Pensar Contábil - Busca rápida
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ISSN 1519-0412 Ano V I • Nº 22 • Nov - 2003/Jan - 2004 On line Visite nosso site Home page: www.crc.org.br E-mail: [email protected] Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Editorial PENSAR CONTÁBIL: SEIS ANOS DE VIDA Os membros do Conselho Editorial da Pensar Contábil vêm, com satisfação, apresentar aos seus leitores mais uma edição da nossa revista técnica. Esta edição de número 22, em seu sexto ano de existência, já começa a demonstrar os resultados dos esforços gastos por parte dos seus colaboradores (autores), equipe técnica e conselheiros ao longo da sua vida. Quando afirmamos que os resultados são positivos o fazemos por entender que a cada edição aumenta significativamente a quantidade de artigos de boa qualidade e com temas diversificados remetidos pelos autores. Esta edição é peculiar, pois além de tratar de assuntos diferenciados e interessantes, apresenta a primeira experiência de publicação na nossa revista de artigos elaborados por membros de uma mesma família (mãe e filha): Fortunee Rechtman Szuster, co-autora do artigo ”Afinal, o que pensa o mercado sobre o diferimento cambial?”.Este artigo foi desenvolvido em parceria com o Professor Doutor Álvaro Vieira Lima. A co-autora é mãe da contadora e administradora de empresas Flávia Rechtman Szuster autora do artigo “As Demonstrações do Resultado dos Clubes Brasileiros de Futebol de 2002: Uma análise Comparativa da Desinformação”. São importantes também os demais artigos que compõem Índice AFINAL, O QUE PENSA O MERCADO SOBRE O DIFERIMENTO CAMBIAL? ANÁLISE DO DIFERIMENTO CAMBIAL DE 1999 ............................ 4 FORTUNEE RECHTMAN SZUSTER ÁLVARO VIEIRA LIMA AS DEMONSTRAÇÕES DO RESULTADO DOS CLUBES BRASILEIROS DE FUTEBOL DE 2002: UMA ANÁLISE COMPARATIVA DA DESINFORMAÇÃO .......................................... 12 FLAVIA RECHTMAN SZUSTER MÉTODOS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS UTILIZADOS NAS MAIORES INDÚSTRIAS DE SANTA CATARINA ............................. 18 ADRIANO DE SOUZA PEREIRA ROSIMERE ALVES DE BONA PORTON ILSE MARIA BEUREN A MENSURAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO MUNICIPAL: DO SUCATEAMENTO À SUPERVALORIZAÇÃO, OS EFEITOS DA DEPRECIAÇÃO SOBRE O RESULTADO PATRIMONIAL ........................................................ 25 LUCIANO NERES A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE CONTÁBIL E EXTRA-CONTÁBIL DOS BENS PERMANENTES ADQUIRIDOS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL ............................... 33 FABIANO TORRES JUNIOR ASPECTOS JURÍDICOS DA EXTINÇÃO DA CORREÇÃO MONETÁRIA DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS - UM ESTUDO DE CASO - ................................................................. 44 CARLOS ALBERTO PEREIRA CARLOS EDUARDO CLARO DE AZEVEDO JOSÉ AUGUSTO VEIGA DA COSTA MARQUES Uma publicação do esta edição, pelo conteúdo e pela variedade dos temas. Temos um artigo escrito com base em pesquisa aplicada sobre métodos de formação de preços industriais no Estado de Santa Catarina, elaborado por Adriano de Souza Pereira, Rosimere Alves de Bona Porton e Ilse Maria Beuren que acreditamos ser ótima fonte para futuras pesquisas acadêmicas. Os artigos que fecham a edição tratam, respectivamente, das necessidades de aprimoramentos dos controles na área pública e os efeitos da extinção da correção monetária, sob o enfoque jurídico. Ambos artigos foram muito bem elaborados pelos autores Fabiano Torres Júnior (A importância do controle contábil e extra-contábil dos bens permanentes adquiridos pela Administração Pública Federal) e Carlos Eduardo Pereira e Carlos Eduardo Claro de Azevedo (Aspectos Jurídicos da extinção da correção monetária das demonstrações contábeis – Um estudo de Caso). Acreditamos que, modestamente, e de forma gradual, a Pensar Contábil vem cumprindo a sua missão, portanto, caros leitores, usufruam bem esta edição. Antonio Miguel Fernandes Vice-presidente de Desenvolvimento Profissional Expediente Pensar Contábil ISSN 1519-0412 CONSELHO DIRETOR Presidente: Nelson Monteiro da Rocha Vice-Presidente de Desenvolvimento Profissional: Antonio Miguel Fernandes Vice-Presidente de Administração e Finanças: Diva Maria de Oliveira Gesualdi Vice-Presidente de Fiscalização do Exercício Profissional: Vitória Maria da Silva Vice-Presidente de Registro: Carlos de La Rocque Vice-Presidente de Controle Interno: Paulo Cesar de Castro Vice-Presidente de Interior: Cezar Stagi Pensar Contábil CONSELHO EDITORIAL Coordenador: Antonio Miguel Fernandes Conselheiro Jorge Ribeiro dos Passos Rosa Conselheiro Josir Simeone Conselheiro Walter Conceição Conselheiro Waldir Ladeira Editora: Rosa Helena Martire (MT 21405) Projeto Gráfico: W&C- Comunicação Diagramação: Adriano Antunes dos Santos Revisão: Claudia Stivelman Estagiário: Gabriela Gomes CONSELHO REGIONAL DECONTABILIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Praça Pio X, 78 - 6º, 8º e 10º andares Rio de Janeiro - RJ - CEP 20091-040 Tel. (21) 2216-9595 - Fax (21) 2516-0878 Home Page: www.crc.org.br E-mail (envio de artigos): [email protected] E-mail (assinatura): [email protected] 3 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Fortunee Rechtman Szuster Álvaro Vieira Lima Mestre em contabilidade pela UERJ e professora da FGV Coordenador do Programa de Mestrado de Ciências Contábeis da UERJ 1 - INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é analisar a reação do mercado frente ao posicionamento das principais empresas brasileiras que procederam ao diferimento cambial, permitido pela Medida Provisória nº 1.818, de 25 de março de 1999, posteriormente convertida na Lei 9816 de 23 de agosto de 1999 , e pela Deliberação CVM nº 294, de 26 de março de 1999. Sem a menor sombra de dúvidas podese afirmar que o assunto gerou controvérsias. O diferimento cambial não foi aceito pelo Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (IBRACON), nem está de acordo com o Conselho Federal de Contabilidade(CFC). Foi estabelecido que as demonstrações contábeis das empresas que optassem por tal procedimento deveriam apresentar ressalvas nos pareceres dos auditores e os devidos esclarecimentos nas notas explicativas. A CSN ,porém, optou por tal procedimento e foi eleita , no ano de 2000 a “Empresa do ano” pela Revista Exame sendo manchete do Jornal O Dia de 27 de janeiro de 2002 como “A Empresa que não sabe o que é estar no Vermelho”. Num momento em que a falsa transparência das demonstrações contábeis está aliada a perdas para muitos acionistas e a credibilidade da Contabilidade vem sendo questionada por seus usuários é de grande importância o debate da reação do mercado frente a procedimentos contábeis contraditórios. 2- QUAL A ORIGEM DO PROBLEMA ? A partir da implantação do Plano Real, em 1994, o Governo federal desenvolveu uma política que gerou uma elevada apreciação do real frente ao dólar como forma de reduzir a possibilidade do aumento da taxa de inflação. Este posicionamento incentivou diversas empresas brasileiras a captarem recursos no exterior. Muitas empresas iniciaram o ano de 1999 com um elevado endividamento em dólares. Estas dívidas haviam sido estimuladas pela política governamental de altos juros internos, com a manutenção do real superavaliado frente ao dólar, em decorrência do mecanismo denominado “âncora cambial”. Outro aspecto relevante decorreu da tradicional escassez de financiamentos nacionais de longo prazo. As aplicações efetuadas estavam em estágio de maturação, impossibilitando o resgate dos passivos. No primeiro trimestre de 1999, a âncora cambial ficou insustentável, e o Real sofreu uma grande desvalorização frente às demais moedas estrangeiras. Em 13 de janeiro a taxa de câmbio para o dólar era de R$ 1,2114. Este atingiu seu auge em 03 de março quando chega a R$ 2,1647.A variação no final do 1º trimestre foi de 42,47%, com o dólar cotado a R$1,7220. O Governo Federal permitiu às empresas que possuíam endividamento indexado à moeda estrangeira a opção de reco- Pensar Contábil 4 nhecer o impacto no resultado contábil em quatro anos, de forma linear. Do ponto de vista fiscal, o reconhecimento foi efetuado de imediato no 1o trimestre de 1999. Nessas condições, tal diferimento, ao reconhecer o efeito contábil dissociado do efeito tributário, possibilitou a melhoria do resultado contábil das empresas, sem conseqüências sobre seus fluxos de caixa. É possível admitir que tal medida permitiu que empresas passassem do prejuízo ao lucro. 3- AFINAL, PODEMOS CONSIDERAR O MERCADO EFICIENTE? Segundo a Hipótese da Eficiência do Mercado (HEM) o preço da ação deve traduzir, de forma completa e instantânea, toda a informação relevante disponível a respeito dessa ação. O mercado de ações seria racional, refletindo nos preços, de forma rápida e não tendenciosa, a informação disponível. O fato do diferimento cambial não ter efeitos fiscais não causa impacto direto no fluxo de caixa. Nessas condições, esperar-se-ia que a opção do diferimento não alterasse o valor da empresa. Segundo a Hipótese de Fixação Funcional (HFF) o mercado reage a informações contábeis, sejam patrimoniais ou de resultados, não importando se elas, de alguma forma alteram ou não os fluxos de caixa da empresa. Nessas condições, os lucros contábeis seriam uma informação Pensar Contábil relevante, independentemente dos procedimentos utilizados na sua geração. 4 - QUAIS SERIAM AS MOTIVAÇÕES DAS EMPRESAS PARA MUDANÇAS NOS CRITÉRIOS? As empresas que optaram por utilizar o diferimento estavam conscientes que poderiam ser criticadas. Segundo Kieso, Weygandt & Warfield é difícil, principalmente para a auditoria, determinar se um tratamento contábil alternativo é feito visando melhoria informacional de uma realidade ou para diminuição de impostos. Como motivações para a mudança podem ser destacados: a) os custos políticos - quanto maior a empresa, menos propensa estará em adotar métodos contábeis que diminuam seus lucros, já que este tipo de empresa está mais sujeita a questionamentos pelo governo e pelos sindicatos; b) estrutura de capital - se a empresa pretende pagar dividendos, mais propensa estará em adotar métodos contábeis que propiciem o aumento dos lucros, ao contrário da que pretende reter seu capital; c) pagamento de bônus - quando o pagamento dos administradores é atrelado ao lucro da empresa será escolhido o método que o maximize; d) suavização dos lucros - as empresas são levadas a administrar seu lucro já que um crescimento regular de 10% ao ano seria preferível a um crescimento de 30% em um período seguido de uma queda de 10% no seguinte. Segundo o Jornal Valor Econômico de 16 de novembro de 2001 a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) optou pelo diferimento das perdas cambiais entre janeiro e setembro de 2001 motivada pela necessidade de pagar elevados dividendos aos acionistas, em especial sua controladora Vicunha, para pagamento de empréstimos usados no aumento da participação acionária da empresa. Outro motivo era a existência de eurobônus com cláusula de liquidação ligada à relação dívida/patrimônio .Caso esta relação se deteriorasse a CSN teria de recomprar seus títulos. Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 5 - O QUE SIGNIFICA PARA OS CONTADORES E AUDITORES O DIFERIMENTO CAMBIAL? O fato das empresas optarem ou não pelo diferimento cambial não foi tratado como relevante pelas revistas econômicas da época, inclusive os poucos artigos publicados apresentavam uma visão distorcida. A contestação com maior veemência foi efetuada pelos profissionais da contabilidade. O IBRACON apresentou o Comunicado Técnico n°2/99 exigindo, por parte dos auditores, que fosse efetuada uma ressalva no parecer dos auditores em todas as empresas que optaram pelo diferimento cambial. Tal fato pode ser justificado, em primeira instância, pela transparência e neutralidade que as Demonstrações Contábeis devem possuir para sua avaliação pelo mercado. O diferimento não atende a um aspecto fundamental da contabilidade, o Principio da Competência de Exercícios que reconhece os efeitos econômicos no momento de sua realização, desvinculado do reflexo financeiro. O diferimento foi também um procedimento não conservador, representando uma ruptura com a tendência atual das instituições contábeis normatizadoras a nível mundial e que constitui um aspecto desejado pelos analistas. De forma simultânea prejudica, de forma decisiva, a consistência dos procedimentos da empresa dificultando a comparação entre os anos de 1998/1999, e com os períodos subsequentes, além de prejudicar a comparabilidade entre as empresas que diferiram e as que não o fizeram Jorge Vieira, analista da CVM, em seu artigo no Boletim IOB 2/2002, afirma que...”os malefícios causados pelo diferimento das variações cambiais excedem em muito os perceptíveis benefícios proporcionados” . Paulo Estevão, presidente da Price Waterhouse Coopers, na Folha de São Paulo de 27.03.99, afirma ser difícil sustentar, sob o ponto de vista da técnica contábil, a permissão para o diferimento cambial. Lembra que o IBRACON nas Máxis de 1979 e 1983 recomendou que as perdas cambiais das empresas, sob o ponto de vista contábil, não fossem diferidas para balanços futuros. Marcelo Bessan, sócio de auditoria da KPMG declara no Valor Econômico de 11.05.99 que a ressalva, comumente usada para apontar erros graves na elaboração das Demonstrações Contábeis, não teria o peso que geralmente tem porque as empresas possuem o respaldo da CVM. 6 - O QUE DIZEM OS EXECUTIVOS ? Tendo como base notícias veiculadas nos diversos jornais, tem-se diversos posicionamentos quanto a opção das empresas de proceder ao diferimento cambial.. Nelson Niero, jornalista, em sua matéria no Valor Econômico de 11.05.99 pondera que deve ser levado em consideração que o Brasil passava por uma grave crise econômica, além de estar com a imagem arranhada no exterior. A Bahia Sul, a Companhia Siderúrgica Nacional e a Companhia Petroquímica do Nordeste tiveram sua dívida aumentada em decorrência da desvalorização do real. Os resultados do primeiro trimestre refletiram apenas uma pequena parte do rombo que a desvalorização abriu nas contas das empresas endividadas em dólar graças a opção pelo diferimento cambial, diluindo tal choque em quatro anos, o que causou polêmica entre administradores, auditores e analistas de investimentos. Bernardo Szpigel, diretor financeiro da Bahia Sul afirma, nesta matéria, que um especialista iria interpretar os números com o efeito do diferimento e sem este procedimento. Entretanto muita gente iria direto à última linha do resultado. Para a sua empresa o diferimento não causou nenhum desconforto pois a perda cambial se transformaria em ganho à medida que fossem sendo contabilizadas as receitas com a exportação. Segundo a Gazeta Mercantil de 11.05.99 a Companhia Siderúrgica Tubarão (CST) apresentou, no primeiro trimestre de 1999 um prejuízo líquido de R$356,8 milhões comparado a um lucro líquido de R$37,5 milhões em igual período de 1998. A CST, maior exportadora mundial de placas de aço, optou por lançar todo o impacto negativo da desvalorização cambial sobre as dívidas em dólar de uma só vez, se liberando para futuros resultados, segundo seu diretor financeiro e de relações com o mercado Antônio Lima Filho. Cerca de 92% de seu endivi- Pensar Contábil 5 Pensar Contábil damento em 31 de março de 1999 era vinculado ao dólar, em linha com o hedge natural da empresa, que tem mais de 90% das suas receitas provenientes de exportações. Declarou julgar que o diferimento seria mal entendido pelos analistas internacionais. A Petrobrás apresentava um hedge natural contra a variação do dólar, uma vez que 96% de suas receitas são atreladas à moeda americana. Deste modo, decidiu não optar pelo diferimento, reconhecendo toda a perda com o câmbio de uma só vez no resultado do primeiro trimestre, apresentando prejuízo. Ao longo do ano essa situação se reverteu e a empresa fechou com lucro o ano de 1999. A Aracruz Celulose, que possuía títulos em Frankfurt e em Nova Iorque não procedeu o diferimento por elaborar o balanço pelas regras norte-americanas que não permitem o diferimento cambial. Apresentou um prejuízo líquido de R$166,3 milhões no 1º trimestre que, sem as perdas cambiais seriam um lucro de R$61,6 milhões. João Luís Tenreiro Barroso, diretor executivo do centro corporativo e de relações com investidores declara que a empresa que não difere fica “refém” de suas contas e precisa fazer cada vez mais hedge, o que implica em alto custo de proteção cambial. Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ gistro de uma grande perda financeira dificultaria a obtenção de empréstimos, além de provocar a venda de suas ações por investidores assustados com o impacto contábil negativo da maxidesvalorização cambial. Maria Helena Santana, superintendente executiva de relações com empresas da Bolsa de Valores de São Paulo, na Gazeta Mercantil de 16.05.01, diz que o impacto da desvalorização do real concentrada em curto período poderia obrigar companhias a iniciar precocemente a renegociação de suas dívidas. Ao lançar determinados tipos de papéis as empresas comprometem-se com os credores a manter certas relações entre determinadas contas, como a proporção entre a dívida e o patrimônio líquido. Se romperem o compromisso, podem ter de resgatar antes os papéis. O analista do Unibanco, Basílio Ramalho ressaltou o efeito psicológico da medida por evitar que as empresas apresentassem prejuízos muito elevados. O diretor da Ágora Corretora, Álvaro Bandeira, no Jornal do Comércio de 28.09.01, declara que a partir do momento em que as companhias diferem os efeitos da desvalorização cambial em seus resultados e dividem essas perdas por quatro anos, elas passam a contabilizar números mais positivos. A partir daí, suas ações podem ter uma performance melhor na Bolsa. Segundo o Jornal a Folha de São Paulo de 27.03.99, o diferimento cambial diminuiu o impacto negativo das perdas provocadas pela desvalorização do real. Para efeito de tributação, esses prejuízos já foram lançados integralmente no resultado deste ano. Por outro lado, produziu uma melhoria artificial dos resultados. A adoção dessa norma foi reivindicada ao Ministério da Fazenda pela CVM. Segundo Ricardo Pinheiro, assessor especial da Receita Federal, nesta mesma matéria da Folha de São Paulo, houve o cuidado de manter-se a integridade do ponto de vista de tributação. O objetivo seria impedir que, a partir dos balanços, os investidores viessem a retirar o capital injetado nas empresas por meio da venda de ações. Vicente Ianelli Neto, advogado tributário afirma que a Medida Provisória nº 1818 é benéfica para as empresas porque o re- 6 O ponto de partida deste trabalho foi a identificação das empresas abertas brasileiras que optaram pelo diferimento cambial. Partimos da relação de companhias abertas relacionadas no artigo de Ariovaldo dos Santos - Contabilidade das Variações Cambiais. Complementamos tal relação através de pesquisa realizada na Infoinvest, na Economática e na CVM. No período selecionado havia 1030 empresas de capital aberto, 474 listadas na Bovespa. Oitenta e nove empresas efetuaram o diferimento: Tabela 1. Nome Fantasia Das 89 Empresas Que Optaram Pelo Diferimento 1. Acesita 29. Concer 57. Medial Saúde 85. VARIG 2. Aç Portobello 30. Constr.A.Velloso 58. Micheletto 86. VASP 3. Alcoa 31. Correio Popular 59. MRS Logística 87. Vicom 4. Antarct.Paulista 32. Copene 60. Nitrocarbono 88. Vicunha NE 5. Arteb 33. Cosuel 61. Nova Era Silicon 89. Wetzel 6. Autel 34. Crown CorkEmbal.S.A 62. Pão de Açúcar 7. Bahia Sul 35. CSN 63. Petroq. União 8. Bayer Polímeros 36. DFVasconcelos 64. Portobello 9. BBM Participaç. 37. Dhb 65. Prensas Schuler 10. Belgo-Min.Part. 38. Ecisa Eng. 66. Pronor Petroq. 11. Belgo-Min.Pirac. 39. EEVP 67. Recrusul 12. Belgo-Mineira 40. Eisa Estaleiros 68. Ref. Petr. Ipiranga 13. Boviel-Kyowa 41. Eletropaulo 69. Ripasa 14. Brascan 42. Engepack 70. S.Min. Trindade 15. Braswey 43. Estado de Minas 71. Sadia 16. Cauiá 44. Fibam 72. Samarco Min.S.A 17. CBTU 45. Fund. Tupy 73. Samitri 18. Celpa 46. Gradiente Eletr. 74. Sanasa-Campinas 19. Celulose Irani 47. Granja Saito 75. Shell 20. Cemat 48. Hosp.Matern.S.Luiz 76. Sifco 21. CERJ 49. Ind. Texteis Renaux 77. Sobloco 22. CESP 50. Intral 78. Sonae 23. Cia EldoradoHot 51. Jari 79. Suzano 24. Cia MelhoramentosSP 52. Josapar 80. Staroup 25. Cimentos Liz 53. Leite Paulista 81. T.Janer 26. Clariant 54. Liasa 82. Thyssen Sur 27. Coelba 55. Light 83. Toniolo, Busnello 28. Coelce 56. Maracaí 84. Tsuzuki Pensar Contábil 7- E A OPINIÃO DOS USUÁRIOS? 8 - PESQUISA DESENVOLVIDA Pensar Contábil Destas, vinte e três foram selecionadas para a análise pois atendiam aos dois critérios considerados importantes para efetuar o trabalho: a) relevância do diferimento, considerando-se os diferentes graus do índice de endividamento da empresa em moeda estrangeira (Passivo US$/ Passivo). b) liquidez em bolsa, tendo-se .definido que as empresas a serem consideradas deveriam apresentar nível de negociação que permitisse calcular o retorno mensal. As empresas que não apresentavam esta condição foram excluídas. Após delimitação da amostra- alvo de nossa pesquisa passou-se a trabalhar na escolha das empresas que comporiam a amostra de controle. As Revistas Exame Melhores e Maiores de junho de 2000 e Balanço Anual da Gazeta Mercantil – 2000 foram pesquisadas para esta escolha. As empresas pares deveriam possuir os mesmos pré-requisitos de seleção do primeiro grupo: companhias abertas, com liquidez em Bolsa, de mesmo setor da respectiva empresa da amostra-alvo e grau de endividamento em moeda estrangeira que oferecesse comparabilidade com o primeiro grupo. A única diferença desejada é que não tivessem diferido a variação cambial. Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Tabela 2- Pares Casados de Empresas Considerados no Estudo: NOME FANTASIA PAR PROPOSTO Setor:Metalurgia/Aço Acesita Tubarão CSN Usiminas Belgo-Mineira Gerdau-Met. Micheletto(Parafuso) Confab Energia Elétrica Eletropaulo CEMIG Light Copel CERJ Escelsa Cemat CELPE Cesp Coelba Celulose e Papel Suzano Aracruz Ripasa VCP BahiaSul Klabin Prod. Petroquímicos Copene Petroflex Pronor Petroquímica Oxiteno Petroq.União Polialden Nitrocarbono Ref.Pet.Ipiranga Mineração Samitri Autopeças Recrusul Pensar Contábil Copesul Ciquine Magnesita Marcopolo Bebidas Antárctica Paulista Brahma Transp.Aéreo VARIG TAM Varejo Pão de Açúcar Globex Prod.Aliment. Sadia Perdigão 7 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Algumas limitações dificultaram nosso estudo. O fato de só terem sido encontradas vinte e três empresas com os pré-requisitos limitaram o tamanho da amostra. Por seu lado, as Demonstrações Contábeis não apresentaram uniformidade, prejudicando, por vezes, a comparabilidade. Na maioria dos casos, nas Notas Explicativas, não é apresentado, de forma clara e objetiva, o montante do passivo em moeda estrangeira, assim como o momento em que a empresa amortizou o valor diferido. O motivo pelo qual foi definida a opção pelo diferimento cambial também não é evidenciado, não caracterizando as razões da empresa. O objetivo pretendido era analisar a reação do mercado na época da desvalorização cambial e na época do anúncio da adoção do diferimento. Esta reação seria medida pela comparação entre o retorno observado dos preços das ações destas companhias e o retorno observado dos preços das empresas da amostra de controle, composta, conforme visto an- teriormente, de empresas que, na medida do possível, fossem comparáveis à amostra-alvo, diferenciadas apenas pelo fato de não terem optado pelo diferimento cambial. Das Notas Explicativas do 1º Trimestre de 1999 foi retirada a quantia diferida. Das Demonstrações de dezembro de 1998 foram obtidas suas receitas líquidas, assim como seu passivo e percentual deste em moeda estrangeira. Além destes, outros dados foram obtidos de modo a complementar a análise: a existência ou não de ADR, o faturamento em real e dólar no ano de 1999 (quando divulgado), a possível baixa do diferimento, o exigível a longo prazo, patrimônio líquido e informações sobre a distribuição de dividendos . O quadro a seguir apresenta, para ambos as amostras, a média da variável índice de endividamento, calculada com base no valor do passivo em moeda estrangeira dividido pelo valor do passivo (passivo em moeda estrangeira/ passivo circulante + exigível a longo prazo). Quadro 1 – Média da Variável Índice de Endividamento Diferidas Amostra-alvo Não Diferidas Controle Estat T 35,88 36,59 0,895 Índice de Endividamento Fonte: Baseado em dados da Economática Pensar Contábil Não se pode rejeitar a hipótese de igualdade entre as duas amostras em relação à referida variável, cabendo ressaltar que a média de endividamento das empresas que não diferiram é ligeiramente superior à média das que diferiram. 8.1. Tratamento dos Dados Tomou-se a cotação de fechamento mensal da ação mais negociada de cada uma das 23 empresas componentes de cada amostra, usando-se as informações disponibilizadas pela Economática. A seguir calculou-se o retorno mensal destas ações, no período de março de 1998 a agosto de 1999. Foi, então, obtida a média dos retornos mensais de cada amostra. Para cada mês observado calculou-se a diferença entre a média dos retornos da amostra-alvo e a média dos retornos da amostra de controle. Finalmente, acumulou-se o valor das diferenças obtidas. Para melhor visualização deste processo apresenta-se, a seguir, o gráfico desta diferença acumulada. Figura 1 – Diferença Acumulada das Médias dos Retornos das Amostras Fonte: Baseado em dados da Economática 8 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 8.2. Hipótese de Trabalho Nossa hipótese de trabalho é a de que não deveria existir diferença entre as reações das amostras, uma vez que o diferimento, na forma como foi implementado, não altera o fluxo de caixa das empresas. Esta hipótese baseia-se na HEM, segundo a qual o valor das empresas não deveria mudar em função da decisão de adotar o diferimento cambial. Por outro lado, caso seja possível rejeitar a hipótese nula, esta rejeição poderia ser feita em favor da HFF, a qual sustenta que o mercado reage a intervenções que alteram o lucro contábil das empresas, independentemente do fato do evento em questão alterar ou não o fluxo de caixa das empresas. 8.3. Resultados A análise visual do gráfico das diferenças acumuladas sugere um comportamento sistematicamente inferior da amostra das empresas que diferiram a variação cambial. Este comportamento é acentuado no mês de janeiro de 1999, mês da desvalorização cambial. Por outro lado, no mês do anúncio da adoção do diferimento cambial o comportamento se inverte, indicando que a amostra-alvo tem comportamento superior à amostra de controle. O motivo pelo qual tais empresas apresentavam desempenho no mercado de ações inferior ao grupo que não optou pelo diferimento cambial não é explicitado nas Demonstrações Contábeis, na Economática ou em notícias veiculadas em jornais e revistas. É pouco provável a existência de uma razão única que explique este comportamento para as 23 empresas. Não foi, ainda, possível fazer observações sobre as razões do diferimento . A seguir foi aplicada a prova dos sinais de Wilcoxon onde são considerados não só o sentido da diferença dentro de cada par, mas o seu valor, sendo atribuída maior ponderação a um par com maior diferença. Os valores positivos e negativos dos meses de março de 1998 a agosto de 1999 são considerados.O mês de março de 1999, porém não o foi por representar o momento do evento. Um total negativo de 109 e um total positivo de 44 são encontrados, ensejando a probabilidade unilateral de 6,2%, Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 para a hipótese nula de igualdade de comportamento. O quadro a seguir apresenta a diferença dos 18 retornos mensais das duas amostras, e o valor da probabilidade associada ao valor do Teste T bilateral, para pares casados aplicado à diferença das médias: Quadro 2 - Diferença dos 18 Retornos Mensais das Duas Amostras Mês Mar-98 Abr-98 Mai-98 Jun-98 Jul-98 Ago-98 Set-98 Out-98 Nov-98 Dez-98 Jan-99 Fev-99 Mar-99 Abr-99 Mai-99 Jun-99 Jul-99 Ago-99 Diferença 0,0055 -0,0524 0,0019 -0,0009 -0,0462 -0,0626 0,0679 -0,0364 0,0351 -0,0931 -0,1726 0,0061 0,1284 0,0010 -0,0127 -0,0560 0,0226 -0,0428 Probabilidade Associada à t 95,18% 25,09% 94,91% 97,55% 22,11% 7,50% 16,40% 38,72% 54,80% 10,37% 8,29% 90,01% 9,92% 98,86% 74,10% 46,09% 63,05% 46,40% Fonte: Baseado em dados da Economática Por esta tabela pode-se observar o valor das diferenças obtidas nos meses de janeiro e março de 1999. O mês de janeiro, mês da desvalorização cambial,. é o que apresenta a maior diferença negativa. O mês de março, mês da autorização do diferimento da variação cambial, é o que apresenta a maior diferença positiva entre os retornos das amostras. O quadro a seguir apresenta a média dos retornos das duas amostras que produziram as diferenças dos meses de janeiro a março: Conselho Regional de Contabilidade do RJ A análise deste quadro sugere que o fator determinante no valor da diferença entre os retornos nos referidos meses é o comportamento da amostra de empresas que adotaram o diferimento já que os retornos da amostra das empresas que não diferiram é bastante próximo nos dois meses. Observa-se que a hipótese de igualdade de retorno nos dois meses da amostra das empresas que diferiram a variação cambial só pode ser aceita ao nível de 2,36%. Estes resultados precisam ser considerados com muita cautela. Em primeiro lugar a amostra é pequena. Em segundo lugar, a análise está restrita a uma única ocorrência. O ideal seria um estudo crosssection no qual o evento pudesse incluir a reação do mercado em todas as épocas em que ocorreram desvalorizações significativas. Assim, um viés não identificado nas amostras poderia produzir o efeito que estamos associando ao diferimento da variação cambial. Infelizmente não foi possível obter os dados necessários à realização deste estudo mais completo. De qualquer modo, o gráfico sugere que, em média, as empresas que diferiram atravessavam uma fase com perspectivas inferiores às das empresas de controle. Estas perspectivas se agravaram com a desvalorização cambial de janeiro de 1999. Ao adotarem o diferimento da variação cambial obtiveram do mercado uma reação positiva a esta decisão. 9 - CONCLUSÕES Pensar Contábil “ I don´t read the president’s message in an annual report. I just look at his picture . If he’s smiling too hard, I know the company’s in big trouble” Michael Thomsett Segundo Paul Krugman em artigo veiculado pelo Jornal O Globo de 02 de fe- Quadro 3 - Média dos retornos das duas amostras que produziram as diferenças dos meses de janeiro a março DIFERIDAS NÃO DIFERIDAS DIFERENÇA JANEIRO -0,0135 0,1591 -0,1726 MARÇO 0,3093 0,1809 0,1284 DIFERENÇA MAR - JAN 0,3228 0,0218 PERCENTAGEM ASSOCIADA A T 2,36% 86,51% Fonte: Baseado em dados da Economática vereiro de 2002 sobre o Caso Enron, é fácil uma empresa com lucro modesto, ou até prejuízo, maquiar-se para apresentar lucratividade . Declara que o objetivo de se inflar os lucros é o de elevar o valor das ações, ajudando a empresa a crescer, obter empréstimos mais fáceis, além de valorizar o balanço pessoal dos acionistas. As Demonstrações Contábeis constituem o grande canal de comunicação entre as empresas e os investidores que financiam a atividade empresarial. O conteúdo informacional da Contabilidade é um aspecto muito importante que vem sendo analisado e provado de forma constante principalmente nos países onde o mercado de capitais tem uma presença marcante na economia. A opção pelo diferimento da variação cambial contradiz de forma direta a Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade, principalmente o Princípio do Confronto das Despesas com as Receitas e com os Períodos Contábeis, a Convenção do Conservadorismo e a Convenção da Consistência. Em termos das características qualitativas da informação contábil, impacta a Comparabilidade. Em termos conceituais a decisão pelo diferimento pode ser analisada de forma análoga ao posicionamento decorrente quando uma empresa procede ao uso de um critério alternativo. Este trabalho objetivou apresentar uma contribuição para a Contabilidade brasileira bem como ao Mercado de Capitais , ao produzir uma evidência que retrata a reação dos investidores, em um momento histórico do país, frente a uma importante decisão das empresas com reflexo nas Demonstrações Contábeis. Este tipo de pesquisa integrante da Contabilidade positiva é de grande utilidade por permitir que seja estabelecida uma política contábil que otimize os objetivos das empresas. Estas, ao estabelecer sua política de divulgação, no seu relacionamento com o mercado, em diversas oportunidades têm que fazer a opção entre procedimentos alternativos. No caso do diferimento cambial de 1999, as empresas que optaram por diferir tinham a visão que estavam atuando em um terreno complexo pois estavam adotando um procedimento permitido pelo Governo mas não aceito pela Estrutura Conceitual Básica da Contabilidade e não 9 Pensar Contábil respaldado pela maioria dos analistas relacionados ao mercado de capitais. Os testes realizados de acordo com a metodologia aplicada indicaram que o mercado reagiu favoravelmente à decisão de diferir os efeitos da desvalorização cambial sobre o lucro, por parte das empresas mais afetadas pela referida desvalorização. Esta reação estaria em desacordo com a HEM, já que a referida decisão não teria impacto sobre o caixa da companhia pois o diferimento não tinha efeitos fiscais. Estes resultados deveriam ser analisados com cuidado face ao pequeno tamanho da amostra que pôde ser obtida, aliado às características das empresas que a compõem, em sua maioria, empresas consideradas como sendo de 2ª linha. O entendimento do comportamento do mercado de ações brasileiro à opção do diferimento cambial de 1999 deve considerar diversos aspectos. De forma inicial, deve-se analisar o cenário econômico que o país vivenciava. O ano de 1999, segundo a Revista Exame Maiores e Melhores de 2000, foi o segundo pior da década, para as 500 maiores empresas privadas do país, só perdendo para 1991 sendo a desvalorização do real um dos fatores que contribuíram para o péssimo desempenho . Neste ano, apesar do crescimento das vendas a margem de lucro das maiores empresas privadas do país “encolheu”. O motivo que levou as empresas a optarem pelo diferimento ou não, não é evidenciado, devendo ser submetida a suposições dos analistas. Os motivos podem ser diversos, mas difíceis de serem definidos, uma vez que as empresas de características equivalentes, adotaram alternativas diferenciadas.. O fator fundamental entre as optantes deveria ser Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ o perfil da dívida constituindo um nível substancial de Passivos em Moeda Estrangeira. Não é evidenciado, nas empresas pesquisadas, se havia alguma proibição interna ao diferimento como a existência de empréstimos feitos no exterior com proibições de ressalva. O posicionamento de algumas empresas que diferiram pode ser visualizado através de declarações de seus diretores aos jornais. Os benefícios de diferir para as empresas podem ocorrer inicialmente na redução do risco da empresa ser considerada em “default” no caso da existência de cláusulas em financiamentos, relacionadas ao valor do Patrimônio Liquido. Um fato relevante pode ser a pressão para que a empresa apresente melhores resultados mesmo que de forma artificial. Este procedimento pode acarretar o pagamento de dividendos que não deveriam ser pagos se a empresa não diferisse. Este aspecto ocorreu com algumas empresas e neste caso houve um impacto do diferimento no fluxo de caixa. Este fato configura um efeito direto na posição financeira do acionista. Os analistas colocaram sua preferência pelo impacto negativo de imediato da perda cambial, afirmando que o diferimento gera uma distorção nas Demonstrações Contábeis. Segundo opinião destes, tal medida iria dificultar as projeções mascarando os resultados das empresas que o fizeram. O diferimento cambial realizado por algumas empresas propiciou, ainda, uma assimetria informacional no Brasil em 1999. Outro fator a ser considerado é o comportamental que é agravado pela dificul- dade no entendimento de todos os efeitos do diferimento. Segundo Alves e Torres em seu artigo “Quando a psicologia explica a reação dos investidores” na Revista Bovespa de agosto de 1999, “acredita-se que ao longo da história o ser humano tenha sofrido três grandes golpes narcisos. O primeiro deles foi aplicado por Nicolau Copérnico, quando tirou a Terra do centro do universo. O segundo foi obra de Charles Darwin, quando tirou o ser humano do centro da criação. O terceiro foi desferido por Sigmund Freud, quando tirou a razão do centro do pensamento humano. A irracionalidade humana, assustadora a princípio e ainda não muito bem aceita por todos, é a mais nova aliada da economia e das finanças na busca da compreensão e da previsão do comportamento do mercado e na formulação de um novo modelo econômico-financeiro. O modelo de finanças comportamentais se baseia, por um lado, na crença que o investidor aja racionalmente, sendo capaz de considerar todas as informações disponíveis no processo de tomada de decisões. Por outro lado, segundo o modelo comportamental o investidor decide influenciado por emoções e erros cognitivos, logo, de forma irracional. Rubstein, porém, acredita que o mercado seja racional à medida que os preços são fixados como se todos os investidores o fossem. A presente pesquisa não encerra o assunto. Muito pelo contrário. Por termos finalizado nossa dissertação no momento em que as empresas novamente se viram frente a opção de proceder o diferimento cambial dada a situação que vivenciou o Brasil no ano de 2001, esta poderá servir de subsídio a novos trabalhos. Pensar Contábil Anuncie aqui! Verifique os valores dos nossos anúncios. Divulgue seus serviços, produtos ou empresa. Ligue: (21) 2216-9504 10 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 10. BIBLIOGRAFIA ASSAF, Alexandre Neto. Mercado Financeiro 3.ed. São Paulo: Atlas.2000 BASU. The Conservatism principle and the symetric timeliness of earnings. Journal of Accounting and Economics. EUA, v.24, n.1, p.3-37, 1997. CARDOZO, Júlio Sérgio S. Relatórios e pareceres de auditoria. São Paulo: Atlas, 1987. 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INTRODUÇÃO O ano de 2002 será marcado por ser a primeira vez em que os clubes brasileiros de futebol foram obrigados a apresentar suas Demonstrações Contábeis, exigência feita pela Medida Provisória 79 que entrou em vigor em 07 de novembro de 2002. O presente trabalho objetiva apresentar as diversas alternativas adotadas na elaboração das Demonstrações dos Resultados dos principais clubes de futebol de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, efetuando uma análise comparativa. Pela inexistência de normas contábeis neste setor, os clubes apresentaram as mais diferentes formas, conteúdos, além de diferentes modos de classificação, agregação e exibição. Visando a uma melhor compreensão são apresentados, a início, alguns aspectos relativos à fundamentação teórica da Demonstração do Resultado do Exercício na legislação brasileira. A seguir é analisada a realidade apresentada pelos clubes de futebol destacando os aspectos julgados mais relevantes. Ao final é apresentada a Demonstração mais completa – do São Paulo Futebol Clube – que poderá ser utilizada como modelo visando a uma maior comparabilidade e melhor análise dos usuários. Pensar Contábil 2. A DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO EXERCÍCIO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A Contabilidade tem como função básica produzir informações úteis aos usuários internos e externos, que servirão de subsídio à tomada de decisões. A Demonstração do Resultado do Exercício constitui um dos principais relatórios contábeis. Ela permite ao usuário o entendimento do processo de geração de valor, conhecimento das receitas auferidas despesas incorridas, permitindo a avaliação do desempenho sob o ponto de vista econômico. De acordo com o Manual de Contabilidade das Socie- 1 Flavia Rechtman Szuster Contadora pela UFRJ, MBA em Gestão dos Esportes pela FGV e mestre em Administração pela COPPEAD dades por ações, “a Demonstração do Resultado do Exercício é a apresentação, em forma resumida, das operações realizadas pela empresa, durante o exercício social, demonstradas de forma a destacar o resultado líquido do período”. 1 Segundo as Normas Brasileiras de Contabilidade, publicados pelo Conselho Federal de Contabilidade, “a Demonstração do Resultado é a demonstração contábil destinada a evidenciar a composição do resultado formado em um determinado período de operações da Entidade”. Por sua vez, a Lei das Sociedades por Ações no artigo 187 determina a ordem de apresentação das receitas, custos e despesas para fins de publicação. O artigo estabelece que a Demonstração do Resultado do Exercício discriminará: I“a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II- a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III- as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas e outras despesas operacionais; IV- o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas não operacionais e o saldo da conta de correção monetária; V- o resultado do exercício antes do imposto de renda e a provisão para o imposto; VI- as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, e as contribuições para instituições ou fundos de assistência ou previdência de empregados; VII- o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social.” IUDÍCIBUS, Sérgio de, MARTINS, Eliseu, GELBCKE, Ernesto Rubens, Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações, FIPECAFI, Quinta Edição, Editora Atlas. 12 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 As conceituações da lei implicam mais enfaticamente o Princípio da Competência, que pode ser desmembrado em Princípio da Realização da Receita, e Princípio do Confronto das Despesas, como observado no parágrafo 1. “¶ 1o- Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independente da sua realização em moeda; e b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos.” 3. OS USUÁRIOS DAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS DOS CLUBES DE FUTEBOL Com o advento da Medida Provisória 79 os clubes brasileiros ficaram obrigados a publicar suas Demonstrações Contábeis. Esta exigência tem como objetivo propiciar aos usuários uma melhor avaliação da realidade destes. O resultado contábil representa uma medida de eficiência, proporcionando a base para análise do retorno do investimento, que é fundamental para remuneração do capital empregado. O lucro também representa um parâmetro de avaliação da qualidade do gestor possibilitando a comparação do sucesso do modelo de administração utilizado. Analisando o caso dos clubes de futebol notamos diversos aspectos bem característicos. O primeiro vincula-se com a própria estrutura societária dos clubes brasileiros, já que os maiores clubes são estruturados juridicamente como entidades sem fins lucrativos. A sua propriedade pertence, a rigor, a um grande número de associados que compraram títulos patrimoniais mas que não possuem uma preocupação direta com a remuneração deste valor. Por outro lado, alguns clubes já são estruturados em forma de empresa possuindo proprietários como é o caso do Vitória, Bahia, CFZ e Malutrom. No entanto, por representarem um esporte que é considerado paixão nacional, a saúde financeira dos clubes interessa a grande parte da população brasileira. Como conseqüência, existem inúmeros usuários da Contabilidade Esportiva, como os associados, os torcedores, os profissionais do esporte, as instituições financeiras, as indústrias de equipamentos, produtos e serviços esportivos, os representantes dos meios de comunicação e instituições governamentais e não governamentais. No caso dos clubes brasileiros, a Secretaria da Receita Federal também constitui um usuário específico já que os clubes estão sujeitos ao pagamento do Imposto de Renda e Contribuição Social. 4. O PODER INFORMACIONAL DA DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DOS CLUBES DE FUTEBOL Para estas entidades, a apuração do resultado abrange um aspecto subjetivo a ser considerado: o que é mais importante, ter excelentes resultados dentro do campo ou apresentar elevados lucros contábeis? Esta análise vincula-se ao dilema; o clube deve enfocar inicialmente a rentabilidade ou a obtenção de vitórias e conquista de títulos. O resultado operacional do clube, na verdade, tem relação Conselho Regional de Contabilidade do RJ direta com o desempenho dos atletas e vice-versa, como já comprovado pelo clube inglês Manchester United, quando este abriu capital em 1991. No início, a administração teve como meta o resultado contábil restringindo despesas com salários e compras de grandes atletas. Neste cenário, o clube sofreu muitas derrotas nos jogos que prejudicaram o desempenho econômico. Posteriormente, o clube alterou sua política visando a atingir o equilíbrio entre as duas variáveis. Hoje o clube figura entre os mais bem sucedidos do mundo. Um fator importante decorre do fato de os associados terem direito de voto para as eleições dos dirigentes. Neste caso os resultados obtidos nos gramados têm um efeito relevante no momento da decisão já que para o torcedor o que importa são os resultados em campo. Em decorrência destes aspectos, verifica-se que os dirigentes dos clubes brasileiros, no passado recente, em geral, priorizaram o resultado no campo e deixam as finanças para segundo plano, contraindo dívidas elevadas e oferecendo altos salários a seus jogadores, sem o devido planejamento orçamentário. Como conseqüência, muitos clubes não conseguiram arcar com suas despesas e acabaram tendo que responder por vários processos judiciais que, na maioria dos casos, correspondem a valores milionários. Esse é um exemplo da incapacidade de planejamento a Longo Prazo que influencia na continuidade dos clubes. A partir de janeiro de 2004 todos os sócios poderão participar das eleições dos presidentes de seus clubes. No Flamengo, isso acontece desde 1987, quando o então presidente Márcio Braga foi reeleito devido aos bons resultados em campo. Fora dele, no entanto, a situação não era satisfatória. Este dirigente concluiu que para o torcedor ganhar títulos é mais importante que manter a saúde financeira do clube. No longo prazo, porém, a má administração financeira do clube gerou graves reflexos dentro de campo. Julgamos que a administração do clube deve se esforçar para maximizar as duas variáveis de forma paralela, pois existe uma correlação entre os dois fatores. A conquista de novos títulos e aquisição ou formação de grandes ídolos devem representar resultados contábeis positivos. As escolinhas são procuradas por novos alunos que sonham em se transformar um deles. E a conquista crescente de torcedores representa aumento de consumo dos produtos relacionados ao clube gerando o acréscimo da Receita de Licenciamento. Para vencer os diversos torneios, porém, faz-se necessária uma estrutura financeira e econômica equilibrada. A Contabilidade pode contribuir, pois com a maior transparência da entidade ocorre o aumento de credibilidade surgindo novos investidores e financiadores inclusive com a possibilidade de abertura de capital que permite a captação de recursos a menor custo e com maior capacidade de uma aplicação eficiente. Pensar Contábil 5. APLICAÇÃO DAS NORMAS CONTÁBEIS PELOS CLUBES DE FUTEBOL O fato de não existirem normas específicas para os clubes de futebol, propiciou aos clubes uma total liberdade de escolha dos critérios contábeis. De início já se pode observar a divergência de nomenclatura 13 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 quanto à apuração do Resultado. A maior parte dos clubes usa os termos Déficit/ Superávit. O Atlético Mineiro e o Cruzeiro, por outro lado, usam a nomenclatura Lucro/ Prejuízo do Exercício. Como os clubes analisados foram previamente caracterizados como entidades sem fins lucrativos, a terminologia adequada seria Déficit/ Superávit. A convenção da materialidade também não foi aplicada de forma plena. Em muitas situações os valores de menor expressão são apresentados antes de quantias maiores. 5.1. Caracterizações das Receitas Um clube de futebol possui diversas fontes de receitas. Como principais podemos citar a venda de ingressos, licenciamento, publicidade, televisionamento, venda de jogadores, exploração de estádios por meio de publicidade estática, “catering”, além das receitas relacionadas a sua sede social. A venda de ingressos deveria ser considerada como a principal fonte de renda por representar a forma tradicional de obtenção de recursos. No Brasil, porém, não ocorreu, pois o torcedor brasileiro está deixando de freqüentar estádios. De acordo com o Jornal Gazeta Mercantil, enquanto as receitas com bilheterias representavam em 2000, em média, 40% do faturamento dos cinco maiores times ingleses, o Corinthians refletia a média brasileira de 18%2. Segundo Mauro Holzman, diretor de marketing do Clube Atlético Paranaense, “como a maior parte dos estádios de futebol no Brasil é ultrapassado e não oferece segurança ou conforto, o preço do ingresso continua, em termos monetários corrigidos, o mesmo há mais de uma década”3. Com o advento do Estatuto do Torcedor esse fato deve mudar, visto que os clubes estão sendo obrigados a adequar seus estádios aos parâmetros definidos pelo Estatuto, o que irá garantir maior conforto e segurança para o torcedor. Assim, espera- se que o torcedor volte a ter o hábito de freqüentar estádios de futebol, aumentando a receita com ingressos. Além disso, a mudança do sistema de pontos corridos em 2003 fez com que os clubes ficassem menos tempo sem jogar. Para se comprovar o fato basta compararmos a renda em um período de quatro meses, entre abril e julho. Em 2002 a arrecadação com bilheteria nas principais competições no país foi de R$13.886.130 no período. Entre abril e julho de 2003, no entanto, a arrecadação aumentou em 138%, para R$33.150.025. Uma das maneiras usadas pelos clubes para aumentar esta receita é a venda de carnês. O Vitória e o Atlético Paranaense iniciaram a venda de carnês em 1999 e obtém números consideráveis de carnês vendidos. A receita de televisionamento tem sido de grande relevância para os clubes brasileiros nos últimos anos. O sistema pay-perview está sendo cada vez mais difundido. Em 2002, 230 mil pacotes do Campeonato Brasileiro foram vendidos. Em 2003, o número após um pouco menos de 5 meses de campeonato já é de 200 mil pacotes. Por conta do contrato os clubes têm direito a receber no mínimo R$40 milhões do valor obtido pela emissão com pay-per-view. Caso a venda ultrapasse os 200 mil pacotes os clubes participam da divisão do lucro. Paulo Carneiro, presidente do Vitória, diz que esta , no momento é a principal fonte de renda de seu clube. Ele espera que “com a construção da arena Pensar Contábil 2 3 4 14 Conselho Regional de Contabilidade do RJ multiuso que deverá ficar pronta em 2004, o clube passará a ser menos dependente e dessa forma manter seus craques no país já que passará a explorar novas fontes de renda” . De maior expressão aparece a negociação dos “passes” dos atletas. Apesar da figura jurídica do passe ter sido extinta, os clubes continuam recebendo indenizações para liberar seus atletas antes do término do contrato de trabalho e, portanto, a formação e negociação de jogadores deve continuar sendo importante. Os clubes não mais detêm os passes dos atletas e sim seus direitos federativos. Entre as fontes de Receitas de Marketing a mais significativa é a publicidade através de contratos de patrocínio e de fornecimento de material esportivo. O valor a ser recebido pelo time varia diretamente com sua visibilidade e o tamanho de sua torcida. No ano de 2001, por exemplo, o valor pago pela Pepsi Cola ao Corinthians, time de segunda maior torcida no Brasil segundo pesquisa Lance!-Ibope4, foi entre 10 a 15 milhões de reais enquanto a Portuguesa recebeu cerca de 1,8 milhões de sua patrocinadora, a Schincariol. Outra receita considerável é a receita de licenciamento, que vem geralmente em forma de porcentagem sobre as vendas de produtos diversos com o símbolo do clube, sendo estabelecido um valor mínimo. Espera-se que, com o combate à pirataria, esse tipo de receita aumente significantemente. As receitas oriundas da exploração de estádios, por meio de publicidade estática, bares (“catering”) e lojas também devem ser consideradas. Estas ainda são insignificantes para a maior parte dos clubes do Brasil já que muitos destes não possuem sequer estádios próprios. Alguns clubes também possuem receitas sociais. O fato de o clube possuir uma sede social gera diversos tipos de novas receitas independentes do futebol, tais como escolinhas, mensalidades, eventos culturais, aluguel de salões, lojas e exames médicos. Muitos defendem a separação da administração do futebol com o do clube social, visto que, conforme observado nas Demonstrações dos clubes, a maior parte utiliza os recursos vindos do pagamento dos sócios dos clubes para manutenção do futebol. 5.2. Análise das Demonstrações Publicadas quanto as Receitas O São Paulo e o Flamengo são os clubes que melhor evidenciam suas receitas. O Flamengo, por exemplo, além de discriminar suas receitas de marketing, informa o valor auferido da Petrobrás, seu patrocinador, e da Nike, seu fornecedor de material esportivo e outros. As receitas de futebol profissional e amador apresentam-se separadas das receitas dos demais esportes amadores, como vôlei, remo e basquete. O clube, no entanto, não separa as Receitas operacionais das não operacionais nem as Receitas financeiras das não financeiras. Apenas São Paulo e Flamengo especificam o valor relativo à vendas de jogadores. Os demais sintetizam todas as receitas relativas ao futebol na rubrica “Receitas de futebol”. Isso torna a informação muito pobre, já que não temos como concluir a composição deste valor. “Prejuízos colocam futebol empresa na retranca”, Gazeta Mercantil, 14/09/2000 Site www.umbro.com “Quanto vale a Torcida”, LANCE!, p.4-7, 07/04/2001 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Muitos são os clubes que apresentam informações confusas nas Demonstrações do Resultado e também não explicam o contexto em notas explicativas. Este é o caso do Atlético Mineiro que separa suas contas em “Mercado Interno” e “Mercado Externo”. O valor oriundo do mercado externo é consideravelmente alto. O usuário poderia deduzir que este se refere à venda de jogadores para o exterior. Não há, porém, como ter certeza, visto que nada consta em nota explicativa. Já o Corinthians apresenta as Receitas de futebol de modo sintético, não explicando suas receitas em nota explicativa. O mesmo acontece com o Fluminense. O Santos, por sua vez, apresenta o item “Contribuições e doações” sem identificar a origem de tais valores. O Santos foi, ainda, o clube que causou mais polêmica quanto a evidenciação de Receitas. Este reconheceu uma elevada Receita de Capital considerando a possibilidade do auferimento de indenizações decorrentes do desligamento de todos os atletas. No entanto quem diz exatamente quanto vale um jogador é o mercado e não a cláusula rescisória. Esta Receita impactou de forma decisiva os resultados dos clientes, transformando um Déficit em Superávit. Um problema adicional é que nesta própria Receita foi misturada a decorrente da venda de ativos Imobilizados. Assim como os outros clubes, o Palmeiras apresentou informações pouco claras em sua Demonstração do Resultado, segmentando suas Receitas Operacionais entre “Arrecadação Social”, “Concessionária” e “Departamentos”. Entretanto foi o clube que mais desenvolveu uma evidenciação detalhada nas Notas Explicativas. Nesta, o clube explica que “Arrecadação Social” refere-se às receitas das contribuições sociais mensais e as receitas de taxas sociais dos serviços utilizados pelos associados nas dependências do clube. O termo “Concessionárias” diz respeito à exploração da marca e logomarca PALMEIRAS. Já o item “Departamentos” está composto por itens como venda de passes, campeonatos, patrocínio, propagandas, indenizações, e outros que por sua vez compõe o Total do departamento de futebol profissional. Ainda, estão incluídas as receitas de futebol amador, tênis, cultura e arte, coordenadoria, patinação, arco e flecha, xadrez, social, entre outros. Acredita-se que mesmo tendo especificado os valores em nota, o clube poderia ter efetuado uma evidenciação de maior qualidade, pois o item “Departamentos” inclui atividades muito heterogêneas. De forma ideal, as Receitas do Departamento de Futebol Profissional deveriam ser individualizadas em suas Demonstrações do Resultado do Exercício, visto que os itens que compõe a rubrica “Departamentos” são muito diferentes entre si. O América Mineiro, por sua vez, divide suas Receitas Operacionais em “Receitas de Participações Esportivas” e “Receitas de Convênios e outras”. Em nota explicativa, o clube explica que esse valor diz respeito ao Acordo de Cooperação “Feyenoord”. Esse acordo encontra-se em vigor com o Clube Holandês Feyenoord e estabelece os princípios de cooperação entre as entidades esportivas, com vigência até 31 de dezembro de 2004. Por este instrumento, o América recebe anualmente o montante de US$ 500.000,00 (quinhentos mil dólares), tendo o Feyenoord o direito de escolher um atleta de até 20 anos, reservada a participação do América na revenda do mesmo para outra entidade. O Corinthians, por sua vez, classificou o lucro na venda dos atletas profissionais como Resultado não Operacional. No entanto, ao considerarmos a atividade efetiva do clube, este valor Conselho Regional de Contabilidade do RJ deveria ser classificado como Operacional. Aliás, apesar de os clubes não mencionarem nada a respeito, é entendido que todos eles possuam transações com o exterior ou assinem contratos em dólares. No entanto, não existe nenhuma informação adicional. Reconhecemos ser difícil comparar as Demonstrações dos Clubes, visto que cada um tem seu modo particular de apresentar suas contas. No entanto, um consenso encaminha uma visão que, em termos básicos, as fontes de Receitas tem um comportamento equivalente pois atuam no mesmo setor. Portanto um Modelo básico poderia ser aplicado considerando a materialidade. Um indicador relevante para a análise do clube e seu potencial seria a divisão do valor das Receitas Operacionais pelo número de torcedores que é divulgado pelos órgãos de comunicação. O Corinthians, por exemplo, segundo o Data Folha, possui 22 milhões de torcedores. Como sua Receita Bruta é de R $18.000.000,00, o clube fatura menos de R $1,00 por torcedor, o que representa uma quantia irrisória. 5.3. Caracterização das Despesas O conhecimento profundo das Despesas realizadas pelos clubes é fundamental, principalmente porque o total das despesas supera o montante das Receitas obtidas na grande maioria dos clubes brasileiros. Julgamos que uma demonstração ideal deve incluir a classificação funcional, por atividade, abrangendo as fontes de receitas vinculadas e a natureza. A aplicação do conceito de Operacional, no sentido de relacionar com a atividade principal do clube, deveria ser utilizada para as Despesas incorridas pelo futebol profissional. A informação inicial deveria ser quanto custa o time entrar em campo. Neste item estariam incluídas as despesas referentes a amortização dos passes dos atletas. O resultado com a venda/baixa dos atletas deveria ser incluído, mas em uma linha segmentada. As despesas referentes a outras atividades como Exploração dos Estádios, Esportes Amadores, escolinhas e atividades sociais deveriam ser desmembradas. A separação clássica por natureza abrangendo a Despesa com Produtos Vendidos, Comerciais, Administrativas, Financeiras e Outras poderia ser adaptada considerando que um clube, de forma geral, não possui um grande valor despendido com a área comercial. As Despesas Administrativas abrangem os gastos com a administração do clube, as atividades de apoio e gestão e controle do patrimônio. Pensar Contábil 5.4. Análise das Demonstrações Publicadas referentes às Despesas Assim como ocorreu com as Receitas, o São Paulo foi o clube que apresentou a mais completa evidenciação da Demonstração do Resultado confrontando as Despesas com os respectivos elementos da Receita. Este vínculo é apresentado para as Receitas de Futebol Profissional e de Base, Esportes Amadores e decorrentes da utilização do Estádio do Morumbi. De forma destacada são apresentadas as Receitas Financeiras, Despesas Financeiras, Tributárias e na última linha a amortização do Passe. Sobre este posicionamento poderia haver um debate, 15 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 pois como esta despesa vincula-se aos atletas, poderia estar incluída nas Despesas de Futebol. Verificou-se que a maior parte dos clubes não associaram suas despesas às receitas. O Fluminense e o Palmeiras são exceções. O Fluminense vinculou Despesas a Receitas de Futebol, Receitas Sociais e Desportes Amadores. No entanto, o clube não identifica as Despesas Administrativas. Como novidade, evidencia os itens Custo de Dívidas Fiscais, Atualização de Débitos, Depreciações e Ajuste e Provisões de Balanço. Por sua vez, o Palmeiras segue o posicionamento de evidenciar uma Demonstração do Resultado extremamente sintética e enxuta mas com uma grande riqueza de detalhamento nas Notas Explicativas. A estrutura da informação é realizada através dos Departamentos. Uma curiosidade é a inclusão da conta Resultado de Equivalência Patrimonial, que é aplicada quando uma entidade tem investimentos em outras empresas controladas e coligadas. Não é apresentada nenhuma informação que permita o entendimento. Por outro lado, o Flamengo apresenta suas despesas agregadas por natureza não relacionando com as fontes de Receitas. Um procedimento equivalente é adotado pelo Atlético Mi- Pensar Contábil 16 Conselho Regional de Contabilidade do RJ neiro. Esse clube, curiosamente, apresenta as Despesas com atualização de tributos e Resultado da avaliação cambial. Por sua vez, o América Mineiro apresenta como único item das Despesas, (com exceção das Administrativas e Financeiras), a conta Custo dos Serviços Prestados sem nenhuma informação adicional. O Cruzeiro também apresentou uma informação muito limitada com rubricas de grandes valores como Despesas com Pessoal, Administrativas e Tributárias sem nenhuma explicação adicional em nota. É interessante notar que o clube possui uma grande preocupação com Impostos. Deste modo, é o único clube que destaca os Impostos Incidentes sobre Receitas, Imposto de Renda e Contribuição Social, mesmo que os valores sejam imateriais. Já a Portuguesa apresenta as despesas gerais de forma detalhada através da classe funcional por Departamentos. O curioso é a elevada quantidade de Departamentos apresentados. São evidenciadas as Despesas com o Departamento Médico, Departamento de Finanças, Comunicações e até do Departamento Feminino. Outra curiosidade é a indicação dos valores gastos com a Presidência, Conselho Orientador, Fiscalização e Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 o Conselho Deliberativo, mesmo que correspondam a valores de baixa expressão. 5.5. Um modelo de Demonstração do Resultado do Exercício Para fins de ilustração a Demonstração do Resultado do São Paulo Futebol Clube é apresentada uma vez que a sua evidenciação é a mais completa. 6. CONCLUSÕES As atividades econômicas desenvolvidas pelos clubes brasileiros de futebol movimentam bilhões de reais por ano e abrangem transações significativas com o exterior. A obrigação da publicação das Demonstrações Contábeis prevista na Medida Provisória 79 constitui uma grande oportunidade que a Contabilidade se depara, em ampliar o número de usuários interessados em suas informações. A inexistência de uma padronização contábil gerou na elaboração das Demonstrações Contábeis de 2002 diversos tratamentos, alguns com fundamento técnico, outros não previstos nas normas contábeis. Neste primeiro momento, entretanto, parece ter havido, na prática, uma desinformação em virtude da adoção de critérios heterogêneos. A classificação diferenciada e muitas vezes ina- Conselho Regional de Contabilidade do RJ dequada, bem como a omissão de dados relevantes dificulta a análise comparativa, gerando incertezas. Os torcedores desejam conhecer a real situação econômica do seu clube, bem como a de seus adversários. O motivo da venda de ingressos deixar de ser a principal fonte de renda deve ser apresentada, assim como, o resultado da negociação dos jogadores, ou mesmo, em que proporção os sócios dos clubes contribuem para a manutenção do time de futebol. Itens como “Contribuições e doações” devem ter a devida explicação quanto a seus valores assim como a classificação mais rigorosa de itens que transformaram, no caso do Santos, o Déficit em Superávit. O confronto entre Receitas e Despesas deve, na verdade, partir de rigorosa classificação de cada elemento para não gerar um resultado distorcido desvalorizando, em última instância, o valor informacional da Contabilidade. Por ter sido a primeira vez que importantes informações foram disponibilizadas, inúmeras falhas ocorreram, deixando clara a necessidade de um futuro aprimoramento. A Contabilidade deve propiciar maior transparência das entidades, bem como sua comparabilidade. A maior credibilidade das Demonstrações Contábeis dos clubes poderá trazer novos financiadores e investidores, inclusive com possibilidade da abertura de capital e a captação de recursos a um custo menor. 7. BIBLIOGRAFIA BOTELHO, Ducineli Regis, SILVA, Cesar Augusto Tibúrcio, AMADOR, Renato Pereira, NIYAMA Jorge Katsumi. “Avaliação de Empresas: Aplicação a uma equipe de futebol”, 2 Seminário USP de Contabilidade , Outubro de 2002. CAPELA, Maurício, NIERO, Nelson. “Balanços mostram futebol no vermelho”, Jornal Valor Econômico, 14/01/03. CORONATO, Marcos. “Bola na Trave”, Revista Exame, 20 de março de 2002. FERREIRA, Bernardo. “Nova Fonte de receitas”, Revista Lance A+, n 150, 13 de julho de 2003. Pensar Contábil IUDÍCIBUS, Sérgio de, MARTINS, Eliseu, GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações, FIPECAFI, Quinta Edição, Editora Atlas. IUDÍCIBUS, Sérgio de. Teoria da Contabilidade. 5ª edição. São Paulo:Atlas, 2000. LOURES, Alexandre Rocha. “Um novo cenário para o futebol”, Gazeta Mercantil. MARTINS, Eliseu.. “Que Sorte. A Contabilidade não é uma Ciência Exata”, Boletim IOB, Temática Contábil, 4a. semana, Agosto de 2001. NETO, Alexandre Assaf. Estrutura e Análise de Balanços, 5ª edição. São Paulo, Editora Atlas, 2000. OLIVEIRA, João José. “Prejuízos colocam futebol empresa na retranca”, Gazeta Mercantil, 14/09/00. SZUSTER, Flávia Rechtman. “Contribuição para o aprimoramento da Informação Contábil dos Clubes Desportivos Brasileiros”, 1º Seminário USP de Contabilidade, Outubro de 2001. SZUSTER, Flávia Rechtman. “A Necessidade da Normatização Contábil para os clubes de Futebol Brasileiros”, Jornal do CRC-RJ, maio-junho, 2003. VARELLA, Marcio. “Norma do CFC moraliza contabilidade das Entidades Esportivas”, Revista Brasileira de Contabilidade, n.140, Março-Abril 2003. VIEIRA, Catherine. “Futebol, a nova Sociedade Anônima”, Jornal Valor Econômico, 25/06/02. (Footnotes) 17 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ MÉTODOS MÉTODOS DE DE FORMAÇÃO FORMAÇÃO DE DE PREÇOS UTILIZADOS UTILIZADOS PREÇOS NAS MAIORES MAIORES NAS INDÚSTRIAS DE DE INDÚSTRIAS SANTACATARINA CATARINA SANTA 1 - INTRODUÇÃO Atualmente, as organizações estão inseridas num ambiente globalizado, onde significativas transformações sociais, políticas e econômicas vêm ocorrendo. A globalização está proporcionando, entre outros aspectos, uma ampliação do mercado, permitindo que as empresas atendam mercados consumidores numa escala mundial, podendo aumentar o número de clientes, além de criar oportunidades para alcançar um crescimento econômico e financeiro. Por outro lado, a concorrência passa a ser muito mais acirrada, pois as empresas passam a competir com concorrentes em nível internacional. Para prosperar neste cenário de competição, as empresas precisam de informações úteis, para que os gestores possam tomar decisões acertadas. Este conjunto de informações pode ser fornecido pela contabilidade, com destaque para a contabilidade gerencial, fornecendo informações que podem auxiliar os gestores ao longo do processo decisório, como no controle dos custos, na formação dos preços de venda, entre outras decisões rotineiras ou especiais. Além disso, as empresas estão atendendo consumidores cada vez mais exigentes, que buscam produtos de qualidade e com baixos preços. Isto implica em buscar vantagens competitivas através dos preços e da qualidade dos produtos oferecidos pelas empresas, sem contudo ter um concomitante crescimento dos custos. A vantagem competitiva refere-se à alguma característica nos produtos ou serviços de uma empresa, que a diferencie dos seus concorrentes. Porter (1989) afirma que a estratégia competitiva deve surgir através de uma análise das regras da concorrência, buscando lidar e modificar estas regras em favor da empresa. No sentido de atender as necessidades destes consumidores, que procuram produtos de qualidade e com preços baixos, uma correta formação do preço de venda torna-se fundamental. Para tanto, as empresas devem levar em consideração vários fatores, como a elasticidade da demanda do produto, o número de concorrentes, os custos de produção, a margem de lucro desejada. Vale destacar que a formação do preço de venda depende dos objetivos que a empresa pretende alcançar. O cálculo do Pensar Contábil 18 Adriano de Souza Pereira Rosimere Alves de Bona Porton Ilse Maria Beuren Graduado em Ciências Contábeis/UFSC Graduada em Ciências Contábeis/UFSC e mestranda em Administração/UFSC Doutora em Ciências Contábeis FEA/USP e professora titular do departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina) preço de venda, de acordo com Santos (1988, p.141), deve levar a um valor “que traga à empresa a maximização dos lucros; que seja possível manter a qualidade, e atender aos anseios do mercado àquele preço determinado, que melhor aproveite os níveis de produção etc.” Considerando a importância de uma política adequada de preços e da correta formação do preço de venda, a presente pesquisa objetivou realizar um estudo sobre os métodos de formação do preço de venda utilizados nas maiores indústrias do Estado de Santa Catarina. Desse modo, o trabalho foi estruturado em cinco partes. Inicia com essa introdução, onde constam algumas considerações preliminares. Em seguida são abordados métodos de formação de preço contemplados na literatura sobre o tema. Depois é evidenciada a metodologia da pesquisa, bem como os resultados da investigação e as conclusões do estudo. 2 - MÉTODOS DE FORMAÇÃO DE PREÇOS Para a formação do preço de venda deve-se observar diversos aspectos, tanto internos, quanto externos da organização, que influenciam nas decisões de preços. A partir disso, podem ser elaboradas as políticas de preços a serem adotadas, visando atingir os objetivos da empresa. Vários fatores externos à empresa influenciam na formação do preço de venda, destacando-se a demanda esperada do produto, as condições do mercado, o nível de concorrência, as necessidades e o poder aquisitivo dos consumidores, a existência de produtos substitutos, as leis governamentais, o preço dos insumos praticado pelos fornecedores. Deve-se considerar também os aspectos internos à empresa, com ênfase nas metas mercadológicas, situação financeira, qua- Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 lidade desejada para o produto, capacidade e o nível de produção que pretende operar, estrutura de custos e despesas para fabricar e comercializar o produto. Para Kotler (1992), na prática, a determinação do preço é orientada para o custo (como na fixação por margem fixa (markup) ou por metas), para a demanda (como na discriminação de preço) e para a concorrência (como no preço-padrão e nas concorrências públicas). Considerando os fatores externos e internos à empresa, o cálculo do preço de venda, de acordo com Santos (1988:141), deve levar a um valor “que traga à empresa a maximização dos lucros; que seja possível manter a qualidade, e atender aos anseios do mercado àquele preço determinado; que melhor aproveite os níveis de produção”. Para se estabelecer uma política de preço a empresa precisa definir seus objetivos. Os objetivos podem ser os mais variados, como a fixação de uma marca forte, a busca pela liderança do mercado, a definição da fatia do mercado que deseja atender, entre outros. Sendo assim, a empresa primeiramente precisa estabelecer seus objetivos e, para que possa alcançá-los, em seguida torna-se necessário a adoção de métodos para a formação de preços que coadunem com estes objetivos. De acordo com Santos (1988:127-129), as empresas adotam os seguintes métodos para a formação do preço de venda: método baseado no custo da mercadoria, método baseado nas decisões das empresas concorrentes, método baseado nas características do mercado e método misto. Em seguida, apresenta-se com maiores detalhes os métodos citados, bem como os possíveis desdobramentos que cada um desses métodos pode assumir diante dos objetivos que a empresa pretende alcançar. 2.1 Método baseado no custo da mercadoria O método baseado no custo pode tomar como base os custos totais, adicionando-se uma margem que representaria o lucro desejado, ou utilizar apenas os custos e despesas variáveis como base, adicionando-se uma margem para obter um lucro e cobrir os custos fixos. O processo de adicionar uma margem fixa a um custo-base é conhecido como mark-up. A fixação dos preços, observando os custos, pode tomar como base: a) custeio por absorção - os preços de venda são determinados pelo custo total da produção, calculados pelo custeio por absorção, mais um acréscimo percentual para cobrir as despesas operacionais e proporcionar uma margem de lucro; b) custeio variável - baseia-se na soma dos custos e despesas variáveis, adicionando-se uma margem de lucro que deve cobrir os custos e despesas fixos, e proporcionar uma rentabilidade mínima pretendida; c) custeio baseado em atividades (ABC - Activity Based Costing) - os custos das atividades são alocados aos produtos através dos direcionadores de atividades, assim, a formação do preço visa cobrir estes custos das atividades consumidas pelos produtos e proporcionar uma margem de lucro satisfatória; d) custos de transformação - o preço de venda é calculado como uma porcentagem sobre a mão-de-obra direta e os custos indiretos de fabricação, que caracterizam-se como o esforço direto da empresa para a fabricação dos produtos, Conselho Regional de Contabilidade do RJ desconsiderando, para este cálculo, os materiais e serviços adquiridos de terceiros; e) retorno sobre o capital investido - Kotler (1992) cita este método como sendo a fixação de preços por metas. Consiste na tentativa de determinar o preço de venda que traga à empresa uma taxa-alvo de retorno sobre seus custos totais; f) custos estimados - nas empresas que fabricam bens volumosos, geralmente vendidos sob a forma de encomenda, os preços são normalmente estabelecidos à base de negociação. Assim, pode-se fazer uma lista dos materiais a serem utilizados, estimar os custos de mão-de-obra, e aplicar uma taxa para os custos indiretos de fabricação. A utilização de custos para formar preços é fundamental à medida que estabelece o preço mínimo que a empresa precisa praticar para cobrir seus custos de produção. Além disso, serve como base para comparar com os preços que o mercado está disposto a pagar. Assim, ao comparar o preço formado com base nos custos com o preço praticado no mercado, a empresa deve procurar ajustar suas margens de lucro ou seus custos de produção, de maneira que consiga adequar-se aos preços que os consumidores se dispõem a pagar. 2.2 Método baseado nas decisões das empresas concorrentes No método baseado nas decisões das empresas concorrentes verificam-se os preços praticados por estas empresas, para que sirvam como referência na formação do preço de venda da empresa. De acordo com Kotler (1992:306), “a empresa que fixa os preços orientada para a concorrência poderá procurar manter seus preços mais baixos ou mais elevados que a concorrência, em certo percentual”. Ressalta-se que os custos ou a demanda podem até mudar, mas se não houver mudança nos preços dos concorrentes, a empresa não modificará seus preços. Mas, caso os concorrentes modifiquem seus preços, a empresa, mesmo sem ter alterações na demanda ou nos custos, acompanhará a mudança de preços de seus concorrentes. De acordo com Santos (1988), o método da formação de preços baseado nas empresas concorrentes pode ser subdividido em: a) método do preço corrente - neste caso, todos os concorrentes utilizam o mesmo preço de venda para o produto. Supõe-se que uma empresa, isoladamente, não tem poder para alterar os preços; b) método de imitação de preços - caracteriza-se pela utilização dos mesmos preços praticados por uma determinada empresa concorrente. Rocha (1999:115) salienta que “esse procedimento, muitas vezes, reflete simplesmente o fato de que a empresa desconhece quais são os custos de seus produtos, e supõe que os dos concorrentes são similares aos seus”; c) método de preços agressivos - Santos (1988:128) explica que “o método de preços agressivos ocorre quando um grupo de empresas concorrentes estabelece a tendência de uma redução drástica de preços até serem atingidos, em certos casos, níveis economicamente injustificáveis abaixo do custo de produção”; Pensar Contábil 19 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 d) método de preços promocionais - é caracterizado pela prática de oferecer mercadorias a preços promocionais, com o intuito de atrair um maior número de clientes, e possibilitar um aumento nas vendas de outros artigos a preços normais. Ao utilizar o método baseado nos concorrentes, a empresa estará fazendo uso de um importante referencial, que são os preços praticados por seus concorrentes. O emprego deste método depende do tipo de produto que a empresa vende, se há uma diferenciação de qualidade em relação aos produtos oferecidos pelos concorrentes e, principalmente, se os consumidores percebem esta eventual diferenciação. Neste sentido, se o produto é diferenciado, o cliente percebe uma qualidade superior e está disposto a pagar um preço-prêmio por este produto, não há motivo para seguir os preços praticados pelos concorrentes. No entanto, se o produto é homogêneo, a competição restringe-se ao preço praticado, é fundamental, neste caso, o acompanhamento dos preços da concorrência. 2.3 Método baseado nas características do mercado A aplicação do método baseado nas características do mercado exige conhecimento do mercado por parte da empresa. Analisando o mercado, a empresa pode selecionar a fatia do mercado que pretende atender, através de preços mais baixos, procurando atender as classes mais pobres, ou praticar preços mais elevados, procurando atender as necessidades de classes de maior poder aquisitivo. Ao utilizar o método baseado nas características do mercado, a empresa considera o valor que os consumidores estão dispostos a pagar pelo produto. Para o emprego deste método é recomendável o acompanhamento da oferta e da procura, construindo-se uma curva de demanda do produto, para que a empresa tenha condições de verificar qual o preço de venda máximo que o mercado aceita o produto. A partir deste preço de venda, a empresa atribui a margem de lucro desejada e obtêm o custo máximo que pode ser incorrido na produção do produto. Pensar Contábil 2.4 Método misto A combinação desses métodos parece ser a forma mais adequada para a formação de preços, denominado método misto. Segundo Santos (1988:122), “o método misto para a formação de preços deve observar a combinação dos seguintes fatores: custos envolvidos; decisões de concorrência; características do mercado.” Dependendo do mercado, do produto e dos concorrentes, a empresa deve estabelecer seus preços. Deve observar os diversos fatores que influenciam na formação de preços: estrutura de custos, tipo de concorrência, demanda e mercado consumidor de seus produtos. Portanto, a empresa precisa escolher métodos de formação de preços que estejam adequados à estas características e ajudem a alcançar seus objetivos. 3 - METODOLOGIA DA PESQUISA A presente pesquisa caracteriza-se com um estudo exploratório. Gil (1994:43) diz que são “pesquisas que têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses”. Explica que o objetivo principal do estudo exploratório é o aprimoramento de 20 Conselho Regional de Contabilidade do RJ idéias ou a descoberta de intuições. A pesquisa exploratória realizada é do tipo levantamento ou survey. Esta é definida por Pinsonneault e Kraemer (apud FREITAS et al., 2000:105) como a obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população alvo, por meio de um instrumento de pesquisa, normalmente um questionário. Para esta pesquisa foram selecionadas as 250 maiores indústrias de Santa Catarina, de acordo com listagem adquirida junto à Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina – FIESC, utilizando-se como parâmetro o número de empregados. Foi enviado questionário via correio eletrônico (e-mail) para estas empresas, no mês de março de 2002, contendo questões abertas e fechadas relacionadas ao tema. Desse modo, das 250 empresas contatadas, obteve-se o retorno de 35 questionários respondidos. Portanto, estas empresas constituem a amostra do presente estudo, resultando num retorno de 14%. Através desta pesquisa buscou-se alcançar os seguintes objetivos específicos: a) evidenciar os métodos de formação de preços utilizados nas empresas pesquisadas; b) identificar os fatores que motivaram a escolha de tais métodos; c) evidenciar os pontos positivos e negativos apontados por estas indústrias, com relação aos métodos de formação de preços utilizados. 4 - RESULTADOS DA PESQUISA Neste tópico são descritos e analisados os dados coletados junto às maiores indústrias de Santa Catarina, que compõem a amostra deste estudo. Inicialmente são evidenciadas informações de caráter geral, referentes ao perfil das empresas pesquisadas. Em seguida, são apresentadas e analisadas as respostas das questões relacionadas com os objetivos específicos estabelecidos. 4.1 Perfil das empresas pesquisadas Para mostrar o perfil das empresas pesquisadas, na seqüência apresentam-se informações gerais sobre as mesmas, evidenciando a região do Estado em que se situam, o ramo de atividade, a divisão entre vendas no mercado interno e externo. Com relação à região do Estado em que se situam, verificouse que as empresas que responderam ao questionário estão mais concentradas nas regiões do Vale do Itajaí, Norte e Oeste, com 9 empresas em cada uma destas regiões, somando 27 empresas, o que representa 77,14% de um total de 35 empresas respondentes. Aparecem ainda, 3 empresas da Grande Florianópolis, 2 da região Sul, 2 do Meio-Oeste, e 1 do Planalto Serrano. Observou-se que os ramos que mais se destacam são o têxtil e o moveleiro/madeireiro, com 9 e 7 empresas, correspondendo respectivamente a 25,71% e 20%; seguidos pelo setor metalúrgico, com 6 respondentes, representando 17,14%. Completam a relação dos diversos ramos de atividade existentes no Estado, 4 empresas do setor agrícola, 4 do ramo alimentício, 2 de plásticos, 1 de papel-celulose, 1 de pré-moldados, e 1 de telecomunicações. Sobre as vendas para o mercado externo, verificou-se que apenas 5 empresas não exportam, representando 14,28%, sendo que as outras 30 empresas, que totalizam 85,72%, exportam. Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Dentre aquelas que exportam, a maioria destina para o exterior de 1 a 25% de sua produção, totalizando 18 empresas, representando 60% das empresas que exportam. 4.2 Métodos de formação de preços utilizados nas empresas pesquisadas A seguir, apresenta-se informações sobre os métodos de formação de preços utilizados nas empresas pesquisadas, destacandose quais métodos utilizam, há quanto tempo estão implementados os atuais métodos, qual tecnologia da informação é utilizada para a formação de preços, e se o sistema para formar preços é integrado com os demais sistemas operacionais da empresa. 4.2.1 Métodos de formação de preços utilizados No que diz respeito aos métodos de formação de preço utili- Conselho Regional de Contabilidade do RJ zados verificou-se que, dentre as 35 empresas que compõem a amostra do estudo, 33 utilizam métodos de formação de preços, o que representa 94,28% do total de respondentes, ou seja, a maioria das empresas. Dentre os métodos utilizados, constatou-se que o baseado nos custos e baseado no mercado são os mais utilizados, aparecendo em 79% e 76% das empresas, respectivamente. Adicionalmente, o método baseado nos concorrentes é utilizado como complemento, visto que nenhuma empresa o adota como único método, sendo adotado por 30% das empresas respondentes. Observase na Figura 1 os métodos de formação de preços utilizados, sendo baseado nos custos, no mercado, ou nos concorrentes. Figura 1: Métodos de formação de preços utilizados nas empresas pesquisadas Constata-se que a maioria das empresas utiliza o método baseado nos custos, individualmente 18%, sendo que 33% adotam juntamente com o método baseado no mercado, 6% aliado ao método baseado nos concorrentes e 21% dos respondentes faz uma combinação dos três métodos. Destaca-se que apenas 21% não se baseiam nos custos para formar seus preços, sendo que 18% tomam o mercado como base, 3% baseiam-se no mercado e nos concorrentes, e nenhuma empresa baseia-se apenas nas decisões dos concorrentes. 4.2.2 Tempo de utilização do atual método de formação de preços Objetivando informar há quanto tempo as empresas utilizam os atuais métodos de formação de preços, agrupou-se, de acordo com o número de anos que os métodos atuais estão em uso, nas seguintes faixas: até 3 anos, de 4 a 6 anos, de 7 a 9 anos, de 10 a 20 anos, e mais de 20 anos. Os resultados desta pergunta constam na Figura 2. Pensar Contábil Figura 2: Tempo de utilização do atual método de formação do preço de venda Conforme as informações sistematizadas a partir dos questionários respondidos pelas empresas, nota-se que 24% das empresas pesquisadas utilizam o atual método de 4 a 6 anos, assim como outros 24% de 10 a 20 anos. Ressalta-se, portanto, que a maioria das empresas utiliza os atuais métodos de formação de preços há mais de 4 anos, mostrando que os métodos estão há muito tempo sendo aperfeiçoados por estas empresas. Destaca-se que 45% dos respondentes utilizam a mais de 10 anos o atual método, sendo 24% de 10 a 20 anos, e 21% há mais de 20 anos, demonstrando que os métodos implementados estão atendendo suas necessidades no que concerne às informações para a formação dos preços de venda. 21 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 4.2.3 Tecnologia da informação utilizada na formação dos preços de venda Dada a importância da tecnologia da informação nas empresas, visando subsidiar os gestores com informações úteis à Conselho Regional de Contabilidade do RJ tomada de decisão, perguntou-se qual a tecnologia da informação que as empresas utilizam para formar os preços de venda. As respostas dadas à esta questão podem ser visualizadas na Tabela 1. Tabela 1: Tecnologia da informação Tecnologia da informação utilizada para formar os preços de venda Sistema integrado com as demais áreas Software desenvolvido internamente Planilhas de cálculo Informações da contabilidade ERP Microsiga SAP BAAN MK Progress DATASUL S-400 Tecnologia de terceiros Não respondeu Total de respondentes Número de empresas Freqüência* 11 7 6 5 3 3 2 1 1 1 1 1 2 33 33% 21% 18% 15% 9% 9% 6% 3% 3% 3% 3% 3% 6% * o total da freqüência ultrapassa 100%, pois alguns respondentes assinalaram mais de uma tecnologia da informação Verifica-se que 11 empresas utilizam um sistema integrado com as demais áreas para a formação dos preços, representando 33% de freqüência. Várias empresas utilizam softwares desenvolvidos por terceiros, como ERP, SAP, Microsiga, BAAN, MK, Progress DATASUL e S-400, perfazendo um total de 13 empresas, totalizando uma freqüência de 39%. Ainda com relação ao software empregado, 7 empresas utilizam um software desenvolvido internamente, representando uma freqüência de 21%. Pensar Contábil 4.2.4 Relação entre integração do sistema para formar os preços e o tempo de utilização do atual método de formação do preço de venda A partir dos dados coletados procurou-se identificar a relação entre o tempo de utilização do atual método de formação de preços e a integração do sistema para formar preços com os demais sistemas operacionais da empresa. Portanto, a relação entre tempo de utilização do atual método e a integração ou não do sistema é demonstrado na Tabela 2. Tabela 2: Relação entre integração do sistema para formar os preços e o tempo de utilização do atual método de formação do preço de venda Tempo de utilização do atual método de formação de preço de venda Até 3 anos 4 a 6 anos 7 a 9 anos 10 a 20 anos Mais de 20 anos Nº 2 6 3 7 4 O sistema para formar os preços é integrado? Sim Não % Nº 50% 2 75% 2 50% 3 88% 1 57% 3 Observa-se que na faixa de 10 a 20 anos encontra-se o maior percentual de empresas com sistema integrado, visto que 88% das indústrias desta faixa possuem o sistema para formar os preços integrado com as demais áreas da empresa. Em seguida aparece a faixa de 4 a 6 anos, onde 75% das empresas possuem sistema para formar preços integrado Destaca-se que o número de empresas com sistema integrado não aumenta de acordo com o tempo de utilização do 22 Total de respondentes % 50% 25% 50% 12% 43% 4 8 6 8 7 método de formação de preços, ou seja, não há uma relação entre quanto maior o tempo de utilização do método, maior o número de empresas com sistema integrado. 4.3 Fatores que motivaram a escolha dos métodos de formação de preços implementados nas empresas pesquisadas Evidencia-se na Tabela 3 os fatores apontados por estas empresas como motivadores da escolha dos métodos de formação de preços utilizados. Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Tabela 3: Fatores que motivaram a escolha dos métodos de formação de preços Fatores que motivaram a escolha Adequado às características do mercado consumidor Concorrência acirrada Características dos produtos Disponibilidade de informações de custo Disponibilizar informações úteis à gestão Otimizar os resultados Mais adequado para atender as necessidades da empresa Praticidade do método Não respondeu Total de respondentes Número de empresas 15 13 8 7 7 5 4 2 2 33 Freqüência* 45% 39% 24% 21% 21% 15% 12% 6% 6% *o total da freqüência ultrapassa 100%, pois alguns respondentes apontaram mais de um fator como motivador da escolha Foram identificados como fatores motivadores pelas empresas pesquisadas para a adoção dos métodos de formação de preços: a) estar adequado às características do mercado consumidor, foi apontado por 45% dos respondentes, sendo o que apresentou maior freqüência, mostrando uma tendência das empresas em escolher seus métodos de formação de preços de acordo com o mercado consumidor que atendem; e b) concorrência acirrada, com 39% de freqüência, reflete uma preocupação das empresas em escolher métodos de formação de preços que possibilitem sobreviver à competição imposta pelos concorrentes. Portanto, os dois fatores motivadores apontados pelos respondentes estão relacionadas a aspectos externos à empresa. Também evidenciam a atenção dos gestores ao cenário em que as empresas estão inseridas. 4.4 Aspectos positivos e negativos observados nos métodos de formação de preços utilizados Visando demonstrar os aspectos positivos e negativos observados pelas empresas respondentes dos métodos de formação de preços que utilizam, evidencia-se, primeiramente, na Tabela 4 os aspectos positivos apontados por estas empresas. Tabela 4: Aspectos positivos observados nos métodos de formação de preços Aspectos positivos observados nos métodos utilizados Ser competitivo no mercado Serve como referência para comparar com os preços no mercado Demonstrar o resultado por linha de produto Maximizar os lucros Estipular metas de vendas Flexibilidade e agilidade na formação de preços Forma de controle Praticidade Precisão na apuração do resultado Definir o mix de vendas Não respondeu Total de respondentes Número de empresas 10 8 7 5 4 4 4 4 3 1 2 33 Freqüência* 30% 24% 21% 15% 12% 12% 12% 12% 9% 3% 6% Pensar Contábil * soma da freqüência ultrapassa 100%, visto que algumas empresas apontaram mais de um aspecto positivo. Constata-se que as empresas apontam vários aspectos que consideram como positivos nos métodos de formação de preços que utilizam. Em primeiro lugar, apresentando uma freqüência de 30%, aparece o aspecto ser competitivo no mercado, demonstrando que estas empresas utilizam os métodos para formar preços visando serem competitivas e sobreviver no mercado. Em seguida aparece o aspecto serve como referência para comparar com os preços no mercado, com 24% de freqüência, deixando claro que estas empresas utilizam o preço formado internamente como base de comparação com os preços praticados no mercado. O aspecto demonstrar o resultado por linha de produto apresenta 21% de freqüência, evi- denciando que as empresas estão buscando informações sobre o resultado de cada linha de produto, para medir se o produto é ou não rentável e, conseqüentemente, se sua produção é viável. Assim como são apresentados os aspectos positivos, também são ressaltados os aspectos negativos apontados pelas empresas pesquisadas, com relação aos métodos de formação do preço de venda utilizados. O conhecimento dos aspectos negativos torna-se importante à medida que apresenta, na visão dos respondentes, os pontos falhos, as deficiências e as restrições dos métodos de formação de preços. Demonstra-se na Tabela 5 os aspectos negativos observados pelas indústrias respondentes. 23 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Tabela 5: Aspectos negativos ressaltados nos métodos de formação de preços utilizados Aspectos negativos ressaltados nos métodos utilizados Não apresenta aspectos negativos As constantes variações de preço Necessidade de grande número de informações para a definição do preço Rateio dos custos e despesas fixos pode distorcer a definição do preço Algumas situações podem levar a prejuízos O preço calculado não é 100% correto Análise restrita a margem de contribuição Dificuldade em reduzir os custos Mercado inflexível com pouca negociação de preços Total de respondentes Nota-se que. para 52% dos respondentes, o método para formar preços implementado não apresenta aspectos negativos, dando a entender que tais métodos estão atendendo às necessidades destas empresas. Em seguida aparece o aspecto as constantes variações de preços, citado por 9% das empresas, evidenciando a dificuldade em formar preços em mercados instáveis, reforçando a necessidade da adoção de métodos para auxiliar na formação de preços. O aspecto rateio dos custos e despesas fixas pode distorcer a definição do preço é ressaltado por 9% das empresas, juntamente com os aspectos o preço calculado não é 100% correto, com 6%, e análise restrita a margem de contribuição, com 3%, refletem a preocupação destas indústrias em buscar maior precisão no cálculo dos preços de venda. 5 - CONCLUSÕES Considerando a importância da formação de preços, realizou-se um estudo sobre os métodos de formação do preço de venda utilizados nas maiores indústrias do Estado de Santa Catarina. Sendo assim, as informações obtidas junto às empresas pesquisadas possibilitaram traçar um perfil destas indústrias, no que diz respeito a formação dos preços de venda. Verificou-se que 94,28% das indústrias pesquisadas utilizam métodos para formar preços de venda. Dentre os métodos utilizados, destaca-se que a maioria das indústrias pesquisadas utilizam os métodos baseado nos custos e baseado no mercado para formar os preços. Com relação aos fatores que motivaram a escolha dos métodos de formação de preços, verificou-se que estar adequado‘as características do mercado consumidor e concorrência acirrada apresentaram maior freqüência, demonstrando que as empresas pesquisadas tendem a escolher os métodos de formação de preços de acordo com o mercado consumidor que atendem e estão bastante preocupadas com a competição imposta pelos concorrentes. No que diz respeito aos aspectos positivos observados pelas empresas objeto do estudo, verificou-se que os mais citados foram ser competitivo no mercado, demonstrar o resultado por linha de produto e servir como referência para comparar com os preços no mercado. Diante disso, conclui-se que estas empresas utilizam métodos para formar preços visando serem competitivas para sobreviver no mercado, que estão buscando infor- Pensar Contábil 24 Nº de empresas 17 3 3 3 2 2 1 1 1 33 Freqüência 52% 9% 9% 9% 6% 6% 3% 3% 3% mações sobre o resultado de cada linha de produto, medindo se o produto é ou não rentável, e que utilizam o preço formado internamente para comparar com os preços praticados no mercado. Dentre os aspectos negativos apontados pelas empresas pesquisadas, observou-se que para 52% destas indústrias os métodos utilizados para formar os preços não apresentam aspectos negativos, mas são apontadas as constantes variações de preços, a necessidade de grande número de informações para a definição do preço e o rateio dos custos e despesas fixos pode distorcer a definição do preço, como principais aspectos negativos. Assim, conclui-se que as empresas encontram dificuldades para formar preços em mercados instáveis, que a necessidade de muitas informações para formar os preços acarreta em um aumento nos custos e que existem distorções que as empresas buscam reduzir para obter maior precisão nos cálculos dos preços. Assim, o resultado da pesquisa contribuiu para ampliar os conhecimentos sobre a formação de preços, particularmente nas indústrias catarinenses, visto que existem poucos estudos empíricos sobre o tema pesquisado. REFERÊNCIAS BERNARDI, L. A. Política e formação de preços: uma abordagem competitiva sistêmica e integrada. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1998. FREITAS, H. et al. O método de pesquisa survey. Revista de administração. São Paulo, v. 35, n. 3, p.105-106, jul./ set. 2000. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1994. KOTLER, P. Marketing: edição compacta. São Paulo: Atlas, 1992. ROCHA, Â. da. Marketing: teoria e prática no Brasil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999. SANTOS, J. J. dos. Formação de preços e do lucro empresarial. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1988. PORTER, M. E. Vantagem competitiva. 11. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1989. Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 INTRODUÇÃO Freqüentemente, as pessoas e as empresas estão tomando decisões sobre os mais variados assuntos. São decisões por vezes simples como a que horas acordar, que roupa usar, a que horas sair. Algumas são complicadas e urgentes e podem até definir a continuidade ou não de um empreendimento. Existe um grande movimento presente no mundo que é a troca de informações. Pessoas recorrem a outras pessoas em busca de dados que subsidiem a tomada de decisões. Consultam médicos, mecânicos, dentistas, horóscopos, cartas, advogados, contadores. Querem saber o que podem consumir, o que podem gastar, até aonde podem viajar de carro, por exemplo. Com as empresas acontece o mesmo movimento e com grande intensidade. Toda a ação requer uma decisão que tenha sido tomada a partir de uma informação. Neste contexto informacional destaca-se a Ciência Contábil. Para MARION1(2003:23), a contabilidade, “é o instrumento para a tomada de decisões”. Enquanto instrumento para tomada de decisões, a Contabilidade necessariamente deve produzir informações úteis. Segundo HENDRIKSEN E VAN BREDA2(1999:95) a utilidade da informação está relacionada com uma série de propriedades que a mesma deve estar revestida. São elas a compreensibilidade, a relevância, a confiabilidade, oportunidade, valor preditivo, verificabilidade, dentre outras. Esta preocupação com os atributos da informação é confirmada com a Norma Brasileira de Contabilidade NBC T 1 - Das Características da Informação Contábil3. “A Informação Contábil especial, aquela contida nas demonstrações contábeis, notadamente as previstas em legislação, deve propiciar revelação suficiente sobre a Conselho Regional de Contabilidade do RJ Luciano Neres Contador, graduado pela UNIMONTES – Universidade Estadual de Montes Claros-MG, Especialista em Controladoria, Pós Graduado também pela UNIMONTES. Consultor Contábil atuando na área pública prestando consultoria a Prefeituras e Câmaras Municipais. E-mail: [email protected] Entidade, de modo a facilitar a concretização dos propósitos do usuário, revestindo-se de atributos entre os quais são indispensáveis os seguintes: confiabilidade, tempestividade, compreensibilidade e comparabilidade”. Todos os esforços da Ciência Contábil em produzir informações úteis para a tomada de decisão são feitos em prol de diversos usuários. Estes cada vez mais exigentes definem o conteúdo que devem constar nas informações produzidas pela contabilidade. Vários exemplos desta influência dos usuários no aspecto informacional podem ser citados. O mais comum, entretanto, é a influência da Legislação. IUDÍCIBUS4(2003:25) afirma que “a Contabilidade sempre foi muito influenciada pelos limites e critérios fiscais”. Segundo o mesmo autor, este fato limita a evolução dos Princípios Fundamentais de Contabilidade. Os aspectos legais nem sempre se baseiam em critérios contábeis corretos. Isto pode vir a comprometer a qualidade da informação. Neste aspecto da Legislação, pode-se citar o exemplo da Lei 4.320/645, em que está baseada as atividades da Contabilidade Pública. Esta Lei, dentre outros objetivos, define a forma de apresentação das demonstrações contábeis para os entes da Administração Pública. Nota-se, entretanto, que a Lei 4.320/ Pensar Contábil 1 MARION, José Carlos. Contabilidade Empresarial. 10ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2003. p. 23 2 HENDRIKSEN, Eldon S..VAN BREDA, Michael F. Teoria da Contabilidade. Tradução: Antônio Zoratto Sanvicente. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. P.95 3 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Princípios Fundamentais de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade . 3ª ed. – Brasília : CFC, 2001. 4 FIPECAFI. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. Diretor Responsável: Sérgio de Iudícibus, Coordenador Técnico: Eliseu Martins, Supervisor de Equipe de Trabalho: Ernesto Rubens Gelbcke. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2000. 5 BRASIL: Lei Federal n. 4.320/64, de 17/03/1964. Estatui normas de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 mar. 1964, Seção I, p. 2.745. 25 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 64 é uma lei de cunho extremamente financeiro e não alcança aspectos econômicos que são de suma importância para a correta avaliação destes entes. De acordo com SLOMSKI6(2001:158), “a prática de contabilização e evidenciação dos resultados anuais, por meio dos demonstrativos da Lei 4.320/64, foi calcada apenas no enfoque financeiro, deixando-se de lado os aspectos econômicos como a depreciação e a amortização”. A elaboração das demonstrações contábeis, quando desprovidas de aspectos relevantes, não servem de subsídio para a tomada de decisões, tendo seu uso apenas para atendimento de obrigações legais. Um destes aspectos econômicos relevantes é a Depreciação. Segundo BRAGA7(1999:77), “a depreciação aplica-se aos bens componentes do Ativo Imobilizado Tangível sujeitos a perda de sua eficiência funcional, durante seu tempo de vida útil provável, em decorrência de seu uso, ação da natureza ou obsolescência. SCHRICKEL8(1999:57), define a depreciação como “desgaste, perda de valor econômico, obsolescência. Representa figuradamente uma espécie de fundo de reposição dos ativos fixos ao final da vida útil. KOHAMA(2003:238) afirma que “ a depreciação é prevista somente para as entidades autárquicas, porém não são efetuadas normalmente pelo desgaste que possam ocorrer, como se procede nas empresas particulares. Existe um pensamento um tanto equivocado acerca da depreciação. Ela é tratada por muitos apenas como um item dedutivo do Lucro, conseqüentemente um item dedutivo da base de cálculo tributária. Segundo KOHAMA9(2003:238) “a reavaliação e a depreciação, por serem instrumentos utilizados com efeitos fiscais, não são consideradas pelas entidades públicas, por estas não estarem sujeitas à tributação. Este pensamento leva a acreditar que o patrimônio público não se desgasta, não se modifica no decorrer do tempo. Daí surge o questionamento: O patrimônio público é corretamente mensurado através da aplicação dos dispositivos da Lei 4.320/64? Qual o impacto da adoção de valores econômicos como a depreciação nos demonstrativos contábeis? O processo de planejamento pregado para a Administração Pública é eficiente? Este artigo tem por objetivo a discussão sobre os efeitos da adoção de valores econômicos para a elaboração dos demonstrativos contábeis da Administração Pública, conseqüentemente, a mensuração do Patrimônio Público. Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ METODOLOGIA A metodologia utilizada neste artigo foi a pesquisa bibliográfica. Todos os dados apresentados foram obtidos através de publicações oficiais na Internet. Os dados pertinentes à Prefeitura Municipal de São Paulo – SP, Prefeitura Municipal de Engenheiro Caldas – MG e da Prefeitura Municipal de Acrelândia – AC, foram retirados da consolidação de contas anual da Secretaria do Tesouro Nacional – STN, dados estes enviados pelos próprios municípios. Os dados relativos à Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG foram retirados do site do próprio município e inclusive já estavam da forma exigida pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, gerados pelo programa de prestação de contas SIACE-PCA 10. AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS Do estudo das demonstrações contábeis divulgadas obrigatoriamente pelos gestores públicos, mais especificamente das prefeituras municipais, observa-se um fato um tanto curioso: o patrimônio público municipal não sofre desgaste, não acaba nunca, exceto quando um elemento é desincorporado, e aumenta anualmente.Este fato foi confirmado através da análise de dados contábeis fornecidos pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN11. Confirmado também a partir de análise de dados contábeis fornecidos pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora12 – MG, através de seu site na Internet, dados estes que foram enviados ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. Elogios devem ser feitos a Administração Pública de Juiz de Fora-MG, pois tal transparência e obediência aos preceitos legais não é muito comum no atual cenário político administrativo e que sirva como exemplo para os demais municípios. A não observância dos efeitos da depreciação causa distúrbios graves no que diz respeito à mensuração do patrimônio público. Efeito mais grave sentido quando o mesmo é vendido. Segundo KOHAMA13(2003:238), “ Entretanto, quando são alienados os bens móveis ou imóveis deve-se proceder a apropriação do valor dos bens, ao produto obtido pela venda, reavaliando-o ou depreciando-o, conforme o caso.”. Como não existe um controle da depreciação sobre o patrimônio público, não há registro do valor que o patrimônio realmente apresenta. Por exemplo, um veículo adquirido no Ano X1 por $ 30.000,00 permanece registrado no Patrimônio Público até o Ano X5, quando é alienado por $ 15.000,00. Por não haver depreciação, o restante do valor, $ 15.000,00, 6 SLOMSKI, Valmor. Manual de contabilidade pública: um enfoque na contabilidade municipal . São Paulo: Atlas, 2001 7 BRAGA, Hugo Rocha. Demonstrações contábeis: estrutura, análise e interpretação . 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. 8 SCHRICKEL, Wolfgan Kurt. Demonstrações financeiras: abrindo a caixa preta: como interpretar balanços para a concessão de empréstimos . São Paulo: Atlas, 1999. 9 KOHAMA, Heilio. Contabilidade pública: teoria e prática . 9ª Ed. São Paulo: Atlas,2003. 10 O SIACE-PCA – Sistema Informatizado de Apoio ao Controle Externo – Prestação de Contas Anual, é um sistema desenvolvido pelo Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais – TCEMG, em parceria com o Departamento de Computação da Universidade Federal de Minas Gerais. Visa possibilitar o Poder Executivo e as Entidades da Administração Indireta Municipal, o preenchimento e envio da Prestação de Contas Anual. 11 Secretaria do Tesouro Nacional – STN – www.stn.fazenda.gov.br 12 Visite o site da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG no endereço www.pjf.mg.gov.br. 13 KOHAMA. Op. Cit. p. 4 26 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 permanece figurando no Ativo da entidade. É algo inadmissível e improvável de se acontecer no setor privado, mas totalmente possível e muito comum na contabilidade pública. Este fato está intimamente ligado ao fato da legislação aplicada à contabilidade pública ter um enfoque essencialmente financeiro. A Lei Complementar 101 de 04 de Maio de 2.000 – Lei de Responsabilidade Fiscal 14 não acrescentou dispositivos novos relacionados ao controle e a mensuração do Patrimônio Público. Novamente o foco é financeiro e é comprovado, por exemplo, pelo Artigo 44: “ É vedado a aplicação da Receita de Capital derivada da alienação de Bens e Direitos que integrarão o Patrimônio Público para o financiamento de Despesa Corrente.”. A preocupação visível que existe em relação ao Patrimônio Público está restrita ao momento da desincorporação. Se não houver a desincorporação, não ocorre decréscimo patrimonial. Como não existe um controle eficiente, não existe mensuração real do Patrimônio. AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS EXIGIDAS PELA LEI 4.320/64 “Art. 101. Os resultados gerais do exercício serão demonstrados no Balanço Orçamentário, no Balanço Financeiro, no Balanço Patrimonial, na Demonstração das Variações Patrimoniais, segundo os Anexos números 12, 13, 14 e 15 e os quadros demonstrativos constantes dos Anexos números 1 – 6 – 7 – 8 – 9 – 10 – 11 - 16 e 17”15. A Lei 4.320/64 estabeleceu regras para a elaboração dos demonstrativos contábeis. O Balanço Orçamentário, demonstração prevista no artigo 102, demonstra as re- Conselho Regional de Contabilidade do RJ ceitas e despesas previstas em confronto com as realizadas. Previsto no artigo 103 o Balanço Financeiro demonstra o fluxo financeiro da entidade composto pela receita e a despesa orçamentárias, os recebimentos e os pagamentos de natureza extra-orçamentária, os saldos em espécie provenientes do exercício anterior, e os que se transferem para o exercício seguinte. A Demonstração das Variações Patrimoniais, prevista no artigo 104 demonstra as alterações sofridas pelo Patrimônio, indicando o Resultado Patrimonial. O Balanço Patrimonial representa a composição do Patrimônio em determinado momento e está previsto no artigo 105 da Lei 4.320/64. A elaboração dos demonstrativos contábeis desprovidos de informações sobre a depreciação, não é privilégio dos municípios menores, não está relacionada a localização geográfica, montante de valores recebidos ou gastos, ou algum outra característica. Segundo dados da Secretaria do Tesouro Nacional, a maioria dos demonstrativos contábeis elaborados pelas administrações públicas municipais não apresentam dados relativos a depreciação. A seguir apresenta-se dados coletados junto a Secretaria do Tesouro Nacional que confirmam que a depreciação não é considerada na apuração do resultado patrimonial. Estes dados estão disponíveis para a consulta via Internet. Se reportam ao período de 1999 / 2000 e 2001. São dados consolidados enviados pelas prefeituras municipais. Por serem públicos e estarem disponíveis para consulta, os nomes das respectivas Prefeituras Municipais não foram ocultados.Os dados confirmam a não consideração dos efeitos da depreciação sobre o patrimônio público, produzindo desta forma uma representação infiel do mesmo. Quadro 01 . Balanço Patrimonial Consolidado da Prefeitura Municipal de Engenheiro Caldas – Estado de Minas Gerais 1999 2000 2001 Ativo 879.441,00 889.277,42 2.052.297,95 Ativo Financeiro 340.158,00 28.847,14 128.183,46 Disponível 340.158,00 28.847,14 127.591,75 Caixa 251.373,00 0,00 0,00 Bancos 88.785,00 28.847,14 127.591,75 Créditos Circulantes 0,00 0,00 591,71 Créditos a Receber 0,00 0,00 591,71 Ativo Não Financeiro 189.274,00 393.643,92 1.924.114,49 Realizável CP 16.305,00 0,00 0,00 Créditos 16.305,00 0,00 0,00 Diversos 16.305,00 0,00 0,00 Realizável LP 131.681,00 158.879,68 152.741,58 Créditos Realiz LP 131.681,00 158.879,68 152.741,58 Divida Ativa 131.681,00 158.879,68 152.741,58 Permanente 41.288,00 234.764,24 1.771.372,91 Imobilizado 41.288,00 234.764,24 1.771.372,91 Bens Moveis Imóveis 41.288,00 234.764,24 338.575,62 Títulos Valores 0,00 0,00 1.432.797,29 Depreciação 0,00 0,00 0,00 Diferido 0,00 0,00 0,00 Despesas Diferidas 0,00 0,00 0,00 Amortização Acumulada 0,00 0,00 0,00 Ativo Real 529.432,00 422.491,06 2.052.297,95 Ativo Compensado 350.009,00 466.786,36 0,00 Outras Compensações 350.009,00 466.786,36 0,00 Pensar Contábil Fonte: STN – Secretaria do Tesouro Nacional, adaptado pelo autor. 14 BRASIL: Lei Complementar 101, de 04/05/2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade fiscal e dá outras providências. Brasília. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 05/05/2000, Seção I, p. 1. 15 LEI 4.320/64. OP. Cit. p. 2 27 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Quadro 02 . Balanço Patrimonial Consolidado da Prefeitura Municipal de São Paulo – Estado de São Paulo Ativo Ativo Financeiro Disponível Caixa Bancos Aplicações Financeiras Ativo Não Financeiro Realizável Curto Prazo Créditos Circulantes NF Emp. e Financiamentos Outros Créd Circulantes Bens e Val. Circulantes Estoques Realizável LP Cred Realiz LP Divida Ativa Emp. e Financiamentos Créditos a Receber Permanente Investimentos Participação Societária Out Investimentos Imobilizado Bens Moveis Imóveis Depreciação Ativo Real Ativo Compensado Resp Titulo/ Valores Garantias Convênios Contratos Out Compensações 23.144.928.659,74 52.918.687,54 52.918.687,54 2.640,74 10.561.031,58 42.355.015,22 14.764.131.570,40 44.345.480,93 17.678.312,76 0,00 17.678.312,76 26.667.168,17 26.667.168,17 4.910.572.177,21 4.910.572.177,21 4.909.350.651,56 1.221.525,65 0,00 9.809.213.912,26 2.438.178.995,79 1.340.933.378,54 1.097.245.617,25 7.371.034.916,47 7.371.034.916,47 0,00 14.817.050.257,94 8.327.878.401,80 42.371.689,81 3.341.261.988,67 1.007.004.075,99 3.937.240.647,33 38.412.495.365,03 64.223.202,55 64.223.202,55 193,67 13.077.282,24 51.145.726,64 16.638.938.032,25 66.301.999,40 33.462.983,93 1.221.525,65 32.241.458,28 32.839.015,47 32.839.015,47 6.194.710.555,53 6.194.710.555,53 6.194.710.555,53 0,00 0,00 10.377.925.477,32 2.787.079.707,28 1.496.704.803,58 1.290.374.903,70 7.590.845.770,04 7.590.845.770,04 0,00 16.703.161.234,80 21.709.334.130,23 50.680.950,87 14.138.922.724,19 928.595.687,81 6.591.134.767,36 46.411.017.283,88 904.105.951,80 904.105.951,80 260,53 18.188.454,99 885.917.236,28 20.176.162.618,37 104.592.665,26 45.233.794,43 0,00 45.233.794,43 59.358.870,83 59.358.870,83 8.690.225.276,44 8.690.225.276,44 8.283.558.096,98 1.221.525,65 405.445.653,81 11.381.344.676,67 3.169.002.673,35 1.598.993.055,50 1.570.009.617,85 8.212.342.003,32 8.212.342.003,32 0,00 21.080.268.570,17 25.330.748.713,71 67.318.923,36 18.461.620.193,11 1.249.664.411,96 5.552.145.185,28 Fonte: STN – Secretaria do Tesouro Nacional, adaptado pelo autor. Quadro 03 . Balanço Patrimonial Consolidado da Prefeitura Municipal de Acrelândia – Estado do Acre 1999 2000 Ativo 1.370.639,29 1.465.626,91 Ativo Financeiro 67.622,23 33.627,87 Disponível 67.622,23 33.627,87 Caixa 0,00 0,00 Bancos 67.622,23 33.627,87 Ativo Não Financeiro 1.303.017,06 1.431.999,04 Realizável LP 59.415,83 57.630,45 Créditos Realizáveis LP 59.415,83 57.630,45 Divida Ativa 59.415,83 57.630,45 Permanente 1.243.601,23 1.374.368,59 Imobilizado 1.243.601,23 1.374.368,59 Bens Moveis Imóveis 1.243.382,22 1.374.149,58 Títulos Valores 219,01 219,01 Depreciação 0,00 0,00 Ativo Real 1.370.639,29 1.465.626,91 Ativo Compensado 0,00 0,00 Resp Titulo Valores 0,00 0,00 Garantias 0,00 0,00 Convênios Contratos 0,00 0,00 Outras Compensações 0,00 0,00 Pensar Contábil 2001 2.595.187,47 814.468,72 814.468,72 980,42 813.488,30 1.780.718,75 51.048,00 51.048,00 51.048,00 1.729.670,75 1.729.670,75 1.729.451,74 219,01 0,00 2.595.187,47 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Fonte: STN – Secretaria do Tesouro Nacional, adaptado pelo autor. A MENSURAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO – EFEITOS NEGATIVOS DA NÃO UTILIZAÇÃO DA DEPRECIAÇÃO Analisando as demonstrações contábeis produzidas pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG, através de dados coletados no site da entidade, pode-se verificar os efeitos da não utilização da depreciação. A contabilização do patrimônio e das respectivas variações patrimoniais obedece a simples equação abaixo: 28 VALOR ATUAL DO PATRIMÔNIO = SALDO INICIAL + AQUISIÇÕES – ALIENAÇÕES. A contabilização é feita a partir do custo histórico de aquisição do bem. Não são observada as variações ocorridas no patrimônio pela ação da depreciação ou desvalorização Nota-se uma certa confusão entre os profissionais de contabilidade acerca da desvalorização e a depreciação. Normalmente tendem a confundir os dois conceitos. É importante ressaltar que apesar de guardarem estreita relação, não significam o mesmo evento. A depreciação está relacionada com o desgaste físico do bem e Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 do conseqüente comprometimento da condição de geração de benefícios presentes e futuros para a entidade. A desvalorização diz respeito ao mercado, ao quanto este estaria disposto a pagar pela aquisição do bem, o quanto este bem, estaria valendo no mercado. Reportando às demonstrações da Prefeitura Municipal Conselho Regional de Contabilidade do RJ de Juiz de Fora – MG, é possível verificar com clareza este fenômeno que acontece no Patrimônio Público. A seguir será demonstrado dados relativos ao balanço patrimonial do período de 1999 - 2002, retirados dos demonstrativos enviados para o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais.16 Quadro 04. Balanço Patrimonial Consolidado da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – Estado de Minas Gerais EXERCÍCIO 1999 2000 2001 2002 ATIVO 77.909.928,09 105.980.068,98 138.849.817,59 223.850.363,87 ATIVO FINANCEIRO 10.524.475,89 18.116.623,49 36.260.049,90 22.625.441,32 Disponível 10.289.415,90 17.722.690,41 35.622.323,03 21.319.046,14 Caixa 767,74 Bancos 2.269.745,36 12.052.426,29 22.626.218,39 11.890.558,16 Vinculado 8.019.670,54 5.670.264,12 12.996.104,64 9.427.720,24 Realizável 235.059,99 393.933,08 637.726,87 1.306.395,18 Ações de Curto Prazo Devedores Diversos e Outras 235.059,99 393.933,08 637.726,87 1.306.395,18 ATIVO PERMANENTE 67.385.452,20 87.863.445,49 102.589.767,69 201.224.922,55 Bens Móveis 8.438.008,14 10.837.645,63 12.155.351,71 29.817.966,71 Bens Imóveis 10.876.187,95 12.265.748,55 14.412.477,20 20.525.908,13 949.822,28 Bens de Natureza Industrial17 Créditos 43.260.943,65 52.895.241,28 63.215.389,38 103.733.778,15 Dívida Ativa 43.260.943,65 52.895.241,28 63.215.389,38 103.733.778,15 Valores Diversos 4.810.312,46 11.864.810,03 12.806.549,40 46.197.447,28 Ações 3.363.099,14 4.479.549,92 4.485.519,59 43.580.471,77 Almoxarifado 1.447.213,32 1.976.245,95 2.002.113,26 2.616.975,51 Incorporações 5.409.014,16 6.318.916,55 Soma do Ativo Real 77.909.928,08 105.980.068,98 138.849.817,59 223.850.363,87 SALDO PATRIMONIAL Passivo Real Descoberto Soma 77.909.928,09 105.980.068,98 138.849.817,59 223.850.363,87 ATIVO COMPENSADO 433.739,00 433.739,00 15.045.871,04 15.092.040,97 TOTAL GERAL 78.343.667,09 106.413.807,98 153.895.688,63 238.942.404,84 Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG, adaptado pelo autor. Os valores destacados no quadro do Balanço Patrimonial acima demonstram claramente um aumento anual dos valores lançados a título de Bens Móveis e Imóveis. O total de Bens Móveis em 2002 corresponde ao saldo em 1999 acrescido das incorporações orçamentárias e independentes da execução orçamentária de bens e subtraído das desincorporações orçamentárias e independentes da execução orçamentária. Para os Bens Imóveis o raciocínio é o mesmo. É importante ressaltar que no período analisado, 1999 a 2002, não houve nenhum decréscimo patrimonial em virtude da Depreciação, ou seja, os bens registrados no Patrimônio Municipal não sofreram nenhum tipo de desgaste. Do estudo das demonstrações contábeis do período entregues ao Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, principalmente as informações contidas nos demonstrativos de incorporação e desincorporação de bens, chegou-se ao seguinte quadro-resumo das variações ocorridas nos Bens Móveis e Imóveis: Pensar Contábil Quadro 05. Demonstração das Variações Patrimoniais da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – Estado de Minas Gerais – Somente Bens Móveis e Imóveis EXERCÍCIO 1999 2000 2001 2002 SALDO INCIAL BENS MÓVEIS 8.438.008,14 10.837.645,63 12.155.351,71 SALDO INCIAL BENS IMÓVEIS 10.876.187,95 12.265.748,55 14.412.477,20 EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA Incorporação de Bens Móveis 1.802.722,08 1.951.505,62 8.027.731,77 Incorporação de Bens Imóveis 1.611.153,62 2.993.359,88 1.807.610,24 Desincorporação de Bens Móveis Desincorporação de Bens Imóveis 1.400.089,56 1.382.578,69 783,66 INDEPEND. DA EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA Incorporação de Bens Móveis 632.131,72 165.701,50 10.161.730,55 Incorporação de Bens Imóveis 1.178.496,54 535947,46 4.306.604,35 Desincorporação de Bens Móveis 35.216,31 799.501,04 526.847,32 Incorporação de Bens Imóveis SALDO FINAL BENS MÓVEIS 8.438.008,14 10.837.645,63 12.155.351,71 29.817.966,71 SALDO FINAL BENS IMÓVEIS 10.876.187,95 12.265.748,55 14.412.477,20 20.525.908,13 Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG, adaptado pelo autor. 16 Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG. www.pjf.mg.gov.br 17 Nos exercícios de 1999 a 2001 não foram informados valores relativos aos Bens de Natureza Industrial. Por este motivo seu valor não foi considerado para fins deste artigo. É importante ressaltar que a ausência destes valores não compromete os resultados pretendidos com a elaboração deste artigo. 29 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 O EFEITO SUPERVALORIZAÇÃO – SUCATEAMENTO Sem sombra de dúvida, a maior conseqüência da não adoção da Depreciação é a falsa mensuração do Patrimônio Público. Os valores lançados a título de Bens Móveis e Imóveis sofrem aumento anualmente, porém não representam de forma fiel a capacidade real de geração de benefícios presentes e futuros para a entidade. O Efeito Supervalorização – Sucateamento ocorre quando os bens patrimoniais tem seu valor aumentado gradativamente a partir do resultado entre incorporações e desincorporações ao mesmo tempo em que tem sua capacidade de geração de benefícios presentes e futuros reduzida em função dos efeitos da depreciação. Este efeito tende a supervalorizar o Patrimônio Público encobrindo as deficiências e inibindo ações de preservação e modernização do mesmo. A tendência é que cada vez mais o Patrimônio Público tenha supervalorizada sua incapacidade de geração de benefícios. A partir de dados extraídos do balanço Patrimonial da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG, calculou-se a variável “Capacidade de Geração de Benefícios” que representa o valor dos bens móveis e imóveis deduzidos da taxa de depreciação. A Secretaria da Receita Federal determina as taxas de depreciação a serem adotadas para fins de imposto de renda. Como a Administração Pública não está sujeita aos efeitos do Imposto de Renda, o valor adotado para a Depreciação pode e deve ser o valor real do desgaste do bem em suas condições reais de uso. Para fins de entendimento desta variável foi arbitrado um percentual inicial de 10% para a depreciação que incidiu sobre o saldo de Bens Móveis e Imóveis no exercício de 1999 e nos outros exercícios foi considerado um valor que supostamente foi verificado pelo setor responsável pelo Patrimônio Municipal. Quadro 06. Valores Patrimoniais Versus Capacidade de Geração de Benefícios Capacidade de Bens Geração de Benefícios 19.314.196,09 17.382.776,48 23.103.394,18 18.515.191,68 26.567.828,91 17.291.682,40 50.343.874,84 35.690.123,74 Pensar Contábil Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG, adaptado pelo autor. Conselho Regional de Contabilidade do RJ Gráfico 01. Efeito Supervalorização Sucateamento A distorção entre a real capacidade de geração de benefícios e o valor lançado a título de bens móveis e imóveis, Efeito Supervalorização – Sucateamento, pode ser observado ao longo de todo período representado no gráfico. É interessante observar o intervalo de tempo “3”, onde se verifica uma tendência de supervalorização e sucateamento mais acentuado. Os valores lançados como Bens não representam de fato a capacidade de geração de benefícios , característica esta singular dos ativos. A análise da verdadeira capacidade dos ativos em gerar riquezas, apresenta distorções ainda mais graves quando se adiciona o fato do valor inicial lançado em 1999 a título de Bens Móveis e Imóveis é resultado de incorporações e desincorporações ocorridas deste a Fundação do Município, sem influência dos efeitos da depreciação. Atualizando-se as informações constantes no Balanço Patrimonial para que sejam observados os efeitos da depreciação chega-se ao seguinte quadro resumo: Quadro 07. Balanço Patrimonial Consolidado de 1999 a 2002. EXERCÍCIO ATIVO ATIVO FINANCEIRO Disponível Caixa Bancos Vinculado Realizável Ações de Curto Prazo Devedores Diversos e Outras ATIVO PERMANENTE Bens Móveis Bens Imóveis Bens de Natureza Industrial ( - ) Depreciação Acumulada Créditos Dívida Ativa Valores Diversos Ações Almoxarifado Incorporações Soma do Ativo Real SALDO PATRIMONIAL Passivo Real Descoberto Soma ATIVO REAL TOTAL GERAL 1999 77.909.928,09 10.524.475,89 10.289.415,90 2000 105.980.068,98 18.116.623,49 17.722.690,41 2001 138.849.817,59 36.260.049,90 35.622.323,03 2.269.745,36 8.019.670,54 235.059,99 12.052.426,29 5.670.264,12 393.933,08 22.626.218,39 12.996.104,64 637.726,87 235.059,99 65.454.032,59 8.438.008,14 10.876.187,95 393.933,08 83.275.242,99 10.837.645,63 12.265.748,55 637.726,87 93.313.621,18 12.155.351,71 14.412.477,20 (1.931.419,61) 43.260.943,65 43.260.943,65 4.810.312,46 3.363.099,14 1.447.213,32 75.978.508,48 (4.588.202,50) 52.895.241,28 52.895.241,28 11.864.810,03 4.479.549,92 1.976.245,95 5.409.014,16 101.391.866,48 (9.276.146,51) 63.215.389,38 63.215.389,38 12.806.549,40 4.485.519,59 2.002.113,26 6.318.916,55 129.573.671,08 1.497.680,61 77.476.189,09 4.154.463,50 105.576.329,98 77.476.189,09 105.576.329,98 129.573.671,08 5.769.724,53 135.343.395,61 2002 223.850.363,87 22.625.441,32 21.319.046,14 767,74 11.890.558,16 9.427.720,24 1.306.395,18 1.306.395,18 186.571.171,45 29.817.966,71 20.525.908,13 949.822,28 (14.653.751,10) 103.733.778,15 103.733.778,15 46.197.447,28 43.580.471,77 2.616.975,51 209.196.612,77 209.196.612,77 438.289,87 209.634.902,64 Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG, adaptado pelo autor. 30 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Aplicando-se os valores da Depreciação sobre os componentes dos Bens Móveis e Imóveis, verifica-se que o Resultado Patrimonial nos anos de 1999 e 2000, que até então apresentava um resultado positivo, passou a apresentar um Passivo a Descoberto. Os valores dos exercícios seguintes sofreram uma significativa redução. CONCLUSÃO A Ciência Contábil, enquanto Ciência, apresenta sérias dificuldades no que diz respeito à elaboração de conceitos e significados. Não existe, como por exemplo, na Biologia, uma definição clara dos termos, das funções, das atividades. Biologicamente falando, é possível determinar com precisão e principalmente com uniformidade e consenso o que é uma célula, a função dos tecidos, a localização e função dos órgãos. Contabilmente não se pode determinar com exatidão o conceito de Ativo, Passivo, Receitas, afinal não se trata de uma ciência exata. O que é o Ativo é o conjunto de bens e direitos de uma entidade? É o conjunto de potencialidades e possibilidades de uma entidade? Deve ser considerado pelo valor físico de seus elementos ou pela capacidade de geração de benefícios? Como determinar esta capacidade de geração de benefícios? São perguntas que existem e sempre serão alvos de discussão. Neste ponto é que se pode verificar que a Ciência Contábil ainda está em franca evolução. Esta dificuldade de conceituação por vezes é tratada do ponto de vista legal. A legislação existe para determinar conceitos e definir padrões. O que se observa muitas vezes, é que a legislação não acompanha os ditames dos Princípios e Normas Contábeis.A Ciência Contábil, quando é tratada apenas sob o ponto de vista da Legislação, não consegue realizar sua missão que é fornecer informações úteis para a tomada de decisão. Algumas distorções são graves como é o caso da Contabilidade Pública que é baseada na Lei 4.320/64. Esta lei, por ter seu foco extremamente financeiro, proporciona a elaboração de demonstrativos que sempre estão relacionados ao curto Conselho Regional de Contabilidade do RJ prazo. Sempre se refletem ao período a que a entidade está em atividade. É contraditório pensar em planejamento quando a entidade não sabe ao certo sua capacidade de geração de resultados. A desconsideração de efeitos econômicos criam distorções graves na mensuração do Patrimônio Público. O Efeito Supervalorização Sucateamento mostra que existe um descompasso entre o valor registrado do bem e a sua capacidade de geração de benefícios para a entidade. A avaliação patrimonial leva em conta os valores registrados nos demonstrativos contábeis exigidos pela Lei 4.320/64. Estes demonstrativos apresentam valores patrimoniais que não espelham a realidade da entidade. A depreciação é considerada elemento de natureza essencialmente fiscal e só utilizada para efeitos de dedução do Imposto de Renda. O desgaste físico do bem não é considerado. Se não há desgaste do bem, não há necessidade de investimentos. O resultado cruel desta linha de raciocínio é o sucateamento do Patrimônio Público e a inevitável perda de eficiência do serviço público. A Lei Complementar 101 – Lei de Responsabilidade Fiscal, prevê em seu Capítulo VIII – Da Gestão Patrimonial, medidas para a preservação do Patrimônio Público. Infelizmente são medidas apenas financeiras, pois tratam de depósitos de disponibilidades financeiras ou da destinação da receita proveniente da alienação de bens. Demais critérios para preservação do Patrimônio Público ficaram a cargo da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Os efeitos da não adoção da depreciação pela contabilidade pública tem seus efeitos mais graves percebidos a longo prazo, uma vez que a capacidade do Ativo em produzir benefícios é afetada gradualmente e os serviços a serem prestados pela entidade aumentam constantemente. A afetação do Ativo em sua capacidade de produzir benefícios presentes e futuros deve ser considerada na fase de planejamento para que ocorra de fato a Preservação do Patrimônio Público. BIBLIOGRAFIA BRAGA, Hugo Rocha. Demonstrações contábeis: estrutura, análise e interpretação. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1999. Pensar Contábil BRASIL: Lei Complementar 101, de 04/05/2000. Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade fiscal e dá outras providências. Brasília. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, 05/05/2000, Seção I, p. 1. ________ Lei Federal n. 4.320/64, de 17/03/1964. Estatui normas de direito financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Diário Oficial (da) República Federativa do Brasil, Poder Legislativo, Brasília, DF, 23 mar. 1964, Seção I, p. 2.745. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Princípios Fundamentais de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade. 3ª ed. – Brasília : CFC, 2001. FIPECAFI. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às demais sociedades. Diretor Responsável: Sérgio de Iudícibus, Coordenador Técnico: Eliseu Martins, Supervisor de Equipe de Trabalho: Ernesto Rubens Gelbcke. 5ª Ed. São Paulo: Atlas, 2000. HENDRIKSEN, Eldon S..VAN BREDA, Michael F. Teoria da Contabilidade. Tradução: Antônio Zoratto Sanvicente. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. P.95 KOHAMA, Heilio. Contabilidade pública: teoria e prática. 9ª Ed. São Paulo: Atlas,2003. MARION, José Carlos.Contabilidade Empresarial. 10ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2003. p. 23 Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG - www.pjf.mg.gov.br. SCHRICKEL, Wolfgan Kurt. Demonstrações financeiras: abrindo a caixa preta: como interpretar balanços para a concessão de empréstimos. São Paulo: Atlas, 1999. Secretaria do Tesouro Nacional – STN – www.stn.fazenda.gov.br SLOMSKI, Valmor. Manual de contabilidade pública: um enfoque na contabilidade municipal. São Paulo: Atlas, 2001 (Footnotes) 31 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Prêmio FREITAS BASTOS Pensar Contábil Participe! Publique seu livro! Verifique o regulamento no portal do CRC-RJ. Envie seu original para o CRC-RJ. Maiores informações no Departamento de Desenvolvimento Profissional (Despro) Tels: (21) 2216-9543/2216-9544/2216-9571 32 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE CONTÁBIL E EXTRA-CONTÁBIL DOS BENS PERMANENTES ADQUIRIDOS PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA FEDERAL1 1 - ASPECTOS INTRODUTÓRIOS Antes da implantação do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), a União enfrentava diversos problemas de natureza administrativa com relação a gestão dos seus recursos. No que se refere ao controle patrimonial, a falta de tempestividade no registro do fato contábil da aquisição de um bem permanente comprometia, sobremaneira, a escrituração extra-contábil desses bens nos registros paralelos, que são mantidos, até os dias de hoje, para fins de apuração de responsabilidade pela guarda e uso do material, além do retardo em registrar as principais informações técnicas dos bens no banco de dados da Unidade Gestora (UG). O tempo transcorrido entre a ocorrência de um fato e o levantamento dos demonstrativos orçamentário, financeiro e patrimonial era de aproximadamente 45 dias tornando-se inviável a utilização das informações contábeis para fins gerenciais. A evidenciação da situação patrimonial, devido às dificuldades na conciliação e unificação dos dados, não refletia a realidade. O SIAFI foi criado com a finalidade precípua de suprir a Administração Pública federal de informações on-line, em tempo real, de todos os registros efetuados pelas Unidades Gestoras. Os lançamentos são registrados de forma automática e todos os relatórios e demonstrações contábeis, emitidos pelo próprio sistema, são atualizados no mesmo instante em que a transação é efetuada (on-line). Entretanto, o SIAFI não discrimina os bens permanentes que estão classificados dentro das contas contábeis, instituídas de acordo com o Plano de Contas Único da União. A Administração Pública federal não trabalha com um sistema integrado de contabilidade, não utilizando, assim, os dados da contabilidade para fins de controle, subsídio e auxílio à alta administração. Somente são acumulados os saldos, nas respectivas contas contábeis, de acordo com as classificações feitas pela UG. Para controle dos bens permanentes, há a necessidade de se manter um controle paralelo ao contábil. Cada Órgão ou Ministério, através do seu Órgão de Controle Interno, emana orientações de como proceder para executar o controle extra-contábil dos 1 Fabiano Torres Junior Contador, Mestre em Ciências Contábeis pela UERJ, Professor Universitário (UNIVERCIDADE e UNIPLI) Orientador: Prof. L. D. Lino Martins da Silva , Controlador do Município do Rio de Janeiro, Professor do Programa de Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ bens permanentes , além de determinar a periodicidade da conciliação entre a existência física e o que está registrado na contabilidade (SIAFI). 2 - DESPESAS PÚBLICAS Todos os gastos executados pelo Estado, com fins de manter os serviços oferecidos em pleno funcionamento, bem como outras melhorias à população, chama-se de Despesas. Pires (2002, p. 139) define Despesas Públicas como “o conjunto de dispêndios do Estado ou de outra pessoa de direito público para o funcionamento dos serviços públicos”. Silva (2000, p. 113) caracteriza as Despesas Públicas como aquelas que “constituem todos os desembolsos efetuados pelo Estado no atendimento dos serviços e encargos assumidos no interesse geral da comunidade, nos termos da Constituição, das leis, ou em decorrência de contratos ou outros instrumentos”. Angélico (1991, p. 68) define Despesa Pública como “todo o pagamento efetuado a qualquer título pelos agentes pagadores”. As despesas públicas representam a retribuição que o Estado realiza, no cumprimento de suas funções, dos recursos por ele auferidos, através da própria sociedade a ser beneficiada. A Administração Pública, ao aplicar seus recursos, não visa angariar receitas, mas sim prestar e/ou manter os melhores serviços à população, como por exemplo, a saúde, a educação, o transporte entre outros. Essa é a finalidade das despesas na Administração Pública. Inicialmente, pode-se classificar as Despesas Públicas em orçamentárias e extra-orçamentárias. As Despesas Orçamentárias são aquelas que dependem de autorização legislativa. Pensar Contábil Dissertação apresentada no Programa de Mestrado da UERJ em abril de 2003. 33 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Essas despesas não podem ser realizadas sem prévia autorização, ou seja, esses gastos têm que estar publicados na Lei Orçamentária Anual (LOA). As Despesas Extra-orçamentárias são aquelas que são pagas independente de autorização legislativa; não constam na LOA. Geralmente se caracterizam com a baixa do Passivo Financeiro. São devoluções de quantias que antes foram arrecadadas como receitas extra-orçamentárias, como por exemplo, as cauções, os depósitos de terceiros etc. Além desta classificação existem diversos elementos de despesas numerados de 01 a 99. Pires (2002) explica que essa classificação foi alterada , no âmbito da esfera federal, a partir do exercício de 1990 por imposição da LDO de 1989. A nova classificação orçamentária das despesas tem um desdobramento diferenciado daquele implantado pela Lei 4.320/64 e é composto por: categorias (despesas correntes e de capital), grupo de despesas (pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida interna, juros e encargos da dívida externa, outras despesas correntes, investimentos, inversões financeiras, amortização da dívida interna, amortização da dívida externa, e outras despesas de capital), modalidade de aplicação (aplicações diretas e transferências) e elementos de despesas (tabela composta de quase 99 elementos). Pela nova classificação, as despesas devem ser analisadas, no que diz respeito a sua natureza, quanto a categoria econômica, o grupo a que pertence, a modalidade de aplicação, ou seja, se ela vai ser realizada diretamente ou por meio de transferência a outro organismo ou entidade, dentro ou fora do orçamento, e o elemento de despesa, caracterizado pelo objeto final do gasto. 2.1 - DESPESAS CORRENTES As Despesas Correntes são os gastos de natureza operacional, realizados pela Administração Pública, para manutenção e funcionamento dos seus órgãos. Piscitelli, Timbó e Rosa (1999) explicam que as despesas correntes também são chamadas de efetivas, ou de despesas propriamente ditas, pois essas despesas correspondem aos fatos modificativos diminutivos ocorridos na contabilidade das empresas privadas. Ocorre esse fato pois há uma diminuição do Ativo sem diminuição do Passivo ou mesmo um aumento de Ativo (no qual seria classificado um fato permutativo). As despesas efetivas se caracterizam por afetarem ao patrimônio no momento de sua liquidação, diminuindo o valor em termos quantitativos, sem contudo gerar incorporação de bens e direitos ou resgate de obrigações. Pires (2002) explica que basicamente se classificam como despesas efetivas as Despesas Correntes (com exceção das despesas de aquisição de materiais) e as transferências de capital. As Despesas Correntes podem ser classificadas em Despesas de Custeio e Transferências Correntes. Pensar Contábil 2.2 - DESPESAS DE CAPITAL Despesas de Capital são os gastos realizados pela Administração Pública, cujo propósito é o de criar novos bens de capital ou mesmo adquirir bens de capital já em uso, como é o caso de investimentos e inversões financeiras, respectivamente, que constituirão incorporações ao patrimônio público de forma efetiva ou através de mutação patrimonial. Andrade (1981, p. 80) define Despesas de Capital como: 34 Conselho Regional de Contabilidade do RJ dotações para investimentos ou inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou privado devam realizar, independentemente de contraprestação direta em bens ou serviços, constituindo essas transferências auxílios ou contribuições segundo derivem diretamente da Lei de Orçamento ou de Lei Especial anterior, bem como as dotações para a amortização da dívida pública. As Despesas de Capital são também conhecidas como nãoefetivas ou por mutação patrimonial. Essas despesas representam troca de recursos financeiros por elementos patrimoniais, tais como: aquisição de bens, concessão de empréstimos, amortização da dívida etc. Essas despesas são representadas por mutações patrimoniais que nada acrescentam ao patrimônio, só ocorrendo uma troca de recursos financeiros por bens, direitos ou obrigações, ou seja, uma diminuição no Sistema Financeiro (saídas de recursos) e um aumento no Sistema Patrimonial (entrada no patrimônio). 3 - PATRIMÔNIO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA O patrimônio público é formado por bens de toda natureza e espécie que tenham interesse para a Administração Pública e para a comunidade administrada. Kohama (2001, p. 213) entende como Patrimônio Público “o conjunto de bens, direitos e obrigações, avaliados em moeda corrente, das entidades que compõem a administração pública”. Viana (1972, p. 101) define bens como “ os elementos materiais, exteriores ao homem, que servem para debelar suas necessidades”. Os bens públicos, num sentido amplo, podem ser entendidos como todas as coisas, corpóreas (tangíveis) ou incorpóreas (intangíveis), imóveis, móveis e semoventes, créditos, direitos e ações, que pertençam, a qualquer título, às entidades estatais, autárquicas, fundacionais e empresas governamentais. Habckost (1991, p. 25) define bens públicos como “o conjunto de coisas sobre as quais o Estado exerce o direito de soberania em favor da coletividade ou o direito de propriedade privada”. Os bens públicos podem ser: - de uso comum do povo, como por exemplo os mares, rios, estradas, ruas, praças etc, enfim todos os locais abertos à utilização pública. Atualmente estes bens não são suscetíveis a contabilização no patrimônio público, nem inventariados, não gerando acréscimos patrimoniais. São bens inalienáveis por sua natureza. Somente são contabilizados os gastos para manutenção ou construção desses bens; - de uso especial, como edifícios e terrenos aplicados na execução dos serviços públicos, bem como os bens integrados que são indispensáveis para a execução desses serviços; - os dominicais ou dominiais, isto é, os que constituem o patrimônio da União, dos Estados, ou dos Municípios, como objeto de direito pessoal, ou real de cada uma dessas entidades, como por exemplo o disponível (caixa e bancos), bens móveis, bens imóveis e de natureza industrial. Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Este trabalho terá seu enfoque voltado para os bens de uso especial e dominicais, classificados como bens móveis, de caráter permanente, decorrente da efetivação de despesas de capital, os quais têm a característica de serem contabilizados, inventariados, avaliados e estão incluídos no patrimônio público. 3.1 - ADMINISTRAÇÃO PATRIMONIAL O arrolamento e a escrituração de todos os bens, sejam eles móveis ou imóveis, de um órgão público constituem atribuição específica da administração patrimonial. Na estrutura administrativa de qualquer órgão público deve constar uma unidade de material que inclua, além dos setores de Aquisição, Licitação e Almoxarifado, um setor específico de Patrimônio, que será responsável por todos os registros e controles físicos dos bens móveis. Especificamente, este setor se responsabilizará pelo controle da guarda, manutenção, distribuição e contabilização dos bens. Fica responsável, ainda, pela salvaguarda e gestão primeira de todo o patrimônio da entidade, inclusive pela reposição e troca dos equipamentos de produção e outros bens que, se não forem bem cuidados, colocam em risco o ser humano, aquele que os operam. Outras atribuições e responsabilidades virão complementar o serviço de administração patrimonial, objetivando viabilizar o controle do acervo. Algumas situações, como por exemplo, manter os dados sobre os responsáveis pelo uso e guarda dos bens distribuídos sempre atualizados, coordenar e controlar eventuais movimentações desses bens são de difícil cumprimento e constituem preocupação constante da Seção de Patrimônio. Esta seção tem participação efetiva em todas as áreas da UG, onde exista um bem patrimonial distribuído. A administração patrimonial tem por finalidade planejar, organizar, controlar, zelar, conservar e promover a melhor utilização dos bens de uma instituição pública ou privada, bem como assegurar sua alta administração em assuntos relativos a sua área de atuação. O chefe deste setor deverá manter sempre atualizado a escrituração dos bens, cumprindo todas as normas internas e a legislação vigente no que se refere ao controle contábil e extra-contábil dos bens permanentes, bem como estar sempre em condições de fornecer informações que sejam úteis à tomada de decisão. São propósitos da gestão de material de uma UG: a) processar a gestão dos bens patrimoniais em estoque e imobilizados nas Unidades Gestoras, por intermédio de um sistema próprio para controle extra-contábil do bens permanentes, de forma compatível com o SIAFI, para que os fatos administrativos correspondentes sejam registrados e contabilizados do mesmo modo em ambos os sistemas e em todos os demais que participem do controle desses bens; b) documentar, registrar e demonstrar os resultados dos atos e fatos administrativos relativos às transações efetuadas com os bens patrimoniais; c) definir e controlar as responsabilidades pela gestão, uso, guarda e conservação dos bens móveis; d) manter atualizados os valores contábeis desses bens em relação às variações da moeda em que são expressos e ao seu estado de conservação; e) fiscalizar e efetuar a tomada de contas dos responsáveis por esses atos e fatos administrativos quanto aos aspectos contábil, formal e legal; f) produzir os demonstrativos contábeis requeridos pelo Controle Conselho Regional de Contabilidade do RJ Interno e Externo; g) diligenciar e zelar pela fiel observância das normas, para não haver substituições ou passagens de cargos ou funções sem que se proceda a rigorosa conferência patrimonial e a verificação da situação do material; h) manter em arquivo, durante os prazos legais (geralmente cinco anos), à disposição dos órgãos de controle, a documentação afeta aos atos e fatos da administração de material; i) propor, quando ciente de qualquer irregularidade, a instauração do competente apuratório de responsabilidades dos gestores, auxiliares ou outros responsáveis pela guarda, conservação e aplicação do material; j) inventariar, pelo menos uma vez ao ano, todo o acervo patrimonial e elaborar o respectivo relatório com as alterações encontradas; l) orientar e supervisionar o recebimento e o exame de material, solicitando sempre que necessário a presença de técnicos ou peritos para proceder o exame qualitativo de material especializado recebido pela UG; m) solicitar nomeação de comissão para recebimento do material, conforme determinação do Agente Diretor; n) entre outras atribuições. 3.2 - CONTROLE PATRIMONIAL O Controle Patrimonial consiste nas ações que assegurem, por meio de registros e relatórios, a coleta de dados relativos à identificação, existência, quantidade, localização, condições de uso e histórico dos bens patrimoniais, desde a sua primeira inclusão no patrimônio (ou relacionamento), até a sua baixa final, seja qual for o motivo. É a atividade de caráter administrativo que tem por propósito o controle da movimentação de material de qualquer natureza nas Unidades Gestoras, desde o seu recebimento até a sua destinação final. A atividade de controle patrimonial, exercida pela Seção de Patrimônio, permite que esta funcione como um centro de informações dos bens físicos. O controle atualiza os dados de registro e mantém sempre em dia o cadastro geral dos bens. Pelo controle analisa-se o passado e o presente, bem como se estabelece bases de ação para o futuro. Através do controle planejam-se as inspeções periódicas, a fixação de chapas de tombamento dos bens móveis, como também, fiscaliza-se toda a movimentação dos bens ao longo de sua vida útil. Os registros individuais são importantes para prover a administração com informações relevantes para efeito de política de capitalização e substituição de bens e, até mesmo, a contratação de seguros. A eficácia do controle dos bens móveis depende, fundamentalmente, da implantação e manutenção sistemática de registros administrativos e contábeis. Pensar Contábil 3.3 - CLASSIFICAÇÃO DOS BENS Os bens móveis são aqueles que por sua natureza são suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia. Consistem nos itens de material de grande valor intrínseco e que não desaparecem com o uso, preservando as características originais, mantendo-se fisicamente individualizados, permitindo a sua incorporação ao patrimônio de uma UG. Os bens móveis podem ser classificados em material permanente ou material de consumo. Material é uma designação genérica de equipamentos, componentes, sobressalentes, acessórios, veículos em geral, matérias-primas e outros itens empregados, ou passíveis de emprego nas atividades dos órgãos e 35 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 entidades públicas, independente de qualquer fator. O § 2º, do art. 15, da Lei 4.320/64, classifica como material permanente o bem cuja sua vida útil seja superior a dois anos. São classificados no Ativo Permanente, conforme rege o § 2º do art. 105 da mesma Lei. Na prática, às vezes, fica muito difícil distinguir o material permanente do material de consumo; ou melhor, fica muito difícil saber com quais recursos serão adquiridos certos itens: com Despesas Correntes ou Despesas de Capital. Existem várias legislações que regulam o assunto, e será tratado, da forma mais minuciosa possível, essa distinção, tendo em vista as distorções e as dúvidas constantes no dia-a-dia de uma UG. A Norma de Execução nº 04, de 31 de outubro de 1997, da STN, define como material permanente “aquele que, em razão de seu uso corrente, não perde a sua identidade física, e/ou tem sua durabilidade superior a dois anos”. A mesma norma define material de consumo como “aquele que, em razão de seu uso corrente e da definição na Lei 4.320/64, perde normalmente sua identidade física e /ou tem sua utilização limitada a dois anos”. É todo item, peça, artigo ou gênero alimentício. Destinam-se a aplicação, transformação, utilização ou emprego imediato e, quando utilizados, perdem suas características individuais e isoladas. Adicionalmente aos conceitos apresentados, serão levados em consideração, ainda, os seguintes parâmetros excludentes: a) durabilidade, quando o material em uso normal perde ou tem reduzidas as suas condições de funcionamento, no prazo máximo de dois anos; b) fragilidade, cuja estrutura esteja sujeita a modificação, por ser quebradiço ou deformável, caracterizando-se pela irrecuperabilidade e/ou perda de sua identidade; c) perecibilidade, quando sujeito a modificações (químicas ou físicas) ou que se deteriora ou perde sua característica normal de uso; d) incorporabilidade, quando destinado a incorporação a outro bem, não podendo ser retirado sem prejuízo das características do principal; e e) transformabilidade, quando adquirido para fins de transformação. Para fins de registro e classificação, a Lei 4320/64 definiu bens permanentes de acordo com a vida útil. Para fins de registro no patrimônio, a citada Lei não trata da materialidade. Deixou essa decisão por conta do Administrador Público. O item nº 3 da IN nº 142, de 05 de agosto de 1983, do Departamento Administrativo do Serviço Público – DASP, cita que o controle deverá ser suprimido quando o custo de se controlar o bem for superior ao risco da perda do material. Esse dispositivo está regulado no art. 14 do Dec. Lei nº 200/67. Pensar Contábil 3.4 - TOMBAMENTO Entende-se como carga, segundo a IN nº 205 da Secretaria de Administração Pública da Presidência da República - SEDAP, de 08 de abril de 1988, a efetiva responsabilidade pela guarda e uso de material pelo seu consignatário. A descarga, segundo a mesma IN, é a transferência dessa responsabilidade. A entrada de material configura a carga, enquanto que a saída configura a descarga. Os bens permanentes só poderão ser distribuídos após registrados todos os seus dados em um sistema próprio para fins de controle físico e contábil. O bem será considerado em carga, com seu registro, após o cumprimento das formalidades de recebimento e aceitação. A maioria dos órgãos públicos trabalha, hoje, com o sistema de tombamento dos bens, apondo uma 36 Conselho Regional de Contabilidade do RJ plaqueta de metal ou uma etiqueta com o número patrimonial. Nenhum bem permanente poderá ser distribuído sem o conhecimento da Seção de Patrimônio, bem como sem o seu número patrimonial. Este número é seqüencial e será aposto mediante gravação, fixação de plaquetas, carimbos, etiqueta apropriada ou marcação a tinta. Nos manuais específicos deverão conter instruções quanto o emplaquetamento dos bens, padronizando locais predeterminados para aposição dos números, separando-os por grupos. Há órgãos, como por exemplo a Comissão de Valores Mobiliários e o Banco Central do Brasil, que utilizam plaquetas de alumínio com leitura feita através de código de barras. Este sistema proporciona inúmeras vantagens, uma vez que a tecnologia empregada agrega importantes recursos ao sistema. O controle dos bens passa a ser total e a agilidade operacional constitui fator fundamental na administração de itens de patrimônio que tenham características muito dinâmicas. A utilização de leitoras acopladas a coletores de códigos de barras conferem às movimentações e aos levantamentos efetuados a agilidade, dinamicidade, controle e segurança operacionais. O excelente desempenho dessa ferramenta resulta na otimização e racionalização do trabalho, permitindo às organizações reestruturarem as áreas responsáveis pelo patrimônio, proporcionando, inclusive, a realocação de pessoal para aproveitamento em atividades fins. 3.5 - CADASTRO PATRIMONIAL O cadastro patrimonial tem por finalidade básica registrar todos os dados sobre os elementos passíveis de identificação, de maneira a dotar o órgão de informações imprescindíveis a quaisquer expansões, novas aquisições, alienações e reformas. O controle efetivo dos bens patrimoniais será realizado através de registro analítico dos bens em uso, mediante utilização de um banco de dados informatizado, que evidencie a localização física do bem por órgão ou setor e um controle por ordem numérica crescente de registro patrimonial. Além dos dados contábeis, deve figurar, também, uma série de dados técnicos e econômicos capazes de fornecer elementos a um planejamento e a uma futura tomada de decisão. O banco de dados deverá conter, no mínimo, as seguintes informações: a) nomenclatura correta do material, de acordo com o manual de operação do equipamento; b) relação dos componentes, caso o material seja um conjunto; c) especificação técnica do material (potência, marca, modelo, número de série e outros dados que sejam relevantes para melhor identificação do bem); d) tipo de aquisição ( compra no comércio, doação, transferência entre Unidades Gestoras, fornecido por Órgão Provedor etc); e) data de aquisição; f) data que foi colocado em operação; g) vida útil estimada; h) origem (nome da empresa que foi adquirido o bem, Órgão Provedor etc. ); i) número da NE, Guia de Fornecimento, Guia de Remessa etc; j) conta contábil; l) número da Ordem de Entrega ou documento similar (emitido pelo almoxarifado para a entrega dos bens); m) valor unitário; n) valor total; o) campo para o número patrimonial (preenchido automaticamente pelo sistema); p) situação do bem ( estado de conservação de acordo com a IN nº 205-SEDAP, de 08 de abril de 1988 que classifica os bens em bom, ocioso, recuperável, antieconômico ou irrecuperável); q) observações, onde serão inseridos outros dados que sejam de interesse da administra- Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 ção; r) localização do bem (o nome da seção a quem foi distribuído o material); s) número de catalogação (se for o caso); t) entre outras informações que forem julgadas pertinentes ao processo. O sistema adotado deverá manter, ainda, o cadastro de todas as seções, vinculando o nome dos respectivos chefes de seção. A cada troca de chefia, por prazo superior a trinta dias, esse cadastro será atualizado. Essa medida visa manter um controle efetivo dos responsáveis pela guarda e uso dos bens distribuídos. Qualquer mudança estrutural na UG deverá ser comunicada para atualização do sistema, quanto a localização física dos bens patrimoniais. A carga ficará sob a responsabilidade do Chefe da Seção ou Serviço, de acordo o art. 87 do Dec. Lei 200/67: “Os bens móveis, materiais e equipamentos em uso ficarão sob a responsabilidade dos chefes de serviço, procedendo-se periodicamente as verificações pelos competentes órgãos de controle.” Por ocasião do cadastro do bem , com o respectivo tombamento, será dado o valor final de aquisição, a fim de que os registros financeiros, através dos elementos e valores extraídos dos documentos fiscais, coincidam exatamente com os valores registrados na Seção de Patrimônio. O inciso II, do art. 106, da Lei 4.320/64 explica que os bens móveis e imóveis serão avaliados, para fins de registro contábil, pelo valor de aquisição, custo de produção ou de construção. Como custo histórico entende-se o valor final de aquisição, onde estarão incluídos todos os gastos para colocar o ativo em pleno funcionamento como fretes, taxas alfandegárias, outras taxas e impostos, custos de manuseio e estocagem, prévios a incorporação, custos de instalação na base física de operação e todos os demais gastos necessários para colocar o bem em plenas condições de utilização. Pode-se verificar que este dispositivo está de acordo com o princípio contábil do Registro pelo Valor Original. 3.6 - INCLUSÃO NO PATRIMÔNIO As inclusões de bens permanentes no patrimônio de uma UA decorrem, basicamente, de: aquisição direta no comércio, recebimento de material fornecido por órgão provedor (OP), transferência de material de outra UA, cessão, permuta, produção própria, doação e superveniência ativa causada por fato fortuito ou natural. Todo o material que der entrada nas Unidades Gestoras virá acompanhado de documento comprobatório, confeccionado em pelo menos duas vias (uma para recibo), como NF, Fatura, Termo de Cessão, Termo de Doação, Guia de Remessa, Guia de Transferência, Guia de Produção, Ato Declaratório etc. Será recebido e conferido no Almoxarifado de cada UG. O recebimento não ocorrerá neste local quando não se puder proceder o exame por falta de espaço físico, ou não deva ali o material ser recebido, caso em que a entrega se fará em locais previamente designados, com o conhecimento prévio do almoxarife. Se o trâmite legal de entrada dos bens móveis na UA não for seguido, a contabilidade, cujo papel é registrar o fato contábil com oportunidade e tempestividade, deixará de cumprir a sua função, representando uma posição de estoque, ou mesmo a existência física de bens, que não exprime a realidade, contemplando a administração com informações incongruentes. Conselho Regional de Contabilidade do RJ 3.7 - DA DISTRIBUIÇÃO E REPONSABILIDADE Segundo consta do art. 83 da Lei 4.320/64 , “a Contabilidade evidenciará perante a Fazenda Pública a situação de todos quantos, de qualquer modo, arrecadem receitas, efetuem despesas, administrem ou guardem bens a ele pertencentes ou confiados”. Com este dispositivo, é imposto à contabilidade, como instrumento gerador de informações para o controle e avaliação da gestão patrimonial, as regras que deverão se evidenciar através dos registros e relatórios em que se louvarão as decisões administrativas. Machado Júnior e Reis (2000, p. 180 e 181) esclarecem, com muita oportunidade, a responsabilidade do profissional contábil: o Contador, profissional responsável pela contabilidade, responde pelo conteúdo informativo das demonstrações contábeis, enquanto o agente público, político ou administrativo, que apõe sua assinatura naquelas demonstrações é responsável pelos atos praticados que deram conseqüência aos fatos representados pela contabilidade nas demonstrações. O art. 94 da Lei 4.320/64 determina que “haverá registro analítico de todos os bens de caráter permanente, com indicação dos elementos necessários para a perfeita caracterização de cada um deles e dos agentes responsáveis pela sua guarda e administração.” O Agente Diretor é a autoridade responsável pela gestão de material em uma UA. É ele quem autoriza a distribuição dos bens às seções contempladas. No momento da distribuição dos bens, a Seção de Patrimônio atualiza os Termos de Responsabilidade, que serão assinados pelos detentores diretos ou agentes consignatários . É atribuição do detentor direto da carga de todos os órgãos públicos a responsabilidade pelos bens patrimoniais, bem como comunicar ao órgão competente pelo controle (Seção de Patrimônio), quando houver qualquer tipo de movimentação ou irregularidade com o material sob sua guarda. O Termo de Responsabilidade tem a finalidade de atribuir a responsabilidade pelos materiais permanentes nele relacionados, com seus respectivos números de registro e valores de aquisição, aos detentores de carga. Pensar Contábil 3.8 - DA DESCARGA A descarga é a transferência de responsabilidade sobre um bem, de um consignatário para outro, ou a baixa de forma definitiva, desse bem, do patrimônio público. A descarga do material é ordenada pelo Agente Diretor, em face dos documentos que deram origem ao processo, ou seja, dos termos das comissões, pareceres, relatórios de sindicância, solução de inquérito , processo administrativo específico, solicitação de transferência interna de bens entre seções, ordem de fornecimento, remanejamentos, entre outros. É efetuada com o registro de saída do material no sistema de controle físico, procedendo a atualização do Termo de Responsabilidade, concluindo com a movimentação contábil no SIAFI, se for o caso. A baixa patrimonial ocorrerá, observadas as condições e formalidades legais, em decorrência das seguintes situações: ces- 37 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 são; doação; permuta; alienação; inservibilidade para o fim a que se destina, não sendo suscetível de recuperação e reparação ( ou recuperação antieconômica ); acidente; perda ou extravio; furto ou roubo; obsolescência; insubsistência ativa; desuso e inclusão indevida em carga. A descarga de um bem patrimonial, de conformidade com a legislação em vigor, efetivar-se-á quando for consumido e comprovado o ato que lhe deu origem. Um bem baixado no sistema de controle físico ficará registrado no banco de dados, evidenciando, principalmente quando foi adquirido, quando foi descontinuado o seu uso, e o seu tempo de efetiva utilização. O número do tombamento baixado nunca será reaproveitado para o registro de uma nova entrada. 3.9 - DOS PREJUÍZOS E INDENIZAÇÕES Todos os servidores públicos poderão ser chamados à responsabilidade pela perda ou extravio do material que lhe for confiados, para guarda ou uso, bem como pelo dano que, dolosa ou culposamente, causarem a qualquer material, esteja ou não sob sua responsabilidade. O servidor responderá civil, penal e administrativamente pelo exercício irregular de suas atribuições. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízos ao erário ou a terceiros. A responsabilidade civiladministrativa resulta de ato omissivo ou comissivo praticado no desempenho do cargo ou da função. Meirelles (2001) explica que essencial para a existência da responsabilidade civil é que o ato culposo do servidor cause dano patrimonial à administração. Sem a ocorrência de dano patrimonial, não há fundamento para a responsabilização civil, que visa, unicamente, a reparação, material ou pecuniária , à administração. Pensar Contábil 3.10 - INVENTÁRIOS A técnica do inventário é tão antiga quanto ao surgimento da própria civilização. Na época essa técnica era utilizada como uma forma rudimentar de contabilidade. A contabilidade empírica, praticada pelo homem primitivo, já tinha como objetivo o Patrimônio, representado pelos rebanhos e outros bens em seus aspectos quantitativos. Os primeiros registros se processaram, de forma bem rudimentar, porém, logo foram encontradas formas mais eficientes de processar registros, utilizando-se gravações e outros métodos alternativos. O inventário exercia um importante papel, pois a contagem era o método adotado para o controle dos bens, que eram classificados segundo a natureza: rebanhos, metais, escravos etc. Como uma excelente ferramenta de controle até os dias atuais, o art. 96 da Lei 4.320/64 explica que o levantamento geral dos bens móveis e imóveis terá por base o inventário analítico de cada UA e os elementos da escrituração sintética na contabilidade. O inventário, segundo Silva (2000), é uma relação de todos os elementos ativos e passivos, componentes do patrimônio, com a indicação dos valores desses elementos. Mello (1962) nos explica que o Inventário é o arrolamento dos direitos e dos compromissos de uma administração feito periodicamente com fim de conhecer-se a exatidão dos valores acusados nas respectivas contas do Razão, e que formam o Ativo e o Passivo, ou 38 Conselho Regional de Contabilidade do RJ apenas, com o objetivo de apurar-se devidamente a responsabilidade de agentes consignatários, sob cuja guarda se encontram determinados bens da administração. Os inventários descrevem minuciosamente e do modo mais analítico possível os elementos patrimoniais. Machado Júnior e Reis (2001) citam que o levantamento do inventário é de responsabilidade da Seção de Patrimônio e será realizado por uma comissão de funcionários graduados da entidade. A finalidade desse instrumento é, além de levantar o estado de cada bem utilizado, o de controle dos bens que estão sob a guarda dos responsáveis, conferindo com os registros sintéticos da contabilidade. A técnica de inventário permite conhecer a composição qualitativa do patrimônio em determinado instante, bem como fornecer informações para que se estabeleça a sua expressão quantitativa. Os inventários na Administração Pública serão levantados não apenas por uma questão de rotina, ou mesmo de disposição legal, mas também como medida de controle, tendo em vista que os bens neles arrolados não pertencem a uma pessoa física, mas ao Estado e precisam estar resguardados de qualquer dúvida ou suspeita. A fim de manter atualizados os registros dos bens patrimoniais, bem como a responsabilidade dos setores onde localizam tais bens, o inventário será feito pelo menos uma vez ao ano A importância do inventário físico de bens reside no fato de que não adianta controlar os bens permanentes distribuídos, ou mesmo em almoxarifado, observando critérios condizentes de avaliação e registro, se não existe a certeza das reais quantidades existentes na UA, num determinado momento. A apuração quantitativa depende de controles analíticos adequados e mantidos em dia, agregados a um bom sistema de controle interno. Os Órgãos de Controle Interno de cada Órgão/Ministério verificarão, periodicamente, os procedimentos adotados por cada UG, conforme determina o art. 87 do Dec. Lei 200/67. Os resultados apresentados no inventário terão forte influência no resultado da UG, caso hajam divergências com os registros contábeis no SIAFI. 4 - SISTEMAS INTEGRADOS Inicialmente, parece necessário esclarecer alguns aspectos relacionados com a Teoria Sistêmica. A fórmula da equação sistêmica é: INPUT à PROCESS à OUTPUT. Quando se fala em sistemas no meio universitário, empresarial ou mesmo político, tem-se a impressão de que nasceram com os computadores. Para Magalhães e Lunkes (2000) isso parece um equívoco, pois, segundo os mesmos autores, o computador é algo novo e sua primeira versão, o Eniac, surgiu como conseqüência da Segunda Guerra Mundial. Não se deve negar, entretanto, que com a evolução tecnológica os processos sistêmicos passaram por verdadeiras modificações, mas não somente em decorrência dos processamentos automatizados. As mudanças organizacionais, decorrentes dos diversos processos de desenvolvimento social, político, econômico, institucional e educacional, é que propiciaram o aperfeiçoamento, a evolução e a criação de novos sistemas, e estes estão relacionados com as mais diversas atividades do conhecimento humano, inclusive com a própria Ciência Contábil. Todo sistema, seja físico, econômico, social, tem finalidades específicas, para as quais todas as suas partes devem contribuir. Sem essas finalidades comuns, a inter- Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 ligação das partes componentes do sistema não teria justificativa. Entende-se por sistema um conjunto de partes e funções dinâmicas, interdependentes, com objetivos bem específicos. Para Teles e Vartanian (1998), sistema é “um conjunto de elementos interdependentes interagindo para o alcance de um objetivo comum”. Cada sistema existente em uma organização faz parte de um sistema maior (macrossistema) e contém vários sistemas menores (microssistemas). Um sistema processa dados (entradas), transformando-os em relatórios (saídas). Esses relatórios são destinados a pessoas com interesses bem específicos (usuários). O termo sistema traduz um pensamento de algo geral, integrado por partes independentes e inter-relacionadas. É necessário considerá-lo como algo mais do que partes reunidas estaticamente, e sim como, partes que formam e transmitem a dinâmica de um processo. A Contabilidade, como um todo, é um sistema, tendo na sua composição vários subsistemas, que tem por função informar e explicar as variações que ocorrem com o patrimônio, que é seu objeto. O Sistema Contábil apóia-se em estruturas que, como tais, são a cultura (teoria, leis, princípios, normas etc.) e a tecnologia (técnicas contábeis). Sua finalidade está calcada em proporcionar informações contábeis úteis subsidiando o processo decisório em todos os seus níveis. Pode-se concluir que um Sistema de Informações Contábeis deve resultar das normas, procedimentos e práticas dirigidos à coleta, classificação, registro, acumulação, resumo, medição e interpretação dos fatos administrativos que afetam a composição e o montante do patrimônio. A visão sistêmica conduz à verificação do desempenho da totalidade do sistema, mesmo que o foco de análise seja apenas de um elemento do conjunto. Isso é devido a sua interação com o todo organizado e à interdependência das partes para alcançar a eficácia, em face do objetivo a ser atingido. A Administração Pública federal, como já comentado, utiliza-se do SIAFI para o registro dos atos e fatos administrativos. É um sistema integrado de administração financeira, onde registros automáticos são efetuados, integrando os quatro sistemas de contas: orçamentário, financeiro, patrimonial e compensado. Mas o SIAFI só evidencia os itens monetários, resultado das operações executadas on line, através da estrutura dos eventos. Os itens não-monetários (quantidade física) são demonstrados através de sistemas paralelos de controle, inexistindo, na grande maioria dos casos, uma integração entre os mesmos. Verifica-se, ainda, na prática, setores afins dentro da área patrimonial que não se comunicam, trabalhando de forma isolada, executando, às vezes, a mesma tarefa repetidas vezes. Tanto o SIAFI (na esfera federal), quanto outros sistemas similares utilizados pelos Estados e Municípios, onde existe uma informatização acentuada no controle da despesa pública, não possui instrumentos suficientemente técnicos para uma avaliação de eficácia no que tange ao controle patrimonial. Não havendo a interligação entre os sistemas, haverá setores executando tarefas repetidas, e o órgão estará, dessa forma, aproveitando mal a mão-de-obra disponível. Para minimizar os problemas advindos da não integração desses dados, seria necessário a implantação de um Sistema Integrado de Contabilidade, aproveitando a base de dados do Sistema Contábil tradicional (SIAFI). Criaria-se, dessa forma, um Sistema Integrado de Informações Contábeis, integrando as principais áreas envolvidas no controle patrimonial (Compras, Almoxarifado, Contabilidade, Seção Conselho Regional de Contabilidade do RJ de Patrimônio e Tesouraria). Um Sistema Contábil Integrado pode ser entendido como um sistema operativo que centraliza os registros dos fatos contábeis, cujos dados se encontram nos diversos arquivos dos sistemas integrados, compreendendo: cadastros, carteiras e movimentos. A principal função dos sistemas integrados é aglutinar os dados que poderão produzir informações contábeis, processando-as de maneira a produzir as demonstrações de natureza obrigatória e para fins gerenciais, com base em lançamentos automáticos ou não. Peleias (2001) enumera alguns fatores que justificam a implementação de sistemas integrados, explorando-se ao máximo o que a Tecnologia da Informação tem a oferecer: a) aumento da eficiência das diversas áreas por meio da utilização de uma ferramenta que atenda a maioria das necessidades operacionais da empresa; b) possibilidade de redesenho, racionalização e redução do tempo de execução das atividades por meio dos ciclos de transações da empresa; c) descentralização de determinadas atividades, eliminando redundâncias, retrabalhos, promovendo sinergias e aumentando a fluidez do inter-relacionamento entre os ciclos de transações. A implantação desse tipo de sistema trará grandes vantagens aos contabilistas que atuam na área de patrimônio, entre as quais pode-se destacar: a) ampla utilização do conceito de razão auxiliar, com a segurança de que os valores registrados nos vários módulos componentes do sistema estão perfeitamente correspondidos com o registro contábil sintético; b) redução do prazo entre a data do fato e o registro extra-contábil; c) maior disponibilidade de tempo para a elaboração de instruções escritas (políticas, normas, procedimentos etc), principalmente daquelas que afetam diretamente o sistema de controle patrimonial; d) a liberação de um grande volume de atividades operacionais, possibilita ao contabilista dedicar mais tempo para identificar e analisar os modelos decisórios dos gestores da organização e então, fornecer, a estes, as informações de que necessitam. Esta atuação permite que este profissional esteja cada vez mais próximo dos locais e dos momentos de ocorrência das decisões. Os Sistemas Integrados de Gestão foram desenvolvidos para resolver um dos mais sérios problemas enfrentados pela organização em um ambiente dinâmico: a fragmentação de dados. Pensar Contábil 4.1 - SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO PATRIMONIAL Os bens do Ativo Imobilizado constituem a estrutura básica de toda a atividade empresarial. Tung (1972) afirma que o mobilizado varia de empresa para empresa. Explica, ainda, que em alguns ramos de atividades representam uma parcela elevada do total do seu ativo. As empresas de utilidade pública geralmente possuem elevado montante de investimento em bens pertencentes ao Imobilizado. O sucesso no controle do mobilizado é vital para o desenvolvimento a curto e a longo prazo da organização. Por isso, as entidades que possuem grandes volumes aplicados em ativos fixos deverão implantar sistemas de controle e informação de modo que gerem, com o menor custo possível, as informações desejadas, aumentando sua rentabilidade nessa atividade. Ainda que muitas ou a totalidade das Organizações Públicas não disputem mercados e vendas, e não tenham concorrência, devem buscar melhoria de desempenho e competitividade em 39 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 suas diversas atividades. Para a obtenção de vantagem competitiva das organizações, a eficiente melhoria na utilização dos recursos relacionados com o patrimônio se torna indispensável. Por outro lado, e de forma inexplicável, ocorreu ao longo dos anos, um notável desleixo na condução estratégica, gerencial e operacional desses recursos patrimoniais pelos organismos competentes. Filho (1999) explica que o gerenciamento do patrimônio deve ser diferente e revestido de práticas complementares dos controles patrimoniais até então desenvolvidos, pelo menos em quatro sentidos. Primeiro, deve ser focado como uma entidade única e integrada, em vez de distribuir autoridades e confiar responsabilidade de forma fragmentada para diversas áreas funcionais, tais como Compras, Manutenção, Jurídica, Controle Patrimonial e outras. A segunda característica que deve ser focada no gerenciamento patrimonial é derivada diretamente da primeira: tomada de decisão estratégica. O patrimônio é objeto compartilhado por funções numa organização, requerendo portanto um significado estratégico particular devido ao que pode causar, para o mal ou para o bem, sobre os custos totais e na produtividade. Em terceiro lugar, a gestão patrimonial deve fornecer uma perspectiva diferente sobre os demais recursos da organização: deve ser um dos primeiros e não o último a ser gerido. Finalmente, como quarto sentido, necessariamente a gestão patrimonial exige uma abordagem sistêmica: deve ocorrer integração, não apenas interface entre áreas afins. Para que as Entidades Públicas possam custear as suas atividades, conforme determina a Lei 4.320/64 e a LRF, através da implantação de Sistemas de Apuração de Custos, é mister que se tenha um módulo integrado de administração patrimonial, de modo que sejam agregadas as informações no que se refere ao controle do patrimônio público. É necessário que se integre um Sistema de Administração Patrimonial, interligando as diversas áreas da organização, aproveitando a base de dados já existente. Speroni (1997) explica que um Sistema de Administração Patrimonial fundamenta-se na visão e organização como um conjunto de recursos humanos, materiais e tecnológicos, interagindo de forma coordenada no desempenho de atividades voltadas para os propósitos da organização. O mesmo autor explica que o Sistema de Patrimônio compõe um dos elementos do Sistema Integrado de Informações, logo, um subsistema capaz de interagir com os demais, compartilhando seu banco de dados e destinado ao controle da integridade patrimonial dos bens e dos efeitos de seu uso, em termos de eficiência, eficácia e economicidade. Como uma grande ferramenta de gestão, deve ser capaz de disseminar as informações, de natureza quantitativa e qualitativa, para auxiliar aos gestores no planejamento e controle, e aos usuários dos bens, na operacionalização. A idéia de se ter um sistema nesse nível é melhorar o desempenho das Unidades Gestoras, com vista à qualidade e à produtividade. O MEC, desde 1994, vem coordenando um trabalho integrado por inúmeras universidades, com o objetivo de implantar um Sistema de Informações Gerenciais para as Instituições Federais de Ensino Superior. Nesse contexto, surgiu a necessidade de desenvolver , dentre outros, um sistema de patrimônio que permitisse, além de melhorar as condições de controle patrimonial das instituições, determinar o componente de custo com depreciações, a ser incorporado ao custo das atividades dessas Instituições, como um custo patrimonial. Com base nessas idéias é que será moldado, nesse tópico, um Sistema de Adminis- Pensar Contábil 40 Conselho Regional de Contabilidade do RJ tração de Patrimônio, contendo módulos integrados com as diversas áreas de uma organização. O Sistema de Administração de Patrimônio não pode limitarse a uma visão simplista de controle, que muitas vezes, tem norteado a implantação de sistemas de administração patrimonial, cujo escopo se restringe somente ao atendimento das determinações legais, que se circunscreve a um simples cadastro dos componentes patrimoniais, caracterizados por seus elementos identificadores e dos agentes responsáveis pela sua guarda e localização. Speroni (1997) explica que, por reconhecer que o sistema formal de Contabilidade Pública e seus sistemas auxiliares convencionais (sistema analítico de contabilidade patrimonial) se mostram insuficientes para atender a todas as demandas de informações necessárias à gestão patrimonial, o sistema que aqui será proposto assume o caráter de um sistema complementar ao sistema de contabilidade formal. Pode-se ressaltar, ainda, que na estrutura da organização, dentro dos diversos níveis, há a necessidade de informações sobre a atividade patrimonial, porém diferenciadas quanto ao grau de detalhamento. Tal fato induz à geração de informações com base em bancos de dados que possam ser compartilhados por diversos usuários, devidamente autorizados e habilitados. O subsistema de Administração Patrimonial, para melhor desempenhar o seu papel, deverá estar integrado com os seguintes subsistemas: a) Planejamento, onde o provimento de bens permanentes decorre da execução orçamentária e constitue Despesa de Capital0; b) Compras e Almoxarifado, onde são acionados os subsistemas após a autorização de compra pelo Ordenador de Despesas. A compra do bem, como já comentado, no que tange a esses subsistemas, desencadeia-se com o processo licitatório, empenho e termina na liquidação da despesa. Empenhando-se a despesa, vários dados são inseridos no subsistema de compras, como: os dados do fornecedor, a descrição completa de cada item a ser adquirido, a quantidade, o valor unitário, entre outros. No ato do recebimento, o subsistema Almoxarifado, com base na NE emitida, faz a conferência dos itens de acordo com a NF de fornecimento, detectando, se for o caso, disparidades entre os dados, depurando, assim, possíveis inconsistências. Nesse momento ( o da liquidação da despesa), o subsistema de Patrimônio também é acionado, face ao registro contábil de entrada dos bens na conta de Almoxarifado Depósito (1.4.2.1.2.92.01); c) Financeiro, que, após a liquidação da despesa, é acionado face à obrigatoriedade da Administração Pública em arcar com seu compromisso de pagamento da dívida com o fornecedor de bens; d) Pessoal, que, quando da distribuição dos bens, é acionado requerendo o tombamento, distribuição da carga ao detentor direto e consubstanciando com a assinatura do Termo de Responsabilidade; e) Manutenção, onde se aproveitará os dados de registro do bem, como: o estado geral, a data em que foi posto em operação, o prazo de garantias, as condições de uso etc, de tal modo que as manutenções periódicas sejam executadas, aproveitando-se melhor a capacidade de geração de serviço dos bens, subsidiando-se os gestores com informações relevantes para decisões pertinentes; f) Custos, onde serão apurados os custos dos serviços prestados ou dos bens fabricados. Nesse contexto, é importante haver a integração face às informações que auxiliam no cálculo da depreci- Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 ação dos bens. Os registros referentes à data de aquisição, à data de efetiva operação, ao valor de aquisição e ao tempo de durabilidade estimada são importantes para alimentar o subsistema de apuração de custos, onde este calculará, de forma automática, a depreciação de cada item que esteja distribuído aos diversos Departamentos ou Centros de Custos. 4.2 - ESTRUTURA DO MODELO Nesse tópico será proposto, com base nos estudos de Conselho Regional de Contabilidade do RJ Speroni (1997), com as devidas adaptações, um modelo de Sistema Integrado de Gestão Patrimonial, que informatizado e integrado aos demais subsistemas, se constituirá num subsistema do Sistema de Informações Contábeis. A figura abaixo, adaptada de Speroni (1997, p. 49), demonstra a integração do Sistema de Gestão Patrimonial ao Sistema de Informações Contábeis do Órgão, apresentando, ainda, outros subsistemas com os quais se interage, compartilhando, dessa forma, o banco de dados integrado: Gestão Patrimonial Financeiro Custos Compras Sistema Integrado de Informações Contábeis Almoxarifado Planejamento e Orçamento Manutenção Pessoal Figura 1 Sistema Integrado de Informações Contábeis Todos os subsistemas, trabalhando harmonicamente, proporcionarão ao administrador público informações consistentes, além de racionalizar o uso da mão-de-obra, eliminando tarefas duplicadas e reduzindo, nesse caso, a pro- Pensar Contábil babilidade de inserção de dados incorretos. A próxima figura, adaptada de Speroni (1997, p. 49), abaixo representada, demonstra a estrutura do Subsistema de Gestão Patrimonial: Módulo Controle de de Bens Módulo Controle Usuários Subsistema de Gestão Patrimonial Módulo de Controle de Condições de Uso Módulo de Correção e Depreciação Figura 2 Estrutura do Subsistema de Gestão Patrimonial 41 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 O módulo Cadastro dos Bens destina-se a manter o registro analítico dos bens que compõem o acervo patrimonial do órgão, contendo todos os elementos necessários à identificação individualizada de cada componente. Pela integração com os Subsistemas de Compras (no ato do empenho) e Almoxarifado (no ato do recebimento), a carga no módulo se faz de forma automática, evitando redundância de operações e aumentando a consistência nos controles. No caso de bens transferidos de outras Unidades Gestoras, cedidos, doados etc, a inclusão dos dados se fará no subsistema de Almoxarifado, onde se tomará por base o documento de origem do bem. O módulo Controle de Usuários destina-se a manter o controle dos agentes responsáveis pelo bem patrimonial alocado a uma determinada seção, bem como ao controle das pessoas autorizadas a utilizá-lo, ou ao responsável pelo mesmo. Deverá conter informações sobre a unidade de lotação patrimonial (seção), centro de custo do usuário, responsável pelo lotação (chefe), transferências de responsabilidades, localização física do bem, tais como prédio, sala e outros dados que possam melhor identificar essa localização. A integração com o Subsistema de Pessoal permite a captação automática dos dados sobre as pessoas e os locais, com base em banco de dados compartilhados. Assim, também permite prontas buscas, a qualquer tempo, da carga patrimonial sob a responsabilidade de cada servidor, para fins de tomada de contas, transferência de responsabilidade por término de gestão, entre outras. O módulo Controle de Condições de Uso destina-se a manter o banco de dados qualitativo do bem sobre suas condições de uso ao longo do tempo, suas características de operação, recomendações de operação e manutenção, manuais operacionais, contratos de manutenção, operações de manutenção planejadas e executadas, controle de uso, legislação pertinente ao uso do bem (quando for o caso), e a responsabilidade sobre a guarda por parte do agente patrimonial e usuários. Integra-se, principalmente, com o Subsistema de Manutenção, mas existe um relacionamento, também, com os Subsistemas de Planejamento, Compras e Almoxarifado, entre outros. O Módulo de Correção de Valores e Depreciação destina-se a manter atualizado os dados sobre o valor do bem, incorporação de novos valores, atualização e depreciação. Registra dados, entre outros, sobre o valor atualizado do bem, valor residual, custos com reformas e adaptações, atualização de valores, correção monetária, critérios de reavaliação e vida útil do bem, assim como registra a data de todos os eventos. Integrase, principalmente, com os subsistemas Financeiro e de Custos. Pensar Contábil 42 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 5 - COMENTÁRIOS FINAIS Esta pesquisa teve o propósito de mostrar a importância do controle patrimonial dos bens permanentes, adquiridos pelas Unidades Gestoras pertencentes a Administração Pública Federal Direta. O SIAFI, como se verificou no decorrer do trabalho, não demonstra a composição física dos saldos de cada conta contábil pertencente ao imobilizado de cada Unidade Gestora. Só demonstra os itens monetários. Um dos problemas detectado no decorrer da pesquisa é a não adoção da técnica de reavaliação de bens e o não reconhecimento do desgaste dos mesmos, através da apropriação das cotas de depreciação. A concepção de controle utilizada hoje pela maioria dos Órgãos Públicos é simplista o suficiente a não contemplar, a alta administração, com informações que sejam úteis, tempestivas e confiáveis, para suportar o processo decisório, nos diversos níveis dentro da organização. A não utilização da concepção de Sistemas Integrados, na sua essência, faz com que os dados sejam fragmentados em diversos setores, não se aproveitando a base de dados do sistema tradicional de contabilidade. Em conseqüência, abre-se uma lacuna entre a entrada do bem na UG e o seu registro extra-contábil no patrimônio público. A correta evidenciação do patrimônio, seguindo os Princípios Fundamentais de Contabilidade e a legislação vigente, no que tange ao correto controle do patrimônio, fará com que tornem confiantes e seguras as informações registradas. A informação contábil é de interesse de todos, dentro e fora da organização, e deve ser formatada de acordo com a necessidade de cada usuário, que tem interesse específico em determinada área, servindo como instrumento de controle e planejamento. Os Órgãos Públicos federais devem envidar esforços de tal forma que usufruam do que a Tecnologia da Informação tem a oferecer, utilizando-se da concepção de Sistemas Integrados, que aproveitem a base de dados do SIAFI. Esse sistema de controle não deve enfocar somente a imputação de responsabilidade, ou mesmo a localização física dos bens. O método de tombamento dos bens, aliado a um sistema informatizado que proporcione o controle através de leitora ótica, seria o perfeito para que as Unidades Gestoras exercessem o efetivo controle de seus bens, reduzindo o tempo de registro e economizando os gastos com pessoal envolvido na área patrimonial, além de proporcionar informações úteis e tempestivas sobre os bens em uso na organização. Um bom sistema de informação não pode repousar apenas em valores monetários. Desta forma, o administrador público estaria, efetivamente, racionalizando os recursos, gerindo o patrimônio sob sua responsabilidade, de forma eficiente e eficaz. Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ 6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Benedicto de. Contabilidade Pública. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1981. ANGÉLICO, João. Contabilidade Pública. Atualizado de acordo com a Constituição de 1988. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1991. BRASIL. Decreto Lei 200, de 25 de fevereiro de 1967. 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WILKEN, Edgard. Manual de Contabilidade Pública. 4 . ed. Rio de Janeiro: Aurora, 1956. ______. Teoria Orçamentária e Contabilidade Pública. Rio de Janeiro: Aurora, 1970. 43 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Aspectos jurídicos da extinção da correção monetária das demonstrações contábeis - Um estudo de caso INTRODUÇÃO Em 1990 o então Presidente da República Fernando Collor de Mello decretou o confisco dos saldos das cadernetas de poupança e de outros tipos de investimentos, numa das medidas mais arbitrárias de que se tem notícia na história recente desse país, apropriando-se das quantias que os cidadãos, a custo de anos de trabalho, levaram para acumular. Isso porque os investimentos em poupança normalmente são feitos por cidadãos de baixa renda, com pequeno risco e, sobretudo, com garantia do governo. Esse mesmo governo que deveria garantir esses depósitos foi quem veio reter essas quantias, deixando uma massa de trabalhadores sem suas economias. A situação se repetiu no governo anterior, com promulgação da Lei 9249/95, que extingue a correção monetária. Isto tem provocado a exposição do capital das empresas à desvalorização da moeda, já que ainda temos inflação, mesmo que pequena. A conseqüência disso é a apropriação do fisco sobre o capital dessas empresas, seu necessário físico. A razão disto reside no fato de o governo, com o propósito de extinguir a inflação, estar tributando mais do que simplesmente o lucro; vem tributando o patrimônio das empresas, tendo em vista que a inflação, apesar de estar em patamares bem baixos, não foi eliminada. Ela tem valor significativo ao longo de anos subseqüentes, já que vários ítens do patrimônio deixaram de ser corrigidos, como era feito anteriormente. Pretende-se mostrar, primeiramente através dos dispositivos legais pertinentes, que esta medida produz efeitos discutíveis. Em um segundo momento pretende-se mostrar como as empresas estão sendo penalizadas com essa carga adicional de tributos sobre o patrimônio dessas empresas, através de um estudo de caso prático, comparado às simulações já feitas anteriormente. Pensar Contábil O Imposto de renda e Proventos de Qualquer natureza e as normas legais Classicamente, o Direito se divide em público e privado, em virtude de critérios, muitas vezes contestados por alguns autores, que consideram essa divisão inútil. Ramo mais recente do Direito, o Direito público, está intimamente relacionado com a atividade estatal e vem se desenvolvendo e se tornando complexo na medida da organização e agigantamento do Estado. Principalmente no século XX, com o advento das Grandes Guer- 44 Carlos Alberto Pereira Carlos Eduardo Claro de Azevedo José Augusto Veiga da Costa Marques Mestrado em Ciências Contábeis, área de concentração Gestão Empresarial, da FACC/UFRJ Mestrado em Ciências Contábeis, área de concentração Gestão Empresarial, da FACC/UFRJ Mestrado em Ciências Contábeis, área de concentração Gestão Empresarial, da FACC/UFRJ Mestrado em Ciências Contábeis, área de concentração Gestão Empresarial, da FACC/UFRJ Mestrado em Ciências Contábeis, área de concentração Gestão Empresarial, da FACC/UFRJ ras Mundiais, esse agigantamento estatal tornou-se mais evidente. Outra razão é a consciência da necessidade de que o Estado participe ativamente na busca da igualdade e justiça social. Sob esse aspecto, o Direito tributário surge como base para atuação do Estado no sentido de regular as suas relações com os cidadãos, ou seja, com o conceito mais difundido de direito tributário, que é estudar as relações jurídicas entre o Estado e o contribuinte, relativas à instituição, fiscalização e arrecadação de tributos. Com classificação elencada no ramo das receitas derivadas, que são aquelas que o Estado consegue angariar realizando atividades que lhe são típicas e utilizando a soberania que lhe foi outorgada pela coletividade, os tributos têm sua definição discriminada pelo Código Tributário Nacional, em seu artigo 30: Tributo é toda a prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. As regras referentes à tributação são definidas pela Lei, Lei nesse sentido, significando ato que emana do poder executivo, onde tem-se a representação popular. Como norma básica, temse no topo da hierarquia, a Constituição Federal de 1988, que estabelece regras acerca da tributação, inclusive determinando competências para a instituição das diversas modalidades de tributos no nosso Sistema Tributário Nacional. Entre essas competências, há a da União de instituir o Imposto de Renda de Pessoas Físicas e Jurídicas(artigo 145, inciso I e artigo 150, inciso III). Entretanto, no mesmo texto constitucional, pode-se observar algumas limitações a esse direito(artigo 150), entre elas destacaremos as limitações que se prestam ao objeto de nosso estudo: Art. 145, parágrafo 1...Sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte... Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Art. 146. Cabe à Lei Complementar: I- Dispor sobre conflitos de competência.... II- Regular as limitações constitucionais ao poder de tributar III- Estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre: a) definição de tributos e suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes... Art.150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, Estados, ao Distrito Federal e Municípios: I - ... II – Instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos; III - ... IV - Utilizar tributo com efeito de confisco; Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre: III - Renda e proventos de qualquer natureza; ...parágrafo segundo. O imposto previsto no inciso III: I - Será informado pelos critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade, na forma da Lei; O Código Tributário Nacional, com a finalidade de complementar o texto constitucional, desenha a estrutura dos conceitos que são estatuídos na Constituição Federal. Ao contrário do que se pode pensar, esse Código não institui tributo algum, apenas estabelece regras que deverão ser observadas pela lei que deva instituir o tributo. Com relação ao Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer natureza, estas regras estão definidas no art. 43 do CTN. Esse diploma legal estabelece as regras acerca do que vem a ser não somente o fato gerador do imposto, como também sua base de cálculo, sujeito passivo, etc. Dentre essas definições está a do fato gerador do imposto de renda, que é a aquisição de disponibilidade econômica ou jurídica de: 1. Renda, que vem a ser o produto do capital, do trabalho ou de ambos; 2. proventos de qualquer natureza, que são os acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior. A partir desses dados, há que se fazer algumas reflexões a respeito do assunto. Num primeiro momento discutiremos a questão do que vem a ser renda. Segundo Ives Gandra Martins, renda e proventos de qualquer natureza abrange os fatos que devem ser considerados como acréscimo patrimonial. Desta forma, o legislador não pode considerar acréscimo patrimonial aquilo que evidentemente não o seja. Outro jurista de renome, Hugo de Brito Machado, comenta que não há renda nem provento que não seja acréscimo patrimonial, complementando que não se admite tributação sobre aquilo que na verdade em momento algum ingressou no patrimônio, implicando incremento de valor deste. Num segundo momento vamos comentar as infringências aos dispositivos constitucionais em virtude da extinção dos métodos de correção monetária. O primeiro dispositivo constitucional infringido é, a nosso ver, o princípio da capacidade contributiva, determinado no art. 145 da CF/1988, que diz: Sempre que possível os impostos terão caráter pessoal e Conselho Regional de Contabilidade do RJ serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte. Tendo em vista que as diversas modalidades de conformação do patrimônio podem ensejar maior ou menor exposição do capital à inflação, independente da capacidade de contribuição das empresas, há empresas que estão sendo mais penalizadas do que outras em virtude dessa exposição à inflação, independentemente de sua capacidade contributiva. Outra situação a ser analisada é a do art. 146 e seus parágrafos. Esse artigo estabelece que a competência para definir as espécies de tributos, bases de cálculo e contribuintes é determinada por lei complementar, nesse caso o Código Tributário Nacional, que define claramente o significado de renda em seu artigo 43, como já mostramos anteriormente. O próximo seria o artigo 150. Neste caso podemos perceber duas situações que vão de encontro aos preceitos constitucionais. A primeira delas é o inciso II desse artigo, já que há uma situação de desigualdade de tratamento por parte do fisco sobre os contribuintes. A segunda trata-se do inciso IV, já que, uma vez que o imposto de renda é um tributo que deve incidir apenas sobre o conceito de renda e, nesse caso está incidindo também sobre o capital, o necessário físico das empresas, entende-se que há um confisco por parte da autoridade fiscal sobre o patrimônio dessas empresas. Por último será comentado o artigo 153. Entende-se que esse critério da generalidade exposto no inciso I desse artigo fica prejudicado com o fim da correção monetária, pelos motivos que já expusemos anteriormente. Da Correção Monetária. Até 1995 coexistiam duas formas de se reconhecer os efeitos da inflação no patrimônio das empresas. A primeira delas era a decorrente da Lei 6.404/76, aqui chamado método simplificado, que consistia basicamente em se corrigir os itens do ativo permanente e do patrimônio líquido. A segunda, denominada correção monetária integral, estatuída pela Instrução CVM N.º 64/87, complementada pela Instrução CVM N.º 191/92, que consistia no reconhecimento de forma global dos efeitos da variação do poder aquisitivo médio da moeda. Esse método advogava a utilização de um índice geral de preços que medisse a variação do poder aquisitivo da moeda em relação aos produtos e serviços disponíveis no nosso sistema econômico. O índice geral de preços é um índice que indica a variação do preço total de um grupo de bens e serviços, em vigor em determinada data, em relação ao preço total de um grupo idêntico em outro período selecionado. Nem todos os componentes das demonstrações são afetados da mesma forma. No processo de conversão das quantias históricas para a moeda da data do fechamento, deve-se distinguir os ítens monetários dos não-monetários. Tanto no ativo quanto no passivo os ítens monetários são aqueles cujos valores podem ser expressos em quantias monetárias, ou seja, em valores fixos a pagar ou a receber em dinheiro. Já os ítens não-monetários do ativo ou do passivo representam bens, direitos ou obrigações cuja realização não se expressa em moeda e sim com a entrega de bens ou prestação de serviços. As receitas, normalmente expressas em datas correntes, são Pensar Contábil 45 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 corrigidas em relação a sua data de obtenção. As receitas antecipadas devem ter sua data de recebimento consideradas. Quanto às despesas, diversos ítens merecem considerações especiais. A despesa que constitui o somatório dos ítens que compõem o custo dos produtos vendidos, é um elemento composto que não pode ser corrigido pela atualização de seu valor histórico por algum coeficiente. Temos que efetuar a correção específica de cada um de seus componentes, considerando a data de sua formação. Despesas como depreciação, amortização e exaustão, pelo fato de se referirem a eventos passados, devem ser corrigidas em relação às datas de aquisição dos ativos a que se vinculam. Outros tópicos merecem destaque, entretanto não serão abordados aqui. Em síntese, o método de correção monetária integral apresenta três principais vantagens em relação ao método correspondente à legislação societária, a saber: 1. Avaliação de todos os ítens, inclusive referentes a outros períodos, em uma moeda de mesmo poder aquisitivo, possibilitando comparações muito mais realistas; 2. Mensuração dos efeitos inflacionários sobre os ítens patrimoniais diretamente expostos, ou seja, os monetários, propiciando informações extremamente importantes; 3. Avaliação mais precisa dos ítens não monetários, gerando avaliação mais realista do patrimônio e do resultado. Como já dito anteriormente, a correção monetária existente até 1995, consistia basicamente na atualização de elementos do ativo permanente e do patrimônio líquido. Este dispositivo tinha por finalidade principal eliminar ou reduzir os efeitos da perda de valor aquisitivo dos bens patrimoniais em virtude da inflação, já que os elementos do patrimônio são registrados atendendo a um princípio contábil denominado “Princípio do Custo como base do Valor”, ou seja, os elementos do patrimônio são registrados pelo seu valor de custo ou aquisição. Deste modo, como a inflação atingia patamares elevados, era possível reduzir-se a perda de valor aquisitivo desses bens patrimoniais por ocasião da apresentação dos demonstrativos contábeis. Esse dispositivo permitia uma visão mais próxima da realidade do patrimônio. Ocorre que, com a política governamental de eliminação da inflação, deixou de ter sentido o emprego de qualquer tipo de correção monetária. Dessa forma, através da Lei 9249/95 e da implementação do Plano Real, o governo tenta colocar uma “pedra” na questão da inflação. O problema é que a inflação jamais deixou de existir, não obstante o fato de que a política econômica do governo tenha dado resultados significativos, já que reduziu a inflação a níveis muito baixos, se comparados aos existentes até à época. A conseqüência disso é que a eliminação da correção monetária nas demonstrações financeiras tem causando sérios problemas para as empresas, imperceptíveis num primeiro momento, mas que no decorrer de alguns períodos torna-se visível. Isso já tinha sido previsto por renomados estudiosos da contabilidade que, em simulações já na época da extinção da correção monetária, eram feitas. A situação é particularmente simples. Os bens do ativo são resultado dos investimentos feitos por sócios ou por terceiros. Desse modo, quando alguém faz um investimento em uma em- Pensar Contábil 46 Conselho Regional de Contabilidade do RJ presa, sócio ou terceiro, espera que esse investimento produza retorno. Esses investimentos são convertidos, via de regra, em bens patrimoniais que permanecem no ativo. Como esses bens são registrados pelo seu custo de aquisição, segundo o princípio do “Custo como Base de Valor”, como já se expôs anteriormente, eles ficam expostos aos efeitos da inflação, inflação esta que ainda existe, mesmo que pequena. Como o resultado de um período, valor que servirá de suporte para a determinação da base de cálculo do Imposto de Renda, é o resultado do confronto entre receitas e despesas desse período, pode-se observar reduções no ativo em virtude da inflação que antes era computado para apuração do lucro e hoje não mais o são. Isso provoca um falso lucro, ou seja uma base de cálculo aumentada para o Imposto de Renda, o que provocará uma carga tributária maior para o contribuinte, já que não se considera mais nessa apuração uma despesa que antes era considerada. Pode-se analisar isso de duas formas. A primeira considerando que ocorre uma variação da alíquota do tributo em função de um lucro que não corresponde ao verdadeiro. Nesse caso o fisco estaria tributando os contribuintes com alíquotas diferentes, ferindo diversos princípios constitucionais já expostos anteriormente, já que o aumento da alíquota do tributo não pode propriamente ser considerado um confisco, desde que estabelecida em lei. A segunda maneira é a de que o fisco está se utilizando de uma base de cálculo que não corresponde ao verdadeiro lucro da empresa. O que queremos dizer é que, uma vez tributando o Imposto de Renda sobre um lucro irreal e essa tributação deve ocorrer, segundo os preceitos constitucionais, sobre o lucro, a renda propriamente dita. O que está ocorrendo na prática é uma tributação sobre “mais” do que o lucro. Como a configuração do patrimônio líquido compõe-se basicamente de capital + reservas e lucros o fisco está, na verdade, tributando o capital das empresas, que não configura, sob nenhuma hipótese, base de cálculo desse imposto. Observe-se que os impostos sobre o patrimônio estão elencados não só na Constituição Federal, mas também no Código Tributário Nacional. Um exemplo. Suponhamos que uma empresa iniciasse suas atividades com a seguinte configuração patrimonial: Caixa 20.000 Capital social 20.000 Levando-se em conta que esses são os únicos elementos patrimoniais e que esse valor depositado no caixa pelos sócios tenha sido aplicado no mercado, com rendimentos de 20% no período e uma inflação de 15%, teríamos o seguinte demonstrativo do resultado no período(supondo a alíquota do I.R. de 25%), segundo a legislação vigente: Receita Lucro antes do I.R. Pagamento de I.R. Lucro Líquido 4.000 4.000 (1.000) 3.000 Façamos agora o mesmo caso considerando o efeito da infla- Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 ção do período. A demonstração do resultado seria a seguinte: Receita Correção monetária Lucro antes do I.R. Pagamento de I.R. Lucro Líquido 4.000 (3.000) 1.000 (250) 750 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Sem correção monetária: Receita de vendas Lucro antes do I.R. Pagamento de I.R. Lucro líquido 8.000 8.000 (2.000) 6.000 Com correção monetária: Pode-se observar que houve uma redução do lucro no valor de $3.000 correspondentes justamente à correção monetária do período, pois na verdade esses $3.000 não são lucro e sim reposição do poder aquisitivo da moeda. No primeiro caso houve um pagamento de I.R. de $ 1.000 e no segundo caso o pagamento foi de $250. O que estamos querendo demonstrar é que essa diferença de $750 foi uma tributação que na verdade não incidiu sobre o lucro da empresa e sim sobre seu patrimônio. Para evidenciarmos isso conjugaremos os dois demonstrativos anteriormente feitos: Receita Correção monetária Lucro antes do I.R. Provisão real de I.R. Lucro Líquido 4.000 (3.000) 1.000 (1.000) 0 Ou discriminando-se as partes tributadas(lucro e patrimônio): Imposto de Renda pago Correção Capital monetária do 20.000 capital 3.000 0 750 Lucro 1.000 250 Como o novo capital corresponde a $23.000($20.000 mais os $3.000 correspondentes à atualização monetária). Se analisarmos que desses 23.000, foi pago 750 de I.R., chegaríamos a conclusão que o fisco está se apropriando de 3,17% no período do capital social da empresa, conforme demonstramos: Capital social = 23.000 Imposto de renda pago sobre o capital = 750 Porcentagem do patrimônio da empresa entregue ao fisco = 750/23.000 = 0.0317(3.17%). Agora apresentaremos um caso em que a correção monetária possui saldo credor, ou seja, um caso em que os ítens do ativo permanente têm maior correção do que o patrimônio líquido. Suponhamos a seguinte situação hipotética do patrimônio de uma empresa: Caixa Passivo 2.000 10.000 Imobilizado Capital 28.000 20.000 Supondo não ter havido aplicação dos valores do caixa e que tenha havido receitas de $8.000 no período referentes à serviços prestados e nenhuma outra receita ou despesa(como no exemplo anterior, a inflação no período foi de 15% e o I.R de 25%). Neste caso, o demonstrativo de resultado seria o abaixo: Correção do ativo permanente: 28.000X15% = 4.200 Correção do patrimônio líquido:20.000X15% = 3.000 Saldo da correção monetária(credor) = ............1.200 Receita de vendas Saldo da correção monetária Lucro antes do I.R. Pagamento de I.R. Lucro líquido 8.000 1.200 9.200 (2.300) 6.900 Neste caso temos uma diferença a maior de I.R. pago no caso de correção monetária credora, tendo em vista que houve um ganho em virtude de uma maior correção do ativo permanente do que o patrimônio líquido(1.300). O excesso de I.R. pago corresponde justamente a essa diferença em virtude da correção. Numa primeira análise poderia parecer que se estaria pagando menos I.R. em virtude da não correção monetária. Se apenas considerarmos um exercício esse raciocínio estaria correto. Ocorre que, com o passar dos exercícios, os bens do ativo permanente sofrem depreciação, depreciação esta que, em virtude dessa não correção do permanente estaria subavaliada, reduzindo despesas do exercício e aumentando o lucro. Isto proporcionaria um falso lucro ao longo dos anos, ocorrendo uma tributação sobre o patrimônio. Essa situação poderia ser antecipada se esse bem do ativo permanente fosse vendido. Nesse caso, esse bem teria sido baixado do ativo com seu valor escoimado da correção monetária, ou seja, uma despesa que deixou de ser computada para redução da base de cálculo do I.R. Em ambos os casos, mesmo que o valor presente do I.R. fique menor em algumas situações, isso não quer dizer que não esteja havendo incidência desse imposto sobre o patrimônio líquido das empresas. Pensar Contábil Da manutenção do patrimônio Situações recentes ocorridas na economia mundial nos dão conta no sentido de que temos que fazer algumas reflexões sobre os modelos adotados pelos diversos países causadores do “terremoto” ocorrido no mercado de capitais, especialmente o norte-americano e com reflexos no Brasil. Tema ainda pouco difundido no Brasil, a manutenção física ou financeira do capital vem tomando força. David Solomoms, entre outros, já por volta de 1980 preconizava conceitualmente a manutenção física e financeira do capital, teoria essa corroborada por diversos outros autores, como de Robert Sterling (1982), Carsberg (1982), de Revsine (1982), de Butterworth (1982). Um dos pontos essenciais dessa teoria é a discussão de como se tem tentado manter o capital longe de variações, oscilações, ou perdas. E a fórmula que tem imperado até aqui é aquela que visa a manutenção financeira do capital (fundamentada nos princípios do mercado de capitais). Manter o capital longe de flutuações tem provocado mudanças conceituais profundas na contabilidade, a partir dos anos 80. 47 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 O ponto crucial dessas mudanças é a tentativa de substituição do custo histórico pelo custo corrente. Outro ponto “nervoso” é a revisão das estruturas de informação contábil (demonstrações contábeis). No Brasil, um importante passo dado no sentido de se manter o capital ileso às flutuações do mercado foi a instituição da correção monetária, através da Lei 6.404/76 e da correção monetária integral, através da Instrução CVM 64, já que o Brasil é um país que sofre com as oscilações cambiais, dependente que é do capital internacional, especialmente das taxas flutuantes de juros decorrentes da dívida externa. Internacionalmente a preocupação da substituição do custo em bases históricas recrudesceu por volta dos anos setenta em virtude da extinção do acordo de Bretton Woods, com o abandono dos padrões de conversibilidade da moeda em ouro. Basearam os pesquisadores norte-americanos seus conceitos contábeis de riqueza e de resultado da riqueza em idéias econômicas preconizadas por Von Hayek (1941), Hicks (1939), Pigou (1941) e outros economistas da metade do século XX. Na década de 80, muitos pesquisadores se basearam na máxima de Hicks de que: A renda de um homem é o valor máximo que ele pode consumir durante uma semana e ainda permanecer com a situação financeira no final da semana tão boa quanto no início. Esse é um conceito que deveria ser observado pelos legisladores ao instituir o nosso imposto sobre a “renda”. Não questionamos o tributo em si, mas a base de cálculo que vem sendo utilizada, desconsiderando os efeitos pernósticos da inflação. Embora esse conceito de Hicks seja difícil de se demonstrar na prática, já que essa manutenção depende de vários fatores exógenos, tais como mercado, políticas de governo, entende-se que a manutenção do capital livre de efeitos da inflação é uma medida que vai de encontro a esse objetivo. Uma outra discussão acerca do capital é sobre sua função. Seria a manutenção das operações da empresa, ou geração de serviços potenciais, ou ambas? Ainda se observa em entidades fechadas o procedimento dos gerentes no sentido de manter suas atividades voltadas para a operacionalização do processo fabril, como era feito desde a revolução industrial. Hoje os gerentes das corporações estão voltados para a consecução de resultados financeiros, “não-operacionais” (serviços potenciais). Pensar Contábil Conselho Regional de Contabilidade do RJ Antônio Lopes de Sá teoriza a manutenção do capital, tratando de um “meio patrimonial” (capital) e de uma “necessidade” (manutenção). Os pesquisadores norte-americanos defendem a tese da manutenção da quantidade física das unidades, ou seja, a tese em que somente a variável quantidade determina a prosperidade da empresa. Entretanto, segundo Antônio Lopes de Sá o que determina a prosperidade da empresa seria a eficácia das funções sistemáticas, estas autônomas e interativas. Desta forma, como bem ressalta o mestre, é necessário que o meio capital seja bastante funcional para atender às necessidades de manutenção da empresa, necessidades estas que se alteram segundo diversas variáveis, tais como espaço, tempo, qualidade, quantidade, causa e efeito. Por essa razão, considerar apenas a variável quantidade, nesse caso, significa conduzir a empresa à ineficácia, ao engessamento operacional, ou seja, a resultados insatisfatórios que a própria variável quantidade, isoladamente, pretendia evitar. Diante desses conceitos e a partir da preocupação de diversos países na manutenção do capital das empresas, entendese que a medida do governo no sentido de eliminar a correção monetária dos balanços vai na “contramão” das tendências internacionais, um passo atrás após um grande avanço, quando da implantação dessa correção monetária. Um caso prático A seguir será apresentado um balanço correspondente aos exercício de 1999 e 2000 da Copesul – Petroquímica do Sul publicado em jornais. Em virtude de falta de dados, vamo-nos restringir apenas aos componentes do balanço ativo permanente e patrimônio líquido e estimar a correção monetária com base na Lei 6.404/76 e verificar a diferença paga a maior de I.R. em virtude da não correção monetária. Por uma questão de simplificação vamo-nos ater apenas na variação do ativo permanente entre esses dois exercícios, supondo que essa variação tenha sido em virtude de baixa ou venda. Nesse caso teremos uma despesa de correção monetária não incluída no demonstrativo do resultado do exercício de 2000, alterando o lucro para mais. Contabilista (Registrado no CRC-RJ) Crie seu e-mail gratuitamente com o domínio @crcrj.org.br Visite o portal do CRC (www.crc.org.br) e cadastre-se 48 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ COPESUL - COMPANHIA PETROQUÍMICA DO SUL E EMPRESA CONTROLADA BALANÇOS PATRIMONIAIS 31 de dezembro de 2000 e 1999 (Valores expressos em milhares de reais) ATIVO Controladora Consolidado 2000 1999 2000 1999 708 112 790 261 280.956 248.361 336.649 295.799 214.852 192.342 199.313 175.972 59.023 17.945 75.438 41.863 (18.572) (14.447) (5.680) (1.118) 4.134 2.616 4.685 3.462 - 16.727 - 16.727 31.746 1.384 31.746 1.384 121.403 79.176 121.403 79.176 8.105 6.117 8.105 6.637 702.355 550.333 772.449 620.163 Circulante Disponibilidades Títulos e valores mobiliários Contas a receber de clientes Partes relacionadas Clientes – outros Saques de exportação – faturados Outras contas a receber Adiantamentos a fornecedores Impostos e taxas a recuperar Estoques Despesas pagas antecipadamente Total do ativo circulante Realizável a longo prazo Partes relacionadas - 101.717 128.974 10.120 6.638 10.120 9.472 1.625 9.472 14.270 14.144 14.270 407 8.605 407 5.265 6.676 5.265 37.688 39.534 139.405 168.508 20.950 46.415 16.253 12.322 1.642.104 1.731.319 1.642.104 1.731.319 34.421 41.214 34.421 41.214 1.697.475 1.818.948 1.692.778 1.784.855 2.437.518 2.408.815 2.604.632 2.573.526 Impostos e taxas a recuperar 6.638 Depósitos judiciais 1.625 Despesas pagas antecipadamente Pensar Contábil - 14.144 Mútuos com terceiros 8.605 Sinistros a receber e outros 6.676 Permanente Investimentos Imobilizado Diferido Total do ativo 49 Pensar Contábil Nov - 2003/Jan - 2004 Conselho Regional de Contabilidade do RJ Considerações: Total do ativo permanente em 1999: ................................. $ 1.818.948.000 Total do ativo permanente em 2000: ................................. $ 1.697.475.000 Diferença: ........................................................................... $ 121.473.000 Atualização monetária da diferença: 121.473.000X0.185 = 22.472.505 Imposto de renda pago a maior em virtude de não contabilização dessa diferença: 22.472.505X0.35 = 7.865.376. Podemos deduzir a partir dessa simples verificação que a empresa deixou de contabilizar uma despesa de $ 22.472.505 em virtude da não atualização do ativo permanente baixado, aumentando o lucro nesse valor e, conseqüentemente tributando o I.R. sobre o patrimônio dessa empresa. Outras verificações poderiam ter sido feitas, entretanto pela falta de dados mais consistentes deixamos de elencar aqui, como a subavaliação da depreciação em virtude da não atualização do permanente, etc. Conclusão: A instituição da correção monetária foi um passo importante no sentido de a contabilidade se aperfeiçoar para fornecer informações relevantes aos seus usuários. Entretanto, com sua extinção, ocorreu não somente um retrocesso, mas os relatórios contábeis deixaram de fornecer informações que são de interesse principalmente dos acionistas, na medida que está sendo informado um lucro que não condiz com a realidade. A análise do lucro passível de tributação deve ser encarada com rigor, na medida que esse lucro é uma medida que pode, a qualquer momento ser alterado em virtude de uma simples assembléia de acionistas, reduzindo-se a parcela que, porventura, comprometa o capital da empresa. Entretanto isso não ocorre com os valores recolhidos ao fisco com base no capital da empresa que, uma vez recolhido, jamais retornará, causando uma sangria no necessário físico das empresas. Bibliografia: Constituição da República Federativa do Brasil/1988 Código Tributário Nacional Pensar Contábil Extinção da Correção Monetária – Sérios Problemas com o lucro e com a Tributação Sobre o Lucro, IOB – Boletim 33/96 FIPECAFI – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras – Aprendendo Contabilidade em Moeda Constante, São Paulo, Atlas, 1995 Hendriksen, Eldon S., Van Breda, Michael – Teoria da Contabilidade, São Paulo, Atlas, 1999 IUDÍCIBUS, Sérgio; MARTINS Eliseu e GELBCKE, Ernesto Rubens – Manual das Sociedades por Ações, Quarta edição, São Paulo, Atlas, 1995 ____. Tendências Evolutivas nas Doutrinas Contábeis – o Neopatrimonialismo. http://www.lopesdesa. com/. Szuster, Natan – Cálculo e análise contábil do lucro passível de distribuição, Revista Brasileira de Contabilidade - 1986 ____. Neopatrimonialismo como pensamento Moderno em Contabilidade. http://www.lopesdesa.com/. 50 PENSAR CONTÁBIL Assinatura anual (04 edições) - Condição: 1 - ASSINATURA 2 - PEDIDO DE RENOVAÇÃO* Preço da assinatura R$ 16,00 DESEJO RECEBER A PARTIR DA PRÓXIMA EDIÇÃO PESSOA FÍSICA NOME: DATA NASC.: N.º REG.: CAT.: NATURALIDADE: NACIONALIDADE: FUNÇÃO: ENTIDADE: CPF: IDENTIDADE: ÓRGÃO: UF: END. RESID.: N.º: BAIRRO : CIDADE: DDD : TEL.: APTº : ESTADO: FAX : CEP.: END. ELETRÔNICO : PESSOA JURÍDICA NOME FANTASIA: CONTATO: CNPJ: INSC. ESTADUAL: END. COM.: INSC. MUNICIPAL: N.º: BAIRRO : CIDADE: DDD : TEL.: FAX : ANDAR: ESTADO: SALA: CEP.: END. ELETRÔNICO : Opção para pagamento 1 - Depósito Em favor do CRC-RJ - Banco do Brasil - Agência 1769-8 (Candelária) - Conta Corrente n.º 347.729-0 - CNPJ - 33.287.806/0001-61. 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