AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIVIRAL DE - EAIC
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AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIVIRAL DE - EAIC
AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIVIRAL DE POLISSACARÍDEO E FRAÇÕES OBTIDAS DE Agaricus brasiliensis NA REPLICAÇÃO DO HERPESVÍRUS BOVINO Ana Letícia Scaldelai Bernardi (PIBIC/CNPq – UEL), Kristie Aimi Yamamoto (PIBIC/CNPq – UEL), Rosa Elisa Carvalho Linhares (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Biológicas Palavras-chave: Agaricus brasiliensis, atividade antiviral, herpesvírus bovino Resumo: O Agaricus brasiliensis, popularmente conhecido como Cogumelo do Sol, é um basidiomiceto natural do sudeste do Brasil, amplamente consumido na forma de chá, devido às suas propriedades nutricionais e farmacológicas. Neste estudo, nós avaliamos a citotoxicidade do polissacarídeo (PLS) e frações 1 e 2 (F1 e F2) extraídos do corpo de frutificação de A. brasiliensis, em células HEp-2, bem como suas atividades antivirais para o herpesvírus bovino tipo 1 (HBoV-1). O PLS, F1 e F2 apresentaram concentrações citotóxicas 50% acima de 1000 µg/ml, pelo método do dimetilthiazol difenil brometo de tetrazólio (MTT). A atividade antiviral foi monitorada pelo ensaio de redução de plaque e os compostos foram adicionados nas várias concentrações, antes (-2 e -1h), durante (0h) e após (1 e 2h) a infecção viral. Os resultados mostraram que, quando o PLS, F1 e F2 foram adicionados às células no momento (tempo 0h) e após (1 e 2h) a infecção, ocorreu uma redução no número de plaques, dependente de concentração, de até 100% para as três substâncias e com índices de seletividade superiores a 4. Introdução O Agaricus brasiliensis (A. brasiliensis), conhecido popularmente como Cogumelo do Sol, é um basideomiceto originado do Brasil, natural do interior de São Paulo, mais precisamente do município de Piedade (BRAGA; EIRA; CELSO, 1998). O basidiocarpo de A. brasiliensis apresenta 40-45% de proteínas, 38-45% de carboidratos, 6-8% de fibras, 5-7% de minerais, 3-4% de gorduras (ácidos graxos) valores baseados em relação à matéria seca. Contém ainda as vitaminas B1, B2 e niacina e teores elevados de potássio e cálcio (MIZUNO et al., 1990).Os efeitos terapêuticos têm sido atribuídos aos polissacarídeos com ligação β-1,3 glucana ou a um complexo β-1,3 glucana-proteína, entretanto a sua composição química e propriedades medicinais não estão completamente elucidadas (MACHADO et al., 2005). O herpesvírus bovino tipo 1 (BHV-1) é um importante patógeno, responsável por infecções no trato respiratório superior e no trato genital, causando graves perdas econômicas para a bovinocultura (TIKOO et al., 1995). Pertence à família Herpesviridae, subfamília Alphaherpesvirinae, gênero Varicellovirus (ARMSTRONG et al., 1961). Apresenta simetria icosaédrica, envelope lipídico, genoma constituído de DNA de fita dupla, a partícula íntegra mede de 150-200 nm de diâmetro. A sua replicação ocorre no núcleo da célula infectada (ROIZMAN; KNIPE, 2001). Dessa forma, o presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a citotoxicidade do polissacarídeo (PLS) isolado do corpo de frutificação do A. brasiliensis e das frações (F1 e F2) obtidas a partir desse polissacarídeo, em células HEp-2, bem como avaliar a atividade antiviral, monitorado pelo ensaio de plaque. Materiais e Métodos Substâncias O polissacarídeo e as frações F1 e F2, obtidas a partir do complexo polissacarídeoproteína, isolado do corpo de frutificação do A. brasiliensis, foram fornecidas pelo Laboratório de Polímeros do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da Universidade Federal do Ceará/Fortaleza-Ce, Brasil. Células As culturas de células HEp-2 (carcinoma de laringe humana-ATCC-CCI-23) foram cultivadas em Meio Mínimo Essencial modificado por Dulbecco (DMEM), acrescido de 10% de soro fetal bovino (SFB) (Gibco BRL), 100 µg/mL de estreptomicina (Sigma, Chem. Co.), 100 UI/mL de penicilina (Sigma, Chem. Co.) e 2,5 µg/mL de fungizona (Bristol Meyers-Squibb). Vírus O HBoV-1, cedido pelo Departamento de Medicina Veterinária e Preventiva-UEL, foi cultivado em células HEp-2, titulado por ensaio de plaque e estocado a -20°C até o momento de uso. Teste de Citotoxicidade As células HEp-2, cultivadas em microplacas de 96 escavações foram submetidas ao tratamento com concentrações variadas das substâncias testes: 62,5 a 1000 µg/mL (6 poços por concentração da droga), a 37°C em ambiente com tensão de 5% de CO2. As células foram observadas diariamente, por cinco dias, para a detecção de alterações morfológicas. Além disso, foi feita a avaliação da viabilidade celular pelo método do dimetilthiazol difenil brometo de tetrazólio (in vitro toxicology assay kit MTT based, Stock No. TOX-1, Sigma Chem. Co.). A leitura da absorbância foi feita em 490 e 630 nm. A concentração citotóxica de 50% (CC50) foi determinada como a concentração capaz de reduzir 50% da densidade óptica em comparação ao controle. O CC50 foi calculado por análise de regressão linear da curva doseresposta. Ensaio de Redução de Plaque A atividade antiviral por ensaio de redução de plaque foi efetuada de acordo com Melo et al. (2008). Células HEp-2 foram cultivadas em placas de cultura de células com 24 escavações a 37° C, com tensão de 5% de CO2. Após confluência completa, as células foram infectadas e tratadas com as frações e o PLS. Paralelamente foram feitos os controles de célula e de vírus. A porcentagem de inibição viral (%IV) foi determinada pela fórmula: %IV = [1-(Número de plaques no teste / Número de plaques no controle)] x 100. A concentração inibitória 50% (IC50) foi determinada como a concentração capaz de reduzir em 50% o número de unidades formadoras de plaques (PFU) em relação ao controle. A IC50 foi determinada por análise de regressão linear da curva de inibição viral para cada tratamento. Atividade antiviral Três protocolos de tratamento foram utilizados para avaliar a ação das frações e do PLS na replicação viral, por meio do ensaio de redução de plaque, utilizando-se as concentrações de 50 µg/mL, 100 µg/mL, 200 µg/mL e 400 µg/mL. 1. Tempo de adição das substâncias A avaliação do tempo de adição das frações e PLS na replicação viral foi executada de acordo com o método descrito por Yang et al. (2005), com algumas modificações. Células foram tratadas com as substâncias antes (-1h; -2h) durante (0h) e após a infecção viral (1h; 2h). 2. Inibição da adsorção A inibição da adsorção viral foi feita de acordo com Zhu et al. (2004). Resumidamente, as células foram infectadas com o HBoV-1 na presença das substâncias e incubadas a 4° C por uma hora. Em seguida, o ensaio de plaque foi executado. 3. Atividade virucida Para avaliar o efeito direto sobre a partícula viral, o vírus foi deixado em contato com as substâncias, V/V, por uma hora em banho-maria a 37° C e, em seguida, inoculado. Após uma hora de incubação a 37° C e sob tensão de 5% de CO2 para adsorção viral, foi realizado o ensaio de plaque. Índice de Seletividade O índice de seletividade (IS) foi calculado como a razão da concentração citotóxica de 50% (CC50) pela concentração inibitória de 50% da replicação viral (IC50). Análise Estatística A análise estatística foi realizada com o programa SigmaStat. Os dados foram analisados pelo teste ANOVA seguido pelo teste de Tukey. Valores para P ≤ 0,05 foram considerados significativos. A CC50 e IC50 foram calculadas por análise de regressão linear. Todos os testes de atividade antiviral foram realizados em quadruplicata. Resultados e Discussão O teste de citotoxicidade demonstrou que o PLS e a F1 não apresentaram toxicidade para as células HEp-2 até a concentração 500 µg/mL. A F2 não demonstrou toxicidade até a concentração de 1000 µg/mL. Desse modo, foram selecionados para os testes de atividade antiviral as concentrações de 50, 100, 200 e 400 µg/mL. A concentração citotóxica 50%(CC50) obtida pelo teste da viabilidade celular baseado no MTT resultou em valores para PLS, F1 e F2 maiores que 1000 µg/mL. As três substâncias apresentaram índices de seletividade maiores que 4. Neste trabalho, foi testada a atividade antiviral do polissacarídeo e de suas frações obtidas de Agaricus brasiliensis contra o herpesvírus bovino tipo 1. Essas substâncias mostraram atividade semelhante, dependente da concentração e do tempo de adição. Quando as substâncias foram adicionadas nos tempos -1 e -2h de infecção a replicação do HBoV-1 não foi inibida de forma significativa, não houve também inibição da adsorção viral (não mostrado) sugerindo uma não interferência na ligação específica do vírus ao receptor celular. A falta da atividade virucida de todas as substâncias (não mostrado) sugere a ausência de um efeito direto na partícula viral. Nos tratamentos 0, 1 e 2h pós-infecção, houve até 100% de inibição da replicação viral para as maiores concentrações testadas das três substâncias, sugerindo que as substâncias atuam nos processos iniciais de replicação do HBoV1, após estágio de penetração. As pesquisas de Faccin et al. (2007) demonstraram que o polissacarídeo isolado de A. brasiliensis foi mais efetivo quando adicionado ao tempo 0h de infecção contra o poliovírus tipo 1, corroborando com este estudo. Conclusões Esses resultados podem contribuir para o desenvolvimento de uma droga antiviral, a partir de substâncias isoladas do A. brasiliensis, uma vez que as substâncias testadas apresentaram baixa toxicidade, demonstrada pelos índices de seletividades obtidos. Porém, estudos mais detalhados são necessários para determinar o mecanismo de ação destas substâncias. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio financeiro e concessão de bolsa de iniciação científica à Ana Letícia Scaldelai Bernardi e Kristie Aimi Yamamoto. Referências Armstrong, J. A.; Pereira, H. G.; Andrewes, C. H. Observation on the vírus of infectious bovine rhinotracheitis, and its affinity with Herpesvirus group. Virology, 1961,14, 276-285. Braga, G. C.; Eira, A. F. L.; Celso, G. P. Manual de cultivo de Agaricus blazei Murril “cogumelo do sol”. Botucatu: Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais, 1998, 44p. Faccin, L. C. et al. Antiviral activity of aqueous and ethanol extracts and of isolated polysaccharide from Agaricus brasiliensis against poliovirus type 1. Lett.Appl. Microbiol. 2007, 45, 24-28. Machado, M. P. et al. Cytotoxicity, genotoxicity and antimutagenicity of hexane extracts of Agaricus blazei determined in vitro by the comet assay and CHO/HGPRT gene mutation assay. Toxicol. in Vitro, 2005, 19, 533-539. Melo, F. L. et al. The in vitro antiviral activity of na aliphatic nitrocompound from Heteropteris aphrodisiaca. Microbiol. 2008, 163, 136-139. Mizuno,T.; Hagiwara, T.; Nakamura, T.; Ito, H.; Shimura, K.; Suuuya, T.; Asakura, A. Antitumor activity and some properties of water-soluble polysaccharides from “Himematsutnke”, the fruiting body of Agaricus blazei Murrill. Agric. Biol.Chem. 1990, 54, 2889-2896. Roizman, B.; Knipe, D. Herpes simplex viruses and their replication. In Fields Virology, D. M Knipe, P. M. Howley, Ed.: Lippincott-Raven. Philadelphia, 2001; Vol.4, 2399-2459. Tikoo, S. 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