Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização

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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização
Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
TERRORISMO: UM LEGADO HISTÓRICO
E SUA CARACTERIZAÇÃO NA PLATAFORMA MIDIÁTICA
TERRORISM: AN HISTORICAL LEGACY
AND ITS CHARACTERISTICS ON THE PLATFORM MEDIA
Elvis Christian Madureira Ramos1
Wellington dos Santos Figueiredo2
RESUMO: Buscando as raízes históricas do terrorismo, o presente artigo demonstra a
antiguidade desta tenebrosa prática, bem como o alinhamento ideológico na utilização
“terrorista” pelos veículos midiáticos. Destaca-se o grupo terrorista Al Qaeda,
mundialmente conhecido após os atentados de 11 de Setembro contra os Estados Unidos
e o terrorismo informacional (em rede) praticado por esta organização.
Palavras-chave: Terrorismo Informacional, Mídia e Desinformação, 11 de Setembro de
2001, Redes e Poder, Produção de Sentido.
ABSTRACT: Seeking the historical roots of terrorism, this article demonstrates the
antiquity of this dreadful practice as well as the ideological alignment in use “terrorist”
by the media vehicles. Noteworthy is the terrorist group Al Qaeda, best known after the
attacks of September 11 against the United States and terrorism informational (networked)
practiced for this organization.
Keywords: Informational Terrorism, Media and disinformation, September 11th
2001, Networks and power,Meaning production.
O ato terrorista não pode ser entendido nem analisado, portanto, como um
súbito relâmpago no céu azul, uma atitude isolada, inesperada e inexplicável
de algum grupo de fanáticos.
José Arbex Jr.
Era o dia 11 de setembro. Desviados de sua missão habitual por pilotos decididos
a tudo, os aviões se lançam para o coração da grande cidade, resolvidos a abater
os símbolos de um sistema político detestado. Imediatamente, explosões,
fachadas que voam em pedaços, desabamentos num barulho infernal,
1
Geógrafo. Mestre em Educação para Ciência (UNESP-Bauru). Doutorando em Geografia (UNESP-Presidente Prudente).
Membro da Diretoria Executiva da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local Bauru – SP. Professor efetivo da Rede
Pública de Ensino do Estado de São Paulo. E-mail: [email protected]
2
Geógrafo e Pedagogo. Mestre em Comunicação Midiática (UNESP-Bauru). Membro da Diretoria Executiva da Associação
dos Geógrafos Brasileiros – Seção Local Bauru – SP. Membro do Comitê Editorial da Revista Ciência Geográfica. Professor da
Escola Técnica Estadual Astor de Mattos Carvalho, Cabrália Paulista - SP (Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula
Souza” – CEETEPS). E-mail: [email protected]
Artigo recebido em outubro e aceito para publicação em novembro de 2012.
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sobreviventes aterrorizados, fugindo cobertos de escombros. E a mídia que
difunde a tragédia ao vivo...
Nova York, 2001? Não, Santiago do Chile, 11 de setembro de 1973. Com
a cumplicidade dos Estados Unidos, golpe de Estado do General Pinochet
contra o socialista Salvador Allende e o palácio presidencial metralhado pelas
forças áreas. Dezenas de mortos e início de um regime de terror que durou
quinze anos. (RAMONET, 2003, p.45)
Ao lermos o primeiro parágrafo redigido pelo jornalista francês Ignacio Ramonet,
é quase que instantâneo nos reportamos ao dia 11 de setembro de 2001. Quando nos
deparamos com a sequência do texto, tudo se esclarece e retornamos à época da Guerra
Fria, do patrulhamento dos Estados Unidos na América Latina, a caça aos governos
comunistas, onde o “bem” era representado pelo capitalismo, pelo “Ocidente”...
Os Estados Unidos usavam o terror para gerar terror. Foram vitais na derrubada de
um governo democraticamente eleito que naquela terça-feira de setembro de 1973 pagava
o preço por desafiar os estadunidenses e seguir uma ideologia diferente. A partir dessa
data até 1989, o Chile mergulharia nas trevas do Terrorismo de Estado capitaneado pelo
General Augusto Pinochet. Paradoxalmente, o país que se orgulha de se autodenominar “a
maior democracia do mundo” e defender os “valores da civilização” patrocinava mais um
golpe de Estado sacrificando os anseios democráticos tão valiosos a qualquer sociedade.
Atentados que disseminam o terror não são algo novo na história da humanidade.
A palavra terrorismo remonta à Revolução Francesa, ao terror dos jacobinos e de suas
guilhotinas. Na acepção atual, é um fenômeno que começou no final do século XIX
quando os anarquistas começaram a jogar bombas, tornando-se instrumento corriqueiro
após a Segunda Guerra Mundial, visando a obter resultados políticos através da criação
de situações de pânico coletivo. Um valor disfórico presente em ações de terror é a
intimidação da sociedade civil, seja ela executada pelo governo ou grupos insurgentes.
Alguns veículos midiáticos se refutavam a usar a expressão “terrorismo” para
designar a atuação política dos Estados Unidos contra outros países, mas se revestem
dessa classificação quando os vitimados são os estadunidenses, na direção de sentidos
que os “outros” são “terroristas”, nós, não3. Mesmo sendo conceito “técnico” presente
nas ciências sociais, é inegável que a expressão “terrorista” é vestida pelo figurino
ideológico, subjetivo, sendo ajustado segundo o efeito de sentido que se queira produzir
no enunciatário. Mediante a isso, para melhor compreensão das notícias, é necessário
responder: o que é terrorismo?, e conhecê-lo como processo político remoto e as faces
com as quais se apresenta.
O terrorismo na história
A prática terrorista tem uma longa história. Instigar o terror para alcançar fins
políticos e criar raízes no poder é tão antigo quanto às primeiras sociedades.
Muito antes que ataques contra civis, como artifícios para afetar o comportamento
de nações e seus líderes fossem denominados de terroristas, a ação teve várias classificações.
Do tempo da república romana até fins do século XVIII a prática era batizada de guerra
destrutiva. Os próprios romanos geralmente usavam a expressão guerra punitiva. Não
obstante, muitas campanhas militares romanas fossem de fato empreendidas como
punição por traição ou rebelião, outras ações destrutivas afloravam do simples desejo de
impressionar povos recém-conquistados com o temível poder dos romanos.
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Na Grécia antiga, o historiador Xenofonte já aconselhava a prática de assassínios em
países potencialmente adversários para criar pânico entre a população virtualmente inimiga.
Porém, mesmo colado à violência, o terrorismo já foi visto pelas lentes da justiça
e redenção.
No decorrer do século XIX, a palavra terrorismo ganha uma conotação
francamente positiva nas obras dos teóricos do movimento anarquista.
Guardada as peculiaridades do pensamento de cada um, o francês Pierre
Joseph Proudhon e os russos Mikhail Bakunin e Piort Kropotikin observavam
no terror um fato construtivo, uma forma eficiente de destruir o poder estatal.
(MONDAINI, 2004, p. 230)
O século XIX é simbólico por testemunhar a eclosão da violência internacional,
interpretada como precedente histórico do terrorismo moderno. Os agentes dessa agressão
eram geralmente classificados como anarquistas e faziam uso ostensivo do assassinato
individual, além de bombas contra unidades militares, policiais e forças privadas de
segurança industrial, como práticas para combater as crescentes disparidades entre as
classes sociais resultantes das transformações advindas com a Revolução Industrial que
aflorava em solo europeu.
Tem-se assim, na prática terrorista, uma extensão de anseios políticos. A violência
é utilizada como instrumento para alcançar determinados objetivos. Para ampliar seus
tentáculos de pavor sobre povos e Estados, o terrorismo assume diversas fisionomias.
As faces do terrorismo
A melhor arma política é a arma do terror. A crueldade gera respeito. Podem
odiar-nos, se quiserem. Não queremos que nos amem. Queremos que nos temam.
Adolf Hitler durante discurso para oficiais da SS em Kharkov, (19/04/1943).
O terror tem muitas faces, contudo, um só pensamento: a anulação de seus
opositores a qualquer custo. Existem terroristas que agem em nome de uma divindade
(como os grupos extremistas islâmicos); os mercenários (como os milicianos que lutam
na África, membros da Blackwater que atuam no Iraque); os nacionalistas (como o IRA
– Exército Republicano Irlandês – e do ETA – Pátria Basca e Liberdade)4; e, ainda, os
ideológicos (como o grupo de Timothy McVeigh, responsável pela destruição do prédio
de Oklahoma em 1995)5.
Há ainda o terrorismo de Estado, que consiste na eliminação de minorias étnicas
ou opositores a certo regime. Enquadram-se nessa prática, os regimes da Alemanha
nazista, a Itália fascista, a União Soviética sob a sombra de Stálin, o Camboja de Pol Pot,
a China de Mao Tse-tung, o Iraque sob os auspícios de Saddam Hussein, as ditaduras
latino-americanas nas décadas de 1960 e 1970, o antigo regime de apartheid na África do
Sul ou ainda os Estados Unidos à época da política marcarthista.
... o terrorismo é, na verdade, a própria negação da política, pois representa uma
contradição à existência desta. Desde sua origem, na polis (cidade-Estado) grega, o
termo política traz em si as noções de “diálogo, persuasão, negociação, em suma, a
razão”. Ora, com seu caráter “fanático-militar”, o terrorismo “se volta contra a própria
racionalidade, logo, contra a política”. O terrorista é o extremista que “nada quer saber
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do diálogo, da argumentação”, já que “o seu único alvo é a imposição, pela violência,
de suas próprias convicções”. Dessa forma, o terrorismo assinala a continuidade
daquilo que existe de mais fanático na humanidade, ou, mais apropriadamente, o que
há de mais fanático na anti-humanidade. (MONDAINI, 2004, p. 244)
Inúmeras reportagens sobre os atentados de 11 de setembro de 2001 colaram
a expressão “terrorista” a manifestações islâmicas. É fato que adeptos do Islamismo
utilizam-se desse artifício político para demonstrar seus anseios. Todavia, como vimos,
o terrorismo tem inúmeras manifestações. O mesmo raciocínio é aplicado ao vocábulo
“fundamentalista”, que foi gestado no ventre do Cristianismo.
Considerar o terrorismo e o fundamentalismo apenas ou, sobretudo, como
instrumentos políticos do Islamismo é reducionismo ou má-fé. A prática terrorista é
fortemente repudiada por muito seguidores mulçumanos. Portanto, o terror “islâmico”
não é o porta-voz de uma religião, cultura ou civilização.
O radicalismo islâmico é impopular. A maioria dos muçulmanos não quer
uma teocracia. As pessoas no mundo muçulmano viajam para ver o luxo em
Dubai, não as madrassas de Teerã. Metade dos países muçulmanos do mundo
– cerca de 600 milhões de habitantes – tem eleições. Nos últimos cinco anos
os partidos ligados ao radicalismo islâmico raramente ganharam mais do que
7% ou 8% dos votos. (ZAKARIA, 2007, p. 91)
Boff (2002) vai à raiz dos fatos e, aplicando a vacina da História, esclarece que
O nicho do fundamentalismo se encontra no protestantismo norte-americano,
surgido nos meados do século XIX. O termo foi cunhado em 1915, quando
professores de teologia da Universidade de Princeton publicaram uma pequena
coleção de doze livrões que vinha sob o título Fundamentals. A testimony
of the Truth (1909-1915). Neles propunham um cristianismo extremamente
rigoroso, ortodoxo, dogmático, como orientação contra a avalanche de
modernização de que era tomada a sociedade norte-americana. Não só
modernização tecnológica, mas modernização dos espíritos, do liberalismo,
da liberdade das opiniões, contrastando fundamentalmente com a seguridade
que a fé cristã sempre oferecera.
A tese dos fundamentalistas no âmbito religioso é afirmar que a Bíblia constitui
o fundamento básico da fé cristã e deve ser tomada ao pé da letra (o fundamento
de tudo para a fé protestante é a Bíblia). Cada palavra, cada sílaba e cada vírgula,
dizem os fundamentalistas, é inspirada por Deus. Como Deus não pode errar,
então tudo na Bíblia é verdadeiro e sem qualquer erro. Como Deus é imutável,
sua Palavra e suas sentenças também o são. Valem para sempre.
(...)
O Islamismo original não é guerreiro nem fundamentalista. É tolerante para
com todos os povos, especialmente “os povos do livro” (judeus e cristãos).
Ele vive de duas grandes convicções: a afirmação da absoluta unicidade e
transcendência de Deus, a partir de onde tudo na Terra é relativizado, e a
comunidade profética dos irmãos, pois todos são criaturas de Deus e devem se
entreajudar. (BOFF, 2002, p. 12-29)
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A doutrina inicial era de paz, entretanto, muitos seguidores do Islamismo
divorciaram-se da concepção original e se enveredaram para o caminho ungido de sangue.
Islamismo, fundamentalismo e terrorismo
Atualmente o Islamismo (submissão à vontade de Alá6) é a religião que mais
cresce no mundo. A religião islâmica é originária da cidade de Meca (atual Arábia
Saudita) e teve na figura do profeta Maomé a sua edificação. Seus ensinamentos estão
materializados no Alcorão7, livro sagrado em que se encontram impressas as revelações
feitas pelo anjo Gabriel a Maomé entre os anos 610 a 632 d.C. O Alcorão divide-se em
duas grandes partes que correspondem às fases de atuação do profeta Maomé: a fase de
Meca (anos 610-622) e a fase de Medina (anos 622-632). A fase de Meca possui textos
mais curtos e aborda fundamentalmente a doutrina e seus valores. Na fase de Medina, o
livro trata de orientações concretas do reto viver, da organização política e do sistema
jurídico. Posteriormente, incorporaram-se à doutrina islâmica as narrativas de outros
profetas (hadit), o consenso dos sábios (igma) e os argumentos por analogia (qiyas).
O Islamismo é monoteísta e possui três ramos principais: xiitas, sunitas e sufistas.
Os xiitas são tidos como a ala mais radical do Islã, não aceitando divisão entre o poder
político e a esfera religiosa. Política e religião consubstanciam-se na formação do Estado
Teocrático e atribuem ao líder religioso uma proteção sobrenatural contra o pecado e
o erro. Os sunitas, a imensa maioria desse segmento religioso, são conhecidos por sua
moderação, pela separação do poder divino do político-social. Consideram que a fonte
essencial para a lei islâmica é a Suna, compilação da vida e do comportamento do profeta8.
São quatro as escolas teológicas sunitas, que diferem fundamentalmente em
detalhes de rito e código legal: Hanafi, Hanbali, Mãlaki, Shaãfi’í, sem falar na
“reforma” ultra radical wahhabista do século XVIII – o wahhabismo é uma
seita hoje majoritária na Arábia Saudita. (KAMEL, 2007, p. 101)
Já os sufistas, constituem-se em uma corrente esotérica do Islamismo e se preocupam
mais com as verdades espirituais da religião do que com as questões políticas e ortodoxas.
Assim sendo, a interpretação do Alcorão não é a mesma para todos os islâmicos.
Para os fundamentalistas9 certos aspectos das sociedades ocidentais como a liberdade de
expressão e de religião, a igualdade de direitos para homens e mulheres são incompatíveis
com os ensinamentos do Alcorão. Para eles, o Ocidente, com seus valores, constitui uma
ameaça à sociedade islâmica, devendo ser combatido.
O ideal político desta manifestação fundamentalista é a implantação de um
Estado Islâmico, um regime teocrático que traduza literalmente as antigas leis do Alcorão
(balizados por uma interpretação radical dos textos). O chefe real desta concepção de
governo teocrático é Alá, sendo os demais guias religiosos apenas representantes que
interpretam e aplicam a vontade divina.
No que cabe às tradições, os fundamentalistas defendem o radical e urgente
rompimento com tudo que pareça ocidental10. As mulheres emancipadas pelas leis
secularizadas devem voltar a usar o chador ou burca, não devem ter acesso à instrução
e nem serem atendidas por médicos. O ensino em qualquer nível deve priorizar o campo
religioso e as leis comuns devem se acolher às regras estabelecidas pelo Alcorão.
Socialmente, pode-se dizer que eles dão voz aos sentimentos dos setores mais pobres
e mais desesperançados das comunidades do Oriente Médio, gente em sua maioria
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analfabeta que vive em subúrbios, nos campos ou nos desertos e que leva uma vida dura,
sem alegrias ou confortos.
O surgimento do fundamentalismo religioso também parece estar ligado tanto
a uma tendência global como a uma crise institucional. Segundo a experiência
histórica, sempre existiram idéias e crenças de todos os tipos à espera para
eclodirem no momento certo. É significativo que o fundamentalismo, quer
islâmico, quer cristão, tenha se difundido (e continuará a expandir-se) por todo o
mundo no momento histórico em que redes globais de riqueza e poder conectam
pontos nodais e valorizam os indivíduos em todo o planeta, embora desconectem
e excluam grandes segmentos das sociedades. (CASTELLS, 2002, p. 59-60)
Os movimentos fundamentalistas islâmicos têm sua origem na decadência do
poder muçulmano no século XVIII, dentro do contexto da expansão do Império TurcoOtomano. Nesse período, os líderes espirituais eram obrigados a aceitar determinações do
poder político imperial, que, apesar de professar o Islamismo, procuravam agradar povos
não-muçulmanos dominados pelo império. Em razão da expansão do Império TurcoOtomano, ocorria uma troca de manifestações culturais que não era bem vista pelos
líderes espirituais. A expansão do colonialismo ocidental foi um processo fundamental
para o retrocesso da cultura islâmica.
Com o domínio colonial europeu, a partir do início do século XX, os movimentos
fundamentalistas ganharam impulso, alicerçados na defesa das leis e costumes islâmicos
e na luta contra a dominação ocidental.
O crescimento do fundamentalismo também precisa ser entendido como uma reação
aos governos corruptos e ditatoriais de vários países do Oriente Médio, onde a conquista
da independência política não significou a eliminação das interferências externas das
grandes potências mundiais e onde as populações não veem perspectivas para melhoria nas
condições de suas vidas. Em muitos desses países, governantes acabam se reelegendo por
meio de fraudes e manipulações. Em vista disso, parte da população muçulmana passa a
depositar cada vez mais suas esperanças nas próprias raízes religiosas e culturais.
A posição das grandes potências mundiais, sobretudo dos Estados Unidos, em
relação aos governos desses países sempre foi ambígua, revelando, na verdade, um
interesse no Oriente Médio exclusivo nas vantagens econômicas e geopolíticas que
podem ter apoiando este ou aquele governante.
Em tempos contemporâneos, o fundamentalismo islâmico começa a ganhar força
na primeira metade do século XX. Em 1929, no Egito, surgiu a Irmandade Muçulmana,
fundada por Hasan al-Banna. O grupo oferecia resistência armada ao colonizador britânico. A
Irmandade também possuía características sociais desenvolvendo programas de alfabetização
e de assistência médica à população carente do Egito. Os fundamentalistas queriam com isso
reconstruir sua identidade nacional com base nos alicerces da religião islâmica, em oposição
aos valores políticos e culturais do colonizador. Contudo, a Irmandade Muçulmana passou
a ser perseguida pela monarquia egípcia, que tinha fortes laços políticos com a Inglaterra.
A Irmandade manifestava na prática terrorista sua metodologia de ação. Seus militantes
costumavam bradar palavras de ordem como: “Nós não temos medo da morte; nós a
desejamos”. A sentença com que a Al Qaeda costuma finalizar suas declarações – “vocês
amam a vida; nós, a morte” – tem no discurso da Irmandade Muçulmana a sua origem.
O fundamentalismo islâmico voltou a ascender no cenário político internacional
em 1979 com a Revolução Islâmica Xiita no Irã. Liderada pelo Aiatolá Khomeini, a
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Revolução foi vista como uma canalização das potencialidades islâmicas adormecidas ou
escorraçadas pela presença cada vez maior do “pecado da modernidade”. Na concepção
fundamentalista, a salvação para esse pecado seria o resgate da “pureza islâmica”.
O surgimento do grupo terrorista islâmico Al Qaeda
O Afeganistão, composto de uma variedade de etnias rivais, era uma monarquia
desde 1933. Em 1973, sofreu um golpe de Estado, liderado pelo então general Mohammed
Daud, que transformou o país numa república e assumiu a presidência. No período da
Guerra Fria, principalmente após a crise do petróleo de 1973, o país tornou-se estratégico,
transformando-se num território de disputa entre as duas superpotências da época (Estados
Unidos e ex-União Soviética). Os soviéticos aspiravam à dominação da região para
controlar o acesso ao Golfo Pérsico, e, os Estados Unidos, buscavam inibir a expansão
soviética na região do Oriente Médio.
Em 1978, Mohammed Daud foi deposto e assassinado por membros do Partido
Democrático do Povo (de orientação comunista). Esse episódio desencadeou a disputa
pelo poder entre as facções do próprio partido e entre grupos guerrilheiros de etnias
diversas, principalmente a islâmica. Hafizullah Amin, líder de uma das facções do Partido
Democrático do Povo, acabou conquistando a presidência, mas não se mostrou capaz de
contemplar os interesses soviéticos. No final de 1979, a União Soviética invadiu o país.
O presidente Hafizullah Amin foi assassinado e o presidente nomeado, Babrak Karmal,
passou a governar o Afeganistão com as forças soviéticas, que em pouco tempo chegaram
a mobilizar grande contingente de soldados.
A resistência contra o regime de Babrak Karmal, por parte dos vários grupos de
mujähidins, foi implacável. Instaurou-se no país uma guerra civil que os soviéticos nunca
conseguiram controlar. Estados Unidos, Paquistão, China, Irã e Arábia Saudita forneceram
armas e dinheiro aos guerrilheiros que lutavam contra a ocupação soviética. Durante a
década de 1980, os Estados Unidos estiveram diretamente envolvidos no recrutamento e
treinamento dos mujähidins, entre eles, Osama bin Laden.
Ao fim da Guerra Fria, o exército soviético retirou-se do Afeganistão, e a guerra
continuou entre as facções de grupos islâmicos que disputavam o poder entre si. Em 1994,
o Talebã, grupo islâmico ultrarradical, assumiu o poder e o controle de 95% do território
afegão e o país se transformou em abrigo seguro para o milionário saudita Osama bin Laden.
Já no fim do jihad no Afeganistão (no fim dos anos 1980), a Al Qaeda (...), foi
criada para atingir as seguintes metas: “Estabelecer a verdade, livrar o mundo
de todo o mal e fundar uma grande nação islâmica”. (KAMEL, 2007, p. 213)
Os mujähidins treinados pelos Estados Unidos para combater a expansão do
comunismo soviético voltaram-se contra seu principal provedor de armas e de treinamentos.
... o aspecto mais assustador (...) era o fato de que quase ninguém a levava a
sério. Era estranha demais, primitiva e exótica demais. Diante da confiança
dos americanos na modernidade, na tecnologia e em seus próprios ideais para
protegê-los do desfile selvagem da história, os gestos desafiadores de Bin
Laden e seus sequazes se afiguravam absurdos e até patéticos. No entanto,
a Al Qaeda não era um mero artefato da Arábia do século VII. Aprendera a
usar ferramentas modernas e idéias modernas, o que não surpreendia, já que
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a história da Al Qaeda na realidade começara nos Estados Unidos, não tanto
tempo atrás. (WRIGHT, 2007, p. 17)
A rede Al Qaeda foi concebida nesse contexto histórico, com a fusão de facções
islâmicas ultrarradicais, conexões espalhadas pelo mundo – inclusive nos Estados
Unidos – país que seria o alvo do mais arrojado ataque executado pela organização. A Al
Qaeda possuía o código genético do terrorismo, seu rastro de sangue e destruição ficaria
mundialmente famoso em 11 de setembro de 2001.
A Al Qaeda e o “Terrorismo em Rede”
A organização do espaço geográfico através das redes eliminou a necessidade de se fixar
as atividades políticas, econômicas e até terroristas, em determinados lugares. Isso vale
para o grande número de atividades que podem ser executadas a partir de qualquer parte
do mundo, bastando que esses locais estejam conectados. O espaço geográfico hoje tende
a se tornar um meio técnico-cientifico-informacional, impregnado pela tríade ciência,
técnica e informação, o que resulta em uma nova dinâmica territorial (SANTOS, 1996).
Até pouco tempo, a superfície do planeta era utilizada de acordo com divisões produzidas
pela natureza ou pela história, chamadas de regiões. Essas regiões correspondiam à base
da vida econômica, cultural e política. Atualmente, devido ao processo das técnicas e
das comunicações, a esse território se sobrepõe um território das redes que, em primeira
análise, fornece a impressão de ser uma realidade virtual. Mas, ao contrário do que se
possa imaginar, não se trata de um espaço virtual.
Para Castells (2002) as
redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades e a difusão da
lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos
processos produtivos e de experiência, poder e cultura. (CASTELLS, 2002, p.565)
Assim, as redes são realidades concretas, formadas por pontos interligados, que
tendem se a espalhar por toda a superfície mundial, ainda que com desigual densidade,
conforme os continentes e países. Santos (1996, p.215) afirma que “a existência das redes
é inseparável da questão do poder”.
Essas redes se constituem na base da modernidade e na condição necessária para a
plena realização da economia global. Elas formam e se constituem no veículo que permite
o fluxo das informações, que são hoje o mecanismo vital da globalização.
Moreira (2006) aduz que a organização em rede vai mudando a forma de conteúdo
dos espaços deixando-os simultaneamente mais fluídos e as distâncias perdem seu sentido
físico diante do novo conteúdo social do espaço. Antes de mais nada, é preciso se estar
inserido num lugar, para se estar inserido na geopolítica da rede. Uma vez localizado na
rede, pode-se daí puxar a informação, disputar-se primazias e então jogar-se o jogo do
poder. Enfim, a informação se torna a matéria-prima essencial do espaço-rede.
Nesse cenário é que emerge a expressão “Terrorismo em Rede”, utilizada por
Haesbaert (2002). Para o geógrafo, o grupo Al Qaeda possui em sua estrutura bases ou
“células” de uma organização ilegal – e a flexibilidade das redes com seus fluxos de
várias ordens. Parte desta agilidade se deve ao acesso às redes técnico-informacionais
contemporâneas e aos investimentos mantidos pelo grupo, especialmente em setores
ilegais da economia. Pelo seu caráter mais difuso, fragmentado e descontínuo (mas nunca
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
desarticulado) no espaço geográfico, o terrorismo da Al Qaeda constitui um dos âmbitos
ilegítimo do processo de globalização. Cabe ressaltar que as conexões de uma rede como
a da organização de Bin Laden vincula os territórios mais excluídos do movimento
globalizador, como os do interior do Afeganistão, até centros do capitalismo mundial
como Manhattan.
Com os atentados de 11 de setembro de 2001, o grupo terrorista Al Qaeda
inaugurou uma nova forma de manifestação terrorista: o terrorismo em rede. Neste início
de século, quatro atentados chocaram o mundo por sua crueldade: o de 11 de setembro
de 2001 (em Nova York e Washington – Estados Unidos), o de 11 de março de 2004 (em
Madri – Espanha), o de Beslan (Ossétia do Norte) cujo nefasto desfecho ocorreu em 3 de
setembro de 2004 e os atos ocorridos em Londres (Inglaterra) em 7 de julho de 200511.
Os atentados sofridos pelos Estados Unidos, Espanha e Inglaterra foram atribuídos à rede
Al Qaeda e seus braços de execução. O da Ossétia do Norte, a um grupo separatista da
Chechênia, região que luta por sua independência em relação à Federação Russa.
Durante o século XX, proliferaram grupos terroristas em praticamente todas as
partes do planeta com os mais diferentes objetivos: grupos de esquerda em luta contra
governos capitalistas, grupos de direita contra governos de orientação socialista, grupos
nacionalistas, grupos separatistas, lutas pela independência, descolonização...
Neto (2002) atenta que as ações terroristas são determinadas por princípios básicos
que assegurem o seu sucesso e aumentem cada vez mais o poder de destruição. Entre seus
principais preceitos estão
a) O princípio da surpresa: Atacar onde e quando menos se espera;
b) O princípio do alvo certo: A escolha correta do alvo a ser atingido é determinante na
promoção do medo e do terror;
c) O princípio das externalidades: Valorizar não apenas o ato terrorista, mas, sobretudo,
os efeitos de curto, médio e longo prazos das ações do terror;
d) O princípio da tragédia: Quanto maior o número de vítimas, melhor. Vítimas para
chocar é o preceito básico das ações terroristas;
e) O princípio do efeito moral: Abater moralmente os inimigos, disseminando o medo e
o pavor entre a população;
f) O princípio das novas possibilidades: Sempre prometer novos ataques caso suas
exigências não sejam cumpridas;
g) O princípio da presença onipotente: Estar presente em qualquer lugar, em todo lugar,
sempre disposto a agir, se for preciso;
h) O princípio da ameaça latente: Tornar-se uma ameaça sempre presente na vida das
pessoas, países e regiões;
i) O princípio da eficiência destruidora: Sua eficiência e sua competência, mesmo a
serviço do mal, são objetos de admiração;
j) O princípio da redenção: A morte de seus seguidores é o ingresso na vida eterna;
k) O princípio do exército de reserva: Divulgar adesões em massa ao movimento terrorista
e deixar claro que “o que não falta são terroristas dispostos a morrer”;
l) O princípio da onipresença: Fazer crer aos inimigos que dispõe de um exército de
terroristas prontos para a ação em seu próprio território;
m) O princípio do simbolismo destrutivo: Valorizar o efeito simbólico das ações.
Destruir símbolos que significam poder, riqueza e intransigência;
n) O princípio da martirização: Transformar seus adeptos em mártires;
o) O princípio da espetacularização: Fazer de seus atos verdadeiros espetáculos de destruição;
Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (2): Janeiro/Dezembro - 2012
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Elvis Christian Madureira Ramos · Wellington dos Santos Figueiredo
p) O princípio do catastrofismo: Sempre prometer a anunciar uma tragédia maior;
q) O princípio da inversão: Transformar a vítima em algoz;
r) O princípio do estímulo à guerra total (o princípio da “jihadização”): Promover a
guerra santa. Transformar os conflitos locais em choques de civilizações;
s) O princípio da demonização: Seu inimigo é visto como o Grande Satã, causador de
todos os males do mudo;
t) O princípio da invisibilidade: Ser um inimigo invisível, sem cara nem movimentação;
u) O princípio do anonimato: Cometer atos mantendo-se no anonimato;
v) O princípio da reflexão induzida: Pelos atos praticados contra alvos cuidadosamente
escolhidos, induz-se à reflexão: por que este ou aquele país foi escolhido como alvo das
ações terroristas?;
w) O princípio da bola da vez: Deixar seus inimigos pensarem que um deles será a
próxima vítima a alvo do terror;
x) O princípio do silêncio: Manter-se em silêncio para não se expor10. (NETO, 2002, p. 60-62)
No entanto, atos terroristas de grandes proporções são elementos marcantes na
ordem mundial pós-Guerra Fria e colocam em evidência a continuidade dessa estratégia
de luta por grupos radicais frente ao Estado organizado, diante dos quais seriam impotentes
num combate frontal. Trata-se de uma guerra assimétrica de grandes proporções, que
amedronta e coloca a sociedade em permanente estado de tensão. O combate ao terrorismo
não é uma tarefa a ser realizada em curto prazo. O terrorismo é um “inimigo invisível”,
atua por meio de ataques surpresas e, muitas vezes, é indiferente ao alvo que será atingido.
Sem dúvida, neste início de século, embora velhas táticas terroristas ainda sejam
praticadas, pelo menos os atentados atribuídos à rede Al Qaeda, caracterizam-se pelo
minucioso planejamento e profissionalismo, visando ações de proporções mundiais.
Foram atos realizados em pontos estratégicos do capitalismo mundial.
Quanto maior a violência da prática terrorista, maior será a cobertura dos meios
de comunicação. Uma vez que é a imagem que determina a informação na atualidade
(Vicente, 2005), e “mesmo a desgraça perde seu sentido sem os refletores” (AUBENAS
& BENASAYAG, 2003, p. 32). Nos atentados ao World Trade Center, depois do choque
do primeiro avião na Torre Norte, as câmaras de televisão passaram a transmitir ao vivo
o acontecimento e pessoas do mundo todo viram em tempo real o segundo avião chocarse na Torre Sul. Foi também ao vivo que os telespectadores puderam acompanhar o
desabamento das Torres Gêmeas e a população em desespero sob a poeira dos escombros
produzidos. Segundo a Revista Veja (2001, p. 62), eles “queriam publicidade máxima de
seus atos e agiram como se tivessem antecipado o cenário que construíram.”
Na pauta desse novo terrorismo consta:
Criar catástrofes para gerar espaço;
Despertar polêmicas para colocar-se como tema central;
Mitificar o seu principal líder para dele fazer um dos principais produtos da mídia;
Criar novas expectativas de ataques para manter a imprensa sempre em estado
de alerta; e
Fomentar um clima de guerra para despertar a atenção da mídia. (NETO, 2002,
p. 107-108).
Segundo Romano (2003, p.21) “com o Estado moderno, todas as artes e ciências
se tornaram utensílios de propaganda”. Sem a atuação da mídia, os atentados de 11 de
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
setembro de 2001 não teriam o impacto desejado. Ramonet (1999) nos alerta
... que hoje em dia a informação televisada é essencialmente um divertimento,
um espetáculo. Que ela se nutre fundamentalmente de sangue, de violência e
de morte. (RAMONET, 1999, p. 101)
Cabe destaque à noção de tempo real manifestada pelos arquitetos do terror
que projetaram os atentados. A resposta quase que instantânea por parte dos meios
de comunicação era algo previsível e peça importante para a repercussão das ações
terroristas. As cenas dos aviões se chocando contra os edifícios do World Trade Center,
transformaram-se em um “marketing do terror”. Os ataques tiveram como alvo os
principais espaços-símbolos dos Estados Unidos: o econômico (Word Trade Center) e
o militar (Pentágono). As imagens produzidas pelos ataques representariam à destruição
dos ícones do capitalismo estadunidense. Assim, a mídia foi utilizada como instrumento
de guerra pelos terroristas.
De acordo com Neto (2002) e Eco (2002)
Pelo clima de guerra criado, o terror vale-se da mídia para fomentar a sua
própria “jihad”. É o marketing do terror que “jihadiza” a mídia.
(...)
O que fez a mídia senão cair na armadilha que lhe foi preparada pelo marketing
do terror? (NETO, 2002, p. 107-108).
A repetição, nos dias seguintes aos atentados, até 200 vezes consecutivas, do
choque dos aviões, por um lado paralisou o mundo, mas, por outro, contribuiu de
forma determinante para aumentar – e com euforia – a simpatia e a provocação de
vários grupos ligados ao terrorismo. Isso transformou Bin Laden numa espécie
de super-homem capaz de tudo, o que aumentou e incentivou o recrutamento de
novos camicases. (ECO apud NETO, 2002, p. 108)
O poder midiático serviu como instrumento para despertar a atenção da população
à causa dos terroristas. O episódio reforçou o poder da imagem na produção dos sentidos.
Quando se fala nos atentados de 11 de setembro de 2001, as cenas que nos vem à mente
são as dos aviões se chocando com as torres do World Trade Center e suas estruturas sendo
consumidas pelas chamas. O atentado ao Pentágono, não raro, cai no esquecimento, num
primeiro momento, entre outros fatores, por não se ter às imagens do avião destruindo
suas estruturas. Arbex Jr. (2003a, p.23) complementa o raciocínio sobre a utilização
estratégica dos meios de comunicação afirmando que “... a mídia, na era tecnológica, é
um instrumento estratégico de guerra. (...) Ela é um elemento do terror”.
Osama bin Laden pode ser classificado como agente do novo terrorismo. Incitando
a prática terrorista de maneira transnacional e não mais local como as ações do IRA
e do ETA, por exemplo. A Al Qaeda, utilizando-se de maneira eficaz das tecnologias
de informação, produz o terrorismo organizado em rede. No caso do grupo Al Qaeda,
a Internet, os laptops, os passaportes múltiplos e as facilidades de transporte mundial
tornaram possível a organização terrorista operar como uma entidade virtual, fazendo
eficiente uso do território organizado em rede, obtendo maior mobilidade e flexibilidade.
Ciência Geográfica - Bauru - XVI - Vol. XVI- (2): Janeiro/Dezembro - 2012
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Elvis Christian Madureira Ramos · Wellington dos Santos Figueiredo
Mas o terrorismo atual é diferente das formas anteriores. E os atentados terroristas
do dia 11 de setembro de 2001, simbolizam muito bem este novo terrorismo, em especial,
pelo planejamento, objetivos, sua natureza globalizada e uso inteligente da mídia.
Neste aspecto, a Al Qaeda é uma organização perfeitamente adaptada à era
da globalização com suas ramificações multinacionais, suas redes financeiras
suas conexões com os meios de comunicação e informação, seus recursos
econômicos, suas centrais de abastecimento, seus centros de formação, seus
pólos humanitários, seus postos de propaganda, suas filiais e subfiliais...
(RAMONET, 2003, p. 69)
O velho terrorismo procurava eliminar figuras estratégicas do regime que combatia,
evitando atingir inocentes. Já para o novo terrorismo não há inocentes, todos devem sofrer as
consequências dos atos do regime sob o qual vivem e eventualmente apoiam. Nem mesmo
as populações que, em tese, seriam “libertadas” ou “esclarecidas” pelos terroristas são afinal
inocentes que devem ser poupadas; pois na lógica de sua argumentação existe a ideia de que
“quem morre pela causa” deve se sentir glorificado. Além disso, a destruição de edifícios
símbolos (como as torres do World Trade Center ou o Pentágono) e a matança de centenas
ou milhares de pessoas é algo que chama a atenção da mídia e justamente esta é uma das
grandes preocupações do terrorismo da rede Al Qaeda. Ele busca a cobertura por parte da
mídia internacional, suas ações só têm sentido no contexto de sociedades democráticas onde
a mídia em geral, e em especial a TV (que transmite imagens e sons e influencia uma parcela
maior da população), é livre e procura dar uma cobertura imediata aos acontecimentos
considerados “quentes” ou de grande importância. Podemos até dizer que existe uma
relação simbiótica entre o novo terrorismo e a nova mídia: ambos são globalizados e visam
à opinião pública internacional (que logicamente é mais intensa e influente nos países
desenvolvidos), sem a qual não existiriam; ambos preocupam-se com o sensacionalismo,
com acontecimentos trágicos que têm que ser (re)produzidos constantemente para prender
a atenção do público (HOBSBAWN, 2007). Basta atentar para o fato de que, nos dias e
semanas que se seguiram aos atentados terroristas nos Estados Unidos, algumas redes de
televisão alcançaram altíssimos e atípicos índices de audiência em visível contraste com os
preços das ações das empresas em geral que caíram bastante no mesmo período. A CNN
que antes dos ataques aos Estados Unidos passava por séria crise, apostou alto na cobertura
de guerra e, ancorada no estado de comoção pelo qual o país passava, a emissora bateu
recordes de audiência, sendo das poucas empresas midiáticas com ações em alta na Bolsa
de Nova York após os atentados (DORNELES, 2003).
As principais modalidades do novo terrorismo são as seitas ou organizações
fundamentalistas, apocalípticas e tradicionalistas. Essa é mais uma diferença essencial
entre ele e o velho terrorismo. Este último, em especial o terrorismo anarquista, era de
esquerda (e se considerava progressista) no sentido de lutar por igualdade social, de se opor
violentamente não ao progresso em si, mas sim ao seu usufruto por somente uma minoria da
população. Já o novo terrorismo é essencialmente conservador e, ao contrário do que muitos
pensam, é radicalmente contrário aos ideais de igualdade e liberdade para todos. A bem da
verdade, normalmente ele combate esses ideais democráticos, taxando-os de “ocidentais”
(num sentido pejorativo) ou então de “artificiais” e “antinaturais”. O terrorismo da rede Al
Qaeda não está preocupado com as desigualdades internacionais ou com a pobreza ou a
exclusão de inúmeros povos e, sim, com a ameaça a certos valores tradicionais (religiosos
ou não) que considera absolutos: por exemplo, a superioridade masculina e outros princípios
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
de acordo com sua leitura do Islamismo, a destruição da ordem atual das coisas com vistas à
construção de um mundo novo alicerçado em determinadas crenças religiosas. Sem dúvida
que a situação precária dos palestinos, serviu como motivo mais imediato destes atos
terroristas contra os estadunidenses, que foram praticados por grupos (uma verdadeira rede)
extremistas islâmicos. Mas confundir isso com um protesto furioso contra a globalização
ou contra as exclusões e desigualdades em geral, como foi feito à época por setores de
esquerda, é confessar ignorância total sobre os fundamentos de tais grupos terroristas e
as suas motivações ou se utilizar da lente ideológica da miopia política para visualizar e
apontar sofismas frente a um nevoeiro retórico13.
Outro traço característico do terrorismo em rede é que ele não se limita a assassinatos
ou explosões isoladas, que eram a tônica no velho terrorismo. Ele é global (convive e
se alimenta da globalização) e dispõe de todo um sofisticado arsenal de financiamento
e de artefatos: novos meios de destruição (químicos, biológicos, tecnológicos), contas
bancárias numeradas na Suíça ou em “paraísos fiscais” e membros recrutados em vários
países (e treinados em outros), alguns inclusive com um nível educacional elevado (pósgraduação ou até doutorado em microbiologia, química, eletrônica, sistemas de redes
etc.) (HOBSBAWN, 2007). Ele é financiado tanto por contribuições dos membros e,
principalmente dos simpatizantes (muitos dos quais milionários, pessoas muito bem
inseridas no sistema global e como também em alguns casos pela associação com o tráfico
de drogas). Ele dispõe do indispensável apoio de alguns Estados que os escondem ou até
que permitem (ou financiam em parte) os seus campos de treinamento: como se sabe, nos
anos recentes esse papel foi desempenhado, em maior ou menor proporção, pelo Sudão,
Somália, Líbia, Síria, Iraque e Afeganistão. E o terrorismo global dispõe de novos e mais
potentes instrumentos de ação: não somente os assassinatos e as explosões, mas também
gases nocivos (como o sarim), agentes biológicos patogênicos (como o antraz) e talvez
– desde que exista a ajuda de algum Estado com essa tecnologia, material radioativo
e no limite armamentos atômicos14. Devido à grande sofisticação dos atuais meios de
destruição, que mais cedo ou mais tarde acabam ficando à disposição de grupos que têm
recursos para adquiri-los, o terrorismo torna-se, pelo menos potencialmente, cada vez
mais letal ou até catastrófico.
Terrorismo na mídia: um contrato semântico polêmico
“Foi o maior atentado terrorista da história”. Essa sentença foi amplamente
divulgada por telejornais, sites, rádios e meios de comunicação impressos quando se
reportavam aos atentados ocorridos nos Estados Unidos naquela fatídica manhã de terçafeira. Mesmo que no decorrer das horas não se sabia a quem atribuir à culpa, o dia 11 de
setembro de 2001 já tinha seu lugar assegurado na História.
Floresceram críticas quanto à afirmação: Por que o 11 de setembro de 2001 seria
o maior ato terrorista da História? Outro embate semântico e político suscitado à época:
os ataques sofridos pelos Estados Unidos foram atos de terrorismo? Acendendo a chama
da provocação, Arbex Jr. (2003b) e Steinberger (2005) questionam
Ninguém esclareceu qual critério, exatamente, fez do atentado de 11 de
setembro algo pior ou pelo menos mais grandioso do que, por exemplo, a
destruição de Hiroxima (sic) e Nagasáqui (sic), em agosto de 1945; ou do
que o ataque a instalações civis no Sudão, ordenado por Bill Clinton, em 24
de agosto de 1998 (...) ou ainda, do que os bombardeios maciços dos Estados
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Elvis Christian Madureira Ramos · Wellington dos Santos Figueiredo
Unidos sobre as populações do Laos, Vietnã e Camboja nos anos 60 e 70,
quando morreram pelo menos 3 milhões de civis. (ARBEX JR, 2003b, p. 49)
O maior em número de vítimas? O maior em danos e prejuízos causados?
O maior relacionado ao “menos provável”? Como a mídia divulgou tais
avaliações menos de 24 horas depois do ocorrido, quando muito pouco se
sabia a respeito de vítimas e danos? Qual a origem de tais modos de identificar
e avaliar? (STEINBERGER, 2005, p. 225)
Em entrevista à revista Veja, o consultor estadunidense para temas de combate ao
terrorismo, Ian O. Lesser, ao responder tal questionamento afirma que
É bastante possível. Certamente foram os mais dramáticos e letais da história
moderna do terrorismo. A escala dos ataques foi catastrófica, mas não é
comparável a um ataque nuclear de pequena escala nuclear numa área urbana.
(LESSER, 2001, p. 14)
Uma pista à polêmica pode ser acrescida: o que é terrorismo? Responder a essa
questão pode ser o primeiro passo para se chegar a uma conclusão.
Embora a prática política do terrorismo seja antiga, o mesmo não acontece com
o emprego da palavra para ilustrar tais atos. O verbete “terrorismo” foi empregado pela
primeira vez para classificar o período de terror durante a Revolução Francesa ocorrida
em 1789. O Dicionário da Academia Francesa, em sua edição de 1798, classifica o termo
como “sistema ou governo baseado no terror”. Nesse período revolucionário, governos
ditatoriais guilhotinaram doze mil pessoas de vários matizes ideológicos. O terrorismo
entra na linguagem como “Terrorismo de Estado”, que já era sua forma quase exclusiva
antes de seu “batismo ortográfico”.
Embora seja uma palavra de uso disseminado, a definição de terrorismo é marcada
pelo signo da controversa. A ONU procura desde a década de 1960 conceituar de maneira
precisa a expressão. A frustração deve-se, em parte, a interesses geopolíticos de muitos
dos países que integram a organização. Afinal, os que são terroristas para uns podem ser
considerados combatentes em prol da liberdade para outros15.
A definição de terrorismo adotada pela União Europeia demonstra bem essa
fragilidade. Ao conceituar que “ato terrorista é aquele que produz vítimas civis”, define-o
de maneira ampla e vaga. Seguir este pensamento é como colocar na mesma teia de
análises os atentados de 11 de setembro de 2001 e ações realizadas por estudantes,
pacifistas, operários e torcedores de futebol cujos movimentos de protestos resultassem
em mortes involuntárias.
Contribuindo com o assunto, Attali apud Neto (2001, p.22) classifica terrorismo
como: “Antiqüíssima forma de violência política usada por grupos ultraminoritários
decididos a conquistar pela força o poder sobre determinado território”.
As palavras de Attali jogam luz na discussão. Ao mencionar a utilização da força
política usada por grupos ultraminoritários, torna mais clara e delimitada a proposta dos
grupos terroristas.
Assim sendo, é possível construir um consenso, mínimo que seja, sobre o que é
terrorismo: o uso sistemático da violência para produzir uma atmosfera de medo em que
seus adeptos acreditem que será possível alcançar determinado objetivo político.
Ao considerarmos que os ataques perpetrados em 11 de setembro de 2001 pelo
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
grupo Al Qaeda externaram cálculo, estratégia, almejando ferir a moral política e social
dos Estados Unidos, sendo movidos por claros motivos de intimidação, vislumbrando a
população civil como alvo e fomentando pânico nas sociedades estadunidense e mundial,
temos peças que se encaixam na definição anterior: as ações contra os Estados Unidos
podem sim ser classificadas como terroristas, embora não apenas esses atentados, e, sim,
todos aqueles que preenchem tais características, inclusive práticas políticas efetuadas
pelos Estados Unidos ao longo do século XX.
Contudo, da maneira como o termo é trabalhado, produzem-se sentidos
diferenciados como nos alerta Dorneles (2003)
O terrorismo no dicionário: 1) modo de impor a vontade pelo uso sistemático do
terror; 2) emprego sistemático da violência para fins políticos, especialmente a
prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização
da sociedade existente e a tomada do poder; 3) regime de violência instituído
por um governo; 4) atitude de intolerância e de intimidação adotada pelos
defensores de uma ideologia, sobretudo nos campos literário e artístico, em
relação aos que não participam de suas convicções (Dicionário Houssais da
língua portuguesa, p. 2706).
Mas a definição de terrorismo adotada pela imprensa é bem mais restrita.
Massacres e crimes contra a humanidade praticados por um governo jamais são
citados como “terrorismo”. Convencionou-se chamar de terrorista aquele que
realiza atentados que não tem objetivo militar, mas sim como vítima a população
civil. Porém, quando se trata de conflito do Oriente Médio, as definições, tanto
dos dicionários como a convencional da imprensa, são utilizadas de forma
ideológica, com objetivos claramente políticos. (DORNELES, 2003, p. 259)
Embora as palavras sejam explicadas no dicionário, nunca exprimem um único
significado quando integram uma frase de determinado texto. Cada órgão de imprensa
utiliza o verbete de acordo com seu entendimento dessa violenta manifestação política.
Isso somado ao uso consciente de determinadas palavras condiciona a produção de sentido
que se queira causar no leitor. Visto que,
São as palavras que explicam, ou tentam explicar, afinal a mortandade refletida
nas imagens dos telejornais e nas fotos estampadas nos periódicos de todo o
mundo.
(...) As palavras pesam muito, e a luta por elas e em torno delas é intensa.
(WAINBERG, 2005, p. 96-97)
Segundo Burke (2007), há múltiplas maneiras de se definir terrorismo, todas
subjetivas. Vários exemplos ilustram este contraste semântico. A rede inglesa BBC impediu
que seus correspondentes fizessem uso da palavra “terrorista”. Da mesma forma, o jornal
estadunidense Minneapolis Star Tribune modificaria despachos do The New York Times
alterando o vocábulo “terrorista” por “atacantes”. A imprensa árabe dispõe de rótulos para
classificar os atos e atores que protagonizam a violência. Utilizam-se terroristas, suicidas
e mártires, dando ênfase a este último termo. O jornal saudita Al-Sharq Al-Awsat prefere
a expressão “atacantes suicidas”. (WAINBERG, 2005)
Na mídia brasileira o debate não é diferente, Wainberg (2005) ao comentar os
sentidos atribuídos à expressão “terrorista” elucida que
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O ombudsman da Folha de S. Paulo teria de intervir igualmente num debate
similar sobre o tema. (...) diz que a Folha costuma usar o termo “terrorista”
“para identificar grupos armados, como a Brigada de Mártires de Al Aqsa e o
Hamas, que resistem à ocupação da Palestina por parte de Israel”. Na visão do
jornal, expressa em Nota da Redação, “a Folha considera terroristas grupos
que atacam civis de forma deliberada”. Ao debater a linguagem utilizada
nas notícias publicadas sobre o conflito entre as tropas israelenses e esses
grupos, o ombudsman polemiza com a descrição do verbete “terrorista” do
manual de redação do jornal, que orienta seus jornalistas a usar esse termo,
e outros como “guerrilheiros”, “apenas em sentido técnico, evitando a carga
ideológica positiva ou negativa”. O texto do manual é, na verdade, bastante
claro. Diz: “o termo terrorista se refere a indivíduos, organizações e governos
(não a Estados) quando praticam ações violentas contra alvos civis, ainda que
não de maneira exclusiva (podem eventualmente atingir alvos militares). Seus
objetivos são essencialmente de propaganda, mesmo que mantenham retórica
militar. Senão for possível aplicar esses critérios adequadamente, empregue o
termo extremista, que tem a desvantagem de ser menos preciso”.
Aos olhos do ombudsman, “é praticamente impossível evitar esta carga
ideológica” no termo “terrorista”. Ao pesquisar sobre o posicionamento
de outros jornais brasileiros de referência sobre o tema, ele revela que O
Estado de S. Paulo usa termos como “militantes”, “extremistas”, “radicais”
para caracterizar os grupos palestinos, “para evitar cair no rótulo aplicado
por um dos lados”. Diz o editor internacional de O Estado, Paulo Eduardo
Nogueira, que “esse padrão é utilizado pela esmagadora maioria da imprensa
de qualidade mundial”. A posição de O Globo, do Rio de Janeiro, varia. “Nós
usamos o bom senso”, segundo a editora internacional Sandra Cohen, “de
acordo com o fato que relatamos. Na maioria das vezes, nós nos referimos
ao Hamas e às Brigadas como grupos extremistas e radicais. Usamos o termo
‘terrorista’ para relatar atentados ou ações específicas levadas a cabo por esses
grupos contra a população civil em Israel”. (WAINBERG, 2005, p. 100-101)
Nesses rápidos exemplos, internacional e nacional, podemos ter a dimensão do
amplo emprego da isotopia “terrorista” nos meios de comunicação. Escrita com as tintas
da geopolítica e muito disseminada após os ataques de 11 de setembro de 2001, o uso da
expressão “terrorismo” continha a superposição de vários níveis semânticos convertendose em uma pluri-isotopia. O sema estampava a ideologia do veículo que a empregava;
externava o discurso de seu enunciador.
Contextualização para entendimento
A leitura da palavra é sempre precedida da leitura do mundo.
Paulo Freire
Provavelmente, nunca se chegue a um consenso de que os atos terroristas de 11
de setembro de 2001 foram os maiores da História (ou se as ações da Al Qaeda contra
os Estados Unidos podem ser assim classificadas). Entretanto, o episódio garantiu lugar
cativo nas principais tragédias que macularam a humanidade. Se não foi o maior ataque
em números de vítimas, é inquestionável a proeza em sua elaboração e seu poderoso apelo
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
midiático. A astúcia dos terroristas e a ampla cobertura da mídia elevam o ataque de 11 de
setembro de 2001 ao funesto pódio de um dos maiores atentados já produzidos pela mente
humana até os dias atuais. Se foram ações terroristas, não foram as únicas; se foi a maior
em estratégia e apelo midiático, não foi a maior em número de civis mortos... Embora com
características diferenciadas, um fator se faz presente em qualquer ação dessa natureza: a
intimidação e sacrifício da população civil em honra de determinados valores.
O flagelo sofrido pelos Estados Unidos inaugura o “batismo de fogo” do
novo terrorismo. As interrogações são frutos da multiplicidade de análises e distintas
interpretações como corrobora Arbex Jr. (2003b)
Claro: sempre se poderá dizer que uma coisa é um ato armado por um grupo
terrorista contra alvos civis; outra coisa são os “atos de guerra” determinados
por um Estado, outra coisa, ainda, é o funcionamento de uma certa ordem
econômica, que nada tem a ver com a intenção de matar alguém (se as crianças
morrem, é porque as coisas são assim mesmo, ora bolas). Essa argumentação
é, no mínimo, questionável.
Primeiro, porque, do ponto de vista da vítima civil inocente, tanto faz se o sujeito
que disparou a bomba foi Osama bin Laden, estudantes da Brigada Vermelha,
militantes do ETA basco ou algum burocrata confortavelmente instalado na
Casa Branca; segundo, porque, mesmo que se considerasse a hipótese de
separar “terrorismo” de “atos de guerra” (embora ataque a populações civis
não se enquadre em nenhuma das convenções sobre atos de guerra aprovadas
pelas Nações Unidas), ainda assim teríamos de considerar que os atentados
terroristas, como o 11 de setembro, acontecem como resultado de uma história
concreta de horror, repleta de “atos de guerra” que banalizaram ao extremo
a violência e reduziram a visão humana a nada; terceiro, porque, políticas
econômicas não “caem do céu”, mas são orquestradas por seres humanos com
interesses específicos (...) No mínimo, portanto, teria de ser dito e repetido que
“o maior atentado terrorista da história” faz parte de uma tradição sedimentada
ao longo do século 20, que inclui o Gulag stalinista, Auschwitz, Hiroxima
(sic), Vietnã etc. (ARBEX JR. 2003b, p. 52-53).
O discurso de Arbex Jr. entoa as ideias de Durkheim (2006) no tocante a fatos
históricos e sociais. Fatos históricos são grafados por sua singularidade, são únicos, não se
repetem e causam grande impacto na sociedade devido a sua excepcionalidade. Os fatos
sociais, por sua vez, estão no cotidiano de cada sociedade, são ações perpetradas em suas
práticas políticas ao longo de sua história. Assim, o 11 de setembro de 2001 caracterizase por ser um fato histórico – a história registra diversos atentados, mas apenas um 11 de
setembro de 2001. Mas ações da magnitude dos ataques contra os Estados Unidos não
acontecem por acaso, decorrem da insatisfação e de conflitos ideológicos presentes na
arena política internacional (“história concreta de horror, repleta de ‘atos de guerra’ que
banalizaram ao extremo a violência”, nos dizeres de Arbex Jr.). Os fatos sociais diários
como os conflitos no Oriente Médio, as políticas unilaterais dos Estados Unidos frente a
outros países, vão sedimentando as estruturas do edifício terrorista, até se materializarem
em atos como os da rede Al Qaeda em setembro de 2001.
Analisar um acontecimento histórico é condição primeira para superar a simplificação
dos fatos. Pode não ser tarefa fácil libertar-se de conceitos previamente concebidos. Entretanto,
goste-se ou não, é um exercício de análise, além de necessário, honesto e de bom senso.
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No pensamento kantiano, o real para o homem é o que ele organiza, ou seja,
a linguagem não é uma tradução do real mas uma organização dele. A simplificação
da realidade é enganosa; eficiente quando se pretende ocultar fatos, mortal quando
se quer ter visão panorâmica dos acontecimentos e consistente compreensão de um
evento. Endossando esse pensamento, Steinberger (2005, p. 89) afirma que: “Quando
falta contextualização a uma notícia, por exemplo, o leitor pode se ressentir de uma
compreensão precária”.
Não raro as notícias são afetadas pela carência de localização temporal. São
relatadas como se não tivessem causas passadas nem efeitos futuros. Brotam como fatos
pontuais, às vezes sem continuidade no tempo, sem origem e sem consequências. Existem
enquanto forem objetos de transmissão e deixam de existir se não mais forem transmitidos.
Ofertam o mundo inteiro em um instante, mas o fazem de tal maneira que o “mundo
real, holístico” desaparece, restando apenas fragmentos de uma realidade desprovida de
raiz no tempo e no espaço. Os usos referentes à expressão “terrorismo”, o conhecimento
do mundo islâmico, as políticas externas, sobretudo a dos Estados Unidos, ao longo
da História, são elementos indispensáveis para que, de posse do bom senso, emitamos
juízo sobre determinados acontecimentos. A contextualização dos fatos no propicia, em
princípio, essa condição analítica.
A conseqüência natural desse sistema é que, ao apresentar retratos dos fatos de
forma isolada e descontextualizada, os meios informativos simultaneamente
negam ao seu consumidor uma apreensão mais completa da notícia e
produzem uma percepção alterada dos acontecimentos ao longo do tempo – e
por decorrência do fluxo da história –, ao gerar uma falsa sucessão de fatos
novos e independentes. (SERVA, 2001, p. 126)
As notícias produzem sentidos, expõem valores, transformam-se em instrumentos
geopolíticos. Os extratos presentes em uma reportagem não devem ser entendidos como
um fim em si. A redução de um fato cria uma barreira ao seu pleno entendimento, gerando
assim a “desinformação funcional”16 (SERVA, 2001). Se somos parte de um processo
histórico, não é possível nos situarmos fora dele. O que nos resta é a consciência desse
procedimento e a interpretação do que nos condiciona como seres no mundo.
É preciso pensar a comunicação em seu contexto, ou seja, entender que não
há comunicação sem sociedades e são esses contextos sociais que, muitas
vezes, dão sentido, cor e especificidade a procedimentos de comunicação
aparentemente padronizados. (WOLTON, 2004, p. 119-120)
Dependendo do receptor, um mesmo fato pode ter várias interpretações, não
raro, divergentes e antagônicas. Segundo Diniz & Zaniratto (2002): “... tudo no mundo
é representação. Cada indivíduo interpreta os fatos segundo seus filtros perceptivos, ou
seja, sua maneira de ver e julgar”. Assim, qualquer interpretação deve ser contextualizada
para uma melhor análise. Mesmo porque, um fato não existe isoladamente, é resultante
de uma série de eventos.
A compreensão plena de fatos históricos como os ataques aos Estados Unidos em
11 de setembro de 2001 passa pela contextualização. Ao contextualizarmos, expandimos
as teias de análise; munimo-nos do mínimo necessário para alimentarmos nossa
percepção. Os ataques contra os Estados Unidos não podem ser reduzidos unicamente
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
à destruição ou danificação de edificações, e nem mesmo ao óbito de grande número de
pessoas. Trata-se de ações simbólicas, dotadas de sentidos. Nesse raciocínio, é preciso
ir além do 11 de setembro de 2001 como evento bárbaro e isolado, cujos responsáveis
devem ser combatidos a todo custo, e analisá-lo como parte de um processo maior num
contexto histórico complexo. Os atentados resultaram de um intricado emaranhado de
razões históricas, sociológicas, econômicas, religiosas...
A proeza em nossos dias não é mais ter acesso aos acontecimentos, mas, acima de
tudo, entendê-los. Os amargos frutos das ações terroristas foram semeados e colhidos no
solo da história. Assim sendo, não podemos nos afastar desse instrumento de análise sob
pena de um diagnóstico empobrecido. É pela memória que se puxam os fios da história.
O rompimento dessa capilaridade produz mais calor do que luz.
Notas
3 – Comentando essa afirmativa, Arbex Jr. (2003b, p. 52) faz uso de situações pela quais
passou. “Sempre que eu levantava a argumentação (da amplitude das práticas terroristas),
provocava uma indignação do ‘especialista’ debatedor, que, invariavelmente, declaravase ‘perplexo’ por ter encontrado alguém que apoiava o atentado. De nada adiantava
esclarecer que eu condenava qualquer ato terrorista, incluindo o 11 de setembro, só que
por ‘qualquer ato terrorista’ eu entendia também o ataque nuclear a Hiroxima (sic) etc.”.
4 – A percepção de que os atos de terrorismo são repudiados pela opinião pública,
principalmente depois das ações da rede Al Qaeda em 11 de setembro de 2001, levou
tanto o IRA quanto o ETA a repensarem suas formas de ação para que o apoio das
sociedades que tais grupos dizem representar não fosse diluído por completo. O IRA
depôs suas armas em julho de 2005. Após mais de quatro décadas de conflito, protestantes
e católicos formaram, em maio de 2007, um governo de união para administrar a Irlanda
do Norte – o Ulster. Histórico, o acordo determina a autonomia limitada do Ulster,
que passa a legislar sobre questões como agricultura, educação e saúde. Mesmo com a
consolidação do acordo, os militantes do IRA declararam que prosseguirão na sua busca
pela independência, mas agora pelos trâmites políticos legais. Em março de 2006, foi
à vez do ETA. Ambas as organizações optaram pela via política e institucional como
caminho para atingir seus objetivos. Contudo, no dia 30 de dezembro de 2006, o grupo
ETA rompeu a trégua ao explodir um carro-bomba no Aeroporto Internacional de Madri
e em junho de 2007 declarou oficialmente o fim do cessar-fogo permanente estabelecido
em março de 2006 e a retomada da luta armada em busca da “construção de um Estado
livre”.
5 – José Arbex Jr. “Terrorismo: um legado da história”. Texto que circulou na Internet em
sites de Ciências Sociais, em outubro de 2001, sem maiores referências.
6 – Segundo Kamel (2007, p. 83): “... para o Islã, não existe, em nenhuma hipótese,
conversão forçada. Islã (...) é uma palavra árabe que significa submissão, mas ela tem a
mesma raiz da palavra paz. Infelizmente, hoje, vivemos desses períodos sombrios em que
a minorias se sobressaem”.
7 – O Alcorão não foi escrito por Maomé. Sendo o profeta analfabeto, as transcrições
das revelações feitas pelo anjo Gabriel deve-se ao califa Otman, terceiro sucessor de
Maomé no ano 652 da nossa Era. Em língua portuguesa, grafa-se o livro sagrado islâmico
de duas formas: “Alcorão e Corão”. Neste artigo, faremos uso do vocábulo “Alcorão”,
pois segundo Kamel (2007, p.73-74): “Literalmente, Alcorão quer dizer ‘A Leitura’ (em
português, deve-se dizer Alcorão, e não o Corão, porque a palavra entrou em nossa língua
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daquela primeira forma, assim, como outros três mil vocábulos, como, por exemplo,
almofada, alfaiate, álcool, alfinete etc.)”. Manteremos a grafia “Corão” quando a mesma
for citada desta forma por outros autores.
8 – Mas, nem por isso, alguns membros dessa facção são mais tolerantes; basta lembrar
que Saddam Hussein e milicianos no grupo Al Qaeda são de inspiração sunita. No
Afeganistão, de maioria sunita, os xiitas, por exemplo, são considerados “párias”.
9 – Convém ressaltar que esse grupo não se denomina fundamentalista e, sim, mujähidün
(guerreiros da liberdade) e de defensores da jihad, a “guerra santa” contra os inimigos do
Islã.
10 – Para Kamel (2007), classificar os xiitas de “fundamentalistas” é enobrecê-los.
Segundo o jornalista e sociólogo, os líderes desses grupos se aproximam mais de Hitler
do que de fanáticos religiosos como Jim Jones e devem ser chamados pelo que realmente
o são: “totalitários do Islã”.
11 – No dia 30 de junho de 2007, o governo britânico elevou o nível de alerta terrorista
para “crítico” após o impacto de um carro em chamas contra um terminal do aeroporto de
Glasgow, no sul da Escócia. A polícia escocesa afirmou que o ataque foi “um ato terrorista
claramente vinculado” aos dois carros-bomba localizados pelas autoridades inglesas em
Londres na sexta-feira (29/06). O “alerta crítico” não era acionado no Reino Unido desde
7 de julho de 2005, quando um atentado suicida matou 52 pessoas na capital inglesa.
Muçulmanos que trabalharam no sistema de saúde do país são foco da investigação sobre
plano terrorista em Londres e Glasgow, assim como se suspeita da participação de células
do grupo Al Qaeda na elaboração dos atos.
12 – Os itens “u” e “x” se fazem vivos quando nos reportamos às palavras de Osama bin
Laden quando a este recaíam as suspeitas de ser o mentor dos atentados contra os Estados
Unidos em 11 de setembro de 2001: “Eu já disse que eu não estou envolvido nos ataques de 11
de setembro nos Estados Unidos. Como um muçulmano, eu dou o melhor de mim pra evitar
contar uma mentira. Eu não tinha nenhum conhecimento desses ataques nem eu considero
um ato aceitável matar mulheres inocentes, crianças e outros seres humanos. O Islã proíbe
formalmente tais práticas, mesmo no curso de uma guerra”. (KAMEL, 2007, p. 240)
13 – Inflamados discursos contra o imperialismo estadunidense deram a tônica em
diversos setores de orientação comunista. As ações terroristas contemplariam os anseios
de substancial parcela do antiamericanismo. Os algozes do “Império” eram saudados
como redentores. Mas esse discurso é opaco. A rede terrorista que orquestrou os atentados
contra os Estados Unidos é conservadora e busca a consecução de um “Imperialismo
Islâmico”. Por mais que se aclamem as violentas ações executadas contra os Estados
Unidos, a ideologia comunista também não se avolumaria em um possível mundo regido
pelas leis do fundamentalismo islâmico. O próprio regime Talebã no Afeganistão é
um exemplo de como os valores democráticos são sepultados sobre os escombros de
massacres e severas punições à população do país. O ex-líder do Irã, Aiatolá Khomeini,
em carta endereçada ao então dirigente da União Soviética, Mikhail Gorbatchov, dez
anos antes do fim do Império Soviético, sentenciou: “Em dez anos, o comunismo, essa
perversão do espírito humano, terá desaparecido da face da Terra. Já o Islamismo, que
prega o amor e não o ódio, prosseguirá em sua campanha vitoriosa, pois nada nem
ninguém pode bloquear nossa fé”. Pelo raciocínio de Khomeini o comunismo não teria
futuro promissor na arena política do Islamismo fundamentalista. Contudo, Khomeini
se engasga nas próprias palavras quando diz que o Islamismo prega o amor ao invés do
ódio. De fato, como já mencionamos, o Islã original cativava sentimentos fraternos (e
muitos seguidores ainda o fazem.). Mas a ala fundamentalista que Khomeini representou
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Terrorismo: um legado histórico e sua caracterização na plataforma midiática
até sua morte e os xiitas têm uma estrábica visão desses valores. O egípcio Sayyid Quttb,
ideólogo do grupo Irmandade Muçulmana, é autor da obra Sinalizações da estrada (texto
considerado a “bíblia” do terror islâmico). Nessa obra, Qutb dispara contra o comunismo:
“Hoje, o marxismo foi derrotado no plano das idéias, e não será exagero afirmar que
nenhuma nação no mundo é verdadeiramente marxista. De maneira geral, essa teoria está
em desacordo com a natureza e as necessidades humanas. Essa ideologia só prospera em
uma sociedade degenerada, ou em uma sociedade que se tornou acuada diante de alguma
forma de ditadura prolongada”. (Appud KAMEL, 2007, p. 206)
14 – José William Vesentini. “Terrorismo e Nova Ordem Mundial - alguns comentários”.
Texto que circulou na Internet em sites de Ciências Sociais, em outubro de 2001, sem
maiores referências.
15 – Ilustrando essa máxima, a revista Veja (2001, p. 112) atenta que: “Em um célebre
discurso na ONU em 1974, o líder palestino Yasser Arafat defendeu a tese de que um povo
que luta pela própria independência tem o direito de apelar para atos terroristas. Foi muito
aplaudido. Impecável na teoria, o discurso de Arafat e o apoio que ele recebeu abriram a
porta a abusos de toda ordem. Em dez anos o número de grupos terroristas de expressão
mundial multiplicou-se por cinco”. Em 11 de março de 2006, a Conferência de Madri
teve como pauta o terrorismo. O então secretário-geral da ONU, Kofi Anan, clamou à
comunidade internacional a conceber e adotar um novo tratado sobre o terrorismo, que
tornará ilegal qualquer ataque a civis e estabelecerá diretivas para uma resposta coletiva à
ameaça. Kofi Anan definiu o terrorismo como “Qualquer ato que tem como objetivo causar
a morte ou provocar ferimentos graves em civis ou qualquer pessoa que não participa
ativamente das hostilidades numa situação que visa intimidar a população ou compelir
um governo ou uma organização internacional a fazer ou a deixar de fazer qualquer ato”.
Para Chistopher Greenwood (London School of Economics – Londres) há “o grande risco
de que sejam encontradas soluções arbitrárias, que respondam mais a interesses políticos
do que à necessidade real de enfrentar a ameaça terrorista internacional”. Fonte: Folha de
S. Paulo, 20/03/2006, p. A-24.
16 – Para Serva (2001, p. 71): “A desinformação funcional (...) corresponde a um fenômeno
definido pelo fato de que as pessoas consomem informações através de um ou mais meios
de comunicação, mas não conseguem compor com tais informações uma compreensão do
mundo ou dos fatos narrados nas notícias que consumiram”.
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