bibliographical analysis of marine protected areas
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bibliographical analysis of marine protected areas
Project CONSDEV, n°ICA 4-2001-10043 (INCO-DEV Programme, European Commission, Research Directorate-General) Coherence of Conservation and Development Policies of Coastal and Marine Protected Areas in West Africa Cohérence des politiques de conservation et de développement des aires protégées marines et côtières en Afrique de l’Ouest Coerência das politicas de conservação e de desenvolvimento das áreas protegidas marinhas e costeiras na Africa Ocidental BIBLIOGRAPHICAL ANALYSIS OF MARINE PROTECTED AREAS General and regional references for West Africa Por Jean-Yves Weigel (IRD), Omar Sarr (UBO) IRD – Dakar Dakar, Julho 2002 Ref : CONSDEV Sintese/WP1/02 1 ÍNDICE 1 2 INTRODUÇÃO.................................................................................................................3 EVOLUÇÃO DAS FUNÇÕES DAS ÁREAS MARINHAS PROTEGIDAS..............4 2.1 O período 1970 – 1980..............................................................................................................................4 2.1.1. A função de pesquisa científica........................................................................................................4 2.1.2. A função de conservação.....................................................................................................................5 2.1.3. A função educativa.............................................................................................................................6 2.2 O período 1980-2002.................................................................................................................................6 3. 2.2.1. A função relativa à pesca e maricultura.......................................................................................6 2.2.2. A função relativa ao planejamento do litoral e à governação dos oceanos.................................7 2.2.3. A função relativa ao turismo, ecoturismo e às actividades lúdicas.............................................7 2.2.4. A função relativa à criação de riquezas......................................................................................8 2.2.5. A função em termos de avaliação económica...............................................................................8 2.2.6. A função cultural..................................................................................................9 EVOLUÇÃO DE PROCESSO DE CRIAÇÃO E DE IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO...............................................................................................10 3.1. O período 1970- 1980 : criação na base de critérios bio-ecológicos et gestão centralizada............10 3.2. O período 1980-2002 : criação numa base multi-critérios e gestão participativa.............................11 3.2.1.O processo participativo impõe-se.....................................................................................................11 3.2.2. A necessidade de uma organização institucional ........................................................................12 3.2.3. O desenvolvimento da coordenação e da cooperação nacional e regional.................................13 3.2.4. Novas modalidades de gestão e de planejamento......................................................................13 3.2.5. Debates sobre o financiamento.....................................................................................................16 2 4. EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS E DA LEI..................................................................16 4.1. O período de 1970 a 1980 .....................................................................................................................16 4.1.1. Definição de políticas e legislações nacionais.............................................................................16 4.1.2. A assinatura de convenções internacionais.................................................................................17 4.1.3. A elaboração de políticas e de convenções regionais...................................................................17 4.2. O período 1980-2002.............................................................................................................................18 5. 4.2.1. Continuação da internacionalização e da regionalização das políticas e das legislações........18 4.2.2. Generalização das políticas e das legislações nacionais............................................................18 CONCLUSÃO................................................................................................................19 1. INTRODUÇÃO Os métodos clássicos de gestão dos recursos e dos ecossistemas marinhos e costeiros não permitiram, na maioria dos casos, realizar um compromisso entre as necessidades de sua conserveção e de sua exploração. As áreas marinhas protegidas (AMP), nesta perspectiva, aparecem como “ferramentas de gestão para proteger, manter e restaurar os recursos naturais e culturais das águas costeiras e marinhas” (Salm and al 2000). As AMP são usadas a nível nacional e internacional para “conservar a biodiversidade, administrar os recursos naturais, proteger as espécies marinhas ameaçadas, reduzir os conflitos de uso, providenciar oportunidades de pesquisa e educação, e desenvolver actividades comerciais e recreativas” (Salm and al 2000). A conservação do patrimônio histórico e cultural marinho e costeiro das comunidades também é um dos objectivos do conceito de AMP. O que significa a noção de área marinha protegida? O UICN fornece a definição mais ampla, pois ela define a AMP como “todo espaço inter-tidal ou infra-tidal, bem como suas águas subjacentes, sua flora, fauna, recursos históricos e culturais que a lei ou outros meios eficientes colocaram em reserva para proteger todo ou parte do meio assim delimitado” (IUCN, 1988 ; Kelleher, 1999). Essa definição muito ampla permite considerar uma grande variedade de AMP, cujo nível de proteção pode ir da proibição estrita de explorar os recursos, noção de “no-take marine protected area” (Wells and Ricketts, 1994 ; Ballantine and al. 1997 ; Major, 1998 ; Mangel, 1998 ...) à possibilidade de desenvolver uma pluriactividade na zona, como por exemplo no Great Barrier Reef Marine Park (Kelleher and al. 1984, Hancock, 1993). Várias denominações são assim usadas para se referir às AMP: parques marinhos, sanctuários marinhos, reservas marinhas, etc. Se historicamente, as AMP foram primeiro instituídas nos países desenvolvidos (EstadosUnidos, Europa, Nova-Zelândia), os países em desenvolvimento multiplicaram a criação de áreas marinhas protegidas nos últimos vinte anos, principalmente como parques nacionais ou reservas de biosfera. A África do Oeste, por exemplo, estabeleceu o Parque Nacional do Banc d’Arguin (PNBA) em 1976, a Reserva de Biosfera do Delta do Saloum (RBDS) em 1981, e a Reserva de Biosfera do Arquipélago Bolama-Bijagós (RBBB) em 1996. Isso é confirmado pela bibliometria, pois num total de 4 160 casos registos, mais de 700 referências têm diretamente ou indiretamente a ver com as AMP oeste-africanas. O conceito de AMP envolve vários temas e sob-temas que são ligados ao ramo das ciências naturais (oceanografia física, biologia, ecologia, etc.), da ciência económica e da economia política, do direito e das ciências políticas, da antropologia social e cultural, etc. A 3 integração de todos esses aspectos no conceito de AMP não ocorreu de uma vez só, ela é resultado de uma evolução de preocupações dos governantes e dos usuários, assim como de um esforço de pesquisa importante, cobrindo um leque amplo de disciplinas. A análise desta evolução, do ponto de vista da ocorrência successiva de temas e sob-temas tratando das AMP, constitua a meta desta análise bibliográfica. Ao terminar nossas leituras, guardámos três eixos para analisar a evolução da literatura: evolução das funções das AMP, evolução do processo de criação das AMP e da implementação de seu sistema de gestão, evolução das políticas e da lei relativas às AMP. Estes três eixos cobrem, na nossa opinião, uma grande parte dos temas e sob-temas identificados a partir de nossa bibliografia. Além disso , dois períodos essenciais destacaramse para entender a evolução dos temas relativos às AMP: o período anterior a 1980 e o período 1980-2002. De um ponto de vista metodológico, na medida em que a bibliografia tinha por âmbito de reunir a literatura sobre as AMP sem distinção temática ou restrição cronológica, a equação de pesquisa foi estabelecida a partir da tipologia das AMP : área marinha protegida, parque marinho, sanctuário marinho, reserva marinha, refúgio marinho. As fontes de informação foram os bancos de dados documentários e dos parceiros institucionais, os bancos de dados ASFA e Current Contents, mas acima de tudo a internet com os browsers e centros de recursos especializados, os bookstores, os sites de informação especializados1. É o programa Procite que foi usado para arquivar os dados. Enfim, a bibliografia é disponível para consulta no site do Projecto CONSDEV : http://www.resed.org/consdev 2. EVOLUÇÃO DAS PROTEGIDAS FUNÇÕES DAS ÁREAS MARINHAS 2.1.O período 1970 - 1980 Notemos que antes de 1980, às AMP eram atribuídas três funções principais : uma função de pesquisa científica, de conservação, educação. AS AMP possuíam vantágens para pesquisa, pois seu ambiente era relativamente pouco perturbado e seus limites bem definidos. A função de conservação tinha por objectivo de restaurar os ecossistemas danificados e prevenir os riscos que neles pesavam. Quanto à função de educação das AMP, justificada pela riqueza e a diversidade de ecossistemas envolvidos, ela aparece desde a criação das primeiras AMP. 2.1.1. A função de pesquisa científica As AMP abrigaram numerosas pesquisas científicas. Os temas de pesquisa tinham como eixo principal a ecologia e a biologia, pois o conhecimento biofísico do meio marítimo era fundamental para a implementação de sistemas de proteção e conservação dos recursos vivos e de seus habitats. Assim, vários estudos foram desenvolvidos nas AMP. O Parque Nacional de Port-Cros na França abrigou por exemplo muitas pesquisas relativas a sua vegetação, em particular seu recife-barreira de posidonias (Boudouresque et al. 1975 Augier et Boudouresque, 1978; Boudouresque et al. 1980; Panayotidis, 1980). 1 Para mais informações sobre a metodologia, referimo-nos ao documento « Bibliographie sur les aires marines protégées : méthodologie et éléments d’analyse bibliométrique. Références générales et ouest-africaines » por Cheikh Ndiaye, Claire Bassène, Jean-Yves Weigel. Documento do Projecto CONSDEV (Ref :CONSDEV/WP1/01). 4 Outros estudos biológicos e ecológicos foram também efectuados neste parque (Vicente, 1975 ; Augier et Boudouresque, 1976 ; Augier et al., 1976 ; Laborel et al., 1976 ; Vacelet, 1976 ; Augier et Maudinas, 1977 ; Coppejans, 1977 ; Harmelin et al., 1980). Aconteceu a mesma coisa em outros parques, tal o Tayrona National Park na Colômbia (Noodt and Gerlach, 1977 ; Guillot and Marquez, 1978) e o Coyote Point Park na Califórnia (Whittow, 1978; Wicksten, 1978). Cordes e O’Hara estudaram as patologias de mamíferos marinhos em cativeiros num parque marinho (Cordes and O’Hara 1979). As pesquisas efectuadas nas AMP contribuiram para um melhor conhecimento do meio marinho em vários campos (biologia, ecologia, geologia, hidrografia, etc.), e para avaliar o impacto negativo das actividades humanas nos ecossistemas, tão como os riscos reais e potenciais de origem antrópica que ameaçam-nos (sobre-exploração, destruição dos habitats, poluição, particularmente). Um autor afirma que um sistema de rede de AMP, representativo do ecossistema principal global, parece realizar melhor as funções em termos de pesquisa (Ray, 1978). 2.1.2. A função de conservação No período 19870–1980, tratava-se de proteger certas zonas ditas “habitats marinhos críticos”. Os habitats marinhos críticos são definidos como “áreas que abrigam espécies essenciais, ou que têm uma função essencial de suporte, ou que abrigam processos ecológicos essenciais” (Ray, 1975 ; Ray, 1978). Critérios e um guia de identificação e de gestão dos habitats críticos foram definidos (Ray, 1975 ; Ray, 1978), sendo exemplos de habitats marinhos (ou estuarinos) críticos os recifes de coral, as zonas de mangal, as pastagens marinhas. Outras denominações, tais como “zona particularmente sensível” (Gjerde and Ong, 1993 ; Ottesen, 1994 ; Leria, 1999), “zona especial” (Nickerson and al. 1997 ; Leria, 1999), “habitat essencial” (Fogarty, 1999) serão usadas durante o período seguinte para designar os habitats críticos. A conservação não envolve apenas os “habitats críticos”, mas pode também aplicar-se individualmente àlgumas espécies denominadas “espécies essenciais” (Ray, 1975 ; Ray, 1978). O conceito de espécies essenciais refere-se às espécies cuja proteção é necessária. Trata-se de “espécies marinhas ameaçadas” (Mahadevan and Nayar, 1983) também denominadas “recursos marinhos vulneráveis” (White et al. 1984). Baleias, delfins, tartarugas marinhas, crocodilos, são exemplos de recursos marinhos vulneráveis (White et al. 1984). Certas AMP tinham por âmbito a conservação exclusiva dessas espécies. Parques e sanctuários eram assim especialmente concebidos para espécies vulneráveis. É o caso dos parques de cetáceos (Hudnall, 1978 ; Klemm, 1979 ; IWC2, 1980 ) ou dos parques para tartarugas marinhas (Carr and al. 1984 ; Silva and al. 1984) entre tantos outros. Um modelo de proteção dos habitats dos mamíferos marinhos foi implementado, integrando diversas variáveis, entre as quais os dados hidrológicos da área interessada, as actividades económicas existentes e potenciais, os aspectos jurídicos e legais (Ray and al. 1978). Mas a conservação em áreas marinhas protegidas pode também ter por objectivo espécies não marinhas, em particular a avifauna, por exemplo no caso do Parque Nacional do Delta do Saloum (Dupuy et Verschuren, 1978) e no Parque Nacional do Banc d’Arguin (Gowthorpe et lamarche, 1983) et mais tarde na RBBB (Catry and Mendes, 1997). A função de conservação contém dois « sob-funcções » : restauração dos ecossistemas danificados e dos recursos sobre-explorados pelo homem, proteção e prevenção contra os riscos de danificação dos ecossistemas e dos recursos (sobre-exploração, destruição de habitats e poluição). Para alguns autores, a criação de uma AMP permite realizar esses 2 International Whaling Commission 5 objectivos, pois eles consideram que uma AMP é uma ferramenta de proteção dos meios marinhos sofrendo actividades económicas (Marchessaux, 1977 ; Wilkinson, 1977 ; Dupuy et Verschuren, 1978 ; Creze et Jegou, 1980 ; Le Gal, 1980 ; Anonymous, 1981 ; Yap et Gomez, 1985). Estes autores, considerando que as actividades económicas e lúdicas são a origem da sobreexploração dos recursos e da destruição dos habitats, consideram bom proibir sua prática nas zonas protegidas. Assim, actividades tais como turismo e pesca foram proibidas nestas zonas, pois eram consideradas na maioria dos casos como incompatíveis com a função de conservação (Menon, 1979). Em compensação, o congresso Americano tinha autorizado, desde 1872, a prática da pesca recreativa nos parques nacionais americanos (Panek, 1994). De modo geral, no período 1970-1980, a criação de uma área marinha protegida levava necessariamente à proibição das actividades económicas dentro da AMP. Esta situação não deixou de gerar conflitos entre os gerentes dos parques e sectores econômicos como pesca e turismo (Lambrechts, 1980). 2.1.3. A função educativa As AMP oferencem importantes oportunidades de educação e ambiental do público. Com efeito, por causa da riqueza e diversidade de seus ecossistemas e recursos, elas constituem ferramantas pedagógicas interessantes (Levivier, 1977). Portanto, essa função de educação foi pouco desenvolvida no período 1970-80. 2.2. O período 1980-2002 Ao longo deste período, a literatura continua focando-se nas funções de educação e pesquisa das AMP. A função educativa é confirmada, tanto em relação ao público (Anonymous, 1981), especificamente às escolas (Rodriguez-Martinez and Ortiz, 1999), quanto às equipes de gestão das AMP (Woodley and al., 1998). Em relação à função de pesquisa, a literatura confirma a continuidade do esforço, em particular na África do Oeste, tratando por exemplo das especificidades da fauna ictiológica do Banc d’Arguin (Sevrin Reyssac e Richer de Forges, 1985), ou do mangal no Delta do Saloum (Agbogba e Doyuen, 1985). Mas a análise bibliográfica revela uma reorientação das pesquisas em direção a objectivos de gestão com vista a resolver conflitos de uso pela definição das condições de uma convivência das actividades económicas numa AMP, sem todavia comprometer o objectivo fundamental de conservação. O Great Barrier Reef Marine Park é um dos exemplos deste tipo de gestão (Baker and al.,1983 ; Kelleher and al.,1984 ; Hundloe, 1985 ; Thomas, 1985). O mesmo procedimento foi adoptado para a AMP Bali Barat na Indonésia (Polunin,1983). Os resultados comprovam que as funções relativas à pesquisa e à conservação e educação são compatíveis com outros usos dos recursos tais como pesca, turismo, e actividades lúdicas. Só é preciso achar um sistema de gestão permitindo a conciliação e compatibilidade entre conservação e desenvolvimento (Kelleher and al., 1984 ; Dixon and al., 1993 ; Brown and al., 2001 ; Jimenez and al., 2001). Este eixo de reflexão levou ao ampliamento das funções das AMP. Assim, mesmo com a permanência das funções de pesquisa e de conservação e educação das AMP no período 1980-2002, outras funções, de essência económica ou recreativas, foram-lhes atribuídas: relativas à pesca, maricultura, ao ordenamento do litoral e à governação dos oceanos, a turismo, ecoturismo e actividades de lazer, e, de modo mais geral, funções relativas à criação de riqueza e à avalição económica, bem como à função cultural. 6 2.2.1. A função relativa à pesca e maricultura O desenvolvimento da pesca e a proteção dos recursos haliêuticos pela criação de AMP faz parte dos temas mais desenvolvidos na literatura. Na verdade, é um assunto antigo introduzido pela primeira vez por Beverton e Holt, e abandonado para uma concepção da gestão baseada no controle da frota de pesca e dos engenhos de pesca (Guénette and al., 1998). Este tema foi retomado nos anos 80 e aprofundado a partir de 1993, produzindo uma literatura particularmente abundante em 1998 (Odum and al.,1984 ; Baker, 1985 ; Menon, 1988 ; Aiken and al., 1991 ; Cribb, 1992 ; Beckley and van der Elst, 1993 ; Dugan and Davis, 1993 ; Hancock, 1993 ; Tegner, 1993 ; Rowley, 1994 ; Man and al., 1995; Panek, 1995 ; Kapetsky and al, 1995 ; Ticco, 1995; Holland and Brazee, 1996 ; McClanahan and KaundaArara, 1996 ; Morris and al., 1996 ; Sobel; 1996; Corless and al., 1997 ; Russ and Alcala, 1997; Bohnsack, 1998 ; Carr and al., 1998 ; Guenette and al., 1998z por ; Hall, 1998 ; Hatcher and al., 1998 ; Horwood, 1998; Major, 1998 ; Mangel, 1998 ; McPhee, 1998 ; Paddack and al., 1998; Sumaila, 1998; Tanzer, 1998 ; Ven Tresca and al., 1998 ; Williams, 1998 ; Boersma and Parrish, 1999; Fogarty, 1999; Guenette and Pitcher, 1999; Nowlis and Roberts, 1999; Maury and Gascuel, 1999 ; Parrish, 1999 ; Seret and Sire, 1999 ; Mosqueira and al., 2000 ; Tuck and Possingham, 2000 ; Walters, 2000 ; Manson and Die, 2001 ; Mosqueira and al., 2001 ; Roberts, 2001). Através dessas várias publicações, aparece que a criação de uma AMP é finalmente percebida, não mais como incompatível com as técnicas de pesca, e sim como uma alternativa viável às técnicas clássicas de gestão das pescas. Nesse assunto, elas permitem a proteção dos stocks de reprodutores, e representam uma fonte de repovoamento para as áreas vizinhas (exportação de larvas). Elas favorecem também o repovoamento das áreas adjacentes graças a migração de indivíduos adultos (efeito spillover). Elas favorecem a permanência de uma faixa etária natural das populações. Elas conservam a biodiversidade e protegem os habitats. Elas podem então aparecer como um suporte essencial ao processo natural da vida das espécies marinhas. Elas constituem assim uma garantia contra o fracasso de outros modos de gestão. Além disso, elas facilitam a fiscalização e o controle (Beckley and van der Elst, 1993 ; Rowley, 1994 ; Dalzell and Adams, 1995 ; Corless and al., 1997 ). Smith e Berkes, estimam que AMP bem administradas podem resolver um dos problemas característicos do acesso livre aos recursos, conhecido como “Tragédia dos Comuns”("Tragédie des Communs", Smith and Berkes, 1991). As AMP constituem uma garantia contra o fracasso de outros modos de gestão (Bender et McNeely, 1995), participando de um processo baseado no princípio de precaução (Lauck e al., 1998 ; Carrandt e al., 1999 ; Jones, 1999). Esse processo implica também o conhecimento das modalidades de pesca na AMP ou na futura AMP, necessitando um esforço de pesquisa, por exemplo sobre o Delta do Saloum (Dème e al, 2000 ; Dème e al, 2001), sobre o PNBA (CNROP, 2001), ou sobre o Arquipélago do Bijagós (Alternag and Tiniguena, 1992 ; Biai and Alves, 2002). A possibilidade de desenvolver outras actividades, tais como maricultura, que não comprometeriam a função de conservação das AMP, foi também considerada (Latif et al.,1983 ; Broadus, 1987 ; Baldwin, 1987 ; Anonymous, 1990 ; McCoy, 1994), mesmo que o assunto tenha sido pouco estudado pela literatura. 2.2.2. A função relativa ao planejamento do litoral e à governação dos oceanos AS AMP também aparecem como ferramentas para a valorização dos espaços litorais (Cossu et al, 1990). Uma política de AMP pode constituir um elemento importante numa política global de gestão integrada dos recursos costeiros (Halim and Morcos, 1995 ; Tejam 7 and al., 1997). Alguns autores seguem mais adiante, mencionando o papel das AMP na governação dos oceanos (Eichbaum e Agardy, 1995 ; Barr e al., 1998). O conceito de governação dos oceanos foi também mencionado por outros autores (Hanna, 1999 ; Costanza and al., 1999 ; Lindholm and al., 2001). Porém, esta função permanece pouco estudada pela literatura. 2.2.3. A função relativa ao turismo, ecoturismo e às actividades lúdicas Certos estudos focaram-se sobre as relações entre turismo e AMP. Este tema é o assunto de várias publicações a partir dos anos 1990 (Kenchington, 1991 ; Crafter and al., 1993 ; Brubeck, 1995 ; EEAA3, 1997 ; Féron, 1997 ; Nickerson and al., 1998 ; Villela, 1998 ; Vogt, 1998 ; Anaya and al, 1998 ; Byrne and al, 1998 ; Vogt, 1998 ; Munro, s.d.), mesmo que tenha sido mencionado anteriormente (Latif e al.,1983). Tratava-se de saber como desenvolver o turismo em harmonia com os outros objectivos da AMP, em particular a conservação e a pesca. Essas preocupações favoreceram a aparição na literatura do conceito de ecoturismo (Anon, 1992 ; Agardy, 1993 ; Hooten and Hatziolos, 1993 ; Srivastava, 1994 ; Hooten et Hatziolos, 1995 ; Wojan, 1995 ; Boyd and Butler, 1996 ; Lindberg and al, 1996 ; Anaya and al. , 1998 ; Strachan and al. , 1998; Anonymous, 1999 ; Carter, 1999 ; Gossling, 1999 ; Ross and Wall, 1999 ; Walpole and Goodwin, 2000). O ecoturismo é definido como um sub-sector do turismo baseado na proteção e na conservação da natureza. Grossling considera que o ecoturismo é um meio de salvar a biodiversidade e a função dos ecossistemas (Gossling, 1999). Para que o turismo seja ecológico, deve ser fundado no uso de equipamentos e estruturas ecológicas (Anonymous, 1999). Os conceitos de eco-pavilhão, eco-arquitectura e eco-tecnologia foram intrduzidos na literatura relativa ao ecoturismo (Anonymous, 1999). As AMP possuem importantes potencialidades de desenvolvimento desse sub-sector, que por sua vez pode contribuir para a gestão duradoura das AMP (Anonymous, 1999 ; Carter, 1999 ; Gossling, 1999 ; Ross et Wall, 1999 ; Walpole and Goodwin, 2000). O desenvolvimento de actividades recreativas tais como o mergulho submarinho, a pesca de lazer nas AMP está também em estudo (Davis and Tisdell, 1995), mas os autores insistem na necessidade de implementar medidas de gestão apropriadas. Na África do Oeste, uma reflexão aprofundada foi desenvolvida especialmente a nível da Reserva de Biosfera do Arquipélago BolamaBijagós (Féron, 1997; Von Gunten and al., 1997 ; Jimenez, 2001 ; UICN, s.d), e em menor escala, a nível do PNBA (Blangy, 1995 ; Dia, 1999). 2.2.4. A função relativa à criação de riquezas Os importantes e diversos serviços que podem gerar as AMP já foram salientados (McNeely and al., 1984). Isso fornece argumentos para os biólogos convencerem os governantes da necessidade de criar AMP com vista a administrar recursos marinhos de modo durável, organizando a exploração e evitando os conflitos de uso (Anonymous, 1983). A função de conservação das AMP está doravante percebida não como obstáculo ao desenvolvimento de actividades económicas, e sim como ferramenta de promoção e de desenvolvimento dessas actividades. Sybesma declara a esse respeito que os biólogos não hão de tornar-se empresários ou de agir como tais, mas devem pensar como eles, salientando o impacto económico da conservação para melhor convencer, em vez de só preocupar-se com aspectos bio-ecológicos (Sybesma, 1984). Armsworth e Roughgarden estão convencidos que só podemos esperar administrar a biosfera de maneira sustentável e eficiente se há uma boa 3 Egyptian Environmental Affairs Agency 8 combinação entre ecologia e economia, então uma boa colaboração entre biólogos e economistas (Armsworth and Roughgarden, 2001). Já que as AMP podem gerar muito benefícios económicos para um país, o estudo dos benefícios económicos das AMP começou desde os anos 80, primeiro sob o ímpeto dos economistas (Anonymous, 1983 ; Thomas, 1985 ; Leeworthy and al., 1989 ; Cossu and al., 1990 ; Leeworthy and al., 1990 ; Barzetti, 1993 ; Dixon, 1993 ; Dixon and al., 1993 ; Driml, 1994 ; Moran, 1994 ; Echeverria and al., 1995 ; Hockey and Branch, 1997 ; Tisdell and Wen, 1997 ; Ngugi, 1998 ; Vogt; 1998; Anonymous, 1999). 2.2.5. A função em termos de avaliação económica A literatura revela vário métodos de avaliação : a análise Custos-Benefícios, ou Análise Custos-Vantágens (Analyse Coûts-Avantages : ACV), a avaliação contingente, o custo de transporte, o preço hedônico, etc. Uma “análise custos-benefícios” foi efectuada em 1983, para avaliar os benefícios económicos de dois parques nacionais, um em St. John e o outro no Costa Rica (Anonymous, 1983). Este estudo revelara um quociente “custos-benefícios” muito alto para ambos os parques, revelando uma superoridade nítida dos benefícios em comparação aos custos gerados pela criação e a gestão destes parques. Um estudo do lucro socio-económico das actividades recreativas em vários parques no Estados-Unidos foi também realizado em 1988. Enfim, os empregos criados a nível das AMP são considerados também na avaliação dos lucros económicos (Dixon, 1993). A aceitação para pagar por certos parques amercianos foi avaliada, o que pemitiria calcular o “excedente do consumidor” que representa uma medida do bem-estar social ligado à criação desses parques (Leeworthy and al., 1989). O mesmo método foi aplicado em 1989 a outros parques americanos diferentes dos primeiros (Leeworthy and al., 1990). O cálculo do excedente do consumidor foi também efectuado em áreas protegidas no Kênia por um método de avaliação contingente (Moran, 1994). Quanto ao valor económico e financeiro das AMP, ele foi avaliado por alguns autores como Driml (1994) que tomou o exemplo do Great Barrier Reef World Heritage Area e de outras áreas protegidas. Porém, Dixon nota que alguns lucros económicos gerados pelas AMP, tais como o valor económico dos recursos biológicos e dos serviços ambientais, são dificilmente avaliáveis em termos monetários (Dixon, 1993). Para ultrapassar este impedimento, Etcheverria efectua uma avaliação contingente dos proveitos não mercantis fornecidos pelos recursos biológicos de uma área protegida (Echeverria et al., 1995). Finalmente, o método BIO-SAFE (Spreadsheet Application For Evaluation of BIOdiversity) foi implementado para avaliar os valores da biodiversidade na base de critérios políticos e legais definidos nos planos das políticas nationais ou internacionais, nas leis, tratados, e directivas : este método permite a optimização da conservação e dos outros usos na base de uma planificação spacial (Lenders and al., 2001). 2.2.6. A função cultural As AMP têm também uma função cultural num sentido amplo, o que envolve as sabedorias indígenas como vectores identitários. As considerações relativas aos aspectos culturais apareceram na literatura durante o período 1980-2002. Com efeito, as AMP têm também por meta a conservação dos valores culturais e dos materiais arqueológicos marinhos. Esta função, porém, não é bem documentada na bibliografia; só alguns artigos se referem a ela (Langdon, 1983 ; Lawrence and Cansfield Smith, 1991 ; Fiske, 1992 ; Hochberg, 1993 ; Oullet, 1995; Beltran, 2000 ; Robinson, 2000). 9 Uma das melhores doumentações sobre este assunto encontra-se na bibliografia relativa às áreas marinhas protegidas oeste-africanas. Em particular, um estudo do impacto da RBBB na promoção das artes Bijagós (Centro Artesanal de Bijante, 1991), um relatório de consultação sobre a gestão tradicional dos espaços e dos recursos naturais na região BolamaBijagós (De Sales, 1994), um programa de sensibilização ambiental cujo eixo é a articulação ecologia-cultura, (Quellet, 1995, Quellet, 1996). Alguns autores interessam-se especialmente aos referentes culturais que contribuem para a preservação da biodiversidade, tanto a nível da RBBB (Djalo and al, 1997), quanto a nível do Parque Nacional João Vieira Poilão (UICN, 2001). A função cultural da área marinha protegida é também discutida com o exemplo dos Imraguen do PNBA (Robineau, 1995) e o caso dos moradores da RDBS (SENAGROSOL, s.d). 3. EVOLUÇÃO DE PROCESSO DE CRIAÇÃO IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO E DE A criação de uma área marinha protegida é uma decisão crucial. Sua gestão é necessariamente complexa. A realização dos objectivos ambicionados depende da pertinência na escolha do sítio, da motivação desta escolha, e do sistema de gestão implementado. Um panorama da literatura mostra que o processo de criação das áreas marinhas protegidas, assim como o sistema de gestão, originalmente assentado em critérios biólogicos e ecológicos, evoluíram depois dos anos 70. Com efeito, nos anos 80 os aspectos socio-económicos foram levados em consideração, e conceitos novos de organização participativa, de gestão comunitária, parceria, cooperação, coordenação, governação, que constituem agora princípios fundamentais de criação e de gestão das AMP, emergiram. Da mesma maneira, o planejamento e o financiamento das AMP referem-se não somente às condições bioecológicas, como também às condições socio-económicas, o que revela outro nível de evolução. Esta pode ser analisada com a distinção entre os dois principais períodos acima definidos. 3.1. O período 1970- 1980 : criação na base de critérios bio-ecológicos et gestão centralizada Os critérios nos quais baseava-se a escolha de um sítio para abrigar uma AMP foram, durante este período, essencialmente de tipo bio-ecológico. Com efeito, antes de 1980, geralmente só as características de recurso e habitat determinavam a escolha. Isso explica-se pelo facto que a função principal das AMP neste período, como já mencionámos, era a conservação. Muitos guias de identificação do sítios eram elaborados nesta perspectiva (Ray, 1975 ; Simberloff and Abele, 1976 ; Hudnall, 1978 ; Ray, 1978 ; Ray and al., 1978 ; Menon, 1979). Uma das principais teorias tratando dos contornos das áreas protegidas estipulava que uma área protegida tem de ser única, a mais larga possível. Pareceu depois que este princípio dirigindo os parques terrestres podia não funcionar para as AMP, em condições biológicas particulares (Simberloff and Abele, 1976 ; Salm, 1984). Alguns autores já aconselhavam envolver aspectos socio-económicos e legais no processo de criação das AMP (Ray and al., 1978), com vista a obter sua aceitação pelos usuários, e assim garantir a realização do objectivo de conservação. Porém, os critérios ecológicos ainda dominavam. Assim, as comunidades, especialmente os usuários, eram geralmente hostis à criação de uma AMP numa zona que eles exploravam. 10 A participação das populações locais foi depois aconselhada, de modo a evitar a hostilidade das populações (Klemm, 1979). A sensibilização do público começava a ser considerada como elemento essencial na criação de uma AMP. No entanto, a proteção do recurso e de seu habitat permanecia a única preocupação dos defensores das AMP, enquanto os usuários, por seu lado, se preocupavam da prática de sua actividade económica. Os interesses socio-económicos que pode gerar a criação de uma AMP era pouco enfatizados. A predominância do objectivo de conservação em relação aos interesses económicos ressai do discurso de Klemm que considerava que a criação das AMP devia ser um elemento do plano nacional ou internacional de conservação de uma espécie, de um grupo de espécies, de uma região ou de um sistema (Klemm, 1979). A conservação aparece ainda através do discurso de Klemm como objectivo fundamental das AMP. O conceito de “gestão” só era, neste período, sinônimo de “fiscalização e controle” do acesso nas AMP onde a exploração dos recursos era proibida. Não existia, então, na verdade, um sistema genuíno de gestão para as AMP. Os anos 80 acompanham uma evolução verdadeira, tão no processo de criação das AMP, quanto no seu modo de gestão. Os termos de desenvolvimento e de gestão virão ao primeiro plano. 3.2. O período 1980-2002 : criação numa base multi-critérios e gestão participativa Durante este período foi finalmente aceitada a prática de actividades económicas nas AMP, que se tornaram verdadeiras ferramentas de desenvolvimento socio-económico e cultural, mesmo que elas tenham guardado suas funções de conservação, de pesquisa e de educação. Da literatura ressai que o desenvolvimento de uma pluri-actividade numa AMP necessita um sistema de gestão e de planejamento eficiente, que não pode mais se limitar à fiscalização e ao controle como no período anterior. Trata-se de um processo complexo, pelo qual se precisa equilibrar preocupações de conservação e de desenvolvimento socioeconómico (Tunesi et Diviacco, 1993). Não se trata mais de procurar a aceitação das AMP pela população, e sim de considerar suas preocupações como critérios de decisão na criação dessas AMP, e de integrá-las como elementos do sistema de gestão. O objectivo principal é de alcançar um compromisso entre todas as partes interessadas para atingir ambos objectivos de conservação e de exploração dos recursos. Levar em consideração a situação geográfica e socio-económica no processo de criação das AMP, assim como na elaboração e a implementação do sistema de gestão, é uma condição necessária para o sucesso dos objectivos assumidos pela AMP. Deve-se salientar o facto que a criação duma AMP de modo convencional pode fracassar sob certas condições geográficas e socio-económicas (Anonymous, 1981). É recomendado que diversas informações, tais como dados de pesca comercial, sejam incorporadas no processo de criação de uma AMP (Manson e Die, 2001). 3.2.1.O processo participativo impõe-se Durante este período, as comunidades locais e os usuários foram colocados no centro do processo de criação das AMP e de sua gestão. Levar em consideração aspectos socioeconómicos necessita sensibilização, conscientização, educação e informação das populações que aparecem cada vez mais como factor determinante na criação e na gestão das AMP (Anonymous, 1981 ; Wolfenden and al., 1994). Depois dessa primeira etapa, os autores insitem na implementação de sistemas de gestão baseados cada vez mais no conceito de « participação pública » (comunitária, ou dos usuários) ou de « parceria », que constitui um novo método permitindo prevenir e resolver os conflitos, promovendo cooperação. Porém, só a partir dos anos 90 foi estudada a implicação das populações e dos usuários na criação e na 11 gestão das AMP, como confirma esta lista bibliográfica (White, 1988; White and al., 1989; Anonymous, 1992; Wells and Ricketts, 1994; Gurung and McNeely, 1995 ; Hooten and Hatziolos, 1995 ; Horril and al., 1995; Lusigi and McNeely, 1995 ; Machlis and McNeely, 1995 ; McNeely, 1995 ; Munro and McNeely, 1995 ; Ngoile and al., 1996 ; Beaumont, 1997 ; Borrini Feyerabend and al., 1998, Byrne and al., 1998 ; Collie and al., 1998; Haymes, 1998 ; Horrill and al., 1998 ; IUCN, 1998 ; Jagannatha and al., 1998; King and Faasili, 1998 ; Rakotonindrina and al., 1998 ; Salm and al., 1998 ; Salm and Tessema, 1998 ; Jones, 1999; Oviedo and al., 1999 ; Wells and al., 1999 ; Brown and al., 2001 ; Pollnac and al., 2001 ; Shafer and Benzaken, s.d.). Para obter o apoio e o comprometimento das populações no processo de criação e na gestão das AMP, pareceu importante adaptar a gestão participativa ao contexto (UICN, 1997) e de tentar convencer os chefes locais que têm uma influência significativa sobre suas comunidades (Anonymous, 1981 ; Wolfenden and al., 1994) ; em particular, Lusigi e McNelly estudaram a maneira de desenvolver um apoio local a favor das AMP (Lusigi and McNelly, 1995). Esforços importantes de promoção e de aplicação da gestão participativa foram feitos nas AMP oeste-africanas: no PNBA (Campredon, 2000), na RDBS, em relação a todas as actividades (UNESCO, 1997), e especialmente à pesca (Diop et al, 1998), e na RBBB (Maretti and al, 1996). Os conhecimentos e os métodos tradicionais de gestão das populações, assim como os direitos consuetudinários (especialmente os direitos dos povos indígenas) de uso e propriedade, são doravante levados em consideração (Johannes and al., 1984 ; Cordel and al., 1984 ; Genolagani and al., 1984 ; Suva-South, 1997 ; Lam, 1998 ; Beltran, 2000). Alguns autores relatam que as populações locais, principalmente os proprietários tradicionais, exigem responsabilidades na gestão das AMP (Polunin and al., 1984). O envolvimento das mulheres é reconhecido como elemento importante na gestão das AMP (Astolf and McNeely, 1995), apesar de permanecer pouco estudado. De maneira geral, a análise de géneros é quase inexistente, embora haja algumas referências sobre as AMCP oeste-africanas : no concernente à gestão dos recursos naturais do Delta do Saloum (Douillard, 1989 ; Anónimo, 1996), ao tratamento e à conservação dos produtos da pesca pelas mulheres Imraguen no PNBA (CNROP, 1998) e pela mulheres da ilha de Uracane na Reserva de Biosfera do Arquipélago Bolama-Bijagós (N’Canha and al, 1994). O comprometimento e a participação dos usuários são também elementos fundamentais do conceito “MCA” (Multi-Criteria Analysis) (Brown and al. 2001) que é uma ferramenta de análise multicritérios. Esta ferramenta desenvolve um método holístico, que permite que os múltiplos usuários de uma AMP e os governantes, aparentemente em conflito, chegem a um compromisso a propósito da gestão dessa AMP. Segundo Hooten e Hatziolos, uma parceria bem sucedida deve conseguir tornar os conflitos de uso em forças de motivação para iniciativas de conservação e desenvolvimento sustentável, como foi o caso na Jamáica (Hooten and Hatziolos, 1995). Byrne considera que uma boa parceria entre o governo, as populações locais, e as outras partes interessadas, deve fundamentar-se numa repartição aceita das funções e das responsabilidades, numa igualdade de direito de voto independentemente do nível de participação ao financiamento do sistema (Byrne and al., 1998). O conceito de governação dos oceanos, que já mencionámos, reúne todos os princípios de parceria (Eichbaum and Agardy, 1995 ; Barr and al., 1998 ; Hanna, 1999 ; Costanza and al., 1999 ; Lindholm and al., 2001). 3.2.2. A necessidade de uma organização institucional Pensando que essa parceria deve concretizar-se no plano institucional pela implementação de estruturas de gestão, alguns autores insistem na necessidade de criar uma 12 Comissão Nacional para o estabelecimento de AMP, que trabalharia em colaboração com as organizações internacionais e as ONGs (WWF, FAO, UNESCO, UNDP etc.). Também insistem no facto que as populações e os usuários têm de ser representados dentro desta Comissão (Anonymous, 1981). Essa comissão deveria trabalhar na base dum programa (plano ou política) nacional ou internacional de conservação, como Klemm propôs (Klemm, 1979), e que seja reforçado pela criação de uma sub-direção da conservação marinha dependendo da direção de conservação da natureza (Soegiarto and al., 1984) ou de um Comitê consultativo como existe no « Great Barrier Reef Marine Park » (GBRMPA, 1989). É aconselhado que a implementação de tais estruturas acompanhe-se da implementação de estruturas a nível de cada AMP, às quais caberia a gestão quotidiana das AMP interessadas. É o caso da GBRMPA. Os funcionários desta estrutura devem ser informados para bem representar seu papel (Robinson and al., 1984 ; Woodley and al., 1998). Finalmente, Gordon conclui que o reforço da capacidade institucional das estruturas de gestão, acompanhado por uma transferência de tecnologia, permite uma boa gestão das AMP (Gordon and al., 1998). Guias foram elaborados para os planificadores e gestionários das AMP. Eles tratam do processo de planificação, do sistema nacional ou regional de AMP e dos princípios e técnicas específicos para a planificação e a gestão das AMP em ambientes diferentes, das ferramentas a implementar (Salm and Clark, 1984). 3.2.3. O desenvolvimento da coordenação e da cooperação nacional e regional A necessidade de implementar um procedimento de coordenação e cooperação entre várias agências na base de um método pluridiscplinar foi mencionada (Tolentino and al., 1984 ; Wells and Ricketts., 1994 ; Prospero and Harwell, 1994 ; Borrini-Feyerabend and al., 1999). A coordenação parece também necessária a nível regional (Baccar and al., 1984 ; Hooten and Hatziolos, 1995 ; Sherman, 1996 ; Salm and al., 1998 ). Com efeito, a criação e a gestão das AMP devem conter uma perspectiva regional, com vista a concentrar os esforços nos problemas específicos a cada zona, continuando todavia a incentivar os governos interessados a preservar o meio ambiente marinho. O controle da poluição, o controle e a fiscalização dos ecossistemas protegidos, necessitam uma coordenação e uma intervenção a nível regional (Baccar and al., 1984). É recomendado que a seleção das AMP nacionais e regionais e a definição de seu programa de gestão, levem em consideração a distribuição e a agregação geográficas dos recursos marinhos vulneráveis (White and al., 1984). 3.2.4. Novas modalidades de gestão e de planejamento A zonagem Quanto à gestão e à planificação das AMP, a noção de zonagem foi adoptada como base do sistema (Alcala and al., 1984 ; Cocks, 1984 ; Kelleher and al., 1984 ; Salm, 1984 ; Baldwin, 1987 ; Cossu and al., 1990 ; Prospero and Harwell, 1994 ; Bohnsack, 1996 ; Riegl and Riegl, 1996 ; Reid, 1999 ; Francour and al., 2001). A zonagem permite a separação de actividades incompatíveis, consequentemente serve para evitar conflitos de uso, e preservar algumas zonas da área marinha protegida para usos mais adequados levando em conta os objectivos ambicionados. Enquanto às AMCP oeste-africanas, uma zonagem foi realizada na RDBS (UICN, 1996), na RBABB (UICN, 2001), e a possibilidade de implementar uma no PNBA (Richard et Marico, 1998) está sendo estudada. Entre as várias perspectivas de estudo no quadro da zonagem das AMP, podemos distinguir a organização da AMP em três zonas : uma Zona Central (núcleo) de conservação estrita denominada zona de reserva integral ou zona fechada, uma Zona Tampão de acesso e 13 uso controlados (limitados), e uma Zona de Transição de acesso e uso livres (Salm, 1984 ; Cossu and al., 1990 ). Outros autores desenvolvem a noção de microparques (Thomas, 1985), criados dentro de uma AMP para alcançar objectivos de conservação específicos, autorizando no entanto actividades económicas e lúdicas em outras áreas da AMP. Um outro modelo de zonagem proposto para a região da Reserva de Biosfera de Sian Ka’an refere-se a três zonas de reserva integral (em vez de uma só), e a uma zona tampão subdividida em duas partes: uma reservada para a pesca, outra para o turismo (GutierrezCarbonell and al., 1993). De facto, pode haver várias zonas de reserva integral numa mesma AMP. Só é preciso estabelecer o esquema de zonagem na base de um processo de concertação para obter a aceitação das partes interessadas (Suman and al., 1999). O esquema adoptado deveria permitir a maximização do benefício social gerado pela AMP sob pressão do objectivo de conservação dos recursos. O conceito de "No-take Zone" O conceito de “No-take Zone” foi desenvolvido a partir da década passada. Ele reflete o mesmo princípio que o conceito de reserva integral, no qual nenhuma actividade de extração é, a princípio, autorizada (Wells and Ricketts, 1994 ; Schmidt, 1997 ; Appeldoorn and Creswell, 1998 ; Major, 1998 ; Mangel, 1998 ; Murray and al., 1999 ; Thomson, 1999 ; Pezzey and Roberts, 2000). O impacto deste conceito na pesca pesqueiras foi modelizado : ele manifesta-se através de efeitos de “spillover”, efeitos de dispersão das larvas e, de modo mais geral, através da dinâmica espacial das populações da zona de reserva integral para as zonas adjacentes (DeMarini, 1993 ; Wolanski, 1993 ; Horwood, 1998 ; Lindholm and al, 1998 ; Mangel, 1998 ; Sherbinin and Freudenberger, 1998 ; Sumaila, 1998 ; Maury and Gascuel, 1999 ; Nowlis and Roberts, 1999, Walters and al., 1999 ; Holland, 2000; Pezzey and al., 2000 ; Walters, 2000 ; Botsford and al., 2001 ; Lindholm and al, 2001 ; Sanchirico and Wilen, 2001 ; McClanahan and Mangi, s.d.). Este conceito de “No-take Zone” é geralmente aceito como esquema de planejamento e de gestão das AMP. Assim, como vemos na bibliografia, os primeiros modelos bioeconómicos refletindo relações entre as AMP e a pesca datam desta última década. O programa informático “SHADYS” (simulador haliêutico de dinâmica espacial) estará desenvolvido para avaliar os efeitos a curto prazo da AMP na pesca (Maury et Gascuel, 1999). Os sistemas de informação geográfica (SIG) estarão também usados para a gestão das AMP (Stanbury and al., 1999 ; Hartcher and Shearin, 1996 ; Halvorson and Maender, 1994), conforme o modelo do sistema que foi realizado para a RBBB (Cuq and al., 2000). O conceito de SLOSS (Single Large Or Several Small) Um debate científico surgiu a respeito da eficiência de uma AMP em relação a seu tamanho. A questão fundamental é de saber se para uma zona dada, a AMP de tamanho grande cobrindo toda a zona é tão eficiente quanto uma divisão da mesma zona em várias AMP (rede de AMP) de pequeno tamahno. Este debate conhecido com nome de SLOSS (Single Large Or Several Small) leva em consideração os objectivos, tanto de conservação quanto de desenvolvimento de actividades económicas e lúdicas na zona considerada (Soule and Simberloff, 1986 ; McNeill and Fairweather, 1993 ; Okemwa and al., 1995 ; Hooten and Hatziolos, 1995). Na realidade, o esquema mais racional depende das condições ecológicas, socio-económicas, políticas e legais que caracterizam a zona considerada. A distância optimal entre duas reservas constitui um outro tema de pesquisa (Shafer, 2001) que, porém, está pouco documentado. 14 Os guias Vários guias para a criação e a gestão das AMP foram elaborados desde o início dos anos 80 e continuam sendo (Heslinga and al.,1984 ; Salm and Clark,1984 ; Sybesma,1984 ; Foster and Lemay,1986 ; Tisdell and Broadus,1989 ; Cossu and al.,1990 ; Kelleher and al.,1992 ; Tunesi and Diviacco,1993 ; IUCN,1994 ; Lassig and al.,1994 ; Gubbay,1995 ; Horrill and al.,1995 ; Xu and al., 1995 ; Roberts, and Hawkins,1997; Almada and al.,1998 ; Carr and al.,1998; Recksiek and al.,1998; Roberts, 1998; Starr and al.,1998; Shafer,1999 ; Chiappone and Sealey,2000 ; Roberts, and Hawkins, 2000; Balgos,2001; Botsford and al.,2001; Yap,2001 ; Anonymous,s.d.). Alguns descrevem o procedimento para estabelecer legislações e estratégias de gestão (Sybesma, 1984). A prevenção e a gestão dos impactos negativos das actividades humanas A prevenção e a gestão dos impactos negativos das actividades humanas sobre o meio ambiente, em particular a poluição e as técnicas de pesca destructoras, inclusive a pesca com explosivos e a pesca por envenenamento (Thomas, 1985), fazem parte dos elementos essenciais do processo de criação de uma AMP e também de seu plano de gestão. A qualidade da água constitui assim uma preocupação forte (Woodley, 1983 ; Baldwin, 1989 ; Woodley, 1989 ; Ottesen, 1994 ; Prospero and Harwell, 1994 ; Yang and al., 1994 ; De-Silva, 1997 ; Haynes and Michalek-Wagner, 2000). O impacto da ancoragem das embarcações nas AMP (Baldwin, 1987) e também os impactos das actividades terrestres preocupam certos autores (Thomas, 1985 ; Batisse, 1990). Enquanto à prevenção da poluição oriunda de acidentes de barco, uma simulação pelo método Monte Carlo foi efectuada no GBRMP para avaliar a probabilidade de acidentes (Craik, 1985). Um código de ética para a ancoragem nos recifes (CARE4) foi elaborado para o GBRMP (Baldwin, 1987). Os conceitos de Capacidade de Carga “Carrying Capacity” das AMP (Dixon and al, 1993 ; Davis and Tisdell, 1995 ; Lim, 1998), de Limites de Mudança Aceitáveis, “Limits of Acceptable Change” (Sidaway and al., 1995), e de “Ultimate Environmental Threshold” (U.E.T.) (Kozlowski and al., 1988) apareceram nesta ocasião. Eles constituem ferramentas de controle dos impactos das diversas actividades nas AMP. As outras modalidades de gestão Outras modalidades de gestão, na qualidade de planejamento das pescas padrão, estão sendo preconizadas também além da zonagem. Trata-se do encerramento de certas zonas durante um período do ano (período de reprodução por exemplo), da alternância de abertura e encerramento de certas zonas durante períodos que podem durar mais de um ano, da definição de um nível de autorização de uso, exploração ou acesso durante uma temporada determinada, da probibição ou limitação de certos equipamentos, etc. (Alcala and al., 1984 ; Cribb, 1992). Um sistema de autorizações também pode ser instaurado. Ele deve satisfazer as necessidades das AMP interessadas e pode ter vários objectivos: determinação das responsabilidades no plano jurídico, controle de acesso e uso, colheita de informações, proteção dos recursos, resolução dos conflitos, etc. (Alder, 1993). A avaliação periódica dos sistemas de gestão Sistemas de gestão das AMP devem ser avaliados e revistos periodicamente, em particular suas metas e objectivos (Kenchington and al., 1984 ; Miguel and al., s.d.), em função da evolução das condições ambientais e socio-económicas. Um método de avaliação da eficiência das AMP e do efeito sobre essas AMP das mudanças a nível da legislação ou do 4 Code for Anchoring on the Reef 15 sistema de gestão, foi elaborado. Trata-se do método COMPARE (Criteria and Objectives for Marine Protected ARea Evaluation) (Hockey and Branch, 1997). A necessidade de ações de pesquisa e de estudos A criação de uma AMP e a implementação de um sistema de gestão eficiente necessitam anteriormente acções de pesquisa e estudos científicos multidisciplinares, consideração de aspectos socio-económicos e culturais, educação, informação e sensibilização dos usuários, participação pública, legislação adaptada, e uma fiscalização e controle eficientes (Baker, 1983 ; Poluni and Kvalvagnaes, 1983 ; Anonymous, 1983 ; Kelleher and al., 1984 ; GBRMPA5, 1984 ; Polunin and al., 1984 ; Sybesma, 1984 ; Tolentino and al., 1984 ; Cossu and al., 1990 ; Emmanuel and al., 1992 ; Fiske, 1992 ; Beckley and van der Elst, 1993 ; Prospero and Harwell, 1994 ; Rowley, 1994 ; Sald and al., 1996 ; Shafer, 1999). 3.2.5. Debates sobre o financiamento Um outro aspecto refere-se ao financiamento das AMP. Com efeito, a criação a a gestão das AMP geram custos económicos e financeiros diretos ou indiretos. A questão é saber quem deve suportar estes custos. O assunto é pouco documentado, pois só os seguintes artigos aludem a esse problema : Mitchell and Barborak, 1991 ; Anon, 1992 ; van Hof, 1992 ; Anon, 1993 ; Barzetti, 1993 ; Hooten and Hatziolos ,1995 ; Lindberg and al., 1996 ; Hough, 1998 ; Taylor and al., 1998 ; Dharmaratnea and al., 2000. No entanto, existe uma evolução nessa perspectiva, consequentemente a evolução das funções das AMP e de seus modos de gestão. Quando as organizações de conservação da natureza e os Estados eram os primeiros interessados no financiamento das AMP, os usuários cujas actividades eram restrictas ou excluídas eram considerados ou consideravam-se como vítimas. Sua indemnização era até imaginada para o sucesso das AMP. Até agora, a indemnização dos usuários “vítimas” da criação de uma AMP pode ser uma solução (Breen, 1998), tudo depende do contexto. Porém, é imprescindível implementar estratégias de financiamento a longo prazo (Mitchell and Barborak, 1991). Uma AMP, para ser eficiente, deve ter capacidade para gerar uma renda que, em volta, servirá para sua gestão (Van den Hof, 1992) : é o princípio do auto-financiamento das AMP. Quando está claro que uma AMP tem um impacto económico positivo para os usuários, (pesca, turismo, etc.), esses devem então assumir seu financiamento. É o princípio de “usuários pagadores” (Anon, 1992) ou de “beneficiários pagadores”. Um exemplo de sucesso da participação dos usuários ao financiamento de AMP na Jamaica foi mencionado (Hooten and Hatziolos, 1995). Uma parceria com o sector privativo permite também financiar as AMP (Taylor and al., 1998). O sector do turismo em particular deve participar a esse financiamento (Dharmaratnea and al., 2000). O ecoturismo pode gerar recursos financeiros para apoiar a gestão das AMP(Lindberg and al., 1996). A criação de AMP particulares também é possível. Iniciativas nesta perspectiva foram estudadas (Brown and al., 1999). Casos de AMP pertencendo a comunidades aldeãs são mencionadas na literatura (King and al ; 1999), assim como a possibilidade de uma parceria entre sector público e privativo na gestão das AMP (Thackway and Olsson, 1999). 5 Great Barrier Reef Marine Park Autority 16 4. EVOLUÇÃO DAS POLÍTICAS E DA LEI As AMP eram geralmente criadas sem uma verdadeira política nacional neste campo, nem legislação apropriada. Esta situação gerava muitos problemas que dificultavam a realização dos objectivos ambicionados. A literatura geral mostra que uma política apropriada há necessariamente de apoiar-se na definição clara de um quadro legislativo e regulamentar. Assim, através deste levantamento bibliográfico, constatamos uma evolução tanto a nível das políticas, quanto a nível da lei, em escala regional, bem como nacional ou internacional. Esta evolução pode ser analisada distinguindo os dois períodos. 4.1.O período de 1970 a 1980 4.1.1. Definição de políticas e legislações nacionais As primeiras políticas e legislações relativas à proteção e conservação do meio ambiente terrestre e marinho foram definidas neste período. Os Estados Unidos, conforme nossa bibliografia, aparecem como os pioneiros neste ramo. Com efeito, o período 1970-1980 foi caracterizado nos EUA por uma real vontade de proteção e conservação marinha e pela definição neste sentido de um novo quadro legislativo (Curlin, 1980). Uma lei federal de 1899 já protegia o meio ambiente marinho americano contra a poluição, mas ela evoluiu para dar luz em 1972 a uma outra lei denominada “Ocean Dumping Act” que inclui de modo mais geral as preocupações em termos de proteção, de pesquisa e de sanctuários marinhos nos EUA (Walsh, 1981 ; OCZM6, 1982). Esta lei federal era reforçada por outras disposições legislativas e regulamentares a nível dos diferentes Estados (Lambrechts, 1980). Porém, o início das negociações internacionais em 1973 através das conferências das Nações Unidas sobre o direito maritimo origem no mesmo ano da Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição pelos Navios (MARPOL), criou nos EUA um sentimento nacionalista a favor do desenvolvimento económico, em despeito de certas medidas de proteção do meio ambiente marinho (Curlin, 1980). Apesar disso, a partir de 1977, numerosos programas de gestão costeira serão implementados por certos Estados americanos, tais o Oregon, a Califórnia, etc. (Knecht, 1978). A Austrália tinha também definido na sua lei de 1976 relativa à pesca (The Fisheries Act 1976), os tipos de reservas marinhas e de outros meios de conservação e de gestão do litoral e das áreas húmidas. Outros Estados, como a Índia (Rajyalakshmi, 1979), os Philipinos (Anonymous, 1981) tinham também elaborado sua próprias políticas e legislações em termos de proteção e de conservação do meio ambiente marinho incluindo as vezes disposições relativas às AMP (Dupuy, 1980). Podemos notar que as diferentes legislações nacionais relativas às AMP que existiam durante este período copiavam geralmente aquelas organisando os parques terrestres (Du Saussay, 1980). Consequentemente, elas eram, na maioria dos casos, inadaptadas (Creze et Jegou, 1980). Esforços foram então feitos por certos Estados para encontrar soluções muito mais adaptadas ao meio marítimo (Du Saussay, 1980). Porém, nas legislações de certos países, tais como a França, o conceito de AMP não existia, mesmo que leis relativas à conservação da natureza em termos gerais fossem elaboradas (Beurier et Le-Morvan, 1980 ; Prieur, 1980). 4.1.2. A assinatura de convenções internacionais 6 Office of Coastal Zonze Management 17 No plano internacional, a UNESCO tinha organizado desde 1968 uma conferência sobre a biosfera, que gerou o conceito de reserva de biosfera cujo programa foi efectivamente lançado em 1970. No começo, este conceito não foi aplicado às zonas marítimas, e sim ao meio terrestre. Só alguns anos depois nasceram as primeiras reservas marinhas de biosfera. De maneira geral, o desenvolvimento e a implantação do conceito de reserva de biosfera foram analisados por Batisse (Batisse, 1990). Uma outra convenção, mais conhecida sob o nome de “Convenção de Ramsar”, foi assinada em Ramsar,no Irã, em 1971. Ela define o conceito de Zonas Húmidas assim como os princípios de conservação dessas zonas, que interessam parcialmente os meios costeiros e litorais, e vigora em 1975. Essas duas convenções (UNESCO and Ramsar) têm actualmente um papel importante na implementação dos programas de AMP (Anonymous, 1997). 4.1.3. A elaboração de políticas e de convenções regionais A nível regional, um plano de ação para o mar Mediterrâneo foi lançado em 1975 e chegou à adopção em 1976 de uma convenção sobre a poluição no Mediterrâneo, mais conhecido sob o nome de “Convenção de Barcelona” que aplicou-se (entré en vigueur) em 1978. Para completar esta convenção, tratados relativos aos parques marinhos foram implementados mais tarde (Ress, 1978). Em dezembro de 1979 houve em Manilla uma oficina sobre o desenvolvimento e a gestão das zonas costeiras da Ásia e do Pacífico (Hehanussa, 1981). Este período foi então caracterizado, além das iniciativas nacionais, por processos internacionais e regionais em termos de conservação do meio ambiente marinho. 4.2.O período 1980-2002 4.2.1. Continuação da internacionalização e da regionalização das políticas e das legislações A dinâmica de internacionalização e de regionalização das políticas e dos quadros regulamentares em termos de proteção e de conservação do meio ambiente marinho lançada no período 1970-80 continuará no período 1980-2002. Será reforçada pelos esforços de generalização na implementação de políticas similares a nível nacional, incluindo objectivos de criação de AMP. Ao contrário das épocas anteriores, as políticas e legislações nacionais, regionais e internacionais relativas ao meio marítimo voltarão-se para preocupações de gestão em vez de somente dirigir-se para a proteção e a conservação do ambiente marinho. A terceira conferência sobre os parques nacionais e as reservas do Pacífico Sul aconteceu em junho de 1985 (Anon, 1985). Ao mesmo momento, uma conferência sobre a gestão e o desenvolvimento do ambiente costeiro e marítimo na África do Leste, acontecia em Nairobi: o acto final desta conferência incluía um protócolo para a criação de áreas protegidas (Anon, 1985). Quanto ao Conseil de l’Europe (Conselho da Europa), ele abrigava uma “Divisão da Proteção e da gestão do meio ambiente” (« Division de la Protection et de la Gestion de l’Environnement ») encarregada de uma rede de reservas marinhas biogenéticas no Mediterrâneo, no Mar do Norte, e no mar Báltico. Em 1995, o capítulo 17 da agenda 21 das Nações Unidas foi estendido ao Mediterrâneo (Vallega, 1995), à Autrália, e ao Canada (Haward and Van der Zwaag, 1995). A convenção sobre a biodiversidade Marinha e Costeira mais conhecida sob o nome de “Mandato de Jakarta” foi adoptada em novembro de 1995 (Goote, 1997 ; Fontaubert and al., 1996). O tratado do Antárctico, chamado tratado de Madrid de 1991 (Joyner, 1996), vigorou em janeiro de 1998 ; ele inclui um protocolo sobre a proteção do meio ambiente que torna o Antarctico uma reserva (Anon, 1998). De modo geral, os instrumentos e quadros legais relativos às AMP são estudados na literatura (Gjerde and Ong, 1993 ; Agardy, 1997 ; Phillips and al., 1998). Todos esses 18 instrumentos revelam a importância internacional atribuída à gestão das zonas marinhas e costeiras e favorecem a cooperação e a coordenação internacionais e regionais neste campo. 4.2.2. Generalização das políticas e das legislações nacionais Simultaneamente a essas disposições regionais, vários Estados, com o apoio, as vezes, das ONGs e das organizações internacionais, implementaram legislações e programas nacionais de conservação do ambiente marinhos, adaptados a essas disposições internacionais e regionais. A Indonésia, por exemplo, decretou uma lei em 1982 (Environmental Management Act : EMA) que cobre todos os aspectos ligados à gestão do meio ambiente neste país (Kusuma-Atnadja and Purwaka, 1996). Com o apoio do PNUE, a Tanzania definiu em 1989 um plano de acção para a proteção, a gestão e o desenvolvimento de seu ambiente marinho e costeiro (UNEP7, 1989) que deu luz em 1994 a uma lei sobre as reservas e parques marinhos deste país (Andrews, 1997) ; uma estrutura encarregada de estabelecer e criar as AMP neste país foi fundada em 1996 (Rumisha, 1998). A Mauritânia implementou uma política e uma legislação para a proteção e a valorização do Banc d’Arguin (Matthes and al., 1990). Madagascar definiu também desde 1996 um plano nacional ambiental que inclui um programa de gestão costeira integrada (Arico and Rakotoary, 1997). A importância da implementação das políticas e dos quadros regulamentares relativos à AMP apareceu depois dos numerosos problemas de gestão das AMP, devidos a falhas neste campo (Menon, 1979 ; Crèze et Jegou, 1980 ; Dupuy, 1980 ; Gibson, 1988). A necessidade de levar em consideração os direitos consuetudinários e de uso territorial na definição de políticas e legislações em termos de AMP foi mencionada na literatura (Cordell and al., 1984 ; Thomas, 1985 ; Garcia, 1992 ; Lam, 1998). No concernente às AMP oeste-africanas, os programas e legislações tomaram a forma de planos de ordenamento do litoral ou da costa: assim, o plano de ordenamento do litoral mauritano (Grissac, 1995), seguindo o plano director do Banc D’Arguin (Verschuren, 1984); assim o planejamento da zona costeira bissau-guineense (Maretti et al, 1992) antecipado pelo plano da RBBB (Limoges et al, 1991); assim o plano de gestão da RBDS (UICN, 1999). A gestão integrada é o ponto acentuado, seja a nível da RBBB (De Castro, 1991) ou da RBDS (UICN, 1996). 5. CONCLUSÃO O entusiasmo para o conceito de área marinha protegida é comprovado pela análise bibliométrica 8: se contabilisemos somente uma centena de referências para o período anterior a 1969, estas são superiores a 200 para o período 1970-1980, atingem quase o milhar para o período 1980-1989 e ultrapassam 3000 para o período 1990-2002. Mas a bibliometria confirma também a evolução temática: no período 1990-2002, os descriptores “ciências sociais”, “política de desenvolvimento”, “política ambiental”, “costumes”, “aspectos jurídicos”, “história”, “participação social”, representam xx% do total das citações dos descriptores, enquanto só representavam yy% para o período 1980-89 e ww% no período anterior a 1980. A literatura anterior a 1980 colocava em primeiro lugar as funções de pesquisa científica, de conservação e de educação atribuidas às AMP. Porém, a multiplicação dos conflitos entre 7 United Nations Environment Programme (Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente) Cf. « Bibliografia sobre as áreas marinhas protegidas : metodologia et elementos de análise bibliométrica. Referênias gerais e oeste-africanas » por Cheikh Ndiaye, Claire Bassène, Jean-Yves Weigel. Documento do Projecto CONSDEV (Ref :CONSDEV Document de travail/WP1/01). 8 19 usuários e fiscais, e até a lógica conflitual que deles decorreu, dificultaram o sucesso desses objectivos. Especialmente o objectivo de conservação, pois as regras estabelecidas na gestão não eram respeitadas pelos usuários ou os moradores . Esses fracassos levaram a uma reflexão sobre uma mudança de estratégia, com vista a melhor satisfazer as preocupações dos usuários nas funções atribuidas às AMP. Constatada na literatura a partir dos anos 80, a ampliação do leque de funções das AMP decorre então da necessidade de incluir as necessidades humanas no conceito de AMP, sendo esta integração a única maneira de resolver os conflitos entre a AMP e as actividades económicas. Na prática, esta integração tomou duas formas : especialização das AMP, e multifuncionalização das AMP. No primeiro caso, tratava-se de criar AMP dedicadas à conservação da biodiversidade e dos habitats, AMP para o desenvolvimento da pesca e a proteção dos recursos marítimos, AMP para turismo e educação, etc. (Seret et Sire, 1999). No segundo caso, tratava-se de separar actividades supostas incompatíveis, reservando zonas para a conservação e para actividades económicas e recreativas tais como o turismo (Anonyme,1981) e a pesca desportiva (Fujiishi, 1985), ou de elaborar um sistema de gestão permitindo que a AMP providencie uma compatibilidade de todas essas funções num só espaço. Assim, desde os anos 80, a multifuncionalidade das AMP foi levada em consideração. A conciliação das diversas funções das áreas marinhas protegidas foi possível graças a uma reorientação das actividades de pesquisa: a atenção exclusivamente focada na conservação dirigiu-se para um objectivo mais amplo de gestão do desenvolvimento. Este esforço de pesquisa estabeleceu que, com um procedimento adequado de criação das AMP e de elaboração dos sistemas de gestão, essas funções podem reforçar-se mutuamente. De modo geral, a literatura mostra que as áreas marinhas protegidas não são mais unicamente consideradas como ferramentas de exclusão, mas podem ser ferramentas de gestão das actividades económicas. Sua gestão, centralizada no início, está agora baseada no princípio de parceria, evolução que hoje favorece a possibilidade de uma pluri-actividade dentro das áreas marinhas protegidas, sem comprometer a função de conservação. A literatura revela também, desde o início dos anos 70, a necessária inserção das áreas marinhas protegidas no quadro de uma política nacional ou regional, na medida em que elas representam elementos fundamentais de gestão das zonas costeiras e marítimas. Esta inserção concretizou-se primeiro com a elaboração de dispositivos legislativos e regulamentares especificamente nacionais ; depois, com a assinatura de convenções internacionais, e com a elaboração de políticas e de convenções regionais. A partir dos anos 80, generaliza-se a elaboração e a implementação de legislações e políticas nacionais marítimas e costeiras de conservação ; a internacionalização e a regionalização das políticas e das legislações continua, especialmente através da transcrição nas legislações nacionais das disposições ambientais internacionais e regionais. Mas de maneira geral, o levantamento bibliográfico revela também falhas, entre as quais, primeiro, o conhecimento global dos ecossistemas das áreas marinhas protegidas, as relações de géneros e sua evolução, e também as relações demográficas e socio-económicas entre área marinha protegida e periferia, os modos de regulação do acesso aos recursos renováveis, e, enfim, as políticas públicas. A nível das três AMCP oeste-africanas (Banc d’Arguin, Delta do Saloum, Arquipélago dos Bijagós), só um conhecimento fragmentado dos ecossistemas está disponível. Com efeito, só existe uma série de considerações sobre um conjunto de recursos renováveis que não são ou são pouco relacionados entre si, o que não permite uma apreciação suficiente do estado e da evolução dos ecossistemas na sua globalidade. Como exemplo, a literatura sobre o Banc D’Arguin divulga uma série de observações científicas e de sínteses sectoriais relativas à avifauna, às pastagens, aos recursos haliêuticos, à macrofauna bêntica. 20 Sobre o Delta do Saloum, existe uma série de observações científicas e de sínteses sectoriais relativas aos povoamentos de peixes e recursos aquáticos, à avifauna, ao mangal, e aos recursos agrícolas. Sobre o Arquipélago dos Bijagós, uma série de observações científicas ou de sínteses sectoriais relativas à agro-silvicultura e ao coberto florestal, aos recursos agrícolas, à biodiversidade, aos recursos haliêuticos, à avifauna. As relações de género são negligenciadas pela bibliografia relativa às áreas marinhas protegidas, seja esta geral ou oeste-africana. Porém, na literatura não-oficial é mencionado o papel preponderante tradicionalmente atribuído às mulheres em termos de exploração dos recursos (por exemplo a coleta de ostras e conchas no Delta do Saloum ou no Arquipélago dos Bijagós) e de agricultura (por exemplo a rizicultura no Delta do Saloum), em termos de valorização dos recursos (por exemplo, a transformação e a comercialização do peixe no Banc d’Arguin, a transformação e comercialização dos produtos agrícolas ou da agro-silvicultura no Arquipélago dos Bijagós). Esta falta de conhecimento das relações de género prejudica particularmente a compreênsão das dinâmicas de exploração e valorização dos recursos renováveis das AMP. As relações entre áreas marinhas protegidas e periferias são muito pouco abordadas na literatura, especialmente oeste-africana, que geralmente tende a considerar as AMP oesteafricanas como entidades autónomas, pelo menos em termos socio-económico(s). Porém, os estudos dos historiadores sobre o povoamento antigo e recente das AMP oeste-africanas salientam as relações que ligam entre si residentes e não residentes, por exemplo através das relações tributárias entre os Imraguen pescadores do Banc d’Arguin e as linhagens moiras, às vezes instaladas longe do PNBA, ou através da importância da volta agrícola sazonal de migrantes de Dakar no Delta do Saloum ou das migrações de pesca Niominkas (Delta do Saloum), guineenses, ganenses, ou sierra-leonenses, para o Arquipélago dos Bijagós. Vários relatórios mencionam a pesca pirata no Banc d’Arguin, por parte da pesca semi-industrial ou artisanal Guet N’Dariana (senegalesa), o contrabando no Delta do Saloum com a Gambia, etc. Fraqueza da bibliografia relativa às relações entre as AMP e suas periferias, enquanto os movimentos de população estão modificando, entre outros, as modalidades de regulação do acesso, em particular ao Arquipélago dos Bijagós. Quanto às condições de acesso aos recursos renováveis e de regulação desse acesso, elas aparecem somente em algumas referências bibliográficas. Porém, só com o conhecimento desses modos de regulação do acesso é possível avaliar a realidade de uma gestão patrimonial dos recursos renováveis nas AMCP consideradas. A aquisição desse conhecimento necessita anteriormente um esforço de pesquisa sobre as estratégias dos residentes e dos mecanismos de decisão a nível local; ela necessita também levantamento das diversas formas de territorialidade e uma análise das dinâmicas fundiárias, inclusive marítimas. As primeiras observações já realizadas relativamente às AMCP oeste-africanas confirmam a importância de considerar os espaços em sua multifuncionalidade, ou seja levando em consideração todas as suas formas de utilização (exploração, extração, conservação: pesca, pastoralismo, proteção de ecossistemas, etc.). A literatura sobre as AMCP oeste-africanas não se dedica ao estudo das políticas públicas e sua coerência com a conciliação dos objectivos de conservação, desenvolvimento económico, e justiça social. Isso, embora referências bibliográficas jurídicas, ou de ciências políticas, em relação a gestão das pesqueiras no Mediterrâneo Occidental, confirmem a importância de seguir várias etapas no raciocino: examinar o nível de assimilação do conceito de desenvolvimento sustentável pelas instituições públicas nacionais, estudar a política dos estados como articulação entre recomendações internacionais e pressões nacionais, analisar os 21 mecanismos de decisão a nível nacional e aplicação da decentralização dos poderes, processo porém generalizado na Africa do Oeste. 22