O cristianismo chinês no século XXI*

Transcrição

O cristianismo chinês no século XXI*
O cristianismo chinês no século XXI
Gao Shining
Resumo
Aceita-se amplamente que a modernização na China teve início no encontro com as potências ocidentais no final do século XIX. Durante o mesmo período, o cristianismo começou a
difundir-se em toda a China, ao lado da invasão ocidental. Durante mais de 100 anos de
lutas para a modernização em China, o cristianismo chinês submeteu-se a muitas mudanças. Neste artigo são examinados alguns problemas relativos ao desenvolvimento do cristianismo na China com relação à transformação de seu papel em períodos diferentes, dando
uma visão geral de sua perspectiva no novo século.
Palavras-chave: China. Cristianismo. Modernização.
1 A transformação do papel do cristianismo
Uma sociedade não pode ser chamada moderna sem ciências modernas, instrução moderna, imprensa e meios de comunicação modernos,
ideias e instituições modernas, incluindo racionalidade, regulamentação de
lei, democracia e gestão da economia, envolvendo eficiência, e assim por
diante. Foi principalmente o cristianismo que introduziu na China esses
elementos, que ajudaram a transformar uma sociedade tradicional em uma
sociedade moderna. Isto é, o cristianismo desenvolveu um papel importante no começo da modernização na China.
Inicialmente, os cristãos chegaram ao país apenas com a finalidade
de difundir o cristianismo, mas, como resultado, o cristianismo estimulou a
China a transformar-se em uma sociedade moderna. Podemos encontrar
numerosos exemplos para sustentar essa observação. Primeiramente, os
missionários apresentaram ao povo chinês muitos dos conhecimentos científicos e da tecnologia ocidental.1 Em segundo lugar, é com as escolas fun Texto traduzido para o português por Anna Carletti.
 Nasceu em Guizhou, China. Professora e Pesquisadora Associada do Instituto das Reli-
giões no Mundo (IWR) junto à Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim. Mestrado em Sociologia da Religião junto à Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim.
Professora Visitante na University of Toronto, Canadá (1992-1993), na Chinese University of
Hong Kong (2000-2001), na University of Aarhus, Dinamarca (2002) e na University of
Birmingham, UK (2005).
1 Cf. CHANGSHENG, Gu. Missionaries and Modern China. Shanghai: Shanghai People’s
Press, 1995. p. 458.
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dadas pelas igrejas cristãs que a instrução moderna se materializou na
China. Em terceiro lugar, o estabelecimento, no país, de serviços médicos
modernos e de instituições ligadas à saúde. Assim, treinamento de médicos, fundação dos hospitais e introdução da ideia da saúde pública estão
ligados estreitamente às atividades dos missionários. Em quarto lugar,
mesmo o estabelecimento de uma imprensa moderna foi o resultado da
introdução direta e da participação entusiástica dos missionários cristãos.
Em quinto lugar, o estilo de vida moderno e os novos costumes, como o
sistema semanal dos dias de trabalho, a monogamia, e até a abolição do
enfaixamento dos pés das mulheres estão relacionados à nova influência
da Bíblia e aos esforços dos missionários. Em último lugar, considerando-se que a modernização requer ideias e instituições modernas, como,
democracia, igualdade legal, regulamentos pela lei, separação dos poderes,
eficiência administrativa, e assim por diante, na China, a introdução dessas
ideias, sua popularização e sua prática estão relacionadas também às atividades dos missionários. Muitos reformadores e revolucionários, de Hong
Xiuquan a Sun Yatsen, foram influenciados profundamente por pensamentos cristãos. Em resumo, nos estágios iniciais da transformação da China de
uma sociedade tradicional em uma sociedade moderna, o cristianismo teve
um papel ativo e importante para introduzir-se a modernização na China.
Após a proclamação da República Popular da China, uma corrente
de campanhas políticas impediu a modernização do país. Durante aquelas campanhas, o cristianismo, como todas as outras religiões na China,
foi criticado e atacado severamente. Na época da “Revolução Cultural”
(1966-1976), a “crítica” chegou ao cume: muitas igrejas e templos foram
danificados ou destruídos, e os livros religiosos foram queimados. Muitos fieis e membros das igrejas, denunciados como “demônios e monstros”, foram forçados então a realizar trabalhos pesados, postos nas prisões ou condenados à morte.2 O restante das igrejas foi fechado e transformado em escolas, fábricas, depósitos e estações de polícia. Todas as
atividades religiosas foram proibidas.
Desde o fim dos anos 1970, com a abertura da China e as novas reformas, ocorreram grandes mudanças. A modernização na China começou a caminhar de novo. O cristianismo chinês não somente viu um renascimento, mas também se desenvolveu vigorosa e rapidamente. De
acordo com as últimas estatísticas, no ano 2000,o número dos protestantes na China tinha alcançado já 20 milhões, e o dos católicos, 4 milhões.
Após 1979, as igrejas reabriram numa média de três a cada dois dias,3
e há agora mais de 12 mil igrejas protestantes e de 26 mil dos assim cha-
2
Segundo uma investigação, entre 140 membros do clero em Tianjin, Henan and Fujian,
durante a Revolução Cultural, 37% foram presos. Cf. Sociologia da Religião, China Social
Science Documentation Press, 2000. p. 360.
3
Cf. RULEI, Xu. Chinese Christianity in 15 Years of Reforms and Openness. Christian Culture and Modernization. Beijing: Chinese Social Science Press, 1996.
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mados pontos de reunião. Quanto aos católicos, há 4600 igrejas. De 1980 a
1998, as igrejas chinesas imprimiram 20 milhões de cópias da Bíblia,4
incluindo várias edições nas línguas de nacionalidades minoritárias do
país. Em resumo, podemos dizer que, desde o final do século XIX, a sociedade chinesa passou por grandes mudanças, e, no meio dessas vicissitudes sociais, o papel do cristianismo seguiu as mudanças do agir (quer
conscientemente ou não conscientemente) como um paraninfo da modernidade, gradualmente se tornou marginalizado; e do sofrer severas
críticas e quase desaparecer da vida social chinesa durante a Revolução
cultural, gradualmente se transformou em uma força social significativa
mais uma vez e, inevitavelmente, se tornou um participante na realização
da história.
Tais mudanças de papel testemunham o fato de que cada etapa no
desenvolvimento do cristianismo chinês está relacionada aos desenvolvimentos na sociedade chinesa. É mais provável que no século XXI a
China continue em seu curso de modernização, e o cristianismo chinês
deva ter uma contribuição a dar à China neste novo século. O passado,
naturalmente, é a fundação do futuro, e por isso é necessário que comecemos considerando o lugar e a função do cristianismo chinês no processo chinês de modernização durante algumas décadas passadas.
2 Os limites de participação
Depois dos anos 1980, a velocidade em que o cristianismo chinês
se desenvolveu o transformou em uma força inegável que a sociedade
chinesa deveria ter em conta. Entretanto, a participação cristã na sociedade chinesa teve seus limites. Assim, o contexto dado do cristianismo chinês e suas próprias características determinaram que essa natureza limitada atuasse em cada caso. Isso significa que há limites objetivos e limites
subjetivos, bem como limites de campo de ação e de possibilidades. Aqui
a expressão “contexto dado” se refere ao especial cenário político, social e
cultural da China. “Suas próprias características” se refere ao fato de que,
aos olhos de muitas pessoas, o cristianismo chinês não se tinha ainda
livrado completamente da etiqueta de “religião estrangeira”, abrangendo
um grupo minoritário dentro da população, cujo perfil dos fiéis permanece, na maioria dos casos, como velho, feminino e analfabeto. Na China,
a religião é vista não somente como uma questão de opinião individual,
mas também como uma existência política, e o mesmo vale para o cristianismo. O Estado regula a religião, e as mudanças políticas podem
determinar o destino da religião. Essa é uma característica das relações
4
Cf. XIAOWEN, Ye. Telling the Truth about the Situation of Chinese Religions to Americans.
Beijing: Religious Culture Press, 1999. p. 78.
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entre Igreja-Estado na China. Em anos recentes, o governo propôs a política de guiar a religião, para esta "adaptar-se ao socialismo" e "ser compatível com o socialismo". O espírito principal dessa espécie de adaptação e
compatibilidade mútuas primeiramente chama a religião a ajustar-se
para adaptar-se ao socialismo, o que significa que a religião permanece
na posição de ser conduzida.
Em um ambiente assim definido, o cristianismo chinês participa
na sociedade simplesmente, até uma certa extensão, porque existe, ou,
para colocar isso de uma outra forma, sua participação é passiva e dirigida por outros. Mesmo que os líderes cristãos tenham um lugar pequeno
nos níveis elevados das corporações políticas chinesas, com a oportunidade de manifestar-se e expressar sua posição, tais oportunidades são
limitadas. A participação do cristianismo chinês na reforma da sociedade
chinesa pode ser caracterizada com o provérbio "o coração é desejoso,
mas o poder é fraco". E mais, a atividade cristã é limitada à própria Igreja.
É muito difícil para ela fazer conhecer a sua fé a toda a sociedade, propagar suas doutrinas, atuar nas suas próprias iniciativas para influenciar a
sociedade; muito menos pode ela expandir sua influência através os meios de comunicação. Consequentemente, na realidade, a função do cristianismo na sociedade chinesa não é grande, e o impacto que pode ter na
sociedade é extremamente limitado.
A cultura chinesa tradicional – cultura confuciana, budista e taoista – retém uma influência extremamente extensa e profunda na sociedade. Desde a sua primeira entrada na China, o cristianismo enfrentou a
questão de como se amalgamar com a cultura tradicional, e até hoje não
foi encontrada uma solução definitiva para tal questão. As origens intelectuais do choque entre o cristianismo e a cultura chinesa tradicional
podem ser reunidas em três pontos. O primeiro é sua fé em um Deus
pessoal e suas doutrinas, tais como a criação, o pecado original, e a redenção, que estão ausentes na cultura chinesa e são estranhas a ela. O
segundo é o conceito cristão da igualdade, como em “todos são criados
iguais perante Deus”. Isso também está ausente na tradição confuciana
ou dela difere, colocando uma distinção entre relacionamentos próximos
e distantes. O terceiro ponto é o monoteísmo cristão e a grande distância
entre este e a adoração politeísta e o sistema simbólico dos crentes budistas e taoistas. Hoje, em uma sociedade moderna, em que a cultura tradicional ainda tem um papel determinado a ser desempenhado, o cristianismo aspira a expandir a sua participação no processo social, e a busca
contínua por um ponto de correspondência com a cultura chinesa tradicional é ainda um trajeto importante por meio do qual o cristianismo
chinês pode aumentar a sua própria participação. Além disso, o impacto
do desafio à participação social cristã que vem da religião popular não
deve ser subestimado. A religião popular chinesa tem uma longa história
e um fundamento tolerante. Por milhares de anos, a religião popular era
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um apêndice do confucionismo, do budismo e do taoísmo, e tornou-se
envolvida com eles, formando um importante componente da cultura
chinesa tradicional. Junto com a reforma e as aberturas na sociedade chinesa, a religião popular, vista antes como superstição, passou por uma
recuperação rápida, para transformar-se na fé mais vívida nas regiões
rurais do país. Especialmente nas vilas rurais, a religião popular de todo
tipo é dotada de ubiquidade, sendo voltada à vida espiritual primária de
muitos camponeses.
Assim, de um lado, o cristianismo e a religião popular estão em
competição pelos fiéis. Em muitas áreas, templos dedicados a todo tipo
de deus estão sendo reconstruídos. Há uma grande massa fascinada por
fengshui e por vários tipos de previsões do futuro. De outro lado, a religião popular, até um certo ponto, tem um impacto sobre o cristianismo,
chegando a transformá-lo. A “religionização popular” do cristianismo
chinês é um fenômeno comum nas aldeias rurais. As características atuais
do cristianismo chinês rural podem ser resumidas como segue: o número
dos fiéis está crescendo rapidamente, o entusiasmo é elevado, a fé é pia, a
ênfase está em rituais, a qualidade da fé é baixa, há uma falta de pastores,
a pregação é pobre, etc.
O cristianismo da “religião popular” inclui muitos componentes
das crenças religiosas populares e até da superstição feudal. Por exemplo,
Deus é visto como um deus de direta “causa, efeito, e recompensa”, e isso
dá à fé em Deus um pronunciado caráter utilitarista. A Bíblia é considerada como um talismã de proteção ou como uma arma mágica para derrotar o demônio. Jesus é adorado como um deus local, um deus de bom
coração ou um deus da colheita. A liturgia cristã e os hinos são acrescentados às práticas religiosas populares para casamentos e funerais, em que
as canções e as danças espirituais são usadas. Esse suposto cristianismo,
combinado com a religião e as superstições populares, é não somente de
baixo nível, primitivo e atrasado, mas também obstrutivo para o processo
de modernização da China.
Prescindindo das causas concernentes à sociedade, podemos encontrar algumas outras causas no mesmo cristianismo chinês para seus
limites de participação na sociedade. A primeira é o seu isolamento. A
maioria dos cristãos chineses vive nas áreas rurais pobres e menos desenvolvidas. Sabem muito pouco sobre o mundo exterior. Para eles, acreditar no cristianismo é apenas por motivos utilitaristas como uma vida
mais segura, superando a pobreza, as doenças, as inundações, as secas e
os outros desastres. Apenas uma minoria muito pequena deles é otimista,
sonhando em tornar-se rica. Comparados com os que vivem nas cidades,
eles não possuem uma mentalidade moderna – e, de fato, eles não entraram ainda na era moderna, nem exerceram alguma influência na sociedade moderna. A segunda causa é o conservadorismo do cristianismo
chinês em geral. Naturalmente, esse tipo de conservadorismo está relaCiências & Letras, Porto Alegre, n. 48, p. 131-140, jul./dez. 2010
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cionado ao fato de que a grande maioria de cristãos chineses foi extremamente influenciada pelo fundamentalismo religioso desde os anos
1920. A maioria das variantes do pensamento cristão liberal não foi aceita
por eles. Para esses homens, uma distinção radical entre crentes e não
crentes e entre o “espiritual” e o “não espiritual” é um esteio vital ao
significado da vida.
Sua tendência fundamentalista os impede de assumir uma atitude
ativa ou positiva de respeito à sociedade. Essas circunstâncias são, em
algum grau, responsáveis por fazerem do cristianismo chinês uma ilha
cultural, e, por isso, incapaz de dar a sua contribuição à sociedade chinesa em geral. Assim, podemos dizer que, com esses limites de participação, o cristianismo chinês permanece às margens da sociedade chinesa.
Não obstante isso, entretanto, podemos ver que essa situação está começando a mudar, e o cristianismo começa a desempenhar um papel maior,
como de “luz” ou de “sal”, na sociedade. Se o cristianismo “pode ser
geralmente aceitado como conhecimento cultural”,5 poderá certamente
ser capaz de oferecer uma grande contribuição ao desenvolvimento da
sociedade chinesa. Portanto, esperamos que este novo século abra uma
estrada nova para o cristianismo chinês.
3 O cristianismo chinês no novo século
A China está movendo-se em direção à modernização, para a qual
os povos chineses lutaram por quase um século e meio. Não precisamos
dizer que se trata de um processo extremamente complexo, abrangendo
muitos aspectos da vida. Em termos econômicos, os resultados já podem
ser vistos: o mercado está florescendo, o poder nacional está crescendo, e
o padrão da vida é aumentado. Ao mesmo tempo, desenvolvimentos
semelhantes não aconteceram ainda no sistema político ou na esfera intelectual. Além disso, tomamos conhecimento, todo dia, de todos os tipos
de “demônios” que apareceram junto com a economia planada (em contínuo crescimento): o declínio no nível moral da sociedade, a perda da
ordem social, a poluição ambiental, os danos à ecologia, a crise espiritual,
etc. Para colocar isso sucintamente, não tudo aquilo a modernização
trouxe foi bom, e o número de pessoas que chegaram a essa conclusão
está aumentando.
É precisamente em tais circunstâncias que, embora sua participação seja limitada, o cristianismo pode continuar a recuperar as perdas e
corrigir os erros da modernização. Eu discutirei em seguida os níveis em
que isto é possível.
5
Philip Wickeri (abr. 1992), citado em apresentação sobre cristianismo na China.
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3.1 Valor e moralidade
Enquanto nós avançamos para a modernização, o progresso material do povo chinês é bastante surpreendente; em determinados grupos institucionais, como a economia, a administração, etc., mudanças
enormes ocorreram. Um desmoronamento da estrutura moral da sociedade e uma perda dos padrões de valores acompanharam as rápidas
mudanças. E a origem desse desmoronamento e dessa queda é a oscilação da fé e da relativização dos padrões de valores. Consequentemente,
a crise moral latente entre o cotidiano dos chineses torna-se mais aparente. O nível moral da sociedade chinesa hoje declinou além do limite.
Uma rede “guanxi”6 ilegítima cada vez mais complexa mina os princípios de honestidade e de igualdade social; uma atmosfera prevalecente
de corrupção e de declínio, a ausência do mais mero traço de moralidade social, e de fazer as coisas para a própria satisfação pessoal transformaram-se em um grande obstáculo ao desenvolvimento social. A
China necessita urgentemente reconstruir o seu sistema moral de valores. O cristianismo deveria ter um espaço de ação amplo para expressar
suas potencialidades aqui. As nobres virtudes que o cristianismo esposa, especialmente o conceito do ‘amor’, são, sem dúvida, um dos mais
importantes recursos para reconstruir o sistema ético chinês. O cristianismo convida as pessoas a serem humildes e meigas; a amarem os
outros; a amarem a Deus, um tipo de espírito que possa limitar o egocentrismo e a megalomania pessoal, sentimentos humanos, permitindo
às pessoas superarem o ego e melhorarem. De fato, muitas pessoas melhoram muito na moral e no controle depois de participarem da igreja.
Alguns parecem duas pessoas diferentes antes de depois de participarem. Consequentemente, para muitas e muitas pessoas, inclusive alguns
oficiais de governo, a moralidade cristã exerce um papel positivo ao
tratar de questões de vida, tais como a família, o casamento, os relacionamentos pessoais, o fato de parar de fumar ou jogar, etc. Naturalmente, esperamos que este papel aumente gradualmente na sua ação, permitindo que os preceitos morais cristãos se tornem um dos fatores importantes em um sistema novo de valores morais para o povo chinês.
3.2 Equilíbrio mente-corpo
Nos últimos 20 anos, embora a sociedade chinesa tenha prestado
mais atenção à saúde mental e física da pessoa, na China, em nível
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“Guanxi” é um termo popular chinês indicando uma rede estabelecida de relações pessoais vantajosas.
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estrutural, ainda faltam instituições sociais que possam ajudar as pessoas a conseguirem um melhor desenvolvimento psicológico. Claramente, a religião pode exercitar suas forças para melhorar situações
como essa. As pessoas se sentem inadequadas às mudanças que ocorreram na sociedade moderna. Quando experimentam recaídas em nível
pessoal, no trabalho, por exemplo, ou em casa ou em relacionamentos
interpessoais, seu sentido de perda é mais forte do que era no passado o
que pode conduzir à perda de objetivos e de significado da vida. A fé
cristã estabiliza e enriquece a vida dos crentes, e dá-lhes confiança na
vida.
3.3 Cultura
Mais e mais intelectuais e jovens estão prestando muita atenção
ao pensamento cristão, à filosofia cristã, à teologia cristã e ao seu relacionamento com a ética, a literatura, a educação, a ciência, a política, e a
civilização ocidental. Isto permitirá à China aprender mais da cultura
ocidental no futuro, o que será certamente muito útil à reconstrução da
cultura chinesa no novo século.
4 Conclusões
O cristianismo chinês possui determinadas condições para cumprir seu papel nas áreas já mencionadas, no novo século. O mais importante disso é que muitas pessoas bem informadas dentro da igreja cristã
estão cientes dessas questões. Primeiramente, desde que a reforma e a
abertura começaram, o cristianismo chinês, nas suas formas católica e
protestante, tem enfrentado a situação da falta de um clero mais jovem,
situação que prevaleceu nos primeiros anos da década de 1980. Faz-se
necessária a inscrição de estudantes nos seminários, em todos os níveis,
para formar o clero através de conhecimento profissional especializado.
Em anos recentes a igreja enviou muitos jovens ao além-mar para estudar. Esses jovens empreendem um estudo sistemático da teologia e da
filosofia ocidentais, ganhando experiência pessoal no papel do cristianismo em uma sociedade moderna, e isso amplia a sua visão. A grande
maioria deles deseja retornar à China e dedicar-se à aventura cristã
chinesa. Sem sombra de dúvida, eles serão o núcleo do cristianismo
chinês no novo século.
Se a igreja chinesa cuidar deles e corajosamente utilizá-los, eles
trarão certamente uma grande melhoria grande no trabalho da igreja.
Em segundo lugar, os chineses tiveram uma compreensão mais profunda
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do cristianismo nos últimos vinte anos. Sempre mais intelectuais se
aproximaram do cristianismo de diferentes maneiras. Sua atitude em
relação a ele tem passado da crítica e rejeição, à neutralidade e à objetividade, até chegar à simpatia e ao interesse. Muitos estudiosos da religião expandiram também a sua pesquisa no cristianismo da história,
credo e teologia até a contextualização e ao status quo do cristianismo
chinês e de seus papéis sociais. Em anos recentes, numerosos livros
concernentes ao cristianismo apareceram, incluindo livros populares,
leituras para crianças, enciclopédias e trabalhos especializados, de modo que sempre mais pessoas tivessem acesso aos vários aspetos do cristianismo. Consequentemente, um número crescente de pessoas de áreas
diferentes está considerando o poder espiritual do cristianismo em superar os inconvenientes na modernização da China.
Em terceiro lugar, a correta administração da política religiosa
chinesa é um aspecto importante. Se um ambiente bom puder ser mantido, há uma esperança para os esforços do cristianismo de poder participar no processo do progresso social. Entretanto, de outro lado, também a cultura chinesa tradicional, incluindo as religiões chinesas como
sistemas de poder cultural, tem uma influência real sobre a sociedade
moderna. Na interação com a cultura chinesa e as religiões chinesas, o
cristianismo chinês deve realçar o espírito de “amar seu vizinho”. Deve
tentar procurar uma terra comum e empenhar-se no diálogo com as
religiões e a cultura chinês. Desta maneira, o cristianismo chinês poderia juntar os agentes e os poderes na reconstrução de uma sociedade
saudável. Nós podemos dizer que quanto mais o cristianismo participar
no processo social, como uma parte dependente do sistema total da
sociedade chinesa, mais esperança há para seu futuro.
Recebido em setembro de 2010.
Aprovado em outubro de 2010.
Chinese Christianity in the Twenty-first Century
Abstract
It is widely accepted that modernization in China began in the encounter with the Western
powers in the late nineteenth century. During the same period, Christianity began to spread
throughout China, along with the western invasion. For over 100 years of struggle for
modernization in China, Chinese Christianity has undergone many changes. In this article
we examine some problems concerning the development of Christianity in China with the
respect to the transformation of its role in different periods, by giving an overview of the
country’s perspectives in the new century.
Key-words: China. Christianity. Modernization.
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Referências
CHANGSHENG, Gu. Missionaries and Modern China. Shangai: Shanghai
People’s Press, 1995.
RULEI, Xu. Chinese Christianity in 15 Years of Reforms and Openness.
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XIAOWEN, Ye. Telling the Truth about the Situation of Chinese
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