Leia as primeiras p�ginas do livro

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Leia as primeiras p�ginas do livro
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Rômulo B. Rodrigues
ARCANJOS E
ARQUÉTIPOS
1ª edição
São Paulo
2014
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Rômulo B. Rodrigues
ARCANJOS E
ARQUÉTIPOS
1ª edição
São Paulo
2014
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Copyright Rômulo Borges Rodrigues
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(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) - 2014
ARCANJOS E ARQUÉTIPOS
Rômulo B. Rodrigues
Formato: PDF
ISBN 123-00-00234-35-9 (recurso eletrônico)
1.Espiritualidade. 2. Religião. I. Título
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SUMÁRIO
PREFÁCIO - COMO CAPTURAR UM ANJO ....................................................................................... 7
NÃO LEIA ESSE LIVRO NA SEQUÊNCIA ..........................................................................................11
INTRODUÇÃO - DE ONDE VIERAM OS NOMES DOS ANJOS?.........................................................12
CAPÍTULO I - ZADQUIEL: O QUE VOCÊ ESPERA DA VIDA?..........................................................13
CAPÍTULO II - RAMAELA: ALEGRIA! ALEGRIA! .............................................................................19
CAPÍTULO III - RAFAEL: O BELO É A CURA .....................................................................................22
CAPÍTULO IV - SOQUED HOZI: A CONFIANÇA .................................................................................26
CAPÍTULO V - MIHR: O RECONHECIMENTO DA SEMELHANÇA PELA DESIDENTIFICAÇÃO
CAPÍTULO VI - DA DIFERENÇA .........................................................................................................30
CAPÍTULO VII - FORTUNATA: SEJA E PROSPERE! ..........................................................................34
CAPÍTULO VIII - ZACARAEL: A ENTREGA DE SI A SI MESMO .....................................................39
CAPÍTULO IX - URIEL: O BOM DO RUIM ...........................................................................................46
CAPÍTULO X - AMARUCHAIA: A ACEITAÇÃO É A MÃE DE TODA BÊNÇÃO .............................50
CAPÍTULO XI - KAEILARAE: A PAZ ....................................................................................................55
CAPÍTULO XII - METATRON: PERCA O MEDO DE PENSAR!! ........................................................61
CAPÍTULO XIII - RAZIEL: O CONHECIMENTO .................................................................................66
CAPÍTULO XIV - GALGALIEL: VIVER É VIBRAR ! ...........................................................................70
CAPÍTULO XV - PASCHAR: A VISÃO DO LIMITE DE SI...................................................................77
CAPÍTULO XVI - JAMAERÁ, A MANIFESTAÇÃO DA VISÃO: A ÚNICA CRENÇA PERIGOSA
AO SABER, É A CRENÇA NO SABER..................................................................................................84
CAPÍTULO XVII CAPÍTULO XVIII - REMLIEL: O DESPERTAR ATRAVÉS DA LUZ DO DESESPERO....................88
CAPÍTULO XIX - REMIEL: A MISERICÓRDIA É A FONTE DE TODO GOZO...........................94
CAPÍTULO XX - MICÁ: O GOZO É UM PLANO DIVINO! ................................................................ 100
CAPÍTULO XXI - AMITIEL: O LADO ESCURO DA LUA .................................................................. 104
CAPÍTULO XXII - ARIEL: A NATUREZA DO SER, O SER DA NATUREZA .................................. 108
NCAPÍTULO XXIII - ISROC: DA "APROVAÇÃO DE SI" À LIBERDADE DE SER ..................... 114
CAPÍTULO XXIV - HAMIED: O MILAGRE DA LIBERDADE DE OPINIÃO ................................... 119
CAPÍTULO XXV - SANDALFON: O PODER DO AMOR E O AMOR AO PODER ........................... 125
CAPÍTULO XXVI - CHUCHIENAE: A PUREZA INCONCEBIDA ..................................................... 132
CAPÍTULO XXVII - CERVIEL: A CORAGEM DE MUDAR ............................................................... 135
CAPÍTULO XXVIII - OONIEME: A GRATIDÂO ................................................................................. 138
CAPÍTULO XXIX - STAMERA: A ALQUIMIA DO RANCOR ............................................................ 145
CAPÍTULO XXX - ONGKANON: A COMUNICAÇÃO ........................................................................ 146
CAPÍTULO XXI - CHEQUINÁ: O ESPLENDOR DA UNIDADE ......................................................... 154
CAPÍTULO XXII - HADRANIEL: ALL YOU NEED IS LOVE ............................................................ 162
CAPÍTULO XXIII - CHARMIENE: O CAMINHO DO MEIO .............................................................. 165
CAPÍTULO XIV - ANANCHEL: O ESTADO DE GRAÇA.................................................................... 173
CAPÍTULO XXV - NATANIEL: A CHAMA .......................................................................................... 178
CAPÍTULO XXVI - JOFIEL: DO MEDO DE SER AO PODER DE SE RECRIAR ............................. 182
CAPÍTULO XXVII - IOFIEL: A BELEZA DE TODO VALOR, O VALOR DE TODA BELEZA ...... 185
CAPÍTULO XXVIII - CHAMUEL: A ADORAÇÃO, OU O PODER DO AMOR ................................. 194
CAPÍTULO XIX - MIGUEL-JORGE: A CONFIANÇA É A PROTEÇÃO ........................................... 201
CAPÍTULO XXX - GABRIEL: O PODER DE RESSUREIÇÃO ATRAVÉS DO AMOR-PRÓPRIO.. 205
CAPÍTULO XXXI - UZIEL: A FÉ EM SI................................................................................................ 208
CAPÍTULO XXXII - ANAEL: DEUS E O SEXO .................................................................................... 213
CAPÍTULO XXXIII - FANUEL: MAS VOU ATÉ O FIM! ..................................................................... 214
CAPÍTULO XXXIV - ISRAFEL: EU SOU O TOM............................................................................. 21915
EPÍLOGO: CRER PARA VER ............................................................................................................. 220
SOBRE O AUTOR........................................................................................................................................218
CONTATOS COM O AUTOR....................................................................................................................219
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PREFÁCIO
COMO CAPTURAR UM ANJO
(Manual para quem crê, quem não crê, ou quem simplesmente duvida…)
O propósito desse estudo é ensiná-lo a "capturar" um anjo, ou fornecer-lhe elementos para
aperfeiçoar seu método de "captura".
Utilizo a palavra "captura" para não induzi-lo à idéia de que o presente trabalho tenha um cunho
religioso ou místico, como poderia dar a entender um estudo sobre anjos.
"Capturar um anjo" é aqui uma alusão a algo como capturar um pensamento, uma borboleta, ou
alguma coisa que por natureza é livre como o ar.
Não esqueçamos que aproximar-se da essência do "volátil", do "etéreo", "capturá-lo", poder sê-lo,
"voar", é também um dos arquétipos humanos, um dos seus anseios.
Trata-se antes de um tom afetivo e uma maneira descontraída de abordar o sagrado, sem
proselitismo, mas sem tampouco "dessacralizá-lo".
Afinal, se anjos existirem, o essencial para eles seria que cada um de nós buscasse uma
comunicação com eles da maneira que nos fosse possível, pouco se incomodando que seja a
linguagem dos arquétipos o veículo dessa comunicação.
Não esqueçamos aqui que os anjos representam, mesmo assim, potentíssimos arquétipos da mente
humana, presentes em praticamente todas as culturas, sob vários nomes distintos.
Já a palavra "arquétipo", emprestada de C. Jung, nós a utilizaremos num contexto mais popular,
sem pretensão alguma do estudo da noção de arquétipo em si.
Consideraremos simplesmente como "arquetípica" toda noção que seja comum a várias culturas,
como a noção de anjo.
"Capturar um anjo" significa, então, no presente estudo, aprender a ativar potentíssimos arquétipos
da mente humana, contidos em palavras como: "verdade", "coragem", "amor", "sabedoria", "cura"
ou "beleza".
Para quem não é de sensibilidade religiosa, a utilidade da palavra "anjo" acaba na indicação do
arquétipo a ser estudado.
Mesmo assim, ela conserva todo seu valor em termos de arquétipo, pois desde os primórdios da
humanidade, o homem atribuiu um "anjo" para representar cada uma das qualidades humanas mais
nobres.
Inclusive a escolha da palavra "arcanjo" no título do livro é para salientar bem o aspecto
"arquetípico" da própria noção de anjo, já que um arcanjo representa um anjo que sintetiza toda
uma gama de matizes desenvolvida por vários anjos, dentro de uma "hierarquia" que concerne mais
ao desenvolvimento, à explicitação de uma mesma "qualidade", do que um simples sistema de
"obediência ao chefe".
Arcanjos são, então, "arquétipos" dentro do próprio arquétipo do anjo.
Pois assim como um arquétipo é uma idéia comum, uma idéia de fundo que é reinterpretada por
cada indivíduo à sua maneira, de sua forma pessoal, o arcanjo é o arquétipo de um princípio como
"amor" ou "coragem", que se "encarna" em várias formas distintas de "anjos", segundo estudiosos.
O interesse maior do modelo desse estudioso da mitologia essênica, é que a idéia de "deus", ou de
"todo", ou de "princípio de todos os princípios", pode ser considerada como sendo o "arquétipo de
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base" de um "holos" que se desdobraria em "arquétipos de segunda ordem", que seriam os arcanjos,
vindo, em seguida, os de "terceira ordem", que seriam os anjos e, em seguida, os homens.
Certamente outros estudiosos do assunto incluiriam os "gênios" nesse desdobramento.
Já outros alegariam que "deus" é o "arquétipo" contido na "santíssima trindade", mas todos eles
apontam para essa relação entre uma idéia "arquetípica" e as múltiplas formas que podem tomar
suas "encarnações", ou quem lhes serve de "avatar".
Minha intenção, claro, não é defender essa interpretação da idéia de "arcanjo" ou outra qualquer,
mas, simplesmente, mostrar a correlação entre tais interpretações, como a do desdobramento do
princípio divino na santíssima trindade católica, ou na trindade "Brahma, Shiva e Vishnu" da India,
e a idéia mais moderna de Holos, ou de arquétipo, onde o "todo" está em todas as partes.
Poderíamos, também, utilizar uma idéia antiqüíssima que trata igualmente dessa interação
"holística" entre o todo e suas partes.
Com efeito, o deus egípcio "Thot", equivalente do "Hermes Trimegisto" dos gregos, declara: o que
está no alto é como o que está embaixo assim como o que está embaixo é como o que está no alto..
Alusão clara a essa idéia de que o princípio do "arquétipo" (o alto) está contido em todas as suas
interpretações (o baixo).
Uma vez explicitada a importância da idéia de "arcanjo" para entendermos sua analogia com a idéia
de "arquétipo", utilizaremos nesse estudo correntemente a palavra "anjo", e não o termo "arcanjo".
A razão dessa escolha é que, na realidade, a palavra "anjo" é mais "universal", mais "arquetípica" na
linguagem comum do que a palavra "arcanjo".
E como o meu interesse no presente estudo é unicamente salientarmos a analogia entre a idéia de
"arcanjo" e a idéia de "arquétipo", e não argumentar sobre a "verdade" ou não de cada idéia em si,
espero que o leitor de sensibilidade religiosa compreenda porque não levo em conta que o "anjoarquétipo" estudado é considerado um "arcanjo" ou um "simples" anjo, segundo os estudiosos.
Apesar desse estudo tentar situar-se na fronteira da crença e da razão, espero, no entanto, que as
pessoas de sensibilidade religiosa possam tirar proveito, em proveito mesmo da religião, do
presente estudo, que foi concebido também para aprofundar a "psicologia" veiculada por cada
"personagem" que representa um determinado anjo, o que pode contribuir a uma maior devoção.
A "técnica de captura" de um anjo-arquétipo, que é como chamarei as entidades aqui estudadas,
consiste, simplesmente, em aprofundar nosso conhecimento sobre a "qualidade" que cada um deles
representa.
Talvez, quando você acabar a leitura desse livro, você tenha a sensação de não ter capturado anjo
algum.
O que não significa que eu ou você falhamos.
Pois, anjos, às vezes, levam bastante tempo para se fazerem reconhecer...
Talvez você sequer esteja interessado realmente em capturar anjos, ou já os tenha capturado sem
mesmo saber.
Ou, simplesmente, você não acredita em anjos.
Tampouco se preocupe com isso, pois "anjos" são apenas "arquétipos".
A não ser que você prefira crer que "arquétipos" são simplesmente "anjos".
Nos dois casos você terá razão, pois assim como nenhum "arquétipo" tentaria convencê-lo de que
não é um "anjo", nenhum anjo tentaria convencê-lo de que não é um arquétipo!
Esse é ponto comum entre anjos e arquétipos:
Ambos, por serem o que são, respeitariam as crenças humanas.
Ademais, ambos dizem respeito às crenças humanas.
Cada um de nós tem o direito de reivindicar sua própria versão da verdade, pois vivemos em um
mundo onde só há versões da verdade.
Toda nossa ciência é baseada no "como", não no "porque", das coisas.
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Responder à questão da existência ou não de Deus, é recorrer a uma crença pessoal, não a "fatos"
cientificamente demonstráveis.
Baseado nisso, não tema em respeitar os anjos enquanto uma das versões da verdade, mesmo que
não seja a sua, mesmo que não creia neles.
Respeitando a crença alheia, não somente respeitamos nossa própria crença, como liberamos a
ciência de debates que não a concernem, pelo menos até o presente momento.
Pode a ciência afirmar que toda verdade está contida nela e que não há nenhuma verdade em
nenhuma crença?
Seria essa "extrapolação" compatível com a metodologia científica?
Ademais, considere que se existirem anjos, eles deveriam ter um mínimo de inteligência para
comunicar-se inclusive com pessoas que não acreditam neles, pois suponho que você se comunica
com pessoas que não compartilham de suas convicções pessoais.
Nesse caso, considere "anjos", simplesmente, como "arquétipos", ou seja, como criaturas
imaginárias que encarnam parâmetros reais de consciência.
Pois, como há o "anjo" da sabedoria, do pensamento, da beleza ou da alegria, entre tantas outras
características da nossa mente, você tem perfeitamente o direito de emitir a hipótese que, a fim de
se relacionar melhor com suas próprias faculdades intelectuais, logo, acessíveis à sua consciência,
mas, emocionalmente ancoradas no inconsciente, ou seja, no "desconhecido", no irracional, o
homem imaginou criaturas que encarnassem um modelo idealizado destas características, para
assimila-las cada vez melhor, graças à esse modelo fornecido pela sua crença.
Suponho que se você fosse um anjo, você agiria com os homens como os homens agem com as
crianças, ou seja, sem violar suas crenças, dando-lhes subsídios para que elas se aproximem da
realidade dos adultos segundo seu ritmo infantil e sem perigo.
Precisamos todos aprender a escutar pontos de vista contrários aos nossos, pois só eles podem
enriquecer o que pensamos.
Do contrário, seremos simples máquinas que repetem pontos de vistas inquestionáveis, logo,
dogmáticos, logo, mortos.
Seja você, então, um adepto de anjos, ou alguém que se limita ao que a razão limita, este livro vai
lhe interessar, pois ele trata do que é crença e do que é razão, de quais são as grandes características
da mente humana, ou os grandes "arquétipos" da nossa consciência.
Ele tenta fornecer subsídios de como não confundir razão com opinião, e como permanecer um ser
de razão sem perder contato com o mundo afetivo e com o que é conhecido como "intuição".
A razão humana é construída a partir de metáforas e de analogias.
A palavra "anjo" pode, assim, ser apreendida, nesse contexto, como uma simples metáfora para
abordar as grandes faculdades psico-afetivas humanas, caso você prefira orientar-se na vida
unicamente através do que é demonstrável em termos de razão pura.
E se acaso você tem a convicção íntima de que anjos existem, considere que abordar os aspectos
mais universais da nossa consciência pode ser também uma metáfora, uma maneira de ensinar a
comunicação com os anjos a pessoas que temeriam um contato direto com tais criaturas.
A razão não se ocupa de crenças.
As crenças não se ocupam da razão.
Pois, é difícil realmente afirmar algo sobre a existência de algo, quando todas as questões que
concernem a existência restam inacessíveis à razão, condenada a especular a respeito do "existente"
por incapacidade de afirmar.
Ainda por cima, a ciência, porta-voz oficial da razão, afirma que todo o "existente" no universo não
passa, em última instância, de uma "sopa" altamente complexa de partículas, de quarks e elétrons.
Tudo que a ciência sabe, é que ela não sabe mais que isso, que ela não sabe porque o universo
existe, nem para quê.
A ciência é filha da filosofia.
E a filosofia considera como seu ato simbólico de nascimento a condenação de Sócrates à morte.
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Sócrates é considerado hoje como o primeiro "filósofo", na concepção atual da palavra, já que na
sua época o termo não existia em sua conotação atual, há 2.500 anos A.C.
E Sócrates sacrificou sua vida para ajudar os homens a entenderem melhor que eles confundiam
crença com saber, que eles "criam saber" porque "não sabiam que criam".
Só para lhe dar uma idéia da real dificuldade nossa em separar a crença pessoal do saber, ou seja, da
razão, considere, caro leitor, que quanto mais uma pessoa defende numa discussão suas crenças e
convicções íntimas, mais discutirá, claro, num estado emocional alterado.
E, quanto mais alguém se basear unicamente em termos de razão, menos terá necessidade de
alterar-se emocionalmente numa discussão, pois só confiará no que a razão demonstrar.
E mesmo que, por uma questão de temperamento, alguém só saiba argumentar emocionalmente
alterado, ele fará o esforço de não confundir um confronto de idéias, regido pela razão, com um
combate entre as pessoas que as defendem, regido por crenças pessoais.
Sócrates foi o nosso grande mestre nessa arte de não confundir o que se sabe com o que se crê que
se sabe.
Para deixar bem claro o pouco alcance do nosso real saber sobre o que é "real" e o que deixa de ser,
ele declarou:
"Só sei que nada sei".
Depois disso, ficou difícil afirmar:
"Sei que sei "... e tentar fundamentar esse "saber" em termos de "razão" e não de crença pessoal.
Nosso "saber" é realmente limitado ao "como", e deveríamos estar atentos a não extrapolá-lo ao
"porque" de uma existência, já que o "porque" de uma existência é tributário, até o presente, das
nossas crenças pessoais.
Descartes, no começo do século 17, muito contribuiu para uma análise "racional" do mundo e para
a evolução da ciência, colocando a dúvida de tudo que não for demonstrável pela razão, como
preceito básico de toda reflexão.
Mas daí derivou uma das maiores confusões mentais do homem moderno, pois, claro, dúvida não é
sinônimo de certeza, é mesmo o antônimo!
No entanto, supondo basear-se na dúvida cartesiana, o homem moderno supõe que tudo que não é
demonstrável pela razão, tudo que é sujeito a "dúvidas", não existe.
O que é, do ponto de vista mesmo da razão, um absurdo.
Já que não é porque a razão não consegue demonstrar a existência de algo, que já está demonstrada
a sua não existência!
A razão humana evolui exatamente como o universo do qual ela é, até prova do contrário, tributária.
Aprenda a aceitar o princípio de base da razão, que indica que algo só é verdade, ou deixa de sê-lo,
até prova do contrário.
O que condena toda verdade a uma existência relativa, sujeita a reformulações.
Isso equivale a dizer que não contatamos a "verdade" mas, unicamente, versões dela.
Deixe que "anjos" e "arquétipos" cruzem seu espírito sem fixá-los na sua crença sobre eles.
Você pode ver nessa palavra um simples sinônimo da palavra "energia", tal e qual ela é utilizada em
ciência.
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NÃO LER ESSE LIVRO NA SEQÜÊNCIA
Pois, sendo um todo, um “holos”, esse livro não pode ter uma ordem linear:
Tudo nele é começo, meio e fim.
Se você está acostumado a ler uma página atrás da outra, não se preocupe, leia-o dessa maneira,
pois, mesmo nessa “ordem”, não haverá ordem linear, verá que estará mais em contato com uma
idéia global do que com o relato de um romance, onde há claramente um começo, um meio e um
fim.
Mas, sobretudo, esse aviso inicial destina-se a desobrigá-lo de ler todos os arquétipos, caso haja um
deles que não entenda, não concorde ou não goste do que lê.
Por tratarem-se de arquétipos, basta que entre em ressonância com um deles para que já se encontre
em contato com “o todo” deles.
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DE ONDE VIERAM OS NOMES DOS ANJOS?
A questão de nomes aqui não tem absolutamente nenhuma importância, já que buscamos
unicamente entender o princípio “arquetípico” que cada nome aqui usado veicula.
Os nomes dos anjos aqui citados foram retirados do livro de Kimberly Marroney, “O tarô dos
anjos”.
A ordem hierárquica destas entidades não foi aqui levada em consideração, justamente para
privilegiar o caráter “global”, “holístico”, “arquetípico” do que conhecemos sob a designação de
“anjo”.
São 44 o número de “anjos-arquétipos” aqui estudados.
Mas, se tivéssemos utilizado 19 entidades arquetípicas, ou 77, exatamente todas as informações
aqui contidas ali também estariam, mas, talvez, de uma forma ou densa demais, ou extensa demais.
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ZADQUIEL: O QUE VOCÊ ESPERA DA VIDA?
A vida é o que temos de mais familiar, de mais íntimo e, ao mesmo tempo, ela é o que parece
mais distante de nós mesmos.
A vida nos parece próxima porque ela nos parece própria, cada um de nós tendo a sensação de ter
sua própria vida.
No entanto, como sabemos que podemos perdê-la a cada instante, temos, igualmente, a sensação de
que nossa própria vida não nos pertence.
Nossa apropriação, da vida própria a cada um de nós, e a "desapropriação" que a própria vida
realiza, através da morte, privando-nos do que parece ser o nosso "bem", é a noção mais central e
mais "conflitante" que rege cada vida humana.
A "vida" é, certamente, a mais simples e a mais corrente concepção que o homem utiliza para
exprimir a idéia de "deus".
Podemos considerar estas duas palavras como sinônimos, não em termos de forma mas em termos
de fundo.
Para uns, a vida é dada por um "deus" imaterial.
Para outros, "deus" nada mais é que a própria natureza, regida por leis bem materiais.
Mas, quer consideremos a noção de "deus" em termos materiais ou espirituais, a condição humana é
a testemunha ocular da sua própria fragilidade.
Quer acreditemos em "deus" ou não, o efêmero da nossa condição nos transforma em viajantes
errantes, tímidos, temerosos e culpabilizados, na barca da vida.
Tímidos ou desesperados, pois o desespero é a catarse do medo e do acanhamento.
Devido a esse sentimento de fragilidade, nenhum de nós se sente, no fundo, realmente merecedor da
vida, merecedor do amor.
Essa culpabilidade humana diante do amor poderia ser resumida através uma conhecida oração
cristã:
"Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma só palavra e minha alma
será salva".
Essa oração é inspirada no encontro de Jesus com um poderoso romano que veio pedir-lhe para
salvar um dos seus em estado moribundo.
O romano não quis que Jesus se deslocasse até a sua casa pois se sentia indigno de receber alguém
da pureza de Jesus.
Mas sua fé em Jesus era total: ele pedia apenas que Jesus aceitasse salvar um ente querido, com a
certeza de que a simples aceitação de Jesus seria suficiente para realizá-lo.
Conta-se que Jesus aceitou e o enfermo agonizante em questão se salvou.
Tal e qual esse romano, nós também nos sentimos impuros diante do amor.
Ateus ou religiosos, buscamos o amor, buscamos sua proteção, sua bênção, sua inspiração, mas
sentimo-nos indignos de recebê-lo diretamente em nossos corações.
Poderíamos acreditar que a culpabilidade é uma conseqüência da cultura judaico-cristã, mas todas
as culturas pagãs, desde o aparecimento das primeiras civilizações humanas, utilizavam o sacrifício
para aplacar a cólera dos seus deuses.
O que demonstra que estes homens já se sentiam culpados perante eles.
A noção de "pecado a ser redimido" é, assim, indissociável do sacrifício ritual e da culpa humana
diante de "Deus", da "natureza", ou de quem ele julga ter sobre ele o poder de vida e de morte.
Com o termo "Deus" não me refiro, então, aqui a uma noção estritamente religiosa.
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Lembro unicamente o contexto dessa palavra, já que a noção de "deus" sempre está associada à
nossa impotência diante da morte e à incômoda sensação interior de "culpa" e "revolta" que essa
impotência gera.
Não é minha intenção, evidentemente, reduzir a noção de Deus a essa sensação humana.
Tampouco sugerir que "deus" nada mais seria que o reflexo do nosso medo de morrer, buscando um
alívio para si.
Embora cada um de nós seja livre para pensá-lo, até prova do contrário.
Mas, meu objetivo aqui é unicamente destacar, salientar, que o fato de nos sentirmos "culpados",
"pecadores", ou simplesmente impotentes diante da morte, denota que gostaríamos que o poder total
e absoluto das nossas próprias vidas repousasse unicamente em nossas mãos.
Sei que é muito difícil admitirmos, mas nosso "temor" a Deus, ou a nossa busca científica
desesperada de meios para prolongar a vida e mesmo de imortalizar-nos, indica que competimos
com "deus", competimos com a vida, queremos o poder absoluto sobre nossos próprios destinos.
Assim nos comportamos diante dos nossos pais e educadores desde a infância, nossa "rebeldia" ou
nosso "mutismo" reflete essa vontade visceral de autonomia.
Querer ser dono do próprio nariz, é sinônimo de ser humano.
Mas, assim como tememos o poder dos nossos pais de nos castigarem por nossas desobediências,
tememos o poder de "deus", da "natureza", ou da vida, pela nossa vontade de buscar uma autonomia
que supomos ser contra sua vontade.
Nos sentimos, então, culpados e indignos.
A impotência, ou o "inferno", parece ser o castigo que corresponde a essa nossa sede humana de
independência.
Em princípio, amamos a "deus", quando cremos nele.
E todos nós amamos a vida.
Mas esse sentimento dissimula mal o nosso próprio medo da morte e do sofrimento.
Nosso anseio de não sofrer, nem morrer, faz de nós os concorrentes involuntários que somos de
"deus" ou da "vida".
Queremos, então, ser iguais a "deus".
Queremos ter o mesmo poder sobre a vida que ela tem sobre cada um de nós.
Temos vergonha de confessar a nós mesmos tais sentimentos.
Sentimo-nos, assim, repletos de medo, medo que oculta o ódio da nossa não aceitação da nossa
condição de mortais diante de quem parece deter um poder sobre essa condição.
Má-intenção, mentiras, covardia, mesquinhez, são algumas das emoções "negativas" que
enquadram esse conflito entre nós mesmos e a vida, entre a "criatura" e o "criador", entre o
espécime humano e sua própria espécie.
"Indignos", "impuros", "culpados" são, assim, os sentimentos que exprimem esse conflito.
Aceitar essa revolta em si, por compreender que não há como ser humano e não viver esse conflito,
é o primeiro passo que cada um de nós terá que aprender a dar:
"Pai, se possível, afasta de mim esse cálice sem que eu o beba, mas que seja feita a tua vontade e
não a minha".
Estas palavras de Jesus ilustram bem esse conflito entre a criatura e o criador, entre a vontade do
"homem" e a vontade do "filho de Deus".
Todo humano realiza a cada instante essa mesma prece.
O que quer que seja que esperemos da vida, seja qual for nossa concepção dela, sempre esperamos,
"rezamos", para que nossos anseios, nossos votos, sejam realizados.
Apenas os mais sábios entre nós aceitam inclinar-se diante dos fatos quando estes não
correspondem aos seus desejos.
Só o cimo do pensamento Zen nos demonstrará um dia que desejar algo ou o seu contrário, dá
exatamente no mesmo.
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O próprio Jesus, um dos maiores líderes religiosos da humanidade, exprimia assim na oração acima,
num ato de honestidade digna de um grande homem, esse conflito interior que se encontra no fundo
de todos nós, por não sabermos onde começa a aceitação justa dos fatos que nos contrariam e onde
termina a passividade, a covardia, a conivência masoquista com o próprio sofrimento.
E o final desta prece: "mas que seja feita a tua vontade e não a minha" denota bem mais uma aguda
inteligência da realidade humana do que uma "obediência passiva".
Aceitar a "vontade" da "vida", da "natureza" ou de "deus", não é uma questão de opção, mas sim de
inteligência, é uma questão de construir, de se reconstruir se for o caso, a partir do que existe e
deixar de continuar batendo com a cabeça contra o muro.
Existem homens tolos hoje em dia, que acreditam que se dominarem o código genético atingirão a
imortalidade, rivalizarão com a natureza, libertar-se-ão dela.
Claro que devemos continuar a fazer progredir nossas ciências.
Mas daí a crer que a ciência humana possa ser um dia outra coisa do que ela realmente é:
Uma das partes da ciência natural que a engloba…
Que a compreende naturalmente e que, naturalmente, é incompreendida por ela…
A "revolta", o "ódio", a "discórdia", são, assim, reações mais que naturais diante desse conflito entre
o que queremos e o que podemos.
E pouco importa os termos com os quais as exprimimos, quer estes sejam doces e lúcidos como os
de Jesus em sua prece, ou quer eles sejam ditados por um desespero e uma dor que nos levariam à
vontade de destruir, espelho da nossa sensação de estarmos sendo destruídos.
Não temos que nos "culpabilizar" pela nossa revolta, pela nossa "desobediência", já que ela é
inevitável na condição humana.
O mesmo Jesus, em outra parábola intitulada "o filho pródigo", relatava a volta de um filho à casa
do pai após constatar que a casa do pai lhe dava muito mais autonomia e liberdade do que o mundo
"livre", como ele pensava quando se foi.
Apenas temos que utilizar mais consciente e operacionalmente nossa força de rebeldia e de
obstinação, para não sermos vítimas da autodestruição e do autocastigo que nós mesmos nos
infligimos, por orgulho ferido e desespero, quando a "vida" ou "deus" não obedece à nossa vontade
ou às nossas "preces".
Afinal, talvez a única punição que nos espera pela nossa "desobediência", como sugere a parábola
do "filho pródigo", seja a autopunição.
Pois seria pouco provável, e até muito contraditório, que "deus" ou a "vida" nos punissem por
buscarmos essa autonomia e esse livre arbítrio.
E, como representamos em nós mesmos esse conflito entre a vida e sua emanação, entre o criador e
a criatura, ou entre o espécime e a espécie, já que fazemos parte dos primeiros, mas nos
identificamos com os segundos, cada um de nós precisa manter o diálogo com essas duas partes de
si mesmo.
Não aceitar esse conflito, essa dualidade intrínseca à natureza humana, é de uma certa forma alienar
de si mesmo um dos pontos de vistas de si mesmo, negando ou reprimindo a revolta pessoal, como
fazem muitos adeptos da religião extremamente culpabilizados, ou negando o enraizamento
inevitável do homem no contexto que o engloba e que o mantém, como tende a fazer hoje uma certa
concepção do ateísmo, que nega ainda que a matéria nada mais é que uma simples manifestação da
energia, segundo a ciência.
Negar, assim, uma das partes de si, um dos aspectos do conflito típico do homem contra sua própria
espécie, é uma forma de "esquizofrenia" moderna que nos torna parciais e reféns dos nossos medos.
Somos, nesse caso, bem mais frágeis do que os que aceitam esse conflito interior, como Jesus:
"Pai… se possível afasta de mim esse cálice"…
"Dialogar consigo mesmo" é, então, um ato de lucidez, pois a verdadeira "loucura" seria negar que
cada um de nós vive em profundo conflito consigo mesmo, eternamente divido entre duas vontades.
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Toda oração a "deus" traduz, assim, esse diálogo consigo mesmo, se considerarmos que "deus" é o
que nos engloba, o que governa nossas vida, nossa natureza, a natureza em si, todo o universo.
Fazemos parte desse universo, logo, em nosso conflito com ele, chamamos de "deus" essa parte de
nós mesmos que parece exterior a nós mesmos, que parece nos governar de fora do nosso campo de
consciência e de identificação pessoal.
No entanto, pouco importa nesse contexto, que prefiras crer que, falando com "deus", falas apenas
contigo mesmo, ou que sintas que Deus é algo que ultrapassa a insignificância do teu conflito bem
humano, diante de um universo que vive tão além do teu conflito.
E, aparentemente sem se deixar paralisar por ele, já que somos apenas um dos seus inúmeros
recursos.
Em ambos casos, espero que admitas comigo, a necessidade de dialogar com estas partes
conflitantes de si.
Espero que aceites que é imperativo para cada um de nós, se queremos manter nosso equilíbrio
mental e a consciência de nossa dinâmica interior, não perdermos de vista o próprio do nosso
conflito interior.
Esse "diálogo consigo mesmo" é o que necessito aqui chamar de "prece".
Pois, como explicarei com mais detalhes mais adiante, como tua consciência é a detentora da tua
identidade, do que tu crês que és, mas é o teu "inconsciente", ou tua "inconsciência" se preferes, que
determina realmente o que ocorrerá contigo, já que és comandado bem mais pelos teus
automatismos reflexos e pré-programados na tua mente desde a infância, bem mais do que pela tua
vontade consciente, seria mais operacional para ti, ao realizar esse diálogo que aqui chamo de
"oração", que realmente te dirigisses ao teu inconsciente como se ele fosse autônomo, independente
da tua consciência.
O que corresponde bem mais aos fatos do que a tua ilusão de que podes controlar conscientemente
todos teus atos.
E que te leva a um estado de desespero e impotência quando esse "controle" falha.
A "prece" é um ato voltado para si mesmo, a prece é um ato de autoconhecimento.
Pois o homem necessita "pedir".
Pouco importa que seu pedido se dirija à "vida" ou a "deus".
O pedido é necessário, antes de mais nada, para que cada um de nós clarifique para si mesmo quem
ele é e o que ele espera da vida.
Um homem reza, na intenção de conhecer seus próprios desejos, esperando antes de mais nada
poder contar consigo mesmo.
Um homem ora para afirmar sua vontade na direção de uma espera dada, de uma esperança.
Não te preocupes, então, "de quem" podes esperar algo, com quem podes contar.
Se crês em Deus, claro que é a ele que deves dirigir-te.
Mas se não crês em Deus, aprende mesmo assim a converter tuas esperas e esperanças em pedidos,
em "orações".
Aprende a reconhecer na "prece" um potentíssimo instrumento de clarificação e de
autoconhecimento.
Lembrando que o princípio desse livro não é de converter ou inverter a crença pessoal de cada um
de nós, é simplesmente demonstrar o paralelismo entre noções psicológicas, como arquétipo, e
noções religiosas, como "anjo" ou "deus".
Rezando a "deus", fazendo uma prece e uma entrega a uma "vontade superior" à tua, no mínimo
estarás programando teu "inconsciente" a que ele reúna todas as forças em ti capazes de ajudar-te a
concretizar um projeto que te interessa.
Afinal, tens perfeitamente o direito de crer que "deus" nada mais é que teu inconsciente.
Guarda tua crença, mas não subestimes o valor para tua própria saúde que representaria um pedido
teu a esse "deus" imaginário.
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Tua concentração no fatores de cura dependentes do teu estado psíquico é altamente estimulador
para teu sistema imunitário, diminuindo o stress e favorecendo emoções que ativam a reposição de
energias e o repouso físico e mental.
E a sensação de estar só, isolado, abandonado e sem recursos é muito mais nociva à tua saúde e bem
mais irracional do que uma "oração" dirigida ao teu deus imaginário.
Ganharias em saúde, conservando, ainda por cima, a lucidez da dúvida indispensável à clareza da
razão.
Afinal de contas, nenhum de nós pode afirmar com certeza absoluta que "tudo está perdido", nem
que tudo é como supomos que é.
Esse é o fundamento mesmo da razão, ou a crença nela mesma.
Conservar a dúvida, imperativa a todo ato de razão, te livraria, assim, da irracionalidade
masoquista, narcisista e "autista" que te aprisiona no calabouço das tuas logicamente frágeis e
insustentáveis convicções.
Afinal, não creias que o fato de não creres em deus te dá o direito de acreditares que és o dono da
verdade!
Isso só demonstraria a pouca inteligência da tua arrogância, que negaria "deus" na intenção não
assumida de autoproclamar-se "deus", ou o detentor em si da verdade em si…
Mesmo a oração que realizarás ao teu deus fictício em nome da saúde, do bem-estar, do sucesso ou
da proteção de terceiros, não é nem inútil nem ridícula.
Pois, orando em prol de outros, estarás desenvolvendo tua capacidade de servir-lhes de apoio
afetivo e moral, estarás, com a estimulação do teu próprio inconsciente, ajudando-os a encontrarem
em si mesmos recursos de cura.
Trata-se de uma linguagem emocional, logo, irracional e direta, traduzida sob o nome de "fé", que
toca fatores do inconsciente absolutamente alheios à nossa lógica racional.
"Orar a deus" representa para o nosso diálogo com nosso próprio inconsciente o equivalente do
treinamento de um iogue que consegue influenciar voluntariamente seus batimentos cardíacos ou
outras funções neurovegetativas.
Fala com teu inconsciente como se ele não fizesse parte de ti, afinal, não estarás com isso tão longe
da realidade.
E não hesites a fazê-lo de forma imaginária, como se falasses a "deus".
Afinal, teu inconsciente, por ser irracional, é muito mais sensível às tuas fantasias que à tua crença
no que te parece "lógico".
Como pessoa que tem fé em Deus, sabes perfeitamente que Deus necessita que cada pessoa recorra
a ele a fim de que Deus possa, durante o ato de ajuda, respeitar o livre arbítrio dado a cada pessoa
por Deus "em pessoa".
Considera, então, minha explanação acima, sobre o "inconsciente" e outros termos psicológicos,
como uma simples "astúcia" de minha parte, a fim de permitir que ateus realizem um primeiro
passo em direção a Deus.
Considera minha "psicologização do divino" como uma desculpa para que ateus contornem seu
orgulho pessoal e seu medo na relação com o seu criador.
Não desejo divertir-me às tuas custas com esse jogo ambíguo e cruzado entre materialismo e
espiritualidade.
Minha intenção é unicamente ressaltar que todas as nossas crenças religiosas podem ser explicadas
em termos de arquétipos, e que todo arquétipo pode ser considerado como a racionalização de uma
atitude religiosa, e que nenhum elemento racional conseguiu até hoje demonstrar a veracidade de
uma versão ou de outra.
E, como o arquétipo que é o objeto desse estudo é precisamente o "pedido", o "desejo", o "anseio",
ou a "espera" que cada um de nós possui em relação à própria vida, vamos utilizá-lo para liberarnos dessa fronteira inútil que colocamos entre a nossa "lógica" e a nossa "fé", ou nosso
"inconsciente".
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Comecemos, então, pedindo, "orando", a ZADQUIEL, ou o anjo-arquétipo da "prece", para que ele
nos guie nessa permissão que necessitamos outorgar a nós mesmos, a fim de realizar esse diálogo
entre nosso consciente e o nosso inconsciente.
Permitamo-nos, então, lançar, da ilha irracional, "egóica", que representa nossa crença nos nossos
limites racionais, garrafas com mensagens ao mar de inconsciência e irracionalidade que nos
circunda, no interior de nós mesmos.
Deixemos que esse "anjo-arquétipo" nos guie através dessa série de estudos, precisamente sobre a
correlação entre anjos e arquétipos que iniciamos aqui.
Zadquiel será assim a lembrança dessa necessidade humana de comunicar com uma "sabedoria" que
nos habita, em termos de "arquétipo inconsciente", ou "anjo".
Zadquiel será o mensageiro do nosso pedido, da nossa intenção, de sempre manter nossa
consciência nos limites da razão.
Sem, no entanto, limitar a razão aos limites da nossa consciência dela.
Zadquiel será a lembrança de que pouco importa o que digamos, ou no que acreditemos, nossa
intenção comum será sempre de ofertarmos o melhor de nós mesmos, antes de mais nada a nós
mesmos, ou:
"Ao próximo como a si mesmo".
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RAMAELA: ALEGRIA! ALEGRIA!
A tristeza parece residir lá no fundo dos nossos corações.
Às vezes temos a impressão de que somos feitos dela.
Todos sabemos como é muito mais fácil manter-se na tristeza do que manter uma alegria.
"Como", então, passar da tristeza à alegria sem a sensação de trair-nos, de mentir a nós mesmos?
Se seguimos o conselho dos poetas, a "receita" consiste em exprimir a tristeza, não fugir dela, pelo
contrário, deixá-la falar através de nós, não censurá-la, conceder-lhe todas as suas razões.
Artistas e poetas a transformam em versos, em contos, em música, em pintura ou escultura.
Eles não fogem dela, pelo contrário, a acolhem como uma grande inspiradora.
Agem como se intuíssem que ela é a própria intuição da alegria.
Artistas e poetas, na realidade, não diferem uma da outra, não as separam, no fundo não "preferem"
realmente uma à outra.
Criam com elas uma peça, um "drama", no qual sempre se destaca a BELEZA que emana de toda
EXPRESSÃO e que serve de fio condutor emocional, de alimento "afetivo", de elo entre estes dois
extremos dos nossos sentimentos, pólos de nós mesmos tão conhecidos como "o medo e a ira",
bifurcações do labirinto próprio da tristeza.
Se seguimos o exemplo dos artistas e dos poetas, o segredo de "passar" da tristeza à alegria
consistiria em nunca fugir da tristeza, pelo contrário, servi-la como seu embaixador e servir-se dela
para exprimir-se, e nunca tentar manter-se na alegria, pelo contrário, deixá-la trazer-nos sua outra
face, ou sua "raiz", que é a tristeza.
Pois tristeza e alegria funcionam como se uma tivesse o poder de criar a outra.
Artistas e poetas agem em relação a estes sentimentos e aos demais em geral exatamente de
maneira oposta ao comum dos mortais: eles os atravessam e se enriquecem deles, em vez de deixarse empobrecer pela eterna fuga do sentir.
"Sábios" e "terapeutas", que são "sábios" numa escala mais "modesta", preconizam a mesma coisa.
Ambos nos incitam a nos servirmos dos nossos sentimentos.
Os primeiros como meio de chegar a nossa verdade. Os segundos como meio de "cura".
Sócrates queixava-se já na sua época do RAPTO da palavra ARTE.
Rapto executado, segundo ele, em "favor" dos "artesãos da expressão", que mais tarde seriam
conhecidos como "artistas e poetas" em detrimento dos demais artesãos.
Rapto que talvez tenha sido simplesmente perpetrado pelo público em geral que sacrificou a
expressão do ato ao ato de expressão.
O que dizia Sócrates, é que nos primórdios dos "tempos" onde as palavras ainda existiam em função
das suas etimologias, ARTISTA era alguém que executava um ato qualquer, e que os que hoje
consideramos "artistas" nada mais são do que os relatores do ato, ou seja, da ARTE, segundo a
etimologia.
Em outras palavras, Sócrates dizia que é bem mais artista quem consegue fazer um excelente pão do
que quem o pinta ou que faz uma linda poesia a partir dele.
Será muito difícil para cada um de nós chegar novamente à essência da arte, ou seja, do ato.
Se já na época de Sócrates, há dois mil e quinhentos anos atrás... a arte já havia sido, e há muito
tempo, desviada do ato à sua expressão, a tendência atual mostra quão pouco o executor de um ato
qualquer vai "ousar" reivindicar seu direito etimologicamente legítimo a ser considerado um
"artista".
Sei que um artista "autêntico" cria, ou seja, se ENTREGA à execução de um ATO pela premente
necessidade de EXPRIMIR, MATERIALIZAR O QUE SENTE.
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Pois, o que todos consideramos como "arte", inclusive os artistas, nada mais é que o ABANDONO
de alguém a um ato, é o ato de entregar-se completamente a uma execução, pois toda execução
deveria ser "capital" para quem a executa.
E se a palavra "artista" te parece indevida quando aplicada a ti, ridícula mesmo, se escondes muito
de ti tua própria convicção de sê-lo, se ainda finges que teus atos contam tão pouco para ti mesmo,
aceitarias ao menos que reconheçamos juntos a universalidade das palavras "ato" e "expressão"?
Pois só quando aceitamos EXPRIMIR, ou seja, colocar em ATOS, ou seja, REPRESENTAR
nossas emoções é que conseguimos captar a alegria.
E, se no meio da criação te divertires, te alegrares:
ESTEJAS CERTO QUE CAPTURASTES UM ANJO!!!!!!!
Pois cada vez que um ser humano se diverte ele foi capturado por RAMAELA e vice-versa.
Ramaela é a alegria em estado puro.
Ramaela é um anjo brincalhão que vai se aproximar de ti em meio da tua raiva, da tua agonia ou da
tua dor e vai tentar propor-te uma maneira mais divertida, mais criativa de passar por ali sem que
sofras, transformando inclusive em fonte de prazer o que antes era um poço de dor, ensinando-te a
locomover-te da dor ao prazer outra vez.
Ramaela respeitará, no entanto, a tua "dor", que é a tua maneira de não te respeitar a ti mesmo, mas
ainda não sabes disso.
"Ela", pois trata-se de uma "anja"... só se permitirá divertir-te quando entenderes a "di-versão"
como outra versão, outra expressão, tão válida quanto o sofrimento, do teu próprio mal-estar, da tua
tragicomédia de vida.
Ramaela é o SER em ação.
O que é pleonasmo, pois só se pode "ser" em ação, e não há mesmo maior "ação" que a inércia, se a
considerarmos como expressão de um movimento interior absoluto.
Ramaela, como te disse, não resiste a ajudar os humanos a transformarem suas dores em riquezas
criativas e, de preferência, DIVERTIDAS!
Ramaela ri.
De tudo, e de nada.
Não por ser idiota, mas exatamente por não sê-lo.
Ramaela vive num espaço onde a forma só está ali para ser MODELADA pois, como todo anjo,
Ramaela vive no espaço da "trans-forma-ação".
Pois a ação é o "trans", ou o movimento que atravessa toda forma.
E isso é superdivertido:
Mudar de forma, ou seja: CRIAR.
Como no carnaval quando nos fantasiamos.
Como quando contamos uma piada que caricatura uma reação humana.
Como quando um ator nos faz chorar ou um conto nos absorve.
Como quando um pássaro voa, um sapo canta, ou uma criança sorri.
Como quando um pássaro sorri, um sapo voa, ou uma criança canta.
Quando algo nos surpreende e nos transporta ao mágico, à mágica do sentir, e que acabamos nos
sentindo bem simplesmente por deixar-nos sentir mal.
Ramaela vai estar aí nestes momentos.
Prepara uma rede de capturar anjos.
Ela é igual àquelas de capturar peixes, ou borboletas, que também se movem como se fossem
sonhos.
Só que nossa “rede de anjos" será tecida com pensamentos e emoções, e não com fios de algodão ou
de nylon.
Se estiveres te sentindo bem, de fato já capturastes Ramaela, basta ousares reconhecer que, às
vezes, também sonhas acordado como as crianças, e te permitires imaginar que em meio ao teu
bem-estar está um anjo que não resiste a não estar no bem-estar.
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