Após a realização de cada uma das actividades e nova aplicação
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Após a realização de cada uma das actividades e nova aplicação
Revista de Educação, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 113 - 155 A ABORDAGEM DA BIODIVERSIDADE NO ENSINO SECUNDÁRIO: UMA PROPOSTA DE INTERLIGAÇÃO ENTRE TRABALHO DE CAMPO E LABORATORIAL ATRAVÉS DO ESTUDO DOS ARTRÓPODES Ana Isabel Rebelo Escola Secundária com 3.º Ciclo de Miraflores Eugénia Ribeiro Departamento de Biologia Animal/Centro de Biologia Ambiental Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa INTRODUÇÃO No âmbito do Mestrado em Ciências da Terra e da Vida para o Ensino, foi estudada a comunidade de artrópodes de diferentes espaços verdes de Lisboa, com o objectivo de conhecer a influência de alguns factores ambientais sobre a diversidade destes seres vivos nos ecossistemas urbanos (Rebelo, 2006). Verificou-se que o estudo deste grupo poderá ser dinamizado com alunos do Ensino Secundário, desenvolvendo-se, assim, um conjunto de actividades a ser realizado neste nível de ensino. Pretende-se que estas actividades sejam uma introdução à metodologia de trabalho em Ecologia, levando os alunos a compreender que os estudos ecológicos implicam, frequentemente, a recolha de dados do meio e posterior análise, o que engloba técnicas laboratoriais e/ou métodos quantitativos. Assim, procura-se conjugar de forma integrada o trabalho de campo e de laboratório. QUADRO DE REFERÊNCIA TEÓRICO O ensino da Ciência deve implicar as próprias metodologias de construção do conhecimento científico, levando o aluno a envolver-se activamente na construção do seu conhecimento, com recurso aos próprios processos de trabalho científico (Almeida, 2001). A utilização dos procedimentos científicos para a investigação de um fenómeno permite, 113 simultaneamente, apreender conceitos científicos e compreender a natureza da Ciência (Hodson, 2000). O conceito de trabalho prático tem vindo a ser encarado de diferentes formas. Mesmo entre Biólogos não existe uma opinião unânime (Veríssimo & Ribeiro, 2000). Segundo Hodson (1994), um trabalho prático é qualquer actividade em que os alunos estejam implicados de uma forma activa, realizando a sua aprendizagem por experiência directa. As aulas práticas de Biologia são, muitas vezes, associadas à realização de trabalhos laboratoriais, que se caracterizam pela utilização de materiais de laboratório (Veríssimo & Ribeiro, 2000). Estas actividades permitem alcançar objectivos dos domínios dos procedimentos, das metodologias, dos conceitos e das atitudes, mas tudo depende do modo como são implementadas (Dourado, 2006). Frequentemente, têm um carácter meramente ilustrativo, demonstrando conteúdos trabalhados teoricamente, e apresentam uma reduzida ligação com as vivências dos alunos (Dourado, 2000; Marques, 2005). A menor concretização de trabalhos de natureza investigativa prende-se, nomeadamente, com o aumento do grau de incerteza em relação aos resultados obtidos, maiores exigências em termos de tempo e preparação, bem como maiores dificuldades ao nível do controlo dos alunos, devido à sua maior autonomia (Marques, 2005). As saídas de campo, consideradas neste trabalho como deslocações dos alunos ao exterior para a realização de actividades de observação e de colheita de dados (Lock, 1998), são efectuadas, em geral, com pouca frequência. Isto pode dever-se, quer a questões relacionadas com a organização das escolas ou dos programas curriculares, quer a motivos associados aos próprios professores e/ou alunos (Almeida, 1996; Dourado, 2006). Contudo, os trabalhos de campo possibilitam o desenvolvimento de competências de diferentes níveis, algumas das quais semelhantes aos trabalhos de laboratório, permitindo uma maior aproximação da Escola à “realidade” (Lock, 1998; Ribeiro & Veríssimo, 2000; Dourado, 2006). Além disso, o “campo” pode ser o próprio recinto escolar, cujas potencialidades são frequentemente esquecidas (Lock, 1998; Dourado, 2001, 2006). Assim, é igualmente importante a organização destas actividades, que não devem ser encaradas como meras estratégias pontuais ou lúdicas, mas que devem prolongar-se antes e depois da sua realização. Apesar de os trabalhos de campo serem muitas vezes considerados actividades isoladas, devem ser integrados com trabalhos laboratoriais. O trabalho laboratorial permite a análise dos elementos recolhidos no campo e, simultaneamente, influencia as actividades a realizar posteriormente nesse meio. Deste modo, alguns autores defendem que estes dois trabalhos devem ser centrados num problema global, estudado ao longo de diferentes actividades interdependentes, possibilitando uma visão globalizante das Ciências (Dourado, 2001, 2006). Além disso, os fenómenos estudados pelas Ciências da Terra e da Vida têm a particularidade de, com frequência, não poderem ser reproduzíveis em laboratório, sendo sempre necessário o contacto com o meio (Orange, citado em Dourado, 2006). Em particular, ao nível da Ecologia, é através da realização de trabalhos de campo que se torna possível levar os alunos a compreender a complexidade das interacções existentes entre os seres vivos e o meio (Lock, 1998), podendo estes trabalhos ser integrados com análises laboratoriais, para uma interpretação rigorosa dos elementos recolhidos. 114 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 Acerca do conceito de problema, adopta-se a perspectiva de Almeida (2001), segundo a qual um problema é uma questão que pode ter várias soluções possíveis e cuja resposta terá de ser construída pelo próprio sujeito. Para tal, é necessário definir e implantar um método de trabalho adequado. Em termos de concretização, a integração entre trabalho de campo e trabalho laboratorial desenvolve-se segundo três fases: (a) preparação das actividades; (b) realização do trabalho de campo e de laboratório; (c) tratamento e interpretação dos resultados obtidos. No entanto, a maioria das experiências práticas descritas no âmbito deste quadro conceptual emerge da Geologia. Os próprios professores reconhecem a importância da integração, mas confrontam-se com dificuldades na sua concretização, uma vez que não se limita apenas à recolha de elementos para uma análise ilustrativa em laboratório, devendo igualmente ter um carácter investigativo e reflexivo (Dourado, 2006; Nunes & Dourado, 2009). Na disciplina de Biologia e Geologia, que abrange o 10.º e 11.º anos, do Curso de Ciências e Tecnologia, a importância do trabalho prático, tal como definido por Hodson (1994), encontra-se bem patente no programa, pretendendo-se uma interligação efectiva entre as dimensões teórica e prática (Marques, 2005). A componente de Biologia desta disciplina assenta na compreensão da dualidade – diversidade versus unidade da vida. Ao nível do 10.º ano de escolaridade, a biodiversidade está explicitamente presente no módulo inicial ("Diversidade na Biosfera") e, no 11.º ano, de forma implícita, na unidade 8 ("Sistemática dos Seres Vivos"). Como conteúdo procedimental, sugere-se que, em ambos os casos, sejam realizadas actividades de identificação de seres vivos, com recurso, nomeadamente, a chaves dicotómicas simples (Mendes, Rebelo & Pinheiro, 2001; Mendes, Rebelo & Pinheiro, 2003). Analisando-se o modo como estas orientações foram incorporadas nos manuais escolares, verifica-se que as sugestões fornecidas são, geralmente, vagas e, por vezes, sem qualquer referência a saídas de campo, sendo da responsabilidade do professor a selecção da estratégia a utilizar. Nestes níveis de escolaridade, um trabalho a realizar para a abordagem da biodiversidade e dos factores que a influenciam poderá ser o estudo da comunidade de artrópodes de espaços verdes da própria escola ou das suas imediações. Saliente-se que a ligação entre o objecto de estudo e o quotidiano dos alunos é fundamental para a promoção de aprendizagens significativas (Pedrosa, 2001). Assim sendo, o facto de contactarem no seu dia-a-dia com os artrópodes, poderá constituir um factor importante para promover o envolvimento emocional dos alunos nas actividades, estimulando a sua curiosidade. Para além do mais, os artrópodes podem estar presentes nos ecossistemas urbanos com uma elevada abundância e diversidade (McIntyre, 2000). Relativamente ao estudo dos artrópodes, os manuais escolares apresentam como sugestão, normalmente, a análise de amostras de solo, com observação microscópica dos seres vivos presentes. Este objecto de estudo tem sido igualmente defendido por diferentes autores (Johnson & Catley, 2009). No entanto, a fauna edáfica é, geralmente, de dimensões muito reduzidas, o que dificulta a sua classificação, e o facto de nem sempre ser possível observar RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 115 uma diversidade significativa de seres vivos pode representar um elemento de desmotivação de alunos e professores. A utilização de outro tipo de métodos de colheita, como armadilhas de queda e armadilhas de água, permite a captura de seres vivos de maiores dimensões, facilmente observáveis com uma lupa binocular e que correspondem igualmente a uma maior diversidade de formas. A utilização destas armadilhas no ensino das Ciências já foi proposta por outros autores (Richardson & Hari, 2008), mas, ao nível do Ensino Secundário, considera-se que pode ser realizado um trabalho mais abrangente, conjugando-se diferentes armadilhas e analisando-se a abundância e a diversidade das comunidades de artrópodes de locais com características distintas. Deste modo, procedeu-se à planificação da estratégia a desenvolver, de carácter investigativo, e à preparação dos materiais necessários, tanto para o aluno, como para o professor. Com o objectivo de verificar a receptividade dos alunos a este objecto de estudo e a esta metodologia de trabalho, procedeu-se, posteriormente, à realização das actividades em três turmas do ensino secundário, recorrendo-se a um questionário pós-actividade para aferição dos conhecimentos adquiridos. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO O trabalho científico do mestrado foi realizado em cinco espaços verdes de Lisboa, recorrendo-se a diferentes métodos de captura (armadilhas de água amarelas, armadilhas de água azuis, armadilhas de queda, rede de batimento e análises de solo), aplicados durante cerca de sete meses. Verificou-se que as capturas efectuadas variaram ao longo do tempo de estudo e em função do jardim considerado e do método de captura aplicado. Para além do mais, observou-se que o microclima e as características do solo e da vegetação terão uma maior influência sobre a diversidade e abundância de artrópodes do que as dimensões do espaço verde ou a distância ao centro urbano (Rebelo, 2006). Assim sendo, propõe-se o estudo comparativo entre locais com características diferentes, em termos de vegetação, presença humana, solo ou disponibilidade de água. O problema global consiste em conhecer a influência de um determinado factor ambiental (ou outro) na comunidade de artrópodes existente. A estratégia desenvolve-se ao longo de cinco etapas: (a) realização de uma actividade de introdução aos artrópodes e definição do problema em estudo; (b) selecção dos locais de estudo e recolha de dados sobre os mesmos; (c) montagem e monitorização das armadilhas; (d) classificação dos exemplares capturados; e (e) tratamento e interpretação dos dados obtidos. No planeamento desta estratégia, teve-se em conta a importância de envolver os alunos em todas as etapas e de promover o trabalho cooperativo (Almeida, 2001; Pedrosa, 2001). Considerou-se também importante desenvolver uma actividade inicial sobre este grupo de seres vivos, pois a compreensão dos trabalhos práticos e a interpretação adequada dos resultados exigem o domínio de uma base teórica (Marques, 2005). 116 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 A) ORGANIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA DIDÁCTICA Como conhecimentos prévios, requer-se que os alunos conheçam o sistema de classificação hierárquica de Lineu, distinguindo as diferentes categorias taxonómicas e compreendendo as regras gerais de nomenclatura. Uma vez que este assunto só é objecto de estudo ao nível do 11.º ano, o professor deve abordar estes conteúdos em termos gerais, no caso do 10.º ano, antes da realização do trabalho. É apresentada, seguidamente, uma descrição geral das diferentes actividades, encontrando-se em anexo os materiais que devem ser fornecidos aos alunos, bem como sugestões para o professor. Essas informações pretendem ser uma possível orientação para o trabalho a ser desenvolvido nas aulas. Sugere-se a constituição de seis grupos de trabalho, tendo em conta o número proposto de locais de estudo e de métodos de captura a aplicar, que devem manter-se ao longo das diferentes etapas. Tal como defendido pelo construtivismo social de Vygostsky (Pires, 2001), esses grupos devem ser heterogéneos. A actividade inicial é de carácter introdutório, tendo como objectivos identificar as ideias prévias dos alunos sobre os artrópodes e dar-lhes a conhecer as suas características gerais, os ciclos de vida, a abundância e os métodos de captura. Para tal, sugere-se que, nos pequenos grupos, se aplique a ficha de trabalho presente no Anexo I (Ficha 1 – Quem são os artrópodes?), intercalada de discussões gerais. Esta ficha engloba um conjunto de exercícios que implica a interpretação de figuras e gráficos, e está elaborada de forma a permitir que os alunos construam as suas respostas com base na análise dos dados fornecidos. No final, é introduzido o problema em estudo e é igualmente planificada com os alunos a metodologia de trabalho de campo a adoptar. A etapa seguinte implica a escolha dos locais onde irá ser efectuada a colheita. Sugere-se o estudo comparativo de duas zonas com características diferentes, por exemplo, em termos de cobertura vegetal, área total ou grau de perturbação causada pelo Homem. É de salientar que esses dois locais não deverão ser excessivamente próximos. Após a selecção, em conjunto com os alunos, das zonas a estudar, deve-se proceder à recolha de dados referentes a alguns parâmetros ambientais, sugerindo-se o preenchimento de uma grelha semelhante à do Anexo II (Ficha 2 – Analisando as condições ambientais), de modo a que os alunos identifiquem as variáveis envolvidas e elaborem uma hipótese fundamentada sobre o local onde poderá existir uma maior diversidade e abundância. Existe uma elevada variedade de métodos de captura de artrópodes, tendo-se seleccionado as armadilhas de queda e as armadilhas de água pela sua eficácia, facilidade de montagem e reduzido custo. O procedimento deve ser definido pelos alunos, com a orientação do professor, propondo-se uma análise prévia mais pormenorizada do modo de funcionamento das armadilhas. Posteriormente, recomenda-se a montagem, em cada um dos locais, de três tipos de armadilhas: armadilhas de água amarelas (Grupos A), armadilhas de água azuis (Grupos B) e armadilhas de queda (Grupos C). Cada grupo deve ficar responsável por um determinado tipo RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 117 de armadilhas de um dos locais. No Anexo III, encontra-se a descrição de um possível procedimento (Ficha 3 – Vamos à montagem!). Durante o intervalo de tempo em que as armadilhas se encontram activas, os alunos devem monitorizá-las e registar as alterações verificadas no local, procedendo-se, posteriormente, à colheita dos animais capturados. A classificação dos espécimens deve ser efectuada com recurso a chaves dicotómicas, tendo sido elaborada para os alunos uma ficha de orientação que se encontra no Anexo IV (Ficha 4 – Estás a vê-los?). A fase seguinte corresponde ao tratamento dos dados recolhidos sobre a abundância dos diferentes grupos de artrópodes, o que implica a determinação de um índice de diversidade (índice de Shannon-Wiener) para comparação dos diferentes locais. Apesar de este índice ter sido estabelecido para dados relativos a espécies, também é por vezes utilizado para outros grupos taxonómicos. Para além da organização dos dados, os alunos devem, igualmente, proceder à sua interpretação, elaborando hipóteses explicativas sobre as semelhanças ou diferenças verificadas, quer entre os três tipos de armadilhas, quer entre os dois locais. Quanto a este último ponto, deve ser analisada a hipótese colocada inicialmente em relação ao local com uma maior diversidade e/ou abundância. No Anexo V, encontra-se uma possível ficha de tratamento dos resultados (Ficha 4 – Números e mais números...). Tendo em conta os resultados obtidos, poderá ser importante uma nova deslocação aos locais, para uma reanálise das características ambientais. Deve ser, igualmente, revista a questão global, referente à influência dos factores do meio nas comunidades de artrópodes. B) CONCRETIZAÇÃO DA ESTRATÉGIA No ano lectivo de 2004/05, foram concretizadas as etapas a), b), c) e d), utilizando-se os materiais dos Anexos I e IV, em três turmas do ensino secundário. Foi abrangido um total de 67 alunos, sendo duas turmas do 10.º ano de escolaridade e uma do 12.º ano. Assim, realizou-se a actividade inicial sobre as características gerais dos artrópodes, seguindo-se a colheita de espécimens em armadilhas de água e de queda e, finalmente, a sua classificação de acordo com as chaves dicotómicas. Foi, igualmente, construído um questionário para aferição das aprendizagens efectuadas, o qual foi aplicado cerca de duas semanas após a realização das actividades (Anexo VI - Questionário). O questionário, que incluía perguntas sobre os artrópodes e métodos de captura, era constituído por seis questões de resposta fechada, três das quais a justificar. No final, encontrava-se uma questão de resposta aberta para que os alunos expressassem livremente a sua opinião sobre as actividades realizadas. 118 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 À excepção da última questão, as respostas obtidas foram classificadas como: (a) correctas, se a resposta e respectiva justificação (caso existisse) estivessem completamente certas; (b) incompletas, se os alunos não justificassem a sua resposta, ou se justificassem de forma incompleta/errada; e (c) incorrectas, se a resposta dos alunos estivesse errada. A resposta final foi apenas analisada de um ponto de vista qualitativo. RESULTADOS Os alunos participaram com interesse e curiosidade nas actividades desenvolvidas, tendo colocado diversas questões sobre os seres vivos em estudo, de acordo com os seus conhecimentos prévios e as experiências que tiveram com este grupo de animais. A montagem das armadilhas e a recolha dos espécimens decorreram com entusiasmo, ficando os alunos particularmente surpreendidos pela eficácia de armadilhas tão simples. A maior dificuldade prendeu-se com a classificação dos artrópodes, surgindo inicialmente muitas dúvidas sobre as características morfológicas que estavam a observar. Contudo, após as hesitações iniciais, a identificação das diferentes ordens foi conseguida com maior rapidez. No final das tarefas, efectuou-se uma discussão geral, onde os alunos aferiram acerca do local com maior quantidade e diversidade de artrópodes. Duas semanas após as actividades, aplicou-se o questionário cujos resultados se encontram no Quadro I. Quadro I - Resultados obtidos, em percentagem, para cada uma das questões do questionário. Questões Correcta Incompleta Incorrecta 1.1 Quais as características dos artrópodes? 68,7% 14,9% 16,4% 1.2 Quais as características dos insectos? 11,9% 11,9% 76,1% 2 Que ciclos de vida podem apresentar os artrópodes? 37,3% 58,2% 4,5% 3 Qual a diversidade de artrópodes existente no planeta? 70,1% - 29,9% 74,6% - 25,4% 95,5% - 4,5% 4 Como se podem capturar artrópodes? 5 RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 119 Observou-se que a questão onde os alunos apresentaram maiores dificuldades foi a referente às características dos insectos, em que apenas 11,9% dos alunos respondeu de forma correcta. Isso dever-se-á aos conceitos prévios sobre este grupo de animais, pois, erradamente, as aranhas e outros seres vivos são, com frequência, caracterizados como “insectos”. Assim sendo, a actividade realizada não terá sido suficiente para originar uma mudança conceptual sobre as características fundamentais que caracterizam este grupo. A questão relacionada com os ciclos de vida originou também maiores dificuldades, pois apenas 37,3% dos alunos respondeu correctamente. Contudo, 58,2% respondeu de forma incompleta, o que significa que a maior parte dos alunos soube identificar o ciclo de vida, mas não o conseguiu explicar adequadamente. Quanto à questão de resposta livre, os alunos demonstraram ter gostado da actividade, apresentando diferentes justificações: a) conhecer melhor este grupo de seres vivos (“Foi bom descobrir um pouco do mundo dos insectos e artrópodes, pois são animais aos quais não damos muita importância, apesar de não podermos viver sem eles.”; “Achei interessante porque não fazia ideia que os artrópodes eram tão diversificados e com tanto para estudar e descobrir.”; “foi uma forma de aprendermos mais sobre os animais que nos rodeiam e aprender sobre a forma como se comportam”); b) compreender alguns métodos de estudo destes animais (“Eu acho que [foi] bastante boa, porque não só aprendemos como é que os insectos são observados em laboratório, como aprendemos sobre as técnicas para os capturar.”); c) estar envolvidos num trabalho prático (“Foi divertido porque pudemos nós mesmos fazer a recolha de alguns artrópodes e depois fizemos a sua observação”); d) ter sido um trabalho com uma componente exterior à sala de aula (“[Foi] uma actividade exterior em vez do usual trabalho de aula”). CONSIDERAÇÕES FINAIS A estratégia apresentada permite uma visão holística dos ecossistemas, sendo estudada a interacção entre as comunidades de seres vivos e as características do meio (Carmen, citado em Dourado, 2000). Trata-se de uma proposta de integração entre trabalho de campo e trabalho 120 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 laboratorial, promovendo-se o desenvolvimento de competências de diferentes domínios e a compreensão da natureza da Ciência, nomeadamente, o seu carácter reflexivo e a sua dimensão colectiva (Miguéns & Garrett, 1991; Almeida, 2001). O facto de o objecto e locais de estudo, respectivamente, os artrópodes e o meio escolar (ou as suas imediações), serem familiares aos alunos revelou-se fundamental para o seu empenho e interesse nas actividades desenvolvidas. Os conhecimentos anteriores dos alunos sobre este grupo de seres vivos promoveram o surgimento de diversas questões ao longo das actividades, contribuindo positivamente para o seu envolvimento activo no trabalho a desenvolver. Os materiais estão apresentados de forma muito estruturada, mas as sugestões fornecidas são apenas orientações para a prática pedagógica. O grau de abertura de cada actividade vai depender de vários factores, como as características da turma ou outras estratégias realizadas anteriormente com os alunos. Apesar da biodiversidade e dos ecossistemas serem também objecto de estudo, respectivamente, no 7.º e 8.º anos de escolaridade (Galvão et al., 2001), a realização desta estratégia com esses níveis de ensino não será adequada, considerando os conhecimentos prévios requeridos. É também importante referir que é necessário um conjunto de aulas para a realização destas actividades, podendo ser difícil a sua conjugação com o extenso programa desta disciplina. Contudo, pretende-se que tenha um carácter interdisciplinar, pois o tratamento dos resultados pode ser realizado ao nível da disciplina de Matemática, e a disciplina de Educação Física pode ser envolvida no levantamento dos dados ambientais e na montagem das armadilhas. Uma vez que muitos professores se revelam pouco confiantes na sua preparação científica para actividades fora da sala de aula, nomeadamente no que diz respeito à identificação de seres vivos (Openshaw & Whittle, 1993), é fundamental que exista uma preparação prévia da sua parte para o desenvolvimento desta estratégia. Esta preparação implica, em especial, a familiarização com os diferentes grupos de artrópodes, particularmente, tendo em conta que se verificou que é na utilização das chaves dicotómicas que os alunos apresentam maiores dificuldades. Saliente-se que estas actividades implicam a morte de seres vivos, que devem ser respeitados em todas as etapas. A maior parte da legislação sobre a utilização de animais para fins científicos, como é o caso da Convenção Europeia sobre a Protecção dos Animais Vertebrados Utilizados para Fins Experimentais e Outros Fins Científicos, de 24 de Agosto de 1999, centra-se apenas nos vertebrados. No entanto, em relação aos invertebrados, a sua utilização deverá ser, igualmente, no sentido de se reduzir ao mínimo o número de animais a que se recorre e de se evitar o seu sofrimento. O professor deve aproveitar esta oportunidade para promover a reflexão sobre a utilização experimental de animais, levantando importantes RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 121 questões do domínio da bioética. A conservação dos animais em álcool permite que possam voltar a ser utilizados, posteriormente, por outros alunos e para outros estudos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Almeida, A. (1996). Visitas de estudo: concepções e eficácia na aprendizagem científica em alunos das classes mais desfavorecidas. 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Qual a sua abundância? Que ciclo de vida apresentam? Como podem ser encontrados? 1. Observa com atenção as imagens da Figura 1, onde estão representados diferentes artrópodes (nota que não se encontram à mesma escala). Conheces estes seres vivos? B A C D E F G H Figura 1 – Esquemas adaptados de: A - Dierl e Ring (1992); B - Cunha, Gama e Diniz (1964); C - Ruppert e Barnes (1994); D - Cunha e colaboradores (1964); E - Ruppert e Barnes (1994); F - Ruppert e Barnes (1994); G - Borror e DeLong (1988); H - Borror e DeLong (1988). 126 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 1.1. Compara estes animais entre si. Que características têm em comum? 1.2. Tendo em conta as diferenças e semelhanças que observas, organiza os seres vivos de maneira a formares diferentes grupos. 1.3. O Filo Arthropoda apresenta diferentes classes. Através da seguinte chave dicotómica, estabelece a correspondência entre cada um dos grupos de seres vivos que criaste na questão anterior e uma classe de artrópodes (utiliza o glossário para compreenderes o significado de alguns dos termos presentes na chave). Grupo (s) Abdómen 1. Corpo dividido em cefalotórax e abdómen. Classe Arachnida Cefalotórax Corpo diferente dos anteriores. 2 Corpo com apenas duas regiões: cabeça e tronco. 3 - - Cabeça Tronco 2. Tórax Corpo dividido em três regiões: cabeça, tórax e abdómen. Classe Insecta Cabeça Abdómen Cada segmento do tronco apresenta um par de patas. Classe Chilopoda Cada segmento do tronco apresenta, em geral, dois pares de patas. Classe Diplopoda 3. Esquemas adaptados de: Ross, Ross e Ross (1982); Borror e DeLong (1988); e Ruppert e Barnes (1994). RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 127 GLOSSÁRIO: Abdómen – Região posterior do corpo dos insectos e aracnídeos. Cabeça – Região anterior do corpo, que apresenta as peças bucais e estruturas sensoriais, como olhos e antenas. Cefalotórax – Região do corpo resultante da fusão da cabeça com o tórax. Segmento – Unidade constituinte do corpo. Tórax – Região do corpo a seguir à cabeça, que apresenta as patas e as asas. 2. Observa o seguinte gráfico, que representa aproximadamente o número de espécies conhecidas de diferentes grupos de seres vivos. 98998 28871 7643 Artrópodes 310129 Restantes Invertebrados Vertebrados Plantas 64788 Fungos 96940 1166660 Protistas Bactérias Figura 2 - Adaptado de Chapman (2009). 128 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 2.1. Qual o grupo de seres vivos com o maior número de espécies? 2.2. Em que grupos existe uma menor diversidade de espécies? 2.3 Corresponderão os valores apresentados ao número de espécies realmente existente? Justifica. 3. Observa a Figura 3, que representa algumas etapas do ciclo de vida de três artrópodes: um peixinho-de-prata (A), uma borboleta (B) e um gafanhoto (C). Que diferenças existem entre estes três ciclos de vida? O vo A B Peixinho-de-prata adulto C Figura 3 – Esquemas adaptados de: A – Gillot (2005); Hickman, Roberts e Larson (1997); C – Carpaneto (2000). RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 129 4. A captura de artrópodes pode ser efectuada através de diferentes métodos. Observa com atenção a Figura 4, que ilustra algumas das técnicas utilizadas. Em que consiste cada processo? A B C D Recipiente colorido com água e detergente Recipiente com água e detergente Figura 4 – Esquemas adaptados de: A – Chinery (1993); B – Chinery (1993); C – Triplehorn e Johnson (2005); e D – Ausden (1998). 5. Que factores poderão influenciar a diversidade e abundância de artrópodes de um determinado local? 6. Como poderias estudar a influência de um determinado factor numa comunidade de artrópodes? 130 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 PARA O PROFESSOR: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 1 – Quem são os artrópodes? Os alunos devem ir respondendo às diferentes questões nos seus grupos de trabalho, devendo intercalar-se a sua resolução com a discussão geral das respostas que forem sendo elaboradas. Encontram-se seguidamente algumas orientações para as perguntas colocadas. 1. As imagens apresentadas correspondem a esquemas de alguns artrópodes comuns. Os alunos devem reconhecer esses seres vivos, concluindo que está representada uma mosca (A), uma formiga (B), uma aranha (C), uma abelha (D), uma maria-café (E), uma centopeia (F), um escorpião (G) e uma bicha-cadela (H). 1.1. Comparando os diferentes esquemas, os alunos devem concluir que todos estes animais apresentam um corpo constituído por diferentes partes ligadas entre si. O professor deve então explicar que o corpo dos artrópodes é constituído por um número variável de segmentos, ocorrendo, em alguns casos, a sua fusão. O caso representado em que a fusão de segmentos é mais evidente é na aranha (C). Em relação às patas, o professor deve levar os alunos a concluir que estas existem em número variável e são constituídas por diferentes artículos. O professor deve ainda acrescentar que outra característica comum a todos os artrópodes é a existência de um exosqueleto, ou seja, um esqueleto externo. 1.2. O professor deve orientar os alunos no sentido de estes agruparem os seres vivos tendo em conta a estrutura do corpo e o número de patas presentes. Pretende-se que os alunos cheguem à conclusão que devem ser elaborados quatro grupos distintos. Tanto a centopeia como a maria-café apresentam um corpo constituído pela cabeça e por um tronco com vários segmentos. No entanto, no caso da centopeia, cada segmento do tronco apresenta apenas um par de patas, enquanto na maria-café os segmentos do tronco apresentam, em geral, dois pares de patas. Desta forma, estes dois animais devem ficar em dois grupos separados. Comparando a aranha e o escorpião entre si, os alunos devem verificar que ambos apresentam quatro pares de patas, pelo que devem formar outro grupo. Os restantes quatro animais (abelha, formiga, mosca e bicha-cadela), apresentam um corpo dividido em três regiões e têm apenas três pares de patas, pois na bicha-cadela as estruturas terminais do abdómen não correspondem a apêndices locomotores. O professor deve explicar que no caso deste grupo o corpo é constituído pela cabeça, tórax e abdómen, enquanto na aranha e no escorpião, o corpo é constituído pelo cefalotórax (resultante da fusão da cabeça e do tórax) e pelo abdómen. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 131 Em relação ao escorpião e à aranha, o professor pode explicar que estes não apresentam antenas, tendo no cefalotórax dois pares de apêndices que estão relacionados essencialmente com a alimentação e defesa: os pedipalpos e as quelíceras. Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Centopeia (F) Maria-café (E) Aranha (C) Escorpião (G) Grupo 4 Mosca (A) Formiga (B) Abelha (D) Bicha-cadela (H) 1.3. Os alunos devem seguir a chave dicotómica para cada um dos grupos formados, de modo a concluir que cada um deles corresponde a uma classe de artrópodes: Grupo 1 – Chilopoda, Grupo 2 – Diplopoda, Grupo 3 – Arachnida e Grupo 4 – Insecta. O professor deve acrescentar ainda que existem outros grupos de artrópodes, por exemplo, os crustáceos, com os quais os alunos estão igualmente familiarizados. O professor pode também salientar nesta etapa que nos animais pertencentes à classe dos insectos as asas podem estar ausentes (como na formiga) ou presentes, podendo existir um par de asas (como na mosca) ou dois pares de asas (como na abelha). No caso das bichas-cadelas, estas podem apresentar asas (um ou dois pares) ou não, dependendo das espécies. 2.1. Os alunos devem interpretar o gráfico, verificando que é o grupo dos artrópodes que apresenta a maior diversidade de espécies. 2.2. Os alunos devem concluir que é ao nível das bactérias que se conhece actualmente uma menor diversidade. 2.3. Os alunos devem referir que ainda podem existir muitas espécies que ainda não foram descobertas até ao momento, uma vez que se encontram, por exemplo, em zonas pouco estudadas, por serem, por exemplo, de difícil acesso. O professor pode acrescentar que mesmo nos grupos de organismos relativamente bem conhecidos, como mamíferos e aves, vão sendo descobertas de ano para ano novas espécies. No caso dos artrópodes, em que muitos animais são de dimensões reduzidas, o número de espécies descobertas anualmente é ainda maior. As florestas tropicais são os locais que apresentam a maior diversidade de artrópodes por descobrir. 3. Em relação ao ciclo de vida do peixinho-de-prata, o professor deve orientar a discussão no sentido de os alunos verificarem que neste animal as formas juvenis são morfologicamente iguais aos indivíduos adultos, sendo apenas de menores dimensões. Ao longo do ciclo de vida vai ocorrendo o aumento do tamanho do peixinho-de-prata, sem existirem modificações na sua forma. O professor deve então explicar que este animal apresenta um desenvolvimento directo. No caso da borboleta, emerge do ovo uma larva, que corresponde a uma lagarta, muito 132 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 diferente do indivíduo adulto. A determinada altura, a larva forma um casulo (crisálida ou pupa), no interior do qual sofre um conjunto de alterações morfológicas. Da crisálida emerge o indivíduo adulto, que é a borboleta. O professor deve explicar que esta alteração de forma designa-se por metamorfose. As moscas e os escaravelhos também apresentam um ciclo de vida idêntico. No caso do gafanhoto, os alunos devem concluir que as fases juvenis são semelhantes aos indivíduos adultos, mas são de menores dimensões e não têm as asas totalmente desenvolvidas, aumentando de tamanho ao longo do ciclo de vida. O professor deve então explicar que no caso da borboleta ocorre uma metamorfose completa, enquanto no gafanhoto a metamorfose é incompleta. 4. O professor deve orientar os alunos no sentido de compreenderem que os artrópodes podem ser capturados recorrendo-se a diferentes técnicas, sendo apenas apresentados quatro exemplos. No método A são recolhidos do solo ou da vegetação, utilizando-se um instrumento simples que funciona como aspirador (aspirador entomológico). No entanto, os artrópodes presentes nos arbustos podem ser igualmente recolhidos com recurso a uma rede (rede entomológica), tal como representado no método B. Na técnica C os artrópodes que se deslocam sobre o solo são capturados enterrando-se um recipiente, para o interior do qual acabam por cair (armadilhas de queda ou “pitfalls”), ficando retidos na solução de água e detergente. Na situação D os artrópodes voadores são capturados através da utilização de recipientes coloridos. Os animais são atraídos pela cor e ficam aprisionados no líquido existente (armadilhas de água ou “water traps”), tal como acontecia na técnica C. 5. Para essa análise, o professor deve orientar os alunos de modo a reflectirem sobre o modo como diversos factores do meio podem interferir na diversidade e abundância destes seres vivos. Por exemplo: - a presença de uma fonte de água permanente permitirá a existência de uma maior diversidade e abundância, uma vez que a água é fundamental para a sobrevivência; - a presença de uma elevada diversidade de vegetação influenciará positivamente a diversidade de artrópodes (Siemann, Tilman, Haarstad & Ritchie, citados em Richardson & Hari, 2008); - uma maior área verde total terá uma influência positiva sobre a biodiversidade e abundância (Kishbaugh & Yocom, 2000); - uma maior presença humana no local (pisoteio, corte da vegetação…) terá uma influência negativa sobre a comunidade. 6. Os alunos devem ser orientados no sentido de compreender que podem ser escolhidos dois locais com características diferentes, entre os quais varie, de preferência, apenas um factor. Posteriormente, devem ser montadas armadilhas para a colheita de artrópodes e a sua análise quantitativa em laboratório. Neste ponto, os alunos devem relembrar os métodos de captura de artrópodes e analisar qual ou quais as técnicas que seriam mais adequadas. Assim, RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 133 devem reflectir sobre possíveis vantagens e desvantagens de cada um desses métodos. O professor deve orientar a discussão de modo a levar os alunos a compreender que as armadilhas de queda e as armadilhas de água, com algumas adaptações, seriam as mais económicas e práticas de aplicar. As armadilhas de queda não precisam da cobertura representada na Figura 4 e as armadilhas de água podem colocar-se directamente sobre o solo. 134 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 ANEXO II PARA OS ALUNOS: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 2 – Analisando as condições ambientais Agora que já foi decidido quais os locais que vão ser estudados, é altura de recolheres algumas informações ambientais, de modo a caracterizares esses espaços. 1. Observa os dois locais que foram escolhidos e recolhe as informações necessárias de modo a completares a seguinte tabela: Local A Abundância de vegetação (abundante, pouco abundante, ausente) e diversidade (homogéneo, heterogéneo) Local B Estrato arbóreo Estrato arbustivo Estrato herbáceo Existência de uma fonte permanente de água (lago, fonte ou outras) nas proximidades Existência de rega (frequente, irregular, ausente) Ocorrência de pisoteio (frequente, esporádico, ausente) Presença de lixo (abundante, pouco abundante, ausente) Área total Outras Informações Relevantes RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 135 2. Em que local existirá uma maior diversidade e abundância de artrópodes? Justifica. PARA O PROFESSOR: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 2 – Analisando as condições ambientais 1. Os alunos devem deslocar-se aos locais escolhidos para a realização do estudo e preencher a tabela apresentada, que inclui alguns parâmetros ambientais e relacionados com a presença humana. À excepção da área total, esse preenchimento deve ser feito em termos comparativos, utilizando-se expressões de carácter qualitativo. 2. Tendo em conta os dados recolhidos (vegetação existente, presença de água, grau de perturbação pelo Homem, área total), os alunos devem elaborar uma hipótese devidamente fundamentada sobre o local que apresentará uma maior diversidade e abundância de artrópodes. 136 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 ANEXO III PARA OS ALUNOS: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 3 - Vamos à montagem! O teu grupo de trabalho vai ser responsável por um conjunto de armadilhas, que devem ser montadas num dos locais previamente definidos. Posteriormente, as armadilhas devem ser monitorizadas durante os dias em que se mantiverem activas. Grupos A e B Método de Captura: Armadilhas de Água Material: - 3 Pratos de plástico (amarelos ou azuis) - Recipiente com água - Detergente da loiça Procedimento: 1. Distribui os pratos pelo solo (grupos A – amarelos e grupos B – azuis), tendo o cuidado de os separar entre si, pelo menos, um metro. 2. Coloca água em cada um dos pratos, enchendo-os quase na sua totalidade. 3. Adiciona três gotas de detergente e agita a água. 4. Verifica se os pratos ficam bem assentes no solo, de modo a não entornarem. 5. Enquanto decorrer o estudo, verifica todos os dias se as armadilhas se encontram posicionadas adequadamente. 137 Grupos C Método de Captura: Armadilhas de Queda Material: - Pá - 3 Copos de plástico - Recipiente com água - Detergente da loiça Procedimento: 1. Selecciona o local onde vão ser enterrados os copos, deixando entre eles uma distância de cerca de um metro. 2. Escava o solo, enterrando os copos até que a sua abertura fique ao nível da superfície. 3. Coloca água em cada um dos copos, enchendo-os até cerca de 2/3 da sua altura. 4. Adiciona três gotas de detergente e agita a água. 5. Enquanto decorrer o estudo, verifica todos os dias se os copos se encontram posicionados adequadamente. PARA O PROFESSOR: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 3 - Vamos à montagem! As armadilhas utilizadas neste estudo são pouco dispendiosas, sendo fáceis de montar e manter. Além disso, permitem que os animais sejam capturados em boas condições, o que facilita a sua identificação (Southwood, 1996; New, 1998). Para estas armadilhas é apenas necessário: recipientes em plástico, podendo recorrer-se a copos e pratos em plástico descartável, água e detergente. A utilização de algumas gotas de detergente está relacionada com a redução da tensão superficial (Ausden, 1998), de modo a facilitar a captura dos seres vivos. Na escolha do detergente deve ter-se em conta que não pode ter um cheiro intenso, de modo a não induzir uma atracção diferencial das espécies (Luff, 1975; Southwood, 1996; New, 1998). 138 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 A disposição das armadilhas depende do espaço existente, devendo estar afastadas entre si, pelo menos, um metro. Durante os dias em que as armadilhas estiverem activas os alunos devem monitorizá-las, verificando se a quantidade de água existente é suficiente e se a sua posição não foi alterada. Salienta-se que as armadilhas não devem estar activas sem se proceder a colheitas durante mais do que três ou quatro dias, dado que os animais começam a entrar em decomposição. ARMADILHAS DE ÁGUA: As armadilhas de água são utilizadas principalmente para a captura de fauna aérea. Recipientes coloridos, contendo água ou um líquido conservante, são colocados sobre o solo ou a uma determinada altura da superfície, dependendo das características da vegetação. Os artrópodes, atraídos pelo recipiente, voam para a armadilha, ficando aprisionados no líquido (Southwood, 1996; New, 1998). A cor é um factor fundamental nas armadilhas de água. Alguns estudos com este método apontam para uma maior preferência dos artrópodes pela cor amarela, seguindo-se a azul e a branca (Bunescu, Ghizdavu, Mihai, Oltean, Porca & Bodis, 2002). Não deve ser esquecido o papel atractivo da água: enquanto determinados artrópodes são atraídos pela humidade, principalmente durante o tempo quente e seco, outros são atraídos pelos espelhos de água, devido ao modo como a luz é reflectida por essas superfícies (Roth & Couturier, 1966). ARMADILHAS DE QUEDA: As armadilhas de queda são utilizadas para a captura de artrópodes que se deslocam sobre o solo, sendo particularmente úteis em habitats abertos. Este tipo de armadilhas é constituído por recipientes enterrados no solo, ficando aprisionados os animais que se desloquem à superfície. (Southwood, 1996; New, 1998). No entanto, as armadilhas de queda podem atrair igualmente artrópodes voadores, dependendo da sua cor, dimensão e grau de visibilidade. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 139 ANEXO IV PARA OS ALUNOS: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 4 - Estás a vê-los? Após a montagem das armadilhas e a sua manutenção no campo por alguns dias, chega o momento de procederes à colheita, observação e classificação dos animais capturados. No campo... Material por grupo: - Rede de café em nylon - Pincéis - Esguicho com água - Recipiente de transporte - Pinças metálicas Procedimento: 1. Utiliza uma rede de café para separares os animais capturados do líquido de captura (Figura 1). 2. Recorrendo a um esguicho com água, coloca os animais num recipiente de transporte devidamente identificado (Figura 2). Figura 1 – Filtração do conteúdo das armadilhas Figura 2 – Recolha dos animais capturados para um recipiente de transporte 140 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 No laboratório… Material por grupo: - Caixas de Petri - Esguicho com álcool a 70% - Pincéis - Rede de café em nylon - Lupas binoculares - Recipiente para colocação dos animais - Pinças metálicas Procedimento: 1. Recorre novamente a uma rede de café, de modo a separares os animais da água em que os colocaste no campo (Figura 3). 2. Utilizando um esguicho com álcool a 70%, transfere os animais para um novo recipiente devidamente identificado (Figura 4). Figura 3 – Nova filtração do conteúdo das armadilhas Figura 4 – Recolha dos animais para um novo recipiente 1. Coloca alguns animais capturados numa caixa de Petri e observa-os à lupa binocular. 2. Com o auxílio da chave dicotómica presente na Ficha 1, e da chave dicotómica presente após as tabelas, classifica os animais capturados. Começa por identificar a classe a que pertencem e, caso sejam insectos, procura identificar a sua ordem. Regista os resultados nas tabelas que se encontram seguidamente. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 141 Designação da Classe Arachnida Chilopoda Diplopoda Insecta Outra(s) Número de indivíduos Total Classe Insecta: Designação da Ordem Coleoptera Collembola Diptera Hemiptera Hymenoptera Lepidoptera Orthoptera Outra(s) Número de indivíduos Total Chave Dicotómica para a identificação de algumas Ordens da Classe Insecta (consulta o glossário da página seguinte para compreenderes o significado das palavras assinaladas com um asterisco - *) 1. 2. 3. Com asas bem desenvolvidas. 2 Sem asas ou com asas vestigiais. 8 Com um par de asas e um par de halteres*. Haltere Com dois pares de asas (um par de asas anteriores e um par de asas posteriores). Asas total ou parcialmente pergamináceas*, coriáceas* ou córneas*. Asas totalmente membranosas. 142 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 Diptera (moscas e mosquitos) 3 4 6 Asas anteriores coriáceas na base e membranosas na extremidade. 4. Extremidade membranosa Base coriáce a Hemiptera Subordem Heteroptera (percevejos) 5 Asas anteriores de textura uniforme. Élitro Asa membranosa Asas anteriores rígidas (élitros*) e sem nervuras, encontrando-se na linha mediana do corpo. Coleoptera ((escaravelh os) 5. 6. Asas anteriores com muitas nervuras e ligeiramente espessadas, sobrepondo-se pelo menos ligeiramente e posicionadas em forma de tecto sobre o corpo. Orthoptera (gafanhotos e grilos) Asas horizontais quando em repouso, sobrepondo-se ligeiramente, e armadura bucal picadora-sugadora, com um rostro*. Hemiptera Subordem Auchenorryncha (cigarras e cigarrinhas) 7 Insectos não como os anteriores. Asas cobertas por escamas minúsculas, existindo geralmente uma probóscis* enrolada. Probóscis Escamas Lepidoptera (borboletas e traças) 7. Asas sem escamas, com poucas nervuras, e abdómen geralmente com uma constrição na base. Hymenoptera (abelhas e vespas) RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 143 8. Insectos de pequenas dimensões, com uma fúrcula* terminal. Collembola (colêmbolos) Fúrcula 9 Insectos não como os anteriores. Abdómen com uma cintura pronunciada e antenas geralmente em cotovelo*. Antenas em cotovelo Hymenoptera (formigas) 9. Abdómen geralmente com um par de cornículos* na extremidade. Hemiptera Subordem Sternorrhyncha (pulgões) Esquemas adaptados de: Cunha e colaboradores (1964); Borror e DeLong (1988); Richards e Davies (1988); Dierl e Ring (1992); e McCormick, Phillips e Reed (1998). GLOSSÁRIO: Abdómen Antenas Antenas em cotovelo Cabeça Cefalotórax Coriáceo Córneo Cornículo Élitro Fúrcula Haltere Pergamináceas Probóscis Rostro Segmento Tórax 144 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 Região posterior do corpo dos insectos e aracnídeos. Apêndices segmentados localizados na cabeça, com uma função sensitiva. Antenas com o primeiro segmento alongado e os segmentos restantes a formar um ângulo com o primeiro. Região anterior do corpo que apresenta as peças bucais e estruturas sensoriais, como olhos e antenas. Região do corpo resultante da fusão da cabeça e do tórax. Espesso como o couro (pele de alguns animais). Rígido. Um ou um par de estruturas tubulares localizadas na parte posterior do abdómen. Asa anterior coriácea ou córnea. Estrutura saltadora bifurcada. Pequena estrutura dilatada na extremidade, que desempenha uma função de equilíbrio durante o voo. Semelhantes a pergaminho (pele de alguns animais preparada para a escrita). Peças bucais que formam um tubo. Estrutura externa das peças bucais de um insecto picador-sugador. Unidade constituinte do corpo. Região do corpo a seguir à cabeça, que apresenta as patas e as asas. PARA O PROFESSOR: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 4 – Estás a vê-los? Os alunos devem proceder à colheita dos espécimens capturados, recorrendo a redes de café em nylon, facilmente adquiridas num hipermercado. Os animais devem ser armazenados em recipientes de transporte, devidamente etiquetados e fechados. Uma vez que os exemplares ficam inicialmente em água, devem ser transferidos no laboratório para álcool a 70%, o qual permite a sua conservação, mantendo-se alguma flexibilidade nos apêndices articulados de muitos artrópodes. Assim, utilizando-se novamente a rede, os animais devem ser colocados num novo recipiente, ficando apenas em álcool. Posteriormente, procede-se à sua observação na lupa binocular, sendo conveniente a utilização, se possível, de pinças entomológicas para a manipulação dos espécimens. As chaves dicotómicas foram elaboradas a partir das presentes em: Cunha e colaboradores (1964), Ross e colaboradores (1982), Dierl e Ring (1992), Chinery (1993), Quartau e Carvalho (1998), Borror e DeLong (1988), Gillot (2005) e Triplehorn e Johnson (2005). Note-se que foram apenas seleccionadas sete ordens da classe Insecta, correspondendo a alguns dos grupos que mais frequentemente são encontrados neste tipo de armadilhas. No entanto, segundo Triplehorn e Johnson (2005), considera-se actualmente a existência de trinta e uma ordens, pelo que o professor deve acompanhar as observações dos alunos e, caso sejam encontrados exemplares de outros grupos, deve proceder-se à utilização de chaves mais completas para a sua classificação. Aconselha-se para isso a utilização dos guias de Dierl e Ring (1992) e de Chinery (1993), que podem ser encontrados com alguma facilidade ou, em português, do documento de Cunha e colaboradores (1964). O facto de existirem mais ordens do que as presentes na ficha implica que o professor faça um estudo prévio do local, de modo a verificar quais as ordens com que os alunos se poderão deparar. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 145 ANEXO V PARA OS ALUNOS: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 5 - Números e mais números... Após a observação e classificação dos animais capturados, é chegado o momento de iniciares a sua análise. Para isso, vais precisar dos dados que recolheste na actividade anterior sobre a abundância dos diferentes grupos de artrópodes, bem como de uma máquina de calcular. Esses resultados serão utilizados para determinares um índice de diversidade, que te permitirá comparar os dois locais que foram estudados. Começa por ler o seguinte texto: COMPREENDENDO O ÍNDICE DE SHANNON-WIENER... Para a avaliação da biodiversidade de um determinado local, recorrem-se geralmente a índices de diversidade, que procuram resumir num único valor todas as informações sobre uma determinada comunidade. Ao longo do tempo têm sido sugeridos diferentes índices, que são calculados de forma distinta e que partem de pressupostos diferentes sobre a comunidade em estudo. Neste trabalho vais utilizar o índice de Shannon-Wiener (H’), proposto em 1949 por dois investigadores. Para a determinação deste índice são apenas necessárias as abundâncias relativas (pi) dos diferentes grupos de seres vivos. A abundância relativa determina-se dividindo o número de indivíduos de cada grupo (n, abundância absoluta), pelo número de indivíduos total (N). Apesar de este índice ser aplicado a dados relativos a espécies, também pode ser utilizado para outros grupos taxonómicos. Neste caso, vais aplicá-lo separadamente às informações recolhidas sobre as diferentes classes de artrópodes e sobre as diferentes ordens de insectos. A fórmula que expressa este índice é a seguinte: S H ' ( pi ln pi ) i 1 Assim, pi corresponde à abundância relativa de cada classe ou ordem, e S é a totalidade de classes ou ordens que foram identificadas. A abreviatura ln representa o logaritmo neperiano (loge), facilmente determinado através de uma máquina de calcular científica (aprende mais sobre os logaritmos na nota matemática que se encontra no final da ficha). Contudo, este índice não é adequado para a comparação de diferentes locais, dado que pode atingir teoricamente qualquer valor e cada local pode apresentar um número total de ordens distinto (S). Assim, determina-se normalmente a equitabilidade (E’): E' H ' / ln S A equitabilidade varia apenas entre 0 e 1, obtendo-se a diversidade máxima quando todas os grupos estiverem igualmente representados (Pielou, 1975). 146 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 Para a determinação do valor deste índice, vais começar por trabalhar com o teu grupo e posteriormente irás juntar-te aos outros grupos que estiveram a estudar o mesmo local. COM O TEU GRUPO DE TRABALHO... 1. Começa por determinar a abundância relativa (p), de cada um dos grupos identificados, preenchendo as seguintes tabelas: Designação da Classe (i) Arachnida Chilopoda Diplopoda Insecta Outra(s) Total Abundância absoluta (ni) Abundância relativa (pi=ni/N) Classe Insecta: Designação da Ordem (i) Coleoptera Collembola Diptera Abundância absoluta (ni) Abundância relativa (pi=ni/N) Hemiptera Hymenoptera Lepidoptera Orthoptera Outra(s) Total 2. Tendo em conta estes resultados, quais as primeiras conclusões que podes retirar? COM OS OUTROS GRUPOS QUE ESTUDARAM O MESMO LOCAL... 3. Compara os resultados obtidos pelos outros grupos com os vossos. Que diferenças existem? A que se deverão? 4. Conjuga os dados dos diferentes grupos, voltando a preencher as mesmas tabelas que anteriormente, mas agora com a abundância absoluta obtida pela totalidade dos métodos utilizados. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 147 Designação da Classe (i) Abundância absoluta (ni) Abundância relativa (pi=ni/N) Arachnida Chilopoda Diplopoda Insecta Outra(s) Total Classe Insecta: Designação da Ordem (i) Coleoptera Collembola Diptera Hemiptera Hymenoptera Lepidoptera Orthoptera Outra(s) Abundância absoluta (ni) Abundância relativa (pi=ni/N) Total 5. O que podes concluir sobre a comunidade de artrópodes existente no local que estudaste? 6. Qual a importância de terem sido utilizados diferentes métodos de captura? 7. Determina agora o valor de pi x ln pi para cada classe e para cada ordem, arredondando os resultados obtidos até à terceira casa decimal. O valor simétrico do somatório desses resultados corresponde ao índice de Shannon-Wiener. Designação da Classe (i) Arachnida Chilopoda Diplopoda Insecta Outra(s) Somatório de pi x ln pi Índice de Shannon-Wiener (H’) pi x ln pi Classe Insecta: Designação da Ordem (i) Coleoptera Collembola Diptera Hemiptera Hymenoptera Lepidoptera Orthoptera Outra(s) pi x ln pi Somatório de pi x ln pi Índice de Shannon-Wiener (H’) 8. Determina agora o valor da equitabilidade para o teu local, tanto em relação às classes de artrópodes, como em relação às ordens de insectos. 148 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 9. O que podes concluir tendo em conta os resultados obtidos? 10. Reune agora todas as informações sobre este local e prepara uma pequena apresentação destes resultados para os restantes colegas da turma. Não te esqueças de decidir quem desempenhará as funções de porta-voz(es). APÓS AS APRESENTAÇÕES... 11. O que podes concluir em relação à hipótese que colocaste inicialmente sobre o local que apresenta uma maior abundância e diversidade de artrópodes? Justifica. 12. O que podes concluir sobre a influência dos factores ambientais nas comunidades de artrópodes? Nota matemática sobre... os logaritmos! A palavra logaritmo foi criada por John Napier, também conhecido por Neper (1550-1617). Mas o que é o logaritmo de um número? O logaritmo de um número x na base a, logax, é o número y a que é necessário elevar a para se obter x, ou seja: logax = y <=> ay = x A invenção dos logaritmos no século XVI foi um grande salto na realização das operações aritméticas e representou um grande avanço para a astronomia e para a navegação. Porquê? A ideia é simples: se for possível escrever dois números positivos na forma de potências com a mesma base, então multiplicar esses números equivale a somar os respectivos expoentes. Assim, o uso dos logaritmos conseguiu diminuir bastante o tempo que os astrónomos, por exemplo, gastavam nos seus cálculos. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 149 PARA O PROFESSOR: Investigando a Diversidade de Artrópodes Ficha 5 - Números e mais números... Para a realização desta actividade é fundamental que o professor comece por explicar que para se poder comparar a biodiversidade dos dois locais é necessário determinar-se um índice de diversidade, neste caso, o índice de Shannon-Wiener. No início da Ficha 5 encontra-se uma apresentação deste índice, bem como da equitabilidade, que o professor deve discutir com os alunos. A biodiversidade é um conceito vasto, pelo que não existe uma única unidade de medida. Ao longo do tempo têm sido sugeridos diferentes métodos, sendo o número de espécies existente, isto é, a riqueza específica (S), o mais antigo parâmetro utilizado. No entanto, este dado não é por si só uma medida adequada da diversidade, uma vez que nem sempre é possível conhecer a totalidade de espécies existentes e, além disso, tudo depende igualmente da abundância de cada uma. Em muitas comunidades verifica-se que existem apenas algumas espécies muito abundantes e um conjunto de espécies representadas por um número bastante mais reduzido de indivíduos. Assim, é necessário ter também em conta a abundância relativa de cada espécie (pi). Existem alguns índices de diversidade que conjugam o número de espécies com a sua respectiva abundância. Estes índices têm sido utilizados para descrever comunidades, nomeadamente com o objectivo de se compreender a relação entre a diversidade e as condições ambientais a que as comunidades estão sujeitas. Neste trabalho optou-se pelo índice de Shannon-Wiener (ou Shannon-Weaver), representado por H’. Para o seu cálculo pode ser utilizada qualquer base logarítmica, sendo as bases 10, e e 2 as mais frequentes. H’ aumenta com o número de espécies, podendo teoricamente corresponder a valores muito elevados. Contudo, tem-se verificado na prática que não é superior a 5,0. Quanto à diversidade máxima (H’máx) de uma comunidade, esta ocorre quando todas as espécies apresentam a mesma abundância (Pielou, 1975; Krebs, 1989; Pité & Avelar, 1996; Zar, 1999; Moreno, 2001). Como os logaritmos são apenas objecto de estudo em Matemática no 12.º ano, sugere-se que ao nível dessa disciplina seja feita uma abordagem introdutória, para que os alunos não se limitem a utilizar a máquina de calcular sem compreenderem o que estão realmente a fazer. Quando se procede à comparação de comunidades, verifica-se que comunidades diferentes podem apresentar o mesmo valor de diversidade, uma vez que este depende simultaneamente da distribuição das abundâncias e do número de espécies existente. Assim, deve calcular-se também a equitabilidade (E’), que se determina através da proporção entre a diversidade observada e o valor máximo de diversidade teoricamente possível para aquele local, tendo em conta o número de espécies existente. Este valor corresponde a uma medida da homogeneidade de uma comunidade e varia entre zero (quando os indivíduos pertencem a uma só espécie) e 150 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 um (quando todas as espécies são igualmente abundantes) (Pielou, 1975; Krebs, 1989; Pité & Avelar, 1996; Zar, 1999; Moreno, 2001). Este índice é utilizado para a análise de dados relativos a espécies, mas é por vezes aplicado a outros grupos taxonómicos, como classes e ordens. Os alunos devem começar por trabalhar nos seus próprios grupos e só depois reunirem com os restantes grupos que estudaram o mesmo local. 1. Sugere-se que cada grupo comece por proceder ao cálculo da abundância relativa de cada classe de artrópodes e de cada ordem da classe Insecta, o que possibilita uma análise dos seus próprios resultados. 2. Com base nesses dados, os alunos devem identificar qual(ais) a(s) classe(s) de artrópodes mais abundante(s) e qual(ais) a(s) menos frequente(s). O mesmo deve ser analisado em relação às ordens de insectos. 3. Os grupos que estiveram a estudar o mesmo local devem então reunir-se para a comparação dos resultados obtidos. Os alunos devem analisar se as classes de artrópodes e as ordens de insectos apresentaram a mesma abundância relativa em todos os métodos. Caso isso não aconteça, devem ser elaboradas hipóteses explicativas. O professor deve orientar os alunos de modo a compreenderem que cada método está dirigido para a captura de artrópodes com características ou comportamentos distintos, pelo que não se espera que a abundância relativa dos diferentes grupos seja a mesma. O sítio exacto onde foram montadas as armadilhas dentro do mesmo local pode igualmente interferir com os dados obtidos, uma vez que pequenas mudanças ambientais podem ser originar importantes diferenças ao nível da diversidade de artrópodes capturados. 4. Os grupos devem proceder de seguida à conjugação de todos os dados referentes a esse local, de modo a determinarem a abundância relativa dos diferentes artrópodes, mas no conjunto dos métodos utilizados. 5. Com base nestes elementos, os alunos devem verificar então qual(ais) a(s) classe(s) de artrópodes e ordem de insectos mais abundante(s), e qual(ais) a(s) meno(s) frequente(s) nesse local. 6. Os alunos devem referir que a utilização de diferentes métodos permitiu a obtenção de um conjunto de dados mais completo sobre a comunidade de artrópodes presente nesse local. Isto deve-se ao facto de cada espécie ser preferencialmente capturada através de um determinado método. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 151 7. e 8. Os alunos devem proceder à determinação do índice de Shannon-Wiener e da equitabilidade, tanto para as classe de artrópodes, como para as ordens de insectos. 9. Os alunos devem analisar se os valores da equitabilidade foram elevados (próximos de 1), o que indica a existência de uma elevada diversidade, ou se foram reduzidos (próximo de 0), existindo uma diversidade relativamente baixa. 10. Os alunos que estudaram cada um dos locais devem organizar uma pequena apresentação à restante turma sobre os dados que recolheram, quer através de cada método de captura, quer em relação ao conjunto de resultados. 11. Os dados obtidos em ambos os locais devem ser comparados entre si, de modo a identificar-se qual o local com uma maior abundância e diversidade. Caso os resultados sejam contrários à hipótese colocada inicialmente, devem ser sugeridas hipóteses explicativas, devendo ocorrer uma nova visita aos locais, para reapreciação dos factores do meio. No entanto, deve ser sempre referido que este trabalho é apenas preliminar, tendo sido realizado num espaço de tempo muito curto, pelo que seria necessária a realização de outros estudos para a confirmação dos resultados obtidos. 12. Os alunos devem concluir que as comunidades de artrópodes apresentam uma composição diferente de local para local, a qual é influenciada por diversos factores ambientais. 152 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 ANEXO VI QUESTIONÁRIO SOBRE OS ARTRÓPODES Lê atentamente as seguintes questões, assinalando com uma cruz a opção correcta e justificando a resposta, caso seja pedido. 1. Observa a Figura 1, onde estão representados alguns animais (A, B, C, D e E). 1.1. São artrópodes: a) b) c) d) e) os animais A e B. os animais A, B e C. os animais A, B e D. os animais A, B e E. todos os animais representados. B A C Justifica a tua resposta. 1.2. São insectos: a) os animais A e B. b) os animais A, B e C. c) os animais A, B e D. d) os animais A, B e E. e) todos os animais representados. D E Figura 1 Justifica a tua resposta. 2. Observa a Figura 2, onde está representado o ciclo de vida de um artrópode. Este animal apresenta: a) desenvolvimento directo. b) metamorfose incompleta. c) metamorfose completa. d) nenhuma das opções anteriores. Justifica a tua resposta. Figura 2 RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 153 3. Os artrópodes: a) são um grupo de seres vivos muito diversificado. b) são o grupo de seres vivos mais diversificado. c) são um grupo de seres vivos pouco diversificado. d) são o grupo de seres vivos menos diversificado. e) nenhuma das opções anteriores. 4. Se um investigador pretender capturar artrópodes pousados nos arbustos, deve utilizar preferencialmente: a) um aspirador. b) uma rede de batimento. c) recipientes enterrados no solo d) nenhuma das opções anteriores. e) pratos coloridos. 5. Os artrópodes podem ser capturados utilizando-se pratos coloridos com água e um pouco de detergente. Nestas armadilhas: a) os artrópodes são atraídos pelo detergente. b) os artrópodes são atraídos pela água. c) os artrópodes são atraídos pela cor dos pratos. d) nenhuma das opções anteriores. 6. Qual a tua opinião sobre as actividades que realizaste? 154 | RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 A ABORDAGEM DA BIODIVERSIDADE NO ENSINO SECUNDÁRIO: UMA PROPOSTA DE INTERLIGAÇÃO ENTRE TRABALHO DE CAMPO E LABORATORIAL ATRAVÉS DO ESTUDO DOS ARTRÓPODES RESUMO A realização de trabalhos de campo e de laboratório, encarada com frequência de forma independente, pode ser integrada através do estudo de um problema abrangente, que implique a realização de diversas actividades interdependentes, de carácter investigativo. Como proposta de interligação destas duas dimensões, no contexto do Ensino Secundário e no âmbito da abordagem da biodiversidade, são exploradas as potencialidades do estudo dos factores ambientais que influenciam a diversidade de artrópodes em espaços verdes. Procedem-se a capturas através de armadilhas de água e/ou de queda, sendo as amostras sujeitas a posterior análise laboratorial. A estratégia sugerida desenvolve-se ao longo de cinco etapas, quatro das quais aplicadas a três turmas do ensino secundário. A familiaridade dos alunos com o objecto e locais de estudo foi um dos aspectos que mais contribuiu para o empenho e interesse demonstrados. Palavras-Chave: Trabalho prático, trabalho laboratorial, trabalho de campo, biodiversidade, artrópodes. THE APPROACH OF BIODIVERSITY IN SECONDARY EDUCATION: A PROPOSAL FOR LINKING FIELD AND LABORATORY WORK THROUGH THE STUDY OF ARTHROPODS ABSTRACT The completion of field and laboratorial work, often viewed independently, can be integrated through the study of an overarching problem, carrying out various interdependent activities of investigative nature. This study will assess the interconnection of these two dimensions, in the context of secondary school and under the approach of biodiversity, by the investigation of the environmental factors that influence the arthropods’ diversity in green spaces. The specimens are caught through water traps and/or pitfalls, and the samples subjected to further laboratory analysis. The suggested strategy is developed over five stages, four of which were applied to three high school classes. The students' familiarity with the subject and study sites was one of the aspects that contributed to the commitment and interest shown. Keywords: Practical work, laboratorial work, fieldwork, biodiversity, arthropods. RE, Vol. XVIII, nº 1, 2011 | 155