001_Estudo_Fernando Wolff19

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001_Estudo_Fernando Wolff19
ARTIGOS
ESTUDO DO EQUILÍBRIO PLANTAR DO INICIANTE DE TIRO
COM ARCO RECURVO
STUDY OF FOOT-BALANCE OF NOVICE ATHLETES OF ARCHERY
Fernando Wolff ∗
**
Ruy Jornada Krebs
***
Roberta Castilhos Detânico
****
Guilherme Eugênio van Keulen
****
Rafael Kanitz Braga
RESUMO
O controle postural e o equilíbrio são os principais elementos para a obtenção de bom desempenho em esportes como, por
exemplo, o tiro com arco, em que a maior parte da atenção dos atletas é voltada para melhorar sua performance. O objetivo
deste estudo foi analisar as características do equilíbrio plantar dos atletas iniciantes de tiro com arco, no processo de
iniciação na modalidade. Treze adultos jovens (22 ± 2 anos) do sexo masculino participaram do estudo. Para a avaliação do
equilíbrio foi utilizado o sistema balance (Chattecx Balance System) a uma freqüência de 100Hz, e a coleta teve a duração
média de 20 segundos. Nas sessões de coleta os sujeitos executaram nove tentativas, três das quais para a postura ortostática
sem equipamento. Posteriormente, usando o material e efetuando a postura de tiro e o disparo das flechas, os sujeitos
efetuaram três tentativas com distância podal de 30cm e outras três realizadas na postura de tiro com a distância considerada
a mais adequada pelo sujeito. Foi feita uma análise descritiva dos dados. Os resultados revelaram que a postura de tiro
proporciona uma desestabilidade para o iniciante e que esta proporciona oscilações tanto na postura ântero-posterior quanto
na centro-lateral.
Palavras-chave: Controle motor. Equilíbrio. Postura.
INTRODUÇÃO
O controle postural é um mecanismo de
extrema complexidade e dificuldade de
avaliação que envolve múltiplas informações. É
uma parte integral de todas as habilidades
motoras, podendo ser visto como uma estratégia
que o corpo encontra para manter o equilíbrio e
a estabilidade motora (HORAK, 1997). Assim
sendo, as funções do controle postural devem ser
consideradas no contexto e nos objetivos de
tarefas específicas, incluindo o controle do
centro de massa do corpo dentro dos limites da
∗
base de suporte, manutenção do tronco na
vertical, estabilidade da cabeça e dos membros,
bem como efetivos e eficientes movimentos do
corpo no espaço e dos membros em um corpo
estável.
Postura deve ser entendida como a
configuração articular de um corpo, isto é, o
conjunto de ângulos que expressa o arranjo
relativo entre os segmentos de um corpo e sua
orientação no espaço (DURWARD et al., 2001;
ZATSIORSKY, 1998). Esses segmentos são
controlados pelas ações musculares e são
incapazes de permanecer em orientações
Licenciado em Educação Física pelo CEFID, UDESC.
**
Doutor. Professor do Departamento de Educação Física do CEFID, UDESC.
***
Mestre em Ciências do Movimento Humano pelo CEFID, UDESC.
****
Mestrando em Ciências do Movimento Humano no CEFID, UDESC.
R. da Educação Física/UEM
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
2
estritamente constantes (COLLINS; DE LUCA,
1993; DUARTE, 2001). O controle da postura
ereta utiliza informações sobre o monitoramento
da posição do centro de massa do corpo
(HORSTMANN; DIETZ, 1990; MORASSO,
BARATTO et al., 1999; MORASSO;
SCHIEPPATI, 1999) por meio de referências de
informações
sensoriais
(GURFINKEL,
IVANENKO YU et al. 1995). Ainda em relação
à postura ereta, Viel (2001) salienta que o
controle do equilíbrio leva em consideração
cinco elementos: o valor de referência regulada,
o esquema corporal postural, as mensagens
detectoras de erros, os ajustes posturais e as
estratégias de diferentes grupos musculares
atuando em sinergia.
O equilíbrio humano é dependente de três
sistemas
perceptivos:
o
vestibular,
o
proprioceptivo e o visual. O primeiro é
responsável pelas acelerações e desacelerações
angulares rápidas, sendo, assim, o mais
importante para a manutenção da postura ereta
(LATASH, 1997); o proprioceptivo permite a
percepção do corpo e membros no espaço em
relação de reciprocidade; e o visual oferece
referência para a verticalidade, por possuir duas
fontes complementares de informações: a visão,
que situa o indivíduo no seu ambiente através de
coordenadas retineanas, e a motricidade ocular,
que situa o olho na órbita através da
coordenação cefálica (GAGEY; WEBER, 2000).
O equilíbrio depende não apenas da
integridade desses sistemas, mas também da
integração sensorial dentro do sistema nervoso
central, que envolve a percepção visual e
espacial, tônus muscular efetivo, que se adapte
rapidamente a alterações, força muscular e
flexibilidade articular (DURWARD, 2001). A
organização sensorial consiste na capacidade do
SNC em selecionar, suprir e combinar os
estímulos vestibulares, visuais e proprioceptivos
(SHUMWAYCOOK; WOOLLACOTT, 2003;
LUNDY-EKMAN, 2000).
O tiro com arco tem por característica
principal solicitar do arqueiro a postura mais
estática possível. Esta situação é comum quando
o corpo está estacionário, condição em que ele é
tido como em estado de equilíbrio estático. Esse
equilíbrio exige a capacidade de neutralizar
forças que poderiam perturbar seu estado de
inércia, e isso requer, também, coordenação e
R. da Educação Física/UEM
Wolff et al.
controle motor (CARR, 1998). As forças que
estão agindo sobre o corpo podem ser
classificadas em forças externas (força de
gravidade e de reação do solo) e forças internas
(perturbações fisiológicas, musculares e dos
movimentos do próprio corpo), interferindo
diretamente na capacidade do arqueiro de
manter o equilíbrio e a estabilidade (DUARTE,
2001).
A estabilidade de um competidor da
modalidade de tiro de arco está relacionada
especificamente à quantidade de resistência que ele
coloca contra as forças disruptivas de seu
equilíbrio. Assim, essa resistência gerada contra as
forças disruptivas do equilíbrio pode ser tomada
como uma medida de sua estabilidade. Um corpo
aumenta a sua estabilidade quando aumenta o
tamanho de sua base de sustentação (CARR,
1998). A estabilidade do corpo está relacionada à
projeção do CG na base de sustentação (HAY;
REID, 1985; HALL, 2000; ENOKA, 2000). A
altura da localização do CG em relação aos limites
de sua base de sustentação interfere na estabilidade
de um corpo; assim, quanto mais baixa sua posição,
mais estável se encontrará o corpo (CARR, 1998;
HAY, 1993).
Acredita-se que, para o arqueiro, a
habilidade de manutenção do equilíbrio e da
postura deve ser maior e diferenciada. Isto vale
principalmente em modalidades desportivas
que exigem controle postural em condições
estáticas (CARR, 1998). No esporte
especializado de tiro com o arco, depende-se
estreitamente da capacidade de elaboração da
operação do sistema nervoso central e da
informação sensorial interna vinda do ambiente
externo. Grande parte da atenção dos atletas de
tiro com arco é voltada para melhorar o
equilíbrio, reduzindo o máximo possível as
oscilações fisiológicas do corpo que se
manifestam na posição ereta. Pesquisas têm
demonstrado que existe uma notável
correlação entre o nível da qualificação dos
arqueiros e sua capacidade de dosar a tensão
isométrica dos músculos empregados no gesto
técnico
específico
(BONSIGNORE;
GALLOZZI; SCAEAMUZZA, 2003). Os
arqueiros peritos utilizam a visão somente para
o curto período que precede a liberação da
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
Estudo do equilíbrio plantar do iniciante de tiro com arco recurvo
flecha, controlando principalmente os estímulos
táteis e o proprioceptivo. O papel realizado da
recepção sensorial depende, conseqüentemente,
da experiência do arqueiro em colocar mais
atenção em alguma informação em
relação a outra (BONSIGNORE; GALLOZZI;
SCAEAMUZZA, 2003).
Embora se encontre na literatura uma
abundância de estudos que procuraram
caracterizar o controle postural para diferentes
populações, como crianças (FERDJALLAHA et
al., 2002) e idosos (JEANDEL, 2000), nota-se
uma carência de estudos relacionados a atletas
de tiro com arco. Mais especificamente, há
necessidade de maiores informações a respeito
das variações da estabilidade postural
relacionadas ao desempenho esportivo na
posição de tiro com arco. Assim, a realização
deste estudo teve como objetivos descrever a
distribuição do equilíbrio plantar, comparar o
índice de equilíbrio nas diferentes posturas
determinadas e, ainda, caracterizar a amplitude
média do equilíbrio plantar dos sujeitos
iniciantes de tiro com arco durante o disparo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo foi delineado para controlar algumas
características de variáveis biomecânicas que podem
interferir no desempenho de uma tarefa motora
discreta e fechada. Os dados foram coletados e
analisados no Laboratório de Biomecânica do
CEFID/UDESC. A pesquisa foi aprovada pelo
3
Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da
UDESC (processo n. 2007/00003334)
Todos os sujeitos foram previamente
informados sobre os objetivos e procedimentos
metodológicos da pesquisa e assinaram termo de
consentimento livre e esclarecido.
Sujeitos
Participaram do estudo, 13 jovens adultos,
com idade média de 22 anos (± 2), do sexo
masculino, praticantes iniciantes na modalidade
de tiro com arco.
Instrumentos
Para adquirir dados referentes aos
deslocamentos do centro de equilíbrio (COB)
nas direções ântero-posterior (x) e médiolateral (y), foi utilizado o Chattecx Balance
System (CBS), que consiste de quatro
plataformas móveis, uma para cada parte do
pé - dividida em parte anterior e em parte
posterior do pé - unidas por um braço
cilíndrico de ferro. As plataformas possuem
células de carga dispostas em seus blocos,
ligados em um circuito elétrico. A partir da
componente vertical da força exercida sobre a
base (FRS) é possível verificar o
deslocamento em X e Y, sendo utilizada a
freqüência de aquisição de 100Hz. O COB é o
ponto entre os pés onde a parte dos dedos e o
calcanhar de cada pé sustêm 25% do peso de
corpo. O desvio deste centro de equilíbrio em
todas as direções representa o equilíbrio
postural.
a
Figura 1a. Representação visual do centro de equilíbrio
para a postura bipodal. "Normal" centro de equilíbrio é o
ponto entre os pés, onde os calcanhares e a parte dos
dedos de cada pé estão com 25% do peso corporal.
b
Figura 1b. Foto das plataformas com o sujeito
posicionado para coleta.
Fonte: Mattacola, lebsack e Perrin (1995).
R. da Educação Física/UEM
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
4
O instrumento utilizado para a execução da
tarefa do tiro com arco foi um arco recurvo do
modelo Top Game II com as seguintes medidas e
referências: lâminas de 70 polegadas e 22 libras
e corda Dracon 12 strands (Ragim- Itália), apoio
de plástico modelo Hunter (hoyt - EUA), flechas
de 30 polegadas modelo Trooper Fiberglass
(Easton – EUA), alvo medindo 40cm de
circunferência, contendo seis áreas com uma
largura de 4cm da extremidade para o centro, um
anteparo de 100cm de largura por 120cm de
altura de material EVA (copolímero de etileno
acetato de vinila) e um cavalete de suporte para
o alvo confeccionado em madeira com
inclinação de 15 graus.
Procedimentos
A tarefa motora discreta e fechada utilizada
no estudo foi o tiro com arco, tendo sido
estabelecido que o sujeito deveria tentar acertar
o centro do alvo. Para tanto se utilizou a postura
ortostática como a primeira postura, como
medida de comparação, e em seguida a postura
Wolff et al.
de tiro, com os pés ligeiramente afastados em
30cm e posicionados perpendicularmente ao
alvo. No segundo momento utilizou-se um
posicionamento com distância dos pés de acordo
com a indicação do participante (espontânea).
Antes de iniciar a coleta, todos os sujeitos
que participaram do estudo receberam
orientações sobre o que seria realizado e como
seria a coleta, sobre a técnica que deveria ser
utilizada para a execução do tiro com arco, bem
como sobre o objetivo da tarefa (acertar o centro
do alvo). O tempo de aquisição para todas as
posturas, ortostática e postura de tiro (30 cm e
espontânea), foi, em média, de 20s. Os sujeitos
realizaram o teste com diferentes distâncias dos
pés, utilizando o arco nas posturas de tiro
citadas anteriormente. Eles puderam soltar a
flecha no momento que considerassem o mais
adequado, o mais confortável e o que permitisse
a melhor precisão na execução da tarefa. O
registro foi realizado por meio de computador e
softwares próprios para o CBS, acoplados às
plataformas por meio de cabos.
a
b
Figura 2a. Foto da postura ortostática (P0)
Figura 2b. Foto da postura de tiro (P1 e P2)
Variáveis analisadas
O delineamento da pesquisa estabeleceu três
fases para a coleta de dados. Foram utilizadas
três posturas diferentes, com duas posições
diferentes para os pés: P0, P1, P2. Para todas as
aquisições foram ajustadas as plataformas para o
tamanho dos pés dos sujeitos que estavam
realizando no momento a coleta dos dados:
- P0: postura ortostática com pés a 30cm de
distância;
- P1: postura de tiro, posição lateral para o alvo,
com pés paralelos a 30cm de distância;
R. da Educação Física/UEM
- P2: postura de tiro, posição lateral para o alvo,
com pés paralelos na posição espontânea
(considerada pelo sujeito como a mais
adequada).
Os sujeitos realizaram as posições de forma
seqüenciada, colocada acima, somente havendo
intervalo para a correta colocação dos captores
para a postura P2. Foi usada pelos sujeitos a
distância de 5 metros, para todas as posturas. Foi
feita uma análise descritiva dos dados. Todos os
dados foram analisados através do software
Microsoft Excel.
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
Estudo do equilíbrio plantar do iniciante de tiro com arco recurvo
5
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
os objetivos. Os resultados referentes às
distribuições do equilíbrio plantar dos sujeitos no
estudo, que mostraram o percentual de tempo
utilizado pelos participantes em cada zona de área
de proximidade com o centro (ponto de maior
equilíbrio), podem ser verificados na tabela a
seguir.
Os resultados referentes às características do
equilíbrio plantar dos sujeitos nas diferentes
posições podais com informação visual serão
apresentados através de tabelas e gráficos. As
tabelas estão em ordem seqüencial, de acordo com
Tabela 1 - Tempo (em segundos) utilizado em cada área na distribuição do equilíbrio plantar de sujeitos
iniciantes de tiro com arco na postura de tiro de 30cm (P1) .
Sujeitos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Média
Área 1
1,74
3,4
1,18
1,76
1,12
1,69
3,03
3,02
2,07
2,76
2,14
3,21
2,78
2,3
Distribuição do equilíbrio plantar para P1
Área 2
Área 3
Área 4
Área 5
Área 6
2,03
1,19
0,33
0,01
2,73
0,48
0,33
0,97
0,28
0,12
1,5
1,14
0,63
0,03
2,38
1,87
0,68
0,15
0,09
1,64
0,32
0,44
0,13
0,12
3,14
1,6
0,47
0,03
2,86
1,33
0,09
1,27
0,28
0,02
1,03
0,4
0,11
2,28
0,95
0,07
2,37
0,31
0,04
0,04
1,9
0,8
0,23
0,02
0,01
Área 7
Área 8
0,21
0,46
0,02
0,04
Tabela 2 - Tempo (em segundos) utilizado em cada área na distribuição do equilíbrio plantar na postura de tiro
espontânea (P2).
Sujeitos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
Média
Área 1
2,22
1,73
1,89
2,05
1,55
2,05
1,32
2,61
1,64
2,12
2,61
0,48
1,26
1,81
Distribuição do equilíbrio plantar para P2
Área 2
Área 3
Área 4
Área 5
1,9
0,89
0,37
0,09
1,64
1,02
0,53
0,12
1,1
0,97
0,19
0,03
2,14
0,36
3,18
1,46
0,35
0,05
0,84
0,06
0,03
1,02
0,32
0,01
2,17
0,48
0,16
0,01
2,2
0,41
0,03
1,02
0,23
1,7
0,15
1,01
1,1
0,95
0,39
1,27
0,35
0,08
1,63
0,6
0,2
0,05
De acordo com a Tabela 1, os valores dos
sujeitos estão distribuídos conforme o tempo usado
durante a coleta em determinada área de distribuição
do equilíbrio plantar. O 5% representa a zona de
maior equilíbrio (mais próxima do ponto central) e
assim diminui o equilíbrio de acordo com aumento
R. da Educação Física/UEM
Área 6
Área 7
0,02
0,01
0,08
0,01
da porcentagem, chegando no máximo do
desequilíbrio da coleta, que foi de 40%. Podemos
verificar que quase todos os sujeitos conseguiram
manter a sua distribuição do equilíbrio plantar dentro
do melhor nível (até os 5%), sendo que a média geral
dos participantes ficou aproximadamente em 51% na
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
6
Wolff et al.
melhor
zona.
Os
participantes
também
demonstraram que a distribuição ficou mais
acentuada nos três primeiros setores de 5%, 10% e
de 15%, mostrando uma distribuição com reduzidas
oscilações, não se afastando muito da zona central de
equilíbrio. Devido à pouca experiência dos sujeitos
na modalidade de tiro com arco, é possível supor que
eles ainda estariam desenvolvendo as habilidades do
manuseio e uso do arco, o que pode caracterizar e
explicar ainda um grau alto de distribuição, em 10%
e 15%, se comparado aos 5% da distribuição do
equilíbrio plantar durante a coleta.
A seguir teremos o índice de equilíbrio, que
reflete o deslocamento ântero-posterior e o
médio-lateral do centro de equilíbrio (COB),
sendo calculado a partir dos desvios-padrão do
COB do sujeito.
Tabela 3 - Índice de equilíbrio na postura ortostática e com a postura de disparo do tiro com arco para distância
dos pés de 30cm e na posição espontânea.
Sujeitos
Média
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
4,16
4,12
5
5,59
6,39
5,52
6,25
5,13
5,55
5,32
6,59
6,74
5,54
P0 (%)
DP
0,06
1
0,97
0,45
1,13
1,04
0,58
0,85
0,76
0,96
1,29
0,33
2,33
Índice de equilíbrio
P1 (%)
CV%
Média
DP
CV%
Média
P2 (%)
DP
CV%
1,36
35,5
19,44
8,12
17,63
18,83
9,32
16,65
13,68
18,02
19,58
4,86
42,13
17,34
22,9
17,43
16,79
38,31
5,64
34,39
11,92
23,11
57,02
28,8
31,67
23,95
8,44
9,86
8,94
6,06
9,04
4,64
6,83
6,73
5,18
5,33
13,51
6,7
6,85
1,93
1,55
1,61
0,97
0,58
1,31
1,7
1,22
1,64
0,49
4,02
1,62
3
22,87
15,72
18,06
16,06
6,42
28,18
24,83
18,13
31,69
9,2
29,77
24,19
37,71
Perrin et al., (1998) e Mensure et al., (1995)
constataram que atletas possuíam melhor adaptação
postural em relação a não-atletas. Isso permitiria aos
atletas adotarem reações mais apropriadas para
tarefas específicas, produzindo adaptações ou
desenvolvendo consciência para estratégias posturais
que favoreceriam um sincronismo entre os
segmentos do corpo, baseado nas automatizações
adquiridas no treinamento do esporte.
MÉDIA DO ÍNDICE DE BALANÇO (%)
16
14
12
10
Ortostática
30 cm
Espontânea
8
6
4
2
3
IT
O
4
EI
T
SU O 5
JE
IT
SU O
JE 6
IT
SU O
JE 7
IT
SU O 8
JE
SU ITO
9
JE
IT
SU O 1
0
JE
IT
SU O
JE 11
IT
SU O
JE 12
IT
O
13
SU
J
EI
TO
JE
SU
IT
O
SU
J
IT
O
JE
JE
SU
SU
2
1
0
Gráfico 1 - Média do índice de equilíbrio dos sujeitos nas
três diferentes posturas representas.
R. da Educação Física/UEM
8,66
6,86
7,14
9,6
12,08
6,47
8,14
7,96
5,54
6,06
6,56
5,6
6,22
1,5
1,57
1,24
1,61
4,63
0,37
2,8
0,95
1,28
3,46
1,89
1,77
1,49
A partir do exposto na tabela e no gráfico
anterior, podemos perceber que na posição de
tiro dos sujeitos, na grande maioria dos casos, há
um aumento na oscilação. Isso poderá afetar a
estabilidade e o equilíbrio do arqueiro.
Especialmente por se tratar de praticantes
iniciantes, era esperado que houvesse realmente
um deslocamento maior do centro de gravidade,
devido à utilização do equipamento e da postura
de tiro. Grabiner et al., (1993) mostraram que
existem significativas relações lineares entre o
centro da pressão estimado pelo Balance System
e o centro da pressão calculado pela plataforma
de força (COP), portanto podemos considerar os
dados de média e desvio-padrão do
deslocamento do COP 2,0±0,8 e 2,3±1,3, citados
por Duarte (2000), como um referencial para
iniciantes de tiro de arco.
O Gráfico 1 apresenta valores que mostram
uma maior estabilidade e equilíbrio quando não
foi utilizado o equipamento de tiro com arco, e
para oito dos sujeitos a postura dos pés na
condição de 30cm proporcionou melhor
equilíbrio ou, pelo menos, demonstrou uma
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
Estudo do equilíbrio plantar do iniciante de tiro com arco recurvo
7
maior estabilidade. Para os outros cinco sujeitos
a postura espontânea escolhida proporcionou
uma estabilidade menor. As médias gerais dos
sujeitos ficaram próximas, sendo 5,53 (± 0,55)
para postura ortostática; 7,45 (± 1,13) para a
postura de tiro a 30cm; e 7,55 (± 0,95) para a
postura espontânea. Isto mostra que os valores
se encontram acima da média normal e que o
arco proporcionou, juntamente com a postura
diferenciada, um desequilíbrio maior para o
praticante.
Tabela 4 - Amplitude média do equilíbrio plantar dos sujeitos.
Sujeitos
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
P0
X
0,02
0,40
0,94
1,06
1,31
0,09
1,78
0,21
0,28
0,37
0,06
1,29
0,28
Amplitude média do equilíbrio plantar
P1
Y
0,02
0,13
0,06
0,12
0,75
0,09
0,75
0,13
0,12
0,18
0,01
0,53
0,41
De acordo com Manual de Treinadores,
nível iniciante - FITA (2003), o peso do corpo
deve estar distribuído aproximadamente por
igual entre as duas pernas, reduzindo o peso do
corpo sentido nos calcanhares, colocando-se,
então, o peso do corpo ligeiramente para as
porções anteriores dos pés. Rabska (2007)
enfatiza que o peso deve estar distribuído em 60
a 70% na parte anterior do pé e o restante na
parte posterior. Com o peso distribuído nessa
parte anterior dos pés melhora-se o equilíbrio, o
arqueiro poderá reagir melhor antes das
possíveis trocas de equilíbrio e melhorar a ação
da corda, ao evitar que ocorra a fricção na
superfície do peito do atirador. Podemos
perceber no presente estudo que a amplitude
média caracterizou-se por um ligeiro
deslocamento, contrário ao esperado de acordo
com a literatura.
Outro fato constatado a partir dos dados
acima, em relação às tendências citadas a
respeito do equilíbrio plantar dos iniciantes de
tiro com arco, é a mudança nos planos da
posição do corpo de frontal para lateral. Uma
explicação para essa compensação do iniciante
está na força realizada para retesar a corda do
R. da Educação Física/UEM
X
0,81
0,10
0,53
0,06
0,44
0,03
1,53
1,22
0,25
0,47
0,25
0,4
0,37
Y
1,75
0,46
0,06
0,50
0,22
0,29
1,19
1,66
0,09
0,31
0,25
1,34
0,27
P2
X
0,5
0,58
0,23
0,11
0,23
0,21
1,04
0,12
2,11
0,2
1,77
0,15
0,39
Y
1,54
1,23
0,08
1,35
0,30
0,03
0,23
1,86
0,23
0,2
0,92
0,23
0,03
arco e manter a postura de tiro, levando o corpo
a assumir posturas que facilitem a execução do
exercício. Fatores como peso e estatura
influenciam diretamente na estabilidade e na
base de sustentação.
Durante a realização da coleta de dados os
sujeitos perceberam a influência da condição
climática, que no caso foi o vento. Este fato
tornava a situação ambiental mais próxima das
condições reais encontradas durante as
competições e torneios, o que possibilitou uma
maior validade ecológica para o estudo, apesar
de tornar a atividade mais complexa para os
participantes da pesquisa.
Comparados à população normal, os
atletas treinados demonstraram melhor
adaptação postural, refletida no uso de todos
os
inputs
sensoriais
envolvidos
na
manutenção do equilíbrio, sugerindo uma
melhor integração do sistema percepção-ação
(CARR, 1998). Conforme recomendação de
Ávila et al., (2002), o uso desse tipo de
análise pode identificar mecanismos de
correção, visando ao rendimento esportivo das
modalidades que requerem equilíbrio, além de
melhorar a técnica esportiva.
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008
8
Wolff et al.
CONCLUSÃO
Os dados deste estudo podem ser inferidos
tanto para a modalidade do tiro com arco como
para as demais que necessitem altos graus de
controle motor relacionado à postura e ao
equilíbrio. Pelo fato de os sujeitos do estudo
serem iniciantes na modalidade de tiro com arco,
pode-se concluir que nessa fase da aquisição da
idéia do movimento a utilização de diferentes
posturas pode ser uma estratégia adequada, uma
vez que na etapa da fixação da aprendizagem
será recomendado que o arqueiro execute a
habilidade motora sem alteração da postura.
Mesmo que nessa fase inicial da aprendizagem
da tarefa motora discreta e fechada tenha sido
percebido um desequilíbrio e uma falta de
capacidade do iniciante de encontrar o tamanho
ideal da sua base podal, quase todos os sujeitos
conseguiram manter a sua postura ereta, por meio
de uma distribuição do equilíbrio plantar dentro da
área mais central da base de apoio. Esse achado
permite supor que a busca de uma postura
confortável é uma condição para a execução da
tarefa, e que as oscilações nos sentidos ânteroposterior e centro-lateral são compensações para
que a projeção do centro de gravidade do arqueiro
incida sobre o centro de sua base de apoio.
Sugere-se que em trabalhos posteriores com
o mesmo enfoque se utilize a comparação dos
índices de equilíbrio com os escores de eficácia
no desempenho da tarefa. Assim poderá ser feita
uma relação entre a condição do equilíbrio do
praticante e sua influência no objetivo da
modalidade, que é acertar o centro do alvo.
STUDY OF FOOT-BALANCE OF NOVICE ATHLETES OF ARCHERY
ABSTRACT
The postural control and balance are key elements for achieving high performance in sport, such as in archery, for example,
where great part of the athlete’s attention is focused on improving it. The objective of this study was to analyze the
characteristics of foot-balance in novice archery athletes, in the process of initiation in the modality. Thirteen young male
adults (22 ± 2 years) participated in the study. For the evaluation of the balance was used the system balance (Chattecx
Balance System) with a frequency of 100Hz and the data collection had an average duration of 20 s. In the data collection
sessions, the subjects performed 9 attempts, being 3 attempts in orthostatic posture without equipment. After, using the
equipment and making the stance of shooting and the shooting of arrows, the subjects made 3 attempts to a distance of 30cm
and other 3 performed in the shooting posture with a distance considered the most appropriate for the subject. A descriptive
analysis of the data was executed. The results showed that the stance of shooting provides instability for the newcomer and
this instability provides fluctuations in the antero-posterior position and center-lateral.
Key words: Motor control. Balance. Posture.
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Recebido em 11/02/08
Revisado em 18/04/08
Aceito em 29/05/08
Endereço para correspondência: Fernando Wolf. Rua: João Meireles, 520/ apto 501, Itaguaçu CEP 88085-200,
Florianópolis-SC. E-mail: [email protected]
R. da Educação Física/UEM
Maringá, v. 19, n. 1, p. 1-9, 1. trim. 2008

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