- AESabesp

Transcrição

- AESabesp
201
5
Ano XIII – Nº 54 – Janeiro a Março de 2015
Enfrentamento
da crise
hidrica
na RMSP
Com exceção de muita chuva, não existe uma solução única para o
enfrentamento da crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo.
Porém existem alternativas e modelos a serem seguidos.
Jerson Kelman fala
sobre a crise hídrica
Fenasan 2015 em
novo espaço
Veja a sessão
“Ponto de Vista”
O enfrentamento da crise hídrica,
mesmo no pior cenário imaginado,
é abordado diretamente na
entrevista com o presidente
da Sabesp, Jerson Kelman.
Em função do crescimento do nosso
Encontro Técnico/Fenasan, a edição de
2015 ocupará o Pavilhão Vermelho do
Expo Center Norte, o maior espaço desse
complexo, nos dias 4, 5 e 6 de agosto.
O abastecimento da macrometrópole
paulista, com foco na crise hídrica,
na aplicação do Plano Diretor de
Aproveitamento de Recursos Hídricos e na
necessidade de um planejamento pós crise.
Editorial
Prezado(a)s Associado(a)s,
Esta 1ª edição da Revista Saneas de 2015 aborda, como tema principal,
a crise hídrica que tem castigado o sudeste brasileiro, com destaque especial para a Região Metropolitana de São Paulo, um dos locais de nosso
país onde o ano hidrológico 2013/2014 apresentou índices pluviométricos
fortemente desfavoráveis, principalmente na bacia de contribuição do
Sistema Cantareira, o qual vimos praticamente seco.
Esse quadro que afetou a vida de milhões de pessoas motivou discussões sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos e alternativas de
abastecimento pode ter o seu lado positivo, no que se refere à ampliação
da consciência para o uso racional da água, mudanças de hábitos de consumo e a busca de novas tecnologias.
Contudo, apesar do consumo de água neste final de verão diminuir e as
fortes chuvas terem começado no mês de março, ainda estamos em uma
situação de alerta, pois com a entrada do outono as precipitações tendem
a diminuir e a água acumulada nos reservatórios pode ser insuficiente
para atravessarmos o chamado período seco deste ano.
Além de alternativas para o enfrentamento desta crise hídrica esta edição da Revista Saneas aponta a opinião de especialistas e também traz
artigos técnicos relacionados ao tema. Igualmente, destaca a perspectiva da realização do nosso Congresso Técnico e Fenasan 2015, o maior
evento técnico-mercadológico da América Latina, e um hobby muito
peculiar na sessão “Vivências”, que finaliza a Revista com curiosidades
sobre nossos associados.
Uma boa leitura a todos!
Eng. Reynaldo E. Young Ribeiro
Presidente da AESabesp
Março a Julho de 2015
Saneas
3
Índice
Expediente
Saneas é uma publicação técnica da Associação dos Engenheiros da Sabesp
Tiragem: 10.000 exemplares
Diretoria Executiva
Presidente: Reynaldo Eduardo Young Ribeiro
Vice-presidente: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
1º Secretário: João Augusto Poeta
2º Secretário: Aram Kemechiam
1º Diretor Financeiro: Walter Antonio Orsatti
2º Diretor Financeiro: Nelson Cesar Menetti
Diretoria Adjunta
Cultural: Sonia Maria Nogueira e Silva
Esportes: Evandro Nunes de Oliveira
Marketing: Paulo Ivan Morelli Franceschi
Polos: Antônio Carlos Gianotti
Projetos Socioambientais: Maria Aparecida Silva de Paula
Social: Viviana Marli Nogueira de Aquino Borges
Técnica: Olavo Alberto Prates Sachs
Conselho Deliberativo
Antonio Carlos Gianotti, Benemar Movikawa Tarifa, Carlos Alberto de Carvalho, Cid
Barbosa Lima Junior, Dejair José Zampieri, Evandro Nunes de Oliveira, Gilberto Alves
Martins, Iara Regina Soares Chao, Ivan Norberto Borghi, Luciomar Santos Werneck,
Maria Aparecida Silva de Paula, Paulo Ivan Morelli Franceschi, Rodrigo Pereira de
Mendonça, Rogélio Costa Chrispim e Sonia Maria Nogueira e Silva
Conselho Fiscal
Gilberto Margarido Bonifácio, Helieder Rosa Zanelli, Nelson Luiz Stabile
06
matéria Especial
O que nos reserva o destino:
haverá água em nosso futuro?
21 entrevista
O enfrentamento da crise, pela ótica do presidente da Sabesp, Jerson Kelman
23 Ponto de Vista
O abastecimento da macrometrópole paulista e a crise hídrica
29 história
Saboó: 50 anos de história e de bons serviços
artigoS técnicoS
31 Automação no controle de pressão em boosteres e vrps em tempo real com o ponto
crítico utilizando sistema gprs, reduzindo perdas e consumo de energia
34 Inovação no processo de cobrança de créditos vencidos em saneamento: o caso dos
núcleos de baixa renda
41 Recuperação de volumes e valores – caça fraudes e combate a irregularidades –
contribuição na redução do índice de perdas no município de Franca
43 Diretoria de Projetos Socioambientais
Grande aprovação do Curso de Gestão Eficaz de Projetos
45 26º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2015
Investimentos e expansão em 2015
47 Acontece no setor
48 Lançamento
Livro “Ecologia de reservatórios e interfaces”, em formato digital
49 Vivências
Nilton Moraes: guiado pela paixão pelos velhinhos possantes
4
Saneas
Conselho Editorial - Jornal AESabesp e Revista Saneas
Coordenador: Luciomar Santos Werneck
Colaboradores: Benemar Movikawa Tarifa, Luiz Yukishigue Narimatsu, Nivaldo
Rodrigues da Costa Jr e Paula Rosolino
CoordenadorA de Assuntos Tecnológicos
Marcia de Araújo Barbosa Nunes
Comissão Organizadora do 26º Encontro Técnico AESabesp Fenasan 2015
Presidente da Comissão: Gilberto Alves Martins
Coordenador da FENASAN: Olavo Alberto Prates Sachs
Coordenadora do Encontro Técnico AESabesp: Sonia Maria Nogueira e Silva
Membros da Comissão: Antonio Carlos Roda Menezes, Iara Regina Chao,
Ivan Norberto Borghi, João Augusto Poeta, Maria Aparecida S. Paula, Mariza
Guimarães Prota, Nélson César Menetti, Paulo Ivan Morelli Franceschi,
Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Rodrigo Pereira de Mendonça, Tarcisio Luiz
Nagatani, Walter Antonio Orsatti
Equipe de Apoio: Maria Flávia da Silva Baroni, Maria Lúcia da Silva Andrade,
Monique Funke, Paulo Oliveira, Rodrigo Cordeiro, Vanessa Hasson
POlos AESabesp da Região Metropolitana - RMSP
Coordenador dos Polos da RMSP: Rodrigo Pereira de Mendonça
Polo AESabesp Costa Carvalho e Centro: Sérgio Luiz Caveagna
Polo AESabesp Leste: Antonio Carlos Roda Menezes
Polo AESabesp Norte: Eduardo Bronzatti Morelli
Polo AESabesp Oeste: Claudia Caroline Buffa
Polo AESabesp Ponte Pequena: Fernandes Hayashi da Silva
Polo AESabesp Sul: Antonio Ramos Batagliotti
POlos AESabesp Regionais
Diretor de Polos: Antonio Carlos Gianotti
Polo AESabesp Baixada Santista: Zenivaldo Ascenção dos Santos
Polo AESabesp Botucatu: Leandro Cesar Bizelli
Polo AESabesp Caraguatatuba: Sidney Morgado da Costa
Polo AESabesp Franca: Mizue Terada
Polo AESabesp Itatiba: Carlos Alberto Miranda Silva
Polo AESabesp Lins: João Luiz de Andrade Areias
Polo AESabesp Presidente Prudente: Gilmar José Peixoto
Polo AESabesp Vale do Paraíba: Sérgio Domingos Ferreira
Órgão Informativo da Associação dos Engenheiros da Sabesp
Jornalista Responsável
Maria Lúcia da Silva Andrade – MTb. 16081
REDAÇÃO
Ednaldo Sandim e Lúcia Andrade
PROJETO VISUAL GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO
Neopix Design
[email protected] | www.neopixdesign.com.br
Associação dos Engenheiros da Sabesp
Rua Treze de Maio, 1642, casa 1
Bela Vista - 01327-002 - São Paulo/SP
Fone: (11) 3284 6420 - 3263 0484
Fax: (11) 3141 9041
[email protected]
www.aesabesp.org.br
Março a Julho de 2015
Campanha
RE Livro
Reuso de livRos técnicos
O objetivo desta ação é suprir a
necessidade de uma demanda
educacional, social e financeira, ao
propor o reaproveitamento dos livros
de engenharia, cujos preços não estão
ao alcance da população estudantil
desprovida de poder aquisitivo.
Quantidades significativas de livros poderão ser retiradas
pela AESabesp mediante agendamento através do email acima.
Os agentes receptores (Bibliotecas Públicas do Estado de São
Paulo) selecionados, serão comunicados por escrito e deverão
adotar a forma mais conveniente, de acordo com suas prioridades. As alternativas para essa retirada são:
Para a triagem do material, contamos com a bibliotecária
Isabel Amato, que atuará especificamente para esta
Campanha.
Posteriormente à triagem e à catalogação do material
recebido durante a Campanha, a bibliotecária fará uma
pesquisa entre as Universidades Públicas, que, por e-mail,
manifestarem o interesse em receber a doação dos livros,
objeto dessa Campanha da AEsabesp.
pRemiAção
Se você quiser ser um doador de livros, poderá nos comunicar
pelo e-mail [email protected]. Se preferir, você também
poderá levar sua remessa à sede da AESabesp.
Instituições que desejarem receber doações dos livros
catalogados, podem se cadastrar através do e-mail
[email protected].
A AESabesp, se compromete a fazer os registros desses
repasses, bem como incentivar doadores em todo o
Estado, disseminando esta Campanha nas escolas de
engenharia, nas empresas expositoras da Fenasan e nas
bibliotecas públicas.

Como funciona?
■
Retirar pessoalmente na sede da AESabesp;
■
Retirar nos Polos Regionais da AESabesp no interior de São
Paulo, situados nas Unidades da Baixada Santista, Botucatu,
Caraguatatuba, Franca, Itatiba, Lins, São José dos Campos e
Presidente Prudente;
■
Solicitar a entrega pelo Correio.
Os 5 associados que mais arrecadarem livros técnicos da grade de
engenharia e outras áreas relacionadas (arquitetura, meio-ambiente,
serão contemplados com os seguintes prêmios:
1º
ingressos e Jantar para 2
pessoas para o show
sAmpA - o musical
4º
um par de convites para o
Jantar dançante Aesabesp 2015
2º
um fim de semana em pousada
na praia ou no campo
(2 diárias + café da manhã)
5º
ingressos para 2 pessoas para peça
teatral ou musical em atrações
da época da premiação
3º
um tablet dell venue 7
Início: 02 de fevereiro Encerramento: 03 de agosto
Entrega dos prêmios: 05 de agosto, no Estande da AESabesp, durante a FENASAN 2015
Rua Treze de Maio 1642 - casa 01
Bela Vista - CEP 01327-002 - São Paulo - SP
vv1`
www.aesabesp.org.br
[email protected]
matéria tema
O QUE NOS
RESERVA O DESTINO:
HAVERÁ
AGUA
EM NOSSO
FUTURO?
Março a Julho de 2015
matéria tema
Na mitologia grega, as Moiras eram
as três irmãs que determinavam o destino, tanto dos
deuses, quanto dos seres
humanos. Eram descritas
como três mulheres lúgubres, responsáveis por
fabricar, tecer e cortar
aquilo que seria o fio da
vida de todos os indivíduos.
Durante o trabalho, as moiras
faziam uso da Roda da Fortuna,
que era representada pelo tear utilizado para se tecer os fios. As voltas da roda posicionavam o fio do
indivíduo em sua parte mais privilegiada (o topo) ou
em sua parte menos desejável (o fundo), explicando-se assim os períodos de boa ou má sorte de todos.
As Moiras eram filhas de Nix (a noite) e, na Ilíada, representavam uma lei que pairava sobre deuses e homens, pois nem Zeus estava autorizado a
transgredi-la sem interferir na harmonia cósmica. O
mito grego predominou entre os romanos, mas os
nomes das divindades caíram em desuso. Entre eles
eram conhecidas por Parcas chamadas Nona, Déci-
ma e Morta, e tinham respectivamente as funções
de presidir a gestação e o nascimento, o crescimento
e desenvolvimento, e o final da vida; a morte.
Como em um círculo místico, os discursos iniciais e atuais sobre a crise do abastecimento de água
na RMSP se encontram. E o que antes soava como
uma afirmação ou profecia: “Não irá faltar água!”,
retorna no momento atual como um revérbero de
aparência funesta: “Preparemo-nos para o pior”.
Tanto a afirmação, parte da fala do governador Geraldo Alckmin durante o debate do 1º turno na TV Globo em 30 de setembro de 2014, quanto a declaração do
presidente da Sabesp, Jerson Kelman, em seu discurso
de posse no dia 9 de janeiro deste ano, por mais incrível
que possa parecer, guardam simetria entre si. Isso porque a empresa de saneamento paulista vem travando
uma árdua batalha para garantir o abastecimento da
RMSP e isso em um cenário que, como indicam os níveis dos reservatórios, só faz piorar a cada dia.
Até aqui, as soluções apresentadas em caráter
emergencial não tem surtido o pleno efeito desejado. Mas especialistas são unânimes em afirmar a
solução no momento que de fato precisamos é a
chuva! Muita chuva!
COMO CHEGAMOS AO FUNDO
Afirma Bini que em 2014 entramos na fase “fria” do
As chuvas de verão de 2013-2014 na região do Sisteciclo, marcada por acumulados anuais menores de prema Cantareira ficaram 70% abaixo da média. “Analisando uma série de dados a partir de 1961 no Estado
cipitação. “Seu principal efeito é na região mais central
de São Paulo, essa foi a pior seca”, diz Marcelo Seludo Brasil, com menos chuvas”, explica.
Houve também a formação de um sistema de alta
chi, meteorologista do Centro Nacional de Monitopressão bem em cima da região Sudeste, atingindo
ramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden),
parte do Nordeste e Centroligado ao Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação. As causas
-Oeste. Trata-se de um fenôespecialistas
são debatidas pelos especialistas
meno que bloqueou ventos
são
unânimes
em
e ainda não há consenso.
da Amazônia e impediu que
Segundo o meteorologista
a umidade chegasse aos níafirmar a solução
Willians Bini, da Somar Meteoroveis mais altos da atmosfera e
no momento que de
formasse as nuvens. Foi como
logia, a seca atual não é decorrenfato
precisamos
é
a
se pusessem uma barreira no
te apenas da pouca chuva do últimeio de um rio: a água (ou o
mo verão. Para ele, o país está sob
chuva! Muita chuva!
ar, no caso da atmosfera) foi
a influência de um ciclo climático,
desviada para os lados. Num sistema do tipo, o ar
previsto para a segunda década do século 21, chamado
desce em forma de espiral do céu para o solo, onde
de Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Diferente do El
encontra temperaturas mais altas que provocam a
Niño ou La Niña, que costumam durar pouco (entre um
evaporação das gotículas de água. “É extremamente
e três anos), a ODP tem duração média de 20 a 30 anos.
Março a Julho de 2015
Saneas
7
matéria tema
rara a intensidade desse sistema de alta pressão (neste ano) e também a persistência - durou mais de 40
dias”, informam os técnicos do Cemaden.
Segundo os meteorologistas, não é possível prever
se irá se repetir um ano tão atípico como o passado. As
causas poderiam estar no aquecimento global ou no
desmatamento da Amazônia, mas ainda não há comprovação científica da relação da seca com o aumento
do desmatamento. Porém, um relatório divulgado no
dia 30 de outubro do ano passado pelo pesquisador
Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), concluiu que a falta de chuvas que ocorreu principalmente no Sudeste, é uma consequência
indireta da diminuição da quantidade de árvores. Isso
teria impedido o fluxo da umidade entre o Norte e o
Sul do Brasil, pelos chamados “rios voadores” - grandes
massas de umidades responsáveis pelas chuvas. Sem a
cobertura vegetal, a transferência da umidade do solo
para a atmosfera é interrompida. Dessa forma, os rios
voadores, que são transportados pelos ventos da Amazônia para o restante do país, não teriam “realizado a
viagem”, causando escassez hídrica.
O estudo ainda aponta que desde o início da década de 1970 até 2013, o desmatamento progressivo
e a extração madeireira destruíram 762.979 quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente
a duas vezes o território de Alemanha. Os resultados,
porém, ainda não são conclusivos e não é possível
traçar cientificamente uma relação direta entre o
desmatamento e a estiagem.
Com relação ao aquecimento global, Marcelo Seluchi, do Cemaden, afirma não ser possível cravar
que o prolongamento do sistema de alta pressão e
a seca tenham sido resultado disso. Para ele, pesquisas mostram, na verdade, tendência de a estação
chuvosa continuar com bom volume nos próximos
anos. Mas ela deve ser mais curta e com chuvas concentradas. E isso pode ter efeitos ruins: “Em vez de
seca, o que pode acontecer são enchentes, desastres
naturais. Isso faz parte de um conjunto de mudanças
climáticas, não dá para apontar uma culpa. Provavelmente, a questão das chuvas concentradas tem
relação com aumento de temperaturas”. Isso explicaria, por exemplo, as tempestades que tem se abatido
sobre a RMSP, mas que tem se concentrado em áreas
distantes do Sistema Cantareira. Elas causam transtorno, mas não ajudam a recuperação do manancial.
8
Saneas
Há também outros fatores que influenciam na crise hídrica de São Paulo. Segundo Ricardo de Camargo,
professor da USP, não se pode falar apenas das chuvas quando se analisa as razões para a crise hídrica de
São Paulo. “A demanda por água superou em muito a
oferta nos últimos anos no Brasil. A gente tira muito
mais do que repõe.” Orivaldo Brunini, pesquisador do
Instituto Agronômico (IAC), de Campinas afirma que
o Sistema Cantareira está num processo de redução
nos últimos 20 anos. Afora o aumento de consumo
de água, ele cita maior impermeabilização do solo e
menor preservação dos mananciais como fatores que
afetam a recuperação do volume dos reservatórios.
Muitas são as teorias que tentam explicar a atual
crise, o que pode fazer pensar que talvez fosse possível antevê-la. Porém, Marcelo Seluchi, do Cemaden,
explica que não é possível prever com muitos meses
de antecedência sistemas de alta pressão como o
que ocorreu no verão passado. Já para Neide Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a
seca em si não era uma surpresa. “O problema (a estiagem) vem desde 2013, quando o nível das chuvas
também foi baixo. Deveriam já montar uma estratégia para evitar a falta de água”, afirma.
O meteorologista Willians Bini, da Somar Consultoria, que atende empresas do setor energético, diz
que a seca atual não é decorrente apenas do último
verão de pouca chuva e que há alguns anos se formava um cenário meteorológico caótico. “Há pelo menos
dois ou três anos, variando por região, estamos com
chuvas abaixo da média registrada nos verões dos últimos 30 anos.” No Sudeste, dos últimos 36 meses, 32
tiveram chuvas abaixo do normal, conclui.
Sobre a falta de chuvas, a Sabesp já havia informado que além do ano hidrológico 2013-2014 ter
apresentado índices pluviométricos fortemente desfavoráveis na bacia de contribuição do Cantareira”, a
estiagem veio associada às temperaturas médias elevadas, as mais altas registradas nos últimos 70 anos.
“Foi a pior seca desde que as medições dos institutos
de meteorologia começaram, há 84 anos. Em dezembro
de 2013, foi registrado índice 72% menor que a média.
Em janeiro e fevereiro de 2014 choveu cerca de 65%
menos que o normal”, afirmou a Companhia em nota.
Estaríamos então a mercê dos eventos climáticos
e, como na Roda da Fortuna, predispostos a boa e a
má sorte, inclusive no que diz respeito ao clima? O
Março a Julho de 2015
matéria tema
professor de hidrologia e recursos hídricos da Universidade de Campinas (Unicamp), Antônio Carlos Zuffo,
diz que um sistema hídrico não pode considerar apenas os volumes de chuva médios, porque eles nunca
ocorrem. E existem medidas de gestão para enfrentar situações atípicas. Para ele, após a seca histórica,
foi ignorada uma ferramenta chamada de “curva de
aversão ao risco”, que estabelece limites de vazão de
acordo com o volume dos reservatórios. “Continuaram tirando mais água do que deveriam até abril. Isso
acelerou a crise”, avalia Zuffo. O pesquisador também
diz que era possível ampliar a produção de água de
reúso a partir do tratamento de esgoto. “Só tirando os
lançamentos de esgoto já teríamos uma melhora na
aparência e no cheiro dos rios. Depois do tratamento,
eles deixariam de ser poluídos e haveria novas fontes
de água na própria capital”.
A Sabesp informa que desde 2012 realiza o projeto
Aquapolo, “que elevou em 13 vezes o volume de água de
reúso fornecido pela empresa”. O governador Geraldo Alckmin anunciou, em 5 de novembro, um plano para usar
o esgoto tratado para abastecer a represa de Guarapiranga e o Rio Cotia. A obra tem previsão de entrega para
dezembro de 2015. Em Audiência de Sustentabilidade,
promovida pela AESabesp, o professor titular da USP e
diretor do Centro de Referência em Reuso de Água (CIRRA), Ivanildo Hespanhol, demonstrou algumas técnicas
utilizadas e destacou o sistema de BioMembranas (ver
maior detalhamento no item Membranas Filtrantes no
final da matéria) como o principal recurso para o reuso
no momento. A técnica baseia-se na utilização de membranas que possuem a espessura de uma folha de papel
e servem como filtro para conter impurezas e diversas
substâncias.
PARA SAIR DO POÇO:
AS SOLUÇÕES PARA CRISE HÍDRICA EM SÃO PAULO
Para quem se pergunta se existe a dança da chuva,
a resposta é sim, existe! Muito embora os resultados
relacionem-se apenas ao imaginário coletivo daqueles que a realizam. Ao longo da história da humanidade, diversas culturas desenvolveram algum ritual
desse tipo - incluindo os antigos egípcios, os maias e
os astecas. As versões mais estudadas, entretanto, são
as das tribos de índios nativos da América do Norte, especialmente nas regiões mais secas. “É possível
que os xamãs antigos entendessem exclusivamente
de padrões do clima e, assim, soubessem a hora certa
de realizar a cerimônia para obter o efeito desejado”,
afirma Darlene O’Cadiz, professora do Departamento
de Teatro e Dança da Universidade do Estado da Ca-
Março a Julho de 2015
lifórnia (EUA) e autora do livro Dance and a cultural
diversity. No caso de São Paulo, essa com certeza ainda não é uma das alternativas consideradas. Não há
uma saída mágica. Há, porém, ações de curto, médio
e longo prazo e que têm sido consideradas por alguns
e até pelo governo do Estado como soluções (veja
quadro mais adiante).
Apesar do mito de que somos o país com maior
quantidade de água do planeta, é importante lembrar
que a maior parte da água doce no Brasil concentra-se na região Norte que possui baixa densidade demográfica. Já a região sudeste e em especial São Paulo, possui a maior densidade demográfica do país e a
água tem de ser trazida de longe.
Saneas
9
matéria tema
O EXEMPLO QUE VEM DE FORA
O Sudeste brasileiro tem sido castigado pela pior escassez hídrica de todos os tempos e que vem afetando milhões de pessoas e despertando discussões
sobre mudanças climáticas, consumo, investimentos
e alternativas de abastecimento.
O que parece uma triste novidade por aqui, já
aconteceu em outros lugares do mundo que também
enfrentam ou enfrentaram desafios semelhantes,
envolvendo seca, desperdício e excesso de consumo.
Veja alguns exemplos e as soluções mundo afora:
Califórnia, Estados Unidos
Lençol freático e água de reuso
O lençol freático da região de Orange County, no Sul
do Estado, onde fica a Disneylândia, chegou ao limite nos anos de 1960. Para que a população de cerca
de 3 milhões de habitantes tivesse água, o governo
começou em 1976, a tratar o esgoto que, purificado,
era injetado no lençol freático. O processo evita que
o aquífero seja contaminado pela água do mar —
que poderia tornar as reservas salobras — e ajuda a
reposição da fonte que permanece com uma quantidade de água constante. O tratamento de água inclui hoje as mais avançadas técnicas de purificação,
feitas por meio de membranas e desinfecção com
raios ultravioleta.
10
Saneas
Cidade do Cabo, África do Sul
Guerra ao desperdício
Com 450 mil habitantes, Khayelitsha, a 20 km da
Cidade do Cabo, é uma das maiores “townships”
(como são chamadas as comunidades carentes
sul-africanas) do país. Em meados dos anos 2000 descobriu-se que o equivalente a uma piscina olímpica
era perdida por hora devido a vazamentos na rede de
água. Os encanamentos domésticos, muitos dos quais
deficientes e incapazes de resistir a alta pressão de
bombeamento eram os principais responsáveis pelas
perdas de água. Como resultado, um elevado consumo de água e também uma gigantesca inadimplência. Sem falar que a Cidade do Cabo vive sob constante ameaça de falta d’água.
Em 2001, um projeto-piloto de US$ 700 mil atuou
em duas frentes: a reforma de encanamentos ruins e o
controle da pressão da água fornecida a fim de evitar
os vazamentos. O projeto custou menos de US$ 1 milhão, de acordo com um relatório do governo da Cidade
do Cabo, e o investimento foi recuperado em menos de
seis meses. Aliada a uma campanha de conscientização
para evitar desperdícios a iniciativa permitiu, segundo o
consórcio 2030 Water Resources que Khayelitsha economizasse 9 milhões de metros cúbicos de água por ano,
equivalente a US$ 5 milhões.
Março a Julho de 2015
matéria tema
Cidade do México
Novos aquíferos
Enrique Peña Nieto, presidente do Mexico afirmou em
junho da ano passado que 35 milhões de habitantes
no país têm pouca disponibilidade de água, tanto em
qualidade como em quantidade. A própria capital, a
Cidade do México, padece com a grave escassez, onde
uma combinação de fatores - como grande concentração populacional, esgotamento de rios e tratamento insuficiente da água devolvida ao solo - causa
extrema preocupação.
No ano de 2009, partes da cidade foram submetidas a um racionamento de água após uma forte
seca; e autoridades ouvidas pela imprensa local afirmam que, naquele ritmo, a cidade poderia não ter
água o suficiente em 2030. A alternativa no caso da
Cidade do México são aquíferos identificados no ano
2013, cuja viabilidade está sendo estudada. Poços
estão sendo perfurados para confirmar a existência
das fontes subterrâneas de água e também avaliar
sua qualidade para consumo humano.
As autoridades dizem que até 2016 será possível determinar se os aquíferos serão ou não uma
opção viável de abastecimento para a megalópole.
A perfuração, a 2 km de profundidade, no entanto,
deve sair muito mais cara do que perfurações de
fontes mais próximas à superfície. O professor da
Universidade Autônoma Metropolitana na Cidade
do México e estudioso da questão da água, David
Barkin, acredita que o plano mexicano pode não
ser concretizado por causa dos altos custos envolvidos na exploração do aquífero. Segundo ele, há
outra questão que é a forma como as autoridades
tratam a água disponível atualmente: “É obsceno”
- citando desperdícios, construções residenciais em
áreas que deveriam servir para armanezanamento
de água natural e problemas de planejamento.
Cingapura
A nova água
Cerca de 30% da água potável do país asiático é reciclada - ou seja, veio do esgoto. O programa começou de forma experimental em 1974, permaneceu
fechado durante décadas por seus altos custos, e foi
retomado em 1998. Por ter fontes escassas, o país
ainda importa água da Malásia, em um acordo assi-
Março a Julho de 2015
nado até 2061. A água reciclada, chamada NEWater
(em português algo como NOVÁgua), passa por um
processo de filtragem por membranas e desinfecção
com raios ultravioleta, além de uma técnica comum
de remoção de resíduos. A maior parte do produto
vai para indústrias e uma porcentagem menor - entre 40% a 30% - chega às torneiras. Cingapura pretende que até 2060, 55% da água potável do país
tenha origem na reciclagem. O país possui também
duas usinas de dessalinização da água do mar — a
última aberta em 2013 — que contribuem com até
25% da água usada no país.
Israel
Economia em cada gota
Conhecido internacionalmente como o país com o
mais avançado manejo de água, Israel localiza-se
em uma área desértica. As fontes naturais são escassas para suprir a demanda dos cerca de 2 bilhões
de metros cúbicos necessários para toda a população. Apesar disso, tem uma agricultura desenvolvida
e raramente passa por crises hídricas. Não se trata
de uma, mas da combinação de diversas estratégias,
centralizadas pelo governo e que garantem os bons
resultados. No início do século XX, quando a prioridade do Estado era a agricultura, os fazendeiros desenvolveram um tipo de irrigação mais econômica,
intitulado irrigação por gotejamento. A técnica consistia em direcionar a água apenas para as raízes das
plantas, evitando-se encharcar todo o solo ao redor.
Também foram desenvolvidas no país técnicas de reúso sofisticadas, com o uso de membranas e processos químicos. Atualmente de 80% a 90% dos esgotos
são tratados e reutilizados. Israel conta ainda com
uma das maiores usinas de dessalinização do mundo, em Ashkelon, inaugurada em 2005 e produtora de
13% de toda a água doméstica consumida no país. Os
níveis de perdas por vazamento são semelhantes ao
da União Europeia, de 10%, e todas as crianças são
educadas na escola a economizarem a água dentro
das casas.
Japão
Encanamentos duplos
Em 1964, depois de uma grande seca, o país implantou o reúso de água em todas as indústrias de Tóquio
Saneas
11
matéria tema
e Nagoya. Na década de 1980, o reúso tornou-se a opção também para o consumo doméstico nas grandes
cidades: a água é utilizada para descargas, limpeza e
para derreter neve. E há cerca de dez anos todos os
prédios com mais de 10.000 metros quadrados construídos em Tóquio devem ser equipados com sistemas
de tratamento e reúso de água. Em Osaka e Fukuoma,
a regra vale para os prédios maiores que 5.000 metros
quadrados desde 2003. Há encanamentos duplos —
para água potável e água de reúso — que são também
usados em prédios comerciais e públicos.
Londres, Inglaterra
A água que vem do mar
Não obstante ser conhecida pela garoa e neblina
constantes, chove menos em Londres que em Roma,
na Itália, Dallas, nos Estados Unidos, ou Istambul, na
Turquia. Com uma grande população e com suas fontes de água impróprias para o consumo — como o rio
Tâmisa — a cidade de Londres passou por períodos
frequentes de escassez de água até os anos 2000, com
reservatórios secos e racionamentos. Após um estudo
oficial verificar se valia a pena transportar água do
Norte do país ou usar outras técnicas, a cidade abriu
em 2010 sua primeira usina de dessalinização — por
estar perto do mar, essa foi a opção considerada mais
econômica. Ao custo de 250 milhões de libras, a usina
pode fornecer água para 1 milhão de pessoas — mas
seu uso principal deve ocorrer em períodos de seca.
Nova Iorque
Proteção de mananciais
Nova Iorque, uma das maiores cidades do mundo,
iniciou nos anos 1990 um amplo programa de proteção aos mananciais de água, para prevenir a poluição nessas nascentes e, assim, evitar gastos volumosos com tratamento ou busca de novas fontes
de abastecimento.
Terras foram adquiridas pelo governo nas nascentes de água, com o objetivo de proteger sua vegetação
e garantir que os lençóis freáticos continuassem a ser
alimentados. O projeto também previu a assistência
financeira às comunidades rurais nessa região em troca de cuidados com o meio ambiente e a mitigação da
poluição nos mananciais. Graças a essas iniciativas, a
vida útil de seus mananciais foi ampliada em décadas.
12
Saneas
Assim como Perth, na Austrália (veja adiante),
o programa também envolveu campanhas pela
redução do consumo. Pelos dados oficiais o consumo per capita da cidade era de 204,1 galões de
água por dia em 1991 e caiu para 125,8 galões/
dia em 2009.
Pequim
Transposição de água
Listada pela ONU entre os 13 países com grave falta
d’água, a China conta com 21% da população mundial, mas tem apenas 6% da água potável do planeta.
Pequim é uma das cerca de 400 cidades do país que
enfrentam obstáculos de abastecimento, com uma
população crescente, a capital já consome mais água
do que tem disponível em seus reservatórios.
Secas prolongadas, crescimento populacional, poluição e expansão industrial fizeram com que diversos rios chineses secassem. A aposta para enfrentar a
questão está em um projeto multibilionário da Companhia de Água de Pequim para redirecionar rios, o
Projeto de Desvio de Água Sul-Norte, cuja primeira
etapa deve ser concluída neste ano. Bilhões de metros cúbicos de água deverão ser transportados do sul
ao norte (mais árido) anualmente ao longo de uma
distância superior à que separa o Oiapoque do Chuí
(extremos do Brasil), a um custo que deve superar os
US$ 60 bilhões.
Perth, Austrália
Dessalinização
Entre as metrópoles da Austrália, Perth é a “cidade
mais seca”. A presidente da Western Australia Water
Corporation, Sue Murphy, em entrevista a rede BBC,
em junho de 2014, disse que as mudanças climáticas
ocorreram mais rápido e antes do que era esperado
no oeste do país. “Nos últimos 15 anos, a água de
nossos reservatórios foi reduzida para um sexto do
que havia antes” declarou.
A solução foi construir duas grandes estações
para remover o sal da água coletada no Oceano Índico e torná-la potável. Metade da água que hoje abastece Perth provém do mar. Os ambientalistas criticam
o processo por ser caro e demandar muita energia e
os moradores sentiram o impacto em suas contas de
água, que dobraram de valor nos últimos anos.
Março a Julho de 2015
matéria tema
Também está em andamento experimentos com
o sistema Gnangara, a maior fonte hídrica subterrânea da região. Perth injetou durante dez anos a água
que foi usada pela população, já tratada nos aquíferos subterrâneos. O solo arenoso filtra naturalmente a
água que depois é extraída para ser consumida pela
população ou usada na irrigação agrícola. Considerado
bem-sucedido, o teste se transformou em um programa oficial: a meta é obter 7 bilhões de litros por ano.
Para Mia Davies, ministra de Água e Florestas do
Leste da Austrália, é preciso agir e não se pode apenas
esperar que chova: “Com um clima mais seco, precisamos ser menos dependentes da chuva, por isso apoiamos estes projetos”. Simultaneamente foi realizada uma
campanha pelo uso racional da água, o que fez com que
a demanda por água hoje seja 8% menor do que em
2003, apesar de a população ter crescido mais de 30%.
Texas, Estados Unidos
Injeção de água
O Sul e Oeste do Estado são extremamente secos e com
áreas desérticas. O uso de água reciclada para irrigação
de parques e plantações teve início em meados do século XX. Em 1985, El Paso, a cidade mais seca do Texas,
começou a tratar o esgoto e a injetar essa água de volta no aquífero Hueco Bolson. Após a purificação, feita
por processos químicos que incluem ozônio e carbono,
o produto é misturado à água pura do aquífero — o
que impede que ele seque. Estima-se que a água reciclada injetada no aquífero demore até dois anos para
ser utilizada novamente. Atualmente, 6% do líquido
consumido na cidade é reciclado, número que deve
aumentar para 15% até o fim da década.
No fim de 2012 em Big Spring, uma área que viu
todos os seus reservatórios secarem nos últimos anos,
recebeu uma central de reciclagem que custou 12 milhões de dólares. Já em 2013, eram injetados cerca de
8 milhões de litros de água purificada por dia nos reservatórios da cidade — o uso geral da população é de
cerca de 150 milhões de litros. As autoridades esperam
que, até 2060, 10% da água usada pelo Estado venha
de usinas de reciclagem.
Windhoek, Namíbia
Reaproveitamento da água
A capital da Namíbia, circundada pelos desertos da Na-
Março a Julho de 2015
Água preciosa
Segundo a ONU, até 2025,
dois terços da população
mundial enfrentarão
dificuldades com a falta
d’água. Mais de 1 bilhão
de pessoas que moram em
cidades poderão viver com
menos de 100 litros por dia
– limite da ONU para uma
vida saudável – e mais de 3
bilhões terão falta d’água
por um mês a cada ano, de
acordo com um estudo na
Nature Conservancy.
míbia e do Kalahari, sofre com o clima seco e a pouca
água das suas fontes evapora rapidamente. O cenário
de desolação, porém, fez com que fosse a pioneira no
tratamento de esgoto e reúso como água potável. A
água de descargas e pias começaram em 1968, a ser
tratadas e misturadas à água pura dos reservatórios,
que segue para as torneiras da cidade. Windhoek criou
parâmetros de purificação de água, aceitos hoje pela
Organização Mundial de Saúde e União Europeia. A
aceitação da população veio por meio de uma longa
campanha publicitária.
Zaragoza, Espanha
Conscientização e metas
Nos anos 1990 secas severas deixaram milhões de
espanhóis temporariamente sem água. Um relatório
da Comissão Europeia aponta que o maior problema
no país não costuma ser a falta de chuvas, e sim
“uma cultura de desperdício de água”.
Zaragoza, cidade ao norte da Espanha, enfrentou
o problema com uma ampla campanha de conscientização em escolas, espaços públicos e imprensa pelo
uso eficiente da água e o estabelecimento de metas
de redução de consumo. Dos cerca de 700 mil habitantes, 30 mil se comprometeram formalmente a
gastar menos água.
Houve, ainda, incentivos para a compra de apa-
Saneas
13
matéria tema
14
relhos domésticos econômicos (chuveiros, vasos sanitários, torneiras e máquinas de lavar louça eficientes, cujas vendas aumentaram em 15%); melhoria no
uso da água em edifícios e espaços públicos, como
parques e jardins; e cuidados para evitar vazamentos
no sistema.
Em 1997 foi estabelecida uma meta: cortar o consumo doméstico de água em mais de 1 bilhão de litros
água no prazo de um ano. A meta foi plenamente
atingida. De acordo com a Comissão Europeia, antes
da campanha apenas um terço das casas de Zaragoza
praticava medidas de economia de água; ao final da
campanha, já eram dois terços. Apesar do aumento no
número de habitantes o consumo total caiu.
“O projeto mostrou que é possível lidar com a
falta d’água em um ambiente urbano usando uma
abordagem economicamente eficiente, rápida e
ecológica”, diz o 2030 Water Resources Group, consórcio que reúne ONGs, governos, ONU e empresas
em busca de soluções ao uso da água no mundo.
A dessalinização adotada por
muitos países como Cingapura, Israel, Inglaterra e Austrália, por exemplo, não seria em um
primeiro momento, uma opção coerente
para São Paulo, já que não se trata de uma cidade costeira e os custos da produção fariam com
que a conta triplicasse. Seria também uma solução de longo prazo e baseada em obras. O Brasil
tem um enorme patrimônio de água doce e essa
seria a opção mais viável se comparada ao uso
da água do mar. Ao mesmo tempo, já se fala
em recorrer ao uso emergencial de água usada
(como em Cingapura, Israel,
Japão, por exemplo): o governo paulista anunciou planos de
construir uma Estação de Produção
de Água de Reúso na zona sul de São Paulo
(Veja quadro com as principais obras previstas).
Quanto ao uso de água subterrânea (casos
como o da Califórnia e Texas nos EUA, Cidade do
México e Perth na Austrália) não é exatamente
uma novidade, na verdade já é uma realidade
para diversas cidades brasileiras, mas, por serem
importantes reservas de água para o futuro, seu
uso deve ser racional. Os especialistas afirmam
Saneas
Março a Julho de 2015
matéria tema
que temos pouco conhecimento a respeito de
ENQUANTO ISSO ...
nossos aquíferos. Eles precisam ser melhor estuPor aqui os especialistas concordam que não exisdados e mais bem cuidados, já que há locais em
te uma saída única e rápida para a crise hídrica da
que podem estar contaminados, como é o caso
RMSP. Ações de prevenção e que ajudariam a evinas cidades em que os postos de gasolina comtar crises futuras demandam tempo e investimento,
não apenas do governo, mas da sociedade como um
prometem o solo quando seus reservatórios de
todo. A seguir destacamos algumas alternativas —
combustível vazam solo adentro ou no interior
umas mais viáveis que outras — de soluções a curto
em que uso de agrotóxicos permeiam os solos e
e longo prazo para o abastecimento de São Paulo.
alcançam os lençóis freáticos.
Cuidar melhor de nossos mananciais seria a
opção mais adequada para a realidade paulista,
Implantação de um rodízio de água
muito embora seja uma solução de longo prazo
O rodízio do abastecimento de água é praticamene que deveria ter sido implementada há muitos
te um consenso entre autoridades e especialistas:
anos atrás. Para muitos especialistas, São Paulo
trata-se de uma medida extrema. A interrupção e
estaria avançando sobre outras fontes de água
retomada do abastecimento produz golpes no sissem cuidar da água que tem disponível atualtema de distribuição o que acarreta vazamentos
e maior perda de água. Além disso, a população
mente. Como mostrado anteriormente, a ideia
dos chamados pontos de rede, poderiam ficar sem
de Nova York foi pensar nos recursos que eles
água mais do que o tempo previsto, isso porque até
tinham disponíveis e cuidar deles, ao invés de ina água retornar a esses pontos já seria iniciado o
vestir em obras.
próximo corte. Para Ivanildo Hespanhol, diretor do
Em São Paulo, o governador Geraldo AlckCentro Internacional de Referência em Reúso de
min, também planeja, a exemplo de Pequim,
Água (Cirra), da Universidade de São Paulo, o rodízio
mas guardadas as devidas proporções uma
deve ser realmente a última
transposição. A obra deverá
alternativa, porque prejudica a
interligar o Sistema CantaCuidar
melhor
de
nossos
qualidade da água. Em condireira à bacia do rio Paraíba
do Sul. O projeto esbarra em
ções normais de abastecimenmananciais seria a opção
uma polêmica: o Paraíba do
to, os tubos em carga (com
mais adequada para
Sul é a principal fonte de
água) mantém um pressão poa realidade paulista,
abastecimento do Estado do
sitiva, o que impede a entrada
muito
embora
seja
uma
Rio de Janeiro. O custo estide potenciais contaminantes
solução de longo prazo
por fissuras que possam existir
mado é de R$ 500 milhões
nas tubulações. “Como a rede
(veja quadro).
e que deveria ter sido
apresenta trincas e vazamenVamos chover no molhaimplementada há muitos
do, ou melhor, no seco. Mas
tos, acaba aspirando a carga
anos atrás.
o que todos os países citados
poluidora do solo. Quando a
nesta matéria têm em coágua volta a percorrer esse túmum, além da escassez hídrica, é um trabalho de
nel, leva as impurezas junto com ela”, explica.
educação da população. Em alguns casos, como o
Todavia, o diretor metropolitano da Sabesp,
de Israel, a educação supera as campanhas ponPaulo Massato, afirmou, em 27.01, que, num cetuais e o valor da água é ensinado na escola.
nário extremo, a companhia poderá chegar a um
Ao se falar de campanhas de conscientização,
rodízio “drástico” na região metropolitana: “para se
pressupõe-se duas coisas: a primeira é que haja transganhar mais do que já economizamos hoje, seriam
necessários dois dias com água e cinco dias sem
parência sobre a realidade a ser enfrentada e a seágua”, afirmou, durante o anúncio da ampliação da
gunda é que ela seja (como previsto na Constituição
adutora Guaratuba para o sistema Alto Tietê.
da República) de responsabilidade do poder público.
Março a Julho de 2015
Saneas
15
matéria tema
A redução de perdas de água tratada
Segundo a Companhia de Saneamento Básico de São
Paulo, a Sabesp, o índice de perdas físicas (volumes de
água que não são consumidos, por serem perdidos em
vazamentos) da água tratada em São Paulo está em
torno dos 20%.
Para o programa
de redução de
perdas da companhia, iniciado
em 2009 e que
deverá ser estendido até 2020,
serão investidos
ao todo R$ 7 bilhões, investimento proveniente de
Capacitação de profissionais
do Programa Corporativo de
financiamentos
Redução de Perdas, realizada no
do Banco NacioCentro de Treinamento da Sabesp.
nal de Desenvolvimento, o BNDS
(2009 a 2012) e da Agência japonesa de Cooperação
Internacional, a JICA (2013 a 2020). Apesar de ser
melhor do que a média brasileira, estimada em cerca
de 40%, a meta da Companhia é chegar a 16% até
2020. A principal causa de perdas são os vazamentos
em tubulações, que muitas vezes acumulam décadas
de uso, prejudicando o sistema. Alcançar índices menores é uma tarefa árdua e cara, isso porque implica na
substituição de redes e ramais e no controle da pressão.
“Mas chegamos a um ponto em que não tem de onde
trazer água. A alternativa mais barata não está mais
disponível”, afirma Antônio Carlos Zuffo, professor da
Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
É importante, no entanto, dizer que não existe perda zero. Diferentemente de outras atividades, como a
indústria de produção de bens de consumo, por exemplo, no saneamento as perdas são inerentes aos sistemas de distribuição, havendo um nível de perdas aceitável por não ser economicamente viável sua redução.
Assim, mesmo nos melhores sistemas do mundo, como
no Japão e na Alemanha, por exemplo, as perdas físicas estão em torno de 7%; já no Reino Unido em 16%;
e na França, em 26% (fonte: Swam 2011)
Novos hábitos
Um erro comum é imaginar que São Paulo é uma região
com farta disponibilidade de recursos hídricos. Embora o
Brasil detenha 12% das reservas de água doce do planeta, a maior parte desses recursos encontra-se na região
Norte do país. Especialistas dizem que a primeira coisa
que deve ser feita é reduzir o consumo de água e mudar
a “cultura de abundância”.
Outro engano é acreditar que os grandes vilões do
consumo de água potável são a indústria e a agricultura. Segundo José Carlos Mierzwa, professor do departamento de engenharia hidráulica e sanitária da
Escola Politécnica da USP, “a parte de água de nossos reservatórios destinada à agricultura é irrelevante,
16
Saneas
apenas 3%. Para a indústria, vão outros 17% e os 80%
restantes são de uso urbano”, afirma. Fechar o registro
enquanto se ensaboa ao tomar banho, ou a torneira
ao se escovar os dentes ou fazer a barba já é um bom
começo. Mas é preciso fazer mais e evitar lavar carros
com frequência ou mesmo preferir varrer a calçada
com vassoura ao invés de utilizar a mangueira. A rega
de plantas é outro exemplo e também deve ser feita de
preferência com o regador. Ações como estas fazem
parte da conscientização que deve ocorrer, segundo os
especialistas, por meio de campanhas permanentes e
também nas escolas em que o ensino deve incluir a
educação ambiental.
Março a Julho de 2015
matéria tema
Multa
A medida que sobretaxa a conta de água para quem aumentar o consumo criou controvérsia, pois no entendimento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB - SP) e da
Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste),
com base na Lei Federal 11.445/07, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política
federal de saneamento básico no país, a multa só poderia
ser aplicada após o governo decretar o racionamento.
Embora tenha sido inicialmente barrada na Justiça,
voltou a valer a partir do dia 14 de janeiro, após o governo de São Paulo derrubar a liminar concedida pela
justiça às instituições. A partir da conta de fevereiro de
2015, passam a ser cobrados 40% de multa para quem
consumir até 20% a mais do que a média entre fevereiro de 2013 e janeiro de 2014. Quem ultrapassar 20%
dessa média será multado em 100% sobre o gasto com
água, que representa metade da conta. Os outros 50%
são referentes ao serviço de coleta de esgoto. A meta do
governo é reduzir 2,5 metros cúbicos por segundo de
consumo. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) negou
que a medida seja uma multa ao consumidor. Ele define
o ônus como “tarifa de contingência”. Com a medida, a
multa será aplicada da seguinte maneira: um consumidor que, em média, gasta 10 m³ de água receberá conta
20% mais cara se utilizar entre 10,1 m³ e 12 m³ em um
mês. Caso gaste acima de 12,1 m³, irá pagar 50% a mais.
Bônus
Entre fevereiro e outubro de 2014, a Companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp,
concedeu bônus de 30% na conta de clientes que economizassem 20% ou mais de água em relação à média
de consumo entre os 12 meses que vão de fevereiro de
2013 a janeiro de 2014.
A medida foi adotada para estimular a redução no
consumo. Desde novembro, o desconto gradual passou
a ser dado para os imóveis que reduzirem o consumo
entre 10% e 20%. O desconto foi prorrogado até o fim
de 2015. Segundo a Sabesp, 80 % dos consumidores
reduziram o consumo.
Equipamentos economizadores
Outra iniciativa é trocar equipamentos hidráulicos nas residências e espaços públicos por aqueles que consomem menos água, tais como torneiras de fechamento rápido, caixas acopladas para
bacias sanitárias e descargas com dupla botoeira
(sólidos e líquidos). Estima-se que em torno de
70% do consumo de uma residência aconteça nos
banheiros. As bacias sanitárias são ainda as grandes vilãs no consumo de água doméstico. As mais
antigas foram projetadas para eliminar 20 litros
de água cada vez que a descarga é acionada. Desde 1982, uma norma brasileira recomenda que os
vasos usem apenas 6 litros. Hoje, praticamente só
são comercializados vasos com o volume reduzido, mas existem edificações antigas que mantém ainda os velhos equipamentos. A redução de
impostos sobre esses equipamentos pode ser um
grande incentivo para a substituição dos mesmos
nas residências.
Despoluição dos rios Tietê e Pinheiros
Não é difícil encontrar alguém que não questione a
utilização das águas desses dois rios da região metropolitana. Na opinião de especialistas não é, até o
momento, uma opção considerada viável. Para eles,
além da qualidade da água ser ruim, os rios recebem
muita poluição difusa, aquela que é carregada pela
chuva que ‘lava’ a cidade, contendo às vezes poluentes altamente tóxicos e até metais pesados. Já existe,
porém, o Sistema Alto Tietê, que capta água perto da
cabeceira do rio, com melhor qualidade, que abastece
a zona Leste de São Paulo e municípios como Mogi
das Cruzes, Poá e Suzano.
Março a Julho de 2015
Despoluição dos rios Tietê e Pinheiros
Saneas
17
matéria tema
Exploração do Aquífero Guarani
Na década de 1990, o geólogo uruguaio Danilo Anton propôs o nome Aquífero Guarani para a grande
quantidade de água subterrânea que identificou
abrangendo partes dos territórios do Uruguai,
Argentina, Paraguai e principalmente Brasil, com
uma extensão total de 1.182.000 quilômetros quadrados. Algumas cidades do interior de São Paulo,
como Ribeirão Preto e São Carlos, se beneficiam
dessa fonte, mas ela é inviável para os moradores
da metrópole, que está a mais de 200 quilômetros
do ponto onde é possível captar água. Sob o solo
da capital, o aquífero fica a mais de 1.000 metros de profundidade. Especialistas afirmam que
a região metropolitana está sobre uma formação
rochosa e, apesar de existirem alguns depósitos
de água armazenados em fendas dessas rochas, a
quantidade é pequena para abastecer da cidade.
Praticamente todos os mananciais que poderiam ser
explorados em termos técnicos e econômicos já estão sendo utilizados. O consenso é que se protejam
aqueles que estão sendo utilizados. Tratar o esgoto da população que vive próximo dos mananciais
e proteger as áreas verdes restantes ao redor deles,
em especial a mata ciliar, são essenciais para manter
a qualidade da água. O problema com grandes obras
é que levam tempo e demandam altíssimos investimentos. A água está cada vez mais longe, logo, cada
vez mais cara.
Seguindo o exemplo dos países citados anteriormente nessa matéria e também a opinião de especialistas: o reúso da água é a melhor opção para resolver
a crise hídrica. Trata-se de recolher a água que já foi
usada e utilizá-la novamente. Há várias formas de
fazê-lo: o mais simples é tratar a água que escorre
pelo ralo do chuveiro ou da máquina de lavar, por
exemplo, e destiná-la para fins não potáveis, como
limpeza de pisos, irrigação de áreas verdes ou fontes
decorativas. Mas, também, é possível purificar o que
vai para o esgoto tanto para fins não potáveis como
para o consumo final como alguns países já fazem.
O processo pode ser reproduzido em casas, condomínios, indústrias ou, idealmente, na rede de tratamento de esgoto de uma cidade inteira.
Um exemplo atual, na grande São Paulo, é o projeto
Aquapolo Ambiental. Trata-se de uma parceria público-privada entre a Sabesp e a Odebrecht Ambiental dedicada à produção de água de reúso para fins industriais.
A parte líquida do esgoto da estação de tratamento
do ABC, localizada nos limites entre São Paulo e São
Caetano do Sul, é tratada e consumida pelo polo petroquímico da região. Aproximadamente 400 milhões
de reais foram investidos no projeto, dos quais a maior
parte (60%) gasto com a construção da rede que leva a
água por 17 quilômetros até o local onde ela é utilizada e o restante com o tratamento da água.
A Sabesp também fornece água de reuso para
a prefeitura que a utiliza para a limpeza urbana.
Transposição Paraíba do Sul
Filtração por membranas
O projeto do governo paulista de transferir para o
Sistema Cantareira a água do Rio Paraíba do Sul, que
abastece mais de 11 milhões de pessoas no Estado
do Rio de Janeiro, pode fornecer 5 metros cúbicos
por segundo (m³/s) a mais para o reservatório de São
Paulo e abastecer de 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas. É, aparentemente, viável, mas não resolve o
problema em longo prazo. Isso porque a população
cresce a cada ano e continua a consumir mais do que
deveria. A preocupação, segundo os especialistas,
não deveria estar em trazer mais água para São Paulo e sim o em avaliar se essa água está sendo usada
de forma adequada e rever a nossa relação com ela.
A filtração por membranas é um procedimento físico de separação de partículas através de
membranas semi-permeáveis. Existem 4 tipo de
tecnologias, dependendo do tamanho das partículas/moléculas que têm que ser removidas:
Microfiltração, Ultrafiltração, Nanofiltração e
Osmose Reversa. A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), por meio de seu
Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária (PHD) e do Centro Internacional de Referência e Reúso de Água (CIRRA), dirigido pelo
prof. dr. Ivanildo Hespanhol, desenvolve pesquisas na área de uso racional da água e reúso. O
Construção de reservatórios
18
Reúso
Saneas
Março a Julho de 2015
matéria tema
emprego dos processos de separação por membranas tem ganhado muita importância. Entre as
principais vantagens dessa tecnologia, estão a
invariável qualidade da água produzida, livre da
utilização de produtos químicos, a facilidade de
automação e a necessidade de espaço reduzido.
A Sabesp a tem adotado em algumas Estações de
Tratamento de Esgoto.
OBRAS, PRAZOS E CUSTOS
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin divulgou
em novembro de 2014 um pacote de obras avaliadas
pelo governo em R$ 3,5 bilhões. No total, as obras
podem levar mais de dois anos para serem concluídas.
A LIÇÃO DE CASA: MUDANÇA DE HÁBITOS
Para reduzir o consumo de água, uma das providências pode ser a revisão do sistema hidráulico de casas e edifícios. Assim é possível identificar possíveis
Veja as obras previstas no pacote sugerido por Alckmin:
Obra
Justificativa
Valor
Prazo
Interligação do reservatório de Jaguari
(Bacia do Paraíba do Sul) ao Atibainha
(Sistema Cantareira)
Aumentar a oferta no Sistema Cantareira,
o mais afetado pela estiagem, captando
água do Rio Paraíba do Sul.
Proposta divulgada em março de 2014.
R$ 830
milhões
14 meses
Barragens Pedreira (divisa dos municípios
Campinas/Pedreira, rio Jaguari) e
Duas Pontes (município de Amparo,
rio Camanducaia)
Construção de duas novas represas
deve beneficiar mais de 5 milhões de
habitantes na região das bacias dos Rios
Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
Proposta divulgada em maio de 2014.
R$ 760
milhões
30 meses
Sistema Adutor Regional de água bruta
para as bacias do Rio Piracicaba,
Capivari e Jundiaí
Levar a água dos reservatórios das barragens
Pedreira e Duas Pontes para outros 14
municípios, atendendo cerca de 3 milhões.
R$ 397
milhões
18 meses
Interligação do Rio Pequeno
com o Reservatório Rio Grande,
na represa Billings
Aumentar a oferta de água no Sistema Rio
Grande, que abastece a região do ABC,
e reduzir área atendida pelo Cantareira.
R$ 500
milhões
24 meses
Estação Produtora de Água de Reúso
(EPAR) para reforço do
Sistema Produtor Guarapiranga
Aumentar a disponibilidade hídrica
em 14% no Sistema Guarapiranga, mediante
tratamento de esgoto captado na altura da Ponte
Transamérica, no Rio Pinheiros, em São Paulo.
Proposta divulgada em novembro de 2014.
R$ 250
milhões
12 meses
Estação Produtora de Água de
Reúso (EPAR) para reforço do
Sistema Baixo Cotia
Aumentar a disponibilidade hídrica
em 100% do Sistema Baixo Cotia
também com água de esgoto tratado.
Proposta divulgada em novembro de 2014.
R$ 275
milhões
18 meses
Adutora Emergencial Jaguari-Atibaia
para reforço da captação de Campinas
Aumentar a oferta de água no ponto de
captação de Campinas no Rio Atibaia,
em períodos de baixa vazão.
R$ 150
milhões
9 meses
Perfuração de poços em área de
afloramento do Aquífero Guarani e
adução para bacias PCJ
Reforçar o abastecimento em cidades da bacia
Piracicaba, Capivari e Jundiaí com a perfuração
de 24 poços profundos em áreas de afloramento
do Aquífero Guarani, um dos maiores
mananciais de água doce do mundo.
Proposta divulgada em novembro de 2014.
R$ 350
milhões
24 meses
Março a Julho de 2015
Saneas
19
matéria tema
vazamentos. No caso de prédios, um bom método é
separar os hidrômetros de cada apartamento, para
determinar com mais clareza quem está gastando
mais. O trabalho exige mão de obra qualificada. A segunda medida possível é a troca de peças tradicionais
por modelos que economizam.
Conheça equipamentos indicados:
■■ Arejador: Rosca interna adicionada à torneira que
permite a passagem de água e ar ao mesmo tempo e
torna a vazão constante. Em caso de torneiras de alta
pressão, a economia chega a 90%. Custa em média15
reais.
■■ Torneira com fechamento automático: Fica aberta
por um curto período de tempo, permitindo diminuir o consumo em 20%. Custa cerca de 135 reais.
■■ Torneira com fechamento eletrônico: Equipamento regulado por sensor, que economiza o dobro de uma torneira automática. Pode custar em
torno de 400 reais.
■■ Válvula de descarga automática para mictório:
Equipamento instalado em banheiros masculinos e
20
que dispensa o acionamento manual. A economia é
de 50% em relação a uma descarga convencional.
Custa em média 135 reais.
■■ Caixa d’água acoplada a bacia sanitária: Libera apenas seis litros de água por descarga, reduzindo o
consumo em 50%. Custa cerca de 110 reais.
■■ Regulador de vazão: Diminui a quantidade de água
liberada pelo chuveiro. É recomendado para sistemas com aquecimento central. Economiza 60%.
Custa 15 reais.
■■ Chuveiro elétrico: embora seja considerado um
vilão no consumo de energia, o chuveiro elétrico
apresenta um consumo de 4 litros de água por
minuto contra 8,7 litros do solar (consumo 118%
maior) e 9,1 litros do sistema a gás (mais 128%) e
8,4 litros do boiler elétrico (+110%). Isso deve ao
fato de que a água aquece mais rapidamente em
um chuveiro elétrico do que em outros sistemas.
Há chuveiros de vários preços, mas é possível adquirir uma ducha ao custo de 30 reais.
Equipamento
Convencional
Consumo
Equipamento
Economizador
Consumo
Economia
Bacia com caixa acoplada
12 litros/descarga
Bacia VDR
6 litros/descarga
50%
Bacia com válvula
bem regulada
10 litros/descarga
Bacia VDR
6 litros/descarga
40%
Ducha (água quente/fria)
até 6 mca
0,19 litros/seg
Restritor de vazão
8 litros/min
0,13 litros/seg
32%
Ducha (água quente/fria)
15 a 20 mca
0,34 litros/seg
Restritor de vazão
8 litros/min
0,13 litros/seg
62%
Ducha (água quente/fria)
15 a 20 mca
0,34 litros/seg
Restritor de vazão
12 litros/min
0,20 litros/seg
41%
Torneira de pia
até 6 mca
0,23 litros/seg
Arejador vazão cte
(6 litros/min)
0,10 litros/seg
57%
Torneira de pia
15 a 20 mca
0,42 litros/seg
Arejador vazão cte
(6 litros/min)
0,10 litros/seg
76%
Torneira uso geral/tanque
até 6 mca
0,26 litros/seg
Regulador de vazão
0,13 litros/seg
50%
Torneira uso geral/tanque
15 a 20 mca
0,42 litros/seg
Regulador de vazão
0,21 litros/seg
50%
Torneira uso geral/tanque
até 6 mca
0,26 litros/seg
Restritor de vazão
0,10 litros/seg
62%
Torneira uso geral/tanque
15 a 20 mca
0,42 litros/seg
Restritor de vazão
0,10 litros/seg
76%
Torneira de jardim
40 a 50 mca
0,66 litros/seg
Regulador de vazão
0,33 litros/seg
50%
Mictório
2 litros/uso
Válvula automática
1 litro/seg
50%
Saneas
Março a Julho de 2015
Arquivo pessoal
entrevista
O presidente da
Sabesp, Jerson Kelman,
também é membro do
Conselho Curador da
Fundação Brasileira
de Desenvolvimento
Sustentável - FBDS, do
Comitê Científico da
Semana Mundial da
Água em Estocolmo,
da Academia Nacional
de Engenharia - ANE,
do Conselho Superior
de Infraestrutura da
Federação da Indústria
do Estado de São
Paulo - FIESP, da Força
Tarefa sobre Segurança
Hídrica da Global Water
Partnership - GWP e
da Organisation for
Economic Co-operation
and Development OECD.
O enfrentamento da crise, pela ótica do
presidente da Sabesp, Jerson Kelman
A partir de 10 de janeiro, o eng. Jerson Kelman assumiu a presidência da Sabesp. Com foco na atual crise
hídrica, concedeu à Saneas a seguinte entrevista:
tal como está ocorrendo, é de 0,4%. Ou seja, tem
Saneas: Quando o senhor adverte que deveum tempo de recorrência de 250 anos. Obviamente,
mos estar preparados para o pior, qual é o
trata-se de uma evento raríssimo.
cenário de maior temeridade?
Jerson Kelman: Do ponto de vista hidrológico, o
Saneas: Muitos moradores da RMSP alegam
pior cenário, ao meu ver, seria algo da ordem de
que não foram avisados com clareza sobre a
80% das vazões afluentes no ano passado; ou seja,
gravidade dessa crise antes das eleições. E
nós devemos estar preparados para que nos memuitos são contra às multas pelo uso acima
ses que nos separam até dezembro ocorra alguma
do padrão de consumo. O senhor avalia estas
coisa ainda pior do que aconteceu ano passado.
reclamações como justas?
É uma hipótese extremamente conservadora. É
Jerson Kelman: Embora a situação dos mananciais
o pior cenário. Não deve acontecer, mas temos
antes das eleições fosse ruim, a expectativa era de
que estar preparados. Portanto, é essencial que se
que com o início do ano hidrológico, em outubro,
cumpram os prazos previstos para as obras de reesta situação se reverteria. Ainda assim, algumas
forço de adução na Região Metropolitana, princimedidas preventivas foram adotadas. Por exemplo,
palmente a ligação da Billings com o Sistema Alto
a instituição pela Sabesp do incentivo econômico –
Tietê, o reforço da Billings com o Guarapiranga
o bônus – para diminuição
e a ampliação da ETA ABV.
do consumo.
É também essencial, para
é
essencial
que
se
Entendo que é preciso
que não sejamos forçados
que
ocorra uma evolução
a adotar o rodízio, que a
cumpram os prazos
regulatória para que numa
população não esmoreça
previstos para as obras
situação de escassez hídrie continue economizando
de reforço de adução na
água como está econoca seja possível alocar a
Região
Metropolitana,
água prioritariamente para
mizando agora. Graças a
principalmente a
abastecimento das cidades.
esse esforço, hoje estamos
Uma ideia seria a Arsesp
produzindo cerca de 70%
ligação da Billings com
permitir que a Sabesp codo que produziríamos em
o Sistema Alto Tietê,
condições normais.
bre dos consumidores uma
o reforço da Billings
pequena quantia destinacom
o
Guarapiranga
e
a
Saneas: Entre as causas
da a um fundo de reserva
ampliação da ETA ABV.
da crise: condições clicriado para “indenizar” aos
irrigantes localizados a
matológicas, adminismontante dos mananciais
tração do abastecimento
pelo “não uso” da água numa situação de crise.
e padrões de consumo da população, qual tem
Certamente, essa solução seria bem menos customais peso em sua escala de valores?
Jerson Kelman: Sem dúvida nenhuma as condisa para os clientes da Sabesp do que trazer água
de locais cada vez mais distantes.
ções climatológicas são as mais relevantes. A atual
Sobre a cobrança extra para quem consoafluência ao Sistema Cantareira é disparada a pior
da história. A probabilidade de acontecer a seca,
me acima da meta, trata-se de uma maneira
Março a Julho de 2015
Saneas
21
entrevista
indireta de sinalizar que os direitos individuais do
consumidor não podem se sobrepor ao direito coletivo à segurança hídrica, nos limites impostos
pelas condições naturais.
Saneas: Como será o processo de articulação de
informações sobre a crise hídrica com mais transparência?
Jerson Kelman: O site da Sabesp já publica diariamente um boletim sobre a situação dos mananciais
e as áreas e horários em que é feita a gestão da
pressão. Apesar disso, tive notícia de algumas reclamações sobre a maneira de informar o estoque
de água nos reservatórios do Sistema Cantareira.
Para clarificar ainda mais esse assunto, determinei
que o percentual de armazenamento fosse expresso
como percentual do volume útil, como vem sendo
feito, e também como percentual do volume total,
que é o volume útil mais a reserva técnica. No comitê de gestão da crise de energia elétrica de 2001,
aprendi que só é possível alcançar a solidariedade
da população quando se é transparente. Tenho firme convicção que esse deve ser o comportamento
da Sabesp.
Saneas: Em relação ao risco da reserva técnica
do Sistema Cantareira ser esgotada, quais são
as principais medidas atualmente trabalhadas
para garantir os níveis de abastecimento em um
futuro próximo?
Jerson Kelman: É preciso a todo custo evitar que
os reservatórios fiquem completamente vazios.
Atualmente, estamos retirando 14 m³/s do Sistema Cantareira, em lugar da retirada normal de 32
m³/s. Portanto, uma redução de 18 m³/s ou 56%.
Trata-se de um esforço significativo, muito mais
intenso do que o realizado no ano passado. Planejamos retirar menos ainda nos próximos meses,
quando os sistemas produtores do Alto Tietê e do
Guarapiranga estiverem em condições de socorrer
mais ainda o Cantareira. A simulação da evolução
do estoque ao longo de 2015 - supondo um cenário conservador para as afluências e levando em
consideração o cronograma de obras emergenciais
de 2015 que permitirá a redução da vazão no túnel
5 – revela que, nessas condições, o rodízio seria
22
Saneas
desnecessário. É claro que se as obras atrasarem
ou se a natureza nos oferecer uma hidrologia ainda pior do que a adotada no cenário, tudo muda.
Dito isso, apesar do rodízio se configurar como um
evento de baixa probabilidade, temos que estar
preparados para a sua ocorrência. Nesse sentido, a
Metropolitana já identificou cerca de 300 pontos
críticos – tipicamente grandes hospitais, penitenciárias e centros de hemodiálises - que não podem
ser submetidos ao rodízio por razões óbvias. Por
precaução, há um intenso trabalho sendo realizado
para que estes locais possam não ser submetidos
ao improvável rodízio.
Saneas: Os engenheiros da Sabesp têm sofrido
algumas tentativas de desmoralização na mídia
(ex: um artigo do jornal O Estado de São Paulo
insinuou que seus engenheiros não passariam
num exame de avaliação do ensino médio). Qual
o nível de confiança que o senhor deposita no
corpo técnico da Companhia?
Jerson Kelman: Tenho uma longa carreira administrando diferentes instituições em que o corpo técnico
desempenha papel relevante. Quero dizer que estou
muitíssimo bem impressionado com a qualificação
técnica dos profissionais da Sabesp. Não é por sorte,
e sim por competência, que a Sabesp é empresa líder
em saneamento da América Latina.
Saneas: Existem rumores que se estuda a privatização da Sabesp. Eles têm fundamento?
Jerson Kelman: O Governo de São Paulo detém 51%
das ações da Sabesp. Ou seja, é o acionista controlador. Não tenho nenhuma notícia de que tenha intenção de se desfazer deste controle.
Março a Julho de 2015
Foto: Ricardo Ribeiro
Ponto de Vista
Eng. Alceu Guérios
Bittencourt
Presidente da ABES
Seção São Paulo
Eng. Carlos Alberto
Amaral de Oliveira
Pereira
Diretor Técnico da
Cobrape
O ABASTECIMENTO DA MACROMETRÓPOLE
PAULISTA E A CRISE HÍDRICA
Por Alceu Guérios Bittencourt e
Carlos Alberto Amaral de Oliveira Pereira
O cenário da crise hídrica que se abateu sobre
meiro estudo de abastecimento integrado feito
a Região Sudeste do Brasil e suas repercuscom tal abrangência territorial, e que vem sensões para os sistemas de abastecimento de
do usado como referência para a discussão de
água da RMSP e de importante parcela do inmedidas para enfrentamento da crise de escasterior do estado devem estimular a reflexão a
sez hídrica, buscando avaliar como os efeitos da
respeito de um dos mais complexos e multifacrise alteram as conclusões e proposições aprecetados problemas a serem enfrentados pelos
sentadas pelo Plano, e de que modo condiciogovernos estadual e municipais de São Paulo:
nam o planejamento daqui para frente.
a garantia do abastecimento de água, em voDe partida, pode-se afirmar que a água
nessa região está mais cara. A ocorrência, a
lume e qualidade, a uma população crescente
partir de dezembro de 2013, de registros de
e às atividades econômicas que tendem a se
precipitações e de vazões afluentes aos maexpandir. A água, todos sabemos, é essencial
não somente à vida, mas também à indústria,
nanciais significativamente inferiores aos vaao agronegócio, ao comércio e aos serviços,
lores mínimos até então verificados fez alteraou seja, é um insumo indispensável ao bem
rem-se todos os padrões de dimensionamento.
estar, ao processo de desenPara uma mesma demanda
será necessária maior capacivolvimento econômico e à
A elevação do custo
ampliação dos rendimentos
dade de agora em diante.
da água cria forte
das famílias.
Por outro lado, a crise,
estímulo, aliado à
O enfrentamento da crise
além de obrigar a antecimobilização que a
mobilizou esforços exceppação de investimentos e a
crise provoca, às
adoção de outros não previscionais da Sabesp, dos servivárias ações que
ços municipais e dos govertos, traz uma série de alteraproduzem economia
nos nos três níveis, que têm
ções nas condições que fopossibilitado a manutenção
ram consideradas pelo Plano.
do abastecimento, ainda que com restrições.
A partir da mudança de hábitos de consumo:
É lógico que neste momento as ações de curmuito do aprendizado de uso racional pela poto prazo concentrem as energias de todos,
pulação permanecerá, e a adoção de equipamas não se deve perder de perspectiva o dementos economizadores e de medição indivisenvolvimento de uma estratégia de longo
dual em condomínios será acelerada. Também
prazo vinculada à segurança hídrica de uma
a adoção de técnicas de menor consumo na
região que participa de forma expressiva na
indústria e na agricultura será intensificada.
composição do PIB Nacional.
A elevação do custo da água cria forte
Neste texto apresenta-se um resumo do
estímulo, aliado à mobilização que a crise
Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos
provoca, às várias ações que produzem ecoHídricos para a Macrometrópole Paulista, o prinomia e preservação de fontes existentes,
Março a Julho de 2015
Saneas
23
PONTO DE VISTA
e reduzem a demanda por novas. Entre essas,
destacam-se a redução de perdas nos sistemas
de abastecimento, o combate a fraudes, o tratamento de esgotos e outras ações de despoluição,
a preservação e recuperação de mananciais e o
estímulo ao reúso e ao aproveitamento primário
de águas de chuva, por residências, estabelecimentos comerciais, indústrias e agronegócio.
A crise deverá ainda estimular a necessária evolução para uma efetiva gestão integrada do uso
dos recursos hídricos, o que também aponta para
maior eficiência no uso dos sistemas existentes.
Particularmente, deverá ocorrer a há tanto tempo
necessária revisão da relação do setor elétrico com
os demais usuários, o que trará maior prioridade ao
abastecimento humano, como legalmente previsto.
Resumidamente, pode-se afirmar que diversos
fatores de economia e racionalização deverão resultar em menores demandas efetivas, com relação
ao considerado anteriormente pelo planejamento.
Por outro lado, a capacidade para assegurar o aten-
dimento a uma determinada demanda terá que ser
maior do que o anteriormente considerado.
O Plano da Macrometrópole
O Governo do Estado de São Paulo desenvolveu,
no período entre 2008 e 2013, o Plano Diretor
de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a
Macrometrópole Paulista, que ficou a cargo das
Secretarias de Saneamento e Recursos Hídricos,
de Planejamento e Desenvolvimento Regional e
de Meio Ambiente. O Plano, contratado pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE),
pautou-se pelos conceitos de segurança hídrica
e aproveitamento integrado de recursos hídricos.
Foram estudados cenários de desenvolvimento
econômico sustentável, para um horizonte de
planejamento de 2035, realizando uma minuciosa análise da situação, atual e futura, das disponibilidades hídricas, da evolução das demandas e
das alternativas para o equacionamento do suprimento de água bruta.
Hidrografia Principal da Macrometrópole
24
Saneas
Março a Julho de 2015
PONTO DE VISTA
Demandas 2008 - por Tipo de Uso da Água e por UGRHI Envolvida
O território da Macrometrópole, estudado de
acordo com o recorte apresentado na ilustração
a seguir, abrange uma área aproximada de 52 mil
quilômetros quadrados, com uma população superior a 30,8 milhões de habitantes, distribuídos
em 180 municípios, que demandava, em 2008,
uma vazão da ordem de 223 m3/s para o atendimento ao conjunto das necessidades para o
abastecimento urbano, a indústria e a agricultura irrigada. A gestão dos recursos hídricos na
região é atribuída a 8 UGGRHI – Unidades de
Gerenciamento de Recursos Hídricos: Paraíba do
Sul; Litoral Norte; Piracicaba/Capivari/Jundiaí –
PCJ; Alto Tietê; Baixada Santista; Mogi Guaçu;
Tietê/Sorocaba; Ribeira de Iguape e Litoral Sul.
As análises evidenciaram que a configuração
das estruturas hidráulicas na região da Macrometrópole hoje existente não dispõe de capacidade
para, no médio e longo prazos, suprir as vazões
necessárias ao atendimento do aumento da demanda projetada, especialmente na ocorrência de
situações – como a que atualmente atravessamos
– hidrologicamente desvaforáveis. O estudo estimou, em um cenário tendencial, uma demanda de
recursos hídricos da ordem de 283 m 3/s em 2035,
ou seja, um acréscimo da ordem de 60 m3/s, distribuídos nas UGRHIs, conforme a tabela acima.
O Plano Diretor fez uma profunda e meticulosa
análise das alternativas existentes e recomendou
soluções que compreenderam, entre outras, a adoção de um programa de controle e redução de perdas, a implantação de ações de gestão e controle
operacional de demandas e o estímulo ao reúso de
água. Mas isso não basta para o atendimento às
demandas futuras. O estudo mostrou, claramen-
Março a Julho de 2015
te, através da modelagem matemática do balanço
hídrico regional, a necessidade da ampliação da
capacidade de reservação de água bruta, mediante a implantação de projetos de novos sistemas
produtores de água e de instalação de dispositivos
hidráulicos que aumentem a confiabilidade e a flexibilidade operacional do sistema.
Curvas de Projeção da Demanda Total nos Cenários Tendencial,
com Ações de Gestão e Controle Operacional das Demandas e
com intensificação do Crescimento Brasileiro
Para a expansão dos sistemas, o Plano da Macrometrópole propôs 10 arranjos alternativos de
investimentos, resultantes da combinação da utilização de diferentes fontes de suprimento hídricos. Essas alternativas, apresentadas na tabela a
seguir, garantem o suprimento hídrico previsto no
cenário tendencial para o ano de 2035, e, a preços
de 2012. Os orçamentos variaram entre R$ 4,6 bilhões e R$ 10,8 bilhões, a preços de dezembro de
2012, de acordo com a maior ou menor complexidade das obras que compuseram cada uma das
soluções selecionadas.
Saneas
25
PONTO DE VISTA
Demandas Médias Atendidas por Arranjo (m3/s)
A Agenda Institucional
No decorrer dos estudos, ficou fortemente caracterizado que o aumento da relação demanda/oferta hídrica provocará uma ampliação das disputas
e dos conflitos pelo uso dos recursos hídricos.
De modo geral, os conflitos tendem a se intensificar a partir de fenômenos que possuem diferentes
raízes, entre as quais: a ampliação da concentração
populacional, os processos de uso e ocupação de solo
– especialmente os conduzidos sem bases técnicas,
observados em territórios de contribuição de mananciais de abastecimento; os déficits de saneamento
básico, particularmente os índices de perdas nos sistemas públicos e privados de abastecimento de água
e a cobertura dos serviços de tratamento de esgotos
sanitários; a destinação inadequada de resíduos sólidos; entre outros.
26
Saneas
A identificação desses conflitos e de seus potenciais equacionamentos constituiu fator fundamental para que o Plano Diretor da Macrometrópole também direcionasse as suas abordagens para o
processo de gestão dos recursos hídricos na região.
A grande quantidade de pontos de captação
nessa região, em situação de relativa escassez hídrica e crescentes demandas, configura uma dinâmica
e complexa situação que para ser administrada exige um aparato institucional e técnico ainda a ser
viabilizado política e financeiramente. De um lado,
o Plano Diretor da Macrometrópole traçou alternativas de possíveis arranjos institucionais, capazes
de articular os principais atores envolvidos e de
formular e pactuar soluções para os problemas de
gestão das disponibilidades e demandas hídricas regionais. Por outro lado, qualificou os instrumentos
Março a Julho de 2015
Ponto de Vista
de gestão requeridos, envolvendo estudos hidrológicos, balanços hídricos, cenários de desenvolvimento regional, estimativas de custos e benefícios,
planos de contingência em escala regional, sistemas de monitoramento e avaliação por indicadores,
sistemas de suporte às decisões, etc..
Nesse novo ambiente institucional, estariam
reunidas as condições para o enfrentamento e o
encaminhamento de deliberações a respeito de
questões tais como:
■■ a necessidade e a localização de novos mananciais para fazer frente ao aumento da demanda,
na medida em que recentes períodos críticos de
chuvas demonstraram o grau crescente de riscos
do atual sistema de abastecimento, quando da
ocorrência de estiagens mais prolongadas;
■■ a incorporação de formas diferenciadas de gestão das demandas, com vistas à racionalização e
à maior eficiência na utilização de recursos hídricos e da aplicação de tecnologias voltadas ao
reúso de águas;
■■ uma abordagem diferenciada de problemas relacionados à proteção dos mananciais da Macrometrópole, tal como iniciado pelos Programas
Guarapiranga, Tietê e Manancias, implementados com financiamentos do Banco Mundial e
do Banco Interamericano de Desenvolvimento,
com a delimitação das áreas de mananciais e
a elaboração dos respectivos PDPA – Planos de
Desenvolvimento e Proteção Ambiental.
■■ a ampliação da coleta e do tratamento de esgotos, a fim de reduzir a poluição dos cursos d’
água, ampliando-se as expectativas de melhorias substantivas de promoção da qualidade de
mananciais, submetidos a elevadas cargas de
poluição, pontuais e difusas, como, por exemplo, as represas Billings e Baixo Cotia e diversos
outros aproveitamentos de menor porte no interior do território da Macrometrópole;
■■ a importância de integração efetiva da gestão
da quantidade e da qualidade dos recursos hídricos das UGRHIs sob análise e, particularmente, de promover a articulação entre a gestão dos
recursos hídricos com o ordenamento territorial
e o planejamento urbano, com a aplicação de
instrumentos para o controle do uso e da ocupação do solo;
Março a Julho de 2015
■■ a introdução de instrumentos mais sofisticados
para estudos de balanço hídrico e apoio às discussões sobre concessões e renovações das outorgas de direito de uso da água;
■■ a densificação da rede de monitoramento hidrométrico e de qualidade da água, permitindo a
configuração de uma base de dados mais representativa da região e melhores condições para o
processo de alocação de águas, principalmente
na ocorrência de eventos críticos;
■■ a pactuação dos planos de contingência, de
âmbito regional, articulando atribuições e responsabilidades entre os principais atores envolvidos;
■■ a promoção de canais de comunicação com os
municípios inseridos na região, com as Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos –
UGRHIs, com outros estados da Federação e com
as instituições integrantes do Governo Federal
com atribuições vinculadas aos recursos hídricos da Macrometrópole paulista.
■■ a utilização, o monitoramento e a regularização das outorgas relativas aos aproveitamentos de mananciais subterrâneos, na medida em
que, atualmente, estima-se que na RMSP cerca
de 10 m3/s sejam extraídos de mais de 8.000
poços, muitas vezes, sem o devido registro e
fiscalização.
O Planejamento pós-crise
O planejamento tem que ser dinâmico, adaptando-se sempre ao contínuo mudar de condições
em que evolui a vida em sociedade. A severa crise
que se está enfrentando força que os instrumentos
de análise e previsão sejam revisados, de modo a
apontar as opções mais econômicas, que atendam
adequadamente às necessidades de fornecimento
de água a essa importante região, que concentra a
maior parte da população e da produção do estado.
Estudos detalhados apontarão com mais precisão as melhores opções, mas, como citado ao início,
pode-se preliminarmente afirmar que uma série de
mudanças de condições e estímulos deverão promover ações que reduzam a necessidade efetiva de
novas fontes, como a mudança de padrões de consumo, o uso racional, o aproveitamento de águas
pluviais, o réuso, a redução de perdas, o combate
Saneas
27
Ponto de Vista
a fraudes, o tratamento de esgotos, a preservação
de mananciais e a melhor alocação, como efeito do
avanço da gestão integrada dos recursos hídricos.
Isso indica que as demandas efetivas na Macrometrópole nos próximos anos deverão evoluir em
algum espaço intermediário entre o cenário tendencial e o de ações de controle operacional. Em
direção contrária, no entanto, a mudança da referência de dimensionamento, e a evidência da acentuação dos eventos extremos no clima, indicam a
necessidade de maior capacidade de reserva. Em
uma primeira aproximação, pode-se dizer, então,
que os efeitos contrários se compensam, e que as
conclusões e proposições do Plano da Macrometrópole continuam aplicáveis.
A mais abrangente delas é a verificação de que
essa região possui fontes de água superficiais suficientes para atender às necessidades adicionais,
em qualquer horizonte de planejamento visível,
desde que se faça a gestão integrada de seu aproveitamento. As fontes superficiais são a base para
o atendimento dos acréscimos de demanda. As demais, subterrâneas, de reúso, e economias por redução de consumo, redução de perdas e fraudes, e
outras, serão complementos importantes. A mesma
constatação vale para a macrorregião que abrange a Macrometrópole paulista, o estado do Rio de
Janeiro e o sul de Minas Gerais, que tem suficientes vazões regularizadas para atender as demandas
projetadas, e, caso seja necessário, tem condições
de ampliação das vazões regularizadas disponíveis.
Outra conclusão importante é a necessidade de
ampliação da reservação de água bruta na região,
particularmente nas bacias do PCJ. Essa região, severamente atingida pela crise atual, teria plenas
condições de atendimento se dispusesse de capacidade de regularização de vazões, o que poderá ser
provido pelas represas de Pedreiras e Duas Pontes, e
respectivo sistema adutor regional, cuja implantação já foi definida pelo Governo Estadual.
Em consequência das constatações acima, a discussão da renovação da outorga do Sistema Cantareira deverá mostrar que, atendidas as necessidades
das bacias do PCJ e das parcelas das bacias formadoras do Cantareira no estado de Minas Gerais, não
há porque deixar de utilizar a máxima capacidade
do Sistema Cantareira para abastecer a RMSP, o que
28
Saneas
se mostra a mais econômica alternativa para a operação da região, providas as condições de gestão
integrada indispensáveis à melhor utilização dos
recursos hídricos regionais de agora em diante.
As simulações mostram a necessidade, após
2020, de um novo grande sistema provedor de água
bruta para a região. As opções estudadas apontam para transposições de bacias, do rio Juquiá, da
represa do Jurumirim, ou da bacia do Paraíba do
Sul, como as mais viáveis. De todo modo, como um
grande sistema costuma consumir de cinco a dez
anos para ser implantado, é necessário dar início
imediato à discussão sobre as opções e aos trabalhos de estudos de viabilidade e projetos básicos das
alternativas mais adequadas.
Em complemento, constatado claramente o
aumento do valor da água para abastecimento, os
estímulos econômicos ao uso racional e ao combate aos desperdícios deverão ser potencializados
por políticas públicas que estimulem a gestão de
demandas, a redução de perdas, o uso racional, o
reúso, e a alocação mais eficiente dos recursos hídricos. Pela mesma lógica, deverão ser promovidos
o tratamento de esgotos e a preservação de mananciais, até agora colocados em segundo plano pela
sociedade, como mostrou a falta de reação à recente invasão e destinação a ocupação habitacional de
uma das últimas áreas remanescentes com cobertura vegetal nos mananciais da zona sul da RMSP.
A crise vem sendo enfrentada por um conjunto
de medidas, desde ajustes operacionais, a aproveitamentos de grande porte, como o Sistema Produtor São Lourenço, as barragens Duas Pontes e
Pedreira, e o sistema adutor do PCJ e a interligação
Jaguari – Atibainha. Outras intervenções e políticas públicas de promoção de ações de economia
e eficiência terão que ser discutidas nos próximos
meses e anos. É necessário que essa discussão seja
feita amplamente com a sociedade, a partir dos
Comitês de Bacia e de todo o Sistema de Gestão
de Recursos Hídricos, com os poderes dos municípios e estados envolvidos e com a União, particularmente a Agência Nacional de Águas, de modo a
estabelecer as bases de um planejamento justo e
equilibrado, capaz de assegurar a segurança hídrica e as condições de desenvolvimento de toda essa
importante região.
Março a Julho de 2015
história
Saboó: 50 anos
de história e de
bons serviços
Em um bairro, localizado em parte na zona central e
noutra parte na zona noroeste da cidade de Santos, é
que está localizada uma importante área da Unidade
de Negócio da Baixada Santista da Sabesp, a Divisão
de Manutenção e Eletromecânica ou simplesmente
Saboó. O nome popular, Saboó, tem relação com o
bairro onde a unidade fica. De origem indígena, significa “pouca vegetação”, em decorrência da vegetação
escassa da encosta dos morros da região.
Esta unidade tem um importante motivo para celebrar o início de 2015, pois no último mês de fevereiro
completou 50 anos. Sua criação antecede a da própria Sabesp (oficialmente criada em 1º de novembro
de 1973, pelo então governador Laudo Natel, a partir
da fusão de oito empresas) e data de 1965, como parte
do Departamento de Obras Sanitárias da Secretaria de
Serviços e Obras Públicas do Estado. Em 1969, passou
a pertencer à Companhia de Saneamento Básico da
Baixada Santista (SBS), por meio de Decreto Estadual
50.770, de 13/11/1968.
Para se ter ideia da importância da Saboó é preciso saber o que ela faz e como funciona. A unidade
tem como missão garantir o perfeito funcionamento
Março a Julho de 2015
de todo o sistema de saneamento da Baixada Santista, seja por meio de manutenções preventivas ou
por meio de manutenções corretivas. As sub-áreas
da unidade e suas respectivas atividades macro são:
■■ Cloração: combate a vazamentos de cloro, em situações de emergências, desenvolvimento de projetos e confecção de peças para sistemas de cloração;
■■ Mecânica: manutenção e recuperação de equipamentos de bombeamento, válvulas, comportas,
redutores, dosadores, aeradores etc, em captação,
distribuição e tratamento de água e esgoto nos
nove municípios que compõe a Baixada Santista;
■■ Elétrica: tem como atribuições manter e corrigir
o sistema de funcionamento e bombeamento de
Saneas
29
história
todas as unidades operacionais (captações, tratamento de água e esgoto, EEE, EEAs, Boosters etc);
■■ Instrumentação: atua na área de qualidade e de
produção, no tratamento de água e no de esgoto, com instalações e manutenções preventivas
e corretivas em equipamentos analíticos, como
por exemplo, analisadores de cloro, flúor/cor, PH
e turbidímetros, reservatórios, adutoras e VRPs
(Válvula Reguladora de Pressão);
■■ Radiocomunicação: faz as instalações e manutenções em rádios de viaturas Sabesp, em rádios modem, em instalações de estações de água e esgoto,
tanto para comunicação, como para monitoramento remoto;
■■ Automação: área mais recente da unidade foi
formada pela necessidade de desenvolvimento
tecnológico e é onde se realiza o treinamento de
profissionais para atuarem no serviço;
■■ Controle de Energia Elétrica: recebe todas as
contas da concessionária e realiza estudos de demanda e controle.
Colaboração: Miriam Santiago Santos
(Analista de Gestão da RS)
artigo técnico
Erivaldo da
Rosa Lima
Formado em
Engenharia
de Controle e
Automação,
cursando pósgraduação em redes
e telecomunicações,
trabalha na
Sabesp há 13 anos
sempre na área
de manutenção
eletromecânica,
atualmente
exerce a função
de encarregado
de manutenção
elétrica.
AUTOMAÇÃO NO CONTROLE DE PRESSÃO EM
BOOSTERES E VRPs EM TEMPO REAL COM O
PONTO CRÍTICO UTILIZANDO SISTEMA GPRS,
REDUZINDO PERDAS E CONSUMO DE ENERGIA
Por Erivaldo da Rosa Lima
RESUMO
Nas circunstâncias atuais distribuir água para a
população não é o suficiente, é necessário efetuar
o controle no abastecimento, evitando excessos
de pressão ou falta de água. Para auxiliar nesse
controle é utilizado à automação e software supervisório, estabelecendo parâmetros operacionais a fim de manter o sistema pressurizado de
acordo com faixas de horários. Utilizando o controle por malha aberta, ou seja, bombear a água
em função da pressão de recalque utilizando o
booster ou reduzir a pressão de água em função
da jusante da VRP, não garante o controle de pressão no ponto crítico. Baseado nesse modelo de
controle, a Divisão Eletromecânica Leste iniciou o
projeto de monitorar o ponto crítico, obedecendo
ao critério de controle de malha fechada, garantindo o abastecimento. Atendendo os requisitos
de inovações tecnológicas, implantou conversores
de frequência em boosteres e atuadores elétricos
em VRPs utilizando os recursos técnicos do CLP
(Controlador Lógico Programável), sendo todo o
sistema controlado e supervisionado remotamente pelo COD_Leste, tornando possível realizar a
automação de sistemas de saneamento. A transmissão dos dados entre o Booster ou VRP e seus
pontos críticos são realizados via sistema celular
utilizando o sistema GPRS, com redução de perdas nos setores implantados.
INTRODUÇÃO
Para garantir a distribuição de água de forma
controlada a Unidade de Negócios Leste-ML por
meio da Divisão Eletromecânica Leste - MLLN
instalou monitoramento nos pontos críticos de
boosteres e VRPs (válvulas redutoras de pressão).
Março a Julho de 2015
Para que o sistema de abastecimento de água na
distribuição atinja o objetivo final (consumidor)
com melhor eficiência operacional, foi necessário utilizar recursos tecnológicos como conversores de freqüência, CLPs (Controladores Lógicos
Programáveis), Sistema de Supervisão e Controle
e Monitoramento do Ponto Crítico.
OBJETIVO
Com o objetivo de reduzir as perdas de água no
sistema de distribuição e o consumo de energia
elétrica em Boosteres (Unidades de Reforço para
Bombeamento de Água), foram realizadas inovações tecnológicas. Os Boosteres e VRPs utilizavam
controle de pressão por meio do recalque e jusante chamados controle de malha aberta, ou seja,
controlando a pressão, mas não garantindo excesso ou falta de pressão. Assim foi implantado o monitoramento em tempo real do ponto crítico, para
controle do sistema utilizado no abastecimento.
MATERIAIS
O primeiro conversor de freqüência instalado
na Unidade de Negócios Leste-ML foi no ano de
1997 com mão-de-obra própria, em um Booster de 7,5 CV, com controle de pressão fixo. Em
2007, foi realizada a instalação de conversores de
freqüência em todos os boosteres da ML. Em 20
VRPs foram instalados atuadores elétricos para
controle de pressão e painéis com CLP energizados e transmissão de dados via celular utilizando
o sistema GPRS. Para melhorar o controle foram
instalados painéis de monitoramento de pressão
nos pontos críticos e transmitidos os dados em
tempo real via sistema celular utilizando a tecnologia GPRS para o ponto de abastecimento.
Saneas
31
artigo técnico
METODOLOGIA
A partir do momento que se tornou inviável o
acompanhamento in-loco (nos locais) do sistema
de abastecimento para cada setor, foi adotado o
DOA (Diretrizes Orientadoras para Automação),
participação ativa em grupos de automação e comissão de quadros elétricos ministrados pela Unidade Corporativa de Tecnologia atualmente TOE, e
cursos voltados para aplicação de conversores de
freqüência e CLP (Controladores Lógicos Programáveis) utilizando sistema de controle por variáveis de processo.
Inicialmente para a implantação do sistema
de automação de sistemas de saneamento, foi
priorizados o monitoramento das pressões e o
controle on-off (liga/desliga) de bombas remotamente. À medida que foi evoluindo a tecnologia
fomos aplicando, sempre buscando inovação de
mercado, a aplicação dos conversores de freqüência foi possível atingir grandes resultados. Com
a parceria entre a Manutenção e a Operação foi
estabelecido limites de controle de operação dos
sistemas de abastecimento.
Uma vez que o modelo exato de um sistema
físico nunca se acha disponível, as características
dos sistemas físicos de controle em malha fechada
devem ser razoavelmente insensíveis aos parâmetros do modelo matemático usado no projeto do
sistema. Além disso, as características físicas de um
processo possivelmente mudarão com o tempo e as
condições ambientais como temperatura, unidade e
altitude. O sistema de controle por malha fechada
tornou-se viável, visto que o sistema transmite em
tempo real os dados do último ponto atendido, ao
chegar às informações o sistema compara com o
valor desejado e faz o ajuste no sistema de acordo
com o tempo de resposta, reduzindo perdas e consumo de energia.
RESULTADOS
Os resultados obtidos na redução no consumo
de energia elétrica atingem 33% a menos de kW
comparado antes e um mês depois da ação, transformando em moeda nacional, equivale uma economia de 15 mil reais por mês, conforme gráfico
na figura 1.
Figura 1: Gráfico comparativo de Redução no
Consumo de Energia
Os índices de perdas foram reduzidos para
15% nos setores atendidos pelos Booster.
Figura 2: Gráficos de controle antes e após controle pelo ponto crítico
32
Saneas
Março a Julho de 2015
artigo técnico
Figura 3: Tela da VRP e Gráfico com o controle pelo ponto crítico
Houve também melhoria nos gráficos de controle conforme figura 2.
Os índices de perdas foram reduzidos para 46%
nos setores atendidos pela VRP Bahe Macedo no setor
de Suzano, houve também melhoria nos gráficos de
controle conforme figura 3.
Um grande resultado obtido não-mensurável
que é necessário ressaltar, foi o aumento na satisfação pessoal e o ganho no capital intelectual que
toda a equipe conseguiu obter.
que poderão reduzir as potências dos motores,
favorecendo a redução no consumo de energia e
sistemas subaproveitados.
CONCLUSÃO
Para garantir a sustentabilidade e caminhar para
a universalização do saneamento ambiental,
contribuímos em utilizar os recursos que já havia na Unidade, como por exemplo, os painéis de
controle e supervisão, aplicando os conversores
de freqüência, reduzindo o consumo de energia
e as perdas de água no sistema de distribuição,
pois estes recursos estão cada vez mais escassos, e com isso obtivemos uma grande eficiência
operacional. Portanto podemos chamar esse projeto de Projeto Sustentável, visto que estamos
enviando a água na medida certa, evitando altas
pressões e falta de água.
RECOMENDAÇÃO
Para a melhoria futura nesse projeto, é recomendável utilizar o controle por ponto crítico dos setores como parâmetro operacional e redimensionar os boosteres e setores de alta pressão, visto
Março a Julho de 2015
Saneas
33
artigo técnico
Ivone Dias Sato
Tecnóloga em
Processamento de
Dados pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie,
Especialista em
Análise de Sistemas
pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie
e Mestranda em
Engenharia de Produção
pela Universidade Nove
de Julho (UNINOVE).
Atualmente é professora
do ensino superior da
Universidade Nove
de Julho e analista de
gestão da Companhia
de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo
(SABESP).
Rosangela Maria Vanalle
Engenheira de
Produção Química pela
Universidade Federal de
São Carlos, Mestre em
Engenharia de Produção
pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro,
Doutora em Engenharia
Mecânica/EESC pela
Universidade de São
Paulo e pós-doutorado
pela Universidad
Complutense de
Madrid. Atualmente é
professora pesquisadora
da Universidade Nove de
Julho (UNINOVE).
Wagner Cezar Lucato
Engenheiro Mecânico
pela Escola de Engenharia
Mauá, Economista pela
Universidade Municipal
de São Caetano do Sul,
especialista em Comércio
Exterior pela Fundação
Getúlio Vargas SP, Mestre
em Administração
de Empresas pela
Universidade Guarulhos,
Doutor em Engenharia
de Produção pela
Universidade Metodista
de Piracicaba. Atualmente
é professor pesquisador
da Universidade Nove
de Julho (UNINOVE) e
sócio gerente da Profit
Providers Consultores
Associados SC Ltda.
INOVAÇÃO NO PROCESSO DE COBRANÇA DE
CRÉDITOS VENCIDOS EM SANEAMENTO:
O CASO DOS NÚCLEOS DE BAIXA RENDA
Por Ivone Dias Sato, Rosangela Maria Vanalle, Wagner Cezar Lucato
RESUMO
A recuperação de créditos vencidos é um desafio para todas as empresas prestadoras de
serviços e para que este processo cumpra sua
missão de cobrar e recuperar receita financeira,
todas as tarefas devem ser estruturadas adequadamente, visando alta produtividade e recuperação financeira efetiva. No setor público
de saneamento, a busca por soluções inovadoras no processo de cobrança para a recuperação
de crédito tem sido baseada em projetos que
alcançam dois resultados relevantes: o gerenciamento e recuperação de créditos vencidos
e a manutenção da carteira de clientes, pois o
inadimplente é um ex-cliente, que ao resolver
suas pendências pode voltar a ser um consumidor dos produtos e serviços da empresa. O
controle da evasão de receitas e da inadimplência é um fator determinante para o equilíbrio
econômico-financeiro das organizações, porém
é necessário o desenvolvimento de operações
e processos sustentáveis junto com a sociedade e comunidades para as quais os produtos e
serviços são destinados, efetivando, o equilíbrio
social. Neste contexto, o objetivo deste estudo é demonstrar que a mudança dos processos
convencionais de cobrança, principalmente em
núcleos de baixa renda, é fundamental para que
melhores resultados sejam alcançados tanto em
termos de recuperação financeira como para
recomposição da base de clientes.
INTRODUÇÃO
O Brasil é o país com a maior disponibilidade
de água doce do mundo, mas São Paulo tem
reservas escassas. O Estado de São Paulo, que
ocupa 2,4% do território nacional, detém cerca
de 20% da população e é responsável por mais
34
Saneas
de um terço do PIB brasileiro, tem apenas 1,6%
da água. Por essa razão, cuidar dos recursos hídricos é estratégico. (GESP, 2011)
Segundo Oliveira et al. (2011), a situação do
saneamento brasileiro é trágica. Somente 44%
da população brasileira têm acesso à rede de
esgotamento sanitário e 78,6% tem acesso à
água tratada. Do total de esgoto gerado, apenas 29,4% é tratado. 107 milhões de brasileiros
não têm acesso à rede de esgotamento sanitário, 134 milhões não têm os esgotos de suas casas tratados, 40 milhões não têm acesso à água
tratada e 8 milhões nem sequer têm banheiro.
Outro fator determinante para o setor é o
tema perdas, pois os índices de perdas elevados
são conseqüência de uma infra-estrutura física
de má qualidade e, também, de uma deficiente
gestão dos sistemas. (SNIS, 2008)
De acordo com o GESP (2011), existem dois
tipos de perdas:
■■ reais: são aquelas decorrentes de vazamentos da tubulação.
■■ aparentes: são aquelas provocadas por erros de medição de volumes, fraudes e erros
comerciais. Os prejuízos, neste caso, são de
ordem financeira, uma vez que há consumo
e não há faturamento.
Segundo Moraes et al. (2007), a perda aparente num Sistema de Abastecimento de Água é
a incapacidade da organização (operadora do sistema) de contabilizar a água disponibilizada para
os usuários. Os fatores que provocam tal incapacidade são: (i) falha do cadastro comercial; (ii)
falha na sistemática de faturamento e cobrança;
(iii) problemas no parque de hidrômetros; (iv) imprecisão nas medições; e (v) política de combate à
fraude e ligações clandestinas ineficientes.
Março a Julho de 2015
artigo técnico
Relacionado ao tema perdas está o conceito de sustentabilidade que, atualmente, está no dia-a-dia das
empresas que atuam no mercado, sejam elas de pequeno ou de grande porte. Segundo Labodová (2004), tornar um empreendimento sustentável significa diminuir
o impacto de uma companhia de maneira economicamente viável, utilizando abordagens preventivas em
conjunto com princípios de melhoria continua.
Fresner e Engelhardt (2004) destacam três dimensões nas quais as empresas devem focar: a social, a ecológica e a econômica, que complementam
o conceito de Labodová. No caso do saneamento, a
sustentabilidade envolve a busca do equilíbrio entre
a eficiência econômica (redução da inadimplência e
da evasão de receitas) e a função social do serviço
prestado (a água consiste em um bem essencial para
a vida e a dignidade humana).
Com relação às perdas aparentes ligadas a faturamento e cobrança, para Zschornack et al. (2010), não
é de hoje que a inadimplência tem se mostrado como
um problema crônico das empresas públicas, pois os
mecanismos de cobrança se limitam ao que a lei permite. Além do mais, os próprios órgãos públicos são
grandes devedores, o que inviabiliza um procedimento
de cobrança padrão.
Ainda segundo Zschornack et al. (2010), em muitos casos, a concessão de descontos ou outras facilidades de negociação acabam por ser classificadas
como provável renúncia de receita, impedindo que
políticas mais efetivas sejam adotadas, ao contrário
do que ocorre na iniciativa privada, onde há grande
autonomia do credor.
Com esse cenário só resta a utilização criativa
dos mecanismos legais, de forma que se possam
conciliar as pressões por eficiência na arrecadação
oriundas dos controladores com as imposições legais
dos órgãos fiscalizadores.
O controle da evasão de receitas e da inadimplência é um fator determinante para o equilíbrio
econômico-financeiro de qualquer organização
(SANTOS 2003). Há maior dificuldade em cobrar e
recuperar créditos nas regiões carentes e de baixa
renda, devido às condições precárias de sobrevivência das famílias que ali habitam.
As soluções inovadoras no processo de cobrança
e recuperação de crédito têm sido baseadas em pro-
Março a Julho de 2015
jetos de alto desempenho que devem alcançar dois
resultados muitos importantes: o gerenciamento e
recuperação de créditos vencidos e a ampliação e,
ou, manutenção da carteira de clientes. O inadimplente, muitas vezes, é um ex-cliente, que ao resolver suas pendências financeiras pode voltar a ser um
consumidor dos produtos e serviços da empresa e,
com isso, aumentar o faturamento da mesma. (SATO
et al., 2011)
Considerando todos estes aspectos, este artigo
analisa e discute como a inovação e as mudanças
nos processos convencionais para cobrança de clientes inadimplentes em núcleos de baixa renda podem
alcançar resultados significativos.
METODOLOGIA
A metodologia que suporta este trabalho foi baseada e desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica
e pautada na literatura atual dos temas abordados:
saneamento básico, inadimplência, cobrança e núcleos de baixa renda.
Também foi realizado um estudo de caso com o
objetivo de analisar o impacto da mudança do processo de cobrança em núcleos de baixa renda.
Devido à complexidade da área de atuação da
Sabesp e do grande número de clientes a empresa está organizada em Unidades de Negócio (UN) e
para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP)
existem cinco UNs.
A área selecionada para este piloto foi o Jardim Keralux, localizada na região leste da cidade
de São Paulo, pertencente a UN Leste da Sabesp.
A seleção desta localidade se deu com base nas
informações contidas nos sistemas comercial e financeiro da empresa.
Para a área escolhida, foram levantados dados
relativos ao estoque de débitos existentes antes da
ação de cobrança diferenciada e depois da realização, medindo, entre outras variáveis, a satisfação
dos clientes atendidos.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Nessa etapa do presente trabalho faz-se uma revisão
na literatura atual que trata dos temas objetos deste
estudo: saneamento básico, inadimplência, cobrança e núcleos de baixa renda.
Saneas
35
artigo técnico
O SETOR DE SANEAMENTO E A SABESP
O setor de saneamento básico do Estado de São Paulo compreende o sistema de produção e distribuição
de água, bem como a coleta, o afastamento e o tratamento do esgoto sanitário.
Para cuidar deste sistema complexo de saneamento existe a Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo, a Sabesp, que é uma empresa de economia mista responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de
364 municípios do Estado de São Paulo. Em número de clientes, pode ser considerada como uma das
maiores empresas de saneamento do mundo. São
27,2 milhões de pessoas atendidas, quase duas vezes a população da Bélgica, com 99% de índice de
atendimento urbano com abastecimento de água,
81% de índice de atendimento urbano com coleta
de esgotos e 75% de índice de tratamento de esgotos coletados. (SABESP, 2011)
De acordo com o Ministério das Cidades (CIDADES, 2011), a sustentabilidade dos serviços de saneamento, seria assumida pelo menos a partir de quatro
dimensões: a ambiental, relativa à conservação e
gestão dos recursos naturais e à melhoria da qualidade ambiental; a social, relacionada à percepção
dos usuários em relação aos serviços e à sua aceitabilidade social; a da governança, envolvendo mecanismos institucionais e culturas políticas, com o
objetivo de promoção de uma gestão democrática e
participativa, pautada em mecanismos de prestação
de contas; e a econômica, que concerne à viabilidade econômica dos serviços.
Em saneamento, o universo de clientes, geralmente composto por toda uma cidade ou estado, é
outro fator prejudicial, haja vista o volume elevado de clientes inadimplentes. Como o processo de
terceirização da cobrança é encarado, muitas vezes,
com maus olhos pelos órgãos fiscalizadores, a cobrança acaba sendo realizada de uma forma inadequada (MORAES et al., 2007).
Outro fator que influencia a inadimplência
é o sistema tarifário. De acordo com o Decreto
41.446/96, que dispõe sobre o regulamento do sistema tarifário dos serviços prestados pela Sabesp,
em seu artigo 2º: “As tarifas de serviços de água
e esgoto serão calculadas, considerando-se as di-
36
Saneas
ferenças e peculiaridades de sua prestação, as diversidades das áreas ou regiões geográficas e obedecendo-se os seguintes critérios: (i) categorias de
uso; (ii) capacidade de hidrômetro; (iii) característica de demanda e consumo; (iv) faixas de consumo;
(v) custos fixos e variáveis; (vi) sazonalidade e (vii)
condições sócio-econômicas dos usuários residenciais.” (JUSBRASIL, 2011). Dentre estes critérios destacam-se as faixas de consumo, ou seja, uma tabela
progressiva onde quanto maior o consumo, maior
será o valor cobrado pelo metro cúbico consumido;
e as condições sócio-econômicas dos usuários, ou
seja, dependendo da situação do cliente, pode ser
oferecida a tarifa social.
De acordo com o Plano Nacional de Saneamento
Básico – PLANSAB, do total de 34 concessionárias de
serviços de saneamento no Brasil, 13 (38%) possuem
uma tarifa social explícita. E, além disso, verifica-se
que os usuários cadastrados nessa categoria representam uma pequena parcela do total de clientes residenciais (em torno de 5% ou menos), pois além de
outros critérios para ter direito ao benefício, o usuário precisa estar adimplente, mas, se não for dada à
pessoa a possibilidade de parcelamento de sua dívida, este critério é inaceitável, posto ser limitante do
acesso ao programa social daqueles que mais necessitam: a situação de inadimplência geralmente deriva das mesmas dificuldades financeiras que fazem
necessário o acesso à tarifa social. (CIDADES, 2011)
RECUPERAÇÃO DE CRÉDITO EM SANEAMENTO
O risco de crédito é tão antigo quanto os empréstimos em si, e a inadimplência é o principal fator
que aflige qualquer instituição com fins lucrativos
(GUIMARÃES, 2006).
As perdas comerciais consideradas não recuperáveis geradas pela inadimplência estão relacionadas a
dois grupos de fatores. O primeiro se refere à qualidade da gestão da empresa e à sua capacidade de
recuperar contas a receber. O segundo grupo diz respeito a um conjunto de fatores de ordem institucional, jurídica, econômica e social os quais estão fora
do controle gerencial da empresa. (SABESP, 2009)
Outros fatores de natureza jurídico-institucional
e econômico-social também influenciam de forma
importante o comportamento da inadimplência,
Março a Julho de 2015
artigo técnico
como os núcleos de pobreza existentes em muitos
municípios operados, em que é impossível a adoção
de políticas eficazes para redução da inadimplência.
(SABESP, 2009)
O ciclo de cobrança na Sabesp é o período compreendido entre a disponibilização dos dados dos
imóveis devedores, execução e conclusão das ações
de recuperação de créditos vencidos. Existem duas
modalidades de cobrança:
■■ Administrativa: serviços voltados à recuperação
de créditos vencidos por meio de ações de cobrança administrativa e de serviços de engenharia de corte do fornecimento de água, supressão
da ligação por débito, restabelecimento e religação do fornecimento de água;
■■ Judicial: serviços de cobranças amigáveis e judiciais, voltados à recuperação de créditos vencidos de natureza tarifária e de serviços oriundos de ligações inativas (sem abastecimento) e
de processos de ligações irregulares, bem como
de ligações ativas que não podem sofrer interrupção do fornecimento de água. A cobrança
judicial envolve a prática de atos processuais em
procedimentos comuns ou especiais no patrocínio de cobrança ou execução de créditos inadimplidos, por meio de ações judiciais adequadas
para cada caso.
Nos núcleos de baixa renda, como favelas e comunidades carentes, nenhuma destas modalidades é
realmente eficaz. As ações coercitivas como o corte
no abastecimento, levam muitos clientes à irregularidade. Já as ações judiciais são comprometidas
pela falta de documentação que vincule o cliente ao
imóvel devedor.
As empresas, para sobreviverem e crescerem,
necessitam introduzir novidades tecnológicas e organizacionais ao longo da sua vida (BARBIERI E ÁLVARES, 2003).
NÚCLEOS DE BAIXA RENDA: A POBREZA
EM SÃO PAULO E O ÍNDICE PAULISTA DE
VULNERABILIDADE SOCIAL (IPVS)
A classificação de indivíduos e famílias segundo suas
condições de vida tende a ser realizada por meio da
negação, ou seja, são pobres aqueles que, por exem-
Março a Julho de 2015
plo, não dispõem de uma renda mínima necessária à
subsistência ou têm atendimento deficiente de suas
necessidades básicas. (FERREIRA et al., 2006)
Recentemente, incorporou-se à discussão sobre
a pobreza a concepção de vulnerabilidade social de
pessoas, famílias ou comunidades. Nesse sentido,
vulnerabilidade é uma noção multidimensional, uma
vez que afeta indivíduos, grupos e comunidades, em
planos distintos de seu bem-estar, em diferentes
formas e intensidades. (FERREIRA et al., 2006)
A vulnerabilidade de um indivíduo, família ou
grupos sociais refere-se a sua maior ou menor capacidade de controlar as forças que afetam seu
bem-estar, isto é, a posse ou o controle dos recursos
requeridos (ativos) para o aproveitamento das oportunidades propiciadas pelo Estado, mercado ou sociedade. (KATZMAN et al., 1999)
Desenvolvido pela Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados – SEADE, o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS) é um indicador que consiste em uma tipologia derivada da combinação entre
duas dimensões – socioeconômica e demográfica –,
que classifica o setor censitário do IBGE em seis grupos
de vulnerabilidade social, conforme a tabela 1. (SEADE,
2011)
Este indicador, aliado às informações internas da
organização e aos dados populacionais do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE subsidia
a tomada de decisão em relação à criação de projetos inovadores na recuperação de créditos vencidos
em núcleos verticais de baixa renda.
De acordo com o HABISP (2011), somente na Região Leste do Município de São Paulo existem 297
favelas, sendo que 110 (37%) delas estão classificadas nos grupos 5 ou 6 do IPVS. Em relação aos loteamentos irregulares, são 381 na região, 71 (18%) deles
está no grupo 5 ou 6 do IPVS. Já os núcleos verticais,
que são 225 entre CDHU, COHAB e Cingapura, não
há detalhamento do indicador IPVS. Levando-se em
consideração que este indicador tem como base o
Censo Demográfico IBGE de 2000, a situação desta
população tende a ter piorado dos últimos anos.
ESTUDO DE CASO
O presente estudo de caso avalia a negociação dos débitos em aberto dos clientes da empresa de saneamen-
Saneas
37
artigo técnico
Tabela 1: Grupos do IPVS fonte: SEADE(2011)
Grupo
Dimensões
IPVS
Socioeconômica
Ciclo de Vida Familiar
1
Muito Alta
Famílias Jovens, Adultas ou Idosas
Nenhuma Vulnerabilidade
2
Média ou Alta
Famílias Idosas
Vulnerabilidade Muito Baixa
Alta
Famílias Jovens e Adultas
Média
Famílias Adultas
4
Média
Famílias Jovens
Vulnerabilidade Média
5
Baixa
Famílias Adultas e Idosas
Vulnerabilidade Alta
6
Baixa
Famílias Jovens
Vulnerabilidade Muita Alta
3
Vulnerabilidade Baixa
to in loco, ou seja, na moradia do cliente, com revisão
de débitos, parcelamento dentro das condições dos
clientes, redução de perdas e aproximação da Sabesp
com a sociedade.
HISTÓRICO DA ÁREA ESCOLHIDA
O Jardim Keralux faz parte da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo, atendido pela Unidade de Negócio Leste da SABESP e se trata de um loteamento irregular que está em processo de regularização junto
a Prefeitura Municipal de São Paulo.
De acordo com HABISP (2011), um loteamento
irregular são lotes que não podem ser regularizados por não atender às legislações de parcelamento
e uso do solo. Apesar de o morador ser adquirente, não tem garantida a posse do imóvel. Soma-se a
essa irregularidade a moradia auto-construída e os
baixos níveis de renda das famílias. Na cidade de São
Paulo, esses loteamentos totalizam 92,64 km2 - cerca de 6,14% do município.
Uma empresa chamada Keralux S/A Revestimento Cerâmicos, desativada em 1978, era proprietária de aproximadamente 90% da terra em
que se estrutura o Jardim Keralux desde 1996.
Estima-se que existam cerca de 1400 lotes irregulares distribuídos em cinco glebas, conforme a
figura 1 (HABISP, 2011).
Ainda conforme a HABISP (2011), o Índice de
Vulnerabilidade Social da área média (grupo 4 - com
forte presença de chefes jovens e de crianças pequenas), fato que reafirma a necessidade de uma ação
diferenciada de cobrança na localidade.
38
Saneas
Mapa temático glebas do Jd. Keralux. Fonte: HABISP (2011)
IDENTIFICAÇÃO DE NECESSIDADE E
DESCRIÇÃO DA PRÁTICA
A região leste da Capital de São Paulo tem elevados
índices de inadimplência junto a Sabesp, atualmente
em 35% ao mês, e uma significativa evasão de receitas, em torno de 9% ao ano.
Visando redução da evasão de receitas, mudança da cultura da população e redução da inadimplência, diante da dificuldade de recuperação de
receitas, com clientes que apresentam dificuldades financeiras, por habitarem em núcleos de baixa renda, a Sabesp, na Unidade de Negócio Leste,
através de sua equipe de cobrança, implementou
um projeto piloto para a prática denominada Negociação in loco em abr/2010.
Nesta ação, além da confirmação da situação
financeira do cliente com evidências fotográficas,
são efetuadas a análise, a proposta de solução e a
negociação dos débitos em aberto, de acordo com
as condições do cliente em seu imóvel, sem que o
mesmo precise sair de casa para ir à Sabesp.
Março a Julho de 2015
artigo técnico
O objetivo principal da Negociação in loco no
Jd. Keralux foi dar condições para que o cliente
pudesse negociar seus débitos e diminuir o índice de inadimplência na região, tornando o cliente
adimplente, diminuindo perdas e aproximando a
Sabesp da sociedade.
Em levantamento inicial, realizado em fev/2010,
para planejamento das ações foram identificados
1.868 imóveis com débito, 8.155 contas que representavam R$ 469.337,00 em valores históricos e R$
646.822,00 em valores atualizados, que faziam parte
do estoque de débitos da UN Leste da Sabesp.
De acordo com a FNQ (2008), a organização
necessita identificar onde está com relação a seus
clientes e mercados. Em um segundo momento, ela
precisa conhecer as necessidades e expectativas
dos seus clientes atuais e potenciais, bem como dos
ex-clientes. Sendo assim, após os levantamentos iniciais, foi realizado um trabalho em campo de conhecimento de área e de apresentação do empregado
(fiscal negociador) para o líder comunitário local.
O trabalho foi iniciado com visita porta a porta
com o objetivo de conversar com o cliente, levantar
sua situação socioeconômica e negociar os débitos.
Dentre os imóveis com débitos, para atuação da
Negociação in loco, foram selecionados aqueles que
tinham nº de contas maior ou igual a três. Foram
464 imóveis, os quais representavam R$ 409.838,00
em valores históricos e R$ 571.054,00 em valores
atualizados, com a estimativa de execução do projeto em cinco meses.
No decorrer das ações de cobrança, muitos clientes que, inicialmente, não tinham sido selecionados
para visita de negociação, recorreram à equipe para
efetivar acordos de parcelamento em atendimento
às suas necessidades. Este fato fez com que o tempo
total para atuação na localidade aumentasse em um
mês, perfazendo seis meses no total.
Os custos envolvidos no projeto resumiram-se
em mão de obra de um fiscal negociador (nível técnico) para as visitas de negociação; um técnico para
análise e elaboração de propostas de redução/ negociação e efetivação de acordos de parcelamento;
material para impressão do acordo de parcelamento
e da primeira parcela; e um veículo automotivo para
deslocamento até o domicílio do cliente.
Março a Julho de 2015
OPERACIONALIZAÇÃO DA ATIVIDADE
Para a operacionalização da atividade é emitida a
ficha de Levantamento Socio-econômico (LSE), juntamente com informações de cadastro, histórico de
cobrança e valores atualizados, provenientes do sistema de informação corporativo da Sabesp, com os
quais o fiscal negociador da unidade de cobrança
vai a campo, visita o imóvel e em conversa com o
cliente coleta as informações necessárias, fotografa
o imóvel e propõe negociação ao cliente.
Caso seja possível atender as necessidades do
cliente de imediato, o fiscal negociador retorna com
as informações de negociação já acordadas com o
cliente, efetiva o acordo de parcelamento em sistema
de informação corporativo e retorna ao imóvel levando o acordo juntamente com a primeira parcela para
pagamento pelo cliente, colhendo sua assinatura e
fotografando os documentos necessários para negociação de débitos (RG, CPF e documento do imóvel).
Diante de situações muito críticas e débito elevado, na impossibilidade da negociação imediata,
com base nas informações e evidências trazidas
pelo fiscal, a equipe interna da unidade de cobrança analisa o caso, e utilizando-se dos procedimentos
internos da Sabesp (Gerenciamento de Cobrança,
Atendimento ao Cliente e Deliberações de Diretoria),
elabora propostas para solução do problema, tais
como: abatimento de juros e multa, redução do débito na tarifa social (tarifa diferenciada para cliente
de baixa renda que corresponde a cerca de 30% da
tarifa normal), revisão de contas altas causadas por
vazamentos no imóvel, entre outras soluções, para
adequação do débito à realidade do cliente.
Neste caso, são avaliadas várias situações junto ao
cliente, tais como: quantidade de residências abastecidas pela ligação de água em questão; quantidade
de pessoas que habitam tais residências e a coerência
entre este nº e o consumo mensal medido; renda familiar no imóvel; trabalho formal e informal; condições e disponibilidade para pagamento de parcelas de
acordo de parcelamento bem como contas mensais
de consumo.
As avaliações originam orientações diversas repassadas aos clientes, tais como: formas de verificação de
possíveis vazamentos internos, Uso Racional da Água e
valorização do produto, necessidade de atenção e con-
Saneas
39
artigo técnico
Figura 2 – Redução do estoque de débitos dos imóveis envolvidos no processo entre fev e dez/10
trole de datas de vencimento e pagamento de parcelas
para evitar o rompimento de acordos e aumento do
débito, necessidade de manutenção de informações
cadastrais junto à Sabesp, necessidade de atualização
de dados referentes ao cadastramento de tarifa social,
entre outras; para que o cliente possa se manter adimplente com a Sabesp e, consequentemente, manter o
fornecimento de água em seu imóvel.
RESULTADOS
Em seis meses de trabalhos efetivos em campo, com
a visita em 464 imóveis, alcançamos o resultado de
332 acordos de parcelamento efetivados, com análise e revisão de débito, representando 71,5% de sucesso em negociação, e valor de R$ 582.972,00 atualizados, reduzidos do estoque de débitos.
O estoque de débitos dos imóveis selecionados
para visita de negociação, que no levantamento inicial era de R$ 571.054,00, sofreu uma redução de cerca de 50% até dez/2010, perfazendo R$ 286.803,00
atualizados, conforme apresentado na figura 2.
O diferencial neste processo de cobrança é a
questão da oferta da possibilidade de parcelamento de débitos e/ou regularização da ligação de água
junto à Sabesp, em sua “porta”, sem que o cliente
tenha que se deslocar de sua residência, o que tem
encantado os clientes.
O processo de Negociação in loco, tem trazido
também resultados diversos além de resultados financeiros, tais como, a manutenção de clientes e a
reabilitação de clientes inativos com a Sabesp. Além
40
Saneas
de promover maior grau de satisfação dos clientes
quanto aos serviços prestados pela empresa, melhorando assim sua imagem perante a comunidade.
Os resultados de maior relevância com o processo de negociação in loco em núcleos de baixa
renda foram:
■■ Maior satisfação dos clientes e sociedade, pela
solução de seu problema, com facilidade e a comodidade de não sair de casa, além da devolução
da dignidade por não ter de pedir água emprestada, e ter sua própria ligação novamente (palavras do cliente);
■■ Satisfação dos empregados com resultados positivos e solução aos problemas dos clientes;
■■ Satisfação das lideranças locais, bem como prefeituras e subprefeituras;
■■ Bons resultados para a UN Leste e Sabesp, com
maior rentabilidade e resultados financeiros positivos;
■■ Imagem positiva da Sabesp.
CONSIDERÇÕES FINAIS
Com a inovação e as mudanças no processo de
cobrança para núcleos de baixa renda, percebeu-se
que a iniciativa da Sabesp, de ir até o cliente, é realmente um diferencial de sucesso. Sendo assim, a
ação poderá ser estendida aos terceiros que atuam
no segmento de cobrança para a empresa, além de
repasse a outras áreas da Sabesp, as quais poderão
aplicar esta prática objetivando resultados positivos
e satisfação do cliente.
Março a Julho de 2015
artigo técnico
Everton Verissimo
Ferreira
Administrador
– Formado Pela
Universidade Luterana
do Brasil (2012) –
Franca – Técnico em
Gestão, RGFF-1 Setor
administrativo e
Comercial de Franca.
Welton de Araujo
Cintra Junior
Bacharelando
Administração Publica
– Universidade Federal
de São João Del Rey
– São João Del Rey
MG, Bacharelando em
Direito – Universidade
de Franca – UNIFRAN
– Franca-SP – Técnico
em Gestão – Auditor
Sistema de Gestão de
Qualidade (ISO 9001)
– Bannas Qualidade/
Brisoti Consultoria e
Treinamento – Auditor
Sistema de Gestão
Ambiental (ISO 14001)
– SQS Consultores
Associados.
Ricardo Faleiros
de Sousa
Administrador,
formado pelo Centro
Universitário UNIFACEF
(1995) Franca-SP, MBA
Gestão Empresarial
Centro Universitário
UNIFACEF (2005)
Franca-SP. Gerente
de Setor – Setor
Administrativo e
Comercial de Franca –
RGFF-1.
Rui Engracia
Garcia Caluz
Engenheiro Civil,
formado pelo Instituto
Politécnico de Ribeirão
Preto da Instituição
Moura Lacerda (1979)
R. Preto; Especialização
em Engenharia de
Segurança do Trabalho
(1994) - UNIFRAN Franca; Especialização
em Engenharia Saúde
Pública - USP - São
Paulo; Especialização
em Gerência de
Cidade (2000) - FAAP
- Ribeirão Preto São Paulo; Gerente
Departamento Distrital
de Franca - SP.
RECUPERAÇÃO DE VOLUMES E VALORES –
CAÇA FRAUDES E COMBATE A
IRREGULARIDADES – CONTRIBUIÇÃO
NA REDUÇÃO DO ÍNDICE DE PERDAS NO
MUNICÍPIO DE FRANCA
Por Everton Verissimo Ferreira, Welton de Araujo Cintra Junior
Ricardo Faleiros de Sousa, Rui Engracia Garcia Caluz
RESUMO
O presente trabalho visa apresentar os resultados obtidos com a busca, constatação e cobranças de irregularidades e fraudes no município
de Franca, principalmente ocorrências com hidrômetros, supressões e ramais.
Apresenta valores recuperados em m³ e R$,
com o intuito de demonstrar a eficiência do trabalho da equipe de campo e de apuração de valores/cobrança, bem como os valores e/ou volumes
efetivamente recuperados após a finalização de
todo o processo. E a quantidade de acertos comparados com o total de suspeitas investigadas.
A cidade de Franca vem a tempos buscando a
redução dos índices de perdas, e a apuração, a cobrança e a ação rotineira de caça fraudes / constatação de irregularidades, é parte importante de
todo este processo, sem os quais os atuais índices
(144 l/r/d dez/13) não teriam sido atingidos.
INTRODUÇÃO
A cidade de Franca está localizada na região noroeste do Estado de São Paulo, tem atualmente
318.640 habitantes (censo oficial de 2010), com
estimativa do IBGE de 336.734 mil habitantes
para no ano de 2013, e conta com 120.946 ligações de água e 118.469 ligações de esgoto (Sabesp
jan/14), conta com 100% de água tratada e 100%
de coleta de esgotos, 100% esgoto tratado.
Franca é uma cidade tipicamente industrial,
que abriga o pólo calçadista no estado de São
Paulo, caracterizando-se por uma indústria
curtumeira muito forte e um parque industrial
Março a Julho de 2015
mais voltado para o calçado masculino, o IDHM
da cidade é de 0,780 (Atlas Brasil 2013 PNUD), e
o PIB per capta é de R$ 17.802.99.
Atualmente Franca conta com um índice de
perdas de 144 L/ramal. dia, sendo que as áreas
operacionais da Sabesp buscam uma redução deste valor a fim de melhorar seu desempenho operacional assim como atuar no sentido de disponibilizar maior quantidade de água a ser consumida
(estoque regulador), pois o sistema produtor está
em seu limite máximo.
OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é relacionar as ações
executadas pela equipe interna e de campo com
relação à verificação, constatação, apuração e regularização de fraudes e/ou irregularidades nas
ligações de água no município de Franca, relacionando os valores recuperados em volume (m³) e
financeiros (R$), ainda a assertividade da equipe
quando comparados o volume de vistorias X irregularidades/fraudes constatadas.
Ainda apresentará o recebimento efetivo destas constatações, após a conclusão do processo
com a efetiva baixa das contas com a cobrança
dos valores apurados.
MATERIAIS E métodos
Para a realização das ações aqui descritas foram
usados os seguintes métodos e práticas operacional:
■■ Acompanhamento mensal de Verificações
de irregularidades/fraudes;
Saneas
41
artigo técnico
■■ Acompanhamento de apuração de irregularidades
e/ou fraudes comprovadas;
■■ Acompanhamento de Baixa de contas com valores de irregularidades e/ou fraudes:
■■ Verificação e acompanhamento de volumes faturados após regularização da situação;
■■ Comparação de valores e volumes faturados antes e pós regularização.
RESULTADOS
Durante o ano de 2013, todas as suspeitas de fraudes e/
ou irregularidades foram acompanhadas 1365 ao todo.
Foram levantados todos os valores apurados em
cada uma das fraudes e/ou irregularidades comprovadas no total de 1032.
Após a verificação/constatação/apuração de valores, acompanhou-se o pagamento efetivo das contas cujas cobranças ocorreram.
Após a consolidação de todos os resultados chegou-se aos seguintes valores:
■■ Volume recuperado total 28.238m³
■■ Valor recuperado total R$ 171.696,63
■■ Porcentagem verificações X constatações = 76%
Principais irregularidades e/ou fraudes constatadas:
■■ Supressão violada = 473
■■ Corte violado = 355
■■ Irregularidades em hidrômetros = 201
CONCLUSÃO
O trabalho realizado pela equipe do setor administrativo e comercial, conclui-se como de relevante
importância, contribuindo sobremaneira para a redução dos índices de perdas na cidade de Franca,
bem como para a recuperação de valores.
Mais que uMa revista,
uM projeto socioaMbiental.
conheça as oportunidades
de participação na revista!
anuncie na saneas!
garanta seu espaço publicitário:
11 42
3263 0484
- 11 97515 4627 | [email protected]
Saneas
Março a Julho de 2015
Diretoria de Projetos Socioambientais
Grande aprovação do Curso
de Gestão Eficaz de Projetos
Nos dias 03, 04, 10, 11, 17 e 18 de marco, a Associação dos Engenheiros da Sabesp-AESabesp, por
meio de sua Diretora de Projetos Socioambientais,
realizou um curso de Gestão Eficaz de Projetos, ministrado pela equipe da Consultoria Regina Ramos
- Centro de Capacitação Profissional.
Esse curso teve como objetivo fornecer subsídios
conceituais e práticos sobre os fatores de sucesso e
fracasso de um projeto, definição de escopo, bem
como a estruturação das etapas fundamentais e necessárias para que o Projeto tenha êxito. O público
foi formado por profissionais gestores e líderes de
projetos, cuja atuação deve atender aos Clientes Internos e Externos das organizações, garantindo uma
performance eficaz e evolução considerável para
atuarem no mercado.
Também foi fundamentada no curso a aplicação de
técnicas para estimular a liderança e exercer um papel
de educador para que os colaboradores que compõem
a formação de uma equipe tenham uma atuação eficaz e em sintonia com as exigências dos Clientes.
Março a Julho de 2015
A metodologia utilizada, nessas ações, ativa e
participativa com conteúdos atualizados em sintonia com o mercado, aplicação de jogos e dinâmicas
estruturadas que são trabalhadas com feedbacks estruturados pelos consultores, desenvolvendo testes
para que o participante faça sua autoavaliação e
possa traçar um caminho rumo ao seu autodesenvolvimento.
O plano de trabalho desenvolvido para o curso Gestão Eficaz de Projetos seguiu os seguintes
tópicos:
■■ Gestão da Mudança: com abordagem de temas como contextualização do mundo, onde
o participante é conduzido a refletir sobre os
desafios de gerenciar a si mesmo aceitando as
diferenças da equipe.
■■ Tendências organizacionais e a evolução do conceito de liderança: na Gestão dos Projetos apresenta as exigências atuais do mercado, estilo de
liderança e as habilidades que influenciam na gestão de projetos.
Saneas
43
Diretoria de Projetos Socioambientais
■■ Gestão Eficaz dos Projetos–Integração das Competências: onde são discorridos os temas planejamento
e organização com definição de metas, comunicação do projeto, além da importância de manter a
equipe motivada.
■■ Gestão Eficaz dos Projetos – Modelos de projetos: são apresentadas as cinco fases do projeto,
ferramentas de gestão além dos fatores de sucesso e fracasso de um projeto e também é demonstrado softwares colaborativos que facilitam
o acompanhamento e monitoramento das diversas fases do projeto.
■■ Gestão Eficaz dos Projetos – Marketing: onde são
discorridos os temas de processo de vendas, parcerias e precificação do projeto.
Segundo a Diretora de Projetos Socioambientais,
Maria Aparecida Silva de Paula, responsável pela estruturação do curso com a consultora Regina Ramos,
“foi gratificante para a AESabesp abrir essa turma
que frequentou cerca de 1 mês o curso formado.
Recebemos durante esse período vários feedbacks
positivos, o que nos permite concluir que o mercado
tinha essa lacuna e nós conseguimos entender e
organizar esse atendimento”.
Segue as impressões de alguns participantes do curso:
Curso dinâmico, produtivo e esclarecedor”
Miriam Simão (Instituto Cultural Luiz Telles)
O conteúdo e a dinâmica do curso atenderam plenamente as minhas expectativas”
Francisco José (SAAE – Guarulhos)
O curso apresentou-se surpreendente, oferecendo o que foi proposto.
É absolutamente recomendável”
Márcia M. Marques (Restor)
O curso foi uma experiência enriquecedora que veio preencher várias lacunas do meu
conhecimento anterior, proporcionando a motivação e o preparo necessário para
gerenciar projetos”
Rosana Telles (Instituto Cultural Luiz Telles)
O curso Gestão de Projetos nos fêz reconhecer padrões, analisá-los e nos preparou para
lidar com as dificuldades e percalços, inclusive com a nossa mudança interna”
Ceci Bueno de Caprio
44
Saneas
Março a Julho de 2015
26º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2015
INVESTIMENTOS E
EXPANSÃO EM 2015
Aumento de público e de expositores levam o maior evento em
saneamento ambiental, na América Latina, para nova área em 2015
Com uma visitação de 19.000 pessoas (2000 a mais
do que em 2013), exposição de 248 estandes (em
2013 foram 220), apresentação de 80 trabalhos técnicos, 8 mesas redondas e 3 minicursos, o Encontro
Técnico AESabesp – Fenasan 2014 superou todas
as expectativas e consolidou a sua posição como
o maior evento técnico-mercadológico da América Latina, em saneamento ambiental. Em função
desse crescimento, em 2015, sua realização será no
Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte, o maior
espaço desse complexo, nos dias 4, 5 e 6 de agosto.
O tema central de 2015 será “A crise da água e
suas consequências no sec XXI”. Até o momento, a
Fenasan conta com mais de 200 expositores confirmados, entre empresas nacionais e internacionais.
Além de otimizar as negociações desse mercado, a
Feira tem como principal objetivo difundir as tecnologias em uso, bem como as inovações tecnológicas e todas as ações importantes para o saneamento ambiental. Para corresponder a essa expectativa,
a AESabesp irá estruturar um Forum de Tecnologias
trazidas pelos expositores.
Março a Julho de 2015
A AESabesp irá dispor uma ilha de orientação em
português e inglês e em seu estande prestará informações sobre os benefícios oferecidos pela entidade
e a captação de projetos que pode ser concebidos em
sua Carteira de Projetos Socioambientais, com investimentos em suas execuções.
Saneas
45
26º Encontro Técnico AESabesp / Fenasan 2015
Encontro Técnico 2015
já tem mesas definidas
O 26º Encontro Técnico AESabesp, a ser realizado nos
mesmos dias da Fenasan 2015, já conta, até o fechamento desta edição, com seis mesas redondas definidas, com participação de grandes expoentes do setor
de saneamento e meio ambiente. São elas:
■■ A crise da água e suas consequências no século
XXI (conferência na abertura do Congresso);
■■ Dessalinizaçao como alternativa para abastecimento;
■■ Água de reúso para fins potáveis e recarga de
aquiferos e mananciais;
■■ Impactos dos eventos climáticos nos recursos hídricos para o desenvolvimento econômico;
■■ Universalização do saneamento e mobilização social em comunidades de baixa renda;
■■ As consequências das explorações desordenada
das águas subterrâneas em tempos de escassez
de água.
Além das respectivas mesas redondas, serão apresentados minicursos de especialização, palestras institucionais e palestras técnicas dos trabalhos aprovados e palestras magnas.
Inscrição de trabalhos técnicos
para o Congresso
Lembramos que a inscrição de trabalhos técnicos para serem apresentados no Congresso,
deverá ser feita impreterivelmente até o dia 06
de abril de 2015. O período de avaliação será
entre 07 de março a 27 de abril, para que a
comunicação de aceite ou recusa aos autores
seja feita até 04 de maio de 2015 e o prazo
para manipulação de arquivos até 15 de maio
de 2015.
Todas as questões referentes a esse
envio estão disponibilizadas no site:
www.fenasan.com.br
46
Saneas
Março a Julho de 2015
Acontece no setor
Grundfos cria oficina de
treinamentos
A Grundfos estruturou uma nova oficina de serviços,
com espaço dedicado a treinamentos de manutenção
e operação. A mesma conta com quatro bancadas de
montagem, desmontagem e treinamento, e uma para
testes de bombas, bem como uma ponte rolante específica para o manuseio das bombas em reparo, além de
um sistema de pressurização demo para uso durante os
treinamentos da rede de assistência técnica. O espaço
abriga um setor de estoque de peças com mais de 100
kits de degaste por modelo de bombas.
Mizumo é premiada com o Green
Building 2014
Tendo a sustentabilidade
como política e objeto
de atuação, a Mizumo
– ganhadora do Prêmio
AESabesp na Fenasan
2014, como melhor estande, pelos critérios de
elaboração e práticas sustentáveis adotados pela
Diretoria de Projetos Socioambientais - recebeu o
Prêmio Green Building 2014 Marcas de Destaque.
Com 28,26 % das indicações, a empresa foi a primeira colocada na categoria Sistema de Tratamento e Reúso de Água, o que demonstra a qualidade
e os benefícios que as soluções possuem e proporcionam às instalações sanitárias.
Março a Julho de 2015
Clean apresenta Analisador de
Vapores Tóxicos TVA2020
A Clean Environment Brasil lançou essa ferramenta de campo portátil, que
utiliza tanto a tecnologia
de Detecção por Ionização de Chama (FID) e a
tecnologia de Detecção
por Foto Ionização (PID).
Tecnologia Dupla FID/PID.
De uso fácil e simplificado, sua habilitação para comunicação pode ser
feita via “bluetooth” e não necessita de software
para PC.
Metal Work lança grampo pneumático
Esse grampo é dividido basicamente em duas partes:
mecânica e pneumática. Para a manutenção do atuador pneumático, basta desmontar os dois parafusos
transversais, que prendem o atuador à parte mecânica,
para fazer a troca das guarnições do embolo e dos cabeçotes, sendo que a haste do cilindro permanece fixa
à parte mecânica do grampo. O sistema de regulagem
do ângulo é integrado ao cilindro, não sendo necessário o reset eletrônico do sensor.
O sensor indutivo apresenta conector M12 x 1 com
4 pinos, articulação do conector de 0º a 90º, LED vermelho indica posição 0º, LED amarelo indica posição de
abertura do grampo, que com a regulagem pode variar
de 25º a 135º. Já o cilindro é composto por cabeçotes
em alumínio, camisa em alumínio anodizado, embolo
em alumínio, haste em SAE 1045 cromado e retificado,
vedação em NBR e bucha guia de aço com revestimento de bronze e PTFE. Pressão mínima de trabalho 6 bar
e pressão máxima de trabalho 8 bar.
Saneas
47
Lançamento
Livro “Ecologia de
reservatórios e interfaces”,
em formato digital
No dia 14 de março, foi lançado o livro “Ecologia
de reservatórios e interfaces”, somente em formato digital, em PDF, e baixado gratuitamente pelo
link http://ecologia.ib.usp.br/reservatorios/. No
site apresentado, também é adicionada uma base
de dados que facilita a busca e o acesso ao livro
integral e mesmo aos seus capítulos individuais.
Este livro foi organizado pelos grupos de pesquisa dos Laboratórios de Limnologia, do Departamento de Ecologia, do Instituto de Biociências,
da Universidade de São Paulo e da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus
de Sorocaba. Na liderança da pesquisa se encontra
o prof. dr. Marcelo Luiz Martins Pompêo (foto), professor do Departamento de Ecologia, do Instituto
de Biologia da USP- Universidade de São Paulo e
colaborador da Revista Saneas, inclusive responsável pela matéria tema da edição nº 40, na qual
48
Saneas
discorreu sobre os procedimentos e a importância
da aplicação da limnologia ao meio ambiente e,
por consequência, na estrutura do setor de saneamento básico.
Composto por 30 capítulos, o livro, de acordo
com os organizadores, “é uma tentativa de integrar
os conhecimentos no intuito de mostrar a necessidade de estudos multi e interdisciplinares para a
maior compreensão da estrutura, função e dinâmica dos reservatórios”. Por meio de alguns estudos de
casos, os capítulos buscam discutir sobre a ecologia
de reservatórios, do ponto de vista teórico, mas
também apresentar questões aplicadas relacionadas ao monitoramento e manejo, sem se esquecer
da proteção e recuperação da qualidade das águas
dos ecossistemas aquáticos continentais.
Março a Julho de 2015
Vivências
Nilton Moraes:
guiado pela paixão E PELOS VEÍCULOS possantes
C
om muita propriedade e toda aquela descontração que lhe é peculiar, o nosso associado, eng.
Nilton Gomes de Moraes, discorre sobre o seu hobby de colecionador de carros, que contempla
histórias de vida, fatos e dados inusitados. Confira nesta entrevista:
Saneas: Quando o senhor começou a trabalhar na Sabesp, qual é a sua atual função e
como o setor de saneamento foi escolhido
para fazer parte da sua vida profissional?
Moraes: Quando nasci, meu pai já trabalhava na Sabesp e sempre me transmitiu
o orgulho e a importância do saneamento. Entrei efetivamente na empresa em
1992, através de seu primeiro concurso,
como desenhista em uma unidade de
apoio em Poá. Desde então passei por diversas funções dentro da UN Leste, até
que em 2007 vim para a Diretoria de Sistemas Regionais. Aqui atuei como Gerente no Departamento de Operação e Manutenção e no Departamento Comercial.
Atualmente me encontro em um dos mais
importantes projetos voltados para o futuro da Sabesp que é o SiiS, gerenciando
as Informações Gerenciais Comerciais ou
Business Inteligence (BI).
Saneas: Como associado da AESabesp,
qual é sua avaliação da representatividade
que esta entidade possui, em relação aos
interesses dos engenheiros da Sabesp?
Moraes: A AESabesp tem ganhado, ano
após ano, uma importância impar no setor
de saneamento, refletindo diretamente em
benefício de seus sócios. A grandiosidade
de eventos como a Fenasan marca ainda
mais a posição de nossa entidade. Não podemos ainda nos esquecer dos eventos sociais que sempre promovem o convívio entre os sócios e suas famílias bem como são
excelentes oportunidades de networking.
Março a Julho de 2015
Saneas: Seus amigos o apontam como um
colecionador de carros antigos. Descreva
um pouco como é a sua coleção e os motivos que o levam a mantê-la.
Moraes: Comecei com este hobby depois
que escutei da minha esposa: ou a moto ou
eu !!! (quase isso)... É claro que depois disso
vendi a moto (nem gostava tanto dela assim) e passei a projetar a montagem de uma
réplica de um Porsche 356. Em 2007 cheguei
na Sabesp feliz da vida dizendo que tinha
comprado um Brasilia 77 e quase me internaram. Essa Brasilia foi a doadora do chassis
e da mecânica para meu projeto. No meio
Saneas
49
Vivências
da construção acabei aproveitando uma oportunidade única que me apareceu: a aquisição de um
fusca 1974 que foi viatura da polícia civil e estava
largado em um galpão em Jaguariúna a mais de 20
anos!!! Também possuo um Opala Diplomata coupê
que tem mais opcionais que muito carro de luxo de
hoje em dia, além de um motor enorme de 6 cilindros em linha.
Desses 3 “brinquedos” não há como não gostar...
Para manter um carro novo é fácil: a cada 10 mil km
você leva na concessionária e faz revisão... Já o carro
antigo 50% é com o mecânico, mas o restante é com
você: tem que cuidar muito!!!
Saneas: Existe algum carro antigo de sua preferência?
Moraes: Sem qualquer dúvida a “baratinha de polícia” é o meu xodó... Além de ter a mesma idade que
eu ele ainda possui aproximadamente 95% de originalidade. Para se ter uma ideia, nem a entrada para o
rádio no painel foi cortada, está como saiu de fábrica.
originais para essas raridades. Isso também acaba se
transformando em sua grande compensação, pois vira
uma caça ao tesouro de gente grande. O prazer que
dá em encontrar aquela arruela especial da série xyz
que se encaixa exatamente em seu lugar é inenarrável! Outra coisa que anima bastante á o enorme
assédio de outros antigos mobilistas querendo saber
detalhes ou até mesmo comprar meus brinquedos.
Sempre digo: não estão à venda, mas pode olhar que
é grátis!!!
Saneas: Existe alguma entidade que concentra colecionadores como o senhor?
Moraes: Existem várias entidades nesse setor (algumas nem tão confiáveis) que concentram normalmente colecionadores por modalidade: uns colecionam fuscas, outros Pumas, uns Mavericks, tem
até clube do Fiat Tipo! É preciso antes de se filiar a
alguma fazer uma busca completa pra saber sobre a
idoneidade desta entidade.
Saneas: Qual é a sua sensação em arrumar e
preservar um carro antigo?
Moraes: Gosto muito de coisas antigas e acredito
que preservar um objeto ou, como no meu caso,
um carro é preservar a história de nosso país e
principalmente nossas próprias memórias.
Saneas: Qual é a compensação e a dificuldade de
se manter um hobby como esse?
Moraes: A principal dificuldade é encontrar peças
50
Saneas
Saneas: Onde os curiosos podem ver os modelos
de sua coleção?
Moraes: Às quartas feiras, quando ocorre o rodízio de
placa do meu carro de uso, sempre estou com o Opala
ou o Fusca aqui no SiiS no Limão. Dependendo dos
compromissos dá para vê-los estacionados na Ponte
ou na Costa Carvalho. O Porschinho não dá pra vir
trabalhar, pois ainda não possui a capota conversível,
talvez daqui a algum tempo eu a coloque.
Março a Julho de 2015
VENhA PArA A
MAior FEirA
do SETor dA
AMériCA lATiNA!
04 a 06 de agosto de 2015
Pavilhão Vermelho Expo Center Norte
São Paulo - SP
Durante a Fenasan 2015 os visitantes terão a oportunidade
de conhecer as novidades em produtos e serviços de mais
de 240 empresas nacionais e internacionais do setor de
saneamento ambiental.
Paralelamente, será realizado o 26º Congresso Nacional
de Saneamento e Meio Ambiente - Encontro Técnico
AESabesp, que reúne os maiores expoentes técnicos do
setor, em palestras e mesas redondas.
www.fenasan.com.br
Tema Central:
A crise da água
e suas
consequências
no século XXi
Realização
Apoio
Organização e comercialização
11 3056 6000 | [email protected]
Apoio institucional
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE GEOLOGIA
DE ENGENHARIA E AMBIENTAL
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
do Estado de São Paulo

Documentos relacionados

- AESabesp

- AESabesp Ivo Nicolielo Antunes Junior, Nelson Luiz Stábile e Nizar Qbar Pólos da Região Metropolitana de São Paulo Coordenador - Nélson César Menetti Costa Carvalho e Centro - Célia Maria Machado Ambrósio L...

Leia mais