açúcar - JM Madeira
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açúcar - JM Madeira
CRÓNICA Etologia de centro comercial Por Gonçalo Taipa Teixeira P. 2 A VIAJANTE Sofia Vasconcelos revela "segredos" do Funchal P. 8 e 9 FELIZ COM MENOS açucar 15 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM | ilustração capa - JM O que queres ser quando fores livre? Texto de Débora G. Pereira P. 10 Entrevista Afonso Cruz, o escritor que quer «abarcar o mundo» a 2 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 ideias de quase nada Etologia de centro comercial CRÓNICA Gonçalo T. Teixeira q [email protected] uem de entre nós, majestosos machos da espécie humana, nunca passou pela epopeia de acompanhar a esposa, namorada ou algo no género, numa maratona de compras? Há quem diga ser uma experiência apenas comparável à Odisseia ou aos Doze Trabalhos (de Hércules ou Asterix, tanto faz) mas à qual lá nos vamos sujeitando, uns com um sorriso desenhado a martelo e escopro, outros como condenados às galés. Para dizer a verdade, os Doze Trabalhos seriam um alívio; são doze e já está. Naqueles machos mais experientes, casados há algum tempo, o sacrifício não é disfarçado, antes evidente nas carrancas que carregam e na forma como acartam os sacos pendurados nos dedos, como se o desejo fosse deixar aquilo tudo cair, peúgas incluídas. São poucos os indivíduos deste subgrupo que fingem estar ali por gosto. Os que ainda o fazem são elogiados com suspeitos sorrisos pelas amigas da esposa, mas marcados como paus-mandados pelos seus congéneres. É frequente ver alguns desta estirpe mais experimentada plantados à porta dos estabelecimentos, onde as suas maisque-tudo se perdem por largas dezenas de minutos, como se montassem guarda às montras — ou às esposas. Menos experientes, os namorados, tão inocentes como incautos, entram em todas as lojas atrás da respectiva, desfilando atrás dela, tentando adivinhar cada mudança de direcção e marcha-à-ré para ver melhor aquela prega. Arrastam os despojos ensacados das lojas anteriores contra as filas de prateleiras e cabides, fingindo distinguir entre fúchsia e púrpura ou compreender que aquela pequena tacha dourada faz realmente toda a diferença, assentido com a onomatopeia hum hum. Dizem que tudo fica bem; tentam adivinhar qual é a saia que a sua maisque-tudo pretende que ele diga que prefere, na esperança de que a procura acabe naquela peça… ou na próxima. Já aqueles que acompanham o alvo das suas pretensões mas ainda não estão seguros do estado da sua relação, ou ainda estão na fase do esforço para saltar da viscosa “zona de amigo” para o mais compensador “vale dos lençóis”, fazem quase tudo para parecer que estão exta- «Estes espécimes têm uma razão válida para suportar tal tortura; sonham com contrapartidas. (...)» siados com a benesse de poder ir às compras com ela. E ela aproveita, porque ela sabe que é mesmo uma benesse. Ele carrega tudo, desde os sacos que se acumulam a todo o comprimento dos antebraços e a carteira — ela tem de ter as mãos livres —, às peças que ela quer experimentar — eventualmente; há que inspeccionar cuidadosamente cada alfinete primeiro. Eles lá vão, ruborizados de antecipação — ou esforço físico —, encostados à parede mais próxima dos provadores, imaginando-a a despirse, brincando com a fantasia de entrar lá e surpreendê-la; a potencial bofetada e a multidão de senhoras que o ignoram servem de desculpa para não o fazer. Estes espécimes têm uma razão válida para suportar tal tortura; sonham com contrapartidas. Têm a esperança de levar os sacos a casa dela, eventualmente ao quarto e quem sabe ajudá-la a experimentar aquela peça de lingerie que ela fez questão de adquirir mesmo debaixo do nariz dele. Talvez não tenha de ser assim. Talvez haja alternativas. Proponho duas hipóteses: evitar relacionamentos com indivíduos do sexo feminino — seja pelo celibato, seja pela via da sexualidade alternativa —, ou não acompanhar a respectiva, de todo. Suspeito que ambas as vias levam, eventualmente, ao mesmo fim; a privação do contacto feminino. Talvez o melhor seja mesmo procurar aquela rara sereia que gosta de ir às compras tanto ou menos que nós. Aí a megera talvez sejamos nós — o tal de macho. a encontrados por Susana de Figueiredo C ruzámo-nos na Baixa, num intervalo da chuva. Sorriu ao de leve, como se me esperasse, e contoume a sua história...«Fui mãe aos 17 anos, era só uma miúda. Parva todos os dias. Demasiado crédula, mas toda cheia de razões. A gravidez não foi, obviamente, planeada. Ninguém faz planos à saída da adolescência, pois não? Na verdade, nunca percebi muito bem o que é isso de fazer planos... Tem piada, as pessoas acham que imaginam e pronto, as coisas acontecem. Aí está uma coisa em que nunca acreditei. Planos. Mas a grande ironia é que a vida tinha para mim um grande plano. O meu filho. Tão bom. Eu era só uma miúda [acho que ainda sou], mas, graças a ele, pude crescer de um modo doce... Mesmo no meio do rebuliço que um bebé traz à vida de uma miúda de 17 anos. O pai dele não teve coragem, partiu. Não o odeio, juro que não... Ainda me lembro do desespero nos olhos dele, dos lábios a tremer, do pânico de um miúdo ao saber que seria pai. Nunca me disse para não ter o bebé. Nenhum de nós pensou nisso. Apesar do medo [e do resto]. Orgulho-me por mim e por ele. Éramos bons miúdos...» a a SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 3 feliz com mais Cozido, frito, assado, ou chá, somos nós “A cena culinária de cada país é o espelho do mesmo”, penso que se Sócrates, Platão, Confúcio, S. Tomás de Aquino, Descartes, Hegel, Kant, Nietzsche, Hobbes, Russell, Kierkegaard, Sartre, e outros, não disseram isso, estavam de barriga vazia.” SideDish Moustache [email protected] P odemos e devemos analisar a evolução da comida típica de cada país e o impacto que a mesma tem nos dias de hoje, caracterizando cada nação. Hoje falaremos apenas do mais básico e comum, não vale a pena estarmos a aprofundar algo que só nos vai deixar com água na boca e tornarmo-nos masoquistas só por causa disso. Avancemos. PORTUGAL: tirando o erro histórico de termos bacalhau como prato nacional, um peixe que nem faz parte dos mares lusitanos - e sim, podem dizer que é implicação do vosso querido autor, que não gosta (para não usar uma palavra mais forte) de tal iguaria -, temos o célebre cozido à portuguesa. E o que é que o cozido diz da nossa grandiosa nação? (perdão pelo tom algo nacionalista) Ora bem, o cozido caracteriza um país sempre com as calças na mão, ou não tivesse este nascido, segundo reza a história, fruto das dificuldades económicas. Como tal, as sobras, ou os cortes mais baratos da carne, eram cozidos juntamente com vegetais, compondo uma refeição consistente para o dia de trabalho. A versão mais romântica do assunto, e a minha preferida, mostra que todos bem juntinhos fazemos sobressair o melhor de nós e que o quentinho do cozido simboliza a nossa maneira calorosa de recebermos as pessoas. É bonito, não é? Que se lixe a beleza toda, queremos é barriga cheia, e é isso que simboliza o nosso cozido. FRANÇA: confesso que eleger ou procurar um prato nacional francês não é tarefa fácil, faço já uma sugestão a quem gere este sítio, pois que me envie para lá para eu começar a fazer as provas de modo a selecionar um prato. Coq au Vin, Boeuf bourguignon, Escargots, Ratatouille, etc., são excelentes opções para servirem de bandeira na cozinha francesa. O primeiro une duas coisas que os rapazes da terra do Astérix fazem bem, cozinhar e vinho. O que nos leva a crer que a expressão bon vivant tem a origem perfeita e caracteriza a nação gaulesa na perfeição. INGLATERRA: chá das cinco. Se há algo tipicamente inglês ou se quisermos abranger o resto da ilha, britânico, é o chá das cinco. Algo que simboliza o snobismo inglês e, claro está, a pontualidade, tem de ser às cinco!!! BRASIL: churrasco, ou nos dias de hoje, o rodízio. Ar- roz, feijão e farofa fazem de acompanhamento à confusão de carnes que os nossos irmãos brasileiros usam naquela que é a grande festa do churrasquinho acompanhado por uma “geladinha”. Brasil é festa, Brasil é churrasco! (hoje, manchado pela confusão, que também pode estar associada ao churrasco, que decorre no Palácio da Alvorada). Estes são alguns exemplos, mas existem muitos mais, infelizmente, não há espaço para todos. a a 4 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 «Os livros não terminam quando o escritor escreve a palavra “fim”» Afonso Cruz nasceu em 1971 na Figueira da Foz. Para além de escritor é também ilustrador e músico, o que é sinónimo da sua «multiplicidade e fragmentação» e da sua procura por vários ângulos para «abarcar o mundo». Após viajar por mais de 60 países instalou-se no Alentejo porque gosta de cidades com uma «dimensão humana». O autor de livros de grande sucesso como “Jesus Cristo Bebia Cerveja” ou “Para onde Vão os Guarda-Chuvas” esteve na Madeira a propósito do Festival Literário e falou com a Açúcar. a SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 5 ©Martim Leitão ENTREVISTA Cláudia Sousa o [email protected] Como é estar na Madeira para o Festival Literário? É muito bom. Não é a primeira vez que venho a um Festival Literário nem muito menos a primeira vez que estou na Madeira. Estudei cá um ano, no Instituto de Artes Plásticas da Madeira. Afonso gosta muito de viajar. De que modo os países que visitou influenciaram a sua obra? De muitas maneiras. Não só porque os destinos eram muito diferentes, e cada destino oferece coisas diferentes, assuntos e temas diferentes, e maneiras de ver o mundo também elas diversas, mas porque são também experiências que marcam muito as nossas vidas, especialmente este tipo de viagens em que tudo é feito mais de improviso do que de um modo planeado. Acaba por ficar e fazer parte de nós. A maior parte dos escritores, quando escreve com sinceridade ou tenta ter uma sinceridade naquilo que faz, acaba por fazer parte da sua escrita. Não nos conseguimos alhear de nós. Essas viagens também nos constroem. De onde veio essa vontade de viajar? Sempre foi muito curioso? Sim. Há uma boa parte de curiosidade nas viagens, mas não só. Pelo menos no meu caso, sempre gostei muito de ler e sempre senti vontade de corroborar o que lia com uma experiência mais física..mais de vivência. Para não me tornar um rato de biblioteca experimentava um pouco daquilo que lia. A maior parte das viagens e os destinos que escolho ou escolhia tinha sempre muito a ver com os próprios livros ou temas que ia descobrindo na leitura. especial quando saio de casa. Escrevo em frente ao computador em Lisboa com a mesma paz com que escrevo no Alentejo. Quando saio é que as coisas mudam radicalmente. Como foi a experiência de estudar cá? Foi ótima. Já muitas vezes na minha vida senti um arrependimento por ter pedido transferência para Lisboa. Mas na altura tinha uma banda e queria ir para Lisboa para tocar. Mas a vida na Madeira eu adorava. E também na filosofia.. Sim, na filosofia, na religião, e nas Ciências Humanas. Sempre me interessei muito e sempre quis ter perspetivas diferentes. Quando viajo apercebo-me melhor do lugar onde estou, do que para o lugar para onde vou. Numa entrevista que deu citava um escritor que dizia: “o homem não é uma unidade mas sim uma multiplicidade; um conjunto de personagens e personalidades. Um conjunto de ideias tantas ve- zes contraditórias” - isto também tem um bocadinho a ver com a sua procura pelas viagens? Sim, porque a ideia da multiplicidade percorre muitos escritores, o próprio Fernando Pessoa é um exemplo disso: a sua fragmentação em várias personagens ou personalidades, para também de certo modo para abarcar o mundo de várias perspetivas. É uma ideia que surge com o modernismo, na pintura, na física... Claro que quando vemos as coisas de vários ângulos, há sempre um ângulo que é o oposto ao nosso, isso encerra por si contradições imediatas. Tantas viagens e vive no Alentejo... Inicialmente achei que me daria muito bem a viver no campo e quando surgiu a oportunidade mudei-me. O escritor Afonso Cruz na cidade e o Afonso Cruz no Alentejo, há diferenças na escrita? Não. Há diferenças muito grandes de vivências no meu quotidiano. Mas em Aquilo que procurava quando foi viver para o Alentejo, nós temos aqui na Madeira.. Exatamente. A mim agradam-me muito mais as cidades com uma dimensão mais humana, onde se possa caminhar, onde as pessoas se cumprimentam, isso agrada-me efetivamente mais do que as grandes metrópoles. Se bem que Lisboa ainda assim não é uma cidade muito grande... Mas há mais anonimato e mais distanciamento entre as pessoas.. Sim. Sem dúvida. “As coisas são muito mais aquilo que sentimos do que realmente aquilo que aconteceu”. É disto que estamos a falar quando se debate a verdade e a falsidade na ficção literária? Sim. Apesar de ser um materialismo radical, temos a sensação de que só existe o mundo sensorial, aquilo que nós vemos, tocamos ou experimenta- a 6 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 mos através dos sentidos. Mas, a realidade é muito mais profunda do que isso. Uma cadeira pode ser só uma cadeira. Mas se for uma cadeira onde o meu avó se sentava, tem uma dimensão completamente diferente. Essa dimensão [da cadeira] que é invisível, é só a ponta do iceberg. O nosso mundo interior é muito mais rico do que aquilo que as pessoas veem ao espelho. Uma vez li uma frase que dizia: "A literatura é como um fósforo: não serve para iluminar, mas para mostrar quanta escuridão existe" - No fundo é quase como a verdade e a mentira, na ficção literária... - Sim. Na altura das viagens não levava máquina fotográfica porque sentia que a minha fidelidade se devia mais àquilo que tinha sentido naquela altura do que aquilo que uma máquina pudesse captar. Era uma visão um pouco romântica, era bem mais jovem. A nossa memória não é fixa como numa fotografia. A memória transforma-se à medida que nós vamos crescendo e vamos reinterpretando. A memória é viva. Imaginamos o passado como uma coisa intocável e que já não é possível mudar. Mas a memória muda efetivamente. Isso é muito bonito porque nos permite encontrar coisas que não tínhamos visto, perceber coisas sobre nós próprios. A fotografia, porque nos fixa demasiado, e todas as gravações fixam-nos demasiado, e essa fixação é possível pela tecnologia. Antes a fixação só existia com a escrita, não havia outra forma de fixar momentos. Noto que o Afonso é muito observador. Acha que a tecnologia fez com que as pessoas perdessem a capacidade de contemplar e/ou de observar? Não creio. As observações são diferentes, aquilo que nos move muda circunstancialmente mas não muda em termos de essência. Hoje dizemos que as crianças com a tecnologia não se concentram, mas isso é típico das crianças e é bom que assim seja. Há medida que vamos envelhecendo vamos tendo menos noção do tédio, por isso as pessoas mais velhas ficam muito tempo paradas, porque não sentem esse tédio que uma criança sente, de uma maneira muito forte. Por isso é que as crianças estão sempre à procura de coisas novas. Se eu estiver na selva, a quantidade de informação que me chega aos olhos e aos sentidos, é impressionante e não é menor do que esta tecnologia toda à minha volta. São é coisas diferentes. Festejámos há pouco tempo o Dia Mundial do Livro. O Afonso que é uma presença assídua nos festivais literários nota que as pessoas leem mais ou leem menos? Há que distinguir as pessoas que sabem ler dos leitores. Antes do 25 de abril tínhamos uma taxa de analfabetismo muito alta e melhorou muito. Lê-se mais, às vezes através de livros mais comerciais chega-se a outro tipo de leituras, outras vezes não, as pessoas mantêm-se naquele tipo de leitura no resto da vida. É um pouco como as drogas leves que às vezes são a porta de entrada para as drogas pesadas, mas não está nada confirmado, e há pessoas que fumam a vida toda drogas leves e nunca passam para as outras. Pode acontecer que nos festivais se ganhe alguns leitores. Acho que a grande ideia é essa: aproximar a leitura das pessoas, e as pessoas dos escritores. É uma simbiose muito importante para sentirmos que a literatura não é um assunto de elite. Os livros não terminam quando o A mim agradam-me muito mais as cidades com uma dimensão mais humana, onde se possa caminhar, onde as pessoas se cumprimentam. escritor escreve a palavra “fim” mas termina nos próprios leitores que vão interpretar o livro e isso enriquece o próprio escritor. Aliás, há uns tempos, com o Valter Hugo Mãe, falava disso mesmo. Ele dizia-me “Às vezes, há coisas tão bonitas e tão bem pensadas, que eu roubo ao leitor. Acabo por ficar com elas e uso-as depois como eu próprio tivesse pensado nelas”. E eu acho isso muito bonito essa relação entre o leitor, o livro e o autor, que enriquece a todos. Cada vez que sai de um festival literário sai com ideias novas? Essa é outra parte muito boa dos festivais e dos encontros entre escritores, de uma maneira geral. Não havendo as tertúlias como havia antigamente, os festivais e os eventos têm esse propósito. Os escritores encontram-se, falam das suas experiências, e criamos esses laços que permitem criar e imaginar novas coisas. Quais são os seus rituais de escrita? Não tenho muitos rituais Sempre gostei muito de ler e sempre senti vontade de corroborar o que lia com uma experiência mais física..mais de vivência. Para não me tornar um rato de biblioteca experimentava um pouco daquilo que lia. A maior parte das viagens e os destinos que escolho ou escolhia tinha sempre muito a ver com os próprios livros ou temas que ia descobrindo na leitura. até porque como viajo muito é difícil ter esses rituais. Escrevo muito nos aviões e nos hotéis. Posso sincronizar os blocos de notas no telemóvel ao computador. Numa fila de supermercado se tenho uma ideia de uma frase, de um diálogo, escrevo no telemóvel. É simples e prático. Quando estou em casa gosto de escrever à noite. Sou mais uma coruja do que uma cotovia (risos). Gosto mais de escrever à noite do que de dia e porque há uma paz à noite que não há durante o dia, consigo concentrar-me naquilo que estou a escrever. O Gonçalo M. Tavares diz que costuma desligar o telefone porque gosta de escrever de manhã. Desliga tudo e fecha-se de modo a que ninguém lhe incomode. Ele diz que vai para o a SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 7 ©Martim Leitão século XIX. A noite é o meu século XIX, à partida. Como é que consegue conciliar a escrita com a banda? Como somos uma banda de seis pessoas, ele já perceberam que eu não faço assim tanta falta (risos). Nós não ensaiamos muito, eu quase diria que nós quase nunca ensaiamos. O nosso contrabaixista vive em Berlim e eu vivo no Alentejo. Passo muito tempo a viajar, juntarmo-nos não é muito fácil. De uma maneira natural acabo por conciliar as coisas todas. Apesar de não ensaiarmos em conjunto, eu pego nos instrumentos só para relembrar. É relativamente fácil de conciliar as coisas visto que eu não tenho um trabalho fixo. É uma decisão minha. me traz para a prosa, porque a torna mais trabalhada, com um trabalho de linguagem que vai beber à poesia. Tenho sempre livros ou de divulgação científica ou de filosofia, e não-ficção porque são livros que me dão conteúdo e eu valorizo isso na escrita. Neste momento estou a ler um livro sobre a filosofia do tempo. Leio ficção também, é sempre importante. Recentemente acabei de ler “As Cores da Infâmia” de Albert Cossery, escritor que gosto muito, e nunca tinha lido nada dele. ©Martim Leitão Está a escrever algum livro neste momento? Acabei de publicar “Vamos Comprar um Poeta” e estou sempre a escrever, tenho mais três ou quatro livros para publicar este ano. Considera-se organicamente escritor e por isso não tem nenhuma profissão paralela? Vivo do que escrevo e a maior parte do meu tempo eu passo a ler e a escrever, que é a mesma atividade na verdade. Eu preciso de ler para escrever e as duas coisas complementam-se. A segunda atividade que me ocupa mais é a ilustração e depois a música e os concertos pontuais. O que está a ler agora? Leio tudo e vários livros ao mesmo tempo. Leio livros muito diferentes, leio sempre poesia porque me interessa pelo lado estético, formal. Acima de tudo pelas influências que isso À medida que vamos envelhecendo vamos tendo menos noção do tédio, por isso as pessoas mais velhas ficam muito tempo paradas, porque não sentem esse tédio que uma criança sente, de uma maneira muito forte. Será que vamos chegar a um tempo em que teremos de comprar um poeta? Espero que não chegue a esse ponto, mas sim já é impensável algumas coisas que estão a acontecer. Quando era miúdo seria impensável que as estações de metro tivessem nomes de marcas como têm hoje em dia. Não sei muito bem até que ponto vamos chegar com isto. Estamos a patentear a natureza. Escrever poesia está nos seus planos? Tenho um livro para crianças com poemas. Talvez este ano publique um livro com poesia. Na verdade, escrevo muita poesia mas deixo-a na gaveta porque tenho um certo pudor com isso. Parece-me mais solene e mais séria do que a prosa. Tenho alguma dificuldade em ter um distanciamento crítico e vou deixando as coisas na gaveta, mas talvez este ano tenha coragem e publique um livre de poesia. a a 8 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 a viajante Os “segredos” do Funchal (São Pedro) Sofia Vasconcelos www.frommadeiratomars.com [email protected] https://www.facebook.com/ Frommadeiratomars Instagram@frommadeiratomars a pesar de estarem à vista de todos, por vezes o Funchal surpreende-nos com revelações inesperadas. “Segredos” por desvendar, que não são segredo nenhum, são apenas descobertas que vou fazendo pela nossa cidade e que venho aqui partilhar. Espero que vos inspirem a descobrir quais são os vossos “sítios secretos” no Funchal. Localização: São Pedro Imaginem um bairro no centro da cidade com rue- las estreitas e íngremes que correm em direção ao mar. Foi no século XV, que as famílias madeirenses começaram a viver nesta área, afastando-se de Santa Maria do Calhau, hoje conhecida por Zona Velha. As casas deste bairro têm tapassóis de madeira, muros com cores quentes e pequenos jardins com buganvílias e flores trepadeiras. Aqui sente-se o silêncio, por vezes interrompido pelas vozes que ecoam das casas e das televisões. «Para mim, esta zona tem um encanto especial. Faz-me lembrar as ruas da minha infância, onde andava sempre a pé, de casa à escola (...)» É aqui que eu vivo, no ‘meu bairro’; São Pedro. Para mim, esta zona tem um encanto especial. Faz-me lembrar as ruas da minha infância, onde andava sempre a pé, de casa à escola, retida nos meus pensamentos, a dizer olá às senhoras que espreitavam à janela, e a imaginar como seria o mundo quando fosse grande. Hoje em dia, fico a imaginar no que todos aqueles cafés e lojas fechados se poderiam transformar… São Pedro é um dos meus a refúgios preferidos, bem no coração do Funchal. Apetece-lhe descobrir mais? AQUI FICAM ALGUMAS SUGESTÕES 1. Faça uma paragem no Hotel Monte Carlo e deslumbre-se com a vista. Este hotel foi construído como residência e chegou mesmo a ser uma escola para 24000 crianças gilbraltinas em exílio na Madeira, em 1946. Desde os anos 70 que é um hotel lindíssimo, já não se fazem hóteis assim…Veja a arquitectura neoclássica com pormenores neobarrocos e o bar cheio de estilo, no seu interior. SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 9 Foi trazido para a Madeira pelo Visconde Cacongo, depois de adquirido na Feira Internacional de Paris, em 1900, para animar as festas de jardim, nas quintas do Funchal. Ao ouvir a música a tocar, quase que somos transportados para o glamour desses tempos. 5. Passe pelo antigo Hotel de Santa Clara, hoje Direcção Regional de Estatística. Este foi um dos primeiros hotéis da Madeira. Imaginem a vista que os turistas teriam daquela varanda… 2. Espreite também para a antiga residencial de Santa Clara, construída em 1926. Lamentavelmente, hoje está fechada. 3. Visite a casa que aloja o Universo de Memórias de João Carlos Abreu. Nos seus jardins encontra um simpático café onde os chás de ervas, os scones e os bolos são caseiros e bons (mande por favor um beijinho à Carol, da minha parte). 4. Continue em direcção ao Museu da Quinta das Cruzes. Este foi também o local da antiga residência de João Gonçalves Zarco, capitão donatário do Funchal. Nos seus jardins podemos admirar uma janela manuelina que pertenceu à fachada do antigo Hospital Velho. Não perca a estufa de orquídeas e o orquestrofone que foi fabricado por Limonaire Frères, em França. 6. Faça uma visita guiada ao Convento de Santa Clara e deslumbre-se com a beleza das capelas privadas das irmãs clarissas, um verdadeiro encanto. Adorava saber e ler mais sobre a vida das irmãs que por cá passaram. Soube que, naquele tempo, muitas filhas que ficavam por casar, acabavam por vir para aqui, viver. Traziam consigo o seu dote e riqueza, visível nas suas capelas privadas, onde vinham várias vezes por dia, para rezar. Note-se que as irmãs não tinham qualquer contacto com o exterior. Na Igreja é ainda visível uma pequena janela através da qual podiam comungar. 7. Há também uma casinha no pátio que é um mimo, uma autêntica casinha de bonecas. Foi construída para a filha do Dr. Frederico de Freitas (cuja casa, hoje museu, se encontra próxima) quando frequentava esta escola. 8. Conhece a lenda da capela que está na travessa dos Capuchinhos, a Capela das Almas? Esta, data de 1781 e no interior tem um retábulo, em talha pintada, que representa as Almas no Purgatório. Eu descobri esta lenda recentemente, através de um trabalho que o meu filho fez para a escola, que conta assim: “Conta-se que eram dois amigos que gostavam do jogo, até que um dia, um ganhou todo o dinheiro do outro, que não conformado decidiu matá-lo. Esperou-o num sítio escondido sob uma rocha, mas sempre que o amigo por ali passava, vinha rodeado de gente. Isto repetiu-se noites sucessivas, até que ele se apercebeu que as pessoas que acompanhavam o dito amigo, andavam sem tocar com os pés no chão. Assustado, confessou ao amigo a sua intenção, ao que este lhe respondeu: – Foram as almas que salvaram a minha vida e a tua alma. E assim nasceu, naquela mesma rocha, a Capela das Almas.” 9. Vagueie sem rumo pelo beco do Soca, miradouro das Cruzes, rua dos Arrifes e rua da Saúde e surpreenda-se! Bons passeios! a a 10 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 O que queres ser quando fores livre? Débora G. Pereira www.simplesmentenatural.com N os dias de hoje, muitos de nós não vivem no presente. A vida vai se desenrolando meio que morna um dia após o outro e fica assim, quase em stand by. Por vezes, vivemos como se a vida ainda não estivesse a acontecer e ficamos só existindo à espera de um dia, de algo empolgante que indique que a nossa vida finalmente começou, porém, depois, parece que não sabemos bem reconhecer esse sinal e vamos deixando passar. Há alguns anos, eu e o meu marido tínhamos a mania de perguntar às pessoas o que queriam fazer na reforma (sim, nós temos umas conversas muito engraçadas com os nossos amigos). Perguntávamos sobre a reforma, pois é quando teoricamente, temos acesso à liberdade de escolher como passar os nossos dias, sendo sustentados por outrem, um género de férias pagas por tempo indeterminado. Reparámos, pelas respostas dadas, que quase ninguém era realmente feliz com o que fazia no dia a dia e que optavam, com frequência, por atividades que, supostamente, não conseguiriam executar na fase mais ativa da sua vida como, por exemplo, um professor que nos confidenciou que faria trabalhos de carpintaria na reforma, ou um empresário cuja vontade seria pescar todas as manhãs. Vou dizer-lhes um segredo. Não sei se eles sabem, mas estas atividades, embora por serem prazerosas para algumas pessoas sejam consideradas lazer, também são consideradas profissões, meios de subsistência, modos de ganhar dinheiro vivendo cada dia de um modo mais simples e mais feliz, já que vai ao encontro das preferências de cada um. Confúcio dizia algo como "escolhe uma profissão que ames e não terás de trabalhar um só dia na tua vida". Alguns leitores devem já estar a ouvir o tilintar do dinheirinho seguro que eles perderiam no final do mês, não obstante, a verdade é que as escolhas estão inerentes a cada caminho que trilhamos, logo lidar com as consequências dessas escolhas também é da nossa responsabilidade. Tudo é uma questão de pesar os prós e os contras, como andar a pé ou conduzir um topo de gama, ter roupas modestas ou andar na moda, dar muitas coisas aos filhos ou passar bastante tempo com eles. Saliente-se que não quero, de modo algum, julgar qualquer uma das opções supramencionadas, apenas quero dar aso à reflexão. Estas são escolhas, meros percursos que selecionamos e que juntos, um dia, contarão a nossa história. Ainda a propósito deste assunto, certa vez alguém me contou a seguinte história que, sendo verdadeira ou não, não interessa, fica a mensagem. Um dia, um general de Napoleão disse- Almeida Junior feliz com menos lhe que era necessário mais dinheiro para financiar a guerra, para aumentar as suas tropas. Napoleão respondeu-lhe que não se preocupasse, que havia um grupo da sociedade que lhes daria sempre esse dinheiro, a classe média. Porquê? Perguntam vocês. Porque é uma parcela da sociedade que trabalha muito durante toda a sua vida, uma vez que sonham em ser ricos e têm um grande medo de ser pobres. Sejam conscientes das vossas escolhas, não esperem por um dia para realizar algo que queiram muito, pois esse dia pode, infelizmente, nunca chegar. a saúde Endoparasitoses – Lombrigas- Oxiúros- Ténias Bruno Olim Farmacêutico [email protected] A pesar de muitas vezes esquecidas, as endoparasitoses fazem ainda parte do nosso dia-a-dia, pela proximidade do meio rural e urbano na nossa ilha. Abordarei apenas os mais comuns, nematelmintes e platelmintes. As Lombrigas, Ascaris lumbricoides atingem cerca de 1.221 milhões de pessoas com mortalidade de 20.000 por ano. A sua incidência é maior nas zonas rurais pobres e com maus hábitos de higiene, a sua transmissão é efectuada pela ingestão de alimentos contaminados (mal cozinhados e mal lavados) e pelo contacto directo com a terra (mãos mal lavadas). Não dá origem a muitos sintomas ligeira dor abdominal, tosse, num estádio mais avançado. O diagnóstico é feito pela identificação dos ovos na coprocultura e pela presença do parasita nas fezes. Os Oxiúros, Enterobius vermicularis, são muito comuns (nos EUA afectam a qualquer momento 18 milhões de crianças), no entanto são praticamente inócuos. É uma doença urbana de zonas muito povoadas, sendo a sua transmissão muito facilitada, pois os ovos são muito pequenos, pelo que são ingeridos com alimentos, no contacto com animais, na sanita, nas toalhas, por inalação, e causam prurido perianal/vaginal, perturbações gástricas também ocorrem, mas com menos frequência. O coçar transporta novamente ovos que facilitam a reinfestação. O diagnóstico é feito directamente nas pregas anais, verificando a existência de ovos e parasitas (scotch-test, usando fita cola). A Ténia do porco, Taenia solium, a sua taxa de infecção é muito dependente da cultura e hábitos alimentares, sendo superior nos países com más condições sanitárias gerais. A sua transmissão está dependente da ingestão de carne de porco mal cozinhada, os sintomas podem ser ligeiros ou mais severos, com desconforto abdominal, dor, diarreia e vómitos, mas o grande risco surge da ingestão dos ovos que o parasita liberta, podendo gerar a cisticercose, patologia grave que afecta o cérebro músculos e olhos podendo gerar cegueira e afecções neurológicas. O diagnóstico é imunológico e por coprocultura. Existem tratamentos para as parasitoses apresentadas, que devem ser escrutinadas pelo médico ou farmacêutico, sendo que, por vezes, as sequelas são perenes. A prevenção é ainda a melhor arma. a a SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 11 na moda Ombros de fora Laura Capontes lauracapontes@[email protected] : net-a-porte Calças: Mango; top ra Za s: lia bolsa e sandá r.com; e -porter.com; Top e bolsa: net-a s: Zara lia dá san e s lça ca ngo; Vestido e bolsa: Ma sandálias: Zara Jeans, blusa e clu sandálias: Zara tch: Mango; squeça os decotes vertiginosos e renda-se aos ombros de fora, estão de novo em voga, e apesar de não serem uma novidade, reapareceram ainda com mais estilo. Camisas, t-shirts e vestidos são as principais peças onde podemos ver esta grande tendência. De fácil conjugação, adaptando-se ao dia a dia, mas também a ocasiões mais sofisticadas, são mesmo uma das grandes apostas para esta Primavera-Verão. Se, em outras temporadas, para salientar o lado mais sexy da mulher teríamos que falar em decotes, este ano a regra é mostrar a pele, sem exageros, e conseguimos esse visual sexy q.b., versátil, moderno e muito feminino, deixando, apenas, os ombros de fora. Em diferentes materiais, nas mais variadas cores e padrões, esta tendência adapta-se a muitos estilos e gostos. Tudo dependerá da forma de conjugar as peças e, claro, do seu estilo pessoal. Inspire-se nos looks e deixese contagiar! a sandálias: Zara; Vestido: Mango; r.com rte -po t-a ne : bolsa m; Vestido: farfetch.co sandálias: Zara bolsa: acessorize; a 12 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 horas vagas Sandra Sousa http://estrelasnocolo.wordpress.com O livro “A sorte que move o destino” dá a conhecer ao leitor Bartholomew, um homem de 38 anos que tem atraso de desenvolvimento e problemas emocionais. Este homem sempre viveu com a sua mãe, já que o Virgílio Jesus [email protected] O [livro, filme, música] livro A sorte que move o destino pai os abandonou quando ele ainda era um bebé. Quando a mãe morre, Bartholomew fica desorientado e é assim que outras pessoas entram na sua vida, como Wendi, a terapeuta que ficou encarregada de o ajudar com o processo de luto, e o padre que sempre fez parte da sua vida e da vida da sua mãe. Vários acontecimentos se sucedem e é com a ajuda de um grupo de amigos que decide partir em viagem para conhecer o seu pai e poder, por fim, dar um rumo à sua vida. Apesar Matthew Quick do seu atraso de desenvolvimento, Bartholomew é um homem inteligente e com grande capacidade de perceber os outros. E é devido a essa mesma capacidade que ele se torna alguém tão especial e uma personagem tão cativante. a televisão & cinema sa de viajar até ao interior de Inglaterra para tratar da herança de um cliente recém-falecido, dono de uma degradante mansão. O problema, como o nome do filme sugere é que esse palacete é assombrado por um espírito maligno vestido de negro, com estranhas consequências no comportamento do protago- nista. Registo peculiar do terror gótico dos últimos tempos, este projeto intensifica o imaginário, que se prolonga desde o século XVII, sobre os lugares mais isolados em terras de sua majestade ao mesmo tempo que garante suficientes arrepios para manter o espetador intrigado e preso à televisão. a epois de Nightcrawler: Repórter na Noite, Jake Gyllenhaal (Brokeback Mountain) está de volta às salas de cinema com mais uma interessante personagem. Num papel de um banqueiro de investimentos bem sucedido, o ator, que certamente já merecia um Óscar por qualquer outra das suas interpretações, vive o drama da morte da esposa, deixando-se afundar num quotidiano cada vez mais angustiante e um quanto melodramático. Ora, o que vemos neste filme é um facto curioso, repensa uma questão realista reenviando-a a um campo metafísico, o da superação do trauma, recanto da nossa personalidade que, por vezes, parece apontar ao sonho. “Tudo é uma metáfora”, e aqui vemo-lo nas relações difíceis de se esquecer. Importa salientar que este Demolição é do mesmo realizador de O Clube de Dallas, com Matthew McConaughey, e de Livre, com Reese Witherspoon, que oferecem os melhores desempenhos das suas carreiras. a Por E.V. música utro filme que aborda o tema da perda é A Mulher de Negro, baseado no romance de Susan Hill, no qual Daniel Radcliffe interpreta um jovem advogado e pai viúvo cujo emprego está por um fio desde que a morte de sua esposa o desestabilizou emocionalmente. Além disso, preci- D É complicado explicar Kevin Morby, aliás não é, é difícil resumi-lo, isso sim. Imaginemos que Cohen, Dylan, Drake, Reed e Young se juntavam para criar um alter-ego, alguém que, apesar da época em que está, conseguisse entrar numa máquina do Kevin Morby ao som do folk atual tempo e tocar música, cantar, expressar-se da maneira como eles faziam nos anos 60/70. Imaginemos que esse alguém seria o antigo baixista dos Woods, e a cara arcaica dos The Babies, imaginemos que esse folk, rock, se uniam em torno de uma pessoa. Imaginou isso tudo? Sin- ging Saw é o terceiro álbum do músico texano e surge-nos como o melhor até à data. Menos esforçado, mais calmo e mais natural, aparece um Morby à beira dos 30 anos, mais maduro musicalmente, mas com uma estrutura lírica que mostra que é capaz de escrever sobre tudo e sobre coisa nenhuma, ao género de Cohen. Morby é o atual “poster boy” da música folk, que se agarra ao mundo perdido de Dylan, Drake e Young, e que ao mesmo tempo parece transcender para uma experimentação como Reed, mas sempre cantando as letras de Cohen. a A Mulher de Negro Hollywood Sábado, 30 de abril - 22h25 Realizado por: James Watkins Elenco: Daniel Radcliffe, Janet McTeer e Ciarán Hinds Género: Drama/ Thriller/ Terror Demolição (já nos cinemas) Realizado por: Jean-Marc Vallée Elenco: Jack Gyllenhaal, Chris Cooper e Naomi Watts Género: Drama a SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 13 mais açúcar Doce de Leite com Morangos ingredientes modo de preparação Para as nozes caramelizadas, fazer uma calda com o açúcar até atingir ponto de pérola. Adicionar as nozes grosseiramente picadas e mexer sempre até caramelizar. Colocar as nozes sobre um silpat e deixar arrefecer. Para a mousse de doce de leite, bater as natas com o mascarpone até ficarem bem firmes. Envolver no doce de leite. Em taças, colocar uma camada de morangos laminados, cobrir com uma camada da mousse e repetir o processo de modo a obter duas camadas. Finalizar com as nozes caramelizadas. Servir com sorvete de morango. 100g de açúcar 35g de água 100g de nozes pecan 1 lata de leite condensado cozido 150g de natas 150g de mascarpone 500gr de morangos sorvete de morango a Joana Gonçalves Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa [email protected] Toucinho do Céu com Maracujá ingredientes modo de preparação 500g de açúcar 20cl de água 2 ovos e 10 gemas de ovo 250g de amêndoa em pó 1cs de manteiga 1cs de farinha Creme de maracujá 4 gemas de ovo 60g de polpa de maracujá sem sementes 100g de açúcar 2cs de manteiga 150g de natas batidas Levar o açúcar e a água ao lume até atingir ponto pérola. Adicionar a amêndoa. Assim que ferver, retirar do lume e adicionar as gemas e os ovos batidos em fio, a manteiga e a farinha. Levar novamente ao lume mexendo sempre. Colocar num tabuleiro forrado a papel vegetal e levar a forno pré-aquecido a 180º durante 20/25 minutos. Para o creme, levar o açúcar, gemas e polpa de maracujá ao lume, mexendo sempre até engrossar. Retirar do lume e juntar a manteiga. Colocar num recipiente, cobrir com película rente à superfície e refrigerar. Depois de completamente arrefecido, envolver as natas batidas. a “APOITA”-se aqui e muito bem! A nichado num recanto já na saída da Madalena do Mar para a Calheta fica um dos melhores restaurantes, tipo tasca, que conheço e recomendo. Sob a batuta do Sr João Mau, figura singular da Madalena, pescador e dono do estabelecimento, marcham desde o filho deste a outros familiares, que numa azáfama constante garantem toda a operação deste restaurante onde a simplicidade do espaço é perfeitamente consonante com a simplicidade da gastronomia oferecida. Aqui não há lugar a invenções, se há peixe fresco, seja ele qual for, a vitrina existente logo à entrada do restaurante encarrega-se de mostrar, caso não haja …. Paciência, há que voltar noutro dia! Ao contrário de esmagadora maioria de estabelecimentos onde a oferta cinge-se à espada, bifes de atum, douradas e… Pouco mais, na Poita poderá encontrar desde as espécies mais comuns a outras menos vistas nos restaurantes, como castanhetas, chicharros, badejo, moreia, caramujos, lapas, cavala da índia, chama, entre outras. O peixe grelhado, frito ou cozido com salada, arroz ou batata, eis a simplicidade da oferta a que se junta a Caldeirada e outras patuscadas por en- comenda, a fórmula é esta para este espaço estar sempre com clientes, sejam eles locais ou turistas. Afinal, todos os restaurantes deviam ser assim, para locais e turistas, mas como todos bem sabem a realidade é bem distinta. Há os restaurantes para turistas, geralmente péssimos, e há os que, por serem bons, por António Janela conseguem atrair todos. O Restaurante a Poita é um bom exemplo de que não é necessário uma decoração “xpto”, os empregados metidos numa fatiota horrenda, geralmente com a barriga proeminente e laços mal amanhados. Basta, sim, o restaurante ter um conceito e especializar-se nalguma coisa que faça bem. Aqui ajuda o facto do Sr João Mau ser pescador, porque a matéria prima é boa, mas se formos a ver, a batata é legítima, a salada é boa e o arroz também, logo, tudo se conjuga para uma refeição agradar a quem gosta de comer. E acreditem, caros leitores, os turistas, tal como nós, também gostam de comer bem e, ao contrário do que muitos pensam, não basta qualquer coisa para ficarem satisfeitos. Para terminar, e porque é justo e relevante de realçar, os preços neste espaço são muitíssimo razoáveis, e a carta de vinhos é, provavelmente, a mais barata que conheço. a a 14 | açúcar | SÁB 30 ABRIL 2016 outras viagens... XX Rota das Comunidades Colômbia Fátima Marques Professora na Escola Secundária Jaime Moniz F echa-se o ciclo deste grupo com uma digressão à Colômbia, dizer o quanto desejei conhecer este país é impossível, associava-o a um sem número de fantasias (reais), muitas das quais diretamente ligadas a notícias dos temíveis cartéis de Medellín e Cali, mas era também Gabriel Garcia Marquez que me chamava para Cartagena das Índias, para poder viver sensações únicas e indescritíveis: o colorido, a alegria desta cidade onde se respiram livros, igrejas, pátios, fachadas da colonização e esculturas de Botero que dizem muito de onde advém tanta criatividade e, já agora, até porque longe da Madeira, um nome português se destaca – Nini Andrade Silva –, é verdade, a decoradora de interiores é nome nesse país, como tivemos oportunidade de constatar. De Cartagena rumamos penosamente (sete horas), mas contentes, até ao que considero a Colômbia das obras literárias – Santa Cruz Mompox, e então aconteceu o impensável: Crónica de uma morte anunciada estava ali no seu todo: Santiago... a mãe... a criada... os irmãos Vicário e o rio, nada, mas nada é tão real e tão autêntico como este local, para mim, mágico. Depois veio o lazer na maravilhosa ilha do Encanto e terminámos na cidade de Bogotá, cidade de contrastes, mas grandiosa, com museus, o de Botero, onde além das suas obras se encontram pinturas apreendidas aos antigos chefes dos cartéis, santuários, igrejas e palácios imponentes, (relevo para a Catedral do «Ao longo de vinte anos a Páscoa foi época de eleição para um grupo se juntar e partir com um projeto comum: ver o mundo, desfrutar da sua multíplice variedade (...)» Sal) e sobretudo uma rigorosa preservação de tudo o que é antigo. Apontamento final Ao longo de vinte anos a Páscoa foi época de eleição para um grupo se juntar e partir com um projeto comum: ver o mundo, desfrutar da sua multíplice variedade, encontrar populações remotas, aproveitar e assimilar a cultura desses locais. A primeira edição: Tailândia e Macau, liderada por João Carlos Abreu foi tão extraordinária que motivou as seguintes, foi assim que percorremos, com este nome – ROTA DAS COMUNIDADES, quatro continentes: Ásia; África; América e Europa. Muitos nomes ficaram associados à consecução destas duas décadas: José Morais e Dina Cravo (TAP), o saudoso João Barroso e António Cruz (Agência Abreu) e claro o já mencionado impulsionador, foram autênticos líderes e muito do sucesso adveio de serem verdadeiramente excelentes profissionais. Assim chega ao fim, não as viagens, mas o nome que lhe demos. a a SÁB 30 ABRIL 2016 | açúcar | 15 boca doce António Barroso Cruz Viajante, escritor 1 12 O que distingue um madeirense de um continental (além do sotaque)? Poder pegar no carro e ir até Istambul se apetecer. Ou uma questão de espaço físico e horizontes mentais. Três características da sua personalidade que melhor o definem? Irreverência, justiça, insatisfação. 2 A crítica mais construtiva que já lhe fizeram? E a mais injusta ou absurda? A mais construtiva…”Não vais ser capaz!”. A mais absurda…”O António escreve tão bem quanto o Eça”. 3 A decisão mais importante que teve de tomar? Regressar a casa e à família. Não porque “tive que”, mas porque “decidi que”. 4 A sua dúvida mais persistente? Será que chego aos 100 anos de idade? [porque é esse o meu projecto de longevidade]. 5 Um arrependimento? Ainda não ter visitado a Coreia do Norte. 13 Que opinião tem dos madeirenses que escondem o sotaque? Deveriam requerer uma segunda nacionalidade. 6 8 10 Um ato de coragem? Ser pai pela segunda vez, ainda que temporariamente, e num projecto de família de acolhimento. Se a chegada da segunda filha foi uma festa e tem sido uma vivência extraordinária, a separação prevê-se dolorosa. Haja coragem para viver cada capítulo deste livro. A companhia ideal para uma conversa metafísica? A dúvida, que também pode ser apenas física, ou tão-só a moderação de um debate, passaria por ser apenas com a Sara Sampaio, ou juntando-se-nos Aristóteles. Quem são os seus heróis na vida real? O meu pai, a minha mãe, a minha mulher e a minha filha. E alguns gatos lá de casa, como é o caso do Tomé, que gosta de se atirar da varanda mesmo sem capa de super-herói e já sobreviveu a três voos de um terceiro andar… 7 9 11 Uma atitude imperdoável? A minha bipolaridade ao volante de um carro. Não só é imperdoável como irreparável, como incontrolável, como intratável… Qual é a sua maior extravagância? Comprar livros e viajar, ainda que considere ambos bens de primeira necessidade enquanto leitor e viajante compulsivo que sou. Uma doce memória da infância? A minha dulcíssima avó (materna) Germana. 14 Que expressões madeirenses usa com maior frequência? “Continuações…”, “cramar”, “estepilha”. 15 A quem gostaria de pagar uma poncha? Ao Woody Allen. 16 Segredos da Ilha… Local: Jardim do Mar Hotel: Portobay Serra Golf Restaurante: Casa da Palha, em São Jorge Atividade ao ar livre: Ribeira Primeira, no Santo da Serra Loja: De livros, seja ela qual for