Jornal Casa do Patrimu00F4nio 04 FINAL

Transcrição

Jornal Casa do Patrimu00F4nio 04 FINAL
JORNAL
Edição 4 - Ano 2014 - Casa do Patrimônio da Paraíba
CASA DO PATRIMÔNIO
Forró: patrimônio meu, seu e nosso
Saberes, fazeres, expressões e celebrações
Culto da Jurema Sagrada - p. 2
Cidade e Patrimônio
Feira de Campina Grande: Patrimônio Cultural do Brasil - p. 4
Relicário da memória
Fortaleza de Santa Catarina - p. 8
Cultura em ação
Pesquisa Arqueológica nas Itacoatiaras do Ingá - p. 10
O PAC Cidades Históricas em João Pessoa - p. 12
Tema da edição - p. 6
Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste.
Fonte: Acervo Balaio Nordeste.
Saberes, fazeres, expressões e celebrações
Culto da Jurema Sagrada
um reino tido como encantado, de onde
descem para curar e realizar trabalhos para
os vivos.
“Todos eles e elas são, teoricamente,
pessoas que viveram neste plano e, ao
desencarnarem, retornaram em forma de
incorporação para alcançar sua evolução
espiritual”, explicou o guardião da Jurema
Sagrada, Eriberto Carvalho da Rocha,
mais conhecido como Pai Beto. Alguns
instrumentos são usados durante a sessão
da Jurema, entre eles o maracá (um
chocalho indígena feito de cabaça) e o ilu
(uma espécie de tambor).
Luciana Nzobre
Ações recentes de preservação
da Jurema
Hoje, o culto adquiriu respeito em
função da luta daqueles que participam
na defesa dos terreiros através de uma
campanha nacional “Quem é de axé,
diga que é!”. “Há cinco anos, o Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico do
Estado da Paraíba (Iphaep) sensibilizou-se
com o nosso apelo em ver o patrimônio
dos praticantes da Jurema se desintegrar
e tombou como patrimônio material e
imaterial da cultura paraibana o sítio dos
Acais, em Alhandra”, relatou Pai Beto.
Alhandra. Em virtude dessa violência, a
religião, inclusive, passou a ser praticada
no meio da mata.
Intolerância religiosa
O que a grande maioria não sabe,
no entanto, é que no culto da Jurema se
prega a caridade, boa espiritualidade, o
desenvolvimento mediúnico e a relação do
homem com a natureza como valores a ser
seguidos e disseminados.
Incitadas por uma intolerância religiosa,
algumas pessoas chegaram a destruir os
locais e as árvores sagradas do culto da
Jurema. Esse tipo de destruição causa
danos ao patrimônio cultural representado
pela Jurema Sagrada na cidade de
Igreja de São João Batista no Sítio do Acais, tombado pelo Iphaep e sincretismo religioso em centros da Jurema Sagrada no município de Alhandra/PB.
Na página anterior, um pé de jurema, árvore sagrada para os juremeiros. Fotos: Daniella Lira.
Nascida aqui no Nordeste, a Jurema
Sagrada surgiu como uma religião
indígena, mas que também foi bastante
influenciada por elementos dos cultos
cristãos e afro-brasileiros. Árvore nativa da
caatinga e do agreste nordestino, a Jurema
é conhecida por oferecer folhas, cascas
e sementes para a confecção da bebida
dos mestres das aldeias, além de remédios
naturais, como os linimentos para o
tratamento e a cura de males físicos.
A casca da planta é usada para a
fabricação de uma bebida considerada
“mágica” e que concede força, sabedoria
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e contato com seres do mundo espiritual.
É através disso que a árvore desencadeia
a formulação de uma experiência religiosa
com mesmo nome.
Nos cultos da Jurema, existe a figura
dos mestres, líderes responsáveis pela
incorporação de espíritos que aconselham
e curam os “juremeiros” - é dessa maneira
que seus praticantes são denominados.
Além de fornecer um elo com o chamado
“reino dos encantados”, diz a lenda
que a planta é sagrada porque a Virgem
Maria teria escondido nela o menino
Jesus durante a fuga da sagrada família
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para o Egito e, ao entrar em contato
com a árvore, teria lhe preenchido com
poderes diversos.
Os principais símbolos do culto da
Jurema Sagrada são o cruzeiro das
almas benditas e a estrela de Salomão,
que representa sabedoria dos mestres.
As entidades presentes na religião
são os baianos e baianas, os pretos e
pretas velhas, os caboclos e caboclas,
representantes de grupos indígenas e
ciganos, além dos mestres e mestras. Estes
cultuados são chamadas de “encantados”,
que, como diz o nome, fazem parte de
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Cidade e Patrimônio
Feira de Campina Grande:
Patrimônio Cultural do Brasil
Emanuel Braga e Moysés Siqueira Neto
A Feira Central de Campina Grande
é uma das mais interessantes feiras livres
brasileiras. A partir de seu Mercado
Central, ela se expande por várias ruas do
centro de Campina Grande. O resultado
é um lugar vivenciado por milhares
de pessoas, entre fregueses, feirantes,
balaieiros, carregadores, animadores e
muitos outros, e um intenso comércio de
produtos diversos, como frutas, verduras,
ervas, hortaliças, cereais, lacticínios,
carnes, aves (vivas e abatidas), calçados,
roupas, acessórios para pecuária,
alimentação, ferragens. Em cada setor,
o visitante identifica os sons, cheiros e
cores de uma interessante feira que traduz
o resultado do encontro de múltiplas
referências culturais passadas de geração
para geração.
Em março de 2013, a Prefeitura de
Campina Grande solicitou ao IPHAN
o prosseguimento de seu pedido
de registro da Feira como Patrimônio
Cultural do Brasil, iniciado ainda no ano
de 2007.
Para a Diretora de Patrimônio Histórico,
Artístico e Cultural de Campina Grande, a
historiadora Giovanna Aquino, “o pedido
de registro reconhece nacionalmente
os valores culturais que já foram
reconhecidos pelos campinenses”. Para
a Diretora, o registro da feira atesta a
importância “não só pela fundamental
participação na formação da cidade,
como também pela continuidade de seus
elementos e valores culturais, resistindo
aos impactos da modernidade”. A feira
passa a ser entendida, assim, como um
lugar especial não só para o campinense,
mas onde é possível encontrar
elementos culturais fundamentais para
Cenas da Feira Central de Campina Grande. Fotos: Moysés Siqueira Neto.
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entender a diversidade cultural de todo
povo brasileiro.
várias áreas, como história, arquitetura,
geografia, entre outras.
O processo de registro da Feira de
Campina Grande se encontra na fase de
instrução, em que além da reunião da
documentação necessária no pedido, é
realizada a produção e sistematização dos
conhecimentos sobre a Feira de Campina
Grande, através de uma pesquisa para
conhecer melhor o bem. Para isso, o grupo
de pesquisa coordenado pela Secretaria
de Cultura utiliza a metodologia indicada
pelo IPHAN do Inventário Nacional de
Referências Culturais – o INRC – que está
sendo aplicado por pesquisadores de
Segundo Giovanna Aquino, a partir
da pesquisa já foi possível perceber
“alguns ofícios e modos de fazer
peculiares desse lugar e que estão quase
em processo de extinção. Edificações
com valor não apenas histórico e
arquitetônico, mas também com valor
social e cultural. Os pesquisadores estão
identificando uma vasta documentação
sobre a feira, incluindo fotos, vídeos
e plantas antigas, além de realizar
diversas entrevistas com os feirantes
mais antigos”.
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Os resultados da pesquisa farão
parte de um dossiê e de uma produção
audiovisual. Eles resumem o trabalho
desenvolvido para convencimento do
valor nacional da feira que será votado
na Câmara do Patrimônio do IPHAN.
Sendo positiva a resposta da Câmara,
a tão notória importância da feira será
reconhecida como patrimônio cultural
do Brasil. Seu registro, então, ressalta o
lugar como referência para valorização
da diversidade no entendimento de
nossa identidade nacional daquela que
é considerada por muitos como a “feira
das feiras”.
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Tema da edição
Forró: patrimônio meu, seu e nosso
Giovanna Ismael
Que tilintem os triângulos e rufem as
zabumbas: o forró está em processo de
ser reconhecido como Patrimônio Cultural
Imaterial do Brasil pelo Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan). E o que isso significaria para o
nosso país e para os nossos forrozeiros?
Para Chico Ribeiro, músico e um dos
fundadores do Fórum Forró de Raiz e
da Associação Balaio Nordeste, alçar
esse status seria, em primeiro lugar,
ter um alicerce maior na procura por
investimentos. “O reconhecimento do
forró como um bem cultural imaterial
dá a nós, forrozeiros, um argumento
que nos suporte em busca de
políticas públicas que incentivem esta
arte”, disse.
“O que nos motivou à busca é uma
coisa maior do que apenas tocar em algum
lugar ou querer um palco. A luta é para
difundir o que nós temos de mais nobre
na nossa região: o forró”, continuou.
transmitidos por várias gerações desde o
início do século XX”, disse.
Ao longo das décadas, o forró ecoou
por todo o Brasil e foi ressonando com
novos estilos, novos instrumentos, novos
objetivos. E para ter certeza o que aqui
é honrado, pede-se o reconhecimento
das “matrizes tradicionais do forró”,
ou seja, o baião, xote, xaxado, rojão,
xamego, balanço, miudinho, forró-samba
e quadrilha/arrasta-pé. O antropólogo
do Iphan na Paraíba, Emanuel Braga,
comentou que existe uma amplitude
espacial e temporal significativa quando se
trata destas matrizes.
Joana Alves, uma das principais
ativistas nesta luta, sendo atual presidente
da Associação Balaio Nordeste, é das
inúmeras que critica a atenção voltada
para apenas um seguimento do forró.
“Quando alguém fala de pé-de-serra,
sempre citam ‘o triozinho’. Não é
‘triozinho’. São grupos pequenos em
número, mas gigantes em qualidade e
cultura. Eles não têm 20, 30 pessoas
na equipe e produções enormes,
“São importantes referências culturais
relacionadas à musicalidade brasileira.
São fundamentais para a construção
da identidade paraibana, nordestina e
nacional, especialmente no tocante aos
seus gêneros, ritmos e modos de dança,
Tanto Chico Ribeiro quanto Joana
Alves, em 2011, realizavam e participavam
de fóruns e mesas redondas sobre a
importância do forró para a Paraíba e todo
o Brasil. Foi nesta época que se percebeu
a necessidade do registro do forró como
patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan.
Reinauguração da Escola de Música Mestre Dominguinhos, em fevereiro de 2014.
Ao lado, aluno participa de curso de violão, em 2013. Fotos: Divulgação.
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nem deveriam precisar disso para ter
incentivos”, desabafou.
“Vimos a necessidade de agregar
mais forças ao movimento e realizamos
eventos em estados como Pernambuco,
Rio Grande do Norte e Sergipe para
discutir sobre o assunto. Fizemos uma
petição online e conseguimos arrecadar
assinaturas para entrar com o recurso
solicitando o forró como patrimônio
cultural”, ressaltou Joana. Além dos
fóruns, os grupos foram em busca de
estudos de caso e documentos históricos
e investimentos. Foi com o forró que a
identidade cultural do Nordeste foi se
formando, se intensificando e espalhandose Brasil afora.
Um dos protagonistas deste processo
foi Luiz Gonzaga (1912-1989). O velho
Lua criou um cancioneiro particular e
encarnou personagens sertanejos que
habitam nosso imaginário até hoje,
democratizou ritmos como forró, xote,
baião e xaxado, atribuiu um novo papel
para a sanfona na música brasileira. A lista
de feitos e pequenas revoluções poderia
continuar por mais longas linhas, mas nem
só de Gonzagão foi feito o forró: Marinês,
Jackson do Pandeiro, Ary Lobo são só
alguns nomes dos que fizeram história.
“Independentemente destas
classificações, o que caracteriza o
patrimônio cultural de valor nacional é
que essas referências tenham amplitude
maior, espacialmente e temporalmente
falando, que envolvam grupos sociais
e conhecimentos significativos para
a composição da diversidade cultural
nacional. E as matrizes do forró ilustram
essas características patrimoniais”,
comentou Emanuel, o responsável por
fazer a ponte entre os artistas daqui e a
sede nacional do Iphan.
Patrimônios Culturais Imateriais
Segundo a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco), patrimônios culturais
imateriais são “as práticas, representações,
expressões, conhecimentos e técnicas
– com os instrumentos, objetos,
artefatos e lugares culturais que lhes são
associados - que as comunidades, os
grupos e, em alguns casos os indivíduos,
reconhecem como parte integrante de seu
patrimônio cultural.”
já existe há décadas. Em 1936, o poeta
Mário de Andrade elaborava esta proposta
de implantação de política de cuidado
aos bens culturais brasileiros, a pedido de
Para entendermos melhor os bens
sobre os quais falamos, Emanuel
Braga explica: “patrimônio cultural
é o processo de seleção afetiva e
política que um determinado grupo
social faz de determinadas referências
culturais no intuito de preservá-las. Já
o patrimônio imaterial é quando esse
processo de seleção envolve referências
culturais consideradas de natureza
imaterial, a exemplo de conhecimentos e
práticas sociais”.
O Iphan ficou responsável por
um longo processo para se criar uma
legislação para o reconhecimento e
preservação de bens culturais imateriais. E
foi em 2002 que ocorreram os primeiros
registros de PCI. Até 2010, mais de 20
manifestações culturais foram registrados,
entre elas o Frevo (PE), o Ofício das
Baianas de Acarajé (BA) e a Roda de
Capoeira (nacional), entre a criação de
diversos programas de apoio e editais de
incentivo às manifestações culturais.
Gustavo Capanema, então Ministro da
Educação e Saúde Pública.
No Brasil, a preocupação com a
preservação do nosso patrimônio cultural
O Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, de acordo com o Decreto 3.551/2000, tem as seguintes metas:
para que ocorresse uma defesa embasada.
- Implementar política de inventário, registro e salvaguarda de bens culturais imateriais;
É evidente que o forró não é a única
manifestação cultural nordestina, mas
sem dúvidas é uma das mais importantes
historicamente. A tradição do pé-deserra carrega a inegável história de
moradores de uma região que sofre
diretamente por falta de políticas públicas
- contribuir para a preservação da diversidade cultural do país e para a disseminação de informações sobre o patrimônio cultural
brasileiro a todos os segmentos da sociedade;
- captar recursos e promover a constituição de uma rede de parceiros com vistas à preservação, valorização e ampliação do
conjunto de bens que constituem patrimônio cultural brasileiro;
- incentivar e apoiar iniciativas e práticas de preservação desenvolvidas pela sociedade.
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Relicário da memória
Fortaleza de Santa Catarina
Phillipe Xavier
Símbolo de um passado de lutas, a
Fortaleza de Santa Catarina, localizada
em Cabedelo, município da Região
Metropolitana de João Pessoa, tornou-se
um dos pontos turísticos mais importantes
da Paraíba. Sua famosa estrutura de
alvenaria em pedra guarda lembranças do
período colonial e apresenta uma visão
interessante de como a área era protegida
militarmente de invasões estrangeiras há
mais de 400 anos.
A construção, composta por muralhas
feitas de pedras, óleo de baleia e cal,
destaca-se entre as paisagens à margem
do rio Paraíba do Norte e é um convite
para viajar no tempo. Canhões, corredores
majestosos, além da capela e da pequena
prisão, usada atualmente como ambiente
para expor o acervo de gravuras que
retratam o período, também dão um
toque todo especial ao lugar, compondo
uma atmosfera de mistério e beleza.
Tombada como patrimônio cultural
brasileiro pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em
1938 e inscrita nos livros histórico e de
belas artes, a fortaleza conta com o apoio
da Fundação Fortaleza de Santa Catarina.
Segundo o presidente da instituição,
professor Osvaldo da Costa Carvalho,
a administração diária do espaço não é
simples e enfrenta muitos obstáculos que
costumam impedir o desenvolvimento de
ações mais incisivas de preservação.
Entre os principais problemas,
conforme Carvalho, estão a falta de
recursos financeiros e humanos, a
ausência de um Plano Integrado de
Turismo, além da deficiência na segurança
e acessibilidade do local. Fora isso, o
professor ainda relata o descaso de
empresas e instituições que realizam
obras próximas à fortaleza sem respeitar
sua extensão.
“A nossa primeira luta teve relação
com a retirada de parte do muro da
antiga Esso (companhia de distribuição
de combustíveis) do limite da fortaleza.
Em seguida, solicitamos o afastamento
do muro e o fechamento do portão
do Porto de Cabedelo nos fundos da
fortaleza, que dava acesso a veículos
pesados, margeando as muralhas no
quebra-mar”, afirma.
“Retiramos também as grandes
pedras estocadas pelo porto nos pátios
externos, resultante das obras de
reforma e ampliação do cais, lutamos
pela retirada do armazenamento de
‘petcoque’ (produto obtido do processo de
condensação de resíduos petrolíferos) dos
entornos da fortaleza e trabalhamos com
a população por meio de campanhas de
limpeza e preservação”, acrescenta.
No que tange às atividades culturais,
a Fortaleza é palco para as apresentações
Vista aérea da Fortaleza de Santa Catarina. Ao lado, crianças brincando no interior da Fortaleza. Fotos: Moysés Siqueira Neto.
do Grupo Tambores do Forte, da Nau
Catarineta e de capoeiristas da região.
Ao mesmo tempo, grandes estímulos à
exposição de artesãos locais e concertos
de conjuntos de música também
são oferecidos.
“Para a população de Cabedelo, além
de sua imponência como monumento
histórico, a fortaleza atualmente tem
relevância como um centro de atividades
artísticas, já que seu interior se reveste
como sendo um anfiteatro natural”,
explica Carvalho, complementando que,
“para haver a continuação desse trabalho,
é primordial um zelo ainda maior pelo
patrimônio por parte de visitantes e
moradores da cidade”.
Fórum Fortaleza de Cabedelo: Patrimônio Brasileiro
Átila Tolentino
Com o objetivo de indicar diretrizes para nortear um Plano de Gestão Estratégica para a Fortaleza de Santa Catarina, o
Iphan, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) - Campus Cabedelo, através do
Núcleo de Pesquisa e Defesa do Patrimônio Cultural de Cabedelo (NUPPACC), e com a Secretaria do Patrimônio da União na
Paraíba (SPU), promoveu entre os dias 21 e 23 de maio de 2014, o Fórum Fortaleza de Cabedelo (PB): Patrimônio Brasileiro.
No Fórum, aberto ao público, aconteceram mesas redondas, palestras, grupos de trabalho e plenária, buscando promover o
debate acerca do monumento, reconhecendo, de um lado, sua vocação contemporânea como importante centro de atividades
culturais e, de outro, os desafios à sua preservação frente ao projeto portuário.
As palestras tiveram como objetivo apresentar a problemática atual que envolve a Fortaleza de Santa Catarina e discutir
os projetos de desenvolvimento e turismo, propostos para o monumento e sua área de entorno, trazendo demandas a
serem discutidas nos grupos de trabalho. As discussões buscaram promover o debate acerca da situação atual da Fortaleza,
contemplando gestão do espaço, potencialidades como recurso turístico e mecanismos de preservação e proteção do
monumento. Buscaram a articulação dos diferentes atores do poder público e da sociedade civil, propondo estratégias e
definindo competências para a salvaguarda e gestão do monumento.
O evento contou com a participação de técnicos do IPHAN, técnicos da SPU, professores do IFPB, professores da UFPB,
representantes da Prefeitura Municipal de Cabedelo, da Fundação Fortaleza de Santa Catarina, da Associação Artístico
Cultural de Cabedelo, da Associação Cabedelense para a Cidadania, da Sociedade Cabedelense de Escritores e Poetas, da
Associação dos Artesãos do Município de Cabedelo, do Instituto Arte em Movimento, do Grupo Cultural Tambores do Forte,
do Grupo de Teatro Amador Alfredo Barbosa, do Coletivo Epopeia Verde, do Grupo Folclórico da Nau Catarineta e da Banda
12 de Dezembro.
Como resultado do Fórum, foi redigido o documento “Compromisso de Cabedelo”. Entre as diretrizes definidas, foi
estabelecido que irá se buscar assegurar um processo de gestão que dê estabilidade e continuidade dos trabalhos de
salvaguarda do patrimônio material e imaterial desenvolvidos na Fortaleza, realizados pelos agentes artístico-culturais
ali atuantes.
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Cultura em ação
Pesquisa Arqueológica nas Itacoatiaras do Ingá
Paôla Manfredini Romão Bonfim
Com o intuito de investigar
cientificamente e preservar o Sítio
Arqueológico Itacoatiaras do rio Ingá,
o Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan), por meio
de sua Superintendência na Paraíba,
contratou, no ano de 2012, um projeto
para elaboração de estudos arqueológicos,
conservação e socialização do Sítio
Itacoatiaras do Ingá. Trata-se da primeira
pesquisa arqueológica de fôlego realizada
no local em mais de 70 (setenta) anos, ou
seja, desde o seu tombamento pelo Iphan
no ano de 1944.
A execução do projeto ficou por
conta da empresa WLage Arqueologia,
sob a coordenação da Arqueóloga
Dra. Conceição Lage, professora da
Universidade Federal do Piauí e especialista
em conservação de sítios arqueológicos
de natureza rupestre. Uma equipe
multidisciplinar foi acionada, com
professores de diversas universidades nas
áreas de arqueologia, geologia, botânica,
química, física, biologia e microbiologia
- compondo um total de 17 (dezessete)
profissionais altamente qualificados e
diversos alunos dos cursos de graduação e
pós-graduação em Arqueologia.
características Jê, possivelmente da etnia
Aratu (diferentemente de alguns estudos
anteriores que apontavam a presença de
material Tupi).
Todo o material coletado está
sob a guarda da UFPI, até que a
Superintendência do Iphan na Paraíba
autorize sua remoção para as futuras
dependências do Museu de Arqueologia
do Sítio Itacoatiaras do Ingá.
As principais conclusões desse primeiro
trabalho de pesquisa arqueológica nas
Itacoatiaras do Ingá apontam, entre outras
coisas, a presença de um painel pintado
em meio às gravuras do painel principal,
em tons esmaecidos de rosa e branco,
e evidências microscópicas de vestígios
de tinta da cor vermelha no interior dos
Também foram realizadas ações de
conservação do painel principal do Sítio,
em função dos inúmeros problemas
que lhe têm causado danos, como o
desplacamento, exposição ao sol e
chuva, intensa variação de temperatura,
submersão das gravuras em período de
cheia, vegetação rupestre na base da
rocha, turismo desordenado e trânsito
Detalhe da pedra principal do Sítio Arqueológico das Itacoatiaras do Ingá.
Ao lado, ações de preservação e atividades de Educação Patrimonial. Fotos: Paôla Bonfim - Acervo Iphan/PB.
Os trabalhos de campo executaram
sondagens, prospecções e escavações
arqueológicas em área de 41,25 hectares,
cuja extensão diz respeito à propositura
do Governo do Estado da Paraíba de
desapropriação para a criação do Parque
Estadual Itacoatiaras do Ingá. Entre o
material coletado em superfície e o
resgatado em subsolo, somam-se em
torno de 570 (quinhentos e setenta)
amostras de interesse arqueológico.
As cerâmicas encontradas, apesar
de muito fragmentadas, remetem às
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sulcos. Além disso, foram identificados
diversos locais de acampamento, desde
a pré-história até os tempos históricos,
atestando uma visitação contínua do
monumento arqueológico. Trata-se de
habitações temporárias, provisórias, de
curta duração. As datações obtidas vão
dos tempos pré-coloniais (século XV) às
primeiras décadas de 1900 (século XX),
indicando um longo período de ocupação.
de animais domésticos na área. Na
tentativa de minimizar os efeitos danosos,
foram executadas ações de limpeza,
preenchimento das fissuras e consolidação
das placas do painel principal.
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Atividades de educação patrimonial
foram realizadas junto a visitantes
e público escolar local, além de
levantamento do patrimônio cultural
das comunidades vizinhas ao sítio
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arqueológico. O projeto também conta
com a produção de um livro e de um
vídeo, onde serão apresentados os
resultados das pesquisas.
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O PAC Cidades Históricas em João Pessoa
Claudio Nogueira
O Programa de Aceleração do
Crescimento das Cidades Históricas – PAC
Cidades Históricas (PAC.CH) – está sendo
implantado pelo IPHAN com o objetivo de
valorizar a cultura e preservaro patrimônio
arquitetônico e urbanístico brasileiro,
transformando-o num dos componentes
indutores do desenvolvimento econômico,
da agregação social e afirmação da
identidade das cidades históricas, além
de contribuir para o enfrentamento do
desafio de melhoria da sustentabilidade e
qualidade de vida dos seus cidadãos.
da Cultura, do Planejamento e da Casa
Civil, aprovou um total de 11 ações
para o nosso centro histórico, sendo 08
executadas pela Prefeitura Municipal de
João Pessoa e 03 pela superintendência
no IPHAN, que no total preveem um
investimento de cerca de R$ 50 milhões
de reais no Centro Histórico da cidade.
De forma complementar a estas
obras, encontra-se em implantação o
financiamento de imóveis privados que
prevê um investimento de mais R$ 3
milhões de reais.
Nesta etapa, o PAC.CH atua em 44
cidades históricas de 20 estados do país
e disponibiliza um total de R$ 1,9 bilhões
divididos em duas linhas de atuação.
A primeira destina-se à realização de
obras de restauração e requalificação
de monumentos e espaços públicos
históricos e deverá aplicar um total de R$
1,6 bilhão em 424 ações apresentadas
pelas prefeituras municipais, governos de
estado e pelas superintendências estaduais
do IPHAN. A segunda tem por objetivo
apoiar os proprietários privados através da
concessão de financiamento subsidiado
para a recuperação de imóveis em áreas
tombadas e aplicará R$ 300 milhões
de reais nas 44 cidades do programa
e em mais 50 outras, num total de 94
cidades detentoras de centros históricos e
conjuntos arquitetônicos protegidos.
As ações do município concentramse na requalificação da margem do Rio
Sanhauá com a implantação do Parque
Ecológico do Rio Sanhauá, requalificação
do antigo Porto do Capim e a restauração
da antiga Alfândega para instalação do
Museu da Cidade, da antiga Intendência
da Alfândega para abrigar o Centro
de Referência da Cultura Popular e da
antiga Fábrica de Gelo para abrigar o
apoio turístico. As ações ainda preveem a
conservação do antigo Hotel Globo, que
passará a abrigar a sede da Coordenadoria
do Patrimônio Cultural de João Pessoa
(COPAC), e do Conventinho de São Frei
Pedro Gonçalves, que abrigará a escola de
artes da Prefeitura Municipal.
A Cidade de João Pessoa integra o
PAC.CH desde 2013 quando o Comitê
Gestor do PAC, formado pelos Ministérios
Por sua vez, a Superintendência do
IPHAN na Paraíba executará a contratação
de projeto de restauro para o conjunto
religioso franciscano e executará a
continuidade da restauração dos painéis
de azulejos do Adro de São Francisco,
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contratação de projeto de restauro do
conjunto carmelita e continuidade da
restauração do forro da Igreja de N.
Sra. do Carmo e restauração da antiga
residência dos capitães-mores e delegacia
fiscal – antiga sede da Polícia Federal –
edificação localizada na Praça Rio Branco,
que servirá de Centro de Documentação e
Sede do IPHAN na Paraíba.
O Jornal Casa do Patrimônio é produzido pela
Superintendência do Iphan na Paraíba, por
meio da Casa do Patrimônio da Paraíba, em
parceria com o Departamento de Comunicação
Social da UFPB.
Equipe da Casa do Patrimônio da Paraíba
Átila Tolentino - Iphan/PB
Carla Gisele Moraes - Iphan/PB
Emanuel Braga - Iphan/PB
Igor Souza - Iphan/PB
Maria Olga Enrique Silva - Iphan/PB
Moysés Siqueira Neto - Iphan/PB
Suelen Andrade - Iphan/PB
Superintende do Iphan/PB
Claudio Nogueira
Chefe da Divisão Técnica do Iphan/PB
Christiane Finizola
Chefe da Divisão Administrativa do Iphan/PB
Lindaci Bandeira de Souza
Coordenadora do Projeto de
Extensão Probex/UFPB
Jamile Paiva
Editor
Casa do Patrimônio da Paraíba
Projeto Gráfico e diagramação
Daniella Lira