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CMYK & Trabalho formação profissional CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 2 de março de 2014 IFICADOS OFERTAS NO CLASS 37 OFERTASSDEDECUEMRSPROSEGOS 385 OFERTA ÃO: E MAIS NESTA EDIÇ Editora: Ana Sá [email protected] [email protected] Tel: 3214 1182 SOS 122 OFERTASSDEDECOESNCTÁGIURO 1.050 OFERERTATAS DE EMPREGO 686 OF As desbravadoras A quantidade de trabalhadoras em profissões consideradas masculinas ainda é baixa, mas elas não se deixam abalar por ser minoria e brilham nos chamados “empregos de homem” » ANA PAULA LISBOA a semana do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, o Correio reúne exemplos de profissionais corajosas, que fazem parte da minoria a ocupar funções tradicionalmente exercidas por homens. Engenheiras, cirurgiãs, pilotos e motoristas ainda são exceção à regra. Por outro lado, tornam-se exemplos para que garotas de todas as idades trilhem cada vez mais esses caminhos e quebrem paradigmas de divisões de gênero. Para ter melhores salários e ocupar cargos de chefia, ainda há muito a conquistar, mas o cenário está em processo de mudança. Mas de onde vem essa coisa de emprego “de homem” ou “de mulher”? A escolha da área profissional a ser seguida não é baseada no simples gosto, segundo Natália Fontoura, pesquisadora da Coordenação de Igualdade de Gênero e Raça do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Meninos e meninas são educados de formas diferentes e são orientados a se aproximar de certos campos, até por meio dos brinquedos”, critica. Outro problema é o espelho da sociedade: “Quando vemos menos mulheres nas engenharias, na construção civil ou no comando de aviões, por exemplo, isso tende a ser perpetuado”. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2012 mostram que, na construção civil, estão 15% dos homens e 0,6% das mulheres empregadas. Na indústria, são 15,6% dos homens e 11,9% das mulheres, enquanto nos serviços sociais (educação, saúde, trabalho doméstico etc.), estão 32% das mulheres ocupadas e 4,8% dos homens. O curso superior com mais alunas é pedagogia, e a graduação com maior quantidade de alunos é engenharia mecânica, áreas com grandes diferenças salariais. Aventurar-se por profissões em que os homens predominam gera desafios. “Não existem falhas no desempenho, mesmo nas áreas que exigem força. O problema é conciliar a carreira com o trabalho doméstico e driblar a discriminação de colegas e da própria família”, avalia a professora Denise Delboni, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação GetulioVargas (FGV-EAESP). Sthephanne Jacklline Calutino, 28 anos, é prova disso. Ela se capacitou como azulejista em curso oferecido pelo Instituto Federal Brasília (IFB) em parceria com a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste. Depois de trabalhar oito meses na reforma de prédios, desistiu, por considerar a construção civil um setor despreparado para as trabalhadoras.“Apesar de os homens terem mais força, eu tinha capacidade de fazer o trabalho. O salário era pequeno e eu sofria com piadinhas, ‘zoações’ e apelidos por parte dos colegas, que, ainda por cima, inventavam mentiras sobre mim para o chefe. O vestiário e o banheiro eram compartilhados, e os homens tentavam me observar enquanto eu me trocava”, queixa-se. Apesar das dificuldades, as mulheres estão se inserindo mais em áreas como a indústria e a construção civil. Neuza Tito, secretária adjunta de Políticas do Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres, acredita que essa tendência deve continuar. “Aos poucos, a população vai ter outra visão sobre os locais de trabalho adequados para mulheres. Trata-se de um processo gradativo, pois a visão machista dura há anos”, afirma. Ela acredita que políticas públicas e a postura da mulher, que se mostra capaz para qualquer área de atuação, ajudam a mudar essa situação. N Mulheres-maravilha / Histórias de vida e de trabalho Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press Os olhos do metrô Nayara Lopes, 29 anos, piloto do metrô No metrô de Brasília, circulam 140 mil usuários por dia, conduzidos por 201 pilotos, dos quais 20 são mulheres. Nayara Lopes é uma delas. A função que desempenha há oito anos exige conhecimento técnico, controle emocional, responsabilidade e concentração. Nayara define os pilotos como os “olhos do sistema metroviário” e sabe que uma distração momentânea pode causar uma tragédia. “A função de piloto é de risco. A situação mais estressante pela qual passei aconteceu quando duas jovens sentaram na plataforma do metrô, com as pernas dependuradas, e não perceberam que o trem estava se aproximando. Acionei a buzina e freei, mas demorei a parar. Por pouco elas escaparam”, conta. Nayara controla o painel, dá avisos, e está pronta para identificar e resolver falhas. “No início, os passageiros se espantavam por eu ser mulher e faziam piadinhas. Quanto mais o tempo passa, mais as pessoas encaram a minha função com naturalidade. A inserção da mulher quebra paradigmas do machismo.” Primeira-dama da cirurgia cardíaca Maria Cristina Rezende, 52 anos, médica especializada em cirurgia cardiovascular Os homens são maioria em 40 das 53 especialidades médicas. As mulheres predominam em áreas como pediatria e dermatologia. Em cirurgia, são exceção: menos de 10% dos cirurgiões cardiovasculares do Brasil são mulheres, segundo o estudo Demografia Médica no Brasil, do Conselho Federal de Medicina. Maria Cristina Rezende é uma das quatro cirurgiãs da área no DF. Ao terminar a residência no Hospital de Base em 1988, tornou-se a primeira médica na especialidade no CentroOeste. Sócia de consultórios no Hospital Santa Lúcia e no Instituto do Coração de Taguatinga, realiza cirurgias em locais como o Hospital do Coração. Encarregada de restituir a saúde e a qualidade de vida de pacientes, lida com o estresse com naturalidade. “Sem controle emocional, não dá para levar adiante. É uma área que exige esforço físico e dedicação para ficar até 10 horas numa operação”, revela. Abrir mão do lazer é rotina. “Muitas vezes, estava pronta para ir ao cinema e tive que correr para uma cirurgia de emergência. A dedicação é 24 horas. Meus filhos reclamam muito”, relata. Criadora de pérolas negras Flávia da Costa Rocha, 36 anos, criadora e importadora de cavalos da raça friesian A paixão por equinos virou profissão depois que Flávia da Costa Rocha teve de parar de atuar como fisioterapeuta por conta da doença de Stergardt, que causa degeneração da retina. Sua especialidade é a raça holandesa friesian, uma das mais raras e antigas do mundo. No Brasil, há apenas 40 animais do tipo, conhecidos como pérolas negras. Em viagens ao país europeu, Flávia fez parcerias com criadores e trouxe a Brasília o primeiro cavalo da raça para montar a própria empresa de importação de cavalos, a Black Gold Friesian. “O fato de o cavalo ser um animal grande me ajuda a enxergar, e posso trabalhar sozinha. Um cavalo custa R$ 150 mil. Os lucros superam as expectativas”, diz. Na Holanda, ela só encontrou mulheres criadoras, ao contrário do que ocorre no Brasil. “Aqui, as mulheres só montam, mas acho que é por falta de costume de criar e de ser proprietária.” Vaidade ao volante Visão da sociedade Ana Paula Sampaio, 41 anos, motorista de táxi Um questionário da Expertise, empresa de pesquisa e inteligência de mercado, consultou, pela internet, 1.258 pessoas em todos os estados brasileiros sobre diferenças entre os gêneros. A presença feminina em profissões consideradas de domínio masculino foi vista como normal pela maioria dos respondentes: metade das pessoas não veria problemas em ser conduzida por uma taxista ou por uma piloto de avião. “Com o passar do tempo, cresce a aceitação de mulheres em papéis que, normalmente, seriam de homens. Isso mostra uma evolução na sociedade”, analisa o diretor de Operações da empresa, Rodrigo Cicutti. O estudo também mostrou que 75% dos entrevistados consideram o Brasil um país machista e que 62% das pessoas reconhecem a legitimidade do movimento feminista. A opinião de que homens e mulheres devem dividir as tarefas domésticas e o cuidado com os filhos é compartilhada por cerca de 90% dos entrevistados. Entre cada cinco pessoas, quatro não consideram um problema a mulher ganhar mais que o marido. Entre os cerca de 7,5 mil taxistas do Distrito Federal, 10% são mulheres, segundo o Sindicato dos Taxistas do DF. Ana Paula Sampaio faz parte da minoria há 12 anos. Carro limpo, flor de pelúcia no painel, boa direção, simpatia e boa aparência ajudam a conquistar clientes fixos. “Eu trabalhava como monitora de creche e ganhava pouco. Meu marido era taxista e me incentivou a mudar de área. Deu certo. Não tenho vergonha de dizer que gosto de ser taxista. Adoro meus clientes e muitos já viraram amigos. Muitos me esperam para andar comigo”, conta. Ana Paula avalia que a carreira é mais complicada para quem é mãe e esposa. “Meu marido chega em casa e pode descansar. Eu ainda cozinho, limpo, cuido dos filhos”, explica. O fato de motoristas de táxi precisarem estar sempre à disposição também é um agravante. “Às vezes, tenho que deixar as panelas no fogão e sair correndo.” Ela já passou por situações em que foi discriminada. “Procuro relevar quando reclamam ou fazem piada por eu ser mulher, mas já foi pior. Agora, as pessoas estão mais acostumadas”, percebe. » Leia mais na página 2 CMYK