GRÉCIA ANTIGA – 1 A aventura da Guerra de Troia foi registrada

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GRÉCIA ANTIGA – 1 A aventura da Guerra de Troia foi registrada
GRÉCIA ANTIGA – 1
A aventura da Guerra de Troia foi registrada nos 15.693 versos da Ilíada, atribuídos ao poeta grego Homero, que teria vivido no século
VIII a.C. Acredita-se, porém, que a história seja ainda mais antiga e que tenha sido transmitida oralmente, de geração a geração, até ser
registrada por escrito. Trata-se de um relato que nos leva ao mundo grego antigo, povoado por heróis e por deuses com sentimentos e
emoções humanas.
As origens da civilização grega
Os habitantes da Grécia antiga — ou Hélade, como eles mesmos chamavam a região — ocupavam terras banhadas pelo Mar Mediterrâneo.
A história grega se desenvolveu em uma estreita relação com as condições geográficas da região. A escassez de rios interiores, o relevo
montanhoso e a presença de centenas de ilhas contribuíram para que o mar fosse a rota de comunicação usual dos gregos.
Os primeiros povoadores se estabeleceram por volta de 6000 a.C. na região hoje conhecida como Grécia. Vindos provavelmente pelo
mar, fundaram as primeiras aldeias, onde praticavam a agricultura e a criação de animais.
Creta
Durante o segundo milênio anterior a Cristo, enquanto no Egito e na Babilônia se organizavam poderosos Estados, na Ilha de Creta, no
Mar Egeu, florescia uma cultura original, a civilização cretense. Os cretenses nos deixaram muitos registros da sua sociedade, como
objetos de cerâmica e bronze, armas, joias e pinturas.
A capital da civilização cretense era a cidade de Cnossos. Essa cidade não tinha construções muradas, o que leva a crer que seu poderio
era mais comercial do que militar. Ao que parece, sua frota marítima sustentava um intenso comércio na região do Mar Mediterrâneo,
que abrangia desde o Egito até a Ásia Menor.
Pouco se sabe da vida social e da forma de governo dos cretenses, mas pode-se afirmar que seus reis habitavam palácios luxuosos.
Estes foram construídos por volta de 2000 a.C. e constituíam o centro da vida cretense. Os mais importantes palácios localizavam-se
em Cnossos, Faístos e Mália.
Os edifícios cretenses eram construídos em torno de um pátio central e compunham-se de locais de moradia, amplas salas de recepção,
corredores, oficinas de artesanato e armazéns. Alguns ambientes eram decorados com pinturas coloridas que ilustravam figuras humanas e de animais e representações de plantas.
A civilização cretense chegou ao apogeu por volta do ano 1700 a.C. Um século depois, segundo as pesquisas arqueológicas, uma catástrofe natural, provavelmente um terremoto, teria destruído essa magnífica civilização.
A civilização micênica
Por volta do ano 1400 a.C., a Ilha de Creta e o sul da Grécia continental foram invadidos pelos aqueus. Esse povo se estabeleceu na
Península do Peloponeso, onde fundou as cidades amuralhadas de Micenas, Tirinto e Pilos.
Os aqueus conquistaram a Ilha de Creta e aí difundiram muitos elementos de sua cultura, criando a chamada civilização micênica. As
cidades micênicas, ricas em ouro e cercadas de grandes muros, eram pequenos reinos comandados por chefes guerreiros. Acredita-se
também que os aqueus aprenderam com os cretenses a arte do comércio marítimo e herdaram deles a talassocracia (Estado que baseia
seu poder no domínio dos mares com frota marítima poderosa).
Por volta de 1100 a.C., provavelmente em razão de dificuldades econômicas e ocorrências naturais, como secas, a civilização micênica
entrou em declínio. O enfraquecimento da civilização micênica coincidiu com a chegada dos dórios, um povo guerreiro, que já produzia
armas de ferro.
Com a chegada dos dórios, muitas mudanças ocorreram na Grécia. A produção passou a ser de subsistência, com a exploração da mãode-obra familiar, auxiliada por uns poucos trabalhadores assalariados e também por escravos; a arte e a escrita quase desapareceram; o
artesanato decaiu; as requintadas armas de bronze foram aos poucos sendo substituídas por artefatos mais grosseiros, porém resistentes e mortíferos, feitos de ferro; e o sepultamento em magníficos túmulos foi substituído pela cremação simples.
Os genos
Nesse período, a população passou a se organizar em genos, pequenas comunidades rurais cujos membros acreditavam descender de
um mesmo ancestral, em geral um herói ou um deus. O genos era uma família extensa, dirigida pelo geronte, que comandava a produção econômica, as atividades religiosas e as guerras. A população vivia basicamente da agricultura e da criação de rebanhos. Por volta
de 800 a.C., os genos cresceram e deram origem a outra forma de organização social: a pólis ou cidade-Estado.
Aqueus contra troianos
A Guerra de Troia, citada no início do texto, teria ocorrido por volta de 1200 a.C., travada entre gregos (aqueus) e troianos. Segundo a
tradição mítica, o príncipe troiano Páris raptou Helena, esposa de Menelau, rei da cidade de Esparta, e a levou para Troia. Para resgatar
Helena, Menelau convocou uma poderosa força militar, liderada por Agamenon, Aquiles, Menelau e Odisseu (Ulisses), que partiu para a
cidade de Troia, onde lutou durante dez anos.
Conta a lenda que os gregos só venceram os troianos depois que Odisseu mandou fazer um enorme cavalo de madeira. Ele convenceu
os troianos a permitir a entrada do cavalo na cidade, usando o argumento de que seria uma oferenda à deusa Afrodite. O cavalo era
oco e nele estavam escondidos valentes soldados gregos. Quando veio a noite, eles saíram do cavalo e atacaram a cidade de Troia,
derrotando o inimigo.
As últimas semanas da Guerra de Troia e o retorno de Odisseu à sua terra natal foram contados na Ilíada e na Odisseia, poemas épicos
atribuídos ao poeta cego Homero. Hoje, acredita-se que Homero é uma figura lendária e que esses versos teriam sido compostos pelos
aedos (poetas ambulantes) em épocas distintas. Recitando os poemas, os aedos os teriam transmitido por sucessivas gerações. Os
poemas só foram registrados em sua forma escrita no século VI a.C.
O período arcaico
Entre 800 a.C. e 500 a.C. iniciou-se o processo de urbanização da Grécia. Algumas fronteiras começaram a ser fixadas, o que favoreceu a
delimitação do território das cidades-Estado. As cidades tinham uma organização política e social própria e independente e variavam
também de população e tamanho.
Os habitantes dessas comunidades falavam a mesma língua e tinham a mesma religião, o que criou entre elas um forte sentimento de
identidade. Eles se autodenominavam helenos, em oposição aos povos que chamavam de bárbaros. Para os gregos, os bárbaros eram
os estrangeiros, aqueles que não conheciam a língua e outros elementos da cultura grega.
O grego — falado ainda hoje na Grécia, com algumas modificações — pode ser considerada a língua antiga mais influente nos países
ocidentais. Algumas palavras do português atual nada mais são do que a própria palavra grega original transcrita em caracteres latinos
e adaptada à fonética portuguesa (exemplos: filósofo, herói, história, lógica, órfão).
A mitologia grega
Além da língua, os gregos também tinham crenças religiosas comuns. Eram politeístas e recorriam a oráculos para adivinhar o futuro.
Cada cidade possuía um deus protetor. Os deuses gregos tinham sentimentos humanos, como inveja, cobiça, orgulho, ciúme e ódio, e
pouco se diferenciavam dos seres humanos, apesar de serem representados como imortais. A maioria deles habitava o Monte Olimpo.
Nesta região realizavam-se os jogos em honra a Zeus, que reuniam todos os povos da Grécia e constituíam uma marca da cultura grega.
Os deuses
A narrativa da origem dos deuses foi realizada pelo poeta Hesíodo, no canto chamado Teogonia (origem dos deuses), durante o período arcaico. De acordo com essa obra, cada deus grego tinha uma característica especial, representando uma força da natureza ou um
poder particular. Poseidon, que morava no mar, e Hefesto, que habitava as profundezas da terra, eram uns dos poucos deuses que não
viviam no Olimpo. Os deuses da mitologia grega podiam gerar filhos da união com mortais, nascendo assim os heróis ou semideuses,
como foi o caso de Hércules (filho de Zeus com Alcmena) e de Aquiles (filho da deusa Tétis com o mortal Peleu). Entre os principais
deuses gregos estavam Zeus (rei dos deuses), Poseidon (deus do mar), Hefesto (deus do fogo), Hera (deusa protetora da família), Atena
(deusa do pensamento e da sabedoria), Ares (deusa da guerra), Apolo (deus da luz do Sol), Afrodite (deusa do amor e da beleza).
As Olimpíadas
Em alguns santuários aconteciam periodicamente grandes competições, que reuniam participantes de todas as cidades. Em Olímpia
aconteciam, a cada quatro anos, os Jogos Olímpicos — em homenagem a Zeus —, que foram os mais importantes de toda a Grécia.
Durante o período das competições havia trégua entre as cidades que estivessem em guerra e garantia-se a passagem e a segurança de
todos que se dirigiam a Olímpia.
Os Jogos Olímpicos realizavam-se em um período de seis dias. O primeiro dia era dedicado às cerimônias religiosas e ao juramento
olímpico, os cinco restantes, aos jogos propriamente ditos. A competição mais importante incluía corrida, salto, luta, arremesso de
lança e de disco. No sexto e último dia os vencedores recebiam seus prêmios. Ganhavam apenas coroas de folhas de louro ou tripés de
bronze. Quando retornavam a suas cidades, entretanto, eram alvo de verdadeira glorificação. Nos Jogos Olímpicos, os atletas competiam individualmente; não havia participação de equipes. As mulheres não podiam participar nem mesmo assistir aos jogos. Além das
competições esportivas, durante os jogos eram realizados concursos de declamação, de oratória, apresentação de peças teatrais e
concursos musicais.
A expansão colonial grega
Após o século VIII a.C., a população passou a crescer rapidamente na Grécia, e as terras disponíveis para a agricultura tornaram-se insuficientes para produzir alimentos para todos. Apesar de a economia ainda continuar baseada nas atividades agropastoris, o comércio e
o artesanato se desenvolveram nas cidades, com a difusão do uso da moeda.
Foi especialmente o desenvolvimento do comércio que estimulou os gregos a procurar novas regiões onde pudessem encontrar terras
férteis, metais e mercados para comercializar os artigos que tinham a oferecer (especialmente azeite e vinho). Muitos camponeses
endividados também viam na busca de novas terras um caminho para livrar-se das dívidas e melhorar de vida. Assim, entre os séculos
VIII a.C. e VI a.C., os gregos fundaram várias colônias nas proximidades do Mar Mediterrâneo, onde cultivavam trigo, extraíam metais e
madeira e criavam animais.
O poder da aristocracia
A expansão colonial grega agravou as dificuldades dos pequenos proprietários das cidades-Estado. Os pequenos camponeses não tinham terras para plantar grande quantidade de oliveiras nem tempo suficiente para deixar crescer as árvores até que produzissem,
enquanto os grandes proprietários que produziam azeite e vinho ficavam cada vez mais ricos. Com a concorrência dos cereais produzidos nas colônias, os camponeses das cidades-mães ficaram arruinados.
A consequência foi o aumento do poder da aristocracia , que controlava o governo e possuía as melhores terras. À medida que iam
conquistando mais poder, os aristocratas expropriavam os pequenos produtores. Sem terras férteis e sem recursos para garantir sua
sobrevivência, esses camponeses empobreciam e assumiam dívidas com os grandes proprietários. Quando não conseguiam pagá-las,
tomavam-se escravos. Criou-se, com essa situação, a escravidão por dívida.
O crescimento da população, além de agravar a situação da falta de terras férteis, fez com que aumentasse o número de escravos na
Grécia. A colonização de áreas às margens do Mar Egeu e em outros trechos do Mediterrâneo foi uma saída para a população pobre.
Embora a escravidão tivesse crescido entre os séculos VIII a.C. e VI a.C., os escravos constituíam ainda uma pequena parcela da população e não tinham grande importância como mão-de-obra na vida econômica das cidades-Estado. Ainda não existia uma sociedade escravista, a qual só se consolidaria durante o período da história grega denominado clássico.

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