América Central: a última fronteira ibero

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América Central: a última fronteira ibero
IV Encontro Nacional da Ulepicc-Brasil – Rio de Janeiro/RJ – 9 a 11/10/2012
América Central: a última fronteira ibero-americana para Televisão Digital1
Pedro Santoro Zambon2
Vivianne Lindsay Cardoso3
Juliano Ferreira Sousa4
Resumo:
Nos últimos dez anos diversos países de origem ibero-americana começaram seu processo de
implementação da televisão digital. Passando processo decisório do modelo a ser adotado – entre DVB,
ATSC e ISDB – vários desafios são enfrentados para a transição tecnológica plena se realizar. Diante
deste cenário, sob o contexto ibero-americano, a América Central surge como um dos últimos locais onde
este processo se encontra no estágio embrionário e, por consequência, ainda se observam diversos
joguetes políticos e pressões regionais na relação entre a implementação do sistema versus o modelo
econômico e tecnológico desejado pelo país. Deste modo o artigo expõe o processo de grande parte dos
países deste continente, evidenciando as relações por detrás dos processos decisórios deflagrados.
Palavras-chave: Televisão Digital, Políticas Públicas, América Central
Abstract:
Over the past decade several Iberoamerican countries began its process of implementation of digital
television. Passing the decision making model to be adopted - including DVB, ATSC and ISDB – they
are facing various challenges for technology transition fully realize. Given this scenario, under the IberoAmerican context, Central America emerges as one of the last places where this process is in the
embryonic stage and therefore still observed many political pawns and regional pressures on the
relationship between the implementation of the system versus the desired technological and economic
model for the country. Thus the article presents the case of most countries of this continent, showing the
relationships behind the decision processes triggered.
Keywords: Digital Television, Public Policies, Central America
1
2
Trabalho apresentado no GT1 – Políticas de Comunicação, IV Encontro Nacional da ULEPICC-Br.
Pedro Santoro Zambon é aluno de graduação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
([email protected])
3
Vivianne Lindsay Carsoso possui graduação em Comunicação Social - Jornalismo pela Pontifícia
Universidade Católica de Campinas (2000) e é mestre em Comunicação na Unesp - Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho ([email protected])
4
Juliano Ferreira Souza é possui graduação em Comunicação Social – Jornalismo pela Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho(2011). ([email protected])
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Principalmente nos últimos dez anos, diversos países de origem ibero-americana
divulgaram o início da implantação da Televisão Digital em seu território. A escolha do
modelo a ser adotado - seja o europeu Digital Video Broadcasting (DVB), o sistema
norte-americano Advanced Televisión System Committee (ATSC) ou o nipo-brasileiro
Integrated Services Digital Broadcasing (ISDB-T) - sempre varia a partir por fatores
econômicos, políticos e culturais que serão envolvidos nesse processo. Diante disso
analisamos o cenário da América Central como a última fronteira no processo decisório
para a implementação da televisão digital dentro da Ibero-América, dado o fato de que
os países deste continente foram os últimos a chegar a uma definição e observando o
embate de força entre os interessados nos três modelos para que eles fossem aplicados.
Deste modo, analisou-se em que contexto estão se realizando tais decisões, quais os
avanços empregados e quais as forças e influências políticas que pressionam as
diferentes políticas públicas adotadas em cada um dos principais países. Para se extrair
uma ampliação da visão crítica sobre o contexto da implantação da televisão digital,
analisam-se oito países da região que vivem realidades socioeconômicas diferentes e
processos de transição tecnológica em estágios heterogêneos.
Apesar dos estudos produções acadêmicas locais ainda serem escassos pelo
processo embrionário em que a transição se encontra, buscou-se nela a fonte primordial
para a análise, compreendendo também como fundamentais as bases teóricas da
Economia Política da Comunicação como guias para a análise crítica desse processo.
Além de um levantamento de publicações em periódicos, anais de congressos,
dissertações e livros publicados online nos países analisados, foi de fundamental
importância o uso de notícias e artigos jornalísticos locais e internacionais na internet
que complementassem as informações que a academia ainda não se prontificou a
analisar.
O desafio de colocar em pauta a televisão digital em países cuja digitalização
ainda caminha lentamente foi um desafio, que esbarra em questões sobre concentração
de mídia e monopólio, influencias regionais econômicas dos Estados Unidos, pressão
política regional do Brasil na tentativa de expandir o seu modelo no mercado local da
América Latina e disputas econômicas regionais. Tal constituição, no entanto, reflete
uma situação em que as discussões sobre a televisão digital ainda tangenciam somente
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ponderações sobre o processo decisório da relação entre o modelo de TDT (Televisão
Digital Terrestre) escolhido e as influências exercidas por países centrais interessados
em expandir suas fronteiras comerciais, sem deixar de notar em como as parcerias com
esses países vão promover e viabilizar tal digitalização. E para além dessas influências,
é necessário se notarem as relações entre os países envolvidos, e como a escolhas os
influenciam mutuamente – inclusive na questão de cooperações locais e como relações
políticas atribuladas entre alguns vizinhos podem explicar a adoção de modelos
distintos.
Fator inegável para todos os países da América Central e Caribe – com exceção
de Cuba – é a profunda influência e dependência econômica e, por consequência,
política, dos EUA na região. Em números, temos por exemplo um cenário da República
Dominicana, onde 87,3% do fluxo de exportações e 60,5% das importações são
realizadas com os Estados Unidos. Na tabela abaixo, podemos conferir a porcentagem
da economia desses países que está comprometida em relações com os EUA. Os dados
dão do Banco Mundial referentes à 20085.
Tabela 1: Relação econômica América Central X EUA
País
Exportações aos EUA
Importações aos EUA
República Dominicana
87,3%
60,5%
El Salvador
66%
43,4%
Guatemala
41,2%
34,3%
Honduras
34,7%
40,5%
Nicarágua
31,1%
22,5%
Tais relações comerciais ajudam a explicar o porque alguns países adotaram
quase que automaticamente o modelo norte-americano para a sua TV Digital. O
primeiro e mais explícito dos exemplos é o Estado Livre Associado de Porto Rico, que é
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Dados adquiridos em: http://data.worldbank.org/
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literalmente uma colônia dos Estados Unidos, sendo um país incorporado e cujos
habitantes possuem cidadania estadunidense. O que diferencia Porto Rico de um estado
americano qualquer, no entanto, é que Porto Rico pertence aos Estados Unidos, mas não
faz parte deles – possuindo assim um governo com autonomia fiscal e tributária. Tal
situação política acabou por condicionar Porto Rico a uma subordinação políticotecnológico na questão da TV Digital, considerando que a implementação da TDT se
deu de maneira integrada a digitalização de outros territórios americanos não
continentais como o Havaí. Para além de Porto Rico, e sua adoção automática do ATSC,
surgiram países que teoricamente tem autonomia para escolher o modelo a ser adotado
mas que acabaram por ceder às pressões não só de economia absolutamente dependente
dos EUA, como também a sua uma influencia cultural já arraigada em suas populações,
como é o caso da República Dominicana, El Salvador, Honduras e Guatemaça.
O primeiro país a definir o modelo estadunidense como aquele a ser adotado foi
Honduras, em janeiro de 2007 em um anúncio da Comisión Nacional de
Telecomunicaciones (CONATEL). O presidente da Conatel, Rassel Tomé, comentou na
época que um dos principais motivos de Honduras ter optado pelo modelo
estadunidense é a grande quantidade de compatriotas que vivem naquele país e
importam de lá aparatos televisivos já compatíveis com o ATSC (LA TRIBUNA,
25/09/2007). O anúncio precoce evidencia também o curto processo de estudo sobre
outros standards a serem adotados, agilizando assim o início da implementação da
tecnologia no país cuja previsão de encerramento é para 2023, ou seja, um período de
15 anos de preparação para o apagão analógico.
O segundo país a definir o modelo ATSC foi El Salvador em 22 de Abril de 2009
com base em um relatório emitido pela Comisión Técnica Regional de
Telecomunicaciones en Centroamérica (COMTELCA), definindo seu apagão analógico
para 31 de dezembro de 2018. A justificativa pela escolha do modelo seguiu o mesmo
raciocínio explicitado no caso de Honduras. O gerente de telecomunicações da
Superintendencia General de Electricidad y Telecomunicaciones (SIGET), Saúl
Vásquez, assumiu que além da questão tecnológica, o motivo principal da escolha pelo
modelo a grande quantidade de salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos – segundo
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estimativas cerca de 2,5 milhões de compatriotas, um número bastante elevado para um
país com população de 7 milhões de habitantes (EL NACIONAL, 16/02/2009).
Já a República Dominicana veio de um processo mais complexo. Ele começou
efetivamente em 2006, mediante a “Resolución 003-06” do Instituto Dominicano das
Telecomunicações (Indotel) que gerou uma comissão para o estudo da implementação
da TV Digital no país. A questão intensificou-se quando José Rafael Vargas, presidente
do Indotel, anunciou a agenda para a preparação dessa mudança da televisão analógica
para a digital, pouco depois da Comissão Federal de Comunicações dos Estados Unidos
(FCC) estabelecer uma data limite para o apagão analógico americano. Foi assim que
teve início a jornada para a escolha do modelo a ser adotado pelo país, por meio de
testes centralizados principalmente no canal estatal televisivo da CERTV (Corporacion
Estatal de Radio y Television), definido os parâmetros de estudo entre os modelos
americano (ATSC), europeu (DVB-T) e o brasileiro (ISDB-T). Com a chegada do
apagão analógico americano em Junho de 2009 surge então uma preocupação latente de
parte da população dominicana que captava o sinal americano do país – algo que
assegurou-se mesmo após o apagão, segundo Vargas (LISTÍN, 19/06/2009). Tal
situação, no entanto, refletia uma realidade que acabou por influir de maneira categórica
no processo decisório dominicano: a cultura da sua população em consumir e captar
programação estadunidense. Estima-se, por exemplo, que em Junho de 2009, quando o
modelo ainda não havia sido decidido, já haviam 300 mil televisores de alta definição
que tinham sistema de captação ATSC integrado (DIÁRIO LIBRE, 10/06/2010).
Mesmo com todos os indicativos começarem apontando para uma escolha pelo
modelo americano, houve uma repercussão em relação aos estudos sobre os demais
modelos, inclusive com a criação de um Espacio Interactivo Sobre la TV y Radio
Digital en la República Dominicana6, promovido pela Comisión Nacional para la
Sociedad de la Información y el Conocimiento (CNSIC) e pela Indotel. Tais discussões
deram origem, inclusive, em Maio de 2009, a um importante Taller Internacional de
Radio y Televisión Digital en la República Dominicana onde vários especialistas
internacionais dos principais standards discutiram a questão da implementação da
Televisão e Rádio digitais no país. E após um total de três congressos e várias visitas de
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http://indotel-tvdigital.blogspot.com/
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comissões à Europa, Estados Unidos e Brasil, surge uma definição. Em Agosto de 2010
decide-se oficialmente pelo modelo americano ATSC, mediante ao Decreto 407-10,
emitido pelo presidente Leonel Fernandéz. Segundo o decreto, ficou estabelecido
também o apagão analógico para setembro de 2015, ou seja, mesmo sendo o último dos
países citados a adotar o modelo, foi o que estabeleceu o prazo mais recente - apenas
cinco anos para a transição do analógico para digital. Os desafios para a substituição de
todos os transmissões e aparelhos em um período tão curto ainda é uma das grandes
dúvidas que se ficam em relação a TV Digital dominicana. A proximidade e sincronia
com o mercado americano, no entanto, mostra que a natural escolha pelo modelo ATSC
pode facilitar esse processo.
Mas dentre os que adotaram o sistema, aquele cujo processo foi mais tortuoso
foi a Guatemala. Ainda que tenha sido citada a adoção do sistema brasileiro como mais
provável, houve um grande atraso em relação ao processo decisório, que revela uma
série de questões sobre as características do monopólio da televisão guatemalteca nas
mãos do grupo Albavisión, do magnata mexicano Ángel González. Ele é dono de quatro
emissoras guatemaltecas (canais 3, 7,11 e 13) das nove existentes, além de sustentar um
império midiático na América Latina.
For someone who shuns the limelight, doesn’t give interviews, doesn’t want his
picture taken and protects his privacy with zeal, Remigio Angel Gonzalez y
Gonzalez, is surprisingly, an open book. The Mexican-born, Miami, Florida
resident is president and owner of Albavision, a Miami-based group that
controls 26 TV stations in 10 Latin American countries, 21 of which it owns
while the rest are affiliated for programming. Albavision also controls 82 radio
stations (25 of which are owned and operated) and 40 movie theaters (Cine
Alba) in Guatemala and Costa Rica.(SERAFINI, 2010)
O grande motivo por detrás desse atraso nas decisões está, segundo Orellana
(2010), no fato de ser uma “ampliação no espectro de possibilidades”, ou seja, a
capacidade tecnológica digital que gera a abertura de espaço para vários novos canais
televisivos, que ofereceriam uma ameaça ao monopólio construído por González.
Y en Guatemala, aunque haya algunos que digan lo contrario, existe un
monopolio de la televisión que impide el surgimiento de canales alternativos
que, en las mismas condiciones y circunstancias que los canales de González,
permitan una competencia real y leal que contribuya a democratizar los medios
y democratizar al país. Hoy, en su plan de “Gran Señor de la Televisión”, el
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mexicano se permite recibir en su residencia de Miami cada cierto tiempo la
visita de políticos mediocres que le suplican espacios en sus canales, a cambio
de lo cual ofrecen continuar con el estado de cosas vigente si llegar al poder.
(ORELLANA, 2010)
Independentemente dessa condição política que atravanca o processo da TDT na
Guatemala, a expansão das fronteiras do modelo nipo-brasileiro de TV Digital, o ISDBT, acabou por tentar quebrar essa forte influencia monopolista interna com o
oferecimento de apoio econômico para a implementação da tecnologia no país. Este
apoio incluiria ainda “cooperación técnica y tecnológica, sobre todo informaciones del
marco regulatorio, planeamiento del espectro radioeléctrico, acceso al sistema para la
ejecución y apoyo logístico para la creación de contenidos digitales. Además de
cooperación académica y capacitación de recursos humanos y cooperación
institucional.” (LA PRENSA LIBRE, 04/05/2011).
Em outubro de 2010 uma comissão brasileira esteve na Guatemala apresentando
especificações sobre o modelo. No mesmo ano, o presidente guatemalteco Alvaro
Colom esteve no Japão, em visita oficial para fechar um acordo de empréstimo de
US$120 milhões de dólares para regularizar estradas das regiões mais pobres. Na
ocasião, também foi apresentado o standard ISDB-T para que Colom pudesse estudar o
modelo em que se pensa seriamente, segundo as palavras do próprio presidente, a
possibilidade de adotá-lo. (LA PRENSA LIBRE, 22/10/2010). Apesar dos avanços, não
forçaram definições quanto o modelo ou a data do apagão analógico. As definições
surgiram de outra pressão, interna, baseada na influencia do grupo de Angel Gonzaléz
que implementou em sua rede Albavisión a tecnologia do modelo ATSC, importada dos
EUA. (TVTECHNOLOGY, 07/03/2008). A conclusão do processo que já havia se
iniciado em 2006 com a transmissão pioneira na América Central do sinal digital com o
padrão americano da abertura da Copa do Mundo da Alemanha. (TELESÍNTESE,
15/06/2006). Por fim, apesar da tentativa de parceria com o Brasil, prevaleceu a vontade
do empresariado de mídia local. Cajas destaca, entretanto, que a TDT na Guatemala
pode fazer com que “En un futuro no muy lejano habrá que incorporar la Televisión
Digital Terrestre lo que dealguna forma supone un momento oportuno para corregir el
monopolio de la televisión.” (CAJAS, 2011). Mas isso só será possível, quando houver
um movimento em torno das políticas públicas em relação ao processo de
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implementação da TV Digital, sendo que a escolha do modelo baseada nas pressões
internas de uma mídia monopolista não trabalham para promover alguma evolução
neste sentido.
El territorio nacional tiene permitido el uso de estas seis frecuencias de
televisión en VHF; no ocurre lo mismo con la incorporación de sistemas de
tecnología más avanzados como la televisión por cable y la televisión digital
terrestre que funcionan de manera más libre y que por ello requieren de uma
legislación más estricta. (CAJAS, 2010)
Dentre os países da América Central e apesar de todas as influências econômicas
e políticas que historicamente são constatadas na relação com os Estados Unidos,
verificam-se duas exceções que, por diversos motivos, acabam por ceder a influências
diferenciadas, como a referência regional do Brasil e a expansão do standard SBTVD-T
(versão brasileira do modelo japonês ISDB-T).
Desde 2003, quando o atual presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva,
assinou o decreto nº 4.901 que decidiu pelo SBTVD-T, o país e seus líderes, em
especial na Casa Civil e junto ao Fórum SBTVD, começaram a lutar pela
adoção deste mesmo padrão digital (ISDB-T) em toda a América Latina.
Expandir o modelo de televisão digital brasileiro é mais do que aumentar as
relações comerciais e sociais com os países vizinhos, ou simplesmente
intensificar a troca de conteúdos audiovisuais criando identidade e linguagem
latino-americana. É, na verdade, uma alternativa para se criar um mercado
inédito à indústria cultural e tecnológica brasileira, que poderá deixar de ser
importadora, passando a também exportá-la (CARVALHO, XAVIER, CLETO,
IKEDA, 2010)
O primeiro país a adotar este modelo foi a Costa Rica, de maneira tardia. Os
debates sobre tecnologias digitais em território costarriquenho só se iniciaram no século
XXI. Existe uma dificuldade nítida da expansão de algumas realidades midiáticas nas
relações sociais do país. Como exemplo disso, Monge e Chacón (2002) e Monge e
Hewitt (2004) apontam a existência da chamada brecha digital em território
costarriquenho e consideram como fundamental que os esforços sejam feitos justamente
no sentido de ser superada essa realidade.
La brecha digital, es decir, el acceso diferenciado que tienen las personas a las
TICs, así como las diferencias en la habilidad para usar tales tecnologías, el
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empleo actual que le dan a éstas y en el impacto que el uso tiene sobre el
bienestar, sigue siendo un gran desafío para la Costa Rica del siglo XXI. Esta
brecha se sigue mostrando con claridad entre los hogares de diferentes zonas
geográficas, de disímiles rangos de ingreso y de diversos niveles de educación.
(...)En el caso particular de la Internet, cabe resaltar que el poco incremento en
la cobertura para los hogares costarricenses, de tan sólo 1,8 puntos porcentuales
por año, implica que, de mantenerse el status quo, será necesario esperar 45
años más para alcanzar una cobertura total (es decir, del 100 por ciento) en este
importante servicio (MONGE; HEWITT, 2004).
Foi somente em 2009 que foi criada pelo governo (Ministério da Presidência e o
Ministério do Ambiente e das Telecomunicações) uma comissão mista para estudar e
testar os modelos existentes de televisão digital (ATSC, DVB-T e ISDB-T). A partir
disso a comissão apontou o padrão nipo-brasileiro como melhor escolha.
Comissão Especial, formada por especialistas da Universidade do País,
recomendaram ao Poder Executivo da Costa Rica, a adoção do SBTVD, como o
melhor padrão para o desenvolvimento da tecnologia digital no país.A indicação
tem um 'sabor' especial porque a Costa Rica é ligada economicamente aos
Estados Unidos, dono do padrão ATSC. (...) O anúncio formal deverá ser feito
no dia 8 de maio, por meio, do presidente Oscar Arias Sánchez, antes da posse
da nova presidente, Laura Cinchilla. O relatório da Comissão Especial Mista
sobre TV Digital indica o ISDB como o melhor padrão para a Costa Rica
porque ' ele é mais robusto tecnicamente e é o mais adequado para o melhor uso
do espectro. “Também proporciona o desenvolvimento de futuras plataformas
de interatividade e melhor custo benefício na questão potência e cobertura”,
segundo reporta o portal Next TV Latam (PORTAL CONVERGÊNCIA
DIGITAL, 2010) .
Após esses testes e, em certo momento, uma inclinação pelo modelo europeu ,
definiu-se o sistema ISDB-T pela “Desde una perspectiva social, las bondades técnicas
del estándar japonés-brasileño, permitirán una mejor cobertura y la inclusión de
comunidades hasta ahora excluidas de la televisión abierta”, afirma o Informe de
Recomendação ao Governo Federal publicado no dia 29 de abril de 2010. (PORTAL
LA NACIÓN, 26/05/2010).
Aunque no estaba obligado a seguir la recomendación, el entonces presidente
Óscar Arias, su ministro de la Presidencia, Rodrigo Arias, y su ministro de
Ambiente, Energía y Telecomunicaciones, Jorge Rodríguez, firmaron el decreto
N.º 36009 MP-Minaet, el cual establece el ISDB-Tb como estándar de TV
digital para Costa Rica. Arias firmó el decreto el mismo día de la presentación
del informe y este apareció publicado ayer en La Gaceta. (PORTAL LA
NACIÓN, 26/05/2010).
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O sistema brasileiro, que já foi aceito por 87,6% dos países da América do Sul,
também acabou por atrair a Nicarágua, principalmente após a visita do presidente
nicaraguano Daniel Ortega ao brasileiro Luís Inácio Lula da Silva em Brasília em Julho
de 2010. Na ocasião, o tema sobre a adoção do modelo nipo-brasileiro foi considerado
como parte dos acordos bilaterais estabelecidos. Antes disso, os estudos em relação aos
modelos ainda considerava algumas dúvidas em relação a adoção do ATSC. Segundo o
porta-voz do governo de Nicarágua “La idea de firmar con Brasil este acuerdo responde
a que la tecnología que ocupa este país es japonesa, la cual está ampliamente
introducida en nuestro país, por lo que la adaptación sería mucho más sencilla”. Já
segundo declarações do diretor do Instituto de Telecomunicaciones y Correos, Orlando
Castillo, além do acordo representar maiores vantagens tecnológicas em relação aos
demais standards, há um acordo que prevê a exportação de caixas conversoras a um
menor custo, facilitando o processo de implementação no país. (EL NUEVO DIÁRIO,
18/08/2010) Já segundo Hijalmar Ruiz Tückler, consultor internacional sobre
Tecnologias da Comunicação e Informação e ex-diretor do Instituto Nicaragüense de
Telecomunicaciones y Correos, a Nicarágua está pronta para encarar os desafios de
implementaçãoda TDT no país
Las redes de televisión abierta en Nicaragua son relativamente pequeñas,
y por tanto, la sustitución de tecnología, aun cuando se realizará en un
período de varios años (quizás a un horizonte de 10 años) no será
traumática. Será bastante natural, algo similar a cuando se introdujo la
televisión a colores en Nicaragua.(EL NUEVO DIÁRIO, 23/08/2010).
O último dos cenários encontrados quando se fala em TV Digital na América
Central é a figura apresentada por Panamá. Dos países da América Central, ele foi o
único que optou pelo modelo europeu e atualmente é um dos mais avançados na
implementação da tecnologia. O anúncio pelo modelo DVB-T foi feito em 10 de
Dezembro de 2009, no mesmo ano em que a vizinha Colômbia começou a transição no
país. (PANAMÁ AMÉRICA, 26/05/2009) A presença de um país de referência na
região faz com que o Panamá não esteja isolado em relação aos países, já que apenas a
Colômbia, além do Panamá, adotaram o modelo europeu. Portanto, são as relações
comerciais locais que vão garantir a sustentabilidade do modelo, cuja migração
começou no país em setembro de 2011, com a transição das emissões dos canais locais
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para a tecnologia digital. (PANAMÁ AMÉRICA, 14/09/2011). O apagão analógico
ficou para 2020, mas pode ser atrasado em dois anos.
Sin embargo, resaltó, que si se llega a comprobar que el 95% de la
población ya cuenta con televisores que contengan la tecnología DVB-T
o las cajillas decodificadoras de la señal, se podría hacer el cambio en
unos seis años. Admitió que lo que deben hacer ahora es divulgar más la
información para que la gente compre los televisores o los
decodificadores. (PANAMÁ AMÉRICA, 14/09/2011).
Mapa 1.0 – Mapa dos modelos adotados na América Central
Diante deste panorama de diversos cenários do processo de implementação da
televisão digital nos países descritos, levantam-se algumas conclusões sobre o que
influencia na decisão do modelo a ser adotado e de que maneira as relações regionais
interferem nesta decisão. De fato tem que se ressaltar o processo embrionário de todos
os países citados que, independente de suas peculiaridades, ainda estão há quase uma
década das conclusões da digitalização do sinal e vão surgir vários desafios ainda não
encontrados, no que se refere a distribuição, infraestrutura, mudança de programação e
luta contra o monopólio. Sob esta concepção de que a região ainda está em fase inicial
de implementação, surge a ressalva de que a academia local também carece de
bibliografia. Deste modo, para se abstrair um panorama sobre televisão digital na
América Central, depende-se muito de artigos da mídia local e internacional sobre o
assunto. Mesmo no mídia, ainda revela-se a escassez de informações atualizadas e
aprofundadas sobre o caso, o que provocou a necessidade de um trabalho minucioso de
procura por fontes online que pudessem suprir tal lacuna.
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Independente do estágio em que se encontra a migração tecnológica, través da
análise do processo decisório pode-se afirmar que a influencia regional estadunidense
ainda surge como um dos fatores mais fortes na região. Além disso, processos
monopolistas da mídia, personificado principalmente pelo empresário Angel Gonzales,
e outras questões econômicas locais, podem vir a impedir a consequente democratização
com o advento da televisão digital. Outra consideração que surge através da análise é a
de que o Brasil, por meio de políticas de incentivo e ofertas de parceria na
implementação, surge como uma nova força regional importante, capaz até mesmo de
quebrar as influencias regionais estadunidenses na decisão pelo modelo.
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http://www.elnuevodiario.com.ni/nacionales/81490
VARGAS, José Rafael. INDOTEL: RD casi preparada para el salto a la TV digital.
Listin Diário, 14/06/2009