Ponto de vista O vereador Waldir Pires Joaci Góes joacigoes@uol

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Ponto de vista O vereador Waldir Pires Joaci Góes joacigoes@uol
Ponto de vista
O vereador Waldir Pires
Joaci Góes [email protected] www.joacigoes.com.br
É improvável que surja, ao longo das eleições municipais do ano corrente, em
todo o país, algum fato capaz de rivalizar com o interesse popular despertado pela
candidatura de Waldir Pires a vereador de Salvador. A novidade consiste na
surpreendente disposição de alguém, no apogeu da maturidade, com um dos mais
ricos currículos, construído a partir da segunda metade do último século, concorrer a
um posto normalmente encarado como marco inicial da carreira política.
É natural e previsível, portanto, que a instigante decisão de Waldir Pires
continue a ser objeto, em lares e bares, de inúmeras suposições que buscam
desvendar a motivação básica que lastreia sua heterodoxa e até certo ponto inédita
iniciativa, em nossa história, na medida em que não se conhece precedente de alguém
com o seu peso que haja se habilitado a posto tão modesto, comparativamente às
dimensões do seu prestigioso nome. Otávio Mangabeira, o mais ilustre dos edis
soteropolitanos, chegou à vereança aos 26 anos, não valendo como precedente.
É verdade que, em várias capitais do Brasil, políticos de peso como César Maia,
no Rio, Arthur Virgílio, em Manaus, e Felix Mendonça, em Salvador, anunciam a
disposição de concorrer à edilidade. Nenhum deles, porém, exerceu tantos cargos
como os que conferem a Waldir Pires tão marcante singularidade biográfica na vida
política nacional, inclusive uma acirrada disputa pela indicação do seu nome como
candidato a presidente da República. É verdade, também, que a Câmara de Salvador é
revestida do prestígio de ser a mais antiga das casas parlamentares do Brasil, não
sendo difícil prever o quanto a presença ali de Waldir Pires poderá contribuir para a
elevação de sua credibilidade.
Não são poucos entre os mais qualificados observadores da cena política
brasileira os que pensam que Waldir teria sido eleito se tivesse concorrido, em lugar
de Ulysses Guimarães, nas eleições de 1989.
Descartem-se, de plano, algumas especulações. Necessidade financeira não é.
Dono de uma das mais longas carreiras políticas, Waldir, certamente, conta com a
renda de uma aposentadoria que atende plenamente as exigências da vida modesta de
que nunca se afastou, nem mesmo quando exerceu elevadas funções na vida pública,
de que é prova o padrão espartano que adotou em sua passagem pelo governo da
Bahia. A busca de notoriedade, tampouco. Aclamado por onde passe, chovem
convites, de toda parte, para proferir palestras e receber homenagens.
O mais provável é que Waldir Pires se enquadre no categórico imperativo
kantiano segundo o qual “o homem jamais se libertará da paixão política ou religiosa”.
No seu caso, por formação pessoal, autoelaborada, desde a mais tenra juventude, a
política corre em suas veias, é da essência do seu ser. Um verdadeiro Karma. É
verdade que, pela tradição dos povos, o Senado seja o abrigo derradeiro dos que
acumularam experiência e sabedoria, a serviço da comunidade. Em três diferentes
momentos, porém, esse merecido prêmio lhe foi negado. No primeiro, em 1982, o
perverso sistema eleitoral da vinculação dos votos, concebido pela ditadura para
assegurar maioria no Congresso, impediu sua eleição, como a de Roberto Santos, para
governador. No segundo, em 2002, sua eleição foi roubada, a bico de pena, pelo
guante das forças malvadas que dominavam o estado. Na terceira e mais recente
ocasião, em 2010, o seu partido, o PT, o preteriu, em favor de políticos mais jovens,
deixando inconformada a grande legião dos seus seguidores.
A pregação da política com P maiúsculo é a marca que torna o fascinante e
oracular discurso de Waldir Pires o mais aplaudido do Brasil. Há quem sustente, por
isso, que se parlamentarista fosse o nosso sistema, ninguém rivalizaria com ele no
exercício da presidência da República.
Se essas premissas forem verdadeiras, não será Waldir que estará sendo
julgado nas próximas eleições municipais. Será a maturidade política do povo de
Salvador que estará se habilitando ao julgamento pela história. Será um episódio único
de identidade entre qualidade e quantidade, a ser aferida pelo número de sufrágios
que receber.