açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
CRÓNICA
Etologia de centro comercial
Por Gonçalo Taipa Teixeira
P. 2
A VIAJANTE
Sofia Vasconcelos revela
"segredos" do Funchal
P. 8 e 9
FELIZ COM MENOS
açucar 15 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM | ilustração capa - JM
O que queres ser quando
fores livre?
Texto de Débora G. Pereira
P. 10
Entrevista
Afonso Cruz, o escritor que
quer «abarcar o mundo»
a
2 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
ideias de quase nada
Etologia de centro
comercial
CRÓNICA
Gonçalo T. Teixeira
q
[email protected]
uem de entre nós, majestosos machos da espécie humana, nunca passou pela
epopeia de acompanhar a
esposa, namorada ou algo
no género, numa maratona
de compras? Há quem diga
ser uma experiência apenas
comparável à Odisseia ou
aos Doze Trabalhos (de Hércules ou Asterix, tanto faz)
mas à qual lá nos vamos sujeitando, uns com um sorriso desenhado a martelo e
escopro, outros como condenados às galés. Para dizer
a verdade, os Doze Trabalhos seriam um alívio; são
doze e já está.
Naqueles machos mais experientes, casados há algum
tempo, o sacrifício não é
disfarçado, antes evidente
nas carrancas que carregam
e na forma como acartam
os sacos pendurados nos
dedos, como se o desejo fosse deixar aquilo tudo cair,
peúgas incluídas. São poucos os indivíduos deste subgrupo que fingem estar ali
por gosto. Os que ainda o fazem são elogiados com suspeitos sorrisos pelas amigas
da esposa, mas marcados
como paus-mandados pelos
seus congéneres. É frequente ver alguns desta estirpe
mais experimentada plantados à porta dos estabelecimentos, onde as suas maisque-tudo se perdem por largas dezenas de minutos,
como se montassem guarda
às montras — ou às esposas.
Menos experientes, os namorados, tão inocentes
como incautos, entram em
todas as lojas atrás da respectiva, desfilando atrás
dela, tentando adivinhar
cada mudança de direcção e
marcha-à-ré para ver melhor aquela prega. Arrastam
os despojos ensacados das
lojas anteriores contra as filas de prateleiras e cabides,
fingindo distinguir entre
fúchsia e púrpura ou compreender que aquela pequena tacha dourada faz realmente toda a diferença, assentido com a onomatopeia
hum hum. Dizem que tudo
fica bem; tentam adivinhar
qual é a saia que a sua maisque-tudo pretende que ele
diga que prefere, na esperança de que a procura acabe naquela peça… ou na
próxima.
Já aqueles que acompanham o alvo das suas pretensões mas ainda não estão
seguros do estado da sua relação, ou ainda estão na fase
do esforço para saltar da viscosa “zona de amigo” para o
mais compensador “vale dos
lençóis”, fazem quase tudo
para parecer que estão exta-
«Estes espécimes
têm uma
razão válida para
suportar tal
tortura;
sonham com
contrapartidas.
(...)»
siados com a benesse de poder ir às compras com ela. E
ela aproveita, porque ela
sabe que é mesmo uma benesse. Ele carrega tudo, desde os sacos que se acumulam a todo o comprimento
dos antebraços e a carteira
— ela tem de ter as mãos livres —, às peças que ela
quer experimentar — eventualmente; há que inspeccionar cuidadosamente
cada alfinete primeiro. Eles
lá vão, ruborizados de antecipação — ou esforço físico
—, encostados à parede
mais próxima dos provadores, imaginando-a a despirse, brincando com a fantasia
de entrar lá e surpreendê-la;
a potencial bofetada e a
multidão de senhoras que o
ignoram servem de desculpa para não o fazer. Estes espécimes têm uma razão válida para suportar tal tortura; sonham com contrapartidas. Têm a esperança de
levar os sacos a casa dela,
eventualmente ao quarto e
quem sabe ajudá-la a experimentar aquela peça de lingerie que ela fez questão de
adquirir mesmo debaixo do
nariz dele.
Talvez não tenha de ser assim. Talvez haja alternativas. Proponho duas hipóteses: evitar relacionamentos
com indivíduos do sexo feminino — seja pelo celibato,
seja pela via da sexualidade
alternativa —, ou não acompanhar a respectiva, de
todo. Suspeito que ambas as
vias levam, eventualmente,
ao mesmo fim; a privação
do contacto feminino.
Talvez o melhor seja mesmo
procurar aquela rara sereia
que gosta de ir às compras
tanto ou menos que nós. Aí
a megera talvez sejamos nós
— o tal de macho. a
encontrados por Susana de Figueiredo
C
ruzámo-nos na Baixa, num intervalo da chuva. Sorriu ao de leve,
como se me esperasse, e contoume a sua história...«Fui mãe aos 17
anos, era só uma miúda. Parva todos os
dias. Demasiado crédula, mas toda cheia
de razões. A gravidez não foi, obviamente, planeada. Ninguém faz planos à saída
da adolescência, pois não? Na verdade,
nunca percebi muito bem o que é isso de
fazer planos... Tem piada, as pessoas
acham que imaginam e pronto, as coisas
acontecem. Aí está uma coisa em que nunca acreditei. Planos. Mas a grande ironia
é que a vida tinha para mim um grande
plano. O meu filho. Tão bom. Eu era só
uma miúda [acho que ainda sou], mas,
graças a ele, pude crescer de um modo
doce... Mesmo no meio do rebuliço que um
bebé traz à vida de uma miúda de 17 anos.
O pai dele não teve coragem, partiu. Não
o odeio, juro que não... Ainda me lembro
do desespero nos olhos dele, dos lábios a
tremer, do pânico de um miúdo ao saber
que seria pai. Nunca me disse para não ter
o bebé. Nenhum de nós pensou nisso. Apesar do medo [e do resto]. Orgulho-me por
mim e por ele. Éramos bons miúdos...» a
a
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 3
feliz com mais
Cozido, frito, assado,
ou chá, somos nós
“A cena culinária
de cada país é o
espelho do
mesmo”, penso
que se Sócrates,
Platão, Confúcio,
S. Tomás
de Aquino,
Descartes, Hegel,
Kant, Nietzsche,
Hobbes, Russell,
Kierkegaard,
Sartre, e outros,
não disseram
isso, estavam de
barriga vazia.”
SideDish Moustache
[email protected]
P
odemos e devemos analisar a
evolução da comida típica de cada
país e o impacto que a
mesma tem nos dias de
hoje, caracterizando cada
nação. Hoje falaremos
apenas do mais básico e
comum, não vale a pena
estarmos a aprofundar
algo que só nos vai deixar
com água na boca e tornarmo-nos masoquistas
só por causa disso. Avancemos.
PORTUGAL: tirando o
erro histórico de termos
bacalhau como prato nacional, um peixe que nem
faz parte dos mares lusitanos - e sim, podem dizer
que é implicação do vosso
querido autor, que não
gosta (para não usar uma
palavra mais forte) de tal
iguaria -, temos o célebre
cozido à portuguesa. E o
que é que o cozido diz da
nossa grandiosa nação?
(perdão pelo tom algo nacionalista) Ora bem, o cozido caracteriza um país
sempre com as calças na
mão, ou não tivesse este
nascido, segundo reza a
história, fruto das dificuldades económicas. Como
tal, as sobras, ou os cortes
mais baratos da carne,
eram cozidos juntamente
com vegetais, compondo
uma refeição consistente
para o dia de trabalho. A
versão mais romântica do
assunto, e a minha preferida, mostra que todos
bem juntinhos fazemos
sobressair o melhor de
nós e que o quentinho do
cozido simboliza a nossa
maneira calorosa de recebermos as pessoas. É bonito, não é? Que se lixe a beleza toda, queremos é barriga cheia, e é isso que
simboliza o nosso cozido.
FRANÇA: confesso que eleger ou procurar um prato
nacional francês não é tarefa fácil, faço já uma sugestão a quem gere este sítio, pois que me envie
para lá para eu começar a
fazer as provas de modo a
selecionar um prato. Coq
au Vin, Boeuf bourguignon, Escargots, Ratatouille, etc., são excelentes opções para servirem de
bandeira na cozinha francesa. O primeiro une duas
coisas que os rapazes da
terra do Astérix fazem
bem, cozinhar e vinho. O
que nos leva a crer que a
expressão bon vivant tem
a origem perfeita e caracteriza a nação gaulesa na
perfeição.
INGLATERRA: chá das cinco. Se há algo tipicamente
inglês ou
se quisermos
abranger o
resto
da ilha,
britânico, é o
chá das
cinco. Algo
que simboliza o snobismo
inglês e, claro está, a pontualidade, tem de ser às
cinco!!!
BRASIL: churrasco, ou nos
dias de hoje, o rodízio. Ar-
roz, feijão e farofa fazem
de acompanhamento à
confusão de carnes que os
nossos irmãos brasileiros
usam naquela que é a
grande festa do churrasquinho acompanhado por
uma “geladinha”.
Brasil é festa,
Brasil é
churrasco!
(hoje,
manchado pela
confusão, que
também
pode estar associada ao
churrasco, que
decorre no Palácio
da Alvorada).
Estes são alguns exemplos, mas existem muitos
mais, infelizmente, não
há espaço para todos. a
a
4 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
«Os livros não terminam
quando o escritor
escreve a palavra “fim”»
Afonso Cruz nasceu
em 1971 na Figueira
da Foz. Para além
de escritor é também ilustrador e
músico, o que é
sinónimo da sua
«multiplicidade e
fragmentação» e da
sua procura por
vários ângulos para
«abarcar o mundo».
Após viajar por
mais de 60 países
instalou-se no Alentejo porque gosta de
cidades com uma
«dimensão humana». O autor de
livros de grande
sucesso como “Jesus
Cristo Bebia
Cerveja” ou “Para
onde Vão os
Guarda-Chuvas”
esteve na Madeira
a propósito do Festival Literário e falou
com a Açúcar.
a
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 5
©Martim Leitão
ENTREVISTA
Cláudia Sousa
o
[email protected]
Como é estar na Madeira
para o Festival Literário?
É muito bom. Não é a primeira vez que venho a um
Festival Literário nem
muito menos a primeira
vez que estou na Madeira.
Estudei cá um ano, no Instituto de Artes Plásticas da
Madeira.
Afonso gosta muito de viajar. De que modo os países que visitou influenciaram a sua obra?
De muitas maneiras. Não
só porque os destinos
eram muito diferentes, e
cada destino oferece coisas diferentes, assuntos e
temas diferentes, e maneiras de ver o mundo também elas diversas, mas
porque são também experiências que marcam
muito as nossas vidas, especialmente este tipo de
viagens em que tudo é feito mais de improviso do
que de um modo planeado. Acaba por ficar e fazer
parte de nós. A maior parte dos escritores, quando
escreve com sinceridade
ou tenta ter uma sinceridade naquilo que faz, acaba por fazer parte da sua
escrita. Não nos conseguimos alhear de nós. Essas
viagens também nos
constroem.
De onde veio essa vontade
de viajar? Sempre foi muito curioso?
Sim. Há uma boa parte de
curiosidade nas viagens,
mas não só. Pelo menos
no meu caso, sempre gostei muito de ler e sempre
senti vontade de corroborar o que lia com uma experiência mais
física..mais de vivência.
Para não me tornar um
rato de biblioteca experimentava um pouco daquilo que lia. A maior parte
das viagens e os destinos
que escolho ou escolhia tinha sempre muito a ver
com os próprios livros ou
temas que ia descobrindo
na leitura.
especial quando saio de
casa. Escrevo em frente ao
computador em Lisboa
com a mesma paz com
que escrevo no Alentejo.
Quando saio é que as coisas mudam radicalmente.
Como foi a experiência de
estudar cá?
Foi ótima. Já muitas vezes
na minha vida senti um
arrependimento por ter
pedido transferência para
Lisboa. Mas na altura tinha uma banda e queria
ir para Lisboa para tocar.
Mas a vida na Madeira eu
adorava.
E também na filosofia..
Sim, na filosofia, na religião, e nas Ciências Humanas. Sempre me interessei
muito e sempre quis ter
perspetivas diferentes.
Quando viajo apercebo-me
melhor do lugar onde estou, do que para o lugar
para onde vou.
Numa entrevista que deu
citava um escritor que dizia: “o homem não é uma
unidade mas sim uma
multiplicidade; um conjunto de personagens e
personalidades. Um conjunto de ideias tantas ve-
zes contraditórias” - isto
também tem um bocadinho a ver com a sua procura pelas viagens?
Sim, porque a ideia da
multiplicidade percorre
muitos escritores, o próprio Fernando Pessoa é
um exemplo disso: a sua
fragmentação em várias
personagens ou personalidades, para também de
certo modo para abarcar o
mundo de várias perspetivas. É uma ideia que surge
com o modernismo, na
pintura, na física... Claro
que quando vemos as coisas de vários ângulos, há
sempre um ângulo que é o
oposto ao nosso, isso encerra por si contradições
imediatas.
Tantas viagens e vive no
Alentejo...
Inicialmente achei que me
daria muito bem a viver
no campo e quando surgiu
a oportunidade mudei-me.
O escritor Afonso Cruz na
cidade e o Afonso Cruz no
Alentejo, há diferenças na
escrita?
Não. Há diferenças muito
grandes de vivências no
meu quotidiano. Mas em
Aquilo que procurava
quando foi viver para o
Alentejo, nós temos aqui
na Madeira..
Exatamente. A mim agradam-me muito mais as cidades com uma dimensão
mais humana, onde se
possa caminhar, onde as
pessoas se cumprimentam, isso agrada-me efetivamente mais do que as
grandes metrópoles. Se
bem que Lisboa ainda assim não é uma cidade
muito grande...
Mas há mais anonimato e
mais distanciamento entre as pessoas..
Sim. Sem dúvida.
“As coisas são muito mais
aquilo que sentimos do
que realmente aquilo que
aconteceu”. É disto que estamos a falar quando se
debate a verdade e a falsidade na ficção literária?
Sim. Apesar de ser um
materialismo radical, temos a sensação de que só
existe o mundo sensorial,
aquilo que nós vemos, tocamos ou experimenta-
a
6 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
mos através dos sentidos.
Mas, a realidade é muito
mais profunda do que
isso. Uma cadeira pode
ser só uma cadeira. Mas se
for uma cadeira onde o
meu avó se sentava, tem
uma dimensão completamente diferente. Essa dimensão [da cadeira] que é
invisível, é só a ponta do
iceberg. O nosso mundo
interior é muito mais rico
do que aquilo que as pessoas veem ao espelho.
Uma vez li uma frase que
dizia: "A literatura é como
um fósforo: não serve
para iluminar, mas para
mostrar quanta escuridão
existe" - No fundo é quase
como a verdade e a mentira, na ficção literária...
- Sim. Na altura das viagens não levava máquina
fotográfica porque sentia
que a minha fidelidade se
devia mais àquilo que tinha sentido naquela altura do que aquilo que uma
máquina pudesse captar.
Era uma visão um pouco
romântica, era bem mais
jovem. A nossa memória
não é fixa como numa fotografia. A memória transforma-se à medida que
nós vamos crescendo e vamos reinterpretando. A
memória é viva. Imaginamos o passado como uma
coisa intocável e que já
não é possível mudar. Mas
a memória muda efetivamente. Isso é muito bonito porque nos permite encontrar coisas que não tínhamos visto, perceber
coisas sobre nós próprios.
A fotografia, porque nos
fixa demasiado, e todas as
gravações fixam-nos demasiado, e essa fixação é
possível pela tecnologia.
Antes a fixação só existia
com a escrita, não havia
outra forma de fixar momentos.
Noto que o Afonso é muito
observador. Acha que a
tecnologia fez com que as
pessoas perdessem a capacidade de contemplar
e/ou de observar?
Não creio. As observações
são diferentes, aquilo que
nos move muda circunstancialmente mas não
muda em termos de essência. Hoje dizemos que as
crianças com a tecnologia
não se concentram, mas
isso é típico das crianças e
é bom que assim seja. Há
medida que vamos envelhecendo vamos tendo menos noção do tédio, por
isso as pessoas mais velhas
ficam muito tempo paradas, porque não sentem
esse tédio que uma criança
sente, de uma maneira
muito forte. Por isso é que
as crianças estão sempre à
procura de coisas novas.
Se eu estiver na selva, a
quantidade de informação
que me chega aos olhos e
aos sentidos, é impressionante e não é menor do
que esta tecnologia toda à
minha volta. São é coisas
diferentes.
Festejámos há pouco tempo o Dia Mundial do Livro.
O Afonso que é uma presença assídua nos festivais
literários nota que as pessoas leem mais ou leem
menos?
Há que distinguir as pessoas que sabem ler dos leitores. Antes do 25 de abril
tínhamos uma taxa de
analfabetismo muito alta e
melhorou muito. Lê-se
mais, às vezes através de livros mais comerciais chega-se a outro tipo de leituras, outras vezes não, as
pessoas mantêm-se naquele tipo de leitura no resto
da vida. É um pouco como
as drogas leves que às vezes são a porta de entrada
para as drogas pesadas,
mas não está nada confirmado, e há pessoas que fumam a vida toda drogas leves e nunca passam para
as outras. Pode acontecer
que nos festivais se ganhe
alguns leitores. Acho que a
grande ideia é essa: aproximar a leitura das pessoas,
e as pessoas dos escritores.
É uma simbiose muito importante para sentirmos
que a literatura não é um
assunto de elite. Os livros
não terminam quando o
A mim
agradam-me
muito mais as
cidades com
uma dimensão
mais humana,
onde se possa
caminhar, onde
as pessoas se
cumprimentam.
escritor escreve a palavra
“fim” mas termina nos
próprios leitores que vão
interpretar o livro e isso
enriquece o próprio escritor.
Aliás, há uns tempos, com
o Valter Hugo Mãe, falava
disso mesmo. Ele dizia-me
“Às vezes, há coisas tão bonitas e tão bem pensadas,
que eu roubo ao leitor.
Acabo por ficar com elas e
uso-as depois como eu
próprio tivesse pensado
nelas”. E eu acho isso muito bonito essa relação entre o leitor, o livro e o autor, que enriquece a todos.
Cada vez que sai de um
festival literário sai com
ideias novas?
Essa é outra parte muito
boa dos festivais e dos encontros entre escritores,
de uma maneira geral.
Não havendo as tertúlias
como havia antigamente,
os festivais e os eventos
têm esse propósito. Os escritores encontram-se, falam das suas experiências,
e criamos esses laços que
permitem criar e imaginar
novas coisas.
Quais são os seus rituais
de escrita?
Não tenho muitos rituais
Sempre gostei muito
de ler e sempre senti
vontade de corroborar
o que lia com uma
experiência mais
física..mais de vivência.
Para não me tornar um
rato de biblioteca
experimentava um
pouco daquilo que lia.
A maior parte das
viagens e os destinos
que escolho ou escolhia
tinha sempre muito
a ver com os próprios
livros ou temas que ia
descobrindo na leitura.
até porque como viajo
muito é difícil ter esses rituais. Escrevo muito nos
aviões e nos hotéis. Posso
sincronizar os blocos de
notas no telemóvel ao
computador. Numa fila de
supermercado se tenho
uma ideia de uma frase, de
um diálogo, escrevo no telemóvel. É simples e prático. Quando estou em casa
gosto de escrever à noite.
Sou mais uma coruja do
que uma cotovia (risos).
Gosto mais de escrever à
noite do que de dia e porque há uma paz à noite
que não há durante o dia,
consigo concentrar-me naquilo que estou a escrever.
O Gonçalo M. Tavares diz
que costuma desligar o telefone porque gosta de escrever de manhã. Desliga
tudo e fecha-se de modo a
que ninguém lhe incomode. Ele diz que vai para o
a
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 7
©Martim Leitão
século XIX. A noite é o
meu século XIX, à partida.
Como é que consegue conciliar a escrita com a banda?
Como somos uma banda
de seis pessoas, ele já perceberam que eu não faço
assim tanta falta (risos).
Nós não ensaiamos muito,
eu quase diria que nós
quase nunca ensaiamos. O
nosso contrabaixista vive
em Berlim e eu vivo no
Alentejo. Passo muito tempo a viajar, juntarmo-nos
não é muito fácil. De uma
maneira natural acabo por
conciliar as coisas todas.
Apesar de não ensaiarmos
em conjunto, eu pego nos
instrumentos só para relembrar. É relativamente
fácil de conciliar as coisas
visto que eu não tenho um
trabalho fixo. É uma decisão minha.
me traz para a prosa, porque a torna mais trabalhada, com um trabalho de
linguagem que vai beber à
poesia. Tenho sempre livros ou de divulgação
científica ou de filosofia, e
não-ficção porque são livros que me dão conteúdo
e eu valorizo isso na escrita. Neste momento estou
a ler um livro sobre a filosofia do tempo. Leio ficção
também, é sempre importante. Recentemente acabei de ler “As Cores da Infâmia” de Albert Cossery,
escritor que gosto muito,
e nunca tinha lido nada
dele.
©Martim Leitão
Está a escrever algum livro neste momento?
Acabei de publicar “Vamos Comprar um Poeta”
e estou sempre a escrever,
tenho mais três ou quatro
livros para publicar este
ano.
Considera-se organicamente escritor e por isso
não tem nenhuma profissão paralela?
Vivo do que escrevo e a
maior parte do meu tempo eu passo a ler e a escrever, que é a mesma atividade na verdade. Eu preciso de ler para escrever e
as duas coisas complementam-se. A segunda atividade que me ocupa
mais é a ilustração e depois a música e os concertos pontuais.
O que está a ler agora?
Leio tudo e vários livros
ao mesmo tempo. Leio livros muito diferentes, leio
sempre poesia porque me
interessa pelo lado estético, formal. Acima de tudo
pelas influências que isso
À medida que
vamos envelhecendo vamos
tendo menos
noção do tédio,
por isso as
pessoas mais
velhas ficam
muito tempo
paradas, porque
não sentem esse
tédio que uma
criança sente,
de uma maneira
muito forte.
Será que vamos chegar a
um tempo em que teremos de comprar um poeta?
Espero que não chegue a
esse ponto, mas sim já é
impensável algumas coisas que estão a acontecer.
Quando era miúdo seria
impensável que as estações de metro tivessem
nomes de marcas como
têm hoje em dia. Não sei
muito bem até que ponto
vamos chegar com isto.
Estamos a patentear a natureza.
Escrever poesia está nos
seus planos?
Tenho um livro para
crianças com poemas.
Talvez este ano publique
um livro com poesia. Na
verdade, escrevo muita
poesia mas deixo-a na gaveta porque tenho um
certo pudor com isso. Parece-me mais solene e
mais séria do que a prosa.
Tenho alguma dificuldade
em ter um distanciamento crítico e vou deixando
as coisas na gaveta, mas
talvez este ano tenha coragem e publique um livre de poesia. a
a
8 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
a viajante
Os “segredos”
do Funchal (São Pedro)
Sofia Vasconcelos
www.frommadeiratomars.com
[email protected]
https://www.facebook.com/
Frommadeiratomars
Instagram@frommadeiratomars
a
pesar de estarem à vista
de todos, por vezes o Funchal surpreende-nos com
revelações inesperadas.
“Segredos” por desvendar,
que não são segredo nenhum, são apenas descobertas que vou fazendo
pela nossa cidade e que
venho aqui partilhar.
Espero que vos inspirem
a descobrir quais são os
vossos “sítios secretos” no
Funchal.
Localização: São Pedro
Imaginem um bairro no
centro da cidade com rue-
las
estreitas
e íngremes
que correm em
direção ao mar.
Foi no século XV, que as
famílias madeirenses começaram a viver nesta
área, afastando-se de Santa Maria do Calhau, hoje
conhecida por Zona Velha.
As casas deste bairro têm
tapassóis de madeira, muros com cores quentes e
pequenos jardins com buganvílias e flores trepadeiras. Aqui sente-se o silêncio, por vezes interrompido pelas vozes que ecoam
das casas e das televisões.
«Para mim, esta
zona tem um encanto especial.
Faz-me lembrar
as ruas da minha
infância, onde andava sempre a pé,
de casa à escola
(...)»
É aqui
que eu
vivo, no ‘meu
bairro’; São Pedro.
Para mim, esta zona tem
um encanto especial.
Faz-me lembrar as ruas
da minha infância, onde
andava sempre a pé, de
casa à escola, retida nos
meus pensamentos, a dizer olá às senhoras que
espreitavam à janela, e a
imaginar como seria o
mundo quando fosse
grande.
Hoje em dia, fico a imaginar no que todos aqueles
cafés e lojas fechados se
poderiam transformar…
São Pedro é um dos meus
a
refúgios preferidos, bem
no coração do Funchal.
Apetece-lhe descobrir
mais?
AQUI FICAM ALGUMAS
SUGESTÕES
1. Faça uma paragem no
Hotel Monte Carlo e deslumbre-se com a vista.
Este hotel foi construído
como residência e chegou mesmo a ser uma escola para 24000 crianças
gilbraltinas em exílio na
Madeira, em 1946. Desde
os anos 70 que é um hotel lindíssimo, já não se
fazem hóteis assim…Veja
a arquitectura neoclássica com pormenores neobarrocos e o bar cheio de
estilo, no seu interior.
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 9
Foi trazido para a Madeira pelo Visconde Cacongo, depois de adquirido
na Feira Internacional de
Paris, em 1900, para animar as festas de jardim,
nas quintas do Funchal.
Ao ouvir a música a tocar,
quase que somos transportados para o glamour
desses tempos.
5. Passe pelo antigo Hotel
de Santa Clara, hoje Direcção Regional de Estatística. Este foi um dos
primeiros hotéis da Madeira. Imaginem a vista
que os turistas teriam daquela varanda…
2. Espreite também para a antiga residencial de Santa Clara,
construída em
1926. Lamentavelmente,
hoje está
fechada.
3. Visite a
casa que aloja
o Universo de
Memórias de
João Carlos Abreu.
Nos seus jardins encontra um simpático café
onde os chás de ervas, os
scones e os bolos são caseiros e bons (mande por
favor um beijinho à Carol, da minha parte).
4. Continue em direcção
ao Museu da Quinta das
Cruzes. Este foi também
o local da antiga residência de João Gonçalves
Zarco, capitão donatário
do Funchal.
Nos seus jardins podemos admirar uma janela
manuelina que pertenceu à fachada do antigo
Hospital Velho.
Não perca a estufa de orquídeas e o orquestrofone que foi fabricado por
Limonaire Frères, em
França.
6. Faça uma visita guiada
ao Convento de Santa
Clara e deslumbre-se
com a beleza das capelas
privadas das irmãs clarissas, um verdadeiro encanto.
Adorava saber e ler mais
sobre a vida das irmãs
que por cá passaram.
Soube que, naquele tempo, muitas filhas que ficavam por casar, acabavam por vir para aqui, viver. Traziam consigo o
seu dote e riqueza, visível
nas suas capelas privadas, onde vinham várias
vezes por dia, para rezar.
Note-se que as irmãs não
tinham qualquer contacto com o exterior. Na
Igreja é ainda visível uma
pequena janela através
da qual podiam comungar.
7. Há também uma casinha no pátio que é um
mimo, uma autêntica casinha de bonecas. Foi
construída para a filha do
Dr. Frederico de Freitas
(cuja casa, hoje museu,
se encontra próxima)
quando frequentava esta
escola.
8. Conhece a lenda da capela que está na travessa
dos Capuchinhos, a Capela das Almas? Esta, data
de 1781 e no interior tem
um retábulo, em talha
pintada, que representa
as Almas no Purgatório.
Eu descobri esta lenda recentemente,
através de um
trabalho que o
meu filho fez
para a escola, que conta
assim: “Conta-se que
eram dois
amigos que
gostavam do
jogo, até que
um dia, um
ganhou todo o
dinheiro do outro, que não conformado decidiu
matá-lo. Esperou-o
num sítio escondido sob
uma rocha, mas sempre
que o amigo por ali passava, vinha rodeado de
gente. Isto repetiu-se noites sucessivas, até que ele
se apercebeu que as pessoas que acompanhavam
o dito amigo, andavam
sem tocar com os pés no
chão. Assustado, confessou ao amigo a sua intenção, ao que este lhe respondeu: – Foram as almas que salvaram a minha vida e a tua alma.
E assim nasceu, naquela
mesma rocha, a Capela
das Almas.”
9. Vagueie sem rumo pelo
beco do Soca, miradouro
das Cruzes, rua dos Arrifes e rua da Saúde e surpreenda-se!
Bons passeios! a
a
10 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
O que queres ser
quando fores livre?
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
N
os dias de hoje,
muitos de nós
não vivem no
presente. A vida
vai se desenrolando meio
que morna um dia após o
outro e fica assim, quase
em stand by. Por vezes, vivemos como se a vida ainda não estivesse a acontecer e ficamos só existindo
à espera de um dia, de
algo empolgante que indique que a nossa vida finalmente começou, porém,
depois, parece que não sabemos bem reconhecer
esse sinal e vamos deixando passar. Há alguns anos,
eu e o meu marido tínhamos a mania de perguntar
às pessoas o que queriam
fazer na reforma (sim, nós
temos umas conversas
muito engraçadas com os
nossos amigos). Perguntávamos sobre a reforma,
pois é quando teoricamente, temos acesso à liberdade de escolher como
passar os nossos dias, sendo sustentados por outrem, um género de férias
pagas por tempo indeterminado. Reparámos, pelas
respostas dadas, que quase ninguém era realmente
feliz com o que fazia no
dia a dia e que optavam,
com frequência, por atividades que, supostamente,
não conseguiriam executar na fase mais ativa da
sua vida como, por exemplo, um professor que nos
confidenciou que faria trabalhos de carpintaria na
reforma, ou um empresário cuja vontade seria pescar todas as manhãs. Vou
dizer-lhes um segredo.
Não sei se eles sabem, mas
estas atividades, embora
por serem prazerosas para
algumas pessoas sejam
consideradas lazer, também são consideradas profissões, meios de subsistência, modos de ganhar dinheiro vivendo cada dia de
um modo mais simples e
mais feliz, já que vai ao encontro das preferências de
cada um. Confúcio dizia
algo como "escolhe uma
profissão que ames e não
terás de trabalhar um só
dia na tua vida".
Alguns leitores devem já
estar a ouvir o tilintar do
dinheirinho seguro que
eles perderiam no final do
mês, não obstante, a verdade é que as escolhas estão
inerentes a cada caminho
que trilhamos, logo lidar
com as consequências dessas escolhas também é da
nossa responsabilidade.
Tudo é
uma
questão de
pesar os prós
e os contras,
como andar a pé ou
conduzir um topo de
gama, ter roupas modestas
ou andar na moda, dar
muitas coisas aos filhos ou
passar bastante tempo
com eles. Saliente-se que
não quero, de modo algum, julgar qualquer uma
das opções supramencionadas, apenas quero dar
aso à reflexão. Estas são escolhas, meros percursos
que selecionamos e que
juntos, um dia, contarão a
nossa história.
Ainda a propósito deste assunto, certa vez alguém
me contou a seguinte história que, sendo verdadeira
ou não, não interessa, fica
a mensagem. Um dia, um
general de Napoleão disse-
Almeida Junior
feliz com menos
lhe
que era
necessário
mais dinheiro para
financiar a guerra, para aumentar as suas tropas. Napoleão respondeu-lhe que
não se preocupasse, que
havia um grupo da sociedade que lhes daria sempre esse dinheiro, a classe
média. Porquê? Perguntam vocês. Porque é uma
parcela da sociedade que
trabalha muito durante
toda a sua vida, uma vez
que sonham em ser ricos e
têm um grande medo de
ser pobres.
Sejam conscientes das vossas escolhas, não esperem
por um dia para realizar
algo que queiram muito,
pois esse dia pode, infelizmente, nunca chegar. a
saúde
Endoparasitoses – Lombrigas- Oxiúros- Ténias
Bruno Olim
Farmacêutico
[email protected]
A
pesar de muitas
vezes esquecidas,
as endoparasitoses fazem ainda
parte do nosso dia-a-dia,
pela proximidade do meio
rural e urbano na nossa
ilha.
Abordarei apenas os mais
comuns, nematelmintes e
platelmintes.
As Lombrigas, Ascaris
lumbricoides atingem cerca de 1.221 milhões de pessoas com mortalidade de
20.000 por ano. A sua incidência é maior nas zonas rurais pobres e com
maus hábitos de higiene,
a sua transmissão é efectuada pela ingestão de alimentos contaminados
(mal cozinhados e mal lavados) e pelo contacto directo com a terra (mãos
mal lavadas). Não dá origem a muitos sintomas ligeira dor abdominal, tosse, num estádio mais
avançado. O diagnóstico é
feito pela identificação dos
ovos na coprocultura e
pela presença do parasita
nas fezes.
Os Oxiúros, Enterobius
vermicularis, são muito
comuns (nos EUA afectam
a qualquer momento 18
milhões de crianças), no
entanto são praticamente
inócuos. É uma doença
urbana de zonas muito
povoadas, sendo a sua
transmissão muito facilitada, pois os ovos são muito pequenos, pelo que são
ingeridos com alimentos,
no contacto com animais,
na sanita, nas toalhas, por
inalação, e causam prurido perianal/vaginal, perturbações gástricas também ocorrem, mas com
menos frequência. O coçar
transporta novamente
ovos que facilitam a reinfestação. O diagnóstico é
feito directamente nas
pregas anais, verificando a
existência de ovos e parasitas (scotch-test, usando
fita cola).
A Ténia do porco, Taenia
solium, a sua taxa de infecção é muito dependente
da cultura e hábitos alimentares, sendo superior
nos países com más condições sanitárias gerais. A
sua transmissão está dependente da ingestão de
carne de porco mal cozinhada, os sintomas podem ser ligeiros ou mais
severos, com desconforto
abdominal, dor, diarreia e
vómitos, mas o grande risco surge da ingestão dos
ovos que o parasita liberta, podendo gerar a cisticercose, patologia grave
que afecta o cérebro músculos e olhos podendo gerar cegueira e afecções
neurológicas. O diagnóstico é imunológico e por coprocultura.
Existem tratamentos para
as parasitoses apresentadas, que devem ser escrutinadas pelo médico ou
farmacêutico, sendo que,
por vezes, as sequelas são
perenes. A prevenção é
ainda a melhor arma. a
a
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 11
na moda
Ombros de fora
Laura Capontes
lauracapontes@[email protected]
: net-a-porte
Calças: Mango; top
ra
Za
s:
lia
bolsa e sandá
r.com;
e
-porter.com;
Top e bolsa: net-a
s: Zara
lia
dá
san
e
s
lça
ca
ngo;
Vestido e bolsa: Ma
sandálias: Zara
Jeans, blusa e clu
sandálias: Zara
tch: Mango;
squeça os decotes vertiginosos e renda-se aos ombros
de fora, estão de novo em
voga, e apesar de não serem
uma novidade, reapareceram ainda com mais estilo.
Camisas, t-shirts e vestidos
são as principais peças onde
podemos ver esta grande
tendência. De fácil conjugação, adaptando-se ao dia a
dia, mas também a ocasiões
mais sofisticadas, são mesmo uma das grandes apostas para esta Primavera-Verão.
Se, em outras temporadas,
para salientar o lado mais
sexy da mulher teríamos
que falar em decotes, este
ano a regra é mostrar a
pele, sem exageros, e conseguimos esse visual sexy q.b.,
versátil, moderno e muito
feminino, deixando, apenas,
os ombros de fora.
Em diferentes materiais,
nas mais variadas cores e
padrões, esta tendência
adapta-se a muitos estilos e
gostos. Tudo dependerá da
forma de conjugar as peças
e, claro, do seu estilo pessoal.
Inspire-se nos looks e deixese contagiar! a
sandálias: Zara;
Vestido: Mango;
r.com
rte
-po
t-a
ne
:
bolsa
m;
Vestido: farfetch.co
sandálias: Zara
bolsa: acessorize;
a
12 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
horas vagas
Sandra Sousa
http://estrelasnocolo.wordpress.com
O
livro “A sorte que
move o destino”
dá a conhecer ao
leitor Bartholomew, um homem de 38
anos que tem atraso de
desenvolvimento e problemas emocionais. Este
homem sempre viveu
com a sua mãe, já que o
Virgílio Jesus
[email protected]
O
[livro, filme, música]
livro
A sorte que move o destino
pai os abandonou quando
ele ainda era um bebé.
Quando a mãe morre,
Bartholomew fica desorientado e é assim que
outras pessoas entram na
sua vida, como Wendi, a
terapeuta que ficou encarregada de o ajudar
com o processo de luto, e
o padre que sempre fez
parte da sua vida e da
vida da sua mãe. Vários
acontecimentos se sucedem e é com a ajuda de
um grupo de amigos que
decide partir em viagem
para conhecer o seu pai e
poder, por fim, dar um
rumo à sua vida. Apesar
Matthew Quick
do seu atraso de desenvolvimento, Bartholomew
é um homem inteligente
e com grande capacidade
de perceber os outros. E é
devido a essa mesma capacidade que ele se torna
alguém tão especial e
uma personagem tão cativante. a
televisão & cinema
sa de viajar até ao interior de Inglaterra para
tratar da herança de um
cliente recém-falecido,
dono de uma degradante
mansão. O problema,
como o nome do filme
sugere é que esse palacete é assombrado por um
espírito maligno vestido
de negro, com estranhas
consequências no comportamento do protago-
nista. Registo peculiar do
terror gótico dos últimos
tempos, este projeto intensifica o imaginário,
que se prolonga desde o
século XVII, sobre os lugares mais isolados em
terras de sua majestade
ao mesmo tempo que garante suficientes arrepios
para manter o espetador
intrigado e preso à televisão. a
epois de Nightcrawler: Repórter na Noite,
Jake Gyllenhaal
(Brokeback Mountain)
está de volta às salas de
cinema com mais uma
interessante personagem. Num papel de um
banqueiro de investimentos bem sucedido, o
ator, que certamente já
merecia um Óscar por
qualquer outra das suas
interpretações, vive o
drama da morte da esposa, deixando-se afundar
num quotidiano cada vez
mais angustiante e um
quanto melodramático.
Ora, o que vemos neste
filme é um facto curioso,
repensa uma questão
realista reenviando-a a
um campo metafísico, o
da superação do trauma,
recanto da nossa personalidade que, por vezes,
parece apontar ao sonho.
“Tudo é uma metáfora”,
e aqui vemo-lo nas relações difíceis de se esquecer. Importa salientar
que este Demolição é do
mesmo realizador de O
Clube de Dallas, com
Matthew McConaughey,
e de Livre, com Reese
Witherspoon, que oferecem os melhores desempenhos das suas carreiras. a
Por E.V.
música
utro filme que
aborda o tema
da perda é A Mulher de Negro,
baseado no romance de
Susan Hill, no qual Daniel Radcliffe interpreta
um jovem advogado e pai
viúvo cujo emprego está
por um fio desde que a
morte de sua esposa o desestabilizou emocionalmente. Além disso, preci-
D
É
complicado explicar Kevin Morby,
aliás não é, é difícil
resumi-lo, isso
sim. Imaginemos que Cohen, Dylan, Drake, Reed e
Young se juntavam para
criar um alter-ego, alguém
que, apesar da época em
que está, conseguisse entrar numa máquina do
Kevin Morby ao som do folk atual
tempo e tocar música, cantar, expressar-se da maneira como eles faziam nos
anos 60/70. Imaginemos
que esse alguém seria o
antigo baixista dos Woods,
e a cara arcaica dos The
Babies, imaginemos que
esse folk, rock, se uniam
em torno de uma pessoa.
Imaginou isso tudo? Sin-
ging Saw é o terceiro álbum do músico texano e
surge-nos como o melhor
até à data. Menos esforçado, mais calmo e mais natural, aparece um Morby à
beira dos 30 anos, mais
maduro musicalmente,
mas com uma estrutura lírica que mostra que é capaz de escrever sobre tudo
e sobre coisa nenhuma, ao
género de Cohen. Morby é
o atual “poster boy” da
música folk, que se agarra
ao mundo perdido de Dylan, Drake e Young, e que
ao mesmo tempo parece
transcender para uma experimentação como Reed,
mas sempre cantando as
letras de Cohen. a
A Mulher
de Negro
Hollywood
Sábado, 30 de abril - 22h25
Realizado por: James Watkins
Elenco: Daniel Radcliffe, Janet McTeer e Ciarán Hinds
Género: Drama/ Thriller/ Terror
Demolição
(já nos cinemas)
Realizado por: Jean-Marc Vallée
Elenco: Jack Gyllenhaal, Chris Cooper
e Naomi Watts
Género: Drama
a
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 13
mais açúcar
Doce de Leite com Morangos
ingredientes
modo de preparação
Para as nozes caramelizadas, fazer uma calda com o açúcar até atingir ponto de pérola. Adicionar as nozes grosseiramente picadas e mexer sempre até caramelizar. Colocar as nozes sobre um silpat e deixar arrefecer.
Para a mousse de doce de leite, bater as natas com o mascarpone até ficarem bem firmes. Envolver no doce de leite. Em taças, colocar uma camada de morangos laminados, cobrir com uma camada da mousse e repetir o processo de modo a obter duas camadas. Finalizar com as
nozes caramelizadas. Servir com sorvete de morango.
100g de açúcar
35g de água
100g de nozes pecan
1 lata de leite condensado cozido
150g de natas
150g de mascarpone
500gr de morangos
sorvete de morango
a
Joana Gonçalves
Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa
[email protected]
Toucinho do Céu com Maracujá
ingredientes
modo de preparação
500g de açúcar
20cl de água
2 ovos e 10 gemas de ovo
250g de amêndoa em pó
1cs de manteiga
1cs de farinha
Creme de maracujá
4 gemas de ovo
60g de polpa de maracujá
sem sementes
100g de açúcar
2cs de manteiga
150g de natas batidas
Levar o açúcar e a água ao lume até atingir ponto pérola. Adicionar a amêndoa. Assim que ferver, retirar do
lume e adicionar as gemas e os ovos batidos em fio, a
manteiga e a farinha. Levar novamente ao lume mexendo sempre. Colocar num tabuleiro forrado a papel
vegetal e levar a forno pré-aquecido a 180º durante
20/25 minutos.
Para o creme, levar o açúcar, gemas e polpa de maracujá ao lume, mexendo sempre até engrossar. Retirar do
lume e juntar a manteiga. Colocar num recipiente, cobrir com película rente à superfície e refrigerar. Depois
de completamente arrefecido, envolver as natas batidas.
a
“APOITA”-se aqui e muito bem!
A
nichado num recanto já na saída
da Madalena do
Mar para a Calheta fica um dos melhores
restaurantes, tipo tasca,
que conheço e recomendo.
Sob a batuta do Sr João
Mau, figura singular da
Madalena, pescador e
dono do estabelecimento,
marcham desde o filho
deste a outros familiares,
que numa azáfama constante garantem toda a operação deste restaurante
onde a simplicidade do espaço é perfeitamente consonante com a simplicidade da gastronomia oferecida. Aqui não há lugar a invenções, se há peixe fresco,
seja ele qual for, a vitrina
existente logo à entrada do
restaurante encarrega-se
de mostrar, caso não haja
…. Paciência, há que voltar
noutro dia! Ao contrário
de esmagadora maioria de
estabelecimentos onde a
oferta cinge-se à espada,
bifes de atum, douradas
e… Pouco mais, na Poita
poderá encontrar desde as
espécies mais comuns a
outras menos vistas nos
restaurantes, como castanhetas, chicharros, badejo,
moreia, caramujos, lapas,
cavala da índia, chama, entre outras. O peixe grelhado, frito ou cozido com salada, arroz ou batata, eis a
simplicidade da oferta a
que se junta a Caldeirada e
outras patuscadas por en-
comenda, a fórmula é esta
para este espaço estar
sempre com clientes, sejam eles locais ou turistas.
Afinal, todos os restaurantes deviam ser assim, para
locais e turistas, mas como
todos bem sabem a realidade é bem distinta. Há os
restaurantes para turistas,
geralmente péssimos, e há
os que, por serem bons,
por António Janela
conseguem atrair todos.
O Restaurante a Poita é
um bom exemplo de que
não é necessário uma decoração “xpto”, os empregados metidos numa fatiota horrenda, geralmente
com a barriga proeminente e laços mal amanhados.
Basta, sim, o restaurante
ter um conceito e especializar-se nalguma coisa que
faça bem. Aqui ajuda o facto do Sr João Mau ser pescador, porque a matéria
prima é boa, mas se formos a ver, a batata é legítima, a salada é boa e o arroz também, logo, tudo se
conjuga para uma refeição
agradar a quem gosta de
comer. E acreditem, caros
leitores, os turistas, tal
como nós, também gostam
de comer bem e, ao contrário do que muitos pensam,
não basta qualquer coisa
para ficarem satisfeitos.
Para terminar, e porque é
justo e relevante de realçar,
os preços neste espaço são
muitíssimo razoáveis, e a
carta de vinhos é, provavelmente, a mais barata que
conheço. a
a
14 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016
outras viagens...
XX Rota das Comunidades Colômbia
Fátima Marques
Professora na Escola
Secundária Jaime Moniz
F
echa-se o ciclo
deste grupo com
uma digressão à
Colômbia, dizer o
quanto desejei conhecer
este país é impossível,
associava-o a um sem
número de fantasias
(reais), muitas das quais
diretamente ligadas a
notícias dos temíveis cartéis de Medellín e Cali,
mas era também Gabriel
Garcia Marquez que me
chamava para Cartagena
das Índias, para poder viver sensações únicas e
indescritíveis: o colorido,
a alegria desta cidade
onde se respiram livros,
igrejas, pátios, fachadas
da colonização e esculturas de Botero que dizem
muito de onde advém
tanta criatividade e, já
agora, até porque longe
da Madeira, um nome
português se destaca –
Nini Andrade Silva –, é
verdade, a decoradora de
interiores é nome nesse
país, como tivemos oportunidade de constatar.
De Cartagena rumamos
penosamente (sete horas), mas contentes, até
ao que considero a Colômbia das obras literárias – Santa Cruz Mompox, e então aconteceu o
impensável: Crónica de
uma morte anunciada
estava ali no seu todo:
Santiago... a mãe... a criada... os irmãos Vicário e o
rio, nada, mas nada é tão
real e tão autêntico como
este local, para mim, mágico.
Depois veio o lazer na
maravilhosa ilha do Encanto e terminámos na
cidade de Bogotá, cidade
de contrastes, mas grandiosa, com museus, o de
Botero, onde além das
suas obras se encontram
pinturas apreendidas aos
antigos chefes dos cartéis, santuários, igrejas e
palácios imponentes, (relevo para a Catedral do
«Ao longo de
vinte anos
a Páscoa foi
época de eleição
para um grupo
se juntar e partir
com um projeto
comum: ver o
mundo, desfrutar
da sua multíplice
variedade (...)»
Sal) e sobretudo uma rigorosa preservação de
tudo o que é antigo.
Apontamento final
Ao longo de vinte anos a
Páscoa foi época de eleição para um grupo se
juntar e partir com um
projeto comum: ver o
mundo, desfrutar da sua
multíplice variedade, encontrar populações remotas, aproveitar e assimilar
a cultura desses locais.
A primeira edição: Tailândia e Macau, liderada por
João Carlos Abreu foi tão
extraordinária que motivou as seguintes, foi assim que percorremos,
com este nome – ROTA
DAS COMUNIDADES, quatro continentes: Ásia; África; América e Europa.
Muitos nomes ficaram associados à consecução
destas duas décadas: José
Morais e Dina Cravo
(TAP), o saudoso João
Barroso e António Cruz
(Agência Abreu) e claro o
já mencionado impulsionador, foram autênticos
líderes e muito do sucesso adveio de serem verdadeiramente excelentes
profissionais.
Assim chega ao fim, não
as viagens, mas o nome
que lhe demos. a
a
SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 15
boca doce
António Barroso Cruz
Viajante, escritor
1
12
O que distingue um
madeirense de um
continental
(além do sotaque)?
Poder pegar no carro
e ir até Istambul se
apetecer. Ou uma questão de espaço físico
e horizontes mentais.
Três características
da sua personalidade
que melhor o definem?
Irreverência, justiça,
insatisfação.
2
A crítica mais
construtiva que já
lhe fizeram?
E a mais injusta
ou absurda?
A mais
construtiva…”Não vais
ser capaz!”. A mais
absurda…”O António
escreve tão bem
quanto o Eça”.
3
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
Regressar a casa
e à família. Não porque
“tive que”, mas porque
“decidi que”.
4
A sua dúvida mais
persistente?
Será que chego aos 100
anos de idade? [porque
é esse o meu projecto
de longevidade].
5
Um arrependimento?
Ainda não ter visitado
a Coreia do Norte.
13
Que opinião tem dos
madeirenses que
escondem o sotaque?
Deveriam requerer
uma segunda
nacionalidade.
6
8
10
Um ato de coragem?
Ser pai pela segunda
vez, ainda que temporariamente, e num
projecto de família de
acolhimento. Se a chegada da segunda filha
foi uma festa e tem
sido uma vivência
extraordinária,
a separação prevê-se
dolorosa. Haja coragem para viver cada
capítulo deste livro.
A companhia ideal
para uma conversa
metafísica?
A dúvida, que também
pode ser apenas física,
ou tão-só a moderação
de um debate, passaria por ser apenas
com a Sara Sampaio,
ou juntando-se-nos
Aristóteles.
Quem são os seus
heróis na vida real?
O meu pai, a minha
mãe, a minha mulher
e a minha filha.
E alguns gatos lá de
casa, como é o caso do
Tomé, que gosta de
se atirar da varanda
mesmo sem capa
de super-herói e já
sobreviveu a três
voos de um terceiro
andar…
7
9
11
Uma atitude
imperdoável?
A minha bipolaridade
ao volante de um carro. Não só é imperdoável como irreparável,
como incontrolável,
como intratável…
Qual é a sua maior
extravagância?
Comprar livros e viajar, ainda que considere ambos bens de
primeira necessidade
enquanto leitor
e viajante compulsivo
que sou.
Uma doce memória
da infância?
A minha dulcíssima
avó (materna)
Germana.
14
Que expressões
madeirenses usa com
maior frequência?
“Continuações…”,
“cramar”, “estepilha”.
15
A quem gostaria
de pagar uma poncha?
Ao Woody Allen.
16
Segredos da Ilha…
Local: Jardim do Mar
Hotel: Portobay Serra
Golf
Restaurante: Casa da
Palha, em São Jorge Atividade ao ar livre:
Ribeira Primeira, no
Santo da Serra
Loja: De livros,
seja ela qual for

Documentos relacionados

açúcar - JM Madeira

açúcar - JM Madeira Vieja.  À minha esquerda, dois braços de terra, que

Leia mais