1 Ex.mo Senhor Eng. José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa

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1 Ex.mo Senhor Eng. José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa
Ex.mo Senhor
Eng. José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa
Primeiro-Ministro de Portugal
Rua da Imprensa à Estrela, 4
1200-888 Lisboa
Assunto: Acordos de Parceria Económica
27 de Setembro de 2007
Excelência,
A negociação dos Acordos de Parceria Económica (APE) entre a UE e os países ACP está na fase
crucial e a Comissão Europeia (CE) já elaborou propostas para os textos dos APE em os todos os países
e regiões da ACP. Existe uma pressão crescente da CE para ser alcançado um acordo antes que expire a
cláusula da OMC. Acresce a esta pressão a ameaça da CE de aumentar as tarifas aduaneiras sobre as
exportações dos ACP, caso não se alcance um acordo até final de 2007. À medida que se aproxima o
final das negociações dos APE, nós estamos seriamente preocupados em garantir que os meios de
subsistência e o futuro de milhões de pobres sejam colocados no centro das negociações e que estas
prioridades não sejam sacrificadas por questões de cumprimento de prazos.
Apesar das conclusões adoptadas pelo Conselho da UE e pelo Conselho Conjunto ACP-UE, em Maio
(o compromisso com o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza), todos os sinais vindos
das negociações sugerem que estes compromissos não estão a ser tidos em conta nas negociações. A
análise das propostas dos textos da CE mostra que elas vão mais longe do que o exigido pela
conformidade com as regras da OMC e que, em muitos aspectos, são contrárias ao desenvolvimento.
Esta preocupação aplica-se, por exemplo, aos serviços e às outras questões relacionadas com o
comércio, que os negociadores europeus continuam a tentar fazer avançar, mau grado o direito dos
países ACP de escolher negociá-las ou não.
Embora os estados-membros da UE estejam de acordo quanto à necessidade de apoiar a integração
regional entre os países ACP, a posição negocial da CE poderá conduzir ao resultado oposto. A Europa
levou a cabo a sua integração regional através da protecção e da promoção do seu mercado regional e
apoiando a sua agricultura e a sua indústria, para os tornar competitivos. Estas mesmas medidas estão a
ser recusadas às regiões ACP. É-lhe exigido que abram os seus mercados regionais à UE antes de os
seus produtores e mercados regionais terem a oportunidade de amadurecer.
As questões que estão em cima da mesa são complexas e, dado o impacto que podem ter no
desenvolvimento dos países mais pobres, devem ser cuidadosamente analisadas e amplamente
debatidas. Até ao momento, tal não aconteceu. Com efeito, os compromissos e propostas não foram
devidamente examinados ou discutidos por peritos imparciais ao nível dos governos nacionais nem
mesmo por óbvios interessados, tais como, de modo especial, organizações de agricultores, sindicatos e
o sector empresarial.
Há passos concretos que os países da UE poderiam e deveriam dar para assegurar que o
desenvolvimento tenha a prioridade que lhe é devida:
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Em primeiro lugar, apelamos a Vª. Ex.ª para que faça uso da Presidência Portuguesa no sentido
de promover uma profunda avaliação e debate democrático das diversas propostas que estão
em cima da mesa.
Em segundo lugar, reiteramos que a UE deve deixar de insistir na obtenção de um acordo
recíproco quanto ao acesso a mercados para bens e quanto à inclusão de novas questões, tais
como investimento, política de concorrência e aquisições públicas ou disposições “OMC-plus”
para serviços ou direitos de propriedade intelectual em qualquer acordo comercial com os
países ACP. Relembramos o compromisso do Conselho da UE, de 15 de Maio de 2007, de
“respeitar integralmente o direito de todos os Estados e regiões ACP de determinar as melhores
políticas para o seu desenvolvimento”.
Em terceiro lugar, na linha daquilo que foi avançado pelos Ministros ACP (a 24 de Maio de
2007), os Estados-Membros da UE deveriam cumprir as suas obrigações legais e assumir
imediatamente o compromisso formal de não impor tarifas mais altas nem dificultar as trocas
comerciais, caso um APE não seja alcançado até ao final do ano. Além disso, os EstadosMembros deveriam reconhecer que, como foi demonstrado recentemente, existem soluções
tecnicamente exequíveis que estão em conformidade com as regras da OMC. Falta a vontade
politica dos Estados-Membros e capacidade de liderança para as implementar.
Por fim, Senhor Primeiro Ministro, instamo-lo a assegurar que, independentemente dos
resultados das negociações, os Estados-Membros da UE assumam e respeitem compromissos
quanto à ajuda suplementar para fazer face às limitações dos países ACP ao nível da oferta e a
fortalecer os seus mercados locais e regionais. A disponibilização desta ajuda deve ser feita de
acordo com os princípios da Declaração de Paris.
Congratulamo-nos com a prioridade conferida ao desenvolvimento, na agenda da Presidência
Portuguesa e, particularmente, o acento posto nas relações entre a UE e a África. Por isso, apelamos à
sua Presidência para que garanta a coerência entre os compromissos expressos pela UE em relação à
forma e o conteúdo das negociações dos APE. Preocupa-nos o facto de o actual rumo das negociações
dos APE ir no sentido de comprometer o desenvolvimento e não do seu reforço, minando, assim, as
aspirações de desenvolvimento contidas no projecto de estratégia UE-África.
Desejamos uma Presidência Portuguesa activamente empenhada em trabalhar para o desenvolvimento
sustentável e que tenhamos a oportunidade de trocar mais impressões sobre estas matérias.
Assinam,
(Membros da Plataforma dos Acordos de Parceria Económica) AEFJN, ATTAC, CGTP, Centro Cultural
Africano, CIDAC, Desafio Miqueias – Micah Challenge Portugal, Fundação Gonçalo da Silveira, GAIA,
LPN, OIKOS – Cooperação e Desenvolvimento, Roda Inteira, Solidariedade Imigrante
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