MOANA MAYALL Portfólio artístico

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MOANA MAYALL Portfólio artístico
MOANA MAYALL
Portfólio artístico
versão online: http://issuu.com/moanamayall.arte
portfólio com textos e registros ou vídeos originais:
http://moanamayallarte.wordpress.com
SUMÁRIO
VIDEODERIVAS DO RIO
videointervenção urbana
2010
TETRAPILLOW
vídeo instalação
2005
DEBOSH
videointervenção urbana/ ação coletiva no
espaço público
2008
FORMIGA
videoinstalação
2005
ANTIBIGBEN
videointervenção urbana
2007
PÁLPEBRA
vídeo performance
2004 e 2006
SUBTERRÂNEOS DA PRAIA VERMELHA
vídeo performance
2005
A PELE RESPIRA...
vídeo performance
2004
ESTROMBO
espaço público
vídeo instalação
2003
VIDEODERIVAS DO RIO
videointervenção urbana
2010
O Rio, como toda metrópole, seus “dentros”, “foras” e “entres”, é sempre também um excesso de imagens, ruídos, conhecimentos e contrastes, que nos atravessa como construções,
imaginária e multissensorial. O termo “deriva”, propagado na
psicogeografia dos situacionistas no final dos anos 50, surgiu
como uma forma pessoal, participativa e afetiva de mapeamento sobre a cidade, e também como alternativa às formas
autoritárias dos mapas oficiais. A partir desses passeios sem
rumo (derivas), buscava-se pensar também a potência viva
e mutante da cidade, através da interferência e dos desvios
(detournments)dos habitantes face aos atomatismos mais entediantes e funcionais da vida urbana.
“Videoderivas do Rio” foi projetada pela primeira vez durante a mostra Video Ataq, dedicada ao cinema ao vivo ( prêmio FUNARTE- Conexões Visuais). Neste trabalho (“in progress”), recombinam-se, em tempo real, sons, imagens, textos
e ruídos do Rio, seu passado, seu presente, realidades, ficções
e outros ângulos.
Uma cidade é sempre um mapa fora do mapa oficial. Numa
“videoassemblage cinemática em deriva”, foram justapostos,
através de máscaras gráficas em movimento, 5 sets de vídeos
(loops) manipulados em tempo real. O termo “deriva”, neste trabalho, sugere um trânsito livre e aberto entre elementos
sonoros e visuais, a partir de combinações e recombinações
que surgem ao longo do tempo da performance, inspirando um
passeio poético e também cognitivo sobre o Rio e sua vastidão
de visões e imaginações.
Alguns trânsitos temáticos para as imagens:
Rio periférico. Videoremix de cenas cotidianas atuais em comunidades populares, grafitti, letreiros, remoções, arquiteturas de invenção etc.
Rio para exportação. Videoremix de cenas cotidianas atuais, em especial a zona sul e a orla, cartões postais, travellings pedalados etc.
Rio clichê e ficção. Videoremix de trechos curtos e remixados de
filmes que ajudaram a construir a imagem internacional da cidade.
Rio história e mutações urbanas. Videoremix de cenas e registros
documentais sobre os grandes processos deurbanização do Rio, do
século XX ao XXI.
Rio antigo. Videoremix de cenas do Rio até a os anos 60.
DEBOSH
videointervenção urbana/ ação coletiva no
espaço público
2008
[ em parceria com as artistas Inês Laborim e
Ophelie d’Organs]
Em maio de 2008, integrei uma ação no espaço público chamada “Debosh”, também nome do coletivo em
questão, formado com as artistas Ophelie d’Organs e
Inês Laborim, na qual buscamos criar uma espécie de
“contra-situação” a um evento (com a temática do situacionismo de Guy Debord) que viabilizaria, com verba
institucional, equipamentos para uma intervenção urbana no centro do Rio (praça XV). Como não foi viabilizada na época a versão carioca da intervenção proposta no seminário (maio de 2008), por questões internas
do evento, decidimos fazer projeções num dos arcos
da Lapa, totalmente independentes de autorizações oficiais, e que pôde assim revelar para nós uma zona temporária autônoma e marginal, com a qual tivemos que
negociar nosso espaço de ação com certos facilitadores
informais, que nos acolheram durante algum tempo,
aprovando extra-oficialmente nossa ocupação e cedendo sua gambiarras elétricas, para que pudéssemos ligar
nossos dispositivos.
O termo Zona Autônoma Temporária (as “TAZ”),
cunhado por Hakim Bey, que prefere não defini-la
totalmente, referia-se a uma experiência onde, idealmente, os participantes temporariamente libertam-se
das restrições impostas pelo condicionamento social
e regulação; “um experimento no imediatismo grupal;
um evento criativo, onde os novos códigos de comportamento são estabelecidas pelos presentes.”
Com a instalação de um pequeno projetor e laptop com
softwares de veejaying, formou-se rapidamente, e sem
planejamento algum, uma rede de encontros inusitados
e colaborativos em torno de uma projeção (em média
escala). Em plena noite de sexta-feira na Lapa, sob um
de seus Arcos mais movimentados, manipulávamos,
ao vivo, um remix de imagens de TV, seriados, reality
shows e snapshots de redes sociais, revezando-se com
fragmentos de percursos que captamos em trânsitos diversos pela cidade, misturando ainda ícones da cultura
de massa a personalidades institucionais do financiamento à arte (Barbie + Rockefeller), objetos de desejo
luxuosos versus sobras recolhidas em “xepas” da feira
da Praça XV e de outras no estilo “shopping chão” pela
cidade, além de texturas gráficas feitas a partir de manuais de inscrição em editais de projetos culturais no
Brasil. Comentando algumas retóricas atuais das vias
de acesso à produção da arte e da cultura, e suas espetacularizações, citamos a frase de um autor cego, cujo
livro encontramos entre os restos de uma dessas feiras
da sub-economia carioca: “Gente, como é duro ouvir
tudo em torno e não ver as expressões”.
ANTIBIGBEN
videointervenção urbana
2007
Antibigben” foi realizada durante a ocupação artística “Orlândia Artistas Associados” (2007), e consistia
na projeção de um vídeo digital (animação de fotomontagem) em espaço público, de preferência para
que ocupasse fachadas ou empenas (áreas lisas, sem
janelas), com um bom raio de visibilidade pelo público
em trânsito nas ruas. Propunha-se uma substituição de
mobiliário urbano oficial (no caso, os relógios digitais
ou “Big Bens”, como o da Mesbla ou o da Central),
por um “anti-relógio” público que não mais ditasse ou
demarcasse numericamente o tempo, mas apenas registros de ciclos/ loops de imagens, construindo diferentes
compassos e poéticas variáveis sobre a percepção do
tempo, em diferentes formatos. Na primeira versão do
projeto, há dois ponteiros, que estariam apontanto para
tempos opostos no rosto de um relógio comum. Numa
das extremidades pontiagudas, a mão tenta agarra/ conter o fuso que indica passagem do tempo. No extremo
oposto, outra mão se oferece à “picada” do fuso, numa
entrega ao tempo.
De qualquer forma, são duas faces do tempo cronológico, que apenas prossegue, irredutível, em inúmeros
ciclos de segundos. Em outras versões, as contagens
de tempo padrão alternavam-se com velocidades e
sentidos distorcidos, acelerados, ralentados ou invertidos, também modificando, na própria face do relógio,
uma série de imagens do cotidiano da cidade, captadas
em seus arredores.
Versão “Antidespertador”, exposta no interior da Orlândia Artistas Associados
PÁLPEBRA
vídeo performance
2004 e 2006
[em parceria com a artista performer Tissa Valverde;
trilha sonora original de augusto Bapt e Ronald Ricken]
Sob o tecido elástico, feito uma pele de pálpebra em R.E.M. (rápidos movimentos oculares), há um corpo real em movimento.
As várias seqüências de imagens interagem com um corpo que
dança, sob a “pele”, guiado pela música, às escuras. A substância
de dentro, indefinida, numa “dança inconsciente”, é moldada pela
resistência elástica da pele, sobre a qual as seqüências visuais inspiram a interioridade do sonho de um olho-corpo transparente.
Através da “pele-tela” da Pálpebra, propôem-se certas topografias
para o sonho, este sendo análogo a um “vídeo orgânico” projetado
no interior do corpo…
As seqüências de imagens são acionadas através de botões interativos invisíveis, em tempo real. As animações têm, em seus módulos, loops, micro-narrativas visuais, sem uma coerência linear. A
trilha sonora original também é fragmentada, uma mistura digital
de som ambiente doméstico, violão, vozes incidentais e percussão
de mridang, inspirando pausas repentinas e uma não fluidez nas
transições de movimento e forma entre as imagens e a superfície
da projeção.
Fotogramas das colagens animadas, com programaçnao em action script.
SUBTERRÂNEOS DA PRAIA VERMELHA
vídeo performance
2005
[em parceria com a artista performer Jaya Pravaz ]
Resgatados a partir de uma investigação sobre prontuários
psiquiátricos do Hospital Pedro II (início do século passado
,onde funciona atualmente o Pinel e UFRJ), os rostos surgem de um ponto no infinito, numa sala escura, e se torna
uma silhueta em rotação, até que cada rosto caiba perfeita
mente dentro dela. As silhuetas, em cor chapada, são como
gabaritos anônimos que se impõem sobre as faces nas fotografias. O que une esses olhares? O que cada fisionomia
expressa de humano e singular? Que história pessoal cada
um traz para a cena? As personagens verídicas tiveram em
comum o destino de confinamento e de censura de suas subjetividades.
Nessa seqüência em ciclos, o olhar de cada rosto é o detalhe
que mais persite, o o elo mais expressivo entre as imagens.
Propõe-se um espaço e um olhar mais demorado e pessoal
sobre esses registros fotográficos, fora do contexto discutível dos diagnósticos psiquiátricos de então.
TETRAPILLOW
vídeo instalação
2005
[ performer: Tissa Valverde; música: Elaine
Tomazzi Freitas]
TETRAPILLOW é uma vídeoinstalação projetada em quatro travesseiros, aberta à interação com o público. O trabalho de arte instantânea tem
uma trilha sonora original, mesclando voz e piano, repetindo a frase “A
hora te devora”, em várias entonações e humores.
Retomando o tema das atividades inconscientes do corpo, o vídeo Tetrapillow (com programação em action script) mostra várias expressões
faciais da atriz numa edição em loop (ciclos) que pode ser manipulada
pelo observador, como uma máquina de caça-níqueis.
O tempo nos devora e nos multiplica em fragmentos.
videoinstalação
2005
“Formiga” é uma videoinstalação em
que a animação de uma formiga faz seu
percurso casual sobre a imagem da palma de uma mão. A imagem da pele da
mão vibra no compasso da respiração,
acentuando-se como solo vivo para a formiga. O local específico para a projeção
é um ambiente natural, onde a projeção
se instale como uma nova pele de fundo,
entre plantas e rochas, sendo assimilada
à paisagem.
vídeo performance
2004
[em parceria com a artista performer Jaya Pravaz ]
A formiga animada desenha seu caminho sobre
o corpo de uma dançarina, e pode ser controlada
através de um mouse conectado ao computador,
podendo parar, voltar, e mudar de sentido. A pele
da performer está pintada de branco, dando mais
contraste e textura dramática ao caminho da formiga. Há uma dança, misturando influências da
dança oriental, como a Butoh do Japão, e o jogo
com essa personagem “incidental”: a formiga
sendo observada, e ao mesmo tempo incitando
novos movimentos no corpo que dança em tempo real.
ESTROMBO
vídeo instalação
2003
Estrombo é uma forma coloquial de dizer “estômago”, mastigada e digerida ao gosto popular. Aqui Estrombo é uma instalação digital em
processo que se alimenta de imagens e textos em rede, propondo uma “pausa” para a reflexão sobre como digerimos a mídia, como ela digere
o mundo, como podemos explorá-la (“digerí-la”) mais ativamente.
Estômago: lugar onde a matéria flui e é modificada continuamente- nada permanece a mesma coisa, tudo o que entranhamos se transforma,
se decodifica e se recodifica, tudo que é vivo se desintegra para se reintegrar. Lugar de projeção de outros sentidos, somatização dos nossos
afetos e imaginário: um órgão em rede. Através dessa alegoria, figuras e palavras editados em alta velocidade se revezam numa mesma textura
dinâmica, em combustão.
Nesse “caos digestivo” todas as informações perdem sua forma original: fundem-se, chocam-se, sobrepõem-se, até se transfigurarem completamente. O que realmente digerimos em meio a tantas informações? Derrick de Kerckhove* vivenciou uma série de experimentos que comprovaram o quanto as seqüências audiovisuais da TV falam mais ao corpo do que à mente: não permitem um intervalo entre tantos estímulos
e uma reação mais profunda da consciência. Pele, nervos e
vísceras são explorados sensorialmente através da superfície da tela.
Por outro lado, a web, feito um livro eletrônico, oferece um espaço maior de exploração, com maiores possibilidades de pausa, investigação e
interação. Ao contrário da TV, a rede pode ser alimentada diretamente pelo usuário. “Estrombo” quer provocar não só olhar, vísceras e mente,
como também ser explorado pelo espectador, através da interatividade digital, tanto online como offline. As informações processadas nesse
trabalho foram em grande parte colhidas da web, a partir de motores de busca, tendo como fio-condutor a palavra-chave “estômago”, digeridos
em contextos diversos como medicina, arte, mitologia, diários pessoais… apropriados e re-digeridos no estômago digital. A animação interativa em Flash consiste em vários pedaços de imagem e texto relacionados a palavra “estômago”, e o usuário pode “capturar” alguns quadros
(interrompidos por botões roll-over).
A trilha sonora se modifica de forma contínua, a depender de quanto tempo leva a experiência do espectador. Como a música é mais longa que o loop das imagens, o que
resulta é uma música auto-digerida, pela variação de sobreposições entre os fragmentos de seu próprio tempo, sempre transformada e singular, ad infinitum.
Outra virtualização do estômago é a idéia de ego, pois ele se dilata e dá lugar também
ao que não precisa, sendo em muitas culturas relacionado com gula, cobiça, medo.
Também cria individualide e alteridade, já que transforma o que estava fora no que
está dentro; o universal no particular, o alimento em corpo. Seleciona o que nos integra e dispensa o que é estranho, “o alheio”, tornando-nos no que somos, em semelhança e em diversidade.
*Diretor do Programa McLuhan em Cultura e Tecnologia, na Universidade
de Toronto. Autor de “Pele da Cultura”.
Restos de conteúdos da web processados no Estrombo
.
O que é digerido e o que vomitamos. As instalaçôes “Vômito” e “Painel de memória em digestão”, a partir de composições digitais
impressas, acompanharam a projeção do vídeo interativo, de onde se derivaram os recortes não utilizados das imagens.