de que cor queremos o nosso futuro?
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de que cor queremos o nosso futuro?
a revista da caixa N.o 08 | Junho de 2012 | Ano III caixa geral de de p ósi tos de que cor queremos o nosso futuro? A pergunta obrigatória no ano internacional da energia sustentável para todos Francisco Ferreira ideias para fazer face à crise Londres 2012 o outro lado da cidade olímpica Sabia que a capital europeia da juventude também é nossa? € 1,50 CoNtinente e ilhas periodicidade Trimestral editorial e Portugal positivo a revista da caixa Diretor Francisco Viana Editores Luís Inácio e Pedro Guilherme Lopes Arte e projeto Rui Garcia e Rui Guerra Colaboradores Ana Rita Lúcio, Catarina Vilar, Helena Estevens, Leonor Sousa Bastos, Nuno Fernandes Carvalho, Paula de Lacerda Tavares, Rui Tavares Guedes (texto); Anabela Trindade, Estúdio João Cupertino e Gualter Fatia, com agências Corbis, Getty Images, iStockphoto e Reuters (fotos); Marta Monteiro (ilustração), Dulce Paiva (revisão) Secretariado Teresa Pinto Gestor de Produto Luís Miguel Correia Produtor Gráfico João Paulo Font REDAÇÃO TELEFONE: 21 469 81 96 FAX: 21 469 85 00 R. Calvet de Magalhães, 242 2770-022 Paço de Arcos PUBLICIDADE TELEFONE: 21 469 87 91 FAX: 21 469 85 19 Impresa Publishing R. Calvet de Magalhães, 242 2770-022 Paço de Arcos Diretor Comercial Maria João Peixe Dias ([email protected]) Diretor Coordenador Luísa Diniz ([email protected]) Coordenador Maria João Jorge ([email protected]) Contacto Ana Dória ([email protected]) Eduarda Casa Nova ([email protected]) Assistente Florbela Figueiras ([email protected]) Coordenador de Materiais José António Lopes ([email protected]) Editora Medipress - Sociedade Jornalística e Editorial, Lda. NPC 501 919 023 Capital Social: €74 748,90; CRC Lisboa Composição do capital da entidade proprietária Impresa Publishing, S. A. - 100% Rua Calvet de Magalhães, 242 2770-022 Paço de Arcos Tel.: 21 469 80 00 • Fax: 21 469 85 00 Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, S. A. Imagem de capa: iStockphoto Propriedade Caixa Geral de Depósitos Av. João XXI, 63, 1000-300 Lisboa Periodicidade Trimestral (Edição n.º 8, abril/junho 2012) Depósito Legal 314166/10 Registo ERC 125938 Tiragem 85 000 exemplares Correio do leitor [email protected] As preocupações com as próximas gerações são, desde há muito tempo, parte integrante da estratégia da Caixa Geral de Depósitos. O Programa Caixa Carbono Zero, um projeto estratégico, transversal a toda a atividade do Banco, é um claro exemplo dessas preocupações, tendo por missão o atingir de vários objetivos: concretizar uma responsabilidade de redução de emissões próprias; responder ao desafio de colocar no mercado novas soluções financeiras que facilitem o acesso a bens e serviços de baixo carbono; e promover o conhecimento sobre o tema de forma a permitir a adoção de comportamentos que reduzam a pegada de carbono. Neste âmbito, projetos como a Central Solar, o Plano de Mobilidade CGD, o cartão Caixa Carbono Zero, a Floresta Caixa ou a Calculadora de Carbono, entre outros, tornaram a CGD líder no combate às alterações climáticas, assumindo-se como a melhor empresa portuguesa e a melhor instituição financeira ibérica na resposta às exigências de uma economia de baixo carbono, de acordo com a análise do Carbon Disclosure Project (CDP). E a propósito de liderança, a Caixa, enquanto Instituição líder e de referência no sistema financeiro português, tem na Sustentabilidade uma das suas prioridades estratégicas. As Políticas de Sustentabilidade, de Ambiente e de Envolvimento com a Comunidade, bem como a definição da Estratégia de Envolvimento com os diversos Stakeholders comprovam essa visão e suportam os vários compromissos que a Caixa assumidos. Por tudo isto, e muito mais, é incontornável dedicarmos uma edição da Cx ao Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos. As opiniões de Francisco Ferreira e de Eduardo de Oliveira Fernandes são um valoroso contributo para percebermos o presente e o futuro de um País e de um planeta de que dependemos para a nossa existência e que precisa de todos nós, não só enquanto pessoas capazes de equilibrarem os seus consumos e desperdícios, mas também como pessoas com vontade de agir, de empreender e de criar. E porque não faltam pessoas assim em Portugal, nas páginas que se seguem, iremos apresentar-lhe João Seabra, José Xavier, Rita Baptista ou Henrique Pinho, entre outros exemplos que ajudam a explicar o porquê de o nosso País ter a cidade Capital Europeia da Juventude 2012. Mas prepare-se porque Braga será, apenas, um dos destinos a descobrir nesta edição da Cx. Francisco Viana «a caixa, enquanto instituição líder e de referência do sistema financeiro português, tem na sustentabilidade uma das suas prioridades estratégicas» A Cx é uma publicação da Divisão Customer Publishing da Impresa Publishing, sob licença da Caixa Geral de Depósitos Esta revista está escrita nos termos do novo acordo ortográfico cx a re v i s ta d a c a i xa 3 i interior 06Pormenor Notícias que saem da Caixa Pessoas DESTAQUES 10 Histórias de sucesso João Seabra vê o mundo em 3D 12 Talento José Xavier e Rita Fortunato Baptista estilo 16 Design & arquitetura Bicicletas via Internet e as peças do atelier Água de Prata 22 Automóveis Híbrido em prol do ambiente 23 Culto Peças com muito estilo 24 Gourmet Belcanto e São Gião 25 Prazeres Um creme para o verão 39 Observatório Eduardo de Oliveira Fernandes 46 Roteiro Encantos da nossa Veneza 48 Fugas As belas Casas de Pousadouro viver 52 Saúde Como aliviar o stress 54 Finanças Conhecer as taxas e o Saldo Positivo Empresas 56 Educação O poder da motivação 58 Sustentabilidade Os ecograffitis e o inquérito a stakeholders da CGD cultura 60 Agenda + Ler & Ouvir Espetáculos, livros e discos 66 Vintage O processo de gravação em talhe-doce 4 cx a rev i s ta d a ca i xa 32 D a cor do futuro Depois de se ter tornado sinónimo de ecologia e de medidas que pintam o amanhã com o tom da sustentabilidade, a economia verde vem mostrar que a prosperidade económica e social também pode chegar por causa do ambiente. Sem se deixar ensombrar por algum cinzentismo da Cimeira da Terra Rio +20. 18Design & arquitetura A curadora geral da Trienal de Arquitetura de Lisboa 2013, Beatrice Galilee, antecipa as novidades de uma iniciativa que, nesta edição, vai integrar no programa cientistas e artistas. 26Entrevista Os portugueses conhecem-no como «senhor ambiente». Figura incontornável no Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos, Francisco Ferreira, da Quercus, promete não baixar os braços na procura das melhores soluções para o ambiente. 40Grande viagem Antecipámo-nos aos Jogos Olímpicos e rumámos a Londres para descobrir uma metrópole cheia de estilos que fervilha de entusiasmo. 62Cultura Passamos em revista a Capital Europeia da Juventude. O que acontece em Braga e a opinião de Hugo Pires, presidente do Conselho de Administração da Fundação Bracara Augusta/ Braga 2012. Foto: iStockphoto destinos p pormenor bolachas que falam Uma mãe e uma filha, jeito para cozinhar e jeito para escrever. São estes os ingredientes-base da receita que fez nascer as Wordcookies que, segundo as mentoras, permitiram juntar a fome com a vontade de comer. O resultado são bolachas artesanais, acompanhadas por palavras os livros e a fotogenia sabia que quando estamos a ler um livro nos tornamos mais fotogénicos? Inspirada por essa ideia, Sandra Barão Neto anda, há cerca de meio ano, apostada em fotografar pessoas a lerem em locais públicos. E o facto de ter encontrado vários casos que sustentam a sua teoria levou-a a criar um blog intitulado Acordo Fotográfico. Uma preciosa curiosidade para descobrir em http://acordofotografico.blogspot.pt. a loucura do instagram Por certo, a palavra «Instagram» já passou por si nos últimos tempos. Por certo, já viu fotografias que utilizam esta aplicação. Ora, e se de aplicação o Instragram passasse a máquina fotográfica verdadeira? A ideia pertence à empresa italiana ADR Studio, que, aproveitando a app, mostrou ao mundo a sua Instagram Socialmatic Camera. Ainda não passa de um protótipo, mas os anunciados 16GB de espaço, o Wifi, o Bluetooth, a impressão das fotos em tempo real e ligação direta ao Facebook ampliam a «loucura» instalada. 6 cx a re v i s ta d a c a i xa (é possível personalizar as bolachas e os rótulos das embalagens). Para deixá-lo de água na boca, podemos adiantar que as bolachas de manteiga representam o Amor e a Amizade, as de cacau a Gula, as de parmesão a Inveja e as de pimenta a Loucura. Para encomendar, basta um e-mail para [email protected]. a p o u pa r d e sd e j ov e m O Cifrão está na Caixa O novo embaixador da poupança foi apresentado a 1 de junho, no Dia Mundial da Criança O ator e músico vítor fonseca – mais conhecido por Cifrão – é, desde o passado 1 de junho, o Dia Mundial da Criança, o embaixador da poupança da Caixa, um facto que reforça a já forte ligação da CGD ao segmento jovem. Isso mesmo explica Francisco Viana, diretor de Comunicação e Marca da Caixa, ao referir que o objetivo passa por «posicionar a Caixa como Banco oficial da poupança e, consequentemente, como o Banco dos jovens e do seu futuro». A Caixa pretende com este convite que o ator, enquanto embaixador da Caixa, transmita aos mais novos que poupar não recorde elétrico o novo renault zoe conseguiu completar 1618 km estabelecendo um novo recorde do mundo para a maior distância percorrida, em 24 horas, por um automóvel elétrico de série. é um «bicho de sete cabeças», mas o necessário para poderem encarar o futuro com outros olhos e, acima de tudo, terem como investir. «A Caixa tem sido, ao longo dos anos, o Banco que encara a poupança de uma forma positiva e facilitadora. Neste sentido, vamos abordar a questão da Poupança Jovem de uma forma mais inspiradora para os jovens e para os pais», explica Francisco Viana. O convite da Caixa resulta do facto de o ator Vítor Fonseca ser um jovem talentoso, com uma capacidade ímpar de trabalho e que sempre lutou pelos seus sonhos. Uma pessoa que, ao longo da sua vida, se tem empenhado, de forma determinada, a construir o seu futuro. «É, sem dúvida, um verdadeiro exemplo a seguir», refere o diretor. empreendedorismo nacional tem a marca cgd a caixa geral de depósitos, através do seu vice-presidente executivo, António Nogueira Leite, representará Portugal no Comité de Peritos da Comissão Europeia para o Empreendedorismo Social (GECES). Esta é mais uma prova do reconhecimento do trabalho desenvolvido pela CGD, na área da Inovação Social. Os Simpsons, vistos pela campanha da Lego O poder da imaginação Jung von Matt Hamburg é a agência responsável pela campanha minimalista da Lego. Intitulada Imagine, recria personagens famosas como Os Simpsons, South Park, Tartarugas Ninja, Os Estrumpfes, Lucky Luke ou Astérix e Obélix de uma forma que apela ao poder da imaginação. esteja atento a este símbolo da próxima vez que entrar num espaço de restauração, se vir este símbolo quer dizer que está a entrar num espaço onde todas as refeições que seriam deitadas fora são encaminhadas para a mesa de alguém. Numa altura em que se estima que cerca de 360 mil portugueses passem fome e que, diariamente, de norte a sul do País, mais de 50 mil refeições sejam desperdiçadas, o movimento Zero Desperdício lança mãos à obra. Assim, as refeições que nunca foram servidas, cujo prazo de validade está a chegar ao fim, ou que não foram expostas nem estiveram em contacto com o público são guardadas em embalagens. Depois de recolhidas, as refeições de cada estabelecimento são transportadas para as entidades aderentes, que, por sua vez, organizam e distribuem essas refeições por famílias necessitadas. Junte-se à causa em http://www.zerodesperdicio.pt. Design português à conquista de Londres se, envolvido pelo espírito olímpico, estiver a pensar em visitar Londres, fique a saber que a capital inglesa tem já um espaço onde o design português é rei e senhor. Na CDC – Colour Design Concept, há mobiliário desenhado por Souto de Moura ou Siza Vieira, há a nossa cortiça e trabalhos de jovens designers como Vandoma, Apicula ou Bicho de Sete Cabeças. Saiba mais em www.colourdesignconcept.com. É uma t-shirt portuguesa, com certeza Mobilidade urbana Fotos: D.R. Sinta-se Frii! o estudante israelita de design Dror Peleg desenvolveu a Frii Bicycle, uma bicicleta feita a partir de plástico reciclado. O designer usou tecnologia de moldagem por injeção plástica, para criar um modelo de baixo custo que se revela um excelente meio de transporte. Seguro, durável e sustentável, criado 100 por cento com material reciclável, pode ser personalizado de acordo com as características do país ou cidade onde vá circular. francisco e cristina pacheco pensaram numa forma de promover Portugal e a forma ideal que encontraram para o fazer foi através de t‑shirts (o que não quer dizer que não venha a estender‑se a outros objetos). A Ventania, assim se chama a marca, transporta para as ditas t-shirts vários símbolos nacionais, tais como o galo de Barcelos, o elétrico 28, os corvos de Lisboa, as ondas do Algarve ou um copo de vinho do Porto, entre outras ilustrações. As t-shirts podem ser encontradas em locais como a Artes&etc, a Portugal Essential, a Arte periférica e a Bshop (CCB), todas em Lisboa, estando para breve a sua presença nas lojas PortoSigns (no Porto) e nas lojas Limão (Portimão e Alvor). cx a re v i s ta d a c a i xa 7 p pormenor 1 CNC voltam a ser um êxito A Universidade de Aveiro encheu-se de crianças e jovens de todo o País para as Competições Nacionais de Ciência, promovidas pelo PmatE (Projeto Matemática Ensino), com o apoio da Caixa. Aos 22 anos, aquela que é, talvez, a maior iniciativa do género em Portugal foi de novo um sucesso, acolhendo mais de 13 500 participantes. 2 Manhattan como nunca a viu Intitula-se Downtown from Behind e é uma surpreendente iniciativa da fotógrafa Bridget Fleming. Bridget começou a fotografar os moradores da cidade nas suas bicicletas, mas sempre de costas, e depressa sentiu ser essa uma forma original de documentar o estilo de vida em Manhattan. O resultado, em constante atualização, pode ser visto em http://downtownfrombehind.com. 3 prémio pessoa Eduardo Lourenço distinguido O Edifício-Sede da CGD foi palco da entrega do prémio, por Aníbal Cavaco Silva o prémio pessoa foi entregue a 14 de maio, no Edifício‑Sede da CGD, ao filósofo e ensaísta Eduardo Lourenço, entrevistado da última edição da Cx. Trata-se de uma iniciativa do Expresso, apoiada pela Caixa, cujo Prémio é atribuído, anualmente, a portugueses com intervenção relevante e inovadora na vida artística, literária ou científica do País.Inspirado no nome de Fernando Pessoa, o Prémio foi entregue pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, cabendo ao premiado as seguintes palavras: «Se este prémio é um prémio particular, por muitos motivos, recebê-lo com essa assistência, da mão do nosso Presidente da República, é para mim mais do que uma honra, uma dificuldade extrema em estar à altura desta circunstância.» Eduardo Lourenço dedicou, ainda, o prémio a Agustina Bessa Luís e a Antonio Tabuchi, dois amigos e também estudiosos de Pessoa. Nessa mesma tarde, foi realizado um debate com os últimos premiados, sobre o tema «Que Portugal Queremos daqui a 25 anos?». costa de caparica mais limpa a 13 de maio, cerca de 150 voluntários mobilizaram-se numa ação de limpeza, na Praia da Sereia, num total de 504 horas de voluntariado. Os trabalhos envolveram colaboradores da Caixa e respetivas famílias, resultando em, aproximadamente, 500 quilos de resíduos, devidamente separados para posterior reciclagem. No final da ação, o grupo de voluntários conviveu num animado almoço no bar Waikiki, localizado na mesma praia, que 8 cx a re v i s ta d a c a i xa serviu de suporte à ação. Além disso, a iniciativa contou, ainda, com o apoio da HPP Saúde, da Fidelidade – Companhia de Seguros e da Cerealis. Este é o terceiro ano consecutivo em que decorrem ações de limpeza de praia, inseridas no pilar ambiental do Programa de Sustentabilidade da Caixa. Recorde-se, aliás, que a Caixa registou, em 2011, mais de 33 mil horas em diversas ações de voluntariado, ultrapassando largamente o objetivo inicial de 20 mil horas. ideias Para falar sobre locais onde é proibido ter preocupações com a linha. 1. Há quem garanta que são os melhores cachorros quentes do mundo. Começaram a ganhar adeptos em 1988, sendo vendidos na zona da Boca do Inferno, mas prometem conquistar muito mais estômagos, agora que ganharam espaços próprios, em Lisboa, na Avenida Álvares Cabral e na ala nascente do Terreiro do Paço. Feitos com pão caseiro e condimentados com molho especial, podem ser servidos simples ou nas variantes completo e chili. 2. Aqui é mais bolos. E o aqui é o primeiro andar da livraria Ler Devagar, no Lx Factory, onde Marta Gonçalves, uma jovem licenciada em Comunicação Social, abriu uma loja chamada O Bolo da Marta, onde o dito bolo pode ser comprado inteiro ou à fatia, com sabores que vão das natas e framboesa à Nutella com morangos. 3. Há uma jukebox, há Elvis aos molhos, há ovos estrelados com bacon, anéis de cebola panados, hamburgueres, pimentos recheados com queijo, batidos e muito mais que permita viajar à América dos anos 50. O Happy Days Diner & Bar fica em Cascais, no Jardim Visconde da Luz. A nossa economia Chama-se Portugal Economy - PE Probe e é um site recentemente lançado com o objetivo de se transformar num local de visita obrigatória para quem quer obter informação económica, financeira, empresarial, governamental e demográfica sobre o nosso País. Uma das suas principais características é o facto de facultar a informação em inglês, o que facilitará a ponte com estrangeiros interessados na economia nacional. Heróis que ensinam a comer rodrigo carvalho é formado em Engenharia Aeroespacial. Rui Miranda é formado em Gestão. Juntos, estão à frente do maior projeto de animação feito em Portugal, que começou com o desejo de contar histórias sobre alimentação saudável a crianças dos quatro cantos do mundo. Para isso, fizeram parcerias com a Organização Mundial de Saúde, com os ministérios da Educação e da Saúde, bem como com associações de nutricionistas de diversos países e atingiram o sucesso com as Nutri Ventures. Locais obrigatórios para amantes de gelados gelataria esquimó Espinho. Mesmo em frente à praia, tem vários anos de história e uma tradição de gelados italianos feitos com fruta natural. artisani Lisboa e Carcavelos. Gelados artesanais gourmet, junto ao rio, na Doca de Santo Amaro, ou junto ao mar, na praia de Carcavelos. sincelo Porto. Aberta há 30 anos, é um dos locais de eleição da Invicta para um belo gelado. ice gourmet Tróia. Gelados de autor numa das regiões do País mais na moda (principalmente no verão). santini Cascais. Aberta desde 1971, não há quem não a conheça. O gelado de framboesa é um must. Abriu, entretanto, duas outras lojas, uma em São João do Estoril, outra no Chiado. veneza e nosolo itália Marina de Vilamoura. Se os gelados da Veneza são já um clássico, mesmo os que têm base de soja ou sem açúcar, os da Nosolo são considerados dos melhores de Portugal. made in portugal Ponha aqui o seu pezinho Foto: João Cupertino (Eduardo Lourenço) helena amante oliveira e Miguel Marques são dois irmãos que criaram a Shoes Closet, uma marca portuguesa de calçado que tem dois objetivos: destacar-se pela qualidade, pelo design e pelo conforto e conquistar o mercado internacional. Esta empresa, que conta com dez trabalhadores, desenhou três coleções para 2012: M. Butterfly, Além Tejo e Modernism. caixa põe o país a mexer «há um banco que mexe e faz mexer o País. A Caixa. Com Certeza.» Este é o mote da mais recente campanha da CGD de apoio à economia e às exportações, e que pretende dar força e confiança a um País que atravessa um período difícil. A Caixa quer, assim, mostrar que vale a pena acreditar num futuro melhor e motivar os portugueses a encararem a mudança, acordando o País para uma nova realidade. De acordo com Francisco Viana, diretor de Comunicação e Marca da Caixa, «queremos mostrar que, naquilo que depende dos portugueses, temos todas as condições para os apoiar, para mexermos com a nossa economia, com o nosso País e com o nosso destino. E que a Caixa, o Banco que sempre foi o motor da economia, tem todas as condições para ajudar o País, nomeadamente as boas empresas, aquelas que, com a nossa ajuda, podem evoluir para outros mercados, para outros patamares, e estar na linha da frente desta transformação». Saiba tudo sobre estas soluções em www.cgd.pt/empresas. cx a re v i s ta d a c a i xa 9 h histórias de sucesso joão seabra Um salto para o sonho Distinguido pela União Europeia como um dos jovens talentos criativos europeus, é um exemplo da máxima que recomenda: «Trabalhem em algo que vos apaixone e trabalhem com quem partilhe essa paixão.» No seu caso, a paixão é o 3D e o resultado da mesma dá pelo nome de Jump Willy Por Pedro Guilherme Lopes Fotografia Bruno Barbosa Ainda antes de as televisões serem vendidas com óculos, já João Seabra via o mundo a 3D. Não admirou que se viesse a tornar professor do primeiro mestrado português em Animação a Três Dimensões, na Universidade Católica, e que, hoje, em parceria com o compositor Pedro Marques, esteja à frente de uma empresa líder em criatividade, a Jump Willy. Cx: Quais eram os maiores desafios e os maiores receios quando optou por abandonar o cargo de professor do primeiro mestrado português em Animação 3D para se dedicar, de corpo e alma, à Jump Willy? João Seabra: O mestrado tinha sido um sonho também meu. Quando comecei a lecionar na universidade e a deixar de colaborar tão intensamente como fazia fez-me sentir que estava a abandonar um projeto em que, ainda hoje, tenho muito orgulho, em prol de um outro sonho. A demora de mais de um ano para efetivar a Jump Willy deveu-se, também, à falta de capacidade financeira que tinha para começar uma empresa com um investimento inicial muito relevante para a minha idade e, por fim, o medo de abandonar o conforto de uma remuneração estável e muito apetecível para a minha faixa etária. Mas a vontade de realizar um sonho e seguir um caminho que constrói algo novo e útil ainda hoje me faz esquecer das horas das refeições quando estou envolvido num projeto motivante dentro da Jump Willy. Cx: Quando analisa o percurso da Jump Willy, quais os momentos que destacaria como tendo sido fundamentais para chegarem à visibilidade que têm hoje? J. S.: A escolha, desde o primeiro dia, da melhor equipa possível e a nossa capacidade de, com ela, criar uma empresa com um espírito partilhado, como a Jump Willy, foram fundamentais. Foram também fundamentais os nossos princípios de 10 cx a re v i s ta d a c a i xa ética nos negócios e felicidade, não só na equipa mas para com todos os clientes, fornecedores e em toda a nossa gestão. Foi assim que conseguimos chegar a clientes internacionais, como a BMW, a Axe, a Lexus, a Vodafone ou a Sony Ericsson e que foi possível abrirmos escritório em Los Angeles e Londres. Cx: Para quem ainda não conhece, como é que definem o vosso trabalho e qual o conceito da empresa? J. S.: Nós atuamos nas áreas de publicidade, marketing institucional, cinema e videojogos, através da criação de imagem digital e composição musical, sempre atendendo a que somos, não uma empresa de técnicos, mas uma equipa integrada criativa, com um grande domínio técnico e tecnológico. Somos uma empresa jovem de espírito, para sermos muito criativos e pouco convencionais nas ideias, mas pautamo-nos nos nossos processos por um rigor de prazos e metodologias que aprendemos desde cedo com parceiros nórdicos. Convido a verem «a criatividade é, nesta fase de crise financeira, uma palavra bem mais relevante do que o empreendedorismo» Print um mundo sem limites Aprender o 3D por conta própria foi um enorme desafio. Sempre utilizou muito a tecnologia como meio de entretenimento, mas só quando já estudava artes clássicas, durante a juventude, é que começou a associar apaixonadamente a tecnologia informática à arte. A chegada das máquinas fotográficas digitais e dos scanners foi momento marcante, permitindo-lhe registar digitalmente o trabalho que fazia até então apenas tradicional e manualmente. Inesquecível foi, também, o momento em que descobriu o 3D. «Descobri o 3D no 1.º ano da universidade, quando um professor que muito admirava acabara de desempacotar dois computadores especializados que a universidade adquirira para uma possível nova cadeira de mestrado. Tinha perante mim como que um poço infinito de capacidades para um artista digital.» A partir desse momento, João Seabra dedicou vários anos a estudar e a praticar, diariamente, sem, na altura, haver professores para ensinar, websites para consultar, nem livros em Portugal possíveis de comprar. «As vantagens eram a minha principal motivação. Ainda hoje são. A área de 3D Computer Graphics possibilita-nos criar graficamente quase tudo o que o Homem conceba mentalmente. É saber que podemos ter um sonho e que, sem limites financeiros e temporais, poderemos recriá-lo na perfeição para o partilhar com o mundo.» Apaixonado empreendedor criativo sonhador algum do nosso recente trabalho em www.jumpwilly.com. Cx: Quando, há quatro anos, criaram a Jump Willy, o João e o Pedro tinham como um dos objetivos pagar bem e dar boas condições a quem trabalhasse convosco. Olhando para o atual mercado de trabalho, continuaria a ser um pensamento válido? J.S.: Quando deixarmos de ter este pensamento ou ele deixar de poder ser válido, a Jump Willy deixará certamente de existir. Não podemos ter a crise financeira como desculpa para práticas empresariais que não consideramos éticas. Cx: Tem afirmado várias vezes que a crise gera oportunidades... J.S.: A crise é prejudicial para grande parte da sociedade e cria um problema sério de desemprego, de poder de compra e de falta de circulação de dinheiro, que acho grave. No entanto, para as empresas jovens, com serviços ou produtos de valor verdadeiro, pode abrir novas portas, que não abriria noutras épocas. O empreendedorismo só pode ser uma forma de ultrapassar a crise se ele acrescentar valor. Já a criatividade, em todos os setores, é, nesta fase de crise financeira, uma palavra bem mais relevante. Cx: O conselho que daria a quem está agora a entrar no mercado de trabalho ou a quem procura novas soluções seria… J.S.: Trabalhem em algo que vos apaixone e não porque achem que poderá dar dinheiro. Trabalhem com quem partilhe essa paixão, e giram essa paixão com o maior respeito e ética que souberem. Não acredito na dedicação e luta intensa por uma ideia ou projeto que não seja uma paixão grande. Cx: Entretanto, a vossa força criativa levou-vos a dar outros dois jumps, que deram origem a outras duas empresas, a Uou e a We Came From Mars… J.S.: A Uou é um projeto de apresentações para empresas e instituições com uma forte vertente de coaching, que uniu o design gráfico aos gestores e especialistas em marketing empresarial, de modo a oferecer melhor comunicação às empresas. A We Came From Mars visa a criação de jogos e aplicações para smartphones, para oferecer num mercado global já muito preenchido algo de novo e inovador. cx a re v i s ta d a c a i xa 11 t talento J o s é X av i e r No reino dos pinguins Biólogo marinho, investigador do Instituto do Mar e da British Antarctic Surve, José Xavier é o mais jovem cientista a receber o prémio Martha T. Muse para a Ciência e Política na Antártica Por Helena Estevens Fotografia Anabela Trindade Movem-no os extremos, a biologia, o planeta que habitamos e que ambiciona ver tornar-se sustentável, mas foi a Antártica que lhe conquistou o coração. Depois de sete campanhas científicas à Antártica, a última de nove meses, o bichinho do continente gelado está mais ativo que nunca. Entre uma ilha tropical e a Antártica, não chega a vacilar. «Acho que era sempre a Antártica, mas depende muito do espírito. Como português, pensa-se logo na ilha, porque é com isso que nos identificamos, com o calor, o verão. A Antártica é exatamente o oposto, e, se calhar, muitas vezes somos atraídos pelos opostos.» No caso da Antártica, o fascínio vem dos icebergues à sua volta, das dezenas de focas ou milhares de pinguins… Não o intimida, por isso, a solidão nesta ilha deserta, caminho de nada, totalmente rodeada pelo oceano, talvez porque demora tanto tempo a organizar uma expedição – «dois a três anos, no meu caso» – que, quando lá se chega, está tudo de tal forma delineado ao milímetro que não sobra tempo livre para se pensar em mais nada. Exceto no Natal, confessa, ou «quando um amigo envia um mail a dizer “estamos numa festa altamente, faltas cá tu”. Aí, sim, sente-se a solidão e tem-se a noção de que há coisas a acontecer no resto do mundo e que se está a passar ao lado. Por outro lado, sentimo-nos muito especiais, porque é um privilégio. No verão, as focas são à volta de 60 mil, os pinguins aproximadamente 100 a 200 mil. É tudo aos milhares, animais por todo o lado, e depois tens quatro humanos». Ir tão longe permite responder a questões que «têm implicações planetárias, por exemplo, a questão do degelo, alterações climáticas e o impacto no meio ambiente, o buraco do ozono. Depois, há questões específicas, como é o caso da acidificação dos oceanos, um dos temas que, se calhar, vai ser tão relevante como as alterações climáticas ou as correntes 12 cx a rev i s ta d a ca i xa oceânicas que afetam todo o planeta. E porque estamos a trabalhar com os melhores do mundo, com questões que vão ter implicações planetárias e são exemplos aos níveis político e científico, porque estamos a colaborar com mais de 40 países. A nível político, é muito interessante, porque temos cientistas e estamos a tirar grandes dividendos, em organizações internacionais, estamos a dar voz a Portugal sobre temas tão pertinentes. Na Península Antártica, uma das partes do planeta que mais tem aquecido e onde os animais estão a lidar com mais stress, estuda pinguins, focas e albatrozes, tentando perceber se serão ou não capazes de se adaptar às alterações climáticas, dadas as implicações na gestão e conservação de recursos ou nas pescas, por exemplo. «Já que Portugal tem uma estratégia virada para o mar, é fundamental equacionarmos isto, porque estamos longe mas as implicações são muito diretas.» A dedicação à ciência e à Antártica já deu frutos. «Para ganhar o Martha T. Muse [prémio internacional], fui nomeado pela comunidade internacional, que reconheceu estar perante um caso de excelência, a fazer ciência de excelência, que ajudou a pôr Portugal no mapa, o que era impensável há alguns anos. Portugal está numa fase de transição e até crucial a nível científico. Temos um conceito novo de cientista, uma geração nova que, além de fazer ciência, tem a seu cargo uma parte educacional, está envolvida a nível político, no sentido de ter um papel Print Novos cientistas polares No âmbito do Programa Caixa Carbono Zero (ver pág. 34), a Caixa estabeleceu uma parceria com o Comité Português para o Ano Polar Internacional, que decorreu entre 2007 e 2008. Daí resultou o Programa Nova Geração de Cientistas Polares, que atribui bolsas de investigação a jovens cujos estudos incidam sobre a Antártida, versando temáticas relacionadas com o problema das alterações climáticas. As bolsas atribuídas permitiram a integração destes cientistas nos trabalhos desenvolvidos por equipas de investigação portuguesas no âmbito dos grandes projetos de ciência polar internacional. O apoio da Caixa continua, com mais duas bolsas a decorrer em 2012. ativo em sugestões do que pode ser feito, ter contacto e abertura para falar com os media. Deveríamos ser sempre inovadores e melhorar sempre. Percebermos onde é que somos bons, quem é mesmo bom e para onde queremos ir. A comunidade da ciência polar funciona muito bem a todos estes níveis e é reconhecida internacionalmente, podendo ser usada como exemplo, tal como outras organizações, como o Instituto do Mar (Coimbra), o Centro de Ciências do Mar (Algarve) ou o Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, que funcionam também bem. Conquistar os jovens para a ciência é fácil: temos de fazê-los perceber que eu e os outros cientistas não somos diferentes deles. Por isso, há que falar como eles. Há que passar a mensagem de que se gosta e se é entusiasmado pelo que se faz e por aquilo de que se fala. Também precisamos de criar role models. Tal como há o Cristiano Ronaldo para o futebol, dever-se-ia realçar o trabalho desenvolvido por Egas Moniz na medicina, etc.» cx a rev i s ta d a ca i xa 13 t talento r i ta f o r t u n at o b a p t i s ta Do verbo ajudar Para dar a palavra aos que escutam o que a sociedade tem para dizer, a diretora de formação e comunicação do Instituto de Empreendedorismo Social conjuga a mudança na primeira pessoa do plural Por Ana Rita Lúcio Fotografia Gualter Fatia Quando não está a tentar mudar o mundo, um empreendedor de cada vez ou a dividir-se por entre o «triângulo» orientador dos seus dias, onde cabem «a comunicação, a sustentabilidade e o desenvolvimento humano», Rita Fortunato Baptista gosta de se dedicar aos trabalhos manuais. Como quem cola a habilidade com o hábito de tomar a vida nas mãos – porque quando acredita numa coisa, tem de «fazer acontecer». Curiosamente, é pelo pés – ou por um par de botas amarelas, mais concretamente – que se remata mais de uma hora de entrevista, onde, a propósito do empreendedorismo social, se conversou sobre caridade, lucro, financiamento, liderança, criação de valor, mobilização, (in)dependência, trabalho em rede e muito de associações, empresas e projetos, mas essencialmente de pessoas. E porquê começar pelo fim para resumir o perfil de alguém que só se entende a «ajudar o outro»? Porque falar desta fabricante de empreendedores é falar de tudo isto. E mais um par de botas. Há quem diga que, para compreendermos realmente o que alguém é ou o que faz, devemos colocar-nos nos sapatos dessa pessoa. Talvez sem o saber, a Rita Fortunato Baptista não podia assentar melhor esta metáfora. Enquanto nos dá conta de cada um elementos que cabem no escritório do Instituto de Empreendedorismo Social (IES), a diretora de formação e comunicação pega num par de botas amarelas, arrumadas numa estante, no ponto mais central da sala. E com elas, puxa o fio à meada de um caminho onde os rumos pessoal e profissional se cruzam. «Nos bootcamps tradicionais», começa por explicar, «o símbolo costuma ser um par de botas da tropa. Mas para os bootcamps [programas intensivos de formação em empreendedorismo social] do IES, que não têm uma componente física, mas sim criativa, tínhamos de encontrar uma solução mais arrojada.» Então, para dar lastro ao «pensamento out of the box» que caracteriza este tipo de eventos, Rita não hesitou em resgatar o velho par de botas amarelas ao fundo do armário lá de casa. E agora, a cada nova iniciativa, lá estão as botas a fazer-se à estrada. O resto é história. A dela e a dos outros. Precisamente, porque nunca gostou de estar 14 cx a rev i s ta d a ca i xa parada e porque conhece a importância de uma boa rede de apoio, a também formadora e consultora cedo aprendeu com a família «a importância de fazer com os outros, de provocar mudança e impacto e ajudar o outro a provocar esse mesmo impacto», algo que sempre lhe foi tão «natural» como respirar. Inspirada pela vontade de ir mais longe para fazer a diferença, a primeira barreira que ousou tentar quebrar foi a da injustiça social, ainda carregava nas costas o peso… da mala da escola. Revoltada com «a divisão que se fazia logo à partida entre as turmas dos bons alunos e as dos repetentes», quis «chegar a essas pessoas e quebrar essas linhas». E, acima de tudo, «encontrar soluções para aquilo que não estava bem», como quando, com apenas oito anos, criou com um grupo de amigas, na cave da sua casa, a Associação de Defesa da Lagoa de Óbidos. Para não fugir à regra, foi por querer «dar voz às questões da sociedade» que se apaixonou pelo Jornalismo. Mas antes de escutar o que a sociedade tinha para lhe dizer no semanário Expresso e em algumas rádios, não esperou pela chamada providencial do destino e, ainda não terminara o 12.º ano, tratou de conquistar a Print Negócios com alma Conheça o empreendedorismo que põe a tónica na sociedade. Seja individualmente, ou através de uma empresa ou associação, empreendedor social é aquele que «usa as forças do empreendedorismo normal, identificando um problema na sociedade que tem de ser resolvido e agindo sobre ele», esclarece a dirigente. A preocupação com o lucro dá lugar à preocupação com a sustentabilidade, visando a «maximização do impacto social». Porém, não se confunda empreendedorismo social com caridade: «se alguém tem frio, é importante dar-lhe uma manta, mas ainda mais é ter um negócio que permita que a pessoa nunca mais precise de mantas». oportunidade de ter as suas próprias rubricas no Jornal e na Rádio das Caldas. Algures por entre um percurso que é tudo menos «linear» e até bastante «caórdico» – uma espécie de caos organizado. Depois de ter cruzado o Atlântico para estudar nos Estados Unidos, de ter vogado pela América Latina como diretora regional da AISEC (a maior organização mundial gerida por estudantes) e de as fileiras na área de Sustentabilidade do banco internacional ABN a terem conduzido de volta à Europa – sem deixar de vir a Portugal como dirigente da ACAF (Associação das Comunidades Auto-Financiadas) e como consultora –, as «estrelas alinharam-se» para a fazer chegar ao IES. Lá, onde agora se esforça por fazer «brilhar» os futuros empreendedores sociais. Quando lhe perguntamos se o perfil de empreendedora não se lhe cola também à pele, é a vez de se colocar de novo nos sapatos, mas dos outros. «Para mim, o que é enriquecedor é motivar 30 outras pessoas a criarem elas próprias valor». Cartão Caixa Fã Ao utilizar o cartão Caixa Fã, a Caixa contribui com uma percentagem do valor das suas compras para o Fundo Caixa Fã, que apoia diversos projetos sociais. O cartão Caixa Fã é mais do que um meio de pagamento e o seu contributo é mais do que um apoio: é um investimento em projetos com retorno social. Saiba mais em www.cgd.pt. d design & arquitetura DRY DRILl Solta a bike que há em ti Pode a bicicleta ser um acessório de moda? Olhando para o que se passa lá por fora, Henrique Pinho ficou com a certeza de que sim. E não tardou em aventurar-se num projeto assente em duas rodas, onde personalizar é a palavra de ordem Por Pedro Guilherme Lopes Fotografia Bruno Barbosa De dez em dez anos, Henrique Pinho traça novos objetivos de vida. E foi assim que, há menos de um ano, procurou definir uma estratégia para a próxima década. «Neste caso, o objetivo era conseguir definir o que fazer para elevar a fasquia, depois de ter trabalho numa área que me realizou», explica. «E esse objetivo teria que me permitir manter o equilíbrio e fazer-me sentir que estou a contribuir para a melhoria do País, até porque sou de opinião de que, se todos fizermos um bocadinho, a coisa vai lá.» A moda, a mecânica e o risco A área que o havia realizado era a da moda, diretamente ligado a conceituadas marcas de vestuário. Arquiteto de formação, foi com essa visão de cultura urbana que partiu para a Dry Drill, marca que acaba por fundir os dois universos: o da moda (dry remete para os jeans) e o das bicicletas (drill remete para a parte mecânica). «Este é, claramente, um produto dirigido a um público urbano. Normalmente, quem mais procura este tipo de produto são pessoas ligadas às artes, ao design, à arquitetura, à imagem, ao multimédia, à moda, à fotografia… São pessoas que acabam por estar mais atualizadas relativamente ao que se faz lá por fora», afirma Henrique. E foi, precisamente, lá por fora que a sua atenção despertou neste sentido. Em cidades como Berlim, Milão ou Madrid, viu como as bicicletas eram muito mais do que um meio de transporte, antes um acessório totalmente identificado com a pessoa que o utilizava. E percebeu que aquela era uma verdadeira indústria e um mercado que, embora com vários players, apresentava enorme margem de crescimento. «Olhando para o mercado nacional e pensando em algo que me fosse dar prazer, a ideia passou, então, por criar 16 cx a re v i s ta d a c a i xa um produto diferenciador, onde a grande mais-valia, além da qualidade, fosse a personalização», recorda o empresário. Encontrando na Órbita e na Sangal os parceiros ideais, a Dry Drill adotou o claim «be your bike» e lançou-se à conquista do mundo como uma empresa que produz e vende dois elementos da estrutura da bicicleta: os quadros e as rodas (os restantes elementos estão à disposição, feitos por várias marcas espalhadas pelo mundo). A grande diferença, além do selo made in Portugal, é a possibilidade de personalizar estas peças, manufaturadas, com as mais variadas cores (a pintura só é feita após a encomenda e, por curiosidade, diga-se que a cor mais vendida é o cor-de-rosa e que os homens são claros adeptos do branco e do preto) e dentro de um determinado estilo: urban, vintage e relax. Depois, num prazo que pode ir até 15 dias, o cliente recebe em casa a sua Dry Drill pronta a montar com todo o carinho. «Tenho consciência de que o facto de não vendermos a bicicleta montada é um obstáculo, mas é esse o conceito pensado para a marca», explica Henrique Pinho. «Isso ajuda a explicar que a maioria dos compradores sejam muito ponderados e não adquiram o modelo numa primeira visita, embora também exista quem chegue, encomende e só envie um e-mail a confirmar o prazo de entrega.» Não colocando de parte a possibilidade de se aliar a um investidor, caso sinta necessidade de fazer crescer a marca, Henrique assume que, nos tempos mais próximos, continuará a ser ele o único dono da Dry Drill. «Decidi trabalhar sozinho, primeiro porque, para lá do plano traçado, tudo isto é uma incógnita; o público é que nos dirá se vai funcionar ou não. Até lá, temos de ter as coisas muito bem controladas e, embora tenha elaborado um plano de o mentor Henrique Pinho gere sozinho a sua Dry Drill, um projeto pensado para a próxima década pormenores A ideia passa por criar bicicletas à imagem de quem as usa. As cores rosa, branco e preto são as mais solicitadas Print O que aí vem A bicicleta é apenas o princípio. Nesta estratégia de personalização, com o objetivo de transformar a bicicleta num verdadeiro acessório, o próximo passo passará por completar a oferta com os itens que as pessoas que andam de bike utilizam no seu dia a dia. As recém-lançadas calças de ganga, perfeitas para andar sobre as duas rodas, são um exemplo do caminho a percorrer, a que se juntarão camisas, t-shirts ou calçado, entre várias outras propostas. «Senti que me iria dar um enorme prazer criar uma marca minha e, agora, é estender o leque de produtos de forma a existir crosselling. Sempre tudo feito em Portugal, claro.» marketing exaustivo para preparar esta aventura, esse plano é diariamente revisto. Acaba por ser um processo de aprendizagem constante e diária para quem está a trabalhar on-line.» E nem o fator crise o assusta. Assume que as condições para ser empreendedor são complicadas, pela dificuldade em obter financiamento e pela burocracia que envolve as condições fiscais e legais. «Agora, se 95% do tecido empresarial são as PME, então tem de ser aí que está a resolução do problema», defende. «O empreendedorismo é uma palavra bonita, com conceitos bonitos, para tentar levar as pessoas a fazer algo, mas de nada vale se as pessoas não arriscarem. Veja-se o caso do Angry Birds. A empresa que o fez teve mais de 50 fracassos e oito anos a tentar, antes de lançar este jogo e de passar a faturar milhões. É fundamental que se perceba que, salvo raras exceções, as coisas não acontecem de um dia para o outro.» Conheça o Cartão Design da Caixa, nas versões pré-pago e de crédito (1), exclusivo para estudantes e profissionais do design. Ao utilizar este cartão de crédito, contribui para a sua poupança, através da devolução de até 1% do valor efetuado em compras, a partir de um montante de 100 euros, com o limite máximo de 50 euros mensais. Saiba todas as condições em www.cgd.pt. (1) TAEG de 25,5%, para um montante de 1500 euros, com reembolso a 12 meses, à TAN de 22,50%. cx a re v i s ta d a c a i xa 17 d design & arquitetura Trienal de Arquitetura de Lisboa 2013 Entre casas e cientistas Será um evento interdisciplinar em que se conjugam os saberes de arquitetos, homens da ciência e artistas Entre setembro de 2012 e dezembro de 2014, e com o apoio da Caixa, a capital portuguesa será inundada de uma nova forma de encarar a arquitetura, que, segundo Beatrice Galilee, não se prende apenas com a construção de casas. Cientistas e artistas serão integrados no programa da Trienal de Arquitetura de Lisboa e a curadora geral do evento há muito que se prepara para o dia em que verá mais uma das suas apostas chegar aos olhos do público. Cx: Licenciou-se em Arquitetura, na Universidade de Bath, e em História da Arquitetura, na Bartlett School of Architecture. De onde remonta a paixão por esta disciplina? Beatrice Galilee: O meu pai é professor de matemática e de física, a minha mãe é artista e, também, autora publicada. Assim, desde nova, acho que tive as influências necessárias para ser arquiteta – por um lado, o rigor académico e científico, e uma consciência cultural, criativa e entusiasmo, por outro. O meu interesse em arquitetura sempre se baseou no entendimento de que esta significa mais do que apenas um processo de design, mas que tem um múltiplo significado, diversas interpretações e variados autores. Isto foi algo que me levou de vê-la como uma disciplina a tornar-me jornalista e a pensar e a escrever sobre arquitetura contemporânea. Cx: A Beatrice foi a vencedora de um concurso internacional levado a cabo pela Trienal de Arquitetura de Lisboa, que procurava um comissário geral para a sua terceira edição, em 2013. Qual foi a abordagem ou ponto de vista que a levou a ser a escolhida? B.G.: Havia trabalhado como curadora em duas bienais internacionais, na China e na Coreia, e tinha também dado início ao meu projeto, em Londres, por isso, senti que tinha uma ideia muito clara daquilo que queria 18 cx a re v i s ta d a c a i xa fazer como curadora geral. Como jornalista, visitei diversas bienais, por isso, estou alerta para os sucessos, erros e clichés dos outros eventos. A minha candidatura para criar a Trienal em Lisboa, num conceito que mostraria outras arquiteturas, foi motivada pelo desejo de criar este acontecimento, mais do que ganhar. Isso tornou-a muito convincente. Cx: O seu trabalho começou dois anos antes do início do evento. Como está a correr o processo de preparação? B.G.: Estamos a trabalhar muito... A equipa da curadoria está toda escolhida, estamos a trabalhar nas exposições e a colaborar de perto com a equipa de design gráfico para criar uma forte identidade. Já planeámos diversas publicações digitais prévias à Trienal para definir o tom e colocar cá fora algumas das nossas ideias mais complexas, que formam a base do conceito curatorial. Cx: Qual é o principal desafio desta Trienal? B.G.: Temos ideias fantásticas, assim como grandes, importantes e ambiciosos projetos e muitos indivíduos talentosos, apaixonados e dedicados na equipa. Temos o apoio da cidade, que nos está a ajudar em muitos aspetos, e dos meios de comunicação internacionais. Mas estamos a trabalhar em Portugal, num clima económico muito difícil, e precisamos de mais ajuda. Espero que consigamos encontrá-la! A Trienal de 2013 apresenta uma nova abordagem de arquitetura Cx: E qual é o seu principal objetivo? B.G.: Não quero criar um evento que reflita os sucessos anteriores dos arquitetos. Quero, sim, que a Trienal funcione de uma maneira diferente e que suporte os futuros sucessos de jovens arquitetos. O clima de produção nesta área está a mudar e os jovens profissionais – muitas vezes parte dos desempregados – devem adaptar a disciplina às novas circunstâncias e abrir os olhos a novas possibilidades. Ao exibir o trabalho de cientistas e futurologistas, bem como de artistas, coreógrafos, políticos e instituições civis, espero que se abra a discussão em torno da disciplina da arquitetura e que se perceba a ideia de que o arquiteto pode ser um praticante espacial e não, simplesmente, alguém que desenha casas ou escritórios para um cliente. Cx: De que forma a Trienal abre o debate não apenas a arquitetos, mas, também, a artistas, designers e cientistas? B. G.: Mesmo durante uma conferência, as discussões mais interessantes acontecem durante o coffee break, por isso, tenho consciência de que o impacto e o debate provavelmente ocorrem fora das paredes da exposição. No entanto, o que estamos a tentar fazer é apresentar uma tese forte, que possa ser compreendida nas três exposições, nas várias atividades públicas e nos eventos. Estamos a trabalhar ativamente com outras disciplinas. Uma exposição vai incluir o trabalho de cientistas de laboratório e o curador Liam Young trabalhará de perto com eles e alguns designers para desenvolver as suas Foto: D.R. Por Catarina Vilar Print Com a arquitetura na alma Não é a primeira vez que ocupa o cargo de curadora e este é um papel que lhe assenta bem. Beatrice Galilee vive em Londres, é crítica, escritora e professora de arquitetura. Nasceu em 1982 e possui um currículo de luxo, onde se inclui a função de curadora geral da Trienal de Arquitetura de Lisboa 2013, a decorrer entre setembro de 2012 e dezembro de 2014. Entre os diversos edifícios lisboetas, destaca aquele que serve de sede à Trienal, no Campo de Santa Clara, por ser a sua casa espiritual, emocional e profissional. Antes de se especializar em arquitetura, escreveu para revistas de moda e de música. Gosta de quebrar padrões e, assim, constrói uma obra de destaque. Entre as suas curadorias, já ocupou cargos de relevo, nomeadamente na revista Icon, como editora de arquitetura, e recebeu, em 2008, o prémio IBP Architectural Journalist of the Year Award. ideias. Normalmente, demora mais de 20 anos para um produto ser desenvolvido dentro de um laboratório, até chegar ao grande público. Assim, trabalhando com esta investigação de ponta, damos uma plataforma à ciência que geralmente não se vê. Noutra exposição, vamos convidar artistas, atores, coreógrafos e encenadores para criarem atmosferas específicas. Também vamos oferecer pequenas bolsas para serem aplicadas em equipas interdisciplinares. Cx: E de que forma esta Trienal promove a arquitetura portuguesa? B.G.: Devido à crise financeira e à elevada taxa de desemprego entre os jovens, tomámos uma decisão consciente de apoiar o trabalho de jovens arquitetos portugueses nesta edição. Haverá um programa de bolsas disponíveis para ideias de projetos cívicos, assim como a estreia do prémio Debut, que irá reconhecer o talento dos jovens arquitetos. Cx: Como pensam atrair não só profissionais, mas também outro público menos especializado? B.G.: As nossas exposições lidam com questões universais, que vão desde as políticas da cidade até ao seu futuro. Também estamos a desenhar experiências para que uma das exposições inclua um complexo com restaurante, bar e hotel e, possivelmente, uma piscina! Assim, estamos a estender ao domínio público, bem como a trabalhar em temas que são fundamentais à vida da cidade. Cx: O que podemos esperar entre setembro de 2012 e dezembro de 2014? B.G.: Vão ser surpreendidos sobre aquilo que a arquitetura pode ser. A forma de trabalhar em termos espaciais pode ser política e dinâmica, excitante e desafiante em termos de pensamento. Haverá locais muito especiais em Lisboa, palácios antigos e novos edifícios que acolherão eventos e exposições. Se quiser ver uma exposição sobre belas casas, luz e espaço, terá de esperar pela próxima edição da Trienal! Cx: Sente que a arquitetura encontrou uma nova linguagem no mundo contemporâneo? B.G.: Tem sido uma longa jornada desde o modernismo. O papel da arquitetura na sociedade tem sido em fluxo durante algum tempo, desde ser a maior das artes até se transformar numa profissão tão admirada como a de um médico. Eu acho que há uma desvalorização maciça e uma subutilização do arquiteto na sociedade de hoje, tanto causado pela profissão como pela falta de compreensão do público. A produção de arquitetura é possível sem um arquiteto. cx a re v i s ta d a c a i xa 19 d design & arquitetura Á g u a d e p r ata Coisas cheias de graça De uma pequena aldeia alentejana para o mundo, ou a história de um ex-jornalista que descobriu que o futuro se constrói com lã, madeira, ferro e qualquer coisa mais Por Pedro Guilherme Lopes (texto e fotografia) O sol brilha bem alto, iluminando a planície e assumindo ser aquele um dia de verão antecipado. Chegamos a Graça do Divor, uma pequena aldeia alentejana localizada entre Arraiolos e Évora, mas é já fora da dita aldeia que encontraremos João Bruno Videira. No monte onde está edificada a Igreja de Nossa Senhora, este ex-jornalista da RTP construiu aquele que é, hoje, o atelier da Água de Prata, uma marca que aposta no design de mobiliário onde a lã de Arraiolos é traço comum. Passado, presente, futuro O que terá levado, então, este homem da comunicação a tornar-se num artesão? «Eu era jornalista de televisão, continuei ligado à área da comunicação, através de uma produtora de vídeo, após ter saído da RTP, mas, a determinada altura, estava sem trabalho e, enquanto procurava algo dentro da minha área, ia-me entretendo a arranjar diversas coisas aqui em casa, até porque o processo de preparar um espaço ao nosso gosto implica trabalho», explica João Bruno. Um dia, por brincadeira, um amigo deu-lhe uma cadeira velha para as mãos e ele resolveu transformá-la com as lãs. «A minha mãe fazia tapetes de Arraiolos e eu tinha essa ligação com as lãs já de criança. E, quando terminei a peça, percebi que podia ser por ali o caminho a seguir», recorda o artesão, que sempre mostrou alguma capacidade para trabalhar com as mãos. A partir desse momento, já lá vão seis anos, João começou a transformar tudo o que 20 cx a re v i s ta d a c a i xa tinha à mão, não só para se ir aperfeiçoando, mas para ter direito à carta de artesão e, com isso, poder recorrer ao microcrédito. Ao fim de um ano, apresentou-se ao público. Hoje, esse público, bastante heterogéneo, faz questão de vir conhecer este refúgio de onde saem, para Portugal e para o mundo, os bancos Arraiolos, as cadeiras Graça (integralmente Print No reaproveitar está o ganho Aqui, o material usado ganha nova vida. Foi com uma cadeira usada que tudo começou. E a verdade é que, hoje, muito do trabalho com a marca Água de Prata continua a ter o reaproveitamento como palavra chave. «Existem peças desenhadas por mim e criadas de raiz, em que mando fazer as estruturas, em madeira ou em metal, sobre as quais eu depois trabalho. Mas há muito trabalho feito através de reaproveitamento, seja de estruturas velhas de cadeiras, seja da utilização de pneus usados para fazer a base dos puffs, seja a reutilização de esponjas velhas e outros materiais recicláveis, associados a desperdícios de lã para fazer as Rochas e as Pedras», conta João Bruno Videira, orgulhoso pelo facto de as peças que cria serem sempre diferentes, tanto nos padrões como nas dimensões. revestidas à mão com lã de Arraiolos), bancos porta-revistas chamados Diana ou as Rochas e as Pedras de Lã, puffs que se juntam aos outros e que têm como base pneus reciclados. «Grande parte das encomendas nasce assim», explica. «As pessoas visitam o atelier, conhecem-me, explicam que tipo de peças gostavam de ter, mostram fotografias do espaço ou eu vou conhecer pessoalmente o espaço… No fundo, estabelece-se uma relação de proximidade com o cliente que, penso, permite a melhor qualidade do produto final.» E é, precisamente, até ao final deste ano que João Bruno Videira quer, pela primeira vez, apresentar a Água de Prata numa exposição em nome próprio. automóveis ampera Bem-vindo ao futuro Ao volante do novo Opel Ampera, um automóvel elétrico com o extensor de autonomia há muito aguardado Por Bernardo Gonzalez O Opel Ampera é, juntamente com o seu «primo» Chevrolet Volt, um dos mais aguardados modelos da primeira geração de carros elétricos a chegar ao mercado. Tão só, porque concentra o melhor de dois mundos. É um elétrico no sentido de ser movido somente por força das suas baterias, mas tem a autonomia de um automóvel tradicional, graças àquilo que a marca chama de «extensor de autonomia». Esta nomenclatura traduz-se, basicamente, num motor de combustão de 1,4 litros, que serve de gerador, apenas para garantir uma carga mínima às baterias quando estas esgotam a sua carga. Deste modo, mesmo com um depósito de apenas 35 litros, a autonomia do Ampera supera os 500 km. A ideia é andar o mais possível em modo elétrico. Recarregando em cerca de quatro horas numa tomada doméstica, fica com uma autonomia em modo elétrico de cerca de 60 km. Quem, de facto, apenas fizer percursos diários que rondem os 50 km e, ao final do dia, ligar o Ampera à corrente, praticamente, não precisará de recorrer ao motor a gasolina. Para arrancar, basta aliviar o travão e o Ampera evolui paulatinamente e basta um ligeiro aconchego do pé direito para se sentir uma aceleração firme, 22 cx a rev i s ta d a ca i xa mérito do binário constante (370 N.m) do seu motor elétrico de 111 kW (150 cv). O seletor de transmissão tem as posições D (Drive) e L (Low), sendo este último mais propício ao efeito travão-motor, ajudando marginalmente na recuperação de mais alguma energia quando tiramos o pé do acelerador. Se a direção é bastante direta, embora desprovida de tato, a travagem tem também um feeling artificial, devido ao programa de regeneração da força de travagem. Mas, em geral, tem um comportamento bastante normal e estável, mesmo para um carro do seu peso – mais de 1700 kg. Mas onde o Ampera entusiasma é mesmo na eficiência motriz. O sistema de controlo da condução vai-nos indicando, por meio de uma bolha, se estamos a abusar do acelerador ou das travagens. Tudo em prol de uma maior eficiência. E, nessa matéria, provámos o nosso talento, pois, com autonomia prevista de, pelo menos, 60 quilómetros, as equipas portuguesas ocuparam os dois primeiros lugares num teste de autonomia de entre toda a imprensa europeia, alcançando entre os 80 e os 90 quilómetros sem emitir um grama de CO2. Uma distância que até deixou os técnicos da marca alemã surpreendidos. Cartão Caixadrive O cartão Caixadrive(1) oferece-lhe descontos nas estações de serviço da Repsol. Beneficie de descontos de 3%, com o limite máximo de 20 euros mensais, em todas as compras e abastecimentos efetuados com o seu cartão Caixadrive nas estações de serviço da Repsol, em Portugal. Sempre que realizar compras com o cartão Caixadrive fora das estações de serviço da Repsol, num valor total superior a 250 euros, beneficie de mais 3% de reembolso suplementar, com um limite máximo de 3 euros mensais de desconto, para que as suas compras e abastecimentos tenham ainda mais desconto. Reforçando o conceito de mobilidade associado a este cartão, os titulares do Caixadrive beneficiam, ainda, de um pacote de seguros associado, especialmente dirigido para quem viaja com frequência, assim como de vantagens e benefícios dos parceiros da Caixa associados a este cartão de crédito. (1) TAEG de 24,7%, para um montante de 1500 euros, com reembolso a 12 meses, à TAN de 22,50%. Fotos: D. R. a c culto Wedge cross sandal É o verão, é o verão O Monogram Vernis é a estrela das wedges Louis Vuitton dedicadas ao verão 2012. Existem em vermelho, azul e amarelo e são uma das peças-estrela da coleção Louis Vuitton Summer, que também inclui pulseiras, anéis, colares, cintos, óculos e lenços. Astrologie nouvelle Um lenço intemporal Design original de Françoise Faconnet e reinterpretação de Cyrille Diatkine para um carré Hermès de twill de seda, inspirado numa tabela astrológica do Renascimento, um engenhoso sistema que indica os passos do Sol e da Lua. Parte das receitas da sua venda destina-se às Bibliotecas sem Fronteiras, uma ONG que ajuda a criar bibliotecas em todo o mundo, promovendo o acesso à informação e ao conhecimento. Lollipop Cozinha na mão O material geralmente utilizado no chão da cozinha – sobras de pavimentos em linóleo – ganha uma vida nova. Ao ombro, nas novas Tela Bags Lollipop. A marca, 100% portuguesa, oferece aos titulares dos cartões CGD 20% de desconto na nova coleção da loja on-line, através da introdução do código «CLIENTE CGD». Saiba quais em www.vantagenscaixa.pt. Culte moto sfumato Ver retro l’eau d’issey pour homme sport Olá fresquinho Estreia de Issey Miyake na variante Sport, tendência que se mantém em alta nesta estação. O eterno L’Eau d’Issey Pour Homme, lançado há mais de dez anos, ganha frescura e energia numa opção incontornável, oferecida num frasco desportivo desenhado por Renato Montagner, o italiano que, entre outras coisas, é diretor criativo das coleções e dos projetos especiais Pirelli PZero. Apresentados, em simultâneo, com a estreia da 3.ª Miu Miu Women’s Tale, os Miu Miu Culte Sunglasses são a segunda capsule collection da marca que representa a «outra» alma de Miuccia Prada. As formas arrojadas feitas apenas a partir de uma lâmina de alumínio tornam os Culte Sunglasses uma peça única dentro do seu género. Vendem-se na André Opticas, que oferece 15% de desconto em óculos de sol aos Clientes com cartões CGD. Limbo Negro & branco Da coleção Black on White, da Nanimarquina, um tapete feito à mão, com lã da Nova Zelândia. Bóbi não incluído. Os Clientes titulares dos cartões CGD têm 15% de desconto na aquisição em www.loja.inexistencia.com, apresentando o código «825371934». Não acumulável com outras promoções. Usufrua das vantagens que o cartão de crédito Caixa Gold (1) proporciona. Além de poder aderir à função de arredondamento e poupar sempre que o utiliza em compras, este cartão tem associado um programa de pontos para obtenção de descontos nas agências de viagens da Tagus, benefícios em vários parceiros e um completo pacote de seguros. Saiba mais em www.cgd.pt. (1) TAEG de 27,50%, para um montante de 2500 euros, com reembolso a 12 meses, à TAN de 21,00%. cx a re v i s ta d a c a i xa 23 g gourmet Prenúncio do Norte O sabor que a terra dá. b e lc a n t o Olha quem canta agora! Escutando de perto as melodias que sobem a rua – brotando do São Carlos, quase paredes meias –, naquele lugar onde há mais de meio século se orquestram sabores e ao qual se deu um nome com encanto pela ópera, há muito que a toada das palmas convivia com a harmonia de talheres, pratos e panelas. Agora que as mãos que regem o histórico Belcanto são outras, porém, o aplauso continua a fazer-se escutar e degustar, quando o que entra em cena são as iguarias de José Avillez. Encenador de um novo enredo para este restaurante, estreado no início do ano, o premiado chefe português fez mudar o cenário, onde já não pesam as cortinas e os veludos, a alcatifa e os cristais de outrora que cederam lugar à decoração da dupla Ana Anahory e Felipa Almeida. Belcanto Morada Largo de São Carlos, 10, Lisboa Telefone 213 420 607 Horário Das 12h30 às 15 horas e das 19h30 às 23 horas. Encerra aos domingos e às segundas-feiras Sempre com a criatividade na lista de ingredientes, Pedro Moreira Nunes, alfa e ómega do São Gião, tem por hábito começar por inventar o nome das suas criações, para só depois se entregar à experimentação no prato. O facto é que não faltam predicados a esta cozinha de autor puxada a norte, onde o gosto da terra se deixa polvinhar pelo cunho pessoal de um chefe que fez da sua casa um ponto de paragem obrigatória no roteiro de paladares portugueses. Com a arte dos petiscos como ponto de partida, torna-se incontornável o fumeiro, de onde saem não só os enchidos mas pratos completos, como o peito de pato fumado. Num menu que se molda ao sabor de cada dia, é impossível fugir à raia com manteiga negra, à açorda no pão ou ao capão assado no forno, sem deixar de olhar à deliciosa paisagem que espreita. E se na lista protagonistas deste ato de lirismo à mesa continuam a figurar verdadeiros clássicos da casa, como os ovos à professor e o strogonoff à Belcanto, este palco do gosto vê agora entrar estrelas da cozinha de Avillez, como a horta da galinha dos ovos de ouro (ovo, pão crocante e cogumelos), o mergulho no mar (robalo com algas e bivalves) ou o novíssimo Bosque Depois da Caça, representado por um cremoso de perdiz, perdiz em escabeche e legumes. A rematar, a virtuosa garrafeira, onde se destaca o tinto Paisagens, fruto de um dueto entre o próprio Avillez e o enólogo José Bento. De provar e aplaudir por mais. A.R.L. 24 cx a rev i s ta d a ca i xa São Gião Morada Avenida Comendador Joaquim de Almeida Freitas, Moreira de Cónegos Telefone 253 561 853 Horário Das 12h30 às 15h30 e das 19h30 às 22h30. Encerra aos domingos à noite e às segundas-feiras. Preço médio € 35 Fotos: D.R. Preço médio €75 p prazeres C r e m e d e c h o c o lat e branc o e l i ma a delícia de... Leonor de Sonho de uma noite de verão Sousa Bastos cremosa e exótica A cada colherada, a boca preenche-se de uma textura cremosa, em que a doçura do chocolate branco e o perfume exótico da lima permanecem. Perfeito para aquelas noites de verão que nos pedem para sonhar... Para cerca de 6 pessoas > 400 ml de natas > 100 ml de leite > 1 lima (casca) > 160 g de chocolate branco > 50 g de açúcar > 8 gemas > 1,25 g de sal fino (1/4 de colher de chá) Raspa fina de uma lima e chocolate branco extra para decorar Preparar seis taças com cerca de 120 ml de capacidade. Num tacho, misturar o leite, as natas e a casca de lima (tendo o cuidado de retirar completamente a parte branca interior) e levar ao lume até que comece a ferver. Desligar o lume e deixar repousar. Cortar o chocolate em pequenos pedaços e derreter em banho-maria ou no micro-ondas (com uma potência baixa, poucos segundos de cada vez e mexendo bem a cada intervalo de calor). Numa taça, bater as gemas com o açúcar e juntar o chocolate derretido, aos poucos, batendo sempre. Adicionar a mistura de leite e natas quentes, em fio, continuando a bater. Retirar as cascas de lima e coar o creme. Levar novamente ao lume, sem deixar de mexer, até que a mistura comece a querer ferver. Retirar do lume, mexendo até arrefecer ligeiramente. Distribuir o creme pelas taças e refrigerar durante cerca de 1-2 horas ou até que esteja firme. Decorar com raspas de chocolate branco, que se fazem raspando o chocolate com uma faca afiada, e polvilhar com raspa de lima. Servir fresco. Nota: Um bom chocolate branco compõe-se, exclusivamente, de manteiga de cacau, derivados do leite e açúcar, sendo que muitas vezes se adiciona baunilha como aromatizante. Por não conter cacau na sua composição, o seu sabor não é tão complexo, destacando-se, principalmente, notas de leite cozido, manteiga e caramelo, a doçura do açúcar e o aroma da baunilha. Lavradores de Feitoria Douro branco 2010 Fresco e de final longo, é bom parceiro de início de refeição. A Lavradores de Feitoria é um projeto duriense de 15 produtores, proprietários de 18 quintas distribuídas por terroirs do Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. Recebeu, este ano, a distinção da conceituada crítica de vinhos Jancis Robinson, pelo seu Lavradores de Feitoria Douro branco 2010. Foi, aliás, o único vinho português a integrar a sua lista de «Grandes Brancos», um feito, até porque se trata de um vinho cujo preço ronda os 3 euros. Produzido a partir de uvas das castas Malvasia Fina, Síria e Gouveio, apresenta um aroma intenso, com notas de flores brancas e pêssego. Na boca, é muito fresco e de agradável final longo e aromático. Servido entre 10ºC e 12ºC, é boa companhia para o início de refeição, na companhia de pratos de peixe, algumas massas e queijos leves. José Miguel Dentinho Apresenta um aroma intenso, com notas de flores brancas e pêssego. cx a re v i s ta d a c a i xa 25 e 26 cx entrevista a re v i s ta d a c a i xa francisco ferreira «A falta de estratégia é o que mais me preocupa» Nome incontornável quando o assunto se vira para o ambiente, luta por contrariar aquilo que considera ser um desinvestimento no futuro e um não saber aproveitar a crise para tornar esse mesmo futuro mais sustentável a todos os níveis Por Pedro Guilherme Lopes Fotografia Rui Marto/Estúdio João Cupertino Francisco Ferreira é um nome que, imediatamente, remete para a Quercus e, por consequência, para as questões ambientais. As questões que começaram a apaixoná-lo tinha ele dez anos e que o conduziram ao curso de Engenharia do Ambiente, que, hoje em dia, leciona. Numa altura em que, por força das conferências Rio +20, que assinalam o Ano Internacional da Energia Sustentável para Todos, a temática do ambiente volta a dar que falar, o homem que, diariamente, promove as boas práticas nos programas Minuto Verde e Um Minuto pela Terra traça um diagnóstico cinzento de uma crise que vai muito além da questão financeira. Mas promete não baixar os braços na procura das melhores soluções, que, segundo ele, passam muito pela capacidade de implementar uma visão a médio e longo prazos. Cx: Há pouco tempo, proferiu uma afirmação que fez correr alguma tinta, dizendo que a crise podia ser a oportunidade para Portugal optar por políticas de desenvolvimento sustentável, mas que o País está a passar ao lado dessa oportunidade. Pode explicar-nos o que está na base deste seu pensamento? Francisco Ferreira: O desenvolvimento sustentável é nós deixarmos um país ou um planeta em termos de disponibilidade de recursos, de uso de recursos, de biodiversidade, melhor para as próximas gerações. E isto não apenas de um ponto de vista ambiental, mas também de um ponto de vista social e económico. Estando nós num cenário de crise, que é alimentar, energética, financeira e climática, aquilo que me parece que fazia mais sentido era nós, face a todas as restrições que estamos a viver, não nos esquecermos do futuro e fazermos os investimentos necessários para esse mesmo futuro. E porquê? Porque, nesta conjuntura, estamos a ser obrigados a corrigir várias coisas, nomeadamente a reduzir o nosso consumo de gasolina e gasóleo, o nosso consumo de eletricidade, de água e de gás, mas falta quem explique às pessoas a forma de o fazer sem prejudicar a sua qualidade de vida e quem aproveite este cenário para estimular determinados segmentos de emprego que são fundamentais para a independência económica do País a longo prazo. cx a re v i s ta d a c a i xa 27 e entrevista Cx: Tais como… F.F.: Estou a pensar numa área-chave que é a da eficiência energética e das energias renováveis. Cx: Áreas onde foram suspensos os apoios e os incentivos… F.F.: É verdade. Mas já lá vamos. Completando o que dizia anteriormente, nós ainda desperdiçamos muito e esta seria uma excelente altura para mobilizar os portugueses no sentido de lhes mostrar que, no fundo, aquilo a que eles estão obrigados a fazer por causa do preço é um benefício que pode ficar. Mas como não estamos a fazer isso, o nível de frustração é maior e aquilo que podíamos estar a aproveitar para mudar em termos de hábitos é conseguido, mas não é rentabilizado. Não estamos a conseguir dar a volta à crise no sentido de garantir que, quer à escala das famílias, quer à escala nacional, estamos a fazer um investimento futuro. E isto leva-nos, então, à área da energia. Nós acabámos com tudo o que eram benefícios fiscais na área da energia. Passámos do 80 para o oito, esquecendo que, apesar de o País estar a passar dificuldades, esses investimentos são investimentos que geram emprego, são investimentos que nos tornam mais independentes do exterior em termos energéticos, que nos permitem diminuir as emissões de CO2… E se perdermos esta visão de médio e longo prazos, que estamos a perder, não de olhos no futuro O engenheiro do ambiente defende que é imprescindível ultrapassar pressões económicas e fazer planos a 10 ou 20 anos 28 cx a re v i s ta d a c a i xa estamos a saber aproveitar a crise para prepararmos um futuro mais sustentável a todos os níveis. Cx: Tudo isto, quando Portugal até já tinha conseguido atingir uma posição de relevo em termos de energias renováveis e de produção de energia eólica… F.F.: Exatamente! Mas também me parece importante sublinhar que existiram exageros nas políticas dos últimos anos e nos apoios que foram concedidos. Por exemplo, no que toca a veículos elétricos, não sei se um apoio de cinco mil euros não será demasiado quando conjugado com benefícios fiscais e isenção do IUC, mas o que não podemos, e repito, é passar do 80 para o oito. Fazia sentido proceder-se a uma correção, não avançar para um desinvestimento tal que, mais tarde, nos vai prejudicar. Cx: E será fácil ao comum consumidor estar alerta para questões deste género, numa época em que a principal preocupação é o constante ginasticar do seu orçamento pessoal ou familiar? F.F.: É aí que a educação e a informação se tornam fundamentais, passando a mensagem de que esta diferente gestão dos recursos pode ser um bem para todos e dando a perceber que existe alguma margem em termos de qualidade de vida. Estou a lembrar-me, por exemplo, da questão da mobilidade. Continuamos a não ter um sistema de passes ou de bilhética que seja favorável. Que, perante a diminuição da utilização do automóvel, consiga aliciar as pessoas a optar pelos transportes públicos. Agora, o que assistimos é a uma diminuição do consumo de combustíveis e da utilização do automóvel, mas isso não se traduz num aumento do número de utilizadores dos transportes públicos de forma significativa. Dá ideia que, simplesmente, as pessoas estão a retrair-se e a diminuir a sua mobilidade, o que, em muitos casos, pode significar um entrave ao desenvolvimento. É esta falta de estratégia que mais me preocupa. Em vez de estarmos a tomar decisões que olhem para cinco, dez ou vinte anos, e fruto da pressão económica, estamos a pensar no mês seguinte, na semana seguinte, muitas vezes no dia seguinte. Isso é insustentável do ponto de vista ambiental, do ponto de vista social, até do ponto de vista económico. Cx: Mas essa estratégia de que fala, e focando-nos na mobilidade, não estará amarrada por monopólios? Olhando para os casos do GPL e dos biocombustíveis, o entusiasmo em redor dos carros elétricos não poderá ser mais um exemplo com mais sucesso na teoria do que na prática? F.F.: Penso que, mais uma vez, não podemos perder de vista o que é o futuro, e o futuro numa escala de cinco a dez anos. Esse futuro passa por termos cada vez mais veículos elétricos, por uma rede de transportes públicos inteligente, passa por poder fazer a gestão da energia utilizada nos carros, e é com esses objetivos estratégicos que deveríamos funcionar. Em Portugal, as energias renováveis contribuíam, em 2008, com 2,1% do PIB. A ideia para 2015 é que esse contributo se cifre nos 4,1% e as perspetivas atuais é que consigamos ter 60 mil empregos direta ou indiretamente associados às energias renováveis. Perante estes números, por que não apontar a um objetivo, à semelhança da Alemanha ou da Dinamarca, de, em 2050, ter 100% de eletricidade renovável? Este tipo de planos, nós não temos. Não temos esta forma de perspetivar a sociedade e a verdade é que esta visão de futuro é fundamental para termos uma sociedade sustentável. Cx: E que mais é fundamental para procurarmos essa sustentabilidade? F.F.: Todos nós temos de nos convencer, pelo menos nos países ditos desenvolvidos, de que temos de viver com menos recursos. Neste momento, já estamos a sobre-explorar, já estamos 30% acima daquilo que o planeta consegue renovar. É como se eu já não conseguisse viver do meu salário e estivesse a ir à poupança que tenho no banco. E se a perspetiva aponta para um aumento efetivo da população mundial, é imperativo que se olhe para os recursos na perspetiva de uma gestão mais inteligente e mais equilibrada. Cx: Como professor universitário, sente que esta visão de futuro é partilhada pelos seus alunos? F.F.: Em Engenharia do Ambiente, procuramos, essencialmente, alertar para a necessidade de os alunos terem dois tipos de abordagem. Uma de futuro e uma que, tendo em conta as ferramentas à disposição de um engenheiro do ambiente, está ao alcance de poucas pessoas: saber equilibrar todas as variáveis relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Falamos de questões económicas, questões sociais, o fornecimento de bens, o uso eficiente de energia… é o ser-se capaz de, por exemplo, olhar para um objeto e ver o seu ciclo de vida em termos de trabalho, de materiais, da proveniência dos materiais, da sua densidade enquanto objeto, do ecodesign… Cx: A propósito do termo «ecodesign», não teme que, fruto de uma moda, o prefixo «eco» acabe por vulgarizar-se? F.F.: Obviamente que a utilização do prefixo «eco» tem sido abusiva cx a re v i s ta d a c a i xa 29 e entrevista em muitas situações, mas a verdade é que começámos a falar de questões ambientais e de desenvolvimento sustentável em 1972, na Conferência de Estocolmo. Depois tivemos a Eco 92, a Cimeira da Terra, em Joaneburgo, em 2002 e, agora, o Rio +20, e aquilo a que assistimos é a um percurso feito de inúmeros altos e baixos, onde, infelizmente, são vários os exemplos em que a economia se sobrepõe ao ambiente. A dificuldade em lidar com a questão das alterações climáticas é um bom exemplo. Voltando à utilização da palavra «eco», é verdade que a consciência ecológica tem vindo a aumentar desde 1972, mas esse é um crescimento que implica sentido crítico para se conseguir ter a noção do que está a ser feito, dos objetivos que estão a atingir-se, e para se conseguir distinguir o que, efetivamente, é ambientalmente responsável do que é puro marketing sem tradução do ponto de vista dessa responsabilidade. «não existe empenho suficiente para lidar com os problemas por antecipação» Cx: Falou da dificuldade em lidar com a questão das alterações climáticas. No final deste ano, termina o atual acordo resultante do Protocolo de Quioto e países como o Japão, a Rússia e o Canadá já anunciaram que não querem dar continuidade ao acordado. Que comentário lhe merece esta situação? F.F.: Quioto foi um dos pontos altos no que toca à efetivação das preocupações com a sustentabilidade, com o ambiente, com as alterações climáticas… Perante este cenário, o que vejo são as próximas gerações a terem de lidar com a questão das alterações climáticas de forma muito mais dura, pois as preocupações com a temática estão a ficar praticamente confinadas à Europa. E o que me custa mais é ver que existe o conhecimento tecnológico sobre como lidar com estas situações, mas não existe o empenho suficiente para lidar com este problema por antecipação. Cx: O que espera do Rio +20? F.F.: O Rio +20 surge numa altura muito complicada. É toda a conjuntura de crise, são os conflitos entre países mais ricos e mais pobres que se arrastam no tempo, são as economias emergentes que perseguem um modelo de desenvolvimento aplicado pelos países ditos desenvolvidos. Creio que o Rio +20 será, em primeiro lugar, uma oportunidade de balanço, algo que é sempre importante. Depois, haverá um enfoque na questão dos chamados «empregos verdes», procurando-se perceber quais os setores da economia que deverão ser estimulados no sentido de criar novos postos de trabalho e beneficiar o ambiente. E haverá um terceiro ponto que permitirá começar a quantificar o que chamamos «economia verde». Já há um preço associado ao CO2, mas é necessário associar também 30 cx a re v i s ta d a c a i xa um preço à biodiversidade. Por exemplo, a maioria dos fármacos tem uma origem natural, mas isso raramente é contabilizado. Infelizmente, não vamos ao essencial, que é alterar o paradigma de crescimento que é, atualmente, uma obsessão de todos os países. Cx: Será essa sede de crescimento que faz com que se passe ao lado de factos como mais de 1,4 mil milhões de pessoas não terem acesso a energia ou três milhões de pessoas ainda utilizarem carvão para cozinhar? F.F.: A água, a alimentação e a energia continuam a ser três temas críticos e existem pormenores que escapam à maioria das pessoas. Por exemplo, esse carvão que é utilizado é proveniente do abate de árvores. O acesso aos bens e o acesso à energia são questões relativamente às quais estamos longe de atingir as metas desejáveis. Nós precisamos de um futuro 100% renovável, tal como a Quercus defende. Nós somos um País periférico, não temos petróleo, gás natural ou carvão e, mesmo que tivéssemos, acabariam por esgotar-se, por isso, temos mesmo de apostar nas renováveis. Não tenhamos dúvidas de que a energia renovável tem sempre impactos a níveis ambientais. As telhas serão substituídas por painéis fotovoltaicos, uma central solar abrange uma área considerável, um parque eólico degrada bastante a paisagem devido à necessidade de transportar as pás e depois tem problemas de ruídos. O que creio que aconteceu foi que não soubemos antecipar esses conflitos, mas, ainda assim, temos muito menos conflitos do que outros países, como o Reino Unido. O ideal será conseguirmos conciliar uma política de eficiência energética com uma política de energias renováveis. Cx: Quando é que sentiu que era o ambiente e o estudo das questões ambientais que o fascinavam? F.F.: Eu comecei a integrar-me nestas questões ambientais quando tinha dez anos, mais coisa menos coisas. Tinha amigos mais velhos que acabaram por me influenciar nesse sentido, e recordo-me de que, nessa altura, na década de 70, um dos grandes objetivos era a criação da Reserva Natural do Estuário do Sado. Depois, na altura de me decidir profissionalmente, tomei a opção de estudar a fundo o ambiente e optei pelo curso de Engenharia do Ambiente e, felizmente, estou muito contente com o percurso que essa escolha me proporcionou. Por exemplo, o contacto com realidades de outros países é uma excelente forma de relativizarmos um pouco aquilo que nos rodeia. Às vezes, queixamo-nos da nossa qualidade de vida, quando, noutro canto do mundo, há alguém que, todas as manhãs, percorre 25 quilómetros para ir buscar água para a sua família. E que outros vivem sem eletricidade. E é também para não deixar cair no esquecimento esta disparidade no acesso e na utilização de recursos à escala mundial que se tornam fundamentais momentos como o Rio +20. Cx: E como é que se dá a sua entrada para a Quercus? F.F.: Acaba por ser uma sequência deste percurso que escolhi. Eu e alguns amigos fazíamos parte da Liga para a Proteção da Natureza, que é a mais antiga associação de ambiente de Portugal. Depois, «sinto que os portugueses estão predispostos para agir em prol do ambiente» como gostávamos de ter a nossa autonomia, criámos uma associação chamada Setúbal Verde, perfeita para termos a noção de que este tipo de trabalho consegue ser muito mais preciso quando feito à escala regional. Em 1985, nasce a Quercus, que, acima de tudo, foi o juntar de várias associações, e, em 1987, a Setúbal Verde extingue-se para integrar a Quercus. Cx: Alguma vez sentiu, ao longo deste percurso, que a manifestação destas preocupações ambientais fazia com que as pessoas vos olhassem como «lá vêm estes outra vez dizer que está tudo mal»? F.F.: Sim. [Risos] Mas também é verdade que sinto que as pessoas têm cada vez menos anticorpos relativamente aos ambientalistas. Ou, se se preferir, foram percebendo que, em muitos casos, nós tínhamos razão. E, para ser sincero, essa dificuldade de aceitação acabou por ter um lado positivo, pois sempre obrigou a apontar uma alternativa a par do sentimento de discordância relativamente a um determinado projeto ou acontecimento. Esse é o verdadeiro desafio das associações ambientalistas. Cx: A propósito de desafios, consegue aplicar no seu dia a dia muitos daqueles pequenos gestos que, por exemplo, nos programas Minuto Verde e Um Minuto pela Terra, se tentam promover junto da população? F.F.: Sim, sim. Por exemplo, deixo o carro junto à estação do comboio, fazendo deste o meu meio de transporte, associado ao metro. E ainda ganho tempo para trabalhar ou ler. Em casa, faço uso da água quente solar, de eletricidade a partir de painéis fotovoltaicos, em termos totais, consumo tanta eletricidade como aquela que produzo, e faço a separação do lixo. Creio que o importante é irmos realizando pequenos gestos sem sermos obcecados, de forma a que essas rotinas entrem no nosso dia a dia de forma inconsciente. pequenos gestos Em sua casa, Francisco Ferreira põe em prática alguns dos conselhos que, diariamente, procura transmitir na televisão e na rádio Cx: E irrita-se quando vê pessoas a ignorarem completamente esses pequenos gestos? F.F.: Tento controlar-me. [Risos] Por exemplo, custa-me abrir o contentor do lixo comum e vê-lo cheio de cartão ou de plásticos, porque estamos a falar de algo que depende unicamente de nós. Mas, sabe, e até pelo feedback que temos tido ao Minuto Verde e ao Um Minuto pela Terra, sinto que os portugueses estão predispostos para agir em prol do ambiente. Muitos não o fazem porque são teimosos, outros não sabem como hão de fazê-lo e outros não têm a capacidade económica para avançar. E o facto de ainda me deparar com várias situações que me desagradam acaba por ser um sinal de que ainda há muito por fazer e que esta luta pelo ambiente está longe de estar terminada. cx a re v i s ta d a c a i xa 31 h 32 história de capa cx a rev i s ta d a ca i xa S u s t e n ta b i l i da d e Que economia queremos para o futuro? Virada de frente para o amanhã, a economia verde pinta de esperança uma prosperidade económica e social já não apesar, mas por causa do ambiente. Após a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, porém, fica no ar a pergunta: onde nos levará este Rio, 20 anos depois? Foto: Henglein and Steets/Getty Images Por Ana Rita Lúcio cx a rev i s ta d a ca i xa 33 h história de capa I magine que está num condomínio. Ao passar a soleira da sua porta, prepara-se para entrar no espaço da sua propriedade privada, na casa que é sua por direito, onde as suas regras funcionam como um conjunto de leis a seguir. No entanto, se cruzar as fronteiras do seu apartamento, está a pôr o pé, não em terra-de-ninguém, mas nas zonas comuns, onde as responsabilidades e os direitos são – ou deveriam ser – partilhados por todos. A gestão do que se passa dentro das suas quatro paredes só a si lhe diz respeito, em princípio, embora haja algumas condições a respeitar, porque o prédio é de todos. Já a administração dos espaços e das matérias que não são exclusivos de uns ou de outros, mas que são de todos, é feita em conjunto. E as decisões mais importantes, claro, são tomadas nas famosas reuniões de condomínio que todos conhecem. Agora, imagine que a Terra, além de um planeta, é um condomínio. Que, estando dentro do seu país, é como se estivesse na sua casa: são as leis nacionais que vigoram (em princípio), mas há um conjunto de regras exteriores que se lhe aplicam: por exemplo, as normas sobre a emissão de gases poluentes para a atmosfera que transpiram das metas estabelecidas pelo Protocolo de Quioto. E se cada país é uma casa e cada povo um condómino, o planeta é de todos, havendo, também, zonas de interesse comum – como os oceanos, o espaço aéreo ou as florestas – que devem ser geridas pela comunidade. Todos, sem exceção, devem contribuir e há, até, as cimeiras ou conferências internacionais que funcionam como reuniões de condóminos ao mais alto nível. Ainda que este cenário possa parecer idílico, não está muito longe do panorama proposto pelo projeto que a Quercus levou na bagagem para a Cimeira da Terra Rio +20 – uma espécie de reunião de condomínio gigante, decorrida de 20 a 22 de junho, onde marcaram presença mais de 180 delegações mundiais. Na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que voltou ao Rio de Janeiro 20 anos depois da primeira, a Associação Nacional de Conservação da Natureza apresentou a proposta O que nos Une a Todos – Um Património Comum para 34 cx a rev i s ta d a ca i xa Caixa carbono zero A CGD reconhece as alterações climáticas como um tema prioritário. Com este programa, pretende afirmar-se como parte ativa da solução, através da liderança na resposta às novas exigências de uma economia onde, a nível global, as restrições às emissões de carbono são já uma realidade. O Programa Caixa Carbono Zero tem como objetivo concretizar a redução de emissões próprias, responder ao desafio de colocar no mercado novas soluções financeiras que facilitem o acesso a bens e serviços de baixo carbono, bem como promover o conhecimento sobre o tema. Nesse sentido, a CGD lançou o cartão Caixa Carbono Zero, que acumula no programa de cash-back créditos de CO2. A Tapada Nacional de Mafra foi o primeiro projeto a beneficiar dos fundos disponibilizados por este cartão. (1) TAEG de 24,7%, para um montante de 1500 euros, com reembolso a 12 meses, à TAN de 21,00%. a Economia Verde, através do projeto Condomínio Terra. Nele, avança com uma nova fórmula de contabilidade positiva no cálculo da contribuição de cada país para o meio ambiente: por exemplo, fazendo com que o sistema de quotas de emissão de CO2 passe a contabilizar o contributo positivo que as florestas de determinados países representam para o bem comum. Procura, assim, abrir caminho à consolidação de uma nova economia, na qual a Natureza e a ecologia tenham um valor bem definido. Uma economia verde onde a moeda de troca sejam os serviços ambientais. O cinzento que paira A cor por excelência da defesa da Natureza, que, de resto, pincela a Baía da Guanabara, lançou mesmo o mote para a conferência das Nações Unidas. Para avançar rumo às Fotos: Buda Mendes/LatinContent/Getty Images (Ban Ki Moon); Walter Bibikow/Getty Images (barragem); Andras Jancsik/Getty Images (Rio de Janeiro) ambiciosas metas do «desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza», a iniciativa internacional elegeu a «economia verde» como veículo privilegiado. Ou, aliás, como defendeu António Patriota, ministro do exterior do Brasil, «se o Rio 92 foi ponto de destino, a Rio +20 será o ponto de partida para o desenvolvimento sustentável do planeta». A realidade, porém, mostra que mais do que uma luz verde para o entendimento – ensombrada, desde logo, pela ausência de algumas figuras de proa do xadrez político mundial, como Barack Obama, David Cameron e Angela Merkel e pelo cancelamento da representação oficial do Parlamento Europeu –, foi um fumo cinzento, vazio de metas e compromissos globais e concretos, que emergiu da Cidade Maravilhosa. Uma das medidas mais ansiadas pelos entusiastas da Rio +20 era a criação de uma agência das Nações Unidas para o ambiente, acabando também por cair em saco roto, já que apenas se acordou num fórum de alto de nível para o desenvolvimento sustentável, desprovido do peso político que um organismo da ONU poderia ter. No geral pouco ambicioso, o documento Que Futuro Queremos?, aprovado pelos líderes mundiais no final da cimeira, parece ir pouco além das intenções. Resultando mais «daquilo em que foi mais fácil encontrar consenso e não da tentativa de ultrapassar as dificuldades e divergências entre os diferentes países», como aponta Francisco Ferreira, vice-presidente da Quercus, para quem ficou patente que as diferentes nações preferiram colocar os seus próprios interesses «à frente do bem comum». As expectativas da sociedade civil ficaram de tal modo goradas que 50 organizações não governamentais e personalidades se juntaram num abaixo-assinado contra a declaração final. «A Rio +20 ficará na História como uma conferência das Nações Unidas que ofereceu ao mundo um texto marcado por condomínio terra A proposta que a Quercus levou ao Rio +20 avança com uma nova fórmula de contabilidade positiva no cálculo da contribuição de cada país para o meio ambiente a força da água A energia hidráulica é uma das soluções o palco O Rio de Janeiro foi a cidade escolhida para acolher a Cimeira da Terra Rio +20 graves omissões, que põem em perigo a preservação e a capacidade de recuperação socioambiental do Planeta», contra-argumentam. Economia do amanhã No entanto, para lá da «frustração de muita gente no final da conferência», como apontou Gro Harlem Brundtland, a enviada especial do secretário-geral da ONU para cx a rev i s ta d a ca i xa 35 história de capa as Mudanças Climáticas e ex-primeiraministra norueguesa, conhecida por ser a «mãe» do conceito de desenvolvimento sustentável, nem tudo é negro. Olhando para o futuro, Portugal, que tem conquistado posição em matéria ambiental dentro do espaço comunitário, pode ter um papel relevante a desempenhar. Quem o diz é Pedro Afonso de Paulo, secretário de Estado do Ambiente e do Ordenamento do Território, recordando, ainda, em entrevista ao Diário Económico, que o nosso País foi «lead-country, com a Comissão Europeia, no tema dos Oceanos». Paralelamente, foi designado «co-líder da plataforma China/ Europa, em matéria de Água» e um dos países responsáveis pela Declaração de Luanda, assinada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde se destacava o Rio +20 «como uma oportunidade para os líderes mundiais se comprometerem com o fortalecimento de uma agenda pragmática rumo à economia verde inclusiva». Mas mesmo que a agenda possa ter ido longe demais no pragmatismo, a economia verde marcou indubitavelmente o tom da conferência. O histórico responsável da Quercus alega que, desde que se chamou a atenção para as questões ambientais, na conferência de Estocolmo, em 1972, se tem trilhado «um percurso feito de inúmeros altos e baixos, onde são vários os exemplos em que a economia se sobrepõe ao ambiente». No 36 cx a rev i s ta d a ca i xa entanto, a nova economia verde presta-se a colocar ambos os vetores em pé de igualdade, promovendo o desenvolvimento económico e social, ao mesmo tempo que combate os riscos ambientais e a escassez de recursos. Aquela que Pavan Sukhdev, economista indiano, consultor do Programa de Ambiente da ONU, apelidou de «economia do amanhã» faz corresponder aos serviços que os ecossistemas desempenham um valor económico, de uma forma integrada. E é precisamente isso que a torna revolucionária. A fórmula é simples e a ideia que a sustenta também. Para que o desenvolvimento sustentável não seja apenas um propósito retórico, a economia verde torna-o mensurável. Assim, passa a ser possível saber, exatamente, quanto valem os serviços ecossistémicos prestados pelo curso de um rio, a biodiversidade de determinado local ou a captura de carbono levada a cabo por grandes florestas. Especialistas em matéria ambiental como Sukhdev defendem, mesmo, que as contas dos países devem ser terceira revolução industrial Os empregos verdes ocupam, atualmente, três milhões de profissionais em todo o mundo passado vs futuro A energia eólica garante a possibilidade de produção de energia elétrica espelho do valor desses mesmos produtos e serviços que a Natureza presta à economia e à sociedade, criando indicadores como o PIB verde. Inspirada pelas recomendações plasmadas num estudo liderado pelo economista indiano sobre a economia dos ecossistemas e da biodiversidade, há já uma parceria global entre o Banco Mundial, a ONU, a OCDE e governos de vários países para testar no terreno esta e outras medidas. Àqueles que resistem à economia verde, argumentando que, em tempos de crise e de escassez de recursos (sobretudo financeiros), não se «pintam» economias, a ONU responde com o vislumbre da poupança, garantindo que basta investir dois por cento do PIB mundial, por ano, na economia verde, para que o crescimento económico e o equilíbrio ambiental possam ser conciliados. Se pensarmos que esses dois por cento representam apenas um décimo do investimento global na economia «castanha» – a tradicional –, constatamos que uma gota no oceano pode, de facto, fazer a diferença. Revolução em marcha Numa nova ordem económica virada para o futuro, a mudança de fundo operada acarreta oportunidades a longo prazo, que vão desde a luta contra a pobreza à gestão mais eficaz dos recursos, racionalizando a despesa pública – nomeadamente, através de uma reforma fiscal assente nos incentivos a políticas ligadas à sustentabilidade. No entanto, é pelo emprego que se abre o flanco para o progresso deste processo revolucionário. Não é, aliás, por acaso que a OCDE fala de uma «terceira Revolução Industrial», perspetivando que os empregos verdes – que atualmente ocupam três milhões de profissionais, em todo o mundo – possam atingir os 25 milhões, até 2030. Particularmente em setores-chave como a agricultura e as pescas, a energia, a gestão dos resíduos, as águas, as atividades marítimas, a gestão e o ordenamento do território, os transportes, a construção ou o turismo, mas podendo chegar a áreas tão diversas quanto a economia, a engenharia, a comunicação e até o direito. A revolução está, contudo, longe de ficar pela dinamização do mercado de trabalho. Do outro lado da barricada, as empresas, responsáveis por 60 por cento do PIB mundial, são chamadas a assumir o seu papel. «Como Fotos: Pedro Castellano/Getty Images (técnico); Miguel Navarro/Getty Images (turbina eólica) h Portugal é um dos dez países do mundo com maior produção elétrica a partir das renováveis cx a rev i s ta d a ca i xa 37 história de capa provocam a maior parte do problema, são elas que podem catalisar a maior parte da solução», sustenta o consultor do Programa de Ambiente da ONU. Encarando o ambiente não como um custo, mas como um investimento, o tecido empresarial deve abrir caminho a um novo modelo económico, repensando o modo de fazer negócios, para refletir na fatura ambiental as repercussões da atividade sobre os ecossistemas. Segundo dados do Eurobarómetro sobre PME e mercados verdes, esta marcha é liderada pelas empresas de menor dimensão, que despertaram mais cedo para a consciência ecológica. Em 2012, um em cada oito trabalhadores de PME desempenhava mesmo funções associadas à economia verde, representando 13 por cento de todos os postos de trabalho criados neste universo empresarial. Portugal parece ser, também, um dos «melhores alunos» europeus nesta matéria, uma vez que 88 por cento das PME portuguesas já tomam medidas efetivas de eficiência energética, a percentagem mais alta de toda a Europa. Energia da Natureza E por falar em eficiência energética, enquanto se assinala o Ano Internacional da Energia Sustentável, Portugal assume-se como um dos dez países do mundo com maior produção elétrica a partir das renováveis. Ventos de mudança que vieram para ficar desde que se começaram a construir as primeiras centrais hídricas, em meados do século passado, e que, hoje, colocam a água e o vento como principais fontes de energia explorada, continuando a espreitar o imenso potencial da energia solar. A prioridade dada às renováveis, até para combater a dependência externa, levou a que, em dez anos, cerca de metade da eletricidade produzida em Portugal e aproximadamente 25 por cento de toda a energia consumida passasse a ter origem em fontes naturais. Um investimento que é preciso não deixar cair. Em prol da economia verde. E do condomínio Terra. Programa de Sustentabilidade O negócio assente nos pilares da sustentabilidade assume uma importância decisiva, para que subsista uma gestão equilibrada dos recursos disponíveis, a deteção de oportunidades e a criação de valor para o futuro, em alinhamento com as expetativas dos seus stakeholders. O percurso de boas práticas orientadas à responsabilidade social e ambiental, à preservação dos valores inerentes à cidadania e ética em geral tem permitido o reconhecimento nacional e internacional da CGD. É, por isso, com satisfação que a Caixa apresenta os seguintes indicadores alcançados em 2011: >> Compensação de 4038 t CO2e, geradas pela sua atividade; >> Redução total de emissões na ordem dos 15 por cento, associadas à mobilidade; >> Redução de 34 por cento no consumo de papel de fotocópia; >> Redução de 47 por cento de plástico sob a forma de cartões bancários; >> Aumento da reciclagem de resíduos em 19 por cento; >> Redução de 13,9 por cento no consumo de eletricidade, em relação a 2006, evitando, por ano, a emissão de 6500 t CO2e, equivalentes às emissões de carbono resultantes do consumo de eletricidade de 3250 habitações durante um ano; >> Mais de 33 mil horas em ações de voluntariado; >> Disponibilização da calculadora de carbono no site www.cgd.pt, onde mais de 5000 pessoas já calcularam a sua pegada carbónica. Pelo planeta e pelas gerações atuais e futuras, a Caixa toma medidas para reduzir a sua pegada ambiental. Junte-se e, com pequenos gestos, poupe, também, o ambiente. cx a rev i s ta d a ca i xa Foto: Eva Serrabassa/Getty Images h observatório Fernandes o eduardo de oliveira Um caminho a fazermos Com crises financeiras e outras, de âmbitos diversos, o ambiente tem, também, sofrido a sua parte, perdendo, aqui e ali, alguma Fotos: D.R. (Eduardo de Oliveira Fernandes); iStockphoto (painéis solares) prioridade, como ocorre, curiosamente, em Portugal. Estivemos lá, em 1992, no Rio, em representação de uma ONG criada nos anos 50, nos EUA, para a Energia Solar: a ISES, Internacional Solar Energy Society. Exaltámos com a súbita importância que o Mundo passou a dar à energia, não já pela escassez de combustíveis fósseis após algumas crises petrolíferas (1973, 1979, ...), mas pelo «mal» que causa a queima dos combustíveis fósseis e, também, e sobretudo, pelo «bem» que poderiam oferecer as tecnologias energéticas para o futuro das energias renováveis. Do Rio saíram, entre outras, três iniciativas fortes: primeiro, a consagração política do conceito de desenvolvimento sustentável ambiental, na sequência do Relatório Brundtland, em 1987; em segundo lugar, a identificação do aquecimento global como caso da sustentabilidade ambiental por excelência com desafios muito ingentes, quanto ao ambiente global, e muito pragmáticos, quanto à definição das medidas e sua aplicação, de que haveria de resultar o Protocolo de Quioto, em 1997; finalmente, a terceira medida aqui eleita foi a da promoção da importância do conceito da «agenda 21», com a vertente específica da «agenda local» a sublinhar que é ao nível do uso final da energia (a necessária?) que as questões da energia se colocam e que isso deverá trazer novas responsabilidades às comunidades e às cidades. Vinte anos volvidos, importa sublinhar as dificuldades políticas de fatores tão incontornáveis como a diferença de nível económico entre 2/3 da população mundial, dos quais mais de 2 mil milhões ainda sem acesso à eletricidade, e o outro terço, dos países ditos desenvolvidos, que se reflete em niveis de uso da energia que oscilarão entre 1.5 toneladas equivalentes de petróleo per capita, para os primeiros (Portugal ronda os 3), e 4 a 6 teps para os segundos. Ressaltam questões como a do próprio desenvolvimento; do direito ao acesso às Professor da feup «benesses» do desenvolvimento tecnológico; e a questão dos mercados que deveriam poder integrar aquelas problemáticas, incluindo a do equivalente económico das emissões de carbono. Certo é que, com crises financeiras e outras, de âmbitos diversos, o ambiente tem, também, sofrido a sua parte, perdendo, aqui e ali, alguma prioridade, como ocorre, curiosamente, em Portugal. E, no entanto, a fasquia dos 450 ppm de CO2 ou o limite da elevação da tempertaura média por aquecimento global de 2 a 2,5 ºC pairam no horizonte de 2020 ou, mais provavelmente, de 2050. O RIO +20 tem pela frente o desafio das alterações climáticas que afetarão o acesso à água de muitas populações, destruirão muitos ecossistemas, colocarão novos desafios à problemática da alimentação, favorecerão a destruição de imensas áreas vegetais pelo fogo e de grandes extensões de orlas marítimas pela inundação e erosão, farão desaparecer algo como 30 por cento das zonas húmidas e terão vários impactos na saúde, desde a propagação de doenças e a difusão de novas pragas em regiões que habitualmente as não tinham, até aos fenómenos de stress térmico inabituais. Sendo que está em causa o controlo das emissões de CO2 equivalente para poder controlar o nível da concentração de CO2 na atmosfera, colocam-se seis desafios: a) Acertar as metas relativas da concentração para 2020/2050; b) Encontrar os financiamentos para os países em vias de desenvolvimento (100 mil milhões/ ano); c) Construir um verdadeiro mercado do carbono; d) Assegurar a ajuda à adaptação dos paises mais vulneráveis; e) Ajudar na contenção da desflorestação (30 por cento); f) Promover a mudança do paradigma energético. Portugal, país fisicamente pequeno, com elevada importação de combustíveis, teria a sua solução política, pensada em 2001 e prosseguida em 2005, com apoio na promoção das energias renováveis e da eficiência energética. Entretanto, a crise e a redução do consumo e da atividade económica substituíram a eficiência, reduzindo o uso de eletricidade e de combustíveis e, assim, reduzindo as emissões de CO2, enquanto medravam interesses sombrios contra as renováveis que, correspondendo a um projeto nacional do maior sucesso aos olhos de todo o Mundo, acabam por ser vítima doutra pequenez não menos letal: a falta de sentido de autoestima e de confiança em si próprio como povo e, até, falta de sentido de Estado como regime. E, então, só nos restará seguir a RIO +20, se esta alumiar bastante. cx a re v i s ta d a c a i xa 39 v grande viagem LO N D R E s Em Londres tudo de novo Numa convergência difícil de se repetir, a capital inglesa organiza os Jogos Olímpicos, festeja seis décadas de reinado da sua monarca e celebra o bicentenário do seu escritor mais famoso. Estes são apenas três motivos para visitar Londres, uma cidade cheia de novidades à sua espera Por Rui Tavares Guedes* 40 cx a rev i s ta d a ca i xa E Foto: iStockphoto Foto: Randi Utnes stamos no lado que não se vê nos habituais bilhetes-postais da capital britânica. Ou antes, o lado que apenas se adivinha por detrás de algumas das imagens icónicas da grande cidade global da Europa, a única onde se contabilizam 200 línguas e 300 comunidades diferentes. Estamos nas traseiras dos arranha-céus de Canary Wharf, uns quilómetros (milhas, por aqui) à direita da silhueta inconfundível da catedral de St. Paul, na margem norte do Tamisa. Estamos para lá daquilo que muitos julgam ser o limite de Londres, onde tantos pensam que nada se passa nem nada acontece de interessante. A zona que foi, há dois séculos, um dos berços da revolução industrial, com a instalação de inúmeras fábricas de têxteis e que viu nascer os primeiros sindicatos operários, é, hoje, um dos centros mais ativos e criativos de Inglaterra. Nstes espaços vagos de antigos complexos industriais, que inspiraram e deram fama a Charles Dickens, mas também aos crimes de Jack, «o Estripador», muitos artistas plásticos encontraram as condições ideais para montarem os seus ateliês. Lado a lado surgiram as residências de famílias recém-chegadas da Índia, Paquistão, Bangladesh e Vietname, conforme as sucessivas vagas de imigração. Depois, surgiram as galerias de arte, impulsionadas com a abertura, em 2000, da White Cube, na Hoxton Square, a primeira a expor e a aproveitar as obras de muitos artistas locais, entre os quais se encontravam nomes agora consagrados, como os de Damien Hirst e Tracey Emin. Logo a seguir, foram cx a rev i s ta d a ca i xa 41 v grande viagem abrindo as muitas lojas de «segunda mão» de roupa e tudo o mais que se possa imaginar. E, aos poucos, a palavra vintage foi-se colando ao East End, quase como uma espécie de sinónimo, mas também como adjetivo, neste caso, superlativo. O enorme edifício industrial de tijolo vermelho que ocupa um quarteirão da Cheshire Street, quase colado à linha férrea, é o local ideal para uma espécie de prólogo de uma viagem à descoberta do renovado East End. Aquilo que parece um edifício abandonado esconde, na realidade, um autêntico local de peregrinação: Beyond Retro, uma das maiores lojas vintage a que se pode aceder em Londres (no mundo?) e cuja fachada até serviu de cenário a um videoclip de Amy Winehouse. Lá dentro, é preciso, acima de tudo, reunir uma condição essencial: ter tempo, muito tempo. E, de preferência, algum dinheiro. O armazém parece uma caverna de Ali-Baba vintage: sapatos e mais sapatos, vestidos, chapéus, casacos, óculos. Tudo já usado, mas com etiquetas conhecidas à mistura. E os clientes, quais formiguinhas, vão-se perdendo por entre filas de cabides, prateleiras e cabines de prova. Cá fora, na rua, caminhando em direção a Brick Lane, esta Cheshire Street começa a revelar-nos o ambiente que iremos encontrar nos próximos quarteirões e que dão fama, hoje, ao East End: bares, lojas vintage, galerias de arte, design, antiguidades, mais lojas vintage. É um mundo de descobertas, em menos de 100 metros. Mas apetece entrar em todas as portas abertas, desde a loja de ukeleles (os cavaquinhos do Haway) até à livraria-galeria-café com o sugestivo nome de Beach, passando por galerias de arte, ateliês de estilistas e clubes noturnos, a esta hora, ainda em limpezas. E m Brick Lane, o cenário mantém-se. Mas reforça-se a multiculturalidade dos transeuntes, tão diversa quanto a dos poucos turistas que por ali circulam, numa rua calcetada que, aos poucos, está a ser substituída por um piso alcatroado mais uniforme e adequado, dizem, aos passos dos visitantes que vão ali chegar, em julho, por causa dos Jogos Olímpicos. Fala-se inglês, mas apenas porque essa é a língua franca e universal. À nossa frente, o que desfila é gente de todas as cores, credos e costumes. Até chegarmos, naturalmente, à zona dos imigrantes bengalis, oriundos do Bangladesh, conforme é ilustrado, profusamente, nos letreiros das lojas e restaurantes. Quase todos ostentando um letreiro de 42 cx a rev i s ta d a ca i xa ao longo do tempo, poucos lugares no país se mantiveram tão fiéis às origens masterchef, publicitando-se como autores do melhor curry do mundo. O centro de Brick Lane é a Old Truman Brewery, uma antiga fábrica de cerveja (era a maior de Londres) que se transformou num centro de criatividade e encontro de jovens artistas, com lojas, bares, restaurantes, ateliês e as sedes de mais de 200 microempresas emergentes. Os seus mercados são um verdadeiro magneto para atrair multidões. O principal e mais famoso é o Sunday Upmarket, que atrai, todos os domingos, milhares de visitantes, bem como muitos comerciantes em busca de novos designers e artistas. Mas, aos poucos, outros mercados foram ganhando importância, como o Vintage Market (sextas, sábados e domingos) e o Backyard Market, ambos mais vocacionados para jovens, com menos peças originais, e onde o vintage se mistura com o kitsch, num ambiente animado e despretensioso. O caráter especial de Brick Lane manifesta-se, também, na própria natureza dos negócios que ali oficial O logótipo das Olimpíadas em Trafalgar Square ícones A Casa do Parlamento, o Big Ben e a roda gigante London Eye boxpark Galerias surpreendentes compras Camden Lock (página seguinte) é um dos mais populares mercados de rua londrinos Fotos: iStockphoto (símbolo Jogos Olímpicos Londres 2012); Buena Vista Images (roda gigante); Bloomberg/Getty Images (Boxpark Shoreditch) enorme estrutura vitoriana a que o arquiteto Norman Foster acrescentou uma polémica cobertura de aço e vidro, a meio caminho entre as estações de metro de Liverpool St. e Shoreditch. Aqui, as bancas de antiguidades e as lojas de art deco misturam-se com os expositores de roupa vintage e os balcões de comida regional, por entre bares e esplanadas, restaurantes e salas de conferências. N assentam raízes. Quando, em todo o mundo, as vendas de música gravada caem a pique, a Rough Trade abriu, numa das alas da antiga fábrica, a sua maior loja de Inglaterra, um enorme armazém repleto de CD e LP (sim, muitos discos de vinil!) anarquicamente arrumados, junto de um auditório onde cada vez mais músicos (consagrados ou em busca de fama) apresentam os seus trabalhos. A poucos quarteirões de distância, ergue-se outro edifício emblemático do East End e cuja história se confunde com a de Brick Lane e a forma como esta área foi evoluindo ao longo dos séculos. Atualmente, e desde 1976, o número 59 de Brick Lane é a Grande Mesquita de Londres, local de culto obrigatório, especialmente às sextas-feiras, para os muitos imigrantes do Bangladesh. Este caldo multicultural estende-se, também, ao Spitalfields Market, uma ormal, por aqui, é pegar numa série de contentores, empilhá-los todos uns em cima dos outros, pintá-los de preto por fora e transformá-los em lojas e restaurantes por dentro. Foi exatamente isso que fizeram na Shoreditch High Street. Chamam-lhe Boxpark, abriu em dezembro passado e é, de momento, um dos «talk of the town». Aquele a que chamam o primeiro «pop-up shopping» fica mesmo a dois passos da Redchurch Street, a rua onde tudo parece estar a mudar mais rapidamente, especialmente depois de Terence Conran ter decidido ali instalar o seu Boundary, um projeto também só possível nesta área de Londres: uma espécie de hotel, com 12 quartos de decoração diferentes, cinco suites, três restaurantes, uma loja de produtos alimentares orgânicos e uma padaria. Nesta chuvosa noite de quarta-feira, todos os restaurantes do Boundary estão cheios. Como tantos outros nas redondezas: o Drunken Monkey, um chinês onde se serve dim-sun ao som de um DJ, está reservado para uma festa de executivos da City; o The Light, instalado num antigo armazém quase ao lado, já não aceita mais encomendas para a cozinha; e o Les Trois Garçons (1, Clube Row), mais seleto e caro, está como costuma estar desde que se soube que, há pouco tempo, Madonna celebrou lá o seu aniversário: «Desculpem, só com reserva.» Seguimos, então, pela Redchurch Street. O letreiro na fachada do número 34 indica The Owl & Pussycat e, apesar do relógio bater quase as 10 horas da noite, a cozinha ainda está aberta, o que nem sempre é habitual em Londres. Encaminham-nos para uma mesa de madeira, numa sala que parece saída de uma ilustração das antigas revistas de atualidades da época vitoriana. Já o serviço é assegurado por duas empregadas que se devem vestir todos os dias na Beyond Retro. cx a rev i s ta d a ca i xa 43 v grande viagem sabIa que... As mascotes dos Jogos Olímpicos 2012 nasceram a partir de duas gotas de metal derretido, que caíram durante o fabrico de um tubo, feito para incorporar o Estádio Olímpico. Um pouco à semelhança de Pinóquio, Wenlock e Mandeville, assim se chamam as mascotes, ganharam vida de forma quase mágica. 44 cx a rev i s ta d a ca i xa Chega-nos aos ouvidos que «olheiros» da Prada, Ralph Lauren, Christian Louboutin e Paul Smith têm andado pela rua, a inspecionar todas as fachadas de tijolo, em busca de espaços para abrir novas lojas. Há quem garanta que o hoteleiro norte-americano Ian Schrager já lá tem um edifício em vista e que o famoso restaurante japonês Nobu pode abrir ali mais uma das suas «sucursais». E há também quem diga que a Redchurch Street é, hoje, o equivalente à agora «domesticada» Carnaby Street há 50 anos. O que a distingue, atualmente, é a grande quantidade de lojas independentes e os estabelecimentos únicos, em prédios onde se vislumbram escritórios de agências de publicidade e de empresas de novas tecnologias. A mistura perfeita complementa-se na rua, onde se pode entrar na Labour and Wait, uma loja só com artigos para a casa, em que a portuguesa pasta medicinal Couto é um dos artigos em destaque. É nas carruagens da Central Line que chegamos a Stratford, uma área que, segundo o mayor de Londres, Boris Johnson, acaba de «conhecer a maior transformação desde a Idade Média.» Sebastian Coe, o mítico duplo campeão olímpico dos 1500 metros (em Moscovo, em 1980, e Los Angeles, em 1984) e presidente do comité organizador dos Jogos de Londres, ainda hoje diz corar de embaraço quando se recorda que, há oito anos, mostrou ao mundo o local onde queriam organizar o acontecimento mais mediático do planeta: uma zona degradada, repleta de lixos industriais. Agora, graças à renovação da rede do metro, Stratford está a cerca de 15 a 20 minutos do centro de Londres e ostenta, logo à saída das carruagens, o Westfield City, o maior centro comercial da Europa, com mais de 300 lojas, 17 cinemas, 70 restaurantes, dois hotéis e uma infinidade de infraestruturas. O Westfield está completamente colado a uma das portas de entrada do parque olímpico, a poucos metros da piscina desenhada por Zaha Hadid, da enorme escultura vermelha de Anish Kapoor e Cecil Balmond e a uma centena de metros do estádio olímpico. Os organizadores esperam que, de 27 de julho a 12 de agosto, cerca de 70% dos espectadores das competições que decorrem no parque olímpico vão, de alguma forma, passar pelo centro comercial. Em alguns dias, calculam, serão quase 400 mil visitantes a entrar nas lojas e restaurantes do Westfield Stratford. Nessa altura, perante as atenções de todo o mundo, o East End deixará de ser o lado esquecido da cidade e transformar-se-á, efetivamente, no centro de Londres. E nem valerá a pena fazer mais perguntas: a mudança continuará depois. Sem pontos de interrogação. Obrigatório em Londes Visitar Parque olímpico É o coração dos Jogos. Apesar da sua distância, fica a apenas 15 minutos (de metro ou de comboio) do centro da cidade. No parque olímpico, destaque para o estádio olímpico (construído numa espécie de península, com três canais de água à sua volta, sendo o acesso feito através de cinco pontes), para o centro aquático (desenhado pela arquiteta Zaha Hadid), para a arena de basquetebol (uma estrutura temporária que já cativou os organizadores dos Jogos do Rio de Janeiro de 2016), para o velódromo (uma pista para o ciclismo, construída em tempo recorde) e para a arena de andebol (também conhecida como Copper Box, apresenta um inovador sistema de iluminação e de recolha de águas, completamente ecológico). Orbit Sculpture É o mais recente ícone da cidade. Uma enorme escultura de aço, com 114,5 metros de altura, que pretende ser o símbolo de Londres 2012. Pode ser vista no parque olímpico. Foto: Scott E. Barbour (Camden) London Eye Também conhecida como Roda do Milénio, é composta por 32 cabinas, cada uma delas podendo transportar até 25 pessoas, e oferece inesquecíveis vistas aéreas sobre a cidade. Torre de Londres Foi erguida nas margens do rio Tamisa e já serviu de prisão, de Casa da Moeda e de jardim zoológico. É um dos monumentos mais visitados. St Paul’s Cathedral Renovada no séc. XVII pelo arquiteto Christopher Wren, a sua cúpula é a segunda maior do mundo (só sendo ultrapassada pela Basílica de São Pedro) e dela se tem uma visão ampla de Londres. Foi lá que o Príncipe Carlos e Diana se casaram, em 1981. Big Ben Um dos bilhetes-postais, é um símbolo da cidade, bem como da pontualidade londrina e britânica. Shakespeare’s Globe Theatre É um teatro a céu aberto, que se assemelha às arenas onde Shakespeare costumava apresentar as suas peças. Warner Bros. Studio Tour London The Making of Harry Potter Os fãs do jovem mágico têm aqui a oportunidade única de entrar num parque temático inteiramente criado à medida do maravilhoso mundo de Hogwarts. O parque está localizado Hyde Park O mais famoso parque londrino, onde a animação e a movimentação têm lugar ao longo de todo o dia. É aqui que irá ocorrer o muito aguardado concerto dos Blur, agendado para dia 12 de agosto, dia de encerramento dos Jogos Olímpicos. nos estúdios Leavesden, nas imediações de Londres, e é gerido pela Warner Bros. Millennium Bridge Vale a pena a sensação de atravessar esta ponte com 320 metros, inaugurada, oficialmente, no ano 2000, e que liga a Catedral de St. Paul, na City, à margem sul, onde se situa a Tate Modern, museu de arte moderna que recebe 5 milhões de visitantes por ano. Viajar na cidade Os black cabs (táxis) continuam a ser um clássico, bem como os autocarros vermelhos. Andar de metro faz parte da cultura londrina, na qual ganha cada vez mais espaço o hábito de andar de bicicleta. The Shard É a construção principal do novo London Bridge Quarter. Os seus 310 metros de altura, a sua estrutura triangular e a sua cobertura em vidro não deixam ninguém indiferente. Leonardo da Vinci: Anatomy Até outubro, há mais um motivo para ir ao Buckingham Palace. É lá, na The Queen’s Gallery, que vai estar esta mostra. Vivienne Westwood Flagship Store Westwood pode bem ser considerada a «primeira dama» da moda britânica e as suas criações estão na 44, Conduit Street, Mayfair. Museus à noite Há sempre um dia em que os horários se prolongam até às 22 horas. Brick Lane Cada vez mais pessoas, sobretudo jovens, procuram a zona leste de Londres, em busca das tendências mais modernas. Westfield e Boxpark Construído entre a estação de metro e a ferroviária de Strattford, como porta de entrada para o parque olímpico, Westfield é o maior centro comercial da Europa. Já Boxpark distingue-se por ser um centro comercial instalado em contentores empilhados uns nos outros. Mercados de rua Incontornáveis para encontrar as prendas mais originais. Portobello, Camden, Brick Lane ou Greenwich são nomes a ter em conta. londres (inglaterra) Aquela que era já uma das capitais do mundo, recebe, pela terceira vez na sua história, os Jogos Olímpicos. Definitivamente, todos os caminhos vão dar a Londres. Informação na Net para tirar notas antes de fazer a mala e apanhar o avião. Sites que não deve deixar de consultar: www.visitlondon.com; www.timeout.com/london; www.londontown.com Cartão miles & more A Caixa, em parceria com o Programa Miles & More da Lufthansa, criou o cartão de crédito (1) que o deixa mais perto da sua próxima viagem, ao permitir-lhe ganhar e acumular milhas da Miles & More, tanto no céu como na terra. Saiba todas as características do Cartão Miles & More da Caixa em www.cgd.pt. (1) Miles & More Gold (compras): TAEG de 29,7%, para um montante de € 2500, com reembolso a 12 meses, à TAN de 22,50%. Miles & More Classic (compras): TAEG de 28,0%, para um montante de € 1500, com reembolso a 12 meses, à TAN de 22,50%. cx a rev i s ta d a ca i xa 45 r roteiro av e i r o Veneza portuguesa Dos moliceiros aos ovos moles, passando pela incontornável universidade, o que não faltam são motivos para descobrir a cidade dos canais Por Pedro Guilherme Lopes Ilustração Marta Monteiro/www.re-searcher.com 1 museu de aveiro Sugerimos que inicie a sua visita descobrindo este museu, instalado no antigo Convento de Jesus de Aveiro e com uma coleção onde cabem pintura, escultura, talha, azulejo, manuscritos, têxteis e ourivesaria dos séculos XV a XIX. 2 lago da fonte nova Espelho de água artificial, criado no extremo do Canal do Côjo, está rodeado de excelentes zonas para caminhar ou andar de bicicleta. 3 alugar uma buga Estas bicicletas tornaram-se numa das imagens de marca da cidade e do seu respeito pelo ambiente. 4 espreitar a sé É uma das referências no que toca ao legado histórico. 5 teatro aveirense A oferta cultural da cidade passa, obrigatoriamente, por aqui. Aproveite para ver quais os espetáculos em cartaz e adapte a sua agenda. 6 universidade de aveiro Para lá da sua importância enquanto entidade dinamizadora da cidade, esta é uma paragem para os amantes de arquitetura, que aqui encontram edifícios com a assinatura de Siza Vieira, Eduardo Souto de Moura, Alcino Soutinho ou José Carlos Loureiro, entre muitos outros. 7 fábrica de ciência viva Espaço destinado a promover a cultura científica e tecnológica através do incentivo à experimentação. Os mais pequenos vão adorar. 8 eco museu e museu de arte nova No primeiro, pode observar os ancestrais métodos de salicultura da região aveirense; o segundo funciona como centro interpretativo para a extensa rede de motivos de Arte Nova espalhados por toda a cidade de Aveiro. 9 bem no centro É impossível ir a Aveiro e não experimentar os fantásticos ovos moles, sendo nossa recomendação que os compre na Fábrica. Ali perto fica a zona da Praça do Peixe. Como o próprio nome indica, é aqui que, pela manhã, se encontra o peixe mais fresco, mudando o cenário ao final da tarde: passa a ser ponto de encontro para quem decidiu prolongar o dia noite dentro. E enquanto se delicia com os ovos moles, decida se pretende fazer um passeio de moliceiro (a Ecorria é uma boa opção) ou se pretende sair da cidade. 10 uma alegria Caso tenha optado por partir à descoberta das zonas envolventes, sugerimos que visite o Museu da Vista Alegre, em Ílhavo (a cerca de 5 km), que guarda quase 200 anos de história e de experiência na arte da porcelana. 11 Há mar e mar E há a praia da Costa Nova com os seus célebres palheiros, casas típicas de riscas coloridas que prendem a atenção de quem passa. 46 cx a re v i s ta d a c a i xa cx a re v i s ta d a c a i xa 47 f 48 fugas cx a rev i s ta d a ca i xa casas de pousadouro Magia à beira-rio A cerca de uma hora de caminho do Porto, esconde-se um local que, de tão belo, só podia mesmo estar escondido. E o desafio é, precisamente, esse: descobri-lo, com toda a calma, em casas pensadas ao pormenor, com vista para as águas do Douro Por Pedro Guilherme Lopes C omeçamos com uma confidência: as Casas de Pousadouro faziam parte da nossa lista de locais que, em Portugal, mais nos despertavam a curiosidade. O que íamos ouvindo dizer aguçava a vontade de descobrir estas casas «plantadas» à entrada do vale do Douro, ainda para mais, tendo em conta a possibilidade de tomarmos contacto com a região que inspirou Eça de Queiroz a escrever uma das suas mais importantes obras: A Cidade e as Serras. A fonte maior dessa inspiração terá sido a Quinta de Vila Nova, situada na freguesia de Santa Cruz do Douro (Baião). E foi com vista para o rio que corre agora aos nossos pés que escreveu: «Pois um rio de verão, manso, translúcido, harmoniosamente estendido sobre uma areia macia e alva, por entre arvoredos fragrantes e ditosas aldeias, não ofereceria àquele que o descesse num barco de cedro, bem toldado e bem almofadado, com frutas e champanhe a refrescarem gelo, um anjo governado ao leme, outros anjos puxando à sirga, mais segurança e doçura do que a vida oferecia ao meu amigo Jacinto.» Uma questão de conceito Não podia estar mais certo aquele que é um dos mais importantes escritores portugueses. É que, ao entrarmos nas casas, sentimos que aqui se vivem momentos especiais, ou não tivessem sido elas construídas a pensar em receber os amigos (até porque a vida dos proprietários, Isabel Machado e Jorge Amorim, estava e continua a estar centrada no Porto). A história é-nos contada por Jorge, que nos recebe segundo as regras da(s) casa(s): como amigos. «Fomos passar um fim de semana a um empreendimento de turismo rural e fiquei bastante desiludido com a inexistente personalização», recorda. «À vinda, tinha a total certeza de que as casas que possuíamos e o nosso conceito de receber permitiriam criar algo francamente superior.» contrastes O azul da piscina, o verde da serra e a pedra das casas mostram-se em perfeita comunhão quase a molhar os pés As Casas de Pousadouro têm a separá-las do rio um deck de madeira, que também serve de zona lounge cx a rev i s ta d a ca i xa 49 f fugas Do pensamento ao ato não demorou muito e nasceram as Casas de Pousadouro, que, nos últimos quatro anos, com o seu conceito de design home stay, têm conquistado clientes nacionais e estrangeiros, muitos deles reservando casa pelo menos uma vez por ano. Sim, leu bem. Reservando casa. Aqui não se alugam quartos, mas sim casas: Rocha (T2), Ruínas (T1+1), Do Piloto (T3) e Amarela (T3). Em comum, o contraste entre a pedra da construção, a decoração moderna e minimalista e, claro, as paredes de vidro, que tornam a envolvente natural em algo sem barreiras A utilização do vidro na criação das paredes das salas permite a perfeita integração na Natureza luz Pormenor de uma das salas rural vs. moderno A pedra contrasta de forma elegante com o mobiliário minimalista e de linhas direitas; todos os quartos apresentam vista para o rio até amanhã Com o cair da noite, as Casas de Pousadouro ganham novas cores 50 cx a rev i s ta d a ca i xa efetivamente real e nos dão a ideia de quase conseguirmos molhar os pés no rio. Depois, os tais pormenores que marcam a diferença. Imagine que planeia um fim de semana romântico e que a única casa disponível é um T3. Isso não é impedimento. «O nosso conceito não é ter as casas cheias de gente, mas sim oferecer uma estada única, inesquecível, que dê vontade de voltar», explica Jorge Amorim. Um iPod já carregado com músicas eleitas pelos proprietários, pronto a ser utilizado pelos visitantes, ou a escolha de um leite mais caro pelo simples facto de oferecer uma abertura fácil são dois outros apontamentos que revelam a vontade de apostar nos pormenores. E, já que de leite falamos, ele encontra-se no frigorífico das casas, bem como vários outros condimentos que permitem a gestão do tempo com total liberdade. E, após uma prévia conversa que permite apontar para a hora desejada para o pequeno-almoço, todas as manhãs o pão quente e o sumo de laranja acabado de fazer são deixados em cada uma das casas. Quem pretender jantar ou almoçar tem à sua disposição a entrega de refeições confecionadas por um restaurante próximo. Já cá fora, há muito por onde escolher. A piscina panorâmica desafia um mergulho; o deck de madeira convida a deixar correr lento o tempo, com pensamentos embalados pelo movimento das águas do rio; o legado natural e histórico da região convida a um passeio. A pé, de barco, de comboio ou de carro, o que não faltam são opções a seguir, todas elas preparadas ao pormenor pelos proprietários, que fazem questão de explicá-las aquando da entrega dos roteiros personalizados. Se o tempo ajudar, pode utilizar um dos caiaques à disposição e fazer-se ao rio ou tentar agendar um passeio de lancha conduzida por Jorge Amorim. «Há uns tempos, fui fazer um passeio de lancha com um casal, à noite, e parámos no rio para beber um pouco de champanhe. Quando demos por nós, as águas estavam prateadas com tanto peixe que seguia a corrente», recorda Jorge com um enorme sorriso e uma voz que transparece a emoção de quem adora o que faz. Nós também sorrimos, conscientes de que essa história faz todo o sentido, quando contada e vivida junto a estas Casas de Pousadouro. As casas onde, facilmente, pode acontecer magia à beira-rio. Guia de Viagem Como ir Partindo do Porto, siga pela A4 em direção a Vila Real. Saia para Marco de Canaveses (N-321) e siga para Baião. Na rotunda de Baião, siga para Eiriz, Santa Cruz do Douro. Quando encontrar a Repsol (em Portela do Gôve), vire à esquerda e siga por 2 km até avistar o restaurante Almocreve. Siga as placas à direita indicando Paredes/ Santo Tirso. Desça pela estrada, seguindo sempre em frente, até chegar à estrada de alcatrão que se cruza com aquela em que se encontra. Siga em frente para Venda das Caldas. No final do alcatrão, siga pelo caminho de terra e encontre as Casas de Pousadouro (preços a partir de 120 euros/2 pax, e dependentes do número total de pessoas). www.casasdepousadouro.com O que fazer Mais perto... Deixe-se ficar no deck de madeira ou na piscina panorâmica; utilize um dos pequenos barcos ou um dos caiaques à disposição para remar nas tranquilas águas do Douro; siga um dos itinerários propostos pelos proprietários e aproveite a envolvente natural para uma caminhada. ... ou mais longe Considerado Património Mundial pela UNESCO, o Vale do Douro permite contemplar a sua beleza através de cruzeiros de barco, passeios de comboio a vapor, passeios em todo-o-terreno ou raides fotográficos. Aproveite, igualmente, para conhecer a Fundação Eça de Queiroz, em Baião, ou o Museu do Douro, em Peso da Régua. E, claro, estando no Douro, é quase incontornável render-se aos vinhos e ao enoturismo (a Quinta da Covela fica perto das casas), bem como a uma gastronomia de onde se destacam o anho assado e a posta de vitela arouquesa. cx a rev i s ta d a ca i xa 51 s saúde COMO É QUE O CORPO REAGE? Assim que determinada situação é reconhecida como stressante pelo nosso organismo, há uma resposta nervosa e hormonal simultânea, cujas principais consequências são a libertação de adrenalina e de cortisol pelas glândulas suprarrenais, bem como de outros mediadores (vasopressina, opióides), que constituem a base para a resposta de «luta ou fuga». Ao nível do sistema digestivo, «surgem, então, clinicamente, algumas das manifestações, como, por exemplo, a boca seca, a dificuldade de deglutir, a anorexia, as náuseas, a diarreia, entre outras», descreve Vítor Viriato, coordenador da Unidade de Gastroenterologia do Hospital da Boavista, no Porto. VALORIZAR OS SINAIS E AGIR Sem stress A ansiedade, as preocupações e o ritmo de vida podem ser fatores geradores de stress. Com impacto sobre diversos órgãos e sistemas vitais, é importante saber defender-se e prevenir os seus malefícios Saber mais sobre os efeitos do stress na saúde não deve gerar mais preocupações, mas sim esclarecimento e ideias sobre como gerir melhor o seu dia a dia, até porque «o stress, por si só, não é o suficiente para desencadear uma doença», afirma Vítor Viriato, coordenador da Unidade de Gastroenterologia do Hospital da Boavista, no Porto. Para que isso aconteça, continua, «é necessário que outras condições estejam presentes, como uma vulnerabilidade orgânica, genética, autoimune, infeciosa ou uma forma inadequada de avaliar e enfrentar a situação causadora de stress». O stress pode afetar praticamente todos os sistemas, desde o cardiovascular ao dermatológico, incluindo o génito-urinário e o imunológico, entre outros. No que diz respeito ao sistema digestivo, são várias as situações clínicas em que o stress e a ansiedade têm um importante papel no seu surgimento ou evolução. Embora não seja a causa destas doenças, a síndrome do 52 cx a rev i s ta d a ca i xa intestino irritável, a dispepsia funcional, a doença de refluxo gastro-esofágico e a úlcera péptica são alguns exemplos de patologias associadas ao stress. Tempo para viver Nesta como noutras áreas da Gastroenterologia, é necessário estar atento aos chamados sinais de alarme. «A disfagia – dificuldade em engolir – a dor abdominal persistente, inclusive noturna, os vómitos continuados, o emagrecimento, a icterícia, a alteração persistente do trânsito intestinal e as perdas de sangue são situações que, frequentemente, nos indicam estarmos perante uma doença», adverte o gastroenterologista. Entretanto, e porque é possível prevenir alguns fatores de risco, Vítor Viriato lembra que «a maior causa do stress está relacionada com o estilo de vida. Passa-se a maior parte do tempo a trabalhar, não há tempo para comer uma refeição, come-se à pressa, não se mastiga corretamente e aquilo que se ingere mais frequentemente são açúcares e gorduras. Não se ingerem legumes e fruta e o sedentarismo é regra. Por outro lado, as bebidas alcoólicas, as bebidas gaseificadas, o café em excesso e o tabaco têm, também, efeitos negativos bem conhecidos». Além dos distúrbios do foro digestivo, o stress é também um conhecido inimigo do coração. «O stress psicológico agudo provoca a libertação, para a corrente sanguínea, de substâncias que levam a um aumento do ritmo cardíaco e da tensão arterial, que podem desencadear arritmias e crises hipertensivas, e contribuem para a lesão vascular», explica Severo Torres, coordenador da Unidade Cardiovascular do Hospital da Boavista, no Porto. E embora não seja possível erradicar estes e outros problemas, é possível gerir a ansiedade e a angústia que provocam. «O exercício físico regular, dormir entre seis a oito horas por dia, fazer períodos de descanso ao longo do dia de trabalho, seguir uma alimentação saudável e desenvolver atividades de lazer são fatores importantes no combate ao stress diário», completa o especialista. Ilustração: iStockphoto mente e corpo sãos À primeira vista, é difícil distinguir uma crise de pânico de um evento cardíaco real. Segundo Severo Torres, coordenador da Unidade Cardiovascular do Hospital da Boavista, no Porto, saber reconhecer os sinais de um ataque cardíaco é fundamental para agir atempadamente. «Devem constituir motivo de alerta os seguintes sinais e sintomas: desconforto, pressão ou dor no centro do peito, que pode espalhar-se para outras áreas do tronco, para um ou para os dois braços, para as costas, pescoço, maxilar ou estômago. Outros sinais e sintomas acompanhantes que podem ocorrer são fraqueza ou fadiga inexplicáveis, falta de ar, suores, náuseas, vómitos, palidez e desmaio.» *Suaves prestações mensais sem juros, TAEG 0%, mediante pagamento por cartão de crédito, débito direto ou multibanco. Campanha válida em Portugal até 30/09/2012, salvo erro tipográfico. Façajá o seu check-in AssinearevistaSiriusMagazine e ganhe um desconto até 25% 2 ANOS (12 EDIÇÕES) 25% DESCONTO 4* x 49,00 ou 436,00 1 ANO (6 EDIÇÕES) 15% DESCONTO 2* x 410,20 ou 420,40 Aceda em assineja.pt ou ligue Dias úteis das 9h às 19h. 707 200 350 indique este código ao operador C0796 f finanças P o u pa n ç a Com que taxas contamos Quem gere rendimentos deve estar atento aos números que mexem com as suas finanças pessoais. Para isso, tem de conhecer as taxas que incidem diretamente sobre as suas contas e o seu dinheiro TANB e TANL: A taxa anual nominal bruta (TANB) – habitualmente mencionada nos anúncios a depósitos a prazo – corresponde à taxa anual nominal sem estarem descontados os impostos. Por exemplo, a TANB num depósito a prazo de um ano que pague juros no final do prazo pode ser de três por cento, mas este valor não é o mais relevante para o depositante. Para saber quanto ganha de juros depois de descontados os impostos, é necessário retirar a parcela de IRS (25 por cento, em 2012) aos juros, que, no fundo, reflete a taxa anual nominal líquida (TANL). A TANL calcula-se de acordo com a seguinte a fórmula: (1- 0,25) x TANB. TAE: A taxa anual efetiva (TAE) calcula os encargos com o pagamento de seguros e comissões, somando-os à TAN, o que aproxima mais o custo do crédito ao real peso 54 cx a re v i s ta d a c a i xa Arredonde com a Caixa Ao efetuar compras com determinados cartões, pode beneficiar do arredondamento das mesmas, revertendo o montante arredondado automaticamente para uma conta de poupança, PPR ou fundo de pensões, conforme o cartão utilizado. É muito simples: basta pedir em qualquer Agência da Caixa ou no serviço Caixadirecta Telefone para associar um dos três programas de arredondamento à escolha a um cartão da Caixa elegível. Saiba mais em www.cgd.pt. para o cliente, embora esta ainda não tenha em conta o pagamento dos impostos. TAEG: Ao contrário da anterior, a taxa anual de encargos efetiva global mede todos os custos que um crédito pressupõe, impostos incluídos (apenas se excluem os custos do notário). Na TAEG, incluem-se juros, comissões e impostos decorrentes do crédito, as comissões de mediação do crédito, os seguros contratados por via do empréstimo e custos associados a uma conta necessária para ter acesso a este. Euribor Taxa de referência no mercado monetário interbancário da Zona Euro, a Euribor (European Interbank Offered Rate) é o principal indexante dos empréstimos com taxa variável. Calculada diariamente, tendo em conta as taxas praticadas nos depósitos entre os 44 principais bancos europeus, a Euribor é mais frequentemente indexada a 3, 6 e 12 meses. Taxa de IRS: As aplicações financeiras e outros investimentos pagam IRS, pelo que convém saber quanto paga na hora de receber o seu dinheiro investido. Nos montantes aplicados em depósitos e contas de poupança ou recebido em dividendos de ações, mais-valias com obrigações, taxas de juro de obrigações (já descontada) e rendimentos de resgate de seguros de capitalização (já descontada), a taxa de IRS na fonte é de 25 por cento. Taxa de esforço: Ao invés do que acontece com todas as outras, esta taxa não pressupõe um pagamento, mas é essencial que a calcule, para verificar se os empréstimos contraídos não põem em causa a segurança da sua vida financeira. Deste modo, a taxa de esforço corresponde à relação entre o montante das prestações de crédito e o rendimento total disponível do agregado familiar. Para evitar que surjam ameaças graves à estabilidade dos seus rendimentos, esta taxa não deve ser superior a 40 por cento. Ilustração: iStockphoto Taxa de inflação: Não é preciso ser um perito em Economia ou Finanças para já ter ouvido falar na taxa de inflação. Afinal, é ela que nos indica a evolução do custo de vida, medindo a variação do índice de preços no consumidor, que, por sua vez, junta os preços de um cabaz de bens representativo do consumo das famílias portuguesas – desde produtos alimentares a despesas com transportes e habitação, entre outros. Para perceber o impacto que esta taxa tem sobre a sua carteira, basta pensar naquilo que pode comprar hoje com 1000 euros. Se, por exemplo, na próxima década a taxa de inflação fosse de três por cento ao ano, sabe quanto dinheiro teria de ter, ao fim desses dez anos, para conseguir comprar as mesmas coisas que compra hoje com esses 1000 euros? A resposta é 1344 euros. literacia financeira Novo Saldo Positivo Empresas O programa de literacia financeira da Caixa acaba de ser alargado às empresas e aos seus gestores, com o lançamento do Saldo Positivo Empresas O Saldo Positivo é a referência da literacia financeira em Portugal, a ajudar as famílias a tomar as melhores decisões financeiras desde 2008. Agora, a Caixa associa-se aos empreendedores para os ajudar no seu exercício diário de gestão. O público-alvo desta nova área são as 348 552 Pequenas e Médias Empresas (PME) e, também, os mais de 700 mil profissionais liberais. O tecido empresarial português é quase na totalidade constituído por microempresas ou PME, que se debatem com dificuldades diversas de gestão. Equipas pequenas, com uma média de seis pessoas, determinam a dificuldade em estar informado e em projetar o seu negócio com as exigências atuais. Esta nova abordagem à literacia financeira consolida, por isso, uma estratégia de apoio ao crescimento do nosso tecido empresarial, com o fomento de competências e valor, fatores críticos de sucesso num contexto competitivo e global. Francisco Viana, diretor central da empresas Direção de Comunicação e Marca da CGD, explica que «o acesso à informação é fundamental para o sucesso das empresas». Nesse sentido, o Saldo Positivo Empresas tem conteúdos sobre gestão, recursos humanos, finanças, impostos, apoios do Estado e da banca, marketing e mercados, todos tratados editorialmente por uma equipa de jornalistas especialista nestas matérias. Além disso, «temos os nossos comerciais no terreno que fazem com que 89 por cento das empresas nossas Clientes nos recomendem e que tenhamos sido considerados pelas PME como a marca mais sólida», refere o responsável. Neste seu ano de lançamento, o Saldo Positivo Empresas visará duas temáticas essenciais: a criação de empresas e a exportação. Estes conteúdos exclusivos são disponibilizados em texto, vídeo, em versão guia prático, infografia, ficha de mercado e casos de sucesso. Em www.saldopositivo.cgd.pt/empresas, os gestores e os empreendedores podem aceder à informação de que precisam para lançar, planear ou gerir a sua empresa. «O nosso objetivo, com o Saldo Positivo Empresas, é que a Caixa seja um o parceiro de eleição das empresas portuguesas, apostando na literacia financeira de empreendedores e empresários, ajudando-os a tomarem as melhores decisões de gestão». Trata-se, pois, de «uma aposta clara na consolidação da política de responsabilidade social da CGD, porque acreditamos que investir em educação é o grande desafio para um futuro melhor», concretiza Francisco Viana. Há um banco que mexe e faz mexer o País. A Caixa. Com Certeza. Calcule a sua Poupança Veja quanto pode poupar com o PAP e comprove que a vida automaticamente continua. Já conhece a calculadora de poupança da Caixa? Está disponível no site da CGD, em www.cgd.pt/pap, e permite aferir os resultados mensais das suas economias, de acordo com o seu perfil de poupança e de Cliente. A Caixa disponibiliza quatro versões da calculadora, adaptadas às diferentes exigências de cada faixa etária, nomeadamente para jovens Independentes, adultos sem filhos, adultos com filhos e adultos com mais de 55 anos. Em cada uma, encontrará as várias soluções que se adaptam ao respetivo perfil, sendo possível selecionar aquelas com as quais se identifica, ajustando os níveis de poupança de cada uma de acordo com as suas possibilidades ou interesses. No final, e de forma automática, as contas são apresentadas simulando o total segundo o cenário mensal por si estabelecido. E pode simular uma e outra vez, testando qual o cenário de poupança mais adequado às suas necessidades. Verá que, com o Plano Automático de Poupança, é possível poupar de forma prática, automaticamente e sem esforço. cx a re v i s ta d a c a i xa 55 educação M o t i vaç ão O que os trabalhadores querem Se o trabalho não tem de ser uma obrigação, e muito menos uma provação, há que encontrar os fatores que potenciam o envolvimento, o empenho e a satisfação dos funcionários. Porque quem trabalha por gosto, não cansa Por Ana Rita Lúcio Trabalho é trabalho, conhaque é conhaque. Se lhe perguntarmos, talvez não nos saiba esclarecer exatamente onde, quando, como e porquê surgiu esta máxima popular que, numa ou noutra situação, todos já escutámos ou, quem sabe, até afirmámos, carregando consigo um desabafo, um conselho ou mera constatação. Porém, não parece haver dúvidas quanto ao significado da expressão que, em jeito de metáfora, nos faz caminhar até à fronteira bem marcada entre os afazeres laborais e os momentos de lazer. E se é certo que trabalho não tem forçosamente de ser sinónimo de diversão – e se o for, não é por isso que deve ser encarado com menor seriedade ou empenho –, não é menos verdade que, seja em tarefas criativas, administrativas ou de outra ordem, a satisfação de quem trabalha é fundamental para o sucesso laboral. E desengane-se quem pense que quem ganha são só os trabalhadores. As chefias e as próprias instituições também lucram: em produtividade, em qualidade e em objetivos cumpridos ou mesmo superados. A chave para que quem trabalha encontre prazer, realização e retribuição naquilo que faz, contribuindo para os bons resultados dos projetos em que está envolvido ou das instituições empregadoras, conta-se numa simples palavra: motivação. Mãos à obra A motivação prende-se com fatores diversos, internos e externos, que vão desde a remuneração, às condições de trabalho, passando por questões menos tangíveis – mas não menos importantes – como o reconhecimento ou a criação de novos e constantes desafios. De função para função, 56 cx a rev i s ta d a ca i xa de pessoa para pessoa, vão-se adaptando à medida de cada um. No entanto, o primeiro passo para ter vontade, alento, gosto e, por que não dizê-lo, êxito naquilo que faz começa no próprio trabalhador. Uma atitude positiva e enérgica é absolutamente imprescindível, assim como o desejo de ter sucesso, fazer mais e melhor, ultrapassar obstáculos e alcançar determinadas metas (autodefinidas ou impostas). E, por falar em metas, estas devem estar bem estabelecidas, já que trabalhar sem objetivos claros é uma das principais causas de desmotivação dos recursos humanos. Depois, há que olhar para «dentro». Pensar positivo não basta: há que acreditar nas suas próprias capacidades, somando-lhe a autoconfiança e a autoestima. Isso não significa, porém, que ignore eventuais críticas que lhe sejam feitas, sobretudo se forem construtivas. Aceite os reparos que lhe são feitos e, mesmo que os refute – se for caso disso –, procure sempre aprender com eles. Finalmente, não se esqueça de deitar para trás das costas, e para fora da secretária, um comportamento de resistência à mudança: a Print MOTIVAÇÕES PARA TODOS OS GOSTOS Conheça alguns dos fatores motivacionais que importam em matéria laboral. >C ompensações monetárias; > Definição de objetivos claros e mensuráveis; > Desempenho de tarefas de responsabilidade; > Saber que se está a contribuir para a tomada de decisões que têm impacto para a organização; > Enriquecimento profissional e/ou formativo; > Possibilidade de evoluir em termos de carreira; > Acompanhamento; > Reconhecimento por parte dos pares e dos superiores hierárquicos; > Desafios inovadores. adaptação às novas tecnologias e aos novos tempos, estando atento às inovações que vão surgindo, podem ditar um maior entusiasmo profissional. De fora para dentro Acontece que, na maioria dos casos, não se trabalha sozinho. Daí que o ambiente e as pessoas com quem se trabalha têm um papel motivacional a desempenhar. E não é um papel secundário. A relação com os colegas e os comportamentos destes são relevantes, mas são os líderes os verdadeiros protagonistas. Em mente devem ter o facto de que nem todos os estímulos de motivação funcionam de igual modo junto dos seus colaboradores. E se, de facto, os ganhos salariais são os mais importantes para uma percentagem substancial dos funcionários, há quem eleja a atenção e o reconhecimento do superior hierárquico e a oportunidade para crescer a nível profissional ou de formação como um dos aspetos mais recompensadores no contexto laboral. Porque trabalho é trabalho, não é conhaque. Mas, mesmo assim, pode e deve saber bem. Foto: Simon Potter/Getty Images e s sustentabilidade Ecograffiti Arte viva São verdes os tons que dão cor à nova forma de expressão artística que vive e respira nas ruas, multiplicando-se em padrões de beleza única. É o ecograffiti, a arte amiga do ambiente Por Helena Estevens 58 cx a re v i s ta d a c a i xa fluídas e soltas, fragmentos de poemas, aplicadas com ingredientes totalmente biodegradáveis em espaços públicos degradados, as suas «telas urbanas». O musgo é, também, a escolha de Edina Tokodi, húngara residente em Nova Iorque, cujos motivos preferidos se centram em coelhos e outros animais, em obras de natureza tão diversa como candeeiros e murais de rua. Foi a forma que encontrou para «ajudar as pessoas a sentirem-se melhor com a vida, através da aproximação à natureza, mesmo na maior das cidades». A inspiração, foi buscá-la aos Jardins Zen, no Japão, numa viagem, há pouco mais de uma década, que lhe deixou profundas marcas, refletidas, desde então, no seu trabalho. As receitas para cultivar o musgo nas paredes – como alternativa às tradicionais tintas em spray usadas nos graffiti que entre nós ainda são mais familiares – encontram-se facilmente através de uma busca na Internet, muitas delas tradicionais, baseadas nos métodos usados há muito por jardineiros. A lama é outro dos materiais utilizados, sendo aplicada com esponjas, em espaços públicos, para apelar a uma maior consciência ambiental. Jesse Graves é um dos percursores desta forma de expressão, recorrendo a stencils «para promover uma maior perceção e preocupação em relação às questões ambientais». O ativismo e justiça social são outras das suas causas, tendo colaborado na reforma da Tamms, «uma prisão horrível», no Illinois, EUA. Lama porquê? Por ser «uma substância dadora de vida essencial, lógica para as minhas mensagens», que incluem, entre outras, imagens de bicicletas, garrafas de óleo, vacas, plantas e frases. Fotos: Luís Barra/Visão Em plena floresta urbana, uma nova forma de arte desperta a atenção de quem passa. Miniecossistemas de relva e musgo em pinturas e murais, verdadeiras obras-primas, espalham-se pelas cidades de concreto, numa tentativa – claramente alcançada – de trazer um pouco de natureza para as cidades. Numa altura em que as árvores e os espaços verdes parecem escassear cada vez mais nos espaços urbanos, mesmo nas zonas residenciais, o ecograffiti ajuda a contrabalançar essa ausência e a dar um pouco mais de alegria a quem passa. Esta é, pelo menos, a intenção dos vários artistas a lutar por esta causa um pouco por todo o mundo. No Reino Unido, Anna Garforth, designer atraída pela ecologia urbana e pela sustentabilidade, encontra no musgo a matéria-prima para criar letras de traçado regular que se unem em palavras e frases RESPONSABILIDADe Sustentabilidade cada vez mais em agenda Inquérito a stakeholders reforça a importância do compromisso assumido pela Caixa ao nível da sustentabilidade A Caixa levou a cabo a consulta anual a stakeholders, uma iniciativa inserida no âmbito do seu Programa de Sustentabilidade e que reflete uma preocupação no desenvolvimento de relações transparentes e de confiança com os vários interessados. Falamos de colaboradores, da comunidade, dos Clientes particulares e empresas, dos fornecedores, assim como das entidades reguladoras e do acionista Estado. Esta consulta tem como objetivo avaliar a perceção que estes agentes têm sobre a CGD e identificar as suas principais expetativas e oportunidades de melhoria, em matéria de desenvolvimento sustentável, servindo, também, de base à definição de assuntos relevantes a abordar no relato de sustentabilidade. Findo o processo de consulta, ficam as principais conclusões. Segundo a maioria dos inquiridos, a CGD assume particular relevância para o setor financeiro pela solidez, confiança e rigor que advoga, sobressaindo a sua elevada credibilidade e reputação (ver Destaques da Consulta). O contributo positivo da atividade da CGD para a sociedade e os níveis de serviço associados ao atendimento na rede de Agências são outras das ilações. As conclusões saem de um total de 3520 respostas, sendo que, entre o público externo, encontramos 33,6% de Clientes particulares, 25,3% de Clientes empresas, 31,5% de fornecedores e 9,6% de Instituições Particulares de Solidariedade Social. Ao nível das temáticas mais valorizadas, destaque para a «Segurança dos Clientes e do seu património financeiro» e «Práticas de combate à corrupção e branqueamento de capitais», no caso dos stakeholders externos, enquanto os internos dão maior preponderância ao «Desenvolvimento do capital humano» e à «Qualidade do serviço e satisfação dos Clientes». A CGD reconhece e valoriza estes resultados, considerando que o envolvimento com os vários grupos de stakeholders constitui uma ferramenta estratégica para a identificação e compreensão das necessidades, preocupações e expectativas em relação à sua atuação e ao futuro. Nesse sentido, a informação agora recolhida, além de tratada e incorporada na gestão, será, igualmente, integrada nas estruturas funcionais afetas à implementação do Programa Corporativo de Sustentabilidade, tendo em vista a melhoria contínua do desempenho da CGD. Print CGD é Prime em sustentabilidade A Caixa foi avaliada pela Oekom, agência alemã de rating de sustentabilidade empresarial, como empresa best in class no setor financeiro a nível internacional A notação Prime atribuída à CGD constitui mais um reconhecimento de mérito ao desempenho sustentável do Banco e aos compromissos assumidos para o futuro. Tudo em benefício das várias gerações, da sociedade e da economia nacional e do ambiente, reforçando o papel da Caixa como legítima embaixadora do setor financeiro português na aplicação das melhores práticas de gestão internacionais. A Caixa detém, atualmente, um programa de sustentabilidade abrangente e estruturado, que tem vindo a ser reconhecido por diversas entidades, nacionais e internacionais. Um programa construído com o grande empenho dos colaboradores do Grupo CGD e com o contributo dos seus vários stakeholders. A Caixa vê o futuro com outros olhos, com responsabilidade e confiança, valorizando os desafios e as oportunidades emergentes. Trata-se de uma aposta na sustentabilidade e no futuro dos portugueses. Foto: iStockphoto destaques da consulta 99% dos stakeholders auscultados consideram que o desenvolvimento sustentável é muito importante ou importante. 72% dos stakeholders externos e 82% dos colaboradores consideram que é responsabilidade da CGD contribuir para o desenvolvimento sustentável do setor bancário português. 77% dos stakeholders externos consideram que o desenolvimento sustentável é importante para a CGD, pois o desempenho desta deve pautar-se pela adoção permanente de boas práticas/conduta ética. Mais de 80% dos stakeholders consultados considera o grau de envolvimento com a CGD como muito bom ou bom. cx a re v i s ta d a c a i xa 59 agenda Exposições desconhecida, onde nomes como Henry Darger, Adolf Wölflï, Madge Gill, Scottie Willson ou Augustin Lesage são aos poucos reconhecidos. As Sombras de Lisboa Até 2.9 Fundação CGD – Culturgest, Lisboa Referência na Bélgica e figura de culto no mundo da arte internacional, Jef Geys é, ainda, um artista pouco conhecido por cá. Um facto a que não será alheia a natureza idiossincrática do seu trabalho, nem a sua independência face às forças do mundo da arte e às regras do jogo instituídas. Em 1998, publicou um volumoso livro com todas as suas fotografias a preto e branco até essa altura, fruto de centenas de provas de contacto, duas em Lisboa. Esta exposição toma como material de base as 36 fotografias reunidas na última prova de Lisboa. Festivais Festival das Artes Até 29.7 Coimbra Música Cooljazz Fest 21.7 (Pablo Alborán, com participação especial de Carminho) Jardins do Marquês de Pombal, Oeiras 22.7 (Pat Metheny Unity Band com Chris Potter, Antonio Sanchez & Ben Williams) Jardins do Marquês de Pombal, Oeiras descobrir O trabalho de Jef Geys Pedro Casqueiro Até 2.9 Fundação CGD – Culturgest, Porto Nos últimos 20 anos, paralelamente à rotina da sua atividade, Pedro Casqueiro foi criando algumas obras que se desviam dos desenvolvimentos Condições exclusivas Para cartões cgd 40% de desconto na aquisição de até 2 bilhetes por espetáculo e exposição aos titulares dos cartões Caixa Fã, ITIC, ISIC, CUP e Caixa Activa. 30% de desconto na aquisição de até 2 bilhetes por espetáculo e exposição aos titulares dos cartões Caixa Gold, Caixa Woman, Visabeira Exclusive, Leisure e Caixadrive. 60 cx a re v i s ta d a c a i xa Está de volta um dos mais importantes festivais de música, com dois dias imperdíveis. Primeiro, Pablo Alborán, com participação especial da fadista principais e sobejamente conhecidos da sua pintura. São, na sua maioria, obras de pequena dimensão, que incorporam técnicas e materiais exteriores à pintura; obras em que a dimensão objetual e a exploração da materialidade das superfícies surgem em evidência. Esta exposição reúne um conjunto dessas obras atípicas no corpo de trabalho de Casqueiro. Algumas foram já apresentadas, mas a maioria ficou, até hoje, no atelier ou foi parar às mãos de amigos. portuguesa Carminho (na foto). Considerado o artista do ano de 2011, em Espanha, pelo sucesso do seu álbum de estreia, Pablo Alborán depressa conquistou, também, Portugal com o seu novo En Acustico. A noite seguinte fica a cargo do lendário guitarrista do jazz Pat Metheny, acompanhado pela sua nova formação, Pat Metheny Unity Band. Vencedor de 18 Grammies, este é um dos músicos de jazz mais reconhecidos em todo o mundo. Arte Bruta. Terra Incógnita Até 23.9 Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva, Lisboa O termo «Arte Bruta», usado pela primeira vez por Jean Dubuffet em 1945, refere-se a obras de arte ditas «marginais»: arte de loucos, arte dos mediuns, arte realizada pelo homem comum invadido por um impulso criativo. A coleção Treger-Saint Silvestre, composta por cerca de 600 obras, dois terços das quais ditas obras de artes marginais, convida-nos a entrar nesta terra O projeto Festival das Artes nasceu em 2009, contando, desde então, com o apoio da CGD. Um ano depois, foi considerado um dos quatro principais eventos culturais realizados em Portugal. Trata-se de um festival multifacetado, que, em cada edição, percorre diversas áreas temáticas, desde a gastronomia ao teatro, passando pela pintura, literatura, cinema, fotografia, mas afirmando-se, prioritariamente, ao nível musical. Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima Até 31.10 Ponte de Lima Decorre em Ponte de Lima, com o apoio da Caixa, a oitava edição do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, este ano dedicado ao tema «Jardins p’ra comer». Poderá visitar 11 jardins diferentes, instalados na marginal do rio Lima, representando trabalhos de autores portugueses e, ainda, de outros provenientes da Dinamarca, Irlanda, Itália e Espanha. Festival Rota das Artes 21.9 a 14.10 Grande Lisboa Os monumentos e museus da Grande Lisboa recebem um festival que junta concertos, exposições, bailado, entre muitas outras propostas. E há, ainda, muitas visitas. Um universo a descobrir. Foto: Jef Geys (exposição As Sombras de Lisboa) a c cultura 1. dr. dee 2. amor monstro 3. incarceron as escolhas de... Damon Albarn Rachel Bright Catherine Fisher EMI Music Editorial Presença Porto Editora António Damon Albarn está de volta com um álbum inspirado na vida de John Dee, matemático e conselheiro da Rainha Isabel I de Inglaterra. O disco combina a voz de Damon com coros antigos Ingleses, instrumentos modernos e sons do mundo. A prova de que um monstro peludo e de olhos esbugalhados pode ser adorável. É ele a personagem principal desta história ternurenta, sobre como o amor nos surpreende. Imagine uma prisão que abrange masmorras, galerias, bosques de metal, mares e cidades em ruínas. Imagine a filha do guardião a engendrar um plano de fuga com um prisioneiro. (€ 6,93, na Wook on-line) (€ 14,94, na Wook on-line) Zambujo Fadista A apresentar o seu mais recente álbum, Quinto, faz uma pausa no trabalho e revela-nos os seus títulos incontornáveis. Let´s get lost é um documentário sobre a vida complicada do meu ídolo, Chet Baker, que considero obrigatório. Para ler, sugiro Para viver um Grande Amor, de Vinicius de Moraes, o livro que me levou ao Vinicius. Para ouvir... Pode ser The Heart of Saturday Night, de Tom Waits, Cinco dias e Meio, de Miguel Araújo ou Cantigas de Maio, de Zeca Afonso. (€ 17,99, na Fnac on-line) 4. Fernando Pessoa uma quase-autobiografia José Paulo Cavalcanti Filho Porto Editora Já considerado a mais completa e detalhada reconstituição que jamais se fez da vida de Pessoa, este é um livro obrigatório. (€ 22,50, na Wook on-line) 8. MTV unplugged Florence + The Machine Universal Music Ao lado de três membros da sua banda e de um coro gospel, Florence levou a palco um concerto que incluiu algumas das suas canções mais populares. O resultado é fantástico! (€ 14,99, na Fnac on-line) 5. Little Broken Hearts 7. O Gosto Proibido do Gengibre 6. lodolândia Jamie Ford Bertrand Editora Norah Jones Crescendo numa ilha onde a sua família gere o parque temático de luta com jacarés, a jovem Ava Bigtree é protagonista de um dos livros mais surpreendentes do ano. EMI Music (€ 15,93, na Wook on-line) (€ 17,99, na Fnac on-line) Porto Editora Um grande romance, que, através de um amor intemporal, nos revela uma das épocas mais conflituosas da História dos Estados Unidos . (€ 14,94, na Wook on-line) Karen Russell Aquela que é uma das melhores vozes da atualidade volta a trabalhar com o genial Danger Mouse, oferecendo-nos um disco cinematográfico e feito de grandes canções. cx a re v i s ta d a c a i xa 61 c cultura B R AG A , C A P I TA L E U R O P E I A DA J U V E N T U D E À conquista do futuro Está de parabéns esta cidade que representa a Capital Europeia da Juventude 2012. O País assiste à força da geração juvenil como um sinal de esperança… Afinal, Braga é a quarta cidade a que foi atribuída esta designação Por Paula de Lacerda Tavares Que Portugal seja uma referência internacional é algo de inegável orgulho para os portugueses. Além de sermos um País de uma beleza espantosa, é, sem dúvida alguma, a nossa maneira de ser e de viver que nos define como um povo acolhedor, comunicativo e voluntarioso, entre muitas outras características. Através da música, em especial o fado como Património Imaterial da Humanidade, das diferentes formas de arte, de ciência ou do desporto, há sempre momentos de glória pelo talento reconhecido que tem dignificado esta Nação e as suas gentes ao longo da história. 62 cx a rev i s ta d a ca i xa A escolha do Fórum Europeu da Juventude para Capital Europeia da Juventude em 2012 recaiu em terras lusas, sucedendo a Antuérpia como sede do evento no ano passado. Braga foi a cidade eleita, entre uma concorrência com duas cidades gregas, Irácion (a capital da ilha de Creta) e Byron (perto de Atenas). Para trás, ficaram, ainda, as candidaturas de outras sete cidades, entre as quais Málaga (em Espanha), Sarajevo (na Bósnia) e Roubaix (em França). Aquando da sua proposta de candidatura, a Câmara Municipal de Braga apresentou um argumento de peso: o facto de Braga ser, efetivamente, um dos concelhos mais jovens de toda a Europa. E como contra factos não há argumentos, eis, pois, Braga a merecer a atenção nacional e europeia. Braga acontece Mais do que um título, é preciso, então, que Braga se revele. Por isso, o programa de atividades caracteriza-se por temas como a participação ativa dos jovens na sociedade, espaços ao ar livre para expressões de mostras da cultura juvenil, espaços para a aprendizagem informal, incentivos ao diálogo intergeracional e, ainda, inovadoras abordagens ao emprego Fotos: Sofia Pereira/Lusoimages/Getty Images; D.R. (restantes) jovem, multiculturalismo e integração. Digamos que, numa altura em que Portugal é cenário de preocupação também para os jovens, causado pelo elevado nível de desemprego e dificuldades económicas para assegurar os estudos, a vitória desta escolha impulsiona novas ideias e ações, abrindo caminhos e contactos que fazem acreditar na possibilidade de várias melhorias. Mas, afinal, de que se trata esta atribuição? Simples, a designação de Capital Europeia da Juventude é atribuída a uma cidade europeia por um período de um ano. Durante esse espaço de tempo, a cidade sugere um programa multifacetado que confira um maior destaque à riqueza, à diversidade e às características comuns da aproximação intergeracional europeia, tal como o empreendedorismo dos jovens no Continente. Esta designação de Capital Europeia da Juventude teve início em 2009, com Roterdão (nos Países Baixos); em 2010, foi em Turim (Itália) e, em 2011, em Antuérpia (Bélgica). E após a «nossa» Braga, será Maribor (na Eslovénia), em 2013. O Verão 2012 será um Mega Verão O Cartão Jovem é uma iniciativa nacional, com um âmbito europeu, que existe desde 1986 e oferece vantagens em várias áreas do dia a dia dos jovens. A Caixa disponibiliza o Cartão Jovem com uma vertente bancária associada: o Megacartão Jovem. Este é um cartão dedicado aos jovens dos 12 aos 29 anos (inclusive), constituindo uma excelente opção, dado que conjuga, num só cartão, a vertente de débito com acesso à conta de depósitos à ordem e a vertente de descontos. Tal como os descontos, disponíveis em toda a Europa, também a função bancária pode ser utilizada de forma generalizada, permitindo efetuar compras e levantamentos dentro e fora de Portugal: Descontos em Portugal: em 15 mil pontos de venda; Descontos no estrangeiro: em cerca de 250 mil pontos de venda, em mais de 40 países europeus. Como principais vantagens, contam-se os descontos em cinemas, festivais de música, viagens, pousadas de juventude, eventos desportivos, museus, monumentos e diversos estabelecimentos comerciais, entre outros. Até setembro de 2012, o Megacartão Jovem marca presença nos principais festivais de verão e, também, com uma grande festa em Braga, Capital Europeia da Juventude, tendo em vista dar a conhecer este cartão e as vantagens de que os jovens podem usufruir com a sua utilização. cx a rev i s ta d a ca i xa 63 c cultura hugo pires «Braga 2012 vai perdurar no tempo» O presidente do Conselho da Administração da Fundação Bracara Augusta/Braga 2012 retrata como esta iniciativa tem superado expectativas, o caminho até agora percorrido e o que está a mudar com promissoras implicações futuras Por Paula de Lacerda Tavares Cx: De que forma Braga acolheu esta eleição como Capital da Juventude? Hugo Pires: A conquista do título de Capital Europeia da Juventude 2012 foi e ainda é uma oportunidade para divulgar, interna e externamente, o desenvolvimento histórico, cultural e da atratividade da cidade. Estamos a aproveitar esta visibilidade para mobilizar recursos e esforços, para melhorar a estrutura de apoio aos jovens e criar oportunidades para o futuro, promovendo melhorias concretas na qualidade de vida. Este projeto é um desafio enorme, que assenta em três grandes eixos de programação: o desenvolvimento integral do jovem, apostando nas suas qualificações, dando-lhe mais ferramentas para enfrentar o mercado de trabalho; a reflexão dos jovens sobre o futuro das cidades, sobre a sua qualidade de vida, participação cívica e inclusão social; e, por último, a dimensão europeia e internacional do evento. Braga 2012 é um momento único para apostarmos na capacitação dos jovens e das associações juvenis e afirmármos Braga, a nível nacional e europeu. Cx: Dar vida a uma iniciativa deste género, que envolve tantas áreas, pessoas, locais e atividades, exigiu uma grande entrega, uma grande disponibilidade... H.P.: Porque há amor a Braga. Há emoção na forma como lidamos com os projetos, há respeito por compromissos internacionais. Todos os elementos, associações juvenis e entidades parceiras estão envolvidos «de alma e coração» nas dinâmicas da Braga 2012: CEJ como se de projetos individuais se tratasse. 64 cx a rev i s ta d a ca i xa Cx: Volvidos meses desde o início dos eventos, qual o balanço que é possível fazer? H.P.: Nestes meses, conseguimos a mobilização das associações juvenis e dos jovens, mas também de muitos agentes locais. Sempre tivemos elevada participação nas várias iniciativas levadas a cabo, algumas destinadas às massas, outras a grupos mais reduzidos, como os cursos de empreendedorismo, os workshops «Connecting the Dots» ou nas ações vocacionadas para o património cultural e arquitetónico da cidade bimilenar. O balanço tem de ser necessariamente positivo, porque a mobilização dos jovens e das associações está a acontecer e esse é o nosso objetivo. «HÁ AMOR a BRAGA. hÁ EMOÇÃO NA FORMA COmo LIDAMOS COM OS PROJETOS» Cx: Até agora, surgiram novas ideias, inovadores projetos profissionais e artísticos que poderão abrir novas oportunidades de trabalho? H.P.: Um dos eixos importantes e com maior relevo no programa oficial relaciona-se com a área do emprego. Pretendemos reter talento, fixar jovens, apostar no conhecimento e, nesta área do emprego, conhecer e acompanhar a problemática para encontrar soluções. Cx: Braga voltará a ser o que era ou a vivência deste ano impulsionará a cidade para uma outra forma de evolução? H.P.: Braga 2012 é a marca que queremos que perdure no tempo. É o início de uma «nova viagem» e deve ser o começo de uma renovada dinamização associativa, social, cultural, mas também económica, em particular das indústrias criativas. O projeto GeNeRation é um dos legados que queremos deixar à cidade e pretende centralizar todas as linhas de ação e objetivos programáticos da Capital Europeia da Juventude. Cx: E a nível europeu, de que forma se tem sentido que esta atribuição de Braga Capital da Juventude 2012 tem interessado a estrangeiros, na área de negócios e outras? H.P.: Face à reduzida escala dos mercados local e regional, ao caráter periférico do nosso País e à pouca porosidade internacional das instituições portuguesas, os jovens da região veem-se cada vez mais confrontados com a necessidade de deixar Portugal ou repensar as suas carreiras profissionais. Atenta a esta realidade, a Braga 2012: Capital Europeia da Juventude assumiu como um dos seus principais eixos de programação a abertura da cidade à Europa e ao Mundo, designando este conjunto de ações como Y.WORLD. Este projeto, mais do que se dirigir diretamente à internacionalização das competências regionais, assume como opções a promoção do diálogo intercultural, o debate sobre as questões europeias da juventude e a mobilidade dos jovens, como condições prévias e necessárias ao desenvolvimento do setor. Uma cidade mais aberta, mais inclusiva, mais internacional e mais tolerante é, também, uma cidade mais criativa e com mais futuro. Fotos: D.R. Cx: O que podemos contar nos próximos meses quanto a atividades dignas de realce? H.P.: O programa é imenso com muitas horas de programação e centenas de eventos e contamos com mais de 80 parceiros, enquadrados em vários eixos. Nos próximos meses, vamos ter iniciativas como o Festival de Artes Performativas, a Noite Branca, Be Global, Cimeiras Internacionais, Ysports e muitas outras. A melhor forma de se manterem a par da programação é consultando o nosso site. Teremos muitas surpresas que não devo agora avançar. Mas, até ao final do ano, o nosso objetivo mantém-se: afirmar as associações juvenis, a continuação do programa de capacitação dos jovens, fomentar o conhecimento do património e impulsionar a animação cultural do centro histórico. Cx: Como é que Braga está a mexer, com as pessoas, com o País e com a Europa? H.P.: Temos uma forte aposta no intercâmbio de jovens por toda a Europa. O projeto Regio-Polis é prova disso: envolveu todos os municípios do distrito de Braga, partilhando e criando novas práticas nas metodologias de educação não formal aos jovens do distrito. Este projeto culminou na criação de uma rede de cooperação entre os atores municipais, com uma estratégia de desenvolvimento das políticas de juventude no distrito – a estratégia 2024. Por sua vez, é a partir deste projeto que surge o PT-Polis, que levou Braga 2012 a todo o País.Em outras áreas, temos projetos como o Link +351, um festival itinerante que conectará Braga com a Europa e promoverá os artistas bracarenses, funcionando, simultaneamente, como um programa de intercâmbio de jovens artistas europeus. Entre uma quase centena de parceiros da Capital Europeia da Juventude, encontram-se parceiros europeus, com os quais estão a ser desenvolvidos vários projetos, como a rede das capitais europeias da juventude, criada, no início do ano, em Braga. As pessoas são a base da criatividade e da economia criativa, essenciais para o mercado. E os bracarenses estão a ganhar com o movimento associativo, económico e cultural que a Braga 2012: Capital Europeia da Juventude trouxe. Eventos de maior impacto Além da cerimónia de abertura, que contou com a participação massiva de bracarenses e de pessoas vindas um pouco de todo o País, destaca-se o Parlamento Jovem da Capital Europeia da Juventude, uma iniciativa que contou com a presença de estudantes de escolas secundárias europeias, oriundas de 12 países, e com toda a comunidade jovem do distrito de Braga. Estes jovens debateram, durante uma semana, questões relacionadas com o emprego, desenvolvimento sustentável, qualidade de vida, o ambiente e as políticas de juventude e apresentaram propostas concretas para os problemas expostos. Promover a participação dos jovens na cidadania ativa é um objetivo de Braga 2012: CEJ e, por isso, se realça o projeto Regio-Polis, que envolveu todos os municípios do distrito de Braga, dando a conhecer as metodologias de educação não formal aos jovens do distrito, culminando na construção de uma rede de cooperação entres os atores municipais, com uma estratégia de desenvolvimento das politicas de juventude no distrito – a estratégia 2024. Este projeto deu origem ao PT-Polis, que levou Braga 2012 a todo o País. Ainda de salientar o projeto [EM]CAIXOTE que visa dinamizar Braga e atrair movimentos às ruas com atividades no centro histórico da cidade, todos os fins de semana, durante todo o ano, com danças, música, artes circenses, magia e performances para todos os gostos. Existe, especialmente, um movimento invisível das associações juvenis, de centenas de voluntários, das escolas e outros parceiros que preparam, discutem e vivem a Capital Europeia da Juventude e isso é um legado que já foi atingido e revela o sucesso da mesma. «Com uma programação de mais de 600 eventos, a Capital Europeia da Juventude faz crescer o interesse turístico da cidade. Mas somos ambiciosos e estamos a trabalhar para aumentar esta visibilidade e atratividade», conclui Hugo Pires. braga é palco de eventos de inúmeras áreas e atividades que animam a cidade cx a rev i s ta d a ca i xa 65 v vintage factos gravados em 1796 g r avaç ão Notas seguras Para que a segurança e a inviolabilidade do papel-moeda não saiam manchadas, a gravação em talhe-doce é o método privilegiado para a produção deste objeto de troca por excelência. A tomar nota Por Nuno Fernandes Carvalho Para dar vida às notas bancárias, o processo de gravação em talhe-doce utiliza uma chapa metálica. Nela, o motivo que se pretende imprimir é cavado, subtilmente, na sua superfície, criando os chamados entalhes que deram nome à técnica. Com origem no início do século XV, inicialmente, o talhe-doce era utilizado na metalurgia e na ourivesaria, sendo, mais tarde, adotado como forma de expressão artística em gravuras. Atualmente, a gravação a talhe-doce é empregue, essencialmente, na produção de papel-moeda e outros documentos de segurança. O processo de gravação em talhe-doce de uma nota bancária faz-se cobrindo a chapa com tinta e retirando o excesso, de modo a que esta se aloje apenas nos entalhes. A chapa é disposta na horizontal e, sobre esta, é colocado o papel. A tinta que se encontra nos entalhes é, depois, transferida para o papel da nota sob alta pressão, através de um cilindro compressor que força o papel a entrar nos entalhes e a reter a tinta. A nota fica com o desenho pretendido, além de ficar com um subtil relevo. Esta operação é repetida com outra chapa para imprimir o verso da nota. Este método confere ao papel-moeda imagens latentes nos motivos impressos, visíveis apenas à transparência, conforme a inclinação da nota. Desta forma, o talhe-doce proporciona a gravação 66 cx a rev i s ta d a ca i xa de motivos que previnem as falsificações. Exemplo disso são os guilhochés, motivos formados por várias linhas entrelaçadas de figuras geométricas e rosáceas, que contêm pormenores minuciosos, que dificultam a sua duplicação ilícita. Em Portugal, os primeiros registos de utilização do talhe-doce surgem com as Apólices do Real Erário, em 1796. Em 1821, o primeiro banco emissor português, o Banco de Lisboa, inicia as suas funções, produzindo as suas notas pelo mesmo método. Mais tarde, em 1864, foi criado o Banco Nacional Ultramarino com privilégio para a emissão de papel-moeda para as então colónias portuguesas. As chapas metálicas aqui representadas produziram notas de 500 rupias com a efígie de Afonso de Albuquerque para a ex-colónia da Índia Portuguesa, notas que circulariam entre 1947 e 1958. A produção de papel-moeda do BNU foi, na sua grande maioria, encomendada a casas impressoras em Inglaterra, responsáveis pela produção das notas e pela criação das chapas utilizadas para este processo. Após o término da encomenda, a casa impressora entregava ao banco emissor as chapas e cilindros que tinham sido utilizados na gravação das notas. Tal facto era assinalado com um corte oblíquo na chapa, que a inutilizava – como se constata neste exemplar. No mesmo ano em que o talhe-doce chegou a Portugal, saiba o que aconteceu no mundo digno de nota. 1. Napoleão Bonaparte casa com Josefina de Beauharnais. 2. O médico inglês Edward Jenner inventa a primeira vacina contra a varíola. 3. O Tennessee torna-se o 16.º estado norte-americano. 4. São realizadas as primeiras eleições parlamentares no atual território da Holanda. 5. A escritora inglesa Jane Austen escreve a primeira versão da obra Orgulho e Preconceito, sob o título de Primeiras Impressões. 6. O último contigente de tropas da coroa britânica abandona os Estados Unidos. 7. As tropas napoleónicas vencem as batalhas de Montenotte e de Lodi e, mais tarde, invadem Milão. 8. Em Espanha, o rei Carlos IV declara guerra à Grã-Bretanha. 9. Com a morte da imperatriz Catarina, a Grande, da Rússia, sobe ao trono o czar Paulo I, seu filho. 10. Após o anúncio da não recandidatura de George Washington, John Adams vence as eleições presidenciais norte-americanas.
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