe. Está tudo bem?
A preocupação de Kane a comoveu.
– Digamos que concordamos em discordar.
Após um segundo fitando­a nos olhos, ele retribuiu o sorriso.
– Certo.
Ele voltou ao trabalho.
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Moriah ficou sentada ali por um instante, confortada pelo apoio e a solidariedade de Kane, pelo seu carinho.
Na terça­feira, Moriah e Sandy ficaram sozinhas no consultório, enquanto Kane atendia na clínica da reserva. Na quarta, ele folgou a metade do dia e saiu para cuidar de algum compromisso misterioso. Ela o escutou ao telefone, antes de sair. Kane estava encomendando madeira.
O resto da semana foi tão movimentado que ela apenas o viu de passagem algumas vezes. Ele e Melanie sequer se encontraram.
Quando Melanie chegou ao consultório, na sexta, Moriah decidiu que algo precisava ser feito em relação ao consultório de Kane. Estava uma bagunça, e ele tinha ido atender alguma emergência no hospital, cancelando suas consultas do dia.
– O que devemos fazer primeiro? – perguntou Melanie.
– Colocar os livros na estante – sugeriu Moriah.
Às 5 da tarde, todos os livros já estavam dispostos nas prateleiras, em ordem alfabética, e os papéis e documentos haviam sido separados em pilhas para serem arquivados, guardados ou jogados fora.
Melanie sugeriu limpar os móveis enquanto Moriah se encarregava dos papéis.
Por volta das 18h, Moriah se espreguiçou diante do gabinete de arquivos.
– Mamãe, venha ver – chamou Melanie.
Ela entrou no consultório de Kane. Os móveis brilhavam como se fossem novos.
– Ficou ótimo – disse Moriah, elogiando o trabalho da filha.
– Concordo – disse uma voz grave vinda de trás dela. Moriah olhou por sobre o ombro. Kane apoiou as mãos no vão da porta e espiou para dentro do consultório. Ela estava tão perto que foi capaz de inalar o perfume másculo e sentir o calor do corpo de Kane.
– Um trabalho tão bom merece recompensa. Que tal eu lhes pagar um jantar?
– Oba! – exclamou Melanie. Ela esfregou as costas. – Nossa, como estou cansada. Você deve estar morta, mamãe. Trabalhou nisso o dia todo.
Kane pousou a mão no ombro de Moriah, depois massageou­lhe os músculos tensos com grande habilidade. Ela se recordou daquela noite na cozinha.
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– Obrigado por todo o seu trabalho – ele murmurou, próximo à orelha dela. – Isso foi muito além do dever. Vou precisar lhe dar um aumento.
– Falando em aumento, você ainda não me disse quanto vou ganhar – ela falou, afastando­se dele.
Ele lhe deu o valor. Era mais do que ela ganhava em Great Falls. Tinha certeza de que era mais do que ganharia em qualquer cidade pequena como Whitehorn.
– É até demais – ela protestou.
Não queria que alguém descobrisse o seu salário e achasse que ele estava lhe pagando mais do que apenas o trabalho de secretária.
Ele a fitou com uma expressão obstinada.
– Não para uma gerente de escritório.
– E quem eu estou gerenciando? Eu mesma?
– E Melanie, por enquanto. Mais tarde, podemos contratar uma recepcionista em tempo integral.
Após fitá­lo por alguns instantes, Moriah suspirou, e resolveu não insistir.
– É melhor nós irmos – disse para Melanie.
– É melhor mesmo – concordou Kane. – Ou a lanchonete vai ficar cheia demais.
Quando entraram na lanchonete, Melanie prendeu a respiração.
– Lá está Keith – sussurrou.
Kane cumprimentou o homem e a mulher sentados à mesa com o jovem, e depois apresentou Moriah e Melanie a Luke e Maris Rivers e ao seu filho. Moriah se recordava de já ter visto a mulher no consultório.
Kane lhes disse que os dois criavam cavalos de sela em sua fazenda. Maris era uma mulher bonita que parecia não ter o costume de usar maquiagem, e provavelmente jamais fizera dieta na vida. O outro filho deles, Clay, tinha pouco mais de um ano de idade e se parecia muito com o pai.
Estavam comemorando o aniversário de Keith, que havia completado 19 anos de idade.
Um ano mais velho que Kane, quando ele voltara para casa da faculdade, para passar o recesso de Natal. Notando os olhares que a filha e o jovem trocavam, Moriah sentiu um aperto no coração. Ela sabia como o amor podia ser devastador.
A família Rivers abriu espaço na mesa para os recém­chegados. A conversa durante a refeição foi animada. Moriah aprendeu muito sobre cavalos, pois Melanie, com sua curiosidade inata, fez um Projeto Revisoras
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milhão de perguntas.
Moriah sentiu­se em casa, sentada ali entre Kane e Melanie, conversando com Keith e o outro casal. Kane parecia o seu marido, ali do seu lado, daquele jeito.
Só que não era.
Quando terminaram, e todo mundo comeu uma fatia do bolo de Keith – inclusive Clay, que evidentemente idolatrava o "irmão mais velho" –, o jovem pigarreou.
– Estou com a minha caminhonete. Será que posso deixar Melanie em casa?
Todos os olhos se voltaram para Moriah. Era um pedido inocente, feito com coragem diante de quatro adultos. Ela deu permissão.
Melanie e Keith eram só sorrisos. Maris assentiu, em sinal de aprovação. Obviamente considerava Keith muito especial.
– Alguma novidade quanto ao seu pai? – perguntou Luke.
– Não. Estou pensando em contratar alguém com cães para tentar rastreá­lo.
Kane aprovou.
– E uma boa idéia.
– Keith tem um dos melhores farejadores do condado – informou Luke. Ele se virou para o jovem caubói. – O que acha de levar Blackie para um passeio? Eu lhe dou o final de semana de folga. Sem descontar do salário – acrescentou, sorrindo.
– Eu topo – disse Keith.
– Ah, isso seria maravilhoso – exclamou Melanie. – Não seria fantástico se encontrasse o meu avô?
Keith enrubesceu diante da maneira como Melanie o olhou, mas havia um brilho de orgulho em seus olhos ao fitar a jovem com adoração. Ele já estava apaixonado por Melanie.
Moriah se perguntou se algum dia havia sido tão jovem e apaixonada? Sem dúvida a resposta era sim.
– Tenho de ir – disse abruptamente. – Foi um prazer conhecê­los. – Ela pousou a mão no ombro da filha. – Espero você no chalé daqui a uma hora.
– Uma hora? – protestou Melanie. – É sexta­feira. Amanhã não tem escola.
– Eu a deixo em casa às 22h – prometeu Keith. – E, se quiser, posso estar com Blackie no chalé Projeto Revisoras
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amanhã às 7h.
– Obrigada.
Ela se despediu do casal.
Kane pagou a conta e a acompanhou de volta até o consultório, para pegar o carro.
– Eu a seguirei até o chalé.
– Não há necessidade de dirigir até lá, e depois voltar.
Ele sorriu e afastou­se sem dizer mais nada. Moriah entrou no carro e o ligou. Quando chegou à rua, a caminhonete de Kane se posicionou atrás dela. Ele a acompanhou durante todo o trajeto até o chalé. Chegando lá, deu meia­volta e retornou para a cidade.
Instantes mais tarde, de pé na varanda, ela se permitiu pensar em Kane – em vez de evitar o assunto, como vinha fazendo durante toda a semana.
Independente do quanto se evitassem, a atração entre os dois era inegável. Observá­lo com os pacientes só fazia piorar as coisas. Kane era fantástico com eles, tranqüilo e carinhoso. Não era de surpreender que o adorassem.
Tudo o que amara nele, anos atrás, tinha florescido e concretizado no homem em que ele se transformara. Kane alcançara todos os seus objetivos. Sua visão incluía uma vida melhor para o seu povo na reserva e para os habitantes da cidade também.
Ela não pôde deixar de notar a ironia da situação. Seu sonho de trabalhar com ele se concretizara de uma forma totalmente inesperada – como uma funcionária, não como sua esposa.
Certa vez, ele lhe dissera que ela era a luz da alma dele. Mas isso fora há muito tempo. Com certeza não pensava o mesmo agora. Além do mais, havia um outro fator – Lori Bains, a mulher que, obviamente, era perfeita para ele.
Inquieta, Moriah entrou e foi se preparar para dormir, com medo dos sentimentos que não conseguia controlar, com medo de se apaixonar por ele – pelo homem, não pelo menino que outrora conhecera e amara, mas por Kane, como ele era agora, maduro e maravilhoso.
Keith chegou pontualmente às 7 da manhã. Trazia consigo uma enorme cadela preta, que logo se derreteu para Melanie.
Ninguém estava imune aos encantos de sua filha, pensou Moriah, sorrindo.
Instantes depois, após deixarem Blackie cheirar uma camisa pertencente a Homer, os jovens Projeto Revisoras
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pegaram uma das trilhas, levando consigo uma mochila com comida suficiente para passar o dia. Sentindo­se cansada, Moriah não quis acompanhá­los.
Entrando, pôs­se a arrumar os livros e a papelada do pai. Mais tarde, escutou um veículo chegando à clareira.
Ao sair, deparou com Kane descendo da caminhonete.
– Keith já chegou? – ele perguntou.
– Já. Ele e Melanie já partiram com a cachorra. Chegou atrasado.
Ele sacudiu a cabeça.
– Vim ver você.
Ele se deteve no degrau abaixo do que ela estava, e seus olhos se encontraram no mesmo nível. Dando­se conta de que podia escutar o próprio coração batendo, Moriah levou a mão ao peito, numa tentativa de acalmar­se. Resistiu ao impulso de dar um passo à frente. Se o fizesse, estaria nos braços dele.
– Hã? Por quê?
Sua tentativa de aparentar casualidade foi traída pelo tremor em sua voz.
– Após a semana maluca que tivemos no consultório, achei que poderia estar precisando de uma folga. – Ele fez um gesto na direção da caminhonete. – Que tal darmos uma volta? Podemos pegar as estradas secundárias e ver se encontramos algo que nos leve a Homer.
Ele colocou de tal forma que ela não teve outra saída senão aceitar.
– Preciso trocar de roupa...
– Você está ótima.
Estava com roupas velhas e desbotadas, sem maquiagem e com o cabelo preso para trás em uma trança. Mas não importava. O propósito do passeio era procurar o pai, não sair com o solteirão cobiçado da cidade.
– Vou trocar os sapatos.
Ele assentiu e sentou na varanda para aguardar enquanto ela calçava botinas, para o caso de precisarem explorar alguma trilha.
Depois de deixar um bilhete para Melanie, ela se juntou a Kane na varanda, e os dois subiram na caminhonete.
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Kane seguiu para uma estrada de terra secundária que separava o rancho dos Baxter da próspera propriedade dos Kincaid. Moriah procurou atentamente algum sinal de Homer, mas não viu qualquer indício de que ele houvesse estado por ali.
Pouco após o meio­dia, pegaram uma estrada de cascalho que corria ao longo da mata:
– Onde estamos? – ela perguntou.
– Na reserva. Isso pertencia à propriedade dos Kincaid, antes do término do contrato de arrendamento.
– Recordo­me de ter lido nos jornais algo a respeito de uma disputa quanto aos termos do arrendamento. O advogado dos Kincaid quis alegar direito de posse, ou algo parecido.
– É. – Kane sorriu. – Só que, desta vez, os índios venceram.
Ela também sorriu, satisfeita em saber que a justiça fora feita. Quando Kane entrou na estrada principal, ela se perguntou se ele os estaria levando para a sede tribal. Só que, ao pegarem a estrada que cruzava a entrada da reserva, ele virou para a direita, em vez de para a esquerda.
Minutos depois, pegou uma rua ladeada de pinheiros, andou um quilômetro, parou diante de uma casa parcialmente construída e desligou o motor.
– Quer comer alguma coisa? – ofereceu. Meio hesitante, ela assentiu.
Kane observou com atenção a reação de Moriah. Apesar de surpresa com o convite, não demonstrou medo. Fitando aqueles olhos castanhos, descobriu que queria tomá­la nos braços e beijá­la até que ela se derretesse neles. Mas não o fez.
Em vez disso, desceu da caminhonete e fez sinal para que ela o seguisse até a casa. Isso fazia parte do seu plano – ficar um pouco sozinho com Moriah, para que ela começasse a conhecê­lo novamente. Estava determinado a seguir o conselho de Lori.
– De quem é essa casa? – ela perguntou.
– Minha. Estou construindo­a nos meus momentos de folga – ele explicou, diante da expressão inquisitiva de Moriah.
– Ah – murmurou, obviamente surpresa. – Outro dia, eu o escutei encomendar madeira.
– Venha. – Ele convidou, caminhando para a entrada. – O exterior já está quase terminado. Agora, estou trabalhando no interior.
Kane descobriu que estava curiosamente ansioso para saber a opinião dela, ao lhe mostrar o Projeto Revisoras
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interior da casa.
– A suíte principal fica no andar debaixo – disse, e a conduziu escada acima. – No segundo andar, temos quatro quartos para hóspedes... ou para crianças.
– Crianças – ela repetiu, ficando ruborizada.
Por um instante, ele pensou ter visto uma intensa tristeza nos olhos de Moriah. Então ela sorriu e olhou ao redor.
– Vai ficar lindo quando você terminar. – Vai.
Apoiando­se no vão da porta, Kane a fitou de perto.
Com o cabelo preso para trás em uma trança, ela parecia ter 17 anos de idade –jovem, cheia de esperanças e incrivelmente vulnerável...
Ele praguejou em silêncio. Ela não era mais uma garota ingênua. Era uma mulher que dissera amá­lo, mas que duvidara desse amor diante do primeiro obstáculo, mesmo sabendo que a mãe jamais gostara dele.
Havia paixão entre eles. Seria isso bastante para construir um relacionamento? Era o que ele queria descobrir.
– Suponho que Lori já tenha escolhido as cores. Sem olhar para ele, Moriah esforçou­se para sorrir. A brisa através da janela aberta trouxe o perfume de
Moriah até ele. O desejo voltou a atingir seu ponto de combustão, e Kane sentiu a virilha latejar. Ele quase esqueceu o que ela dissera ao fitar­lhe o contorno do corpo esbelto diante da janela.
– Não – disse por fim. – Lori e eu... não estamos mais juntos.
Moriah corou, depois ficou ligeiramente pálida. Ela brincava com o botão da camisa. Kane queria substituir as mãos dela pelas suas. Desabotoá­los um a um e ver a pele sedosa se tornar visível.
– Eu lamento – ela sussurrou. – Foi por minha causa e... Foi por casa do que aconteceu entre nós?
Ela mordiscou o lábio inferior, que tremia ligeiramente.
– Em parte – ele admitiu. – Nós éramos amigos, não amantes. Era hora de seguir adiante ou dar um basta.
Ele pensou em como seria passar a língua pelo lábio trêmulo, provar o doce ardor de sua boca. Projeto Revisoras
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Incapaz de resistir, ele chegou mais perto.
Os olhos dos dois se encontraram. Uma expressão aturdida refletiu­se nos dela, antes que Moriah se virasse e seguisse para a escada.
– De fato, vai ficar lindo – disse, descendo a escada. – É melhor nós irmos.
Ele a seguiu, e a alcançou antes que ela chegasse à porta.
– O almoço está na cozinha.
Pegando­a pelo cotovelo, ele a conduziu por um pequeno corredor até chegar à cozinha, que era o único cômodo da casa com todas as paredes e mobiliado. Estava quase terminada.
Uma clarabóia sobre o fogão deixava o aposento bem claro. Uma mesa de carvalho estava posta para dois. Atordoada, sentou­se onde ele indicou.
Através da enorme janela dava para ver as montanhas a oeste.
As palavras de Kane não lhe saíam da cabeça. Ele e Lori não estavam mais juntos. Eram amigos, e não amantes. Teve medo de pensar no que isso poderia significar... Ou em por que ele a trouxera até ali.
– E quanto à sua casa na cidade? – ela perguntou, numa tentativa de mudar de assunto. – O que vai fazer com ela quando acabar essa aqui?
– Vou mantê­la como consultório. Talvez alugue os outros quartos.
– Ah, sim, claro.
Ele pegou umas tigelas de dentro da geladeira moderna de duas portas e serviu nos pratos a salada de frango chinesa. Também colocou na mesa uma cesta de pães e uma jarra de chá gelado antes de sentar na cadeira diante dela.
– Aqui vai ser o meu lar, onde vou criar minha família.
– Sua família – ela repetiu.
– É. – Com os olhos fixos nela, mas enxergando uma visão que apenas ele era capaz de ver, Kane mordeu um pedaço de pão e mastigou pensativamente. – Quero filhos, no mínimo dois, talvez mais. Vou ter de discutir isso com minha mulher.
– Entendo.
A garganta dela doía de tão seca que estava. Os olhos dele se estreitaram ao fitá­la.
– Tem sorte de ter Melanie. Ela é adorável. Fez um ótimo trabalho ao criá­la.
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Diga­lhe. Diga­lhe agora.
Ela abriu a boca, mas tudo que saiu foi um débil:
– Obrigada.
Ele seguiu falando de seus planos para a casa e a propriedade de centenas de hectares da qual era dono.
De algum modo, Moriah conseguiu se forçar a comer. Quando a refeição terminou, ela o ajudou com os pratos, de pé ao lado dele, enxugando­os com um pano, após Kane os ter lavado.
A cena era puramente doméstica. Despertava a saudade de muitas coisas com a qual ela sonhara durante anos – ter o próprio lar, partilhá­lo com um marido que a amava do fundo do coração, do mesmo modo que o amava, criar os filhos juntos.
Tinha 34 anos de idade. Se quisesse ter mais filhos, não poderia demorar muito.
Kane adora bebês.
É, ela podia ver isso. Estava construindo essa casa para a família. Moriah sentiu um aperto no coração. Tinha de lhe contar a respeito da filha. Bom Deus, precisava...
– Moriah – ele murmurou, subitamente perto e pousando as mãos nos ombros dela. Estava sério, com uma expressão determinada, quase zangada, quando se inclinou em sua direção. – Há horas que estou querendo fazer isso.
Os lábios dele cobriram os dela, quentes, firmas e sensuais. Ela não conseguiu respirar. Quando, por fim, conseguiu, inalou o perfume suave da loção pós­barba de Kane. Ele era tão maravilhoso que ela ficou tonta.
Ela se agarrou às lapelas do colete de Kane e se segurou quando a língua dele começou a explorar o interior de sua boca. O mundo desapareceu diante da investida daquela paixão, e Moriah se sentiu incapaz de resistir a ele e aos próprios sentimentos conturbados.
Com a mão, ele lhe acariciou as costas, os quadris, e depois a puxou de encontro a si, encaixando­os como duas peças de um mesmo quebra­cabeça, duas metades de um todo.
Ah, sim, ela pensou. Ele era parte dela. E ela era dele. Moriah o amava... Ela o amava... Como o amava.
– Kane – ela sussurrou. – Precisamos conversar. – Não. – Ele sacudiu a cabeça, beijando­a ao longo do pescoço, abrindo­lhe os botões da blusa enquanto descia na direção dos seios. – A conversa nunca nos leva a lugar algum. É assim que nos Projeto Revisoras
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comunicamos melhor.
Com um gesto rápido, ele abriu o sutiã e o empurrou para cima, enquanto a boca seguia direto para um dos mamilos rijos. Tomada de puro êxtase, Moriah fechou os olhos. Não conseguia pensar, mas precisava fazê­lo.
Com milhares de carícias com a boca e as mãos, ele lhe mostrou o prazer que ela lhe dava.
– Kane... Quando me toca... Não consigo pensar – ela confessou, puxando­o mais para perto de si, sentindo a mão dele se fechar sobre um dos seios.
Ele ergueu a cabeça e a fitou intensamente nos olhos.
– Como pôde compartilhar isso comigo e, depois, se jogar nos braços de outro homem, e ter uma filha com ele, em menos de um ano? – indagou, surpreendendo­a com a angústia no olhar. – O toque dele lhe dava tanto prazer quanto o meu? Você costumava dar aqueles gritinhos de prazer capazes de levar um homem à loucura?
– Não – ela protestou. – Tem muita coisa que você não entende...
Kane a interrompeu, beijando­a com fúria, antes de dizer:
– Mudei de idéia. Não quero saber. O passado está morto e enterrado. Existe apenas o agora, esse instante, eu e você.
Antes que ela pudesse responder, ele a beijou novamente. Acariciou­a com a língua, com as mãos, com todo o corpo, até todos os pensamentos desaparecerem.
As mãos de Kane desceram até o jeans de Moriah e abriram o fecho. Depois, ele puxou­lhe a calça e a calcinha quadril abaixo. Foi só quando a colocou sobre a bancada que Moriah se deu conta de suas intenções.
– Kane, não. Não podemos – sussurrou, ofegante, desejando­o mais do que o próprio ar que respirava, mas sabendo que, naquele instante, não podia aceitar a sua dádiva de prazer. – Paixão não é o bastante.
Ele estremeceu nos braços dela, depois ergueu a cabeça de onde vinha trilhando beijos pelo pescoço de Moriah. A intensa paixão abandonou­lhe os olhos, e o rosto ficou imóvel, como se houvesse sido esculpido em granito.
– Tem razão – disse, sem nenhuma emoção na voz. – Paixão não foi o bastante antes. Por que diabos fui achar que seria desta vez?
Ele a colocou no chão e se afastou, como se não suportasse a mera idéia de tocar nela. Moriah sentiu vontade de chorar, mas sabia que precisavam conversar.
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– É sobre Melanie – disse, ajeitando as roupas. Ele lhe deu as costas. – Agora não. Não quero falar sobre ela agora. – Kane olhou para o relógio. – Eu a levarei para casa. Tenho de estar no hospital em uma hora.
Olhando para o rosto dele, deu­se conta de que Kane não estava pronto para escutar nada que ela tivesse a dizer. Estava zangado com ela, mas Moriah não sabia muito bem por quê. Não sabia bem como o havia magoado.
Mas havia a questão da filha. Antes de irem mais longe, precisavam esclarecer o passado.
– Por favor – disse.
Ele se virou para ela, mas, antes que Moriah pudesse contar a verdade, o toque de um telefone celular rompeu o silêncio. Kane retirou o aparelho do bolso e o atendeu.
– Só um minuto – disse, e entregou o celular para Moriah. – É para você.
Após alguns minutos de conversa, ela desligou o aparelho e o devolveu para Kane.
– Melanie e Keith acharam uma mochila – disse, atordoada com a notícia que a filha lhe dera. – Havia um diário dentro dela. Estão achando que pertence ao meu pai. Ela ligou para o xerife. Ele está reunindo um grupo de busca. Temos de ir.
Após trancar a casa, os dois seguiram para o chalé de Homer na caminhonete de Kane.
Capítulo 10
Enquanto bebia uma xícara de chá quente, Kane observava Winona Cobbs, que trazia nas mãos uma camisa de Homer.
Há cinco semanas que o velho prospector estava desaparecido. O grupo de busca havia vasculhado em um raio de um quilômetro ao redor do ponto onde fora encontrada a mochila. Nada foi achado.
Winona, com suas habilidades psíquicas, já havia sido de ajuda inestimável em outros casos no passado. Talvez pudesse ajudá­los nesse também. Dar­lhes alguma pista, ou pelo menos lhes dizer se o velho ainda estava vivo.
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Kane parecia inquieto. Estava cansado da coisa toda, da busca por alguém que provavelmente não queria ser encontrado, de se sentir culpado por algo que acontecera há anos, e de Moriah ficar tensa cada vez que ele se aproximava.
No entanto, houve inúmeros momentos de incrível ternura entre os dois. Ele a queria... como a mulher de sua vida. Será que a amava? Sentiu um aperto no coração.
Winona abriu os olhos e o fitou. Ele percebeu que ela estava tendo uma visão.
– Existem coisas que você vai descobrir – ela disse, por fim. – Deve agir com grande sabedoria, ou perderá algo que lhe é muito querido. Não permita que a raiva controle suas ações. E tenha cuidado com as palavras.
Ele notou que as mãos da mulher apertavam a camisa. Será que ela estava falando dele ou se referindo a Homer?
A vidente suspirou, e depois colocou de lado a camisa.
– Não acho que Homer esteja morto – disse, com os olhos estreitados, como se estivesse fitando um lugar distante. – Eu o vejo em uma caverna.
– Uma caverna? – Kane pousou a caneca na mesa e inclinou­se para a frente. – Ele costuma explorar minas antigas nas montanhas. Será que a caverna não é uma delas?
– Pode ser. – Ela franziu a testa. – Mas tem um portão com um cadeado. E a mulher de duas caras.
– O quê?
– Eu já a vi antes... Espere, algo está vindo... – Winona fechou os olhos. – Um hospital... dor... a mulher de duas caras. Não, outra pessoa. Ela está ferida... – Winona abriu os olhos e olhou ao redor, tentando se orientar após a visão. – Safiras são valiosas na medicina? – perguntou.
Kane ficou surpreso com a pergunta.
– Existe uma nova tecnologia na qual elas são usadas em cirurgias a laser. Como sabe disso?
– Vi um quarto de hospital. Uma mulher estava na cama, com o rosto esmagado. Duas enfermeiras estavam conversando sobre usar safiras para algum procedimento.
Winona sacudiu a cabeça. Ela estava um pouco pálida. Kane tomou­lhe a pulsação. Estava acelerada e errática.
– Foi a coisa mais esquisita – ela prosseguiu. – Por um instante, vi a mulher de duas caras. Há mais de um ano que estou tendo visões com ela. Ela possui um corpo, mas dois rostos, um sobreposto ao Projeto Revisoras
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outro.
Ela se interrompeu subitamente, estreitando os olhos.
– Costumava haver uma mina de safiras no condado – disse Kane. – Acho que ficava na terra dos Kincaid.
– Na terra dos Baxter – corrigiu Winona.
Uma expressão de surpresa apareceu em seu rosto. Ela levou ambas as mãos ao peito.
– Winona? O que foi?
– A menina dos Baxter... Não, o rancho dos Baxter... Homer está perto dali. Não sei bem onde... Cercado de montanhas, terreno acidentado. Mas casas, casas de madeira... Nada. – Ela suspirou. – Por um instante, pensei ter visto algo.
– Ele provavelmente está passeando por aquelas montanhas enquanto nós estamos morrendo de preocupação aqui na cidade – disse Kane, fazendo uma careta.
– Agora, quanto a você... – disse a vidente, fitando­o com determinação. – Eu?
– É. Dê­me sua mão.
Com a palma virada para cima, ele pousou a mão sobre a dela. Winona a fitou por vários minutos.
– Logo vai fazer uma descoberta surpreendente, uma descoberta que o deixará confuso e zangado – ela disse, baixinho. – Não se permita ser controlado pela raiva. Tenha muito, muito cuidado, Kane. Isso poderá afetar todo o seu futuro.
– E o que é?
Ela soltou a mão dele e ficou de pé.
– Não cabe a mim lhe dizer.
– Então, quem me dirá? – ele perguntou, impaciente.
– Logo vai saber. Acho que até o final da semana.
Ela pegou o gato e começou a acariciá­lo. Era como se o estivesse dispensando, agora que já o alertara a respeito da coisa misteriosa que ele deveria descobrir.
Kane se deu conta de como estava cansado. Passara a madrugada fazendo o parto de um casal de gêmeos na reserva, e depois trabalhara várias horas no hospital. Estava se sentindo esgotado e solitário.
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Quase riu só de lembrar do conselho de Lori sobre cortejar Moriah. Após o episódio em sua casa, ela estava ainda mais tensa com ele. Não conseguia entendê­la.
Contudo, ela era excelente administradora de escritório. Ela e a filha haviam colocado as fichas em ordem. A recepção também estava arrumada. Melanie estava agora organizando as fichas de antigos pacientes.
Moriah havia transformado um dos quartos vagos da antiga casa em estilo vitoriano em uma sala de espera infantil, com diversos brinquedos, que estava funcionando às mil maravilhas.
Winona interrompeu seus pensamentos.
– Você ainda a ama – ela disse, baixinho. – Vá lhe dizer isso, Kane. Agora, antes que seja tarde demais.
Ele bebeu o restinho do chá e levantou para ir embora.
– Já é tarde demais. Dezesseis anos tarde demais.
Kane acordou com o toque estridente do telefone. Por um instante, considerou ignorá­lo e deixar que a secretária eletrônica atendesse. Mas podia ser uma emergência.
– Hunter – disse ao atender.
– Kane, é Moriah.
Seu coração disparou. Ele olhou para o relógio e viu que era quase uma da madrugada. Mais uma vez havia adormecido na poltrona do gabinete.
– O que foi?
– Você viu Melanie?
– Não, por quê?
– Era para ela ter voltado à meia­noite. Pensei que, talvez, pudesse tê­los visto. Eles foram a uma feira artesanal na reserva com alguns amigos de Keith.
– É, essa feira levanta um bom dinheiro para a tribo. Mas eu não estive lá.
– Soube de alguma batida de carro ou coisa parecida? Ele pôde perceber que ela estava quase entrando em pânico.
– Estou certo de que ela estará em casa em breve. Provavelmente perderam a noção da hora.
Escutou apenas silêncio do outro lado da linha.
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– Olhe – ele disse, tentando tranqüilizá­la –, está se preocupando à toa. Keith é um bom rapaz. Ele tomará conta dela.
– Da mesma forma que você fez, pegando a confiança de uma jovem e a traindo? – Seguiu­se um instante de silêncio. – Desculpe. Não é verdade, e você não merecia ter que escutar isso.
Moriah desligou.
Por um instante, ele pensou em ligar de volta para ela... Ou talvez em ir até lá e confrontá­la cara a cara. Queria saber o que Moriah quisera dizer com aquele comentário maldoso. O passado o machucara tanto quanto a ela.
Pelos atos enganosos da sra. Gilmore. Talvez a mulher tivesse feito a coisa certa. Do jeito que as coisas estavam entre ele e Moriah, provavelmente já teriam se divorciado antes de chegarem ao décimo­
sexto aniversário de casamento.
Suspirando, ele se pôs a andar de um lado para o outro. Podia entender a preocupação dela com a filha.
Ele ligou para o despachante da delegacia. Não haviam sido notificados de nenhuma batida. Ligou para o hospital para se certificar de que não estavam lá. Não estavam.
Incapaz de pensar em mais nada para fazer, ele subiu para seu quarto. Estava prestes a se deitar quando o telefone tocou novamente.
– Kane, é Lori. Houve um acidente. Pode me encontrar no hospital? Você vai precisar se preparar para a cirurgia.
– Claro – ele disse, começando a se vestir. – Quem foi?
– Keith Colson. Aparentemente um carro o acertou e a caminhonete dele saiu da estrada e caiu em uma vala. Eu avistei a caminhonete quando estava voltando para casa. Estou levando­os para o hospital...
– Eles quem?
– Keith e a namorada. A filha de Moriah Gilmore. Bom Deus.
– Ela está machucada?
– Não, apenas abalada. Mas Keith está com um pedaço de metal enfiado no peito. Parece ser grave.
– Eu a vejo no hospital – ele disse e desligou. Ao chegar lá, entrou pelo setor de emergência.
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– Atenção – gritou. – Lori está trazendo duas vítimas de um acidente de carro. Uma delas com sérios ferimentos no tórax.
A equipe de trauma já estava de prontidão quando Lori chegou. Com a sirene ligada, uma viatura do departamento do xerife vinha abrindo caminho para o carro dela.
Kane viu a filha de Moriah descer do veículo. Havia um machucado em sua testa. Uma onda de alívio o percorreu – pelo menos não teria de ligar para Moriah e informá­la de que a filha estava seriamente ferida.
Kane estremeceu ao ver o pedaço de ferro enfiado no peito do rapaz. Podia apostar que eles haviam se metido em um racha. Estava decepcionado com Keith.
Melanie entrou no hospital ao lado da maça que trazia Keith.
– Coloque­a em um quarto para observação – Kane disse para uma enfermeira. – Caso o quadro dela não se modifique, eu a examinarei amanhã de manhã. Ligue para a mãe dela.
Ele acompanhou a maca na direção do centro cirúrgico. A noite ia ser longa.
Às 4h Kane saiu do centro cirúrgico. Ele jogou a máscara e as luvas de borracha no lixo e esfregou os olhos. Com fome, seguiu para a lanchonete e pediu o café­da­manhã. Um policial estava sentado à mesa, bebendo café e preenchendo o boletim de ocorrência. Kane sentou diante dele com sua bandeja.
– Como está o rapaz? – perguntou o policial.
– Vai ficar bom.
O policial contou o que sabia a respeito do acidente.
– Pelo que a garota me contou, estavam com pressa de chegar em casa por estarem atrasados. Um carro se aproximou por trás em alta velocidade. Quando os ultrapassou, ele se jogou contra a caminhonete e atingiu a roda, fazendo com que Colson perdesse o controle do veículo. A caminhonete acertou uma caixa de correio, atravessou a vala e abalroou um dos postes da cerca. Foi isso que causou o estrago todo.
Kane terminou sua refeição e bebeu o café quente. O policial ficou de pé.
– Bem, tenho de ir. Ainda tenho duas horas de patrulha.
– Boa noite – despediu­se Kane.
Ele também estava cansado e queria ir para casa. Primeiro, precisava ver como estava Melanie e Projeto Revisoras
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certificar­se de que a enfermeira avisara Moriah. Depois seguiria para casa.
Para dormir na poltrona?
A noite que Moriah dormira em sua cama assombrava os seus sonhos. Talvez fosse por isso que não conseguia mais dormir nela. Bastava entrar debaixo das cobertas para começar a imaginar todo tipo de coisa.
Depois de terminar o café, seguiu para o posto das enfermeiras e pegou a ficha de Melanie. Daria uma olhada rápida na garota e iria embora.
Enquanto descia o corredor, verificou os dados de Melanie. Notou que o tipo sangüíneo dela era B positivo. O mesmo que o seu.
Do lado de fora da porta, deteve­se, franzindo a testa. A informação no prontuário não podia estar certa. Ela listava a data de nascimento de Melanie no mês passado... 16 anos atrás.
Ele fitou a data. Moriah havia dito que a menina tinha 15 anos de idade. Por um instante, chegara a se perguntar se a menina não seria filha dele, mas Moriah dissera...
Kane não conseguiu respirar. Não conseguiu pensar. Dúvida, suspeita e incredulidade o paralisavam. Não podia ser...
Sua mente voltou a funcionar, a todo vapor.
Moriah... sempre nervosa quando ele estava perto da menina. Melanie... com o mesmo tipo sangüíneo que ele.
Cabelos escuros, como o dele. Olhos castanhos, mais escuros do que os castanho­dourados da mãe. Com manchas verdes circundando a íris. Notara no dia em que ela limpou o consultório. Os olhos dele eram parecidos.
E o aniversário dela. De dezembro, quando ele e Moriah namoraram, até setembro, quando Melanie nascera, eram nove meses. Nove malditos meses!
Não foi à toa que Moriah deixou a cidade durante o recesso da primavera. Ela estava grávida de quatro meses. Grávida de Melanie. Da sua filha. Kane apoiou­se na parede.
Melanie... sua filha.
Dele.
E de Moriah.
Ele tinha muito que queria dizer para ela. Conteve a enxurrada de palavrões que teria deixado Projeto Revisoras
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qualquer marinheiro chocado, e entrou silenciosamente no quarto... e ficou paralisado.
Moriah estava dormindo na poltrona. Ele reprimiu tudo o que queria lhe dizer e seguiu para a cama. Ficou ali olhando para a menina adormecida sobre ela.
Sua filha. A filha que jamais soubera ter. A filha que ele teria assumido. A filha que teria amado.
A raiva começou a se manifestar, incendiando­o.
Não permita que a raiva o controle.
Será que fora isso que Winona vira?
Bem, era tarde demais. Ele já estava zangado. E ia conseguir respostas para algumas questões de vital importância muito em breve.
Ele caminhou até Moriah e a tocou no braço. Ela acordou sobressaltada, mas sorriu ao ver que era ele. Kane não retribuiu o sorriso. Fez um sinal na direção da porta, indicando que ela deveria segui­
lo.
Em silêncio, ele a guiou até a lanchonete.
– A enfermeira disse que Keith vai ficar bem – Moriah disse, com uma interrogação no olhar.
Kane assentiu. Ela parecia exausta, vulnerável e emocionalmente esgotada. O coração dele se apertou diante daquela visão.
Mas ele se recusava a sentir pena de Moriah. Fora responsável pelo que quer que houvesse acontecido, ao negar­lhe um lugar na vida dela... Um lugar na vida da filha dele. A raiva voltou a se manifestar.
Após pegar uma xícara de café para cada um, eles se instalaram em uma mesa afastada, nos fundos da lanchonete.
Ele sentou diante dela e a estudou por um longo minuto.
– Eu vi a data de nascimento de Melanie – disse, baixinho.
Um minuto, ou uma eternidade, se passou. Moriah tentou pensar. Nada lhe veio à cabeça. Passara a semana inteira tentando lhe contar, mas não encontrara a oportunidade.
– Também vi o tipo sangüíneo dela... que é o mesmo que o meu, caso não saiba – ele acrescentou.
– Kane...
O que poderia dizer? Bastava olhar para o rosto de Kane para ver que ele jamais a perdoaria por Projeto Revisoras
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esse erro, independente do que ela dissesse. Moriah empertigou­se e o encarou.
– Por que diabos não me contou? – Ele exigiu saber.
– Como? Eu liguei e não obtive resposta... Pelo menos, nenhuma de que eu soubesse – ela acrescentou. – Eu escrevi. O que mais deveria fazer? Colocar um anúncio no jornal?
– Sua mãe...
Ele se interrompeu, como se a raiva fosse mais do que podia conter. Parecia louco para bater em alguma coisa.
– É, minha mãe – ela disse, com tristeza.
– Posso entender como ela interceptou minhas cartas, mas como impediu as suas de chegar a mim?
Moriah sorriu e sentiu a amargura atingir­lhe o fundo da alma.
– Eu colocava as cartas na nossa caixa de correio. Jamais me ocorreu que ela poderia removê­las. Eu confiava nela.
– Nela, mas não em mim. Fico me lembrando de que você era jovem e estava com medo, mas não é suficiente. O problema é que não confiou em mim, o homem que supostamente amava. Não achou que eu poderia cuidar de você e do bebê...
– E não podia – ela disse, apertando com força a xícara. – Não tinha dinheiro. Estava cursando a faculdade graças a uma bolsa de estudos. Pensei que me odiaria se a perdesse.
Ela cruzou os braços sobre o peito. Seu coração parecia doer com cada batida. Estava cansada da tensão entre ela e aquele homem.
– Mas não me perguntou... Não perguntou ao pai de sua filha. Minha filha. Jamais tive escolha. Eu nunca a conheci. E ainda não a teria conhecido se não fosse o desaparecimento do seu pai. Deus, será que tem idéia do que isso faz com uma pessoa?
– Tenho.
Ela conhecia muito bem a raiva, a frustração e a mágoa que via nos olhos de Kane. Ele suspirou de frustração.
– O que você vai fazer? – ela perguntou, por fim. – A respeito de Melanie?
O silêncio que tomou conta da lanchonete enquanto Moriah aguardava uma resposta estava lhe dando nos nervos. Kane passou a mão pelos cabelos.
– Não sei. – Ele fechou os olhos e massageou a parte superior do nariz. – Simplesmente não sei.
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Moriah se deu conta de como ele devia estar exausto. Tivera seu sono interrompido, depois correra para o hospital para operar Keith, e agora... isso.
Ela queria se desculpar, só não sabia como fazê­lo.
– Você... Será que temos de contar para ela? Quero dizer...
Ele a fitou como se não conseguisse acreditar no que ela havia dito.
– Pode apostar que temos de contar para ela.
– Quero dizer... agora. Precisarei de algum tempo para...
Kane aproximou o rosto do dela.
– Vinte e quatro horas – disse. – É tudo o que tem. Você já teve 16 anos.
– Será que me deixa contar para ela? Gostaria de poder explicar a situação.
– Virá­la contra mim, você quer dizer.
Ele parecia disposto a evitar que ela tivesse qualquer contato com Melanie.
– Não, não é isso – ela protestou, perguntando­se se ele poderia impedi­la de entrar no quarto de Melanie.
Não, ele não faria isso.
Conhecia­o bem o suficiente para saber que, no momento, eram a raiva e o choque que falavam por ele. Mais tarde, poderiam conversar mais razoavelmente.
– Não vou falar nada negativo a seu respeito – ela prometeu, com a voz trêmula.
– Pode apostar que não vai mesmo. Estarei a seu lado o tempo todo. Nós dois daremos nossa versão do ocorrido.
– Kane, por favor – ela sussurrou.
Não sabia se seria capaz de encarar ele e Melanie juntos. Ambos contra ela...
– Você vai chorar? Ela sacudiu a cabeça.
– Não. Fiz isso anos atrás. É tarde demais para lágrimas.
– Muito bem. Então, quando vai contar para ela? Quero vê­la logo em seguida.
– Ela vai poder voltar para casa hoje? – Vai.
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– Então, tentarei... – Diante do olhar dele, ela recomeçou: – Vou explicar tudo quando chegarmos ao chalé.
Ele inspirou profundamente e assentiu.
– Eu passo lá depois do jantar. – Ele fez uma pausa. – Ou posso levar uma pizza. Ela gosta de pizza?
– Gosta, com bastante pimentão e cebola. Como você espera se encaixar?
– O que quer dizer?
– O que espera em relação a Melanie?
Ele a olhou de tal modo que ela se perdeu no que estava falando. Ele realmente a odiava.
– Espero que permita que Melanie e eu tomemos nossas próprias decisões. Nós determinaremos como será o nosso relacionamento. Você não se meterá nisso.
– Não deixarei que a tome de mim. Eu o deterei... Ele levantou da cadeira e a fitou.
– Pois tente – avisou. – Se você se recusar a permitir que eu a veja, a levarei aos tribunais na mesma hora.
Ela se recusou a se deixar intimidar.
– Terá de provar a sua paternidade – ela disse, sem saber ao certo como a lei funcionava quanto a isso, mas determinada a não ceder. – Até que consiga isso, eu sou a mãe dela. Melanie é menor de idade, e eu tenho a sua guarda.
– Paternidade se determina muito rapidamente nos dias de hoje.
– Exame de DNA – ela murmurou.
– Isso mesmo.
Kane forçou­se a sentar novamente. A adrenalina bombeava a toda. Queria ir aos tribunais naquele minuto. Queria a filha.
Uma filha. Ele tinha uma filha. Sentiu­se relaxar pela primeira vez em horas. Melanie. Já gostava dela como pessoa. Tê­la como filha era... Havia tanto tempo perdido a ser recuperado.
Filmes para ver. Livros para discutir. A casa nova. Precisava levá­la para vê­la. Ela poderia escolher o quarto que quisesse, ajudá­lo a construí­lo, se assim o quisesse. Bom Deus, havia tanto que tinham a aprender um a respeito do outro.
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A Descoberta da Paixão
Sentiu uma tremenda tristeza por todas as coisas que perdera – o primeiro sorriso dela, os primeiros passos, as primeiras palavras.
A raiva voltou a se manifestar. Fitou Moriah com uma lista de exigências na ponta da língua. As palavras morreram em sua garganta.
Ela estava encolhida na cadeira. Parecia que seu mundo havia ruído. Kane descobriu que era incapaz de machucá­la. Mas ela tivera seu tempo com Melanie – 16 anos. Agora era a vez dele.
– Quero a guarda compartilhada – disse, reprimindo a necessidade tola de ir até ela e abraçá­la.
Ela esfregou as têmporas. Provavelmente estava com a maior dor de cabeça que já tivera. Ele desviou o olhar antes que se derretesse todo.
– Quando poderei levá­la para casa? – Moriah perguntou, ignorando a última exigência de Kane.
– Darei alta a ela por volta das 9h.
Ele olhou para o relógio. Estava na hora de ir, tomar um banho e se trocar para trabalhar. Tinha um dia cheio pela frente, e ainda teria de planejar o que diria para Melanie. Não conseguia pensar em palavras capazes de descrever o que estava sentindo.
Bom Deus, sua filha! Ainda não conseguia acreditar. Sentia­se como se fosse acordar a qualquer momento.
Olhou para Moriah. Se ele estava sonhando, ela estava tendo um pesadelo. Parecia ter chegado ao seu limite.
– É melhor ir dormir um pouco. Vai precisar descansar algumas horas antes de falar com sua... nossa filha.
– Como faremos para compartilhar a guarda?
– Melanie já tem idade para decidir onde e com quem quer morar.
Ela fez uma careta.
– Sabe que ela vai escolher você. Você é algo novo, empolgante, diferente... – Moriah se interrompeu, tomada de pesar.
Kane sentiu um aperto no coração. No tocante a ela, não era tão durão quanto pensava. Diabos...
Uma idéia lhe veio à cabeça, uma idéia maluca, era bem verdade, mas a solução do dilema.
– Poderíamos casar – escutou­se dizer. – Desse modo daríamos um lar de verdade para Melanie, o lar que deveríamos ter lhe dado anos atrás.
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Capítulo 11
Casar. Casar. Casar.
A palavra ecoava em sua cabeça.
– Casar – ela repetiu. – Não podemos. – Por que não?
A pergunta fora feita como um desafio. Moriah não enxergou nenhum amor nos olhos dele, nenhuma afeição, nem mesmo carinho. Ele parecia apenas odiá­la.
– Não posso – disse, baixinho. – Não sem... Ela sacudiu a cabeça.
– Sem amor? É isso que está faltando? Desconfio que vários casamentos começaram baseados apenas na paixão. – Seu olhar percorreu­lhe o corpo, lembrando­a das carícias que haviam compartilhado. – No momento, o futuro de Melanie é minha maior preocupação. Por necessidade, isso inclui você.
Ela estremeceu diante das palavras.
– Traga a pizza por volta das 18h – disse, aceitando o inevitável.
Após fitá­la por um longo instante, Kane assentiu e seguiu para a porta. Ao chegar lá, deteve­se e disse:
– Não quero magoá­la. Não vou tentar tirar Melanie de você. Isso seria errado. Quero apenas minha cota do tempo e da afeição dela.
Kane esperou até que ela assentisse e foi embora. No caminho de casa, perguntou­se no que estava pensando ao sugerir algo tão bizarro como o casamento. Moriah obviamente achou que ele havia perdido a razão.
Talvez houvesse mesmo, mas, quanto mais pensava no assunto, menos considerava a proposta absurda. Tinham uma filha juntos. Haviam feito amor de tal modo que nenhum dos dois jamais vivenciara. Certamente se davam bem no trabalho. Kane sorriu. Ele cuidava dos pacientes, Moriah Projeto Revisoras
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cuidava de todo o resto.
Era uma boa base para o casamento.
Mas e quanto ao amor?
Amor?, zombou. O que era isso?
Outrora amara Moriah com todas as forças. Não se dedicaria de corpo e alma à sua felicidade como o teria feito quando jovem. Aprendera a lição. Mas ainda queria uma família. Com Moriah, já teria uma pronta. É, o casamento era a solução.
Inspirou profundamente e admitiu a verdade. Era um tolo, mas essa era a solução que ele queria. Agora só teria de convencer Moriah.
– Não acredito – Melanie disse, pela vigésima vez. Ela recebera a notícia de sua paternidade com o mais absoluto deleite. – Kane Hunter... meu pai!
Moriah acrescentou outro pedaço de lenha ao fogo. O dia estava ficando progressivamente frio, à medida que uma tempestade se aproximava. Sentindo­se velha e cansada, ela voltou a sentar na cadeira e olhou através da janela. Era difícil olhar para a felicidade no rosto da filha. Cada exclamação de alegria era como uma facada em seu coração.
– Eu sou índia – Melanie murmurou, ao se dar conta do fato. – Meio­índia. Jessy vai morrer quando eu lhe contar. Vai ficar verde de inveja só de ver Kane... papai... meu pai... Céus, nem sei como chamá­lo. Mamãe, como eu...
O ronco de um motor interrompeu a conversa unilateral.
Moriah virou­se apreensiva para a porta. Ao escutar os passos de Kane na varanda, tentou levantar, mas as pernas não a obedeceram.
Ele bateu à porta e a abriu. O cheiro de pizza preencheu o ambiente. – Jantar! – ele anunciou ao entrar.
Pela primeira vez, Moriah notou hesitação nele. Kane estava tão abalado pela sua recém­
descoberta paternidade quanto Melanie. Quando seu olhar se voltou para a filha, a incerteza desapareceu de seu rosto. Não havia dúvida quanto aos sentimentos dele por ela.
Melanie levantou da cama. Kane colocou a pizza sobre a mesa e abriu os braços para ela, que correu para ele.
– Papai – murmurou, chorosa. – Ah, Kane, nem consigo acreditar que é o meu pai. É tão Projeto Revisoras
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maravilhoso.
Moriah observou quando, como um só, o braço dele a redor dos ombros da menina, eles se viraram para ela.
Quase perdeu o fôlego ao ver como os dois ficavam bem juntos. Sentiu­se sozinha e com medo. Não podia culpar Kane por amar Melanie. Como poderia? Só de olhar para ele era dominada por sentimentos que não podia controlar – o próprio amor que sentia por este homem, seu primeiro amor, seu único amor...
– Mamãe me contou tudo – disse Melanie, fitando Kane com adoração nos olhos.
– Tudo? – ele perguntou, baixinho, olhando inquisitivamente para Moriah.
– Tudo – ela confirmou, assentindo. – Incluindo participação da minha mãe.
– Vovó foi muito cruel em não permitir que falasse com mamãe quando ligou para ela – disse Melanie, indignada.
– O pedido – ele disse. – Conversou com ela sobre isso?
Moriah ficou sem saber o que dizer. Não havia levado a sério a sugestão do casamento.
– Pedido? Que pedido? – Melanie insistiu em saber, olhando de um adulto para o outro. – Vocês vão casar?
– Eu...
– Estamos conversando a respeito – Kane respondeu em seu lugar.
Seu olhar era um desafio que sacudiu Moriah até o fundo de sua alma.
Uma força invisível a empurrava em direção a um destino que não podia aceitar. Casar com ele, não por amor, mas pelo bem da filha... Não, não podia. Queria muito mais...
– Eu acho que seria ótimo – disse Melanie. – Seríamos uma família. Moraríamos juntos. – Ela olhou para Kane. – Será que tem espaço para nós na sua casa?
– É claro. E, talvez, até o ano que vem eu já tenha terminado a casa nova...
– Que casa nova?
– A que estou construindo. – Ele descreveu detalhadamente o lar que estava construindo para si mesmo. – Pode me ajudar a escolher as cores. Não sou muito bom nessa parte.
– Ah, mamãe e eu somos ótimas com decoração.
Moriah estava ocupada pondo a mesa para o jantar. Após colocar uma jarra de limonada fresca Projeto Revisoras
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sobre a mesa, disse:
– É melhor comermos. Melanie pegou uma fatia de pizza e voltou para a cama com o prato e um copo de suco, deixando as duas cadeiras para os adultos.
Kane sentou diante de Moriah. Não tirou os olhos dela ao devorar metade de sua fatia. Ele parecia satisfeito Sabia que já havia vencido a batalha pela filha... pela filha deles. Provavelmente pensava que também venceria batalha pelo casamento.
Ela suspirou. Se ao menos ele pudesse amá­la nova mente, do modo como já a amara, do modo como ela amava agora!
– Essa é minha comida favorita – disse Melanie.
– Foi o que a sua mãe me disse.
– Quando foi que a viu?
– Hoje de manhã, no hospital. – Ele lançou um olhar duro na direção de Moriah. – Depois de ter visto a data de nascimento no seu prontuário, e ter descoberto que era minha filha.
Melanie fitou os pais com os olhos brilhando.
– Como devo chamá­lo? Kane deu de ombros.
– Como quiser.
– O que acha de... pai?
– Ótimo. Eles sorriram um para o outro, pai e filha, tão em
sintonia que partia o coração de Moriah. À medida que se aproximavam, ao explorar a nova relação, seus próprios vínculos com a menina pareciam estar se rompendo, um a um.
– Você vai voltar para o hospital hoje, pai?
Kane olhou para o relógio.
– Vou. Tenho de sair daqui a pouco.
– Só consegui ver Keith por alguns minutos antes de vir para casa. Ele não estava acordado. Será que posso ir com você?
– Claro. Na verdade, ele perguntou por você quando fui vê­lo. – Ele se virou para Moriah. – Você se incomoda se ela voltar para a cidade comigo?
Ela foi pega de surpresa pela pergunta.
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– Claro que não. Se acha melhor... Quero dizer, se for bom para Keith...
Ela se interrompeu, sem saber bem o que dizer.
– Ótimo. Pode vir conosco. Tenho algumas coisas para discutir com você. Podemos conversar enquanto Melanie visita Keith.
Ela assentiu e terminou o pedaço de pizza. Durante o passeio até a cidade, sentaram­se todos no banco da frente, com Melanie no meio.
– Exatamente como uma família – disse a menina, sorrindo para a mãe.
A intenção da menina de bancar o cupido não passou despercebida a Moriah. E nem a Kane.
No hospital, a enfermeira informou Kane que Luke e Maris Rivers haviam acabado de ir embora, após visitar o rapaz.
No quarto de Keith havia uma caixa de bombons e um enorme vaso de flores. Os bombons foram deixados ali por Melanie quando ela o visitara antes de ir para casa.
– Obrigado pelos bombons – sussurrou o rapaz, abrindo os olhos quando eles entraram.
– Ah, Keith! – Melanie exclamou baixinho.
Eles deram as mãos e se fitaram um nos olhos do outro.
– Estou bem – murmurou o caubói. – O doutor deu um jeito em mim.
Ele sorriu para Kane, que deu uma olhada no prontuário dele e se aproximou da cama.
Depois de verificar as ataduras e fazer algumas perguntas, Kane fez sinal para que Moriah o acompanhasse para fora do quarto.
– Vamos deixar os meninos sozinhos por alguns minutos. Quer esperar na lanchonete enquanto termino minha ronda?
Ela assentiu, e seguiu corredor abaixo, sabendo que ele a estava observando. Só respirou com tranqüilidade depois de ter virado no final do corredor.
A lanchonete estava quase vazia quando chegou. Trazendo consigo uma xícara de café, pegou a mesa dos fundos. Encostando a cabeça na parede, fechou os olhos e tentou relaxar.
Despertou com o barulho de uma xícara sendo pousada na mesa. Sobressaltada, endireitou­se e fitou Kane do outro lado da mesa.
Sem desviar os olhos dela, ele tomou um gole do café.
– Melanie quer ficar na cidade para poder visitar Keith. Eu disse que, se você concordasse, para Projeto Revisoras
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mim não tinha problema.
O chão parecia ter ruído sob os pés de Moriah.
– Kane, não a tire de mim – implorou.
Ele trincou os dentes, como se estivesse reprimindo as palavras que realmente queria dizer.
– Você também é bem­vinda a ficar lá em casa. Ela parecia chocada.
– Diabos, Moriah – ele começou. Mas logo se interrompeu e procurou se recompor. – Pensei em nós três o dia inteiro. Eu estava falando sério.
Ela o fitou, tentando se decidir a qual conversa ele estava se referindo.
– Quanto à guarda compartilhada?
– Quanto ao casamento.
Um tremor percorreu o corpo dela. Casamento com Kane. Seu sonho se realizaria. Mas tarde demais.
– Ah, Kane, que chance um casamento entre nós teria? Ele seria um fracasso desde o início.
– Por quê? – ele indagou. – Eu lhe disse que queria uma família. Desse modo, consigo o que quero. E temos de pensar em Melanie. Ela precisa de um pai.
– Ela precisa de você – Moriah corrigiu baixinho, aceitando a verdade. – Se ela quiser ficar com você, não vou me opor. Vai me deixar livre para procurar meu pai. Vou poder ficar o dia todo fora. O tempo está mudando bem rápido, agora.
Ela ficou em silêncio ao pensar na neve e no frio glacial.
– Você ainda trabalha para mim – Kane disse, seriamente.
Ela o fitou com surpresa.
– Mas tudo mudou...
– Não, não mudou.
Ele sorriu, surpreendendo­a com a determinação em seus olhos. Kane havia tomado uma decisão, e nada o faria mudar de idéia.
– Você é a melhor administradora com que já trabalhei. Espero você no consultório amanhã de manhã. – Ele terminou seu café e ficou de pé. – Vamos, eu a deixarei em casa, pegarei algumas roupas para Melanie e voltarei para buscá­la, antes de seguir para casa.
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Seu olhar ficou mais suave ao notar a aflição que ela parecia ser incapaz de disfarçar.
– Não estou tentando roubá­la de você. Também pode vir. Se quiser.
Ela pôde ver nos olhos dele o desejo que ele parecia não poder, ou não querer, esconder. Também notou algo parecido com carinho.
Antes que pudesse indagar a respeito, ele seguiu para a porta. Atordoada, Moriah o seguiu até o estacionamento. Foi só ao chegar em casa que se deu conta de que não se despedira de Melanie. Mas perdera a filha no instante em que Kane descobrira que Melanie era dele.
Ela engoliu em seco. A culpa era toda dela. Sabia que não deveria ter voltado para Whitehorn.
Moriah sentou na varanda do chalé e ergueu o rosto para o sol. Recusara o convite de Kane para ficar na casa dele. Também não fora trabalhar naquela manhã. Precisava de um tempo para si.
Olhou para as montanhas que cercavam o chalé, e se perguntou se o pai não estaria soterrado sob algum desabamento. Deu­se conta de que poderia jamais vê­lo novamente, que ele talvez nunca tivesse a chance de conhecer a própria neta.
Inquieta, decidiu dar uma caminhada. Estava seguindo na direção de uma das trilhas quando escutou um barulho e se deteve. O barulho vinha de uma trilha acima da dela. Moriah conseguiu avistar alguém entre os arbustos, caminhando lentamente. Pouco mais adiante, ele ficou plenamente visível.
Por um instante, Moriah não reconheceu o velho cambaleante a cerca de 15 metros de distância dela, fitando­a através da folhagem. Seu cabelo grisalho ia até os ombros. A barba, até o peito. Ele a fitava através de olhos azuis fundos.
– Papai? – ela disse, incapaz de acreditar que aquele eremita era o homem que vira pela última vez há 16 anos.
– Moriah.
Ele estendeu a mão e cambaleou alguns metros, antes de cair no chão de joelhos. Ela correu até ele.
– Papai – sussurrou, ajoelhando­se ao lado dele e tentando encontrar sua pulsação.
No silêncio da mata, podia escutar a respiração irregular do pai.
– Pneumonia – murmurou, notando que ele estava com febre. – Tenho de levá­lo até a cidade.
Kane. Tinha de encontrar Kane. Ele saberia o que fazer. Ele cuidaria de seu pai.
– Eu encontrei – disse o pai. Ele olhou ao redor, desconfiado. – No meu bolso. Encontrei o que Projeto Revisoras
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estavam procurando, mas... não lhes disse nada.
– De quem você está falando?
Passando o braço ao redor da cintura dele, ela o guiou na direção do carro.
Ele agarrou a mão dela e a puxou para perto de si.
– Os alienígenas. Eles estão aqui. Não lhes disse nada. Estou com a prova no meu casaco.
Moriah o ajudou a entrar no carro. Recostou a cabeça dele no banco, enquanto lhe colocava o cinto de segurança. Sentindo objetos duros no bolso dele, ela retirou de dentro três pedras.
– Safiras – murmurou. Moriah estava apoiada na parede do corredor do hospital. Melanie estava ao seu lado. Kane estava no quarto com Homer, que desde terça­feira estava internado no hospital. Era a noite de domingo.
– Terminamos. Vocês podem entrar agora – disse o enfermeiro, e depois foi embora carregando os frascos de sangue.
Kane estava conversando calmamente com o velho quando elas entraram. O pai estava com uma aparência muito melhor do que quando ela o trouxera para o hospital, mas ainda dava para ver em seus olhos que estava doente e fraco.
Alguém lhe dera banho e lhe aparara a barba. O cabelo estava preso em duas trancas compridas que lhe pendiam sobre os ombros. Seu rosto era marcado por profundas rugas.
Judd Hensley, o xerife, veio interrogar Homer. Ele não mudou sua história: fora capturado por um alienígena. Sabia que havia outros, mas viu apenas um de cada vez. Os alienígenas queriam as safiras.
– Mas eu não lhes disse nada.
Depois que o xerife foi embora, Moriah perguntou:
– Onde foi que encontrou as safiras?
– Não lembro.
Ele parecia confuso e ansioso. Havia encontrado o seu tesouro apenas para perdê­lo quando o alienígena o deixou inconsciente. Não se lembrava de onde tinha estado.
Fora mantido prisioneiro na antiga cadeia da cidade mineira abandonada. A cadeia era um poço raso coberto por um portão de ferro que era trancado com um cadeado.
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Homer enganara os alienígenas. Usara uma pedra pontiaguda para quebrar as dobradiças e fugir. No começo, se perdera, mas logo encontrou o caminho do chalé, onde Moriah o achara.
Kane os encontrara no hospital. Homer, de fato, estava com pneumonia. Estava fora de perigo agora, e se recuperando rapidamente.
– Papai não é um médico maravilhoso? – Melanie perguntou, pegando a mão do avô. – Eu também vou ser médica.
Passado o choque inicial, Homer aceitara muito bem a notícia de que tinha uma neta. Moriah explicara tudo, antes de permitir a entrada de Melanie, inclusive a presença de Kane na vida delas.
Ele olhou de Kane para Moriah, e depois para a neta.
– Parece­me a decisão acertada. – Ele escutou uma leve batidinha na porta. – Será a janta? Estou faminto.
Moriah riu, e depois suspirou, dando­se conta de que a crise de fato havia terminado. Estava na hora de dar um rumo novamente na vida dela.
– Vai voltar para o trabalho amanhã? – Kane perguntou.
– Ainda não pensei a respeito. Passara os últimos dias com o pai. A desculpa perfeita para evitar ver Kane todos os dias no consultório.
– Nós estamos precisando de você, mãe – insistiu Melanie. – Papai não consegue achar nada, e Sandy está ameaçando pedir as contas, porque ele está muito rabugento. Se vocês dois casassem, poderíamos todos morar lá e manter tudo em ordem, não poderíamos?
– Já chega – disse Kane. – Vamos comer algo, enquanto Homer janta. Keith quer que você jante com ele – ele mencionou para Melanie que, na mesma hora, deu um beijo no avô e saiu em disparada do quarto.
Kane pegou Moriah pelo braço e a puxou para fora do quarto, antes que ela pudesse protestar.
– A idéia de casar comigo a incomoda tanto? – ele perguntou, quando estavam sozinhos.
– Eu... não... não pensei muito a esse respeito – ela mentiu.
Kane sacudiu a cabeça, de modo cansado, depois sorriu, ao ver o xerife vindo pelo corredor com um buquê de flores para a esposa.
Depois que Judd os cumprimentou, e seguiu seu caminho, ele explicou para Moriah:
– Os Hensley tiveram uma menina hoje de manhã. Lori disse que o parto correu muito bem.
Moriah assentiu, mas nada disse. Não estava disposta a deixar nem um vestígio de emoção Projeto Revisoras
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transparecer para ele.
– Já pensou em nós? – Kane perguntou, após terem terminado de jantar na lanchonete do hospital.
– O que quer dizer?
Como se ela não soubesse. Ele reprimiu a raiva que estava brotando em seu peito e esforçou­se para ser paciente.
– O casamento. Melanie. Constituir uma família. – Não.
Apenas uma palavra. Uma negação. – Não, você não pensou a respeito, ou não, você não quer casar comigo?
– Por que está fazendo isso? A vida não é difícil o suficiente sem...
Ela se interrompeu, e sacudiu a cabeça.
Por um instante, ele se sentiu culpado. Parecia que ela ia chorar. Será que a idéia de ficar com ele era tão terrível assim para ela?
– Isso não é uma decisão impensada. Pensei muito nos últimos dias. Daria a Melanie o lar que ela tanto quer. E daria a você um pouco de paz de espírito.
Ela o fitou nos olhos, e então desviou o olhar. Quando ela nada disse, Kane prosseguiu:
– Posso sustentar vocês duas. E a casa que estou construindo... Pensei que você ia gostar.
– Eu terei meu próprio quarto?
A pergunta o pegou de surpresa. Parecia um insulto, como se Moriah não suportasse a idéia de intimidade com ele.
– Quanto tempo acha que poderíamos morar na mesma casa sem coabitar? Não muito, eu acho.
Moriah se surpreendeu com a brusquidão de Kane.
– Caso venhamos a casar – ele prosseguiu com determinação impiedosa –, espero compartilhar um quarto com minha mulher. E a cama também.
Ela imaginou os dois dividindo uma casa, trabalhando juntos no consultório e voltando para casa no final do dia. Imaginou­os fazendo amor na cama enorme e confortável de Kane. Dividindo as preocupações com Melanie, ou rindo da irreverência da adolescente.
– Eu não sei – ela sussurrou.
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Ele inclinou a cabeça na direção dela.
– Você lembra do que compartilhamos no chalé? Teríamos isso todas as noites. Serei gentil com você – prometeu. – Esperarei até que me queira.
Ela se recordava de cada lindo instante do breve interlúdio no chalé.
Por dentro, sentiu o corpo amaciar­se, preparando­se para ele. O ardor se espalhava em ondas de desejo e necessidade. Mas será que paixão e uma filha adorável eram suficientes para consolidar um casamento? Em alguns anos, Melanie iria embora para a faculdade, e o desejo esfriaria.
– Pense a respeito – Kane aconselhou. Ele levou os lábios à têmpora de Moriah. – O perfume de seu cabelo me lembra maçãs frescas. Ah, Moriah, quero prová­la novamente.
Ele a beijou nos lábios, um beijo breve, mas ardente.
– Eu quero você – ele disse.
Ela ficou tão abalada que se viu incapaz de falar. Quando deixaram a lanchonete, inúmeras perguntas passaram pela sua cabeça. Poderiam construir um casamento apenas com lembranças de um mês de paixão e uma filha? E quanto aos sentimentos? Por que ele queria o casamento? Poderia facilmente seduzi­la...
Deu­se conta de que ele se sentia responsável por ela, assim como por Melanie.
– Pense nisso mais tarde. – Segurando­a pelo braço, ele a guiou corredor abaixo. – Agora, quero que vá buscar suas roupas e algumas para Homer. Ele vai precisar de cuidados e de um bom lugar para se recuperar. Podem ficar na minha casa.
Moriah suspirou, fechou o livro e fitou o fogo. O pai estava na cama, no andar de cima. Melanie havia ido visitar Keith no rancho dos Rivers. Kane voltara tarde do hospital e estava no banho.
O jantar estava esquentando no forno. O pai já comera antes de dormir, mas ela decidira esperar Kane.
Era noite de sexta­feira. Nas poucas noites que passaram com Kane, dividira um quarto com Melanie no terceiro andar.
O pedido de Kane não lhe saía da cabeça. A verdade era que queria casar com ele, mas tinha medo. A tentação de aceitar o que lhe era oferecido era grande. Ela porém queria mais. Queria lhe confessar o seu amor, e pedir o dele em troca. Será que queria o impossível?
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Capítulo 12
Quando Moriah escutou os passos de Kane na escada, seguiu para a cozinha para pôr a mesa. E, ao vê­lo chegar, seu coração foi ao pé e voltou. Ele era tão incrível – alta, orgulhoso e confiante, além, é claro, de lindo. Brilhante. Capaz. Atencioso. Tudo o que poderia querer em um companheiro.
Ao sentir a dor lhe perfurar a alma, ela ignorou mais uma vez. Kane puxou a cadeira para ela e esperou que ela se sentasse.
– Valeu a pena voltar para casa para isso – ele disse, sorrindo para ela e se preparando para comer a refeição simples que Moriah preparara.
Era bom ser elogiada. Sua mãe era tão perfeccionista que sempre encontrava algo de errado em tudo o que ela fazia. Moriah notara que Kane sempre procurava algo de positivo em todas as situações. Foi bom vê­lo devorar a refeição que ela preparara.
– Maggie Hawk teve um menino, hoje à tarde – ele comentou, quando já havia quase acabado. – Já lhe disse que ela é minha prima distante?
– Não, acho que não.
– A avó dela e a minha pertencem ao mesmo clã. Gostaria de apresentar Melanie à sua família indígena assim que possível.
Ele fitou Moriah, esperando algum tipo de oposição a seus planos. Ela assentiu.
– Jackson se saiu bem durante o parto, mas, mais tarde, ele me confidenciou que se perguntou como as mulheres perdoavam os homens, depois de passar por tudo isso. – Sua voz ficou mais suave. – Mas elas sempre perdoam.
Seus olhos se encontraram. Podia enxergar as perguntas no olhar dele:
Foi difícil para você? Será que algum dia me perdoará por não ter estado lá?
– Melanie foi um bebê maravilhoso – ela murmurou.
– Foi mesmo?
Moriah pôde perceber a tristeza na voz dele. Descobriu que queria compartilhar aqueles dias iniciais com ele, queria lhe dar a infância da filha.
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– Ah, foi. Pensei que ela tivesse sido um presente das fadas, de tão boazinha que era. Desde o instante em que nasceu, parecia amar a vida. E não havia desconhecidos para ela. Eu me preocupava com isso... a confiança dela nas pessoas.
Uma expressão de dor apareceu no rosto dele.
Moriah instintivamente pousou a mão no braço dele e, depois, a retirou.
– Kane – disse, sabendo que ele estava se recordando das palavras cruéis dela quanto a confiar nele e se sentir traída.
– Daria tudo para ser capaz de voltar no tempo e... estar ao seu lado. – Sua voz era baixa, e deixava evidente um arrependimento que ia até o fundo de sua alma. – Daria tudo para ter podido ver nossa filha vir ao mundo, para compartilhar com você o milagre da vida.
Moriah percebeu que estava prestes a perder o controle diante dele.
– Eu queria você ali, tanto que pensei que iria morrer – disse, com a voz tão trêmula que mal conseguiu proferir as palavras. – Sentia­me tão sozinha. E quando Melanie nasceu, ela preencheu todos os vazios. – Ela se interrompeu ao se dar conta de que isso não era verdade. – Quase todos.
– Entendo muito bem de solidão.
Olhando nos olhos dele, ela percebeu que isso era verdade.
– Voltar para a faculdade naquela primavera foi como ter minha alma despedaçada. Um desses pedaços era você. Sempre me perguntei se, estivesse onde estivesse, você estava feliz, ou se encontrara outra pessoa. Mesmo quando, enfim, comecei a namorar novamente, pensava em você.
– Com todas aquelas mulheres na faculdade, bonitas e maduras, pensei que eu fosse a última coisa em seus pensamentos.
– Nenhuma delas era tão bonita quanto você.
Seus olhos se encontraram. Moriah começou a se sentir mais forte e confiante.
– Nenhuma delas sabia fazer pão frito. – Kane zombou.
– Como você preparou para mim, uma vez. Estava uma delícia, melhor do que o que a minha avó preparava. Falando nela, ela vai me arrancar o couro se souber por outra pessoa que eu tenho uma filha. – Ele fez uma pausa. – Eu contei para ela sobre você, naquela primavera em que voltei para casa e você foi embora.
– Sobre mim?
– É. Ela sabia que eu tinha a doença do amor. Eu lhe contei tudo. Ela disse que apenas o tempo Projeto Revisoras
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poderia curar a ferida.
– Gostaria de ter tido alguém como ela – disse Moriah, lembrando­se da fúria da mãe diante dos problemas causados por ela.
– Eu levarei você e Melanie para conhecê­la. Ela mora nas montanhas. Vai querer conhecê­la antes de nos casarmos.
Moriah, sentindo dificuldade para respirar, levou a mão ao pescoço.
– Você está indo rápido demais, eu não disse...
– Sim – ele completou. – Mas vai. Ela queria. Ah, como queria.
– Você vai – ele repetiu, baixinho.
De repente, ele estava de pé ao lado dela. Segurou­a pelos braços e praticamente a ergueu da cadeira. Estavam cara a cara, sua respiração o único som no recinto.
– Kane... – ela gaguejou.
– Sim?
Ela precisou apenas se inclinar para a frente alguns poucos centímetros para tocar nele. Uma carga elétrica invisível era trocada entre os dois corpos, a potência de um desejo que jamais fora saciado.
As mãos de Kane pousaram nos ombros dela. Com movimentos circulares lentos, ele a massageou, dissipando suas dúvidas. Ele sempre fora tão carinhoso com ela.
Subitamente, os lábios de Kane estavam sobre os dela.
Foi o mais gentil dos beijos.
Ela se apoiou nele, incapaz de resistir. Os dias haviam sido intermináveis, a preocupação de procurar o pai e proteger a filha do passado incerto fora demais. Queria mergulhar na força dele e jamais vir à superfície.
Um beijo se transformou em mil, até que ela ergueu o rosto para ele, desejosa de mais.
A respiração dele ficou mais rápida. A dela também.
– Venha comigo – ele convidou.
– Kane – Moriah sussurrou, tentando se agarrar à sanidade. – Isso é loucura... loucura...
– Eu sei. – Não podemos...
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A Descoberta da Paixão
– Shhh... – Eu acho...
– Shhh...
Quando a mão dele desceu pelo braço dela, até a cintura, e depois subiu até o seio, Moriah fechou os olhos, incapaz de resistir mais um segundo que fosse.
O toque do telefone interrompeu o glorioso momento. Ela pulou de seus braços, como se fosse uma adolescente constrangida por ter sido flagrada pelos pais.
Praguejando baixinho, Kane foi atender o telefone. Após alguns instantes, disse:
– Vai precisar de permissão da sua mãe.
Moriah adiantou­se quando ele estendeu o aparelho para ela.
– É Melanie – ele disse.
– Alô? – ela atendeu.
– Mamãe, a sra. Rivers me convidou para passar a noite aqui. Amanhã ela vai me ensinar a cavalgar. Eu posso?
A ansiedade na voz de Melanie fez Moriah sorrir. Talvez, ao levar a menina para a cidade grande, a houvesse privado de sua herança natural.
Ela olhou para Kane, que estava de pé diante da pia, lavando os pratos. Havia tanto para Melanie ali – o pai, o avô, o jovem caubói que aparentemente capturara o coração da menina à primeira vista, a beleza das montanhas...
– Muito bem – disse. – Divirta­se.
Moriah desligou com um ligeiro sorriso nos lábios. Até olhar para Kane.
Ele havia acabado de lavar a louça, e agora estava de pé com as mãos nos bolsos. Ele a observava com uma expressão pensativa no rosto bonito.
– Obrigada – ela disse. Quando ele ergueu as sobrancelhas de modo indagador, ela prosseguiu: – Por me deixar tomar a decisão sobre Melanie passar a noite fora.
– Acha mesmo que eu iria me intrometer e bancar o pai autoritário, numa tentativa de recuperar o tempo perdido?
– Não – ela admitiu. – Sei que não é o seu estilo. Você é uma pessoa justa e honrada. E gentil.
Os olhos dele se fixaram nos dela.
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A Descoberta da Paixão
– É assim mesmo que me vê? – perguntou baixinho, com um ligeiro sorriso nos lábios.
Antes que ela pudesse responder, ele se virou e deixou a cozinha. Escutou­o subir a escada e entrar em seu quarto. Sem saber como reagir, ela decidiu ver como estava o pai e seguir para a cama.
Encontrou Homer dormindo profundamente. Seguindo um impulso, beijou­lhe afetuosamente a face, desligou a televisão e fechou a porta.
Por um instante, ficou parada no corredor, desejando que as coisas fossem diferentes, desejando poder aceitar o que Kane estava oferecendo.
Só que não sabia bem o que era isso. Casamento. Melanie. A cama dele. Mas e quanto ao coração dele?
E o que ela iria fazer com o amor absoluto que sentia por ele?
Sacudindo a cabeça, recusando­se a pensar nisso, ela seguiu corredor abaixo. A porta dele estava aberta. Ela não resistiu a espiar lá dentro ao passar. Ele estava postado diante da janela, admirando a noite. Havia tirado a camisa.
A masculinidade maciça das costas de Kane dissipou por completo a intenção de Moriah de se esconder em seu quarto pelo restante da noite. Sabia que, para todos os propósitos, com Melanie passando a noite fora e o pai dormindo profundamente, estavam sozinhos.
Como se houvesse lhe pressentido o olhar, ele se virou. Os olhos escuros encontraram os dela. Uma chama pareceu se acender neles. Ela sentiu os tremores em seu íntimo. Moriah o queria. Sim. Sim.
Sem desviar o olhar, ele cruzou o aposento e se deteve diante da porta. E ficou aguardando.
Moriah deu um passo à frente. Depois outro. E mais outro.
Kane sentia a tensão aumentar com cada passo que Moriah dava. Os olhos castanho­dourados estavam fixos nele, examinando o fundo de sua alma.
Deu­se conta de que a amava. Sempre a amara. Não podia mais esconder isso de si mesmo. Seu coração batia tão forte que chegava a doer quando ela entrou no quarto.
Ele fechou a porta e a trancou, antes que ela pudesse mudar de idéia. Moriah parecia pronta para sair correndo a qualquer momento. Por um instante, desejou que ela pudesse vir procurá­lo de coração aberto, sem dúvidas, sabendo que o que tinham era certo e natural.
Como 16 anos atrás.
As conseqüências de tamanha confiança haviam sido severas para ela. Independente das circunstâncias, ele a deixara na mão quando ela precisara dele. Seria necessário tempo para superar isso.
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– Está tudo bem – ele murmurou, tomando a mão de Moriah na sua. – Estou aqui. Sempre vou estar aqui.
Era uma promessa que ele pretendia manter. Os lábios dela se entreabriram, trêmulos.
– Também estou tremendo – ele disse. – Esperei minha vida inteira por você, minha Mulher­
com­Olhar­de­Corça.
Os olhos dela se arregalaram, e Kane percebeu que ela se recordou de quando ele a chamara assim, dando­lhe um nome indígena, importante apenas para os dois. Ela acariciou­lhe os lábios com a ponta dos dedos.
Kane lutou contra a necessidade de tomá­la nos braços e se apoderar dela por toda a eternidade. O amor que outrora sentira irrompera de seu coração, recusando­se a permanecer mais tempo aprisionado. Ela era a única mulher que já amara. Sabia disso, sem nenhuma dúvida.
Ele pegou o cobertor que a avó lhe dera e o jogou sobre o ombro. Depois o abriu e convidou a amada a compartilhar o seu calor, um costume tão antigo quanto as colinas de Montana. Será que ela se recordaria que era como os índios expressavam amor?
Moriah hesitou. Um sorriso formou­se nos cantos de sua boca, e ela caminhou para dentro da coberta.
Ele a envolveu com os braços. O cobertor lhes cobria tudo, com exceção das cabeças. Kane gemeu ao sentir o corpo dela encostando no seu. Em segundos, ele ficou pronto para ela.
Moriah sentiu Kane estremecer, e passou os braços ao redor de sua cintura. A intumescência rija de encontro ao seu abdome deixava clara a voracidade de Kane. Ela também estava pronta. A sensação do cobertor ao redor de seu pescoço a lembrava do significado do ritual. Kane estava pedindo para que ela se tornasse sua mulher. Ela fitou os olhos escuros, tentando determinar se, além de paixão, também havia amor em suas profundezas.
Quando ele a abraçou com mais força ainda, Moriah ficou tonta. Não conseguia pensar quando ele a fazia se sentir daquele jeito.
– Eu quero...
– Diga. Diga­me o que quer.
Mas ela era reservada demais agora. Aprendera a não se expor.
Ele a fitou nos olhos.
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– Você me quer.
– Suas mãos... – ela murmurou – suas mãos em mim. Seus lábios... por todo o meu corpo. Ele inclinou a cabeça e interrompeu suas palavras com a boca. Saboreou todos os paladares e as texturas com os lábios, com a língua.
– Não fale assim – alertou. – Você me deixa louco. Ela riu. Kane atacou­lhe o pescoço com um rugido baixinho, mordiscando­lhe a pele até chegar à gola do suéter dourado.
Franzindo a testa, ele jogou o cobertor sobre a cadeira e pegou a peça de vestuário pela bainha.
– Vamos tratar de tirar isso. O suéter se juntou ao cobertor e à camisa dele na cadeira. Os sapatos dos dois caíram silenciosamente sobre o tapete, seguidos pelas calças de ambos.
Após despi­la, Kane a fitou com os olhos ardendo de desejo.
Ele levou as mãos aos seios e alisou o cetim do sutiã com os polegares. Os mamilos logo se tornaram visíveis sob o tecido. Depois, pressionou­os para cima e beijou o volume generoso acima das bordas de renda.
Quando passou a língua sobre o mesmo local, ela sentiu as pernas bambearem e se agarrou aos ombros dele, para não ir ao chão. Como em um passe de mágica, as roupas de baixo desapareceram. Ele se curvou novamente sobre ela, tomando na boca o mamilo rijo e passando a língua sobre ele até que Moriah gemeu de êxtase.
– Gosta disso, não gosta?
Em resposta, ela puxou­lhe a camiseta para cima, encobrindo­lhe o rosto. Depois, mergulhou na cama e se escondeu sob as cobertas.
Aguardou que ele se juntasse a ela. Após alguns instantes, espiou para fora das cobertas, para ver por que ele estava demorando tanto.
Kane estava postado do lado da cama, esperando por ela, com um ligeiro sorriso nos lábios. Ele era um selvagem lindo e indomado, com o corpo alto e elegante totalmente despido.
– Kane – ela disse, abalada com a visão. – Você é... Eu costumava sonhar...
– Eu também. Com você. Todas as noites.
O olhar dele se fixou nela quando a coberta caiu de seus ombros.
Moriah estendeu os braços.
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– Venha.
Ele sentou­se ao lado dela e começou a alisar­lhe o corpo com o dedo, fazendo­a estremecer de prazer.
– Diga­me o que está sentindo. Está se sentindo tão excitada quanto eu?
– Estou. Você me faz sentir como se eu fosse parte de toda a criação. Eu quero... eu quero... – Ela fechou os olhos. – Eu quero tudo, do jeito que costumava ser.
A boca de Kane trilhou beijos úmidos sobre os seios de Moriah. Ele a deitou na cama e se posicionou sobre ela.
– Cada vez com você é como se fosse a primeira vez, novamente. Tão excitante e ardente.
Ele sugou­lhe os mamilos rijos, até eles ficarem vermelhos. Ela se contorcia sob ele, incapaz de ficar parada. As mãos de Moriah lhe percorriam o corpo todo.
– Quero explorá­lo, tão intimamente como me explorou – sussurrou.
Kane virou­se subitamente e ela ficou sobre ele, que se segurou na armação da cama.
– Nesse caso, fique à vontade. Eu me esforçarei ao máximo para me conter.
Ela pousou as mãos no peito dele e notou o contraste de sua pele clara com a tonalidade mais escura da de Kane. Beijou­lhe o centro do peito, e depois cada um dos pequenos mamilos, escondido sob os pêlos negros e crespos. Sentando­se nos calcanhares, acariciou­o até chegar ao membro, que emergia de dentro de um emaranhado de cabelos negros.
– Desde a primeira vez que o vi, amei o seu corpo – ela confessou. – Tão vigoroso, escuro e misterioso como a própria terra.
Ela alisou­lhe o membro intumescido com os dedos. Os músculos do corpo de Kane visivelmente se enrijeceram enquanto ele lutava para se controlar diante do toque exploratório de Moriah. Quando ela se apoiou nos cotovelos, e usou a boca para explorar ainda mais, Kane praguejou baixinho e soltou a cama. Apoiando­se nos travesseiros, fincou os dedos nos cabelos dela.
Moriah cansou de atormentá­lo e o tomou na boca. Ele trincou os dentes e procurou se conter. Depois, incapaz de resistir, segurou­lhe a cabeça com as mãos e a puxou para si.
Kane trouxe o rosto dela até o dele e apossou­se de sua boca com um beijo voraz.
– A primeira vez, de novo – ele murmurou, tateando para pegar os envelopes que guardava na gaveta.
Moriah abriu os olhos com esforço. Quando notou o que ele estava fazendo, deteve­lhe o gesto.
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– Estou tomando pílula. Meu ciclo está tão irregular que o médico me receitou doses de hormônio para colocar as coisas nos eixos.
– Confia em mim o suficiente para abrir mão de proteção?
– Confio.
O brilho no olhar dele a encheu de ternura.
– Você confiou em mim uma vez. E o resultado não foi bom para você, foi?
– Nós tentamos ter cuidado.
– Eu já tinha aquela primeira embalagem há quase um ano. Fui um tolo em confiar nela. Na época, não sabia disso.
Ela assentiu e sorriu.
– Acho que todos os meninos fazem algo assim. Ele traçou­lhe o contorno dos lábios com a ponta do dedo.
– Tem certeza? Não tem receio de me receber assim... despido?
– Não. Você disse que não houve nenhuma outra sem...
Era estranho falar sobre aquilo agora. Um sinal de confiança, ela supôs.
– E não houve. – Ele aproximou­se dela. – Estou chegando ao meu limite, só de pensar nisso. Você tem esse efeito sobre mim. Quero você assim... sem nada entre nós...
Ela encostou a cabeça no peito quente de Kane, quando ele desceu a mão na direção de sua intimidade e começou a acariciá­la. O toque despertava­lhe toda a paixão contida por tanto tempo. Quando ele deslizou os dedos para dentro dela, Moriah também chegou perto de seu limite.
– Agora – sussurrou. – Quero você agora.
O mundo girou, e ele estava deitado sobre ela, aninhado entre suas coxas. Ele adentrou­a com uma arremetida certeira de prazer.
– Assim? – perguntou. – É assim que me quer?
– Ah, é, Kane, assim!
Ela jogou o quadril para cima, enquanto ele ia e vinha, cada estocada alimentando a chama que a conectava a Kane. Com a velocidade de um raio, atingiu o ápice sob ele, incapaz de conter as convulsões involuntárias e os gritos de êxtase. Ele se juntou a ela e, quando Moriah recobrou os sentidos, sentiu o clímax dele em seu íntimo.
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Ela ficou ali, deitada em seus braços.
– A melhor, a melhor de todas – escutou­o sussurrar.
Uma onda de orgulho percorreu­lhe o corpo. Sentia­se linda. Sexy. Excitante. Feminina.
Acordou com o movimento dele ao seu lado.
– Estou com fome – Kane disse.
Um sorriso involuntário apareceu nos lábios dela.
– Eu também. Tem frutas e biscoitos na cozinha.
– Vamos lá.
Ele encontrou um roupão para ela usar e vestiu a calça. Ao saírem do quarto, ele passou o braço ao redor de seus ombros. Parecia tão natural.
Na cozinha, ele se sentou à mesa para comer os biscoitos. Moriah se acomodou em seu colo. Ela não queria interromper o contato físico.
– Tenho medo de que você desapareça de novo – ele confessou, com uma sinceridade que trouxe lágrimas aos olhos de Moriah.
Daquele jeito, ainda entorpecidos após terem feito amor, ela não tinha nenhuma dúvida. Se ao menos pudesse ser sempre assim.
– Vai casar comigo? – Kane perguntou, após acabarem de comer. – Está convencida de que somos perfeitos juntos?
Ela engoliu em seco antes de poder falar:
– Sim!
Os braços dele se apertaram ao redor dela, e com um grito de alegria Kane a abraçou até ela ficar tonta. Depois a beijou até deixá­la ofegante.
Ao soltá­la, Kane a fitou solenemente.
– Isso foi sim, eu vou casar com você, não foi? Não estava apenas concordando que somos bons amantes, estava?
– Não, quero dizer, estava, mas... Eu vou casar com você.
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Capítulo 13
A notícia do noivado se espalhou rapidamente, ainda mais depois que Kane a mencionou para Lily Mae, quando ele e Moriah a encontraram no Hip Hop Café, no dia seguinte.
– Mamãe tinha razão – Moriah disse, mais tarde. – Lily Mae teria contado para o condado todo se tivesse sabido que eu estava grávida.
– Quem dera alguém tivesse me contado – Kane disse, segurando­lhe a mão, enquanto caminhavam para casa.
– Desculpe...
– Não – ele a interrompeu. – Não foi minha intenção fazê­la se sentir culpada. Você fez o melhor que podia sob as circunstâncias. Talvez se nós tivéssemos tido um pouquinho mais de fé um no outro, teríamos nos esforçado mais. De qualquer forma, o que conta agora é o futuro.
Enquanto Moriah preparava o jantar, e Kane lia alguns artigos médicos, sentado à mesa, ela lançava alguns olhares furtivos na direção dele.
Kane parecia relaxado e feliz. Por causa dela? Por causa da paixão que haviam compartilhado mais de uma vez durante a noite?
Melanie chegou saltitante antes do anoitecer. Disse­lhes que estava morrendo de fome.
Homer também desceu para o jantar. Moriah olhou para o grupo ao redor da mesa. Melanie conversava animadamente com o avô sobre os cavalos que cavalgara no rancho. Homer assentia e de vez em quando dava algum conselho sobre cavalos. Kane observava a cena sorrindo. Quando notou que Moriah olhava para ele, deu­lhe uma piscada. A refeição já estava quase no fim quando ele falou:
– Melanie, sua mãe já lhe disse que vamos casar? Os olhos da menina se arregalaram e um sorriso apareceu em seu rosto.
– Sensacional! – disse. – Quando?
No domingo, Moriah e o pai tiveram a casa só para eles. Melanie estava tendo aulas de equitação com Maris Rivers e Kane estava no hospital.
– Encontrei suas cartas – ela disse para Homer. – Kane as mostrou para mim. Pensei que se esquecera de mim depois que mamãe e eu fomos embora.
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Ele lançou­lhe um olhar triste.
– O primeiro ano foi o mais solitário da minha vida. Mas depois não tive escolha senão me acostumar. Sua mãe e eu... não combinávamos desde o início. Eu sabia disso, mas pensei que, com o tempo, ela acabaria gostando de morar aqui, cercada pelas montanhas. Mas ela jamais gostou. Era, de corpo e alma, uma mulher da cidade grande.
– Vocês jamais mencionaram o seu aniversário de casamento, mas teve uma vez que vi a certidão de vocês. Nasci sete meses após o casamento.
Ele sacudiu a cabeça.
– O casamento não foi por obrigação – disse Homer, corrigindo a impressão errada da filha. – Você veio dois meses mais cedo por causa da natureza, não de nós. Nós nos casamos após o terceiro encontro.
A informação a pegou completamente de surpresa. Não conseguia imaginar a mãe sendo tão impulsiva.
– Ela disse que pensou que você fosse a passagem dela para uma vida melhor.
– Foi um erro desde o início. Acho que já deveríamos ter desistido muito antes de ela ir embora com você.
– Sabe por que tivemos de partir – murmurou Moriah, constrangida.
Homer sorriu, compreensivamente.
– Sei. Sua mãe teria considerado o fim do mundo encarar uma cidade dominada pela fofoca a seu respeito. Ela era orgulhosa e ambiciosa. Jamais dei muita atenção às idéias dela de ter a própria loja. Tinha meus planos para enriquecer. – O velho sacudiu a cabeça. – Os sonhos de um tolo. Sua mãe era muito mais sábia.
Moriah pôde sentir o arrependimento na voz dele.
– Eu poderia tê­la ajudado – Homer prosseguiu. – Poderia ter economizado o suficiente para ela começar o próprio negócio. Mas jamais o fiz. Sempre achei que iria enriquecer... Só mais uma temporada, só mais uma montanha para explorar.
– Você encontrou as safiras.
Homer enfim se lembrara da localização do novo veio.
– Elas estão nas terras dos Kincaid.
– Bem, você pelo menos vai ter os honorários de intermediário. Talvez até mais do que isso, caso Projeto Revisoras
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o estado tenha mantido os direitos de mineração. Vou pedir para Kane verificar.
Ele logo estaria em casa. Seu amor por Kane aumentava a cada dia que passava.
– Não desperdice sua vida, como eu fiz – aconselhou Homer. – Precisa conversar com seu companheiro. Compartilhar seus sonhos. Escutar os dele.
Moriah pensou no conselho inesperado do pai. O casamento com Kane realizaria todos seus sonhos, mas e quanto aos dele? Será que estava casando com ela por causa de Melanie? Abrindo mão de seus sonhos para poder ficar com a filha? Ele parecia feliz...
– Tanto Joleen quanto eu sempre queríamos ter a palavra final. Jamais entrávamos em acordo sobre nada – Homer prosseguiu. – Diga para Kane o que quer, depois deixe que ele lhe diga o que quer. Você se surpreenderá com as similaridades entre os dois.
– Ele quer uma família – ela confidenciou. – Quer Melanie.
– Você o ama. Já lhe disse isso?
Ela sacudiu a cabeça. Seria humilhante demais se ele não a amasse, se estivesse casando com ela apenas por causa de Melanie.
– Pois trate de fazê­lo.
– Hoje à noite – ela disse. – Eu lhe direi hoje à noite.
Moriah pensou no que diria para Kane quando o confrontasse enquanto se arrumava para a festa no rancho dos Kincaid para a qual ela e Kane haviam sido convidados.
– Está pronta? – perguntou Kane ao entrar no quarto, que o casal estava agora dividindo. Ele aproximou­se dela e estendeu uma caixinha de jóias. – Para tornar a coisa oficial.
No interior da caixinha, Moriah encontrou um anel de noivado.
– Ah, Kane, é lindo.
Kane retirou o anel da caixa e o colocou no dedo de Moriah. O anel ficou perfeito em seu dedo.
– Sempre sonhei em cobri­la de jóias depois que me tornasse um médico famoso.
– Ainda tenho o colar que me deu – ela murmurou.
– Use­o – ele pediu.
Moriah pegou a caixa do colai; e Kane a ajudou a prender a corrente com o pingente ao redor de seu pescoço. Ela fitou a aliança e o pingente.
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– Kane – sussurrou, incapaz de dizer mais uma palavra. Ele a beijou.
– Venha. Temos de ir.
Após se despedirem de Homer e Melanie, os dois seguiram para a festa.
Uma hora mais tarde, Moriah dançava com Kane ao som de uma bela melodia, tocada por uma pequena orquestra no salão de festas dos Kincaid. A noite parecia um sonho.
– Tenho até medo de fechar os olhos – ela disse, encostando a cabeça no ombro dele.
– Tem medo de que tudo desapareça?
Ela ficou surpresa com a compreensão de Kane. – É.
– Eu sinto o mesmo. – Ele a abraçou mais apertado. – Tenho medo de que, se a soltar por um instante, você retornará para alguma terra longínqua, e eu jamais a encontrarei novamente.
Ele parecia tão sincero, tão... apaixonado.
Uma risada discreta chamou sua atenção para a anfitriã, que estava dançando com um homem alto. Moriah não pôde deixar de lembrar como Mary Jo Kincaid se mostrara interessada na história de seu pai.
– Está com fome? – Kane perguntou, interrompendo seus pensamentos.
– Estou.
Eles se juntaram a Luke e Maris Rivers em uma das pequenas mesas espalhadas pelo salão.
– Keith ficou desapontado por Melanie não ter podido visitá­lo hoje – comentou Maris.
– Ela se ofereceu para ficar com o avô – disse Kane. – O que me faz desconfiar se ela não estaria aprontando alguma.
Eles riram da desconfiança de Kane.
– Vai ter de se acostumar a ter uma filha bonita – aconselhou Luke. – Keith está caidinho por ela.
– É, eu sei.
Kane lançou um olhar para Moriah que a deixou toda arrepiada.
Mais tarde, enquanto Kane estava entretido em uma conversa com um rancheiro que Moriah não conhecia, ela decidiu usar o toalete. Ao retornar ao salão, avistou Kane conversando com Lori Bains. Estavam sorrindo, conversando com a facilidade de velhos amigos. Um ciúme selvagem brotou no Projeto Revisoras
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íntimo de Moriah.
Kane afirmara que os dois não estavam apaixonados um pelo outro. Moriah acreditou nele, mas era difícil vê­lo com a mulher. Lori era linda, inteligente e elegante. A mulher perfeita para ele. Mas Kane, com seu senso de honra, sentia­se responsável por ela e Melanie.
Voltando para a mesa, aceitou a taça de champanhe do garçom e bebeu metade dela. Infelizmente, a bebida lhe trouxe muito pouco alívio.
Maris Rivers retornou à mesa para avisar que ela e Luke estavam indo embora. Notando o anel de Moriah, comentou:
– Sua aliança é linda. Quando você e Kane vão se casar?
– Em breve. Acho que perto do Natal.
– Ótimo, Tracy Hensley vai querer organizar um chá de panela para você.
– Ela já tem muito com que se preocupar com o bebê recém­chegado.
– Winona Cobbs, Maggie e eu nos oferecemos para ajudar. É sempre uma desculpa para nos reunirmos.
Sorrindo, Maris se despediu.
Moriah estremeceu quando Kane pousou a mão em seu ombro.
– Que tal mais uma dança?
Ela assentiu, sentindo­se perder o controle dos acontecimentos. Precisava de um tempo para pensar. Mas quando ele a tomava nos braços, era impossível pensar em qualquer coisa.
Kane estudou discretamente Moriah à medida que dançavam e conversavam. Ele estava começando a ficar preocupado. Apesar de jamais ter sido muito falante, ela estava estranhamente calada naquela noite. Será que alguém a magoara enquanto ele estava longe? Talvez houvesse escutado algum comentário maldoso a respeito dela e da filha.
No caminho para casa, ela mostrou­se ainda mais reservada. A casa estava em silêncio quando entraram. Os dois outros ocupantes já tinham ido dormir. Na privacidade do quarto, Kane a observou enquanto se trocava. Ela estava postada diante da janela, fitando a lua.
A noite estava fria, prenunciando o inverno que chegava. Um arrepio percorreu as costas de Kane e ele pôde pressentir o perigo.
– Por que não me diz o que a está incomodando? Ela ergueu a mão e o diamante brilhou sob a luz do abajur.
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– Isso. Será que estamos fazendo a coisa certa?
A pergunta o magoava. Kane queria que ela se sentisse feliz diante de um futuro com ele. Será que Moriah jamais acreditaria nele?
– Estamos – disse. – É a coisa certa para Melanie, para mim... e para você, se ao menos pudesse enxergar isso.
– Mas e se não der certo?
– Vai dar.
– Você já decidiu, de modo que tem de ser como você quer. A vida não funciona assim. Neste momento, compartilhamos uma paixão e uma filha, mas paixões passam e filhos crescem e saem de casa. – Ela sacudiu a cabeça. – Não é suficiente. Quero... mais.
– O quê? Diga­me o que quer e eu lhe conseguirei. Ou morrerei tentando.
Moriah preferiu ignorar o que Kane dissera.
– Quando percebermos o nosso erro, e nos divorciarmos, poderá já ter perdido a mulher que realmente ama. Ela já poderá estar casada com outra pessoa. Se rompermos nosso noivado...
– Do que você está falando? – Ele a fitou como se Moriah houvesse enlouquecido. – Que mulher?
Foi necessária toda a coragem de Moriah para responder.
– Lori Parker... Lori Bains. A parteira.
– Lori. Eu gosto dela... Como amiga. É uma pessoa fantástica.
– É, ela é. É claro que a ama. Não o culpo.
– Então, acha que estou apaixonado por Lori. Isso explica tudo.
– Explica o quê?
– Porque você se retraiu e se fechou, quando antes estava carinhosa e amorosa. – Ele estreitou os olhos ao fitá­la. – Não vamos romper o noivado. Não estou apaixonado por Lori. Jamais estive. Você é a mulher que eu quero.
– Querer não é o bastante.
– Então, me diga o que é.
Ela sabia que teria de explicar a coisa toda para Kane entender.
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– Estava enganada a seu respeito – começou. – Anos atrás. Sei que não teria me abandonado quando eu precisava de você.
– Continue – insistiu Kane, quando ela fez uma pausa.
– Sei que ama e quer Melanie. E acho que se sente responsável por mim.
– E me sinto.
Era o que ela suspeitava. Kane sentia­se no dever de cuidar dela.
– Desde que voltei para Whitehorn, pude notar que você é um homem carinhoso, gentil e honrado. Mas é preciso mais que isso entre um homem e uma mulher para um casamento dar certo – ela disse, sentindo um aperto no coração. Tirou o anel e o estendeu para ele. – Quero amor, além de paixão. Não me contentarei com menos. Você também não deveria se contentar.
Kane postou­se diante dela com uma expressão perigosa nos olhos.
– E nem pretendo. Admito que estava pensando em me casar com Lori, mas outra mulher entrou na minha vida, uma mulher pela qual me apaixonei. Não a menina de 17 anos atrás, mas uma mulher madura e compassiva. E eu me apaixonei profundamente.
Ela o fitou com incredulidade.
– Será que não percebe? – ele murmurou. – Eu vivo para você, e só para você.
– Mas você disse... – Não conseguia se lembrar direito do que ele dissera. – Você e Lori estavam em um ponto em que... Aí, a noite no chalé aconteceu e...
Ele levou o dedo aos lábios dela.
– Se eu nunca tivesse conhecido você, talvez pudesse ter casado com outra mulher. Minha vida teria sido mais simples, sem toda a dor, mas também sem as alegrias. Nada do deleite que sinto só de vê­
la. Nada da paixão incendiante de quando fazemos amor. Nada da satisfação absoluta que sinto depois, nos seus braços.
– Kane – ela sussurrou, mal conseguindo acreditar no que estava ouvindo.
Ele a tomou nos braços.
– Nada da esperança que me preenche quando penso no nosso futuro, trabalhando juntos, com você mantendo a sanidade e a ordem da minha vida e do meu consultório... Exceto quando enlouquecemos um nos braços do outro.
Quando ele a puxou para perto, seu corpo reagiu, seus mamilos se enrijeceram e a pele ficou mais quente.
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– Eu também quero mais. – Seus lábios roçaram nos dela. – Diga que me ama, do modo como eu amo você.
Os olhos de Moriah se arregalaram.
– Você realmente me ama?
Ele a beijou novamente.
– É claro que a amo. – Ele a fitou confuso. – Você devia saber disso.
– E como poderia?
– Por que acha que a pedi em casamento? Achei que, com a paixão que compartilhávamos e a influência de Melanie, você acabaria me amando... confiando em mim.
– E confio.
– Quero que seja como antes, sem dúvidas, sem nada entre nós que não seja um amor tão grande que jamais morreu. – Ele afastou­se o suficiente para fitar­lhe o rosto. – Ele jamais morreu, não é?
Moriah percebeu que ele buscava a confirmação dela. E notou nos olhos de Kane o amor que ele não tentava ocultar.
Com um grito de alegria, ela se apossou do amor que lhe era oferecido.
Capítulo 14
O casamento de Moriah Gilmore com o dr. Hunter Kane foi realizado no dia seguinte ao feriado do Dia de Ação de Graças. Após uma noite chuvosa, o dia amanheceu lindo para a cerimônia. Eles acabaram tendo duas cerimônias. Uma na igreja na cidade e uma na reserva, mais tarde, local escolhido para a recepção.
– Quando vou ganhar um irmãozinho ou uma irmãzinha? – Melanie perguntou aos pais durante a festa.
– Em breve – disse Kane, lançando um olhar ardente para a esposa. – Muito em breve.
Moriah enrubesceu e, ao olhar ao redor na mesa, se deu conta de que tinha agora uma família enorme. Aparentemente, a tribo toda. Em especial, gostava de Jackson e Maggie Hawk. Era a primeira vez que saíam de casa com o bebê, que dormiu profundamente durante toda a recepção.
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A Descoberta da Paixão
– Teremos um como esse – Kane sussurrou para ela. Moriah avistou a mãe, sentada ao lado do ex­marido, escutando a estranha história de seu cativeiro nas montanhas. Seu sorriso parecia meio forçado, mas ela se mostrara educada durante toda a celebração.
Joleen podia ter seus defeitos, mas, como Kane dissera, ela era a mãe de Moriah e a avó de Melanie. Mesmo que não fossem chegadas, havia vínculos que não deviam ser rompidos.
Homer estava com boa aparência, de barba feita e cabelo preso. Ele decidira se mudar para a cidade e para a casa vitoriana, onde trabalharia como uma espécie de zelador e vigia noturno, visto que Kane, Moriah e Melanie estavam se mudando para a casa nova. Ele também se tornou sócio de Kincaid na mina.
Olhando Kane dançar com a filha, Moriah suspirou, satisfeita com a própria vida e consigo mesma. Parte de seus problemas em não confiar nele tinha a ver com suas dúvidas em relação a si mesma. Graças ao amor dele, essas dúvidas haviam desaparecido.
Já era quase meia­noite quando Kane e Moriah decidiram deixar a festa. Melanie iria passar o final de semana com a bisavó, na cabana no interior da mata, aprendendo sobre ervas medicinais para seus futuros estudos. Moriah teria o marido só para si, e não via a hora de estar a sós com ele.
– Vim aqui para encontrar meu pai – ela sussurrou, quando estavam seguindo para a casa nova. Passariam a lua­de­mel trabalhando juntos na casa de seus sonhos. – Além disso, Melanie achou o dela, e eu encontrei... – Ela passou os dedos pelos cabelos negros de Kane. – Eu encontrei meu verdadeiro amor.
– De novo – ele acrescentou, estacionando diante da casa. Caminharam até a porta, onde ele a tomou nos braços. – Encontramos um ao outro. E, desta vez, jamais permitirei que deixe meus braços.
– Eu jamais vou querer deixá­los.
E eles entraram no novo lar, para a sua vida nova... juntos.
***Fim***
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