Sumula Forum de Lideranças
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Sumula Forum de Lideranças
SÚMULA DO FÓRUM DAS LIDERANÇAS NACIONAIS PELA CONCERTAÇÃO 18 e 19 de setembro de 2003 18 e 19/09/2003 Propósito ......................................................................................................... 3 Objetivos ......................................................................................................... 3 Dia 18 de setembro ............................................................................ 4 I. Abertura.................................................................................................. 4 III. Mesa Redonda: Reflexões sobre o Desenvolvimento Sustentável: Novos Paradigmas Econômicos e Sociais ............................................................. 7 II. Atividades em Grupos............................................................................... 6 Conferencistas: ............................................................................................. 7 Hazel Henderson ........................................................................................ 7 Alfredo Bruto da Costa ................................................................................ 9 Tarso Genro ............................................................................................. 10 IV. DIA 19 DE SETEMBRO ...................................................................... 11 Plenária Final ......................................................................................... 11 Apresentação dos grupos ............................................................................. 11 Grupo Azul ............................................................................................... 11 Grupo Preto.............................................................................................. 13 Grupo Verde-Amarelo................................................................................ 16 Grupo Vermelho ....................................................................................... 17 Encerramento ................................................................................................ 20 "O Brasil rumo ao Futuro: Construindo o Desenvolvimento Sustentável" ............ 22 Propósitos e Significado do Fórum ................................................................... 22 A Cara do País que Queremos ser.................................................................... 23 Visão Brasil 2020............................................................................................ 23 Fundamentos da Visão.................................................................................... 24 Ações Desafiadoras ........................................................................................ 25 2 18 e 19/09/2003 Evento promovido pela Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal e pela Fundação Dom Cabral (FDC), realizado no Campus da FDC, em Nova Lima, Região Metropolitana de Belo Horizonte, nos dias 18 e 19 de setembro, reunindo representantes de diversos segmentos da sociedade, como empresários, sindicalistas, integrantes de movimentos sociais e intelectuais. Propósito Contribuir para a construção da cultura do diálogo e da concertação social. Objetivos Contribuir para a construção de uma relação horizontal e dinâmica na sociedade. Ser um instrumento de convergência e construção de um novo País, através do entendimento e do diálogo. Ser um exercício prático da concertação. Gerar idéias que contribuam com a concertação, a promoção das reformas e a definição de novos rumos para a construção de um modelo de desenvolvimento com crescimento econômico e inclusão social. Ser uma ação vitalizadora e sinergética para viabilizar consensos com a sociedade. Exercitar o pensamento prospectivo. 3 18 e 19/09/2003 SÚMULA Dia 18 de setembro I. Abertura A mesa de abertura do Fórum foi composta pelas seguintes autoridades: Emerson de Almeida, presidente da Fundação Dom Cabral; Tarso Genro, ministro da Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Social (Sedes); Wilson Brumer, secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais; representando o Governo do Estado, Fernando Damata Pimentel, prefeito de Belo Horizonte (MG); e Vitor Penido, prefeito de Nova Lima (MG). Emerson de Almeida abriu os trabalhos saudando os presentes e ressaltando a importância da parceria entre a Fundação Dom Cabral e a Sedes. Segundo ele, o principal objetivo do encontro era “a construção de uma proposta para o Brasil que queremos ser em 2020”. “Gostaria de abordar em minha fala três aspectos, numa perspectiva de evolução: o sonho, que se transforma em visão, que permite a execução de projetos concretos para viabilizar esse Brasil que desejamos”, frisou. Para que isso ocorra, disse ele, “precisamos levar em conta quatro premissas: pensar nas próximas gerações, sempre considerando o país dos nossos filhos e nossos netos; ter um desprendimento de si mesmo, deixando interesses pessoais e corporativos de lado; desenvolver a cultura da cooperação, de forma que ela ocupe o lugar da cultura da competição; e, por fim, sonhar sempre com o melhor, em torno de um país mais justo para todos”. Para o presidente da FDC, o sonho deve se transformar em uma visão, no sentido de se buscar uma construção coletiva e compartilhada, bem “pé no chão” e calcada na realidade. A partir daí, portanto, é possível dar o salto da visão para os projetos concretos que, por sua vez, devem ser desafiantes, empolgantes, exeqüíveis e, principalmente, transformadores da realidade. Ele citou o documento “Índia – Visão 2020”, no qual o país asiático também traça suas metas para o futuro, que guarda semelhanças como as do Brasil em termos de perspectivas: opção pelo empreendedorismo e pela inovação, população bem alimentada, fim do analfabetismo, redução das diferenças de renda, governo 4 18 e 19/09/2003 transparente e descentralizado, eleitorado bem-educado e uma economia marcada pela produtividade. Por sua vez, o ministro Tarso Genro ressaltou a importância da diversidade dos perfis dos presentes no encontro – que contou com representantes do poder público, ONGs, sindicatos de trabalhadores, instituições empresariais, intelectuais e acadêmicos, dentre outros. Essa diversidade, segundo ele, é essencial para a articulação de um diálogo em torno da concertação. Tarso Genro ressaltou que a sociedade brasileira não tem tradição de promover o diálogo entre as classes sociais e isso sempre ficou claro nos diversos ciclos de afirmação de projetos nacionais pelos quais o Brasil passou – desde o populismo modernizante de Vargas, passando pelo desenvolvimentismo de JK, pelo militarismo, até a fase atual, na qual o governo Lula pretende repor a idéia de nação a partir do aprofundamento da democracia, via a prática da concertação e da inclusão social. Para ele, é preciso tornar claros os eixos necessários para se construir no país uma maioria visível, articulada, concertada em torno de pontos mínimos de consenso, para que se possa falar em “sucesso” do projeto de país do governo atual. Esse processo é, para ele, social, cultural e político – não podendo ser assumido como uma simples relação contratual da sociedade. “Só assim a sociedade se articula, por meio de diálogos de concertação, para propor políticas públicas pactuadas por todos em nome de um projeto de nação”, explicou. Ele lembrou, contudo, que nada disso se conquista “sem o exercício da democracia e da concertação, na construção da sociedade pela qual estamos empenhados”. Representando o governador Aécio Neves, o secretário Wilson Brumer deu as boas-vindas a todos em Minas Gerais e ressaltou a importância de se ter uma visão clara “do país que queremos para o Brasil”. Para ele, o governo Lula, acertadamente, tem feito essa reflexão, da mesma forma que ela acontece em Minas. “Não adianta só atrair investimentos de fora, se não conseguirmos fazer aqui um lugar melhor de se viver”, ressaltou. Ele lembrou que Minas é a segunda ou terceira maior economia do país, mas está em 11º lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) – e o mesmo acontece com o Brasil no contexto mundial: o país é a 12ª economia, mas a 65ª em termos de IDH. 5 18 e 19/09/2003 Para ele, o desenvolvimento social deve acompanhar o econômico: “O Brasil vive hoje esse momento, que nos faz elevar a reflexão acima dos partidos, unindo os governos federal, estaduais e municipais, em busca de uma sociedade mais justa”, concluiu. O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ressaltou o exemplo que o Brasil dá ao mundo com a realização do Fórum – um encontro voltado ao diálogo e ao entendimento. “Enquanto vemos o mundo crivado de conflitos e de violência, nos quais os direitos civis parecem deixar de ser o objetivo da sociedade, com os Estados Unidos impondo uma hegemonia avassaladora sobre o resto do planeta, o Brasil dá um exemplo no sentido contrário, por meio da concertação e da busca de consensos”, frisou. Pimentel ressaltou também o fato de o Fórum acontecer em Minas, considerado por ele “estado-síntese” do Brasil, como foi salientado pelo secretário Wilson Brumer, em termos de desenvolvimento econômico e social. Por sua vez, Vítor Penido, prefeito de Nova Lima – cidade na qual se localiza o Campus da Fundação Dom Cabral –, salientou o esforço da sociedade civil e do poder público de buscar um entendimento para os grandes problemas nacionais, por meio do Fórum. “Acreditamos nos bons resultados deste encontro, como brasileiros que somos”, ponderou. Por fim, a equipe da Fundação Dom Cabral apresentou as orientações gerais e as dinâmicas das atividades do encontro, através das palavras da gerente do evento, Iris Leite de Castro, do diretor executivo e professor da FDC, Mozart Pereira dos Santos, e do professor convidado da FDC, Homero Luis Santos. II. Atividades em Grupos Os participantes foram divididos em vários grupos para reflexão sobre o tema do Fórum, com o objetivo de criar um cenário para “o Brasil que queremos ser em 2020”. Ao longo do encontro, os participantes se reuniram diversas vezes, ora em grupos, ora em miniplenárias, identificadas pelas cores Vermelho, Azul, Verde Amarelo e Preto. As conclusões das quatro miniplenárias foram expostas na Plenária Final. 6 18 e 19/09/2003 III. Mesa Redonda: Reflexões sobre o Desenvolvimento Sustentável: Novos Paradigmas Econômicos e Sociais Conferencistas: Alfredo Bruto da Costa – Presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Portugal; Hazel Henderson – Futurista e economista; Tarso Genro – Ministro da Sedes. Moderador: Mário Sérgio Cortella – Professor convidado da FDC. Hazel Henderson A futurista e economista Hazel Henderson faz parte de um grupo de 500 futuristas do mundo que se dedicam a responder, entre outras questões, a “quais são os grandes desafios?” e “como ter desenvolvimento sustentável?”. Para pensar sobre estas perguntas, ela estuda as transformações que ocorrem nas seis grandes forças da globalização: Industrialismo/Tecnologia, Finanças/Comunicação/Informação, Emprego/Trabalho/Migração, Efeitos Humanos na Biosfera, Militarização e Consumismo/Cultura. Os estudos de Hazel confirmam uma grande reestruturação nas economias industriais do planeta. A “indústria limpa”, que trabalha principalmente com serviços e informação, cresce vertiginosamente. “Estamos entrando em uma nova economia, que tem como base o capital intelectual. Neste tipo de economia, o Brasil tem vantagens e talento suficientes para colocá-lo na posição de líder mundial e referência para outros países do mundo”, salientou. Hazel propõe uma revisão nos índices econômicos que orientam as bolsas de valores e movimentam investimentos. Segundo ela, o PIB de cada país (um dos índices mais utilizados) é muito limitado como referência econômica, pois não considera fatores como ativos ecológicos, sociais e de infra-estrutura. Considerando estas referências, o Brasil vai se tornar um país vantajoso e atrairá investimentos internacionais, atualmente destinados em sua maior parte à China. 7 18 e 19/09/2003 Ela mostra que, atualmente, a área de educação ainda é vista como gasto – e não como investimento. Hazel defende que o custo ambiental e o custo social devem ser subtraídos e não acrescentados ao PIB, dentro de uma visão de novos índices. Estes novos indicadores já foram adotados com sucesso em países como os Estados Unidos e o Canadá. Como mostra de que a visão econômica atual já não funciona, a futuróloga apresentou uma capa da conceituada revista The Economist com uma reportagem que admitia isso. “Nos Estados Unidos, a lacuna entre os ricos e pobres está aumentando. O Consenso de Washington não serve nem para este país”. Segundo ela, a mudança se faz necessária. Da mesma forma que a tecnologia avança com novos materiais, aumentando a velocidade da comunicação entre as pessoas, a visão de mundo vigente também tem que ser transformada. Ela mostrou alguns exemplos de pensamento sistêmico, passando das hierarquias para as redes, valorizando ações complementares e mostrando que a incerteza e a mudança são e serão constantes em nossas vidas, e que teremos que lidar com isso. Estudos de Hazel mostram que em torno de 50% da economia não funciona dentro dos padrões e procedimentos das companhias. É a chamada “economia do amor”, de base informal, doméstica e utiliza-se de trocas de serviços e de produtos. Quem move esta economia “são os mais de 2 bilhões de habitantes do planeta que jamais poderão entrar num banco para solicitar um empréstimo”. Os fundamentos desta economia são a solidariedade e a cooperação, valores considerados irracionais para a economia formal. Na conferência, foi destacado o perfil de um novo cidadão, que se importa mais com o planeta e utiliza três recursos: matéria, energia e informação. Hazel afirma que a boa utilização destes recursos já tem provocado mudanças significativas, citando a mudança na utilização dos combustíveis fósseis para outras fontes mais limpas de energia. Outro setor que apresenta mudanças é o empresarial. Ela diz que muitas empresas já não trabalham com fornecedores ou compradores que fabricam ou compram armas, utilizam trabalho infantil, têm atividades poluidoras, dentre outros. As empresas devem acenar para novas relações, considerando fatores econômicos, sociais e ecológicos. Iniciativas como a do Instituto Ethos de Responsabilidade Social em conjunto com outras organizações – de propor novas medidas como o balanço social das empresas – foram elogiadas pela futuróloga. Ela ainda destacou que o desempenho social e ambiental das empresas responsáveis é melhor do que das empresas convencionais. 8 18 e 19/09/2003 A conferência foi finalizada com um dado alarmante sobre a destinação dos recursos financeiros. Hazel afirmou que o orçamento militar anual mundial é de mais de um trilhão de dólares, e que para cuidar da pobreza mundial seria necessário apenas um quarto deste valor. Alfredo Bruto da Costa Desenvolvimento, sustentabilidade e participação são os pilares nos quais um país deve se basear para atingir a concertação da nação. Esse foi um dos ensinamentos apresentados do presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social de Portugal, Alfredo Bruto da Costa. Ele ressaltou, contudo, que esses instrumentos podem tanto reduzir quanto aumentar a miséria, a fome e a injustiça. Para ele, portanto, uma nação não basta ter objetivos, é preciso saber quais são os meios que se têm para atingi-los. Bruto da Costa enfatizou que não se pode confundir desenvolvimento com crescimento econômico, e que a falta de recursos é um falso problema apontado pela sociedade. “Os últimos 50 anos foram perdidos com planos de desenvolvimento inviáveis. É preciso que haja participação organizada e construtiva da sociedade e uma integração em todo o processo de decisões”, afirmou. Ainda sobre a participação, salientou que não há democracia sem partidos políticos e que esses são os espaços institucionais por meio dos quais a sociedade deve intervir e dar opiniões. Para ele, “o pluralismo é um fator de riqueza das sociedades, mas tem limites éticos, relacionados com a dignidade do ser humano e com os princípios de liberdade. Afinal, um homem com fome não é um homem livre”. E para que um país consiga atingir, a partir da concertação, a hegemonia de um novo projeto de nação, com desenvolvimento sustentável, é necessário harmonizar as forças da sociedade, identificando o bem comum. Segundo Bruto da Costa, coesão social não existe e não resiste sem o desenvolvimento social. A busca de um consenso entre os interesses sociais diversificados é a chave do sucesso da concertação, pois a diversidade pode resultar em perda de eficiência do conselho do governo. Portanto, governos, sindicatos e demais parceiros devem estabelecer sérios acordos para a concertação. Para ele, nesse contexto, Grécia e Brasil são exemplos de países que "causam estranheza". "Na Grécia, não existe nada em matéria-prima e tudo em 9 18 e 19/09/2003 criatividade, e o Brasil, com toda a criatividade, imaginação e recursos naturais, não conseguiu ainda atingir um maior grau de desenvolvimento". Bruto da Costa acredita que os governos não podem simplesmente aprovar políticas econômicas e sociais; ele tem, antes, que "ouvir o conselho de seu país", pois o poder público "não é a única instância competente para dizer o que a sociedade precisa. É preciso que seja colocado o interesse geral da sociedade e ver como ela se organiza para alcançar essa utopia", ressaltou. Tarso Genro O ministro Tarso Genro frisou, em sua exposição, que iria abordar o tema da mesa pela ótica do Estado e da organização das forças produtivas a partir de uma nova ética. Para ele, é coerente imaginar que o processo de construção das novas relações na sociedade é determinado pelas relações individuais. “O presente tem de estar grávido do futuro; o presente é o futuro e é também o passado”, observou. Nesse sentido, o ser humano representa o grande diferencial nessas relações, pois ele é o único ser dotado de condições intelectuais para promover a integração da sociedade. "O leão integra a espécie ‘leo’, mas não tem consciência disto como o ser humano o tem em relação à sua espécie e, consequentemente, à sua capacidade de transformação". Nesse sentido, o ser humano não tem como fugir "da fatalidade do presente". A partir desse conceito, Tarso Genro apresentou um conjunto de cinco políticas a serem executadas pelo poder estatal público para a construção de novas relações sociais: Políticas de coesão, para que o Estado realize, de maneira ordenada, ações de inclusão social, à luz da democracia. “No Brasil, uma parcela da população ainda só se comunica com a outra por meio da violência, criando uma sociedade dividida”, frisou. Nesse contexto, não se pode tratar como naturais as políticas compensatórias, pois elas devem ser transitórias, a partir da ação inclusiva do estado; Políticas de democratização radical do Estado, visando recuperar as formas de participação e de controle do poder público por parte da sociedade. “Não se trata de renegar a democracia, mas concebê-la como ineficiente”, disse, justificando a necessidade de aprimorá-la, também à luz do estado democrático de direito; 10 18 e 19/09/2003 Políticas descentralizadas de desenvolvimento, que vêm “de baixo para cima”, a partir do conceito individual de consciência da espécie humana (“que pode determinar seu futuro, diferentemente da espécie ‘leo’ e das demais”). Nesse caso, o poder público deve resgatar o capital social, esmagado pela exclusão, por meio da concertação, colocando-o em conexão com as políticas econômicas estratégicas de um governo democrático; Políticas internacionais de inserções soberanas das nações, visando reduzir o poder dos centros hegemônicos sobre a sociedade em geral. Nesse contexto, os projetos internos de concertação devem atuar estrategicamente sintonizados como os projetos internacionais de concertação; Políticas educacionais e de socialização do acesso às novas tecnologias de informação e de transmissão do conhecimento. “O capital científico tem relações muito sólidas com as relações de poder, mas é preciso agir no sentido de superá-las”, ressaltou. Para o ministro Tarso Genro, é extremamente difícil colocar em prática essas cinco políticas, pois elas se opõem “a interesses muitos fortes”. Para ele, contudo, o processo de concertação social e política de um país pode superar muitos problemas e criar uma nova ética e um novo patamar de cidadania. “Isso faz parte da disputa política, mas é preciso priorizar esse processo, pois a sociedade está chegando ao fim das opções. São conflitos civilizatórios que devem ser enfrentados em nome do interesse geral de sobrevivência social e em nome da nova reconstrução democrática da sociedade humana”, concluiu. DIA 19 DE SETEMBRO IV. Plenária Final Apresentação dos grupos Grupo Azul O Brasil de 2020 será possível se o brasileiro desenvolver o orgulho pelo seu país e tiver valores como a simplicidade e a busca da felicidade através da espiritualidade, do contato com a família, com os amigos e no trabalho, em nome de um país mais justo. Esta é a visão sobre “O Brasil que queremos ser” do Grupo Azul, realizada através de uma metodologia que propõe a construção de uma visão comum, seguida dos fundamentos e das ações para viabilizá-la. 11 18 e 19/09/2003 Trechos de textos do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, da futuróloga Hazel Henderson e da Terceira Carta de Concertação foram inspirações para as primeiras atividades e para o exercício “Visualizando Imagens do Futuro”, um desafio de criatividade e ousadia. A idéia de um país ideal – sonhado e idealizado – foi compartilhada em pequenos grupos no momento seguinte. A diversidade de versões de futuros possíveis, apresentadas pelos participantes, enriqueceu a construção coletiva de uma visão sobre o Brasil no ano de 2020. Muitas das propostas dos participantes refletiam aspirações semelhantes. Mesmo no momento seguinte, onde os pequenos grupos se juntaram numa plenária para exporem suas observações e conclusões, não houve divergências significativas em relação às percepções e sentimentos expostos. As visões sobre um Brasil com Desenvolvimento Sustentável assumiram, basicamente, duas linhas complementares. Boa parte dos participantes imaginou um país que atingiu metas definidas e objetivas como resultado deste Brasil. Visões como “em 2020, o Brasil estará entre os 10 países com o maior PIB do mundo”, “teremos mais de 5 milhões de habitantes com mais 100 anos”, “seremos um dos maiores exportadores mundiais de energia limpa” fazem parte desta tendência. Outra parte do grupo direcionou as mudanças mais para o lado pessoal, comportamental e de valores, respondendo a pergunta “que brasileiro queremos ser em 2020?”. Este grupo partiu do pressuposto de que o Brasil do futuro será o resultado do que os brasileiros serão até lá. A partir daí surgiram respostas como “em 2020 não termos medo de amar”, “seremos mais cooperativos e harmônicos”, “seremos mais equilibrados, sem apego, sem controle, sem julgamento, com mais liberdade de ação” e “estaremos em sincronia com o cosmos”. A partir de projeções como estas, o Grupo Azul traçou o perfil do brasileiro em 2020, enumerando onze itens que têm foco no cidadão. As conclusões, retiradas dos pontos em comum de cada pequeno grupo, são as seguintes: o brasileiro em 2020 é livre, empreendedor e solidário; educado e saudável; feliz e realizado; agente de mudança, levando esta imagem internacionalmente; zelador das riquezas culturais, sociais e naturais do país; sem preconceitos e discriminação de culturas e raças; protagonista do seu destino; tem expectativa mínima de 120 anos; compartilha experiências positivas; é gerador de tecnologias e soluções; tem sua auto-estima e personalidade fortalecida. 12 18 e 19/09/2003 Depois de trabalhar a visão sobre o Brasil e os brasileiros em 2020, passou-se para a parte de fundamentos, ou alavancas, que tornarão a visão possível. O grupo achou mais didático agrupá-los em quatro categorias distintas, de acordo com a natureza de cada item: fundamentos ético-morais, fundamentos econômicos, político-sociais e culturais. Os fundamentos ético-morais apresentados são o desprendimento em função do bem-estar maior e o resgate do conceito da unidade familiar. Os fundamentos econômicos são o equilíbrio na distribuição de renda, uma parceria despreconceituosa entre o público e o privado, maior tolerância fiscal e tributária e disposição distributiva. Os fundamentos político-sociais necessários para a transformação do Brasil são a vontade política de querer mudar, a realização de uma reforma política e a prática do papel indutor do Estado e da sociedade. Finalmente, os fundamentos culturais necessários para estas mudanças são a criação de uma cultura participativa e de cooperação, o acesso ao conhecimento, a mistura cultural, um maior equilíbrio físico, intelectual e espiritual e o resgate da espiritualidade autêntica. A parte final das atividades em grupo se referiu às ações a serem realizadas que viabilizariam a visão trabalhada anteriormente. Neste momento, apesar da orientação para se listar ações individuais, o grupo também deu exemplos de ações institucionais e coletivas. Foram elas, enumeradas nesta ordem durante a atividade: exercitar a cidadania participando de encontros comunitários e conselhos; reforma administrativa; projeto de Educação para 2020; busca de equilíbrio entre a desoneração da produção e o financiamento do Estado; desoneração do início da cadeia produtiva; criação da Rede Nacional de Informação e Dados; implementação de conselhos temáticos em todos os municípios incentivando a participação; formação dos filhos com consciência política; implementação de políticas de desenvolvimento regional; e resgate do orgulho pela nacionalidade. Na Plenária Final, o grupo fez uma apresentação onde cada membro dizia uma qualidade necessária para construir o Brasil de 2020, ao mesmo tempo em que se desenrolava um rolo de barbante e se formava com ele uma rede, passando para o público presente a idéia de integração e de trabalho em conjunto. Grupo Preto Homens de terno e gravata colando cartazes e balões. Empresários discutindo o melhor local para afixar os adornos com sindicalistas e representantes de movimentos sociais. Tudo com o olhar atento e participação de economistas, estudiosos e intelectuais. Os participantes do Grupo Preto também se empenharam para pensar um país melhor em 2020. 13 18 e 19/09/2003 Para facilitar os debates, eles se organizaram em três subgrupos. O saldo final da reunião dos três foi apresentado na plenária final. Antes da apresentação final, eles também se abstraíram do presente e fizeram um exercício de imaginação para pensar o Brasil em 2020. Para o primeiro subgrupo, o país, daqui a 16 anos, terá 210 milhões de habitantes bem distribuídos no espaço e na renda. A paz reinará e existirá o pleno emprego. A confiança e a ética serão a base das relações interpessoais. O país terá a liderança do bloco latino-americano fundamentada nas exportações de produtos de maior valor agregado e na solidariedade com outras nações. As representações políticas serão qualificadas e legítimas, não existindo corrupção. O segundo subgrupo concordou com as observações do primeiro, mas destacou a importância de uma palavra: cidadania. Eles detalharam uma política com empregos participativos, com a inclusão das minorias e o fim da violência sexual. No país pensado por eles, o público estará acima do privado e serão criados empregos sociais, como cuidar de idosos, crianças e do meio ambiente. Felício, um boneco confeccionado com dois balões, um verde e um amarelo, sobre um cartaz branco, que simboliza a paz e a esperança, foi a metáfora para o Brasil de 2020. Para os membros do terceiro subgrupo, o boneco é uma criança feliz e com perspectiva de um belo futuro, como serão as crianças do país. Além da metáfora, o subgrupo ressaltou a importância da retomada do investimento na agricultura., da distribuição de renda e de uma igualdade de oportunidades. Outro desejo revelado é que o Brasil esteja entre os dez primeiros países no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Organizações das Nações Unidas (ONU). Com o caminho trilhado, ainda faltava traçar um DNA do Brasil. Cada participante citou um elemento que acredita ser intrinsecamente nacional e importante para o desenvolvimento do país. Criatividade, flexibilidade, diversidade étnica e cultural, atitude positiva/alegria, autoconfiança, emotividade, companheirismo, capacidade de mediação, espiritualidade, empreendedorismo, amorosidade, força de trabalho e resistência às adversidades foram os elementos do DNA traçado pelo Grupo Preto. Para concluir o trabalho, faltavam as ações desafiadoras, fundamentais para o sonho do Brasil de 2020 se tornar realidade. As ações principais são: fortalecer a capacidade empreendedora; administrar de forma competente o patrimônio ambiental; modernizar do Estado para fortalecê-lo; reduzir as desigualdades sociais; priorizar soluções para segurança pública; desenvolver na sociedade os valores da tolerância, solidariedade, respeito à vida e paz; aumentar a eficácia da 14 18 e 19/09/2003 justiça; ampliar investimentos em tecnologia; e garantir que o país esteja inserido de forma harmônica e soberana na comunidade internacional em todas as esferas. Com tudo pronto, era hora do grande momento. O grupo preferiu uma apresentação solene e passou todas as discussões para um projetor. De mãos dadas, todos leram as idéias do tratado sobre a visão do país em 2020 ao som da música “Tocando em Frente”, de Renato Teixeira. O texto final do Grupo ficou assim: “Somos uma nação de 210 milhões de habitantes, em que impera a paz e o pleno acesso ao trabalho. Nos últimos 16 anos apresentamos melhorias significativas na distribuição de renda, na redução de desigualdades, na ocupação geográfica equilibrada, no acesso à educação, cultura e saúde. Somos uma nação sem miséria em que a educação é prioridade. Um país em que há uma alta expectativa de vida, orientado para o desenvolvimento sustentável. Somos um país com capacidade para desenvolver tecnologia, tornando-a acessível a todos. Somos uma nação com mais segurança, mais justiça e com crescente sentimento de responsabilidade social. Hoje, nossas relações humanas se pautam pelo respeito aos idosos e às crianças; dispomos de maiores momentos com a família, somos norteados pela confiança e pela ética nos nossos compromissos. Garantimos a igualdade de oportunidades, e nos destacamos mundialmente pela cultura da paz. Somos valorizados no cenário global, conquistamos a liderança no continente latino-americano, graças a uma integração internacional solidária, plena e soberana. Somos a melhor e maior referência na produção de alimentos no mundo, com base em uma agricultura sustentável que concilia as diferentes formas de organização da produção. Não há conflitos no campo. 20 a 30 milhões de pessoas vivem em “cidades rurais”, produzindo com maior valor agregado. Utilizamos nosso patrimônio ambiental com ações preservacionistas. Energias alternativas são utilizadas. Nossas cidades são limpas, não poluídas, com ampliação dos espaços verdes amplamente acessíveis a toda a população. O esforço de pesquisas em Ciência e Tecnologia é praticado de forma articulada entre o setor público e privado. É garantido o acesso das pequenas empresas a tecnologia de última geração. Nossa cultura de processos participativos e colaborativos favoreceu a inovação e a competitividade de nossos produtos bem como o desenvolvimento de um estilo brasileiro de gestão, apreciado internacionalmente. Todo brasileiro é um cidadão. O interesse público prevalece sobre o privado. O Estado é colocado sob controle da sociedade. A representação política tem legitimidade e a administração pública se pauta pela moralidade e efetividade.” 15 18 e 19/09/2003 Na apoteose na Plenária Final, todos, abraçados, se deixaram levar pela música “O que é o que é?”, de Gonzaguinha enquanto emplacavam o Felício como símbolo do encontro. Grupo Verde-Amarelo O Grupo Verde Amarelo chegou à conclusão de que é preciso mudar os paradigmas da economia; ter uma política de pleno emprego; promover as reformas administrativa, judiciária, tributária, trabalhista, política e agrária; investir, com prioridade, na saúde e na habitação; universalizar o acesso à educação de qualidade, com erradicação do analfabetismo, do trabalho infantil e escravo; promover o crescimento sustentável, com utilização racional dos recursos naturais, tirando da ociosidade os equipamentos e os trabalhadores; desenvolver a cidadania; e combater a corrupção. O grupo acredita que é imprescindível que o Brasil tenha uma representatividade mundial e mostre seu grande potencial. As lideranças se mostraram conscientes de que não vão acabar com a corrupção, mas enfatizaram que é necessário, pelo menos, minimizá-la, tornando a sociedade menos acomodada com a falta de impunidade e almejando um país ético, com a lei valendo para todos. Todas essas ações foram baseadas nos pilares da educação, da justiça social e do crescimento econômico, pois, segundo os participantes, só é possível mudar o Brasil com investimento prioritário e de qualidade no sistema educacional, que é capaz de levar a sociedade a exercer a cidadania, lutar pela melhoria da qualidade de vida e adquirir consciência política. E por trás de tudo isso, estão alguns fundamentos que formam a base desse país do futuro e o perfil da sociedade atual: a democracia, a miscigenação e a capacidade de convivência com as diferenças, considerada por eles como uma peculiaridade brasileira. As lideranças também destacaram outras características que farão do Brasil um país do futuro, como a criatividade e a flexibilidade, a unidade nacional, o empreendedorismo, a inteligência, a índole pacífica, o espírito de cooperação e solidariedade, e a grande diversidade étnica e cultural. O grupo apresentou a visão de um Brasil com menor índice de desigualdade social, com melhor distribuição de renda, em que haja uma sociedade civil mais organizada e participativa, que tenha um maior sentimento de indignação e vontade de mudanças, pois as decisões não devem ser tomadas apenas pelo governo, mas por uma maior participação da sociedade; um país sem miséria, com pleno emprego e igualdade de oportunidades, e acesso de toda a sociedade 16 18 e 19/09/2003 aos serviços básicos de saúde, alimentação, moradia, saneamento, transporte e lazer; um país em que a educação é prioridade, em que há uma alta expectativa de vida, em que o Índice de Desenvolvimento Humano seja compatível com o desenvolvimento econômico, e sempre orientado para o desenvolvimento sustentável. O grupo imaginou ainda um país com uma alta capacidade tecnológica e com políticas educacionais e de socialização de acesso às novas tecnologias; um Brasil com mais segurança, mais justiça e uma responsabilidade social crescente por parte da sociedade, das empresas e do estado, trabalhando com parcerias; um país em que a preservação do meio ambiente faça parte do cotidiano de todas as pessoas. Um país ético e com descentralização do poder; uma sociedade onde a riqueza e o bem-estar sejam uma plataforma na evolução da consciência posterior. Este é o Brasil do ano 2020 sonhado pelas lideranças do Grupo Verde Amarelo. Na apresentação na Plenária Final, o Grupo Verde e Amarelo simulou um telejornal, com entrevistas ao vivo, mostrando a grande satisfação do povo em 2020 e ressaltando a importância do trabalho coletivo. No telejornal, o ministro Tarso Genro foi entrevistado como se fosse o presidente da República na ocasião e disse que “o enfrentamento social não acabou com a identidade, mas unificou ainda mais o país e resultou em um Brasil moderno”, imaginando o Brasil “concertado”. Grupo Vermelho Sonhos implicam, muitas vezes, ações desafiadoras para torná-los concretos – o "Como fazer?". Conceitos como alegria, educação e desenvolvimento pareciam palavras de ordem nas reflexões e desejos do Grupo Vermelho. Uma ordem por mudanças efetivas no Brasil. Algumas ações já começam a ser colocadas em prática. Outras constituem ainda esperança e expectativa para um futuro não muito distante. Setores diversos da sociedade brasileira, unidos e reunidos para o diálogo, na busca do "Brasil que queremos ser". O processo inicia-se com a reflexão sobre o país de 17 anos à frente. Desejos e anseios são transcritos de maneira criativa e pontual para o papel. A sintonia de pensamentos é harmônica e homogênea. Uma atmosfera de cooperação e compromisso pela implementação de mecanismos de desenvolvimento social e econômico toma conta do espaço de discussão. 17 18 e 19/09/2003 Sonhos, como o fim da corrupção, a igualdade das oportunidades e o acesso universal ao conhecimento baseiam-se em valores como solidariedade, cidadania e ética. Para efetivá-los, no entanto, ações despontam de forma a desafiar cada indivíduo para um compromisso com a ética e com a construção coletiva. Ao final, sentimentos de real participação, convergências e contribuição aquecem os corações daqueles que pensam em um outro Brasil. Ações efetivas foram elaboradas para se realizar as mudanças no país até o ano 2020. O grupo dividiu os trabalhos em três aspectos principais. Na elaboração dos "Fundamentos Brasil 2020", que representam a visão do que estaria por vir, desejou-se que, no futuro, os cidadãos possam dizer que a conquista pela cidadania significou para o brasileiro a valorização da sua cultura e a ampla inclusão social. A sua expressão como indivíduo representou um significativo ganho de qualidade de vida, resgate de sua autonomia e harmonia com a diversidade. Por fim, imaginou-se um Brasil soberano, como um exemplo de sociedade educada, justa solidária, inovadora, internacionalmente respeitada e uma referência no uso sustentável do patrimônio ambiental. Entretanto, para tais vitórias, será necessário obedecer a alguns princípios. O compromisso com a vida e com o futuro próspero, valorização dos sentimentos e espiritualidade, caráter ético, solidário e construtivo, e liberdade de expressão em um clima de paz são alguns aspectos que devem ser seguidos para a concretização dos fundamentos. E, para que as visões realmente se realizem, são fundamentais ainda ações. Elas foram divididas em oito grupos: educação; saúde; instituições; desenvolvimento; trabalho, emprego e renda; social; ética; e valores. No campo da educação, priorizou-se a reforma do ensino, tomando como base a reformulação do currículo escolar, a valorização dos professores e melhor qualificação desses profissionais, além da remuneração baseada no critério da meritocracia. Foram abordados ainda a necessidade de ampliação da educação ambiental e digital, e o estímulo à participação dos jovens nas missões públicas e em projetos diversos. Na saúde, o saneamento básico e o investimento na área pública para acesso universal constituíram os principais elementos. Para reverter o quadro atual institucional, a proposta prevê reformas estruturais e práticas, principalmente nas áreas judiciária e política. Definiu-se como de extrema importância também a competência e responsabilidade das lideranças 18 18 e 19/09/2003 públicas, incentivo ao associativismo e cooperativismo, além de conscientização da mídia para o enriquecimento do conteúdo transmitido. Para o desenvolvimento do país, foram apontados como prioridades a recuperação do planejamento, a ênfase na infra-estrutura, facilitar a criação de empresas, interiorização do desenvolvimento e a inserção internacional, através do comércio e presença no exterior. Em relação ao trabalho, emprego e renda, os aspectos contemplados foram as políticas emergenciais para geração de emprego, o estímulo ao empreendedorismo e à interiorização das oportunidades, tanto nas atividades agrícolas quanto industriais, através de medidas empreendedoras que sejam apoiadas também por ações de governo. No campo social, a garantia da inclusão – por meio de políticas sociais e dos direitos humanos – e a responsabilidade social das empresas constituem os pontos fortes para o crescimento do Brasil. Quanto à ética, o grupo considera essencial, primeiramente, resgatar o espírito ético, coibir a impunidade, eliminar a permissividade, valorizar exemplos construtivos e resgatar o valor da família. Para a efetivação de todas essa ações, o grupo verificou que é de fundamental importância incorporar a cada uma delas os valores relacionados às peculiaridades e diversidades culturais brasileiras. Diante de tais reflexões, os versos do português Fernando Pessoa, citado em uma das atividades do Grupo Vermelho, resumem bem as conclusões tiradas e o compromisso assumido pelos participantes: De tudo ficaram três coisas A certeza de que estamos sempre começando A certeza de que precisamos continuar A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar. Portanto devemos Fazer da interrupção um caminho novo Da queda um passo de dança Do medo uma escada Do sonho uma ponte Da procura um encontro.. 19 18 e 19/09/2003 Encerramento Uma sociedade com diferentes interesses e objetivos que se convergem para formar uma “concertação” social do país, produzindo um rico projeto para o Brasil. Com esse pensamento, o ministro-chefe da Secretaria Especial de Desenvolvimento Econômico e Social, Tarso Genro, abriu as conclusões do Fórum. Tarso Genro ressaltou importância do estabelecimento de uma relação de coresponsabilidade. Para o ministro, esta foi a síntese das discussões realizadas no fórum. Ele lembrou que a população brasileira está envolvida em um processo de político de alta complexidade. E, pela primeira vez ao longo dos anos, percebe-se uma tentativa de mudança. Segundo o ministro, a idéia da concertação opõe-se ao "modelo jacobino de transformação", efetuado de cima para baixo. O ministro lembra que nos últimos anos, o país viveu um período “jacobino”, nos governos populistas e militares. "São atribuídas identidades para os sujeitos desse processo, em uma demonstração de cooptação e crítica radical à idéia paternalista até então vigente", avaliou. O ministro explicou que o fórum induz caminhos, levanta idéias e propõe ações. “O momento da sociedade é de maturidade”, afirma Genro. O encontro de propostas, porém, não pode significar o fim dos conflitos. Genro explica que as diferentes idéias são essenciais para a construção de um país melhor. “Não se pode tirar os conflitos e sim mediá-los”, deduz, lembrando as divergências que existiram dentro dos grupos. O ministro ressalta que as mudanças devem ocorrer de fora para dentro, em relação ao Estado. "A concertação não é um contrato de compra e venda. Estamos ainda na fase de identificação de idéias-força para começar os trabalhos", raciocina. O ministro aproveitou para lançar um desafio aos mineiros. Ele espera que comece por Minas Gerais a disseminação do espírito característico do Estado em relação à capacidade de tolerância e de semear o diálogo. Para finalizar, Genro rechaçou a necessidade de relação e intersubjetividade entre sociedade civil e Estado para que as mudanças sociais concretizem-se. "É uma grande mediação para o processo de concertação do país", ressaltou. 20 18 e 19/09/2003 Em suas palavras finais, o presidente da FDC, Emerson de Almeida, avaliou as propostas elaboradas no evento como apenas o primeiro passo para a construção de um país melhor. Para que o Brasil do futuro não seja apenas um ideal distante, a participação de todos será essencial para fazer do sonho uma visão, ressaltou Emerson. Para ele, a sociedade não pode esperar que o governo faça tudo; é necessário que ela contribua com trabalho. Para o sonho sair do imaginário, afirma, é necessário ter “95% de transpiração e 5% de inspiração”, citando o poeta João Cabral de Mello Neto. Emerson ilustrou a situação com própria história da Fundação Dom Cabral. Ele contou que, no início, a FDC era apenas uma sala no campus da Pontifícia universidade Católica de Minas Gerais e que hoje é referência na educação e no desenvolvimento de idéias para o país. Para chegar no estado atual, ele contou que o essencial era seguir um objetivo. O objetivo só existia porque tinham um sonho. “Avançamos por causa de uma palavra mágica: cooperação”, explicou, destacando a importância do momento atual, como o maior na história da FDC. O professor Emerson de Almeida ressaltou ainda que, apesar dos sonhos e da emoção é preciso chamar a atenção para razão. “A visão de futuro é mais mente do que coração”, afirmou. Para o secretário-adjunto da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Social, Jairo Jorge da Silva, que mediou a Plenária Final do fórum, o resultado de um congresso é melhor quando supera o que foi idealizado. “Foi isso que aconteceu”, concluiu Jairo Jorge, parabenizando todos os participantes pela riqueza dos debates e pela relevância das reflexões para se avançar no diálogo e na concertação em perspectivas nacionais. 21 18 e 19/09/2003 Na seqüência, foi lida uma carta com a síntese do Fórum: “O Brasil rumo ao Futuro: CONSTRUINDO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL” Propósitos e Significado do Fórum O Fórum trabalhou sobre o escopo de dar um primeiro passo no desenho de um projeto de nação para o Brasil, pautado na construção de um cenário de desenvolvimento sustentável, estabelecendo assim um norte – a ser, na seqüência, sucessiva e amplamente concertado pela sociedade – que torne possível traçar um caminho explícito para o futuro, para o país. A encomenda feita aos integrantes do Fórum foi justamente essa: construir uma visão capaz de orientar tanto as políticas públicas como as ações espontâneas da sociedade, que, por sua força inspiradora e pelo comprometimento das lideranças que a engendraram, seja fator de coesão na busca de um futuro com qualidade de vida para a nação brasileira. Ao desenho desse projeto de nação, de um futuro melhor e desejado, demos o nome de Visão Brasil 2020 – a visão do “país que queremos ser” – tendo como referência um horizonte de tempo suficientemente distante, o ano de 2020, para permitir a viabilização de todas as mudanças, reformas e realizações desejadas, sem os constrangimentos de tempo e recursos que prazos menores podem impor. O componente fundamental que integrou essa formulação foi o conceito de Desenvolvimento Sustentável. Queremos todos o desenvolvimento do país, mas um desenvolvimento que seja sustentável e isso implica que certas condições bem determinadas estejam contempladas. Essas condições podem ser explicitadas na sua essência valendo-nos do conceito do “Relatório Brundtland”, onde se propõe que sustentável é o modelo de desenvolvimento que "atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades". A Agenda 21, elaborada na Conferência Rio 92 e hoje adotada por 178 países, é fundamentada nesse conceito de Desenvolvimento Sustentável cujo objetivo central pode ser sintetizado como a garantia da qualidade da vida humana no planeta. 22 18 e 19/09/2003 Para a criação dessa nossa visão, adotamos no Fórum a lógica do diálogo e da concertação, a dinâmica da participação democrática, única capaz de proporcionar a conexão legítima do Brasil do futuro com o desiderato da sustentabilidade. Buscamos construir uma visão de futuro de país sustentável que expresse uma utopia inspiradora. Essa Visão Brasil 2020 é uma primeira aproximação do “país sustentável que queremos ser” e está à disposição do governo e da sociedade civil para sucessivas outras elaborações e aprofundamentos posteriores, valendo-se novamente de todos os recursos do diálogo e da concertação — que são a idéia-força do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social — para desdobrar e dar especificidade às ações que nos conduzirão ao futuro desejado. A Cara do País que Queremos ser Os integrantes do Fórum realizaram várias produções que foram consolidadas e sintetizadas no texto que segue, expressando assim o desejo, coletivamente elaborado, do país que queremos ser no ano 2020. Visão Brasil 2020 Somos uma nação de 210 milhões de habitantes, em que impera a paz e o pleno acesso ao trabalho. Nos últimos 16 anos apresentamos melhorias significativas na distribuição de renda, na redução de desigualdades, na ocupação geográfica equilibrada, no acesso à educação, cultura e saúde. Somos uma nação sem miséria em que a educação é prioridade. Um país em que há uma alta expectativa de vida, orientado para o desenvolvimento sustentável. Somos um país com capacidade para desenvolver tecnologia, tornando-a acessível a todos. Somos uma nação com mais segurança, mais justiça e com crescente sentimento de responsabilidade social. Hoje, nossas relações humanas se pautam pelo respeito aos idosos e às crianças; dispomos de maiores momentos com a família, somos norteados pela confiança e pela ética nos nossos compromissos. Garantimos a igualdade de oportunidades, e nos destacamos mundialmente pela cultura da paz. 23 18 e 19/09/2003 Somos valorizados no cenário global, conquistamos a liderança no continente latino-americano, graças a uma integração internacional solidária, plena e soberana. Somos a melhor e maior referência na produção de alimentos no mundo, com base em uma agricultura sustentável que concilia as diferentes formas de organização da produção. Não há conflitos no campo. 20 a 30 milhões de pessoas vivem em “cidades rurais”, produzindo com maior valor agregado. Utilizamos nosso patrimônio ambiental com ações preservacionistas. Energias alternativas são utilizadas. Nossas cidades são limpas, não poluídas, com ampliação dos espaços verdes amplamente acessíveis a toda a população. O esforço de pesquisas em Ciência e Tecnologia é praticado de forma articulada entre os setores público e privado. É garantido o acesso das pequenas empresas à tecnologia de última geração. Nossa cultura de processos participativos e colaborativos favoreceu a inovação e a competitividade de nossos produtos, bem como o desenvolvimento de um estilo brasileiro de gestão, apreciado internacionalmente. Todo brasileiro é um cidadão. O interesse público prevalece sobre o privado. O Estado é colocado sob controle da sociedade. A representação política tem legitimidade e a administração pública se pauta pela moralidade e efetividade. Fundamentos da Visão Educação como valor: prioridade no orçamento público, valorização do professor, obrigatoriedade do ensino de ética nas escolas, acesso ao conhecimento Compromisso com a vida saudável e feliz Alegria de viver e de se divertir Irresistível vontade de ser solidário Orgulho do “ser brasileiro” A democracia e a unidade nacional Miscigenação e capacidade de convivência com as diferenças 24 18 e 19/09/2003 Criatividade, flexibilidade e inteligência A unidade nacional O empreendedorismo, o espírito de cooperação e a solidariedade A índole pacífica e a grande diversidade étnica e cultural do país A garantia de oportunidades, comprometimentos e desprendimento A criação de condições favoráveis para a participação efetiva dos cidadãos. Ações Desafiadoras Mudanças de paradigmas na economia Política de pleno emprego Reformas política, agrária, administrativa, judiciária, trabalhista e tributária Investimento prioritário na saúde, educação e na habitação Erradicação do analfabetismo Erradicação do trabalho infantil e escravo Utilização racional dos recursos naturais Desenvolvimento da cidadania e combate à corrupção Desenvolvimento de esforços concentrados de governo, iniciativa privada e ONGs Disseminação das conquistas e das boas notícias da sociedade, contribuindo para reduzir o lado sombrio da mídia Aceitação e assunção de que o povo brasileiro atua com o coração Estímulo nos jovens do gosto por missões públicas Incentivo às micro e pequenas empresas. 25