olhando o futuro

Transcrição

olhando o futuro
Profetas e místicos
para um novo começo
Santa Eulália, 23 a 30 de abril 2014
IX Encuentro da Rede Interamericana de EAM
(XIX Encontro Latino-americano)
OLHANDO O FUTURO
RETIRO
“Hoje não necesitamos
de grandes profetas,
mas de pequenos profetas
que vivam com simplicidade,
sem ruído e sem integralismos,
a radicalidade e o paradoxo
do evangelho na vida cotidiana”.
Johann Baptist Metz
Convidamos-te a recolher o vivido nesses dias nos quais fomos convidados, a partir de um método
experiencial e em termos de discernimento pessoal e comunitário, a realizar um itinerario
espiritual através de três ícones:
1º ícone: L’Hermitage
2º ícone: La Valla
3º ícone: Fourvière
Diante dos desafios da sociedade atual, nossa vida está chamada a ser sinal de vida e esperança.
Através do testemunho, cada um de nós, propõe um novo modelo de sociedade, fundada sobre
valores universais que encontram sua plena realização em Cristo. Definitivamente, nosso
testemunho se fundamenta na primazia de Deus em nossas vidas.
Nossa condição profética, se realiza de três maneiras: partindo de nossa vida (interioridade)
– De nossos gestos (serviço)
– De nossa voz (profecia)
Para manter viva essa força profética, o sabemos, é indispensável uma vivência espiritual, uma
experiência mística.
Refletiremos, então, sobre três dimensões que, como cristãos maristas, estamos chamados a
cultivar. As três se relacionam e convivem em nós indissoluvelmente, mas, metodológicamente,
as refletiremos em separado.
1. MÍSTICA (interioridade)
2. PROFECIA (missão)
3. DIACONIA (serviço)
1. MÍSTICA (interioridade)
“O Reino do Céu é como um tesouro escondido no
campo. Um homem o encontra, e o mantém
escondido. Cheio de alegría, ele vai, vende todos os
seus bens e compra esse campo.” (Mt 13, 44)
Muitos procuraram definir a mística como o
encontro com Deus. E isso pode ser muito complexo
para alguns e simplesmente um presente, para outros. Nosso Deus não é preciso buscá-lo, Ele é
encontradiço, se revela, nos busca e sai ao nosso encontro.
E se Deus sai ao nosso encontro, o místico será aquele que sabe descobri-lo “em tudo e em
todos”.
A interioridade cristã é descobrir-nos habitados, habitados por esse Deus criador que quer
relacionar-se conosco. Deus está em nosso interior e espera, deseja essa relação. É descubrir-nos
como lugar privilegiado de relação e, automaticamente, descobrir o outro como habitado pelo
mesmo Deus.
Marta Fernández de Aguirre Malaina faz uma reflexão sobre que significa viver a interioridade
cristã cada dia que, acredito, possa ajudar a nossa reflexão pessoal.
Deus chama todos à relação. Ao longo da história, algumas pessoas a viveram de forma
especial e as chamamos místicas, místicos, mas esse chamado não é para super-homens,
nem para supermulheres. É para todos. É para todas. O chamado à mística é universal (Isso
é para outros. Quem sou eu para que isso aconteça? E quem és tu para dizer que não?)
Basicamente, essa iniciativa de Deus não deixa de assombrar-nos e de assustar-nos
também muitas vezes. E isso no cotidiano? Começo pelas dificuldades e termino,
positivamente, com o que me ajuda. A dificuldade maior, ou o limite, sou eu mismo/a. Por
um lado, Deus não cabe em mim, não cabe em ninguém, ele ultrapassa nossos limites. Por
outro lado estão nossas inconsistências. Como diria Paulo, “não faço o bem que quero, mas
o mal que não quero”. (Rm 7, 15)
Deus nos desborda mas se adapta, e como! Um Deus que se torna uma criancinha. Porém
minha experiência de Deus é limitada. Limitada por meu corpo e por minha mente. Por
minha biologia, meu estado de ânimo e meu cansaço… Aí está o limite!
Deus fiel.
Mas, como é possível que Tu venhas até mím?
Mas, como é possível que caminhes a meu lado?
Mas, como é possível que faças festa se eu pequei?
Mas, como é possível que escolhas a mím?
Tudo, tudo é possível para Deus.
Teus caminhos não são os nossos.
Tu, o Deus desconcertante e fiel.
Quem quer que se adentre por esse caminho sabe que acontecem coisas, que Deus age,
muda seguranças, muda planos… e o medo aparece. E me agarro ao que acredito que me
dá segurança.
E tenho claro que Deus respeita, que bate à porta, que nunca invade, que espera… Que
nada me acontece sem mim.
Que me ajuda: Creio que a ferramenta mais importante é a oração. Jesus é também o
exemplo na sua relação com o Pai. Há contínuas referências no Evangelho: afastou-se,
retirou-se ao monte para orar, num lugar afastado, de noite…
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Tempos de oração de maneiras diferentes: Silêncio, com tempos específicos, retiros…
Ação de graças, que me ressitua, me torna consciente de tudo o que recebi, como dom.
Não achar que tudo é natural, nem merecido.
Também me ajuda sistematizar, passar pela agenda, reservar tempos e espaços. E também
em algum momento, um método, uma pedagogia. Os que me conhecem estão fartos de
ouvir-me falar dos Exercícios Espirituais Inacianos, um método para lá de válido; mas se
não serve para alguém, há outros.
A comunidade. Não me refiro à oración comunitária, nem sequer à comunidade de vida.
Oxalá nossas comunidades fossem essa referência de apoio e crescimento para a
interioridade; porém sabemos que, infelizmente, muitas vezes não é assim. Refiro-me a
unir-nos a outras pessoas que vibram nesse aspecto e a compartir oração e experiência, as
dificuldades, os progressos, ter um mesmo texto ou tema de oração, "ser guarda-costas
uns dos outros, que os tempos são difíceis”, como diria o Teresa.
A Eucaristia, numa dupla dimensão: em si misma, como Sacramento, como Presença e, se
possivel, em sua dimensão compartilhada, de comunidade que celebra. Partilhada com
quem partilhamos a vida.
A vida, a conexão com a vida, como articulá-la? Gosto especialmente da referência de
Marcelino de encontrar-nos na presença contínua de Deus e recordar-me disso no decurso
da jornada.
O exame do dia, sob o aspecto relacional. Como foram minhas relações, quando, como
descobri a Deus e onde se me “escapou”?
E o acompanhamento pessoal e, sobretudo, recordar a mim mesmo/a que a iniciativa é de
outro/a; evitar o mais possível de estorvar, de dificultar; deixar que ele/a faça, deixar-se
fazer… Creio que essa é a chave.
PARA A REFLEXÃO
Seis avisos para aprendizes de místicos (Dolores Aleixandre)
Agarra-te à realidade porque, como a terra que esconde um tesouro, é a realidade portadora da
presença de Deus: tu o tens tão perto como o pão de cada dia, como a seiva que nutre o ramo na
videira, como a sombra da árvore que te abriga. Se gruda a ti como o cinto que se adere à tua
cintura, está tão próximo como os pasos de um caminhante a teu lado, como o ombro do amigo
no qual podes apoiar-te para escutar suas confidências. Seu amor é melhor que o vinho, por isso o
conhecerás melhor gostndo-o e saboreando-o do que pensando nelel. Podes escalar Horeb ou o
Tabor para buscá-lo, mas terás que aprender a escutar sua Palavra nas praças ou na oficina do
oleiro, porque é entre os filhos dos homens onde prefere pronunciá-la.
Desperta teus ouvidos e teus olhos. Sua voz pode ressoar como o rugido de um leão ou como o
rumor de um silencio tênue. Ele se comunica no no centro de ti mesmo e também na floração das
amendoeiras para recordar-te que, assim como não és o responsável pela chegada da primavera,
tampouco o és da fecundidade de sua Palabra, porque disso é Ele que se encarrega. Se te
pergunta: Que vês?, não procures levantar os olhos para contemplá-lo: olha para baixo, para os
lugares em que a vida de um pobre vale menos que um par de sandálias e não te surpreendas ao
descobrir quanto o inquieta que devolvas a teu irmão, antes de cair a tarde, o manto tomado em
penhor, porque senão, onde dormirá e como se defenderá do sereno da noite?
Vive ao mesmo tempo alerta e calmo: não tenhas medo, mas mantém-te vigilante, porque pode
apresentar-se de improviso e bater à tua porta no meio da noite. Se lhe abrires, entrará e ceará
contigo; se deixares, levar-te-á ao deserto para falar-te ao coração ou para atrair-te violentamente
com as correias de seu amor. Sua palavra será, em teus lábios, doce como o mel, mas talvez te
queime as entranhas como um fogo. Depois de o encontrares te irradiará o rosto, mas se te
atreveres a lutar contra ele, te deixará cicatrizes.
Cuida de teu coração e escuta-o porque sua voz te indica os caminhos de volta a tua casa, a esse
centro de ti mesmo, onde és mais tu do que no que fazes ou pensas. Aí encontras o único
necessário: teu Pai, que está escondido e te infunde seu Alento para que todo o teu ser se
concentre e adquira afinidade com seu Filho. Aprende a estar e a permanecer aí, a fluir da sua
misericórdia e apaixonar-te pelo seu mundo, a respirar o nome de Jesus como um perfume que é
derramado.
Adentra-te em outra sabiduria, dispõe-te a deixar atrás, como um manto velho, teus próprios
saberes e certezas. A semente do Reino cresce sem que tu saibas de que modo, e ainda que as
canhadas que atravessas te pareçam escuras, podes confiar que teu pastor sabe aonde te leva.
Segundo ele, ao ganho se chega pelo estranho caminho da perda, e a porta estreita é aquela que
desemboca na largueza da felicidade. Porque ele contempla já a espiga no grão de trigo enterrado
e escuta o choro da criança que nasce quando a mulher ainda grita pela dor do parto: deixa que te
descubra as possibilidades de vida que se escondem ali onde parece que a morte pôs a última
assinatura
Acolhe teu nome único: Deus o tem tatuado na palma de sua mão e to entrega gravado numa
pedrinha branca, como teu modo irrepetível e singular de viver em comunhão de vida com ele.
Alegra-te: estás convidado a participar do banquete do rei, e o lugar à sua direita não está
reservado.
Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, já não há espaço para os demais, já não
entram os pobres, já não se escuta a voz de Deus, já não se goza da doce alegria de seu amor, já
não palpita o entusiasmo para fazer o bem. (Papa Francisco)
2. PROFECIA (Missão)
Jesus voltou-se para os discípulos, e lhes disse em particular:
“Felizes os olhos que veem o que vocês veem. Pois eu digo a
vocês que muitos profetas quiseram ver o que vocês estão
vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que vocês estão
ouvindo, e não puderam ouvir”. (Lc 10, 23-24)
Os sinais dos tempos
Dirá Albert Nolan que a crítica dos profetas contra o “statu quo” foi sempre construtiva. Eles
clamavam por transformações ou “metanoia”, à luz do que viam. E o que viam eram os “sinais dos
tempos”.
Aquilo que tornava o profeta diferente dos outros homens era sua interpretação divinamente
inspirada dos sinais de seu tempo. A mensagem dos profetas não é deduzida de princípios
eternos; nem tampouco tiram conclusões eternamente válidas. A mensagem dos profetas é
limitada no tempo, no sentido de que provém dos sinais de uma época e situação determinadas, e
é dirigida a pessoas específicas que vivem nessa época e nesse lugar.
Os sinais dos tempos eram sempre acontecimientos
históricos
que
hoje
nós
classificaríamos
como
acontecimientos políticos, sociais, econômicos, culturais,
religiosos e até psicológicos. Muitos profetas eram
perspicazes observadores políticos que examinavam
questões, como a guerra ou a ameaça de guerra, o
crescimento ou expansão dos impérios, o valor desta ou
daquela aliança militar, a política de um rei ou imperador.
Quanto a isso, na vida interna do país eles prestavam atenção
à exploração dos pobres, ao estilo de vida dos ricos, aos
pesos e às medidas falsificados por comerciantes, e assim por
diante. Eles tinham também uma extraordinaria percepção
da verdadeira natureza das práticas religiosas, como dar esmola e rezar, bem como do jejum e do
legalismo hipócrita dos fariseus.
Como ler os sinais dos tempos
Como é que os profetas leem os sinais dos tempos?
Como é que eles foram capazes de reconhecer o que Deus lhes dizia?
Essa é realmente a questão crucial.
A resposta é que o Espírito de Deus os tornava capazes de SENTIR COM DEUS. Eles eram capazes
de compartir as atitudes de Deus, ou seja, seus valores, sentimentos e emoções. Isso os tornava
aptos para ver os acontecimentos de seu tempo como Deus os via e sentir o que Deus sentia a
respeito desses acontecimentos.
Eles compartilhavam a ira, a compaixão, a tristeza, a desilusão, a aversão de Deus, sua
sensibilidade pelo povo e sua seriedade. Esses sentimentos não eram compartilhados de forma
abstrata, mas em relação aos fatos concretos de sua época. Pode-se dizer que tinham um tipo de
EMPATIA com Deus, que os capacitava a ver o mundo através dos olhos de Deus. A Bíblia não
separa emoções e pensamentos. A palavra de Deus expressa o modo como Ele sente e pensa. Os
profetas tinham os pensamentos de Deus, porque eles partilhavam seus sentimentos e valores.
Isso é o que significa estar cheio do Espírito de Deus, e isso é que nos torna capazes de ler los
sinais dos tempos com honestidade e veracidade.
Uma espiritualidade voltada para o novo
Os profetas desviarão a atenção do povo, do passado para o futuro. Eles, em vez de procurar
entender o presente em termos de acontecimentos passados (Êxodo, Monte Sinai, Rei Davi, etc.)
pedem ao povo que entenda o presente em termos de uma futura ação de Deus. Os profetas
estavam orientados para o futuro, espreitavam o futuro, eram “progressistas”. Eles queriam que o
povo mudasse, planejasse, agisse em vista do futuro. Já esse acontecimento futuro ou “escathón”
seria um acontecimento qualitativamente novo, eles pediam ao povo que fizesse coisas novas, que
realizasse transformações inauditas.
É muito interessante que notemos a frequência com que os profetas usam a palavra “novo”: um
novo pacto, uma nova era, um novo coração, um novo espírito, um novo céu e uma nova terra,
uma nova Jerusalém, ou simplemente que Deus faria uma coisa nova. Eles incentivavam o povo a
romper com seu passado e a olhar para a novidade do futuro de Deus.
Isaías anuncia que não estamos condenados a repetir a mesma coisa. Primeiro nos disse que «algo
novo está nascendo» e depois que «tudo é possível» para Deus.
“Coisas novas é o que eu agora anuncio” (Is 42,9).
“Não fiquem lembrando o passado, nem pensem nas coisas antigas;
vejam que estou fazendo uma coisa nova: ela está brotando agora, e
vocês não percebem? Abrirei um camino no deserto, rios em lugar
seco”. Is 43,18-19
A última coisa que se poderia dizer dos profetas é que eles eram conservadores. Eles estavam
muito adiantados sobre o seu tempo e por isso raramente eram apreciados por seus
contemporâneos. Estavam orientados para o futuro, e nesse sentido eram progressistas. Isso
tampouco significa que queriam qualquer progresso. O que eles buscavam era a novidade total do
futuro de Deus.
Também hoje devemos dar una mensagem de esperançaa. Que mensagem damos?
2. DIACONIA (Serviço)
“Se um de vocês tem cem ovelhas e perde uma, será que não
deixa as noventa e nove no campo para ir atrás da ovelha que
se perdeu, até encontrá-la? E quando a encontra, com muita
alegria a coloca nos ombros. Chegando em casa, reúne amigos
e viznhos, para dizer: ’Alegrem-se comigo! Eu encontrei a
minha ovelha que estava perdida’. E eu lhes declaro: assim,
haverá no céu mais alegria por um só pecador que se converte,
do que por noventa e nove justos que não precisam de
conversão.”.
Lc 15,4-7
O caráter profético da vida cristã, sustentada pela experiência mística, possibilita o exercício do
serviço como prova de sua autenticidade.
Parece que a mística está diretamente relacionada com a profecia e com o serviço, e que o tom
que acompanha essa relação é a alegria, uma alegria que, como afirma o papa Francisco na
exortação A Alegria do Evangelho, brota do encontro com uma pessoa: Jesus. Ele dirá que “com
Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria”.
“Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato,
os que mais desfrutam a vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam
pela missão de comunicar a vida aos demais.» Quando a Igreja faz apelo ao compromisso
evangelizador, não faz mais do que indicar aos cristãos o verdadeiro dinamismo da
realização pessoal: «Aqui descobrimos outra profunda lei da realidade: a vida alcança-se e
amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros. Isso é, definitivamente, a
missão». Consequentemente, um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara
de funeral. Recuperemos e aumentemos o fervor de espírito, «a suave e reconfortante
alegria de evangelizar, mesmo quando for preciso semear com lágrimas! (...) E que o
mundo do nosso tempo, que procura, ora na angústia ora com esperança, possa receber a
Boa-Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e descoroçoados, impacientes ou
ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram quem
primeiro recebeu em si a alegria de Cristo». (A Alegria do Evangelho, 10)
Trata-se dessa alegria da que falaram os profetas, que atravessa toda a
Escritura do princípio ao fim.
Um profeta que não é capaz de olhar os desafios que a realidade lhe
oferece com olhar novo, é um profeta que deixa que lhe roubem a
esperanza, como afirma o papa Francisco.
"Não sejam nunca homens e mulheres tristes: um cristão jamais pode
sê-lo. Nunca se deixem vencer pelo desânimo. Nossa alegria não é algo que nasce de ter tantas
coisas, mas de ter encontrado uma pessoa, Jesus; que está entre nós; nasce do saber que, com
Ele, nunca estamos sozinhos, inclusive nos momentos difíceis, ainda quando o caminho da vida
tropeça com problemas e obstáculos que parecem insuperáveis, e há tantos!.
«Javé, o seu Deus, o valente libertador, está no meio de você. Por causa de você, ele está contente e
alegre e renova o seu amor por você; está dançando de alegría por sua causa.” (Sf 3,17)
É a alegria que se vive em meio às pequenas coisas da vida cotidiana, como resposta ao afetuoso
convite de Deus, nosso Pai: “Meu filho, trate-se bem na medida do possível […] Não se prive de
um dia feliz” (Eclo 14,11.14).
“Céus, gritem de alegria, porque Javé agiu;
Exultem, profundezas da terra,
Gritem de alegria, montanhas,
Junto com a floresta e todas as suas árvores,
porque Javé redimiu Jacó
e demonstrou seu poder em Israel.” (Is 44,23)
Num estudo recente sobre a alegria na Sagrada Escritura, Miguel Ángel Garzón Moreno afirma que
no Antigo Testamento geralmente se verifica uma relação de dependência entre a alegria e a
experiência de Deus. A alegria veterotestamentária se erige, como característica central, em
expressão da fidelidade ou infidelidade ao Senhor (cf. Lv 26; Dt 28): sua posse é sinal de bênção e
sua carencia, de maldição.
A alegria se destaca com luz própria nos Profetas. Seu acento mais peculiar e de novidade está em
situar a alegria como sinal da nova era (esjaton), do tempo messiânico, da restauração e
renovação pela salvação e o perdão de Deus que põem fim à tristeza e angústia. Uma alegria plena
e definitiva porque terminou o que a mitigava: a tribulação, o pecado e a morte.
Como dizia Ireneu, “A gloria de Deus é o homem vivente”. Quanto mais intensa for a vida que
temos em nós, mais intensa será a glória que damos a Deus.
“Quem está vivo é que vai te louvar.” (Is 38,19)
Juan Manuel Martín Moreno assim o expressava:
Viver é despertar cantando com esperança;
viver é receber com esperança a luz do dia;
viver é gozar da serenidade da tarde;
viver é estar livre de angústias e preocupações;
viver é ter saúde e respirar sem impedimentos;
viver ´´e amar e ser amado;
viver é enfrentar sem medo o dia de amanhã;
viver é comer com prazer o pão de cada dia, ganho com trabalho humano;
viver é ter a consciência em paz quando chega a noite;
viver é poder dormir sem sobressaltos nem pesadelos;
viver é comunicar-se e poder expresar-se;
viver é ser capaz de comprometer-se e ter esperanças com uma vocação;
viver é ser livre e não estar atado por nenhum tipo de correntes;
viver é poder dar sentido à própria existência;
viver é possuir-se e poder se entregar.
Viver é, em poucas palavras, a abundância dos frutos do Espírito.
Neles consiste a vida abundante de Jesus: “Amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé,
mansidão e dominio de si” (Gl 5,22-23).
O prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel, no maior paradoxo, quando o povo judeu sofria a barbárie do
holocausto, nos dá o testemunho da mais profunda alegría espiritual cuja origem é somente Deus:
“Não há mérito em dançar quando tudo vai bem. Quando as coisas vão mal e já não ousamos
levantar a cabeça, e parece que o inimigo triunfa, então, sim, se nos pede que louvemos o
Senhor, fonte e ápice de todo o êstase... Se nos falta a alegria, vamos criá-la, vamos tirá-la do
nada! Que seja a oferta que fazemos a Deus: Que seja Sua festa, não a nossa”.
PARA FELETIR
És um homem/uma mulher com esperança?
És um profeta que acende fogo?
Somos evangelizadores tristes e desanimados?
“O fogo, como o sal, a vigilância ou a pressa, são imagens com as quais o evangelho expressa essa
maneira de viver marcada pela paixão dos que tiveram um encontro com Aquele que entendia sua
missão como “trazer fogo sobre a terra” (cf. Lc 12,49) e cuja palavra fazia sentir aos seus com “o
coração ardendo.” (cf. Lc 24,32)