Tendai Hokke Ichijo Ryu do Brasil Mestre: Eminentíssimo

Transcrição

Tendai Hokke Ichijo Ryu do Brasil Mestre: Eminentíssimo
Tendai Hokke Ichijo Ryu do Brasil
Mestre:
Eminentíssimo Reverendíssimo Arcebispo, Arya Dharmananda Mahacarya
(André Otávio Assis Muniz)
Discípulo:
Sramanera Dharmamanayu (Sandro Vasconcelos)
Data:
30/07/2015
RESUMO DO SUTRA DO LÓTUS
Este trabalho consiste em resumir e interpretar o Sutra do Lótus capítulo por capítulo de maneira
objetiva, porém, buscando um satisfatório aprofundamento nos conceitos por ele apresentados.
Capítulo 1 – Introdução
Parte 1 – Reunião da Assembleia
O Buda Shakyamuni se reúne com discípulos, Bodhisattvas, deuses e outros seres para a pregação
do Sutra do Lótus. Essa reunião mítica e grandiosa revela a importância da pregação do Dharma, a
ponto de reunir vários personagens importantes e ícones religiosos, demonstrando a superioridade
do Dharma em relação às demais filosofias e religiões.
Buda, diante dessa Assembleia, entra em profunda concentração (Samādhi), flores caem sobre
todos, e todos contemplaram o Bhagavant. Em seguida, o Perfeitamente Iluminado emite um raio de
luz, tornando tudo claro; ato que simboliza o discernimento capaz de desvelar os frutos kármicos
daqueles que estão presos no inferno Avichi (estado mental de apego e sofrimento) e auxiliar os
seres a ver e aceitar a realidade com clareza.
Neste contexto, Maitreya pergunta a Manjushri a razão daquele sinal; Manjushri responde que a
intenção é expor o Dharma; ensinando a extinção do sofrimento aos que se iludem e que estão
presos ao ciclo do samsara. A Luz emitida por Buda também demonstra a latente Iluminação dos
seres e a necessidade em comprometer-se com o Voto de Bodhisattva: desfazendo-se de riquezas,
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livrando-se da escravidão dos desejos, em prol dos demais, com uma mente alegre, autoconsciente e
soberana diante de Mara. O Voto ainda sugere a companhia dos nobres e a continuidade da Tradição
Budista.
Parte 2 - Tathagata Chandrasuryapradipa
Neste segundo momento o Tathagata Chandrasuryapradipa é apresentado aos expectadores, seu
nome, “Resplendor do Sol e da Luz” em português, exalta a beleza do Mahayana. Este Buda
proclamava a vida religiosa pura, ensinava as 4 Nobres Verdades, as 6 Paramitas, o Surgimento
Condicionado, a superação do nascimento, da velhice, da doença, da morte, da dor, do lamento, do
sofrimento, do desalento, do desespero; a fim de se alcançar o Nirvana.
Os Antecessores de Chandrasuryapradipa agiam desta mesma forma virtuosa, assim como seus
sucessores (filhos), o que demonstra a continuidade da tradição Budista desde sempre.
Chandrasuryapradipa também entra em Samādhi (mente imóvel) e realiza o mesmo milagre de
Shakyamuni. Acontecimento que, por sua semelhança, aponta para uma Verdade imutável,
atemporal, não dependente de homens, nem deuses, nem de ninguém e que permeia a vida ad
infinitum (Eterno Retorno ou constante devir).
Chandrasuryapradipa, então sai do Samādhi e prega o Sutra do Lótus (O Lótus da Verdadeira
Doutrina) ao Bodhisattva Varaprabha (Luz Maravilhosa). Os longos períodos cósmicos que se
passam enquanto estes fatos ocorrem parecem remeter mais uma vez à ideia de constância daquelas
Verdades expostas, uma espécie de retirada histórica ou atemporalidade.
Finalmente, Chandrasuryapradipa anuncia sua extinção (parinirvana) ao Bodhisattva Shrigarbha
(Tesouro de Excelência) e também o anuncia ao “posto” de Tathagata, nomeando-lhe como
Vimalanetra (Olhar Puro). Nomes que simbolizam crescimento, evolução, ascensão espiritual e
continuidade da Sangha. Chandrasuryapradipa então se Nirvaniza e Varaprabha continua a pregar o
Sutra do Lótus, levando novas pessoas à atingir a Iluminação.
Parte 3 – Bodhisattva Yashaskama
Nessa parte é apresentado um dos discípulos de Varaprabha, o Bodhisattva Yashaskama (desejoso
de glória), que também propagou a doutrina e levou muitos à Iluminação. Manjushri revela, no final
dessa seção, que Varaprabha é ele mesmo e que o Bodhisattva Yashaskama é, nada mais, nada
menos do que Maitreya. Assim, toda a narrativa de Yashaskama, que parecia ser uma história
distante, estava, na verdade, intrinsecamente relacionada com o ouvinte, o Bodhisattva Maitreya.
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Sabe-se que Maitreya é conhecido como o “Buda do futuro”, representando todos os Budas que
viriam a existir em períodos subsequentes até o nosso tempo. Desta forma, a história de Yashaskama
também não nos é estranha, pois nos inclui como participantes do Dharma e discípulos diretos dessa
linhagem espiritual.
Parte 4 – Conclusão do Primeiro Capítulo
Manjushri conclui que o premonitório, pela similitude do milagre desenvolvido por
Chandrasuryapradipa, significa a vontade de Buda em expor o Sutra do Lótus. Exposição que
contém a Essência do Dharma e que deve ser executada com “Habilidade nos Métodos” (capítulo
2). Os Bodhisattvas, que se encaminham para a Iluminação, são sábios que se afastam de qualquer
dúvida, qualquer incerteza e qualquer vacilação.
Capítulo 2 – Habilidade nos Métodos Própria dos Budas
Parte 1 – O Conhecimento Próprio dos Budas
O Bhagavant sai do Samādhi e dirige-se a Shariputra dizendo que o Conhecimento Próprio dos
Budas é de difícil entendimento por Sharavakas, Pratyekabuddhas (que representam a visão
Hinayana) e até mesmo por Bodhisattvas, que representam os Ensinamentos Mahayana e o Voto de
Compaixão a todos os seres.
Buda, então, faz uma clara distinção de classes entre os Budistas, ressaltando a superioridade dos
Tathagatas, os quais compreendem Leis mais profundas e são hábeis (Habilidade nos Métodos) em
ensinar seus discípulos, de acordo com a capacidade de cada um.
Os hábeis carregam várias características que os destacam, como um Conhecimento extraordinário,
desapego total, autoconfiança, meditação, concentração, moralidade, entre outras virtudes. Estes,
além de conhecer as Leis que regem a vida, são capazes de explicá-las corretamente, dizendo a que
tipo pertencem, de que natureza são oriundas, entre outros pormenores.
Parte 2 – Buda distribui seu Ensinamento a todos
Shakyamuni tenta então distribuir seu ensinamento a todos os Sharavakas, Pratyekabuddhas e
Bodhisattvas e demais presentes, orientando-os a não se apegarem a visões errôneas, puramente
racionais/intelectuais. Porém, a Assembleia, que pensava estar trilhando corretamente a Carreira,
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ainda não havia entendido qual era a importância da Habilidade nos Métodos e o porquê de
Shakyamuni tecer tantos elogios a esta.
Após uma certa insistência de Shariputra, Buda aceita esclarecer a dúvida, mas sem antes presenciar
o abandono de cinco mil seguidores que, orgulhosos, se sentiram ofendidos, pois “imaginavam ter
alcançado o que não haviam alcançado e compreendido o que não haviam compreendido”.
Entretanto, o acontecido não é visto de modo negativo por Shakyamuni que afirma: “A Assembleia
ficou livre de excessos”.
A explicação dada pelo Buda consiste em utilizar-se de meios hábeis para transmitir o Dharma que
transcende os limites razão, para colocar os seres no Caminho, a fim de que também tenham o
Conhecimento próprio dos Tathagatas. O intuito dos meios hábeis é o de mostrar que não há Três
Veículos, mas um só e que, inclusive, os Tathagatas do passado, da mesma maneira pregavam,
assim como os do presente e do futuro também ensinarão para o benefício de todos os seres. Em
suma, os Tathagatas podem se apoiar em ensinamentos provisórios para que o Ensinamento
Essencial seja compreendido, senão no mesmo instante, posteriormente. Os ensinamentos
provisórios são como pontes que levam as pessoas à um conhecimento superior. Em certas épocas,
os Budas se vêm obrigados a aplicar certos métodos para ensinar a Doutrina, devido à decadência
moral, espiritual e intelectual da maioria, inclusive daqueles que se consideram religiosos e
“iluminados”. Poucos são os que não estão contaminados pelos prazeres dos sentidos, pelo orgulho
e a hipocrisia e estão preparados para a pregação do Veículo Único.
Após esta exposição da “Verdade Única Inexorável”, Shakyamuni demonstra os desdobramentos do
conceito, ensinando meios de se atingir a Iluminação; elenca qualidades morais, como disciplina,
generosidade, paciência, meditação e sabedoria como imprescindíveis para a Carreira. Também
menciona a veneração de Relíquias dos Budas para a memória e inspiração; bem como, a
construção de Stupas e imagens de escultura para o mesmo fim. Essas relíquias e imagens devem
ser cultuadas com flores, incenso, pinturas, saudações, homenagens e música.
Parte 3 – A Compaixão de Buda
Buda diz sentir compaixão dos seres infelizes, carentes de sabedoria e méritos. Tais seres
encontram-se presos nas cadeias do Samsara (Mundos Infernais), apegados a “valores” efêmeros e
infelizes. O Tathagata conta que quando iluminou-se debaixo da figueira, em um primeiro momento
exitou em propagar o que tinha alcançado, cogitando reter a Verdade somente para si, pois
imaginava a forte resistência que sua Pregação poderia causar pelos chamados “ignorantes”. Porém,
voltou atrás e dotado da Sabedoria Búdica, recorreu à Habilidade nos Métodos, “técnica” já
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discutida na Parte 1 deste capítulo, que tem por finalidade utilizar-se primeiramente de Veículos
Provisórios (simplificados de acordo com os limites dos ouvintes) para “angariar” novos
Bodhisattvas.
“Convencido pela compaixão dos Budas”, Shakyamuni coloca em movimento a Roda da Lei e faz
seu primeiro ensinamento em Benares aos cinco Monges. Assim, nascem definições como Nirvana,
Sangha, Dharma, Samsara, etc. Entretanto, com o crescimento da comunidade Budista, O Bem
Encaminhado decide partir para o Ensinamento Essencial, a rara Doutrina que é de difícil
entendimento e alta rejeição pelos “degradados moralmente”, mas que, por outro lado, pode ser
aceita por seres modestos e puros. Esta Doutrina exige dos Bodhisattvas maiores esforços de
compreensão, contudo, promove a Onisciência e a condição de Buda ao praticante.
Capítulo 3 – A Parábola dos Meninos Salvos do Incêndio
Parte 1 – Conversão de Shariputra
Depois das últimas palavras do Bhagavant sobre o Veículo Único, Shariputra externa sua alegria por
perceber-se livre da ignorância; expondo como sua vida errante tornou-se correta, consciente,
agradável e moral. Shariputra reconhece-se como o iminente Tathagata Padmaprabha (Resplendor
do Lótus), o qual, anunciado por Shakyamuni, deverá pregar o Dharma e constituir uma Sangha
próspera. Buda, então, afirma que Padmaprabha preanunciará um outro Tathagata chamado
Padmavrishabhavikramin (De grande heroísmo e o melhor do lótus), que garantirá a firme conduta
da Comunidade após a extinção de Padmaprabha. O Bem Encaminhado ainda “prevê” que esta fase
de prosperidade da Sangha não perdurará para sempre, pois a Verdadeira Doutrina será
“substituída” pela “falsa aparência do Dharma”. Shariputra, ao ouvir a “profecia”, toma consciência
de sua responsabilidade e pede ao Buda permissão para pregar e esclarecer os monges.
Concluindo essa parte, abro aqui um parêntesis: será que não estaríamos vivendo um destes
períodos de declínio (falsa aparência) em que o materialismo e o relativismo moral (em que tudo é
justificável) têm prevalecido não só na sociedade, mas também nos meios religiosos?
Parte 2 – A Parábola dos Meninos Salvos do Incêndio
Buda propõe uma parábola a fim de orientar Shariputra a utilizar-se da Habilidade dos Métodos
(conceito discutido no capítulo 2) para a propagação do Dharma.
A parábola conta a história de um pai - dono de uma grande casa de madeira, suja e de estrutura
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podre com teto de palha - que percebendo um incêndio em seu imóvel, tenta salvar seus filhos que
ali brincavam. As crianças, mesmo em meio ao fogo, não notavam o perigo e continuavam a brincar
e rir. O homem até pensou em pegá-las nos braços e retirá-las dali, porém a inquietude dos jovens e
a estrutura da casa o impediam de assim proceder, frente a esta impossibilidade, começou a chamálos, porém em vão; seus filhos continuavam a brincar, não compreendiam nem mesmo o significado
da exclamação “está se incendiando”.
A dificuldade fez o homem pensar em algum meio para resgatar seus queridos. Como conhecia os
pensamentos e as inclinações destes, resolveu dizer que os brinquedos mais divertidos estavam do
lado de fora da casa. A “técnica” funcionou todos deixaram a casa rapidamente.
Vendo seus filhos a salvo, o homem muito se alegrou, entregando aos jovens não os “brinquedos
prometidos”, mas carruagens muito mais opulentas e belas; veículos dotados de bastante velocidade
e força, todos de uma mesma cor e de um mesmo tipo, não mais puxados por cabras ou cervos
como eles imaginavam, mas somente por bois. O homem assim agiu devido ao sentimento de
equanimidade com seus descendentes, e estes, por sua vez, se sentiram deslumbrados com os
presentes.
Terminada a parábola, o Bhagavant pergunta a Shariputra se o homem houvera mentido às crianças.
Shariputra responde que não, pois se não tivesse empregado o meio hábil, as crianças teriam
morrido e não teriam sido presenteadas. Pois com a salvação da vida as crianças na realidade
receberam “todos os brinquedos”. Com efeito, mesmo que o homem não tivesse dado nada para as
crianças, as teria salvo do sofrimento, do que por si só seria um grande ganho; porém, mais do que
isso, as presenteou com as carruagens, todas de um mesmo tipo e cor.
Parte 3 – Explicação e Aplicação da Parábola
O homem simboliza o Tathagata, o Perfeitamente Iluminado, “livre de todo temor, libertado de
tudo, em tudo, de todas as formas, de todo infortúnio, desespero, aflição, sofrimento, desalento, da
obstrução produzida pelo véu da cegueira proveniente da treva e da obscuridade da ignorância. O
Tathagata está dotado das Qualidades Especiais dos Budas: o Conhecimento, a Força, a
Confiança em Si Mesmos […] possui a Grande Compaixão, é de mente incansável, é benevolente,
compassivo” (página 154 – K77). O fogo é o sofrimento e o desalento; os seres submetidos ao fogo
encontram-se atormentados pelo nascimento, velhice, enfermidade e morte, pela dor, lamento,
apegados aos prazeres sensuais, experimentam a decepção e acabam recaindo nos mundos
inferiores. Submetidos a esta 'casa incendiada', não percebem o estado em que estão, “se regozijam,
saltam de um lado para o outro […] golpeados por essa grande massa de sofrimento, não fazem
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surgir a ideia de voltar sua atenção para o sofrimento” (página 154 – K78).
O Tathagata quer salvar seus filhos do sofrimento para que gozem de felicidade e obtenham o
Conhecimento próprio dos Budas, libertando-os das delusões. O Buda não precisa usar de força,
pois ele tem a Habilidade dos Métodos, que quando empregada liberta os seres dos Três Mundos
(raiva, ganância e ignorância), oferecendo-lhes magníficos e grandes veículos. Para que as crianças
deixem a casa, o Tathagata primeiramente oferece os Veículos provisórios (Sharavakas,
Pratyekabuddhas e Bodhisattvas) dizendo assim:
“Não vos regozijeis nos Três Mundos, semelhantes a uma casa incendiada, com as formas, os sons,
os odores, os sabores, os contatos, de tão escasso valor. Regozijando-vos nestes Três Mundos,
estais ardendo, sois atormentados, sois torturados pela sede do desejo pelos cinco tipos de objetos
dos prazeres sensuais. Escapai desses Três Mundos! Conseguireis os Três Veículos: O Veículos do
Sharavakas, o Veículo dos Pratyekabuddhas e o Veículo dos Bodhisattvas! […] aplicai-vos neles
para encontrar a saída dos três mundos […] com eles vós brincareis, gozareis e vos divertireis
imensamente. Com as Faculdades e Poderes, com os Elementos constitutivos da Iluminação, com
as Meditações, as Liberações, as Concentrações da Mente, [assim] estareis dotados de grande
felicidade e alegria” (página 155 – K79).
Os Três Veículos provisórios são utilizados em vista da própria realização e do próprio Nirvana. Já a
carruagem adornada com joias, ou seja, o Grande e Único Veículo, é dado aos filhos para que estes
atinjam o Conhecimento, Força e Confiança em Si Mesmos, com o intuito de buscarem, antes da
realização pessoal, o Nirvana Supremo de todos os seres. O Tathagata procede desta forma porque
respeita a capacidade de seus ouvintes, se pregasse diretamente o Veículo Único, não salvaria seus
filhos das chamas do sofrimento. Assim, os Veículos Provisórios são apenas uma primeira etapa, a
libertação do apego pelo entendimento das Quatro Nobres Verdade, contudo, há ainda um outro
degrau a subir, a Suprema Iluminação.
Na reiteração da parábola em versos é possível vislumbrar outros detalhes sórdidos da casa de
madeira, como excrementos, odores, fantasma famintos, animais peçonhentos e demônios
assombrando lugar, todos representando os Mundos Inferiores e os sofrimentos.
Parte 4 – A quem se deve pregar ou não o Sutra do Lótus
Encerrando o capítulo, Buda orienta Shariputra a selecionar quem merece ou não ouvir o Sutra.
O Sutra não deve ser pregado aos arrogantes e orgulhosos, que não desejam a Disciplina e que
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teimam em dizer que o prazer sensual é o significado de suas existências. Aqueles que desprezarem
o Dharma e agredirem os monges cairão no Inferno de Avichi, renascerão como animais esquálidos,
incapazes de domar seus instintos e serão objeto de zombaria e repugnância. Quando renascem
como homens, nascem mutilados e coxos, corcundas tortos e apáticos. Apresentam mau hálito, odor
e chagas, são servos de outrem; não se curam nunca de suas enfermidades e, por isso, não
conseguem jamais discernir o Dharma. Vivem no Inferno e acreditam que não há outro modo de
vida além do que habitualmente exercem. Não enxergam a impermanência e a inconstância dos
fenômenos, acreditando em conceitos de eternidade da alma.
Todos estes malefícios não devem ser interpretados como maldições. Na realidade, os infortúnios
são meramente consequências das próprias ações (karma) dos seres que se afastam da Sabedoria.
Por outro lado, o Sutra do Lótus deve ser ensinado aos “inteligentes e instruídos, dotados de
autoconsciência”, propensos em fazer o bem e agir moralmente. Aquele que tiver este espírito
virtuoso, receberá o Sutra e será encaminhado à Suprema Iluminação.
Capítulo 4 – A Abertura da Mente
Parte 1 – Os monges anciãos
Ditas suas últimas palavras sobre a Suprema Iluminação, os monges mais velhos da Assembleia,
Subhuti, Mahakatyayana e Mahamaudgalyayana se aproximam de Buda, confessando a este que,
antes desta exposição do Sutra do Lótus, acreditavam ter alcançado o Nirvana, porém, na verdade,
estavam apenas acomodados por todo este tempo nos Veículos Provisórios. Esse trecho mostra que
tempo de carreira monástica não garante, por si só, a Iluminação.
Parte 2 – A Parábola do Filho que abandonou o Lar Paterno
Ouvindo os anciãos, Buda propõe a parábola de um homem, que deixou a casa de seu rico pai sem
deixar informações de seu paradeiro, preferindo viver em extrema pobreza, mendigando para
sobreviver. Vagando como pedinte por muitas cidades, 50 anos mais tarde este homem
aleatoriamente chega a um suntuoso palácio; aproximando-se da construção, vê seu pai, o dono da
propriedade, sentado com grande pompa e rodeado por súditos, mas não o reconhece. Diante desta
visão, o homem foge, temendo ser preso para trabalhos forçados. O pai vendo seu filho de longe,
alegrou-se sobremaneira, pois morria de saudades. Já próximo da morte, devido à idade avançada, a
autoridade procurava uma pessoa para deixar sua fortuna e reconhecendo seu filho, cogitou fazê-lo
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herdeiro.
O pai, então, cria um plano de reconciliação, falaria a verdade aos poucos, pois o homem não
acreditaria se subitamente soubesse que era seu filho. Para isso, chama dois indivíduos pobres para
o trabalho de limpeza do lixo, orientando-os a recrutar seu filho para participar da mesma atividade.
Passado algum tempo, enquanto limpavam o palácio, o chefe de família disfarçado com roupas
simples, propõe o seguinte ao seu descendente:
“Bom homem, trabalha aqui, não te vás para outro lugar. Eu te darei um salário especial.
Qualquer coisa que necessites, pede-a para mim sem desconfiança […] tu hás de me considerar
como se eu fosse teu pai. […] E enquanto tu, bom homem, trabalhaste aqui, não incorreste nem
incorres em engano ou fraude ou falsidade ou orgulho ou hipocrisia – não vejo em ti sequer uma
única ação má – como são os defeitos próprios desses outros que trabalham aqui” (página 183 –
K106).
Aos poucos o homem pobre foi criando um sentimento familiar para com o chefe da casa, que o
manteve no mesmo emprego por vinte anos. Estavam já íntimos depois deste longo período, a ponto
do homem ter liberdade de entrar e sair do palácio.
Perto da morte, a autoridade confere ao filho o poder de administrar todas as riquezas, mas ainda
sem revelar-lhe a paternidade. Contudo, o descendente, mesmo em condição elevada, preferia
continuar morando no mesmo e humilde lugar, confuso com sua posição de pobreza. O pai,
percebendo toda a competência, cuidado e maturidade do filho, resolve, enfim, contar a Verdade e
escancará-la a todos. O filho, sabendo da Verdade enche-se de admiração, dizendo a si mesmo:
“Inesperadamente recebi tanto, moedas de ouro, ouro, riquezas, grãos, tesouros, depósitos de
grãos e casas!” (página 185 – K108).
Parte 3 – Explicação da Parábola do Pai e do Filho
Os velhos monges consideraram sua própria situação à luz da parábola: o chefe da casa representa o
Tathagata e os anciãos são os seus filhos que viviam “como mendigos”, atormentados pelos três
sofrimentos: o sentimento da dor, a natureza do sofrimento que em si tem a mudança (a resistência
que as pessoas têm às mudanças da vida, como enfermidades, fim de relacionamentos e amizades,
etc.) e a natureza do sofrimento que em si tem as coisas condicionadas (a insubstancialidade, tudo é
transitório). O trabalho no lixo significa o Bhagavant colocando os monges nos Veículos
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Provisórios (capítulo 3), fazendo-os refletir sobre as coisas inferiores. Satisfeitos com o salário (o
Nirvana individual), criam conformados que aquilo já era tudo e que não havia mais nada a se
conquistar. Porém, acima dos estados provisórios ainda havia “O Tesouro do Conhecimento Próprio
do Tathagata” que é muito mais valioso que o salário de “limpador de lixo”. Os monges eram Filhos
do Bem Encaminhado, mas tinham inclinação para o pequeno, até que em momento oportuno de
maturidade espiritual (Habilidade nos Métodos – capítulo 2), receberam o Tesouro Maior, e de
mente aberta, adquiriram a inclinação própria dos Bodhisattvas Mahasattvas.
“Inesperadamente recebemos, nós que éramos indiferentes, a Joia da Onisciência, não desejada,
não pedida, não buscada, não esperada, não solicitada, obviamente porque somos os Filhos do
Tathagata!” (página 186 – K110).
Capítulo 5 – As Ervas
Parte 1 – A nuvem, a chuva e as plantas
Buda faz uma comparação que envolve ervas, nuvem e a chuva com os seres, o Tathagata e sua
Palavra, respectivamente. Existem vários tipos de vegetais, como árvores, arbustos, gramas, etc. A
nuvem despeja uma mesma água sobre todos, porém cada um cresce segundo sua característica e
vigor, dando flores e frutos. Da mesma forma o Buda derrama sua Palavra a todos os seres,
independentemente das suas características, visando a felicidade dos mesmos, os fazendo aspirar
pelo nirvana, reconhecendo as diferenças e capacidades de cada um. O Iluminado procede desta
forma a fim de que os seres alcancem a Liberação, o Desapego, a Cessação e o Conhecimento.
Assim como a nuvem sobrevoa diferentes tipos de ervas, das mais rasas às mais robustas, e dispensa
a água, essencial para a vida, sobre todas, para que cada uma se desenvolva de acordo com sua
espécie; o Buda “adapta” sua Essencial Palavra de acordo com as características e limitações de
cada um, pois, apesar do ensinamento ser o mesmo, Ele sabe que se mantivesse a mesma estratégia
sempre, muitos ficariam confusos e se afastariam ainda mais da Iluminação. Um Buda conhece
mais as peculiaridades de cada ser do que os próprios seres, conhece seus pensamentos e virtudes,
carências e faltas.
Parte 2 – A parábola do homem cego de nascimento
Na sequência, Buda fala sobre um homem cego que pensava não existir cor, planeta, estrela, Sol ou
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Lua. Um dia, um médico, que acreditava que a origem de todas as enfermidades está relacionada
com o ar, a bílis e a fleuma; movido de compaixão, decidiu curar aquele homem com as quatro
ervas do Himalaia, a saber: “A que possui as possibilidades de toda cor e sabor”, “A que livra de
toda e enfermidade”, “A que destrói todo veneno” e “A que outorga a felicidade”. Com estas
plantas, o médico curou o deficiente visual através de alguns procedimentos “cirúrgicos” e também
misturando compostos destas ervas na comida e na bebida do enfermo. O homem curado,
conseguindo ver as cores, as estrelas, a lua e as demais coisas, lamentou-se não ter crido na
existência destas antes. Entretanto, uma vez enxergando, começou a jactar-se, julgando-se superior
aos outros.
Então, alguns Rishis, que eram peritos na realização da visão divina, audição divina, leitura da
mente e outros poderes “mágicos”, ao verem o homem vangloriar-se, o censuraram, dizendo que
este apenas tinha recobrado a visão, mas que não atingira ainda a sabedoria (que é uma visão muita
mais ampla do que visão natural).
O homem aceita a persuasão e pergunta qual é o meio de se alcançar a sabedoria; os Rishis o
aconselham a procurar a vida ascética e a meditar no Dharma, abandonando todos os desejos pelos
prazeres do mundo. Assim aquele homem procedeu e alcançando as Cinco faculdades
Extraordinárias, pensou:
“Devido aquele karman que eu havia acumulado nenhuma tributo havia sido alcançado por mim.
Eu agora vou para onde eu queira e antes eu era um homem de escassa inteligência, escassa
experiência, eu era um cego” (página 214 - K135)
Parte 3 – Explicação da parábola anterior
O cego de nascença representa os seres presos no Samsara, ignorantes e desconhecedores do
Dharma, que sofrem por decorrência de suas próprias ações (samskaras). Segundo as palavras do
próprio texto: “[...] o grande médico representa o Tathagata […] o ar, a bílis e a fleuma representam
a paixão, o ódio e o erro […]. As quatro ervas representam a Vacuidade, o Estado isento de causas,
o Estado isento de finalidade e o acesso ao Nirvana.” Os Rishis são os Bodhisattvas que desejam
que os seres desenvolvam a Mente de Iluminação.
Com as ervas os seres fazem cessar a ignorância (Teoria dos Doze Membros do Surgimento
Condicionado) e com isso deixam de produzir samskaras. O cego que recobra a visão, representa o
veículo dos Shravakas e dos Pratyekabuddhas; liberto da ignorância primeira, acredita já estar no
Nirvana e não precisar mais avançar espiritualmente. Porém, o Bhagavant o incentiva a se
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aprofundar ainda mais nos Ensinamentos, a fim de enxergar a realidade em sua Essência Vazia,
como uma miragem e com onisciência para entender as inclinações e propensões dos seres, com o
objetivo de ajudá-los.
“Aquele em quem a mente de Iluminação surgiu (isto é, um Bodhisattva), em razão de sua
sabedoria já não está no samsara e, em razão de sua compaixão o que o leva a ajudar os outros
seres, tampouco está no Nirvana.”
Nota 313 do capítulo (página 216)
Capítulo 6 – As Predições
Buda preanuncia que um de seus Bhikshus, Kashyapa, será um Tathagata chamado Rashmiprabhasa
(que significa Resplendor do raio de Luz), que em um Período Cósmico denominado Mahavyuha
(de grande magnificência), possuirá um Mundo de Buda, angariando milhões de Bodhisattvas e
Shravakas, que uma vez inspirados pela conduta moral e sábia, não darão mais ouvidos à Mara e se
aplicarão no conhecimento da Verdadeira Doutrina e na disciplina.
Ao ouvirem estas palavras, Mahamaudgalyayana, Subhuti e Mahakatyayana entendendo estarem
ainda nos Veículos Inferiores, pedem ao Bhagavant que lhes preanuncie também a condição de
Buda. Em seguida, Buda então diz que Subhuti será um Tathagata chamado Shashiketu,
Mahakatyayana será o Tathagata Jambunadaprabhasa e Mahamaudgalyayana será conhecido como
Tamalapatrachandanagandha. O Bem Encaminhado ainda complementa que todos eles serão
possuidores das virtudes Arya, realizarão a Vida Religiosa e suscitarão inúmeros Bodhisattvas.
Este capítulo, em suma, demonstra que há ainda algo mais sublime do que os Veículos Inferiores,
ou seja, o Sutra do Lótus está a pregar sobre um “objetivo” além da “Cessação do Sofrimento”
(meta última do Budismo Hinayana).
Capítulo 7 – Uma Existência Anterior de Shakyamuni e de Outros
Parte 1 – Tathagata Mahabhijnajnanabhibhu e seu rebento
Shakyamuni conta a história de um Tathagata que existiu há muito tempo (milhões de períodos
Cósmicos), chamado Mahabhijnajnanabhibhu (Soberano do Conhecimento e dos Grandes Poderes),
dotado de sabedoria, compaixão, conduta moral e possuidor de muitos outros atributos dos Budas.
Este Mestre, quando ainda não tivera alcançado a Perfeição, ficou por muito tempo meditando,
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extremamente concentrado em luta com seus demônios, debaixo de uma árvore. A cada vitória
sobre
Mara,
músicas
celestiais
eram
tocadas
e
chuva
de
flores
caíam.
Quando
Mahabhijnajnanabhibhu, enfim, atingiu a Iluminação, recebeu elogios de seus dezesseis filhos, que
deixando de lado seus brinquedos, desejaram ouvir o Dharma para benefício próprio e também dos
demais. Uma vez nirvanizado, sob homenagem e oferendas contínuas de carruagens por parte dos
deuses Mahabrahmas, este Tathagata produzira um forte esplendor, um intenso brilho capaz de
influenciar e beneficiar a vida de muitos outros seres.
Maravilhados com o prodígio, os deuses Mahabrahmas de todas as direções, diante desse Tathagata,
também pediam pelo ensino do Dharma, para benefício próprio e também dos demais.
Mahabhijnajnanabhibhu, então, ensina sobre as Quatro Nobres Verdade e o Surgimento
Condicionado, enfatizando a vida como um período permeado de dor e ensinando sobre a origem e
a cessação desta dor. Terminada a pregação, milhões de seres se liberam de suas impurezas e
conseguem grandes sucessos espirituais, inclusive os dezesseis filhos deste Buda, que ao abdicarem
da vida comum em prol da carreira religiosa, darão continuidade à tradição do Sutra do Lótus
(pregação do Veículo Único).
O Tathagata, satisfeito com o destino de seus filhos, também lhes anuncia a Iluminação, alterando
seus nomes, a saber:
[1] Akshobhya (Imperturbável), [2] Merukuta (Cimo do Monte Meru), [3] Simhaghosha (Rugido de
Leão), [4] Simhadhvaja (O que tem um Leão em seu Estandarte), [5] Akashapratishthita
(Localizado no Espaço), [6] Nityaparinirvrita (Extinto para Sempre), [7] Indradhvaja (O que tem
Indra em seu Estandarte), [8] Brahmadhvaja (O que tem Brahma em seu Estandarte), [9] Amitayus
(Vida Infinita), [10] Sarvalokadhatupadravodvegapratyuttirna (O que Enfrentou as Calamidades e
Angústias de todos os Universos), [11] Tamalapatrachandanagandhabhijna (Poder Extraordinário
com Perfume de Sândalo da Folha de Tamala), [12] Merukalpa (Semelhante a Monte Meru), [13]
Meghasvaradipa (Luz e Som da Nuvem), [14] Meghasvararaja (Rei do Som da Nuvem), [15]
Sarvalokabhayacchambhitatvavidhvamsanakara (Destruidor do Temor e do Medo de todos os
Seres) e [16] Shakyamuni, o Tathagata do nosso mundo de sofrimento denominado Saha.
Parte 2 – A parábola dos viajantes desalentados e da cidade mágica
Na sequência do texto, Shakyamuni conta uma parábola. Havia uma vez um grupo de viajantes que
se dirigia à Ilha dos Tesouros; cansados da caminhada em meio à selva, desejavam retornar e
desistir. Porém estes homens eram guiados por um grande Sábio, que vendo o sofrimento de seus
súditos fez aparecer magicamente uma grande cidade no meio do caminho para o descanso dos
13
viajantes. Estes viajantes saciaram-se nessa cidade, se admiraram e se sentiram felizes, achando já
terem chego ao destino final. Contudo, o Sábio, após perceber que as pessoas estava descansadas,
fez o lugar desaparecer e disse que a Cidade dos Tesouros real estava próxima.
Parte 3 – Significado da parábola anterior
A parábola se refere aos Veículos Provisórios e ao Veículo Único. O sábio simboliza o Buda que
convida os seres a atravessarem a selva das impurezas e do sofrimento. Se Ele falasse do Veículo
Único diretamente, os seres de débil disposição metal desistiriam da carreira Budista. Por isso, os
Veículos Provisórios dos Shravakas e dos Pratyekabuddhas são apresentados primeiramente como
meios hábeis; os discípulos enxergam estes ensinamentos como o Nirvana, porém são apenas
degraus para ascender ao Veículo Único.
Capítulo 8 – O pré-anúncio de Sua Iluminação feito por Buda a Quinhentos Monges
Parte 1 – Buda faz o pré-anúncio ao Venerável Purna e a Quinhentos Monges
Essa sessão começa com uma reflexão do Venerável Purna, filho de Maitrayani, que após a parábola
do capítulo anterior, declara admirar a forma com que o Buda, conhecedor da mente dos homens,
aborda os seres e os conduz à Iluminação através dos Meios Hábeis.
Buda então elogia Purna pela sua conduta virtuosa e preanuncia sua Iluminação, dizendo que este
será o Tathagata Dharmaprabhasa e conduzirá muitos seres ao aperfeiçoamento espiritual.
Buda ainda anuncia a Iluminação de Kaundinya, que será o Tathagata Samantaprabhasa (Esplendor
Universal) e a mais outros quinhentos Grandes Discípulos que serão conhecidos também pelo
mesmo nome.
Parte 2 – A parábola do homem que, submerso na pobreza, desconhecia que tinha uma joia valiosa
“Certa vez, um homem entrou na casa de um amigo e esse amigo, enquanto ele estava descuidado
ou dormindo, amarrou na franja de sua vestimenta uma joia de valor incalculável feita de pedras
preciosas, pensando: 'Que esta joia feita de pedras preciosas seja para ele!' Então, aquele homem,
levantando-se de seu assento partiu. E ele chegou a outra região do país. Ali teve dificuldades,
encontrou dificuldades na busca de comida e vestimenta e com grande esforço de alguma maneira
conseguia algum alimento e com ele estava satisfeito, contente, feliz.
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Então, o antigo amigo desse homem, que havia atado aquela joia de valor inestimável feita de
pedras preciosas na franja de sua vestimenta, voltou a vê-lo e lhe disse o seguinte: 'Por que tu, ó
amigo, encontras dificuldades na busca de comida e vestimenta, quando eu, ó amigo, para que
vivesses feliz, amarrei na franja de sua vestimenta uma joia de valor inestimável feita de pedras
preciosas capaz de favorecer todos os seus desejos? Ó amigo, dei-te aquela joia minha feita de
pedras preciosas. Eu a amarrei, ó amigo, aquela joia feita de pedras preciosas na franja de tua
vestimenta. E tu na verdade não refletiste, ó amigo: "Que coisas amarraram na minha roupa?" ou
"Quem amarrou isso?" ou "Qual é a causa ou por que razão amarraram isso?"
Ó amigo, és um néscio tu que, buscando dificultosamente comida e vestimenta, ficaste satisfeito.
Vai, ó amigo, para a grande cidade levando essa joia feita de pedras preciosas e, lá chegando,
troca-a por dinheiro. E com esse dinheiro faze todas as coisas que podem ser feitas com ele'.”
Sutra do Lótus capítulo 8 (K210-K211)
O texto usa de metáfora para reiterar uma verdade suprema: a Natureza Búdica que, mesmo
presente nas pessoas, raramente é percebida devido às delusões. Esta natureza nada mais é do que a
própria Iluminação latente, a verdadeira natureza da realidade. O homem, iludido, considerava-se
feliz ao comer migalhas e se vestir com trapos, simbolizando aqueles que acreditam que o Nirvana
se encontra nos Veículos Inferiores, porém, o amigo deste homem, que representa o Buda, diz
existir algo superior àquele conhecimento limitado, a joia da Suprema Perfeita Iluminação, que uma
vez encontrada, transforma uma vida de miséria em fartura.
Capítulo 9 – O pré-anúncio da Iluminação de Ananda, Rahula e outros dois mil Bhikshus
Os Veneráveis Ananda e Rahula também expressam seu desejo de receber o pré-anúncio de
Iluminação, juntamente com mais de dois mil monges. Buda, então, inicia os pré-anúncios,
primeiramente
com
Ananda,
afirmando
que
este
será
o
Tathagata
Sagaravaradharabuddhivikriditabhijna, que significa “O que tem o Poder Extraordinário facilmente
manejado por sua inteligência que é profunda como o oceano”. Buda explica que Ananda chegará a
esta condição porque é dedicado a aprender muito e por manter conduta virtuosa. Ao ouvir estas
palavras, o discípulo expressa bastante alegria.
Em seguida, Shakyamuni também anuncia a Suprema e Perfeita Iluminação a Rahula, que, por ser
dotado de virtudes, se tornará o Tathagata Saptaratnapadmavikrantagamin, que significa “O que
caminha vitoriosamente sobre lótus feitos de sete pedras preciosas”. Este Tathagata será
15
considerado o “filho mais velho” de Sagaravaradharabuddhivikriditabhijna.
Finalmente, o anúncio da Suprema e Perfeita Iluminação também é realizado aos dois mil
Shravakas, que contemplavam o Bhagavant com uma mente serena e concentrada. Cada um deles
terá seu próprio “Mundo de Buda” e serão responsáveis por angariar muitos discípulos. Estes
monges, ao receberem o anúncio da Iluminação, assim como Rahula, muito se regozijaram.
Capítulo 10 – Os Pregadores do Dharma
Parte 1 – Iluminação anunciada a todos aqueles que venerarem o Sutra do Lótus
Os capítulos anteriores partiram de pré-anúncios individuais até que se alcançou a “promessa” aos
dois mil monges. Neste capítulo, a Suprema e Perfeita Iluminação é ainda mais abrangente, sendo
anunciada a todo aquele que venerar e prestar culto ao Sutra do Lótus. O texto sugere que o Sutra
seja homenageado com incensos, flores, perfumes, músicas, etc.
Parte 2 – Respeito devido aos Pregadores do Dharma e os Efeitos do Culto ao Sutra do Lótus
Nesta parte, Buda alerta que todos aqueles que respeitam, defendem e ajudam a difundir o Dharma
devem ser homenageados. Inclusive, ofender um Pregador do Dharma é uma falta mais grave do
que ofender ao próprio Buda. Força interior, força proveniente das raízes meritórias e a força do
Voto, além da proteção dos Tathagatas, são os benefícios concedidos aos Divulgadores do Sutra do
Lótus. Não se devem entender tais benefícios como se fossem bênçãos místicas de alguma
divindade, mas simplesmente bons frutos dos karmas produzidos pelos próprios Pregadores.
Parte 3 – A parábola do homem que procura água
Um homem que desejava água, sem outra opção, começou a cavar em um lugar deserto. Enquanto a
terra ainda estava esbranquiçada, pensava estar longe de encontrar a substância, continuando, assim,
a cavar. Entretanto, quando no fundo do buraco começava a aparecer o lodo e a umidade, sabia que
a água estava próxima. Da mesma forma age o Bodhisattva; por mais difícil e árido que seja o
processo da Suprema e Perfeita Iluminação, este não se contenta em ficar na superficialidade da
doutrina, preferindo se aprofundar na reflexão e no Conhecimento desta. Se desiste logo no começo,
nunca perceberá a Essência do Dharma.
16
Parte 4 – Qualidades morais dos Bodhisatvas
O Bodhisattva deve reunir as seguintes características: benevolência, paciência, suavidade,
compreensão da Vacuidade, mente não deprimida, dedicação aos estudos, eloquência, Sabedoria e
resistência às críticas. O discípulo que assim procede “recebe do Buda” todo o suporte para que sua
Sangha prospere.
Capítulo 11 – Aparição de uma Stupa
Parte 1 – A Stupa
E durante a pregação, em meio à Assembleia, surge uma Stupa adornada com pedras preciosas e
bandeiras, e dentro dela o Buda mítico Prabhūtaratna (O de numerosas pedras preciosas), que
aparece confirmando as palavras de Shakyamuni, dizendo que o Ensinamento dado por este é a
Verdade.
Prabhūtaratna pede, então, para que Shakyamuni sente-se junto a ele, Buda aceita o pedido e divide
o trono com ele. A Stupa e o Buda mítico representam a própria Verdade que a tudo permeia e ao
confirmarem o Dharma, atestam que este é uma manifestação desta Verdade.
Parte 2 – Os Budas chegam ao Universo Saha
Buda emite um raio de luz que faz com que todos vejam os Mundos com clareza, com todos os seus
Budas e Bodhisattvas. Foi possível ver cada um deles; todos estes se dirigiam ao Universo Saha e
conforme chegavam, “os Tathagatas tomavam assento cada um num trono ao pé de uma árvore de
pedras preciosas”. Em seguida, Shakyamuni faz de todos estes mundos um único Mundo de Buda,
com muitas árvores enormes, adornadas com pedras preciosas e muitos tronos para que os
Tathagatas tomem assento e ensinem a Doutrina aos seres. O texto dá a ideia de uma Verdade
Universal, única, que abrange a todos e como novos Tathagatas surgem ao perceberem esta
Verdade.
Parte 3 – A História do Rei que foi um Buda numa vida anterior
Shakyamuni revela que fora um rei na vida passada, que esforçava-se em seguir o Voto das Seis
Perfeições e praticava a Generosidade para com todos. Nesta época, os habitantes de seu reinado
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gozavam vida próspera e feliz, pois sua regência era baseada na Doutrina e não no próprio prazer.
Este rei, consagrou seu filho mais velho para substituí-lo, abandonando o reinado na busca por
algum mestre que o Ensinasse a Melhor Doutrina. Assim, ele encontrou um Rishi e se tornou
servidor deste. Este Rishi o apresentou ao Sutra do Lótus, a Doutrina mais difícil de se encontrar,
aquela que livra os seres dos renascimentos nos Mundos inferiores. Com afinco, Shakyamuni
aprendeu este Sutra, e com diligência serviu àquele Mestre por mil anos.
Buda então revela que o Rishi era Devadatta, um bom amigo que, com seus conselhos, ajudou-o em
seu progresso espiritual. Após ter encontrado Devadatta, Shakyamuni alcançou, em sua plenitude,
as Seis Perfeições, a Grande Benevolência, a Grande Compaixão, a Grande Alegria, a Grande
Paciência, as Trinta e Duas Marcas dos Grandes Homens [1], as Oitenta Marcas Secundárias [2], a
pele de cor dourada, os Dez Poderes, as Quatro Confianças, os Quatro Meios de Atração, as Dezoito
Qualidades Especiais dos Budas, a Grande Força do Poder Extraordinário e a Capacidade de Salvar
os seres nas dez regiões do espaço.
[1] Signos ou Marcas ou Características (laksana): referências às 32 Marcas Características dos
Grandes Homens, isto é, dos Budas. Indicam certos atributos corporais que diferenciam o corpo
dos
Budas do corpo dos outros homens. Muitos deles estão presentes nas representações
iconográficas dos Budas.
[2] Além das 32 anteriores, os Budas possuem mais 80 características menores.
Parte 4 – Bhikshu Devadatta
Buda preanuncia que Devadatta será um Tathagata conhecido como Devaraja, dotado de Sabedoria
e de boa conduta, que será mestre de um Mundo de Buda chamado Devasopana (Escada dos
Deuses) e que será responsável pela conversão de inumeráveis discípulos, Arhants, que farão surgir
em si a Mente da Suprema Iluminação. Após a extinção de Devaraja, Buda recomenda a construção
de uma Stupa e a veneração deste Tathagata.
Parte 5 – Diálogo entre os Bodhisattvas Prajnakuta e Manjushri
Nessa parte, o texto apresenta um diálogo entre os Bodhisattvas Prajnakuta (Estandarte da
Sabedoria) e Manjushri sobre a conversão dos seres ao Veículo Superior, eles também conversam
sobre os esforços de Shakyamuni em obter a Iluminação e sobre filha de Sagara que se converte em
Bodhisattva. Então, diante da dúvida de Shariputra, que questionava a possibilidade de uma mulher
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alcançar a Iluminação, a filha de Sagara se transforma em homem, realiza a Paramita da
Generosidade, presenteando Shakyamuni com uma joia e logo em seguida atinge o estado de Buda.
A conversão em homem da filha de Sagara representa a necessidade de se abrir mão das vaidades,
típicas do sexo feminino, para a evolução espiritual.
Capítulo 12 – O Esforço
Parte 1 – A Promessa dos Discípulos
Os Bodhisattvas Bhaishajyaraja e Mahapratibhana, bem como os monges e outros discípulos,
prometem dar continuidade à pregação do Sutra do Lótus, mesmo aos seres mais arrogantes,
perversos e desprovidos de receptividade, após o Parinirvana de Shakyamuni.
Parte 2 – Novos pré-anúncios
Buda anuncia que sua tia, Mahaprajapati se tornará o Tathagata Sarvasattvapriyadarshana, que
significa “De Olhar Amável para com todos os Seres”. A monja Yashodhara será o Tathagata
Rashmishatasahasraparipurnadhvaja, que significa “Estandarte cheio de cem mil raios de luz”. Após
estes pré-anúncios, ambas as mulheres prestam culto ao Bhagavant e prometem pregar o Dharma a
todos os seres, afim de lhes trazer alívio.
Parte 3 – Suportando o Vitupério
Os Bodhisattvas predizem a vinda de um tempo, após a extinção do Buda, de degeneração do
Dharma, quando Bhikshus heréticos enganarão as pessoas e caluniarão os seguidores da Verdade.
Porém, os fiéis devem resistir a todas estas intempéries, permanecendo pacientes e diligentes na
pregação da Doutrina.
Capítulo 13 – A Existência Feliz
Parte 1 – O Proceder do Bodhisattva
A existência do Bodhisattva deve ser baseada na boa conduta, satisfazendo, para isso, certas
condições: generosidade, autocontrole, não ter medo ou temor e estar despojado da inveja; enxergar
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a realidade como ela é e eliminar suas dúvidas em relação à natureza dos dharmas (fenômenos).
O Bodhisattva não deve se misturar com a politicagem de ministros e reis, nem reverenciar os
adeptos de outras religiões, nem os devotados à poesia, nem os supersticiosos, nem os materialistas,
não deve se misturar com o populacho, nem com aqueles que exaltam a violência, nem com os que
comercializam ou comem carne, nem com caçadores, nem com os que frequentam a vida noturna
ou gostam de jogos de azar; unicamente lhes prega de tempos em tempos o Dharma quando se
aproximam dele, e lhes prega sem se apegar a eles. O Bodhisattva não deve reverenciar monges e
leigos que não acreditam no Veículo Único, não deve ficar de engraçamento com as mulheres, nem
ensinar a transsexuais ou travestis. Não deve fazer fofocas e ficar “mostrando os dentes” por
qualquer motivo. Além disso, deve cultivar uma vida contemplativa e solitária e perceber que a
realidade é Vazia e inexprimível.
O Bodhisattva deve pregar o Dharma da seguinte maneira: com humildade e vigor; sem entrar em
disputas com outros monges e expressando-se de um jeito amável, visando beneficiar aos que
venham até ele e estejam desejosos pela Doutrina.
Parte 2 – A Parábola do Rei Generoso
Havia um rei poderoso que conquistou por sua força vários reinos. Este rei vendo a fidelidade de
seus soldados nas guerras resolveu os presentear com ouro, pedras preciosas, terrenos, casas, etc.
Porém, a princípio não lhes deu a coroa, porque estes ficariam muito confusos, naquele momento,
com este gesto.
Da mesma maneira o Tathagata, ao ver seus discípulos lutando bravamente contra Mara,
primeiramente lhes dá os Veículos Inferiores e se salvaguarda, a princípio, de oferecer-lhes o Sutra
do Lótus, que tem em sua essência o Veículo Único.
Contudo, assim como aquele rei, impressionado pela grande façanha viril de seus soldados, lhes deu
depois até mesmo a coroa, Buda concede aos seus Discípulos (após um período “probatório” e de
adaptação), a última e definitiva Exposição da Doutrina, que é semelhante a uma coroa, brindando a
todos com a Onisciência.
Capítulo 14 – Surgimento de Bodhisattvas das Concavidades da Terra
Parte 1 – Bodhisattvas do Mundo Saha
Eis, então, que no meio da Assembleia surgem incontáveis Bodhisattvas Mahasattvas de outros
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mundos se propondo a pregar o Sutra do Lótus no Universo Saha. Porém, Buda os repreende
dizendo que dentro do Universo Saha já há uma quantidade muito maior de Bodhisattvas que
podem realizar esta tarefa sem necessidade de ajuda alguma.
E ditas estas palavras pelo Bhagavant, o mundo Saha em todas as partes se fendeu e do interior
daquelas rachaduras surgiram milhões de Bodhisattvas, mestres do Dharma, com corpos dourados e
dotados das Trinta e Duas marcas virtuosas, que emergidos das concavidades da Terra prestaram
homenagens por um longo tempo aos Tathagatas Prabhūtaratna e Shakyamuni.
E dentre aquela multidão de Bodhisattvas, encontravam-se quatro que estavam diante de todos, a
saber: Vishishtacharitra (Excelente Boa Conduta), Anantacharitra (Infinita Boa Conduta),
Vishuddhacharitra (Imaculada Boa Conduta) e Supratishthitacharitra (Completamente Firme Boa
Conduta).
Estes quatro Bodhisattvas Mahasattvas dirigem ao Bhagavant as seguintes perguntas:
“Goza o Bhagavant de boa saúde? Está livre de qualquer dor? Sente-se feliz? Mostram-se os seres
em boa disposição, dóceis na instrução, fáceis de conduzir, dispostos a se deixar purificar? Não
provoquem cansaço ao Bhagavant” (página 391 – K301).
Buda responde afirmativamente a todas as perguntas, dizendo que os seres que confiam em Sua
Palavra se prepararam bem, sob a direção de Perfeitamente Iluminados do Passado. Estes seres são
os Shravakas e os Pratyekabuddhas que agora encontram-se prontos para ouvir a Verdade Suprema.
Parte 2 – Dúvidas de Maitreya e outros Bodhisattvas
Maitreya e os demais presentes na Assembleia perguntam a Buda de onde vieram aqueles
Bodhisattvas de tão excelente qualidade.
Shakyamuni responde que estes Bodhisattvas surgiram porque Ele os estimulou e os apresentou ao
Caminho. Complementa dizendo que estes fieis, que brotaram das concavidades da Terra, são
grandes homens, dedicados, que não gozam com a vida em sociedade; são independentes, ou seja,
não apegados à vida mundana e também praticam a perseverança.
Maitreya se admira pela quantidade de Bodhisattvas alcançados por Shakyamuni em um curto
intervalo de tempo, ficando em dúvida sobre como Buda realizou tamanha proeza. Porém, este
questionamento só é respondido no próximo capítulo.
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Capítulo 15 – Duração da Vida do Tathagata
Parte 1 – Resposta às dúvidas do Capítulo Anterior
Nesse capítulo Buda responde às perguntas que lhe foram feitas no capítulo 14, com relação a como
é possível que nos anos em que sua pregação durou, uns quarenta anos, tenha podido converter e
instruir uma quantidade praticamente infinita de Bodhisattvas. Shakyamuni responde afirmando que
Ele alcançou a Iluminação há muitos milhões de Períodos Cósmicos e que a duração de Sua vida
não tem limites. Obviamente Shakyamuni não está falando do seu Corpo Manifesto, mas sim da
própria Natureza de Buda que o permeia, a Verdade, que sendo absoluta é imutável, ou seja, a
mesma desde sempre. Buda diz que ao mesmo tempo em que ingressou, também não ingressou no
Nirvana, referindo-se ao Corpo da Manifestação (Nirmakaya) e ao Dharmakāya, respectivamente.
Buda deseja que os seres não se tornem dependentes dele como homem, mas sim que despertem a
Mente Iluminada e tenham o “Tathagata dentro de si”. Para ilustrar estas explicações, O Iluminado
recorre à parábola do médico que utilizando-se de um estratagema, liberou todos os seus filhos da
enfermidade.
Parte 2 – Parábola do Médico que liberou todos os seus filhos da enfermidade
Um médico e pai notando que seus muitos filhos estavam doentes e com suas mentes transtornadas
devido ao uso de uma substância tóxica, preparou-lhes um remédio. Contudo, vários enfermos não
queriam se medicar, crendo que a simples presença do pai era suficiente para que ficassem sãos. Em
face a este problema, o médico bolou uma estratégia, dizendo que estava pra morrer, mas que o
remédio continuaria com eles e que poderiam bebê-lo se assim desejassem.
Então, o pai de família viajou para longe, a fim de simular sua morte e os filhos, movidos de tristeza
e sensação de desproteção, enfim, beberam o antídoto e ficaram saudáveis. O médico, sabendo que
seu rebento estava livre da doença, reapareceu.
Da mesma maneira age o Tathagata, pelos Meios Hábeis dá a entender que já se Nirvanizou ou logo
vai se extinguir e que não estará sempre presente para nos ajudar, quanto que na verdade, a duração
de sua vida é infinita. Ou seja, para evitar que os seres caiam na desídia, Buda não revela que está
sempre ativo no mundo.
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Parte 3 – O Mundo de Buda
As pessoas não conseguem ver o Mundo de Buda como ele o é, julgam-no como um “lugar” onde
há apenas dor. Contudo, este Mundo é maravilhoso e esplêndido, mesmo com estas supostas
“imperfeições”. Os seres não percebem esta realidade por estarem submetidos à ignorância e à
ilusão. Somente com o cultivo do bom karma, os seres começam a perceber a realidade em sua
essência e conseguem enxergar o Tathagata. O Mundo é perfeito não no sentido de uma Justiça
Universal que beneficie o homem, mas em relação à forma com que os fenômenos ocorrem visando
sua auto manutenção e propiciando a vida (o sofrimento como sendo primordial para a existência).
Capítulo 16 – A Exposição dos Méritos
E por causa da Pregação sobre a Duração da Vida do Tathagata, os Bodhisattvas ali presentes
ingressaram no Arya Marga [1], se beneficiaram com dharanis e obtiveram uma forte eloquência,
colocando em movimento a Roda da Lei.
[1] Arya Marga, o Nobre Caminho, composto por sua vez de quatro degraus:
1º Vencedor da Corrente (corrente no sentido de fluxo): não possui mais a ideia de um eu
permanente, percebeu que os ritos, regras e rituais são insubstanciais e não se apega mais à
dúvida meramente especulativa.
2º Aquele que renasce apenas mais uma vez: é aquele que renasce no mundo humano e não retorna
mais aos mundos inferiores. Se ele fraquejar, sua oscilação é mínima e rapidamente ele retorna ao
mundo humano. Esse “apenas uma vez” é simbólico, quer dizer que ele não está mais apegado à
convulsão dos mundos inferiores. Sua consciência permanece somente em estados elevados e ele
não se ilude mais, nem sofre com os três tipos de desejo e nem ódio.
3º Aquele que não mais retorna: Após atingir o mundo humano ele deixa de oscilar definitivamente,
sem abandonar esse estado até que atinja o nível superior.
4º Estado de Arhat: o Arhat é um Iluminado. A diferença entre um Buda e um Arhat, de acordo com
o Budismo Mahayana, é que um Buda adentrou à Grande Extinção, o Parinirvana.
Mesmo que o Bodhisattva pratique as Cinco Perfeições: Doação, Disciplina Moral, Paciência,
Energia e Meditação; ele não terá a mesma quantidade de méritos que tem aquele que assimilou o
ensinamento da “Duração da Vida da Tathagata”. Para os homens que, dotados de firme resolução, e
conservando em suas memórias a Palavra Sagrada, compreenderem a Linguagem Intencional (os
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Meios Hábeis), para eles não existirá dúvida, estarão sempre aos pés do Buda no Pico do Abutre,
ouvindo o Dharma da “própria boca do Bhagavant”, serão venerados e homenageados por aqueles
que estiverem desejosos pela Doutrina e visualizarão o Mundo Saha adornado com ouro e pedras
preciosas.
Isso não significa de modo algum que aquele que “tem fé no Sutra do Lótus” esteja isento de ter que
praticar as qualidades descritas pelas Cinco Perfeições. O texto está dizendo que quando o
Ensinamento encontra-se assimilado intelectualmente, há uma mudança de paradigma na forma
com que a realidade é percebida, as Perfeições continuam sendo manifestas, porém não são
executadas como em outrora (como pelo Budismo Hinayana ou Mahayana menor), mas como
decorrência de uma experiência Espiritual transcendente.
Capítulo 17 – Exposição do Mérito Derivado da Aprovação
Buda reitera o capítulo anterior sobre os méritos acumulados por aquele que ouve e prega o Sutra
do Lótus. Conta uma parábola de um rei muito generoso que vivia para beneficiar todos os seres de
seu reino e que, portanto, obtinha muitos méritos. Entretanto, compara este monarca com alguém
que guardou um único verso do Sutra do Lótus, afirmando que este é superior àquele. Quem acata o
Sutra do Lótus é beneficiado com a Sabedoria e Conduta irrepreensível; mais uma vez o tom dessa
mensagem exprime a ideia de se “incorporar” o Sutra, ao invés de considerar as palavras do Buda
como meras regras que são impostas dogmaticamente do exterior para o interior do homem.
Capítulo 18 – Benefícios Obtidos pelo Pregador do Dharma
O capítulo continua a enumerar os benefícios adquiridos pelo pregador do Sutra. Fala sobre uma
sensibilidade maior dos órgãos dos sentidos, adquirido pelo Bodhisattva através de sua disciplina. A
visão torna-se capaz de perceber melhor as conexões karmicas (relação entre causa e efeito). A
audição é aperfeiçoada, aumentando-se o poder de compreensão, assim, como o olfato que começa
a distinguir melhor o perfume da podridão. Ao mesmo tempo em que o paladar também se ajusta,
transformando sabores amargos em doces, a sensibilidade do tato faz com que o Bodhisattva sinta
seu próprio corpo como um corpo de um Tathagata. Enfim, a mente também se beneficia, mantémse melhor concentrada, aprende a utilizar-se dos Meios hábeis para propagar a Doutrina e interpreta
o Dharma com maior facilidade e clareza.
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Capítulo 19 – Sadaparibhuta, o sempre menosprezado
Houve, certa vez, em meio a uma época de degeneração do Dharma, um monge Bodhisattva
chamado Sadaparibhuta, “Sempre Menosprezado”, que aderiu ao ensinamento Mahayana e
expressava que tanto monges, monjas, leigos e leigas já estavam, mesmo sem o saber, praticando a
carreira do Bodhisattva e que todos alcançariam a Perfeita Iluminação, que é a meta do Mahayana.
Os Budistas que pertenciam ao Hinayana se encolerizavam com ele e o desprezavam, pois suas
crenças eram diferentes. Porém, ao final de sua vida, este monge ouve a pregação do Lótus, adquire
a pureza dos sentidos (capítulo 18) fazendo com que os Budistas que o desprezavam se
convertessem ao Mahayana e adentrassem na Grande Assembleia dos Bodhisattvas. Este monge era
o próprio Shakyamuni em um renascimento anterior, que alcançou a Iluminação graças ao
entendimento do Sutra do Lótus.
Capítulo 20 – A Realização do Poder Extraordinário do Tathagata
Parte 1 – O Voto dos Bodhisattvas
Aqueles Bodhisattvas que emergiram das concavidades da Terra (capítulo 14) comprometem-se em
memorizar e ensinar o Dharma para o bem dos seres. Da mesma maneira, outros na Assembleia
fazem este voto, comportamento que recebe a aprovação do Buda.
Parte 2 – O milagre da Língua
Então, o Bhagavant Shakyamuni e Prabhūtaratna, assentados no Trono no meio da Stupa descrita no
capítulo 11, abriram suas bocas e deixaram sair suas línguas e por suas línguas incontáveis
Bodhisattvas surgiram, todos dourados e dotados das Trinta e Duas marcas dos Grandes Homens.
Após recolherem as línguas, os Bhagavants fizeram sons pela garganta e estalaram os dedos,
fazendo com que todos os Mundo de Budas tremessem. Com o tremor, todas as Assembleias de
todos os mundos prestaram homenagens aos Tathagatas e puderam enxergar com clareza o mundo
Saha. A língua nessa passagem deve ser entendida como um símbolo que representa a grande
eloquência dos Budas que lhes permite fazer chegar a Doutrina a todos os seres. Assim como a
língua se estende por todos os universos, assim também se estende o Dharma.
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Parte 3 – Exaltação ao Sutra do Lótus
Esta parte descreve homenagens que os Bhagavants e o Sutra do Lótus recebem dos seres presentes
diante da Stupa. Shakyamuni repete mais uma vez os benefícios de se ouvir e ensinar o Sutra do
Lótus, complementando que em qualquer lugar onde este Sutra for ensinado, um monumento em
homenagem e honra ao Tathagata deve ser construído; este monumento deve ser considerado como
o próprio Trono da Iluminação de todos os Budas, como o local onde a Roda da Lei foi colocada em
movimento por todos os Tathagatas.
Capítulo 21 – As Dharanis
Neste capítulo Dharanis e Mantras são dados por Bhaishajyaraja, Pradanashura e pelos reis
Vaishravana e Virudhaka a fim de se levar proteção aos Pregadores do Dharma. Estes Dharanis e
Mantras não são fórmulas mágicas, mas frases que quando repetidas e meditadas mantém a mente
do pregador resoluta, firme; facilitam insights e fortalecem os discípulos contra os demônios,
mantendo-os na vivência do Dharma. Aqueles que atacam os pregadores do Sutra são punidos com
destinos infelizes, não por alguma ação mística, mas por consequência do próprio karma negativo
que produziram.
Capítulo 22 – Uma Existência Anterior de Bhaishajyaraja
O Bodhisattva Nakshatrarajasamkusumitabhijna (nome que significa “Florescente poder
extraordinário do Rei das Constelações”) pede a Buda que lhe fale sobre o Bodhisattva
Bhaishajyaraja (descrito no Capítulo 12). Buda começa a respondê-lo referindo-se ao venerado
Tathagata Chandrasuryavimalaprabhasashri (Glória do resplendor puro do Sol e da Lua), que existiu
há muitos anos. Este Buda pregava o Sutra do Lótus e era dotado de sabedoria e conduta virtuosa.
Sua Grande Assembleia e seu Mundo eram de paz e não habitados por demônios ou fantasmas
famintos.
O conto continua com a história de um dos Bodhisattvas deste Bhagavant, o dedicado
Sarvasattvapriyadarshana, que alcançou um Samādhi (estado meditativo) chamado “Contemplação
de Todas as Formas” e feliz com este privilégio, agradeceu ao seu mestre e ao Sutra do Lótus.
Como forma de agradecimento, este Bodhisattva se auto imola, renascendo logo depois como filho
do Rei Vimaladatta, se reencontra com seu mestre, novamente lhe prestando homenagens. Quando
seu mestre entra no Nirvana, constrói Stupas, reparte suas relíquias, e corta o próprio braço, que
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logo depois é reconstituído milagrosamente – tudo isso em sinal de homenagem. O significado
dessa passagem é claro: para seguir a carreira do Bodhisattva é preciso renunciar à própria vida, ser
leal e agradecido ao Buda e ao Dharma.
Após o término dessa história, Buda revela a Nakshatrarajasamkusumitabhijna que o Bodhisattva
Bhaishajyaraja, naquele tempo era Sarvasattvapriyadarshana.
O capítulo continua descrevendo a superioridade do Sutra do Lótus em relação aos demais Sutras e
os méritos que os Pregadores alcançam ao propagar esta Doutrina, tais méritos são comparáveis e
até superiores aos alcançados pelo Bodhisattva Sarvasattvapriyadarshana.
O texto fala, enfim, que a compreensão do Sutra do Lótus propicia às pessoas renascimentos
favoráveis. Inclusive, se uma mulher assimilar os Conhecimentos do Sutra, renascerá como um
homem. O sentido desse renascimento está explicado no Capítulo 11, a conversão em homem
representa a necessidade de se abrir mão das vaidades, típicas do sexo feminino, para a evolução
espiritual; sem deixar de mencionar também que na época em que o Sutra foi escrito, o homem era
mais respeitado e autônomo que a mulher na sociedade indiana.
Capítulo 23 – Gadgadasvara
Shakyamuni emite um raio por entre suas sobrancelhas, enchendo de luz milhões de Mundos de
Buda. Um destes Mundos se chama Vairochanarashmipratimandita (Adornado com os raios do Sol),
onde vive o Tathagata Kamaladalavimalanakshatrarajasamkusumitabhijna (Florescente Poder
Extraordinário do Rei das Constelações, puro como Pétala de Lótus). Neste Mundo também havia
um Bodhisattva Mahasattva chamado Gadgadasvara (De Voz Entrecortada), que tinha alcançado
numerosos samadhis e era possuidor de milhares de virtudes. Este Bodhisattva desejava ir ao
Mundo Saha venerar Shakyamuni e conhecer seus seguidores. Tomado por este desejo,
Gadgadasvara, concentrado e sem sair de seu Mundo, fez com que flores de lótus nascessem diante
do Trono de Shakyamuni no Pico do Abutre.
Manjushri, ao ver a aparição da maravilhosa multidão de lótus, pergunta ao Bhagavant qual era o
significado daquele sinal. Shakyamuni responde que aquele sinal simboliza a vontade de
Gadgadasvara em participar de sua Assembleia. Manjushri fica curioso em conhecer o “novo”
Bodhisattva, sensibilizando Shakyamuni a pedir ao Tathagata Prabhūtaratna que convidasse
Gadgadasvara ao Mundo Saha.
Gadgadasvara aceita o convite, chega ao Mundo Saha, oferece um colar de pérolas ao Bhagavant e
pergunta a este sobre sua saúde e também sobre a disposição dos seres daquele Mundo em
devotarem-se ao Dharma e abandonarem suas paixões. O Bodhisattva também pergunta sobre
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Prabhūtaratna, manifestando o desejo de venerar suas relíquias. Shakyamuni transmite a mensagem
a Prabhūtaratna, que aprova a vinda de Gadgadasvara.
O Bodhisattva Padmashri questiona qual era o Mestre de Gadgadasvara e quais foram suas raízes
meritórias. O Bhagavant replica dizendo que Gadgadasvara plantava raízes meritórias sob a
Disciplina de Meghadundubhisvararaja (Rei do Som dos Tambores das Nuvens), no Período
Cósmico Priyadarshana (De Olhar Amável), oferecendo-lhe músicas, oferendas e prestando
respeitosos serviços aos Budas. Gadgadasvara ensinava “O Lótus da Verdadeira Doutrina” a todos
os seres, desde os seres infernais até os humanos e sob diversas formas, ora como Rudra, ora como
Shakra, às vezes como Bhikshu, às vezes como Bhikshuni, ora como leigo; demonstrando extrema
Habilidade dos Meios.
Encerradas as homenagens a Shakyamuni e a Prabhūtaratna, Gadgadasvara, retornando ao seu
Mundo, relata ao Tathagata Kamaladalavimalanakshatrarajasamkusumitabhijna sua experiência no
Mundo Saha.
Capítulo 24 – Samantamukha
Samantamukha é o epíteto do Bodhisattva Avalokiteshvara, cujo significado é “Com o Rosto
Voltado para todas as Partes”.
O capítulo começa com uma pergunta sobre o significado do nome do Bodhisattva Avalokiteshvara
feita pelo Bodhisattva Akshayamati. Literalmente o nome quer dizer “O Senhor a quem todos
dirigem seus olhares”. Shakyamuni complementa dizendo que quando as pessoas conservam na
memória ou recitam homenagens a Avalokiteshvara, recebem proteção, discernimento e libertação
da paixão, do ódio e do erro. Assim como o Bodhisattva Gadgadasvara, narrado no capítulo 23,
Avalokiteshvara também utiliza-se de várias formas para pregar o Dharma, agindo pelos Meios
Hábeis.
Após esta explicação, o Bodhisattva Akshayamati tenta presentear Avalokiteshvara com um colar de
pérolas, este recusa-se a aceitá-lo num primeiro momento, mas depois, por compaixão o aceita,
divide-o em duas partes e as dá aos Tathagatas Shakyamuni e a Prabhūtaratna. Avalokiteshvara não
deve ser compreendido como uma divindade mística, mas sim a personificação de virtudes dos
Bodhisattvas, que uma vez interiorizadas pelo praticante, originam bons frutos.
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Capítulo 25 – Uma Existência Anterior do Rei Shubhavyuha
Shakyamuni começa este capítulo contando a história do Rei Shubhavyuha, cujos dois filhos
seguiam a Carreira de Bodhisattva, ou seja, eram dedicados à Perfeição da Generosidade, à
Perfeição da Disciplina Moral, à Perfeição da Energia, à Perfeição da Meditação, à Perfeição da
Sabedoria, à Perfeição dos Meios Hábeis, à Benevolência, à Compaixão, à Equanimidade, entre
outras virtudes.
Os dois jovens, chamados Vimalagarbha e Vimalanetra expressam à sua mãe o desejo de ir até o
Bhagavant
daquela
época
que
tinha
por
nome
Jaladharagarjitaghoshasusvaranakshatrarajasamkusumitabhijna (Florescente Poder Extraordinário
do Rei das Constelações dotado de formoso voz como o som do retumbar proveniente da nuvem),
porém, teriam que primeiramente convencer o pai, adepto do Bramanismo, a permitir a visita.
Afirmavam os rapazes:
“Nós dois nascemos numa família que adere a falsas crenças, mas nós dois somos filhos do Rei do
Dharma (Buda)”
Página 547 - K459
A mãe diz que para convencer o Rei, os filhos deveriam realizar algum milagre, e assim se sucede:
diante de Shubhavyuha os jovens flutuam, lançam de seus corpos água e fogo, além de diminuírem
e aumentarem de tamanho. Estupefatos com os milagres, o Rei Shubhavyuha e sua esposa
Vimaladatta permitem que seus filhos visitem o Tathagata no Trono da Iluminação, demonstram
querer ouvir o Dharma diretamente da boca do Buda e se convertem logo em seguida, acumulando
méritos e adquirindo a Benevolência e a Compaixão. A família real então encontra
Jaladharagarjitaghoshasusvaranakshatrarajasamkusumitabhijna e o venera; diante do Iluminado
decidem viver a vida ascética, longe de seus lares. Após um grande período de prática Budista, o
Rei alcança samadhis e agradecido pelos jovens terem lhe mostrado o Sutra do Lótus, declara-se
discípulo dos próprios filhos e decide se dedicar constantemente ao seu aperfeiçoamento espiritual.
Desta maneira expressou-se o Rei diante do Tathagata: “De agora em diante, ó Bhagavant, nós não
estaremos submetidos mais ao poder das falsas doutrinas, não estaremos submetidos mais ao poder
das maldades que surgem na mente.”
página 554 - K469
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Jaladharagarjitaghoshasusvaranakshatrarajasamkusumitabhijna se compraz com a declaração do
Rei, confirmando o privilégio de ser ter bons amigos (kalyanamitra) como Vimalagarbha e
Vimalanetra, de boa influência e conscientes da veracidade do Dharma. Na sequência preanuncia ao
Rei Shubhavyuha sua futura Iluminação e que este terá um Mundo de Buda e será um bom condutor
de homens.
Finalmente, o Tathagata revela que os membros daquela nobre família eram vidas anteriores de
alguns
dos
Bodhisattvas
presentes
na
Assembleia.
Padmashri
era
Shubhavyuha,
Vairochanarashmipratimanditadhvajaraja era Vimaladatta, e os Bodhisattvas Bhaishajyaraja e
Bhaishajyasamudgata eram os filhos do rei, grandes homens dotados de virtudes inimagináveis.
Capítulo 26 – Exortação de Samantabhadra
O Bodhisattva Samantabhadra (Universalmente Auspicioso), juntamente com numerosos outros
Bodhisattvas vão ao mundo Saha para escutar a pregação do Sutra do Lótus da boca de
Shakyamuni. Chegando ao Mundo Saha, Samantabhadra promete proteger, ajudar os Pregadores e
Seguidores do Sutra, oferecendo-lhes dharanis poderosos que tornam estes fieis mais diligentes e
fortes. Shakyamuni aprova os votos de Samantabhadra, complementando que todo aquele que ver e
ouvir este Bodhisattva estará vendo e ouvindo o próprio Bhagavant Shakyamuni, tal discípulo não
procurará a felicidade nos prazeres ordinários do mundo e será um Nobre. A sessão se encerra com
uma descrição de inumeráveis méritos acumulados por aqueles que recitarem e mantiverem o Sutra
do Lótus em mente.
Essa é a verdadeira transmissão da Tradição Budista, não como algo mágico ou revelado
divinamente, mas sim como fruto de um esforço contínuo em se manter a Doutrina incorruptível e
acessível aos seres, livre da degenerescência e do relativismo dos valores mundanos.
“Assim serão os Bhikshus que conservarem em sua memória o Sutra: a paixão não os dominará
nem o ódio nem o erro, nem a inveja nem o egoísmo e a hipocrisia nem o orgulho nem a soberba
nem a arrogância. E estes Pregadores do Dharma […] estarão contentes com o que têm. Aquele
que […] na época final, no período final, quando ocorrerem os quinhentos últimos anos [tempo da
degenerescência], vir um Bhikshu que conservar em sua memória esta Exposição da Doutrina, O
Lótus da Verdadeira Doutrina, deverá pensar assim: 'Este filho de família irá para o Trono da
Iluminação, este filho de família vencerá a Roda de Depravação da Mara, ele colocará em
movimento a Roda da Lei, ele fará ressoar o Tambor do Dharma, ele soprará a Trombeta do
Dharma, ele fará chover a Chuva do Dharma, ele emitirá o Rugido do Leão'. Aqueles Bhikshus
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quem na época final, no período final, quando ocorrerem os quinhentos últimos anos, conservarem
em sua memória esta Exposição da Doutrina, não serão cobiçosos, não estarão ávidos de mantos
nem ávidos de tigelas para a esmola. E esses Pregadores do Dharma serão honestos; esses
Pregadores do Dharma obterão as Três Liberações. E sua presente condição mundana
desaparecerá para eles em seu estado futuro.”
Página 564 – K481 e K482
Capítulo 27 – A Entrega
Dando continuidade à ideia da transmissão da Tradição, Shakyamuni, ao fim da Assembleia, faz a
entrega da “Suprema Iluminação” nas mãos dos discípulos, exortando-os para que eles difundam a
Doutrina para todos os seres. Os Bodhisattvas, por sua vez, aceitam a proposta e prometem a
Shakyamuni cumprir seus desejos.
“Ó filhos de família, em vossas mãos Eu ponho, Eu entrego, Eu deposito, Eu confio esta Suprema
Perfeita Iluminação, conquistada em incontáveis centenas de milhares de milhões de milhões de
Períodos Cósmicos. Ó filhos de família, vós deveis captá-la, deveis conservá-la, deveis pregá-la,
deveis compreendê-la, deveis ensiná-la, deveis expô-la, e a todos os seres deveis dá-la a conhecer.
Eu não sou egoísta, ó filhos de família; com mente generosa, cheio de confiança em mim mesmo,
Eu entrego o Conhecimento Próprio dos Tathagatas, o Conhecimento próprio dos que de si mesmos
dependem. Eu sou, ó filhos de família, o Senhor das grandes doações; e vós deveis seguir meu
exemplo: livres de egoísmo, deveis dar a conhecer esta Visão do Conhecimento próprio dos
Tathagatas, esta grande Habilidade no uso dos meios e esta Exposição da Doutrina, aos filhos de
família ou filhas de família que vos procurem. E aqueles seres que carecerem de fé hão de ser
incentivados na direção desta Exposição da Doutrina. Desta forma, ó filhos de família, tereis
cumprido com os Tathagatas.”
Página 566 - K486
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Conclusão
O Sutra fala de uma Verdade imutável, universal; que transcende vãs filosofias, religiões
institucionalizadas e até mesmo a tradição Hinayana ou Mahayana. O Veículo Único, o Ekayana, é
esta Verdade que aponta para a realidade última, insubstancial, impermanente e permeada de
sofrimento. Esta Verdade deve ser difundida pelos Bodhisattvas aos seres, a fim de que estes
abandonem suas ilusões, minimizem o sofrimento tanto si e quanto aos demais e adentrem o
caminho da Nobreza Espiritual rumo à Suprema e Perfeita Iluminação (visualização da realidade
sem ilusões). A Pregação deve ser realizada de acordo com a pessoa que a recebe, levando-se em
conta suas potencialidades e limitações, o que o Sutra chama de Meios Hábeis ou Habilidade nos
Métodos e somente os grandes Bodhisattvas, senhores de si mesmos, dominam esta “técnica”.
O “Lótus da Verdadeira Lei” procura enfatizar a vida virtuosa que o fiel discípulo deve seguir e a
missão em se resgatar os seres através dos Meios Hábeis. Os Budas são venerados basicamente por
isso: por sobrepujarem Mara e os cinco sentidos, por manterem-se inabaláveis diante de um mundo
cada vez mais imoral e por demonstrarem profunda compaixão para com todos. O Sutra ainda
exalta a superioridade de sua própria mensagem em relação aos discursos provisórios anteriores,
convidando
Shravakas e Pratyekabuddhas a aperfeiçoarem-se e ingressarem na Carreira dos
Bodhisattvas. Os acontecimentos sobrenaturais, histórias sobre “vidas passadas” e milagres que
ocorrem durante a Assembleia a qual Shakyamuni faz o seu discurso, são formas “poéticas” de se
expor as mensagens essenciais as quais o Sutra se propõe, ou seja, não são fatos em si.
Bibliografia:
•
Sutra do Lótus da Verdadeira Doutrina. Tradução Fernando Tola e Carmen Dragonetti,
São Paulo: Editora Promordia, 2006. 623 p.
•
YOSHINORI, TAKEUCHI. Espiritualidade Budista I, A Índia, Sudeste Asiático, Tibete e
China. Tradução Maria Clara Cescato. São Paulo: Editora Perspectiva, 2006. 506 p.
•
EMINENTÍSSIMO REVERENDÍSSIMO ARCEBISPO PRESIDENTE DA THIRB, ARYA
DHARMANANDA MAHACARYA (ANDRÉ OTÁVIO ASSIS MUNIZ KGK). Budismo
Aristocrático – http://chakubuku-aryasattva.blogspot.com. Acessado em 20/07/2015.
•
SRAMANERA
DHARMAMANAYU
PUNDARIKAKARNA
(MARCELO
(SANDRO
PRATI).
VASCONCELOS)
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da
UPASAKA
Lei
–
http://rodadalei.blogspot.com. Acessado em 18/07/2015.
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