Médicos do HU em greve
Transcrição
Médicos do HU em greve
Entrevista Júlio Croda, infectologista: “Não é a doença que é negligenciada, é a população em si” Pág. 7 Jornal do Simesp Nº 12 • Publicação mensal do SIMESP Sindicato dos Médicos de São Paulo • Maio| 2016 Pág. 3 Médicos do HU em greve Categoria denuncia desmonte promovido pela reitoria da Universidade de São Paulo e paralisa atividades por contratações Pág. 4 Pág. 5 Pág. 6 Butantã Avaliação Direitos Mudança de OS gestora das UBSs na região provoca demissões coletivas e afetam atendimento. Simesp apresentou reivindicações ao secretário municipal de Saúde Em sua 12ª edição, o Simesp Debate trouxe como tema a avaliação dos egressos. Prova obrigatória do Ministério da Educação (MEC) deve ter início em agosto O Jurídico do Simesp explica os direitos dos celetistas na rescisão. Quem tem mais de um ano em carteira, por exemplo, deve ter sua demissão homologada pelo seu sindicato Clipping “ Determinação para confrontar Diretoria do Simesp É preciso determinação para Na prefeitura da capital, ob- enfrentar uma das mais graves servamos problemas nos proces- crises que a saúde pública já teve sos de mudanças nos contratos de em nosso país e em São Paulo. gestão com Organizações Sociais No governo federal interino, (OSs), que têm gerado alterações o ministro da Saúde, político em equipes já bem estruturadas, sem qualquer qualificação que demissão de trabalhadores com pudesse justificar sua indica- vínculo às comunidades assis- ção, declarou que é preciso re- tidas, no caso do Distrito do Bu- ver o direito universal à saúde e tantã, onde celebrou-se contrato que deveria aumentar a parcela com a SPDM (Associação Paulis- da população com planos pri- ta para o Desenvolvimento da vados. O orçamento da área, já Medicina), com diminuição de insuficiente, como destacamos salários em afronta aos direitos neste jornal em diversas ocasi- dos trabalhadores e a qualquer ões, pode sofrer ataques ainda razoabilidade. maiores a partir da ampliação Importante ressaltar que os da desvinculação das receitas médicos e médicas de São Paulo da União, piorando o que esta- não observam inertes as situa- va ruim. ções que descrevemos. Organi- No governo do estado de São zados e com apoio deste Sindi- Paulo, seguimos denuncian- cato, têm enfrentado, resistido, do os problemas de hospitais como observado entre os mé- que têm sido desmontados a dicos que atuam na estratégia partir de cortes de orçamentos saúde da família da zona oeste “justificados” pela queda de ar- da capital, e entre os médicos do recadação tributária. Não dei- Hospital Universitário da USP, xaremos de destacar que consi- que entraram em greve contra deramos absurda a diminuição o desmonte que este serviço tem de orçamento da saúde em um passado nos últimos dois anos. momento de queda no empre- É tempo de confrontar, de go e diminuição do número de resistir, de impedir qualquer pessoas com acesso à Saúde Su- retrocesso que limite o acesso plementar. Nem deixaremos de ao pleno gozo do direito à saú- denunciar que os médicos, as- de, ou que se precarize as con- sim como os demais servidores dições de trabalho dos médicos. do estado, acumulam perdas Os colegas podem contar com o salariais superiores a 25% após Simesp nesses enfrentamentos. três anos sem qualquer reajuste. Enfrentaremos! SECRETARIAS DIRETORIA Presidente Eder Gatti Fernandes [email protected] Geral Denize Ornelas P. S. de Oliveira Comunicação e Imprensa Gerson Salvador Administração Ederli M. A. Grimaldi de Carvalho Finanças Juliana Salles de Carvalho Assuntos Jurídicos Gerson Mazzucato Formação Sindical e Sindicalização Marly A. L. Alonso Mazzucato Relações do Trabalho José Erivalder Guimarães de Oliveira Relações Sindicais e Associativas Otelo Chino Júnior "As OSs em São Paulo recebem mais da metade das verbas da saúde pública na nossa capital. E como elas gastam essa verba, a prefeitura não tem como dizer, porque não tem uma auditoria real sobre essa verba.” Arthur Pinto Filho, promotor responsável pela área de Saúde, sobre a terceirização da saúde em São Paulo 4 de maio – Portal G1 "A equipe mínima virou a equipe padrão, é claro. E, na saúde, você não pode trabalhar sempre no limite. Isso não é bom para ninguém." Eder Gatti, presidente do Simesp, comentando o déficit de médicos na rede pública municipal 19 de abril – O Estado de S.Paulo “Não houve critério claro para as demissões. Quem acumulou mais de R$ 800 milhões em dívidas, inclusive desviando recursos e superfaturando, não foram os médicos, mas os responsáveis pela gestão anterior.” Gerson Salvador, secretário de Comunicação e Imprensa do Simesp, falando sobre a crise nas santas casas e hospitais filantrópicos 18 de abril – Portal Hospitais Brasil EQUIPE DO JORNAL DO SIMESP Diretor Gerson Salvador Editora-chefe e redação Ivone Silva Reportagem e revisão Adriana Cardoso Leonardo Gomes Nogueira Nádia Machado Fotos Osmar Bustos Relações-Públicas Juliana Carla Ponceano Moreira Ilustração Célio Luigi Redação e administração Rua Maria Paula, 78, 3° andar “ Editorial 01319-000 – SP – Fone: (11) 3292-9147 [email protected] www.simesp.org.br PROJETO GRÁFICO Med Idea - Design para médicos Oscar Freire, 2.189, Pinheiros São Paulo/SP 05409-011 Fone: (11) 99897-8787 [email protected] www.medidea.com.br Editor de Arte e diagramação Igor Bittencourt Tiragem: 14 mil exemplares Circulação: Estado de São Paulo Todas as matérias publicadas terão seus direitos resguardados pelo Jornal do Simesp e só poderão ser publicadas (parcial ou integralmente) com a autorização, por escrito, do Sindicato. A versão digital desta publicação está disponível no site do Simesp. Caso não queira receber a edição impressa, basta mandar e-mail para [email protected] 2 • Jornal do Simesp Capa Médicos do HU entram em greve por mais contratações Em assembleia no dia 24 de maio categoria aprova paralisação das atividades Adriana Cardoso > Trabalhadores e alunos do HU realizam protesto contra projeto da reitoria que prevê, entre outros pontos, a desvinculação do hospital da universidade Para reivindicar a contratação para torná-los conscientes da si- mas no Hospital Universitário, didas, especialmente contra o de mais funcionários, médi- tuação do HU. várias propostas e colocações desmonte que a universidade cos do Hospital Universitário Na assembleia, o secretário foram feitas e nenhuma decisão vem sofrendo na atual gestão. da Universidade de São Paulo de Comunicação e Imprensa do tomada. “É inegável, na atual (HU-USP) decidiram entrar em Sindicato dos Médicos de São conjuntura, que estamos traba- Abraço greve a partir de segunda-feira, Paulo (Simesp), Gerson Salva- lhando em escala mínima em Antes da assembleia, cerca de 30 de maio. Até que as contrata- dor, apontou que todos os cami- todos os setores”, argumentou 500 funcionários de diversas ções sejam feitas, eles também nhos – como denúncia ao Minis- favoravelmente à paralisação. áreas e alunos de cursos varia- pleiteiam que o hospital atenda tério Público (MP) – já haviam Os problemas de má-gestão dos da Universidade de São Pau- apenas como uma unidade de sido tentados e que não há, por levaram a universidade a vi- lo realizaram um ato em frente referência, deixando o HU ape- parte do reitor Marco Antonio ver uma de suas piores crises ao hospital, que culminou com nas com os casos considerados Zago, abertura para negociação. financeiras, o que acabou atin- um abraço, por volta das 11h, que mais graves. Sendo assim, não restava outro gindo o HU. A situação da uni- partiu da entrada do pronto-so- caminho a não ser a greve. versidade e do hospital piorou corro dando uma longa volta até assembleia realizada no dia 24 A decisão foi tomada em “O resultado (da assembleia) no ano passado, quando a rei- a lateral da entrada administra- do mesmo mês, no auditório reflete um compromisso dos toria iniciou o PIDV (Programa tiva do hospital. do hospital, quando também médicos com o hospital, com a de Incentivo à Demissão Volun- Enquanto realizavam o ato, houve um ato de funcionários qualidade da assistência e o en- tária). Com o quadro de funcio- eles seguravam cartazes e fai- e alunos de vários cursos da sino que o HU sempre ofereceu. nários reduzido, muitos médi- xas com os dizeres “Vamos des- USP contra o projeto da reitoria Reflete, também, uma posição cos decidiram sair por falta de vincular o Zago”; "Sem bom hos- que prevê, entre outros pontos, muito firme contra o reitor da condições de trabalho. Inclusi- pital não há bom ensino”; e “Se o a desvinculação do HU da uni- USP, que tem investido no des- ve, neste ano, o pronto-socorro HU desvincular, a enfermagem versidade, o que, segundo os monte do hospital, e contra a infantil chegou a ser fechado vai parar”. Durante o abraço, manifestantes, traria enormes omissão do governo do estado por falta de pediatras. Há um gritavam: “O HU é nosso!”. De- prejuízos aos estudantes e à po- de São Paulo sobre a situação. déficit de 213 trabalhadores no pois, o grupo saiu em passeata pulação atendida pela unidade. Estamos num momento de de- hospital, sendo 50 médicos. O até a reitoria. Por tratar-se de um serviço nunciar essas posições para a desprovimento faz com que um Em 9 de maio, estudantes das essencial, os médicos garanti- sociedade no geral”, disse Salva- quarto dos leitos da unidade es- escolas de enfermagem e medi- riam que fosse mantida equipe dor, que também é vice-diretor teja desocupado. cina organizaram um protesto, mínima para o atendimento clínico do hospital. Assim como outras catego- que teve a adesão de funcioná- dos casos de emergência. Eles Um médico presente na as- rias, os médicos do HU-USP vi- rios e alunos de outros cursos, também fariam um trabalho de sembleia pontuou que, nos dois ram na greve um caminho para contra o desmantelamento da comunicação com os pacientes, anos que perduram os proble- terem suas reivindicações aten- USP e a desvinculação do HU. Jornal do Simesp • 3 Saúde Municipal Santa Casa Butantã sofre com mudança na gestão das UBSs # Convênio renovado com Centro de Saúde da Barra Funda > Médicos denunciam que demissões afetam atendimento Após correr o risco de fe- cerca de 16 mil pessoas por char as portas, trabalhado- mês, além de ser um centro res e população atendida de pesquisa e ensino. pelo Centro de Saúde Escola Por falta de recursos, em (CSE) Barra Funda “Dr. Ale- março foi anunciado seu fe- xandre Vranjac” podem res- chamento. Mas, com a mobi- pirar um pouco mais alivia- lização de funcionários e da dos. A Irmandade da Santa população, a decisão foi sus- Casa de Misericórdia de São pensa até que a SMS e a Santa Paulo e a Secretaria Munici- Casa chegassem a um acordo. A troca de organizações so- e que parte dos profissionais pal de Saúde (SMS) renova- O Sindicato dos Médicos de ciais (OSs) na gestão das estava sendo substituída com ram o convênio que permiti- São Paulo apoiou o movi- salários até 73% menores. rá o funcionamento do local mento, inclusive denunciou por mais cinco anos. a situação à imprensa, o que Unidades Básicas de Saúde (UBSs), vinculadas à Secretaria Municipal de Saúde de Reunião São Paulo, mobilizou médi- No dia 5 de maio, um dia após cos e demais profissionais da a primeira assembleia com saúde da região do Butantã, os médicos, o presidente do zona oeste da capital, con- Sindicato, Eder Gatti, e o se- tra as demissões coletivas e cretário de Comunicação e outros problemas que vêm Imprensa, Gerson Salvador, sendo promovidos pela nova levaram ao secretário muni- gestora, a Associação Paulista cipal de Saúde, Alexandre Pa- para o Desenvolvimento da dilha, as reivindicações dos Medicina (SPDM), que substi- profissionais, como a garan- tuiu a Fundação Faculdade de tia do controle social nesse e Medicina (FFM). em outros processos do poder Funcionários da Unidade municipal e de representação Básica de Saúde (UBS) Jar- sindical em comissão criada dim Boa Vista, naquela re- para acompanhar o processo gião, realizaram no dia 18 de de transição. Até o fechamen- maio uma reunião com a po- to desta reportagem, Padilha pulação para explicar os pre- não havia respondido às soli- juízos que a troca de gestão citações. tem proporcionado ao trabalho deles e ao atendimento. CSE responde pelo ajudou a pressionar os gesto- atendimento primário de res a buscarem uma solução. Formação > A Secretaria de Formação Sindical e Sindicalização do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e o Departamento Jurídico da entidade realizaram, no dia 16 de maio, projeto-piloto de formação sindical com a regional Vale do Ribeira. De acordo com a secretária responsável pela área, Marly Alonso, a proposta é ter um processo de educação permanente. Procurada pela reportagem do Simesp, a assessoria Dias antes, os mesmos tra- de imprensa da Secretaria balhadores, junto com a popu- Municipal de Saúde (SMS) en- lação local, fizeram um abra- caminhou nota dizendo que ço coletivo e uma caminhada o processo de transição segue como forma de protesto. “recomendação de órgãos de Mesmo não tendo sido controle, como o Tribunal de atingidos pelas demissões, Contas do Município” e que médicos das UBSs afetadas as OSs atuarão em 23 regiões. estiveram reunidos, em três Na reunião com o secretá- ocasiões, com representan- rio, Gatti afirmou que a tran- tes do Sindicato dos Médicos sição causa enorme prejuízo de São Paulo (Simesp). Eles à população, pois quebra o relataram que as demissões vínculo paciente e equipe estavam sendo feitas coleti- de saúde, algo fundamental vamente, afetando signifi- para a qualidade no atendi- cativamente o atendimento, mento. 4 • Jornal do Simesp O Violência > O secretário de Relações do Trabalho do Simesp, José Erivalder Guimarães de Oliveira, reuniu-se, em maio, com assessores da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo para discutir as bases de um projeto da pasta para combater a violência contra médicos na rede pública da cidade. A proposta deve ser finalizada no início do segundo semestre. Simesp Debate Entidades apoiam avaliação obrigatória Prova do MEC será realizada a cada dois anos e deve iniciar em 28 de agosto Leonardo Gomes Nogueira Entidades reunidas no Sin- Brasil”, considera Rodrigo Chá- dicato dos Médicos de São vez Penha, diretor de Desenvol- Paulo (Simesp), na noite de vimento da Educação em Saúde 12 de maio, mostraram-se da Secretaria de Educação Su- favoráveis ao novo exame perior (SESu/MEC). > Simesp destaca que escolas também devem ser avaliadas vio Gonzaga Silva, do Conselho que existe num país da Amé- que será aplicado aos alu- Em sua apresentação, ele fa- Federal de Medicina (CFM). O rica Latina”, diz. nos do segundo, quarto e lou, entre outros tópicos, sobre médico, em sua apresentação, José Erivalder Guimarães sexto anos dos cursos de o arcabouço legal que ampara lembrou da rápida expansão do de Oliveira, secretário do Sin- medicina a partir de agosto. o exame. A realização de uma número de vagas nos últimos dicato, ponderou que é pre- A Avaliação Nacional Seria- prova do tipo estava prevista anos para estudantes de medi- ciso criar mecanismos para da dos Estudantes de Medi- no artigo 9° da Lei 12.871/13, que cina. E ponderou que é necessá- também garantir a avaliação cina (Anasem), a ser reali- daria origem ao Programa Mais rio garantir a qualidade da sua dos cursos e não apenas dos zada a cada dois anos, será Médicos. formação. alunos nessa prova. obrigatória e indispensável A Anasem começou a ser Reinaldo Ayer de Oliveira, A 12ª edição do Simesp De- para a diplomação dos futu- instituída a partir da Portaria que coordena a Câmara de Bio- bate foi moderada pela dire- ros médicos. 168 do MEC (abril/16), que prevê ética do Conselho Regional de tora Diângeli Soares. “Eu acre- da a criação de uma comissão ges- Medicina do Estado de São Pau- dito que a avaliação externa aplicação da primeira edi- tora composta por diversas en- lo (Cremesp), destacou que há é uma coisa desejável, é uma ção da Anasem será em 28 tidades, que terá como objetivo mais de uma década o Cremesp coisa boa. E ela tem um mérito de agosto de 2016, de acordo apoiar o Instituto Nacional de promove uma prova anual para importante no sentido de con- com o representante do Mi- Estudos e Pesquisas Educacio- avaliar o conhecimento bási- trole social. No entanto, não nistério da Educação (MEC) nais Anísio Teixeira (Inep) na co que seria imprescindível ao compreendi muito bem onde presente ao Simesp Debate. elaboração dessa prova. bom exercício profissional. é que dentro desse processo A “data provável” “As políticas de avaliação se “O conselho recebeu de mui- “O exame do Cremesp é, se- tornaram uma cultura no to bom grado”, disse Lúcio Flá- guramente, o mais sequente de avaliação individual está a avaliação institucional.” Troca de OS Demissões agravam situação do pronto-socorro Santana A troca de gestão do Pronto- maio, pelo Instituto de Atenção Socorro Municipal Lauro Ri- Básica e Avançada à Saúde (Ia- bas Braga, em Santana, zona bas), ambos organizações so- norte de São Paulo, provocou a ciais (OSs). > Em assembleia com o Simesp, médicos reclamam das condições de trabalho demissão de, ao menos, 97 pro- No dia 27 de abril, o Sindica- fissionais entre médicos, enfer- to dos Médicos de São Paulo (Si- “A consequência será o au- tração direta, ou seja, servidores meiros e funcionários do setor mesp) esteve no hospital para mento de filas e a demora no concursados do município, se- administrativo, segundo fontes realização de assembleia com atendimento da unidade que guem trabalhando e afirma des- ouvidas pela reportagem. os médicos, que estavam revol- possui demanda de alto fluxo”, conhecer demissões, pois, nes- O jornal SP Norte fala em tados com a situação que já é explica Eder Gatti, presidente ses processos, ainda de acordo 102 profissionais demitidos. A complicada – péssimas condi- do Simesp. com a prefeitura, os trabalhado- gestão, até então da Santa Casa, ções de trabalho, equipe desfal- passou a ser realizada, em 1° de cada – e tende a se agravar. Contatada, a prefeitura diz que os profissionais da adminis- res, em sua maioria, tendem a migrar de uma OS para a outra. Jornal do Simesp • 5 Plantão Médico “Eu preciso desse outro conhecimento” Para a médica Ana Laura Batista da Silva, que trabalha no Butantã, apenas equipes com profissionais de diferentes áreas podem dar conta da complexidade humana Leonardo Gomes Nogueira “A nossa briga é para que eles não levam em conta o trabalho respeitem aquilo que a gente até então desenvolvido e os vín- faz todos os dias.” O pedido, da culos criados no território. médica Ana Laura Batista da A médica conta que, em abril Silva, refere-se ao desrespeito deste ano, psicólogos, nutricio- que tem causado indignação nistas, fisioterapeutas e outros entre os trabalhadores que atu- profissionais foram demitidos. Ana Laura, formada pela região entre os anos de 2012 e am nas unidades de saúde no O que, ela garante, já provocou Pontifícia Universidade Católica 2014, mais especificamente na Butantã, zona oeste da capital prejuízos na assistência. >Ana Laura: “Mudanças administrativas desconsideram vínculos” de Campinas (PUC-Campinas), Unidade Básica de Saúde (UBS) “Essas pessoas tinham atua- lembra que muitos residentes Vila Dalva, onde ainda trabalha. Um tumultuado processo de ção diária ou semanal na nossa em Medicina de Família e Comu- “A gente está brigando pelo mudança da organização social atividade. A gente tinha uma nidade da Universidade de São não desmonte da saúde no Bu- responsável pela gestão dessas reunião de duas horas toda sex- Paulo atuam nos equipamentos tantã”, ressalta. A médica, in- unidades, ligadas à Secretaria ta-feira pra discutir os casos de saúde do Butantã, o que pode- clusive, é a representante do Municipal da Saúde de São Pau- complexos”, recorda. “Eu pre- rá provocar prejuízos na forma- Sindicato dos Médicos de São lo, tem provocado demissões e ciso desse outro conhecimento, ção desses futuros médicos. Paulo (Simesp) na comissão mudanças administrativas que desse outro saber”, ressalta. paulista. Ela própria foi residente na que acompanha a crise. Direitos no momento da demissão tuais férias vencidas acrescidas Na hora de rescindir o contrato de trabalho sempre surgem dúvidas a respeito do que é ou não direito do celetista. Veja os pontos destacados pelo coordenador do departamento Jurídico do Simesp, José Carlos Callegari da extremamente excepcional, de um terço. Por ser uma mediorientamos sempre a procurar um advogado. O departamento Jurídico do Simesp pode prestar esse tipo de auxílio. Quais são os direitos dos celetis- é importante sempre solicitar, tas na rescisão? por escrito, a dispensa do cum- A homologação deve ser feita Quando o pedido de demissão primento do aviso-prévio. pelo sindicato? parte do trabalhador, as ver- Na dispensa sem justa causa, Conforme a CLT, os trabalhado- bas rescisórias são o salário quando o trabalhador é demi- res com mais de um ano de tra- dos dias trabalhados, 13º salário tido, ele deve receber o salário balho devem, obrigatoriamente, proporcional aos meses traba- dos dias trabalhados, 13º salário ter sua rescisão contratual ho- lhados no ano, férias propor- e férias proporcionais, eventu- mologada pelo seu sindicato - cionais e eventuais férias ven- ais férias vencidas acrescidas no caso dos médicos, o Simesp. cidas acrescidas de um terço. de um terço, aviso-prévio inde- Na homologação, o Sindicato O FGTS (Fundo de Garantia do nizado ou trabalhado e multa confere se todas as verbas res- Tempo de Serviço) não pode ser de 40% sobre o FGTS. cisórias foram pagas correta- sacado. A empresa tem o direito Célio Luigi Jurídico Responde mente e faz eventuais ressalvas de descontar um mês de aviso- E na dispensa com justa causa? daquilo que não foi pago para -prévio caso o trabalhador não O trabalhador tem direito ape- posterior discussão na Justiça cumpra esse período. Por isso, nas aos dias de trabalho e even- do Trabalho. Leia em nosso portal a íntegra do artigo de José Carlos Callegari, advogado do Simesp http://goo.gl/AsRwSt > O que você gostaria de ler na próxima edição? Mande suas sugestões: [email protected] < 6 • Jornal do Simesp Entrevista “Nosso temor é a febre amarela urbana” As doenças negligenciadas começaram a chamar a atenção do infectologista Júlio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz do Mato Grosso do Sul (Fiocruz-MS), quando ele ainda cursava medicina na Bahia. Durante a graduação, ele ajudou a desenvolver um teste rápido para detecção da leptospirose. Nesta entrevista, ele critica a falta de políticas públicas para erradicação dessas doenças no país Redação O que são doenças negligen- Então podemos relacionar as mente é a dengue. Dengue, zika A crise econômica pela qual ciadas? doenças negligenciadas a po- e chikungunya, transmitidas o país atravessa pode agra- Doenças negligenciadas são pulações negligenciadas? pelo mosquito Aedes Aegypti, var o quadro? aquelas que acometem as po- Exato. A definição tem muda- são consideradas doenças ne- Já estamos vivendo essa situa- pulações mais pobres, prin- do muito - e tem mudado nes- gligenciadas. Em um contexto ção. Quando a gente pensa cipalmente na Ásia, África e se sentido. Não é a doença que mais geral, afetam mais as po- que a zika e a chikungunya América Latina. Atualmente, é negligenciada, é a população pulações pobres, que não têm são doenças negligenciadas, de 500 a um milhão de óbitos em si. Por exemplo: tuberculo- os serviços de infraestrutura doenças que não existiam são reportados/associados a se, HIV e malária não são con- adequados. Nas comunidades no Brasil, significa que elas essas doenças. Podemos citar sideradas doenças negligen- carentes a água não chega re- emergiram aqui e estão as- a leptospirose, a leishmanio- ciadas, mas, quando acometem gularmente, a coleta de lixo não sociadas à pobreza, à falta se, Doença de Chagas, Doen- populações mais pobres, mais acontece todo dia, o lixo fica de infraestrutura adequa- ça do Sono, na África, e, no vulneráveis, como a indígena, jogado na rua e o vetor (o mos- da para a população viver. Brasil, também a malária e são. Essas populações têm pou- quito) adora essa condição. No Mas o nosso temor é a febre a tuberculose. São negligen- co acesso ao serviço de saúde, caso da tuberculose, concentra- amarela urbana. Em Ango- ciadas porque não existe um ao diagnóstico, ao tratamento se em populações como a indí- la, por exemplo, já vemos o interesse da indústria far- adequado. gena e aquelas privadas de li- ressurgimento dessa doen- berdade, para as quais também ça, que também é transmi- macêutica em produzir medicamentos ou vacinas para Qual dessas enfermidades mais faltam a presença do Estado e tida pelo Aedes aegypti. Por combatê-las, assim como não mata no Brasil? os serviços de saúde. Falta ao Es- isso, temos que ficar atentos existe um aporte financeiro Difícil falar no contexto que tado garantir, por exemplo, que às campanhas de vacinação adequado do setor público, mais mata, mas podemos citar não tenha superlotação dentro contra a febre amarela e, no sentido de buscar formas algumas importantes. No Bra- da prisão para não favorecer a também, ao controle ade- de preveni-las. sil, a mais importante atual- transmissão da doença. quado do vetor. Jornal do Simesp • 7 Cultura Arte moderna para todos O MAM preserva e dissemina o conceito da arte moderna por meio da inclusão social Leonardo Gomes Nogueira Nádia Machado Mais cultura Auditório Eduardo Barcellos O mesmo parque abriga outros diversos equipamentos culturais. É o caso do Auditório Ibirapuera. Concluído em 2005, a obra é um projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. O local tem uma extensa e variada programação musical; o portão de acesso é o de número três (o mesmo do MAM). Tem capacidade para 806 lugares e uma bela e sinuosa escultura da artista plástica Tomie Ohtake na entrada principal. Informações: www.auditorioibirapuera.com.br/ > Museu de Arte Moderna de São Paulo foi transferido para o Parque do Ibirapuera no final dos anos 60 OCA Mais que preservar um acer- produção contemporânea em MAM passou por vários locais, Ainda pelo portão três é pos- vo com cerca de 5 mil obras, todas as regiões do país”. “O cres- entre eles os edifícios Itália e sível acessar a OCA. O espaço o Museu de Arte Moderna de cimento do interesse pela arte Conjunto Nacional. acolhe exposições variadas e foi São Paulo (MAM) tem o obje- brasileira no mundo consolidou O acervo de livros (e outros igualmente projetado por Nie- tivo de privilegiar a arte expe- o Panorama como uma mostra documentos) tem 65 mil títulos meyer. O arquiteto, ao lado de rimental. “Buscamos cruzar relevante no circuito artístico e é outra preciosidade do mu- Ulhôa Cavalcanti, Zenon Lotufo, fronteiras da produção que internacional”, acrescenta. seu. A direção do MAM tam- Eduardo Kneese de Mello, Ícaro apontem formas instigantes e O MAM possui, além das bém tem preocupação com a de Castro Mello e do paisagista de uma maneira que amplie o salas de exposição, ateliê, bi- chamada formação de público. Augusto Teixeira Mendes, foram público por meio da inclusão blioteca, auditório, restaurante “O atendimento escolar é gra- os projetistas do parque inaugu- social”, expõe Felipe Chaimo- e loja. Desses locais também é tuito e específico para cada fai- rado em 21 de agosto de 1954. vich, curador do local. possível ver, através das gran- xa etária, da educação infantil No passado, o espaço abrigou O museu também fun- des paredes de vidro, o Jardim à universidade”, anuncia o site. o Museu da Aeronáutica e o ciona como centro cultural de Esculturas do MAM, onde Curiosidade: o museu tam- Museu do Folclore. Hoje abriga oferecendo cursos, palestras, há 30 obras expostas, entre elas bém possui clubes de colecio- exposições de vários tipos. In- exibindo espetáculos musi- a famosa Aranha, obra em aço- nadores das áreas de gravura, formações: (11) 5082-1777. cais, sessões de vídeo e prá- carbono de Emanoel Araújo, fotografia e design. “Todos os ticas artísticas. O curador, que está no museu desde 1986. anos, cada clube convida cin- MAC inclusive, explica que essas O museu foi fundado em co artistas a desenvolver uma A poucos metros dali, em edifí- atividades são uma das for- 1948, mas só teve sua sede trans- obra com tiragem de 100 exem- cio também projetado por Os- mas de tornar a arte moder- ferida para o prédio atual, no plares para serem distribuídos car Niemeyer, está o Museu de na mais acessível para todos Parque do Ibirapuera, entre os entre os sócios”, explica a pági- Arte Contemporânea (MAC). O os públicos, por utilizar au- anos de 1968 e 1969. O MAM fica na da instituição. acervo, que reúne, entre outros, dioguias, videoguias e tradu- sob a marquise do conjunto ar- Funciona de terça a domin- pinturas, gravuras, instalações ção para a língua brasileira quitetônico projetado por Oscar go (das 10h às 18h). O ingresso e fotografias, tem 10 mil itens. de sinais. Niemeyer e adaptado por Lina custa R$ 6 e a entrada é gratuita O prédio criado em 1963, fica A cada dois anos, explica Bo Bardi – arquiteta ítalo-bra- aos domingos. O museu fica no na Avenida Pedro Álvares Ca- o site da instituição, “o MAM sileira que também projetou o Parque Ibirapuera (Portão 3, Av. bral, 1301, e funciona de terça realiza o 'Panorama da Arte prédio do Masp – para a expo- Pedro Álvares Cabral, s/n°, São a domingo (das 10h às 18h). A Brasileira', que sição da 5ª Bienal de São Paulo. Paulo-SP). Mais informações: entrada é gratuita. Informações: resulta do mapeamento da Antes da adaptação o acervo do http://mam.org.br/ www.mac.usp.br 8 • Jornal do Simesp exposição