o referencial curricular nacional para a educação infantil
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o referencial curricular nacional para a educação infantil
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 1 IMPLICAÇÕES DO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL NA POLÍTICA DE FORMAÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL SHIRLEY ELZIANE DINIZ ABREU (URCA – mestranda PPGE/UFPB) Para refletir sobre as implicações do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) na política de formação do educador infantil, é preciso considerar, inicialmente, os rumos da educação para as crianças pequenas delineados a partir da Constituição Federal de 1988, onde pela primeira vez na história do Brasil, a educação das crianças de 0 a 6 anos de idade é considerada dever do Estado, ficando sob a incumbência do Poder Público em nível municipal. Incorporando determinações da Constituição Federal de 1988, a LDB n o 9.394/96 (art.21, I; art. 29), estabelece que a educação infantil é a primeira etapa da educação básica e que creches e pré-escolas devem estar integradas ao sistema de ensino, responsabilidade conferida aos municípios (LDB/96,art. 89). Nesse sentido, a formação do educador destinado à educação infantil tem recebido olhares mais atentos. De acordo com Rosseti-Ferreira et al (2002, p.68), “a partir da LDB, passou a haver uma preocupação específica com a formação do educador da educação infantil (...)”. É nessa trilha que o RCNEI, documento elaborado pelo MEC se apresenta, com versão final em 1998. O então Ministro da Educação, Paulo Renato Souza em carta, dirigida ao “professor da educação infantil” In RCNEI (1998, p.5) ressalta o seguinte: Atendendo às determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96) que estabelece, pela primeira vez na história do nosso país, que a educação infantil é a primeira etapa da educação básica, nosso objetivo, com este material, é auxiliá-lo na realização de seu trabalho educativo diário junto às crianças pequenas. Cabe lembrar, de acordo com Cerisara (2002), que profissionais ligados à área de educação infantil analisaram a versão preliminar do RCNEI, objetivando, no prazo de um mês, devolver ao MEC um parecer. No entanto, conforme assevera Cerisara (2002, p.339), “em outubro de 1998 a versão final do RCNEI foi divulgada sem que os apelos dos pareceristas por mais tempo para debates e discussões fossem atendidos”. Dessa forma, em um processo aligeirado, com vista à distribuição do documento, não apenas as críticas e os apelos para maiores discussões foram ignorados, mas também as discussões travadas anteriormente, desde 1994, em um processo, segundo Cerisara (2002), de construção de uma Política Nacional para a Educação Infantil, que envolvia, inclusive, a COEDI/MEC. Esse fato mostra/reforça o caráter de descontinuidade em que estão imersas as políticas voltadas à infância, marca que há tempos se faz presente no contexto brasileiro. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 2 Em meio às tensões, o RCNEI é divulgado em três volumes, a saber: Introdução, Formação pessoal e social e Conhecimento de mundo. Todavia, mesmo com aparência de auxílio, “guia de reflexão de cunho educacional” (RCNEI, 1998, p.5), o RCNEI passa a idéia de modelo curricular a nível nacional, desconsiderando a diversidade cultural brasileira, numa tentativa de homogeneizar, modelar o atendimento à infância. Propõe ações que desconsideram as condições objetivas onde se insere a educação infantil, historicamente marcada pela omissão do Poder Público, mormente quando se trata de formação do educador. Aliás, o próprio RCNEI, em razão da problemática que o envolve, brevemente colocada aqui, pode ser traduzido como fonte desencadeadora de reflexões, debates. No que se refere aos educadores voltados para a educação infantil, é importante lembrar da precariedade das condições de trabalho, marcas do descaso para com estes profissionais, bem representado, na ausência de uma política que alie formação e valorização profissional. Nesse contexto, há o risco de que o RCNEI possa ser utilizado como o único ou um dos poucos subsídios que chegam (quando chegam) ao alcance dos educadores. Cabe ainda enfatizar que, em sua maioria, os educadores são pouco qualificados, o que nos faz atentar para a distância entre o documento e a realidade. Nessa ótica, Palhares e Martinez (2000, p.9), assinalam (...) se percebe, através da sua leitura, um referencial que pressupõe, por exemplo, um educador altamente qualificado, capaz não só de analisar tipos de brincadeiras e efetivá-las, considerando o potencial da atividade e da criança, como também de prosseguir com a estimulação após cada resposta individual (...). No entanto, além do RCNEI, o MEC também pensou em contribuir para a sua utilização. Assim, elaborou um programa cujo objetivo é utilizar, sobretudo, o próprio RCNEI como subsídio, tendo o educador infantil como alvo certo. Trata-se do Programa Parâmetros em Ação (1999), implementado também nos municípios. Estes, por seu turno, não foram convidados a planejar/sistematizar tal programa e sim a executá-lo. Recebem assim, o pacote de capacitação em que módulos estrategicamente levam à leitura do RCNEI. Políticas dessa natureza visam atender as exigências de organismos internacionais como o Banco Mundial (Torres 2000). É desenhado então um cenário em que a lógica econômica também atinge a educação, em um processo em que o aligeiramento é regra de um jogo que inclusive proclama compromisso com a formação continuada, ganhando espaços e adeptos, levando a cabo essencialmente, a idéia de capacitação em serviço. Essa idéia, presente na LDB/96 (art.61,I) obnubila a idéia de formação, entendida como processo contínuo, de incessante busca pela qualidade, nesse caso, da educação infantil. Assim como Kramer (2002, p.119), entendemos que o termo capacitação “(...) traz a idéia de dar algo para aqueles que, do contrário, seriam incapazes (...)”. Cônscios disso, objetivamos analisar as políticas públicas para a formação do educador infantil no Município de João Pessoa, respaldados no entendimento de que a melhoria da qualidade na educação infantil passa UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 3 necessariamente pelo investimento na formação do educador, devendo haver o compromisso com a qualidade dessa formação. Face ao exposto, faz-se necessário ressaltar que, o RCNEI, ao invés de modelo, deve ser entendido como um subsídio a mais, em meio a outros, capazes de proporcionar reflexões/debates em torno da educação infantil, com vista à superação da dicotomia entre educar e cuidar. Apesar de o RCNEI ter surgido, paradoxalmente, antes das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução CNE/CEB no 1/1999), são estas que devem ser seguidas/respeitadas pelas instituições de educação infantil, como “fundamentos norteadores” para a elaboração de suas propostas pedagógicas, conforme disposto no art 3o da citada resolução. Entendemos com isso, que as instituições de educação infantil, em sua autonomia, não precisam estar subordinadas a propostas das quais não tiveram participação. Podem construir as suas propostas, contando, também, com a participação dos educadores, sujeitos do processo, tendo em vista a criação/ampliação de espaços de formação no próprio contexto das instituições de educação infantil. Essa idéia está ancorada em Kramer (2002, p.124) ao colocar que (...) um dos lugares privilegiados da formação precisa ser cada unidade (escola, creche e pré-escola), com grupos de discussão da prática, com horários para estudo e leitura, a fim de fortalecer cada unidade. Para tanto, se coloca como essencial a formação de equipes pedagógicas que precisam se tornar equipes de formação dos profissionais das escolas, creches e préescolas. Ademais, as propostas sistematizadas nesses espaços, não precisam estar comprometidas com o aligeiramento. Devem sim, contribuir para a formação integral da criança, direito proclamado (LDB/96 art.29; Resolução CNE/CEB no1/99,art.3o,III), que precisa ser concretizado, visando reconhecer a criança em sua totalidade. Conforme assinala Kramer (op cit, p.130), é preciso “que saibamos implementar políticas públicas de formação sem tornar os professores escravos de métodos, documentos legais ou receituários pedagógicos (...)”. Com efeito, as reflexões deste trabalho, poderão suscitar outras, também necessárias e que convergem para uma mesma luta: a luta histórica em defesa de uma educação de qualidade também para a infância brasileira. A propósito, a argumentação de Kramer (2002, p.128) é oportuna Educação digna e de qualidade para todos, saúde (...) são ainda direitos proclamados, mas não fatos concretos. (...) esse contexto que tira da população o que é seu de direito, não pode (...) tirar a nossa capacidade de lutar, de ter esperança, de aprender com as lutas passadas, de apostar na mudança. É por “apostar na mudança” - fruto de lutas, mobilizações - que é possível entender que, embora a Constituição de 1988, bem como a LDB/96, representem avanços que beneficiam as crianças brasileiras de 0 a 6 anos de idade, UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 4 outros ainda são necessários, para que a criança, sujeito de direitos, seja assim reconhecida, para além dos dispositivos legais. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: 1988 - texto constitucional de 5 de outubro de 1988 com as alterações adotadas pela Emendas Constitucionais n. 1/92 a 19/98 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão n.1 a 6/94.10.ed. Brasília:Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações,1998. (série textos básicos; n.16). BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.In: MENESES, João Gualberto de Carvalho et al. Estrutura e Funcionamento da Educação Básica: Leituras. 2 ed. São Paulo: Pioneira, 1999, p. 306-328. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília:MEC/SEF,1998. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Resolução CNE/CEB no 1/1999. In: BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica.CNE/Brasília,2001, p. 24-25. CERISARA, Ana Beatriz. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil no contexto das reformas. Educação & Sociedade: Revista de Ciência da Educação. Políticas Públicas para a Educação: olhares diversos sobre o período de 1995 a 2002. Campinas, v.23, n. 80, p.329-348, set. 2002. KRAMER, Sonia. Formação de Profissionais de educação infantil: questões e tensões. In: MACHADO, Maria Lúcia de A.(Org.). Encontros e Desencontros em Educação Infantil. São Paulo: Cortez, 2002, p. 117-132. PALHARES, Marina Silveira; MARTINEZ, Cláudia Maria Simões. A Educação Infantil: uma questão para o debate. In: FARIA, Ana Lúcia Goulart de; PALHARES, Marina Silveira (Orgs.). Educação Infantil pós – LDB: Rumos e Desafios. 2.ed. Campinas: Autores Associados – FE/UNICAMP; São Carlos: Editora da UFSCar; Florianópolis: Editora da UFSC, 2000. v.62, p. 5-18. ROSSETI-FERREIRA, Maria Clotilde; RAMON, Fabiola; SILVA, Ana Paula Soares. Políticas de atendimento à criança pequena nos países em desenvolvimento. Cadernos de Pesquisa. n.115, p.65-100, março 2002. TORRES, Rosa Maria. Melhorar a qualidade da educação básica? As estratégias do Banco Mundial. In: DE TOMMASI, Lívia; WARDE, Mirian Jorge; HADDAD, Sérgio (Orgs.). O Banco Mundial e as Políticas Educacionais. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2000. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 5 PARÂMETROS EM AÇÃO: UM NOVO OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria de Lourdes Cirne Diniz* I - INTRODUÇÃO Sempre ligada à Educação Infantil, acredito que o educador desta área, deve ter um perfil de um profissional reflexivo em constante formação pessoal e acadêmica. Deve estar aberto às mudanças e atento à diversidade e à pluralidade das crianças com as quais trabalha, de maneira a oferecer-lhes um atendimento de qualidade. Assim, torna-se imprescindível estabelecer princípios norteadores, critérios, objetivos, orientações precisas que viabilizem a adequada formação dos profissionais/professores, particularmente neste estudo, que atuam ou venham atuar junto às crianças desta faixa etária de zero a seis anos. Nesta perspectiva de trabalho, uma vez que desde 1999 exerço a função de coordenadora e formadora de grupos de estudos compostos por Formadores do Segmento Infantil dos Municípios que compõem o PÓLO do Programa PCNs em Ação – Programa de Desenvolvimento Profissional Continuado, em parceria com o MEC/SEC/Município de Campina Grande, defini um objeto de estudo : a Formação Continuada dos Professores. Neste âmbito de formação e na sua dimensão pedagógica, os “Parâmetros em Ação” favorecem aos profissionais/professores de Educação Infantil, espaços de reflexão e aprendizagem coletiva, para uma prática de transformação pedagógica. Considerando um perfil de Educador pautado numa formação que contemple a ação e reflexão, numa construção de competência profissional, esta pesquisa busca investigar a concepção de infância dos professores, bem como, a prática pedagógica por eles realizada. Para aprofundamento destes estudos teremos como contribuição teórica, estudiosos como: Bakhtin, Vygotsky, Vasquez, Wallon, Freire e outros, através dos quais procuraremos incorporar elementos de crítica à prática educativa. Utilizaremos uma metodologia voltada para uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, a partir de observação participativa,subsidiada por instrumentos como Entrevistas, Ficha de Observação e Diário de Campo. * Mestranda em Educação do PPGE/UFPB - E-mail: [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 6 Ao pretendermos ressaltar um novo olhar sobre Formação Continuada na Educação Infantil, através do Programa Parâmetros em Ação – a reflexão de uma práxis pedagógica – este projeto pretende contribuir junto aos educadores para uma visão mais construtiva e contínua de formação reflexiva e compartilhada nos espaços infantis. II - OBJETO DE ESTUDO: A Formação Continuada dos Professores. III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Constantemente estamos a indagar junto aos professores: qual a teoria que direciona a sua prática pedagógica? Como vêm articulando esse estudo com o seu fazer pedagógico em sala de aula, mediatizando os conhecimentos no cotidiano da criança? Diante destes questionamentos, temos como “pano de fundo”, a Capacitação em Serviço, oferecida pelos órgãos MEC/SEC, que perpassa todo o cenário educacional, como uma das principais transformações que se apresenta hoje na constante atualização e necessidade para a formação desses profissionais/professores, que lidam direta e cotidianamente com as crianças, impondo novos desafios à educação desta faixa etária de 0 a 6 anos, e, exigindo do professor uma prática reflexiva e transformadora A prática pedagógica do professor não é neutra nem deve ser burocrática. Sua ação deve ser intencionalmente definida e comprometida filosófica e socialmente. O professor não poderá realizar o seu trabalho sem que, antes, explicite as suas concepções teóricas, nas quais esteja presente uma teoria de conhecimentos que oriente sua uma prática. Mas, para avançarmos nesse quadro “o Educador e sua prática reflexiva”, recorreremos a vários estudos e pesquisas que proporcionarão a análise da especificidade desses profissionais, revendo seu papel no cotidiano das instituições com seus conteúdos curriculares, sua formação, ou seja, suas a experiência de escolarização na construção de sua identidade, bem como, compreender as relações entre a trajetória de cada um deles, a atividade/trabalho e o discurso no espaço escolar, e suas interações com as crianças. Dessa forma, para compreender como os “PCNs em Ação na Educação Infantil vem proporcionando um novo olhar sobre a Formação Continuada”, procuraremos abordar neste estudo as idéias nucleares do RCNEI (Referencial Curricular para a Educação Infantil) que são instrumentos de reflexão para o desenvolvimento profissional desses educadores. A concepção que o professor tem da Educação Infantil e a prática pedagógica, que ele realiza no cotidiano da sala de aula, são duas dimensões fundamentais para efetivação de processos educativos que contribuam para o desenvolvimento da criança nos seus diversos aspectos. Partindo desta premissa, o presente trabalho tem como foco principal investigar as concepções de infância dos professores, bem como, a prática pedagógica por eles realizada, refletir sobre a estrutura dos PCNs Infantil a as ações deste segmento no que concerne a teoria e a prática para a Formação Continuada. A pesquisa tem como marco teórico as contribuições de Bakhtin (1988), Vygotsky (1989), Wallon (2000), Freire (1999), Veiga (1989), Vasquez (1977), buscando através desse diálogo compreender a relação de unidade entre teoria/prática. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 7 Para melhor compreender essa relação na prática pedagógica vivenciada no cotidiano escolar, é necessário elucidar o sentido dos termos “prática” e “práxis”. Na filosofia marxista, a palavra grega práxis é usada “[...] para designar uma relação dialética entre o homem e a natureza, na qual o homem, ao transformar a natureza com seu trabalho, transforma a si mesmo”. (Japiassu & Marcondes, 1993, p. 199). A palavra prática deriva do grego praktikós, de prattein, e tem sentido de agir, realizar, fazer. Diz respeito a ação que o homem exerce sobre as coisas, aplicação de um conhecimento em uma ação concreta efetiva (Japiassu & Marcondes, 1993, p. 199). Práxis, segundo Vasquez (1997, p. 32), é “a atividade humana transformadora da realidade natural e humana”. Ela tem um caráter consciente e intencional. Nela, o homem compreende a racionalidade da prática. No dizer de Marx, o homem tem olhos para ela, isto é, tem a consciência da realidade. A práxis pedagógica, isto é, a prática pedagógica reflexiva, pressupõe uma relação teórico-prática, pois a teoria e a prática encontram-se em indissolúvel unidade e só por um processo de abstração podemos separá-los, Veiga (1989). Para Freire (1975, p. 9), “a prática pedagógica reflexiva é aquela por meio da qual”. Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.Isso significa que o processo de conscientização se desenvolve na medida em que as pessoas, em grupo, discutem e enfrentam problemas comuns. A prática pedagógica reflexiva tem como pontos de partida e de chegada a prática social, de um lado, os fazeres/saberes dos participantes dessa sociedade, o seu cotidiano que é resultado de todo um processo sócio-histórico da humanidade, e de outro lado, o acervo cultural, o chamado conhecimento científico, que foi transmitido pela humanidade. É para a sala de aula que devem convergir esses “saberes”, a fim de que alunos e professores, sujeitos, atores e autores do processo pedagógico, dessa práxis, possam chegar a uma prática marcada pelo desejo de renovação, transformação e mudança da realidade, na busca de novos valores que venham a dar uma nova direção à prática social. Assim, segundo Vigotsky (1995) “para que o professor possa desempenhar com competência sua prática, é preciso que tenha idéias, hipóteses, princípios reflexivos e conhecimentos baseados na sua experiência de vida e na sua trajetória como aluno e profissional. Em seus estudos Wallon (1995) destaca a “reflexão sobre a prática pedagógica, enfocando situações de conflito, mostrando as relações de contradição existente entre emoção e atividade intelectual que fecunda a ação pedagógica”. No cotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professor e alunos. Com o apoio de informações teóricas sobre as características do comportamento emocional, afetivo, social, e usando sua capacidade de análise reflexiva, o professor deve buscar identificar, nos fatores dessas situações em sala de aula um novo olhar para a criança como ser concreto e corpóreo, uma pessoa completa. A reflexão sobre a prática possibilita melhorar o diálogo teoria/prática no enfrentamento das questões cotidianas dos espaços educativos, da observação à intervenção que leva a construção de um conhecimento significativo do saber – do saber fazer e do fazer. Essa reflexão é necessária para que o professor compreenda sua prática, extraindo dela um saber, um conhecimento em diferentes âmbitos, ampliando seus horizontes pedagógicos, buscando novas formas de trabalhar “esse conjunto de esquemas que permite engendrar uma infinidade de práticas adaptadas a situações UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 8 sempre renovadas sem nunca se constituir em princípios explícitos”. (Bocadien apud Perrenoud, 1993, p. 39). Nesse contexto de reflexão entre “teoria e prática”, os Parâmetros em Ação, no seu âmbito de formação de grupos de estudos e na sua dimensão pedagógica favorece ao profissional/professores de educação infantil, espaços de aprendizagem coletiva, tendo como instrumento para aprofundamento desses conhecimentos no trabalho cotidiano “Módulos” que estão voltados para as áreas de conhecimento do desenvolvimento da Criança de 0 a 6 anos, propiciando, portanto, a reflexão coletiva, a leitura compartilhada, o trabalho conjunto e a aprendizagem em parceria, contribuindo assim, para uma prática transformadora. Ao procurar compreender como os professores vêm mediando em sala de aula uma prática contextualizada numa dimensão histórica da concepção de infância: como sujeito de direito e como categoria social, queremos, nesta pesquisa, investigar também a questão da formação do educador em educação infantil no que diz respeito à “atores reflexivos”, situando sua prática cotidiana como objeto de investigação, reflexão e criação do novo conhecimento. IV - OBJETIVOS Objetivo Geral Analisar como a Formação Continuada vem sendo viabilizada pelas das Políticas Públicas de Formação da Educação Infantil através dos PCNs em Ação para Educação Infantil. Objetivos Específicos: Refletir sobre a estrutura dos PCNs/Infantil e as ações deste segmento no que concerne a teoria e a prática para a Formação Continuada. Investigar as concepções de infância dos professores, bem como a prática pedagógica por eles realizada. V - QUESTÕES: Quais as contribuições dos PCNs em Ação para a Formação Continuada do Educador Infantil? Quais as concepções de infância que norteiam o Programa Parâmetros em Ação? Como são implementados os pressupostos teóricos e metodológicos que permeiam a proposta dos PCNs em Ação no segmento Infantil? VI – METODOLOGIA O estudo caracteriza uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, em que o universo atingido é a clientela escolar composta por professores e alunos de Educação Infantil da Rede Municipal de Campina Grande/PB. Tendo como sujeitos de pesquisa os professores de Educação Infantil de duas turmas: Maternal II e Pré-Escola, nos turnos Manhã e Tarde. Para realização desse trabalho, serão utilizados os seguintes instrumentos: Entrevistas, Ficha de Observação e Diário de Campo. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 9 Objetivando coletar dados para nossa pesquisa, estabeleceremos algumas etapas, enfocando as seguintes fases: Apresentação e adaptação das pessoas envolvidas à cerca do trabalho; Observação e Investigação, em que teremos o perfil da turma e a prática pedagógica; Entrevistas, com perguntas abertas e fechadas de forma individual com os professores envolvidos no Programa de Formação Continuada; e Análise dos Diários de Campo, para acompanhamento do percurso do trabalho dos professores vinculados às concepções temáticas no processo formativo,. Finalizando, com análise dos dados através do método de categorização das respostas com análise qualitativa, a fim de ampliar o conhecimento sobre o assunto estudado, articulando ao perfil de atuação dos professores de Educação Infantil com o objeto de reflexão e desenvolvimento profissional. VII – REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Maxismo e Filosofia da Linguagem – Problemas Fundamentais do Método Sociológico da Ciências da Linguagem. 9ª Edição – S.P. Ed. HUCITEC – 1999. FREIRE, Paulo. Professor Sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar. Olho d’água – São Paulo – 1993. _______, Paulo – Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996. _______, Paulo – Educação como prática de liberdade – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. GALVÃO, Izabel, Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil – Petrópolis, R.J, Vozes, 2002 – (Educação e Conhecimento), 11ª edição, REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação – Petrópolis, R.J: Vozes, 2002 – (Educação e Conhecimento), 14ª edição. RODRIGUES, Janine Marta Coelho – Construindo a profissionalização docente. João Pessoa: Editora Universitária , 2003. VASQUEZ, Adolfo S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. VEIGA, Ilma P. A. A prática pedagógica do professor de didática. Campina, Papirus. 1989. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 10 [email protected] A METODOLOGIA DIALÓGICA NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL Maria Carmem Freire Diógenes Rego – NEI-PPGEd-UFRN Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco – DEPED-PPGEd-UFRN O grande desafio que temos enfrentado, na formação dos professores de educação infantil tem sido trabalhar a apropriação dos sujeitos – professores e professoras - acerca do processo de construção de uma proposta coletiva de trabalho que articule as vivências, experiências, realidade dos alunos com os conhecimentos culturalmente construídos, uma vez que, quando retornam à prática cotidiana não conseguem romper com concepções já estabelecidas tradicionalmente. O contexto atual, exigindo mudanças prementes de todos os segmentos da sociedade e mais especificamente da educação infantil, que não tem correspondido às expectativas de transformações propostas, tanto pelos movimentos sócias organizados, quanto pelas políticas públicas defendidas para este nível de ensino, repercutem diretamente nos cursos de formação de professores, cujos saberes e práticas perpetuam velhos equívocos e criam novos. Destacaremos neste texto, os desafios mais prementes a serem superados nos cursos de formação para professores da escola infantil. Superação do Senso Comum Pedagógico - a definição da educação infantil em creche e pré-escola suscita e perpetua controvérsias, que são históricas, ou seja, creches UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 11 para refúgio assistencial das crianças “pobres”, desprovidas de assistência familiar, apresentando-se apenas como substituta da família e a pré-escola para as demais crianças. Hoje, as escolas infantis são vistas como uma complementação da ação da família. Elas são consideradas como realizadoras dos direitos das famílias, das mulheres e das próprias crianças e como uma exigência da vida social. Cuidar e Educar - tornou-se recorrente atribuir à educação infantil a eminência de atingir a condição de educativa. No entanto, a explicitação e consenso do que é ser educativo ainda é objeto de muita polêmica. O educar precisa garantir uma ação educativa consistente e o cuidar não pode ser reduzido ao atendimento das necessidades básicas das crianças como: sono, fome, sede e higiene. Mas precisa garantir um ambiente que permita a construção progressiva da autonomia e auto-estima das crianças. Hábitos e Valores - a não superação das concepções - higienicistas e assistencialistas - tem perpetuado práticas cotidianas pautadas na formação de hábitos, principalmente de higiene pessoal e na “suposta” formação de valores morais. Essas práticas reforçam estereótipos há muito superados na literatura da área: de que pais – pobres – não sabem cuidar de seus filhos e mais que as famílias – pobres – não “ensinam” valores morais adequados às crianças. Nesse sentido, os hábitos e valores devem ser tratados no conjunto de conhecimentos que as crianças têm acesso na escola. Conhecimento, Cultura e Contemporaneidade - juntamente com a meta de proporcionar o acesso ao conhecimento sistematizado às crianças é necessário que o professor compreenda esse conhecimento enquanto cultura, posto que é uma atividade humana, construída sócio-historicamente. Apesar das muitas pesquisas já realizadas sobre a infância, superando o conceito de “in-fans” no sentido de “não-fala” é preciso superar o desafio do conceito de infância que os professores culturalmente se apropriaram. É necessário construir um entendimento de que o processo de produção/construção do conhecimento constitui uma atividade humana, histórica e socialmente determinada. Pesquisas na educação infantil - O desafio tem sido levar o debate dos resultados das pesquisas ao professor, levando-os a uma apropriação e reconstrução de suas práticas cotidianas. Materiais Pedagógicos: insuficiência - Os materiais didáticos voltados para a educação infantil têm-se mostrado insuficientes e inadequados para atenderem as novas demandas educativas desse nível de ensino. Na discussão atual sobre formação de professores verificamos uma defesa predominante em formar docentes práticos-reflexivos. Inúmeros trabalhos têm sido publicados enfatizando a ação-reflexão-ação na formação de professores, como os de: NÓVOA (1995), SCHON (1995), PERRENOUD (1997), CANDAU (1997) e PIMENTA (1997). SCHON distingue três conceitos que integram o pensamento prático: conhecimento na ação, sabendo fazer e explicar o que faz; reflexão-na-ação, pensando o que faz e reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação, analisa a ação (In NÓVOA, 1995). As contribuições de NÓVOA destacam-se dentre as discussões sobre a formação de professores, assumindo a valorização da prática docente e sua historicidade, ou seja, UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 12 do professor crítico-reflexivo. NÓVOA (1995), na defesa de um professor reflexivo amplia e atualiza as referências de Paulo Freire, trabalhando com três dimensões: desenvolvimento pessoal – produzir a vida do professor, desenvolvimento profissional – produzir a profissão do professor e desenvolvimento organizacional – produzir a escola. O Relatório da Unesco, “Educação: um tesouro a descobrir”, elaborado pela Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, traz uma discussão ampla sobre as perspectivas da educação e a formação do educador que abrangem a complexidade da vida contemporânea. Aponta quatro pilares da educação que possibilitam, cada vez mais, a transmissão de saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, constituindo-se nas bases das competências do futuro. “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele.” (2000, p.89). Assim, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, constituindo-se nos pilares do conhecimento para cada sujeito, em algum momento de sua vida: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, apontando “A importância do papel do professor enquanto agente de mudança, favorecendo a compreensão mútua e a tolerância, nunca foi tão patente como hoje em dia. Este papel será ainda mais decisivo no século XXI.”. Nesse sentido, a formação de professores deve possibilitar uma visão de pedagogia que transcenda o utilitário e estimule a capacidade de questionar a interação, a análise de diferentes hipóteses (UNESCO, 2000). GATTI (1992), analisando a situação da formação – pré-serviço e continuada – de docentes no Brasil, apresentou alguns problemas básicos: cursos de licenciatura oferecidos em precárias condições por instituições privadas são predominantes; a experiência prática e o conhecimento dos professores não são levados em consideração e os currículos dos cursos são enciclopédicos, elitistas e idealistas. Um redimensionamento da formação inicial tem sido considerado em reformas implantadas em diversas partes do mundo. No Brasil, com a publicação e distribuição em larga escala dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio – assim como, o resultado das pesquisas de Gatti, Ludke e Silva, sobre quais as políticas nacionais que embasam a formação de professores, apontaram para uma demanda de reestruturação do 3º grau, pois os resultados dessas pesquisas, apesar de enfocarem diferentes aspectos da formação de professores, identificaram a dicotomia teoria-prática presente nessa formação. Em síntese, pode-se considerar que, atualmente, todos os especialistas defendem uma formação norteada na ação-reflexãoação. Outra questão considerada na literatura de educação inicial é a necessidade de desenvolver, nos futuros professores, uma consciência de que sua formação não se esgota na graduação, mas é um processo permanente, permitindo, dessa forma, a sintonia com as exigências advindas do progresso científico e tecnológico das transformações e da vida cultural (ALVES, 1991). Segundo ALVES (1991) a formação permanente dos professores tem como objetivos: possibilitar a participação do professor na organização dos processos de formação, satisfazer as necessidades do professor enquanto indivíduo, ampliar o campo das experiências profissionais do professor e prepara-lo para a mudança e eficácia. No contexto brasileiro, observa-se uma tendência de valorização da formação permanente dos professores e algumas propostas têm surgido nos últimos anos. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 13 MENEZES (1997) argumenta que “a formação dos professores das várias Ciências deve constituir um processo permanente, no qual cada professor seja um partícipe ativo e reflexivo, dispondo de tempo e condições adequadas para isso” (p.03). Nessa perspectiva, Menezes (1996) advoga sobre a necessidade de se criar um clima de formação permanente, propiciando aos professores “o tratamento dos problemas colocados pelo processo do ensino das Ciências e a possibilidade da apropriação do corpo de conhecimentos que a comunidade científica está elaborando em torno dos mesmos” (p.157). Considerando essas discussões, acredita-se que é possível desenvolver uma metodologia dialógica na perspectiva de Paulo Freire, diálogo que é estabelecido entre os homens para compreender e transformar o mundo, identificando organizadores, parâmetros e critérios que possam estar contribuindo para a construção de alternativas para a formação de professores na escola infantil, com o objetivo de trabalhar com os professores, competências que permitam a eles capacidades básicas, para estarem respondendo às novas demandas exigidas pela sociedade contemporânea. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Nilda. O conteúdo e o método nos livros didáticos de 1ª a 4ª série do 1º Grau. Educação e Sociedade. São Paulo, nº 27, p. 13-31, 1987. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. SEF 8211 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. FARIA, Ana Lúcia Goulart e PALHARES, Marina Silveira. Educação Infantil PósLDB: rumos e desafios. (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo; 62). Florianópolis, SC: Autores Associados, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. GATTI, Bernardete A. A formação dos docentes: o confronto necessário professor x academia. Cadernos de Pesquisa, nº 81, pp.70-74, maio de 1992. MENEZES, Luís Carlos (org.).Formação continuada de professores de ciências no contexto ibero-americano. Campinas/SP: Autores Associados; São Paulo: NUPES, 1996. Coleção Formação de Professores. NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. PERNAMBUCO, Marta M. C. A. Educação e Escola com Movimento: do ensino de ciências á transformação da escola pública. Tese de Doutorado em Ensino de Ciências. São Paulo: FEUSP, 1994. PERRENOUD, Phippe. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectiva sociológicas. Tradução de Helena Faria, Helena Tapada, Maria João Carvalho e Maria Nóvoa. Lisboa: Dom Quixote, 2ª Edição, 1997. PIMENTA, Selma Garrido & GONÇALVES, Carlos Luiz. Revendo o ensino de 2º grau: propondo a formação de professores. São Paulo: Cortez, 1992. Coleção Magistério de 2º Grau. RELATÓRIO PARA A UNESCO DA COMISSÃO INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2000. RÊGO, Maria Carmem F. D. Recortes e Relatos: a criança de 2 e 3 anos no espaço escolar. Dissertação de Mestrado. UFRN. Natal, 1995. RÊGO, Mª Carmem F. D. e PERNAMBUCO, Marta Mª C. A. O Ensino de UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 14 SCHON, Donald A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. SILVA, Rose Neubauer. ESPOSITO, Yara Lúcia; SAMPAIO, Maria das Mercês & quinteiro, Jucirema. Formação de professores no Brasil: um estudo analítico. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; REDUC, 1991. SILVA, J. M. (org.). Os educadores e o cotidiano escolar. Campinas: Papirus, 2000. A DIMENSÃO AFETIVA NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL >>>>>>>> Lenilda Cordeiro de Macêdo† Objeto de estudo: A prática das educadoras infantis frente às manifestações emocionais das crianças do maternal. † Lenilda Cordeiro de Macêdo – Pedagoga, com habilitação em Orientação Educacional e Educação Infantil, Especialista em Educação Infantil e mestranda no curso de Pós-graduação em Educação Popular da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 15 Introdução: Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento infantil. A família e a escola são instituições sociais que têm grandes influencias na vida afetiva e intelectual das crianças, nas creches e pré-escolas, que se deparam com problemas de ordem intelectual e emocional que têm grandes impactos na construção de sua identidade e na conquista de sua autonomia. Sendo assim, necessitam encontrar um ambiente aconchegante permeado por cuidado e afeto. Tais pressupostos indicam que os professores que lidam com estas crianças precisam ser competentes tanto do ponto de vista intelectual quanto emocional para que possam gerir suas emoções e as das crianças em prol do desenvolvimento global destas últimas. A teoria da emoção de Henri Wallon responde a uma necessidade pedagógica, instrumentalizando o professor para a observação a partir da plasticidade da emoção, que tem uma forte tendência comunicativa e abre espaço para a sua intervenção. Nesta perspectiva, o estudo tem grandes possibilidades de contribuir no sentido de permitir as educadoras diretrizes preciosas para o seu agir pedagógico. Perceber a presença das emoções e saber como lidar com elas, para destravar a inteligência, é uma questão emergente no cotidiano das instituições de educação infantil. Referencial Teórico: Na educação infantil o estudo da dimensão afetiva em sua relação com o desenvolvimento cognitivo é indispensável a todas as educadoras. Em pleno século XXI as pesquisas realizadas nessa área são bastante limitadas. A literatura científica ocidental deu destaque especial ao aspecto cognitivo como fator decisivo para a conquista do saber humano. As instituições que cuidam da educação da criança continuam à margem dos estudos sobre o desenvolvimento infantil focando sua ação pedagógica mais no aspecto cognitivo, relegando o afetivo, sendo este essencial para a compreensão do comportamento humano em interação com o meio social. Porém, os estudos relativos à afetividade não são recentes nem tão pouco inéditos, uma vez que, um conjunto de autores, dentre os quais Henri Wallon, médico e psicólogo francês, no início do século XX, já se dedicava ao seu estudo. Henri Wallon estudou a psicologia da infância criando um modelo de desenvolvimento o qual coloca no mesmo plano de importância os aspectos afetivos e cognitivos. O ser humano é completo, e por conseguinte, onde quer que esteja presente está presente em toda sua dimensão afetiva e cognitiva e a escola não deve privilegiar uma em detrimento da outra, pelo contrário, precisa colocar a inteligência a serviço da afetividade e vice e versa. A teoria das emoções é de grande importância em sua obra, para ele, a emoção é a exteriorização da afetividade, sendo portanto, orgânica e ao mesmo tempo um comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao meio. As emoções são manifestações organizadas cuja base encontra-se no sistema nervoso central. Porém, o órgão que as comanda está situado na região subcortical, o que significa que elas têm uma função específica, principalmente no primeiro ano de vida quando o bebê age sobre o meio humano por meio de suas manifestações, sobretudo o riso e o choro, uma vez que as funções superiores do córtex ainda não estão amadurecidas, impossibilitando portanto, o desenvolvimento da linguagem oral. Ao referir-se sobre a emoção, Galvão, (1995, p.64) sugere que “devido ao seu poder de contágio, as emoções propiciam relações interindividuais nas quais diluem-se os UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 16 contornos da personalidade de cada um.” A compreensão da reciprocidade entre afetividade e inteligência é fundamental para uma discussão proveitosa acerca das relações afetivas na sala de aula. “Não é suficiente colocar a emoção como uma estratégia metodológica para fazer fluir uma atmosfera agradável e motivadora do conhecimento, é necessário entende-la como parceira da inteligência no processo de desenvolvimento da criança.” (Macêdo,2002) Nessa perspectiva, deve-se pensar a afetividade que é um campo abrangente constituído pelas emoções, sentimentos e paixões, como um aspecto tão importante quanto a própria inteligência, o que nos permite concordar com Almeida, (1999) “é necessário encarar o afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são inseparáveis”. Wallon destaca o caráter visível das emoções o que as tornam essencialmente contagiosas, abrindo-se para o exterior através de modificações na mímica e na expressão facial. Como também, enfatiza a necessidade de o educador passar por um processo de alfabetização emocional, tendo em vista a interpretação das expressões das crianças, como a respiração, postura, olhar, mímica, entre outros, favorecendo o bom funcionamento dos estados cognitivos. Portanto, é fundamental a reflexão por parte das educadoras perante as expressões emocionais das crianças, pois embora elas disponham da linguagem verbal, nesta fase, se comunicam fortemente pelas emoções como choro, alegria, raiva, entre outras que tomam o corpo inteiro. Ao longo do desenvolvimento, o ser humano aprende a controlar as emoções, daí a importância das educadoras conhecerem a natureza das mesmas para que possam ajudar as crianças neste processo, pois de acordo com Wallon, (1995) “a emoção se transforma com a reflexão”. Sendo assim, se faz necessário evitar manifestações emocionais, principalmente as de medo, cólera e raiva que são emoções desgastantes, para que possa ocorrer conforme Dantas, (1991) “o livre fluir da inteligência.” Além da emoção, Wallon busca em toda sua trajetória enfatizar a construção da pessoa. A construção do eu é condição para a construção da realidade. “sem eu forte e diferenciado, enfraquece-se o instrumento de conhecimento”, (Dantas, 1994). É possível e necessário agir diretamente sobre a inteligência atuando sobre o sujeito no plano afetivo. No primeiro ano de vida, o ato de estimular a inteligência está intrinsecamente ligado a construção de laços afetivos. Isto continuará a ser necessário ao longo de toda infância embora insuficiente. A infância é a fase emocional por excelência, ao longo de todo período, a temperatura afetiva desempenhará um importante papel na atividade cognitiva. Sem afetividade não há aprendizagem. A idéia de alternância entre subjetividade e objetividade, ao longo do desenvolvimento, lança as bases para as propostas curriculares e metodológicas, se as próprias atividades escolares forem pensadas como comportando, também elas, uma ação subjetivadora e uma ação objetivadora. O desenho pode ser a busca de reprodução fiel de um elemento da natureza (folha, pássaro, etc.), mas pode ser também a representação de seus estados íntimos. De acordo com as etapas delimitadas em sua teoria, que começa e termina com a construção da pessoa, a fase personalista (três anos em média) é uma etapa intensamente subjetiva, onde as atividades expressivas, sempre necessárias, são essenciais. Um currículo escolar precisaria, portanto, estar essencialmente voltado para estas peculiaridades e entender a sua função na construção das individualidades. Quanto à etapa escolar (categorial, na terminologia Walloniana), estaria marcada pela prevalência da objetividade, onde a curiosidade é um elemento presente na busca de apreender a realidade.Aos seis anos, o desejo de aprender é natural tanto quanto o UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 17 desejo de manipular o ambiente, na criança de um ano. Ambos são expressão da mesma necessidade de relação com o objeto. Caso isto não aconteça, pode significar a inadequação dos recursos oferecidos pelo adulto ou então alguma vicissitude psicológica ou fisiológica. Neste caso, a criança precisaria ter a oportunidade de se expressar mediante múltiplas linguagens como o desenho, pintura, leitura de histórias sobre personagens que tenham vivências próximas das suas, enfim precisa exteriorizar suas emoções para com tais atividades poder recuperar sua objetividade partindo da sua subjetividade. A contribuição do estudo de Wallon para a educação da criança é bastante fértil, sendo as emoções, as formas privilegiadas de comunicação das crianças pequenas, é importante que se tenha conhecimento da função biológica e social destas, para aprender a lidar competentemente com suas expressões, e também, potencializar a construção do sujeito por meio da alternância entre objetividade e subjetividade. pois conforme Dantas, (1992) “A educação da emoção deve ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo do seu modo de funcionamento”. Questões de pesquisa: Considerar a criança como um ser em permanente evolução, integrado em todos os seus aspectos, afetivo, cognitivo e motor, deve ser a grande preocupação da educação infantil. A afetividade é uma dimensão humana tão importante quanto a cognitiva e as emoções são parte integrante da mesma, constituindo-se em formas privilegiadas de comunicação das crianças. Neste sentido, as questões de pesquisa são: quais as percepções das educadoras frente às manifestações de riso e choro das crianças? como estas expressões têm perpassado as ações destas educadoras? Como as educadoras lidam com o riso e o choro das crianças? Objetivos: Investigar a prática das educadoras infantis no tocante às manifestações emocionais das crianças a luz da teoria de Henri Wallon. Analisar situações que contemplem manifestações de riso e choro no cotidiano da sala de atividades. Analisar as implicações das manifestações emocionais das crianças sobre as ações das educadoras. Metodologia: A abordagem científica que se presta ao estudo empírico a ser realizado é a etnográfica, com enfoque qualitativo, por se tratar de uma realidade rica e dinâmica, a prática pedagógica das educadoras frente às manifestações de riso e choro das crianças. As técnicas de estudo constarão de observações participantes, uma vez que permitem o contato direto do pesquisador com o fenômeno pesquisado. Quanto aos recursos utilizados nas observações, serão videogravações, pois permitem captar a dinâmica do contexto em estudo. Além das observações serão realizadas entrevistas não-diretivas gravadas, com as educadoras, tendo em vista captar os discursos a partir de um roteiro previamente elaborado. O tratamento dos dados coletados será feito por meio de análise microgenética. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 18 Referências: ALMEIDA, Ana Rita S. A emoção na sala de aula. Campinas:Papirus, 1999. DANTAS, Heloysa. Algumas contribuições da psicogenética de Henri Wallon para a atividade educativa.Revista de educação. AEC, Brasília, ano 23 – p. 4551;abr/jun.1991 _______ A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Henri Wallon. in LA TAILLE, Ives. OLIVEIRA, Marta Kohl, DANTAS, Heloysa. Teorias psicogenéticas em discussão. 13ª ed. São Paulo: Summus, 1992. GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1995. MACÊDO, Lenilda Cordeiro. O lugar das emoções na educação infantil: o que pensam os educadores? João Pessoa, monografia (centro de educação) – UFPB, 2002 WALLON, Henri. As origens do caráter da criança. trad. Heloysa Dantas de Souza Pinto. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. Palavras Chaves: Afetividade, Emoção, Pedagógica Educação infantil, Criança, Prática Autor Principal: Lenilda Cordeiro de Macêdo E-mail: [email protected] FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES: UMA QUESTÃO A SER REFLETIDA AUTORAS: Helen Halinne Rodrigues de Lucena - Maria da Conceição Gomes de Miranda – CE/UFPB ORIENTADOR: Prof. Dr. Wilson Honorato Aragão – DHP/CE/UFPB A educação no contexto atual vem sofrendo várias modificações. Nessa perspectiva a identidade profissional do professor tende a se distanciar de sua identidade UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 19 pessoal, pois é exigido dele uma postura dinâmica, centrada na flexibilidade e criatividade para o bom desempenho do seu trabalho. A pesquisa realizada surgiu da necessidade de investigar a formação continuada das professoras das séries iniciais de uma Escola Estadual, em João Pessoa/Pb. Teve como objetivo conhecer de que forma o currículo viabiliza o desempenho do docente a partir da formação adquirida nos cursos de capacitação. A referida escola se localiza nas proximidades da favela Paulo Afonso no bairro de Jaguaribe, tendo como clientela crianças oriundas de famílias de baixa renda, residentes em sua maioria na localidade acima referida. A população da pesquisa foi composta de seis docentes que se encontravam às vésperas de suas aposentadorias. Para subsidiar a pesquisa se fez necessário refletir a priori sobre a realidade profissional das docentes, tomando por base as reflexões de autores que desenvolveram suas pesquisas na linha de formação de professores. I - Discutindo a formação contínua a partir dos cursos de capacitação A crise vivenciada na Educação aponta para vários fatores, entre estes se destaca a precária estrutura das escolas públicas e seu sistema de ensino defasado, que através dos conteúdos programados não consegue atingir a realidade dos alunos que em sua maioria são de condição sócio-econômica baixa. Diante deste quadro de insatisfação tanto por parte da docência quanto da discência, se verifica a necessidade da formação contínua do professor no intuito de transformar esta realidade. Na verdade se faz necessário uma reflexão aprofundada sobre a atual situação do docente que recebe baixa remuneração, que não é qualificado para o trabalho e que não tem oportunidade de estar sempre se aperfeiçoando, uma vez que precisa trabalhar até três turnos para garantir a sua sobrevivência. Nessa perspectiva, verifica-se que o conceito de formação profissional do docente vem sofrendo mudanças quanto à formação pessoal, pois várias discussões mostram que o professor enquanto profissional se distancia de sua identidade pessoal sendo esta, essencial para o compromisso e desenvolvimento do seu papel na educação. De acordo com Moita (1995, p.114) “(...), O conceito de formação é tomado não só como uma atividade de aprendizagem situada em tempos e espaços limitados e precisos, mas também como a ação vital de construção de si próprio”. No intuito de atingir os objetivos da pesquisa realizamos atividades como: pesquisa bibliográfica, estudos, discussões e leitura das primeiras referências teóricas sobre a temática em foco. Por fim, efetivamos a pesquisa de campo. Como instrumento de coleta de dados, utilizamos observação que nos permitiu conhecer melhor a realidade na qual a escola se encontra inserida, e ainda aplicamos um questionário com dez questões, sendo quatro destinadas ao tratamento da formação contínua através dos cursos de capacitação. Iniciaremos, portanto, as discussões das questões que versaram sobre a referida temática. Para tanto sentimos a necessidade de verificar o nível de formação das professoras no que se refere ao grau de escolaridade. Constatamos então que a maioria tinha cursado o ensino superior e duas tinham concluído apenas o magistério. Diante desta realidade identificamos que essa maioria se encontrava às vésperas da aposentadoria. Este fenômeno nos levou a refletir que a formação das professoras UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 20 encontrava-se estruturada num currículo ultrapassado de forma a não satisfazer as necessidades atuais do processo de ensino-aprendizagem. Debruçando-nos ainda sobre a questão da aposentadoria que acaba por ocasionar, na maioria das vezes, desestímulo para a atuação profissional, Huberman (1995, p.46) comenta: “em fim de carreira profissional ocorre um desinvestimento na profissão já que desiludidos com os resultados do seu trabalho, ou das reformas empreendidas, canalizam para outros lados as suas energias”. Nesse sentido, acreditamos que o desinvestimento profissional decorre das experiências negativas que o profissional obtêm ao longo do exercício de seu trabalho. Entendemos que por existir algo chamado prazo para cumprir, material, prova, um despejar de conteúdo programático, o professor muitas vezes não tem nem tempo, nem vontade, nem estímulo para dar continuidade à sua formação o que seria fundamental para o aperfeiçoamento de sua prática pedagógica. Nessa perspectiva se faz necessário “um investimento na pessoa do professor e na sua profissão. Essa formação constitui-se numa política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores” (Nóvoa, 1995, p.23). Pensando no sentido subjetivo do trabalho docente, é preciso estar atento ao que motiva, ao que incita o trabalho do professor, ou seja, qual é o sentido pessoal de sua atividade, uma vez que “o professor tem direito à educação continuada sustentada pela agência contratante, não só porque ele deve aperfeiçoar-se e se manter atualizado, mas, sobretudo, porque o processo contínuo de aperfeiçoamento estimula a atitude investigadora inerente à natureza do trabalho pedagógico (Brzezinski, 2000, p. 201). Um ponto relevante na pesquisa foi verificar a importância que as docentes atribuíam ou não aos cursos de capacitação como forma de aprimorar a sua profissão. Verificamos acerca desta questão que todas as docentes da Escola, campo da pesquisa, afirmaram que os cursos de capacitação são importantes, como no caso da professora do Pré-escolar II que afirmou: “O professor tem que se manter atualizado para acompanhar o avanço da era da tecnologia e compreender o que acontece com seus alunos”. Esta afirmativa complementa o que Brzezinski fala da formação contínua, como fonte que estimula a atitude investigadora visto que para compreender o que acontece com os alunos, o educador deve está imbuído deste espírito investigativo. Pensando na questão que envolve a atuação das professoras em cursos de capacitação foi interessante verificar sua participação. Constatamos então que metade das professoras atribuiu importância, porém nunca participaram destes cursos. Refletindo essa questão Nóvoa (1992, p.38) contrapõe-se às docentes no que se refere à relação importância/participação nos cursos, quando afirma que: “A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência”. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 21 Os cursos de capacitação como elemento de motivação (ou não) para o trabalho em sala de aula tornou-se relevante em nossa pesquisa, pois desejávamos descobrir de que forma esse elemento se manifestava na prática docente. Nesta perspectiva, duas professoras afirmaram que os cursos só teriam eficácia se antes o salário do professor fosse reavaliado. De acordo com os seus depoimentos: “Não é somente melhorando a formação profissional que o professor se sente motivado, em primeiro lugar é a remuneração que faz o professor adquirir motivação, em segundo lugar é a compreensão e colaboração dos pais quantos aos filhos, que nas escolas públicas não se vê. Também o pouco caso dos governantes com a categoria, isto faz com que o profissional perca o estímulo”. (professora da terceira série). “Em primeiro lugar, melhorar o salário. Com a capacitação a motivação será nota dez”. (professora da primeira série). Segundo os depoimentos acima, a formação oferecida através dos cursos de capacitação e a melhoria salarial se tornam necessárias à motivação, sendo que a ênfase se dá primordialmente à melhoria salarial da profissão professor. Abordando ainda a questão salarial (Pinto,1998, p.54) afirma que: “Os baixos salários vem causando a desprofissionalização dos docentes descaracterizando a carreira; (...). Atuam no sentido de distorcer o comportamento docente, tornando-o incompatível com a tarefa educacional, ao introduzir, na consciência de grande parte dos membros do magistério, a desmotivação, o negativismo e a descrença nos valores da educação”. Através das reflexões realizadas no decorrer do texto podemos perceber que o contexto atual de desvalorização profissional contribui para a desmotivação pessoal e, muitas vezes leva ao abandono da profissão, insatisfação profissional, percebida através de pouco investimento e indisposição na busca de aperfeiçoamento. Desta forma, a remuneração do professor tem se constituído um ponto de debate, realizado numa perspectiva secundária, quando na concepção das professoras deveria ser ponto prioritário, já que se objetiva o aperfeiçoamento e a qualificação desta profissão. II – Considerações Finais A formação docente é um processo gradual de (re) construção de valores pessoal e profissional, envolvendo profundas mudanças. Neste sentido, as questões que abrangeram a formação contínua foram relevantes, por possibilitar tanto a nós, enquanto pesquisadoras, quanto as docentes da escola, campo da pesquisa, maior reflexão e avaliação do processo de formação através dos cursos de capacitação como um dos elementos necessários à motivação para o exercício da prática docente. A análise dos dados coletados no campo e as discussões à luz de alguns estudiosos da referida temática mostraram que teoria e prática na medida em que se aliam podem também divergir. Esta divergência se caracterizou quando confrontamos a realidade da formação das docentes da Escola Estadual com o pensamento de autores UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 22 que defendem que a formação profissional não depende diretamente dos cursos de capacitação, mas, sobretudo, da reflexividade crítica da identidade pessoal e das práticas pedagógicas. Vale registrar que este estudo é de grande relevância para a nossa vida acadêmica e profissional e por sua vez renderia mais abordagens por ser uma temática que oferece vários focos de pesquisa. III – REFERÊNCIAS BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, Pedagogos e Formação de Professores. Papirus Editora. 2ª edição, 2000. HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Porto Editora, 1995. p.31-59. MOITA, Maria da Conceição. Percursos de formação e de trans-formação. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Porto Editora, 1995. p.111-118. NÓVOA, Antônio (org.). Os Professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote,1992. NÓVOA, Antônio (org.). Os professores e as histórias de suas vidas. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Porto Editora, 1995. p.11-25. PINTO, Luiz Gonzaga de Oliveira. Política Educacional e o salário do magistério público estadual. In: SERBINO, Raquel Volpato... [et al.]. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. – (Seminários e Debates). UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 23 COMO TRABALHAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA A FORMAÇÃO DO CARÁTER E HUMANIZAÇÃO DO INDIVÍDUO A PARTIR DA ÉTICA. Greyce Valerye Monteiro Oliveira (ENS/UEA) Mara Rúbia Pereira de Paiva (ENS/UEA) Cândida Antônia Piedade (ENS/UEA) Silvana Moraes Reis (ENS/UEA) A ética é uma postura de vida, que está ligada à sensibilidade e a capacidade de ouvir a própria consciência, que por sua vez, é uma expressão da consciência universal. No entanto, o ser humano é naturalmente egocêntrico, e se não trabalhado equivocadamente se põe como centro do mundo e até mesmo do universo, rejeitando os direitos do restante da humanidade, e os outros por sua vez opõem-se a vontade de outros indivíduos e se consideram como centro do universo, tornando-se assim, um ciclo vicioso. Lamentavelmente, esse egocentrismo reflete na sociedade e traz tanto conseqüências para o indivíduo quanto para a sociedade onde está inserido. O resultado disso é o sofrimento humano, que se retrata na miséria produzida pelo homem. Para Schopenhauer (apud GHEDIN , 2003) o ser humano precisa reencontrar-se consigo mesmo e com os indivíduos que compõe a sociedade, buscando a ética do compromisso e compaixão. Nesse sentido a ética revela-se como a libertação de pensar suas responsabilidades consigo e com o indivíduo descriminado pelo sistema político que acredita não tem dignidade, cidadania, autonomia, tornando-se um ser diminuído na sua condição humana. A ética, assim entendida como práxis existencial, constrói no anterior uma sociedade corrompida e corrupta, uma outra visão de si, do mundo e da humanidade, visão que se torna ação libertadora de todas as formas e meios que impedem a existência da verdade e autêntica humanidade (GHEDIN, 2003). Com está finalidade é que o trabalho desenvolvido verificou de que forma a escola de educação infantil trabalha a questão ética em seu currículo, tomando como parâmetros verificáveis o respeito mútuo, a justiça, o diálogo e a solidariedade. A importância da ética torna-se clara quando se leva em conta a diversidade sócio-cultural de uma sociedade que manifesta intolerância e desrespeito pela diferença do próximo. A questão ética deve ser trabalhada com as crianças, a fim de aprender a respeitar as diferenças, sempre as direcionando para que sejam dignas de respeito, seja em relação ao sexo, idade, cultura, raça, religião, classe social ou grau de instrução, conscientizando o educando ao respeito à natureza e ao meio ambiente. Tal atitude deve ser tomada para que se evite a violência, desrespeito ao ser humano e a falta de diálogo que continuam a provocar o aumento desse profundo colapso moral pelo qual passamos (KIDDER, 2000). Com esse propósito uma das funções específicas da pré-escola, é a de atender a criança em toda a sua potencialidade cognitiva, afetiva, psicomotora e social e cabe a escola estimular a criança para que através de sua atividade espontânea, faça suas próprias descobertas. A pré-escola, mais do que preparar para o 1º grau prepara para o UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 24 resto da vida, pois, é no período entre zero a seis anos, que são lançadas as bases para toda a aprendizagem futura e consolidação de sua identidade. Por isso, o desenvolvimento da criança deve ser completo: físico, emocional, intelectual e social. (RIBEIRO, 2000). Como parte do processo educativo tem inicio na pré-escola caberá a ela estimular a criança para que, através de sua atividade espontânea, faça suas próprias descobertas. A responsabilidade do educador é muito grande, portanto, ele deve usar todos os recursos didáticos disponíveis para repassar aos educandos, além da aquisição da leitura e da escrita, valores universais como amor, respeito, equidade, honestidade e responsabilidade, pois sendo ele um formador de opinião, deve conviver harmoniosamente com os alunos e corpo técnico-administrativo da instituição escolar dando exemplo e ensinando-os a respeitar as diferenças entre as pessoas e a serem solidários contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa e honrada (MIGLINORE, 1998). Não basta ao educador apenas dialogar com as crianças, mas favorecer por meios metodológicos, experiências diárias que estimulem a assimilação e acomodação destes conceitos, de forma agradável e atrativa e que enriquecendo o universo sóciocultural das crianças (PCN, 2000). O objetivo geral do trabalho foi de aplicar os princípios éticos no sentido de desenvolver a aprendizagem infantil na questão da responsabilidade, liberdade, formação de valores, habilidades e respeito à relação homem/natureza, homem/homem e homem/si mesmo, buscando no currículo da escola atividades que estimulem a criatividade da criança e a cooperação através da arte, o trabalho da interdiciplinaridade e o preparo para o desenvolvimento de suas habilidades e destrezas. Direcionou-se o trabalhar também na busca dos meios utilizados pela escola para o desenvolvimento da percepção da criança, a fim de que ela possa adquirir a maior quantidade possível de experiências, construindo seu conhecimento coletivamente a fim de garantir-lhes as possibilidades de um completo desenvolvimento intelectual e sócio-emocional, além propor a escola envolvida, atividades que possibilitem a melhoria do trabalho ético na educação infantil. Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico sobre os conceitos éticos e como os mesmo devem ser desenvolvidos nas escolas. Em seguida, foram feitas visitas à Escola Cantinho Infantil, licenciada pelo conselho Municipal de Educação Infantil-AM, a fim de comparar as metodologias aplicadas dentro e fora da sala de aula com as propostas curriculares e pedagógicas do projeto político-pedagógico da instituição. Depois de realizado o trabalho de campo, foi feito o confronto do embasamento teórico com os dados obtidos a fim de observar os pontos inerentes ao desenvolvimento de atividades que envolvessem a ética e posteriormente propor vários tipos de procedimentos éticos que visassem auxiliar na melhoria da prática educativa. Existem diversas formas e métodos para desenvolver na criança o respeito mútuo, porém este trabalho pretendeu aplicar um método didático e interativo, de forma que desde o maternal até a alfabetização as crianças pudessem ter acesso a ele. Portanto foram pesquisados vários tipos de procedimentos éticos que visassem auxiliar na melhoria da prática educativa, tornando o processo ensino-aprendizagem natural e espontâneo, sem desprezar o preparo e o planejamento do professor. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 25 Assim para desenvolver na criança o respeito mútuo foi aplicado um método que consistiu em trabalhar uma dramatização, “O coelhinho infeliz”, que teve a participação dos alunos e professores. A participação de discentes e docentes não se restringiu apenas a dramatização, mas na confecção dos figurinos e cenário, como figuras de animais, roupas e acessórios aproveitando para isso material de sucata. Nesta, atividade, a criança aprende a cooperar, respeitar a natureza, estimular sua imaginação, sua criatividade e trabalhar os valores éticos e morais. Nesta atividade, além da criança aprender a cooperar trabalhando em grupo, reaproveita o lixo, desenvolvendo habilidade e o respeito ao meio ambiente. Como resultado obtivemos que a linha de trabalho da instituição é a construtivista, não sendo, porém esta a linha pedagógica exclusivamente utilizada, mas também visando como objetivo desenvolver habilidades e competências de seus alunos. Os professores em conjunto com as crianças trabalharam eticamente direcionando para a cooperação e respeito ao próximo. No trabalho das salas observou-se que todos os alunos são iguais em direitos e deveres e que nenhum indivíduo é superior ao outro. Os professores buscaram a partir do trabalho em grupo realizado diariamente integrar as crianças como partícipes de uma sociedade cooperativa que interagem para o bom funcionamento da comunidade escolar. Tal fato pode ser observado quando no período de confecção das fantasias e máscaras para a realização da peça “O coelhinho infeliz”. Esta dramatização teve tem por filosofia mostrar que a criança tem que se aceitar e ter alta estima, não menosprezando-se por ser diferente de outros coleguinhas mas, que ela possui diferenças físicas e habilidades, que podem ser contrabalanceadas por outras habilidade particularidades que cada indivíduo tem. A busca pelo respeito ao próximo foi observado pela cooperação entre os próprios alunos no auxílio às dificuldades de seus coleguinhas. Concomitante a confecção foram realizadas conversas paralelas que iniciaram uma discussão a respeito da problemática do lixo e das conseqüências que ele traz. Essa incitação provocou nas crianças uma consciência crítica e resultou em possíveis soluções para os problemas. O trabalho pedagógico da escola confirma os dados contidos no projeto político pedagógico voltando o processo educacional para a prática democrática do conhecimento, formando uma criança crítica, cidadã e autônoma. Essa instituição também se propõe a cultivar no seu convívio social, os princípios da responsabilidade, honestidade, cooperação, participação e respeito, tendo como base o resgate aos valores éticos e religiosos. A proposta curricular foi elaborada e vêm sendo realizada de maneira reflexiva e crítica, integrando a teoria e a prática, o fazer e o pensar. Esta metodologia envolve a ação-reflexão-ação e está baseada no movimento da curiosidade-busca-descoberta, sendo o educador um mediador entre a criança e o objeto de conhecimento. REFERÊNCIAS: GHEDIN, Evandro. A Filosofia e o Filosofar. São Paulo: Uniletras, 2003, 408 p. KIDDER, Rushwork. Ética: a linguagem do século 21. Folha do Meio Ambiente. Brasília, maio 2000, p. 07. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 26 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros Curriculares Nacionais Fáceis de entender. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2000, p.67. MIGLINORE, Regina de Fátima. Ética, valores humanos e transformação. Série: Temas Transversais. São Paulo, 1998, p. 111. RIBEIRO, Lourdes ; PINTO, Gerusa R. O real do Construtivismo. Belo Horizonte: Fapi . V. 1., 2000. PARÂMETROS EM AÇÃO: UM NOVO OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO CONTINUADA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria de Lourdes Cirne Diniz‡ I - INTRODUÇÃO Sempre ligada à Educação Infantil, acredito que o educador desta área, deve ter um perfil de um profissional reflexivo em constante formação pessoal e acadêmica. Deve estar aberto às mudanças e atento à diversidade e à pluralidade das crianças com as quais trabalha, de maneira a oferecer-lhes um atendimento de qualidade. Assim, torna-se imprescindível estabelecer princípios norteadores, critérios, objetivos, orientações precisas que viabilizem a adequada formação dos profissionais/professores, particularmente neste estudo, que atuam ou venham atuar junto às crianças desta faixa etária de zero a seis anos. Nesta perspectiva de trabalho, uma vez que desde 1999 exerço a função de coordenadora e formadora de grupos de estudos compostos por Formadores do Segmento Infantil dos Municípios que compõem o PÓLO do Programa PCNs em Ação – Programa de Desenvolvimento Profissional Continuado, em parceria com o MEC/SEC/Município de Campina Grande, defini um objeto de estudo : a Formação Continuada dos Professores. Neste âmbito de formação e na sua dimensão pedagógica, os “Parâmetros em Ação” favorecem aos profissionais/professores de Educação Infantil, espaços de reflexão e aprendizagem coletiva, para uma prática de transformação pedagógica. Considerando um perfil de Educador pautado numa formação que contemple a ação e reflexão, numa construção de competência profissional, esta pesquisa busca investigar a concepção de infância dos professores, bem como, a prática pedagógica por eles realizada. Para aprofundamento destes estudos teremos como contribuição teórica, estudiosos como: Bakhtin, Vygotsky, Vasquez, Wallon, Freire e outros, através dos quais procuraremos incorporar elementos de crítica à prática educativa. Utilizaremos uma metodologia voltada para uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, a partir de observação participativa,subsidiada por instrumentos como Entrevistas, Ficha de Observação e Diário de Campo. ‡ Mestranda em Educação do PPGE/UFPB - E-mail: [email protected] UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 27 Ao pretendermos ressaltar um novo olhar sobre Formação Continuada na Educação Infantil, através do Programa Parâmetros em Ação – a reflexão de uma práxis pedagógica – este projeto pretende contribuir junto aos educadores para uma visão mais construtiva e contínua de formação reflexiva e compartilhada nos espaços infantis. II - OBJETO DE ESTUDO: A Formação Continuada dos Professores. III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Constantemente estamos a indagar junto aos professores: qual a teoria que direciona a sua prática pedagógica? Como vêm articulando esse estudo com o seu fazer pedagógico em sala de aula, mediatizando os conhecimentos no cotidiano da criança? Diante destes questionamentos, temos como “pano de fundo”, a Capacitação em Serviço, oferecida pelos órgãos MEC/SEC, que perpassa todo o cenário educacional, como uma das principais transformações que se apresenta hoje na constante atualização e necessidade para a formação desses profissionais/professores, que lidam direta e cotidianamente com as crianças, impondo novos desafios à educação desta faixa etária de 0 a 6 anos, e, exigindo do professor uma prática reflexiva e transformadora A prática pedagógica do professor não é neutra nem deve ser burocrática. Sua ação deve ser intencionalmente definida e comprometida filosófica e socialmente. O professor não poderá realizar o seu trabalho sem que, antes, explicite as suas concepções teóricas, nas quais esteja presente uma teoria de conhecimentos que oriente sua uma prática. Mas, para avançarmos nesse quadro “o Educador e sua prática reflexiva”, recorreremos a vários estudos e pesquisas que proporcionarão a análise da especificidade desses profissionais, revendo seu papel no cotidiano das instituições com seus conteúdos curriculares, sua formação, ou seja, suas a experiência de escolarização na construção de sua identidade, bem como, compreender as relações entre a trajetória de cada um deles, a atividade/trabalho e o discurso no espaço escolar, e suas interações com as crianças. Dessa forma, para compreender como os “PCNs em Ação na Educação Infantil vem proporcionando um novo olhar sobre a Formação Continuada”, procuraremos abordar neste estudo as idéias nucleares do RCNEI (Referencial Curricular para a Educação Infantil) que são instrumentos de reflexão para o desenvolvimento profissional desses educadores. A concepção que o professor tem da Educação Infantil e a prática pedagógica, que ele realiza no cotidiano da sala de aula, são duas dimensões fundamentais para efetivação de processos educativos que contribuam para o desenvolvimento da criança nos seus diversos aspectos. Partindo desta premissa, o presente trabalho tem como foco principal investigar as concepções de infância dos professores, bem como, a prática pedagógica por eles realizada, refletir sobre a estrutura dos PCNs Infantil a as ações deste segmento no que concerne a teoria e a prática para a Formação Continuada. A pesquisa tem como marco teórico as contribuições de Bakhtin (1988), Vygotsky (1989), Wallon (2000), Freire (1999), Veiga (1989), Vasquez (1977), buscando através desse diálogo compreender a relação de unidade entre teoria/prática. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 28 Para melhor compreender essa relação na prática pedagógica vivenciada no cotidiano escolar, é necessário elucidar o sentido dos termos “prática” e “práxis”. Na filosofia marxista, a palavra grega práxis é usada “[...] para designar uma relação dialética entre o homem e a natureza, na qual o homem, ao transformar a natureza com seu trabalho, transforma a si mesmo”. (Japiassu & Marcondes, 1993, p. 199). A palavra prática deriva do grego praktikós, de prattein, e tem sentido de agir, realizar, fazer. Diz respeito a ação que o homem exerce sobre as coisas, aplicação de um conhecimento em uma ação concreta efetiva (Japiassu & Marcondes, 1993, p. 199). Práxis, segundo Vasquez (1997, p. 32), é “a atividade humana transformadora da realidade natural e humana”. Ela tem um caráter consciente e intencional. Nela, o homem compreende a racionalidade da prática. No dizer de Marx, o homem tem olhos para ela, isto é, tem a consciência da realidade. A práxis pedagógica, isto é, a prática pedagógica reflexiva, pressupõe uma relação teórico-prática, pois a teoria e a prática encontram-se em indissolúvel unidade e só por um processo de abstração podemos separá-los, Veiga (1989). Para Freire (1975, p. 9), “a prática pedagógica reflexiva é aquela por meio da qual”. Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.Isso significa que o processo de conscientização se desenvolve na medida em que as pessoas, em grupo, discutem e enfrentam problemas comuns. A prática pedagógica reflexiva tem como pontos de partida e de chegada a prática social, de um lado, os fazeres/saberes dos participantes dessa sociedade, o seu cotidiano que é resultado de todo um processo sócio-histórico da humanidade, e de outro lado, o acervo cultural, o chamado conhecimento científico, que foi transmitido pela humanidade. É para a sala de aula que devem convergir esses “saberes”, a fim de que alunos e professores, sujeitos, atores e autores do processo pedagógico, dessa práxis, possam chegar a uma prática marcada pelo desejo de renovação, transformação e mudança da realidade, na busca de novos valores que venham a dar uma nova direção à prática social. Assim, segundo Vigotsky (1995) “para que o professor possa desempenhar com competência sua prática, é preciso que tenha idéias, hipóteses, princípios reflexivos e conhecimentos baseados na sua experiência de vida e na sua trajetória como aluno e profissional. Em seus estudos Wallon (1995) destaca a “reflexão sobre a prática pedagógica, enfocando situações de conflito, mostrando as relações de contradição existente entre emoção e atividade intelectual que fecunda a ação pedagógica”. No cotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professor e alunos. Com o apoio de informações teóricas sobre as características do comportamento emocional, afetivo, social, e usando sua capacidade de análise reflexiva, o professor deve buscar identificar, nos fatores dessas situações em sala de aula um novo olhar para a criança como ser concreto e corpóreo, uma pessoa completa. A reflexão sobre a prática possibilita melhorar o diálogo teoria/prática no enfrentamento das questões cotidianas dos espaços educativos, da observação à intervenção que leva a construção de um conhecimento significativo do saber – do saber fazer e do fazer. Essa reflexão é necessária para que o professor compreenda sua prática, extraindo dela um saber, um conhecimento em diferentes âmbitos, ampliando seus horizontes pedagógicos, buscando novas formas de trabalhar “esse conjunto de esquemas que permite engendrar uma infinidade de práticas adaptadas a situações UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 29 sempre renovadas sem nunca se constituir em princípios explícitos”. (Bocadien apud Perrenoud, 1993, p. 39). Nesse contexto de reflexão entre “teoria e prática”, os Parâmetros em Ação, no seu âmbito de formação de grupos de estudos e na sua dimensão pedagógica favorece ao profissional/professores de educação infantil, espaços de aprendizagem coletiva, tendo como instrumento para aprofundamento desses conhecimentos no trabalho cotidiano “Módulos” que estão voltados para as áreas de conhecimento do desenvolvimento da Criança de 0 a 6 anos, propiciando, portanto, a reflexão coletiva, a leitura compartilhada, o trabalho conjunto e a aprendizagem em parceria, contribuindo assim, para uma prática transformadora. Ao procurar compreender como os professores vêm mediando em sala de aula uma prática contextualizada numa dimensão histórica da concepção de infância: como sujeito de direito e como categoria social, queremos, nesta pesquisa, investigar também a questão da formação do educador em educação infantil no que diz respeito à “atores reflexivos”, situando sua prática cotidiana como objeto de investigação, reflexão e criação do novo conhecimento. IV - OBJETIVOS Objetivo Geral Analisar como a Formação Continuada vem sendo viabilizada pelas das Políticas Públicas de Formação da Educação Infantil através dos PCNs em Ação para Educação Infantil. Objetivos Específicos: Refletir sobre a estrutura dos PCNs/Infantil e as ações deste segmento no que concerne a teoria e a prática para a Formação Continuada. Investigar as concepções de infância dos professores, bem como a prática pedagógica por eles realizada. V - QUESTÕES: Quais as contribuições dos PCNs em Ação para a Formação Continuada do Educador Infantil? Quais as concepções de infância que norteiam o Programa Parâmetros em Ação? Como são implementados os pressupostos teóricos e metodológicos que permeiam a proposta dos PCNs em Ação no segmento Infantil? VI – METODOLOGIA O estudo caracteriza uma pesquisa de campo de caráter qualitativo, em que o universo atingido é a clientela escolar composta por professores e alunos de Educação Infantil da Rede Municipal de Campina Grande/PB. Tendo como sujeitos de pesquisa os professores de Educação Infantil de duas turmas: Maternal II e Pré-Escola, nos turnos Manhã e Tarde. Para realização desse trabalho, serão utilizados os seguintes instrumentos: Entrevistas, Ficha de Observação e Diário de Campo. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 30 Objetivando coletar dados para nossa pesquisa, estabeleceremos algumas etapas, enfocando as seguintes fases: Apresentação e adaptação das pessoas envolvidas à cerca do trabalho; Observação e Investigação, em que teremos o perfil da turma e a prática pedagógica; Entrevistas, com perguntas abertas e fechadas de forma individual com os professores envolvidos no Programa de Formação Continuada; e Análise dos Diários de Campo, para acompanhamento do percurso do trabalho dos professores vinculados às concepções temáticas no processo formativo,. Finalizando, com análise dos dados através do método de categorização das respostas com análise qualitativa, a fim de ampliar o conhecimento sobre o assunto estudado, articulando ao perfil de atuação dos professores de Educação Infantil com o objeto de reflexão e desenvolvimento profissional. VII – REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Maxismo e Filosofia da Linguagem – Problemas Fundamentais do Método Sociológico da Ciências da Linguagem. 9ª Edição – S.P. Ed. HUCITEC – 1999. FREIRE, Paulo. Professor Sim, tia não – cartas a quem ousa ensinar. Olho d’água – São Paulo – 1993. _______, Paulo – Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 1996. _______, Paulo – Educação como prática de liberdade – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. GALVÃO, Izabel, Henri Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil – Petrópolis, R.J, Vozes, 2002 – (Educação e Conhecimento), 11ª edição, REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação – Petrópolis, R.J: Vozes, 2002 – (Educação e Conhecimento), 14ª edição. RODRIGUES, Janine Marta Coelho – Construindo a profissionalização docente. João Pessoa: Editora Universitária , 2003. VASQUEZ, Adolfo S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. VEIGA, Ilma P. A. A prática pedagógica do professor de didática. Campina, Papirus. 1989. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 31 [email protected] A METODOLOGIA DIALÓGICA NA FORMAÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL Maria Carmem Freire Diógenes Rego – NEI-PPGEd-UFRN Marta Maria Castanho Almeida Pernambuco – DEPED-PPGEd-UFRN O grande desafio que temos enfrentado, na formação dos professores de educação infantil tem sido trabalhar a apropriação dos sujeitos – professores e professoras - acerca do processo de construção de uma proposta coletiva de trabalho que articule as vivências, experiências, realidade dos alunos com os conhecimentos culturalmente construídos, uma vez que, quando retornam à prática cotidiana não conseguem romper com concepções já estabelecidas tradicionalmente. O contexto atual, exigindo mudanças prementes de todos os segmentos da sociedade e mais especificamente da educação infantil, que não tem correspondido às expectativas de transformações propostas, tanto pelos movimentos sócias organizados, quanto pelas políticas públicas defendidas para este nível de ensino, repercutem diretamente nos cursos de formação de professores, cujos saberes e práticas perpetuam velhos equívocos e criam novos. Destacaremos neste texto, os desafios mais prementes a serem superados nos cursos de formação para professores da escola infantil. Superação do Senso Comum Pedagógico - a definição da educação infantil em creche e pré-escola suscita e perpetua controvérsias, que são históricas, ou seja, creches UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 32 para refúgio assistencial das crianças “pobres”, desprovidas de assistência familiar, apresentando-se apenas como substituta da família e a pré-escola para as demais crianças. Hoje, as escolas infantis são vistas como uma complementação da ação da família. Elas são consideradas como realizadoras dos direitos das famílias, das mulheres e das próprias crianças e como uma exigência da vida social. Cuidar e Educar - tornou-se recorrente atribuir à educação infantil a eminência de atingir a condição de educativa. No entanto, a explicitação e consenso do que é ser educativo ainda é objeto de muita polêmica. O educar precisa garantir uma ação educativa consistente e o cuidar não pode ser reduzido ao atendimento das necessidades básicas das crianças como: sono, fome, sede e higiene. Mas precisa garantir um ambiente que permita a construção progressiva da autonomia e auto-estima das crianças. Hábitos e Valores - a não superação das concepções - higienicistas e assistencialistas - tem perpetuado práticas cotidianas pautadas na formação de hábitos, principalmente de higiene pessoal e na “suposta” formação de valores morais. Essas práticas reforçam estereótipos há muito superados na literatura da área: de que pais – pobres – não sabem cuidar de seus filhos e mais que as famílias – pobres – não “ensinam” valores morais adequados às crianças. Nesse sentido, os hábitos e valores devem ser tratados no conjunto de conhecimentos que as crianças têm acesso na escola. Conhecimento, Cultura e Contemporaneidade - juntamente com a meta de proporcionar o acesso ao conhecimento sistematizado às crianças é necessário que o professor compreenda esse conhecimento enquanto cultura, posto que é uma atividade humana, construída sócio-historicamente. Apesar das muitas pesquisas já realizadas sobre a infância, superando o conceito de “in-fans” no sentido de “não-fala” é preciso superar o desafio do conceito de infância que os professores culturalmente se apropriaram. É necessário construir um entendimento de que o processo de produção/construção do conhecimento constitui uma atividade humana, histórica e socialmente determinada. Pesquisas na educação infantil - O desafio tem sido levar o debate dos resultados das pesquisas ao professor, levando-os a uma apropriação e reconstrução de suas práticas cotidianas. Materiais Pedagógicos: insuficiência - Os materiais didáticos voltados para a educação infantil têm-se mostrado insuficientes e inadequados para atenderem as novas demandas educativas desse nível de ensino. Na discussão atual sobre formação de professores verificamos uma defesa predominante em formar docentes práticos-reflexivos. Inúmeros trabalhos têm sido publicados enfatizando a ação-reflexão-ação na formação de professores, como os de: NÓVOA (1995), SCHON (1995), PERRENOUD (1997), CANDAU (1997) e PIMENTA (1997). SCHON distingue três conceitos que integram o pensamento prático: conhecimento na ação, sabendo fazer e explicar o que faz; reflexão-na-ação, pensando o que faz e reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação, analisa a ação (In NÓVOA, 1995). As contribuições de NÓVOA destacam-se dentre as discussões sobre a formação de professores, assumindo a valorização da prática docente e sua historicidade, ou seja, UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 33 do professor crítico-reflexivo. NÓVOA (1995), na defesa de um professor reflexivo amplia e atualiza as referências de Paulo Freire, trabalhando com três dimensões: desenvolvimento pessoal – produzir a vida do professor, desenvolvimento profissional – produzir a profissão do professor e desenvolvimento organizacional – produzir a escola. O Relatório da Unesco, “Educação: um tesouro a descobrir”, elaborado pela Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, traz uma discussão ampla sobre as perspectivas da educação e a formação do educador que abrangem a complexidade da vida contemporânea. Aponta quatro pilares da educação que possibilitam, cada vez mais, a transmissão de saberes e saber-fazer evolutivos, adaptados à civilização cognitiva, constituindo-se nas bases das competências do futuro. “À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele.” (2000, p.89). Assim, a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais, constituindo-se nos pilares do conhecimento para cada sujeito, em algum momento de sua vida: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, apontando “A importância do papel do professor enquanto agente de mudança, favorecendo a compreensão mútua e a tolerância, nunca foi tão patente como hoje em dia. Este papel será ainda mais decisivo no século XXI.”. Nesse sentido, a formação de professores deve possibilitar uma visão de pedagogia que transcenda o utilitário e estimule a capacidade de questionar a interação, a análise de diferentes hipóteses (UNESCO, 2000). GATTI (1992), analisando a situação da formação – pré-serviço e continuada – de docentes no Brasil, apresentou alguns problemas básicos: cursos de licenciatura oferecidos em precárias condições por instituições privadas são predominantes; a experiência prática e o conhecimento dos professores não são levados em consideração e os currículos dos cursos são enciclopédicos, elitistas e idealistas. Um redimensionamento da formação inicial tem sido considerado em reformas implantadas em diversas partes do mundo. No Brasil, com a publicação e distribuição em larga escala dos Parâmetros Curriculares Nacionais – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio – assim como, o resultado das pesquisas de Gatti, Ludke e Silva, sobre quais as políticas nacionais que embasam a formação de professores, apontaram para uma demanda de reestruturação do 3º grau, pois os resultados dessas pesquisas, apesar de enfocarem diferentes aspectos da formação de professores, identificaram a dicotomia teoria-prática presente nessa formação. Em síntese, pode-se considerar que, atualmente, todos os especialistas defendem uma formação norteada na ação-reflexãoação. Outra questão considerada na literatura de educação inicial é a necessidade de desenvolver, nos futuros professores, uma consciência de que sua formação não se esgota na graduação, mas é um processo permanente, permitindo, dessa forma, a sintonia com as exigências advindas do progresso científico e tecnológico das transformações e da vida cultural (ALVES, 1991). Segundo ALVES (1991) a formação permanente dos professores tem como objetivos: possibilitar a participação do professor na organização dos processos de formação, satisfazer as necessidades do professor enquanto indivíduo, ampliar o campo das experiências profissionais do professor e prepara-lo para a mudança e eficácia. No contexto brasileiro, observa-se uma tendência de valorização da formação permanente dos professores e algumas propostas têm surgido nos últimos anos. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 34 MENEZES (1997) argumenta que “a formação dos professores das várias Ciências deve constituir um processo permanente, no qual cada professor seja um partícipe ativo e reflexivo, dispondo de tempo e condições adequadas para isso” (p.03). Nessa perspectiva, Menezes (1996) advoga sobre a necessidade de se criar um clima de formação permanente, propiciando aos professores “o tratamento dos problemas colocados pelo processo do ensino das Ciências e a possibilidade da apropriação do corpo de conhecimentos que a comunidade científica está elaborando em torno dos mesmos” (p.157). Considerando essas discussões, acredita-se que é possível desenvolver uma metodologia dialógica na perspectiva de Paulo Freire, diálogo que é estabelecido entre os homens para compreender e transformar o mundo, identificando organizadores, parâmetros e critérios que possam estar contribuindo para a construção de alternativas para a formação de professores na escola infantil, com o objetivo de trabalhar com os professores, competências que permitam a eles capacidades básicas, para estarem respondendo às novas demandas exigidas pela sociedade contemporânea. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Nilda. O conteúdo e o método nos livros didáticos de 1ª a 4ª série do 1º Grau. Educação e Sociedade. São Paulo, nº 27, p. 13-31, 1987. BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. SEF 8211 Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. FARIA, Ana Lúcia Goulart e PALHARES, Marina Silveira. Educação Infantil PósLDB: rumos e desafios. 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PIMENTA, Selma Garrido & GONÇALVES, Carlos Luiz. Revendo o ensino de 2º grau: propondo a formação de professores. São Paulo: Cortez, 1992. Coleção Magistério de 2º Grau. RELATÓRIO PARA A UNESCO DA COMISSÃO INTERNACIONAL SOBRE EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2000. RÊGO, Maria Carmem F. D. Recortes e Relatos: a criança de 2 e 3 anos no espaço escolar. Dissertação de Mestrado. UFRN. Natal, 1995. RÊGO, Mª Carmem F. D. e PERNAMBUCO, Marta Mª C. A. O Ensino de UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 35 SCHON, Donald A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, Antônio (Coord.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1995. SILVA, Rose Neubauer. ESPOSITO, Yara Lúcia; SAMPAIO, Maria das Mercês & quinteiro, Jucirema. Formação de professores no Brasil: um estudo analítico. São Paulo: Fundação Carlos Chagas; REDUC, 1991. SILVA, J. M. (org.). Os educadores e o cotidiano escolar. Campinas: Papirus, 2000. A DIMENSÃO AFETIVA NAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL >>>>>>>> Lenilda Cordeiro de Macêdo§ Objeto de estudo: A prática das educadoras infantis frente às manifestações emocionais das crianças do maternal. § Lenilda Cordeiro de Macêdo – Pedagoga, com habilitação em Orientação Educacional e Educação Infantil, Especialista em Educação Infantil e mestranda no curso de Pós-graduação em Educação Popular da Universidade Federal da Paraíba – UFPB. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 36 Introdução: Os primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento infantil. A família e a escola são instituições sociais que têm grandes influencias na vida afetiva e intelectual das crianças, nas creches e pré-escolas, que se deparam com problemas de ordem intelectual e emocional que têm grandes impactos na construção de sua identidade e na conquista de sua autonomia. Sendo assim, necessitam encontrar um ambiente aconchegante permeado por cuidado e afeto. Tais pressupostos indicam que os professores que lidam com estas crianças precisam ser competentes tanto do ponto de vista intelectual quanto emocional para que possam gerir suas emoções e as das crianças em prol do desenvolvimento global destas últimas. A teoria da emoção de Henri Wallon responde a uma necessidade pedagógica, instrumentalizando o professor para a observação a partir da plasticidade da emoção, que tem uma forte tendência comunicativa e abre espaço para a sua intervenção. Nesta perspectiva, o estudo tem grandes possibilidades de contribuir no sentido de permitir as educadoras diretrizes preciosas para o seu agir pedagógico. Perceber a presença das emoções e saber como lidar com elas, para destravar a inteligência, é uma questão emergente no cotidiano das instituições de educação infantil. Referencial Teórico: Na educação infantil o estudo da dimensão afetiva em sua relação com o desenvolvimento cognitivo é indispensável a todas as educadoras. Em pleno século XXI as pesquisas realizadas nessa área são bastante limitadas. A literatura científica ocidental deu destaque especial ao aspecto cognitivo como fator decisivo para a conquista do saber humano. As instituições que cuidam da educação da criança continuam à margem dos estudos sobre o desenvolvimento infantil focando sua ação pedagógica mais no aspecto cognitivo, relegando o afetivo, sendo este essencial para a compreensão do comportamento humano em interação com o meio social. Porém, os estudos relativos à afetividade não são recentes nem tão pouco inéditos, uma vez que, um conjunto de autores, dentre os quais Henri Wallon, médico e psicólogo francês, no início do século XX, já se dedicava ao seu estudo. Henri Wallon estudou a psicologia da infância criando um modelo de desenvolvimento o qual coloca no mesmo plano de importância os aspectos afetivos e cognitivos. O ser humano é completo, e por conseguinte, onde quer que esteja presente está presente em toda sua dimensão afetiva e cognitiva e a escola não deve privilegiar uma em detrimento da outra, pelo contrário, precisa colocar a inteligência a serviço da afetividade e vice e versa. A teoria das emoções é de grande importância em sua obra, para ele, a emoção é a exteriorização da afetividade, sendo portanto, orgânica e ao mesmo tempo um comportamento social na sua função de adaptação do ser humano ao meio. As emoções são manifestações organizadas cuja base encontra-se no sistema nervoso central. Porém, o órgão que as comanda está situado na região subcortical, o que significa que elas têm uma função específica, principalmente no primeiro ano de vida quando o bebê age sobre o meio humano por meio de suas manifestações, sobretudo o riso e o choro, uma vez que as funções superiores do córtex ainda não estão amadurecidas, impossibilitando portanto, o desenvolvimento da linguagem oral. Ao referir-se sobre a emoção, Galvão, (1995, p.64) sugere que “devido ao seu poder de contágio, as emoções propiciam relações interindividuais nas quais diluem-se os UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 37 contornos da personalidade de cada um.” A compreensão da reciprocidade entre afetividade e inteligência é fundamental para uma discussão proveitosa acerca das relações afetivas na sala de aula. “Não é suficiente colocar a emoção como uma estratégia metodológica para fazer fluir uma atmosfera agradável e motivadora do conhecimento, é necessário entende-la como parceira da inteligência no processo de desenvolvimento da criança.” (Macêdo,2002) Nessa perspectiva, deve-se pensar a afetividade que é um campo abrangente constituído pelas emoções, sentimentos e paixões, como um aspecto tão importante quanto a própria inteligência, o que nos permite concordar com Almeida, (1999) “é necessário encarar o afetivo como parte do processo de conhecimento, já que ambos são inseparáveis”. Wallon destaca o caráter visível das emoções o que as tornam essencialmente contagiosas, abrindo-se para o exterior através de modificações na mímica e na expressão facial. Como também, enfatiza a necessidade de o educador passar por um processo de alfabetização emocional, tendo em vista a interpretação das expressões das crianças, como a respiração, postura, olhar, mímica, entre outros, favorecendo o bom funcionamento dos estados cognitivos. Portanto, é fundamental a reflexão por parte das educadoras perante as expressões emocionais das crianças, pois embora elas disponham da linguagem verbal, nesta fase, se comunicam fortemente pelas emoções como choro, alegria, raiva, entre outras que tomam o corpo inteiro. Ao longo do desenvolvimento, o ser humano aprende a controlar as emoções, daí a importância das educadoras conhecerem a natureza das mesmas para que possam ajudar as crianças neste processo, pois de acordo com Wallon, (1995) “a emoção se transforma com a reflexão”. Sendo assim, se faz necessário evitar manifestações emocionais, principalmente as de medo, cólera e raiva que são emoções desgastantes, para que possa ocorrer conforme Dantas, (1991) “o livre fluir da inteligência.” Além da emoção, Wallon busca em toda sua trajetória enfatizar a construção da pessoa. A construção do eu é condição para a construção da realidade. “sem eu forte e diferenciado, enfraquece-se o instrumento de conhecimento”, (Dantas, 1994). É possível e necessário agir diretamente sobre a inteligência atuando sobre o sujeito no plano afetivo. No primeiro ano de vida, o ato de estimular a inteligência está intrinsecamente ligado a construção de laços afetivos. Isto continuará a ser necessário ao longo de toda infância embora insuficiente. A infância é a fase emocional por excelência, ao longo de todo período, a temperatura afetiva desempenhará um importante papel na atividade cognitiva. Sem afetividade não há aprendizagem. A idéia de alternância entre subjetividade e objetividade, ao longo do desenvolvimento, lança as bases para as propostas curriculares e metodológicas, se as próprias atividades escolares forem pensadas como comportando, também elas, uma ação subjetivadora e uma ação objetivadora. O desenho pode ser a busca de reprodução fiel de um elemento da natureza (folha, pássaro, etc.), mas pode ser também a representação de seus estados íntimos. De acordo com as etapas delimitadas em sua teoria, que começa e termina com a construção da pessoa, a fase personalista (três anos em média) é uma etapa intensamente subjetiva, onde as atividades expressivas, sempre necessárias, são essenciais. Um currículo escolar precisaria, portanto, estar essencialmente voltado para estas peculiaridades e entender a sua função na construção das individualidades. Quanto à etapa escolar (categorial, na terminologia Walloniana), estaria marcada pela prevalência da objetividade, onde a curiosidade é um elemento presente na busca de apreender a realidade.Aos seis anos, o desejo de aprender é natural tanto quanto o UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 38 desejo de manipular o ambiente, na criança de um ano. Ambos são expressão da mesma necessidade de relação com o objeto. Caso isto não aconteça, pode significar a inadequação dos recursos oferecidos pelo adulto ou então alguma vicissitude psicológica ou fisiológica. Neste caso, a criança precisaria ter a oportunidade de se expressar mediante múltiplas linguagens como o desenho, pintura, leitura de histórias sobre personagens que tenham vivências próximas das suas, enfim precisa exteriorizar suas emoções para com tais atividades poder recuperar sua objetividade partindo da sua subjetividade. A contribuição do estudo de Wallon para a educação da criança é bastante fértil, sendo as emoções, as formas privilegiadas de comunicação das crianças pequenas, é importante que se tenha conhecimento da função biológica e social destas, para aprender a lidar competentemente com suas expressões, e também, potencializar a construção do sujeito por meio da alternância entre objetividade e subjetividade. pois conforme Dantas, (1992) “A educação da emoção deve ser incluída entre os propósitos da ação pedagógica, o que supõe o conhecimento íntimo do seu modo de funcionamento”. Questões de pesquisa: Considerar a criança como um ser em permanente evolução, integrado em todos os seus aspectos, afetivo, cognitivo e motor, deve ser a grande preocupação da educação infantil. A afetividade é uma dimensão humana tão importante quanto a cognitiva e as emoções são parte integrante da mesma, constituindo-se em formas privilegiadas de comunicação das crianças. Neste sentido, as questões de pesquisa são: quais as percepções das educadoras frente às manifestações de riso e choro das crianças? como estas expressões têm perpassado as ações destas educadoras? Como as educadoras lidam com o riso e o choro das crianças? Objetivos: Investigar a prática das educadoras infantis no tocante às manifestações emocionais das crianças a luz da teoria de Henri Wallon. Analisar situações que contemplem manifestações de riso e choro no cotidiano da sala de atividades. Analisar as implicações das manifestações emocionais das crianças sobre as ações das educadoras. Metodologia: A abordagem científica que se presta ao estudo empírico a ser realizado é a etnográfica, com enfoque qualitativo, por se tratar de uma realidade rica e dinâmica, a prática pedagógica das educadoras frente às manifestações de riso e choro das crianças. As técnicas de estudo constarão de observações participantes, uma vez que permitem o contato direto do pesquisador com o fenômeno pesquisado. Quanto aos recursos utilizados nas observações, serão videogravações, pois permitem captar a dinâmica do contexto em estudo. Além das observações serão realizadas entrevistas não-diretivas gravadas, com as educadoras, tendo em vista captar os discursos a partir de um roteiro previamente elaborado. O tratamento dos dados coletados será feito por meio de análise microgenética. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 39 Referências: ALMEIDA, Ana Rita S. A emoção na sala de aula. Campinas:Papirus, 1999. DANTAS, Heloysa. Algumas contribuições da psicogenética de Henri Wallon para a atividade educativa.Revista de educação. AEC, Brasília, ano 23 – p. 4551;abr/jun.1991 _______ A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Henri Wallon. in LA TAILLE, Ives. OLIVEIRA, Marta Kohl, DANTAS, Heloysa. Teorias psicogenéticas em discussão. 13ª ed. São Paulo: Summus, 1992. GALVÃO, Isabel. Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes, 1995. MACÊDO, Lenilda Cordeiro. O lugar das emoções na educação infantil: o que pensam os educadores? João Pessoa, monografia (centro de educação) – UFPB, 2002 WALLON, Henri. As origens do caráter da criança. trad. Heloysa Dantas de Souza Pinto. São Paulo: Nova Alexandria, 1995. Palavras Chaves: Afetividade, Emoção, Pedagógica Educação infantil, Criança, Prática Autor Principal: Lenilda Cordeiro de Macêdo E-mail: [email protected] FORMAÇÃO CONTÍNUA DE PROFESSORES: UMA QUESTÃO A SER REFLETIDA AUTORAS: Helen Halinne Rodrigues de Lucena - Maria da Conceição Gomes de Miranda – CE/UFPB ORIENTADOR: Prof. Dr. Wilson Honorato Aragão – DHP/CE/UFPB A educação no contexto atual vem sofrendo várias modificações. Nessa perspectiva a identidade profissional do professor tende a se distanciar de sua identidade UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 40 pessoal, pois é exigido dele uma postura dinâmica, centrada na flexibilidade e criatividade para o bom desempenho do seu trabalho. A pesquisa realizada surgiu da necessidade de investigar a formação continuada das professoras das séries iniciais de uma Escola Estadual, em João Pessoa/Pb. Teve como objetivo conhecer de que forma o currículo viabiliza o desempenho do docente a partir da formação adquirida nos cursos de capacitação. A referida escola se localiza nas proximidades da favela Paulo Afonso no bairro de Jaguaribe, tendo como clientela crianças oriundas de famílias de baixa renda, residentes em sua maioria na localidade acima referida. A população da pesquisa foi composta de seis docentes que se encontravam às vésperas de suas aposentadorias. Para subsidiar a pesquisa se fez necessário refletir a priori sobre a realidade profissional das docentes, tomando por base as reflexões de autores que desenvolveram suas pesquisas na linha de formação de professores. I - Discutindo a formação contínua a partir dos cursos de capacitação A crise vivenciada na Educação aponta para vários fatores, entre estes se destaca a precária estrutura das escolas públicas e seu sistema de ensino defasado, que através dos conteúdos programados não consegue atingir a realidade dos alunos que em sua maioria são de condição sócio-econômica baixa. Diante deste quadro de insatisfação tanto por parte da docência quanto da discência, se verifica a necessidade da formação contínua do professor no intuito de transformar esta realidade. Na verdade se faz necessário uma reflexão aprofundada sobre a atual situação do docente que recebe baixa remuneração, que não é qualificado para o trabalho e que não tem oportunidade de estar sempre se aperfeiçoando, uma vez que precisa trabalhar até três turnos para garantir a sua sobrevivência. Nessa perspectiva, verifica-se que o conceito de formação profissional do docente vem sofrendo mudanças quanto à formação pessoal, pois várias discussões mostram que o professor enquanto profissional se distancia de sua identidade pessoal sendo esta, essencial para o compromisso e desenvolvimento do seu papel na educação. De acordo com Moita (1995, p.114) “(...), O conceito de formação é tomado não só como uma atividade de aprendizagem situada em tempos e espaços limitados e precisos, mas também como a ação vital de construção de si próprio”. No intuito de atingir os objetivos da pesquisa realizamos atividades como: pesquisa bibliográfica, estudos, discussões e leitura das primeiras referências teóricas sobre a temática em foco. Por fim, efetivamos a pesquisa de campo. Como instrumento de coleta de dados, utilizamos observação que nos permitiu conhecer melhor a realidade na qual a escola se encontra inserida, e ainda aplicamos um questionário com dez questões, sendo quatro destinadas ao tratamento da formação contínua através dos cursos de capacitação. Iniciaremos, portanto, as discussões das questões que versaram sobre a referida temática. Para tanto sentimos a necessidade de verificar o nível de formação das professoras no que se refere ao grau de escolaridade. Constatamos então que a maioria tinha cursado o ensino superior e duas tinham concluído apenas o magistério. Diante desta realidade identificamos que essa maioria se encontrava às vésperas da aposentadoria. Este fenômeno nos levou a refletir que a formação das professoras UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 41 encontrava-se estruturada num currículo ultrapassado de forma a não satisfazer as necessidades atuais do processo de ensino-aprendizagem. Debruçando-nos ainda sobre a questão da aposentadoria que acaba por ocasionar, na maioria das vezes, desestímulo para a atuação profissional, Huberman (1995, p.46) comenta: “em fim de carreira profissional ocorre um desinvestimento na profissão já que desiludidos com os resultados do seu trabalho, ou das reformas empreendidas, canalizam para outros lados as suas energias”. Nesse sentido, acreditamos que o desinvestimento profissional decorre das experiências negativas que o profissional obtêm ao longo do exercício de seu trabalho. Entendemos que por existir algo chamado prazo para cumprir, material, prova, um despejar de conteúdo programático, o professor muitas vezes não tem nem tempo, nem vontade, nem estímulo para dar continuidade à sua formação o que seria fundamental para o aperfeiçoamento de sua prática pedagógica. Nessa perspectiva se faz necessário “um investimento na pessoa do professor e na sua profissão. Essa formação constitui-se numa política de valorização do desenvolvimento pessoal-profissional dos professores” (Nóvoa, 1995, p.23). Pensando no sentido subjetivo do trabalho docente, é preciso estar atento ao que motiva, ao que incita o trabalho do professor, ou seja, qual é o sentido pessoal de sua atividade, uma vez que “o professor tem direito à educação continuada sustentada pela agência contratante, não só porque ele deve aperfeiçoar-se e se manter atualizado, mas, sobretudo, porque o processo contínuo de aperfeiçoamento estimula a atitude investigadora inerente à natureza do trabalho pedagógico (Brzezinski, 2000, p. 201). Um ponto relevante na pesquisa foi verificar a importância que as docentes atribuíam ou não aos cursos de capacitação como forma de aprimorar a sua profissão. Verificamos acerca desta questão que todas as docentes da Escola, campo da pesquisa, afirmaram que os cursos de capacitação são importantes, como no caso da professora do Pré-escolar II que afirmou: “O professor tem que se manter atualizado para acompanhar o avanço da era da tecnologia e compreender o que acontece com seus alunos”. Esta afirmativa complementa o que Brzezinski fala da formação contínua, como fonte que estimula a atitude investigadora visto que para compreender o que acontece com os alunos, o educador deve está imbuído deste espírito investigativo. Pensando na questão que envolve a atuação das professoras em cursos de capacitação foi interessante verificar sua participação. Constatamos então que metade das professoras atribuiu importância, porém nunca participaram destes cursos. Refletindo essa questão Nóvoa (1992, p.38) contrapõe-se às docentes no que se refere à relação importância/participação nos cursos, quando afirma que: “A formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da experiência”. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 42 Os cursos de capacitação como elemento de motivação (ou não) para o trabalho em sala de aula tornou-se relevante em nossa pesquisa, pois desejávamos descobrir de que forma esse elemento se manifestava na prática docente. Nesta perspectiva, duas professoras afirmaram que os cursos só teriam eficácia se antes o salário do professor fosse reavaliado. De acordo com os seus depoimentos: “Não é somente melhorando a formação profissional que o professor se sente motivado, em primeiro lugar é a remuneração que faz o professor adquirir motivação, em segundo lugar é a compreensão e colaboração dos pais quantos aos filhos, que nas escolas públicas não se vê. Também o pouco caso dos governantes com a categoria, isto faz com que o profissional perca o estímulo”. (professora da terceira série). “Em primeiro lugar, melhorar o salário. Com a capacitação a motivação será nota dez”. (professora da primeira série). Segundo os depoimentos acima, a formação oferecida através dos cursos de capacitação e a melhoria salarial se tornam necessárias à motivação, sendo que a ênfase se dá primordialmente à melhoria salarial da profissão professor. Abordando ainda a questão salarial (Pinto,1998, p.54) afirma que: “Os baixos salários vem causando a desprofissionalização dos docentes descaracterizando a carreira; (...). Atuam no sentido de distorcer o comportamento docente, tornando-o incompatível com a tarefa educacional, ao introduzir, na consciência de grande parte dos membros do magistério, a desmotivação, o negativismo e a descrença nos valores da educação”. Através das reflexões realizadas no decorrer do texto podemos perceber que o contexto atual de desvalorização profissional contribui para a desmotivação pessoal e, muitas vezes leva ao abandono da profissão, insatisfação profissional, percebida através de pouco investimento e indisposição na busca de aperfeiçoamento. Desta forma, a remuneração do professor tem se constituído um ponto de debate, realizado numa perspectiva secundária, quando na concepção das professoras deveria ser ponto prioritário, já que se objetiva o aperfeiçoamento e a qualificação desta profissão. II – Considerações Finais A formação docente é um processo gradual de (re) construção de valores pessoal e profissional, envolvendo profundas mudanças. Neste sentido, as questões que abrangeram a formação contínua foram relevantes, por possibilitar tanto a nós, enquanto pesquisadoras, quanto as docentes da escola, campo da pesquisa, maior reflexão e avaliação do processo de formação através dos cursos de capacitação como um dos elementos necessários à motivação para o exercício da prática docente. A análise dos dados coletados no campo e as discussões à luz de alguns estudiosos da referida temática mostraram que teoria e prática na medida em que se aliam podem também divergir. Esta divergência se caracterizou quando confrontamos a realidade da formação das docentes da Escola Estadual com o pensamento de autores UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 43 que defendem que a formação profissional não depende diretamente dos cursos de capacitação, mas, sobretudo, da reflexividade crítica da identidade pessoal e das práticas pedagógicas. Vale registrar que este estudo é de grande relevância para a nossa vida acadêmica e profissional e por sua vez renderia mais abordagens por ser uma temática que oferece vários focos de pesquisa. III – REFERÊNCIAS BRZEZINSKI, Iria. Pedagogia, Pedagogos e Formação de Professores. Papirus Editora. 2ª edição, 2000. HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Porto Editora, 1995. p.31-59. MOITA, Maria da Conceição. Percursos de formação e de trans-formação. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Porto Editora, 1995. p.111-118. NÓVOA, Antônio (org.). Os Professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote,1992. NÓVOA, Antônio (org.). Os professores e as histórias de suas vidas. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Porto Editora, 1995. p.11-25. PINTO, Luiz Gonzaga de Oliveira. Política Educacional e o salário do magistério público estadual. In: SERBINO, Raquel Volpato... [et al.]. – São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998. – (Seminários e Debates). UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 44 COMO TRABALHAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL PARA A FORMAÇÃO DO CARÁTER E HUMANIZAÇÃO DO INDIVÍDUO A PARTIR DA ÉTICA. Greyce Valerye Monteiro Oliveira (ENS/UEA) Mara Rúbia Pereira de Paiva (ENS/UEA) Cândida Antônia Piedade (ENS/UEA) Silvana Moraes Reis (ENS/UEA) A ética é uma postura de vida, que está ligada à sensibilidade e a capacidade de ouvir a própria consciência, que por sua vez, é uma expressão da consciência universal. No entanto, o ser humano é naturalmente egocêntrico, e se não trabalhado equivocadamente se põe como centro do mundo e até mesmo do universo, rejeitando os direitos do restante da humanidade, e os outros por sua vez opõem-se a vontade de outros indivíduos e se consideram como centro do universo, tornando-se assim, um ciclo vicioso. Lamentavelmente, esse egocentrismo reflete na sociedade e traz tanto conseqüências para o indivíduo quanto para a sociedade onde está inserido. O resultado disso é o sofrimento humano, que se retrata na miséria produzida pelo homem. Para Schopenhauer (apud GHEDIN , 2003) o ser humano precisa reencontrar-se consigo mesmo e com os indivíduos que compõe a sociedade, buscando a ética do compromisso e compaixão. Nesse sentido a ética revela-se como a libertação de pensar suas responsabilidades consigo e com o indivíduo descriminado pelo sistema político que acredita não tem dignidade, cidadania, autonomia, tornando-se um ser diminuído na sua condição humana. A ética, assim entendida como práxis existencial, constrói no anterior uma sociedade corrompida e corrupta, uma outra visão de si, do mundo e da humanidade, visão que se torna ação libertadora de todas as formas e meios que impedem a existência da verdade e autêntica humanidade (GHEDIN, 2003). Com está finalidade é que o trabalho desenvolvido verificou de que forma a escola de educação infantil trabalha a questão ética em seu currículo, tomando como parâmetros verificáveis o respeito mútuo, a justiça, o diálogo e a solidariedade. A importância da ética torna-se clara quando se leva em conta a diversidade sócio-cultural de uma sociedade que manifesta intolerância e desrespeito pela diferença do próximo. A questão ética deve ser trabalhada com as crianças, a fim de aprender a respeitar as diferenças, sempre as direcionando para que sejam dignas de respeito, seja em relação ao sexo, idade, cultura, raça, religião, classe social ou grau de instrução, conscientizando o educando ao respeito à natureza e ao meio ambiente. Tal atitude deve ser tomada para que se evite a violência, desrespeito ao ser humano e a falta de diálogo que continuam a provocar o aumento desse profundo colapso moral pelo qual passamos (KIDDER, 2000). Com esse propósito uma das funções específicas da pré-escola, é a de atender a criança em toda a sua potencialidade cognitiva, afetiva, psicomotora e social e cabe a escola estimular a criança para que através de sua atividade espontânea, faça suas próprias descobertas. A pré-escola, mais do que preparar para o 1º grau prepara para o UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 45 resto da vida, pois, é no período entre zero a seis anos, que são lançadas as bases para toda a aprendizagem futura e consolidação de sua identidade. Por isso, o desenvolvimento da criança deve ser completo: físico, emocional, intelectual e social. (RIBEIRO, 2000). Como parte do processo educativo tem inicio na pré-escola caberá a ela estimular a criança para que, através de sua atividade espontânea, faça suas próprias descobertas. A responsabilidade do educador é muito grande, portanto, ele deve usar todos os recursos didáticos disponíveis para repassar aos educandos, além da aquisição da leitura e da escrita, valores universais como amor, respeito, equidade, honestidade e responsabilidade, pois sendo ele um formador de opinião, deve conviver harmoniosamente com os alunos e corpo técnico-administrativo da instituição escolar dando exemplo e ensinando-os a respeitar as diferenças entre as pessoas e a serem solidários contribuindo assim para a construção de uma sociedade mais justa e honrada (MIGLINORE, 1998). Não basta ao educador apenas dialogar com as crianças, mas favorecer por meios metodológicos, experiências diárias que estimulem a assimilação e acomodação destes conceitos, de forma agradável e atrativa e que enriquecendo o universo sóciocultural das crianças (PCN, 2000). O objetivo geral do trabalho foi de aplicar os princípios éticos no sentido de desenvolver a aprendizagem infantil na questão da responsabilidade, liberdade, formação de valores, habilidades e respeito à relação homem/natureza, homem/homem e homem/si mesmo, buscando no currículo da escola atividades que estimulem a criatividade da criança e a cooperação através da arte, o trabalho da interdiciplinaridade e o preparo para o desenvolvimento de suas habilidades e destrezas. Direcionou-se o trabalhar também na busca dos meios utilizados pela escola para o desenvolvimento da percepção da criança, a fim de que ela possa adquirir a maior quantidade possível de experiências, construindo seu conhecimento coletivamente a fim de garantir-lhes as possibilidades de um completo desenvolvimento intelectual e sócio-emocional, além propor a escola envolvida, atividades que possibilitem a melhoria do trabalho ético na educação infantil. Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado um levantamento bibliográfico sobre os conceitos éticos e como os mesmo devem ser desenvolvidos nas escolas. Em seguida, foram feitas visitas à Escola Cantinho Infantil, licenciada pelo conselho Municipal de Educação Infantil-AM, a fim de comparar as metodologias aplicadas dentro e fora da sala de aula com as propostas curriculares e pedagógicas do projeto político-pedagógico da instituição. Depois de realizado o trabalho de campo, foi feito o confronto do embasamento teórico com os dados obtidos a fim de observar os pontos inerentes ao desenvolvimento de atividades que envolvessem a ética e posteriormente propor vários tipos de procedimentos éticos que visassem auxiliar na melhoria da prática educativa. Existem diversas formas e métodos para desenvolver na criança o respeito mútuo, porém este trabalho pretendeu aplicar um método didático e interativo, de forma que desde o maternal até a alfabetização as crianças pudessem ter acesso a ele. Portanto foram pesquisados vários tipos de procedimentos éticos que visassem auxiliar na melhoria da prática educativa, tornando o processo ensino-aprendizagem natural e espontâneo, sem desprezar o preparo e o planejamento do professor. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 46 Assim para desenvolver na criança o respeito mútuo foi aplicado um método que consistiu em trabalhar uma dramatização, “O coelhinho infeliz”, que teve a participação dos alunos e professores. A participação de discentes e docentes não se restringiu apenas a dramatização, mas na confecção dos figurinos e cenário, como figuras de animais, roupas e acessórios aproveitando para isso material de sucata. Nesta, atividade, a criança aprende a cooperar, respeitar a natureza, estimular sua imaginação, sua criatividade e trabalhar os valores éticos e morais. Nesta atividade, além da criança aprender a cooperar trabalhando em grupo, reaproveita o lixo, desenvolvendo habilidade e o respeito ao meio ambiente. Como resultado obtivemos que a linha de trabalho da instituição é a construtivista, não sendo, porém esta a linha pedagógica exclusivamente utilizada, mas também visando como objetivo desenvolver habilidades e competências de seus alunos. Os professores em conjunto com as crianças trabalharam eticamente direcionando para a cooperação e respeito ao próximo. No trabalho das salas observou-se que todos os alunos são iguais em direitos e deveres e que nenhum indivíduo é superior ao outro. Os professores buscaram a partir do trabalho em grupo realizado diariamente integrar as crianças como partícipes de uma sociedade cooperativa que interagem para o bom funcionamento da comunidade escolar. Tal fato pode ser observado quando no período de confecção das fantasias e máscaras para a realização da peça “O coelhinho infeliz”. Esta dramatização teve tem por filosofia mostrar que a criança tem que se aceitar e ter alta estima, não menosprezando-se por ser diferente de outros coleguinhas mas, que ela possui diferenças físicas e habilidades, que podem ser contrabalanceadas por outras habilidade particularidades que cada indivíduo tem. A busca pelo respeito ao próximo foi observado pela cooperação entre os próprios alunos no auxílio às dificuldades de seus coleguinhas. Concomitante a confecção foram realizadas conversas paralelas que iniciaram uma discussão a respeito da problemática do lixo e das conseqüências que ele traz. Essa incitação provocou nas crianças uma consciência crítica e resultou em possíveis soluções para os problemas. O trabalho pedagógico da escola confirma os dados contidos no projeto político pedagógico voltando o processo educacional para a prática democrática do conhecimento, formando uma criança crítica, cidadã e autônoma. Essa instituição também se propõe a cultivar no seu convívio social, os princípios da responsabilidade, honestidade, cooperação, participação e respeito, tendo como base o resgate aos valores éticos e religiosos. A proposta curricular foi elaborada e vêm sendo realizada de maneira reflexiva e crítica, integrando a teoria e a prática, o fazer e o pensar. Esta metodologia envolve a ação-reflexão-ação e está baseada no movimento da curiosidade-busca-descoberta, sendo o educador um mediador entre a criança e o objeto de conhecimento. REFERÊNCIAS: GHEDIN, Evandro. A Filosofia e o Filosofar. São Paulo: Uniletras, 2003, 408 p. KIDDER, Rushwork. Ética: a linguagem do século 21. Folha do Meio Ambiente. Brasília, maio 2000, p. 07. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 47 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Parâmetros Curriculares Nacionais Fáceis de entender. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2000, p.67. MIGLINORE, Regina de Fátima. Ética, valores humanos e transformação. Série: Temas Transversais. São Paulo, 1998, p. 111. RIBEIRO, Lourdes ; PINTO, Gerusa R. O real do Construtivismo. Belo Horizonte: Fapi . V. 1., 2000. LITERATURA INFANTIL E OS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: FORMANDO CRIANÇAS LEITORAS Fabiana Sena da Silva – mestranda/UFPB Socorro de F. P. Vilar - Orientadora (Profª/UFPB) Introdução Esse trabalho objetiva refletir sobre a contribuição da literatura infantil para a formação de crianças leitoras, de acordo de acordo com as propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN) de 1ª a 4ª série do ensino fundamental, através de leituras freqüentes em sala de aula, coordenadas pelo (a) professor (a). Nesse sentido, faz-se necessário que as práticas de leituras estejam voltadas para a fantasia, encantamento e um vasto repertório de histórias para que tais práticas ocorram na dimensão do prazer e naturalidade. A literatura infantil apresenta diversos gêneros como a poesia, os contos exemplares, os contos de fadas, os contos populares, os contos jocosos, as fábulas, as lendas e etc. A poesia e as narrativas infantis nos remetem não só a um universo de fantasia e de magia, mas também às contos de fadas, os contos populares, os contos jocosos, as fábulas, as lendas e etc. A poesia e as narrativas infantis nos remetem não só a um universo de fantasia e de magia, mas também às complexas e turbulentas emoções que as crianças sentem e vivem, pois estas histórias tratam de medo, de amor, da dificuldade de ser criança, da relação entre pais e filhos, de carências, de amizade, de autodescobertas, da busca da felicidade, da astúcia, do ardil, das perdas e buscas... O ato de contar histórias vem dos primórdios da humanidade e que em tempos muito antigos, as pessoas se reuniam para ouvir e contar histórias. Fülle (2002) acredita que ler livros de literatura infantil é descobrir a passagem para um mundo não só de fantasias, mas também de realidades. Ler histórias nos permite vivenciar essas experiências em diferentes momentos, não participando enquanto personagem delas, mas como leitor”. Assim, promover atividades com leitura é uma função, particularmente, da escola para ensinar as crianças a não somente decodificarem a escrita dos textos, mas sobretudo, lerem o mundo que a rodeiam. Literatura infantil no espaço da escola UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 48 Somente no início do século XX, mais precisamente na década de 20, é que a literatura infantil começou a ter um espaço em algumas das escolas brasileiras. E o grande precursor da literatura infantil no Brasil foi Monteiro Lobato, um dos autores que levou a sério a literatura para crianças, escrevendo e publicando A Menina do Narizinho Arrebitado, em 1928, Reinações de Narizinho e Emília no Mundo da Gramática, em 1933. Porém, foi com a lei 5.692/71 que o livro de literatura foi introduzido na escola, obrigando as escolas a incluírem em seu currículo apenas autores nacionais. E ela determinou também uma série de temas a ser tratada pelos livros de literatura infantil. Isso fez com que os clássicos das literaturas internacionais ficassem de fora do currículo das escolas brasileiras. E foi, em particular, na década de 80 que houve o boom da literatura infantil no Brasil. Essa explosão pode ser atribuída por diversos fatores tais como, a venda sem precedentes de livros para criança, na proliferação de associações voltadas ao incentivo da leitura infantil, no aumento de seminários e congressos sobre esse assunto e na inclusão de cursos de literatura infantil na programação das universidades (CADEMARTORI, 1987, p.11). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, que estão em vigor desde 1997, há presente uma posição que valoriza que cada criança tenha na escola contato com as diferentes funções desempenhada pela língua escrita e falada, dando ênfase maior ao trabalho com a literatura, seja estrangeira ou nacional (BRASIL, 2001). Mas, essa tarefa pode já ser exercida desde a tenra idade das crianças. E acreditamos que essa formação deve se pautar no “ler por ler”. Todavia, a escola ainda preocupa-se muito mais com o controle e reprodução da leitura ou com quase nenhuma leitura. Então, acreditamos que é preciso dar a responsabilidade à escola para formar leitores e leitoras, acreditando que “a literatura infantil na escola possibilita que faça se cumprir o ideário de educação tão comentado na atualidade: a transformação” (FÜLLE, 2002). A literatura infantil adentrou na escola brasileira para propiciar o desenvolvimento da imaginação e da criatividade das crianças. De acordo com o PCN de Língua Portuguesa (BRASIL, 2001, p. 36-37) “é importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário”. Entretanto, o currículo da escola ainda está voltado para uma prática com o uso da literatura de forma avaliativa e de imposição no estudo do gênero literário. E o que propomos é resgatar e trazer para a sala de aula a distração, o mágico, o maravilhoso dos conteúdos dos livros infantis e introduzi-los no cotidiano das crianças de forma prazerosa. A literatura é feita de palavras, utilizando sempre o recurso da ficção. Possui uma motivação estética que se preocupa com o belo, o poético, o lúdico e o prazer do leitor e leitora. Não é, portanto, utilitária, mas está vinculada à voz pessoal, à subjetividade, no ponto de vista do inesperado e particular sobre a vida e o mundo, suscitando diferentes interpretações. A literatura brinca com as palavras e até as inventa, tem a ver, por exemplo, com conceitos como a aventura, o romance, o suspense, a tragédia, a comédia... (AZEVEDO, 2003). E, por isso não dá para transformar a leitura numa atividade controlada e com fins avaliativos, que começam pela escolha e determinação dos títulos e terminam com a exigência de um trabalho que resulte na produção concreta de um sentido e interpretação supostamente esperada pelo (a) UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 49 professor (a), pode impedir que as crianças descubram algum prazer em ler. Isto é, enquanto as crianças tiverem com o texto literário uma relação de obrigação e suas escolhas forem monitoradas por um outro leitor ou leitora que já prevê a interpretação da história, jamais se conseguirá formar novos leitores e novas leitoras. Acreditamos que ser leitor (a) significa ler por prazer, pois a função social da leitura é ler o mundo. Se quisermos formar crianças leitoras competentes temos que ler para elas, e, sobretudo, ler com elas. Sem crianças vivenciando oportunidades sistemáticas de leitura, escrevendo e dialogando, a escola correrá o risco de restringir-se à reprodução. As atividades de leitura, nas diversas modalidades, na qual a criança lê sem poder discutir, lê sem compreender, responde questionários mecanicamente e escreve textos buscando simplesmente concordar com o professor ou a professora, esperamos que sejam práticas cada vez mais rejeitadas por ele (a). O que se almeja é que crianças, e também professores (as), possam constituir-se como leitores (as) e produtores (as) de textos. De forma muito categórica, Fülle (2002) afirma que “devemos esquecer o trabalho com fichamentos e a interpretação com perguntas e respostas, pois estaremos matando o gosto pela leitura (...) Os livros não podem servir de pretexto para uma simples avaliação”. Evangelista (2003) reforça ainda mais o argumento contra o uso desses instrumentos de leituras, quando apresenta uma pesquisa já realizada anos atrás, cuja conclusão é que em vez de motivarem os (as) alunos (as), tais instrumentos e estratégias, na verdade, se transformam numa “didática de destruição da leitura”. Portanto, fichas de leituras, resumos e questionários podem ser úteis para um outro trabalho, mas não para desenvolver o gosto da leitura nas crianças. E que avaliar o rendimento da leitura é irrelevante, enquanto não temos alunos e alunas que encontrem o prazer no simples ato de ler. Práticas de leitura: qual o lugar do (a) professor (a)? A leitura é uma tarefa da escola, cujos espaços como a biblioteca, o pátio, os corredores, enfim, a escola deve ser vista como ambiente de estímulo às diferentes relações com a leitura. O (a) professor (a) deve oferecer momentos diários com atividades de leitura, por ser o elo de ligação entre os livros e as crianças. Entretanto, é, particularmente, na sala de aula que o (a) professor (a) ensina, mostrando por sua presença e atuação a importância da leitura. Ou seja, ele (a) pode trazer os livros, apresentá-los, querer que todos (as) escolham o que vão ler, ficar sabendo do interesse que se vai formando em cada criança, oferecer sugestões, discutir e aprofundar os assuntos dos textos literários, responder perguntas e lê com as crianças. Já na biblioteca, pode-se fazer outras atividades por ser o lugar de outra vivência. Neste espaço, o (a) professor (a) deve proporcionar visitas constantes para que a criança possa explorar o seu acervo, expandir seus interesses, descobrir que existem múltiplos materiais para leitura, livros de todo o tipo e sobre todos os assuntos. A biblioteca passa a ser concebida como lugar em que se instigar a circulação e a transferência da informação e do saber, pertencendo a todos (as) que fazem parte da comunidade escolar. Segundo o PCN de Língua Portuguesa (BRASIL, 1997, p. 64), é o (a) professor (a) que deve instigar as atividades de leitura, por acreditarmos que ele (a) deva ser um (a) leitor (a) mais experiente e, conseqüentemente, ter uma visão ampliada de mundo, por poder conhecer e favorecer um acervo e contato com bons livros, aproximando a relação das crianças dos textos literários, sobretudo de boa qualidade para que os torne familiar. E se o ato de contar histórias é uma atitude reconhecida como importante para UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 50 inserir a criança no mundo da leitura, motivando-as a participarem de atividades semelhantes, faz-se necessário que a (o) professora (o) se aproprie de tal ato. Ele (a) poderá contribuir no desenvolvimento da capacidade de interpretar e estabelecer significados dos diferentes textos, criando e promovendo variadas experiências, situações novas, que levem a uma utilização diversificada da leitura. O (a) professor (a) deve organizar momento de leitura livre em que também ele (a) próprio leia, criando um circuito de leitura em que se fala sobre o que se leu, trocam-se sugestões, aprende-se com a experiência do outro; ele (a) deve planejar atividades regulares de leitura, assegurando que tenham a mesma importância dada às demais; permitir que também as crianças escolham suas leitura. E Frade (2002) afirma que a leitura de textos em sala de aula deve estar no sentido “de que não se espera que as crianças saibam ler para que tenham acesso aos conteúdos dos textos. Os professores assumem, eles mesmos, o papel de leitores, mediando o aspecto da decodificação, para que os alunos tenham acesso aos diferentes aspectos da significação”. Para tanto, o (a) professor (a) deve encaminhar situações de leitura para que crianças se tornem leitoras interessadas e competentes, tais como, oferecer um acervo variado e rico da literatura infantil; manter uma rotina sistemática e freqüente de situações de leitura; solicitar que elas tragam de casa livros, estimular a leitura do material trazido de casa; ler textos infantis que sabem de cor; apresentar pequena biografia do autor; criar o hábito diário da leitura compartilhada; emprestar os livros do acervo da escola mesmo para as crianças que não sabem ler; socializar a leitura: roda de conto, reconto, leitura de resenhas; propiciar debates, leitura crítica e comparativa de livros, dramatização, visitas a biblioteca, conversas com o autor do livro, produção de textos, a reescritura do mesmo texto... Os textos também podem ser lidos por crianças que “já sabem ler” para aquelas que ainda não sabem, alterando papéis e posições de quem pode ler para o outro. O uso da modalidade oral e coletiva da leitura é importante não para verificação de competências de leitura, ou seja, para avaliar leitura, mas como uma prática que visa favorecer e democratizar o acesso a diferentes conteúdos e gêneros literários, bem como a capacidade de pensar e crescer. Formar crianças leitoras é algo que requer condições favoráveis, não só em relação aos recursos materiais disponíveis, mas, principalmente, em relação ao uso que deles se faz nas práticas de leitura. Reflexões finais A leitura, ao longo da sua história, apresenta diversas concepções, variações e importância de acordo com a sociedade e seus respectivos leitores (as) que estão inseridos (as) nela. Dessa forma, compreendemos que o ato de ler não se determina pela simples decifração de códigos, ou de um aglomerado de palavras, esse é apenas o ponto de partida para em seguida alcançar múltiplas dimensões de significado que o (a) leitor (a) dá ao texto, exigindo a capacidade de interação com o mundo que o e a rodeia. Entendemos também que toda leitura apresenta-se como uma estrutura em construção, aberta às inúmeras possibilidades de atribuição de sentidos, e que por isso, é preciso que os textos façam sentido para o (a) leitor (a), que se fará completo somente pelas suas mãos e olhos. Então, acreditamos que deve se levar em consideração diversos fatores que compõem a significação do texto, como tempo e espaço, já que é esse (a) leitor (a), na sua historicidade e no seu imaginário, quem atribuirá significado e sentido (MANGUEL, 1997). UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA I Colóquio Internacional de Políticas e Práticas Curriculares 12 A 14 DE NOVEMBRO DE 2003 JOÃO PESSOA/PB 51 Portanto, a introdução da leitura em sala de aula é para promover a função da literatura infantil, que é a arte e a compreensão de vida e de mundo, bem como apresentar às crianças a possibilidade de se relacionarem com as outras áreas de conhecimento de forma lúdica sem dar o caráter de aula. E a atividade de leitura com a literatura infantil deve ser um compromisso com a escola como toda, incluindo-a no currículo escolar. O PCN de Língua Portuguesa é uma proposta curricular que tenta estabelecer uma relação mais próxima entre crianças e literatura infantil, tendo como mediador (a) o professor ou a professora, para que elas adentrem no mundo da fantasia, proporcionando-lhe o estímulo à criatividade e ao prazer pela leitura, e assim, deixando de lado antigas práticas de trabalhar a literatura de forma conteudista. Referência Bibliográfica AZEVEDO, Ricardo. Livros para crianças e literatura infantil: convergências e dissonâncias. 2003. (mimeo) BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa. Ministério da Educação. 3ed. Brasília, 2001. CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. 3 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. (Coleção Primeiros Passos) EVANGELISTA, Aracy Martins. Algumas Reflexões sobre a Relação Literatura/Escola, 2003. (mimeo) FRADE, Isabel Cristina A. da Silva. A escolha de livros de alfabetização e perspectivas pedagógicas do ensino da leitura: entre inovações e permanências. In: ANPED, 25ª, 2002, Caxambú. GT 10, 1 CD-ROM. FÜLLE, Angelita. A literatura infantil na escola, 2002. Disponível em www.cce.ufsc.br/~neitzel/literaturainfantil/angeliota. MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura. São Paulo; Companhia das Letras, 1997.